Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O flautista
Veronica Diaz
Personagens:
Antonio int. pelo mesmo ator
Flautista
Avô int. pelo mesmo ator
Prefeito
Rivaldo
Rosa
RosaMã
Lala
Tato
Antonio (entra) Não adianta, vô, eu não quero nunca mais. Eu odeio essa porcaria
de flauta !
Avô (entra) Tá bom, Antonio, você odeia. Mas não é a flauta nem é a música.
Você está é com raiva porque eles não puderam ir...
Antonio Não puderam...Eles nunca podem. E você também.
Avô Eu ? Mas eu fui lá assistir, aplaudi de pé ! Como é que eu ía faltar...
Antonio Você fica aí: “toca a flauta, Antonio, você é artista, pega lá a flauta”...Que
saco !
Avô Yaghhh!
Antonio É isso mesmo ! O meu pai diz que a aula é cara, minha mãe, que eu não
toco as músicas que ela gosta: “fosse um pandeiro, pelo menos!” Eu vou
tocar prá quê, me diz ?
Avô Antonio, os seus pais... você não pode tocar... Eu quero dizer, você... Não
dá prá tocar pensando assim, o que é que eles vão achar... A arte é...
Antonio Você não respondeu. Tocar prá quê ?
Avô Prá quê ? Você está me perguntando prá quê ?
Antonio Tô. Mas tô perguntando só prá você me responder, porque eu não vou mais
tocar porcaria nenhuma, ouviu ?
Avô (suspira) Olha, Antonio. Tem uma história...eu vou contar.
Antonio Não adianta, eu não quero.
Avô Uma história que eu nunca te contei. O meu avô é que vivia falando “vamos
acabar com esses ratos daqui ! pega lá a flauta ! “... Háhá...coitado...meu
avô...
Antonio Tá louco, vô ? O que é que tem uma coisa a ver com a outra ?
Avô Olha o tom ! O respeito !
Antonio Ah, desculpa...tá, eu desafinei...Mas ainda não entendi o que é que uma
coisa tem a ver com a outra...
Avô Você fez uma pergunta, tô te respondendo.
Antonio Então você tá dizendo prá eu tocar flauta que é prá matar rato, é isso?
Avô É... de certa forma...na cabeça...
Antonio Ah, que ótimo ! Bom, muito bom !
Avô Eu não vou contar mais história nenhuma.
3
Antonio Então não conta. (Pausa) Desculpa. Era o meu bisavô ? Ele é que falava
isso ?
Avô Não, o meu avô. O seu tataravô.
Antonio O da Alemanha ?
Avô Iá.
Antonio Conta, vô, conta !
Avô Aconteceu faz muito tempo.
Antonio Antes de eu nascer ?
Avô Muito antes de eu nascer !
Antonio Então foi no século passado !
Avô Antes ! Naquele tempo não tinha nem luz elétrica.
Antonio Nem computador ?
Avô Nem televisão.
Antonio Nem celular ?
Avô Nem telefone.
Antonio Nem avião ?
Avô Nem automóvel. Nada disso tinha sido inventado. E as pessoas também
não tinham muito cuidado com a higiene..
Antonio Não tomavam banho, vô ?
Avô Pouco...elas não gostavam muito...como alguns garotos que eu conheço...
Antonio E o que é que tem uma coisa a ver com a outra ?
Avô Olha o tom !
Antonio Ah, mas foi você que desafinou ! Vai contar a história ou vai ficar dando
bronca ?...
Avô Tá, desculpa...(pausa)
Antonio Conta, vô !
Avô Então. Foi em Hamelin, a cidade do meu avô. Só que foi muito antes dele
nascer. As pessoas naquele tempo não tinham muito como guardar a
comida.
Antonio Claro, não tinha geladeira !
Avô E nem sabiam o que fazer com o lixo.
Antonio Já sei ! Deu bicho !
Avô Então. Aconteceu que os ratos foram gostando, foram chegando e cada vez
tinha mais ratos naquela cidade.
Antonio Eca !
Entram Tato, Lala, Rosa, RosaMã e Rivaldo, reclamando em direção ao Avô. Antonio
se esconde atrás dele.
Tato Tem que reclamar, mesmo! Assim não dá mais ! Os ratos estão acabando
com a nossa cidade!
Rivaldo Eles estão contaminando tudo.
Lala (para vários pontos da platéia) Eles ficam aí, escondidos, no escuro...
Tato O senhor não vai fazer nada ?
RosaMã Arrasaram a minha horta !
Rosa Comeram a minha torta !
Rivaldo Não sobrou nem um biscoito ! (os outros olham para ele) Ah, os ratos
roeram... roeram até a porta !
Antonio (cutucando, soprando) Faz alguma coisa, vô !
Avô (pedindo cola ao Antonio) Fazer o quê ? Dá uma idéia !
Antonio (soprando) Manda colocar veneno !
Avô (assume o lugar do prefeito) Então é isso, está decidido ! Vamos dar
veneno pros ratos !
Lala Veneno ! Ótima solução !
Rosa Por que ninguém pensou nisso antes ?
Tato Mas como vai ser ?
Rivaldo Na boquinha de cada um ?
Rosa Não dá. São muitos !
RosaMã Vai acabar é matando todo mundo !
Avô De modo algum, o meu governo não permite ! (pedindo cola) Dá outra idéia!
Lala Ai, socorro, tem um rato aí, atrás do senhor ! (apontando para Antonio)
Todos correm assustados. Antonio fica encolhido num canto.
RosaMã Ah, não, é só um menino !
Rivaldo Meio grandinho prá um camundongo...(espanta Antonio, que corre
novamente para detrás do avô)
Lala (vasculhando) Eu sei que eles estão por aqui...
Tato Mas e então, senhor Prefeito ?
Avô Pois então...vamos ver...(para Antonio) Dá outra idéia, rápido !
Antonio Ah, não sei ... fala prás pessoas pensarem também, ora !
Avô Isso, o que eu disse foi que um governo democrático pede a participação
de todos. Faremos um concurso de sugestões populares!
Lala Ótimo, muito bom !
Avô A melhor proposta será colocada em prática. Claro, depois que os
secretários estudarem a viabilidade logística, tática e estratégica, e os
tesoureiros verificarem o lastro e a fluidez dos recursos disponíveis...
(tirando o povo de cena) Aí a gente cria uma comissão com representantes
dignamente eleitos entre os melhores membros da nossa sociedade que,
com certeza, saberá conduzir a questão e...
Antonio Ô, vô, que difícil !...mas e aí ?
Avô (voltando a assumir o avô) Ah, aí foram aparecendo as propostas mais
loucas e estapafúrdias...háháhá...
Rosa (entrando) Era um rapaz esperto que tocava uma flauta como ninguém !
(entrega-lhe a flauta)
7
Antonio reluta, mas acaba assumindo o flautista. Toca em seresta prá ela, que dança.
Antonio (quando ela termina) E agora, o que é que eu faço ?
Rosa Você me dá um presente.
Antonio Quem, eu ? Mas...o quê ?
Da coxia alguém lhe entrega uma partitura, ele entrega prá ela, que lê cantarolando a
música que ele acabou de tocar. Ele fica encantado.
Rivaldo (entrando e expulsando Antonio para um canto) E agora você sai, pequeno
roedor de bambu ! Chispa ! (para a platéia) Minha gata manhosa! (para ela)
Rosa, querida flor do meu coração, meu amor mais puro, todo o meu
tesouro, carinho encarnado, amore mio !
Rosa Ah, oi, Rivaldo.
Rivaldo Hummm! O perfume que exala de suas pétalas me atinge em cheio.
Rosa Ai, isso de “exala” me faz sentir como um gambá !
Rivaldo Nunca, nunca, jóia única de meu tesouro. (para a platéia) Uma gamboa, tão
boa !
Rosa Ué, se eu sou a jóia única, você não tem tesouro nenhum.
Rivaldo Como não ? Então não ? E minhas terras, meus castelos ? Mas você vale
mais do que cem anéis, do que mil colares (aparte) Não duvide, eu compro
você... Meu bibelô!
Rosa Quanto ao meu valor, claro que ele é enorme. A questão é que eu não
estou à venda, não vem que não tem.
Rivaldo (aparte) Você não me tente... (para ela) Minha formosa Rosa, eu não vejo a
hora de tê-la entre meus braços. Vem, gatosa...
Rosa Ai, você está me machucando ! Espera !
Rivaldo (irritado) A Rosa com seus espinhos é que está machucando o meu sofrido
coração. Até quando ? Já não basta a desgraça que arrasa a cidade, todo
esse prejuízo nos campos, e ainda devo resistir ao deserto que assola o
meu peito ? Eu pergunto: até quando ? (pausa)
Rosa (afastando-se) Eu...eu preciso pensar...
Rivaldo (irritadíssimo) Pensar ? Pensar ?! Eu pergunto: até quando ? (pausa)
Rosa Até...até que se acabe essa confusão...até a vida voltar ao normal...até
logo... até loguinho ! (sai)
Rivaldo Voltar ao normal...com todos esses ratos ? Essa gata me tira do sério!
Avô (voltando a ser avô) Bom, aí foram aparecendo vários candidatos, mas
nenhum tinha uma idéia nova prá acabar de vez com os ratos. Até que
apareceu um rapazinho esperto, um flautista.
Antonio Eu ! Deixa eu fazer, vô, deixa eu !
Avô Háháhá...eu sabia que você ía gostar...Vamos lá, pega a sua querida
flauta !...(assume o prefeito) Então o jovem senhor acha que pode livrar a
cidade de Hamelin desta peste ?
Antonio Claro, só eu posso resolver o caso.
Avô É mesmo ? E como é que o senhor pensa fazer isso ?
Antonio Eu...Ahn...(puxa o avô para um canto, sussurra) O que é que eu falo
agora ?
Avô (sussurrando) Ah, que graça ! Você não queria fazer o flautista ? Agora se
vira, improvisa ! (trazendo-o de volta, reassumindo o prefeito) E então,
rapaz ? Vamos ficar aqui o dia inteiro ? O povo está pagando, não tem essa
paciência toda, não ! E eu, menos ainda !
Antonio Eu, ahn...eu sei como é que vou acabar com os ratos, eu já sei...
Avô E será que o senhor faria a enorme gentileza de nos explicar ?
Antonio Não.
Avô Não ? Mas como, não ? (puxa Antonio para um canto, sussurra) Assim não
vale, a gente tem que contar a história !
Antonio (livrando-se) Eu só vou dizer uma coisa: é com a minha flauta que eu vou
acabar com os ratos.
Avô Ah, muito bem, ótimo. Mais um... Mas aviso logo: se ficar tocando alto e
deixar todo mundo surdo, eu vou jogar essa flauta na fogueira. E o dono vai
junto !
Antonio Senhor prefeito, guarde suas ameaças e comece a contar as mil moedas...
Avô (reassume o avô) Taí, gostei de ver a firmeza!
Antonio (reassume o neto) Pegou pesado, hein, vô ? Duvido, você ía ter coragem
10
de jogar uma flauta na fogueira ?
Avô Háháhá...claro que não, todo mundo sabe que uma flauta vale muito! Já o
meu neto...só eu sei ! (saem rindo)
Rosa Ah, mãe, eu acho ele simpático, sim. Mas ele também é meio bobo...
RosaMã Bobo ? Minha filha, você ainda não percebeu...
Rosa Mãe, ele só fica passeando aqui na praça !
RosaMã É ? E o outro, faz o quê ?
Rosa Ué, ele não precisa...às vezes ele ajuda aqui na horta.
RosaMã Muito de vez em quando, e de mentirinha, só tentando me agradar.
Rosa É mesmo...háháhá.. e o pior é que ele tem medo de alface, lembra ?
RosaMã Háhá (imitando) Socorro, tem uma cobra aqui dentro, cuidado, Rosa!
háháhá...era uma minhoca...Imagina! uma minhoca!...
Rosa Coitado do Rivaldo ! Ele ficou branco, em pânico ! Nunca mais quis saber
de alface, só porque um dia apareceu uma minhoquinha...A cobra !...
háháhá...E o medo que ele tem dos ratos ? (imita)
RosaMã Então.
Rosa Então o quê, mãe ?
RosaMã Então que você tem que decidir, se não é um, é o outro, dona Rosa!
Rosa Ah, mãe, mas o outro é artista !
RosaMã Ué, e isso não é lindo ?
Rosa Mãe, e viver de quê ?
RosaMã Ué, ele, da arte dele, e a gente, do que a gente sempre viveu, ora: de
plantar e colher da horta.
Rosa Esqueceu que agora tem os ratos ? Eles arrasaram com a horta !
RosaMã É verdade. Meu Deus ! Fiquei com aquilo de “voltar à vida normal...”
Rosa Normal, sei...o que sobrou de comida está nessa lata enferrujada. Só
porque os ratos não conseguiram abrir. Ainda !
RosaMã Mas então... então está decidido. Amanhã mesmo !
Rosa O quê, mãe ?
RosaMã Ah, eu quero dizer...é que você tem que decidir logo. É isso.
Rosa Não entendi. Por quê ?
RosaMã Você precisa ter uma companhia para começar a vida em outro lugar.
Rosa Ué, e você ?
RosaMã Faz tempo que a sua tia está me convidando prá ir morar lá em Bremen.
Agora, com essa rataria e o fim da comida, chega. “Caí na real”. Vou
cantar com os músicos de Bremen !
Rosa Qual deles, mãe ?
RosaMã Os quatro amigos: o gato, o cachorro, o burro e o galo, não lembra dessa
história ?
Rosa Me ajuda a decidir, mãe: qual deles ?
RosaMã O que canta de galo ?
Rosa O que parece meio burro ?
RosaMã O que é um cachorro manso ?
Rosa O que arranha como um gato ?
RosaMã O que faz mundos com sua arte ?
Rosa O que vê lucro em toda parte ?
Ouve-se ao longe o som da flauta, as duas param, maravilhadas
11
Antonio Pois foi assim. Acabou, não sobrou nenhum. Eu vim receber as mil moedas
de ouro que o senhor prometeu.
Avô Como é ?
Antonio O prêmio !
Avô Você acha que eu vou pagar mil dinheiros só porque você tocou um pouco
de flauta ?
Antonio Mas eu expulsei os ratos da cidade !
Avô Ora, assim é moleza, é só dar uma tocadinha, uma musiquinha... “atirei o
pau no ra-to-to...” háháhá ...qualquer um podia ter feito isso!
Antonio Não podia, não. E quem fez fui eu. O senhor tem que pagar !
Avô O caso é que eu não vou pagar. É muito dinheiro para um menino como
você.
Antonio (sussurrando) Mas vô...assim não vale !
Avô E não me venha com essa de vô. Eu não vou a lugar nenhum. Se tem
alguém que vai é.... agora dá licença que eu tenho muito o que fazer.
Antonio vai saindo.
Avô (reassumindo o avô) Um calote, Antonio ! O prefeito quis passar a perna no
garoto. Muito feio. O pior de tudo, é que o povo da cidade concordou em
não pagar.
Antonio Mas todo mundo ?
Avô A maioria. E quando a maioria apoia umas idéias esquisitas...lembro do
meu avô: ”os ratos só tomam conta quando o povo deixa. Ou quando o
povo quer...”
Antonio Mas então todo mundo tava errado ?
Avô Esse negócio de maioria, Antonio... às vezes é um perigo. Se todo mundo
decide que você é uma galinha...
13
Antonio (imita uma galinha) Cócócó...
Avô ...você vai ter que botar ovo !
Antonio Ovo, acho que não vai dar...
Avô Pois é...
Antonio Mas acaba assim, no calote ? Então prá que serviu tocar a flauta, prá ser
enganado pelo povo todo? Ah, eu não gostei.
Avô Pois o garoto pegou a flauta de novo...
Antonio (assume o flautista) Eu não gostei. (pega a flauta)
Avô ...e começou a tocar. Mas de um jeito tão diferente e gostoso, que todas as
crianças foram prá rua e começaram a dançar, encantadas pela música.
Antonio Quem for criança que venha dançar, quem for da dança que acompanhe
esta ciranda !
Antonio sai para o fundo da platéia.
O prefeito entra sob vaias e xingamentros: Ladrão, Corrupto, Mentiroso, etc., enquanto
a platéia atira nele chinelos de espuma e bolas de isopor.
Rivaldo O senhor é o culpado por tudo isso !
Tato Se tiver acontecido alguma coisa com a Fridinha, eu...
Lala Cadê as nossas crianças ?
RosaMã Pague logo, seu prefeito !
Rosa O senhor prometeu !
Antonio Cadê o dinheiro ?
Avô Houve um mal-entendido, este garoto se precipitou. É claro que eu ía pagar
! Eu sou um homem de palavra !
Lala Que não vale nada...
Avô Eu só preciso tirar o dinheiro ...É...ah, que sorte ! Está bem aqui...Por acaso
eu acabei de passar no banco...Eu não... eu sabia que ía encontrar você,
rapaz. Afinal, ele é o nosso herói, não é mesmo ?
O prefeito paga, Antonio sai pela platéia
Rosa Não demora !
Rivaldo Rosa, você está falando isso por causa das crianças, ou ...
RosaMã Ele não ía fazer nada de mal com as crianças, garanto que elas estão se
divertindo muito.
Tato Como é que a senhora sabe ?
RosaMã Ele só queria o prêmio dele, mais do que justo
Ouve-se o som da flauta e logo chega Antonio
Lala Olha lá !
Rosa As crianças estão voltando !
Tato Fridinha ! Graças a deus ! (sai)
Rivaldo Maninha ! (acena)
Rosa Ainda bem.
RosaMã Esse garoto é um artista!
Lala Esse vale ouro !
Rivaldo Ô, espertinho, o que é que você pretendia fazer com elas, hein ?
Rosa Você não...você não ía fazer o mesmo que...
Antonio Claro que não ! (ri, mostrando o prêmio) Eu só queria era dar um susto.
Lala Esse vale !
Rosa dá um beijo em Antonio, Rivaldo sai irritado. Rosa, Lala e Rosamã saem.
Antonio (reassumindo como neto) Vô, ela me beijou, a Rosa me deu um beijo!
Avô (como avô) Ô, Antonio, foi o flautista que ela beijou. (Pausa, eles se olham)
O de Hamelin...
Antonio Ah... Mas a bochecha era minha. Foi aqui, ó !
Avô É. Tudo muito bem. Só que na vida real nem tudo acaba no bem bom. Nem
sempre dá prá voltar atrás, e ninguém volta no tempo.
Antonio O que foi, vô ? Ficou bravo ?
Avô Iá. Lembrei do meu avô.
Antonio Meu tataravô da Alemanha, que os soldados mataram.
Avô Iá. Ele adorava essa história. Dizia assim: “Ah, precisamos de um novo
15
flautista prá tirar esses ratos daqui !” Ria, e me mandava tocar flauta.
Antonio Que nem você faz comigo!
Avô Iá...Depois ficava sério e falava: “nada, com esses daqui, não tem
encantamento que resolva, só com balas de fuzil”... Pois foi com fuzil que
mataram o meu avô. E ele não teve nem enterro nem música...
Antonio Por quê ?
Avô Porque a gente teve que fugir correndo dos soldados, escondido !...
háháhá... Como tinha ratos naquele navio !
Antonio E você não teve medo ?
Avô Iá. Claro que sim. (rindo) Mas tinha também a sua avó... ela ainda nem
sabia que um dia ía ser sua avó...mas era uma menina mais linda do que a
Rosa.
Antonio Duvido.
Rosa passa dançando ao fundo
Avô Faz tanto tempo !... Olha, mas tem uma coisa boa, isso da gente não voltar
no tempo...
Antonio Ô vô, mas o pesadelo dos ratos não pode voltar ?
Avô Não tem como saber. Depende...Mas nunca pense que um fuzil vai resolver
o problema. Um fuzil só cria muitos problemas...E depois... Você é um
artista ! Pega a flauta, Antonio !
Antonio Tá. A gente já matou os ratos, né ?
Avô Ia.
Antonio E o meu avô tá vivinho da silva...
Avô Taí, dois bons motivos prá gente tocar flauta. Traz a minha também !
Antonio (pega as duas flautas, entrega uma ao avô) Só tem uma coisa: eu não
gostei do final dessa história.
Avô Ah, é ? Então faz melhor que eu quero ver.
Antonio Faço, mesmo !
Cena 18 - final
Quando eles tocam, há mudança de luz para uma atmosfera onírica. Antonio vai ao
fundo, dança com Rosa, vem para frente. Aparece RosaMã dançando ao fundo, Avô
vai até ela, dançam. Entram Tato, Lala, Rivaldo, cada um com um instrumento
musical. Há uma espécie de casamento dos 2 casais, todos dançam. Cai o pano.
FIM