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JOHN BLACKING
TRADUÇÃO: ANDRÉ-KEES DE MORAES SCHOUTEN
REVISÃO TÉCNICA: DANIELA DO AMARAL ALFONSI, PAULA WOLTHERS DE LORENA PIRES E
THAÍS CHANG WALDMAN
fariam num conservatório europeu ou norte- King, “Eu tenho um sonho”, ou algumas das
americano, seriam recompensados pela des- poesias de Gertrude Stein.
coberta de processos inesperados que entram As fontes de informação mais acessíveis
na produção da música, e sua compreensão da sobre a natureza da “música” são encontradas,
“música” como uma capacidade humana po- em primeiro lugar, na variedade de sistemas,
deria ser ampliada, bem como sua experiência estilos ou gêneros musicais que são atualmente
musical seria enriquecida. realizados no mundo. Segundo, nas gravações
Um bom exemplo de um processo musi- históricas de partituras escritas, na iconografia
cal inesperado foi proporcionado pelas segun- e nas descrições de performances. E, em terceiro
das maior e menor das duas partes da ganga lugar, nas diferentes percepções que as pessoas
da Bósnia-Herzegovina (ver Petrovic, 1977) e têm da música e da experiência musical, por
pelo Schwebungsdiaphonie (ver Messner, 1980), exemplo, nas diferentes maneiras pelas quais as
encontrado nas mais diferentes sociedades eu- pessoas produzem sentido dos símbolos “mu-
ropéias, asiáticas e oceânicas. O que alguns ou- sicais”. Embora apresente um problema filosó-
vidos escutam como tensões dissonantes, para fico, esta terceira fonte é para os antropólogos
os cantores são profundamente concordantes e a mais importante, porque reconhece que as
uma fonte de experiência transcendental. “músicas” são fatos sociais e que a análise das
Mesmo que todas as sociedades humanas composições e das performances musicais deve,
conhecidas possuam aquilo que musicólogos portanto, levar em conta tanto o trabalho dos
treinados reconhecem como sendo música, em críticos e “leitores de textos” como dos perfor-
algumas não há uma palavra para música ou mers e recriadores da “música”. O “objeto artís-
existe um conceito de música cujo significado tico” em si não é arte nem não-arte: torna-se
é bem diferente daquele geralmente associado à um ou outro somente pelas atitudes e senti-
palavra “música”. Todavia, “música” é uma pa- mentos que os seres humanos lhe dirigem. A
lavra oportuna que tem uma função analítica arte vive em homens e mulheres, sendo trazida
similar ao conceito de “tipos ideais” formula- a público por processos especiais de interação.
do por Max Weber. Assim entendida, “música” Desta maneira, os signos não possuem signi-
pode encerrar tanto a enorme gama de “músi- ficados até que estes sejam compartilhados, e
cas” que os membros de diferentes sociedades assim tais processos tornam-se cruciais para a
categorizam como sistemas simbólicos especiais semiótica da música, como o produto sônico
e tipos de ação social, como um quadro inato que fornece o foco para a análise (Blacking,
específico de capacidades cognitivas e sensoriais 1981, p. 192). Clifford Geertz ilustrou este
que os seres humanos estão predispostos a usar ponto mais sucintamente com a seguinte frase
na comunicação e na produção de sentido do reveladora: “A arte e o equipamento para sua
seu ambiente. A “música” é tanto um produto compreensão são produzidos na mesma ofici-
observável da ação humana intencional como na” (Geertz, 1976, p. 1497).
um modo básico de pensamento pelo qual toda Para compreender a “música” como uma
ação pode ser constituída. A expressão mais capacidade humana, como um quadro espe-
característica e efetiva deste modo de pensa- cífico das capacidades cognitivas e sensoriais,
mento é o que poderíamos chamar “música”, devemos começar tratando sua definição como
mas isto também pode se manifestar em outras problemática, e é por isso que coloquei o con-
atividades, até na organização de idéias verbais, ceito entre aspas. Além de incorporar numa te-
tal como o famoso discurso de Martin Luther oria geral da “música” as características de todos
longo contato com sua sociedade e sua cultura isolada, às vezes os músicos podem ser menos
me levaram a uma análise cultural do contex- perceptivos que os ouvintes sobre os impor-
to sensitivo das músicas de criança (Blacking, tantes significados de sua arte, e eles raramente
1967) que mostrou as relações entre estruturas são mais articulados que a média do leigo so-
musicais e padrões da vida social e cultural. bre os processos de endoculturação dados por
Dessa maneira, embora a comparação inter- certos na performance. A performance de mú-
cultural seja uma tarefa na análise das diferentes sicos e compositores, as gravações e partituras
músicas e um passo em direção ao entendimen- musicais são importantes fontes de informação
to da “música“ como uma capacidade huma- sobre as práticas musicais de uma sociedade e
na, um sistema musical deveria, em primeiro de seus componentes, mas não são de maneira
lugar, ser analisado não em comparação com alguma as únicas fontes primárias. E até que a
outras músicas, mas em relação a outros siste- importância das visões “leigas” na compreen-
mas sociais e simbólicos dentro de uma mesma são e na análise das músicas seja reconhecida,
sociedade. Tanto na teoria quanto no método não progrediremos em direção à compreensão
há uma diferença significativa entre o estudo da “música” como uma capacidade humana.
intensivo de outras músicas como sistemas Como isto pode ser feito? Nem o fonógrafo
culturais coerentes e o estudo comparativo de ou a fita cassete, nem mesmo o melógrafo, o
outras músicas-em-performance. Tradicional- sonograma ou outros dispositivos eletrônicos
mente, procurava-se compreender os sistemas proporcionariam as chaves mais significativas
musicais nos termos dos diferentes tipos de para a compreensão da natureza do discurso
percepções que seus compositores, performers “musical”, ainda que ofereçam meios para a
e espectadores habituais fazem deles – embora escuta repetida e para a observação cuidadosa
os últimos estejam inevitavelmente produzin- do fenômeno acústico, podendo sensibilizar as
do sentido das músicas dentro dos parâmetros pessoas para a complexidade e a variedade das
derivados do sistema musical do próprio ana- músicas não-familiares. Como ferramentas de
lista – ou de alguma hipotética teoria universal pesquisa, podem ser usados para testar, confir-
do fazer musical humano. Para entender tanto mar ou refutar aquilo que as pessoas intentam
uma tradição musical quanto as contribuições ou acreditam ser música. Mas aquilo que po-
que compositores individuais dão a ela, um sis- dem reproduzir incansavelmente e dissecar me-
tema musical deve ser compreendido como um ticulosamente proporciona apenas uma ilusão
dos diferentes quadros de símbolos pelos quais de objetividade, porque a essência do fazer e
as pessoas aprendem a produzir um sentido pú- da compreensão musical são os atos humanos
blico de seus sentimentos e da vida social. de produzir sentido com os símbolos musicais
Uma vez que tanto os ouvintes como os através da composição, da performance e da au-
compositores e performers são parte do proces- dição. Os “fatos objetivos” das estruturas mu-
so do fazer musical, e desde que haja evidên- sicais podem aparentemente estar ali para todos
cia de que todo ser humano tem a capacidade ouvirem ou verem, mas na verdade não estão.
de produzir sentido da música (cf. Blacking, O significado dos signos musicais é ambíguo,
1973), a visão que um músico tem da música é mais culturalmente limitado que objetivamen-
uma fonte limitada de informação, até mesmo te auto-evidente. As pessoas estão propensas a
sobre os aspectos estritamente musicais de um percebê-los e interpretá-los com referência às
sistema musical. De fato, já que sua arte exige suas experiências de diferentes sistemas cul-
grande dedicação a uma prática socialmente turais, assim como conforme as variações na
análises musicais pode de fato impedir o de- sistema musical particular, mas da conjun-
senvolvimento de gramáticas musicais, porque ção dinâmica de sistemas e disciplinas alter-
é culturalmente específica e irrelevante para nativas. Isto não é como um diálogo entre
compreender muitas das músicas do mundo. pessoas no qual um deve dominar ou ambos
Embora os termos técnicos das análises devem tomar parte sem afetarem um ao ou-
musicais tenham algum valor heurístico como tro, mas sim uma fusão onde as duas partes
palavras “luminosas” para se referir a formas saem transformadas e renovadas, uma via-
que são externamente similares, eles não são gem de descoberta mútua na qual diferentes
adequados para descobrir os significados “in- maneiras de pensar sobre a música ganham
trínsecos” aos diferentes períodos e aos gêneros um status heurístico igual, num terreno onde
da música européia, deixando de lado as mú- todos os seres humanos são capazes de pro-
sicas asiática e africana. A precisão com a qual duzir sentido da música.
as pessoas podem descrever, avaliar e relacionar
a música com outras atividades humanas (ver,
por exemplo, Feld, 1982, sobre a música dos Pensar e falar sobre música: uma
Kaluli de Papua Nova Guiné) sugere que a mú- abordagem dialética
sica tonal européia poderia ser facilmente des-
crita em geral, com termos não-musicais, de tal Situei o problema da cognição musical
maneira que suas estruturas e significados pos- como central na compreensão e na análise de
sam ser mais facilmente correlacionados com diferentes músicas, e evitei deliberadamente
outras características das culturas européias e as falsas dicotomias como pensamento/senti-
até mesmo com as músicas não-européias. mento, razão/emoção e mente/corpo, que fre-
Para concluir esta seção, as implicações de qüentemente atrapalham as discussões sobre os
tomar as músicas como sistemas culturais po- símbolos e a experiência musical (cf. Blacking,
dem ser declaradas resumidamente. Partituras 1977). Todavia, gostaria de distinguir dois mo-
musicais são prescritivas e apenas represen- dos de discurso contrastantes mas complemen-
tações aproximadas dos sons pretendidos de tares, que são componentes necessários do fazer
uma peça musical. Transcrições descritivas de musical e que também podem revelar como as
performances gravadas podem ser mais precisas. pessoas pensam sobre a música:
Mas como dois performers pensam sobre a mes- Verbal: falando sobre música como analistas
ma passagem pode fazer uma grande diferença e usuários da música. (A categoria de “analista”
para suas performances, mesmo que aparente- inclui as pessoas que interpretam, escutam e
mente não haja diferenças observáveis em seus avaliam a música, assim como os pesquisadores
movimentos de dedo, punho e braço. Como os e acadêmicos).
ouvintes pensam sobre essas mesmas performan- Não-verbal: a interpretação como uma
ces pode ser um fator adicional na comunica- maneira de cumplicidade, especialmente a
ção e na interpretação. Dessa maneira, como experiência bi-musical, isto é, aprendendo a
as pessoas pensam sobre o que elas consideram interpretar adequadamente a música de duas
como performance musical é a chave para com- tradições diferentes. (Isto inclui as perfor-
preender a estrutura e o significado dos símbo- mances normais e as performances organizadas
los musicais. como testes do pensamento musical das pesso-
Uma teoria útil surgirá não tanto do tes- as [como em Blacking (1959) e Arom (1976)].
te de hipóteses constituídas dentro de um Além disso, como argumentei anteriormente,
ouvir música é um tipo de performance, na cognitivas da música e, na seção final deste tra-
medida em que os ouvintes devem ativamen- balho, sugiro que o fazer musical pode ser uma
te recriar e produzir sentido com os sons que ferramenta indispensável para a intensificação
ouvem.) e a transformação da consciência como um pri-
A mais completa compreensão da música e meiro passo para transformar as formas sociais.
o enriquecimento pela experiência musical vêm Em “The music of politics” (Blacking, 1995b)
da combinação desses dois modos de discurso. ofereci um exemplo da África do Sul, onde a
Assim, as análises do pensamento musical de- prática musical foi um importante elemento
vem incluir os dois tipos de informação, mas no desenvolvimento da consciência política e
sempre no contexto de seus usos sociais e no da ação efetiva. Ben Sidran (1971) descreveu
sistema cultural do qual fazem parte. Para enfa- a black music nos Estados Unidos como uma
tizar a dinâmica e os papéis não-reflexivos que espécie de ação mais que de reflexão, um dos
os músicos podem desempenhar na vida social meios pelos quais a estrutura social é criada.
e na organização cultural, e focar na significân- Esse tipo de evidência e o argumento sobre
cia dos símbolos musicais, prefiro não pensar a “música” como um sistema modelar primário
em termos de uma sociomusicologia, que iden- apontam para uma estratégia de pesquisa que
tifica a criação e a interação musical sobretudo toma os “grupos sonoros” como unidade básica
como uma parte auxiliar da vida social, mas de de análise, mais que compositores individuais,
uma musicossociologia, que poderia ver cer- grupos sociais, comunidades ou culturas per se.
tos aspectos da vida social como produtos do Um “grupo sonoro” é um grupo de pessoas que
pensamento “musical”. Isto é mais interessante compartilha uma linguagem musical comum,
para desafiar o modelo da superestrutura artís- junto com idéias comuns sobre a música e seus
tica de base econômica da sociedade em geral, usos. A pertença aos grupos sonoros pode coin-
não porque eu rejeite este modelo, mas porque cidir com a distribuição das linguagens verbais
não me parece ser universalmente válido. O que e das culturas, ou pode transcendê-las, como
pode explicar de maneira magnífica o modo de em partes da Europa e nas Terras Altas de Pa-
produção capitalista e o crescimento do im- pua Nova Guiné. Numa mesma sociedade, as
perialismo na Europa e na América do Norte diferentes classes sociais podem ser distingui-
num tempo particular da história humana, e das como grupos sonoros distintos, ou podem
o que pode explicar os padrões das civilizações pertencer ao mesmo grupo sonoro, embora
hidráulicas e os modos de produção feudais na estejam profundamente divididas em outras
Ásia, não explica necessariamente todas as for- circunstâncias.
mações sociais em todos os períodos da história Se olharmos para a prática “musical” como
humana. uma força ativa na formação das idéias e da
A idéia de que a cognição artística é uma vida social, como comunicação não-verbal que
importante fonte da vida humana, e de que a é a base mas também transcende categorias e
práxis artística pode influenciar e iniciar a ação grupos sociais definidos e sustentados com pa-
social, não deveria ser dispensada como uma lavras, devemos procurar a evidência que mos-
reatualização da visão romântica das artes do tre como o uso dos símbolos musicais ajuda a
século XIX. Não estou afirmando que as músi- fazer, assim como refletir padrões da sociedade
cas ou as artes em geral são o motor da mudan- e da cultura. Devemos descobrir precisamen-
ça, ou que tenham uma função de solucionar te como as pessoas são capazes de relacionar as
problemas. Estou preocupado com as funções experiências com os símbolos musicais e com
outras formas de atividade social e intelectual, sem da prática cultural para sua plena realiza-
e explicar isto como mais do que reações apren- ção (cf. Lenneberg, 1967).
didas. Este nível de explicação deve ir além dos Para se chegar a alguma idéia sobre as capa-
tipos de argumento ou de suposição que afir- cidades necessárias aos seres humanos na reali-
mam ser tal ou qual padrão de som destinado zação destas operações mentais (ponto que será
para – ou associado com – uma atividade ou mais discutido na próxima seção), precisamos
convenção social particular, devendo, portan- enfocar os problemas específicos relacionados
to, procurar seus significados essenciais nos com o equilíbrio entre a potencial capacidade
significados desta atividade social. As sentenças musical e a prática cultural, mas sempre nos
abertas neste trabalho suscitaram uma questão termos e no contexto de sistemas musicais
que com muita freqüência é tomada por certa, diferentes. Por exemplo, sistemas musicais di-
mas que está no cerne de todas as discussões ferentes requerem fundamentalmente distin-
acerca da comunicação musical: a possibilidade tas capacidades, habilidades ou aptidões? Ou
de que os símbolos musicais possam ser trans- apenas enfatizam aspectos de um repertório
formados em outros símbolos, e vice-versa, sem comum de capacidades cognitivas “musicais”
a mediação da convenção social. e/ou gerais? Certos tipos de música são ineren-
Em minhas discussões anteriores sobre temente mais difíceis de se conhecer a fundo
comunicação musical, em “Expressing music que outros? Ou podem, em teoria, ser tão fa-
experience through music” (1995a) e How mu- cilmente aprendidos pelos nativos “falantes”
sical is man? (1973), deixei de tratar essa questão como suas linguagens verbais?
como problemática. Em primeiro lugar, em- Algumas respostas a estas questões emergi-
bora questionasse algumas das conclusões do rão quando soubermos melhor como as pessoas
brilhante estudo de Derryck Cooke, The lan- pensam sobre diferentes conjuntos de símbo-
guage of music (1959), caí na mesma armadilha los musicais e os relacionam a outros símbolos.
que sustenta ser os significados primários dos A análise do significado só pode ser alcançada
símbolos musicais selecionados pela convenção por uma dialética entre “informantes” e “ana-
social. Em segundo lugar, não perguntei como listas”, na qual há uma confrontação de dois ti-
as pessoas relacionariam os símbolos musicais pos de conhecimento técnico e de experiência,
não-verbais a outros conjuntos de símbolos e os “informantes” tomam parte no processo
sem terem uma série de equações arbitrárias, intelectual da análise. Tanto quanto for possí-
tais como: sendo x (não-verbal) = y (verbal); vel, isto deve ser feito em campo, sendo o pro-
sendo pq (não-verbal) = rs (verbal) e assim por cesso bastante diferente daquele usualmente
diante. Em outras palavras, as pessoas poderiam associado com “entrevistas”. O ponto essencial
realizar conexões entre experiências musicais e é que não deve haver duas fases separadas, da
não-musicais sem regras culturais específicas? coleta de dados e da análise de “laboratório”.
Agora estou convencido que sim, principal- A participação, a coleta de dados, a discussão e
mente porque muitas regras culturais são feitas a análise primária devem todas estar fundidas
com os mesmos modos de pensamento que a num processo analítico em andamento. Deste
música, e porque a capacidade do cérebro hu- modo, a maior tarefa da análise é transferida
mano em relacionar diferentes transformações para o campo, onde os experimentos ad hoc
da mesma figura não depende completamente (cf. Blacking, 1959) podem ser combinados
da experiência cultural, embora certos marcos com o diálogo, bem como para testar cada
históricos do desenvolvimento cognitivo preci- conclusão.
Por que os garotos dayak se expressam através provavelmente nenhuma outra pessoa viva toca-
da escultura (Leach, 1954) e as garotas venda va com o virtuosismo do garoto Mozart... mas
através do canto e da percussão? E os garo- aos dezesseis anos Picasso não desenhava tão
tos dayak e as garotas venda seriam carentes, bem quanto Degas (1973, p. 198).
que bons músicos poderiam evidentemente ga- cujo papel na ação humana se tornou menos
nhar muito pouco em testes de musicalidade, acentuado que a linguagem verbal desenvolvi-
porque seus valores e conceitos musicais seriam da, e do hemisfério esquerdo, usado mais fre-
variados. Por exemplo, as pessoas resistiriam a qüentemente em atividades culturais gerais e
cantar em uníssono comigo quando solicitadas em certas ocupações (cf. Ornstein, 1973, p. 92).
a fazê-lo, pela razão de que com a presença de Embora grande parte das ocupações valorize
mais de uma pessoa qualquer bom músico pre- um modo de pensamento ao outro, a “consci-
feriria cantar em harmonia com intervalos de ência humana completa poderia incluir am-
uma quarta, quinta ou terça! Leon Crickmore bos” e os “trabalhos complementares de nossos
(1968) demonstrou que, até mesmo dentro da dois processos de pensamento nos permitiriam
tradição musical européia, a capacidade para as maiores realizações” (ibid.). Da mesma ma-
apreciar a música não está correlacionada com neira, embora a comunicação não-verbal seja
a personalidade, medida em qualidade intelec- particularmente apropriada para a expressão da
tual ou inteligência musical, como calculada qualidade e da intensidade dos sentimentos (cf.
pelo teste Wing. Bateson, 1973, p. 388), recuso, pois que são
A pesquisa etnomusicológica mostra que de pouca valia, essas dicotomias que opõem os
grande parte das teorias, parâmetros e testes de hemisférios direito e esquerdo, música e dança
musicalidade, assim como das corresponden- em contraste com linguagem verbal, emoção
tes psicologias da música, são específicas e cul- com razão, e assim por diante.
turalmente limitadas, e que a música pode ser Os modos de pensar não-verbais, freqüente-
gerada por uma variedade de processos, alguns mente referidos como “performativos/expressi-
dos quais são “não-musicais” (cf. Blacking, vos”, são tão fundamentais e necessários para a
1973, 11ff.). Apesar disto, existem boas razões vida humana como o verbal e outros modos de
para procurar e identificar um quadro inato pensamento “proposicionais/discursivos”, ca-
específico das capacidades cognitivas e senso- racterísticos do hemisfério esquerdo do cérebro.
riais que os seres humanos estão predispostos Além disso, estes dois modos de pensamento,
a usar para a comunicação “musical”. Ao pos- complementares mas contrastantes, não estão
tular um modo não-verbal, pré-lingüístico, atrelados a nenhuma atividade particular, mas
“musical” de pensamento e ação não quero di- são maneiras de processar a informação.
zer que todas as músicas são derivadas dele ou Como um sistema modelar primário, a
que está limitado à produção da música. Além “música” só pode ser inferida a partir de obser-
disso, pode manifestar-se em outras atividades vações cuidadosas do comportamento e da ação
humanas, até mesmo na organização de idéias humana. Além do mais, ela provavelmente não
verbais, como ressaltei na primeira seção deste pode ser revelada através do estudo intensivo
trabalho. de um sistema em seu contexto social, embora
A linguagem verbal surgiu com a nossa atu- esse método pareça ser produtivo para entender
al espécie Homo sapiens sapiens acerca de seten- a fala, tendo Chomski e outros realizado gran-
ta mil anos e é claramente mais eficiente para a des progressos no estudo do uso da língua in-
adaptação cultural. Mas a “música” e a “dança” glesa. Um trabalho como Biological foundations
não desapareceram. Tal sobrevivência sugere of language (Lenneberg, 1967) não poderia ter
que este valor evolutivo reside na sua eficácia sido realizado sobre a “música” com evidências
como linguagem não-verbal, especialmente no provindas de um único sistema cultural, porque
uso que faz do hemisfério direito do cérebro, as pessoas não distinguem as músicas umas das
outras com a mesma certeza que reconhecem A diferença entre este e aquele padrão de com-
outras línguas naturais como fala. portamento é devida a uma diferença na cons-
O conceito antropológico de “música” deve- tituição genética ou na experiência? A diferença
ria, portanto, ser provisório e sensível à variedade na experiência (ou na constituição genética) afe-
de significados atribuídos, em diferentes partes ta o padrão de comportamento? [...]
do mundo, ao som humanamente organizado. [No caso do tentilhão,] ouvir um canto normal
Os mesmos padrões de som não apenas podem é parte da experiência necessária para o desen-
ter diferentes significados em diversas sociedades, volvimento deste canto [...] Entretanto, os ten-
mas também podem ter significados diferentes no tilhões não aprenderiam nenhum canto ouvido
interior da mesma sociedade, por causa dos con- por eles [se] a experiência de aprendê-lo não
textos sociais diferentes. Dessa forma, como nos ocorresse alguns meses antes do próprio pássaro
estudos modernos dos atos de fala, a ênfase deve iniciar a cantar [de modo que a informação], de
estar nas intenções de significar algo dos atores e certa maneira, seja armazenada [...]
em suas interpretações das intenções de significar Os organismos vêm ao mundo com propensões
das outras pessoas. Isto também obriga a reconhe- para aprender algumas coisas mas não outras [...]
cer que atores e analistas podem interpretar mal os tentilhões logo terão dificuldades se imitarem
as intenções dos outros, o que pode ter conseqü- qualquer som que ouçam, pois é verdade que
ências para a ação social bem como para o rigor está predeterminado que aprendam apenas can-
analítico. Isto é, uma pessoa pode interpretar um tos com a estrutura tonal parecida com aquela
comportamento não-intencional de outra como do canto normal do tentilhão (Hinde, 1975, p.
uma ação intencional e responder de acordo. Um 114-117).
tique nervoso pode ser interpretado como uma
piscadela, ou como um tique nervoso. Não estou interessado no estudo dos siste-
A etnomusicologia dialética deve procurar mas musicais unicamente como exemplos da
relacionar as variedades de músicas com as ca- infinita variedade da criatividade humana, mas
racterísticas gerais da “música” como um modo no suposto papel da “música” como parte de
de pensamento e ação – por exemplo, relacio- uma biogramática humana. Se há um funda-
nar as manifestações culturais aos fundamentos mento biológico para a “música”, qual é a gama
biológicos. Os estudos da natureza da “música” de capacidades envolvidas? E em que medida
envolvem uma dialética entre cultura e nature- elas coincidem com outras capacidades? Que
za, convenções ou predisposições sociais e ação outras formas culturais são extensões das mes-
individual, plasticidade e especificidade. Mas mas propensões biológicas? O que acontece às
estes pares contrastantes nem sempre devem ser pessoas quando as sociedades não levam em
tratados como oposições ou categorias homó- conta ou não estimulam o desenvolvimento
logas. Isto quer dizer, por exemplo, que a plas- das capacidades “musicais” latentes? Elas são
ticidade é uma característica da especificidade canalizadas para outras atividades ou simples-
humana, embora as variedades das convenções mente atrofiam? Se há fundamentos biológicos
sociais possam ser descritas como conseqüên- das músicas, o quanto eles determinam reações
cias desta plasticidade e da ação individual. O na interpretação das estruturas sonoras?
fato de que elas são convenções somente é pos- Há um paradoxo acerca das interpretações
sível por causa da especificidade humana. Es- privada e pública da música que aponta para a
tou interessado em uma série de questões que o presença e a importância dos fundamentos bio-
etólogo Robert Hinde considera útil: lógicos. Ele é resumido no tipo de observação
que Constant Lambert fez ao final de Music códigos, como temos que produzir sentido da
Ho!: “O artista membro de um grupo escre- fala estrangeira. Isto sugere que haveria uma
ve somente para aquele grupo, ao passo que, ressonância cognitiva supracultural e níveis nos
ao expressar uma experiência pessoal o artista quais diferentes compositores, ouvintes e siste-
pode, no fim das contas, alcançar uma experi- mas musicais utilizam os mesmos modos “mu-
ência universal” (1948, p. 241). Isto sugere que sicais” de pensamento. Contudo, a experiência
a música pode ser uma linguagem universal que de tal ressonância somente pode ser privada,
transcende cultura, classe, nação e grupo social, porque os sentimentos públicos inclinam as
mas apenas sob certas condições. Quando ela pessoas para aquilo que é culturalmente fami-
remete a um conhecimento público, seu apelo é liar. Além disso, a afirmação de que a música é
limitado; mas quando é mais privada, pode ter uma “linguagem de emoções, parecida com a
um apelo mais amplo. fala” (Cooke, 1959), que revela “a natureza dos
A primeira proposição é facilmente aceita. A sentimentos com um detalhe e uma verdade
música não é uma linguagem universal. Como que a língua não pode abordar” (Langer, 1948,
comunicação pública, os sistemas musicais são p. 191), não poderia explicar a comunicação
mais esotéricos e culturalmente específicos do musical “universal”. Não apenas as convenções
que qualquer linguagem verbal. Eles não po- artísticas e a expressão emocional muda de uma
dem ser traduzidos e tornados publicamente cultura para outra, como também as maneiras
acessíveis e inteligíveis para os estrangeiros, pelas quais as pessoas aprendem a classificar, a
assim como se pode falar em línguas estrangei- usar suas emoções e a desenvolver uma vida de
ras em conferências ou reuniões políticas e ser sentimentos varia consideravelmente.
entendido por todos os presentes com o auxílio O tipo de comunicação musical que Cos-
de bons intérpretes. tant Lambert (1948) descreveu e a experiência
A segunda proposição não faz sentido al- de centenas de milhares de pessoas podem não
gum, a não ser que postulemos serem alguns ocorrer regularmente, a não ser que os indiví-
aspectos da comunicação não-verbal e da or- duos possuíssem alguma espécie de inteligência
ganização cognitiva parte de uma biogramática “musical” cujo uso não depende completamente
humana (cf. Blacking, 1977, 10ff.). Pela ex- da experiência e do condicionamento cultural.
periência sabemos que não podemos produzir Como um meio de comunicação, a músi-
qualquer sentido da fala de outra pessoa sem ca difere da fala e do mito, pois o significado
utilizar um intérprete ou gastar tempo e esfor- (mensagem) é geralmente fixado independen-
ço consideráveis apreendendo sua gramática e temente da estrutura (código). Embora qual-
seu léxico. Mas também sabemos que podemos quer significado extra-musical (por exemplo,
privadamente produzir sentido da música de, social, político ou religioso) possa ser fixado
digamos, Schubert, Mozart e alguns composi- para o conjunto dos símbolos musicais, a ex-
tores balineses sem qualquer conhecimento ou plicação torna-se um problema sociológico,
mesmo tendo pouco interesse nas culturas e e o significado musical depende muito da es-
línguas austríaca e balinesa. Como é possível? trutura do som. A fala agramatical pode ser
Mesmo que seja necessário algum treina- compreendida, mas a música sem estrutura é
mento musical ou endoculturação em pelo ininteligível ou, de qualquer forma, ineficaz
menos um sistema musical, o ponto é que po- como comunicação musical. (A música alea-
demos produzir sentido dos sistemas musicais tória não é uma exceção, porque é geralmen-
sem ter que perder tempo aprendendo seus te incorporada em estruturas musicais. Isto
não pode ser comparado precisamente com a apreendida apesar das experiências sociais espe-
glossolalia, que não é tratada como fala agra- cíficas. Uma compreensão intuitiva da música
matical.) é possível porque performers e ouvintes pos-
Como estrutura, a música é sobretudo sen- suem, tal como criadores de música, a mesma
sual e não-referencial: ela proporciona “uma re- “competência” ou “inteligência” musical inata.
presentação de fatos conhecidos, característica Quando alguém usa esses modos de pensa-
não da experiência objetiva em si, mas de nossa mento e ação muito pessoais (mas “universais”)
consciência da experiência objetiva” (Ferguson, para criar novas combinações com os símbo-
1960, p. 88). Ela não pode comunicar nada los musicais culturalmente familiares, há uma
novo a não ser padrões desconhecidos de som boa chance de outros seres humanos, recriando
e, num certo sentido, não exprime nada mais suas percepções ao ouvi-las (é sobre isso que
que ela mesma: provoca emoções apenas com trata a audição ativa), sentirem em seus corpos
base na compreensão dos contrastes tonais e o que os outros sentiram ao criá-las. E desde
rítmicos (cf. Meyer, 1956; Pike, 1970; Clynes, que estes sentimentos sejam parte essencial das
1974). No entanto, essas estruturas são criadas atividades do corpo humano, eles serão acom-
e fixam significado na cultura (cf. Blacking, panhados pelas experiências de plenitude, de
1973, p. 54-58), e assim a música exprime satisfação e de bem sucedida auto-atualização.
tudo menos ela mesma, da mesma maneira que Tudo isso é uma elaboração a partir da fra-
a fala exprime tudo menos a fonologia e a sinta- se de Geertz, citada anteriormente, de que a
xe para quem usa uma língua especificamente. “arte e o equipamento para sua compreensão
Portanto, até as explicações fenomenológicas são produzidos na mesma oficina”. Mas gosta-
do significado musical intrínseco não podem ria de reiterar dois pontos. Primeiro, o processo
evitar o fato de que os símbolos e os sistemas de ressonância em nada depende do condicio-
musicais são socialmente construídos, e de que namento cultural, podendo ser um fenômeno
a comunicação musical se torna possível não da comunicação humana não-verbal. Em se-
pelas estruturas musicais per se, mas pelo senti- gundo lugar, os sentimentos primários que as
do musical que as pessoas encontram nela. pessoas têm em seus corpos são experiências de
Se “ao expressar uma experiência pessoal o diferentes tipos de impulso interno. Mais que
artista pode, no fim das contas, alcançar uma sensações de emoções particulares ou estados
experiência universal”, é porque ele ou ela é físicos, elas podem escolher interpretar tais
capaz de viver além da cultura – e não para a sentimentos com linguagens contemporâneas
cultura (cf. Blacking, 1969, p. 16) – e de res- da emoção e outras metáforas culturalmente
sintonizar as convenções culturais particulares familiares. Entretanto, não chegaremos a uma
com as experiências comuns dos seres huma- teoria coerente da comunicação musical se ten-
nos pelo uso dos modos de pensamento que tarmos explicar diferentes sistemas musicais
todo indivíduo possui. Quando a gramática da como linguagens de emoções: como uma ca-
música coincide com a gramática do corpo de pacidade humana, a “música” é uma atividade
uma pessoa particular, a ressonância cognitiva cognitiva e, portanto, afetiva do corpo.
pode, em parte, ser sentida e apreendida por As análises críticas das estruturas musicais e
causa da experiência social. Mas quando a gra- de seus significados para atores e analistas, em
mática da música coincide com a biogramática diferentes contextos sociais e históricos, podem
“musical” do corpo humano, em sentido am- complementar experimentos formais e levar-
plo, a ressonância cognitiva pode ser sentida e nos mais próximo à compreensão da “música”
como uma capacidade humana. Aquilo que de- igualitárias e prósperas no século XXI, assim
nomino “dança biossocial” (Blacking, 1976) é como nossos ancestrais pré-históricos usaram-
uma capacidade específica, o instrumental que na para inventar as culturas a partir das quais
permitiu ao homem primitivo desenvolver o todas as civilizações se desenvolveram.
pensamento, a tecnologia e a invenção da cul-
tura na época do baixo Pleistoceno. Sugeri que
a “proto-música” e a “proto-dança” estiveram Referências bibliográficas
intimamente vinculadas à expansão dessa ca-
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London: G. Bell for the London School of Economics Rodrigues e Giovanni Cirino pela colaboração
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LENNEBERG, Eric. Biological foundations of language. dernos de Campo responsáveis pela apreciação
New York: Wiley, 1967. 528 p.
desta e por suas generosas sugestões ao texto.
traduzido de
BLACKING, John. Music, culture, and experience. In: Music, culture & experience
– selected papers of John Blacking; edited and with an introduction by Reginald Byron;
with a foreword by Bruno Nettl. Chicago and London: University of Chicago Press,
1995. p. 223-242.
Recebido em 19/03/2007
Aceito para publicação em 16/07/2007