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Detecção Remota – Parte II

Engenharia Geológica

Apontamentos de Detecção Remota

(versão provisória para consulta)

Graça Brito e Paulo Caetano

Ano lectivo 2010/11


Conceitos de Teledetecção

Índice

1. Conceitos de Teledetecção - Introdução ........................................................... 2


1.1. O espectro electromagnético....................................................................... 2
1.2. Interacção com a atmosfera......................................................................... 3
1.3. Comportamento espectral da água, solos e vegetação. ......................... 4
1.4. Comportamento espectral das rochas ....................................................... 6
2. O sistema espacial de detecção remota Landsat 5 Thematic Mapper....... 10
2.1. Organização de uma Imagem Digital de Satélite ................................... 11
3. Processamento de imagens digitais ................................................................. 13
3.1. Técnicas de Realce e Processamento de imagens digitais.................. 14
3.1.1. Expansão Linear de Contraste .......................................................... 15
3.1.2. Composição Colorida .......................................................................... 15
3.1.3. Filtros Digitais ou Matrizes de Convolução...................................... 15
3.1.4. Análise em Componentes Principais ................................................ 16
4. Referências Bibliográficas .................................................................................. 18

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Conceitos de Teledetecção

1. Conceitos de Teledetecção - Introdução

A teledetecção assume primordial importância na observação e interpretação de fenómenos


que ocorrem na superfície da terra à escala regional, pois não só permite o estudo de uma
vasta área de observação como também permite a observação em simultâneo de todo o
sistema envolvente.

1.1. O espectro electromagnético.

A detecção remota, tal como o termo sugere, é uma técnica que permite observar fenómenos à
distância sem que exista um contacto directo com os objectos em estudo. Para que tal
aconteça, é necessária a existência de uma interacção entre os fenómenos e os sistemas que
permitem a sua observação. Desta forma, qualquer sistema de detecção remota compreende
um sensor e um dado objecto, em que a relação entre ambos se efectua a partir de um fluxo de
energia, sob a forma de radiação electromagnética (figura 1).

Fig. 1 -Interacção entre radiação electromagnética e superfície terrestre.

A principal fonte de energia radiante utilizada pela detecção remota é proveniente do Sol.
Consoante a natureza dos objectos que se encontram à superfície terrestre, o fluxo de energia
radiante que incide sobre a Terra pode ser transmitido, disperso, absorvido, emitido ou
reflectido por esses objectos. A quantidade de fluxo de energia que é reflectido ou emitido,
estabelece a relação entre os objectos e os sensores, uma vez que se trata da energia
possível de ser registada por estes últimos, permitindo a obtenção de imagens de detecção

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Conceitos de Teledetecção

remota. Uma vez que as imagens obtidas reflectem comportamentos espectrais, torna-se
fundamental conhecer tais comportamentos.

Qualquer radiação electromagnética pode ser caracterizada em função do seu comprimento de


onda ou da sua frequência. Desta forma, o espectro electromagnético é constituído por um
conjunto de ondas electromagnéticas contínuas, cujo intervalo varia desde comprimentos de
onda curtos (da ordem dos micrometros, como é o caso dos raios gama e raios X), até
comprimentos de onda longos (da ordem dos metros, como as ondas rádio).

Dentro do espectro electromagnético, existem regiões de primordial importância para a


detecção remota que convém destacar, uma vez que são as mais utilizadas pelos sensores
actuais. Assim, há que considerar as seguintes bandas espectrais:

• Região do visível, cuja designação se deve ao facto de abranger as únicas radiações


capazes de serem perceptíveis pelo olho humano. Ocupa uma pequena porção do
espectro, compreendendo comprimentos de onda desde 0.4 µm a 0.7µm, em que se
destacam as bandas do azul (0.4 µm a 0.5µm), verde (0.5 µm a 0.6 µm) e do vermelho
(0.6 µm a 0.7 µm).

• Região do infravermelho próximo, com comprimentos de onda que variam desde os 0.7µ
m até aos 1.3 µm.

• Região do infravermelho médio, que inclui valores desde 1.3 µm até 8 µm.

• Região do infravermelho térmico (8 µm - 14 µm) , sensível ao calor emitido pelos corpos.

• Micro-ondas, região do espectro cuja gama de valores varia entre 1 mm e os 300 cm.

1.2. Interacção com a atmosfera

Uma das principais características da atmosfera terrestre é o facto de actuar como um filtro
perante determinados comprimentos de onda, resultado de uma absorção da radiação por
parte das partículas que a constituem. É o que sucede no domínio dos raios gama, raios X e
grande parte dos raios ultravioletas, bem como noutras regiões do espectro (por exemplo, o
vapor de água é o responsável pela absorção em torno de 6 µm e entre 0.6 e 2 µm; o dióxido
de carbono absorve radiações no infravermelho térmico e no infravermelho médio, entre 2.5 e
4.5 µm). Este comportamento dá origem a que nem todas as regiões do espectro sejam
possíveis de serem utilizadas pela detecção remota, estando esta limitada a regiões em que
absorção não se faz sentir e que se caracterizam pela transmissão das radiações, vulgarmente
designadas por janelas atmosféricas (v.g. figura 2).
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Conceitos de Teledetecção

Fig. 2 - Elementos atmosféricos/Janelas atmosféricas.


(adaptado de Drury, 1987)
Outro fenómeno bastante importante em detecção remota, é a dispersão atmosférica causada
pela interacção existente entre a radiação electromagnética e os gases e partículas existentes
na atmosfera (por exemplo, o vapor de água e aerossóis). A reflexão radiométrica (ou
dispersão atmosférica) degrada a qualidade visual das imagens e manifesta-se por uma
redução de contraste. Existem vários tipos de dispersão, que podem ser classificados em:

Dispersão Rayleigh - quando afecta comprimentos de onda inferiores ao diâmetro da


partícula, é uma dispersão selectiva e reflecte-se essencialmente na banda azul do espectro
electromagnético;

Dispersão Mie - afecta comprimentos de onda semelhantes à dimensão da partícula


(aerossóis e pó atmosférico), sendo também uma dispersão selectiva;

Dispersão não selectiva - independente do comprimento de onda da radiação e é provocado


por partículas de diâmetro superior a 10 µm, de que são exemplo as partículas de gelo
presentes nas nuvens.

1.3. Comportamento espectral da água, solos e vegetação.

A partir de medidas laboratoriais foi possível estabelecer curvas de reflectividade espectral,


ilustradas na figura 3, para diferentes tipos de materiais que se encontram à superfície
terrestre, nomeadamente a água, vegetação e solos.

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Conceitos de Teledetecção

Figura 3 - Comportamento espectral da água, vegetação e solos.

Tal como se pode observar pela figura, a água absorve ou transmite a maior parte das
radiações à medida que os comprimentos de onda aumentam. Como consequência, a sua
reflectividade diminui ao longo do espectro, sendo praticamente nula a partir da região do
infravermelho. O comportamento espectral da água está dependente da natureza e
concentração de materiais que se encontram em suspensão, da profundidade existente e da
rugosidade da sua superfície. De uma maneira geral, a presença de materiais em suspensão
aumenta a reflectividade da água, como é o caso da clorofila, que provoca um aumento da
reflectividade na banda verde da região do visível.

A curva espectral dos solos caracteriza-se por uma reflectividade relativamente baixa na região
do visível, aumentando gradualmente com o incremento do comprimento de onda das
radiações. Trata-se de uma resposta semelhante à da água, mas em sentido contrário.

O comportamento espectral dos solos é condicionado pela sua composição química, textura e
teor de humidade.

A reflectividade dos solos na região do visível está condicionada principalmente pela presença
de matéria orgânica e teor de humidade, pois à medida que estes aumentam, a reflectividade
decresce. Em relação ao infravermelho próximo e médio, a resposta espectral pode depender
do teor de humidade, como consequência da elevada absorção da água nestas bandas.

Nem sempre é fácil adquirir informação sobre os solos a partir da detecção remota, devido à
presença de vegetação. Nestes casos, os dados são inferidos a partir da cobertura vegetal,
uma vez que as espécies vegetais dependem directamente da natureza dos solos.

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Conceitos de Teledetecção

Existem inúmeros factores que influenciam a resposta espectral da vegetação. O


comportamento espectral da vegetação varia de acordo com:

- a espécie vegetal (folha - composição, estrutura, teor em água, forma);

- o ciclo de vida da planta;

- a morfologia do coberto vegetal (densidade do coberto vegetal, altura das plantas,


forma da copa, tamanho da copa;

- a heterogeneidade das espécies, etc.

Em virtude da maioria das espécies estarem sujeitas à acção directa dos solos, a composição
destes últimos influencia os seus comportamentos e, consequentemente podem existir
variações espectrais passíveis de serem detectadas pela detecção remota. Para além disso,
em qualquer ecossistema é frequente a coexistência de vários tipos de vegetação, com
diferentes comportamentos em relação às solicitações do meio ambiente, o que se traduz
numa única resposta em termos de detecção remota.

1.4. Comportamento espectral das rochas

O comportamento espectral das rochas está intimamente relacionado com a sua composição
mineralógica. Para o estudo da resposta espectral das diferentes litologias é frequente
utilizarem-se curvas experimentais da resposta espectral dos minerais para inferir sobre a
resposta de determinada litologia (v.g. figura 4).

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Fig. 4 - Espectro laboratorial para diferenciar tipos minerais (Chuvieco, 1990).

As rochas carbonatadas e as siliciosas, pela sua composição mineralógica, apresentam alta


reflectividade na região visível do espectro electromagnético, decrescendo a sua resposta
espectral para comprimentos de onda no domínio do infravermelho (2 a 2.5 µm). Quanto aos
minerais argilosos estes apresentam uma forte absorção em torno de uma região restricta do
infravermelho médio (comprimentos de onda da ordem dos 1.3 µm) e do infravermelho (apenas
para comprimentos de onda da ordem dos 1.9µm), traduzindo um decréscimo de reflectividade
nestas regiões do espectro electromagnético.

O quartzo e os feldspatos apresentam alta reflectividade nos domínios do visível e dos


infravermelhos.

A observação de um tipo litológico é frequentemente dificultada pela cobertura do solo, zonas


de abundante vegetação e pelo grau de alteração da rocha (óxidos Fe, etc). Nestes casos, e tal
como no caso dos solos, é possivel inferir a litologia atravéz do estudo dos solos e
Geobotânica.

As propriedades térmicas das rochas (conductividade térmica, densidade, inércia termal, etc)
permitem proceder à sua diferenciação no domínio do infravermelho térmico (8 a 12 µm).
Assim, a melhor diferenciação observa-se entre rochas silicatadas e não silicatadas (Quadro I).

Quadro I

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Material Conductiv. Densidade Cap. Termal C Difusão Inércia termal


Térmica K ρ térmica χ P
(Jm-1s-1K-1) (Kgm-3) (JKg-1K-1) (m2s-1) (Jm-2s-1/2K-1)
x (10-2) x(10-6) x(10-3)
Peridotito 4.6 3200 8.4 1.7 3.5
Gabro 2.5 3000 7.1 1.2 2.3
Basalto 2.1 2800 8.4 0.9 2.2
Granito 3.1 2600 6.7 1.6 2.2
Serpentinito 2.6 2400 8.4 1.3 2.6
Quartzito 5.0 2700 9.6 2.6 3.1
Mármore 2.3 2700 7.1 1.0 2.3
Xisto 2.1 2800 8.8 1.1 2.1
Calcário 2.0 2500 7.1 1.1 1.9
Dolomite 5.0 2600 7.1 2.6 3.1
Gravilha 2.5 2100 8.4 1.4 2.1
solo arenoso 0.6 1800 10.0 0.3 1.0
solo argiloso 1.3 1700 14.7 0.5 1.8
água 0.5 1000 42.3 0.1 1.5

As rochas possuem propriedades físicas e térmicas muito características, o que permite que a
sua resposta espectral seja bastante evidente no domínio do Infravermelho térmico (8 a 12µm).

No entanto, devido à fraca resolução espacial do sensor do Infravermelho Térmico (120m x


120m), a sua aplicação é um pouco restrita, sendo mais utilizado quando se pretende
diferenciar apenas vastas zonas de diferentes litologias.

Na figura 5 apresentam-se as curvas teóricas de diferenciação das diferentes rochas,


consoante a sua transmissividade, para o espectro da região do Infravermelho térmico.

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Conceitos de Teledetecção

Fig. 5 - Transmissividade dos diferentes tipos de rochas. (Adaptado de DRURY, 1987).

Para o estudo das litologias utilizam-se com grande frequência técnicas de combinação
colorida de imagens correspondentes às diferentes bandas do espectro electromagnético.

Estas técnicas são chamadas técnicas de realce e permitem visualizar simultaneamente 3


imagens, cada uma delas destacando aspectos mais ou menos característicos dos tipos
litológicos presentes.

Na geologia as combinações de bandas mais frequentes são combinação RGB das bandas
TM5,4,1; TM4,5,1; TM 7,5,4 e TM 7,4,1, consoante os tipos litológicos que se pretende
diferenciar.

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Conceitos de Teledetecção

2. O sistema espacial de detecção remota Landsat 5 Thematic Mapper.

O Landsat-4, lançado em 1982, marca o início de uma nova geração de satélites. Com a
alteração das características orbitais, a altura de voo é reduzida de 917 km para 705 km,
originando um aumento da resolução temporal (intervalo de tempo necessário para adquirir
imagens da mesma região ) de 18 para 16 dias. Por razões de ordem técnica, deixou de operar
em 1983. Mais tarde, em Março de 1985, com as mesmas características orbitais foi enviado
para o espaço o satélite Landsat-5. Um dos grandes avanços tecnológicos que estes dois
satélites apresentam é a incorporação de um novo sensor, o TM (Thematic Mapper), dirigido
principalmente para a cartografia temática. Para dar continuidade aos primeiros Landsat, foi
mantido o sensor MSS.

Em relação aos sensores, existem várias formas de os classificar, sendo a mais usual baseada
no modo como recebem a energia proveniente da superfície terrestre. Neste sentido, existem
dois tipos de sensores: sensores activos, capazes de gerar a sua própria fonte de energia
(em que o mais utilizado é o radar) e sensores passivos em que a energia recebida provém
de uma fonte exterior em que se enquadra o satélite Landsat. No entanto, existe um conceito
comum a todos eles : a sua resolução, ou seja, a capacidade de registar informação
discriminadamente. Seguidamente descrevem-se os vários tipos de resolução e as suas
características no Landsat 5 TM.

Resolução espacial: Este conceito refere-se ao objecto mais pequeno que pode ser
encontrado numa imagem. Existem diversas maneiras de definir a resolução espacial, sendo a
mais comum o IFOV (Instantaneous field of view), baseado nas propriedades geométricas do
sensor, sem considerar as propriedades espectrais dos objectos. Assim, define-se IFOV como
a área de superfície terrestre observada pelo sensor, a partir de uma dada altitude, num
determinado instante de tempo. Pode ser medido como um ângulo ou como a distância sobre o
terreno a que corresponde esse ângulo, tendo em conta a altitude e velocidade do sensor. Em
termos de imagens, esta distância corresponde à dimensão de um pixel (picture element), ou
seja, à unidade mínima de informação presente numa imagem.

No caso concreto do Landsat TM o IFOV é de 30 metros, exceptuando-se os 120 m para a


banda do infravermelho térmico (banda 6).

Resolução espectral: Refere-se à capacidade de um sensor obter informação em diferentes


domínios do espectro electromagnético. Desta forma, um sistema multi-espectral, oferece a
possibilidade de obter imagens diferentes sobre várias regiões do espectro. O número de
imagens obtidas, bem como a região do espectro que cada uma delas abrange, definem a

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Conceitos de Teledetecção

resolução espectral de um sensor. A resolução espectral será maior quanto maior for o número
de imagens obtidas e quanto mais limitada for a região do espectro que cada uma delas inclui,
pois permite caracterizar pormenorizadamente os diferentes tipos de materiais. O número de
bandas espectrais do Landsat TM é igual a 7, encontando-se as suas características
resumidas na tabela 2.

Tabela 2- Resolução espectral do satélite Landsat TM

Banda Comprimento de onda (µm)


1 0.45-0.52
2 0.52-.060
3 0.63-0.69
4 0.76-0.90
5 1.55-1.75
6 10.40-12.50
7 2.08-2.35

Resolução radiométrica: por vezes também designada por sensibilidade radiométrica,


exprime a capacidade de um sensor detectar variações na radiância espectral recebida. No
caso de sensores espaciais, a imagem apresenta-se usualmente em formato digital e, como
tal, o número máximo de níveis digitais detectados por uma imagem, define a resolução
radiométrica de um sensor. Este valor varia consoante as características dos sensores.
Actualmente a maioria dos sensores, em que se inclui o Landsat TM, apresenta um valor de
256 níveis digitais por pixel.

2.1. Organização de uma Imagem Digital de Satélite

A forma como é efectuada a organização de uma imagem digital de satélite é importante


para o seu posterior processamento informático. Assim, cada pixel de uma imagem é definido
por um valor numérico que representa a radiância média registada pelo sensor de uma
superfície terrestre equivalente à dimensão do pixel, para uma determinada banda do
espectro. Este valor é o designado nível digital (ND), uma vez que se pode expressar numa
intensidade luminosa ou nível de cinzento. A organização de uma imagem pode ser
representada por uma matriz numérica (v.g. figura 6). Cada linha e coluna representam as
coordenadas geográficas da imagem, sendo o valor registado o nível digital, ou seja,
corresponde à resolução radiométrica. A origem da imagem situa-se no canto superior
esquerdo (linha 1, coluna 1), uma vez que a aquisição de imagens é feita segundo a trajectória
do satélite, isto é, de Norte para Sul.

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Fig. 6 - Organização de uma imagem digital.


(Adaptado de Chuvieco, 1990).

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3. Processamento de imagens digitais

As imagens de satélite devem ser previamente processadas de forma a introduzir correcções


do ponto de vista radiométrico e geométrico.

As técnicas de correcção ou Pré-Processamento de imagens digitais mais utilizadas são as


Correcções Radiométricas – das quais se referem a Correcção de Linhas ou Píxeis Perdidos,
Correcção do Bandado da Imagem, as Correcções Atmosféricas (pelos métodos do histograma
mínimo ou através da regressão linear entre bandas; e as Correcções Geométricas.

As Correcções Radiométricas consistem em atenuar as alterações provocadas pelo mau


funcionamento dos sensores do satélite e pelo atenuamento, caso seja necessário, do efeito
atmosférico. A correcção geométrica consiste em atribuir um referencial geográfico às imagens
de satélite.

As Correcções Geométricas consistem em atribuir um referencial geográfico a uma imagem,


ou seja, na modificação da posição dos pixeis em relação a um sistema de coordenadas,
segundo uma transformação definida do seguinte modo :

x= f (C , L )
1

y= f (C , L)
2

em que as coordenadas da imagem corrigida, x e y, são função das coordenadas coluna e


linha, respectivamente C e L da imagem não corrigida. As novas coordenadas são obtidas pela
transformação :

X = + C+ L+ + CL +
2 2
f 0
f 1
f 2
f C 3
f 4
f L 5

Y= g +g C+g L+g C +g CL + g
2 2
0 1 2 3 4 5 L
X,Y - coordenadas da imagem corrigida

fl,f2 – coef. de transformação

C,L - coordenadas em pixeís da imagem não corrigida

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Este processo desenvolve-se em 3 etapas:

• 1ª etapa: localização de pontos comuns na imagem e no mapa correspondente -


Pontos de Controle

• 2ª etapa: cálculo das funções de transformação entre as coordenadas da imagem


digital e as coordenadas do mapa,

• 3ªetapa: transferência dos níveis digitais (DN) originais para uma nova posição
corrigida (X,Y).

O número de pontos de controle depende do tamanho e complexidade geométrica da imagem.

Consoante o grau do polinómio da transformação (lº,2º,3º) assim precisaremos, no mínimo, de


4, 6, 12 pontos de controle. Quanto mais pontos forem selecionados melhores resultados se
obtêm.

No caso do contraste topográfico ser importante é aconselhável utilizar um maior nº de pontos


de controle e recorrer a polinómios de transformação mais complexos.

Devem-se escolher pontos de controle temporalmente estáticos. A distribuição do pontos de


controle deverá ser uniforme, abrangendo toda a área a corrigir.

3.1. Técnicas de Realce e Processamento de imagens digitais

As técnicas de realce e processamento digital de imagens de satélite mais vulgarmente


utilizadas são:

• Expansão Linear de Contraste

• Equalização do Histograma

• Composição Colorida

• Composições RGB e HVI

• Filtros digitais;

• Quocientes e Índices de Vegetação – Operações aritméticas

• Análise em Componentes Principais (ACP)

• Classificação Digital

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Neste trabalho apenas se fará referência à Expansão Linear do Contraste, Composição


Colorida, Análise em Componentes Principais e Filtros Digitais.

3.1.1. Expansão Linear de Contraste

Consiste numa mudança de escala para os ND da imagem. Faz-se corresponder ao menor ND


da imagem o valor 0 e ao maior nivel o valor 255. Os ND intermédios ficam igualmente
distribuídos no intervalo.

[ NDmin - NDmáx] ⇒ [0, 255]

3.1.2. Composição Colorida

A técnica da Composição Colorida permite visualizar em simultâneo 3 imagens relativas a 3


bandas do espectro electromagnético, permitindo deste modo evidenciar e tirar partido das
diferentes respostas espectrais dos objectos à superficie da terra.

Atribui-se a cada uma das imagens uma das cores primárias - vermelho (R), verde (G) e azul
(B), obtendo-se no fim imagens de “falsa cor” que refletem as “melhores” assinaturas
espectrais dos objectos a estudar.

Este processo utiliza-se muito no estudo da vegetação, geologia, áreas urbanas, etc.

Para o estudo das diferentes geologias as composições que normalmente se utilizam são
TM754, TM741, TM541, TM451, no entanto estas dependem do objectivo e tipo de materiais a
analisar.

3.1.3. Filtros Digitais ou Matrizes de Convolução

Os filtros (ou matrizes de convolução) utilizados em teledetecção têm o objectivo de realcar


determinadas características numa imagem digital.

Estes podem ser baixa frequência - quando se pretende homogeneizar uma imagem; filtros de
alta frequência - quando se pretende realçar determinadas características numa imagem, e
ainda os filtros direccionais - quando se pretende dar enfase ou “limpar” estruturas direccionais
numa imagem digital.

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Conceitos de Teledetecção

O valor de cada nível digital (ND) de uma imagem original é transformado e novos valores de
ND são obtidos, resultado de operações aritméticas ponderadas com os ND dos pixeís
visinhos.

Esta operação faz-se através de uma matriz de dimensão nxn (3x3, 5x5, ...) que vai percorrer a
imagem sequencialmente e substituir o valor central na imagem por um novo ND (ponderado
pelos (nxn)-1 pixeís vizinhos) (v.g. figura 9).

Fig. 9 – Filtros ou Matrizes de convolução.

3.1.4. Análise em Componentes Principais

Um método que se usa para resumir o comportamento espectral de um grande conjunto de


dados é redistribuí-los num espaço multidimensional de eixos ortogonais entre si, de forma a
obter para cada eixo a máxima informação organizada por ordem decrescente.

É frequente verificar, numa imagem de satélite, que muitos valores ND de pixeis são
semelhantes, especialmente em bandas correspondentes a regiões muito próximas do
espectro electromagnético.

A aplicação da Análise em Componentes Principais (ACP) em imagens de detecção remota


permite reduzir a informação disponível num conjunto de dados originais (bandas de uma
imagem digital), frequentemente com um elevado grau de correlação, a um conjunto de
imagens mais reduzido, que resumem as características mais importantes dos dados originais.
O resultado desta aplicação materializa-se pela obtenção de novas imagens de estudo, cada
uma delas referente a um eixo principal, cujas características dependem das coordenadas das
bandas nos diferentes eixos.

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Conceitos de Teledetecção

O objectivo da Análise em Componentes Principais é o de reduzir a informação redundante


existente num conjunto N de dados originais, descrevendo as suas relações e minimizando a
perda de informação.

A Análise em Componentes Principais faz a projecção das N bandas originais de dados em n


eixos de Componentes Principais que são combinação linear de variáveis aditivas, permitindo
deste modo reduzir, sem perca de informação, o número de variáveis (bandas) a estudar.
Obtêm-se assim diferentes imagens que descriminam sucessivamente aspectos particulares
das imagens originais.

Normalmente ao primeiro eixo está associada uma imagem que resume as principais
características de toda a informação existente (no conjunto das N bandas originais), resultando
numa imagem de grande definição, contornos bem definidos, albedo, topografia e pouco ruído.
Esta imagem representa a média pesada de toda a informação contida nas diferentes bandas.

Os sucessivos eixos contemplam desvios no comportamento médio dos objectos nas


diferentes bandas e assim vamos ter eixos componentes de ordem mais elevada que vão
resumir e realçar diferenças na resposta espectral dos objectos para as diferentes regiões do
espectro. Assim os eixos mais altos da ACP apresentam-se bastante úteis pois são o resultado
de toda a informação singular que se não se encontra correlacionada no conjunto original das
N bandas da imagem digital.

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Conceitos de Teledetecção

4. Referências Bibliográficas

BARATA, T.A., 1993 -“Identificação do Coberto Vegetal por Tratamento Digital de Imagens de
Satélite”, I.S.T./U.N.L., Tese de Mestrado, Lisboa.

BARATA, T.A.,1994 – “Apontamentos de Detecção Remota” – Folhas do Curso de Mestrado


em Mineralúrgia e Planeamneto Mineiro. IST/UTL

CHICA-OLMO, M., 1991 – “Introduccion a la Teledeteccion”, Apontamentos do “Curso de


Doctorato – Geoestadística y Teledetección”, Universidade de Granada.

CHUVIECO, E., 1990 – Fundamentos de Teledetección Espacial, Edicciones Rialp, Madrid.

CURRAN, P. S., 1985 – Principles of Remote Sensing, Longman, London.

DRURY, S.A., 1987 – Image Interpretation in Geology, Allen & Unwin Publishers, Ltd., Sydney.

MATHER, P. M., 1993 – Computer Processing of Remotly Sensed Images: An Introduction;


John Wiley & Sons, Chichester.

SABINS, F.F. – Remote Sensing: Principles and Interpretation; 1987, W.H. Freeman, 2nd Ed.,
New York.

SMITH, W.L., 1972. Remote Sensing Applications for Mineral Exploration. Dowden, Hutchinson
&Ross, Inc., Michigan.

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