R$ 15

P.54 QUEM É PAULO HOFF,

O NEYMAR DA MEDICINA
DOSSIÊ
ENEM
EDIÇÃO
316

P.64 A PSICANÁLISE QUER

PERDER RÓTULO DE ELITISTA

P.60
GUIADEÚLTIMAHORA
ENTREVISTA: ROXANE GAY, PARASEDARBEMNA
A ESCRITORA "MÁ FEMINISTA" PROVA P. 27

A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO REMÉDIOS MEDIEVAIS PODEM SALVAR A HUMANIDADE? P. 07 NOV. 17

Mari Fulfaro
e Iberê
Thenório
MANUAL DO
MUNDO

Paulo
Jubilut
BIOLOGIA
TOTAL Carina
Fragozo
ENGLISH
IN BRAZIL

Felipe
Castanhari
Matheus CANAL
Moraes NOSTALGIA
TETEUS BIONIC

DESLIGUE O CELULAR NA AULA

COM MAIS DE 27 MILHÕES DE INSCRIÇÕES, PROFESSORES YOUTUBERS ENSINAM DE GRAÇA E
REVOLUCIONAM A EDUCAÇÃO NO BRASIL. O QUE VOCÊ E A ESCOLA TÊM A APRENDER COM ELES?

P. 38
 R$ 15

P.P. 5454 QUEM É PAULO HOFF,

QUEM É PAULO
O NEYMAR HOFF,
DA MEDICINA
O NEYMAR DA MEDICINA
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EDIÇÃO
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P.P. 6464 APERDER

A PSICANÁLISE QUER
PSICANÁLISE
RÓTULO DEQUER
ELITISTA
PERDER RÓTULO DE ELITISTA

P.P. 6060
GUIA DE ÚLTIMA HORA
ENTREVISTA: ROXANE GAY, PARADESEÚLTIMA
DAR BEM NA
GUIA HORA
A ESCRITORA ROXANE
ENTREVISTA: GAY,
"MÁ FEMINISTA" PROVA P. 27
PARA SE DAR BEM NA
A ESCRITORA "MÁ FEMINISTA" PROVA P. 27
A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO REMÉDIOS MEDIEVAIS PODEM SALVAR A HUMANIDADE? P. 07 NOV. 17
A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO REMÉDIOS MEDIEVAIS PODEM SALVAR A HUMANIDADE? P. 07 NOV. 17

Carina
Fragozo
Carina
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Fragozo
IN BRAZIL
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COM MAIS DE 27 MILHÕES DE INSCRIÇÕES, PROFESSORES YOUTUBERS ENSINAM DE GRAÇA E
COM MAIS DE 27
REVOLUCIONAM AMILHÕES
EDUCAÇÃODENO
INSCRIÇÕES, PROFESSORES
BRASIL. O QUE YOUTUBERS
VOCÊ E A ESCOLA TÊM AENSINAM
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GRAÇA E
ELES?
REVOLUCIONAM A EDUCAÇÃO NO BRASIL. O QUE VOCÊ E A ESCOLA TÊM A APRENDER COM ELES?
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Moraes
Matheus
TETEUS BIONIC
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Castanhari
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CANAL
Castanhari
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PARA SE DAR BEM NA
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A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO REMÉDIOS MEDIEVAIS PODEM SALVAR A HUMANIDADE? P. 07 NOV. 17
A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO REMÉDIOS MEDIEVAIS PODEM SALVAR A HUMANIDADE? P. 07 NOV. 17

Mari Fulfaro
MANUAL
Mari DO
Fulfaro
MUNDODO Iberê
MANUAL Thenório
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Thenório
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MANUAL
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 PRIMEIRAMENTE
POR GIULIANA DE TOLEDO
PRECISAMOS
APRENDER
TUDO
DE NOVO
Num país em que
N o s p ro f e s s o re s
ganham salários
constrangedores
e, não raras vezes,
são desrespeitados enquanto ten-
tam trabalhar, ver o sucesso que ví-
deos de educação fazem na internet
é uma injeção de esperança. Num
país em que tanta gente é célebre
por sua estupidez, ver alguém que
ensina com propriedade e respon-
sabilidade tornar-se famoso é, sim,
motivo para comemoração. E por
aqui nós gostamos de comemorar
com capa! Foi assim que nasceu a
edição de novembro — a primeira
WWW.GALILEU.GLOBO.COM
#316 11.2017
desde que Luís Alberto Nogueira, já
diretor de redação da revista Monet,
assumiu também o cargo na GALI-
LEU, para buscarmos oportunida-
des de sinergia entre as duas marcas.
O repórter André Jorge de Olivei-
ra e a repórter estagiária Giuliana
Viggiano investigaram os desafios
e, principalmente, as soluções para
a educação atual. Enquanto isso, à
frente da equipe de arte, Feu apren-
dia como fazer dar certo uma pro-
dução tão grande para as fotos
— afinal, foram muitos detalhes:
cenário, figurino, acessórios, poses.
Também fizeram muita lição de
casa o editor Thiago Tanji e o de-
signer João Pedro Brito, dupla que
prepararou o Dossiê Manual do Enem
(p. 27). Um trabalho minucioso, que
só poderia ser tão bem executado vi-
sualmente por alguém como o João,
com tanto talento para informar
com clareza e beleza. Foi difícil dizer
tchau para ele neste mês. Coincidên-
cia ou não, foi embora justamente
para trabalhar com educação.
Bom, já que o tema é aprender,
é hora também da estreia de uma
nova turma do nosso conselho de
leitores. Nesta quarta temporada,
18 voluntários vão nos ajudar a
melhorar a revista impressa e os
conteúdos digitais. Quer conhecer
os escolhidos? Estão na página 6. vocês também)
Ao longo dos próximos meses, va-
mos contando ali que notas eles nos
deram a cada edição. Nerds que so- dedicamos três
mos, já estamos correndo atrás de
muitos 10. Boas lições a todos!
música, games,
Giuliana de Toledo — Editora-chefe cinema e séries.
gtoledo@edglobo.com.br
QUEM FEZ A CAPA
FOTO Julia Rodrigues
ASSISTÊNCIA Iago Fundaro
PRODUÇÃO Beatriz Liranço e João Pedro Brito
MAQUIAGEM Ananda Resende
PÓS-PRODUÇÃO Roberto Bezerra
AGRADECIMENTOS
Etna etna.com.br
Riachuelo riachuelo.com.br
Breshow fantasiascriativas.com.br
A Caserna militarbrasil.com.br/loja
Kalunga kalunga.com.br
COLABORADORES DO MÊS
Bernardo
França
ILUSTRADOR
ONDE NASCEU E ONDE MORA
Brasília (DF) e São Paulo (SP)
HISTÓRICO
Já publicou seus trabalhos em Piauí,
Le Monde Diplomatique e Revista
da Cultura, entre outros veículos.
É diretor de arte de Oswaldo, nova
série de animação do Cartoon Network.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Ilustrações para o Antimatéria (p. 7)
Chico
Felitti
JORNALISTA
ONDE NASCEU E ONDE MORA
São Paulo (SP)
HISTÓRICO
Trabalha há dez anos na Folha,
onde já foi repórter, colunista e
editor. Também colabora com Piauí,
Buzzfeed e Joyce Pascowitch, além
de escrever roteiros para televisão.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Os Neymars da medicina (p. 54)
!
HORA DO
RECREIO
Sérgio
Estávamos Zacchi
com saudade
(acho que FOTÓGRAFO
de falar ONDE NASCEU E ONDE MORA
mais sobre Ilhéus (BA) e São Paulo (SP)
cultura, então
HISTÓRICO
páginas do
Tanto em projetos pessoais quanto
Antimatéria,
profissionais, dedica-se a fotografar
pessoas. Já trabalhou na Folha e no
da 24 à 26, a
literatura,
Valor, entre outras publicações, e
hoje tem o próprio estúdio.
O QUE FEZ NESTA EDIÇÃO
Os Neymars da medicina (p. 54)
 NOVIDADES SOBRE CIÊNCIA,
TECNOLOGIA E COMPORTAMENTO
ESTÃO NA GALILEU E NO GLOBO MAIS.
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 COMPOSIÇAO
NOVEMBRO DE 2017

ANTIMATÉRIA MATÉRIAS

P.20 LUNETA
ESTUDO CÓSMICO

P.20 SPACEX LANÇARÁ

SEU MAIOR PROJETO

P.22 TECHTUDO
O SMARTPHONE DO BRASIL

P.38 PROFESSORES
YOUTUBERS

P.07 CIENTISTAS RECORREM P.49 NÓS AINDA PODEMOS,

À MEDICINA MEDIEVAL BARACK OBAMA?

P.54 MEDICINA BRASILEIRA

TAMBÉM TEM SEU NEYMAR

P.60 ENTREVISTA
P.24 LIVRO IMAGINA A ROXANE GAY
REVOLUÇÃO DOS ROBÔS

P.26 MAPA MENTAL

P.12 VOCÊ COME CARNE DE STRANGER THINGS
TUBARÃO (E NÃO SABE)

P.16 CARTOGRÁFICO
DESTRUIÇÃO NUCLEAR

P.64 PSICANÁLISE ENFRENTA

CONCORRÊNCIA

DESCOBERTA
Brasileiros P.71 COLUNA
participam TUBO DE ENSAIOS
de estudo

P.19 COLUNA P.27 DOSSIÊ

sobre os raios
cósmicos que
CONEXÕES CÓSMICAS MANUAL DO ENEM chegam à Terra P.74 ULTIMATO
 diretor geral: Frederic Zoghaib Kachar
diretor editorial: Fernando Luna
diretor de audiÊNcia: Luciano Touguinha de Castro
diretora de mercado aNuNciaNte: Virginia Any Conselho
por nathan fernandes

BEM-VINDA,
diretora do grupo casa e jardim, crescer,galileu, moNet
e techtudo: Daniela Tófoli

redaÇÃo NOVA TURMA!

diretor de redaÇÃo: Luís Alberto Nogueira
editora-cheFe: Giuliana de Toledo
editor de arte: Felipe Eugênio (Feu)
editores: Nathan Fernandes e Thiago Tanji
repórteres: André Jorge de Oliveira, Felipe Floresti e Isabela Moreira Está formada a nova escalação de leitores De 184 inscritos, foram
desigNers: João Pedro Brito e Mayra Martins
— a quarta turma da história do Conselho — selecionaDos 18 nomes
estagiários: Giuliana Viggiano e Nathalia Fabro Mendes (texto);
Carol Malavolta (arte) que ajudarão a redação nos próximos meses para esta temporaDa:
colaboradores desta ediÇÃo: Ana Marques, Anna Kellen Bull, Carol Castro, Chico a fazer uma GALILEU cada vez melhor.
Felitti e Rachel Botelho (texto); Ananda Resende, Beatriz Liranço, Bernardo França,
Giovani Flores, Helena Sbeghen, Iago Fundaro, Julia Rodrigues, Sérgio Zacchi e Alisson Araujo
Tomás Arthuzzi (arte); Monique Murad Velloso (revisão)
Chapecó • (SC)
e-mail da redaÇÃo: galileu@edglobo.com.br
Cassiano Cordeiro
estratÉgia digital Oriente • (SP)
coordeNador: Santiago Carrilho
deseNVolVedores: Alexsandro Macedo, Fabio Marciano, Fernando Raatz, Fred Campos,
Leandro Paixão, Marden Pasinato, Marvin Medeiros, Murilo Amendola e William Antunes O que
Cínthia Ferreira
estratÉgia de coNteúdo digital
eles
gereNte: Silvia Balieiro veem? Vila Velha • (ES)
mercado aNuNciaNte
tecNologia, ti, telecom, eletroeletrôNicos, comÉrcio e Varejo — diretorde Negócios Déborah Queiroz
multiplataforma: Emiliano Morad Hansenn; gerente de Negócios multiplataforma: Ciro Horta conheça os 23% 20% 17% 15% 10% 15%
Goiânia • (GO)
Hashimoto; executivos multiplataforma: Christian Lopes Hamburg, Cristiane de Barros Paggi Succi, filmes mais

Interestelar

It: A Coisa

Fantástico
Capitão

Fragmentado

Death Note

Outros
Jessica de Carvalho Dias e Roberto Loz Junior. beNs de coNsumo, alimeNtos e bebidas, moda
e beleza, arQuitetura e decoraÇÃo — diretora de Negócios multiplataforma: Selma Souto; citados nas
executivos multiplataforma: Eliana Lima Fagundes, Fátima Regina Ottaviani, Giovanna Sellan Perez, fichas De
Gabriel Vogas
Paula Santos Silva, Selma Teixeira da Costa e Soraya Mazerino Sobral. mobilidade, serViÇos
públicos e sociais, agroNegócios, iNdústria, saúde, educaÇÃo, turismo, cultura, inscrição Vila Velha • (ES)
lazer, esporte — diretor de Negócios multiplataforma: Renato Augusto Cassis Siniscalco; exe-
cutivos multiplataforma: Cristiane Soares Nogueira, Diego Fabiano, João Carlos Meyer e Priscila Geraldo Pereira
Ferreira da Silva; diretora de Negócios multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe; executivos
multiplataforma: Dominique Pietroni de Freitas e Lilian de Marche Noffs. FiNaNceiro, legal, Curvelo • (MG)
imobiliário — executivos multiplataforma: Ana Silvia Costa e Milton Luiz Abrantes.
escritórios regioNais — diretora de Negócios multiplataforma: Luciana Menezes Pereira;
gerente multiplataforma: Larissa Ortiz. rio de jaNeiro — gerente de Negócios multiplataforma: Larissa Fereguetti
Rogerio Pereira Ponce de Leon; executivos multiplataforma: Daniela Nunes Lopes Chahim, Juliane
Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos. brasília — gerente 16% Lagoa Santa • (MG)
multiplataforma: Barbara Costa Freitas Silva; executivo multiplataforma: Jorge Bicalho Felix Ju- O que 31%
eles
nior. opec oFFliNe: Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa e Bruno Granja. opec oNliNe: Danilo
Panzarini, Higor Daniel Chabes e Rodrigo Pecoschi. egcN — consultora de marcas: Olivia Cipolla Leonardo Rodrigues
Bolonha. deseNVolVimeNto comercial e digital — diretor de desenvolvimento comercial e leem? 16%
digital: Tiago Joaquim Afonso. g.lab: Caio Henrique Caprioli e Lucas Fernandes. eVeNtos: Daniela Outros São Paulo • (SP)
Valente. portFólio e mercado: Rodrigo Girodo Andrade. projetos especiais: Luiz Claudio
dos Santos Faria e Guilherme Iegawa. Distopias são Luana Bonfim
audiÊNcia os livros mais 15% Cícero Dantas • (BA)
diretor de marketing consumidor: Cristiano Augusto Soares Santos 22%
diretor de planejamento e desenvolvimento comercial: Ednei Zampese lembraDos
coordenadores de marketing: Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti
entre os Lucas Alencar
conselheiros
São Paulo • (SP)
Galileu é uma publicação da EDITORA GLOBO S.A. — Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar, 1984, O Conto da Aia,
CEP 01407-907, São Paulo/SP. Tel. (11) 3767-7000. Distribuidor exclusivo para todo o Brasil:
de George Orwell de Margaret Atwood
Lucas Lourenço
Dinap — Distribuidora Nacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda. — Av. Marcos
Penteado de Ulhoa Rodrigues, 700, Tamboré, Santana de Parnaíba/SP, CEP 06543-001
S. João da Boa Vista • (SP)
Sapiens: Uma Breve Revolução dos Bichos,
História da Humanidade de George Orwell
atenDimento ao assinante Manuela Torres
disponível de segunda a sexta-feira, das 8 às 21 horas; sábados, das 8 às 15 horas.
iNterNet: www.sacglobo.com.br — sÃo paulo: (11) 3362-2000 Oriximiná • (PA)
demais localidades: 4003-9393 — FaX: (11) 3766-3755
*custo de ligação local. serviço não disponível em todo o brasil.
para saber da disponibilidade do serviço em sua cidade, consulte sua operadora local. minas e manOs – são 8 mulheres e 10 homens Maria E. Iankoski
para aNuNciar ligue: sp: (11) 3767-7700/3767-7500 Joinville • (SC)
rj: (21) 3380-5924 e-mail: publigalileu@edglobo.com.br 44% 56%
para se correspoNder com a redaÇÃo: endereçar cartas à editora-chefe da
GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP. FaX: (11) 3767-7707
e-mail: galileu@edglobo.com.br Mulheres Homens Mariana Borges
as cartas devem ser encaminhadas com assinatura, endereço e telefone do remetente.
galileu reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação. São Paulo • (SP)
ediÇões aNteriores: O pedido será atendido por meio do jornaleiro pelo preço da edição
atual desde que haja disponibilidade de estoque. Faça seu pedido na banca mais próxima.
Mileni Nogueira
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4003-9393 sp: (11) 3736-7128 l 3767-7447
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www.sacglobo.com.br 4003-9393

VeNdas corporatiVas
3736-7205 l 3767-7557
rj: (21) 3380-5930 l 3380-5923 liceNciameNto
Carapicuíba • (SP)
e parcerias bsb: (61) 3316-9584 de coNteúdo
(11) 3767-7226 (11) 3767-7005
Rafael Munduruca
parcerias@edglobo.com.br venda_conteudo@edglobo.com.br
de Onde
ediÇões aNteriores assiNaturas
eles vêm? São Paulo • (SP)
O pedido será atendido por meio do jornaleiro ao preço da 4003-9393
edição atual desde que haja disponibilidade de estoque. www.sacglobo.com.br
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por estaDo Suênio Campos
Para se corresponder com a Redação: endereçar cartas à editora-chefe, GALILEU.
Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP. FaX: (11) 3767-7707 Salvador • (BA)
SP • 8 MG • 2
O Bureau Veritas Certification, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de SC • 2 GO • 1
Verificação, adotando um nível de confiança razoável, declara que o Inventário
ES • 2 PA • 1

!
de Gases de Efeito Estufa — Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de
erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações de GEE sobre
o período de referência para o escopo definido; foi elaborado em conformidade com a BA • 2 as inscrições serão
reabertas em 6 meses
NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol.
 07

FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS

ANTI-
Fic te nonsequi occus
volorum quissinia
voluptatem qui ut
raecus, sam aut quam
fugiae qui te eiur?

MATÉ-
RIA

Cientistas
defendem a
utilização de
técnicas medicinais
da Idade Média
para combater
superbactérias
Fig. BF

EDIÇÃO ILUSTRADORES CONVIDADOS

11.2017
THIAGO TANJI 1 BERNARDO FRANÇA (BF)
E CAROL CASTRO 2 HELENA SBEGHEN (HS)
DESIGN
CAROL MALAVOLTA
 08

RECEITINHAS
DATATATARAVÓ
CONTRA BACTÉRIAS
QUE RESISTEM A
ANTIBIÓTICOS,
Separe vinho, alho, alho-poró, cebola e pedra de fel, uma
substância extraída da bile de um bovino. Mexa todos
os ingredientes em um recipiente de bronze e deixe a
mistura descansar durante nove dias antes do consumo.
Batizada de Bald’s Eye (“O Olho de Bald”, em tradução
CIENTISTAS DEFENDEM livre), a fórmula foi extraída do livro Bald’s Lechbook,

A UTILIZAÇÃO DE manuscrito britânico com diferentes instruções mé-

RETRÔ
dicas produzido há mais de mil anos. Originalmente Chamado
REMÉDIOS CASEIROS recomendada para tratar infecções oculares, a recei- AncientBiotics,
grupo formado
DA IDADE MÉDIA ta também se mostrou efetiva contra uma das maio-
res preocupações dos agentes de saúde nos dias de
por especialistas
de diferentes
hoje: pesquisa feita em 2015 revelou que o Bald’s Eye áreas, defende
POR NATHALIA FABRO* exterminou quase 90% das bactérias MRSA presen- as práticas da
medicina natural
*Com supervisão de Thiago Tanji tes em lesões de cobaias. Sigla dada ao Staphylococcus

aureus resistente ao antibiótico meticili-
na, a MRSA faz parte de um time de mi-
cro-organismos que são resistentes aos
mais modernos medicamentos conven-
cionais. De acordo com um estudo en-
comendando pelo governo britânico, a
partir de 2050, 10 milhões de pessoas
poderão morrer a cada ano em conse-
quência da ação das superbactérias.
Para garantir nosso futuro e derrotar
essa ameaça invisível, alguns cientistas
estão recorrendo ao conhecimento do
passado. Conduzida na Universidade de
Nottingham, no Reino Unido, a pesquisa
sobre a eficiência da fórmula Bald’s Eye é
um dos trabalhos realizados por um grupo
que ficou conhecido como AncientBiotics
— junção das palavras “antigo” e “anti-
biótico” em inglês. Eles defendem a uti-
lização de técnicas da Idade Média para
diminuir o uso de antibióticos desenvol-
vidos em laboratório e combater o cres-
cimento dos micro-organismos que resis-
tem a tratamentos modernos.
Formado por microbiologistas, quími-
cos, farmacêuticos e medievalistas de di-
ferentes instituições ao redor do mundo,
o grupo vasculha documentos clínicos da-
quela época para encontrar outras fórmu-
las eficazes contra infecções causadas por
bactérias. “Com o auxílio da tecnologia,
esperamos desvendar como médicos pré-
-modernos tratavam infecções e descobrir
se as curas deles realmente funcionavam”,
escreveu Erin Connelly, da universidade
norte-americana da Pensilvânia, em arti-
go no blog Good Health. “Hoje, a palavra
‘medieval’ é usada como termo depre-
ciativo, indicando comportamento cruel,
ignorância e pensamentos retrógrados,
perpetuando o mito de que esse período
é indigno de ser estudado.”
BACTÉRIAS EM EVOLUÇÃO
Em 1928, o médico britânico Alexander
Fleming promoveu uma revolução na me-
dicina ao descobrir a aplicação do fungo
Penicillium — o famigerado bolor do pão
— para o extermínio de bactérias. Utilizada
no tratamento de soldados feridos duran-
te a Segunda Guerra Mundial, a penicilina
se tornou uma arma eficaz no combate a
enfermidades consideradas mortais até o
século 20, como pneumonia e tuberculose.
Cerca de 700 MIL PESSOAS
morrem a cada ano em razão da
resistência bacteriana
Até 2050, o número
pode aumentar para
10 MILHÕES DE MORTOS
Fig. HS
FORTES E INVISÍVEIS
As bactérias que mais
preocupam a OMS
Superbactérias Descrição da doença
É resistente a carbapene-
Acinetobacter ma, um tipo de antibiótico
baumannii que combate diferentes ti-
pos de microrganismos.
Uma das principais causado-
Pseudomonas ras de infecções hospita-
aeruginosa lares, também se mostrou
resistente a carbapenema.
É capaz de produzir uma
enzima para torná-la resis-
Enterobacteriaceae tente a uma variedade de
substâncias bactericidas.
Fonte: Organização Mundial de Saúde
A utilização em larga escala dos an-
tibióticos, entretanto, esbarrou nas leis
da seleção natural. Anos após a desco-
berta de Fleming, algumas bactérias so-
freram mutações e se tornaram resis-
tentes à penicilina — hoje, a adaptação
dos micro-organismos consegue repe-
lir fórmulas químicas complexas cria-
das pela indústria farmacêutica (leia
mais no quadro acima). “Depois de al-
gumas gerações, as bactérias sobrevi-
ventes vão crescer, se multiplicar e se
tornar dominantes, e os remédios não
serão mais eficientes para combatê-las”,
afirma o médico Roberto Debski, que é
especialista em homeopatia e acupun-
tura e não faz parte dos AncientBiotics.
09
A grande questão é que o desenvol-
vimento de novos medicamentos ca-
pazes de enfrentar as superbactérias
não é uma opção viável a curto prazo:
de acordo com dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS), a indústria
farmacêutica demora cerca de dez anos
para produzir um novo remédio, a cus-
tos que chegam a quase US$ 2 bilhões.
DE VOLTA ÀS RAÍZES
Se os nossos ancestrais se viravam com
poucos recursos para lutar contra as in-
fecções, por que não aliar as técnicas do
passado com o conhecimento e a tecno-
logia da atualidade? Para frear o apareci-
mento de bactérias mais resistentes, os
AncientBiotics incentivam a utilização
das técnicas da medicina natural, como
a fitoterapia, que usa ervas e plantas no
tratamento de pacientes. “Muitos físicos
[como eram chamados os médicos da épo-
ca medieval] viam nos alimentos e nas
mudanças de comportamento um dos
caminhos para a conservação da saúde”,
destaca Renato Toledo, pesquisador do
Núcleo de Estudos Mediterrânicos da
Universidade Federal do Paraná.
Segundo Toledo, o principal desafio
dos AncientBiotics será filtrar os regis-
tros históricos úteis em meio àqueles
que não passavam de especulações —
nossos antepassados também gostavam
de aumentar seus feitos, em uma espé-
cie de pós-verdade medieval. “Os pes-
quisadores deverão ter cautela com as
traduções desses textos e ter em mente
que boticários e físicos compreendiam
o funcionamento dos organismos vivos
apenas por teorias”, diz o especialista.
De todo modo, diminuir a utilização
de antibióticos não depende necessa-
riamente de fórmulas exóticas prepa-
radas em um caldeirão medieval. A ve-
lha recomendação das vovós de que
um prato de canja e uma cama quente
são ótimos remédios tem comprovação
científica: no caso de algumas enfermi-
dades, o simples repouso é suficiente
para que o sistema imunológico liquide
as bactérias naturalmente. “O próprio
organismo acha um jeito de combater
a doença e, às vezes, o antibiótico nem
é necessário”, afirma Roberto Debski.
 O V EMB RO:
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 Pa r a a q u e
p l a n e ja m l es q u e
c a d a d e ta l
he

pa r a v ia j a n t e s
co m po u co t e m po
16

CARTO- POR THIAGO TANJI

GRÁFICO

CÍRCULO DE FOGO
RAIO DE DESTRUIÇÃO
Cálculo feito com base em uma ogiva com capacidade de 150 quilotons

Epicentro da explosão, com a

O que aconteceria se um míssil com uma Raio (km)
formação de uma bola de fogo
ogiva nuclear atingisse cidades brasileiras? Construções são destruídas e
letalidade é próxima de 100%
Sem tratamento, 50% a 90%
das vítimas podem morrer
Criado pelo historiador Alex Wellerstein, especialista no estudo de
4,7 Potencial para destruir cons-
armas nucleares, o site Nukemap calcula o raio de destruição cau-
2,4 truções e causar danos físicos
sada por mísseis atômicos em diferentes cidades do mundo. Bata 1,9
Grande probabilidade de causar
1,2
na madeira e confira o estrago em algumas cidades do Brasil. 0,6 queimaduras de terceiro grau

S Ã O P A U L O R I O D E J A N E I R O

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Vila Guilherme Costa e Silva
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Higienópolis São Cristóvão arg
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Jardins Paraíso Flamengo

Vila Mariana
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Casa Amarela
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Fonte: nuclearsecrecy.com/nukemap
 CONEXÕES CÓSMICAS
POR ADILSON DE OLIVEIRA*
AS ONDAS QUE
VALERAM UM
PRÊMIO NOBEL
A detecção das ondas gravitacionais pelos cientistas
Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne foi um
dos mais extraordinários experimentos já realizados
Em outubro, foram
E anunciados os ga-
nhadores do Nobel
de Física. Neste
ano, o prêmio foi
dado aos cientistas Rainer Weiss,
Barry C. Barish e Kip S. Thorne pela
observação direta das ondas gravi-
tacionais, o que ocorreu pela primei-
ra vez em 14 de setembro de 2015.
Os laureados idealizaram o experi-
mento ao longo de décadas no Laser
Interferometer Gravitational-Wave
Observatory (Ligo), nos EUA.
Esse equipamento consiste em
um sistema que tem dois braços que
formam um L. Na esquina e nas ex-
tremidades do L, espelhos maciços
são suspensos em um dispositivo
sofisticado. Quando uma onda gravi-
tacional passa pelo interferômetro,
provoca uma mudança no compri-
mento dos braços. Ela pode ser de-
tectada porque o raio laser reflete nos
espelhos, e a luz percorre distâncias
diferentes. A mudança observada nos
braços do Ligo foi da ordem de 10-21
m, um milhão de vezes menor que o
tamanho do núcleo atômico.
Mas o que são as ondas gravita-
cionais? Afinal, o que é a própria
gravidade? Por que essa experiência
científica mereceu ganhar o Prêmio
Nobel de Física de 2017?
Não há fato mais cotidiano em nos-
sas vidas do que observar a queda de
um objeto ao solo. Na antiguidade,
imaginava-se que os objetos caíam
porque tinham a tendência de ir para
o seu “lugar natural”. Como de algu-
ma forma todos os objetos vinham da
“terra”, eles tenderiam a voltar sem-
pre para o solo. Essa ideia perdurou
por muito tempo, até que, no século
17, o físico inglês Isaac Newton per-
cebeu que a mesma força que atraía
os objetos para a superfície da Terra
também atraía a Lua.
Newton então propôs que a força
da gravidade entre dois corpos deve-
ria depender do produto das massas
dividido pela distância elevada ao
quadrado. Com essa proposição e
mais as leis da mecânica, foi possível
descrever desde a simples queda de
uma maçã (que inspirou Newton, mas
é apenas lenda) até os movimentos
dos planetas ao redor do Sol.
O sucesso da Teoria da Gravitação
Universal foi tão grande que, no sé-
culo 19, para explicar a irregularidade
na órbita de Urano, cálculos realiza-
dos independentemente pelos astrô-
nomos John Couch Adams e Urbain Le
Verrier previram a existência de um
novo planeta. Coube ao astrônomo
alemão Johann Gottfried Galle des-
cobrir um planeta muito próximo da
19
posição prevista, que veio a ser bati-
zado com o nome de Netuno.
Apesar do grande sucesso, a Teoria
da Gravitação Universal foi suplanta-
da, no início do século 20, pela Teoria
da Relatividade Geral, de Albert Eins-
tein. Nela, o conceito de gravidade foi
revisto: a gravidade se deve à curva-
tura do espaço-tempo, em razão da
presença da massa. A teoria de Eins-
tein, além de conseguir obter os mes-
mos resultados da de Newton, previu
novos efeitos, entre eles a expansão
do universo, a existência de buracos
negros e as ondas gravitacionais.
As ondas gravitacionais são ondula-
ções no espaço-tempo provocadas pela
presença da massa dos corpos. Contu-
do, seus efeitos são muito pequenos.
Somente com eventos astronômicos de
grande porte é que podem ser observa-
das. Em particular, a primeira detec-
ção das ondas gravitacionais ocorreu
devido à colisão de dois gigantescos
buracos negros que ocorreu há 1,3
bilhão de anos. Antes, cada buraco
negro tinha, respectivamente, 29 e
36 massas solares. A colisão resultou
em um buraco de 62 massas solares, ou
seja, o equivalente a três massas do Sol
foi transformado em energia — trans-
portada pelas ondas gravitacionais
que foram detectadas no Ligo.
O feito dos cientistas do Ligo foi
um dos mais extraordinários experi-
mentos já realizados. Esses resulta-
dos foram extremamente importan-
tes para confirmar mais uma vez as
previsões da Teoria da Relatividade
Geral de Einstein, que, após cem
As ondas anos, continua sendo uma das maio-
res realizações humanas.
gravita-
cionais
só podem
ser obser-
vadas com
eventos
astronô-
micos de * ADILSON DE OLIVEIRA é professor de Física da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
grande e fundador do Laboratório Aberto de Interativi-
porte
dade (LAbI), voltado para o desenvolvimento
de metodologias para divulgação científica.
 20

É essa interação (veja abaixo) que é estuda-

LU- da pelo Observatório Pierre Auger — localiza-

NE-
do próximo aos Andes argentinos, é o maior do
mundo em sua área de conhecimento, com 3 mil

TA
km². Os raios ultraenergéticos são raríssimos:
o Auger monitora cerca de 30 eventos ao ano.
Com dez vezes menos energia, a emissão de
O ESPAÇO É LOGO ALI raios cósmicos pelo Sol não interessa aos pes-
POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA quisadores, que detectam um deles por segundo.
Já os raios ultraenergéticos carregam a
energia de uma bolinha de tênis a 100 km/h.
Sensores em 1,6 mil tanques de água puríssi-
ma detectam uma luz que surge da interação

BOMBARDEIO com as partículas da “chuva”. Telescópios mo-

nitoram o processo na atmosfera, que emite
luz ultravioleta tênue. Esses dados contam

CÓSMICO
Como em uma sinuca espacial, raios
cósmicos estraçalham moléculas
da atmosfera — e agora sabemos
que eles vêm de fora da Via Láctea
Para dar início a um jogo de sinuca, o jogador
prepara o taco e acerta a bola branca com força.
O impacto faz a bola correr pelo tecido verde
e se chocar com violência contra as outras 15
muito sobre os raios cósmicos, mas ainda não
se sabe os eventos que os criam.
Com a participação de 500 cientistas de
17 países (incluindo o Brasil), os resultados
das observações foram publicados na revista
Science em setembro. Foram as mais impor-
tantes descobertas da área em décadas: como
os eventos se concentram em uma região do
céu, isso dá indício de que os raios cósmicos
extremos vêm de galáxias “vizinhas” da nossa.
Fig. BF

bolas coloridas, reunidas em forma de triângu-

lo. Todas se espalham pela mesa. Agora vamos
dizer que essa seja uma sinuca espacial.
A tacada são eventos extremos que ejetam
Raio cósmico
núcleos de átomos em altíssima velocidade — os
Chuva de partículas
raios cósmicos, nossas bolas brancas. Correm
pelo tecido do espaço-tempo, trombam com a Tanques de água
Terra e colidem com moléculas da atmosfera a
até 20 quilômetros do chão. Elas se espatifam Molécula

em uma “chuva” de partículas ainda menores, Partículas

que caem sobre nós quase na velocidade da luz.
Parecido com as bolas multicoloridas da sinuca. Fig. HS

Após quatro anos de atraso, está
UM FOGUETÃO
marcado para novembro o voo
DESSES, BICHO
inaugural do foguete Falcon Heavy,
da SpaceX. Sucessor do lendário
SpaceX se prepara para lançar
Saturn V, carona dos astronautas
seu Falcon Heavy — foguete que
da Apollo até a Lua entre 1968 e
levará pessoas à Lua e a Marte
1972, será lançado da mesmís-
sima plataforma 39A em que o
antigo gigante decolava, no Ken-
nedy Space Center, da Nasa. Será,
de longe, o mais potente lançador
da atualidade. O Falcon Heavy
tem 70 metros de altura (quase
dois Cristos Redentores) e con-
siste de três versões modificadas
do Falcon 9, veículo confiável que
a empresa de Elon Musk já lançou
mais de 40 vezes desde 2010. Em
quase 20 delas, o primeiro estágio
(booster) pousou intacto, abrindo
a era dos foguetes reutilizáveis.
No voo inaugural, a empresa quer
lançar dois boosters usados e re-
cuperar os três. Tudo correu bem
com os testes do Falcon Heavy, em
setembro, mas Musk mantém as
expectativas baixas. Ele diz que as
chances de o foguete nem sequer
sair da Terra são altas, e que já
fica satisfeito se não houver dano
à plataforma. O bilionário tuitou
que a carga será “a coisa mais boba
que se possa imaginar”. Palpites?
 21

AGENDA
Para a Nasa, Novembro de 2017

com carinho d

-
s

-
t

-
q

1
q

2
s

3 4
s

5 6 7 8 9 10 11

12 13 14 15 16 17 18

19 20 21 22 23 24 25
Vencedor de concurso da agência espacial norte-
26 27 28 29 30 - -
-americana, catarinense criou insígnia de missão que
testará tecnologias para o futuro de humanos no espaço

Espaçonaves de brinquedo
HÁ 60 ANOS, CADELINHA
3
LAIKA VOAVA AO ESPAÇO
dades. Pacotes de comida viram ferramen-
Um mês após inaugurar a Era Espa-

E
davam um nó na cabeça do
pequeno Rafael Fontes. Seus
pais sabiam bem que ele era
fissurado pelo espaço, então lhe davam
naves famosas do cinema para brincar.
Mas montar a Enterprise ou a Millenium
Falcon não fazia os olhos de Fontes brilha-
rem — gostava mesmo era da realidade.
“Tinha preconceito, elas não represen-
tavam ônibus espaciais ou cápsulas da
Apollo”, diz o publicitário de 31 anos que
vive em Barra Velha (SC), fã de carteirinha
da Nasa. Após três tentativas, realizou um
sonho: teve sua arte selecionada para es-
tampar uma missão espacial da agência.
Fontes venceu um concurso e criou a
identidade visual da missão Refabricator.
O equipamento voará em breve à Estação
Espacial Internacional: combina recicla-
gem com impressão 3D, tecnologias cru-
ciais para o futuro das missões tripuladas.
“Se um astronauta tiver uma colher inútil,
pode desfazê-la na máquina e refabricar
outros objetos”, diz. Há infinitas possibili-
tas ou peças para a nave. Assim, os custos
cial com o Sputnik 1, URSS colocava
são reduzidos e os astronautas ganham au-
primeiro ser vivo em órbita. A nota
tonomia no espaço profundo.
triste é que Laika morreu no espaço.
Tudo isso está na insígnia. O formato
triangular remete às escotilhas das cáp-
sulas: homenagem à paixão de criança de
Fontes pela exploração espacial. “Uma li-
nha verde acompanha o triângulo, alusão NÃO PERCA ENCONTRO DE
13
à reciclagem. Na ponta, quis passar a ideia VÊNUS E JÚPITER NO CÉU
de camadas para simbolizar a impressora Os dois planetas mais brilhantes
3D”, explica. O astronauta faz malabarismo estarão em conjunção, a 0,3 grau
com os utensílios que fabrica no espaço. um do outro: observe-os com um
Boa parte da inspiração veio de uma binóculo! Surgem no Leste, mo-
visita ao Kennedy Space Center, da Nasa, mentos antes de o Sol nascer.
de onde trouxe insígnias emblemáticas.
Na época, tinha quase a idade que as fi-
lhas têm hoje (três e seis anos). Para elas,
Fontes quer que a conquista sirva como
ALERTA DE METEOROS NA
exemplo de determinação e inspiração 17
CONSTELAÇÃO DE LEÃO
pela ciência. “É um privilégio poder par-
Pico da chuva de meteoros Leonids,
ticipar um pouquinho da exploração es-
com até 15 estrelas cadentes por
pacial”, diz. “Sei que é só um logo, mas
hora. Surgem em Leão, no Leste,
para mim é algo enorme — saber que
por volta de 2h, mas o melhor horá-
aquilo irá para o espaço é indescritível.”
rio é às 5h, na direção Nordeste.

Ao que tudo indica, sim, taria com mais energia graças

SEM R:
mas não será nada fácil. à rotação — e emitiria ondas
DÚVIDA “Precisaríamos da tecnologia gravitacionais. Bastaria regular LUNETA
para arremessar material num o ritmo do arremesso para com- LIVE SEXTAS, ÀS 17H,
NA FANPAGE DA GALILEU

Será possível usar
ondas gravitacionais
para fazer o envio
de mensagens
pelo Universo?
buraco negro em rotação e
depois recuperá-lo”, diz Odylio
Aguiar, do Inpe, especialista
nessas ondas. Seria necessário
construir uma esfera gigante
por sinais de fala ou até música.
“Como a onda gravitacional não
é bloqueada por nada, chegaria
até os confins do Universo.”
ETs hipotéticos poderiam sin-
As notícias espaciais e os principais
eventos da semana aprofundados
em transmissão ao vivo no Facebook.
Assista e capriche nas perguntas:
você pode sair na revista!

Deivy Cruz, ao redor de um buraco negro tonizar essa “rádio” universal

via Facebook Live pequeno. O material jogado vol- para conversar com a gente!
 22
Tecnologia descomplicada
Selfies à
brasileira
Smartphone que não leva
s 7 a 1: novo celular da Quan-
tum, marca brasileira perten-
cente à Positivo, o Quantum Sky tem
visual sofisticado, em metal, e chega
para disputar a vaga de queridinho dos
apaixonados por selfies. Lançado em
setembro por R$ 1.349, o celular osten-
ta câmera frontal de 16 MP — resolução
maior do que a do sensor traseiro, de 13
MP. Na prática, o resultado dos autor-
retratos é incrível. Sabe aquela espinha
inconveniente ou as olheiras depois de
uma noite mal dormida? É possível re-
Com preço que cabe no bolso,
Quantum Sky é recomendado
para usuários que buscam
alto desempenho em fotografias
Por AnA MArques
movê-las automaticamente, sem que a
imagem fique com um aspecto artificial.
Para comportar todas as fotos, a
fabricante brasileira aposta em 64
GB de armazenamento, expansível
em até 256 GB via cartão de memó-
ria. O desempenho geral poderia ser
na estica melhor, mas a memória RAM de 4 GB
Com tela de
5,5 polegadas garante uma interface fluida. Um dos
e resolução Full pontos altos é o Android mais “puro”,
HD, o Quantum parecido com o sistema adotado pela
Sky apresenta
um design Motorola. O desempenho da bateria
sofisticado também não decepciona: foram 17
horas ininterruptas de uso moderado.
 23

as novidades do ios 11
Fig. hs

Central de Siri mais Gravação Teclado

Controle inteligente da tela adaptável
A Central de Con- A assistente É possível gravar Você pode digitar
trole — acessível ganhou uma voz a tela do iPhone com uma só mão
ao arrastar o dedo menos robótica, de forma nativa. no iPhone. O
de baixo para com mudanças O recurso é útil recurso QuickType
cima — ganhou no tom e na para a produção move o teclado
novo design. É entonação. A Siri de vídeos para o lado direito
possível customi- ainda se adapta tutoriais ou para ou esquerdo, a fim
zar o menu para a determinadas guardar algo de aproximar as
deixar os atalhos preferências interessante letras do polegar
mais usados. do usuário. no display. e facilitar seu uso.

Live Photos App Store Não perturbe Perfis no

Fig. bF
animadas renovada o motorista Apple Music

da siri à
Novos modos A loja ganhou O iPhone reco- Com a inclusão de
disponíveis: novo design, com nhece quando o perfis pessoais,
o Loop é uma aba espe- usuário está você pode acom-
semelhante ao cífica para jogos dirigindo e deixa panhar o que seus

realidade
ao Boomerang e aplicativos. a tela apagada. amigos ouvem,
do Instagram; já Outra novidade é Assim, o sistema além de descobrir
o Longa Exposi- a publicação impede distrações os álbuns que eles

aumentada
ção é destinado de matérias no volante e mais escutam e
a objetos em diárias sobre evita possíveis acessar playlists
movimento. os apps. acidentes. compartilhadas.

Com o iOS 11, Apple oferece novos

recursos de navegação para os
donos de iPhones, iPads e iPods

por AnnA kellen bull

Realidade Mapas Novo Novidades
aumentada detalhados dispositivo no iPad
O iOS 11 está entre nós. O sistema operacional
da Apple chegou para modelos de iPhone 5S e Com a plataforma Aeroportos e Para configurar O dispositivo
superiores, com exceção do 5C. A maior novi- ARKit, é possível shoppings contam um novo iPhone, permite executar
visualizar objetos com mapas in- basta posicioná-lo dois apps ao mes-
dade da plataforma fica por conta da Central
virtuais incluídos ternos. É possível ao lado de outro mo tempo. Além
de Controle, que foi renovada. Agora, o espaço
em ambientes ver a localização aparelho iOS e disso, o tablet
é composto de uma camada única, com opções reais por meio da de lojas e até de logar com seu transfere textos e
personalizáveis. Além da Central de Controle, os câmera do iPhone. escadas rolantes. Apple ID. Todos fotos de um apli-
destaques são: a Siri, que está mais inteligente; Para experimen- Por ora, o recurso os dados são im- cativo para outro,
tar, baixe apps não está dispo- portados na hora. como se fosse um
o teclado, que foi adaptado para digitação com
com a tecnologia. nível no Brasil. Ficou mais fácil. “copiar e colar”.
uma mão; e as Live Photos, que têm novos mo-
dos profissionais, como longa exposição e loop.
O iOS também trouxe uma função muito pedi-
da por usuários: a gravação de tela nativa, que @techtudo_oficial /techtudo @TechTudo
antes só era possível por meio de apps extras.
 24

O futuro é
assistentes pessoais que estão sempre
nos ouvindo. O que acontece depois veio

dos robôs
da minha imaginação, já que os robôs
continuam se desenvolvendo. O tema central
do livro é a falsa dicotomia de humanos
contra robôs: isso não existe, já que
precisamos da tecnologia para sobreviver.

VÁRIOS EXPERIMENTOS RECENTES COM

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DERAM ERRADO.
Livro que narra a conquista da
NÃO ESTARÍAMOS SUBESTIMANDO A I.A.?
Terra por criaturas robóticas
Não. Os robôs se encontram em uma
chega às livrarias brasileiras
situação única: por cem anos, só existiram
na ficção científica — e, geralmente, como
POR ISABELA MOREIRA
vilões. Então, depois disso, eles se tornaram
realidade, mas ainda carregam a reputação
Você está na fila de uma sor-
de quando não eram reais. A robótica tem

V
veteria esperando sua vez
um problema de imagem.
de ser atendido quando um
robô entra no local. Nessa
OS DIREITOS DE ADAPTAÇÃO DO LIVRO PARA
realidade, pessoas ricas podem comprá-los
O CINEMA JÁ FORAM ADQUIRIDOS. PODEMOS
para realizarem tarefas simples. Porém,
ESPERAR ASSISTIR A ESSE FILME EM BREVE?
em vez de se comportar bem, o robô co-
O que posso dizer é que a DreamWorks e
meça a atacar os atendentes: é o começo
Steven Spielberg estão trabalhando
do apocalipse robótico, ou Robopocalipse,
ativamente na produção de Robopocalipse.
como indica o título do livro do norte-ame-
E estou empolgado que eles estejam se
ricano Daniel H. Wilson (Record, 406 pá-
esforçando tanto para fazer isso acontecer.
ginas, R$ 50), recém-lançado no Brasil.
Best-seller nos Estados Unidos,
Robopocalipse já teve seus direitos de
adaptação para o cinema adquiridos pelo
diretor Steven Spielberg. Diante de tanto
HASTA LA VISTA, BABY
sucesso, conversamos com Wilson, que
Os filmes sobre robôs que você pode ver na TV
é engenheiro especializado em robótica,
sobre sua experiência na área. A.I. – INTELIGÊN- EU, ROBÔ MATRIX
CIA ARTIFICIAL Protagonizado O clássico de
A produção será
OS ROBÔS DO LIVRO TÊM QUANTO DE REAL E por Will Smith, o ação pode ser
exibida no Tele- filme estará no visto no dia 16
QUANTO DA SUA PRÓPRIA IMAGINAÇÃO?
cine Touch no dia canal Megapix de novembro, às
Robopocalipse é o mais próximo da
11 de novembro, em 25 de no- 11h56, no canal
realidade possível. Muitos dos problemas do às 22 h. vembro, às 22 h. Space.
livro são causados por veículos autônomos, FIG. - BF

NÃO PRECISA
MAIS FICAR
ZAPEANDO
Confira a seleção feita pela
MONET com as melhores
dicas da programação
de novembro na TV por
assinatura. Ótima pipoca!
MEDICINA DO AMANHÃ POLÍTICA: MODO DE USAR ESTRELAS ALÉM DO TEMPO
POR LUÍS A. NOGUEIRA
A partir do dia 1º. Às quartas- Estreia no dia 7. Às terças-fei- Sábado dia 11, às 22h,
-feiras, 23h10, no Discovery. ras, 21h30, na GloboNews. no Telecine Premium
 25

ONDE OS
Lançamento de O período de Pela primeira vez,
Branca de Neve e renascença da Disney uma animação,
os 7 Anões, primeiro tem início graças ao A Bela e a Fera, é
longa-metragem de lançamento de indicada ao Oscar

SONHOS SE
animação do estúdio. A Pequena Sereia, de Melhor Filme.
sucesso de crítica
e de público.

REALIZAM
Toy Story, primeiro
filme da Disney
com a Pixar, che-
ga aos cinemas.

Animador Aaron Blaise

compartilha suas expe-
riências com as grandes 1989 1991
produções da Disney 1937 1995
1990
POR I.M. 1940 Irmão Urso, lon-
ga codirigido por
A Bela e a Fera, Aladdin, Rei Leão. Blaise, é lançado.
1980 Aaron Blaise é
Escorreu uma lágrima de sauda-
contratado pelo
de? Então agradeça ao diretor estúdio, que viria a 2003
norte-americano Aaron Blaise, lançar 18 filmes ao
2004
longo da década.
que contribuiu para o desenvol-
vimento desses personagens da
época de ouro dos filmes da Dis- A Disney aposta
ney, no início dos anos 1990. nas animações,
lançando 17
“É muito bacana ver que esses filmes em 20
filmes são tão populares hoje anos. Entre eles,
quanto eram na época em que fo- clássicos como 2013
Pinóquio, Dumbo, 1961
ram lançados”, afirma o artista, que Cinderela e A Bela
começou a trabalhar nos estúdios Adormecida.
2016
Disney quando tinha 21 anos — em 1960
2003, ele foi um dos diretores de
Irmão Urso, pelo qual foi indicado
ao Oscar de Melhor Filme Animado. O período é um O estúdio lança
Em passagem pelo Brasil, Blaise retrocesso quando 37 filmes, entre
comparado aos eles Frozen:
conversou com a GALILEU e con-
anos anteriores: Uma Aventura
fessou: “Na época, sabíamos que sete filmes são pro- Congelante,
éramos parte de algo especial, mas duzidos, e só dois musical que
deles com sucesso ultrapassa a
não tão grandioso”. Confira ao lado
comercial: 101 Dál- marca de Moana: Um Mar de
uma linha do tempo com os gran- matas e Mogli — US$ 1 bilhão Aventuras é indicado
des momentos da Disney. O Menino Lobo. de bilheteria. a dois Oscars.

MARVEL’S INHUMANS DOUTOR ESTRANHO STAR WARS — ROGUE ONE VIKINGS — 5ª TEMPORADA
A partir do dia 14. Às terças- Sábado dia 18, às 22h, Sábado dia 25, às 22h, A partir do dia 30. Às quintas-
-feiras, 21h, no Canal Sony. no Telecine Premium. no Telecine Premium. -feiras, 1h, no Fox Premium.
 26

COISAS ESTRANHAS
Fenô
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ltergeist
Lançado em 1982,

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escrito e produzido
Ca por Spielberg,
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retrata uma
Se você curte a série Stranger Things, que estreiou sua

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série de eventos
segunda temporada na Netflix, não deixe de conferir

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paranormais.
estas outras dicas culturais da equipe da GALILEU nh
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POR CAROL CASTRO U ig

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ganhou remake
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referências ao clássicos do
filme de Steven cinema.
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PÓS-PUNK

A série de games
PUNK ROCK lançada em
e Jam 1999 apresenta Du
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AVENTURA NÃO FICÇÃO e sombrias que

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 DOSSIÊ ENEM 2017
REPORTAGEM THIAGO TANJI

DESIGN JOÃO PEDRO BRITO

ILUSTRAÇÕES HELENA SBEGHEN

MANUAL
D O ENEM
Antes de prestar a principal prova de acesso ao Ensino Superior
do país, leia este guia com carinho e faça uma revisão esperta dos
principais temas que serão cobrados nos dois dias de exame

não é tinder, mas o encontro
está marcado. Nos dias 5 e 12 de
novembro, mais de 6,7 milhões
de estudantes terão pela frente
a companhia de 180 questões de
quatro áreas do conhecimento
mais a produção da redação dis-
sertativa-argumentativa durante
a realização do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem).
Depois de aulas, leituras, simu-
lados, suor e lágrimas, é chegada
a reta final dos estudos. Como
nós também já passamos por
isso (e sobrevivemos para con-
tar a história), temos um con-
selho do fundo do peito: nestes
dias que antecedem o exame, não
adianta pirar. O mais importan-
te é fazer uma revisão geral dos
assuntos, dando uma olhada nas
questões de anos anteriores.
“O Enem é uma prova que sele-
ciona o aluno que se dedicou mais,
mas ele é extenso, uma maratona”,
afirma Rommel Domingos, diretor
de ensino do Colégio Bernoulli,
instituição que, nos últimos anos,
ocupa as primeiras colocações do
ranking de melhor desempenho
na prova. “O mais importante é o
aluno treinar esse tipo de avalia-
ção com simulados para ter a se-
gurança do formato do Enem.”
Completar essa maratona
tem suas vantagens: em 2016,
foram oferecidas 228 mil vagas
no Sistema de Seleção Unifica-
da (Sisu), que é gerenciado pelo
Ministério da Educação e utiliza
o resultado do Enem para sele-
cionar os estudantes para as ins-
tituições de Ensino Superior.
Ainda não temos habilidades
proféticas para saber quais ques-
tões estarão nas provas, mas pe-
dimos uma ajudinha a profes-
sores de colégios e de cursos
pré-vestibulares para mapear os
temas essenciais a este manual
de revisão. Ótimos estudos!

27
_ AT UA L I DA D E S

FIQUE LIGADO!

15 ACONTECIMENTOS ESSENCIAIS
R E L E M B R E O S P R I N C I PA I S FATO S Q U E I M PAC TA R A M O P L A N E TA E M 2 0 1 7

1 AT O S D E T R U M P LEGENDA
Em seu primeiro ano à fren-
Política Ciência Economia Tecnologia Ecologia
te da Presidência dos EUA,
Donald Trump retirou o país do
principal tratado para comba-
ter as mudanças climáticas (leia
mais na página ao lado). 2 3

9 7
2 MARINE LE PEN PERDE
E L E I Ç ÃO N A F R A N Ç A
Emmanuel Macron assumiu a
Presidência após derrotar Ma- 10 4 5
rine Le Pen, candidata de extre-
ma-direita que ganhou força
com discurso anti-imigração.
1

3 A N O VA R O TA
DA SEDA NA CHINA
O país asiático avança para
conquistar influência global
com projetos de integração
comercial e econômica que en-
volvem mais de 60 países.

4 T E R R O R N A E U R O PA
Atentados reivindicados pelo
Estado Islâmico foram cometi-
dos no Reino Unido, na Suécia,
na França e na Espanha. Episó-
dios de islamofobia prolifera-
ram pelo continente.

5 GUERRA NA SÍRIA
O conflito, que dura desde 2011,
ainda está longe de ter fim. Em
março, o governo sírio foi acusa-
do de utilizar armas químicas na
cidade de Khan Sheikhoun: mais
8 11 12 13 14 15
de 80 pessoas morreram.
 TENSÃO NUCLEAR Entenda o que acontece durante a explosão de uma arma nuclear
Deslocamento
de ar
U235
Raios
gama
Centro da
explosão
Momento da
Fissão do urânio explosão
6 G U E R R A À V I S TA ?
Após a Coreia do Norte realizar
testes com armas nucleares, os
Estados Unidos aumentaram
o tom das ameaças contra o
regime de Kim Jong-un (veja
6 mais no quadro acima).
7 TEMPO DE FURACÕES
Uma sequência de furacões —
Harvey, Irma, Maria e Nate —
causou destruição em países
do Caribe e nos Estados Unidos.
Mudanças climáticas contribuí-
ram para os fenômenos.
8 ATA Q U E H A C K E R
Em junho, o vírus WannaCry
invadiu computadores de insti-
tuições privadas e públicas de
quase 150 países. No Brasil, ser-
vidores da Previdência Social
foram afetados pelo ataque.
9 10 ANOS DO iPHONE
Responsável por revolucionar
a indústria tecnológica e iniciar
uma nova etapa na comunica-
ção global, a Apple celebrou o
aniversário de 10 anos do iPho-
ne com uma edição especial.
10 MISSÃO CASSINI
Após 20 anos, chegou ao fim a
missão da sonda que coletou in-
formações sobre Saturno e suas
luas. Coordenada pela Nasa, a
Cassini foi destruída ao entrar
na atmosfera saturniana.
Bola
de fogo Raios
gama
Poeira
Nuvem de poeira radioativa
Raios
gama Formação de nu-
vem em forma Liberação da
Geração de calor Ondas de choque de cogumelo radioatividade
11 BRASÍLIA EM CHAMAS A LT E R A Ç Õ E S
Em maio, a publicação de C L I M ÁT I C A S
uma conversa gravada entre
o empresário Joesley Batis- ÁREA DO
ta e o presidente Michel Te- CO N T I N E N T E Á RT I CO
mer aprofundou a crise polí-
tica entre os Três Poderes. 2012 (4,72 milhões de km²)
1980 (7,83 milhões de km²)
12 EXTINÇÃO DA RENCA
Depois da mobilização da socie-
dade, o governo Temer recuou
da proposta de liberar uma área
localizada entre os estados do
Pará e do Amapá para a explo-
ração de mineradoras.
PRENDER
É A ÚNICA
13 E S TA D O Q U E B R A D O SOLUÇÃO?
Sem receitas, o Rio de Janeiro E M 14 A N O S ,
enfrenta uma das piores cri- O AU M E N TO
ses de sua história, com atra- DA P O P U L AÇ ÃO
sos recorrentes no pagamento PRISIONAL
de funcionários públicos e au- NO BRASIL FOI
mento da violência urbana. D E 167, 3 2%
14 CRISE NAS CADEIAS
232.755
622.202
Séries de massacres e rebe-
liões em penitenciárias nas
regiões Norte e Nordeste
expõem a falência do siste-
ma carcerário do país (saiba
mais no gráfico ao lado).
População prisional
15 S AT É L I T E D O B R A S I L
Lançado em maio, o primeiro
satélie geoestacionário bra-
sileiro será utilizado para co- 2000 2014
municação estratégica e am-
pliação da banda larga em Fontes: Curso Anglo,
regiões remotas do país. Nasa e Depen
30

IDADE IDADE IDADE IDADE HISTÓRIA

ANTIGA MÉDIA MODERNA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

AT É 4 76 d .C . AT É 1 4 5 3 d .C . AT É 1 7 8 9 d .C . AT É H OJ E A PARTIR DE 1 5 0 0

_ CIÊNCIAS HUMANAS
Desenvolvimento O fim do Império Portugal e Espanha Com a Revolução A diversidade
de civilizações Romano fragmenta lideram expedições Francesa, as étnica e cultural dos
em diferentes os territórios marítimas em busca monarquias povos originários
partes do mundo. europeus e tem início de novas rotas absolutistas é esmagada
Na Mesopotâmia, um novo sistema comerciais. europeias começam pela colonização
território que social e econômico É o período marcado a ser substituídas. portuguesa, que
compreende conhecido como pelo avanço concentra seus
atualmente o Iraque, Feudalismo. Sob a colonial europeu Na Inglaterra, as interesses na
formam-se as orientação ideológica na América. inovações tecnológicas exploração de recursos
primeiras sociedades da Igreja Católica, motivam a Revolução naturais — com os
que influenciarão o os camponeses Com a Reforma Industrial, que ciclos do pau-brasil,
mundo ocidental, há mantinham uma Protestante, liderada dinamiza a produção da cana-de-açúcar e
LINHA DO TEMPO
cerca de 5 mil anos. relação de servidão pelo alemão Martinho de mercadorias da mineração.
com a nobreza. Lutero, a Igreja e altera de maneira
A partir de Católica deixa de definitiva as relações Uma das últimas
1100 a.C. dá-se o Com base nos exercer o domínio sociais e culturais. nações a declarar a
desenvolvimento ensinamentos do ideológico absoluto abolição da escravidão,
da civilização grega, profeta Mohammed na Europa. Os países europeus o Brasil estimula a
BREVE berço de formulações (Maomé), povos que retomam a colonização migração europeia
filosóficas e culturais vivem na região da Desenvolvimento de nações africanas e japonesa para
responsáveis por Península Arábica artístico e científico, e asiáticas. A disputa dinamizar a produção
moldar o pensamento se unem ao redor da com os estudos por territórios acirra do café, principal
ROLÊ PELA ocidental a partir religião islâmica. Em de Isaac Newton as tensões e é um dos produto de exportação
da formação das 1095, é convocada pelo e Galileu Galilei. fatores responsáveis do final do século 19 e
pólis (cidades) papa Urbano II uma Na filosofia, René pelo início da início do século 20.
e o nascimento cruzada cristã para Descartes introduz Primeira Guerra
HISTÓRIA do conceito de retomar os territórios o racionalismo. Mundial, em 1914. Com a chegada de
democracia. conquistados pelos Getúlio Vargas ao
muçulmanos. Movimentos Um novo conflito poder, dá-se início
Constituída a filosóficos e políticos global é o resultado a um processo de
partir de 753 a.C., a Na América Latina, dão início a uma do revanchismo alemão desenvolvimento
ENTENDER AS GRANDES civilização romana civilizações como os mobilização de à derrota na 1ª Guerra, industrial e
seria responsável por Astecas (na região contestação aos com a ascensão de tecnológico.
TRANSFORMAÇÕES levar a cultura grega a que atualmente monarcas. Adolf Hitler e o domínio
DA HUMANIDADE É diferentes territórios compreende parte dos nazistas. O breve período
por meio das do México) e os Incas A Guerra de democrático é
F U N DA M E N TA L PA R A conquistas militares. (no território oeste Independência dos Após 1945, União interrompido em 1964
Em 476 d.C., o último da América do Sul) Estados Unidos, Soviética e Estados por um golpe militar
REALIZAR O ENEM imperador é derrotado se organizam de em 1776, marca a Unidos protagonizam que teve apoio de
pelos invasores maneira complexa e emancipação dos conflito político e setores civis, como
“bárbaros”. formam impérios. países americanos. ideológico no mundo. o empresariado.
 S e o p o e t a nos recorda que NOTÁVEIS NOTÁVEIS NOTÁVEIS NOTÁVEIS NOTÁVEIS
Sócrates, Platão e Carlos Magno Leonardo da Simón Bolívar Zumbi dos
o mar da História é agitado,
Aristóteles (filósofos (unificou territórios Vinci (artista do (símbolo da luta Palmares (referência
devemos percorrer essa jorna- da Grécia Antiga) da Europa central) Renascimento) anticolonial na da resistência à
da com uma boa bússola nas América Latina) escravidão)
Alexandre, o Saladino (derrotou os Galileu Galilei
mãos. Por isso, ao fazer a revi-
Grande (imperador cavaleiros cruzados) (cientista) Abraham Lincoln Tiradentes (mártir
são da prova de Humanidades, da Macedônia) (presidente dos da independência)
é importante ter em mente Tomás de Aquino Jean Jacques Estados Unidos)
Júlio César (militar e (influenciou as Rousseau (filósofo Getúlio Vargas
como os principais aconteci-
político que idealizou concepções da que inspirou o Vladimir Lenin (líder (liderou o projeto
mentos históricos influencia- o Império Romano) filosofia e teologia) Iluminismo) revolucionário) de modernização)
ram sua época. E, o mais rele-
REALIZAÇÕES REALIZAÇÕES REALIZAÇÕES REALIZAÇÕES REALIZAÇÕES
vante, de que maneira todos
Invenção Os chineses O alemão Johannes Máquina a vapor Carlos Chagas
esses fatos têm relação com a da escrita na desenvolvem Gutenberg cria revoluciona a e Oswaldo Cruz
atualidade. “É necessário pres- Mesopotâmia a pólvora a prensa móvel produção industrial iniciam projetos de
saúde pública
tar atenção na complexidade
Construção das Fundação da São publicadas Desenvolvimento
e na diversidade dos proces- pirâmides egípcias primeira universidade, obras-primas de de remédios e Semana de Arte
sos sociais”, ressalta Thomas em 1088, na cidade Dante Alighieri vacinas leva a salto de 1922 revoluciona
Concepção da italiana de Bolonha (Itália), Nicolau populacional as artes no país
Wisiak, coordenador de His-
democracia grega Maquiavel (Itália),
tória do Grupo Etapa. Entre Outra invenção William Shakespeare Armas de destruição Oscar Niemeyer
os tópicos, o professor desta- Origem de religiões chinesa é a bússola, (Reino Unido), Luís de em massa são torna-se referência
como cristianismo, que influenciaria de Camões (Portugal) e desenvolvidas após mundial com sua
ca as disputas em torno da ter-
judaísmo e maneira decisiva Miguel de Cervantes o fim da Segunda arquitetura de
ra e dos recursos naturais. confucionismo as navegações (Espanha) Guerra Mundial estilo modernista

Fazer uma revisão do Curso Poliedro.

dos acontecimentos Além dos assuntos Anti-
geopolíticos e dos fe- de vestibulares tradi- O MÉTODO DE TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM (TRI) É
nômenos climáticos é cionais, o Enem apre- chutes RESPONSÁVEL POR AVALIAR O DESEMPENHO DO CANDIDATO
CIÊNCIAS um bom caminho para senta questões que
HUMANAS estudar os temas mais envolvem o conheci-
importantes de Geo- mento das principais
boa notícia: para chegar à nota fi- Cada questão respondida corretamente
assuntos gerais, nem
grafia (veja nas pági- pense em encarar a escolas filosóficas, A nal do Enem, um complexo cálculo tem um peso diferente: ao errar várias
nas 28 e 29 os princi- prova sem um estu- como as de Sócra- matemático é realizado. A notícia perguntas da categoria “fácil” e acertar
Dos mapas a pais acontecimentos do prévio. “A prova tes, Aristóteles, René
deste ano). “Observa- Descartes e Jean-
ruim: isso o impede de responder à maior algumas difíceis, por exemplo, o siste-
não é detalhista, com
Aristóteles mos que há na prova pegadinhas, mas ela -Jacques Rousseau. parte da prova com “chutes”. Chamado de ma considerará que houve falta de coe-
muitas perguntas em também não é ape- Em relação à Socio- Método de Teoria de Resposta ao Item (ou rência na prova e reduzirá a média final.
que a geografia bra- nas uma avaliação de logia, autores es-
ALÉM DE QUESTÕES sileira e a geografia senciais, como Karl
TRI), o sistema avalia o desempenho do “Por isso, o aluno deve estudar os conteú-
interpretação: quem
TRADICIONAIS, ENEM internacional estão não tiver conteúdo Marx, Pierre Bour- candidato ao resolver questões dividi- dos em que está mais fraco: é importante
AVALIA CONHECIMENTOS associadas”, afirma o não conseguirá com- dieu e Sérgio Buar- das entre os níveis fácil, médio e difícil acertar as perguntas fáceis para não ter a
professor Hugo Ansel- preender”, diz Cristina que de Hollanda,
SOBRE FILOSOFIA mo, do Curso Anglo. também estão pre-
— a avaliação de dificuldade é realizada nota derrubada no final”, destaca Rommel
Luciana do Carmo, pro-
E SOCIOLOGIA Apesar de tratar de fessora de Geografia sentes na prova. de maneira prévia pelos organizadores. Domingos, diretor do Colégio Bernoulli.
_ LINGUAGENS

PA R A L E R

COM
CA R I N H O

NA PONTA
AU TO R E S Q U E LIMA
ESTIVERAM BARRETO
N A S Ú LT I M A S

DA LÍNGUA AVA L I AÇÕ E S

DO ENEM
Homenageado nes-
te ano pela Feira
Literária de Paraty
(Flip), ficou conhe-
cido pelas obras de
S A B E R I N T E R P R E TA R D I F E R E N T E S
crítica social do iní-
T I P O S D E T E X TO S É O S EG R E D O cio do século 20.

PA R A M A N DA R B E M N A P R OVA
MACHADO OSWALD DE
DE ASSIS ANDRADE

N ã o é n e c e s s á r i o s e r nenhum Machado de
Assis para encarar as 45 questões da área de Lingua- Cronista dos cos- O escritor é reco-
tumes nacionais da nhecido como um
gens que serão abordadas no primeiro domingo de passagem do sécu- dos idealizadores
prova. Apesar de levar em conta os conhecimentos lo 19 para o século da Semana de Arte
de regras básicas (acentuação gráfica, regras de or- 20, é o principal Moderna, realizada
autor da literatu- na cidade de São
tografia e de pontuação), a avaliação tem o objetivo ra brasileira. Paulo em 1922.
de desafiar o candidato a compreender os diferen-
tes gêneros textuais que acompanham nosso dia a CLARICE
dia. “A maior parte da prova de Língua Portuguesa é LISPECTOR
de interpretação de texto, e cada uma das questões
avalia diferentes competências de leitura”, afirma Com obras como
a professora Susana Regina Vaz Húngaro, coorde- A Hora da Estrela,
de 1977, a escritora
nadora de Português do Colégio Bandeirantes.
inovou ao abordar
Mesmo sem uma lista de livros obrigatórios, o tramas de cunho
Enem apresenta autores de diferentes escolas artís- psicológico e cará-
ter intimista.
ticas, como Modernismo, Literatura Contemporânea
e até a Música Popular Brasileira (leia mais no quadro
ao lado). Daí, não tem jeito: é necessário ler muita coi- CASTRO ADÉLIA
A LV E S PRADO
sa em pouco tempo de prova. “Uma dica para que o
aluno não se perca nesse processo é ler a pergunta
do exercício antes de fazer a leitura do texto, o que Conhecido pelo A poetisa, hoje
trabalho literário com 82 anos, é res-
possibilita um ganho de tempo e maior segurança na de denúncia à es- ponsável por um
hora de responder à questão”, diz Simone F. G. Mot- cravidão no Brasil, trabalho que trata
ta, coordenadora de Português do Grupo Etapa. o poeta baiano é de temas como a
ligado à escola do construção da iden-
Entre as 45 questões da prova há cinco perguntas Romantismo. tidade feminina.
de conhecimento de línguas estrangeiras — o candi-
dato pode optar por resolver os testes de Espanhol
ou Inglês. Em provas anteriores, o Enem também ava-
liou temas ligados a linguagens corporais e artísti-
cas, contemplando a disciplina de Educação Física.

32
 REDAÇÃO

Vamos Em busca T E M A S E M

da nota 1.000
A LTA

falar de
DICAS PARA
ENCARAR A

coisa REDAÇÃO E
SOBREVIVER
NÓS JÁ
PUBLICAMOS

boa?
ENTENDA COMO SUA REDAÇÃO É P R OVÁV E I S
CORRIGIDA PELOS AVALIADORES A S S U N TO S
DA R E DAÇ ÃO :
É p ra t i c a m e n t e u m d e s f i l e na
Marquês de Sapucaí: para sambar
na cara da sociedade, o candidato
precisa levar em conta os critérios
utilizados para a nota do texto dis-
PLANO U M É P O U CO,
DE VOO DOIS É BOM sertativo-argumentativo. Valendo
1.000 pontos — o que dá uma impor-
Antes de escrever As 30 linhas des- ÓDIO ONLINE
tância fundamental para a composi-
o texto final, pro- tinadas à redação
ção da nota final do Enem —, a re- A capa de outubro
duza um esqueleto não dão espaço para
abordou os extre-
da redação, rascu- escrever muitos dação avalia cinco competências. mismos e a vio-
nhando as ideias argumentos. Por
A primeira está relacionada ao lência virtual.
que abordará em isso, priorize duas
cada parágrafo. ideias centrais. domínio da escrita formal da língua
portuguesa, com respeito às regras
FORMA E CONTRA
gramaticais. As competências dois
FUNÇÃO O RELÓGIO e três relacionam-se à compreen-
são da proposta de redação e à ar-
Um texto agradável Ao treinar redações
gumentação utilizada no texto. No
de ler é importante. antes da prova, co-
O fundamental, no loque um cronô- quesito quatro, os avaliadores ve-
entanto, é atender à metro para marcar rificam a coesão, ou seja, se a re- SUICÍDIO
estrutura de intro- o tempo: o texto O aumento de casos
dação está articulada entre seus
dução, argumenta- deve estar pronto de suicídio entre jo-
ção e conclusão. em uma hora. parágrafos. Por fim, a última com- vens foi debatido na
petência observa se o candidato edição de maio.

CITE, MAS LEITURA elaborou uma solução para resol-

NÃO ABUSE AFIADA ver o problema exposto. “Essa pro-
posta precisa estar completamen-
Não adianta es- Antes da prova, leia
crever uma frase editoriais de jornais te articulada ao posicionamento e
superbonita de al- (que ficam nas primei- à argumentação do aluno: ela tem
gum autor famoso ras páginas) para se de ser muito clara e precisa”, desta-
sem que ela dialo- acostumar com o esti-
gue com o restan- lo de texto dissertati- ca Susana Regina Vaz Húngaro, do
te da redação. vo-argumentativo. Colégio Bandeirantes. CIDADES
A discussão sobre
políticas urbanas
foi o tema de nossa
capa de março.

Com a mudança di- No domingo seguin- hora para o gabari-

vulgada neste ano, as te, serão quatro ho- to”, revela Rommel
provas de Linguagens ras e meia — um pra- Domingos, do Colé-
H O R A DA V E R DA D E ESPECIALISTAS
e Ciências Humanas zo considerado mais gio Bernoulli. “Mas a
AVALIAM QUE serão realizadas no do que apertado. maioria dos alunos
A DURAÇÃO primeiro domingo, “O Inep calcula que os usa uma hora e meia

Vai dar tempo DAS PROVAS além da redação. No

total, os candidatos
alunos gastem duas
horas para fazer cada
para a redação e dá
um jeito de passar o

de fazer tudo?
DEVERIA SER terão cinco horas e prova, uma hora para gabarito dentro des-
ESTENDIDA meia para concluí-las. a redação e meia sas duas horas.”
_ C I Ê N C I A S E M AT E M ÁT I C A
SAÚDE
EM DIA
P R O VA D E
BIOLOGIA É
CENTRADA EM
ECOLOGIA E NA
SAÚDE HUMANA
Liberte o cientista que há
em você no segundo do-
mingo de Enem: além da
prova de Matemática, o
candidato deverá resolver
as 45 questões de Biolo-
gia, Química e Física. Para
o professor Armênio Uzu-
nian, do Curso Anglo, não
há grandes surpresas nos
assuntos tratados em Bio-
logia. “Dificilmente apare-
cem perguntas que saiam
da tríade ecologia, biotec-
nologia e saúde humana”,
afirma. Por isso, vale ficar
de olho em temas como o
aquecimento global, pro-
dução de alimentos trans-
gênicos e crescimento
populacional. Assuntos
como DSTs, biologia ce-
lular e doenças tropicais
(como zika e dengue) tam-
bém merecem atenção.
34
F Í S I C A
PERGUNTAS
DO ENEM
FEITO POR Com resoluções
Venerando Santiago de Oliveira (Venê), de professores
professor de Física do Curso Poliedro
A figura exemplifica
um arranjo possível 1º PA S S O 4º PA S S O
para uma polia Marcar as forças aplicadas no navio Determinar o número mínimo de po-
composta. Arquimedes quando se tenta arrastá-lo: o peso lias móveis. Como Arquimedes teria
teria demonstrado um (P); a força normal aplicada pela su- conseguido mover o navio sozinho,
outro arranjo desse perfície (N); a força de atrito apli- de acordo com o relato? Utilizando
aparato, movendo cada pela superfície dificultando o o sistema de polias móveis! A rela-
sozinho, sobre a areia escorregamento do navio (Fat); e a ção de força numa polia móvel, des-
da praia, um navio força de tração aplicada pela corda considerando-se sua massa, está
repleto de passageiros (T), ligada diretamente ao navio. representada na figura a seguir:
e carga. Suponha que
a massa do navio era
N
de 3.000 kg, que o T/2
coeficiente de atrito T
estático entre o navio T Fat
T/4
e a areia era de 0,8 e T/2
que Arquimedes tenha T/4
puxado o navio com P
F F
uma força F, paralela à
direção do movimento
e de módulo igual 2º PA S S O Veja que, caminhando do navio para
a 400 N. Considere Calcular o valor do atrito estático a polia, a força de tração foi dividi-
os fios e as polias máximo a ser vencido para o navio da pela metade. Isso acontecerá a
ideais, a aceleração poder ser arrastado. Como o mo- cada polia móvel acrescentada no
da gravidade igual vimento do navio se dará no plano sistema. Portanto, para determi-
a 10 m/s2 e que a horizontal, pode-se concluir que a nar quantas polias móveis serão
superfície da praia força normal e o peso se equilibram, necessárias para Arquimedes rea-
é perfeitamente apresentando a mesma intensida- lizar seu intento, podemos dividir
horizontal. O número de (N = P). Determina-se então a a tração a cada polia móvel encon-
mínimo de polias intensidade da força normal N: trada, até chegarmos a uma tração
móveis usadas cuja intensidade seja igual ou menor
nessa situação por do que a força aplicada (400N):
N = P = m.g N = 3.000 x 10
Arquimedes foi:
N = 30.000N
24.000N 12.000N
Conhecendo a intensidade da nor- 6.000N 3.000N
mal, pode-se determinar a inten-
sidade da força de atrito estático 1.500N 750N
máximo: o maior atrito que pode
F ser aplicado pela superfície capaz 375N
de manter o navio em repouso.
A. 3 1 polia móvel 1 polia móvel
Fest.max. = µ . N
1 polia móvel 1 polia móvel
B. 6 Fest.max. = 0,8 x 30.000
Fest.max. = 24.000N 1 polia móvel 1 polia móvel
C. 7
D. 8 3º PA S S O
Como 375N é menor do que 400N,
O navio começará a deslizar quan-
o conjunto com 6 polias móveis é
E. 10 do a força de tração aplicada pelo
suficiente para garantir que Ar-
fio ligado diretamente ao próprio
quimedes (287 a.C. a 212 a.C.) —
navio tiver intensidade maior do
considerado o inventor da polia
que a força de atrito estático má-
composta — consiga realizar seu
ximo. Para que possamos identi-
objetivo de mover o navio sobre
ficar esse limite, igualamos tem-
a areia da praia. Por conta dis-
porariamente essas duas forças:
so, a resposta para essa ques-
tão (que esteve na prova de 2016
T ≥ Fest.max, no limite T = 24.000N do Enem) é a alternativa B.
R E S P O S TA — Alternativa B
 M AT E M ÁT I C A Q U Í M I C A

F EI TO POR FEITO POR

Fernando da Espiritu Santo, coordenador José Ricardo Lemes de Almeida, coordenador
do Sistema de Ensino Poliedro de Química do Colégio Bandeirantes

Para garantir a se- Os feromônios são

gurança de um gran- Esta questão consegue demonstrar bem o substâncias utiliza- Substância Inseto Cultivo
de evento público que se deve esperar da Prova de Matemática das na comunica- OH O
que terá início às 4 do Enem, pois percebemos a utilização simul- ção entre indivíduos Sitophillus Milho
spp
horas da tarde, um tânea de conteúdos simples da Matemática de uma espécie. O
organizador precisa (Razões, Proporções e Áreas), mas em uma primeiro feromônio O Cana-
Migdolus -de-
monitorar a quan- situação-problema que o estudante precisa isolado de um inse- NH fryanus -açúcar
tidade de pessoas ter muita atenção para não perder nenhum to foi o bombicol,
presentes em cada detalhe, pois são diversas etapas de cálculos. substância produzi- OH
Anthonomus
Morango
rubi
instante. Para cada O comando da questão expressa que se da pela mariposa do
2 mil pessoas se faz bicho-da-seda. Grapholita
deseja conhecer o número de policiais presen- OH molesta Frutas
necessária a presen- tes no evento. Contudo, o primeiro passo para Scrobipal-
ça de um policial. resolver esse exercício é encontrarmos a quan- OCOCh3 puloides Tomate
OH
Além disso, estima- tidade inicial de pessoas no evento, ou seja, às Bombicol absoluta
-se uma densidade 10 horas da manhã. Como o enunciado infor-
de quatro pessoas ma que a área ocupada às 10 horas equivale O uso de feromônios A pergunta do enunciado pede para indicar,
por metro quadrado a um quadrado de lado 500 metros, temos: em ações de contro- entre as estruturas (feromônios) presen-
de área de terreno le de insetos-praga tes na tabela, aquela utilizada no controle
ocupado. Às 10 ho- AQuadrado= l × l = 500 × 500 = 250 000 m2 está de acordo com o de insetos-praga. O enunciado mencio-
ras da manhã, o or- modelo preconizado na que essa estrutura possui o mesmo
ganizador verifica O enunciado também descre- para a agricultura do tipo de “estereoisomeria apresentada pelo
que a área de terre- ve uma densidade média de 4 pes- futuro. São agentes bombicol”. Estereoisomoria é sinônimo de
no já ocupada equi- soas por metro quadrado, logo: altamente específi- isomeria espacial e consiste na proprie-
vale a um quadrado cos e seus compos- dade de alguns compostos que apresen-
com lados medindo No de pessoas No de pessoas tos químicos podem tam diferentes estruturas espaciais, apesar
500 metros. Porém, densidademédia = ser empregados
4= de possuir a mesma fórmula molecular.
Área 250 000
nas horas seguin- em determina- Ao analisar a estrutura do bombicol, verifica-
tes, espera-se que No de pessoas = 1 000 000 (1 milhão) dos cultivos, con- mos que esse composto apresenta isomeria
o público aumente forme ilustrado espacial geométrica (ou isomeria cis-trans).
a uma taxa de 120 Agora que já sabemos a quantidade ini- no quadro.
mil pessoas por hora cial de pessoas, precisamos utilizar a razão H H
até o início do even- de aumento do público, ou seja, 120 mil Considerando essas
to, quando não será estruturas químicas, OH
pessoas por hora até o início do evento. H H
mais permitida a Se a medição se iniciou às 10 horas o tipo de estereoi-
entrada de público. da manhã e o evento começa às 4 ho- someria apresenta-
Quantos policiais ras da tarde (16 horas), sabemos que da pelo bombicol é Esse tipo de isomeria espacial é característi-
serão necessários a razão de aumento deve ser aplica- também apresenta- co de compostos com ligações duplas e com-
no início do even- da por 6 horas (16 – 10 = 6), portanto: da pelo feromônio postos cíclicos. No caso do bombicol, nas
to para garantir utilizado no con- duas ligações duplas temos o isômero cis,
a segurança? 6 × 120 000 = 720 000 pessoas trole do inseto: pois os hidrogênios (ligantes de menor mas-
sa) estão sempre do mesmo lado da dupla.
Neste ponto, já sabemos o número total
A. 360 de pessoas presentes no início do even- A. Sitophilus spp
H H
to (às 4 horas da tarde), pois o públi-
B. 485 co total é a soma do público inicial (10 h) B. Migdolus OH
fryanus CIS H H
mais o público da razão de aumento: CIS
C. 560
PúblicoTotal = 1 000 000 + 720 000 = 1 720 000 C. Anthono-
D. 740 mus rubi Dentre os feromônios presentes na tabe-
Para finalizar a questão, devemos retornar la, o único que apresenta isomeria cis-trans
E. 860 ao enunciado e extrair a informação sobre D. Grapholi- é Scrobipalpuloides absoluta, que pode
a proporção de policiais por pessoas (Para ta molesta ser utilizado no controle dos insetos.
cada 2000 pessoas se faz necessária a pre-
sença de um policial). Sendo assim, neces- E. Scrobipalpuloi-
sitamos de uma regra de três simples: des absoluta H H H H H TRANS
OCOCH3

Pessoas 2000 1 720 000 1 720 000 CIS CIS

H
= x x = 860 policiais
Policiais 1 x 2000

R E S P O S TA — Alternativa E R E S P O S TA — Alternativa E
_ GUIA DE SOBREVIVÊNCIA

Leia a reportagem de capa

e assista às dicas completas
no nosso site

N U MA
RELAX
DICAS DE
ESTUDOS DOS
PROFESSORES

FAVORITOS
YO U T U B E R S
PA R A
REALIZAR
U M A B OA

DO ENEM P R OVA É
NECESSÁRIO
E S TA R
D E S C A N SA D O DOCINHO
TEMAS FREQUENTES NAS E CO M O EM BOA
B E M-E S TA R HORA PROFESSOR
Ú LT I M A S E D I Ç Õ E S
EM DIA JUBILUT
“Uma simples paço-
O responsável pelo
quinha reorganiza
LINGUAGENS canal Biologia Total
um momento de
Os discursos e gêneros textuais 32,9% indica a importância
aflição (a boca seca
de entender as dife-
O texto argumentativo 21,5% e o mal-estar), pelo
renças entre os con-
fato de aumentar
Usos da língua: norma culta e variação linguística 18,75% ceitos de genética e
o nível de glicose e
Produção dos textos artísticos 12,5% hereditariedade, um
ter uma função re-
dos conceitos cobra-
Procedimentos de construção e recepção dos textos 8,15% confortante”, afirma
dos no Enem.
Mauro Duarte, mes-
Gêneros digitais 4,3%
tre em Psicanálise
Linguagem corporal 1,9% e doutor em Psico-
MATEMÁTICA logia pela USP.

Conhecimentos numéricos 41%

Conhecimentos geométricos 27%
Conhecimentos algébricos 15%
Estatística e probabilidade 14%
Conhecimentos algébricos e geométricos 3% E S T R AT É G I A
PROFESSOR
HUMANAS BÁSICA
WALTER SOLLA
Organização social, movimentos sociais, pensamento político e o Estado 36,9% Apesar da ansie- Para ganhar tempo,
As transformações econômicas e as consequências geográficas 25,2% dade, os dias que o idealizador do ca-
antecedem o Enem nal Se Liga Nessa
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade 22,4%
precisam ser bem História orienta o
Domínios naturais e a relação do ser humano com o ambiente 13,8% P R ÁT I C A planejados: por candidato a ler pri-
Cartografia e leitura de mapas 1,5% Q U E L E VA À isso, não se esque- meiro a proposta da
PERFEIÇÃO ça de reservar um questão para depois
Biotecnologia e sustentabilidade 0,2%
momento do dia fazer a leitura do
CIÊNCIAS DA NATUREZA Para aumentar para a prática de texto de apoio.
a autoconfian- exercícios físicos,
Transformações químicas 17,9%
ça e a autoesti- de ter uma boa
Ecologia e ciências ambientais 14% ma, é importante noite de sono e de
Identidade dos seres vivos e evolução da vida 11,4% que as questões manter a alimen-
apresentadas tação equilibrada,
Moléculas, células e tecidos 7,9%
durante a prova diminuindo o uso
Oscilações, ondas, óptica e radiação 7,6% não o peguem de estimulantes
O movimento, o equilíbrio e a descoberta de leis físicas 7% de surpresa. Por como a cafeína.
isso a importân-
Compostos de carbono 6,9%
cia de conferir
Fenômenos elétricos e magnéticos 6,3% as questões de PROFESSOR
anos anteriores
Materiais: propriedades e usos 6% FERRETTO
e a análise do
Calor e fenômenos térmicos 5,3% estilo de pergun- O dono do canal
Diversidade da vida 4,4% tas da prova. Ferreto Matemáti-
ca indica a impor-
Água 3,3% tância de estudar
Energia, trabalho e potência 2% funções de primei-
ro grau, geometria
plana, probabi-
Fonte: Curso Poliedro
lidade e cálculo
de volumes.

36
 ILUSTRAÇÃO
GIOVANI FLORES

SUMÁRIO
SALA DE AULA COM MILHÕES DE ALUNOS P.38

DE MATÉRIAS AS PERGUNTAS DE OBAMA P.49 OS CRAQUES DA MEDICINA P.54

ENTREVISTA: ROXANE GAY P.60 A PSICANÁLISE SE AUTOANALISA P.64

 20.710.775

A MAIOR SALA DE AULA DO MUNDO

20 MILHÕES

REPORTAGEM ANDRÉ JORGE

DE OLIVEIRA
E GIULIANA VIGGIANO

EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO

17.450.950 18 MILHÕES

Professores
youtubers estão
Número de
usando a internet inscritos dos
para democratizar
16 MILHÕES
youtubers
ao lado
o acesso à educação
de qualidade
a milhões
de brasileiros, 14 MILHÕES

enquanto
especialistas
discutem como
tornar mais
tecnológico o
12 MILHÕES

aprendizado dentro
das escolas 10.846.066
10 MILHÕES

FOTOS JULIA RODRIGUES

E TOMÁS ARTHUZZI

PRODUÇÃO BEATRIZ LIRANÇO

DESIGN FEU

8 MILHÕES

5.506.314 6 MILHÕES

4 MILHÕES

2.374.618
2 MILHÕES

2013 2014 2015 2016 2017

*Dados de 19/10/2017
 Mari Fulfaro
e Iberê
Thenório
MANUAL DO
MUNDO

Paulo Carina
Jubilut Fragozo
BIOLOGIA ENGLISH
TOTAL IN BRAZIL

Felipe
Castanhari
CANAL
Matheus NOSTALGIA
Moraes
TETEUS BIONIC
 D
DESDE CRIANÇA, duas coisas estiveram claras na ca-
beça de Paulo: amava os seres vivos e queria ser profes-
sor. Só não imaginava o rumo que a carreira tomaria.
Formado em Ciências Biológicas pela Universidade Fede-
ral de Santa Catarina, lecionou dez anos em cursinhos e
colégios, até perceber que algo estava errado. “Os alunos
estavam dispersos por conta dos smartphones que sur-
giam”, lembra. “Minhas aulas não funcionavam mais.”
Foi demitido da escola em que trabalhava após dar
uma bronca em alunos bagunceiros. De tão desanimado,
considerou seriamente parar de vez com as aulas. Mas
aí teve uma sacada. Percebeu que a tecnologia não era
inimiga do ensino, pelo contrário. Ficou claro que tinha
potencial de ser sua maior aliada. No fim de 2011, gravou
algumas aulas e postou os vídeos na internet — deu tão
certo que acabou trocando a sala de aula pelo YouTube.
Hoje, todos o conhecem como Professor Jubilut, do Bio-
logia Total, canal com mais de 1 milhão de inscritos.
O projeto cresceu e se tornou uma plataforma de es-
tudos completa, com site próprio e cursos exclusivos,
cujas mensalidades partem de R$ 17. “Hoje somos uma
empresa de 25 funcionários. Fizemos vídeos na África
para explicar sobre os animais de lá”, conta o edutuber
(como são apelidados os youtubers de educação). Jubilut
é tão querido pela moçada que tem até um fandom: os
JubiAlunos. Nunca perdem uma JubiAula.
Além do Biologia Total, outros também extrapolaram
os limites do YouTube — a maioria dos edutubers busca
usar os canais para alavancar as próprias plataformas de
ensino, onde conseguem ganhar mais com o conteúdo.
Eles lucram, e os estudantes gastam menos que em cur-
sinhos convencionais. Essa economia foi fundamental
para Jhosen Congeta, de 27 anos, que cursa o primeiro
ano de medicina na USP de Ribeirão Preto.
O objetivo de se tornar médico parecia um sonho dis-
tante para o jovem de infância pobre, nascido e criado
em Belo Horizonte (MG). Estudou a vida toda em es-
colas públicas e não chegou a concluir o Ensino Mé-
dio: ele obteve o certificado de conclusão através do
40
Enem. Mas Jhosen estava determinado a não desistir.
Conciliando o trabalho de vendas online e o cursinho,
o rapaz descobriu em 2013 as aulas pela internet (dentre
elas as de Jubilut) e se apaixonou. “Economizava o tem-
po de trajeto até o cursinho, além de não precisar copiar
o conteúdo do quadro”, conta o jovem, que virou uma
espécie de embaixador do ensino a distância. Para ele,
distrações como as redes sociais são contornáveis.
O método caiu como uma luva para Jhosen e, após
três anos de intensa preparação, foi aprovado em pri-
meiro lugar de medicina na USP de Ribeirão e também
em várias universidades federais, graças ao ótimo de-
sempenho que obteve no Enem. “É uma realização”,
afirma. “Todos pensavam que seria impossível, até meu
pai me pedia para colocar os pés no chão.”
MUITO ABAIXO DA META
Porcentagem de alunos que saem do Ensino Médio sabendo o que deveria
Português Meta Matemática Meta
60%
Fonte: Todos Pela Educação
40%
20%
0%
1995 97 99 01 03 05 07 09 11 13 15 17
Jhosen não é o único que gosta de estudar com au-
xílio da tecnologia. Segundo dados do YouTube, 65%
dos usuários procuram a plataforma quando querem
aprender: todos os dias, conteúdos educativos têm 500
milhões de visualizações. São assistidos por quatro
vezes mais tempo do que vídeos fofos de gatinhos.
Usar recursos audiovisuais para ensinar também é a
praia do norte-americano Jonathan Bergmann, professor
de Química. Ele é um dos criadores do método da “sala
de aula invertida”, que vem ganhando atenção. A ideia é
simples: antes de ir para a escola, os alunos devem assis-
tir a vídeos sobre o conteúdo. Assim, o tempo em classe
fica menos expositivo (e entediante) e mais “ativo”.
“A magia está em fazer com que os alunos discutam,
perguntem, criem e desenvolvam relacionamentos”, re-
lata Bergmann. “Há estudos que provam que esse é o
melhor método de ensinar, não vejo pontos negativos.”
Os estudantes parecem concordar. Segundo levanta-
mento da Quizlet, plataforma de aprendizagem gratui-
 PISA MAIS, BRASIL
Educação brasileira amarga últimas colocações no Pisa — exame que avalia o desempenho escolar de vários países
Ciências Matemática Leitura

Cingapura Médias Brasil

Fonte: Pisa 2015 (OCDE)

1º 59º 63º 66º 72º

ta, 74% dos alunos usam tecnologia para estudar em do canal Matemática Rio (900 mil inscritos), coleciona
casa, mas só 37% podem usá-la em classe. “O maior casos sobre o poder de democratização do YouTube. Cer-
problema da educação é a tradição”, aponta o químico. ta vez, recebeu um comentário de um índio amazonense
“Temos medo de mudar, mas todos os outros sistemas que viajava três horas pelo rio até Manaus só para as-
estão desenvolvendo formas mais eficazes de funcio- sistir aos vídeos do canal e estudar para o vestibular de
namento”, argumenta. “A educação, não.” engenharia. Em outra ocasião, uma mãe comentou que a
filha estuda na escola rural de um dos assentamentos da
Matemática pop reforma agrária no Mato Grosso do Sul. “Adivinha como
Com 27 milhões de inscrições, em 240 canais, a pla- ela tira as dúvidas? Obrigada por existir!!!”
taforma oficial de vídeos educacionais do YouTube, Procópio também se recorda de um encontro que teve
chamada YouTube EDU, é mantida pelo Google em com Pedro Bial, jornalista da Globo, no avião. Para sua
parceria com a Fundação Lemann. A marca reúne con- surpresa, Bial o saudou pelo nome. “Ele contou que os
teúdo de excelência com uma espécie de selo de quali- filhos me assistiam para tirar dúvidas.” Com as mesmas
dade. Dos canais ativos na plataforma, a grande maio- videoaulas, o professor ensina matemática ao índio da
ria é de matemática: são 88. Um deles é o do professor Amazônia e aos filhos de um apresentador famoso.
Daniel Ferretto, que possui mais de 1 milhão de inscri- A rede YouTube EDU, onde também estão Jubilut
tos — logo deve alcançar o colega Jubilut. Eles leciona- e Procópio, tem quatro embaixadores. Um deles é
ram juntos em um cursinho de Florianópolis. Carina Fragozo, do canal English in Brazil (490 mil ins-
Ter um canal direcionado à critos). Professora de inglês, vem
matemática, matéria em que alu-
PROFESSOR PAULO JUBILUT de família humilde e não pôde pa-
nos têm mais dificuldade, contri- gar curso de línguas. Foi daí que
buiu para a popularidade de Fer- surgiu a ideia de compartilhar vi-
retto: “Não quero desmerecer as deoaulas: “Sempre quis ter um
outras disciplinas, mas para estu- blog para dar aulas gratuitas”,
dar matemática é preciso de au- comenta. “Recebo mensagens de
xílio e segurança”, afirma. “Al- senhoras de 70 anos dizendo que
guns outros conteúdos, basta que nunca tiveram oportunidade de
o aluno se sente e estude.” aprender, mas começaram graças
Hoje, Ferretto está mais focado a mim — é gratificante.”
em desenvolver conteúdos para Dados do Ministério da Edu-
sua plataforma paga — com cur- cação (MEC) mostram que 80%
sos a partir de R$ 15 ao mês — dos professores são mulheres,
do que para o YouTube. Só que mas na lista de canais do You-
ele planeja fechar as portas (ou Tube EDU, elas são apenas cerca
melhor, os servidores) da própria de 15%. Fragozo acredita que um
empresa daqui a alguns anos. dos motivos é a falta de incen-
“Quero disponibilizar todo o con- tivo para garotas se envolverem
1.119.997

teúdo de graça”, conta Ferretto. com tecnologia: “Quando recebo

Democratizar o conhecimento NÚMERO CANAL elogios a respeito da edição dos
DE INSCRITOS
é essencial em um país com ta- Biologia Total meus vídeos, me perguntam se
841.861

manha desigualdade educacional. IDADE foi meu marido quem editou”.

341.063

Dados da ONG Todos Pela Edu- 37 anos

566.797

cação mostram que, em 2015, ape- FORMAÇÃO Ensino em grupo

2013 151.863

nas 7,3% dos alunos saíam do En- Ciências Biológicas Nem só de professores em “car-
sino Médio sabendo o esperado (UFSC) reira solo” os canais são feitos.
41
2014

2016

2017
2015

em matemática. Rafael Procópio, Coletivos como o Descomplica

 Matheus Moraes, o Teteus Bionic, ensina programação a crianças de Mauá (SP)
unem profissionais de diversas áreas: além das aulas,
analisam temas quentes do noticiário. “A gente tenta
desmistificar o fato de que a educação é algo rebusca-
do”, pontua Eduardo Valladares, professor de português
e gerente pedagógico da plataforma. Ele defende que a
educação deve ser levada menos a sério. “Tem de ser
simples, fácil, acessível e divertida.” Por isso, diz, a in-
ternet veio para somar (não competir) com a escola.
Outra técnica promovida pelo coletivo é o peer lear-
ning, ou aprendizagem recíproca, na qual os vestibulan-
dos se ajudam e aprendem juntos. Viram mentores uns
dos outros. A lógica é colocada em prática no Guia do
Estudo Perfeito (GEP), grupo de Facebook com mais
de 30 mil membros criado pelo Descomplica. Sempre
focados em provas e vestibulares, os alunos aproveitam
o espaço para trocar de tudo um pouco: desde dicas de
estudo e resumos de matéria até mensagens de apoio.
Rolam inclusive transmissões ao vivo por ali. O projeto
fez a paraense Allana Beatriz Aguiar se apaixonar pelo
coletivo e se tornar embaixadora do GEP.
“Somos alunos que engajam outros alunos a fazer
42
algo proativo dentro dos estudos, o que é fundamen-
tal para se manter dentro da linha, pois há apoio para
continuar estudando mesmo cansados”, conta a jovem,
que se prepara para o vestibular de medicina. Ela usa
o Descomplica como base para os estudos. Alguns fa-
tores que justificam a escolha são praticidade e preço
mais atrativo que o de cursinhos presenciais.
Nunca é cedo para programar
Outro bom exemplo do aprendizado entre pares acon-
tece em uma saleta na ONG Nova Era Novos Tempos,
de Mauá, Grande São Paulo. O professor ensina pro-
gramação em meio aos computadores ocupados por
crianças da comunidade. Vez ou outra, usa um banqui-
nho para ficar maior que seu 1,40 metro de altura — na
média, para um garoto de 11 anos.
Nas manhãs de segunda-feira, antes de ir à escola
para cursar o sexto ano, Matheus Moraes dedica duas
horas ao próprio projeto social, o Cyber Educa, onde dá
aulas a meninos e meninas de sua faixa etária para que
aprendam a criar games. Teteus, como é chamado, co-
meçou sua história com a programação aos sete anos.
“Uma semana depois que aprendi a ler, meu pai falou:
 POUCAS EDUTUBERS CANAIS NA ATIVA
80% dos professores são mulheres, mas no YouTube EDU elas são só 15% Maioria dos edutubers ativos na plataforma ensina Matemática e Ciências

Homens Mulheres TOTAL: 212*

90

Matemática
85%
80

* Contabilizados apenas canais de uma só pessoa

70

Física
60

Fonte: YouTube EDU

50

Química

Biologia
15%

Inglês
40

Português

História
30

Geografia
20

Ciências
10

Espanhol

Sociologia

Filosofia
0

você vai aprender a programar”. E aprendeu. Com apoio Tube, Teteus Bionic, agora com mais de mil inscritos.
do pai, Michael Moraes, profissional da área, dominou A ideia é usar videoaulas para levar seu ensino muito
o Scratch: linguagem ideal para jovens por funcionar além do espaço apertado de Mauá. E, já com toda a pin-
como Lego, à base de blocos. Nas aulas, Matheus usa ta de youtuber, Teteus pede: “Por favor, se inscrevam
apostilas livres da rede Code Club, clube de programa- no meu canal, compartilhem e deem like nos vídeos”.
ção para crianças presente em 125 países. Mas se a programação é tão empoderadora quando
Teteus ama astronomia: vive divagando sobre bura- aprendida desde cedo, por que ainda não está nas es-
cos negros e viagens na velocidade da luz. Deseja trans- colas? Não é de hoje que se discute a importância de
mitir dois conceitos importantes que vêm de brinde incorporar tecnologia ao currículo — quem esteve em
com a habilidade de programar: a lógica de programa- idade escolar nos anos 1990 se lembra bem das (não tão
ção e o pensamento computacio- queridas) aulas de informática.
nal. “São coisas que se leva para
CARINA FRAGOZO Mas essa cultura se perdeu com
a vida inteira”, diz o menino pro- a virada do milênio e as escolas
dígio, magricela e com cabelos não souberam lidar com o boom
castanhos ondulados que caem tecnológico. Vários estados apro-
até abaixo dos ombros. “A lógi- varam leis que proíbem o uso de
ca de programação é uma forma celulares em sala, regra que come-
de ordenar procedimentos para ça a ser revista diante do poten-
realizar tarefas, enquanto o pen- cial educacional dos dispositivos.
samento computacional analisa Em programação, as iniciativas
e resolve problemas.” são isoladas: a Prefeitura de São
Para Matheus, que já pales- Paulo pretende incluí-la no currí-
trou na Campus Party e virou culo do Fundamental em 2018.
embaixador da IBM, programar Enquanto isso, grandes em-
é uma ferramenta poderosa para presas de tecnologia investem
os mais novos, porque “amplifica em projetos para suprir a falta de
a imaginação da criança, permi- uma política nacional. Em agosto,
te fazer de tudo, sem limitações”. o Facebook abriu em São Paulo
O aluno Gabriel Rocha, do nono a Estação Hack, centro de educa-
491.680

ano, três anos mais velho que o ção tecnológica com bolsas para
professor, concorda. “Tudo que NÚMERO DE CANAL jovens interessados em progra-
INSCRITOS
aprendo aqui me ajuda na esco- English in Brazil mar. Já a Microsoft disponibiliza
339.471

la, principalmente em matemática IDADE cursos online gratuitos em TI.

e interpretação de textos”, orgu- 30 anos Para Adelmo Eloy, coordena-
124.777

lha-se. “Essas aulas são diverti- FORMAÇÃO dor de projetos do Instituto Ayr-
das para as pessoas que querem Letras ton Senna, que gerencia inicia-
25.291

mesmo aprender.” Em fevereiro, (PUC-RS) tivas de programação nas redes

43
2016
2015

2017
150

Matheus criou seu canal no You- públicas de ensino, não é bondade

 O POVO QUER SABER
Inglês, matemática e biologia são as áreas com mais inscritos no YouTube EDU

Fonte: YouTube EDU – considerados só canais de uma única disciplina

2.105.505
746.701
1.137.246

4.529.084

4.457.540
Matemática Inglês e idiomas
1.039.474
Física Português

Química História 763.561

Biologia Geografia 80.551

o que leva essas empresas a isso: o interesse é merca- Já Regina Gavassa, coordenadora de informática edu-
dológico. Dados da Associação para a Promoção da Ex- cativa da rede municipal de ensino de São Paulo, não
celência do Software Brasileiro (Softex) apontam que o apoia imposições. “Obrigar a algo é sempre estranho”,
Brasil pode chegar a 2022 com um déficit de até 408 mil rebate. “O que muda a educação é o professor e o alu-
profissionais de TI. Só as universidades não dão conta no, no diálogo.” Mas todos ainda esbarram no problema
de formar essa mão de obra. mais básico: a infraestrutura. Para 60% dos professo-
“Vemos a oportunidade de ter o ganha-ganha: atender res, a falta de internet é o maior entrave para o avan-
à demanda do mercado, mas promover o desenvolvimen- ço das tecnologias educacionais nas escolas públicas,
to de competências importantes para o jovem do século sobretudo no Ensino Fundamental. Nenhuma dessas
21”, afirma Eloy. Com essa ideia, o Instituto Ayrton Sen- discussões faz sentido quando faltam computadores.
na realizou em setembro um even-
to para discutir questões tecnoló-
MATHEUS MORAES Sem medo de errar
gicas e educacionais: a Expo>>> Outro grande gargalo é a capaci-
Educação + Tecnologia + Futuro. tação dos educadores. “O que a
O debate sobre programação nas gente faz com o professor é até
escolas foi acalorado. meio cruel”, afirma Lúcia Dellag-
Camila Achutti tem 25 anos, nelo, diretora do Centro de Ino-
mas já fez mestrado em Ciência vação para a Educação Brasileira
da Computação pela USP e fun- (Cieb). “Queremos que incorpo-
dou a startup Mastertech, voltada re tecnologias, mas não oferece-
à educação em tecnologia. Defen- mos um lugar onde possa testá-
de que programar é tão importan- -las”, diz. A associação que surgiu
te quanto aprender a ler e escre- para implantar a cultura de inova-
ver foi no século 19. “Não precisa ção na educação pública brasileira
ir tão longe, Buenos Aires tem po- ouviu as demandas dos professo-
lítica pública de programação, não res e buscou referências no exte-
é algo só para país desenvolvido.” rior para criar o EfeX — espaço
A empreendedora e ativista de formação e experimentação em
por uma maior presença femini- tecnologias educacionais.
na na computação acredita que Lembra do conceito de peer
sair da inércia e perder o medo NÚMERO DE CANAL learning? “É um espaço onde o
INSCRITOS
de errar seja o único jeito de re- Teteus Bionic professor vai poder experimentar
verter um anacronismo. “Temos IDADE a tecnologia com seus pares antes
um sistema educacional do sé- 11 anos de se expor na frente dos alunos,
1.107

culo 19, com professores do sé- FORMAÇÃO assim eles aprendem um com o
culo 20 ensinando alunos do sé- Estudante outro e criam juntos os próprios
2017

culo 21”, ela diz. “Ninguém sabe (6° ano) planos de aula”, explica Dellagne-
44
as respostas — e está tudo bem.” lo. Até o final do ano, os primeiros
cinco centros devem ser inaugurados. Nesse laboratório,
educadores poderão experimentar sem medo de errar.
Iniciativas assim são uma alternativa para que os pro-
fessores da rede pública possam explorar treinamentos
além daqueles oferecidos pelo governo.
No 4º Fórum Nacional de Educação e Inovação, rea-
lizado em outubro, o ministro da Educação, Mendonça
Filho (DEM-PE), afirmou que são destinados R$ 1,5 bi-
lhão à formação dos docentes. Na sua fala, destacou uma
agenda de mudanças no MEC para priorizar a educação
básica — na última década, os investimentos foram ca-
nalizados ao Ensino Superior. Está prevista para o início
de 2018 a Base Nacional Comum Curricular, reivindica-
ção antiga de pedagogos para unificar os currículos das
escolas públicas e privadas, definir prioridades em todos
os níveis de ensino e pautar os vestibulares. Mendonça
Filho deu a entender que programação e robótica estão
cotadas para a base. “É uma coisa que tem merecido aten-
ção por parte do Ministério e uma demanda crescente das
redes estaduais e municipais de educação”, afirma. “Va-
mos apoiar com materiais e formação de professores, di-
vidindo a responsabilidade com estados e municípios.”
Essas tendências que aos poucos penetram as escolas
são reflexo do Movimento Maker, que defende o valor de
fazer as coisas com as próprias mãos e de aprender na
prática com base em projetos. Os “fazedores” mais fa-
mosos do Brasil são Iberê Thenó-
rio e Mariana Fulfaro, donos do
MARI E IBERÊ
segundo maior canal de ciência e
tecnologia do mundo no YouTube.
Com 30 ideias de séries engatilhadas, tiram da fila
umas três por ano. O segredo do sucesso é que os ví-
deos são pensados para entreter toda a família. “Tem
que pensar que o menino de oito anos vai ter que enten-
der e o avô de 80 também”, conta Iberê, que em outra
vida já trabalhou como jornalista de redação. “A gente
ensina desde como fazer um avião de papel até como
furar parede ou como funciona uma hidrelétrica.” Os
dois se consideram contrabandistas do conhecimento:
como o espectador se diverte, aprende sem perceber.
É por isso que não são um canal de educação, mas de
entretenimento educativo. Mesmo não ensinando em
escolas, estão na sala de aula. “Professores usam nosso
conteúdo, que é leve, para prender a atenção dos alu-
nos — e normalmente funciona”, diz Mari. “Chega um
monte de mensagem de gente que acertou questão no
Enem ou em vestibular por causa do Manual do Mun-
do.” Iberê acredita que a robótica é um dos melhores
meios de fazer o aluno se interessar por conteúdos de
matemática, lógica ou eletrônica de um jeito divertido.
“Acho mais fácil a revolução acontecer no YouTube, as
escolas são travadas e burocráticas”, diz.
Outro medidor da influência são os relatos de pes-
soas que seguiram carreiras em engenharia ou ciência
graças aos vídeos: cada encontro com fãs revela uns
três ou quatro casos, contam. “O mais louco é o cara
todo barbudo, se formando em
Física, dizer que escolheu fazer
por causa da gente”, conta Iberê.
“Aí você se toca que o negócio

*Canal não forneceu os dados: foram obtidos por meio da ferramenta Way Back Machine, do Internet Archive
Com quase 9 milhões de inscri- tem nove anos: quem hoje tem
tos, os 1,3 mil vídeos do Manual do 22 assistia com 13.”
Mundo foram assistidos mais ve-
zes do que o número da população Beakman brasileiro
da China — 1,5 bilhão de views. Outro youtuber sem vínculo com
“Lembro que falava para meu o ensino formal que tem produ-
pai que 50 mil inscritos seria zido conteúdo educativo é Feli-
nosso limite, que não tinha tan- pe Castanhari, criador do canal
ta gente interessada no que ía- Nostalgia. Prestes a completar
mos falar”, conta Iberê, que criou 28 anos, há não tanto tempo fre-
o canal em 2008. Atualmente, quentava a escola de Osasco, sua
recebem esse número de inscri- cidade natal. “Era um aluno de-
ções por mês. Estão às vésperas sinteressado”, diz, culpando o sis-
de lançar a primeira superpro- tema de ensino “errado e arcai-
dução: o quadro SciTruco, game co”. O gosto por artes o levou a
NÚMERO DE
8.997.819

show no YouTube com perguntas cursar design gráfico e animação

INSCRITOS*
de ciência e mecânica de truco. CANAL 3D, bem na época em que criou
4.605.139

7.169.065

Para os primeiros 20 episódios, Manual do Mundo seu canal no YouTube, em 2012.

convidaram youtubers de 22 ca- IDADES Com a proposta de relembrar
2.758.221

nais para atividades como a ba- 33 anos e 36 anos coisas nostálgicas da infância,
1.625.140

tata quente da tabela periódica — FORMAÇÕES aplicou o background de desig-

têm de jogar o tubérculo e recitar Terapia Ocupacional e ner e foi além do vlog clássico.
os elementos na pressa. “É uma Jornalismo (USP) Bombou. Hoje, tem mais de 10
45
2014

2016
2013

2015

2017

batatona de Itu”, brinca Mari. milhões de inscritos e é a nona

 Iberê Thenório e Mariana Fulfaro no estúdio que criaram para gravar os vídeos do canal Manual do Mundo, na zona oeste de São Paulo
personalidade mais influente do Brasil, segundo estudo
encomendado pelo Google. “Tomo cuidado para não
ser responsável por desinformação”, diz Castanhari.
“Fico feliz [com a fama], mas acho preocupante que
tanta gente não se importe muito com isso e acabe
usando essa influência só para benefício próprio.”
Ele aproveitou-se da popularidade para investir em
conteúdos aprofundados e com cuidado estético. Criou
documentários, como um vídeo de quase duas horas
sobre os Beatles. Extrapolou a cultura pop para abordar
também história, geopolítica e atualidades, com rotei-
ros elaborados junto de especialistas. “Eu sempre quis
ser divulgador de ciência, ajudar a explicar as coisas
em uma sociedade onde o terraplanismo está se difun-
dindo e coisas absurdas entram em pauta.” Notou que
esse tipo de conteúdo perdeu espaço na TV aberta e
resolveu oferecê-lo à “molecada” na própria linguagem:
assim nasceu a série de vídeos Nostalgia Ciência.
“Sou apaixonado pelo cosmos, me aprofundo mui-
to”, diz Castanhari. Com referências como Carl Sagan,
Neil deGrasse Tyson e o personagem Beakman (que
46
lhe é nostálgico), lançou em julho o primeiro episódio,
que conta como foi o surgimento da Lua: teve mais de
2 milhões de visualizações. O segundo, sobre a extinção
dos dinossauros, já quase atingiu a mesma marca.
“Conteúdos desse tipo incentivam crianças a seguir
o caminho da ciência, que todos precisam para a evolu-
ção da sociedade.” Castanhari quer ser uma espécie de
Beakman — criou o projeto com a ideia de levá-lo futu-
ramente à TV. Por isso, animações e trilha sonora são
criadas do zero, o que demanda tempo e dinheiro, traba-
lho que não costuma fazer parte da rotina dos vloggers.
Seus vídeos também têm sido transmitidos em sala de
aula. “Fico feliz que meu canal faça parte disso, não
na totalidade, mas pelo menos em alguns projetos.”
História na quebrada
O Se Liga Nessa História também vem obtendo bons
resultados com animações. Criado pelo historiador Wal-
ter Solla, da USP, e pelo animador Ary Neto, que deixa
as videoaulas lúdicas e cuida dos negócios, o canal faz
uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a comu-
nicação cotidiana das pessoas. A ideia é apresentar con-
teúdos de Enem e vestibulares em linguagem popular.
 GARGALOS NAS ESCOLAS FALTA APRENDER 99% TECNOLÓGICOS
Professores do Fundamental elencam o que Em 67% das escolas, só a minoria dos Quase todas as escolas dizem usar
falta para usarem mais tecnologia em sala professores é treinada para usar tecnologia tecnologia, mas só em 10% delas todos
os professores a aplicam
Estrutura de internet Todos treinados

Computadores e tablets
3,4%
100% 35%
13,8% Maioria treinada

Alguns usam
30%
15,4% Diversos treinados

Maioria usa
75%

Incentivo da escola
Capacitação
25%

Fontes: Matific e Cieb

Diversos usam
20%
50% 36,4% Alguns treinados
15%

Ninguém usa
10%
25%

Todos usam
49,6 %

46,6 %
60,8 %

33,4 %

30,9% Poucos treinados 5%

0% 0%

“Sou da periferia de São Paulo, da Zona Leste, ali quece de um episódio que viveu em 2006, na oficina do
perto do Rio Aricanduva: quando chovia forte uns 20 pai — que estudou só até a quinta série. A borracharia
anos atrás, a prefeitura ligava e pedia pra gente correr”, fica em Pinheiros, bairro de classe média alta de São
brinca Solla, que sempre estudou em escola pública. “A Paulo, e com frequência era visitada por gente rica.
galera mais humilde conversava comigo e eu percebia Na época, Walter entregava vegetais da quitanda vi-
que o jeito deles de falar não tinha nada a ver com a for- zinha para conseguir pagar o cursinho e ter chance de
ma como os professores da USP falavam.” A partir de passar no vestibular da USP. Certo dia, um motorista de
2011, lecionou no ensino público e particular, até que, terno puxou papo com o jovem. O garoto mencionou a
no final de 2014, teve a sacada de jogar algumas aulas rotina que encarava para entrar na universidade públi-
no YouTube. Há gírias, referências do rap e elementos ca e o homem fechou o rosto. Dirigiu-se com insolên-
do teatro nos quase 300 vídeos. cia ao borracheiro. “Você não tem
Em 2016, o Se Liga Nessa His-
FELIPE CASTANHARI R$ 400 por mês para seu filho po-
tória deslanchou: nasceu a plata- der estudar sem ter de trabalhar?
forma de ensino, que tem mais Se ele continuar assim, não vai
de 2 mil assinantes e planos a conseguir passar na faculdade.”
partir de R$ 48. Passaram a ofe- Foi a primeira vez que Solla viu
recer conteúdos de outras áreas o pai sem reação. Nos dez anos
de Humanas, como Geografia, seguintes, pediu desculpas ao fi-
Sociologia e Filosofia. lho por não ter podido arcar com
Antes de largar as aulas presen- o cursinho. A oficina foi à falên-
ciais, Solla notou um fenômeno cia. “Cresci escutando que as pes-
sintomático: mesmo em sala, os soas que querem, conseguem: vi
alunos preferiam assisti-lo falan- meu pai trabalhando em tempo
do em vídeo do que pessoalmen- integral, ser merecedor demais e
te. “A linguagem audiovisual não não conseguir”, conta. O episódio
é mais uma alternativa, é qua- reforçou ainda mais suas convic-
se uma obrigação”, afirma. Para ções. “Queria de alguma forma fa-
o youtuber, não basta mais en- zer um curso pela internet para
cher a lousa e sair discursando que ninguém tivesse que se sen-
10.100.172

— é preciso repensar o papel do tir culpado por não ter R$ 400

educador. Ele não é mais o único NÚMERO DE CANAL por mês para estudar”, conclui.
8.000.000

detentor do conhecimento, e sua INSCRITOS Nostalgia E está dando certo: um de seus

missão deve ser estimular o pro- IDADE alunos foi Jhosen Congeta. “Gra-
2.300.000

tagonismo dos alunos. 27 anos ças ao ensino que o senhor me

5.100.000

Solla quer promover o estudo FORMAÇÃO passou, gabaritei todas as ques-

800.000

de Humanas com custo acessível Animação 3D tões de História do Enem e me

ou gratuito. Em vídeo, ele revela (Faculdade Melies) tornarei médico”, ele agradece,
47
2014

2016
2015

2017

o porquê. Conta que nunca se es- pelo YouTube. “Valeu, mestre!”

EM V I S I TA AO BRASIL,
B A R AC K O B A M A R E TO M A
T E M A S Q U E O L E VA R A M
POR
À CASA BRANCA, MAS DUBES SÔNEGO
AGORA PARECE TER MAIS
PERGUNTAS QUE RESPOSTAS
DESIGN
MAYRA MARTINS

AINDA
PODEMOS?
O EX-PRESIDENTE norte-americano Barack
Obama sempre foi conhecido pela assertivi-
dade. Talvez uma das expressões que melhor
ilustrem essa característica seja a que marcou
sua campanha à Presidência, em 2008: “Yes,
we can”. Sim, nós podemos. Proferida em dis-
curso após a derrota nas primárias do estado
de New Hampshire, ela se tornaria um slogan
poderoso, dando fôlego a uma onda de espe-
rança que, por fim, o levaria à Casa Branca. Temos a
No início de outubro, Obama visitou São capacidade
Paulo, em sua primeira viagem ao Brasil de- de reconstruir
pois de deixar o posto. Discursou para uma
plateia lotada, formada por mais de 2 mil
e renovar
executivos e empresários, durante o Fórum nossos arranjos
Cidadão Global, organizado pelo jornal Valor políticos e
Econômico. Assim como havia feito uma dé- sociais de
cada antes em New Hampshire, Obama de-
forma que
monstrou preocupação com temas urgentes,
como a redução das desigualdades sociais, funcionem
a diversidade, maior protagonismo das mu- para todos e
lheres, conflitos internacionais e o combate não apenas
ao aquecimento global. O tempo, e a expe-
riência de oito anos na Presidência do país
para alguns?
mais rico do planeta, porém, parecem tê-lo
deixado com mais perguntas que respostas,
— BARACK OBAMA
transformando seu famoso slogan numa in-
terrogação: nós ainda podemos?

49
 “A questão que se “Em um mundo onde apenas 1% controla tanto a riqueza quanto o resto,
coloca a todos, seja não veremos estabilidade política”, salientou. O ex-presidente norte-ameri-
no Brasil, seja nos cano lembrou os efeitos da nova economia e da globalização sobre as velhas
Estados Unidos, na indústrias, muitas vezes o arrimo de comunidades inteiras, e os efeitos de sua
Ásia, na África, é: te- desestruturação sobre a mobilidade social e a renda das famílias.
mos a capacidade de “A sociedade não funciona tão bem quando as pessoas sentem que o jogo
reconstruir e renovar econômico tem regras fixas, que somente alguns se beneficiam, em vez de ser
nossos arranjos políti- uma competição aberta a qualquer um que tenha uma boa ideia e esteja dispos-
cos e sociais de forma to a trabalhar”, afirmou, para logo em seguida endurecer o tom: “Essa é a recei-
que funcionem para ta para o cinismo, a polarização e a destruição da confiança nas instituições”.
todos e não apenas Para reduzir a desigualdade e as tensões sociais decorrentes dela, Obama
para alguns?”, per- ressaltou que os países terão de redesenhar seus pactos sociais para dar mais
guntou Obama, no iní- oportunidades de estudo aos jovens e garantir que os trabalhadores tenham
cio de seu discurso. E salários melhores. Da mesma forma, continuou, os países terão de encon-
mais questionamentos trar maneiras de garantir que as companhias beneficiárias da nova econo-
viriam. “Será que po- mia paguem seus impostos adequadamente e permitam que o dinheiro seja
demos nos certificar reinvestido para dar oportunidades a outras pessoas e empresas — Obama
de que a internet, os não citou especificamente gigantes da tecnologia, como Google e Facebook,
serviços sob deman- mas muitas dessas companhias usam brechas legais para pagar quase nada
da, o carro sem moto- em impostos, percentualmente, sobre suas vendas internacionais.
rista, as entregas por Além disso, Obama chamou a atenção para a necessidade de modernização
drones... será que po- das redes de proteção social como forma de manter a estabilidade e dar às
demos ter certeza de pessoas a segurança necessária para que possam empreender em uma eco-
que isso vai ajudar a nomia que é cada vez mais baseada em serviços e marcada por incertezas.
economia para todos e O combate à desigualdade, na opinião de Obama, deve ser travado não
não só para os poucos
que estão no topo? Será que podemos pro-
var que, em um mundo que está encolhendo,
esse aumento da xenofobia, do nacionalismo
e de políticas populistas de extrema-direita e
extrema-esquerda, aquela coisa de contrapor,
de nós contra eles, será que isso vai nos levar
para trás? Será que podemos refazer nossas
políticas de maneira que realmente inspirem Para reduzir as
tensões sociais
as pessoas a se encontrarem e acharem essa
geradas pela
finalidade comum da humanidade, substituin-
desigualdade, os
do o medo pela esperança?”
países precisam
Entre os pontos que tornam o futuro mais oferecer mais
incerto hoje que no passado, na avaliação de oportunidades
Obama, estão a desigualdade social e as dis- de estudo aos
torções provocadas por ela. Dono de um es- jovens, além de
tilo retórico cativante, marcado pelo equilí- salários melhores
brio entre sobriedade e humor, ele defendeu
o capitalismo e os mercados abertos como os
maiores geradores de riqueza da história hu-
mana, responsáveis por “melhorar o padrão de
vida no mundo inteiro, incentivar inovações
e aumentar a produtividade”. Mas ponderou
que a globalização e outros produtos do atual
modelo econômico predominante no mundo,
como a automação, também foram responsá-
50
veis por enfraquecer a posição dos trabalha-
dores na luta por salários mais justos.
apenas no âmbito interno dos países mas
também internacionalmente. Isso porque,
nos dias de hoje, os grandes problemas do
mundo se tornaram tão complexos que a
resolução de boa parte deles depende de
cooperação internacional.
É o caso do aquecimento
global, dos Estados falidos e
Barack Obama
da migração em massa. Para o no Fórum
ex-presidente norte-americano, Cidadão Global,
em São Paulo
em um cenário como o atual,
o que mais preocupa não é um
conflito entre grandes potên-
cias, como durante os tempos
da Guerra Fria. Mas sim países
hostis ou desestruturados, sem
oportunidades para os jovens,
ou ainda as redes terroristas.
“Isso significa que não pode-
mos apenas solucionar proble-
mas com tanques e aviões.”
Por fim, Obama destacou a
importância da tolerância em
um período em que a tecno-
logia, ao mesmo tempo que
elimina fronteiras e barreiras
ao conhecimento, permite que
as pessoas se isolem em “bo-
lhas” sociais e discutam ape-
nas com outras que concordam
com suas opiniões e visões de
mundo. Para o ex-presidente, a

Fotos: Mariana Pekin

diversidade, não só de opinião
como em todas as suas verten-
tes, é fundamental para garan-
tir dinamismo econômico e o
florescimento de novas ideias.
Obama falou particularmente das mu-
lheres e dos negros, usando argumentos
cristalinos e o esporte número 1 dos bra-
sileiros. “Você não pode ser bem-sucedido
na economia de hoje se deixar metade do
seu time fora de campo. Países que não
educarem mulheres e meninas no mesmo
ritmo que os homens não terão sucesso,
porque metade do país está sendo deixada
para trás”, começou. “Se deixar afrodescen-
dentes para trás, você não vai ser bem-su-
cedido a longo prazo, pois esses talentos
serão desperdiçados. Você não faria isso
no seu time de futebol.” Para ele, mudar
essa realidade não acontece naturalmen-
te. Requer esforço. Até porque o legado
histórico estará puxando forte para o ou-
tro lado, geração após geração. No fim, é
de democracia e seus pilares que se trata.
“Nós temos que resistir às novas formas
de propaganda ideológica que estão sendo
turbinadas pelo ambiente digital. Temos
que nos esforçar para ouvir pessoas de
quem discordamos para que possamos
reconciliar nossas diferenças e encontrar
um terreno em comum, o meio-termo de
que a democracia precisa”, disse.
Enfim, num vislumbre daquele assertivo
Obama de New Hampshire, ele afirmou:
“A cura para o que aflige a democracia é
uma participação maior dos cidadãos, em
vez de sua retirada do espaço público”.
APRESENTADO POR

RETRATOS
DA CHINA
Conheça a história de
Lijia Zhang, uma chinesa
que fugiu do emprego em
uma fábrica de mísseis
para se tornar escritora

E
m outubro, o 44º presidente
norte-americano, Barack
Obama, veio ao Brasil para
discutir temas como educação, políti-
ca, e dar exemplos de pessoas que se
engajam para mudar a sociedade.
Além dele, já temos muitos cidadãos
globais ajudando nessa transformação.
Essa é a história de Lijia Zhang.
Aos 16 anos, Zhang, uma jovem
cheia de sonhos, começava a trabalhar
numa fábrica de mísseis de longa dis-
tância. Nascida em um bairro pobre de
Nanquim, a antiga capital chinesa, ela
herdou o emprego da mãe, que, diante
da crise econômica por qual passava a
China, resolveu aposentar-se para po-
der garantir um emprego para a filha.
Lijia ficaria com o seu posto, como
estava previsto na lei até aquele ano.
Era assim até o início da década de
1980. Foi assim que Lijia tornou-se
adulta. Ficou ali durante 10 anos fa-
zendo o que não gostava. Desde cedo
queria ser escritora e jornalista. “Só
hoje aprendi a diferença entre uma coi-
sa e outra”, conta. Decidiu aprender
CIDADÃO GLOBAL
Lijjia Zhang
g:
autora de três
livros, a chinesa
começ çou sua
carreira em uma
fábrica de mísseis
de longga distância
inglês por conta própria. No começo, Tomou gosto pela vida jornalística e
diz, falava um inglês engraçado, com começou a escrever reportagens. “Uma
sotaque esquisito. Mas foi esse idioma vez jornalista, você é sempre jornalista.
que abriu os seus horizontes para sem- E eu era uma grande profissional, das
pre. Lijia queria mais. Escreveu seu melhores. Dei alguns bons furos”, or-
primeiro livro em 1989: “Frog in a gulha-se. Tomou gosto pela escrita
Well”, conta a trajetória da menina que quando publicou a quatro mãos o livro
fugiu da fábrica onde trabalhava, o seu “China Remembers”, com Calum Ma-
poço particular. Casou-se com um in- cLeod, hoje seu ex-marido.
glês e foi morar na Inglaterra, onde Lijia é uma mulher independente.
acabou fazendo um cur- Escreve livros sempre em
so de jornalismo por cor- “UMA VEZ inglês, para evitar proble-
respondência. Ela não JORNALISTA, mas com as autoridades
tinha como pagar as VOCÊ É SEMPRE chinesas, expondo as di-
grandes universidades e, JORNALISTA. E EU versas realidades sociais
aos 27 anos, achava que ERA UMA GRANDE do seu país. Ela acaba de
já não tinha idade para PROFISSIONAL, DAS lançar o romance “Lotus”,
dividir os bancos da aca- MELHORES” sobre a prostituição na
demia com os jovens re- LIJIA ZHANG, JORNALISTA China, e já prepara a obra
cém-chegados. Três anos seguinte. Vai contar a his-
depois, voltou para a China, onde co- tória das “crianças deixadas para trás”,
meçou a prestar serviços para corres- como são conhecidos os filhos de mi-
pondentes estrangeiros. Pagava em grantes chineses que deixam as áreas
trabalho o direito de tomar uma boa rurais para ganhar a vida na cidade gran-
ducha na casa de uma jornalista aus- de. Existe um exército de nove milhões
traliana que a ajudava — no apartamen- de crianças nessa situação no país, viven-
to em que vivia, não havia chuveiro. do com parentes ou por conta própria.
PRODUZIDO POR
54
OS NEYMARS
DA MEDICINA
 REPORTAGEM CHICO FELITTI

EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO

FOTOS SÉRGIO ZACCHI

DESIGN CAROL MALAVOLTA

O ONCOLOGISTA
PAULO HOFF ESTÁ NO
ALTO DO PANTEÃO DE
MÉDICOS QUE, COM
PESQUISAS DE PONTA
E APARIÇÕES NA TV,
GANHAM SALÁRIOS
DE JOGADOR DE
FUTEBOL E TÊM
PASSE MILIONÁRIO
 U
Um grupo de adolescentes está na cal-
çada do hotel Tivoli, no bairro nobre dos
Jardins, em São Paulo. Usam faixas na
cabeça em que está escrito Neymar e gri-
tam o nome dele a cada vez que alguém
sai pelas portas da recepção — mesmo
sem que ninguém seja o jogador, que está
hospedado ali com a Seleção Brasileira.
“Eles nunca fariam isso por um mé-
dico, por mais que o salário dos dois
um dia seja o mesmo”, ri uma das maio-
res neurologistas do Brasil, que marcou
um café com a GALILEU num restau-
rante do outro lado da rua para discutir
um fenômeno no mercado da saúde: o
surgimento dos supermédicos, cujos
passes são disputados por hospitais
e que são contratados por milhões de
reais, algo antes só pensado para os
atletas mais famosos do mundo.
A discussão sobre o poderio dessa
classe explodiu com a mudança de em-
prego do oncologista Paulo Hoff, 49,
que trocou o Hospital Sírio-Libanês
pela Rede D’Or São Luiz no final de ju-
lho. O colunista Lauro Jardim, do jornal
O Globo, noticiou que a transação havia
custado R$ 50 milhões de luvas, uma
espécie de bônus inicial pago quando o
contrato é assinado (uma realidade tam-
bém no mundo dos boleiros), além de
um salário mensal na casa de R$ 1 mi-
lhão. Para efeito de comparação: neste
ano, o Palmeiras investiu R$ 115 milhões
em contratações — seria, portanto, o su-
ficiente para adquirir só dois médicos
com essa tarimba em um ano inteiro.
Hoff veio a público horas depois
para negar os valores. Emitiu uma nota
para a imprensa afirmando que se tor-
nou sócio minoritário do maior
56
grupo de saúde privada do Brasil
— a Rede D’Or São Luiz está presente
em sete estados do país com 35 clíni-
cas de oncologia e 37 hospitais.
Pessoalmente, o doutor-Neymar não
tem a extravagância estética do jogador
do Paris Saint-Germain. Às nove horas
da manhã de uma sexta-feira, veste um
blazer azul-marinho, com abotoaduras
douradas em cada manga, e uma ca-
misa listrada aberta até o segundo bo-
tão. É informal e sorri com facilidade.
No dia anterior, havia assistido a uma
palestra do ex-presidente Barack Oba-
ma na capital paulista, da qual conta
ter saído impressionado.
“O que me foi oferecido foi a possibi-
lidade de fazermos um grande projeto
para o câncer para o país todo. Isso foi
muito importante. Pode parecer que é
da boca para fora, mas não é, tenho fei-
to isso desde 2007 com o SUS.” Isso
porque, além de atuar no hospital Sírio-
-Libanês pelos últimos dez anos, Hoff
também é diretor-geral do Icesp, o Ins-
tituto do Câncer do Estado de São Pau-
lo, maior serviço oncológico do Brasil,
100% público. “Dentro da rede eu vou
poder ajudar a desenhar protocolos de
tratamento que vão mudar a vida de
muitas pessoas.” E vai poder aumentar
H O F F C UIDA
D I AR I A M E NT E D E
H O S P I TAIS DA
R E D E P R IVADA
E TA M B ÉM DA
R E D E P Ú B LICA
a sua fatia na sociedade, caso se saia
bem. Demanda não deve faltar: estima-
se que um em cada cinco brasileiros
deva desenvolver algum tipo de câncer
até os 75 anos de idade.
O trabalho já começou. Hoff supervi-
siona a instalação de um hospital geral
com foco em oncologia no Itaim Bibi, em
São Paulo, a adaptação de um setor de
câncer dentro da Clínica São Vicente, no
Rio de Janeiro, e a implantação da área de
oncologia em um hospital de Brasília, que
deve ficar pronto nos próximos meses.
“Eu tive o cuidado de avisar todos os
meus pacientes ativos, os meus cole-
gas médicos. Vi com muita naturalida-
de a minha mudança de emprego”, diz
ele. No momento da entrevista, fazia
menos de dez dias que havia transfe-
rido seu consultório no bairro da Bela
Vista, onde tratou o ex-presidente Lula
e o ator Reynaldo Gianechinni, entre
outros famosos, para o Itaim Bibi,
onde fica o novo hospital que dirige.
A rotina pouco mudou. De manhã,
até meio-dia, toca as questões adminis-
trativas do Icesp. Durante o horário do
almoço, encontra-se com a equipe. Às
14 horas, começa a atender pacientes,
tanto os que estão internados quanto
os do consultório. As consultas vão até
19 horas — pelo menos em teoria. “Às
vezes, 7 da noite viram 9 da noite. Ou
meia-noite.” Entre um paciente e outro,
ele cuida das questões da diretoria da
rede privada. Ao sair da empresa, ainda
vai a eventos sociais — que, no fundo,
são relativos ao trabalho. “Isso é muito
comum para todo executivo, usar o ho-
rário do almoço e do jantar para resol-
ver pendências do trabalho.”
VALOR DE MERCADO
Mas o que leva um profissional da saú-
de a conquistar um contracheque pare-
cido com o de uma estrela de novela?
“Ser conhecido é importante. Menos
do que fazer pesquisa, é claro, mas é
importante”, explica a economista Ka-
therine B. Schulz, que estuda a dinâmi-
ca do mercado médico na Universida-
de Harvard. “Não são só os pacientes
famosos que esse médico vai ter com
ele. São todas as pessoas que sonham
em se tratar com ele. Médicos também
exercem um poder de atração de mer-
cado, além de servirem para validar um
estabelecimento médico como sendo
de ponta com sua reputação.”
Entre alguns membros do panteão
da medicina nacional corre uma ane-
dota: entra para a Seleção Brasileira de
Medicina quem chega ao horário no-
bre da televisão. Um bom termômetro
para saber o grau de reconhecimento
é o programa matutino Bem Estar, da
Rede Globo. “Eles só chamam os me-
lhores médicos do Brasil para partici-
par. É um sinal de status estar lá”, diz
a neurologista de elite, que pede para
não ser identificada. Paulo Hoff não só
participa do Bem Estar como já este-
ve no Mais Você, de Ana Maria Braga,
e em outros programas.
E o que um médico sente ao ocupar
um espaço geralmente dedicado a artis-
tas? “Eu tenho uma vida de produção
científica. Prefiro ser julgado pela minha
produção acadêmica”, diz Hoff, com a
seriedade de quem dá diagnósticos di-
fíceis com frequência há três décadas.
Assim como o boleiro que prefere só
versar sobre o que acontece no campo,
o oncologista passa uma hora falando
sobre câncer sem problema, mas parece
se sentir fora da quadra quando o
57
assunto vai para sua celebridade.
 O paranaense se formou na Univer-
sidade de Brasília, de onde seguiu para
o MD Anderson Cancer Center, a meca
do tratamento e da pesquisa de câncer
na cidade norte-americana de Houston,
no Texas, onde cerca de 100 mil pacien-
tes são atendidos por ano. Sua carreira
cresceu lá dentro, até que se tornou um
dos maiores especialistas na doença.
Voltou ao Brasil em 2006, para ser dire-
tor da oncologia do Sírio-Libanês.
Caso o valor noticiado pela mídia
para sua ida para a Rede D’Or se con-
firmasse e o doutor estivesse pesando
cerca de 100 quilos (“Estou com so-
brepeso, o que não é obesidade, essa
sim um fator de risco para o câncer”,
brinca durante a conversa), ele valeria
mais do que seu peso em ouro: seriam
R$ 50 milhões contra R$ 13,1 milhões
do seu peso em ouro, na cotação de
R$ 131 por grama. É um superlativo
até para os melhores médicos do país.
U M A C O N SU LTA
Profissionais ouvidos pela reportagem
narram que um diretor de área em hospi- C O M O D O U TO R
H O F F C U STA
tal de elite ganha por volta de R$ 50 mil
mensais, mais os valores das consultas
— a com o doutor Hoff custa R$ 1.000, R $ 1 .0 0 0, E N ÃO
H Á AG E N DA
e não há agenda pelos próximos meses.
A empresa contratante não pou-
pa elogios à recente conquista. “O dr. P E LO S P R ÓX I -
Paulo Hoff se uniu à rede para ofere-
MOS MESES PAULO HOFF EM NÚMEROS
cer excelência no tratamento oncoló-
gico a diversas camadas da população 49
dentro do segmento de saúde privada”, anos de idade
diz Paulo Moll, vice-presidente da Rede
D’Or São Luiz. Para ele, a capacidade de 218
atendimento e de tratamento do câncer artigos
será ampliada em função da presença científicos publicados
de Hoff, “tanto nos hospitais premium em periódicos
quanto nas unidades que aceitam planos
de saúde mais básicos, democratizando, 28
assim, o acesso aos melhores profissio- prêmios e títulos
nais, protocolos e tratamentos”.
Já o hospital que perdeu o profissio- 58
nal prefere o silêncio. “Não consigo é o número da sua
responder sobre isso não”, diz Roberto cadeira na Academia
Kalil Filho, presidente do Instituto do Nacional de Medicina
Coração do Hospital das Clínicas, dire- Fontes: Plataforma Lattes;
tor de cardiologia do Hospital Sírio-Li- Academia Nacional de Medicina

banês e possivelmente o médico

58
mais poderoso do Brasil.

PREGÃO DA MEDICINA
A maleabilidade desse mercado é gran-
de porque os médicos estrelas assi-
nam, em geral, contratos de dois anos,
que podem ser rescindidos sem gran-
des multas para nenhum dos lados.
“A terceirização é a regra em hospitais
privados. São empresas que contratam
outras empresas”, explica a administra-
dora hospitalar Regina Dias, que tra-
balhou para gigantes do setor, como a
Intermédica, antes de se tornar consul-
tora. “É a alta liderança, o conselho ou
o CEO dessas empresas que vai decidir
pela contratação, não necessariamen-
te o diretor clínico.” A negociação dos
termos costuma ser mais sigilosa que o
histórico médico de uma pessoa.
A conversa envolve benefícios como
plano gratuito para toda a família e
liberdade para montar sua agenda, que
costuma misturar horas no consultó-
rio, viagens para congressos e para
cursos de atualização — e pouquíssi-
mas folgas. Ludhmila Abrahão Hajjar,
que chefia as UTIs do Sírio-Libanês e
do Instituto do Câncer do Estado de
São Paulo, por exemplo, não tira férias
nunca. E confessa que só conheceu o
Parque Villa-Lobos, em São Paulo, de-
pois de uma década morando na cida-
de. “Não sabia nem onde era!”
“Há empresas que fazem head hun-
ting de profissionais da saúde, mas, no
caso dos médicos mais conhecidos do
mercado, não é preciso caçar ninguém.
Todo mundo já sabe onde eles estão.
A questão é mais fazer uma proposta
ENTREVISTA
EXCLUSIVA
com Paulo Hoff
no app Globo+
que vá motivá-los a trocar de empresa”,
diz a administradora hospitalar Dias.
Mas que a bonança do panteão da
medicina brasileira não seja interpreta-
da como um momento de vacas gordas
— ainda que sem hipertensão. A crise
econômica lanha o orçamento de al-
guns dos maiores hospitais públicos e,
mesmo em hospitais de ponta, os salá-
rios milionários são uma lenda para a
imensa maioria dos homens e mulhe-
res de branco. Assim como no futebol,
a maioria dos profissionais está numa
“categoria de base” em que se trabalha
muito por cifras bem mais modestas.
Ana Claudia tem 27 anos e é residente
de nefrologia em um dos maiores hospi-
tais de São Paulo. Está longe dos salá-
rios milionários, por mais que já tenha
atendido uma atriz da Record e se diga
orgulhosíssima de sua pesquisa, sobre
o efeito de anticoncepcionais nos rins
a longo prazo. Ela, que pede para ter o
sobrenome preservado por não querer
“parecer ingrata” com o hospital, narra
o seu dia a dia. “Passo a semana no hos-
pital. Depois, no fim de semana, ‘me in-
terno’ em plantões de outros hospitais.”
No fim do mês, ela recebe cerca de
R$ 8.000, aproximadamente R$ 3.000
do hospital onde faz residência e os
outros R$ 5.000 dos plantões em ou-
tros prontos-socorros. “Sei que não é
pouco dinheiro, mas trabalho 31 dias
por mês. Mesmo em meses que só têm
28 dias”, ela ri, antes de receber uma
mensagem de WhatsApp e sair corren-
do: havia se esquecido de uma reunião
de grupo no hospital onde é assistente
de uma médica estrela.
 PAPO CABEÇA
COM ROXANE GAY
“Não consigo pensar em
mulheres que não estejam
em batalha com seu corpo”
Conhecida como “má feminista”, a escritora Roxane
Gay lança agora Fome, uma autobiografia sobre seu
corpo e sobre como a sociedade trata a obesidade
“A história do meu corpo não é uma
história de triunfo.” É assim que a ativista
e escritora norte-americana Roxane Gay
dá início a seu novo livro, Fome (Globo
Livros, 272 páginas, R$ 40), que chega às
livrarias brasileiras neste mês. Na autobio-
grafia, ela explora a relação com o próprio
corpo e a forma como a sociedade o vê.
“Este não é um livro que irá oferecer
motivação. Não haverá uma foto da mi-
nha versão magra, meu corpo esbelto
adornando a capa deste livro, eu de pé
dentro de uma das pernas do jeans de
quando eu era mais gorda. Minha histó-
ria não é uma história de sucesso. Minha
história é apenas uma história verdadei-
ra”, alerta. Essa sinceridade e esse
60
tom que oscila entre duro e sensí-
POR
ISABELA MOREIRA
DESIGN
MAYRA MARTINS
vel foram alguns dos aspectos que fize-
ram com que a carreira de Gay decolasse
desde 2014, aos 40 anos, com a publica-
ção de seu primeiro livro de não ficção,
Má Feminista. Trata-se de uma coleção
de ensaios nos quais aborda a intersec-
ção entre feminismo, cultura pop, raça e
gênero. A obra, que reforça quão difícil é
seguir a ideia de um feminismo que não
tenha as próprias incoerências, fez dela
uma das principais vozes do movimento
nos últimos anos, reconhecida por figu-
ras como a ex-primeira-dama Michelle
Obama e a rapper Nicki Minaj.
Em Fome, Gay, que é descendente de
haitianos, aprofunda-se nas próprias ex-
periências. Sempre gostou de ler e escre-
ver — hábitos que se tornaram pilares de
sobrevivência quando chegou à pré-ado-
lescência. Após sofrer um estupro cole-
tivo, encontrou refúgio nos livros e na
comida. Um corpo maior a fez se sentir
mais segura, mas tornou a relação consi-
go mesma conflituosa em uma sociedade
que preza um modelo de aparência magra
e caucasiana como moeda social.
Ao se comprometer a explorar sua re-
lação com o corpo e o mundo, Roxane
Gay visita diferentes memórias de sua
vida, desde a forma como se isolou da
própria família para evitar encarar a dor
até como se sente assistindo a reality
shows nos quais os participantes são
submetidos a processos violentos de per-
da de peso. “Foi bastante difícil voltar
a muitas dessas memórias, me permitir
sentir aquela dor novamente e me ex-
por dessa maneira aos leitores”, conta à
GALILEU. Por e-mail, a “má feminista” mitir sentir aquela dor novamente e me
respondeu a perguntas sobre suas expe- expor dessa maneira aos leitores. Não foi
riências, privilégios e o atual momento catártico. Foi doloroso.
pelo qual passam os Estados Unidos.
BOA PARTE DO LIVRO TRATA DE NEGAÇÃO,
FAZ TRÊS ANOS QUE MÁ FEMINISTA FOI LAN- CULPA, VERGONHA, RAIVA… NO MEIO DE
ÇADO. A EXPERIÊNCIA DE ESCREVER UM LI- TUDO ISSO, VOCÊ ENCONTROU FORMAS
VRO DE NÃO FICÇÃO PELA PRIMEIRA VEZ E O DE SER MAIS GENTIL CONSIGO MESMA?
SUCESSO QUE ELE FEZ A PREPARARAM PARA Encontrei. Ao analisar meu passado, mi-
O PROCESSO DE ESCRITA DE FOME? nha vida e meu corpo, percebi que, in-
O sucesso de Má Feminista me deixou dependentemente de quantas falhas eu
mais preparada para ter um público FAMINTA tenha, estou fazendo o melhor que pos-
maior lendo o meu trabalho, mas acho Na autobiografia, a so, quando posso, e isso é o suficiente.
que nada poderia ter me preparado para escritora aborda seu Certamente estou tentando ser mais gentil
a experiência de escrever Fome. De várias relacionamento com comigo mesma e reconhecer o que passei
maneiras, esse é um livro bem diferente a comida e o seu e como perseverei diante de tudo isso.
— de memórias em vez de ensaios, e tem corpo e fala sobre
uma natureza muito mais pessoal por- como sua forma NÓS VIVEMOS EM UM MUNDO QUE CONS-
que está todo centrado no meu corpo. de ver o mundo TANTEMENTE LEMBRA A NÓS MULHERES
mudou desde que QUE DEVERÍAMOS SER MENOS, MENORES,
VOCÊ ESCREVE SOBRE MEMÓRIAS, AQUE- sofreu um estupro E QUE TENTA DEFINIR NOSSO LUGAR NELE.
LAS DE QUE NÃO QUERIA SE LEMBRAR E DAS AO ESCREVER E COMPARTILHAR SUAS
QUAIS NÃO CONSEGUE ESCAPAR. VOLTAR A EXPERIÊNCIAS, VOCÊ SENTE QUE RETOMOU
ELAS SERVIU COMO UMA CATARSE? O CONTROLE DA PRÓPRIA NARRATIVA?
Definitivamente, foi bastante difícil vol- Não sei se qualquer um de nós tem
61
tar a muitas dessas memórias, me per- Fotos: Divulgação controle das nossas próprias nar-
rativas, mas escrever Fome me permitiu
reivindicar minha história e meu corpo.
Escrever o livro me possibilitou desafiar
as suposições que as pessoas tendem a
fazer sobre mim e corpos como o meu.
NESTE MOMENTO, VOCÊ ESTÁ SENDO OUVI-
DA POR MUITAS PESSOAS EM DIFERENTES
LUGARES, UMA POSIÇÃO QUE POUCAS MU-
LHERES TÊM A CHANCE DE ATINGIR. O QUE
VOCÊ PENSA SOBRE ISSO?
Eu sempre reconheço meu privilégio e,
conforme meu público aumenta, tento
ser consciente de usar essa “plataforma”
da maneira mais eficiente que posso para
alcançar o máximo de pessoas margina-
lizadas e não representadas possível.
PESSOAS GORDAS TAMBÉM SÃO CONSTAN-
TEMENTE LEMBRADAS DE QUE DEVERIAM
SER MENOS — MAIS MAGRAS, MENOS ES-
PAÇOSAS. EM FOME, VOCÊ REFLETE SOBRE
COMO ALGUNS PROGRAMAS DE TV TRANS-
FORMAM UM PROCESSO VIOLENTO DE EMA-
GRECIMENTO EM ESPETÁCULO, COMO ALGO
QUE DEVERIA SER CELEBRADO. ISSO É UM
REFLEXO DA FORMA COMO A CULTURA NOR-
TE-AMERICANA TRATA A OBESIDADE?
De modo geral, sim. A cultura do ema-
grecimento nos Estados Unidos é bas-
tante agressiva e onipresente. Não con-
sigo pensar em muitas mulheres que
não estejam em algum tipo de batalha
com os próprios corpos, geralmente em
detrimento de si mesmas.
AO ESCREVER SOBRE MULHERES FAMOSAS
VOCÊ AFIRMA QUE, QUANTO MENOS ESPAÇO
ELAS OCUPAREM, MAIS IMPORTANTES SE-
RÃO. MAS E CELEBRIDADES QUE DESAFIAM O
PADRÃO E AINDA ASSIM FAZEM SUCESSO?
Essas mulheres são a exceção e não a re-
gra. É possível contá-las nos dedos por-
que há pouquíssimas delas.
A RELAÇÃO ENTRE FELICIDADE E MAGRE-
ZA É PROPAGADA HÁ BASTANTE TEMPO —
INDÚSTRIAS INTEIRAS, INCLUSIVE, EXIS-
TEM COM BASE NESSA PREMISSA. O QUE É
NECESSÁRIO PARA MUDAR ISSO?
Não faço ideia do que é necessário para
mudar essa concepção de que para ser
feliz você precisa ser magro primeiro.
Mas o que sei é que precisamos criar
culturas que sejam mais tolerantes a
tipos diferentes de corpos antes
62
que isso possa acontecer.
VOCÊ ACREDITA QUE MOVIMENTOS QUE
PREGAM UMA IMAGEM CORPORAL POSI-
TIVA TÊM ALGUM EFEITO?
Eu tenho certeza que sim. Eles alcan-
çam muitas mulheres e permitem que
elas se sintam mais confortáveis e fe-
lizes com seus corpos. Qualquer movi-
mento que tenha como objetivo fazer
as mulheres enxergarem seus corpos de
maneira positiva está realizando algo
bom e necessário para este mundo.
NOS ÚLTIMOS ANOS, O FEMINISMO TEM
SIDO CADA VEZ MAIS INCORPORADO À
CULTURA POP — DESDE LANÇAMENTOS
DE SÉRIES CENTRADAS EM PERSONAGENS
FEMININAS ATÉ MARCAS QUE UTILIZAM
TERMOS COMO “EMPODERAMENTO FEMI-
NINO” E “GIRL POWER” EM SEUS PRODU-
TOS. VOCÊ CONSIDERA ESSE DISCURSO
UMA FORMA DE APROPRIAÇÃO?
É apropriação quando não há substân-
cia por trás da inclusão do feminismo,
quando está ali só para vender um pro-
duto ou um estilo de vida sem conside-
rar as necessidades e preocupações de
diferentes tipos de mulheres.
ESSE FEMINISMO É INTERSECCIONAL [QUE
CONSIDERA CLASSE E RAÇA]? ACREDITA QUE
ESSA DISCUSSÃO ESTEJA AVANÇANDO?
O feminismo deve ser interseccional.
Os melhores tipos de feminismo são
interseccionais. Infelizmente, nem to-
dos o são. Muitas pessoas ainda preci-
sam entender que as mulheres podem
até compartilhar uma identidade de
gênero, mas percorrem o mundo e são
afetadas de maneiras diferentes por
conta de fatores como raça, classe, se-
xualidade e habilidades.
DESDE QUE DONALD TRUMP FOI ELEITO
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, MUI-
TOS GRUPOS QUE NUNCA TINHAM SE SEN-
ACOMPANHE TIDO AMEAÇADOS OU QUE NUNCA TINHAM
Segundo Roxane SENTIDO NECESSIDADE DE PROTESTAR
Gay, mais pessoas PASSARAM A SE ENVOLVER POLITICAMEN-
deveriam prestar TE. COMO VOCÊ AVALIA ESSE MOMENTO?
atenção no ativis- É UM DESPERTAR LEGÍTIMO OU APENAS O
mo da atriz Rose MEDO DE PERDER PRIVILÉGIOS?
McGowan, uma das Muitas vezes o despertar acontece quando
várias mulheres que percebemos que estamos perto de perder
acusaram o produtor alguma coisa. Não importa o que traz as
Harvey Weinstein pessoas para a resistência, desde que elas
de assédio sexual estejam comprometidas o máximo que pu-
derem com o trabalho do ativismo.

quem nunca se viu repetindo comportamentos
que havia prometido deixar para trás? Ou fazendo coi-
sas que prejudicam a si mesmo, por mais irracional que
isso pareça? Quantas vezes você se espantou com uma
palavra fora de contexto que saiu no meio de uma fra-
se? E sonhos bizarros, quem não tem?
Todas essas situações, sem relação aparente entre si,
podem ser explicadas pela existência de uma única ins-
tância psíquica, que subverte nossas intenções e von-
tades: o inconsciente. A humanidade deve a Sigmund
Freud essa descoberta. Apesar das transformações so-
ciais, culturais e tecnológicas dos últimos 120 anos, o
método psicanalítico criado por Freud para lidar com o
mal-estar inerente à condição humana segue atual — mas
precisa enfrentar resistências para garantir seu futuro.
A psicanálise costuma ser encarada como uma terapia
elitista, que exige anos de dedicação e uma montanha de
dinheiro em troca de resultados duvidosos e que care-
cem de comprovação científica. Uma coisa é certa: fazer
associações entre as vivências da infância e as agruras
experimentadas na juventude e na vida adulta para en-
tender por que muitas vezes fazemos mal a nós mesmos
costuma ser um processo longo e cheio de percalços.
Assim, nas últimas décadas, a psicanálise perdeu ter-
reno tanto para as terapias cognitivas e comportamen-
tais — que prometem dar conta dos problemas da vida
em questão de meses ou mesmo semanas — quanto para
a psiquiatria e seu arsenal de medicamentos para contro-
lar a explosão de diagnósticos de transtornos mentais.
A possibilidade de deitar no divã e falar o que vier à
cabeça continua a ter apelo principalmente em países da
América Latina e da Europa. Já nos Estados Unidos, de
66
acordo com dados recentes da Associação Psicanalítica
Americana, a média de pacientes diários não chega a três
por analista. Nas décadas de 1950 e 1960, eram quase
dez. O número de atendidos minguou, e os profissionais
envelheceram: metade dos membros da associação tem
60 anos de idade ou mais — só 15% têm menos de 50.
ForMaÇÃo
A diferença significativa entre a penetração da psicaná-
lise no Brasil e nos EUA pode ser atribuída, em parte, ao
modelo de implantação nos dois países. Por lá, as exi-
gências para atuar como psicanalista mudaram pouco
desde meados do século passado, tornando o ofício um
reduto de médicos, que passam por mais quatro anos de
formação específica e 200 horas de atendimento, além
de um percurso de dois anos de análise, quatro vezes
por semana. No Brasil, porém, a psicanálise foi deixan-
do de ser tão elitizada, não só do ponto de vista do pa-
ciente como também de quem a pratica. Até os anos
1970, apenas médicos e psicólogos que tinham tempo
e recursos para encarar anos de estudos, supervisão e
sessões intensivas de análise podiam se especializar.
A virada se deu, à época, com a contribuição de analis-
tas argentinos exilados e com o esforço de profissionais
que tiveram contato com os ensinamentos do psicana-
lista Jacques Lacan, na França, para combater a buro-
cratização e a elitização da psicanálise.
A formação se tornou mais acessível, não só com a
abertura de inúmeros centros de especialização e com a
inserção da disciplina nas universidades como graças à
proposta lacaniana de que a autorização para se tornar
analista vem dos próprios pares e de si mesmo — alter-
nativa radical à formação oferecida pela Sociedade Bra-
sileira de Psicanálise. Assim, após concluir o curso de
formação básica, já é possível atender pacientes a par-
tir do reconhecimento (e encaminhamento) de colegas.
O risco, agora, é que a grande oferta de cursos leve à per-
da de qualidade. “Uma boa formação é cada vez mais di-
fícil”, atesta Christian Dunker, professor da USP.
Enquanto isso, no Instituto de Psicanálise da Socie-
dade Brasileira de Psicanálise, em São Paulo, as exi-
gências remetem ao cenário norte-americano. Dos 344
membros filiados (em formação), apenas 12 não são
médicos nem psicólogos, e 70% têm mais de 50 anos.
“A preocupação com o envelhecimento dos analis-
tas existe no mundo inteiro, por isso estão surgindo
iniciativas para abrir as portas para que pessoas mais
jovens possam contribuir com sua experiência”, diz a
psicanalista Vera Regina Fonseca, diretora do instituto.
Por ora, os interessados que passam pela seleção têm
de fazer análise durante cinco anos, quatro vezes por
semana, frequentar cursos teóricos e clínicos e se
Andrew Rush, CEO
da Made In Space,
no Warm Up Wired
Festival Brasil 2017,
no MAM de SP.
Durante o evento, foi
anunciada a parceria
com Braskem

PRODUZIDO POR
ULTI-
MATO PARA FAZER A DIFERENÇA
AGORA QUE VOCÊ LEU A REVISTA, DESCUBRA ALGO MAIS

GOSTARIA DE CONHECER APÓS FAZER A REVISÃO TEM INTERESSE EM DEPOIS DE LER A ENTREVISTA CURIOSO PARA ENTENDER
UM UNIVERSO DE VÍDEOS PARA O ENEM, VOCÊ CONHECER MAIS TEMAS COM DANIEL H. WILSON, COMO AS BACTÉRIAS
GRATUITOS DE DIFERENTES QUER FICAR DE OLHO EM RELACIONADOS AO CAMPO DE FICOU COM MEDO DE UMA SE RELACIONAM COM
ÁREAS DA EDUCAÇÃO? OUTROS VESTIBULARES? ESTUDO DA PSICANÁLISE? REVOLUÇÃO DOS ROBÔS? NOSSO ORGANISMO?

Vídeos educacionais O texto inaugural Um ser humano

têm quatro vezes da psicanálise, saudável hospeda
mais tempo de A Interpretação dos cerca de 100 trilhões
visualização do que Sonhos, foi lançado de bactérias —
vídeos de animais por Freud há quase possuímos “só”
de estimação 120 anos 10 trilhões de células

Mais de 6,7 milhões Microsoft e Amazon

de pessoas estão anunciaram parceria
inscritas para para desenvolver
realizar as provas do tecnologias de
Enem deste ano inteligência artificial

YOUTUBE EDU QUERO BOLSA MINDHUNTER REPLIKA 10% HUMANO

Plataforma de educação no
YouTube que agrega canais
focados na preparação para o
Enem e vestibulares.
Os edutubers recebem um “selo
de qualidade” para indicar que o
conteúdo é confiável.
O site é uma plataforma Com alguns episódios dirigidos Se a rebelião robótica não está O livro da bióloga britânica
de busca de ofertas de por David Fincher, a série é no horizonte, experiências Alanna Collen explica a
bolsas de estudo inspirada no livro Mindhunter: esquisitas já podem ser evolução dos micróbios
e descontos nas mensalidades O Primeiro Caçador de Serial feitas no seu celular: e sua importância
de mais de mil instituições Killers Americano e conta a o aplicativo Replika usa para o funcionamento
localizadas em diferentes história de uma equipe do FBI inteligência artificial para criar correto dos organismos
regiões do país. que traça perfis de assassinos. um chatbot de você mesmo (!). de seres vivos.

youtube.com/edu querobolsa.com.br Disponível na Netflix Para Android e iOS Sextante, 288 páginas, R$ 39

Que onda Fim do silêncio Marcha a ré Na traaaave

SÓ
Uma das maiores Atrizes de Hollywood, Mitando, só que não. A Copa do Mundo
pesquisas astrofísicas como Gwyneth Paltrow Levantamento feito pelo da Rússia ainda não
da história: em parceria e Angelina Jolie, Centro de Pesquisas começou, mas já rende

1 MIN.
com o detector europeu
Virgo, astrônomos
do observatório Ligo
INFORMAÇÕES DE ÚLTIMA HORA
captaram pela primeira
vez ondas gravitacionais
originadas do encontro
de duas estrelas
de nêutrons.
relataram diferentes
casos de assédio sexual
e estupro cometidos
pelo produtor Harvey
Weinstein, um então
todo-poderoso da
indústria. Ele foi expulso
da Academia do Oscar.
Pew revelou que 38% histórias emocionantes:
dos entrevistados destruída pela
brasileiros consideram guerra civil, a Síria
que um eventual esteve próxima de
governo militar seria conquistar uma vaga,
bom. Na média global, mas acabou caindo
24% apoiam esse fora na última partida
tipo de governo. das eliminatórias.
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o CAIXA n° 6-5727/2017
Certificado de Autorização

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*O cálculo da quantidade de passagens que podem ser emitidas considerou emissões com 5.000 pontos. As emissões estão sujeitas à disponibilidade de assentos, regras e restrições específicas no perfil de cada tarifa/ponto. Os pontos
não podem ser utilizados para pagamento de impostos e taxas aeroportuárias (taxa de embarque), bem como os gastos habitualmente opcionais, como os serviços extras para passageiros, seguros, hospedagem e despesas pessoais.