Este poema explora a contradição entre amar e querer através da repetição da frase "Não te amo, quero-te". O eu lírico afirma que não ama a pessoa, mas sim a deseja de forma selvagem e irracional, que não alcança a alma, apenas o corpo. A repetição desta contradição revela o drama interior do falante diante de um amor impossível.
Este poema explora a contradição entre amar e querer através da repetição da frase "Não te amo, quero-te". O eu lírico afirma que não ama a pessoa, mas sim a deseja de forma selvagem e irracional, que não alcança a alma, apenas o corpo. A repetição desta contradição revela o drama interior do falante diante de um amor impossível.
Este poema explora a contradição entre amar e querer através da repetição da frase "Não te amo, quero-te". O eu lírico afirma que não ama a pessoa, mas sim a deseja de forma selvagem e irracional, que não alcança a alma, apenas o corpo. A repetição desta contradição revela o drama interior do falante diante de um amor impossível.
E eu nalma tenho a calma, A calma do jazigo. Ai!, no te amo, no.
No te amo, quero-te: o amor vida. E a vida nem sentida A trago eu j comigo. Ai!, no te amo, no.
Ai!, no te amo, no; e s te quero De um querer bruto e fero Que o sangue me devora, No chega ao corao.
No te amo. s bela, e eu no te amo, bela. Quem ama a aziaga estrela Que lhe luz na m hora Da sua perdio?
E quero-te, e no te amo, que forado. De mau, feitio azado Este indigno furor. Mas oh! No te amo, no.
E infame sou, porque te quero; e tanto Que de mim tenho espanto, De ti medo e terror... Mas amar!... no te amo, no.
ALMEIDA GARRETT
VERSSIMO, Artur (coordenao de) (2001), Ser em Portugus 11 B, Porto: Areal Editores, p. 121. ANLISE DO POEMA: NO TE AMO, QUERO-TE
ALMEIDA GARRETT
1. CONTRADIO INICIAL:
O poema constri-se a partir de uma contradio inicial, que se repete e desdobra, revelando a existncia de um drama amoroso. uma confisso implcita e dolorosa da impossibilidade de amar, resultante do desdobramento psicolgico do eu, pelo conflito que em si se instala entre o Amor e o Querer.
2. CONFLITO EXISTENCIAL:
O conflito desenrola-se no espao material e corpreo da vivncia do amor no eu e o espao espiritual, ideal desse mesmo amor. A assuno de reaces fsicas, de uma sensibilidade sangunea, vem repor o desejo de um amor-alma, contra um amor-corpo. No h neste amor, nem alma nem vida; este amor desfruta da bruteza e ferocidade: bruto e fero, do sangue devorado: devora o sangue, do mau feitio e do indigno furor, realizando-se num universo dos sentidos, do concreto e material, da tentao. Este um poema de um amor maldito, assustador, que no habita a alma, mas devora o corpo.
3. VERBOS AMAR E QUERER:
H dois verbos cujos significados jogam os lados deste conflito: amar e querer. Amar do lado da alma e querer do lado do corpo: amor espiritual/amor carnal. Neste jogo reiterado ao longo do poema que se estende a insistente afirmao de que entre este eu e este tu no se passou do plano terreno ao plano divino, no se atingiram as sublimes alturas do amor e se rasteja em terror e infmia num querer que enfurece o sangue, mas deixa a alma morta.
4. TEMPO VERBAL UTILIZADO:
Presente do Indicativo: todo o poema se realiza no presente, momento em que a conscincia do sujeito potico desperta, gerando o conflito. Neste poema domina o presente. Tudo presente, tudo o momento, tudo o sentido do momento presente, como verdade declarada AMAR QUERER
No te amo EU
Quero-te
5. SUBJECTIVIDADE DA LINGUAGEM:
Este jogo do amar e do querer desencadeia-se logo s primeiras palavras e encadeia-se por todo o poema num entranado de : - repeties; - de jogos de pausas; - de jogos de anforas; - numa sintaxe afirmativa/negativa: E quero-te, e no te amo...; - numa sintaxe segmentada em frases curtas ou em justificaes mais delongadas: que ..., porque....
6. VALOR EXPRESSIVO DAS FRASES:
A afirmao repetitiva que apenas permite uma interrogao: Quem ama a aziaga estrela/Que lhe luz na m hora/Da sua perdio?; duas exclamaes: Ai, no te amo, no! e Mas ama!... e um terminar reticente: De ti medo e terror..., mas reiteradamente negativo: no... no. O no guardio do amor que se sobrepe ao sim do querer. O poema diz, rediz, torna a dizer, numa estratgia discursiva de convencimento. O poema a expresso de um amor fatal, que a aziaga estrela, uma mulher demnio, fez luzir no caminho de um eu romntico para sua perdio. A frase trabalhada no jogo da negativa/afirmativa em sucesses sacudidas e curtas, um tanto soluadas, um tanto trementes. A frase sujeita-se a jogos musicais que se lhe sobrepem: ........... vem dalma. .................. eu nalma.................................calma, A calma...............
............ vida. E a vida....................................nem sentida
...vem dalma ...amor vida ...corao ...quero-te... De um querer bruto e fero ...o sangue me devora, No chega ao corao. ... forado. De mau , feitio... ...indigno furor. ...tenho espanto, De ti medo e terror... 7. MARCAS DO ROMANTISMO:
- predomnio do sentimento sobre a razo. - subjectividade do sentimento amoroso. - amor sentimental. - hibridismo dos gneros: valorizao de formas literrias novas: Garrett abandonou o soneto, uma forma demasiadamente rgida para a liberdade de criao exigida pelos romnticos: seis quadras com o primeiro verso mais longo a refazer-se em trs versos mais curtos. - linguagem acessvel, simples e oralizante. - mulher demnio: sedutora e que destri todos aqueles que encanta.
8. MARCAS GARRETTIANAS:
- o desenrolar do poema entre a pessoa do eu e a pessoa do tu, num vaivm dramtico, dialogal, conversacional. O eu no est sozinho consigo mesmo, expe-se perante a viva presena de uma interlocutora. - influncia das formas da poesia popular: quadra. - ritmo pouco variado, repetitivo.
Tenta demonstrar a potica da contradio nos poemas Este inferno de amar e No te amo, quero-te, atravs do binmios:
Expresses do poema Expresses do poema
VIDA MORTE PASSADO PRESENTE SONHO REALIDADE ALMA CORPO Este inferno de amar No te amo, quero-te