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Recebido em Abril/2010
Aceito em Junho/2010
tor abordavam a pressuposição como condição por que ele falou desse modo?, ou seja, a fala
de emprego de um enunciado, mas em 1972 do locutor funciona como um enigma a ser resol-
passa a considerá-la parte integrante do sentido. vido pelo destinatário, compreendido por Fiorin
Por consequente, compreende que: “pressupor (2002, p. 244) como ‘insinuações escondidas
não é dizer o que o ouvinte sabe ou o que se por trás de uma afirmação’.
pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar Segundo Moura (2000), baseando-se
o diálogo na hipótese de que ele já soubesse” nos estudos de Levinson (1983) algumas pala-
(DUCROT, 1987 p. 77). vras possuem a função de ativar os pressupos-
Assim, conforme afirma Koch (2004), a tos como:
rejeição dos pressupostos compreenderia uma Exemplo: Machado de Assis ou o Autor
afronta pessoal, pois debater-se-ia além do de Memórias Póstuma de Brás Cubas;
conteúdo dito, ou seja, o próprio direito de di- Verbos factivos: verbos que introduzem ora-
zer. Após 1977 Ducrot realizou diversas modifi- ções subordinadas (e fatos dados como cer-
cações em relação à noção de pressuposição, tos) tais como: lamentou, sentiu, compreen-
abordando questões de duas formas implícitas: deu, soube;
o pressuposto que se manifesta no enunciado Verbos implicativos: conseguiu (tentou), es-
e o subentendido, que se manifesta a partir de queceu (deveria ter lembrado);
uma reflexão a respeito das condições de enun- Verbos de mudança de estado: deixou, co-
ciação. meçou;
Segundo Ducrot (1987), o conteúdo pos- Interativos: pressupõe que a ação indicada
to refere-se à informação contida literalmente pelo verbo já tinha acontecido. Exemplo: de
nas palavras da sentença, enquanto os pressu- novo, retornou;
postos são as informações que podem ser recu- Expressões temporais: depois, antes;
peradas no implícito das sentenças. Assim, para Sentenças clivadas: possuem a forma (Não)
a proposição (1) “Pedro parou de fumar”, o pres- foi X que (oração), ou seja, semanticamente
suposto seria “Pedro fumava antes”. a segunda oração contém um fato pressupos-
No pressuposto reside uma informação to.
indiscutível para o falante e/ou ouvinte e nesse Para Koch (2004), a manutenção dos
âmbito o locutor partilha com o ouvinte a res- pressupostos constitui um dos fatores de coe-
ponsabilidade, sendo, portanto, coextensivo no rência do discurso, em detrimento do reconhe-
interior do diálogo. Já o conteúdo subentendido cimento do pressuposto estar aliado à aceitação
para Ducrot (1987) não está marcado na frase, e de verdade do que é posto.
se explica no processo interpretativo. Portanto, o Ducrot (1981, p. 177) assevera ainda
subentendido da frase (1) poderia ser “Até Pedro que:
parou de fumar, por que você não se anima?”. o valor argumentativo de uma frase não é
Em relação à diferença entre ambos, Du- somente uma das conseqüências das infor-
crot (1987) afirma que “a pressuposição é parte mações nela trazidas, mas a frase pode com-
integrante do sentido dos enunciados. O suben- portar diversos morfemas, expressões ou ter-
mos que, além de seu conteúdo informativo,
tendido, por sua vez, diz respeito à maneira pela
servem para dar uma orientação argumenta-
qual esse sentido deve ser decifrado pelo desti- tiva ao enunciado, a conduzir o destinatário
natário” (DUCROT 1987, p.41). em tal ou qual direção.
Este mesmo autor assevera que:
Dizer que pressuponho X, é dizer que pre- Nesse contexo, Guimarães (1995) res-
tendo obrigar o destinatário, por minha fala, salta que o trabalho de Ducrot foi o de incluir o
a admitir X, sem por isso dar-lhe o direito de
objeto do domínio já-dito, não dito diretamente, e
prosseguir o dialogo a propósito de X. O su-
bentendido, ao contrário, diz respeito à ma- que detém significado no enunciado, compreen-
neira pela qual esse sentido se manifesta, o dendo que o pressuposto como sentido implícito
processo, ao término do qual deve-se des- é parte decisiva do tratado de obrigações inscri-
cobrir a imagem que pretendo dar de minha to na língua.
fala” (DUCROT, 1987, p.42) Em relação ao subentendido Ducrot
(1987, p.32) assevera: “o subentendido se ca-
Portanto, segundo Ducrot, o subentendi- racteriza pelo fato de que, sendo observável em
do se constrói a partir da resposta à perguntas: certos enunciados de uma frase, não está mar-
cado na frase. Essa situação do subentendido (2002, p. 242): “na leitura e interpretação de tex-
se explica pelo próprio processo interpretativo to, é muito importante detectar os pressupostos,
do qual ele provém”. Para esse autor o suben- pois seu uso é um dos recursos argumentativos
tendido se instala na resposta a pergunta “Por utilizados com vistas a levar o ouvinte ou o leitor
que o locutor disse o que disse?”, “O que tornou a aceitar o que está sendo comunicado”.
possível sua fala?”, portanto, pressuposto e su-
bentendido não possuem a mesma origem inter- 1.4 Análise das atividades dos livros didáti-
pretativa, uma vez que os subentendidos estão cos
ligados às circunstâncias da enunciação e os Foram escolhidos dois materiais didáti-
pressupostos são transmitidos pela frase. cos: apostila do Positivo para a 7ª série “Idéias
Assim, quando se assevera “Que calor, que mudaram o mundo” e o livro didático da rede
como está quente esta sala”, em determinado pública “Português Leitura Produção Gramáti-
contexto (sala fechada), fica subentendido que ca”, de Leila Lauar Sarmento. As atividades se-
o indivíduo gostaria que abrissem uma janela ou lecionadas envolvem a leitura e a interpretação
arejassem o local. textual, mais especificadamente charges e tex-
Nesse sentido, mesmo que nos estudos tos jornalísticos (reportagens de jornais e revis-
de Ducrot não tenham sido contemplados os tas). O foco da análise reside na observação das
aspectos direcionados às questões de aprimo- atividades, buscando identificar se as perguntas
ramento da noção de leitura, no presente estudo propostas direcionam o aluno somente para a
nota-se que pode-se utilizar seus conhecimen- interpretação do conteúdo posto ou se acenam
tos, buscando contribuir para o processo de lei- ou expõem o conteúdo pressuposto e subenten-
tura dos conteúdos não-ditos, ou seja, implíci- dido, portanto, implícito no texto.
tos, em consonância ao compreendido por Fiorin
Atividade 01:
Atividade 02:
Atividade 03:
Brasil existem crianças trabalhando, e ao expor Além disso, observa-se que nesse livro
que estão diminuindo o autor ressalta que esse didático os textos literários e os poemas são, em
número já foi maior. Além disso, quando o autor diversas oportunidades, utilizados apenas com
diz “mais brasileiros estão na escola”, podemos finalidade gramatical.
pressupor que no Brasil existem brasileiros fora
da escola, fato este mais adiante justificado pelo Atividade 01
autor pela falta de emprego aos pais dessas
crianças. Texto “Síndrome do excesso de informação”.
Quando Vandecley assevera “Lugar de Cristina Baptista. Veja, 05 set 2001 (Adapta-
criança é na escola ou brincando”, pressupomos do).
que as crianças no Brasil não estão na esco- O excesso de informação provoca a an-
la ou brincando, mas sim em outras atividades gústia típica dos tempos atuais e leva à conclu-
que deveriam ser ocupadas por adultos. Logo são de que, às vezes, saber demais é um pro-
em seguida, quando o autor diz: “Para o IBGE, blema.
o número de pessoas que não estudam diminui
por causa das políticas dos governos para faci- “O eterno sentimento humano de ansie-
litar o acesso à escola e inibir a necessidade de dade diante do desconhecido começa a tomar
crianças terem de trabalhar para ajudar os pais uma forma óbvia nestes tempos em que a infor-
na renda familiar”, pressupõe-se que em 1992 mação vale mais que qualquer outra coisa. As
não existiam políticas governamentais suficien- pessoas hoje parecem estar sofrendo porque
tes para garantir um número maior de crianças não conseguem assimilar tudo o que é produzi-
nas escolas. do para aplacar a sede da humanidade por mais
O autor ainda diz que “Em famílias que conhecimento [...]
ganham até ½ salário mínimo, essa taxa ficou Ler e aprender sempre foi tido como algo
em 83,1%. Já em famílias com rendimento de 10 bom, algo que deveríamos fazer cada vez mais.
salários mínimos ou mais, o nível de escolarida- Não sabíamos que haveria um limite para isso.
de sobe para 97,9%”, ou seja, pode-se pressu- [...]”
por que o grau de escolaridade está diretamente
relacionado à condição financeira familiar, por- Atividades propostas:
tanto, quanto mais ricos, mais escolarização a 1) O texto de Cristina Baptista é uma reporta-
criança terá. gem. Quanto à estrutura, que características
Percebe-se, portanto, que as atividades ele apresenta?
propostas pelo livro não conseguiram direcionar 2) Que relações podem ser estabelecidas
o aluno para uma reflexão a respeito da proble- entre: o primeiro e o segundo parágrafo? O
mática apresentada no texto. Além disso, num segundo e o terceiro parágrafo?
conteúdo como este, poderia ser explorado o co- 3) A informação passou a ter, desde o século
nhecimento de mundo do aluno, em junção com XX, um valor especial, e esse fato vem geran-
o conhecimento apresentado pelo autor, estimu- do alguns problemas:
lando o aluno ao raciocínio e a sua visão crítica a) Segundo o texto, a informação vale mais
diante do texto lido. do que qualquer outra coisa. O que você pen-
sa sobre isso?
1.4.2 – Atividades do livro didático “Portu- b) A obsessão das pessoas em se manterem
guês Leitura Produção Gramática”, de Leila constantemente informadas trouxe que con-
Lauar Sarmento seqüências de acordo com o texto?
4) A dedicação ao saber sempre foi admirada
Nesse livro didático observa-se que as pela maioria das pessoas que, em diversas
atividades de interpretação possuem o título épocas, empenharam-se em aprender cada
“Análise da leitura” e, além delas existem char- vez mais. Explique por que, hoje, a procura
ges que são seguidas de perguntas de cunho por informação vem acarretando problemas.
interpretativo. Para essa análise foram selecio- 5) Grande parte das pessoas não consegue
nados trechos dos textos utilizados para inter- absorver as informações com que esbarra
pretação e as algumas charges selecionadas no dia-a-dia, como ocorre na Inglaterra. Essa
aleatoriamente. dificuldade causa desconforto e pode gerar
Atividade 02
Além disso, nessa atividade poderia ter ______. Dizer e não dizer princípios da se-
sido explorado o motivo da mudança dessa situ- mântica lingüística. São Paulo: Cultrix, 1972.
ação, expandindo até mesmo para um trabalho
de pesquisa em que os alunos consultariam jor- FIORIN, J. L. Para entender o texto: leitura e
nais de outros períodos anteriores para respon- redação. 16. ed. São Paulo: Ática, 2002.
derem a essa indagação.
GUIMARAES, E. Os limites do sentido um es-
1.5 Considerações finais tudo histórico e enunciativo da linguagem.
Campinas: Pontes, 1995.
Com base nas análises realizadas, bem
como, na leitura dos materiais didáticos em ques- ILARI, R.; GERALDI, J. W. Semântica. 10. ed.
tão, foi observado que as atividades da Apostila São Paulo: Ática, 2002.
1 e do Livro 2 não possibilitam uma interpretação
do conteúdo implícito nos textos apresentados. KLEIMAN, A. B. Leitura, ensino e pesquisa.
Campinas: Pontes, 1989.
Em algumas ocasiões percebeu-se que certas
atividades conseguem aproximar-se apenas
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. 9.
parcialmente da reflexão do conteúdo implícito,
ed. São Paulo: Cortez, 2004.
no entanto, não avançam nesta reflexão.
Na apostila 1 notou-se desde atividades
LOPES, E. Fundamentos da lingüística con-
preocupadas puramente com conteúdos grama- temporânea. São Paulo: Cultrix, 2001.
ticais, ou mesmo com questões que exigem do
aluno somente a cópia de partes do texto para MARTINS, M. H. O que é leitura. 19. ed. São
obter a resposta, mas também foram encontra- Paulo: Brasiliense, 1994.
das atividades que acenam para o conteúdo im-
plícito tão presente e importante num processo MATENCIO, M. L. Leitura produção de tex-
de interpretação. Já no livro 2, as atividades se- tos e a escola. Campinas: Mercado das Letras,
lecionadas não abordaram o conteúdo implícito, 1994.
portanto, em ambos percebeu-se a necessidade
da intervenção do professor como ponto chave. MOURA, H. M. M. Significação e contexto:
Sendo assim, fica evidente que cabe ao uma introdução a questões de semântica e prag-
professor, no momento de trabalhar com esses mática. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2000.
materiais didáticos, abordar os conteúdos se-
mânticos no que se refere à pressuposição e ao PARANÁ. Secretaria da Educação. Diretrizes
subentendido, buscando mostrar aos alunos os curriculares de língua portuguesa. Disponível
conteúdos implícitos, para que realizem uma lei- em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/cge/arquivos/
tura eficaz e crítica, capaz de captar todos os File/DCE_Lingua_Portuesa>. Acesso em: 22
conteúdos expostos ou escondidos presentes abr. 2009.
no texto, lembrando sempre que nada é ressal-
tado ou silenciado de maneira neutra, pois sem- BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros
pre estará presente uma intencionalidade por de curriculares nacionais da língua portugue-
trás de um texto, e cabe ao professor auxiliar o sa, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
aluno nessa busca e nesse aprimoramento do br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf>. Acesso em: 22
processo de leitura, que o guiará a uma leitura abr. 2009.
efetiva e crítica.
POSITIVO. Material didático. 2006. (7 série).
Bibliografia SARMENTO, L. L. Português leitura produção
gramática. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2006.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas: Pon-
tes, 1987. TAMBA, M. I. A semântica. São Paulo: Parábo-
la, 2006.
______. Provar e dizer: leis lógicas e leis argu-
mentativas. São Paulo: Global, 1981. ZILBERMAN, R. (Org.). Leitura em crise na es-
cola: as alternativas do professor. 9. ed. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1988.