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3.1 Introdução
Neste capítulo estamos interessados em obter e analisar as soluções das edo’s
de primeira ordem. Isto é, edo’s que podem ser escritas na forma:
F (y ′, y, x) = 0 ou y ′ = f (x, y)
Ou seja,
d G(x)
Z Z
dx = H(x) dx = G(x) + c. (3.1)
dx
Isto é, Φ(x) = G(x) + c é solução geral da edo:
dΦ
= H.
dx
23
3.2 Edo’s de Variáveis Separáveis
Exemplo 18. Considere a seguinte edo:
dP α
= − P, (3.2)
dt V
onde α e V são constantes. Reescrevendo a equação (3.2), obtemos:
d 1 dP α
ln |P (t)| = =− .
dt P dt V
Integrando com respeito a t e usando (3.1), vemos que a solução geral da edo
(3.2) é dada por
α
P (t) = c e− V t
Vamos tentar generalizar o procedimento acima. O quê havia de especial nesta
edo que nos permitiu determinarmos P ?
dy
= f (x) g(y). (3.3)
dx
Resolução:
1. Reescrevemos a equação, “separando as variáveis”:
1 dy
= f (x)
g(y) dx
1
2. Consideremos uma primitiva H(x) de e uma primitiva G(x) de f (x).
g(x)
Isto é:
dH 1 dG
(x) = e (x) = f (x)
dx g(x) dx
24
3. Usamos (3.1) em
d 1 dy
Z Z Z
H (g(y(x))) dx = dx = f (x) dx,
dx g(y) dx
para obter a solução geral da edo (3.3) na forma implícita:
H(g(y(x))) = G(x) + c.
Exemplo 19.
dy p
= 2x y − 1
dx
Inicialmente, vamos
√ procurar soluções constantes. Observemos que y = 1 é
raiz de g(y) = y − 1 = 0. Logo y(x) = 1 é solução da edo. Para determinar-
mos as soluções não-constantes, separamos a variáveis e integramos:
1 dy
√ = 2x
y − 1 dx
d p 1 dy
Z Z Z
2 y(x) − 1 dx = √ dx = 2 x dx
dx y − 1 dx
ou
1 2
y(x) =(x + c)2 + 1
4
Observe, que no caso da edo deste exemplo a solução constante y(x) = 1 não
pode ser deduzida da solução geral. Logo y(x) = 1 é uma solução singular da
edo .
Observação 6. Através de uma mudança na variável de integração, obtemos
1 dy 1
Z Z
dx = dy.
g(y) dx g(y)
Método Prático:
1. Reescrevemos a equação, “separando as variáveis”:
1 dy
= f (x)
g(y) dx
25
2. Integramos os dois lados com respeito à variável independente
1 dy
Z Z
dx = f (x) dx
g(y) dx
3. Usamos a Observação 6
1 1 dy
Z Z Z
dy = dx = f (x) dx.
g(y) g(y) dx
E a solução é:
1
Z Z
dy = f (x) dx. (3.4)
g(y)
dy y
=−
dx x
Resolução:
1 dy 1 1 1
Z Z
=− , dy = − dx
y dx x y x
ln |y| − y = − ln |x| − x + c;
26
3.3 Edo’s de Primeira Ordem Linear
Definição 10. Uma edo de primeira ordem é linear se pode ser escrita na forma:
dy
+ p(x) y = q(x).
dx
Se a função q(x) ≡ 0, dizemos que é uma edo de primeira ordem linear homogênea,
caso contrário, linear não-homogênea.
Definição 11. Um fator integrante para uma edo é uma função µ(x, y) tal que a
multiplicação da equação por µ(x, y) fornece uma equação em que cada lado pode ser
identificado como uma derivada com respeito a x.
Exemplo 22.
dy y
+ = 2+x (3.5)
dx 2
Vamos procurar um fator integrante que seja função somente de x.
dy 1
µ(x) + µ(x)y = (2 + x)µ(x).
dx 2
Gostaríamos que o lado esquerdo fosse a derivada do produto µ(x) y. Ou seja,
que ele fosse igual a:
d dy dµ(x)
(µ(x) y) = µ(x) + y
dx dx dx
Comparando termo a termo, o fator integrante, caso exista, deve satisfazer:
dµ(x) 1
= µ(x)
dx 2
Resolvendo a equação de variáveis separáveis acima, temos:
1 1
Z Z
dµ = dx
µ 2
x x x
Logo; ln |µ| = + c, isto é µ(x) = C e 2 . Fazendo C = 1, temos µ(x) = e 2 , e
2
obtemos:
d x x dy 1 x x
e2 y = e2 + e 2 y = (2 + x) e 2
dx dx 2
27
e integrando com respeito a x, temos
d
Z Z Z Z
x x x x x
e y=
2 e y dx = (x + 2) e dx = x e dx + 2 e 2 dx
2 2 2
dx
Z
x x x x x x x
= x 2 e 2 − 2 e 2 dx + 4 e 2 + c = x 2 e 2 − 4 e 2 + 4 e 2 + c = x 2 e 2 + c,
d dy dµ(x)
[µ(x) y] = µ(x) + y.
dx dx dx
Comparando termo a termo, o fator integrante, caso exista, deve satisfazer
dµ(x)
= µ(x) p(x).
dx
Resolvendo a equação de variáveis separáveis acima, temos
1
Z Z
dµ = p(x) dx.
µ
Logo, a função R
p(x)dx
µ(x) = e
28
é um fator integrante para a edo (3.6). Multiplicando a equação (3.6) por µ(x),
obtemos
d R p(x) dx R dy d R p(x) dx
e y = e p(x) dx + e y
dx dx
dx
R
p(x) dx dy R
=e + p(x) y = q(x)e p(x)dx
dx
e integrando com respeito a x, temos
R
Z R
p(x)dx
e y = q(x) e p(x)dx dx + c
Logo,
R
Z R
− p(x)dx p(x)dx
y(x) = e q(x) e dx + c
Resumo:
Para determinar a solução geral de edo ’s lineares:
dy
+ p(x) y = q(x), (3.7)
dx
1. determinar um fator integrante da forma
R
p(x)dx
µ(x) = e
Nas próximas seções, veremos alguns métodos de resolução de edo’s que en-
volvem uma mudança na variável dependente.
29
Façamos mudança de variável v = y 2 . As derivadas de v e y satisfazem
dv dy
= 2y
dx dx
reescrevendo a edo (dividindo por x y 2 ), temos
dy y2
2y −3 = 4x
dx x
fazendo a mudança de variável, obtemos:
dv v
− 3 = 4 x. (3.9)
dx x
Isto é, obtivemos uma edo linear. Resolvendo esta equação, obtemos que uma
solução geral da edo (3.9) é dada por
Z
3
v(x) = x 4 x−3 x dx = −4 x2 + c x3 .
y 2 (x) = −4 x2 + c x3
Definição 12. Uma edo de primeira ordem que pode ser escrita na forma
dy
+ p(x) y = q(x) y n (3.10)
dx
é chamada uma edo de Bernoulli. Observemos que se n = 0 ou n = 1, a equação de
Bernoulli é uma edo linear.
v = y 1−n
dv dy
= (1 − n) y −n
dx dx
30
Reescrevendo a edo (3.10), obtemos
dy
(1 − n) y −n + (1 − n) p(x) y 1−n = (1 − n) q(x).
dx
Na variável v, temos
dv
+ (1 − n) p(x) v = (1 − n) q(x).
dx
Ou seja, obtivemos uma edo linear.
O conteúdo da próxima seção é de autoria do aluno do 4o período do curso
de Física da UERJ, Israel Nunes de Almeida Júnior e nesta oportunidade, a
autora o agradece por ele ter gentilmente cedido este texto para publicação no
presente livro. Esta seção tem o mérito de apresentar um método de resolução
de EDOs de primeira ordem que não estava contemplado na versão anterior
do livro online: o Método de Lagrange. Além de apresentar sua aplicação
usual para a resolução de EDOs de primeira ordem lineares, Israel estende sua
aplicação às EDOs do tipo Bernoulli.
Em 2006, durante o curso de Cálculo Diferencial e Integral III, Israel propôs
a seguinte questão: “O método de Lagrange, usado para resolução de equa-
ções diferenciais lineares, também é válido para resolução de EDOs do tipo
Bernoulli?”
Em resposta a esta questão, propus ao Israel que ele mesmo investigasse
esta possibilidade. Primeiro, testando o método em um exemplo particular.
Sendo bem sucedido nesta etapa, aplicando-o a uma EDO qualquer do tipo
Bernoulli. Ao final deste processo, foi feita uma comparação entre este método
e o método apresentado neste livro. Posteriormente, para efeito de comple-
tude deste trabalho, ele fez um levantamento bibliográfico a fim de identificar
outros possíveis autores que apresentassem esta estratégia de resolução para
EDOs do tipo Bernoulli. Esta mesma proposta foi estendida aos demais alu-
nos inscritos na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral III e apenas nos
livros de Abunahman e Piskounov foram encontradas menções a esta estra-
tégia. Destaco, entretanto, que estes autores apenas sugeriram a aplicação ou
empregaram esta estratégia em exemplos particulares. Esta seção é resultado
desta investigação.
31
3.4.2 Outro método de resolução de EDOs do tipo Bernoulli
por Israel Nunes de Almeida Júnior
Dizemos que uma equação é do tipo Bernoulli, se ela pode ser escrita na
forma
dy
+ P y = Qy n (3.11)
dx
onde P e Q são constantes ou funções de x.
Já vimos que a EDO pode ser transformada em uma EDO linear através
da mudança de variável v = y 1−n . Vale salientar que para n = 0 ou n = 1,
a equação é na verdade linear, e a substituição não é necessária. Usando a
mudança de variável mencionada, a equação (3.11) fica
v
+ P1 v = Q1 , (3.12)
dx
onde P1 = (1−n)P e Q1 = (1−n)Q. Observe que a equação (3.12) é linear em v.
dy
+ Py = Q (3.13)
dx
onde P e Q são constantes ou funções de x.
No método de Lagrange, procuramos uma solução de (3.13) na forma de
um produto. Isto é, y(x) = u(x)v(x). Observe que, neste caso, a derivada de y
é dada por
dy dv du
=u +v
dx dx dx
Substituindo a expressão acima em (3.13), obtemos
dv du
u + Pv + v =Q (3.14)
dx dx
32
1. Primeiro, determinamos uma função v tal que
dv
+ P v = 0. (3.15)
dx
2. Depois, determinamos as funções u tais que
du
v = Q, (3.16)
dx
onde v é a função determinada no item anterior.
Logo, R
|v| = eC e− P dx
Determinação de u: Vamos,
R agora, determinar as funções u que resolvem (3.16)
− P dx
para v dado por v = e (observe que isto corresponde à escolha K = 1 na
equação acima). Substituindo v em (3.16):
P dx du
R
e− =Q
dx
du R
= e P dx Q
dx
Integrando:
Z R
P dx
u= e Qdx
33
Como y = uv, tem-se:
R
Z R
− P dx P dx
y=e e Qdx (3.17)
ln |v| = 2 ln |x| + C.
Integrando:
1 3x4
− = + C.
u 4
34
Assim:
4
u(x) = − .
3x4 +K
Como y(x) = u(x)v(x), tem-se
4x2
y(x) = − (Solução Geral)
3x4 + K
Para averiguar a consistência deste método, propomos também a solução
da mesma EDO pelo método apresentado anteriormente, ou seja, EDOs do
tipo Bernoulli. Tomemos novamente a EDO:
dy y
− 2 = 3xy 2 .
dx x
Dividindo por y 2:
dy 1
y −2 − 2 y −1 = 3x.
dx x
dw dy
= −y −2
dx dx
Na nova variável, a equação se reescreve:
dw 2
+ w = −3x.
dx x
Observe que trata-se de uma EDO linear em w.
Vamos resolver esta EDO linear pelo método de Lagrange. Fazendo w(x) =
u(x)v(x), obtemos
dw dv du
=u +v .
dx dx dx
Substituindo
dv v du
u +2 +v = −3x.
dx x dx
35
Calculando v:
dv v
+2 =0
dx x
dv dx
= −2
v x
Integrando:
ln |v| = −2 ln |x| + C.
1
Podemos tomar uma solução particular v(x) = 2 .
x
Calculando u:
1 du
= −3x
x2 dx
Integrando:
du = −3x3 dx
3x4
u(x) = − + C.
4
Como, w(x) = u(x)v(x), tem-se
3x4
1
w(x) = 2 − +C
x 4
3x2 C
w(x) = − + 2.
4 x
Reduzindo ao mesmo denominador
4C − 3x2
w(x) =
4x2
4x2
y(x) = − .
3x4 + K
Este foi o mesmo resultado obtido quando utilizamos o Método de Lagrange.
Observamos ainda que, procedendo desta forma, precisamos efetuar mais mu-
danças de variáveis do que no método de Lagrange.
36
Método de Lagrange e EDOs do tipo Bernoulli – O caso geral
Considere agora uma EDO do tipo Bernoulli. Isto é, uma EDO da forma
dy
+ P (x)y = Q(x)y n . (3.18)
dx
com n 6= 0 e n 6= 1. Vamos tentar obter sua solução y pelo método de Lagrange.
Fazendo a substituição y(x) = u(x)v(x) e derivando com respeito a x:
dy dv du
=u +v .
dx dx dx
Substituindo:
dv du uv
u +v + P (x) = Q(x)(uv)n
dx
dx x
dv du
u + P (x)v + v = Q(x)un v n .
dx dx
Calculando v:
dv
+ P (x)v = 0
dx
dv
= −P (x)dx
v
Integrando:
1
Z Z
dv = − P (x)dx
v
Z
ln |v| = − P (x)dx
R
Isto é, v(x) = e− P (x)dx .
Calculando u:
du
v = Q(x)un v n
dx
du
= Q(x)un v n−1
dx
du
= Q(x)v n−1 dx
un
37
Integrando:
1
Z Z
du = Q(x)v n−1 dx
un
u1−n
Z
= Q(x)v n−1 dx + C
1−n
Z
1−n n−1
u = (1 − n) Q(x)v dx + C
Z 1
1−n
n−1
u = (1 − n) Q(x)v dx + C .
R
P (x)dx
Lembrando que v(x) = e− e substituindo em u:
Z 1
1−n
R n−1
− P (x)dx
u = (1 − n) Q(x) e dx + C .
dw
+ P1 (x)w = Q1 (x),
dx
onde P1 (x) = (1 − n)P (x) e Q1 (x) = (1 − n)Q(x).
Pelo método de Lagrange, fazendo w(x) = u(x)v(x), obtemos:
dv du
u + P1 (x)v + v = Q1 (x).
dx dx
Calculando v:
dv
+ P1 (x)v = 0
dx
dv
= −P1 (x)dx
v
38
Integrando:
1
Z Z
dv = − P1 (x)dx
v
Z
ln |v| = − P1 (x)dx
R
Isto é, v(x) = e− P1 (x)dx .
Calculando u:
du
v= Q1 (x)
dx
du = Q1 (x)v −1 dx
Integrando:
Z
u= Q1 (x)v −1 dx + C
R
P1 (x)dx
Lembrando que v(x) = e− e substituindo em u:
Z R
P1 (x)dx
u= Q1 (x)e dx + C .
Exemplos
1.
dy
− 2xy = xy 3
dx
39
dy dv du
Solução: y(x) = u(x)v(x) e =u +v
dx dx dx
dv du
u +v − 2xuv = xu3 v 3
dx dx
dv du
u − 2xv + v = xu3 v 3
dx dx
Calculando v:
dv
− 2xv = 0
dx
dv
= 2xdx
v
ln |v| = x2 + C
2
v(x) = ex
Calculando u:
du2 2
ex = xe3x u3
dx
2
u du = xe3x dx
−3
R 2
Calculando a integral xe2x dx Fazendo α = 2x2 , tem-se 4xdx = dα e
2
1 α e2x
Z Z
2x2 α
xe dx = e dα = + C = +C
4 4 4
Integrando:
2
1 e2x + K
− 2 =
2u 4
2
u2 = − 2x2 .
e +K
Como, y(x) = u(x)v(x), temos y 2 (x) = u2 (x)v 2 (x). Logo
2
2 2e2x
y (x) = − 2x2 (Solução Geral)
e +K
40
2.
dy 4 √
= y + x y.
dx x
dy dv du
Solução: y(x) = u(x)v(x) e =u +v
dx dx dx
dv du 4 √ √
u +v − uv = x u v
dx dx x
dv 4 du √ √
u − v +v =x u v
dx x dx
Calculando v:
dv 4
− v=0
dx x
dv 4
= dx
v x
v(x) = x4
Calculando u:
du √ √ du dx
x4 = x u x4 √ =
dx u x
Integrando:
√ √
u = ln x + K
√
u = (ln x + K)2
Como, y(x) = u(x)v(x), temos
√
y(x) = x4 (ln x + K)2 (Solução Geral)
41
Bibliografia
[3] AYRES, F., Equações Diferencias, Editora McGraw-Hill, São Paulo, 1959.
[4] DIAS, A. T., Curso de Cálculo Infinitesimal, Fundação Gorceix, Ouro Preto,
1962.
[6] PISKOUNOV, N., Cálculo Diferencial e Integral: Volume II, Editora Lopes
da Silva, Portugal, 1987.
42
Vamos deduzir um método de resolução para o caso em que conhecemos
uma solução de (3.19) que denotaremos por y1 . Vejamos um exemplo:
Exemplo 24. Sabendo que y1 (x) = x é uma solução, resolver a edo de Riccati:
dy y2 y
= − 2 − + 3. (3.20)
dx x x
Consideremos a mudança de variável
z = y − y1 = y − x
Derivando, obtemos
dz dy dy1 dy
= − = − 1.
dx dx dx dx
Usando a equação (3.20). como y1 (x) = x é uma solução, temos
dz dy y2 y
= − 1 = − 2 − + 3 − 1.
dx dx x x
fazendo a substituição y = y1 + z = x + z, temos:
dz (x + z)2 x + z 2 x z z2 z
=− 2
− + 3 − 1 = − 2
− 2− .
dx x x x x x
Ou seja, obtivemos uma equação de Bernoulli:
dz 3 1
+ z = − 2 z2 . (3.21)
dx x x
Resolvendo e equação de Bernoulli (3.21), obtemos que
4x
z(x) =
4 c x4 − 1
é solução geral da edo (3.21). Como y = y1 + z = x + z, temos
4 c x5 + 3 x
y(x) = x + z(x) = .
4 c x4 − 1
dy
= q(x) y 2 + p(x) y + r(x).
dx
43
Neste caso, a mudança de variável
z = y − y1
transforma a equação de Riccati na variável y em uma equação de Bernoulli
com n = 2 na variável z. De fato, temos:
dz dy dy1
= − .
dx dx dx
Logo,
dz dy dy1 dy1
= − = q y2 + p y + r −
dx dx dx dx
dy1
= q (y1 + z)2 + p (y1 + z) + r −
dx
2 dy1
= 2 q y1 z + q z + p z + q y12 + p y1 + r − ,
dx
dz
− (2 q(x) y1(x) + p(x)) z = q(x) z 2 .
dx
44
transforma a equação de Riccati na variável y em uma equação linear na variá-
vel v. De fato, temos:
dy dy1 dv 1
= − .
dx dx dx v 2 (x)
Logo,
dy1 dv 1 dy
− 2
= = q y2 + p y + r
dx dx v dx
2
dy1 dv 1 1 1
− = q y1 + + p y1 + +r
dx dx v 2 v v
dv 1 2 dy1 2 y1 q q p
− 2
= q y1 + p y1 + r − + + 2+ ,
dx v dx v v v
dv
+ (p(x) + 2 y1(x) q(x)) v(x) = −q(x).
dx
y ′ − 1 − x2 + 2 x y − y 2 = 0,
v ′ + (−2 x + 2 x) v = −1
v ′ = −1,
1
de onde v = −x + c. A solução geral da edo de Riccati é y(x) = y1 (x) + ,
v(x)
isto é:
x2 − c x − 1
y(x) = .
x−c
45
Exemplo 26. Ache a solução geral da seguinte edo de Riccati:
y 1
y′ − y2 + + 2 = 0; x > 0,
x x
1
se y1 (x) = é uma solução.
x
y 1 1
Reescrevendo a edo: y ′ = y 2 − − 2 ; logo, q(x) = 1 e p(x) = − , então:
x x x
′ 1 1
v + − +2 v = −1
x x
1
v ′ + v = −1,
x
c − x2 1
de onde v = . A solução geral da edo de Riccati é y(x) = y1 (x) + ,
2x v(x)
isto é:
1 2x
y(x) = + .
x c − x2
46
Definição 14. Uma edo de primeira ordem do tipo:
dy
M(x, y) + N(x, y) =0
dx
47
Integrando a primeira igualdade acima com respeito a x, obtemos:
Z
ψ(x, y) = M(x, y)dx + g(y).
∂N ∂M
= (x, y) − (x, y)
∂x ∂y
Como a edo (3.23) é exata, pelo Teorema 2, temos que:
∂M ∂N
= .
∂y ∂x
Logo, obtivemos:
∂ ∂
Z
N(x, y) − M(x, y) dx = 0.
∂x ∂y
Isto é, o lado direito de (3.24) depende somente de y. Resolvendo a edo (3.24),
obtemos: Z
∂
Z
g(y) = N(x, y) − M(x, y)dx dy
∂y
e ψ é dada por:
Z
ψ(x, y) = M(x, y)dx + g(y)
Z
∂
Z Z
= M(x, y)dx + N(x, y) − M(x, y) dx dy.
∂y
48
Exemplo 28. Considere a seguinte edo:
2x y 2 − 3x2 dy
+ =0 (3.25)
y3 y4 dx
Como
∂M 6x ∂N 6x
=− 4 e =− 4,
∂y y ∂x y
pelo Teorema 2, a edo (3.25) é exata. Logo, existe ψ(x, y) tal que:
∂ψ 2x ∂ψ y 2 − 3 x2
= M(x, y) = 3 e = N(x, y) =
∂x y ∂y y4
2x x2
Z
ψ(x, y) = dx + g(y) = 3 + g(y).
y3 y
∂ψ
Derivando a expressão acima com respeito a y e usando que = N(x, y),
∂y
temos:
x2 3 x2 dg
∂ψ ∂
N(x, y) = = + g(y) = − + .
∂y ∂y y3 y4 dy
Logo,
dg 3x2 y 2 − 3x2 3x2 1
= N(x, y) + 4 = 4
+ 4 = 2
dy y y y y
1 x2 1
Uma solução da edo acima é: g(y) = − ; logo, ψ(x, y) = 3 − e:
y y y
x2 1
− =c
y3 y
49
Como
∂ ∂ 2
(3 x y + y 2) = 3 x + 2 y e (x + x y) = 2 x + y,
∂y ∂x
então a edo não é exata.
Vamos tentar encontrar um fator integrante µ(x), tal que:
dy
µ(x)(3 x y + y 2 ) + µ(x)(x2 + x y)
=0
dx
seja exata. A condição necessária e suficiente, dada pelo Teorema 2, para que
uma edo seja exata, se:
∂ ∂
µ(x) (3 x y + y 2 ) = µ(x) (x2 + x y) .
∂y ∂x
Derivando, obtemos:
∂ 2 ∂ 2 ∂ ∂
µ(x) (3 x y + y ) + µ(x) (3 x y + y ) = µ(x) (x2 + x y)µ(x) (x2 + x y);
∂y ∂y ∂x ∂x
logo,
dµ 2
µ(x)(3 x + 2 y) = (x + x y) + µ(x)(2 x + y)
dx
Isto é, um fator integrante dependendo somente de x, se existir, deve satisfazer:
dµ x+y x+y 1
= 2 µ= µ= µ
dx x + xy x (x + y) x
Resolvendo a edo de variáveis separáveis acima, temos que:
µ(x) = x
é um fator integrante. Multiplicando a edo por µ:
dy
x (3 x y + y 2) + x (x2 + x y) = 0. (3.27)
dx
Como
∂M ∂ ∂N ∂ 3
= (3 x2 y + x y 2 ) = 3 x2 + 2 x y e = (x + x2 y) = 3 x2 + 2 x y,
∂y ∂y ∂x ∂x
o Teorema 2 garante que a edo (3.27) é exata. Isto é, o fator integrante µ tornou
a edo (3.26) exata. Uma solução geral da edo (3.27) é:
x2 y 2
x3 y + = ψ(x, y) = c.
2
A solução acima também nos dá uma solução geral da edo (3.26) (Por quê?).
50
3.6.2 Determinação do Fator Integrante
Suponha que a edo:
dy
M(x, y) + N(x, y) =0 (3.28)
dx
não é exata.
Queremos determinar um fator integrante µ(x, y) que a torne exata. Isto é,
procuramos µ = µ(x, y) tal que a edo:
dy
µ(x, y) M(x, y) + µ(x, y) N(x, y) =0
dx
seja exata.
Supondo que estamos nas condições do Teorema 2, devemos ter
∂ ∂
µ(x, y) M(x, y) = µ(x, y) N(x, y)
∂y ∂x
A equação acima é uma equação diferencial parcial de primeira ordem que não
sabemos resolver. No entanto, se supusermos que µ é função apenas de uma
variável, poderemos achar a solução, de fato:
∂µ
1. Se µ = µ(x), temos = 0 e de (3.29):
∂y
dµ 1 ∂N ∂M
=− µ − . (3.30)
dx N ∂x ∂y
∂µ
2. Se µ = µ(y), temos = 0 e de (3.29):
∂x
dµ 1 ∂N ∂M
= µ − . (3.31)
dy M ∂x ∂y
Em cada um desses casos, teremos uma edo de variáveis separáveis que pode
ser resolvida se
51
2. o lado direito de (3.31) depender somente de y.
Observação 10. Seja f (x, y) homogênea de grau n. Fixemos (x, y) ∈ Dom(f ) tal
1
que x 6= 0, consideremos λ = , temos:
x
y
1 1 1 f (x, y)
f 1, =f x, y = n f (x, y) = (3.33)
x x x x xn
52
Vamos usar esta propriedade para resolver equações homogêneas. Considere-
mos a edo:
dy
M(x, y) + N(x, y) =0
dx
com M e N funções homogêneas de grau n.
dy
(x2 − y 2 ) − 2 x y = 0. (3.34)
dx
53
Como:
e
N(λ x, λ y) = 2 (λ x) (λ y) = λ2 2 x y = λ2 N(x, y),
(3.34) é uma edo homogênea.
x2 − y 2 y 2
dy 1 −
= x2 = x
dx 2xy y
2 2
x x
y
Fazendo a mudança de variável v = , obtemos
x
2
y
1−
dv dy x 1 − v2
x+v = = = ,
dx dx y 2v
2
x
dv 1 − v2 1 − 3 v2
x= −v = ;
dx 2v 2v
ou seja,
1 − 3v 2
dv 1
= .
dx x 2v
A solução geral desta edo de variáveis separáveis é:
(1 − 3 v 2 ) x3 = c.
54
e as funções com M e N forem homogêneas de grau n, podemos reescrevê-la como
M(x, y)
dy M(x, y) xn
=F =F N(x, y) .
dx N(x, y)
xn
Usando 3.33, temos:
y
M 1, x
dy y
y = G 1, x .
=F
dx
N 1,
x
y
Isto é, o lado direito da equação é uma função que depende do quociente . Considere-
x
mos a mudança de variável:
y
v= ou, equivalentemente, y = v x.
x
Argumentando como no caso das edo’s Homogêneas, obtemos
dv dy
x+v = = G(1, v)
dx dx
Isto é, obtivemos a edo de variáveis separáveis:
dv 1
= G(1, v) − v
dx x
As edo’s que podem ser escritas na forma (3.35) são chamadas de edo’s Redutíveis
a edo’s Homogêneas.
onde ai , bi , ci ∈ R, (i = 1, 2).
55
Consideremos as retas:
a1 x + b1 y + c1 = 0
a2 x + b2 y + c2 = 0
determinadas pelo numerador e pelo denominador do argumento da função
F em (3.36).
a1 u + b1 v + a1 α + b1 β + c1 a1 u + b1 v
=F =F ;
a2 u + b2 v + a2 β + b2 β + c2 a2 u + b2 v
56
pois (α, β) é solução do sistema linear. Isto é, obtivemos a seguinte edo homo-
gênea:
dv a1 u + b1 v
=F .
du a2 u + b2 v
Observação 13. A mudança de variável (3.37) corresponde a consideramos um novo
eixo de coordenadas uv cuja origem se localiza no ponto de coordenadas (x, y) = (α, β).
Nas novas variáveis u e v o lado direito de (3.36) será uma função homogênea de grau
zero.
Exemplo 37. Seja a edo:
dy 2x − 3y − 1
= (3.38)
dx 3x + y − 2
Consideremos o sistema linear
2x − 3y − 1 = 0
3x + y − 2 = 0
Temos
2 −3
det = 2 + 9 = 11 6= 0
3 1
7 1
e a solução do sistema é dada por , . Fazendo a mudança de variável
11 11
7 1
x=u+ e y=v+ ,
11 11
temos,
7 1
2 u+ −3 v+ −1
dv dy 2x−3y − 1 11 11 2u−3v
= = = = .
du dx 3x+y −2 7 1 3u+v
3 u+ +v+ −2
11 11
Isto é,
dv 2u− 3v
= .
du 3u+v
A solução geral da edo homogênea acima é:
6v v 2
2
u 2− − 2 =c
u u
7 1
desfazendo a mudança de variável x = u + e y = v + , obtemos:
11 11
2 (11 x − 7)2 − 6 (11 y − 1) (11 x − 7) − (11 y − 1)2 = c
é solução geral da edo (3.38).
57
3.8.2 Redutíveis a Variáveis Seraravéis
Se as retas são paralelas, então
a1 b1
det =0
a2 b2
a2 b2 c2
= = m 6= .
a1 b1 c1
Isto é:
a2 = m a1 e que b2 = m b1 .
Logo, podemos reescrever a equação na forma
dy a1 x + b1 y + c1 a1 x + b1 y + c1
=F =F .
dx a2 x + b2 y + c2 m(a1 x + b1 y) + c2
a1 x + b1 y + c1
= a1 + b1 F
m(a1 x + b1 y) + c2
v + c1
= a1 + b1 F
mv + c2
58
Fazendo a mudança de variável para a1 = 2 e b1 = −1:
dv dy
v(x) = 2 x − y; logo, =2− ,
dx dx
então:
dv dy 2x− y +1 2x− y +1 v+1
=2− =2− =2− =2−
dx dx 6x−3y − 1 3 (2 x − y) − 1 3v − 1
6v −2− v −1 5v − 3
= = .
3v − 1 3v − 1
Logo,
dv 5v − 3
= .
dx 3v − 1
A solução geral desta edo é dada por:
3v 4
+ ln |5 v − 3| = x + c
5 25
3 (2 x − y) 4
+ ln |5 (2 x − y) − 3| − x = c
5 25
é solução geral da edo (3.39).
59
3.9.1 Determinação de Solução
Vamos introduzir um parâmetro auxiliar p:
dy
p= .
dx
A edo (3.40) pode ser reescrita na forma:
y = x p + φ (p) . (3.41)
dy d dp dp
p= = (x p + φ (p)) = p + x + φ′ (p) ,
dx dx dx dx
ou
dp
(x + φ′ (p)) = 0.
dx
Logo
dp
x + φ′ (p) = 0 ou = 0.
dx
A solução da segunda destas equações nos diz que p(x) = c. Usando a equação
(3.41), vemos que a família de retas:
dy
Fazendo p = a edo pode ser reescrita na forma:
dx
2
dy dy
y=x + = x p + p2 (3.43)
dx dx
60
dy
Derivemos a expressão acima em relação a x e lembremos que p = . Temos:
dx
dy d dp dp
p= = (x p + φ (p)) = p + x +2 ,
dx dx dx dx
ou
dp
(x + 2 p) = 0.
dx
Então:
dp
x + 2p = 0 ou =0
dx
dp
Da edo = 0 obtemos p(x) = c. Logo, por (3.43), a família de retas:
dx
y(x) = c x + c2
61
3.10.1 Determinação de Solução
Novamente, consideramos um parâmetro auxiliar p:
dy
p= .
dx
A edo (3.44) pode ser reescrita na forma:
dy dy
y = xψ +φ = x ψ(p) + φ (p) . (3.45)
dx dx
Derivando (3.45) com respeito a x, obtemos:
dy dp
p= = ψ(p) + (x ψ ′ (p) + φ′ (p)) (3.46)
dx dx
Observe que se p = m é raiz de p − ψ(p) então (3.46) é satisfeita e
62
Resolvendo p − ψ(p) = 0, achamos as raízes p = 0 e p = 1. Usando (3.49),
encontramos as seguintes soluções de (3.48):
y(x) = 0 e y(x) = x + 1.
dx 2 2
− x=
dp 1 − p 1−p
cuja solução geral é:
c
x(p) = −1 +
(1 − p)2
Voltando à equação (3.49), obtemos a solução geral de (3.48) na forma para-
métrica c
x(p) = −1 + (1 − p)2
c p2
y(p) =
(1 − p)2
Eliminando o parâmetro p das equações acimas:
√ √
y 2 ( c + x + 1)2
=p = .
x+1 x+1
Logo,
√ 2
y(x) = c + x + 1
é solução geral de (3.48). Note que a solução y(x) = x+ 1 pode ser deduzida da
solução geral (c = 0); por outro lado a solução y(x) = 0 é uma solução singular
de (3.48).
63
3.11 Exercícios
1. Determine a solução geral das edo’s de variáveis separáveis:
dw dy x − e−x
a) 2z(3z + 1) + 1 − 2w = 0 b) =
dz dx y + ey
du 1 + u2 dy
c) = d) (1 + y)x − (1 + x) =0
dv 1 + v2 dx
dy dy
e) xy(y + 2) − (y + 1) =0 f) = 1 + x + y 2 + xy 2
dx dx
dy
= (cotg x)y 2 cossec x − y + sen x
dx
6. Determine a solução geral das edo’s Exatas:
dy dy
a) 2(3xy 2 + 2x3 ) + 3(2x2 y + y 2 ) =0 b) (x3 + y 3 ) + 3xy 2 =0
dx dx
64
dy x2 dy y2
c) y − 3x2 − (4y − x) =0 d) − = 0.
dx (x − y)2 dx (x − y)2
y2 x2
1 1 dy f) (y 3 − x)y ′ = y.
e) 2
− + − 2
=0
(x − y) x y (x − y) dx
65
11. Determine a solução geral das edo’s:
dy √ ds √
a) x(x + 3) − y(2x + 3) = 0 b) 1 − 4t2 + 2 1 − s2 = 0
dx dt
dy ds
c) (ax + b) − y 2 = 0, a 6= 0 d) − s cotg t = et (1 − cotg t)
dx dt
1 − 2x 2y
e) y ′ + y−1 =0 f) y ′ − = (x + 1)3
x2 x+1
dy dy
g) + y cos x = 0 h) − 2xy = xy 3
dx dx
dy ds
i) x − 3y = −2nx j) −s cotg t = 1−(t+2) cotg t
dx dt
k) y ′ + 3y = x + e−2x ds
l) + s tg t = 2t + t2 tg t
dt
dy n
m) (1 + y sen x) + (1 − cos x) =0 n) y ′ − y = ex xn
dx x
dy dx
o) = y tg x + cos x p) − 6x = 10 sen 2t
dx dt
dy
q) 2xy − y2 + x = 0
dx
66
(iii) Se yc (x) é qualquer solução geral da equação linear homogênea y ′ +
p(x)y = 0 e yp (x) é qualquer solução particular da equação linear y ′ +
p(x)y = q(x), então mostre que y(x) = yc (x) + yp (x) é uma solução geral
da equação linear y ′ + p(x)y = q(x).
67
dz √
s) 2x − 2z = x2 + 4z 2
dx
19. Encontre o valor de b para o qual a equação dada é exata e, então, resolva-a
usando esse valor de b.
(ye2xy + x)dx + bxe2xy dy = 0
21. Mostre que as equações abaixo não são exatas, mas se tornam exatas quando
multiplicadas, cada qual, pelo fator integrante sugerido. Resolva as equações
exatas assim obtidas:
68
1
a) x2 y 3 + x(1 + y 2 )y ′ = 0, µ(x, y) = 3
xy
sen y cos y + 2e−x cos x
b) −x
− 2e sen x dx + dy = 0, µ(x, y) = yex
y y
M(x) + N(y)y ′ = 0,
também é exata.
Nx − My
23. Mostre que, se = R onde R depende apenas da quantidade xy,
xM − yN
então a equação diferencial
M + Ny ′ = 0
tem um fator integrante da forma µ(xy). Encontre uma fórmula geral para
esse fator integrante.
1
y = xy ′ − (y ′ )2
4
Mostre que a reta
1
y = Cx − C 2
4
é tangente à parábola y = x no ponto (C/2, C 2 /4). Explique por que isto
2
69