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A respiração

O controlo da respiração intervém na arte de dizer na medida em que se relaciona com as


pausas que, por sua vez, produzem o ritmo.
Além disso está também relacionado com a intensidade e a entoação. Assim sendo, é
importante a educação respiratória. Esta consiste em exercícios de inspiração e expiração.

Exercício de aplicação à leitura de um texto:

(inspiração) As crianças têm medo à noite, às horas mortas,


(expiração) Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,
(inspiração) Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
(expiração) Não te rias da infância, ó velha humanidade,
(inspiração) Que tu também tens medo ao bárbaro papão,
(expiração) Que ruge pela boca enorme do trovão,
(inspiração) Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
(expiração) Um papão que não faz a barba há seis mil anos,
(inspiração) E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
(expiração) Lá em cima, detrás das portas do infinito

Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno!


A dicção
A dicção perfeita consiste em tornar a mensagem mais audível e mais inteligível ao ouvinte.
Os trava-línguas ajudam a corrigir e a aperfeiçoar a dicção.

Exercícios:
Recita os seguintes trava-línguas, primeiro devagar e depois cada vez mais depressa, sem
omitir nenhuma sílaba:

Um tigre, dois tigres, três tigres.


O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia.
Assim como a pega papa a fava, por que é que a fava não papa a pega?
Debaixo da pipa passa o pinto, pinga a pipa, pia o pinto.
O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. E o tempo respondeu ao
tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.
Era uma vez uma mafagafa que tinha cinco mafagafinhos; morreu a mafagafa e ficaram
os mafa-gafinhos a mafagar sozinhos.
Um prato de papas a pata papa.
Paulina sem pau é Lina; Paulina sem Lina é pau; tira-se o pau à Paulina, fica Paulina sem
pau.
Moço, meu moço leva os bois ao lameiro, os sapatos ao sapateiro que tos sole e sobres-
sole e que tos torne a sobressolar. E sobressolará, sobressolará, que ele bom sobressolador
será.
Pardal pardo por que palras? Palro e palrarei porque sou o pardal pardo palrador de el-
rei.
Tenho uma saia birlada chirlada, de galhopa talhada. Disse ao galhopo talhador que a
birlasse, que a chirlasse que eu pagaria a birladura, chirladura, de galhopa talhadura.
Uma pedra geraldenga outra geraldenga está; quem a geraldengarou a geraldengará.
DICÇÃO - PARA LER DEPRESSA

A voz
Os sons da voz humana provêm da vibração das cordas vocais modificados no seu trajecto.
As qualidades do som são: intensidade, altura e timbre.

Exercícios:
1.
a) Lê um pequeno poema mantendo sempre a mesma intensidade, altura e timbre. Deves
separar cadencialmente todas as sílabas e palavras. Vais ver que o efeito é monótono.

b) Lê o mesmo poema:
num tom mais alto e mantendo-o até ao fim;
num tom mais baixo, mantendo-o até ao fim;
num tom médio mantendo-o até ao fim.

2. Alunos diferentes lêem, alternadamente, cada frase.


Natal dos meninos que esperam a meia-noite para abrir os presentes embrulhados
em papéis de mil cores.
Natal dos meninos em redor da árvore de Natal.
Natal dos meninos amados e acarinhados pelos pais.
Natal das crianças do meu bairro que espreitam, cobiçosas, os comboios de corda
nas montras iluminadas.
Natal dos meninos sem pai e sem mãe, à espera de amor.
Natal dos meninos da guerra, à espera de paz.

3. Lê o poema que se segue procurando pronunciar cada unidade gráfica no mesmo tom,
mas elevando progressivamente o tom de unidade para unidade, de forma a conseguir um
tom emotivo gradualmente crescente.

É a guerra aquele monstro /


Que se sustenta das fazendas
do sangue
das vidas /
e quanto mais come e consome /
tanto menos se farta. /
É a guerra aquela tempestade terrestre /
Que leva os campos
as casas
as vilas
os castelos
as cidades /
e talvez num momento /
sorve os reinos /
e monarquias inteiras.

Padre António Vieira, Sermões, Adaptado de Dizer e Representar, Mª Leonor C- Buescu

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