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ll·lS
Tcr~linha Féres-Carnl"iro
Pmuiflcia Unil'ersidade Católica do Rio de Janeiro
Resuma
Objetivou·~e conhecer quem os adolescentes de Famílias Originai~ (FO) e Reconstituídas (FR) eoru;ideravam
membros de sua família. Participaram 394 sujeitos, de ambo~ os sexos, que desenharam sua família.
Analisou-se ii configumçãn familiar. a proximIdade ou o afastamento. a \·alori7.ação. a desvalorização ou ii
eompart1m~ntalúaç.ào. Conslatou-se que 97,5% dos adolescentes de FO desenharan1 ii família com quem
moravam. Em FR. 23,3% desenharam somente a FO, sem integrar nenhum elemento da FR; 45,7~o
desenharam a FR com quem coabitam; 23.3% d~scnhardrn a\ duas familias, parcial ou totalmente c 7.6%,
outros agrupamentos. Não houve indicaçào de companim~"1lI.3Ii;..açào nos desenhos dos adolescentes de FO e
houve 17,7%, em FR. O pai foi a figura que apar~ceu mais valuri7.ada tanto em FO(65 % )como em FR (25%)
Concluiu-se que as variáveis coabitação, consangUinidade e t~mpo de recasamcnto s.lIo importantes na
definição dos núdeos recasados
Palavriullawe: re<:a,amento, desenho da família. adolescência.
Remarriageandthegraphicrepresentationofthefamily
üslracl
Thc prcscnl sludy aimcd to kno,,"' who was regarded as family membcrs by adolescents bolh fTOm Original
Familics(OF) or Rcmarried Familics (lU'). TIlCCC hundrcd and nincty fourmale and fcmale adolcsccnts wcrc
asked to draw thcir families. Thc drawings wecc analyzcd for lhe assissmcnt of the family configur3tion,
famil)' proxirnity or di'lance 3mong members and lhe valuation, dcvaluation or segrcgation of a cenain
personage. Rc,ulto; dcmonstratcd that97.5~. ofthe OF adolesceut. drcw ali the family members they lived
with.ln RF, 23.3% onhem drewonlythcirOF lllcmbcrs; 45.7% drew (h~ RFmcmbcrs lhey !iwd wilh; 23.3%
drew both fami]y m..,mhers, partially or complctcly and 7.6% lircw other groupings.ln the OF adol~~cenls'
drawing, Ih~r~ was not any kind of tamil)' segregalion. ln the RF lami!)' segregation appcarcd in 17.7% of
them. The falher was the main figure among valued famil)' membcrs in OF (65%) and RF (25%). lt has bt:en
concludcd Ihat cohabitation, consanguinity and tim~ "fremamage variables related to al"C' important in lhe
definitionofremamedfamilies.
II, WDtds: remarriage, lirawing oflhe famil)', adolesccnce
I. Trabalho apresentado no Simpósio Novas cmifiguraçàe.r conjugai.• efamiliares, na XXIX R~união Anual de I'.icologia
da Sociedade Brasileira de Psicologia_ Campinas SI'. outubro de 1999
2. Endereço paraCOlTCSpOTldência: Rua Vic.entedaF0Ilt00J1I.2059ap.504I3airroI'CIrÓpOlis - CEP90460-003 PortoAlcgn:-RS.
c-mail:wagner@pucr"s.hr
Agradecimentos aos Bolsistas de Iniciaçao Cientifica: Clarissc Mosmann, Renala Doua (CNP'l.), Isador.. Garcia
(FAPERGS), Jefferson Krug (P1l3IC-CNPq) e ao Professor Jorge C. Sarricra (l>UCRS)
Apoio financeiro FAPERUS
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CrujICS FllqiilncilS
23.•
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, •. DelfiM A ,*1~ llilial e.,leü I .e.~rn A rItOlslÍlai., 5.1
'S· De,U" us jmll.liu flClIISlitlidu Ilo"i 111.bl u.,lrtn 1.1
GI·Dm.... HcwlrlcolSllt.i•• 5.'
"·D$0I1111,1I11111
IOIAL I.
1.1
comparados aos adolescentes de FO. Pode-se A partir desses dados pode-se ob5ervar que a
observar, na Tabela a seguir, a distribuição dos variável tempo de reconstituição familiar, no caso,
grupos em FR maior que dois anos, parece ser muito reh:vanle se
Nota-se que a grande maioria (75%) dos considerarmos que outros dados (Wagner, Ribeiro,
jovcns quctêm a experiência do recasamento de seus Artcrhe, e Ilornholdt, 1999) evidenciamm um bom e
pais passa, de alguma fonna, a integrar como "da muito bom nível de bem-estar entre adolescentes,
família" os novos membros (madrasta, padrasto, quando os pais já se encontravam recasados por um
filhos dos padrastos ou das madrastas. entre outros). período entre dois e seis anos.
Este dado aparece na Tabela 2, oode se agrupou
as sete cOllligW"aÇÕCS descritas (Tabela I), COl1fonneos
sujeitos integravam algum elemento da nova família Proximidade/afastamento
reconstituída do pai ou da mãe. A variável "proximidadc/afastamcttlo" foi
considerada como a distância entre os membros da
Tabela 2. A configuração familiar. segundo o critério família, em geral, e entre o casal dcscnhado pelo ado-
integração de mCTllbros da FR do pai ou da mãc.
GlllpDI f ,
1- Deuel! N rO.lell ÍlIIgrlçjO i'lIlh. tlllula H IR (I 23,(
11- Dllube ú FI eel ~III m~fta. III a'IHIQUI H II 45.1
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Parece que o critério coabitação é prcpon- ip
J/~
derante para o jovem definir quais são os elementos
de seu núcleo lamiliar,já que um alto percentual de
sujeitos (45,7%) desenha os membros com os quais
Figura 1. Completamente afastados.
A fim de vcrificar a associação entre o tempo
cm que os pais se encontram recasados com seus
novos cônjuges e a integração que o adolescente faz
dos novos membros no seu núcleo familiar, aplicou-se
o teste do quiquadrado. A partir d~st~ procedimeoto,
pode-se observar que é significativamente ntaior o
núntero dejovcns quc integra os memhros da família
reconstituida no seu <.ksenho quando a mãe (p={),OJ)
já se encontra recasada com o padrasto por um penodo
de dois a seis anos. Estc rcsultado tcnde a se repetir
também com relaçao á figura paterna (P-O,09).
Entretanto, não se encontrou associação entre a idade
do sujeito e a fonna como este configurava a sua
família. Figura 2. Afastados,scm intcração no olhar, frieza.
Entretanto, é importante observar que os
adolescentes de ambas as configuraçlks,em média,
representam os membros de suas famílias afastados,
scmcontatofisieo.
Considerando-se somente a distância entre os
membros do casal parental, os pais de FO (i=
2,36
dp~ I.02)são representados significativamente
(P=0,oO) mais próximos que os de FR Ü?- 1,82
dp-O,94)
Soma-se aesse resultado a constatação de que
os pais (casal) da FO são os que aparecem mais
próxim~sy::2 _2,3~ dp- I,02), seguidos do~ casal
reconstltUldo (mando e mulher) em FR (X·=2,15
FiguraJ.Scmeontatofislco,cxprcssat~domlemçi'lO.
dfJ"'I,Oó) e, por último, o casal parental (pais) de FR
(x2- 1,8dp=O,94).
Compartimentalização
Compartimelllalização foi considerada
quando alguma linha. traço ou objeto separava um
ou mais personagens dos demais membros da
família. Esta característica não foi encontr~da em
ncnhumadasfamiliasdcsenhadasporadolcscentcs
da FO. Entre os adolescentes da FR, apenas 17,7%
compartimentalizaram algum membro das suas
famílias.
A ruptura do vínculo familiar ocorrida nessas
Figura4.PrÓximos.eomconlalofisieQ famílias, dcsse modo, fica expressa através da com-
panimentaliLilção encontrada em alguns desenhos de
lescentc. Classificou-se de um a quatro, COnfOnlleOS adolcseentesda FR.
niveís de distância e interação indicados nas Figuras
1,2,3e4.
Valorização
A família original (XL2,51 dp "" O,76) é
representada significativamente com maior proxi- Considerou-se valorização de algum perso-
midade entre os seus membros (p= 0,(0) que a família nagemquandoesteseapresentavaressaltadolrente
rcronstituida Cl"'2,34 dp:I,82). Essa diferença, pro- aos demais, ou por sua localização privilegiada, ou
vave\mente, pode scr explicada devido aos diferentes pe!otraçado mais detalh~do do desenho, ou ainda
tiposdc fronteiras quc, geralmente, earaeterizam css.as por estar num plano mais elevado. Para lins de
duas configurações familiares. As mudanças que ocor- análise. consideroU-SI:, no máximo, um membro
rem no sistema e nos subsistemas, após o recasamcnto valorizado em cada desenho. Neste caso, pon-
dos pais, aumenta a complexidade em tennos dos tuou-s e, como membro valorizado, aquele 4ue
papéis e das relações que se estabelecem nestas reunia o maior número das características citadas
famílias anterionncnte.
Entre os adolescentes da FQ que valonzaram Essas mudanças tllmbbn aparecem refletldas
algum membro. O pai fOi o mais valori7.ado (65".). na dimensão proximidade/afastamento. Os filhos da
seguido di mlle (11%). Nos desenhos da FR onde FOpen:cbcm suasfamlliasmalsaproxlrnadas qucos
apareceu algum membro valorizado, o pai (25%) filhos da FR. ASSim, a dehm itaçAo das fronteiras
também fOi quem alcançou maIOr indice. seguido da tende asermalSdefmHia nas ramíliasoriglnaisemais
mAe(IS'/,), do padrasto (IW,) e da madrasta (5'1,). difusa entre os membros da famll ia reconstituída
(Maldonado, 1989). Pode-se supor que, pelo rato de
as fronteiras serem menos claramente demarcadas
Desnlorização nas familias reconstltu[das, seus membros nlo se
aproximem muito uns dos outros como uma
POntuou-se como desvalori/.açio o perso-
estratégia defensiva para preservar a sua indivi-
nagem que aparecia rcprcso;:ntado graficamente depre-
dualidade (Féres-Dmciro, 1998). Quando as rron-
ciado, a panir dos seguintes crit4!rios: por omissão,
teiras são bem nítidas, como ocorre nas ramílias
diminuiçllo de tamanho, localiuçAo d istanciada dos
originais, a ameaça de invasão t menor e a proxi.
demais, rcprcscntaçAo mais descuidada e menos
midade pode scr vivenciada com mais esponta-
detalhada, Estipulou-se que, no máximo, um membro
neidade.
de cada desenho fosse considerudodesvalori7..ado.
Entretanto. o fato de os ado lescellles, tanto da
Encon trou.seumlndice de8%depl.'fSOnagens
FQ quanto da FR, representarcm em média suas
dcsvalonzados em FO e de 16"'0 em FR. Entre
ramílias afastadas e .sem contato físico. pode estar
aqueles mais desvalorizados em FO, o próprio
evidenCiando o desejo da autonomia, caracteristiço
sUjeito aparece com um Indiee de 4)°/" seguido de
daadoICs<:Cncla.
outros personagens (J W,) e, por ühimo, as FigUf1lS
Noqueserefcrcaocasalparental,obscrva.sea
de pai e mAe(2S'/o).
predommáll4;:ia do mtmo de eonjugalidade e da
Entre os SUjeitos da FR, o pai e a mãe (2W.)
relaçAo amorosa sobre o da parentalidade, na
aparuem com o mesmo índice de desvalorização que o
n:pn:::scntaç30 que os SUjeitos fazem dcsldl peno-
padrasto e a madrasta (21'/.), seguidos do SUjeito
nagens. Isto 4!, os pus de famílias reconsUluidas slIo
(18'/.). Nestas famílias, O maior índice de desvalori-
aquclcsreprestntadosderonnalllaisarastadaqucos
zaçlo apareceu relacionado' categoria outros ( 37%).
tk."'fll.ais part'S casados, 00 caso. o parcoojugal da FQ e
o casal reconstituído. Desde uma perspectiva de
DISCUSSÃO auto-regulaçAo, pode-se pensar que a mudança ou
ruptUnl no víncu lo conjugai pode tamb4!ln estar
A panir dos resultados encontrados. pode-se afetando. de algwua rorma, o subsistema parental.
perceber que o desenho da família mostrou·se um Pareccque adlstâneia cntre os pai$, peTCeblda pelos
instromel1loeficazpanlaavaliaçlodapercepçlloquc adolesccntes da FR. altm de expressar aspectos da sua
os adolesccntcs têm de sua conslituiçll.o familiar. realidade imediata. como a ruplurn da unilloconJugal,
As trDnsfomlaçõcs sociais que têm influen- também pode estar expressando o enfmquccllnento
ciado o nücleo ramiliar nas ultimas décadas dos papéis parcntal5. Nesse sentido, outros estudos
dcterminam, sem duvida, direrentes conccpç6cs dc indicam UnlD dilllll\uiçilo do pod...,. do pai frente 00
familla, naS quais pudemus observar que II coo.bi- adolescente (Wagncr c co[s.. 1991), assim como o
taçAo e a consangOmldade ocupam um lugar rele- envolvimento da mae com outras funçOes e papéis
vante. O tempo de rccasamcnto dos pais mostrou·se (Família. 1998; Wagncr. Halpem c Bornholdt. [999).
uma imponall tc ... arihel para o ajuste do adolcs<:ente A dimenslkl valorizaçloldesvalonução tam-
e a mcorporaçilode mudanças na estrutura de sua bCm reflete importantes DSp«tos rclahvos â auto-
configurnçllofam!llar ridade e ao poder na estrutura familiar dos diferentes
A, W~!/IIertl.firtl-[arleirt
grupos. Nota-se que a distribuição de membros jovens. Esse dado leva a pensar na possibilidade de
valorizados é maior na amostra d~ FR qut: na da FO. maior riqueza e complexidade da rede social desses
Esse dado pode estar refletindo a maior riqueza e sujeitos que, por circunstâncias de suas famílias,
complexidade da rede social dos adolescentes da FR encontram-se com mais opções de modelos de
(Gross, 1986). A integração de novos membros em idealização e identificação.
seu núcleo familiar, oomo o padrasto ou a madra.~ta, O alto índice de desvalorização encontrado
amplia o númt:ro e ~ pussibilidadt: de dift:rt:ntes eomrda~ãu~uprópriosuj<::itu,podt:serrelacionado
modelos de identificação e idealização para o adoles- a mlldanças fisicas e emocionais características da
adolescência, que, frcqüentemente. provocam no
Entretanto, é curiosu ubservar que a figura jovem sentimentos de insegurança e de baixa
paterna é a mais valorizada nas duas configurações auto-estima.
familiares. Istu contrasta com outros dados de Retomando os objetivos iniciais deste tra-
pesquisa (Wagner c cols., 1997), onde foi demons- balho, pode-se coucluir que as variáveis coabitação,
trado que, em FR, o pai aparece com menos poder, consangüinidade e tempo em que os pais se
mais ausente, pouco afetivo e colabomdor. Parece. encontram recasados parcçem ser bastante impor-
entllo, que a id<::alização desla figura, expressa pela tantes na definiçãn dos núdeos reconstituídos, desde
valorização no desenho de FR, poderia indicar a a percepção dos filhos adolescentes, indepen-
carência da presença deste membro de forma mais dentem ente da idade em que eles se encontram.
atuante na vida desses jovens. que estariam, a.~sim, Estes são dados que, obviamente, não contem-
idcaUz:mdo e valorizando o que desejam, por':m não piam toda a dimensão do fenômeno em estudo,
possuem. porém pensamos que compreender melhor as
É curioso também observar que, independente transformaçõcs pelas quais a família vem passando e
da configuração familiar, o item valorização con- ~ conseqiiente diversidade das constituições farui-
centrou-se nas figuras par<::ntais. Em funç~o disso, liarcs contemporâneas é, sem dúvida, uma maneira
pode-se pensar quc, ncsta fase do ciclo vital, os pais importanle de cOlltribuirpara a construção demodc-
ainda assumem a posição de lidernnça e de poder losclínicosmais\:ontt:xtualizadosdeatendimenloao
frente aos adolescentes, principalmente devido ao casal e à família.
vínculo de dependência que os jovens ainda possuem
em relação a e1es.
Embora as pesquisas anteriores tenham
RElERiNCIASBIBLlOCRÁFICAS
apontado a figura paterna como mais periférica e Barf>t,r, R. L. e Lyons. J M.(1994). Family proces>t'san<j
ausente em FR. o pai [oi a ligura mais valorizada. adolesceut adjustamcnt in intact and remarri ed
familie • .!(>IIma{ of Yourh am/ Ado/eJcence. 23,
tanto nesses núcleos como em FO. Nesse caso,
421-436
evidencia-se ainda um modelo clássico patriar\:~1 na
estrutura das familias originais. Entretanto, parece
que os sentimentos de perda dessa figura nos núcleos
Cancro B. c McOoldrick, M. (1995). A., mud,mçus nucic/u
rcçonstituídos Icva à idealização da mesma.
de dda familiar: Uma eslrutura pa", " /eropúl
Independente do tipo de configuração fami- familiar. Porto Alq,"~: Art~s Médicas
liar, as figu!"".ls de pai e mãe são, ao mesmo tempo, as
Cohia. n C. e Brazelton, E. W. (1994). Thc aplieation of
mais valorizadas e menos desvalorizadas, prova- family drawing I~sls with childrcn in remarriage
velmente devido às necessidades de idealização e familie.<: Understamling familial roles. Elemenlary
identificação inerentes à fase adolescente. Nota-se, Srh(}(){ (;uidance am{ Cou.,elinx. 29, 129-136.
entretanto, que, nos núcleos reconstituídos, existe Connam, L. (1979). O de.\·enho da fomilia. São Paulo:
maior distribuição das liguras vHlurizadas pdos
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