Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Oncologia
A) Tumores da adrenal
B) Câncer de rim
C) Tumores de retroperitôneo
F) Câncer de próstata
G) Câncer de testículo
H) Câncer de pênis
Capítulo 87
Investigação diagnóstica
das massas adrenais
Ubirajara Ferreira
Gustavo B. Mendonça
299
necessidade da avaliação da relação do tumor com altas doses de dexametasona (8mg/dia por dois dias)
estruturas adjacentes (fígado, por exemplo) ou então e dosagem sérica de cortisol na manhã seguinte à admi-
pela possibilidade da reconstrução de imagens em nistração. Caso haja supressão do cortisol endógeno,
múltiplos planos, no caso de planejamento cirúrgico. trata-se de doença de Cushing. Caso não haja supressão
Habitualmente, lesões benignas de adrenal apresentam da secreção de cortisol endógeno, trata-se de síndrome
sinal hipointenso tanto nas imagens ponderadas em de Cushing (tumor de adrenal ou ACTH ectópico).
T1 como em T2. Lesões malignas de adrenal habi-
Hiperaldosteronismo
tualmente apresentam sinal hipointenso em T1 e
hiperintenso em T2. Nos pacientes hipertensos com hipocalemia asso-
ciada, a supressão da atividade plasmática de renina,
Cintilografia associada a níveis plasmáticos elevados de aldosterona
estabelece o diagnóstico laboratorial de hipersecreção
A cintilografia é útil na avaliação de lesões medu-
adrenal de aldosterona. Após o diagnóstico clínico, é
lares através da administração da meta-iodobenzil-
realizada TC para tentar localizar a lesão. Nos casos
guanidina (131I-MIBG), que é especificamente con-
de dúvida diagnóstica, deve-se tentar lateralizar a
centrado no sistema simpático-medular. Esse método
secreção hormonal através da cateterização seletiva
localiza os feocromocitomas adrenais com 86% de
sensibilidade e 99% de especificidade. Além disso, é das veias adrenais e dosagem sérica de aldosterona.
bastante útil na identificação de feocromocitomas extra- Hiperandrogenismo
adrenais, sendo essa a principal aplicação do método. Os esteróides plasmáticos e urinários estão aumen-
tados em pacientes com hipercortisolismo e em casos
Avaliação funcional de tumores exclusivamente produtores de andrógenos.
A avaliação da hipersecreção de andrógenos inclui:
dosagem sérica de androstenediona, deidroepian-
Tumores corticais drosterona, sulfato de deidroepiandrosterona, testos-
terona livre e total, 11-deoxicortisol, cortisol, aldos-
Os tumores corticais podem ser responsáveis por
terona e dosagens urinárias de 17-hidroxi-esteroiodase
três tipos diferentes de hipersecreção hormonal da
e 17-cetoesteróides.
adrenal: hipercortisolismo (síndrome de Cushing),
hiperaldosteronismo primário (tumor adrenal pro-
dutor de aldosterona), e hiperandrogenismo (sín-
dromes de virilização). Tabela 1: Avaliação funcional dos tumores de adrenal
Hipercortisolismo
A produção aumentada de corticóide por tumores
de adrenal corresponde a cerca de 8% dos casos da
síndrome de Cushing. Para avaliação do hipercortiso-
lismo, deve-se solicitar dosagem de cortisol livre uri-
nário na urina de 24 h (de preferência três amostras
colhidas em dias consecutivos). As dosagens séricas
de ACTH e de cortisol (colhidas sempre entre meia-
noite e 2 h) auxiliam no diagnóstico diferencial entre
hipercortisolismo adrenal (cortisol alto e ACTH bai-
xo) e hipercortisolismo ACTH dependente (cortisol
alto e ACTH alto), que corresponde à produção ectó-
pica de ACTH ou alteração no eixo hipotálamo-hipo-
fisário. O teste de supressão com dexametasona pode
ser útil na diferenciação entre síndrome de Cushing
pituitária (doença de Cushing) e síndrome de Cushing
extrapituitária (tumor adrenal ou produção ectópica
de ACTH). Este teste baseia-se na administração de
300
301
Capítulo 88
Conduta frente à massa adrenal
303
podem ser semelhantes a tumores benignos, embora, locorticóides, glicorticóides, estrogênios e androgênios.
em geral, são tumores com um maior diâmetro inicial. Representam 7% a 12% dos incidentalomas da supra-
Calcificação tumoral é inespecífica e pode renal e todos devem ser tratados com exérese cirúrgica,
simplesmente significar hemorragia prévia. Na TC, independentemente do seu tamanho original. Tanto à
adenomas corticais têm, em média, 2,5 cm de diâmetro cirurgia clássica como a por via laparoscópica podem
e HU igual a 8, enquanto tumores metastáticos ser utilizadas para este fim, mas estudos recentes
apresentam diâmetro médio de 3,8 cm e HU de 31. demonstraram a superioridade da última sobre a pri-
HU menores que zero são descritos como sendo até meira. Há obrigatoriedade de investigação metabólica
100% específicos para o diagnóstico diferencial entre de todas as massas supra-renais encontradas acidental-
adenomas corticais e tumores metastáticos. A TC com mente, pois tumores hipersecretantes clinicamente silen-
HU entre 0 e 18 HU, ou mesmo superiores (até 30 ciosos são freqüentes (Tabela 2).
HU, após imagens tardias com contraste), apresenta
uma acurácia em torno de 50% para o diagnóstico de
tumores benignos. A RM é o exame ideal nos casos Benignos versus malignos
sugestivos de feocromocitoma, pois estes tumores,
caracteristicamente, apresentam-se com um sinal hiper- É preciso caracterizar se a massa da supra-renal é
intenso nas imagens em T2. A indicação da punção/ primária (benigna ou maligna) ou metastática (Figura
biópsia da supra-renal deve ser feita com critério, pois 2). Pacientes com tumores de mama, pulmão, rim,
a incidência de complicações não é desprezível e varia linfomas e melanomas podem ter um alto índice de
entre 8% a 12% dos casos. Sua melhor indicação lesões metastáticas na supra-renal (6% a 38%), em
encontra-se no diagnóstico diferencial entre os tumores especial se existirem outras lesões em ossos ou linfo-
primários e os metastáticos. nodos. Tumores primários com mais de 5 cm devem
ser removidos, pois têm alta probabilidade de serem
malignos, e sabe-se que a sobrevida dos adenocar-
Funcionantes versus cinomas da supra-renal é maior quando os tumores
não-funcionantes ressecados têm menos de 5 cm de diâmetro. Tumores
menores que 3 cm são adenomas corticais em 80%
Tumores benignos não-funcionantes, em geral ade- dos casos. Entretanto a indicação da exérese cirúrgica,
nomas do córtex da supra-renal, representam entre baseada no diâmetro máximo, não é necessariamente
70% a 95% de todas as massas supra-renais encon- precisa, pois, embora o índice de tumores malignos
tradas acidentalmente pelos métodos de imagem atuais versus benignos nas massas não-funcionantes inci-
(Figura 1). Tumores funcionantes são evidenciados dentais menores que 5 cm seja de 1:8, estima-se que
pelo excesso de produção de catecolaminas, minera- tumores malignos ocorram em até 16% das massas
com 2 cm de diâmetro, 48% daquelas com 5 cm,
62% com 6 cm e 82% com 8 cm (Diagrama 1).
304
Diagrama 1: Algoritmo utilizado para investigação dos incidentalomas da supra-renal para pacientes com baixo risco para tumores
malignos (sem predisposição genética e sem outros tumores primários conhecidos). As linhas interrompidas representam decisões
controversas e uma análise conjunta dos apectos clínicos, laboratoriais e radiológicos (CT e RM) de cada paciente deve ser
considerada para uma conduta adequada. Veja texto para uma análise crítica da avaliação destes tumores somente pelo seu tamanho
Seguimento
Nos pacientes com tumores não-funcionantes
maiores que 2 a 3 cm, deve-se realizar exames radio-
lógicos ou radioisotópicos seriados, aos três, nove,
18 e 36 meses, até se chegar a uma avaliação, a cada
dois ou três anos, embora não existam critérios bem-
definidos a este respeito. Casos com imagem radio-
lógica duvidosa, heterogênea e de baixa definição
podem ser submetidos a uma biópsia transcutânea
com agulha. Tumores malignos na biópsia ou aqueles
que apresentam crescimento nos exames seriados de
controle devem ser operados.
Figura 2: Diâmetro de 86 massas supra-renais e achado anatomo-
patológico. (Paivansalo M. Lahde S, Merikanto J, Kallionen M. Computed
Leitura recomendada tomography in primary and secondary adrenal tumours. Acta Radiol 29: pp.
519-22, 1988)
1. Jossart GH, Burpee SE, Gagner M. Surgery of the adrenal
glands. Endocrinol Metab Clin North Am, 29 pp. 57-
68, 2000. Abrams HL. Differentiation of malignant from benign
2. Bravo EL. Evolving concepts in the pathophysiology, adrenal masses: predictive indices on computed tomography.
diagnosis, and treatment of pheochromocytoma. Endocr AJR Am J Roentgenol 144: pp. 61-5, 1985.
Rev 15: pp. 356-68, 1994. 4. Copeland PM. The incisdentally discovered adrenal mass.
3. Hussain S, Belldegrun A, Seltzer SE, Richie JP, Gittes RF, Ann Intern Med 98: pp. 940-5, 1983.
305
Capítulo 89
Aspectos cirúrgicos dos
tumores da adrenal
As patologias cirúrgicas da adrenal incluem lesões hipertensão arterial crônica ou paroxística e vasocons-
benignas funcionantes e não-funcionantes desta glân- trição periférica, com conseqüente contração do vo-
dula, assim como lesões metastáticas e o carcinoma lume plasmático. Seu manejo perioperatório é desafio
primário de adrenal. A abordagem cirúrgica das di- à parte pelas repercussões hemodinâmicas durante o
versas “massas adrenais” depende da provável natu- ato anestésico. Recomenda-se o alfabloqueio periope-
reza da lesão, tamanho, envolvimento de estruturas ratório (mínimo de duas semanas), com fenoxiben-
adjacentes, biótipo do paciente e experiência da equipe zamina ou prazosina. Alguns grupos utilizam bloquea-
cirúrgica. Conhecimento das distintas relações anatô- dores dos canais de cálcio. Betabloqueadores podem
micas da adrenal à direita e à esquerda é essencial. ser úteis em casos de arritmias associadas ou taquiar-
Tradicionalmente, grandes incisões como a subcostal ritmia ao alfabloqueador. Monitorização anestésica
ampliada, bilateral (Chevron), lombotomia clássica cuidadosa (linhas arterial e venosa central), disponibi-
ou dorsal (pequenas lesões) e incisão tóraco-abdo- lidade de nitroprussiato, labetalol e expansores plasmá-
minal (para massas > 6 cm) têm sido necessárias ticos são essenciais. A dissecção cirúrgica do feocromo-
devido à posição retroperitoneal alta da glândula citoma objetiva minimizar a manipulação da glândula
adrenal. Recentemente, a abordagem laparoscópica
adrenal, evitando a descarga abrupta de catecolaminas.
(trans ou retroperitoneal) tem se constituído na via
A ligadura precoce da veia adrenal também diminui as
de escolha para a maioria das lesões benignas de
chances de emergências hipertensivas transoperatórias.
adrenal, com redução da morbidade pós-operatória.
Após esta etapa, deve-se atentar para hipotensão durante
O desafio atual do urologista consiste em definir qual
o ato cirúrgico pela queda brusca de catecolaminas na
paciente com lesão adrenal necessita de tratamento
cirúrgico e qual a melhor técnica a ser empregada. circulação. Esta deve ser manejada com o uso de adre-
Individualização dos casos e emprego de cuidados nalina, colóides e expansores plasmáticos.
pré e pós-operatórios específicos são elementos A cirurgia aberta transperitoneal tem sido largamente
fundamentais do sucesso terapêutico. utilizada devido ao amplo acesso e possibilidade de
avaliar a presença de lesões da cadeia simpática simul-
tâneas (10% dos casos). Recentemente, com os avanços
Lesões funcionantes da adrenal de imagem na localização de lesões extra-adrenais
(RNM e cintilografia com meta-iodobenzilguanetidina)
Feocromocitoma e acúmulo de experiência com a via laparoscópica, esta
técnica tem se demonstrado efetiva no tratamento dos
Tumor neuroendócrino da medula adrenal, cuja pro- feocromocitomas pequenos e médios (até 6 cm). Estes
dução em excesso de catecolaminas pode acarretar tumores tendem a ser maiores que os demais adenomas
307
Síndrome de Cushing
A remoção cirúrgica da adrenal em pacientes com
1A
síndrome de Cushing (excluída doença hipofisária),
com excesso de produção de cortisol, tem indicação
nos casos de adenoma unilateral funcionante da adre-
nal (85% a 90% dos casos) e hiperplasia adrenal
bilateral (10% a 15%). Conseqüências do hipercorti-
solismo (diabete, hipertensão, obesidade, cicatrização
inadequada e alterações cardiovasculares) são respon- 1B
sáveis pela morbidade pós-operatória. A abordagem
laparoscópica tem sido utilizada com sucesso na au- Figura 1A: Aspecto tomográfico de adenoma secretor de
aldosterona (hiperaldosteronismo primário), removido por via
sência de contra-indicações cardiovasculares, mini- laparoscópica. Figura 1B: Do espécime cirúrgico
mizando as complicações incisionais. Em raros casos,
lesões com mais de 6 cm podem sugerir carcinoma
A conduta no incidentaloma adrenal (achado oca-
adrenal funcionante.
sional em exame de imagem) é ainda hoje controversa.
Hiperaldosteronismo primário Alguns autores recomendam a remoção cirúrgica de
(síndrome de Conn) qualquer incidentaloma pela incapacidade atual de
descartar malignidade (através de TC, RNM ou biópsia
Adenomas secretores de aldosterona são a causa percutânea) e dificuldade de acompanhamento a longo
da hipertensão arterial em 1% a 2,5% dos casos. A prazo. Porém, tem sido consenso relacionar o tamanho
presença de hipertensão, hipocalemia, aldosterona da lesão e a idade do paciente na definição da conduta.
sérica elevada e baixa renina plasmática é característica São sugeridos, pela maioria dos autores, alguns critérios
quando associados à pequena lesão adrenal à TC, em de intervenção e seguimento, expostos na Tabela 1.
geral menor que 3 cm (Figuras 1A e 1B). Trata-se de Todo incidentaloma deve ser avaliado quanto a ser
indicação ideal para a via laparoscópica. Lombotomia funcionante ou não (6% a 30% das vezes pode ser
posterior ou clássica são alternativas adequadas. A cura hiperfuncionante), conforme a Tabela 2. Apesar da
da hipertensão costuma ocorrer em cerca de 90% dos disponibilidade atual de técnicas minimamente
casos. Pode-se utilizar espironolactona pré-operatório invasivas, a adrenalectomia laparoscópica é
na correção da hipocalemia. procedimento de grande porte, com potenciais riscos,
e não deve influenciar os algoritmos de conduta no
incidentaloma adrenal.
Lesões não-funcionantes
da adrenal
Lesões malignas da adrenal
O mielolipoma de adrenal é um tumor benigno
constituído por tecido adiposo e hematopoiético, Lesões com 5 cm ou mais à TC sugerem a possi-
característico à tomografia e ressonância pelo alto bilidade de carcinoma primário de adrenal, cujo único
conteúdo gorduroso. Nos casos assintomáticos, a con- tratamento efetivo é a ressecção cirúrgica. A diferen-
duta é conservadora, embora alguns autores sugiram ciação histológica entre adenoma e carcinoma nem sem-
maior risco de hemorragia acima de 4 cm. Dor ou pre é conclusiva, sendo o diagnóstico baseado muitas
suspeita de lesão maligna são indicações de intervenção. vezes no comportamento clínico da lesão (Figura 2).
Cistos de adrenal (endoteliais verdadeiros ou pseudo- Lesões metastáticas para a adrenal são, por sua vez,
cistos) são raros, mais comuns em mulheres e não menores, limitadas à glândula e mais freqüentes, sendo
exigem intervenção quando assintomáticos e homo- os tumores primários mais comuns pulmão, rim, mela-
gêneos à TC ou RNM. noma e colo. Sua remoção é indicada quando se tratar
308
Leitura recomendada
1. Vaughan Jr. ED, Blumenfeld JD, del Pizzo J, Schicman SJ,
Sosa RE. The Adrenals. In: Walsh P, Retik A, Vaughan Jr.
ED, Wein A. Campbell´s Urology, 8th edition, vol. 4,
pp. 3507-65, Ed. Saunders, 2002.
2. Lucon AM, Latronico AC. Doenças benignas e malignas das
supra-renais. In: Barata HS, Carvalhal GF. Urologia -
Princípios e Prática, pp. 581-7, ed. ArtMed, 1999.
3. Gill IS. Case for laparoscopic adrenalectomy. J Urol 166:
pp. 429-36, 2001.
4. Moreira SG, Pow-Sang J. Evaluation and management of
adrenal masses. Cancer Control 9(4): pp. 326-34, 2002.
309