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Revista do CONAPRA - Conselho Nacional de Praticagem - Ano XII - N0 32 - out/2010 a jan/2011 Brazilian Pilots’ Association Magazine - Year XII

- N 0 32 - Oct/2010 to Jan/2011
nesta edição
CONAPRA – Conselho Nacional de Praticagem
CONAPRA – Brazilian Pilots’ Association
in this issue

Av. Rio Branco, 89/1502 – Centro


Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040-004
Tel.: (21) 2516-4479
conapra@conapra.org.br
XXXV Encontro Nacional
4
www.conapra.org.br
de Praticagem
diretor-presidente director president 8 35th National Pilots’
Ricardo Augusto Leite Falcão Meeting

diretores directors
Gustavo Henrique Alves Martins
Johann Georg Hutzler
José Benedito de Oliveira Silva
Luiz Otávio Affonso Christo
Breve histórico do
Conselho Nacional de Praticagem 12
diretor / vice-presidente sênior da IMPA
director/senior vice-president of IMPA
14 Brief history of Brazilian Pilots’ Association
Otavio Fragoso

planejamento planning

16
Otavio Fragoso / Flávia Pires /
Claudio Davanzo

edição e redação writer and editor Nova diretoria do CONAPRA


Maria Amélia Parente (jornalista responsável
journalist responsible MTb/RJ 26.601) tomou posse no Rio
revisão revision 18 New CONAPRA board
Maria Helena Torres
takes office in Rio
Elvyn Marshall

versão translation
Aglen McLauchlan

projeto gráfico e design


Artigo: Aprendendo com acidentes (parte II)
20
layout and design

26
Katia Piranda

pré-impressão / impressão
pre-printing / printing
Davanzzo Soluções Gráficas 20º Congresso Internacional
da IMPA
capa cover
fotos/photos: Stock.xchng/coral and sea de/by Joseas 28 20th International
e/and Ricardo Falcão (posse/taking office) de/by Dirceu IMPA Congress
Meirelles e/and André Luiz Pires

As informações e opiniões veiculadas

32
nesta publicação são de exclusiva
responsabilidade de seus autores.
Projeto Tamar
Não exprimem, necessariamente, Há 30 anos protegendo
pontos de vista do CONAPRA. o ecossistema marinho
The information and opinions expressed
in this publication are the sole responsibility
of the writers and do not necessarily express
35 Tamar Project Thirty years
of protecting
CONAPRA’s viewpoint.
. the ocean ecosystem
encontros nacionais
national meetings

XXXV Encontro Nacional de Praticagem


Evento ocorreu em santuário ecológico com recorde de audiência

Presidência do Superior Tribunal de


Justiça que respaldou o Estado
brasileiro em relação a questiona-
mentos quanto à aplicação da escala
única de rodízio pela autoridade
marítima. Tendo sido tomada em
âmbito local, a resolução adquiriu
abrangência nacional por se aplicar
a todos os estados brasileiros.

Em seguida foi a vez do também


Simone Nobre (Foto Vip)

advogado Jaime Magalhães Machado


Júnior, especialista em direito insti-
tucional, que apresentou painel com
três partes: a praticagem à luz do
direito, a defesa judicial do modelo
MARCELO CAJATY
institucional de praticagem e estudos
Realizado na Bahia, de 6 a 9 de de- que afetam o serviço de praticagem, jurídicos sobre a profissão. Entre outros
zembro, o XXXV Encontro Nacional de como os temas relacionados ao desen- tópicos interessantes, explicou deta-
Praticagem teve número recorde de volvimento de nosso poder marítimo – lhadamente o conceito de praticagem
participantes – cerca de 160 pessoas. observou o oficial. como serviço essencial, exercido por
A beleza e a peculiaridade do lugar – a organismos privados em prol do
Praia do Forte, sede do bem-sucedido O advogado geral da União, Fábio interesse da sociedade.
Projeto Tamar (ver p. 32) –, aliadas à Gomes Pina, discorreu sobre o cenário
relevância dos assuntos discutidos ga- jurídico que envolve o serviço de Em sua análise frisou que o Estado
rantiram a maciça adesão ao encontro. praticagem e o trabalho que a configura o verdadeiro tomador do
Procuradoria-Geral da União vem serviço, já que é o legítimo represen-
O capitão de mar e guerra Mauro desenvolvendo a fim de aprimorar o tante da coletividade. Acrescentou que
Guimarães Carvalho Leme Filho repre- sistema portuário nacional. Houve por se tratar de atividade de interesse
sentou o titular da Diretoria de Portos e menção à recente decisão da público, o serviço é amplamente regula-
Costas, vice-almirante Eduardo Bacellar
Leal Ferreira. Em seu pronunciamento
Carvalho Leme salientou os fortes laços
que unem a Marinha do Brasil ao
Conselho Nacional de Praticagem,
assim como o trabalho desenvolvido em
conjunto por essa força armada e pelo
CONAPRA com objetivo de garantir a
segurança da navegação, a salvaguarda
da vida no mar e a prevenção da
poluição hídrica.

– Esse relacionamento tem ao longo


dos anos alcançado resultados posi-
tivos, fruto de profícua parceria que
muito tem auxiliado a autoridade marí-
tima em suas decisões sobre assuntos CONTI FAZ APRESENTAÇÃO

4
encontros nacionais
national meetings

to técnico para apreciar os estudos


apresentados pela própria Vale.

Sustentabilidade – Encerrando os
trabalhos do dia 7 de dezembro, o
professor Pedro Wilson Leitão Júnior,
presidente do Conselho Deliberativo do
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade,
falou sobre a necessidade de conscien-
tização acerca da preservação ambien-
tal, recente preocupação do mundo
moderno. O Relatório Meadows do
Clube de Roma e sua publicação Os
FÁBIO PINA ENTRE OS OFICIAIS CARVALHO LEME E BALTORE (CAPITÃO DOS PORTOS DA BAHIA)
limites do crescimento, editada em
1972, foram lembrados como integran-
mentado e fiscalizado pela União. A de acesso ao Porto de Tubarão, ES, tes do marco inicial desse movimento.
predominância do direito público a fim de que seja possível atracar Os desafios da manutenção do desen-
garante poder à autoridade marítima embarcações da classe Valemax, tipo volvimento com sustentabilidade foram
para regulamentá-lo, fixando zonas em de navio projetado pela companhia amplamente abordados, assim como o
que o serviço é obrigatório, o número de mineradora Vale. Esses navios terão papel do prático na prevenção da polui-
práticos de cada ZP e a infraestrutura comprimento máximo de 365m, 66m ção hídrica, ao evitar acidentes ocasio-
necessária à prestação do serviço de boca, 23m de calado e 400 mil nados pela navegação de grande porte.
(prático, lancha e atalaia). “Apesar de toneladas de DWT. Conti enfatizou a
desenvolver ofício privado, o prático integração entre a praticagem e a No dia seguinte, em sessão reservada
exerce função pública”, salientou. Capitania dos Portos durante a a práticos e administradores, o enge-
execução da obra e informou à plateia nheiro e advogado Luiz Fernando
Seguiu-se palestra do prático Ernesto que a praticagem capixaba encomen- Barbosa Santos, representante dos
Conti Neto versando sobre estudos dou à Universidade de São Paulo (USP) trabalhadores no Conselho de Auto-
realizados para redimensionar o canal análise com o máximo de embasamen- ridade Portuária (CAP) do Espírito Santo

FOTO OFICIAL DO ENCONTRO

5
encontros nacionais
national meetings

e um dos maiores especialistas em


política portuária do país, ressaltou a
necessidade de representação política
e participação dos trabalhadores nas
discussões sobre as grandes questões
que afetam a infraestrutura da nação.
Usou como exemplo a bem-sucedida
trajetória das categorias de traba-
lhadores portuários, que tiveram que
reinventar e modernizar a própria forma
de organização desde a promulgação
da Lei dos Portos em 1993.

Assessor técnico-marítimo da Pratica-


gem de Santos, Viriato do Nascimento
Geraldes apresentou trabalho sobre
VTS (Vessel Trafic Services) detalhando
o histórico, a legislação e os critérios
utilizados internacionalmente para
definir a necessidade da implantação
do sistema, que envolve elevados
investimentos. Finalmente discutiu-se o
projeto de implantação de VTS em
diversos portos brasileiros, uma iniciati-
va da Secretaria Especial de Portos.
CARVALHO LEME
Durante a Assembleia Geral Ordinária
elegeram-se Ricardo Augusto Leite
Falcão (ZP-01) presidente do Conselho
Nacional de Praticagem e os práticos
Gustavo Henrique Alves Martins
(ZP-17), Johann Georg Hutzler (ZP-09),
José Benedito de Oliveira Silva (ZP-02)
e Luiz Otávio Affonso Christo (ZP-16)
diretores do CONAPRA.

O II Encontro de Administradores de Prati-


cagem, evento que se vem firmando nos
encontros nacionais de práticos, teve sua
abertura conduzida por Marcelo Cajaty, CONTI
então presidente do CONAPRA, que deu
as boas-vindas a participantes de nove
praticagens. Pedro Calisto Luppi Montei-
ro, administrador da praticagem de Rio
Grande, foi eleito coordenador do grupo.
Os trabalhos foram orientados para esta-
belecimento de objetivo, missão, perfil e
forma de trabalho do grupo. Também
esteve em pauta a criação de grupo de
correspondência e de subgrupos temáti-
cos. Visando gerar harmonia em procedi-
mentos que envolvem entidades de prati-
cagens associadas, cerca de 20 temas fo-
ram discutidos pelos administradores. CAJATY E BALTORE

6
national meetings
encontros nacionais

35th National Pilots’ Meeting


The event, held at an ecological sanctuary, had a record number
of participants
been of great assistance to the
maritime authority in its decisions on
matters that affect pilot services, as
well as on matters related to the
development of our maritime power”,
said the officer.

In his speech, Fábio Gomes Pina,


attorney general of the government,
referred to the legal scenario of
pilotage and the work that the
Simone Nobre (Foto Vip)

attorney general’s office carries out


to improve the national port system.
He mentioned the recent decision
taken by the Superior Court of Justice
which backed the Brazilian State on
PILOTS FALCÃO AND SCHENK the question of a single rotation
schedule to be applied by the maritime
The 35th National Pilots’ Conference Eduardo Bacellar Leal Ferreira, Ports authority. The resolution was originally
held in the state of Bahia from and Coastal Director. In his address, adopted on a local basis, but acquired
December 6 to 9 was attended by a he emphasized the strong ties that national dimensions since it applies to
record number of participants – about join the Brazilian Navy and the all Brazilian states.
160 people. The beauty and uniqueness National Pilots’ Council, as well as
of the venue – Praia do Forte is the site the work they carry out together in The next speaker was Jaime
of the successful Tamar Project (see order to ensure safe shipping, Magalhães Machado Junior, a lawyer
pg. 35) – and the importance of the safeguarding life at sea, and specializing in institutional law. His
subjects discussed assured the large prevention of water pollution. talk was divided into three parts:
attendance. piloting in light of the law, legal
“Over the years, our relationship defense of the institutional piloting
Captain Mauro Guimarães Carvalho has brought positive results, thanks to model, and juridical studies of the
Leme Filho represented vice-admiral the profitable partnership that has profession. Among other interesting
topics, he explained in detail the
concept of pilotage as an essential
service provided privately in the
public interest.

He highlighted that the State is the


real employer of the service since it is
the legitimate representative of the
collective. He added that since the
service is of public interest it is strictly
regulated and controlled by the
government. The ascendency of public
law gives the maritime authority the
power to regulate it, establishing
zones where the service is obligatory,
LUIZ FERNANDO BARBOSA SANTOS the number of pilots in each PZ, and the

8
national meetings
encontros nacionais

infrastructure necessary for rendering discussion on major questions that Henrique Alves Martins (PZ-17),
the service (pilot, boat and pilot affect the infrastructure of the nation. Johann Georg Hutzler (PZ-09), José
station). He stressed that although As an example, he cited the successful Benedito de Oliveira Silva (PZ-02)
pilots are hired privately, they carry out movement of the port workers’ and Luiz Otávio Affonso Christo (PZ-16)
a public function. categories who had to reinvent and as directors of CONAPRA.
modernize the very form of the
His address was followed by a speech organization since the promulgation The 2nd Meeting of Pilotage Admin-
delivered by pilot Ernesto Conti Neto on of the Ports Act in 1993. istrators, now a firmly established
studies undertaken to increase the size event in national pilot conferences,
of the access canal to the Port of Tuba- Virato do Nascimento Geraldes, a was opened by Marcelo Cajaty, at
rão in the State of Espirito Santo in order technical maritime adviser, spoke on the time president of CONAPRA. He
to permit the berthing of Valemax VTS (Vessel Traffic Services) giving welcomed participants from nine pilot
vessels designed by Vale, a mining details of its history, legislation and associations. Pedro Calisto Luppi Mon-
company. These ships will have a the criteria adopted internationally to teiro, pilot association administrator
maximum length of 365 meters, a beam define the need for the system, which from the State of Rio Grande do Norte
of 66 meters, 23-meter draft, and requires heavy investments. Lastly, was the group’s coordinator. The
400,000 ton DWT. Conti stressed the the project of implementing VTS in meeting focused on establishing an
integration of pilot associations with various Brazilian ports, an initiative of objective, mission and profile, as
the port authorities in this undertaking the Special Secretariat of Ports, was well as a modus operandi for the
and told participants that the pilots of discussed. group. Also on the agenda was the
his State had commissioned a technical appointment of a correspondence
study from the University of São Paulo During the Ordinary General Meeting, group and thematic subgroups. With a
(USP) to confirm the studies submitted the following were elected: Ricardo view to harmony in cases that involve
by Vale. Augusto Leite Falcão (PZ-01) as associated pilot associations, about
president of the Brazilian Pilots’ twenty subjects were discussed by
Sustainability – Closing the sessions Association, and pilots Gustavo the administrators.
of December 7, Prof. Pedro Wilson
Leitão Junior, president of the
Deliberative Council of the Brazilian
Biodiversity Fund, spoke of the need for
awareness of the importance of
environmental preservation, a recent
concern of the modern world. He
recalled the Meadows report of the
Club of Rome and its book entitled
Limits to Growth, published in 1972,
as having been part of the start of
the movement. He also addressed in
detail the challenges of continuing
sustainable development, and the role
PEDRO LEITÃO
of the pilot in preventing water
pollution by avoiding accidents caused
by large ships.

The following day, at a closed session


for pilots and administrators, Luiz
Fernando Barbosa Santos, an engineer
and attorney who represents the
workers of the State of Espirito Santo in
the Port Authority Council (CAP) and is
one of the top Brazilian experts in
the country’s port policy, stressed the
need for political representation and
participation of the workers in the JAIME MAGALHÃES

9
presidência
presidents

CONAPRA – breve histórico


Em 12 de junho de 1975, sete entidades brasileiras formadas por práticos do Amazonas, Espírito Santo, Pará, Paraná,
Rio de Janeiro (então Guanabara) e São Paulo fundaram uma organização civil sem fins lucrativos a fim de
representá-las em assuntos relacionados à profissão.

A organização ganhou o nome de Centro Nacional de Praticagem (CENAPRA), com sede no Rio de Janeiro.
O Centro estava aberto a todas as entidades brasileiras de praticagem, que a ele se associaram aos
poucos. Segundo seu estatuto, os presidentes das entidades constituiriam o Conselho Nacional de
Praticagem (CONAPRA), que seria dirigido por um presidente eleito.

Para a presidência do CENAPRA foi convidado o almirante da reserva José da Silva Sá Earp, e para a do
CONAPRA elegeu-se o prático Mariano Alves Castro Júnior, então presidente da Cooperativa de Práticos
da Guanabara. Funcionando inicialmente como órgão consultivo do CENAPRA, o CONAPRA, graças a
mudanças estatutárias, ganhou vida própria e passou a funcionar como associação profissional de âmbito
nacional. CONAPRA e CENAPRA coexistiram até 1988, quando o último foi extinto.

O Conselho Nacional de Praticagem representa a maioria das empresas brasileiras de praticagem, cuja adesão é
voluntária. Até janeiro deste ano houve 17 mandatos nos quais 16 práticos estiveram à frente do Conselho. Ricardo Falcão foi eleito
para o 180 exercício da presidência do CONAPRA.

1975 _ 1988
Almirante Sá Earp:
presidente do CENAPRA
Admiral Sá Earp: Cenapra's president

Presidentes do CONAPRA

1975 _ 1978
Mariano Alves Castro Júnior (RJ)

1978 _ 1979
Expedito José Pinheiro Damasco (RJ)

12
presidência
presidents

1979 _ 1980
Fernando de Campos Evangelista (RJ)

1980 _ 1982
1984 _ 1986
Euclides Alcantara Filho (ES)

1982 _ 1984
Adriano Gustavo Vidal (PR)

1986 _ 1988
Júlio Console Simões (SP)

1988 _ 1990
Oscar Acosta (RS)

13
presidents
presidência

CONAPRA – brief history


On July 12, 1975, seven Brazilian associations formed by pilots from the States of Amazonas, Espírito Santo, Pará,
Paraná, Rio de Janeiro (then Guanabara) and São Paulo founded a non-profit organization to represent them
in matters related to their profession.

It was named Centro Nacional de Praticagem – CENAPRA (National Pilot Center) and had its headquarters
in Rio de Janeiro. The Center was open to all Brazilian pilots associations and gradually many of them
began to join. In accordance with its by-laws, the presidents of these associations formed the Conselho
Nacional de Praticagem - CONAPRA (Brazilian Pilots’ Association) administered by an elected president.

Retired Admiral José da Silva Sá Earp was invited to preside CENAPRA, and pilot Mariano Castro Junior,
who was then president of the Cooperative Society of the Guanabara Pilots, was elected to head
CONAPRA. Initially, CONAPRA acted in the capacity of consultant to CENAPRA, but after changes in its
statute it acquired a life of its own and became a nationwide professional association. CONAPRA and
CENAPRA coexisted until 1988, when the latter became extinct.

The Brazilian Pilots’ Association represents the majority of Brazilian pilot associations, all of which are free to join it
on their own accord. By January this year, CONAPRA had 17 presidential terms of office, with 16 pilots heading the Association. Ricardo
Falcão was elected the 18th president of CONAPRA.

1990 _ 1992
Mauro de Assis (RJ)

1992 _ 1997
Herbert Frederico Mello Hasselmann (RJ)

1997 _ 1999
Paulo Gonçalves Esteves (SP)

14
presidents
presidência

1999 _ 2001
Carlos Eduardo Massayoshi Naito (CE)

2001 _ 2003
Roberto dos Santos Belotti (RS)

2003 _ 2005
Otavio Fragoso (RJ)

2005 _ 2007
Decio Antonio Luiz (PR)

2007 _ 2008
Carlos Eloy Cardoso Filho (SP)

2009 _ 2010
Marcelo Campello Cajaty Gonçalves (RS)

15
presidência
presidency

CONAPRA tem nova diretoria


Autoridades marítimas e chefe da IMPA prestigiam cerimônia de posse
Dirceu Meirelles e André Luiz Pires

FALCÃO TOMA POSSE JOSÉ BENEDITO SILVA LUIZ OTÁVIO CHRISTO

Com expressão de dever cumprido, o marítimas, na forma de organização, no aspirante da Escola Naval chamado
prático Marcelo Cajaty transmitiu o nível técnico e nos preços. Encomen- Eduardo, que o ensinou a velejar e
cargo de diretor-presidente do Conselho damos estudos e visitamos diversas despertou nele o amor pelo mar. Cajaty
Nacional de Praticagem a seu colega autoridades para comprovar isso. relatou que mais tarde, exercendo o
Ricardo Falcão em 19 de janeiro, no Obrigado a todas as autoridades que ofício de prático, encontrou-o comandan-
Clube dos Marimbás, Rio de Janeiro. nos receberam, incluindo senadores do a fragata Bosisio. Finalmente, como
Ele e os outros diretores que se despe- e deputados – disse Cajaty. presidente do CONAPRA, reencontrou
diam estavam visivelmente satisfeitos Eduardo, dessa vez como chefe da
por ter contribuído para a solidificação O momento mais emocionante de seu Diretoria de Portos e Costas da Marinha
do trabalho que o CONAPRA vem rea- discurso ficou por conta do agradeci- do Brasil. Por fim, pediu licença ao almi-
lizando junto à Diretoria de Portos e mento dirigido a um rapaz que ele rante Eduardo Leal Ferreira para agrade-
Costas e à União no sentido de apre- conhecera há cerca de 40 anos. Era um cer ao aspirante Eduardo Leal Ferreira
sentar soluções eficientes aos desafios
que a profissão enfrenta.

Cajaty fez questão de dividir os louros de


sua gestão com todos os colaboradores
do Conselho – funcionários e assessores.
Quebrando o protocolo, chamou um a um
para parabenizá-los, reconhecendo a
importância do staff do Conselho
Nacional de Praticagem nas lutas e
conquistas da praticagem brasileira:

– O CONAPRA defende o sistema


brasileiro de praticagem, um serviço
consistente, coerente com o que existe
de melhor no mundo e que serve
com maestria o país, nosso verdadeiro
cliente. Estamos no mesmo patamar
das praticagens das principais nações LEAL FERREIRA COM CAJATY E FALCÃO

16
presidência
presidency

JOHANN HUTZLER GUSTAVO HENRIQUE MARTINS MICHAEL WATSON

tudo que lhe ensinou. “Devo a ele tudo União – O prático Michael Watson, Ricardo Falcão encerrou a cerimônia
que a paixão pelo mar me proporcionou: presidente da IMPA, também fez breve de posse agradecendo a confiança
pro-fissão, amigos e colegas”, concluiu. discurso no qual enfatizou a importân- depositada nele e convidando todos
cia de os práticos se manterem unidos para o coquetel que se seguiu à
Leal Ferreira, por sua vez, ressaltou o para o contínuo fortalecimento da solenidade. Com o belo visual da
vínculo profícuo que hoje marca o rela- profissão. Orador carismático, Watson Praia de Copacabana ao fundo, ao
cionamento entre o CONAPRA e a Mari- pediu desculpas por não falar portu- lado da tradicional colônia de
nha. Elogiando a elegância e o profis- guês e presenteou Cajaty e Falcão pescadores do bairro, os convidados
sionalismo que nortearam o mandato de com um instrumento semelhante a confraternizaram ao som da cantora
Cajaty, salientou a competente atuação um barômetro: “Ele lhes informará com Andrea Dutra e sua banda, que anima-
do Conselho Nacional de Praticagem nas dois dias de antecedência a mudança ram a festa com clássicos da música
questões que envolvem a profissão. de tempo”, explicou depois. popular brasileira e mundial.

LINÉSIO BARBOSA, ANDRÉ VASCONCELLOS, ALEXANDRE DA ROCHA E RICARDO MÜLLLER RICARDO E THAÍS FALCÃO

17
presidency
presidência

CONAPRA celebrates its new board


of directors taking office
Maritime Authorities and IMPA’s president lend prestige to the ceremony
Dirceu Meirelles and André Luiz Pires

WATSON CONGRATULATES CONAPRA’S FORMER AND CURRENT PRESIDENTS VICE-ADMIRAL LEAL FERREIRA

Pilot Marcelo Cajaty had a look organization, technical know-how and Then, as president of CONAPRA, he
of ‘mission accomplished’ when he prices. We commissioned studies and again met Eduardo who, by then, was
passed the presidency of the Brazilian visited various authorities to confirm head of the Ports and Coastal Authorities
Pilots’ Association to his colleague this. My sincere thanks to all the of the Brazilian Navy. In closing, Cajaty
Ricardo Falcão. The event took place authorities who received us, including asked Admiral Eduardo Leal Ferreira for
last January 19th in Rio de Janeiro at senators and congressmen. permission to thank cadet Leal Ferreira
the Clube dos Marimbás. Cajaty and for everything he had taught him, saying
the other outgoing directors were The most moving part of his address was “I owe him everything that my passion
visibly pleased to have had the offering his thanks to someone he had for the sea has given me: profession,
opportunity to lend their assistance to met about forty years ago, a cadet at friends and colleagues”.
the Ports and Coastal Directors and the Naval School called Eduardo, who
the Government by providing efficient taught him to sail and awakened his love In his address, Leal Ferreira highlighted
solutions for the challenges faced by for the sea. Cajaty explained that later, the ties between CONAPRA with the
the profession. when Eduardo was in command of the Navy to the benefit of both. Praising the
frigate Bosisio and he was a maritime professional and gentlemanly attitude
Cajaty made a point of sharing the pilot, their paths crossed once more. that guided Cajaty’s term of office, he
laurels of his administration with all the
collaborators of the Council – both staff
and aides. Breaking the protocol, he
called each by name to congratulate
them, stressing the importance of the
staff of the Brazilian Pilots’ Association
in the disputes and achievements of
Brazilian pilotage. He said:

– CONAPRA defends the Brazilian


pilotage system, a consistent service in
line with the best in the world; it
serves our real client, the country. We
are on the same level as pilots in the
main seafaring nations with regard to M. WATSON, LIA SILVEIRA AND OTAVIO FRAGOSO

18
presidency
presidência

PAULO FERRAZ MARCUS VINICIUS GONDIM RICARDO FALCÃO E MARCELO CAJATY

stressed the competent performance of a charismatic speaker, apologized for in him and inviting all to join him at
the Brazilian Pilots Association in not speaking Portuguese and gave the cocktail party after the ceremony.
matters that involve the profession. Cajaty and Falcão each an instrument With the beautiful Copacabana beach
similar to a barometer: “These tell you as a background, next to a traditional
United – Michael Watson, president two days in advance if there will be a colony of fishermen, the guests
of IMPA, also gave a brief speech change in weather”, he said. fraternized to the sound of singer
wherein he stressed the importance of Andrea Dutra and her band which
pilots acting together to continue Ricardo Falcão closed the event, entertained the party with MBP classics
strengthening their profession. Watson, thanking for the confidence deposited and popular international music.

FRATERNIZING AFTER THE CEREMONY

19
segurança
safety

Aprendendo com acidentes (parte II)


Henk Hensen

Como descrito por Henk Hensen na primeira parte desta apresentação (edição 31 da Rumos Práticos), manobras
bem-sucedidas com rebocadores são o resultado de um trabalho de equipe entre mestres de rebocadores e práticos.
Um engano de uma das partes pode afetar toda a operação, algumas vezes com consequências desastrosas.
Este artigo foca a importância do conhecimento, da experiência e do respeito às normas de segurança.
Essa importância pode ser percebida através da análise de acidentes reais que poderiam ter sido evitados.
Além disso, serão abordados acidentes e falhas ocorridos a bordo de navios e que afetam a segurança nos portos
e a assistência dos rebocadores nas manobras.

A falta de conhecimento dos recursos dos rebocadores vem causando sérios acidentes,
alguns com consequências fatais.

Por exemplo: um prático entrou com um navio graneleiro no porto. Solicitara um rebocador
com propulsão azimutal a ré (ASD) para operar na popa, mas fora informado de que lhe
seria fornecido um rebocador convencional, novinho em folha. Desconhecendo as limi-
tações do rebocador convencional, ele o instruiu a passar da posição 1 (ver figura 1) para
posição a ré do navio, a fim de auxiliar a redução da velocidade. A velocidade do navio,
naquele momento, era de pelo menos cinco nós, e a máquina ainda operava muito deva-
gar adiante. O resultado foi que o rebocador começou a adernar na posição 2 e, já ader-
nado, na posição 3, foi puxado pelo navio por considerável distância. O prático não tinha
conhecimento do que ocorria. Quando da aproximação ao berço, a máquina do navio foi
parada, a força exercida sobre o cabo de
reboque diminuiu, e o rebocador aprumou-se
novamente. Não houve vítimas fatais. A ati-
tude do prático, entretanto, foi descuidada, e
poderia ter sérias consequências.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA
Deve-se dizer que o mestre do rebocador, REVISTA SEAWAYS, DO NAUTICAL INSTITUTE,
EM AGOSTO DE 2010, E REPRODUZIDO COM A
embora muito experiente, não o era com PERMISSÃO DO AUTOR
relação àquela manobra específica que pre-
tendia executar. Esse tipo de manobra só deve
ser executado com o navio em velocidades
abaixo de três nós e com o hélice parado.
Incidentes como esse têm muitas vezes trazido WWW.NAUTINST.ORG
problemas graves para a guarnição do rebo-
cador. O sistema de desengate rápido deveria ter sido ativado, mas nem sempre ele funciona
em tais circunstâncias. Algumas vezes, a salvação do rebocador e de sua guarnição é um
cabo de reboque que se parte.

Acidente semelhante ocorreu com o rebocador de dois hélices IJsselstroom, no porto de


Peterbead, em 14 de junho de 2009 (relatório MAIB1 de 8 de abril de 2010) – ver figura 2. Ele
operava como rebocador de governo, com máquinas adiante para mantê-lo alinhado com o
cabo de reboque. O risco com essa manobra é que, com o aumento da velocidade (digamos
para três ou quatro nós), se o rebocador se desviar de sua posição, será impossível fazê-lo
alinhar novamente ao rebocado. O cabo de reboque, sob alta tensão, ficará quase em
FIGURA 1: ACIDENTE COM REBOCADOR
ângulo reto com o rebocador, o que resultará em emborcação, se o sistema de desengate
rápido não for ativado. Parece que foi isso que ocorreu.

1
Marine Accident Investigation Branch – em tradução livre, Setor de Investigação de Acidentes Marítimos, divisão do Ministério dos Transportes britânico.
20
segurança
safety

mestre da embarcação como


do prático – e esses aci-
dentes ainda ocorrem com
muita frequência.

As figuras 3 e 4 mostram
outros tipos de acidentes
sérios, ocorridos mais de
uma vez com rebocadores
ASD operando proa com FIGURA 3: REBOCADOR ASD OPERANDO
proa. Eles são causados por PROA COM PROA

velocidade excessiva e/ou


FIGURA 2: ACIDENTE COM O REBOCADOR IJSSELSTROOM
falta de experiência sufi-
ciente do mestre com o tipo
O rebocador não tinha sistema de de rebocador ASD específico. Se a causa
gob rope,2 que poderia ter evitado que for a velocidade do navio, então o prático
emborcasse, se a velocidade de super- também terá tido sua quota de partici-
fície fosse inferior a cerca de três nós. pação. Operar um rebocador ASD na
No entanto, considerando-se o pequeno situação proa com proa é operação
ângulo sob o qual a borda do rebocador arriscada, que requer muita experiência
submerge, isso não seria, de modo e total conhecimento dos recursos e
algum, garantido. O sistema já bastante limitações do rebocador, particularmente
FIGURA 4: ACIDENTE COM REBOCADOR ASD
antigo de um guincho para controlar o no que diz respeito à velocidade (ver
comprimento e tensão do gob rope, que Bow Tug Operations with Azimuth Stern
pode puxar o cabo de reboque para Drive Tugs,3 Henk Hensen, The Nautical proa com proa, o rebocador modelo
baixo e mudar o ponto de reboque para Institute, 2006). O rebocador mostrado deva reproduzir fielmente os recursos
a extremidade de ré do rebocador, teria girou e entrou sob a proa do navio ao do rebocador ASD operando nesse
evitado que este se desviasse e embor- qual prestava assistência. modo. Deve-se reconhecer que existem
casse. O rebocador não era equipado grandes diferenças entre os vários
com esse sistema, que é compulsório Esses acidentes também demonstram a projetos de rebocadores ASD.
em, por exemplo, rebocadores conven- importância das medidas adequadas de
cionais alemães. segurança a bordo de rebocadores, • a importância de medidas de segu-
cujas portas e aberturas de convés, por rança adequadas.
Um sistema radial poderia também ter exemplo, durante a operação, devem
evitado esse acidente, porém o rebo- estar fechadas para evitar inundação
cador não dispunha desse sistema. O da embarcação sob grandes ângulos Panes de máquina/leme
novo sistema dinâmico oval de reboque de adernamento.
(Dynamic Oval Towyng System – DOTS), Panes de máquina e governo em
instalado no pequeno rebocador Ugie navios manobrando em áreas por-
Runner, ou o sistema carrossel, pode- Consequências e recomendações tuárias recebem cada vez mais
riam também ter evitado o emborco. atenção internacional. Os práticos
Esses sistemas são basicamente simi- Esses exemplos reiteram: certamente têm conhecimento de tais
lares: quando o cabo de reboque panes em seus portos ou zonas de
começa a formar ângulo com a linha • a importância da experiência com um atuação, porém eles podem não estar
central do rebocador, eles mudam o tipo específico de rebocador e do co- cientes de como esses casos são
ponto de reboque para longe de sua nhecimento dos recursos e limitações comuns em escala global.
linha central e mais para o seu costado, dos rebocadores que operam na faina.
evitando assim grandes ângulos de Isso se aplica tanto aos mestres de Muitas dessas panes, cujo número cres-
adernamento. rebocadores quanto aos práticos. ce, ocorreram em portos, seus acessos e
zonas de praticagem. O “Safe Transit
O fator principal em muitos acidentes é a • o fato de a maioria das situações Programme: A guide for preventing
falha na avaliação das limitações do rebo- poder ser ensinada em simulador, se engine and steering failures: Standard
cador, que ocorre tanto da parte do bem que, em se tratando de operação of care for San Francisco Bay”,4 patroci-
2
Cabo passado da extremidade de ré do convés do rebocador ao cabo de reboque, limitando o ângulo formado por este com a linha de centro do rebocador.
3
Operação na proa com rebocadores de propulsão azimutal a ré.
4
Programa para o tráfego seguro: guia para evitar panes de máquina e governo – padrões de cuidados para a Baía de San Francisco.
21
segurança
safety

nado pelo Marine Exchange 5 da Região Convenção de 1995 sobre Padrões de de rebocadores. Estas últimas devem
da Baía de San Francisco, Comitê de Treinamento, Certificação e Serviço de sempre ter rebocadores adequados
Segurança Portuária, Departamento Quarto (STCW) não trouxe o que a disponíveis.
de Segurança Marítima da Guarda comunidade internacional esperava.
Costeira Americana, San Francisco, Ela se constituiu, na verdade, em um
2003, relata o seguinte: retrocesso nos padrões de educação e Consequências e recomendações
treinamento. O resultado foi que a
“Desde meados dos anos 90, o competência, de modo geral, está • Devemos estar cientes do número
número de acidentes envolvendo em declínio, causando um número relativamente alto de panes de
propulsão ocorridos na Baía de San crescente de acidentes e incidentes. máquina e governo nos navios que
Francisco vem aumentando. Nos últi- entram e saem de portos.
mos cinco anos, esse número vem Com respeito a diversos itens men-
evoluindo conforme segue: 21 em cionados acima como causas de panes • Particularmente em passagens e
1996, 28 em 1997, 39 em 1998, 35 de máquina e governo, aconselha-se manobras críticas, é recomendável que
em 1999 e 44 no ano 2000.” que o leitor consulte o relatório de sejam levados em conta os riscos de
investigação a respeito de uma pane panes de máquina e governo em navios
Qual é o motivo desses acidentes, de máquina ocorrida no recentemente que requeiram assistência de rebo-
ocorridos em áreas portuárias, que construído navio porta-contêiner cadores, no que diz respeito ao tipo de
envolvem propulsão? De acordo com Savannah Express, e sua subsequente rebocadores que serão empregados,
o Seamanship and Sea Accidents, colisão com uma ponte levadiça das sua tração estática e posicionamento.
Compendium, de Hans-Hermann Diestel, Docas de Southampton (Relatório MAIB
Sechafen Verlag, Alemanha, 2005, ”a nº 8/2006 de março de 2006). • O treinamento de práticos e mestres
maioria dos acidentes pode ser atri- de rebocadores deve incluir a resposta
buída à manutenção inadequada dos De modo geral, pode-se concluir que do rebocador a panes de máquina e/ou
sistemas de bordo. Além disso, é um número significativo de panes de leme do navio.
possível que os testes preventivos dos máquina e/ou leme em navios ocorre
sistemas de propulsão e governo em áreas portuárias e em outras zonas
exigidos antes da entrada no porto não de praticagem, e que, por diversas Resistência de cabeços e buzinas
estejam sendo feitos”. razões, esse número vem crescendo.
Os rebocadores modernos são cada vez
O documento Blackouts and other Panes de máquina, de governo ou mais potentes, e as forças de reboque
deficiencies,6 de junho de 2005, elabo- falhas humanas em navios-tanques geradas, particularmente quando os
rado para a CESMA (Confederation of e gaseiros tiveram como resultado cabos de reboque formam ângulos
European Ship Masters’ Associations), a adoção de acompanhamento por muito grandes em relação ao plano
pelos comandantes Ph. Susac e F.J. rebocadores em acessos a diversos horizontal e durante situações de
Wijnen, cita diversas causas, incluindo portos, particularmente nos EUA e reboque indireto, são muito maiores do
as acima mencionadas: Europa. Essas panes se deveriam que já foram. Hoje em dia os cabeços,
constituir em motivo de preocupação em sua fixação e as buzinas nos navios de
“Por motivos de economia, a mudança todos os portos e zonas de praticagem, e navegação oceânica podem não ter
tardia da fonte de suprimento de ener- todos os práticos deveriam ficar cientes resistência suficiente para aguentar as
gia elétrica, da condição de navegação dos riscos inerentes. É algo para se ter forças geradas no cabo de reboque.
no mar aberto (em muitos casos com em mente ao providenciar rebocadores
gerador acoplado ao eixo) para a para manobrar navios de grande porte Isso é um problema real. Recentemen-
condição de navegação no porto, com em áreas confinadas e ao posicioná-los te, criou-se um grupo de trabalho for-
conjuntos geradores (ou, pelos mesmos a vante e a ré. Um rebocador adequado mado por representantes da European
motivos, a mudança tardia do com- amarrado à popa, que possa exercer Maritime Pilots’ Association (EMPA) e
bustível, de óleo pesado para óleo leve), forças para diminuir a velocidade e para pela European Tugowners Association
educação e treinamento falhos, fadiga, governar o navio (como um rebocador (ETA). Seu objetivo é ”definir melhores
barreiras culturais e de idioma, além da com propulsão azimutal ou Voith, com práticas, tanto para serviços e opera-
falta de familiarização com o navio e potência suficiente para o porte do ções de praticagem como de rebo-
seus sistemas que também é menciona- navio) será de grande ajuda se ocorrer cagem de navios em portos, tendo em
da como uma causa importante.” uma pane. Pelo mesmo motivo, as panes vista o crescente porte dos navios e dos
devem constituir preocupação capital rebocadores”. O grupo de trabalho
Os autores também concluem que a para autoridades portuárias e empresas enviou carta a armadores, estaleiros,

5
Organização sem fins lucrativos, mantida por associados, que visa, entre outros objetivos, coletar, analisar e disseminar
22 6
informações sobre o tráfego marítimo na região da Baía de San Francisco. Em tradução livre, apagões e outras panes.
segurança
safety

arquitetos navais, fabricantes de problemas com cabeços e buzinas indústria não está sendo coerente” e
motores, sociedades classificadoras, inadequados. “existem diversos padrões nacionais
vistoriadores marítimos e outras partes para equipamentos de amarração...” E
envolvidas, na Europa, no sentido de 2. Quando era necessário dispor de ainda: “as diferenças de resistência
chamar atenção para os seguintes mais potência para certos navios de catalogadas para dois equipamentos
tópicos de segurança. grande porte, mais rebocadores eram de igual porte podem chegar à razão de
solicitados. Não era incomum se ter até um para 10, a maioria das quais pode
1. A grande tração estática dos rebo- seis rebocadores assistindo um navio. ocorrer devido a diferentes definições
cadores versus a resistência de cabeços Os armadores de navios, cientes do fato de resistência, fator de segurança e
e buzinas de navios. de que mais rebocadores significavam aplicação de carga.”
despesas maiores, na realidade força-
2. Posição de cabeços, buzinas e guin- ram os armadores de rebocadores a 4. Mesmo as publicações mais recentes
chos de navios. oferecer rebocadores modernos e com da IMO e da IACS 8 não fazem refe-
maior potência. À mesma época, o rência à resistência de cabos de rebo-
3. Possíveis problemas de resistência porte dos navios aumentou gradual- cadores, e sim a cabos de reboque que
nos pontos do costado dos navios em mente, em particular o de navios com os navios possam ter a bordo, que são
que o rebocador empurra. grande área vélica, como contêineres coisas bem diferentes.
transportadores de GNL e de auto-
4. Velocidade mínima muito alta de móveis. Os armadores de rebocadores 5. Cargas seguras de trabalho ado-
alguns navios. acompanharam a evolução no porte tadas a bordo de navios referem-se à
dos navios e anteciparam-se ao cresci- resistência de cabeços e buzinas, e não
A carta incluiu documento, com obje- mento que viria a ocorrer, construindo às estruturas que os suportam. Isso é
tivos, preocupações e sugestões. rebocadores mais potentes. Durante as uma omissão nas exigências e motivo
últimas duas décadas, a tração estática de muitos dos problemas atuais.
No porto de Rotterdam, esse documen- média dos rebocadores portuários
to foi discutido com empresas de aumentou do máximo de 35 para 60 A situação atual é que os navios-
rebocadores, práticos e com o autor ou até 80 toneladas, como se vê full-containers cresceram em porte, e
desta apresentação. Os comentários atualmente, e rebocadores portuários a potência dos rebocadores cresceu
foram enviados ao grupo de trabalho, de até 100 toneladas já se encontram consideravelmente, mas o equipamen-
incluindo diversas recomendações de em operação. to de convés e suas estruturas, nesses
medidas a serem tomadas agora e no navios, carecem de resistência sufi-
futuro. Foi iniciativa muito positiva da Arquitetos navais e sociedades classifi- ciente, de modo que os rebocadores
EMPA e da ETA, que deve finalmente cadoras não levaram em consideração potentes, necessários para atuar sob
resultar em melhoria nesta situação as necessidades desses rebocadores condições adversas de tempo, têm
crítica, trazendo o problema à aten- mais potentes. O equipamento de que limitar sua potência. Isso resulta
ção de pessoas, empresas, institutos convés dos grandes navios não foi em condições inseguras. Ironicamente,
e sociedades responsáveis. aperfeiçoado para suportar as grandes para superar o problema, pode ser
forças exercidas pelos cabos de re- necessário empregar mais rebocado-
Os comentários de Rotterdam incluem boque da nova geração de rebocadores. res para manejar um navio com segu-
as seguintes causas para os problemas Além disso, navios mais velhos e rança e eficiência, de modo que volta-
expostos: menores não foram obrigados a reforçar mos para onde estávamos antigamente.
seus equipamentos para que supor-
1. Há cerca de 30 anos a potência tassem as crescentes forças que eram Pode-se concluir que o motivo dos
máxima dos rebocadores era muito geradas. Um novo e sério problema presentes problemas repousa, em
menor do que é hoje. Além disso, havia se desenvolveu. grande parte, sobre a IACS e seus
grande variação quanto à potência membros, embora IMO, estaleiros e
de rebocadores. Os mais potentes eram 3. A resistência do equipamento de armadores pudessem fazer mais para
utilizados em grandes navios, e os convés está relacionada ao esforço resolver a situação.
menores, em navios de menor porte. A mínimo de ruptura dos cabos do navio.
certa altura, os rebocadores menores Veja-se, por exemplo, a publicação da
desapareceram, e os mais potentes Oil Companies International Marine Como resolver o problema
tiveram que assistir também os navios Forum (OCIMF) Mooring Equipment
menores. Nessa época, começaram os Guidelines,7 que informa: “a prática da A Rotterdam Joint Nautical Service

7 8
Diretrizes para equipamentos de amarração. International Association of Classification Societies.
23
segurança
safety

Providers 9 apresentou um grande nú-


mero de recomendações sobre, por
exemplo,

• dimensão, resistência, localização e


construção de cabeços e buzinas;

• resistência das necessárias estrutu-


ras de apoio;
FIGURA 5: BUZINA ARRANCADA DE CONVÉS
• tipos de buzinas e posições recomen- CORTESIA: SMIT HARBOUR TOWAGE, ROTTERDAM
dadas;

• monitoramento de forças no cabo


de reboque em rebocadores acima de
determinada tração estática;

• disponibilidade de cabos mensa-


geiros a bordo de navios;

• localização e marcação dos pontos


de empurra, com pressão máxima
por m²;
FIGURA 6: O OLHAL SUPERIOR DO CABEÇO
• limitação da velocidade muito de- CAUSARÁ AVARIA AO CABO DE REBOQUE
CORTESIA: KOTUG, ROTTERDAM
vagar adiante em navios;

• melhor marcação de proas bulbo-


sas, com especial atenção para quando
elas se projetam além da extremidade
visível da proa do navio;
• melhor marcação de proas bulbosas;
• diretrizes padronizadas para amarrar
e liberar rebocadores, conforme men- • emprego de um plano de reboque e
cionado em publicações da OCIMF e no amarração;
livro Tug Use in Port: a Practical Guide;10
• diretrizes padronizadas para amar-
• emprego de um plano (padronizado) ração e liberação de rebocadores,
de arranjo de reboque e amarração. incluindo o emprego de folhetos de
segurança, como é feito pelas em-
A maioria das recomendações é de presas de rebocadores URS e Smit
longo prazo, no sentido de que novas Harbour Towage;
construções tenham equipamentos e
arranjos de atracação realmente • disponibilidade de cabos mensa-
adequados à finalidade a que se des- geiros prontos para uso a bordo de
tinam. Existem, no entanto, recomen- navios em que a distância até o
dações que podem ser atendidas molinete seja muito grande;
imediatamente, com respeito a:
• equipar os rebocadores com sistema
• pontos de empurra: número, localiza- que forneça informações ao mestre
ção e marcação com cargas seguras sobre as forças reais exercidas sobre o
de empurra; cabo de reboque.

9
Associação de prestadores de serviços do porto de Rotterdam, composta por empresas de rebocadores, amarração, fornecimento de tripulações e praticagem,
10
entre outras. Em tradução livre, emprego dos rebocadores no porto: guia prático. sobre o tráfego marítimo na região da Baía de San Francisco.
24
segurança
safety

Resumo • a falta de resistência do equipamen-


to de convés em diversos navios cons-
Acidentes acontecem e continuarão titui motivo de preocupação, e indica
acontecendo no futuro. No entanto, a necessidade de medidas no sentido
devemos aprender com eles. Com os de melhorar a situação, de modo que
tipos de acidentes discutidos neste os rebocadores possam manejar navios
artigo, pode-se aprender que: com segurança nos portos e em seus
acessos.
• trabalho de equipe entre mestres de
rebocadores, e entre mestres de rebo-
cadores e práticos, bem como a atitude
correta, são essenciais para o manejo Tradução: Airton Prado
seguro de navios com rebocadores;

• experiência adequada no manejo de


um tipo específico de rebocador é indis-
pensável;

• treinamento é uma necessidade in-


discutível, particularmente para a ope-
ração de um rebocador específico;

• o treinamento deve também incluir


como lidar com emergências, como
panes de máquina e leme de navios;

• maneiras de lidar com emergências, Henk Hensen foi prático


como panes de máquina e leme de em Rotterdam;
navios, também devem estar incluídas atualmente é escritor
no treinamento; e consultor

• no que toca a tipo, tração estática e


posicionamento de rebocadores, deve-
se ter em mente o número relativa-
mente grande de acidentes que ocor-
rem a bordo de navios que escalam em
um porto;

• os práticos devem conhecer os recur-


sos e limitações operacionais dos rebo-
cadores engajados nas fainas;

• sob fortes ventos, torna-se impres-


cindível conhecer a tração estática
necessária para manobrar navios de
costado alto com segurança e efi-
ciência. Isso deve ser contemplado no
treinamento dos práticos. Recomenda-
se enfaticamente o emprego de uma
ferramenta que seja simples e de fácil
utilização, para os práticos calcularem
a tração estática necessária.

25
encontros internacionais
international meetings

Presidente crê na união da categoria para superar desafios


nos manter unidos. Outros interesses, mediários – de 50% para 20% sobre o
procurando enfraquecer os padrões de serviço. A certa altura da discussão, um
praticagem, irão usar o que parece ser prático dinamarquês levantou-se e,
discordância pública entre práticos desolado, declarou que a competição
para sua própria vantagem – e para havia sido instituída em alguns portos
o prejuízo da profissão (...) É crítico em seu país. Tanto a segurança quanto
que permaneçamos unidos, enquanto os salários dos práticos sofreram
respeitamos nossas diferenças – enfa- redução, mas o custo dos serviços
tizou o presidente da associação. aumentou.
PRÁTICO/ ANDRÉ LUIZ
VASCONCELLOS DE MELLO Práticos de diferentes nacionalidades Watson enfatizou que a praticagem
concordaram em uníssono com as compulsória não é simplesmente um
A vigésima edição do congresso bienal palavras do mais alto executivo da negócio, mas uma regra da segurança
da IMPA aconteceu no Brisbane IMPA, mostrando que, além da pra- de navegação. Em sua opinião, quando
Convention & Exhibition Centre, em ticagem brasileira, o conteúdo de seu um prático compete pela designação de
Queensland, Austrália, de 14 a 19 de discurso era um recado para a atividade um navio, ele sabe que sua forma de
novembro do ano passado. Proferido em âmbito mundial. ganhar a vida exige que ele aja de acor-
pelo presidente da associação, o práti- do com os interesses de quem controla
co Michael Watson, o discurso de Ao longo do congresso apresentaram- a seleção do prático em detrimento dos
abertura foi transmitido para audiência se várias experiências relacionadas ao interesses do governo e da população.
mundial. A exatidão com que as assunto. Na Romênia, por exemplo, De acordo com sua análise quando o
palavras do orador refletiram os introduziu-se a competição no serviço papel do prático é comprometido dessa
desafios enfrentados pela praticagem de praticagem, e os práticos passaram maneira, perde-se o propósito da pra-
nacional deixou nos brasileiros a a dar comissão a intermediários para ticagem compulsória.
impressão de que a mensagem de conseguir serviços. Não houve mais
Watson era diretamente dirigida aos investimentos no sistema de prati- Na Turquia não há mais competição na
práticos do Brasil. cagem nem no treinamento de práticos. praticagem, adotada devido à ausência
Como resultado, o país experimentou de concordância entre os práticos do
– A competição é um câncer que deve, queda na qualidade do serviço e o re- país. Recentemente, quando eles a
como todo mal, ser cortado pela raiz (...) gistro de mais acidentes marítimos. obtiveram – sobretudo devido à consta-
Podemos expressar um para o outro dis- tação de que a segurança da navegação
cordâncias ou abordagens filosóficas Na Argentina, depois de 19 anos de estava sendo ameaçada –, extinguiu-se
diferentes sobre a praticagem ou sobre sistema desregulamentado e caótico, o regime de concorrência.
o papel do prático e sua regulamen- os práticos conseguiram finalmente
tação. Isso é saudável. Mas devemos reduzir as comissões pagas aos inter- Mas não se falou apenas em compe-
tição. Outros assuntos interessantes e
úteis para a categoria estiveram em
pauta. Abordaram-se questões como
monitoramento de marés e correntes, e
uma nova metodologia para cálculo
dinâmico de lazeira abaixo da quilha,
equipamentos de proteção individual –
vários foram testados, e os resultados,
apresentados –, melhorias nos métodos
de embarque e desembarque do prático,
uso de helicópteros para o embarque,
resultados das campanhas da IMPA,
DELEGAÇÃO BRASILEIRA COM EXECUTIVOS DA IMPA acidentes e novas análises acerca
26
encontros internacionais
international meetings

do papel
do prático
no passa-
diço, crimi-
nalização do
prático e no-
vos paradigmas e
tecnologias que serão
apresentados no futuro.

Réu? – A criminalização imposta ao


prático teve destaque nos debates.
PRÁTICOS PORTUGUESES
John Kavanagh, de Queensland, apre-
sentou painel sobre regulamentação da apresentou workgroup sobre o assunto. ponto de vista psicológico e financeiro
praticagem, expôs exemplos de regu- O grupo responsável pelo trabalho – pelo custeio direto ou indireto de
lação aplicada por seu estado e trouxe espera ter a participação de todos os despesas advocatícias.
à tona acidente ocorrido nos anos 70, membros da associação e receber
no qual navio atingiu ponte na relatórios de todas as partes do mundo. Em relação a custeio de despesas com
Austrália, matando dezenas de pes- Assim poderá tentar monitorar situa- ações judiciais, os advogados John
soas, entre transeuntes e tripulantes. O ções críticas e auxiliar a prevenção Kavanagh e Edgar Gold, bem como
comandante, único culpado segundo o da criminalização do prático. Para isso vários práticos, aconselharam veemen-
processo, teve a carta suspensa por a IMPA quer sensibilizar as nações a temente que as empresas de prati-
seis meses. fim de que elas garantam aos práticos cagem contratem seguradoras ou se
ambiente tranquilo para trabalhar, associem a algum tipo de fundo para
A situação contrasta, e muito, com o em vez de atmosfera de perseguição fazer frente a custos dessa ordem.
que acontece atualmente no mundo. O e culpa.
comandante Ravi Nijjer apresentou Ao expor o caso do prático Jacques
relato da colisão entre o rebocador Profissionais da PortPsych, os psicólo- Cloutier, processado e inocentado três
Neftegaz 67 e o navio Yao Hai. Coman- gos Rod Jepsen e Marcus Romanic vezes num mesmo incidente, Simon
dantes e práticos das duas embar- levantaram ponto interessante sobre a Pelletier, também vice-presidente da
cações foram considerados culpados e atividade: o essencial apoio dos cole- IMPA, resumiu bem a problemática:
presos – alerta claro de que há mudança gas. Estudo da dupla apontou para a “Cuidado e diligência são as melhores
em curso na visão do papel do prático. necessidade de rede de suporte para o armas para defender o prático.”
desenvolvimento da profissão. Segundo
Paul Kirchner, da American Pilots’ eles um ambiente propício para No quadro de executivos houve apenas
Association (APA), explicitou bem o discussão e análise de acidentes, inci- uma mudança: Rodolfo Striga deixou
tema levantando acidentes em que dentes e quase erros levaria ao apri- um dos cargos de vice-presidente da
prático e/ou comandante sofreram moramento do serviço de praticagem. entidade (são cinco no total), que
sanção criminal. Segundo a APA, os Após as apresentações, práticos passou a ser ocupado por Frederic
países esperam que práticos previnam envolvidos em acidentes relataram ter Moncany. O próximo congresso será
acidentes. Eles devem, portanto, se sido essencial o apoio de colegas para em 2012, em Londres.
opor a decisões inseguras de coman- superar as dificuldades enfrentadas do
dantes e equipes de passadiço. Nos
EUA, o Estado espera que o prático seja
assertivo e defenda fortemente os
interesses do país. O prático é mais do
que assessor do comandante. Ele
assume papel de condutor do navio,
trabalhando em conjunto com a equipe
de passadiço, embora a ela não per-
tença. Sua função é proteger o interes-
se público dos perigos da navegação.

A IMPA está atenta à questão, e um de MULHERES DE PRÁTICOS DO BRASIL, ARGENTINA E CHILE


seus vice-presidentes, Cahit Istikbal,
27
international meetings
encontros internacionais

20th International IMPA Congress


President believes that by acting together associations can
overcome all challenges
During the congress, several delegates regulation. In his opinion, when pilots
reported on their experiences with have to compete for ship assignments,
regard to competition. For instance, they know that their livelihood demands
Romania introduced competition and that they act in accordance with the
pilots found that they were obliged to interests of those who control the
pay a commission to intermediaries selection of the pilot, in detriment to
for work assignments. Since then, no the interests of the government and the
further investments have been made in population. According to him, when a
TRANSPORT MINISTER OF QUEENSLAND
the pilotage system or training pilots. pilot’s role is compromised in this
As a result, the quality of the service in fashion, the purpose of the compulsory
Romania has deteriorated and more pilotage requirement is frustrated.
maritime accidents were registered.
The twentieth biennial IMPA Congress In Turkey, competition in pilotage
was held at the Brisbane Convention In Argentina, after nineteen years adopted due to a lack of agreement
& Exhibition Centre in Queensland, of an unregulated chaotic system, the among the country’s pilots, no longer
Australia, from November 14 to pilots were finally able to reduce the exists. It was recently extinguished,
November 19 last year. The opening commissions paid to intermediaries on mainly due to the conclusion that it
address by IMPA president Michael services rendered from 50% to 20%. At threatened shipping safety.
Watson was conveyed to a worldwide one point in the discussion, a Danish
audience. The speaker’s words applied pilot took the floor and said he was But competition was not the only subject
so exactly to the challenges faced sorry to say that competition had been discussed. Other interesting matters
by Brazilian pilots that he seemed to introduced in some ports of his country. useful for the profession were on the
be addressing them directly. Both safety and salaries of pilots were agenda. Questions were addressed,
negatively affected while the cost of such as monitoring tides and currents, a
Captain Watson considers competition the service increased. new methodology for dynamic calcula-
a cancer that, like any other evil, tions of under-keel clearance, individual
must be eradicated. He is of the opinion Watson stressed that compulsory protection equipment (several had been
that pilots may disagree with each pilotage is not simply a business tested and the results were shown),
other; and they may have different matter; it is a navigation safety improvements in pilot transfer methods,
philosophical approaches to piloting or
the role of pilots and their regulation.
That, he says, is healthy. But, publicly,
they must remain united. Other interests
will, in an attempt to weaken the
standards of piloting, use what appears
to be public disagreement among pilot
groups to their advantage and to the
detriment of the profession. IMPA
president underlined that it is of critical
importance to remain united while
respecting each other’s differences.

Pilots of different nationalities


unanimously agreed with the opinions
expressed by IMPA’s top executive,
proof that his message applied not
only to Brazilian pilots but to the entire
BRAZILIAN DELEGATION WITH PORTUGUESE PILOT CASACA
profession.
28
international meetings
encontros internacionais

environment instead of an environment


of persecution and guilt.

Psychologists Rod Jepsen and Marcus


Romanic of PortPsych raised an
interesting issue: the essential
support of colleagues. Their study
points to the need for a support
network for the profession to
progress. According to them, an
environment propitious for discussion
and analysis of accidents, incidents
and near errors, leads to better pilot
MR. AND MRS. WATSON AND MR. AND MRS. HEGGENDORN
services. After the presentations,
pilots involved in accidents reported
use of helicopters for boarding pilots, This situation is very different from that the support of their colleagues
results of IMPA campaigns, accidents, what happens today throughout the had been essential for overcoming the
new studies regarding the role of the world. Master Ravi Nijjer reported on problems faced from a psychological
pilot on the bridge, criminalization of the collision of the tug Nefegas 67 and financial point of view – the direct
pilots, as well as new paradigms and with the ship Yao Hai. The masters or indirect cost of lawyers’ fees.
technologies. and pilots of both vessels were
considered guilty and arrested – a Lawyers John Kavanagh and Edgar
Criminal? – Criminalization imposed clear warning that the view of the Gold, as well as several pilots, strongly
on pilots was a highlight in the pilot’s role is changing. advised pilot companies to procure
debates. John Kavanagh from insurance or join some kind of fund
Queensland gave a presentation on Paul Kirchner from the American Pilots’ in order to be ready to meet the cost
pilotage regulations. He produced Association (APA) explained the of lawsuits.
examples of the regulations in his problem perfectly; he mentioned
state and mentioned an accident that accidents for which the pilot and/or Simon Pelletier, another vice-president
had taken place in the seventies, when the master suffered criminal sanctions. of IMPA, mentioned the case of pilot
a ship struck a bridge in Australia, According to the APA, countries expect Jacques Cloutier, who was indicted
killing dozens of pedestrians and pilots to prevent accidents. They and declared innocent three times for
crew members. The master, considered should, therefore, oppose unsafe the same incident. He declared that
the sole culprit, was suspended for decisions taken by masters or bridge “concern and diligence are the best
six months. crews. In the USA, the State expects weapons for defending pilots”.
the pilot to assert himself and to strongly
defend the country’s interests. A pilot There was only one change in the
is more than the master’s adviser. cadre of executives: Rodolfo Striga,
He plays the role of ship’s operator, one of IMPA’s five vice-presidents,
working with the bridge crew although was replaced by Frederic Moncany.
not being part of it. His job is to protect The next congress, in 2012, will be
public interests from shipping dangers. held in London.

IMPA pays close attention to this


question and one of its vice-presidents,
Cahit Istikbal, formed a work group
on the subject. This group hopes that
all members of the Association will
participate and send in reports on
incidents. This will enable them to
watch out for critical situations and to
assist in preventing criminalization of
PILOTS HEGGENDORN, MARES GUIA pilots. In this respect, IMPA wants to
AND VASCONCELLOS WIVES OF PILOTS AT CLOSING DINNER
make nations aware of the importance
of providing pilots with a calm working
29
encontros internacionais
international meetings

Brisbane e arredores: atrações


turísticas para todos os gostos
Participantes aproveitaram a caprichada programação social preparada pela produção do congresso. No dia 15 de novembro as
acompanhantes dos delegados visitaram o Indooroopilly Golf Course, clube em que acontecem vários tipos de evento. Para elas
estava reservado um fashion workshop, fornecendo-lhes boa ideia da moda local e dicas preciosas de estilo em geral. Depois as
visitantes foram almoçar no Mount Coot-tha, mirante que oferece deslumbrante vista de Brisbane.

Os que estiveram em Lone Pine Koala Sanctuary, no dia seguinte, puderam interagir livremente com um dos principais ícones do país,
os cangurus, tocando-os e alimentando-os. O parque é o maior santuário de coalas do mundo e abriga além de marsupiais, aves de
rapina, ornitorrincos, crocodilos e outros animais da fauna australiana. Na volta ao hotel navegaram pelo Rio Brisbane emoldurados por
um belo pôr do sol.

O tempo ajudou no passeio a Moreton Island, única visita reservada também aos delegados, que fizeram pequena pausa nos
trabalhos para conhecer parte das atrações locais. Recepcionados pelo staff do Tangalooma Resort, um complexo que oferece dezenas
de atividades esportivas e lúdicas, o grupo se divertiu nas praias da ilha durante o dia 17. Tamborine Mountain e Surfers Paradise foram
os pontos turísticos visitados no penúltimo dia do evento.

No primeiro as acompanhantes percorreram parte de uma reserva florestal equipada com galerias de arte e lojas de antiguidade e
artesanato, além de degustar os bons vinhos da região. Em Surfers Paradise as turistas descobriram outras belas praias do litoral de
Queensland e passearam em lojas e shoppings da sofisticada cidade da Gold Coast.

Para o último dia a organização do congresso programou visitas ao Australia Zoo e à Sunshine Coast, como é conhecida a costa do
norte, um dos destinos preferidos dos australiados devido à beleza natural e à tranquilidade que a região oferece. O tradicional jantar
de gala aconteceu na Saint John’s Cathedral, templo anglicano de estilo gótico. Música animada, bufê de ótima qualidade e a
impressionante beleza do lugar garantiram o sucesso da confraternização que fechou o evento.
Stock.xchng/Story Bridge by Madtornado

STORY BRIDGE, BRISBANE

30
international meetings
encontros internacionais

Delegates and accompanying persons took part in the event’s extensive social program
prepared by the congress organizers. On November 15, they visited the Indooroopilly
Golf Course, a club known for hosting a variety of events. At a fashion workshop, the
ladies could have a look at local fashion, and be given interesting pointers
on fashion in general. Later, the visitors had lunch at Mount Coot-ha, a belvedere
with a breathtaking view of Brisbane.

The next day, visitors to the Lone Pine Koala Sanctuary were allowed to freely interact with
kangaroos, one of Australia’s main icons, touching and feeding them. The park is the largest koala sanctuary in the world and shelters
not only the marsupials but also birds of prey, duck-billed platypus, crocodiles and other species of Australian fauna. Back at the hotel,
the group watched a beautiful sunset while sailing on the Brisbane River.

A tour of Moreton Island in perfect weather was the only activity on the program in which the delegates joined the other participants
during a small break in their meeting to appreciate some of the local attractions. Welcomed by the staff of the Tangalooma Resort, a
complex that offers dozens of sport and play activities, the group enjoyed the island’s beaches throughout the day of the 17th.

On the one-but-last day of the event, a visit to Tamborione Mountain and Surfers Paradise was programmed for the accompanying
persons. At the first stop, they visited part of a forest reserve, art galleries, as well as antique and handicraft stores, and had a chance
to taste the good wines of the region. In Surfers Paradise, they discovered other beautiful beaches on the Queensland coast and
visited stores and malls of this sophisticated city on the Gold Coast.

For the last day of the congress, the organizers had programmed visits to the ‘Australia Zoo’ and the ‘Sunshine Coast’, the name by
which the northern coast is known. The Sunshine Coast is one of the favorite spots of the local population that appreciates its natural
beauty and tranquility. In the evening, participants and their companions fraternized at the traditional gala dinner which was held at
Saint John’s Cathedral, a gothic Anglican church. Lively music, a delicious buffet and the outstanding beauty of the church assured the
success of the closing event.

THE HEGGENDORNS AT THE


LONA PINE KOALA SANCTUARY

31
meio ambiente
environment

Projeto Tamar
Há 30 anos protegendo o ecossistema marinho
O nome Tamar resulta da justaposição ambiente marinho do país. O grupo Conscientização – Não existe pesca
das duas primeiras letras da palavra fazia pesquisa dirigida com apoio do dirigida às tartarugas; capturá-las é
tartaruga com as três primeiras letras Museu Oceanográfico de Rio Grande crime. Entretanto, a pesca representa a
da palavra marinha. Embora falar em e do extinto Instituto Brasileiro de maior ameaça à espécie. Por serem
tartaruga marinha seja redundante – Desenvolvimento Florestal. onívoros esses quelônios comem
toda tartaruga é marinha; quelônios de matéria vegetal e animal; assim, são
água doce são cágados, e os de hábitos Em Atol das Rocas, RN, encontraram atraídos por peixes capturados em
terrestres, jabutis –, fato é que o nome rastros e muita areia remexida na praia redes. Tendo pulmão como todo réptil, a
pegou e o projeto deu frutos. Tantos, nas manhãs em que estiveram no local. tartaruga precisa respirar. Quando fica
que hoje comemora a soltura de 10 mi- Demorou pouco tempo para atinarem presa em redes ou anzóis, ela começa a
lhões de filhotes ao mar. Reconhecido que a mudança no cenário da costa era se debater, não consegue atingir a
internacionalmente como uma das mais produzida pelas tartarugas que subiam superfície, gasta todo seu oxigênio de
bem sucedidas experiências de conser- à praia para desovar durante a madru- uma só vez e acaba desmaiando ou
vação marinha, serve de modelo para gada. Em uma noite pescadores que morrendo afogada. Isso acontece na
outros países, sobretudo porque em seu acompanhavam o grupo mataram 11 chamada pesca incidental, atividade
trabalho socioambiental envolve direta- tartarugas; os jovens viram e fotogra- que atinge determinados animais mari-
mente comunidades costeiras. faram homens da região retirando os nhos, embora não lhes vise. Para tentar
ovos de uma fêmea para consumo reverter esse quadro, o Tamar vem
depois de cortar seu ventre – uma desenvolvendo ações específicas que
imagem emblemática que chocou a incluem pesquisas, educação e infor-
comunidade ambientalista. mação ambiental e atividades interati-
vas com pescadores.
A detecção dessa matança e a pressão
advinda de outros países serviram de
alavanca para a criação de programas
de proteção do meio ambiente marinho,
inexistentes no país até então. A
Faculdade de Oceanografia da UFRG
contribuiu para a causa formando uma
geração pioneira de ambientalistas que
banco de imagens Projeto Tamar
passaram a se dedicar profissional-
mente à conservação desse ecossis-
Gustavo Stahelin

tema. Como um dos resultados desse


movimento, nasceu nos anos 80 o
Projeto Tamar.
VETERINÁRIA DAPHNE WROBEL EM AÇÃO
VETERINARY DAPHNE WROBEL IN ACTION Há cerca de 30 anos era comum nas ESPINHEL PELÁGICO: GRANDE AMEAÇA
comunidades litorâneas matar tarta- PELAGIC TROTLINE: MAJOR THREAT
No final dos anos 70 as tartarugas já rugas para consumo de sua carne e
estavam na lista de espécies amea- venda de seu casco, utilizado para fa- Entre as iniciativas do projeto está a
çadas de extinção, e nada se fazia para bricação de óculos, pentes, bijuterias, campanha “Nem tudo que cai na rede é
sua preservação no Brasil. Estudantes etc. As fêmeas eram capturadas quan- peixe”, criada a fim de conscientizar a
da Faculdade de Oceanografia da UFRG do subiam à praia, e seus ovos eram população em geral, e em especial
organizavam expedições a praias deser- coletados nos ninhos para consumo pescadores, que as redes representam
tas e distantes, preferencialmente as próprio ou venda. Com sua atuação o um dos maiores inimigos das tartaru-
virgens. O objetivo desses jovens era Tamar conseguiu mitigar consideravel- gas. Ensiná-los como se reanima uma
desbravar e pesquisar o litoral do Brasil mente ações predatórias dessa natu- tartaruga é um dos principais motes da
e suas ilhas oceânicas para conhecer o reza, cada vez mais raras. campanha. Trata-se de recurso impor-
32
meio ambiente
environment

tan- Pernambuco (Fernando de Noronha),

banco de imagens Projeto Tamar


TARTARUGA CABEÇUDA LOGGERHEAD TURTLE TARTARUGA-VERDE GREEN TURTLE TARTARUGA-DE-PENTE HAWKSBILL TURTLE

tante para que saibam como proceder Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Neles apresenta-se ao público o projeto,
em caso de afogamento e não desistam Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. salientando sua importância socioambi-
do animal atirando-o ao mar por medo ental. Os centros representam impor-
de sanção criminal. O projeto também A inclusão das comunidades litorâneas tante fonte de renda para o Tamar: mais
desenvolve petrechos de pesca que no projeto foi decisiva para seu suces- de 40% do orçamento anual do projeto
visam à proteção desses répteis. so. Os idealizadores do Tamar entende- vem de recursos obtidos pela venda de
ram que a empreitada só atingiria sua ingressos e da comercialização de produ-
Entre as modalidades pesqueiras que meta firmando parcerias com a popu- tos e serviços, trabalho realizado majori-
mais dizimam tartarugas está a pesca lação local, cuja importância no proces- tariamente pelas próprias comunidades.
industrial, com utilização de espinhel so foi detectada logo no início – eram
pelágico. Realizada em alto-mar, dificul- os moradores das zonas costeiras que Espécie-bandeira – Por ser animal
ta a ação de organismos fiscalizadores sabiam encontrar os ninhos, por exem- carismático e misterioso (ainda não é
e registra altos índices de capturas inci- plo. Desenvolveram-se programas de possível estudar e entender todas as
dentais. A poluição marinha representa geração de emprego e renda através de características de seu comportamento)
outro fator que gera enorme impacto na alternativas econômicas sustentáveis e a tartaruga faz parte da categoria de
vida desses animais. A tartaruga é de capacitação e outras atividades de espécies-bandeira, como o urso panda
pouco seletiva em relação a sua alimen- inclusão social. Os mesmos pescadores e o mico-leão-dourado. Esses animais
tação. Com poucas papilas gustativas que matavam tartarugas e confiscavam são usados para difundir e massificar
na língua, ela come o que vê pela seus ovos foram aos poucos se transfor- conceitos conservacionistas que visam
frente. A ingestão de plástico, por mando em colaboradores diretos do conscientizar a opinião pública sobre a
exemplo, pode causar obstrução no Tamar. Nascia a profissão de tartarugueiro. necessidade de serem protegidas tam-
sistema digestivo, impedindo-as de bém espécies menos conhecidas e seus
defecar; as fezes vão endurecendo O Tamar gera hoje mais de 1.300 respectivos habitat. O fato de parte de
devido à perda de água, e o animal empregos diretos, 85% para pessoas seu ciclo reprodutivo acontecer fora
muitas vezes morre. Também o derra- das comunidades locais. Quatrocentos d’água encanta aqueles que têm a opor-
mamento de derivados de petróleo nos pescadores são envolvidos diretamente tunidade de presenciar esse fenômeno
mares pode provocar efeitos deletérios nas atividades de campo, 200 estu- e ajuda a sensibilizar as pessoas em
na fauna marinha. Composto extrema- dantes e jovens profissionais são prol de sua causa.
mente tóxico, o óleo pode ser fatal se treinados, e duas confecções dirigidas
for ingerido por uma tartaruga. por mulheres e filhas de pescadores Solitárias, as tartarugas vivem sub-
produzem produtos com a marca Tamar. mersas boa parte do tempo; é possível
Conservação, pesquisa e manejo das O projeto ainda apoia 23 grupos de pesquisar sua existência porque elas
cinco espécies de tartarugas que ocor- artesãos e uma creche-escola para desovam no continente. Não fosse
rem* no Brasil, todas ameaçadas de mais de 200 crianças. Com o desen- esse movimento de dirigir-se à praia, o
extinção, constituem a principal missão volvimento das bases, as comunidades estudo de seus hábitos e biologia
do Tamar. O projeto oferece proteção à litorâneas localizadas em seu entorno seria tremendamente mais complexo.
espécie em cerca de 1.100km de praias entenderam que todos tinham a ganhar Possuem audição, olfato e visão desen-
distribuídos em 23 bases que com- com a preservação do animal. volvidos, além de incrível capacidade de
preendem áreas de alimentação, deso- orientação. Animais migratórios por
va, crescimento e descanso no litoral e Empregando mão de obra local foram excelência (chegam a realizar viagens
ilhas oceânicas dos seguintes estados inaugurados centros de visitantes, polos transoceânicas) vivem espalhadas na
brasileiros: Ceará, Rio Grande do Norte turísticos que promovem conceitos e imensidão dos mares e, ainda assim,
(Praia da Pipa e Atol das Rocas), ações de cidadania e inserção social. sabem aonde ir para se reproduzir.
33
meio ambiente
environment

pode desovar de três a sete vezes por Mas isso também é complicado, pois a
temporada, com intervalo de 15 dias, tartaruga demora de 25 a 30 anos para
contendo cada ninho em média 120 se reproduzir e colocar ovos. De acordo
ovos. Esses animais conseguem pro- com estudos de profissionais, as popu-
duzir até mil ovos por período de deso- lações reprodutivas das tartarugas
va. Acredita-se que o retorno da fêmea oliva, cabeçuda e de-pente pararam de
para desovar na mesma temporada declinar, o que configura incrível vitória
reprodutiva também se deva à estraté- para um programa que em apenas 30
TARTARUGA OLIVA OLIVE RIDLEY TURTLE gia de autoperpetuação, pois lhe seria anos vem defendendo com grande
impossível abrir uma cova para número sucesso essas espécies que têm nada
Algum tempo depois da cópula, acon- de ovos de tal monta. E, mesmo que mais nada menos que 50 milhões de
tece na vida das fêmeas inusitado fenô- pudesse, se o ninho fosse predado, se vezes a sua idade.
meno: elas voltam às proximidades das perderia uma geração inteira de fi-
praias onde nasceram, para desovar. A lhotes. Entre suas características repro- (com informações do site
isso chama-se filopatria. Uma das teses dutivas encontram-se também a poli- www.projetotamar.org.br)
para esse fato é a do imprinting químico, gamia cruzada (machos copulam com
capacidade dos filhotes de memorizar várias fêmeas) e a capacidade de *Como se trata de animal migratório, utiliza-se o
armazenar o espermatozóide dos ma- verbo ocorrer para se referir à tartaruga.
as características físico-químicas de sua
região natal, após o nascimento, durante chos em seu oviduto por algum tempo.
seu trajeto ao mar. Entre 25 e 30 anos
(quando se tornam sexualmente madu- Medir a população de tartarugas repre-
ras e são fecundadas) voltam a essa senta tarefa complicadíssima por várias
região para colocar seus ovos. E por que razões: primeiro porque não se conhece
fariam isso? Estudiosos acreditam que o número da população inicial e depois
seria uma estratégia de conservação da porque elas passam a maior parte
espécie. Se a mãe nasceu e conseguiu de sua vida no mar, migrando pelos
sobreviver tendo nascido naquela praia, oceanos. Assim, ainda encontra-se
há chances razoáveis de seus filhotes em desenvolvimento metodologias que
também terem sucesso. possibilitem efetuar modelagem po-
pulacional para essas espécies. Por
De mil filhotes que se encaminham ao enquanto, o método mais confiável de
mar, um ou dois chegam à idade adulta. estimar a situação dessas populações
O Tamar procura não interferir na é pelo monitoramento e medição do
predação natural a que esse animais número de tartarugas que sobem à
são submetidos. Seu objetivo é mini- praia para desovar. RESGATE DE TARTARUGA TURTLE BEING SAVED
mizar os impactos antrópicos em suas
vidas. Raposas e formigas costumam
capturar ovos, e, quando nascem, os
filhotes ficam expostos ao ataque de
aves marinhas, polvos, caranguejos e
peixes. Adultas, com exceção do ataque
ocasional de tubarões e orcas, elas
atingem certo grau de imunidade. O
momento da desova representa o perío-
do de maior vulnerabilidade para uma
fêmea adulta, pois é quando ela está
fora do mar. Na praia torna-se morosa
banco de imagens Projeto Tamar

e indefesa, totalmente exposta aos


ataques de predadores. Nenhuma
ameaça natural, entretanto, supera o
perigo que a ação do homem significa
para a espécie.

No Brasil o período de desova costuma


ir de setembro a março. Uma fêmea TARTARUGA DE COURO LEATHERBACK TURTLE

34
environment
meio ambiente

Gustavo Stahelin
Tamar Project
Thirty years of protecting
the ocean ecosystem
TURTLE ANESTHETIZED
TThe name Tamar is a combination of the project is a resounding success.
the first letters of ‘tartaruga' and So much so that it is now celebrating
'marinha' (Portuguese for sea turtle). its ten million baby turtles assisted
It is redundant to call them sea turtles to reach the sea. The project is
because the sea is their habitat, internationally acknowledged as one of marine fauna conservation and is
but the name Tamar caught on and of the most successful experiments a benchmark for other countries,
particularly because its socio-
environmental activities involve
the coastal communities directly.

At the end of the seventies, turtles


were already on the list of endangered
species, but Brazil did nothing to
conserve them. Students from the
Oceanographic School of the
Federal University of Rio Grande
(Portuguese acronym UFRG) organized
expeditions to distant deserted
beaches, giving preference to
localities untouched by man. They
intended to explore and research the
Brazilian coast and its ocean islands
to become familiar with the country’s
marine environment. The group’s
research had the backing of the
Oceanographic Museum of Rio Grande
and of the now extinct Brazilian
Institute of Forestry Development.

In Atol das Rocas in Rio Grande do


Norte State, they found tracks and
sand that had been tampered with on
the beach in the mornings when they
visited it. They soon realized that
this was caused by turtles that had
climbed up to the beach at dawn to
lay their eggs.
banco de imagens Projeto Tamar

Fishermen who accompanied the


group killed eleven turtles in one
night; the youngsters saw and
photographed men of the region
removing the eggs from a female and
eat them after having cut her belly
open – an emblematic sight that shocked
FISHING, A THREAT TO THE SPECIES the environmentalist community.
35
environment
meio ambiente

Discovery of this slaughter, as well as of the main mottos of the campaign. the ones who knew how to find the
pressure from other countries, were Fishermen are taught what to do if nests. Tamar set up programs for
levers for creating the first marine turtles are drowning: they should generating jobs and revenue through
environment protection program in not give up and throw them back into sustainable economic alternatives and
Brazil. The UFRG Oceanographic School the sea because they fear criminal training in activities that lead to social
contributed to the cause by forming a charges. The project also endeavors to acceptance. The very fishermen who
pioneer generation of environmentalists produce fishing equipment that protects had killed turtles and robbed their eggs
dedicated professionally to conserving these reptiles. gradually became Tamar collaborators.
this ecosystem. The Tamar Project The profession of ‘turtle handler’ had
originated in the eighties as a result Among the different types of fishing, been created.
of this initiative. industrial fishing is the worst: it
decimates turtles due to the use of Tamar generates currently more than
Around thirty years ago, it was common pelagic longlines. Carried out in the 1,200 direct jobs, 85% for the local
practice in coastal communities to kill high seas, it is difficult to control and communities. Four hundred fishermen
turtles, eat their flesh, and sell their therefore causes high indices of are directly involved in field activities,
shells for making tortoiseshell glasses, incidental capture. Marine pollution is 200 students and young professionals
combs, costume jewelry, etc. The another factor that has a huge impact are trained, and two enterprises managed
females were captured when they on these reptiles. Turtles are not choosy by wives and daughters of fishermen
climbed up the beach, and their eggs when it comes to food. They have few manufacture goods with the Tamar
were taken from the nests for their own gustatory papillae and eat whatever logo. The project also supports 23
consumption or for sale. The Tamar comes their way. Swallowing plastic, groups of artisans and a kindergarten
project considerably reduced these for instance, can obstruct their for over 200 children. The installation of
predatory activities which are becoming digestive system, stopping defecation; the project’s bases made the coastal
increasingly rare. feces harden due to loss of water, communities around them understand
and they often die. Oil spills also have that everyone gains by preserving
Awareness – Turtles are never the lethal effects on marine fauna. Being the turtle.
object of fishing; capturing them is a extremely toxic, oil can be fatal if
crime. Yet fishing is one of the species’ swallowed by a turtle. With the help of local labor, tourist
greatest threats. Chelonians are centers that promote citizen concepts
omnivorous, they eat both vegetal and Conservation, research and dealing and actions, as well as social
animal matter; therefore, they are with the five Brazilian species of acceptance, were inaugurated. There,
attracted to fish captured in nets. turtles, all of which are endangered, are the project is presented to the public,
Having lungs like all reptiles, the turtle Tamar’s chief mission. The project emphasizing its social-environmental
must breathe. When it is caught in nets offers the species protection along importance. The centers are an
or hooked by fishing rods, it starts to about 1,000 km of beaches distributed important source of revenue for
struggle and, unable to surface, over 23 bases that include food areas, Tamar: more than 40% of the annual
immediately uses up all its oxygen, egg laying, growth and rest on the coast budget of the project is derived from
eventually fainting or drowning. This and ocean islands of the following money obtained from entrance fees and
occurs in so-called incidental fishing, Brazilian states: Ceará, Rio Grande do the sale of products and services;
i.e., fishing that affects certain marine Norte (Praia da Pipa and Atol das most of this work is carried out by the
animals although not intended for them. Rocas), Pernambuco (Fernando de communities themselves.
Tamar is attempting to reverse this Noronha), Sergipe, Bahia, Espírito
situation by undertaking specific actions Santo, Rio de Janeiro, São Paulo Flag species – Because the turtle is
that include researching, educating and and Santa Catarina. charismatic and mysterious (as yet it is
providing environmental information, as not possible to study and understand all
well as interacting with fishermen. Including coastal communities in the the characteristics of its behavior) it is in
project was decisive for its success. the flag species category, like the panda
Among the project’s initiatives is the Tamar’s planners realized that their and the golden lion tamarin (marmoset).
campaign ‘Not everything caught in initiative would only achieve their These animals are used to divulge
nets is fish’. It intends to make the objective in partnership with the local conservation concepts that aim at
population in general and fishermen in population. Their importance in the making public opinion aware of the need
particular aware that fishing nets are process was detected at the very to protect lesser known species and
one of the turtles’ worst enemies. To beginning – to give an example, the their habitats. The circumstance that the
teach them how to revive turtles is one inhabitants of coastal zones were turtles’ reproductive cycle occurs on land

36
environment
meio ambiente

is entertaining for those who have the strategy for conserving their species. If eggs between September and March. A
opportunity to witness it and helps the mother had been born on that beach female can lay eggs three to seven
the animal’s cause. and survived, there is a good chance times per season with an interval of
that her young will also be able to. fifteen days; each nest contains an
Turtles are not gregarious; they spend average of 120 eggs. Turtles can produce
most of their time underwater in Of the thousands of young turtles up to a thousand eggs in a season. It is
solitude and can only be researched migrating to the sea, only one or two believed that the return of the female to
because they lay their eggs on land. reach adulthood. Tamar tries not to lay her eggs at the same reproductive
If they did not come to the beach, interfere in the natural predatory period is also due to a self-preservation
studying their habits and biological process that they are subject to. strategy since she could never dig just
characteristics would be much harder. Its objective is to minimize the one cavity in the ground for that many
They have good hearing, smell and anthropic impacts on their lives. Foxes eggs. And even if she could, if the nest
sight, as well as an unbelievable sense and ants frequently capture were attacked she would lose a whole
of direction. Their migratory ability is their eggs and, generation of young. Among the turtle’s
amazing (they even cross oceans). They when the reproductive characteristics are the
live dispersed in the immensity of young are male’s polygamy mating (he mates with
oceans and yet find their way born, several females) and the female’s
to a specific beach to they capacity to store sperms in her ovary
reproduce. ducts for quite some time.

There are many reasons why


counting the turtle population
is extremely complicated:
first, because its initial number
is unknown, and second, because
turtles spend most of their time
at sea, swimming in the oceans.
Methodologies that will help count
them are still being developed. So far,
the most reliable way of estimating
their number is by monitoring and
counting the number of turtles that
climb up the beaches to lay their eggs.

But this is also difficult since turtles


take 25 to 30 years to reproduce
and place their eggs. According to
professional studies, the numbers of
reproductive populations of the olive
Some time after mating, ridley turtle, loggerhead turtle and
a strange phenomenon occurs in the life hawksbill turtle are no longer declining;
of the females: they return to the are attacked by marine birds, octopus, that is a tremendous victory for a
beaches where they were born in order crabs and fish. Once they are fully program which in only thirty years has
to lay their eggs. One of the theories put grown, they are less vulnerable, except been successfully defending species
forth to explain this is chemical for the occasional attack by sharks that are no less than 50 million
imprinting, the capacity of the young and whales. The adult female is most times their age.
to memorize the physicochemical vulnerable when laying her eggs since
characteristics of their natal region that is when she is on land. On the (based on information on site
after they are born, during their life at beach she is lethargic and defenseless, www.projetotamar.org.br)
sea. Between 25 and 30 years of age fully exposed to attacks by predators.
(when they are sexually mature and But no threat to the species is,
impregnated) they return to that region however, as great as that of man.
to lay their eggs. And why would they
do that? Scientists believe that it is a In Brazil, the female usually lays her

37
Brasileiros participaram de encontro da APA
Brazilians attended an APA meeting
A convenção bienal da American Pilots’ Association aconteceu em Las Vegas, de 26 a 28 de
outubro de 2010, com a participação dos práticos brasileiros Marcelo Cajaty e Ricardo
Falcão. Cajaty – presidente do CONAPRA à época – aproveitou a oportunidade para
agradecer aos práticos do Rio Mississippi, em especial a Michael Lorino, a generosa
acolhida oferecida a Falcão e seu colega Linésio Barbosa Junior, ambos da ZP-01, que
visitaram em janeiro do ano passado empresas de praticagem do rio norte-americano.

The biennial meeting of the American Pilots’ Association was held in Las Vegas from October
MARCELO CAJATY E/AND RICARDO FALCÃO 26 to 28, 2010, and was attended by Brazilian pilots Marcelo Cajaty and Ricardo Falcão.
Cajaty – the then president of CONAPRA – took advantage of this opportunity to thank the
Mississippi River pilots in general and Michael Lorino in particular for the warm welcome they had extended to Falcão and his colleague
Linésio Barbosa Junior, both from PZ-1, and who, last January, visited Mississippi River pilot associations.

40º aniversário da Delegacia da Capitania dos Portos em São Sebastião


40th anniversary of the Assistant Port Director’s Office in São Sebastião
A fim de assegurar o desenvolvimento do potencial marítimo de São Sebastião, em 1919 foi criada uma agência da Capitania dos Portos
no município paulista. Em 1971, por força de decreto presidencial, elevou-se a agência à categoria de delegacia, que em 19 de março
deste ano completa 40 anos. Sua efetiva implantação aconteceu em 18 de julho de 1972 sob o comando do capitão de corveta Carlos
Hermann, hoje prático da ZP-16.

ATPR ATPR
O CONAPRA segue coordenando o curso de
atualizaçao de práticos (ATPR) ministrado no
Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, Rio
de Janeiro, segundo normas definidas na Reso-
lução A.960 da Organização Marítima Interna-
cional. Em 2010 dez turmas, perfazendo o total de
70 práticos, passaram pelo treinamento.

NONA TURMA DE 2010 NINTH GROUP OF 2010 DÉCIMA TURMA DE 2010 TENTH GROUP OF 2010

38
Stock.xchng/La pandila by Gabrielbu

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