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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
ENG 276 – TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS

Dimensionamento de uma Estação de Tratamento de Águas


Residuárias e Lodo.

1º Etapa: Sistema de remoção de sólidos grosseiros

(grade, calha Parshall e caixa de areia).

Professor: Luciano Matos

Alunos: Ricardo Oliveira

Silvio Pacheco

Salvador

2010
APRESENTAÇÃO

Este trabalho foi realizado visando dimensionar uma Estação de Tratamento


de Esgotos (ETE). Nesta primeira etapa do trabalho, será apresentado o
primeiro processo de uma ETE que é a remoção de sólidos grosseiros. Assim,
nesta etapa consta o dimensionamento de uma grade, uma calha Parshall e
de uma caixa de areia representando o tratamento preliminar.

INTRODUÇÃO

A elaboração e o dimensionamento dos equipamentos de uma Estação de


Tratamento de Esgoto (ETE), e os cuidados dados aos rejeitos sólidos (lodo)
resultantes deste tratamento, são de extrema importância. A destinação
adequada desses rejeitos além de auxiliar o controle de doenças, evita a
contaminação do solo, dos mananciais de abastecimento de água, além de
“propiciar a promoção de novos hábitos higiênicos na população e promover
o conforto e atender ao senso estético” (Brasil, 2006).

Segundo o IBGE pelo PNSB (2000) o serviço de esgotamento sanitário no ano


de 1989 abrangia apenas 47.3% dos municípios brasileiros. Em 2000 esse
índice era de 52,2%, mas mesmo havendo um ligeiro crescimento, percebe-
se ainda a insuficiência de saneamento do país, já que em muitos municípios
não são atendidos com tratamento ou até mesmo coleta de esgoto. Esta
situação tende a ser revertida com os projetos do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), já que muitos municípios estão recebendo
financiamento para realizar o saneamento nos mesmo.

OBJETIVO

Diante das diversas dificuldades que possam existir, o objetivo desse


trabalho, além de preparar os alunos da disciplina ENG- 276, Tratamento de
Águas Residuárias, ministrado pelo professor Luciano Matos, é de
dimensionar os diversos equipamentos que podem fazer parte de uma ETE,
conhecendo a importância de cada componente no sistema, bem como, de
elaborar projetos adequados com a realidade do municípios buscando
projetos bons e baratos sem fugir da eficiência e do compromisso com a
responsabilidade social.

DIMESIONAMENTO

De acordo com a tabela-01 que foi cedido aos alunos, foi requisitado o
dimensionamento de uma grade, seguido de uma Calha Parshall e de uma
caixa de areia que atendesse um período de 20 anos e foram dadas as
vazões máximas, média e de infiltração (ver no anexo-B, a disposição dos
equipamentos).

Dessa forma, com o apoio da fórmula: Q mínima = Q infiltração + 0,5 Qmédia; foi
possível achar a vazão inicial de fim de projeto que será fundamental para o
dimensionamento do conjunto.
Tabela 01 – Horizonte e vazões de projeto:

An Q máxima Q média Q infiltração


o (L/s) (L/s) (L/s)
201
21,5 14,0 1,0
0
202
38,6 24,7 1,7
0
203
59,3 37,4 2,7
0

Portanto, as vazões iniciais e finais para 2010, 2020 e 2030 estão na tabela-
02:
Tabela 02 – Vazões máxima e mínima de projeto:

An Q máxima Q mínimo
o (L/s) (L/s)
201
21,5 8
0
202
38,6 14,05
0
203
59,3 21,4
0

Com o objetivo de manter uma velocidade “constante”- regime laminar, para


a vazão afluente variável, será utilizado uma calha Parshall precedido de um
rebaixo. Para isso utilizaremos as vazões: Q máxima (L/s) = 59,3 e Q mínimo
(L/s) = 8.

Para determinar o rebaixo Z, será necessário considerar a velocidade


constante e então:

Q mínimo = Q máximo

(HAmin – Z) (HAmax – Z)

Devido aos pequenos valores de vazão, escolhemos como largura nominal


da Calha Parshall1: Ln = 15 e W=15,2 cm.

E conseqüentemente para achar HA utilizamos a equação2: Q = 0,381 H1,58.


Tabela 03 – Vazão e HA.

Q
(L/s) HA (m)
8 0,086
21,5 0,162

1
Esses valores foram obtidos na tabela 8.5 do livro Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário
(TSUTIYA E SOBRINHO, 1999).
2
Essa fórmula foi obtida na tabela 8.6 do livro Coleta e Transporte de Esgoto Sanitário
(TSUTIYA E SOBRINHO, 1999).
38,6 0,234
59,3 0,308
Então, calculando Z:

0,008 = 0,059

0,086 – Z 0,308 – Z

0,008 (0,308 – Z) = 0,059 (0,086 – Z), então: Z = 0,0509 m = 5 cm.

Portanto, as lâminas de água na Calha Parshall serão, Y = HA - Z:

Tabela 04 – Vazão e YJ.

Q
YJ (m)
(L/s)
8 0,036
21,5 0,112
38,6 0,194
59,3 0,258

Para o dimensionamento da grade, será construída uma grade média com


abertura de 25mm, inclinada com um ângulo de 45 graus com a horizontal, a
espessura das barras de 9,5mm e de limpeza manual.

Contudo, a grade deverá atender aos seguintes requisitos:

♦ Velocidade através da grade: VG ≤ 1,2 m/s;

♦ Velocidade no canal a montante da grade: VM≥0,4 m/s;

♦ Perda de carga ΔHG ≥ 0,15 m.

Vale lembrar que Y (m) é altura da lâmina da água de entrada na calha


Parshall, conseqüentemente é a lâmina d`água a jusante da grade YJ.

Para uma velocidade através da grade limpa de V≈ 0,8 m/s,


desconsiderando a perda de carga na grade, a altura útil aproximada da
grade será:

BU = 0,0593 / (0,258 * 0,8) = 0,287 ≈ 0.3 m.

Número de espaços da grade:

NE = 0,287 / 0,025 = 11,49 ≈ 11 espaços.

Número de barras = 12.

Largura do canal da grade:

B = 11 * 0,025 + 12 * 0,0095 = 0,399 ≈ 0,40 m.


Então, a largura útil da grade (BU) = 11 * 0,025 = 0,275 ≈ 0,28m.

Calculo da velocidade no canal a jusante da grade;


Tabela 05 – Vazão e VJ.

Q (l/s) VJ (m/s)
8 0,56
21,5 0,48
38,6 0,50
59,3 0,57

Na tabela abaixo consta dos valores para a grade limpa, com Q = 59,3 l/s, a
verificação para a vazão máxima com 50% da grade obstruída e a
verificação para as demais vazões;

Para tais cálculos, foram necessários as formulas:

YM + (V2M / 2g) = YJ + (V2J / 2g) + ΔHG

ΔHG = ((V2M - V2G)/2g)*(1/0,7).


Tabela 06 – Valores de montante e de jusante da grade.

Q Vm V²m V²j 2g Vg
(l/s) Ym (m) (m/s) (m²/s²) Yj (m) Vj (m/s) (m²/s²) (m/s²) (m/s) ΔHg (m)
8 0,046 0,435 0,189 0,036 0,56 0,31 19,62 0,621 0,014
50% 8 0,075 0,267 0,071 0,036 0,56 0,31 19,62 0,381 0,005
21,5 0,128 0,420 0,176 0,112 0,48 0,23 19,62 0,600 0,013
50% 21,5 0,171 0,314 0,099 0,112 0,48 0,23 19,62 0,449 0,007
38,6 0,203 0,475 0,226 0,194 0,50 0,25 19,62 0,679 0,017
50% 38,6 0,256 0,377 0,142 0,194 0,50 0,25 19,62 0,539 0,011
59,3 0,282 0,526 0,276 0,258 0,57 0,330 19,62 0,751 0,021
50% 59,3 0,350 0,424 0,179 0,258 0,57 0,3249 19,62 0,605 0,014

Segundo a NB-569/1989 recomenda que a VG seja menor igual a 1,2 m/s,


como todos os valores foram abaixo desse limite, não havendo empecilho
para o bom funcionamento do conjunto.

Determinando YM para ΔHG = 0,15m, para N.A. crítico de montante de grade:

YM + (0,00112/Y²M) = 0,275 + 0,15

YM,max = 0,41 m.

DIMENSIONAMENTO DA CAIXA DE AREIA

Objetivando a remoção de partículas sólidas através da sedimentação sem


que haja a remoção conjunta de sólidos orgânicos, promoveremos a
remoção de “areias”, cujas características são:
♦ Diâmetro efetivo: 0,2 à 0,4 mm;

♦ Massa Específica: 2650 Kg/m³;

♦ Velocidade de sedimentação: 2,0 cm/s.

Como a velocidade é controlada pela Calha Parshall, assim a velocidade de


entrada na caixa de areia será a velocidade de jusante da grade (Tabela 06).

Deve-se lembrar que;

♦ Velocidade (Vh) = 0,30 m/s;

♦ Vel. Inferior à 0,15 m/s haverá deposito de matéria orgânica;

♦ Vel. Superior a 0,4 m/s arraste de sólidos da caixa de areia.

Assim, Q = Vh x B x H;

0,0593 = 0,57 x B x H, com H = 0,30; assim: B = 0,40 m.

Como a velocidade é acima dos 0,30 m/s, consideramos Vh = 0,30 m/s, o que
corresponderá;

0,0593 = 0,30 x B x H, mantendo H = 0,258m, teremos B= 0,76m.

Daí, obteremos L=22,5 x H;

L = 22,5 x 0,258 = 5,80m.

Verificando a Taxa de escoamento superficial: q = Q / (B x L);

q= (0,0593 x 86400) / (0,76 x 5,8) = 1162 m³/m²/dia.

Verificando para as outras vazões:


Tabela 06 – Verificação de taxa de escoamento.

Q (m³/s) Vh (m/s) q (m³/m²/dia)


0,0593 0,3 1162
0,0386 0,3 756
0,0215 0,3 421
0,008 0,3 157

Verificamos que até a metade do plano a taxa de escoamento superficial


estaria abaixo do desejado e devido a necessidade de se trabalhar com duas
caixas de areia em paralelo (devido a manutenção a ser sempre feita), não
poderíamos dividir o B em 2 pois ficaria 33 cm de base o que impossibilitaria
a entrada de uma pá. Sendo assim, adotaremos B = 90cm.

Daí, o comprimento de cada vão da caixa de areia seria de 45 cm, e


mantendo a velocidade de 30m/s, teremos:
Q
(m³/s) B` (m) L` (m) q (m³/m²/dia)
0,0593 0,9 6,0 948,48
0,0386 0,9 6,0 617,60
0,0215 0,9 6,0 344,00
0,008 0,9 6,0 128,00
É importante informar que a altura passou para H=0,26m. Entretanto, a taxa
de escoamento da vazão inicial e do fim a primeira década foi insuficiente,
daí concluímos que até o final da primeira década as caixas de areia irão
trabalhar de forma alternada.

Chegamos a essa conclusão, pois com um B`= de 45 cm, a taxa de


escoamento (q) para a vazão de Q= 21,5 (l/s) será de 688 m³/m²/dia sendo
necessário de um L=6,0m, já para a vazão inicial Q= 8 (l/s) para uma taxa
de escoamento de 600 m³/m²/dia o comprimento necessário é de 2,6m,
como a caixa tem uma dimensão de 6 metros sendo mais que suficiente.

Calculando o rebaixo da caixa de areia para uma taxa de 30l/1000m³ e para


vazão média final de plano , Q=59,3 (l/s), terá o seguinte volume diário de
areia retirada na caixa:

V = 0,03 l/m³ x 59,3 l/s x 86,4 = 153,71 l.

A altura diária de areia acumulada na caixa é de : h= (0,153) / (6,0 x 0,90) =


0,028m. Para tal rebaixo será necessário um intervalo de limpeza de 9 dias.

CONCLUSÃO

As estações de tratamento de esgoto são fundamentais para o homem e


para o meio ambiente, principalmente o meio urbano, pois é imprescindível
o tratamento dos efluentes gerados pelas diversas atividades realizadas pelo
o homem. Daí, a importância do dimensionamento da grade, da calha
Parshall e da caixa de areia, pois estes equipamentos são os primeiro
equipamentos de uma estação de tratamento de esgoto, onde cada um tem
a sua função. A grade tem o objetivo de proteger os demais equipamentos
da estação, como as bombas de recalque e outros, a calha Parshal serve
para regularizar o regime do afluente e as caixas desarenadoras (caixa de
areia) de absorver os sólidos grossos.

O projeto apresentou uma considerável variação de vazão ao longo do


projeto, sendo assim, até a primeira década será necessário a utilização de
somente uma caixa de areia e depois o uso normal com dois vãos da caixa
de areia.

REFERÊNCIAS

Brasil. Manual de Saneamento. Brasília, Fundação Nacional da Saúde –


FUNASA, 2006.

IBGE. Pesquisa nacional de saneamento básico – 2000. Rio de Janeiro,


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2000.

TSUTIYA, Milton Tomoyuki; SOBRINHO, Pedro Alem. Coleta e transporte de


esgoto sanitário. São Paulo, Departamento de Engenharia Hidráulica e
Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1999.

ANEXO A - RESUMO DAS CONDIÇÕES OPERACIONAIS DA GRADE MANUAL


Vazão de A=25mm, B= 0,40m.
operação

59,3 (l/s) (grade Vg = 0,751 m/s, ΔHg = 0,021m, YM = 0,282m, Vm = 0,526


limpa) m/s, YM,max = 0,41 m.

(grade obstruída) Vg = 0,605m/s, ΔHg =0,014 m, YM =0,350 m, Vm =0,424 m/s.

38,6 (l/s) (grade Vg =0,679 m/s, ΔHg =0,017 m, YM =0,203 m, Vm =0,475 m/s.
limpa)

(grade obstruída) Vg =0,539 m/s, ΔHg = 0,011m, YM = 0,256m, Vm = 0,377m/s.

21,5 (l/s) (grade Vg =0,600 m/s, ΔHg =0,013 m, YM = 0,128m, Vm =0,420 m/s.
limpa)

(grade obstruída) Vg = 0,449m/s, ΔHg =0,007 m, YM = 0,171m, Vm = 0,314m/s.

8 (l/s) (grade limpa) Vg = 0,621m/s, ΔHg =0,014 m, YM = 0,046m, Vm =0,435 m/s.


(grade obstruída) Vg = 0,381 m/s, ΔHg = 0,005m, YM = 0,075m, Vm =0,267 m/s.

ANEXO B
Perfil da grade.

Condições hidráulicas a montante e a


jusante da grade.
N. A. Grade
N. A. N. A.

Vm Vg Vj

Ym Yj

Etapas do tratamento pré- eliminar.


Cx. de
Grade Calha Cx. de
passage
Parshall areia
m

Planta baixa da caixa de areia.

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