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CURSO: DIREITO
CRIMINOLOGIA
UNIDADE I – INTRODUÇÃO AO CURSO DE CRIMINOLOGIA
3-CONCEITO E DEFINIÇÃO
A palavra Criminologia deriva do latim “crimen” (delito) e do grego “logos” (tratado). Em
resumo, seria o “Tratado do Crime”.
Foi utilizada, pela 1ª vez, em 1885, pelo italiano Rafael Garófalo (designando-a como a
“ciência do crime”), contudo, já havia sido muito estudada e utilizada (embora não com esta
denominação) pelos igualmente italianos Cesare Lombroso e Enrico Ferri.
Para alguns, a Criminologia é o estudo do homem que delinqüe. Definindo a criminologia
como o tratado do delito, confundi-la-emos com o Direito Penal, que trata do delito, do delinqüente e
da pena. Aliás, qualquer matéria sobre criminalidade deve abranger esses três elementos.
A Criminologia, como não poderia deixar de ser, não é definida de maneira uniforme, existindo
muitas e variadas definições.
- Jean Merquiset: “Criminologia é o estudo do crime como fenômenos social e individual e de suas
causas e prevenção”.
- Kinberg: “Criminologia é a ciência que tem por objeto não somente o fenômeno natural da prática
do crime, como também o fenômeno da luta contra o crime”.
b) o estudo dos fatores básicos e do fenômeno natural da luta contra o crime (tratamento e
profilaxia), objetivando a ressocialização do delinqüente e a prevenção da criminalidade.
5-MÉTODO
Em seu livro Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica, ensina Vitorino Prata Castelo
Branco:
“Em geral, método é o meio empregado pelo qual o pensamento humano procura encontrar a
explicação de um fato, seja referente á natureza, ao homem ou á sociedade”.
E prossegue:
“O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do crime como ação humana,
abrangendo as forças biológicas, sociológicas e mesológicas que o induziram ao comportamento
reprovável, etc.”.
a) biológico;
b) sociológico
A esse respeito, aliás, é oportuno citar ainda uma vez Vitorino Prata, que reconhecendo a
condição de ciência da Criminologia, sublinha:
“Embora o homem seja o mesmo em qualquer parte do mundo, os crimes têm características
diferentes em cada continente,devido á cultura e á história própria de cada um. Há, pois, uma
Criminologia brasileira, como uma Criminologia chinesa, uma Criminologia iuguslava, enfim, uma
Criminologia própria de cada raça ou nacionalidade”.
Destarte, malgrado alguns que lhe neguem o caráter científico, aflora pacífico que a
Criminologia é ciência. Ciência que aborda o acontecimento delitivo em seus aspectos individual e
anti-social e na sua causação, inclusive destacando seus provocativos no intento de atenuar a
incidência delituosa.
a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do Direito Penal, Filosofia do Direito Penal e Direito Penal
Comparado;
Não será despiciendo recordar a conceituação sucinta das ciências que integralizam a
“Síntese Criminológica”. Vejamos:
a) Ciências Histórico-Filosóficas:
- História do Direito Penal: Vem a ser a pesquisa conexa dos fenômenos jurídico-penais de cada
povo;
- Filosofia do Direito Penal: se resuma na análise e crítica do Direito Penal naquilo pertinente aos
seus princípios, causas e modificações;
- Direito Penal Comparado: é a pesquisa sistematizada e em cotejo das legislações penais dos
diversos países;
b) Ciências Causal-Explicativas:
- Criminologia: é a ciência que estuda a causação do fenômeno criminal;
- Antropologia Criminal: perquire as características orgânicas e biológicas do delinqüente;
- Biologia Criminal: estuda o crime como acontecimento da vida do indivíduo;
- Sociologia Criminal: pesquisa o fenômeno delituoso sob o prisma da influencia ambiental na
conduta criminosa;
- Psicologia Criminal: estuda os caracteres psíquicos do delinqüente que influem na gênese do crime;
- Psicanálise Criminal: atenta para a personalidade do criminoso e para os processos íntimos que o
excitam á prática delitiva.
c) Ciências Jurídico-Repressivas:
- Direito Penal: é a ciência jurídica de reação social contra o crime;
- Direito Processual Penal: é a atividade estatal de tutela penal através de normas próprias;
- Direito Penitenciário: representa o compacto de regras jurídicas reguladoras da atividade jurídico-
carcerária.
A Criminologia teria, por assim dizer, uma concepção enciclopédica, eis que se utiliza do
campo de labor de outras ciências criminais. Daí também ser chamada “ciência de síntese”, porque
sua base científica está fincada nas contribuições proporcionadas pelas denominadas ciências do
homem (Antropologia, Biologia, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, etc.) quando voltadas para a
pesquisa do delito.
Efetivamente, para atender sua finalidade, a Criminologia não pode atuar isoladamente,
havendo que recorrer ao objeto de outras ciências, mesmo porque o conhecimento não se confina
nos limitativos de uma única ciência.
b) Criminologia e Direito Processual Penal: Tem ligação com este na medida em que ele
regulamenta a verificação do ato delituoso e faz o exame da personalidade do autor típico.
Cesare Bonesana, o Marquês de Becaria, dizia que a Justiça para ser justa deve ser rápida,
mas quando se vê um homem chegar na penitenciária condenado há 5 anos, depois de haver estado
no cárcere no decorrer de um processo que durou 4 anos, esta Justiça não pode ser justa.
É preciso meditar sobre a imensa injustiça que significa uma absolvição depois de muitos anos
de cárcere, pois se bem que existe uma indenização de caráter constitucional (art. 107 da CF), na
realidade esta só existe teoricamente. Embora existem não poucos casos de prisões ilegais,
raramente é requerida e concedida indenização, como no processo dos “Irmãos Naves”,
injustamente condenados por homicídio em que a suposta vítima apareceu viva após muitos anos,
tendo um dos irmãos condenados morrido na prisão. Foi concedida a indenização, confirmada pelo
STF. Mas na grande maioria dos casos, as pessoas sofrem as injustiças sem nada pleitear.
c) Criminologia e Direito Penitenciário: Nascido na Itália, com Giovanni Novelli, este Direito é
muito novo e refere-se á aplicação da pena. Pretende exercer todas as medidas destinadas á
aplicação individual da lei penal, a cada delinqüente em particular, objetivando a ressocialização do
delinqüente.
f) Criminologia e Sociologia Criminal: A Sociologia nos ensina a organização dos grupos sociais,
que são diferentes de acordo com a época e a localização, o que também é uma fase importante
para o conhecimento do homem delinqüente. Assim, a Criminologia relaciona-se com a Sociologia na
medida em que aquela demonstra que a personalidade criminosa é o somatório de fatores biológicos
e sociológicos em seu mais amplo sentido, integrados numa unidade psicossomática. A Sociologia
Criminal é a ciência que cogita do fenômeno social da criminalidade.
Tão grande afinidade há entre a Sociologia e a Criminologia, que uma das principais teorias
criminológicas, a que busca explicar a gênese dos delitos, leva o título de Teoria Sociológica.
Entende esta teoria que as pressões e as influencias do ambiente social geram o comportamento
delinqüente.
A Sociologia Criminal toma o crime como um “fato natural da vida em sociedade”, estudando-o
como expressão de certas condições do grupamento social, ocupando-se com os fatores exógenos
na causação do delito, bem como, suas conseqüências para a coletividade.
l)Criminologia e História: A História é uma ciência que nos serve para compreender o presente e o
futuro, baseando-se no passado; através dela conhecemos o passado, compreendemos o presente e
vislumbramos o futuro.
UNIDADE II – A CRIMINOLOGIA, A SOCIEDADE E O CRIME. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO.
b) A Sociedade e o Crime
Durkhein afirmava que “os fenômenos sociais são fatos naturais e devem ser estudados pelo
método natural, isto é, pela observação e, quando for possível, pela experimentação”.
Ora, o crime é um fenômeno social e a criminalidade depende do estado social. Tenha o crime
na sua gênese um fator exclusivamente endógeno (biológico) ou exclusivamente exógeno (meio
ambiente), ou a combinação de ambos os fatores, é inegável que o crime é uma manifestação de
vida coletiva, não fosse a existência de apenas duas pessoas considerada um grupo social.
Não pode existir criminalidade fora de um estado social qualquer.
Sendo o homem um animal gregário, sua vida em sociedade não implica, porém, em que não
haja uma unidade de consciência social, pois esta nada mais é que a resultante das consciências
individuais, que vão compor a maioria da unidade social.
A noção de uma igualdade humana, dentro do grupo, é radicalmente falsa. A natureza animal
não conhece a igualdade e toda filosofia zoológica repousa na desigualdade dos seres vivos e, ente
eles, as desigualdades mais acentuadas são as que se verificam no ser humano.
A desigualdade social é que induz á situações de conflitos, que podem terminar em
criminalidade, entendo-se esta como todos os atos que constituem infração penal.
A criminalidade, que não se concebe fora da vida grupal, nasce e se desenvolve dos
interesses colidentes de seus componentes. É como se a criminalidade fosse uma oposição do
indivíduo á sociedade. Por isso que também deriva de interesses personalíssimos.
O crime, social na sua etiologia, visto que suscitado pela existência em sociedade, é anti-
social nos seus efeitos.
Distingue-se, assim, a criminalidade, por firmar um conflito de vontades: de um lado a vontade
da sociedade, soma das vontades de seus integrantes ou resultado da volição da maioria, e, de outro
lado, a vontade individual de quem perpetra o crime, ou seja o delinqüente.
O crime, portanto, é o produto de dois fatores: o indivíduo (criminoso) e a sociedade.
c)O Fato criminoso
E. Glover, na obra The Roots of Crime, abordando o criminoso nato, comenta: “o crime
representa uma das parcelas do preço pago pela domesticação de um animal selvagem por natureza
(o homem), ou, é o resultado de sua domesticação mal sucedida”.
Infere-se, desse conceito, que o homem, não sendo tratado como ser humano, transforma-se
no mais violento e perigoso dos animais, posto que é o único que raciocina.
Incontestável é que o crime emana, primordialmente, de fatores sociais e, como tal, adquire a
imagem de uma fenomenologia individual e coletiva.
CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:
1º - Escola Clássica
2º - Escola Positiva
3º - Escola Socialista
CRIMINOLOGIA TRADICIONAL:
HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA:
a)Antiguidade remota
Nesta época não se encontra nada de concreto sobre Criminologia, nem entre hindus, sírios,
fenícios, hebreus, etc. Somente existem algumas normas, como os “Tabu”, que deviam ser aplicadas
para a segurança do grupo. Diante da transgressão de qualquer dessas normas surgia a reação
instintiva de defesa, que correspondia á pena atual.
Destaque deve ser dado ao famoso Código de Hamurabi (Babilônia), do Imperador
Hamurabi (1728-1686 a.C), que possuía dispositivo punindo o delito de corrupção praticado por altos
funcionários públicos.
Possuindo alguns aspectos punitivos, também destaca-se a legislação de Moisés (séc. XVI
a.C), parte integrante dos lIvros da Bíblia.
Confúcio (551-478 a.C) com a reflexão: “tem cuidado de evitar os crimes para depois não
ver-te obrigado a castigá-los”, demonstra o conhecimento da pena como gravame á uma má ação, o
que, induvidosamente, no mínimo, implica no entendimento de algo que, bem mais tarde, viria a ser
preocupação da Criminologia.
- Protágoras (485-415 a.C) sustentou o caráter preventivo da pena, falando no seu aspecto
de servir de exemplo e não de expiação ou castigo, opinião que faz por conferir-lhe, talvez, a
condição de precursor da Penologia, um dos ramos da Criminologia, que se ocupa com o
fundamento e aplicação das penas como medida de repressão e defesa da sociedade.
- Sócrates (470-399 a.C), pregador e grande oráculo grego, possuvelmente o homem mais
importante que o mundo já conheceu mercê de sua sabedoria e humildade, e que, infelizmente, não
legou nenhuma obra escrita para a posteridade, disse, através de Platão, divulgador de seus
pensamentos, que “se devia ensinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como não
reincindirem no crime, dando a eles a instrução e a formação de caráter de que precisavam”.
- Platão (427-347 a.C), ao afirmar que “o ouro do homem sempre foi o motivo de seus males”,
na obra A República, também emitiu conceito criminológico, ao pretender demonstrar que a ambição,
a cobiça, a cupidez davam origem á criminalidade, ou seja, fatores econômicos são desencadeantes
de crimes. Fundamentava a criminalidade em causas econômicas.
Apregoava, outrossim, Platão, que o meio, as más companhias, os costumes dissolutos,
podem converter as pessoas inexperientes, os jovens , em criminosos. Portanto, o criminoso é um
produto do ambiente.
Dizia que o criminoso era muito parecido com um doente, e que por isso, deveria ser tratado a
fim de ser reeducado ou curado, se possível; e eliminá-lo do pais, se não fosse possível a cura.
Platão foi o 1º a enfatizar o aspecto intimidativo da pena. Não se castiga porque alguém
delinqüiu, mas para que ninguém delinqua.
c)Idade Média
Inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C, quando os denominados
povos bárbaros o conquistaram, até a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do
Oriente, pelos turcos, em 1453, durante, portanto, nove séculos.
Nesta época os escolásticos e os “doutores da igreja” não se preocupavam com o problema
da criminalidade, até o surgimento de São Tomás de Aquino (1226-1274), aquele que viria a ser o
grande criador da chamada “Justiça Distributiva” (que manda dar a cada um aquilo que é seu,
segundo uma certa igualdade) e que, na Summa Contra Gentiles, afirmara que “a pobreza
geralmente é uma incentivadora do roubo” e, na Summa Theológica, defendeu o chamado “furto
famélico” que, nos dias atuais, na legislação penal brasileira, é consagrado como “estado de
necessidade”, uma das quatro excludentes de crime.
No século XIII, Afonso X, O Sábio, no Código das 7 Partidas, dá uma definição de
assassintao e fala do crimen proditorium (premeditado) e do crimen sicatorium (mediante
remuneração).
Art. 61 CP. São circunstancias que sempre agravam a pena, quando não constituírem ou
qualificarem o crime:
II. ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
c) á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa da vítima.
- Metoposcopia: estuda o caráter do indivíduo pelo exame e observação das rugas da fronte;
- Quiromancia: estuda o caráter do indivíduo com base na análise de seu passado, o que é
feito pela “leitura” das linhas das mãos, prevendo, então, o futuro do indivíduo.
1- Filósofos e pensadores:
a) Thomas Morus (1478-1535): publicou Utopia (obra de grande importância para estudos e
consultas até os dias de hoje), onde descreve a enorme onda de criminalidade que assolava a
Inglaterra nessa época. Em sua obra, Morus imaginava uma sociedade idílica (e essa era sua
utopia), onde um governo organizado da melhor maneira proporcionaria boas condições de vida a
um povo, que assim seria equilibrado e feliz. Morus dizia que em um país, quando o povo é
miserável, a opulência e a riqueza ficam em poder das classes superiores e essa situação
economicamente antípoda faz gerar um maior nº de crimes. Portanto, Morus já sinalizava o fator
econômico como uma das causas da criminalidade. Morus propugnava por penas menos rigorosas e
que elas fossem correspondentes á natureza dos delitos. Ele foi o 1º a expor a necessidade de
graduar as penas proporcionalmente aos delitos.
2-Penólogos e Penitenciaristas
No início do século XVIII, não existiam propriamente prisões e as que havia mantinham-se em
péssimas condições. Os juízes eram unilaterais e arbitrários. A confissão era a rainha das provas
(regina probatione), obtida através de torturas. Os primeiros aspectos de prisões, que podem ser
considerados como precursores das atuais, estabeleceram-se em Amsterdam (Holanda) em 1611.
Os detentos eram submetidos á trabalhos forçados sem nenhuma utilidade prática, como moer
pedras, extrair areia, etc.
Contra este estado de coisas levantaram-se filósofos e humanistas, dentre eles:
a) Montesquieu: escreveu a famosíssima obra O Espírito das Leis (L’esprit des lois), onde
proclamava que o bom legislador era aquele que se empenhava na prevenção do delito, não aquele
que simplesmente se contentasse em castigá-lo. “Ao invés de funcionar como castigo, a pena
deveria ter um sentido reeducador”, dizia ele.
b) Jean Jacques Rousseau: em sua obra de maior importância e divulgação, Contrato Social,
assevera que, se o Estado for bem organizado,existirão poucos delinqüentes e na obra Enciclopédia,
diz que “a miséria é a mãe dos delitos”.
c) Voltaire: dizia que o roubo e o furto são os delitos do pobre. Foi um dos primeiros a advogar o
trabalho para os apenados.
d) Jeremias Bentham: é o criador da doutrina do “utilitarismo, cujo lema é: “o maior bem estar
para o maior número”. Nesta doutrina está envolvida a maior parte dos princípios da profilaxia da
criminalidade. Bentham foi o 1º a referir-se á certas medidas preventivas do delito (substitutivos
penais).
e) John Howard: preocupou-se com especial devoção á melhoria das prisões. Visitou inúmeras
prisões pela Europa, vindo a falecer de uma peste que adquiriu em uma delas. Escreveu uma
importante obra sobre as prisões, denominada “The state of prison”, O Estado das Prisões. Howard é
considerado o criador do sistema penitenciário.
Beccaria nasceu em Milão, Itália, e teve a audácia, aos 27 anos de idade, de afrontar os
costumes penais e as arbitrariedades da Justiça Criminal de seu tempo, publicando a obra Dos
Delitos e das Penas na cidade de Livorno, de forma clandestina, temendo possíveis represálias. Tal
livro causou muito impacto, sendo veemente atacado por todos aqueles que, de uma forma ou de
outra, foram por ele atingidos ou porque não concordassem com suas proposições.
Sua obra é um protesto contra o injusto, cruel e arbitrário procedimento da Justiça Criminal.
Em um dos capítulos finais, dizia: “Para que todo o castigo não seja um ato de violência exercido por
um só ou por muitos contra um cidadão, deve essencialmente ser público, pronto, necessário,
proporcional ao delito, ditado pelas leis e o menos rigoroso possível, atendidas todas as
circunstancias do caso”.
- A atrocidade das penas opõe-se ao bem público (Princípio da humanização das penas);
- As acusações não podem ser secretas (Princípio da Publicidade);
- As penas devem ser proporcionais aos delitos (Princípio da Proporcionalidade das Penas);
- As penas devem ser moderadas;
- As penas devem ser previstas em lei (Princípio da Legalidade, da Anterioridade ou da
Reserva Legal);
- Somente os magistrados é que podem julgar os acusados (Princípio da Jurisdicionalidade);
- Não se pode admitir a tortura do acusado por ocasião do processo (Princípio da Proibição de
tortura, da Humanidade e da Dignidade);
- O réu jamais poderá ser considerado culpado antes da sentença condenatória (Princípio da
Presunção de Inocência);
- Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos;
- Não tem a sociedade o direito de aplicar a pena de morte nem de banimento.
- O objetivo da pena não é atormentar o acusado e sim impedir que ele reincida e servir de
exemplo para que os outros não venham a delinqüir;
3- Fisiognomistas:
Trata-se de uma ciência que procura estudar o indivíduo pela análise de suas expressões
fisionômicas, ou seja, de seu rosto.Entre os principais fisiognomistas, destaca-se Charles Darwin
(1809-1822), criador da famosa “Teoria da Evolução” (a evolução modifica o homem), e que trouxe
inegável importância no que diz respeito á origem do homem, sendo que suas idéias foram
influências para Lombroso, sobretudo quando este aborda sobre o atavismo, o qual é um conceito
darwiniano.
4- Frenólogos:
A Frenologia é uma ciência que estuda o indivíduo não só com base nas expressões
fisionômicas, mas, também, com base na configuração do crânio. O criador da Frenologia temsido
Joseph Gaspard Lavater, porém, mais importante que ele para a Frenologia, é Johan Frans Gall,
que foi o 1º a relacionar a personalidade do delinqüente com a natureza do delito por ele praticado.
3ª - ESCOLA POSITIVA: Estuda as causas do crime. Afirma que este é o resultado de deformações
e malformações congênitas, biológicas, físicas e psicológicas. O homem delinqüe não porque quer e
sim porque é doente. Logo, a pena, aqui, não é castigo, e sim, tratamento. O homem é um criminoso
nato, já nasce com tendência a delinqüir, a violar as leis e é identificado pelo seu perfil físico-
biológico.
Este período é conhecido como Período da Antropologia Criminal ou Período de Lombroso.
Vejamos:
a) LOMBROSO:
Lombroso foi o criador da chamada Antropologia Criminal (ou Biologia Criminal, como a
consideram os alemães), ciência que difere-se da Antropologia Geral, pois não estuda apenas o ser
humano, mas sim o ser humano delinqüente, ou seja, o homem criminoso, procurando analisar,
também, os fatores individuais do crime (nele compreendendo os endógenos e os exógenos).
Conhecer o homem é conhecer a razão humana, a essência dessa razão, o que o move
através da História. Afinal, como dizia Marx, “o primeiro objeto do homem é o homem”.
Lombroso preocupou-se com esses aspectos da História humana e estudou o homem, que
através de suas ações, de seu comportamento, é considerado delinqüente e, a esse homem,
Lombroso conferiu caracteres morfológicos, como saliente em sua obra L’uomo Delinqüente, onde
diz: “o estudo antropológico sobre o homem criminoso deve necessariamente basear-se nas suas
características anatômicas”.
Lombroso nasceu em 1835, em Verona. Na juventude foi estudante de Medicina, havendo
interessado-se especialmente pela Psiquiatria. Apenas formou-se em Medicina, ingressou no
exército como médico militar e ao visitar os cárceres teve o primeiro contato com os criminosos.
Depois ingressou nas prisões para criminosos alienados, chegando a ser médico do “manicômio
judiciário” de Pesaro, onde praticou a autópsia em grandes delinqüentes da Calábria e Sicília,
chamados “grassatori”, tendo examinado muitos destes. O primeiro que lhe chamou a atenção foi um
tal de Vilella, em cuja autópsia observou uma terceira fosseta occipital. Esse foi o “eureca” de
Lombroso.
Essa fosseta dá origem á sua teoria do “atavismo”, porque também é encontrada em alguns
crânios de homens primitivos.
De 1871 a 1876, Lombroso continua trabalhando com esses elementos e publica uma séria de
folhetos sob o nome de “L’uomo Delinqüente”, que adquiriram tam importância e desenvolvimento,
que a 6ª edição, publicada em Turim, em 1901, compreende 4 volumes e 1 atlas.
Lombroso é considerado o “Pai da Criminologia Moderna”. Seu grande mérito foi ter
desviado a atenção da Justiça para o homem que delinqüe.
- Teoria de Lombroso:
Lombroso criou a “teoria do criminoso nato”, ou seja, um indivíduo que já nasce criminoso
segundo seu aspecto físico, suas malformações congênitas. Assim, para Lombroso, o criminoso já
nasce criminoso, ou seja, é um delinqüente nato, de acordo com sua aparência externa, biológica,
antropológica. Ou seja, o criminoso, para Lombroso, tem cara de criminoso e já nasce com essa
cara.
O criminoso nato se explica, segundo esta teoria, pelo chamado “atavismo” que é o
aparecimento, em um descendente, de um caráter não presente em seus ascendentes imediatos,
mas sim em remotos, como por exemplo, se um membro de determinada família apresente uma
polidatilia, que é a anomalia congênita de possuir dedos a mais que o normal, e não existir nessa
família ninguém nas mesmas condições, dir-se-á que é uma malformação atávica. Lombroso chegou
ao atavismo após fazer a autópsia no cadáver de Vilella, onde encontrou a terceira fosseta occipital
ou média, a qual é encontrada também, em alguns crânios de homens primitivos.
Lombroso julgou, também, ter encontrado relação entre a epilepsia e a chamada “moral
insanity” (insanidade moral), ou seja, para ele todo o epilético era um criminoso nato e, pois, um
doente mental.
- Ferocidade e multiplicidade extraordinária das lesões. O delinqüente epilético não provoca somente
um ferimento, mas muitos;
- O delinqüente epilético não tem cúmplices; age sozinho, pois o faz fora de si;
- Perde a lembrança do ato, esquece-o; pode lembrá-lo, ás vezes, porém, com imprecisão.
- Criminoso nato: era por ele encontrado entre 30% e 35% da massa delinqüente, ou seja, num termo
médio de 33%.
- Criminalóide: conceito puramente lombrosiano, que se refere ao meio delinqüente, similar ao “meio
louco”. Considerava-se aqui, os pseudo-delinquentes que já tivessem tido contato nos cárceres com
os criminoso natos e que já não podiam ser considerados pseudo-delinquentes, porque já possuíam
certa malícia criminal.
Nos seus estudos para definir o criminoso nato, Lombroso primeiro o comparou á um
selgavem, por ser a conduta do criminoso nato parecida com a dos homens das cavernas; depois
comparou-o com a criança, baseado no egocentrismo desta, por sua vaidade e egoísmo. Mais tarde,
sem abandonar essas teorias, referiu-se á loucura moral e, somente no final dos estudos, focalizou a
epilepsia.
1ª- Avaliar a criminalidade com base na aparência física. Para Lombroso, todo o indivíduo que
tivesse as características já mencionadas era um criminoso nato. Contudo, é certo que há
delinqüentes que apresentam os traços lombrosianos; mas também encontramos esses traços em
homens inteligentes não delinqüentes, ou mesmo em débeis mentais não delinqüentes, como
também, há criminoso que não apresentam tais traços. As características anatômicas das
anormalidades morfológicas são próprias tanto dos delinqüentes como dos não delinqüentes;
2ª- Avaliar a criminalidade com base na epilepsia. Para Lombroso, todo o epilético era u criminoso
em potencial. Comprovou-se haver epiléticos delinqüentes, da mesma maneira que não
delinqüentes;
3ª- Avaliar a criminalidade com base em taras degenerativas (daltonismo, surdez, precocidade
sexual, tatuagens, etc.) ou taras psicológicas (vaidade, crueldade, uso de gírias, tendências
alcoólicas, etc). Se é verdade que nos criminoso observam-se muitas destas taras, não é menos
verdade que há indivíduos normais que também as apresentam e criminosos que não apresentam
nenhuma.
Não obstante as inúmeras críticas que são feitas, a teoria de Lombroso tem o mérito
extraordinário – que imortalizará seu nome- de haver desviado a atenção do fato delituoso para o
homem delinqüente.
A polêmica mais importante que se originou foi estabelecer quais os fatores que mais influem
na conduta do indivíduo criminoso: os endógenos ou os exógenos? O criminoso nasce ou é feito?
Lombroso, Ferri e Garófalo eram partidários dos fatos endógenos (ele nasce criminoso).
Para Ferri o importante não é castigar e sim prevenir.
Ferri teria sido o criador da expressão “criminoso nato”, isto em 1881. É o que ele próprio
admite em seu livro “Os Criminosos na Arte e na Literatura”, onde, em determinado trecho, expõe:
“os delinqüentes a que eu dava, em 1881, o nome de criminosos natos”.
- Nato: tipo instintivo de criminoso, descrito por Lombroso,com seus estigmas de degeneração;
- Louco: não só o alienado mental, como, também, os semi-loucos, os fronteiriços;
- Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito;
- Habitual: o indivíduo que faz do crime a sua profissão;
- Passional: aquele que é levado ao crime pelo ímpeto, pelo arrebatamento. Cometem o delito
impulsionados por uma paixão que explode como cólera, em virtude de um amor contrariado, de uma
honra ofendida. Geralmente são mulheres e cometem o crime sem premeditação. São indivíduos que
têm alguma coisa de louco.
- Os que cometem delitos legais, estabelecidos em textos positivos como Códigos, regulamentos,etc:
bastaria uma simples advertência e a obrigação de reparar o dano;
- Os que cometem delitos naturais, ou seja, próprios de criminosos natos: pena de morte ou expulsão
do país.
a) Augusto Comte:
É considerado o fundador da Sociologia Moderna (ciência abstrata que tem por fim a
investigação de leis gerais que regem os fenômenos sociais).
b) Adolphe Quetelet:
Foi o criador da Estatística Científica, dando origem ao aparecimento da Estatística
Criminal.
Escreveu Física Social, em 1835, no qual formula 3 princípios:
- o delito é um fenômeno social;
- os delitos se cometem ano após ano com total precisão;
- vários fatores influenciam no cometimento do crime, como a miséria, o analfabetismo, o clima, etc.
I- no inverno se cometem mais delitos contra a propriedade, donde se deduz que nesta época
do ano são maiores as necessidades para a sobrevivência do homem;
II- no verão se cometem mais crimes contra a pessoa, devido á efervescência maior das
paixões humanas, provocada pelo aquecimento pelo sol;
- Manouvrier: Professor de Antropologia da Universidade de Paris, não tem outro mérito que
não seja ter sido o braço direito de Lacassagne na sua luta contra as doutrinas de Lombroso.
1-Identidade Pessoal – somente pode ser considerado penalmente responsável quem guarde
semelhança estreita entre o ato cometido e a sua personalidade, ou seja, quem antes, durante ou
depois do delito seja o mesmo sujeito. Se um indivíduo apresenta, depois do delito, uma falta de
similitude com a sua personalidade anterior ao delito, não é um indivíduo normal e estaremos diante
de um provável transtorno mental. Este em sido o conceito que tem servido de base para a fixação
das circunstancias atenuantes da responsabilidade criminal que os Códigos estabelecem em favor
dos alienados.
2-Semelhança Social: não pode ter responsabilidade penal o indivíduo que não tem relação com o
grupo social em que convive, como o inadaptado, que possui um instinto impulsivo irrefreável e que
não mantem nenhuma conexão com o grupo. Para o inadaptado social propõe medidas preventivas.
1- A Terza Scuola;
2- A Escola Espiritualista;
3- A Escola da Política Criminal, que é a que dá o nome á esse período da Criminologia.
4- Criação dos Institutos de Criminologia e Gabinetes Penitenciários de Antropologia
5- Criação de Organismos Internacionais
1- A Terza Scuola:
É uma escola de Direito Penal e apresenta e postulados:
- Que o Dto. Penal deve manter-se como ciência independente, de vez que a teoria lombrosiana
tinha a tendência de incluí-lo dentro da Criminologia.
- Que os penalistas, junto com os sociólogos, devem fazer o possível para obter as reformas sociais
mais necessárias, tendentes a modificar as condições em que vive a massa.
2- A Escola Espiritualista:
Sustenta que cada indivíduo tem o livre arbítrio de fazer o que lhe dá prazer, ou seja,
prevalece apenas a vontade própria de cada indivíduo, sem qualquer limitação.
Esse conceito não foi aceito e logo surgiu a escola Neo-Espiritualista.
- Escola Neo-Espiritualista: Afirma que se é verdade que o homem tem liberdade, ela não existe no
sentido amplo, mas tem certas limitações impostas pelo meio ambiente. A liberdade é um conceito
filosófico e político, que analisado com critério realista, nos demonstra que somos escravos da hora,
do dever, das conveniências sociais, da rotina, dos comentários alheios, etc.
- Manzini: “Política Criminal é o conjunto de conhecimentos que podem levar a realizar um plano
real e não utópico”. (Tratado de Direito Penal)
- Guillerno Portella: “Política Criminal é o conjunto de ciências que estudam o delito e a pena, com
o fim de descobrir as causas da delinqüência e determinar seus remédios”.
- Franz Von Liszt: “Política Criminal é o conjunto sistemático de princípios, segundo os quais o
Estado e a sociedade devem organizar a luta contra o crime”. Liszt é considerado o “Pai da Política
Criminal”, tendo publicado importante obra (Princípios de Política Criminal) em 1889.
“Política Criminal nada mais é que os princípios, produtos da investigação científica e da experiência
sobre os quais o Estado deve se basear, para prevenir e reprimir a delinqüência”.
- American Institute for Criminal Law: Criado nos EUA, propôs a adoção de numerosas
medidas profiláticas em muitos Estados, baseando-se, para isto, na Estatística.
FATORES ENDÓGENOS
BIOTIPOLOGIA CRIMINAL
1 GENERALIDADES:
A Biologia é a “ciência dos seres vivos analisados sobre os prismas fisiológico, morfológico e
evolutivo”.
Compete á Biologia fixar o biótipo da pessoa.
Biótipo: é o conjunto de caracteres morfo-físico-psicológicos do indivíduo. Deflui, portanto, que
o método da Biologia é o da experimentação e seu objeto é a constelação de indivíduos.
Referindo-se á Biologia Criminal, entende o insigne jurisconsulto Edgard Magalhães Noronha,
que ela se identifica perfeitamente com a Antropologia Criminal. Ambas representam uma só
disciplina, eis que voltadas para o estudo dos caracteres fisiopsíquicos do delinqüente em
consonância com a influencia externa, no escopo do esclarecimento da gênese criminógena.
Noronha entende que o fator biológico instintivo é o determinante de todo o ato infracional.
2 A HERANÇA GENÉTICA
A herança é “a lei biológica em virtude da qual todos os seres vivos tendem a repetir-se em
seus descendentes”. Quer dizer, os pais transmitem aos filhos toda a bagagem que receberam de
seus ancestrais, ou seja, todas as características biológicas, fisiológicas e psicológicas dos seus
descendentes.
O meio ambiente, o mundo que nos rodeia, não é capaz de criar nada, apenas de acelerar ou
frear, expandir ou restringir a herança natural. A herança pode ser influída pelo meio ambiente, mas
não é capaz de criar nada.
Existem alguns aspectos ou caracteres que são essências na hereditariedade. Vejamos quais:
1º) A herança existe para todos os caracteres, sejam eles favoráveis ou não. Assim como se
transmitem caracteres bons (a inclinação para a música, na família dos Bach, por exemplo), também
se transmitem os negativos (a hemofilia, na família dos Habsburgos, por exemplo).
2º) A herança não é igual nem fatal para todos os descendentes do mesmo casal. Os únicos seres
considerados idênticos são os gêmeos verdadeiros, ou seja, os univitelinos (gêmeos que nascem de
1 só ovo).
4º) Habitualmente, a herança é bilateral, isto é, os caracteres são transmitidos tanto do pai quanto da
mãe.
3- A HERANÇA DO HOMEM
- Caracteres Fisiológicos: Podemos citar aqui o tipo de morte característico de determinadas famílias
(como os doentes cardíacos); a fecundidade (observam-se famílias tipicamente não prolíferas); o tipo
de menstruação nas mulheres; a força muscular; a pressão arterial (famílias de hiper-tensos);
atitude geral (maneira de ser, de andar, o tom da voz, os “tiques”), etc.
- Caracteres Psicológicos: Há certas aptidões artísticas que se constatam com certa freqüência na
evolução de determinadas famílias, como a inclinação musical nas famílias de Bach, Strauss, etc.
Isto se deve á herança ou ao fato das crianças pertencentes a essas famílias terem nascido e
crescido em um ambiente musical??? Por outro lado, tivemos grandes gênios musicais, cientistas e
sábios, cuja descendência não herdou tais características. O geneticista alemão Hoffmann sustenta
que a inteligência é hereditária e está ligada ao sexo: os filhos têm mais possibilidades de herdar as
características de inteligência do pai e as filhas da mãe. No que diz respeito ao caráter, os filhos
herdariam o da mãe e as filhas o do pai. Evidente, entretanto, que todos esses caracteres não
podem escapar da influencia de fatores ambientais.
8- Doenças do Aparelho Genital: criptorquidia (ausência de testículos no escroto, que pode ser
parcial ou total, faltando, pois, um ou ambos os testículos);
9- Doenças da Pele, Cabelos e Dentes: Parece que há uma certa influencia hereditária com
relação á algumas doenças, como eczema, urticária, edema paroxístico (inchaço dos lábios ou
pálpebras inferiores que costuma aparecer em famílias de neuróticos), calvície, cabelos
brancos, determinadas afecções dentárias (cáries, gengivites, por exemplo, tendo-se
observado famílias inteiras com má estrutura dentária);
11- Doenças dos Órgãos dos Sentidos: surdez, surdo-mudez, daltonismo, albinismo, etc;
12- Epilepsia: A qual pode ser de dois tipos: Essencial e Jacksoniana. Essencial é aquela
característica dos indivíduos que não tenham sofrido grandes acidentes na sua vida, sendo,
portanto, uma epilepsia sem causa justificável e explicável. A Jacksoniana (de Jackson, que
descreveu a epilepsia adquirida), é aquela explicável, tendo origem conhecida, pois há sempre
uma lesão agindo como pólo de irritação (ossos que se desprenderam, formação de pus
enquistado, etc) o que pode irritar o córtex cerebral, provocando, assim, a crise epilética. A
epilepsia Essencial é incurável; a Kacksoniana é curável numa expressiva porcentagem, pois
é muito possível localizar a causa irritativa e eliminá-la. Quanto ás possibilidades de
transmissão hereditária seria a epilepsia Essencial a única suscetível de sê-lo, pois a
Jacksoniana é adquirida e, como tal, não transmissível hereditariamente;
13- Doenças Mentais: Segundo pesquisa realizada por diversos autores de criminologia, há a
probabilidade 30% a 60% de transmissibilidade de doenças mentais. A herança dessas
doenças pode ser direta, quando se herda de ascendentes diretos, ou seja, de pais para filhos
(caso das famílias de esquizofrênicos), ou indireta, também chamada de atávica, quando
aparece na linha colateral (como ocaso do sobrinho que herda uma doença mental do tio, ou
doenças que vêm de gerações anteriores);
14- Doenças do Caráter: De um modo geral, poderíamos dizer que o caráter é constituído pelas
características fundamentais de um indivíduo que pautam a sua conduta. Não
podemos,porém, negar, a influencia que o meio exerce sobre o caráter. Geralmente podemos
dividir os indivíduos segundo a sua maneira de ser em 2 grandes grupos:
a) o indivíduo ciclotímico: é o que tem períodos variáveis de bom ou mal humor. Quando esta
característica se acentua, encontramo-nos diante da personalidade ciclóide, que em seu mais
elevado grau, gera a psicose maníaco depressiva ou psicose circular. Neste último estado, o
indivíduo passa a ser um verdadeiro doente mental;
b) o indivíduo esquizotímico: é de uma grande vida interior, fechado ao ambiente, cujas reações
aos estímulos externos são diferentes em diversas ocasiões. Assim, um indivíduo deste caráter,
diante de uma determinada brincadeira, poderá ás vezes rir francamente e em outras permanecer
indiferente. Quando esta característica se acentua, temos a personalidade esquizóide, que, em sua
fase de maior gravidade, pode dar lugar ao aparecimento da doença chamada esquizofrenia ou
demência precoce.
15- Oligofrenias: é aquela doença que se caracteriza pela falta de inteligência no indivíduo.
Apresenta-se em 3 estados:
a) O idiota: é o estado mais grave, pois o indivíduo não atinge idade mental superior a 3 anos; deve
ser alimentado por terceiros, feita sua higiene, etc., sendo incapaz de cuidar de si mesmo;
b) O imbecil: de idade mental superior a 3 anos e inferior a 7; fala mais corretamente, consegue
aprender a ler um pouco e a assinar o próprio nome;
17- Alcoolismo: Acredita-se muito que o alcoolismo seja hereditário. No entanto, não podemos
saber até que ponto influi no filho o mal exemplo de seus pais, a imitação destes, etc. Existem
características alcoólicas que é possível que sejam hereditárias como a dipsomania, que quer
dizer o impulso incoercível para beber.
18- Outras Toxicomanias: Morfismo, cocainismo, etc. Nestes casos, não se herdaria uma
tendência exclusiva para usar a morfina ou ingerir a cocaína, mas apenas uma predisposição
ao uso dos tóxicos ou drogas em geral.
c) Herança do Crime:
Desde do século XVIII, que são formuladas várias teorias científicas para explicar as causas
do delito. O médico alemão Franz Joseph Gall, procurou relacionar a estrutura cerebral com as
inclinações criminosas. No final do século XIX, o criminólogo Cesare Lombroso afirmava que os
delitos são cometidos por aqueles que nascem com certos traços físicos hereditários reconhecíveis,
teoria essa refutada no começo do século XX, por Charles Goring, que efetuou um estudo
comparativo entre delinquentes encarcerados e cidadãos respeitadores da lei, concluindo que não
existem os denominados “tipos criminais” com disposição inata para o crime. Na França,
Montesquieu procurou relacionar o comportamento criminoso com o ambiente natural e o físico.
Por outro lado, estudiosos ligados aos movimentos socialistas consideram o delito como um
efeito derivado das necessidades da pobreza. Outros teóricos relacionam a criminalidade com o
estado geral da cultura, sobretudo pelo impacto desencadeado pelas crises econômicas, pelas
guerras, pelas revoluções e pelo sentimento generalizado de insegurança, derivado de tais
fenômenos.
No século XX, psicólogos e psiquiatras desenvolvem estudos teóricos no sentido de indicar
que cerca de um quarto da população reclusa é composta por indivíduos com comportamentos
psicóticos, neuróticos ou também por indivíduos de instabilidade emocional e o outro quarto,
padecem de deficiências mentais.
Freqüentemente, são mencionadas enfermidades que se herdam. Em nossos estudos vamos
tratar de ver se o crime em si tem relação com a herança.
Diversos distúrbios de conduta, e dentre eles a delinqüência de adultos, a criminalidade
juvenil, a homossexualidade, etc., indicam a presença de um fator genético predisponente, sem
desprezar o fator ambiental, é claro.
Pesquisas encetadas na Dinamarca sobre a projeção dos fatores genéticos e ambientais na
tela da criminalidade relataram que, quando o pai biológico e o adotivo não eram delinqüentes, ou
quando somente o adotivo era criminoso, as taxas de criminalidade entre os filhos eram praticamente
iguais. Todavia, sendo delinqüente apenas o pai biológico, a taxa se elevava ao dobro, ascendendo
ao triplo quando ambos os pais eram criminosos. Isto quer dizer que, a criminalidade dos pais natural
e adotivo e, eventualmente, a ocorrência de moléstia mental na mãe, são fatores que chegam a
marcar presença na gênese da delinqüência dos filhos.
Aliás, para as aplicações da Genética no campo da Criminologia, muitos geneticistas vêm,
procurando identificar a transmissibilidade de fatores que gerariam o crime. Tais pesquisas têm sido
realizadas de vários modos: Primeiramente foram estudados grupos sociais, depois aglomerados
étnicos e, particularmente, núcleos familiares, os quais, pela alentada incidência de membros que se
apresentaram como autores de ações delituosas ou como indivíduos de conduta social perniciosa,
viriam atestar essa transmissibilidade.
Dugdale, por exemplo, investigou a família Juke, reconstituindo sua genealogia até chegar ao
antepassado comum: o individuo Marx Juke, nascido em 1720. Na família aconteceram diversas
uniões ilegítimas. Foram pesquisados 700 descendentes de Marx Juke, sendo que mais da metade
era constituída de criminosos, prostitutas, vadios, etc. Verificou-se que 310 eram indigentes, 440
foram descritos como portadores de doenças físicas graves, 50% das mulheres eram prostitutas e
130 haviam praticado diferentes crimes, sendo que entre elas, existiram 7 homicidas. Em 1915, outro
pesquisador deu continuidade ao trabalho de Dugdale, voltando a pesquisar á Família Max Jukes, já
nessa ocasião com 2.094 descendentes. Dentre estes foram encontrados 76 desajustados
socialmente, 171 criminosos, 277 prostitutas, 282 ébrios contumazes, 323 tipicamente degenerados
e 255 mais ou menos corretos,
Outra família pesquisada foi a família francesa Chrétien, que teve 3 filhos: Píer, assassino,
teve 1 filho também assassino; Tomás teve 2 filhos assassinos e 1 neto ladrão reincidente; Jean teve
7 filhos, sendo 4 ladrões e 2 filhas ladras, uma das quais teve 2 filhos assassinos e 4 ladrões; a
terceira filha teve 1 filho assassino.
Também na família Zero, foram estudados 310 descendentes, dos quais 12% foram
criminosos, 28% imorais e indigentes, 41% vadios e somente 19% foram indivíduos tidos como
normais.
a) Influencias Mecânicas: São os traumatismos. Um golpe sofrido pela mãe pode chegar a
produzir o aborto ou a morte do feto sem expulsão, ou seja, dentro do ventre materno.
b) Influencias de Tipo Físico: Podemos considerar a ação da luz, do calor, os raios X, o radium, a
eletricidade, etc, que podem causar anomalias no feto ou retardamento no desenvolvimento.
- Adolescência: A puberdade é a etapa da vida da pessoa que se caracteriza por uma ´serie de
mudanças morfológicas, funcionais e psicológicas. O período da adolescência abrange
aproximadamente a faixa etária entre os 15 e 25 anos.
Existem, nesse período, uma série de fatores que podem ter importância definitiva na vida
posterior do indivíduo.
Influem, nesse período, o nascimento das tendências heterossexuais. Enquanto o lactante
encontra o prazer sexual em si mesmo, posteriormente esta etapa narcisista passa para uma
homossexualidade que é normal na criança, mormente quando vive em um ambiente de
promiscuidade. Existem também, nesse período, tendências incestuosas que se manifestam com
maior freqüência do que se supõe.
Na última etapa, em torno dos 15 anos, desaparece essa tendência homossexual ou
incestuosa e aparecem as tendências heterossexuais. No entanto, é uma etapa na qual advém um
complexo de timidez que está relacionado com outros fatores, entre os quais a moral de cada família.
Em lares muito religiosos, onde os problemas sexuais são “tabu”, o ato sexual é considerado
pecaminoso, degradante, o que podem produzir efeitos negativos na vida adulta, levando o indivíduo
a cometer crimes sexuais.
Por outro lado, o deficiente ambiente moral em que se vive gera idéias errôneas no menino,
como ter atos de virilidade, conhecer o sexo precocemente, embriagar-se, fumar, etc.
As emoções, no adolescente, são mais intensas do que em qualquer outra idade.
O adolescente, sob o aspecto social, político, etc., é extremamente impulsivo. Observa os
fenômenos sociais, políticos e outros de um ponto de vista muito especial. Trata-se de impor as suas
próprias soluções aos diversos problemas que aborda.
IDADE E SEXO
Continuando o estudo dos fatores endógenos do crime, vamos analisar a influencia que
poderiam ter na criminalidade a idade e o sexo.
Segundo Cláudio Beato, pesquisador da UFMG, “sexo e idade são os dois únicos fatores
inequivocamente relacionados á criminalidade”.
EUROPA
- Alemanha: 14 anos
- Dinamarca: 15 anos
- Finlândia: 15 anos
- França: 13 anos
- Itália: 14 anos
- Noruega: 15 anos
- Polônia: 13 anos
- Escócia: 8 anos
- Inglaterra: 10 anos
- Rússia: 14 anos
- Suécia: 15 anos
- Ucrânia: 10 anos
ÁSIA
- Blangadesh: 7 anos
- China: 14 anos
- Coréia do Sul: 12 anos
- Filipinas: 9 anos
- Índia: 7 anos
- Indonésia: 8 anos
- Japão: 14 anos
- Maynmar: 7 anos
- Nepal: 10 anos
- Paquistão: 7 anos
- Tailândia: 7 anos
- Uzbequistão: 13 anos
- Vietnã: 14 anos
ÁFRICA
- África do Sul: 7 anos
- Argélia: 13 anos
- Egito: 15 anos
- Etiópia: 9 anos
- Marrocos: 12 anos
- Nigéria: 7 anos
- Quênia: 8 anos
- Sudão: 7 anos
- Tanzânia: 7 anos
- Uganda: 12 anos
AMÉRICA DO NORTE
- Estados Unidos: entre 6 e 18 anos, conforme a legislação estadual
- México: 11 ou 12 anos para a maioria dos estados
AMÉRICA DO SUL
- Argentina: 16 anos
- Brasil: 18 anos
- Chile: 16 anos
- Colômbia: 18 anos
- Peru: 18 anos
ORIENTAL MÉDIO
- Irã: 9 anos (mulheres) e 15 anos (homens)
- Turquia: 11 anos
2º- Sexo: Seguindo o critério estatístico, existe um axioma no sentido de que a criminalidade
feminina é extraordinariamente menor que a do homem. As estatísticas nos revelam que a sexta
parte dos crimes cometidos, o são pelas mulheres e o resto pelos homens. Jovens do sexo
masculino, por uma série de razões, são a clientela mais comum do crime, seja como agentes, seja
como vítimas.
Outro fato interessante é que a criminalidade feminina aumenta á medida que aumenta a
participação da mulher na vida social, política e econômica do pais. Verificou-se que a mulher tem
uma astúcia especial para lograr impunidade nos delitos nos quais incorre. É mais astuta na
elaboração do delito, em apagar ou fazer desaparecer os vestígios, etc. Por esta razão, muitos
infanticídios, abortos, envenenamentos, etc., jamais são descobertos.
UNIDADE IV - CRIMINOLOGIA CLÍNICA
1- CARÁTER E NARCISISMO
O caráter significa a maneira psíquica de um indivíduo reagir aos acontecimentos, o aspecto
psicológico da personalidade, mais particularmente, a nota afetivo-volitiva. Aliás, a tentativa de
estabelecimento de tipos morfológicos é antiga, tendo iniciado com Hipócrates.
René Le Senne foi um dos primeiros criminalistas a estudar o caráter do criminoso, a ponto de
criar a chamada Escola Caracterológica Francesa que conceitua a Caracterologia como “o
conhecimento metódico dos homens desde que cada qual se destaque por sua originalidade”. Assim,
o objeto da Caracterologia é o homem completo em sua realidade. A Caracterologia se restringe, em
última análise, á determinação de fatores de estrutura congênita e sólida do indivíduo. Visa os fatores
constitutivos do caráter (como a atividade e a emotividade, por exemplo).
Um dos distúrbios mais usuais do caráter é a chamada “perturbação narcisista”, que, segundo
alguns, teria cunho hereditário.
A perturbação narcisista é um distúrbio psicológico em que o indivíduo revela um grau anormal
de narcisismo, freqüentemente manifestado por exigências excessivas de amparo, elogio e amor.
Não é considerado um fator normal de caráter, dada sua própria excentricidade, chegando
alguns psicopatologistas a incluí-lo entre os desvios sexuais.
Efetivamente, o narcisismo é o amor da pessoa por si mesma, é a auto-adoração. Em
linguagem psicanalítica, é o produto da fixação da libido no ego da pessoa. Desde que essa fixação
persista em sucessivas fases do desenvolvimento mental, equivale a uma regressão psicossexual,
cristalizando-se no tipo caracterológico narcisista de personalidade. Atribui-se a condição narcisista á
um recurso empregado pelo ego infantil para enfrentar a frustração (modo esse que voltará a ser
usado, regressivamente, em certos estados psicopatológicos da vida adulta).
O narcisismo pode ser considerado como uma forma de auto-erotismo, sem ser acompanhado
de orgasmo sexual concreto. Entende-se, inclusive, que o narcisismo pode levar ao orgasmo sexual.
A rigor, o narcisismo implica na excitação sexual produzida pelo próprio corpo, sendo mais comum
nas mulheres. Segundo a fábula, Narciso foi personagem que, mirando-se numa fonte, ficou de si
próprio enamorado.
2- OS CICLOTÍMICOS E OS ESQUIZOTÍMICOS
De modo geral e segundo o respectivo modo de ser, os indivíduos são divididos em 2 grandes
grupos: os ciclotímicos e os esquizotímicos.
- Ciclotímicos: São aqueles que apresentam, habitualmente, períodos variáveis de bom ou mau
humor. É uma forma de personalidade que está nos padrões de normalidade, podendo, no entanto, a
pessoa apresentar períodos alternantes de exultação e tristeza, atividade e inatividade, excitação e
depressão. As alternações não obedecem á um ciclo regular e pode ocorrer períodos intermediários
de atividade normal, quando a depressão não se acentua. Tudo a ponto de tornar a pessoa um
ciclóide (fronteiriço) ou um psicótico-maníaco-depressivo (quando, então, já seria um doente mental,
portador de psicose). Mas, normalmente, o indivíduo ciclotímico tende a ser expansivo, mais ou
menos generoso e emocionalmente receptivo e sensível ao meio ambiente. Costumam, ademais,
exibir hiperatividade social e sexual.
- Esquizotímicos: São pessoas de grande vida interior, fechados ao ambiente, cujas reações aos
estímulos externos são diferentes em situações idênticas. O esquizotímico é um indivíduo que, diante
de certa brincadeira, poderá rir francamente em determinada oportunidade, noutra, porém, ficar
inteiramente indiferente. Quando esta característica se acentua, pode aflorar uma personalidade
esquizóide (fronteiriço) que, evoluindo para um quadro mais grave, redunda em esquizofrenia, que já
é uma doença mental, também conhecida por demência precoce.
a) Instáveis: encontrados com grande freqüência na vida social. Caracteriza-se pela dispersão
de atenção, mobilidade das impressões e desejos, descontinuidade nos pensamentos e na
ação e versatilidade dos sentimentos para com as pessoas e as coisas. O Instável é escravo
das próprias tendências e das solicitações do meio ambiente, que o incentivam á variabilidade
da ação, passando incessantemente de um objeto a outro, pois tudo o atrai com força e tudo o
aborrece e cansa em seguida. Suas decisões são bruscas e repentinas, irrefletidas e
impensadas. Com certa freqüência, tem bom êxito escolar, saindo vitorioso em eventos
difíceis e não raro, perdedor nos fáceis. Tem demasiado conhecimento da vida sexual. Pratica
furtos por brincadeira, é descarado, desavergonhado e vicioso contumaz.
g) Poriômanos: são subtipos dos instáveis; referem-se á indivíduos que, sob a influencia de
estados afetivos íntimos fortes, sentem-se compelidos á fuga durante horas; procuram, por
assim, dizer, a terra dos seus sonhos, de seus desejos acalentados. Alguns crimes bárbaros
referidos de tempos em tempos pelos jornais, são, muitas vezes, cometidos pelos poriômanos.
Sabe-se que é a psiquiatria que interessa buscar a causa, o desenvolvimento e o trato das
perturbações funcionais da personalidade e do comportamento humano, perturbações que atuam na
vida interior da pessoa e no seu relacionamento com os demais. À Psiquiatria incumbe, portanto o
conhecimento e tratamento das doenças mentais.
O psicopatologista e criminólogo pátrio Geraldo Majela Fortes Vasconcelos ensina que as
causas determinantes mais freqüentes dos distúrbios mentais são: a) as doenças em geral; b) as
endo-intoxicações; c) as exo-intoxicações; d) as infecções, sobretudo sifilítica; e) a herança; f) as
crenças e superstições; g) as causas psíquicas, sobretudo emotivas; h) as causas mecânicas, como
traumatismos, sobretudo os cranianos; i) as disposições individuais; j)as causas fisiológicas.
Quando conduz seu interesse para o doente que interessa à criminologia, a Psiquiatria passa
a denominar-se Psiquiatria Forense ou Psicopatologia Forense.
Conforme esclarece Geraldo Vasconcelos, torna-se complexo apresentar uma classificação
rígida das doenças mentais, seja pelo subjetivismo de cada autor, seja pela variedade da aferição
classificadora, seja pela designação e conceituação diferentes das enfermidades.
Flamínio Fávero, Psiquiatra Médico Legal, classificava os distúrbios psíquicos em:
Vistas assim, panoramicamente, as doenças mentais, imperioso que sobre elas se proceda
uma análise, pois é sabido que umas e outras concorrem com larga parcela para o acontecimento
delitivo.
Sendo assim, importante sublinhar os quadros de morbidez mental consoante se segue.
1- NEUROSES
São distúrbios psicológicos menos severos do que as psicoses, mas suficientemente graves
para limitar o ajustamento social e a capacidade de trabalho do indivíduo. Usualmente atribuída a
conflitos emocionais inconscientes, a neurose, ou psiconeurose, constitui um dos pontos de partida
para a análise psíquica de Freud.
Hélio Gomes diz que “as neuroses são estados mórbidos característicos por perturbações
psíquicas e somáticas, que causam grande sofrimento íntimo, determinadas por fatores psicológicos,
embora em algumas intervenham fatores orgânicos”
As neuroses são doenças mentais da personalidade que se destacam por conflitos
intrapsíquicos que inibem os comportamentos sociais. São desacertos incompletos da personalidade
que incomodam mais o equilíbrio interior da pessoa do que o seu relacionamento com o mundo
exterior.
Helio Gomes, esclarece: “Os sintomas neuróticos são numerosos e variados, incluindo
manifestações psíquicas, neurológicas e viscerais. Na parática esses sintomas se apresentam
associados, constituindo diversas síndrome neuróticas.
Os sintomas psíquicos mais freqüentes são a ansiedade, a angústia, a astenia, as fobias, as
compulsões, as idéias hipocondríacas, a abulia, a apatia, a dismnésia.
Entre os neurológicos ocorrem transtornos sensitivos e sensoriais, tais como algias,
hiperestesias, parestesias, anestesias, cenestopatias e transtornos menores como tremores, tiques,
espasmos, contraturas, paresias.
Os sintomas vicerais mais comuns são: transtornos do aparelho digestivo; como anorexia,
vômitos, dispepsias, diarréia; do aparelho cario-circulatório, palpitações, arritmias, dores precordiais,
lipotimias, vosoconstrição ou vasodilatação, hiper ou hipo tensão; do aparelho respiratório, tosse,
dispnéia, asma; do aparelho genito urinário, poliúria ou polaquiúria, impotência sexual, vaginismos,
dispareunia”.
Na neurose, o indivíduo reconhece que está doente e procura melhorar ou sarar; na psicose,
ao revés, o indivíduo não percebe a sua enfermidade, eis que está alterada sua capacidade para
diferenciar entre experiência subjetiva e a realidade.
Slater diz que: “tal como para as psicoses, também existe uma disposição genética para as
neuroses”.
É possível reduzir as neuroses par quatro grandes grupos, sendo:
• Neurose obsessiva: Também chamada “psicose anancástica” “psicose compulsiva” e
“psicose de dúvida” enfermidade do tipo constitucional, caracterizada psicologicamente pela
presença de obsessões, fobias e tiques obsessivos. Entre suas formas de projeção alinham-
se a cleptomania, a piromania, o impulso ao suicídio e ao homicídio.
2- PSICOSES
É tradicionalmente classificada em dois grupos: psicose orgânica e psicose funcional. Clinard
entende que a psicose orgânica é doença cuja origem decorre de algum germe patógeno, de alguma
lesão no cérebro ou, então, de desordem fisiológica, tudo sem conotação hereditária. Como
exemplos de psicose orgânica podem ser citadas a demência senil, a psicose sifilítica, a psicose
alcoólica, a arteriosclerose cerebral etc...
A psicose funcional é distúrbio total da personalidade, é desordem mental, quando o
psiquismo em sua estrutura global, no seu todo, fica temporária ou permanentemente danificado. As
psicoses funcionais são aquelas que efetivamente interessam a criminologia.
Em seu compêndio (resumo) de Medicina Legal, o ilustre criminólogo José Antônio de Mello
assim classifica as psicoses em:a) esquizofrenia, b) parafrenias ou paranóias, c) psicose maníaco-
depressivas, d) epilepsias, e) oligofrenias, f) personalidades psicopáticas, g) sífilis cerebral e paralisia
geral progressiva, h) psicoses senis, i) psicoses alcoólicas e por psicotrópicos.
As psicoses, de fato, são responsáveis pela desintegração da personalidade do indivíduo e
pelo seu conflito com a realidade. Trata-se de categoria de doenças caracterizadas por desordens
cognitivas mais graves, incluindo, frequentemente, delírios e alucinações, oportunidade em que o
enfermo torna impossível o convívio social ou familiar, devendo permanecer sob vigilância médica
para evitar que provoque danos físicos em si próprio ou em terceiros. Entre as mais sérias formas
psicóticas devem ser enfatizadas a psicose maníaco-depressiva, a esquizofrenia e a paranóia.
As psicoses se apresentam em variadas formas, algumas das quais aqui serão referidas:
• Paralisia geral: também chamada “demência paralítica”, é a mais grave entre as psicoses
sifilíticas. Caracteriza-se por uma demência progressiva, com acentuado enfraquecimento do
juízo, exteriorizado, via de regra, pela conduta absurda do doente, para o que contribuem o
desconhecimento da situação, a sugestibilidade exaltada, as idéias delirantes, a ausência de
qualquer idéia de enfermidade. A debilidade do juízo acentua-se mais em consequência da
memória da fixação, seguida da evocação, tudo progressivamente mais lento e deficiente.
A paralisia geral, a efetividade chama a atenção a indiferença progressiva, a ausência de
afetos e de reações adequadas, a versatilidade afetiva por motivos insignificantes e a intensidade e
fugacidade das reações. Esses doentes ficam tranqüilos com a mesma facilidade que se aborrecem,
porque os afetos perderam tensão, carecem de energia psíquica, perderam tenacidade. O afeto em
tais indivíduos é superficial e mutável com facilidade, podem vir alucinações acústicas e visuais.
• Psicose epiléptica: síndrome clínica cuja manifestação central é o ataque epiléptico, que é
um mero sintoma da moléstia e não a moléstia propriamente dita. O ataque epiléptico de início
é súbito, sendo seguido de perda de consciência e de queda com convulsões generalizadas
(contrações e tremores), tudo durando poucos minutos. Subseqüente advem sono profundo
ou coma. A psicose epiléptica pode ser precedida de manifestações psíquicas. As vezes se
observam pródomos, nas horas ou dias precedentes aos ataques, referindo-se a modificações
de humor ou a sintomas físicos. Há também os ataques denominados de pequeno mal ou
ausência, marcados pela perda da memória ou da consciência do ambiente, isso por
segundos ou minutos. Há registros de perda de memórias por vários dias.
1) Idiopáticas: são aquelas em que não se descobrem causas somáticas que possam causa-la;
• Psicoses tóxicas: dever-se-iam incluir nesta categoria todas as desordens mentais de feitio
psicótico, prevalentemente determinadas por intoxicações, de procedência interna ou externa.
As primeiras seriam as psicoses endotóxicas e as segundas exotóxicas, isto é, produzidas por
agentes tóxicos de qualquer natureza e aqui caberiam então o álcool e as drogas psicoativas
utilizadas por toxicômanos. Do que se infere a existência da chamada Psicose alcoólica e de
um Psicose ligada as Toxicomanias, que contudo, não seriam tratadas neste capítulo e sim à
parte, sob as denominações de alcoolismo e toxicomanias, quando se estudarão as
influências do álcool e dos psicolépticos, psicoanalépticos e psicodislépticos sobre as
faculdades mentais e as reações comportamentais do homem.
3- OLIGOFRENIAS
Oligofrenia é o termo genérico para substituir a locução demasiado vaga, até então usada:
“paradas do desenvolvimento intelectual”. E, em sua concepção ampla define todo o conjunto de
estados deficitários, congênitos ou precocemente adquiridos da atividade psíquica.
Oligofrênico ou “deficiente mental”, como preferem chamar autores anglo-saxões, é todo
indivíduo cuja inteligÊncia se mostre originalmente pequena, manifestamente inferior à dos demais
da mesma idade, vivendo idênticas condições sócio-econômicas e culturais.
Durante algum tempo se entendia que a deficiência mental contribuía exaustivamente na
gênese do crime. Goring, ao contestar Lombroso, insistia na íntima correlação da oligofrenia com o
delito, porém atualmente é insustentável a asserção de Goring, visto ser reconhecido que a
deficiência mental é um simples estado anormal.
Hélio Gomes esclarece: “As oligofrenias são distúrbios durante a evolução cerebral durante a
gestação ou nos primeiros anos de vida, acompanhados de numerosas anomalias e com acentuado
déficit intelectual. Há uma parada, ou umatraso do desenvolvimento mental, determinado diversos
graus de deficiência mental. Várias são as causas das oligofrenias: sífilis, alcoolismo, casamentos
tardios, precoces ou desproporcionais, abalos morais reiterados durante a gravidez, infecções,
perturbações endócrinas. Há ainda os traumatismos do nascimento, 10% dos deficientes mentais
dos hospitais apresentam sinais de parto laborioso”.
O conjunto dos oligofrênicos compreende três grupos: a idiotia, a imbecilidade e a debilidade
mental propriamente dita, que seria a forma mais acentuada.
Prossegue Helio Gomes: “ As oligofrenias obedecem a uma gradação: idiotia, imbecilidade e
debilidade mental, podendo cada espécie subdividir-se em subtipos mais e menos intensos. A idiotia
é a forma mais acentuada. O idiota é incapaz de transmitir um recado, muitas vezes não articula
palavra. Em geral vive pouco. ... O imbecil está colocado entre o idiota e os débeis mentais. É a
forma média. Distingue-se do idiota porque pode articular a palavra. ... A debilidade mental
representa uma zona limítrofe entre a imbecilidade e a sanidade mental. O débil difere do normal em
dois pontos: sua evolução mental é muito vagarosa e nunca atinge a nível superior. ... Há vários tipos
de débeis mentais: ponderados, instáveis, pueris, emotivos, explosivos, tolos. O débil costuma ser
vaidoso.”
Ainda consoante Hélio Gomes, um dos critérios para classificar os oligofrênicos é comparara
sua inteligência com as das crianças normais. Assim, o idiota atinge o nível mental de uma criança
de até 2 anos de idade; o imbecil chega ao nível mental de uma criança de 2 a 7 anos; o débil mental
alcança a mentalidade de uma criança de 7 a 12 anos.
Vale advertir, por oportuno, que tanto os imbecis quanto os idiotas podem ser dotados de
atividades automáticas espontâneas – tais como estereotipias motoras e impulsões destrutivas e –
reações peculiares às formas ditas eréticas. Em compensação, entre os chamados apáticos, a regra
é que se conservem inertes, jogados a um canto qualquer, alheados ao ambiente-acinéticos,
entregues ao marasmo, a sordície e as automutilações.
Outrossim, ao contrário do que acontece com os débeis mentais, tanto aos imbecis, quanto
aos idiotas, jamais faltam anomalias físicas, as mais diversas (macro, micro ou escafocefalia,
anorquidia, criptorquidia, hipospadia, macraglosia, lábio leporino, sindatilia, polidatilia, etc.)
Uma das variedades de oligofrenias que vem sendo estudada mais intensamente nos tempos
atuais é a Síndrome de Down.
Face a esses estudos, a partir de 1959 e graças aos trabalhos de J. Lejeune e outros, tem-se
hoje por assente que o mongolismo relaciona-se com uma anomalia cromossômica especial provinda
da presença de um auroissoma suplementar, constitutivo da chamada trissomia 21.
Cumpre salientar que, diferindo da maioria dos oligofrênicos, os mongolóides mostram-se,
quase sempre, alegres e afetuosos. São, em geral, obedientes e disciplinados. Revelam certo gosto
pela dança e pela música, independentemente do grau de deficiência mental que, não raro, pode ser
bastante pronunciado.
Outra forma especial de oligofrenia é o cretinismo.
DESVIOS SEXUAIS E CRIMINOLOGIA
Definir-se um desvio sexual não é tarefa muito fácil, como à primeira vista se imagina, isso
porque o comportamento sexual anômalo em si não pe o único critério para fazer a distinção; dado
que, às vezes é difícil se estabelecer um consenso entre o comportamento sexual normal e
divergente.
Aliás, a liberalização dos costumes na modernidade, torna também difícil, dada a regularidade
com que são praticadas, catalogar certos comportamentos sexuais como anormais ou não.
Os psicólogos e os psiquiatras, em suas clínicas, procuram freqüentemente, em suas
experiências profissionais, estabelecer o que é normal ou não nesse campo.
• Sadismo: no sadismo sexual, usualmente é o homem que provoca dores, por vários meios
(tapas, socos, chicotadas e outros tipos de inflições de males físicos) à sua companheira.
Existem registros de casos em que o indivíduo chega ao orgasmo enquanto apenas fere a
vítima, sem possuí-la sexualmente. Este desvio comportamental é muito mais freqüente nos
homens.
• Masoquismo: neste distúrbio, o indivíduo obtém prazer sexual quando lhe são infligidos
tratamentos dolorosos. Muitas vezes, o indivíduo exige que o parceiro sexual o esbofeteie,
arranhe, dê-lhe tapas no rosto e em outras regiões do corpo, aperte-lhe o pescoço em vias de
quase esganar. Convém aduzir que, não raro, os sádicos são também masoquistas e vice-
versa, encontrando-se, portanto, os dois distúrbios ao mesmo tempo e funcionando
concomitantemente na mesma pessoa, durante a relação sexual. Essa perversão sexual é
mais freqüente nas mulheres que nos homens, contrariamente, portanto, ao que acontece
como sadismo.
• Coprofilia: é o gosto pelos excrementos, quase sempre ligados a uma patologia mental,
também é encontrada na prática de relações sexuais.
• Gerontofilia: é o desvio sexual que se caracteriza pela preferência por pessoa de idade
avançada.
1- Exame Morfológico
É também conhecido como exame somático e tem por objetivo avaliar todos os segmentos do
corpo humano, determinando suas medidas e proporções, a massa corpórea, óssea e muscular.
Evidente que, nesse exame, se atenta para o físico em geral do periciado, verificando-se seus
aspectos neurológicos, patológicos e endocrinológicos, a parte das perícias radiológicas e
eletroencefalográficas que nele devem ser procedidas. Tudo para registrar as particularidades ou
peculiaridades que ensejam estabelecer caracteres individuais, anormalidades, formações
patológicas, malformações congênitas, caracteres herdados,etc.
2- Exame Funcional
Importa verificar a possível existência, no delinqüente, de sinais de imaturidade, de fraqueza
vital hereditária, de atrofias constitucionais, de síndromes de crescimento (neuropatias e psicopatias,
que poderão surgir no período), sintomas de modificação do equilíbrio neuro-vegetativo, etc.
No estudo da personalidade do indivíduo delinqüente, o exame do sistema nervoso deve ter
em conta, especialmente: a mobilidade (não só dos órgãos de locomoção, mas de outros órgãos,
como por exemplo, dos olhos, das pálpebras, da língua, do pescoço, etc); o reflexo (que pode estar
exagerado, irregular ou anormal); a sensibilidade geral e específica (dores, principalmente de
cabeça); linguagem (capacidade de ler e escrever); hábitos (ex: estar acostumado com a boemia e a
vida noturna), etc.
Tais investigações devem ser completadas pelo exame de sangue (procurando a presença de
drogas, infecções ou alterações bioquímicas).
3- Exame Psicológico
Tem por objetivo apreender e descrever o perfil psicológico da pessoa examinada,
independentemente da existência ou não de suspeita de que ela seja portadora de uma doença
mental. A avaliação psíquica do criminosa é que trará os esclarecimentos: conhecer os diferentes
aspectos de sua personalidade, suas características fundamentais que, como são variáveis de uma
pessoa para outra, são de capital importância para se saber sobre a gênese e a dinâmica do evento
delituoso.
O exame psicológico deve ser amplo e ao menos aferir três aspectos fundamentais ao
interesse criminológico, quais sejam:
1- nível mental do criminoso;
2- traços característicos de sua personalidade;
3- seu grau de agressividade.
4- Exame Psiquiátrico
Leva em consideração as doenças mentais que possam existir ou terem aflorado no criminoso
após a prática delituosa. O exame psiquiátrico é, por assim dizer, o centro, o âmago da observação
criminosa, mesmo porque é ele que interferirá na inflição ou não, de pena (face a imputabilidade ou
não do acusado), na possível redução do apenamento (nos casos de semi-imputabilidade), na
aplicação da medida de segurança (pela periculosidade do delinqüente), ou no tratamento do
condenado, visando o seu retorno ao convívio social, após o cumprimento da pena.
É o exame psiquiátrico que vai dizer se o delinqüente é ou não mentalmente são.
Os itens que mais interessam no exame psiquiátrico-criminológico são os seguintes:
5- Exame Moral
O acervo moral da personalidade humana constitui o patrimônio do homem, definindo-o como
criatura humana, acima de todas as demais criaturas viventes.
Existem pessoas que, por alterações de diversas naturezas, apresentam-se num patamar
muito baixo de condições instinto-sensitivas, que constituem o alicerce do desenvolvimento da
efetividade moral. Fala-se numa agenesia (falta ou desenvolvimento incompleto ou defeituoso) do
sentimento moral, da imoralidade constitucional, de uma diátese moral delinquencial (tendência
hereditária para o crime), para indicar que a pessoa, mesmo tendo moral teórica, como conseqüência
da aprendizagem teórica, não é capaz de senti-la e muito menos vivê-la.
Esse sentimento moral compreende uma tripartição de condutas, a saber:
- Amorais: são aqueles que jamais foram capazes de assimilar princípios ético-morais. Estes
constituem a maioria dos delinqüentes e caracterizam-se pelo embotamento afetivo. São indivíduos
desprovidos de piedade, de compaixão, de vergonha, de pudor. Em regra, são raivosos, frios,
calculistas, insensatos, traiçoeiros, egoístas, incapazes de arrependimento, enfim, moralmente
impuros.
6- Exame Social
Por este exame busca-se conhecer as condições que poderiam ter influenciado a conduta
anti-social do agente da ação, principalmente se decorrentes do meio social em que nasceu, cresceu
e viveu. Interessa a este exame o tipo de vida levada pelo criminoso, o meio familiar, a sua situação
econômica, a roda de amigos, etc.
O exame social se consubstancia, via de regra, em uma entrevista com o assistente social,
que é parte integrante da equipe de examinadores criminológicos.
7- Exame Histórico
Tem por finalidade precípua reconstruir o passado do criminoso, o que, habitualmente se
chama em Medicina de anamnese. Assim, são coletados dados referentes á evolução social do
indivíduo, a situação econômica do delinqüente, seu modo de vida, seus gostos, suas atividades,
enfim, o seu viver pregresso. Os dados sobre primariedade ou reincidência criminal, se genérica, ou
específica, etc. No exame histórico se devem colher, também, informações minuciosas sobre o crime
praticado, as circunstancias em que o crime ocorreu; o estudo da conduta do delinqüente antes,
durante e depois do ato praticado; se apresentou-se espontaneamente á prisão, ou se foragido foi
capturado; se resistiu á prisão; se empreendeu fuga após o crime e por que lugares passou; os
contatos que manteve nesse tempo e com quais pessoas; se foi ajudado por alguém e de que forma;
se prestou ou não socorro ou auxílio á vítima, etc.
Tratamento Delinquencial
Em seu livro Psicologia do Crime, falando sobre a personalidade, o prof. Odon Ramos
Maranhão, atribui-lhe natureza “normal”, “mórbida” e “defeituosa”.
Tal divisão tríplice dos indivíduos, sob o ponto de vista jurídico, obedeceria o seguinte
esquema:
I – Indivíduos Imputáveis (“normais”);
II – Indivíduos Imputáveis (com “defeito” de personalidade);
III – Indivíduos Semi-Imputáveis (com perturbação da saúde mental, também chamados de
fronteiriços);
IV – Indivíduos Inimputáveis (acometidos de doença mental).
Para o delinquente de personalidade normal, que quase sempre é um criminoso ocasional, as
medidas terapêuticas devem ser de caráter corretivo-pedagógico (medidas reeducativas) e o
estabelecimento onde a pena será cumprida pode ser de segurança mínima e até prisão albergue.
Os delinqüentes com defeito de personalidade constituem a grande maioria da população
prisional (principalmente nos países do 3º mundo). Tais criminosos habitualmente são oriundos de
ambientes deficitários, seja sob o prisma moral, familiar, ou comunitário. Todos os tipos de
assistência (médica, psiquiátrica, psicológica, odontológica, religiosa, profissionalizante,
ressocializante) são indicados para esses tipos de delinqüentes, embora seja utópico pensar que
isso vai acontecer.
Os delinqüentes com perturbação da saúde mental são indivíduos que se encontram na zona
limítrofe ou fronteiriça entre a normalidade psíquica e a doença mental ou a oligofrenia. Não se trata
propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja constituição é originariamente formada de modo
diverso daquele que corresponde ao homo medius.
Sob o ponto de vista do tratamento penitenciário a ser dado a esses indivíduos, é evidente
que, em virtude do grau de perigosidade que apresentam, devem sofrer as restrições que a defesa
social impõe, pois, se eles são capazes de satisfazer as exigências médias da ordem jurídica,
deixando de empregar, na medida do possível, uma resistência mais forte em relação á inclinação
para o crime, não é admissível que fiquem á margem da reação punitivo-corretiva. A capacidade de
entendimento e auto-direção, na verdade, não lhe estão completamente anuladas, como ocorre com
os doentes mentais. Pelo seu notável grau de periculosidade (são os reincidentes por excelência),
não basta a imposição da pena: durante e após o cumprimento desta devem sofrer um regime de
tratamento adequado á reeducação e ressocialização.
Os delinqüentes portadores de moléstias mentais são aqueles que foram acometidos por
alguma psicose, ou seja, por loucura ou insanidade mental. È a categoria das doenças mentais
caracterizada por desordens cognitivas tão graves que o ajustamento social se torna impossível e o
paciente precisa ficar sob vigilância médica, a fim de não causar danos em si próprio ou em terceiro.
Com relação aos portadores de psicoses, as terapêuticas dependem de cada quadro
particularmente considerado. Entre as terapias que vêm sendo empregadas podem ser enumeradas:
a terapia de choque por insulina (TCI), a terapia eletroconvulsiva, a psicoterapia individual ou de
grupo, a psicoterapia psicanalista de Freud, etc.
CARACTEROLOGIA
Segundo dados colhidos, observou-se que os tipos caracterológicos que oferecem o maior
nº de criminosos são: o nervoso (31,5%), o apático (22,5%), o colérico e o amorfo (16%). Os
sentimentais, apaixonados e fleugmáticos são os que delinquem menos.
Afastadas, por carentes de fundamentação racional, o “biologismo determinista” que fala do
“criminoso nato” (Cesare Lombroso); o “psiquiatrismo”, que acena com a figura do “criminoso louco”
e o “sociologismo” (que tanto encantou Gabriel Tarde) com as teorias dos fatores exógenos como
únicos responsáveis pela verificação de crimes; outrossim, de se condenar, definitivamente, a
hereditariedade como fator determinante de crime (Lombroso, Ferri, Garófalo) ou predisponente de
crime (Lacassagne, Manouvrier, etc.), isto porque, dos ensinamentos cristalinos do célebre psiquiatra
de Barcelona, Mira Y Lopes, e de outros, se deflui o nítido e transparente entendimento de que não
existe fator hereditário ou genético, que possam determinar que o indivíduo seja criminoso; aliás,
segundo os mesmos ensinamentos, o homem sequer traria em sua bagagem hereditária qualquer
determinação ou predisposição para a prática do mal.
a) Cogitação;
b) Preparação;
c) Execução;
d) Consumação.
Os psicólogos e psiquiatras, por sua vez, dizem da existência do que denominam fases intra-
psíquicas do crime e que seriam:
Intelecção ou “gnosia”;
a) Desejo ou tendência;
b) Deliberação ou dúvida;
c) Intenção;
d) Decisão;
e) Execução ou realização.
Por tudo o que foi dito, de se trazer ao palco da colação criminal mais um personagem: o
“criminoso social”. Dito isso, forçoso concluir que o homem criminoso haverá sim de ser analisado e
pesquisado sob todos esses matizes, ou seja, em todos os seus aspectos estruturais, funcionais,
racionais ou psíquicos, psiquiátricos, sociais e, através disso tudo, se possa descortinar a sua
personalidade, pois sem sombra de dúvida, é da forma como ela reage, quer aos estímulos internos
(ou endógenos), quer aos externos (exógenos), na antecâmara da ação delituosa, que o crime virá
ou não a acontecer.
- No aspecto jurídico: Crime é o fato social anti-jurídico, tipificado pela lei penal, punível á título de
dolo ou culpa, se inexistentes excludentes e inimputabilidades.
1- Meteorologia Criminal
O entendimento que se tem sobre meteorologia criminal conduz à ilação que determinados
fatores chamados cosmotelúricos (calor, frio, pressão atmosférica, ventos, tensão eleétrica do ar,
chuva, luminosidade, irradiação solar, etc) exerceriam influência quando do cometimento de crime.
Até hoje, verdadeiramente, não se sabe explicar de que forma esses fatores inspirariam o fenômeno
criminal. Presume-se que tais influências seriam meramente indiretas.
Para Lombroso, não padecia dúvida que o calor influi sobre a criminalidade e, disto, cita
exemplos o brilhante e controvertido médico italiano.
Em seu livro Principles of Criminology, Edwin Sutherland vai mais longe, afirmando que no
verão são mais numerosos não apenas os crimes contra a pessoa, mas, também, os delitos contra a
moral.
Tendo em mira que o crime é determinado pelo comportamento do indivíduo, supõe-se que os
fatores cosmotelúricos, tendo a capacidade de atuar sobre o sistema nervoso e o psiquismo da
pessoa, poderiam, então, influenciar a conduta humana a ponto de levá-la á prática delitiva, mas
sempre de modo indireto.
O assunto foi pesquisado por Adolphe Quetelet, que formulou suas conhecidas “Leis
Térmicas”, estabelecendo certa relação entre as diversas estações do ano e um determinado número
e tipo de delitos.
A 1ª lei de Quetelet baseia-se nos delitos contra a propriedade, os quais, segundo ele, são
mais freqüentes no inverno; a 2ª lei refere-se aos delitos contra a pessoa, que observou serem mais
cometidos no verão; e a 3ª lei refere-se aos crimes sexuais, cuja freqüência mais corrente é na
primavera e no início do verão.
No Brasil, os delitos contra a pessoa são cometidos mais no verão, pois há mais ajuntamento
de pessoas nas ruas e nos estabelecimentos comerciais, dorme-se mais tarde, bebe-se mais,
discute-se mais, etc. Os crimes sexuais são mais praticados durante o período de carnaval, onde o
sexo está mais liberado. Os crimes contra o patrimônio são cometidos mais no verão do que no
inverno, pois, no verão as pessoas ficam mais á vontade e se descuidam de seus valores pessoais
(bolsas, pacotes no interior do veículo, etc), sendo vítimas fáceis de larápios que também se
aproveitam das aglomerações próprias do verão.
Teoricamente, parece irretorquível que os fenômenos cosmotelúricos tenham influência
quando se dá um enfoque geral sobre a matéria, mas os casuísmos, ou seja nos casos concretos,
um a um, é impossível estabelecer essa comprovação. Por via de conseqüência, tudo que se afirme
a respeito cai no campo da teoria, como matéria de especulação científica.
2- Higiene
É notório que a falta de higiene é uma das características das moradias dos pobres e
miseráveis, que se acotovelam na promiscuidade dos cortiços, das casas de cômodos e das favelas.
Aí falta tudo: espaço físico vital, luz ou luminosidade adequadas, instalações sanitárias, condições de
oxigenação ambiental, etc. O que não falta é o cheiro desagregador da dramaticidade vil e cruel da
injustiça social, provinda da má distribuição de riquezas, que impera nas camadas sociais não-
privilegiadas dos países do epitetado Terceiro Mundo.
Coloquem-se ratos amontoados em exíguo espaço físico, sem ventilação e com alimentação
reduzida: em pouco tempo uns investirão contra os outros e matar-se-ão reciprocamente. Com o
homem, as coisas não são e nem poderiam ser diferentes, em virtude de sua idêntica condição
animal.
Ademais, o morar promíscuo permite que as crianças assistam cenas de violências ou de sexo
entre seus pais ou outras pessoas, com graves conseqüências para elas.
Registre-se, também, que habitações pouco arejadas, sem sol e sem luz, favorecem
enormemente a propagação de doenças infecto-contagiosas entre as pessoas que ali coabitam.
Ponderações também podem ser feitas relativamente à vida no campo e na cidade grande,
esta submetida a todos os deletérios efeitos da loucura acústica dos ruídos, da poluição de toda
ordem, da densidade e dos inchaços demográficos, evidentemente influenciadores de certos
desequilíbrios do organismo e do psiquismo humano.
Merece consignação, aqui, as condições particularíssimas do Brasil e, como exemplo, o
flagelo das secas intermináveis de sua região Nordeste. Tal estiagem, verdadeiramente endêmica e
com seríssimas conseqüências no plano sócio-econômico brasileiro, enseja o desespero da miséria,
do desemprego, do desajuste familiar, da migração para áreas hostis, tudo estimulando,
induvidosamente, a modificação da conduta desses atormentados e, inclusive, a probabilidade de
sua relação com a criminalidade.
3- Nutrição
De início, parece difícil estabelecer qualquer liame entre a nutrição e a criminalidade, mas,
indiretamente, é possível fazê-lo.
Tanto assim é que, a falta de alimentação adequada ou razoavelmente balanceada, de molde
a vigorar os órgãos dos nutrientes de que necessita o organismo humano, é fator predisponente de
criminalidade, sem que se chegue ao exagero da menção ao furto famélico, juridicamente
descriminalizado em razão da sua etiologia.
De distinguir, no que concerne à subalimentação, o estado agudo do crônico, pois o primeiro
não oferece importância maior, a não ser de poder levar o indivíduo ao furto famélico. O estado
crônico de desnutrição, porém, transforma o indivíduo em presa fácil de sentimentos associais como
o ressentimento, a irritabilidade, a revolta e o ódio, todos geradores de uma condição de anti-
sociabilidade e predisponentes do ato delinqüencial.
Por igual, a ingestão abusiva do álcool, pelo desequilíbrio orgânico e psíquico que às vezes
provoca, pode ter o condão de funcionar como fator predisponente à criminalidade.
4- Sistema econômico
Não resta dúvida que as condições econômicas exercem marcante influência na vida em
sociedade.
A situação econômica é um dos fenômenos mais comuns na influência da criminalidade, via
de regra decorrendo: de contendas suscitadas pela arbitrária política salarial; do fechamento de
grandes indústrias em momentos de crise; da não expansão da atividade comercial; do desemprego
e da dificuldade de achar colocação; do baixo poder aquisitivo popular que é arrostado pela inflação
e pela especulação; do egoísmo imperante na própria economia, onde os que acumulam riqueza
contribuem cada vez mais para o empobrecimento da grande maioria.
Todo transtorno operado nas condições de vida do povo desloca, violentamente, uma parte de
seus membros do ambiente normal de existência para uma outra vereda da vida social, que pode vir
a ser o caminho do crime.
Mas, para a eclosão do delito, também contribuem outras camadas do estamento social,
situadas na esfera dos socialmente mais desenvolvidos. Esses tipos de delitos correspondem às
cifras douradas da criminalidade, também chamados de “crimes do colarinho branco” (white collar
crime) ou seja, aqueles cujos criminosos possuem poder político, econômico ou social e que, por
isso, suas atuações criminosas, na absoluta maioria dos casos, permanecem impunes, quase que
representando uma condição de inimputabilidade situacional.
A criminalidade política por parte de governantes (peculato, emprego irregular de verbas, etc)
foge á toda espécie de repressão, jamais tornando-os réus de processo judicial com a condenação
severa, que inegavelmente mereceriam pelo uso desvirtuado e desonesto do encargo que o povo
lhes confiou.
5- Pobreza
É evidente que há uma relação estreita entre a pobreza e o crime. De enfatizar que os
assaltantes, em sua quase totalidade, são indivíduos rudes, semi-analfabetos e pobres, quando não
miseráveis. Sem formação moral adequada, eles são párias da sociedade, nutrindo indisfarçável
raiva e aversão, quando não ódio, por todos aqueles que possuem bens de certo modo ostensivos,
especialmente automóveis de luxo e mansões, símbolos inquestionáveis de um status econômico
superior.
Esse ódio ou aversão contra os possuidores de bens age como verdadeiro fermento, fazendo
crescer o bolo da insatisfação, do inconformismo e da revolta das classes mais pobres da sociedade,
e essa violência e agressividade, infalivelmente, as levarão ao cometimento de alentado número de
atos anti-sociais, desde a destruição de uma simples cabine telefônica até à perpetração dos crimes
mais bárbaros, dando números maiores às altas taxas de criminalidade.
6- Miséria
A miséria é a pobreza elevada ao extremo. É o estado daqueles que tem muito pouco ou não
tem mais nada. A estes falecem, mais ainda que aos pobres, todas aquelas condições mínimas de
sobrevivência com um resquício de dignidade. Essa miséria debilita centenas de milhões de pessoas
em todo o mundo, tornando-as, como os pobres, presas fáceis da senda do crime.
É sabido que avaliações recentes da ONU revelam que, a par da alarmante mortalidade
infantil existente no Terceiro Mundo, a quantificação da miserabilidade nos países pobres da América
Latina, África e Ásia já atinge a cifra de 1 bilhão e quase 300 mil pessoas! Em levantamento
complementar ao de 1994 que registrava, nas nações subdesenvolvidas, a morte anual de 500 mil
crianças em razão da miséria, a informação atual da Unicef é de que não menos de 700 mil infantes
morrem anualmente nesses países. No Brasil, por exemplo, a miséria e a fome matam mais de 300
mil pessoas anualmente, entre adultos e crianças.
Não há como negar, entretanto, que a situação de miséria representa mais que considerável
ingrediente no poder de decisão do indivíduo que tende para o comportamento criminoso.
7- Mal-vivência
Geralmente fruto de condições biopsíquicas defeituosas ou doentes, mas também por motivos
mesológicos, os mal-viventes arrastam sua existência em todas as épocas da história. Na
dependência da legislação dos diversos países, ao invés de terem o tratamento de um sociopata ou
um biosociopata, eles são incriminados por vagabundagem, sob a nomenclatura de vadiagem, que
se pode aplicar a muitos, menos eles que, em última análise, não passam de subproduto das
sociedades brutais e desumanas em que vivem. Analisados, eles, clinica e psicologicamente, não
passam, na imensa maioria, de pessoas fisiologicamente doentes, senão também mentalmente
anormais ou perturbados.
Contribuem para esse estado, como dito, fatores biológicos e mesológicos.
Existe aquele grupo de mal-viventes que procede de famílias de alcoólatras. Existe, outrossim,
uma mal-vivência orgânica-constitucional, onde o indivíduo possui uma impulsão à instabilidade,
encontrada em andarilhos, tropeiros, ciganos, etc.
De referir, ainda, a mal-vivência de epilépticos neuróticos, paranóicos, oligofrênicos, místicos,
etc., quando, abandonando a família, saem pelo mundo sem nenhuma perspectiva e levando aos
parentes o sofrimento e a aflição. Fala-se, ainda, na epitetada “idade do diabo”, em que os jovens,
acometidos pela “claustrofobia” do lar, vão em busca de novas experiências e acabam, geralmente,
na marginalização, quando não no crime.
Mencione-se, também, a mal-vivência que acomete a infância abandonada, fruto de lares
desfeitos ou mesmo dos chamado ’’órfãos de pais vivos”, conduzindo ao completo abandono um
grande número de crianças na faixa etária em que necessitariam de cuidados afetivos, morais e
materiais.
O desemprego, o subemprego, a falta de moradia etc., são outros fatores que impelem o
indivíduo a assumir a condição de mal-vivente mesológico.
É característico dessa categoria o cometimento de pequenos delitos, de bagatelas delituosas,
como o desacato à autoridade, as injúrias, os furtos de ocasião ou a mendicidade (vadiagem)
reincidente.
9- Casa
O que dizer da moradia, da casa onde a pessoa vive com sua família? O que ela pode
representar em termos de oferecer condições de predisposição à criminalidade?
O lar, nem sempre oferece o remansoso aconchego de delícias; completamente ao contrário,
muitas vezes ele é o paradigma da infância, o cadinho da impudicícia e o exemplo da maldade
humana. As crianças pagam caro os desastres ocorridos no lar. E o que dizer-se quando a família se
desintegra? Quando os lares se desmantelam?
Grande, também, é o número de jovens autores de atos anti-sociais oriundos de lares
desfeitos, como ocorre com filhos de pais divorciados.
As condições desfavoráveis de moradia, como acontece, por exemplo, nos países
subdesenvolvidos, onde proliferam as favelas, os cortiços, as taperas, as casas de cômodos, com a
natural promiscuidade disso decorrente, em que os valores morais desaparecem, onde o número de
analfabetos ou subaculturados é muito grande, induvidosamente propiciam, nas camadas sociais que
assim vivem, a existência de um contingente muito grande de prostitutas, viciados e traficantes de
droga, ladrões, assaltantes, homicidas etc. Lares inseridos nessas condições, não há que se
contestar, são verdadeiras forja de marginais.
10- Rua
A rua, com toda a espécie de maus exemplos que pode oferecer, inclui-se no crime.
Diga-se que à rua acorrem, igualmente, as infelizes crianças de lares desmantelados, onde se
iniciam cheirando cola (os “drogaditos”) e terminam assaltando e matando, não raro, cruelmente.
A rua é a própria matriz a forjar modelos de associais. Dela resultam vadios, contraventores,
meninas precocemente prostituídas, toxicômanos, rufiões, ladrões (infanto-juvenis ou adultos) etc., e
tudo o que de pior possa existir.
12- Profissão
A atividade profissional do indivíduo, desde que se trate de um predisposto, poderá incliná-lo à
prática de determinado delito. Assim acontece com certos empregados domésticos que, em virtude
da própria facilidade que encontram e possuindo tendência para tal, passam a cometer pequenos
furtos domésticos, prática que pode, com o tempo, adquirir aspectos de maior gravidade. É comum,
por exemplo, a doméstica conluiar-se com um elemento de fora (quase sempre um namorado) e
oferecer-lhe a chave da residência para que ele, isoladamente ou com parceiros, subtraia os objetos
de valor ali existentes.
Empregados de prostíbulos, bordéis, boates, casas de jogos, etc., costumam ser traficantes de
drogas.
Médicos e dentistas envolvem-se, às vezes, em estupros e outros abusos sexuais. Advogados
podem cometer fraudes ou apropriações indébitas. Não é incomum que Engenheiros e construtores
pratiquem fraudes consistentes na qualidade inferior do material empregado. Gerentes de bancos
podem cometer desvios de dinheiro e empréstimos com vantagens pessoais. Comerciantes podem
incorrer em crimes contra a economia popular. Os professores, não raro, cometem abusos sexuais
contra alunas.
13- Guerra
A guerra, por si mesma, exerce uma grande influência no crescimento da criminalidade. Os
jovens são subitamente arrancados de uma vida normal e atirados aos horrores da belicosidade,
participando de manobras e combates destruidores e sangrentos. Inclusive os valores morais
adquirem feições diferentes: se na paz matar é crime, na guerra é ato de heroísmo.
Na guerra, ensina-se aos jovens o manejo de armas de fogo e a utilização de engenhos de
destruição, em circunstâncias antes por eles desconhecidas. É incontestável que isso vai ter
influência nas suas condutas futuras.
Finda a guerra e desmobilizada a tropa, exige-se dessa juventude que rapidamente retorne
suas atividades normais da época de paz. Sucede, contudo, que as desagradáveis experiências por
que esses jovens deixam-lhes, não raro, cicatrizes cruentas, capazes de acionarem instintos
primitivos de agressividade e, daí ao crime, a distância é curta. Sem contar nas seqüelas que
geralmente acarretam, ao plano orgânico e psíquico, perturbações e neuropsicoses e todo o seu
caudal de conseqüências funestas, com prováveis tendências à delituosidade.
14- Industrialização
O excesso da industrialização num país, via de regra eleva a criminalidade, e a razão principal
disso parece residir na aglomeração forçada de elementos de condições pessoais diferentes,
principalmente se encarados sob os prismas racial, educacional e econômico.
Nas regiões industrializadas sempre existem indivíduos que, não reunindo condições de
emprego por não integrarem o contingente de mão de obra especializada, ou por não possuírem
condições intrínsecas de adaptação às novas exigências do progresso do sistema de produção,
passam a viver à margem do industrialismo mais sofisticado e, não encontrando uma ocupação,
tendem a engrossar as fileiras do crime.
17- Política
A organização política dos países, sem sombra de dúvida, exerce grande influência sobre a
vida dos componentes dos diversos grupos sociais que neles estão inseridos e, conseqüentemente,
isso terá reflexos no fenômeno criminal.
A forma de governo, democrático, totalitário, etc..., determina tipos de comportamentos
diferentes do povo, e a criminalidade, igualmente, tende a ter tipos diferenciados, na proporção exata
em que o povo goze de maior ou menor liberdade.
Assim, nos regimes totalitários, além dos crimes comuns praticados, outros tendem a
acontecer, como atos de terrorismo, seqüestros políticos, homicídios contra políticos, etc.
Esses são os delitos que os integrantes do povo praticam contra opressores, os ditadores.
Mas, também, os donos do poder totalitário costumam praticar crimes contra o povo oprimido, que
via de regra, são os de tortura, para obter as informações que lhes interessam; de execuções
sumárias, mandando matar, simplesmente, os que insurgem contra o poder; prisões arbitrárias com
torturas, que podem acabar em homicídios oficiais; atentados contra autoridades, que culminam em
mortes, etc.
Os integrantes dos altos escalões do governo acumulam fortunas, que não podem explicar
pela honradez e, ainda assim, não são pegos pelas malhas da lei. Aliás, a corrupção governamental
não é fato moderno, já apontava Aristóteles em seu tempo.
Se a lei não é aplicada e permanece como letra morta, que temor pode inspirar no cidadão?
Se os culpados maiores não são responsabilizados, de nada adianta a ira popular desorganizada e a
indignação existente no fundo do coração dos cidadãos honrados.
Tudo isso pode resultar em outros delitos, resultantes do relaxamento da vida moral, com a
conseqüente estimulação de instintos criminosos, vindo, então, a ocorrer as falsificações, os furtos,
as apropriações, os roubos, as falências fraudulentas, os estelionatos, etc.
Ademais, as paixões políticas fomentam as injúrias, as difamações, as calúnias, chegando
certos indivíduos a viver desse “ofício”, enlameando a honra de qualquer cidadão que ocupa alguma
posição elevada nas atividades públicas.
CAUSAS INSTITUCIONAIS DE CRIMINALIDADE
1- Polícia
A Polícia é um órgão vitalmente necessário à manutenção da ordem, à obediência às leis, à
segurança civil, à permanência do Estado. Sua tarefa mais relevante é a prevenção do crime, sua
característica deve ser a vigilância constante. Todavia, pode a Polícia, através de maus elementos
que venham integrar seus quadros, favorecer a prática de crime, por via de ações delituosas
individuais e até coletivas de seus membros (abuso de poder, violência arbitrária, condescendência
criminosa, corrupção passiva, peculato, concussão, etc). A Polícia até pode pactuar com o crime
(acobertando criminosos ou operando junto com eles; participando dos lucros da jogatina proibida;
protegendo e cobrando “taxas” de motéis, hotéis, casas de massagem e locais onde se explora a
prostituição; conluiando-se com narcotraficantes e seqüestradores e deles auferindo numerários
etc.).
2- Justiça
Afigura-se verdadeiro paradoxo supor que a Justiça pode favorecer o crime. Nada mais certo,
entretanto, e pelas seguintes razões: os ricos podem contratar qualquer advogado; a demora no
julgamento importa num contato maior, dentro da prisão, de criminosos e não–criminosos, por vezes
resultando na perversão destes; os delinqüentes recebem tratamento diferenciado por força de suas
posses e a prisão, inclusive, parece não comportar infratores de terno, colarinho e gravata.
A Justiça, não sendo urgente, deixa de ser justa, pois posterga direitos e procrastina
obrigações. A Justiça deve ater-se, sempre, ao império da lei e da ordem constitucional vigente, ou
seja, à Constituição.
Infelizmente, em alguns países, a estrutura do judiciário é, inquestionavelmente, arcaica,
ensejando, por via de conseqüência, a que não se tenha uma justiça efetivamente eficiente, até
porque essa eficiência talvez não corresponda aos desejos dos estamentos sociais mais
privilegiados e por isso, muitas vezes, ela deixa de atender os mais lídimos interesses das camadas
sociais menos favorecidas, quando não passa ao largo de direitos individuais, que de forma alguma,
poderiam ser postergados ou procrastinados, sendo, neste último caso, uma Justiça injusta, porque
não se faz urgente.
O Judiciário perde a sua legitimidade, pois deixa de cumprir a vontade do povo, do qual
emana todo o poder, inviabilizando, assim, o bem estar social. Vale mencionar, também, a existência
de leis que absolutamente não são cumpridas, que representam “letra morta”, que parecem
inexistirem. Trata-se de “anomia” encontrada em zonas periféricas e não-periféricas de cidades com
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde armas são portadas irregularmente e mercadorias
contrabandeadas são adquiridas em estabelecimentos com registro comercial. O mesmo se diga,
relativamente, à exploração desenfreada de jogos de azar (corridas de cavalos, jogo do bicho,
loterias esportivas, bingos beneficentes, etc.) e aos anúncios, dissimulados ou não, favorecedores da
prostituição, inseridos em jornais de larga circulação.
3- Prisão
A forma de cumprimento da pena na maioria das prisões, dadas as particularidades que as
cercam, não contribuem, de maneira alguma, para a reeducação ou recuperação do preso. Apenas
servem para que novos crimes sejam ali aprendidos, planejados para o futuro e arquitetados. A
cadeia, então, ao invés de instrumento de custódia para recuperação de presos, passa a ser
verdadeira escola de graduação e, não raro, pós-graduação, para o cometimento de toda espécie de
delituosidade.
Inúmeras prisões, na quase totalidade dos estados brasileiros, estão, por assim dizes,
formando mestres e doutores em crimes.
Todos os governantes até aqui passados sabem que o sistema prisional brasileiro está em
falência absoluta, mas pouco ou nada fazem para solucionar o problema. Milhares de mandados de
prisão não são cumpridos por falta de ter onde colocar aqueles contra quem pesam esses
mandados.
A conclusão a que se chega é de lógica irretorquível: esse tipo de clausura funciona como
fator de reincidência criminal, contribuindo vigorosamente para o aumento da criminalidade
4- Raça
Estatísticas realizadas nos Estados Unidos, comparando a criminalidade entre as raças negra
e branca, dão como resultado um delinqüencial bastante alarmante em relação aos negros,
apresentados como muito mais criminosos que os brancos. Assim, com referência a delitos violentos,
a proporção é de 7 negros por 1 branco; no alusivo aos crimes contra a propriedade, a proporção é
de 3 ou 4 por 1; já com relação à fraude e falsificações, as cifras entre eles se equivalem; no que se
refere a crimes sexuais, a proporção é de 3 negros por 1 branco.
Não seria o caso de se relacionar esse quadro estatístico com os aspectos da discriminação,
preconceito racial sofrido pelo negro, e também com as condições econômicas e sociais vividas por
ele? Certamente que sim.
A causa da existência de um maior número de criminosos negros deve ser procurada na sua
miséria, na falta de educação e no tratamento, geralmente violento, que lhes dispensa a Polícia.
No Brasil, onde crimes praticados por negros e mulatos são bem maiores do que os imputados
aos brancos, provavelmente também não é pelo problema racial e, sim, pelas mesmas razões
apontadas com relação aos negros nos Estados Unidos.
E quem é tão cego a ponto de não enxergar, que os negros e mulatos brasileiros vivem em
condições econômicas, sociais e de educação, acentuadamente inferiores aos brancos.
5- Sexo
De qualquer levantamento que se faça em todos os presídios do mundo, uma verdade aflorará
inconteste: o homem seguramente pratica muito mais crimes que a mulher e a diferença entre a
criminalidade masculina e feminina é assustadora e significativamente bastante grande. Deve-se
enxergar nesse fato maior tendência do homem para o crime, ou tudo não passa, como diz Edwin
Sutherland, do resultado de uma diferença na natureza do trabalho de um e do outro ou das
condições diversas, de um modo geral, nos hábitos e métodos da vida de ambos?
O modo de agir e sentir difere muito entre o homem e a mulher, devendo-se creditar a esta,
inclusive, uma característica maior de nobreza de sentimentos; a mulher tem um sentimento de
honradez muito mais acentuado que o homem.
No que refere ao cometimento das infrações penais, também existem diferenças entre o
homem e a mulher. Ao elemento feminino, como que repugna a prática de certos crimes: assalto a
mão armada, por exemplo. O mesmo já não se nota relativamente ao furto em supermercados, casas
de moda, etc..., que contam com a preferência feminina.
Existem delitos exclusivamente masculinos (no Brasil, por exemplo, o estupro, o atentado
violento ao pudor, a posse sexual mediante fraude, etc.). Existem outros delitos que quase sempre
são cometidos por homens (assaltos à mão armada, latrocínios, seqüestros, etc.). Por outro lado, há
delitos que são praticados exclusivamente por mulheres (infanticídios, abortos); outros cometidos
mais pelas mulheres do que pelos homens (os furtos com abuso de confiança, a prostituição, etc.). E
finalmente, há crimes para cuja prática nenhum significado maior tem o sexo, ou seja, a maioria dos
delitos, ressalvando-se, porém, que aqueles em que se emprega a violência e a força física são mais
comuns aos homens, sem sombra de dúvida (homicídios, roubos, prática de torturas, etc.).
Dizem, algumas estatísticas, que a proporção existente entre delitos cometidos por homens e
mulheres é de 6 para os primeiros contra 1 para as segundas. Observando-se, ainda, que a
proporção da criminalidade feminina aumenta à medida que aumenta a participação da mulher na
vida social, política e econômica do país em que vive.
6- Idade
O crime varia de acordo com a idade e nada é mais natural. Assinalam, alguns autores, que
delitos de determinadas naturezas são praticados em certas faixas etárias, por exemplo, entre 21 e
24 anos seriam mais comuns os delitos de homicídio e a prática da prostituição e da vadiagem.
Segundo Sutherland, a idade máxima da criminalidade está no período jovem da vida, apresentando
um decréscimo a começar dos 30 anos. Entre homens com mais de 70 anos é grande a média de
crimes sexuais. Seja um menino, um adulto de 25 anos ou um homem de 100 anos, há que se ter em
conta o meio em que vive.
Drapkin observou que entre 18 e 25 anos para os homens, e 30 a 40 anos para as mulheres,
são os índices de criminalidade mais acentuados.
Pesquisas recentes feitas no Brasil, mais especificamente em São Paulo, em Distritos Policiais
da capital, mostram que o tráfico de drogas, os roubos e os furtos são praticados por jovens. A maior
parte dos crimes contra o patrimônio e de tráfico de drogas são praticados por homens entre 16 e 25
anos. A conclusão faz parte da pesquisa sobre a política estadual para a segurança pública,
coordenada pela socióloga Célia Soibelmann Melhem, da Unicamp. Ainda, segundo a pesquisa,
60,98% dos criminosos nasceram no Estado de São Paulo; Minas gerais, Bahia, Pernambuco,
Paraná e Ceará vêm a seguir, com 22,49% juntos.
A socióloga conclui que a maioria dos delinqüentes incluídos na pesquisa é pobre, de baixa
escolaridade e com saúde precária. Os delitos contra a propriedade ocorrem com mais freqüência
entre os 16 e 20 anos. Os crimes passionais têm sua freqüência maior entre 30 e 40 anos. Os crimes
sexuais costumam acontecer antes dos 25 anos ou depois dos 45 anos.
8- Jogo
Quando não se reveste de ilicitude penal, por ser proibido, o que o definiria como vício
criminoso, pode ser considerado como fator de criminalidade (cheques sem fundo, agressões e até
homicídios são cometidos em virtude do jogo).
9- Religião
Há que se evitar o perigo representado pela crença, por vezes extremamente absurda, sobre
o que o vulgo denomina de “misericórdia divina”. São religiões, seitas ou doutrinas, umas que levam,
pelo fanatismo, seus adeptos ao suicídio; outras se prestam á que determinados religiosos pratiquem
todas as espécies de violações sexuais contra mulheres incautas e culturalmente despreparadas,
como acontece em certos rincões do Brasil e possivelmente de outros países subdesenvolvidos.
10- Prostituição
Certas mulheres, num verdadeiro paroxismo de devassidão, prodigalizam seus favores
sexuais á vários homens e inclusive, de uma só vez.
O comércio sexual, seja qual for a razão que o determine, geralmente não é punível. Não
obstante, independentemente dos aspectos histórico-social e sanitário-moral, a prostituição merece
particular interesse por parte da Psicologia Criminal.
Na obra “La donna delinquente, la donna prostituta e la donna normale”, elaborada em
conjunto com seu genro Ferrero, Lombroso descreve a prostituta como uma pessoa mentalmente
débil e com um acumulado de contradições. Ressalta Lombroso que “a razão última do comércio da
prostituição é o idiotismo moral”.
Segundo Lombroso, existem determinadas mulheres que já nascem com a tendência á
prostituição: seriam as “prostitutas natas”, tal qual existem os “criminosos natos”. Ao lado dessas
“prostitutas natas”, desponta o grupo das “prostitutas de ocasião”, ou seja, aquelas que partem á
prostituição por condições socioeconômicas. Segundo pesquisa realizada por criminólogos, o fator
econômico é o que mais influencia a prostituição, já que as causas psico-orgânicas (biológicas)
representariam apenas 10% a 15%.
A pobreza geral, a promiscuidade das habitações como as favelas, as moradias coletivas
(cortiços e pensões), a falta de educação profissional e de trabalho honesto e contraprestado com
dignidade, os lares desfeitos ou viciosos, o alcoolismo paterno principalmente, a ausência de amparo
material e afetivo á infância, tudo isso, que no fundo, representa a mi´seria material e moral, constitui
causa vigorosa da prostituição.
No Brasil, por exemplo, são numerosíssimas as vítimas de estupro, atentado violento ao
pudor, corrupção de menores etc., que, abandonadas por seus violadores e desamparadas pela
família e pelo Estado, procuram o caminho fácil da prostituição.
Modernamente, a exploração do lenocínio é promovida por motéis, hotéis de alta rotatividade
e por agencias especializadas, onde o freguês escolhe a mulher através de álbuns de fotografias.
MICROCRIMINALIDADE E MACROCRIMINALIDADE.
- Crime de Colarinho Branco: É a violação da lei penal por pessoas de elevado padrão
socioeconômico, no exercício abusivo de uma profissão ilícita. É a delinqüência econômica. É o
crime daqueles indivíduos de alto ou significativo status socioeconômico, que tranqüilamente ignoram
as leis para aumentar os lucros de suas atividades ocupacionais, principalmente aquelas relativas ao
gerenciamento de negócios e empresas.
Nesta espécie de crime a violência praticamente inexiste, pois que seus promovedores
atingem os propósitos colimados através da astúcia e da fraude. Respaldando fundamentalmente em
seu poderio econômico, o criminoso de colarinho branco desfruta de ampla impunidade, de
respeitabilidade social e até de intangibilidade!
O Conselho da Europa, órgão colaborados do Conselho Econômico e Social da ONU,
divulgou um elenco dos considerados delitos econômicos, a saber: formação de cartéis; abuso de
poder econômico das multinacionais; obtenção fraudulenta de fundo do Estado; criação de
sociedades fictícias; fraudes em prejuízo dos credores; falsificação de balanços; fraudes sobre o
capital de sociedades; concorrência desleal e publicidade enganosa; infrações alfandegárias;
infrações cambiárias; infrações da bolsa etc.
No Brasil, intenta-se, diga-se assim, combater o “crime de colarinho branco” com a Lei 7.492,
de 16 de junho de 1986, coadjuvada pela Lei 8.884, de 11 de novembro de 1994. a Lei 7.492/86
ironicamente é epitetada por muitos de “Lei de Regência”. A Lei 8.884/94 é a chamada “Lei
Antitruste” que, alterando dispositivos do Código Penal Brasileiro, possibilita a prisão preventiva com
garantia de “ordem econômica”
No Brasil, exemplo perfeito de delito de “colarinho branco” foi aquele emaranhado criminoso
que suscitou, há poucos anos, no Congresso Nacional, a cognominada “CPI dos Anões do
Orçamento”, sobre grandes desvios na peça orçamentária. Mais recentemente, tivemos vários
exemplos, como o “Escândalo do Mensalão””, e atualmente, temos tidos diversas operações, como
“Operação Navalha”, “Operação Furacão”, Operação Anaconda”, e tantas outras, clássicas sobre
corrupção e desvios de verbas públicas.
Desde a Escola Clássica, impulsionada por Beccaria, passando pela Escola Positiva de
Lombroso, Ferri e Garófalo, o Direito Penal praticamente teve como meta a tríade delito-delinquente-
pena. O outro componente do contexto criminal, a vítima, jamais foi levado em consideração. Isto
apenas passou a ocorrer quando outras ciências, e principalmente a Criminologia, tiveram que vir em
auxílio do Direito Penal para a análise aprofundada do crime, do criminoso e da pena.
As primeiras manifestações formais sobre a vítima, sua tragédia e a desdita de seus
dependentes ou familiares, foram levantadas por Etiene de Greef e Wilhelm Saver.
Todavia, somente a partir de 1956, com o advogado de origem israelita Benjamin Mendelsohn
dando forma definitiva ás suas idéias e estudos antes publicados sobre a vítima, é que a Vitimologia
aflorou com essa denominação e com contexto de disciplina criminológica.
Em síntese, a Vitimologia busca indicar o posicionamento biopsicossocial da vítima diante do
drama criminal, fazendo-o, inclusive, sob os ângulos do Direito Penal, da Psicologia e da Psiquiatria.
Benjamin Mendelsohn situa a Vitimologia como uma ciência que ele entende distinta da
Criminologia. Outros criminalistas, porém, negam que a Vitimologia seja mesmo uma ciência.
Contudo, irrelevante que a Vitimologia seja, ou não, uma ciência. Na realidade, ela desponta como
um dos ramos da Criminologia, ramo que, sob a filtragem do Direito Penal e da Psiquiatria, tem por
escopo a observação biológica, psicológica e social da vítima em face do fenômeno criminal.
Assim, Vitimologia é a ciência que procura estudar a personalidade da vítima sob os pontos de
vista psicológico e sociológico na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime e da proteção
individual e geral da vítima.
Atualmente, a relevância da Vitimologia também dimana da realidade da participação da
vítima na gênese de muitos crimes. É imperativo que a ligação entre delinqüente e vítima seja objeto
de análise. O grau de inocência da vítima em cotejo com o grau de culpa do criminoso propõe
precisamente os aspectos que têm sido negligenciados e que podem contribuir para o entendimento
de numerosas ocorrências delinquenciais.
No contexto delituoso a vítima pode ser inteiramente passiva ou, ao contrário, pode ser ativa e
concorrente. Crimes há, em sua gênese, onde não se vislumbra nem ação nem omissão da vítima,
como o aborto consensual, por exemplo. O caso, é o nascituro quem se transforma em vítima. A
ausência da pessoa a ser vitimada também será suficiente estímulo para que ocorra furto ou furto
qualificado em sua residência. Da mesma forma, poderá servir de estímulo á prática de roubo e até
de latrocínio, o fato da pessoa se expor em locais inidôneos ou suspeitos exibindo dinheiro, jóias ou
valores. De mencionar, ainda, certas modalidades de estelionato nos quais a participação da vítima é
fator primordial para o desenlace anti-social, eis que, nessas infrações, ao contrário de estar em
oposição, a vítima está psicologicamente solidária com o delinqüente.
Incontáveis, ademais, os episódios criminais em que a vítima é a causa eficiente do delito que,
sem ela, sem a sua ocorrência ativa, jamais teria ocorrido. É o que ocorre em muitos crimes sexuais,
como, por exemplo, o estupro, pois não são raros os caso em que, em última análise, a maior vítima
dos crimes sexuais é o acusado e não a “pobre e infeliz” ofendida.
As Vítimas Autênticas
Como há criminosos que são recidivantes, é positivamente certa a existência de vítimas-
latentes, isto é, de pessoas que padecem de um impulso fatalístico para serem vítimas dos mesmos
crimes, para reincidirem e se vitimarem em idênticos eventos lesivos. Seriam verdadeiras vítimas
natas! EX: vigias de baços e supermercados, médicos, que no exercício da profissão estão a todo
tempo sujeitos a uma grande variedade de imputações e denunciações, os policiais, sempre á beira
de riscos iminentes, etc.
Tipos de Vítimas e sua Classificação
Mendelsohn sintetiza 3 grupos de vítimas, a saber:
a) vítima inocente, que não concorreu a qualquer título para o evento criminoso;
b) vítima provocadora que, voluntária ou imprudentemente, colabora com os fins pretendidos
pelo delinqüente;
c) vítima agressora, simuladora ou imaginária, que não passa de suposta vítima (ou
pseudovítima) e, por isso, propicia a justificativa de legítima defesa de seu “atacante”.