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Resumo
Introdução
Este artigo visa discutir a identidade do pedagogo, no que tange sua atuação
contemporânea, pelo reconhecimento do seu papel, funções, e transformações no decorrer do
tempo. Consideramos pertinente levantar o percurso histórico do curso de pedagogia, já que
os dois assuntos – formação e atuação - encontram-se interligados.
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Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. email: rafaela.arcosta@gmail.com
ISSN 2176-1396
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Material e Métodos
De acordo com Silva (1999), a criação do curso de Pedagogia no Brasil foi instituído
pela Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, em 1939, com o objetivo de
formar bacharéis e licenciados para várias áreas, inclusive para o setor pedagógico, através do
Decreto-Lei no 1.190 de 4 de abril de 1939.
O título de bacharel era oferecido a quem cursasse três anos de estudos em conteúdos
específicos da área da educação e o título de licenciado, para quem se dispusesse a cursar
mais um ano das matérias de didática e da prática de ensino, para assim poder atuar como
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professor, esse formato ficou conhecido como “3+1”. Dessa forma, no decorrer do curso,
eram trabalhados de maneira separada a ciência pedagógica e a didática, facilitando qual
concepção o profissional pretendia seguir, quanto a área técnica, ou a docência.
Em 1962 houve alterações feitas por Valnir Chagas 2 no Parecer do Conselho Federal
de Educação (CFE) nº 251, que fixou o currículo mínimo e a duração do curso de pedagogia
“realizadas pelo atendimento à Lei nº 4.024/61 (LDB), que mantém o curso de bacharelado
para a formação do pedagogo (Parecer CFE 251/62) e regulamenta as licenciaturas (Parecer
CFE 292/62)” (LIBÂNEO, 2001b, p.38).
Contudo, o Conselheiro Valnir Chagas, preocupado com o destino do curso de
pedagogia, discordava da ideia de extinção e preferia que houvesse uma redefinição, assim, de
acordo com Silva (1999), Chagas explicita claramente a fragilidade do curso de pedagogia ao
se referir sobre a controvérsia da manutenção ou da extinção do curso. “Explica que a ideia
da extinção provinha da acusação que faltava ao curso conteúdo próprio, na medida em que a
formação do professor primário deveria se dar ao nível superior e a de técnicos em Educação
em estudos posteriores ao da graduação.” (SILVA, 1999, p.36)
Já Anísio Teixeira3, se posiciona sobre a formação de diretor/administrador escolar,
defendendo que esta formação deveria ocorrer na pós-graduação.
2
Pela Forte presença do professor Valnir Chagas no Cenário da Legislação escolar brasileiras nas décadas de 60
e 70, sobretudo no que se refere à formação de educadores, cumpre fazer sua apresentação através de alguns
dados bibliográficos, como os que seguem. Nascido no Ceara nos anos 20, formou-se em Direito, Letras e
posteriormente em Pedagogia. Foi membro do Conselho Federal de Educação por 18 anos, em 3 mandatos
consecutivos. Foi relator de inúmeros pareceres, como as Resoluções que reformulam o curso de Pedagogia e
também os que reformulam as demais licenciaturas nos anos de 1962 e 1969. Foram também de sua autoria as
indicações propostas em meados da década de 70, através das quais pretendia implantar um novo sistema de
formação do magistério. Informações encontradas na obra de Buffa e Nosella (1991 apud SILVA, 1999, p.36).
³ Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité, sertão da Bahia, em 12 de julho de 1900. Após sólida formação
adquirida no Instituto São Luiz Gonzaga,em Caetité, e no Colégio Antonio Vieira, em Salvador, bacharelou-se
em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, em 1922, e obteve o título de Master of
Arts pelo Teachers College da Columbia University, em 1929. Realizou como Secretário da Educação e Saúde,
sobretudo no Rio de Janeiro, nos anos de 30 e em Salvador nos anos de 50, uma intervenção sobre a educação
das classes populares no espaço da cidade, defendendo a democracia. Concebeu uma escola com um espaço real
no qual a criança do povo pudesse praticar uma vida melhor através de livros, revistas, estudo, recreação, saúde,
professores bem preparados, ciência, arte. A cerne da concepção de universidade em Anísio Teixeira foi a
melhoria da qualificação docente, onde em 1935, o magistério alcançava uma formação de nível superior ao lado
dos Instituto de Filosofia e Letras, de Ciências, de Política e Direito, de Artes e Desenho e de Música, na
Universidade do Distrito Federal (UDF). (NUNES, 2000)
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Como existia uma grande indefinição quanto ao curso de pedagogia e uma grande
insegurança quanto a atuação desse profissional no mercado de trabalho, tornou-se necessário
novamente a reformulação do curso em 1969 com o Parecer CFE nº 252/69, que aboliu a
distinção entre bacharelado e licenciatura. Com suporte na ideia de “formar o especialista no
professor”, a legislação em vigor estabelece que o formado no curso de Pedagogia recebe o
título de licenciado”. (LIBÂNEO, 2001b, p.38)
Esse parecer buscou esclarecer um grande transtorno referente à formação deste curso:
o direito ao magistério nos anos iniciais do Ensino Fundamental pelos habilitados em
pedagogia. Contudo, foi reconhecida a importância desta questão, já que nem todos que
recebiam o diploma de Pedagogia recebiam formação para o magistério nos anos iniciais.
Considerando parecer prematura a criação de uma habilitação especial para esse fim,
fixa alguns estudos para a aquisição desse direito. São eles: Metodologia do Ensino
de 1º grau e Prática de Ensino da Escola de 1º grau com Estágio Supervisionado.
Assim sendo, essa nova credencial poderá ser obtida automaticamente pelos que se
preparam ao ensino de tais disciplinas em cursos normais, ou por acréscimo aos que
se habilitaram nas demais modalidades que não essa; podem ser incluídos, nesse
último caso, os diplomados em cursos de menor duração, os quais passam a ser
considerados os candidatos ideais para iniciar essa nova fase (SILVA, 1999, p. 50).
As autoras4 retratam ainda, que em 1976, essas Indicações aprovadas pelo CFE,
chegaram a ser homologadas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), entretanto foram
sustadas e devolvidas ao Conselho.
Todas essas iniciativas passaram a procurar respostas em volta da real identidade do
pedagogo, pois entendemos que o curso de pedagogia forma o professor e também o
profissional pedagogo. Desta forma, sabemos que professor é o profissional ligado à área da
docência. Mas e o pedagogo, qual sua atuação?
4
Ibid
5
O Ministério da Educação, junto a Secretaria de Educação Superior, determinam nos referenciais curriculares
nacionais dos cursos de licenciatura e bacharelado, suas definições. Bacharelados se configuram como cursos
superiores generalistas, de formação científica e humanística, que conferem, ao diplomado, competências em
determinado campo do saber para o exercício de atividade acadêmica, profissional ou cultural; Licenciaturas são
cursos superiores que conferem, ao diplomado, competências para atuar como professor na educação básica.
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dezembro de 2005, onde observa-se o perfil do graduado em pedagogia. Este perfil está
composto de acordo com as seguintes extensões:
Docência;
Gestão Educacional;
Produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico do campo
educacional.
O egresso do curso de Pedagogia tem implícito em sua formação a docência, a gestão
e o conhecimento. Cada uma dessas áreas torna-se inerente a outra por completá-la. A
pesquisa é inerente na atuação do profissional da educação, pela necessidade de busca do
conhecimento para realimentar sua intervenção profissional.
Referente a formação deste profissional, temos como base o Parágrafo Único do Art.3,
das Diretrizes Curriculares para a Graduação em Pedagogia, aprovada pela Resolução
CNE/CP n.1, de 15 de maio de 2006, onde torna-se central para a formação do licenciado em
pedagogia, o conhecimento da escola, a pesquisa e a participação na gestão de processos
educativos.
Com base neste parágrafo, o pedagogo encaixa-se perfeitamente nessas três
características centrais de formação, já que para sua atuação é necessário o conhecimento da
escola, a participação na gestão e o desenvolvimento de pesquisa, para que seja aprimorada a
esfera de seu conhecimento. Entretanto, para o docente, torna-se prescindível a participação
na gestão dos processos educativos, pois se configura no caráter político da atuação
profissional, um campo decisório que requer o envolvimento do coletivo de profissionais da
escola.
Franco (2002) aponta algumas questões quanto a identidade do pedagogo e também do
professor em si. Ela questiona se pedagogo e professor são conceitos sinônimos, se a função
desempenhada por ambos são as mesmas e se para formar um professor requer as mesmas
capacitações e condições curriculares para se formar um pedagogo, já que os dois
profissionais advêm da mesma formação.
Professor e pedagogo não são conceitos sinônimos, pois atuam em atividades
diferentes, a primeira voltada para a docência e a segunda para a gestão escolar, contudo eles
estão interligados através das atividades educativas que desenvolvem, pois ambos possuem
como finalidade o desenvolvimento da educação.
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Dessa forma, a função desempenhada por cada profissional é diferente. Apesar de suas
funções não serem as mesmas, suas formações são iguais, pois ambos necessitam da base
docente. Assim, os dois se constituem a partir da graduação em Pedagogia.
Por outro lado, Küenzer e Rodrigues (2006, p. 191) pontuam que ações distintas a
docência não podem ser reduzidas a ela:
Para estas pesquisadoras6, a gestão e a investigação, não devem ser confundidas com a
docência, já que cada uma possui sua particularidade. Conquanto, Franco (2002), apresenta
uma nova proposta para se compor uma faculdade de pedagogia, onde seria possível
estruturá-la em torno de diferentes cursos: O curso de pedagogia docente, de pedagogia
escolar e pedagogia investigativa.
Mas quanto a questão da identidade do pedagogo, como este poderia ser separado sem
o curso de pedagogia docente, se para administrar uma escola, é preciso que além de conhecer
suas estruturas burocráticas e técnicas, conheça também a docência?
O pedagogo torna-se o profissional mais complexo da área da educação, já que precisa
conhecer e ter vivenciado a docência para assim poder tornar-se um bom profissional. Se este
conhecimento não fosse necessário, de nada bastaria um profissional formado na área da
educação para administrar, supervisionar e orientar uma escola. Bastaria colocar um
administrador para ocupar esta função e tudo estaria resolvido.
Outro fator, é que ao formar apenas a pedagogia docente, investigativa ou escolar, esse
espaçamento dará ênfase a sua fragmentação, conforme afirma Masson (2003, p. 73), que “ao
assumir apenas a formação do especialista, promoverá, na organização do trabalho na escola,
a sua fragmentação, a qual foi muito criticada no auge da concepção tecnicista da educação”.
6
Ibid
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De tal modo, o Orientador era o profissional que trabalhava mais diretamente com o
aluno, orientando-o da melhor maneira possível, para que este possa se tornar um bom
cidadão. Ele se envolvia menos com resoluções de problemas burocráticos ou direção da
escola, e mais com os alunos.
Já os Supervisores detinham como objeto de trabalho, de acordo com Medina (1995,
p.153), “a produção do professor – o aprender do aluno – e preocupa-se de modo especial
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com a qualidade dessa produção.” Do mesmo modo como os Orientadores tinham o papel de
orientar os alunos, os supervisores possuíam a função de orientar os professores.
Outras concepções também foram ligadas ao supervisor, que de acordo com Franco
(2002) designa que a imagem deste profissional está também atrelada a de um ‘líder’, além de
concluir que o professor o vê como um inimigo que inspeciona seu trabalho sem entender seu
conteúdo.
Considerando a última especialidade, a Administração Escolar, de acordo com Martins
(1999, p. 2), entende-se que:
Considerações Finais
Este artigo buscou discutir qual a identidade do pedagogo perante a sua atuação
contemporânea, no qual passou por diversas transformações no decorrer do tempo.
Foi fundamental compreender o significado de pedagogia para então entender o que é
ser um pedagogo. Foi necessário também abarcar sua trajetória histórica, para que
pudéssemos entender todo o seu desenvolvimento no decorrer da história, analisando
discussões acerca da formação de técnicos e professores, da passagem de um curso
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REFERÊNCIAS
FRANCO, Maria Amélia Santoro. A pedagogia para além dos confrontos. In: FÓRUM DE
EDUCAÇÃO: PEDAGOGO, QUE PROFISSIONAL É ESSE? Belo Horizonte, 2002. Anais.
Belo Horizonte: FUMEC, PUC-MG, UEMG, 125 p. (Parte I – Conferências).
KÜNZER, Acácia Zeneida; O ensino médio agora é para vida: entre o pretendido, o dito e o
feito. Ed. Soc. v. 21, n.70, 2000, p. 15-39.
______. Pedagogia e pedagogos, para quê? 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2001b.
MEDINA, Antônia da Silva. Supervisão Escolar: da ação exercida à ação repensada. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 1995.
NUNES, Clarisse. Anísio Teixeira entre nós: A defesa da educação como direito de todos.
Educação & Sociedade. Vol 21, nº 73, p. 9-40. Campinas. Dezembro 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/es/v21n73/4203.> Acesso em 24 de Agosto de 2014.
SILVA, Carmem Silva Bissolli da. Curso de pedagogia no Brasil: História e identidade.
Campinas, SP: Autores Associados, 1999.