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UTILIZAÇÃO DE INDICES FINANCEIROS COMO INSTRUMENTOS

DE ANÁLISE FINANCEIRA:
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO DAS EMPRESAS LÍDERES NO SETOR DE
ALIMENTOS DE CARNES INDUSTRIALIZADAS NO BRASIL

GERISVAL ALVES PESSOA


DÉBORA PAULA MASSOLI FIQUENE DA CUNHA
SAMARIA UCHOA DE MENEZES PARENTE
RICARDO ANDRÉ BARBOSA CARREIRA

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar as situações econômico-financeiras de


três organizações brasileiras líderes no setor de alimentação de carnes
processadas. Buscamos identificar por meio de índices financeiros a comparação de
seus desempenhos financeiros, medindo as suas capacidades de geração de lucros
e avaliação da eficiência de gerenciamento de ativos. Utilizamos para este estudo,
uma análise exploratória dos balanços patrimoniais e das demonstrações do
resultado exercício de 2001 a 2003 das empresas em questão.

Palavras-chave: Demonstrações financeiras. Análise de balanço. Índices

financeiros.

1 INTRODUÇÃO

A globalização econômica vem forçando as companhias a realizarem suas


atividades em um ambiente altamente competitivo e complexo, o que faz da
informação uma das variáveis mais importantes para o processo decisório, tanto
para os usuários internos como externos. Considerando que cada um desses
usuários possui interesses distintos a respeito da informação econômico-financeira
gerada, o ideal seria que esta fosse elaborada segundo cada conveniência e
interesse específico, o que é praticamente impossível de ser conseguido.

Simultaneamente ao desenvolvimento recente da atividade mercantil, em termos


econômicos, começaram a surgir novos usuários da informação contábil-financeira,
como os credores, os dirigentes não proprietários, os acionistas e os sindicatos, o
2

que demonstra a presença de um grupo importante de agentes econômicos que


participa de uma empresa, relacionado com o ambiente que a rodeia.
É nesse contexto que se manifesta a necessidade de se ter demonstrações
econômico-financeiras que propiciem informações compreensíveis e transparentes a
qualquer categoria de usuário.

Desse modo, o objetivo deste trabalho é fazer um comparativo dos índices


financeiros das empresas Perdigão, Sadia e Seara, pertencentes à indústria de
alimentos. Pretende-se com isso conhecer a suas situações econômico-financeiras
de forma a explicar os seus desempenhos recentes.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com a literatura de análise de balanços, índice é entendido como uma


relação entre contas ou grupo de contas das Demonstrações Financeiras com o
objetivo de evidenciar determinado aspecto da situação econômica ou financeira de
uma empresa.

Em função da relativa facilidade de alcançar conclusões a partir da análise dos


índices, essa técnica tem-se constituído em uma das mais utilizadas no mercado.
Através dela, pode-se chegar a cálculos relativamente simples para identificar o
endividamento das empresas e até mesmo a possibilidade insolvência. É claro que a
simples evidência de um indicador como o endividamento não é suficiente para
definir a situação de uma empresa. Fatores, como prestígio da empresa junto ao
governo, relacionamento com o mercado financeiro etc., podem ajudá-la a operar
anos a fio no mercado, ainda que mantenha elevado o endividamento. Não obstante,
o indicador deve funcionar como um alerta.
De acordo com Martins (2004, p. 4-5), “pode-se subdividir a análise das
Demonstrações Financeiras em análise da situação financeira e análise da situação
econômica”.
Esse autor recomenda que a análise deva ser iniciada pela situação financeira,
separada da análise da situação econômica, conforme ilustra a figura 1. No
momento seguinte, juntam-se as conclusões dessas duas análises.
3

PRINCIPAIS ASPECTOS REVELADOS PELOS ÍNDICES FINANCEIROS

ESTRUTURA

Situação Financeira
LIQUIDEZ

Situação Econômica RENTABILIDADE

Figura 1 – Aspectos revelados pelos índices financeiros


Fonte: Matarazzo (1992, p.98).

2.1 Indicadores de liquidez

Assaf Neto (2003) nos ensina que os indicadores de liquidez têm o objetivo de medir
a capacidade de pagamento de uma empresa, traduzida pela sua capacidade em
cumprir corretamente as obrigações passivas assumidas.

2.1.1 Liquidez corrente

Tanto Assaf Neto (2003) quanto outros autores concordam que o índice de liquidez
corrente é medido através da relação entre o ativo circulante e o passivo circulante,
calculado pela fórmula abaixo:
Ativo Circulante
Liquidez Corrente =
Passivo Circulante
Quando a liquidez corrente for superior a 1, entende-se que existe capital circulante
(capital de giro) líquido positivo. Quando for igual a 1, conclui-se que a empresa em
questão não apresenta capital circulante líquido. Se inferior a 1, o capital de giro
líquido será negativo (ativo circulante menor que passivo circulante).

Iudícibus (1998, p. 100) afirma que o quociente de liquidez corrente relaciona a


quantidade de reais disponíveis e imediatamente disponíveis e conversíveis em
curto prazo em dinheiro para fazer frente às dívidas de curto prazo.
4

Bartlet (apud GITMAN, 2003, p. 110) nos ensina que um índice de liquidez corrente
de 2,0 é tido ocasionalmente como aceitável, lembrando que essa aceitabilidade
depende da indústria na qual a empresa opera.

Já para Marion (1998, p. 456), o índice de liquidez corrente (ou liquidez comum)
mostra a capacidade de pagamento da empresa a curto prazo. Ele, entretanto, alerta
para dois aspectos limitativos:

• O índice pode mascarar ativos superavaliados, obsoletos e de baixa

liquidez;

• O índice pode esconder também uma falta de sincronização entre


recebimentos e pagamentos. Em outras palavras, não é possível
identificar se os recebimentos ocorrerão na mesma época em que os
vencimentos acontecerão.

Há, entretanto, um atenuante que funciona como aspecto conservador neste índice.
Trata-se da avaliação dos estoques, a custos históricos, abaixo, portanto, do valor
de mercado (valor de venda).

2.1.2 Liquidez seca

Assaf Neto (2003) registra que os estoques, apesar de serem classificados como
itens circulantes (curto prazo), nem sempre se tornam líquidos na mesma velocidade
das demais contas do grupo. “Sua realização é, na maioria das vezes, mais
demorada e difícil que a dos demais elementos que compõe o ativo circulante”.
(ASSAF NETO, 2003, p.107). A fórmula mais usualmente empregada para calcular
este índice é a seguinte:
Ativo circulante - Estoques
Liquidez Seca =
Passivo Circulante

O índice mostra-nos o quanto das dívidas de curto prazo que deverá ser resgatado
pelos ativos circulantes de maior liquidez. Gitman (2003) também recomenda essa
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mesma fórmula para calcular o índice de liquidez seca. Para Iudícibus (1998), esse
índice é adequado para avaliar conservadoramente a situação de liquidez da
empresa. Ele diz que a eliminação dos estoques corresponde à conseqüente
eliminação de uma fonte de incerteza.

É desejável que o índice de liquidez seco seja igual ou maior que 1,0. Entretanto, o
valor aceitável depende muito do padrão do setor. Deve-se considerar, também, que
o índice de liquidez seca é mais relevante como medida da liquidez quando os
estoques da empresa não são facilmente convertidos em caixa. Quando os estoques
são líquidos, o índice de liquidez corrente será a medida mais indicada.

2.1.3 Índice de liquidez geral

O Índice de Liquidez Geral vai mostrar a capacidade de pagamento da empresa a


Longo Prazo. Para isso, considera tudo o que a empresa conseguirá converter em
dinheiro (Curto e Longo Prazo) relacionando com tudo o que a empresa pagará a
Curto e Longo Prazo. Marion (1998, p. 462) recomenda a seguinte fórmula:

Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo


Índice de Liquidez Geral =
Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo

Esse indicador sofre as mesmas deficiências apontadas no índice de liquidez


corrente, tais como as divergências em datas de recebimento e de pagamento, que
se acentuam quando a análise abrange períodos muito mais longos. Por outro lado,
a análise abrangendo vários anos torna-se muito mais rica.
Esse indicador financeiro retrata a saúde financeira a longo prazo da
empresa. Da mesma forma que o observado nos demais indicadores de
liquidez, a importância desse índice para a análise da folga financeira pode
ser prejudicada se os prazos dos ativos e passivos, considerados em seu
cálculo, foram muito diferentes (ASSAF NETO, 2003).

Iudícibus (1998) por seu turno, atesta que o quociente de liquidez geral detecta a
saúde financeira de longo prazo do negócio. Ele também concorda que o problema
dos prazos torna mais pobre o sentido e a utilidade do quociente, a não ser que seja
explicitamente levado em sua devida conta.
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2.2 Índices de endividamento

O índice de endividamento geral é calculado com o objetivo de legar a proporção


dos ativos totais da empresa que é financiada pelos credores. Quanto maior for esse
índice, maior será o montante do capital de terceiros. O índice é calculado da
seguinte forma:

Exigível total
Índice de endividamento geral =
Ativo total

A Contabilidade moderna trata o Ativo como a aplicação de recursos, financiado


tanto por Capitais Próprios (Patrimônio Líquido) quanto por Capitais de Terceiros.
Portanto, Capitais de Terceiros e Capitais Próprios são fontes (origens) de recursos.

Os autores comungam a opinião de que em época inflacionária a utilização de


capitais de terceiros é mais interessante do que o financiamento por meio de capital
próprio. Se os capitais de terceiros forem, em sua maior parte, decorrentes de
necessidades operacionais, conhecidos como “exigíveis não onerosos” (exigíveis
que não geram encargos financeiros explicitamente para a empresa), as
possibilidades de incremento dos resultados são bem maiores.

A outra face da moeda reside no fato de que a empresa, ao adotar uma política de
elevada participação de Capital de Terceiros, pode tornar-se dependente e
vulnerável a qualquer contratempo.

2.2.1 Retorno sobre o investimento (ROI)

Segundo Assaf Neto (2003), os ativos, via de regra, incorporam todos os bens e
direitos mantidos por uma empresa. Já os investimentos equivalem apenas aos
recursos deliberadamente levantados pela empresa e aplicados em seus negócios.
O cálculo do ROI é determinado pela expressão:

Lucros Gerados pelos Ativos (Operacional)


Retorno Sobre o Investimento (ROI)
=
Investimento Médio
7

2.2.2 ROE e ROA

Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE do inglês Return on Equity) é uma relação
entre o lucro líquido e o patrimônio líquido que é utilizada para “expressar os
resultados globais auferidos pela gerência na gestão de recursos próprios e de
terceiro, em benefício dos acionistas” (Iudícibus, 1998, p. 116). E avaliado pela
fórmula:

Lucro Líquido
Retorno sobre o
Patrimônio Líquido =
Patrimônio Líquido
O Retorno sobre Ativos (ROA do inglês Return on Assets) indica quanta a
empresa obtêm de lucro operacional para cada R$ 100,00 (cem reais) investido. É
medido pela fórmula:

Lucro Operacional
Retorno sobre o Ativo =
Ativo

2.3 Indicadores de giro

2.3.1 Giro de caixa

Indica quantas vezes por ano o caixa de uma empresa gira. É calculado dividindo-se
as receita líquida de vendas pelo ativo total da empresa. Quanto maior o indicador,
mais eficiente é a empresa na gestão do seu caixa e vice-versa.
De acordo com Sardinha (2003, p. 13) “o Giro de Caixa é definido como relação
entre as despesas que acarretam desembolso com os valores médios de Caixa”.
Para ele, uma eventual dificuldade em obter o valor das despesas que acarretam
desembolso, pode ser computada através da relação entre a Receita com valores
médios de Caixa. Essa equação pode ser expressa por:

Giro de Caixa = Receita/[(Caixa período 1 + Caixa período 2 )/2]


Ao invés de:
Giro de Caixa = Receita/Investimento na conta Caixa
8

Sardinha (2003) atesta que uma das grandes vantagens em conhecer o Giro de
Caixa dos concorrentes é determinar quantos dias em média pode–se pagar as
contas se receber $1 de receita. Além disso, compreender, ao analisar o Giro de
Caixa de uma indústria permite fazer um “benchmarking” com a nossa empresa.

2.3.2 Giro de estoque

Este indicador mede a velocidade com que a empresa é capaz de girar seus
estoques durante um ano. O indicador é calculado como sendo o quociente entre o
custo de mercadorias vendidas e o valor do estoque médio da empresa.

Para Sardinha (2004, p. 16):

[...] este é um dos itens mais discutidos no comércio: o nível de


ESTOQUE. Todo comerciante sabe que o pior negócio é ter loja vazia, isto
é, não ter estoque ou ter estoque muito pequeno. Como conseqüência:
CONSUMIDOR não gosta de entrar em loja vazia; sabemos que a
ESCOLHA é um comportamento (ou, direito) que ele gosta de possuir.

O gestor do negócio passa por um trade-off: mais estoque significa GIRO baixo e
investimento mais elevado. Girar o estoque a níveis elevados mostra eficiência, mas
corre o risco de perder vendas porque o consumidor compra no concorrente.

Assim sendo, o Giro de Estoque é definido como a relação entre o Custo das
Mercadorias Vendidas (ou Custo dos Produtos Vendidos) com o valor investido na
conta Estoque. Quando fazemos análise de empresas, principalmente, as empresas
concorrentes, não sabemos o valor investido na conta Estoque; uma forma de se
aproximar desse valor é utilizar os valores médios de Estoque. Dessa forma, a
expressão matemática pode ser:

Giro de Estoque = Custo das Mercadorias Vendidas/[(Estoque período1 =


Estoque período2)/2]

Ao invés de:
Giro de Estoque = Custo das Mercadorias Vendidas/Investimento na conta
Estoque
9

2.3.3 Giro de contas a receber

Expressa o investimento da empresa para financiar seus clientes ao comprar


produtos. Quanto maior for o prazo de pagamento, maior será o espectro de
clientes, como conseqüência o volume de vendas. Em contrapartida, maior será a
probabilidade de Devedores Duvidosos.
Sardinha (2004, p. 15) assegura que:

O Giro de Contas a Receber é definido como a relação entre a Receita com


os valores médios de Contas a Receber. Mais uma vez, os valores médios
de Contas a Receber são empregados por analistas externos à
organização e tem por fim determinar, de forma substituta, o investimento
da entidade em Contas a Receber. As equações abaixo mostram a
expressão definida acima.
Giro de Contas a Receber = Receita/[(Contas a Receber período1 + Contas
a Receber período2)/2]
Ao invés de:
Giro de Contas a Receber = Receita/Investimento na conta Contas a
Receber

Conhecer o Giro de Contas a Receber permite planejar os recursos a serem


alocados (ou investidos) nessa conta: a relação 1/Giro de Contas a Receber, mostra
para cada $1 que se obtém de Receita quantos centavos são investidos em Contas
a Receber.

2.3.4 Giro de fornecedor

Trata-se de uma relação entre o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) com o
valor médio dos fornecedores e é medido pela fórmula:
Giro de fornecedores = CMV / Financiamento de fornecedores.

Esse indicador nos permite calcular o valor que podemos obter de financiamento dos
fornecedores e é, por esse caminho, uma importante ferramenta de projeção para
avaliar desempenho futuro.

3 REFERENCIAL PRÁTICO
10

Dados da Associação Brasileira da Indústria Alimentícia indicam que a indústria de


alimentos atingiu, em 2003, a marca de R$ 140 bilhões. Trata-se, portanto, de um
importante segmento industrial para a economia brasileira.

A indústria de alimentação torna-se mais importante quando consideramos que os


gastos da população de baixa renda com alimentos alcançam mais de 20% dos seus
rendimentos. Essa realidade induz às empresas do setor a buscar atender um
mercado potencialmente favorável para produtos de baixa sofisticação.

Não descuidando do mercado como um todo, a indústria também busca atender


segmentos diferenciados. Há uma clara tendência para as facilidades dos tempos
modernos, onde a maioria das pessoas não tem tempo para preparar alimentos e
recorrem cada vez mais aos fast foods.

A economia brasileira estimulou o setor alimentício a se adequar aos novos templos


de Globalização e estabilização monetária. O processo de fusão e aquisição de
empresas vem aumentando de forma exponencial desde o início da década de
1990. Como resultado desse processo, crescem cada vez mais em nível de
importância as empresas regionais.

Para efeito deste estudo, vai-se analisar as demonstrações contábeis das três
grandes empresas do setor alimentício que operam no segmento de carnes frias
(Perdigão, Seara e Sadia) e avaliar o desempenho recente dessas empresas à luz
dos indicadores.

3.1 Empresas analisadas

3.1.1 Perdigão

A Perdigão é uma das maiores companhias de alimentos da América Latina e a


segunda colocada no ranking brasileiro. Em 2004, completará 70 anos de existência,
denotando certa estabilidade na sua trajetória. Conta com 29 mil funcionários,
mantém parceria com cerca de 5.800 produtores integrados e exporta seus produtos
para mais de 90 países.
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Sua receita vem crescendo ao longo dos últimos três anos, alcançando, em 2003, a
marca de R$ 4,37 bilhões (Receita Bruta), obtidas da produção, abate e
comercialização de aves e suínos e no processamento de produtos industrializados,
elaborados e congelados de carne, além dos segmentos de massas prontas, tortas,
pizzas, folhados e vegetais congelados. Sua capacidade instalada é de abater 9
milhões de cabeças de aves/semana e 64 mil cabeças de suínos/semana e
frigorificar 570 mil toneladas de carne de aves por ano e 450 mil toneladas de carnes
de suínos/ano.

O gráfico a seguir mostra o crescimento da receita bruta da empresa nos últimos


três anos, comparado com o crescimento da receita bruta consolidada das três
empresas analisadas. Através dele, iremos verificar que entre 2001 e 2003, as
receitas da Perdigão cresceram 56,7% enquanto as receitas consolidadas das
empresas analisadas (Sadia, Perdigão e Seara) cresceram apenas 33,4%.

Faturamento: Perdigão x Empresas


Analisadas

15.000.000,00

10.000.000,00
Empresas
5.000.000,00
Perdigão
-
2001 2002 2003

Gráfico 1 – Crescimento da receita bruta

De acordo com os seus relatórios, a empresa possui 13 unidades industriais de


carnes - localizadas no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Goiás - e uma
rede de distribuição formada por 18 centros próprios e 10 terceirizados. No exterior,
mantém escritórios comerciais na Europa e Oriente Médio e um centro de operações
na Holanda.

3.1.2 Seara

A Seara Alimentos S.A. foi constituída em 22/12/1998, a partir da cisão da divisão de


Carnes (aves, suínos e carnes processadas) da Ceval Alimentos S.A aprovada pela
12

Assembléia Geral Extraordinária da Ceval nessa mesma data. É um dos maiores


produtores e processadores de carnes de frango e suíno de alta qualidade, com
mais de 13.092 trabalhadores.

O gráfico 2 compara o faturamento bruto da Seara com o faturamento bruto


consolidado das empresas analisadas. Verificamos que as vendas brutas da Seara
cresceram, entre 2001 e 2003, 41,8% enquanto as vendas consolidadas das
empresas analisadas cresceu apenas 33,4%.

Faturamento: Seara x Empresas


Analisadas
15.000.000,00

10.000.000,00
Empresas
5.000.000,00 Perdigão
-
2001 2002 2003

Gráfico 2 – Comparação do faturamento bruto da Seara com o faturamento bruto consolidado das
empresas analisadas

A Seara Alimentos é a terceira maior empresa do setor de aves e suínos do país.


Dados iniciais do exercício de 2004 indicam que a empresa obteve um crescimento
de 27,7% na receita bruta de vendas, que atingiu R$ 556,2 milhões no primeiro
trimestre de 2004, gerando um lucro líquido de R$ 10,0 milhões - 23,5% acima dos
R$ 8,1 milhões registrado no mesmo período do ano anterior.

3.1.3 Sadia

Com 60 anos de atuação, a Sadia é líder nacional em diversas atividades ligadas ao


setor alimentício, está posicionada entre as maiores empresas de alimentos da
América Latina e é uma das maiores exportadoras do País.

Com mais de 36 mil funcionários, a Sadia mantém 11 unidades industriais, duas


unidades agropecuárias e centros de distribuição espalhados por todo o Brasil.
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Exporta para 92 nações e no exterior tem representações comerciais em 10


países, abrangendo América Latina, Europa, Ásia e Oriente Médio.

Visando internacionalizar o seu mercado, entre 1991 e 1992, a empresa implantou


filiais comerciais em Tóquio, Milão e Buenos Aires. Em 1994, estabeleceu um posto
de observação na China, inaugurando a Churrascaria Beijing Brasil, em Pequim, em
associação com a empresa chinesa Sky Dragon e, em 1996, marcando a sua
presença no Mercosul, inaugurou uma central de armazenagem e distribuição em
Garin, na Grande Buenos Aires.

O gráfico 3 compara a evolução das receitas brutas da Sadia no triênio 2001-2203


comparativamente ao crescimento consolidado das vendas das empresas
analisadas. Verificamos que a Sadia cresceu 56% enquanto o crescimento
consolidado foi de 33,4%.

Faturamento: Sadia x Empresas analisadas

20.000.000,00

15.000.000,00

10.000.000,00 Empresas
5.000.000,00 Perdigão

-
2001 2002 2003

Gráfico 3 – Evolução das receitas brutas da Sadia no triênio 2001-2203

3.4 Indicadores de desempenho

Nos tópicos a seguir, iremos analisar os principais indicadores de performance das


empresas analisadas à luz do comportamento das variáveis exógenas às empresas.

3.4.1 Estrutura de capitais


14

Em 2001, primeiro exercício da nossa análise, a estrutura média de capitais das


empresas analisadas era representada por 30,5% de capitais próprios e 69,5% de
capitais de terceiros. Comprando-se os números das três empresas analisadas,
verifica-se a existência de certa uniformidade em torno da média.

Estrutura de Capitais (2001)

61,6%
74,7% 72,2% 69,5%

38,4%
25,3% 27,8% 30,5%

Seara Perdigão Sadia Média


Cap. Próprios Cap. Terceiros

Gráfico 4 – Estrutura de capitais (2001)

Ao longo do exercício de 2002, a situação sofreu alteração. Atraídas pela oferta de


crédito, especialmente de curto prazo, as empresas modificaram a sua estrutura de
capitais, priorizando ainda mais os capitais de terceiros (75,2%) em detrimento dos
capitais próprios (24,8%). Exatamente como no exercício anterior, a mudança na
estrutura de capitais foi tomada em bloco, afetando a composição do endividamento,
como veremos a seguir.

Estrutura de Capitais (2002)

77,4% 77,5% 70,7% 75,2%

22,6% 22,5% 29,3% 24,8%

Seara Perdigão Sadia Média


Cap. Próprios Cap. Terceiros

Gráfico 5 – Estrutura de capitais (2002)


15

No exercício de 2003, a estrutura de capitais voltou a se aproximar dos padrões


exibidos em 2001. Nota-se a semelhança nas estruturas de capitais das empresas
analisadas, denotando tratar-se de padrão do setor.

Estrutura de Capitais (2003)

71,4% 72,5% 70,7% 71,5%

28,6% 27,5% 29,3% 28,5%

Seara Perdigão Sadia Média


Cap. Próprios Cap. Terceiros

Gráfico 6 – Estrutura de capitais (2003)

Vale examinar o índice de imobilização do Permanente, ou seja, a forma como as


empresas utilizaram recursos do Patrimônio Líquido e do Exigível de Longo Prazo
para financiar o chamado Ativo Operacional.

Imobilização Permanente
75,31%

66,42%
74,30%

69,32%

67,71%

50,93%
49,28%

49,81%
43,03%

Seara Perdigão Sadia


2001 2002 2002

Gráfico 7 – Imobilização permanente

O gráfico anterior mostra-nos a intensiva política de investimentos adotada pela


Seara no período analisado. Em 2001, o Ativo Permanente da empresa correspondia
a 49,2% da soma do PL e do Passivo Exigível de Longo Prazo. Em 2003, essa
relação saltou para 74,3%. A Perdigão e a Sadia, apesar de haverem investido na
atualização do seu parque fabril, apresentaram redução do índice de imobilização do
Permanente.
16

Não podemos perder de vista a composição do endividamento, isto é, a relação


entre que existe entre as dívidas de curto prazo e o endividamento total. Verificamos,
pela análise dos números que orientaram o gráfico abaixo que a Seara elevou seu
endividamento de curto prazo de 52,3% em 2001 para 78,7% (a maior relação entre
as empresas analisadas). Perdigão e Sadia seguiram outro caminho, agindo de
forma mais ou menos semelhante. Entre 2001 e 2002 essas empresas elevaram a
participação dos financiamentos de curto prazo em suas carteiras de obrigações. Já
em 2003, ambas deliberaram no sentido de reduzir a pressão das dívidas de curto
prazo.

Composição do Endividamento
78,7%

71,5%

57,9% 59,0% 65,5%

52,6% 53,0%
49,9%

49,3%

2001 2002 2003


Seara Perdigão Sadia

Gráfico 8 – Composição do endividamento

Parece-nos importante conhecer a forma como cada empresa priorizou a aplicação


dos recursos captados. Intencionamos proceder esta análise de distribuição da
aplicação dos recursos por exercício social.

No exercício de 2001, verificamos que a maior parte dos recursos foi mantida no
capital de giro das empresas. Em termos médios, o Ativo Circulante representou
cerca de 44,1% dos recursos enquanto o Permanente absorveu 41,1% dos recursos
captados. Apenas 14,8% foram utilizados para financiar as atividades de longo
prazo. Das empresas analisadas, a Seara foi aquela que operou com maior prazo
médio nas suas vendas, como veremos adiante (cálculo dos indicadores de giro).
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Composição das Aplicações - 2001

29,9%
40,3% 46,2% 41,1%

27,9%
16,6% 8,1% 14,8%

42,2% 43,0% 45,7% 44,1%

Seara Pe rdigão Sadia Média

Circulante Real. Longo Prazo Permanente

Gráfico 9 – Gráfico Composição das aplicações

A avaliação do exercício de 2002 mostra-nos uma profunda alteração na


composição dos usos dos recursos. A Seara continuou a praticar uma política mais
elástica de vendas a prazo. Entretanto, todas as empresas priorizaram a
recomposição do parque industrial, fazendo com que o Imobilizado médio se
elevasse de 44,1% para 57% do Ativo Total. Essa política não chegou a
comprometer a liquidez das empresas, como veremos adiante, porque elas
conseguiram financiar o seu Imobilizado, ainda que inadequadamente (operações de
curto prazo).

Composição das Aplicações - 2002

26,4% 28,4% 29,7%


33,6%

4,5% 12,4% 13,2%


32,7%

61,9% 59,2% 57,0%


40,9%

Seara Perdigão Sadia Média

Circulante Real. Longo Prazo Perm anente

Gráfico 10 – Composição das aplicações 2002

Em 2003, vamos verificar uma certa similaridade com o exercício anterior, ou seja,
as empresas analisadas mantiveram parâmetros parecidos com aqueles observados
em 2002, conforme pode ser observado no gráfico seguinte.
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Composição das Aplicações - 2003

32,5% 35,5% 31,9% 33,1%

3,4% 4,5% 8,6% 6,6%

64,0% 60,0% 59,5% 60,4%

Seara Perdigão Sadia Média

Circulante Real. Longo Prazo Perm anente

Gráfico 11 – Composição das aplicações 2003

3.4.2 Liquidez

Em termos de Liquidez Corrente, ou seja, a capacidade de honrar compromissos de


curto prazo contando com os Ativos que serão realizados igualmente no curto prazo,
iremos verificar que todas as empresas analisadas apresentam folga. Entre elas, a
Sadia é a que apresenta maior tranqüilidade financeira no curto prazo, com
disponibilidades equivalentes a R$ 1,59 no Ativo Circulante para cada R$ 1,00 de
obrigações de curto prazo. A Perdigão, de outro lado, apresenta o menor ILC, com
R$ 1,14 de haveres para cada R$ 1,00 de compromissos.

Índice de Liquidez Corrente (ILC)

1,59
1,50
1,38
1,26

1,12
1,07
1,14
1,06
1,03

2001 2002 2002


Seara Perdigão Sadia

Gráfico 12 – Índice de Liquidez Corrente

Avaliando o grau de dependência dessas empresas em relação à realização dos


seus estoques, medido pelo Índice de Liquidez Seca, iremos verificar que a situação
é igualmente confortável. Novamente o destaque cabe à Sadia, que consegue
19

honrar a totalidade dos seus compromissos de curto prazo independente de uma


improvável paralisação das atividades. Seara e Perdigão conseguem cobrir mais de
70% dos seus compromissos de curto prazo nessas circunstâncias, o que revela
certa tranqüilidade operacional.

Índice de Liquidez Seca (ILS)

1,13

0,93 0,95

0,71 0,76 0,75

0,73
0,66 0,65

2001 2002 2003

Seara Perdigão Sadia

Gráfico 13 – Índice de Liquidez Seca

Em termos de liquidez geral, a análise denotou que as três empresas apresentam


indicadores abaixo de R$ 1,00 evidenciando que a totalidade dos compromissos
(curto e longo prazo) suplantam os valores aplicados no Ativo Circulante e
Realizável de Longo Prazo.

Ainda que desperte algum tipo de alerta, a apresentação negativa desse indicador
não é motivo de maior preocupação se levarmos e conta que as empresas estão
gerando resultados positivos e que, ao longo do tempo, tais resultados irão se
incorporar às fontes de capital de giro revertendo à falta de liquidez prenunciada.

Os indicadores calculados para as três empresas analisadas são bem próximos


entre si, revelando que sua dimensão é muito mais fruto da dinâmica de
financiamento do setor do que propriamente conseqüência de uma política
inadequada de captação de crédito.
20

Índice de Liquidez Geral (ILG)


0,98
0,96

0,95 0,94
0,94

0,89
0,87
0,86
0,83

2001 2002 2003

Seara Perdigão Sadia

Gráfico 14 – Índice de Liquidez Geral (ILG)

3.4.3 Rentabilidade

Avaliando a eficiência operacional das empresas escolhidas para este trabalho,


deparamos-nos com o gráfico seguinte. A leitura dos números ali consubstanciados
indica-nos que, de forma geral, todas as empresas apresentaram queda de
eficiência ao longo dos três exercícios analisados.

Eficiência (CMV / Vendas)


80,79%

73,26%

73,95%
76,54%

72,12%

73,92%
71,05%

67,12%

68,85%

Seara Perdigão Sadia

2001 2002 2003

Gráfico 15 – Eficiência (CMV/VENDAS)

A queda ocorreu de fato entre os exercícios de 2001 e 2002, quando o custo da


produção cresceu mais que as vendas. Entre 2002 e 2003 esse indicador
apresentou discreta elevação decorrente, em parte, da elevação dos preços da
matéria-prima.
Quando analisamos o impacto das despesas operacionais sobre as vendas veremos
que a Seara e a Sadia conseguiram reduzir a pressão das despesas operacionais
21

sobre a atividade, o que não ocorreu com a Perdigão. Em termos de comparação,


verificamos que a Seara apresenta a melhor relação entre as três empresas
analisadas. Suas despesas operacionais representaram, em 2001, quase 13% das
receitas com vendas. Em 2003, essa relação caiu para 8,6%, revelando um
excepcional esforço de enxugamento da estrutura administrativa e de vendas. A
Sadia conseguiu reduzir esse indicador de 15,2% em 2001 para 11% em 2003, o
que se reverteu em seu benefício na demonstração de resultados do exercício.
Diferente das demais, a Perdigão elevou a relação entre despesas operacionais e
receita de aproximadamente 18% em 2001 para 19,3% 2003.

Desp. Operacionais / Receita


20,28%

19,33%

15,18%
17,93%

14,54%
12,93%

11,89%

11,01%
8,63%

Seara Perdigão Sadia

2001 2002 2003

Gráfico 16 – Despesas operacionais/receitas

Quando avaliamos o Retorno sobre Investimentos – ROI, medido pela relação entre
Lucro Operacional sobre Permanente, constatamos a eficiência das operações que
constituem a atividade-fim das empresas.

A Sadia destacou-se nesse quesito. Apesar de esse indicador haver apresentado


leve queda entre 2001 e 2002, o esforço despendido em 2003 proporcionou um salto
fenomenal. Entre a posição inicial de 2001 e a final de 2003, a Sadia evoluiu de 20%
para 36,8%. Perdigão e Seara apresentaram redução nesse indicador dentro do
período analisado. A Perdigão partiu de uma posição bem interessante em 2001
(24,87%) para aproximadamente 15% em 2003, valendo lembrar que em 2002 teve
desempenho pífio decorrente, em parte, da sua dependência de recursos onerosos.
A Seara apresentou queda sistemática do ROI ao longo do período analisado. Em
2001, o indicador apresentou-se na ordem de 36,6%, reduzindo-se para 24,87% em
22

2002 e para 20% em 2003. O fato se explica pelo crescimento de aplicações no


Imobilizado e pela elevação dos custos e despesas no período.

ROI

36,84%
35,66%

27,58%

24,87%
23,88%

20,08%

16,77%
14,99%
0,25%
Seara Perdigão Sadia

2001 2002 2003

Gráfico 17 - ROI

De forma semelhante, a Rentabilidade sobre Ativos (Lucro Operacional / Ativo) vem


corroborar as conclusões obtidas na análise do ROI. Os gráficos evidenciam os
mesmos problemas, ou seja, as empresas, à exceção da Sadia, apresentaram
queda no período analisado e as razões que motivaram essa queda são as mesmas
já comentadas. Os mesmos fatores explicam o desempenho diferenciado obtido pela
Sadia.

ROA
11,73%
10,66%

10,03%

9,28%
7,77%
7,28%

5,33%

4,76%
0,08%

Seara Perdigão Sadia

2001 2002 2003

Gráfico 18 – ROA

Seria igualmente ocioso repetir as explicações para analisar o comportamento do


índice Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido - ROE (Lucro Líquido / PL). O gráfico
seguinte mostra similaridade com os dois anteriores.
23

ROE

30,26%
27,61%

25,01%
22,71%

21,16%

18,69%
18,06%
16,19%
1,22%
Seara Perdigão Sadia

2001 2002 2003

Gráfico 19 – ROE

3.4.4 Indicadores de giro

Chama atenção a diferença entre o Giro de Caixa calculado para a Seara em


relação ao Giro de Caixa das duas outras empresas. Em 2001, o Caixa da Seara
girava a cada cinco dias enquanto nas suas concorrentes esse número correspondia
a 60 dias (Perdigão) e 27 dias (Sadia). Em 2002, a Seara manteve seu giro em
cinco dias enquanto a Perdigão subiu para 112 dias e a Sadia para 102 dias. Em
2003, a Seara ficou em sete dias e a Perdigão baixou para 61 dias enquanto a Sadia
alcançou 76 dias.

Essa discrepância se deve ao fato de que a Seara opera com baixo volume de
disponibilidades enquanto as demais empresas operam com recursos no Caixa ou
aplicados no mercado financeiro.

Giro de Caixa

112
102

76
60 61

27

5 5 7

2001 2002 2003

Seara Perdigão Sadia

Gráfico 20 – Giro de caixa


24

A análise do Giro de Estoque revela maior uniformidade entre as empresas


escolhidas, conforme evidencia o gráfico seguinte. Verificamos que a Seara e a
Perdigão elevaram o número de dias necessários para girar seus estoques,
denotando certa dificuldade nas vendas. A Sadia, por outro lado, conseguiu reduzir o
número de dias para girar os estoques.

Giro de Estoque

104
102
87 87
79 82 85
70 76

2001 2002 2003

Seara Perdigão Sadia

Gráfico 21 - Giro de estoque

Observe-se, agora, o comportamento do Giro de Contas a Receber. Conforme


evidenciado anteriormente, a Seara havia apresentado maior flexibilidade na
concessão de prazos. Em 2001, essa empresa operava com prazo médio de 84 dias
enquanto a Perdigão vendia em média com 48 dias e a Sadia com 64 dias. Em
2002, a Seara elevou seu prazo para 90 dias enquanto as demais se mantiveram
sempre abaixo. Em 2003, então, a Seara passou a ofertar seus produtos com prazo
de pagamento médio de 116 dias. A Perdigão baixou seu prazo de vendas para 32
dias e a Sadia praticamente não alterou a sua política.

O aumento de prazos pode ter duas variantes. A primeira, desejável, está


relacionada com o compromisso da empresa com seus clientes, adequando seus
prazos de forma a atendê-los. A segunda, não desejável, relaciona-se com
dificuldades em vender obrigando a empresa a flexibilizar prazos no intuito de
alavancar faturamento. Nessa segunda hipótese, o efeito quase sempre é contrário
ao desejado porque vai comprometer o capital de giro da empresa. Em qualquer das
hipóteses, o prazo de recebimento das vendas deve guardar compatibilidade com o
prazo de pagamento das compras.
25

Giro de Contas a Receber

116

84 90
69 78
64
48
45
32

2001 2002 2003

Seara Perdigão Sadia

Gráfico 22 – Giro de contas a receber

A soma dos prazos de giro de estoque e de contas a receber vai-nos permitir


conhecer o ciclo operacional de cada empresa. Em 2001, o ciclo operacional da
Seara era de 163 dias, enquanto o ciclo operacional da Perdigão era de 118 dias e
da Sadia de 145 dias. Esses números revelam, em média, quanto dias decorrem
desde a data da compra dos insumos até o recebimento das vendas.

Em 2002, o ciclo operacional das empresas foi elevado. Na Seara, o número de dias
subiu para 166, na Perdigão para 147 dias e na Sadia para 173 dias. Em 2003
apenas a Seara elevou seu ciclo operacional, atingindo 203 dias. A Perdigão reduziu
esse prazo para 119 dias e a Sadia para 163 dias.

Avaliando o Giro de Fornecedores, verificamos quantos dias as empresas ganham


para pagar as suas compras, o que vai “ajudar-lhes” no financiamento das suas
vendas. Em 2001, a Seara dispunha de 124 dias dos seus fornecedores, um prazo
excelente quando comparado com o prazo obtido pelas concorrentes. Em 2002, os
números das três empresas analisadas situaram-se em padrões mais ou menos
homogêneos, o mesmo ocorrendo no exercício de 2003, como pode ser visto no
gráfico seguinte. A redução do prazo concedido pelos fornecedores em relação ao
ciclo operacional vai-nos indicar o ciclo de caixa das empresas, ou seja, o número
de dias que cada uma delas precisa financiar para manter a política operacional em
que se encontram inseridas.
26

Giro de Fornecedores

124

48 42
33 36 30 36
23 23

2001 2002 2003

Seara Perdigão Sadia

Gráfico 23 – Giro de fornecedores

Em 2001 o ciclo de caixa das empresas analisadas foi de 38 dias para a Seara, 84
dias para a Perdigão e 109 dias para a Sadia. Em 2002 esses números foram
alterados, respectivamente, para 143 dias, para 99 dias e para 143 dias. Já em
2003, o ciclo de caixa da Seara foi de 87 dias, da Perdigão de 87 dias e da Sadia de
85, revelando novamente um padrão para esse tipo de empresa.

4 CONCLUSÕES

Conforme ficou evidenciado na análise dos indicadores escolhidos para confecção


deste trabalho, as empresas Seara, Perdigão e Sadia vem alavancando as suas
vendas nos últimos anos. No triênio 2001-2003, a Receita Bruta das três maiores
empresas do segmento de carnes frias da indústria de alimentos cresceu 33,4%.

O esforço de crescimento das vendas está relacionado com a elevação da


demanda, tanto interna quanto externa, e vem sendo financiado com recursos
próprios quanto com captados no mercado, principalmente de curto prazo. Os
capitais de terceiros dessas três empresas, que correspondiam a 69,5% do Ativo
total em 2001, elevaram-se para 71,5% em 2003. No entanto, as dívidas de curto
prazo representavam apenas 53% das exigibilidades em 2001 e migraram para
quase 66% em 2003, denotando certa inadequação das fontes de financiamento se
considerarmos que parte desses recursos foi destinada à imobilização (a
imobilização do PL subiu de 61,6% em 2001 para 64,3% em 2003).
27

Apesar de recorrer a créditos de curto prazo, as empresas não demonstraram, no


período analisado, problemas de liquidez. No curto prazo, todas elas conseguem
honrar seus compromissos com relativa folga. A Sadia, primeira colocada no setor,
sequer depende dos seus estoques para solver seus compromissos. As demais
conseguem liquidar mais de 70% das suas dívidas de curto prazo sem depender de
estoque. A análise a longo prazo revela, entretanto, certa iliquidez. O indicador das
três empresas é inferior a 1 (um), denotando tratar-se de padrão do setor
perfeitamente controlável.

Em termos de eficiência, pôde-se perceber que as empresas reduziram seus


indicadores. Tal fato se deu ao crescimento dos custos de produção, que atingiu de
forma indistinta a três empresas. O impacto maior aconteceu entre o exercício de
2001 e o de 2002. de certa forma, as empresas buscaram recompor essas perdas
reduzindo despesas operacionais. Tanto a Sadia quanto a Seara conseguiram
reduzir a relação entre despesas operacionais e receitas, fato que não aconteceu
com a Perdigão.

O reflexo da elevação dos custos de produção se fez sentir nos indicadores de


rentabilidade. Todos eles foram afetados de forma negativa pelo impacto dos custos
no ano de 2002. A adversidade motivou as empresas a buscarem alternativas, tanto
é que no exercício de 2003 já foi possível perceber alguma melhora nos indicadores
de rentabilidade.

A Sadia destacou-se no quesito de rentabilidade, remunerando melhor seus Ativos,


seus sócios (através do PL) e seus investimentos. A reversão da situação vai
depender da criatividade dos administradores e da busca incessante de alternativas
para redução dos custos. Sabe-se que reduzir custos num setor que tem como
matéria-prima insumos que dependem de commodities, como milho e soja, cotados
no mercado internacional e com problemas de regularidade na oferta, vai ser o
grande desafio da atividade.

A análise do ciclo da caixa da empresa (ciclo operacional menos prazo médio de


fornecedores) revelou-nos a necessidade de capital de giro para suportar mais de
oitenta dias financiando a atividade. Esse fato talvez revele a necessidade das
28

empresas em buscar financiamentos de curto prazo, conforme evidenciado em


suas demonstrações contábeis.

Conclui-se informando que as empresas do setor alimentício apresentam-se diante


de um cenário desafiador. A demanda por alimentos básicos, tanto na sua forma
mais simplificada destinada ao público de baixa renda quanto na sua forma
sofisticada, mostra-se ascendente. Além disso, o mercado externo demanda cada
vez mais produtos alimentícios brasileiros que, na esteira da Globalização, tem
aberto mercados volumosos, como o da China e Oriente Médio.

Atender a essa demanda vai requerer investimentos maciços para elevar a


capacidade instalada. O setor depende de parcerias com produtores de frangos,
suínos e bovinos, formatadas dentro de um modelo diferenciado e conhecido pela
denominação de integração. Neste modelo, os produtores recebem insumos,
assistência técnica e apoio das empresas analisadas, comprometendo-se lhes
repassar a produção em regime de fidelidade total.

O novo cenário vai implicar em ampliar o escopo desse modelo. De um lado,


existem fatores amplamente favoráveis como é o caso da oferta de soja e milho
regulada pela superprodução experimentada no setor do agronegócio brasileiro. De
outro lado, a especialização dos produtores e o incremento dos padrões de
qualidade vai exigir das indústrias um desdobramento dessa parceria.

Conclui-se que as empresas analisadas apresentam-se com condições para encarar


esse desafio. A re-estruturação da sua política de financiamento pela abertura de
capital para atrair novos investidores talvez seja a saída menos onerosa e mais
rápida para o sucesso.
ABSTRACT
This paper analyzes the financial accounting of three brazilian organizations leaders
in the market of industrialized meats. We intend to identify through financial ratios the
comparison of their financial performance, measuring their capacity of profit
generation and evaluation of the efficiency of assets management. For this study,
we used an exploratory analysis of the balanced sheet and financial statements from
2001 to 2003 of the companies in subject.

Keywords: Financial statements, Balance sheet and Financial ratios.


29

REFERÊNCIAS

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2000.

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MARTINS, Júlio. Administração financeira e orçamentária: análise de índices.


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administradores e investidores. São Paulo: Atlas, 2001.

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______.Contabilidade Financeira. Material didático Curso de Mestrado em Gestão


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prático para implementação. Porto Alegre: Bookman, 2003.

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