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Seção VII

Oncologia

A) Tumores da adrenal
B) Câncer de rim

C) Tumores de retroperitôneo

D) Tumores de pelve e ureter


E) Câncer de bexiga

F) Câncer de próstata

G) Câncer de testículo
H) Câncer de pênis

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Seção VII A

Capítulo 87
Investigação diagnóstica
das massas adrenais

Ubirajara Ferreira
Gustavo B. Mendonça

Introdução intravenoso e/ou oral é utilizado para auxiliar na


caracterização da natureza da lesão e sua relação com
O uso cada vez mais disseminado de métodos diag- estruturas adjacentes. Todas as lesões sólidas, maiores
nósticos não-invasivos tem incrementado o diagnóstico do que 4 cm são consideradas lesões suspeitas, inde-
de lesões de adrenal assintomáticas (incidentalomas). pendente de outras características morfológicas. Um
A prevalência tem sido estimada em torno de 0,35% adenoma de adrenal usualmente apresenta-se como
das tomografias computadorizadas e 1,5% das resso- uma lesão sólida pequena, bem-definida, homogênea,
nâncias magnéticas. com baixa impregnação pelo contraste endovenoso.
Aproximadamente, 95% dessas lesões são adenomas Devido à grande quantidade de lipídeos presente nos
corticais não-funcionantes, menores que 5 cm. adenomas, a densidade dessas lesões é baixa, variando
de 0 a 30 unidades Hounsfield (UH). Assim, lesões
adrenais sólidas pequenas (até 4 cm) e homogêneas,
Diagnóstico por imagem com até 18 UH nos cortes tomográficos sem con-
traste, são sugestivas de adenoma com 100% de
Ultra-sonografia especificidade e 85% de sensibilidade, sem neces-
sidade de avaliação com contraste endovenoso. Le-
A ultra-sonografia pode detectar lesões adrenais sões homogêneas, com densidade acima de 18 UH,
maiores que 2 cm de diâmetro, mas não pode definir merecem melhor avaliação através da injeção de con-
de maneira precisa seu tamanho e suas características traste iodado endovenoso. Adenomas de adrenal
morfológicas. Pode ser usada em casos selecionados apresentam uma baixa captação e uma rápida desim-
para seguimento de algumas lesões de adrenal. pregnação pelo contraste, e imagens realizadas após
10 minutos da injeção de contraste habitualmente
Tomografia computadorizada mostram densidades de no máximo 40 UH. Lesões
A tomografia computadorizada (TC) é o método sólidas de adrenal heterogêneas, ou lesões homo-
de imagem mais importante no diagnóstico e avalia- gêneas com elevada captação e/ou desimpregnação
ção das lesões de adrenal. A gordura perinefrética lenta de contraste, sugerem lesões malignas.
permite que a glândula fique bem evidente e lesões Ressonância magnética
menores que 10 mm podem ser diagnosticadas, com
uma sensibilidade de quase 100%. A ressonância magnética (RM) permite a avaliação
A TC deve ser realizada com cortes finos, não de detalhes anatômicos. A contribuição da RM surge
maiores que 5 mm, sendo que o contraste iodado nos casos de lesões adrenais maiores, nas quais há a

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Guia Prático de Urologia

necessidade da avaliação da relação do tumor com altas doses de dexametasona (8mg/dia por dois dias)
estruturas adjacentes (fígado, por exemplo) ou então e dosagem sérica de cortisol na manhã seguinte à admi-
pela possibilidade da reconstrução de imagens em nistração. Caso haja supressão do cortisol endógeno,
múltiplos planos, no caso de planejamento cirúrgico. trata-se de doença de Cushing. Caso não haja supressão
Habitualmente, lesões benignas de adrenal apresentam da secreção de cortisol endógeno, trata-se de síndrome
sinal hipointenso tanto nas imagens ponderadas em de Cushing (tumor de adrenal ou ACTH ectópico).
T1 como em T2. Lesões malignas de adrenal habi-
Hiperaldosteronismo
tualmente apresentam sinal hipointenso em T1 e
hiperintenso em T2. Nos pacientes hipertensos com hipocalemia asso-
ciada, a supressão da atividade plasmática de renina,
Cintilografia associada a níveis plasmáticos elevados de aldosterona
estabelece o diagnóstico laboratorial de hipersecreção
A cintilografia é útil na avaliação de lesões medu-
adrenal de aldosterona. Após o diagnóstico clínico, é
lares através da administração da meta-iodobenzil-
realizada TC para tentar localizar a lesão. Nos casos
guanidina (131I-MIBG), que é especificamente con-
de dúvida diagnóstica, deve-se tentar lateralizar a
centrado no sistema simpático-medular. Esse método
secreção hormonal através da cateterização seletiva
localiza os feocromocitomas adrenais com 86% de
sensibilidade e 99% de especificidade. Além disso, é das veias adrenais e dosagem sérica de aldosterona.
bastante útil na identificação de feocromocitomas extra- Hiperandrogenismo
adrenais, sendo essa a principal aplicação do método. Os esteróides plasmáticos e urinários estão aumen-
tados em pacientes com hipercortisolismo e em casos
Avaliação funcional de tumores exclusivamente produtores de andrógenos.
A avaliação da hipersecreção de andrógenos inclui:
dosagem sérica de androstenediona, deidroepian-
Tumores corticais drosterona, sulfato de deidroepiandrosterona, testos-
terona livre e total, 11-deoxicortisol, cortisol, aldos-
Os tumores corticais podem ser responsáveis por
terona e dosagens urinárias de 17-hidroxi-esteroiodase
três tipos diferentes de hipersecreção hormonal da
e 17-cetoesteróides.
adrenal: hipercortisolismo (síndrome de Cushing),
hiperaldosteronismo primário (tumor adrenal pro-
dutor de aldosterona), e hiperandrogenismo (sín-
dromes de virilização). Tabela 1: Avaliação funcional dos tumores de adrenal
Hipercortisolismo
A produção aumentada de corticóide por tumores
de adrenal corresponde a cerca de 8% dos casos da
síndrome de Cushing. Para avaliação do hipercortiso-
lismo, deve-se solicitar dosagem de cortisol livre uri-
nário na urina de 24 h (de preferência três amostras
colhidas em dias consecutivos). As dosagens séricas
de ACTH e de cortisol (colhidas sempre entre meia-
noite e 2 h) auxiliam no diagnóstico diferencial entre
hipercortisolismo adrenal (cortisol alto e ACTH bai-
xo) e hipercortisolismo ACTH dependente (cortisol
alto e ACTH alto), que corresponde à produção ectó-
pica de ACTH ou alteração no eixo hipotálamo-hipo-
fisário. O teste de supressão com dexametasona pode
ser útil na diferenciação entre síndrome de Cushing
pituitária (doença de Cushing) e síndrome de Cushing
extrapituitária (tumor adrenal ou produção ectópica
de ACTH). Este teste baseia-se na administração de

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Tumores medulares esclareçam sua localização adrenal, pode-se utilizar a


cintilografia com 131I-MIBG para localização de
Dentre os tumores medulares, os únicos que mere- feocromocitomas extra-adrenais (bexiga e tórax),
cem atenção com relação à avaliação hormonal são com sensibilidade de 86% e especificidade de 99%.
os feocromocitomas.
A investigação se faz por meio de dosagens séricas
e urinárias das catecolaminas e de seus metabólitos Leitura recomendada
(metanefrinas e ácido vanilmandélico). A dosagem
das metanefrinas na urina de 24 h constitui o teste 1. Glazer HS, Weyman PJ, Sagel SS et al. Nonfunctioning adrenal
mais sensível (97%) para diagnóstico dos feocromo- masses: incidental discovery on computed tomography. AJR
citomas, devendo ser o primeiro a ser realizado. A Am J Roentgenol, 139: 81, 1982.
2. Dietrich C, Wehrmann T, Hoffmenn C et al. Detection of
dosagem sérica de catecolaminas (noradrenalina e
the adrenal glands by endoscopy or transabdominal
adrenalina) com sensibilidade de 93% e o ácido vanil- ultrasound. Endoscopy, 29: 859, 1997.
mandélico na urina de 24 h com sensibilidade de 3. Resnek RH, Armstrong P. Imaging in endocrinology. The
90% são testes realizados nos casos em que as meta- adrenal gland. Clin Endocrinol (Oxf), 40: 561, 1994.
nefrinas urinárias são normais. Em até 10% dos casos 4. Korobkin M, Brodeur FJ, Francis IR et al. Delayed enhanced
os feocromocitomas são não-funcionantes e o diag- CT for differentiation of benign from malignant adrenal
nóstico é apenas anatomopatológico. masses. Radiology, 200: 737, 1996.
5. Boland GW, Hahn PF, Pena C et al. Adrenal masses:
Caso seja feito o diagnóstico clínico e laboratorial characterization with delayed contrast-enhanced CT.
de feocromocitoma e os métodos de imagem não Radiolody, 202: 693, 1997.

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Seção VII A

Capítulo 88
Conduta frente à massa adrenal

Marcus Vinícius Sadi

Introdução Tabela 1: Classificação etiológica dos principais incidentalomas


da supra-renal
Massas nas supra-renais são encontradas em 0,3 a
10,8% de casos de TC de abdome, com uma média
de 2,8%. A grande maioria destes tumores, denomi-
nados incidentalomas, é de origem benigna e não-
funcionantes (Tabela 1). Entretanto é importante
distinguir os tumores benignos não-funcionantes da-
queles funcionantes ou malignos, quer estes últimos
sejam primários ou metastáticos. A abordagem destes
pacientes deve levar em conta a baixa incidência desta
patologia, a adequação dos métodos diagnósticos Siekavizza JL, Bernardino ME, Samaan NA. Suprarenal mass and its
atuais e seus custos, os riscos e as conseqüências de differential diagnosis. Urology 18: pp. 625-32, 1981. Gross MD,
eventuais resultados falsos-positivos. O diagnóstico Shapiro B. Clínical review 50: clinically silent adrenal masses. J Clin
correto dessas massas é geralmente realizado por meio Endocrinol Metab 77: 885-8, 1993
de uma história clínica e exame físico completos, testes
bioquímicos específicos, avaliação radiológica e mapea-
mento com radioisótopos. lesão pode ser utilizada, mas na maioria dos casos só
serve para caracterizar o tecido como de origem
supra-renal ou não, porque, em geral, reflete a tradi-
Diagnóstico dos cional dificuldade encontrada em tumores endócrinos,
incidentalomas para se afirmar um diagnóstico anatomopatológico
adequado quanto à natureza da lesão. Mapeamento
Os incidentalomas são usualmente diagnosticados de supra-renal pode ser um teste sensível quando aco-
em estudos de rotina ou rastreamento de patologias plado aos bioquímicos, porém não é ideal para tu-
abdominais, pelos exames que habitualmente permi- mores pequenos, menores que 2 cm. Tumores benig-
tem uma imagem anatômica adequada do retroperitô- nos costumam ter uma imagem homogênea, com
neo: o ultra-som (US), a tomografia computadorizada contornos bem-delimitados e uma nítida separação
(TC) e a imagem por ressonância magnética (RM). com as estruturas adjacentes. Tumores malignos têm
Estes exames são, em geral, incapazes de traduzir a uma aparência mais agressiva, com imagem hetero-
natureza clínica destes tumores. biópsia por agulha da gênea, sem limites definidos e irregulares. Metástases

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Guia Prático de Urologia

podem ser semelhantes a tumores benignos, embora, locorticóides, glicorticóides, estrogênios e androgênios.
em geral, são tumores com um maior diâmetro inicial. Representam 7% a 12% dos incidentalomas da supra-
Calcificação tumoral é inespecífica e pode renal e todos devem ser tratados com exérese cirúrgica,
simplesmente significar hemorragia prévia. Na TC, independentemente do seu tamanho original. Tanto à
adenomas corticais têm, em média, 2,5 cm de diâmetro cirurgia clássica como a por via laparoscópica podem
e HU igual a 8, enquanto tumores metastáticos ser utilizadas para este fim, mas estudos recentes
apresentam diâmetro médio de 3,8 cm e HU de 31. demonstraram a superioridade da última sobre a pri-
HU menores que zero são descritos como sendo até meira. Há obrigatoriedade de investigação metabólica
100% específicos para o diagnóstico diferencial entre de todas as massas supra-renais encontradas acidental-
adenomas corticais e tumores metastáticos. A TC com mente, pois tumores hipersecretantes clinicamente silen-
HU entre 0 e 18 HU, ou mesmo superiores (até 30 ciosos são freqüentes (Tabela 2).
HU, após imagens tardias com contraste), apresenta
uma acurácia em torno de 50% para o diagnóstico de
tumores benignos. A RM é o exame ideal nos casos Benignos versus malignos
sugestivos de feocromocitoma, pois estes tumores,
caracteristicamente, apresentam-se com um sinal hiper- É preciso caracterizar se a massa da supra-renal é
intenso nas imagens em T2. A indicação da punção/ primária (benigna ou maligna) ou metastática (Figura
biópsia da supra-renal deve ser feita com critério, pois 2). Pacientes com tumores de mama, pulmão, rim,
a incidência de complicações não é desprezível e varia linfomas e melanomas podem ter um alto índice de
entre 8% a 12% dos casos. Sua melhor indicação lesões metastáticas na supra-renal (6% a 38%), em
encontra-se no diagnóstico diferencial entre os tumores especial se existirem outras lesões em ossos ou linfo-
primários e os metastáticos. nodos. Tumores primários com mais de 5 cm devem
ser removidos, pois têm alta probabilidade de serem
malignos, e sabe-se que a sobrevida dos adenocar-
Funcionantes versus cinomas da supra-renal é maior quando os tumores
não-funcionantes ressecados têm menos de 5 cm de diâmetro. Tumores
menores que 3 cm são adenomas corticais em 80%
Tumores benignos não-funcionantes, em geral ade- dos casos. Entretanto a indicação da exérese cirúrgica,
nomas do córtex da supra-renal, representam entre baseada no diâmetro máximo, não é necessariamente
70% a 95% de todas as massas supra-renais encon- precisa, pois, embora o índice de tumores malignos
tradas acidentalmente pelos métodos de imagem atuais versus benignos nas massas não-funcionantes inci-
(Figura 1). Tumores funcionantes são evidenciados dentais menores que 5 cm seja de 1:8, estima-se que
pelo excesso de produção de catecolaminas, minera- tumores malignos ocorram em até 16% das massas
com 2 cm de diâmetro, 48% daquelas com 5 cm,
62% com 6 cm e 82% com 8 cm (Diagrama 1).

Tabela 2: Freqüência dos principais incidentalomas funcionantes


da supra-renal e testes bioquímicos mínimos utilizados na sua
investigação

Figura 1: Incidentalomas da supra-renal com diâmetro maior


que 1 cm, descobertos em tomografia computadorizada, de acordo
com a idade, o estado funcional e a característica anatomo-
patológica dos tumores. (Herrera MF, Grants CS, Van Heerden JA, Sheedy Kloos RT, Gross MD, Shapiro B. Investigation of incidentally discovered, biochemi-
PF, Ilstrup DM. Incidentally discovered adrenal tumors: an institutional perspective. cally non-hypersecretory benign adrenal adenomas: a review of the current knowledge
Surgery 110: pp. 1014-21, 1991) and areas for future investigation. Internal Medicine 2: pp. 9-15, 1994

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Guia Prático de Urologia

Diagrama 1: Algoritmo utilizado para investigação dos incidentalomas da supra-renal para pacientes com baixo risco para tumores
malignos (sem predisposição genética e sem outros tumores primários conhecidos). As linhas interrompidas representam decisões
controversas e uma análise conjunta dos apectos clínicos, laboratoriais e radiológicos (CT e RM) de cada paciente deve ser
considerada para uma conduta adequada. Veja texto para uma análise crítica da avaliação destes tumores somente pelo seu tamanho

(*) Testes funcionais de acordo com a Tabela 2

Seguimento
Nos pacientes com tumores não-funcionantes
maiores que 2 a 3 cm, deve-se realizar exames radio-
lógicos ou radioisotópicos seriados, aos três, nove,
18 e 36 meses, até se chegar a uma avaliação, a cada
dois ou três anos, embora não existam critérios bem-
definidos a este respeito. Casos com imagem radio-
lógica duvidosa, heterogênea e de baixa definição
podem ser submetidos a uma biópsia transcutânea
com agulha. Tumores malignos na biópsia ou aqueles
que apresentam crescimento nos exames seriados de
controle devem ser operados.
Figura 2: Diâmetro de 86 massas supra-renais e achado anatomo-
patológico. (Paivansalo M. Lahde S, Merikanto J, Kallionen M. Computed
Leitura recomendada tomography in primary and secondary adrenal tumours. Acta Radiol 29: pp.
519-22, 1988)
1. Jossart GH, Burpee SE, Gagner M. Surgery of the adrenal
glands. Endocrinol Metab Clin North Am, 29 pp. 57-
68, 2000. Abrams HL. Differentiation of malignant from benign
2. Bravo EL. Evolving concepts in the pathophysiology, adrenal masses: predictive indices on computed tomography.
diagnosis, and treatment of pheochromocytoma. Endocr AJR Am J Roentgenol 144: pp. 61-5, 1985.
Rev 15: pp. 356-68, 1994. 4. Copeland PM. The incisdentally discovered adrenal mass.
3. Hussain S, Belldegrun A, Seltzer SE, Richie JP, Gittes RF, Ann Intern Med 98: pp. 940-5, 1983.

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Seção VII A

Capítulo 89
Aspectos cirúrgicos dos
tumores da adrenal

Gustavo Franco Carvalhal


Eduardo Franco Carvalhal

As patologias cirúrgicas da adrenal incluem lesões hipertensão arterial crônica ou paroxística e vasocons-
benignas funcionantes e não-funcionantes desta glân- trição periférica, com conseqüente contração do vo-
dula, assim como lesões metastáticas e o carcinoma lume plasmático. Seu manejo perioperatório é desafio
primário de adrenal. A abordagem cirúrgica das di- à parte pelas repercussões hemodinâmicas durante o
versas “massas adrenais” depende da provável natu- ato anestésico. Recomenda-se o alfabloqueio periope-
reza da lesão, tamanho, envolvimento de estruturas ratório (mínimo de duas semanas), com fenoxiben-
adjacentes, biótipo do paciente e experiência da equipe zamina ou prazosina. Alguns grupos utilizam bloquea-
cirúrgica. Conhecimento das distintas relações anatô- dores dos canais de cálcio. Betabloqueadores podem
micas da adrenal à direita e à esquerda é essencial. ser úteis em casos de arritmias associadas ou taquiar-
Tradicionalmente, grandes incisões como a subcostal ritmia ao alfabloqueador. Monitorização anestésica
ampliada, bilateral (Chevron), lombotomia clássica cuidadosa (linhas arterial e venosa central), disponibi-
ou dorsal (pequenas lesões) e incisão tóraco-abdo- lidade de nitroprussiato, labetalol e expansores plasmá-
minal (para massas > 6 cm) têm sido necessárias ticos são essenciais. A dissecção cirúrgica do feocromo-
devido à posição retroperitoneal alta da glândula citoma objetiva minimizar a manipulação da glândula
adrenal. Recentemente, a abordagem laparoscópica
adrenal, evitando a descarga abrupta de catecolaminas.
(trans ou retroperitoneal) tem se constituído na via
A ligadura precoce da veia adrenal também diminui as
de escolha para a maioria das lesões benignas de
chances de emergências hipertensivas transoperatórias.
adrenal, com redução da morbidade pós-operatória.
Após esta etapa, deve-se atentar para hipotensão durante
O desafio atual do urologista consiste em definir qual
o ato cirúrgico pela queda brusca de catecolaminas na
paciente com lesão adrenal necessita de tratamento
cirúrgico e qual a melhor técnica a ser empregada. circulação. Esta deve ser manejada com o uso de adre-
Individualização dos casos e emprego de cuidados nalina, colóides e expansores plasmáticos.
pré e pós-operatórios específicos são elementos A cirurgia aberta transperitoneal tem sido largamente
fundamentais do sucesso terapêutico. utilizada devido ao amplo acesso e possibilidade de
avaliar a presença de lesões da cadeia simpática simul-
tâneas (10% dos casos). Recentemente, com os avanços
Lesões funcionantes da adrenal de imagem na localização de lesões extra-adrenais
(RNM e cintilografia com meta-iodobenzilguanetidina)
Feocromocitoma e acúmulo de experiência com a via laparoscópica, esta
técnica tem se demonstrado efetiva no tratamento dos
Tumor neuroendócrino da medula adrenal, cuja pro- feocromocitomas pequenos e médios (até 6 cm). Estes
dução em excesso de catecolaminas pode acarretar tumores tendem a ser maiores que os demais adenomas

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Guia Prático de Urologia

funcionantes de adrenal e apresentam maior risco


cirúrgico. Alguns grupos, porém, relatam redução das
variações hemodinâmicas transoperatórias e menor
morbidade com a via laparoscópica.

Síndrome de Cushing
A remoção cirúrgica da adrenal em pacientes com
1A
síndrome de Cushing (excluída doença hipofisária),
com excesso de produção de cortisol, tem indicação
nos casos de adenoma unilateral funcionante da adre-
nal (85% a 90% dos casos) e hiperplasia adrenal
bilateral (10% a 15%). Conseqüências do hipercorti-
solismo (diabete, hipertensão, obesidade, cicatrização
inadequada e alterações cardiovasculares) são respon- 1B
sáveis pela morbidade pós-operatória. A abordagem
laparoscópica tem sido utilizada com sucesso na au- Figura 1A: Aspecto tomográfico de adenoma secretor de
aldosterona (hiperaldosteronismo primário), removido por via
sência de contra-indicações cardiovasculares, mini- laparoscópica. Figura 1B: Do espécime cirúrgico
mizando as complicações incisionais. Em raros casos,
lesões com mais de 6 cm podem sugerir carcinoma
A conduta no incidentaloma adrenal (achado oca-
adrenal funcionante.
sional em exame de imagem) é ainda hoje controversa.
Hiperaldosteronismo primário Alguns autores recomendam a remoção cirúrgica de
(síndrome de Conn) qualquer incidentaloma pela incapacidade atual de
descartar malignidade (através de TC, RNM ou biópsia
Adenomas secretores de aldosterona são a causa percutânea) e dificuldade de acompanhamento a longo
da hipertensão arterial em 1% a 2,5% dos casos. A prazo. Porém, tem sido consenso relacionar o tamanho
presença de hipertensão, hipocalemia, aldosterona da lesão e a idade do paciente na definição da conduta.
sérica elevada e baixa renina plasmática é característica São sugeridos, pela maioria dos autores, alguns critérios
quando associados à pequena lesão adrenal à TC, em de intervenção e seguimento, expostos na Tabela 1.
geral menor que 3 cm (Figuras 1A e 1B). Trata-se de Todo incidentaloma deve ser avaliado quanto a ser
indicação ideal para a via laparoscópica. Lombotomia funcionante ou não (6% a 30% das vezes pode ser
posterior ou clássica são alternativas adequadas. A cura hiperfuncionante), conforme a Tabela 2. Apesar da
da hipertensão costuma ocorrer em cerca de 90% dos disponibilidade atual de técnicas minimamente
casos. Pode-se utilizar espironolactona pré-operatório invasivas, a adrenalectomia laparoscópica é
na correção da hipocalemia. procedimento de grande porte, com potenciais riscos,
e não deve influenciar os algoritmos de conduta no
incidentaloma adrenal.
Lesões não-funcionantes
da adrenal
Lesões malignas da adrenal
O mielolipoma de adrenal é um tumor benigno
constituído por tecido adiposo e hematopoiético, Lesões com 5 cm ou mais à TC sugerem a possi-
característico à tomografia e ressonância pelo alto bilidade de carcinoma primário de adrenal, cujo único
conteúdo gorduroso. Nos casos assintomáticos, a con- tratamento efetivo é a ressecção cirúrgica. A diferen-
duta é conservadora, embora alguns autores sugiram ciação histológica entre adenoma e carcinoma nem sem-
maior risco de hemorragia acima de 4 cm. Dor ou pre é conclusiva, sendo o diagnóstico baseado muitas
suspeita de lesão maligna são indicações de intervenção. vezes no comportamento clínico da lesão (Figura 2).
Cistos de adrenal (endoteliais verdadeiros ou pseudo- Lesões metastáticas para a adrenal são, por sua vez,
cistos) são raros, mais comuns em mulheres e não menores, limitadas à glândula e mais freqüentes, sendo
exigem intervenção quando assintomáticos e homo- os tumores primários mais comuns pulmão, rim, mela-
gêneos à TC ou RNM. noma e colo. Sua remoção é indicada quando se tratar

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Guia Prático de Urologia

Tabela 1: Algoritmo no incidentaloma de adrenal

Figura 2: Carcinoma primário de adrenal esquerda (diagnóstico


provável por imunistoquímica), removido por via laparoscópica

de metástase única e o tumor primário for ressecável.


A cirurgia aberta é o método de escolha para lesões
malignas da adrenal. Adrenalectomia radical, com
remoção em bloco da gordura periglandular e folheto
peritoneal parietal, é recomendada. O papel da laparos-
copia é ainda controverso, sendo admitida em casos de
lesões pequenas, sem invasão de estruturas adjacentes,
em centros selecionados.
Quadro 1: Critérios para avaliação de incidentalomas

Leitura recomendada
1. Vaughan Jr. ED, Blumenfeld JD, del Pizzo J, Schicman SJ,
Sosa RE. The Adrenals. In: Walsh P, Retik A, Vaughan Jr.
ED, Wein A. Campbell´s Urology, 8th edition, vol. 4,
pp. 3507-65, Ed. Saunders, 2002.
2. Lucon AM, Latronico AC. Doenças benignas e malignas das
supra-renais. In: Barata HS, Carvalhal GF. Urologia -
Princípios e Prática, pp. 581-7, ed. ArtMed, 1999.
3. Gill IS. Case for laparoscopic adrenalectomy. J Urol 166:
pp. 429-36, 2001.
4. Moreira SG, Pow-Sang J. Evaluation and management of
adrenal masses. Cancer Control 9(4): pp. 326-34, 2002.

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