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Resenha Do Livro Os Desafios Da Escrita
Resenha Do Livro Os Desafios Da Escrita
In: Os desafios da
escrita. Tradução: Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: UNESP, 2002. 11-32 p.
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Cristiano Freydnni Araújo Sousa
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Mestrando em Linguagens e Letramento pelo PROFLETRAS.
conclusão de que é impossível buscar uma unidade linguística, já que o mundo é
composto por uma imensa variedade de lugares, coisas, indivíduos e línguas.
Chartier introduz o capítulo com a análise destas fábulas a fim de nos fazer
refletir acerca da seguinte problemática: como pensar a língua em um mundo
construído pela comunicação eletrônica em que a relação do leitor com o texto
impresso está se alterando? Para o autor, se considerarmos o método usado por Ferri,
personagem de “O congresso”, o inglês ocuparia lugar de prestígio nesse cenário, a
julgar pela relevância que apresenta atualmente: é a língua dos estudos, publicações
científicas e intercâmbios; das grandes empresas, das viagens e do mercado de bases
de dados numéricos.
Para buscar entender o teor da indagação proposta pelo autor, é preciso voltar
a três momentos distintos que envolvem a revolução do texto digital: a substituição
dos rolos da Antiguidade grega e romana por livros entre os séculos II e IV; o
surgimento do livro unitário (manuscrito de obras compostas por um único autor dentro
de um mesmo livro) entre os séculos XIV e XV; e, por último, a invenção da escrita no
século XV, cuja técnica é até hoje a mais utilizada na produção de livros. Somos, pois,
conforme esclarece Chartier, herdeiros do livro, este fascinante objeto material,
intelectual e estético.
Cabe agora ao computador a tarefa de apontar para o leitor os tipos de textos
tradicionalmente distribuídos entre objetos diferentes. Nessa ótica, o que se torna
mais difícil é a percepção da obra como um todo, pois a leitura é descontínua e
buscada por meio de palavras-chave, sem que haja preocupação com o entendimento
do texto na sua totalidade. Decorre daí mais três consequências provocadas por essa
quebra de paradigma: surge uma nova técnica de difusão da escrita, incita-se uma
nova relação com o texto e fixa-se uma nova forma de inscrição.
O autor encerra reportando-se mais uma vez aO livro de areia para comparar
a metáfora que permeia o título com o texto eletrônico: seria ele um livro com um
número infinito de páginas o qual não se poderia nunca ler ou mais uma modalidade
capaz de enriquecer e favorecer o diálogo que se estabelece com o leitor?
O texto digital não deve, portanto, ser visto como algo negativo, pois amplia
nossas possibilidades de leitura. É preciso um olhar crítico para orientar a busca,
seleção e gerenciamento das informações que estão disponíveis na rede. Não só a
leitura, como também a escrita, foram favorecidas pelas novas possibilidades de
contato com o texto observadas na última década, o que proporcionou,
consequentemente, um contato maior das pessoas com atividades que envolvam a
escrita.