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A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo

sProf. Orlando Tambosi

A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo

Charles Darwin manteve A Origem das


Espécies na gaveta por 20 anos. Temia chocar
a mentalidade religiosa de seus
contemporâneos: a teoria da evolução
demonstrava, afinal, que o homem é apenas um
animal entre outros e, como todos os outros,
evoluiu a partir de formas simples, através da
seleção natural. Nenhum lugar especial está
destinado a este parente próximo dos macacos
(tão próximo que, sabe-se hoje, seus genes são
99% idênticos aos do chimpanzé).
Conclusão: o homem não é, ao contrário do que dizem os textos
bíblicos, um ser criado segundo algum "plano divino", mas resultado
– como o próprio universo – de um processo cego, sem finalismo,
submetido apenas a causas e leis naturais.

Enfim publicada em 1859, a explosiva obra de Darwin marcava o


início de uma revolução nas ciências e de uma profunda revisão nas
concepções filosóficas e religiosas, gerando persistentes e
apaixonadas controvérsias.

A reação foi imediata. "O ateísmo esmagador cai sobre nós",


bradavam os dogmáticos; a Bíblia deve ser interpretada e aceita
literalmente, proclamava um documento assinado, em Oxford, por 11
mil clérigos anglicanos. A criação seria, daí em diante, o ponto
central da discórdia e da rejeição do darwinismo pelas religiões
cristãs, embora algumas delas jamais tenham assumido uma
posição oficial sobre a evolução. É o caso, por exemplo, das igrejas
anglicana, protestante e católica (esta excluiu a Origem... do índex
das obras proibidas).

Mas o fato é que, aos poucos, as reações ao evolucionismo tornar-


se-iam menos hostis, pelo menos na Europa. Há religiosos que não
vêem conflito entre a idéia da criação divina da vida e a evolução das
espécies. Em outras palavras, não interpretam a Bíblia tão ao pé da
letra.

Se os religiosos europeus, contudo, já não formam cruzadas contra


Darwin e a teoria da evolução, o mesmo não acontece nos Estados
Unidos, principalmente no sul. Lá, religiões aferradas à criação e ao
fundamentalismo ainda acatam – contra todas as evidências
científicas – as idéias do bispo Ussher, que proclamou, em 1665,
com base nas escrituras, que a Terra foi criada exatamente às 9
horas da manhã do dia 23 de outubro de 4.004 a. C.

Literalismo bíblico

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A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo

Pouco importam os métodos de datação radioativa e os registros


fósseis de milhões de anos (embora com lacunas, avidamente
exploradas pelos antievolucionistas). Para os adeptos do
criacionismo, ninguém pode saber o que realmente aconteceu, pela
simples razão de que "não havia gente para observar". Isto significa
que não há conhecimento dessas épocas e que a ciência só pode
remontar ao início dos registros escritos. Pois ciência, como escreve
Henry Morris – um dos velhos ideólogos do movimento criacionista –
em seu Scientific creacionism (San Diego, Creation-Life, 1974),
"significa conhecimento, e a essência do método científico é a
observação experimental" (textos de ambos os lados da controvérsia
podem ser encontrados na coletânea organizada e comentada pelo
filósofo canadense Michael Ruse em But is it science? The
philosophical question in the creation/evolution controversy, Amherst,
Prometheus Books, 1996).

O que basicamente une os cristãos fundamentalistas americanos em


torno do criacionismo é a interpretação literal da Bíblia. O mundo
teria começado tal como escrito nos primeiros capítulos do Gênesis,
isto é, teria sido criado no espaço de seis dias, e o Dilúvio seria um
fato histórico, assim como a Arca salvadora de Noé.

Essa crença na criação fixou raízes na cultura popular. Uma


pesquisa Gallup realizada em 1991 demonstrou que 47% dos norte-
americanos acreditam que Deus criou o homem na sua forma atual,
num momento "entre os últimos 10 mil anos"; que 40% acham que o
homem se desenvolveu a partir de formas de vida menos avançadas
há milhões de
anos, mas "Deus guiou todo o processo, inclusive a criação do
homem"; e que apenas 9% acreditam que o homem evoluiu a partir
de formas mais simples, mas "Deus não tomou parte nesse
processo".

Por que, então, a controvérsia? Antes de tudo, pesquisas mostram


também que a maioria dos cientistas se enquadra no ponto de vista
naturalista dessa minoria de 9% da população. É difícil imaginar algo
que separe tão profundamente o cidadão comum do homem de
ciência. Além
disso, a ciência tornou-se uma força dominante na cultura
contemporânea, ganhando respeitabilidade e acesso privilegiado às
salas de aula da escola pública, em detrimento das religiões –
motivos suficientes para que os criacionistas neguem e combatam o
trabalho dessa minoria tão poderosa.

Trata-se de uma cruzada que, no curso deste século, tem renovado


suas táticas e reciclado seus argumentos. Com um benefício, pelo
menos: reavivou o velho problema filosófico da demarcação entre
ciência e pseudociência.

No banco dos réus

Metodistas, batistas e presbiterianos dominaram a campanha


antievolucionista nos EUA nas primeiras décadas do século XX.

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Somente nos anos 20 , mais de 20 legislaturas debateram temas


antievolucionistas e quatro Estados (Oklahoma, Tennessee,
Mississippi e Arkansas) baniram das escolas públicas o ensino da
teoria darwiniana (ver Ronald Numbers,The creacionists, em But is it
science?, cit., e Michael Shermer, Why people believe weird things,
Nova York, W. H. Freeman, 1997, parte 3).

Vale a pena rememorar, portanto, os principais passos dessa velha


cruzada (não extensiva, é bem verdade, a todos os criacionistas) que
acabou desembocando nos tribunais, um dos quais seria compelido
até mesmo a definir em sentença o conceito de ciência.

Em 1923, Oklahoma aprovou uma lei oferecendo livros gratuitamente


para as escolas, desde que nem os livros nem os professores
mencionassem a evolução. No Tennessee, em 1925, o Butler Act
proibiu o ensino de qualquer teoria que negasse "a história da Divina
Criação do homem" (de acordo com a Bíblia), o que foi interpretado
como uma violação das liberdades civis (o célebre "Caso Scopes").
A lei, no entanto, só seria revogada em 1967.

Nos anos 60 e 70, entra em campo uma nova geração de


criacionistas, que passou a demandar igual tempo para Darwin e
para o Gênesis nas escolas. Argumento: a evolução é "apenas" uma
teoria, não um fato. A Creation Research Society, fundada em 1963,
toma a linha de frente das organizações criacionistas e consegue
aprovar em algumas legislações a exigência de que os livros
escolares incluíssem a advertência de que "a origem e criação do
homem e seu mundo não é um fato científico". A Bíblia era
designada, uma vez mais, como texto de referência. A Associação
Nacional do Professores de Biologia recorre e vence na Suprema
Corte, em 1968.

Os criacionistas, então, mudam de estratégia. Já que a teoria da


evolução não podia ser banida, passam a lutar por igual tempo para
a "creation-science" e para a "evolution-science". É aqui que entram
em cena o citado Morris e seu fiel escudeiro Duane Gish (um PhD
em bioquímica, astro dos debates antievolucionistas), organizando o
Creacion-Science
Research Center (CSRC), em 1972, junto ao Christian Heritage
College de San Diego, na Califórnia.

Nos dois anos seguintes, eles espalham os livretes Science and


Creation (destinados a alunos de 1a. a 8a. séries) em 28 Estados. A
"ciência da criação", sustentavam, deve ter proporcionalmente o
mesmo espaço reservado à "ciência da evolução" nos currículos
escolares. Ao mesmo tempo, o CSRC desenvolve campanhas em
que atribui ao evolucionismo a "decadência moral dos valores
espirituais", a "destruição da saúde mental" e o aumento dos
divórcios, do aborto e, até, das "doenças venéreas"! (R. Numbers,
coletânea citada).

Popper, Kuhn, Feyerabend...

Na defesa da "criação" como alternativa à "idéia de evolução", os

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criacionistas costumam citar filósofos como Karl Popper (para horror


do próprio), Thomas Kuhn e Paul Feyerabend – os dois últimos,
curiosamente, caros também à "esquerda acadêmica" nova-iorquina,
em geral relativista, multiculturalista e
"desconstrucionista" (guardadas as diferenças, o que une
criacionistas e "pós-modernistas" é uma visão ideológica das
ciências).

A epistemologia popperiana, como se sabe, exige que as teorias


científicas sejam falseáveis, isto é, a teoria só é cientifica se um fato
ou observação puder refutá-la. O filósofo, aliás, chegou a afirmar que
o darwinismo é um "programa de pesquisa metafísica", ao invés de
teoria científica passível de prova (cf. sua Autobiografia intelectual,
São Paulo, Cultrix, 2ª ed., 1986). Os criacionistas aplaudem, mas
omitem o fato de que Popper reviu sua posição em carta à revista
New Scientist (1980), reconhecendo que a evolução da vida na Terra
é testável e, portanto, científica.

Kuhn, por sua vez, definiria (em A estrutura das revoluções


científicas, São Paulo, Perspectiva, 1976) o progresso científico
como competição entre modelos ou paradigmas , termo que virou
moda na área de Humanidades. Os criacionistas não perderam a
oportunidade: modelo por modelo, não havia razão para que o
"paradigma da criação" não competisse, em igualdade de condições,
com o "modelo da evolução". A tática deu certo: Arkansas e
Lousiana, além de comitês de educação de outros Estados,
adotariam o argumento dos "dois modelos". Outro caso (McLean vs.
Arkansas) que foi parar nos tribunais.

O relativismo radical de Feyerabend foi, igualmente, providencial


para a "ciência da criação". O autor do célebre Contra o método
igualaria a ciência aos mitos, ao vodu, à bruxaria e à astrologia. Sua
teoria do "vale-tudo" ajudou a devastar muitas áreas das chamadas
ciências sociais e, é claro, serviu como luva aos fundamentalistas
religiosos: Feyerabend chegaria a defender-lhes o direito de terem
sua versão da criação ensinada nas escolas públicas, lado a lado
com a teoria de Darwin (ver O fim da ciência, de John Horgan, São
Paulo, Cia. das Letras, 1998).

Ciência definida (e defendida) no tribunal

O caso do Arkansas foi julgado em 81, contando com testemunhas


como o paleontólogo Stephen Jay Gould (vários livros traduzidos no
Brasil), o biólogo e geneticista Francisco Ayala e o filósofo Michael
Ruse, entre outros. O juiz federal William Overton proferiria uma
sentença memorável (reproduzida em But is it science?, cit.) em que,
definindo o que é ciência, concluiu que o conceito era inaplicável à
autodenominada "creation-science".

Descritivamente – escreve Overton –, "ciência é o que é aceito pela


comunidade científica" e "o que os cientistas fazem". E completa:
"Mais precisamente, as características essenciais da ciência são: 1)
é voltada para as leis naturais; 2) deve ser explicativa em relação às

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leis naturais; 3) é testável no mundo empírico; 4) suas conclusões


são provisórias, isto é, não constituem necessariamente a palavra
final; e 5) é falsificável".

São características que faltam à "ciência da criação", explica o juiz,


porque esta faz referência a uma intervenção sobrenatural, a um
Criador que teria gerado o universo a partir do nada (creatio ex
nihilo), ou seja, conforme escrito nos primeiros onze capítulos do
Gênesis. A "creation-science" é, na verdade, religião, posto que seus
argumentos não são explicativos em relação à natureza, não são
testáveis nem falseáveis. Em poucas palavras, pertencem ao terreno
da fé. Era inconstitucional, portanto, a lei do Arkansas, por violar a
separação constitucional entre Estado e religião.

Duplo erro, o dos criacionistas: ao pretenderem estatuto científico


para seus dogmas e ao definir a evolução como "evolution-science".
Como lembra Ruse, isto não faz sentido, pois não existe no mundo
tal disciplina científica. O corpo de conhecimentos que eles assim
denominam abrange ciências tão diversas como a astronomia, a
cosmologia, a geologia, a biologia, a paleontologia, a química, a
física e a botânica.

Isto não implica, obviamente, que a teoria da evolução não seja


científica. O próprio Papa João Paulo II reconheceria, em mensagem
à Academia Pontifícia de Ciências (22/10/96), que a teoria
darwiniana "é bem mais que uma hipótese", sendo hoje aceita
amplamente pelos pesquisadores em decorrência das "descobertas
em vários campos do conhecimento". A convergência dos resultados
de trabalhos conduzidos independentemente, observa ele, "é por si
mesma um argumento significativo em favor dessa teoria". Embora,
coerentemente com sua doutrina, o Papa ressalve que, se o corpo
humano tem origem em substâncias preexistentes, "a alma foi
imediatamente criada por Deus".

Os mecanismos da evolução

O que os cientistas entendem por evolução, resume Ruse, é a


explicação de como a vida se desenvolveu depois de sua formação:
não é objetivo da teoria evolucionária explicar como a vida começou.
Além disso, é importante distinguir, em relação ao termo evolução, o
acontecimento evolução do modo como aconteceu (o que os
criacionistas confundem). Nenhum cientista nega que a evolução
seja um fato; o que se discute é como aconteceu, ou seja, quais os
mecanismos da evolução.

Criacionistas que admitem de algum modo a evolução – porque é


impossível negá-la absolutamente –, limitam-na à evolução interna
às espécies (não aceitando sua ocorrência entre espécies).
Rejeitam, em conseqüência, que os seres vivos do planeta
descendem de um único ancestral, como está inscrito no código
genético, literalmente idêntico em todos os animais, plantas e
bactérias. Apesar de diferirem em detalhes superficiais, todos eles
"são variação do tema DNA e as 30 milhões de maneiras pelas quais

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ele se propaga" (ver, por ex., de Richard Dawkins,inimigo número 1


dos criacionistas, O rio que saía do Éden, Rio de Janeiro, Rocco,
1996, e A escalada do monte improvável, São Paulo, Cia. das
Letras, 1998).

O próprio Darwin fez conjecturas também sobre como aconteceu a


evolução, sugerindo que o mecanismo mais importante foi a seleção
natural. Sua argumentação, sucintamente: a) as populações tendem
a crescer indefinidamente em proporção geométrica; b) num
ambiente natural, porém, o número populacional estabiliza-se em
certo nível; c) ocorre uma "luta pela existência", porque nem todos os
organismos produzidos podem sobreviver e se reproduzir; d) há
variação – lenta, gradual – em cada espécie; e) na competição pela
sobrevivência, os indivíduos com variações que são mais adaptáveis
ao ambiente deixam mais descendentes que os menos aptos.
Sobrevivem, portanto, os que conseguem transmitir com êxito seus
genes para a geração seguinte.

Quanto à seleção natural, porém, há discordância entre os cientistas.


Alguns consideram mais importante o mecanismo da especiação
[formação de uma ou mais espécies a partir de espécies existentes,
por ex., por anagênese (transformação de uma espécie em outra)];
outros, como Niles Eldredge e Stephen Jay Gould, propõem a teoria
do "equilíbrio pontuado", que, negando o gradualismo darwiniano,
sustenta que a evolução envolve mudanças rápidas, como se
ocorresse aos solavancos; outros, ainda, consideram que o "puro
acaso" pode ser um importante fator (ver Ruse e Shermer, citados, e
Ernst Mayr, Toward a new philosophy of biology, Cambridge, Mass.,
Harvard University Press, 1988). Nas ciências, como se vê, a crítica
e a discordância são fundamentais: conjecturas e refutações, como
dizia Popper – o oposto do dogmatismo religioso/criacionista.

É claro que, 140 anos depois da publicação de A Origem das


Espécies, alguns princípios básicos da obra foram refinados, graças
ao impressionante desenvolvimento de ciências como a biologia e a
genética moleculares, que vão além do neodarwinismo ou "Nova
Síntese" (fusão da genética mendeliana com a teoria darwiniana,
entre os anos 20 e final dos 50). As descobertas da genética
molecular, nos últimos anos, conduziram a uma outra síntese:
conhece-se agora a natureza química do gene, que propiciou uma
visão dos processos evolucionários em nível molecular.

Isto comporta, segundo Ayala, notáveis vantagens em relação à


anatomia comparativa e outras disciplinas clássicas. A informação "é
mais facilmente quantificável: o número de aminoácidos ou
nucleotídeos que são diferentes é prontamente estabelecido quando
a seqüência de unidades numa proteína ou ácido nucléico é
conhecida para vários organismos". É o que acontece, por exemplo,
com a seqüência de aminoácidos do citocromo C, que já foi
determinada em vários organismos, da bactéria aos insetos e aos
seres humanos, fornecendo uma representação clara de como se
processou a história evolutiva desses organismos (Ayala, The
mechanisms of evolution, em But is it science?, cit.).

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Dawkins, o darwinista ortodoxo que os criacionistas tanto abominam,


reitera o exemplo de Ayala. Não há dúvida, comenta ele, de que "os
textos de ADN retirados de representantes de espécies diferentes
têm sido comparados com grande sucesso, letra por letra, para
reconstruir as árvores de família das espécies" – com a
possibilidade, inclusive, de estabelecer datas para as ramificações (a
controvertida teoria do "relógio molecular", que supõe que as
mutações em qualquer parte do "texto" do código genético ocorrem a
uma taxa constante por milhão de anos).

Em relação ao citocromo C, "o parágrafo" nos nossos genes que


descreve essa proteína tem 339 letras. Esclarece Dawkins: "Doze
trocas de letras separam o citocromo C humano do citocromo C dos
cavalos, nossos primos muito distantes. Apenas uma troca de letra
no citocromo C separa os humanos dos macacos (nossos primos
bastante próximos), uma troca de letra separa os cavalos dos
jumentos (seus primos muito próximos) e três trocas de letras
separam os cavalos dos porcos (seus primos um tanto mais
distantes). Quarenta e cinco trocas de letras separam os humanos
do levedo e o mesmo número separa os porcos do levedo. Não é
surpresa que estes números sejam os mesmos, pois, à medida que
subimos o rio que conduz aos humanos, ele reúne-se ao rio que
conduz aos porcos muito antes de o rio comum a humanos e porcos
se juntar ao rio que conduz ao levedo" (O rio que saía do Éden, cit.).

O verme nematóide, por exemplo, está mais próximo do ser humano


do que poderia imaginar alguém que considera aviltante até a
proximidade genética com os macacos. A empresa norte-americana
Genomium Sequencing Consortium concluiu, em dezembro último,
depois de oito anos de pesquisa, o mapeamento completo dos
genes desse verme, o primeiro animal a ser completamente
desvendado. A conclusão é espantosa: de cada cinco genes do
nematóide – ou Caemorhabditis elegans –, dois existem também no
homem. Não é pouco, já que seu corpo tem apenas 959 células,
enquanto o humano tem 50 trilhões. Habitante do solo, o nematóide
tem pouco menos de 20 mil genes, ou seja, três vezes mais que as
bactérias e cinco vezes menos que o ser humano (aproximadamente
100 mil).

Todos os mecanismos aqui mencionados excluem o finalismo.


Trocando em miúdos, não há um sentido evolucionário. Evolução
não quer dizer "progresso" das espécies, tampouco significa que o
homem seja o ser mais complexo da Natureza, se por isso se
entende a complexidade mental. O fato é que não há uma tendência
geral de evolução para cérebros grandes.

Como lembra Gould (entrevista a La Recherche, setembro/97),


existem mais espécies de bactérias que de animais multicelulares, e
mais de 80% das espécies multicelulares são insetos. "Não se pode
dizer que o crescimento da complexidade mental caracterize a
evolução", mesmo porque, "das quase 4 mil espécies de mamíferos,
apenas uma é consciente de si mesma". O traço mais fundamental

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da "árvore da vida", conclui o paleontólogo, "é a constância da vida


bacteriana" – e bactérias e vírus, aliás, evoluem mais rapidamente
que nós.

"Intelligent Design", o retorno

A mais recente versão da cruzada antievolucionista, batizada de


"Intelligent Design" (idéia antiga, como veremos), tenta agora fixar
raízes em universidades seculares. Dela participam intelectuais e
líderes políticos conservadores – muitos deles ligados à direita cristã
fundamentalista – como Irving Kristol, William Buckley, Jr., Robert
Bork, Walter Bradley e Philip Johnson (ver, de Ronald Bailey, Origin
of the specious. Why do neoconservatives doubt Darwin, em Reason
Magazine, julho 97). Juntam-se ao coro biólogos, matemáticos e
bioquímicos como David Berlinski, William Dembsky, Jonathan
Wells, Michael Denton e Michael Behe – este, no momento, o mais
incensado (por seu livro A caixa preta de Darwin, Rio de Janeiro,
Jorge Zahar Editor, 1997).

Alguns negam ser criacionistas, alegando que se interessam apenas


pela existência de um "projeto inteligente" no universo, mas não por
um designer (isto é, um Criador). Rejeitam a interpretação literal da
Bíblia, a idéia de que a Terra é jovem e até aceitam alguma forma de
evolução, desde que complementada pelo "projeto inteligente". São
todos, em realidade, criacionistas envergonhados, já que ativos e
assíduos participantes em conferências e encontros promovidos por
organizações religiosas norte-americanas.

Analisemos com brevidade alguns argumentos dos líderes mais


expressivos do movimento. Philip Johnson, professor de Direito
Penal na Universidade da Califórnia/Berkeley, é menos conhecido
por seus estudos jurídicos que por seus livros contra Darwin e a
teoria da evolução, entre eles Darwin on trial (InterVarsity Press,
1991), que exerceu grande influência no recente deslocamento da
cruzada rumo à academia.

Seu propósito pode ser resumido na fórmula "naturalismo =


materialismo = ateísmo", já que a ciência "declara que a natureza é
tudo, e que da matéria veio tudo o que existe". Daí os ataques a
Dawkins (de novo), a Carl Sagan e outros "mercadores do ateísmo",
cuja agravante é escreverem com clareza e, por isso, serem
convincentes. Contra estes, é preciso "preparar a próxima geração
de pensadores para que compreendam a diferença entre ciência real
e filosofia materialista".

Percebe-se que o advogado e professor Johnson tem pouco apreço


pelos dados da biologia evolucionária e molecular ("protegem o
materialismo"), da paleontologia, da genética, da embriologia, etc.
Na sua visão, a ciência foi "capturada" por uma ideologia a ser
desbaratada, o materialismo/naturalismo. "Um por um, os grandes
profetas do
materialismo revelaram-se falsos profetas e foram deixados de lado.
Marx e Freud perderam seu estatuto científico. Agora é a vez de

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Darwin" – proclama Johnson. O principal objetivo da cruzada para o


próximo milênio, por ele traçado, é "separar a filosofia materialista
das ciências empíricas" – o evolucionismo seria, no máximo, uma
filosofia.

Quanto à militância do autor em favor do teísmo (crença típica da


tradição judaico-cristã num Deus pessoal, onisciente e onipotente,
criador de tudo o que existe), basta consultar How to sink a
battleship: a call to separate materialist philosophy from empirical
science, palestra pronunciada na Mere Creation Conference,
realizada em Los Angeles, em 1996, sob os auspícios da Campus
Crusade for Christ e dirigida por Rich McGee, um especialista em
"Velho Testamento" e diretor da International Expansion for Christian
Leadership Ministries (este e outros textos aqui referidos estão
disponíveis on line, no endereço <http://www.origins.org/>. Entre os
membros do comitê diretor da conferência, vale notar sem surpresa
os já citados Michael Behe, Walter Bradley, William Dembsky e,
claro, Phil Johnson, que retomaria as argumentações mais tarde, em
artigo na Boston Review (fevereiro/março 97), sob o título Dogmatic
materialism.

Proposta do encontro: formular uma alternativa ao naturalismo


científico e unir pesquisadores teístas contra o secularismo,
dominante nas universidades e nas ciências, além de marcar uma
posição sobre as "origens" – calcada, precisamente, no slogan "mera
criação" – que possa ser amplamente aceita pelos cristãos. Para
tanto, criou-se o jornal Origins & Design, ligado aos "ministros de
Cristo" nos campi, que incentivam professores e alunos a assinar
uma "Declaração de fé" em que afirmam sua crença na "inspiração
divina e na autoridade da Bíblia"; na "divindade de Nosso Senhor
Jesus Cristo" e no "fato histórico de Sua ressurreição corporal"; "na
presença e no poder do Espírito Santo em prol da regeneração"; e
na "expectação do retorno pessoal do Senhor Jesus" (ver o site da
Leadership University, em http://www.leaderu.com/).

Para a "grandiosa tarefa" de separar as ciências empíricas da


"filosofia materialista", Johnson apela a todos os que possuem
"retidão de espírito". "Se você é um cientista", conclama ele, "você
pode seguir os passos de Michael Behe" e outros que não se
rendem aos "preconceitos
materialistas". "Se você é um filósofo", prossegue, "você pode
encorajar seus colegas a falar contra outros filósofos e cientistas que
abusam de sua autoridade promovendo filosofias dúbias como se
fossem empiricamente confirmadas".

E, por fim, faz uma exortação a seus colegas advogados, cuja


missão é persuadir os juizes de que "os princípios constitucionais da
liberdade de expressão se aplicam à crítica do naturalismo
evolucionário", posto que "muitos juizes têm a idéia de que a crítica
do naturalismo e do materialismo é ‘religião’, e, portanto, deve ser
proibida nas instituições públicas".

Em relação a Johnson, fiquemos por aqui. Sua ideologia, de

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motivação nitidamente religiosa, não necessita de mais exemplos.

Do relógio de Paley à ‘caixa preta’ de Darwin

O bioquímico Michael Bee (Universidade de Lehigh, na Pensilvânia)


é o mais novo astro das conferências criacionistas – embora afirme
não ser um deles – por içar novamente a bandeira do "Planejamento
Inteligente", sob o argumento de que alguns sistemas da Natureza
são "demasiado complexos" para terem surgido por evolução.
Apesar de filosoficamente antigo, o argumento dá nova vida à
dicotomia "teísmo versus materialismo" empunhada pelos "ministros
de Cristo", que vêem a sociedade cindida na luta entre essas duas
vertentes (cf. o artigo Anti-evolutionists form, fund Think Tank: old-
Eart moderates poised do spread Design Theory, de Eugenie C.
Scott, diretor do National Center for Science Educacion, que
congrega professores de ciências e que há anos vem desenvolvendo
atividades fundamentais na controvérsia creacion/evolution – ver site
<http://www.natcenscied.org/>).

O Design Argument remonta, na tradição cristã medieval, às


chamadas "provas da existência de Deus" (ontológica, cosmológica
e teleológica), discutidas sobretudo por Tomás de Aquino (1221-
1274). Trata-se, na verdade, do Argumento Teleológico, cuja versão
popular foi elaborada pelo teólogo inglês William Paley (1743-1805)
em sua obra Natural Theology, que, em sua passagem mais famosa,
convida o leitor a imaginar uma caminhada por uma charneca.

"Suponhamos" – escreve o reverendo – "que bati com o pé numa


pedra, e alguém me perguntou como a pedra chegou ali. Eu bem
poderia responder que (...) ela poderia ter estado ali desde sempre; e
talvez não fosse muito fácil demonstrar que a resposta era absurda.
Mas suponhamos que eu tivesse encontrado um relógio no chão, e
alguém me perguntasse como elehavia chegado ali. Eu dificilmente
pensaria na resposta que dei antes, que, por tudo que sabia, o
relógio devia ter estado ali desde sempre. Ainda assim, por que essa
resposta não serviria para o relógio, assim como havia servido para
a pedra?".

Paley faz essa distinção entre objetos do mundo natural e objetos


manufaturados para concluir que, examinado o relógio e percebidas
a ordem e regularidade de suas engrenagens, só se pode inferir "que
o relógio tinha que ser obra de um criador – que deve ter existido,
em algum tempo e em um ou outro lugar, um artífice, ou artífices,
que o construíram para tal finalidade (...), que compreenderam sua
construção e planejaram seu uso" (trechos cits. por Behe, em A
caixa preta de Darwin, e por Dawkins, no livro The blind watchmaker,
Nova York, W. W. Norton, 3ª ed., 1996, em que resume: se há um
relojoeiro, trata-se de um "relojoeiro cego", como demonstra a
seleção natural).

A propósito do Argumento Teleológico – que no século XVIII integrou


o projeto de uma aproximação entre religião e ciência experimental
–, convém recordar que foi submetido a cerrada crítica já pelo

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A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo

filósofo escocês David Hume (1711-1776), na obra póstuma (e sua


predileta) Diálogos sobre a religião natural, escrita nos anos 50. Por
sua vez, o "idealista" Kant (1724-1804), que não pode ser acusado
de espírito anti-religioso, devastaria as três provas metafísicas da
existência de Deus – e, com elas, boa parte da filosofia (ou
metafísica), de Platão a Leibniz.

Nada disso perturba o bioquímico Behe, que, apesar de criticar


Paley, a quem atribui "exemplos medíocres de planejamento", acaba
por afirmar que o teólogo "freqüentemente acerta em cheio". Behe
atribui a si próprio as provas definitivas em favor do design, "em face
da enorme complexidade que a bioquímica moderna descobriu na
célula". O resultado desse esforço de investigação da vida no nível
molecular, diz ele, "é um alto, claro e agudo grito: ‘planejamento!’".
Tal trabalho, pontifica, "é uma das grandes realizações da história da
ciência". E, pouco modesto, conclui: "A descoberta se compara às de
Newton e Einstein, Lavoisier e Schrödinger, Pasteur e Darwin".

A ratoeira de Behe

A inspiração confessa de Behe (cf. entrevista reproduzida em


<http://www.origins.org >) são os livros de Philip Johnson (Darwin on
trial) e de Michael Denton, que escreveu Evolution: a theory in crisis
(Bethesda, Adler & Adler, 1985), em que considera a descendência
dos seres vivos de um ancestral comum apenas "uma hipótese
altamente especulativa", sem suporte fatual direto. Embora admita
que a "microevolução" seja um fato comprovado, Denton sustenta
que não há evidências quanto à "macroevolução" – uma tese
compartilhada por Behe e, obviamente, também festejada pelos
criacionistas.

Os dois autores antievolucionistas exerceram "forte impacto" sobre


Behe. O livro de Denton foi particularmente significativo porque, diz
ele na entrevista, "critica a evolução sob um um ponto de vista
inteiramente científico" e, "como cientista, eu quero chegar a
conclusões sobre o mundo físico a partir da experiência". Como
"católico romano", entretanto, ele acredita que "Deus criou o mundo
e é responsável pela vida nele", mas afirma não cultivar "objeções
teológicas a priori em relação à vida ter sido produzida por processos
completamente naturais". Diante de tais declarações, fica difícil dizer
que Behe não seja criacionista.

O argumento central do bioquímico no livro – bem escrito e


informado, por sinal – é o da "complexidade irredutível". Um sistema
"irredutivelmente complexo, explica, "é um sistema único composto
de várias partes compatíveis, que interagem entre si e que
contribuem para sua função básica, caso em que a remoção de uma
das partes faria com que o sistema deixasse de funcionar de forma
eficiente". Um sistema de tal complexidade "não pode ser produzido
diretamente (isto é, pelo melhoramento contínuo da função inicial,
que continua a atuar através do mesmo mecanismo) mediante
modificações leves, sucessivas, de um sistema precursor" (p.48).

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A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo

O exemplo favorito de Behe é a ratoeira. Ela tem uma função


simples (pegar ratos) e possui várias partes (uma plataforma, uma
trava, um martelo, uma mola e uma barra de retenção). Se qualquer
dessas partes for removida, o aparelho não funciona. Portanto, é
irredutivelmente complexo (um automóvel, em contrapartida, pode
funcionar com os faróis queimados, sem as portas, sem pára-
choques, etc.).

Conclusão: sistemas irredutivelmente complexos constituem "sérios


obstáculos à evolução darwiniana". O problema, para o darwinismo,
é que ele requer que cada passo, na evolução de um sistema, seja
funcional e adaptativo.

O mundo da bioquímica, segundo Behe, está cheio de exemplos de


sistemas irredutivelmente complexos, como a visão, a coagulação do
sangue, a célula e o transporte celular. Trata-se de máquinas
químicas finamente delineadas, com precisão extrema e
interdependentes. A teoria darwiniana, para o autor, é incapaz de
explicar a base molecular da vida. Máquinas como a célula não
podem ter se desenvolvido à maneira darwiniana. São uma
verdadeira "caixa preta", cujo funcionamento interno "continua
misterioso". Portam a assinatura de um designer inteligente.

Graças a Behe e à bioquímica, assistimos a nada menos que uma


nova revolução copernicana: "A observação de que houve
planejamento inteligente da vida é tão importante quanto a
observação de que a Terra gira em torno do Sol ou que doenças são
causadas por bactérias, ou ainda que a radiação é emitida em
quanta!"

Desarmando a ratoeira

Da parte dos cientistas – especialmente os biólogos moleculares –


não faltaram críticas ao bioquímico especulativo que retoma o
Design Argument, por mais que proclame não se preocupar com um
designer. O problema é que ele considera científicas algumas
conclusões que são, na melhor das hipóteses, filosóficas. O católico
Behe, que já tem "a Verdade como ponto de partida", acha que seus
colegas abertos ao ceticismo – tão necessário às ciências - é que
são dogmáticos. Falta pouco para, como o padrinho Phil Johnson,
bradar contra o "materialismo ateu" dos métodos científicos.

Allen Orr, por exemplo, afirma que um sistema "irredutivelmente


complexo" pode, sim, ser construído gradualmente pela adição de
partes que, de ínicio, são meramente auxiliares, mas que, devido a
mudanças posteriores, tornam-se essenciais. A lógica, diz ele, é
bastante simples. Uma parte A serve (ainda que não muito bem) a
alguma função. Uma outra parte, B, é adicionada para auxiliar ou
melhorar a primeira. Mais tarde, A pode mudar de modo tal que B se
torne indispensável – um processo que continua até formar-se um
sistema completo, para o qual muitas outras partes podem ser
requeridas.

Não há garantia de que esses acréscimos ou melhoramentos – eis o

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A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo

ponto – permaneçam sendo meros acréscimos: podem tornar-se


essenciais. Basta pensar na programação de computadores. Linhas
de código são adicionadas sucessivamente a um programa, até que
ele funcione de modo satisfatório, de modo que pode tornar-se difícil
ou impossível reconstruir, passo a passo, o caminho ou origem – até
mesmo pelo programador. O sistema construído pode, assim, tornar-
se irredutivelmente complexo. Mas essa "complexidade irredutível"
não invalida a evolução gradual, e o
mesmo ocorre com os processos bioquímicos (Orr, Darwin vs.
Intelligent design (Again), Boston review, dez/96-jan/97).

Em outras palavras, embora não possamos reconstruir o caminho de


muitos sistemas, processos e coisas, isto não significa que tenham
surgido prontos, perfeitos, designados desde o início por um ser
consciente para cumprir uma finalidade – seja um Deus, seja um ET.

Mencione-se também a resenha do biólogo Jerry Coyne, do


Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago,
na revista Nature (God in details, 19/set/96). Depois de considerar A
caixa preta de Darwin a versão mais sofisticada da "creation-
science" e dizer, "horrorizado", que não se reconhece na "citação
seletiva" feita no livro, Coyne aponta algumas contradições de Behe.
Como pode ele admitir, por exemplo, a "microevolução" e a teoria de
que os seres vivos tem um ancestral comum, e, ao mesmo tempo,
negar a "macroevolução"? E, finalmente, como aceitar a teoria de
Behe de que criação e evolução podem ocorrer conjuntamente em
nível molecular?.

Se verdadeira essa "teoria híbrida" – tem razão Coyne –, produzir-se-


ia descendência estéril, uma vez que, conforme a idéia de Behe, a
primeira célula "planejada" abrangeria o DNA para todas as futuras
mudanças evolucionárias, incluindo o sistema imunológico, o olho, a
coagulação do sangue, etc. De fato, se criação e evolução operam
conjuntamente, e se os objetivos do Designer são insondáveis, a
teoria de Behe é, nos termos de Popper, infalsificável, isto é, não
pode ser verificada nem refutada.

"Posso imaginar evidências que falsificariam a evolução (um fóssil


de hominídeo na era pré-cambriana seria suficiente)", encerra
Coyne, "mas nada pode falsificar a teoria compósita de Behe". Trata-
se, portanto, de uma "obra de advocacia" criacionista, e, pode-se
acrescentar, numa versão requentada do velho Argumento
teleológico.

Com ela, a cruzada contra Darwin ganha novo alento.

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