Instruções gerais
• Lê atentamente todas as questões que constituem o teste.
• Ouve o texto “Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos um ‘paraíso
glorioso’” (Alexandra Prado Coelho), anotando, numa folha de rascunho, a
informação mais relevante.
• Responde às questões colocadas.
Compra de Monserrate.
Entidade Atributo
Sabemos que quando Lord Byron chegou a Sintra ficou deslumbrado. No poema “Childe Harold’s
Pilgrimage”, parte do qual terá sido escrito no histórico Hotel Lawrence, chamou-lhe “paraíso glorioso”
e, até hoje, a expressão continua a ser usada. […]
“Quando Byron vem a Portugal no início do século XIX e, tal como todos os outros antes dele, se
deixa levar por este encanto avassalador que Sintra sempre teve, ele não viu o que estamos a ver”,
explica António Nunes Pereira, diretor do Palácio Nacional da Pena e do Palácio de Monserrate. “O
que nós vemos é o produto da transformação paisagística que acontece a partir de 1838 quando D.
Fernando II compra o antigo mosteiro da Pena e o transforma numa residência, transformando também
a paisagem à volta.”
Alguns anos depois, é um inglês, Francis Cook, quem vai comprar Monserrate e iniciar também
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essa transformação. A Sintra Romântica – uma paisagem cultural construída – nasce nessa altura. “O
que Byron viu foi uma paisagem que se aproximaria muito mais do que temos na Peninha, mais agreste,
muito mais despida de árvores, com outro tipo de espécies e muito mais rarefeitas.” A Sintra de hoje
começa, portanto, com D. Fernando II e com Francis Cook. Dois homens que estão, sublinha Nunes
Pereira, “no final de uma longa história mas no princípio da que nós aqui contamos”.
Desde que, na sequência da classificação pela UNESCO em 1995, no ano 2000 a empresa de capi-
tais públicos Parques de Sintra – Monte da Lua assumiu a gestão deste património que procura contar
esta história a todos quantos visitam os seus monumentos, palácios e parques — e foram já mais de
dois milhões este ano.
Comecemos então a visita pelo mais romântico de todos os palácios: a Pena. […]
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A Pena é, diz o seu diretor, “a primeira grande evocação da História portuguesa”. É verdade que é
outro palácio, o da Vila, no centro de Sintra, que carrega um peso secular que começa com a presença
muçulmana e atravessa toda a monarquia portuguesa. “A História está na vila”, reconhece Nunes
Pereira, “mas a evocação dessa mesma História está lá em cima, na Pena”, nesse excêntrico palácio de
mil formas e cores que se ergue, majestoso, no topo dos penhascos.
D. Fernando II nasce em Viena […] e torna-se rei de Portugal pelo seu casamento com D. Maria II.
“É um rapaz alto e louro que chega ao nosso país com 19 anos e tem uma grande necessidade de se
afirmar como legítimo rei de Portugal, mesmo que consorte. Por isso, o que faz é agarrar-se à figura de
15 D. Manuel I, para, com a Pena, mostrar ao mundo que está à altura da herança da nação portuguesa.”
Em 1838 compra o mosteiro de São Jerónimo, doado a esta Ordem por D. Manuel I e devoluto após
a extinção das ordens religiosas, e nos anos seguintes começa a sua recuperação, assim como a
construção do Palácio Novo. Não há dúvida, prossegue o diretor, que “é uma herança germânica que o
leva a construir a Pena a partir dessa ideia de um palácio no topo da montanha, rodeado por uma
paisagem”.
COELHO, Alexandra Prado, Público [em linha, consult. 08-12-2015, com supressões]
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Teste de Compreensão do Oral 4
“Os românticos criaram Sintra e deixaram-nos um
‘paraíso glorioso’” (Alexandra Prado Coelho)
1.1 4 pontos b.
1.2. 4 pontos c.
1.3. 4 pontos c.
1.4. 4 pontos a.
1.5. 4 pontos b.
1.6. 4 pontos a.
2. 8 pontos 5, 4, 2, 1, 3
a. 4, 7, 9, 10, 11.
b. 1.
c. 2.
3. 18 pontos
d. 3, 8.
e. 5.
f. 6.
Total 50 pontos
PINTAR O CINEMA
Responde aos itens que se seguem de acordo com as orientações que te são
dadas.
I. Primeira audição
1. Para cada item, seleciona a opção que permite obter uma afirmação
adequada ao sentido do texto escutado.
(D) preferência de João Queiroz, como artista plástico, para pintar os espaços
exteriores de “Os Maias”.
1.3. A opção plástica pela pintura dos espaços exteriores de “Os Maias”
obteve um resultado
(C) a uma escala real, como o comprova a tela do prédio da Rua Capelo com
40 metros de altura.
1.6. João Botelho considera “Os Maias” como o seu “Ben-Hur”, pois também
ele é
(A) exemplificar.
(D) demonstrar.
1.8. Com a frase “Quero para o cinema o respeito que se tem para a pintura”,
o realizador
Destino
Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
1. Desde o início do poema até ao verso 12, repete-se um mesmo processo estilístico: a
pergunta retórica. Refira o efeito de sentido que esse processo estilístico produz.
Grupo I
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Defronte do Ramalhete os candeeiros ainda ardiam. Abriu de leve a porta. Pé ante pé,
subiu as escadas ensurdecidas pelo veludo cor de cereja. No patamar tateava, procurava a
vela – quando, através do reposteiro entreaberto, avistou uma claridade que se movia no fundo
do quarto. Nervoso, recuou, parou no recanto. O clarão chegava, crescendo; passos lentos,
pesa-dos, pisavam surdamente o tapete; a luz surgiu – e com ela o avô em mangas de camisa,
lívido, mudo, grande, espetral. Carlos não se moveu, sufocado; e os dois olhos do velho,
vermelhos, esgazeados, cheios de horror, caíram sobre ele, ficaram sobre ele, varando-o até
às profundi-dades da alma, lendo lá o seu segredo. Depois, sem uma palavra, com a cabeça
branca a tre-mer, Afonso atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom
de sangue – e os seus passos perderam-se no interior da casa, lentos, abafados, cada vez
mais sumidos, como se fossem os derradeiros que devesse dar na vida!
Carlos entrou no quarto às escuras, tropeçou num sofá. E ali se deixou cair, com a cabeça
enterrada nos braços, sem pensar, sem sentir, vendo o velho lívido passar, repassar diante
dele como um longo fantasma, com a luz avermelhada na mão. Pouco a pouco, foi-o tomando
um cansaço, uma inércia, uma infinita lassidão1 da vontade, onde um desejo apenas
transparecia, se alongava – o desejo de interminavelmente repousar algures numa grande
mudez e numa grande treva… Assim escorregou ao pensamento da morte. Ela seria a perfeita
cura, o asilo seguro. Porque não iria ao seu encontro? Alguns grãos de láudano2 nessa noite e
penetrava na absoluta paz…
Ficou muito tempo embebendo-se nesta ideia, que lhe dava alívio e consolo, como se,
escorraçado por uma tormenta ruidosa, visse diante dos seus passos abrir-se uma porta,
donde saísse calor e silêncio. Um rumor, o chilrear de um pássaro na janela, fez-lhe sentir
o sol e o dia. Ergueu-se, despiu-se muito devagar, numa imensa moleza. E mergulhou na
cama, enterrou a cabeça no travesseiro para recair na doçura daquela inércia, que era um an-
tegosto da morte, e não sentir mais nas horas que lhe restavam nenhuma luz, nenhuma coisa
da Terra.
QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias. Porto: Porto Editora (Capítulo XVII, pp. 683-684) (1.ª ed.:
1888)
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
GRUPO III
Um romance nas nossas mãos pode-nos conduzir a outro mundo que nunca visitámos,
nunca vimos e nunca conhecemos.
Orhan Pamuk
Pintar o cinema
“Os (seus) Maias, duas horas e meia de filme, “à falta de coragem para o fazer
em catorze horas, tem na plasticidade o seu ponto mais forte. O traço, a
pincelada, a mancha e a textura da camada de tinta do pintor, que tem como
disciplina a paisagem como género, está aqui ao serviço de uma narrativa tão
descritiva quanto real do ponto de vista topográfico: a Lisboa do século XIX.
É partindo dessa lógica que o filme nasce tendo como elemento de eleição a
mancha da pintura.
Um traço mais carregado aqui e ali, uma mancha mais forte, sinais da época e
de “uma Lisboa suja”. Apercebi-me que naquela época os prédios não eram
pintados com regularidade, muito menos com tinta plástica. Aqueles que
pintei teriam no mínimo cem anos, não podiam estar luzidios. A obra de
Canoletto também me dizia o mesmo. Foi por isso que optei por essa Lisboa
suja, envelhecida, aquela que crescera no século XVIII e só viria a ser
renovada no século XX”, adianta João Queiroz, que deu voltas à cabeça para
“inventar” uma forma de fazer a calçada do Rossio, até emprestar à tela uma
velatura de cinzento.
“Quero para o cinema o respeito que se tem para a pintura”, reclama ainda o
realizador. O óleo de João Queiroz dar-lho-á até nas pedras gastas do pequeno
painel de azulejos que encima a porta de entrada do velho Ramalhete,
escondido algures lá para os lados das Janelas Verdes.
1.1. (A); 1.2. (D); 1.3. (C); 1.4. (B); 1.5. (D); 1.6. (C); 1.7. (C); 1.8. (B); 1.9.
(C); 1.10. (A).