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FACULDADES UNIFICADAS DE FOZ DO IGUAÇU - UNIFOZ

CURSO: DIREITO

ANO: 1º ANO/1º SEMESTRE

PROF(A): JULIANA FIOREZE

CRIMINOLOGIA
UNIDADE I – INTRODUÇÃO AO CURSO DE CRIMINOLOGIA

1-CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO GENÉRICO


É bíblico o ensinamento de que Deus criou o homem á sua imagem e semelhança e que, ao
colocá-lo no Jardim do Éden, fez-lhe esta advertência: “De toda a árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás”.
Houve a desobediência posterior e, por sua cobiça, o homem foi condenado a conhecer o bem
e o mal.
A conduta do homem em uma ou outra direção, ou seja, caminhando rumo ao bem ou ao mal,
por si só, determina a existência de diferenças fundamentais na forma de viver do ser humano.
É inerente á homogênese, portanto, a desigualdade do comportamento social dos indivíduos.
Entregue á todos os seus temores e fraquezas, o homem é sempre chamado, na correnteza
da vida, a decidir entre o bem e o mal em meio ás tentações da ambição, do poder, do “ter” ao invés
do “ser”. Concomitantemente, estará ele, respirando os ares da inveja, da ira, do orgulho, da vaidade,
da prepotência, das paixões desenfreadamente destruidoras, tudo a emaranhá-lo na possibilidade,
sempre presente, do retrocesso moral e espiritual e na própria queda ao abismo da criminalidade.
Ora, a criminalidade é considerada como um fato normal da vida em sociedade, justamente
porque a vida grupal, a existência comunitária, não implica em que cada indivíduo aja em acordo
com a vontade dos demais e, não raro, isso acarreta divergências e choques pessoais; e se esses
desacordos não são contornados pelas vias da conciliação ou do ajuste, só restará a alternativa do
conflito propriamente dito, e este, quando não resolvido legalmente, fatalmente redundará em
confronto, em diferentes tipos de agressão, sucedendo que muitos deles vão desenbocar na senda
do crime.
Apesar da criminalidade ser reputada como um fenômeno social normal, da mesma forma não
é analisada a figura do criminoso, considerado um “fenômeno anormal”, na expressão de Israel
Drapkin (Manual de Criminologia). Contudo, os autores Newton e Valter Fernandes
(Criminologia Integrada), discordam de Drapkin, pois, se aceita a criminalidade como um processo
social normal, porque o ato do criminoso deve ser entendido como um fenomeno anormal? Para tais
doutrinadores, tanto a criminalidade quanto o indivíduo que a exercita não podem ser considerados
normais, porque o crime não é ato normal em sociedade e, por sua vez, as peculariedades do
fenômeno da delinqüência não podem se apartar de seu agente desencadeador, intrinsicamente á
ela ligado.
Outra não é a razão da Criminologia ter por escopo o estudo do fenômeno criminal, suas
causas geradoras e o conhecimento completo dos seres humanos que exercem um papel no palco
cênico do delito, ou seja, a pessoa do criminoso e, porque não dizer, a pessoa da própria vítima.

2-CONSIDERAÇÕES DE ASPECTO ESPECÍFICO


Interessa-se especificamente a Criminologia em pôr a claro tudo o que contribui ou concorre
para a existência da criminalidade.
Para que o crime venha a eclodir é indispensável que ocorra uma intenção ou um ato humano.
Por isso, a par do fenômeno em si da criminalidade, o estudo do comportamento humano deve ser
basilar da Criminologia, pois, sendo o homem o agente do ato delituoso, é principalmente sobre ele
que devem ser concentradas as pesquisas mais relevantes, já que sobre seus ombros atuam
múltiplas causas, muitas delas desconhecidas até a ocorrência do crime, mas com acentuado peso
na caracterização da origem do fato e do caráter ou da verdadeira natureza da vontade do criminoso.
Ao longo do tempo, a Criminologia tem sido subdividida em segmentos que compreendem a
Biologia Criminal, a Sociologia Criminal, a Psicologia Criminal, a Psiquiatria Criminal, a
Endocrinologia Criminal, etc. De entender que tais repartimentos só se prestam ao aspecto didático-
pedagógico de seu ensinamento, visto que o ideal é a fusão de todas essas partes em uma só, daí
advindo uma única Criminologia, forte, pujante, e definitiva em sua própria nomenclatura e no seu
conteúdo doutrinário. (opinião de Newton e Valter Fernandes).

3-CONCEITO E DEFINIÇÃO
A palavra Criminologia deriva do latim “crimen” (delito) e do grego “logos” (tratado). Em
resumo, seria o “Tratado do Crime”.
Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo (designando-a como a
“ciência do crime”), contudo, já havia sido muito estudada e utilizada (embora não com esta
denominação) pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri.
Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinqüe. Definindo a criminologia
como o tratado do delito, confundi-la-emos com o Direito Penal, que trata do delito, do delinqüente e
da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve abranger esses três elementos.
A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida de maneira uniforme, existindo
muitas e variadas definições.

- Nelson Hungria: “Criminologia é o estudo experimental do fenômeno crime, para pesquisar-lhe a


etiologia e tentar a sua debelação por meios preventivos ou curativos”.

- Jean Merquiset: “Criminologia é o estudo do crime como fenômenos social e individual e de suas
causas e prevenção”.

- Kinberg: “Criminologia é a ciência que tem por objeto não somente o fenômeno natural da prática
do crime, como também o fenômeno da luta contra o crime”.

- Edwin H. Sutherland: “Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e


as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente, sua conduta delituosa e a maneira de
ressocializá-lo”.

Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e humanas no controle e


ressocialização do criminoso, com vistas á prevenção da delinqüência.
A partir dessas afirmações, é possível e verdadeiro dizer-se que o fim último da Criminologia é
a promoção do homem ou a ascenção da condição humana.
Poder-se-ia enumerar diversos outros conceitos de Criminologia que foram formulados pelos
mais variados autores.
Porém, na análise de Newton Fernandes e Valter Fernandes todos os conceitos até hoje
formulados pecam por não incluírem na Criminologia o estudo da vítima, também denominado de
vitimologia, uma vez que, a Criminologia se ocupa não apenas do crime e do criminoso, mas,
igualmente, da vítima.
Assim, na definição desses dois autores, “Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno
criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam
sobre a pessoa e a conduta do delinqüente, e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de
reintegrá-lo ao agrupamento social”.
Em sentido lato, a Criminologia vem a ser a pesquisa científica do fenômeno criminal, das
suas causas e características, da sua prevenção e do controle de sua incidência.
A Criminologia é a ciência que pesquisa: as causas e concausas da criminalidade; as
manifestações e os efeitos da criminalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade; a
política a opor, assistencialmente, á etiologia da criminalidade e á periculosidade preparatória da
criminalidade.

- Em resumo: “Criminologia é o estudo do crime, do criminoso, da vítima e das causas e fatores da


criminalidade”.
4-OBJETO
Das várias colocações até agora feitas, verifica-se que a Criminologia representa:

a) o estudo dos fatores individuais (personalidade) e sociais (ambiente) básicos da criminalidade;

b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime (tratamento e
profilaxia), objetivando a ressocialização do delinqüente e a prevenção da criminalidade.

Assim, podemos dizer que o objeto da Criminologia é:

“O estudo do fenômeno natural, considerando os fatores individuais (personalidade) e os


fatores sociais (ambiente), e ao mesmo tempo, a luta contra o crime, levando em conta a
necessidade de ressocialização do delinqüente (tratamento) e de prevenção do crime
(profilaxia)”.

Em resumo, o objeto da Criminologia é, pois, o crime e o criminoso, o que a confunde, muitas


vezes, com o Direito Penal, já que este também tem por objeto o crime e o criminoso. Já chegou-se
até mesmo a firmar que a Criminologia seria apenas uma parte do Direito Penal, portanto,
dependente deste.
Sabe-se, contudo, que embora o Direito Penal e a Criminologia estudem ambos o crime, são
duas ciências autônomas e independentes, e o enfoque dado por uma e por outra, relativamente ao
delito, é diferente.
O Direito Penal tem por objeto o crime como uma regra anormal de conduta, contra o qual
estabelece o gravame, o castigo, a punição. O Direito Penal é, por assim dizer, a ciência de
repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele mesmo elabora. O seu objeto,
portanto, é o crime como um ente jurídico, e como tal, passível de sanções.
Já a Criminologia é uma ciência que tem por objeto a incumbência de não só se preocupar
com o crime, mas também de conhecer o criminoso, montando esquemas de combate á
criminalidade, desenvolvendo meios preventivos e formulando empenhos terapêuticos para cuidar
dos delinqüentes a fim de que eles não venham a reincidir.
Enquanto o Direito Penal é uma ciência normativa, de repressão social contra o delito, através
de regras jurídicas coibitórias cuja transgressão implica em sanções, a Criminologia é uma ciência
causal-explicativa, essencialmente profilática, visando o oferecimento de estratégicas, por intermédio
de modelos operacionais, de molde a minimizar os fatores estimulantes da criminalidade, bem como,
o emprego de táticas estribadas em fatores inibidores do conjunto do crime.
O Direito Penal se preocupa com as ações e omissões que constituem delito e á Criminologia
importa saber as causas pelas quais devam ser consideradas como delitos.
Conseqüentemente, a primeira diferença entre o Direito Penal e a Criminologia, é que
enquanto o primeiro nos indica que os atos merecem uma pena, a segunda nos indica a causa
desses atos.
Como segunda diferença, temos que considerar que, enquanto ambas as ciências estudam o
delinqüente, o Direito Penal só indaga o grau de responsabilidade do mesmo (autor, co-autor,
partícipe); enquanto que á Criminologia interessa conhecer o homem delinqüente, aspecto que mais
tem preocupado as escolas filosóficas, ou seja, trata de compreender a personalidade do homem
delinqüente.
Assim, no que se refere ao crime, a Criminologia tem toda uma inequívoca atividade de
verificação, de análise da conduta anti-social, de pesquisa das causas geradora do delito, e do
efetivo estudo e tratamento do criminoso, na expectativa de que ele não se torne recidivista.
O objeto da criminologia é o delito isolado, a criminalidade como fenômeno comunitário, além
das causas do crime como fenômeno individual e o embate contra a delinqüência. Por conseguinte, o
homem somente diz respeito ao objeto da criminologia quando é o homem delinqüente, antes não.
Porque delinqüente o homem e as causas porque o faz, são as matérias essenciais com que
preocupa a Criminologia.
Exato afirmar, então, que o Direito Penal e a Criminologia trabalham encima da mesma
matéria prima, mas a forma de operação, de elaboração do trabalho, é bem diferenciada, o que torna
legítimo concluir que o objeto de uma ciência não é o mesmo da outra.
Estas diferenças não significam que ambas as disciplinas não posam entender-se; pelo
contrário, completam-se, pois estão unidas por uma finalidade única, que é conhecer e estudar o
delinqüente.
A Criminologia não é, pois, um capítulo do Direito Penal, porque é essencialmente biológica,
experimental e dedutiva, enquanto que o Direito Penal é uma ciência normativa e valorativa.
A Criminologia vem injetando no Direito Penal um sentido biológico. A paixão irresistível, a
força coercível, a coação, o louco ou alienado, etc, são conceitos médico-biológicos da Criminologia
adotados pelo Direito Penal. É o que se tem denominado “o sentido biológico do Direito Penal”.

5-MÉTODO
Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica, ensina Vitorino Prata Castelo
Branco:

“Em geral, método é o meio empregado pelo qual o pensamento humano procura encontrar a
explicação de um fato, seja referente á natureza, ao homem ou á sociedade”.
E prossegue:

“Só o método científico, isto o é, sistematizado, por observações e experiências, comparadas e


repetidas, pode alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores”.

Diz, ainda, Vitorino Prata:

“O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do crime como ação humana,
abrangendo as forças biológicas, sociológicas e mesológicas que o induziram ao comportamento
reprovável, etc.”.

Analisando-se, ainda que perfunctoriamente, as palavras deste gabaritado criminólogo, deflui,


que em termos de pesquisas criminológicas, dois seriam os métodos utilizados:

a) biológico;

b) sociológico

De fato, quando o referido autor fala em forças sociológicas e mesológicas, no fundo


significam a mesma coisa, ou seja, algo ligado ao meio ambiente, ao meio social.

Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin, argumenta


dizendo, inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e sociológico.
E, como não poderia deixar de ser á uma disciplina que estuda o crime como um fato
biopsicosocial e o criminoso, a Criminologia não fica adstrita á um só terreno científico, porque este
não teria, por si só, o condão de conseguir explicar o fenômeno delinquencial e a vasta caudal de
causas delituógenas, dentre elas aquelas de natureza social, biológica, psicológica, psiquiátrica, etc.
Por isso, a Criminologia constrói seus métodos, mas também, se utiliza dos métodos de outras
ciências.
Logo, a nova metodologia criminológica vai assentar-se na constituição da equipe
criminológica – “team work” – (médico, psiquiatra, psicólogo, assistente social, educador, enfermeiro,
etc., que tenham recebido treinamento criminológico).
Os métodos de análise utilizados pela Criminologia são:

a) relativamente aos fatores sociais, os da Sociologia;

b) relativamente aos fatores individuais, os da Biologia, Psicologia, Psiquiatria, Endocrinologia,etc.

6-A CRIMINOLOGIA COMO CIENCIA


Genericamente, considera-se ciência o conjunto de conhecimentos relativos á um determinado
objeto, em especial os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio.
Para os filósofos, há dificuldades e divergências acerca do que deve ser considerado ciência.
Muitos exigem que para uma disciplina de conhecimentos poder ser considerada uma ciência, deve
ter um objeto específico, seguir um método determinado e ter uma aplicação universa.
Em decorrência disso, discute-se se a Criminologia seria ou não uma ciência, sob a alegação
de que não possui objeto, não tem um método determinado, tampouco é universal.
Para os que não consideram a Criminologia como ciência, esta carece de objeto, porquanto
estuda o delito, que pertence ao Direito Penal. Porém, sabemos que não é bem assim, pois como
visto, ambas as disciplinas enfocam o delito de ângulos diferentes.
Com relação ao método, os contrários afirmam não ser a Criminologia uma ciência, por não ter
um método determinado, uma vez que ela se vale de dois métodos, o biológico e o sociológico.
Abordando o assunto em sua obra Manual de Criminologia, Israel Drapkin argumenta dizendo,
inicialmente, que a Criminologia efetivamente usa os métodos biológico e sociológico e exemplifica:
“se a Biologia é uma ciência, não há razão para que não o seja a Criminologia, que usa o seu
método”. E acresce: “A Criminologia usa o método experimental, naturalístico, indutivo, para o
estudo do delinqüente, o que não basta para conhecer as causas da criminalidade. Por isso,
recorremos aos métodos estatísticos, históricos e sociológicos”.
O fato da Criminologia usar vários métodos pode tirar-lhe a categoria de ciência? É claro que
não. A Criminologia não é um campo de conhecimento empírico, que vive a carecer de método
científico para a comprovação de suas experiências e experimentos. Ao contrário, ao invés de um, a
Criminologia possui dois métodos de trabalho: o biológico e o sociológico.
Por último, aqueles que negam o caráter científico á Criminologia, que esta não é universal,
pois o que num país pode ser estabelecido como uma verdade incontestável, noutro poderá ser
diferente, a ponto de existirem as chamadas Criminologia nórdica, européia, americana, etc., que
guardariam aspectos diferentes entre si.
Contudo, quanto á condição de não universalidade da Criminologia, para ser considerada uma
ciência, de recordar que, em Congresso Internacional de Criminologia realizado há menos de 20
anos em Belgrado, no país então chamado Iuguslávia, consensuou-se o seguinte: “A delinqüência é
um fenômeno social complexo que tem suas próprias leis e que aparece num meio sociocultural
determinado, não podendo ser tratada com regras gerais, mas particulares a cada região”. Diante
dessa conclusão a que chegaram mais de 700 criminólogos, representando cerca de meia centena
de países no Congresso Internacional antes mencionado, de aceitar ser inteiramente desnecessário
o requisito da aplicação universal para erigir a Criminologia á categoria de ciência.

A esse respeito, aliás, é oportuno citar ainda uma vez Vitorino Prata, que reconhecendo a
condição de ciência da Criminologia, sublinha:

“Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, os crimes têm características
diferentes em cada continente,devido á cultura e á história própria de cada um. Há, pois, uma
Criminologia brasileira, como uma Criminologia chinesa, uma Criminologia iuguslava, enfim, uma
Criminologia própria de cada raça ou nacionalidade”.

Destarte, malgrado alguns que lhe neguem o caráter científico, aflora pacífico que a
Criminologia é ciência. Ciência que aborda o acontecimento delitivo em seus aspectos individual e
anti-social e na sua causação, inclusive destacando seus provocativos no intento de atenuar a
incidência delituosa.

7-RELAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS


Não haverá qualquer exagero em afirmar que a Criminologia praticamente se relaciona com
todas as ciências e áreas do conhecimento humano, desde que propiciadoras de maior percepção ao
fenômeno do cometimento criminal e á personalidade do delinqüente.

Verdadeiramente, a Criminologia se vincula á todas as demais ciências que se ocupam do


crime, do criminoso e da pena. Por isso, todas essas ciências, e inclusive a Criminologia, compõem a
chamada “Enciclopédia das Ciências Penais” que, consoante a lúcida compreensão de Luis
Jimenez de Asúa, subdivide-se em 4 grupos, a saber:

a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do Direito Penal, Filosofia do Direito Penal e Direito Penal
Comparado;

b) Ciências Causal-Explicativas: Criminologia, Antropologia Criminal, Sociologia Criminal, Biologia


Criminal, Psicologia Criminal e Psicanálise Criminal;

c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Penitenciário;

d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa: Penologia, Política Criminal, Medicina Legal, Psiquiatria


Forense, Polícia Judiciária Científica, Criminalística, Psicologia Judiciária e Estatística Criminal.

As disciplinas integradoras da Enciclopédia das Ciências Penais, ou “Síntese Criminológica”,


destinam-se á perquirição, enfrentamento e aplicação interativa dos princípios e normas dos três
elementos do episódio criminal propriamente dito, a saber: o crime, o criminoso e a pena.

Não será despiciendo recordar a conceituação sucinta das ciências que integralizam a
“Síntese Criminológica”. Vejamos:

a) Ciências Histórico-Filosóficas:
- História do Direito Penal: Vem a ser a pesquisa conexa dos fenômenos jurídico-penais de cada
povo;
- Filosofia do Direito Penal: se resuma na análise e crítica do Direito Penal naquilo pertinente aos
seus princípios, causas e modificações;
- Direito Penal Comparado: é a pesquisa sistematizada e em cotejo das legislações penais dos
diversos países;

b) Ciências Causal-Explicativas:
- Criminologia: é a ciência que estuda a causação do fenômeno criminal;
- Antropologia Criminal: perquire as características orgânicas e biológicas do delinqüente;
- Biologia Criminal: estuda o crime como acontecimento da vida do indivíduo;
- Sociologia Criminal: pesquisa o fenômeno delituoso sob o prisma da influencia ambiental na
conduta criminosa;
- Psicologia Criminal: estuda os caracteres psíquicos do delinqüente que influem na gênese do crime;
- Psicanálise Criminal: atenta para a personalidade do criminoso e para os processos íntimos que o
excitam á prática delitiva.

c) Ciências Jurídico-Repressivas:
- Direito Penal: é a ciência jurídica de reação social contra o crime;
- Direito Processual Penal: é a atividade estatal de tutela penal através de normas próprias;
- Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas reguladoras da atividade jurídico-
carcerária.

d) Ciências Auxiliares e de Pesquisa:


- Política Criminal: tem por finalidade a análise e a crítica das leis penais a partir de propostas
criminológicas;
- Penologia: tem por objeto o estudo da pena, das medidas de segurança e da funcionalidade das
instituições destinadas á readaptação dos egressos dos presídios;
- Medicina Legal: tem por propósito a aplicação dos conhecimentos científicos na esfera da Justiça
Criminal;
- Criminalística: estuda as formas como se cometem os delitos, cuidando da aplicação dos recursos
técnicos para sua constatação e perquirição;
- Psiquiatria Forense: tem por mira o estudo dos distúrbios mentais ensejadores de problemas
jurídico-penais;
- Psicologia Judiciária: estuda o comportamento do indivíduo acusado da perpetração do crime;
- Polícia Judiciária Científica: se incumbe da pesquisa dos vestígios e indícios encontradiços no palco
típico;
- Estatística Criminal: tem por fim a observação etiológica do delito com vistas ao planejamento e
avaliação do desempenho institucional contra a criminalidade.

Depreende-se do anteriormente explicitado, quando se fala em “Enciclopédia das Ciências


Penais”, que a expressão galardoa a própria Criminologia, naquilo que é ela considerada uma ciência
que abrange praticamente todas as disciplinas criminais.

A Criminologia teria, por assim dizer, uma concepção enciclopédica, eis que se utiliza do
campo de labor de outras ciências criminais. Daí também ser chamada “ciência de síntese”, porque
sua base científica está fincada nas contribuições proporcionadas pelas denominadas ciências do
homem (Antropologia, Biologia, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, etc.) quando voltadas para a
pesquisa do delito.

Efetivamente, para atender sua finalidade, a Criminologia não pode atuar isoladamente,
havendo que recorrer ao objeto de outras ciências, mesmo porque o conhecimento não se confina
nos limitativos de uma única ciência.

Mas qual a relação da Criminologia com todas estas ciências?

a) Criminologia e Direito Penal: É ponto pacífico que a Criminologia se relaciona


fundamentalmente com o Direito Penal, eis que, embora autônomas, são ciências acentuadamente
correlatas, limítrofes e, quiçá, complementares. A par disso, é o Direito Penal que delimita o objeto
da Criminologia, fornecendo-lhe, até, o juízo valorativo do fato criminoso.É a Criminologia, por outro
lado, que oferta ao Direito Penal os subsídios para o julgamento do fato criminoso. Destarte, a
Criminologia é ciência propedêutica do Direito Criminal. Não obstante, enquanto o Direito Penal tem
como objeto a culpabilidade, o objeto da Criminologia é a periculosidade. Enquanto o Direito Penal
encara o crime como fato antijurídico, a Criminologia o vê como uma conduta anti-social. Enfim, o
Direito Penal é ciência cultural, valorativa, normativa e finalista. A Criminologia é ciência causal-
explicativa, de observação, de síntese, de pesquisa teórica.

b) Criminologia e Direito Processual Penal: Tem ligação com este na medida em que ele
regulamenta a verificação do ato delituoso e faz o exame da personalidade do autor típico.
Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, dizia que a Justiça para ser justa deve ser rápida,
mas quando se vê um homem chegar na penitenciária condenado há 5 anos, depois de haver estado
no cárcere no decorrer de um processo que durou 4 anos, esta Justiça não pode ser justa.
É preciso meditar sobre a imensa injustiça que significa uma absolvição depois de muitos anos
de cárcere, pois se bem que existe uma indenização de caráter constitucional (art. 107 da CF), na
realidade esta só existe teoricamente. Embora existem não poucos casos de prisões ilegais,
raramente é requerida e concedida indenização, como no processo dos “Irmãos Naves”,
injustamente condenados por homicídio em que a suposta vítima apareceu viva após muitos anos,
tendo um dos irmãos condenados morrido na prisão. Foi concedida a indenização, confirmada pelo
STF. Mas na grande maioria dos casos, as pessoas sofrem as injustiças sem nada pleitear.

c) Criminologia e Direito Penitenciário: Nascido na Itália, com Giovanni Novelli, este Direito é
muito novo e refere-se á aplicação da pena. Pretende exercer todas as medidas destinadas á
aplicação individual da lei penal, a cada delinqüente em particular, objetivando a ressocialização do
delinqüente.

d) Criminologia e Antropologia Criminal: Pesquisando a exigência de leis que regem a


criminalidade e também a influencia de fatores individuais na gênese do delito, a Criminologia
obrigatoriamente tem de invocar a Antropologia Criminal, que permite totalizar o fenômeno
delinquencial em seus múltiplos aspectos, desde os biológicos aos psicossociais, como um todo. A
Antropologia é a base da Criminologia, mormente agora que foi revigorada pela Endocrinologia e
pela Genética.

e) Criminologia e Biotipologia Criminal: Esta projeta uma constituição delinquencial. Semelhante á


Antropologia.

f) Criminologia e Sociologia Criminal: A Sociologia nos ensina a organização dos grupos sociais,
que são diferentes de acordo com a época e a localização, o que também é uma fase importante
para o conhecimento do homem delinqüente. Assim, a Criminologia relaciona-se com a Sociologia na
medida em que aquela demonstra que a personalidade criminosa é o somatório de fatores biológicos
e sociológicos em seu mais amplo sentido, integrados numa unidade psicossomática. A Sociologia
Criminal é a ciência que cogita do fenômeno social da criminalidade.
Tão grande afinidade há entre a Sociologia e a Criminologia, que uma das principais teorias
criminológicas, a que busca explicar a gênese dos delitos, leva o título de Teoria Sociológica.
Entende esta teoria que as pressões e as influencias do ambiente social geram o comportamento
delinqüente.
A Sociologia Criminal toma o crime como um “fato natural da vida em sociedade”, estudando-o
como expressão de certas condições do grupamento social, ocupando-se com os fatores exógenos
na causação do delito, bem como, suas conseqüências para a coletividade.

g) Criminologia e Psicologia Criminal: A Psicologia Criminal propõe-se desvendar o caráter e as


tendências do criminoso, indicando os rumos necessários á avaliação de sua periculosidade e
estudando a incidência da fenomenologia psíquica da Criminalidade. Como a causa dos crimes
reside, grande número de vezes, em transtornos mentais, transitórios ou permanentes, as alterações
psíquicas interessam á Criminologia (psicoses, neuroses, psicopatias, oligofrenias, etc), fornecendo á
Criminologia matéria para o estudo dos transtornos mentais dos criminosos.

h) Criminologia e Psiquiatria Criminal: A função da Psiquiatria Criminal centraliza-se na terapia,


uma vez que a profilaxia é mais cabível á Psicologia Criminal.

i) Criminologia e Endocrinologia: É de vital importância a pesquisa da interação endócrino-


criminal, permissível pela ocorrência de anomalias endócrinas dos criminosos.
j)Criminologia e Demografia: A Criminologia busca nos movimentos da massa humana
(nascimentos, casamentos, óbitos) as causas que influem sobre a personalidade do homem
delinqüente.

l)Criminologia e História: A História é uma ciência que nos serve para compreender o presente e o
futuro, baseando-se no passado; através dela conhecemos o passado, compreendemos o presente e
vislumbramos o futuro.
UNIDADE II – A CRIMINOLOGIA, A SOCIEDADE E O CRIME. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO.

1-A SOCIEDADE A E NATUREZA DO DELITO COMO FENOMENO INDIVIDUAL E COLETIVO

a) O aparecimento da vida e do homem


A doutrina do pecado original é um dos princípios mais poderosos da crença hebraico-cristã.
Segundo a concepção cristã, o homem era inocente e bom e o mundo um jardim (do Éden), um
paraíso. Mas o homem foi tentado, sucumbiu e nunca mais irá recuperar sua inocência original.
São Paulo declarou que o homem é carnal e pecador, acrescentando: “em sua carne habitam
coisas ruins e o pecado habita nele”. Aliás, essa idéia da maldade como uma das características do
ser humano se encontra também no campo da Biologia com Charles Darwin, como ainda no da
Psicologia e da Psicanálise, com Sigmund Freud.
Contestando a perspectiva cristã do aparecimento da vida e do homem, e do próprio
deusismo, Darwin estabelece outra hipótese sobre a origem do homem, defendida em suas obras
On the origen of Species e The Descent of Main, escritas em 1859 e 1871, respectivamente. Darwin
entendia que o homem evoluiu a partir de animais não humanos, sofrendo mutações e percorrendo
um longo caminho até chegar ao estágio humano. É o que prega em sua “Teoria da Evolução”,
contestada veemente pelos representantes da igreja, mas cuja influencia na classe intelectual até
hoje é bastante razoável.
Conquanto não aceita a teoria darwiniana sobre a origem do homem, também existe uma
certa controvérsia em se admitir cegamente que a espécie humana está imersa em pecado devido á
sua herança de Adão e Eva.
Importa, em suma, que o universo é resultado de uma criação de Deus com finalidade.

b) A Sociedade e o Crime
Durkhein afirmava que “os fenômenos sociais são fatos naturais e devem ser estudados pelo
método natural, isto é, pela observação e, quando for possível, pela experimentação”.
Ora, o crime é um fenômeno social e a criminalidade depende do estado social. Tenha o crime
na sua gênese um fator exclusivamente endógeno (biológico) ou exclusivamente exógeno (meio
ambiente), ou a combinação de ambos os fatores, é inegável que o crime é uma manifestação de
vida coletiva, não fosse a existência de apenas duas pessoas considerada um grupo social.
Não pode existir criminalidade fora de um estado social qualquer.
Sendo o homem um animal gregário, sua vida em sociedade não implica, porém, em que não
haja uma unidade de consciência social, pois esta nada mais é que a resultante das consciências
individuais, que vão compor a maioria da unidade social.
A noção de uma igualdade humana, dentro do grupo, é radicalmente falsa. A natureza animal
não conhece a igualdade e toda filosofia zoológica repousa na desigualdade dos seres vivos e, ente
eles, as desigualdades mais acentuadas são as que se verificam no ser humano.
A desigualdade social é que induz á situações de conflitos, que podem terminar em
criminalidade, entendo-se esta como todos os atos que constituem infração penal.
A criminalidade, que não se concebe fora da vida grupal, nasce e se desenvolve dos
interesses colidentes de seus componentes. É como se a criminalidade fosse uma oposição do
indivíduo á sociedade. Por isso que também deriva de interesses personalíssimos.
O crime, social na sua etiologia, visto que suscitado pela existência em sociedade, é anti-
social nos seus efeitos.
Distingue-se, assim, a criminalidade, por firmar um conflito de vontades: de um lado a vontade
da sociedade, soma das vontades de seus integrantes ou resultado da volição da maioria, e, de outro
lado, a vontade individual de quem perpetra o crime, ou seja o delinqüente.
O crime, portanto, é o produto de dois fatores: o indivíduo (criminoso) e a sociedade.
c)O Fato criminoso
E. Glover, na obra The Roots of Crime, abordando o criminoso nato, comenta: “o crime
representa uma das parcelas do preço pago pela domesticação de um animal selvagem por natureza
(o homem), ou, é o resultado de sua domesticação mal sucedida”.
Infere-se, desse conceito, que o homem, não sendo tratado como ser humano, transforma-se
no mais violento e perigoso dos animais, posto que é o único que raciocina.
Incontestável é que o crime emana, primordialmente, de fatores sociais e, como tal, adquire a
imagem de uma fenomenologia individual e coletiva.

d)O crime como fenômeno individual e coletivo


As causas imediatas do crime se resumem nas condições do meio em que ele se verificou e
na personalidade de seu autor no momento da ação.
As condições ambientais e circundantes, na ocasião do crime, abrangem as circunstancias
que permitiriam o desencadeamento do próprio ato, entre elas aquelas que tornaram permissível o
seu cometimento e, por isso, prevalentes, como também as que teriam funcionado como inibidoras
do evento, mas que foram reprimidas. Assim, a miséria (que via de regra é a responsável por grande
gama de delitos, figurando quase sempre como preponderante sobre circunstancias outras) pode,
em determinada situação, não prevalecer, como o simples fato do indivíduo que iria praticar o crime
e, á última hora, deixou de fazê-lo por temor ao respectivo castigo ou pena que, uma vez descoberto,
viria a sofrer. O castigo funcionou, aí, como freio inibidor.
A outra causa do crime, ou seja, a personalidade do indivíduo na ocasião em que comete o
crime, consiste naquilo que permite uma predição de como uma pessoa agirá em uma determinada
situação. Essa personalidade do homem, com suas vivencias atuais e, de outra forma, sempre
condicionada pelo modo de ser relativamente constante ou habitual do indivíduo, aí residindo as
características dessa decantada personalidade. No fato, por exemplo, do marido que surpreende a
mulher em adultério, a reação difere de um para outro indivíduo. Existem aqueles que reagem
violentamente (matando um ou ambos), e aqueles que enfrentam a tragédia passivamente
(separação, perdão, reconciliação).
Todos esses mais diversos comportamentos são comportamentos justificados pelas vivencias
e pela forma de ser de cada um desses indivíduos, resumidas na personalidade de cada um. Essas
capacidades ou predisposições, ou tendências, denominam-se disposições individuais. É evidente
que se a disposição daquele que optou pelo crime, no caso do adultério, por exemplo, for de tal
monta que revela tendência para a prática futura de outros delitos, ele deve ser encarado como um
indivíduo perigoso para a sociedade. Mas, nem sempre é assim, pois, o homicida por adultério, tem
um prognóstico relativamente favorável no terreno da criminalidade, visto que sua infração resultou
de um forte abalo moral que, provavelmente, não repetir-se-á. O mesmo não se pode dizer do
estelionatário habitual, no qual a mentira fraudulenta praticamente passou a fazer parte de sua
segunda natureza e até de sua personalidade.
De frisar que, na eclosão do crime, a personalidade e suas disposições que conduzem á
prática do crime, são o resultado de uma evolução complexa, que vem desde o nascimento do
indivíduo, o qual passa a possuir certas disposições, chamadas de tendências hereditárias, vindo a
desenbocar na criminalidade hereditária.
Goring sustentou que o elemento herdado não é a criminalidade como tal, mas sim, a
inteligência deficiente.
Na realidade, não há provas de que exista o denominado “criminoso nato”. Ninguém tem uma
hereditariedade tal que deva ser inevitavelmente um criminoso, independentemente das situações
em que é colocado ou das influencias que sobre ele exercem. Um temperamento fleugmático, que
permite supor ser herdado, pode preservar uma pessoa de ser criminosa num ambiente, e torná-la
criminosa noutro. Na formação da causalidade devem ser incluídos tanto o traço individual como a
situação; nem um nem outra atuam isoladamente na produção do delito. Toda pessoa é um
“criminoso potencial”, mas são imprescindíveis contatos e direção de tendências para torná-la
criminosa ou desrespeitadora da lei.
Ressalte-se, então, que as tendências hereditárias, constituídas por um mecanismo
endógeno, têm a influenciá-las, por outro lado, o meio ambiente, isso ao longo de toda a vida do
indivíduo. No campo da atuação do meio sobre as tendências hereditárias, devem ser consideradas,
principalmente, a alimentação, a educação no lar e na escola, a influencia de parentes e outras
pessoas, a convivência comunitária, a condição econômica, etc. A par disso, de realçar as influencias
cósmicas, do clima, os hábitos de higiene e as condições de vida, as intoxicações, o alcoolismo,
enfim, o chamado meio de desenvolvimento do indivíduo.
Tratado o crime como fenômeno individual, assinale-se que a vida do homem em grandes
centros urbanos implica em que ali sejam perpetrados inúmeros crimes. Isso demonstra,
indesmentivelmente, o caráter de fenômeno coletivo da criminalidade. Isso aponta a criminalidade
como fenômeno da vida societária, pouco valendo o argumento daqueles que, procurando combater
o caráter de fenômeno coletivo da delinqüência, aduzem que esta outra coisa não é senão a soma
dos crimes individuais.
DIVISÃO DA CRIMINOLOGIA:

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:
1º - Escola Clássica
2º - Escola Positiva
3º - Escola Socialista

CRIMINOLOGIA NOVA (CRÍTICA)


1º - Microcriminalidade e Macrocriminalidade:
- Crime Organizado
- Crime do Colarinho Branco
- Crime de Lavagem de Dinheiro
2º - Teoria do Labelling Approach
3º - Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory)

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:

HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA:

1º - ESCOLA CLÁSSICA: Vigora o Direito Natural (Jusnaturalismo), pautado na fé e na crença nos


deuses. O homem tem o livre arbítrio, ou seja, somente comete o crime se quiser. O crime atenta a
ira dos deuses e, portanto, a pena, aqui, é uma espécie de castigo, de punição, de penalidade.

Esta Escola apresenta 2 Fases:

1ª) FASE EMPÍRICA OU MITOLÓGICA (ATÉ O SÉCULO XV):


Não pretendemos localizar a gênese da Criminologia na época pré-histórica, porque até 1875,
(quando Cesare Lombroso dá início á Antropologia Criminal, publicando a famosa obra L”Uomo
Delinqüente) o seu estudo não tem importância maior. O que se tem, até então, são idéias de
pensadores, algumas válidas até os dias de hoje. (Platão, em uma de suas obras, já se referia ao
furto famélico).
Este período pode subdividir-se em:
a) Antiguidade remota;
b) Antiguidade grega (Hipócrates, Platão e Aristóteles);
c) Idade Média. Teólogos e sacerdotes (especialmente S. Tomás de Aquino). Ciências Ocultas.

a)Antiguidade remota
Nesta época não se encontra nada de concreto sobre Criminologia, nem entre hindus, sírios,
fenícios, hebreus, etc. Somente existem algumas normas, como os “Tabu”, que deviam ser aplicadas
para a segurança do grupo. Diante da transgressão de qualquer dessas normas surgia a reação
instintiva de defesa, que correspondia á pena atual.
Destaque deve ser dado ao famoso Código de Hamurabi (Babilônia), do Imperador
Hamurabi (1728-1686 a.C), que possuía dispositivo punindo o delito de corrupção praticado por altos
funcionários públicos.
Possuindo alguns aspectos punitivos, também destaca-se a legislação de Moisés (séc. XVI
a.C), parte integrante dos lIvros da Bíblia.
Confúcio (551-478 a.C) com a reflexão: “tem cuidado de evitar os crimes para depois não
ver-te obrigado a castigá-los”, demonstra o conhecimento da pena como gravame á uma má ação, o
que, induvidosamente, no mínimo, implica no entendimento de algo que, bem mais tarde, viria a ser
preocupação da Criminologia.

b)Antiguidade grega (ou pagã)


Entre os gregos citam-se muitos pensadores que emitiram opiniões ou conceitos de inegável
fundamento ou inspiração criminológica:

- Protágoras (485-415 a.C) sustentou o caráter preventivo da pena, falando no seu aspecto
de servir de exemplo e não de expiação ou castigo, opinião que faz por conferir-lhe, talvez, a
condição de precursor da Penologia, um dos ramos da Criminologia, que se ocupa com o
fundamento e aplicação das penas como medida de repressão e defesa da sociedade.

- Sócrates (470-399 a.C), pregador e grande oráculo grego, possuvelmente o homem mais
importante que o mundo já conheceu mercê de sua sabedoria e humildade, e que, infelizmente, não
legou nenhuma obra escrita para a posteridade, disse, através de Platão, divulgador de seus
pensamentos, que “se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como não
reincindirem no crime, dando a eles a instrução e a formação de caráter de que precisavam”.

- Hipócrates (460-355ª.C), conhecido como o “Pai da Medicina”, em sua obra Aforismos,


emitiu conceito irretorquivelmente criminológico, ao dizer que “todo o vício é fruto da loucura”,
afirmando, pois, que “todo o crime é fruto da loucura”. O delito, para Hipócrates, era um desvio
anormal da conduta humana.

- Platão (427-347 a.C), ao afirmar que “o ouro do homem sempre foi o motivo de seus males”,
na obra A República, também emitiu conceito criminológico, ao pretender demonstrar que a ambição,
a cobiça, a cupidez davam origem á criminalidade, ou seja, fatores econômicos são desencadeantes
de crimes. Fundamentava a criminalidade em causas econômicas.
Apregoava, outrossim, Platão, que o meio, as más companhias, os costumes dissolutos,
podem converter as pessoas inexperientes, os jovens , em criminosos. Portanto, o criminoso é um
produto do ambiente.
Dizia que o criminoso era muito parecido com um doente, e que por isso, deveria ser tratado a
fim de ser reeducado ou curado, se possível; e eliminá-lo do pais, se não fosse possível a cura.
Platão foi o 1º a enfatizar o aspecto intimidativo da pena. Não se castiga porque alguém
delinqüiu, mas para que ninguém delinqua.

- Aristóteles, em sua obra Política, tal como Platão, fundamentava a criminalidade em


causas econômicas. Também afirmava que os delitos maiores não são cometidos para adquirir o
necessário, mas o supérfluo. Isto, podemos constatar na vida diária como uma verdade
incontestável.
Em sua obra Retórica, Aristóteles estudou o caráter dos delinqüentes, observando uma
freqüente tendência á reincidência.

c)Idade Média
Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C, quando os denominados
povos bárbaros o conquistaram, até a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do
Oriente, pelos turcos, em 1453, durante, portanto, nove séculos.
Nesta época os escolásticos e os “doutores da igreja” não se preocupavam com o problema
da criminalidade, até o surgimento de São Tomás de Aquino (1226-1274), aquele que viria a ser o
grande criador da chamada “Justiça Distributiva” (que manda dar a cada um aquilo que é seu,
segundo uma certa igualdade) e que, na Summa Contra Gentiles, afirmara que “a pobreza
geralmente é uma incentivadora do roubo” e, na Summa Theológica, defendeu o chamado “furto
famélico” que, nos dias atuais, na legislação penal brasileira, é consagrado como “estado de
necessidade”, uma das quatro excludentes de crime.
No século XIII, Afonso X, O Sábio, no Código das 7 Partidas, dá uma definição de
assassintao e fala do crimen proditorium (premeditado) e do crimen sicatorium (mediante
remuneração).

Hoje, tais circunstâncias atuam como qualificadoras do delito de homicídio ou como


agravantes: Vejamos.

Art. 121, § 2º, CP (Homicídio Qualificado)


I- mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe (crimen sicatorium)
IV- á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa da vítima.

Art. 61 CP. São circunstancias que sempre agravam a pena, quando não constituírem ou
qualificarem o crime:
II. ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
c) á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa da vítima.

- Ciências Ocultas: Durante o período de transição da Idade Média para os chamados


Tempos Modernos, ou seja, do século XIV ao século XVI, cita-se a influencia das denominadas
“ciências ocultas” sobre as concepções do que viria a ser, bem mais tarde, conhecida como
Criminologia.
Em seu livro, Manual de Criminologia, chamando-as de “pseudo-ciências”, Israel Drapkin
relaciona as seguintes “ciências ocultas”: a Astrologia, a Oftalmoscopia, a Metoposcopia, a
Quiromancia, a Fisiognomia, a Frenologia e a Demonologia. Vejamos cada uma delas:

- Astrologia: estuda o destino e o comportamento do homem pela movimentação das


constelações localizadas na faixa do Zodíaco;

- Oftalmocospia: antecessora da Oftalmologia e da Irilogia, estuda o caráter do homem pela


íris;

- Metoposcopia: estuda o caráter do indivíduo pelo exame e observação das rugas da fronte;

- Quiromancia: estuda o caráter do indivíduo com base na análise de seu passado, o que é
feito pela “leitura” das linhas das mãos, prevendo, então, o futuro do indivíduo.

- Fisiognomia: estuda o caráter do indivíduo pelo traços fisionômicos (rosto).

- Frenologia: Originada da Fisiognomia, estuda o caráter do indivíduo pela conformação


craneana. Recorda, á esse respeito, Israel Drapkin que, em Nápoles, o Marquês de Moscardi
decidia, em última instância, os processos que até ele chegavam; a pena que sempre aplicava era de
morte ou de prisão perpétua e terminava as sentenças com os seguintes dizeres: “ouvidas acusação
e defesa e examinada a tua face e cabeça”, e prolatava, sem seguida, a sentença condenatória.

-Demonologia: estuda os indivíduos pretensamente possuídos pelo demônio. Esta ciência


propiciou o aparecimento, na Idade Média, da Psiquiatria. Naquela época, eram considerados como
possuídos pelo demônio os loucos e os portadores de alienação mental (esquizofrênicos, epiléticos,
etc), que eram sistematicamente caçados e encarcerados, quando não sacrificados pelos terríveis
Tribunais da Inquisição espalhados pelo mundo. O mau comportamento do homem ou a sua má
conduta, era interpretado como um morbus diabolicus, uma enfermidade diabólica, e os acometidos
por ela tinham por remédio a queima pelo fogo purificador de uma fogueira humana.

2ª) FASE DOS PRECURSORES DE LOMBROSO (RENASCIMENTO ATÉ 1875)


Antes do aparecimento de Lombroso, que dá início ao período da Antropologia Criminal, do
sécul. XV até 1875, houve uma enorme gama de autores que podem ser considerados precursores
da Criminologia. Entre eles destacam-se:

1- Filósofos e pensadores, especialmente dos séculos XVI, XVII, XVIII;


2- Penólogos e penitenciaristas;
3- Fisiognomistas;
4- Frenólogos;
5- Psiquiatras e médicos de prisões.

1- Filósofos e pensadores:

a) Thomas Morus (1478-1535): publicou Utopia (obra de grande importância para estudos e
consultas até os dias de hoje), onde descreve a enorme onda de criminalidade que assolava a
Inglaterra nessa época. Em sua obra, Morus imaginava uma sociedade idílica (e essa era sua
utopia), onde um governo organizado da melhor maneira proporcionaria boas condições de vida a
um povo, que assim seria equilibrado e feliz. Morus dizia que em um país, quando o povo é
miserável, a opulência e a riqueza ficam em poder das classes superiores e essa situação
economicamente antípoda faz gerar um maior nº de crimes. Portanto, Morus já sinalizava o fator
econômico como uma das causas da criminalidade. Morus propugnava por penas menos rigorosas e
que elas fossem correspondentes á natureza dos delitos. Ele foi o 1º a expor a necessidade de
graduar as penas proporcionalmente aos delitos.

b) Martinho Lutero: influenciador de muitas revoltas camponesas na Alemanha, foi o 1º autor


a distinguir uma criminalidade rural e outra urbana.

c) Francis Bacon: admitia como causas determinantes da criminalidade, fenômenos


socioeconômicos, no que foi acompanho por René Descartes.

2-Penólogos e Penitenciaristas
No início do século XVIII, não existiam propriamente prisões e as que havia mantinham-se em
péssimas condições. Os juízes eram unilaterais e arbitrários. A confissão era a rainha das provas
(regina probatione), obtida através de torturas. Os primeiros aspectos de prisões, que podem ser
considerados como precursores das atuais, estabeleceram-se em Amsterdam (Holanda) em 1611.
Os detentos eram submetidos á trabalhos forçados sem nenhuma utilidade prática, como moer
pedras, extrair areia, etc.
Contra este estado de coisas levantaram-se filósofos e humanistas, dentre eles:

a) Montesquieu: escreveu a famosíssima obra O Espírito das Leis (L’esprit des lois), onde
proclamava que o bom legislador era aquele que se empenhava na prevenção do delito, não aquele
que simplesmente se contentasse em castigá-lo. “Ao invés de funcionar como castigo, a pena
deveria ter um sentido reeducador”, dizia ele.

b) Jean Jacques Rousseau: em sua obra de maior importância e divulgação, Contrato Social,
assevera que, se o Estado for bem organizado,existirão poucos delinqüentes e na obra Enciclopédia,
diz que “a miséria é a mãe dos delitos”.
c) Voltaire: dizia que o roubo e o furto são os delitos do pobre. Foi um dos primeiros a advogar o
trabalho para os apenados.

d) Jeremias Bentham: é o criador da doutrina do “utilitarismo, cujo lema é: “o maior bem estar
para o maior número”. Nesta doutrina está envolvida a maior parte dos princípios da profilaxia da
criminalidade. Bentham foi o 1º a referir-se á certas medidas preventivas do delito (substitutivos
penais).

e) John Howard: preocupou-se com especial devoção á melhoria das prisões. Visitou inúmeras
prisões pela Europa, vindo a falecer de uma peste que adquiriu em uma delas. Escreveu uma
importante obra sobre as prisões, denominada “The state of prison”, O Estado das Prisões. Howard é
considerado o criador do sistema penitenciário.

f) César Bonesana, “Marquês de Beccaria” (1738-1794):


Escreveu a famosa obra Dos Delitos e das penas (Dei Delliti, Delle Pene), obra clássica e
de leitura obrigatória nos dias atuais á todos aqueles que se interessam por criminologia.

Beccaria nasceu em Milão, Itália, e teve a audácia, aos 27 anos de idade, de afrontar os
costumes penais e as arbitrariedades da Justiça Criminal de seu tempo, publicando a obra Dos
Delitos e das Penas na cidade de Livorno, de forma clandestina, temendo possíveis represálias. Tal
livro causou muito impacto, sendo veemente atacado por todos aqueles que, de uma forma ou de
outra, foram por ele atingidos ou porque não concordassem com suas proposições.

Sua obra é um protesto contra o injusto, cruel e arbitrário procedimento da Justiça Criminal.
Em um dos capítulos finais, dizia: “Para que todo o castigo não seja um ato de violência exercido por
um só ou por muitos contra um cidadão, deve essencialmente ser público, pronto, necessário,
proporcional ao delito, ditado pelas leis e o menos rigoroso possível, atendidas todas as
circunstancias do caso”.

Seus principais postulados são:

- A atrocidade das penas opõe-se ao bem público (Princípio da humanização das penas);
- As acusações não podem ser secretas (Princípio da Publicidade);
- As penas devem ser proporcionais aos delitos (Princípio da Proporcionalidade das Penas);
- As penas devem ser moderadas;
- As penas devem ser previstas em lei (Princípio da Legalidade, da Anterioridade ou da
Reserva Legal);
- Somente os magistrados é que podem julgar os acusados (Princípio da Jurisdicionalidade);
- Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do processo (Princípio da Proibição de
tortura, da Humanidade e da Dignidade);
- O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória (Princípio da
Presunção de Inocência);
- Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos;
- Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem de banimento.
- O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e servir de
exemplo para que os outros não venham a delinqüir;

3- Fisiognomistas:
Trata-se de uma ciência que procura estudar o indivíduo pela análise de suas expressões
fisionômicas, ou seja, de seu rosto.Entre os principais fisiognomistas, destaca-se Charles Darwin
(1809-1822), criador da famosa “Teoria da Evolução” (a evolução modifica o homem), e que trouxe
inegável importância no que diz respeito á origem do homem, sendo que suas idéias foram
influências para Lombroso, sobretudo quando este aborda sobre o atavismo, o qual é um conceito
darwiniano.

4- Frenólogos:
A Frenologia é uma ciência que estuda o indivíduo não só com base nas expressões
fisionômicas, mas, também, com base na configuração do crânio. O criador da Frenologia temsido
Joseph Gaspard Lavater, porém, mais importante que ele para a Frenologia, é Johan Frans Gall,
que foi o 1º a relacionar a personalidade do delinqüente com a natureza do delito por ele praticado.

5- Psiquiatras e Médicos de Prisões:


Eles foram verdadeiros precursores de Lombroso em sua tarefa de estudar o delinqüente.
Entre os psiquiatras devemos mencionar como grande figura de Felipe Pinel (1745-1826), criador
da moderna Psiquiatria, que foi o 1º que conseguiu elevar o alienado da situação de pátria
(excluído) á categoria de doente. Antes dele, o louco era considerado possuído pelo demônio e era
acorrentado, torturado e banido do país.

3ª - ESCOLA POSITIVA: Estuda as causas do crime. Afirma que este é o resultado de deformações
e malformações congênitas, biológicas, físicas e psicológicas. O homem delinqüe não porque quer e
sim porque é doente. Logo, a pena, aqui, não é castigo, e sim, tratamento. O homem é um criminoso
nato, já nasce com tendência a delinqüir, a violar as leis e é identificado pelo seu perfil físico-
biológico.
Este período é conhecido como Período da Antropologia Criminal ou Período de Lombroso.
Vejamos:

PERÍODO DA ANTROPOLOGIA CRIMINAL (LOMBROSO - 1875-1890)

a) LOMBROSO:
Lombroso foi o criador da chamada Antropologia Criminal (ou Biologia Criminal, como a
consideram os alemães), ciência que difere-se da Antropologia Geral, pois não estuda apenas o ser
humano, mas sim o ser humano delinqüente, ou seja, o homem criminoso, procurando analisar,
também, os fatores individuais do crime (nele compreendendo os endógenos e os exógenos).
Conhecer o homem é conhecer a razão humana, a essência dessa razão, o que o move
através da História. Afinal, como dizia Marx, “o primeiro objeto do homem é o homem”.
Lombroso preocupou-se com esses aspectos da História humana e estudou o homem, que
através de suas ações, de seu comportamento, é considerado delinqüente e, a esse homem,
Lombroso conferiu caracteres morfológicos, como saliente em sua obra L’uomo Delinqüente, onde
diz: “o estudo antropológico sobre o homem criminoso deve necessariamente basear-se nas suas
características anatômicas”.
Lombroso nasceu em 1835, em Verona. Na juventude foi estudante de Medicina, havendo
interessado-se especialmente pela Psiquiatria. Apenas formou-se em Medicina, ingressou no
exército como médico militar e ao visitar os cárceres teve o primeiro contato com os criminosos.
Depois ingressou nas prisões para criminosos alienados, chegando a ser médico do “manicômio
judiciário” de Pesaro, onde praticou a autópsia em grandes delinqüentes da Calábria e Sicília,
chamados “grassatori”, tendo examinado muitos destes. O primeiro que lhe chamou a atenção foi um
tal de Vilella, em cuja autópsia observou uma terceira fosseta occipital. Esse foi o “eureca” de
Lombroso.
Essa fosseta dá origem á sua teoria do “atavismo”, porque também é encontrada em alguns
crânios de homens primitivos.
De 1871 a 1876, Lombroso continua trabalhando com esses elementos e publica uma séria de
folhetos sob o nome de “L’uomo Delinqüente”, que adquiriram tam importância e desenvolvimento,
que a 6ª edição, publicada em Turim, em 1901, compreende 4 volumes e 1 atlas.
Lombroso é considerado o “Pai da Criminologia Moderna”. Seu grande mérito foi ter
desviado a atenção da Justiça para o homem que delinqüe.

- Teoria de Lombroso:
Lombroso criou a “teoria do criminoso nato”, ou seja, um indivíduo que já nasce criminoso
segundo seu aspecto físico, suas malformações congênitas. Assim, para Lombroso, o criminoso já
nasce criminoso, ou seja, é um delinqüente nato, de acordo com sua aparência externa, biológica,
antropológica. Ou seja, o criminoso, para Lombroso, tem cara de criminoso e já nasce com essa
cara.
O criminoso nato se explica, segundo esta teoria, pelo chamado “atavismo” que é o
aparecimento, em um descendente, de um caráter não presente em seus ascendentes imediatos,
mas sim em remotos, como por exemplo, se um membro de determinada família apresente uma
polidatilia, que é a anomalia congênita de possuir dedos a mais que o normal, e não existir nessa
família ninguém nas mesmas condições, dir-se-á que é uma malformação atávica. Lombroso chegou
ao atavismo após fazer a autópsia no cadáver de Vilella, onde encontrou a terceira fosseta occipital
ou média, a qual é encontrada também, em alguns crânios de homens primitivos.
Lombroso julgou, também, ter encontrado relação entre a epilepsia e a chamada “moral
insanity” (insanidade moral), ou seja, para ele todo o epilético era um criminoso nato e, pois, um
doente mental.

Segundo Lombroso, no delito epilético há algumas características que o distingue:

- Ferocidade e multiplicidade extraordinária das lesões. O delinqüente epilético não provoca somente
um ferimento, mas muitos;

- O delinqüente epilético não tem cúmplices; age sozinho, pois o faz fora de si;

- Perde a lembrança do ato, esquece-o; pode lembrá-lo, ás vezes, porém, com imprecisão.

- Características do homem delinqüente para Lombroso:


Lombroso, foi no fundo, um fisiognomista, pois imaginou ter encontrado, no criminoso, em
sentido natural-científico, uma variedade especial de homo sapiens, que seria caracterizada por
sinais (stigmata) físicos e psíquicos. Tais estigmas do criminoso nato, foram classificados em “taras”.
Vejamos:

1-Taras Anatômicas:São estas:


- Fosseta occipital mediana (um pequeno crânio e, portanto, uma cabeça igualmente
pequena). Acreditava, Lombroso, que quanto menor o volume e o peso do cérebro menos
inteligência o indivíduo tinha e, portanto, seria um criminoso;
- Maxilar inferior procidente (mandíbula grande);
- Molares muitos grandes (dentuço);
- Orelhas de abano;
- Fartas sobrancelhas;
- dessimetria corporal;
- Grande envergadura dos braços e dos pés, etc.

2-Taras Degenerativas Fisiológicas (funcionais) - São estas:


- Daltonismo;
- Mancinismo (surdez);
- Insensibilidade á dor (tatuagens);
- precocidade sexual, etc.
Ao observar as tatuagens, chegou á conclusão rápida de que em vista das tatuagens, os
delinqüentes teriam insensibilidade á dor, já que os delinqüentes seriam, em sua imensa maioria,
tatuados.

3-Taras Psicológicas – São estas:


- Vaidade;
- Ações impulsivas;
- Tendências alcoólicas;
- Negligência;
- Superstições;
- Uso de gírias;
- Imprevidência;
- Crueldade;
- Instabilidade;
- Indolência, etc.

Classificação do homem delinqüente para Lombroso:


Cesare Lombroso classificava os criminosos consoante se segue:

- Criminoso nato: era por ele encontrado entre 30% e 35% da massa delinqüente, ou seja, num termo
médio de 33%.

- Pseudo-delinquente ou delinqüente ocasional. Este, para Lombroso não era delinqüente.

- Criminalóide: conceito puramente lombrosiano, que se refere ao meio delinqüente, similar ao “meio
louco”. Considerava-se aqui, os pseudo-delinquentes que já tivessem tido contato nos cárceres com
os criminoso natos e que já não podiam ser considerados pseudo-delinquentes, porque já possuíam
certa malícia criminal.

Nos seus estudos para definir o criminoso nato, Lombroso primeiro o comparou á um
selgavem, por ser a conduta do criminoso nato parecida com a dos homens das cavernas; depois
comparou-o com a criança, baseado no egocentrismo desta, por sua vaidade e egoísmo. Mais tarde,
sem abandonar essas teorias, referiu-se á loucura moral e, somente no final dos estudos, focalizou a
epilepsia.

Conseqüências da teoria de Lombroso


As conseqüências da teoria lombrosiana foram, em sua época, extraordinárias. Não houve
ramo do Direito Penal onde não se fez sentir-se a influencia da teoria de Lombroso. Estremeceu o
edifício do Dto. Penal até os seus alicerces.
Sustentava que ao criminoso nato, por sua própria natureza, não cabia a aplicação de pena, e
se é encarcerado, comete-se uma injustiça, porque para Lombroso o criminoso nato é um doente.
Foi Lombroso quem 1º falou da necessidade de segregá-lo da sociedade, isolando-o, para que
deixasse de ser perigoso, quer dizer, torná-lo inofensivo. Esta seria uma medida preventiva, como as
que agora são adotadas relativamente aos alienados (medidas de segurança).
Lombroso recomenda certos tipos de penas para o criminoso, como duchas frias, trabalhos
pesados, exercícios exaustivos; porém, prescreve de forma categórica o uso da tortura. Para os
alienados recomendava o “manicômio judiciário”. Para os velhos, propunha a internação em
hospícios, não aceitando para eles a prisão, por considerá-los incapazes de continuar cometendo
delitos. Só aceitava a pena de morte em casos graves, por julgá-la muito dolorosa.
No campo da Política Criminal, a contribuição mais importante de Lombroso, foi recomendar a
segregação do delinqüente como defesa social, mesmo antes que cometa seus delitos, quer dizer,
enuncia o conceito de periculosidade pré-delituosa. Dizia Lombroso que, diante de um delinqüente
nato, não se deve esperar que este cometa um delito, mas deve ser segregado da sociedade antes
que o faça.

Críticas á teoria de Lombroso


Após um certo período de apogeu (sobretudo com a publicação de sua famosa obra O
Homem Delinqüente), os adversários de suas idéias, a começar por seu sucessor na cátedra da
uNiversidade de Turim, Francesco Carrara e outros integrantes da chamada Escola Clássica de
Direito Penal (Filangieri, Fuerbach, etc) trouxeram á colação todos os aspectos falhos da
Antropologia Criminal, culminando, através de inúmeras pesquisas que empreenderam, por fulminar
com a figura do criminoso nato.

Principais críticas feitas á teoria de Lombrosiana:

1ª- Avaliar a criminalidade com base na aparência física. Para Lombroso, todo o indivíduo que
tivesse as características já mencionadas era um criminoso nato. Contudo, é certo que há
delinqüentes que apresentam os traços lombrosianos; mas também encontramos esses traços em
homens inteligentes não delinqüentes, ou mesmo em débeis mentais não delinqüentes, como
também, há criminoso que não apresentam tais traços. As características anatômicas das
anormalidades morfológicas são próprias tanto dos delinqüentes como dos não delinqüentes;

2ª- Avaliar a criminalidade com base na epilepsia. Para Lombroso, todo o epilético era u criminoso
em potencial. Comprovou-se haver epiléticos delinqüentes, da mesma maneira que não
delinqüentes;

3ª- Avaliar a criminalidade com base em taras degenerativas (daltonismo, surdez, precocidade
sexual, tatuagens, etc.) ou taras psicológicas (vaidade, crueldade, uso de gírias, tendências
alcoólicas, etc). Se é verdade que nos criminoso observam-se muitas destas taras, não é menos
verdade que há indivíduos normais que também as apresentam e criminosos que não apresentam
nenhuma.

4ª- Declarar a incapacidade de reeducação e readaptação do homem “tarado” (delinqüente). No


entanto, atualmente sabemos que quando essas “taras” são desviadas a tempo, podem ser evitadas
e é possível conseguir-se a readaptação e reeducação dos tarados.

Não obstante as inúmeras críticas que são feitas, a teoria de Lombroso tem o mérito
extraordinário – que imortalizará seu nome- de haver desviado a atenção do fato delituoso para o
homem delinqüente.

b) ENRICO FERRI (1856-1929)


Publicou sua obra Sociologia Criminal em 1914, sendo considerado o criador da Sociologia
Criminal, malgrado esteja ele incluído na Escola de Antropologia Criminal, até porque, foi o que mais
fez pelo prestígio da Antropologia Criminal.
Enrico Ferri deu relevo não só aos fatores biológicos, como também aos sociológicos, além
dos físicos. Salientou, ele, a existência do trinômio causal do delito, composto por fatores
antropológicos, sociais e físicos.
Foi também quem 1º classificou as causas dos delitos em três grupos: biológicas, físicas e
sociais:

- Causas Biológicas: a herança, a constituição genética, etc;


- Causas Físicas: o meio ambiente (clima, umidade, etc);
- Causas Sociais: o ambiente social.
Agrupa, pois, os fatores mencionados em 2 grupos: endógenos e exógenos.

- Endógenos: causas biológicas


- Exógenos: causas físicas e sociais.

A polêmica mais importante que se originou foi estabelecer quais os fatores que mais influem
na conduta do indivíduo criminoso: os endógenos ou os exógenos? O criminoso nasce ou é feito?
Lombroso, Ferri e Garófalo eram partidários dos fatos endógenos (ele nasce criminoso).
Para Ferri o importante não é castigar e sim prevenir.
Ferri teria sido o criador da expressão “criminoso nato”, isto em 1881. É o que ele próprio
admite em seu livro “Os Criminosos na Arte e na Literatura”, onde, em determinado trecho, expõe:
“os delinqüentes a que eu dava, em 1881, o nome de criminosos natos”.

Classificação do homem delinqüente para Ferri:


Classificou os criminoso em 5 tipos, a saber:

- Nato: tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso,com seus estigmas de degeneração;
- Louco: não só o alienado mental, como, também, os semi-loucos, os fronteiriços;
- Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito;
- Habitual: o indivíduo que faz do crime a sua profissão;
- Passional: aquele que é levado ao crime pelo ímpeto, pelo arrebatamento. Cometem o delito
impulsionados por uma paixão que explode como cólera, em virtude de um amor contrariado, de uma
honra ofendida. Geralmente são mulheres e cometem o crime sem premeditação. São indivíduos que
têm alguma coisa de louco.

c) RAFAEL GARÓFALO (1852)


O magistrado Garófalo foi o criador do termo “Criminologia”, para quem seria a ciência da
criminalidade, do delito e da pena.
Em razão de sua orientação naturalista e evolucionista, o ponto de partida de sua doutrina é a
conceituação do que chamou de “delito natural”. Examinou em sua obra, também, a classificação de
criminosos, que acabou por formular. Seu livro data de 1884, já com o nome de Criminologia.
Garófalo era um jurista, tendo sido ministro da Corte de Apelação de Nápoles. Elaborou sua
concepção de delito natural partindo da idéia lombrosiana do criminoso nato e, assim sendo,
afirmava que, se existia um criminoso nato, deveria, necessariamente, existirem delitos que fossem
considerados como tal, em qualquer lugar ou época.
Para chegar á definição de delito natural, Garófalo procurou a parte mais profunda e essencial
dos sentimentos humanos.
Observou que tanto Lombroso como Ferri evitaram definir o que consideravam delito. Garófalo
propôs-se a isto. Passou a observar grupos sócias de diferentes épocas e chegou á conclusão de
que o conceito de delito era completamente diferente entre povos distintos. Assim, o fato de causar a
morte de um indivíduo, que é o crime de homicídio, em outras épocas foi somente um costume.
Em vista disto, encaminhou suas investigações em outro sentido, buscando quais éramos
sentimentos indispensáveis para a conveniência social e chegou á essa conclusão: são
indispensáveis a piedade e a probidade, definindo, então, o seu “delito natural”:

- Delito Natural: “Ofensa aos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, na


medida média em que os possua um determinado grupo social”.
Classificação do homem delinqüente para Garófalo:
Baseado nesse conceito, Garófalo fez a sua própria classificação dos delinqüentes:

- aqueles que vão contra o sentimento de piedade: assassinos.


- aqueles que vão contra o sentimento de probidade: os ladrões.
- aqueles que atentam contra ambos os sentimentos: os salteadores, “grassatori”.
- aqueles que atentam contra os costumes: criminoso sexuais ou cínicos.

Para Garófalo, há duas maneiras de se tratar os delinqüentes:

- Os que cometem delitos legais, estabelecidos em textos positivos como Códigos, regulamentos,etc:
bastaria uma simples advertência e a obrigação de reparar o dano;

- Os que cometem delitos naturais, ou seja, próprios de criminosos natos: pena de morte ou expulsão
do país.

Tais fatores levantaram uma onda de indignação contra ele.

4º - ESCOLA SOCIOLÓGICA (1890-1905): O crime é produto do meio social, sobretudo de fatores


econômicos.
O período sociológico compreende todas as teorias que se ergueram para combater a teoria
lombrosiana, calcada nos fatores endógenos como causadores de criminalidade, ao passo que, as
doutrinas sociais e do meio ambiente, sustentavam que os fatores exógenos eram efetivamente os
mais importantes ocasionadores do delito.
A Sociologia Criminal surgiu em meados do século XIX e teve a influência de Augusto Comte
e Adolphe Quetelet.

a) Augusto Comte:
É considerado o fundador da Sociologia Moderna (ciência abstrata que tem por fim a
investigação de leis gerais que regem os fenômenos sociais).

b) Adolphe Quetelet:
Foi o criador da Estatística Científica, dando origem ao aparecimento da Estatística
Criminal.
Escreveu Física Social, em 1835, no qual formula 3 princípios:
- o delito é um fenômeno social;
- os delitos se cometem ano após ano com total precisão;
- vários fatores influenciam no cometimento do crime, como a miséria, o analfabetismo, o clima, etc.

Fulcrado nesses 3 princípios, ele estabeleceu as chamadas “Leis Térmicas de Quetelet:

I- no inverno se cometem mais delitos contra a propriedade, donde se deduz que nesta época
do ano são maiores as necessidades para a sobrevivência do homem;

II- no verão se cometem mais crimes contra a pessoa, devido á efervescência maior das
paixões humanas, provocada pelo aquecimento pelo sol;

III- os delitos sexuais são mais freqüentes na primavera, considerando a exacerbação da


atividade sexual nessa época.
Doutrinas sociais que prevaleceram nesse período:

1º) Teorias Antropo-Sociais


Pretendem relacionar, de certo modo, os princípios de Lombroso com os sociais.
Segundo estas teorias, o meio social influi sobre o delinqüente antropologicamente nato,
predispondo-o á cometer delitos. Entendem que o criminoso pode nascer comcerta predisposiçãoao
crime, porém, sem chegar a aceitar o delinqüente nato, preferindo o termo “predisposto”.
Assim, aceitam a influencia de fatores endógenos que predispõe o indivíduo a cometer crimes.
São tais teorias sustentadas por Lacassagne e Manouvrier.

- Lacassagne, no primeiro Congresso de Antropologia Criminal de Roma, em 1885, combateu


as teorias lombrosianas. Escreveu duas obras de importância, as quais têm repercussão, até hoje,
em todo o mundo.
A primeira enunciava: “À maior desorganização social, maior criminalidade; á menor
desorganização social, menor criminalidade”.
Foi o autor dessa conhecida frase: “As sociedades têm os criminosos que merecem”.
Na segunda, comparava a sociedade com um meio de cultivo, e afirmava que “a sociedade é
um meio de cultivo que abriga em seu seio uma série de micróbios que são os delinqüentes e que
estes não desenvolverão se o meio não lhes for propício”.
Resumindo, podemos dizer que para Lacassagne, os fatos sociais atuam sobre o sujeito
“predisposto”; substituiu o conceito de nato pelo de predisposto.

- Manouvrier: Professor de Antropologia da Universidade de Paris, não tem outro mérito que
não seja ter sido o braço direito de Lacassagne na sua luta contra as doutrinas de Lombroso.

2ª) Teorias Sociais Propriamente Ditas


É eliminado todo o fator endógeno e se dá importância exclusiva aos fatores exógenos (meio
social), ou seja, o criminoso não nasce criminoso, mas transforma-se em um por influencia do meio
social. Dentre os vários autores destaca-se Gabriel Tarde.

- Gabriel Tarde publicou 3 obras importantíssimas: “A Criminalidade Comparada”, publicada


em 1886, “As Leis da Imitação”, publicada em 1890 e “A Filosofia Penal”, publicada em 1890.

“A Criminalidade Comparada”: Tarde demonstra que há indivíduos que são inadaptáveis ao


meio em que vivem e essa inadaptação decorre de 3 causas:
- A inércia (dolce far niente);
- A facilidade de reações impulsivas: por falta de convivência social;
- A incapacidade para um trabalho regular e sistemático: a rotina da nossa época é algo que
destrói ao indivíduo melhor organizado. Nunca se enfatizou o quanto a rotina influi em nós. Temos
que possuir uma constituição especial, sujeita a um conceito moral e um respeito extraordinário pela
comunidade para que possamos viver neste mundo.

“As Leis da Imitação”: Tarde diz que a delinqüência é um fenômeno fundamentalmente


social e que o moto que ativa o conglomerado social é a imitação. Observou o seu mundo
contemporâneo, verificando que 90% das pessoas não possuem espírito de iniciativa. Os restantes
10% são os que possuem alguma iniciativa e, somente 1%têm espírito verdadeiramente inovador. O
restante, ou seja, a esmagadora maioria, seja por fraqueza, seja por incapacidade de afastar-se do
meio, seja por comodismo, não é capaz de sobrepor-se ás forças centrípedas que dominam o meio
social.
“A Filosofia Penal”: Tarde sustenta que a responsabilidade penal baseia-se em dois
elementos: a identidade pessoal e a semelhança pessoal.

1-Identidade Pessoal – somente pode ser considerado penalmente responsável quem guarde
semelhança estreita entre o ato cometido e a sua personalidade, ou seja, quem antes, durante ou
depois do delito seja o mesmo sujeito. Se um indivíduo apresenta, depois do delito, uma falta de
similitude com a sua personalidade anterior ao delito, não é um indivíduo normal e estaremos diante
de um provável transtorno mental. Este em sido o conceito que tem servido de base para a fixação
das circunstancias atenuantes da responsabilidade criminal que os Códigos estabelecem em favor
dos alienados.

2-Semelhança Social: não pode ter responsabilidade penal o indivíduo que não tem relação com o
grupo social em que convive, como o inadaptado, que possui um instinto impulsivo irrefreável e que
não mantem nenhuma conexão com o grupo. Para o inadaptado social propõe medidas preventivas.

3ª) Teorias Socialistas


O século XIX caracteriza-se pelo aparecimento da mecanização (Revolução Industrial) e
começa-se a estudar a influencia das máquinas e da economia na delinquencia.
A doutrina de Lacassagne de que “cada sociedade tem os criminosos que merece”, foi
transformada pela doutrina de Karl Marx de que ”cada sistema de produção tem os delinqüentes
que merece”. É o método de produção que dá uma modalidade própria á criminalidade.
A miséria, a pobreza, para os teóricos socialistas tem influencia na criminalidade, mas o que
lhes interessa é a influencia do sistema econômico em geral, e não um aspecto parcial.
Pregam que um sistema econômico no qual houvesse uma melhor distribuição de riqueza e
um máximo de estabilidade do próprio regime, excluiria a criminalidade.

4ª) Período da Política Criminal (1905 até o dias atuais).


A característica especial desse período é uma espécie de trégua na discussão inflamada entre
as escolas italiana e francesa sobre as teorias lombrosianas.
A escola italiana (positivista) baseando o crime apenas em fatores endógenos e a escola
francesa (socialista) baseando o crime apenas em fatores exógenos.
Essa trégua se manifestou em várias escolas, tais como:

1- A Terza Scuola;
2- A Escola Espiritualista;
3- A Escola da Política Criminal, que é a que dá o nome á esse período da Criminologia.
4- Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de Antropologia
5- Criação de Organismos Internacionais

1- A Terza Scuola:
É uma escola de Direito Penal e apresenta e postulados:

- Que o Dto. Penal deve manter-se como ciência independente, de vez que a teoria lombrosiana
tinha a tendência de incluí-lo dentro da Criminologia.

- Que o delito tem várias causas, tanto endógenas como exógenas;

- Que os penalistas, junto com os sociólogos, devem fazer o possível para obter as reformas sociais
mais necessárias, tendentes a modificar as condições em que vive a massa.
2- A Escola Espiritualista:
Sustenta que cada indivíduo tem o livre arbítrio de fazer o que lhe dá prazer, ou seja,
prevalece apenas a vontade própria de cada indivíduo, sem qualquer limitação.
Esse conceito não foi aceito e logo surgiu a escola Neo-Espiritualista.

- Escola Neo-Espiritualista: Afirma que se é verdade que o homem tem liberdade, ela não existe no
sentido amplo, mas tem certas limitações impostas pelo meio ambiente. A liberdade é um conceito
filosófico e político, que analisado com critério realista, nos demonstra que somos escravos da hora,
do dever, das conveniências sociais, da rotina, dos comentários alheios, etc.

3-A Escola da Política Criminal:


A Política Criminal é de proporções tão vastas, que se pode chegar a confundi-la com a
prórpia Criminologia.
Vejamos algumas definições de Política Criminal:

- Quintiliano Saldanã: “Política Criminal é o estudo científico da criminalidade, suas causas e os


meios para combatê-la”.

- Manzini: “Política Criminal é o conjunto de conhecimentos que podem levar a realizar um plano
real e não utópico”. (Tratado de Direito Penal)

- Feuerbach: “Política Criminal é o saber legislativo do Estado em matéria de criminalidade”.

- Guillerno Portella: “Política Criminal é o conjunto de ciências que estudam o delito e a pena, com
o fim de descobrir as causas da delinqüência e determinar seus remédios”.

- Franz Von Liszt: “Política Criminal é o conjunto sistemático de princípios, segundo os quais o
Estado e a sociedade devem organizar a luta contra o crime”. Liszt é considerado o “Pai da Política
Criminal”, tendo publicado importante obra (Princípios de Política Criminal) em 1889.

Vemos, portanto, que de acordo com o exposto pelos autores:

“Política Criminal nada mais é que os princípios, produtos da investigação científica e da experiência
sobre os quais o Estado deve se basear, para prevenir e reprimir a delinqüência”.

Há discussões á respeito da origem da Política Criminal. A tendência mais aceita é ser


atribuída á Von Liszt, por ter este determinado com maior exatidão o que é Política Criminal; mas, a
denominação “Política Criminal”, aparece escrita muito anteriormente á Von Liszt e Feuerbach.
Diversos autores trabalharam com Política Criminal, dentre eles:

- Na Itália: Beccaria, Manzini, Filanghieri


- Na França: Voltaire
- Na Inglaterra: Jeremias Bentham
- Na Alemanha: Franz Von Liszt e Feuerbach.

Diferenças entre Política Criminal e Criminologia:


Embora ambas sejam muito parecidas, não devem, pois, serem confundidas.

- Criminologia: estuda as causas da criminalidade, o delinqüente e procura a maneira de


readaptá-lo.
- Política Criminal: é um ramo do Direito Penal. Não estuda o delinqüente, deixando isto á
cargo da Criminologia. Baseia-se nos resultados obtidos por esta para elaborar os meios de
repressão e prevenção á delinqüência. Baseia-se, também, na Antropologia Criminal (que estuda o
delinqüente) e na Estatística Criminal (que traduz em cifras os fenômenos da criminalidade num
determinado espaço de tempo). Assim, a Política Criminal é a aplicação pelo Estado das medidas
necessárias para a prevenção e repressão da criminalidade, ou seja, a aplicação das medidas que
fluem da investigação científica do fenômeno da criminalidade. A liberdade condicional, a liberdade
provisória, a proteção á infância, etc. são resultados práticos dos princípios da Política Criminal.

4-Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de Antropologia


O 1º Instituto de Criminologia do mundo foi criado em 1906, em Buenos Aires, pelo médico
argentino José Ingenieros e pelo Diretor da Penitenciária de Buenos Aires, Antônio Ballvé. Já o 1º
Gabinete Penitenciário de Criminologia foi fundado na Bélgica, por Luis Vervaeck.

5-Criação de Organismos Internacionais


- União Internacional de Direito Penal: Pretendeu uma posição eclética. Aceitava o delito como
um fenômeno natural e social, admitindo a influencia dos fatores endógenos e exógenos. Não era
adepto do conceito do delinqüente nato, mas da “predisposição”, da qual falavam os defensores da
Escola Francesa.

- Comissão Internacional Penal e Penitenciária: Criada em 1912, tem o mérito de haver


estabelecido uma série de normas mínimas para a melhoria dos estabelecimentos penitenciários e o
tratamento dos reclusos.

- Associação Internacional de Direito Penal: Fundada em 1924 pelo espanhol Qunitiliano


Saldanã.

- American Institute for Criminal Law: Criado nos EUA, propôs a adoção de numerosas
medidas profiláticas em muitos Estados, baseando-se, para isto, na Estatística.

- Sociedade Internacional de Criminologia: Fundada em 1953, tendo o 1º Congresso realizado-


se em Roma, no ano de 1938.
UNIDADE III - AS CAUSAS DA CRIMINALIDADE

FATORES ENDÓGENOS

BIOTIPOLOGIA CRIMINAL

1 GENERALIDADES:
A Biologia é a “ciência dos seres vivos analisados sobre os prismas fisiológico, morfológico e
evolutivo”.
Compete á Biologia fixar o biótipo da pessoa.
Biótipo: é o conjunto de caracteres morfo-físico-psicológicos do indivíduo. Deflui, portanto, que
o método da Biologia é o da experimentação e seu objeto é a constelação de indivíduos.
Referindo-se á Biologia Criminal, entende o insigne jurisconsulto Edgard Magalhães Noronha,
que ela se identifica perfeitamente com a Antropologia Criminal. Ambas representam uma só
disciplina, eis que voltadas para o estudo dos caracteres fisiopsíquicos do delinqüente em
consonância com a influencia externa, no escopo do esclarecimento da gênese criminógena.
Noronha entende que o fator biológico instintivo é o determinante de todo o ato infracional.

2 A HERANÇA GENÉTICA
A herança é “a lei biológica em virtude da qual todos os seres vivos tendem a repetir-se em
seus descendentes”. Quer dizer, os pais transmitem aos filhos toda a bagagem que receberam de
seus ancestrais, ou seja, todas as características biológicas, fisiológicas e psicológicas dos seus
descendentes.
O meio ambiente, o mundo que nos rodeia, não é capaz de criar nada, apenas de acelerar ou
frear, expandir ou restringir a herança natural. A herança pode ser influída pelo meio ambiente, mas
não é capaz de criar nada.

Existem alguns aspectos ou caracteres que são essências na hereditariedade. Vejamos quais:

1º) A herança existe para todos os caracteres, sejam eles favoráveis ou não. Assim como se
transmitem caracteres bons (a inclinação para a música, na família dos Bach, por exemplo), também
se transmitem os negativos (a hemofilia, na família dos Habsburgos, por exemplo).

2º) A herança não é igual nem fatal para todos os descendentes do mesmo casal. Os únicos seres
considerados idênticos são os gêmeos verdadeiros, ou seja, os univitelinos (gêmeos que nascem de
1 só ovo).

3º) A herança se manifesta simultaneamente por semelhanças e diferenças. As semelhanças


representam a herança direta de pai para filho. As diferenças se devem ao fato de que herdam
caracteres de outros ascendentes: é a herança atávica ou indireta (netos que herdam certos
caracteres dos avós ou mesmo de ascendentes ainda mais remotos). A herança também pode se
apresentar nos colaterais, como sucede com irmãos, tios, sobrinhos, primos, etc.

4º) Habitualmente, a herança é bilateral, isto é, os caracteres são transmitidos tanto do pai quanto da
mãe.

3- A HERANÇA DO HOMEM

Dividiremos o estudo da herança do homem em 3 partes:


a) Herança Normal (com todas as suas variedades);
b) Herança Anormal ou Patológica;
c) Herança do Crime
a) Herança Normal:
Já dissemos anteriormente que o meio ambiente, embora não seja capaz de criar nada por si
mesmo, é contudo uma força formidável capaz de acelerar, retardar ou desviar a bagagem
hereditária recebida de nossos ascendentes.
Quanto á herança normal cabe ressaltar os caracteres morfológicos, fisiológicos e
psicológicos.

- Caracteres Morfológicos: dizem respeito principalmente ao sexo, raça, estatura, glândulas


endócrinas, conformação da cabeça, etc. Relativamente ao sexo, geralmente o homem é mais alto
que a mulher, também devendo ser consideradas as diferenças entre suas medidas cranianas. Com
respeito ás glândulas endócrinas, temos o caso da ação da tireóide e da hipófise que podem originar
tipos tireodianos ou hipofisários. O peso depende muito de fatores hereditários e ambientais. A
disposição, a forma e o tamanho dos órgãos internos e externos do indivíduo resultam de fatores
hereditários (orelhas, lábios, nariz, etc).

- Caracteres Fisiológicos: Podemos citar aqui o tipo de morte característico de determinadas famílias
(como os doentes cardíacos); a fecundidade (observam-se famílias tipicamente não prolíferas); o tipo
de menstruação nas mulheres; a força muscular; a pressão arterial (famílias de hiper-tensos);
atitude geral (maneira de ser, de andar, o tom da voz, os “tiques”), etc.

- Caracteres Psicológicos: Há certas aptidões artísticas que se constatam com certa freqüência na
evolução de determinadas famílias, como a inclinação musical nas famílias de Bach, Strauss, etc.
Isto se deve á herança ou ao fato das crianças pertencentes a essas famílias terem nascido e
crescido em um ambiente musical??? Por outro lado, tivemos grandes gênios musicais, cientistas e
sábios, cuja descendência não herdou tais características. O geneticista alemão Hoffmann sustenta
que a inteligência é hereditária e está ligada ao sexo: os filhos têm mais possibilidades de herdar as
características de inteligência do pai e as filhas da mãe. No que diz respeito ao caráter, os filhos
herdariam o da mãe e as filhas o do pai. Evidente, entretanto, que todos esses caracteres não
podem escapar da influencia de fatores ambientais.

b) Herança Anormal ou Patológica:


Sobre este particular aspecto devemos recordar que não devem ser confundidas as taras
hereditárias com as malformações congênitas. Nossas taras hereditárias são as que vem na célula
germinal e não desaparecem; ao passo que as malformações congênitas se devem a causas que
intervém depois da gestação do novo ser. Um choque elétrico sofrido pela mãe em estado de
gravidez, pode influir em sua descendência; as relações sexuais em estado de alcoolismo tem uma
grande influencia pelo grande poder de difusão do álcool através dos tecidos orgânicos; também os
traumatismos sofridos pela mãe durante a gestação podem ter influencia.
As taras hereditárias decorrem da má conformação dos genes e são encontradas repetidas
vezes em vários membros de uma família, sendo transmitidas com certa Constancia.

Dentre as principais taras, destacam-se:

1- Taras Morfológicas: polidastilia (6 dedos), lábios leporinos, hermafroditismo, etc;

2- Enfermidades Constitucionais: ananismo, gigantismo, sensibilidade ás intoxicações, ou seja,


alergias (como ocaso das famílias que não podem injerir aspirina sem sentir notórios
transtornos), imunidades para certas doenças ou predisposições para adquiri outras (como a
urticária – alergia resultante de certos alimentos como chocolate, ovo, mariscos, etc.),
doenças gerais (como a diabetes, a pressão alta, etc.);

3- Doenças do Sangue: como a hemofilia, por exemplo;


4- Doenças Endócrinas: como o bócio, vulgarmente chamado de “papeira”. Há famílias nas quais
se observa a doença, porém, não há certeza da sua transmissão hereditária;

5- Doenças do Aparelho Circulatório – coração e vasos sanguíneos: Varizes, hemorragias


cerebrais (derrame cerebral), morte súbita, infarto, etc.;

6- Doenças do Aparelho Digestivo: úlceras gastroduodenais, cirrose, etc.;

7- Doenças do Aparelho Urogenital: incontinência urinária (enurese noturna);

8- Doenças do Aparelho Genital: criptorquidia (ausência de testículos no escroto, que pode ser
parcial ou total, faltando, pois, um ou ambos os testículos);

9- Doenças da Pele, Cabelos e Dentes: Parece que há uma certa influencia hereditária com
relação á algumas doenças, como eczema, urticária, edema paroxístico (inchaço dos lábios ou
pálpebras inferiores que costuma aparecer em famílias de neuróticos), calvície, cabelos
brancos, determinadas afecções dentárias (cáries, gengivites, por exemplo, tendo-se
observado famílias inteiras com má estrutura dentária);

10- Doenças do Sistema Nervoso: afetam o cérebro, o cerebelo, a medula, etc.;

11- Doenças dos Órgãos dos Sentidos: surdez, surdo-mudez, daltonismo, albinismo, etc;

12- Epilepsia: A qual pode ser de dois tipos: Essencial e Jacksoniana. Essencial é aquela
característica dos indivíduos que não tenham sofrido grandes acidentes na sua vida, sendo,
portanto, uma epilepsia sem causa justificável e explicável. A Jacksoniana (de Jackson, que
descreveu a epilepsia adquirida), é aquela explicável, tendo origem conhecida, pois há sempre
uma lesão agindo como pólo de irritação (ossos que se desprenderam, formação de pus
enquistado, etc) o que pode irritar o córtex cerebral, provocando, assim, a crise epilética. A
epilepsia Essencial é incurável; a Kacksoniana é curável numa expressiva porcentagem, pois
é muito possível localizar a causa irritativa e eliminá-la. Quanto ás possibilidades de
transmissão hereditária seria a epilepsia Essencial a única suscetível de sê-lo, pois a
Jacksoniana é adquirida e, como tal, não transmissível hereditariamente;

13- Doenças Mentais: Segundo pesquisa realizada por diversos autores de criminologia, há a
probabilidade 30% a 60% de transmissibilidade de doenças mentais. A herança dessas
doenças pode ser direta, quando se herda de ascendentes diretos, ou seja, de pais para filhos
(caso das famílias de esquizofrênicos), ou indireta, também chamada de atávica, quando
aparece na linha colateral (como ocaso do sobrinho que herda uma doença mental do tio, ou
doenças que vêm de gerações anteriores);

14- Doenças do Caráter: De um modo geral, poderíamos dizer que o caráter é constituído pelas
características fundamentais de um indivíduo que pautam a sua conduta. Não
podemos,porém, negar, a influencia que o meio exerce sobre o caráter. Geralmente podemos
dividir os indivíduos segundo a sua maneira de ser em 2 grandes grupos:

a) o indivíduo ciclotímico: é o que tem períodos variáveis de bom ou mal humor. Quando esta
característica se acentua, encontramo-nos diante da personalidade ciclóide, que em seu mais
elevado grau, gera a psicose maníaco depressiva ou psicose circular. Neste último estado, o
indivíduo passa a ser um verdadeiro doente mental;
b) o indivíduo esquizotímico: é de uma grande vida interior, fechado ao ambiente, cujas reações
aos estímulos externos são diferentes em diversas ocasiões. Assim, um indivíduo deste caráter,
diante de uma determinada brincadeira, poderá ás vezes rir francamente e em outras permanecer
indiferente. Quando esta característica se acentua, temos a personalidade esquizóide, que, em sua
fase de maior gravidade, pode dar lugar ao aparecimento da doença chamada esquizofrenia ou
demência precoce.

15- Oligofrenias: é aquela doença que se caracteriza pela falta de inteligência no indivíduo.
Apresenta-se em 3 estados:

a) O idiota: é o estado mais grave, pois o indivíduo não atinge idade mental superior a 3 anos; deve
ser alimentado por terceiros, feita sua higiene, etc., sendo incapaz de cuidar de si mesmo;

b) O imbecil: de idade mental superior a 3 anos e inferior a 7; fala mais corretamente, consegue
aprender a ler um pouco e a assinar o próprio nome;

c) O débil mental: idade mental superior a 7 e inferior a 14 anos.

16- Suicídio: Apresentam-se casos de verdadeiras famílias de suicidas. Os autores modernos


consideram que o que se herda é a personalidade (ciclotímica ou esquizotímica), ou seja, a
base fundamental, que diante de um estímulo mais ou menos violento do meio, vai determinar
a conduta do suicida.

17- Alcoolismo: Acredita-se muito que o alcoolismo seja hereditário. No entanto, não podemos
saber até que ponto influi no filho o mal exemplo de seus pais, a imitação destes, etc. Existem
características alcoólicas que é possível que sejam hereditárias como a dipsomania, que quer
dizer o impulso incoercível para beber.

18- Outras Toxicomanias: Morfismo, cocainismo, etc. Nestes casos, não se herdaria uma
tendência exclusiva para usar a morfina ou ingerir a cocaína, mas apenas uma predisposição
ao uso dos tóxicos ou drogas em geral.

c) Herança do Crime:
Desde do século XVIII, que são formuladas várias teorias científicas para explicar as causas
do delito. O médico alemão Franz Joseph Gall, procurou relacionar a estrutura cerebral com as
inclinações criminosas. No final do século XIX, o criminólogo Cesare Lombroso afirmava que os
delitos são cometidos por aqueles que nascem com certos traços físicos hereditários reconhecíveis,
teoria essa refutada no começo do século XX, por Charles Goring, que efetuou um estudo
comparativo entre delinquentes encarcerados e cidadãos respeitadores da lei, concluindo que não
existem os denominados “tipos criminais” com disposição inata para o crime. Na França,
Montesquieu procurou relacionar o comportamento criminoso com o ambiente natural e o físico.
Por outro lado, estudiosos ligados aos movimentos socialistas consideram o delito como um
efeito derivado das necessidades da pobreza. Outros teóricos relacionam a criminalidade com o
estado geral da cultura, sobretudo pelo impacto desencadeado pelas crises econômicas, pelas
guerras, pelas revoluções e pelo sentimento generalizado de insegurança, derivado de tais
fenômenos.
No século XX, psicólogos e psiquiatras desenvolvem estudos teóricos no sentido de indicar
que cerca de um quarto da população reclusa é composta por indivíduos com comportamentos
psicóticos, neuróticos ou também por indivíduos de instabilidade emocional e o outro quarto,
padecem de deficiências mentais.
Freqüentemente, são mencionadas enfermidades que se herdam. Em nossos estudos vamos
tratar de ver se o crime em si tem relação com a herança.
Diversos distúrbios de conduta, e dentre eles a delinqüência de adultos, a criminalidade
juvenil, a homossexualidade, etc., indicam a presença de um fator genético predisponente, sem
desprezar o fator ambiental, é claro.
Pesquisas encetadas na Dinamarca sobre a projeção dos fatores genéticos e ambientais na
tela da criminalidade relataram que, quando o pai biológico e o adotivo não eram delinqüentes, ou
quando somente o adotivo era criminoso, as taxas de criminalidade entre os filhos eram praticamente
iguais. Todavia, sendo delinqüente apenas o pai biológico, a taxa se elevava ao dobro, ascendendo
ao triplo quando ambos os pais eram criminosos. Isto quer dizer que, a criminalidade dos pais natural
e adotivo e, eventualmente, a ocorrência de moléstia mental na mãe, são fatores que chegam a
marcar presença na gênese da delinqüência dos filhos.
Aliás, para as aplicações da Genética no campo da Criminologia, muitos geneticistas vêm,
procurando identificar a transmissibilidade de fatores que gerariam o crime. Tais pesquisas têm sido
realizadas de vários modos: Primeiramente foram estudados grupos sociais, depois aglomerados
étnicos e, particularmente, núcleos familiares, os quais, pela alentada incidência de membros que se
apresentaram como autores de ações delituosas ou como indivíduos de conduta social perniciosa,
viriam atestar essa transmissibilidade.
Dugdale, por exemplo, investigou a família Juke, reconstituindo sua genealogia até chegar ao
antepassado comum: o individuo Marx Juke, nascido em 1720. Na família aconteceram diversas
uniões ilegítimas. Foram pesquisados 700 descendentes de Marx Juke, sendo que mais da metade
era constituída de criminosos, prostitutas, vadios, etc. Verificou-se que 310 eram indigentes, 440
foram descritos como portadores de doenças físicas graves, 50% das mulheres eram prostitutas e
130 haviam praticado diferentes crimes, sendo que entre elas, existiram 7 homicidas. Em 1915, outro
pesquisador deu continuidade ao trabalho de Dugdale, voltando a pesquisar á Família Max Jukes, já
nessa ocasião com 2.094 descendentes. Dentre estes foram encontrados 76 desajustados
socialmente, 171 criminosos, 277 prostitutas, 282 ébrios contumazes, 323 tipicamente degenerados
e 255 mais ou menos corretos,
Outra família pesquisada foi a família francesa Chrétien, que teve 3 filhos: Píer, assassino,
teve 1 filho também assassino; Tomás teve 2 filhos assassinos e 1 neto ladrão reincidente; Jean teve
7 filhos, sendo 4 ladrões e 2 filhas ladras, uma das quais teve 2 filhos assassinos e 4 ladrões; a
terceira filha teve 1 filho assassino.
Também na família Zero, foram estudados 310 descendentes, dos quais 12% foram
criminosos, 28% imorais e indigentes, 41% vadios e somente 19% foram indivíduos tidos como
normais.

Ainda assim, indaga-se, repetidamente, da existência ou não de uma influencia genética,


inata, herdada como co-partícipe do ato criminoso. Haveria um determinismo herdado para a prática
de crimes????

Os fatores, segundo os geneticistas, poderão ser divididos em genéticos e ambientais.


Os fatores genéticos são transmitidos por certos corpos especiais existentes nas células que
são conhecidos pela designação de cromossomos. Cada espécie animal tem um nº fixo de
cromossomos: o gato tem 38 cromossomos, o cavalo 60 e o homem (ser humano) 46 (sendo 23
pares). A espécie humana tem, portanto, 23 pares de cromossomos para o homem e 23 pares de
cromossomos para a mulher, os quais se fundem quando há a união das células masculinas
(espermatozóides) e células femininas (óvulos) e que contém milhares de pares de genes. Da fusão
das duas células resulta a célula ovo, chamada de zigoto ou gameta, que reconstitui o nº diplóide
próprio de cada espécie.
A matéria-prima da hereditariedade é o denominado DNA (Ácido Desoxirribonucléico),
molécula em dupla espiral encontradiça nas células de todos os seres vivos, das bactérias aos
homens.
Na espécie humana, o DNA possui cerca de 100 a 200 mil genes. O Gene é encontrado no
núcleo das células, comandando todos os seus processos bioquímicos. Cada gene é responsável
pela produção de uma determinada proteína, que será necessária para o funcionamento ou para a
estrutura do corpo. Um defeito no gene poderá afetar ou impedir a síntese de uma proteína, daí
promanando uma doença genética ou deformidade.
Os tecidos humanos mais ricos em DNA são os glóbulos brancos do sangue, o esperma, os
fios de cabelo, a polpa dentária e a medula óssea. A análise do DNA começa com a retirada de uma
amostra desse material orgânico (geralmente sangue ou esperma) através da aplicação de uma
solução específica (tensoativo com enzima proteolítica) que fragmenta a amostra. Em seguida esses
fragmentos do DNA (de diversos tamanhos) são espalhados sobre uma superfície gelatinosa e
submetidos a uma corrente elétrica, que os faz ficar em fila, em ordem crescente de tamanho.
Finalmente, os fragmentos do DNA são transferidos para uma película de “nylon” que é colocada
sobre um filme de radiografia. A radioatividade imprime no filme a seqüência de fragmentos do DNA
como em uma fotografia. A comparação das “fotos” comprova se as amostras pertencem á mesma
pessoa.
A análise do material genético fornece 100% de certeza nos casos de investigação de
paternidade. Para comprovar a paternidade, compara-se as “impressões genéticas” dos pais e dos
filhos.
O exame do material genético permite, inclusive, identificar o autor de um crime, a partir de um
fio de cabelo, de uma gota de sangue ou de um traço de esperma. Para tanto, ter-se-á que cotejar o
DNA do material encontrado no local do delito com aquele do suspeito ou indigitado autor.
A Genética é o estudo dessa herança com a qual o homem se preocupa seriamente pelo
menos há 2 séculos. De fato, desde 1865, na Checoslováquia, o monge agostinho João Gregório
Mendel dedicava-se aos estudos do processo de hereditariedade, embora suas experiências
consistissem no cruzamento de plantas leguminosas e de flores, para aprimorar-lhes a qualidade e a
cor.
Recentemente, manifestando-se sobre o mapa do código genético humano, o cientista alemão
Bernd Brinckmanns, durante congresso da Sociedade Internacional de Técnica Genética, realizado
na cidade de Munster, na Prússia, assegurou que dentro de pouco mais de 5 anos será possível
elaborar o retrato falado genético a partir do DNA das células dos suspeitos, o que traria enorme
contribuição para o campo da criminogenia.
Reforçando o que já foi explicitado, relevante enfatizar que todo o indivíduo possui um fenótipo
e um genótipo. Genótipo é o conjunto de fatores que constituem a bagagem hereditária do indivíduo
e que é recebida de seus ascendentes. Fenótipo é o que o indivíduo aparenta ser (aspecto, cor,
cabelo, funções fisiológicas, etc.).
Do ponto de vista da medicina forense é incorreto falar em herança criminal. Não está
estabelecido, de fato, que alguém possa delinqüir através de sua configuração genotípica.
Admite-se, isto sim, que um individuo mal nascido (com um legado psicopático e educação
viciosa ou submetido a fatores ambientais paratípicos) possa acabar no crime, do mesmo modo que
seus ascendentes.
Efetivamente, não há tendências criminógenas hereditárias, mas, apenas, formas psicopáticas
especiais. Uma coisa é a bagagem hereditária dos pais e, outra, as alterações que possa sofrer o
individuo durante sua vida e que podem influir depois sobre os seus descendentes.
A herança poderá ser um fator predisponente ao crime, não fator de sua ação direta que
prescinde de uma base com circunstancias favoráveis. Um paranóico homicida quiçá transmita á seu
filho uma constituição paranóica que poderá levá-lo ao homicídio, porém, isto não é herança criminal,
pois o crime é só um acidente. O importante é a herança patológica mental. O pai pode ser um
simples neuropata, tornando-se homicida por circunstancias totalmente eventuais, enquanto o filho
pode vir a sê-lo como conseqüência, por exemplo, de um delírio de perseguição.
De qualquer modo, seria assaz temerário afirmar que existe uma herança específica do crime
ou mesmo certas condições físicas ou psíquicas herdadas que levam irreversivelmente á prática
delituosa.
Carecemos, ainda, de documentos definitivos que nos permitam afirmar com segurança que,
em certos casos, a criminalidade seja manifestação direta da herança, já que o papel desencadeador
das causas criminógenas do mundo circundante não pode ser desprezado.
Se não podemos impedir a transmissão de taras hereditárias, sempre podemos interferir no
meio ambiente para contrabalancear, pelo menos em parte, as manifestações negativas da herança,
como retirar os filhos de ambiente pernicioso e colocá-los em outro melhor; proporcionar-lhes boa
orientação, orientá-los vocacionalmente, etc.
Em todo caso, a herança é um fator muito importante, porém, não de ação direta, mas
predisponente. Por outro lado, quanto mais pronunciada é a herança patológica, mais separa o
indivíduo do meio social normal, o que acentua mais ainda as suas possibilidades negativas.
Quer dizer que, ao que parece, a maior parte dos fatores que integram a constituição, a
inteligência, o temperamento e o caráter, combinam entre si e se misturam de forma muito variada na
descendência, de maneira que jamais podemos prescindir dos fatores do mundo circundante, já que
são capazes de permitir ou não o aparecimento de um caráter endógeno.
Não há, portanto, tendências criminais especificamente hereditárias, apenas formas
psicopáticas especiais.
Nunca será demais repetir que uma coisa é a bagagem hereditária dos pais e outra as
alterações que possa sofrer um sujeito durante a sua vida e que podem influir depois sobre os seus
descendentes.
São conhecidas com o nome de blastotoxias todas as causas alheias á herança que influem
patologicamente nas células germinais do indivíduo e, por conseguinte, na descendência.
Vamos agora estudar essas causas de acordo com os diferentes períodos do ciclo vital.

Fatores que influem na vida intra-uterina:


Todos os fatores que podem ser nocivos para a mãe durante o período de gravidez, também
podem ser para o filho. Não esqueçamos as relações estreitas que existem entre a mãe e o filho
durante este período em que ele é alimentado através da placenta. Todas as causas patológicas ou
toxicológicas que podem afetar a mãe, podem também afetar a criança.
As influencias que atuam durante o período de gravidez podem ser divididas em 5 grupos:

a) Influencias Mecânicas: São os traumatismos. Um golpe sofrido pela mãe pode chegar a
produzir o aborto ou a morte do feto sem expulsão, ou seja, dentro do ventre materno.

b) Influencias de Tipo Físico: Podemos considerar a ação da luz, do calor, os raios X, o radium, a
eletricidade, etc, que podem causar anomalias no feto ou retardamento no desenvolvimento.

c) Influencias Químicas: Podemos considerar os tóxicos, especialmente os voláteis, como o


álcool, o éter, o clorofórmio, a gasolina, etc., pois a maioria deles é transmitida ao feto através
da placenta.

d) Influencias Patológicas: As doenças da mãe, como as infecções, as intoxicações, etc., influem


também na vida do feto.

e) Influencias Psicológicas: As emoções violentas sofridas pela mãe na época de gravidez


podem influir na criança. Por exemplo, a morte dopai durante a gestação, pode causar o
nascimento de uma criança anormal, como conseqüência do choque emocional sofrido pela
mãe. Os vulgarmente chamados “desejos” da mãe grávida, indicam nela um estado de
desequilíbrio emocional e, portanto, durante os primeiros meses costuma-se atender ás
solicitações (caprichos) da mãe, a fim de se evitar a influencia desse fator psicológico na
futura vida do novo ser.

Fatores que influem durante a 1ª e 2ª infâncias:


Considera-se a 1ª infância como os dois primeiros anos de vida da criança. A 2ª infância
compreende do terceiro ano de vida até a época da puberdade.
Nesta época, deformações corporais (defeitos físicos) podem criar um complexo de
inferioridade muito grande na criança, que a fará reagir contra seus companheiros com
ressentimento, que, mais tarde, será extensivo á sociedade. Segundo alguns criminalistas, é possível
é possível encontrar explicação para o fato de muitas destas crianças, mais tarde, condicionadas por
uma notória inferioridade física e intelectual, seguirem o caminho do crime.
Destacam-se, nesse período, sobretudo os fatores de ordem psicológica ou emotiva. Até o
aparecimento das doutrinas e investigações de Freud, não se acreditava que a criança pudesse
sofrer os efeitos dos fatores psicológicos.
No entanto, depois dos estudos desse grande psicólogo, chegou-se á conclusão que isto era
um grande erro, pois é durante a infância que o indivíduo é mais sensível á tais fatores.
Alguns autores apresentaram trabalhos nos quais citam grande proporção de criminosos em
cujos antecedentes se observam fatos curiosos relativos á matéria em estudo.
Comprovou-se que muitos deles haviam sido abandonados pela mãe entre os 6 e os 24
primeiros meses de vida. Estabeleceu-se que até os 6 meses a influencia da mãe não é tão grande,
porém, depois dos 6 meses, há uma vinculação muito estreita entre a mãe e o filho. Nesta idade, a
criança se vê defendida pela mãe do meio hostil que a rodeia. Se a mãe o abandona entre os 6
meses e 2 anos de idade, a criança sofre um trauma tremendo, primeiro elo de uma cadeia de
conflitos, que, podem conduzir á geração de um delinquente.
Os pais muito severos ou depravados também influem na psique de seus filhos, que começam
a acumular os primeiros ódios contra os pais e depois contra a sociedade.
De acordo com a análise de Freud, este período de vida é o mais importante de todos sob o
ponto de vista psicológico.

Resumindo: todos os fatores que analisamos podem determinar um retardamento ou desvio na


evolução da criança do ponto de vista orgânico, intelectual e moral, inclinando-a, talvez, á prática de
crimes.

Fatores que influem durante os períodos da adolescência e maturidade:

- Adolescência: A puberdade é a etapa da vida da pessoa que se caracteriza por uma ´serie de
mudanças morfológicas, funcionais e psicológicas. O período da adolescência abrange
aproximadamente a faixa etária entre os 15 e 25 anos.
Existem, nesse período, uma série de fatores que podem ter importância definitiva na vida
posterior do indivíduo.
Influem, nesse período, o nascimento das tendências heterossexuais. Enquanto o lactante
encontra o prazer sexual em si mesmo, posteriormente esta etapa narcisista passa para uma
homossexualidade que é normal na criança, mormente quando vive em um ambiente de
promiscuidade. Existem também, nesse período, tendências incestuosas que se manifestam com
maior freqüência do que se supõe.
Na última etapa, em torno dos 15 anos, desaparece essa tendência homossexual ou
incestuosa e aparecem as tendências heterossexuais. No entanto, é uma etapa na qual advém um
complexo de timidez que está relacionado com outros fatores, entre os quais a moral de cada família.
Em lares muito religiosos, onde os problemas sexuais são “tabu”, o ato sexual é considerado
pecaminoso, degradante, o que podem produzir efeitos negativos na vida adulta, levando o indivíduo
a cometer crimes sexuais.
Por outro lado, o deficiente ambiente moral em que se vive gera idéias errôneas no menino,
como ter atos de virilidade, conhecer o sexo precocemente, embriagar-se, fumar, etc.
As emoções, no adolescente, são mais intensas do que em qualquer outra idade.
O adolescente, sob o aspecto social, político, etc., é extremamente impulsivo. Observa os
fenômenos sociais, políticos e outros de um ponto de vista muito especial. Trata-se de impor as suas
próprias soluções aos diversos problemas que aborda.

- Maturidade: Terminado o período da adolescência, vem o estágio de adulto, quando a evolução do


individuo chega á sua plenitude.
O adulto não é outra coisa do que a conseqüência de uma luta constante entre os fatores
hereditários e as exigências e imperativos do meio ambiente. Quando ambos os fatores atuam no
mesmo sentido, ou seja, de forma desfavorável ou favorável, teremos indivíduos anormais ou
normais, respectivamente. Se ambos os fatores se contrapõem, aparece o grupo dos
“desorientados”, como o neuropata, o psicopata, etc.
Isto nos conduz á uma conclusão dolorosa: A humanidade está se tornando neurótica. A
civilização ocidental, com suas grandes cidades, estas com seus conglomerados de indivíduos,
acarretam uma série de conseqüências palpáveis nestes, sob todos os pontos de vista.
Entretanto, tem sido muito difícil estabelecer um limite entre o normal e o anormal. Qualquer
pessoa está sujeita a sofrer transtornos mentais. Os fatores exógenos influem imponderavelmente na
vida do individuo. Qualquer fato decisivo, como o falecimento de um familiar, se nos surpreende num
estado emocional de fraqueza, quer dizer, de hipersensibilidade, pode se romper o equilíbrio das
faculdades do indivíduo.
Como conclusão, temos de admitir que o homem não é só uma conseqüência da bagagem
hereditária com que chega á vida, nem da sua estrutura biológica, mas o resultado de uma luta
constante travada entre os fatores hereditários e o meio circundante.

IDADE E SEXO

Continuando o estudo dos fatores endógenos do crime, vamos analisar a influencia que
poderiam ter na criminalidade a idade e o sexo.
Segundo Cláudio Beato, pesquisador da UFMG, “sexo e idade são os dois únicos fatores
inequivocamente relacionados á criminalidade”.

1º Idade: Estudando as estatísticas da criminalidade relativas à idade, observa-se que a esmagadora


maioria dos indivíduos relacionados com o crime são homens muito jovens, entre 18 e 25 anos. Isso
se repete em todo o mundo. Em regra, os homens iniciam mais cedo na vida criminal, enquanto que
as mulheres entram para esta vida mais tarde (por volta dos 30 aos 40 anos).
Isso se deve a que o jovem é especialmente suscetível á influência forte de amigos, tem
grande necessidade de afirmação de valores individuais, tem necessidade de dinheiro e geralmente
não encontra empregos por não ter experiência.
Em 2000, cerca de 10% da população brasileira estava no grande grupo de risco criminógeno:
homens entre 15 e 25 anos.
Segundo dados do Censo Penitenciário de 1995, 57% dos presos brasileiros tinham menos de
30 anos (em 2004, segundo o MJ, esse nº aumentou para 60%), e 30% deles tinham menos de 30
anos. A taxa de mortes violentas é substancialmente maior entre jovens até 25 anos: 39 de cada mil
jovens morrem assassinados no Brasil, 61 de cada mil só na capital paulista.
Pode-se afirmar que certos tipos de delitos têm uma idade propícia para sua consumação, o
que é de grande importância.
Observou-se que os delitos contra o patrimônio ocorrem com maior freqüência entre os 16 e
os 26 anos.
Legalmente, na maioria dos lugares a idade penal se estabelece depois dos 20 anos. No
Brasil, contudo, a idade da responsabilidade penal é aos 18 anos.
Os crimes passionais têm a sua freqüência máxima entre os 30 e 40 anos, sendo pouco
freqüente antes dos 30 ou depois dos 40 anos. Um delito passional cometido antes dos 30 ou depois
dos 40 anos, nos levará a deduzir a existência de uma personalidade perturbada, sobretudo se
ocorre depois dos 40 anos, quando é possível que haja a influencia da arterioesclerose, de uma
alteração endócrina, etc.
Os crimes sexuais se consumam antes de se adquirir a maturidade, ou seja, antes dos 25
anos, ou bem depois dos 45 anos. O homem na plenitude de sua capacidade, geralmente não
incorre nesse tipo de crime. Passados os 40 anos, a diminuição das secreções hormonais e os
transtornos produzidos pela arterioesclerose cerebral, certamente terão influencia neste aspecto da
criminalidade sexual.
Existe, também, o conceito de “idade antropológica”, não relativa á cronologia ou anos de
vida, mas ao desenvolvimento do individuo. Não é raro o sujeito ter a idade cronológica da
maturidade e antropologicamente ser um adolescente ou senescente (velho).
Sob o aspecto antropológico, se um individuo se encontra na maturidade confirmada entre 28
e 42 anos e apresenta sinais de senescência (processo de envelhecimento natural dos seres vivos)
deve haver uma razão que possa explicar essa disparidade. Em Criminologia, todas essas
disparidades podem contribuir para explicar certos fatos gerados por uma conduta anormal.
Também devemos considerar a idade emocional, que é a mais importante de todas as que
estamos tratando.
Há pessoas que apesar de ter 30 ou 40 anos, não possuem maturidade emocional. É o que se
denomina “infantilismo emocional”. Esses tipos imaturos têm para a Criminologia importância
especial, porque outros indivíduos mais versados em crime, costumam usá-los com freqüência como
instrumentos de seus atos delituosos.
Pode haver indivíduos bem desenvolvidos fisicamente, mas não emocionalmente.
A idade senil também tem influencia dentro destes fatores endógenos. Há mulheres honestas
que depois da menopausa adquirem uma tendência libidinosa que as torna irreconhecíveis e
propensas aos maiores desatinos sexuais. Isto também acontece com os homens.
Como vemos, quando se fala em idade, isso não é em Criminologia um conceito tão fácil de
precisar.

MAPA MUNDI DA MAIORIDADE PENAL

EUROPA
- Alemanha: 14 anos
- Dinamarca: 15 anos
- Finlândia: 15 anos
- França: 13 anos
- Itália: 14 anos
- Noruega: 15 anos
- Polônia: 13 anos
- Escócia: 8 anos
- Inglaterra: 10 anos
- Rússia: 14 anos
- Suécia: 15 anos
- Ucrânia: 10 anos

ÁSIA
- Blangadesh: 7 anos
- China: 14 anos
- Coréia do Sul: 12 anos
- Filipinas: 9 anos
- Índia: 7 anos
- Indonésia: 8 anos
- Japão: 14 anos
- Maynmar: 7 anos
- Nepal: 10 anos
- Paquistão: 7 anos
- Tailândia: 7 anos
- Uzbequistão: 13 anos
- Vietnã: 14 anos
ÁFRICA
- África do Sul: 7 anos
- Argélia: 13 anos
- Egito: 15 anos
- Etiópia: 9 anos
- Marrocos: 12 anos
- Nigéria: 7 anos
- Quênia: 8 anos
- Sudão: 7 anos
- Tanzânia: 7 anos
- Uganda: 12 anos

AMÉRICA DO NORTE
- Estados Unidos: entre 6 e 18 anos, conforme a legislação estadual
- México: 11 ou 12 anos para a maioria dos estados

AMÉRICA DO SUL
- Argentina: 16 anos
- Brasil: 18 anos
- Chile: 16 anos
- Colômbia: 18 anos
- Peru: 18 anos

ORIENTAL MÉDIO
- Irã: 9 anos (mulheres) e 15 anos (homens)
- Turquia: 11 anos

2º- Sexo: Seguindo o critério estatístico, existe um axioma no sentido de que a criminalidade
feminina é extraordinariamente menor que a do homem. As estatísticas nos revelam que a sexta
parte dos crimes cometidos, o são pelas mulheres e o resto pelos homens. Jovens do sexo
masculino, por uma série de razões, são a clientela mais comum do crime, seja como agentes, seja
como vítimas.
Outro fato interessante é que a criminalidade feminina aumenta á medida que aumenta a
participação da mulher na vida social, política e econômica do pais. Verificou-se que a mulher tem
uma astúcia especial para lograr impunidade nos delitos nos quais incorre. É mais astuta na
elaboração do delito, em apagar ou fazer desaparecer os vestígios, etc. Por esta razão, muitos
infanticídios, abortos, envenenamentos, etc., jamais são descobertos.
UNIDADE IV - CRIMINOLOGIA CLÍNICA

A Criminologia Clínica representa o setor de aplicação prática e reinserção social do


delinqüente, apoiando-se, para tanto, no exame de sua personalidade.
Ensina o renomado jurista e criminólogo Álvaro Mayrink da Costa: “O exame criminológico
constitui o princípio básico da Criminologia Clínica, sendo que os métodos utilizados não variam
apenas segundo sua natureza médica,psiquiátrica, psicológica ou social, mas diferem, entre si, pelo
grau de profundidade que possam ter”.
O homem criminoso haverá que ser pesquisado em todos os aspectos estruturais, funcionais e
racionais, a fim de ser descortinada a sua personalidade, mas sempre considerando a investigação
dos fatores exógenos.
A Criminologia Clínica, portanto, é o estudo científico do comportamento criminoso. Tem por
preocupação o estudo dos fatores endógenos, ou seja, as causas internas, intrínsecas ao indivíduo
na causalidade delituógena. Representa, em última análise, a observação, interpretação e tratamento
do indivíduo criminoso.
Segundo o criminalista Sturup, a Criminologia Clínica é uma parte da Criminologia que se
preocupa coma investigação e tratamento da conduta criminal, acrescentando que sua finalidade
seria sempre terapêutica.
Em relação á expressão “Criminologia Clínica”, o termo “clínica” considera não somente o
procedimento que afeta exclusivamente o individuo, mas a totalidade das investigações e medidas
auxiliares que hoje se impõem, nos modernos diagnósticos e terapias clínicas, sejam de índole física,
química, fisiológica, etc.
A Criminologia Clínica encontra-se intimamente ligada á Antropologia (ou Biologia) Criminal, a
qual tem por objetivo fundamental o estudo do criminoso, de seus caracteres físicos e psíquicos,
suas paixões e sentimentos, ou seja, os fatores orgânicos e biológicos individuais do delito, fixando
as anomalias apresentadas pela maior parte dos doentes.
Após os progressos alcançados pela Psiquiatria, passou-se a admitir o criminoso como um
individuo portador de uma psicopatia ou de uma personalidade psicopática (teoria eminentemente
clínica).
Seja como for, desde a época de Lacassagne, os pioneiros da Criminologia protestavam pela
elaboração de um exame médico-psicológico-social dos delinqüentes. Historicamente, tal premência
foi invocada, pela 1ª vez, por Cesare Lombroso, quando da realização em São Petersburgo, em
1889, do Congresso Internacional Penitenciário.
Finalmente, a meta da Criminologia Clínica é aplicar os princípios e métodos das criminologias
especializadas, comportando as seguintes operações: exame, diagnóstico, prognóstico e tratamento.
O criminólogo clínico é geralmente um médico, um psiquiatra, ao passo que o criminólogo
geral é geralmente um sociólogo, um advogado, etc.
É evidente que existem fatores sociais patogênicos, e até uma estrutura social delituógena, do
que já falava Lacassagne, mas jamais poder-se-á deixar de lado a análise do ingrediente endógeno,
do componente biológico no comportamento anti-social. Esse componente biológico é o equipamento
genético, a bagagem hereditária, como causalidade congênita de criminalidade, ale, é óbvio, de não
se poderem esquecer os fatores biológicos adquiridos nessa mesma causalidade.
Sem embargo do reconhecimento da enorme contribuição da Criminologia Clínica no estudo
da criminalidade, através de suas pesquisas, das leis gerais do comportamento criminal que formula,
do seu tratamento nos centros de observação, do tratamento e da metodologia intuitiva, orientada
sempre para o paciente criminal, ela não pode deixar de considerar, por exemplo, que existem
pessoas que mesmo submetidas á fatores, presumivelmente criminogenéticos, não chegam a
delinqüir, o mesmo acontece com portadores de personalidade patológica, que igualmente podem
não ser conduzidos á prática do crime.
A explicação estaria na existência de outros fatores inibidores da criminalidade, que são
estudados pela Criminologia Sociológica.
Há necessidade, portanto, de um esforço contínuo de colaboração entre a Criminologia
Clínica, que se concentra apenas no indivíduo e a Criminologia Sociológica, que se guia somente
para os grupos.
A Criminologia Clínica é endereçada ao tratamento carcerário, através dos centros de
observação, com programas de prevenção e tendo por base, sempre, o estudo do indivíduo singular.

1- CARÁTER E NARCISISMO
O caráter significa a maneira psíquica de um indivíduo reagir aos acontecimentos, o aspecto
psicológico da personalidade, mais particularmente, a nota afetivo-volitiva. Aliás, a tentativa de
estabelecimento de tipos morfológicos é antiga, tendo iniciado com Hipócrates.
René Le Senne foi um dos primeiros criminalistas a estudar o caráter do criminoso, a ponto de
criar a chamada Escola Caracterológica Francesa que conceitua a Caracterologia como “o
conhecimento metódico dos homens desde que cada qual se destaque por sua originalidade”. Assim,
o objeto da Caracterologia é o homem completo em sua realidade. A Caracterologia se restringe, em
última análise, á determinação de fatores de estrutura congênita e sólida do indivíduo. Visa os fatores
constitutivos do caráter (como a atividade e a emotividade, por exemplo).
Um dos distúrbios mais usuais do caráter é a chamada “perturbação narcisista”, que, segundo
alguns, teria cunho hereditário.
A perturbação narcisista é um distúrbio psicológico em que o indivíduo revela um grau anormal
de narcisismo, freqüentemente manifestado por exigências excessivas de amparo, elogio e amor.
Não é considerado um fator normal de caráter, dada sua própria excentricidade, chegando
alguns psicopatologistas a incluí-lo entre os desvios sexuais.
Efetivamente, o narcisismo é o amor da pessoa por si mesma, é a auto-adoração. Em
linguagem psicanalítica, é o produto da fixação da libido no ego da pessoa. Desde que essa fixação
persista em sucessivas fases do desenvolvimento mental, equivale a uma regressão psicossexual,
cristalizando-se no tipo caracterológico narcisista de personalidade. Atribui-se a condição narcisista á
um recurso empregado pelo ego infantil para enfrentar a frustração (modo esse que voltará a ser
usado, regressivamente, em certos estados psicopatológicos da vida adulta).
O narcisismo pode ser considerado como uma forma de auto-erotismo, sem ser acompanhado
de orgasmo sexual concreto. Entende-se, inclusive, que o narcisismo pode levar ao orgasmo sexual.
A rigor, o narcisismo implica na excitação sexual produzida pelo próprio corpo, sendo mais comum
nas mulheres. Segundo a fábula, Narciso foi personagem que, mirando-se numa fonte, ficou de si
próprio enamorado.

2- OS CICLOTÍMICOS E OS ESQUIZOTÍMICOS

De modo geral e segundo o respectivo modo de ser, os indivíduos são divididos em 2 grandes
grupos: os ciclotímicos e os esquizotímicos.

- Ciclotímicos: São aqueles que apresentam, habitualmente, períodos variáveis de bom ou mau
humor. É uma forma de personalidade que está nos padrões de normalidade, podendo, no entanto, a
pessoa apresentar períodos alternantes de exultação e tristeza, atividade e inatividade, excitação e
depressão. As alternações não obedecem á um ciclo regular e pode ocorrer períodos intermediários
de atividade normal, quando a depressão não se acentua. Tudo a ponto de tornar a pessoa um
ciclóide (fronteiriço) ou um psicótico-maníaco-depressivo (quando, então, já seria um doente mental,
portador de psicose). Mas, normalmente, o indivíduo ciclotímico tende a ser expansivo, mais ou
menos generoso e emocionalmente receptivo e sensível ao meio ambiente. Costumam, ademais,
exibir hiperatividade social e sexual.

- Esquizotímicos: São pessoas de grande vida interior, fechados ao ambiente, cujas reações aos
estímulos externos são diferentes em situações idênticas. O esquizotímico é um indivíduo que, diante
de certa brincadeira, poderá rir francamente em determinada oportunidade, noutra, porém, ficar
inteiramente indiferente. Quando esta característica se acentua, pode aflorar uma personalidade
esquizóide (fronteiriço) que, evoluindo para um quadro mais grave, redunda em esquizofrenia, que já
é uma doença mental, também conhecida por demência precoce.

3- PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS E DISTURBIOS DA PERSONALIDADE.


Sigmund Freud define a personalidade conforme um esquema tríplice que concrega os 3
níveis da estrutura mental (inconsciente, subconsciente e consciente): “É o produto da completa
integração do id, ego e superego”.
Alfred Adler conceitua a personalidade como “o estilo de vida do indivíduo ou a maneira
característica de reagir aos problemas da vida, incluindo as metas vitais”.
Pode-se dizer que a personalidade é um padrão peculiar de conduta do indivíduo, que
caracteriza e garante sua identidade, abrange suas disposições orgânicas e psíquicas, conscientes e
inconscientes, manifestas e latentes. A personalidade vai se moldando e se readaptando por força de
novas experiências significativas do indivíduo e dos fatores externos, ambientais, aos quais está
sujeito.
Enfim, a grosso modo, a personalidade é a maneira estável de ser de uma pessoa, que a
distingue de outra.
Inúmeros são, por outro lado, os conceitos e definições acerca da personalidade psicopática.
Na Idade Média, a insanidade mental era tida como resultado do pecado e de uma existência
libertina.
Em 1835, usava-se a expressão “insanidade moral” (insanity moral) para designar a conduta
anti-social e a ausência de senso ético de certos delinqüentes.
Em 1923, em sua obra Personalidades Psicopáticas, Kurt Schneider define: “personalidades
psicopáticas são as anormais, que sofrem por sua anormalidade ou fazem sofrer a sociedade”.
Schneider assim classifica os portadores de personalidade psicopática: hipertímicos,
deprimidos, inseguros de si mesmos, fanáticos, ansiosos de valor, explosivos, atímicos ou
insensíveis, hipobúlicos e astênicos.
Para o emérito jurista e criminólogo Jason Albergaria, os psicopatas de Schneider interessam
á Criminologia. Explica Jason que os hipertímicos tendem á difamação, á indolência e á fraude; os
fanáticos praticam o delito político; os explosivos o delito contra a pessoa; os atímicos o assassínio, o
latrocínio e o terrorismo; os supervalorizados do eu praticam a injúria, a calúnia e as fraudes; os
hipobúlicos cometem furtos, fraudes e apropriações indébitas.
Para o criminalista Kraepelin, “são personalidades psicopáticas aqueles que não se adaptam á
sociedade, vivendo em constante luta com ela: são descontentes com tudo, por toda a parte; sentem
necessidade de ser diferentes dos outros”.
Os psicopatas são indivíduos que não se comportam como a maioria de seus semelhantes
tidos por normais. Têm grande dificuldade de assimilar as noções éticas, ou, assimilando-as, em
observá-las. Seu defeito na manifesta na afetividade, não na inteligência, que pode, ás vezes, ser
brilhante.
Diz Jason que “é definitiva a prova de uma correlação hereditária entre psicopatas e
delinqüência na Criminologia Moderna, e, desta sorte, Lombroso reaparece modernizado”.
A história registra um sem-número de homicídios perpetrados por portadores de transtornos
mentais desse porte.
Sucintamente, á guisa de exemplos mais conhecidos, pode-se citar, na Roma antiga, os
imperadores Calígula (41 a.C) e Nero (54/68 a.C). Calígula sofria de todas as taras de seus
ancestrais e, sendo portador de sensualidade perturbada e sádica fúria homicida, entre os
incontáveis assassínios que lhe são atribuídos, de referir o de seu primo, seu cunhado e de sua avó.
Nero, igualmente dotado de perversidade hereditária e louca, assassina seu irmão, sua esposa e sua
própria mãe. Ao final, culmina por mandar incendiar, sadicamente, a cidade de Roma, que queimou
durante 6 dias seguidos, dela pouco restando. Não há como negar que a semelhança entre Calígula
e Nero é assustadora. O paralelismo entre eles é quase perfeito! Calígula foi morto á mando de
oficiais pretorianos. Nero suicidou-se.
No séc. XIX, na Inglaterra, em meados de 1888, no alegre bairro de Whitechepel, em curto
espaço de tempo, 5 prostituas foram assassinadas e mutiladas a golpes de punhal e de instrumento
cirúrgico. As mutilações do assassino, apelidado de “Jack Estripador” concentravam--se no rosto e
no ventre das meretrizes. A violência dos crimes provocou clamor na Câmara dos Comuns e a
própria rainha Vitória exigiu providencias. Contudo, Jack Estripador nunca foi efetivamente
identificado.
Em 1985, numa madrugada, na cidade de São Paulo, na moradia de seus pais situada no
bairro de Santa Catarina, o jovem Roberto Peukert Valente, com 18 anos de idade, portador de
epilepsia condutopática robustamente atestada por perícia médico-psiquiátrica, matou a tiros e a
facadas seus pais e 3 irmãos menores, sem motivos aparentes. Em seguida, colocou os 5 cadáveres
no porta-malas de um veiculo que abandonou no Jardim Marajoara. Depois voltou para sua casa
para lavar a garagem. Subseqüente, foi á padaria para comprar pão e leite para o café da manhã.
Preso e interrogado pela polícia, Roberto denotou frieza, insensibilidade e algum esquecimento ao
confessar o crime e sua execução, tudo nos moldes da teoria do “criminoso epilético” de Lombroso.
Este quíntuplo homicídio, por sua causação pouco comum, foi largamente noticiado por emissoras de
TV brasileiras e pela RAI (Televisão italiana).
Ainda que não haja um consenso amplo sobre o que seja o transtorno mental, usualmente se
caracterizam as personalidades psicopáticas por sua imaturidade emocional e infantilismo, com
acentuados defeitos de julgamento. Elas são sujeitas á reações impulsivas, sem consideração para
com os outros. Também estão sujeitas á instabilidade emocional, com oscilações rápidas do
transtorno para a depressão por causas banais.
Aspectos especiais dos indivíduos psicopatas são “traços criminais acentuados” (eis o porque
da importância da análise das personalidades psicopáticas em livros dessa natureza). Neles,
igualmente, são aspectos especiais a deficiência moral e a perversão sexual. A sua inteligência, de
acordo com os testes padrões, pode ser normal ou superior.
Do ponto de vista médico-legal os indivíduos com personalidade psicopática são conhecidos
como fronteiriços ou limiares. Entretanto, seus impulsos criminais se apresentam como irresistíveis e
nenhum deles é capaz de distinguir o certo do errado.
Para o Direito Penal são considerados responsáveis, respondendo por seus delitos.

Os tipos de personalidades psicopatas, a grosso modo, são os abaixo elencados:

a) Instáveis: encontrados com grande freqüência na vida social. Caracteriza-se pela dispersão
de atenção, mobilidade das impressões e desejos, descontinuidade nos pensamentos e na
ação e versatilidade dos sentimentos para com as pessoas e as coisas. O Instável é escravo
das próprias tendências e das solicitações do meio ambiente, que o incentivam á variabilidade
da ação, passando incessantemente de um objeto a outro, pois tudo o atrai com força e tudo o
aborrece e cansa em seguida. Suas decisões são bruscas e repentinas, irrefletidas e
impensadas. Com certa freqüência, tem bom êxito escolar, saindo vitorioso em eventos
difíceis e não raro, perdedor nos fáceis. Tem demasiado conhecimento da vida sexual. Pratica
furtos por brincadeira, é descarado, desavergonhado e vicioso contumaz.

b) Paranóides: têm, geralmente, padrões rígidos de comportamento; caracteriza-se por


hipersensibilidade interpessoal refletida por desconfianças injustificadas, inveja e ciúmes.
Essas suas características interferem freqüentemente nas relações com outras pessoas.
Usualmente, inculpam outras pessoas e lhes atribuem motivos maldosos. Possuem excesso
de sentimento, superestima do ego. Tal desvio de lógica é relativo ao modo de julgar-se a si
mesmo e ao mundo. Julga-se possuidor de méritos. Esses sujeitos, quando têm seus
sintomas agravados, são acometidos pela paranóia, caracterizando-se, esta, pelo orgulho, a
desconfiança, a tendência á erros de interpretação, a inadaptação, etc.
c) Hiperemotivos: Fisicamente possuem: reações motoras vivas extensas e prolongadas,
principalmente nos domínios mímico e vocal; desequilíbrio motor; palpitações; tremores
emotivos; tremulação das extremidades; calafrios; estremecimentos; ranger de dentes; tiques;
relaxamento dos esfíncteres; desequilíbrio circulatório, taquicardia ocasional, sensações de
frio e de calor, principalmente nas extremidades; desequilíbrio glandular. Psicologicamente
possuem: inquietação; ansiedade; irritabilidade.

d) Ciclóide: caracteriza-se pela alternância entre a depressão e a exaltação. Quando exaltado, o


indivíduo parece extrovertido, cordial, entusiástico, enérgico e ambicioso. Quando o ciclo
muda, mostra-se depressivo, apático e pessimista. Tem um nível baixo de energia e a vida
passa a lhe parecer inútil, não sendo raro, nessas ocasiões, a idéia de suicídio. Há casos de
depressão ou de excitação constante e de depressão e excitação periódicas. Podem
desenvolver a psicose maníaco-depressiva.

e) Hipoemotivos: tem como característica da personalidade a timidez, o retraimento, a fuga de


relações com outras pessoas. Pode ter uma hipersensibilidade e reagir a conflitos, desligando-
se da situação. Ás vezes, são muito excêntricos, podendo entregar-se á longas divagações,
mas, ao contrário dos piscóticos, têm condições de distinguir os sonhos da realidade. Lêem
muitos; não se interessam por atividades atléticas; são idealistas; de hábitos religiosos;
revelam pouco interesse pelo sexo oposto; a sua vida amorosa é caótica, necessitando de
amor; podem ser obstinados ou excessivamente dóceis, mas nunca perversos; são altivos,
sensíveis, calmos, auto-conscientes, ás vezes místicos; receiam as censuras, as derrotas, a
frustração. Nesse terreno pode desenvolver-se a esquizofrenia.

f) Mitomaníacos: Caracteriza-se pela existência de um desequilíbrio de inteligência, com um


comprometimento das faculdades de discernimento, da realidade objetiva, induzindo o
indivíduo a alterar a verdade, á mentira, á fabulação, á simular, a substituir a realidade objetiva
pela crença em acontecimentos imaginários e ás vezes impossíveis de acontecer. Costuma-se
enganar-se a si mesmo. Pode se acentuar até o estado de devaneio.

g) Poriômanos: são subtipos dos instáveis; referem-se á indivíduos que, sob a influencia de
estados afetivos íntimos fortes, sentem-se compelidos á fuga durante horas; procuram, por
assim, dizer, a terra dos seus sonhos, de seus desejos acalentados. Alguns crimes bárbaros
referidos de tempos em tempos pelos jornais, são, muitas vezes, cometidos pelos poriômanos.

h) Obsessivos Compulsivos: caracterizam-se pela excessiva preocupação com o que é certo e


o que é errado; são muito preocupados como o cumprimento do dever; supersticiosos e
inibidos; possuem tendência para a emotividade e para a dúvida, pela dificuldade que tem em
atingir uma certeza e de tomarem decisões. São atormentados pela eterna necessidade de
verificação, que constitui-se para eles num sério problema aos menores atos da vida cotidiana
(reabrem várias vezes as mesmas cartas p. ex. para verificar se assinaram ou não a carta;
recomeçam várias vezes asa mesmas coisas). Moralmente também são indecisos, revelando
sem cessar o temor de haver cometido uma má ação, de haver desagradado alguém e ainda
são dominados por inúmeros outros escrúpulos. São inquietos, incapazes de acalmarem-se e
de permanecerem em equilíbrio, em paz ou repouso. Eis o que se designa sob o nome de
“sentimento de incompletude” é o que Janet (referido por Baruk, Psychiatrie Médicale,
Physicologique et Experimental) estudou sob o nome de “agitações forçadas dos
psicastênicos”. As pessoas com esse tipo de personalidade psicopáticas podem desenvolver
uma neurose.

i) Passionais: caracteriza-se a personalidade dos passionais e fanáticos (grupo especial entre


eles) a tendência à elaboração de estados latentes de tensão afetiva, com intervenção
preponderante de deformações catatímicas das vivências, originando-se assim, tenazes
estados de ânimo e pegajosas valências afetivas, as quais se fixam com tal energia que a vida
psíquica destes indivíduos é governada exclusivamente pelas paixões, que alcançam
extraordinário grau de exaltação logo que engendradas. As primeiras decepções e os
primeiros conflitos com a vida, os conduzem a outros novos, que se encadeiam entre si, em
interminável série, colocando constantemente os passionais e fanáticos à beira da
delinqüência, pois, as excitações passionais tendem a estender-se em círculos cada vez mais
amplos: a luta por uma idéia logo se transforma em luta contra pessoas e grupos. Igualmente
induzem à delinqüência nos passionais, a tenacidade na elaboração interna da valência
afetiva e a cadeia de conflitos mencionados. Assim, redunda em que esses indivíduos tornam-
se cada vez mais teimosos e obstinados em suas opiniões e, quando envelhecem costumam
com freqüência, desenvolver reações paranóicas.

j) Amorais ou perversos: segundo Duprè, caracteriza-se esse tipo de personalidade por


perturbações instintivas, principalmente nas de sociabilidade, que pode revelar-se ausente,
rudimentar ou pervertida. São indivíduos maldosos, destrutivos e de criminalidade
latentemente instintiva, que acabam exercendo contra outrem ou contra a sociedade, com o
único objetivo de satisfazerem suas tendências impulsivas para o mal. Revelam-se
precocemente nasa crianças, na tendência à preguiça, inércia, indocilidade, impulsividade,
obstinação na oposição e no negativismo, indiferença afetiva, irritabilidade, crueldade, sevícias
contra animais e outros meninos, mais tarde, em repetida delinqüência, em fugas,
vagabundagem, mendicidade, roubos, criminalidade infanto-juvenil, recedivismo incessante de
faltas, freqüentemente coexistem as perversões sexuais. Podem ser observadas mentiras,
fabulações, calúnias, delações (orais ou escritas, estas sob a forma de cartas anônimas). A
inteligência desses indivíduos é, as vezes,elevada. Entre eles se encontram incendiários, as
prostitutas, os vândalos, os vampiros, os envenenadores e sobretudo as envenenadoras. Tais
anomalias são freqüentes em filhos de alcoólatras, achando-se, muitas vezes, associados à
toxicomanias, à epilepsia, etc...

k) Instintivos (sexuais): são os portadores de perversões sexuais, entre outros, sobressaindo-


se os grupos de prostitutas congênitas e dos homossexuais, que serão estudados em
capítulos diversos.

l) Explosivos ou epiloptóides: onde prevalecem os assomos extremos de cólera que se


manifestam verbal e fisicamente. Embora esses assomos possam parecer diferentes do
comportamento usual do indivíduo, este é habitualmente visto como uma pessoa bastante
agressiva e excitável. A intensidade e a natureza “incontrolável” desses assomos distinguem
este distúrbio dos demais.

m) Histéricos: as características deste personalidade incluem o desejo de atrair as atenções e o


comportamento de sedução, imaturidade e dependência, além da vaidade e egoísmo.

Evidentemente, esses traços de personalidade psicopáticas de um ou outro tipo podem


misturar-se no mesmo indivíduo, dando o surgimento de personalidades psicopáticas de tipos ou
traços mistos. Essas pessoas em contato com a coletividade, com os distúrbios já referidos, acabam
por adquirir uma personalidade anti-social.

4- CLASSIFICAÇÃO DAS MOLÉSTIAS MENTAIS:

Sabe-se que é a psiquiatria que interessa buscar a causa, o desenvolvimento e o trato das
perturbações funcionais da personalidade e do comportamento humano, perturbações que atuam na
vida interior da pessoa e no seu relacionamento com os demais. À Psiquiatria incumbe, portanto o
conhecimento e tratamento das doenças mentais.
O psicopatologista e criminólogo pátrio Geraldo Majela Fortes Vasconcelos ensina que as
causas determinantes mais freqüentes dos distúrbios mentais são: a) as doenças em geral; b) as
endo-intoxicações; c) as exo-intoxicações; d) as infecções, sobretudo sifilítica; e) a herança; f) as
crenças e superstições; g) as causas psíquicas, sobretudo emotivas; h) as causas mecânicas, como
traumatismos, sobretudo os cranianos; i) as disposições individuais; j)as causas fisiológicas.
Quando conduz seu interesse para o doente que interessa à criminologia, a Psiquiatria passa
a denominar-se Psiquiatria Forense ou Psicopatologia Forense.
Conforme esclarece Geraldo Vasconcelos, torna-se complexo apresentar uma classificação
rígida das doenças mentais, seja pelo subjetivismo de cada autor, seja pela variedade da aferição
classificadora, seja pela designação e conceituação diferentes das enfermidades.
Flamínio Fávero, Psiquiatra Médico Legal, classificava os distúrbios psíquicos em:

a) doenças mentais ou psicoses; b) insuficiências mentais ou oligofrenias; c)personalidades


psicopáticas; d) neuroses.

Vistas assim, panoramicamente, as doenças mentais, imperioso que sobre elas se proceda
uma análise, pois é sabido que umas e outras concorrem com larga parcela para o acontecimento
delitivo.
Sendo assim, importante sublinhar os quadros de morbidez mental consoante se segue.

1- NEUROSES
São distúrbios psicológicos menos severos do que as psicoses, mas suficientemente graves
para limitar o ajustamento social e a capacidade de trabalho do indivíduo. Usualmente atribuída a
conflitos emocionais inconscientes, a neurose, ou psiconeurose, constitui um dos pontos de partida
para a análise psíquica de Freud.
Hélio Gomes diz que “as neuroses são estados mórbidos característicos por perturbações
psíquicas e somáticas, que causam grande sofrimento íntimo, determinadas por fatores psicológicos,
embora em algumas intervenham fatores orgânicos”
As neuroses são doenças mentais da personalidade que se destacam por conflitos
intrapsíquicos que inibem os comportamentos sociais. São desacertos incompletos da personalidade
que incomodam mais o equilíbrio interior da pessoa do que o seu relacionamento com o mundo
exterior.
Helio Gomes, esclarece: “Os sintomas neuróticos são numerosos e variados, incluindo
manifestações psíquicas, neurológicas e viscerais. Na parática esses sintomas se apresentam
associados, constituindo diversas síndrome neuróticas.
Os sintomas psíquicos mais freqüentes são a ansiedade, a angústia, a astenia, as fobias, as
compulsões, as idéias hipocondríacas, a abulia, a apatia, a dismnésia.
Entre os neurológicos ocorrem transtornos sensitivos e sensoriais, tais como algias,
hiperestesias, parestesias, anestesias, cenestopatias e transtornos menores como tremores, tiques,
espasmos, contraturas, paresias.
Os sintomas vicerais mais comuns são: transtornos do aparelho digestivo; como anorexia,
vômitos, dispepsias, diarréia; do aparelho cario-circulatório, palpitações, arritmias, dores precordiais,
lipotimias, vosoconstrição ou vasodilatação, hiper ou hipo tensão; do aparelho respiratório, tosse,
dispnéia, asma; do aparelho genito urinário, poliúria ou polaquiúria, impotência sexual, vaginismos,
dispareunia”.

Na neurose, o indivíduo reconhece que está doente e procura melhorar ou sarar; na psicose,
ao revés, o indivíduo não percebe a sua enfermidade, eis que está alterada sua capacidade para
diferenciar entre experiência subjetiva e a realidade.
Slater diz que: “tal como para as psicoses, também existe uma disposição genética para as
neuroses”.
É possível reduzir as neuroses par quatro grandes grupos, sendo:
• Neurose obsessiva: Também chamada “psicose anancástica” “psicose compulsiva” e
“psicose de dúvida” enfermidade do tipo constitucional, caracterizada psicologicamente pela
presença de obsessões, fobias e tiques obsessivos. Entre suas formas de projeção alinham-
se a cleptomania, a piromania, o impulso ao suicídio e ao homicídio.

• Neurose histérica: é um fenômeno de conversão inconsciente que se manifesta


somaticamente. Por isso Freud a chamou de neurose de conversão. Quando os mecanismos
instintivos possuem limiar tão baixo de excitabilidade que se põe em marcha por causas
insignificantes. Quando existe predisposição não muito acentuada, faz-se imprescindível a
atuação de importantes causas exógenas ou conflitos internos para a produção dos sintomas
histéricos. Seus sintomas são: egoísmo, labilidade afetiva, fantasia exuberante, refúgio na
enfermidade ou no grande sofrimento, exibicionismo, coqueteria, voluptuosidade, as vezes
frigidez sexual e sexualidade infantil. Caracteriza-se por, sugestionabilidade, teatrabilidade,
heperemotividade e incapacidade de enfrentar um trauma de existência, além da tendência
para recalca-lo. O grau de inteligência é variável. Via de regra é enfermiço e hipocondríaco,
podendo ter tendência à mitomania e problemas de insatisfação sexual.

• Neurose de ansiedade: para Duprè, favorece o surgimento desta neurose a existência de


uma personalidade psicopática emotiva. Os síndromes ansiosos agudos restam na expressão
fisionômica do angustiado, imobilidade das feições, ricto irônico, palidez na pele, imobilidade
do corpo, calafrios e frialdade nas extremidades, secura da garganta, pulso freqüente,
respiração anelante, a pele adquire o aspecto de carne de galinha, incontinência fecal e
urinária. São clássicos da ansiedade a opressão pré- cordial, os suspiros entrecortados e uma
espécie de nó na garganta. A neurose pode sobrevir subitamente ou precedida de irritação e
mau-humor; as vezes inicia durante o sono, com pesadelos provocados pela ansiedade.
Outras vezes, começa com um brusco e violento mal estar e sensação de morte iminente.
Esses sintomas não raro, se instalam paulatinamente.Ao final da crise o indivíduo se encontra
esgotado e experimenta certo bem-estar. A duração da crise aguda é variável, sucedendo-se
uma a outra, em alguns casos. A neurose ansiosa crônica caracteriza-se por um estado quase
constante ou ininterrupto de inquietude e desassossego. Qualquer motivo põe o indivíduo em
sobressalto, temeroso e a imaginar que estejam ocorrendo desgraças a filhos ou
parentes,medo de ser despedido do emprego, temor de estar acometido de doenças graves,
queixa-se de inúmeros males somáticos e apresenta as mais variadas fobias. Costuma ser
chorão, pessimista, amargurado, tímido muitas vezes, egoísta quase sempre, versátil em seus
afetos, apaixonados em determinadas ocasiões, cheio de dúvidas, colérico, com
preocupações exageradas ou desmotivadas.

• Neurastenia constitucional ou adquirida: refere-se ao esgotamento nervoso (que se


distingue do cansaço cerebral, podendo ser simples, crônico, incapacidade de concentração
intelectual, angústia ou ansiedade quase permanente, estado perpétuo de sobressalto,
capacidade mnemônica reduzida com facilidade de esquecer de coisas, insônia freqüente,
cefaléia e vertigens, freqüentes tremores, debilidade muscular, transtornos digestivos e
circulatórios, espermatorréia, impotência.

2- PSICOSES
É tradicionalmente classificada em dois grupos: psicose orgânica e psicose funcional. Clinard
entende que a psicose orgânica é doença cuja origem decorre de algum germe patógeno, de alguma
lesão no cérebro ou, então, de desordem fisiológica, tudo sem conotação hereditária. Como
exemplos de psicose orgânica podem ser citadas a demência senil, a psicose sifilítica, a psicose
alcoólica, a arteriosclerose cerebral etc...
A psicose funcional é distúrbio total da personalidade, é desordem mental, quando o
psiquismo em sua estrutura global, no seu todo, fica temporária ou permanentemente danificado. As
psicoses funcionais são aquelas que efetivamente interessam a criminologia.
Em seu compêndio (resumo) de Medicina Legal, o ilustre criminólogo José Antônio de Mello
assim classifica as psicoses em:a) esquizofrenia, b) parafrenias ou paranóias, c) psicose maníaco-
depressivas, d) epilepsias, e) oligofrenias, f) personalidades psicopáticas, g) sífilis cerebral e paralisia
geral progressiva, h) psicoses senis, i) psicoses alcoólicas e por psicotrópicos.
As psicoses, de fato, são responsáveis pela desintegração da personalidade do indivíduo e
pelo seu conflito com a realidade. Trata-se de categoria de doenças caracterizadas por desordens
cognitivas mais graves, incluindo, frequentemente, delírios e alucinações, oportunidade em que o
enfermo torna impossível o convívio social ou familiar, devendo permanecer sob vigilância médica
para evitar que provoque danos físicos em si próprio ou em terceiros. Entre as mais sérias formas
psicóticas devem ser enfatizadas a psicose maníaco-depressiva, a esquizofrenia e a paranóia.
As psicoses se apresentam em variadas formas, algumas das quais aqui serão referidas:

• Paralisia geral: também chamada “demência paralítica”, é a mais grave entre as psicoses
sifilíticas. Caracteriza-se por uma demência progressiva, com acentuado enfraquecimento do
juízo, exteriorizado, via de regra, pela conduta absurda do doente, para o que contribuem o
desconhecimento da situação, a sugestibilidade exaltada, as idéias delirantes, a ausência de
qualquer idéia de enfermidade. A debilidade do juízo acentua-se mais em consequência da
memória da fixação, seguida da evocação, tudo progressivamente mais lento e deficiente.
A paralisia geral, a efetividade chama a atenção a indiferença progressiva, a ausência de
afetos e de reações adequadas, a versatilidade afetiva por motivos insignificantes e a intensidade e
fugacidade das reações. Esses doentes ficam tranqüilos com a mesma facilidade que se aborrecem,
porque os afetos perderam tensão, carecem de energia psíquica, perderam tenacidade. O afeto em
tais indivíduos é superficial e mutável com facilidade, podem vir alucinações acústicas e visuais.

• Demência senil: a deficiente rememoração, a ponto do indivíduo sempre aludir às mesmas


coisas. sua capacidade de ajuizamento debilita e finda. Sua agilidade psíquica vai
escasseando, unida à dificuldade de adaptação ao meio ambiente, reduzindo o círculo de
interesses da pessoa, culminando exclusivamente no desejo de comer e dormir. O demente
senil é bastante sugestionável e monótono nas conversações. Afetivamente se irrita aos mais
leve motivo. Seus sentimentos éticos ficam embotados, sobretudo na vida sexual, podendo
atentar contra o pudor de menores e mulheres. O demente senil se torna avarento,
desconfiado e, as vezes, pedinte. As vezes tem idéias delirantes hipocondríacas ou
depressivas de condenação, ruína e outras semelhantes. Em alguns casos idéias paranóides.

• Psicose epiléptica: síndrome clínica cuja manifestação central é o ataque epiléptico, que é
um mero sintoma da moléstia e não a moléstia propriamente dita. O ataque epiléptico de início
é súbito, sendo seguido de perda de consciência e de queda com convulsões generalizadas
(contrações e tremores), tudo durando poucos minutos. Subseqüente advem sono profundo
ou coma. A psicose epiléptica pode ser precedida de manifestações psíquicas. As vezes se
observam pródomos, nas horas ou dias precedentes aos ataques, referindo-se a modificações
de humor ou a sintomas físicos. Há também os ataques denominados de pequeno mal ou
ausência, marcados pela perda da memória ou da consciência do ambiente, isso por
segundos ou minutos. Há registros de perda de memórias por vários dias.

A epilepcia é um transtorno cerebral, caracterizado por uma descarga neurótica exagerada,


manifestado por episódios transitórios de disfunção motora, sensorial ou psíquica, acompanhada ou
não por inconsciência ou movimentos convulsivos, sendo que o ataque se associa com modificações
acentuadas da atividade elétrica do cérebro.
Há diversos tipos de epilepsia, mas alguns autores costuma agrupa-los em dois tipos
principais: a) a epilepsia essencial, b) a epilepsia jacksoniana (assim chamada por ter sido Jackson
quem a descreveu, dizendo-se adquirida e secundária, diferente da essencial ou primitiva).
A epilepsia essencial não possui uma causa justificável a explicá-la, já a jacksoniana é
originada em virtude de uma lesão produzida no cérebro, que age como pólo de irritação, ossos que
desprenderam, formação de pus enquisitado etc... a epilepsia essencial é incurável, a jacksoniana é
curável. Quanto a hereditariedade, só a essencial tem essa origem, já a jacksoniana é dadquirida.

• Psicoses esquizofrênicas: As esquizofrenias podem dividir-se:

1) Idiopáticas: são aquelas em que não se descobrem causas somáticas que possam causa-la;

2) Reativas: compreendem um grupo de reações e desenvolvimentos psíquicos motivados por


causas psíquicas que sobrevêm em personalidades constitucionamente predispostas, em indivíduos
esquizóides.

3) Sintomáticas: causas exógenas (infecção, intoxicação)

Sob o ponto de vista didático os sintomas psíquicos esquizofrênicos podem dividir-se em


primários e secundários.
Sintomas primários: compreendem o transtorno da associação, dissociação psíquica, ausência
de senso comum, aceleração do curso do pensamento, inibição e interceptação do pensamento,
desagregação de idéias, respostas absurdas ou desconexas, perseveração ideativa, ambivalência,
perplexidade, transtornos da iniciativa e da expontâneidade, transtorno do plano afetivo (indiferença,
rigidez), hiperexitabilidade, maneirismos, inversão das relações afetivas, paratimia (reação afetiva
contrária ao afeto), desgoverno da afetividade, autismo (perda do contato vital com a realidade)
transtornos da percepção, atenção e consciência, alucinações, automatismo mental, transtornos
volitivos, transtornos da personalidade, etc..
Sintomas acessórios compreendem as alucinações esquizofrênicas, as idéias delirantes e
esquizofrênicas (absurdo e sem lógica), transtornos de linguagem e de escritura, invenção voluntária
ou involuntária de neologismos, repetição de palavras, esquisofasia ( salada de palavras).

• Psicoses parafrênicas: constituem as parafrenias casos de esquizofrenia paranóide em que


se conserva quase integralmente a personalidade, não chegando ao estado demencial,
características que a separaram da esquizofrenia. Nas parafrenias, que surgem após o
terceiro decêncio da vida, apresenta-se de maneira insidiosa um delírio alucinatório de fundo
persecutório e evolução crônica, combinado com idéias de grandeza, possessão e eróticas,
alterações da linguagem, sem contudo ocorrer o embrutecimento próprio dos processos
esquizofrênicos.

• Psicoses paranóicas: a paranóia é uma psicose caracterizada pelo desenvolvimento de um


sistema delirante crônico, imutável, resultado de causas endógenas e evolui, conservando-se
a perfeita lucidez do sensório e ordem no pensamento, vontade e atividade. As fantasias têm
para o paranóico indiscutível caráter de realidade, sejam elas agradáveis ou desagradáveis.
Por sua vez, as interpretações delirantes conduzem em alguns casos ao verdadeiro
desconhecimento das pessoas do meio ambiente, de forma tal que amigos e inimigos podem
apresentar-se doente sob variados aspectos. Tais falsas premissas levam geralmente ao
delírio de grandeza ou de perseguição desenvolvido muito lentamente no transcurso dos
anos. Particularmente chama a atenção, a credulidade do doente no que se relacionam com
suas idéias delirantes, ao tempo em que afasta tudo que as contradizem.
O paranóico, as vezes, aparenta certa normalidade; aliás, os psiquiatras se deparam com
vários indivíduos assim, contudo, a qualquer momento, vem a baila a moléstia, revelando o
verdadeiro estado mental do paciente. Muitos dos grandes homens, que por uma atuação ou outra
deixaram seus nomes registrados na História, foram assassinados por paranóicos, que assassinaram
Abraham Lincoln (Lev Davidovitch) Mahatama Ghandi, o assassino de John Lennon, e o que tentou
matar oPapa João Paulo II em 1981, e outros.
Enfermidade rara, não chegando a constituir 1% das internações nosocomiais, afeta de
preferência o sexo masculino e se inicia tardiamente. O delírio é interpretativo, egocêntrico,
sistematizado e coerente e pode ser de prejuízo, de perseguição ou de grandezas,com tonalidade
erótica ou com idéias de invenção e de reforma.

• Psicoses maníaco-depressivas: os quadros clínicos da mania e melanconia que integram o


conceito dessa psicose (classificada entre as chamadas Psicoses Afetivas), eram já definidos
e caracterizados desde os períodos mais remotos da Medicina Mental. Também denominada
de psicose circular além de outras designações, é uma enfermidade de caráter endógeno,
hereditária, caracterizada pela anormalidade de ânimo, anormalidade anímica, da qual surgem
os restantes sintomas, sem que a doença seja de curso progressivo, nem conduza jamais à
demência, intercalando-se com os períodos de remissão mais ou menos prolongados. Nesta
afecção ocorre a periodicidade e alternância das fases da doença – mania e melancolia – (daí
o nome de psicose circular ou periódica).Os sintomas são os seguintes num mesmo indivíduo
com alternância: disforia depressiva ou eufórica, isto é, deslocamento do afeto para um dos
extremos da afetividade; aceleração ou retardo do curso do pensamento, desde a fuga de
idéias até ao mutismo absoluto, facilitação ou inibição das funções psíquicas centrífugas
(psicomotilidade, atividade,conduta).
Na fase maníaca se observa a expressão fisionômica inconfundível de radiante felicidade,
euforia, exagerando-se os traços normais de afeto, com mobilidade fisionômica correspondente. O
maníaco não permanece quieto um instante e independente de sua tendência impulsiva para a
ocupação, levanta-se e senta-se, infinitas vezes, durante a exploração médica, entra e sai
constantemente da sala, golpeia o solo com o pé, golpeia a mesa, ameaça com o punho. A
indumentária reflete o seu estado de ânimo, sendo comum a propensão para despir-se. O tom afetivo
é eufórico ou expansivo e lábil ou extremo, tem fuga de idéias.
Apresenta conduta imoral, impulso à ocupação constante, agitação maníaca, verborréia,
idéias delirantes de grandeza, de prejuízo, alucinações, exaltação das funções somáticas, insônia.
Na fase melancólica a fisionomia do enfermo é também inconfundível e reflete a profunda
angustia e ansiedade que o embargam, expressão de aflição suma, de amargura, de pranto, porém
sem lágrimas. Também é típica a atitude do indivíduo com a cabeça baixa, mãos aplicadas sobre as
bochechas e cotovelos nos joelhos. Quando anda, vai com os olhos fixos no solo, sem se preocupar
com as pessoas com quem cruzar, temendo fixa-las, com vergonha ou medo de elas se apercebam
do seu desequilíbrio, caminha a passo lento, o que aparenta movimentos preguiçosos e cansados. A
gesticulação é igualmente lenta, porém exagerada nos movimentos de tristeza,, a fala é escondida,
baixa e chorosa (ao contrário de quando não está na fase melancólica em que a fala é firme, forte e
alta) recebe as fases de alento com um sorriso irônico e amargo ou com passividade. As dificuldades
se encontra para qualquer decisão o afastam da vida social inclusive do trabalho ( pois seu grau de
sociabilidade vai a zero, passa a temer o contato com as pessoas e sua capacidade de trabalho se
anula completamente, face ao medo desse contato interpessoal e o estado de ansiedade paroxística
que o impede de coordenar-se em quase todos os sentidos).
Apresenta-se negligente na indumentária, não se interessando por trocar de roupa e, evita
o banho (nessas ocasiões reflete o seu pessimismo, a indiferença à vida, assim como a sua
humildade e modéstia).
Nos casos mais grave e em que existe ansiedade, o doente tende a movimentar-se
continuamente, passeia infatigável o dia todo de um lado para outro,chora muito e se lamenta,
arranca os cabelos ou esmurra a parede, chegando a bater com a cabeça na parede, quebra objetos
ou os atira furioso contra o solo, buscando no movimento a descarga que o libere do sofrimento cruel
que lhe provoca o intenso estado de tensão interna.
Nos casos leves pede adotar uma atitude compensadora contrária a seu afeto.
Nesse estado de depressão, observa-se uma dificuldade em todas as funções mentais e
psicomotoras, que se produzem em ritmo retardado, lentamente. Há recusa pelo doente para se
alimentar (porque perde completamente o apetite). Os suicídios são freqüentes e tentativas de
suicídio também, por isso é preciso acompanha-lo dia e noite. Sua conduta é retraída, tímida, às
vezes de medo ou de dúvida. Pode cometer atentados contra mulher e filhos. Raramente tem
alucinações, mas as ideais delirantes são freqüentes, idéias de culpa, de expiação e de indignidade.
Freqüentíssimas as idéias hipocondríacas e as vezes idéias paranóides. Inibição e defeitos da
palavra escrita. Numerosos sintomas somáticos. Algumas costumam dizer, nos seus períodos de
lucidez, que a depressão de que sofrem é um câncer na alma.

• Psicoses carcerárias: distúrbios ligados a privação da liberdade individual, favorecidos pela


ação do ambiente psicossocial extremamente desfavorável da maioria das prisões tradicionais
ou adaptadas. (ambas com deficiência de luz, espaço, alimentação,estímulos intelectuais,
promiscuidade,o temor a lei do mais forte e os constantes incentivos a homossexuais etc..
Dentre as formas de exteriorização sintomática, há muito registradas como pertencentes ao
grupo, se conhece como síndrome crepuscular de Ganser, caracterizadas por estranhas
alterações da conduta motora e verbal do indivíduo que, quando interrogado, encerra-se em
impenetrável mutismo ou passa a exibir para respostas, como se estivera acometido de um
estado deficitário orgânico, não raro acompanhado de sintomas depressivos ou catatônicos.

• Psicoses traumáticas: aquelas perturbações mentais agudas ou crônicas, relacionadas


direta ou indiretamente a traumatismo crânio-encefálico, lesões orgânico cerebrais,
constituídas por ação mecânica. Excluem-se desse grupo, as de base endógenas ou exógena,
como também as psicoses infecciosas.

• Psicoses infecciosas: são originárias de infecções agudas e sub-agudas febris, de certa


gravidade, principalmente de caracter neurotrópico, causados por agentes microbianos,
dotados de especial afinidade para o sistema nervoso, que não raro, se fazem acompanhar de
alterações mentais, de intensidade e duração variáveis. Ex. meningites,encefalites.

• Psicoses tóxicas: dever-se-iam incluir nesta categoria todas as desordens mentais de feitio
psicótico, prevalentemente determinadas por intoxicações, de procedência interna ou externa.
As primeiras seriam as psicoses endotóxicas e as segundas exotóxicas, isto é, produzidas por
agentes tóxicos de qualquer natureza e aqui caberiam então o álcool e as drogas psicoativas
utilizadas por toxicômanos. Do que se infere a existência da chamada Psicose alcoólica e de
um Psicose ligada as Toxicomanias, que contudo, não seriam tratadas neste capítulo e sim à
parte, sob as denominações de alcoolismo e toxicomanias, quando se estudarão as
influências do álcool e dos psicolépticos, psicoanalépticos e psicodislépticos sobre as
faculdades mentais e as reações comportamentais do homem.

Sobre Psicoses Exotóxicas, são as perturbações mentais originárias de intoxicações exógenas de


qualquer natureza, acidentais, profissionais e mesmo intencionais e voluntárias, visando a eliminação
individual ou alheia.
Entre os produtos causadores deste tipo de intoxicação e de suas decorrentes conseqüências
alinham-se aqueles feito a base de arsênico,mercúrio,sais de chumbo, fósforo, hexaclorofeno e
similares, lisol e derivados e até cianeto de potássio (formicida). Todos podendo ser utilizados em
suicídios.
Podem ser citados como intoxicações exógenas: cogumelos não comestíveis, frutos silvestres
daninhos, carnes deterioradas, conservas de condicionamento inferior etc.. e os medicamentos
(ergotina, bromo, cloral, digital, barbitúricos etc..) estes de regra, relacionados a super dosagem.
Entre as intoxicações exógenas, ainda podem citar-se as acidentais e profissionais, sendo as
mais comuns as que se processam com a inalação do monóxido de carbono (CO) ou de sulfeto de
carbono (CS) ambas de maior gravidade e me plano inferior o manganês, benzol, chumbo, etc..
Exceção ao CO e CS que podem levar rápida ao coma ou a morte. Os demais vão se sentindo pouco
a pouco a sua presença, podendo tomar providências.

3- OLIGOFRENIAS
Oligofrenia é o termo genérico para substituir a locução demasiado vaga, até então usada:
“paradas do desenvolvimento intelectual”. E, em sua concepção ampla define todo o conjunto de
estados deficitários, congênitos ou precocemente adquiridos da atividade psíquica.
Oligofrênico ou “deficiente mental”, como preferem chamar autores anglo-saxões, é todo
indivíduo cuja inteligÊncia se mostre originalmente pequena, manifestamente inferior à dos demais
da mesma idade, vivendo idênticas condições sócio-econômicas e culturais.
Durante algum tempo se entendia que a deficiência mental contribuía exaustivamente na
gênese do crime. Goring, ao contestar Lombroso, insistia na íntima correlação da oligofrenia com o
delito, porém atualmente é insustentável a asserção de Goring, visto ser reconhecido que a
deficiência mental é um simples estado anormal.
Hélio Gomes esclarece: “As oligofrenias são distúrbios durante a evolução cerebral durante a
gestação ou nos primeiros anos de vida, acompanhados de numerosas anomalias e com acentuado
déficit intelectual. Há uma parada, ou umatraso do desenvolvimento mental, determinado diversos
graus de deficiência mental. Várias são as causas das oligofrenias: sífilis, alcoolismo, casamentos
tardios, precoces ou desproporcionais, abalos morais reiterados durante a gravidez, infecções,
perturbações endócrinas. Há ainda os traumatismos do nascimento, 10% dos deficientes mentais
dos hospitais apresentam sinais de parto laborioso”.
O conjunto dos oligofrênicos compreende três grupos: a idiotia, a imbecilidade e a debilidade
mental propriamente dita, que seria a forma mais acentuada.
Prossegue Helio Gomes: “ As oligofrenias obedecem a uma gradação: idiotia, imbecilidade e
debilidade mental, podendo cada espécie subdividir-se em subtipos mais e menos intensos. A idiotia
é a forma mais acentuada. O idiota é incapaz de transmitir um recado, muitas vezes não articula
palavra. Em geral vive pouco. ... O imbecil está colocado entre o idiota e os débeis mentais. É a
forma média. Distingue-se do idiota porque pode articular a palavra. ... A debilidade mental
representa uma zona limítrofe entre a imbecilidade e a sanidade mental. O débil difere do normal em
dois pontos: sua evolução mental é muito vagarosa e nunca atinge a nível superior. ... Há vários tipos
de débeis mentais: ponderados, instáveis, pueris, emotivos, explosivos, tolos. O débil costuma ser
vaidoso.”
Ainda consoante Hélio Gomes, um dos critérios para classificar os oligofrênicos é comparara
sua inteligência com as das crianças normais. Assim, o idiota atinge o nível mental de uma criança
de até 2 anos de idade; o imbecil chega ao nível mental de uma criança de 2 a 7 anos; o débil mental
alcança a mentalidade de uma criança de 7 a 12 anos.
Vale advertir, por oportuno, que tanto os imbecis quanto os idiotas podem ser dotados de
atividades automáticas espontâneas – tais como estereotipias motoras e impulsões destrutivas e –
reações peculiares às formas ditas eréticas. Em compensação, entre os chamados apáticos, a regra
é que se conservem inertes, jogados a um canto qualquer, alheados ao ambiente-acinéticos,
entregues ao marasmo, a sordície e as automutilações.
Outrossim, ao contrário do que acontece com os débeis mentais, tanto aos imbecis, quanto
aos idiotas, jamais faltam anomalias físicas, as mais diversas (macro, micro ou escafocefalia,
anorquidia, criptorquidia, hipospadia, macraglosia, lábio leporino, sindatilia, polidatilia, etc.)
Uma das variedades de oligofrenias que vem sendo estudada mais intensamente nos tempos
atuais é a Síndrome de Down.
Face a esses estudos, a partir de 1959 e graças aos trabalhos de J. Lejeune e outros, tem-se
hoje por assente que o mongolismo relaciona-se com uma anomalia cromossômica especial provinda
da presença de um auroissoma suplementar, constitutivo da chamada trissomia 21.
Cumpre salientar que, diferindo da maioria dos oligofrênicos, os mongolóides mostram-se,
quase sempre, alegres e afetuosos. São, em geral, obedientes e disciplinados. Revelam certo gosto
pela dança e pela música, independentemente do grau de deficiência mental que, não raro, pode ser
bastante pronunciado.
Outra forma especial de oligofrenia é o cretinismo.
DESVIOS SEXUAIS E CRIMINOLOGIA

Definir-se um desvio sexual não é tarefa muito fácil, como à primeira vista se imagina, isso
porque o comportamento sexual anômalo em si não pe o único critério para fazer a distinção; dado
que, às vezes é difícil se estabelecer um consenso entre o comportamento sexual normal e
divergente.
Aliás, a liberalização dos costumes na modernidade, torna também difícil, dada a regularidade
com que são praticadas, catalogar certos comportamentos sexuais como anormais ou não.
Os psicólogos e os psiquiatras, em suas clínicas, procuram freqüentemente, em suas
experiências profissionais, estabelecer o que é normal ou não nesse campo.

Tipos de transtornos sexuais


Alguns autores costumam utilizar dois critérios básicos primordiais para definir um desvio
sexual:
1) Quando o interesse sexual do indivíduo é dirigido para objetos e não para pessoas do sexo
oposto. Exemplo: Fetichismo;
2) Quando o ato sexual é realizado de forma bizarra ou incomum. Exemplo: o sadismo sexual ou
a necrofilia.

Os tipos de transtornos sexuais mais comuns são:

• Homossexualismo: é a inversão sexual ou o amor pelos indivíduos do mesmo sexo. É a mais


importante perversão ou desvio sexual. Em muitos casos o homossexualismo é congênito e a
perversão decorre certamente de uma anomalia glandular.

• Sadismo: no sadismo sexual, usualmente é o homem que provoca dores, por vários meios
(tapas, socos, chicotadas e outros tipos de inflições de males físicos) à sua companheira.
Existem registros de casos em que o indivíduo chega ao orgasmo enquanto apenas fere a
vítima, sem possuí-la sexualmente. Este desvio comportamental é muito mais freqüente nos
homens.

• Masoquismo: neste distúrbio, o indivíduo obtém prazer sexual quando lhe são infligidos
tratamentos dolorosos. Muitas vezes, o indivíduo exige que o parceiro sexual o esbofeteie,
arranhe, dê-lhe tapas no rosto e em outras regiões do corpo, aperte-lhe o pescoço em vias de
quase esganar. Convém aduzir que, não raro, os sádicos são também masoquistas e vice-
versa, encontrando-se, portanto, os dois distúrbios ao mesmo tempo e funcionando
concomitantemente na mesma pessoa, durante a relação sexual. Essa perversão sexual é
mais freqüente nas mulheres que nos homens, contrariamente, portanto, ao que acontece
como sadismo.

• Pedofilia: neste distúrbio, o parceiro sexual é uma criança ou um adolescente.

• Exibicionismo: satisfação sexual através da exibição do corpo, freqüentemente dos órgãos


genitais. Esse prazer sexual existe, inclusive, na exposição em público dos órgãos genitais. O
prazer derivado de olhar, ao invés de ser olhado (exibicionismo), chama-se escopofilia.

• Voyeurismo: do francês “voyeur” que significa bisbilhoteiro, é uma perversão que se


caracteriza pela observação da satisfação sexual, espiando outras pessoas, enquanto se
despem ou têm relação sexual.
• Fetichismo: o interesse sexual está concentrado em alguma parte do corpo ou em objetos,
como por exemplo, artigos de vestuário. Um grande número de partes corporais ou objetos
tem sido assinalados como estimuladores dos fetiches sexuais: pés, seios, cabelos, orelhas,
pêlos, roupas íntimas, meias, fitas, sapatos, lenços, etc..

• Narcisismo: em termos de perversão sexual é a fixação da libido sobre o próprio corpo,


principalmente mulheres que se desnudam completamente diante do espelho e, seduzidas
pela contemplação, chegam ao orgasmo, através da masturbação.

• Bestialidade: é a prática de relações sexuais com animais. Em homens é mais ou menos


freqüente esse tipo de contato com vacas, cabras, éguas e até com galinhas. Mas essa
anormalidade sexual é, igualmente, encontrada entre as mulheres que utilizam,
principalmente, cachorros para seus desígnios orgásicos.

• Coprofilia: é o gosto pelos excrementos, quase sempre ligados a uma patologia mental,
também é encontrada na prática de relações sexuais.

• Necrofilia: é a prática de relações sexuais com cadáveres. Há inúmeros registros policiais de


casos desta natureza, envolvendo às vezes, pessoas de bom nível social ou profissional.

• Ninfomania: refere-se ao intenso e constante desejo sexual da mulher que, na exacerbação


do seu delírio sexual, chega a ter um sem número de orgasmos contínuos sem que, às vezes,
ainda assim, se dêem por inteiramente satisfeitas.

• Satiríase: é o constante e intenso desejo sexual no homem. É o correspondente masculino da


ninfomania.

• Gerontofilia: é o desvio sexual que se caracteriza pela preferência por pessoa de idade
avançada.

• Riparofilia: é a atração por mulheres sujas, menstruadas.

• Travestismo: é confundido, habitualmente, com o simples homossexualismo. Na quase


totalidade, o travesti é masculino e para obter satisfação sexual efetiva, é necessário que ele
use traje feminino.

• Transexualismo: é a obsessão que domina o travesti no sentido se, transpondo o próprio


sexo, tornar-se mulher. Mas o que é o transexual? É um indivíduo, cujos cromossomos,
gônadas e hábito corporal o caracterizam como pertencente a um sexo, mas que se sente
psiquicamente do outro sexo, possuído por um desejo obsessivo e insopitável de uma
acomodação ou reajuste sexual, mediante intervenção cirúrgica e hormonal. Tal indivíduo
pode vestir-se e viver, habitualmente, como um membro do sexo oposto. A causa do
transexualismo, no entanto, não está perfeitamente definida. A explicação mais consentânea é
de que essa condição se origine do erro hormonal que antecede o nascimento.

A todos esses distúrbios sexuais vistos, damos o nome de Parafilias.


NOTAÇÕES SOBRE O EXAME CRIMINOLÓGICO

Exame criminológico propriamente dito:


O exame criminológico tem a missão de estudar a personalidade do criminoso, sua capacidade
para o delito, a medida de sua perigosidade e, ainda, sua sensibilidade à pena e sua respectiva
probabilidade de correção.
O maior mérito do exame criminológico é aquele que permitir o conhecimento integral do homem-
delinqüente. Se presta, tal exame, a ofertar á Justiça um quadro a respeito da personalidade do autor
da infração penal e, por conseqüência, os fatores principais que influenciaram na eclosão do crime,
auxiliando o julgador na concessão ou não de benefícios legais (suspensão da pena, redução da
pena, aplicação de medida de segurança, etc.).
O exame criminológico constitui, na verdade, o princípio básico da Criminologia Clínica.
É de grande importância que os delinqüentes sejam submetidos ao exame criminológico e que,
na realização do exame, sejam seguidos os métodos adotados pelas ciências biológicas e
psicológicas ao auscultarem a personalidade humana.
Entende-se por exame criminológico o conjunto de exames e pesquisas científicas de natureza
biopsicosocial do homem que delinqüiu e para se obter o diagnóstico da personalidade criminosa e
se fazer o prognóstico; tal exame revelará, sem disfarces, a verdadeira dimensão da personalidade
do criminoso, descobrindo-se sua intimidade psíquica.
O exame criminológico compõe-se de uma série de análises, pois através dele tem que se chegar
a uma visão pluridimensional da personalidade do autor do delito. Para tanto participam desse
exame um grupo de profissionais, (o psicólogo, o assistente social ou um sociólogo, o médico e o
advogado).
Nessa fase jurídico-penal da observação ou exame criminológico devem ser colhidas informações
sobre se o indivíduo é primário ou reincidente, se contra ele pesa medida de segurança, se já esteve
preso, por quais estabelecimentos de reeducação passou, por quantas vezes e por quanto tempo. Se
ele agiu só ou em bando na prática do crime, se o delito foi simples ou qualificado, se houve
agravantes ou atenuantes, se foi infrator quando menor de 18 anos, em caso positivo se foi menor
institucionalizado e estruturado na prática do ato anti-social etc.
Pode-se dizer que o exame criminológico subdivide-se em exame morfológico, exame funcional,
exame psicológico, exame psiquiátrico, exame moral, exame social e exame histórico.

1- Exame Morfológico
É também conhecido como exame somático e tem por objetivo avaliar todos os segmentos do
corpo humano, determinando suas medidas e proporções, a massa corpórea, óssea e muscular.
Evidente que, nesse exame, se atenta para o físico em geral do periciado, verificando-se seus
aspectos neurológicos, patológicos e endocrinológicos, a parte das perícias radiológicas e
eletroencefalográficas que nele devem ser procedidas. Tudo para registrar as particularidades ou
peculiaridades que ensejam estabelecer caracteres individuais, anormalidades, formações
patológicas, malformações congênitas, caracteres herdados,etc.

2- Exame Funcional
Importa verificar a possível existência, no delinqüente, de sinais de imaturidade, de fraqueza
vital hereditária, de atrofias constitucionais, de síndromes de crescimento (neuropatias e psicopatias,
que poderão surgir no período), sintomas de modificação do equilíbrio neuro-vegetativo, etc.
No estudo da personalidade do indivíduo delinqüente, o exame do sistema nervoso deve ter
em conta, especialmente: a mobilidade (não só dos órgãos de locomoção, mas de outros órgãos,
como por exemplo, dos olhos, das pálpebras, da língua, do pescoço, etc); o reflexo (que pode estar
exagerado, irregular ou anormal); a sensibilidade geral e específica (dores, principalmente de
cabeça); linguagem (capacidade de ler e escrever); hábitos (ex: estar acostumado com a boemia e a
vida noturna), etc.
Tais investigações devem ser completadas pelo exame de sangue (procurando a presença de
drogas, infecções ou alterações bioquímicas).

3- Exame Psicológico
Tem por objetivo apreender e descrever o perfil psicológico da pessoa examinada,
independentemente da existência ou não de suspeita de que ela seja portadora de uma doença
mental. A avaliação psíquica do criminosa é que trará os esclarecimentos: conhecer os diferentes
aspectos de sua personalidade, suas características fundamentais que, como são variáveis de uma
pessoa para outra, são de capital importância para se saber sobre a gênese e a dinâmica do evento
delituoso.
O exame psicológico deve ser amplo e ao menos aferir três aspectos fundamentais ao
interesse criminológico, quais sejam:
1- nível mental do criminoso;
2- traços característicos de sua personalidade;
3- seu grau de agressividade.

4- Exame Psiquiátrico
Leva em consideração as doenças mentais que possam existir ou terem aflorado no criminoso
após a prática delituosa. O exame psiquiátrico é, por assim dizer, o centro, o âmago da observação
criminosa, mesmo porque é ele que interferirá na inflição ou não, de pena (face a imputabilidade ou
não do acusado), na possível redução do apenamento (nos casos de semi-imputabilidade), na
aplicação da medida de segurança (pela periculosidade do delinqüente), ou no tratamento do
condenado, visando o seu retorno ao convívio social, após o cumprimento da pena.
É o exame psiquiátrico que vai dizer se o delinqüente é ou não mentalmente são.
Os itens que mais interessam no exame psiquiátrico-criminológico são os seguintes:

1-Psicoevolutivos: referem-se ás morbosidades infanto-juvenis com conseqüências graves para o


desenvolvimento psicossomático. E dentre elas:
a) o desmantelamento do lar;
b) a falta de escolarização ou profissionalização;
a institucionalização em casas de reeducação da criança (creches, abrigos, orfanatos, etc.);
c) distúrbios precoces de comportamento;
d) desvios de conduta;
e) fugas do lar;
f) perturbações psíquicas da mais variada natureza.

2-Jurídico-penais: Entre eles:


a) a natureza do delito praticado (patrimonial, contra os costumes, contra a pessoa, etc.);
b) início da criminalidade: se antes ou depois de completar 18 anos (se com menos de 18 anos,
perquerir-se-á se é menor estruturado, ou seja, habituado á prática de ato infracional e se tem
passagens por Institutos de Reeducação);
c) a quantos Inquéritos Policiais ou Processos Criminais respondeu;
d) se é reincidente;
e) a criminalidade no espaço (locais onde foram praticados os delitos, na mesma cidade, em cidades
diferentes, em estados diversos, etc.);
f) a participação em bandos ou quadrilha para a prática do crime;
g) qual a sua efetiva participação no bando (se em posição de chefia ou liderança ou não, etc.).

5- Exame Moral
O acervo moral da personalidade humana constitui o patrimônio do homem, definindo-o como
criatura humana, acima de todas as demais criaturas viventes.
Existem pessoas que, por alterações de diversas naturezas, apresentam-se num patamar
muito baixo de condições instinto-sensitivas, que constituem o alicerce do desenvolvimento da
efetividade moral. Fala-se numa agenesia (falta ou desenvolvimento incompleto ou defeituoso) do
sentimento moral, da imoralidade constitucional, de uma diátese moral delinquencial (tendência
hereditária para o crime), para indicar que a pessoa, mesmo tendo moral teórica, como conseqüência
da aprendizagem teórica, não é capaz de senti-la e muito menos vivê-la.
Esse sentimento moral compreende uma tripartição de condutas, a saber:

- Morais: são os indivíduos que assimilaram através do binômio ensino-aprendizagem, os


ensinamentos éticos e que, em virtude da própria índole tem tendências para seguir e obedecer
normas dessa natureza ética e que, ás vezes, como exceção, vem afrontá-las, chegando até ao
cometimento do delito.

- Imorais: são os indivíduos que, embora conheçam suficientemente normas ético-morais,


habitualmente não as obedecem, por razões que a própria análise criminológica se encarrega de
apurar.

- Amorais: são aqueles que jamais foram capazes de assimilar princípios ético-morais. Estes
constituem a maioria dos delinqüentes e caracterizam-se pelo embotamento afetivo. São indivíduos
desprovidos de piedade, de compaixão, de vergonha, de pudor. Em regra, são raivosos, frios,
calculistas, insensatos, traiçoeiros, egoístas, incapazes de arrependimento, enfim, moralmente
impuros.

6- Exame Social
Por este exame busca-se conhecer as condições que poderiam ter influenciado a conduta
anti-social do agente da ação, principalmente se decorrentes do meio social em que nasceu, cresceu
e viveu. Interessa a este exame o tipo de vida levada pelo criminoso, o meio familiar, a sua situação
econômica, a roda de amigos, etc.
O exame social se consubstancia, via de regra, em uma entrevista com o assistente social,
que é parte integrante da equipe de examinadores criminológicos.

7- Exame Histórico
Tem por finalidade precípua reconstruir o passado do criminoso, o que, habitualmente se
chama em Medicina de anamnese. Assim, são coletados dados referentes á evolução social do
indivíduo, a situação econômica do delinqüente, seu modo de vida, seus gostos, suas atividades,
enfim, o seu viver pregresso. Os dados sobre primariedade ou reincidência criminal, se genérica, ou
específica, etc. No exame histórico se devem colher, também, informações minuciosas sobre o crime
praticado, as circunstancias em que o crime ocorreu; o estudo da conduta do delinqüente antes,
durante e depois do ato praticado; se apresentou-se espontaneamente á prisão, ou se foragido foi
capturado; se resistiu á prisão; se empreendeu fuga após o crime e por que lugares passou; os
contatos que manteve nesse tempo e com quais pessoas; se foi ajudado por alguém e de que forma;
se prestou ou não socorro ou auxílio á vítima, etc.

Tratamento Delinquencial
Em seu livro Psicologia do Crime, falando sobre a personalidade, o prof. Odon Ramos
Maranhão, atribui-lhe natureza “normal”, “mórbida” e “defeituosa”.
Tal divisão tríplice dos indivíduos, sob o ponto de vista jurídico, obedeceria o seguinte
esquema:
I – Indivíduos Imputáveis (“normais”);
II – Indivíduos Imputáveis (com “defeito” de personalidade);
III – Indivíduos Semi-Imputáveis (com perturbação da saúde mental, também chamados de
fronteiriços);
IV – Indivíduos Inimputáveis (acometidos de doença mental).
Para o delinquente de personalidade normal, que quase sempre é um criminoso ocasional, as
medidas terapêuticas devem ser de caráter corretivo-pedagógico (medidas reeducativas) e o
estabelecimento onde a pena será cumprida pode ser de segurança mínima e até prisão albergue.
Os delinqüentes com defeito de personalidade constituem a grande maioria da população
prisional (principalmente nos países do 3º mundo). Tais criminosos habitualmente são oriundos de
ambientes deficitários, seja sob o prisma moral, familiar, ou comunitário. Todos os tipos de
assistência (médica, psiquiátrica, psicológica, odontológica, religiosa, profissionalizante,
ressocializante) são indicados para esses tipos de delinqüentes, embora seja utópico pensar que
isso vai acontecer.
Os delinqüentes com perturbação da saúde mental são indivíduos que se encontram na zona
limítrofe ou fronteiriça entre a normalidade psíquica e a doença mental ou a oligofrenia. Não se trata
propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja constituição é originariamente formada de modo
diverso daquele que corresponde ao homo medius.
Sob o ponto de vista do tratamento penitenciário a ser dado a esses indivíduos, é evidente
que, em virtude do grau de perigosidade que apresentam, devem sofrer as restrições que a defesa
social impõe, pois, se eles são capazes de satisfazer as exigências médias da ordem jurídica,
deixando de empregar, na medida do possível, uma resistência mais forte em relação á inclinação
para o crime, não é admissível que fiquem á margem da reação punitivo-corretiva. A capacidade de
entendimento e auto-direção, na verdade, não lhe estão completamente anuladas, como ocorre com
os doentes mentais. Pelo seu notável grau de periculosidade (são os reincidentes por excelência),
não basta a imposição da pena: durante e após o cumprimento desta devem sofrer um regime de
tratamento adequado á reeducação e ressocialização.
Os delinqüentes portadores de moléstias mentais são aqueles que foram acometidos por
alguma psicose, ou seja, por loucura ou insanidade mental. È a categoria das doenças mentais
caracterizada por desordens cognitivas tão graves que o ajustamento social se torna impossível e o
paciente precisa ficar sob vigilância médica, a fim de não causar danos em si próprio ou em terceiro.
Com relação aos portadores de psicoses, as terapêuticas dependem de cada quadro
particularmente considerado. Entre as terapias que vêm sendo empregadas podem ser enumeradas:
a terapia de choque por insulina (TCI), a terapia eletroconvulsiva, a psicoterapia individual ou de
grupo, a psicoterapia psicanalista de Freud, etc.
CARACTEROLOGIA

A Caracterologia é o ramo da Psicologia que estuda, pesquisa e investiga a personalidade e o


conjunto de traços psicológicos que definem o caráter mental e o comportamento do homem.
De salientar que entre as ciências de que se vale a Criminologia para a investigação do crime,
avulta a Psicologia e, dentro desta, ganha posição a Caracterologia que, embora sendo uma corrente
antiga e polemica, modernamente voltou a despertar grande interesse.

Existem, em regra, 8 tipos de caracteres, assim denominados, segundo Newton e Valter


Fernandes:

1- Nervosos: Mudam com o instante. Podem sofrer vivamente, mas se consolam


rapidamente. Suas simpatias são pouco constantes. Têm necessidade de novas emoções, precisam
de excitação. Às vezes amam o macabro. Têm tendência para a arte, o jornalismo, o comércio
ambulante, etc.

2- Sentimentais: São sensíveis aos acontecimentos exteriores, mas amam a solidão.


Voltados para o passado, são meditativos e desajeitados na vida prática. São tímidos, vulneráveis, e
amantes da natureza. Têm tendência para o magistério, para a literatura, para a contabilidade, para a
função pública e para ofícios em locais pacíficos e que reclamam certa concentração individual.

3- Coléricos: São móveis, excitáveis, cordiais, rápidos ma reação, otimistas e


exuberantes. Têm tendência para a engenharia, política e empresariado. Preferem os ofícios que
demandam movimentação.

4- Apaixonados: São dominadores, ambiciosos e realizadores. São amantes da


sociedade, da família, da pátria, e da religião. Têm tendência para chefiar, para as carreiras
diplomáticas, para as artes e ofícios construtivos.

5- Sanguíneos: São assíduos ao trabalho, sendo objetivos e práticos. São decididos,


liberais e esportivos,rápidos na concepção e imediatistas. Têm tendência para a advocacia, para as
línguas, para a agricultura, para o empresariado, etc.

6- Fleugmáticos: São perseverantes, ponderados, simples e pontuais. São amantes da


ordem e da lei. Têm tendência para a magistratura, para a medicina, para a administração, para a
filosofia, para a matemática, etc.

7- Amorfos: São displicentes, disponíveis, conciliadores, tolerantes e amantes da “boa


vida”. Têm tendência para o teatro, execução musical, comércio ambulante, etc.

8- Apáticos: São fechados, persistentes, solitários, honestos e vorazes. Representam


uma mistura do sentimental e do amorfo. Têm inclinação para veterinária, funções públicas, etc.

Segundo dados colhidos, observou-se que os tipos caracterológicos que oferecem o maior
nº de criminosos são: o nervoso (31,5%), o apático (22,5%), o colérico e o amorfo (16%). Os
sentimentais, apaixonados e fleugmáticos são os que delinquem menos.
Afastadas, por carentes de fundamentação racional, o “biologismo determinista” que fala do
“criminoso nato” (Cesare Lombroso); o “psiquiatrismo”, que acena com a figura do “criminoso louco”
e o “sociologismo” (que tanto encantou Gabriel Tarde) com as teorias dos fatores exógenos como
únicos responsáveis pela verificação de crimes; outrossim, de se condenar, definitivamente, a
hereditariedade como fator determinante de crime (Lombroso, Ferri, Garófalo) ou predisponente de
crime (Lacassagne, Manouvrier, etc.), isto porque, dos ensinamentos cristalinos do célebre psiquiatra
de Barcelona, Mira Y Lopes, e de outros, se deflui o nítido e transparente entendimento de que não
existe fator hereditário ou genético, que possam determinar que o indivíduo seja criminoso; aliás,
segundo os mesmos ensinamentos, o homem sequer traria em sua bagagem hereditária qualquer
determinação ou predisposição para a prática do mal.

Mas, então, porque o crime acontece?


O criminalista Cooley vincula qualquer influencia hereditária ao processo de aprendizagem,
este claramente jungido ao meio ambiente, ao convívio social. E afirma: “Ninguém tem uma
hereditariedade tal, que deva ser inevitavelmente um criminoso, independentemente das situações
em que é colocado ou das influencias que sobre ele se exercem. Um temperamento fleugmático, que
permite supor ser herdado, pode preservar uma pessoa de ser criminosa num ambiente, e torná-la
criminosa noutro”.

Mas, então, porque o crime acontece?


Os juristas falam do “iter criminis, ou seja, o caminho do crime, que compreende 4 etapas:

a) Cogitação;
b) Preparação;
c) Execução;
d) Consumação.

Os psicólogos e psiquiatras, por sua vez, dizem da existência do que denominam fases intra-
psíquicas do crime e que seriam:

Intelecção ou “gnosia”;
a) Desejo ou tendência;
b) Deliberação ou dúvida;
c) Intenção;
d) Decisão;
e) Execução ou realização.

Por tudo o que foi dito, de se trazer ao palco da colação criminal mais um personagem: o
“criminoso social”. Dito isso, forçoso concluir que o homem criminoso haverá sim de ser analisado e
pesquisado sob todos esses matizes, ou seja, em todos os seus aspectos estruturais, funcionais,
racionais ou psíquicos, psiquiátricos, sociais e, através disso tudo, se possa descortinar a sua
personalidade, pois sem sombra de dúvida, é da forma como ela reage, quer aos estímulos internos
(ou endógenos), quer aos externos (exógenos), na antecâmara da ação delituosa, que o crime virá
ou não a acontecer.

Logo: Porque o crime acontece?


Por influencia dos fatores endógenos e exógenos.

O crime é definido sob o prisma jurídico e o prisma biopsicológico. Vejamos:

- No aspecto jurídico: Crime é o fato social anti-jurídico, tipificado pela lei penal, punível á título de
dolo ou culpa, se inexistentes excludentes e inimputabilidades.

- No aspecto jurídico e biopsicológico: Crime é um ato biopsiquico ou biopsicológico, contrário á


lei, decorrente de decisão livre da personalidade individual, punível á título de dolo ou culpa, se
inexistentes as excludentes de legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever
legal e exercício regular de um direito, e desde que, dita decisão da personalidade não esteja
desconfigurada pela existência de inimputabilidade (total ou parcial), consistente em psicopatias ou
desordens mentias, ou em razão do agente ser menor de 18 anos.
CRIMINALIDADE

FATORES EXÓGENOS GERAIS

1- Meteorologia Criminal
O entendimento que se tem sobre meteorologia criminal conduz à ilação que determinados
fatores chamados cosmotelúricos (calor, frio, pressão atmosférica, ventos, tensão eleétrica do ar,
chuva, luminosidade, irradiação solar, etc) exerceriam influência quando do cometimento de crime.
Até hoje, verdadeiramente, não se sabe explicar de que forma esses fatores inspirariam o fenômeno
criminal. Presume-se que tais influências seriam meramente indiretas.
Para Lombroso, não padecia dúvida que o calor influi sobre a criminalidade e, disto, cita
exemplos o brilhante e controvertido médico italiano.
Em seu livro Principles of Criminology, Edwin Sutherland vai mais longe, afirmando que no
verão são mais numerosos não apenas os crimes contra a pessoa, mas, também, os delitos contra a
moral.
Tendo em mira que o crime é determinado pelo comportamento do indivíduo, supõe-se que os
fatores cosmotelúricos, tendo a capacidade de atuar sobre o sistema nervoso e o psiquismo da
pessoa, poderiam, então, influenciar a conduta humana a ponto de levá-la á prática delitiva, mas
sempre de modo indireto.
O assunto foi pesquisado por Adolphe Quetelet, que formulou suas conhecidas “Leis
Térmicas”, estabelecendo certa relação entre as diversas estações do ano e um determinado número
e tipo de delitos.
A 1ª lei de Quetelet baseia-se nos delitos contra a propriedade, os quais, segundo ele, são
mais freqüentes no inverno; a 2ª lei refere-se aos delitos contra a pessoa, que observou serem mais
cometidos no verão; e a 3ª lei refere-se aos crimes sexuais, cuja freqüência mais corrente é na
primavera e no início do verão.
No Brasil, os delitos contra a pessoa são cometidos mais no verão, pois há mais ajuntamento
de pessoas nas ruas e nos estabelecimentos comerciais, dorme-se mais tarde, bebe-se mais,
discute-se mais, etc. Os crimes sexuais são mais praticados durante o período de carnaval, onde o
sexo está mais liberado. Os crimes contra o patrimônio são cometidos mais no verão do que no
inverno, pois, no verão as pessoas ficam mais á vontade e se descuidam de seus valores pessoais
(bolsas, pacotes no interior do veículo, etc), sendo vítimas fáceis de larápios que também se
aproveitam das aglomerações próprias do verão.
Teoricamente, parece irretorquível que os fenômenos cosmotelúricos tenham influência
quando se dá um enfoque geral sobre a matéria, mas os casuísmos, ou seja nos casos concretos,
um a um, é impossível estabelecer essa comprovação. Por via de conseqüência, tudo que se afirme
a respeito cai no campo da teoria, como matéria de especulação científica.

2- Higiene
É notório que a falta de higiene é uma das características das moradias dos pobres e
miseráveis, que se acotovelam na promiscuidade dos cortiços, das casas de cômodos e das favelas.
Aí falta tudo: espaço físico vital, luz ou luminosidade adequadas, instalações sanitárias, condições de
oxigenação ambiental, etc. O que não falta é o cheiro desagregador da dramaticidade vil e cruel da
injustiça social, provinda da má distribuição de riquezas, que impera nas camadas sociais não-
privilegiadas dos países do epitetado Terceiro Mundo.
Coloquem-se ratos amontoados em exíguo espaço físico, sem ventilação e com alimentação
reduzida: em pouco tempo uns investirão contra os outros e matar-se-ão reciprocamente. Com o
homem, as coisas não são e nem poderiam ser diferentes, em virtude de sua idêntica condição
animal.
Ademais, o morar promíscuo permite que as crianças assistam cenas de violências ou de sexo
entre seus pais ou outras pessoas, com graves conseqüências para elas.
Registre-se, também, que habitações pouco arejadas, sem sol e sem luz, favorecem
enormemente a propagação de doenças infecto-contagiosas entre as pessoas que ali coabitam.
Ponderações também podem ser feitas relativamente à vida no campo e na cidade grande,
esta submetida a todos os deletérios efeitos da loucura acústica dos ruídos, da poluição de toda
ordem, da densidade e dos inchaços demográficos, evidentemente influenciadores de certos
desequilíbrios do organismo e do psiquismo humano.
Merece consignação, aqui, as condições particularíssimas do Brasil e, como exemplo, o
flagelo das secas intermináveis de sua região Nordeste. Tal estiagem, verdadeiramente endêmica e
com seríssimas conseqüências no plano sócio-econômico brasileiro, enseja o desespero da miséria,
do desemprego, do desajuste familiar, da migração para áreas hostis, tudo estimulando,
induvidosamente, a modificação da conduta desses atormentados e, inclusive, a probabilidade de
sua relação com a criminalidade.

3- Nutrição
De início, parece difícil estabelecer qualquer liame entre a nutrição e a criminalidade, mas,
indiretamente, é possível fazê-lo.
Tanto assim é que, a falta de alimentação adequada ou razoavelmente balanceada, de molde
a vigorar os órgãos dos nutrientes de que necessita o organismo humano, é fator predisponente de
criminalidade, sem que se chegue ao exagero da menção ao furto famélico, juridicamente
descriminalizado em razão da sua etiologia.
De distinguir, no que concerne à subalimentação, o estado agudo do crônico, pois o primeiro
não oferece importância maior, a não ser de poder levar o indivíduo ao furto famélico. O estado
crônico de desnutrição, porém, transforma o indivíduo em presa fácil de sentimentos associais como
o ressentimento, a irritabilidade, a revolta e o ódio, todos geradores de uma condição de anti-
sociabilidade e predisponentes do ato delinqüencial.
Por igual, a ingestão abusiva do álcool, pelo desequilíbrio orgânico e psíquico que às vezes
provoca, pode ter o condão de funcionar como fator predisponente à criminalidade.

4- Sistema econômico
Não resta dúvida que as condições econômicas exercem marcante influência na vida em
sociedade.
A situação econômica é um dos fenômenos mais comuns na influência da criminalidade, via
de regra decorrendo: de contendas suscitadas pela arbitrária política salarial; do fechamento de
grandes indústrias em momentos de crise; da não expansão da atividade comercial; do desemprego
e da dificuldade de achar colocação; do baixo poder aquisitivo popular que é arrostado pela inflação
e pela especulação; do egoísmo imperante na própria economia, onde os que acumulam riqueza
contribuem cada vez mais para o empobrecimento da grande maioria.
Todo transtorno operado nas condições de vida do povo desloca, violentamente, uma parte de
seus membros do ambiente normal de existência para uma outra vereda da vida social, que pode vir
a ser o caminho do crime.
Mas, para a eclosão do delito, também contribuem outras camadas do estamento social,
situadas na esfera dos socialmente mais desenvolvidos. Esses tipos de delitos correspondem às
cifras douradas da criminalidade, também chamados de “crimes do colarinho branco” (white collar
crime) ou seja, aqueles cujos criminosos possuem poder político, econômico ou social e que, por
isso, suas atuações criminosas, na absoluta maioria dos casos, permanecem impunes, quase que
representando uma condição de inimputabilidade situacional.
A criminalidade política por parte de governantes (peculato, emprego irregular de verbas, etc)
foge á toda espécie de repressão, jamais tornando-os réus de processo judicial com a condenação
severa, que inegavelmente mereceriam pelo uso desvirtuado e desonesto do encargo que o povo
lhes confiou.
5- Pobreza
É evidente que há uma relação estreita entre a pobreza e o crime. De enfatizar que os
assaltantes, em sua quase totalidade, são indivíduos rudes, semi-analfabetos e pobres, quando não
miseráveis. Sem formação moral adequada, eles são párias da sociedade, nutrindo indisfarçável
raiva e aversão, quando não ódio, por todos aqueles que possuem bens de certo modo ostensivos,
especialmente automóveis de luxo e mansões, símbolos inquestionáveis de um status econômico
superior.
Esse ódio ou aversão contra os possuidores de bens age como verdadeiro fermento, fazendo
crescer o bolo da insatisfação, do inconformismo e da revolta das classes mais pobres da sociedade,
e essa violência e agressividade, infalivelmente, as levarão ao cometimento de alentado número de
atos anti-sociais, desde a destruição de uma simples cabine telefônica até à perpetração dos crimes
mais bárbaros, dando números maiores às altas taxas de criminalidade.

6- Miséria
A miséria é a pobreza elevada ao extremo. É o estado daqueles que tem muito pouco ou não
tem mais nada. A estes falecem, mais ainda que aos pobres, todas aquelas condições mínimas de
sobrevivência com um resquício de dignidade. Essa miséria debilita centenas de milhões de pessoas
em todo o mundo, tornando-as, como os pobres, presas fáceis da senda do crime.
É sabido que avaliações recentes da ONU revelam que, a par da alarmante mortalidade
infantil existente no Terceiro Mundo, a quantificação da miserabilidade nos países pobres da América
Latina, África e Ásia já atinge a cifra de 1 bilhão e quase 300 mil pessoas! Em levantamento
complementar ao de 1994 que registrava, nas nações subdesenvolvidas, a morte anual de 500 mil
crianças em razão da miséria, a informação atual da Unicef é de que não menos de 700 mil infantes
morrem anualmente nesses países. No Brasil, por exemplo, a miséria e a fome matam mais de 300
mil pessoas anualmente, entre adultos e crianças.
Não há como negar, entretanto, que a situação de miséria representa mais que considerável
ingrediente no poder de decisão do indivíduo que tende para o comportamento criminoso.

7- Mal-vivência
Geralmente fruto de condições biopsíquicas defeituosas ou doentes, mas também por motivos
mesológicos, os mal-viventes arrastam sua existência em todas as épocas da história. Na
dependência da legislação dos diversos países, ao invés de terem o tratamento de um sociopata ou
um biosociopata, eles são incriminados por vagabundagem, sob a nomenclatura de vadiagem, que
se pode aplicar a muitos, menos eles que, em última análise, não passam de subproduto das
sociedades brutais e desumanas em que vivem. Analisados, eles, clinica e psicologicamente, não
passam, na imensa maioria, de pessoas fisiologicamente doentes, senão também mentalmente
anormais ou perturbados.
Contribuem para esse estado, como dito, fatores biológicos e mesológicos.
Existe aquele grupo de mal-viventes que procede de famílias de alcoólatras. Existe, outrossim,
uma mal-vivência orgânica-constitucional, onde o indivíduo possui uma impulsão à instabilidade,
encontrada em andarilhos, tropeiros, ciganos, etc.
De referir, ainda, a mal-vivência de epilépticos neuróticos, paranóicos, oligofrênicos, místicos,
etc., quando, abandonando a família, saem pelo mundo sem nenhuma perspectiva e levando aos
parentes o sofrimento e a aflição. Fala-se, ainda, na epitetada “idade do diabo”, em que os jovens,
acometidos pela “claustrofobia” do lar, vão em busca de novas experiências e acabam, geralmente,
na marginalização, quando não no crime.
Mencione-se, também, a mal-vivência que acomete a infância abandonada, fruto de lares
desfeitos ou mesmo dos chamado ’’órfãos de pais vivos”, conduzindo ao completo abandono um
grande número de crianças na faixa etária em que necessitariam de cuidados afetivos, morais e
materiais.
O desemprego, o subemprego, a falta de moradia etc., são outros fatores que impelem o
indivíduo a assumir a condição de mal-vivente mesológico.
É característico dessa categoria o cometimento de pequenos delitos, de bagatelas delituosas,
como o desacato à autoridade, as injúrias, os furtos de ocasião ou a mendicidade (vadiagem)
reincidente.

8- Civilização, cultura, educação, escola e analfabetismo


Tradicionalmente, as classes sociais se dividem em 3 grupos: classe baixa, classe média e
classe alta.
A classe baixa, ou inferior, é aquela caracterizada por carências de toda ordem, sobretudo
aquelas de natureza econômica e cultural. A classe média, também chamada de burguesia e que
serve como verdadeiro amortecedor das outras duas, é constituída por operários como pequenos
comerciantes, microempresários, profissionais liberais, etc. A classe alta, ou superior, que de um
modo ou de outro manipula as demais, é composta, a grosso modo, pela aristocracia de linhagem e
pela aristocracia do dinheiro, ainda que desonesto.
Dessas classes, a inferior é a que contribui mais para a criminalidade. Basta que se verifique o
seu enorme contingente nos presídios. Isto não significa, porém, que as outras duas classes não
tenham os seus criminosos. A classe alta, inclusive, tem um dos piores criminosos, aquele
denominado de “colarinho branco”, que dificilmente vai ter às barras dos tribunais, mas que é
profundamente nocivo para a coletividade, e também para os órgãos públicos, por sua força
corruptora.
Sobre a influência da educação na prática do evento delituoso, é bom lembrar, inicialmente,
que a educação teria uma importância relevante para a Criminologia se o ensino, por si só, tivesse a
capacidade de moldar o caráter de alguém. Contudo, o que se identifica inconteste é ser a educação
apenas um entre inúmeros outros fatores, que atuam sobre a infância primeira, no que diz respeito a
formação do caráter de uma criança, sem se falar na hereditariedade e em situações outras
adjacentemente circunstantes, em que a criança assiste cenas e participa de atos que fazem com
que ela, quase inconscientemente, assuma determinada conduta conjuntural, ou não. Acresça-se, a
isso, as situações de família que, muito mais que o ensino, atuam sobre o seu espírito, sua
sensibilidade e seu intelecto. Não se deve, portanto, assumir nenhuma posição de convicção
inabalável e definitiva sobre os verdadeiros efeitos da educação sobre a conduta da criança,
especialmente no que diz respeito a um possível comportamento anti-social.
Sutherland indica que o Estado deve olhar com mais carinho a criança na escola,
preservando-a contra os perigos de seu ingresso na criminalidade, para tanto, preparando
adequadamente os professores. Certa feita, afirmou Vitor Hugo, que “Abrir uma escola, eqüivale a
fechar uma prisão”.
Ninguém ignora que nos países com grande número de analfabetos, de que é exemplo o
Brasil (cerca de 29 milhões de analfabetos, conforme último senso) é grande o contingente de
analfabetos entre os criminosos (de 15,1 milhões de analfabetos, inseridos em um total de 875
milhões no mundo).

9- Casa
O que dizer da moradia, da casa onde a pessoa vive com sua família? O que ela pode
representar em termos de oferecer condições de predisposição à criminalidade?
O lar, nem sempre oferece o remansoso aconchego de delícias; completamente ao contrário,
muitas vezes ele é o paradigma da infância, o cadinho da impudicícia e o exemplo da maldade
humana. As crianças pagam caro os desastres ocorridos no lar. E o que dizer-se quando a família se
desintegra? Quando os lares se desmantelam?
Grande, também, é o número de jovens autores de atos anti-sociais oriundos de lares
desfeitos, como ocorre com filhos de pais divorciados.
As condições desfavoráveis de moradia, como acontece, por exemplo, nos países
subdesenvolvidos, onde proliferam as favelas, os cortiços, as taperas, as casas de cômodos, com a
natural promiscuidade disso decorrente, em que os valores morais desaparecem, onde o número de
analfabetos ou subaculturados é muito grande, induvidosamente propiciam, nas camadas sociais que
assim vivem, a existência de um contingente muito grande de prostitutas, viciados e traficantes de
droga, ladrões, assaltantes, homicidas etc. Lares inseridos nessas condições, não há que se
contestar, são verdadeiras forja de marginais.

10- Rua
A rua, com toda a espécie de maus exemplos que pode oferecer, inclui-se no crime.
Diga-se que à rua acorrem, igualmente, as infelizes crianças de lares desmantelados, onde se
iniciam cheirando cola (os “drogaditos”) e terminam assaltando e matando, não raro, cruelmente.
A rua é a própria matriz a forjar modelos de associais. Dela resultam vadios, contraventores,
meninas precocemente prostituídas, toxicômanos, rufiões, ladrões (infanto-juvenis ou adultos) etc., e
tudo o que de pior possa existir.

11- Desemprego e Subemprego


Quando os níveis de ocupação profissional permanecem estagnados, impedindo que novos
contingentes populacionais ingressem no mercado de trabalho, é evidente que essa situação se
torna uma verdadeira “bola de neve”, aumentando o número de desempregados. Daí à prática de
ações anti-sociais o pulo é muito pequeno.
Mas, a par do desemprego, que indubitavelmente é um dos fatores diretos da criminalidade,
há também um outro fator, a ele intimamente relacionado, que é o subemprego.
Hoje, é freqüente que as camadas de baixa renda aumentem seus ganhos com a prática de
atividades que, não raro, invadem a área de criminalidade como, por exemplo, o que ocorre com os
chamados “trabalhadores de fronteira”, que através de pequenos contrabandos objetivam aumentar
sua renda mensal.

12- Profissão
A atividade profissional do indivíduo, desde que se trate de um predisposto, poderá incliná-lo à
prática de determinado delito. Assim acontece com certos empregados domésticos que, em virtude
da própria facilidade que encontram e possuindo tendência para tal, passam a cometer pequenos
furtos domésticos, prática que pode, com o tempo, adquirir aspectos de maior gravidade. É comum,
por exemplo, a doméstica conluiar-se com um elemento de fora (quase sempre um namorado) e
oferecer-lhe a chave da residência para que ele, isoladamente ou com parceiros, subtraia os objetos
de valor ali existentes.
Empregados de prostíbulos, bordéis, boates, casas de jogos, etc., costumam ser traficantes de
drogas.
Médicos e dentistas envolvem-se, às vezes, em estupros e outros abusos sexuais. Advogados
podem cometer fraudes ou apropriações indébitas. Não é incomum que Engenheiros e construtores
pratiquem fraudes consistentes na qualidade inferior do material empregado. Gerentes de bancos
podem cometer desvios de dinheiro e empréstimos com vantagens pessoais. Comerciantes podem
incorrer em crimes contra a economia popular. Os professores, não raro, cometem abusos sexuais
contra alunas.

13- Guerra
A guerra, por si mesma, exerce uma grande influência no crescimento da criminalidade. Os
jovens são subitamente arrancados de uma vida normal e atirados aos horrores da belicosidade,
participando de manobras e combates destruidores e sangrentos. Inclusive os valores morais
adquirem feições diferentes: se na paz matar é crime, na guerra é ato de heroísmo.
Na guerra, ensina-se aos jovens o manejo de armas de fogo e a utilização de engenhos de
destruição, em circunstâncias antes por eles desconhecidas. É incontestável que isso vai ter
influência nas suas condutas futuras.
Finda a guerra e desmobilizada a tropa, exige-se dessa juventude que rapidamente retorne
suas atividades normais da época de paz. Sucede, contudo, que as desagradáveis experiências por
que esses jovens deixam-lhes, não raro, cicatrizes cruentas, capazes de acionarem instintos
primitivos de agressividade e, daí ao crime, a distância é curta. Sem contar nas seqüelas que
geralmente acarretam, ao plano orgânico e psíquico, perturbações e neuropsicoses e todo o seu
caudal de conseqüências funestas, com prováveis tendências à delituosidade.

14- Industrialização
O excesso da industrialização num país, via de regra eleva a criminalidade, e a razão principal
disso parece residir na aglomeração forçada de elementos de condições pessoais diferentes,
principalmente se encarados sob os prismas racial, educacional e econômico.
Nas regiões industrializadas sempre existem indivíduos que, não reunindo condições de
emprego por não integrarem o contingente de mão de obra especializada, ou por não possuírem
condições intrínsecas de adaptação às novas exigências do progresso do sistema de produção,
passam a viver à margem do industrialismo mais sofisticado e, não encontrando uma ocupação,
tendem a engrossar as fileiras do crime.

15- Urbanização e Densidade Demográfica


Estudos feitos em diversos países a respeito de taxas criminais por áreas geográficas e o
tamanho e a densidade demográfica das cidades, têm revelado uma correlação positiva entre o
índice de criminalidade per capita e a população, principalmente para os delitos patrimoniais. A
significância da incidências de delitos dessa natureza em áreas concentradoras de população
possibilita a definição de uma categoria, chamada de “criminalidade urbana”, composta por tipos de
delitos que se apresentem como fenômenos sociológicos que trazem em si especificidades
necessárias e exclusivamente urbanas.
Evidências mais ou menos definidas, atribuem essa relação “crime-urbanização-densidade
demográfica”, nas áreas urbanas, à concentração de riqueza nas mãos de alguns e à pobreza e
miséria de muitos ou da grande maioria.
Estatísticas criminais revelam que a grande maioria dos crimes são economicamente
motivados pela “aquisição” de algum bem, dinheiro ou algo nele conversível. Em razão disso, em
todas as cidades com grandes índices de criminalidade, os delitos contra o patrimônio ocupam a cifra
de mais de 50% do total de todos os delitos.
Por outro lado, tem-se verificado que nos crimes contra o patrimônio localiza-se não só a
forma mais acentuada de criminalidade, mas também de violência, fundamentalmente quando
observados os comportamentos do furto qualificado, do roubo, do latrocínio, da extorsão mediante
seqüestro, do cárcere privado, etc.
O estudo do crime correlacionado aos aspectos econômicos, mostra que sua tendência de
crescimento é maior quanto maior for o número de desempregados nas grandes cidades. Quanto
mais fermento (pobreza), maior o tamanho do bolo (criminalidade), resultado de “fermentação social
da criminalidade”.
A violência urbana pode ser vista como uma atividade de pequeno risco, principalmente se o
infrator é membro de uma quadrilha bem organizada, como sói acontecer com “gangs” de
seqüestradores, assaltos a bancos, de tráfico internacional de drogas, etc., que apenas vez ou outra
são alcançados pela repressão.

16- Migração e Imigração


Migração: quando o deslocamento humano é um local para outro local, dentro do mesmo país.
Imigração: quando o deslocamento humano é de um país para outro
A migração e imigração sempre trazem conseqüências para o convívio social, não só para os
que chegam, mas também para aqueles já sediados no lugar eleito pelos emigrados.
É previsível que esse novo convívio social pode suscitar situações de conflitos individuais e
até coletivos, permitindo, desde logo, o surgimento de condições que podem ensejar o fenômeno
social do crime.
Atente-se, aliás, para a existência de “gangs” internacionais, que atuam despontando a máfia.
Sabe-se que determinados estados e regiões, por relacionados ao clima, ao solo, à falta de
industrialização e, conseqüente a tudo isso, a ausência de um mercado regular de trabalho, obriga
um enorme contingente de brasileiros a migrarem para os centros mais adiantados e desenvolvidos
(São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, etc) em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
Ocorre, porém, que quando não encontram trabalho nas grandes cidades (geralmente são
famílias com muitos filhos), acontece, também, com uma incidência apreciável, começarem a viver
de expedientes. Os filhos do sexo masculino, ainda na infância, passam a limpar pára-brisas de
automóvel, para ganhar uns “trocados”, ao depois, vendendo flores, balas, doces, frutas na rua e, de
repente, são lançados ao mundo do crime com o cometimento, de início, de pequenos furtos, e daí
até o roubo, culminando com o latrocínio, é uma questão de tempo. As meninas partem para as
concessões sexuais, ou seja, caem na prostituição.

17- Política
A organização política dos países, sem sombra de dúvida, exerce grande influência sobre a
vida dos componentes dos diversos grupos sociais que neles estão inseridos e, conseqüentemente,
isso terá reflexos no fenômeno criminal.
A forma de governo, democrático, totalitário, etc..., determina tipos de comportamentos
diferentes do povo, e a criminalidade, igualmente, tende a ter tipos diferenciados, na proporção exata
em que o povo goze de maior ou menor liberdade.
Assim, nos regimes totalitários, além dos crimes comuns praticados, outros tendem a
acontecer, como atos de terrorismo, seqüestros políticos, homicídios contra políticos, etc.
Esses são os delitos que os integrantes do povo praticam contra opressores, os ditadores.
Mas, também, os donos do poder totalitário costumam praticar crimes contra o povo oprimido, que
via de regra, são os de tortura, para obter as informações que lhes interessam; de execuções
sumárias, mandando matar, simplesmente, os que insurgem contra o poder; prisões arbitrárias com
torturas, que podem acabar em homicídios oficiais; atentados contra autoridades, que culminam em
mortes, etc.
Os integrantes dos altos escalões do governo acumulam fortunas, que não podem explicar
pela honradez e, ainda assim, não são pegos pelas malhas da lei. Aliás, a corrupção governamental
não é fato moderno, já apontava Aristóteles em seu tempo.
Se a lei não é aplicada e permanece como letra morta, que temor pode inspirar no cidadão?
Se os culpados maiores não são responsabilizados, de nada adianta a ira popular desorganizada e a
indignação existente no fundo do coração dos cidadãos honrados.
Tudo isso pode resultar em outros delitos, resultantes do relaxamento da vida moral, com a
conseqüente estimulação de instintos criminosos, vindo, então, a ocorrer as falsificações, os furtos,
as apropriações, os roubos, as falências fraudulentas, os estelionatos, etc.
Ademais, as paixões políticas fomentam as injúrias, as difamações, as calúnias, chegando
certos indivíduos a viver desse “ofício”, enlameando a honra de qualquer cidadão que ocupa alguma
posição elevada nas atividades públicas.
CAUSAS INSTITUCIONAIS DE CRIMINALIDADE

1- Polícia
A Polícia é um órgão vitalmente necessário à manutenção da ordem, à obediência às leis, à
segurança civil, à permanência do Estado. Sua tarefa mais relevante é a prevenção do crime, sua
característica deve ser a vigilância constante. Todavia, pode a Polícia, através de maus elementos
que venham integrar seus quadros, favorecer a prática de crime, por via de ações delituosas
individuais e até coletivas de seus membros (abuso de poder, violência arbitrária, condescendência
criminosa, corrupção passiva, peculato, concussão, etc). A Polícia até pode pactuar com o crime
(acobertando criminosos ou operando junto com eles; participando dos lucros da jogatina proibida;
protegendo e cobrando “taxas” de motéis, hotéis, casas de massagem e locais onde se explora a
prostituição; conluiando-se com narcotraficantes e seqüestradores e deles auferindo numerários
etc.).

2- Justiça
Afigura-se verdadeiro paradoxo supor que a Justiça pode favorecer o crime. Nada mais certo,
entretanto, e pelas seguintes razões: os ricos podem contratar qualquer advogado; a demora no
julgamento importa num contato maior, dentro da prisão, de criminosos e não–criminosos, por vezes
resultando na perversão destes; os delinqüentes recebem tratamento diferenciado por força de suas
posses e a prisão, inclusive, parece não comportar infratores de terno, colarinho e gravata.
A Justiça, não sendo urgente, deixa de ser justa, pois posterga direitos e procrastina
obrigações. A Justiça deve ater-se, sempre, ao império da lei e da ordem constitucional vigente, ou
seja, à Constituição.
Infelizmente, em alguns países, a estrutura do judiciário é, inquestionavelmente, arcaica,
ensejando, por via de conseqüência, a que não se tenha uma justiça efetivamente eficiente, até
porque essa eficiência talvez não corresponda aos desejos dos estamentos sociais mais
privilegiados e por isso, muitas vezes, ela deixa de atender os mais lídimos interesses das camadas
sociais menos favorecidas, quando não passa ao largo de direitos individuais, que de forma alguma,
poderiam ser postergados ou procrastinados, sendo, neste último caso, uma Justiça injusta, porque
não se faz urgente.
O Judiciário perde a sua legitimidade, pois deixa de cumprir a vontade do povo, do qual
emana todo o poder, inviabilizando, assim, o bem estar social. Vale mencionar, também, a existência
de leis que absolutamente não são cumpridas, que representam “letra morta”, que parecem
inexistirem. Trata-se de “anomia” encontrada em zonas periféricas e não-periféricas de cidades com
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde armas são portadas irregularmente e mercadorias
contrabandeadas são adquiridas em estabelecimentos com registro comercial. O mesmo se diga,
relativamente, à exploração desenfreada de jogos de azar (corridas de cavalos, jogo do bicho,
loterias esportivas, bingos beneficentes, etc.) e aos anúncios, dissimulados ou não, favorecedores da
prostituição, inseridos em jornais de larga circulação.

3- Prisão
A forma de cumprimento da pena na maioria das prisões, dadas as particularidades que as
cercam, não contribuem, de maneira alguma, para a reeducação ou recuperação do preso. Apenas
servem para que novos crimes sejam ali aprendidos, planejados para o futuro e arquitetados. A
cadeia, então, ao invés de instrumento de custódia para recuperação de presos, passa a ser
verdadeira escola de graduação e, não raro, pós-graduação, para o cometimento de toda espécie de
delituosidade.
Inúmeras prisões, na quase totalidade dos estados brasileiros, estão, por assim dizes,
formando mestres e doutores em crimes.
Todos os governantes até aqui passados sabem que o sistema prisional brasileiro está em
falência absoluta, mas pouco ou nada fazem para solucionar o problema. Milhares de mandados de
prisão não são cumpridos por falta de ter onde colocar aqueles contra quem pesam esses
mandados.
A conclusão a que se chega é de lógica irretorquível: esse tipo de clausura funciona como
fator de reincidência criminal, contribuindo vigorosamente para o aumento da criminalidade

4- Raça
Estatísticas realizadas nos Estados Unidos, comparando a criminalidade entre as raças negra
e branca, dão como resultado um delinqüencial bastante alarmante em relação aos negros,
apresentados como muito mais criminosos que os brancos. Assim, com referência a delitos violentos,
a proporção é de 7 negros por 1 branco; no alusivo aos crimes contra a propriedade, a proporção é
de 3 ou 4 por 1; já com relação à fraude e falsificações, as cifras entre eles se equivalem; no que se
refere a crimes sexuais, a proporção é de 3 negros por 1 branco.
Não seria o caso de se relacionar esse quadro estatístico com os aspectos da discriminação,
preconceito racial sofrido pelo negro, e também com as condições econômicas e sociais vividas por
ele? Certamente que sim.
A causa da existência de um maior número de criminosos negros deve ser procurada na sua
miséria, na falta de educação e no tratamento, geralmente violento, que lhes dispensa a Polícia.
No Brasil, onde crimes praticados por negros e mulatos são bem maiores do que os imputados
aos brancos, provavelmente também não é pelo problema racial e, sim, pelas mesmas razões
apontadas com relação aos negros nos Estados Unidos.
E quem é tão cego a ponto de não enxergar, que os negros e mulatos brasileiros vivem em
condições econômicas, sociais e de educação, acentuadamente inferiores aos brancos.

5- Sexo
De qualquer levantamento que se faça em todos os presídios do mundo, uma verdade aflorará
inconteste: o homem seguramente pratica muito mais crimes que a mulher e a diferença entre a
criminalidade masculina e feminina é assustadora e significativamente bastante grande. Deve-se
enxergar nesse fato maior tendência do homem para o crime, ou tudo não passa, como diz Edwin
Sutherland, do resultado de uma diferença na natureza do trabalho de um e do outro ou das
condições diversas, de um modo geral, nos hábitos e métodos da vida de ambos?
O modo de agir e sentir difere muito entre o homem e a mulher, devendo-se creditar a esta,
inclusive, uma característica maior de nobreza de sentimentos; a mulher tem um sentimento de
honradez muito mais acentuado que o homem.
No que refere ao cometimento das infrações penais, também existem diferenças entre o
homem e a mulher. Ao elemento feminino, como que repugna a prática de certos crimes: assalto a
mão armada, por exemplo. O mesmo já não se nota relativamente ao furto em supermercados, casas
de moda, etc..., que contam com a preferência feminina.
Existem delitos exclusivamente masculinos (no Brasil, por exemplo, o estupro, o atentado
violento ao pudor, a posse sexual mediante fraude, etc.). Existem outros delitos que quase sempre
são cometidos por homens (assaltos à mão armada, latrocínios, seqüestros, etc.). Por outro lado, há
delitos que são praticados exclusivamente por mulheres (infanticídios, abortos); outros cometidos
mais pelas mulheres do que pelos homens (os furtos com abuso de confiança, a prostituição, etc.). E
finalmente, há crimes para cuja prática nenhum significado maior tem o sexo, ou seja, a maioria dos
delitos, ressalvando-se, porém, que aqueles em que se emprega a violência e a força física são mais
comuns aos homens, sem sombra de dúvida (homicídios, roubos, prática de torturas, etc.).
Dizem, algumas estatísticas, que a proporção existente entre delitos cometidos por homens e
mulheres é de 6 para os primeiros contra 1 para as segundas. Observando-se, ainda, que a
proporção da criminalidade feminina aumenta à medida que aumenta a participação da mulher na
vida social, política e econômica do país em que vive.
6- Idade
O crime varia de acordo com a idade e nada é mais natural. Assinalam, alguns autores, que
delitos de determinadas naturezas são praticados em certas faixas etárias, por exemplo, entre 21 e
24 anos seriam mais comuns os delitos de homicídio e a prática da prostituição e da vadiagem.
Segundo Sutherland, a idade máxima da criminalidade está no período jovem da vida, apresentando
um decréscimo a começar dos 30 anos. Entre homens com mais de 70 anos é grande a média de
crimes sexuais. Seja um menino, um adulto de 25 anos ou um homem de 100 anos, há que se ter em
conta o meio em que vive.
Drapkin observou que entre 18 e 25 anos para os homens, e 30 a 40 anos para as mulheres,
são os índices de criminalidade mais acentuados.
Pesquisas recentes feitas no Brasil, mais especificamente em São Paulo, em Distritos Policiais
da capital, mostram que o tráfico de drogas, os roubos e os furtos são praticados por jovens. A maior
parte dos crimes contra o patrimônio e de tráfico de drogas são praticados por homens entre 16 e 25
anos. A conclusão faz parte da pesquisa sobre a política estadual para a segurança pública,
coordenada pela socióloga Célia Soibelmann Melhem, da Unicamp. Ainda, segundo a pesquisa,
60,98% dos criminosos nasceram no Estado de São Paulo; Minas gerais, Bahia, Pernambuco,
Paraná e Ceará vêm a seguir, com 22,49% juntos.
A socióloga conclui que a maioria dos delinqüentes incluídos na pesquisa é pobre, de baixa
escolaridade e com saúde precária. Os delitos contra a propriedade ocorrem com mais freqüência
entre os 16 e 20 anos. Os crimes passionais têm sua freqüência maior entre 30 e 40 anos. Os crimes
sexuais costumam acontecer antes dos 25 anos ou depois dos 45 anos.

7- Meios de Comunicação: Contágio moral


É incontestável que os meios de comunicação de massa, preferencialmente os jornais e a
televisão, projetando exaustiva e abusivamente notícias, imagens e filmes relativos á violência e aos
crimes, quando não ensinam ou aprimoram delinqüentes, induzem muitas pessoas á desvios de
conduta cujo climas é a prática delituosa, isto para a satisfação imediata de seus instintos ou
interesses ou mesmo por simples anseio imitativo.
Todos os dias os noticiários de jornais, rádio, televisão ou as representações cinematográficas
ou teatrais estão levando inúmeras pessoas á imitação. É o suicídio por amor, o seqüestro para
auferir alto lucro, etc. A imprensa noticia certos crimes com riqueza de detalhes, impressionando,
assim, o público que assiste ou lê e isso influencia as pessoas. Quantas mortes violentas, estupros,
relações sexuais implícitas ou explícitas, palavrões, cenas torpes e noticiários detalhados sobre
seqüestros (quase elevando os seqüestradores á categoria de heróis), assaltos á bancos (com o
“modus operandi” dos delinqüentes detalhadamente explicado), todas as sutilezas dos adultérios
minuciosamente relatados...a televisão divulga como se tais fatos não chocassem o comum das
pessoas, e não tivessem, em seu bojo, um alto componente associal, capaz, por imitação, de
estimular nos mais fracos o cometimento de atos idênticos ou assemelhados. Essa imitação (ou
mimetismo) chama-se “contágio moral”.
Criminosos por contágio moral não só se deixam conduzir pelos outros, como são levados por
eles para a criminalidade. São uma espécie de papel carbono.
Na Inglaterra, em 1888, os 5 bárbaros homicídios perpetrados no bairro londrino de
Wintechapel, por Jack, o “Estripador”, ganharam tamanha notoriedade que, longe de se desfazerem
nas brumas do esquecimento, até hoje suscitam um número impressionante de artigos, livros e
filmes!
Na verdade, a notícia sensacionalista sobre um crime não raro deflagra o cometimento de
outros da mesma natureza.
As maiores vítimas da mídia são, sem sombra de dúvidas, as crianças e, sobretudo, os
adolescentes, os quais costumam sempre imitar os grandes vilões criminosos dos filmes e novelas.
Os filmes de TV, por exemplo, visualizam como “heróicas” as ações violentas dos vilões e dos
“gangsters”. Crianças, após assistirem filmes de “gangsters”, passam a imita-los, porque estes
aparecem, quase sempre, nas histórias, como protetores do povo. O delito passa a ser visto, então,
como um fenômeno comum, praticamente norma!
Inúmeros programas de TV fazem apologia á violência, ao crime, ao criminoso e ao sexo
explícito, em horários acessíveis ás crianças e adolescentes.
Igualmente as revistas e os jornais também passam a veicular noticiários e registros
fotográficos deletérios, não se lhes retirando, por isso, uma condição de influenciar negativamente as
pessoas, chegando mesmo, como acontece com alguns jornais, a servirem de intermediários á
prostituição. E não se diga que o nu que se estampa nas capas de revistas é nu artístico!.

8- Jogo
Quando não se reveste de ilicitude penal, por ser proibido, o que o definiria como vício
criminoso, pode ser considerado como fator de criminalidade (cheques sem fundo, agressões e até
homicídios são cometidos em virtude do jogo).

9- Religião
Há que se evitar o perigo representado pela crença, por vezes extremamente absurda, sobre
o que o vulgo denomina de “misericórdia divina”. São religiões, seitas ou doutrinas, umas que levam,
pelo fanatismo, seus adeptos ao suicídio; outras se prestam á que determinados religiosos pratiquem
todas as espécies de violações sexuais contra mulheres incautas e culturalmente despreparadas,
como acontece em certos rincões do Brasil e possivelmente de outros países subdesenvolvidos.

10- Prostituição
Certas mulheres, num verdadeiro paroxismo de devassidão, prodigalizam seus favores
sexuais á vários homens e inclusive, de uma só vez.
O comércio sexual, seja qual for a razão que o determine, geralmente não é punível. Não
obstante, independentemente dos aspectos histórico-social e sanitário-moral, a prostituição merece
particular interesse por parte da Psicologia Criminal.
Na obra “La donna delinquente, la donna prostituta e la donna normale”, elaborada em
conjunto com seu genro Ferrero, Lombroso descreve a prostituta como uma pessoa mentalmente
débil e com um acumulado de contradições. Ressalta Lombroso que “a razão última do comércio da
prostituição é o idiotismo moral”.
Segundo Lombroso, existem determinadas mulheres que já nascem com a tendência á
prostituição: seriam as “prostitutas natas”, tal qual existem os “criminosos natos”. Ao lado dessas
“prostitutas natas”, desponta o grupo das “prostitutas de ocasião”, ou seja, aquelas que partem á
prostituição por condições socioeconômicas. Segundo pesquisa realizada por criminólogos, o fator
econômico é o que mais influencia a prostituição, já que as causas psico-orgânicas (biológicas)
representariam apenas 10% a 15%.
A pobreza geral, a promiscuidade das habitações como as favelas, as moradias coletivas
(cortiços e pensões), a falta de educação profissional e de trabalho honesto e contraprestado com
dignidade, os lares desfeitos ou viciosos, o alcoolismo paterno principalmente, a ausência de amparo
material e afetivo á infância, tudo isso, que no fundo, representa a mi´seria material e moral, constitui
causa vigorosa da prostituição.
No Brasil, por exemplo, são numerosíssimas as vítimas de estupro, atentado violento ao
pudor, corrupção de menores etc., que, abandonadas por seus violadores e desamparadas pela
família e pelo Estado, procuram o caminho fácil da prostituição.
Modernamente, a exploração do lenocínio é promovida por motéis, hotéis de alta rotatividade
e por agencias especializadas, onde o freguês escolhe a mulher através de álbuns de fotografias.
MICROCRIMINALIDADE E MACROCRIMINALIDADE.

- Microcriminalidade: é representada por atos anti-sociais episódicos indicativos da


criminalidade em pequena escala. Diz respeito aos delitos correntios, violentos ou não, que,
isoladamente, em todas as camadas sociais, acontecem de dia e de noite, durante todas as horas
(latrocínio, homicídio, furto, roubo, estupro, lesão corporal, ameaça, estelionato, calúnia, etc.)
.Constitui a soma dos delitos individuais. O microcriminoso é encarado como um indivíduo á parte,
um marginal da vida societária.

- Macrocriminalidade: é a delinqüência em bloco conexo e compacto, incluída no contexto


social de modo pouco transparente (crime organizado) ou sob a rotulagem econômica ilícita (crime
de colarinho branco). Alicerçada na certeza ou quase certeza da impunidade, a macrocriminalidade
visa exclusivamente o lucro. Via de regra, o macrocriminoso lucra e fica impune. São dois, portanto,
os fatores da macrocriminalidade: o lucro e a impunidade.

A macrocriminalidade compreende, a rigor, 2 espécies:

- Crime de Colarinho Branco (White Collar Crime)


- Crime Organizado

- Crime de Colarinho Branco: É a violação da lei penal por pessoas de elevado padrão
socioeconômico, no exercício abusivo de uma profissão ilícita. É a delinqüência econômica. É o
crime daqueles indivíduos de alto ou significativo status socioeconômico, que tranqüilamente ignoram
as leis para aumentar os lucros de suas atividades ocupacionais, principalmente aquelas relativas ao
gerenciamento de negócios e empresas.
Nesta espécie de crime a violência praticamente inexiste, pois que seus promovedores
atingem os propósitos colimados através da astúcia e da fraude. Respaldando fundamentalmente em
seu poderio econômico, o criminoso de colarinho branco desfruta de ampla impunidade, de
respeitabilidade social e até de intangibilidade!
O Conselho da Europa, órgão colaborados do Conselho Econômico e Social da ONU,
divulgou um elenco dos considerados delitos econômicos, a saber: formação de cartéis; abuso de
poder econômico das multinacionais; obtenção fraudulenta de fundo do Estado; criação de
sociedades fictícias; fraudes em prejuízo dos credores; falsificação de balanços; fraudes sobre o
capital de sociedades; concorrência desleal e publicidade enganosa; infrações alfandegárias;
infrações cambiárias; infrações da bolsa etc.
No Brasil, intenta-se, diga-se assim, combater o “crime de colarinho branco” com a Lei 7.492,
de 16 de junho de 1986, coadjuvada pela Lei 8.884, de 11 de novembro de 1994. a Lei 7.492/86
ironicamente é epitetada por muitos de “Lei de Regência”. A Lei 8.884/94 é a chamada “Lei
Antitruste” que, alterando dispositivos do Código Penal Brasileiro, possibilita a prisão preventiva com
garantia de “ordem econômica”
No Brasil, exemplo perfeito de delito de “colarinho branco” foi aquele emaranhado criminoso
que suscitou, há poucos anos, no Congresso Nacional, a cognominada “CPI dos Anões do
Orçamento”, sobre grandes desvios na peça orçamentária. Mais recentemente, tivemos vários
exemplos, como o “Escândalo do Mensalão””, e atualmente, temos tidos diversas operações, como
“Operação Navalha”, “Operação Furacão”, Operação Anaconda”, e tantas outras, clássicas sobre
corrupção e desvios de verbas públicas.

- Crime Organizado: O crime organizado surgiu na região italiana de Sicília, com a


denominação “Máfia” ou La Cosa Nostra, de lá vindo aportar nos E.U.A através da imigração, na
segunda metade do século XIX e início do século XX. Nos EUA a máfia também é conhecida por
“Sindicato do Crime” e por “Organização”. É certo, porém, que os mafiosos italianos e norte-
americanos integram grupos de uma organização criminosa coesa, uniforme e com objetivos bem
definidos.
Inquestionável, por outro lado, que hoje a atuação do crime organizado é praticamente
universal. A máfia tende a crescer ainda mais, e assim também aquelas organizações menores,
algumas das quais lhe são aparentadas como a “Camorra” de Nápoles, a “Sacra Corono Unita” de
Púglia e a “N’drangueta” da Calábria. E igualmente se expandem as Tríades Chinesas e a Yakuza
japonesa.
A máfia japonesa tem como principal fonte de renda o tráfico de drogas, a exploração da
prostituição, a venda de armas, a extorsão através de “taxas de proteção”, os jogos e as apostas,
etc.
É sabido que em outros países operam associações criminosas nos moldes da máfia, embora
em proporções menores. É o que acontece na França, Inglaterra, Alemanha, Turquia, Peru, Bolívia,
Paraguai, Colômbia, Brasil, etc.
Na Colômbia, aliás, impressiona por sua força e influencia política o chamado Cartel de
Medelin, chefiado até fins de novembro de 1993 por Pablo Escobar Gaviria e que chegou a
responder por 75% do comércio mundial de cocaína, obtendo uma fortuna calculada em US$ 3
bilhões!
Não obstante, em pleno século XXI, os cartéis de cocaína da Colômbia, agora com dezenas
de chefes e centenas de subchefes
VITIMOLOGIA

Desde a Escola Clássica, impulsionada por Beccaria, passando pela Escola Positiva de
Lombroso, Ferri e Garófalo, o Direito Penal praticamente teve como meta a tríade delito-delinquente-
pena. O outro componente do contexto criminal, a vítima, jamais foi levado em consideração. Isto
apenas passou a ocorrer quando outras ciências, e principalmente a Criminologia, tiveram que vir em
auxílio do Direito Penal para a análise aprofundada do crime, do criminoso e da pena.
As primeiras manifestações formais sobre a vítima, sua tragédia e a desdita de seus
dependentes ou familiares, foram levantadas por Etiene de Greef e Wilhelm Saver.
Todavia, somente a partir de 1956, com o advogado de origem israelita Benjamin Mendelsohn
dando forma definitiva ás suas idéias e estudos antes publicados sobre a vítima, é que a Vitimologia
aflorou com essa denominação e com contexto de disciplina criminológica.
Em síntese, a Vitimologia busca indicar o posicionamento biopsicossocial da vítima diante do
drama criminal, fazendo-o, inclusive, sob os ângulos do Direito Penal, da Psicologia e da Psiquiatria.
Benjamin Mendelsohn situa a Vitimologia como uma ciência que ele entende distinta da
Criminologia. Outros criminalistas, porém, negam que a Vitimologia seja mesmo uma ciência.
Contudo, irrelevante que a Vitimologia seja, ou não, uma ciência. Na realidade, ela desponta como
um dos ramos da Criminologia, ramo que, sob a filtragem do Direito Penal e da Psiquiatria, tem por
escopo a observação biológica, psicológica e social da vítima em face do fenômeno criminal.
Assim, Vitimologia é a ciência que procura estudar a personalidade da vítima sob os pontos de
vista psicológico e sociológico na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime e da proteção
individual e geral da vítima.
Atualmente, a relevância da Vitimologia também dimana da realidade da participação da
vítima na gênese de muitos crimes. É imperativo que a ligação entre delinqüente e vítima seja objeto
de análise. O grau de inocência da vítima em cotejo com o grau de culpa do criminoso propõe
precisamente os aspectos que têm sido negligenciados e que podem contribuir para o entendimento
de numerosas ocorrências delinquenciais.
No contexto delituoso a vítima pode ser inteiramente passiva ou, ao contrário, pode ser ativa e
concorrente. Crimes há, em sua gênese, onde não se vislumbra nem ação nem omissão da vítima,
como o aborto consensual, por exemplo. O caso, é o nascituro quem se transforma em vítima. A
ausência da pessoa a ser vitimada também será suficiente estímulo para que ocorra furto ou furto
qualificado em sua residência. Da mesma forma, poderá servir de estímulo á prática de roubo e até
de latrocínio, o fato da pessoa se expor em locais inidôneos ou suspeitos exibindo dinheiro, jóias ou
valores. De mencionar, ainda, certas modalidades de estelionato nos quais a participação da vítima é
fator primordial para o desenlace anti-social, eis que, nessas infrações, ao contrário de estar em
oposição, a vítima está psicologicamente solidária com o delinqüente.
Incontáveis, ademais, os episódios criminais em que a vítima é a causa eficiente do delito que,
sem ela, sem a sua ocorrência ativa, jamais teria ocorrido. É o que ocorre em muitos crimes sexuais,
como, por exemplo, o estupro, pois não são raros os caso em que, em última análise, a maior vítima
dos crimes sexuais é o acusado e não a “pobre e infeliz” ofendida.

As Vítimas Autênticas
Como há criminosos que são recidivantes, é positivamente certa a existência de vítimas-
latentes, isto é, de pessoas que padecem de um impulso fatalístico para serem vítimas dos mesmos
crimes, para reincidirem e se vitimarem em idênticos eventos lesivos. Seriam verdadeiras vítimas
natas! EX: vigias de baços e supermercados, médicos, que no exercício da profissão estão a todo
tempo sujeitos a uma grande variedade de imputações e denunciações, os policiais, sempre á beira
de riscos iminentes, etc.
Tipos de Vítimas e sua Classificação
Mendelsohn sintetiza 3 grupos de vítimas, a saber:

a) vítima inocente, que não concorreu a qualquer título para o evento criminoso;
b) vítima provocadora que, voluntária ou imprudentemente, colabora com os fins pretendidos
pelo delinqüente;
c) vítima agressora, simuladora ou imaginária, que não passa de suposta vítima (ou
pseudovítima) e, por isso, propicia a justificativa de legítima defesa de seu “atacante”.

Compensação á Vítima do Dano Decorrente do Delito


O regramento jurídico penal brasileiro não estabelece a reparação dos danos sofridos pela
vítima. Enquanto se tem batalhado por uma ampla “humanização da pena”, nada se faz, entre nós,
no sentido da “humanização das vítimas dos delitos”, até agora inteiramente esquecidas, não
obstante no 1º Congresso Internacional de Vitimologia, realizado em Jerusalém, tenha sido
recomendado que as nações criem um instrumento oficial de compensação ás vítimas do crime,
independentemente de possível reparação material por conta do próprio criminoso, na área cível.
O atual Código Penal Brasileiro, de 1940, praticamente silencia no que concerne á pessoa da
vítima, preceituando, no seu art. 42, que “compete ao juiz, atendendo aos antecedentes e á
personalidade do agente, á intenção do dolo ou grau de culpa, aos motivos, ás circunstancias e
conseqüências do crime”:
I – determinar a pena aplicável, dentre as cominadas alternativamente;
II – fixar, dentro dos limites legais, a quantidade da pena aplicável;
A rigor, nada além disso!. Enfim, a respeito da reparação, presentemente vige um princípio
resultante de normas codificadoras do Direito Civil, do Direito Processual Civil e mesmo do Direito
Processual Penal, pois que, em princípio, a obrigação de reparar o dano também decorre da
condenação criminal, mas haverá que ser demandada no juízo cível. A condenação penal é, assim,
um fato jurídico que traz imanente a obrigação de indenizar.

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