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Bernes

Dr. Carmello Liberato Thadei

São tanto os bernes quanto as miíases, causadas por larvas de


algumas espécies de moscas, que pelo fato de serem carnívoras
necessitam penetrar na pele de algum animal, para se nutrirem da
sua carne, e assim cumprirem seu ciclo biológico, transformando-se
em seguida em insetos adultos.

Diferenciam-se os bernes das miíases cutâneas, além do fato de


serem as larvas de espécies de moscas diferentes, pela
particularidade biológica dos bernes serem encontrados sempre
isolados - uma única larva em determinado lugar - nunca mais de
uma larva num mesmo loco, a não ser quando pelas suas
proximidades, poderem vir a se unirem os locais de ambos pelo
desenvolvimento posterior das larvas; Já nas miíases cutâneas,além
das larvas serem menores que as das larvas de moscas do berne, são
encontradas larvas em número em geral grande, que chega até
algumas centenas,todas em comum no mesmo local da penetração,
formando verdadeiras crateras na superfície do corpo de suas
vítimas.

São várias as famílias à que pertencem tais moscas, porém sob o


ponto de vista clínico-parasitológico, são as mesmas agrupadas em
dois grandes grupos:

l - Larvas que se nutrem de tecido vivo - Larvas biontófagas;


2 - Larvas que se nutrem de tecido morto - Larvas necrobiontófagas.

BERNES

Como ressaltado anteriormente, são encontradas as larvas de moscas


que constituem a doença com o nome de BERNE, sempre isoladas,
em lócus individuais, porisso denominadas também de furunculosas,
e pertencentes às seguintes espécies de insetos:

Dermatobia hominis - Constitue-se a espécie tipo, que recebe no


Brasil o nome de berne, e na região Amazônica o nome de Ura. Mede
o inseto quando adulto, de 14 até 17 mm e chama a atenção o
colorido metálico de cor azulada da sua região abdominal; O tórax
castanho escuro com tonalidade azulada manchada de negro,
apresentando as bochechas de cor amarelo escura e brilhante. No
ano de 1911, Rafael Morales, estudante de medicina na Guatemala,
descobriu por observação, que o ovo dessa mosca era transportado
por outros mosquitos para os locais em que em seguida sendo
depositado, vinham a reproduzir a doença.

Como todo inseto, seu ciclo evolutivo passa por fases: Os insetos
adultos alados, acasalando-se entre si dão origem a ovos que são
postos pelas fêmeas, e destes em seguida nascem larvas , que no
caso por serem carnívoras necessitam se alimentar de tecido vivo de
outros animais, vindo então a parasitarem suas vítimas, constituindo-
se essa fase propriamente o que é chamado de berne. Completado
seu desenvolvimento no local em que se instalaram, essas larvas
abandonam o local para continuarem seu desenvolvimento,
transformando-se então em pupa, para darem em seguida origem ao
nascimento de novos insetos adultos. Vinte e quatro horas após a
mosca ter abandonado o invólucro pupal, efetua-se a primeira cópula,
iniciando-se a postura no sétimo dia; Os ovos são depositados
diretamente sobre a parte lateral do abdome de outros dípteros
(insetos com duas asas), como moscas silvestres e mesmo a mosca
doméstica (Musca doméstica). Daí o fato da Dermatobia procurar
animais visitados assiduamente pelas moscas silvestres e por
culicíneos (família a que pertencem os pernilongos).

Segundo Neiva e Gomes, a Dermatobia fica a espreita de outras


moscas e mosquitos e procura agarra-los com as patas anteriores,
mesmo sendo eles de pequenas dimensões. Conseguindo apanhar um
inseto, cavalga-o rapidamente, e presa à ele,alça o vôo durante o
qual deposita seus ovos que ficam solidamente aderentes, graças à
uma substância especial que os reveste.

A Dermatobia põe em geral somente 15 a 20 ovos pôr vez, e pôr


inseto que apreende, porém pode chegar sua postura até a 400 ovos.
Estes outros insetos, e não a própria Dermatóbia são os veículos
pelos quais a mesma se serve para levar seus ovos, e com eles, as
larvas que vão em seguida, tendo contato com outros animais, e
mesmo o homem, penetrar na sua pele, constituindo o que é
denominado BÉRNE. No local em que se alojam referidas larvas após
a penetração na pele, à custa da própria carne de suas vítimas vão se
desenvolvendo, pois é o tecido vivo seu alimento; Ao cabo de 40 dias
completado seu desenvolvimento, o que em alguns casos pode
chegar a 70 dias, deixam o local em que estavam alojadas, e caindo
no solo, transformam-se em pupas, a qual ao cabo de alguns dias dão
nascimento ao inseto adulto, para novamente repetirem um novo e
idêntico ciclo.
A larva desta mosca é
facilmente identificável
peso seu tamanho, por ser
das maiores que se
conhece, em torno de até
10 mm (veja figura a
cima) e outras
características só visíveis
ao exame com lupa ou
microscópio entomológico.

Outras espécies de insetos parecidos com a Dermatobia, como as


abaixo nomeadas, determinam doenças agora no aparelho digestivo
de animais, com ciclo próprio de desenvolvimento:

Gastrophilus veterinus e G. intestinalis - Ambos, em suas fases


de larvas, têm localização no aparelho digestino de animais da
espécie bovina.

Gasterophilus haemorrhoidalis e
G. nasalis - Os hospedeiros habituais
são cavalos e outros equídeos. Quando
adultos não se alimentam e porisso
têm vida curta; As fêmeas põem os
ovos nos pêlos dos animais e destes,
as larvas que eclodem vão ter à boca,
vivendo em túneis cavados no tecido
sub-epitelial da mucosa bucal e da língua.Seu desenvolvimento larval
completa-se no estômago ou nos intestinos, onde penetram na
mucosa desses órgãos, provocando escaras que algumas vezes
podem inclusive provocar perfurações com complicações graves pela
associação com germes patogênicos contidos no interior do aparelho
digestivo. Ambas podem provocar no homem,ainda que raramente,
miíase do tipo larva migrans (Dermatose linear serpiginosa).

Hypoderma bovis - H.lineatum - As larvas desses insetos muito se


assemelham às da Dermatobia, com a diferença de serem parasitas
habituais de animais, principalmente bovinos. Causam prejuízos
consideráveis ao couro dos animais explorados na produção de carne,
pelo fato de seus couros ficarem danificados quando não imprestáveis
ao aproveitamento na indústria do couro.

Oestrus ovis - Estes insetos têm a particularidade de serem


parasitas habituais de animais das espécies ovina e caprina, e com
localização nasal em sua fase de larva. Já assinalado como hóspede
do homem, porém sem haver chegado a sua fase adulta. Em ovelhas,
têm localização sempre nasal, ou nos seios frontais e maxilares,
causando forte irritação e excitação em seus hospedeiros, com
sintomatologia que pode ser confundida com outras doenças.
Numa próxima oportunidade tratarei das chamadas MIÍASES
CUTÂNEAS, vulgarmente chamadas de BICHEIRAS, causadas por
larvas de algumas espécies de insetos, que como ressaltei no início
tem características próprias, diferentes dos Bernes.

Miíases ou Bicheiras

Dr. Carmello Liberato Thadei

Recebem o nome acima as doenças


causadas pela invasão do tecido cutâneo por
larvas de insetos dípteros, e em particular
pelos chamados dípteros miodários;
Conforme a biologia desses insetos, as
respectivas afeções que causam são de duas
categorias:

1 - BIONTÓFAGAS - Larvas que invadem os


tecidos sãos, não necrosados, inclusive a
pele íntegra São essas larvas chamadas de
biontófagas, pois se desenvolvem a custa do
tecido vivo, e por conseguinte, podendo
comprometer o estado geral do homem ou do animal por elas
parasitado. São essas larvas parasitas obrigatórias. Neste grupo estão
agrupadas as seguintes espécies de insetos: Callitroga americana,
Dermatobia hominis e Oestrus ovis.

2 - NECROBIONTÓFAGAS - Larvas que invadem exclusivamente


tecidos já afetados por necrose de outras causas .Estas nutrem-se
exclusivamente de tecido morto e porisso classificadas como
necrobiontófagas; Algumas delas não são prejudiciais, pois limpam as
feridas do material necrosado; Neste grupo estão as moscas do
gênero Lucilia, que já foram inclusive utilizadas como meio
terapêutico nos primórdios da medicina.

Raríssimamente iniciam uma miíase, e com certa freqüência são


encontradas como saprófagas de feridas ou cavidades infestadas por
outras espécies do grupo anterior. As principais larvas deste grupo
pertencem aos seguintes gêneros de moscas: Sarcophaga, Lucilia,
Phaenicia, Calliphora, Musca, Mucina e Fannia.

Sob o ponto de vista médico, no Brasil, as miíases podem ser:

1 - Cutâneas - Miíases Furunculosas, produzidas pela Dermatobia


homininis e pela Callitroga americana; Lesões parecidas à de
furúnculos, daí o nome acima: Furunculosa.

2 - Cavitárias -
a) Miíases das feridas - Callitroga macellaria;
b) Nasomiíases - Miíases na região do nariz;
c) Otomiíases - Localização na região dos ouvidos:
d) Oculomiíases - Localizadas na região orbital;
e) Cistomiíases - De localização na bexiga;
f) Miíases intestinais - Quando sua localização é nos intestinos.

As miíases causadas por larvas de moscas necrobiontófagas (que se


desenvolvem unicamente em carne pútrida ou em tecidos orgânicos
fermentáveis) tornam-se pseudoparasitas de lesões ou tecidos
doentes; Determina o que se denomina miíases secundárias, por ser
necessária a presença de material necrosado da ferida ou cavidade,
para seu desenvolvimento.

Nas ulcerações, os danos em geral carecem de importância, pois as


larvas se limitam a devovar os tecidos necrosados (mortos), não
invadindo as partes sadias, e por conseguinte não ocasionando
hemorragias. Estas foram já em passado recente utilizadas na
"limpeza" de feridas, porque alimentando-se do tecido necrosado que
existe em toda ferida, aceleravam e facilitavam o processo de
cicatrização.

Cabe ser observado que nas regiões onde ocorre a Leishmaniose


cutânea, como na região amazônica, principalmente no Território
Indígena dos Ianomâmis, são observados com muita freqüência as
naso-miíases, que nada mais são que miíases secundárias de larvas
de moscas necrobiontófagas, que se instalam na região do nariz, nas
lesões causadas primariamente pela Leishmania tegumentar.

As Miíases intestinais são sem sombra de dúvida, causadas pela


ingestão de ovos ou larvas, por meio de bebidas ou alimentos por
esses ovos ou vermes contaminados, e suas conseqüências carecem
em geral de gravidade, produzindo algumas vezes apenas náuseas,
vômitos e diarréia. Não obstante, a intensidade desses sintomas
dependem da sensibilidade do próprio enfermo, e do número de
larvas ingeridas. Segundo alguns autores, as larvas de moscas são
resistentes à ação de certas substâncias, inclusive à ação dos sucos
digestivos, podendo viver durante algum tempo no tubo digestivo.

Para o tratamento das bicheiras, quando as mesmas são superficiais


(cutâneas), basta aplicação local de qualquer substância que seja
ativa contra os insetos em geral, e concomitantemente não seja
tóxica ao hospedeiro, para que as larvas ou morram ou simplesmente
sejam expulsas do local onde se encontram, e a cicatrização
subseqüente do ferimento leve a bom termo a cura da enfermidade.

Quando se dá o caso de serem as bicheiras cavitárias, como é o caso


das gasterofiloses eqüinas, seu diagnóstico pelas técnicas
coprológicas usuais não é possível, a não ser quando encontradas
larvas íntegras no bolo fecal desses hospedeiros, o que pode ocorrer
porém de forma fortuita, e portanto o simples exame de fezes com
resultado negativo não descarta sua ocorrência. A presença de ovos
íntegros ou as larvas desses ovos já eclodidas, aderentes aos pêlos
dos membros anteriores e nos espaços intermandibulares, é
indicativo do parasitismo pelos gasterophilus.

Durante muito tempo, os únicos tratamentos conhecidos para o


combate à gasterofilose eqüina, foi com a utilização de bissulfeto de
carbono administrado oralmente e contido em cápsulas de
gelatina.Devido sua toxidez, caso administrado sem a devida técnica,
muitas vezes causava a morte do animal hospedeiro quando do seu
tratamento com essa substância farmacêutica.

Com a descoberta das substâncias organo-fosforadas, os produtos


sintéticos triclorfon e diclorvos, mostraram-se eficazes contra todos
os estágios da fase larval desses insetos. O primeiro deles tem sido o
produto mais utilizado em nosso meio, isola-damente ou em
associação, sob a forma de pasta, com benzimidazoles. Sen-do
pequena a margem de segurança, no que diz respeito a dose desses
produ-tos, que tem sua dose terapêutica fixada em 35/40 mg por
quilo de peso vivo do animal, deve tal dose ser fixada e
criteriosamente observada quando do tratamento, sob pena de
resultados desastrosos, inclusive com possível morte do animal.

Em fins dos anos 70, foram desenvolvidos novos fármacos, obtidos da


fermentação de um fungo: (Streptomyces avermitilis), isolado do solo,
no Japão. Uma dessas avermectinas, denominada de B1, apresentou
ação anti-parasitária contra todas as fases larvárias desses
Gasterophilus, tanto nos ecto quanto endoparasitas.

Recentemente, o anti-helmíntico salicilanilídico closantel, utilizado


geralmente associado aos benimidazoles, sob a forma de pasta, mos-
trou-se também eficaz como gasterofilicida, inclusive impedindo
reinfestações dos eqüinos até cerca de dois meses após o
tratamento.

As miíases ocorrendo em praticamente todo território brasileiro


devido nossas condições climáticas predominantemente tropicais e
equatoriais que muito favorecem o desenvolvimento dos insetos em
geral, possibilitam sua multiplicação em ritmo acelerado, e com isso
concomitante aparecimentos de bicheiras em nossos rebanhos, quer
bovinos, suínos, eqüinos, ovinos ou caprinos.

As perdas decorrentes dessas miasses se traduzem principalmente


por menor rendimento dos rebanhos explorados, quer na produção de
leite, quer na produção de carne e seus subprodutos como o couro,
este último muito depreciado pela bicheira.

Carbúnculo Hemático

Lúcia Helena Salvetti De Cicco


Editora Chefe
O carbúnculo é uma doença contagiosa que ataca todos os médios e
grandes animais, inclusive o homem e, geralmente é mortal.
Entretanto os eqüideos são menos atingidos que os ruminantes. É
produzida pelo Bacillus anthracis e, este micróbio encontra-se,
principalmente, onde já ocorreu a doença, pois seus esporos
permanecem no solo por vários anos. Geralmente estes esporos
provêm de animais carbunculosos enterrados no campo, sem o
devido cuidado e trazidos à superfície pelas minhocas. As fezes e
sangue dos animais que estiverem na pastagem são infectados.

É uma doença comum de animais mantidos em regime de pasto,


porém, pode surgir em estábulos por feno contaminado adquirido em
áreas onde ela ocorre.

O carbúnculo pode aparecer em qualquer lugar, porém, em certas


regiões existem focos onde ele se manigesta com freqüencia. Em
terrenos pantanosos e em áreas com muita matéria orgânica em
decomposição, os esporos podem viver por tempo prolongado,
durante anos. Os bacilos, porém, são pouco resistentes ao calor e à
dessecação. Infelizmente o esporo é o elemento responsável pela
maioria das infecções.

SINTOMAS - Nos eqüideos, a enfermidade em geral apresenta forma


relativamente benigna, com os seguintes sintomas: cólicas fortes;
edema do peito, pescoço e da região faringeana. Também podem
ocorrer: depressão, febre alta, dispnéia, edemas subcultâneos no
tórax e no pescoço, cólicas, faringite, hemorragia nasal e manqueira.
A morte, quando ocorre, as vezes é tão rápida que não se percebem
os sintomas nos animais a campo. Nos casos fulminantes, a morte
pode ocorrer em 24 e 48 horas e, nesses casos, observam-se os
edemas (tumefações), diarréia sangüinolentas, cor de chocolate, e os
animais se deitam com convulsões e dificuldade respiratória. Os
cadáveres incham rapidamente e então observam hemorragias pelas
aberturas naturais. O sangue é escuro e de difícil coagulação. Só
estes sinais identificam a doença.

Os animais são contaminados através dos intestinos; água;


escoriações; picaduras de insetos infectados e inalação do agente
infeccioso. Os urubus podem transportar a doença a grandes
distâncias. O homem pode ser infectado durante uma necropsia ou
manipulação de couros, chifres, lá e cadáveres de animais vitimados
pela infermidade.

A necrópsia é perigoso, sendo preferível, em caso de se pretender um


diagnóstico de laboratório, enviar um esfregaço de sangue ou um
osso de canela, muito bem protegido. O cadáver deve ser incinerado
ou enterrado no mesmo local, aplicando na sepultura uma boa
quantidade de cal.
PROFILAXIA - Emprego da vacinação. No entanto, a escolha do
produto deve ser feita por um médico veterinário, pois depende da
região e situação que se apresenta. Em toda propriedade onde tenha
ocorrido casos de carbúnculo, ou mesmo na vizinhança, os animais
devem ser vacinados no mês de agosto, pois geralmente o
carbúnculo aparece em outubro. A imunização requer 20 a 30 dias.

Também são recomendadas as seguintes medidas:

1. notificação de qualquer caso às autoridades sanitárias mais


próximas;
2. cremação perfeita do cadáver no próprio lugar da morte;
3. isolamento dos pastos contaminados;
4. desinfecção energética ou queima dos objetos e utensílios
contaminados;
5. tratamento dos animais doentes com doses adequadas de soro
anticarbunculoso;
6. vacinação sistemática de todos os animais sãos na região
exposta à doença;
7. drenagem e saneamento das áreas pantanosas.

TRATAMENTO - quando há tempo, o soro anticarbunculosos produz


bons resultados. No caso de suspeita chamar o médico veterinário o
mais urgente possível.

O LIMIAR DAS ZOONOSES

Quando Louis Pasteur desenvolveu importantes experimentos, em


1882, conquistando inúmeros adeptos, dentre os quais ilustres
veterinários da época, o eminente cientista enveredava, em
realidade, por um campo que haveria de ganhar foros de notoriedade,
e que hoje é conhecido como o das zoonoses. Daqueles estudos, os
médicos veterinários extraíram a base para produção de vacinas e
soros, que permitiram o controle mais ou menos rápido de uma das
mais graves doenças infecto-contagiosas, a Raiva.

A Organização Mundial de Saúde conceitua hoje como zoonoses, as


enfermidades transmissíveis dos animais vertebrados ao homem, e as
que são comuns ao homem e aos animais. No primeiro grupo, os
animais desempenham uma função essencial para que a infecção se
mantenha em a natureza, e o homem é apenas um hospedeiro
acidental; no segundo grupo, tanto os animais como o homem contrai
a infecção das mesmas fontes, tais como o solo, a água, os animais
invertebrados e as plantas; os animais, via de regra, não
desempenham papel essencial no ciclo vital do agente etiológico,
podendo contribuir, contudo, em grau variável, para a distribuição e
transmissão das infecções.
A adaptação dos animais às áreas urbanas está associada a
simbioses, parasitismos e outros fenômenos ecológicos vinculados à
presença do homem; nas grandes cidades, atualmente, o homem e os
animais compartilham o mesmo ambiente e os mesmos perigos. As
populações que se transferem às cidades levam consigo os seus
animais domésticos e, nessas regiões, especialmente em suas
periferias, os serviços de coleta e destino de lixo são precários; há
carência de água potável, aterros sanitários e drenagens das águas,
que dificultam a ocupação do solo pelo homem, além de favorecerem
a proliferação de insetos e roedores.

Outros fatores que têm contribuído para a expansão das zoonoses


são a penetração do homem em novas áreas geográficas e zonas
ecológicas, para colonização ou desmatamento e a disseminação de
novas espécies de animais entre as populações humanas. As
mutações genéticas podem, igualmente, causar o aparecimento de
novas zoonoses; um parasita contaminando o animal pode sofrer
mudança genética e se adaptar ao homem. Além do agente
infeccioso, dos hospedeiros e do meio ambiente, os fatores sociais,
políticos e econômicos, são responsáveis pelo aparecimento ou
recrudescimento das zoonoses na comunidade; a má qualidade de
vida de uma grande parte da população favorece o desenvolvimento
das enfermidades.

Outro aspecto a analisar, refere-se aos danos provocados pelas


zoonoses à economia, principalmente em países subdesenvolvidos,
onde a incidência é mais significativa, podendo causar a
incapacitação física ou mental de grande número de indivíduos na
faixa etária mais produtiva.

A luta contra as zoonoses no Brasil está no começo; as informações


disponíveis não mostram a verdadeira situação existente, pois os
dados sobre ocorrência, incidência e prevalência da maioria das
zoonoses, são raros ou inexistentes. Apesar das zoonoses mais
conhecidas serem trabalhadas com certa intensidade, muitas outras
não menos importantes para a Saúde Pública, não são notificadas,
nem têm programas de controle, para que possam ser avaliadas
dentre as 150 zoonoses descritas na América Latina e Caribe, pela
Organização Pan-americana de Saúde. Esta foi, está sendo e sempre
será, uma triste realidade decorrente de administrações tecnocratas,
insípidas e inescrupulosas, que perpetuam seus interesses, no
comando da Saúde Pública dos sofridos rincões do nosso enfermo
Terceiro Mundo.

O feedback ao valoroso trabalho de Pasteur, em sendo extremamente


negativo, continua, acentuadamente, a inibir o entusiasmo heróico de
poucos remanescentes do sanitarismo voltado para o interesse social
coletivo.
Este é o nosso quadro! Resta-nos avaliar e refletir sobre a nossa
parcela de responsabilidade, como médicos veterinários.

Dr José Brites Neto - Médico Veterinário


CRMV-SP nº 11996

Combate às Moscas

As moscas são uma praga encontrada em todo o mundo, temporária


ou permanente, conforme o clima.

Diversas espécies de moscas apresentam grande interesse higiênico


porque funcionam como vetores de microorganismos patogênicos
para o homem e os animais, como nos seguintes casos:

• Raiva;
• Carbúnculo hemático e sintomático;
• Febre tifóide;
• Afecções piogênicas;
• Tuberculose;
• Brucelose;
• Aftosa;
• Afecções piogênicas;
• Escarlatina;
• Tracoma;
• Poliomielite;
• Desinterias bacilares parasitárias;
• tripanossomíases e helmintíases e, etc.

O papel de vetor é desempenhado das seguintes maneiras: por


transporte mecânico, pelas patas, por inoculação, pelas dejeções, por
regurgitação ou como intermediário na evolução de certos
nematóides, como aconteceu na habronemose equina e também
como vetores de metazoários, como ocorre com a Dermatobia
cyaniventris, que utiliza as moscas domésticas para o transporte de
seus ovos, e cujas larvas provocam miíases cutâneas no homem e
nos animais. Ainda mais, diversas moscas que freqüentam os lugares
habitados pelo homem ou animal doméstico, produzem em estado
larvário, uma série de lesões conhecidas com o nome de miíases ou
bicheiras. O combate às moscas no meio rural deve ser feito por
todos os meios possíveis, veja a seguir como combatê-las:
Contra as moscas adultas:

1. Proteger os locais de elaboração de produtos alimentares e as


residências com portas e janelas teladas;
2. Usar uma iluminação adequada, pois os recintos intensamente
iluminados atraem as moscas;
3. Utilizar armadilhas matamoscas de todos os tipos em certos locais;
4. Distribuir armadilhas com iscas para atrair moscas;
5. Empregar inseticidas químicos eficientes e muito conhecidos no
mercado.

Contra as larvas:
1. Remover diariamente o esterco e o lixo dos estábulos e das
residências, depositando-os em locais ou recipientes fechados;
2. Colocar as criações de suínos e galinheiros, distantes pelo menos
uns 300 metros das residências e das fábricas de queijo ou manteiga.

3. O escoamento das águas servidas deve ser coberto e será evitada


a formação de poças ou acúmulo de água em vasilhas abandonadas;
4. Higienizar com desinfecções completas, caiações, etc., pisos e
paredes dos locais ocupados por animais, periodicamente;
5. As instalações sanitárias deverão ser higienizadas com
desinfetantes.

Zoonoses

As Zoonoses são infecções e doenças que podem ser adquiridas em


contato com animais de estimação como cachorro, gato e passarinho,
ou ainda, pela ingestão de carne contaminada de animais como o
gado ou o porco. Outras doenças podem ser contraídas através do
contato não desejado com ratos, moscas e baratas, principalmente
através da ingestão de água ou alimentos contaminados.

Larva migrans cutânea (bicho geográfico): A larva migrans


cutânea é encontrada por toda parte onde se encontrem cães e/ou
gatos infectados com ancilostomídeos, sobretudo A. braziliense e A.
ceylanicum. O problema é mais frequente em praias e em terrenos
arenosos, onde esses animais poluem e meio com suas fezes. Em
muitos lugares, são os gatos as principais fontes de infecção. O hábito
de enterrar os excrementos, tão característico desses animais, e a
preferência por fazê-lo em lugares com areia, favorecem a eclosão
dos ovos e o desenvolvimento das larvas. As crianças contaminam-se
ao brincar em depósitos de areia para construção, ou nos tanques de
areia dos locais destinados à sua recreação. Todos os animais
domésticos devem ser tratados sistematicamente e com regularidade
para prevenir-se as reinfeções.

Dipilidiose: a infestação por cestódios é extremamente comum em


cães e, em menor extensão, em gatos. Os seres humanos podem
tornar-se infestados com a forma adulta do cestódio (vermes chatos
na sua forma) dipylidium caninum, em seguida à ingestão do
hospedeiro intermediário, a pulga. Normalmente a infestação nos
seres humanos exibe sintomas clínicos, ocorrendo com maior
freqüência em crianças jovens.

Dirofilariose: acomete principalmente o cão doméstico, o gato e


várias espécies de animais silvestres. Referidos vermes são
classificados na Ordem Spirurida, superfamília Filaroidea, família
Filariidae. Nesse gênero (Dirofilaria), foram já descritas várias
espécies, entre as quais: Dirofilaria immitis (Leidy,1856), e a
Dirofilaria repens (Railliet y Henry, 1911). Ambas em sua fase adulta
localizam-se no coração, especialmente em sua porção direita, na
artéria pulmonar, e raramente outros vasos hemáticos e órgãos. A
dirofilariose humana é raramente reconhecida, sendo causada por
êmbolos de larvas mortas do parasita nos pulmões. os êmbolos
larvais são revelados radiograficamente como nódulos e, embora a
moléstia seja freqüentemente assintomática, requer biópsia cirúrgica
e avaliação histológica, para a confirmação do diagnóstico e
eliminação de condições mais sérias.

Toxoplasmose: a infecção com o parasita protozoário toxoplasma


gondii ocorre numa série de animais de sangue quente, mas a família
dos felídeos parece ser o único hospedeiro definitivo (único
hospedeiro onde ocorre o ciclo sexual do parasita). os gatos se
tornam infectados após a ingestão de animais caçados, ou de carne
crua contendo os trofozoítos. Após a infecção, os gatos excretam
oocistos em suas fezes durante uma ou duas semanas. os oocistos se
tornam infectantes em dois ou três dias, e podem sobreviver no
ambiente por diversos meses. a infecção humana ocorre com a
ingestão de trofozoítos na carne crua ou mal cozida, Ingestão de
oocistos provenientes das fezes de gato, e pela via transplacentária.
A infecção raramente produz moléstia clínica em seres humanos
adultos, a menos que estejam imunocomprometidos. A infecção
congênita do feto humano através da transmissão placentária
representa a maior ameaça aos seres humanos. a infecção congênita
pode levar a uma grave moléstia por ocasião do nascimento, e as
afecções oculares, mais tarde, durante a vida do indivíduo. alguns
cuidados durante a gravidez: ao manusear carnes cruas, verduras ou
fezes de animais, convém uso de luvas.

Leptospirose: A lepstospirose e enfermidade endemica, bastante


comum em épocas de chuvas. É uma doença causada por bactéria, a
LEPTOSPIRA ssp, afetando a maior parte dos animais inclusive o
homem. É transmitida através da urina, água e alimentos
contaminados pelo microorganismo, pela penetração da pele lesada,
e pela ingestão. O cão e outros animais como por exemplo rato,
bovino e animais silvestres também podem contrair a doença e
transmiti-la.

Campilobacteriose e salmonelose: Cães e gatos podem abrigar


campylobacter jejuni e uma série de espécies não-tifóides de
salmonella. Infecções com estas bactérias em cães e gatos nem
sempre cusam moléstias clínica, e têm sido isoladas das fezes de
animais sadios. A maior parte dos casos de enteropatia (problema
intestinais) humana causada por estas bactérias não está associada à
exposição a animais de companhia. os profissionais devem
aconselhar os donos de animais que todas as fezes, e em especial as
associadas com diarréia, devem ser manipuladas com cuidado, e
eliminadas de modo a impedir a potencial exposição humana.

Dermatomicose: a transmissão direta de microsporum canis de


cães e gatos de fato ocorre. até 30% dos casos de "tinha" humana em
áreas urbanas foram associados a contato direto com animais. os
proprietários dos animais devem ser aconselhados a lavar bem as
suas mãos, após a manipulação de cão ou gato infectado, e a não
permitir que seus filhos brinquem com os animais, até que o
tratamento tenha resolvido a moléstia.

Esporotricose: esporotricose é uma moléstia fúngica cutânea ou


linfocutânea crônica causada por sporothrix schenckii, cães, gatos, e
seres humanos são suceptíveis à moléstia, que geralmente está
associada a feridas traumáticas, penetrantes. relatos recentes
indicam que os cães infectados podem transmitir diretamente a
infecção para os seres humanos. Devido a estes achados, gatos com
esporotricose devem ser manipulados com luvas, até à resolução do
processo.

Raiva: A raiva é uma doença provocada por vírus, caracterizada por


sintomatologia nervosa que acomete animais e seres humanos.
Transmitida por cão, gato, rato, bovino, eqüino, suíno, macaco,
morcego e animais silvestres, através da mordedura ou lambedura da
mucosa ou pele lesionada por animais raivosos. Os animais silvestres
são reservatório primário para a raiva na maior parte do mundo, mas
os animais domésticos de estimação são as principais fontes de
transmissão para os seres humanos.
Teníase & Cisticercose: Verminoses frequentes em nosso meio
causadas pela Tênia, ou "solitária", como é popularmente conhecida,
são transmitidas através da ingestão de carne e derivados de porco
e/ou de vaca, ou outro alimento contaminado.

Dengue e Febre Amarela: A dengue é uma doença transmitida pelo


mosquito Aedes aegypti. Ele é escuro, com listras brancas, menor que
um pernilongo. Tem por hábito picar durante o dia e se desenvolve
em água PARADA e LIMPA.

Ao picar uma pessoa, o mosquito inocula sua saliva contaminada com


o vírus responsável pelo desenvolvimento da dengue. Na dengue
clássica ocorre febre alta com duração de 5 a 7 dias, manchas na
pele, dores de cabeça, olhos, articulações e músculos. Na dengue
hemorrágica, mais grave e rara que a forma clássica, ocorre febre
alta, hemorragia na pele, olhos e órgãos internos. Metade dos casos
hemorrágicos evolui para a morte.

A Febre Amarela se origina em regiões de mata, através da picada de


mosquitos silvestres. A doença pode ser trazida para as cidades por
pessoas que vão para as áreas de mata, a trabalho ou a passeio, e
voltam doentes. Na cidade, esta pessoa doente é picada pelo
mosquito aedes que transmitirá a doença quando picar uma pessoa
sadia.

Os sintomas são febre alta, dor de cabeça, calafrios, prostração,


náuseas, vômitos negros, hemorragias e coloração amarelada da pele
e mucosas. Metade das pessoas que contraem febre amarela
morrem. A prevenção se faz com a vacina contra febre amarela
aplicada 10 dias antes de viajar de férias ou a trabalho para áreas de
mata fechada.

Doença de Lyme: descoberta nos Estados Unidos há 15 anos, ainda


é pouco conhecida no Brasil. Pode se tornar problema de saúde
pública em futuro próximo pois já existem casos recentemente
confirmados na região da Grande São Paulo.

Baratas: As baratas estão entre os insetos que encontramos a toda


hora e que pouco sabemos sobre os riscos que eles acarretam para a
nossa saúde. Existem cerca de 3.500 tipos de barata. A mais
conhecida e comum no meio urbano é a barata de esgoto, ou
francesinha. Transmitem micróbios que causam infecções
respiratórias e intestinais. Suas fezes e suas cascas secas podem
causar alergias.

Na época das chuvas, elas procuram abrigo em lugares quentes,


úmidos e escuros, dentro dos prédios, nos cantos dasparedes das
casas, nas frestas de madeira, nos armários, gavetas, fornos, ralos e
depósitos. Estão sempre em busca de alimentos em lixos e esgotos.
Ao transitar por locais limpos contaminam os alimentos, louças,
pratos, talheres e copos.

Deixe sempre o alimento protegido, não guarde comida sem tampa


nos armários, principalmente doces e bolachas. Dê preferência aos
inseticidas acondicionados em armadilhas que atraem as baratas
para dentro delas. Não contaminam o meio ambiente e são eficientes
para acabar com elas.

Moscas: O lixo é o principal responsável pelo aparecimento das


moscas, devido a grande variedade de resíduos que servem para sua
alimentação.
Depositam bernes e bicheiras nos locais onde posam. Transmitem
doenças respiratórias, infecções e alergias. Lave os utensílios de
cozinha e da copa antes de usá-los, da mesma forma proteja os
alimentos. Lave as frutas antes de comê-las.

Histoplasmose: É provocada por fungos encontrados em fezes


secas de passarinhos, pombos e morcegos. A contaminação
geralmente ocorre através da inalação ou respiração do ar
contaminado com as fezes desse animais, ao fazer limpeza ou ao
adentrar locais por eles habitados.
A doença é de evolução crônica tanto nas crianças como nos adultos.
Se manifesta através de febre, gânglios ou "ínguas" no pescoço,
virilha ou debaixo do braço, infecção pulmonar, úlceras na pele,
anemia e diminuição do número de células brancas do sangue
responsáveis pela defesa contra infecções.

Medidas preventivas:

Ao limpar galinheiros, pombais e outros locais que contenham fezes


secas de aves ou morcegos, utilizar máscaras protetoras, ou um pano
úmido cobrindo o nariz. Umidecer as fezes antes de removê-las, para
evitar a poeira que elas provocam e assim diminuir o risco de
contaminação.

Máscara ou pano úmido também devem ser utilizados ao se visitar


túneis, cavernas e minas habitadas por morcegos.

Pulgas e ácaros de sarna: a sarna canina e felina, e pulgas têm um


grande potencial zoonósico. A dermatose associada a pulgas ou
ácaros de sarna em seres humanos é geralmente autolimitante, mas
pode voltar se não for curado o animal ou não for feita a higiene
adequada do ambiente.

Lúcia Helena Salvetti De Cicco


Diretora de Conteúdo e Editora chefe
Bibliografia:

Prefeitura Municipal de São Paulo


Secretaria da Saúde - Centro de Controle de Zoonoses
Zoonoses, que bicho é esse?, 1995.
Ministério da Saúde
Fundação Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia -
CENEPI
Gerência Técnica de Febre Amarela e Dengue, 1995.
O Médico da Família
Nova Cultural, 1994
Animais Peçonhentos
Bruno Soerensen - 1990

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