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A VISÃO HOLÍSTICA 

  
 
Novas visões, saberes antigos

A idéia do holismo não é nova. Ela está subjacente a várias


concepções filosóficas ao longo de toda a evolução do
pensamento humano. O termo holismo origina-se do grego holos,
que significa todo. No século VI antes de Cristo, o filósofo
Heráclito de Éfeso já dizia "A parte é diferente do todo, mas
também é o mesmo que o todo. A essência é o todo e a parte". 
 

O todo e a parte. 

Na verdade, partes e todo em sentido absoluto não existem. Tudo


o que há na natureza, seja o homem, um minúsculo inseto, uma
molécula, ou até mesmo as grandiosas galáxias que brilham na
noite, são considerados todos, em relação às suas partes
constituintes, mas também são partes de todos maiores. E tudo
isso, todos e partes, estão interligados, são interdependentes,
numa totalidade harmônica e funcional, numa perpétua oscilação
onde os todos e as partes se esclarecem mutuamente. 

Essa concepção holística do Universo mostra a existência viva de


uma relação dialética entre os fenômenos e sua essência, entre o
particular e o universal, entre a base material e a consciência,
entre a imaginação e a razão. 
 

Crise e fragmentação

A visão holística vem se colocar na época atual como uma


alternativa à frieza e à fragmentação de uma civilização calcada
em padrões competitivos e centrados na obtenção de bens
materiais. A holística não é uma ciência, nem uma filosofia. Não é
uma religião nem uma disciplina mística. Também não constitui
um paradigma científico, no sentido estrito que foi dado ao termo
por Thomas Kuhn, no seu livro A Estrutura das Revoluções
Científicas. 

É tão somente uma visão de mundo que vem se contrapor à visão


dualista, fragmentadora e mecanicista que despojou o ser
humano da sua unidade, ao longo desses séculos de civilização
tecnológica e de racionalismo exacerbado. 

A holística basicamente é uma atitude diante da realidade, uma


forma de ver e compreender o mundo, um espaço onde é
permitido um intercâmbio dinâmico entre Ciência, Arte, Filosofia e
as Tradições Espirituais, sendo exatamente esse intercâmbio que
se propõe como uma das mais criativas formas de enfrentamento
dos desafios deste final de século. 
 

Não juntar, não separar


Sendo uma atitude diante da vida, uma forma de compreender e
de estar no mundo, o pensamento holístico permeia todos os
níveis de atuação do indivíduo. Admite todas as religiões. Admite
todos os sistemas filosóficos. 
Mas não os mescla, não os mistura. Respeita o que cada um tem
de importante e entende que a diversidade é não somente
aceitável como até recomendável e essencial para a riqueza e a
fertilização do pensamento. 
Não exclui, não condena, não separa. Não nega nem afirma.
Trata, tão somente de construir pontes, de estabelecer nexos e
correlações entre campos até então considerados inconciliáveis
como entre a Ciência e o Misticismo, a Arte e a Filosofia. 

Considera que em cada coisa está representado o Todo e que este


transcende a simples soma de suas partes. Dessa forma, fica
claro que a visão holística não se coloca como a única ou a
melhor visão, pois isso seria incorrer na mesma ilusão messiânica
das ideologias políticas ou religiosas. 
Por isso não se contrapõe a nenhum sistema de idéias, a
nenhuma teoria. 
 

Holística e ecologia

O pensamento holístico é profundamente ecológico, e de acordo


com ele, o indivíduo e a natureza não estão separados mas
formam um conjunto impossível de ser dissociado. Por isso é que
qualquer forma de agressão à natureza e ao meio ambiente, para
a abordagem holística, é pura e simplesmente uma forma de
suicídio. 
 

Holística e contracultura

Apesar de baseado em idéias muito antigas, que se confundem


com as origens do pensamento humano, o movimento holístico
nasceu nos movimentos contraculturais e filosóficos da década de
60. Dessa forma, encontra pontos de contato com o movimento
anti-nuclear, o surgimento da consciência feminista, o movimento
de simplicidade voluntária, o renascimento das tradições
espirituais, a medicina alternativa, as lutas de libertação étnica, a
consciência ecológica. Todas essas bandeiras de luta têm um
caráter comum, que reside na resistência aos padrões
predominantes na nossa sociedade dominada pelo paradigma
mecanicista, onde o ser humano torna-se o predador do seu
semelhante. Esses padrões, calcados na tendência à auto-
afirmação excessiva, implicam em poder, controle e dominação
dos outros pela força, numa classe organizada dominante, em
posições de poder mantidas de acordo com hierarquias sexistas e
racistas, na ênfase na competição e não na cooperação, e no
endeusamento de uma tecnologia que tem por meta o controle, a
produção em massa e a padronização. 
 
Holística e conhecimento

Um dos aspectos mais importantes da abordagem holística é que,


sendo uma forma de encarar a realidade, seus conceitos podem
ser aplicados às mais diferentes áreas do conhecimento. Ao
mudar nosso olhar sobre o mundo, começamos a ver
possibilidades novas, impossíveis de serem visualizadas antes. 

Vislumbramos uma forma diferente de encarar a saúde e a


doença, o processo de cura, e a Morte. Alcançamos um maior
entendimento do que se passa durante o processo de ensino-
aprendizagem, e de quais estratégias são mais adequadas para
obter um melhor rendimento de nossas escolas aproveitando de
maneira mais criativa as infinitas potencialidades do nosso
cérebro. 

Despertamos para novas abordagens na psicologia que


extrapolam os limites do pessoal e nos mergulham em níveis
chamados transpessoais, e nos damos conta da importância
existencial e terapêutica dos estados ampliados de conciência. 

Descobrimos também maneiras inusitadas de se administrar


empresas, com a possibilidade de progredir e ter lucros
aumentados mesmo em épocas de crise, e mais, dentro de uma
relação harmônica com o meio ambiente. E podemos também
participar de uma prática política instigante, repleta de
significado, amor ao próximo, e realização enquanto ser humano,
além de estarmos prontos para relacionamentos humanos mais
prazerosos e criativos, onde haja um clima de alegria, respeito,
amor e compreensão, e sobretudo, de liberdade. 

E, finalmente, uma vez despertada a consiência holística,


descobrimos que a Arte deve estimular o respeito à vida, à
sensibilidade e à beleza, garantindo-se como uma forma
consciente de assumir as novas visões, como elemento divinatório
do Homem na direção dos deuses. 

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