o telescópio

Edição 399 • fEvErEiro 2019

de gelo
Como uma máquina de 2,5 km
encravada no Polo Sul pode
revolucionar a astronomia. p. 46

a epidemia de
a ns ie da de

O Brasil é o país mais ansioso do planeta: dados da OMS revelam que

9,3% da nossa população sofre de transtorno de ansiedade – quase o
triplo da média mundial. Entenda por que isso está acontecendo. p. 22
por mAurício hortA

p. 58 p. 68 p. 40 p. 54 p. 08
a ciência da 182 deuses: o enigma ufologia: “não misture
Hibernação escolHa o da anestesia como ela tenta ciência com
Humana. seu favorito. geral. se reinventar. religião.”

SI_399_CAPA_Ansiedade.indd 1 15/01/19 16:42

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1
 superinteressante
carta ao leitor
A astrofísica da Bíblia
No iNício dos tempos, tdo o que
havia era um mar profndo, que se
estendia ao infnito.
Deus, então, separou esse mar em
dois. Não num corte vertcal, estlo
abertra do Mar Vermelho, mas numa
secção horizontal. Fez a metade
superior desse oceano levitar.
Elevou a massa de água cada vez
mais para cima, centenas de quilôme-
tos para o alto, e estacionou-a ali.
Ao enorme vão aberto ente a
massa de água de cima e a de baixo,
Deus deu o nome de “céu”.
Para segurar a água ali em cima,
Deus instalou uma cúpula negra:
o frmamento. E é por isso que chove.
São as águas daquele mar que repousa
acima do frmamento caindo sobre as
nossas cabeças. E no céu recém-
aberto, Deus instalou duas luminárias.
Uma, a mais intensa, ele chamou de
“Sol”. A outa, pálida, batzou como
“Lua”. Então afastou techos do mar de
baixo para além do infnito, fazendo
surgir grandes extensões de terra
frme. E viu que era bom.
Então criou seres para povoá-la.
Primeiro plantas e peixes, depois
animais selvagens e doméstcos.
Por fm, um homem e uma mulher.
E também viu que era bom.
É assim que o Gênesis descreve a
origem do mundo (ainda que com
menos palavras). Um mundo plano,
infnito, em que toda a cosmologia se
resume a um mar futante e uma laje
descomunal para segurá-lo.
Não entenda este ensaio como
uma chacota ao texto bíblico. Não é.
O Livro Sagrado é a obra mais
importante da civilização. Suas
fábulas sobre o início dos tempos
apenas refetem uma era pré-científ-
ca, na qual todos os fenômenos
natrais eram puro mistério.
E muito da beleza dessa obra,
escrita há quase 3 mil anos, está
justamente aí: no esforço de buscar
alguma explicação, ainda que sobrena-
tral, para fenômenos que pareciam
insondáveis: o ciclo das chuvas, os
corpos celestes, a origem da vida.
Foto Tomás Arthuzzi
SI_399_carta ao leitor.indd 3
1/1
editorial
Outa beleza do Livro Sagrado é a
mais familiar: ter criado um código de
leis, uma espécie de Consttição, que
primeiro solidifcou a identdade
nacional de um povo, os israelitas, e
que depois fndaria as bases étcas de
boa parte da humanidade – incluindo
aí a civilização islâmica, já que o
Corão, composto há 1.400 anos, é
uma derivação da Bíblia. E hoje
3 bilhões de pessoas, ente cristãos,
judeus e muçulmanos, prestam
reverência a esses textos ancestais.
Ter fé na literalidade do texto
bíblico, porém, é uma questão privada.
Não faz sentdo, após quase 3 mil anos
de avanços no conhecimento humano,
usar a Bíblia para reftar a ciência.
Muitos cientstas seguem religiões, e
isso não os impede de aceitar fatos que
se opõem à imagem bíblica da criação.
Fatos como o caráter esférico da Terra,
o heliocentismo e, acima de tdo, a
evolução das espécies – talvez a mais
brilhante de todas as teorias científcas,
junto com a Relatvidade, de Einstein.
A fé religiosa é alimento para o
espírito. O respeito à ciência, aliado à
ampla divulgação de suas descober-
tas, é alimento para o cérebro, e para
o progresso da civilização. A huma-
nidade passou séculos num esforço
conciliatório ente a liberdade
intelectal e a liberdade religiosa.
E chegamos a um ponto bastante
razoável nos últmos séculos. Não
joguemos, então, essas conquistas
por terra. Que haja luz.
Alexandre Versignassi
D i r e to r D e r e Daç ão
AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br
0 0
Fundada em 1950
VICTOR CIVITA ROBERTO CIVITA
(1907-1990) (1936-2013)
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 superinteressante 1/1

00
cardápio fevereiro de 2019

22 Capa
34 Alquimia
perfumada
A ciência dos aromas
artifciais.
ansiedade
9,3% dos brasileiros sofrem com o trans-
torno de ansiedade. Entenda quais são os
gatilhos para esse mal.

40 Anestesia geral
Será que você apaga de verdade? Ou só es-
quece a dor? Soa absurdo, mas é possível.

46 Astonomia na Antártda
Um telescópio de 2,5 km encravado no
gelo do Polo Sul detecta as partículas mais
discretas do Universo.

54 O fim da ufologia
Discos voadores foram moda por décadas.
Agora mal se fala neles. Entenda o que há
por trás desse fenômeno social.

58 Soneca até Marte

Como a hibernação induzida pode permi-
tir viagens interplanetárias.

64 Notebook do Google
Ele não pega vírus nem trava. Mas tem
um problema: só roda um software.

68 182 divindades
Entenda melhor os deuses da mitologia
nórdica, mesopotâmica, egípcia, iorubá...

12 chocante
MIT isola bactérias que
essencial produzem energia elétrica.
O próximo passo é fazer
número
incrível oráculo e se...
6 uma imagem... baterias com elas. 74 acelera, rim 80 segura, pião!
O vulcão Etna, esquen- Beber muito café dá vonta- E se a Terra parasse?
tadinho como sempre. de de fazer xixi?

76 drive my car
Por que os carros não têm
o volante centralizado?

18 ibope decadente
A audiência do Oscar está
cada dia menor. Como será
em 2019?
100.
20 fotografa até a lua
000.
8 ... uma opinião Conheça a câmera do celular
Lugar de criança é
na escola. Lugar de
Google Pixel 3 – que usa inte-
ligência artifcial para retocar
000.
Deus é na igreja. suas fotos escuras. 000. 79 manual
Acabou a revolução dos
12 enquanto isso...
bichos: como adestrar seu

14 3 notícias sobre
000. cachorro em casa.
última página
supernovas 17 não é bem assim... de neutrinos 75 pá pum 82 química
No ano internacional da
10 concorde reloaded
atravessam 77 lista
18 pérolas do mês seu corpo
78 lost in translation
tabela periódica, des-
A volta dos voos comer- por segundo. cubra quando cada ele-
ciais supersônicos. 21 você decide p. 52 78 conexões mento foi descoberto.

Capa Bruna Sanches

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 superinteressante 1/4

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essencial uma imagem...

Foto Fabrizio Villa/Getty Images

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 essencial 2/4

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0

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 essencial 3/4

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essencial ...uma opinião

na página anterior: O responsável pelo foguetório ali é o vulcão Etna, na Sicí-

lia, sul da Itália, fotografado em 22 de dezembro. Ele está em erupção constante,
e relativamente pacífca, desde 2014; no fnal do ano passado, uma nova cratera
no lado sudeste do monte se abriu violentamente, causando 130 breves terremo-
tos. Eles não fzeram vítimas – ao contrário da erupção de outro vulcão, o Kraka-
toa, na Indonésia, cujo tsunâmi subsequente deixou 429 mortos em dezembro.

Lugar
de criança As religiões são

é na escola.
um pilar fnda-
mental de todas
as sociedades
humanas.
Mas elas não

Lugar de devem pautar

nem a educação
pública, nem os
laboratórios.

Deus é na
igreja. por Bruno Vaiano

O métOdO científicO é simples. Consiste no que uma criança

O
faz por instnto. Ela observa a areia da praia e percebe que a cor e
a textra lembram Nescau ou Toddy. Ela levanta a hipótese de que
a areia talvez tenha gosto de achocolatado. Ela testa essa hipótese
com um experimento – isto é, comer a areia. O experimento revela
que a hipótese está errada. Hora de refnar a hipótese, ou rejeitá-la.
E aí partr para uma nova observação, que recomeça o processo
(aquela bola de gude parece uma bala. Será uma bala?)
A rotna de um cientsta adulto é parecida. Em 2017, 40 biólogos
de várias nacionalidades espalharam 3,1 mil lagartnhas verdes de
massa de modelar em 31 lugares. Eles queriam testar uma hipótese
antga da ecologia: a de que, em regiões próximas do Equador, há

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 essencial 4/4
mais aves, mamíferos e insetos atás
de comida. Eles deixavam as presas
fake alguns dias na natreza selvagem
e depois verifcavam se elas haviam si-
do mordidas. Conclusão? “Uma lagarta
próxima aos polos tem oito vezes menos
chance de ser mordida que uma lagarta
no Equador”, me contou na época Larissa
Boesing, da USP. “Para cada grau a mais
de lattde, a probabilidade de a lagarta
sobreviver intacta aumenta em 2,2%.”
Essa é uma maneira de adquirir co-
nhecimento. Verifcar uma hipótese na
unha. A outa é consultar alguém que
já verificou a hipótese. Quando uma
criança faz isso, ela busca uma fonte
confiável – a mãe, por exemplo. Um
cientsta, quando lê a descrição de um
experimento realizado por outo cients-
ta, avalia cada passo para saber se pode
confar nas conclusões.
Um cientsta usa o conhecimento ad-
quirido por outos cientstas como ponto
de partda de seu tabalho. Caso contá-
rio, a ciência seria um empreendimento
coletvo estagnado. “Vou estdar uma
lua de Júpiter. Vou começar testando pe-
la enésima vez essa hipótese chamada
gravidade.” Quando um certo número
de crianças testam a mesma hipótese
(de que areia teria gosto de Nescau) e
chegam à mesma conclusão (de que não
tem), forma-se uma teoria. Os cientstas
chamam de teoria uma hipótese verif-
cada várias vezes.
A palavra “teoria”, então, tem um sig-
nifcado diferente para a ciência: é uma
explicação para algum aspecto da natre-
za que já foi testada e assinada embaixo.
Não tem o signifcado de “suposição” ou
“especulação” que os não cientstas cos-
tmam lhe atibuir. A teoria da tectônica
de placas de Wegener e Wilson, a teoria da
evolução por seleção natral de Darwin e
a teoria da relatvidade geral de Einstein
são aceitas como fatos.
Dogmas, por outo lado, são infor-
mações sobre a natreza que não foram
confrmadas experimentalmente. A úni-
ca maneira de justfcar a crença em um
dogma é o argumento de autoridade: um
livro sagrado carrega a palavra de Deus,
e ela é indiscutível. Por isso mesmo, o
único conhecimento que pode constar
do currículo escolar é o científco. Todos
têm direito à fé em algum dogma; todos
SI_399_Essencial.indd 9
Um terço dos brasileiros entre
15 e 16 anos acha falsa a afrma-
ção de que o homem descende
de outra espécie de primata.
têm direito a ter seu dogma respeitado
e o dever de respeitar o dogma alheio.
Mas é essencial que o professor deixe
o dogma na porta quando pega o giz.
Nenhum professor deve afirmar que
areia tem gosto de achocolatado, pois
qualquer criança pode verifcar que é
mentra. Tampouco ele pode dizer que
Jesus caminhou sobre as águas, que Deus
ditou o Corão a Maomé ou que pular
sete ondas para Iemanjá garante sorte.
Nenhuma dessas hipóteses provou-se
verdadeira. São todas questão de fé –
algo profndo e estitamente pessoal.
E isso nos leva a outo problema da
religião na escola pública: cada grupo
tem a sua religião (principalmente em
um país com tanta diversidade cultral
como o nosso). Um cristão pode achar
engraçado um índio Kaiapó acreditar
que uma onça inventou a carne assada.
O índio acha engraçado que o cristão
acredite em uma mulher virgem que dá
à luz. Um professor não tem tempo de
abordar cada uma das várias fés que exis-
tem no Brasil. Não em pé de igualdade.
E, se ele privilegiar uma, obviamente
será em detimento de outa. Alguém
sempre acaba desrespeitado. A solução
é ater-se à ciência – que vale para todos.
Analfabetsmo científco
Outo motvo para que o ensino público
atenha-se à ciência é o maior défcit do
País: o de conhecimento. Nossos est-
dantes ignoram fatos científcos bási-
cos. 40% dos jovens ente 15 e 16 anos
declaram não saber se o ser humano
foi vítma de dinossauros carnívoros
(a resposta é não). 44% não sabem que
o planeta Terra tem 4,5 bilhões de anos
de idade. Um terço acha falsa a afrma-
ção de que o homem descende de outa
espécie de primata. Os dados são de um
estdo de 2015 com 2.404 alunos da
rede pública de todo o Brasil.
0
0
Edição alexandre versignassi
Uma sociedade de analfabetos científ-
cos é incapaz de combater, por exemplo,
problemas de saúde pública. A versão
resistente a antbiótcos do bacilo de
Koch, que é consequência da evolu-
ção por seleção natral, mata 250 mil
pessoas por ano, segundo a OMS. Essa
tberculose anabolizada não distngue
crentes e ateus. Sem a tectônica de pla-
cas de Wegener e Wilson, por sua vez, é
impossível estdar terremotos, vulcões
e tsunâmis – como o que matou 429
pessoas na Indonésia em dezembro. O
bom das teorias é que elas valem até para
quem não acredita nelas. Assim, permi-
tem entender o mundo e torná-lo melhor.
Perceba que alfabetzação científca
não tem a ver com ser ou não ateu. 8%
das teses e dissertações do departamen-
to de biologia da USP contêm agrade-
cimentos a Deus na dedicatória. Na
veterinária, sobe para 38%. O biólogo
Antonio Carlos Marques, que levantou
esses dados, me confessou: “Eu enten-
do a necessidade pessoal de explicações
metafísicas, mas como é que o próprio
aluno não sente o confito dento de si
quando religião e ciência se encontam?”
De fato, é um confito. Mas não há por
que cobrar ateísmo de todo cientsta.
Cabe ao profssional entender-se com
a própria consciência, contanto que ele
separe aquilo que é fé daquilo que é fato.
E isso vale para todos os brasilei-
ros. Este texto não advoga conta a fé
nem pede que ninguém a deixe de lado.
Só é preciso concordar que a religião,
seja ela qual for, não pode interferir
em polítcas públicas de educação, de
ciência ou de tecnologia. A separação
ente Igreja e Estado, afnal, é como a
teoria da evolução: sempre dá certo
quando é testada. Deixá-la para tás a
essa altra seria um retocesso – um
recuo tão grande quanto se voltásse-
mos todos a comer areia. S
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 superinteressante 1/6

0
0
supernovas

Voos supersônicos: o retorno

desde 2003, quando o Concorde fez sua últma viagem, não faltam empresas
prometendo tazer de volta a aviação civil supersônica – embora Boeing e Airbus,
que dominam 90% do mercado de aeronaves comerciais, nem cogitem o assunto. A
Boom Supersonic acaba de levantar US$ 100 milhões para seguir com seu projeto:
um supersônico para 55 passageiros, capaz de voar a 2.700 km/h. É o bastante para
ir de São Paulo a Nova York em 3,5 horas, tês vezes mais rápido que um voo direto
atal. O avião está prometdo para daqui cinco ou seis anos, e uma passagem deve
custar o equivalente à classe executva de uma viagem comum. Interessado? Pode ir
guardando uns R$ 12 mil se quiser ir e voltar de NY. Alexandre Versignassi
1

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supernovas 2/6

0
0
Edição AnA CArolinA lEonArDi

0,1
ano
é quanto caiu
a expectativa de
vida nos EUA entre
2015 e 2017. Desde
a 1a Guerra o índice
não baixava. Dessa
vez, o motivo foi
o aumento nos
suicídios e no
uso de drogas
(principalmente
os opioides).
SuperfotoSSínteSe pode acelerar agricultura em 40%
A correção de um “engano” genétco torna as safras bem mais efcientes.

Não é segredo para ninguém que, por meio por “culpa” dos seres fotossintetzantes. Hoje,
olhos escuros da fotossíntese, as plantas produzem seu próprio a “fotorrespiração” (nome científco do engano)
são mais tristes alimento. Utlizando a luz solar como fonte de é tão demandante para os vegetais que reduz a
energia, elas sintetzam moléculas orgânicas efciência da fotossíntese em até 50%. “Pode-
No inverno, você fca a partr do gás carbônico (CO2) e da água. O ríamos alimentar até 200 milhões de pessoas
mais desanimado. A subproduto disso é o oxigênio (O2). Mas, nes- com essa energia perdida”, diz Donald Ort, da
produção de vários se processo, há uma falha evolutva: a enzima Universidade de Illinois. O tme do pesquisador
hormônios ligados ao que captra o CO2, chamada de RuBisCo, às decidiu interferir no processo: usando enge-
bem-estar, afnal, de- vezes pega uma molécula de O2 por engano. nharia genétca, criaram um atalho que reduz o
pende da exposição à O resultado é um grande gasto de energia por gasto energétco na correção da fotorrespiração.
luz solar. O distúrbio parte da planta para corrigir o erro. No passado, Sobra mais para a fotossíntese, que bomba o
afetivo sazonal é isso não era um problema: quando a fotossíntese crescimento das safras. Eles conseguiram um
uma versão drástica surgiu, a atmosfera da Terra era rica em CO2 e ganho de 40% de efciência em laboratório, e
desse fenômeno. E, pobre em O2. Mas esses níveis se inverteram pretendem replicar o método para plantações
segundo cientistas nos últmos 3,4 bilhões de anos, justamente de soja, tomate, arroz e batata. Ingrid Luisa
da Universidade do
Sul de Gales, ele
afeta pessoas com
olhos escuros em
maior proporção. A 50% de quem acha ter alergia... não tem
retina, nesses casos, é
menos sensível à luz, Foi a conclusão da pediatra Ruchi Gupta, da Northwestern University, nos EUA. Sua pesquisa contou
o que eleva o prejuízo com mais de 40 mil participantes e verifcou que metade das pessoas que se dizem alérgicas não foram ao
dos dias nublados médico para diagnosticar o problema, e chegaram a essa conclusão precipitada sozinhas, após apresenta-
acima da média. rem sintomas como diarreia ou dor de estômago – que têm diversas causas mais prováveis que alergia. IL

Foto Boom Supersonic Ilustrações Augusto Zambonato

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 supernovas
“Jenifer” e “Cadê o
Mateus?” disputaram
o títlo de música do
Carnaval.
enquanto
isso...
Por Ingrid Luisa
Iguanas foram reintroduzidas
em Galápagos. Elas não eram
vistas nas ilhas há 200 anos (.
Pesquisadores criaram algo-
ritmo que remonta artefatos
arqueológicos a partir
de fragmentos (.
Grife cria sutiã inteligente,
que mede tamanho e formato
exato das mamas e envia os
resultados para o celular(.
Carta de 1803 do rei inglês
George 3º que antecipa guerra
com Napoleão foi arrematada
por R$ 54,5 mil.(
Fontes ( Galapagos National Park. (
Technion and the University of Haifa
( SOMA ( Cheffins Auctioneers
SI_399_Novas.indd 12
3/6
A bActériA ideAl pArA A suA contA de luz
Produzir eleticidade com micróbios deixou de ser coisa de fcção científca.
E sE as pilhas alcalinas do seu conto-
le remoto deixassem descendentes? Clo-
nes carregados, prontnhos para serem
usados – energia renovável, na acepção
da palavra. O conceito é excêntico, mas
existem bactérias que se enquadrariam
muito bem no papel de baterias vivas,
já que seu próprio metabolismo produz
energia elética. Alguns desses organis-
mos desenvolveram um processo chama-
do tansferência extacelular de elétons
(EET, na sigla em inglês). Elas basica-
mente produzem elétons no interior das
células, e eles circulam por microcanais
de proteínas, como pequenas correntes
eléticas. O problema é que nenhuma ten-
tatva de extair essa energia bacteriana
para uso humano deu certo. Até agora.
Primeiro, porque você precisa encontar
o tpo certo de bactéria. Mas o proces-
so atal exige cultvar grandes colônias
bacterianas, para só daí conseguir medir
a atvidade elética produzida ali. É um
método tabalhoso e demorado. Logo, é
00
inviável utlizá-lo em grande escala.
Enta em cena o MIT. O insttto criou
um chip, em formato de ampulheta, capaz
de mensurar a atvidade eletoquímica das
bactérias, e separá-las de acordo com as suas
característcas, como tamanho e espécie.
Pela primeira vez, os pesquisadores
conseguiram empregar a técnica para
selecionar os micróbios que produzem
eleticidade. “Basicamente, as pessoas es-
tavam usando essa técnica para separar
bactérias tão diferentes quanto, digamos,
um sapo de um passarinho, enquanto nós
estamos tentando distnguir dois sapos
irmãos – são diferenças mais suts”, expli-
ca Qianru Wang, engenheira mecânica do
MIT e coautora do estdo. A pesquisadora
pretende usar a técnica para determinar
a quantdade de energia elética que de-
terminadas bactérias podem gerar, como
um multímeto de micróbios. O próximo
passo será verifcar o método em uma gama
maior de espécies – e então encaminhá-las
para gerar energia. A. J. Oliveira
Ilustrações Augusto Zambonato
15/01/19 17:10
 supernovas 4/6

0
0
Atação do exército dos EUA no mundo
O país gasta US$ 100 bilhões por ano em intervenções no estangeiro. 80 nações – um terço do
planeta – foram palco da atvidade militar americana desde 2001.

méxIco cuba
trInIdade
e tobago
sérvIa
panamá
kosovo
reIno unIdo turcomenIstão
macedônIa
Irlanda alemanha colômbIa
grécIa brasIl
bélgIca bulgárIa cazaquIstão
ItálIa paraguaI
uzbequIstão
quIrguIstão
turquIa argentIna
espanha tajIsquIstão
albânIa 1 sírIa afeganIstão
marrocos 2 Iraque
3
tunísIa nepal
4 paquIstão
líbIa egIto jordânIa 5
6
argélIa arábIa 7 índIa
saudIta hong kong e macau
maurItânIa malI níger 8
chade rep. taIlândIa
centro-
afrIcana Iémen bangladesh
nIgérIa 9 fIlIpInas
etIópIa somálIa
senegal gana
malásIa
uganda srI lanka
burkIna gabão
faso rep. dem. quênIa repúblIca
do congo das maldIvas IndonésIa
ruanda
serra leoa tanzânIa
camarões
repúblIca dIego garcIa (uk)
das seIcheles

Ilha de
ascensão (u.k.) botsuana 4. kuwaIt
5. bahreIn
austrálIa
6. qatar
1. chIpre 7. emIrados
áfrIca 2. líbano árabes unIdos
do sul 3. cIsjordânIa e 8. omã
faIxa de gaza 9. djIbutI

bases militares
treinamentos e assistência
bases treinamentos exercícios zonas ataques
40 militares 65 e assistência 26 militares 14 de combate 7 aéreos*
exercícios militares
zonas de combate
* Aviões e drones ataques aéreos (aviões e drones)

Fonte Costs of War Project (https://watson.brown.edu/costsofwar/)

17 mil
EssE é o númEro dE rostos introduzidos num sistema de inteligência artifcial, chamado
DeepGestalt, para uma missão inédita na medicina: encontrar doenças genéticas por meio
de expressões faciais. A ideia – de uma empresa de biotecnologia de Boston – se baseia num
fato médico: pessoas com certos distúrbios costumam ter pequenos movimentos de face,
quase imperceptíveis, que podem ajudar num diagnóstico. Mas fazer essa avaliação a olho
nu é algo complexo, em função da variedade de síndromes possíveis. Com a ajuda desse
sistema, os médicos conseguem restringir as possibilidades e chegar mais depressa ao alvo: o
DeepGestalt devolve uma lista das dez doenças genéticas mais prováveis de cada indivíduo.

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 supernovas
O veterano, o novato e o canadense detectam alguns dos fenômenos mais estranhos do Universo.
1.
Panela velha
O telescópio Hubble é
idoso: 28 anos. E está com
sua melhor câmera quebrada.
Mesmo assim, descobriu um
quasar recordista, 600 tri-
lhões de vezes mais brilhante
que o Sol, a 12 bilhões de
anos-luz da Terra. Um quasar
é um buraco negro super-
massivo – seu brilho vem da
energia liberada pelo gás e a
poeira atraídos pela gravidade
do monstro. (
As
maiores
quedas
no IDH
r anking do desen-
v o lv i m e n t o h u m a n o
e n t r e 2 0 1 2 e 2 0 17.
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5/6
0
0
Drones
3 notíciaS Sobre
podem,
Telescópios mesmo,
derrubar
aviões
A virada de ano
foi de irritação
nas salas de em-
barque londrinas.
Dois aeroportos
– Gatwick e Hea-
throw – fcaram
fechados por
horas devido a
uma moderna
ameaça: drones
na vizinhança.
Mas será que
um mero drone
justifca tanta pre-
ocupação? Para
1 obter a resposta,
pesquisadores
da Universidade
2. 3.
de Dayton, nos
EUA, atiraram
um drone de 1 kg
contra a asa de
De outro mundo Já escuto teus sinais um avião a 400
Em 2018, o TESS, da Nasa, O observatório canadense km/h. Resultado:
substituiu o velho de guerra Chime – especializado em parte da asa fcou
Kepler na função de telescó- detectar ondas de rádio emiti-
pio caçador de exoplanetas das por fenômenos cósmicos,
despedaçada.
(isto é, planetas na órbita como estrelas de nêutrons “Queremos ajudar
de estrelas que não são o – encontrou uma sequência a comunidade
Sol). Ele já está mostrando estranhíssima de pulsos a entender os
serviço: em janeiro, descobriu curtos e rápidos de rádio. Há perigos que os
o planeta HD 21749b. 23 vezes fenômenos naturais capazes
mais pesado que a Terra, tem de explicá-lo – mas sempre
drones recreativos
um ano de 36 dias e fca a 53 existe a chance remota de representam”, dis-
anos-luz daqui. A temperatu- que sejam ETs inteligentes se Kevin Poormon,
ra é desagradável: 150 oC. ( entrando em contato. ( líder do estudo. AC
2012 2 0 17
Síria 128º caiu 27 posições 155º
Líbia 82º caiu 26 posições 108º
iêmen 158º
VenezueL a 62º caiu 16 posições
caiu 20 posições
78º
178º
PaLeStina 107º caiu 12 posições 119º
Ilustração ( Fido Nesti ( Augusto Zambonato Fontes ( The Discovery of a Gravitationally Lensed Quasar at z = 6.51
( NASA’s Goddard Space Flight Center ( Observations of fast radio bursts at frequencies down to 400 megahertz.
15/01/19 17:10
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0
Não é bem
assim...
Histórias que
bombaram por
aí - mas não são
verdade

A “notíciA”

Jipe lunar chinês

não encontra
vestígios de que
americanos
foram à Lua
o que elA diziA
Fotos da última missão
2 chinesa de exploração
lunar confrmaram
o que seria a maior

Flores escutam o zum-zum-zum das abelhas enganação de todos os

tempos: não haveria
sinais de que os EUA
E produzem um néctar mais doce quando elas estão por perto. tivessem visitado a
Lua. Ofciais do Partido
Uma música de Marvin Gaye, de 1965, dizia: for em for, acabam fazendo a polinização Comunista chinês
“How sweet it is to be loved by you” (“como é ente as plantas, garantndo sua reprodução. teriam declarado que
doce ser amado por você”). As abelhas talvez Os cientistas expuseram prímulas ao as imagens vistas pela
TV seriam “fraude or-
se identfquem com esse refrão. Pesquisado- zumbido de abelhas e a sons artfciais que questrada para enganar
res da Universidade de Tel Aviv concluíram simulam o ruído das polinizadoras. Em am- o mundo”.
que as fores produzem um néctar mais doce bos os casos, bastaram tês minutos para
que o habital quando detectam o zumbido que as fores aumentassem o dulçor do seu quAl É A VeRdAde
de abelhas se aproximando – como se ou- néctar em 20%. Já quando o som simulava É tudo fake news, claro.
A inspiração veio da
vissem, mesmo. A dose exta de doçura é um morcego ou mosquito, a solução açucara-
missão chinesa Changíe
uma estatégia de sobrevivência: ajuda a atair da permanecia com o mesmo gosto. Ouvido 4, que fez o primeiro
esses insetos que, no processo de beber de absoluto é isso aí. Alexandre Carvalho pouso bem-sucedido
no “lado oculto” da
Lua. Mas, obviamente,
os chineses não acusa-
ram os EUA de fraude.
Pelo contrário. No
cortar o Facebook te deixa relaxado, mas insatisfeito início da década, Yan
Jun, cientista-chefe do
Apegar-se às redes sociais não faz bem à cabeça – um distúrbio chamado fear of missing out projeto de exploração
(“medo de fcar de fora”) aumenta a ansiedade e atrapalha o sono (leia mais na página 22). Mas de- lunar, afrmou que a
letar seu perfl talvez não seja a chave da felicidade, como descobriram pesquisadores australianos. China encontrou, sim,
O estudo convocou 138 usuários do Facebook: metade foi orientada a se ausentar da rede por cinco sinais das viagens dos
dias. O resto manteve a rotina. Os que fcaram de fora tiveram diminuição no nível de cortisol, hor- EUA para a Lua, com a
sonda Chang’e 2, que
mônio ligado ao estresse, mas também relataram menor satisfação com a vida. Para Eric Vanman,
voou a 15 km de altura
líder do estudo, os voluntários não queriam se desconectar dos amigos. E bateu uma tristeza. AC do solo lunar. AC

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 superinteressante 1/2

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0
sn. plAylist

A solidão Ignorando as críticas sobre a duração do evento,

o Oscar atingiu o pior índice de audiência da sua
história em 2018. A edição deste ano acontece no

do oscAr dia 24 de fevereiro. Será que isso vai se repetir?

infográfco Rafael Battaglia e Juliana Caro

ano audiÊncia eM Milhões duração Melhor FilMe

2000 46,33
04h23 Uma Mente Brilhante
2001 A medição 43,7
04h09 Beleza Americana
2002 de AudiênciA nos
43,53
euA começou oficiAl- 03h53 A Forma da Água
2003 mente em 1974. o Ano 42,94
03h51 Os Infiltrados
2004 em que houve mAis 41,7
espectAdores foi 03h49 Moonlight
2005 1998. 42,14
03h44 O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
2006 41,78
03h43 Birdman
2007 40,3
03h37 Guerra ao Terror
2008 40,17 03h37 Spotlight
2009 39,3 03h35 Argo
2010 38,94 03h34 12 Anos de Escravidão
2011 37,6 03h33 Crash - No Limite
2012 36,6 03h30 Quem Quer Ser um Milionário?
2013 36,1 03h30 Chicago
2014 34,3 03h23 O Gladiador
2015 33,04 03h21 Onde os Fracos Não Têm Vez

2016 32,9 03h15 O Discurso do Rei

2017 31,76 03h14 Menina de Ouro
03h14 O Artista
2018 26,5

2010 2018 03h35

O prêmio de Melhor Filme Para atrair mais público, a organização É a duração
passa a aceitar até 10 indica- sugere a criação da categoria Me- média do Oscar
dos, dando espaÁo, nos anos lhor Filme Popular. Após duras nos últimos
seguintes, para blockbusters. críticas, eles voltam atrás. 20 anos.

Fontes Statista, Deadline, Forbes, Slate, O Globo

Canal Canal
Hoje no Mundo Via Infinda
Militar YouTube
YouTube
Ele saiu de Brasília e ficou
O torpedo russo capaz de
Pérolas do gerar tsunâmis. As ilhas
dois anos na Europa como
mochileiro radical: dor-

streaming artificiais da China – e os

incríveis canhões laser dos
mindo na rua, pegando ca-
ronas e restos de comida,
EUA. As armas mais mo- fazendo bicos e se virando
dernas, os últimos lances quase sem dinheiro. Tudo
da geopolítica e histórias em nome da independên-
incríveis (como a da Blue cia. Viagens, perrengues e
Peacock, a bomba atômica surpresas – com irreverên-
chocada por galinhas). cia e humor involuntário.

Fotos Reprodução/Divulgação

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EDIÇÃO BRUNO GARATTONI

A ciência E se ninguém entendesse você?

não veste COM VINCENT VAN GOGH, FOI ASSIM. Ele não obteve reconheci-
Uma bucha
azul. mento em vida – e se atormentou por nunca conseguir, por mais
que pintasse, ansmir o que estava vendo. Tornou-se um gênio
atrás da outra
Nem rosa pósmo, mas com a pecha de louco. Neste filme, um possuído Crise do petróleo.
Willem Dafoe mosa que Van Gogh não era só isso. Era muito mais. Crise da dívida externa.
MACHOS E FÊMEAS No Portal da Eternidade. Estreia dia 7/2 nos cinemas. Hiperinflação. Confisco
SÃO DIFERENTES. da poupança. Desvalo-
Mas grande parte rização do real. Explo-
das distinções so- são do déficit público.
ciais entre homens
e mulheres tem
O TRAFICANTE O Brasil é o país das
crises econômicas, e
mais a ver com
questões culturais
DE 87 ANOS elas estouram sempre
nas mãos da mesma
do que hormonais. Clint Eastwood conta a pessoa: o ministro da
Nesta obra, eleita história real de Leo Sharp, Fazenda. Neste livro,
melhor livro de o militar que lutou na o jornalista Thomas
ciência do ano 2a Guerra e ao voltar decidiu Traumann entrevista
pela Royal Society cultivar flores. Ele se tornou 14 deles (Delfim Netto,
inglesa, a austra- um dos maiores produtores Zélia Cardoso de Mello,
liana Cordelia Fine de Indiana, seu Estado. O FHC, Antonio Palocci,
prova isso – com que ninguém sabia é que ele Guido Mantega,
dezenas de estu- também era “O Vovô”– um Henrique Meirelles e
dos. Testosterona megatraficante de cocaína. outros) e faz revela-
Rex. R$ 48. A Mula. Estreia dia 14/2 ções inéditas sobre as
nos cinemas. medidas econômicas
que selaram nosso
destino: as reuniões
em que Collor resolveu
confiscar a poupança
FILME DOCUMENTÁRIO dos brasileiros, as
Nada a Esconder Steve Jobs: The puxadas de tapete que
Netflix Lost Interview afastaram os pais do
Três casais se encontram, Netflix
Plano Real, o dia em
põem os smartphones O ano é 1995, e Steve
na mesa e inventam um está em baixa. Expulso que José Sarney quase
jogo – a regra é mostrar da Apple, ele tenta fazer renunciou, como as
todas as mensagens e sua nova empresa, a manifestações de 2013
notificações que foram NeXT, dar certo. Não detonaram as contas
chegando (e atender às consegue. Mas, nesta do governo – e por que
ligações no viva-voz). entrevista, está inspira-
Parece banal; mas desen- do. Conta causos, revela elas continuam pioran-
cadeia revelações cada mágoas, abre o coração do. O Pior Emprego do
vez mais surpreendentes. – e prevê o futuro. Mundo. R$ 41,90.

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0
0
sn. tech

o celu-
lar que
vê no
escuro
Google Pixel 3 usa inteligência
artificial para analisar as fotos
antes mesmo de capturá-las – e
aplicar truques surpreendentes.
Texto Bruno Garattoni

500 milhões de pessoas

usam o app Google Fotos.
Por isso, o Google recebe
mais de 1,2 bilhão de ima-
gens por dia. E as usa para
alimentar seu sistema de
inteligência artificial – que
após alguns anos de treina-
mento aprendeu a identifi-
car, separar e retocar auto-
maticamente os elementos
das fotos. Essa tecnologia,
que o Google chama de
“fotografia computacional”,
está chegando ao mercado
no smartphone Pixel 3 (US$ Como o sistema funciona
799 nos EUA). Ele é capaz
de tirar fotos em situações
de pouca luz, que fariam até
o iPhone tropeçar. E isso
com apenas uma câmera –
contra as duas, três ou até
fotos Divulgação/ Google

cinco presentes nos smar-

tphones mais avançados. Os
resultados (veja exemplo ao
lado) são impressionantes. E,
mais impressionante ainda, iPhone XS Pixel 3
o algoritmo de correção ro-
da no próprio Pixel 3 (sem o celular do google deixa o obtura- compensar, ele captura 15 imagens em
precisar se conectar aos ser- dor aberto por mais tempo, o que per- sequência (com frações de segundo de
vidores do Google). mite capturar mais luz – mas normal- diferença) e usa os melhores pedaços
mente resulta em fotos borradas. Para de cada uma para gerar a foto final.

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 tech 2/2

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0
Edição bruno garattoni

você decide
pendura
Os projetos mais
interessantes (e
surpreendentes)
e limpa do mundo do
crowdfunding
a roupa
EssA é A pROMEssA do cabide MS-DH210, lançado no Japão pela
Panasonic (onde ele custa o equivalente a US$ 180). O aparelho
emite um pulso de alta voltagem que ioniza – carrega eletricamen-
te – as moléculas de água presentes no ar. Elas são vaporizadas
sobre a roupa, onde matam bactérias e decompõem partículas de
sujeira. O cabide é alimentado por uma bateria que dura cinco a
sete horas (tempo suficiente para esterilizar uma peça de roupa).

com a
cabeça fria
COMO QUALQUER
Qual é mesmo
o seu nome?
fOnE de ouvido para kickstarter.com
jogar, o HP Mindframe Projeto OrCam MyMe
O que é Uma câmera que
(US$ 150) tem cabo
reconhece pessoas. Ela fica
USB, microfone e som presa na sua camisa, como
7.1. Sua diferença é a
tecnologia FrostCap:
dentro de cada concha
Melhor do que jornal se fosse um broche, e tira
automaticamente uma
foto por segundo. Quando
do fone há um resfriador encontra um rosto, com-
a bandeja weasy capta o xixi do cachorro e o despeja
termoelétrico (uma para com as fotos dos seus
plaquinha que gera frio
no ralo do banheiro ou da área de serviço por meio de contatos do Facebook – e
usando a passagem de uma mangueira. Quando o cão terminar, é só jogar dois informa em tempo real,
eletricidade por dois copos d’água na bandeja para limpá-la (o produto também por meio de um app, o
tem uma versão semiautomátca, que usa água da torneira nome da pessoa que está se
metais diferentes), que
aproximando de você.
funciona como ar-condi- para a limpeza). Está disponível em quato tamanhos, para Meta US$ 40 mil
cionado para as orelhas. cachorros de vários portes, e custa de R$ 400 a R$ 800. Chance de rolar
bbbaa

a harley elétrica Casaco de frio

As MOtOs bARULhEntAs que
fizeram a fama da Harley-
Davidson já não vendem tão
bem: a empresa tem registrado
sucessivos prejuízos, demitido
funcionários e fechou uma de
suas duas fábricas nos EUA.
A aposta para virar o jogo é a
LiveWire, uma Harley radical-
mente diferente: é elétrica, não
emite quase nenhum ruído e tem
GPS touchscreen no guidão. Tem
autonomia de 170 km e será lan-
çada em agosto, por US$ 30 mil.
kickstarter.com
Projeto Kistler
O que é Um casaco feito
com aerogel, mesmo ma-
terial dos trajes espaciais
da Nasa. O aerogel é um
excelente isolante térmico.
Uma camada de apenas 2
milímetros desse material
(costurada dentro do forro
do casaco) é suficiente para
encarar temperaturas de
até 40 graus negativos.
E é leve também: o casaco
pesa apenas 1,5 kg.
Meta US$ 50 mil
Chance b b b b a

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capa

A epidemiA dA

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 capa 2/12

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O Brasil é O país mais ansiOsO dO mundO: dadOs da Oms

revelam que 9,3% da nOssa pOpulaçãO sOfre de transtOrnO

de ansiedade, quase O triplO da média mundial. entenda

pOr que issO está acOntecendO – e saiBa cOmO se defender.

Reportagem Mauricio Horta Fotos Tomás Arthuzzi

Design Juliana Caro Edição Bruno Garattoni

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 capa 3/12
d segundo dados da em-
De repente, Do naDa,
uma preocupação
qualquer surge na sua
cabeça. Você começa a
pensar naquilo, imagina
mil possibilidades, tenta
prever o que pode ou não
acontecer. Então a mente
acelera e começa a dar vol-
tas em torno de si mesma:
repete muitas e muitas ve-
zes os mesmos cenários,
plausíveis ou absurdos,
num ciclo impossível de
interromper. Quando vo-
cê percebe, ficou a noite
inteira em claro.
Todo mundo já pas-
sou por algo assim. A
ansiedade faz parte da
vida moderna. Sua for-
ma patológica, o tans-
torno de ansiedade, é a
segunda doença mental
mais comum do planeta:
segundo dados da OMS,
264 milhões de pessoas
sofrem desse mal – 14,9%
a mais do que dez anos
atás. E o Brasil é o cen-
to mundial do problema:
9,3% da população tem
tanstorno de ansiedade,
quase o tiplo da média
internacional (3,5%). Na
cidade de São Paulo, um
estudo feito pela USP
chegou a números ainda
mais impressionantes:
nada menos que 19,9%
das pessoas têm a doen-
ça. Por ano, são vendidos
26,8 milhões de caixas
do ansiolítco Rivotil (e
demais remédios à base
de clonazepan) no Brasil,
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presa IQVIA, que audita
o mercado farmacêutco.
Seu consumo teve um
crescimento de quase
300% na últma década
(em 2010, os brasileiros
compraram aproxima-
damente 10 milhões de
caixas desse remédio).
Nunca estvemos tão
ansiosos – e, como você
talvez já tenha percebido,
isso não está nos fazen-
do bem. Mas a ansiedade
pura e simples não é um
tanstorno. É uma esta-
tégia bem-sucedida, que
há centenas de milhares
de anos tem garantdo
nossa sobrevivência.
A gênese da
ansiedade
Na savana africana, com
suas grandes planícies,
poucas árvores e muita
vida animal, os huma-
nos viviam vulneráveis
ao ataque de leões, leo-
pardos, cobras e hienas.
Se não fossem comidos
por predadores, nossos
antepassados tinham
que se preocupar com
outra ameaça: fome. A
comida era incerta, pois
eles dependiam da sorte
na coleta e na caça.
Uma das estatégias de
sobrevivência foi viver em
grupos. Mas a vida co-
munitária touxe novos
problemas. Era preciso
fazer força para ser aceito
pelo grupo, e não acabar
marginalizado ou mesmo
expulso dele. O convívio
também levava a disputas,
geralmente resolvidas
por meio da violência:
pesquisas arqueológicas
revelaram que os pri-
meiros grupos humanos
tnham altíssimas taxas de
0
0
26,8
milhões de
caixas do
ansiolítico
clonazepan
(Rivotril)
homicídio: 15% das pesso-
as morriam assassinadas.
Em suma, a vida era
dura. E as pessoas que
tveram mais êxito em
sobreviver e gerar des-
cendentes, passando seus
genes adiante, foram as
assaltante armado. Já a
ansiedade emerge dian-
te de uma ameaça fut-
ra, que poderá ou não
se concretizar – como
aqueles pensamentos
que vêm à cabeça ao an-
dar numa rua escura de
são vendi- mais capazes de anteci- madrugada. Se o medo
das por ano par as ameaças de preda- prepara o corpo para
no Brasil. dores, fome, rejeição do reagir imediatamente, a
Uma década
atrás, eram grupo e violência. Ou ansiedade nos motva a
10 milhões. seja, os mais ansiosos. evitar a ameaça futra,
Hoje, é rara a pessoa fazer preparações pa-
que precise proteger-se ra ela ou agir para que
de cobras e leões. Gra- não ocorra. O que pode
ças a seu intelecto, o ser acontecer se eu andar
humano transformou numa rua vazia e mal
o mundo. Dominamos iluminada, de madruga-
predadores, vencemos da? Há algum canto de
doenças, produzimos onde pode aparecer um
até mais comida do que o assaltante? Se surgir al-
necessário e criamos leis guém, devo sair corren-
para contolar e conter a do? Essa antecipação de
violência (hoje, os homi- consequências envolve
cídios são responsáveis o córtex pré-frontal – a
por 0,005% das mortes região mais desenvolvida
no mundo). A vida nun- do cérebro humano.
ca foi tão confortável, “É provavelmente im-
pacífica e próspera. Mas possível sentr medo sem
a ansiedade não desa- também sentr-se ansio-
pareceu. Temos novas so”, afirma o neurocien-
preocupações – o assal- tsta americano Joseph
to no tânsito, as contas LeDoux, autor do livro
de casa, a manutenção Anxious (não lançado no
do emprego, a solidão, a Brasil). Afinal, basta ter
quantdade de curtdas medo de uma coisa para
nas redes sociais etc. O começar a se preocupar
mundo mudou, mas os com as consequências
medos não desaparece- dela. “Ver uma pessoa
ram; se tansformaram. com uma arma induz
Ansiedade e medo ao sentmento de medo.
são intimamente liga- Mas a preocupação ou
dos – ambos são estados ansiedade rapidamente
aversivos engatlhados toma a dianteira, quan-
por uma ameaça. Mas o do você passa a imaginar
medo é provocado por o que aquela pessoa vai
um estímulo imediato, fazer”, diz LeDoux. Da
aqui e agora, como um mesma forma, quando
15/01/19 18:01
 capa 4/12

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0
A ansiedade está crescendo

quanta gente ela afeta em todo lugar. Mas o Brasil

é campeão mundial.

Média global
Brasil

Paraguai

Noruega

Chile

uruguai

hol aNda

eua

FraNça

CuBa

alemaNha

Bolívia

itália

CaNadá

Portugal

suéCia

aráBia saudita

reiNo uNido

esPaNha

méxiCo

FiNlâNdia

rússia

ChiNa
4,1%

3,6%

3, 2%

3,1%

3,1%
3,5 %
4,2%
4,3%
4,8%
4,9%

4,9%
5%
5,4%
5,8%
6,1%
6,2%
6,3%
6,4%
6,4%
6,5%
7, 4 %
7, 6 %

9,3
Brasil
%

Na cidade de São Paulo,

a incidência é ainda
maior – sobretudo
entre as mulheres:
26,1 % 13%
traNstorNo de aNsiedade 19 , 9 %
14,9% 6,6%
traNstorNo de humor ( iNClui dePressão) 1 1 %
3,9% 4,5%
traNstorNo do CoNtrole do imPulso 4 , 3 %
1,5% 5,9%
aBuso de suBstâNCias 3 , 6 %

Fonte São Paulo Megacity Mental Health Survey. USP, 2012

de pessoas, no mundo, têm trans-

t o r n o d e a n s i e d a d e . É 14,9% m a i s
gente do que na dÉcada passada.
Fonte Depression and Other Common Mental Disorders - Global Health Estima-
tes. Organização Mundial da Saúde, 2017.

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 capa 5/ 12

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150 é o máximo de
conhecidos que con-
seguimos ter, seja
on ou offline. mais
do que isso gera
desgaste cerebral
e ansiedade.

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 capa 6/12

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0
a vida digital é um
scroll infinito – para violento traumático – famosas por sua ordem
o qual nosso cérebro como ser assaltado à mão e tanquilidade, têm ta-
não está preparado. armada ou ver alguém ser xas de ansiedade mais
morto. Ente os que sofre- altas que as zonas rurais
ram tês ou mais episódios daquele mesmo país. Foi
de violência, a chance de o que constatou Andreas
“O ambiente urbano de tanstorno de ansiedade Meyer-Lindenberg, pro-
você está ansioso e vai uma metópole como São é 3,5 vezes maior. fessor de psiquiatria da
caminhar em uma rua Paulo pode exacerbar a E violência é o que não Universidade de Heidel-
escura, pode sentr me- sensação de insegurança falta no Brasil. Nós somos berg, em um estdo com
do com algo que geral- em indivíduos predispos- o país mais homicida do 32 voluntários saudáveis.
mente passaria batido tos ao tanstorno de ansie- mundo: temos 60 mil ca- O pesquisador pediu que
– como uma sombra ou dade”, afirma o psiquiata sos por ano. Esse número eles resolvessem exercí-
o barulho de um galho Lucas Gandarela, do IPq. equivale à soma de todos cios de aritmética, com
quebrando. Redes familiares menos os assassinatos regista- um cronômeto correndo.
Nossas mentes são estutradas, abusos na dos em 52 países (a lista A dificuldade foi ajustada
propensas à ansiedade. infância, maior exposição inclui desde nações de para que a taxa de acerto
Ela nos touxe até aqui à violência, uso de subs- Cada primeiro mundo, como ficasse ente 25% e 40%.
porque, no grau certo, é tâncias psicoatvas e até o brasileiro EUA, França e Canadá, “Dizíamos que o desem-
benéfica. Mas certas ca- alto custo de vida. “Todos gasta em até países como Sérvia e penho deles estava abaixo
média 3h39
racterístcas da vida nas esses são fatores de risco por dia nas Líbia). Isso é uma chave da média e sugeríamos,
cidades parecem ter dado para os transtornos de redes so- para explicar a ansiedade impacientemente, que se
um curto-circuito nesse ansiedade”, diz Gandarela. ciais. Mas do brasileiro. apressassem”, conta Meyer-
mecanismo. A violência é um fator é comum Não são necessários, -Lindenberg. Enquanto is-
gritante. Dos entevista- o medo porém, violência e ca- so acontecia, o cérebro dos
de deixar
Formigueiros dos pela USP, 54% dis- passar algo os para que uma cidade voluntários era monitora-
ansiosos seram ter sofrido ou pre- – e ele gera produza ansiedade. Mes- do com um aparelho de
Durante cinco anos, o senciado algum episódio ansiedade. mo as cidades alemãs, ressonância magnétca.
Instituto de Psiquiatria -
da Faculdade de Medi-
cina da USP (IPq) ente-
vistou 5.037 moradores
da região metopolitana
de São Paulo para medir
A ansiedade é desencadeada por
a incidência de tanstor-
nos mentais na maior área
urbana do Hemisfério Sul.
De onDe ela vem acontecimentos estressantes - nos
quais o Brasil tem sido pródigo.

Resultado: 19,9% dos pau-

listanos sofrem de tans-
tornos de ansiedade – o
economia social violência
42
dobro da média brasileira. De 2014 para cá, número de
d os b ra s i l e iro s
Essa descoberta é es- o Brasil teve divórcios
no Brasil:
% s en tem m u ito
pecialmente relevante queda de m ed o d e s erem

7
num momento em que as em 1984 assassinados
megacidades se multpli- 31 mil
cam, impulsionadas pelo
êxodo rural nos países em
% registros
em 2014
16
no PiB
desenvolvimento. Hoje, há
31 cidades com mais de 10 e o desemPrego 341 mil milhões
quase doBrou: registros já sofreram
milhões de habitantes; em ameaça de morte

5
2030, serão 41, sendo 33 subiu de Pessoas separadas,

6,8
viúvas ou
em países em desenvolvi- % milhões

50
divorciadas têm
mento. E elas, como São já foram
Paulo, afetam a saúde agredidos
mental de seus moradores.
Para % com
Embora o estdo não

11,7 % arma de
tenha apontado o que cau- mais risco de
sa tanta ansiedade em SP,
possibilidades não faltam.
transtorno
de ansiedade fogo
Fontes IBGE, São Paulo Megacity Mental Health Survey, FGV, Instituto Igarapé e Datafolha

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 capa 7/ 1 2
Os cientstas percebe-
ram que, quanto maior a
cidade onde o voluntário
morava, mais atvada era
sua amígdala – a região
cerebral relacionada ao
medo e as respostas a
ele, como fugir ou lutar.
Além disso, quanto mais
tempo da infância os vo-
luntários haviam passado
em uma cidade, maior era
a atvidade em seu córtex
cingulado anterior, área
relacionada a emoções
negativas. Parece haver
forte associação ente vida
urbana e circuitos neurais
ligados à ansiedade. Pode
ser muita coisa, desde a
poluição até a hierarquia
social instável, com forte
desigualdade socioeconô-
mica – que deixa as pes-
soas com medo de per-
der o emprego. Ninguém
sabe. Mas é fato: o medo
de perder o emprego em
uma economia frágil como
a brasileira provavelmen-
te ajuda a nos colocar no
topo do ranking mundial
de ansiedade.
Para o psiquiata ale-
mão Mazda Adli, outro
gatlho para a ansiedade
urbana, seja no país que
for, está numa situação
contaditória: embora ci-
dades reúnam multdões,
as pessoas frequentemen-
te vivem de forma solitária
nelas. “Nossos cérebros
não são bem desenhados
para viver em metópoles
superlotadas”, diz Adli. “A
30 % é o aumento no
risco de morte
entre pessoas es-
tressadas. mas é pos-
sível contornar isso.
SI_399_Mat_Ansiedade.indd 28
12
combinação de densidade
populacional e isolamento
social produz um estesse
típico das cidades”, afirma.
Ambientes superpovo-
ados estressam todos
os animais, de insetos a
primatas. Basta que uma
pessoa se aproxime de
você para que a amígdala
e o córtex cingulado sejam
atvados. E as metópoles
têm gente demais.
Outo problema é que
isso, paradoxalmente, ge-
ra relacionamentos mais
fracos. Os seres humanos
têm um número limitado
de conhecidos com quem
conseguem manter rela-
ções sociais. Para o anto-
pólogo Robin Dunbar, da
Universidade de Oxford,
a quantdade é 150 pes-
soas. Mais do que isso, o
cérebro supostamente
não consegue adminis-
trar direito (não conse-
gue memorizar o nome,
o rosto e as característ-
cas das pessoas). Dunbar
calculou esse número
comparando o tamanho
do cérebro dos primatas
e o número médio de in-
divíduos em seus grupos
sociais. Ele percebeu que
havia relação ente uma
coisa e outa, e então fez
uma conta usando o tama-
nho do cérebro humano.
Acontece que, nas grandes
cidades, há muito mais do Sabe
quando
que 150 pessoas – só no você vai
Facebook você deve ter dormir,
bem mais contatos do que mas não
consegue,
porque
sua cabeça
dispara?
Isso está
relacio-
nado à
Síndrome
de Pen-
samento
Acelerado
(SPA).
0
0
regiões
cere-
brais es-
tão en-
volvidas
na an-
siedade.
isso. “Nossos ancestais
conheciam as mesmas
pessoas pela vida toda”,
afirma Dunbar. “Já nós,
conforme vamos de um
lugar para o outo, pode-
mos perder contato até
com nossos amigos mais
próximos.” O resultado
são relações mais super-
ficiais e passageiras.
Conclusão: a cidade é
uma estutra fantástca,
capaz de aproximar mi-
lhares de indivíduos para
produzir coletivamen-
te; ao mesmo tempo, ela
diminui a qualidade das
relações humanas. A fa-
mília estendida (grupo que
inclui avós, tos e primos),
que era crucial para tibos
nômades e sociedades ru-
rais, acaba ficando mais
distante. Com o tabalho
fora de casa, o convívio
com a família nuclear (pai,
mãe, cônjuge, filhos) tam-
bém diminui; ver os ami-
gos, então, só no final de
semana. Sobram relações
hierárquicas e impessoais,
de tabalho ou consumo.
Um atendente pode con-
viver com centenas de
clientes por dia, e mesmo
assim se sentr solitário.
E isso é pertrbador.
“Um dos benefícios da vi-
da em sociedade é a prote-
ção múta. O isolamento
pode representar uma cir-
cunstância perigosa”, afir-
ma John Cacioppo, diretor
do cento de neurociência
15/01/19 18:02
 capa 8/12

0
0

Como
ela
age no Córtex Pré-frontal amígdala 3 Comportamento de fuga
Fugir de uma ameaça é uma
forma de se proteger dela.
Mas a pessoa ansiosa continua

Corpo
O transtorno de ansiedade é
temendo a ameaça - mesmo que
ela esteja distante.

uma doença - e se manifesta 4 IntolerânCIa à InCerteza

de várias formas. Pessoas ansiosas têm difculdade
em tolerar incertezas, principal-
1 HIpervIgIlânCIa mente quando elas envolvem
A pessoa fica hipersensível a algum possível risco.
riscos, sejam eles reais ou ima-
ginários. A causa, geralmente, é 5 SupervalorIzação
hiperatividade na amígdala (área da ameaça
do cérebro ligada ao medo e à O ansioso exagera a probabilida-
resposta em situações de perigo). de de que aconteça alguma coisa
ruim – bem como suas possíveis
2 InCapaCIdade de relaxar consequências. Isso gera o cha-
O córtex pré-frontal, responsá- mado estresse antecipatório.
vel pela consciência, não informa
à amigdala que um determinado 6 Controle mal adapta�
estímulo deixou de represen- tIvo dIante de ameaçaS
tar ameaça. E ela continua a O controle sobre o compor-
estimular um comportamento tamento, e sobre a cognição,
defensivo. também fca prejudicado.

SI_399_Mat_Ansiedade.indd 29 15/01/19 18:02

 capa 9/ 12

0
0

TransTorno TransTorno

O que de ansiedade
Generalizada
É caracterizada
do Pânico
A pessoa tem
a sensação de

ela é
E x i s t e m v á-
pela preocupação prolongada e
incontrolável com situações da
vida (família, trabalho, fnanças,
saúde, etc). Estudos mostram
rios tipos de que, em geral, pessoas com esse
ansiedade – com transtorno têm a amígdala maior;
característi- é possível que a maior atividade
cas e sintomas dessa região cerebral, ligada ao
distintos. medo, seja responsável pelos
sintomas de ansiedade.
que está sendo sufocada
ou enfartando. São ataques
breves, mas muito intensos.
O problema está ligado à
hiperatividade da amígdala
– provavelmente causada por
baixos níveis de GABA (ácido
gama-aminobutírico), uma
espécie de sedativo natural
do sistema nervoso.

SI_399_Mat_Ansiedade.indd 30 15/01/19 18:02

 capa 10/ 12
social da Universidade de
Chicago. “O cérebro colo-
ca as pessoas em modo de
autopreservação quando
elas se veem sem prote-
ção ou assistência”, diz
Cacioppo. Você não está
sob ameaça de ser ex-
pulso do seu grupo so-
cial, mas o cérebro acha
que sim – e dispara o me-
canismo da ansiedade.
As redes sociais surgi-
ram como uma ferramenta
capaz de reconectar ami-
gos, familiares e colegas e
evitar que vínculos desa-
pareçam. Segundo Robin
Dunbar, a maioria das
pessoas com quem nos
relacionamos nos meios
eletônicos são conheci-
dos de nossa vida offline.
“As redes sociais permi-
tem reconstuir, ainda que
virtualmente, o tipo de
comunidade antga onde
todos conheciam uns aos
outos”, afirma o antopó-
logo. Mas essa reprodução
não é perfeita: o convívio
nas redes sociais não tem
a sincronicidade de uma
mesa de bar – mesmo
quando dois amigos ve-
em o mesmo vídeo, por
exemplo, cada um ri sozi-
nho. Além disso, as redes
sociais alimentam mais
uma fonte de ansiedade
TransTorno
de ansiedade
social O ansioso
tem muito medo de
ser julgado, humilhado ou fcar
envergonhado em situações
sociais – a ponto de evitá-las
completamente. Estudos consta-
taram que, quando essas pessoas
veem fotos de rostos, a atividade
de sua amígdala aumenta.
Ou seja: tudo o que elas vivem
em situações sociais acaba sendo
vinculado ao medo.
SI_399_Mat_Ansiedade.indd 31
da vida contemporânea:
o excesso de escolhas.
O paradoxo
da escolha
Nunca na história a hu-
manidade teve tantas
opções: desde cursos
universitários altamente
especializados até o fluxo
infinito de potenciais ma-
tches no Tinder. Em tese,
mais escolhas significam
mais liberdade, e mais
liberdade eleva o bem-
estar. Mas não foi isso o
que psicólogo americano
Barry Schwartz descobriu
em seus estdos. “Ela pro-
duz paralisia, em vez de li-
berdade”, afirma Schwartz,
autor do livro The Paradox
of Choice (“O paradoxo da
escolha”, ainda não lança-
do no Brasil). Com tantas
opções, fica difícil decidir
– o que gera ansiedade.
Além disso, quando
há muitas escolhas, as
pessoas acabam menos
satsfeitas com a decisão
que tomam. Isso pode ser
explicado por um concei-
to básico da economia: o
chamado “custo de opor-
tunidade”. O preço de
fazer uma escolha é abrir
mão de todas as alterna-
tvas. Isso vale para tdo:
de escolher um filme para
síndrome
do Pensamen-
To acelerado
É desencadeada
pela exposição a quantidades
excessivas de um ou mais es-
tímulos (atividades demais,
consumo exagerado de
informação, uso compulsivo de
celular e computador). Provoca
ansiedade, difculdade de con-
centração e lapsos de memória,
entre outros sintomas.
ver no Netflix a engatar
um relacionamento. Ao
nunca hou- optar por uma relação sé-
ve tantas ria com uma pessoa, você
opções de automatcamente deixa de
escolha,
em tudo lado todas as demais pes-
– desde soas mais ataentes, mais
cursos uni- divertdas e mais boas de
versitários cama que sempre estarão
até matches por aí. A existência de tan-
no Tinder.
e isso é tas alternatvas acaba ele-
ótimo. mas vando as expectatvas, e as
também dúvidas sobre se você fez
tem um a escolha certa. Resultado:
lado nega- mais ansiedade.
tivo: gera
ansiedade. Para piorar, as redes
sociais multplicaram as
opções. Celulares permi-
tem o acesso ininterrup-
to ao que outas pessoas
fazem de suas vidas. As
incontáveis atalizações
de Facebook, tweets, fotos
do Instagram, mensagens
de WhatsApp e Snapchat
mostam todos os acon-
tecimentos mais bacanas
que amigos escolheram
compartilhar. Por um
lado, isso é bacana. Fica-
mos sabendo que pessoas
de quem gostamos estão
vivendo bem. Por outo,
isso taz desconforto: ca-
dê você na foto? Será que
você está aproveitando
sua vida tão bem quan-
to os seus amigos? Com
as redes sociais, o medo
de ficar de fora ficou tão
comum que até recebeu
uma sigla: “FoMO”, de fear
of missing out.
O FoMO está direta-
mente relacionado ao ar-
rependimento, segundo o
psicólogo Dan Ariely, da
Universidade Duke. Toda
pessoa avalia com fre-
quência a própria felici-
dade. Para isso, não le-
vamos em conta apenas
nossa sitação atal, mas
também cenários alterna-
tvos – e as mídias sociais
estão repletas de mundos
paralelos em que poderí-
amos viver. Quando, em
00
comparação, concluímos
que estamos piores que os
outos, sentmos remorso,
como se a felicidade alheia
fosse nossa miséria. O fato
de as atalizações serem
em tempo real faz com
que o sentmento seja ain-
da mais intenso. O FoMO
surge, então, como uma
estatégia de antecipação
de uma ameaça futra –
ficar de fora. “Ele é como
um seguro”, diz Ariely.
“Ficamos checando, che-
cando, checando [as redes],
para evitar um arrependi-
mento futro.”
As redes sociais geram
ansiedade não só porque
mostam constantemen-
te tudo o que você está
perdendo, mas também
porque alteram a imagem
que as pessoas fazem de
si próprias. É que as redes
servem como megafone
para as realizações e lu-
pa para as inseguranças.
De um lado, os usuários
empenham-se em formar
uma imagem desejável de
si, com imagens selecio-
nadas de seus melhores
momentos, textões lacra-
dores e relatos de grandes
conquistas. Mas quem lê
esses posts, do outo lado,
são pessoas reais, repletas
de inseguranças. Com o
contaste ente o que os
outros buscam parecer
e aquilo que nós acredi-
tamos ser, acabamos cal-
culando o nosso próprio
valor de forma distorcida.
É o que afirma uma pes-
quisa da Royal Society
for Public Health, na In-
glaterra, que foi realizada
com 1.479 jovens entre
14 e 24 anos para medir
o impacto das redes so-
ciais sobre a saúde men-
tal. “As expectatvas irre-
alistas estabelecidas pelas
mídias sociais deixam
jovens com sentmentos
-
15/01/19 18:02
 capa 11/ 12
de insegurança, baixa
autoestima e busca de
perfeccionismo, que po-
dem se manifestar como
tanstorno de ansiedade”,
concluiu a pesquisa. Nela,
os entevistados avaliaram
o impacto de cinco mídias
sobre a saúde e o bem- es-
tar. Usuários relataram que
Instagram, Snapchat, Fa-
cebook e Twitter tnham
impacto negativo sobre
ansiedade, depressão, so-
lidão, falta de sono, ima-
gem do corpo, bullying e
FoMO. Das plataformas
avaliadas, o YouTube foi
a única a produzir um
impacto positvo.
Embora seja apenas
uma pesquisa de opinião,
o resultado encontra
respaldo em um núme-
ro crescente de estudos
científicos. Um estdo da
Universidade de Glasgow
identificou que os ado-
lescentes que mais usam
mídia social dormem pior,
têm autoestma mais baixa
e níveis mais altos de an-
siedade e depressão.
Pensamento
acelerado
O excesso de informação
a que estamos expostos
tem acelerado a velocida-
de com que constuímos
nossos pensamentos. Es-
sa hiperconstução é tão
intensa que, quando não
conseguimos gerenciá-la,
acabamos tansformando
nossa ansiedade positva
naquela negatva, que nos
asfixia. Sofremos desgas-
te mental, com conse-
quências para o futuro
profissional, emocional e
social. É o que o psiquia-
ta Augusto Cury, autor
de vários best-sellers,
batzou de Síndrome do
SI_399_Mat_Ansiedade.indd 32
Pensamento Acelerado
(SPA). “Qualquer leigo
sabe que uma máquina
não pode trabalhar em
alta rotação continua-
mente, pois corre risco de
aumentar sua temperatra
e fundir suas peças. Mas
é quase inacreditável que
nós não tenhamos a mí-
nima consciência de que
pensar exageradamente e
sem nenhum autoconto-
le é uma fonte de esgota-
mento mental”, escreve
Cury no livro Ansiedade:
como enfrentar o mal do
século (Editora Benvirá,
2017). Ele continua: “A
aceleração do pensamen-
to, mesmo se seu conteú-
do for positvo, gera um
desgaste cerebral intenso,
produzindo ansiedade.
Não precisamos ter tdo
uma infância doente para
sermos adultos ansiosos;
basta uma mente hipera-
celerada”, afirma.
Praticamente todo
mundo já acordou cansado
porque gastou muita ener-
gia se preocupando duran-
te a noite. Teve sintomas
físicos porque o cérebro,
quando fica exaurido, en-
via alertas como dores de
cabeça e nos músculos.
Todo mundo já ficou mais
esquecido, porque, quan-
do não sabemos gerenciar A ansiedade
surgiu como
nossos pensamentos, o
cérebro bloqueia certos
elementos da memória.
“Uma pessoa muito es- comido por
tessada e com SPA pode predadores.
gastar mais energia do que
dez tabalhadores braçais”,
diz Cury. “Sábio é quem
faz muito gastando pouca
energia.”
Vivemos distantes de
nosso habitat natral, em
cidades impessoais e vio-
lentas, bombardeados por
informações e conectados
por redes sociais muitas
vezes nocivas. Tudo isso
nos taz ansiedade. Mas,
para a psicóloga Kelly Mc-
Gonial, autora de O Lado
Bom do Estresse (Editora
Réptl, 2012), não devemos
enxergá-la sempre como
inimiga. A exposição crô-
nica a situações estres-
santes derruba o sistema
imunológico e predispõe a
doenças cardiovasculares.
Por outo lado, a resposta
do organismo ao estesse
libera ocitocina, hormônio
que estmula os instntos
sociais – e nos faz buscar
apoio das pessoas com
quem nos importamos.
“Quando a vida fica difí-
cil, a resposta biológica ao
estesse incentva você a
contar a alguém como se
sente, em vez de guardar
isso para si”, diz McGonial.
O estesse pode nos tornar
mais sociáveis.
E é importante respon-
um meca-
der a esse chamado do cor-
nismo para po. O apoio alheio, quando
evitar ser acontece, aumenta ainda
mais a carga de ocitoci-
na. E ela taz benefícios
No mundo
moderno,
físicos. Ajuda a relaxar os
eles não vasos sanguíneos e rege-
existem. nerar células cardíacas da-
Mas a nificadas. Torna a resposta
mente cria ao estesse mais saudável,
outras
fontes de
e você se recupera mais ra-
apreensão, pidamente. “Ao longo de
como o uma vida estessante”, diz
trabalho. McGonial, “essa mudança
0
0
poderia fazer a diferença
ente ter um ataque cardí-
aco aos 50 anos ou viver
bem até os 90.”
Isso não é mera hipó-
tese. Pesquisadores da
Universidade de Buffalo,
no Estado de Nova York,
perguntaram a quase 850
voluntários o nível de
estesse que haviam en-
frentado no ano anterior e
quanto tempo dedicaram
a ajudar pessoas. Passados
cinco anos, descobriram
que o risco de morte era
30% maior ente os mais
estressados. Mas havia
uma exceção. Os indiví-
duos que passavam por
muito estesse, mas aju-
davam outas pessoas, não
apresentaram aumento de
risco. Sim: ajudar faz tão
bem quanto ser ajudado.
Não há como fugir
da ansiedade. Ela é uma
adaptação evolutva que
permanecerá em nossos
genes, independentemente
da prosperidade e da se-
gurança da sociedade em
que vivermos. Contnuará
nos ajudando a sobreviver
– e, ao mesmo tempo, en-
xergar ameaças onde elas
não existem. Mas é possí-
vel compensar seus efei-
tos negatvos. A chave é
nos aproximar das outas
pessoas, pedindo ou ofere-
cendo apoio. Mais do que
de Rivotril, precisamos
viver juntos. S
15/01/19 18:02
 capa 12/ 12

0
0
de pessoas
sofrem de
transtorno
de ansiedade
no Brasil.

SI_399_Mat_Ansiedade.indd 33 15/01/19 18:02

 superinteressante 1/6

0
0
QUÍMICA

OCH 3

OH

N
H

N
C

5
O

Ciência dos aromas: os segredos

SI_399_Aromas.indd 34 16/01/19 17:42

 QUímica 2/6

0
0
por ás do gosto da sua comida

Entenda como Texto Ana Carolina Leonardi

Ilustração Marcus Penna
o seu paladar Design Estudio Nono
nciona.
E conheça as
novas técnicas
da indúsia
dos sabores 1
H
arficiais para
sasfazê-lo. 6
C

5
O

CHO

OCH 3

OH

SI_399_Aromas.indd 35 16/01/19 17:42

 QUímica 3/6

E
ExistE coisa mais nostálgica do que uma bala
de cinamaldeído? E mais irritante do que ter o nariz
invadido pelos terpenos de alguém que decidiu abrir
sua sobremesa nas proximidades?
Não vai ser necessário entender de química orgâ-
nica para contnuar a leitra. Basta saber que ela está
por todos os lados. Quem nunca chupou uma bala de
canela, ou descascou uma tangerina cujo cheiro era
capaz de empestear até o maior dos latfúndios?
Todo mundo sabe que comida tem sabor, e que esse
sabor vem dos ingredientes dela – não só de ingredien-
tes de receitas (2 xícaras de farinha, 3 ovos...), mas da
própria estutra química que compõe tdo aquilo que
você está ingerindo. Uma mordida numa maçã libera
nada menos que 130 compostos orgânicos na sua boca.
No mel, são mais de 200. O café é um exemplo ainda
mais brutal: são 1.500 estutras diferentes.
A ciência define “sabor” como uma mistra do que
é detectado pelos receptores básicos de gosto e textra
na boca, somados às informações que o cérebro recebe
do nariz. Sim: sem o olfato, as estelas Michelin dos
mais premiados chefs não sobreviveriam.
Os compostos químicos que dão identdade a prat-
camente qualquer sabor conhecido são chamados de
“voláteis”. Eles libertam-se na boca, por mastgação e
interação com a saliva, e viajam até a sua cavidade re-
tonasal. Não fosse pelos receptores que ficam atás do
seu nariz, não existria sabor – ou melhor, tdo ficaria
um tanto igual. O gosto doce, por exemplo, é percebido
primeiro na língua. Mas é só essa informação que ela
regista: “doce”. Mel, caramelo, chocolate? Tudo a mesma
coisa. Seria impossível até mesmo diferenciar um feijão
de uma ervilha. É só pensar em como qualquer comida
fica sem graça quando estamos com o nariz entpido.
0
0
Na virada do século 20, quando o estdo da quí-
mica por tás dos alimentos começou a ganhar corpo,
surgiram os primeiros aromas sintétcos: tentatvas
de imitar, em laboratório, os voláteis mais marcantes
no sabor e no odor dos alimentos. É provável que os
primeiros aromas não natrais tenham surgido por
acidente, com reações químicas que perfumavam o
laboratório de cientstas com cheiros de frutas e flo-
res toda vez que eles produziam compostos chama-
dos ésteres e aldeídos – cadeias de carbono ligadas
a moléculas de oxigênio e hidrogênio. Não demorou
para que alguém visse nesses cheirosos acidentes uma
oportnidade de negócio e começasse a obter aquelas
reações de propósito, a partr de derivados de petóleo.
Nascia a profissão do aromista: o especialista em
criar aromas (ou flavours, em inglês, termo que remete
mais ao sabor em geral do que apenas ao cheiro). Eles
alteram e intensificam o gosto de bases alimentares, de
doces como biscoitos, gelatnas e chicletes e iogurte,
a salgados como carnes – existe até o aroma sintétco
de fumaça para promover sabores defumados.
O aumento no consumo de alimentos processa-
dos, que precisavam manter o mesmo gosto e frescor →
Perfil É o nome dado a todas as
orgAno- sensações, somadas, que você
léPtico percebe ao colocar algo na boca.
Voláteis
Detectados na cavidade retro-
nasal, dão estrutura e nuances
à nossa experiÍncia de sabor.
Amargo
Mais de 35 proteínas nas
papílas gustativas denunciam
o sabor amargo.
Doce
Os receptores de doces são
ativados por sacarídeos que se
encaixem perfeitamente neles.
Azedo
De ácidos como o do suco de
limão, se desprendem íons de
hidrogÍnio, que sinalizam o
gosto azedo.
Salgado
Íons de sódio, em contato
com a saliva, sinalizam o
gosto de sal às papilas.

SI_399_Aromas.indd 36 15/01/19 22:37

 QUímica 4/6

0
0
DIFER ENT ES
“ MOR A NGOS ”

O autêntico
Para ser realista,
um aroma de
morango deve
conter não só
polpa, mas notas
ácidas das folhas
e das sementes.

O infantil O caramelizado
Produtos voltados Uma geleia precisa
para crianças somar o aroma
têm aromas mais do morango ao
distantes do real, do açúcar cara-
baseados nos vo- melizado, para se
láteis do morango aproximar do aro-
maduro, vermelhi- ma de cozimento
nho e tão docinho da geleia caseira.
quanto possível.

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Menos gordura
Aromas de pêssego,
manga e leite remetem
à impressão de boca
cheia – o que faz deles
bons candidatos para
substituir a sensação
da gordura na boca.

AROMAS
“FANTASMAS”

Menos açúcar
Nada restitui a tex-
tura do açúcar em
um biscoito ou io-
gurte, mas aromas
de leite, baunilha
e mel ajudam a
reconstruir o sabor
doce e complexo
sem o prejuízo
das calorias.

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 QUímica 6/6
após longos períodos de tansporte e estoque, ajudou
a indústia de aromas a se estabelecer. Mas um dos
pontos-chave para a profissão foi a invenção, na dé-
cada de 1950, das primeiras máquinas comerciais de
cromatografia gasosa. Pela primeira vez, era possível
simular o que acontece na boca e no nariz: “alimenta-
vam” a máquina com pequenas doses de um produto e
viam seus compostos aromátcos separados por meio
de um gás neuto. Isso permitu que cada estutra
fosse isolada das demais.
Um aroma artficial já não precisava imitar a na-
treza por meio de tentatva e erro: o aromista podia
separar seus “ingredientes”, provar combinações e
decidir quais mistras reproduziam de forma mais
agradável o sabor que ele pretendia dar à comida.
Encontar o aroma mais equilibrado, adequado e
economicamente viável em meio a mais 3 mil ingre-
dientes e fórmulas químicas exige bastante pesquisa,
claro – motvo pelo qual as casas de aromas que do-
minam o mercado colecionam segredos industiais e
fórmulas confidenciais. Apenas quato empresas – duas
suíças, Givaudan e Firmenich, a americana IFF e a
alemã Symrise – produzem mais de 60% dos aromas
presentes na comida que você compra.
Linha de montagem
Marcel Miasiro Silva, aromista sênior da Firmenich,
conversou com a SUPER e forneceu vislumbres sobre
a lógica de produção de um aroma.
Eles são, tadicionalmente, divididos em dois grupos:
os aromas natrais e os sintétcos. Os natrais não preci-
sam vir totalmente prontos da natreza. Vale fermentar,
destlar, concentar óleo. Só não pode tansformar o
ingrediente com reações químicas em laboratório.
O extato de baunilha, por exemplo, é obtdo a partr
da fava seca da flor de uma orquídea. Mas só 2% de uma
fava natral pode ser convertda em extato. Acontece
que uma única molécula é a principal responsável pelo
aroma característco da baunilha: a vanilina.
E ela é facilmente produzida em laboratório. A partr
do cravo-da-índia, isola-se uma substância chamada
eugenol. Oxidado, ele se torna vanilina, a baunilha
sintétca. Sintétca. Mas não exatamente “artficial”.
Essa classificação vale só para a produção de moléculas
impossíveis de encontar na natreza.
É o caso da etlvanilina, uma criação 100% huma-
na. Ela dá gosto de baunilha por um terço do preço
da vanilina – o que explica por que você enconta, a
cada esquina, um sorvete de casquinha de baunilha...
a preço de banana. “É por isso que a fava de baunilha
comprada no supermercado fica na faixa de R$ 45, e a
essência de baunilha no vidrinho é muito mais barata”,
lembra Marcel. Mas não basta um único ingrediente
para fazer o tabalho. Um composto isolado sempre
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taz uma experiência sensorial mais linear e menos
complexa do que um extato totalmente natral.
O aromista, então, precisa criar camadas com a sua
matéria-prima. “Um bom aroma de melancia não pode
ser feito só de matérias-primas presentes na polpa. A
fruta cresce fechadinha, e seus aromas concentam
aspectos de cada um dos seus elementos: polpa, semen-
tes, casca. Um aroma autêntco precisa ter tdo isso.”
Modulação de sabor
Manipular “camadas” de aromas exige que o aromis-
ta entenda muito bem os thresholds – concentações
mínimas e máximas para o uso de cada aroma. “Você
começa com um ingrediente, e uma solução de água
com açúcar. Vai pingando e provando, até começar a
sentr o efeito do aroma na água. Esse é o threshold
mínimo dessa substância”, explica Marcel.
Certas matérias-primas têm thresholds baixíssimos.
Uma só gota de concentado de pimentão saboriza um
volume de água equivalente a cinco piscinas olímpicas
inteiras. Já aromas com intensidade excessiva podem
estagar tdo. O endol, em pequena quantdade, tem
um perfume floral de jasmim. Acima da concentação
ideal, cheira a estábulo – um misto de fezes e urina.
Se concentações altas demais produzem efeitos
tagicômicos, saber manipular as concentações mí-
nimas também é útl – especialmente em uma nova
área na indústia: a modulação de sabores.
Sabe quando lançam uma versão zero açúcar ou zero
gordura de algum iogurte grego? Então. O fabricante
busca na indústia de aromas uma forma de recuperar
o sabor jogado fora junto com as calorias.
Dá para fazer isso tabalhando com aromas abaixo
do threshold mínimo. Em um iogurte sem açúcar, por
exemplo, é possível usar o aroma de mel, mas abaixo
da concentação necessária para que ele seja perceptível
como mel. “Posso combinar uma série de aromas doces
para formar um perfil doce, encorpado, mas sem dar
o gosto desses ingredientes todos no produto final.”
O caso da gordura é ainda mais surpreendente. Afi-
nal, a ausência dela muda drastcamente a textra do
produto. Mesmo assim, aromas de laboratório ajudam
a recompor essa experiência tidimensional.
“Imagine todo o universo de alimentos que dão a
sensação de ‘encher a boca’. Manga, pêssego, manteiga.
Usamos aromas ligados a essas matérias-primas – sem-
pre abaixo da concentação mínima – para promover
a mesma sensação tátl”, conclui. Por mais rebuscada
que seja a ilusão, porém, é claro que a experiência
de comer um iogurte integral – ou qualquer outo
alimento saboroso – segue impossível de reproduzir
por completo. Afinal, o seu paladar, que evoluiu por
milênios, não vai ceder tão fácil à alquimia dos aro-
mistas. Pelo menos, por enquanto. S
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 superinteressante 1/6

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saúde

O enigma da

ANES
TESIA Reportagem Eduardo Szklarz
Ilustração Francisco Martins
Design Estudio Nono
Edição Bruno Garattoni
Ela faz você apagar no
ato, como se desligasse
o seu cérebro. Mas até
hoje a ciência não sabe
ao certo como a anestesia
geral fnciona. Duas
experiências sugerem
uma resposta intigante:
talvez o paciente fque
acordado o tempo todo
– e não se lembre disso.

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 Saúde 2/6

0
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 Saúde 3/6
ian Russell não
i
era um anestesista
qualquer. Além de
tabalhar em partos
e cirurgias no hospi-
tal público de Hull,
uma cidade portária
quato horas ao norte de Londres, tam-
bém escrevia artgos científicos sobre
o tema. Já tnha publicado mais de 20,
todos bem técnicos (como “Analgesia
subaracnoide em cesarianas”). Até que,
em 1993, resolveu tentar algo menos
ortodoxo. Monitorar 32 mulheres, na
mesa de cirurgia, para tentar respon-
der à seguinte pergunta: quando uma
pessoa toma anestesia geral, ela perde
a consciência? É óbvio que sim, você
dirá. Afinal, a anestesia – que tem ação
sedatva, analgésica e relaxante mus-
cular – faz qualquer pessoa apagar em
segundos. Mas Russell, do alto de sua
experiência, suspeitava que não fosse
bem assim. E criou uma experiência
insólita para tentar descobrir.
Antes de cada cirurgia, ele colocou um
manguito (medidor) de pressão arterial,
bem apertado, no antebraço direito da
paciente. O instumento servia como um
torniquete, impedindo o fluxo de sangue
– e evitando que o relaxante muscular
chegasse à mão da mulher. O objetvo
era preservar os movimentos da mão
(você já vai entender o porquê disso). Em
seguida, a mulher recebia a anestesia ge-
ral, apagava, e os médicos começavam a
cirurgia. Russell punha fones de ouvido
na paciente, e tocava uma mensagem que
ele havia gravado numa fita cassete. “Se
você consegue me ouvir, abra e feche os
dedos da sua mão direita.”
O plano era o seguinte. Se a mulher
mexesse a mão, Russell traria o fone e
lhe diria ao ouvido: “se você puder me
ouvir, aperte meu dedo”. Se a paciente
fizesse isso, ele lhe pediria que aper-
tasse seu dedo de novo caso estvesse
sentndo dor. E aí, se a paciente fizesse
esse último gesto, ele lhe daria mais
você dorme, mas seu cérebro continua
parcialmente ativo – e, mesmo sob
anestesia geral, pode ouvir sons
e até memorizar instruções.
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sedatvo para que ela voltasse a dormir.
O resultado foi impressionante. 70%
das mulheres apertaram o dedo de Ian,
ou seja, estavam conscientes mesmo
sob anestesia geral. E 62% indicaram
que estavam sentndo dor. Depois de
acordar, nenhuma delas se lembrou de
nada. Mas Russell ficou tão abalado que
interrompeu o estdo no meio (a meta
era testar 60 pacientes).
“A definição de anestesia geral inclui
inconsciência e ausência de dor durante
a operação – fatores não assegurados
por esta técnica”, escreveu. Para ele,
o procedimento nem sequer deveria
ter esse nome; seria melhor chamá-
-lo de “amnésia geral”. Russell conta a
história no livro Anesthesia: The Gift of
Oblivion and the Mystery of Consciousness
(“Anestesia: o dom do esquecimento e
o mistério da consciência”, sem versão
em portguês), da austaliana Kate Co-
le-Adams. E esse caso não é o único.
Nas últmas décadas, outos cientstas
observaram fenômenos similares – e
ainda mais intigantes.
Num estdo de 1985, o psicólogo
Henry Bennett, da Universidade da
California, colocou fones de ouvido
em pessoas sob anestesia geral, du-
rante operações de vesícula e coluna.
Elas foram divididas em dois gru-
pos. Metade ouviu, pelos fones, sons
típicos de sala de cirurgia. A outa,
uma mensagem gravada por Bennett:
“Quando eu vier conversar com vo-
cê daqui a alguns dias, você vai pu-
xar sua orelha”. Alguns dias depois,
Bennett foi conversar com os pacien-
tes. Eles não se lembravam de nada
– mas quem tnha ouvido a mensa-
gem deu seis puxadinhas na orelha,
em média (as outas pessoas, no má-
ximo, uma vez).
Em 1993, cientstas da Universidade
Ludwig-Maximilians, na Alemanha, co-
locaram fones de ouvido em 30 pacientes
de cirurgia cardíaca. Quando as pesso-
as estavam inconscientes, sob anestesia
00
geral, os fones tocavam um resumo do
clássico Robinson Crusoé, bem como a
seguinte instução: “Quando você for
perguntado sobre a palavra ‘sexta-feira’,
vai mencionar Robinson Crusoé”. Três dias
depois, nenhum deles se lembrava de
nada. Mas, ao ouvirem a palavra “sexta-
feira” – que é o nome de um personagem
da história –, sete pacientes a relaciona-
ram com Robinson Crusoé.
Há estdos mostando que, mesmo
sob doses normais de anestesia, mui-
tos pacientes ouvem e entendem o que
os médicos estão dizendo na mesa de
cirurgia. E, ainda que não se lembrem
de nada depois, alguns taços emocio-
nais desses episódios permanecem. É
a chamada “memória implícita” – um
tipo de memória que não podemos
acessar de forma consciente, mas que
de alguma maneira está em nossa mente
e pode provocar mudanças em nosso
comportamento. Ao contário da me-
mória explícita (que você se lembra de
ter), a memória implícita só pode ser
detectada em testes psicológicos.
Será, então, que os pacientes desses
estdos estavam parcialmente conscien-
tes durante a cirurgia? Pode ser. Ou
talvez algo mais assustador. “Eu diria
que muitos dos pacientes no estdo do
Robinson Crusoé estavam plenamente
conscientes durante a anestesia geral,
mas tveram amnésia posterior”, diz
Michael Wang, professor emérito de
psicologia clínica da Universidade de
Leicester, na Inglaterra, que há décadas
tabalha com pacientes que acordaram
durante operações. “É como acontece
quando usam drogas do tpo ‘boa noite,
Cinderela’, ou quando alguém fica muito
bêbado. No dia seguinte, essas pesso-
as não têm memória do que ocorreu,
mas isso não significa que estvessem
inconscientes”, afirma Wang.
Trata-se de uma tese polêmica, longe
de ser comprovada. Mas os pesquisado-
res concordam num ponto: ainda não
sabemos exatamente como os anesté-
sicos gerais funcionam. Afinal, o que
essas drogas fazem conosco quando nos
mandam para o “andar de baixo”? De
que forma “desligam” nossa mente? Os
cientstas não têm todas as respostas,
mas algumas estão surgindo. Novos es-
tdos revelam o que acontece no nosso
cérebro quando estamos sob a ação desse
coquetel poderoso. Você não dorme; é
bem mais complexo que isso. -
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 Saúde 4/6

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0

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 Saúde 5/6
o propofol (anestésico que matou
o cantor michael jackson) provoca
um engarrafamento elétrico que pode
afetar todos os 100 trilhões de sinapses.
Do alívio ao nocaute
Ao longo da história, os médicos ten-
taram de tudo para evitar a dor dos
pacientes. Apertaram nervos, pressio-
naram artérias, usaram ópio, álcool, hip-
nose, acupuntra, extatos de plantas...
Cirurgias só eram feitas em últmo caso,
pois tnham risco de morte elevado e
causavam sofrimento brutal. Imagine
amputar um braço sem anestesia; era
preferível morrer. Isso só começou a
mudar em 1772, quando o químico in-
glês Joseph Priestley descobriu o óxi-
do nitoso. O gás relaxava o paciente
e produzia uma incontolável vontade
de rir – daí o nome “gás hilariante”. No
século 19, o físico inglês Michael Fa-
raday viu que o éter tnha um efeito
similar, e os dentstas passaram a usar
esse gás para extair dentes. Em 1841,
o médico americano Crawford Long
realizou a primeira cirurgia usando éter
como anestésico geral. Long retrou
dois tmores da nuca de um paciente
– que apagou e não sentu nada.
Mas quem levou a fama como o “pai”
da anestesia geral foi o dentsta america-
no William Morton. Em 1846, ele aplicou
éter ao jovem Gilbert Abbott com um
inalador de vidro, fazendo-o dormir
calmamente enquanto o cirurgião John
Collins Warren retrava um tmor de
seu maxilar. A demonstação foi feita
no Hospital Geral de Massachusetts, em
Boston, e virou manchete. No mesmo
ano, o médico americano Oliver Holmes
se apropriou do termo grego anaesthesia
para descrever aquele efeito mágico do
éter de “tornar insensível” o paciente.
A anestesia geral é um procedimento
altamente seguro, e que evoluiu muito
de algumas décadas para cá. “Nos últ-
mos 20 anos, a taxa de mortalidade de
causa anestésica caiu dez vezes, sendo
agora de 1 para cada 100.000 casos”,
diz Sérgio Logar, presidente da Socie-
dade Brasileira de Anestesiologia. Isso
é resultado da melhora na qualidade
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das drogas, do monitoramento e da
formação dos profissionais (além da
faculdade de medicina, o anestesiolo-
gista faz mais tês anos de especializa-
ção), além de medidas que minimizam
a chance de falhas no equipamento e
erros humanos. “Nas últmas décadas, a
evolução na segurança da anestesia foi
comparável ao progresso na segurança
da aviação”, diz Logar.
Anestesia funciona, e bem. Mas só
recentemente a ciência começou a des-
cobrir como funciona. “A anestesia geral
é muito diferente do sono. Ela tem mais
semelhanças com o estado de coma”, diz
a neurocientsta Laura Lewis, do MIT. De
fato, a anestesia geral busca vários ob-
jetvos simultâneos: que a pessoa fique
inconsciente, que não se mexa, não sinta
dor e nem tenha respostas fisiológicas à
dor, como hipertensão e taquicardia. E,
finalmente, que não se lembre de nada.
Os anestésicos fazem isso. Mas como?
As primeiras pistas vieram nos anos
1980, quando os cientstas Nick Franks
e William Lieb, da Imperial College de
Londres, descobriram que as moléculas
desses remédios se ligam aos receptores
de GABA (ácido gama-aminobutírico)
no cérebro. Essa substância é produzi-
da natralmente pelo organismo, e sua
função é frear a comunicação ente os
neurônios (que, em excesso, pode cau-
sar convulsões e ataques epiléticos).
O álcool também se liga aos receptores
de GABA, e por isso causa torpor – um
estado mais profundo do que o sono.
Se você estver dormindo, certamente
acordará se alguém cortar sua pele com
um bistri. Já uma pessoa muito bêbada
pode até ser operada sem anestesia, e
mesmo assim não despertar. O álcool
e os anestésicos funcionam como uma
espécie de GABA artficial, mais potente,
e por isso nos fazem apagar. Mas isso
não explica tdo. Há algo a mais.
O enigma só começou a ser des-
vendado em janeiro de 2017, quando
pesquisadores da Universidade de
00
Queensland, na Austália, publicaram
um estdo sobre o propofol, um dos
anestésicos mais usados atalmente (e
que, numa dose letal, matou o cantor
Michael Jackson). Os cientstas desco-
briram que esse remédio restinge a
mobilidade de uma proteína chamada
sintaxina 1A. “A proteína parece ficar
presa num ‘engarrafamento’ dento das
sinapses [extemidades dos neurônios]”,
diz o neurologista Bruno van Swinde-
ren, líder do estdo. Com isso, haveria
ainda menos descarga de neurotans-
missores e, portanto, menos comuni-
cação ente os neurônios.
Todos os neurônios dependem da sin-
taxina 1A para se comunicar. Por isso, os
cientstas suspeitam que esse conges-
tonamento aconteça no cérebro inteiro,
afetando até 100 tilhões de sinapses
(são cerca de mil delas por neurônio).
Mas não para aí. Estdos recentes
provaram que os anestésicos também
dificultam a ação da cinesina, uma pro-
teína essencial para o funcionamento
dos neurônios, e inibem a produção de
uma enzima chamada Complexo I – que
é vital para a produção de energia nas
mitocôndrias, dento das células. Todas
essas descobertas têm ampliado o foco
dos cientstas.
“A anestesia geral não produz in-
consciência só tornando os neurônios
menos atvos. Ela pode quebrar as cone-
xões ente várias regiões cerebrais”, diz
Laura Lewis, do MIT. Isso pode ajudar a
explicar aqueles casos impressionantes,
sobre os quais falamos no começo desta
reportagem, em que a pessoa mantém
algum nível de consciência enquanto
está anestesiada. Uma possibilidade é
que o neocórtex, região cerebral ligada
à consciência, contnue funcionando em
algum grau – e o hipocampo (área que
coordena a formação de memórias) não
consiga monitorar sua atvidade. Mas
isso ainda é mera especulação.
A anestesia geral só será plena-
mente desvendada quando a ciência
resolver o maior mistério de todos: o
que é a consciência. Somente enten-
dendo isso poderemos saber como
tilhões de sinapses podem se desligar
na mesa de cirurgia e depois voltar a
funcionar perfeitamente, sem sequelas.
E por que, em muitos de nós, algo con-
tnua ligado – mesmo que não nos lem-
bremos de nada depois. S
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 Saúde 6/6

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FÍSICA

O TELE
46 SUPER JUNHO 2017

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 FÍsica 2/8

SCÓPIO 0
0

de gelo

Conheça o IceCube: o detector de partícu-

las-fantasma que fica encravado no Polo
Sul e está revolucionando a as
onomia.
Texto Bruno Vaiano
Ilustração Gustavo Rodrigues
Design Yasmin Ayumi
Edição Alexandre Versignassi

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E 0
0
QUER OS NEUTRINOS SE
CHOCAM com outras

BRINCAR partículas dentro do

gelo – gerando a radia-

NA NEVE?
ção Cherenkov que é
detectada pelo IceCube.

E M 1990, o físico belga apuros: a lista de coisas ali, por mo’vos que você
Francis Halzen recebeu que você não pode fazer entenderá nas próximas
uma ligação em seu escri- na Antár’da é maior que páginas, bastaria usar
tório na Universidade de a de um convento. Desde sensores de luz. Low-
Wisconsin–Madison, nos 1959, o con’nente gelado der e Westphal amaram
EUA. Do ouo lado da li- é protegido por seis a- a sugestão. Amaram tan-
nha estava um dos direto- tados internacionais rígi- to que aproveitaram uma
res da Fundação Nacional dos – que, entre outras viagem de pesquisa mar-
de Ciências (NSF, na sigla coisas, impedem testes cada para o con’nente
em inglês). Gente impor- com finalidade militar e gelado para testá-la na

750
tante. “Eu não sabia, na impõem condições bem prá’ca, sem pedir auto-
1.450 m

época, quem era o sujei- severas para cientistas rização a ninguém.

to. Mas ele estava bem civis, de modo a evitar Vinte anos depois, o
irritado”, contou Halzen agédias ambientais. mil litros de sonho clandestino se
à SUPER. “Ele me disse Acontece que Halzen gelo foram tornou realidade. Em
derretidos
que dois jovens cien’stas, não era o mandante. Pelo para cavar 2010, após seis anos de
que par’cipavam de um menos não de propósi- cada um dos consução, foi inaugura-
experimento na Antár’- to. Os dois rapazes, cha- 86 buracos do no Polo Sul o IceCube.
da, haviam sido flagrados mados Doug Lowder e de 2.450 Ele é uma versão gigan-
consuindo sensores de Andy Westphal, haviam metros. te e 100% autorizada do
luz. Que eles pretendiam assis’do, em 1989, a uma experimento que Lowder
colocá-los em buracos no palesa de Halzen sobre e Westphal tentaram im-
gelo. E que, quando per- partículas infinitesimais, provisar. Um bloco de
guntaram de quem era quase impossíveis de de- gelo de 2,5 km de pro-
essa ideia absurda, todo tectar, chamadas neui- fundidade dedicado ex-
mundo disse que era do nos. Ao final da fala, clusivamente a detectar
tal Halzen – no caso, eu.” Halzen especulou que o neuinos usando senso-
2.450 m

Caso a dupla es’ves- gelo da Antár’da seria res de luz. Neuinos são
se de fato a serviço de um ó’mo lugar para de- emitidos por todo tipo
Halzen, ele estaria em tectar os tais neuinos: de fenômeno cósmico, e

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 FÍsica 4/8

0
0
ESTE AQUI É O
PRÉDIO DA PÁGINA a observação deles ajuda partículas. Elas são, ao to-
ANTERIOR.
a decifrar enigmas cós- do, 17. Algumas são bem
micos. Vamos entender, familiares para você: os
então, o que são neui- eléons que correm na
nos, por que eles estão na rede eléica da sua ca-
vanguarda da ciência, e sa, por exemplo. Ou os
o que torna a Antárda fótons, as partículas da
ideal para esdá-los. radiação eleomagnéca.
Sem fótons, não há luz
Prazer, neuino nem rádio, nem TV, nem
Você é feito de átomos. telefone, nem 3G.
Átomos de hidrogênio, Há uma teoria cha-
oxigênio, carbono. Esses mada Modelo Padrão
átomos, por sua vez, têm que descreve essas 17
um núcleo que consiste partículas fundamentais
5.160 em prótons e nêuons. – e as forças igualmente
DETECTORES DE LUZ
( VEJA NA PÁG. 51 ) E esses prótons e nêu- fundamentais que regem
ons são feitos de par- a interação ene elas. Es-
tículas ainda menores, os sa interação é o que vo-
1 quarks. Moral da história: cê chama de realidade.
O NEUTRINO ,
quando se choca um quark é algo menor Basicamente do o que
com uma molécula do que a menor coisa que você pode ver ou tocar
dentro da água, você é capaz de imaginar. pode ser explicado pelo
produz um esguicho É tão pequeno que nem Modelo Padrão.
de partículas
aceleradas.
pode ser subdividido. E é lá, num cannho
Há ouas partículas que meio desanimado do Mo-
2 gozam do mesmo stas delo Padrão, que ficam os
ESSAS PARTÍCULAS do quark – isto é, partí- neuinos. Ao conário
vão mais rápido que culas fundamentais, que dos quarks, elétrons e
a luz na água e emi- não são feitas de ouas fótons, os neuinos não →
tem um rastro de luz
chamado “radiação
Cherenkov”.

3
O ICECUBE, A PARTIR
da intensidade da ra-
diação Cherenkov em
FICHA TÉCNICA
cada detector, deduz
de que direção veio o DETECTORES DE LUZ NÚMERO DE CABOS
neutrino. É intuitivo,
veja abaixo: 5.160, são 60 por cabo 86

PROFUNDIDADE
NEUTRINO
2.450 m. Detectores a partir de 1.450 m.

RASTRO DE
15 12
300
RADIAÇÃO INSTITUIÇÕES PAÍSES
CHERENKOV

pessoas envolvidas
no IceCube. Só duas
ficam na Antártida.

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 FÍsica 5/8

0
0
têm função nenhuma perfeitos para um astô- buraco negro supermas- qualquer coisa que não
na vida. Passam batdo nomo. Como os neuti- sivo, que não teria sido seja o vácuo absoluto, ela
por tudo: uma parede nos raramente batem encontado de outa for- será forçada a ir ligeira-
de chumbo de 10 cm em alguma coisa, eles ma. Lindo. Só resta um mente mais devagar. Na
de espessura é capaz percorrem o Universo problema: se neutinos água, por exemplo, a luz
de proteger você dos em linha reta. Assim, são assim tão fantasma- alcança só 225 mil me-
resíduos radioatvos de
uma bomba nuclear, mas
quando um deles é de-
tectado pelo IceCube, 0,000 góricos, como o IceCube
faz para detectá-los?
tos por segundo – 75%
do total. E aí algo incrí-
você precisaria de dois
anos-luz de chumbo se
fica fácil determinar de
que ponto do céu ele veio 0000 Como detectar
vel se torna possível: ir
mais rápido que a luz.
quisesse impedir um
feixe de neutrinos de
– e, por tabela, qual foi
o asto que o produziu.
0000 neutinos
A velocidade da luz no
Quando uma partícula
quebra a barreira da luz
te atngir. Não que vo-
cê precise se proteger, é
Boa parte dos neutinos
que atngem a Terra são
0000 vácuo é de 300 mil qui-
lômetos por segundo (ou
(da mesma forma que um
avião quebra a barreira do
claro. Há 100 tilhões de
neutinos atavessando
feitos pelo Sol mesmo – e
alcançam energias mui-
0000 1,08 bilhão de quilôme-
tos por hora, numa nota-
som), ela gera um brilho
azulado meio macabro,
seu corpo neste exato
momento, e você não
to baixas. Volta e meia,
porém, chega aqui um
0000 ção mais familiar), e esse
é o limite de velocidade
que atende pelo nome
de radiação Cherenkov.
poderia dar menos bola
para eles. Eles não têm
neutrino com muito
mais energia, produzi-
0000 do Universo como um
todo. Nada pode ir mais
Você já deve estar
se perguntando o que
carga elética (por isso
não interagem com os
do por algum fenôme-
no cósmico violento
0000 rápido – nem carreira de
ex-BBB. Acontece que, se
neutinos têm a ver com
isso. Bem: às vezes, um
átomos do seu corpo). E
são extemamente leves.
e distante, como uma
supernova (a morte de
0000 a luz estver atavessando neutrino proveniente

A massa de um neuti-
no é 0,000000000000
uma estela de alta mas-
sa). Esses neutinos de
02 kg
é a massa
00000000000000000 alta energia funcionam de um
00000002 kg – todos os como notficações de Fa- neutrino.
neutinos que já ataves- cebook: é possível apon-
saram todas as pessoas tar os telescópios para o
que já viveram, somados, local de onde eles vieram
pesam 47 gramas. e tentar ver o que está
Essa neutralidade acontecendo. Às vezes, é
dos neutinos os torna algo bacana – como um

5160
DOMs, os
detectores
de luz,
fcam en-
terrados
no gelo em

.
interva-
los de 17
metos.

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 FÍsica 6/8

00
Luz dos Cada deteCtor de luz
contém um fotomultipli-
cador, que transforma a
meus luz recebida em corrente
elétrica, mais um com- do espaço, por aciden-
oLhos putador que manda os
dados para a superfície.
te, tomba com alguma
coisa – digamos, uma
molécula de H2O. É
algo raro, mas, como a
Terra é bombardeada por
uma quantdade absurda
de neutinos, uma hora
acontece. O resultado
dessa pancada é a libera-
ção de outas partículas
do Modelo Padrão, com
outos nomes engraça-
dos (como “múons”). Es-
sas partículas secundá-
rias geradas pela colisão
dispersam como bolas
de bilhar atngidas pelo
neutino – a bola bran-
ca. Dispersam tão rápido
que, se estverem mergu-
lhadas na água, ultapas-
sam a velocidade da luz
naquele meio e emitem
radiação Cherenkov.
E é aqui que entra o
IceCube. Ele não detec-
ta neutrinos – detecta
a radiação Cherenkov
gerada quando eles coli-
dem com as coisas. E é
por isso que, no começo
da reportagem, falamos
em sensores de luz. O
IceCube fica de olho em

0
emissões de radiação
Cherenkov usando 5.160
detectores de luz redon-
dinhos (chamados DOMs)
distibuídos como contas
de um colar ao longo de
86 cabos, em intervalos
de 17 metos. São 60 por
cabo. Esses cabos têm
2,5 km de comprimento
e ficam enfiados no lençol
de gelo da Antártda, na
vertcal (acredite – no Polo
Sul, a camada de gelo tem -

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 FÍsica 7/ 8

100.000.000
0
0
Os neutrinos também
Bônus tiram um raio x da Terra:
como o núcleo é mais

para a denso, chegam menos

neutrinos ao IceCube

geofísica dessa direção, permi-

tindo mapear melhor o
interior do planeta.

manto
superior

manto
inferior

núcleo
ex terno

núcleo
interno

neutrinos
bloqueados
pelo núcleo,
mais denso

icecube, na
antártida

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 FÍsica 8/8
neutinos
atavessam mais de 2,5 km de profundidade). Por
que precisa ser no gelo? Bem, gelo é
seu corpo água congelada, e a radiação Cherenkov,
você já sabe, só se manifesta na água.
a cada O IceCube tem o volume de 1 milhão
000.000
de piscinas olímpicas – uma para cada
segundo. habitante de Maceió. A Antártda é um
dos únicos lugares do mundo em que
há esse tanto de água doce limpa em
um lugar só, sob contole. Como neuti-
nos só muito raramente interagem com
qualquer coisa, é bom que o IceCube
seja bem grande – para captar o maior
número de interações possível.
Os computadores do IceCube con-
seguem calcular de que direção veio o
neutino pela maneira como a radiação
Cherenkov se espalha pelos detecto-
res – da mesma forma que um perito
consegue calcular de onde um assassino
fez um disparo pela maneira como o
projétl peneta na vítma. Você pode
ver essa cicatiz de luz com clareza no
infográfico da página 48. É assim que
dá para saber de que lugar no céu veio
o neutino – e aí acionar um telescó-
pio tadicional para descobrir o que,
exatamente, está acontecendo no céu.
Vários olhos, um céu
Francis Halzen me contou tdo isso
em um escritório vazio do Insttto de
Física (IF) da USP, no campus de São
Paulo. Quando ele entou e acendeu a
luz, a lousa estava cheia de operações
matemátcas cabeludas. “Se te consola,
eu também não faço a menor ideia do
que está escrito”, me disse ele rindo,
com um tapinha no ombro. Hoje, 30
anos após o caso na Antártda, Hal-
zen é chefe do IceCube, que envolve
300 cientstas de 12 países. Ele veio ao
Brasil em outbro de 2018 e passou a
quinta-feira em um teato no IF, con-
versando sobre carreira e ciência com
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00
universitários – um evento chamado
Colóquio Gleb Wataghin. Depois, deu
uma palesta sobre neutinos. Lotou.
O maior tunfo do IceCube, até agora,
foi detectar, em 22 de setembro de 2017,
um neutino de alta energia produzido
por um blazar chamado TXS 0506+056.
Um blazar é o seguinte: acredita-se que
toda galáxia espiral (isto é, em forma de
disco, como a Via Láctea) tenha, em seu
cento, um buraco negro supermassivo.
O buraco negro em si não emite nada –
pelo contário: por causa de sua atação
gravitacional intensa, ele retém tdo, até
a luz. Por isso, é impossível observá-lo.
O que dá para observar é outa coisa:
quando há uma porção de gás e poeira
sendo engolidos pelo buraco negro, eles
começam a girar como a água gira em
torno do ralo. Esse processo gera uma
dose inimaginável de energia – há bla-
zares que brilham com a intensidade
de tilhões de estelas.
Antes de 2017, suspeitava-se que
o TXS 0506+056 deveria existr, pois
havia um fluxo constante de partículas
de alta energia alcançando a Terra de
algum lugar. O problema era saber onde:
as partículas com carga elética, graças
à influência de campos magnétcos, se
desviam pelo caminho. Os neutinos
resolveram a questão: como andam
sempre em linha reta, sem interagir, eles
denunciaram com precisão a posição
do blazar no céu. Esse tpo de astono-
mia – que usa coisas como neutinos
e as famosas ondas gravitacionais para
complementar a atação de um telescó-
pio comum – é chamada “astonomia
de mensageiros múltplos”. E permite
entender o Universo de um jeito que
os telescópios, sozinhos, não conse-
guiriam. Muito bom para coisinhas
tão pequenas que quase não existem.
Às vezes, a melhor forma de chamar a
atenção é passar despercebido. S
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 superinteressante 1/4

0
0
sociedade

alienígenas
do passado
E do prEsEntE
A ufologia saiu de moda. Mas os “especia-
listas” na área seguem a todo vapor com sua
pseudociência – e agora tentam se promover
pegando carona na ciência real.

54 super fevereiro 2019

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0
0
“Se exis te a lgu m ter ra pla n ista n a
plat eia, p eç o qu e sa ia d a qu i a gora ”,
brincava Giorgios Tsou ka los, en qu a n to
discursava pa ra c en ten a s d e fã s em u m
auditório d a zon a n or te d e Sã o Pa u lo.
Edição Alexandre Versignassi
Ilustração Mauricio Planel

Ostentando um penteado um pouco qualquer ‡po de argumento racional,

Texto Guilherme Eler

menos rebelde que de cosme, o suíço ufólogos costumam tentar destronar

Design Yasmin Ayumi

veio ao Brasil no final de 2018 como uma
das aações internacionais de uma sé-
rie de enconos ufológicos. Dividindo
palco com o pioneiro e também suíço
Erich von Däniken, ele pretendia atar
de algo sério. Sua missão era provar mais
uma vez, a um público talvez tão certo
daquilo quanto ele próprio, que, sim,
os deuses culados por povos an‡gos
só podiam ser de ouo planeta. E que
acreditar nisso não era sinônimo de ne-
gar a ciência – ou, de forma ainda mais
absurda, duvidar do formato da Terra.
A fala inicial do convidado, que su-
‡lmente tentava ‡rar a busca por aliens
do balaio das teorias conspiratórias, era
do, menos despropositada. Isso por-
que, historicamente, a ufologia sempre
seguiu uma linha, digamos, alterna‡va,
para propor suas verdades. Semelhan-
temente àqueles que juram acreditar
em uma Terra achatada e dispensam
fatos já bem estabelecidos na história
da ciência – como se todos os cien‡stas
da história ‡vessem fechado um complô
para esconder algum segredo.
Não é exagero dizer que o responsável
por popularizar essa linha pensamento
foi o best-seller Eram os deuses Asonau-
tas?, publicado em 1968. Assinada por
Von Däniken, a obra lançava luz sobre
a inves‡gação de obras megalí‡cas e
sí‡os arqueológicos, defendendo que
olhar para as civilizações an‡gas implica
enconar artefatos, inscrições e técnicas
de abalho que não deveriam estar ali.
Seguindo essa lógica, a humanidade só
teria conseguido chegar aonde chegou
com uma mãozinha amiga dos aliens.
É o mesmo discurso que serve de base,
até hoje, à consagrada série de TV a ca-
bo Alienígenas do Passado, que eseou
em 2010 e revelou ao mundo Giorgios
Tsoukalos, seu apresentador. →

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 S0ciedade 3/4
“O discurso de que
as pirâmides do
Egito ou os moais da
Ilha de Páscoa foram
construídos por uma
tecnologia superior
também não cola
mais como antes.”
O problema é que não só os próprios
resquícios de aliens pareciam restitos
ao passado, como a própria ufologia
se tornou algo “do passado”. Décadas
atrás, aliens e OVNIs tinham tanto
apelo popular que papos sobre discos
voadores valiam até para almoço de
família. Não faltava quem dissesse já
ter visto alguma coisa. A moda, porém,
passou, e escancarou uma certa crise
de representatvidade.
Quando as ideias de Von Däniken
despontaram, era mais fácil acreditar
em testemunhos de quem dizia ter visto
naves alienígenas. Ninguém andava com
câmeras fotográficas na mão o tempo
todo. Jamais haveria a cobrança por uma
selfie com disco voador reluzente atás.
Hoje, que basicamente toda a popu-
lação mundial anda com uma filmadora
de alta resolução no bolso, um relato
precisa de boas imagens para soar le-
gítmo. E a humanidade segue tão sem
imagens críveis quando em 1970. Isso
desanima até os mais abertos à ideia de
que somos visitados o tempo todo por
seres de outos planetas.
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00
Marcas do que se foi
Foi por conta de uma tentatva do tpo
que nós, da SUPER, nos mistramos ao
público que assista às falas da dupla
Tsoukalos e Von Däniken. O convite à
imprensa para o evento era categórico
em destacar o mais novo tunfo do por-
tfólio mundial de evidências ufológicas.
Não se tatava de reinterpretações so-
O discurso de que as pirâmides do bre monumentos da Antguidade ou
Egito ou os moais da Ilha de Páscoa mais relatos de gente que diz ter sido
foram constuídos por uma tecnologia abduzida. A estela do convite era um
superior também não cola mais como fato da ciência: o asteroide Oumuamua,
antes. Muito graças ao crescimento da que tem a curiosa aparência de charuto
divulgação científica, que foi capaz e mais de 400 metos de comprimento.
de popularizar o fato de que, sim, pi- Detectado por um telescópio do Havaí
râmides e estátas gigantes são obras em outbro de 2017, ele é o primeiro
de humanos engenhosos tabalhando asteroide vindo de fora do Sistema Solar
com ferramentas simples. detectado pela astonomia.
Os ufólogos, de qualquer forma, são A descoberta havia ganhado novos
como os brasileiros daquela campanha contornos um ano após o Oumuamua
publicitária da década passada: “não dar as caras. Tudo graças a um artgo
desistem nunca”. E agora o jeito é se científico de pesquisadores da Univer-
aproximar da ciência propriamente dita, sidade Harvard, que tentava explicar a
numa tentatva de sugar um pouco da natreza estanha do objeto intereste-
credibilidade dela. Vejamos como. lar. Em meio a argumentos razoáveis
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que justficavam sua rota tdo sinal dela. Como escreveu Carl Sa- eventais alienígenas] e apresentar as
pouco comum e a acelera- gan: “Ausência de evidência não signi- suas teses sobre as relações desses seres
ção altíssima da rocha es- fica evidência de ausência”. Com essa com forças polítcas ocultas terrestes”,
pacial, o artgo gasta duas frase, o astônomo basicamente resolve diz Rafael Antnes Almeida, pesquisa-
linhas descrevendo o que o assunto. A vida lá fora é extemamente dor na área de antopologia da ciência
chamam de “cenário mais provável. Mas um fato não muda: jamais e autor da tese “Objetos intangíveis:
exótico”: o tal charuto houve qualquer evidência de visitas de ufologia, ciência e segredo”, pela UnB
poderia ser nada menos alienígenas à terra. Logo, insano é achar (Universidade Federal de Brasília).
que uma sonda aliení- que o planeta segue sendo visitado, e No fim, a ufologia precisa do mistério
gena. Pronto. Estava pior: que eles estão mancomunados com para existr na forma como existe hoje.
incorporada uma nova líderes mundiais, que guardam tdo em Almeida completa: “A ideia de que o
“evidência” ufológica. segredo há décadas. segredo é uma força constttva da
O caso ajuda a enten- Por paradoxal que essa afirmação ufologia certa vez foi resumida por um
der por que a ufologia tem pareça, o fato é que a existência de vi- entevistado durante minha pesquisa
dificuldade de se aproxi- da fora da Terra nem é tão importante de campo. Ele me disse algo como: ‘se
mar de uma abordagem assim para a ufologia. “O que interes- um contato aberto [com vida inteligente
realmente científica. Em sa aos ufólogos, como comunidade, é de fora da Terra] acontecer algum dia,
vez de buscar hipóteses e descrever os modos de atação [dos a ufologia acaba”’. S
questonar as evidências,
até as que sejam supostas
em grandes universidades
do mundo, o caminho que
costma ser escolhido é
o de assimilar conclusões
mais convenientes à tese
da vida alienígena.
Isso não significa afir-
mar que não existe vida
fora da Terra. A maior
possibilidade é de que
haja, sim. Os ingredien-
tes para a formação da
vida, como água líquida
e moléculas de carbono,
são abundantes Universo
afora. E a ciência estma
que haja bilhões de plane-
tas parecidos com a Terra
no Universo observável –
um deles, inclusive, orbi-
ta a estela que fica mais
perto do Sistema Solar,
Proxima-Centauri, a me-
ros 4,5 anos luz daqui – o
cento da Via Láctea, para
dar uma ideia, fica a 27
mil anos-luz; Andrômeda,
nossa galáxia vizinha, a
2,5 milhões de anos-luz.
Logo, é insano defen-
der que a vida surgiu uma Oumuamua: o asteroide de
única vez no cosmos, por
mais que nunca tenhamos
fora do Sistema Solar que
virou nave alienígena.

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 superinteressante 1/6

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MAR
ESPAÇO

Acorde, você chegou em

Conheça a tecnologia que pretende colocar

astronautas em hibernação – e pode
revolucionar as viagens espaciais.

Reportagem Tiago Cordeiro Ilustração Estevan Silveira

Design Yasmin Ayumi Edição Bruno Garattoni

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RTE E
ERAM SEIS HOMENS vivendo juntos,
espremidos em uma área de 72 meos
quadrados, ao longo de 520 dias. Eles
estavam ancados numa estação de
testes em Moscou – mas a ideia da
experiência, realizada pela Academia
Russa de Ciências ene 2010 e 2011,
era simular uma ida a Marte. O ‚me era formado por
ês russos, um italiano, um francês e um chinês. Eles
‚nham de responder a testes e cumprir uma ro‚na
de tarefas, e passavam as horas de folga vendo filmes
e jogando videogame. Se davam bem. Mas, conforme
o tempo foi passando, o clima mudou. Todos foram se
tornando apá‚cos, e quao dos seis par‚cipantes se
isolaram – cada um deles passou a se alimentar sozi-
Tudo isso numa missão de men‚rinha, sem riscos nem
problemas reais. Imagine se fosse no meio do espaço.
Enviar humanos a Marte, como a Nasa pretende
fazer na década de 2030, exigirá a superação de vários
obstáculos. Mas nenhum deles parece tão complexo, e
tão inatável, quanto a questão psicológica. O confi-
namento prolongado, como a experiência russa deixou
claro, mexe com a cabeça. É por isso que, nos filmes
nho, teve insônia e exibiu claros sinais de depressão.
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de ficção científica, os asonautas são colocados em
hibernação e só acordam quando estão perto do des‚no.
Por incrível que pareça, a Nasa cogita essa possibilidade
na vida real: encomendou a uma empresa de Atlanta,
a SpaceWorks Enterprises, um es˜do detalhadíssimo
sobre o tema. O documento descreve com precisão
todas as etapas do processo – e as tecnologias que
poderiam ser usadas em cada uma. Vamos a elas. →
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 espaço 3/6
o habitáculo
Módulo de hibernação
teria o tamanho de um
caminhão pequeno.
Braço roBótico
porta de conexão
7,5 m
Volume total
105 m3
4,3 m
Peso total
19,8 ton
Logo ao embarcar na nave, antes do lançamento, os
astonautas se dirigiriam às cabines de hibernação
[veja infográfico acima]. Receberiam sedatvos na veia e
dormiriam. Em seguida, um tbinho enfiado no nariz
de cada astonauta começaria a liberar gotículas de
perfluorocarbono, um líquido inerte e gelado que, em
contato com a mucosa nasal, reduz a temperatra do
organismo. O interior de cada cabine também seria
mantdo a temperatras baixas. Seis horas depois, a
temperatra corporal dos astonautas teria baixado
para 32 oC – e eles entariam em estado de hibernação.
A respiração e os batmentos cardíacos ficariam
mais lentos, com o organismo gastando menos ener-
gia. Sondas conectadas a dois pontos do corpo, no
peito e na perna, jogariam na corrente sanguínea uma
solução contendo vitaminas, aminoácidos, glicose e
minerais necessários para a sobrevivência. Também
haveria uma máquina gerando oxigênio e filtando
o gás carbônico eliminado pela respiração. Cada as-
tonauta seria monitorado por um braço robótco,
capaz de intervir em caso de problemas – os sensores
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0
0
equipamentos e
mantimentos
camas
colados no corpo da pessoa poderiam parar de fun-
cionar e precisar ser substtídos, por exemplo, ou
os tbos de coleta de urina poderiam vazar (como os
astonautas só receberiam alimentação intavenosa,
não haveria produção de fezes).
Para evitar que os músculos dos astonautas se
degradassem, o ambiente seria pressurizado e tam-
bém teria gravidade artficial. Ela seria produzida
rotacionando o habitáculo – como na famosa cena
da centífuga no filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço.
A SpaceWorks calcula que girar o compartmento
a 17 km/h seria o suficiente para gerar força centí-
fuga equivalente à gravidade terreste (quando a nave
estvesse chegando a Marte, a rotação do habitáculo
seria reduzida para 10,8 km/h, simulando a menor
gravidade do planeta vermelho).
O cenário descrito pela SpaceWorks é bem im-
pressionante. Mas puramente hipotétco. Se a Nasa
realmente quiser colocar humanos para hibernar, terá
de correr vários riscos, que também estão previstos
no estdo – e não são pequenos.
15/01/19 14:18
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Corpos frios
A hibernação é uma esatégia de sobrevivência co-
nhecida na nareza. Morcegos a pracam, assim
como roedores e ursos. Esse po de repouso permi-
te que o corpo equilibre sua temperara com a do
ambiente e reduz o gasto de energia (algo essencial
para a sobrevivência nas estações do ano em que
não há alimento). O que você talvez não saiba é que
a medicina já domina, e praca, uma espécie de hi-
bernação em humanos.
Trata-se da hipotermia terapêuca, uma técnica
de resfriamento corporal usada, há quase 20 anos,
por paramédicos para socorrer vímas de infarto,
derrames ou ferimentos graves. Quando isso acon-
tece, a circulação é prejudicada ou interrompida, e as
células do organismo começam a morrer por falta de
oxigênio. Nessa siação, esfriar o corpo é benéfico,
porque reduz a velocidade de morte celular e aumen-
ta exponencialmente as chances de sobrevivência.
A CÁPSULA
Astronautas viajariam
sedados e conectados.
SISTEMA DE GERENCIAMENTO
DE TEMPERATURA
Um tubo inserido nas narinas
dispara um spray de perfluorocar-
bono, líquido inerte e gelado. Em
contato com a mucosa nasal, ele
reduz a temperatura corporal,
até chegar a 32 oC.
TUBO DE ALIMENTAÇÃO
Duas sondas, ligadas no peito e
na perna, enviam uma solução
que inclui glicose, aminoácidos
e vitaminas. Esse líquido é pare-
cido com o que os pacientes em
coma recebem nos hospitais.
COLETORES DE URINA
A coleta acontece com o uso
de um dreno, fixado no corpo
dos astronautas antes de a
viagem começar. Ela pode ser
reciclada e reaproveitada (como
já acontece na Estação Espacial
Internacional).
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00
A temperara pode ser reduzida colocando bolsas
geladas sobre o paciente ou injetando nele uma so-
lução salina gelada (água e cloreto de sódio, cloreto
de cálcio, cloreto de potássio e lactato de sódio), que
resfria o corpo rapidamente e sem provocar danos.
Nas cabines espaciais, a hipotermia seria induzida
de oua forma: com a RhinoChill, uma máquina
que resfria o organismo pela mucosa nasal – e já é
ulizada por paramédicos dos EUA em siações de
emergência. O princípio é o mesmo.
“Os seres humanos não hibernam naralmente.
Mas existem métodos capazes de induzir estados de
torpor”, diz a bioquímica Kelly Drew, da Universidade
do Alasca. Nos hospitais, a redução de temperara
não cosma durar mais do que 24 horas. “Com a
tecnologia aal, é possível manter humanos sau-
dáveis em temperaras ene 32 oC e 34 oC, por até
ês dias. Períodos mais longos só foram regisados
em pacientes com alto risco de morte”, diz Drew. →
SENSORES
Vigiam os batimentos
cardíacos, a respiração, o
funcionamento de órgãos im-
portantes, como o fígado, e a
atividade do sistema nervoso.
Também monitoram o possí-
vel surgimento de elementos
perigosos, como infecções ou
coágulos sanguíneos.
BRAÇOS ROBÓTICOS
São capazes de trocar son-
das, consertar vazamentos
e solucionar pequenos
problemas. Em casos mais
graves, com risco à saúde da
pessoa que está hibernando,
o sistema emite um alerta
para os astronautas que
estão acordados.
16/01/19 17:56
 espaço 5/6
Etapa 1
PreParativos iniciais
2018 - 2024
um plano
possível
01
Cronograma que a nasa Aumento dos voos
cogita seguir para suborbitais tripu-
chegar a marte. lados, em parceria
com companhias
privadas.
a medicina já sabe
como fazer um ser
humano hibernar –
por até 14 dias.
O recorde pertence a uma mulher de 43 anos, morado-
ra da Flórida, que sofreu um aneurisma e entou em
coma. Ela foi mantda em hibernação por 14 dias, e
sua temperatra só foi normalizada quando não havia
mais hemorragia no cérebro. A paciente sobreviveu
ao procedimento; mas correndo risco considerável.
No espaço, o resfriamento corporal teria de ser
mantdo por muito mais tempo – o ideal seria 200
dias seguidos de hibernação, cobrindo a maior parte
do percurso até Marte. “Na natreza, existem animais
que suportam períodos longos, de vários meses. Em
humanos, ainda não sabemos quais as consequências
do torpor induzido por mais de duas semanas”, admite
John Bradford, presidente da SpaceWorks.
Por isso, a primeira meta é mais modesta. O projeto
prevê que todos os astonautas se revezem em perío-
dos de hibernação de 8 a 14 dias, para que nenhum
deles ultapasse o período já estdado pela ciência.
Essa estatégia também garante que sempre haja al-
gum humano acordado e consciente a bordo, o que
seria útl em caso de pane nos computadores que
contolam a hibernação ou se algum astonauta passar
mal durante o estado de torpor – o que pode acontecer.
A diminuição da circulação sanguínea, por exemplo,
pode provocar embolias (obstução dos vasos sanguí-
neos que pode levar à morte). A hibernação reduz a
atvidade dos glóbulos brancos, deixando o astonauta
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0
0
02 03
Testes de microgra- Desenvolvimento de tecno-
vidade na ISS, para logias avançadas de suporte
entender como o corpo vital (como um sistema que
humano reage a ela recicla 100% do CO2 expira-
em períodos longos. do pelos astronautas).
mais vulnerável a infecções – inclusive
porque ele está em sitação de risco, com
agulhas e cateteres espetados por todo
o corpo. As alterações no metabolismo
podem provocar hipoglicemia e matar.
E, mesmo com a gravidade artficial gerada
pela rotação da nave, a falta de atvidade
física pode provocar atofia muscular.
Para cada um desses problemas, existe uma res-
posta. O risco de embolia, por exemplo, pode ser
reduzido com injeções regulares de heparina, uma
substância que ajuda a dissolver coágulos. É possível
prevenir infecções limpando bem os equipamentos
ligados aos corpos dos astonautas. Já a atofia pode
ser evitada aplicando choques eléticos de baixa in-
tensidade nos músculos, para mantê-los devidamente
tonificados. Mas ninguém sabe quão bem tdo isso
funcionaria na prátca, nem como os astonautas se
sentriam ao despertar.
Não é agradável voltar da hibernação. Os animais
que a pratcam costmam acordar extemamente can-
sados, tendo a necessidade de voltar a dormir logo em
seguida. No habitáculo da SpaceWorks, a estatégia
seria aumentar a temperatra gradualmente e cortar
aos poucos o fornecimento do RhinoChill. O pro-
cesso seria ainda mais lento do que o resfriamento,
podendo levar até oito horas.
Mas, mesmo que todos os aspectos fisiológicos
sejam controlados, a questão psicológica conti-
nuará uma incógnita. Até hoje, todos os humanos
submetdos à hibernação forçada estavam muito
doentes, à beira da morte. Não dá para saber co-
mo um astronauta saudável e plenamente lúcido
reagiria ao processo. Só mesmo testando na prá-
tica. E há um grande incentivo para isso. Com a
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 espaço 6/6
Etapa 2
TesTes de sobrevivência
2025 - 2032
04 05
Retomada das missões tripu- Construção da Deep
ladas para a Lua e construção Space Transport, uma
da Deep Space Gateway, estação de habitação.
estação espacial da qual Astronautas viveriam nela
partiriam missões a Marte. por 400 dias para testá-la.
hibernação, viagens espaciais longas se tornariam
mais viáveis – e a humanidade poderia ir mais longe.
Dormindo apertado
Dependendo da posição da Terra e de Marte em suas
tajetórias em torno do Sol, a distância ente os dois
planetas varia de 55 a 401 milhões de quilômetos.
Se iniciada no momento certo, quando os planetas
estão mais próximos um do outo, a ida levaria seis
a oito meses. Somando o tempo na superfície do
planeta mais o tempo da volta, uma missão pode-
ria levar quase dois anos. Isso significa que a nave
precisaria levar grande quantdade de combustível
e suprimentos – e pesaria no mínimo 300 toneladas,
conta as 120 toneladas das missões à Lua. E é aí que
a hibernação enta. Ela permite viajar com muito
menos coisas, em naves bem menores e mais leves.
Na Estação Espacial Internacional, os astonautas
dormem em cabines com sacos de dormir presos às
paredes. Não é nenhum luxo. Mas parece uma mansão
perto do “habitáculo” imaginado pela SpaceWorks,
que é 75% menor, pesa 50% a menos, e também gas-
ta menos energia: precisa de apenas 30 kW para se
manter, conta 50 kW das cabines da ISS. Além disso,
seu consumo de oxigênio é 75% menor, e o de água
é 50% mais baixo.
Essas contas batem com as estmatvas da Euro-
pean Space Agency (ESA), que em 2018 publicou um
artgo sobre hibernação espacial. Segundo a agência,
o uso dessa técnica numa missão a Marte reduziria
em 42,5% a quantdade total de suprimentos neces-
sários e também ajudaria a proteger os astonau-
tas da radiação cósmica, que pode causar câncer e
é um problema sério em missões longas. “Estdos
em animais mostaram que a hibernação aumenta a
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0 0
Etapa 3
um novo começo
2033 - 2039
Fonte In-Space Transportation for Nasa’s Evolvable Mars Campaign.
06 07
Thomas K. Percy e outros. Nasa, 2015.
Realização de viagens Quatro astronautas vão até
não tripuladas a Marte, Phobos, principal lua de Marte
para levar equipamen- (pois, de lá, é mais fácil voltar).
tos e testar decolagens Seis anos depois, uma missão
do solo marciano. pousa no planeta vermelho.
proteção conta radioatvidade”, afirma a ESA. Isso
supostamente acontece porque a hibernação desace-
lera a reprodução celular (que é vulnerável a mutações
causadas por radiação).
A SpaceWorks se diz pronta. “Poderíamos começar
a operar em pouco tempo, enviando missões para
Marte com quato a seis integrantes”, afirma John
Bradford. A empresa jura que seu sistema de hiber-
nação poderia manter seis pessoas no espaço por
até 900 dias com apenas 1,6 tonelada de alimentos
e medicamentos, conta as 13,1 toneladas necessárias
numa cápsula comum. Ela também estda cenários
ainda mais radicais. Em 2015, apresentou um protó-
tpo de 10x8,5 metos, que seria capaz de tansportar
48 astonautas numa evental missão de colonização.
Mas a Nasa vê a ideia com cautela. Em 2015,
o biólogo Yuri Griko, que dirige o departamento de
biociências da agência, pediu para fazer uma experiên-
cia (ele queria fazer voos experimentais com animais
em hibernação), e não obteve autorização. Em 2016,
a Nasa assinou um novo contato com a SpaceWorks
para que a empresa contnue as pesquisas – mas não
permitu que ela realizasse um teste de hibernação
forçada em porcos, como desejava. Ou seja: a hi-
bernação espacial vai demorar. Mas pode se tornar
realidade um dia. E atavessar o Sistema Solar sem
sentr, com a leveza de quem acaba de acordar, terá
deixado de ser apenas um sonho. S
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0
0
tecnologia

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 tecnologia 2/4

0
0
o notebook do

GooGle
Ele é imune a vírus,
nunca fca lento, sua ba-
teria dura o dia intei-
ro. Mas essa perfeição
toda possui um preço:
a máquina tem apenas
um software, o navegador
Chrome. Será que basta?
Texto Bruno Garattoni
Foto Dulla
Design Juliana Caro

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 tecnologia 3/4

00
só roda um programa, vídeo do YouTube, com
o navegador Chrome. mais 20 abas abertas na
Você tem que se virar tela, e o computadorzi-
com isso. Em compen- nho – mesmo com seu
sação, o Chromebook processador modesto e
promete vantagens pouca memória – nem
incríveis: liga em 15 se abala. Como pode?
segundos, não pega ví- O Windows é for-
rus, não fica lento e sua mado por 60 milhões
quem mora no cam- bateria dura 10 horas. quedas de 1,2 metro. de linhas de código de
po precisa de um jipe Nos Estados Unidos, Sua configuração, por computador, que fo-
4x4 para se locomover. os Chromebooks (fa- outo lado, não é nada ram sendo adicionadas
Quando alguém muda bricados pelo próprio demais: CPU Intel Ce- ao longo dos últmos
da fazenda para a cida- Google e por outras leron de 1,6 GHz e 4 30 anos. Ele é um ema-
de, o natural é trocar empresas, como Acer GB de memória RAM. ranhado tão denso que
o jipe por um carro. O e Samsung) estão var- Parece um daqueles no- os programadores cos-
computador tradicional rendo o Windows das tebooks ruinzinhos, de tmam compará-lo a
é como o jipe. Ele vai escolas: já detêm 60% mil e poucos reais, que um prato de espaguete,
continuar a existir, mas do mercado educacio- sobram nas lojas por aí impossível de desem-
só para usos específcos nal, conta 25% do sis- (e passam sufoco para baraçar: se você tentar,
(ou para afcionados). O tema da Microsoft. Mas rodar o Windows). os fios de macarrão
mundo vai migrar para dá para viver só com Sabe quan- Será que 4 GB são su- se partem. O Chrome
outro tipo de dispositivo, um Chromebook? Pa- do você ficientes para saciar o OS tem 20 milhões
mais simples. ra descobrir, passamos está com Chrome – conhecido de linhas. É menor e
Quem disse isso foi um mês tentando fazer muitas abas por devorar memória menos tortoso, e por
Steve Jobs, em 2010, isso, sem usar nenhum do Chrome RAM como um alco- isso exige menos po-
abertas,
numa das últimas outo computador. e ele fca ólata bebe pinga? der de processamento.
entrevistas antes de Testamos dois Chro- lento? Na Ligo a máquina pela O noteb o ok do
morrer. Jobs chamava mebooks, com algumas máquina primeira vez. Dez se- Google também não
esse cenário de “o fu- diferenças entre si. do Google, gundos depois, ela pede precisa de antivírus
tro pós-PC”. Faz sen- O primeiro é o Acer isso não meu nome de usuário (elemento que é es-
acontece.
tdo, parece inevitável, 11N7. Ele é leve, tem e senha do Google. sencial no mundo
mas, quase uma década pouco mais de 1 kg, Pronto. Meus emails Windows, mas rouba
depois, ainda não che- mas parece feito de do Gmail, vídeos e ca- velocidade do com-
gamos lá. Ok, hoje é granito: todas as peças, nais do YouTube, do- putador) e vem com
possível resolver muita da dobradiça da tela aos cumentos do GDocs, solid state disk, um
coisa só com o smar- botões do teclado, im- bookmarks, senhas e tpo de memória que
tphone – mas ainda não pressionam pela soli- extensões do Chrome... substitui o tradicio-
dá para dispensar um dez. Lendo o manual do está tudo ali. 90% da nal HD – e é centenas
desktop ou notebook aparelho, logo descubro minha vida digital aca- de vezes mais rápido.
tradicional, rodando o porquê. Ele possui a ba de ser tansplantada, Por tudo isso, a má-
Windows, Linux ou certificação militar em poucos segundos e quina também gasta
macOS. Ou será que STD-810G, ou seja, é sem nenhum problema, menos energia, e a
dá? O Google acredi- à prova de líquidos e para a máquina. Come- bateria dura muito:
ta que sim, e propõe ço a abrir um montão
um novo conceito de de abas, para tentar fa-
computador: o Chro- zer o Chrome engasgar
mebook. É um laptop (o que sempre acaba
que roda o Chrome OS, acontecendo nos com-
um sistema operacio- putadores comuns).
nal hipersimplificado. Edito uma planilha
Ele é extremamente pesada no Google Do-
pé-de-boi, tanto que cs enquanto rodo um

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 tecnologia 4/4

00
ou pagas e lentas (We- Como fazer
Video). Outo senão é
que os Chromebooks o seu
têm pouca capacidade próprio
de armazenamento, 16
a 32 GB, pois a ideia é Chromebook
que você guarde seus
Você tem um
arquivos na nuvem.
Só que isso custa. notebook velho
no computadorzinho O Google dá 100 GBde aparentemente funcio- e encostado, que
da Acer, 10 horas de espaço gráts por dois na. Digo “aparentemen-
uso intenso. anos, mas depois cobra te” porque ainda não é mal liga? Veja
Ele só não é perfeito R$ 7 mensais. época de fazer a decla- como ressuscitá-lo.
por causa da tela, que O Netflix funciona ração, então não con-
poderia ser maior e me- perfeitamente, com cluí o processo (ainda 1 Usando outro compu-
lhor (mede 11 polegadas um porém: não dá para bem, pois preenchê-la tador, entre no site neve-
e tem resolução 720p). salvar vídeos para ver num app de celular rware.com/freedownload
Esses dois problemas offline (no macOS, a deve ser um suplício). e baixe o programa USB
são corrigidos por bem da verdade, tam- Apesar dos senões, Maker. Conecte um pen-
outo Chromebook: o bém não dá). Quer bai- a conclusão é: sim, drive de 8 GB e rode esse
Samsung XE521. Sua xar um torrent? Existe dá para viver só com programa. Ele irá baixar
configuração é similar um único programa, o um Chromeb o ok . o CloudReady OS (uma
à do Acer, mas a tela JS Torrent, que funcio- Ele tem limitações, versão de código aberto
é bem superior (12,2”, na. Ele é meio chato de mas as vantagens do Chrome OS, produzida
Full HD). Já a bateria configurar – pois ta- c om p en s a m . Ma s pela empresa americana
dura menos, 5 a 6h. ta-se de uma gambiar- tome cuidado com o Neverware).
Tirando essas diferen- ra dento do Chrome preço. A máquina da
ças, os dois notebooks –, e também é pago Acer custa R$ 2.000, e 2 Quando o processo
funcionam do mesmo (US$ 7). O site do meu a da Samsung sai por terminar, pegue o pendri-
jeito: rodam o Chrome banco (Itaú) rodou nor- R$ 3.500. Não valem ve e conecte no notebook
incrivelmente bem. E malmente, mas o pro- tdo isso (se você qui- velho. Ligue a máquina e
só. Mas é o suficiente? grama do Imposto de ser um Chromebook, pressione a tecla F11 ou
Renda não. Para fazer opte pelo XE500, da F12 para entrar nas Op-
Os poréns a declaração, só recor- própria Samsung, de ções de Boot. Na listinha
Para ouvir música, edi- rendo a um segredinho R$ 1.200). que será exibida, selecio-
tar textos e planilhas, do Chromebook: você O grande desafio ne o pendrive e dê Enter.
navegar e usar email, pode instalar aplicat- à popularização dos
os Chromebooks dão vos de Android nele. Chromebooks é que 3 O notebook vai exe-
e sobram. O Google Os apps rodam den- as pessoas gostam cutar o CloudReady direto
Docs funciona até sem to de um smartphone d e c o i s a s p o te n - do pendrive. Experimente
conexão à internet (ele virtal, com a telinha tes: tanto que ainda o sistema e veja se ele está
salva os arquivos para pequena. O aplicatvo compram jipes para funcionando direitinho. Se
que você possa taba- Meu Imposto de Ren- rodar nas cidades. E estiver, clique em Install
lhar offline, e depois da, da Receita Federal, o sonho de consumo CloudReady. Isso irá forma-
sincroniza automati- de muita gente é um tar o notebook, e instalar o
camente as alterações). Macbook Pro capaz sistema no disco rígido.
Já se você quiser editar de projetar foguetes –
fotos ou vídeos, com- mesmo nos casos em 4 O CloudReady é prati-
plica um pouco. Até que ele, na prática, só camente idêntico ao Chro-
dá para fazer isso com será usado em tare- me OS, com uma diferen-
ferramentas online, fas tão triviais quanto ça: não roda aplicativos do
mas elas são limitadas acessar o Facebook e Android. Mas é uma ótima
(como o Google Fotos) o YouTube. S pedida para revitalizar um
computador antigo.

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 superinteressante 1/4

0
0
MITOLOGIA

DEUS?
ONDE ESTÁ SEU

HIN
UBÁ
IOR

IA
ÍPC
EG
EIA
CANAN
Veja quem são os deuses do
trovão, do amor, da guerra...
em 13 mitologias. E quais são as
MESOPOT
divindades supremas de cada uma. Â MIC
Infográfico Ana Carolina Leonardi, Tainá Ceccato,
A

Thales Molina, Guilherme Henrique, Tiago Jokura

NÓ
RD
IC
A

SUPREMO TERRA ÁGUA

LEGENDA

GR
SENTIMENTAL CÉU TEMPESTADE EC
O-R
BRUTO LUA FOGO OM
ANA
EXISTENCIAL SOL COLHEITA

TERRA

CÉU

LUA
HINDU
MAO
UBÁ RI
IOR SOL
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I
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ÁGUA
EG

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JAP
IA

TROVÃO
CANANE

ONESA

FOGO
MESOP

TRINDADE HINDU
CA
TÂMIC

COLHEITA
A STE

O deus supremo hindu é,

O-
A

na verdade, uma trindade.

SUPREMOS O Trimurti, nome coletivo
NÓ

IA
RD

MA

A deles, representa o ciclo de

IC

G NO
RO RECO I-
TU P A NI tudo que existe: Brahma
MA - R GERAL, O
NA U A
G é o Deus da Criação, Vishnu, DEUS SUPREMO É
da Preservação, e Shiva, O DEUS DO CÉU, E A
GRANDE da Destruição (a destruição
MÃE GRANDE MÃE,
é considerada boa, porque DA TERRA.
DEUS
SUPREMO permite a renovação).

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 M IT O L O G IA 2/4

0
0
É
O DEUS DO
TERREMOTO, QUE
VIVE NO ÚTERO DA
DEUSA DA TERRA. OS
TREMORES SERIAM
CONTRAÇÕES.
DE ONDE VEIO
CADA MITOLOGIA

DU
MAO
RI

3
2
CH
IN
ES
A

1
JAPO

4
NESA

A MITOLOGIA TU- A C U LT U R A
CA

PI- GUA R A NI R EÚ NE IORUBÁ SE DE-

A STE

1 T R A DIÇÕES DE DI-
FERENTES TRIBOS
2 S E N V O LV E U N A
R EGI ÃO AT UA L
BRASILEIRAS. DA NIGÉR I A .

E X IS T EM MILH A R E S O S M AOR I S
DE DE USE S HINDUS, TÊM MITOS EM
3 C U JA IMP ORTÂ NCI A 4 C OM U M C OM
IA
MA

VA R IOU AO L ONG O DI V E R S A S I L H A S
D OS SÉ C U L OS. D O PAC Í F IC O.

NI
RA
UA
I- G
T UP

A SOL / O LUA
Raio, trovão,
chuva: algumas
mitologias têm
deuses diferentes
para cada No gráfico abaixo (e na tabela à es-
elemento da querda), note os destaques toda a vez
tempestade. que uma mitologia subverte a tradição
do Sol como homem e a Lua como mulher.

182
O DEUS O DEUS
LUA É SOL É
MULHER HOMEM
MULHER

53% 6
69%
HOMEM

DA S DA S
PAPAI DO CÉU VEZES VEZES
Os nomes Zeus e Júpiter vêm
do termos “djous” e “patēr” (do 1
idioma proto-indo-europeu, que 3
HOMEM

deu origem a várias línguas). As É O NÚMERO DE DEUSES,

MULHER

palavras designam “céu” e “pai”. DIVIDIDOS EM 13 MITOLO- 3

E sim: o termo “deus” vem de “céu”. GIAS, NOS GRÁFICOS ACIMA.

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 M IT O L O G IA 3/4

00
AMOR AO MAR DEUSES HOMOSSEXUAIS
Para culturas do Pacífico, As culturas maia e chinesa tinham
quase toda forma de vida deuses específicos para relações
(e de alimento) vinha do mar. gays. O deus Tu Er Shen teria
Por isso, eles adoravam sido condenado à morte
os deuses marítimos no lugar por amar um oficial
de deidades de amor ou do exército – e, no
casamento. Até mesmo pós-vida, virou
seus amuletos de fer- protetor do
tilidade lembram amor entre
anzóis. homens.

HINDU
MAO
UBÁ RI
IOR

CH
IA
ÍPC

IN
ES
EG

JAPO
EIA
CANAN

NESA
MES OPO

CA
A ST E
TÂMI
A C

NÓ

IA
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MA
IC
A

AMOR
GR I
EC AN
O -R AR
OM GU
ANA T U PI -

CASAMENTO

FERTILIDADE
Tanto Ishtar OS
quanto Freyja ASTECAS
AMOR
levam o título TINHAM 5 DEUSAS
duplo de deusas DIFERENTES PARA A
do Amor e SEXUALIDADE
da Guerra. FERTILIDADE, COM O
NOME COLETIVO DE
TZITZIMITL.

IMORTAIS E CORPOS DES-

MEMBRADOS
INHAME
IORUBÁ

EXCÊNTRICOS
EGITO
Shezmu era deus do Oxoguiã, o orixá
vinho, dos perfumes, do inhame, teria
dos azeites finos. E inventado o pilão
Os deuses mais também dos banhos para facilitar o
curiosos do de sangue e dos ca- preparo de seu tão
panteão mundial. dáveres dilacerados. amado tubérculo.

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 M IT O L O G IA 4/4

0
0
JAVÉ
Mohini
também é, pa-
radoxalmente,
o Deus da
Compaixão.
HINDU
MAO
UBÁ RI
IOR

O DEUS DA BÍBLIA NÃO

CH
IA
ÍPC

IN APARECE AQUI, JÁ QUE OS

ES
EG

A I S R A E L I T A S C U LT U A V A M
JAP
APENAS JAVÉ. A ARQUEOLOGIA,
IA
CANANE

DE QUALQUER FORMA, MOSTRA

ONESA

Q U E A C U LT U R A M O N O T E Í S T A
DEMOROU A SE CONSOLIDAR,
E QUE HAVIA SINCRETISMO
M E SO P

CA
TÂMIC

E N T R E O S C U LT O S D E I S R A E L E
A ST E

DOS VIZINHOS CANANEUS.POR

O-
A

EXEMPLO: ASHERAH. ESPOSA

DE EL, CHEGOU A SER RETRA-
NÓ

IA
RD

TA DA C O M O E S P O S A D E J AV É .
MA

GUERRA
IC
A

GR
RO EC O- I-
MA T U P NI
NA A RA
GU

GUERRA

CAÇA

TRAPAÇA

HINDU MAO
UBÁ
TRAPACEIROS IOR RI
C
A
Algumas das figuras
HI
I
ÍPC

NE
EG

mais importantes das VAGINA DENTADA

SA
JAPO
CANA-

mitologias são anti-he- Na mitologia maori,

NESA
NEIA

róis que apareciam para o deus Maui tenta

POTÂMI

CA
M ES O- A

aprontar com outros destruir a morte

ASTE

deuses. O nórdico Loki ao transar com a EXISTÊNCIA

C
NÓ

é o principal nome da deusa do submundo,

A
RD

AI

A
M

G
IC

categoria – se aproxima Hine-nui-tepó. Ele RO RECO-

MA
I-
T U P A NI
NA R
menos do malvado se transforma em GUA

Set e mais de deuses um verme para subir SUB-

travessos, como Maui discretamente pela MUNDO
ou Exu (orixá cuja vagina dela – só não
MORTE
maior importância é a contava com os den-
de mensageiro entre tes de obsidiana que CRIAÇÃO DOS
deuses e humanos). ela tinha lá embaixo. HUMANOS

COISAS FEIAS PESADELO SUICÍDIO

MAORI TUPI MAIA

Punga seria o an- Jurupari trazia A deusa Ixtab,

cestral de todos os maus presságios guardiã dos suici-
animais malvados durante o sono. das, escoltava suas
e de má aparência, Os jesuítas asso- almas diretamente
como lagartos, ciavam sua figura ao paraíso.
tubarões e raias. à do diabo.

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 superinteressante 1/6

0
0
oráculo o senhor de todas as respostas
567
miligramas de cafeína
por litro de sangue. Ou
o equivalente a beber 44
xícaras de café. Foi sufciente
para matar um homem de 29
anos em 2015. (

Tomar
muiTo
café pode
desidraTar?
Fabiano Jorge do Amaral, Monte Mor, SP

A cafeína – também encontada no chá

preto e no Red Bull – possui efeito diurét-
co moderado (isto é, dá uma ligeira vontade
de ir ao banheiro) se você consumir mais
de 500 mg. Mas haja pausa para tanto ca-
fezinho: seria preciso tomar oito xícaras
de 30 ml, já que cada uma contém 64 mg
de cafeína. Assim, um estdo de 2014,
feito pela Universidade de Birmingham,
no Reino Unido, não encontou relação
ente desidratação e um consumo decente
de café. Não abuse! (
O hábito também entra na conta.
Quem toma café com frequência acost-
ma o corpo ao efeito diurétco da cafeína.
Além disso, ao ingerir bebidas com cafeína,
você consome junto a água que vai na
composição delas. No fm das contas, o
xixi exta acaba compensado pelo próprio
café. Ou chá. Ou energétco.

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 oráculo 2/6

0
0
Edição bruno vaiano

Por que o ser humano acha tão engraçado

ver gente tropeçando ou caindo?
Sara Tozoni, via Instagram

Não há resposta defiNitiva. O flósofo Henri Bergson dizia que o riso era
controle social: quem tropeça e cai na rua está bêbado ou distraído; a humilhação
põe o cidadão de volta nos eixos e restabelece a normalidade. Thomas Hobbes diz
algo parecido: rir da desgraça alheia seria uma demonstração de superioridade.(
Hoje, há várias teorias. Uma é que nós achamos gostoso ver algo perigoso ocorrer
quando estamos em segurança no sofá e não conhecemos a vítima – o cérebro
se satisfaz com a distância.( Esse é o mesmo motivo pelo qual vídeos de cravos e
espinhas – ou de acidentes de carro na Rússia – fazem sucesso no YouTube.

pá pum Por que nomes como Simone, As tbulações que levam água
Andrea, Danielle etc. são tatada para nossas casas ficam
masculinos em italiano e sujas? É possível limpar ou os ca-
femininos em outras línguas? nos são tocados periodicamente?
Guilherme Eler, Mayara Barbosa, via Instagram
repórter da SUPER
Se não existisse efeito Sim, os canos sujam. Um dos motivos são
estufa, qual seria a
temperatura de Vênus? os Nomes termiNados em “e” bactérias, que podem se multiplicar lá dentro
Túlio Blinder, São provavelmente se fxaram como comendo resíduos orgânicos presentes na
Paulo, SP masculinos porque a forma água. Outra possibilidade são partículas de
terminada em “a” já era conside- manganês que não foram eliminadas na
28 °C, em média (caso rada feminina – como acontece estação se acumularem nos tubos, deixando
sua atmosfera fosse si- em diversas línguas europeias a água marrom. Por último, há o risco de que
milar à da Terra). Aqui, aparentadas. ( Não há nada de se forme uma crosta alaranjada de oxidação
a média é 15 °C ( masculino ou feminino nas letras em canos de ferro mais antigos.
em si. Já os nomes em “a”, como A não ser que exista algum problema de con-
Andrea, costumam ser de origem servação (como furos, por exemplo), canos
número incrível grega – embora isso não seja não costumam ser substituídos. A limpeza da

462
regra. No caso grego, o masculino rede de água é uma tarefa da concessionária
sempre terminava em “s” (como de saneamento e é feita pela injeção de
em Andreas), mas podia, graças a água pressurizada no interior dos canos, que
transformações fonéticas naturais, destrói os depósitos de sujeira acumulados e
graus celsius é a acabar fcando só com o “a”. ( conduz os resíduos à saída. (
temperatura média na
superfície de Vênus.

oUTro DADo
relevAnTe Sem Qual é o naufrágio É um barco mercaNte grego de 23 metros encontrado na costa
nenHUmA liGAÇÃo mais antigo já en- da Bulgária, no Mar Negro. Ele tem 2,4 mil anos – ou seja, é da

462
contrado intacto? época de Alexandre, o Grande. Os mastros e bancos dos remadores
Odisseu, Ítaca, ainda estão no lugar. A evidência mais antiga de um naufrágio,
Grécia porém, tem mais de 4 mil anos e fca no litoral da ilha de Dokos, na
Grécia: um lote de utensílios culinários de cerâmica que sobrevive-
era o Número de
terras indígenas regu- ram enquanto a embarcação apodreceu e se desfez em torno delas.
larizadas no Brasil até Nessa época, o Império Assírio estava sendo fundado.
janeiro deste ano. (
Reportagem Bruno Vaiano, Guilherme Eler, Ingrid Luisa, Luiza Monteiro, Rafael Popp. Ilustração Tayrine Cruz. Fontes ( No evidence of dehydration with moderate daily
cofee intake: a counterbalanced cross-over study in a free-living population, 2014. ( Fatal cafeine overdose: Two case reports, 2005. ( Philosophy of Humor, Stanford Ency-
clopedia of Philosophy, 2012. ( Benign Violations: Making Immoral Behavior Funny, 2010. ( Vera Jatenco Pereira, IAG, USP. ( FUNAI. ( Elisabetta Santoro, FFLCH, USP. (
Teodore Cantor, namepedia.org ( Antônio Benetti, UFRGS. Black Sea Maritime Archaeology Project.

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 oráculo 3/6

0
0
oráculo

Por que os volantes dos carros ficam nas

laterais, e não no meio?
Lucas Strassburger, via Instagram

Há uma série de motivos. Um é aproveitamento de espaço: com o volante

no centro, não haveria espaço para o passageiro. Outro é visibilidade – algo que
data da época em que os carros eram puxados por cavalos, em vez de motores.
Quando há um congestionamento, o condutor precisa se esticar para a lateral para
conseguir observar até onde vai a fla. Um terceiro motivo é segurança: em uma rua
de mão dupla, o condutor precisa estar na posição mais adequada possível para
observar os carros que vêm no sentido oposto. Vale dizer que, do ponto de vista
estritamente técnico, o volante centralizado seria o ideal para distribuir o peso pelo
veículo. É por isso que carros de Fórmula 1 posicionam o motorista bem no meio. (
E um adendo: na época em que todo mundo andava a cavalo, só existia mão
inglesa. Destros, que são maioria, montam o animal pelo lado esquerdo – e querem
ter a mão direita, a da espada, virada para o cavaleiro que vem no sentido oposto em
caso de duelo. Só depois surgiu a mão francesa que vigora no trânsito do Brasil hoje
– uma das muitas mudanças adotadas após a Revolução Francesa só para contrariar.

Por que janelas de avião têm as Por que os nomes
laterais arredondadas? de alguns monarcas
Marco Vaiano, São Paulo, SP estangeiros são
taduzidos para
quanto maior a altitude alcançada por um avião, o nosso idioma
mais rarefeita é a atmosfera e menos oxigênio há para (como Rei João, da
respirar. Por isso, o ar no interior da cabine é comprimido Inglaterra)?
até alcançar uma concentração de oxigênio próxima da Lorran Mendonça,
do nível do solo – um processo chamado pressurização. Araraquara, SP
A fuselagem do avião precisa ser forte o sufciente para
evitar que o ar pressurizado escape, e janelas quadradas é puro Hábito. Na
são um ponto fraco: toda a pressão se acumula nos época em que não havia
cantos, que fcam sujeitos a rachaduras. Se o ar escapa, a intercâmbio cultural,
cabine perde pressão muito rápido e o avião pode se de- um nome como William
sintegrar – uma tragédia que se repetiu duas vezes com podia soar tão alienígena
o primeiro avião comercial a jato de janelas quadradas, o para um português
de Havilland Comet, de 1949. A solução foi adotar a for- quanto Dósóþeus (nome
ma redonda – em que a pressão se distribui igualmente islandês) soa para você.
pelo perímetro da janela, evitando rupturas. Como William tem a mes-
ma origem etimológica de
“Guilherme” – ambas de-
rivam do alemão Wilhelm
–, era melhor traduzir.
Isso também ocorre com
nomes de santos (São
PerGunte ao Tiago é Saint James), e
orÁculo ajudava quando um rei
gringo assumia o trono
Escreva para
oraculo@abril.com.br de outro país e precisava
mencionando adotar um nome familiar
sua cidade e Estado. para a população.
Posso tomar banho
de chuva ácida em
uma cidade como
São Paulo ou ela
faz mal?
@mochileirosp,
via Instagram
não precisa se preo-
cupar, mocHileiro. A
chuva ácida não é ácida o
sufciente para ferir a pele
de um ser humano, mesmo
que você passe um bom
tempo na ducha natural. (
Bebê-la também não é um
problema. Não por causa
da acidez, pelo menos – as
bactérias causadoras de
doenças são outra história,
por isso é importante
matar a sede só com água
tratada. Prédios e estátuas
antigos, por outro lado,
sofrem: peças de mármore
ou pedra-sabão, típicas de
centros urbanos históricos,
são corroídas por reações
químicas desencadeadas
pelo dióxido de enxofre
presente na chuva.

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00
lista
Quais partes de uma pessoa Qual seria o
morta podem ser doadas? tamanho da
Wikipedia se ela
fosse impressa?
Maria Júlia Malavolta, Araraquara, SP

I Pode ser feita entre vivos

crânio roSto
Chayenne Tonheiro,
e couro São Paulo, SP
cabeludo
wikipedia

córneaS
2.692
cartilagenS volumes

IpulMão

vaSoS
SanguíneoS
Ilustração Tayrine Cruz Fontes United Network for Organ Sharing, Ministério da Saúde.

Ifígado
coração

oSSoS

MãoS e
braçoS
IMedul a
óSSea
IriM

Iútero

laringe e
enciclopédia
traQueia
britânica

32
volumes

pele pêniS e pâncre aS inteStino

eScroto
Fonte Wikipedia.

Qual é a bactéria que mata mais rápido? Hall da fama microscópico

Louis Pasteur, Dole, França

Um coquetel variado de bactérias – com des-

taque para o gênero Streptococcus, tipo A – é
responsável por uma infecção chamada “fascite
necrotizante”. O paciente é comido por dentro:
em dois dias, boa parte do tecido subcutâneo bacilo de kocH STAPHYLOCOCCUS NEISSERIA
da área afetada (o abdômen, no tipo 1, as extre-
Causa tuberculose. AUREUS (MrSa) GONORRHOEAE
Versão resistente a Meningite, entre ou- A gonorreia aparece
midades, no tipo 2) morre. Com frequência, só antibióticos mata tras. Nos anos 1960, até na Bíblia – e ri na
amputações contêm o avanço da necrose. Até 250 mil pessoas por 80% já resistiam ao cara dos remédios
76% das vítimas morre.( ano. ( tratamento. ( até hoje. (

Fontes ( Ricardo Dilser, assessor técnico da Fiat Chrysler. ( Adalgiza Fornaro, USP ( Necrotizing fasciitis: clinical presentation, microbiology, and determinants
of mortality, 2003; Bacteriology of necrotizing fasciitis, 1977; Diagnóstico e tratamento da fasciíte necrotizante: relato de dois casos, 2008. ( OMS. ( Antimicrobial
resistance: the example of Staphylococcus aureus, 2003. ( Antibiotic resistance in Neisseria gonorrhoeae: origin, evolution, and lessons learned for the future, 2015.

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0
0
oráculo

Por que o doce torta Por que ouvir barulho de

se chama torta?
Mauro Prates,
Belo Horizonte, MG
É uma resposta tortuosa.
Torta em francês, é tarte.
Os franceses, por sua vez,
provavelmente tiraram o
nome do doce da expressão
latina tourte panis, que
significava “pão redondo”.(2)
água caindo dá vontade
de fazer xixi?
Fabiano Jorge do Amaral,
Monte Mor, SP
É o famoso condiciona-
mento pavloviano. Assim
como cães treinados para
associar as badaladas de um
sino ao horário de comer
(eles até salivam, ainda que

lenços Em latim, a palavra tortum,

associada a coisas sinuosas,
distorcidas ou torcidas, era
uma das conjugações do
o prato não esteja cheio),
nosso cérebro entende
que está liberado para
esvaziar a bexiga a partir de

umedecidos verbo torquere.

Essa é a mesma raiz etimo-
lógica de outras palavras
associadas a giro e torção,
ruídos relacionados a essa
necessidade – como é o caso
de água correndo, pingando
ou escorrendo. Isso não se

fazem mal para como “tortura” (porque a

vítima é tratada, por assim
dizer, como massa de torta)
e “torque” – uma grandeza
deve apenas à semelhança
dos sons, mas também ao
fato de que esse barulho
costuma estar presente em

a natureza?
Juliana Haru, via Instagram
da física associada à força
que é necessário aplicar
para fazer algo como um
parafuso girar.
outras partes do ritual de
fazer xixi: lavar as mãos,
dar a descarga ou esperar o
chuveiro esquentar. (

Sim. OS lencinhOS são feitos de TNT (calma, não

é dinamite, é tecido não tecido), uma fbra que fre-
quentemente leva viscose, de origem vegetal, e po-
liéster, que é um plástco. O poliéster descartado se lost in
fragmenta em pedaços microscópicos, que poluem
os oceanos, se mistram a substâncias tóxicas, são
translation
Origem Suécia
comidos por peixes e se acumulam na cadeia alimen-
tar. ( O problema é pior em países que descartam Tretår
papel sujo na privada em vez de usar uma lixeira.
Nos dias de inverno, os lenços que se acumulam na
tbulação do esgoto se mistram a fraldas e resíduos
gordurosos, congelam e formam fatbergs – tocadilho
“Trêsfl”
com iceberg e fat (“banha”). Um fatberg com o peso
de 11 ônibus entpiu o esgoto de Londres em 2017. Em sueco, bebida é tår. A segunda dose da bebida (o refl) é påtår. E a
terceira, tretår. A expressão geralmente é usada com xícaras de café.

Marvin, o Marciano Chuck Jones Responsável

conexões Vilão quieto (e mais inte- por personagens inesquecíveis
De Marvin, o ligente que a média) dos como Pernalonga, Patolino,
Marciano Looney Tunes. Alienígena de Papa-Léguas, Coyote...
a Marvin Gaye rosto incerto, veste um elmo Um dos membros de sua equipe
por Bruno Vaiano e uma armadura similares (na própria Warner Bros. e
aos do Deus romano Marte. depois na MGM), Abe Levitow,
Foi criado por uma lenda da fundou o próprio estúdio em
Warner Bros., o roteirista e 1972, e passou a fornecer sket-
animador... ches e quadros para o...

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0
0
manual Como adestar seu cão em casa
por Rafael
Battaglia

3
dê recompensas
Não grite quando ele fzer
4 algo errado. Mas se fzer
algo certo, recompense-o
com um biscoito ou um
pouco de ração. Crie uma
1 rotina de alimentação em
comece cedo vez de deixar comida no
Treinar um cachorro pote o dia todo. Se ele tiver
jovem exige menos comida sempre ao alcance,
repetições. Adestrar não vai valorizar o “prêmio”.
pets mais velhos
é possível, mas
Ilustração GIl Tokio. Fontes ( Marcos Bossle, adestrador profssional e fundador da Sociedade Pet; Marcela Barbieri Boro, zootecnista e

demora mais, já que

será preciso corrigir
2 4
duração das sessões
hábitos já adquiri- Não adianta separar mais
dos. Se o mascote do que 15 minutos para
vai fcar muito em uma sessão de treinamen-
casa, escolher um to, pois o foco do cachorro
com temperamento é curto. Para evitar disper-
tranquilo ajuda. são, ensine-o em lugares
com poucas distrações.
Torne isso um hábito diário
3 para que a comunicação
2 entre você e o seu animal
fque cada vez melhor.
em casos
graves...
Cães que passam 5
muito tempo sozi-
nhos, por não se rela-
5 modere os truques
Além do adestramento que
cionarem com outras melhora o comportamento
pessoas, podem fcar dos cães (não atacar pesso-
agressivos. Procure as, fazer xixi no lugar certo,
por adestradores etc.), há os comandos como
profssionais quando sentar, rolar e fngir de
o treinamento não 1 morto. Use-os com cautela.
estiver funcionando Alguns movimentos, como
– ou se você não se fcar de pé, não são natu-
sentir preparado rais. Repeti-los várias vezes
para isso. pode causar lesões.
franqueada da Cão Cidadão.

para ir além...

Bino (Android) Tudo sobre Cachorros Adestramento Inteligente

Aplicativo que organiza Canal do YouTube com Livro de Alexandre Rossi,
o adestramento do seu dicas para donos desespe- zootecnista pela USP e
cachorro. rados (ou não). ex-apresentador do NatGeo.

Vila Sésamo Programa de Diana Ross Diva pop e Marvin Gaye Lenda
TV infantil com marionetes uma das estrelas da grava- do soul, gravou clássicos
(os muppets) que apresentou dora Motown, de Detroit como “Whatís Going On” e
personagens clássicos, como – famosa por colocar no “Letís Get it On”. Foi morto
Elmo. Em vários episódios mapa uma geração de mú- a tiros pelo pai em 1984.
os monstrinhos de pelúcia sicos negros talentosos em É uma das infuências de
cantavam com artistas reais uma época extremamente Bruno Mars, cujo último
– como em um sketch de 1979 racista nos EUA. Tem um nome, em inglês, signifca
do pássaro gigante Garibaldo álbum com... “Marte” – planeta natal de
com a cantora... Marvin, o Marciano.

Fontes ( Plastic microfbre ingestion by deep-sea organisms, 2016. ( Centre National de Ressources Textuelles e Lexicales (CNRTL).
( Alex Meller, urologista da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

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 superinteressante
e se... realidades paralelas
... a Terra
parasse?
Você nem se dá conta disso, mas
ViVe em um pião que gira a 1.669
quilômetros por hora. É essa, pelo
menos, a velocidade da rotação terreste
na linha do Equador – ponto do planeta
em que atnge seu valor máximo.
O porquê de não ficarmos enjoados
com o movimento e pedirmos para
descer do brinquedo é bem simples:
tdo que sua vista alcança está girando
junto com você, no mesmo ritmo. Se
algo fosse capaz de extnguir o rodopio
natral da Terra, como se ela fosse um
globo escolar que você freia com o dedo,
então, é óbvio que teríamos problemas.
Dá para imaginar essa pausa de duas
maneiras: primeiro, como uma freada
brusca; segundo, como uma desace-
leração mais branda, em que a esfera
fosse perdendo velocidade aos poucos
até parar. Ainda que, em ambos os ca-
sos, o resultado final fosse o mesmo
– fazer o velocímeto terreste chegar
a zero – os impactos seriam diferentes.
Sobretdo no primeiro momento.
Caso a freada fosse instantânea, tdo
seria arremessado no sentdo Leste, o da
rotação da Terra, com uma força inacre-
ditável. É a primeira lei da mecânica em
ação, mostando que aquilo que está em
movimento vai permanecer em movi-
mento. A estátca de prédios, carros, pon-
tes e a sua própria, leitor, seria rompida
à velocidade de rotação da Terra – que
varia em diferentes pontos do globo,
sendo menor em áreas de maior lattde.
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1/2
0
0
Texto Guilherme Eler
Em suma: quem mora em São Paulo,
longe da linha do Equador, mas nem
tanto, seria arremessado para o Leste a
1.535 km/h. Quem vive em Porto Ale-
gre, ainda mais ao Sul, a 1.446 km/h.
Os 2.144 habitantes da cidade de Lon-
gyearbyen, a mais setentional do mun-
do, na Noruega, seriam mais poupados.
O lugar fica tão perto do Polo Norte que
a cidade gira a meros 346 km/h. Ou seja,
os moradores também seriam acelera-
dos instantaneamente a uma velocidade
mortal, mas menos absurda.
Outo detalhe: a atmosfera também
contnuaria girando. Ventanias supersô-
nicas terminariam de levar para os ares
aquilo que teimasse em ficar preso no
chão. Nos oceanos, tsunâmis fariam a
água salgada avançar para os contnentes.
Não fica nisso, principalmente se con-
siderarmos que a maior parte da água
dos oceanos fica concentada perto da
linha do Equador. Nessa área, o mar é
até 8 quilômetos mais “alto” que em
outas regiões. Culpa da força centífu-
ga, que faz a água acumular por lá con-
forme a Terra gira – como se o planeta
fosse uma máquina de lavar gigante. de olhos seria cessar a rotação de forma
Com a Terra parando, esse acúmulo menos brusca. Questão de tming.
deixaria de existr. E os mares toma- Podemos tomar o exemplo de Bra-
riam, pela primeira vez na história sília, que gira a 1.620 km/h (ou 450
geológica da Terra, o seu formato na- metos por segundo). Se a frenagem
tral. O excesso de água na cintra da Terra levasse um segundo, nossos
do planeta, então, escorreria para os polítcos da esfera federal seriam sub-
polos. Com uma lâmina de água quilô- metdos a uma aceleração de 45 G – 45
metos mais baixa, novos contnentes vezes mais forte que a da gravidade.
iriam emergir nas áreas equatoriais do Para que a desaceleração fosse segu-
Atlântco, do Pacífico e do Índico. Lá ra, ela deveria ficar próxima a 1 G – 10
em cima, partes do Canadá, do norte da metos por segundo a cada segundo,
Europa e da Rússia sumiriam, segundo numa notação mais científica. O tempo
prevê um modelo matemátco criado de frenagem ideal para Brasília, então,
pela Esri, uma empresa americana de deveria ser de 45 segundos.
mapeamento geográfico. Não que fosse ficar tudo certo. Uma
A única forma de impedir que as coi- Terra parada perderia seu campo mag-
sas virassem do avesso em um piscar nético, nos deixando completamente
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 E SE . . . 2/2
expostos à radiação ionizante do Sol.
Isso seria um problema ainda maior,
uma vez que teríamos de aguentá-lo
por seis meses seguidos.
Sim, um ano passaria a valer um
dia terrestre. Assim, metade do ano
seria uma noite congelante, que va-
leria enquanto estivéssemos na face
do planeta virada do lado oposto do
Sol. Na outra metade, teríamos um
dia escaldante, com o astro apontado
diretamente para nós, seis meses a fio.
As correntes oceânicas teriam papel
ainda mais crucial no equilíbrio das
temperatras, tansportando o calor
das águas quentes do lado ilumina-
do do planeta para as frias, onde rei-
naria a noite. Caso esse sistema não
Foto Getty images
SI_399_E se.indd 81
funcionasse, uma camada de gelo es-
pessa poderia se formar no oceano. Aí,
estaria aberta a contagem: se o gelo
do lado notrno não derretesse nos
seis meses seguintes, de Sol constante,
a Terra entaria em uma glaciação e
estaria tdo acabado.
Há outra hipótese. A evaporação
intensa de água dos oceanos do lado
iluminado poderia represar grande
quantdade de vapor na atmosfera, au-
mentando o efeito estfa. Em últmo
caso, isso faria toda a água dos oceanos
ir embora para a atmosfera. As tem-
peratras iriam às altras, tornando o
planeta igualmente inabitável.
É verdade que, devido à interação
com a Lua, a Terra tem freado a uma
0
0
1.669
quilômetros
por hora.
taxa de 1,5 milissegundo a cada cem
anos – e, por isso, teremos dias um
tantnho mais longos daqui para
frente. Em 4,6 bilhões de anos, por
exemplo, serão apenas sete giros
por ano, e os dias terão 1.152 horas.
Mas a chance de estarmos aqui
para ver de perto esses dias ulta-
longos é quase zero. Daqui a 1 bilhão
de anos, o Sol estará 10% mais quen-
te, como consequência natral do
envelhecimento de uma estela. Será
o bastante para vaporizar os mares
e eliminar a água líquida do planeta.
A possibilidade de alguma forma
de vida sobreviver a tal cataclisma
é tão nula quanto a da Terra parar
de girar neste exato momento.S
15/01/19 20:01
 superinteressante 1/1

0 0
última página DESculPA quAlquEr cOiSA E Até lOgO

Se
Selênio

1817

Cd
Os períodos da tabela
Veja quando cada um dos elementos químicos foi descoberto. O últmo
Cádmio

1817
ente aqueles que existem na natreza foi o Frâncio, detectado em 1939.
Dali em diante, todos os outos átomos da tabela periódica foram cria
Mo Li de laboratório. Infográfco Carol Malavolta e Alexandre Versignassi
Molibdênio Lítio

1778 1817

Mn I
Manganês Iodo
Símbolo do elemento
1774 1811 Nome do dito-cujo
Ano (ou época) da descoberta
Cl F Ra
Cloro Flúor Rádon

1772 1810 1899

Ba B Ra
Bário Boro Rádio

1772 1808 1898

N Ca Sm Po Md
Nitrogênio Cálcio Samário Polônio Mendelévio

1772 1808 1879 1898 1955

Zn O Na Sc Xe Fm
Zinco Oxigênio Sódio Escândio Xenônio Férmio

1000 a.C. 1771 1807 1879 1898 1952

Hg H Be K Tm Ne Es
Mercúrio Hidrogênio Berílio Potássio Túlio Néon Einstênio

2000 a.C. 1766 1798 1807 1879 1898 1952

S Mg Cr Rh Ho Kr Cf
Enxofre Magnésio Crômio Ródio Hólmio Criptônio Califórnio

2000 a.C. 1755 1794 1804 1878 1898 1950

Sn Bi Y Ir Yb Eu Bk Fl
Estanho Bismuto Ítrio Irídio Itérbio Európio Berquélio Fleróvio

3500 a.C. 1753 1794 1803 1878 1896 1949 1999

C Ni Ti Os Ga Ar Am Cn
Carbono Níquel Titânio Ósmio Gálio Argônio Amerício Copernício

3750 a.C. 1751 1791 1803 1875 1894 1944 1996

ÚLtimO
Fe Pt U Ce La He Dy eLementO Cm Sg Rg Ts
Ferro Platina Urânio Cério Lantânio Hélio Disprósio naturaL Cúrio Seabórgio Roentgênio Tennesso

5000 a.C. 1735 1789 1803 1838 1868 1886 1944 1974 1994 2009

Ag Co Zr Pd T In Ge Pa Pm Db Ds Nh
Prata Cobalto Zircônio Paládio Tório Índio Germânio Protactínio Promécio Díbnio Darnstácio Nihônio

5000 a.C. 1735 1789 1802 1829 1863 1886 1913 1942 1970 1994 2003

Au P Sr Ta Br Ru Tl Nd Re Fr Pu Rf Hs Mc
Ouro Fósforo Estrôncio Tântalo Bromo Tutênio Tálio Neodímio Rênio Frâncio Plutônio Rutherfórdio Hássio Moscóvio

6000 a.C. 1669 1787 1802 1825 1844 1861 1885 1908 1939 1940 1969 1984 2003

Pb Sb Te Nb Al Tb Rb Pr Lu Tc At No Mt Og
Chumbo Antimônio Telúrio Nióbio Alumínio Térbio Rubídio Praseodímio Lutécio Tecnécio Astato Nobélio Meitnério Oganesson

7000 a.C. 800 1782 1801 1825 1843 1861 1885 1906 1937 1940 1966 1982 2002

Cu As W V Si Er Cs Gd Ac Hf Np Lr Bh Lv
Cobre Arsênio Tungstênio Vanádio Silício Érbio Césio Gadolínio Actínio Háfnio Neptúnio Laurêncio Bóhrio Livermório

9000 a.C. 300 1781 1801 1823 1843 1860 1880 1902 1922 1940 1961 1981 2000

300 - 1 7 7 9 1 7 80 - 1 7 99 1800 - 18 19 1820 - 1839 18 4 0 - 1859 1860 - 18 7 9 1880 - 1899 1900 - 19 19 1920 - 19 39 19 4 0 - 1959 1960 - 19 7 9 1980 - 1999 2000 - 20 18
anO 0 anO 0

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