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MOITA LOPES, Luiz Paulo da.

Inglês e globalização em uma epistemologia de fronteira:


ideologia linguística para tempos híbridos. D.E.L.T.A., 24:2, 2008 (309-340).

RESENHA

A fim de investigar acerca do fenômeno da Língua Inglesa como colaboradora dos processos de
globalização, o autor vale-se de três histórias e respectivas perspectivas de língua para introduzir e
contextualizar sua proposta. Portanto, ao relatar o caso dos cultos religiosos celebrados em inglês na
Barra da Tijuca no Rio de Janeiro a língua é tomada como lugar de conversão ideológica, pois a
força civilizatória do cristianismo se traveste de inglês global. Outras histórias relatadas, uma
referente ao fato de que em um congresso internacional e interdisciplinar ocorrido na Espanha ter
sido admitido apenas o uso do inglês em suas seções, bem como outra de que em universidades
norueguesas as publicações feitas em inglês são mais valorizadas do que aquelas em outras línguas,
são mencionadas para se abordar a questão de que a língua passa a ser tratada como um espaço de
valoração do que conta como conhecimento e mercadoria, de modo que uma língua detentora de
poder no mundo dos negócios silencia outras que não o detém, o que é chamado pelo autor de
linguicismo. Por fim, temos a história do filme iraniano intitulado “Tartarugas podem voar” (2004),
no qual a tecnologia é tida como uma outra força na construção da relação entre o inglês e a
tecnologia. O enredo do filme apresenta de uma comunidade curda no norte do Iraque, que
necessita da perícia de um menino, conhecedor de tecnologia e inglês, para fazer com que a TV
funcione e as notícias sobre a guerra iminente sejam entendidas. A língua aqui é compreendida
como instrumento de sobrevivência no mundo contemporâneo.

Na seção intitulada Ideologia e linguística, o autor reflete sobre a natureza sócio-histórica da língua
inglesa e considera ser necessário compreender essa problemática para que não se deixe levar pelos
diversos interesses que essa língua representa. O autor relata que bem antes de essas questões serem
de interesse da Linguística Aplicada, numa perspectiva marxista por Phillipson (1992) e numa
perspectiva pós-estruturalista ou pós-modernista por Pennycook (1994) e por Canagarajah (1999),
ele mesmo, em seu artigo publicado em Moita Lopes (1982), já tinha tratado da questão. Nesse
artigo, o qual foi escrito no contexto da Guerra Fria e preocupava em fornecer ao Brasil uma
alternativa para o inglês, essa língua foi considerada como uma força imperialista dos EUA sobre o
Brasil. Agora, em tempos de globalização, o inglês pode ser visto de formas diversas, mas é fato de
que ela passou a ser compreendida como Inglês Global. Questiona-se como o inglês que é um
idioma extremamente hibridizado configura-se como língua franca, ou seja, aquela que possibilita a
comunicação ao redor do mundo, é a língua do conhecimento, da mídia, da INTERNET, do
mercado e do poder. O autor se propõe a isso a fim de tentar entender a ideologia linguística
existente entre inglês e globalização. O conceito de “ideologia linguística” adotado pelo autor é de
Kroskrity (2004, p. 498), para quem ela é tida como “crenças, ou sentimentos, sobre línguas,
conforme são usados nos mundos sociais [dessas línguas]”. Com essa reflexão o autor objetiva
construir conhecimento que possa alimentar a formulação de uma política linguística.

Referências

KROSKRITY, Paul V. 2004. Language Ideologies. In: Alessandro Duranti (Ed.). A Companion to
Linguistic Anthropology. Oxford: Blackwell.

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