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:: ANAIS ::
ISSN: 2236-4366
23 a 26 de maio de 2017
Curitiba-PR/Brasil
A NAIS DO XIII S IMPÓSIO I NTERNACIONAL DE C OGNIÇÃO
E A RTES M USICAIS
23 a 26 de maio de 2017
editado por
Luis Felipe Oliveira
C URITIBA – 2017
Apresentação
Saudações da ABCM
Representando a Diretoria da ABCM (Associação Brasileira de Cognição e Artes Mu-
sicais) dou as boas vindas a todos os convidados, pesquisadores, professores, alunos e
colaboradores de diferentes instituições do Brasil e do exterior, que vêm participar do
SIMCAM 13. É uma grande honra recebê-los em Curitiba, cidade onde realizamos o
primeiro SIMCAM, em 2006. Nosso objetivo é divulgar estudos e pesquisas acadêmicas
que contribuem para a ampliação e consolidação da área da cognição musical no Brasil
e no mundo. Em 2016 a ABCM completou 10 anos de sua criação e em 2017, neste
início de nova década, a ABCM busca cada vez mais fortalecer e promover as parcerias
internacionais e estreitar laços de amizade e colaboração com muitos pesquisadores de
instituições brasileiras e internacionais. Em 2017 a ABCM contou com a colaboração
de muitos pesquisadores de associações parceiras, como SACCOM (Argentina), PSIC-
MUSE (Colômbia) e AEPMIM (Espanha) para a realização e divulgação do SIMCAM13.
Nesta sudação agradeço a todos por esta preciosa parceria. Aproveito também para agra-
decer especialmente a minha colega de organização do SIMCAM 13, Prof.a Me. Clara
Piazzeta; o coordenador científico, Prof. Dr. Luis Felipe Oliveira; o coordenador das
apresentações artísticas, Prof. Dr. Marcos Nogueira; a coordenadora dos GEs, Prof.a Dr.a
Beatriz Raposo e todos os demais professores da diretoria da ABCM, professores con-
vidados, professores pareceristas, alunos monitores/colaboradores. Agradeço, por fim,
a todos os professores/pesquisadores, performers, alunos de graduação e pós-graduação,
enfim, todos aqueles que contribuíram de algum modo para que o evento fosse organizado
e realizado em 2017 com grande êxito, incluindo a colaboração das instituições UFPR,
UNESPAR, Capes, CNPq e Amplificar Empresa Júnior da UFPR.
ii
Saudação das organizadoras do SIMCAM 13
Realizar o SIMCAM 13 por meio da colaboração da ABCM, UNESPAR e UFPR foi
uma rica experiência, com muitas alegrias e desafios. Chegamos ao SIMCAM 13 com
a certeza de que a colaboração e união entre nossas instituições nos fortaleceram e nos
permitiram juntar forças para vencer obstáculos que, isoladas, não conseguiríamos supe-
rar. Queremos neste momento agradecer a colaboração das pessoas envolvidas em nossas
instituições (UNESPAR e UFPR) que prontamente nos auxiliaram na elaboração do SIM-
CAM 13, em especial à diretoria da UNESPAR, Campus II / FAP; à Direção do Centro
de Área Musica e Musicoterapia da UNESPAR, Campus de Curitiba II / FAP e demais
professores; à Orquestra OLA, da FAP, em especial a Prof.a Dr.a Simone Cit, que pronta-
mente aceitou o convite para realizar o concerto de abertura; à direção do Setor de Artes,
Comunicação e Design da UFPR, em especial ao Prof. Dr. Dalton Razera e a Secretá-
ria executiva Sallete Miyake; ao Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Música da
UFPR; ao Chefe do Departamento de Comunicação da UFPR, particularmente o professor
Dr. Mário Messagi Júnior, que gentilmente cedeu o Auditório e salas de aulas do Depar-
tamento de Comunicação para realização do SIMCAM 13; e ao Departamento de Artes
da UFPR. Agradecemos também as agências de fomento Capes e CNPq pelos recursos
liberados; aos membros da diretoria da ABCM; aos professores convidados e professores
pareceristas; aos alunos voluntários, especialmente à aluna doutoranda Dayane Battisti
pelo empenho em manter sempre atualizada a página do SIMCAM 13; à Empresa Am-
plificar; e enfim, a todos os participantes SIMCAM 13 que colaboram para realizar este
simpósio com entusiasmo e participação efetiva.
Saudações,
Clara Márcia Piazzetta – UNESPAR, Campus II/FAP
Rosane Cardoso de Araújo – UFPR, Programa de Pós-Graduação em Música
iii
Saudação da Diretoria Científica
É com satisfação que apresentamos os Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição
e Artes Musicais, que neste ano foi diligentemente realizado através da parceria entre a
Universidade Federal do Paraná e da Universidade Estadual do Paraná, instituições as
quais saúdo nas figuras da Prof.a Dr.a Rosane Cardoso de Araújo e da Prof.a Me. Clara
Márcia Piazzetta, coordenadoras gerais do evento. Gostaria também de acrescentar a estas
linhas iniciais um agradecimento aos membros da diretoria da Associação Brasileira de
Cognição e Artes Musicais, pela competente promoção do evento e pela confiança em
mim depositada para a coordenação dos trabalhos científicos desta edição do SIMCAM.
Agradeço também a todos os diretores de subárea e todos os pareceristas que colaboraram
com a ABCM na avaliação dos trabalhos submetidos ao simpósio, os quais encontram-se
nominalmente elencados na parte pré-textual deste volume.
Neste ano de 2017 o SIMCAM contou com a brilhante participação de três convidados
internacionais que trouxeram contribuições importantes para o âmbito dos estudos brasi-
leiros na área da Cognição Musical. Nossos convidados foram Michel Imberty, Professor
Emérito da Université de Paris Nanterre, Anna Rita Addessi, da Università di Bologna,
e Favio Shifres, da Universidad Nacional de La Plata. Ao lado destes renormados pro-
fessores, pesquidores brasileiros de expressiva produção intelectual promoveram debates
instigantes nas três mesas-redondas que ocorreram durante o SIMCAM 13. A Prof.a Dr.a
Regina Antunes Teixeira dos Santos (UFRGS) mediou o debate sobre Motivação e Au-
torregulação com a participação da Prof.a Dr.a Cristina Tourinho (UFBA), da Prof.a Dr.a
Liane Hentschke (UFRGS) e da Prof.a Dr.a Cristiane Hatsue Vital Otutumi (UNESPAR).
A segunda mesa-redonda tratou de questões sobre Composição e Cognição, com a co-
laboração do Prof. Dr. Antenor Ferreira Correa (UnB), Prof. Dr. Guilherme Bertissolo
(UFBA) e da Prof.a Dr.a Roseane Yampolschi (UFPR), com a mediação do Prof. Dr. Mar-
cos Nogueira (UFRJ). A temática da interrelação entre Cognição e Saúde foi abordada
na terceira mesa-redonda, mediada pela Prof.a Me. Clara Márcia Piazzetta (UNESPAR),
com a participação da Prof.a Dr.a Marília Nunes-Silva (UEMG), da Prof.a Dr.a Claudia
Regina de Oliveira Zanini (UFG) e da Prof.a Dr.a Rosemyriam Cunha (UNESPAR).
Além das conferências e mesas-redondas, a décima terceira edição do SIMCAM con-
tou com a apresentação de 65 trabalhos de pesquisadores afiliados à ABCM, sendo 59
comunicações orais e 6 pôsteres. Nesta edição, ainda destacamos o trabalho dos 6 grupos
de estudo que foram aprovados, os quais desenvolveram suas atividades de maneira ple-
namente satisfatória, promovendo o debate e ampliando a troca de informações entre os
pesquisadores da área da Cognição Musical, em diversas das suas interfaces.
Nas páginas que se seguem, oferecemos todos os resumos das conferências, das mesas-
redondas e dos grupos de estudo, assim como os textos completos dos trabalhos apresen-
tados na forma de comunicação oral e de poster. Ao final do volume encontra-se um
índice de autores para facilitar a busca por trabalhos. Desejamos a todos uma excelente e
frutífera leitura!
iv
Universidade Estadual do Paraná
Prof. Ms. Antonio Carlos Aleixo
Reitor
Prof. Dr. Sidney Roberto Kempa
Vice-Reitor
Prof. Armindo José Longh
Pró-Reitora de Extensão e Cultura
Prof.a Ms. Pierangela Nota Simões
Diretor do Campus de Curitiba II - FAP
Prof. Ms. Marcelo Bourscheid
Vice-Diretor do Campus de Curitiba II - FAP
Prof.a Ms. Clara Márcia de Freitas Piazzetta
Diretora do Centro de Área de Música e Musicoterapia
Prof. Dr. André Ricardo de Souza
Coordenador do Colegiado de Licenciatura em Música
Prof. Dr. Alvaro Henrique Borges
Coordenador do Colegiado de Bacharelado em Música Popular
Prof.a Dr.a Noemi Nascimento Ansay
Coordenadora do Colegiado de Bacharelado em Musicoterapia
Helio Ricardo Sauthier
Chefe da Divisão de Extensão e Cultura
v
Universidade Federal do Paraná
Prof. Dr. Ricardo Marcelo Fonseca
Reitor
Profa . Dra . Graciela Inês Bolzón de Muniz
Vice-Reitora
Prof. Dr. Francisco de Assis Mendonça
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Prof. Dr. André Luiz Felix Rodacki
Coordenador de Programas de Pós-Graduação – stricto sensu
Prof. Dr. Dalton Luiz Razera
Diretor do Setor de Artes Comunicação e Design
Prof. Dr. Luiz Paulo Maia
Vice-Diretor do Setor de Artes Comunicação e Design
Salette A Franco Miyake
Secretária Executiva do Setor de Artes Comunicação e Design
Prof. Dr. José Estevam Gava
Chefe do Departamento de Artes
Prof.a Dr.a Rosane Cardoso de Araújo
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Música
Prof. Dr. Hugo Melo
Coordenador dos Cursos de Música (Bacharelado e Licenciatura)
vi
Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais
Prof.a Dr.a Rosane Cardoso Araújo
presidente
Prof. Dr. Mauricio Dottori
vice-presidente
Prof.a Me. Clara Márcia Piazzetta
tesoureira
Prof. Dr. Luis Felipe Oliveira
secretário
Prof.a Dr.a Beatriz Raposo de Medeiros
relações públicas
Prof. Dr. Rael B. G. Toffolo
webmaster
Prof. Dr. Marcos Nogueira
comitê editorial
Comissão Organizadora
Prof.a Dr.a Rosane Cardoso de Araújo
coordenação geral
Prof.a Me. Clara Márcia Piazzetta
coordenação geral
Prof. Dr. Marcos Nogueira
coordenação artística
Prof.a Dr.a Beatriz Raposo de Medeiros
coordenação dos grupos de estudo
Doutoranda Dayane Battisti
Elaboração do site e do material gráfico
Doutorando Jean Pscheidt
Equipe de coordenação dos alunos voluntários
Mestrando Flávio Dias Veloso
Equipe de coordenação dos alunos voluntários
vii
Comissão Científica
Prof. Dr. Luis Felipe Oliveira (UFMS)
presidente
Comitê Internacional
Prof.a Dr.a Anna Rita Addessi
Università di Bologna
Prof. Dr. Basilio Fernádez Morante
Universidad de Internacional de Valencia
Prof.a Dr.a Beatriz Ilari
University of Southern California
Prof.a Dr.a Genoveva Salazar Hakim
Universidad Distrital Francisco José de Caldas
Prof.a Dr.a Isabel Martinez
Universidad de la Plata
Prof.a Dr.a Pilar Jovanna Holguín Tovar
Universidad Pedagógica e Tecnológica de Colombia
Comitê Nacional
Prof. Dr. Antenor Ferreira Corrêa (UnB)
diretor da subárea Cognição Musical e Estudos Culturais
Prof.a Dr.a Beatriz Raposo de Medeiros (USP)
diretora da subárea Cognição Musical e Ciências da Linguagem
Prof.a Me. Clara Márcia Piazzetta (UNESPAR)
diretora da subárea Cognição Musical e Saúde
Prof. Dr. Marcos Nogueira (UFRJ)
diretor da subárea Cognição Musica e Processos Criativos
Prof. Dr. Rael B. G. Toffolo (UEM)
diretor da subárea Cognição Musical e Processos Perceptivos
Prof.a Dr.a Rosane Cardoso de Araújo (UFPR)
diretora da subárea Cognição Musical e Desenvolvimento da Mente Humana
viii
Pareceristas
Acácio Piedade (UDESC)
Alexandre Mauat (UFRGS)
Ana Cristina Gama Dos Santos Tourinho (UFBA)
André Luiz Gonçalves de Oliveira (UNOESTE)
Andre Sinico da Cunha (PPG Música/UFRGS)
Antenor Ferreira Corrêa (UnB)
Basilio Fernádez Morante (Universidad Internacional de Valencia)
Beatriz Ilari (University of Southern California)
Beatriz Raposo de Medeiros (USP)
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves (Associação de Musicoterapia do Paraná)
Celio Roberto Eyng (UNIOESTE)
Clara Márcia Piazzetta (UNESPAR)
Clint Randles (University of South Florida)
Cristiane Hatsue Vital Otutumi (UNESPAR)
Daniel Puig (PPGM-UNIRIO/UFRJ)
Danilo Ramos (UFPR)
Diana Santiago (UFBA)
Edwin Ricardo Pitre Vasquez (UFPR)
Evandro Rodrigues Higa (UFMS)
Franciele Felix Macedo (UFSCAR)
Genoveva Salazar (Universidad Distrital Francisco José de Calda)
Geraldo Henrique Lima (UNESAR)
Graziela Bortz (UNESP)
Guilherme Bertissolo (UFBA)
Gustavo Rodrigues Penha (UFMS)
Hugo Leonardo Ribeiro (UnB)
José Davison da Silva Júnior (IFPE)
José Eduardo Fornari (UNICAMP)
Liliam Barros Cohen (UFPA)
Luciane da Costa Cuervo (UFRGS)
Luis Felipe Oliveira (UFMS)
Marcos Mesquita (UNESP)
Marcos Nogueira (UFRJ)
Maria Bernardete Castelan Póvoas (UDESC)
Maria Cristina de Carvalho Cascelli de Azevedo (UnB)
Marina Freire (UFMG)
Matthias Lewy (UnB)
Mauricio Dottori (UFPR)
Midori Maeshiro (UFRJ)
Noemi Ansay nascimento Ansay (UNESPAR)
Patricia Vanzella (UFABC)
Pedro Augusto Silva (UFRN)
Pilar Jovanna Holguín (Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia)
Rael B. G. Toffolo (UEM)
Regina Antunes Teixeira Dos Santos (UFRGS)
ix
Ricardo Dourado Freire (UnB)
Rosane Cardoso de Araujo (UFPR)
Rosemyriam Cunha (UNESPAR)
Sonia Ray (UFG)
Tiago Madalozzo (UNESPAR)
Verônica Magalhães Rosário (UFMG)
William Teixeira (UFMS)
x
Sumário
I Programação 1
II Resumos 15
Conferências 16
Musique, Temps et Narrativité: Origines et destins de la musicalité humaine
(Michel Imberty) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Children’s musical creativity and improvisation in reflexive interaction (Anna
Rita Addessi) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Contra el desperdicio de nuestra experiencia musical (Favio Shifres) . . . . . . 17
Concertos 25
Alma: a expertise pianística de Egberto Gismonti (Vinicius Bastos Gomes) . . . 25
Hiperimprovisação (Manuel Silveira Falleiros) . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
xi
SoS: Self-Organized Sonifications Through a Touchless Virtual Piano (José
Eduardo Fornari) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Três Reverências para Piano a Quatro Mãos de Acácio Piedade: Uma Reflexão
Sobre Sincronia Entre Pianistas Durante o Processo de uma Interpretação
(Maria Bernardete Castelan Povoas e Luís Claúdio Barros) . . . . . . . . 27
Preparação do recital de piano à 4 mãos (Carmen Célia Fregoneze e Daniela
Tsi Gerber) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Grupos de Estudo 29
Cognição, Música e Musicoterapia (Coordenação: Clara Márcia Piazzetta e
Claudia Zanini) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Cognição e Educação Musical (Rosane Cardoso de Araújo) . . . . . . . . . . . 29
Música e Teorias da Cognição (Coordenação: Beatriz Raposo de Medeiros e
Luis Felipe Oliveira) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Semântica Cognitiva e Música (Coordenação: Marcos Nogueira e Guilherme
Bertissolo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Neurociências e Performance Musical (Coordenação: Luciane Cuervo) . . . . 31
xii
Avaliação em Musicoterapia e a utilização da versão brasileira do IMTAP (Gus-
tavo Henrique Costa e Clara Marcia Piazzetta) . . . . . . . . . . . . . . 114
Música, saúde e bem-estar: quadro conceitual e pesquisas recentes (José Davi-
son da Silva Júnior) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Musicoterapia, Música, Saúde e Bem-estar: aspectos convergentes, divergentes
e instrumentos de avaliação (Clara Márcia Piazzetta) . . . . . . . . . . . 130
xiii
A individualidade musical na performance: conceitos teóricos, estratégias me-
todológicas e perspectivas (Tairone Nunes Magalhães, Davi Alves Mota e
Maurício Alves Loureiro) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 270
Um estudo de caso sobre motivação e criatividade com participantes de um coro
infantil (Flávia de Andrade Campos Silva e Rosane Cardoso de Araújo) . 278
Imagética musical e metáfora como recurso ativador/indutor do gesto corporal
na interpretação e na performance musical (Arícia Ferigato e Maurício
Alves Loureiro) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287
The observation of ancillary gestures using the Laban-Bartenieff Movement
Fundamentals (Thaís Fernandes Santos e Maurício Alves Loureiro) . . . . 294
Comunicação gestual entre músicos: uma revisão dos métodos de pesquisa em-
pregados (Aglaê Machado Frigeri e Mayra Stela Dunin Pedrosa) . . . . . 302
Mapeamento Gestual Braille na Livre Improvisação (Antonio Fernando da Cu-
nha Penteado e José Eduardo Fornari) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309
Percepções de professores e alunos quanto ao uso de tecnologia no ensino e
aprendizagem de piano de nível superior (Luciana F. Hamond) . . . . . . 318
Privações de retroalimentação, estímulo e instrumento no aprendizado de qua-
tro danças de Schubert por um estudante de piano em Extensão Univer-
sitária: resultados preliminares de um experimento (Renan Moreira Ma-
deira e Regina Antunes Teixeira dos Santos) . . . . . . . . . . . . . . . . 327
Expressividade musical da performance no violino: um estudo de caso (Juliana
Lima Verde, Sandra F. C. D. Freire e Ricardo Dourado Freire) . . . . . . 335
A relação entre a notação e as poéticas interpretativas de música nova para flauta
transversal (Valentina Daldegan) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
A performance musical e o jogo em Hans-Georg Gadamer (Isadora Scheer Ca-
sari) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
Perspectivas lógicas-semióticas no processo criativo musical de Pierre Boulez
(Alberto Ferreira da Silva) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361
Cognição incorporada e experiência duracional em música: um método (Nilo
Rafael Baptista de Mello) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 368
A constituição schemática da imaginação na criação de solos instrumentais (Ce-
lio Roberto Eyng e Magda Floriana Damiani) . . . . . . . . . . . . . . . 376
A Study on Multisensorial Sonification Strategies for the Blind Performer (An-
tonio Fernando da Cunha Penteado, Vilson Zattera e José Eduardo Fornari)383
xiv
Influências da Autorrealização e da Experiência Estética sobre os Fatores Pes-
soais dos Processos Criativos e Motivacionais da Aprendizagem Musical
(Igor Mendes Krüger e Veridiana de Lima Gomes Krüger) . . . . . . . . 424
Habilidades e Estratégias para Gerir a Ansiedade Antes e Durante o Recital:
Abordagem Metodológica de estudos Multicaso com Pianistas Estudantes
e Profissionais (Dayse Gomes Mendes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 433
Motivação no ensino coletivo de violão (Dayane Battisti e Rosane Cardoso de
Araújo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 442
Avaliando habilidades musicais e linguísticas em crianças nos estágios iniciais
da alfabetização de escolas públicas brasileiras (Guilherme Alves Delmo-
lin de Oliveira, Olga Valéria Campana dos Anjos Andrade, Paulo Estêvão
Andrade e Patricia Maria Vanzella) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 451
Considerações sobre questões estéticas nas aulas de trombone: estudo de 4
casos em universidades brasileiras (Marcos Botelho) . . . . . . . . . . . 460
Música de cámara y aprendizaje significativo: una estrategia pedagógica para
el fortalecimiento de los procesos académicos y musicales (Robinson Gi-
raldo Villegas) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 468
A repetição como nuance de deliberação na prática pianística em diferentes
níveis de expertise (Michele Rosita Mantovani e Regina Antunes Teixeira
dos Santos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477
Bullying escolar e o estudo de violino (Sandra Carvalho de Mattos) . . . . . . 485
Desenvolvimento musical e musicalidade (Flávia Fiorini da Silva e Ana Lúcia
Vasquez) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 492
A Compreensão Musical em Crianças Pequenas: um estudo exploratório dentro
de um projeto de extensão (Bruna Canedo França e Mariana de Araújo
Stocchero) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 501
Percepção e Ação no Método O Passo (Cassius Bonfim e Luis Felipe Oliveira) . 510
Pesquisas sobre memória musical apresentadas no SIMCAM (2006-2016): uma
revisão sistemática (Fase 1) (Alessandro Pereira da Silva, Mônica Caja-
zeira Santana Vasconcelos, Jonatas Leal e Diana Santiago) . . . . . . . . 519
Estudos sobre a mente musical: Criação de disciplina para o Ensino Superior
(Luciane Cuervo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 529
Pôsteres 537
A percepção e a produção musical nos aspectos auditivos, vocais e emocio-
nais como fatores de influência na prática do canto coral (Sandra Regina
Cielavin, Vilson Zattera e Adriana do Nascimento Araújo Mendes) . . . . 538
Estudo individual da escrita rítmica e melódica e a autorregulação da aprendi-
zagem (Elcio Antonio de Almeida Junior e Cristiane Hatsue Vital Otutumi) 547
Transtorno do espectro do autismo: um levantamento bibliográfico (Patricia
Dauzacker e Mariana de Araújo Stocchero) . . . . . . . . . . . . . . . . 554
Brincando e cantando: proposta de ação metodológica com intervenções lú-
dicas nas práticas musicais do coro infantil (Micheline Prais de Aguiar
Marim Gois) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 562
Representações sociais sobre a criatividade musical das crianças (Susan Stepha-
nie Opiechon e Rosane Cardoso de Araújo) . . . . . . . . . . . . . . . . 569
xv
A motivação como variável interveniente à aprendizagem: o alunado contem-
porâneo nas aulas de educação musical na rede básica de ensino (Franci-
ele Felix Macedo e José Zula de Oliveira) . . . . . . . . . . . . . . . . . 577
xvi
Parte I
Programação
1
⇤Mesa 1 - Motivação e autorregulação: Cristina Tourinho (UFBA); Liane Hentsche (UFRGS); Cristiane Otutumi
(UNESPAR/Embap); Mediadora: Regina Antunes Teixeira (UFRGS).
⇤⇤MESA 2 - Composição e cognição: Antenor Ferreira Correa (UnB); Guilherme Bertissolo (UFBA); Roseane Yampolschi
(UFPR); Mediador: Marcos Nogueira (UFRJ).
⇤ ⇤ ⇤MESA 3 - Música e saúde: Marília Nunes (UEMG); Claudia Zanini (UFG); Rosemyriam Cunha (UNESPAR/FAP);
Mediadora: Clara Maria Piazzetta (UNESPAR/FAP).
2
Sessão 1: Quarta-feira, 24 de maio de 2017
Cognição Musical e Estudos Culturais, Cognição Musical e Ciências da Linguagem
Horário Trabalho
16h30 Musical responses to body percussion: initial findings on children/youth interactions with bodily-
based activities
Kristina B. Tyrenius e Antenor Ferreira Corrêa
16h50 A Folia e a Festa do Divino em Guaratuba (Brasil): um estudo de caso sob a perspectiva das Repre-
sentações Sociais
3
Carlos Eduardo de Andrade e Silva Ramos
17h10 Concepts of time and music
Marcos Mesquita
17h30 A percepção do movimento no discurso da música eletroacústica
Caoqui Sanches Pereira
17h50 A sílaba na fala e no canto e a questão da estabilidade: um estudo preliminar
Beatriz Raposo de Medeiros e João Paulo Cabral
18h10 Transcrição Musical da Prosódia da Fala
Alexsandro R. Meireles, Antônio R. M. Simões e Beatriz Raposo de Medeiros
Sessão 2: Quarta-feira, 24 de maio de 2017
Cognição Musical e Processos Perceptivos
Horário Trabalho
16h30 Ouvido Relativo: Definição, Relevância para a Percepção Musical e Inter-relações com o Ouvido
Absoluto
Nayana Di Giuseppe Germano, Hugo Cogo Moreira e Graziela Bortz
16h50 Prácticas, concepciones y valoraciones del desarrollo auditivo musical en escenarios curriculares y
extracurriculares: cuatro casos de estudiantes de composición y arreglos
Genoveva Salazar Hakim
4
17h10 Relações de afinação entre sons resultantes e sistemas de afinação
Ricardo Dourado Freire
17h30 Análise da entoação praticada em Silent Night: um estudo de caso a partir de performances vocais de
amadores
Cesar Augusto Pereira da Silva e Ricardo Goldemberg
17h50 Processos cognitivos da percepção do metro e possíveis relações com o treinamento auditivo
Letícia Dias de Lima
18h10 Etologia na comunicação de significados simbólicos musicais
Bernardo Aguiar de Souza Penha e José Eduardo Fornari Novo Junior
Sessão 3: Quarta-feira, 24 de maio de 2017
Cognição Musical e Desenvolvimento da Mente Humana
Horário Trabalho
16h30 Licenciandos em Música e Educação Básica: reflexões a partir de um estudo quantitativo realizado
em âmbito nacional
Mário André Wanderley Oliveira
16h50 O ensino da expressividade musical no jazz baseado no ensino de idiomas
Endre Solti e José Eduardo Fornari Novo Junior
17h10 Um estudo sobre a autorregulação de alunos de percussão em cursos de bacharelado em música
5
Flávio Denis Dias Veloso e Rosane Cardoso de Araújo
17h30 Autorregistro como estratégia autorregulatória para a aprendizagem musical
Veridiana de Lima Gomes Krüger e Igor Mendes Krüger
17h50 Influências da Autorrealização e da Experiência Estética sobre os Fatores Pessoais dos Processos
Criativos e Motivacionais da Aprendizagem Musical
Igor Mendes Krüger e Veridiana de Lima Gomes Krüger
18h10 Habilidades e Estratégias para Gerir a Ansiedade Antes e Durante o Recital: Abordagem Metodoló-
gica de estudos Multicaso com Pianistas Estudantes e Profissionais
Dayse Gomes Mendes
Sessão 4: Quarta-feira, 24 de maio de 2017
Cognição Musical e Processos Criativos
Horário Trabalho
16h30 A atenção na prática deliberada em performance musical
Eduardo de Carvalho Torres
16h50 Interação reflexiva e criatividade: uma experiência com alunos iniciantes em bateria
Jean Felipe Pscheidt e Rosane Cardoso de Araújo
17h10 Investigações sobre a relação de expertise musical e expertise pedagógica
6
Anderson César Alves
17h30 A expertise musical de Egberto Gismonti sugere o planejamento de práticas deliberadas alternativas:
um estudo preliminar
Vinicius Bastos Gomes e Danilo Ramos
17h50 A individualidade musical na performance: conceitos teóricos, estratégias metodológicas e perspec-
tivas
Tairone Nunes Magalhães, Davi Alves Mota e Maurício Alves Loureiro
18h10 Um estudo de caso sobre motivação e criatividade com participantes de um coro infantil
Flávia de Andrade Campos Silva e Rosane Cardoso de Araújo
Sessão 5: Quarta-feira, 24 de maio de 2017
Cognição Musical e Processos Criativos
Horário Trabalho
16h30 Imagética musical e metáfora como recurso ativador/indutor do gesto corporal na interpretação e na
performance musical
Arícia Ferigato e Maurício Alves Loureiro
16h50 The observation of ancillary gestures using the Laban-Bartenieff Movement Fundamentals
Thaís Fernandes Santos e Maurício Alves Loureiro
7
17h10 Comunicação gestual entre músicos:uma revisão dos métodos de pesquisa empregados
Aglaê Machado Frigeri e Mayra Stela Dunin Pedrosa
17h30 Mapeamento Gestual Braille na Livre Improvisação
Antonio Fernando da Cunha Penteado e José Eduardo Fornari Novo Junior
17h50 A Study on Multisensorial Sonification Strategies for the Blind Performer
Antonio Fernando da Cunha Penteado, Vilson Zattera e José Eduardo Fornari Novo Junior
18h10 Percepções de professores e alunos quanto ao uso de tecnologia no ensino e aprendizagem de piano
de nível superior
Luciana F. Hamond
Sessão 6: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Cognição Musical e Saúde
Horário Trabalho
16h30 Proposta de um Aplicativo na Hipersensibilidade Sonora no Autismo
Débora Line Gomes e Cybelle Maria Veiga Loureiro
16h50 Percepção e Cognição na Educação Musical de Pessoas com TEA e as Contribuições das Construções
Simbólicas para Constituição do Sujeito
Caroline Blumer e Vilson Zattera
17h10 Avaliação da Musicalidade: possibilidades de utilização da Avaliação IMTAP com crianças de três a
8
cinco anos de idade
Josiane Fernanda Covre e Claudia Regina de Oliveira Zanini
17h30 Avaliação em Musicoterapia e a utilização da versão brasileira do IMTAP
Gustavo Henrique Costa e Clara Márcia Piazzetta
17h50 Música, saúde e bem-estar: quadro conceitual e pesquisas recentes
José Davison da Silva Júnior
18h10 Musicoterapia, Música, Saúde e bem Estar: aspectos convergentes, divergentes e instrumentos de
avaliação
Clara Márcia Piazzetta
Sessão 7: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Cognição Musical e Processos Perceptivos
Horário Trabalho
16h30 Studying Possible Emotional Impacts in the Remote Cooperation of Participants of Virtual Choirs
José Eduardo Fornari Novo Junior e Daniel Chris Amato
16h50 Interações musicais via webconferência na Educação a Distância: apresentando possibilidades para
fundamentar um referencial teórico
9
Vanessa de Souza Jardim e Paulo Roberto Affonso Marins
17h10 Respostas emocionais à sonoridade pianística de Arno Roberto von Buettner
Danilo Ramos e Anderson Toni
17h30 Harmonia como Tensão: considerações acerca da principal metáfora subjacente a pesquisas sobre
percepção de harmonia e tonalidade
Mauro Orsini Windholz
17h50 A lógica e o processo da escuta riemanniana
Felipe Augusto Vieira da Silva
Sessão 8: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Cognição Musical e Desenvolvimento da Mente Humana
Horário Trabalho
16h30 Motivação no ensino coletivo de violão
Dayane Battisti e Rosane Cardoso de Araújo
16h50 Avaliando habilidades musicais e linguísticas em crianças nos estágios iniciais da alfabetização de
escolas públicas brasileiras
Guilherme Alves Delmolin de Oliveira, Olga Valéria Campana dos Anjos Andrade, Paulo Estêvão
Andrade e Patricia Maria Vanzella
10
17h10 Considerações sobre questões estéticas nas aulas de trombone: estudo de 4 casos em universidades
brasileiras
Marcos Botelho
17h30 Música de cámara y aprendizaje significativo: Una estrategia pedagógica para el fortalecimiento de
los procesos académicos y musicales
Robinson Giraldo Villegas
17h50 A repetição como nuance de deliberação na prática pianística em diferentes níveis de expertise
Michele R Mantovani e Regina Antunes Teixeira Dos Santos
18h10 Bullying escolar e o estudo de violino
Sandra Carvalho de Mattos
Sessão 9: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Cognição Musical e Desenvolvimento da Mente Humana
Horário Trabalho
16h30 Desenvolvimento musical e musicalidade
Flávia Fiorini da Silva e Ana Lúcia Vasquez
16h50 A Compreensão Musical em Crianças Pequenas: um estudo exploratório dentro de um projeto de
extensão
Bruna Canedo França e Mariana de Araújo Stocchero
11
17h10 Percepção e Ação no Método O Passo
Cassius Bonfim e Luis Felipe Oliveira
17h30 Pesquisas sobre memória musical apresentadas no SIMCAM (2006-2016): uma revisão sistemática
(Fase 1)
Alessandro Pereira da Silva, Mônica Cajazeira Santana Vasconcelos, Jonatas Leal e Diana Santiago
17h50 Estudos sobre a mente musical: criação de disciplina para o Ensino Superior
Luciane Cuervo
18h10 Emílio Contemporâneo: O sujeito musical analisado pela Teoria da Complexidade
Júlio César Stefanoni
Sessão 10: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Cognição Musical e Processos Criativos
Horário Trabalho
16h30 A variabilidade e o descanso na prática pianística
Arilton Medeiros Junior e Maria Bernardete Castelan Póvoas
16h50 Privações de retroalimentação, estímulo e instrumento no aprendizado de quatro danças de Schubert
12
por um estudante de piano em Extensão Universitária: resultados preliminares de um experimento
Renan Moreira Madeira e Regina Antunes Teixeira dos Santos
17h10 Expressividade musical da performance no violino: um estudo de caso
Juliana Lima Verde, Sandra F. C. D. Freire e Ricardo Dourado Freire
17h30 A relação entre a notação e as poéticas interpretativas de música nova para flauta transversal
Valentina Daldegan
Sessão 11: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Cognição Musical e Processos Criativos, Cognição Musical e Processos Perceptivos
Horário Trabalho
16h30 A performance musical e o jogo em Hans-Georg Gadamer
Isadora Scheer Casari
16h50 Perspectivas lógicas-semióticas no processo criativo musical de Pierre Boulez
Alberto Ferreira da Silva
13
17h10 Cognição incorporada e experiência duracional em música: um método
Nilo Rafael Baptista de Mello
17h30 Dimensiones acústicas y percepción del timbre en el procesamiento de grabaciones del análisis mu-
sical
María Marchiano e Isabel Cecilia Martínez
17h50 A constituição schemática da imaginação na criação de solos instrumentais
Celio Roberto Eyng e Magda Floriana Damiani
Sessão 12: Quinta-feira, 25 de maio de 2017
Pôsteres
Horário Trabalho
16h30 A percepção e a produção musical nos aspectos auditivos, vocais e emocionais como fatores de in-
fluência na prática do canto coral
Sandra Regina Cielavin, Vilson Zattera e Adriana do Nascimento Araújo Mendes
16h50 Estudo individual da escrita rítmica e melódica e a autorregulação da aprendizagem
Elcio Antonio de Almeida Junior e Cristiane Hatsue Vital Otutumi
17h10 Transtorno do Espectro do Autismo: um levantamento bibliográfico
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Patricia Dauzacker e Mariana de Araújo Stocchero
17h30 Brincando e cantando: proposta de ação metodológica com intervenções lúdicas nas práticas musicais
do coro infantil
Micheline Prais de Aguiar Marim Gois
17h50 Representações sociais sobre a criatividade musical das crianças
Susan Stephanie Opiechon e Rosane Cardoso de Araújo
18h10 A motivação como variável interveniente à aprendizagem: o alunado contenporâneo nas aulas de
educação musical na rede básica de ensino
Franciele Felix Macedo e José Zula de Oliveira
Parte II
Resumos
15
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Conferências
16
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Several scholars approached the issue of children’s musical improvisation and creati-
vity from different perspectives and by means of different methodologies, giving rise
to discussion about the definition of improvisation in children’s musical experience, the
relationships between improvisation and creativity, learning/teaching theories and so-
cial/familial contexts. I will discuss this issue through the “reflexive interaction para-
digm”, which refers to a particular kind of human-machine interaction based on the me-
chanism of repetition and variation, where interactive systems are able to imitate the sty-
les of the user which is playing an instrument. The theoretical framework of reflexive
interaction and several experimental studies will be introduced. We carried out several
observations in naturalistic context of child-machine, infant-adult, and peer-to-peer in-
teraction. The results will be discussed on the light of the experimental procedure and
the recent literature in neuroscience and music education. The discussion will focus on
the observation and analysis of several case studies of children interacting with reflexive
technologies and/or parents. In particular way we will discuss the efficacy of reflexive
pedagogy in the field of children’s music performance and creativity and the issue of the
analysis and assessment of children’s ability to improvise.
17
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
música como lenguaje, derivada de los enfoques lingüísticos estructuralistas que fundaron
la tradición cognitivo estructuralista de los estudios en música. En segundo lugar discuto
la supremacía del sonido en la experiencia musical que ha operativizado el cognitivismo
clásico.
En general el trabajo se propone contribuir a una discusión acerca del rol de la psicolo-
gía cognitiva, las neurociencias y la musicología estructuralista occidental en el concierto
de unas ciencias cognitivas de la música que contribuyan a la inteligibilidad de nuestra
experiencia musical.
18
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Mesa-redonda 1: Motivação e
Autorregulação
A fala problematiza o ensino de violão em aulas coletivas associada aos aportes teóricos
da TSC neste contexto. No caso, aulas de instrumento para estudantes de graduação
que não cursam Bacharelado em Violão e estão matriculados na disciplina Instrumento
Suplementar. A pesquisa, iniciada empiricamente em 2013 foi sendo estruturada nos
anos consecutivos com o apoio do Projeto Casadinho-Procad do CNPq e a parceria com
a Profa. Dra. Roberta Azzi, da UNICAMP.
Sete conceitos propostos por Zimmerman, Bonner e Kovack (2002) foram adaptadas
para o contexto do ensino de música: modelação, aprendizagem autorregulada, autorre-
gulação, autoavaliação, autoeficácia e feedback. Além disso, os cinco princípios teóricos
descritos por Ormrod (2003 , baseados na TSC, descrevem e se aproximam dos princípios
do ensino coletivo de violão desenvolvidos pela autora.
“Aprender a tocar” é uma atividade que envolve cognição, atividades motores, autor-
regulação e concentração. Os estudantes desta disciplina irão usar o violão no exercício
profissional como um complemento para suas atividades de ensino e criação. Não serão
concertistas e a finalidade é, segundo a ementa, “que possam se expressar usando o instru-
mento” (UFBA, 2011). No caso, estudantes de graduação precisam desenvolver técnica,
leitura de partitura e cifras (inclusive a primeira vista), habilidade técnica/interpretativa e
criação.
A análise das práticas aplicadas revelou que utilizar os construtos da TSC pode ser
uma prática altamente promissora para o ensino de violão.
19
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
O Grupo FAPROM tem se dedicado, nos últimos oito anos, aos estudos de motivação
para aprender e ensinar música, conforme pesquisas e publicações listadas no site do
grupo (www.ufrgs.br/faprom). Nos últimos três anos tem pesquisado sobre a autoeficácia
de professores de música no Brasil. O projeto de pesquisa, financiado pelo CNPq, tem
como objetivo investigar o perfil do professor que trabalha com música nas escolas de
educação básica e suas crenças de autoeficácia. O referencial teórico é oriundo da teoria
social cognitiva que tem como seu principal construto a autoeficácia, que se refere às
expectativas, percepções, julgamentos ou crenças sobre a capacidade que uma pessoa
possui quanto a realizar uma determinada tarefa (BANDURA, 2008). O método utilizado
nesta pesquisa foi um survey baseado na internet, utilizando um questionário dividido
em duas partes: a) questões sobre o perfil do professor e; b) escala de autoeficácia. A
amostra contou com 918 professores respondentes que atuam em diferentes etapas do
ensino básico. Será relatado um recorte dos dados da pesquisa, principalmente no que diz
respeito às dimensões da escala em relação ao tempo de atuação, maior escolaridade e
níveis de ensino em que os professores atuam.
20
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Mesa-redonda 2: Composição e
Cognição
Música e conhecimento estão categoricamente atrelados. Talvez, a prova mais cabal dessa
afirmação seja o fato de que a música está presente na universidade, admitida como área
de formação, estudo e pesquisa. Não obstante, considerar a música como forma de conhe-
cimento não é unanimidade. François Pachet (2005), por exemplo, questiona: “A música
é uma forma de conhecimento? [e responde:] Provavelmente não.” Contrariamente a ele,
opõem diversos autores como Peter Milward, Keith Swanwick e David J. Elliott, que não
somente afirmam a música como forma, mas também como veículo de conhecimento.
Partindo desses posicionamentos antagônicos, pretendo propor uma reflexão sintética
sobre a natureza, formas e processos relativos ao conhecimento em música de modo a
conceber uma epistemologia da composição musical. Nesse sentido, perpassam as consi-
derações presentes neste texto as seguintes indagações: Que tipo de conhecimento poder
ser adquirido e transmitido compondo-se música? Que tipo de conhecimento poder ser
adquirido por meio da fruição musical? Que tipo de conhecimento poder ser adquirido
na performance musical? Os meandros desses questionamentos levaram a ponderar como
as formas de conhecimento proposicional, procedimental e por familiaridade compõe o
discurso composicional.
Interrogar a atividade composicional, e consequentemente a música, como forma de
conhecimento implicará, necessariamente, em confrontar a possibilidade de a música ser
comunicada e compreendida. Entendo a ocorrência de ao menos dois tipos de compreen-
são musical, as quais chamarei de fenomênica e intelectual. Esta proposição, consequen-
temente, conduzirá a discussões sobre o processo de significação em música.
21
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Como a composição e cognição podem se entrelaçar? O que pode uma informar à outra?
Nessa palestra, discuto noções da cognição musical incorporada que se articulam em
aspectos do compor, tais como memória, expectativa, gesto e metáfora. Os conceitos
que fundamentam as pesquisas relacionadas têm como referência central o conceito de
mente incorporada no estudo do sentido musical e dos processos criativos envolvidos nas
práticas musicais. Pretendo exemplificar como alguns dos mecanismos do entendimento,
que são mais amplamente aplicados na descrição da experiência musical sob o prisma
da percepção e da análise, podem possibilitar a criação de estratégias em composição,
contribuindo para o ensino e a teoria do compor, a partir da articulação entre a semântica
cognitiva e a semântica cultural proposta em uma pesquisa em andamento.
A relevância das pesquisas em música que abarcam reflexões sobre o corpo, em con-
textos variados, não mais pode ser subestimada. O interesse crescente da comunidade
acadêmica e de artistas em relação à temática se reflete principalmente em uma expan-
são dos discursos de natureza científica, voltados para âmbitos diversos de conhecimento
musicológico e interdisciplinar. Para o nosso propósito, no atual estágio deste trabalho,
interessa refletir o assunto de modo a embasar, parcialmente, o que compreendemos ser
a finalidade última desta pesquisa: investigar, na práxis artística, possíveis configurações
gestuais como parte de um universo sonoro mais abrangente, interdisciplinar, para fins de
criação musical. A partir do trabalho com a improvisação livre, reunindo estudantes de
música, o que se pretende é propiciar a vivência de formas não convencionais de aborda-
gem gestual – levando-se em conta as suas variantes possíveis desde parâmetros artísticos
selecionados –, que sirvam para subverter, em parte, fundamentos estéticos cristalizados
que comumente dão sentido às pesquisas de som na criação musical.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Nos últimos anos, houve um considerável avanço no estudo da música a partir da pers-
pectiva neurocientífica, propiciando a evolução do conhecimento teórico e dos construtos
relacionados ao processamento cognitivo musical. O desenvolvimento e a utilização de
métodos padronizados para a avaliação da cognição musical, nos contextos clínico e de
pesquisa, ainda se constitui em um desafio dentro deste campo de conhecimento. Os estu-
dos realizados com músicos profissionais e com indivíduos com déficits seletivos de ha-
bilidades musicais favoreceram a construção de modelos cognitivos úteis à compreensão
da cognição musical. Estes modelos cognitivos especificam os componentes envolvidos
no processamento musical e suas possíveis interações, e norteiam a construção de instru-
mentos padronizados de avaliação, possibilitando a testagem de hipóteses relacionadas
a estes componentes. Um destes modelos teoricamente orientados guiou o desenvolvi-
mento da Montreal Battery of Evaluation of Amusia (MBEA). A MBEA é uma bateria
de testes que avalia seis componentes do processamento musical (contorno, escala, in-
tervalo, ritmo, métrica e memória musical) e tem se mostrado fidedigna e válida para o
diagnóstico de diferentes déficits musicais, agrupados sob o termo amusia. A MBEA foi
validada para o contexto brasileiro e tem sido utilizada em pesquisas com populações com
condições neuropsicológicas, e na prática clínica para estimar o impacto de intervenções
baseadas em elementos da música e elaborar estratégias mais eficazes de reabilitação. A
utilização e o desenvolvimento de instrumentos padronizados para a avaliação musical
nos contextos clínico e de pesquisa deve ser estimulada, para a obtenção de resultados
mais fidedignos e interpretações teoricamente embasadas.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
A música tem sido utilizada em rituais de cura desde os primórdios da civilização, como
os vivenciados no Xamanismo com povos primitivos ou ainda hoje, em resgates dessa
cultura. Com a criação de cursos de Musicoterapia, na segunda metade do século XX,
vem crescendo a gama de conhecimentos acerca da utilização da música com objetivos
terapêuticos por um profissional qualificado academicamente, o musicoterapeuta. Como
objetivo da palestra, tem-se o de apresentar uma vertente dessa profissão, visto que entre
as possibilidades de atuação em atividades de avaliação, prevenção ou promoção da saúde
e tratamento, buscar-se-á contextualizar a última. Sendo um profissional que atua em um
paradigma do cuidado, o musicoterapeuta vem se inserindo em diferentes áreas. Pretende-
se expor um panorama de intervenções e pesquisas que podem ser conduzidas por meio
da Musicoterapia e que visam estabelecer esta área como uma terapia complementar ou
integrativa, possibilitando o tratamento, a reabilitação e a habilitação. Ao abordar a re-
lação existente entre Musicoterapia e os conhecimentos acerca da música e do cérebro,
tendo as áreas da Psicologia, da Neurociência e da Cognição Musical como importantes
aliadas, espera-se ampliar olhares para a perspectiva atualmente difundida como Prática
Baseada em Evidência nesse campo científico.
Ligações entre a arte dos sons e as práticas de saúde são registradas desde a antiguidade.
A música faz parte da vida social e cultural da humanidade e como tal impacta a vida
cotidiana. É proposta desta reflexão apresentar argumentos que mostrem aspectos da in-
fluência do som sobre a saúde das pessoas. A reflexão passa por documentos que indicam
prejuízos causados pelo som sobre a saúde. Um conceito abrangente de música funda-
menta o pensar sobre ruído, som e música como fenômenos acústicos que incidem sobre a
saúde humana. Uma visão social coloca a música no patamar de convenção s ocial, de ati-
vidade humana. A saúde é defendida com base nos Estudos da Deficiência e dados sobre
a violência urbana. Relativizados os conceitos de saúde e música, articula-se um encontro
entre esses eventos com a teoria e prática da Musicoterapia e suas ressonâncias sobre o
bem estar humano. Seja no campo da reabilitação, da estimulação ou da socialização,
essa prática se insere no campo hospitalar, educacional, social, neurológico e da saúde
mental, no envolvimento dos participantes em processos mediados pelo fazer musical.
Na interação entre música, musicoterapeuta e participante, a ação sonora tem a finalidade
de reabilitar, estimular, socializar, informar e fortalecer e ampliar as possibilidades de
ação sobre o meio circundante. Aqui o fazer musical se volta para modificar situações de
violência causadas pelo isolamento e descrédito na potencialidade de desenvolvimento.
São interações sonoras com o objetivo de promover e construir saúde. Palavras-chave:
palavra, palavra, palavra.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Concertos
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Hiperimprovisação
Manuel Silveira Falleiros
Universidade Estadual de Campinas
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
here is to musically explore the metaphor of the performance of a solo (lonely) touchless
piano. By doing so, SoS allows the creation of musical phrases through the sonification
of gestures of hands in the open air. Data from such gestures are retrieved by means of a
computer vision algorithm. These touchless gestural sonifications can be done also with
other types of movements, such as the ones from a dancer or a crowd. In this performance,
gestures from the hands of a performer that never touches a piano keyboard, do loosely
control the performance of a virtual (non existential) piano that, nevertheless, plays mu-
sical phrases as sonifications of such touchless touches. This performance also presents
the visual projection of the real-time capture of images (the performer’s hands) blended
with few geometric figures (rectangles) that move around in the screen, in different colors
and paths. Each figure represents one of the melodic lines being generated by the gestu-
res from the hands in the air, which are given by a multi blob (a cluster of pixels bigger
that a certain threshold) detection algorithm that transforms in data each dynamic blob
retrieved by the computer vision. SoS aims to state and explore the paradox of a non exis-
tential piano played by touchless touches that nevertheless creates a prosodic sonification
hopefully conveying aesthetic meaning.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Grupos de Estudo
O Grupo de Estudos tem como objetivo principal integrar conhecimentos sobre Música,
Cognição, Saúde e Musicoterapia. Tem acontecido desde o SIMCAM realizado em 2010,
no Rio de Janeiro. A partir das discussões desenvolvidas nos últimos anos, quando tive-
mos a participação de profissionais e estudantes advindos, principalmente, da Educação
Musical e da Musicoterapia, surgiu a motivação para aprofundar, no SIMCAM de 2017,
os aspectos vivenciados por meio das experiências musicais. Essas experiências, de au-
dição, composição, recriação e improvisação musicais, descritas por Bruscia (2000), no
campo da Musicoterapia, podem ter diferentes objetivos, em atividades de educação mu-
sical ou de promoção à saúde. Assim, baseados no princípio de que cada uma dessas
experiências envolve processos cognitivos específicos, dependendo do contexto de sua
aplicação, visa-se refletir sobre esses, de modo a descrever e compreender as semelhan-
ças e diferenças existentes. Espera-se ampliar diálogos e experiências colaborativas entre
os profissionais ligados às diferentes subáreas da música, em virtude das capacidades em
reconhecer processos e estudos envolvendo a cognição musical, a coordenação motora e
o funcionamento cerebral, considerando a importância do convívio com a música, uma
vez que essa é uma experiência multimodal. Para tanto, serão utilizadas a apreciação de
recursos de mídias diferenciadas e a consulta à documentos disponíveis virtualmente.
As discussões deste grupo focam temas que articulam os estudos da cognição e educação
musical sob algumas perspectivas como: recepção/percepção, desenvolvimento musical,
aquisição da expertise, processos de aprendizagem musical e criatividade, bem como al-
guns temas da psicologia e da música que influenciam o fazer musical, especialmente a
motivação e autorregulação da aprendizagem. O objetivo para o GE é apresentar diferen-
tes possibilidades de estudos sobre cognição e psicologia cognitiva que estão relacionados
com o ensino e a prática musical. O GE é destinado a alunos, professores e pesquisadores
que desenvolvem processos de práticas, ensino e aprendizagem musical, em diferentes
contextos. As atividades no grupo incluem a revisão de obras e investigações de autores
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
A proposta atual deste GE é dar sequência, principalmente ao que já foi visto nos últimos
dois anos. Este GE originou-se baseado na discussão das abordagens dinamicistas e agora
busca observar outras abordagens teóricas. O objetivo do GE é responder a questões que
nos ajudem a refletir sobre o papel das teorias em nossas buscas, estudos, etc.
No Simcam 11, realizado em Pirenópolis as teorias focadas nas discussões do GE fo-
ram: o cognitivismo, para o qual podemos citar Chomsky e a famosa TGMT ou GTTM de
F. Lerdahl & R. Jackendoff (1983); o conexionismo (por ex: K. Plunkett) e o dinamicismo
(Port e Van Gelder, 1995 e Large, 2010; especificamente para a música).
No Simcam 12, realizado em Porto Alebre, levantamos a discussão em torno das
ideias das seguintes hipóteses teóricas: a Hipótese do Recurso da Sintaxe Compartilhada
(SSIRH) de A. Patel e a Tonal Pitch Space, de Fred Lehdal. Também aí trouxemos à tona
qual seria a opção teórica dos palestrantes convidados: Peter Webster, Eugenia Costa-
Giomi e Isabel Cecilia Martinez.
Para o Simcam 13, em Curitiba, seguiremos estimulando os participantes a responde-
rem as perguntas que consideramos fundamentais: Quais são as teorias da cognição exis-
tentes? Como elas (ou algumas delas) dão conta do que entendemos por música/língua?
Como temos embasado nossos trabalhos de cognição com estas teorias? Quais as ques-
tões que temos sobre nossos objetos de estudo? São elas contempladas pela abordagem
teórica que escolhemos? Esperamos poder rever as ideias básicas de SSIRH e de TPS,
à luz do artigo A neurodynamic account of musical tonality (Large et al, 2016). Neste
artigo, a visão neurodinâmica de E. Large sobre a música encontra diálogo com o conhe-
cimento sobre a percepção de tom e tonalidade de J. Bharucha e C. L. Krumhansl para
estabelecer um modelo biológico plausível e, portanto transcultural, a partir da ideia da
percepção de uma invariância musical que é comum a todos os seres humanos.
30
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
O Grupo de Estudo, reunido pela primeira vez no SIMCAM 9, em Belém (2013), pro-
põe o debate acerca das pesquisas cognitivas do sentido musical e do desenvolvimento
de métodos descritivos da forma musical, no contexto dos processos criativos em Mú-
sica. O referencial teórico abordado é essencialmente vinculado à semântica cognitiva e,
em especial, ao paradigma da ciência cognitiva incorporada—enacionista (enactivist)—,
recebendo, sobretudo, contribuições da psicologia, da linguística e das neurociências cog-
nitivas, dentre outros domínios das ciências da mente contemporâneas. Os conceitos que
fundamentam as pesquisas relacionadas têm como referência central o conceito de “mente
incorporada” e seus desdobramentos, tal como discutidos a partir das teorias cognitivas
da categorização (Rosch), das affordances (Gibson), da memória (Baddeley; Edelman;
Snyder), da atenção (Pashler), da percepção (Bregman; Noë; Deutsch; Dowling) da metá-
fora conceitual (Lakoff & Johnson; Johnson; Spitzer; Zbikowski, Brower), da expectativa
(Bharucha; Huron; Abdallah & Plumbley), do gesto (Burrows; Hatten; Gritten & King;
Larson; Phillips-Silver) e da sintaxe/repetição (Margulis; Narmour; Huron; Temperley).
Propusemos como núcleo central de discussão no SIMCAM 12 (2016) a contribuição
dessa pesquisa cognitiva de base experiencial para o entendimento dos processos criati-
vos musicais, bem como o seu papel no âmbito da teoria da música no século XXI. Para as
sessões do GE no SIMCAM 13 (2017) propomos discutir mais detidamente o potencial de
aplicação desse arcabouço teórico-metodológico às atividades de criação e performance
musical. Todos os interessados neste campo de investigação são bem-vindos ao GE, que
tem investido também na elaboração de uma lista de descritores da subárea e de uma bi-
bliografia especializada a ser discutida pelo GE e disponibilizada, em breve, no site da
ABCM.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Parte III
Trabalhos Completos
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Kristina B. Tyrenius1
Örebro Universitet (Sweden)
kristina.balstedttyrenius@oru.se
Abstract: In this paper, we present considerations about the use of body percussion as a
cognitive strategy. We understand the body occupy a kernel position in the process of acquiring
knowledge. In this sense, we conducted observations during the workshops offered in Sweden
by the Brazilian group Batucadeiros to 1250 participants. The public who attended these
workshops was culturally distinctive and did not have a common language to be shared. The
analysis of the collected material pointed to remarkable transformations in the participants’
behavior. Moreover, allowed to posit the use bodily-based activities as a noteworthy vehicle
enabling music apprehension.
Keywords: body percussion, music apprehension, personal development, Batucadeiros.
Introduction
In October 2016 a group from Brasília named Batucadeiros was invited to present body
percussion workshops in Askersund community, Region Örebro, Sweden. The Brazilian
group ran workshops for 1250 kids/youth in ages from 6 to16 years old. Among these people,
there were students from compulsory schools, refugees, immigrants, and people with special
needs. Many of the participants are not English, Portuguese, and neither Swedish speakers.
Thus, body percussion became a common language among them. In addition, the group
1
Researcher supported by Teaching Education Border, Örebro Universitet.
2Researcher supported by CAPES (Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel) and FAP-
DF (Federal District Research Support Foundation, Brazil).
35
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
offered a clinic for 90 teachers coming from different types of schools, levels, and areas.
Moreover, Batucadeiros presented four musical performances in which the audience could
interact with the group singing and making body percussion.
During the interactions between Batucadeiros and the participants, we could observe
interesting aspects regarding music learning process and social interaction. Notably
concerning with individual behavior, it was possible to note changings in the manner how the
participants did relate to the activities proposed by the leaders. Over time, while
accomplishing those activities (which did last around 60 minutes) their inner transformations
became evident. These personal changings, besides having an immediate impact on
participants´ musical apprehension, also pointed to a significant use of body percussion as
means to orient children towards a process of music cognition within diverse cultural
contexts.
In what follows, we are going to reflect about those varieties of personal expressions
and behaviors considering body percussion as a way to enable communication within diverse
cultural contexts. We are driven by the following interrogation: the teaching process in the
majority of regular schools is strongly based on an intellectual type of cognition. That means,
is up to the brain perceiving and developing the contents transmitted by the teacher. For its
turn, this intellectual mode is structured by the language and communicated verbally. Thus,
what would happen with this frame of work in the absence of common language shared by
teacher and students?
Regarding the methodology, we shall use here a twofold set: description of reactions
and transformations observed in the workshops’ participants, and further analysis of this
material. As the workshops were recorded on video, it was possible to analyze the changings
in behavior throughout the activities proposed. At the same time, we could evaluate the
musical responses and consequent level of musical apprehension among the different public.
Based in the realm of social cognition, we admit that the body of an individual
belonging to a particular cultural context reveals not only his/her personal identity, but also
features of the whole group in its unity. It happens because the process of acquiring
knowledge is guided by the ideologies and beliefs of the group where the individual belong
in. However, the situation faced during the workshops is at minimum atypical. The children
who participated are living in a situation of transnationality or translocality, once they are
being educated according to a Swedish system outside their homeland (in the case of
immigrants or war refugees). Therefore, they are not completely immersed in a specific
36
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
ideology, but otherwise facing a friction of distinctive cultural realities. This aspect pointed to
the necessity of searching for new teaching strategies. In this sense, to encompass bodily-
based activities in the classroom, alongside with the massive intellectual procedures observed
in the educational system, appeared as an excellent tool at the service of music teaching and
learning and personal development.
37
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
like samba, baião, bossa nova with more modern styles as funk and pop. After the musical
performance was finished, the leaders gave a signal to everyone stand up and form a circle,
which is named “roda”.
Following, the leaders conducted different types of warm-ups, but all instructions
continued being non-verbal, what created an intense silence, with small outbursts of laughs of
embarrassments, especially during the massage called “karate” and “playing piano” on each
other shoulders, a non-common practice in Swedish classrooms. Right after the warm up, the
leaders started to perform basic body percussion patterns, and the participants, observing the
suggestive gestures of the leaders, beginning to reproduce these patterns. As it could be
expected, some of the participants were able to reproduce rightly the rhythms proposed. On
the other hand, some of them could not perform a correct imitation. Obviously, laughs and
mockeries took place in the class. Some of the students, because of shyness or fearing making
mistakes, even refused trying to perform the exercises. Notwithstanding, observing their
colleagues were having fun trying to execute the activities, those students felt motivated to
participate. Already in this briefly moment, it was possible to note changings in the posture of
the children, shifting from initial embarrassment, shyness or reluctance, to a proactive attitude
of trying to perform the activity and daring to experiment. As a basis for further analysis, we
will describe more detailed some of those activities.
After the warm-ups were finished, the leaders methodically initiate the teaching of
several body percussion rhythmic patterns (as showed in Figure 1, for instance). The idea
behind this systematic conduct is to establish the particular teaching process that stands as a
sort of didactical philosophy of Batucadeiros, which is structured in six pillars:
experimentation, creation, appreciation, expression, body solfège, and flow (Amorim, 2016,
p.143). Instead of using a traditional master/pupil teaching structure, the Batucadeiros
methodology is driven in a way to remove this distinction so that everybody is teacher and
student at the same time. In this sense, since the beginning of the exercises, all the participants
are invited to purpose their own rhythmic pattern. Thus, one leader performs a body
percussion pattern that is imitated by the audience. Following, a person standing at the right
side of the leader has the responsibility for purposing another pattern of his own, which will
be imitated by the whole group. Next, another person standing at the right side will have a
chance to create his/her own pattern to be reproduced by the whole group, and so on. In this
procedure, everybody shares the role and the responsibilities of the leader.
38
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Figure 1: example of body percussion rhythmic pattern and the same pattern “translated” into solfège
As the activity went on, the participants increased their security and we observed a
gradual improvement of their coordination to perform the exercises. This fact seems to
indicate that the didactic grounded on Batucadeiros philosophy had been implanted and
substantiated in the participants. We must emphasize all activities ran by the leaders or
proposed by the participants did not use verbal communication. Eye contact, facial
expressions, and body movements transmitted all the information. The assimilation of the
musical content so occurred observing what had been suggested and by its further imitation.
In addition, this procedure also created a connection among the participants.
The next activity involved improvisation, which is an important part of the
Batucadeiros pedagogy. In this context, improvisation could also be identified with
experimentation. In the improvisation exercise, the leader presents a body percussion
rhythmic pattern and the participant has to “answer” with a new original pattern improvised
combining sounds previously learned. And here there is a new element. If the participant
wish, s/he can use sounds of his/her own experience. That means, if a sound was not showed
before this sound is not rejected or avoided, but otherwise welcome. Normally, teachers do
not approve a noisy and disturbing environment in their classrooms. Shouting, whispering,
shushing, hand clapping are repelled. However, in the body percussion context, these sounds
finds their places and can be used with musical intent. We can say that this kind of procedure
supports creativity because even the funniest sonorous expression will be well received and
will find its place in the context. At the same time, this practice undermines the stress and
pressure existing in “being exposed” in front a group of 30 people. This also has an impact on
personal development, because what a person “says” musically will be received and answered
by the others, no matter the “form” of that content. This raises self-confidence and diminishes
insecurity, especially in the children and shy people.
39
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
every day. Even though, we understand the cognitive process could benefit much more with
the adoption of bodily-based methods. As shown by Lakoff and Johnson (1999) and Johnson
(1987) in their studies in cognitive linguistic, the body accomplishes a fundamental role in the
cognitive process. It means that it is not only up to the brain to run the process of acquiring
knowledge because mind and body are not independents. As the authors claimed, our
cognitive faculty has its onset with the perception of the world, what occurs making use of all
senses. Furthermore, the most basic metaphors are linked to our discernment of the
surrounding space, what begins with the awareness of our own body. In reason of this, there
are concepts that could not be learned intellectually, once they demand the relation of the
body with the space. Some concepts such as balance, container, nesting, for instance, have to
be learned in the body before being developed in the brain. Only intellectually, it is not
possible to understand the notion of balance, for example.
In this regarding, the diversity observed in ethnical groups could serve as a
paradigmatic case. The exclusion of the body from the educative process, accomplished in
reason of bourgeoisie ideology, is not present in traditional communities. In this sense, one
can observe a prejudice in the use of the body, thereby considered by the elite as belonging to
the lower class of society.
Jacques Dalcroze, who spent a time in Africa (Cf: Haward and Ring, 2001), was the
first pedagogue to acknowledge and theorize about the use of the body in music education. In
Dalcroze's view, the musical potential is latent in all people, and in order to blossom it a
person needs to learn how channelizes focus to listening using equally mind and body.
Because of this, he introduced kinesthetic approach in his teaching methods. Therefore, the
management of mind and physical instincts stands as a foundation his method (Cf: Haward
and Ring, 2001).
Along with these authors, and based on the observations accomplished during the
workshops, we are enabled to assure the importance of the bodily-based activities to the
cognitive process as a whole and also individually as a way of personal development. One
example of this could be seen in Figure 2. This photo was taken at the very beginning of the
workshop and depicts a Batucadeiro leader along with some children displaying diverse
reactions like shyness, reluctance in participate, anxiety and even mistrust for do not grasp the
reasons they had to join in.
40
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Figure 2: reactions of children in the beginning of the body percussion workshop showing shyness, mistrust,
apprehensiveness, and reluctance
As the workshop went on, the children start to be more receptive and feeling more
motivated to, at least, trying to reproduce the proposed exercises. Of course, it is a prerogative
of the leader to “break the ice” and encourage the participants. Regarding this aspect,
Batucadeiros has developed an interesting concept called “criançamento”, meaning that the
adult must rediscover and reintegrate in his/her personality the spirit of being child, what
means, among other features, being open to the new, being curious towards the knowledge,
using the imagination, yelling, running, jumping. All these characteristics, sometimes, have
been repressed in the classroom environment, and it is exactly by welcoming these attitudes
and allowing themselves acting like a child that the Batucadeiros leaders manage to motivate
the children. Figure 3 shows a further moment in the workshop illustrating a changing in a
child behavior. It is possible to note a gradually more receptivity attitude towards the
activities, like if the child passed to realize something different. The same girl is shown in a
further moment, and then, obviously, appreciating and enjoying because she started having
fun to perform the exercises.
41
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Figure 3: 2 different reactions of a child in two moments of the body percussion workshop shifting her posture
from a more receptive to enjoyment attitude
Hargreaves, Miell, and Macdonald (2002) in their Chapter titled What are musical
identities, and why are they important? suggested an interesting method for thinking about
musical identity. The authors separate this subject in two groups: identity in music and music
in identity. Identity in music is socially defined, within given cultural roles and music
categories. Music in identity implies “how music is used as means or resource for developing
other aspects of our individual identities” (2002, p.2). By and large, we observed the same use
of music at the service of personal development and the quest for identity. It was evident
during the progression of workshops the increment of participants' self-confidence. From their
initial shyness and embarrassment, fearing to make mistakes, they changed to a more
proactive posture, daring to experiment. Their suspicious and reluctance gave place to
motivation and enjoyment. These transformations occurred mainly because the level of
understanding about the exercises was raised. This augmentation is also due to the propitious
environment engendered by the leaders. To create this favorable mood, Batucadeiros admits
in their activities some aspects often repelled in a regular classroom. For instance, in general,
the teachers do not like noisy space, which is considered contrary to the educative procedures.
Likewise, kids disturbing and running around are not welcome. Because of these sort of
attitudes, teachers repeat many times in a class "sit still", "go to your desk”, “stop doing this".
The educative system is based on an ideal silent and calm ambient (which we call library
room). Conversely, Batucadeiros encouraged children to use noise with musical intention.
Moreover, rush gave place to ordinated move towards and into the game. In this way,
participants felt motivated to experiment, to improvise without fear making errs, because if
42
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
something does not go like planned, this is not a reason for a reprimand, but otherwise for
fun.
To sum up, based on our analysis of the transformations observed during the
workshops to such diverse public, we believe body percussion is a valid strategy to be
adopted in the classroom. Besides promoting motivation and self-confidence, body percussion
sets the body as an element of cognition.
References
Amorim, Roberto Ricardo Santos de. (2016). Batucadeiros: Educação musical por meio da
percussão corporal. Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pós-graduação
em Educação da Universidade de Brasília.
Dalcroze, E. J. (1988). Rhythm, Music and Education. Salem: Ayer Company Publishers, Inc.,
1988 [1921].
Hargreaves, David J.; Miell, Dorothy; Macdonald, Raymond A. R. (2002). Musical Identities.
Oxford, New York: Oxford University Press.
Johnson, Mark. (1987). The Body in the Mind: The Bodily Basis of Meaning, Imagination,
and Reason. Chicago: University of Chicago Press.
Lakoff, George; Johnson, Mark. (1999). Philosophy in the Flesh, the embodied mind and its
challenge to Western Thought. Basic Books: New York.
Haward, Lawrence W.; Ring, Reinhard. (2001). “Emile Jaques-Dalcroze”. In: Grove Music
Online. Oxford Music Online, 2001. Accessed on 30 January 2017.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: Este trabalho apresenta resultados parciais de um estudo de caso explanatório que
investiga a música da Folia do Divino no Município de Guaratuba (litoral do Paraná) e suas
relações com a Festa do Divino. A partir da Teoria das Representações Sociais foi possível notar
contradições que apontam para diferentes vivências da mesma música por dois grupos: os
Paroquianos e os Devotos Populares. Para a coleta de dados usou-se ferramentas da etnografia,
bem como aproveitamento de experiência em campo advindas da pesquisa anterior, feita no
Mestrado. Os resultados parciais demonstraram essa divisão incomum entre Festa e Folia. Com
isso a pesquisa passa atualmente por redirecionamento metodológico, com vistas ao levantamento
de dados pertinentes à analise dos fenômenos de Representações Sociais. Tais resultados já
apontam um lugar marginal da Folia em relação à Festa, a partir de indícios de incompreensão dos
Paroquianos sobre a música da Folia. Tal marginalidade também se objetifica na disposição
geográfica do itinerário da Folia, bem como de seu lugar na dinâmica financeira da Festa.
Palavras-chave: Sociologia cognitiva, Psicologia cultural, Teoria do conhecimento, Etnografia,
Folia do Divino.
The ‘Folia’ and the ‘Festa do Divino’ in Guaratuba (Brasil): a case study from the perspective
of the Social Representations
Abstract: This work presents partial results of an explanatory case study investigating the music
of the ‘Folia do Divino’ in the Municipality of Guaratuba (coast of Paraná) and its relations with
the ‘Festa do Divino’. From the Theory of Social Representations it was possible to notice
contradictions that points different experiences of the same music by two groups: the Parishioners
and the Popular Devotees. For the data collection, ethnography tools were used, as well as the use
of field experience from the previous research, done in the Masters. Partial results demonstrated
this unusual split between ‘Festa’ and ‘Folia’. With this, the research is currently undergoing
methodological redirection, looking for collection of pertinent data to the analysis of the Social
Representations phenomena. These results already point to a marginal place of ‘Folia’ in relation
to the ‘Festa’, starting from signs of Parishioners incomprehension about the Folia’s music. This
marginality is also objectified in the geographical disposition of ‘Folia's’ itinerary, as well as its
place in the financial dynamics of the ‘Festa’.
Key-words: Cognitive sociology, Cultural psychology, Theory of knowledge, Ethnography, ‘Folia
do Divino’.
1
Junto à UFPR - Universidade Federal do Paraná - Brasil
44
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
improvisados. Esse ritual representa para os envolvidos a visita do próprio Espírito Santo,
abençoando o lar e permitindo pedidos, agradecimentos, e afins. Tais visitas ocorrem somente
durante o dia, entretanto se espalham por um longo período de tempo, que vai desde a Páscoa
até a abertura da Festa do Divino, geralmente ocorrida nas primeiras semanas de julho2.
No que concerne ao aspecto musical da Folia, seus protagonistas e respectivas funções
musicais são os seguintes: Mestre (viola caiçara3 e voz principal); Caixa4 (também canta a voz
‘contrato’); Rabequista5; e a voz Tiple6 (aberta à participação de crianças). Para a execução
musical, eles se colocam em uma disposição espacial específica. Formam uma ‘meia lua’ com
Rabequista, Mestre, e Caixa. De frente para o Mestre fica o Tiple, estabelecendo comunicação
estreita e concentrada entre esses dois. Esse dado é importante, uma vez que os versos são
improvisados primeiramente pelo Mestre, e depois o texto precisa ser distribuído pelos outros
cantores na polifonia que surge logo em seguida.
Faz-se agora uma descrição curta do ritual. Tudo se inicia ainda fora das casas, na rua,
enquanto o Caixeiro toca o ‘buzzz’ característico, avisando aos moradores que a folia está
passando. Com isso, algum morador sinaliza que quer receber a Folia. Nesse instante se inicia
uma sequência rápida de ações: os moradores vão ao encontro dos foliões para pegar as
Bandeiras7, enquanto o rabequista já inicia ornamentos que anunciam o início da cantoria. Ao
mesmo tempo, há um impulso que leva todos pra dentro da casa, sem troca de cumprimentos
ou grandes pedidos de licença. Então, já dentro da casa, canta-se a Chegada, e somente ao
2 A Folia do Divino ocorre em diversos lugares do Brasil, tanto no litoral quanto no interior do continente. Esses períodos
de circulação da Folia variam muito de acordo com a região em que ocorrem. É bastante comum que a saída da Folia
aconteça logo após a Páscoa, pois isso marca o período de Pentecostes. Entretanto, o fim do itinerário da Folia pode variar.
No caso de Guaratuba, a comunidade local se acostumou a fazer a Festa próximo à data da Festa de Santa Cruz.
3
A viola caiçara tem características próprias. Dentre elas, afinações próprias e a corda ‘turina’: uma corda adicional,
aguda, que vai até metade do instrumento, possuindo cravelha separada, na divisa do corpo do instrumento com o braço.
4
A caixa da Folia traz uma esteira na pele de resposta que consiste numa corda afinável, com cravelha própria, na qual se
colocam penas de galinha para, com a vibração, produzirem um ‘buzz’ característico.
5 Por sua vez, a rabeca da Folia de Guaratuba se diferencia das rabecas caiçaras dedicadas ao Fandango. A rabeca de
Fandango é mais aguda, e por isso menor e menos bojuda que a rabeca de Folia. Com isso o corpo harmônico das notas
graves é bastante proeminente.
6
‘Tiple’ é o nome dado à voz cantada mais aguda dentre as três linhas melódicas da polifonia da música da romaria. Esse
nome da voz tem espantosa origem na voz ‘triplum’, advinda do nascimento da polifonia ocidental, na Idade Média. Tal
costume da participação infantil é fartamente comentado pelos protagonistas tanto em Guaratuba quanto em Paranaguá, bem
como citado na literatura consultada. Isso foi tratado em profundidade por ocasião do Mestrado, no capítulo XXX, (XXX).
7 Elemento imprescindível da Folia. São duas Bandeiras: a Vermelha representa o Divino; a Branca representa a
Santíssima Trindade.
45
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
final dela é que se fala ‘boa tarde’, ‘como vão as coisas?’, etc. Ao final do canto de Chegada,
um dos foliões, comumente o Tiple, passa uma sacolinha de tecido, na qual o devoto faz uma
oferta em dinheiro (não importa o valor). Em resposta, os Foliões cantam o Agradecimento.
Aqui há um ponto crucial do ritual, que somente o trabalho de campo pôde esclarecer.
Nesse momento, devotos menos experientes, ou menos interessados, podem simplesmente
terminar a escuta do Agradecimento, e os foliões finalizam a visita, seguindo para a rua,
iniciando mais uma vez todo o ciclo. Entretanto, se o devoto faz nova oferta, não importando
o valor, mesmo que seja em forma de alimentos, a resposta dos foliões será tocar outra
música: a Despedida, que pode ser Despedida Velha ou a Nova, mas somente uma delas. É
importante esclarecer que grande parte da riqueza musical está justamente nesses dois cantos
de Despedida. A Chegada, o Agradecimento e a Alvorada são contrapontisticamente idênticos,
mudando somente as letras. Por sua vez, cada uma das Despedidas (Nova e Velha) tem
aspectos próprios que enriquecem a música da Folia.
Na organização diária do ritual, a casa onde ocorre a última visita consistirá no lugar
onde os foliões farão seu pouso: comem a última refeição do dia, dormem na casa, e tomam o
café da manhã do dia seguinte. Nesse caso, o ritual sofre pequenas adições: principalmente o
canto da Alvorada, executado antes do sol nascer. Por um lado, é importante considerar que as
famílias de tais casas de pouso são próximas dos foliões, e de grande devoção ao Divino.
Outrossim, o costume do pouso aponta para necessidades específicas de quando o itinerário
adentra regiões inóspitas e de difícil acesso. Em tais localidades, não há mínimas condições
de se voltar pra casa durante a noite, e então é preciso dormir na região. Quando a Folia está
em regiões urbanas, não é incomum que os foliões regressem à casa do Mestre para dormir.
Abordando agora a Festa, sua organização é feita pela comunidade comercial da cidade,
em parceria com a Paróquia local8. Isso diverge bastante da organização da Folia, que surge
espontaneamente dos foliões e enquanto manifestação cultural popular, bastante ligado ao
aspecto ritualístico das visitas. Contudo, para facilitar a descrição, a Festa do Divino em
Guaratuba pode ser melhor apresentada discernindo-se o aspecto religioso do comercial.
Em seu aspecto religioso, a Festa constitui uma novena que vai de um sábado até o
domingo seguinte, totalizando nove dias. Assim, trata-se de uma novena concentrada que
ocorre concomitantemente ao aspecto comercial, nos mesmos dias. As orações acontecem
8
Paróquia Ns. Sra. do Bom Sucesso
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
durante a missa ao final de cada dia. Para tanto, os párocos convidam os foliões a tocarem
nessas celebrações, mas elas não dependem disso. Durante a novena também anunciam o
próximo Casal Festeiro, que consiste no casal responsável por organizar a festa.
Em seu aspecto comercial, a Festa assume grande envergadura, promovendo importante
movimentação financeira, e consistindo num dos ‘carros-chefe’ das estratégias de turismo
empreendidos pela cidade. Monta-se uma ampla cobertura para proteção de intempéries, e
nelas, dezenas de barracas de comércio, em sua maioria de alimentos. Também monta-se um
palco de atrações artísticas, além de parque de diversões infantis. Ocorrem sorteios, bingos e
afins, e contratam artistas para animar a festa.9
O próprio discernimento entre os dois eventos (Folia e Festa) já se mostra como
resultado de pesquisa, uma vez que no caso de Guaratuba as dinâmicas da Festa e da Folia se
encontram regidas por instâncias sociais diversas e atualmente em contradição.10 Tal divisão é
uma excessão quando comparado aos relatos encontrados na literatura sobre as festividades ao
Divino no Brasil (Araújo, 1967; Frade, 2005; Moraes, 1979)
Considerando tal divisão entre a Festa e a Folia, dividiu-se os grupos de sujeitos desse
cenário da seguinte maneira: o grupo dos ‘Paroquianos’ e o grupo dos ‘Devotos Populares’.
Há fortes indícios de que cada grupo compreenda o fenômeno musical da Folia de maneiras
diversas. É possivel caracterizar resumidamente esses dois grupos:
O Grupo dos ‘Paroquianos’ – estão mais ligados à Festa do Divino, e se relacionam
menos com a Folia. Somam-se padres e pessoas em sua maior parte vinculados à Igreja
Católica Guaratubana que participam ativamente da Festa, sua organização e efetivação.
Dentre estes, estão os Casais Festeiros, que são figuras centrais para a Festa, mas que
contraditoriamente advém da própria tradição popular.
O Grupo de ‘Devoção Popular’ – são músicos e devotos da Folia do Divino, que
participam ativamente de seu itinerário, acompanham, recebem-na em suas casas, conhecem
os meandros do ‘ritual’ musical, mas que pouco ou nada participam da organização da Festa.
9
Para se ter uma idéia do alcance da Festa, em 2016 a empresa de televisão credenciada da Rede Globo no Paraná
montou o ‘Palco RPC’, oferecendo programação artística e transmissões ao vivo em rede estadual.
10 Durante a pesquisa do Mestrado (Ramos, 2012), investigou-se o processo de ensino/aprendizagem da música da Folia
do Divino na cidade de Guaratuba. A principal estratégia de coleta de dados naquela ocasião foi o uso de ferramentas da
etnografia: observação sistemática com produção de caderno de campo; descrições densas; gravações musicais em áudio;
transcrições musicais. Tal experiência em campo foi muito rica: acompanhou-se a romaria musical dos foliões (incluindo
pousos) e as participações dos mesmos nas novenas. Disso já se depurava uma divisão nas relações sociais em torno das
festividades ao Divino em Guaratuba, o que tornou compreensível que hoje existam duas instâncias envolvidas nessa cultura:
a Folia do Divino e a Festa do Divino.
47
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Contudo, tais divisões estão imersas em contradições sociais que foram ficando cada
vez mais flagrantes na experiência de campo. Foi por conta de necessidades metodológicas e
epistemológicas advindas dessas contradições que o projeto de Doutorado surgiu, optando
pelo aporte teórico das Representações Sociais11 . As contradições mais importantes, desde o
Mestrado, giraram em torno principalmente das relações entre a Folia e a Igreja.
Primeiramente, observou-se um lugar marginal da Folia em suas relações com a Festa
do Divino. O fenômeno musical da Folia ocupa um espaço limitado na Festa, reduzindo-se a
imagens da divulgação (muitas vezes sem som algum); e participação nas Entradas das missas
da novena, (nesse caso sim, com presença sonora musical, mas em situações contraditórias).
Essa marginalidade também se objetifica no itinerário da Folia, que tem ampla
circulação nas periferias da região, junto às populações dos bairros mais pobres. Ao que tudo
indica, a Folia faz mais sentido para as populações dessas regiões; enquanto que, no centro da
cidade, encontrou-se indícios de estranhamentos e incômodos. O Centro, de caráter mais
comercial, não é tão afeito ao fenômeno musical/social da Folia quanto os bairros e o ‘sítio’12 .
Outra expressão dessa marginalidade ocorre na dinâmica financeira da Festa. A
contratação de artistas e músicos ocorre a altos custos de cachê. Enquanto isso, os foliões tem
dificuldades de se manter durante o período de romaria, pois precisam suspender seus ofícios,
e se queixam de pouco apoio da Festa para suas longas locomoções ao executar a romaria.
Todavia, a experiência em campo tem demonstrado que a Festa do Divino se distanciou
de tal maneira da Folia do Divino, que certas compreensões básicas entre as duas instâncias
simplesmente se perderam e possivelmente estão se reconstruindo sobre novas bases.
Compreender esse processo é o objetivo principal dessa pesquisa. Os dados levantados até
agora apontam ampla diversidade de indícios de tais desencontros. De maneira sucinta
podemos citar: sentidos diversos e contraditórios para a palavra folia; incompreensão pelos
Paroquianos do aspecto improvisatório da música; comparações injustificadas com a música
‘Bandeira do Divino’ de Ivan Lins; Regulamentos de Condomínios que proíbem entrada da
Folia; os Paroquianos em diversas situações referem-se aos foliões como ‘meros’
divulgadores da festa; situações embaraçosas na configuração espacial da Folia quando ela
11
Doravante será usada a abreviação “Teoria das R.S.” ao referir-se à Teoria das Representações Sociais, para melhor
fluência do texto
12
Termo usado pelos próprios foliões ao referirem-se às populações ruralizadas do interior
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
sobe ao altar ou ao palco, dado que o Tiple fica de costas para o público; confusões na noção
de dependência mútua entre Folia e Festa, nos dois grupos; inconsistências na noção de
‘artista’ quando aplicada aos Foliões; incompreensão de certos momentos do ritual da Folia
por parte dos padres; diferenças cruciais nas dinâmicas de legitimação de lideranças entre os
Devotos e os Paroquianos; dificuldades dos Casais Festeiros em se relacionar com os Foliões;
diferenças fundamentais na organização da compreensão teológica de conceitos usados
mutuamente por Devotos e Paroquianos; estranhamentos por ocasião da passagem da Folia
pelo Centro da cidade; diálogo truncado com a linguagem da grande mídia por ocasião das
gravações para rádio e TV; a Festa se relaciona diretamente com a sociabilidade das classes
mais altas da cidade, enquanto que a Folia vai no sentido oposto.
Foi considerando esse conjunto de contradições resumidamente apresentadas que a
presente pesquisa passou a se concentrar no aspecto de conflito e resistência no qual a Folia
do Divino está imersa, e que julgou sobressair como prioritário e inevitável. Ao que tudo
indica, o que está ocorrendo é um reflexo de amplos processos de ameaça à diversidade
cultural, em escala nacional e mundial, e localmente, isso torna o modo de vida caiçara
vulnerável. Por outro lado, o fenômeno musical da Folia demonstra capacidade para a
resiliência social, dinamizando a vida comunitária, e por isso precisa ser valorizada como
saída para a brutalidade dos avanços neoliberalistas do capitalismo.13
Metodologicamente, a presente pesquisa tem feito uso de diversos tipos de evidências,
tais como publicações de revistas locais, atuais e históricas, além de utilizar ferramentas
advindas da etnografia, a saber: o trabalho de campo participante e consequente produção de
registros sistemáticos (produção de caderno de campo; registros em áudio de relatos;
descrição densa; entrevistas e eventuais transcrições musicais) (Barz, & Cooley, 2008;
Campbell, 2013; Nettl, 2008; Rockwell, 1987; Seeger, 2008). O trabalho de cunho etnográfico
consistiu em visitas de trabalho de campo desde outubro de 2015, algumas com intuito
específico de acompanhar a Romaria por mais 3 dias, bem como 2 dias da novena. Buscou-se
também maior aproximação com os Paroquianos e com os eventos relacionados aos usos dos
foliões para a divulgação da festa. 14 Essa primeira fase do trabalho de campo, em diálogo com
13
Tal aspecto já vinha surgindo e foi alvo de discussões bastante pertinentes durante o Mestrado.
14 O material etnográfico levantado durante o Mestrado, desde 2010, também faz parte do escopo de dados que vem
sendo analisado.
49
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
15
Tratam-se de exemplares abrangendo o período de 1953 até 2003. Alguns periódicos trazem diversos números, e
outros trazem apenas volumes isolados. Dentre os títulos, pode-se listar: O Caiçara (até 2003); Guaratuba (1991); Tribuna de
Guaratuba (1966 a 1970); Folha de Guaratuba (1998 a 2005); O Grito (1957);e O Jornal (1953 a 1957).
16 Nesse momento avalia-se a viabilidade epistemológica da sociologia de Bourdieu para a análise desse material. O
estudo teórico para tal avaliação tem se concentrado na obra Gênese e Estrutura do Campo Religioso (Bourdieu, 2007).
50
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Referências
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Arruda, A. (2002) Teoria das representações sociais e teorias de gênero, Cadernos de
Pesquisa, 117, 127-147.
Barz, G., & Cooley, T. J. (2008). Shadows in the Field: new perspectives for fieldwork in
ethnomusicology. New York: Oxford University Press.
Bourdieu, P. (2007). Gênese e estrutura do campo religioso. In Bourdieu, P. A economia das
trocas simbólicas. (pp. 27-78) São Paulo: Perspectiva.
17 A Teoria das RS permite isso uma vez que “Moscovici propõe uma psicossociologia do conhecimento, com forte apoio
sociológico, mas sem desprezar os processos subjetivos e cognitivos” (Arruda, 2002, p. 131).
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Marcos Mesquita
Instituto de Artes da Unesp
marcosmesquita@yahoo.com.br
Abstract: The concepts of cyclic and linear time influenced and still influence time experiences of
all mankind. The text discusses if it is possible to apply these concepts to musical studies and
comment opinions on time of some twentieth-century composers.
Key-words: cognitive psychology, cultural theory, enculturation, cyclic time, linear time, musical
time cognition.
world is finally transformed into the same state of perfection as when it left the
hands of the Creator. At the last, immortal glory will be the reward of those who
adhere to the Truth, whereas the followers of the Lie will be condemned to ‘a long
age of darkness, foul food and cries of woe’ (Whitrow, 1988, p. 34).
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The concept of linear time did not simply oust or replace that one of cyclic time.
Nowadays time experiences are ideed a mixture from both concepts with preponderance of
the linear one. Time experience of most human beings point out as a reciprocal, not always
peaceful, relationship between inherent human characteristics and learned concepts from a
given culture: “although our awareness of time is a product of human evolution, our ideas of
time are neither innate nor automatically learned but are intellectual constructions that result
from experience and action” (Whitrow, 1988, p. 5-6).
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imagine what comes next in the future. Of course this is not that simple, because music is a
multiparametric art: it is possible that one parameter undergoes a change or a variation, while
others ones do not. The countless possibilities in this concern create ambiguous events which
are tremendously difficult to measure in simple psychometric tests. In Example 1, it can be
easily seen and heard that the melodies played by first and second violins – indicated
respectively as A2 and A3 – in measures 3-4 have the same rhythmical structure of that one
which viola has played in measures 1-2 – indicated as A1 –, with different intervallic
structures, however. Note, nevertheless, that the melodic range of viola and second violin is
the same, a minor 9th actually – G3-Ab4 and B3-C5 respectively):
Example 1. Joseph Haydn, String Quartet, op. 64, No. 1, Trio from 2nd movement, ms. 1-4
In this case, the rhythmical structure is the decisive agent which establishes a cognitive
relationship among segments A1, A2, and A3. Arnold Schoenberg was aware of the
multiparametric possibilities in music, when he defined variation “as changing a number of a
unit’s features, while preserving others” (Schoenberg, 1948/2010, p. 287).
In a broader approach, Olivier Messiaen speculates about endogenous – personal,
psychological – and exogenous – social, cultural – aspects of time perception and
measurement:
For the musician and the specialist in rhythm [rythmicien] the perception of time is
the source of all music and rhythm. […] Bergson claims that the duration is an
“immediate assumption [donnée immédiate] of the consciousness”: this is the title of
his first book. As a matter of fact, the duration presents itself to us with tempo
fluctuations, speed changes: it is the experienced duration [durée vécue],
heterogeneous duration, whose judgement depends essentially on the number of
exterior and interior events which have filled it for each of us in the present and in
the past. In face of the experienced duration stands the abstract time or structured
time [temps structuré] (Messiaen, 1995, p. 9). 1
He compares the characteristics of experienced duration and structured time and place them in
a didactic table:
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Table 1. Comparison between experienced duration and structured time after Messiaen (1995, p. 12)
The structured time manifests itself in music through, among others, beat – regular or
irregular –, meter – ditto –, tempo and its fluctuations, the density of sound processes, the
chronometrical duration of segments, movements and works, and the proportion between
sections and the whole. But all they shape the surface of musical events, from which the
perceiving beings get a cognitive depth. The predominance of a teleological form conception
in the tonal western music during the so called Viennese Classicism and great part of romantic
music reflects exemplary the acme of the linear time concept in music. This time view was
and is still questioned in varied tendencies of new music from the first decade of the twentieth
century on. Bernd Alois Zimmermann writes about the diversity of human time experience:
Past, present and future are bound to the succession process, as we know, merely in
their appearance as cosmic time. In our mental reality, however, this succession does
not exist, what possesses a more real reality than the to us well familiar clock, which
actually indicates us nothing else than there is no present in strict sense. The time
bends into a sphere form [Kugelgestalt]. From this picture of the sphere form of time
I have developed, based on the philosophical term, my pluralistic compositional
technique, which takes the polystratification of our musical reality into account
(Zimmermann, 1968/1974, p. 35). 2
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had a significative consequence for the time experience in music, especially what concerns its
mnemonic aspect. Imploding the notions of thematic or sound material, some composers of
this periode created musical works which do not establish clear tematic or sound relationships
during their performance/listening; hence the listener can hardly relate the thematic/sound
events which other, an occurrence that in general brings confusion or amazement to the
listener's memory. In the case of Cage, aleatory processes played a crucial part in this context:
It is thus possible to make a musical composition the continuity of which is free of
individual taste and memory (psychology) and also of the literature and ‘traditions’
of the art. The sounds enter the time-space centered within themselves, unimpeded
by service to any abstraction, their 360 degrees of circumference free for an infinite
play of interpenetration (Cage, 1952/1976, p. 59).
Having this in mind, one can understand Cage’s strategy in relation to sound material and his
rejection to any kind of development of sound material. Similar questions in the case of
integral serialism were discussed in Mesquita (2012 and 2016). An idealistic inflection is also
noticeable in the considerations by Zimmermann:
In the possibility of interval projection into vertical as well as into horizontal, time
seems […] also projectable in both directions. Thus we experience sound as “one
after another” of tones in time distance zero, tone sequence as “simultaneous”,
shifted in time […]. In this point of view, the idea of time unity as unity of present,
past and future [...], this as modern as also immemorial idea, takes a new perspective
in the music as “time art”, as art of temporal order within the continuous present of
the all comprehensive basic structure, which we must establish as order principle of
all relationships within a composition (Zimmermann, 1957/1974, p. 11-12).
The connection with the concept of “perpetual present”, as it is understood by mystics, is not
to deny here: composers imagine that the listener is transported into an atemporal experience
which resembles vaguely a mystical trance. In this condition, one experiences a kind of
abolition of time transitoriness. Years later, Pierre Boulez uses in his writings similar terms
like Zimmermann, naturally liberate from mystical content: “these dimensions [vertical,
diagonal, horizontal] are only one characteristic, modified by the internal time which governs
the organizations, going from zero (vertical, simultaneous) to a determined number
(horizontal, successive)” (Boulez, 1963, p. 133). If sound processes are conditioned by these
three dimensions, than two more embracing categories determine way and manner, how
sound processes can be projeted in time:
[…] we will distinguish [...] two categories in musical time: [...] In pulsed time,
duration structures refer to the chronometrical time in function of a marking, of a
landmark [...] regular or irregular, but systematic [...]. Amorphous time refers to
chronometrical time just in a global way; durations, with their determined
proportions (not values) or with any sort of proportion indication, manifest
themselves in a time field. Only the pulsed time is susceptible to be affected by
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There are also two relationships which are, for Boulez, the fundamental laws of musical time.
On the one hand, time is filled without counting it. Here the sound processes are statistically
distributed in time, and their groupings shape different possible densities (smooth time). On
the other hand, one counts the time in order to fill it. Here the sound processes are
rhythmically ordered, and their groupings reflect different speeds (stried time). Some sound
processes form clues in chronometrical time and these are internally ordered by the perceiver.
This relationship between sound processes and cognition is a multistratified process that can
be observed under varied points of view:
[…] we grasp [the time] only with the aid of sensitive reference points, so indirectly,
and on the condition that these reference events engrave themselves somewhere, do
not disappearing without trace. [...] It is essential that the reference events leave their
mark on my memory, otherwise they will not exist. In fact, the underlying postulate
is that the time, in the sense of impalpable Heraclitean flow, does not have any
meaning, unless in reference to the man who observes, to me. [...] In order that this
image-mark of the phenomenon becomes a reference point, it is necessary the notion
of anteriority. But this notion seems as circular and impenetrable as the immediate
notion of flow. It is doubtful a synonym. We change slightly the point of view. When
the events or phenomena were synchronous, the universal time would be abolished,
for anteriority would desappear. The same, if the events were completely smooth,
that is without beginning and without end, and even without “perceptible” internal
modification or roughness, the time would be abolished as well. It seems that the
notions of separation, bypass [contournement], difference, discontinuity, which are
very connected, are preconditions to the notion of anteriority. In order that
anteriority exists, it is necessary to be able to distinguish entities which so allow to
“go” from one to another (Xenakis, 1988/1994, p. 98-99).
The sound flow is shaped in many respects by composers, for example he/she decides
about the sound materials and their projection strategies on the chronometrical time or a total
duration, as well on the relationships among one sound material and others – here the
different degrees of affinity among sound materials play the most important part. But as
aforesaid, musical time has a subordinate relationship to chronometrical time, and in this
context the perceiver has also a formal/creative function by finding clues during the sound
flow which is proposed by the composer.
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3. Last remarks
The concepts of cyclic and linear time, allthough just partially applicable in musical
theory and analysis, can guide an embracing approach on music both as a cognitive and
enculturated product of human ingeniousness. As multiparametric art, music is able to
relativize contrasts between tematic or sound unities, blurring the differences between cyclic
and linear events. But this kind of difficulty should not hinder us in the search of new possible
analytic ways, of new kinds of inquiries of old subjects, and of new kinds of psychometric or
image tests with human participants.
References
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Cage, John (1952/1975). Juilliard Lecture. In A Year from Monday (new ed.). London: Marion
Boyars, 95–111.
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Gruhn, Wilfried (1983). Integrale Komposition. Zu Bernd Alois Zimmermann Pluralismus-
Begriff. Archiv für Musikwissenschaft, 40. Jahrg., H. 4, 287-302.
Mesquita, Marcos (2012). Duração e cálculo: reflexões de alguns compositores entre as
décadas de 1930 e 1960. Música em perspectiva, vol. 5. nº 2, 48-64.
Mesquita, Marcos (2016). Serialismo integral e defasagem temporal de parâmetros sonoros.
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(ed.), Intervall und Zeit. Mainz: B. Schott’s Söhne, 31-37.
1 Translations from French and German by the author.
2 About his pluralistic style and the concept of Kugelgestalt, see Gruhn 1983.
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Resumo: O presente artigo tem o intuito de relacionar a teoria musical espectromorfológica de Denis
Smalley com a semântica enacionista de George Lakoff e Mark Johnson (1980, 1999), em especial no
que diz respeito ao conceito de esquema de imagem (Johnson, 1987). Tal relação se dará através da
ontologia do movimento (The Primacy of Moviment) de Sheets-Johnstone (1999), que nos adverte
sobre como o movimento estrutura a experiência e o desenvolvimento humano. A teoria de Smalley
foi escolhida por se tratar de uma ferramenta de organização discursiva para a Música Eletroacústica,
nos servindo, portanto, como exemplo de uma abordagem enacionista da experiência musical. Dessa
maneira, o trabalho busca, à luz da semântica cognitiva, contribuir para o entendimento do sentido da
Música Contemporânea através da percepção do movimento. Com isso acreditamos nos aproximar de
resultados mais concretos acerca do movimento e do gesto musical, o que nos parece essencial para a
ampliação do debate em torno do sentido da música.
Palavras-chave: esquemas de imagem, espectromorfologia, movimento, semântica cognitiva,
conceitualização.
Introdução
Este artigo deixa em evidência a relação entre a teoria musical espectromorfológica de Denis
Smalley com a semântica enacionista de George Lakoff e Mark Johnson (1980, 1999), em
especial com o conceito de esquema de imagem (Johnson, 1987). A saber, a
espectromorfologia é uma abordagem para materiais sonoros e estruturas musicais que lida
com o espectro das alturas e seu perfil dinâmico no tempo. A teoria espectromorfológica nos
interessa, porque, segundo Perez (2011), ela pode ser admitida como uma ferramenta de
organização discursiva para a Música Eletroacústica. O interesse em relacionar esses dois
termos torna-se pertinente pela possibilidade de integrar uma ferramenta discursiva da Música
Eletroacústica com a cognição incorporada (ciência cognitiva enacionista), ou seja, mostrar
como a experiência sensório-motora é capaz de perceber um “movimento sonoro” e entendê-
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lo por meio de um discurso musical. Todavia, a linha guia que ajudará a traçar essa relação
será a ontologia do movimento (The Primacy of Moviment) de Sheets-Johnstone (1999) que
adverte sobre como a percepção do movimento estrutura a experiência e o desenvolvimento
humano. Portanto, este artigo trata de examinar a vida pelo viés do movimento, procurando
compreender a capacidade humana de atribuir sentido às coisas, vendo que é possível
compreender a experiência da vida em geral—e a experiência musical, em particular. Sendo
assim, parece ser necessário investigar a capacidade humana de se mover criando sentido no
mundo ao redor.
A Ontologia do Movimento
Os movimentos que um ser humano é capaz de realizar com seu próprio corpo são
determinantes para o desenvolvimento da sua realidade e para a forma do fenômeno que ele
percebe. O artigo, ao dizer movimento, está se referindo à capacidade de perceber uma
trajetória enquanto experiência, subjulgando-a temporalmente, ou seja, determinando um
agora, como presente, na continuidade de um passado e projetando-a, pela expectativa, num
futuro. Perceber qualquer movimento contextualiza toda ação realizada, tanto para o que está
no ambiente ao redor, quanto para a realização dos próprios atos.
Sheets-Johnstone (1999) tem o propósito de retornar à experiência atual de um
indivíduo, demonstrando como a percepção do movimento é a capacidade primária de buscar
seu próprio sentido. Ao escrever sobre isso, ela diz, primeiramente, que o ser se constrói
através de movimentos. Isso quer dizer que percepções específicas do próprio sujeito surgem
na decorrência de todo o tempo, em atitudes táteis e cinestésicas. Assim é que ele descobre
suas capacidades corporais atribuindo os conceitos que são próprios para cada situações em
que se encontra. O movimento, portanto, é uma condição para a realização de todas as coisas,
sendo assim, utilizando-o como exemplo, o conceito “viver" sempre vai se referir ao que
ocorre em movimento na experiência. Portanto, é em movimento que a vida de toda a criatura
adquire realidade.
Para perceber melhor que é através do movimento que se cria sentido para a vida,
Sheets-Johnstone (1999) retrata os primeiros movimentos de um organismo vivo. Pretende-se
demonstrar através da autora, como que perceber o movimento foi o ponto de partida para
viver no mundo e criar, por assim dizer, algum sentido para as diversas condutas possíveis.
Ela diz que o movimento do próprio ser se originou através da sua própria capacidade de se
mover em relação ao ambiente que o circunda, ou seja, em relação ao que está situado ao seu
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Até esse ponto foi possível perceber que a ontologia do movimento de Sheets-Johnstone
(1999) é de fundamental importância para compreender como se atribui sentido à música a
partir da experiência que ela proporciona. Para a música, o significado se dá da mesma
maneira que o significado de tudo mais que existe. Como advertiu Nogueira (2003), o sentido
do movimento é o fator que regula toda experiência de um evento musical, é ao percebê-lo
que se compreende o gesto nele implícito, podendo ter tanto implicações espaciais, quanto
implicações temporais. Portanto, as qualidades musicais se vinculam com os sentimentos do
ouvinte conforme o movimento presente é decorrente.
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(relativos à inferência de formas) possuem muitas das suas propriedades e relações por
padrões de experiência, os quais são recursos para organizá-la e compreendê-la, os quais se
aplicam na identificação de um trecho musical e das suas respectivas qualidades. No campo
do conhecimento não objetivista o esquema de imagem é um padrão contínuo com estruturas
internas suficientes para contrair, restringir ou submeter uma inferência. Como os esquemas
seriam centrais para a estrutura dos sentidos, influenciariam os caminhos pelos quais se cria o
sentido das coisas e a razão sobre elas. Por exemplo, ao raciocinar ou pensar sobre algo, um
ponto é entendido como partida ou início e, consequentemente, procuram-se outros pontos até
que se encontre uma chegada ou término.
Expostas as principais características da estruturação do esquema de imagem na atitude
humana, a teoria de Smalley, agora, vai se apresentar como uma via de aplicabilidade da
filosofia enacionista. Para Smalley organizar e classificar o discurso musical, ele precisou
identificar, delimitar e comparar cada movimento e cada característica sonora relacionada a
um conceito que seria veiculado e denominado como tal. Portanto, sua ação pode ser tomada
como um claro exemplo de estruturação dos esquemas de imagens e da percepção do
movimento sonoro ocorrendo na organização de um discurso musical.
Espectromorfologia e Movimento
A exposição da ontologia do movimento de Sheets-Johnstone (1999) e da estruturação dos
esquemas de imagens de Lakoff e Johnson (1987) possibilita estabelecer uma relação com a
teoria espectromorfológica de Denis Smalley. O caminho está aberto para a integração dessas
duas teorias, o que falta agora é apontar na teoria espectromorfológica o modo como Smalley
fundamentou sua teoria no movimento e percebeu as trajetórias de um evento sonoro, tal
como os esquemas de imagens estabeleceram. Dessa maneira ficarão expostas neste artigo as
evidências de que essas duas teorias podem ser profundamente relacionadas. Esse caminho
tem o intuito de alcançar, mais especificamente, o sentido de um discurso musical.
No que diz respeito ao som e à música, Smalley (1992) diz que o movimento e a energia
são campos entrelaçados nas espectromorfologias dos sons: “Não há som sem energia em seu
espectro e não há energia sem movimento” (Smalley, 1992, p.528). Segundo ele, a energia
(energy-field) depende do movimento (motion-field) e estão presentes no tempo e nas
variações dos níveis estruturais de uma música. Smalley (1992) diz que o movimento pode ser
percebido tanto no comportamento textural, quanto no contorno externo e interno do espectro
sonoro. O movimento musical será interpretado como tal se a sua tendência direcional for
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continuar subindo, perdendo seu volume até que se perdesse, ou então ficar mais rico levando
a um ponto de impacto; poderia ser absorvido por outros eventos, mudar de direção se
tornando um movimento de parábola, ou alcançar um teto e se estabilizar. Sua continuidade
poderia ser ainda convergente ou divergente, ascendente ou descendente, acumulativa ou
dissipativa, conglomerativa ou difrativa.
Após as explanações desse artigo, ficam óbvias as relações que a teoria
espectromorfológica possui com os esquemas de imagem. Dessa maneira, fica claro que é
possível realizar futuros trabalhos mais detalhadas no que diz respeito às especificidades
dessa união. Nesse intuito, o amálgama dessas teorias, contribuiria para as discussões em
torno da compreensão do discurso da música eletroacústica. A justificativa da aplicação
dessas teorias ao repertório da música eletroacústica se dá porque ela possui uma ampla gama
de movimentos. Sua liberdade espectromorfológica permite uma extensa variedade de
atitudes em direção a movimentos contínuos e descontínuos, conjuntos e disjuntos, além de
uma incomparável elasticidade do fluxo temporal. Portanto, a música eletroacústica seria um
bom laboratório para o estudo do sentido musical à luz da cognição incorporada, porque esse
gênero musical apresenta uma coleção de gestos musicais ricos e variados.
Referências
Johnson, M. (1987). The Body in the Mind – The Bodily Basis of Meaning, Imagination, and
Reason. Chicago: University of Chicago Press.
Nogueira, M. (2003) O Imaginário Metafórico da Escuta. Semiosfera – Revista de
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Smalley, D. (1997). Spectromorphology: Explaining Sound-Shapes, Organised Sound, 2(2), p.
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Resumo: A questão levantada neste estudo é como distinguir a fala do canto, levando em conta dois
parâmetros acústicos como a duração da sílaba e a frequência fundamental (F0). A hipótese inicial é
de que haveria mais variabilidade na fala do que no canto, o qual apresentaria maior estabilidade na
realização dos parâmetros investigados. Trechos extraídos de Macunaíma de Mário de Andrade foram
produzidos como fala atuada e como canto por participantes femininas. Extraíram-se o F0 médio e a
duração de cada sílaba para análises quantitativas e comparativas. A hipótese não foi confirmada, a
partir do que conclui-se que a sílaba não é a melhor unidade para se verificar a variabilidade em
questão. Por outro lado, os resultados obtidos lançam luz sobre as interações entre fala e canto.
Palavras-chave: canto, fala, cognição musical.
The syllable in speech and singing and the stability issue: a preliminary study
Abstract: The issue raised in this study deals with the distinction between speech and singing, taking
into account two acoustical parameters, as syllable duration and fundamental frequency (F0). The
initial hypothesis is that there would be more variability in speech than in singing, which would
present greater stability in the performance of the investigated parameters. Extracts from Macunaíma
de Mário de Andrade were produced as acted speech and as singing by female participants. The mean
F0 and the duration of each syllable were extracted for quantitative and comparative analyzes. The
hypothesis was not confirmed, from which we conclude that the syllable is not the best unit to verify
the variability issue. On the other hand, results shed light on the interactions between speech and
singing.
Key-words: speech, singing, musical cognition
A problemática levantada neste estudo é que há porções tanto na fala como no canto, nas
quais a coexistência de suas características individuais pode ser percebida, o que sugere que
há uma gradação, e não necessariamente uma mudança abrupta na produção de fonação e de
outros aspectos da fala quando canto com texto é produzido. No entanto, é difícil capturar a
gradação em objetos tão complexos como o canto e a fala e, assim, para este estudo,
escolhemos níveis mais categóricos para analisar. O objetivo do presente trabalho é focar dois
aspectos acústicos da produção da fala e do canto que levam a uma resposta à pergunta
1 Este trabalho é financiado pela FAPESP, processo 2015/06283-0. O segundo autor é financiado pela Science
Foundation Ireland (Grant 13/RC/2106) e faz parte do ADAPT (www.adaptcentre.ie), em Trinity College
Dublin.
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específica: como distinguir a fala do canto, levando em conta dois parâmetros acústicos como
a duração da sílaba e a frequência fundamental (F0)? A hipótese inicial é de que para ambos
os parâmetros eleitos, a fala mostrará mais variabilidade e o canto, por sua vez, mostrará uma
menor variabilidade.
Esta hipótese mostrou-se exploratória e advém de estudos que indicam, com base em
seus resultados e observações, que a fala cantada apresentaria mais estabilidade ou
continuidade do que a fala falada, como os estudos de Deutsch e colegas (2011) e Kolinsky e
colegas (2009). Sobre as rápidas mudanças na fala comparadas às do canto, Deutsch e colegas
(2011) dizem o seguinte: “Speech consists of frequency glides that are often steep and of
rapid amplitude and frequency transitions. In contrast, song consists largely of discrete pitches
that are sustained over relatively long durations...” (p. 2245). Para Kolinsky e colegas (2009),
investigando os segmentos cantados, as vogais sustentam a continuidade da melodia e estão
integradas aos intervalos de alturas, o que faz com que consoantes sejam processadas com
maior independência da informação melódica. E por fim, é preciso apontar o trabalho
fundamental de Fujisaki (1983) que desvendou a dinâmica da frequência fundamental na fala
e no canto através de estudo acústico com importantes correspondências fisiológicas: na fala,
há uma queda espontânea de F0 e, no canto, ao contrário, elevações e quedas de F0 são
controlados a fim de se sustentar a nota musical durante um determinado espaço de tempo. O
controle em questão ocorre graças às propriedades mecânicas da laringe que viabilizam a
tensão necessária das pregas vocais para a produção da frequência de fonação.
Dado que a fala, bem como o canto constituem-se de sinal acústico, escolhemos dois
parâmetros acústicos comuns a ambos para observar seu comportamento: F0 e duração dos
segmentos, mais especificamente, sílabas. Levantamos a questão de que, obviamente, uma
canção inteira nunca será percebida como fala, e então consideramos que os fenômenos em
questão deveriam ser capturados em intervalos de tempo mais curtos. Assim, elegemos o nível
da sílaba para defender a hipótese de que F0 e os parâmetros de duração seriam menos
variáveis no canto do que na fala. Considerando a duração: (i) as sílabas teriam uma duração
mais longa e menos variável no canto do que na fala e considerando F0, (ii) a variação desse
parâmetro seria menor no canto do que de fala, na maioria das vezes.
Claramente, os dois itens que formam a hipótese deste artigo podem e devem ser
relativizados, uma vez que a duração na fala e no canto e o F0 na fala e no canto, não são
fenômenos categoricamente distintos.
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A ideia de estabilidade
O experimento
Os textos escolhidos para serem falados e cantados por seis participantes femininos foram as
de quatro canções que constituem versões cantadas de trechos da obra literária Macunaíma: o
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade. As canções foram compostas pela musicista
popular Iara Rennó e gravadas no disco compacto Macunaíma Ópera Tupi (MOT) lançado em
2008. Neste disco, as canções foram executadas, em sua maior parte, por uma cantora, a
própria compositora, e isso definiu a escolha de sujeitos femininos para este estudo.
O conjunto de textos oriundos da obra literária de Andrade adequou-se bem a nosso
propósito, pois representa versões faladas e cantadas com os mesmos enunciados linguísticos
e realizadas espontaneamente como arte. Este fato poupou o experimento de criar uma versão
cantada para um texto originalmente escrito, ou vice-versa, de ter-se que realizar o texto da
canção como fala.
Os títulos das canções são: Conversa, Jardineiro, Macunaíma e Valei-me. Para cada
canção foi criada uma partitura musical com a linha melódica, com a divisão rítmica com base
numa escuta cuidadosa do disco compacto MOT. De agora em diante, a palavra "canção" será
usada para se referir aos textos escolhidos, uma vez que a correspondência buscada entre a
fala e o canto originou-se a partir das canções, como já explicado.
Três atrizes e três cantoras foram gravadas em uma cabine com tratamento acústico, equipada
com um microfone AKG e um gravador Boss. Instruções em uma tela de computador foram
dadas às atrizes para que elas pudessem produzir a fala atuada para os quatro textos das
canções. Em contato anterior, as atrizes relataram que não conheciam as versões cantadas dos
textos escolhidos. Esta foi uma solicitação dos pesquisadores para evitar possíveis
interferências de aspectos das canções na produção da fala. A fala atuada foi definida como
uma condição de fala a ser comparada com a condição de tempo livre do canto. Antes da
sessão de gravação, as cantoras foram solicitadas a responder um pequeno questionário, a fim
de garantir que aprenderiam as canções, tanto de oitiva como através da partitura. As cantoras
também receberam instruções em uma tela de computador antes de gravar. Todas as
participantes tiveram um tempo para treinamento para que pudessem se familiarizar com a
tarefa. Cada canção foi gravada pelo menos duas vezes por cada participante e cada sessão
durou cerca de duas horas.
Uma vez armazenados em um cartão SD, os dados foram convertidos de um formato
BRW com o software BR Series Wave Converter para um formato wav, fornecendo arquivos
sonoros longos que foram visualizados e ouvidos com o Praat versão 6.0.19. A melhor
execução de cada canção foi escolhida. Assim, havia quatro canções/textos proferidos por
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
dois conjuntos de três participantes. As variáveis que compõem o conjunto de dados são as
seguintes: 4 Canções; 25 Sentenças; ≈ 285 Sílabas; 1 Condição de fala (fala atuada); 1
Condição de canto (tempo livre); 3 Atrizes e 3 Cantoras.
Os textos das canções foram segmentados em sentenças com os seguintes critérios
linguísticos: uma sentença nominal ou verbal, cujo núcleo era complementado quando
necessário, formando uma oração completa, ou mesmo uma subordinada, desde que seu
núcleo estivesse complementado. Estes critérios permitiram sentenças com duração máxima
de 11 segundos. Posteriormente, as frases foram segmentadas em sílabas.
A segmentação e a rotulagem dos dados foram feitas utilizando-se textgrids do Praat. As
primeiras textgrids foram criadas apenas para dois dos sujeitos e usadas como referências para
um algoritmo de alinhamento de etiquetas do Matlab para obter as textgrids restantes
automaticamente. Posteriormente, essas textgrids foram revisadas manualmente.
As medidas de duração foram obtidas a partir de arquivos .lab contendo o tempo final
de cada sílaba, o que possibilitou calcular a diferença entre esses finais. A duração das
sentenças foi calculada a partir da soma de suas sílabas. Para obter-se a duração das canções,
somaram-se as sentenças, depois de eliminarem-se as pausas e as repetições. Os resultados
podem ser resumidos como segue:
Tabela 1: Durações em segundos da canção, da sentença e da sílaba na fala e no canto. Todas as
participantes confundidas em suas respectivas modalidades (fala e canto).
Conversa Jardineiro Macunaíma Valei-me
Fala Canto Fala Canto Fala Canto Fala Canto
Como esperado, as sílabas são mais longas no canto, o que implica haver mais sílabas
por segundo na fala. A razão sílaba por segundo é de 2,9 no canto e 5,4 na fala. Isso tudo
merece discussão na seção final.
A extração de F0, ou pitch, foi feita com o Praat, usando dois scripts: um que calculava
o pitch médio de cada intervalo rotulado em um arquivo textgrid e outro que extraía os
valores de F0 calculados em uma janela temporal de 0.01 segundos, ao longo da sentença.
Assim, obtivemos o valor F0 médio por sílaba e muitos valores por sentença para cada
canção. A Tabela 2 apresenta o pitch médio por sílaba, já que esta é uma unidade que carrega
tanto uma informação musical, como uma informação linguística.
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Fala Canto
Canção
Conversa 214,5 258,7
Deve-se dizer que os valores médios de pitch do canto podem parecer reducionistas,
pois não representam, por exemplo, a tessitura de cada canção (Sol3 a Sol4 para Conversa,
Mi3 a La4 para Jardineiro; Fá3 a Fá4, para Macunaíma e Fá3 a Sol4 para Valei-me) e,
portanto, não parecem muito diferentes da frequência de fonação da fala. Esta questão será
discutida à luz de considerações sobre os objetos deste estudo, que como já foi dito,
constituem-se de fenômenos que não se diferenciam categoricamente.
m 1
A equação PVI normalizada é: PVInor malised = ∑ d n d n+1 / (d n + d n+1)
n=1
Optamos por este índice após obter, em geral, maiores variâncias para a duração da
sílaba cantada, em comparação com a sílaba falada.
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Tabela 3: Variabilidade de duração das sílabas em milissegundos. Resultados brutos (br) e normalizados
(norm).
Conversa Jardineiro Macunaíma Valei-me
br norm br norm br norm br norm
Fala 76 205 85 218 81 206 84 205
Ainda que sejam as diferenças absolutas das médias normalizadas, menores do que as
diferenças das médias brutas, os resultados mostram maior variação da duração da sílaba no
canto, o que se opõe à hipótese investigada.
Para observar a variação de pitch intra-sílaba na fala e no canto, primeiramente, foram
eliminados os zeros, isto é, as sílabas ensurdecidas na fala e suas correspondentes no canto de
modo a obter-se o mesmo número de sílabas para fala e canto. Em seguida, calculou-se a
variância intra-sílaba de cada sílaba e depois a variância de cada amostra (944, fala e 2677,
canto), tendo-se aplicado um teste F, para o qual o valor de p foi igual a 0.00 (alfa a 0.05),
indicando diferença significativa entre as variâncias de pitch na fala e no canto.
2 Obtém-se este valor, levando-se em conta uma métrica binária e um andamento médio de 110 bpm, a partir do
qual calculam-se as batidas por segundo, valor que é divido por 1 para se obter a duração em segundos de uma
só batida.
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de duas das quatro canções investigadas, ao passo que os valores médios de duas outras estão
mais próximos de 500 ms e portanto representativos de notas mais longas, como a semínima
(ver Tabela 1 ). Pode-se considerar este fato uma interação importante entre canto e fala e que
explica parcialmente os resultados quantitativos relativos à hipótese de variação da duração da
sílaba, a qual não foi verificada. Diferente do esperado, a grande quantidade de sílabas-notas
correspondentes a colcheias não resulta em menor variação da duração silábica no canto em
comparação com a fala e é preciso, então, observar a participação das semínimas e mínimas
em termos duracionais. No entanto, o que é preciso ressaltar nesta conclusão é que a sílaba
cantada pode trazer elementos temporais da sílaba falada (por exemplo, alongamento das
consoantes fricativas) fazendo com que as sílabas idealmente iguais em duração, realizem-se
com durações variadas.
O segundo aspecto é o da tessitura das canções, que não excede uma oitava mais dois
tons e meio e o fato de que essa oitava se aproxima da tessitura de F0 da voz feminina (196 a
392 Hz). O compartilhamento de tessitura entre fala e canto é comum no canto popular e, por
isso, esperava-se que a fala não fosse tão diferente do canto em termos de amplitude. Este
fenômeno, porém, parece ter influenciado fenômenos de ordem menor, que ocorrem no
interior da sílaba. Sendo assim, cabe trazer à tona, em análise qualitativa, elementos tanto da
fala como do canto que influenciaram a grande variabilidade de pitch no nível da sílaba. Na
fala, como no canto, variações maiores de F0 podem ocorrer por efeitos microprosódicos;
erros do algoritmo que considera vários pontos máximos em porções totalmente desvozeadas
e presença de muitos pontos de F0 na porção vozeada da consoante. Exclusivamente no canto,
o glissando é um elemento que deve ter atenção especial no tocante à variação de F0 ao longo
da vogal.
Em suma, concluímos que a sílaba, a unidade escolhida para se verificar a variabilidade
na fala e no canto não foi adequada. Assim, não é possível defender que o canto apresenta
maior estabilidade que a fala nos parâmetros eleitos. Os próximos passos serão verificar a
variabilidade no nível do fone.
Referências
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Grabe, E. & Low, E. L. (2002) Durational variability in speech and the rhythm class
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Non-linear dynamics in human behavior, SCI 328, pp 193-211, 2010.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Antônio R. M. Simões
University of Kansas
asimoes@ku.edu
Resumo: Este estudo usa notação musical para descrever a prosódia da fala do português brasileiro,
espanhol mexicano e inglês americano. Através dessa pesquisa, estabelecemos as bases nas quais
expandiremos nosso trabalho futuro da metodologia à coleta e análise de dados para depois
fazermos observações iniciais sobre padrões prosódicos potencialmente significantes. A metodologia
adotada aqui nesse estudo exploratório pode ajudar a solucionar padrões imprevisíveis da prosódia
da fala, especialmente no que concerne a entonação e, consequentemente, nos levar à inovações dos
modelos prosódicos atuais.
Palavras-chave: melodia da fala, notação musical, prosódia da fala.
Musical Transcription of Speech Prosody
Abstract: This study uses musical notation to transcribe Brazilian Portuguese, Mexican Spanish,
and American English. Through this research we establish the basis on which to expand our future
work on speech prosody, from methodology to data collection and analyses, and then make initial
observations regarding potentially significant prosodic patterns. The methodology that we have
developed in this exploratory study may help solve unpredictable patterns of speech prosody,
especially in regards to intonation, and consequently lead to the improvement of current speech
prosody models.
Key-words: speech melody, musical notation, speech prosody.
1. Introdução
É amplamente conhecido pelos linguistas o fato de a fala ser composta por elementos
musicais como ritmo da fala, entonação e dinâmica da fala. A área da linguística que investiga
essa musicalidade é chamada de prosódia da fala. Recentemente, houve um crescente
interesse nesse campo e desde 2002 uma conferência especial sobre o tema, Speech Prosody
(http://isle.illinois.edu/sprosig/sp2002/), tem sido organizada para investigar profundamente
todas as áreas interdisciplinares que trabalham com prosódia. Embora alguns aspectos
musicais estejam presentes na fala, raros pesquisadores utilizaram notação musical para
representar a fala. Por outro lado, alguns compositores famosos como Beethoven,
Schoenberg, Reich e Janáček representaram a fala usando pautas musicais tradicionais.
No prefácio de Pierrot Lunaire (1912) (http://www.schoenberg.at/index.php
/en/onlineshop/product/212-pierrot-lunaire-companion-paperback), Arnold Schoenberg
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informou aos músicos que as notas músicas na partitura não deveriam ser cantadas. Os
cantores, portanto, deveriam interpretá-las como uma representação da fala, i.e., uma
“melodia da fala”. O ritmo deveria ser “como se você estivesse cantando”, mas a voz deveria
variar o tom continuamente com subidas e descidas. O compositor, no entanto, tinha ciência
de que havia diferença entre a fala comum e o tipo de canto envolvido em uma forma musical.
A figura 1 mostra um excerto dessa peça. É claro, pelas palavras do próprio compositor, que
ele pretendia representar a fala com notação musical, mas não como uma representação
fidedigna desta, pois “in no way should one strive for realistic, natural speech”. Outro fato
relevante para a música de Schoenberg é o uso da atonalidade, a qual é muito apropriada no
canto, pois as línguas não possuem uma tonalidade específica para guiar suas melodias.
Figura 1. Excerto da fala-melodia de Schoenberg (representada por um sinal “x” na nota) como vista em Pierrot
Lunaire op. 21. A cruz representa as notas da fala. Disponível gratuitamente em http://imslp.org/wiki/
Pierrot_Lunaire,_Op.21_(Schoenberg,_Arnold).
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A pesquisa de Deutsch (Deutsch et al., 2011; Tierney et al., 2012) apresenta explicações
de como a fala pode resultar em música. A pesquisadora e suas colegas (Deutsch et al., 2011)
descobriram que quando uma sentença é repetida continuamente, ela é interpretada
perceptualmente como música em vez de fala. Em outro experimento, Tierney et al. (2012)
encontraram evidências neurológicas para essa ilusão perceptual. De acordo com esse estudo,
“a network of brain regions associated with the perception and production of pitch sequences
showed greater response when subjects listened to the song stimuli” (p. 5).
A ilusão musical na fala pode ser a base na qual muitos compositores fundamentam suas
músicas. Há muitas músicas pop que usam escala musical padrão para representar a fala1,
como Jazz Discharge Party Hats (1983) de Frank Zappa, So Happy (1984) de Steve Vai e
Yankee Rose (1986) de Steve Vai. Vai é bastante conhecido por ser um transcritor virtuoso,
como pode ser visto em So happy, uma música em que o longo texto falado é imitado por sua
guitarra, similar ao que acontece na música de Zappa supra citada. Em Yankee Rose, temos
um exemplo de como o guitarrista fala com o vocalista usando a mecânica da guitarra. A
figura 2 mostra como a guitarra simula a sentença “She’s beautiful” com slides e o uso da
alavanca (whammy bar). Lembramos, como afirmado por Deutsch et al. (2011: 2245), que
“speech consists of frequency glides that are often steep, and of rapid amplitude and
frequency transitions.” Steve Vai parece ter consciência dessa característica da fala, pois ele
utiliza essas dinâmicas para simular a fala.
1
Essas músicas podem ser facilmente encontradas no YouTube.
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melodic ideas he wrote down” (Fiehler, 2013, p. 41). No mesmo texto, o autor afirma que o
compositor pretendia representar fielmente a fala. Por essa razão, como acontece com a fala,
“his melodic fragment are unstructured, phrased unconventionally, unconstrained by key or
meter” (Fiehler, 2013, p. 42).
É importante ressaltar que a teoria de Janáček tinha como um de seus objetivos criar um
estilo musical autenticamente tcheco. No entanto, sabemos que a estrutura musical, em geral,
é muito mais regular do que a estrutura prosódica da fala. Assim, o uso da fala estrita como
meios de composição sempre foi um grande problema para os compositores. De acordo com
Tyrrel (1970:793), Janáček relatou em 1916 que “tune is created by the word, the whole
melody depends thus upon the sentence, it couldn't be otherwise”. No entanto, embora o
compositor negasse que encaixava palavras a uma melodia pré-existente, Tyrrel (1970) mostra
que ele frequentemente o fez quando reescrevia suas peças.
Apesar disso, como mostrado por Fiehler (2013), Janáček disse que o quebra-cabeça da
correspondência estrita entre fala e música, “could be solved by using the contours and
rhythms of spontaneous vernacular expression as the ultimate source” (p.43). No entanto, essa
questão continua sendo um problema não resolvido para os compositores. Como exemplo,
Fiehler (2013) comentou que o compositor Alban Berg teve tanto problema ao compor sua
ópera Wozzeck que “decided to use forms from absolute music to give shape to individual
scenes” (p.43).
Embora a teoria de Janáček não seja muito instrutiva em como se poderia transcrever as
melodias de fala, reconhecemos que ele tentou desenvolver um método bastante científico
com essa finalidade. Para reforçar essa perspectiva, mencionamos que ele “included the exact
concrete circumstances of the speech melody” (Vainiomäki, 2012, p. 170), e anotou a
melodia da fala como toda informação necessária para seu registo, como o ritmo, tempo,
dinâmica e agógica (Vainiomäki, 2012, p. 171).
Vainiomäki (2012) mostra um exemplo da aplicação à música de uma das melodias
registradas por Janáček. Nesse trecho, o compositor capturou o “disappointment of a young
lady at the station in Brno” (p. 200). Na clave de sol, temos a melodia transcrita da fala e na
clave de fá temos a harmonia criada para a melodia da fala.
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Figura 6. Exemplo de uma transcrição em quartos de tons de um trecho do Soneto de Fidelidade de Vinícius de
Moraes lido por uma informante brasileira feminina.
2
Informamos que vários outros programas foram usados, como Melodyne, Cubase, Logic Pro, SonicVisualizer e
Tony, porém nenhum desses programas transcrevia bem os dados da fala e, além disso, não havia possibilidade
de transcrição em quartos de tom.
3
Não descrevemos detalhamente os procedimentos metodológicos devido ao limite de páginas do artigo.
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Referências
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song. Journal of the Acoustical Society of America, 2011, 129, 2245-2252.
Fiehler, J. (2013). The Search for Truth: Speech Melody in the Emergence of Janáček’s
Mature Style. In: Harmonia: Leoš Janáček: Life, Work, and Contribution. The Journal of
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Resumo: Após estudo da Hipersensibilidade Sonora objetivamos criar um instrumento de atividade digital
especificamente para observar os comportamentos em indivíduos portadores do Transtorno do Espectro do
Autismo (TEA) expostos aos sons propostos. Trata-se de uma pesquisa exploratória, tendo como sujeitos
crianças, idade mínima de 5 anos, diagnosticados com TEA, submetidos ao método da Escala de Avaliação de
Traços Autísticos (ATA), com expectativa de modificar comportamentos corriqueiros.
Palavras-chave: hipersensibilidade sonora, hipersensibilidade auditiva, transtorno do neurodesenvolvimento,
transtorno do espectro do autismo.
Introdução
Essa pesquisa é parte do projeto de Mestrado, da autora, aprovado Programa de Pós-Graduação
da Escola de Música da UFMG, na linha de pesquisa de Sonologia. Este projeto aguarda
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (COEPE) da UFMG.
A audição humana ultrapassa o requisito de sobrevivência, é essencial para a comunicação
e desenvolvimento artístico, evidenciando sentimentos e sensações através dos sons, da música,
artes visuais e audiovisuais. A audição é fundamental para a comunicação, bem como para o
desenvolvimento da fala, pois só existe comunicabilidade se a emissão e a recepção forem
efetivas (Lent, 2002). Esse processo complexo foi estudado por Vitto e Feres (2005), relatando
casos de disfunção de linguagem e comunicação devido à perda auditiva, evidenciando a
dificuldade de diagnóstico em crianças não falantes. São encontrados na literatura os termos
Hipersensibilidade Auditiva, Audiosensibilidade, Fonofobia, Hiperacusia e Redução à
Tolerância para Sons. Esses termos, até certo modo, são considerados sinônimos. A pesquisa de
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Gomes (2008) destaca que Hiperacusia (hiper=excesso, akousis=audição) é mais usado, porém
não o mais adequado. Outra autora que explorou o tema foi Aita (2001), elucidando a
Hiperacusia como uma desordem da sensação de intensidade caracterizada pela queixa de
hipersensibilidade aos sons do dia-a-dia. Gonçalves e Tochetto (2005) alongam essa compreensão
atentando aos sons do cotidiano, que para a maioria das pessoas são toleráveis, para o
hiperacústico são demasiadamente intensos. Nesse sentido, torna-se um sintoma descrito pelo
paciente. Usaremos em nosso texto o termo Hipersensibilidade Sonora, porém nossa busca pelo
tema engloba também Hiperacusia. O autor Hazell (2002) descreve alguns componentes que
podem contribuir com a sensibilidade anormal manifesta nesses indivíduos. Uma delas é a
Hiperacusia, uma disfunção no processamento do som no Sistema Nervoso Central, em que a
cóclea é perfeitamente normal nos pacientes que se queixam de irritação excessiva a
determinados sons e níveis comuns de ruídos. Isso também pode ocorrer em pessoas com algum
tipo de perda auditiva. Ressalta que indivíduos com Hiperacusia, muitas vezes, podem apresentar
Misofonia, que é a aversão em ser exposto a um certo som, pela crença absoluta, que este barulho
danificará seu ouvido. Casos em que a aversão é muito intensa, pode-se chamar de Fonofobia, ou
seja, medo do som. Lembra também que os sons referidos podem ser do nosso cotidiano, como
buzina de carro, sons da cozinha, discurso alto e que, em nenhuma circunstância, podem ser
considerados prejudiciais ou danosos ao aparelho auditivo. Além disso, observa que em
Misofonia, os sons tendem ao desconforto com base em significados ou associações e que sons
apreciados como música, são tolerados em níveis até mais elevados. Na prática, a maioria das
pessoas com Hipersensibilidade ao Som ambiental têm Hiperacusia e Fonofobia
simultaneamente, todavia em proporções variadas. No tratamento é importante diagnosticar quais
conjunturas estão presentes e qual é a dominante. Prosseguindo com o raciocínio de Hazell
(2002), outro componente capaz de contribuir com a Hipersensibilidade aos Sons é o
Recrutamento. Ele esclarece que o Recrutamento é uma redução nos elementos neurais na orelha
interna (células ciliadas) de forma que uma mudança pequena na intensidade do estímulo produz
uma mudança maior na resposta da orelha interna. Sendo assim, mais fibras nervosas serão
ligadas ou "recrutadas" para um estímulo sonoro correspondente, como um instrumento musical.
Neste contexto, a perda auditiva sensorial e incapacidade de ouvir sons “silenciosos” (entre 0 a
20 dB), pode ser associada à intolerância paradoxal para sons altos em consequência ao
Recrutamento. Uma orelha com Recrutamento pode muito bem ser incapaz de ouvir sons baixos,
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abaixo de 50dB, particularmente de alta frequência, mas reconhecer todos os sons acima de 80dB
não só de modo desconfortável, mas susceptível de produzir distorção. Com relação às patologias
associadas a Hipersensibilidade Sonora, Gonçalves e Tochetto (2005) descrevem quatro
prováveis etiologias. A primeira é a condição clínica envolvendo o Sistema Auditivo Periférico e
definidas como Paralisia de Bell, Estapedectomia, Síndrome de Ramsay Hunt, Recrutamento e
Perda Auditiva Induzida por Ruído. A segunda condição é referente ao Sistema Nervoso e citam
Enxaqueca, Depressão, Traumatismos Cranianos Leves, Síndrome de Williams, Distúrbio de
Aprendizagem e Gagueira e Zumbido. A terceira etiologia é relativa à doença hormonal e
infecciosa apontando Doença de Addison e Doença de Lyme. Os autores lembram que existem
relatos de causas desconhecidas, efetivando-se como item quatro da pesquisa. Hazell (2002)
acrescenta o exemplo quase universal do som criado por riscar o giz em um quadro, esclarecendo
que nossa percepção de intensidade não é dada somente pela força do som que chega ao ouvido.
Para ele alguns sons se tornam altos, intrusivos e desagradáveis pelo significado adquirido ou
associação criada. O som do giz na ardósia danificará às orelhas? Ou o som da água gotejando no
banheiro perturbará o sono? Essas ilustrações podem banalizar a patologia, de forma a todos
pensarmos que de algum modo somos hiperacústicos, porém vale lembrar que as reações perante
esses sons tornam-se hipersensíveis, iniciam num medo irracional e transforma-se numa crença
absoluta, trazendo sofrimento. Menciona também casos de pacientes com absoluta convicção de
que suas vidas são arruinadas pelo ruído das fábricas próximas, dos geradores ou dos sons de
baixa frequência transmitidos através da terra, os quais apenas eles podem ouvir e as demais
pessoas são incapazes de perceber. O autor ainda traz o conceito de “Correspondencia de
Padrões” e a descreve como capacidade que o cérebro tem em detectar sons reduzidos num
ambiente repleto de outros sons, como por exemplo, identificar alguém chamando o seu nome
numa sala cheia. E explica, se forte, a “Correspondencia de Padrões” resulta em uma percepção
sonora alta e intrusiva e se fraca a percepção sonora resultante é proporcionalmente fraca. Esses
sons fracos se transformam em percepções intrusivas e desagradáveis muito altas que se tornam
constantemente audíveis, quer queiramos quer não. Quem orienta a correspondência de padrões e
a consequente percepção sonora é o sistema límbico, responsável pelos comportamentos
instintivos, pela emoção e aprendizagem (Hazell, 2002).
Para entender ainda mais a Hipersensibilidade Sonora, recorremos a tabela de poluição
sonora, relacionando a intensidade em dBs a ambientes corriqueiros (Tabela 1) do autor Lent
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(2002). A partir desse dado podemos ter uma ideia geral do nível de desconforto das pessoas que
sofrem com a hipersensibilidade sonora. Nos estudos de Gonçalves e Tochetto (2005) há uma
abordagem clara quanto ao limiar de desconforto dos hiperacústicos que em alguns casos
movimenta-se em torno de 40 e 50 dBs, mas a presença da patologia é detectada quando o
desconforto é menor que 90 dBs. Os autores apresentam ainda uma tabela de classificação da
hiperacusia quanto ao grau de severidade (Tabela 2).
Para o tratamento, Hazell (2002) orienta treinamento auditivo onde a exposição ao sons
ambientais ao paciente é realizado gradualmente ao invés de evita-los, sustenta que é um
processo lento, mas definitivo e que, o período necessário para obtenção de resultados positivos
depende da severidade da patologia sugerindo um período de 2 meses para mudanças notórias. É
essencial a busca pelo tratamento e a não minimização dos sintomas, que muitas vezes são
sensoriais e até traumáticos. Segundo Malcore (1999), quando a hiperacusia se manifesta de
forma repentina, muitos entram em um período de crise profunda, com depressão severa. Estas
pessoas se sentem tremendamente isoladas e não imaginam como é possível continuar
convivendo com o barulho (Bassanello, 2000).
Em nosso estudo focalizamos a Hipersensibilidade Sonora no Transtorno do Espectro do
Autismo (TEA). O TEA é parte da população denominada Transtorno do Neurodesenvolvimento
que se caracteriza por déficits que variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou
no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou de inteligência
91
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
(D. L. Gomes, André, & Loureiro, 2016). Além dessas, um fenômeno nos chamou a atenção em
especial, consiste na disfunção da Hipersensibilidade Sonora, que muitas pessoas dessa
população possuem (E. Gomes, Pedroso, & Wagner, 2008b), (Gonçalves & Tochetto, 2005). Esse
assunto é pouco estudado, mas que revelou-se peça de análise em países diferentes como
Inglaterra (Hazell, 2002), EUA (Siddons, n.d.), Portugal (Fernandes, 2014) e Brasil (E. Gomes,
Pedroso, & Wagner, 2008a). Muitos desses estudos são referentes a qualidade de vida dos que
sofrem com Hipersensibilidade Sonora e quais sons específicos provocam esse sintoma (Hazell,
2002), (Gomes 2008), (Gonçalves & Tochetto, 2005). Neste grupo destaca-se, na literatura, o
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como a população que mais se enquadra no
diagnóstico de Hipersensibilidade Sonora, que de acordo com Gomes (2008), deva ser pela
“demonstração comportamental incisiva como tapar os ouvidos quando um som incomoda, ou
agitar-se e desorganizar-se pelo mesmo motivo ou ainda demonstrar expressão/sensação de dor
ou medo”. No tocante à patologia, o DSM-5 descreve que o TEA caracteriza-se por déficits
persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo
déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para
interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do TEA requer a presença de padrões
restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. É considerando pela a
American Psychiatric Association (2013), que os sintomas mudam com o desenvolvimento. Os
critérios diagnósticos preenchidos com base em informações retrospectivas, podem ser
mascarados com mecanismos compensatórios. A Associação ainda estabelece que indivíduos com
um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de Transtorno Autista, Transtorno de Asperger ou
Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, devem receber o diagnóstico de
TEA.
Assumpção e colegas (1999) propõem o uso da Escala de Avaliação de Traços Autísticos
(ATA) que tem função de avaliar o perfil conductual da criança, embasada nos diferentes aspectos
diagnósticos. A escala lista sintomas que nos permite mensurar as condutas apresentadas de
maneira a se estabelecer um diagnóstico de maior confiabilidade para avaliação de aspectos
específicos do comportamento. O autor levanta 23 comportamentos autísticos baseados nas
descrições do Manual de Diagnóstico DSM-IV e anteriores, dos quais destacamos: dificuldade
na interação social, falta de contato visual e atenção, exploração dos objetos, alteração de
92
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
linguagem e comunicação, movimentos estereotipados e repetitivos. Utilizar essa escala pode ser
a garantia que indivíduos portadores do TEA sofram também com a Hipersensibilidade Sonora,
levando em consideração as dificuldades citadas acima, pois não é regra que todo autista tenha
Hipersensibilidade Auditiva e talvez, a ATA nos garanta que o indivíduo selecionado realmente
manifesta comportamentos de irritabilidade aos sons, tapando o ouvido, ou agitando-se,
desorganizando ou ainda demonstrando expressão/sensação de dor ou medo. Baseado nos
comportamentos repetitivos manifestos, buscaremos propostas multisensoriais para que, através
de um jogo, as inquietações sonoras produzidas pelo aplicativo sejam uma forma de
dessensibilizarão mediante exposição aos mesmos.
Objetivo
Criar um aplicativo com atividades voltadas para a Hipersensibilidade Auditiva no Autismo com
o objetivo de modificar comportamentos corriqueiros como irritabilidade, desorganização, tapar
os ouvidos e contato visual com o objeto sonoro.
Metodologia
Pesquisa de caráter exploratório que busca imergir no tema, identificar limitações na população
de crianças de 5 anos, com TEA e submetidas a ATA, pontuá-las e rastrear possibilidades de
tratamento e educação. Como perspectivas futuras, propomos analisar tecnologias aplicáveis e
inovações para então elaborar materiais tecnológicos tendo como uma possível referência a área
da Engenharia, Ciências da Computação e Desenvolvimento de Games que acrescentem, tanto
melhoria na qualidade de vida, quanto na produção literária. Nesse sentido, podemos citar o
software Auti-Sim, concebido na Hackathon Health Tech, uma maratona que reúne anualmente
em todo mundo desenvolvedores, programadores, designers, profissionais da saúde e
empreendedores, com o objetivo de desenvolver soluções em tecnologia na área de saúde.
Participantes: Crianças com Autismo leve e/ou moderado (Loureiro, 2006, p. 36), diagnosticados
com Hipersensibilidade Sonora, de ambos os sexos e com idade mínima de 5 anos. Definimos
essa idade tendo como referencia o desenvolvimento intelectual apresente em manifestações de
consciência corporal e coordenação motora (Loureiro, 2006, p. 60). Critério de Inclusão:
Crianças diagnosticadas com TEA, leve e/ou moderado. Critério de Exclusão: Outras populações
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
que possuem Transtorno do Neurodesenvolvimento mas que não possuam TEA. Instrumentos:
Será realizada uma Pré-Produção em telas de diagramas tendo como instrumento o celular ,
movimento de interação de apenas 1 jogador de cada vez, construção em fases que incluam
diferentes etapas sucessivas, função touch screen. Uma segunda opção seria de executar o jogo
em computador, tendo gráficos em 2D e simplicidade na navegação. Para Protótipo escolhemos
o desenvolvedor Unity 3D , e em Teste-alfa, será necessária avaliação técnica antes de incluir o
aplicativo em sessões de atividades práticas, só assim, depois de garantir as funcionalidades
técnicas na população avaliada, é que poderemos partir para Fase de Teste-beta que deve
apresentar estabilidade técnica, eliminar os erros e garantir as sugestões relatadas (Neto & Santos,
2012).
Abaixo estão divididas em 6 telas storyboards que desenvolvemos para demonstrar as ações
que envolvem o joguinho de estourar balões. O objetivo da atividade é colocar o dedo na tela do
celular, mirar nos balões que caem de cima para baixo e estoura-los. Essa ação emitirá um som
característico e contará pontos por estouro. Quanto mais detonações acontecerem, mais pontos o
jogo contabiliza, gerando assim um nivelamento de fases gradual. Além disso sons aleatórios
aparecerão trazendo surpresas a quem joga.
As seguintes regras serão estabelecidas: Na Tela 1cada vez que um balão é estourado um som
desconfortável é emitido e uma animação é realizada. Na Tela 2 se balões=10, sala enche de
movimento e o número de pessoas e barulho interno aumenta. A Tela 3 aciona a função aleatório:
moto passa com som, se clicar nela repete o barulho e ela percorre a tela. Já na Tela 4, se
balões=20, fogos de artifício serão ativados em toda tela com som alto. Tela 5, se balões=30,
muda a interface do jogo para fantasmas e música fica sinistra. E a Tela 6 traz função aleatórios:
randomicamente passa alguém rindo no ambiente, ou cai um copo, ou choro.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Considerações
Os aparelhos eletrônicos que servirão de mídia para o aplicativo também são fonte de pesquisa.
Verificar a capacidade de emissão sonora protendida e capacidade de resposta do aparelho, fazer,
por assim dizer, uma varredura ampla das possibilidades tecnológica do instrumento transmissor
empregado, buscando alternativas que integrem ao máximo o fim tecnológico pretendido. Sons
graves não são bem reproduzidos por aparelhos portáteis, por isso faz-se necessário também
estudar quais seriam os harmônicos simulares para equivalência com sonoridade pretendida.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Caroline Blumer
Programa de Pós-Graduação - IA - UNICAMP
carolineblumer@hotmail.com
Vilson Zattera
Laboratório de Acessibilidade – Biblioteca Central - UNICAMP
vilson.zattera@gmail.com
Resumo: Os conteúdos abordados neste artigo fazem parte de uma pesquisa de mestrado em andamento.
Neste recorte destacaremos alguns estudos e tópicos relevantes a respeito da percepção e da cognição
musical em pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo a fim de fomentar reflexões e,
conseqüentemente, promover ações e estratégias mais eficientes para Educação Musical no TEA. Neste
contexto, propomos ao educador um olhar para além das questões inerentes à transmissão do
conhecimento musical ressaltando a importância das experiências simbólicas vivenciadas em aula e de
suas contribuições para constituição do sujeito.
Palavras-chave: percepção, cognição, educação musical, autismo
Perception and Cognition in the Musical Education of People with ASD and the Contributions of
Symbolic Constructions to the Constitution of the Subject
Abstract: The contents covered in this article are part of an ongoing master's degree research. In this
section we highlight some studies and relevant topics regarding the perception and musical cognition in
people with Autism Spectrum Disorder in order to foster reflections and, consequently, to promote more
effective actions and strategies for Music Education in TEA. In this context, he proposes to the educator a
look beyond the inherent issues of the transmission of musical knowledge, emphasizing the importance of
the symbolic experiences lived in class and of their contributions to the constitution of the subject.
Key words: perception, cognition, music education, autism
1. Introdução
Como educadora musical e professora de canto sempre me questiono a respeito de como as
experiências musicais vividas em aula afetam meus alunos e como as informações sonoras,
práticas e teóricas que tratamos são percebidas e assimiladas por eles. Há oito anos venho
atuando no Instituto Ser em Campinas, na educação musical de pessoas com autismo e, neste
caso, os questionamentos são de ordem mais complexa, pois na maioria das vezes não há um
feedback imediato do aluno. Aquela pista que nos mostra se estamos no caminho certo por vezes
demora a aparecer neste contexto educacional.
O presente artigo é um recorte da minha pesquisa de mestrado cujo tema é “A Educação
Musical aliada à Clínica Psicomotora e as Construções Simbólicas no Trabalho com Pessoas com
TEA”. A pesquisa em pauta propõe, através de revisão bibliográfica, uma investigação elaborada
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
sobre os aspectos e pontos de interseção entre a Educação Musical e a Clínica Psicomotora, uma
vertente da psicomotricidade que incorpora à sua prática conceitos psicanalíticos. A metodologia
foi adotada com o intuito de proporcionar uma contextualização histórica e conceitual com
relação à psicomotricidade e às construções simbólicas dentro dos princípios da Clínica
Psicomotora abordada amplamente pelos autores Negrine (1995), Souza (2004), Fonseca (2008) e
Levin (1995). A investigação também se estende aos pedagogos musicais que utilizaram a
psicomotricidade em seus trabalhos de educação musical com práticas voltadas para o
“simbólico” como Jacques Dalcroze e Edgar Willems. Por fim, através de uma análise cuidadosa
deste conteúdo e da realização de uma entrevista semi-estruturada com o psicomotricista Esteban
Levin, a pesquisa intenciona identificar os aspectos mais relevantes que poderão se tornar
ferramentas na prática pedagógico musical no âmbito do TEA, bem como observar de que
maneira se dão as construções simbólicas neste processo e como elas podem influenciar na
constituição do sujeito.
Neste recorte, especificamente, destacaremos alguns estudos e informações a respeito da
percepção e da cognição musical com relação às pessoas com Autismo propondo ao educador um
olhar para o sujeito e para as construções simbólicas a fim de fomentar reflexões e,
consequentemente, ações mais eficientes nas práticas educacionais musicais no TEA.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
reduzida no sulco temporal superior, pequena área do lobo temporal. Inicialmente se acreditava
que o lobo temporal fosse importante apenas para a percepção dos sons. Entretanto, estudos mais
detalhados mostraram que tanto o sulco temporal superior como outra área do lobo temporal, o
giro fusiforme, estavam envolvidos no processamento de dois tipos de informações relevantes
para as interações sociais. Eles captam informações auditivas, sobre a voz de um interlocutor, e
visuais, como os movimentos dos olhos, os gestos e as expressões faciais; processam-nas e as
distribuem para outras áreas cerebrais associadas às emoções e ao raciocínio lógico. (Zorzetto,
2011)
Apesar das divergências entre os pesquisadores sobre as possíveis origens das
anormalidades sensório-perceptuais nos autistas, há um consenso de que estas são de fato
inerentes ao autismo. Gomes et al. (2008) relatam que as alterações sensório-perceptuais podem
acometer até 90% dos autistas, com prevalência para as hipersensibilidades auditivas, visuais e
táteis, assim como hiposensibilidade à dor. Seus estudos apontaram que 23,9% dos sujeitos
autistas apresentavam hipersensibilidade auditiva e tátil, e a hiposensibilidade a dor esteve
presente em 41,3% da amostra. Khalfa et al. (2004), utilizando o limiar de desconforto em
relação à hipersensibilidade auditiva, relatam que 63% dos autistas não suportam estímulos acima
de 80dB. (Gomes et al., 2008).
Os estudos acima indicados nos confirmam que, impreterivelmente, teremos de lidar com
anomalias sensório-perceptuais no contexto educacional nos Transtornos do Autismo. Anomalias
estas que não geram apenas dificuldade ou sensibilidade em relação à percepção auditiva ou tátil,
mas também quanto à interpretação dos estímulos sonoros, visuais, gestuais e faciais ofertados.
Também não há um padrão determinado, ou seja, não sabemos com quais anomalias lidaremos
até que nos coloquemos em contato direto, corpo a corpo, com o aluno.
Como resultado, sejam em proporções maiores ou menores, estas anomalias irão influenciar
na percepção e na construção do universo simbólico destes alunos. Confirma-se assim a
observação de Levin (1995) quanto à importância das construções simbólicas neste contexto
educacional, da criação de “cenas” nas quais o educador poderá “doar” sua experiência simbólica
a fim de que através desta vivência compartilhada o aluno possa apropriar-se simbolicamente de
si, como sujeito, e, consequentemente, dos conteúdos sonoros-musicais abordados.
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passar pelo espaço deste Outro, o “ta-tá” retorna ao bebê não mais como ruído e sim como a
melodia inclusa no dizer de um fonema. Nesta relação, este “Outro Sonoro” dá um novo
significado ao som originalmente emitido.
Um dos sintomas predominantes no autismo é a presença da fala ecolálica, ou seja, uma
fala repetitiva que contém apenas um significado sem nenhum nível metafórico, sem um marco
simbólico que o limite ou ordene. Para o autor, esta falta na diversificação dos significados
advindos desse “ecovirtual” compromete ainda mais o desenvolvimento da linguagem no TEA.
Neste sentido, como educadores, em nossas práticas educacionais poderemos fazer o papel
deste “Outro Sonoro” que interpreta e dá significado aos sons, aos fonemas isolados ou a uma
fala ecolálica, colocando-os dentro de um contexto musical e social com uma pluralidade de
significados simbólicos contribuindo para o desenvolvimento da linguagem e, novamente, para a
constituição da imagem corporal do aluno.
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simbólica, que é o efeito da experiência simbólica na relação com o Outro e, que nos permite
constituir nossa própria imagem corporal (Levin, 2010 apud Blumer, 2016).
Assim sendo, no âmbito da educação musical, é muito importante considerarmos a
plasticidade cerebral e também a qualidade das experiências vivenciadas no trabalho com pessoas
com deficiência, principalmente, nos transtornos do espectro do autismo.
No entanto, devemos nos lembrar de que a neuroplasticidade, apesar de ser comprovada,
tem suas limitações e não há como prever quando e quanto o cérebro de uma pessoa pode se
reorganizar, apenas sabemos que ela é uma aliada em nossa missão como facilitadores da
aprendizagem (Louro, 2012).
Conclusão
A partir dos tópicos e estudos acima referenciados, podemos concluir que há diversos pontos
importantes a serem considerados com relação à Educação Musical nos Transtornos do Espectro
do Autismo.
Primeiramente, há de se observar as características inerentes ao TEA e suas implicações
para as áreas motoras, cognitivas, sociais, emocionais e para a constituição da imagem corporal
do sujeito.
Na questão sensório-perceptiva, pudemos constatar que teremos de lidar com anomalias na
percepção e na interpretação de estímulos auditivos, visuais e táteis. Além disso, que não há um
padrão de ocorrência, teremos de observar caso a caso e nos posicionarmos a fim de buscarmos
estratégias adequadas.
Do ponto de vista cognitivo musical, os déficits na área da linguagem verbal e não verbal
podem dificultar a compreensão de alguns conteúdos. Por outro lado, verificamos que atividades
musicais relacionadas ao canto e a imitação promovem uma ativação da área de Broca podendo
assim auxiliar na comunicação e no desenvolvimento da linguagem no TEA. Esta informação
pode ser bastante relevante na elaboração de nossas ações pedagógicas.
A neuroplasticidade apresenta-se como grande aliada e fator importante a ser considerado,
uma vez que revela a capacidade do cérebro de se adaptar e de se modificar aos receber os
estímulos adequados.
A construção de experiências simbólicas associadas às práticas educacionais também
demonstrou ser muito importante no contexto do autismo. Funcionando como uma espécie de
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trampolim para que o aluno possa construir um universo simbólico e apropriar-se simbolicamente
de seu corpo.
Por fim, percebemos que, como educadores musicais, desempenhamos um papel
importante não só para o contexto educacional, mas para a constituição do “sujeito” a quem
ensinamos. Somos o Outro por trás da imagem especular da imitação; poderemos ser o “Outro
Sonoro” dando significado aos sons e; somos o Outro que proporciona uma experiência simbólica
marcante capaz de gerar plasticidade simbólica e constituição da imagem corporal.
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Resumo: A musicalidade é uma das habilidades inerentes ao ser humano. Acredita-se que seu
desenvolvimento contribua para um ser no mundo de forma integra. Sendo a musicalidade uma
habilidade/característica humana desenvolvida processualmente torna-se possível a visualização e
acompanhamento desse processo ao longo da vida. O presente trabalho busca ilustrar, através de um
estudo de múltiplos casos, com abordagem quali-quantitativa, a utilização da Avaliação IMTAP para
análise do desenvolvimento da musicalidade de crianças de três a cinco anos de idade. Para se
alcançar este objetivo foram atendidas três crianças, semanalmente, com um total de treze
intervenções musicoterapêuticas e realizou-se a aplicação da avaliação IMTAP (Individualized Music
Therapy Assessment Profile) antes e após o período de intervenções. Este instrumento de avaliação foi
utilizado para coleta de dados que foram analisados a partir da comparação das pontuações individuais
obtidas através de sua aplicação no domínio musicalidade subdomínio fundamentos. Somaram-se aos
dados obtidos com a avaliação IMTAP a análise de fichas musicoterapêuticas, filmagens, relatórios
das intervenções musicoterapêuticas para melhor compreender as interações dos participantes. Os
resultados revelaram que a Musicoterapia contribuiu para o desenvolvimento da musicalidade das
crianças participantes do estudo e este desenvolvimento pode ser verificado nos dados obtidos com a
aplicação da avaliação IMTAP. Conclui-se que os resultados qualitativos são consonantes aos
resultados obtidos por meio da Avaliação IMTAP, apontando para sua validade quando da sua
utilização com crianças de três a cinco anos de idade.
Palavras-chave: desenvolvimento cognitivo; musicalidade infantil, imtap, musicoterapia; avaliação.
Abstract: Musicality is one of the inherent abilities of the human being. We believe that their
development contributes to a being in the world in an integrated way. Musicality is a human ability /
characteristic developed through a process, it becomes possible to visualize and follow this process
throughout life. The present work seeks to illustrate, through a multiple-case study, with a qualitative-
quantitative approach, the use of the IMTAP Assessment to analyze the musical development of three
to five-year-old children. To achieve this goal, three children were treated weekly with thirteen music
therapy interventions, and the IMTAP (Individualized Music Therapy Assessment Profile) evaluation
was performed before and after the intervention period. This evaluation instrument was used for data
collection that were analyzed from the comparison of the individual scores obtained through its
application in the musicality domain subdomain fundamentals. The data obtained with the IMTAP
assessment evaluation included the analysis of music therapy records, filming, and reports of the
music therapy interventions to better understand the participants' interactions. The results revealed that
Music Therapy contributed to the development of the musicality of the children participating in the
study and this development can be verified in the data obtained with the application of the IMTAP
assessment. We concluded that the qualitative results are consonant to the results obtained through the
IMTAP Assessment, pointing to their validity when used with children from three to five years old.
Key-words: cognitive development; child musicality; imtap; music therapy; evaluation.
106
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Introdução
A musicalidade é uma das habilidades inerentes ao ser humano acredita-se que seu
desenvolvimento contribua para um desenvolvimento cognitivo e um ser no mundo de forma
integra. São possíveis e observáveis relações entre a musicalidade e o desenvolvimento
cognitivo musical infantil.
Brito (2003) afirma que, desde bebê, os seres humanos possuem instinto rítmico e
auditivo bem desenvolvido e é através dessa capacidade musical ou musicalidade inata que se
desenvolve o sistema motor coordenativo e cognitivo da criança, de forma complexa e lúdica.
Com relação ao desenvolvimento da musicalidade, Pedrini (2003) explica que, mesmo
envolvendo habilidades complexas, a musicalidade se desenvolve, até certo ponto, de maneira
espontânea. Esta reflexão a faz considerar que todas as pessoas possuem pré-disposição ao
desenvolvimento de habilidades musicais.
O desenvolvimento musical pode ser visto como as mudanças que ocorrem no fazer
musical de maneira mais ou menos espontânea, em virtude da educação musical formal
recebida ou pelo aprimoramento de habilidades em atividades específicas da área da música.
Considera-se, principalmente, a ideia de transformação que ocorre neste fazer musical ao
longo do tempo (Ilari, 2009).
Entre zero e dois anos, as crianças exploram a sonoridade de objetos de seu cotidiano e
brinquedos; experimentam a voz e sons vocais; respondem a estímulos musicais através de
respostas como o sorriso, os movimentos corporais de estiramento ou balanço e balbucios
(Valerio & Gordon, 1998; Brito, 2003; Jeandot, 2001).
Nas crianças de três e quatro anos de idade, evidencia-se a capacidade de acompanhar o
pulso de uma canção, mesmo que ainda de forma não intencional. Suas respostas a música
vão ganhando contornos e se manifestando de forma que os movimentos e o cantarolar, antes
reflexos, passem a ter uma relação mais direta com as canções ouvidas. (Jeandot, 2001;
Valerio& Gordon, 1998).
As crianças de quatro anos de idade são capazes de participar de grupos rítmicos
marchando, pulando e caminhando de acordo com o compasso e também de imitar com
precisão padrões rítmicos simples, mesmo com poucas repetições (Jeandot, 2001).
Na faixa etária entre os três e cinco anos de idade, as crianças conseguem identificar os
sons de seu ambiente cotidiano e de instrumentos musicais já vistos ou manipulados,
percebendo diferenças e semelhanças entre eles. Também conseguem perceber o resultado
sonoro das diferentes formas de manipular objetos e instrumentos musicais (Ibid.).
107
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Cabe ressaltar que cada um dos domínios pode ser avaliado separadamente, havendo a
orientação dos autores para que o subdomínio fundamentos do domínio Musicalidade, que
contém as habilidades principais desse domínio, seja incluído em todas as avaliações
utilizando a IMTAP.
Apresenta-se aqui um recorte da pesquisa Contribuições da musicoterapia para a
comunicação de crianças com alterações da linguagem (Covre, 2015) onde foram avaliados
os domínios Comunicação Receptiva, Comunicação Expressiva e subdomínio fundamentos
do domínio Musicalidade. No presente estudo, faz-se um recorte dos resultados obtidos com a
avaliação do subdomínio fundamentos do domínio Musicalidade, apresentado na figura 1.
No domínio Musicalidade são examinadas as respostas inatas a estímulos musicais
variados bem como a forma e o desejo de se engajar nas atividades musicais. No subdomínio
fundamentos são observados o interesse, as reações e o entusiasmo em participar das
propostas musicais. (Baxter et al, 2007).
108
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
Todos os procedimentos para a aplicação da IMTAP foram conduzidos de acordo com as
orientações que constam no manual da referida avaliação, como consta em sua publicação.
(BAXTER et al, 2007). Dentre as orientações constam: a manutenção do mesmo local de
atendimentos para as avaliações, a realização de um protocolo de atendimentos que previsse
atividades que contemplassem todos os itens da escala a serem avaliados, a retirada do local
de atendimentos de quaisquer materiais que possam desviar a atenção do cliente durante a
avaliação, o registro em vídeo para aumentar a confiabilidade da coleta dos dados e a
necessidade de ligar os aparelhos de filmagem antes da entrada do cliente na sala. A coleta de
dados para a avaliação IMTAP foi realizada em duas etapas. A primeira delas, aqui
denominada Avaliação Inicial, foi realizada uma semana antes do início das intervenções. Os
participantes compareceram individualmente em horários pré-agendados, de forma que não se
encontrassem ou presenciassem a avaliação dos demais participantes.
A segunda etapa, denominada Avaliação Final, foi realizada uma semana após o término
do período de intervenções e, da mesma forma, os participantes compareceram
individualmente em horários pré-agendados e não se encontraram.
Durante as avaliações foram realizadas atividades segundo o protocolo pré-estabelecido,
com duração média de 40 minutos para cada criança. As avaliações foram feitas
109
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
individualmente, sem a presença dos pais na sala. Todos os atendimentos foram gravados em
vídeo para análise posterior.
A partir dos dados coletados nas Avaliações Inicial e Final, o desempenho das crianças
foi transposto para a Escala IMTAP no domínio Musicalidade, subdomínio Fundamentos.
Após atribuir notas para cada um dos itens da avaliação, os dados foram lançados
nas tabelas referentes a cada item que, de acordo com sua dificuldade de realização ou
complexidade, recebeu notas nos valores de 0 a 7. Realizada esta etapa, os valores foram
somados dentro de seu subdomínio e estabeleceu-se a porcentagem de realizações dentro de
um máximo possível pré-determinado. Seus escores foram somados e teve-se a porcentagem
total, sempre considerando um valor máximo possível pré-determinado.
110
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Desenvolvimento
Durante a etapa de avaliação muitos objetivos foram identificados, sendo alguns deles
comuns a todas as crianças e outros, individuais. Ao longo do processo, buscou-se trabalhar
esses objetivos identificados de maneira integrada, de forma que as intervenções
contemplassem as necessidades individuais dos três participantes em um único programa de
intervenções, utilizando-se repertório comum a todas as crianças em atividades lúdicas e
coletivas, vivenciadas por meio das experiências musicais descritas por Bruscia (2000).
Como fio condutor do processo de intervenções musicoterapêuticas, foram consideradas
as etapas de constituição da musicalidade, descrita anteriormente, assim como estudos sobre
as contribuições da aplicação da Musicoterapia para o desenvolvimento da musicalidade das
crianças.
Buscou-se, portanto, ao longo do processo de intervenções: resgatar e ampliar os
comportamentos protomusicais, proporcionar momentos de escuta e de imitação e estimular
111
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Considerações Finais
A avaliação IMTAP, utilizada nesse processo, mostrou-se um instrumento adequado para o
acompanhamento do desenvolvimento de crianças na faixa etária dos três aos cinco anos no
domínio musicalidade, pois, os dados obtidos quando de sua aplicação apontaram de maneira
clara os pontos que exigiam atenção no desenvolvimento de cada criança, possibilitando o
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Referências
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Silva, A.M..(2012). Tradução para o português brasileiro e validação da escala
Individualized Music Therapy assessment profile (IMTAP) para uso no Brasil. 2012.
120 f. (Dissertação de Mestrado não publicada). Faculdade de Medicina, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Valerio, W.& Gordon, E. et ali (1998). Music Play. Chicago: GIA Publications.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: Este trabalho apresenta o estudo bibliográfico de pesquisa realizada dentro do programa
de Iniciação Científica da UNESPAR, A Aplicação da IMTAP no Centro de Atendimento e Estudos
em Musicoterapia. O presente estudo busca, no contexto da musicoterapia, comunicação e relação
intramusical, identificar instrumentos de avaliação já construídos e em especial a aplicação da
ferramenta IMTAP nos trabalhos realizados por musicoterapeutas brasileiros. Dois estudos de
aplicação da IMTAP foram destacados: Um apresenta que a Musicoterapia contribuiu para o
desenvolvimento integral da comunicação das crianças participantes do estudo. O outro aponta,
por meio da ferramenta IMTAP, a possibilidade de traçar o perfil do paciente e os objetivos
musicoterapêuticos. Foi constatado como resultado a identificação da trajetória histórica dos
modelos de avaliação em Musicoterapia. Há uma trajetória de modelos de avaliação da área,
influenciados pelas vivencias musicoterapêuticas, devido cada profissional musicoterapeuta
desenvolver processos próprios de avaliação embasados em disciplinas de áreas afins em sua
atuação. Também foi observada a compreensão do uso de avaliadores nos processos
musicoterapeutico e a aplicação da IMTAP pós sua validação no Brasil.
Palavras-chave: musicoterapia, avaliação IMTAP, comunicação.
Music Therapy Assesment and the use of the IMTAP Brazilian version
Abstract: This article presents the bibliographic study of a research that took place inside the
Scientific Initiation program at UNESPAR, The IMTAP Application in the Treatment and Studies
in Music Therapy Center. The present study aims, through bibliographic and literature studies, in
the communication and the intramusical relationship context, to indentify assessment instruments
already developed and specially the application of the IMTAP tool in the works accomplished by
the Brazilian musical therapists. Two studies of the IMTAP application were highlighted: One
which presents that the Music Therapy has contributed to the integral communication development
of the children who took part in the treatment. The other one points out, through the IMTAP tool,
the possibility to describe the patient’s profile and the music therapeutic objectives. It was found as
the result, the identification of the historic trajectory of the assessment models in Music Therapy.
Here there is a trajectory of the assessment models in the area, influenced by the music
therapeutic experiences, due to fact that each music therapist professional develops one’s own
assessment process based on subjects in areas related to his or her professional performance. It
was also observed the comprehension of the assessment use in music therapeutic process and the
application of the IMTAP after its validation in Brazil.
Key-words: music therapy; IMTAP assessment, communication.
Introdução
Musicoterapia como prática profissional desenvolve-se por experiências sonoras e musicais,
vivenciadas em ambientes terapêuticos. Possui abordagens, técnicas e métodos pautados na
intervenção e ação terapêutica, ou seja, processos musicoterapêutico. O objetivo da utilização
da música e/ou seus elementos constitutivos como objeto intermediário de uma relação
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Desenvolvimento
Os processos de avaliação em Musicoterapia inicialmente foram construídos com base em
disciplinas de áreas afins, como psicologia e pedagogia. É importante ressaltar que a
utilização de instrumentos de avaliação não específicos da musicoterapia pode resultar em
avaliações imprecisas (Gattino, 2012).
Os musicoterapeutas Paul Nordoff e Clive Robbins nos anos de 1970 ao proporem a
Musicoterapia Criativa embasaram o trabalho em aspectos cognitivos musicais de cada
pessoa. A musicalidade, segundo a visão da Filosofia da Música não é apenas um dom
musical que poucas pessoas apresentam e desenvolvem uma competência específica para o
fazer artístico musical. Para eles, cada pessoa apresenta uma Music Child que é parte do seu
self ’ e ao responder “à experiência musical, encontra significado e interesse” (Nordoff &
Robbins, 1977, p.1). A avaliação proposta nessa abordagem musicoterapêutica visava
identificar a Music Child através da ferramenta Response, relationship and musical
communicativeness. Os elementos fundamentais pautavam aspectos cognitivos do fazer
musical do participante dentro de experiências musicais estruturadas de modo a favorecer a
improvisação musical do participante, seu fazer espontâneo na comunicação musical
construída na relação entre musicoterapeuta, musica e a pessoa atendida.
Benenzon (1985) por influencia do modelo médico e bases Psicanalíticas de atuação
desenvolveu a Ficha Musicoterapêutica como etapa primária de interação Terapeuta e
Paciente. Que permite focalizar o interrogatório sobre este mundo (musical do paciente). “A
razão deste primeiro encontro é a de explicar que para poder começar a terapia é necessário
conhecer a história sonoro-musical do paciente e de seu ambiente em forma profunda e
exaustiva” (Benenzon, 1985). O autor preconiza a necessidade de uma testificação musical
precedente ao tratamento, a fim de colher dados que ajudem a identificar o (princípio de) ISO
do paciente – identidade sonora. Essa testificação é composta de duas partes, onde na primeira
116
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
o paciente passa por uma experiência receptiva e na segunda convidado a experimentar uma
série de instrumentos musicais (Costa, 1989).
Até a primeira década do século XXI pode-se perceber a diversidade de propostas de
instrumentos de avaliação (tabela 1) segundo o levantamento realizado por Wigram, (2000);
Wigram, Nygaard Pedersen, Bonde, (2002); Layman et al (2002) (apud, Salokivi, 2012).
117
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
modo de interação aceito por ela. Assim avalia e registra, também, o fazer musical/
musicoterapêutico do musicoterapeuta.
Preocupados com as avaliações imprecisas, resultado de testes de outras disciplinas
próximas a musicoterapia, e percebendo a necessidade de avaliação dos processos
musicoterapêutico, uma equipe de seis musicoterapeutas elaborou a Individualized Music
Therapy Assessment Profile – IMTAP. Um grupo de protocolos de avaliação individual na
musicoterapia que trabalha com processos de avaliação em diferentes níveis a fim de
apresentar um “perfil” de cada participante em musicoterapia ao longo dos processos de
intervenção (Silva et al, 2012). Apresentado no formato de livro/manual inclui sessões de
avaliação e exemplos de atividades e intervenções. O material acompanha um CD-ROM que
proporciona ao/a terapeuta armazenar dados das sessões, e, criar tabelas e gráficos que
mostram o desenvolvimento e áreas a serem trabalhadas no processo musicoterapêutico
(Baxter et al, 2007).
O IMTAP foi concebido para avaliar as habilidades de crianças e adolescentes com
necessidades especiais, várias deficiências graves físicas, distúrbios da comunicação,
transtorno do espectro do autismo, distúrbios emocionais graves, prejuízos sociais, e
dificuldades de aprendizagem. Vista como uma ferramenta de auxilio na elaboração de metas
e objetivos terapêuticos, o IMTAP permite construir planejamentos de processos breves e
longos, como uma linha de base para os objetivos e planos de tratamentos. Por meio de
gráficos e tabelas trabalha com um conjunto de informações detalhadas, fácil de compreender
sendo possível abordar e avaliar conjuntos de habilidades gerais e específicas do participante
nos processos de musicoterapia.
Configura-se por fichas de tabelas seccionadas em dez domínios independentes como:
Musicalidade; Comunicação Expressiva; Comunicação Receptiva ou Percepção Auditiva;
Motricidade Grossa ou Ampla; Motricidade Fina; Motricidade Oral; Habilidade Sensorial;
Habilidades Cognitivas; Habilidade Emocional; e Interações Sociais. Cada um dos quais
contêm subdomínios, no total, 374 itens descritos como parâmetros de avaliação. Utiliza do
sistema NRIC (Nunca = 0%; Raramente = Abaixo de 50%; Inconsistente = 50 – 79%;
Consistente = 90 – 100%) para a composição dos resultados.
Esse instrumento mostra-se abrangente de modo a apresentar um amplo espectro das
condições em que se encontra o participante a partir da experiência musical compartilhada
com o musicoterapeuta. Sua tradução e validação para o português permitiu aos
musicoterapeutas brasileiros o acesso a essa ferramenta.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
Pesquisa bibliográfica textual em livros, dissertações e artigos publicados no contexto da
musicoterapia, a fim de identificar, apresentar e compreender a metodologia das aplicações da
ferramenta IMTAP nos trabalhos realizados por musicoterapeutas brasileiros. As palavras
chaves usadas foram: musicoterapia, avaliação, IMTAP, comunicação e musicalidade.
Duas publicações foram selecionadas para apresentação no presente trabalho, ambas
apresentam usos práticos das fichas da IMTAP, em demandas de atendimento ao participante
de musicoterapia com dificuldades de comunicação, musicalidade e relação intramusical. O
texto de Covre (2015), Contribuições da Musicoterapia para a comunicação de crianças com
alterações da linguagem, e o texto de Santana et al (2015), ), A Experiência do uso da Escala
Individualized Music Therapy Assessment Profile (IMTAP) em Pacientes com Paralisia
Cerebral.
Resultados e discussão
A publicação de Covre (2015) Contribuições da Musicoterapia para a comunicação de
crianças com alterações da linguagem desenvolve uma pesquisa de abordagem quali-
quantitativa, a fim de investigar quais as contribuições que a Musicoterapia pode trazer para a
comunicação de crianças de três a cinco anos de idade com alterações da linguagem. Sua
pesquisa desenvolveu-se por meio de observação de filmagens das sessões de três crianças em
atendimentos musicoterapêuticos semanais, com um total de treze intervenções onde realizou-
se a aplicação da avaliação IMTAP antes e após o período de intervenções.
A pesquisa utilizou os domínios da musicalidade, comunicação receptiva e
comunicação expressiva. Sua metodologia se deu por análise de fichas musicoterapêuticas,
filmagens, relatórios das intervenções musicoterapêuticas e nas avaliações realizadas por uma
fonoaudióloga para compreender as interações dos participantes com a música, os demais
participantes e a musicoterapeuta, por meio das propostas da profissional (Covre, 2015).
A avaliação IMTAP mostrou-se como um instrumento adequado para o
acompanhamento do desenvolvimento de crianças na faixa etária dos três aos cinco anos nos
domínios musicalidade, comunicação receptiva e comunicação expressiva, como observados
neste estudo, pois destacou aspectos importantes dentro de cada um dos domínios, apontando
de maneira objetiva os pontos que exigiam atenção no desenvolvimento de cada criança. Isso
possibilitou o estabelecimento de objetivos musicoterapêuticos específicos para cada criança e
para o grupo.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Considerações finais
Realizada a pesquisa bibliográfica textual no contexto da musicoterapia, percebe-se uma
carência de estudos de instrumentos de avaliação específicos validados para uso no Brasil. O
estudo do tema da avaliação em Musicoterapia revela que os Instrumentos de avaliação da
área são recursos essenciais que auxiliam o desenvolvimento dos processos musicoterapêutico
ocasionando maior lucidez dos resultados. O desenvolvimento de ferramentas para avaliações
vão desde escalas emprestadas de outras áreas até as que são construídas a partir da prática
clinica. Com isso percebe-se o crescimento e consistência da Musicoterapia em suas
especificidades. Percebe-se também que o número de trabalhos de musicoterapia, no Brasil,
que aplicam instrumentos de avaliação pode ser ampliado.
As avaliações IMTAP, utilizadas nos trabalhos apresentados, seguiram um padrão de
análise de acordo com o modelo da ferramenta, onde os preenchimentos das fichas de
avaliação se dão por meio de analises de filmagens dos atendimentos realizados. Com a
finalidade de avaliar o processo da terapia, assinalando o sistema NRIC com base nas
oportunidades ofertadas de experiências musicais, pelo terapeuta ao participante. Ambas
destacaram a eficiência do instrumento para a definição dos objetivos terapêuticos e Santana
(2015) identificou que após um período de tratamento não foi evidenciado, pelo uso da
ferramenta IMTAP, resultado estatístico significativo nos domínios avaliados. A IMTAP, em
sua amplitude de domínios requer um treinamento pessoal, da observação e assimilação, dos
itens dos domínios analisados com as ações realizadas na sessão de musicoterapia.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Referências:
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Silva, A. M. (2012) Tradução para o português brasileiro e validação da escala
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de Mestrado, UFRGS. Porto Alegre, RS.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar o quadro conceitual do campo de prática e
pesquisa ‘Música, Saúde e Bem-estar’, composto por cinco categorias que estão relacionadas:
Musicoterapia, Música Comunitária, Educação Musical, Música no Cotidiano e Música na Medicina,
bem como as pesquisas apresentadas em cada uma dessas categorias durante as últimas edições da
International Conference on Music Perception and Cognition, que é a principal conferência
internacional que discute a percepção e cognição musical. A relação entre Música, Saúde e Bem-
estar é complexa e multifacetada, envolvendo a questão central de por que a música tem sido
considerada um agente terapêutico em muitos estudos contemporâneos. Ao longo dos anos, o interesse
e as pesquisas sobre esse tema vem crescendo. Após a sistematização da área, que aconteceu no a n o
de 2010, a categoria Música na Medicina concentrou o maior número de pesquisas, seguida pelas
categorias Música Comunitária, Música no Cotidiano, Educação Musical e Musicoterapia.
Palavras-chave: musicoterapia, pedagogia musical, percepção musical.
Music, health, and wellbeing: conceptual framework and recent research
Abstract: This paper aims to present the conceptual framework of the field of practice and research
‘Music, Health and Wellbeing’, composed of five categories that are related: Music Therapy,
Community Music, Music Education, Every day uses of music and MusicMedicine, as well as the
research presented in each of these categories during the last editions of the International Conference
on Music Perception and Cognition, which is the main international conference that discusses musical
perception and cognition. The relationship between music, health and well-being is complex and
multifaceted, involving the central question of why music has been considered a therapeutic agent in
many contemporary studies. Over the years, interest and research on this topic has been growing.
After the systematization of the area, which took place in 2010, the category Music Medicine
concentrated the largest number of researches, followed by the categories Community Music, Every
day uses of music, Music Education and Music Therapy.
Key-words: music therapy, music pedagogy, music perception.
Introdução
Devido ao crescente reconhecimento dos benefícios das intervenções musicais na saúde,
foram organizados dois simpósios sobre Música e Saúde durante The 10th International
Conference on Music Perception and Cognition (ICMPC) em 2008, no Japão. O primeiro
simpósio apresentou uma série de estudos empíricos, relacionando os efeitos da participação
musical e da escuta musical em parâmetros da saúde. O segundo simpósio discutiu os efeitos
de práticas musicais em músicos amadores e músicos profissionais.
Durante The 11th International Conference on Music Perception and Cognition,
realizado em 2010, nos Estados Unidos, foram estabelecidas as bases que sistematizaram e
consolidaram a Música, Saúde e Bem-estar como um campo de prática e pesquisa,
envolvendo algumas áreas, como a terapia, educação, comunicação, contextos clínicos e
122
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Música Comunitária. Pode não haver uma ênfase no desenvolvimento de habilidades técnicas.
O objetivo primário pode ser oferecer uma oportunidade para a expressão criativa em
contextos não formais. Um aspecto importante é que muitas intervenções de Música
Comunitária têm os benefícios psicológicos como um importante benefício secundário
(MacDonald, 2013).
Outra área importante é a Educação Musical. Em muitos contextos, a Educação
Musical é definida por uma ênfase no desenvolvimento de habilidades musicais. A função
primária da Educação Musical não é terapêutica ou social, no entanto, muitos educadores
musicais estão interessados nos amplos benefícios do ensino da música. Pesquisas recentes
investigam os efeitos das aulas de música em outros aspectos não musicais do funcionamento
psicológico. Surge aqui uma sobreposição da Educação Musical com a Musicoterapia e com a
Música Comunitária (MacDonald, 2013).
A quarta área, Música no Cotidiano, não é um campo distinto de prática da mesma
maneira que as três áreas anteriores são. Contudo, essa área tem uma importante relevância
sobre os efeitos da música na saúde e bem-estar. A discussão sobre a escuta musical poder
produzir efeitos positivos em nossa saúde e bem-estar gera um reconhecimento que esta é
uma importante área de estudo. Cada vez que selecionamos uma música para ouvir, nós
fazemos muitas avaliações sofisticadas sobre nosso atual estado mental e ambiente em que
iremos ouvir música. Dessa forma, nós reconhecemos que nossa escuta musical tem efeitos
profundos em como nós nos sentimos e também afeta as outras pessoas que podem estar
escutando nossa seleção musical (MacDonald, 2013).
A Música na Medicina refere-se a uma área especializada de trabalho na Música,
Saúde e Bem-estar que ocorre em contextos médicos. Essa talvez seja a disciplina mais focada
e especializada, com poucas pessoas trabalhando nessa área do que nas outras categorias. Um
exemplo típico da intervenção da Música na Medicina pode envolver pacientes escutando
música no procedimento cirúrgico para ajudar a reduzir a percepção de dor e ansiedade. Essa
abordagem é aplicada em cirurgia, anestesia, odontologia, dor, cuidado paliativo, cuidado
intensivo, obstetrícia, pediatria, geriatria, oftalmologia e neurologia. De alguma maneira, as
intervenções da Música na Medicina estão muito relacionadas como a Musicoterapia porque
tem resultados terapêuticos como objetivo primário. A Música na Medicina não se sobrepõe
com a Educação Musical ou com a Música Comunitária. Outra questão importante é que a
maioria das intervenções da Música na Medicina utilizam música pré-selecionada
(MacDonald, 2013).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Pesquisas recentes
Após a sistematização da Música, Saúde e Bem-estar como campo de prática e pesquisa
(MacDonald et al., 2012), foram apresentados vários trabalhos no ICMPC. Organizamos os
trabalhos pelo ano em que foram apresentados, seus objetivos ou resultados e a categoria a
qual pertencem, dentro do quadro conceitual tratado anteriormente.
Durante The 12th International Conference for Music Perception and Cognition que
aconteceu em 2012, na Grécia, foram apresentados oito trabalhos na temática Música, Saúde e
Bem-estar. Um trabalho esteve inserido na categoria Música no Cotidiano, quatro na categoria
Música na Medicina, dois na categoria Musicoterapia e um na categoria Educação Musical.
No trabalho da categoria Música no Cotidiano, Gao & Rickard (2012) exploraram as relações
entre os hábitos de escuta musical, as estratégias de enfrentamento relacionadas à música e os
níveis de ansiedade em estudantes universitários.
Na categoria Música na Medicina, Tamar, Armin & Sergi (2012) investigaram a
percepção interativa entre o som e o corpo, sugerindo possíveis aplicações para a fisioterapia.
Os autores mostraram que o feedback sonoro poderia ser integrado eficientemente na
percepção do corpo. Wammes, Müllensiefen & Williamson (2012) apoiaram as hipóteses que
os indivíduos que sofrem de alucinações e psicoses vivenciam as imagens musicais de forma
similar aos sintomas de sua doença (nomeada de alucinação auditiva) e geralmente são
incapazes de distinguir entre as duas. Benoit, Kotz & Dalla Bella (2012) resumiram as
evidências clínicas e de imagem cerebral dos efeitos das indicações auditivas na marcha de
pacientes com a doença de Parkinson. McAuley et al. (2012) investigaram a discriminação
rítmica, utilizando ritmos simples e complexos para pessoas com a doença de Parkinson.
Na categoria Musicoterapia, van Vugt et al. (2012) concluíram que a musicoterapia
poderia aumentar a recuperação motora após um acidente vascular cerebral no grupo de
pessoas que utilizaram teclado. Dakovanou, Anagnostopoulou & Triantafyllaki (2012)
mostraram que aspectos da patologia da paciente investigada puderam estar associados com
os atributos musicais e estruturas encontradas em suas improvisações musicais. Na categoria
Educação Musical, Moura, Bortz & Aguiar (2012) apresentaram um tratamento
individualizado e a evolução da distonia focal em um guitarrista, depois de três e seis meses
de tratamento.
Na The 13th International Conference for Music Perception and Cognition, que
aconteceu em 2014, na Coreia do Sul, foram apresentados quatro trabalhos sobre Música,
125
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126
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
escutar música com músicas escolhidas pelos próprios participantes, com sujeitos idosos e
jovens adultos.
Os trabalhos da categoria Música na Medicina foram organizados no simpósio
‘Música em contextos clínicos’, o qual teve como objetivo agrupar novas pesquisas que
estudam o uso efetivo da música no setor médico e dar impulso para futuras pesquisas na
área. Foram tratados temas como mudanças neurobiológicas na improvisação vocal, a
percepção da música no implante coclear e os efeitos de intervenções musicais nos níveis de
estresse durante cirurgia cesariana (Schaal, 2016).
Considerações finais
O campo de estudos ‘Música, Saúde e Bem-estar’ foi sistematizado em 2010. Desde então
vem discutindo os efeitos terapêuticos da música em cinco áreas: Musicoterapia, Música
Comunitária, Educação Musical, Música no Cotidiano e Música na Medicina. Essas áreas
podem utilizar a música para alcançar benefícios psicológicos como objetivo primário ou
secundário.
Através das publicações nos anais da International Conference on Music Perception
and Cognition (ICMPC) pudemos observar o desenvolvimento desse campo. As pesquisas
concentraram-se na Música na Medicina, com sete trabalhos, seguida pela Música no
Cotidiano e Música Comunitária, com cinco trabalhos. A Educação Musical teve quatro
trabalhos e a Musicoterapia teve dois trabalhos.
Percebemos que o uso da música em contextos médicos, fora do contexto da
Musicoterapia, tem sido o foco dos estudos. Também há interesse nos benefícios psicológicos
da música fora dos contextos formais de ensino e no dia a dia das pessoas. Os estudos na
Educação Musical estiveram direcionados para a saúde dos músicos, como a distonia focal e a
perda auditiva. Inferimos que a Musicoterapia teve apenas dois trabalhos em 2012 e nenhum
trabalho nos anos seguintes porque os musicoterapeutas discutem suas especificidades em um
grupo de trabalho e estudo próprio da Musicoterapia durante a ICMPC.
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Resumo: Este trabalho apresenta um estudo bibliográfico comparativo entre áreas de Musicoterapia
e Música, Saúde e Bem Estar com o objetivo de identificar pontos convergente no que tange ao uso
de manifestação artística no ambiente da saúde e, divergentes quanto às formas de utilização da
música e as bases teóricas sobre alguns pontos entre eles, a musicalidade. Na Musicoterapia,
técnicas e instrumentos de avaliação destacam a interação musical entre o paciente e o
Musicoterapeuta como essencial para o trabalho. Música para o tratamento de enfermidades não
resume o trabalho da musicoterapia uma vez que, sua eficácia está apoiada na experiência com a
Música e em intervenções por meio sonoro musical construído na relação interpessoal terapêutica e
na relação intra e intermusical. Os instrumentos de avaliação que consideram a musicalidade e a
cognição musical dão suporte a esse diferencial da aplicação da música como musicoterapêutica.
Palavras-chave: musicoterapia, IMTAP, IMCAP-ND, MBEA, cognição musical.
Music Therapy, Music, health and wellbeing: convergent and divergent aspects
Abstract: This work presents a comparative bibliographical study between music therapy and
music, health and wellbeing areas with the aim of identifying convergent points regarding the use of
artistic expression in the health environment and, divergent as to the ways of using music and the
bases Theoretical about some points between them, the musicality. In Music Therapy, evaluation
techniques and instruments highlight the musical interaction between the patient and the Music
Therapist as essential for the work. Music for the treatment of infirmities does not summarize the
work of music therapy since its effectiveness is based on the experience with Music and on musical
sound interventions built in the interpersonal therapeutic relationship and the intra and intermusical
relationship. The instruments of evaluation that consider musicality and musical cognition support
this differential of the application of music as music therapy.
Key-words: music therapy, IMTAP, IMCAP-ND, MBEA, musical cognition.
Introdução
A Musicoterapia em essência é um campo interdisciplinar com métodos e técnicas específicas
(Barcellos, 2016). Deste modo, potencializa o desenvolvimento integral, a partir de
intervenções que visam ações do fazer musical e da musicalidade de cada pessoa, ou seja,
biopsico, espiritual e social, alcançados em intervenções que colocam em ação a cognição
musical.
Cognição musical pode ser entendida como um termo que congrega capacidades
perceptivas e práticas nos domínios do fazer musical. Correa et al, (1998), denomina funções
musicais como o conjunto de atividades cognitivas e motoras envolvidas no processamento da
música. Caracteriza-se como uma atividade multimodal do pensamento por envolver distintas
áreas, ao mesmo tempo, na performance musical: visual, auditiva, motora, cognitiva e
emocional. Essa autora denomina esse modo de funcionamento do processamento da
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Musicoterapia Médica
No trabalho de Musicoterapia Médica defendido por Dileo-Maranto (apud, Schapira, 2016)
destaca-se a especificidade do vínculo entre o musicoterapeuta e o paciente “usualmente
através da música”. Por esse vínculo o musicoterapeuta entra em ressonância com o estado do
paciente. Segundo Stern (1985 apud Shapira, 2016. p.1), se estabelece o fenômeno da
“sintonia empática”, ou “ a habilidade para compreender e validar a percepção de um
indivíduo sobre sua experiência”. O terapeuta coloca em prática uma habilidade para
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Música e
Medicina
Música Uso da
Educação Musicoter
Comunitá Música no
Musical apia
ria Cotidiano
Fig. 1 – Musica Saúde e Bem Estar, organograma organizado por MacDonald et al (2013).
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Considerações finais
Um olhar atento às publicações nas áreas de Musicoterapia, Música e Saúde revela as
especificidades destes ambientes que a princípio parecem se tratar de uma mesma coisa: a
Música usada para a saúde das pessoas. De fato, nesse ponto existe uma sobreposição. Como
apresentou MacDonald (2013), musicoterapia relaciona-se com Música e Saúde, mas Musica
e Saúde não demonstra a Musicoterapia apenas.
Enquanto Musicoterapia está totalmente voltada às relações construídas entre
pacientes e musicoterapeutas nas experiências musicais compartilhadas, Música Saúde e Bem
Estar volta-se aos resultados e à condição de qualidade de vida de pessoas enfermas.
135
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Graziela Bortz
Instituto de Artes da UNESP
grazielabortz@gmail.com
Resumo: As habilidades musicais conhecidas como Ouvido Absoluto (OA) e Ouvido Relativo (OR)
são muito discutidas e estudadas por diversos pesquisadores. Resumidamente, o OA seria a
capacidade de identificar/emitir alturas sem nenhuma referência, enquanto o OR, por sua vez, seria a
capacidade de identificação/emissão de diversos estímulos melódicos/harmônicos a partir de uma
altura de referência. Apesar dessas duas habilidades serem bastante familiares a músicos, o número de
pesquisas relacionadas a cada um dos temas não é equivalente, uma vez que existe um número
significativamente maior de trabalhos que investigam diversos aspectos do OA comparado a pesquisas
dedicadas especificamente ao OR. Para diminuir esta lacuna, este trabalho tem como objetivo explorar
o campo do OR, trazendo reflexões acerca do desenvolvimento dessa habilidade, sua importância para
músicos, sua definição, e outras questões que tangem a área da educação musical e a disciplina de
percepção musical. O artigo apresenta uma breve visão sobre a disciplina percepção musical e sua
correlação com o OR, assim como explora diferentes caracterizações sobre esta habilidade, seguidos
de algumas observações sobre as inter-relações entre o OA e o OR. Como resultado, apontamos que
há dois sentidos distintos acerca da habilidade do OR, um amplo (músicos e não músicos) e um
restrito (somente músicos), os quais não são abordados conjuntamente na bibliografia consultada. Este
fato, combinado à existência de diferentes mitos sobre o OA, distorce a compreensão sobre as duas
habilidades e acaba criando um falso entendimento dessas.
Palavras-chave: ouvido relativo, ouvido absoluto, percepção musical, cognição musical.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
This fact, combined with some myths about AP phenomenon, distorts the understanding about the two
skills and creates a false understanding about them.
Keywords: relative pitch, absolute pitch, music perception, music cognition.
Introdução
As habilidades musicais conhecidas como Ouvido Absoluto (OA) e o Ouvido Relativo (OR)
são muito discutidas e estudadas por diversos pesquisadores não só na área musical, mas
também na área da neurociência e psicologia. O OA é frequentemente caracterizado como a
capacidade de identificar/emitir alturas sem nenhum tipo de referência1, enquanto o OR, por
sua vez, costuma ser caracterizado como capacidade de identificação/emissão de diversos
estímulos melódicos/harmônicos a partir de uma altura de referência. Apesar de essas duas
habilidades serem bastante familiares a músicos, o número de pesquisas relacionadas a cada
um dos temas não é equivalente, uma vez que existe um número significativamente maior de
trabalhos que investigam diversos aspectos do OA. O motivo dessa discrepância muito
provavelmente advém do fato de que o OA é um objeto de estudo que desperta grande
curiosidade, sendo muitas vezes idealizado como um mistério cognitivo a ser desvendado; já
o OR é tratado como uma habilidade comum, capaz de ser adquirida através de treinamento
por qualquer pessoa. Contudo, compreender melhor o OR é extremamente importante para o
domínio musical e áreas correlacionadas, com especial destaque para o campo da percepção
musical. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo explorar a habilidade do OR,
trazendo reflexões acerca do desenvolvimento dessa habilidade, sua importância para
músicos, sua definição, sua relação com o OA e outras questões que tangem a área da
educação musical e da percepção musical.
140
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
tornar capaz de realizar com destreza os objetivos propostos. O treino específico e regular de
Percepção Musical busca desenvolver a habilidade cognitiva conhecida como OR.
Burns e Campbell (1994) fornecem uma descrição do fenômeno do OR, embora
defendam que tal habilidade não é essencial nem para a apreciação musical nem para a prática
instrumental:
[...] a maioria dos músicos treinados desenvolve o chamado OR, habilidade de
identificar intervalos musicais. Por exemplo, quando apresentados a dois tons 2 cuja
razão entre suas frequências corresponde a algum dos intervalos da escala de
temperamento igual, seja sequencialmente (intervalos melódicos) ou
simultaneamente (intervalos harmônicos), os portadores de OR são capazes de
identificar o intervalo usando o rótulo verbal apropriado. De forma equivalente, se
for dito que um dos tons que compõem o intervalo é uma nota em particular na
escala (Dó, por exemplo), eles podem dar o nome da outra nota. Finalmente, se for
dado um tom de referência e o rótulo verbal de um intervalo, eles são capazes de
produzir o intervalo. Embora essa habilidade não seja essencial para a habilidade de
tocar música, ela é necessária em certas situações (por exemplo, quando um
vocalista precisa ler uma peça musical à primeira vista), e em cursos de percepção
musical, nos quais a habilidade é desenvolvida e que fazem parte do currículo da
maioria dos cursos de música. Nesta seção, os limites e precisão do OR são
explorados, juntamente com os limites da habilidade de portadores de OR de
discriminar intervalos em tarefas de discriminação de pares de alturas. (Burns &
Campbell, 1994, p. 2706).
141
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Ouvido Relativo é a relação que qualquer tom dado carrega em relação a algum tom
de referência. Quase todas as pessoas possuem OR em algum grau. Antes de estudar
música, uma pessoa deve ao menos ser capaz de diferenciar um uníssono de um
intervalo; uma tríade maior de uma menor; e a cantar dois ou três tons diatônicos
depois de tê-los escutado (Jadassohn, 1899, p. 3).
Na perspectiva de que não músicos são capazes de fazer relações musicais intervalares
que podem caracterizar o sentido amplo de OR, Plantinga e Trainor (2005) realizaram uma
abordagem muito interessante sobre a possível retenção de alturas absolutas em exposições
musicais repetidas sempre na mesma tonalidade. Isso pode explicar o fato de que muitos não
músicos são capazes de cantar, sem referência, uma música familiar na tonalidade original:
[...] um código de OR, por outro lado, não contém informação sobre as atuais
frequências fundamentais. Pelo contrário, ele consiste na sequência de distâncias de
alturas entre sucessivos tons melódicos e vogais. A grande maioria dos adultos
codifica alturas musicais predominantemente em termos relativos. Por exemplo, eles
reconhecem uma música como “Parabéns a você” independentemente se a música se
iniciou com uma nota mais grave ou mais aguda, contanto que a distância entre os
intervalos esteja correta. A maior parte das pessoas adultas, depois de um curto
intervalo de tempo, não se lembra precisamente das alturas absolutas, embora a
experiência de uma música em particular ou um som sempre na mesma altura possa
levar a alguma retenção de alturas absolutas (Halpern, 1989; Levitin, 1994;
Schellenberg & Trehub, 2003; Terhardt & Seewann, 1983, citado por Plantinga &
Trainor, 2005, p. 2).
142
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
o OA. Esta ausência pode ser um forte indício de que não existe uma preocupação real em
estudar o fenômeno do OR na área musical.
De fato, encontramos as principais referências ao OR nos autores dedicados à pesquisa
e compreensão do OA, onde o OR é tratado primordialmente como uma habilidade cognitiva
distinta, mas de interesse acentuadamente menor. O “mistério a ser desvendado” em torno do
OA está relacionado à constatação de que a habilidade aparenta ser, segundo a maior parte dos
pesquisadores, incomum tanto entre músicos como entre não músicos, e que é em geral
considerada inata, não sendo aparentemente possível de ser adquirida através do treinamento
musical (como o OR notoriamente o é).
Todo esse interesse no “dom incomum” que é o OA, contribuiu para a criação da lenda
de que portadores de OA são pessoas totalmente raras e incomuns que possuem algum tipo de
super-habilidade perante qualquer outro ser do mundo. Essa lenda nos leva a acreditar que
portadores de OA são capazes de identificar com precisão qualquer altura em qualquer
instrumento, e que nunca erram. Seguindo esse raciocínio, muitas pessoas acreditam que os
portadores de OA poderiam ser dispensados da disciplina percepção musical (ou ao menos de
parte de seu conteúdo), uma vez que grande parte do que é ensinado nessa disciplina já seria
sabido e dominado pelos portadores, tornando-a pouco proveitosa para essas pessoas.
Contudo, esta crença está longe de ser verdadeira. Como pesquisadores e músicos,
devemos compreender que a ideia de que portadores OA apresentam uma percepção de
alturas infalível é um mito. Muitos portadores de OA possuem, segundo vários autores,
diversas limitações em relação a timbre, registro, tempo de resposta, além de apresentarem
uma perceptível margem de erro (considerada em torno de meio tom)3.
Ademais, alguns autores defendem que o OA pode atrapalhar não só a aquisição plena
do OR, mas também a aquisição de conceitos musicais específicos, além de poder dificultar a
apreciação musical. Uma vez que portadores de OA reconhecem alturas através de rótulos, o
conceito de intervalos fica em segundo lugar, esquecido, levando o portador a apenas perceber
as duas alturas ouvidas isoladamente e, em seguida, calcular qual seria o intervalo entre elas,
como se fosse uma conta matemática. Alguns portadores de OA não são capazes de
reconhecer nem sequer intervalos simples, como uma oitava, se não puderem ouvir a altura
rotulada, demostrando um subdesenvolvimento significativo da habilidade do OR.
Quanto à apreciação musical, alguns autores acreditam que o OA pode atrapalhá-la.
Em relação ao Ouvido Relativo, músicos com tone-AP podem ser menos habilidosos
do que outros músicos, calculando intervalos e acordes a partir dos nomes das notas
143
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
144
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
estudos, se depara com uma enorme dificuldade (ou seja, o aluno passa subitamente do tédio à
ansiedade). Essa cadeia de eventos leva alguns alunos a culpar o OA pelas suas dificuldades,
dizendo que ele “atrapalha” no desenvolvimento do OR, mas o que realmente acontece é que
esse portador de OA está tentando pular etapas do processo, querendo desenvolver o OR
apenas para tarefas em que seu OA não é suficiente, ou seja, tarefas musicalmente mais
complexas.
Apontamentos Finais
Conforme apontado, as habilidades do OA e do OR são de interesse não somente do campo
musical, mas também de áreas como a neurociência e psicologia. Contudo, o OR é
significativamente menos estudado do que o OA. Deste modo, objetivamos explorar neste
trabalho a habilidade do OR, trazendo reflexões acerca do desenvolvimento dessa habilidade,
de sua importância para músicos e, principalmente, de sua definição. Passamos então a
apresentar uma rápida visão sobre a disciplina percepção musical e sua correlação com o OR,
enquanto exploramos diferentes caracterizações sobre esta habilidade. A seguir, tecemos
algumas considerações sobre as inter-relações entre o OA e o OR, incluindo questões sobre as
interferências que uma habilidade exerce sobre o desenvolvimento da outra.
Como resultado deste trabalho, vimos que há dois sentidos distintos acerca da
habilidade do OR, que apresentam características comuns, mas que operam em polos distintos
em relação à percepção de elementos melódicos e harmônicos: um sentido mais amplo e outro
mais restrito. O que mais chama a atenção é que cada trabalho consultado explora apenas uma
dessas definições. Como consequência, não apenas o OR costuma ser deixado em segundo
plano frente ao OA, mas ele também acaba sendo apenas parcialmente explorado nestes
trabalhos. Consequentemente, para que seja possível uma compreensão mais apurada sobre o
OR, é essencial que futuras pesquisas se dediquem a aprofundar estudos sobre ela, mas em
ambos os sentidos apontados.
Por fim, apesar da pouca bibliografia existente sobre o OR, apontamos que essa
habilidade é essencial na vida de músicos. Essa incongruência deve-se sobretudo à existência
de certos mitos sobre o OA. Um desses mitos, não apresentado anteriormente, presente nas
comunidades musicais (aceito de forma implícita ou explícita) e potencialmente mais
problemático, considera que possuir a habilidade do OA pode ajudar a fazer de alguém um
músico melhor. Os pormenores desse mito não foram discutidos nesse trabalho, mas é
importante ressaltar que a névoa em volta deste e outros mitos em relação ao OA distorce a
145
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
realidade perceptiva musical e acaba criando um falso entendimento das duas habilidades.
Obviamente, a musicalidade é multifacetada e o componente dominante (pelo menos na
música tonal) é desenvolver um forte senso de OR (Ross et al, 2005). Consequentemente,
para serem melhores músicos, portadores de OA devem buscar desenvolver plenamente o OR
por meio de treinamento. Por tal razão, faz-se necessária a conscientização por parte da
comunidade docente e músicos profissionais de que a obtenção do OR é importante na
carreira musical e que todos os estudantes devem considerar a possível busca por esse
aprimoramento, pois os ajudará a enfrentar os desafios musicais de sua carreira.
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1 A definição do OA ainda é controvérsia entre os autores, com diversos parâmetros consensuais e não
consensuais envolvidos em sua abordagem. Para uma discussão aprofundada sobre a questão, ver Germano
(2015).
2 A palavra “tom” foi escolhida para a tradução da palavra originária da língua inglesa “tone”. A primeira
dificuldade encontrada nessa tradução foi a questão semântica, pois a palavra “tom” apresenta certa ambiguidade
por contemplar significados distintos. Segundo Nattiez (1985), a palavra tom possui quatro acepções: 1-
Indicação de uma altura, que pode ser tanto determinada (Ex.: a nota dó) quanto indeterminada (Ex.: os tons
agudos da voz); 2- Intervalo entre duas alturas (Tom e Semitom); 3- Definição de uma escala musical (o tom de
uma determinada música); 4- Tom como qualidade, expressão ou colocação (Ex.: o tom familiar da voz). No
presente trabalho, a tradução da palavra tone por tom será abordada como sentido de altura específica (dentro da
1° acepção apontada por Nattiez).
147
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Fundamentación
La audición, como modalidad perceptual básica para aprendizajes y prácticas musicales
diversos, constituye un modo de conocimiento musical que involucra conocimientos de tipo
proposicional y no proposicional (Johnson, 1987; Stubley, 1992; Cox, 2011). Desde una
perspectiva corporeizada, la experiencia auditiva y los significados que se crean a partir de la
misma son de naturaleza transmodal (sincronía entre modalidades perceptuales) y
transdominio (confluencia de dominios de la experiencia) (Johnson, 1987; Martínez, 2009;
Shifres, 2006, 2012). A su vez, siguiendo la hipótesis de la mímesis (Cox, 2011), la
comprensión musical que involucra la audición se basa en mímesis motoras y en la
imaginación que puede ser de naturaleza intramodal, intermodal o amodal, en lo que respecta
a modalidades perceptuales y dominios de la experiencia involucrados en la construcción de
significados y en los procesos de aprendizaje.
Según lo planteado por Clarke (2005) desde la perspectiva ecológica de la audición, a
través de las diversas interacciones con las prácticas musicales que ofrece el entorno es que se
va cualificando, afinando y adaptando el sistema perceptual auditivo para captar las
propiedades estructurales de los objetos del ambiente, entre estos, todos aquellos que
consideremos musicales. El desarrollo auditivo musical a su vez implica poder actuar de
manera competente en las prácticas sociales y culturales que involucran la participación en la
música.
Son diversos los escenarios y prácticas en los cuales nos involucramos musicalmente y
que ofrecen oportunidades de cualificación, o de refinamiento de habilidades auditivas
musicales (Clarke, 2005). Desde la perspectiva de las prácticas de aprendizaje, estos
escenarios o situaciones pueden ser de naturaleza formal o informal (Green, 2002, 2008). En
el contexto de la académica, se favorecen algunos espacios para el desarrollo de la audición
de manera explícita, orientándose especialmente a un modo de escucha reconocido como
audición estructural, en donde se privilegia la imaginación, el pensamiento y la descripción de
enunciados musicales, en términos de categorías y sistemas de notación desarrollados por la
teoría musical de Occidente (Shifres, 2009).
No obstante, las habilidades auditivas para el desempeño musical en diversas prácticas
(interpretación, composición, dirección) y sus particularidades, no pueden ser vistas como
producto exclusivo de las acciones e interacciones que tienen lugar en un solo espacio de
formación, llámese este Solfeo, Entrenamiento Auditivo o Formación Auditiva. Por el
contrario, son múltiples los escenarios y prácticas que contribuyen al desarrollo de los
150
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Objetivo
El propósito de este trabajo es mostrar resultados parciales de investigación sobre las
prácticas, concepciones y valoraciones de desarrollo auditivo de estudiantes del PCAM en
aprendizajes y prácticas previos a la carrera musical y durante esta, centrándose en el estudio
de cuatro casos del Énfasis en Composición y Arreglos.
Método
Este es un estudio exploratorio de aproximación cualitativa, basado en la observación de
cuatro casos de estudiantes del Énfasis en Composición y Arreglos que se encontraban
cursando los últimos semestres de carrera en el PCAM. En su totalidad eran hombres y sus
edades eran de 31 (1), 27 (1) y 26 (2) años. La metodología comprendió: (1) la realización de
entrevistas semiestructuradas realizadas por pares; (2) el análisis y la sistematización de las
entrevistas, y (3) la interpretación de datos para lo cual se consideró: (a) la inferencia de
desarrollos auditivos que hizo la investigadora a partir de los testimonios sobre prácticas de
aprendizaje musical relatadas por los estudiantes y, (b) las descripciones puntuales de los
estudiantes sobre sus propias habilidades auditivas. Se tuvo en cuenta categorías como:
procesos transmodales y transdominio, modos de conocimiento proposicionales y no
proposicionales, prácticas de aprendizaje (informales, formales) y audición estructural.
Resultados
Inicialmente se presenta una síntesis de recorridos de los estudiantes previo a la carrera en
cuanto a las prácticas musicales transitadas y a sus escenarios, para dar un marco contextual a
los resultados respecto de las concepciones y valoraciones de los desarrollos auditivos de los
casos observados.
151
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Valoraciones
En asignaturas como Gramática Musical y Formación Auditiva, los estudiantes valoran sus
desarrollos auditivos comparando sus logros con los de los pares de la clase, sobre la base de
los requerimientos de estos espacios. Al respecto, aparecen expresiones que aluden a “estar
atrás de”, “quedado” o “mucho mejor” que los compañeros, en aspectos de identificación de
estructuras sonoras.
De igual forma, se adjudica el logro de habilidades auditivas a la familiaridad que se
tenga frente a repertorios, estilos, formatos y estructuras, desde temprana edad; algo que se ha
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Conclusiones
En todos los casos se deja ver que la práctica instrumental de los estudiantes previa a la
carrera ha sido relevante para el aprendizaje perceptual auditivo. Para el caso de las
competencias auditivas enmarcadas en la audición estructural en asignaturas como Gramática
y Formación Auditiva, se resalta el hecho de que pese a no tener explícitamente en estos
escenarios un acceso directo a los instrumentos y a las músicas que hacen parte de la
experiencia musical vivida, estos constituyen un sustento importante para los procesos de
conocimiento y reconocimiento de estructuras musicales, especialmente cuando se halla
familiaridad entre lo experimentado previamente y lo que tiene lugar en las clases.
Así, las músicas y los instrumentos practicados previo al ingreso a la carrera, se
constituyen en experiencias que permiten anclar los nuevos conocimientos. Entendiendo esto
desde la perspectiva ecológica de la audición musical (Clarke, 2005) y de la cognición
corporeizada, dicha experiencia conforma un cúmulo de fuentes ya experimentadas –
corporales, imágenes motrices, emociones, sentido de identidad, entre otros aspectos-, que se
vuelven a visitar -recordar, reconocer y sentir- en los escenarios de clase, bajo otros contextos
sonoros y demandas cognitivas. De allí la facilidad de reconocimiento auditivo que expresan
tener los estudiantes, cuando lo que se estudia se parece en algunos rasgos a lo ya practicado
por ellos.
Por el contrario, la falta de proximidad del contenido con lo experimentado
previamente, dificulta la tarea de análisis auditivo para la transcripción. Lo anterior también
tiene un sustento en lo que plantea Cox (2011) a través de la hipótesis mimética y las
diferentes modalidades de imitación (intramodal, intermodal y amodal), en el sentido en que
entre más cercana sea la experiencia de la persona, en relación con la fuente instrumental a
imitar, mayor es la posibilidad de facilitar la tarea de imitación y de comprensión.
La dificultad expresada por los estudiantes en sus procesos formativos frente al
desarrollo de la audición estructural lleva a considerar la necesidad de generar estrategias que
faciliten el tránsito de “sacar de oído” desde el instrumento hacia los modos proposicionales
de conocimiento que conlleva la audición estructural y la escritura en pentagrama. Una
posible estrategia podría ser retornar está primera práctica, dando lugar a imitaciones más
manifiestas que encubiertas de las configuraciones que se quieren resignificar desde la
perspectiva de la audición estructural.
155
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Referencias bibliográficas
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156
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: O fenômeno dos sons resultantes foi abordado inicialmente pelo organista Sorge (1703-
1778) e pelo violinista Tartini(1692- 1770) baseado em suas experiências práticas. Helmholtz
fortaleceu o conhecimento teórico e tornou-se a referência nas áreas de acústica e psicoacústica a
partir dos seus estudos sobre sons combinatórios. Howard e Angus (2009) consideram que relação
musical entre sons resultantes e notas musicais depende do sistema de afinação em uso e este artigo
teve o objetivo de identificar as relações de afinação entre sons resultantes gerados a partir dos
intervalos produzidos entre a nota Lá4 e Lá3. As notas resultantes foram analisadas a partir dos
valores das frequências nos sistemas de afinação Igual, Pitagórica e Justa. O estudo foi realizado a
partir de uma metodologia quantitativa que investigou os valores das frequências tendo como
referência o modelo matemático de Roederer (2008) e das razões para Afinação Pitagórica e Justa
propostos por Gunther (2008). Resultados mostram que cada tabela de afinação apresenta intervalos
com valores que podem ser exatos com um sistema de afinação ou diferir em até meio tom em outro.
Palavras-chave: Percepção Musical, Sons resultantes, Sistemas de Afinação. Performance
Musical, Acústica .
Introdução
O resultado do fenômeno psicoacústico que ocorre quando duas frequências de alta
intensidade soam simultaneamente atraiu a atenção de músicos, físicos, matemáticos e
psicólogos. A presença de uma terceira frequência, de característica não direcional, instigou a
busca da compreensão deste fenômeno chamado sons resultantes na literatura em português.
Desde o séc. XVIII, compositores, intérpretes e construtores de instrumentos realizam
investigações na busca do enriquecimento do resultado musical decorrente da associação entre
sons geradores e sons resultantes. Estudos de Helmholtz(1895) demonstraram que o
processamento dos sons resultantes ocorre na cóclea, o que permite que seja considerado um
fenômeno psicoacústico e objeto de estudo da área de cognição musical.
A ideia de sons resultantes me interessou desde meus estudos na graduação, quando tive
aulas música de câmera com um violinista muito experiente que mencionou que era importante
afinar as cordas duplas no violino a partir da audição dos sons resultantes. Desde então uma
questão importante ficou: Como afinar as notas pelos sons resultantes? Após vinte cinco anos
157
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
pensando sobre o tema, iniciei investigações que me levaram a questão principal para este
artigo: Qual a relação entre notas resultantes e os distintos sistemas de afinação? O objetivo
deste artigo foi identificar as frequências dos sons resultantes decorrentes dos intervalos
formados dentro de uma oitava e compará-los com as frequências das notas nos sistemas de
Afinação Igual, Afinação Pitagórica e Afinação Justa.
A identificação do fenômeno dos sons resultantes aparece inicialmente na literatura
musical em 1745, na obra Vorgemach der musicalischen Composition, do organista e
compositor alemão Georg Andreas Sorge (1703-1778). No entanto, o fenômeno dos sons
resultantes tornou-se conhecido a partir do Trattato di Musica, de 1754, do violinista e
compositor italiano Giuseppe Tartini (1692- 1770), que identificou a presença de“Il terzo
suono”, ou seja, um terceiro som presente na performance de determinados intervalos. A
aplicação dos sons resultantes na composição e performance de suas obras permitiu que o
fenômeno fosse também denominado como “sons de Tartini”. (Peterson, 1908)
A literatura teórica em língua inglesa apresenta uma terminologia específica para o
fenômeno dos sons resultantes, distintas da tradução utilizada na língua portuguesa. Trabalhos
de Helmholtz (1895), Peterson (1908), Roederer (2008) e Howard e Angus (2009) utilizam o
termo sons combinatórios (combination tones). Helmholtz (1895) propõe a divisão do
fenômeno em dois conceitos específicos: sons diferenciais (differential tones) para indicar os
sons resultantes mais graves, e sons somatórios (summational tones) para indicar sons
resultantes mais agudos.
No contexto da performance musical, o termo sons resultantes necessita ser especificado
para definir não apenas sons ou frequências, mas para identificar notas musicais específicas.
Neste caso, as notas identificadas precisam estar definidas dentro de um sistema de afinação,
pois observações de Roederer (2008), Howard e Angus (2009) e Hjetermann (2013) indicam
que as notas resultantes de determinados intervalos apresentam problemas de afinação quando
se utiliza o sistema de Afinação Igual.
Metodologia
O presente estudo utilizou uma metodologia quantitativa de análise dos dados a partir do
modelo matemático de Roederer (2008) e dos sons resultantes presentes em determinados
intervalos musicais indicados por Helmholtz (1895). Foram identificadas as frequências das
notas resultantes presentes nos intervalos de uma escala cromática entre Lá 3 – Sol# 4, tendo a
nota Lá 4 como nota aguda de referência para formação dos intervalos. Os resultados
permitiram a identificação das notas resultantes em cada intervalo e também indicaram as
158
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
diferenças de frequência entre as notas resultantes e suas notas correspondentes em cada sistema
de afinação. Foram realizados três estudos com os valores das frequências das notas no Sistema
Igual, Sistema Pitagórico e Sistema Justo.
Roederer (2008) define que resultantes como:
sensações de altura que surgem quando dois sons puros de frequências f1 e f2 soando
conjuntamente, sendo percebidos com maior facilidade quando apresentados com
grande intensidade. Os sons resultantes não estão presentes no estímulo original e
surgem como resultado da distorção não-linear do sinal acústico dentro do ouvido.
(Roederer, 2008)
A relação entre intervalos e sons resultantes pode ser representada pela equação: fS =
f1 – f2, na qual f1 indica a frequência da nota aguda, enquanto f2 indica a frequência da nota
grave. A relação entre frequências e sons resultantes de Roederer (2008) está representada na
figura 1. Roederer (2008) também apresenta um exemplo musical com os intervalos: Lá3-Dó#4
(3aM), Lá3-Ré4 (4ªJ), Lá3-Ré# (4ª Aum) e Lá3-Mi4 (5ª J) no qual existe a indicação das notas
resultantes, com uma nota observando que as notas resultantes a serem ouvidas têm alturas
aproximadas. Além disso, Roederer explica que “alguns sons diferenciais são gerados
desafinados por causa do sistema de Afinação Igual do instrumento”. (Roederer, 2008, p.46)
Figura 1 – Representação gráfica das relações na formação de sons resultantes, retirado de Roederer (2008)
De acordo com Howard e Angus (2009) os sons resultantes são facilmente identificados
quando dois instrumentos iguais tocam notas agudas com intensidade forte, principalmente
quando o intervalo corresponde a notas consecutivas da série harmônica de um som gerador
comum. No entanto, os autores observam que o sistema igual não apresenta notas que tenham
frequências de acordo com a série harmônica e que “a relação musical entre sons resultantes e
notas musicais depende do sistema de afinação em uso.” (Howard e Angus, 2009, p. 259)
Para Hjetermann, os sons resultantes devem estar vinculados “a qualquer estrutura
derivada da série harmônica, e não devem estar vinculados a escalas ou sistemas de afinação”.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
(Hjetermann, 2013, p.) Ele afirma que o Sistema Igual não possui nenhum intervalo em comum
com a série harmônica e que alguns compositores preferem o uso de intervalos justos, pois os
sons resultantes podem reforçar a tonalidade de maneira ampla. Por outro lado, o sistema de
Afinação Igual cria sons resultantes que não apresentam relação com os intervalos geradores.
Portanto, o Sistema Igual pode oferecer problemas para a utilização de sons resultantes no
contexto musical enquanto os intervalos justos possibilitam o uso intencional dos sons
resultantes no contexto composicional com indicações para variação na afinação de notas
específicas.
A coleta de dados consistiu na identificação das frequências das notas resultantes
presentes nos intervalos dentro de uma oitava. A escolha de intervalos como elemento de
análise baseia-se no exemplo apresentado por Helmholtz (1895, p.156) para as notas resultantes
dos intervalos mais comuns no contexto diatônico (Figura 2). Os intervalos de 2ª m, 2ª M, 7ª m
e 7ª M não foram especificados por Helmholtz e neste caso, foram considerados os valores das
frequências das notas mais próximas em cada sistema de afinação.
Figura 2 – Tabela com as Razões e sons resultantes dos intervalos (Helmholtz, 1895)
160
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
O Sistema de Afinação Pitagórico baseia-se nos princípios de afinação das quintas com
razão 3/2, sendo que todas as quintas e quartas justas são puras. Desta maneira, estão indicadas
as razões de afinação para as frequências das notas na Tabela 1, tendo a nota Lá como centro
tonal e de acordo com a descrição das razões indicadas por Gunther (2008, p. 376).
Afinação Pitagórica
Lá Sib Si Dó Dó# Ré Mib Mi Fá Fá# Sol Sol# Lá
256/24 32/2 81/6 729/51 128/8 27/1 243/12
1/1 9/8 4/3 3/2 16/9 2
3 7 4 2 1 6 8
-
2 27,63 29,10 31,08 32,74 34,96 36,83 39,33 41,44 43,65 46,62 49,11 52,44 55,25
- 110,5
1 55,25 58,21 62,16 65,48 69,93 73,67 78,67 82,88 87,31 93,23 98,22 104,89 0
110,5 124,3 130,9 139,8 147,3 165,7 186,4 196,4 221,0
1
0 116,41 1 6 5 3 157,33 5 174,62 7 4 209,78 0
221,0 248,6 261,9 279,7 294,6 331,5 372,9 392,8 442,0
2
0 232,82 3 3 0 7 314,67 0 349,23 4 9 419,55 0
442,0 497,2 523,8 559,4 589,3 663,0 745,8 785,7 884,0
3 465,65 629,33 698,47 839,11
0 5 5 1 3 0 8 8 0
Tabela 1 – Valores das frequências das notas no sistema de Afinação Pitagórica a partir do centro tonal Lá.
O Sistema Pitagórico foi analisado a partir valores das notas resultantes mais próximas
na Tabela 1 demonstrados na Figura 4.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
A partir da figura 4 é possível observar que os intervalos: 5ªJ, 4ªJ e 2ªM apresentam as
notas resultantes com frequências iguais às frequências das notas correspondentes no sistema
Pitagórico. No entanto, as notas dos intervalos de 7ªm (-6,14 Hz), 6ªM (10,91 Hz), 6ªm (-6,91
Hz) e 4ªAum (6,04 Hz) apresentam notas resultantes com valores divergentes das frequências
no Sistema Pitagórico. Observa-se que o intervalo Lá 4- Fá 4 apresenta um som resultante com
diferença de apenas -0.94 Hz, mas esta frequência corresponde a nota Fá# 2 que está um
semitom acima da nota indicada por Helmoltz para o intervalo de 3ª M. Situação semelhante
ocorre no intervalo Lá 4- Fá# 4 que apresenta uma diferença de -1,73 Hz, a qual corresponde à
nota Dó# 2 que está um semitom abaixo da nota proposta por Helmoltz.
O sistema de Afinação Justa baseia-se na série harmônica de uma nota específica para
encontrar as razões que representam os intervalos puros, ou seja, sem batimentos. Desta
maneira, foi elaborada uma tabela (Tabela 2) para identificação das frequências de cada nota, a
partir do centro tonal Lá e de acordo com a descrição de Gunther (2008, p. 376).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Afinação Justa
Lá Sib Si Dó Dó# Ré Mib Mi Fá Fá# Sol Sol# Lá
1/1 16/15 9/8 6/5 5/4 4/3 7/5 3/2 8/5 5/3 9/5 15/8 2/1
-1 55,25 58,93 62,16 66,30 69,06 73,67 77,35 82,88 88,40 92,08 99,45 103,59 110,50
1 110,50 117,87 124,31 132,60 138,13 147,33 154,70 165,75 176,80 184,17 198,90 207,19 221,00
2 221,00 235,73 248,63 265,20 276,25 294,67 309,40 331,50 353,60 368,33 397,80 414,38 442,00
3 442,00 471,47 497,25 530,40 552,50 589,33 618,80 663,00 707,20 736,67 795,60 828,75 884,00
Tabela 2 – Valores das frequências das notas no sistema de Afinação Justa a partir do centro tonal Lá.
O sistema de Afinação Justa apresenta dez intervalos nos quais as frequências das notas
resultantes correspondem exatamente às frequências das notas do sistema de afinação (Figura
5). Os únicos intervalos que apresentam valores distintos são a 7ª Maior (-1,84 Hz) e 7ª menor
(-11,05 Hz), no entanto estes intervalos apresentam pouco valor prático, pois apresentam notas
muito próximas à nota mais grave do intervalo gerador.
Observa-se que as notas resultantes nos intervalos 5ª J, 4ªJ, 3ªM e 2ªm reforçam uma
das notas do intervalo gerador. Em outros casos, a nota resultante completa a tríade maior (6ªM,
6ªm, 3ª m) ou a tríade diminuta (4ª Aum). O intervalo de 2ªM também deve ser observado, pois
mesmo apresentando a nota resultante com diferença de frequência igual a zero, a nota Fá 1 é
164
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
uma nota diferente das notas no intervalo gerador, situação que cria uma nota dissonante de
difícil afinação.
Conclusão
As notas resultantes são um fenômeno psicoacústico que podem auxiliar na afinação de
determinados intervalos. Intervalos que apresentam notas resultantes que coincidam com as
notas do intervalo gerador permitem a identificação mais rápida e maior precisão no ajuste da
afinação durante a performance musical. Após a coleta de dados, foi possível observar que o
sistema de Afinação Igual demonstrou ser o modelo com maiores divergências entre sistema de
afinação e notas resultantes. Todos os intervalos apresentaram notas resultantes desafinadas em
relação ao intervalo principal.
O sistema de Afinação Justa demonstrou o maior grau de exatidão na relação entre notas
resultantes e sistemas de afinação, pois foi possível observar que as notas resultantes afinam
perfeitamente nos intervalos de 6ªM, 6ªm, 5ª J, 4ªJ, 3ªM, 2ª M e 2ªm. Neste caso, quando dois
instrumentos tocam um intervalo agudo e fazem os ajustes necessários, o som resultante irá
demonstrar que os intervalos nas vozes superiores estão afinados.
O sistema de Afinação Pitagórica apresenta um intervalo com nota resultante de valor
exato que oferece uma nova possibilidade de afinação. A 2ªM no intervalo Lá4-Sol4 apresenta
Sol 1 como nota resultante. Neste caso, a nota mais grave do intervalo é reforçada e oferece
melhor referência para a afinação do intervalo. A utilização da razão 16/9 para a 2ª Maior torna-
se uma opção para a afinação do intervalo que enriquece o contexto tonal em situações
específicas. Caberá ao músico escolher qual a razão, e consequentemente qual nota resultante
oferece melhor resultado musical para sua execução em cada contexto específico.
Este foi um estudo inicial que apresentou a aplicação da fórmula matemática na
identificação de notas resultantes. No entanto, é necessário um estudo mais aprofundado com
outros modelos incluindo resultantes de segunda e terceira ordem, bem como a identificação
dos sons resultantes realizados com diversos instrumentos. Desta maneira, será possível avaliar
possibilidades práticas para utilização deste conceito e atividades perceptivas para trabalho de
afinação coletiva, como conjuntos de câmara ou orquestra. O processo cognitivo de percepção
e identificação dos sons resultantes pode auxiliar tanto músicos quanto compositores no
desenvolvimento de procedimentos para enriquecimento da sonoridade de intervalos e acordes,
buscando “sensações de sons” específicas inspiradas pelas ideias e propostas de Helmholtz.
Referências
165
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Ricardo Goldemberg
Unicamp
rgoldem@iar.unicamp.br
Resumo: O trabalho investiga como se dá a prática da entoação em performances vocais, sem nenhum
tipo de acompanhamento. O foco do trabalho é um estudo de caso que parte da análise de diversas
execuções de cantores amadores do canto natalino Silent Night, obtidas no Youtube. Os dados para análise
foram obtidos por meio de dois programas: Tarsos e Temperament. Adotando-se alguns sistemas de
afinação e temperamento como modelo, é possível avaliar se nessas performances a prática da entoação se
aproxima de algum deles. Percebe-se que a tendência é que a afinação oscile em uma faixa média entre os
temperamentos pitagórico e igual, e, contrariando o senso comum dos músicos, o maior desvio ocorre
quando comparada à afinação justa.
Palavras-chave: afinação, capacidade de entoação, temperamentos musicais, voz.
Analysis of the intonation practiced in Silent Night: A case-study based on amateurs vocal
performances
Abstract: This paper investigates the intonation in vocal performances, without any kind of
accompaniment. The investigation focus is a case-study , which analyses several amateur performances of
the song “Silent Night” found on Youtube. The data was obtained through the use of two kinds of
software: Tarsos and Temperament. Adopting some systems of tuning and temperament as models, it is
possible to evaluate how close the intonation used in each of these performances is with them. In general,
the tendency is that the intonation oscillates between Pythagorean tuning and equal temperament, and in
disagreement with many musician’s claims, the greatest deviations are observed when comparisons with
just intonation were made.
Key-words: tuning, intonation ability, musical temperaments, voice.
Introdução
A voz humana é um instrumento musical extremamente flexível, capaz de executar
transformações graduais e contínuas tanto no domínio timbrístico quanto no domínio da
frequência. Com relação às frequências emitidas, ela é classificada comumente entre os
instrumentos de afinação não fixa, mais especificamente, dentre os de afinação livre. Sendo
assim, a entoação (capacidade de executar intervalos de maneira musical e equilibrada) numa
performance vocal, estaria teoricamente sempre muito próxima de condições ideais, limitada
apenas pelo treinamento musical e acuidade perceptiva do intérprete, isto é, as relações das
frequências dependeriam apenas de escolhas determinadas pelo músico e da sua capacidade de
167
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
executá-las. Esse processo foi descrito por Henrique (2002, p. 937) como: “mais que uma
tentativa infrutífera de reprodução e verificação rigorosa de uma frequência física exata, é um
compromisso de audição de si mesmo e dos outros, em cada momento, em cada nota”.
No extremo oposto dos instrumentos de afinação livre, situam-se os instrumentos de
afinação fixa, nos quais, durante a execução musical, o intérprete não tem controle algum sobre
as frequências emitidas. Bons exemplos desses instrumentos são os instrumentos de teclas, como
o piano, o órgão e o cravo. Para tornar esses instrumentos executáveis, paralelamente ao
desenvolvimento deles, também foram desenvolvidos vários sistemas teóricos de afinação, com
frequências que atendem a proporções pré-estabelecidas, os temperamentos.
Ainda que, do ponto de vista teórico, a entoação possa ter como referenciais temperamentos
específicos, na prática, ela está sujeita a critérios de ordem pessoal e interpretativos. Do ponto de
vista psicoacústico, a percepção de alturas musicais acontece mediante a identificação de
categorias, conforme apontado em “Some Notes Regarding Tuning and Temperament”, do
Laboratório de Cognição e Musicologia Sistemática da Universidade de Ohio:
(…) the perception of pitch has been shown to be categorical in nature. In vision, many
shades of red will be perceived as "red". Similarly, listeners tend to mentally "re-code"
mis-tuned pitches so they are experienced as falling in the correct category. Mis-tuning
must be remarkably large (>50 cents) before they draw much attention. This insensitivity
is especially marked for short duration sounds -- which tend to dominant music-making.
(Huron, s/d, s/n)
168
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Materiais e Métodos
Os dados da análise foram retirados de gravações disponíveis na internet, através do youtube. Os
arquivos de áudio foram então submetidos à análise de dois programas: Tarsos e Temperament.
O primeiro deles, Tarsos, foi desenvolvido por Six e Cornelis (2011), ambos da University
College Guent, na Bélgica, especialmente para a análise etnomusicológica, e é descrito como
“uma plataforma modular para extrair e analisar alturas e organização de escalas na música” (Six
& Cornelis, 2011, p. 169). O programa “analisa o áudio em blocos de 10 milissegundos, e para
cada bloco estima uma frequência fundamental” (Six & Cornelis, 2011, p. 170), classificando-os
em uma escala com resolução de 1200 centos por oitava.
Dos algoritmos de detecção de alturas disponíveis no programa, optou-se por utilizar o
algoritmo Yin, pois, conforme Cheveigné e Kawahara (2002), ele tem uma taxa de erros
aproximadamente três vezes menor que outros algoritmos, e propriedade necessária para tratar
elementos de ordem musical.
Embora o uso de algoritmos para a análise de sinais de áudio e detecção de alturas seja
confiável, à medida que o sinal torna-se complexo, limitações aparecem, principalmente através
de falsas detecções, que aparecem na forma de parciais ou sub-harmônicos. Por essas razões, uma
análise polifônica não é tão acurada.
Diante do propósito do presente trabalho, essas limitações não foram um problema. O
intuito é verificar a entoação da voz solo, completamente desacompanhada de qualquer tipo de
instrumento ou outras vozes, e verificar quais são as tendências mais comuns em direção aos
temperamentos. A escolha do repertório para tal propósito é que necessitaria ser muito cuidadosa.
Foi então escolhido o canto natalino Silent Night (“Noite feliz” em português) composto em 1818
por Franz Xaver Gruber, e considerado patrimônio cultural imaterial pela UNESCO. Em uma
busca pelo youtube foi possível encontrar diversas performances que se enquadraram nos
requisitos do estudo, e embora não existam informações a respeito da instrução musical dos
intérpretes, é possível perceber que em sua grande maioria, se não totalidade, são amadores. Em
alguns casos foi possível analisar a canção inteira, com o tema sendo cantado duas vezes, porém
em outros casos, durante a repetição os intérpretes adicionaram ornamentos ou outras vozes, e
nesse caso ficamos com a melodia apresentada apenas na primeira vez. Um critério utilizado foi
que a melodia completa fosse apresentada pelo menos uma vez em cada uma das análises.
As gravações obtidas através do youtube foram as seguintes:
169
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Quadro 1 – Lista de gravações consultadas pelo youtube, com respectivos endereços de acesso em 20/09/2016.
O segundo programa utilizado para a análise dos dados foi o Temperament, que é um
programa desenvolvido por Simon Caplette, da Universidade de New South Wales, Australia, e
permite calcular e comparar diferentes temperamentos, através de desvios em centos. Para validá-
lo, comparamos os gráficos do programa com os temperamentos descritos em Arakawa (1999) e
Hall (1991), e ele se mostrou perfeitamente compatível com esses autores.
Os dois programas utilizados para esta pesquisa são gratuitos e de uso livre.
Resultados
Para cada uma das performances, o programa Tarsos gerou um histograma de classes de altura
(pitch-classes). Os valores obtidos pelo programa são mostrados na seguinte tabela, com a média
de desvio em centos das várias aparições de cada grau da escala ao longo da peça:
Tabela 1 – Desvio médio em Centos de cada grau diatônico a partir do temperamento igual
170
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Optamos em tomar a tônica, 1º grau, como referência, e por esta razão, o desvio dela é
sempre zero.
Esses dados foram inseridos no programa Temperament, que comparou essas informações
com os sistemas de afinação pitagórico, justo e igual, dando o desvio padrão a partir de cada um
deles. O desvio padrão é dado a partir da média dos valores em centos dos desvios de todos os
graus (Caplette, s/d, s/p). Também foi apontado qual seria o temperamento mais próximo de cada
performance, dentre uma série de temperamentos contidos na memória do programa, e o desvio
padrão a partir dele.
Nome do vídeo Desvio a partir Desvio temp. Temp. justo Desvio a partir do temp.
do temp. igual pitagórico mais próximo
Silent Night A Capella Cover 14 centos 15 centos 15 centos 12 Werckmeister III
171
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Discussão e conclusões
Observando a tabela dois, é possível perceber que a entoação nas performances analisadas fica
entre a afinação pitagórica e o temperamento igual. Os dados obtidos reiteram em parte com os
dados obtidos por Goldemberg (2014), Silva e Goldemberg (2016a), Silva e Goldemberg
(2016b), Greene (1937), Nickerson (1949) e Mason (1960). Levando-se em conta os três sistemas
de afinação tomados como padrão do estudo, o maior desvio ocorre com relação ao sistema justo,
e no geral, as performances se situam entre os sistemas igual e pitagórico.
Comparando os dados obtidos com outros estudos que utilizaram os mesmos métodos de
análise: Goldemberg (2014), Silva e Goldemberg (2016a), Silva e Goldemberg (2016b), é
possível perceber que a performance de profissionais e amadores seguem a mesma tendência
geral, situando-se entre as afinações pitagórica e igual. A principal diferença está na variabilidade
das frequências emitidas dentro de cada uma das categorias de altura, que podem ser observadas
nos gráficos gerados pelo programa Tarsos, mas que infelizmente por uma questão prática não
poderão ser reproduzidos aqui: as performances de profissionais tocando violino, violoncelo e
flauta mostram uma pequena variação dentre as frequências emitidas correspondentes a cada
classe de altura se comparadas às performances de canto amador, as razões para tanto podem ser
duas: 1) o canto tem sua entoação ainda mais livre do que os instrumentos de corda, pois estes
ainda contam de certa maneira com a referência das cordas soltas, 2) além do presente estudo ter
como enfoque o canto, os seus intérpretes são amadores, o que certamente também contribui para
essa variabilidade. Outro aspecto que difere entre essas pesquisas é o desvio padrão a partir dos
temperamentos iguais e pitagórico: nas performances profissionais os desvios padrão obtidos
situavam-se entre 2 e 10 centos, e neste presente estudo, situam-se entre 8 e 20 centos, o que é
justificável por se tratarem de amadores. São considerados aqui como desvio padrão o menor
valor para cada performance dentre afinação pitagórica e temperamento igual. Esses dados
172
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
corroboram a afirmação de Burns (1999, p.257), de que os padrões de entoação são aprendidos
dentre os intervalos das escalas em uso em uma determinada cultura, e consequentemente, a
habilidade de entoação depende da capacidade do músico de reproduzir essas categorias
aprendidas. Sendo assim, é natural que músicos amadores tenham uma menor precisão e maior
variabilidade na entoação.
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173
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: Os processos cognitivos envolvidos na percepção rítmica têm sido objeto de estudo de
diversas pesquisas na área de cognição musical. Dentro do tema, alguns conceitos como pulsação,
metro, ritmo e agrupamento são comumente e, em geral, separadamente tratados. Distinguindo, em
primeiro lugar, estes conceitos, o presente trabalho apresenta algumas formulações teóricas a respeito
do metro e relaciona tais formulações a questões cognitivas da percepção rítmica, como nossa
sensibilidade a regularidades do tempo musical, a organização mental do ritmo, as bases da percepção
do metro, dentre outras. Num segundo momento, refletiremos sobre possíveis aplicações destas ideias
à prática de treinamento auditivo. Serão ainda expostos e discutidos tópicos relacionados a esta
disciplina e ao aprendizado musical, também com base em pesquisas de cognição musical,
enfatizando a relevância da percepção do metro nestes contextos. A abordagem metodológica é
bibliográfica, sendo as principais referências para este trabalho as teorias e pesquisas de autores como
Lerdahl e Jackendoff (1983), Karpinski (2000), London (2012) e Thompson (2015).
Palavras-chave: metro, ritmo, cognição, percepção, treinamento auditivo.
Cognitive processes of meter perception and possible relations with ear training
Abstract: The cognitive processes involved in rhythmic perception have been the object of study of
several researches in the area of musical cognition. Within this matter, some concepts like beat, meter,
rhythm and grouping are usually and, in general, separately treated. Primarily distinguishing these
concepts, this paper presents some theoretical formulations about meter and relates these formulations
to cognitive issues of rhythmic perception, such as our sensibility to regularities of musical time, the
mental organization of rhythm, the basis of meter perception, among others. Then, we will reflect on
possible applications of these ideas to the practice of ear training. Topics related to this discipline and
musical learning will be exposed and discussed, also based on musical cognition research,
emphasizing the relevance of meter perception within theses contexts. The methodological approach
is bibliographic, and the main references to this work are the theories and researches of authors
like Lerdahl & Jackendoff (1983), Karpinski (2000), London (2012) and Thompson (2015).
Keywords: meter, rhythm, cognition, perception, ear training.
Introdução
As habilidades auditivas que um músico deve desenvolver englobam desde o discernimento
de aspectos como textura, timbre, tessitura e dinâmica até tarefas mais específicas
normalmente empregadas na disciplina de treinamento auditivo, como solfejos, ditados e
transcrições. Pesquisas na área de cognição musical revelam um crescente interesse nos
processos cognitivos envolvidos na aquisição de tais habilidades. Segundo Hallam (2006),
progressos consideráveis foram feitos no desenvolvimento de nossa compreensão das
estruturas e funções cerebrais envolvidas no processamento e aprendizado de música.
Em "Aural Skills Acquisition: The Development of Listening, Reading, and Performing
Skills in College-Level Musicians", Karpinski (2000) procura oferecer uma base consistente
174
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
1 A tradução do termo meter como "metro" pode ser observada em trabalhos que constam nos anais das últimas cinco edições
do SIMCAM (2012-2016). Por isso, consideramos que a palavra "metro" encontra-se devidamente integrada ao vocabulário
nativo.
175
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
2
Categorização é o processo cognitivo pelo qual reconhecemos e classificamos objetos.
176
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Os autores esperavam uma maior consistência nas respostas aos estímulos quando um
contexto métrico fosse apresentado, além de mudanças em tamanho e forma das categorias
rítmicas dependendo desses contextos. Suas hipóteses foram confirmadas e observou-se que a
identificação de estímulos foi facilitada quando apresentada num contexto métrico apropriado.
Thompson ainda salienta que:
Uma vez estabelecida a estrutura métrica, ela guia nossa atenção e nós tendemos a
continuar percebendo pontos regulares de ênfase mesmo quando não há eventos
musicais presentes, como uma nota ou acorde. [...] O metro é parcialmente
subjetivo, e nós podemos inferir pulsações e acentos que não estão objetivamente
presentes (2015, p. 97).
3 Este termo se refere ao processo de sincronização de nossas expectativas temporais com eventos que ocorrem no ambiente
(London, 2012).
177
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
cognição, ele salienta que, além dos fatores biológicos envolvidos em comportamentos
métricos de atenção e sincronização, estes também são aprendidos, ensaiados e praticados.
A antecipação de pulsações regulares subsequente à percepção do metro é um fenômeno
que depende muito mais da capacidade do ouvinte de gerar padrões métricos do que dos
próprios estímulos sonoros, que não precisam ser absolutamente constantes para que a
interpretação inicial no metro permaneça a mesma. "Uma vez estabelecido um padrão métrico
claro, o ouvinte apenas o renuncia se houver evidências fortemente
contraditórias" (LERDAHL & JACKENDOFF, 1983, p. 17), como, por exemplo, o
surgimento claro de um padrão métrico alterado.
Honing (2013) salienta que é possível que haja uma predisposição processual da
cognição humana de extrair regularidades hierarquicamente estruturadas de padrões rítmicos,
mesmo que estes sejam complexos. Esta propensão envolve, por parte do ouvinte, um senso
de diferenciação do estímulo em "dois, três ou quatro", por exemplo; um senso de metro que
London chama de subjective metricization, que pode variar devido a fatores como idade,
treino e enculturação. Por se tratar de uma percepção hierárquica, deve-se considerar neste
processo o papel da acentuação.
Segundo Berry, o acento denota uma força relativa de um evento sonoro, se comparado
com seus eventos adjacentes; unidade métricas são iniciadas com acentuações, por isso "a
questão do metro é a questão do acento" (1987, p. 317). Podemos relacionar esta afirmação ao
que Lerdahl e Jackendoff (1983) definem como "acentos métricos", em que uma pulsação é
relativamente forte no contexto métrico. Este tipo de acento é visto pelos autores como uma
concepção mental, inferida pelos padrões de acentuação da superfície musical.
A abordagem comportamental do metro discutida aqui, por fim, posiciona a questão da
acentuação também no ouvinte "carreado" (entrained). London (2012) admite que este é um
dos aspectos atraentes desta abordagem, pois os problemas comumente encontrados nas
concepções de acentuação quando esta se encontra "na música" são sutilmente solucionados
pela acentuação como fenômeno cognitivo. "Quando o metro é encarado como o carreamento
do ouvinte à superfície musical, a acentuação métrica se torna um efeito colateral natural do
processo de atenção" (p. 19).
A inferência do ouvinte se deve também à natureza seletiva deste processo de atenção,
que nos leva a focar nos eventos temporais mais salientes em meio a um excesso de estímulos
do qual não somos capazes de extrair toda a informação. Assim, o senso de metro
possivelmente surge de uma necessidade que temos de agrupar os estímulos, mesmo que
178
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
179
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
dos alunos neste tipo de atividade seria ajudá-los a construir um vocabulário sólido dos
padrões comuns, já que os alunos que não apresentam dificuldades são aqueles que possuem
justamente a habilidade de reconhecer padrões.
De acordo com Drake, "um dos principais fatores que influenciam a dificuldade em
reproduzir ritmo pode ser a dificuldade em perceber a estrutura deste ritmo: um ritmo fácil de
perceber será relativamente fácil de reproduzir" (1993, p. 33). Como mencionado
anteriormente, estruturas métricas facilitam a eficiência do processamento de padrões
rítmicos. Desta forma, fica evidente a importância do estudo cauteloso do pulso e então do
metro previamente ao estudo de figuras rítmicas. Karpinski corrobora esta ideia e afirma que a
regência é o meio musical e prático de representar o metro, pois combina a percepção de
pulsos com uma organização hierárquica destes pulsos, e só deve ser usada neste estágio, e
não antes. O autor ainda expõe que a percepção do metro é uma habilidade essencial à
performance de qualquer música métrica e, apesar disso, é "raramente abordada
separadamente nos livros didáticos." (2000, p. 22).
Dentro da disciplina de treinamento auditivo, a escuta de todos os elementos que fazem
parte da estrutura musical é de reconhecida importância. Dedicar-se pouco à prática da
percepção do pulso e do metro ou omitir este estudo auditivo prévio deixa lacunas no
aprendizado. Estas podem ser responsáveis por dificuldades posteriores envolvidas na
concepção, execução, transcrição e leitura de figuras rítmicas. Na hipótese de o estudante de
música conhecer toda a teoria rítmica de fórmulas de compasso e figuras e ainda encontrar
dificuldades em sua execução, sua experiência pode ser enriquecida com o sentido musical
que a percepção do metro ajuda a construir.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: A Etologia é uma ciência que estuda o comportamento de animais (incluindo humanos) de
modo a obter informações sobre seu estado emocional através da observação de seus padrões de
comportamentos, gestos e expressões. Tal ferramenta pode ser utilizada no estudo da emoção evocada
pela música, tanto com relação à escuta quanto à performance musical. Este trabalho apresenta o
desenvolvimento teórico atual de uma pesquisa de doutorado que investiga os possíveis significados
musicais gerados a partir de manipulações de elementos sonoros, em termos de significados
expressados e/ou percebidos, bem como os consequentes efeitos emergentes nos ouvintes, por meio
dos significados evocados. Este trabalho relaciona a abordagem da psicologia analítica, sobre os
símbolos e o inconsciente, com a abordagem da etologia, sobre a comunicação animal, em relação aos
processos cognitivos e neurais, e os efeitos comportamentais provocados pela música no organismo
do ouvinte.
Palavras-chave: sentido musical, emoção musical, comunicação não verbal.
1. Introdução
Música, tanto quanto linguagem, é um fenômeno que muitos estudiosos consideram florescer
apenas entre humanos. A origem da música remonta à história e, juntamente com a
linguagem, vem ocorrendo em todas as comunidades que se tem registro (Patel, 2008). Apesar
da origem indeterminada, é provável que a música tenha sido iniciada a partir da tentativa de
imitação, por grupos humanos, dos padrões sonoros encontrados na natureza, como as
regularidades acústicas encontradas no som dos pássaros, dos insetos e das tempestades.
Frequentemente, em seus processos criativos, músicos inspiram-se em aspectos acústicos de
182
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
paisagens sonoras1 , que foram coletados ao longo dos séculos e assim passaram a fazer parte
do inconsciente coletivo, termo criado por Carl Jung, referente às estruturas da mente
inconsciente que são compartilhadas por indivíduos da mesma espécie (Jung, 2002).
Complementarmente a este conceito, diversos pesquisadores (Panksepp & Bernatzky,
2002; Trehub, Hannon & Schachner, 2010; Juslin & Laukka, 2003) defendem que, desde sua
origem, a música tenha sido uma extensão da comunicação afetiva dos humanos (sons
emocionais inatos), ou seja, os elementos prosódicos das nossas expressões vocais e os
movimentos rítmicos regulares de nosso aparato motor (Panksepp & Bernatzky, 2002), os
quais funcionam como estímulos comunicativos (sinais etológicos) capazes de comunicar
estados emocionais. Com o surgimento da comunicação verbal (com significado semântico)
ela passou a apresentar fortes traços culturais, decorrentes da expansão do neocortex cerebral,
o que permitiu o surgimento do pensamento imaginativo (Panksepp, 2009).
Pode-se dizer que a voz humana é capaz de transmitir valência2 , estimulo fisiológico e
intensidade emocional, por meio de suas modificações nos domínios espectral e temporal
(Schlaug et al., 2013). Este fato fornece evidência para se supor que o trato vocal tenha sido o
primeiro instrumento musical, seguido pelo tambor (Panksepp, 2009). Além disso, o que pode
ter fomentado a transição da utilização de sons emocionais animais primitivos para as
habilidades proto-musicais, é a fala/canto maternal, juntamente com a responsividade
emocional-musical dos bebês (Trehub, Hannon & Schachner, 2010; Panksepp, 2010).
Esse aspecto comunicativo vocal (Panksepp, 2009), inato e inerente à nossa espécie,
influenciou as respostas emocionais do indivíduo ao ser exposto à música. Os elementos
prosódicos das expressões vocais fundamentaram os mecanismos subjacentes à evocação de
emoções, os quais ocorrem de maneira inconsciente, e cujo processamento cerebral é, em
grande parte, feito em regiões “primitivas”, comuns também a outras espécies de animais,
como o sistema límbico. Não há maiores evidências de que outros animais possuam uma
“mente musical”, mas há inquestionáveis evidências de que esses, especialmente outros
mamíferos, possuem “mentes emocionais”. Os sentimentos afetivos primitivos de outros
animais, assim como os nossos, também emergem das regiões cerebrais subcorticais
(Panksepp, 2009).
1Termo cunhado por Murray Schafer (soundscape) que denota um ambiente acústico, similar ao ambiente
visual que compõe uma paisagem, e que pode ser facilmente percebido e identificado pelo ouvinte.
2Em psicologia, valência refere-se a qualidade que se estende entre atração (valência positiva) e aversão
(valência negativa). Em música, esta dimensão costuma representar a extensão de emoções entre o alegre e o
triste.
183
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
som enquanto inala), fazendo com que o timbre da voz se torne mais brilhante, com
glissandos melódicos, fonação ingressiva, e fala entrecortada. Tais características são muito
evidentes e por isso o desespero pode ser considerado um sinal etológico. Ambos tipos de
comunicação ocorrem simultaneamente e com frequência, devido às funções adaptativas
relacionadas a estes estados emocionais.
A tristeza, sendo uma pista, pretende mudar o próprio comportamento do indivíduo, ao
induzir o realismo depressivo, que o coloca em um estado ruminativo, o que abaixa as
expectativas e o faz contemplar estratégias mais adaptadas ao ambiente. O desespero, sendo
um sinal etológico, pretende mudar o comportamento dos observadores que interagem com tal
indivíduo, ao encorajar em outros indivíduos, por meio de tais comportamentos, uma reação
mais altruísta. Todas essas características podem ser observadas na música (Huron, 2008).
Em termo de construções melódicas, escalas com intervalos de alturas (pitches)
menores do que o normal ou habitual, assim como informa a abordagem da etologia, têm uma
maior tendência a ser considerados mais tristes (Huron, 2010). Tendo em vista que, na cultura
ocidental, 75% das músicas são feitas na escala/campo harmônico maior, os indivíduos desta
cultura tem uma maior tendência a criar expectativas de escutar uma música como que
composta na escala maior. Por isso, eles teriam a tendência de considerar as músicas
compostas na escala menor como tristes, ou seja, por conterem intervalos menores que o
normal, o que não necessariamente ocorreria para indivíduos que nasceram e cresceram, por
exemplo, na Bulgária, uma vez que naquela comunidade, a escala mais comum é a escala
menor.
Mas por que exatamente o modo menor soa triste, e não outras escalas que também
tenham intervalos de alturas menores do que o normal? Modificar algumas alturas em relação
ao modo maior, faz com que alguns intervalos tornem-se menores, mas outros tornem-se
maiores. Se todas as alturas em uma escala fossem igualmente possíveis e todas as sequências
de altura fossem igualmente comuns, então a modificação de um tom na escala não teria
qualquer efeito na média do tamanhos dos intervalos. Acontece que, na música “real”, certos
graus da escala tem maior probabilidade de ocorrer, e nem todas as sequências de alturas são
igualmente comuns, por isso realizar alterações em alguns graus da escala afeta a média dos
tamanhos dos intervalos melódicos. Huron (2010b) realizou um experimento, com 300
melodias no modo maior, sobre o efeito de alterações específicas em graus da escala, na
média dos tamanhos de intervalos melódicos. Por exemplo, diminuir os graus 3 e 6
combinados (escala menor harmônica) gera as menores médias nos tamanhos de intervalos.
185
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Aumentar apenas o grau 4 (modo lídio), gera as maiores médias nos tamanhos de intervalos,
fazendo com que as músicas respectivamente tornem-se mais tristes (menor harmônico) e
mais alegres (lídio) do que o normal.
186
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
símbolos. Ao contrário, é o pensamento simbólico que constitui o fato cultural ou social. Estes
sistemas com função simbólica constituem as leis estruturais do inconsciente (Garcia-Roza,
2009). Sendo a música parte fundamental da cultura de uma comunidade, ela também é
constituída pelos símbolos e obedece às suas funções simbólicas. Uma das áreas que se baseia
neste conceito como papel determinante do processo composicional é a música composta para
filmes. Pode-se dizer que esta é composta com o propósito de transmitir mensagens à psique
do espectadores, com as quais se pretende persuadi-los a experienciar o arcabouço emocional
determinado pelo roteiro. Nesse caso específico, a música comunica um significado simbólico
implícito às imagens visuais (Green, 2010). Outro interessante domínio da arte musical é a
música instrumental, a qual não acompanha a significação semântica contida na letra da
canção, mas que também tem a habilidade de induzir a mente inconsciente do ouvinte, de uma
maneira simbólica, para que este responda emotivamente, dentro do contexto de suas próprias
experiências de vida (Nebenzahl, 2000).
187
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
5. Considerações Finais
As linhas epistemológicas (psicologia analítica, cognição musical e etologia), apresentadas
como sustentação teórica para o presente artigo são distintos caminhos de investigação que se
convergem. Nota-se que a comunicação acústica afetiva dos animais (sobretudo dos
mamíferos), ainda que ocorra de maneira direta e inata, decorre da manipulação de aspectos
físicos intrínsecos às espécies, acarretando em alterações acústicas que, sem seus contextos
evolutivos históricos (cujas informações são armazenadas no inconsciente coletivo das
comunidades), não carregariam em si qualquer significado intrínseco; como é o caso da
música.
Ao observarmos as mensagens comunicadas pelos animais, notamos seu caráter
simbólico, que conecta os estados internos, observados por meio de comportamentos, com
seus significados. Para exemplificar, podemos tomar o uivo de um lobo, que não carrega em
suas características sonoras qualquer significado inerente, mas que transmite simbolicamente
seu estado interno. Assim também ocorre com a música, que a princípio não carrega um
significado intrínseco, mas que se tomada como uma variação mais sofisticada, derivada da
comunicação afetiva animal, permite obtermos indicações mais detalhadas de seus
significados simbólicos. Podemos observar o estudo da etologia, que oferece conceitos
reveladores neste quesito. Os sinais e as pistas podem ser entendidos como configurações
simbólicas dos afetos, cuja correspondência musical é significativa.
188
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Por fim, esta pesquisa almeja contribuir com aspectos envolvidos neste campo
interdisciplinar, o que poderá fomentar o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre:
métodos de análise musical baseado nos significados simbólicos emergentes, estudos sobre a
diferenciação de estilos ou gêneros musicais (com base nos significados simbólicos que estes
contém), e outros desdobramentos, em outras áreas de pesquisa, além da cognição musical.
6. Referências
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190
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Daniel Amato
Instituto de Biociências / Rio Claro / UNESP
maestrodanielamato@gmail.com
Abstract: Choir practice is a musical activity closely tied with time and space, where its singers
members traditionally must be simultaneously in the same location at the same time. Recent advances
in information and communications technologies (ICT) has allowed the creation of musical virtual
reality environments such as in the project entitled “Virtual Choir”, by Eric Whitacre, where the
participants of a choir are remotely located and sometimes hadn't even meet each other in person. This
work seeks to theoretically explore the intervenient technological, methodological and musical
impacts in the remote cooperation of singers participants of virtual choirs, as well as investigate what
are the possible differences in the emotional state of their members.
Keywords: choir, ICT, emotion musical, virtual reality
Resumen: El coro es una actividad musical fuertemente ligada al tiempo y al espacio, donde
tradicionalmente sus miembros cantantes tienen que ser necesariamente de forma simultánea en el
mismo lugar. Con los avances en tecnologías de la información y la comunicación (TIC) se ha
convertido en posible crear entornos de realidad virtual musicales, como en el proyecto Virtual Choir,
el trabajo de Eric Whitacre. Este busca explorar filosóficamente las interveniências tecnológicas de la
estética musical de el corales (virtual y locales) y el posibles impactos en el estado emocional de sus
miembros.
Palabras clave: coral, TIC, musicales emoción, realidad virtual.
Introduction
It can be said that at the turn of the millennium the internet and its virtual environment of
computing and social networks (also known as the Cyberspace) have become ubiquitous for
all contemporary activities, contributing and influencing the sociocultural modus operandi of
work, education, leisure and arts. In response to this phenomenon, researches have been
published, in the most diverse areas of knowledge, investigating the impacts of cyberspace on
intra and interpersonal relationships, especially in the context of leisure (PEREIRA, 2007;
GARBIN, 2003). More precisely, this researches refer to the leisure time spent by individuals
in cyberspace, where cultural experiences are also aggregated in acquired habits (during the
process of socialization) and in the psychological predispositions of each user. This
individuals, as a subject of multiple actions, can be defined by variables related to their
sociocultural structure in cyberspace, which encompasses not only sociocultural aspects, but
also economical, ideological, and anatomical ones (CUNHA, 1987).
191
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Demand for leisure in the cyberspace has steadily increased, mainly with respect to
video games. Responding to this demand, the ICT industry is constantly launching
innovations such as new platforms, games and their versions, constantly produced and
reproduced from / to the contemporary generation of this interactive ICT revolution. These
users, in addition of being naturally adapted for virtual reality, are often their own designers,
programmers and players. This also allows its customers to transcend physical barriers,
hitherto insurmountable, such as simultaneous, multiple and seemingly immediate remote
communication (FERRARI, 2007; BRITO, 2006). Adherence to the cyberspace is often
motivated by a myriad of possibilities for personal improvement and development, as well as
by its innumerable ludic perspectives. These are aspects that may be the required incentive for
inserting its users into existing leisure activities (MARCELLINO, 1990; SCHWARTZ,
2003 ), adding to the fact that they can also develop skills by means of distance education
(KENSKI, 2007; MIRANDA, 2007).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
different countries that rehearsed and recorded several arrangements without these singers
meet each other in person (YOUTUBE, 2016).
However, the evolution of activities related to the development of choral singing in the
cyberspace is just beginning. It has not yet been fully understood and explored, both in the
academic literature as well as by practitioners of this musical modality. It is known that choral
singing practiced in the traditional way (with singers simultaneously present in the same
local) normally brings an emotional gratification to the participants, possibly based on the
achieve of synchrony of musical aspects, such as rhythm, pitch tuning and well balanced
loudness. This is known as Entrainment. In music, this term refers to the spontaneous
synchronization of gestures, behaviors and even the emotional state of the participants,
mediated by the synchronous communication of musical aspects. Some ethnomusicologists
suggest that entrainment has an evolutionary origin, where the hominids (the predecessors of
contemporary humans) entered a type of collective trance through sound synchronization that
decreased individual interests (i.e. survival of the self) while increased collective ones (i.e.
survival of the group). Musical entrainment has been used along the history to facilitate and
promote the coordination of collective activities that are fundamental for the survival of the
group, such as harvests, seine fishing, group hunts and even wars (JORDANIA, 2011). That
may be the reason why there is no records (to our knowledge) of any human community in
any given place or time of history that didn't have music.
Virtual choirs are in the frontier between collective and remote. The offering of a
rewarding experience of collective identity, at the same time that it is a remote activity done
in differentiated time (going from the rehearsals to the performance of each participant)
brings interesting philosophical questions, instigated by the sense of understanding how this
musical modality is processed and performed in cyberspace, especially in regard to the
emotions evoked by the performance, in the singers and in the audience.
The human social nature seems to be the factor that, at any scale, promotes the
spontaneous creation of virtual communities, which brings the opportunity to exchange
experiences in a faster and wider level, thus influencing the autopoietic1 emergence of musical
aspects, supplanting temporal, geographical and even idiomatic limits. Thus, we believe that
there is a geniuine need to investigate how the participants' emotions are processed during
virtual choir singing activities. Despite its collective result, a virtual choirs also requires the
previous and solitary work of each participant in rehearsing and also recording their
1
Autopoiesis refers to a system that is capable of autonomously reproduce and maintain itself.
193
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
individual performances before turning it into collective. This work also focusses on the
investigation of the psychological impacts on the participants of virtual choirs when they
watch their final presentation resulting from their contributions, made in differentiated places
and times.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Conclusions
For us, it is intriguing and therefore interesting to understand the rules and laws regarding the
adherence of Virtual Choir Singing, specially in terms of the emotions that are evoked and the
expectations associated with this leisure activity. Regarding psychosociocultural aspects, there
are several concerns that arise from prerogatives here presented, such as: What are the
emotional states that these singers (usually amateurs) manifest as part of this virtual activity.
What is the musical individual perspective of Virtual Choir participants. What factors of
adhesion impels an individual to choose and engage in this modality of leisure activity. These
and other questions are still open, and compound the fundamental motivation of this study,
seeking to broaden the reflections and understandings about the impact of the use of ICTs in
the field of leisure for the ones who develop a musical activity (in this case, Virtual Choir).
This research, currently under development, has a qualitative nature; a methodology
that seems to fit for this type of study, because it allows to elaborate a initial and deeper
understanding on the subjective aspects here involved (MINAYO; SANCHES, 1993). This
project intendeds to be developed through the union of bibliographical and exploratory
research, as a way to expand the horizons of knowledge coming from the retrieval of
subjective data and the publishing of its discoveries. This research aims to bring a greater
consistency to the reflections proposed here, about Virtual Choirs, thus providing the
cooperation with several fields under which this interdisciplinary theme is studied (GIL,
1996).
In future researches, we plan to explore some concepts based on ICTs to investigate
behavioral changes in participants of virtual choirs, especially regarding their values and
concepts on this activity. This may represent a change in the understanding of well known
physical (present, local) concepts such as solid and heavy, liquid and light (BAUMAN, 2001).
In this perspective, one can even oppose the idea of Lévy (1996), when he states that the
virtual does not oppose the real, since it opposes the present, that is, subverts stable physical
parameters, of the 19th century. Virtual undergoes a process of dynamic updating, but virtual
and real are merely of different natures, not mutually exclusive. Virtual and real complement
each other (MONAGHAN, 2012).
References
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Este estudo tem como objetivo apresentar possibilidades para fundamentar um referencial
teórico que dialogue com o tema de pesquisa sobre interações musicais via webconferência que tem
como lócus de pesquisa o curso de Licenciatura em Música a Distância da Universidade de Brasília
(UnB). Assim, realizou-se uma pesquisa de cunho bibliográfico e esta evidenciou como referencial
teórico, a abordagem sistêmico-relacional da interação mediada por computador proposta por Primo
(2003; 2008) como a mais apropriada para se investigar como ocorrem as interações musicais via
webconferência no referido curso, bem como entender como os interagentes se planejam, identificar
as interações que se estabelecem neste contexto e compreender o olhar dos interagentes no processo.
Espera-se que esta proposta de referencial teórico provoque discussões em relação à interação em sua
complexidade, valorizando a ação entre os interagentes e, que possibilite novos encaminhamentos
para atualizações e mudanças em relação aos processos interativos síncronos online em cursos de
música a distância em geral.
Palavras-chave: interação, sistemas dinâmicos, ação/atuação, licenciatura em música, educação a
distância.
Introdução
Este estudo tem como objetivo apresentar possibilidades para fundamentar um referencial
teórico que dialogue com uma pesquisa de mestrado em andamento que traz em evidência o
tema interações musicais via webconferência e tem como lócus de pesquisa o curso de
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Cruz e Barcia (2000) ainda salientam que na EaD, a videoconferência é um dos recursos
tecnológicos que mais se aproxima do contexto da sala de aula convencional. Cruz (2001, p.
58) também enfatiza que, “No caso da videoconferência usada para fins educativos, pode-se
dizer que a sala de aula é virtualizada, ao permitir que a aprendizagem ocorra numa interação
de co-presença mediada entre professores e alunos”. Não obstante, Carneiro, Tarouco,
Maraschin (2001, p. 514) destacam que “A videoconferência recria o ambiente de sala de
aula, mesmo quando os participantes estão distantes”. A autoras ainda complementam que “há
a sensação de presença dos participantes: a conexão visual e a interação entre os participantes
auxiliam na compreensão e os ajuda a sentirem-se próximos uns dos outros” (Carneiro,
Tarouco, Maraschin, 2001, p. 514).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
Este estudo se apresenta como pesquisa de cunho bibliográfico e fundamenta-se nas
proposições de Gil (2002). Em geral, a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida com base em
material já elaborado, constituindo principalmente de livros e artigos científicos” (Gil, 2002,
p. 44). Portanto, as informações contidas neste estudo, compreendem livros, artigos
científicos e uma tese. E, tem o intuito de dialogar com abordagens teóricas relacionadas ao
conceito de interação.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Quando se fala de interação na EaD, uma teoria muito difundida é a teoria da interação
a distância (distância transacional). Para Moore e Kearsley (2013, p. 295), na teoria da
interação a distância, a própria distância “é um fenômeno pedagógico, e não simplesmente
uma questão de distância geográfica”, portanto, o aspecto que pressupõe ser mais importante
se refere ao “efeito que a separação geográfica tem no ensino e aprendizagem, especialmente
na interação entre alunos e professores, sobre a concepção de cursos e sobre a organização de
recursos humanos e tecnológicos” (Moore, Kearsley, 2013, p. 295).
Ainda considerando a interação no contexto educacional da EaD, duas correntes
interacionista se destacam: a epistemologia genética de Piaget e a Teoria Sócio-histórica de
Vygotsky. Neste sentido, Barbosa (2012, p. 85) salienta que a “A teoria de Piaget prioriza a
interação entre sujeito e objeto” destacando que o conhecimento cognitivo se evolui a partir
da “ação do indivíduo sobre o objeto de seu conhecimento”. Por outro lado, para Vygotsky, “a
interação social, a cultura e a linguagem exercem forte influência sobre a
aprendizagem” (Barbosa, 2012, p. 85). A autora ainda enfatiza que, no cenário da EaD,
a teoria socioconstrutivista ou sociointeracionista de Vygotsky atende às
peculiaridades dessa nova abordagem de ensino/aprendizagem, em razão de
enfatizar a interação social como fator que propicia trocas recíprocas que, na
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Algumas considerações
Este estudo teve como proposta apresentar possibilidades para fundamentar um referencial
teórico para uma pesquisa de mestrado em andamento que traz como tema as interações
musicais via webconferência no curso de Licenciatura em Música a Distância da UnB.
Portanto, foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico no intuito de verificar teorias que
fundamentem as interações que ocorrem em contexto de ensino e aprendizagem a distância.
Desta forma, evidenciou-se como principal proposta, a abordagem sistêmico-relacional da
interação mediada por computador sob a ótica de Alex Primo (2003; 2007).
Assim, considerando as interações musicais via webconferência por meio de uma
perspectiva sistêmica, é viável investigar como ocorrem as interações via webconferência no
curso de Licenciatura em Música a Distância da UnB e, especificamente, entender como os
interagentes se planejam, identificar as interações que se estabelecem neste contexto e
compreender o olhar dos interagentes no processo, só assim, enquanto pesquisadores,
poderemos ampliar o olhar para o fenômeno e construir conhecimentos levando em
consideração as experiências do outro, pois conforme salienta Demo (2012, p. 12) “Sendo o
olhar naturalmente autorreferente, [...] (vemos os outros, não como são, mas como somos),
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mas podemos, por razão de método, cuidar de entender o outro, até onde possível, a partir
dele”. Neste sentido, a abordagem sistêmico-relacional da interação mediada por computador
é relevante, pois, conforme salienta Primo (2008, p. 57-58) “Ao valorizar o relacionamento
entre os interagentes, as conclusões que daí decorrem oferecem novos encaminhamentos”.
Espera-se então, que esta proposta de referencial teórico provoque discussões em
relação à interação em sua complexidade, valorizando a ação entre os interagentes e, que este
referencial teórico possibilite “novos encaminhamentos” para atualizações e mudanças em
relação aos processos interativos síncronos e online em cursos de música a distância em geral.
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Anais... XIV Encontro Regional Centro-Oeste da ABEM, Cuiabá. Extraído de
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viewFile/2169/701
Kruse, N. B., Harlos, S. C., Callahan, R. M., Herring, M. L. (2013). Skype music lessons in
the academy: Intersections of music education, applied music and technology. Journal of
Music, Technology & Education, v. 6, n. 2, p. 43-60. University of North Texas
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Anderson Toni
Universidade Federal do Paraná
andersontoni12@gmail.com
Resumo: Arno Roberto von Buettner foi um pianista, compositor e arranjador brasileiro que, em
seu método intitulado “Expansão harmônica: uma questão de timbre”, propôs uma nova forma de
harmonização pianística para canções do repertório popular urbano brasileiro baseada em uma
hierarquia de dissonâncias na relação melodia/acorde que resulta em uma harmonização moderna e
estilizada. O objetivo desta pesquisa foi comparar a influência da aplicação das técnicas de
expansão harmônica criadas por Buettner com outras técnicas de harmonização tradicionais, em
termos de respostas emocionais. 20 participantes (músicos e não músicos) participaram de um
experimento que envolveu tarefas de escuta sobre cinco trechos musicais de cerca de 40 segundos
do repertório popular urbano brasileiro, apresentado em ordem aleatória entre os participantes, em
quatro versões: (1) cantada; (2) instrumental para conjunto; (3) instrumental para piano solo a
partir de harmonizações tradicionais; e (4) instrumental para piano solo a partir de harmonizações
feitas por Buettner. Após ouvir cada trecho musical, os participantes deveriam escolher a qual
estilo musical cada trecho apreciado pertencia, por meio de um este de escolha forçada. Eles
também preenchiam escalas emocionais (alcance 0-10) referentes ao quanto eles consideraram a
música como sendo agradável/desagradável (valência afetiva) e calma/ativa (arousal). Por meio do
delineamento experimental 4 (versões) x 5 (trechos musicais), o teste ANOVA mostrou diferenças
estatísticas significativas para trechos musicais executados por Buettner sobre os níveis de
valência afetiva e arousal em relação aos outros trechos apresentados. Além disso, os trechos com
as harmonizações feitas por Buettner não foram considerados pelos ouvintes como pertencentes ao
mesmo gênero musical que os trechos musicais apresentados em outras versões (bossa-nova).
Palavras-chave: respostas emocionais, emoção musical, Arno Roberto von Buettner.
Introdução e objetivo
Segundo Levitin (2006, citado em Ilari, 2010), a cognição musical busca compreender os
processos mentais em comportamentos musicais como a percepção, a compreensão, a
memória, a atenção, a performance, a criação e outros. Este trabalho se encontra
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principalmente em duas destas vertentes: (1) processos cognitivos em música e (2) emoção e
motivação, na medida em que avalia questões acerca de como uma música é percebida (por
meio de respostas emocionais) e recebida (por meio de associação de eventos musicais a
estilos musicais) pelo ouvinte.
O jazz brasileiro, também conhecido como “música instrumental” (MI), é um gênero
musical popular brasileiro no qual há o destaque para os instrumentistas e a valorização de
improvisos, virtuosismos e estruturações harmônicas e melódicas dentro de concepções de
musicalidade brasileira e jazzística. Bastos e Piedade (2006) descrevem o jazz brasileiro,
como uma designação ambígua no qual os instrumentos ficam em primeiro plano e não há
texto nem letra. Porém, os autores afirmam ser possível o uso da voz, ainda que quase sempre
como uma parte instrumental (sem letra).
O choro teve grande contribuição para a musicalidade brasileira e aproximações com o
jazz. Porém, para Piedade (1997, 1999, 2003, citado em Bastos & Piedade, 2006), o jazz
brasileiro surge mais apoiado pelo cenário instrumental da bossa-nova do que do choro.
Engana-se quem define jazz brasileiro, ou “música instrumental”, como um gênero
derivado do jazz norte-americano. Para Piedade (2005), o que há é uma “fricção de
musicalidade”, que é uma tensão entre a musicalidade brasileira e a norte-americana: “as
musicalidades dialogam, mas não se misturam. Suas fronteiras musical-simbólicas não são
atravessadas, mas sim objetos de uma manipulação que acaba por reafirmar as
diferenças” (Piedade, 2005, p.200).
Arno Roberto von Buettner foi professor de piano, tanto na Universidade de Campinas,
em São Paulo, quanto em casa. Foi idealizador e criador de um método para o ensino de piano
popular intitulado "Expansão harmônica: uma questão de timbre", tendo recebido grande
influência de compositores do final do século XIX e começo do XX, como Debussy, Scriabin
e Schoenberg, bem como o modo como estes compositores faziam uso dos acordes alterados
(de função dominante, que possuem as notas b9, #9, #11 e/ou b13 em sua formação - Levine,
1989) em suas composições (Buettner, 2004).
Buettner (2004) propõe inicialmente abertura de acordes por meio da harmonização de
cada nota da melodia da canção a ser harmonizada, sem que a formação resultante da
associação harmonia/melodia tenha repetição de notas (dobramentos), ilustrando isso por
meio de exemplos em partituras e áudio. Na sequência, o método apresenta artifícios que
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Metodologia
Participantes: foram divididos conforme (figura 1) a distribuição de expertise musical dentro
de uma sociedade proposta por Lehmann, Sloboda e Woody (2007).
Figura 1: Distribuição da expertise musical dentro de uma sociedade. Retirada de “Psychology for musicians:
understanding and acquiring the skills” de Lehmann, Sloboda e Woody (2007), p. 16.
Os níveis da figura 1 são distribuídos de baixo pra cima em: (1) pessoas comuns sem
treinamento musical formal que possuem seus conhecimentos musicais devido a aculturação
passiva2 ou por meio do ensino de música no setor público (disponível para todos); (2)
músicos iniciantes que possuem algum tipo de treinamento musical formal ou informal, mas
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não tem a música como atividade principal e de sustento; (3) músicos experts como
professores, artistas e compositores que têm a música como atividade profissional; e (4)
músicos experts de elite que são músicos de reconhecimento internacional entre os experts.
Para este estudo, foram selecionados 20 participantes com idades entre 15 e 50 anos
distribuídos proporcionalmente dentro deste modelo (8 - 6 - 4 - 2). A apresentação dos trechos
musicais foi em ordem aleatória e os participantes levaram, em média, 25 minutos para
realizar o experimento.
Caracterização do material musical: cinco trechos musicais da música popular brasileira (Pra
dizer adeus – Edu Lobo; Eu te amo – Tom Jobim & Chico Buarque; Sabiá – Tom Jobim &
Chico Buarque; Luiza – Tom Jobim & Chico Buarque; Chora coração – Tom Jobim e Vinícius
de Moraes) em quatro versões: (1) gravação original com letra; (2) versão instrumental
executada de maneira tradicional, em conjunto instrumental; (3) versão instrumental
executada de maneira tradicional ao piano; (4) versão instrumental executada por Arno
Roberto von Buettner (total: 20 trechos musicais).
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Análise de dados: para as respostas emocionais (arousal e valência afetiva), o teste ANOVA
foi utilizado para fazer a comparação entre as médias de respostas obtidas pelos ouvintes na
escala de diferencial semântico (alcance: 0-10), em função das versões de trechos musicais
apresentadas, conforme o delineamento experimental 5 (trechos) x 4 (versões). Para as
respostas referentes à escolha dos gêneros musicais pelos ouvintes, o ANOVA foi utilizado e
comparou, a partir do mesmo delineamento experimental, as diferenças entre as respostas
esperadas e respostas recebidas. Tanto para as respostas emocionais quanto para as respostas
de associação aos estilos musicais, foram consideradas diferenças estatísticas significativas
quando os valores de p encontrados foram menores que 0,05.
Resultados e discussão
O gráfico da figura 2 indica os índices de arousal e valência afetiva encontrados a partir das
respostas emocionais dos ouvintes para as quatro versões de trechos musicais apresentadas.
Figura 2: Índices de arousal e valência afetiva encontrados a partir das respostas emocionais dos ouvintes para
as quatro versões dos trechos musicais apresentadas.
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Figura 3: Porcentagens de associações das versões dos trechos musicais apreciados com a lista de estilos
musicais apresentadas aos ouvintes. Dentro de cada categoria, a linha superior indica a porcentagem de votos
recebida e a linha inferior indica os valores de p encontrados.
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como definido e exposto neste trabalho por Lehmann, Sloboda e Woody (2007) por meio da
pirâmide de distribuição da expertise musical dentro de uma sociedade (figura 1).
De maneira geral, os níveis de arousal e de valência afetiva mantiveram-se maior para
as versões com menor complexidade harmônica. Ao observar que os dados do presente
experimento apresentaram a valência afetiva sempre maior que o arousal, destaca-se que estes
dados convergem com os dados de Gabrielsson e Lindstrom (2001, citado em Webster &
Weir, 2005), na medida em que os autores alegam que ouvintes têm associado melodias e
harmonias simples com valência afetiva positiva, enquanto melodias e harmonias complexas
estão associadas com valência afetiva menor ou negativa. Os trechos músicas nas versões
executadas por Buettner traziam uma harmonização estilizada e mais complexa e os níveis de
arousal e valência afetiva foram os menores para estes trechos musicais, demonstrando um
estranhamento dos ouvintes em comparação com as outras versões apresentadas.
Os trechos musicais executados por Buettner foram, em sua maioria (41%), associados
à música de concerto, situação que o próprio Buettner (2004) destaca em seu livro, apesar de
tratar-se harmonizações para a prática popular. Segundo Piedade (1997, 1999, 2003, citado
em Bastos & Piedade, 2006), o jazz brasileiro nasce apoiado principalmente na bossa-nova,
gênero o qual os trechos musicais executados por Buettner obtiveram a segunda maior
porcentagem de votos (22%), em partes por ter sua versão original calcada nesse gênero
musical. Buettner também era um pianista que tocava em grupos de jazz no Brasil. Os dados
do presente experimento mostraram julgamentos dos ouvintes associados a outros gêneros
musicais (19%) e ao jazz (11%), o que pode indicar a tendência da associação da música
executada por Buettner ao estilo que Bastos e Piedade (2006) definem como jazz brasileiro.
Esta maneira de Buettner interpretar o repertório brasileiro traz características que fazem um
diálogo com a música brasileira, a música de concerto e o jazz global e norte-americano,
podendo estar relacionado com o que Piedade (2005) chama de “fricção de musicalidade”,
sendo possível pensar que a maneira de Buettner de tocar, e como o pianista descreve em seu
método, pode estar associado ao que se atribui ao jazz brasileiro ou a aplicação de novos
recursos para um repertório já explorado.
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Considerações finais
Para os trechos musicais executados por Buettner, obteve-se respostas significativamente
diferentes das outras versões, tanto em respostas emocionais quanto em relação ao gênero
musical. Assim, os dados obtidos na presente pesquisa vão de encontro à hipótese deste
estudo, mostrando que realmente a maneira de Buettner interpretar, que está descrito em seu
método de expansão harmônica, desencadeia respostas emocionais e de gênero musical
diferentes das performances tradicionais do repertório popular urbano brasileiro.
Acredita-se que a associação do presente estudo com pesquisas que envolvam análises
do código musical de Buettner e de outros músicos do cenário que Bastos e Piedade (2006)
chamam de jazz brasileiro (como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti) possam indicar
semelhanças e apontar a possibilidade de o método de expansão harmônica proposto por
Buettner ser um meio de estudo para uma prática do jazz brasileiro ao piano ou um meio de
estudo da utilização de recursos em comum com o jazz brasileiro.
Referências
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Webster, G. D., & Weir, C. G. (2005). Emotional Responses to Music: Interactive Effects of
Mode, Texture, and Tempo. Motivation and Emotion, Vol. 29, No. 1, 19-39.
1 A interpolação ocorre quando um acorde muda de função harmônica no decorrer de uma harmonização (Buettner,
2004).
2 Aculturação passiva é definida por Lehmann, Sloboda e Woody (2007) como a aquisição cultural feita por todas as
crianças em função da exposição natural de qualquer estímulo dentro de uma cultura.
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Resumo: O presente trabalho apresenta uma análise de exemplos recentes da literatura em cognição
musical sobre percepção de harmonia e tonalidade e identifica a principal metáfora conceitual
subjacente a tais estudos: harmonia é tensão e relaxamento, e considera as possíveis limitações que
esta forma de se entender harmonia acarreta para a produção de conhecimento sobre o assunto. Em
primeiro lugar, são identificadas três teorias principais norteadoras de pesquisas recentes a respeito da
percepção de alturas musicais. Alguns exemplos representativos de cada uma são descritos, e é
identificada a maneira como o elemento da tensão e relaxamento se faz presente nestes trabalhos e
estrutura o entendimento do fenômeno harmônico. Em seguida, a natureza metafórica deste elemento
é apontada, de acordo com conceitos da ciência cognitiva enacionista. Por último, são discutidas as
maneiras pelas quais o nosso conhecimento do fenômeno harmônico pode estar sendo restringido por
esta forma de entendê-lo, à luz de evidências de pesquisas recentes que empregam uma abordagem
diferente no estudo da harmonia.
Palavras-chave: cognição musical, harmonia, forma tonal, metáfora conceitual, enacionismo.
Harmony as Tension: considerations about the main metaphor underlying research on the
perception of harmony and tonality
Abstract: This work presents an analysis of recent exemples of the literature on music cognition
about perception of harmony and tonality and identifies the main conceptual metaphor underlying
such studies: harmony is tension and relaxation, and considers the possible limitations that this form
of understanding harmony entails for the production of knowledge on the subject. First, three main
theories that guide recent researches on the perception of musical pitch are identified. Some
representative examples of each are described, and the way in which the element of tension and
relaxation is present in each of these works and how it structures the understanding of the harmonic
phenomenon is identified. Next, the metaphoric nature of this element is shown, in accordance with
concepts of the enactivist cognitive science. Lastly, the ways in which our knowledge of the harmonic
phenomenon might be constrained by this form of understanding it are discussed, in light of evidences
from recent studies that adopt a different approach to the study of harmony.
Key-words: music cognition, harmony, tonal form, conceptual metaphor, enactivism.
Entender harmonia em música como uma sucessão de acordes ou outras organizações de
alturas musicais mais ou menos tensas é uma forma bastante tradicional de se conceber e
teorizar a respeito deste fenômeno. O elemento da tensão se faz presente em importantes
trabalhos teóricos a respeito de harmonia e tonalidade pelo menos desde Rameau, podendo ser
encontrado em diversos autores posteriores como Riemann, Schenker, Costère, entre outros
(Bigand, Parncutt & Lerdahl, 1996). A ideia de que determinados acordes introduzem tensão a
uma progressão harmônica, que é posteriormente resolvida por acordes menos tensos, se
tornou uma maneira convencional de se entender harmonia (Saslaw, 1996), que de fato não é
estranha a qualquer um que já tenha estudado harmonia tonal.
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as autoras incluem toda uma seção dedicada à discussão da relação da teoria das hierarquias
tonais com o elemento de tensão. Ao iniciarem a seção, as autoras afirmam que “O crescer e
decair da tensão é fundamental para a experiência da música e pode contribuir para a resposta
emocional” (p. 76, trad. nossa), citando em seguida o próprio Meyer (1956), Krumhansl
(2002) e Krumhansl & Agres (2008). Vemos assim como o elemento da tensão e relaxamento
é caro também à teoria das hierarquias tonais, em parte inclusive através da influência do
trabalho de Meyer. De fato, a teoria das hierarquias tonais foi testada empiricamente na sua
capacidade de prever os níveis de tensão sentidos por ouvintes quando da escuta de
sequências curtas de acordes em um estudo (Bigand, Parncutt & Lerdahl, 1996). Nesse
estudo, a teoria realiza a previsão de que acordes que ocupariam uma posição alta na
hierarquia evocariam pouca tensão, e acordes que se situam mais abaixo na hierarquia
evocariam tensão maior. Dessa forma, o elemento da tensão e relaxamento determina como o
conhecimento a respeito de harmonia é produzido de acordo com a teoria das hierarquias
tonais.
A terceira teoria que mencionamos diz respeito a teoria do espaço de altura tonal,
formulada pelo compositor e pesquisador americano Fred Lerdahl ao longo de diversos
trabalhos (Lerdahl & Jackendoff, 1983; Lerdahl, 2001, entre outros). A teoria propõe que as
relações entre diferentes acordes e tonalidades em música tonal sejam concebidas como
existindo em um espaço, no interior do qual seriam estabelecidas distâncias entre estas
entidades musicais. A teoria então apresenta diversas fórmulas e métodos para se calcular
precisamente estas distâncias, das quais ouvintes supostamente possuiriam um esquema
mental internalizado que determinaria a escuta de entidades harmônicas em um repertório
tonal e, possivelmente, em outros estilos de música de harmonia. Segundo a teoria, por
exemplo, a distância entre um acorde de I grau e um de V grau equivale a 5, enquanto que um
acorde de II grau estaria a uma distância de 8 do mesmo I. Similarmente, a tonalidade de Sol
maior estaria a uma distância de 7 da tonalidade de Dó maior, enquanto que a sua distância da
tonalidade de Mi menor seria equivalente a 9 (Lerdahl & Krumhansl, 2007). Temos assim
uma interpretação do fenômeno harmônico tonal segundo a noção de espaço.
O elemento da tensão é fundamental para a teoria do espaço de altura tonal, que procura
se estabelecer como uma maneira de formalizar e prever os movimentos de tensão e
relaxamento que as alturas musicais podem suscitar. De fato, o modelo também foi testado
empiricamente nesse aspecto no mesmo estudo mencionado anteriormente sobre a teoria das
hierarquias tonais (Bigand, Parncutt & Lerdahl, 1996) e ainda em outros dois estudos
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Modeling Tonal Tension 335
subsequentes (Bigand & Parncutt, 1999; Lerdahl & Krumhansl, 2007). Nestas pesquisas, é
testada a hipótese de que quanto mais distante um acorde de um centro tonal, maior a tensão
que será sentida pelo ouvinte. A figura 1 apresenta um exemplo retirado de Lerdahl &
FIGURE 10. Tension rules: (a) sequential tension plus surface dissonance; (b) hierarchical tension plus surface dissonance.
Krumhansl, 2007, no qual valores de tensão segundo o modelo de espaço de altura tonal são
Included in Figure 11 are numerical values from the The same calculations appear in the tabular format in
previstos para o Tema
application doin Graal
of the rules da 10.ópera
Figures 9 and The firstParsifal
Figure 12.de
TheRichard
events for TseqWagner (fig.
in Figure 12a 1). Na parte
are listed
row of numbers between the staves lists surface disso- in sequential order. The table decomposes the surface-
nance values. The second row lists sequential tension dissonance and pitch-space factors into their compo-
superior davalues,
figura, temos uma análise da estrutura
obtained by calculating d from one chord to the nent prolongacional
parts. The values in each do tema,
row are summed que estabelece as
to reach
next and adding surface distance values. For example, the total sequential tension for each event. In Thier in
relações dethehierarquia entre
sequential distance from cada evento
Event 2 to Event 3 is sonoro
7, and do trecho
Figure e determina
12b, the target chords (those toconsequentemente
the right of the os
the surface dissonance value for Event 3 is 1; so the arrows) are still listed in sequential order, but the source
sequential
valores de Thetensão tension associated with Event
hierárquica. Entre3 is 7 +os
1 = 8. chords (those to the left of the arrows) are now listed by
pentagramas, são identificados os valores de
third row similarly lists hierarchical tension values, the immediately dominating events in the tree. For
obtained globally by adding the distance numbers next example, the notation Thier(4 3) indicates that Event 3,
dissonância,to the
tensão
branchessequencial e tensão
of the tree and then adding thehierárquica
surface becausedeit branches
cada evento.from EventEstes
4, derivesvalores
its tensioneram então
distance values. Thus the hierarchical distance from value from Event 4. In accordance with the hierarchical
testados emsonance
Event 2 to Event 4 is 0 + 7 +subjetivos
experimentos 7 = 14, and the surface tension rule,
comdis-ouvintes, em Figureum 12b includes the additional
procedimento semelhante aos
value for Event 4 is 1; hence the hierarchical columns of “local total” and “inherited value.” The hier-
tension associated with Event 4 is 14 + 1 = 15. archical tension for each event, given in the “global
outros estudos mencionados.
FIGURE 11. Grail theme (diatonic version) from Wagner’s Parsifal, together with its’ theoretically preferred prolongational analysis, surface
dissonance values, sequential tension values, and hierarchical tension values.
Fig. 1. Valores de tensão previstos para o tema do Graal. Extraído de Lerdahl & Krumhansl, 2007, p. 335.
compartilhariam desta visão (a saber: Berry, 1976, Hindemith, 1937; Kurth, 1920; Rothfarb,
2002, Schenker, 1935; Zuckercandl, 1956; Krumhansl, 1996, 1997; Palmer, 1996). Os autores
afirmam ainda que “Porque tensão tonal é um fenômeno unicamente musical (diferentemente
de outros fatores como flutuações em intensidade, velocidade ou contorno), é talvez o aspecto
mais crucial no qual música tensiona e relaxa” (p. 329, trad. nossa). Neste estudo os autores
testaram também modelos teóricos neo-riemannianos que possuem estruturas semelhantes às
da teoria do espaço de altura tonal, demonstrando que, ainda que não tenham sido concebidos
com este intuito, tais modelos se mostram suscetíveis a uma abordagem envolvendo o
elemento da tensão e relaxamento.
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Dessa forma, podemos ver como o elemento da tensão e relaxamento não só advém de
uma longa tradição em teoria da música como também desempenha um papel fundamental na
forma como o conhecimento a respeito de harmonia e tonalidade é produzido em pesquisas
mais recentes da área de cognição musical. Este elemento se configura assim como um
verdadeiro paradigma teórico que determina a maneira como entendemos o fenômeno
harmônico.
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diminutas e aumentadas foram associadas à tensão; acordes tocados com timbre de cordas
foram associados à ternura e nostalgia.
O paradigma da tensão e resolução se ocupa prioritariamente do “aumentar e decair” da
tensão ao longo de progressões harmônicas. Trata, em outras palavras, da dimensão horizontal
da harmonia, e não contempla esta multiplicidade de resultados afetivos encontrados para
acordes individuais, a sua dimensão vertical (Lahdelma & Eerola, 2016), pois um acorde
soado isoladamente não estabelece diferentes níveis de tensão que possam ser previstos ou
medidos. A única tensão que um acorde isolado poderia gerar seria com relação ao seu nível
de dissonância sensorial, que foi uma das variáveis computadas como um valor de tensão em
Lerdahl & Krumhansl (2007). Neste estudo, maior dissonância sensorial de um acorde
implicaria em maior tensão gerada pelo mesmo. No entanto, somente o nível de dissonância
de um acorde individual não parece ser suficiente para explicar os resultados perceptivos
encontrados por Lahdelma e Eerola. Um dos itens na escala emocional elaborada pelos
autores era preferência, e estudo mostrou que os acordes mais preferidos pelos participantes
foram acordes maiores com sétima maior e menores com sétima menor. Este resultado levou
os autores à conclusão de que maior consonância percebida em um acorde não implica
necessariamente em maior preferência pelo mesmo, pois se fosse esse o caso, as tríades
maiores e menores, que exibem menor dissonância sensorial, deveriam ter sido as mais
preferidas pelos participantes. Logo, o nível de dissonância, e consequentemente de tensão de
um acorde, não explica a preferência que ouvintes têm por determinados acordes soados
isoladamente.
Temos dessa forma exemplos de uma gama de fenômenos associados à percepção da
dimensão vertical da harmonia que não faz parte do escopo do paradigma da tensão e
resolução. O próprio fato de que a produção bibliográfica a respeito da percepção de
harmonia e tonalidade deu tão pouco destaque aos efeitos da harmonia vertical até o estudo de
Lahdelma e Eerola atesta a hegemonia do paradigma de tensão e relaxamento em pesquisas
em cognição musical e a forma como ele tem limitado o estudo deste fenômeno à sua
dimensão horizontal e as suas propriedades de geração de maior ou menor tensão. Para que a
pesquisa em cognição musical possa contemplar melhor estes e outros fenômenos relativos à
percepção de alturas musicais, seria necessária talvez uma nova forma de se conceber a
harmonia, para que assim seja possível encontrar explicações mais satisfatórias a respeito do
seu poder expressivo.
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Referências
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: O trabalho busca o compreensão da ideia de escuta musical contida na obra de Hugo
Riemann a partir de seus escritos sobre estética, escuta, e ritmo musical. Para tal tarefa foi
realizada um levantamento bibliográfico na busca de elementos que mostrassem os fundamentos
de seu processo de escuta. Primeiramente, foi pesquisada sua tese ‘Musikalische logik: Über das
Musikalische Hören’ que foi o fundamento de seus trabalhos posteriores. Em um segundo
momento, foram levantados elementos da sua teoria da escuta tonal a partir de seus tratados sobre
ritmo musical, em especial, no seu System der Musikalischen Rhythmik und Metrik. Os resultados
dessa pesquisa mostram os parâmetros da escuta riemanniana ainda fundamentados em sua
‘estética da dualidade’; assim, foram escolhidos dois parâmetros da escuta riemanniana -
Auftaktigkeit e Achttaktigkeit - , como pilares de seu modelo de escuta. Essas duas manifestações
são vistas pela pesquisa como o início do pensamento da forma como processo musical.
Palavras-chave: escuta, forma musical, estrutura rítmica, processo, Riemann.
Introdução
É de senso comum reconhecer a importância de Riemann para a musicologia como precursor
de muitos campos dos estudos musicais. Embora sua grande contribuição para a teoria tonal
tenha sido sua teoria harmônico-funcional, o grande legado que Riemann trouxe para a
Musikwissenschaft foi a mudança de paradigma que, antes focada na teoria da composição,
agora é fundamentada na questão da percepção consciente das estruturas musicais. Ele tem
como alvo principal a construção de uma ‘lógica da escuta musical’ como ponto de partida
para sistematizar qualquer teoria e essa lógica caminha com o objetivo de encontrar
normativas, generalizações para responder à questão: ‘como nós escutamos música?’ Em sua
tese de doutorado de 1873 encontramos o título “A lógica Musical: principais características
das razões fisiológicas e psicológicas do nosso sistema musical1”(Riemann, 1973, p.1). No
1
Hauptzüge der physiologischen und psychologischen Begründung unseres Musiksystems
221
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
entanto, o rodapé traz o título original de sua defesa: “dissertação sob o título: sobre a escuta
musical”, ou, “a partir da escuta musical.”2 . Assim, pode-se dizer que o grande objetivo de
Riemann, em grande parte da sua obra, era a busca por uma lógica da percepção sonora.
Riemann faz uma comparação entre a forma de apreensão do objeto visual (espacial) e
do objeto musical (temporal), sendo que na observação espacial o intérprete visual pode
apreender o todo e migrar para as partes, ou pode começar pelas partes em direção ao todo.
Sua vantagem sobre o ouvinte está na ideia de que pode voltar a observar a mesma parte
quantas vezes forem necessárias para entender a imagem. Ao contrário disso, na
2
Als Dissertation unter dem Titel: Über das Musikalische Hören.
3 Hugo Riemann.(1923). Wie hören wir Musik? Grundlinien der Musik-Ästhetik. Berlin: Max Hesse.
222
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Após a publicação de suas teorias de harmonia funcional Riemann mergulha num longo
período de reflexões teóricas na tentativa de mudar o paradigma da escuta musical, e esse
caminho passa pelos estudos dos ritmos publicados em seu System der Musikalischen
Rhythmik und Metrik (1903)4. Esse tratado exemplifica o perfil da escuta riemanniana baseada
na mesma estética da dualidade que fundamentou seus pensamentos harmônicos, assim, a
partir deste escrito, pode-se resumir a escuta em dois parâmetros: Auftaktigkeit e
Achttaktigkeit.
4
RIEMANN, Hugo. (1884). Musikalische Dynamic und Agogik. Hamburg: Rhater, 1884
223
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
a “maneira pela qual o conteúdo de uma obra é feita inteligível pelo ouvinte”, como também
consiste em padrões abstratos que proveem ao ouvinte “pontos de referências e
previsibilidade, facilitando a apresentação de um conteúdo que necessariamente varia de obra
para obra. (Bonds, 1988 apud Schmalfeldt, 2011, p.5). Nessa perspectiva formal, toda a
escuta musical adquire um aspecto de becoming (werden), um constante ‘tornar-se’, um
processo.
Pouco citada nas discussões contemporâneas sobre esse tema, a contribuição de
Riemann tem sido esquecida, ao contrário do que ocorreu com suas teorias funcionais e
transformacionais. No entanto, são em suas obras de ritmo musical que as concepções sobre
‘processo’ aparecem e são essas obras que ocuparam boa parte da sua atenção na última fase
da sua produção teórica. Em seu Musikalische Dynamik und Agogik (1883) ele faz um
extenso trabalho sobre expressividade na interpretação musical e o resultado principal é
estabelecer o motivo musical como elemento que por si só representa a ideia de um werden.
Ele classifica inúmeros motivos dentre os quais os de final-acentuados (abbetont) representam
o anseio de escutar a forma em processo se desenrolando no tempo. Ele diz que esses motivos
possuem um “esforço enérgico, com uma intenção de crescimento e de become” (Wachsen,
Werden, Wollen). (Riemann, 1984, p.12 apud Hunnicutt, 2000, p.88).
Para Riemann entender o papel que a dimensão rítmica desempenha é importante tanto
para o ouvinte quanto para o intérprete, afirmando que “talvez um desenvolvimento sadio do
aprendizado do ritmo seja mais adequado do que o aprendizado da harmonia” (Riemann,
1903, p.vii). Ele entende o ritmo como a dimensão que indexa a música no tempo e torna o
tempo uma dimensão concreta na qual o conteúdo sonoro é transmitido. O ritmo nunca é
estático, sempre está em processo e os acordes só se convertem em harmonia quando a
temporalidade rítmica entra em cena.
Se o ritmo é, em princípio, verdadeiramente a estruturação de um processo temporal
- não uma estruturação do tempo abstrato, mas sim de um acontecimento perceptível
que se desdobra ao longo do tempo – de acordo com um padrão de mensurabilidade
normalmente dado, então está claro que até mesmo sua mais simples manifestação,
uma séries de time-spans iguais, adquire significado apenas através do
relacionamento do conteúdo daqueles time-spans. (RIEMANN, 1900, p.140)
224
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
a) b)
Fig. 1 – Time-span em processo de anacrusidade para o ponto de gravidade.
O fato de Riemann tratar desse assunto em seus escritos sobre ritmo, e não de harmonia,
está na importância que a segmentação motívica tem na percepção musical. Há pesquisas
atuais que apoiam sua visão tais como a de Smith (1983, apud Sloboda, 2008, p.246) que se
concentrou na percepção de agrupamentos examinando padrões rítmicos percebidos por
músicos e não-músicos. O resultado mostra o agrupamento gestáltico por proximidade
temporal e a conclusão mais importante é sobre os não-músicos: apesar de não preservarem a
métrica original mantiveram o agrupamento mais primitivo de proximidade. É possível ver
225
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Esse tipo de agrupamento para Riemann dá a ideia de que a música está sempre ‘em
processo motívico’, de um elemento de valor-leve para um valor-pesado, de um upbeat para
um downbeat estrutural. No entanto, para a escuta de trechos mais longos entra em cena o
conceito de Achttaktigkeit, que em uma tradução livre poderia ser ‘octamensurabilidade’. Na
prática é a organização qualitativa, simétrica, e hierárquica do período de oito compassos da
música tonal. Sua concepção é de que a música é construída e, consequentemente, escutada
por pareamento de eventos sonoros (time-spans), ao passo que seus conteúdos adquirem
valores qualitativos tais como valor-leve/valor-pesado, que resultam naquilo que conhecemos
como semifrases, períodos, etc. A figura 3 mostra o pareamento de vários motivos na qual
adquirem alternância entre valor-leve e valor-pesado seguindo a lógica de “crescendo em
peso”.
Essa é uma tentativa de explicar como o ouvinte qualifica os gestos musicais, e nessa
perspectiva o motivo funciona como agente que provoca continuidade e descontinuidade
temporal linear. Como podemos ver, os motivos 1 e 2 manifestam um desejo de ‘crescendo
em peso’, mas não possuem uma ampla continuidade devido ao equilíbrio rítmico do motivo
em relação ao seu ponto de gravidade. Isso os torna motivos internamente-acentuados (ver as
flechas de direcionalidade). Já o número 3 é um legítimo motivo com final-acentuado que
gera ampla continuidade em direção ao último motivo que refreia o movimento.
É importante ressaltar que a paridade no Achttaktigkeit só se dá no primeiro nível entre
os motivos 1→2; 3→4; 5→6; 7→8, e nunca haverá relacionamento estrutural entre os motivos
226
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
4 e 5 por exemplo. Riemann entende que embora a música seja executada linearmente, o
processo de percepção ocorre de maneira arquitetural, isto é, cada bloco motívico une-se ao
seu par pertinente criando outras unidades maiores em outros níveis estruturais. Nesse
sentido, a música é construída na memória a partir de ‘empilhamento’ de eventos que fazem
correlações multidirecionais (fig.4).
O gráfico acima mostra a normativa que baliza a escuta tonal em termos frasais, ao
passo que reflete o conflito dualista entre o Auftaktigkeit (flechas) e o Achttaktigkeit (blocos).
No entanto, é sabido que na prática o repertório não se limita à esse modelo (período de oito
compassos), assim, quando um período foge desse padrão abstrato é gerada uma
descontinuidade formal. Nesse sentido a forma entra em processo de ‘estase’ ou
‘progressividade excessiva’, e consequentemente a escuta entra em conflito entre fluxo dos
eventos e paralização (ou adiantamento) da forma musical. Abaixo (fig.5) vemos o exemplo
da análise de Riemann do Quarteto de Cordas, Op.54, de Haydn, onde o Achttaktigkeit é
ampliado duas vezes na primeira semifrase: o segundo motivo (2) é expandido pelo motivo
(2a), em seguida, no motivo (4), ocorre uma expansão ainda maior, classificada como (4a) e
(4b). É importante notar o papel dos colchetes que colocam a ideia tanto de segmentação
motívica como de hierarquização dos mesmos, a exemplo dos motivos (4a) e (4b) onde o
colchete aparece aberto do lado esquerdo e sobreposto ao colchete de seu motivo original (4),
dando a ideia de hierarquia.
Fig 5 – Análise da funções motívico-estruturais segundo Riemann. Haydn, Quarteto de Cordas em Sol
Maior, Op. 54, No.1, segundo movimento, comp. 1-12.
227
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
A escuta proposta por Riemann faz com que as estruturas motívicas desenvolvam uma
qualidade ou uma função formal. O parâmetro de escuta riemanniano que dá qualidade de
“processo” (Auftaktigkeit) pode sofrer alteração de direcionamento em nível de superfície,
como é o caso do exemplo analisado. As flechas direcionais indicam que a escuta pode sofrer
um revés causado pela estase na forma periódica em nível superficial. Já em níveis mais
profundos ela gera uma ampliação da semifrase proposicional ocasionando um ‘desequilíbrio’
na forma periódica simétrica, criando assim uma espécie de dissonância formal que precisa
ser resolvida em algum momento na obra (fig.6).
3.Considerações Finais
Embora Riemann seja conhecido pelas suas teorias harmônico-funcionais, pouco de sua
produção sobre a escuta musical tem sido explorada. Nesse trabalho pudemos fazer o percurso
desse pensamento que inicia com sua tese inaugural (1973), passando por seus escritos sobre
estética e ritmo musical. A partir de sua visão dualista pudemos encontrar duas generalizações
que balizam sua ideia de escuta: o Auftaktigkeit e Achttaktigkeit. Além disso observamos que
esses parâmetros se constituem como o início do pensamento de “forma como processo” que
dá a ideia de um constante ‘tornando-se’(Becoming, Werden). Se entendermos a base
epistemológica de Riemann e suas concepções de escuta, poderemos resinificar inclusive
questões já estabelecidas no que diz respeito a suas teorias funcionais. Espera-se que
futuramente sua obra sobre estética e ritmo seja apreciada tanto quando suas teorias
transformacionais e que possa ser somada a elas na tentativa de ter uma visão ampliada do
pensamento riemanniano.
4. Referências
Hunnicutt. B. (2000). Hugo Riemann’s system der musikalischen rhythmik und metrik,
355 p. PhD dissertation, Wisconsin – Madison
Riemann, H. (1973). Musikalische logik : Hauptzüge der physiologischen und
psychologischen begründung unseres musik-systems. Leipzig: Verlag und Kahnt.
_______________(1900). Die elemente der musikalischen aesthetik. Berlin: Spermann.
228
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
María Marchiano
Universidad Nacional de La Plata
maria.marchiano@hotmail.com
Resumen: El timbre es un fenómeno estudiado por diversos campos de estudio. A diferencia de otras
cualidades sonoras, ni sus propiedades acústicas ni sus vínculos con las experiencias perceptivas están
aún claramente establecidos. Partiendo de la idea de que un acercamiento interdisciplinario puede
favorecer a delinear las problemáticas en el entendimiento de esos vínculos, el trabajo propone una
articulación del campo del análisis musical con los estudios computacionales sobre percepción
auditiva y las tecnologías de extracción de información de señales de audio, procesando un fragmento
de la grabación de la obra Cifuncho de Mariano Etkin y comparando los resultados con el análisis
sobre la misma realizado por Mastropietro y Anzil (2014). Las propiedades acústicas definidas por los
estudios de percepción auditiva usados en el presente trabajo cuyos correlatos perceptivos están
vinculados a la caracterización del timbre son el centroide espectral, el flujo espectral y el tiempo de
ataque. El estudio revela nexos y diferencias entre las dimensiones tímbricas y la percepción musical
de los analistas, mostrando un vínculo especialmente estrecho entre el centroide espectral y el análisis
musical de los autores.
Palabras clave: timbre, percepción auditiva, análisis musical, percepción musical, cualidades
sonoras.
Acoustic dimensions and perception of timbre on the recording processing of musical analysis
Abstract: The timbre is a phenomenon studied by many research fields. Unlike other sound qualities,
niether its acoustic properties nor its links with perceptual experiences are clearly established yet.
Starting with the idea that an interdisciplinary approach can favor delineating the troubles in the
understanding of those links, the article proposes an articulation of the musical analysis with the
computational studies of auditory perception and extracting information technologies from audio
signals, processing a recording excerpt of Mariano Etkin’s Cifuncho and comparing the results with
the analysis on the same topic made by Mastropietro y Anzil (2014). The acoustic properties defined
by the auditory perception studies used in the present article whose perceptual links are related to
timbre characterization are spectral centroid, sprectral flux and attack time. The study shows nexuses
and differences between timbral dimensions and the analysts’ musical perception, showing a specialy
tight link between the spectral centroid and the authors’ musical analysis.
Key-words: timbre, auditory perception, musical analysis, musical perception, sound qualities.
1. Introducción
En el trabajo se realizará un estudio tímbrico interdisciplinario de un fragmento de una obra
musical. A continuación expondré el estado actual de los campos de estudio puestos en
común: el análisis musical, los estudios sobre percepción del timbre y el software
especializado de análisis de señales de audio.
230
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
2. Objetivos
1) Evaluar los aportes del método de procesamiento de grabaciones de las obras con
software de extracción de información de señales de audio sobre las dimensiones
tímbricas para el análisis musical.
2) Estudiar las conexiones y los límites entre las propiedades acústicas y las perceptivas
del fenómeno tímbrico comparando un caso de análisis musical con la información
extraída con software especializado de la grabación de la obra.
1 El trabajo con una obra para instrumento solista busca evitar la complejidad del vínculo entre acústica y percepción
233
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
superior del espectro y por la disminución de intensidad que debilita la intensidad del Re
central, y en el cuarto momento por la ejecución del Re armónico, omitiendo el Re central.
Fig. 3: espectrogramas (izq.) y centroide espectral (der.) del fragmento completo de Cifuncho.
234
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Fig. 4: Flujo espectral (izq.) y tiempo de ataque (der.) del fragmento completo de Cifuncho.
En los instrumentos de cuerda frotada, las características acústicas del ataque están
fundamentalmente vinculadas a los golpes de arco (Godoy, 2010). En Cifuncho el compositor
indica que el movimiento del arco debe ser fluido y continuo en todo momento, por lo que las
diferencias entre el tiempo de ataque de cada nota (Fig. 4) son consecuencia del intento de
control por parte del instrumentista de otros parámetros especificados en la partitura
(velocidad, cantidad y posición del arco, ejecución de dobles cuerdas y armónicos, y diversos
movimientos de la mano izquierda que dificultan o facilitan la resolución de las técnicas del
arco). Es probable, entonces, que en esta obra los valores del tiempo de ataque estén más
ligados a las particularidades de la ejecución que a características compositivas estructurales
de la obra.
El tiempo de ataque y el flujo espectral no se relacionan con la caracterización tímbrica
de los momentos y del proceso de modulación descriptos por Mastropietro y Anzil.
4. Conclusiones
La investigación del fenómeno tímbrico se encuentra en construcción. La interrelación entre
los diversos campos que abordan su estudio permite identificar las conexiones y los límites
entre el ámbito de la experiencia humana y el de la acústica, ofreciendo un panorama sobre el
estado del tema imprescindible para futuras investigaciones que persigan la comprensión del
fenómeno tímbrico. La comparación entre las percepciones de Mastropietro y Anzil en el
análisis de un fragmento musical y las dimensiones tímbricas creadas por los estudios
cognitivos computacionales revelan coincidencias y distancias: la percepción de la progresiva
relevancia del cuarto armónico es consecuencia de la disminución de energía en el resto del
espectro y la percepción de un paulatino refuerzo de los componentes espectrales superiores
se relaciona a la transformación del centroide espectral, pero el flujo espectral y el tiempo de
ataque no muestran correlatos con el análisis musical de los autores. Además, el análisis
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Referencias
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237
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Resumo: Neste artigo discuto o exercício da atenção enquanto elemento indispensável para a
realização da prática deliberada, no âmbito da performance musical, demonstrando a função
substancial desempenhada pela memória, bem como a influência da motivação nesse processo. É
crescente, em pesquisas acadêmicas da área de música no Brasil, o interesse pelos temas aqui
relacionados, possivelmente pelas claras contribuições que estes conhecimentos podem oferecer,
sobretudo para o músico de performance. No entanto, durante o trabalho de revisão sobre a literatura
relacionada às pesquisas acadêmicas das áreas de prática deliberada e performance musical verifiquei
a necessidade de abordar a questão da atenção com maior profundidade. Neste artigo pretendo discutir
as origens psicológico-cognitivas da atenção e sua relevância para o bom desempenho em prática
deliberada, de modo a oferecer uma contribuição teórica para pesquisas neste campo. Para a realização
deste trabalho, realizei uma revisão de literatura cotejando teorias da música, da psicologia, da
educação e das ciências da mente, em geral, visando à fundamentação de uma teoria da atenção na
prática deliberada em performance musical. Como resultado, apresento uma hipotética estrutura que
fundamenta o papel da atenção na prática deliberada.
Palavras-Chave: atenção na prática deliberada, memória e motivação na performance musical,
prática deliberada.
Introdução
O conceito de prática deliberada introduzido por Ericsson, Krampe e Tesch-Römer (1993),
desde a sua assimilação vem adquirindo projeção em diversos domínios do conhecimento.
Particularmente no campo das pesquisas acadêmicas da área de música esse conceito tem sido
objeto de análise presente em pesquisas estrangeiras (Ruthsatz et al, 2007; Krampe &
Ericsson, 1996; Kenny & Gellrich, 2002) e nacionais (Alves & Freire, 2014; Galvão, 2006;
Souza, 2014; Quintério & Gloeden, 2016; Santiago, 2006; Zorzal, 2015; e outros) dedicadas
239
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
aos mais variados assuntos, como por exemplo para conhecimento e apreciação da assim
chamada performance expert, no contexto da performance musical, e outros temas afins.
Nota-se que os trabalhos que abordam a prática deliberada em particular invariavelmente têm
assinalado que atenção e/ou concentração mental são fatores determinantes para a qualidade
desta prática, sem se aprofundar, no entanto, no conhecimento científico relativo a estes
temas, nem tampouco discutir os meios para sua obtenção.
Em primeiro lugar, é necessário que se esclareça a distinção entre atenção e
concentração mental. De acordo com Castle e Buckler (2009) a atenção pode ser dividida em
“seletiva” e “dividida”. O primeiro caso estaria relacionado à “atenção focada”, ou em outras
palavras, a concentração sobre determinado objeto. No segundo, quando “dividida” e
desfocada ou desconcentrada, portanto, os autores entendem ser possível a um indivíduo
atender a determinada demanda, ainda que desconcentrado. Partindo desse pressuposto, o
presente estudo aborda o conceito de atenção, termo abrangente e difícil de delimitar,
conforme Styles (2006), e o papel desta função cognitiva para o bom desempenho do
indivíduo na prática deliberada.
A atenção vem sendo estudada por especialistas ao menos desde o final do século XIX,
tendo em William James (1890) um de seus pioneiros. Desde então, diversos autores
buscaram definir este conceito — grosso modo entendido como uma habilidade do indivíduo
de selecionar, atender e/ou responder a determinados estímulos e ignorar, voluntariamente (ou
não), outros (Styles, 2006; Broadbent, 1958; Pashler, 1998; Eysenck & Keane, 2010; Lima,
2005; Castle & Buckler, 2009) —, bem como compreender suas estruturas, limitações e
soluções para viabilizar seu melhor desempenho.
Alguns pesquisadores têm discutido a íntima relação que a atenção guarda com o
funcionamento da memória (Helene & Xavier, 2003; Cowan, 1997; Styles, 2005; Underwood,
1979), fato que ainda tem sido relativamente pouco debatido, muito embora a memória seja
indiscutivelmente imprescindível para a realização de quaisquer funções cognitivas
elementares, conforme ilustra Baddeley (1999) — este afirma que a melhor forma de entender
a importância da memória é imaginar como seria a vida sem memória. No âmbito das
pesquisas acadêmicas de música, a memória, particularmente, tem sido estudada com um
pouco mais de profundidade, ainda que não abordando a questão da atenção, por exemplo, em
trabalhos como os de Snyder (2001), Gerber (2012) ou Chaffin, Logan & Begosh (2012),
dentre outros.
240
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Prática deliberada
Definida por Ericsson, Krampe e Tesch-Römer (1993), esta prática foi inicialmente
caracterizada por um conjunto de atividades práticas orientadas através do intermédio de
alguém — um professor, treinador, orientador — cuja finalidade é aperfeiçoar o desempenho
de habilidades específicas. Os autores afirmam ainda que esta atividade “requer esforço e não
é inerentemente agradável” e que “os indivíduos são motivados a praticar, porque a prática
melhora a performance”(p. 368), revelando, portanto, a importância da motivação para o
estudo deliberado e, consequentemente, para a performance musical.
Em relação ao uso do termo performance, é definida por Goldberg (1979/2006) como
uma forma de manifestação artística caracterizada pela “realização em ação”, quando o
performer se apropria de quaisquer recursos artísticos e suportes, numa relação direta com o
público. Assumindo-se esta compreensão, notória para o músico, entende-se que a música, por
sua natureza, é uma arte de performance.
Quanto à qualificação desta realização, alega-se haver um padrão de performance
caracterizado pela excelência, denominada performance expert. Por definição, a expertise
refere-se a um “desempenho superior consistente sobre um conjunto específico de tarefas
representativas para um domínio” (Ericsson & Lehman, 1996, p. 277). Alguns exemplos de
pesquisas da área de música (ou relacionados a ela) que têm abordado a expertise musical
com interesse podem ser conhecidos nos trabalhos de Krampe e Ericsson (1996), onde os
autores investigam a prática deliberada na manutenção de habilidades cognitivo-motoras em
pianistas experts e em pianistas amadores; em Santiago (2006), discute-se a integração entre
prática deliberada e o aprendizado informal da música; em Galvão (2006), que trata das
consequências da atividade musical para o desenvolvimento cognitivo e emocional das
pessoas, também em Alves e Freire (2014), interessados em discutir a performance expert de
clarinetistas, e ainda em Zorzal (2015), que propõe uma reflexão sobre a prática musical e os
aspectos práticos da preparação da performance musical, enfocando a autonomia do estudante
de instrumento—dentre outros trabalhos.
241
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
O papel da motivação
A motivação caracteriza-se como um elemento psicológico que proporciona ao indivíduo
energia para realizar determinada ação (Reeve, 2006; Ryan & Deci, 2000). Araújo (2015)
considera a motivação “fundamental para quem vivencia a experiência musical e (...) o
elemento que garante a qualidade do envolvimento no processo” e, ainda, que “o que nos leva
a agir (...) são motivos gerados no contexto da nossa vida cotidiana, (...) sejam de ordem
subjetiva ou objetiva” (p. 45). Alves e Freire (2014) defendem que é a motivação o elemento
que garante o foco atencional durante a prática deliberada, sem a qual seria improvável a
realização e a sustentação desta atividade. Para esses autores, “a prática requer muita
concentração, e a manutenção do foco no estudo é uma atividade considerada como não
prazerosa, por isso a motivação é elemento fundamental para manter o foco e sustentar os
esforços que a prática musical exige a longo prazo” (p. 79) — argumento corroborado por
outros autores (Ericsson et al., 1993; Feltovich, Prietula & Ericsson, 2006; Gomes, 2008).
De acordo com Csikszentmihaly (1997), quanto mais distante as afinidades
motivacionais e emotivas de uma pessoa para com uma situação ou objeto, mais difícil é a
capacidade de concentrar a atenção do indivíduo. Ao contrário, quando alguém gosta da
atividade que desempenha e é motivada para superar suas dificuldades, mais fluentemente a
concentração ocorre. Para esse autor, controlar a atenção significa “controlar a experiência”;
“a informação atinge a consciência somente quando atendemos a ela” e o “estresse que
experimentamos depende mais do quão bem controlamos nossa atenção, do que o que
acontece conosco” (p. 128). Csikszentmihaly consagrou-se por ter desenvolvido uma teoria
motivacional denominada “Teoria do fluxo”, segundo a qual, quando sob condições onde as
habilidades do indivíduo e os desafios impostos a este se encontram em equilíbrio, o
243
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Considerações finais
A prática deliberada é caracterizada pela composição de vários fatores, dentre os quais se
atribui à atenção uma importante função nesse processo, de acordo com os argumentos
evidenciados neste trabalho. É natural, portanto, que se conclua que o estudo deliberado é um
processo significativo para a construção da performance musical, e indispensável quando se
trata da performance expert.
Uma revisão de literatura em torno dos conceitos acima discutidos possibilita-nos
estruturar a fundamentação do papel da atenção na prática deliberada da seguinte forma: a
prática deliberada envolve o exercício da atenção de forma decisiva; é inconcebível entender
prática deliberada sem atenção; o processo atencional, por sua vez, está condicionado pelo da
memória, que em maior ou menor proporção determina o grau de direcionamento da atenção e
o desenvolvimento de intencionalidades na seleção de informações; a atenção, no entanto, é
apoiada pela motivação, processo que garante a manutenção e a continuidade do exercício da
ação a qual o indivíduo é submetido, revelando o complexo ciclo de ação direta da motivação
sobre a atenção, esta, sobre a prática deliberada, e, consequentemente, sobre a performance.
Referências
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245
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
246
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Introdução
Criatividade pode assumir diversos significados e, neste trabalho, será abordada a partir do
viés teórico da interação reflexiva. O paradigma da interação reflexiva resulta de diversas
pesquisas que estudaram a interação musical entre pais e filhos e entre homem e máquina,
247
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
1
O software MIROR (Music Interaction Relaying On Reflexion) foi desenvolvido no âmbito de um projeto de
pesquisa co-financiado pelo 7° Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da União Europeia.
248
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
A experiência didática foi conduzida com duas crianças iniciantes em bateria no fim do ano de
2016, explorando a interação entre professor e aluno. Nesse sentido, foi realizado um teste de
diagnóstico, que é um teste utilizado para investigar os pontos fortes e dificuldades de uma
determinada experiência vivenciada por algum indivíduo (Cohen et. al. 2007). Esse modelo
de teste serviu para descobrir quais os comportamentos humanos do paradigma da interação
reflexiva apareceram durante o experimento, e de que modo eles interferiram no processo
criativo da criança.
Cada experimento foi dividido em três sessões e foi aplicado uma vez com cada
participante. A primeira sessão foi chamada de Exploração, a segunda de Aplicação e a
terceira de Síntese. Para este trabalho foram selecionados para a análise uma atividade da
sessão dois e uma atividade da sessão três de cada experimento aplicado. No primeiro e
segundo experimento, a atividade da sessão dois foi chamada de “espelho com defeito”, onde
o professor imitava aquilo que o aluno tocava no instrumento, porém, inserindo pequenas
alterações. Na sessão chamada Síntese, uma atividade de criação guiada foi aplicada, cabendo
249
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
ao professor narrar uma pequena história, dando espaço para que o aluno explorasse
livremente as possibilidades de sonorização.
Para o experimento foram selecionadas duas crianças, uma de seis e outra de onze anos,
que estavam frequentando regularmente aulas de bateria em uma escola especializada no
ensino de música, localizada na cidade de Curitiba-PR.
O teste foi aplicado em uma sala previamente preparada, contendo duas baterias
acústicas dispostas uma em frente da outra, equipadas com pratos e banco, dois pares de
baquetas e duas câmeras digitais.
Todas as sessões foram gravadas no formato de áudio/vídeo. Após cada experimento o
professor realizou algumas observações no formato de um diário de campo.
Discussão
Os dados serão descritos e analisados a partir dos comportamentos reflexivos apresentados
pelas crianças ao decorrer de cada atividade. Os gráficos ajudam a compreender os
comportamentos percebidos e sua frequência.
250
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
14
Número de vezes
9
6
5
5 3 3
1
0
Imitação/variação Corregulação Criança propõe outra frase Toca de turno
Figura 1
Na sessão da atividade de criação guiada, a criança de seis anos demonstrou estar mais
envolvida, contudo, seu tempo de interação também foi curto (figura 3). O gráfico 2
demonstra a ausência de corregulação por parte da criança de seis anos, indicando que não
houve o jogo de interação de modo que as frases tocadas pelo professor não interferiram
naquilo que a criança executou. A criança de 11 anos apresentou frases mais longas,
interagindo com as respostas do professor e alternando os turnos de maneira natural. O tempo
de turno da criança de 11 anos foi maior tanto na atividade de interação como na atividade
guiada (figura 3).
Frequência dos comportamentos reflexivos durante a
atividade de criação guiada
16 15
Número de vezes
12
4
4 3 3 3 3
2
0
0
Imitação/variação Corregulação Criança propõe outra frase Troca de turno
Figura 2
251
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
2,5
Minutos 2,25
1,50
1,09
0,75
0,5 0,46
0,00
Atividade de interação
Figura 3
252
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Considerações finais
Neste estudo foram observadas e discutidas alguns dos comportamentos essenciais para a
interação reflexiva considerando seu potencial para promover a criatividade musical (Addessi,
2014). Os comportamentos analisados permitiram ilustrar a qualidade reflexiva tanto da
atividade de interação como da atividade de criação. Apenas na atividade de criação aplicada
com a criança de seis anos não foi percebido a corregulação, o que parece ter interferido no
jogo de interação entre a criança e professor.
A hipótese da interação reflexiva humano/humano como um recurso para o processo
criativo necessita de mais dados para que possa ser confirmada, contudo, os resultados
indicam que as crianças apresentaram alguns comportamentos importantes para o aprendizado
musical como a escuta atenta, exploração de timbres no instrumento, dinâmica, improvisação
e criação. Estes comportamentos foram encontrados em outras pesquisas utilizando o software
Miror-Impro, como em Addessi (2015).
Do ponto de vista de ferramentas que estimulem o desenvolvimento da criatividade
musical, a interação reflexiva como recurso pedagógico apresentou possibilidades de
exploração no contexto do ensino de instrumento. De um modo geral, a duração do exercício
interativo reflexivo esteve atrelado ao grau de conhecimento apresentado por cada criança no
instrumento, confirmando a ideia de Sternberg (2010) a respeito da importância do
conhecimento como um recurso que potencializa a experiência criativa.
Os elementos que garantem a qualidade reflexiva da experiência, como o mecanismo de
espelhamento de imitação/variação, corregulação, troca de turno, compõem um arcabouço
teórico importante para discutir a criatividade musical no contexto do ensino de instrumento,
253
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
sendo preciso novas pesquisas que explorem tanto a interação humano-humano, como a
interação homem-máquina no ambiente reflexivo.
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254
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Este artigo discute a construção da expertise entre clarinetistas brasileiros. Teve como
objetivos investigar a aquisição da expertise na performance dos participantes, analisando,
particularmente, o papel dos professores no desenvolvimento dessa expertise em performance
musical. O trabalho parte de referenciais teóricos seminais como Dreyfus e Dreyfus (1980), Berliner
(1986,1988), Ericsson et al. (1993) e discute pesquisas mais recentes em torno da expertise musical.
Como estratégia metodológica utilizou-se a entrevista semiestruturada, com quatro clarinetistas
experts. As análises foram realizadas a partir do cotejo entre os discursos dos participantes e a
literatura sobre expertise musical e expertise pedagógica. Através desse processo, foi possível
identificar que professores de clarinete de alto desempenho pedagógico são fundamentais para a
construção do alto nível técnico e artístico das performances musicais dos seus alunos
Palavras-chave: expertise na clarineta, professor expert, pedagogia da performance musical,
expertise artística, expertise pedagógica.
Investigation about the relation between musical expertise and expertise in pedagogy
Astract: This paper discusses the development of expertise between Brazilian clarinetists. The
objective of this research was to investigate the acquisition of musical performance expertise in the
research subjects, focusing on the importance of the Teacher in the development of said expertise. The
research stems from the theoretical works of Dreyfus & Dreyfus (1980), Berliner (1986,1988),
Ericsson et al. (1993) and also more modern researches about musical expertise. The methodology
consisted of semistructured interviews with four expert clarinet players. The analysis was made based
on the excerts between the participants discourse and the references about musical expertise and
pedagogy expertise. Through this process it became identifiable that highly pedagogically oriented
clarinet Teachers are essential for the development of a high technical and artistic level in the musical
performance of their students.
Keywords: clarinet expertise, expert professor, pedagogy of music performance, artistry expertise,
pedagogical expertise.
!1
255
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Teorias da expertise
No contexto da psicologia cognitiva, a pesquisa sobre expertise é classificada em três
gerações de teorias. A primeira geração da teoria da expertise foi influenciada pelos trabalhos
de Newell e Simon (1972), que eram centrados nas teorias de resolução de problemas por
meio dos métodos heurísticos, que poderiam ser aplicados em vários domínios com um
mínimo de conhecimento sobre o conteúdo de cada domínio particular. Essa técnica consiste
na capacidade de reduzir as respostas possíveis ao problema, aplicando métodos gerais de
resolução em qualquer domínio, independentemente de seu conteúdo (Galvão, 2003). A
segunda geração de teorias da expertise foi fundamentada na arquitetura cognitiva
denominada sistema de produção serial desenvolvida por Newell (1973) que criou ligações
entre a ciência cognitiva e a inteligência artificial, que originou-se uma ciência cognitiva
interdisciplinar. O sistema de produção em série simula o desempenho inteligente humano, no
qual a informação é tratada em série, e dirigida por meio de sequências lineares de
informações, porém é limitada somente a uma realização por vez. A terceira geração é o
conexionismo simbólico, no qual as informações são interconectadas à uma rede neural. O
!2
256
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Expertise em pedagogia
As pesquisas sobre expertise em diferentes domínios começaram a ser desenvolvidas a partir
de 1980, sobretudo na área da pedagogia. Nessas pesquisas as características de indivíduos
que apresentavam performance superior despertou o interesses dos pesquisadores das áreas
educacionais, pois as qualidades desses indivíduos se relacionava diretamente com às
características de professores eficientes. Isso despertou o interesse do pesquisador Berliner
(1988) que adaptou o modelo heurístico de desenvolvimento de habilidades proposto pelos
dois irmãos professores da Universidade da Califórnia: o filosofo Hubert Dreyfus, e o
cientista da computação Stuart Dreyfus para o desenvolvimento das expertises pedagógicas.
Baseado nesse modelo de desenvolvimento de habilidades de Dreyfus e Dreyfus (1980),
o pesquisador Berliner (1988) apresentou cinco estágios do desenvolvimento proposto no
modelo tais como: novato, iniciante avançado, competente, proficiente e expert.
O primeiro estágio é o professor novato. Seu comportamento é racional e relativamente
inflexível, e tende a seguir regras e procedimentos que foram instruídos a seguir, e espera-se a
performance dentro de um limite, e a experiência do mundo real parece ser muito mais
importante do que a informação verbal. O segundo estágio é o professor iniciante avançado, e
sua experiência se relaciona com o conhecimento verbal, no qual as semelhanças entre
contextos são reconhecidas e o conhecimento epísódico é construído. O conhecimento
estratégico adquirido permite seguir as regras estabelecidas ou mesmo ignorá-las. O terceiro
estágio é o professor competente, e suas escolhas são conscientes sobre o que irão fazer,
estabelecendo prioridades e decisões sobre esse planejamentos. Os objetivos são bem
definidos, e sabem meios pelos quais alcancarão esses objetivos previamente definidos. O
quarto estágio é o professor proficiente, que desenvolveu intuição e know-how por meio da
experiencia acumulada, reconhecendo similaridades que permitem prever com precisão
eventos. O professor proficiente, embora intuitivo no reconhecimento de padrões e nas formas
de conhecimento, ainda é analítico e deliberativo nas tomadas de decisão. E o último estágio é
o professor expert. Os autores apresentam que os professores novatos, iniciantes avançados, e
competentes são racionais, os professores proficientes são intuitivos, e os professores experts
desenvolveram a habilidade de compreender a situação de maneiras não analíticas, e suas
decisões são tomadas de forma não-deliberativas.
!3
257
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
!4
258
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Neste trecho o participante declara que devido à grande dificuldade que tinha em refinar
sua técnica, seu professor ficava muito tempo com ele, e isso ajudou-o a organizar seu
!5
259
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
pensamento. Declara ainda em outro trecho que o professor o instruir a sempre ouvir
gravações, e após ouvir, sua cabeça armazenava as informações, e assim ia aprendendo. Ou
seja, esse sugestão indicada pelo professor auxiliou-o na memorização das peças musicais.
Segue o trecho dessa narrativa:
Meu professor ficava muito comigo, pois eu era uma pessoa que tinha dificuldade
para refinar a minha técnica. Ele me ajudou a começar pensar nessas coisas, enfim
ele organizou meu pensamento. Uma coisa positiva que meu professor instruiu era
ouvir muito gravações de boa qualidade. E eu lembro que ele falava: não fica só
ouvindo clarinete, ouve piano, violino, e eu sempre ouvi, e minha cabeça
armazenava muito aquilo que eu ouvia, e eu ia aprendendo junto com isso.
Nesse trecho fica evidente que os processos utilizados pelo professor consistem nas
etapas do planejamento estratégico da prática deliberada, tais como: elaboração de estratégias
de estudo diário, com metas estabelecidas e objetivos definidos. A seguir o trecho que
evidencia o planejamento de estudos do participante elaborado por seu professor:
Meu professor elaborou um plano de estudo diário para mim que incluía, vinte
minutos de nota longa, uma hora de escalas, 40 minutos de estudos, e uma hora de
peças diversas, que incluía sempre uma peça solo, uma sonata e um concerto. Então
ficou mais ou menos estabelecido um tempo de três ou quatro horas diárias
!6
260
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Considerações finais
A literatura sobre expertise em docência se desenvolveu principalmente na área educacional e
o objetivo principal dessas pesquisas consiste em investigar a aquisição da expertise
pedagógica. Os primeiros pesquisadores que investigaram a aplicação dos resultados obtidos
em Educação e Psicologia à prática musical, evidenciaram desempenhos de notáveis
professores de música em geral, mas não puderam desenvolver investigação igualmente
consistente no campo da pedagogia da performance musical. Dentre outras questões que vêm
sendo abordadas mais recentemente, no Brasil e no exterior, destaco: como um determinado
professor de instrumento tornou-se um professor expert ?
A investigação inicial de minha pesquisa atual teve por objetivo principal analisar o que
declararam quatro clarinetistas brasileiros reconhecidos como experts, acerca do desempenho
de seus professores e do papel que este desempenho teve no desenvolvimento dos alunos
como instrumentistas experts. Com base na análise preliminar desses dados surgiu a questão:
em que medida suas expertises em performance na clarineta estariam fundamentadas no alto
desempenho pedagógico de seus professores? Os resultados preliminares dessa análise
cotejado com o quadro teórico construído até aqui vêm evidenciando que sim. Contudo, as
análises também apontaram lacunas teóricas que exigem preenchimento, a fim de
possibilitarem um aprofundamento da avaliação das práticas pedagógicas desses professores
e, enfim, fundamentarem um exame mais objetivo: (1) da relação entre expertise pedagógica e
competência artística do estudante de performance musical; e (2) da relação entre expertise
artística e competência do professor de performance musical.
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!8
262
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Danilo Ramos
Universidade Federal do Paraná
daniloramosufpr@gmail.com
Resumo: A literatura acerca da expertise mostra que as habilidades a serem desenvolvidas pelos
indivíduos podem variar significativamente, mesmo dentro de um domínio. No âmbito da música, o
fazer pode possuir comportamentos diferentes, especialmente em relação ao repertório musical a ser
executado, que influenciará a prática deliberada, caminho mais indicado para a obtenção de uma
performance em nível de expert. Egberto Gismonti, multi-instrumentista e compositor brasileiro de
renome internacional, costumou, ao longo de sua carreira, realizar ao piano performances de modo a
encará-las de maneira pouco convencional. O objetivo desta pesquisa é realizar uma reflexão sobre
uma concepção de performance e um modo de encarar a prática deliberada baseados em relatos de
Gismonti. Para isso, depoimentos do músico a respeito da maneira como ele considera sua
performance e sua prática deliberada foram coletados e analisados em relação à literatura disponível
sobre o tema. Os resultados apontam que a interpretação musical de Gismonti tem como um dos
objetivos principais a criação de recursos cognitivo-motores para variar a performance de sua música
a cada exposição de suas partes em termos de forma, sonoridade, harmonia, acompanhamentos e
melodia. Conclui-se, portanto, que é necessário que haja o planejamento de práticas deliberadas
afinadas diretamente com esse propósito, no intuito de trazer alternativas estratégicas para que
estudantes de piano possam realizar performances musicais como aquelas do compositor em questão.
Palavras-chave: expertise, prática deliberada, Egberto Gismonti.
Egberto Gismonti’s musical expertise suggests the planning of an alternate deliberate practice: a
preliminary study
Abstract: The literature about expertise shows that skills to be developed by individuals can vary
significantly, even within a domain. In a music context, the musical making may have different
behaviours, especially in relation to the musical repertoire to be performed, which will influence the
deliberate practice, the most suitable way to obtain performance at the expert level. Egberto Gismonti,
a multi-instrumentalist and internationally renowned Brazilian composer, used throughout his career
to perform piano performances in an unconventional way. The objective of this research is to carry out
a reflection about a conception of performance and a way of facing the deliberate practice based on
Gismonti's reports. For this, the musician's statements about the way he considers his performance and
his deliberate practice were collected and analyzed in relation to the available literature about the
subject. The results point out that Gismonti's musical interpretation has as one of the main objectives
the creation of cognitive-motor resources to vary the performance of his music to each exposition of
its parts in terms of form, sonority, harmony, accompaniments and melody. It is concluded, therefore,
that there is a need for the planning of deliberate practices directly attuned to this purpose, in order to
bring strategic alternatives for students achieve musical performances such as those of the composer
in question.
Key-words: expertise, deliberate practice, Egberto Gismonti.
Introdução e objetivo
Por expert, entende-se alguém amplamente reconhecido como uma fonte confiável de
263
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
264
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
Segundo Gil (2002), a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda
tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com o objetivo da
pesquisa. Desse modo, o método utilizado na presente pesquisa foi o documental de caráter
exploratório interpretativo, a partir de depoimentos de Egberto Gismonti encontrados na
dissertação A Interpretação e o pianismo de Egberto Gismonti em sua obra "Sonhos de
Recife” (2005) de Cândida Silva, que tivessem foco no tema expertise e sua prática
deliberada.
265
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resultados
São apresentados aqui alguns dos resultados mais expressivos para os objetivos desse estudo.
No grupo 1, sobre como Egberto Gismonti concebe sua performance, foram encontrados os
seguintes relatos:
“Se eu conhecer as outras partes e a minha, e a coordenação delas, qualquer acontecimento que
não seja aquele que esteja previsto não é um erro. É uma abertura. Pode ser chamada de
improvisação, ou uma brecha que abriu. Quantas vezes você estava pretendendo tocar notas tais e
por um descuido qualquer você tocou outra, que te pareceu muito melhor? A liberdade ou a
preparação para um concerto é que você tem que ficar tão veloz, [que] qualquer ocasional que
aconteça e que seja bom te faça esquecer o que estava combinado. Você vai seguindo a música
que está se apresentando pra você. Esse é o processo de preparação que não dura uma temporada,
nem duas; dura a vida. [...]” (Silva, 2006, p.61).
“Para aqueles que têm uma leitura profunda, a compreensão é muito mais ampla, porque não é um
compasso, é o contexto todo. Leva isso para um ator: você nunca vai ver a Fernanda Montenegro
gaguejar uma peça, ou parar, porque se ela esquece 1, 2, 3, 4, 5 palavras, ela lembra as outras 15
mil. Porque o que interessa são as 15 mil, e não as 10” (Silva, 2006, p.61).
“Mas eu, como compositor, passei a não considerar mais nenhum erro de nada, até porque eu já
errei e qualifiquei muito o que eu estava fazendo. Muitas vezes eu toquei coisas erradas e pensei
“Mas isso aí é muito melhor do que eu tinha pensado!” (Silva, 2006, p.61).
“Várias vezes eu fui repreendido pelos meus professores porque eu ficava brincando com esses
exercícios, e fazendo tentativas de coisas que teoricamente eram impossíveis, mas hoje eu
faço” (Silva, 2006, p.53).
“Escalas eu adorava, e praticava de maneira que uma mão estava numa diferença de um semitom
em relação à outra” (Silva, 2006, p.53).
“Tem gente que precisa estudar muito, outras nem tanto. [...] Mais ou menos isso o que eu aprendi
na prática, quando me dei conta que essa minha desordem era em função de uma ordem que me
deram. E eu, a vida inteira, nunca segui nenhuma ordem. Essa desordem criou-se desde que eu era
muito pequeno” [...] (Silva, 2006, p.53).
“Nos estudos técnicos, Behringer, Czerny, há muitos e muitos anos, eu encontrava o que gostava,
porque aquilo ali é só uma questão de você praticar o que você quer ouvir. Aquilo é muito chato,
mas se você quiser, você harmoniza de uma maneira muito interessante, ou torna ritmicamente
interessante. Eu não tinha consciência de que eu estava iniciando um processo de exercício para
independência. Por várias vezes eu mostrei esses exercícios, já aqui no Rio, para pessoas como
Dulce Vaz Siqueira, Aurélio Silveira, acentuando uma mão diferente da outra. Mas com o tempo
eles começaram a aceitar. Era tradicional, mas não totalmente” (Silva, 2006, p.54).
“O que eu tenho absoluta certeza é que eu nunca gostei da repetição técnica para me libertar a ser
um bom intérprete. Eu nunca acreditei que isso liberta o intérprete” (Silva, 2006, p.57).
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“Qualquer pianista tradicional que faz uma carreira como intérprete, que é o meu caso, se prepara
igualmente para todas as performances. Seguramente, ele vai sofrer muito mais do que deveria.
Porque se ele se prepara no nível técnico para a melhor performance do mundo, e não encontra,
em 90% dos locais, o piano que ele precisa, ele vai se aborrecer e isso vai interferir. Aí, o que eu
falei: é o emocional, não é o sensorial. Prepare a música, não o piano. [...] Eu estou falando de
preparação, só não é a tradicional [...]. Então, a preparação é relativa, e é específica” (Silva, 2006,
p.59).
“Então quando eu digo que me preparei, eu me preparei para tocar aquela sala. Não é tocar
naquela sala, mas tocar aquela sala. Tanto que faz parte da preparação técnica, independente de
quanto eu estudei...” (Silva, 2006, p.60).
“Quando eu chego no Colón, faço “plin” e o teatro faz “roooom”, ele está conversando comigo.
[...] “Eu não vim aqui pra tocar piano, eu vim tocar piano nesse teatro. Se não, eu ficava em casa”.
Se o teatro passou a ser o segundo estágio da composição, que é o intérprete, aí o “Frevo” passou
a ser [canta um trecho da música liricamente]. Essa liberdade é evidente que eu admito
[...]” (Silva, 2006, p.66).
Discussão
Os depoimentos acima encontrados apresentam traços comportamentais bastante singulares
de Gismonti enquanto intérprete. Em sua análise sobre o disco Alma, Gomes (2015) considera
a forma, a sonoridade, as harmonias, os acompanhamentos e a melodia como recursos
utilizados pelo compositor para criar variação para as performances e, embora as seções das
músicas se repitam, há sempre algo que costuma ser modificado entre a exposição e uma
reexposição. Gismonti também varia bastante a sonoridade de suas interpretações. Tanto a
alteração de dinâmicas, quanto de articulações são usadas para que transite entre uma seção
da peça e outra ou mesmo para variações internas às seções, utilizando-se de articulações
diferentes em repetições subsequentes, por exemplo. Além disso, em relação às melodias,
Gismonti apresenta duas maneiras básicas de variação: a primeira com a alteração de
elementos como a rítmica das frases, ou pela adição de ornamentos e a segunda pela criação
de frases sobre uma harmonia pré-estabelecida, como é comum na execução do jazz. O autor
ainda aponta que se trata de um pianista com recursos para poder variar suas performances
por caminhos interpretativos - como uma mudança rítmica de uma melodia ou pela alteração
de sua dinâmica em relação à execução anterior - ou pela combinação de outros
procedimentos, como a mudança brusca de uma seção de articulação predominantemente
legato para outra, ainda não executada, cuja forma de se acompanhar é modificada, assim
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como sua articulação, e sob a qual a melodia ganha notas extras, ou é tocada em blocos. O
que torna essas interpretações ainda mais complexas é o fato de que essas variações não são
escritas, o que faz com que muito do que acontece nas interpretações estudadas seja decidido
durante as performances.
Segundo Chi (2006), a expertise parece estar limitada ao domínio e a um contexto
dentro de um domínio. Além disso, a autora afirma que experts são mais bem sucedidos em
escolhas de estratégias apropriadas para a resolução de problemas e também são mais
oportunistas na utilização de recursos (informações disponíveis) para a solução desses
problemas. Já no estudo realizado por Duke, et al. (2009) acerca da diferença entre a prática
deliberada de pianistas de diferentes níveis de expertise, os pesquisadores afirmam que um
dos diferenciais entre os pianistas de mais alto nível de expertise e os de níveis menores é a
capacidade de lidar com erros (o autor se refere a erros referente a notas musicais ou mesmo
erros de interpretação). Os autores afirmam que, ao contrário do que os pianistas de menor
nível de expertise imaginavam, os melhores pianistas relataram não cometer menos erros nos
inícios de suas práticas, mas sim de apresentarem maior capacidade de corrigi-los e evitar a
reincidência no curso de suas carreiras.
“Flexibilidade essa, que é alcançada além de sua concepção musical, pelo domínio técnico que
possui do instrumento. O que notamos é um pianista com recursos para poder dar variedade e
interesse às suas performances por caminhos extremamente sutis - como uma leve mudança
rítmica de uma melodia ou até mesmo pela alteração de sua dinâmica em relação à execução
anterior - ou a combinação de muitos tópicos, como a mudança brusca de uma parte de
articulação predominantemente legato para outra, ainda não executada, cuja forma de se
acompanhar é modificada, assim como sua articulação, e sob a qual a melodia ganha notas extras,
ou é tocada em blocos” (Gomes, 2015, p.188).
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alvo, parecem importantes, mas não suficientes para uma performance que tem como objetivo
modificar diversos elementos das composições em tempo real.
Este artigo tem como apontamentos futuros a realização de estudos longitudinais que
envolvam o desenvolvimento de uma metodologia de prática deliberada com exercícios que
permitam ao estudante comportar-se de acordo com as indicações encontradas nos
depoimentos de Egberto Gismonti.
Referências
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Introdução
A capacidade de distinguir diferentes indivíduos é essencial para os seres humanos
estabelecerem vínculos sociais. Dentre as diversas características que podem estar
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relacionadas à individualidade estão: traços faciais, voz, jeito de andar, etc. Além disso, a
individualidade pode ser comunicada de forma eficiente por meio da música.
É possível observar uma consistência entre diferentes execuções de uma peça pelo
mesmo músico. Diante do fato que conseguimos perceber essa consistência e relacionar a
performance ao indivíduo, a única hipótese possível é que existe nessas performances um
conjunto de características comuns, que são então percebidas como únicas daquele intérprete
e que as distinguem de performances executadas por outros intérpretes.
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andamento, dinâmica, etc. Enquanto isso, na música popular, visto que muito é transmitido de
forma oral e informal, há vários exemplos de músicos que não leem sequer uma nota na
partitura. Certamente tais diferenças influenciam os parâmetros disponíveis para o músico
expressar sua individualidade nestes diferentes contextos culturais.
Tipicamente, ouvintes esperam de um intérprete mais do que simplesmente a execução
de uma performance padrão. Repp (1999) argumenta que a diversidade é importante porque
oferece aos ouvintes diferentes perspectivas sobre uma mesma peça. Já para o intérprete, duas
forças opostas precisam ser equilibradas: convencionalidade e individualidade. Se por um
lado, artistas tendem a seguir certas normas estéticas, por outro lado eles desejam se distinguir
de outros músicos e expressar algo mais. Portanto, se espera que o músico se distancie da
linha de base, em algum grau, sem que a performance deixe de ser ideal, ou seja, sem
ultrapassar os limites esperados para determinado contexto (gênero, repertório ou contexto
cultural).
Quantificando a individualidade
Em um estudo envolvendo 28 performances da peça ‘Träumerei’ de Robert Schumann,
executadas por 24 pianistas (Repp, 1992), foi identificada a recorrência de padrões temporais
globais baseados na estrutura da composição, e de padrões locais de manipulações temporais,
tais como ritardandos. Tal recorrência foi observada em performances executadas por
pianistas distintos, indicando a existência de uma uniformidade na interpretação de
determinados aspectos da composição. Em contrapartida, o autor identificou a existência de
variações temporais individuais na interpretação de certos gestos musicais, que segundo o
próprio autor seriam suficientes para considerar cada execução como única, mesmo que
outros parâmetros expressivos não tenham sido levados em conta. Já as performances
realizadas por um mesmo pianista, apesar de distintas, eram mais similares entre si, indicando
algum grau de consistência em interpretações de uma peça executada por um mesmo
indivíduo.
Várias evidências sugerem que humanos utilizam os valores médios dos membros de
uma categoria para gerar internamente uma espécie de representação mental de uma ideia
estética. Alguns autores adotam o termo protótipo para se referir a tal ideia estética (Wöllner
et al., 2012; Repp, 1997). Segundo um estudo realizado por Langlois e Roggman (1990),
rostos humanos gerados digitalmente, constituídos pelos atributos médios de rostos reais, são
geralmente considerados mais atraentes do que os rostos originais. O mesmo ocorre com a
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voz humana, conforme mostrado por Bruckert et al. (2010). Vogais geradas a partir da
combinação de várias vozes foram consideradas mais atrativas do que as vozes individuais.
Repp (1997) realizou dois experimentos nos quais ouvintes avaliaram performances geradas
artificialmente utilizando valores médios de performances individuais. As performances
originais também foram avaliadas pelos mesmos ouvintes. Os resultados mostraram que as
performances geradas por valores médios foram consideradas superiores às originais no
aspecto qualidade. Entretanto, quando avaliadas sob o aspecto individualidade, as
performances médias foram avaliadas como inferiores, ou seja, há uma correlação negativa
entre as dimensões qualidade e individualidade. Portanto, é provável que a tendência de a
média ser mais atraente não se confirme de maneira inequívoca quando se trata de um objeto
artístico, que passa ser mais atrativo quando se percebe o afastamento da média.
Em conformidade com a abordagem metodológica adotada por Repp (1997), Wöllner
(2013) argumenta que para avaliar o grau de individualidade de uma performance, é
necessário determinar uma linha de base a partir da qual se possa estabelecer uma
comparação. Ao invés de utilizar uma performance sem expressão gerada por computador,
essa linha de base deve consistir nos valores médios das características expressivas, obtidos a
partir de várias performances humanas, dentro de um mesmo contexto cultural. Uma
performance que se distancie dessa linha de base seria, portanto, uma performance mais
individual, enquanto a performance média estaria relacionada ao protótipo a partir do qual os
músicos expressam sua individualidade. Há estudos que utilizam os valores nominais
representados na partitura como linha de base para tal análise, entretanto, os estudos mais
atuais convergem na ideia de que trabalhar com a média é uma estratégia metodológica mais
adequada no estudo da individualidade. Stamatatos (2002) apresenta um artigo no qual ele
compara as duas estratégias de forma empírica, e mostra que por meio da utilização de valores
médios é possível obter uma taxa de acerto maior em um classificador com o objetivo de
identificar o intérprete de uma performance.
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1
Texto na edição em inglês: “The standard idea is by no means the entire archetype of beauty within this kind, but
is only the form that constitutes the indispensable condition of all beauty, and hence merely the correctness in the exhibition
of the kind. (...) It is precisely because of this, too, that the standard idea cannot contain any specific characteristics, since
then it would not be the standard idea for that kind. Nor is it because of its beauty that we like its exhibition, but merely
because it does not contradict any of the conditions under which alone a thing of this kind can be beautiful. The exhibition is
merely academically correct.”
2 “[Bending ou] pitch bending se refere ao ajuste da altura de uma nota. Geralmente representa uma suave variação
contínua da altura, que pode se dar na transição de uma nota para outra, nesse caso denominada portamento ou
glissando” (Chen, Smith, & Wolfe, 2009, tradução nossa).
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de identificar o intérprete a partir do perfil de vibrato de notas isoladas, com taxa de acerto de
66,4%, em um conjunto de dados contendo performances de oito guitarristas.
A combinação de vários descritores de expressão tende a gerar modelos mais robustos
para identificação de instrumentistas. Kroher e Gómez (2014) desenvolveram um modelo para
identificação automática de cantores em estilos de performance improvisativos, utilizando um
conjunto de descritores de timbre, vibrato, ornamentação, dinâmica e altura. Para a etapa de
classificação, utilizaram SVM (Support Vector Machines). O modelo proposto alcançou taxas
de acerto acima de 80% na identificação do cantor utilizando todo o conjunto de descritores
proposto.
Ainda há relativamente poucos estudos que visam estudar a individualidade em gêneros
musicais que envolvem improvisação, certamente em grande parte devido às dificuldades
metodológicas. Para ir além da análise de características específicas individuais e se obter
uma representação mais ampla da individualidade na improvisação, se faria necessário adotar
alguma metodologia que permitisse, por exemplo, analisar as ideias expressadas pelo músico
por meio da melodia improvisada. Possivelmente desenvolver um modelo simbólico que
permita relacioná-las com a estrutura pré-definida da peça.
Aplicações
O conhecimento dos processos envolvidos na construção da individualidade musical em
performances musicais pode ampliar os horizontes para o surgimento de novas abordagens
pedagógicas na prática musical, novas tecnologias para produção musical, ou até mesmo
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Considerações finais
É notável o crescimento, nos últimos anos, dos estudos que abordam diretamente a
quantificação da individualidade musical, as diferenças individuais e a identificação
automática de músicos. Vários estudos proeminentes sugerem que para se quantificar a
individualidade, a melhor abordagem é estabelecer uma linha de base constituída das médias
de várias performances (protótipo), a partir da qual seja possível caracterizar uma
performance individual. Apesar de vários resultados significativos terem sido alcançados em
estudos relacionados à música erudita, há ainda poucos estudos relacionados a gêneros que
envolvem improvisação. Tais estudos certamente dependerão do desenvolvimento de novas
ferramentas e estratégias metodológicas. Particularidades de certos instrumentos musicais ou
contextos culturais abrem possibilidades para a ampliação de estudos mais específicos sobre a
individualidade musical, nos quais algumas abordagens metodológicas citadas neste trabalho
podem vir a ser utilizadas.
Referências
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Resumo: Este artigo é um recorte de uma pesquisa que teve como foco apontar elementos criativos e
motivacionais da prática de docência de uma regente no processo de ensino/aprendizagem no contexto
de um coro infanto-juvenil da cidade de Curitiba/PR. A metodologia utilizada foi um estudo de caso,
definido por Ventura (2007) como, uma investigação específica de um determinado caso definido a
priori pelo pesquisador. Os dados foram coletados através de cinco observações dos ensaios do coro e
um questionário realizado com os participantes do coro estudado. Através dos resultados foi possível
destacar que, o canto coral é uma atividade que favorece o aprendizado musical e as atividades lúdicas
e criativas influenciaram positivamente a motivação e o envolvimento das crianças e adolescentes. Os
resultados podem colaborar com novas pesquisas em diferentes contextos trazendo novas
compreensões para a área da Educação Musical e Coro infantil.
palavras-chave: motivação, criatividade, coro infantil.
1. Introdução
Este artigo é um recorte de uma pesquisa realizada em uma universidade de Curitiba/PR, que
buscou investigar os procedimentos didáticos de uma regente que colaborassem com os
processos criativos e motivação da prática musical de um coro infanto-juvenil. O objetivo
geral foi investigar, no contexto de um grupo coral infanto-juvenil, os procedimentos
didáticos que propiciavam motivação e processos criativos para a prática musical do grupo, na
manutenção e aquisição de repertórios. A metodologia utilizada na pesquisa inicial foi um
estudo de caso único e a coleta de dados incluiu observações dos ensaios do coro, entrevista
com a regente e aplicação de questionário aos integrantes do coro. Nesse texto serão
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2.1 Criatividade
De acordo com Carneiro (2010), pesquisas sobre criatividade começaram a ser realizadas a
partir do século XX, especificamente nos anos 50. O objetivo dos estudos até os anos 70 era
descrever o perfil do indivíduo criativo, bem como o aprimoramento de técnicas que
desenvolvesse a criatividade. Com o decorrer dos anos, as pesquisas passaram a observar a
criatividade sob as influências de fatores sociais, culturais e históricos (Alencar, 2016, p. 01).
Segundo Barrett (2009), criatividade é um termo que gera discussão entre os pesquisadores da
área para chegar a uma única definição, pois depende da ótica que o pesquisador irá enfatizar:
o processo criativo (pensamento criativo e motivação), o produto criativo (invenções ou obras
de arte), a pessoa criativa (dando ênfase a emoções, valores e temperamento), e o ambiente
(social e cultural) em que a atividade criativa acontece. Muitos pesquisadores definiram a
criatividade como um processo de criar algo original, como música, teatro, dança, uma nova
história, inovações tecnológicas e etc. Para Torrance (apud Novaes, 1971, p.18).a criatividade
é definida como: “processo que torna alguém sensível aos problemas, deficiências, hiatos ou
lacunas nos conhecimentos, e o leva a identificar dificuldade, procurar soluções, fazer
especulações ou formular hipóteses, testar e retestar essas hipóteses, possivelmente
modificando-as, e a comunicar os resultados”.
2.2 Motivação
A motivação é um tema que pode ser trabalhado em diversas áreas da vida, influenciando as
atitudes e escolhas de um indivíduo. Segundo Bzuneck (2009), a origem da palavra motivação
vem do verbo latino movere, que significa motivo, sendo assim o termo é algo que possui
relação direta com a ação que move um indivíduo a executar uma determinada tarefa. A
motivação é discutida no contexto do ambiente escolar mantendo relação direta com o
processo de aprendizagem do aluno, assim como é abordada no ambiente de aprendizagem
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musical. Diversos trabalhos têm sido desenvolvidos sobre motivação e música com apoio de
referenciais teóricos e teorias que investigam fatores que colaboram ou não com o
desenvolvimento da motivação na aprendizagem musical (ARAÚJO & ANDRADE, 2013).
Dentre esses estudos destacam-se autores como: Araújo (2010, 2013); Araújo e Pickler
(2008); Araújo e Andrade (2013); Bzuneck (2009); Guimarães (2009) entre outros autores.
3. Metodologia
A metodologia dessa pesquisa é o Estudo de Caso, definido por Gil (2002) como, “um estudo
profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado
conhecimento” (2002, p.54). A unidade-caso escolhida nesta pesquisa foi um coro infanto-
juvenil da cidade de Curitiba/PR. Os instrumentos de coletas de dados utilizados foram: cinco
observações dos ensaios registradas em um caderno de campo; entrevista semiestruturada
com a regente registrada por meio de uma gravação de áudio; e um questionário aplicado aos
participantes do coro. Foi realizado um teste piloto com cinco integrantes de diferentes coros
de Curitiba/PR e São José dos Pinhais/PR para que fosse possível validar o questionário.
Portanto, para esse artigo, serão apresentados apenas os resultados das observações dos
ensaios e do questionário aplicado aos participantes do coro.
Os participantes foram 18 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos que fazem parte do
coro estudado. O questionário foi dividido em duas partes: (1) dados gerais dos participantes;
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e (2) questões sobre a participação nos ensaios, sobre repertório e sobre as apresentações do
coro, em escala Likert de três ou cinco pontos, na qual um (N=1) correspondia a não gosto e
cinco (N=5) a gosto muito.
• É possível observar uma ordem • Como os regentes recebem as • Como as crianças reagem quando
nas atividades? crianças? chegam ao ensaio?
Durante as observações foi possível verificar vários aspectos sobre motivação das
crianças, sobre a importância do ensino da música através do canto e sobre as possibilidades
da utilização de processos criativos durante os ensaios. As crianças e os adolescentes
chegavam animados para o ensaio, gostavam de cantar no coro e eram muito receptivos com
as atividades musicais e repertório propostos pela regente. O ambiente de ensaio era um
momento descontraído entre os integrantes, no qual a relação entre os mesmos e com os
regentes é espontânea e amigável. Para Amabile (1998), o ambiente é fundamental para o
desenvolvimento da criatividade. De acordo com Wechsler (1993), o ensino criativo deve ser
realizado pela motivação intrínseca do indivíduo, ou seja, através da motivação interna e não
por fatores externos, como recompensa ou punição.
Por meio das observações, foram identificadas atividades musicais lúdicas e criativas,
tanto nos exercícios de aquecimento vocal, quanto na prática do repertório. Dentre estas
atividades, é possível destacar:
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analisar esta questão foi possível verificar a motivação dos participantes durante os ensaios.
Durante as observações dos ensaios, foi observada a presença de diferentes atividades
musicais lúdicas e criativas, nas quais colaboravam para a concentração e motivação dos
participantes. Neste sentido Kohlrausch (2015, p.58) afirma que “o contexto social pode
influenciar na motivação dos coristas”.
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A quarta questão foi sobre a participação dos integrantes nas apresentações do coro.
A maioria dos integrantes (N =16 alunos, 89%) indicou que “gostam muito” e dois (N=02
alunos, 11%) integrantes “gostam” de participar das apresentações do coro (ver gráfico 4). As
questões “mais ou menos”, “gosto pouco” e “não gosto” não foram indicadas pelos
participantes. Segundo Góis (2015), as apresentações do coro são importantes para o processo
da prática coral, pois afeta diretamente na motivação do grupo e é um dos meios para realizar
a avaliação do trabalho.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
5. Considerações finais
Os dados analisados demonstraram resultados relacionados ao uso de processos criativos no
ensaio do coro por parte da regente e à motivação dos integrantes em participar das atividades
e apresentações do coro. Em relação às três categorias de analise definidas no questionário
(ensaios, repertório e apresentações) a questão que foi mais destacada pelos participantes foi
relacionada à motivação em participar das apresentações do coro. A questão que obteve o
menor índice de respostas “gosto muito” foi sobre as atividades de aquecimento vocal.
Através dos resultados obtidos nesta pesquisa foi possível destacar as atividades de canto
coral enquanto procedimento para a aprendizagem musical e aquisição de habilidades e
também foi possível concluir que as atividades criativas podem influenciar de forma muito
positiva na motivação dos coralistas e no desempenho musical e envolvimento dos mesmos
com as atividades realizadas.
285
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Referências
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286
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: O presente artigo pretende discutir, a partir de uma perspectiva teórica, o papel da
imagética musical e da metáfora como recurso ativador/indutor do gesto no processo de
construção da interpretação e na performance musical. Considerando o termo “imagética” como
referente às representações mentais de informações vindas da nossa interação com o mundo físico,
e preservadas na nossa memória sensorial incorporada, a imagética musical não considera apenas
representações mentais aurais, mas também visuais e motoras. A partir de uma revisão de literatura
específica, este artigo propõe relacionar o conceito de “imagética musical” com a teoria da
“cognição musical incorporada” considerando a metáfora como “gancho” cognitivo entre o
domínio da representação mental e a realização musical através da interpretação e performance. A
partir desta reflexão, buscamos investigar o papel da metáfora como recurso ativador/indutor do
gesto corporal no processo de construção da interpretação e na performance musical expressiva.
Este artigo é parte da revisão de literatura de pesquisa de doutorado em andamento que estuda o
gesto (movimentos corporais específicos) na construção da interpretação e performance expressiva
da harpa de pedais, identificando seus significados e funções através de uma abordagem
exploratória de caráter empírico.
Palavras-chave: imagética musical, cognição musical incorporada, metáfora, gesto.
Introdução
Como descrevemos música objetivamente? Como descrevemos as sensações que ela nos
evoca? E ainda, como o perceber e o descrever afetam a forma como fazemos música? Estes
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As heurísticas na performance fazem com que o tocar seja muito mais fácil de
controlar, ao produzir sons que parecem corretos de se ouvir aprendendo a fazer
estes sons parecerem corretos de se tocar. Este processo envolve a combinação do
som pretendido a uma imagem, como forma de auxiliar na produção da ação precisa
requerida para tornar o som capaz de gerar no ouvinte uma resposta que, mesmo que
não seja exatamente o que o músico intencionou, desempenhará o seu papel na
criação de uma performance expressivamente persuasiva da partitura. (Leech-
Wilkinson e Prior, 2014, p.55)
Deste modo, através dos anos de prática e experiência, torna-se possível a cada músico
codificar informações dinâmicas, emocionais e motoras para a realização de efeitos
particulares até que se tornem mais naturais. Leech-Wilkinson e Prior consideram que a
“imagem” é a chave para este processo, onde a metáfora se apresenta como uma “poderosa
técnica multimodal cujas causas ainda necessitam ser desvendadas” (2014, p.55).
Relações metafóricas sinestésicas são comuns (ou mesmo fundamentais) para o
aprendizado, percepção, interpretação e performance musical. No cotidiano do músico é
muito comum vermos metáforas nas indicações de andamento e caráter (ex: Allegro
Spirituoso, Lento, Doloroso e etc, que denotam não só o andamento, mas também estados
emocionais), no uso para descrever características do som (aveludado, áspero, claro, escuro,
doce, etc...) e do gesto (metáforas para o movimento como: “como uma onda”, “fluido” e etc).
Também é possível observar esta mesma relação metafórica, através do cruzamento de
modalidades em análises de performances com abordagens empíricas do movimento na
performance (em um nível mais amplo) e do gesto corporal (em um nível mais específico)
como o traçado musical em resposta ao estímulo musical (Repp, 1992; Godoy, Haga e
Jensenius, 2006). Neste exemplo, vemos o cruzamento de modalidades entre o domínio da
percepção aural e sua tradução através do domínio visual como a notação resultante da
resposta ao estímulo aural.
A partir destes exemplos torna-se notável o quão comum é este cruzamento de
modalidades e o quanto é importante à tomada de consciência que estes estudos podem
proporcionar tanto para a continuação da pesquisa sobre estes fenômenos quanto para a vida
prática de performers musicais.
Considerações finais
A imagética é uma combinação de vários aspectos da nossa percepção que estão guardados na
nossa memória incorporada, ativada por nossas habilidades cognitivas. No contexto musical
instrumental esta combinação envolve não só aspectos aurais da nossa percepção, mas
291
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
também visuais e motores. Estes elementos podem formar desde a representação mental de
um som até formas sonoras mais amplas como uma estrutura musical.
A partir da literatura revisada, sugerimos que a metáfora pode ser uma das maneiras de
formalizar a imagem musical de um som a favor da realização deste através do gesto corporal
sobre o instrumento, como por exemplo: uma metáfora para um som, como aquilo que dá os
subsídios necessários para a formalização da imagem deste som e para a incorporação deste
conhecimento através da ação. Esta formalização poderia possibilitar a transformação desta
ideia, ou imagem, em um gesto que tem como finalidade o sucesso da intenção sonora que se
quer realizar.
A partir deste contexto é possível considerar que as metáforas podem ser um recurso
imagético que induz o gesto intencionado, mesmo que este seja um gesto novo e não realizado
nenhuma vez anteriormente (é neste ponto que acessamos nosso “conhecimento incorporado”
através da nossa memória “sensorial-motora” e habilidade associativa), o que poderia explicar
o frequente uso heurístico das metáforas como recurso didático no aprendizado da técnica
instrumental, interpretação e performance musical expressiva.
Referências
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
293
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Abstract: The aim of this work is to examine the physical gestures performed by the musicians
during a musical performance through the visual analysis using the Laban-Bartenieff Movement
system. The purpose is to suggest an investigation for observers perceiving movement without
formal training in this topic. For this, we designed an experiment involving five professional flutists
who were asked to play two different excerpts, four times each one: (1) the second movement of
Wind Quartet No. 2, in G major by G. Rossini, (2) Allegro meno mosso of Woodwind Quartet by H.
Villa-Lobos. The motion and audio of different flutist performances were analyzed to evaluate the
relationship between physical gestures and musical phrase organization. Concerning the relation
between ancillary gestures and the expressive intentions, we observed three dominant trends:
grouping by musical phrase, enhance sense of tempo or rhythmic unit and the conduction of musical
motif. The findings point to a possible relationship between musicians’ movement and the planning
of musical phrases, given that the motion conveys the performer’s musical intentions.
Key-words: nonverbal communication, musical gesture, musical expression, music performance.
Introduction
The process in which the musical communication occurs varies broadly. Empirical research
has shown evidence that performers manipulate consciously different acoustic parameters,
aiming at expressing their ideas to the audience and to other musicians.
The physical gestures produced by players, during their performance, are another aspect
that has been observed by a broad group of researchers. Results have indicated that although
body movements are essential to the sound production of the instrument, gestures, in many
294
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
cases, are so closely related to the musicians’ artistic intentions (M. Wanderley, 2002).
The term ancillary gestures designates those gestures that are part of performance but
are not produced to generated sound (Miranda & Wanderley, 2006) and these movements
have been considered essential to the instrumentalist’s performance. Furthermore, these
gestures are stable and reproducible even after extended periods of time.
Jane Davidson was able to observe that the audience can recognize the musician’s
expressiveness in both modalities: acoustical and visual. Furthermore, results have shown
that participants considered the image as important as sound (Davidson, 1994). Susan Goldin-
Meadow also corroborated with the idea that gestures appear to serve an important function
for listeners (communication), although the mechanism by which we produce gestures need
not involve communication and the audience. An alternative possibility is that we provide
gestures as part of the process of thinking (Goldin-Meadow, 2005).
According to Goldin-Meadow, gestures appear along with speech and consequently,
assumes the intentionality of communication. The author explains that the speakers may not
be entirely aware of having produced hand movements, but they are very conscious of having
spoken. In this sense, the gestures are used for communication and, consequently, they are
deliberate. According to Rudolph Laban, the performers make use of their movements from
their abilities and acquired skills to convey expressions, intentions, and emotions (Chagnon,
Campbell, & Wanderley, 2005).
The aim of this work is to analyze the physical gestures executed by musicians during a
musical performance and to examine the pattern of gestures related to their artistic intentions
and aspects of the musical structure, using the Laban-Bartenieff system. The purpose is to
suggest an investigation of perceived movement by observers without formal training in this
topic.
Although musicians express awareness through the manipulation of sound, most players
are likely to show movement throughout their bodies in some way. In this study, we use the
gestures during the investigation of musical phrase boundaries. Given that motion is
associated with musical discourse, our hypothesis is that gestures can express the way which
musicians understand musical structure and convey the direction of a musical phrase.
The Laban-Bartenieff Movement Fundamentals was created by Rudolph Laban (1879 –
1958) and Irmgard Bartenieff (1900 – 1981) and consists of a framework for describing,
recording, and developing movement. Although intense training is needed to ultimately
understand the system, an adequate knowledge of Laban-Bartenieff Movement Fundamentals
295
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Method
The experiment involves five professional flutists who were asked to play two different
excerpts, four times each: (1) the second movement of Wind Quartet No. 2, in G major by G.
Rossini; (2) the Allegro meno mosso of Woodwind Quartet by H. Villa-Lobos.
Movement and audio data obtained from different performances of every flutist were
analyzed to evaluate the relationship between physical gestures and musical phrase
organization. Flutists involved in this experiment have not received formal movement
training.
Motion tracking was done with the NDI Optotrak Certus motion capture device, at a
sampling rate of 100 frames per second. Markers were positioned on the flutists’ bodies and
instruments. The Optotrack cameras were placed vertically, two meters away from the
musicians. Two rigid bodies were used, one on the flutists’ head and another on the
instrument. 3-D spacial position of infra-red markers was recorded as a function of time.
Coordinates x, y and z corresponded to lateral displacement, height and depth, respectively.
We also used video and sound recordings - obtained using the Zoom Q2HD Handy HD Video
Recorder – as a complementary tool for analyzing movement.
Analysis
Laban-Bartenieff Movement Fundamentals describes movement through the four inter-related
categories of Space, Effort, Shape and Body. However, in this paper, we focus on a simple
understanding of concepts to one particular class: Shape.
The shape is the gesture a person’s body makes in space. In other words, this is
apparently connected with the body attitude in space. That said, shaping qualities determine
not only particular body use, but also the mental intent of the person, and can be extremely
useful for observation of musicians.
The relationship between body and space produces shapes in constant movement. There
are three modes of shape changing: (1) flow, (2) direction and (3) carving. The shaping
qualities are primarily related to breath, given that both are separated by opening (inhaling)
and closing (exhale) actions. The shaping features are extensions or reflections of the motion
as in the breath. The opening-closing shaping qualities are (1) rising-sinking, vertical (2)
advancing-retreating, horizontal and (3) widening-narrowing, sagittal, through the
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Discussion
According to Marc Leman, the narrative and experimental viewpoints may be integrated
through a particular approach to the concept of embodiment. The human body is thereby
understood as a mediator between the musical mind and the physical environment, and
gestures can be perceived as the way in which this mediator deploys itself in space and time
(Leman, 2008).
The author explains that depending on the viewpoint, the gesture can be studied as
simple body movement (starting with kinematics and kinetics), or as an expression of human
intentionality, an experience that is implied by this body movement.
During the visual observation, we recognized and selected four shapes: cyclical motion in the
clockwise direction; forward and backward; up and down; and finally, no entirely cyclical
movement also in clockwise direction, considering distinctive functions for each one.
Figure 1: Four selected shapes: full circle, forward and backward, up and down, and half circle.
The cyclical motion was identified when musicians grouped the musical phrase
acoustically. For instance, figure 3 shows the relative movement of the flute in 3 dimensions
played by flutist A during the performance of excerpt by Villa-Lobos.
297
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Figure 3: 3D trajectory of the flute in excerpt by Villa-Lobos, for Flutist A. The triangle registers the initial
point of the movement segment.
According to the visual observation of flutist A’s motion, we can perceive only one
gesture in his/her performance. This broad and unique movement can suggest the relation
between physical gesture and organization of musical phrases. Once that, we perceived no
sound and gestures segmentation during the performance of the flutist A.
On the other hand, the flutist B, during his/her interpretation of the same excerpt,
performed gestures related with rhythmic sense, given that the motion of flute corresponds in
the specific instance of the pulse. Figure 4 represents the shape, forward and backward, and
the possible relationship of this gesture and the time sense of music, being so another
interpretation of the same piece.
We perceived that the shape, forward and backward, also presents relation with the
sense of time, given that the position of the flute in fore front corresponds with the pulse of
this piece (grey ball marks).
The movement of up and down was identified in others studies (Teixeira, Loureiro,
Wanderley, & Yehia, 2015; M. M. Wanderley, Vines, Middleton, McKay, & Hatch, 2005) and
results have suggested that this particular motion also is related to the rhythmic structure of
phrase. The authors have pointed that the motion up/down (vertical movement) might be
necessary to keep regular features associated with time.
In our observation, we identified two different gestures to represent the same sense of
time, up/down and foward/backward. It can be related to the individuality of each musician
and his/her way to move in the space, given that the movements tended to be idiosyncratic. In
the last example, the gesture can be part of both level, structural (sense of tempo) and
interpretative (choice to express the pulse in a different plane).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Figure 4: 3D trajectory of the flute in excerpt by Villa-Lobos, for Flutist B. The triangle registers the initial
point of the movement segment and the grey ball marks the pulse.
A natural motion to maintain a sense of tempo occurs when a musician taps his foot or,
like in these mentioned cases, when instrumentalists move their instrument up and down, to
keep rhythmic. Figure 6 shows the relative movement of the flute in a performance of two
different flutists (B on the top / C on the bottom), of Rossini’s excerpt. In the upper part of the
figure, we can perceive that the vertical movement of the instrument appears exactly in the
same point of the pulse, and another one, the motion is related to the rhythmic structure of
the piece.
The motif, dotted eighth-note and sixteenth-note is featured by the vertical movement of
each part of rhythm (sixteenth-note), gray circles. These findings corroborate with others
studies about the vertical motion (up/down) and the possible relationship between rhythmic
patterns and the sense of maintaining the time. Wanderley and colleagues have argued that
“eliminating body movement takes away a means of being aware of the passage of
time” (Wanderley et al, 2005, p.102).
Figure 6: Comparing time-warped graphs of vertical movement of flute for flutist B (top) and C’s (bottom)
during their performances. The pulses are marked by triangles and the lines are the segmentation of
each bar.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
The relationship between ancillary gestures and the musical score, as well as the
difference between styles movement among performers, can vary broadly. However, since our
focus is to present a visual analyze and to recognize the possible relation with the way that
musicians organize their musical idea, it becomes necessary to compare different flutists to
understand different interpretations and individual choices.
Finally, the shape, the half circle, has been recurrent in several flutists in a specify
musical motif, upbeat and downbeat. The mentioned theme is considered as a unit used by
Rossini to compose this excerpt. The relation between the gesture (half circle) and this
particular musical part can be explained due to the mental representation of this known motif.
This short part consists of the anacrusis in which the upbeat clearly drives to the point that we
consider as the goal point, assuming that the downbeat is the strongest part of the motif.
Figure 7 shows the shape featuring the half circle performed by flutists D and E.
According to Leman, many of these repeatable movement patterns seem to be
intimately connected to the structure of the music being performed. It should be noted that
these movements might also have a communicative function of enhancing the perceivers’
experience of the sound’s phrasing (Leman, 2008).
Figure 7: 3D trajectory of the flute in the motifs sections (upbeat and downbeat) by Rossini, for Flutist D
(left) and E (right). The triangle registers the initial point of each movement segment and the stars mark
the onset of the downbeat.
Conclusion
In this paper, we have present findings from an exploratory analysis of flutists’ expressive
gestures. We have analyzed the motion of five flutists using the Laban-Bartenieff Movement
Fundamentals and the possible relation between the shapes performed by musician and their
musical intentions. For this paper, we just used the shape category and identified four gestures
through a visual analysis, which we demonstrated using the movement tracker data,
previously captured.
Concerning the relation between ancillary gestures and the organization of musical
phrase, we observed three dominant trends: grouping by the musical phrase, enhance the
300
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
sense of tempo or rhythmic structure and the conduction of musical motif. Theses directional
shapes seem the motion performed by flute players until the musical object point. These
findings point to a possible relationship between musicians’ movement and the organization
of their musical ideas, conveying the performer’s musical intentions.
Previously, Wanderley (2002) points that there is the correspondence between the
gestures at specific points in the score, due the recurrence that an instrumentalist played the
same piece many times. It suggests that ancillary gestures are not randomly performed nor
just a visual effect, but that these gestures are an integral part of the performance process.
Future research is needed to clarify the different performance styles and the features of
gestures performed by each one by an individual analysis.
The work presented here was just a part of the process for a comprehensive analysis of
musicians’ gestures including the system described by Rudolph Laban and Irmgard Bartenieff
and the identification of shapes and the relation of mental representations of the musical score
in ancillary body movement.
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301
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar pesquisas recentes sobre os métodos empregados para
estudos sobre a comunicação gestual entre músicos. Por ser considerada um conhecimento tácito, a
comunicação gestual é investigada como elemento importante para uma boa performance, já que
salienta a compreensão do material musical por parte dos integrantes de um grupo, além de ajudá-los a
realizarem ajustes entre si. Assim, este artigo visa contribuir para o esclarecimento sobre quais
caminhos têm sido adotados com maior frequência nos últimos anos que procuram ampliar o
entendimento sobre a comunicação gestual. Para tanto, foi feita uma revisão sistemática, abrangendo
tanto a música de câmara quanto a popular, de artigos de língua inglesa, disponíveis em banco de
dados selecionados. A tradução para o português é de inteira responsabilidade dos autores.
Palavras-chave: comunicação gestual, interação não-verbal, movimento corporal.
1. Introdução
As pesquisas relacionadas à comunicação gestual apresentam abordagens bastante
diversificadas, tanto no que se refere à terminologia utilizada quanto aos métodos de análise.
Por possuírem caráter interdisciplinar, estas pesquisas podem ser encontradas no campo da
psicologia, neurologia, linguística, biomecânica e também música. Portanto, torna-se
fundamental alguns esclarecimentos quanto à terminologia empregada, para que o foco no
âmbito musical seja preservado (Jensenius, 2014) e para que seja possível identificar de
antemão o foco dos métodos empregados nas análises. Além de “comunicação gestual”,
podem ser encontrados os termos “modos de comunicação”, “comunicação não-verbal”,
302
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
De acordo com Mello, Kaminski e Ray (2014), “nas pesquisas realizadas no Brasil
sobre comunicação gestual, o enfoque é voltado para o movimento do corpo na interpretação,
assim como na expressão musical (Zavala, 2012; Póvoas, 2009, 2012; Domenici, 2013)”. Por
sua vez, a presente pesquisa tem como foco a revisão sistemática de textos relacionados à
interação entre músicos de grupos de câmara, mais especificamente quartetos de cordas e
quartetos/sextetos de jazz. Este recorte deve-se à semelhança entre estes grupos, embora, num
primeiro momento, possam parecer completamente distintos. Segundo Seddon & Biasutti
(2009), a maior evidência é justamente a diferença entre os instrumentos e os gêneros
envolvidos, mas a semelhança encontra-se na tentativa de ambos os grupos em “criar uma
nova performance musical”, assim como na comunicação entre seus integrantes, durante os
ensaios e concertos, para alcançá-la.
Este estudo pretende, por meio de uma revisão sistemática, apresentar pesquisas
recentes sobre os métodos empregados para estudos sobre a comunicação gestual entre
músicos. Desta forma, concluímos que poderíamos contribuir para um esclarecimento sobre
quais os caminhos adotados com maior frequência nos últimos anos que buscam uma
compreensão mais abrangente sobre esta temática, ao fornecer um panorama considerável
sobre pesquisas recentes aos futuros pesquisadores da área. Vale ressaltar que cada um dos
artigos selecionados traz um leque generoso de pesquisadores em sua referência bibliográfica,
que deve ser consultado para o devido aprofundamento que uma pesquisa exige.
Os artigos aqui citados são, em ordem alfabética: A Meta-study of musicians' non-verbal
interaction (Jensen & Marchetti, 2010); Analysis of Leadership in a String Quartet
(Glowinski, Badino, D'Ausilio, Camurri & Fadiga, 2012); Bodily Mediated Coordination,
Collaboration, and Communication in Music Performance (Davidson & Broughton, 2015);
Jazz Improvisers’ shared understanding: a study case (Schober & Spiro, 2014); Method for
Analyzing Gestural Communication in Musical Groups (Hospelhorn & Radinsky, 2016);
Sensorimotor communication in professional quartets (Badino, D'Ausilio, Glowinski,
Camurri & Fadiga, 2014); Synchronization and leadership in string quartet performance: a
303
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case study in auditory and visual cues (Timmers, Endo, Bradbury & Wing, 2014); Toward a
dynamical theory of body movement in musical performance (Demos, Chaffin & Kant, 2014);
Understanding movement during performance: A recurrence quantization approach (Demos,
Frank & Chaffin, 2011).
2. Metodologia
Trata-se de um artigo de revisão sistemática, um método de pesquisa meticuloso que utiliza
como fonte de dados a literatura sobre determinado tema, identificando os métodos de
pesquisa utilizados em uma área e indicando novos caminhos para futuros pesquisadores.
Inicialmente, visando identificar os artigos sobre o assunto, realizou-se uma busca
automática seguindo as seguintes etapas:
1. Definição dos eixos de pesquisa: representam a temática de pesquisa envolvida, ou
seja, Comunicação Gestual e Música.
2. Definição das palavras-chave: definidas a partir dos eixos de pesquisa e da leitura
prévia de artigos da área de pesquisa. É importante ressaltar que para uma busca mais
abrangente nas bases de dados, os termos foram definidos em língua inglesa. Sendo assim,
utilizou-se a combinação das palavras-chave (strings de busca) apresentadas na tabela 1.
Gesture
Música Music
Improvisation
Performance
Musical
String quartet
Jazz
Chamber orchestra
Tabela 1 – Palavras-chave utilizadas para pesquisa
Fonte: Os autores.
304
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
feitas nas referências bibliográficas dos artigos encontrados, também denominada busca snow
balling.
Num segundo momento, iniciou-se a seleção dos artigos, tendo como critérios de
inclusão: apenas artigos científicos e apenas documentos publicados entre 2010 e 2016. Como
elementos de exclusão, foram desconsiderados os artigos relacionados à educação infantil,
orquestra, regência, piano, sopros, percussão. A filtragem foi realizada em título, resumo e
palavras-chave; quando estes elementos não eram devidamente esclarecedores, foi feita uma
leitura da introdução e da conclusão.
Finalmente, chegou-se à formação de banco de artigos que foi elaborado a partir da
leitura completa dos artigos para verificação do alinhamento ao tema de pesquisa abordado. A
extração de dados foi relacionada às informações de autoria, ano de publicação e método de
pesquisa. A análise dos artigos refere-se aos procedimentos técnicos dos métodos de pesquisa
utilizados, assim como a natureza dos dados. Desta forma, o banco de artigos é composto de 9
artigos representativos da temática envolvida, que podem ser identificados na tabela 2.
305
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
4. Discussão
Concluiu-se primeiramente que a pesquisa experimental foi o método de pesquisa mais
utilizado por melhor adequar-se ao estudo da comunicação gestual entre músicos,
especialmente por proporcionar uma investigação mais criteriosa das relações de causa e
306
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
efeito do gesto dentro do contexto musical. Observamos ainda que alguns artigos se limitam à
explicação de termos envolvidos na temática, pois a diferença de termos relacionados à
comunicação gestual acaba sendo uma das dificuldades a se transpor no processo de pesquisa
sobre este assunto. Por exemplo, a pesquisadora Jane W. Davidson utiliza o termo movimento
corporal, pois encara o corpo como elemento inserido no processo de linguagem, enquanto
que Alexander Demos, apesar de utilizar o mesmo termo, considera inapropriado adaptar o
contexto musical, onde “os significados e os gestos são ambíguos e vagos”, a métodos e
teorias da área de comunicação. Por sua vez, pesquisadores como Karl K. Jensen e Emanuela
Marchetti, utilizam o termo interação não-verbal procurando “um entendimento mais
profundo da música como uma prática social de habilidades”.
Como consequência deste embasamento teórico se voltar tanto para Linguagem,
quanto para Sociologia, Psicologia e/ou Música, as escolhas dos métodos utilizados nas
pesquisas experimentais acabam sendo muito divergentes, abrangendo desde recursos
tecnológicos simples até outros bastante sofisticados, sobrepostos a complexos raciocínios
físico-matemáticos. Este é um aspecto importante a ser ressaltado aos futuros pesquisadores
da temática em questão, seja para escolher a metodologia adequada ou para selecionar o
material necessário para coletar devidamente os dados da pesquisa.
Outro fato que se conclui é que a maioria das pesquisas analisadas contemplam a
abordagem qualitativa, exatamente por ressaltar a importância das interpretações dos eventos,
mais do que as interpretações do pesquisador, e por procurar compreender a totalidade do
fenômeno corporal e interativo da comunicação gestual entre músicos.
5. Bibliografia
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Social Behaviour in Music at ACM ICMI’12, October 22–26, 2012, Santa Monica, USA.
307
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: O gesto musical é uma habilidade cognitiva voltada à expressão estética da arte sonora. A
livre improvisação musical permite a total liberdade exploratória de tal capacidade. Este trabalho
apresenta o Braille Handles (BH), um equipamento cuja finalidade original é a escrita do braille em
ambientes computacionais. Neste trabalho, o BH é utilizado como um instrumento musical, ativado
por gestos em braille. O controle gestual de processos de síntese sonora envolve um processo
chamado de mapping. Este é responsável por fazer a ponte entre o gesto musical e parametrização
estética da geração sonora computacional. O presente trabalho, além de demonstrar o uso do BH como
um instrumento musical, também apresenta uma utilização prática do conceito de mapeamento, como
recurso composicional e performático, para a livre improvisação, como ferramentas de
desenvolvimento da percepção e da cognição musical.
Palavras-chave: gesto musical, estrutura rítmica, processo composicional.
Abstract: The musical gesture is a cognitive ability focused on the aesthetic expression of sound art.
Free improvisation allows the full exploratory freedom of such ability. This work presents the Braille
Handles (BH), an equipment whose original purpose is the writing of braille in computational
environments. In this work, BH is used as an expanded musical instrument, activated by gestures in
Braille. The gestural control of sound synthesis processes involves a process called mapping. This is
responsible for making the bridge between the musical gesture and aesthetic parameterization of the
computational sound generation. The present work, in addition to demonstrating the use of BH as an
expanded musical instrument, also presents a practical use of the concept of mapping as a
compositional and performative resource for free improvisation as tools for the development of
musical perception and cognition.
Keywords: musical gesture, rhythmic structure, music composition.
Introdução
A performance musical é uma arte fortemente dependente tanto do domínio do tempo quanto
da habilidade do interprete em controlar assertivamente gestos musicais a fm de maximizar a
expressividade de sua performance, de acordo com uma intenção estética compartilhada, entre
si (interprete) e aquela intrínseca à obra (dada pela notação musical). O movimento corporal é
uma das mais habilidades cognitivas mais desenvolvidas, onde indivíduos normais (sem
deficiências motoras) são capazes de controlar intrincados e simultâneos movimentos,
aparentemente sem esforço mental. Gesto musical é aqui entendido como o movimento (do
interprete) com intenção estética (necessário para controlar a geração dinâmica do som
musical). No entanto, outros tipos de gesto podem ser utilizados para o controle de processos
musicais, como é aqui apresentado.
309
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1
sistema de escrita para cegos, onde os caracteres são representados por padrões (células) em alto relevo.
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2 mapeamento aqui refere-se à estrutura de conexão entre parâmetros de entrada da interface (no caso, o BH) e
os controles do processamento ou síntese sonora.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Para uma definição básica do termo gesto aplicado neste ensaio temos: "a gesture is a
body movement that contains information" (Kurtenbach, 1990), ou seja, o gesto não é apenas
um movimento do corpo mas sim um movimento que carrega uma informação ou uma
intenção musical. Neste aspecto, para os propósitos deste trabalho interessa apenas a captura
gestual de movimentos que o musicista executaria com intuito de produzir som no
instrumento, embora durante a execução seja natural que o musicista produza outros
movimentos além dos que se deseja capturar. Os movimentos são capturados através de
sensores e transdutores, os primeiros possuem uma saída elétrica e os últimos realizam uma
transferência genérica de energia, apesar disso a maioria dos sensores são transdutores,
empregando um ou mais mecanismos de transdução para produzir a saída de sinal elétrico
(Wanderley, 2015). Os sensores podem ser dos mais diversos tipos, entre eles: resistivos,
campo eletromagnético, efeito hall, campo elétrico, campo magnético, ultrassom,
infravermelho, acelerômetros, giroscópios, bússolas, etc. Segundo o professor Marcelo
Wanderley, a escolha do sensor certo deve ser baseada no gesto que se prentende capturar e
não partir do ponto de vista contrário de pensar qual gesto se captura com um determinado
sensor, o que, segundo sua grande experiência nesta área, melhora o processo geral para uma
captura mais precisa, e ainda deixou em tom jocoso uma observação que é uma metáfora
bastante válida: "se você tiver um martelo o mundo todo lhe parecerá um prego", enfatizando
a necessidade de se pensar detalhadamente o que se pretende capturar antes de se escolher o
sensor mais adequado.
A terceira e última fase é chamada mapeamento e consiste basicamente na ligação entre
os parâmetros de controle derivados da captura da ação do performer (captura de seus gestos
para produzir música) com os parâmetros de síntese do instrumento digital (Wanderley, 2015).
Grosso modo o 'mapeamento' faz a interligação entre dados coletados dos gestos do musicista
e os parâmetros de controle de síntese, de maneira semelhante aos patch bays dos estúdios de
gravação ou os antigos sistemas de telefonia ligando ponto a ponto por meio de um cabo, no
caso do mapeamento apenas virtualmente. O papel do mapeamento abre espaço para uma
intensa discussão como dois pontos de vista contrastantes, o primeiro que entende o
mapeamento como uma característica ligada à composição e o segundo em que o
mapeamento é parte integral do instrumento, portanto influenciando a maneira como o
performer faz uso do instrumento em diferentes contextos (Wanderley, 2015).
Isto posto, "encontramo-nos diante da possibilidade de utilizar diversos níveis de
representação computacional como suporte para análise, composição e performance musical.
312
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
capaz de produzir ou alterar o timbre do instrumento, referindo-se a uma ligação via software
entre o gesto e a síntese, recebe o nome de mapeamento.
A questão agora é: como seria possível extrapolar este conceito do mapeamento para
usá-lo como recurso na livre improvisação?
Miguel Antar traça um interessante paralelo entre a técnica do clown e o improvisador:
"Improvisação Musical Contemporânea não se submete a alguma expectativa de gênero no
que diz respeito ao resultado sonoro, mesmo trabalhando sobre alguma indicação básica de
direção; por exemplo improvisar com base em um quadro, ou partindo de uma palavra, (...) O
clown e, na nossa perspectiva, o músico improvisador, precisam ter uma reação imediata à
situação em que estão envolvidos." (Antar, 2014)
Observa-se no texto acima a necessidade do livre improvisador de possuir a
sensibilidade de captar elementos, muitas vezes não diretamente musicais, como uma imagem
ou uma palavra, e usar isso para nortear a sua improvisação. A ideia de se fazer esta tradução
de algo não musical para um elemento sonoro é bastante próxima estruturalmente ao que
ocorre na técnica do mapeamento em sistemas de instrumentos digitais.
Pode servir como ferramenta ao improvisador, mentalizar de um lado os estímulos do
grupo musical em que atua e organizá-los como se fossem dados de entrada a serem
processados por um sistema computacional, de outro lado categorizar as possibilidades
timbrísticas de seu instrumento e criar uma função de interconexão entre ambas, esta
interconexão seria o recurso do mapeamento aplicado à livre improvisação.
A título de clarificar esta ideia com exemplos práticos, imagine-se que o musicista
recebe como estímulos alguns sons que variam em altura, aleatoriamente, indo do grave ao
agudo e vice e versa, supondo que também que tal musicista resolva utilizar a forma de reagir
categorizada por (Globokar) como "imitar". Para esta situação, o óbvio seria contar com sua
percepção e tocar as alturas exatas que ouve, porém, o musiscista poderia optar por algo mais
elaborado, e utilizar-se das variações de alturas e associar a elas algum outro parâmetro no seu
instrumento como a dinâmica, a duração ou a textura. Esta associação de variações de altura a
variações de um outro parâmetro instrumentístico é exatamente o que acontece na fase de
mapping quando em ambiente computacional se busca o controle de um instrumento digital a
partir de um gesto do musicista.
Evidentemente, este resultado pode ser obtido de maneira inconsciente, porém, se o
músico buscar de maneira voluntária a ponte entre o estímulo e a produção do som, as
chances aumentam de se obter um resultado final melhor ou no mínimo mais elaborado.
314
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
O BH pode facilitar esta execução, permitindo que o musicista não precise tocar a célula
rítmica nota por nota, e sim apenas inserir o número correspondente ao padrão taquigráfico
que deseja executar.
De maneira inversa, o estímulo poderia ser rítmico, o musicista que decidide-se pela
ação de "imitar", poderia perceber o número de ataques por célula rítmica que algum músico
esteja tocando e mapear este número para a intensidade do som que seu próprio instrumento
esteja produzindo, e novamenteo o BH permitiria a inserção, em braille, da dinâmica
pretendida, pois é um dispositivo que permite igualmente captura do gesto como um
instrumento qualquer (como uma flauta, um teclado, etc) ou ainda permite a inserção de
valores numéricos, letras ou símbolos, como um teclado de computador.
Conclusão
Neste artigo buscou-se apresentar o BH, um dispositivo para a inserção computacional de
dados em braille aqui utilizado como controlador gestual mapeando dados da habilidade
cognitiva de articulação deste movimento de digitação como controlador musical para a Livre
Improvisação.
Na criação de instrumentos musicais digitais tem-se três fases distintas, a saber:
315
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Luciana F. Hamond
Institute of Education, University College London
lucianahamond@gmail.com
Perceptions of teachers and their students on the application of technology in higher education
piano learning and teaching
Abstract: Feedback in piano learning is both intra- and inter-personal. There is evidence that
technology can augment both types of feedback in learning. An exploratory action-case study
investigated the pedagogical use of technology-mediated feedback in higher education piano
studios. There were six participants from Brazil: three pairs comprised of a piano teacher and his/
her student. Data collection involved three data sets: video observation of lessons (n = 6),
interviews with participants (n = 12), and technology-generated data. The technology system
involved was a digital piano connected to a laptop computer with Digital Audio Workstation
software using a Musical Instrument Digital Interface. Performance-related data by student and/or
teacher were recorded using the technology system; this could be accessed at any time during the
lessons. Data were analysed using a multi-method qualitative data analysis approach. This paper
analyses the perceptions of the participants when using technology-mediated feedback in their
piano lessons. Findings suggest that the participants agreed on the benefits of technology use for
enhancing student conscious-awareness of their own performance outcomes and for making the
learning process quicker. Participants also noted a significant change in the learning process when
using this technology system: additional feedback seemed to make the lesson focus clearer and
helped to define the performance goals. The use of additional feedback generated by this
technology system thus has the potential to transform the pedagogical approach in conventional
higher education piano learning and teaching.
Keywords: feedback, piano pedagogy, technology.
Introdução
O feedback é crucial para a aprendizagem, em pesquisas educacionais recentes é referido
como aquelas "informações fornecidas por um agente (por exemplo, professor, peer, livro,
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
a performance do aluno, tais como: dar instruções, fazer perguntas, fornecer informações,
feedback geral (positivo ou negativo), escrever na partitura e tecer comentários informais
(Benson & Fung, 2005, Burwell, 2010, Siebenaler, 1997, Speer, 1994, Welch, Howard,
Himonides, & Brereton, 2005). Os mesmos estudos também abordam um feedback não verbal
dado pelo professor, como por exemplo: tocar junto com o aluno; modelar (tocando ou
cantando); imitar a performance do aluno, fazendo gestos de mão; conduzir (reger) ou bater o
pulso; e outros modos de feedback não verbais (sorrir, rir, balançar a cabeça).
No entanto, os estudos na área do ensino individual de instrumento ou voz mostram as
características de uma relação mestre-aprendiz, com o professor dominando e o aluno
dependente da modelagem do professor (Hallam, 1998; Jørgensen, 2000). O processo
apresenta características de uma abordagem pedagógica de transferência, ao invés de uma
abordagem pedagógica transformadora (Carey & Grant, 2015). Outro estudo recente
(Hamond, 2013) revela que professores e alunos de nível superior no Reino Unido não
compartilham as mesmas perspectivas quanto às prioridades de ensino e aprendizagem de
piano.
Objetivo
320
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia e métodos
A metodologia adotada nesta investigação foi estudo de caso-ação (Braa & Vidgen, 1999),
uma metodologia híbrida que combina aspectos de estudo de caso (Stake, 1995; Yin, 2014) e
pesquisa-ação (Kemmis, 1993). Os participantes foram três professores de piano de nível
superior e um de seus alunos no Brasil, trabalhando uma peça memorizada de seu repertório
atual, e a pesquisadora (a autora do presente artigo), agindo como mediadora da tecnologia
nas aulas. O sistema tecnológico aplicado foi: um piano digital (Yamaha Clavinova), um
computador portátil (laptop), rodando um DAW software através de uma interface MIDI, uma
tela de PC adicional colocada na frente do estudante de piano, um cabo VGA para conectar o
laptop a tela de computador adicional. Cada dupla professor-aluno teve experiência de uso de
tecnologia em duas aulas de piano, trabalhando em um movimento de uma sonata clássica
memorizada. Atividades do teclado e do pedal derivadas das peformances musicais do aluno,
ou até mesmo do professor, foram gravadas através do DAW software; eestes dados puderam
ser acessados a qualquer momento durante a aula. A coleta de dados envolveu observação de
aulas filmadas em vídeo (n = 6), entrevistas com os participantes, separadamente (n =12), e
coleta de dados da performance musical, gravados no DAW software.
Resultados
Este artigo enfoca as percepções de professores e alunos de piano de nível superior quanto à
aplicação de feedback mediado por tecnologia. Os resultados da análise temática das
entrevistas com professores e respectivos alunos complementaram os resultados obtidos nas
análises qualitativas de dados dos vídeos e dos dados gerados por tencologia. Cada dupla de
professores e alunos de piano do ensino superior mostrou ter diferentes pontos de vista em
relação à prioridade de ensino e aprendizagem entre si, com exceção do estudo de caso C para
o item precisão rítmica. No entanto, professores foram unânimes ao declarar que o maior
objetivo na aula de piano com seus alunos é “fazer o aluno se ouvir”.
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Tabela 1: Percepções de professores e seus alunos quanto às prioridades de ensino e aprendizagem de piano
(Hamond, 2017).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
sem execução da obra, adquirindo a mesma posição do professor, de ouvir e refletir sobre sua
performance. A maior contribuição deste trabalho através do uso da tecnologia foi tornar os
alunos conscientes de suas performances, de modo a realizarem ou não as mudanças
necessárias para o aprimoramento de determinados parâmetros da performance musical na sua
execução musical. Percepções quanto à mundança no processo de aprendizagem foram
observadas por todos os participantes. Professores e alunos comentaram que o processo de
aprendizagem foi mais rápido com o uso de tecnologia, que deixou o foco da aula mais claro e
os objetivos para aprimoramento da execução musical mais definidos. No entanto, opiniões de
professores e alunos divergiram quanto à mudança na abordagem pedagógica. Alunos
relataram que uma clara mudança foi devida a aplicação de tecnologia em suas aulas.
Professores relataram que não observaram nenhuma mudança, pois utilizaram as mesmas
estratégias de ensino de suas aulas convencionais (sem uso de tecnologia). Desta forma,
segundo as percepções de professores e alunos de piano de nível superior, a aplicação de
feedback gerado por tecnologia no ensino e aprendizado de piano constitui uma ferramenta
que pode otimizar as aulas convencionais de piano, pois engloba aborgagem pedagógica
similar ao ensino do piano convencional, e acrescenta aspectos diferentes, como os tipos de
feedback adicionais (visual e auditivo) gerados através do uso de tecnologia. Professores e
alunos mostraram diferentes opiniões quanto à frequência do uso desta tecnologia, adequação
ao tipo de repertório e estágio do processo de aprendizagem (Tabela 2).
Tabela 2: Percepções de professores e alunos de nível superior quanto ao uso da tecnologia em termos de
frequência de uso, repertório recomendado e estágio de aprendizagem (Hamond, 2017).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Discussão
As perspectivas dos professores e respectivos alunos quanto ao uso de tecnologia no ensino e
aprendizagem de piano de nível superior sugerem o benefício na aplicação deste sistema
tecnológico para aprimoramento da performance do aluno. A utilização do feedback adicional
posteriori (playback), gerado pela tecnologia, ao lado do feedback oferecido pelo professor,
oferece uma possibilidade de comparação da performance desejada e a performance realizada,
principalmente pelos alunos. Desta forma, após ouvirem a gravação, e observarem a
representação visual de suas performances, os alunos poderão se tornar mais conscientes de
suas execuções musicais, autônomos e independentes em seu processo de aprendizagem. Os
resultados obtidos nesta pesquisa complementam aqueles relatados em pesquisas anteriores
sobre o uso de tecnologia em aprendizagem instrumental e vocal (Benson, 1998; Brandmeyer,
2006; Daniel, 2001; Juslin et al, 2006; Riley, 2005; Welch et al., 2005). Este artigo quer
mostrar que o feedback adicional gerado por tecnologia pode otimizar o ensino tradicional de
piano de nível superior, pois aumenta o feedback intrapessoal do aluno e a consciência de sua
execução musical, além de permitir que o foco da aula se torne claro.
Agradecimentos
A autora agradece a todos os participantes desta pesquisa, o apoio acadêmico do Professor
Graham F. Welch e Dr. Evangelos Himonides durante o doutorado. Esta pesquisa de
doutorado teve financiamento da CAPES. Esta apresentação foi possível através da SEMPRE
Conference Award.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Deprivations of feedback, stimuli an instrument on the learning of four Schubert dances by a high
school piano student: preliminary results of an experiment
Abstract: The present paper reports to a Master’s degree research, still being developed, which aims
to investigate how the manipulation of sensorial feedbacks (auditory and kinesthetic), stimuli (score
and recording) and the availability or not of the instrument can imply changes on the learning of new
musical pieces by piano student in a high school age . Four experimental sessions have been
conducted, in which the student learned four different short piano compositions in four different
situations of deprivation of sensory feedback or stimuli, with or without a piano available to practice.
The produced data, which consists of audio and video recordings, has been analyzed trying to identify
the strategies employed by the student to practice the compositions during the experimental situation,
their relations with his level of development and the way in which he learned the piece. Preliminary
results have shown that the student employed some practice strategies in order to learn the pieces. The
compositions learned from the audio recordings were more difficult to adapt to normal practice
conditions, showing evidences that the score alone is a limited source of knowledge.
Key-words: instrumental practice, sensory feedbacks, expertise levels.
Introdução
Segundo Altenmüller (2008, p. 410), “a execução musical é provavelmente a mais exigente
das habilidades humanas e o fazer musical requer a integração multimodal de informações
sensoriais e motoras bem como o preciso monitoramento da performance via retroalimentação
auditiva”. As informações sensoriais às quais se refere Altenmüller são aquelas advindas dos
327
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
canais auditivo, visual, cinestésico e tátil (Gabrielsson, 1999) que se relacionam e interagem
no momento da prática ou da performance musical. Estes canais sensoriais possibilitam ao
instrumentista o acesso às informações sobre o conteúdo de suas ações (ou seja, o resultado
ou a resposta a suas ações). A retroalimentação pode ser de natureza auditiva ou cinestésica1.
A retroalimentação auditiva envolve a “audição dos sons que o performer
produz” (Gabrielsson, 1999) e estas informações são “particularmente relevantes já que a
produção sonora é o objetivo do fazer musical” (Finney e Palmer, 2003, p. 52).
Retroalimentação cinestésica diz respeito à posição e à movimentação espacial do
instrumentista com relação ao instrumento, que lhe permitem, por exemplo, que “se dê conta
de ter tocado uma nota errada mesmo antes de tê-la ouvido” (Gabrielsson, 1999).
Vários trabalhos tem investigado a influência das retroalimentações sensoriais na
performance musical. Banton (1995) investigou os efeitos da privação de retroalimentações
auditiva e visual (impossibilidade da visualização do teclado) na leitura à primeira vista de
pianistas, tendo os dados mostrado que a ausência de retroalimentação auditiva não
aumentava a quantidade de erros mas, de maneira contrária, a ausência de retroalimentação
visual gerou mais erros de nota. Repp (1999) interessou-se pelos efeitos da privação da
retroalimentação auditiva sobre os aspectos expressivos da performance pianística (como
dinâmicas, timing e pedal), tendo concluído que a ausência de retroalimentação auditiva
provocava efeitos pouco significativos na performance, exceto pelo pedal, que era empregado
com menos acuidade na situação de privação. Mantovani (2014), trabalho do qual o presente
manuscrito é uma extensão, investigou os efeitos da privação de retroalimentações sensoriais
no aprendizado inicial de peças por estudantes de piano em diferentes níveis acadêmicos,
tendo concluído que em todas as condições propostas de privação de retroalimentação os
estudantes recorreram a estratégias de manipulação de conhecimento declarativo/semântico
para lidar com a situação de privação. Dentre os propósitos desta manipulação estavam
estabelecer e coordenar os movimentos necessários à performance ou criar uma imagem
mental da peça. Mantovani (2014) analisou entrevistas semiestruturadas, produtos de
performance obtidos após a prática dos participantes e quanto tempo estes despendiam para
realizar a prática nas situações de privação.
O presente manuscrito, recorte de uma Dissertação de Mestrado em andamento,
descreve o efeito da privação singular ou pareada de estímulos, os quais também serão
1 Esta pesquisa se interessa apenas pelas retroalimentações auditiva e cinestésica. Retroalimentações tátil, visual, vibrotátil e
vestibular não fazem parte do escopo deste trabalho
328
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
Tratando-se de um estudo experimental, foram delineadas situações de coletas de dados
divididas em duas partes. Na primeira combinava-se a privação de retroalimentações
sensoriais com a privação de estímulos e a privação ou disponibilidade do meio: o piano. Na
segunda parte, o estudante continuava a praticar a mesma peça em condições normais de
estudo (com o piano, o estímulo e todas as retroalimentações disponíveis). Esta estratégia
metodológica visou identificar os procedimentos similares (ou específicos) de cada situação
de privação de retroalimentação sensorial com aquelas da prática habitual (sem restrições) do
estudante.
Assim, na primeira parte desse experimento, as quatro situações de privação de
retroalimentação foram: (A) privação de retroalimentação aural e cinestésica, com
disponibilidade da partitura, ou seja, a peça foi aprendida a partir da partitura, sem
disponibilidade de piano; (B) privação de retroalimentação cinestésica, sem disponibilidade
da partitura, na qual a peça foi aprendida a partir de gravação, sem disponibilidade de piano;
(C) privação de retroalimentação auditiva, com disponibilidade da partitura, ou seja a peça foi
aprendida a partir da partitura, em um piano elétrico desligado; (D) privação da partitura, na
qual a peça foi aprendida a partir de gravação, com disponibilidade de piano.
Os estímulos empregados foram quatro danças de Schubert, duas ternárias: (1) Landler
D.145 nº3; (4) Valsa D.365 nº6, e duas binárias (2) Escocesa D.781 nº4; e (3) Escocesa D.781
nº5. As diferentes exigências técnico/interpretativas destas peças se justificam no âmbito da
Dissertação de Mestrado, na qual é uma amostra maior é analisada. As sessões de coletas de
dados foram dividas em duas partes, cada uma tendo duração máxima de 15 minutos, visando
equilibrar o tempo despendido no estudo com privação com o tempo de estudo pós-privação.
O estudante participou de quatro sessões de coletas de dados, tendo-as realizado segundo a
seguinte combinação de peça e condição: A-1; B-2; C-3 e D-4. Este recorte produziu um
2
Gravação comercialmente disponível da peça a ser estudada.
329
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resultados
A Figura 1 apresenta a distribuição das incidências de procedimentos de prática observados na
prática com privação nas quatro modalidades. Ações como a execução de mãos juntas ou
separadas e a prática da harmonia ou da melodia se aplicaram a todas as condições de estudo.
De acordo com a Figura 1, pode-se observar que na condição A, na qual o participante
aprendeu a peça apenas a partir da partitura, sem piano ou gravação disponíveis, não foram
observadas incidências de prática da peça de mãos juntas, nem da peça completa ou de seções
isoladas da peça. O participante focou sua prática na simulação (simular os movimentos que
seriam necessários à execução da peça no piano) de trechos isolados, muito curtos, sobretudo
da harmonia (cinco incidências). O participante simulou a melodia da peça em três ocasiões,
vocalizando a melodia ou trechos dela em sete momentos. Tal procedimento demonstra a
importância de preencher a lacuna ocasionada pela ausência de retroalimentação auditiva, já
que “uma importante qualidade observada nos instrumentistas é a forte associação entre os
processamentos sensorimotor e auditivo” (Altemüller, 2004, p.410).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
331
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
3
O aparelho reprodutor de áudio usado nas sessões de coletas de dados permitia que a gravação fosse tocada
várias vezes, recomeçando do início, sem que o estudante precisasse operar o aparelho.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Figura 2: gráfico de incidência de ações observadas nas quatro condições de estudo pós- privação de
retroalimentação sensorial.
Considerações Finais
É importante ressaltar o caráter preliminar dos resultados deste manuscrito. As análises
apresentadas nesta comunicação evidenciam que em duas das condições A e B, o participante
recorreu ao recurso do solfejo/vocalização para lidar com a privação de retroalimentação. Na
condição A, a voz preencheu a lacuna deixada pela ausência de retroalimentação do som do
piano, e na condição B, esta serviu como instrumento de decodificação da melodia. Na
segunda parte da prática, as peças aprendidas a partir do estudo da partitura (em detrimento
daquele do estímulo aural) foram mais facilmente adaptadas ao estudo em condições normais,
333
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
evidenciando que o estímulo aural (gravação), isolado da partitura, torna-se uma fonte
limitada de conhecimento.
Agradecimentos
R.M.M. agradece ao CNPq pela bolsa concedida. R.A.T.S. agradece ao CNPq (Projeto
304461/2016-4).
Referências:
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410-413). Royal College of Physicians.
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Deutsch, (pp. 501-602). San Diego. Academic press, 2nd edition.
Mantovani, M. (2014) Privações de retroalimentações sensoriais em condições de estudo: um
experimento com estudantes de piano em diferentes níveis acadêmicos. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Repp, B. (1999). Effects of auditory feedback deprivation on expressive piano performance.
Music perception, nº16, (pp 409-438).
334
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Sandra F. C. D. Freire
Universidade de Brasília – UnB
sferraz@unb.br
A expressividade é um elemento subjetivo que sempre foi objeto de discussão entre músicos
na performance musical. No entanto, a discussão acadêmica sobre expressividade somente
adquire relevância e projeção a partir do final do século XX, quando encontra espaço para
335
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
336
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Metodologia
A metodologia utilizada para a pesquisa de mestrado em andamento foi a entrevista
semiestruturada com os violinistas participantes em que assistem o vídeo de sua última
formatura de violino. A entrevista foi feita com base nos estudos de Swanwick (2003) tendo
como foco a construção do caráter expressivo na aprendizagem musical de crianças. As
337
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
perguntas da pesquisa em andamento foram elaboradas para a faixa etária definida de sete a
doze anos. A fim de testar as questões foi realizado um estudo piloto em novembro de 2016
com uma aluna de violino de catorze anos do projeto de extensão Música para Crianças –
(MPC) da Universidade de Brasília – (UnB).
No projeto a metodologia de ensino utilizada pelos professores de violino é o
Método Suzuki. Ao final do término de cada livro, os alunos realizam um recital de formatura
na qual apresentam todas as músicas estudadas. Foi analisado para o estudo piloto o vídeo da
formatura do livro três de violino realizada em setembro de 2016. A música escolhida pela
aluna foi o Gavotte in G Minor de Johann Sebastian Bach. Os resultados alcançados para este
estudo piloto foram por meio de uma análise de conteúdo em discussão com Swanwick
(2003).
Resultados
Ao assistir o vídeo de sua última formatura de violino a aluna demonstra seriedade e atenção.
A violinista relata o que mais lhe chamou atenção em sua performance e diz: “É... eu gostei
das minhas dinâmicas, mas eu não achei que elas não foram do jeito que eu queria. Eu poderia
ter exagerado mais.. no forte e no piano. Mas eu gostei das minhas dinâmicas”. Além disso, a
aluna faz uma autocrítica de seu desempenho musical, pois poderia ter executado melhor as
dinâmicas. Ainda no aspecto do que lhe chamou mais atenção a violinista explica: “eu gostei
do movimento, que eu toco muito parada. Aí nessa formatura eu consegui fazer mais esse
movimento”. Nesse momento a aluna se movimenta para frente e para trás expressando o
movimento do corpo que realizou no momento do recital. E ainda afirma que esse movimento
é bom! Sobre o movimento do corpo, a aluna fala que o professor de violino pede esse
movimento e diz expressando satisfação: “ele pede às vezes, só que eu não faço, aí... nessa...
eu fiz”.
Ao falar sobre o que mais gosta no aspecto da forma desta peça a aluna conta com
sorrisos: “eu gosto da parte que tem que ser forte e... é a parte C da música que tem (nesse
momento a aluna canta a melodia da parte C) Eu gosto dessa!”. A violinista detalha: “é como
se mudasse o caráter da música. Tipo... tá tocando... aí é uma história, aí nessa parte acontece
alguma coisa que você precisa demonstrar mais. Aí... eu gosto disso!”. A violinista fala sobre
os recursos que utilizou para destacar este trecho: “eu fiz vibrato e tentei fazer mais forte”. E a
aluna comenta mais a respeito desta peça: “eu acho que ela é bem simplesinha de tocar, eu
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
não acho uma peça que..., coisas muito difíceis o diferentes, eu gosto dela! Ela é simplesinha
e legal!”.
Quando a pesquisadora pergunta quais sentimentos ela teve no início da peça musical, a
aluna não responde de imediato. Fica pensativa por um instante, e responde: “eu fiquei bem
feliz, né?... Não tenho nenhum sentimento... não sei”. A pesquisadora pergunta se ela pensa
primeiro em notas ou frases, e a violinista comenta: “eu pensei nas frases, pra eu poder
terminar uma frase em vez de... nunca terminar e depois quando a plateia percebe eu já tô em
outro trecho”. Nesse momento, é possível identificar uma atenção da violinista para o público.
E a aluna comenta as suas intenções de comunicar algo para a plateia:
Eu queria que eles meio que pensasse na música como uma história. Que começa...
tem começo, meio e fim. Aí tem partes que, são mais fortes, partes mais é... piano,
pra que as pessoas meio que façam assim: aí forte, aí piano, aí forte e aí piano, aí
na parte de... (a aluna canta a parte C da música), fazer assim!
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Durante a entrevista, a aluna não explica que emoções ela queria passar nesta peça por
meio das dinâmicas, mas diz: “queria só que, eu queria que cada um, interpretasse essa
história de um jeito diferente. Humm.... eu não sei explicar!”. Durante a entrevista a aluna
ainda manifesta a presença do professor de violino na construção da performance da peça
Gavotte in G Minor de J.S. Bach. A violinista relata a versão que ouviu em sala de aula
A versão que me contaram foi a versão da aula do João, que tem um grupo de
estudantes que eles invadiram um lugar... aí estão perseguidos por um cara e eles se
escondem. Aí depois o cara chega e eles saem correndo, aí eles fogem do lugar.
É...essa foi a versão que me contaram, aí.. e meio que tentei fazer ela com mais
detalhes.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
professor ter falado ou o que ela acha que ficaria melhor”. Além disso, a aluna fala com mais
detalhes:
Ela pede pra eu prestar atenção na dinâmica também, porque, todo mundo pede pra
prestar atenção na dinâmica (risos) aí ela fala: olha na partitura essa vez, depois toca
sem olhar, pra você decorar as dinâmicas e não precisar olhar na hora (...) ela fala
em dinâmicas, mas também ela fala tipo, às vezes ela pede pra eu não tocar muito
fechada. Eu meio que, que quando eu tô fechada, eu tô tocando tipo, eu tô tocando,
sou eu e a partitura. Ela pede meio que, me desprender da partitura, pra eu tocar
mais livremente.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Considerações finais
Este estudo piloto de uma pesquisa de mestrado em andamento teve como objetivo identificar
quais as decisões de expressividade musical que uma aluna de violino utiliza no momento da
performance musical em um contexto de escuta brasileiro. Os resultados alcançados mostram
a atenção da aluna em demostrar os elementos expressivos como a dinâmica e o vibrato na
peça Gavotte in G Menor de J.S. Bach. As decisões de expressividade musical utilizadas pela
violinista demonstram a consciência em expressar na música a intensidade do som, por meio
de exageros nos pianos e fortes nas frases musicais. A violinista expressa: “aí eu nunca
consegui fazer essas dinâmicas direito nessa música. Aí eu tentei fazer elas, melhorar elas na
hora, que eu acho mais espontâneo. Foi bem legal!”. Reforçando este pensamento, Swanwick
(2003) explica que a manifestação da expressividade musical são decisões nas possibilidades
de caminhos musicais que o intérprete pode realizar em sua performance musical. O Educador
musical detalha essas escolhas:
O caráter expressivo está implícito em muitos tipos de decisões de performance, na
escolha do andamento, nos níveis de acentuação, nas mudanças de dinâmicas e na
articulação – como o movimento de um som ao outro som está organizado.
Tampouco a expressão musica deve ser confundida com ‘auto-expressão’. A
expressão musical inerente não está em nosso senso sobre nós mesmos, mas na
percepção do caráter da música. Na forma das frases, no fluxo dos motivos tonais e
ritmos, nas mudanças de timbre, acento, velocidade e níveis de intensidade,
podemos encontrar similaridades entre o movimento da música e a ‘emoção’
humana (Swanwick, 2003, p. 62).
Referências
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343
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Valentina Daldegan
Centro Universitário Internacional Uninter/Universidade Federal do Paraná
valentinadaldegan@gmail.com
Resumo: Na flauta transversal, ainda não são muitos os intérpretes que se aventuram a construir
uma interpretação de uma peça absolutamente nova e estreá-la. Isso é particularmente evidente
quando a peça inclui técnicas estendidas e notação não convencional. Sobre a notação, é importante
frisar que seu papel é crucial na construção de uma interpretação, pois, ainda que tenha limitações, é
o meio pelo qual o compositor pode registrar sua criação. No caso da música nova, já que não existe
uma tradição socialmente compartilhada nem para a criação e nem para a notação, o desafio do
intérprete em construir a música partindo do que está notado, é ainda maior. O tema de minha
pesquisa é estudar como se dá a construção de uma interpretação de música nova quando o
performer não tem como base a audição de outras interpretações da obra. A discussão da notação é o
recorte desenvolvido mais extensamente nesta comunicação.
Palavras-chave: interpretação de música contemporânea, notação, flauta transversal.
The relation between notation and the poetics on the performance of new music for flute
Abstract: There are not many flutists that venture into creating an interpretation of an absolutely
new piece and premiering it. This is particularly clear when a piece includes non-conventional
notation and extended techniques. About notation, it is important to insist that its role is crucial in
building an interpretation, since, even with limitations, it is through notation that a composer may
register his creation. In the case of new music, since there is no shared social tradition for its
creation and notation, the challenge to the performer to build the piece starting from what is written
down, is even greater. The subject of my research is the study of how interpreting new music takes
form, whenever the performer has not got as a basis the audition of former renderings of the piece.
The discussion of notation is the standpoint developed more fully in this communication.
Keywords: performance of contemporary music, notation, flute.
Introdução
Apesar do aumento recente do número de flautistas que tocam música contemporânea, ainda
não são muitos os intérpretes que se aventuram a construir uma interpretação de uma peça
absolutamente nova e estreá-la. Isso é particularmente evidente quando a peça inclui técnicas
estendidas e notação não convencional. Esta lacuna parece decorrer de uma série de fatores
pouco estudados: a relação entre o texto musical e a construção de uma interpretação que não
tem como tomar como base interpretações anteriores da mesma peça e muitas vezes nem
mesmo de peças estilisticamente semelhantes; os juízos que os intérpretes lançam sobre essas
peças; o nível de conhecimento/desconhecimento por parte dos intérpretes das diferentes
notações utilizadas pelos compositores na música de hoje; a falta de ordenamento/destilação
das práticas dos instrumentistas que habitualmente constroem interpretações de música nova
na forma de uma indicação de sistematização dessas práticas. Diante deste contexto, o tema
de minha pesquisa é estudar como se dá a construção de uma interpretação de música nova
344
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
quando o performer não tem como base a audição de outras interpretações da obra.
Nesse sentido, em texto de 1963, Leonard Stein, que fora assistente de Schoenberg,
discorre sobre a riqueza das novas técnicas experimentais que estavam surgindo e que
contribuíam para a falta de entendimento do idioma contemporâneo. Segundo o autor, em
períodos mais antigos havia uma “prática comum” e os símbolos na partitura representavam
“relações definidas entre alturas, durações, dinâmicas, e modos de ataque, definidas por
progressões harmônicas regularmente ordenadas interagindo com acentos métricos, fraseado
rítmico e tempo para produzir estruturas maiores.” Ao compositor, caberia “designar alguns
345
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
De acordo com Behrman, na música serial, essa ‘musicalidade’ tornara-se inútil, pois
qualquer desvio rítmico, na dinâmica ou no timbre não eram bem-vindos e os intérpretes
deveriam obedecer literalmente aos requisitos notados na partitura. Ele frisa que “o leque de
sons que um instrumentista é capaz de realizar é tão extenso e suscetível a nuances que
nenhuma notação poderia esperar controlar tudo, especialmente não tudo ao mesmo
tempo” (Behrman 1965, p. 59). Com relação a esse controle exacerbado, Jean-Yves Bosseur
destaca o papel dos compositores da chamada “ nova complexidade”:
346
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
O autor defende que um bom performer vai arranjar todas as decisões de performance
de modo a encorajar o som a ser o foco da atenção e não o performer (p. 137).
A variação dos graus de controle que o compositor deseja para o resultado final da
música é outro fator a ser considerado pelo intérprete. Hoje temos, muitas vezes, obras que
combinam diferentes notações. Numa mesma peça podemos ter trechos em que o compositor
especifica mais detalhadamente suas intenções e outros com maior liberdade para o músico.
Não é incomum que as orientações da notação sugiram mais explicitamente gestos e timbres
do que notas e ritmos (o resultado sonoro relevante em certas ocasiões dependerá mais
daqueles do que destes), muitas vezes pelo que chamamos “notação prescritiva”.
Seeger (1977, apud Zampronha 2000, p. 55) define que “a notação prescritiva diz ao
intérprete quais ações ele deve tomar frente ao seu instrumento para produzir a música. O
resultado sonoro será uma decorrência de tais ações. Já a notação descritiva diz qual o
resultado sonoro desejado, sem indicar ao intérprete como deve tocar seu instrumento para
produzir tal resultado.” As notações prescritiva e descritiva na maior parte das vezes aparecem
mescladas numa mesma partitura, pois não são excludentes (p. 99).
347
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
que podem servir como “guias” para intérpretes e compositores. Como exemplo de manual de
técnicas estendidas, temos Metodo per flauto, de Pier Luigi Mencarelli (1975), parte da
coleção “Nuova tecnica per strumenti a fiato di legno” de Bruno Bartolozzi — pioneiro na
sistematização de técnicas estendidas para instrumentos de madeira. Mais recente e
complementar ao trabalho de Mencarelli, os livros de Robert Dick, Tone Development
through Extended Techniques e The Other Flute, são também referência no estudo das
técnicas estendidas, especialmente nos Estados Unidos (Dick 1986 e 1989). Outra fonte
bastante rica e muito utilizada tanto por intérpretes quanto por compositores é o tratado Flûtes
au présent, do flautista Pièrre-Yves Artaud e do compositor Gerard Geay, que, além de tabelas
de posições tanto para flauta de concerto quanto para flautim, flauta contralto e flauta baixo,
traz descrições detalhadas das técnicas estendidas mais usadas, com uma sugestão de notação
bastante aceita na literatura contemporânea para flauta, especialmente na Europa (Artaud
1980). Além destes, vários outros flautistas têm-se dedicado à sistematização das técnicas
estendidas mais usadas no repertório contemporâneo, inclusive divulgando seus trabalhos em
sites abertos na internet (são exemplos Wil Offermanns, Larry Krantz, e John McMurtery).
Além das técnicas estendidas que são consideradas standard (sobre as quais os materiais
citados versam — por exemplo jet whistles, whisper tones, trilos tonais, glissandos, slap
tongues, frulatto, entre outros — o intérprete que se aventura a tocar peças desse repertório
que está em constante construção depara-se frequentemente com novos desafios propostos
pelos compositores que estão em busca contínua por novas sonoridades e formas. Aí reside o
objeto desta pesquisa: como organizar a poética das práticas interpretativas dessa música que
é tão plural quanto as possibilidades sonoras de hoje?
Em sua dissertação de mestrado, a flautista Cássia Carrascoza aborda o tema,
descrevendo o processo interpretativo para a performance de três peças de compositores
brasileiros, destacando as técnicas estendidas para flauta transversal. Ela ressalta que nesse
tipo de repertório são comuns os elementos “extra-musicais” (como declamações de textos,
gestos teatrais e movimentos corporais) e que o músico deve estudar e preparar inclusive as
“ações que não estão diretamente ligadas à produção sonora instrumental e que fazem parte
do gestual da performance” (Carrascoza 2009, 15). Análises interpretativas como as presentes
no trabalho de Carrascoza são bastante importantes para lançar luz sobre a performance das
obras estudadas e podem inclusive servir de base para o estudo de outras obras (outros
exemplos são: Redgate 2007; Del Pozzo 2007; Dufallo, 2007; Scotto, 1988; Uscher, 1983).
348
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Decisões interpretativas
Retomemos a ideia de que toda interpretação é um processo de criação. A princípio, não se
trata de deixar de lado as ideias do compositor, muito pelo contrário — acredito na ideia
pareysoniana de que a lei única da interpretação é a própria obra. Há entretanto posturas como
a de Benedetto Croce — de uma execução impessoal e objetiva (que acredito impossível) —
ou desconstrucionistas, que apontam para a preeminência do intérprete sobre a obra artística,
e relegam o compositor à condição de abandono (cf. Abdo, 2000). A relação compositor/
intérprete será estudada, no entanto, não é o foco principal. O que interessa nesta proposta de
pesquisa é aquela interpretação cuja criação é baseada na notação, sem audições anteriores,
mas que leva em conta a intencionalidade da obra. O propósito é investigar como são feitos os
julgamentos que são parte da criação na interpretação, inclusive das nuances que não são
notadas mas que vão dar forma à performance, e então a sistematização das possibilidades
dessas escolhas.
A partir das ideias da semiologia musical, que tomara a música como um processo
comunicativo, com influência especial de Jean Molino, a atenção dos estudos de musicologia
voltada à interpretação é geralmente dedicada ou às partituras ou às gravações, por estas
serem parte do que Molino define como “nível neutro” ou imanente (Laske, 1977). Para
Jean Molino, o próprio projeto de compreender a música é muito recente. De acordo com
ele, antes do século XIX, o que havia eram manuais com princípios e regras para a produção
de uma “boa obra”: “a primeira fase do estudo dos fatos musicais foi ao mesmo tempo
normativa e poética”. No final do século XVIII teria havido um deslocamento: a música não é
mais vista do ponto de vista do criador, mas de seu consumidor, não é mais produção ou
produto, mas “esgota-se nas reações que provoca no espectador”. Só com Riemann, diz
Molino, constitui-se uma análise mais técnica, cujo projeto é contemplar o conjunto da
partitura — seu nível neutro, textual —, por um método rigoroso e explícito, que finalmente
separe a dimensão poética daquela imanente na obra (Molino, 1977, p. 141-143). Os estudos
de Nicholas Cook (2001) e Eric Clarke (2004), por exemplo, tomam o caminho indicado por
Molino e concentram-se no estudo da performance por meio da análise de gravações (também
tomadas como nível neutro).
Diferentemente das pesquisas que se fundam na semiologia, como muito do que se
tem visto nos estudos de cognição na interpretação musical , a proposta desta é tomar como
base as ideias de poética de Carl Dahlhaus, que aproveita a sugestão do filósofo Erick
Rothacker para distinguir normativo e poético: haveria uma proposição primária de normas,
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
que não cabe ao estudo acadêmico, e uma elaboração e sistematização secundária (esta sim,
acadêmica) das proposições: a investigação da poética da música. Poética para Dahlhaus é a
“sistematização daquelas ideias e categorias, princípios e critérios que, implícita ou
explicitamente, fundamentam os julgamentos e decisões musicais”, no caso desta pesquisa,
dos intérpretes. Assim, pretende-se estudar o padrão coerente dos julgamentos e decisões dos
intérpretes que, vistos assim, não dependem mais dos gostos dos indivíduos, mas são
intersubjetivos e debatíveis (Dahlhaus 1983, pp. 101-105). A hipótese é que seja possível
conceber um conjunto de práticas de interpretação de obras de vanguarda a partir da leitura da
partitura, sem ouvir interpretações anteriores, como um processo de criação, articulado numa
poética no sentido que Carl Dahlhaus atribui ao termo.
Assim, o objetivo é o estudo dos princípios criativos (poéticas) que orientam as
decisões de flautistas quanto à preparação de peças inéditas de música nova que envolva
técnicas estendidas e notação não-tradicional para flauta transversal.
Está sendo realizado um estudo de campo que conta com a participação de flautistas
profissionais que habitualmente estreiam peças de música nova, no processo de leitura e
interpretação de três miniaturas — que foram compostas sob encomenda por Roberto
Victorio, Silvio Ferraz e Jean Yves Bosseur especialmente para este projeto — todas
apresentam técnicas estendidas e escrita não tradicional. Cada flautista registra em áudio/
vídeo seus momentos de estudo, tocando e verbalizando seu raciocínio e tomadas de decisão,
para que seja possível identificar os critérios de seus julgamentos e escolhas, possíveis
dificuldades de leitura ou ambiguidades indesejadas e imprecisões na partitura. Não é pré-
determinado o número de sessões de estudo dedicados a cada peça, que fica a critério de cada
flautista, mas o nível de proficiência deve ser tal que a peça possa ser tocada em público.
Esses áudios/vídeos servem de instrumentos de coleta de dados para análise. Após esse
período de estudo do repertório e análise dos dados, haverá entrevista semi-estruturada com
cada um dos intérpretes para elucidar possíveis dúvidas e complementar lacunas que possam
ter surgido durante a análise. A discussão final dependerá dos resultados obtidos nessa coleta
de dados, que segue em andamento.
Pretende-se, no decorrer do estudo, lançar luz sobre questões ainda pouco estudadas
dos processos cognitivos da construção de interpretação para repertórios novos que envolvam
notação não-tradicional. Existe uma literatura mais ampla voltada à música tonal (cf. Agawu,
2009; Lehmann et alii, 2007), originada na área da semiótica e da educação musical.
Especialmente sobre notação, vem sendo investigada, por exemplo, a criação de notação por
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
crianças (cf. Barrett, 2005). Entretanto não foram até agora encontrados trabalhos que
discutam com certa profundidade os processos psicológicos, filosóficos e propriamente
musicais, da criação de interpretações por performers experts a partir de partituras de notação
não tradicional. Acredito que este trabalho, voltado à flauta transversal, possa desdobrar-se em
novas propostas de pesquisa extensível a outros instrumentos e outros repertórios, de modo a
elucidar o processo criação de interpretação e de poéticas da música nova.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
1. Introdução
É crescente o interesse de pesquisadores que estudam os processos de compreensão musical
(Nogueira, 2014; Oliveira, 2014; Zbikowsky, 2002) em buscar modelos que superem o
paradigma representacionista da cognição. Nesse modelo cognitivo aquilo que conhecemos é
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1 A ideia central da concepção filosófica hermenêutica contemporânea é que o entendimento e a interpretação são
processos essencialmente humanos, sendo portanto, o que poderíamos chamar de uma filosofia do entendimento.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
desse objeto e, como veremos adiante, em sua filosofia fica cada vez mais diluída a ideia de
que sujeito e objeto são instâncias separadas.
Gadamer (2012) defende que a verdade, antes de ser uma questão metodológica, é uma
experiência de entendimento mútuo e que acontece dentro de uma certa linguagem. A verdade
não é assim o “desvelamento de uma situação oculta” (Grespan, p.12, 2008), mas é próprio
ato da compreensão. Com isso não se pretende deslegitimar o conhecimento que chamamos
de científico, ou seja, que é construído segundo critérios objetivos e do método científico, mas
a crítica de Gadamer (2012) é justamente à visão de que o conhecimento científico é o único
verdadeiro. Ele critica a imposição cega a um tipo de conhecimento que se coloca
independente do intérprete, imposição essa que tende a nos tornar impenetráveis ao
reconhecimento de outras modalidades de saber que são próprias das ciências humanas e das
artes, e é justamente na experiência da arte que Gadamer vai procurar subsídios para construir
seu modelo de entendimento.
2. O jogo em Gadamer
A experiência da arte é antes de tudo uma experiência de compreensão. A arte não é apenas
um “objeto” de fruição estética; mas, para Gadamer, ela nos possibilita experimentar uma
verdade. Ao defender essa tese, o autor promove uma ampliação da noção de verdade que não
se limita apenas aquilo que é cientificamente cognoscível (Grodin, 2012). A fim de pensar o
que é o encontro com a obra de arte, que posteriormente se desdobrará como um modelo para
pensar o entendimento humano, Gadamer utiliza o conceito de jogo como fio condutor para
explicação ontológica da experiência da arte, pois “entender uma obra de arte é deixar-se
levar por seu jogo” (Grodin, 2012).
Jogo é um processo dinâmico, de sentido medial, de caráter imponderável e circunscrito
no tempo, no espaço e a regras e que estabelece uma realidade autônoma (Callois, 1999;
Gadamer, 2012; Huizinga, 2012). Nele está implícito um movimento de vaivém e o ser do
jogo é a própria realização desse movimento que não se fixa e que não cessa (Gadamer,
2012). O caráter cinético do jogo é tão proeminente para compreendermos sua natureza que é
irrelevante quem começou tal movimento: o modo de ser do jogo não permite que quem joga
se comporte em relação a ele como um objeto, quem joga não é pois o sujeito do jogo. Por ter
uma natureza que lhe é própria, em nenhuma medida se limita a subjetividade ou a
consciência do jogador. O movimento de vaivém pertence tão essencialmente ao jogo que é
impossível jogar sozinho. Para que haja jogo é indispensável a presença de um elemento outro
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que responda ao jogador ou que o questione. Justamente nesse ponto reside seu sentido de
“mediação total” (Gadamer, 2012 (I), p. 165). A fascinação do jogo para aquele que joga,
repousa justamente na saída de si próprio que o jogo suscita, na entrada “em um nexo
dinâmico que desenvolve sua própria dinâmica” (Gadamer, 2012(II), p. 180)
O conceito de jogo é central para pensarmos o fenômeno da compreensão, da linguagem
e da arte (Gadamer, 2012). É importante deixar claro que o pensamento do filósofo é
orientado em grande parte por uma crítica ao princípio subjetivista que determina o
pensamento moderno (Gadamer, 2012 (II), p.11). A crise do idealismo subjetivo imprimiu
uma direção completamente nova ao sentido do que é compreender. É o outro que possibilita
que o eu entenda algo sendo portanto um elemento crucial do ato da compreensão (Gadamer,
2012(II), p.17). É importante destacar que o outro pode assumir diferentes formas, não é
necessariamente uma pessoa, mas é tudo aquilo que se constitui como alteridade, ou seja,
“como elemento não imediatamente acessível, compreensível” (Grespan, 2008) e a partir do
qual posso enxergar a mim mesmo.
Ao romper com a centralidade do eu no processo de construção de sentido, o autor traz
a questão da compreensão para além da consciência de quem conhece, ao entender que esse
processo não suspende a alteridade, mas a conserva. Devemos assim nos desfazer de um
modelo de entendimento centrado seja no objeto, seja no sujeito. A compreensão é sempre um
acordo, um diálogo e num diálogo não existem sujeitos e objetos. É justamente o caráter
medial do jogo que confere ao conceito a possibilidade de se pensar a alteridade como um
aspecto inerente à compreensão. Todo ato de compreensão se estabelece a partir da dialética
da pergunta e da resposta. Esse processo não se limita ao diálogo entre duas pessoas, mas
também na relação texto e intérprete, espectador e a obra de arte e, por fim, entre o homem e o
mundo. Como um jogo, todo processo de compreensão é um ato em aberto na medida em que
é uma ação interpretativa e não a reprodução interna de uma realidade externa. No jogo da
arte não somos nós que dirigimos a ação interpretativa mas somos transportados para uma
realidade que nos ultrapassa: o jogador se dobra à autonomia do jogo. A subjetividade de
quem joga encontra-se implicada mas em nenhuma medida ela é o “sujeito” do jogo.
A compreensão não é apenas um produto da consciência, mas um processo mais amplo.
Ela não se inicia nem se esgota no sujeito que compreende, mas ao contrário, compreender
produz um momento de desprendimento de si-mesmo (selbst) que deveria ser investigado
pelo modelo do jogo (Gadamer, 2012(II), p.151). O espaço de jogo comporta um movimento
de alternância, que não pode ser reduzido a subjetividade do jogador, pois “a real experiência
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
do jogo consiste no fato de que, no jogo, passa a predominar algo que obedece inteiramente as
suas próprias leis” (Gadamer, 2012(II), p. 154). Quando alguém entra no jogo, pode
experimentar essa alternância fluida, que parece caminhar por si mesma, e que confere à
subjetividade do jogador uma experiência de liberdade e leveza, “o que entra ou está em jogo
já não depende de si mesmo, mas é dominado por essa relação chamada jogo” (Gadamer,
2012(II), p.154). O jogo é capaz de impor uma realidade que enlaça o jogador num encontro
que o transforma. A subjetividade dos indivíduos, seu comportamento e sua autocompreensão,
mergulham numa “determinação” maior que lhes comporta.
O modelo de compreensão que Gadamer apresenta como alternativa ao modelo
tradicional no qual sujeito e objeto são instâncias autônomas baseia-se na ideia de que a
experiência da compreensão é uma experiência de estar-fora-de-si. O autoesquecimento que o
mergulho no jogo produz na consciência que joga não é uma perda da posse de si-mesmo,
mas seu alargamento. A saída de si-mesmo é o movimento essencial do conhecimento, dai a
“capacidade que a arte tem de expandir e modificar a compreensão que se tem de si próprio e
do mundo” (Gay, 2010, p140). Compreender significa manter com aquilo que se compreende
uma espécie de diálogo produzindo alguma coisa nova que inexistia antes desse encontro,
“quando alguém compreende o que o outro diz, este algo não é apenas o que o outro tinha em
mente, mas algo partilhado, comum” (Gadamer, 2012(II) p.29). Essa concepção de
compreensão fica clara quando pensamos em um diálogo entre duas pessoas que buscam um
acordo, uma visão de mundo comum. O que Gadamer faz é transpor esse modelo para a
compreensão das coisas do mundo, que além de ser partilhada com outros indivíduos é
construída no próprio jogo com o mundo.
3. O paradigma enacionista
A hermenêutica gadameriana e o paradigma enacionista da cognição (Varela, 1991)
compartilham a noção de que a compressão não é centrada nem no objeto nem no sujeito, mas
na relação entre eles. Muito mais do que um produto (ou uma representação) da consciência
do sujeito, o entendimento é um processo dinâmico e dialógico (como o movimento de
vaivém do jogo que não se fixa e que não cessa). As duas abordagens rompem com o modelo
tradicional do conhecimento que ao longo da história foi entendido como uma questão ora
objetiva, ora subjetiva. Na abordagem enacionista a cognição não é a representação de um
mundo pré-concebido, mas sim a atuação de um organismo no mundo, tendo assim relação
direta com os tipos de experiência que temos enquanto seres corpóreos e de características
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
pensada como um jogo no qual participam produtores e espectadores que jogam um jogo
comum. Numa análise apressada poderíamos pensar que o “sujeito” da performance é o
músico e que o ouvinte simplesmente assiste à performance e, por tanto, essa relação é
unilateral. No entanto, o músico não é o sujeito que produz o sentido da performance, ele não
tem esse poder. O sentido de uma performance é sempre uma construção partilhada. A
experiência de compreensão que acontece no ato da performance pública de uma obra é um
jogo entre as intenções do intérprete (ou interpretes), do compositor e dos ouvintes. A
presença do espectador dá o contexto no qual a performance acontece, é a presença dele que
possibilita esse evento que damos o nome de performance (podemos pensar que diferentes
audiências geram diferentes performances, ou tocar em casa para familiares é a mesma coisa
que tocar para uma banca de especialistas?).
Gostaria de me ater a um outro aspecto da performance: sua preparação. Enquanto a
performance é uma experiência pública, sua preparação, ou aquilo que costumamos chamar
de prática ou estudo, é um trabalho solitário e que envolve muitas horas de preparação
(Chaffin & Lemieux, 2004; Ericsson, 1997; Reid, 2002;). A capacidade de refletir, de regular e
de organizar a própria prática são fatores relevantes para a construção de habilidades de
performance musical que é, portanto, uma atividade dinâmica que exige o constante
direcionamento da atenção.
Meu argumento é que a atividade de tocar um instrumento é dinâmica no sentido que
apenas um jogo pode ser. O jogo, assim como a performance, é uma experiência que se
realiza a partir de uma configuração fluida de sentidos (Santos, 2013). Assim como a
performance, o jogo não tem um fim ou um desenrolar preestabelecido, ou seja, “o jogo se
revela justamente como um fenômeno que se descobre em ato, isto é, realizando-se” (Santos,
2013, p. 105). Como processo dinâmico, todo jogo comporta um risco intrínseco e uma
dimensão de abertura para o mundo. Jogar é constantemente a experiência de uma saída
extática de si-mesmo para um nexo dinâmico e autônomo à vontade do jogador. Na situação
de jogo estamos abertos à experiência. O jogo é assim um processo que conta com a
capacidade de adaptação e flexibilidade do jogador.
Quando jogamos, experimentamos um espaço de interseção e de extensão entre nós
mesmos e o mundo. Sempre que jogamos, jogamos com alguém ou com alguma coisa. Ao
jogarmos nos abrimos para a interpretação e para a ação do outro, assim, no jogo o eu e o
outro formam um meio continuo e inseparável. Por fim, o jogo é um processo que se
configura, entre outras coisas, pela abertura, flexibilidade, prazer e concentração da
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
consciência que joga e por isso é um campo profícuo para que a ação criativa possa se
desenvolver. Trazer o conceito de jogo para a cena dos debates em performance musical
coloca em destaque o aspecto criativo, dinâmico, imponderável, intrinsecamente motivado e
circunscrito (no tempo, no espaço e a regras) dessa atividade possibilitando a ampliação do
entendimento do músico sobre suas próprias experiências de performance.
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360
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Este artigo pretende, através da análise dos escritos de Pierre Boulez, destacar
procedimentos lógico-cognitivos no processo da composição musical. Primeiramente
demonstraremos como o teórico americano Charles Peirce monta sua teoria cognitiva-semiótica
trazendo como unidade um pensamento primeiro, nomeado pelo autor de “lógica abdutiva”. Em
sequência, seguindo uma corrente de pesquisa que utiliza da lógica abdutiva no estudo do processo
criativo, faremos uma análise da teoria composicional de Pierre Boulez interpretando o dialogismo
dos apontamentos do compositor como um processo cognitivo-lógico na perspectiva do fenômeno
abdutivo. Nestes escritos, Boulez apresenta o material e a idéia composicional como necessários e
implícitos no processo criativo. A realização composicional exige uma relação de conflito entre
idéia e material, fazendo do processo criativo uma ação complexa na qual o compositor depende
de sua percepção cognitiva para fazer a obra existir. A partir desta reflexão tentaremos demonstrar
que é possível observar os elementos dentro de uma ação criativa e colocá-los à luz da análise
científica.
Palavra Chave: criatividade, processo composicional, gesto musical, Pierre Boulez, cognição.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Haveria então, para Kant, dois pontos acerca dos estudos da lógica: o primeiro é ser o
fundamento de todas as outras ciências e do próprio estudo do intelecto, por se preocupar com
a forma como este se constitui. O segundo ponto é que, pelo seu caráter abstrativo, a lógica
não pode ser um “órganon” das ciências, em outras palavras, apenas com o uso da lógica não
é possível atendermos às necessidades de conhecimento de uma dada ciência. Assim, a lógica
se apresenta como um “juízo de apreciação” e “correção” do nosso conhecimento e não uma
ciência autônoma na descoberta dos objetos. Esta compreensão irá justificar a aplicação lógica
sobre o processo criativo e não permitirá uma substituição dos elementos que caracterizam a
criação musical pela lógica.
Apesar de seu caráter abstrativo, a ciência lógica reconhece no pensamento seus últimos
meios para seu uso próprio. Esta característica leva à autonomia da lógica quanto ela mesma,
sendo a priori de qualquer pensamento, um “cânone” do intelecto com sua organização
constitutiva e leis necessárias.
A teoria lógica de Kant foi um dos pilares metodológicos para o aprofundamento
científico de Charles Peirce ao se debruçar sobre a teoria do signo. Esta última, que já havia
sido inaugurada por John Locke em 1690, foi revisada e ampliada a partir das reformulações
da lógica de Kant, principalmente pela adesão de Peirce ao raciocínio abdutivo. Os estudiosos
do processo criativo demonstram, em publicações recentes, como Peirce reconhece que a
descoberta na ciência se equivale à descoberta na arte. Por isso, partimos de sua metodologia
para observar a criação na composição musical. Assim, Peirce desenvolve o conceito de
raciocínio abdutivo, que está diretamente conectado com o processo de criação de novas
idéias (COCCHIERI, 2008, p.33). Anterior às inferências lógicas de dedução e indução, a
abdução seria responsável por criar as hipóteses e descobertas diante de um fenômeno
desconhecido.
Sem grande rigor, definimos que o raciocínio abdutivo estaria para a descoberta, o
dedutivo para a análise e o indutivo para a prova das hipóteses através de uma experiência
empírica (COCCHIERE, 2008, p.41). De acordo com Cocchiere:
(...) o raciocínio abdutivo se efetiva nas seguintes etapas: percepção de anomalia;
surpresa e dúvida; abandono do hábito anterior; geração e seleção de hipóteses
(...) a segunda etapa da investigação é a dedução, que consiste em uma análise
formal que atua como argumento explicativo e antecipatório das hipóteses
levantadas como prováveis (...) a terceira etapa resultante do processo de
raciocínio se realiza na indução, em que há certa correspondência entre algo ser
verdadeiro, e posteriormente se inferir a uma classe inteira de ocorrência de
coisas semelhantes. (COCCHIERE, 2008, p. 44)
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Uma vez que existe para Peirce uma equivalência entre a mente do investigador e o
universo dinâmico, é importante esclarecer que o raciocínio abdutivo tem caráter lógico-
formal e espontâneo. Ou seja, no caso do processo perceptivo sensorial, já teríamos o
desenrolar de uma complexa tarefa lógico-semiótica. Este entendimento lógico implícito ao
processo de percepção é o que fundamenta a teoria semiótica Peirceana (COCCHIERI, 2008,
p. 42).
Deste modo, a clássica definição semiótica se estabelece no reconhecimento de três
fatos pela mente, levando em conta que entre a mente e o objeto (entendido como a realidade
exterior à mente) há um signo como mediação. Temos então “o signo em si mesmo; uma mera
qualidade (uma cor, uma sensação), “um existente concreto” onde o signo está conectado ao
seu objeto (som da porta batendo, som do relâmpago) e o signo como representação de uma
lei geral (palavras, um código) (PEIRCE, 2003, p. 51).
Para manter o devido recorte metodológico neste artigo, nos limitaremos à teoria de
Peirce no que diz respeito ao quadro lógico até aqui discutido e não envolveremos a
categorização dos signos. Assim, na montagem da discussão sobre o processo criativo
musical, fomentado aqui por Pierre Boulez, caminharemos na observação e identificação das
relações com a teoria de Peirce incutidos nos elementos discutidos pelo autor francês.
Jean-Jacques Nattiez no prefácio de “Escritos Seletos” menciona o fato de Boulez estar
dentro do grupo de compositores que mais escreveu, possuindo um pensamento que “baseia-
se num olhar retrospectivo, crítico e acelerado dos momentos estéticos fortes do século XX
musical, a partir dos quais define a sua própria trajetória” (BOULEZ, 2012, p.15).
Nattiez evidencia ainda o fato de que, ao escrever sobre outros compositores, um
compositor acaba definindo a si próprio, trazendo desta forma uma importante visão aos
propósitos de nossas reflexões: “Boulez preserva um liame muito específico com o passado:
nunca se volta e recorre a ele para imitar traços empíricos de estilo, mas para retirar lições
quanto aos princípios” (BOULEZ, 2012, p.13). Partindo das premissas levantadas com a
observação de Nattiez, o ato de compor obedece a certos princípios e nosso intuito é observar
quais os possíveis elementos que fariam parte da criação composicional e como se daria seu
funcionamento na visão de Boulez. Neste intento, formulamos as questões: seria o ato
composicional processo de descoberta tal qual se realizaria no processo abdutivo? Em que
medida podemos ter o processo composicional musical como um operação lógica?
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Mas haveria uma gênese do processo além da manipulação com o material? No seu
texto de 1980 “A composição e os seus diferentes gestos”, Boulez define a composição como
uma “especulação”. O processo criativo passaria pela “contradição” entre a especulação e a
realidade do material. (BOULEZ, 2012, p.257)
Diante deste fato de “contradição” entre a especulação e a realidade, Boulez afirma que
é necessário formalizar a “ideia musical”. O que veremos no desenvolvimento do compositor
é em que medida a ideia está submetida a uma constrição e quando se configura como uma
especulação ou uma hipótese.
A “ideia musical” é demonstrada como um elemento basilar no processo criativo que
advém de algumas premissas. Primeiramente, há sempre circunstâncias históricas que
determinam um certo vocabulário, nas quais a ideia deve estar ligada a algum consenso de
alturas ou codificada em alguma linguagem rítmica. Assim, Boulez determina que “estes dois
elementos, altura e durações, são elementos primordiais fora dos quais a ideia musical, em
rigor, não existe”. (BOULEZ, 2012, p. 260) De forma menos genérica, mas ainda assim
preponderante, a ideia pode estar ligada a convenções de formas musicais que constringem :
“pela estrutura de um andamento (...) pelo tempo adotado (...), pela destinação do material – o
tema pode ser destinado ao desenvolvimento, à variação, à simples repetição, pelo
instrumento – a ideia é constringida pelos recursos próprios da manipulação instrumental”.
(BOULEZ, 2012, p. 261)
Em suas conclusões, Boulez afirma que mesmo distante das constrições mencionadas
haveria ainda outra mais forte e ilusória, sendo esta a da própria memória:
A memória acumula em nós um certo número de modelos, incluindo igualmente
os nossos próprios modelos. É um universo constante de referências a que é
muito difícil subtrair-se. Criamos assim para nós, sem que tal seja perfeitamente
consciente, ou sem que queiramos reconhecê-lo de modo patente, uma
linguagem pessoal de referência, uma rede de gestos inventivos, para os quais
somos tentados a apelar, aos quais nos reportamos em caso de urgência
(BOULEZ, 2012, p. 261)
364
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Por fim, o compositor francês se questiona sobre o quão real pode ser a ideia musical -
“Será, aliás, tão real, como acabo de descrever, a ideia inicial?” (BOULEZ, 2012, p.262) -
colocando em condição de hipótese ideias que, nas suas mais sensíveis gêneses, têm um
caráter virtual e indeterminado. Assim, Boulez provoca que a composição “dependerá então
do confronto destas hipóteses com a realidade do material musical” e que “na verdade, ideias
primordiais tão abstratas poderiam realizar-se segundo qualquer código”. A ideia para Boulez
teria então uma generalidade que caberia a qualquer forma de expressão onde “ao ler um
quadro, ao refletir sobre um fenômeno qualquer, o compositor pode sentir-se possuído do
famoso demônio da analogia”. (BOULEZ, 2012, p.262)
Considerando as propriedades analisadas por Boulez sobre o processo composicional,
podemos fazer a relação de que haveria uma afinidade do raciocínio abdutivo com o ato de
criação, por ambos nutrirem suas hipóteses a partir de um fenômeno observado ou fato
genérico ou ainda por ambos partirem da descoberta dos fenômenos ou fato através da
percepção.
Em resumo, se existe uma forma de conhecer/perceber o mundo é através da abdução, e
até aqui, pelos dados apresentados do processo criativo a partir da perspectiva de Boulez,
constatamos que podemos incluí-lo nesta lógica abdutiva.
Voltando ao pensamento de Peirce, este autor formula que existiria movimentos de
síntese e análise no processo de aquisição do conhecimento, onde a mediação é feita por
aparelho cognitivo denominado por ele de “juízo perceptivo”(COCCHIERI , 2008, p. 43)
A definição de juízo perceptivo consiste em uma ação não controlada pela razão que
percebe as coisas no mundo. O juízo perceptivo antecederia a abdução, sendo a porta de
entrada dos elementos da realidade e o motor para o raciocínio abdutivo:
Trata-se de um quase-raciocínio, instintivo, uma espécie de adivinhação,
altamente falível, mas o único tipo de operação mental responsável por todos os
nossos insights e descobertas. Sem ele, o homem perderia a capacidade de
descobrir, do mesmo modo que, sem asas, os pássaros seriam incapazes de voar.
(SANTAELLA, 1993, p.67)
Em linhas gerais, o juízo perceptivo é a ação involuntária da percepção como algo que
está diante de nossos olhos, um sabor ou sensação decorrente de algo. A abdução, por sua vez,
é a ação consciente da percepção que controla o que percebemos. Para Peirce, “toda forma
geral de reunir conceitos é, em seus elementos, dada na percepção” (PEIRCE, 2003, p.228
apud COCCHIERI, 2008, p.45).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Diante das reflexões aqui apresentadas, cabe a consideração final de que este estudo é
um início das preposições sobre o processo criativo musical na perspectiva das ciências
cognitivas. Apesar de haver relevantes publicações sobre a lógica-semiótica na área de
processos criativos ainda é pouco usual a aplicação desta na composição musical.
Considerações Finais
O que conseguimos prover desta análise, por ora, é que podemos relacionar o procedimento
composicional ao processo lógico que se inicia na percepção. Futuros estudos poderiam
relacionar a questão do material com a ideia musical, aprofundando em que aspecto cognitivo
se daria este movimento. É importante ressaltar o trabalho do compositor e pesquisador José
Augusto Mannis que contribui para os estudos dos processos cognitivos da percepção como
fundamento do ato composicional, onde o material é o elemento básico de qualquer
composição: “Processos Cognitivos da Percepção, Análise e Síntese atuando no processo
criativo” (2014) e “Processo Criativo: do material à concretização compreendendo
interpretação performance” (2011) .
A análise de outras teorias composicionais sob a luz da teoria perceptivo-semiótica,
poderia nutrir uma área dentro dos estudos da composição que integrasse o procedimento
cognitivo. Dentro das artes em geral, a Crítica Génetica ocupa esse espaço, tomando
ferramentas da psicologia, semiótica e filosofia para compreender o processo criativo do
artista. O reconhecimento das artes como uma profunda ciência de representação da
experiência traz enorme dinamismo aos estudos sobre o homem em geral. Parte de um
significado de um fenômeno é sintetizado na obra de arte, resguardando tempo histórico,
experiência e particularidades do indivíduo. Estaríamos, desta maneira, realizando uma
verdadeira arqueologia da criação ao adentrar o processo criativo de uma obra, levantando
novas possibilidades de metodologia e descobertas científicas dentro desta temática.
Referências Bibliográficas
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BOULEZ, Pierre. (2007). A música hoje (1º ed.). Editora. Perspectiva São Paulo.
BOULEZ, Pierre. (2007). A música hoje 2 (1º ed.). Editora. Perspectiva São Paulo.
BOULEZ, Pierre. (2012). Escritos Seletos (1º ed.). Coleção Escritos de compositores
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COCCHIERE, Tiziana. (2008). Criatividade em uma perspectiva estético-cognitiva.
Dissertação de mestrado. UNESP-Marília
FERNANDES. Sylvia Ribeiro. (2006). A criação do sujeito: comunicação, artista e obra em
processo. Tese de Doutorado. Puc São Paulo.
366
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: O presente artigo ocupa-se do estudo da metodologia a ser aplicada a uma pesquisa
experimental com suporte teórico calcado na cognição incorporada. Ao se entender o procedimento
mental de construção de sentido da musica como essencialmente inconsciente, depara-se com a
questão acerca de como se pode proceder a uma investigação desse conhecimento sem que, ao fim, se
descambe para o objetivismo e representacionismo da musicologia tradicional. Baseado em teoria
essencialmente enacionista, discuto a adoção de um método que se mostre apto a testar as situações de
experimentação de objetos musicais pelo ouvinte, de modo a perscrutar seu procedimento de
categorização, em bases enacionistas.
Palavras-chave: cognição incorporada, categorização, esquemas de imagem, semântica cognitiva .
Introdução
O presente artigo visa discutir um método a ser adotado em um ambiente de pesquisa cuja
base teórica seja essencialmente enacionista, de modo a constituir um corpus completo da
pesquisa, que possa ser entendido propriamente como enacionista. O aparecimento, nas
últimas três décadas, do estudo cognitivo da música acontece em momento de revalorização
da pesquisa da semântica musical. Mais recentemente, uma quantidade crescente de pesquisas
acadêmicas em música tem adotado uma base teórica enacionista. Por outro lado, é notório
que essas novas teorias propostas muitas vezes têm sido encaradas, em termos experimentais,
sob uma ótica metodológica ligada à musicologia tradicional, de base cognitivista, impedindo
que as próprias teorias em que se baseiam consigam alçar voo mais duradouro.
A questão acerca do sentido da música, portanto, requer não tão somente uma teoria
cognitiva que se assente em base enacionista, mas também uma metodologia experimental
que não esteja voltada à tradição musicológica arraigada no formalismo oitocentista que
perdurou, no século passado, em trabalhos importantes (citar alguns como o de Meyer, 1956)
e no representacionismo, sob pena de tornar-se paradoxal a própria pesquisa, em certo
sentido. Mais especificamente, este artigo trata da questão que surge a partir de pesquisa
acerca da construção do entendimento musical em torno da função dos esquemas de imagem
368
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
A base teórica
A pesquisa que venho realizando possui base teórica essencialmente enacionista, na medida
em que, partindo do pressuposto que os esquemas de imagem (Johnson, 1987) encontram-se
na fundação de todo tipo de categorização humana (Zbikowski, 2002; Rosch, 1978), incluídos
aí os objetos musicais, busco entender a relação entre a predominância de um determinado
tipo de esquema ou esquemas, em uma dada audição musical, e a experiência duracional
resultante dessa audição. Entendo que os esquemas utilizados nesta categorização do objeto
musical influenciam diretamente a percepção subjetiva de tempo, bem como a construção da
percepção de duração do trecho.
É importante ressaltar que me refiro aqui à categorização, ou seja, à construção
inconsciente de sentido empreendida na interação da mente com o estímulo sonoro-musical, e
não à conceituação, fenômeno volitivo que visa comunicar o que foi previamente
categorizado e, portanto, entendido. Trata-se aqui de importantíssima distinção, na medida em
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
que o objeto de estudo e, portanto, de investigação que se discute não é exatamente o conceito
a que se chega, após ter o ouvinte referenciado o que categorizou com seu conhecimento, mas
os modelos ou procedimentos inconscientes que possibilitam esse entendimento prévio.
Tal fato leva ao primeiro problema acerca do método investigativo. É que para que se
chegue aos procedimentos mentais inconscientes, não me parece haver outro caminho senão
aquele que se inicia pela enunciação do ouvinte. Ou seja, parece-me que acessar o
inconsciente musical alheio só é possível através da manifestação do que essa pessoa pensa
acerca do que ouviu. E de pronto, portanto, parece haver um problema inicial que diz respeito
ao ponto de partida da investigação que se mostra manifestamente contaminado pela
conceituação do ouvinte, na medida em que este não expressa exatamente o processo, mas o
resultado deste, tendo-se, ademais que levarmos em conta o empobrecimento intrínseco das
descrições linguísticas das experiências e toda a gama de manipulação muitas vezes distorcida
com que os investigados contaminam os relatos. Nas palavras de Nogueira:
É plausível assentir que a nomeação pode ser um mero ato poético — no sentido
grego de criar —, mas a conceituação envolve um mergulho mais profundo na
experiência linguística, uma vez que resulta em sentidos proposicionais que não
podem ser produzidos contingente e arbitrariamente (Nogueira, no prelo).
Esse primeiro empecilho pode ser refutado com esse mergulho na conceituação, ao
argumento de que essa contaminação pode ser depurada a partir da teoria do mapeamento
entre domínios (Lakoff & Johnson, 1980). Com efeito, ao enunciarmos o entendimento
abstrato, recorremos a metáforas relacionadas a outros campos de entendimento, mais
concretos, de maneira a manifestarmos linguisticamente, e em bases que possam ser
apreendidas por nossos pares, aquilo que entendemos após a escuta musical. Disserta-se
acerca do objeto musical, um entendimento inconsciente e subjetivo, não em bases
completamente abstratas, mas fazendo relações com campos do conhecimento mais concretos,
de modo a facilitar a comunicação. Essencialmente, entretanto, o que o ouvinte faz é traduzir,
em termos linguístico-referenciais, seu inconsciente, deixando entrever, no seu discurso, quais
esquemas de imagem estariam na base dessa construção. É, portanto, caminho reverso, para o
construto inconsciente, a partir da enunciação do ouvinte acerca daquilo que ouve.
Um segundo empecilho descortina-se, a este ponto. Ainda que seja possível, portanto,
como aludido, que se chegue a que esquemas de imagem predominam no processo de
entendimento musical, há que se lembrar das palavras de Johnson (1987, p.29): “embora os
esquemas sejam estruturas definidas, são padrões dinâmicos, ao invés de imagens fixas e
estáticas, como os representam seus diagramas visuais”. Por não serem estruturas fixas ou
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Um método
Em se tratando de uma pesquisa acerca da semântica musical, há que se levar em conta que,
uma vez estabelecidas a teoria e premissas sobre as quais se vai pesquisar, é preciso
empreender a investigação empírica, de forma a testar aquela teoria. Em que bases, portanto,
conseguir-se-ia realizar uma tal investigação, tendo em vista o caráter inconsciente desses
processos mentais, bem como a base enacionista de nossa teoria? Perguntado de outra forma:
de que maneira seria possível adentrar as estratégias inconscientes postas em prática na
mente, com o fim de estudá-las de forma científica e, portanto, objetiva, sem que se descambe
para uma investigação não dos construtos essenciais, mas das representações destes,
correndo-se o risco de contaminar com base cognitivista uma pesquisa essencialmente
enacionista?
Tendo em vista esse processo de constituição inconsciente do conhecimento musical a
que se visa aplicar o método de verificação, algumas considerações prévias precisam ser
feitas. Em primeiro lugar, é necessário ter em mente que o objetivo da investigação é
conhecer as estratégias de categorização que estão sendo utilizadas e não a própria
categorização, embora, como já mencionado, haja a necessidade de se iniciar pelo que o
ouvinte referencia. A investigação desses esquemas predominantes na conceituação precisa,
portanto, dar-se a partir da enunciação do ouvinte acerca daquilo que ouve e, de maneira a se
evitar a mera análise da referência do ouvinte, este caminho deve ser interpretado à luz das
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
teorias enacionistas (Johnson, 1987, 2007; Zbikowski, 1995, 2002; Snyder, 2000; Lakof &
Johnson, 1980, 1999). Sobre esse caminho interpretativo, o professor Nogueira (2016, p.20)
também nos ensina:
penso que o caminho inverso de observação das construções enunciativas da
superfície linguística de nossas descrições musicais como meio de acessar os
mapeamentos entre domínios que operamos ao intencionar o sentido da música
mantém o foco de investigação estritamente no domínio paradigmático da cognição
incorporada, a partir do que penso que devemos nos manter, se visamos à construção
de teorias enacionistas do sentido musical.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
talvez mais importante, é método que não contamina a teoria enacionista, na medida em que
se investiga, de fato, as sensações por meio das descrições dos diretamente afetados por elas,
sendo, quiçá, a maneira mais direta de acessar de forma mais ou menos objetiva um conteúdo
tão subjetivo e de difícil manifestação.
É importante, entretanto, que o questionário seja bem estruturado, apresentado questões
de múltipla escolha, no que concerne, por exemplo, à estimativa duracional do trecho ouvido,
bem como questões discursivas, em que o participante tem maior capacidade de ação, não
sendo tão restrito pelos parâmetros impostos. Quanto a esta restrição, é importante ressaltar
que, por se tratar de tema tão subjetivo, me parece imprescindível que algum grau de restrição
tenha de ser adotado, sob pena de se legitimar anotações das mais variadas, sem conexão
alguma com o que se pesquisa. Aqui, a restrição apresentar-se-ia não como uma indução a
resultado, mas a parâmetros bem definidos no questionário, guiando o participante a voltar
sua concentração ao objeto da análise em estudo: a sensação que o entendimento do trecho
musical causa no ouvinte e a estimativa da duração daquele trecho ouvido, dentro de algumas
possíveis oferecidas.
Ora, é justamente a partir dessas observações do que enunciará o ouvinte, que pretendo
estudar a formulação de um método que investigue a construção do entendimento musical. É
partindo da “superfície linguística”, um meio aparentemente menos objetivo de acessar o
conhecimento inconsciente do ouvinte, que pretendo discutir os processos semânticos
musicais, particularmente relacionando as estruturas proposicionais básicas do discurso sobre
o entendimento da música à experiência duracional constitutiva do seu sentido. E não poderia
ser diferente, na medida em que a enunciação do ouvinte parece ser, senão o único, o caminho
mais eficiente até os processos mentais inconscientes de constituição do sentido. O que se
enuncia, entretanto, não é exatamente aquilo que foi sentido, mas o que foi possível
conceituar através do filtro da linguagem. Assim:
em geral a música só pode ser conceituada e comunicada discursivamente por meio
de metáforas procedentes de nossas experiências incorporadas — ou procedentes de
metáforas de nossos conceitos incorporados —, estas que assim constituídas podem
nos revelar, por meio do que delas persistiria em nossas descrições linguísticas da
música, as estratégias que empregamos para formar os nossos sentidos musicais
(Nogueira, no prelo).
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preciso, portanto, ter uma ideia precisa das possibilidades dessas experiências, que se tornam
a referência para a construção do sentido musical e que se deixam antever nos discursos
adotados pelos ouvintes, discursando sobre essa experiência de escuta.
Assim, o planejamento da investigação a que serão submetidos os ouvintes impõe-se em
termos de um grupo a ser investigado em uma dimensão subjetiva, tomando por base o
material a ser utilizado na escuta, bem como a apreciação do discurso produzido por esses
ouvintes, quando indagados acerca do entendimento desse material ouvido, com vistas a
chegarmos à uma correspondência entre o enunciado no discurso de resposta e os atributos
básicos de determinado esquema de imagem, que estaria, portanto, predominando naquele
entendimento do trecho musical em questão, sendo associado à determinada experiência de
duração.
Considerações finais
A investigação subjetiva do procedimental inconsciente de construção de sentido, baseado em
uma teoria cujo alicerce encontra-se na cognição incorporada é possível, fazendo-se uso de
procedimentos já disponíveis ao pesquisador. É imprescindível, no entanto, que esta
investigação seja orientada sob premissas que impliquem em uma tentativa de conhecer o
procedimento e, assim, evitar o objetivismo dos métodos formalistas tradicionais. A adoção de
estratégias de limitação das respostas dos investigados pode, adicionalmente, ser entendida
como ferramenta que ter por objetivo promover tanto a concentração dos participantes sobre o
objeto de estudo da pesquisa, como uma orientação que impede que a pesquisa seja
contaminada com resquícios de representacionismo.
Referências
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human experience. Cambridge, MA: MIT Press.
ZBIKOWSKI, Lawrence M. (2002). Conceptualizing music: cognitive structure, theory, and
analysis. Oxford, NY: The Oxford University Press.
___________. (1995) “Theories of Categorization and Theories of Music”, Music Theory On-
line 1(4).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Introdução
Para descrever a maneira como se estrutura a imaginação na criação de solos instrumentais,
foi utilizado, no presente trabalho, o conceito de schema (BARTLETT, 1932). O “schema
refere-se a uma organização ativa de reações passadas, ou experiências passadas, que se
supõem estar sempre operando em qualquer resposta orgânica bem adaptada”1 (BARTLETT,
1932, p. 201). Dizendo de outra forma, o schema seria uma massa organizada de experiências
pela qual um cenário cognitivo toma forma, na mente das pessoas, permitindo o
processamento de novas informações.
Pensa-se que o ato de imaginar musicalmente pode ser compreendido como um
processo cognitivo estruturado em schemas (BARTLETT, 1932). A sonoridade das músicas
do Wes Montgomery2, por exemplo, pode ser reproduzida, na mente da pessoa, porque ela
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
dispõe de um schema deste tipo de música. Por certo, a pessoa não consegue lembrar, por
vezes, de um tema específico, mas a guitarra semiacústica, o baixo acústico e a bateria podem
“tocar” em sua mente. Este é um exemplo de schema que reconstrói o cenário cognitivo de
um trio jazzístico.
Os schemas mnemônicos permitem reconstruir cenários cognitivos como uma consulta
ao dentista, uma ida ao mercado e, neste exemplo, citado acima, o som de um trio jazzístico.
Pelo fato de que o schema fornece noções gerais relacionados às maneiras de fazer música
utilizadas por outros músicos, o “preenchimento” dos detalhes corre por conta da mente de
quem está compondo. Por isso, pensa-se que o desenvolvimento da capacidade de criar solos
instrumentais em tempo real passa pela internalização, por parte do músico, de schemas que
possibilitam a produção de combinações imagéticas. Assim, com a gradativa internalização de
noções gerais relacionadas às maneiras pelas quais outros músicos improvisam, os músicos
passam a extrair delas uma lógica de construção musical. De que outra maneira o músico
conseguiria desenvolver a habilidade de improvisar, em tempo real, novas combinações
melódicas, se não houvesse internalizado tais noções, pela via do aprendizado teórico ou
intuitivamente? Imitar não significa, tão somente, fazer tal qual os outros fazem, mas
internalizar significados compartilhados em uma comunidade acerca das ações mediadas por
instrumentos físicos e semióticos envolvidos em uma prática específica, reconstruindo estas
ações no plano interno (mental) na forma de schemas.
Por certo, existem outros fatores que influenciam o surgimento de combinações
imagéticas e a criação de solos instrumentais em tempo real como, por exemplo, a motivação
pessoal, a quantidade e a qualidade das práticas anteriores, bem como do aprendizado
musical. Possivelmente, o meio social também se constitui em fator determinante, tanto para a
inibição e supressão de uma prática criativa, quanto para o seu fortalecimento e
aprimoramento. O interesse desta pesquisa exploratória foi sugerir um princípio geral, do
ponto de vista da Psicologia do Desenvolvimento, que explicasse o surgimento de
combinações imagéticas e, por conseguinte, a criação de solos instrumentais em tempo real.
Partiu-se da ideia de que essa criação pressupõe a internalização (VIGOTSKI, 2009),
por parte do músico, de schemas relacionados aos estilos musicais que pratica/ouve (schema
estilístico), schemas relacionados às ações e percepções envolvidas na execução instrumental
(schema procedimental), como a imagem mental dos dedos pressionando as cordas da guitarra
ou do desenho das escalas que serão utilizadas no decorrer da improvisação e schemas
relacionados aos sentimentos e sensações associados a fatores extramusicais (schema da
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eficácia simbólica).
Metodologia
Com o objetivo de analisar a constituição schemática da imaginação na criação de solos
instrumentais, realizou-se um estudo de casos múltiplos para o qual foram selecionados
quatro guitarristas adultos, com média de idade de 35 anos e experiência musical relacionada
à prática da guitarra elétrica de, pelo menos, dez anos3 . A seleção dos músicos foi realizada
por conveniência, a partir do grupo de pessoas do convívio musical de um dos pesquisadores.
Os músicos eram familiarizados com a improvisação de solos instrumentais de gêneros
populares, principalmente de blues e seus derivados. Dentre os participantes, os músicos LD,
AP e VM são professores de música e compõe/improvisam música instrumental regularmente.
O músico EJ, embora tenha curso de graduação em educação musical, trabalha, atualmente,
na área da Publicidade e Propaganda. Do ponto de vista da atuação profissional, apenas LD e
VM exercem a profissão de músico, na atualidade, com apresentações públicas semanais. O
músico AP trabalha como luthier.
As entrevistas e sessões de improvisação ocorreram na própria residência dos
participantes da pesquisa, com duração média de uma hora cada. Por meio de entrevista com
roteiro pré-estabelecido, buscamos coletar os seguintes dados sobre a formação musical dos
músicos e sobre seus processos de criação: tempo de estudo de música, capacidade de leitura
de partitura ou cifrado, capacidade de “tirar música de ouvido”, o que imaginam quando
criam solos instrumentais e a existência de hábito de imaginar linhas melódicas sem a prática
instrumental concomitante. Por vezes, os músicos utilizaram-se do instrumento musical,
concomitantemente à produção das respostas às perguntas do pesquisador, para demonstrar a
relação entre o que estavam falando e sua prática musical. Na parte final da entrevista, os
participantes foram solicitados a imaginar um solo instrumental para o acorde de mi com
sétima e relatar o que lhes “aparecia na mente”, ao fazê-lo. A escolha deste acorde deveu-se
ao fato de que, na prática da guitarra elétrica e do violão, a sonoridade do acorde de mi com
sétima costuma ser muito utilizada na criação de riffs de blues e seus derivados, devido às
suas características timbrísticas, ao ser produzido com o emprego de cordas soltas. As falas,
obtidas por meio das entrevistas, foram submetidas à análise textual discursiva (MORAES,
2003) e interpretadas por meio do paradigma indiciário de investigação (GINZBURG, 1989).
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Discussão
Voltando-se para o primeiro excerto, entende-se que o aprendizado teórico possibilitou ao
músico LD o desenvolvimento da capacidade de escolher as escalas que serão utilizadas na
improvisação de suas frases musicais, no decorrer de um encaminhamento harmônico. Por sua
vez, LD não imagina apenas acordes, mas seus dedos tocando melodias, paisagens e/ou
pessoas vívidas em suas lembranças, sons e cores4, utilizando-se, portanto, de schemas que
possibilitam a formação de cenários cognitivos diversificados, mais ligados aos sentimentos e
às sensações envolvidos na prática musical.
Considera-se que os diferentes tipos de imagética musical – entendendo este conceito
como um conjunto de representações mentais ativado quando a pessoa está imaginando
musicalmente –, usados pelo músico LD, constituem maneiras distintas de praticar música.
Enquanto ele imagina as cifras, os blocos de acordes ou os dedos pressionando as cordas da
guitarra elétrica, ou seja, schemas relacionados aos procedimentos envolvidos na prática
musical (schema procedimental), nos momentos em que ele imagina paisagens, pessoas e/ou
busca correlacionar sons e cores, o objetivo é desviar-se dos procedimentos técnicos, porque
adquiriu a segurança necessária para pensar sobre quais escalas funcionam bem, em um
encadeamento harmônico determinado, valendo-se de schemas de eficácia simbólica. Pensa-
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Considerações finais
Neste artigo, analisou-se a constituição schemática da imaginação na criação de solos
instrumentais. Assim, chegou-se à conclusão de que os músicos que participaram da pesquisa
se utilizam de três schemas imagéticos principais: o schema das características sonoras de um
estilo musical (schema estilístico), o schema das ações e percepções envolvidas na prática
musical (schema procedimental) e o schema da eficácia simbólica.
Referências
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discursiva. Ciência e Educação, 9 (2): 191-211.
Vigotski, L. S. (2009). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
1
“‘Schema’ refers to an active organisation of past reactions, or of past experiences, which must always be
supposed to be operating in any well-adapted organic response” (BARTLETT, 1932, p. 201). Optou-se em
utilizar a grafia original utilizada por Bartlett (1932).
3
Esta pesquisa contou com o apoio financeiro da CAPES e da Fundação Araucária.
4 Aparentemente,o músico LD não é sinestésico, ou seja, não possui cruzamento de sensações (auditiva e visual,
por exemplo), mas procura estabelecer correlações entre sons e cores.
382
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Vilson Zattera
Laboratório de Acessibilidade / BC / UNICAMP
vilson.zattera@gmail.com
José Fornari
NICS / COCEN / UNICAMP
tutifornari@gmail.com
Abstract: The computer music technique known here as sonification lets performers transform in
real time data retrieved from other media into sound and music. The visual impaired musicians
normally have access to computer music tools only by means of technological accessibility tools
(such as screen readers) and dedicated hardware interfaces (such as braille displays). At the same
time, these musicians also present enhanced sensorial abilities due to a neural process known as
neuroplasticity. This article presents the study of two strategies of sonification for the blind
performer. Both aim to explore the enhanced abilities of blind performers in order to allow them to
create novel sonifications. These strategies explore the sonification of a media known by the blind as
both retrieve data from their use of the traditional cane for the blind. One of them use bodiless data,
such as a theremin, while to other use the opposite approach by means of a full contact interface that
retrieve pavement textures. Both are dependent on the multisensoriality approach used by the blind
to navigate using its cane, while retrieve bodiless and full contact data for a sonification
performance.
Key-words: multisensoriality, sonification, visually impaired.
1. Introduction
The cane is, for the blind, an extension of his/her hand. In the same manner that anyone
extending the hand to detect and/or identify surrounding objects, the cane expands the ability
of the blind to detect and identify the surroundings both in space (extending the range of
action) and time (making this process fast enough so the blind can walk while identifying the
path). The cane also protects the blind from small collisions thus encompassing some amount
of confidence to let its user to get some social independency.
Initially the cane was pretty much a light, long and thin stick whose user would move
sideways in front of him/herself, somehow resembling a sweeping movement. The tip of this
type of cane was rigid and would normally only touch the pavement in the extremes of each
sweeping movement, thus conveying a limited and fragmented amount of data retrieved from
the pavement texture. This type of cane used to provide discrete haptic pavement texture data
information.
Nowadays canes are provided with a rolling tip that let the user to roll it along the
383
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
whole sweeping movement, thus providing a full range of information, not only from the
extremes but from the entire movement, thus enlarging the data retrieved. This type of cane
provides analog haptic pavement texture data information.
These two types of approaches can be compared with digital and analog audio. In
digital audio, information is regularly sampled, in a frequency called “sampling rate”, which
is, for instance, the type of audio in a CD player. In analog audio, information is represented
as a continuous curve, correlated to the continuous variation of the acoustic pressure, which is
the case of a long-playing vinyl, or phonograph.
2. Multisensoriality
A blind is able to feel the near presence of a wall before touching it, by other sensory cues,
such as hearing (change in soundscape reverberation), sense of temperature and smell. This
approach is called multisensory integration. This is a discipline that studies how the
information from the different sensory perceptions of the same individual (i.e. sight, hearing,
touch, smell, balance, etc.), are integrated by the brain in order to deliver immediate and
autonomous detection and identification of objects or situations (Stein 2009).
For the blind, several situations require the use of multisensoriality. In a cold day, it is
difficult for the blind to wear gloves as them reduce his/her haptic capacities, of identifying
object by touch or feeling the vibrations delivered by the rolling tip of the cane, thus
impairing the ability of properly detecting changes in the path. Another usual situation that
reduces the multisensorial ability of the blind is wearing a hood. This garment remains in
front of the outer ear which reduces the binaural ability of sound source location. The same
happens in noisy ambients. By reducing sound location, the blind may experience orientation
difficulty and mental confusion.
It can be said that multisensoriality is intrinsic to the blind in all his daily activities,
among them that of getting around, because without this information, it would be very
difficult for the blind to walk with a minimum of safety and spatial orientation. Just as the
echolocation of an animal like the bat, whose hearing sometimes turns into vision, the other
senses of the blind often become his/her sight.
Once fully supported, multisensoriality may be enough to let the blind to walk around
without the cane (specially in a known environment). This is more common in people who
were born or became blind in a early age. People who become blind after certain age usually
have more difficulty to use multisensorial cues as substitute of vision.
384
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Pinker (1994), argues that there is strong psychological evidence of the existence of an
abrupt age decrease in the ability of an individual to learn a new language without accent
(known as the critical period hypothesis). This might be similar to the case of individuals who
became blind after the critical period of acquiring multisensorial location ability was over. As
this may initially seem to suggest that the brain is somehow fully developed after the critical
period, thereafter remaing virtually unchanged, there are evidences that strongly suggest that
new abilities are actually developed in the brain neural pathways structure, in response to a
major change (Pascual-Leone 2005). This phenomenon is called neuroplasticity and can be
observed at multiple scales, since from minute changes in neurons to larger-scale brain
changes such as cortical remapping in response to great changes, such as the continuous
blocking or permanent loss of the stimuli from a sense (such as vision). Nevertheless, cortical
remapping is actually more efficient when happening in the individual early age of
development.
3. Sonification
According to Kramer (1994) sonification can be defined as the use of non contextual
(semantic) audio to convey information or perceptual data, usually retrieved from other
medias (such as vision. Auditory perception is known to have wide ranges in the perception of
amplitude (0dB to 120dB SPL), frequency (20Hz to 20.000Hz), temporal (50ms to several
seconds) and spatial location (binaural hearing). This provides an interesting opportunity to
provide and alternative, or to complement visual perception.
In computer music, sonification techniques are used as an aesthetic tool to provide the
generation of artificial soundscapes for performances and artwork installations, such as in
(Fornari 2013). In term to the cane for the blind, the one with a rigid tip (without the roller)
can be used for a discrete sonification while the current one, with roller, for an analog
sonification. It is also interesting to point the similarity of both canes with a Radar (the
object-detection system that uses the emission and retrieval of the reflexion of radio waves in
order to locate and identify moving objects, in terms of their size, distance, velocity,
acceleration and angle). The cane movement also acquires data of the object by retrieving
haptic feedback data. The frequency and range of the sweeping movement determines the data
frequency and amplitude resolution in an Heisenberg's uncertainty principle fashion, as there
is a fundamental limit to the precision of both, being them like complementary variables.
385
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
386
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Figure 1. User holding Therengala (left). Detail of its open-hardware circuitry and antenna (right).
At the computer side, once parameters are received, a software called Puredata (a.k.a.
PD) takes control to produce audio using the mapping technique, which is defined by Hunt
(2000) as the liaison or correspondence between control parameters (derived from
performer actions, in this case with the Therengala) and sound synthesis parameters. There
are a large variety of sound synthesis parameters, citing some of them: frequency, wave form,
ADSR, dynamics or amplitude, filters, etc, which can be associated with Therengala's
feedbacks about captured distances, for example, a synthetized sound can become more
intense or with a higher pitch whenever the sensors approximate to a subject.
387
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
The cane operates like the needle of a turntable, reading embossing informations of the
floor, identifying patterns of the surface. Latter on, each pattern is sent to the computer where
they are associated with different synthesized sounds, or where those reading patterns can
control parameters of the sound generation.
The use of the cane can vary according to the class of the building where the user is
walking along, and sometimes the direction and/or the way of the movement also are
meaningful, walking in a ladder, if the user is going up, the cane is held in a vertical line,
receiving impacts of the steps, when going down, the top of the cane deviates from the
vertical line in an angle towards the user, the impacts are weaker. When walkin in a slope or
ramp, feedbacks are different if going up or going down.
In compositional terms, it is possible, for instance, to associate those impacts with larger
intervals, modulations, dynamics, and constant vibrations with chromatic melodies, thinking
in traditional music. It is possible to associate those feedbacks with the Q factor of a band
pass filter of a subtractive synthesis feeded by a white noise. It is possible to associate pitch
and durations with those feedbacks. The possibilities of mapping are countless.
Discussion
In functional terms, the use of a multisensorial cane able to sonify the surrounding visual
information, besides allowing a security improvement for the blind's locomotion, specially in
terms of avoiding higher objects (such as tree's branches) also expands the perceptual range of
the traditional tool through a significant surplus of data received, which implies in a mojor
increase of the blind's self-confidence and locomotion autonomy.
In artistic terms, the cane, which is such an important and indispensable tool for the
blind, can now be a musical instrument for the performance of interactive sonic art through
the real time sonification. This may incur in the discovery of new perspectives for the study
and composition of artificial soundscapes.
Such developments aim to achieve a new paramount in the accessibility for the musical
performance, pinpointing new pathways for its composition, such as: a new computer music
interface for analysis, composition and performance; as well as a new accessible musical
interface that uses an object so familiar to the blind, as it is the cane. This may signify that
this device can provide Reciprocal Accessibility, once that this new cane can also be used by
non-blind musicians, so they will be able to experience, while sonifying, the haptic process
that allows the blind to retrieve and process visual surrounding information. The importance
388
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
of such developments is also based on the fact that they are not adaptations from other
previous ones, but rather a novel development started from the scratch and focused on
enabling the access of the blind musician for the sonification of his surroundings.
The purpose of converting stimuli from an specific sense to another, like from tactile
(mostly solid vibration) to auditory (mostly air vibration) also foresees new possibilities in the
field of accessibility to other types of impairments. For instance, an inverse approach of the
one presented here, in 3.2, that transformed sounds into tactile vibrations could be used by
people with hearing loss, to retrieve part of the information that is originally acoustic.
Nowadays some movie theaters seats are equipped with mechanic actuators that allow them to
vibrate together with the audiovisual information from the movie, which surely have an
important role in the enhancement of narrative and dramatic effect. A system providing such
audition to haptic conversion, in real time, might be used, for instance, by hearing-impaired
people to better understand the meaning and aesthetics of sonic arts.
Conclusion
This work presented two strategies for the multisensorial sonification for the blind musician,
using adapted canes. The first one, that uses bodiless strategy, is already implemented. The
second one, that uses full contact approach, is currently under development. Both use open
source hardware and software as a way to provide free access for their implementation and
further the improvement of these projects by other researchers.
This work also aims to nourish a philosophical and aesthetic discussion on the use of
such sonification strategies for the blind performer in terms of the generated soundscapes
perception, cognitive identification and evoked emotion. How does the aesthetic content is
affected by the synesthetic performance fruition created by the blind user? How could Gibson
(1979) “theory of affordances” be applied to define de action possibilities latent in the
surrounding environment reach (being it touchable or not) of such cane? How Mayer (1956)
definitions for two sets of musical aesthetic contrasting positions (absolutists x referentialists;
formalists x expressionists)1 can elucidate the emergence of musical meaning delivered by a
tool of simultaneous pragmatic (or functional) and artistic use. What types of expectations and
1 Absolutists: "musical meaning lies exclusively within the context of the work itself.". Referentialists:
"musical meanings refer to the extramusical world of concepts, actions, emotional states, and character."
Formalists: "the meaning of music lies in the perception and understanding of the musical relationships set
forth in the work of art and that meaning in music is primarily intellectual". Expressionists: "the
expressionist would argue that these same relationships are in some sense capable of exciting feelings and
emotions in the listener"
389
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Acknowledgement
The authors would like to thank the grants received from CAPES that helped them as the
financial support of this work.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
391
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: Esta comunicação apresenta reflexões sobre a relação entre licenciatura em música e
escola de educação básica a partir de uma pesquisa cujo objetivo foi investigar a motivação de
licenciandos em música em sua formação inicial. O referencial teórico do estudo foi baseado no
Modelo de Expectativa e Valor (ECCLES; O’NEILL; WIGFIELD, 2005). Como método para essa
investigação foi definido o survey interseccional baseado na internet, com a adoção da técnica bola
de neve. Na coleta de dados, foram contabilizados 477 retornos de todas as regiões do país. Por
meio de Análise Fatorial Confirmatória, os dados coletados e o modelo teórico se mostraram
desajustados, o que acrescentou ao procedimento analítico técnicas de Análise Fatorial Exploratória.
Nesse procedimento, uma forma diferente de organização e análise dos dados foi identificada e o
estudo passou a adotar quatro fatores em vez de seis construtos. Com base na relação dos fatores
resultantes e as variáveis observadas do estudo, foi possível perceber que toda a amostra apresentou
indícios de estar otimista e confiante em sua formação inicial, o que respondeu ao objetivo geral.
Isso, contudo, não se traduziu na intenção de todos em atuar na educação básica, posto que essa
variável dividiu a amostra. Foi possível concluir que a intenção dos licenciandos em atuar na
educação básica não é predita pela forma como eles são observados, mas pela forma como eles
mesmos se observam, pela valoração mais intensa de suas experiências presentes no curso, pela
perspectiva mais otimista de suas futuras experiências e por crenças que eles têm em suas
capacidades e em si mesmos.
Palavras-chave: motivação, licenciandos em música, educação básica.
Undergraduates in Music and Basic Education: reflections from a study conducted in Brazil
Abstract: This article presents the results from a research that aimed investe the motivation of
music undergraduates in their initial formation. The theoretical framework of the study was based on
the Expectation and Value Model (ECCLES; O'NEILL; WIGFIELD, 2005). As a method for this
quantitative investigation, the internet-based intersectional survey was defined, with an adoption of
the snowball sampling. In the data collection, 477 returns were counted from all regions of the
country. By means of Factorial Analysis Analysis, the data collected and theoretical model showed
misfit, which approved the technical analytical procedure of Exploratory Factor analysis. In this
procedure, a different form of data organization and analysis was identified and the study went
through four factors rather than six constructors. Based on the relationship between the results
obtained and the observed variables of the study, it was possible to notice that the whole sample
showed signs of being optimistic and confident in their initial training, which responded to the
general objective. This, however, does not translate into an approach of all levels in basic education,
which is variable divided a sample. It was possible to conclude that the intention of licenciandos in
acting in basic education is not predicted by the way in which they are observed (men, women,
young, adults, northeastern, southerners, experienced, inexperienced, etc.), There is no course from
the more optimistic perspective of their future perspectives and beliefs that they have in their
capacities and in themselves.
Key-words: motivation, music teacher course, basic education.
Introdução
Esta comunicação apresenta reflexões sobre a relação entre licenciatura em música e escola de
educação básica, a partir de resultados de uma pesquisa cujo objetivo foi investigar, em
392
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
393
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Escolhas metodológicas
A fim de realizar a coleta de dados, foi adotado como referência o instrumento psicométrico
Academic Scale (Eccles; O’Neill; Wigfield, 2005), cujos itens estão agrupados conforme os
construtos do Modelo de Expectativa e Valor, proposto por Eccles, O’Neill e Wiegfield
(2005). A metodologia deste trabalho, de abordagem quantitativa, se configurou como um
survey intersecional baseado na internet, com a adoção da técnica bola de neve (Cohen,
Manion, Morrison, 2007). E, na análise dos dados, foram utilizadas técnicas e procedimentos
de estatística descritiva e inferencial (Damásio, 2012; Dancey, Reidy, 2006; Field, 2009;
Pasquali, 1999; 2003; Urbina, 2007). A primeira versão da escala psicométrica foi adaptada
para esta pesquisa e utilizada num estudo piloto, o qual foi realizado no Grupo de Pesquisa
Formação e Atuação de Profissionais em Música (FAPROM) do Programa de Pós-Graduação
em Música da UFRGS (PPGMus/UFRGS) e no curso presencial de Licenciatura em Música
da mesma instituição. O instrumento, após a coleta de dados, recebeu ajustes com base no
feedback dos respondentes e em testes estatísticos – Alfa de Cronbach e Teste de Correlação
Linear de Pearson (FIELD, 2009) – que apontaram indícios de inconsistência em alguns itens
da escala. O instrumento foi, então, reformulado e utilizado na coleta final do estudo.
Convertido em um questionário virtual, o instrumento por meio de redes sociais, aplicativos
de celular, listas de e-mails e e-mails pessoais.
394
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
279 participantes indicaram esse sexo e 198, o sexo feminino. A amostra foi constituída, em
sua maior parte, por jovens adultos com até 35 anos de idade. A média de idade da amostra foi
de 27,22 anos e as idades mínima e máxima observadas foram, respectivamente, 17 e 62 anos.
A maior parte dos respondentes indicou ter ingressado no curso de licenciatura em música nos
últimos cinco anos – entre 2011 e 2015 –, o que foi esperado, tendo em vista que o tempo
médio para conclusão do curso é de quatro anos. O ano de 2013 foi aquele no qual a maior
parte dos respondentes indicaram ter ingressado na graduação. Somando o número de
respondentes que ingressaram nesse ano (2013) com o número de respondentes que
ingressaram no ano de 2014, há indícios de que a prevalência na amostra é de estudantes da
fase intermediária da licenciatura (2º e 3º anos do curso). O grupo de respondentes se mostrou
dividido em relação à intenção em atuar na educação básica: 48,01% indicaram a intenção de
atuar nesse contexto, ao passo que 51,99% não indicaram essa intenção.
395
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Esforço Requerido (com exceção de um item); e um que abarcou três construtos teóricos:
Valor Intrínseco (Interesse), Valor de Realização (Importância) e Valor Extrínseco (Utilidade).
Os três fatores consistentes com o modelo teórico passaram a ter, neste estudo, a mesma
denominação dos construtos com os quais coincidiram. Já o Fator não coincidente com um
construto único do modelo, passou a ser denominado Valores, já que englobou – e indicou a
indissociabilidade do Interesse, da Importância e da Utilidade.
O Modelo de Expectativa e Valor, bem como o instrumento psicométrico utilizado como
referência neste estudo, se desenvolveram a partir de pesquisas sobre a motivação de crianças
e adolescentes norte-americanos em seus estudos escolares na área de matemática. Portanto,
ambos se consolidaram com uma sensibilidade à atribuição de valores de indivíduos dessas
faixas etárias aos estudos do seu nível educacional. No contexto da escola, é possível que o
Interesse, a Importância e a Utilidade não apresentem necessariamente fortes correlações, haja
vista que a educação elementar, sendo compulsória, apresenta estudantes que não
necessariamente optaram pelo estudo. Embora possa ser comum uma alta atribuição dos três
Valores (Interesse, Importância e Utilidade) por uma criança ou adolescente aos seus estudos,
podem ser também comuns outras possibilidades. Eles podem apresentar Interesse, atribuir
Importância, mas não perceberem a Utilidade dessas atividades. Podem considerar
Importantes, perceber Utilidade, mas não terem Interesse pelas atividades. E podem ter
Interesse, perceber Utilidade, mas não considerar Importante o estudo.
No curso superior, contexto no qual os estudantes são, em sua maioria, adultos e têm
diversas opções de escolha – até mesmo a opção de não cursar uma graduação –, é possível
que a correlação entre os Valores seja diferente. No caso dos cursos de licenciatura em música
brasileiros, houve uma correlação tão forte entre os três Valores que a divisão proposta pelo
modelo teórico passou a não ter tanta coerência quanto parece ter no contexto escolar. Dessa
forma, os três Valores passaram a ser um único construto neste estudo.
396
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
relação aos demais Fatores e suas correlações com as variáveis observadas, foi possível inferir
que a motivação na formação inicial se diferencia quando são consideradas as variáveis
demográficas, institucionais e pessoais observadas. Isso, no entanto, apenas diferenciou os
grupos que apresentaram os escores mais elevados daqueles que apresentaram os escores
menos elevados – mas também altos, cabe frisar. Por meio dos testes de Mann-Whitney, as
únicas variáveis do estudo que foram fortemente associadas à intenção em atuar na educação
básica foram os fatores: Autopercepção de Habilidade/Expectativa de Sucesso, Esforço
Requerido e Valores. Ou seja, a intenção dos licenciandos em atuar na educação básica parece
não ser predita pela forma como eles são observados (homens, mulheres, jovens, adultos,
nordestinos, sulistas, experientes, inexperientes na área, etc.), mas pela forma como eles
mesmos se observam. É predita pela valoração mais intensa de suas experiências presentes no
curso, pela percepção mais otimista de suas experiências futuras e pelas crenças que eles
próprios têm em suas capacidades e em si mesmos.
Considerações finais
397
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Referências
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398
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Endre Solti
Departamento de Música / IA / UNICAMP
soltiendre@hotmail.com
Resumo: A literatura científica da área de cognição musical tem indicado nos últimos anos uma
discussão em andamento sobre as similaridades entre música e linguagem verbal. Recentes estudos
nas áreas de musicologia, linguística e neurociência têm constatado características em comum entre o
processamento e desenvolvimento da música e da linguagem. Este artigo apresenta uma revisão da
literatura onde se constata uma dificuldade maior na educação e consequente assimilação de
conteúdos musicais relacionados com a expressividade musical. O objetivo deste trabalho é apresentar
um embasamento teórico sobre a similaridade entre música e linguagem de modo a fomentar e validar
a criação de uma futura estratégia de ensino a distância da expressividade musical no contexto do jazz,
baseada em estratégias existentes do ensino de idiomas.
Palavras-chave: Expressividade musical, Ensino de idiomas, Ensino a distância.
1. Introdução
Atualmente existe uma grande tendência à intensificação do ensino à distância (EaD), devido à
enorme gama de benefícios que o mesmo traz ao ensino de forma geral. Apesar desta forma de
ensino existir a longa data, na forma de cursos regulares com materiais didáticos enviados por
correio, as tecnologias de comunicação e informação (TIC) aplicadas no EaD possibilitaram o
desenvolvimento exponencial das possibilidades de aprendizado e, através da aplicação de
recursos de multimídia interativo, proporcionou aos seus alunos algumas facilidades, tais
como a flexibilidade de tempo para os estudos, permitindo estudar a qualquer hora; a quebra de
barreiras espaciais, permitindo estudar em qualquer lugar; a facilidade de emissão e recebimento
instantâneo de materiais; e a possibilidade de atuação em larga escala, podendo atingir um número
bem mais significativo de alunos que o modelo tradicional presencial.
399
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
2. Música e linguagem
Apesar das muitas controvérsias, são evidenciados aqui alguns dos principais argumentos
sobre a similaridade entre música e linguagem. As artes, sobretudo a música, tradicionalmente
são intuitivamente entendidas como sendo uma forma de linguagem. Tal noção fica evidente
em documentos regulatórios para a educação, tais como os PCNs (Parâmetros Curriculares
Nacionais) para a área de conhecimento Arte no ensino fundamental, onde em um dos blocos
de conteúdos na proposta para a música é chamado de “Apreciação significativa em música:
escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical" (Penna, 2008, p.65). No mesmo
1
Patterns são padrões melódicos ou frases já consagradas improvisadores consagrados usados para o
ensino e aprendizagem da improvisação.
2
O autor divide em dois os conhecimentos quanto à sua forma de aquisição: o Conhecimento
Declarativo (CD), armazenado na memória de longa duração, de fácil descrição através da fala/ escrita, e
Conhecimento Processual (CP), armazenado no subconsciente e de difícil descrição através dos protocolos
verbais, relacionado com a psicomotricidade e depende da automatização de movimentos.
400
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
documento, voltado para o ensino médio, as Artes levam o título de "Linguagens, códigos e
suas tecnologias". Para autores da educação musical, tais como Forquin, a questão da música
como linguagem tem sido útil para gerar uma perspectiva eficiente de atuação pedagógica,
visto que esta “permite combater o mito do dom e colocar questões como as condições de
familiarização com as linguagens artísticas e o acesso socialmente diferenciado à
arte” (Forquin, 1982 como citado em Penna, 2008, p.66).
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improvisacional. Foi observado que, durante esta “conversa musical”, a área de Broca (região
cerebral correspondente à linguagem, ou comunicação expressiva) se ascendia, o que de certa
forma endossa o pressuposto intuitivo de que a improvisação musical tem similaridades com a
fala humana.
Outro ponto de comparação entre música e linguagem verbal é em relação à sintaxe
musical. Da mesma forma como nas linguagens, a maioria dos gêneros musicais também
apresenta estruturação sintática, composta por elementos perceptuais distintos, com regras e
normas para a combinação destes elementos em sequência (Patel, 2008, p.537). Nos idiomas,
encontramos as letras (equivalentes às notas), palavras (equivalentes à grupos de notas dentro
do compasso), frases (equivalentes às frases musicais, que podem estar dentro de um ou mais
compassos), sentenças (equivalentes aos agrupamentos de frases, formando uma ideia
musical) formando uma única redação (equivalentes à obra musical). Todavia, as principais
diferenças entre a estruturação sintática da linguagem e da música, são duas: 1) Na linguagem
verbal existem categorias gramaticais (por exemplo, substantivos e verbos), enquanto que na
música isto não ocorre. No entanto, a estrutura formal de ambos são hierárquicas e lógicas; 2)
Na imensa maioria dos gêneros musicais existe algum tipo de andamento; a presença de uma
unidade rítmica com pulsação regular. Na linguagem verbal falada, existe pouca ou nenhuma
ocorrência de tal fenômeno.
Enquanto que Limb (2008) sugere que tanto a comunicação verbal quanto a musica
utilizam a mesma região cerebral para os seus processamentos de suas respectivas
performances, Patel (2008) relata experimentos que comprovam que o processamento de tais
dados se dá de forma compartilhada entre as diferentes regiões do nosso cérebro. Tais
experimentos baseiam-se no fato de pacientes com amusia (perda da capacidade para
processar informação musical) que não tiveram as suas capacidades linguísticas afetadas
(afasia), e vice-versa. Apesar do fato de que este experimento não pode contar com um grande
número de voluntários, devido à raridade de tais patologias, o mesmo pode fornecer
evidências de que de fato diferentes faculdades cognitivas (fala e música) podem compartilhar
as mesmas regiões cerebrais no seu processamento.
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musical, sugerindo que certos nuances relacionados com a expressão musical somente podem
ser percebidos pelos músicos mais experientes. Ou seja, a sensibilidade às diferenças de EMI
aumenta proporcionalmente aos anos de experiência musical.
4. Conclusão
EMI é uma das habilidades mais demoradas para serem assimiladas e maturadas (Kratus,
1996, p.36), podendo demorar muito mais para serem desenvolvidas, se comparadas às
demais habilidades necessárias para a realização de uma performance instrumental,
principalmente se levarmos em conta que o contato com a música, de forma geral, é bem
menor que o contato com a fala e escrita. Além disso, autores, tais como Ripoll (1991),
afirmam que as pessoas aprendem de forma heurística e individual. Ou seja, o processo de
aprendizagem pode ter como principal aliado e responsável, o próprio aluno. Neste sentido,
Ginsborg afirma que, cabe a cada pessoa descobrir o seu próprio método de memorização e
aquisição de conhecimentos (Ginsborg, 2002, p.157).
Este artigo traz o embasamento teórico de uma pesquisa em andamento, cujo objetivo
futuro é a criação de um modelo computacional voltado para a aquisição e desenvolvimento
da E I jazzística através de recursos EaD, nos moldes dos aplicativos de ensino de idiomas,
como o Duolingo (www.duolingo.com). Este aplicativo solicita que o usuário reproduza,
textual e verbalmente, frases da língua estrangeira que está estudando. Do que foi aqui
apresentado, esta estratégia poderá ser adaptada para o estudo e desenvolvimento da EMI. Ao
invés da frase falada, o usuário irá reproduzir, no seu instrumento, uma frase de jazz,
apresentada em notação musical e áudio. O algoritmo fará a verificação do grau de EMI do
aluno por meio de descritores acústicos. O swing, típico do jazz, poderá ser averiguado
através de uma métrica dada pela correlação dos arquivos de áudio executado pelo aluno em
contraste com um banco de dados, armazenado num servidor online. Caso não esteja
adequado, o usuário será solicitado a gravar um novo arquivo, até que o algoritmo detecte um
grau aceitável de correlação. Desse modo, espera-se que num futuro próximo, seja possível
estudar e desenvolver a EMI de gêneros de música idiomática, de forma remota, automática,
não-supervisionada, eficiente e lúdica.
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1. Introdução
No âmbito da formação instrumental, uma sessão de estudo proveitosa e eficiente demanda as
capacidades de planejamento e participação ativa no processo de aprendizagem, a habilidade
de diagnosticar problemas e corrigi-los e o estabelecimento de metas e estratégias adequadas
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para se atingir os objetivos estipulados (WOODY, 2004). Além disso, é necessário que o
instrumentista em formação tenha confiança em suas capacidades, desenvolvendo-se a partir
do equilíbrio entre as habilidades que possui e o nível de dificuldade das tarefas as quais está
sendo submetido, considerando que o individuo que confia em suas capacidades persiste
diante das dificuldades, esforçando-se o suficiente para atingir seus objetivos e alcançando
bons resultados (CAVALCANTI, 2015).
Além dos desafios gerais da formação dos instrumentistas, é importante considerar-se as
particularidades da aprendizagem em cada instrumento, partindo do contexto musical e
formativo em que o estudante encontra-se inserido. Nesse sentido, essa pesquisa teve como
foco a formação dos percussionistas sinfônicos no Ensino Superior, mais especificamente nos
cursos de Bacharelado em Música (habilitação em instrumento). De acordo com a literatura
especializada (BARTOLONI, 2011; GIANESELLA, 1999), entre os desafios formativos
particulares enfrentados pelos percussionistas, destacam-se a necessidade de domínio técnico-
interpretativo de uma grande variedade de instrumentos e a necessidade de inserção em
diferentes contextos e grupos instrumentais.
A partir da delimitação do referencial teórico (a autorregulação da aprendizagem sob a
perspectiva sociocognitiva) e do objeto de estudo (a formação dos percussionistas sinfônicos),
o objetivo central desta pesquisa foi verificar, por meio de um estudo de levantamento (survey
de pequeno porte), a possível existência de elementos autorregulatórios na rotina de estudo
dos percussionistas investigados (20 bacharelandos em música de quatro universidades das
regiões Sudeste e Sul do Brasil).
O presente texto consiste em um recorte de uma pesquisa maior, cujos dados coletados
foram divididos em três eixos: (1) a caracterização da comunidade investigada, (2) o
delineamento dos principais desafios formativos enfrentados pelos percussionistas e (3) a
investigação dos aspectos autorregulatórios presentes nos hábitos de estudo dos colaboradores
deste survey, com base nas três fases do “Modelo de Aprendizagem Autorregulada de
Zimmerman (2000)” – (1) Fase Antecedente, (2) Fase de Realização e (3) Fase de
Autorreflexão. Na apresentação e discussão sobre os dados aqui proposta, será dada ênfase
exclusiva ao terceiro e último eixo, concentrando-se nos aspectos autorregulatórios da
aprendizagem dos percussionistas entrevistados.
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2. Fundamentação Teórica
Santiago (2006) justifica a importância do desenvolvimento das habilidades autorregulatórias
na prática instrumental ressaltando sua relevância para o progresso instrumental, conferindo
direcionamento e qualidade aos momentos de estudo e favorecendo o alcance de melhores
níveis de performance musical. Nessa perspectiva, Zimmerman (2000) esclarece que o estudo
autorregulado inclui a mobilização de mecanismos cognitivos tais como estabelecimento de
metas, autoinstrução, autoavaliação, autorreforçamento, autorrecompensas e as crenças de
autoeficácia, compreendidas como a percepção pessoal em relação à própria inteligência, as
habilidades, os conhecimentos e os recursos que se dispõe para realização de determinada
tarefa (SCHUNK, 2001).
De acordo com Polydoro e Azzi (2009), foram criados vários modelos de intervenção
para a autorregulação, a exemplo dos modelos de Zimmerman (2000), Pintrich (2000) e
Rosário (2004). O modelo adotado nesta pesquisa foi o “Modelo de Aprendizagem
Autorregulada de Zimmerman (2000)”, que prevê o desenvolvimento da autorregulação
acadêmica em três fases:
1) FASE ANTECEDENTE: as competências relacionadas a esta fase precedem o início das
tarefas de aprendizagem e consistem na análise e planejamento das atividades a serem
desenvolvidas e na estipulação de metas pessoais. Nesta fase, as questões referentes à
motivação são de suma importância (SIMÃO E FRISON, 2013, p.7).
A respeito deste modelo, Cavalcanti (2015) esclarece que “a fase antecedente influencia
o controle do desempenho [fase de realização], que, por sua vez, influencia a fase
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autorreflexiva. O ciclo está completo quando o processo autorreflexivo exerce influência sobre
o antecedente” (p.193).
3. Metodologia
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi estudo de levantamento (survey de pequeno porte).
De acordo com Gil (2008), o estudo de levantamento é um delineamento exploratório que
permite verificar dados sobre o comportamento de determinado grupo por meio da
interrogação direta. A população investigada foi de 20 estudantes de graduações em cursos de
bacharelado em música (habilitação em instrumento) de quatro IES das regiões Sudeste e Sul
do Brasil, que concordaram em participar desta pesquisa. Os participantes obtiveram
esclarecimentos sobre o desenvolvimento da pesquisa e sua participação na coleta de dados
foi facultativa e mantida em anonimato3.
O instrumento de coleta de dados consistiu em um questionário com 27 perguntas,
dividido em três partes, contemplando questões abertas (parte I) e questões desenvolvidas a
partir de uma escala Likert em 5 pontos (partes II e III), onde 1 representou discordância total
e 5 concordância total, havendo uma gradação entre os pontos extremos da escala4. A PARTE
I foi responsável pela caracterização da comunidade investigada, a PARTE II teve como
objetivo delinear os principais desafios formativos enfrentados pelos percussionistas e a
PARTE III buscou investigar os aspectos autorregulatórios presentes nos hábitos de estudo
dos colaboradores deste survey. O foco de interesse do presente texto são os dados angariados
na PARTE III do questionário.
Nesta etapa, as questões foram elaboradas tomando como referência competências
cognitivas específicas relacionadas com cada uma das três fases da autorregulação acadêmica
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FASE DE REALIZAÇÃO
QUESTÃO 20 QUESTÃO 21 QUESTÃO 22 QUESTÃO 23
Gestão das horas de Monitoramento do próprio Revisão e adaptação das Conduta de
estudo progresso estratégias autoinstrução
FASE DE AUTORREFLEXÃO
QUESTÃO 24 QUESTÃO 25 QUESTÃO 26 QUESTÃO 27
Conduta de Consciência Metacognitiva Atribuições causais Considerar as
autojulgamento autorreflexões em ciclos
de estudo futuros
4. Resultados e Discussão
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5. Considerações Finais
Em síntese, a partir da análise dos dados a respeito dos aspectos autorregulatórios presentes
nos hábitos de estudo dos percussionistas entrevistados, foi possível notar que:
I. Nenhuma das 12 competências autorregulatórias investigadas demonstraram-se
controladas em níveis extremamente baixos por partes dos percussionistas.
II. O controle de tais competências aumentou progressivamente de acordo com as fases do
“Modelo de Aprendizagem Autorregulada” de Zimmerman (2000).
III. Na Fase Antecedente, o aspecto que mais se destacou positivamente foi o “diagnóstico de
problemas e o delineamento de estratégias”, e o que menos se destacou foi o
“planejamento das tarefas”.
IV. Na Fase de Realização o aspecto que mais se destacou positivamente foi a “gestão das
horas de estudo”, e o que menos se destacou foi o “monitoramento do progresso”.
V. Na Fase de Autorreflexão todos os quatro elementos autorregulatórios investigados
apresentaram-se dominados pelos percussionistas de maneira satisfatória.
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Por fim, constatou-se que a aplicação dos mecanismos autorregulatórios nas sessões de
estudo resulta em práticas instrumentais mais eficientes, melhorando o engajamento na
realização das atividades e, consequentemente, o desempenho dos instrumentistas.
Finalmente, ressalta-se a necessidade de o instrumentista em formação intervir em seu
processo de aprendizagem, cabendo aos professores estimular a consciência de independência
em seus alunos, certos de que respeitar a autonomia dos indivíduos em formação é respeitar
sua dignidade e reconhecê-los como peça-chave do seu desenvolvimento (FREIRE, 2014). Do
mesmo modo, cabe aos aprendizes desempenhar um papel ativo em seu aperfeiçoamento
instrumental, conscientes de sua capacidade de analisar, avaliar, decidir e intervir em sua
aprendizagem, exercendo o autoconhecimento necessário para tornar-se agente do seu
desenvolvimento.
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mesma instituição; membro do grupo de pesquisa PROFCEM – Processos Formativos e Cognitivos em Educação Musical.
2 Bolsista de Produtividade CNPq – Brasil; Professora Associada na Universidade Federal do Paraná e coordenadora do
grupo de pesquisa PROFCEM – Processos Formativos e Cognitivos em Educação Musical.
3
O instrumento de coleta de dados foi testado em um estudo piloto para a análise da confiabilidade e coerência interna
das questões. Após a realização do estudo piloto, o questionário foi aplicado para a população definitiva em formato físico ou
virtual (via plataforma do goolge docs).
4
Para a análise dos dados coletados as questões foram quantificadas a partir da soma dos pontos a fim de criar resultados
por grupo de itens, onde 1 e 2=NUNCA CONSIGO/RARAMENTE CONSIGO; 3=MEIO-TERMO; 4 e 5=CONSIGO/
SEMPRE CONSIGO.
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Resumo: Muitos são os fatores, considerados pela literatura sobre aprendizagem musical, que
influenciam, tanto positiva quanto negativamente, o desenvolvimento das habilidades musicais. Um
desses fatores, que tem ganhado destaque nas pesquisas nos últimos anos, é a capacidade de
autorregular o percurso de aprendizagem. Os resultados das pesquisas indicam que quanto maior for
a capacidade do estudante de aprender a aprender melhores serão os seus resultados de
aprendizagem. Tendo como referencial teórico central a Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura,
mais especificamente o que diz respeito aos processos autorregulatórios, o presente trabalho
apresenta uma discussão em torno da utilização da estratégia autorregulatória de autorregistro, por
meio da utilização das técnicas de estimulação da recordação e autoscopia, como uma das
possibilidade de conduzir o estudante de música a uma aprendizagem ativa, consciente e autônoma.
Defendemos a utilização do autorregistro enquanto estratégia de aprendizagem que requer
intencionalidade, consciência e sistematização no intuito de conduzir o estudante a desenvolver a
autonomia de seu percurso de aprendizagem.
Palavras-chave: aprendizado, autorregulação, avaliação, estratégia de autorregistro.
Introdução
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Os resultados das pesquisas sugerem que estudantes com nível avançado de habilidades
musicais demonstram um alto nível de autorregulação, o que permite que eles controlem e
monitorem suas seções de prática e utilizem mais estratégias autorregulatórias (Nielsen, 2001;
2015). Quanto aos aspectos motivacionais, os dados indicam que estudantes que possuem
maior nível de autoeficácia utilizam uma maior variedade de estratégias cognitivas e
metacognitivas durante a prática musical (Nielsen, 2004; Özmentes, 2008).
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1 Não queremos aqui reduzir a autorregulação da aprendizagem ao uso de estratégias. Uma série de fatores estão
envolvidos nesse processo, tornando-o complexo. Porém, por questões de delimitação, trataremos neste trabalho,
especificamente do papel das estratégias de aprendizagem no desenvolvimento da autorregulação da
aprendizagem.
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uma entrevista em que se solicita ao agente da ação que, ao assistir à reprodução do episódio,
relate os pensamentos e as decisões tomadas durante a realização da ação. Não existe uma
padronização para a entrevista. O professor/pesquisador poderá fazer uso de um roteiro
semiestruturado, estruturado, ou ainda, deixar que as questões do debate surjam no decorrer
da observação do episódio em forma de comentários livres. Também não existe uma
padronização quanto à forma de observação da gravação e ao número de vezes que será
observada, podendo a mesma ser reproduzida de forma integral ou serem selecionados alguns
recortes específicos da gravação. Esste tipo de técnica pode ser utilizada tanto em trabalhos
individuais quanto coletivos (Amado, Veiga Simão, 2014; Veiga Simão, 2012).
Entendemos que a utilização de gravações de áudio e/ou vídeo, no domínio da música,
não é uma ferramente nova. Dificilmente, encontraremos um músico que já não tenha feito
uso de tal técnica. Porém, discutimos aqui a sua utilização enquanto técnica atrelada a uma
estratégia de autorregistro intencional, consciente e sistematizada ao invés do seu uso
esporádico. Salientamos que tal estratégia pode ser de grande valia para estudantes iniciantes
de música, principalmente, se levarmos em consideração o fato de que a maior parte do
percurso formativo de um músico ocorre de forma solitária, o que requer que este desenvolva
capacidades autoavaliativas.
A pesquisa de McPherson e Renwick (2001), realizada com estudantes de música de
idade entre 7-9 anos, identificou que estudantes dessa faixa etária possuem uma baixa
capacidade de controlar e monitorar a própria aprendizagem. Ao analisarem as seções de
estudo dos participantes da pesquisa, os autores concluíram que os erros cometidos durante as
seções de prática não eram detectados e corrigidos pelos estudantes. As pesquisas de Oare
(2012) e Nielsen (2015) demonstraram que, embora os estudantes utilizassem uma série de
“estratégias de aprendizagem”, tais como a utilização do metrônomo, dividir a obra estudada
em pequenas partes, procura de ajuda, dentre outras, eles não sabiam como e quando utilizar
tais estratégias. Os resultados dos referidos autores sugerem que esses procedimentos são
utilizados pelos estudantes, pois são de uso comum entre estudantes de música, ou seja, são
utilizados como replicação de técnicas e não como estratégias de aprendizagem. Nesses casos,
em que os estudantes não possuem consciência de como conduzir as seções de prática de seu
instrumento, a estimulação da recordação pode ser de grande valia, uma vez que estimula a
metacognição, favorecendo a tomada de consciência dos processos utilizados durante a
aprendizagem e auxilia em muito no desenvolvimento reflexivo do estudante (Veiga Simão,
2012).
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Hallan (2001) identificou que 60% dos estudantes, que participaram de sua pesquisa,
deixavam erros sem serem corrigidos durante as seções de prática e, além disso, esses erros
eram praticados durante o período de estudos. Para a autora, o conhecimento de estratégias
para a prática musical não é útil para aumentar o desenvolvimento das habilidades musicais
dos estudantes, a menos que sejam desenvolvidos esquemas apropriados para permitir o
monitoramento e a avaliação de erros durante o percurso de aprendizagem. A mesma autora
salienta que, para progredir em um instrumento, é necessário o desenvolvimento e um extenso
domínio de mecanismos de monitoramento e avaliação da aprendizagem. Nesse sentido,
entendemos que a estratégia de autorregistro, por meio das técnicas de autoscopia e
estimulação da recordação, desempenham um importante papel no desenvolvimento dessas
habilidades.
A pesquisa de Silveira e Gavin (2016) utilizou a estimulação 2 da recordação com a
finalidade de examinar o efeito da gravação e reprodução em áudio na autoavaliação da
performance de estudantes que participavam de programas de bandas de escolas dos Estados
Unidos. Os estudantes preencheram um questionário de autoavaliação da performance em 3
ocasiões: 1) após a performance – sem ouvir a gravação; 2) após a primeira audição da
gravação da performance e 3) após a segunda audição da gravação da performance. Os
resultados da pesquisa indicam que, ao ouvirem as gravações de suas performances, os
estudantes passaram a se autoavaliar de forma mais crítica, diminuindo a pontuação atribuída
inicialmente (sem a audição da performance). Para os autores, esse resultado pode estar
associado ao que (Hoorens, 1993) denomina de superioridade ilusória, e pode ser fruto de
uma série de fatores, dentre eles, a falta de experiência em autoavaliação. A literatura (Bergee,
1993, 1997) também indica casos em que a autoavaliação tende a aumentar com o passar do
tempo. Em ambos os casos, o que se pode perceber é a pequena relação entre a autoavaliação
dos indivíduos e seu nível de desempenho real (Norman, 2004; Lew, Alwis & Schmidt, 2010),
o que dificulta o processo de aprendizagem do estudante, uma vez que, para que possa
desenvolver suas habilidades, é preciso que o estudante tenha consciência de quais os
aspectos que devem ser melhorados.
Por essas razões, defendemos aqui que, se utilizadas de forma intencional, consciente e
sistematizada, a estimulação da recordação e a autoscopia podem se converter em importantes
ferramentas no desenvolvimento metacognitivo de estudantes de música, proporcionando,
2 Tomamos a liberdade de utilizar o termo estimulação da recordação tendo em vista que o procedimento
utilizado na pesquisa se refere à tal técnia. Porém, destaca-se que os autores referem-se ao procedimento
utilizado como gravação de áudio.
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assim, a otimização dos seus resultados de aprendizagem, visto que, por meio de tais técnicas,
é necessário que o indivíduo reflita a respeito de seus processos de tomada de decisões, ou
seja, ele é instigado a explicar as razões que o fizeram optar por determinada decisão em
detrimento de outras.
Considerações finais
A utilização de estratégias autorregulatórias de aprendizagem é apresentada, na literatura,
como um importante fator no processo de desenvolvimento de habilidades musicais. Neste
trabalho, buscamos explorar um pouco a contribuição da utilização da estratégia de
autorregistro, por meio das técnicas de estimulação da recordação e autoscopia, no
desenvolvimento de tais habilidades. Cabe salientar que essas técnicas não devem ser
interpretadas como “receitas mágicas” para a aprendizagem musical, e sim, como uma das
várias possibilidades de desenvolvimento de uma aprendizagem ativa, consciente e autônoma.
Destaca-se, ainda que, por se tratar de um processo complexo e diretamente ligado ao
indivíduo, a autorregulação distancia-se de uma ideia de padronização. Assim, por vezes, a
estratégia e/ou técnica que funciona para um indivíduo não irá funcionar, da mesma forma,
para outro. Por esse motivo, faz-se necessário o uso consciente, crítico e adaptativo de tais
estratégias e técnicas.
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423
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal apresentar uma série de reflexões teóricas
realizadas sobre temas como, a autorrealização, experiência estética, indivíduos autorrealizados e sua
relação com os fatores pessoais que influenciam os processos criativos e motivacionais em ambientes
de aprendizagem musical. Essas análises reflexivas foram embasadas teoricamente por autores
vinculados à fenomenologia estética, à psicologia humanista, à psicologia analítica e à psicologia
positiva. Entendemos que tais autores apresentam concepções similares a respeito das temáticas aqui
abordadas. Como principais resultados, chegamos à hipótese de que existem indivíduos que buscam
vivenciar, com maior frequência, experiências estéticas durante a realização de atividades, tanto de
aprendizado musical, quanto durante a realização de atividades criativo/musicais. As experiências
estéticas, por ocorrerem em momentos cognitivo/experienciais anteriores à linguagem, à conceituação
e, consequentemente, à cultura, favorecem o desenvolvimento de uma maior autoconsciência por parte
do indivíduo que a vivencia. Por essas razões, acreditamos que a vivência desse tipo de experiência e,
consequentemente, a busca por sua repetição, favoreça o desenvolvimento da motivação intrínseca. A
motivação intrínseca gerada por atividades autotélicas, nas quais os indivíduos sofrem menores
influências dos ambientes sócio/culturais em que estão inseridos, faz com que esses alcancem um
estado de autorrealização que, em nosso caso de estudo, está vinculado ao desenvolvimento de
atividades musicais. Por sofrerem menos com as influências ambientais, esses indivíduos, apresentam
uma maior probabilidade de se envolverem em processos de aprendizado autônomos, mais
conscientes e efetivos, além de alcançarem resultados artísticos originais e com maiores propensões
ao belo.
Palavras-chave: Desenvolvimento cognitivo, Motivação, Teoria do fluxo, Autorrealização,
Experiência Estética.
424
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
activities. Because they suffer less from environmental influences, these individuals are more likely to
engage in autonomous learning processes, more conscious and effective, besides, achieve original
artistic results and with greater propensity to the beautiful.
Key-words: Cognitive Development, Motivation, Flow Theory, Self-Realization, Aesthetic
Experience.
Introdução
O objetivo principal deste trabalho é apresentar os resultados de análises reflexivas que temos
realizado sobre os conceitos de autorrealização, experiência estética, indivíduos
autorrealizados e suas relações com os processos criativos e motivacionais que influenciam a
aprendizagem musical. Utilizamos, como base teórica para essas reflexões, obras de autores
vinculados a diferentes correntes filosóficas e psicológicas, como a fenomenologia estética, a
psicologia analítica, a psicologia humanista e a psicologia positiva.
Em nossos estudos anteriores sobre os processos criativos e motivacionais, que
ocorrem em ambientes de ensino e aprendizagem musical (Krüger & Krüger, 2016),
encontramos cinco fatores principais que influenciam tais processos. São eles os Fatores
Pessoais, Culturais, Sociais, Ambientais e Comportamentais que se influenciam de forma
recíproca e polidirecional. No entanto, as principais dificuldades e dúvidas que nossos estudos
geraram, até o atual momento, estão relacionadas aos Fatores Pessoais, visto que, com base na
literatura (Bandura, 2008; Czikszentmihalyi,1994) e nas entrevistas que realizamos1,
percebemos que os indivíduos, que possuem maior motivação intrínseca do que extrínseca
para a realização das atividades, alcançam os melhores resultados em suas empreitadas
artísticas e de aprendizado musical.
Ao refletirmos a respeito dos dados coletados e, também, ao ampliarmos a revisão de
literatura, percebemos que existem traços de personalidade que caracterizam os indivíduos
com maior ou menor inclinação para a motivação intrínseca. Assim, começamos a levar em
consideração a importância das experiências estéticas vivenciadas durante a realização das
atividades criativo/musicais para o aumento da motivação intrínseca dos alunos. Foi então
que, ao revisar a literatura sobre o assunto, percebemos que diferentes autores descrevem
fenômenos similares utilizando denominações distintas para essas experiências e para os
indivíduos que as podem perceber. Portanto, neste artigo, apresentaremos um pouco dessas
425
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Autorrealização
A autorrealização é um termo comumente empregado no contexto de religiões orientais como
o Hinduísmo (Das, 1989, p.13). Para essas religiões, as concepções de natureza, realidade e
sobre os objetivos da vida humana são radicalmente diferente das concepções vigentes no
ocidente. Para a filosofia das religiões hindus, a autorrealização é o objetivo final da vida, ou o
sentido da vida. Nesse contexto, a autorrealização consiste em que os indivíduos alcancem um
estado elevado de autoconsciência, desapegando-se do materialismo e alcançando uma
elevação espiritual. Esse estado elevado de autoconsciência permite aos indivíduos que eles
conheçam o "seu verdadeiro Eu" (Atma ou Self) (Klostermaier, 2003, p.31).
No ocidente, no contexto da Psicologia Humanista, utilizou-se o termo
autoatualização para descrever características que, a nosso ver, assemelham-se com as
características da autorrealização das religiões orientais2. Maslow (1970, p.150) define a
autoatualização como “o pleno uso e exploração de talentos, capacidades, potencialidades,
etc.”. Para esse autor, as pessoas autoatualizadas “parecem estar cumprindo e fazendo o
melhor do que são capazes de fazer, lembrando-nos da exortação de Nietzsche: Torna-te o que
és!”. Maslow acreditava que os seres humanos têm um desejo inato de expressar e
desenvolver seus talentos e potencialidades naturais, mas que, esse desejo não surge até que
as necessidades físicas e psicológicas mais básicas da pessoa sejam cumpridas.
No contexto da Psicologia Analítica, Jung (2008) apresenta o termo "individuação",
que, a nosso ver, apresenta características similares aos termos autorrealização e
autoatualização, apresentados anteriormente.
2 Cabe ressaltar aqui que, de acordo com Das (1989), os psicólogos humanistas lidam com um fenômeno
natural, isto é, o eu fenomênico. Eles não postulam qualquer entidade sobrenatural ou metafísica, como alma ou
espírito. Mesmo quando eles reconhecem a possibilidade de uma experiência mística, por exemplo, a experiência
de pico de Maslow, eles interpretam isso como um fenômeno puramente natural.
426
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Experiência Estética
No contexto filosófico da Fenomenologia Estética, tendo como base teórica os escritos de
Dufrenne (2012), podemos dizer que a experiência estética é um momento de contemplação
de um objeto estético6 que permite ao homem uma momentânea libertação do pensamento
para além do intelecto. Para Figurelli (in Dufrenne, 2012, p.13), “O homem é um ser-no-
mundo. E estar no mundo leva o homem a buscar o fundamento que consiste no acordo do
homem com o mundo. Daí a importância da experiência estética. Ela reconcilia o homem
consigo mesmo.” Nas palavras de Dufrenne:
3
De acordo com Jung (1985, p.194) existem dois principais tipos psicológicos os introvertidos e os
extrovertidos. As manifestações apolíneas são relacionadas aos introvertidos, pois proporcionam "uma percepção
de intimas imagens da beleza, da medida e dos sentimentos domados pela proporção". Enquanto as
manifestações dionisíacas "são fluxos de um poderosíssimo perceber universal que surge irresistível e que
embriaga os sentidos com o vinho mais forte". Jung diz ainda que "neste estado o indivíduo participa com a
máxima medida da percepção, sensível e afetivamente. Se trata pois, de uma extroversão de sentimentos
vinculada ao elemento da percepção, as quais denominamos percepções sentimentais." Nesse estado, o indivíduo
entra em contato com o inconsciente coletivo.
4Para uma maior compreensão dos opostos Apolo e Dionísio, consultar a obra "O Nascimento da
Tragédia ou Helenismo e Pessimismo" de Nietzsche.
5
O inconsciente coletivo é constituído pela soma dos instintos e dos seus correlatos, os arquétipos. Assim
como cada indivíduo possui instintos, possui também um conjunto de imagens primordiais. A prova convincente
disto encontramo-la, antes de tudo, na psicopatologia das perturbações mentais em que há irrupção do consciente
coletivo. É o que acontece na esquizofrenia. Aqui podemos observar a emergência de impulsos arcaicos,
associados a imagens inequivocamente mitológicas (Jung, 2000, p.37).
6 As obras de arte podem ser objetos estéticos quando percebidas como tais, no entanto, o objeto estético
não se resume a tais obras. O campo do objeto estético é mais amplo do que o da arte, podendo abarcar também
o mundo natural.
427
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
não tem sentido nesse primeiro momento da humanidade. Religião e arte só mais
tarde se distinguirão verdadeiramente. Aqui é suficiente compreender que a arte
espontânea exprime o liame do homem com a Natureza. E é nisto que a estética vai
meditar: ao construir uma experiência original, ela reconduz o pensamento e, talvez,
a consciência à origem (Dufrenne, 2012, p.23)
Assim, a experiência estética pode ser descoberta na partida de todas as rotas que a
humanidade percorre: ela abre o seu caminho à ciência e à ação. E é claro que ela se
situa na origem, naquele ponto em que o homem, confundido inteiramente com as
coisas, experimenta sua familiaridade com o mundo; a Natureza se desvenda para
ele, e ele pode ler as grandes imagens que ela lhe oferece. O porvir do logos
prepara-se no encontro anterior à linguagem quando é a Natureza que fala. Natureza,
naturante, que produz o homem e o inspira a ter acesso à consciência. Compreende-
se, portanto, que certas filosofias optem por privilegiar a estética: com isso
remontam à fonte, a todas as suas análises nela se encontram orientadas e
esclarecidas (Dufrenne, 2012, p.30).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Maslow (1991, p.254) acrescenta ainda que “essa pessoa chega a mais integra e
unificada, mais única e idiossincrásica, mais viva e espontânea, mais expressiva e totalmente
desinibida, mais fácil e enérgica, mas atrevida e corajosa, a mais autotranscendente
experiência, esquecendo-se de si”.
Levando a discussão para o terreno da Psicologia Positiva, encontramos, em
Czikszentmihalyi (2014b; 1998), o que ele denominou de Estado de Fluxo, que, a nosso ver,
também apresenta características semelhantes às Experiências Estéticas.
O fluxo é uma atividade autotélica7, “descrita, de forma notavelmente semelhante, por
muitos entrevistados, oriundos de diferentes culturas” (Czikszentmihalyi, 2014b, p.24) como
uma atividade de profundo envolvimento e extremamente agradável. Czikszentmihalyi (1996,
p.111) apresenta os nove sentimentos que mais foram mencionados pelos entrevistados a
respeito do estado de fluxo. São eles: clareza de objetivos a cada passo do caminho para a
realização das atividades; feedback imediato para as próprias ações, pois, em fluxo,
percebemos o quão bem estamos indo; equilíbrio entre habilidades e desafios, pois, se os
desafios forem muito fáceis, perdemos o interesse neles e, se estiverem muito além de nossas
capacidades, eles geram frustração; ação e consciência são mesclados, porque, em fluxo,
nossa atenção é focada no que estamos fazendo, e as habilidades e os desafios são mesclados,
ao mesmo tempo em que produzimos, constantemente, feedbacks auto avaliativos; distrações
são excluídas da consciência, pois a única coisa que importa, em estado de fluxo, é a atividade
que estamos realizando, naquele exato momento, e nenhuma preocupação externa pode
interromper essa concentração; não há preocupação com falhas, pois a sensação de controle
total, proporcionada pelo fluxo, faz com que as falhas não sejam percebidas ou faz com que
não nos importemos com elas; a autoconsciência desaparece, já que, em fluxo, estamos tão
envolvidos com o que estamos fazendo que ficamos protegidos do ego, fazendo com que as
limitações impostas por ele desapareçam, proporcionando um alargamento dos limites de
nosso self; a percepção do tempo é distorcida, isto é, uma hora pode passar, e teremos a
sensação de que se passaram apenas alguns minutos; a atividade torna-se autotélica,
diferentemente de boa parte das atividades de nossas vidas, em que realizamos atividades
exotélicas, ou seja, atividades que realizamos para alcançar outros objetivos que não são a
atividade em si, uma vez que as atividades autotélicas são realizadas para obter o prazer que
se sente ao realizá-las, fazendo com que as atividades sejam o fim em si.
429
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Indivíduos Autorrealizados
Cabe ressaltar, aqui, que nossa concepção de indivíduos autorrealizados se distingui
completamente das concepções das religiões orientais, apresentadas na seção Autorrealização.
Para essas religiões, os indivíduos que atingem a autorrealização são aqueles que alcançam
uma elevação espiritual, transcendendo as necessidades materiais e libertando-se da roda das
encarnações.
Em nossa concepção, os indivíduos autorrealizados são aqueles que, através da
realização de determinadas atividades, como, por exemplo, o desenvolvimento de atividades
criativo/composicionais em música, conseguem vivenciar experiências estéticas, ou místicas,
ou ainda, entrar em estado de fluxo, autoatualizando-se e individuando-se. Acreditamos que,
ao vivenciarem tais experiências, esses indivíduos adquiram maiores níveis de motivação
intrínseca para a realização de suas atividades, desenvolvendo um maior senso crítico,
utilizando o máximo das possibilidades de sua agência pessoal8, sofrendo menores influências
culturais, sociais e ambientais, proporcionando que seus comportamentos criativo/musicais
resultem em obras originais e de maior propensão ao belo.
Nossas afirmações, apresentadas no parágrafo anterior, encontram referências tanto
nos escritos de Maslow (1991) sobre as pessoas autoatualizadas, quanto de Czikszentmihalyi
(2014a; 1996) sobre os indivíduos criativos.
Maslow (1991, p.198) apresenta as principais características das pessoas
autoatualizadas: elas possuem uma maior percepção da realidade, tolerância, espontaneidade,
centram-se em problemas, são solitários, autônomos, possuem uma maior sensibilidade,
vivenciam experiências místicas, possuem afinidade humana, humildade e respeito nas
relações interpessoais, são éticos, bem-humorados, criativos, apresentam resistência à
aculturação ou à socialização.
Csikszentmihalyi (2014a, p.170) expõe que, de acordo com seus estudos, os
indivíduos criativos são caracterizados não só por suas características individuais, mas, sim,
pela sua capacidade de operar através de todo o espectro de características humanas. Elas
podem apresentar, ao mesmo tempo, personalidades introvertidas e extrovertidas, gregárias e
8 De acordo com Bandura (2008, p.15), ser agente significa fazer as coisas acontecerem de maneira
intencional, por meio dos próprios atos. Ser agente é estar engajado no seu próprio desenvolvimento. Segundo
essa perspectiva, as pessoas são auto-organizadas, proativas, autorreguladas e autorreflexivas, contribuindo,
assim, para as circunstâncias de suas vidas, não sendo apenas produtos dessas condições. Por meio da agência, as
pessoas se motivam e orientam suas ações, de forma a criar ou transformar circunstâncias que vivenciam e,
também, escolher a forma como lidar com tais circunstâncias, criando estilos de comportamento que lhes
proporcionem realizar resultados desejados.
430
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Considerações Finais
Acreditamos que indivíduos que alcancem experiências estéticas por meio da realização das
atividades de aprendizagem musical interpretam as influências advindas dos ambientes sócio/
culturais, aos quais estão inseridos durante a realização de tais atividades, como
potencialidades, visto que a vivência sensorial, causada pelas experiências estéticas, é tão
gratificante que conduz o indivíduo a superar as limitações do ego.
Portanto, o principal resultado ao qual chegamos com a realização deste trabalho, é a
hipótese de que A motivação intrínseca, apresentada por alguns indivíduos para a prática de
atividades de aprendizagem ou criativo/musicais, pode ser o resultado de experiências
estéticas. Caso esta hipótese possa ser confirmada em estudos posteriores, poderemos crer que
a motivação intrínseca, gerada nesses contextos educativos, depende de experiências sensório/
cognitivas que ocorrem em momentos anteriores à conceituação, à linguagem e à cultura. Por
essa razão, esses indivíduos conseguem agir com o máximo das possibilidades de sua agência
pessoal, visto que as imposições dos ambientes sócio/culturais são menos relevantes para eles,
proporcionando que eles desenvolvam obras com maior originalidade e maior propensão ao
belo.
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431
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
432
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Skills and Strategies for Managing Anxiety Before and During the Recital: Methodological
Approach to Multicase Studies with Pianists Students and Professionals
Abstract: This article presents the methodology used in our master's dissertation “Abilities and
Strategies for managing anxiety before and during the recital”. The general objective of this research
consists to investigate the performance abilities and strategies used by pianists to manage anxiety
during presentations. We used a case study for the methodology, whose participants were students and
professionals Recife - PE, Brazil, which were classified as Group 1): three piano students at Escola
Técnica de Criatividade Musical (ETECM) and, Group 2): three professional pianists, all of them in
the stage of preparation for a recital. The collected data were semistructured interviews before and
after recitals, questionnaire concerning behavior and anxiety, study sequence routines, and audio
register of recitals. The analyses and results of data consisted of three parts which followed these
steps: 1) discovery and analysis of the abilities and strategies used before and during the presentation
to control anxiety, 2) comprehension of the perception of behavior that pianists had of themselves
during the days preceding the presentation and perception of anxiety symptoms before and during
performance, 3) qualitative evaluation of results. It is inferred that not only students, but also
professionals presented efficient abilities and strategies to reach their objective, with a minimum of
anxiety. These aspects, however, exist on different levels of knowledge and cognitive development.
Keywords: cognitive development, skill, problems solving, behavior, evaluation
Introdução
A dissertação que tem como tema “Habilidades e Estratégias para gerir a ansiedade antes e
durante o recital: um estudo multicaso com pianistas estudantes e profissionais” teve como
objetivo geral investigar as habilidades e estratégias de performance utilizadas por pianistas
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
para gerir a ansiedade durante apresentações públicas. Nessa perspectiva, buscou-se investigar
algumas etapas que, no parecer da pesquisadora, foram julgadas necessárias para uma
possível superação de dificuldades que pianistas enfrentam, advindas da exposição ao
público.
Na investigação, supôs-se que pianistas profissionais, graças ao maior tempo de palco,
apresentariam mais habilidades e estratégias que pudessem tornar a ansiedade mais amena, ao
passo que estudantes, em razão da pouca ou nenhuma experiência em recital-solo, exibiriam
habilidades e estratégias bastante embrionárias. Para esse grupo, considerou-se a influência do
ambiente escolar. Portanto, este estudo buscou oportunizar a aproximação da experiência de
profissionais à experiência inicial de estudantes de piano, investigando como se envolvem nas
atividades de preparação para o recital, desde a escolha de repertório até sua apresentação em
público e posterior autoavaliação da execução.
A pesquisa consistiu em uma abordagem qualitativa, da qual se presume o contato
direto do pesquisador com os participantes e a situação investigada. Ela valoriza a
subjetividade dos sujeitos e o nível interpretativo, ao contrário de outras abordagens que
enfatizam a objetividade, a relação causa versus efeito e a mensuração (Freire, 2010). A
pesquisa qualitativa “propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos
conceitos e categorias durante a investigação” (Minayo, 2006, p.57).
Esta pesquisa fez referência a um estudo multicaso ou casos múltiplos. “A evidência dos
casos múltiplos é, muitas vezes, considerada mais vigorosa e o estudo, em geral é, por essa
razão, visto como mais robusto”. (Herriott & Firestone, 1983 apud Yin, 2010, p. 77). De
acordo com Yin (2010, p. 78), nesse tipo de estudo, “cada caso deve ser selecionado
cuidadosamente para que se possa prognosticar resultados similares (uma replicação literal)
ou produzir resultados contrastantes, mas em situações previsíveis (uma replicação teórica)”.
O Processo Metodológico
Os participantes da pesquisa foram seis pianistas, divididos em dois grupos: três estudantes da
Escola Técnica de Criatividade Musical (ETECM) do curso técnico de piano e três pianistas
profissionais. No primeiro grupo, havia três jovens de idade e nível de desenvolvimento
pianístico diferentes. A referência a cada um deles foi pelo gênero masculino, os estudantes.
O segundo grupo da pesquisa, também tratado pelo gênero masculino, os profissionais,
foi composto por participantes de diferentes idades e distintas vivências de palco. Todos
experientes na docência e dois deles ainda exerciam a função docente no desenrolar da
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
pesquisa. A coleta de dados ocorreu também em Recife-PE, ora na própria residência dos
participantes, mediante entrevistas, ora via Skype, para um dos profissionais não residentes na
cidade. A observação dos recitais ocorreu no Conservatório Pernambucano de Música, e na
Igreja Batista Emanuel, também na mesma cidade.
Segundo André (2005), definir os critérios para a escolha dos participantes num estudo
multicaso é um dos primeiros passos do pesquisador. No entanto, só após os contatos iniciais
com o campo poderão ser confirmados. Dessa forma, a escolha de ambos os grupos se
justificou pela necessidade de pianistas que estivessem prestes a realizar recital,
preferencialmente no período de junho a setembro de 2013.
Os instrumentos de coleta de dados incluíram pesquisa bibliográfica nas áreas de
educação musical, psicologia da música e performance musical, as quais permitiram constituir
um referencial teórico sólido e uma leitura contextualizada da situação em estudo; entrevistas
semiestruturadas, questionários e gravações. As etapas se desenvolveram da seguinte forma:
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
4. Gravação do recital.
Esse instrumento permitiu a investigação visual do comportamento dos participantes em
apresentação pública. A coleta de informações, mediante seu relato, vinha sendo feita, mas a
filmagem do evento foi o momento crucial para inferir o que se falou do que se observou.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Como forma de análise, foram utilizados os estágios propostos pelo autor, para
classificar cada habilidade sem realizar comparações sobre a qualidade de cada uma, mas sim
a eficiência de atuação. Não há limites na construção do conhecimento musical. Um estudante
de música iniciante reflete conceitos musicais que surgem com base nas aulas de solfejo e
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
revela uma teia crescente de compreensão. Suas habilidades de leitura servem de contexto
para a construção do conhecimento musical.
As habilidades encontradas nos estudantes não se apresentaram no mesmo estágio que
nos profissionais, nem poderiam, pois, segundo Sternberg (2008), os esquemas dos
especialistas envolvem unidades maiores de conhecimento e altamente interconectadas, já os
esquemas dos novatos envolvem unidades de conhecimento relativamente pequenas e
superficiais, porém, na visão da pesquisadora, com grande possibilidade de crescimento. Logo
abaixo apresentamos as habilidades encontradas em profissionais e estudantes no quadro
comparativo.
PROFISSIONAIS ESTUDANTES
Quadro 1: Quadro das Habilidades utilizadas antes, durante e pós-recital pelos sujeitos da pesquisa
Por sua vez, a estratégia, segundo Sloboda (2008), consiste em quebrar a habilidade a
ser aprendida em um conjunto de componentes que podem ser adquiridas passo a passo. O
músico que tem prática e experiência em uma habilidade particular tem qualificação para
pensar em esquemas de treinamento, por isso há muitas maneiras possíveis de segmentar uma
atividade, ou definir estratégias de acordo com as necessidades de cada um. É mais
importante a assimilação do princípio de segmentação que a imposição de algum esquema
como o melhor de todos (Sloboda, 2008).
Jorgensen (2004) aponta três fases de aprendizagem para uma prática instrumental
eficaz: 1) Planejamento e preparação; 2) Execuções da prática; 3) Observação e avaliação. As
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
respectivas fases de prática são entrelaçadas e cíclicas, ou seja, não há uma hierarquia entre
elas, mas constantes reelaborações e feedback. Sendo assim, o planejamento da aprendizagem
é constituído de tentativas e erros. É impossível planejar um treinamento ideal, pois isso
dependerá das competências que o indivíduo adquire. Cada instrumentista, seja aluno ou
profissional, tem seu tempo e forma de aprender (Sloboda, 2008). Semelhantemente ao
quadro anterior, apresentamos abaixo o quadro comparativo das estratégias encontradas tanto
em profissionais como em estudantes.
PROFISSIONAIS ESTUDANTES
Quadro 2: Quadro das Estratégias utilizadas antes, durante e pós-recital pelos sujeitos da pesquisa
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Considerações Finais
A metodologia utilizada na pesquisa consistiu em uma abordagem qualitativa, a qual
enfatizou mais o processo que o produto e deu significado ao fenômeno na perspectiva dos
participantes. O método utilizado foi o estudo multicaso, em que os participantes envolvidos
foram divididos em dois grupos: grupo 1, estudantes e grupo 2, profissionais. As técnicas de
coleta de dados foram entrevista semiestruturada, roteiro de estudo nas dez semanas
antecedentes ao evento, questionário de comportamento e de ansiedade e gravação dos
recitais.
Dos instrumentos citados, apenas os roteiros tiveram certa resistência por parte de
alguns participantes. Julgamos que uma das causas foi o tempo que tomaria e a falta de
disposição para o preenchimento. Outros motivos justificados foram o tempo escasso por
conta de trabalho e visão comprometida; um dos estudantes não devolveu os roteiros nem
justificou o motivo.
Na intenção de verificar a percepção dos sujeitos sobre comportamento antes do recital
e os sintomas durante a execução, escolhemos os questionários de comportamento e
ansiedade. Este questionário permitiu termos uma dimensão mais objetiva da mudança de
comportamento e de sentimento, na semana do recital, dos sintomas de ansiedade que já
estavam atuando. O questionário de ansiedade, por sua vez, permitiu verificarmos os sintomas
de ansiedade encontrados no pianista no momento do recital. As entrevistas após o recital e o
questionário, métodos aplicados posteriormente ao palco, foram instrumentos eficazes a fim
de apresentarmos os sintomas de ansiedade presentes no momento da performance.
Valendo-nos da análise dos dados, inferimos que tanto estudantes como profissionais
sentiram ansiedade antes e durante a performance. Apesar de interferir minimamente no
desempenho, não foi motivo impeditivo da execução, por isso a ansiedade atuou de forma
positiva; descobrimos que os sujeitos utilizaram habilidades e desenvolveram estratégias mais
convenientes para cada um, as quais possibilitaram a amenização do medo de palco de forma
direta ou indireta.
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Dayane Battisti
Universidade Federal do Paraná - UFPR
daya_battisti@hotmail.com
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O primeiro motivo para aprender violão, assinalado por 76% dos alunos (N=16), é
“porque eu gosto de música”. Esse resultado foi ao encontro dos resultados encontrados por
Rosa (2015) em sua pesquisa sobre a motivação de adolescentes para o aprendizado de violão.
Araújo (2015, p. 53) constata que “o envolvimento com a música e com as outras artes em
geral é considerado, em senso comum, sempre prazeroso, agradável e de forte caráter
intrínseco”. Apesar desta ideia não ser sempre uma premissa, pois o aprendizado de um
instrumento musical envolve empenho e motivação, ela pode ser relacionada com o motivo
mais citado pelos alunos, que decidem aprender a fazer algo que gostam.
O segundo motivo, assinalado por 52% dos alunos (N=11), foi “porque quero aprender
novas habilidades”. Esta motivação para aprender novas habilidades está relacionada com um
aspecto teórico da motivação denominado necessidade por competência, formulado por Deci
& Ryan (1985). De acordo com os autores: “a cada nova aquisição de habilidade existe um
espaço para se divertir exercitando essa nova habilidade, mas o tédio logo se instala quando o
sujeito simplesmente exercita a mesma habilidade repetidas vezes” (Deci & Ryan, 1985, p.
27).
Em terceiro lugar, foram encontrados os mesmos resultados numéricos para as
respostas “porque é divertido” e “porque eu gosto do som do violão”, sendo que cada um
deles foi indicado por 48% dos alunos (N=10). Analisando a indicação “porque é divertido”
pode-se comparar à pesquisa de Palheiros (2006, p. 320) com crianças britânicas e
portuguesas, na qual a autora também constatou que “algumas crianças referiram razões não
musicais como socializar com os colegas e a música ser ‘divertida’ e ‘fácil’”.
Os que assinalaram a questão “outros” corresponderam a 29% dos respondentes
(N=6). Para os “outros” motivos, os participantes deram as seguintes justificativas:
Observa-se que a maior parte dos “outros” motivos citados pelos alunos também estão
ligados a motivação intrínseca, com exceção do motivo de “recomendação de psicóloga”.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
De forma geral, a opinião dos alunos sobre as aulas em grupo foi positiva. Na primeira
categoria estão agrupadas as respostas ligadas a palavra “legal”, onde alguns responderam
muito legal, bom, divertido e em quase todas as respostas agrupadas nas outras categorias
também existe alguma referência positiva como bom, ótima, interessante, importante. Esta
opinião positiva se relaciona com um dos motivos mais assinalados da questão anterior, onde
os alunos assinalaram que decidiram aprender violão “porque é divertido”. Desta forma o
ambiente lúdico, aparece na opinião dos alunos sobre as aulas em grupo.
Seis dos alunos, ao expor sua opinião sobre as aulas em grupo, citaram de alguma
forma a experiência vicária de observar o outro e aprender com ele, por isso foram agrupados
na categoria “aprender com os outros”. Azzi (2014, p. 36) explica que dentro da Teoria Social
Cognitiva, o que Bandura denominou Efeito Modelador ou Aprendizagem por Observação
“relaciona-se com a aquisição de comportamentos novos, os quais a pessoa não apresentava
ou que tinham probabilidade quase nula de ocorrência”. A autora continua explanando que
“em situações de aprendizagem, o modelo ou o sujeito que está sendo observado exibe
comportamentos que o observador não possuía, mas que, após a situação de aprendizagem,
passa a ter condição de reproduzir” (Azzi, 2014, p. 36). No contexto do ensino coletivo, além
do modelo do professor, os alunos encontram também os modelos de seus pares e suas
respostas demonstram que eles têm consciência da presença dos modelos e que podem
aprender com eles.
Outros seis alunos citaram palavras como compartilhar, tocar com os outros ou para os
outros. Esta categoria foi chamada de “compartilhar/tocar com/para os outros”. O ambiente de
ensino coletivo proporciona um espaço de compartilhamentos, onde além de poderem tocar
juntos, é muito comum um aluno tocar para o outro ver, mostrando algo que aprendeu e
motivando o outro a tocar também. Neste sentido, Dantas (2010, p. 406) constatou que “para
os estudantes o fator que mais contribui para a motivação no processo de aprendizagem é a
interação no grupo” e Santayana (2012, p.27) argumenta que “as aulas coletivas geraram nos
alunos certo estímulo ao perceber que mesmo sendo iniciante no instrumento é possível fazer
música e se sentir integrante de um grupo”.
Na resposta de outro aluno de 9 anos, é possível perceber a referência à sonoridade do
grupo: “É ruim tocar sozinho e bom tocar com alguém tem mais som”. A sonoridade também
apareceu em um dos motivos mais assinalados pelos alunos para o aprendizado do
instrumento: “porque gosto do som do violão”. Outros autores também encontraram em suas
pesquisas a indicação de que a sonoridade obtida no grupo é um fator relevante e estimulante
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
na experiência da prática musical coletiva, como Cruvinel (2003), Dantas (2010) e Caetano
(2012).
Mesmo manifestando opiniões positivas, dois alunos comentaram que preferiam aulas
individuais. Um aluno de 13 anos disse: “Eu acho bom, mas preferia sozinho”; e uma aluna de
33 anos opinou: “Acho tranquilo, mas particular é sempre melhor”. Ainda que sejam uma
minoria, a opinião destes alunos reflete a preferência deles pela aula individual, que Tourinho
(2007) denominou como “mito” da atenção exclusiva, isto é, a ideia de que a aula individual é
sempre melhor por ter a atenção exclusiva do professor.
Figura 3: Opinião dos alunos sobre o repertório das aulas (dados da pesquisa)
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Conclusão
Ao buscar compreender os fatores de motivação dos alunos para aprendizagem musical,
vários dados foram encontrados por meio deste estudo. Sobre os motivos para aprender violão
observa-se que estavam, em sua maioria, relacionados à motivação intrínseca, onde a escolha
pelo aprendizado do instrumento ocorre por sua própria causa, sem pressões externas
(Guimarães, 2009).
Já as opiniões dos participantes sobre as aulas em grupo, a maior parte dos alunos
afirmou achar legal e divertido. Alguns citaram a possibilidade de aprender com os outros, de
compartilhar as músicas tocando junto com o grupo e de ajudar e ser ajudado. Estas respostas
se relacionam com as experiências vicárias dos alunos e no contexto do ensino coletivo, além
do modelo do professor, os alunos encontram também os modelos de seus pares e suas
opiniões demonstraram que eles tinham consciência da presença dos modelos e que podiam
aprender com eles. Apenas dois alunos afirmaram que preferiam aulas individuais e essa
opinião reflete um certo preconceito que ainda existe sobre o ensino coletivo de instrumentos
musicais, onde prevalece a ideia de que a aula individual é melhor por ter a atenção exclusiva
do professor (Tourinho, 2007).
Por fim, foi possível constatar que todos os alunos afirmaram gostar das músicas que
estavam aprendendo a tocar e a participação na escolha do repertório apareceu na fala de
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Um estudo anterior encontrou correlações positivas entre o desempenho em uma tarefa de
transcrição de sequências musicais (MSTT) e habilidades de processamento fonológico e leitura em
crianças brasileiras de classe média-alta (Zuk, Andrade, Andrade, Gardiner, & Gaab, 2013). O presente
estudo investigou a aplicabilidade da MSTT em uma amostra de alunos de escolas públicas. 73 alunos (35
meninas), sem treinamento musical formal fora da escola, completaram testes cognitivo-linguísticos, a
MSTT e tarefas da Bateria de Avaliação de Habilidades Musicais de Montreal (MBEMA) cuja tarefa
melódica requer a discriminação tonal fina. A consciência fonológica (r = .438, p = .000354, p <.001) e a
fluência de leitura (r = .312, p = .0151, p = .01) se correlacionaram fortemente com a MSTT, mas não se
correlacionaram com as tarefas da MBEMA. Estes resultados sugerem que a MSTT, por não requerer
discriminação tonal fina, poderia, diferentemente da MBEMA, envolver um processamento auditivo
sequencial relevante para a linguagem e funções executivas. Novos estudos poderiam avaliar o uso desta
tarefa na identificação precoce de crianças com risco para dislexia.
Palavras-chave: Desenvolvimento cognitivo, Avaliação, Percepção auditiva.
Title: Evaluating musical and linguistic abilities in children in the early stages of literacy in
Brazilian public schools
Abstract: A previous study showed positive correlations between performance in a task of transcription of
musical sequences (MSTT) and phonological processing as well as reading skills in Brazilian upper-
middle-class children (Zuk et al., 2013). The present study investigated the applicability of MSTT in a
sample of public school students. 73 students (35 girls), without formal music training outside of school,
completed cognitive-linguistic tests, the MSTT and tasks of the Montreal Battery for Evaluation of
Musical Abilities (MBEMA). Unlike the MBEMA, the MSTT does not require fine tonal
discrimination. The phonological awareness (r = .438, p = .000354, p <.001) and reading fluency (r = .
312, p = .0151, p = .01) correlated strongly with MSTT, but did not correlated with MBEMA tasks. These
results suggest that MSTT, but not MBEMA, could involve sequential auditory processing relevant to
language and executive functions. New studies could evaluate the use of this task in the early
identification of children at risk for dyslexia.
Keywords: Cognitive development, Evaluation, Auditory perception.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
1. Introdução
O estudo da Cognição Musical apresenta interdisciplinaridade entre diversas áreas da
Neurociência e Ciências Cognitivas (Zatorre, 2005). Um estudo recente apontou correlações entre
o desempenho em uma tarefa de percepção musical e domínios cognitivos da linguagem
relacionados à leitura em crianças em estágios iniciais da alfabetização (Zuk et al., 2013). Há
evidências também de que o treinamento musical facilita o processamento fonológico e
correlaciona-se positivamente a habilidades de leitura (Gardiner, Fox, Knowles, & Jeffrey, 1996;
Moritz, Yampolsky, Papadelis, Thomson, & Wolf, 2013). Estudos de neuroimagem corroboram
associações entre treinamento musical e processamento da linguagem em crianças e adultos
(Jentschke, Koelsch, & Friederici, 2005; Wong, Skoe, Russo, Dees, & Kraus, 2007). Em crianças,
o treinamento musical também demonstrou facilitar o processamento subcortical de expressões
da fala durante a leitura (Strait, Hornickel, & Kraus, 2011), ressaltando a importância do
treinamento musical durante os estágios iniciais da aprendizagem infantil.
A dislexia é um transtorno neurológico de origem genética (Peterson & Pennington, 2012)
que apresenta seus sintomas durante o início da alfabetização. Seu diagnóstico, contudo, pode
levar vários anos para ser realizado e baseia-se na discrepância entre os scores de QI verbal e QI
não-verbal. Mesmo que a criança apresente dificuldades claras desde o início da aprendizagem de
leitura, é necessário aguardar até o terceiro ano (ou ainda mais tarde) para que o diagnóstico de
dislexia seja efetivamente concluído (Andrade, Andrade, & Capellini, 2015). Neste cenário, a
Resposta à Intervenção surge como possibilidade de uma nova prática diagnóstica. Trata-se de
um processo orientado através de três níveis de atenção que visa a triagem e a intervenção focal
com os participantes não-respondentes às ações interventivas no ensino da leitura e escrita
((Andrade et al., 2015; Fuchs & Fuchs, 2006). A identificação precoce do risco para que uma
criança apresente dificuldades de aprendizagem pode ser amenizada através de atenção
individualizada e de intervenções que amenizem sofrimentos futuros. Scarborough (1998)
indicou que comportamentos de risco para dificuldades de leitura podem ser identificados ainda
na pré-escola. Atualmente diversas ferramentas de triagem para crianças com dificuldades de
leitura buscam investigar deficiências no processamento auditivo, cognitivo e linguístico,
principalmente no processamento de fonemas, percepção, produção e compreensão da fala (Flax,
Realpe-Bonilla, Roesler, Choudhury, & Benasich, 2008). Crianças com dificuldades de leitura
também possuem déficits no processamento fonológico em rimas, aliterações e na identificação
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
sutil de mudanças entre palavras apresentadas oralmente (Bradley & Bryant, 1978) assim como
déficits em discriminação auditiva temporal, percepção e produção rítmica (Tallal, 2004;
Thompson, Russo, & Quinto, 2008; Thomson & Goswami, 2008). A discriminação de estruturas
métricas musicais, empregadas na distinção entre ritmos, apresenta diferenças singulares entre
crianças com e sem dificuldades de leitura (Goswami, Huss, Mead, Fosker, & Verney, 2013).
Tarefas baseadas em música têm se mostrado eficientes como ferramentas para melhorar a
leitura e a ortografia (Santos, Joly-Pottuz, Moreno, Habib, & Besson, 2007) bem como para
identificar precocemente crianças com risco de apresentarem transtorno no processo de
alfabetização (Zuk et al., 2013). A Tarefa de Transcrição de Sequencias Musicais (MSTT),
desenvolvida nesse último estudo,
[...] visa investigar se a relação entre a percepção musical e habilidade de leitura é válida
para uma tarefa de discriminação musical composta pelo sequenciamento isocrônico de
sons e pela discriminação dos acordes que, adicionalmente, preservem a validade
ecológica da experiência musical. (Zuk et al., 2013, p. 2).
No presente trabalho usamos a MSTT, para avaliar se essa tarefa musical estaria associada
a diferentes domínios cognitivos - avaliados através de tarefas da Bateria Montreal de Avaliação
Habilidades Musicais (Montreal Battery for Evaluation of Musical Abilities, MBEMA - Peretz et
al., 2013) e do Protocolo de Avaliação de Habilidades Cognitivo-Linguísticas (PAHCL - Capellini
& Smythe, 2012). Adicionalmente, também investigamos se os resultados prévios de Zuk et al.
(2013) seriam replicáveis em alunos de escolas públicas. A replicação dos resultados em distinto
contexto socioeconômico traria mais uma indicação da possibilidade de utilização de forma
ampla de uma tarefa musical como ferramenta de identificação precoce para o risco de
transtornos da aprendizagem.
2. Métodos
2.1 Participantes
Uma amostra de 73 alunos, com idade entre 7,3 a 11,5 anos, regularmente matriculados no 2º e 3º
ano do ensino fundamental, sem treinamento musical formal fora da escola, completaram tarefas
do PAHCL, a versão abreviada da MBEMA e a tarefa MSTT. Dentre esses 73 participantes, 37
estavam matriculados no 2º ano (média de idade= 8 anos e 5 meses, DP= 8 meses, 17 meninas) e
36 no 3º ano (média de idade= 8 anos e 10 meses, DP= 4 meses, 18 meninas). Participaram do
estudo apenas os alunos sem deficiência sensório-motora (surdez, cegueira), sem transtornos
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
2.2 Procedimentos
A coleta de dados ocorreu ao longo do segundo semestre do ano-calendário acadêmico durante o
horário escolar. As tarefas musicais MBEMA e MSTT foram aplicadas coletivamente enquanto as
tarefas do PAHCL foram aplicadas individualmente em alunos de quatro salas de aula, duas do 2º
ano e duas do 3º ano.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Figura 1: Transcrição de quatro sequências e respectivas respostas corretas a serem codificadas pelas crianças.
Um círculo "O" para o som grave e uma linha vertical "|" para um som agudo.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Apenas sequências transcritas precisamente com quatro sons e na ordem correta foram
consideradas corretas (um ponto). Quando menos de quatro sons eram transcritos em uma dada
sequência, considerou-se uma resposta insuficiente (IR). Quando mais de quatro sons eram
transcritos em uma dada sequência, considerou-se uma resposta supérflua (RS). As respostas
insuficientes e supérfluas não pontuavam.
3. Resultados
As pontuações obtidas nas tarefas Aliteração, Rima e Segmentação silábica foram somadas para
representar a variável Consciência Fonológica (PA). As tarefas de nomeação rápida de figuras e
de números foram somadas para representar a variável Nomeação Automática Rápida (RAN). A
Tabela 1 fornece médias e desvios-padrão nas tarefas musicais e cognitivo-linguísticas. Alguns
valores de DP são elevados porque, mantemos os valores abertos na análise, uma vez que este
estudo foi realizado em um contexto de uso de ferramentas coletivas de rastreamento para
identificar crianças em risco do surgimento de problemas de aprendizagem.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Correlações
Na Tabela 2, as correlações corrigidas por Bonferroni nas tarefas musicais com habilidades
linguísticas revelaram que a MSTT estava mais fortemente correlacionada com a Consciência
Fonológica (r = .438, p = .000354, p <.001) e a Fluência de Leitura (r = .312, p = 0,0151, p =
0,01). Como pode ser observado na Tabela 2, a MSTT também mostrou uma correlação
importante com a Ordem de Figuras (r = .362, p = .0036, p <0,05). Em contraste, as habilidades
melódicas e de ritmo medidas pelo MBEMA abreviado não mostraram nenhuma correlação
significativa com o domínio verbal.
linguísticas.
Por outro lado, os resultados sugerem que a MSTT parece ser única em relação as tarefas
da MBEMA, visto que foi correlacionada com medidas verbais (leitura e processamento
fonológico). Estes fatores mostraram ser dimensões cognitivas distintas na literatura,
particularmente as dimensões verbal e não-verbal (Carrol, 1992; Neisser et al., 1996). Este
resultado sugere que a MSTT poderia envolver processamento sequencial relevante para a
linguagem e funções executivas, o que é consistente com a natureza da tarefa que exige atenção,
memória de trabalho, processamento de sequenciamento auditivo.
Conclusões
Foram encontradas associações significativas entre a tarefa musical MSTT e as habilidades
linguísticas, especificamente nas tarefas de leitura e processamento fonológico. Relações entre a
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Marcos Botelho
UFBA/UFG
trombone@globo.com
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
O professor e a música
Entendemos que cada professor de instrumento tem grandes desafios pedagógicos diários
para enfrentar. De modo geral, as aulas de instrumentos nas universidades são aulas
individuais. O professor assume papel de orientador, facilitador e conselheiro, por muitas
vezes, por conta da nossa realidade brasileira, de pai, irmão etc.
Pelos questionários constatamos que mais da metade dos professores 20 respondentes
tem mais de 40 anos e se declaram professores a mais de 15 anos, destes 13 são mestres, 5
doutores e 2 pós-graduados. (BOTELHO, 2016). Portanto, suas experiências e vivências
constituem–se em conhecimentos riquíssimos que devem ser compartilhado. Penna (2013, pg
18) afirma que “a atuação em sala de aula é indispensável para a formação do professor, já
que uma parte da aprendizagem da profissão docente só ocorre e só de inicia em exercício”.
Lehmann et al (2009) ainda comentam: “Music teaching is interesting because some teachers
start out as teachers, whereas others start out as performing artists and become teachers
without formal qualifications” (LEHMANN et al, 2009, p. 9).
Segundo Penna (2013), duas coisas são importantes num processo de educação
musical:
É indispensável articular o que e como para ensinar efetivamente, quer dizer, para
desenvolver um verdadeiro processo educativo, compreendido não apenas como
transmissão de conteúdo, mas como um processo de desenvolvimento das
capacidades (habilidades, competências) do aluno, de modo que ele se torne capaz
de apropriar-se significativamente de diferentes saberes e fazer uso pessoal destes
em sua vida (PENNA, 2013, p. 14, grifos da autora)
Assim, entendemos que conhecer o conteúdo das aulas de instrumentos seja ter
habilidades artísticas e estéticas para a performance, mesmo que inconscientemente.
Entretanto, estas habilidades inconscientes não são inatas, mas sim habilidades que talvez o
professor não consiga verbalizar. Portanto, podemos supor que o “o que” ensinar,apontado
por Penna (2013) anteriormente, seja consolidado a partir da prática artística e performática
dos professores. Sloboda (2008) ainda comenta que “A habilidade musical é adquirida
461
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462
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
compreensível. Nas aulas ficou clara a distinção de concepções sobre técnica e estética de
alguns professores. Os professores A e B separam uma da outra, em suas aulas há momentos
em que somente tratam de questões técnicas e outros de estéticas. Em uma das aulas, o
professor A ainda fez o seguinte recomendação para o aluno: “o método é técnica, chegou na
música faça música”. Por outro lado, os professores C e D, trataram das duas questões
simultaneamente. Mesmo quando os alunos estavam tocando exercícios técnicos, suas
observações tinham algum conteúdo estético. Exemplificando: em uma aula o professor C
pediu para que o aluno pensasse em “um arco de frase”, afirmando que pensando na tensão e
repouso da frase o aluno conseguiria tocar uma determinada nota aguda que estava com
dificuldade.
A música sempre envolve várias formas de pensar e fazer, ligadas a específicas
habilidades, ideais e valores musicais, em que implicam em uma prática necessária para
domínio desta essência processual da musicalidade (GRUHN, 2005). A busca da
musicalidade é um processo progressivo em que estudante e professor encontram e resolvem
problemas genuinamente musicais e que surgem da prática (ELLIOT,1995).
Lehman et al. (2007) afirmam que alguns atributos dos professores interferem na
relação do processo cognitivo do aluno. A qualidade das observações dos professores sobre a
execução dos alunos faz com que aos poucos ele consiga “internalizar o professor” e traçar
metas e objetivos. Instruções objetivas fazem com que o aluno crie internamente imagens e
metáforas.
A reflexão prática é fundamental para o desenvolvimento da musicalidade porque o
fazer musical existe a partir de uma série de hábitos, sentimentos, rotinas etc. Desenvolver a
musicalidade é, em parte, criar uma conscientização de um fazer musical, incluir julgamentos
sobre a natureza do fazer e da obra musical em cada contexto (ELLIOT, 1995).
Questões estéticas
Nos questionários que os professores responderam os itens relacionados à estética não foram
muito valorizados. Na questão 2, sobre o que os professores mais valorizavam em suas aulas
o item “expressividade” foi classificado como de média importância por 66% dos
professores. Na questão 3, sobre a performance dos alunos, o item “musicalidade” também
foi classificado como de média importância por 45% . Na questão 7, a respeito da rotina de
estudos, os exercícios melódicos foram apontados como de mediana importância por 53%
dos professores. Entretanto na questão 4, relativa a explicação dos professores, o item
463
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
“gênero/estilo” mostrou-se controverso, 47% valorizam este item, enquanto outros 41%
atribuíram média importância (BOTELHO, 2016).
Mcgill (2007) inicia seu capitulo intitulado “Talent?” assim:
Most musicians feel it is possible to teach technique. Yet many of those same
musicians also feel it is practically impossible to teach someone to be expressive;
how often has on heard the phrase “You’ve either go it or you don’t”? (McGILL,
2007, p. 18)
Acreditamos que a música deva ser o objeto principal das aulas de trombone, os
próprios professores já deixaram claro, por suas repostas, que acreditam que a performance é
o principal em suas aulas. Nos questionário dos alunos, as questões estéticas foram pouco
valorizadas também. Nas questões que poderiam responder abertamente, há grande
predomínio de elementos técnicos, três alunos, dois do professor A e um do professor B,
escreveram explicitamente claro que entendem que “a técnica é o caminho para a
performance”.
A principio, quando analisamos os questionários, parece-nos que os professores
privilegiavam as performances e que nelas havia uma propensão a valorizar somente questões
ligadas à técnica, dando ênfase a afinação (BOTELHO, 2016). Entretanto, após nossas visitas
pudemos ter uma compreensão bastante diferente sobre tais aspectos. Principalmente
observando estratégias semelhantes entre professores que, em seus perfis pedagógicos,
demonstraram concepções díspares sobre o tema.
Estratégias observadas
Pudemos observar duas estratégicas que foram repetidas, com algumas pequenas variações,
em todas as aulas observadas: a condução do professor (seja por gestos como um maestro,
seja cantando) e sua própria performance como demonstração. As duas estratégias apontadas
mostraram-se complementares, entretanto a proporção que elas foram empregadas variou
muito de professor para professor. Não encontramos nada na literatura que fizesse alguma
menção à estas estratégias. Também observamos explicações verbais, mas estas
demonstraram-se bastante vagas.
Em todas as aulas observadas, por vários momentos durante a execução dos alunos, os
professores realizaram movimentos como se estivessem conduzindo-os com movimentos
como os de um maestro. Estes movimentos foram feitos quando os professores estavam
preocupados com o fraseado e seus contornos. Muitas vezes indicavam algumas dinâmicas
não escritas e mudanças de caráter. Ficou claro nas observações que após as explicações do
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
professor, geralmente, os alunos não eram capazes de reproduzir estes detalhes. Porém,
quando os professores faziam tais gestos, era quase que imediato a mudança no que o aluno
tocava.
Frequentemente, não nos parecia que o aluno estava olhando diretamente para estes
gestos, nem mesmo que o próprio professor tinha consciência desta ação. Todavia, era clara a
comunicação existente entre os dois, uma comunicação muda, velada e provavelmente
inconsciente. Entretanto, o resultado era notório nas execuções dos alunos.
O aprendizado da música é realizado, em grande parte, pela capacidade de imitação.
Portanto, acreditamos que o papel do professor está em gerar situações de aprendizado para o
aluno criar, por si próprio, um “repertório” de habilidades músico-motoras. Tais situações
são criadas pela prática em um ambiente de execução, instrução e imitação (Rocha & Boggio,
2013).
Millcan (2013) afirma que os alunos desenvolvem habilidades de escuta ao comparar as
suas performances com modelos ideais e por meio de imitação tentam alcançá-los.
Complementa que:
As students perform each excerpt, the teachers simultaneously evaluate their
performances while referencing a mental image or model of the ideal performance.
This image may be a visual representation or an aural one. (MILLICAN, 2013, p.
47)
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ideais, padrões a serem alcançados. Devemos lembrar que o ambiente de sala não é um
ambiente de prática genuíno, mas sim uma simulação. Deste modo, por meio deste meio
idealizado buscava criar modelos estéticos sólidos para os alunos.
Desenvolver a capacidade de ouvir e agir sobre isto é fundamental para formação de
um músico. Portanto, acreditamos que estas estratégias além de desenvolverem tais
habilidades, ainda a utilizam para transmissão de conhecimento. Elliot (1995) afirma:
Musicing of whatever kind always includes another kind of doing called music
listening. Music makers listen for what their tlioughtful actions produce and for
what other musicers do and make. (…) Thus music listening is an essential thread
that binds musicers (ELLIOT, 1995, p. 78)
Considerações finais
Entendemos que todos estes artifícios ajudavam aos alunos a criarem uma ideia clara de
como gostariam que suas execuções soassem. Desenvolviam modelos baseados tanto nos
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
exemplos dados pelos professores tocando e cantando, como por suas próprias performances
quando eram conduzidos pelos professores com gestos ou também cantando. Millican (2013,
p. 50) ainda afirma que: “students develop the ability to quickly evaluate these models, and
teachers use this skill to their advantage.”
Nos questionários aplicados aos professores de trombone das universidades brasileiras,
constatamos que os itens relacionados à estética tinham, de modo geral, média importância
para a maioria dos respondentes. Entretanto, nas observações em 4 universidades, pudemos
perceber preocupações sobre a performance e estética. Também observamos que conduzir os
alunos por gestos (parecidos com os movimentos de um maestro) e/ou cantar eram estratégias
comuns e eficientes de todos os professores, apesar da diferenças em suas concepções.
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& Illari, R).Londrina: Eduel
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumen: El artículo presenta los resultados de la investigación que buscó demostrar la importancia de la
práctica de música de cámara como complemento en el proceso de formación integral de los estudiantes
de un programa de licenciatura en música del país. El aprendizaje significativo, fue la teoría que
fundamentó el estudio bajo la principal mirada de Gabriel Enrique Rusinek en complemento con
diferentes autores, quienes mencionan que dicha teoría facilita la enseñanza y aprendizaje en los procesos
musicales. Se utilizó la metodología cualitativa con la estrategia investigativa estudio de caso,
recolectando datos tanto de docentes y estudiantes del programa donde se desarrolló la investigación como
de docentes pertenecientes a otros programas profesionales en música del país. Los resultados permiten
conocer que la práctica de música de cámara aporta aspectos propios del área al proceso formativo
integral de los estudiantes como audición, interpretación de repertorios de diferentes épocas y estilos,
desarrollo de la articulación, respiración y fraseo. Asimismo, dicha práctica permite a los estudiantes hacer
uso de los diferentes conceptos aprendidos en otras asignaturas como análisis musical, armonía, gramática
musical, además de promover el trabajo grupal y el aprendizaje cooperativo. De igual forma, los
resultados obtenidos permiten plantear mediante la experiencia del investigador principal, cómo se da el
aprendizaje significativo en la práctica de música de cámara.
Palabras clave: aprendizaje musical, cognición musical, música de cámara, interpretación, educación
musical.
Chamber music and meaningful learning: a pedagogical strategy for the strengthening of academic
and musical processes
Abstract: The article presents the investigation results that searched to demonstrate the importance of
chamber music practice as a complement in the process of integral development of the students of a music
program in the country. The meaningful learning was the theory that the study was based on, under
Gabriel Enrique Rusinek’s principal look and with a complement of different authors, who mention that
such theory facilitates the teaching and learning in the musical processes. It was utilized the qualitative
methodology with the investigative strategy of case study, collecting data not only from teachers and
students of the program where the investigation was developed but also teachers who belong to other
music professional programs of the country. The results allow knowing that the chamber music practice
contributes proper aspects of the area to the formative integral process of the students such as auditions,
interpretation of repertoires of different epochs and styles, articulation development, breath and phrasing.
Additionally, this practice permits to the pupils to make use of different learned concepts in other subjects
such as musical analysis, harmony, musical grammar, also promoting group work and the cooperative
learning. Likewise, the obtained results allow to set out through the experience of the main investigator,
how the meaningful learning is produced in the practice of chamber music.
Key Words: musical learning, musical cognition, chamber music, interpretation, musical education.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
nororiente de Colombia, el cual existe desde el año de 1984 y pese a que en el año de 1994 se le
realizó una reestructuración, al momento del desarrollo de la investigación no se había incluido la
práctica de música de cámara en su plan de estudios. La ausencia de la música de cámara en el
programa en mención, ha generado una limitada producción musical, esto se evidencia en la
escasa oferta de conciertos y conformación de agrupaciones de cámara con proyección
departamental, nacional e internacional. En tal sentido y con el fin de contribir al mejoramiento
de la problemática que se expone, se tomaron como antecedentes cuatro programas de
licenciatura en música del país adscritos a diferentes universidades púbicas, teniendo como
principal argumento la inclusión de la música de cámara en sus planes de estudio y la forma en
que a través de esta práctica instrumental, permiten que sus estudiantes complementen
adecuadamente su proceso de formación integral. Además del objetivo general ya mencionado, el
estudio planteó como objetivos específicos identificar las percepciones de profesores y
estudiantes del programa respecto a la música de cámara, proponer acciones que permitiéran la
inclusión de la práctica de música de cámara en el plan de estudios del mismo y crear un
semillero formativo en música de cámara en el formato ensamble de metales y percusión.
Fundamento teórico
En los años noventa (1990) se presentó al mundo el constructivismo, una teoría psicopedagógica
para ser aplicada en los procesos de enseñanza en la educación y así reformar el sistema
educativo (Picardo, Escobar & Pacheco, 2005). Dicha teoría buscó comparar la educación
tradicional, que se caracteriza por transferir los conocimientos de forma pasiva y memorística,
con la educación moderna, que propone articular el saber con el saber hacer, esto con el propósito
de mejorar la calidad en la educación (Cárdenas, 2004). Entre los principales autores del
constructivismo que han revolucionado la forma de enseñar y aprender se encuentra David Paul
Ausubel y su teoría del aprendizaje significativo (Rodríguez, Moreira, Sahelices & Greca, 2008).
Ausubel define su teoría como el mecanismo mediante el cuál el ser humano obtiene y almacena
una gran cantidad de conceptos, que puede representar en diferentes áreas del conocimiento
(Ausubel, 1963).
Konnikova (1969), menciona que el aprendizaje significativo permite al alumno obtener
significado en su aprendizaje, siempre y cuando éste tenga la capacidad para relacionar el nuevo
material o información con sus pre saberes, logrando una especie de enraizamiento inteligente de
469
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
la nueva información en su estructura conceptual. Según Ausubel (1976), para que el aprendizaje
sea significativo, debe poseer dos características, la no-arbitrariedad y la sustantividad. No-
arbitrariedad se refiere al material significativo que se relaciona de manera no-arbitraria con el
conocimiento existente en la estructura cognitiva del estudiante (Ausubel, 1963). Sustantividad
significa la incorporación a la estructura cognitiva de materia o sustancia, es decir, nuevos
conocimientos o ideas, más no palabras precisas usadas para expresarlas (Ausubel, 1963).
Gabriel Enrique Rusinek basado en la teoría propuesta por Ausubel, plantea cómo a través
de ésta, se pueden dar los diferentes procesos de enseñanza y aprendizaje en la educación
musical. Uno de los planteamientos hechos por Rusinek (2003), es “el aprendizaje musical como
desarrollo de procesos cognitivos”, en donde propone cómo a través de tres tipos de cogniciones
musicales, se podrían llegar a resolver las problemáticas reales en el aula como qué hacer cuando
el tiempo y el espacio son insuficientes, cuando los estudiantes no aprenden de la manera que se
espera, cuando hay conflictos grupales o cuando termina el curso y el estudiante no ha logrado un
adecuado aprendizaje. Rusinek, basado en los tres tipos de conocimientos musicales propuestos
por Stubley (1992), sugiere tres tipos de cogniciones musicales entendidas como conjuntos de
procesos cognitivos. Éstas son, cognición auditiva, cognición de la ejecución y cognición
compositiva.
La cognición auditiva hace referencia a las representaciones mentales que se dan en el
cerebro a través de la audición, logrando mediante sonidos ya existentes en la estructura
cognitiva, generar aprendizaje mediante nuevos sonidos a largo plazo, es decir, un aprendizaje
significativo (Bregman, 1990). La cognición de la ejecución plantea que en la ejecución
instrumental intervienen componentes afectivos, motrices y cognitivos (Rusinek, 2003). Según el
mismo autor, los afectivos se refieren al almacenamiento de información en la memoria a largo
plazo, los motrices se dan en las acciones del cuerpo humano para producir sonido mediante la
ejecución de un intrumentos musical y los cognitivos requieren de una representación mental, la
cual según Slodoba (1982), se encuentra inmersa en la ejecución instrumental al momento de
interpretar una obra musical, siendo dicha representación mental controlada por el intérprete de
manera voluntaria, logrando a su vez una forma de aprendizaje significativo. Finalmente, la
cognición compositiva, incluye procesos de imaginación mental mediante los que se logra crear
música, dicha imaginación puede ser convertida en sonido en tiempo real cuando se improvisa o
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puede ser transcrita a través de la escritura musical para su posterior ejecución en tiempo diferido
(Rusinek, 2003).
Otro de los planteaminetos hechos por Rusinek, es el “aprendizaje musical significativo”,
en el que obligatoriamente intervienen las cogniciones mencionadas anteriormente y que se
complementan con la asimilación de contenidos, conceptos, hechos, proposiciones, sistemas
teóricos además de las actitudes propias de la práctica musical (Rusinek, 2004). En tal sentido, el
mismo autor porpone entonces basado en la teoría de Ausubel dos ejes, por medio de los que se
puede lograr significatividad en los procesos de enseñana musical, estos son el eje de recepción-
descubrimiento y significativo-memorístico. El primer eje, se caracteriza por que busca que el
estudiante memorice de manera mecánica determinados conceptos (conocimiento procedimental),
es decir, la no arbitrariedad en Ausbel (Rusinek, 2004). El segundo eje, se caracteriza por la
interacción entre previos y nuevos conocimientos (conocimiento declarativo), lo que en Ausbel
significa Sustantividad (Rusinek, 2004). Es importante mencionar que, en cada eje, Rusinek
plantea tres combinaciones, respectivamente, por recepción, por descubrimiento guiado y por
descubrimiento autónomo, además el mimso autor resalta que sólo se puede llegar a dar un
aprendizaje significativo si cada eje se convierte en un complemento del otro. Esta propuesta
teórica, adicionalmente se fundamenta con distintos trabajos de investigación musical que han
utilizado la teoría del aprendizaje significativo como soporte conceptual, entre ellos: Emoción,
música y aprendizaje significativo, realizado por Yadira Albornoz en el año 2009, Música como
estrategia facilitadora del proceso enseñanza-aprendizaje desarrollado por Andrea María Vides
Rodríguez en el año 2013 y Aprendizaje significativo a través de la experiencia musical,
elaborado por Norberto Magín Prieto Trancón en el año 2012.
Método y resultados
Se utilizó el método de investigación cualitativo propuesto por autores como Hernández,
Fernández y Baptista (2010) y la estrategia investigativa estudio de caso bajo la mirada de autores
como Yin (2009). Los participantes estuvieron divididos en dos grupos así: seis estudiantes del
programa objeto de estudio y cuatro profesores tanto del programa objeto como de otras
instituciones de educación superior del país. Asimismo, se creó un semillero formativo en música
de cámara integrado por estudiantes del programa objeto y que estuvo a cargo del investigador
principal, agrupación piloto en la que se aplicaron y desarrollaron los aspectos propios del área.
471
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Conclusiones
Se concluye entonces que, la música de cámara como estrategia pedagógica puede llegar a
complementar el proceso formativo de los estudiantes a nivel académico, pedagógico e
interpretativo, estando estos directamente correlacionados con los tres tipos de cogniciones
musicales propuestas por Rusinek (2003), en tal sentido, la cognición auditiva se relaciona con la
parte académica, pues según el mismo autor, dicha cognición permite el desarrollo de aspectos
como la audición rítmica y tímbrica, así como la discriminación interválica-tonal y la
sincronización sensorio motora. El nivel pedagógico se relaciona con la cognición de la ejecución
musical a través de sus componente afectivos, motrices y cognitivos, ya que dichos componentes
hacen referencia al almacenamiento de información, sensaciones y acciones a largo plazo
(Rusinek, 2003), por lo tanto, el estudiante tendría la capacidad de replicar los conocimientos
adquiridos tanto en su instrumento como en la práctica de música de cámara, convirtiéndose esto
en un aporte pedagógico para la formación musical integral y su futura labor docente.
En cuanto al nivel interpretativo, es importante mencionar que éste hace referencia a la
interpretación musical fundamentada desde la teoría y la práctica, bien sea como solista o en
diferentes formatos de cámara, por lo tanto, la cognición compositiva posee gran afinidad con
este aspecto, ya que según Rusinek (2003), la creación musical entendida como interpretación
musical, sucede de forma correcta cuando tanto los procesos procedimentales (procesos
mecánicos) como los declarativos (procesos mentales) se estructuran adecuadamente. Por último,
en cuanto a los ejes recepción-descubrimiento y significativo-memorístico propuestos por el
mismo autor, es importate mencionar que además de las anteriores cogniciones, también están
basados en los procesos procedimental (saber hacer) y declarativo (saber entender) (Rusinek,
2007). En tal sentido y con el propósito de documentar la experiencia que tuvo investigador a
través del trabajo de cámara realizado con el semillero formativo en música de cámara que
funcinó como agrupación piloto, a continuación mediante el eje recepción-descubrimiento
(procesos procedimentales o repetitivos) y sus diferentes combinaciones, el investigador plantea a
través de situaciones reales que se presentaron durante la práctica de cámara con dicha
agrupación , cómo se da el aprendizaje significativo en la misma . Ver tablas No 1, No 2 y No 3.
473
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que éstas pertenecen, esto se afirma según los resultados obtenidos con la creación del semillero
formativo en música de cámara, pues dicha agrupación desarrolló una destacada actividad
académica, musical, cultural y social, participando en eventos no sólo a nivel institucional, sino
nacional e internacional, dando visibilidad tanto a la institución como a la región, además de la
labor pedagógica realizada con sus integrantes por parte del investigador principal. De
igualmanera, es pertinente resaltar que, esta propuesta de investigación contribuyó para que desde
el año 2018 se incluya la práctica de música de cámara en el plan de estudios del programa.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Resumo: A repetição é uma essência do fenômeno da prática pianística que apresenta nuances de
deliberação conforme o nível de expertise do pianista. Essa comunicação oral tem por objetivo
discutir essas nuances da repetição observadas na prática de quatro pianistas em diferentes níveis de
expertise (extensão, graduação, pós-graduação e profissional/docente). A metodologia abrangeu a
gravação em áudio e vídeo de uma sessão de prática de uma peça do repertório de cada participante
e uma entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados conforme a abordagem de análise
fenomenológica proposta por Giorgi & Giorgi (2008) e os resultados indicam que as nuances de
deliberação na prática acerca da repetição correspondem à finalidade e à variedade com que essa é
empregada.
Palavras-chave: Prática pianística, repetição, níveis de expertise, deliberação.
Introdução
A prática é um comportamento multifacetado em forma de ensaio ou treino sistemático para
aprender ou adquirir proficiência num dado domínio de conhecimento, a qual possibilita a
construção de habilidades e competências a longo-prazo (Barry & Hallam, 2002; Hallam,
2006; Lehmann et al 2007). Como um atrativo objeto de estudo ao longo dos últimos 30 anos,
a prática tem sido abordada em pesquisas que investigam bases teóricas, metodológicas e
variáveis psicológicas que a sustentam (Miksza, 2012): a natureza do repertório e da
complexidade da tarefa, o gerenciamento do tempo, a organização, o planejamento, o
emprego de estratégias cognitivas, a autorregulação, a motivação, a memorização, as
habilidades musicais do sujeito, são alguns dos muitos fatores já dialogados no campo
científico (JØrgensen, 2005; Lehamnn & Sloboda, 2007, entre outros). Para Barry & Hallam
477
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Metodologia
A presente pesquisa contou com a participação de 18 estudantes de piano (alunos de cursos de
extensão, graduação, mestrado, doutorado) e profissionais/docentes. A coleta de dados que
consistiu em gravar em áudio-vídeo 30 minutos de prática de duas peças dos seus repertórios
em etapa inicial de aprendizagem e a uma entrevista semiestruturada com questões acerca de
478
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suas práticas. Uma câmera filmadora digital Sony® modelo HDR-CX560 foi disponibilizada
para que os participantes se gravassem, bem como tivessem a flexibilidade de selecionar e/ou
descartar as gravações que eles desejassem e evitar a inibição perante um observador externo;
os participantes foram orientados a sentir-se o mais a vontade possível durante as filmagens e
a manterem seus procedimentos habituais de prática, e, alguns deles preferiram realizar as
gravações em suas casas e com equipamentos próprios. Do total de 18 participantes, foram
selecionados quatro casos para representar um aluno de Extensão, um de Graduação, um de
Pós-graduação e um profissional/docente (respectivamente P3, P9, P13 e P17) considerando o
engajamento dos mesmos na pesquisa. A Tabela 1 apresenta o perfil dos participantes, as
peças selecionadas e o tempo de sessão de prática gravada duração da coleta:
479
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Essa essência apresentou nuances distintas de deliberação conforme o nível de expertise dos
sujeitos, as quais serão discutidas a seguir acerca da prática da Peça 1 de cada participante.
Resultados e discussões
Quando P3 pratica a Sonata KV545/Allegro de A. Mozart é possível notar sua intenção em
melhorar o delineamento das dinâmicas e fraseado dos c.1-12 (primeira região temática da
exposição da sonata) e da linha cromática descendente nas semicolcheias da mão esquerda
dos c. 13-14, o dedilhado dos c.50-51 conforme anotado à lápis em sua partitura (“estudar os
dedilhados lentos”) e o trillo dos c.70-71, por exemplo. Entretanto, nota-se a repetição
aleatória de vários trechos (c.5-14, 22-58, 58, 13-14, por exemplo) tocados de mãos juntas ou
de mãos separadas em que não se identifica foco, apenas nota-se alguns ajustes de notas.
Assim, P3 apresenta características de um iniciante avançado segundo Dreyfus & Dreyfus
(1981): tem uma percepção limitada do contexto (o todo da obra) e reconhece aspectos
isolados desse todo. Observa-se, também, que P3 repete trechos que ora coincidem com as
delimitações estruturais da peça e ora não, sugerindo que sua compreensão estrutural da obra
é ainda incipiente, apontando a ausência de seleção criteriosa sobre os aspectos que
precisam ser melhorados. Repetir é também uma estratégia de P3 para corrigir notas nos
trechos aleatórios ou ainda para ajustar os focos percebidos (como, por exemplo, c.50-51
repetidos cerca de 38 vezes, apenas com a mão esquerda, sem pedal, mais devagar ou
apressando a cada repetição; ou ainda, nas 10 repetições do trilllo dos c.70-71) que nem
sempre são solucionados satisfatoriamente, apontando que a repetições demasiadas tornam-se
improdutivas.
Diferente de P3, P9 estuda por trechos em todo tempo, organizados e repetidos
conforme as delimitações estruturais da Sonata KV310/Allegro maestoso de A. Mozart: nota-
se a intenção de aperfeiçoar o trecho c.1-22 (primeira região temática e transição para a
segunda região temática) acerca do tipo de toque das colcheias da mão esquerda (c.1-3), na
clareza das notas repetidas (c.3, 7-8, 15-16), no delineamento da voz superior da mão
esquerda (c.13-14) e na precisão rítmica das semicolcheias (c.16-22), enquanto que no trecho
c.22-27 há a intenção de decodificar a linha da mão direita e de estudar o dedilhado do c.26.
Assim como P3, P9 utiliza-se da repetição para ajustar algum aspecto, combinadas com o
estudo de mãos juntas, mãos separadas, com/sem pedal e com variações no andamento
(devagar/apressando/rápido); as repetições demasiadas, no entanto, ocorrem em recortes ainda
menores que coincidem com algum desenho motívico ou ainda com inícios e fins de frases.
480
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Essas repetições parecem não apenas ter o intuito de ajustar algo, mas também automatizar o
ajuste realizado, visto que P9 repete igualmente esses segmentos menores de 4 a 12 vezes
seguidas, tocando corretamente na maioria dessas repetições. Nota-se ainda o acréscimo de
variações nas repetições dos c.22-27 (decodificação da linha da mão direita): variações
rítmicas nos grupos de quatro semicolcheias (alternar o ritmo para uma semicolcheia longa e
outra curta, ou tocar três semicolcheias mais curtas e 1 mais longa a cada grupo de quatro
semicolcheias), mudanças na articulação (tocar staccato onde há indicação de legato), ou
tocar em registros diferentes do piano (uma ou duas oitavas acimas). Essas repetições variadas
(trecho c.22-27) demonstram que P9 utiliza-se de mais recursos para melhorar um dado
aspecto e, diferente do estudo do trecho c.1-22, não se observa nenhuma intenção expressiva
enquanto o participante trabalha na decodificação da linha da mão direita. Isso sugere que: (1)
P9 parece separar o aprendizado de notas dos aspectos expressivos, que por sua vez parece
ocorrer apenas após o primeiro estar automatizado ao participante; isso parece ser um fator
limitante do nível de expertise do sujeito, no qual os aspectos de um contexto são tratados
separadamente com diferentes graus de importância, característica atribuída a um competente,
segundo Lester (2005); (2) as repetições variadas podem ser um fator de distração na atenção
se este não está aprendido e/ou automatizado, que nesse caso corresponde aos aspectos
expressivos.
A prática da obra Pour le Piano/Prelude de C. Debussy por P13, apesar de assemelhar-se
em partes às dos casos anteriores (delimitação estrutural da obra e conforme as mudanças de
textura e do aspecto visual notado na partitura) os trechos são segmentados em partes
maiores (c. 1-6, 6-41, 41-59, 57-127, 127-163) e condensam múltiplos focos de atenção: (i)
refinamento de precisão rítmica de passagens específicas (c. 1-6, 14-2, 41-43, 79-82, 127-133)
e técnico-mecânicas (c. 43-47, 55-57, 127-129, 150, 163); (ii) clareza na maneira de expressar
o fraseado (c. 6-23, 26-41); (iii) delineamento de mudanças harmônicas, de dinâmica e
acentos (c. 5, 24-27,57-59). Essa segmentação e repetição de trechos em unidades maiores são
consonantes às afirmações de Gruson (1981/2000) e Sternberg (2010) em que as informações
musicais são processadas em unidades de significado crescentes, tanto em extensão quanto em
complexidade na prática. Assim como P3 e P9, P13 também realiza repetições combinadas
com o estudo de mãos juntas, mãos separadas, com/sem pedal e com variações no andamento
(devagar/apressando/rápido), somadas ainda às mudanças de articulação entre as vozes (tocar
a voz superior da mão direita em staccato ou non legato onde há indicação de legato, c.
41-43), à marcação do pulso com o pé e à redução do andamento numa seção escrita em
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
e vice-versa; estudo de ambas as vozes em staccato, ou non legato; pequenos cortes e/ou
respirações entre as articulações indicadas a cada 6, 8 ou 10 semicolcheias. Em relação aos
movimentos gestuais realizados em algumas repetições, foram constatados: movimentos de
rotação do punho/braço; movimento de rotação punho e de braço como se acentuasse cada
nota; movimentos flexíveis de punhos, braços e cotovelos, como se evitasse e/ou aliviasse a
tensão física; movimentos exagerados de articulação dos dedos; movimentos tipo “garras”,
como se raspasse a tecla ao tocar; tocar com o punho mais alto e flexível. Nota-se que todas
essas repetições variadas utilizadas por P17 apresentaram melhoras nos aspectos trabalhados,
bem como refletem um vasto repertório de estratégias decorrentes do nível de expertise do
participante, o qual se associa às características de um expert, segundo Dreyfus & Dreyfus
(1981) e Lester (2005): esse detém um profundo conhecimento da área e visão holística do
contexto, bem como reconhece e utiliza abordagens alternativas para lidar com o mesmo.
Também as combinações e repetições com aumento gradativo de andamento revelaram a
busca por clareza e fluência dos aspectos trabalhados, e, a prática de P17 apresentou constante
monitoramento dos movimentos gestuais.
Considerações Finais
Para níveis mais elementares de expertise, repetir é uma estratégia de ajuste de aspectos
isolados da obra praticada, resultado esse que corrobora a afirmação de Hallam (2006) acerca
da repetição como estratégia de correção de erros para níveis elementares de expertise; à
medida que a expertise se desenvolve, esse procedimento se mantém e é empregado para
automatizar os ajustes realizados. Repetições combinadas com o estudo de mãos juntas/
separadas, com/sem pedal e variações de andamento foram inerentes aos níveis de expertise
observados; ademais, foi observada alguma sistematização entre essas combinações à medida
que a expertise aumentava (P13 em relação à P3 e P9). Repetições combinadas às variações
de andamento parecem ainda ter a finalidade de evidenciar a clareza e fluência na execução de
um dado aspecto para níveis mais elevados de expertise (P13 e P17). Combinações entre
repetições, mudanças de ritmos e articulações tendem a crescer em variedade à medida que a
expertise aumenta, tal como afirma Hallam (2006); entretanto, a intensidade com que essas
são empregadas não apresentou relação com a expertise, exceto para P17, em que essas foram
recorrentes e acrescidas de variados movimentos gestuais. Em suma a repetição apresentou
nuances de deliberação na prática pianística em função da expertise dos participantes. Futuras
pesquisas nesse âmbito de compreensão podem ainda elucidar de que forma as especificidades
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Agradecimentos
M. R. Mantovani agradece a CAPES pela bolsa concedida. R. A. T. dos Santos agradece ao
CNPq pelo recurso concedido (Projeto Universal no. 472652/2012-5).
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Somos seres cercados por palavras. Distintos dos demais primatas, falamos, e nossa
percepção da voz humana é extremamente sutil. Podemos decodificar rapidamente nuances que
expõem humores e estados de espírito, além de várias outras particularidades. O som da voz de uma
criança, somente pela característica do timbre, pode ser o gatilho para bullying na escola. Bullying é
o fenômeno de coerção grupal e pode ser encontrado também em outros primatas. Como somos
extremamente grupais, essa marca de distinção negativa causa na vítima estado de constante
pressão. O artigo apresenta parte do Diário de Campo, procedimento etnográfico, onde explicita o
bullying vivido por uma menina e de como, por meio do estudo de violino, teve início um ciclo
diferente em relação ao grupo. Essa nova descrição de si mesmo toma forma singular e positiva. Nas
aulas de violino ela vive o contorno particular da experiência sonora, onde a singularidade é
reconhecida como algo de valor. No caso de Larissa, tocar violino também foi percebido como
prestígio.
Palavras-chave: voz, música, bullying.
Somos seres da fala. As palavras nos acompanham de tal forma que sem ela estaríamos
destinados a gritos e guinchos, assim como os outros primatas. Possuímos percepção
extremamente apurada da linguagem falada. Pequenas modificações de entonação ou
articulação da voz causam em nós uma sucessão de impressões que identificamos
imediatamente. O som da voz pode ser considerado agradável ou agressivo, e por meio desse
mesmo som uma criança pode sofrer bullying na escola. Apenas a percepção da diferença no
timbre da voz ou na região onde ela é utilizada é suficiente para causar estranhamento e
impulsiona a pressão do grupo contra uma criança.
O objetivo do presente artigo é indicar como a música pode abrir espaços
transformadores no cotidiano escolar de crianças que vivem a brutalidade do bullying. Para
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1 Diário de Campo é um procedimento etnográfico utilizado inicialmente por Bronislaw Malinowski, e que
propõe a técnica de investigação por meio de registro detalhado dos eventos.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
contra a personalidade dela” e prossegue com a voz abafada: o gênero dela. As crianças a
tratam como homossexual, e perguntam quando ela vai assumir que é gay. Ela fala muito alto,
é meio masculinizada. Não sei de onde tira tanta agressividade.”
Nesse momento, em meio ao ruído das crianças que guardam partituras, instrumentos e
estantes, ouço uma voz que reconheço: é grave, potente, brilhante. É Larissa. Só então
percebo que ela enfrenta bullying por um simples motivo: o timbre da voz. Larissa, ao viver a
pressão do cotidiano não arrefece, contra-ataca com gritos e resistência. O resultado não é
melhor. Recebe advertências da direção e é percebida como uma das Crianças Problema na
escola.
A voz humana possui uma gama incrível de características. Ao falar com alguém,
mesmo que seja ao telefone, imediatamente percebemos seu estado de humor, idade, cultura,
sexo, nível social. Somente por meio do som falado sabemos com precisão a coragem, o
temperamento, se introvertido ou extrovertido. A voz tão logo é ouvida evoca a pessoa no
total.
O som da voz nos distingue de tal forma que a partir dos seis meses de idade, podemos
saber a qual cultura pertence um bebê. Cada infante constrói, pouco a pouco, a sua própria
voz se adaptando às formas sonoras utilizadas pelas pessoas que falam com ele (PETIT,
2009a). O ato de falar é uma apropriação sonora e representação de si. Sem o acesso à voz
continuaríamos acomodados aos guinchos, sem poder atingir nossos destinos de seres da
palavra. Quando falamos há outro que nos ouve. Implica em que se estabeleça interlocução.
Sempre que falo algo, falo a alguém. Há uma intenção. Ao falar, eu me falo e defino o outro
em relação a mim. Falar pode ser entendido como comportar-se significativamente frente ao
outro. No caso de Larissa, ao emitir a singularidade do seu som ela é rejeitada, é tida como
inadequada. O grupo impõe a ela opressão. Sem dúvida estamos diante de alguém condenado
pelo coletivo. Essa é uma das grandes crueldades do grupal.
O bulllying é um fenômeno bastante conhecido nas escolas. Ele é caracterizado por
diversas formas de agressão. A vítima geralmente possui alguma característica que é vista
pelo grupo como imprópria. A provocação é repetida de forma incansável sempre em caráter
degradante e ofensivo. Mesmo quando a vítima rechaça e se defende, ainda assim o processo
continua e se aprofunda, resultando em longos períodos de submissão. O fenômeno consiste
em encontrar um indivíduo identificado com algum delito ou diferença, responsabilizá-lo por
isso e expulsá-lo do grupo. Com isso proporciona aos membros remanescentes o sentimento
de inculpabilidade e reconciliação. São padrões coletivos de comportamento.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
De volta à cena de final de aula, Larissa levanta, arruma seu material, guarda o violino e
sai sorridente. No grupo de aulas de violino ela é exemplar. É estudiosa, concentrada e jamais
foi percebida como criança problema. Com frequência ajuda outras crianças quando
encontram dificuldades. Em nenhum momento teve qualquer atitude agressiva. A imagem de
Larissa no grupo de violinos é completamente positiva. Entendemos que cada pessoa pode se
transformar se houver espaço que favoreça a transformação.
O ambiente do fazer música é neutro e todos são completamente novos ao iniciarem.
Idade, classe social, cor da pele ou qualquer outro sinalizador de diferenciação encontra-se em
segundo plano. As aulas de violino acontecem como espaço governado por um tempo
particular, feito de lentidão e de pequenos detalhes. Há um ritmo sensorial onde pouco se fala,
mas se ouve. O exercício é atento a pequenos detalhes sonoros como o arco na fricção das
cordas, o lugar exato de cada dedo ao pressionar a corda. Ali, fala-se uma língua diferente.
Um ambiente estético. O espaço de manobra para Larissa é anunciado.
Do falar ao tocar violino. A música cria para Larissa um novo grupo de contexto e isso
amplia a margem de leitura sobre ela, revelando outra face que é entendida como diferencial
positivo. Ao estudar música a ideia de que cada um pode ter sua própria voz é imediatamente
percebida. Essa é uma das marcas do músico cultivadas desde o começo: sua singularidade.
Ao iniciar as aulas de violino, Larissa costura uma forma diversa de dizer sobre si mesma,
pois somos construídos por inúmeras pequenas histórias. Ao tecer peças e pedaços do
universo, ela faz uma nova roupagem, se reconta. Nasce outra versão de si mesma.
A ação de fazer música, ou seja, produzir e organizar sons, é motivada inicialmente pela
curiosidade, sem a intenção imediata de comunicar algo. A pessoa está inclinada a manejar o
instrumento, tocar para si mesma, experimentar. O que está em jogo é o próprio prazer de
produzir som, sem qualquer compromisso. Acontece que nesse exato momento tem início
uma forma modificada de percepção de si mesmo e do outro; o escutar e o ser escutado. E
quando os estudantes tocam juntos, a ação individual torna-se então em ação com o outro. A
relação entre as pessoas passa por outro nível de compreensão, diferente do que foi
estabelecido anteriormente. Ao mesmo tempo o sujeito está tocando para si mesmo e em
contato com o outro. Forma-se o binomio ação-relação. A linguagem é revestida de roupagem
diferente, a voz falada se cala e outra voz toma o cenário: o som do instrumento.
A música é ferramenta de extrema flexibilidade para modelar e mediar relações entre si
mesmo e outras pessoas (CLAYTON, 2012). Em toda nossa histórica como humanidade, a
música tem sido usada como instrumento de interação. Fazer música em grupo contribui para
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
alargar as fronteiras de cada um, pois nossa contribuição individual torna-se mais significante.
Nosso esforço é amplificado para além de nossas habilidades. É necessário adquirir a
desenvoltura de coordenação entre o meu som e o som do outro. Algo original é realizado no
encontro das pessoas. Quando tocamos juntos descobrimos o valor e importância de cada um
em momentos diferentes. (SLOBODA,2010)
A música envolve o grupo e cria identidade. Desde aborígenes, no norte da Austrália,
que possuem cantos para tipos diferentes de clãs, que não podem ser entoados por outros clãs,
até os times de futebol no mundo moderno e industrializado, que possuem seus próprios
cantos e ‘gritos de guerra’ aclamados nos estádios. A música delimita grupos além de ser
associada a acontecimentos, podendo invocar memórias pessoais de relação emocional, assim
como valores e eventos. (LEHMANN,2007)
Outra característica que acompanha quem toca um instrumento é o efeito prestígio.
Cada cultura musical constrói uma hierarquia social de valores, e tocar um instrumento como
violino, no mundo ocidental, envolve o instrumentista em algo de valor e institui o olhar
diferenciado diante do grupo (LEHMANN,2007). O violino representa a orquestra e carrega a
aura relacionada a dificuldade, delicadeza e singularidade. Conseguir fazer algo que nos
diferencia causa orgulho e sensação de importância. “Ocupar com orgulho seu lugar físico,
afetivo, psicológico e social, é isso o que o fato de pertencer possibilita. O orgulho é
importante porque facilita a construção da identidade” (CYRULNIK,2007:81). Ter orgulho de
si mesmo tinge o comportamento com importância. A narrativa de sofrimento transforma-se
em história de vitória. No grupo de violinos Larissa é revestida de valor.
A voz de Larissa a tornava diferente. O som grave que produzia fez cair sobre ela o
peso do que é diferente como indesejado e inaceitável. Com isso inicia-se o bullying, a
perseguição contínua. A pressão onde qualquer resposta que ela tentasse para se defender
somente aumentava a incitação à rejeição. Quando Larissa inicia o estudo de violino percebe
que nesse espaço o som é importante e não envolve julgamento entre o grave ou agudo. É
lugar de apreciação sonora, onde, apesar de ensaiarem as mesmas linhas melódicas, cada um
possui certa maneira particular de tocar. Tocar violino é algo que traz prestígio. Larissa é
resgatada do universo do inaceitável para o do admirável. Isso demonstra a importância do
estudo de como a música pode criar possibilidades de transformação em momentos de
sofrimento.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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491
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resumo: O objetivo desse artigo é investigar, através de uma revisão de literatura, se a musicalidade é
uma habilidade capaz de ser desenvolvida. Para isso, é necessário descrever como ocorre o
desenvolvimento musical em culturas ocidentais e investigar as possíveis denominações que esse
termo recebe. Evidências arqueológicas mostram que a música tem estado presente na vida do
Homem desde as sociedades mais remotas. Referente a ela, encontra-se o termo musicalidade. Ainda
sem um significado consensual, porém tangível a habilidades e receptividades referentes a percepções
de tom e ritmo e aspectos de sensibilidade musical, discute-se que seja uma característica humana e
por isso, possível de ser desenvolvida. Os resultados indicam que o ambiente no qual o indivíduo está
inserido exerce forte influência na construção de habilidades e conhecimentos. As competências são
desenvolvidas mutua e conjuntamente com aspectos hereditários. Porém, o desenvolvimento depende
significativamente de estímulos específicos. A carência desses estímulos pode comprometer a
obtenção de certas habilidades, e entre elas, habilidades ligadas à musicalidade.
Palavras-chave: aprendizagem musical, desenvolvimento musical, musicalidade.
Introdução
Musicalidade é um termo que abrange uma série de significados. O termo é uma construção
histórica baseada nos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais de cada sociedade
(HALLAM, 2006) e a expressão “ser musical” depende de aspectos próprios de determinada
região, ou seja, as características que fazem uma pessoa adquirir essa qualidade são diferentes
em cada cultura (BLACKING, 1973). Em sua definição ocidental refere-se ao sentido
musical, ou seja, à transmissão e compreensão do que é ouvido e/ou tocado.
Ao mesmo tempo, evidências arqueológicas mostram que a música tem estado presente
na vida do Homem desde as sociedades mais remotas (BLACKING, 1973; PETRAGLIA,
2013). A partir disso, discute-se que a musicalidade é uma característica humana.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Considerando que ela seja uma constitutiva do ser humano, observa-se que também pode ser
desenvolvida. Para Sloboda (2008, p.259), a música é interiorizada através do processo de
enculturação, resultante de experiências culturais, capacidades primitivas que “estão presentes
no nascimento ou logo após” e, “um sistema cognitivo geral que muda rapidamente, à medida
que são aprendidas muitas outras habilidades que têm base na cultura.”.
Tendo como base as pesquisas citadas, esse artigo tem por objetivo verificar se a
musicalidade é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Para isso, será necessário
descrever as etapas pelas quais o desenvolvimento musical acontece nas culturas ocidentais e
investigar as possíveis denominações que esse termo se refere.
Desenvolvimento musical
As habilidades musicais são resultado da interação do Homem com o meio musical. Para a
cognição musical usa-se o termo enculturação para designar a “aquisição espontânea da
habilidade musical em crianças ocidentais, do nascimento até os anos centrais da
infância” (SLOBODA, 2008, p.259). Esse modo de apropriação tem duas características
principais: ausência de esforço autoconsciente e de instrução explícita. O termo também se
refere ao “desenvolvimento posterior de habilidades musicais especializadas, que acontecem
tipicamente em um ambiente educacional autoconsciente” (SLOBODA, 2008, p.259).
Segundo Sloboda (2008), a enculturação é possibilitada através da relação de três elementos
principais: um conjunto de capacidades primitivas presentes no nascimento ou logo após; um
conjunto de experiências advindas da cultura; e um sistema cognitivo que se adapta
rapidamente aos estímulos fornecidos.
Na cultura ocidental, a enculturação é o principal processo de aquisição da habilidade
musical pela criança até por volta dos 10 anos de idade. A partir disso, o treino passa a exercer
papel importante nesse desenvolvimento que, fundamentado na enculturação, pode chegar ao
que se define como expertise1 (SLOBODA, 2008).
Ainda na fase intrauterina, o bebê já demonstra uma escuta ativa. Ele reconhece (e
prefere em relação a outras vozes de mulheres) a voz materna a partir do terceiro dia de vida
(DECASPER; FIFER apud ILARI, 2002) além de “histórias (DeCasper e Spence, 1986),
rimas, parlendas (DeCasper et al, 1994) e canções (Lamont, 2001) ouvidas durante o último
1
“Excelência em uma determinada habilidade” (SLOBODA, 2008, p.260).
493
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
trimestre da gravidez” (apud ILARI, 2002, p.84). Existe também a percepção de contornos
melódicos, os quais, para os bebês, são mensagens afetivas (ILARI, 2002).
Após o nascimento, bebês demonstram percepção acerca do fraseado musical. Eles têm
preferência por “pausas naturais (inseridas no final das frases musicais)” a pausas artificiais
(que cortavam a frase musical) (ILARI, 2002, p.86). Estudos também constataram que até um
ano de idade, os bebês já conseguem perceber diferentes células rítmicas e fórmulas de
compasso (ILARI, 2002).
A primeira forma de consciência musical dá-se através da diferenciação de sequências
musicais de não-musicais. Para isso, é necessário que a criança já seja capaz de perceber
aspectos essenciais do som, como variações na altura e no ritmo. Por volta dos cinco meses de
idade, eles conseguem discriminar estruturas sequenciais e padrões rítmicos. Aos seis meses
de vida, ele demonstra, por meio de expressões faciais, preferências por sons “sensualmente
bonitos” (MOOG apud SLOBODA, 2008, p.264). Por volta dos nove meses, ele passa a
realizar o “balbucio cantado”, mas sem qualquer relação de altura e ritmo com a melodia. A
partir do primeiro ano, a criança começa a imitar alturas cantadas e a demonstrar um
comportamento musical importante: a imitação entoacional da fala , ou seja, a exploração pré-
vocal, denominada balbucio, por glissandos2 microtonais3 em diferentes tons. Até essa idade,
há pouca evidência “de que as crianças guardam muita informação musical das canções que
ouvem com frequência” (SLOBODA, 2008, p.267). Acredita-se que nesses casos, o
reconhecimento de determinada canção ocorra pela palavra, timbre ou textura.
A primeira grande mudança na enculturação musical ocorre por volta dos 18 meses,
quando a criança passa a realizar o canto espontâneo. Nessa fase, ela utiliza palavras isoladas
com alturas discretas estáveis para experimentar a construção de intervalos melódicos. O
canto espontâneo se desenvolve gradativamente. No início, a criança projeta intervalos
aproximados de segundas e terças, maiores e menores. À medida que a criança caminha para
o segundo ano de vida, ela acrescenta intervalos de quartas e quintas. As canções são
repetitivas em termos rítmicos e melódicos e o uso de pausas se dá apenas por necessidade de
respiração. Entre o segundo e terceiro aniversário, ela alcança uma afinação relativamente
2
“Efeito obtido com instrumento de cordas, sopro, teclado ou no canto, que consiste em saltar de uma nota à
outra com pouco ou nenhuma distinção dos sons intermediários” (DOURADO, 2004, p.148).
3Microtom: “Intervalo menor do que o SEMITOM” (DOURADO, 2004, p.205). O semitom equivale à metade
de um tom inteiro (DOURADO, 2004).
494
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
correta e seus cantos espontâneos passam a ser mais longos. As canções também passam a
demonstrar maior organização interna, porém a criança ainda não percebe que existe uma
estrutura hierárquica que conduz à finalização (SLOBODA, 2008). A imitação de canções
conhecidas começa por volta dos dois anos e meio. Essas imitações tendem a acertar
primeiramente o ritmo e o contorno melódico e posteriormente, os intervalos com precisão. A
criança só conseguirá cantar canções inteiras durante seu terceiro e quarto aniversário e
apenas aos cinco anos, as reproduzirá de maneira correta (SLOBODA, 2008).
À medida que a criança cresce, a canção espontânea torna-se mais longa, porém cada
vez mais rara. Aos cinco anos, a criança procura por reproduzir as canções que ouve com
precisão, tentando evitar erros. Gardner e Wolf (apud SLOBODA, 2008, p.272) citam que
nessa fase a criança passa do mapeamento topológico, no qual a criança representa os
acontecimentos com relações aproximadas de forma e tamanho, para o mapeamento digital.
Nele, existe “um amor pela repetição exata” (SLOBODA, 2008, p.272). As crianças anseiam
pelas mesmas músicas e histórias por semanas ou até meses. Graças a esse estágio, a criança
forma um novo nível de conhecimento musical, mantendo, por exemplo, uma única
tonalidade no decorrer de uma canção e conseguindo construir algo musical a partir de um
pulso já existente (MOOG apud SLOBODA, 2008). Ainda nessa fase, a criança possui
conhecimentos implícitos de métrica e harmonia, porém não consegue utilizá-los de maneira
explícita. Ou seja, ela não marca “o pulso de maneira confiável” e ainda não percebe
dissonâncias grandes (SLOBODA, 2008, p.276).
Entre os cinco e os 10 anos de idade, o desenvolvimento musical consiste na
concretização de pensamentos reflexivos a respeito de estruturas e padrões musicais
(SLOBODA, 2008, p.278). Entre os cinco anos e a fase adulta, o juízo reflexivo torna-se cada
vez mais complexo, desde a percepção de dissonâncias à violação de “estruturas musicais
comuns” (SLOBBODA, 2008, p.282). Outra habilidade desenvolvida é a sensibilidade
estilística, descrita como a capacidade de perceber se dois excertos musicais fazem parte da
mesma música, compositor ou período. Coincidindo com a Teoria de desenvolvimento de
Piaget (de pré-operacional para operacional), essa fase permite a pessoa “classificar
explicitamente a música como algo que se ajusta a regras e estilo, e por uma melhora
crescente em tarefas de memória e percepção sobre as sequências que conformam com as
regras” (SLOBODA, 2008, p.284).
495
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Musicalidade
O termo musicalidade é frequentemente utilizado, porém ainda carece de definição
consensual (HALLAM, 2006). Gembris (apud CUERVO 2009) relata que houve três
significados diferentes desse termo. O primeiro, entre os anos de 1880 a aproximadamente
1920, teve um cunho de discriminação entre o que era considerada música de qualidade e o
que não era. A segunda fase, a partir de 1920, foi relacionada aos testes de habilidades
musicais que surgiram no início do século XX. O termo musicalidade ou talento era
classificado “como sendo uma aptidão ou habilidade natural que era o responsável pela
atividade musical do indivíduo.” (SERAFINE apud WIESE, 2011, p. 18). O termo abrangia
apenas aspectos e habilidade musicais sem considerar as perspectivas socioculturais do
indivíduo. Nesse contexto, tanto Hallam (2006) quanto Blacking (1973) defendem que a
musicalidade só pode ser mensurada quando comparada a padrões existentes em uma mesma
cultura e que tais testes costumam considerar habilidades musicais apenas na música ocidental
(BLACKING apud WIESE, 2011).
O terceiro e último significado é o mais utilizado no momento e valoriza o discurso
musical do indivíduo, ou seja, essa fase “é destacada como a de geração de sentido musical,
relacionada à habilidade musical de compreender e transmitir o sentido da música que está
sendo executada, ouvida ou criada.” (CUERVO, 2009, p. 54). Para Hallam (2006), o termo
assume diversos significados, como: habilidade, aptidão, potencial e talento. Para Queiroz, a
musicalidade deve ser considerada como uma maneira de percepção (apud WIESE, 2011),
não apenas da percepção da música e sua criação, mas de sua relação com o mundo
(QUEIROZ, 2006).
Levitin (apud WIESE, 2011, p.23) relata outros aspectos que podem ser considerados
parte da musicalidade: “os hábitos de escuta, o prazer e a memória musicais, e o nível de
envolvimento de uma pessoa com a música”. Para Cuervo (2009) a musicalidade é o meio
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
pelo qual o performer transmite uma ideia pessoal ao ouvinte. Esse discurso pode estar
inserido em uma criação ou na interpretação de uma composição alheia. Swanwick (apud
WIESE, 2011), educador e pesquisador musical britânico, caracteriza a musicalidade como
um discurso musical, no qual se mostra através da expressividade ao tocar.
Queiroz (2006, p.2) aprofunda o assunto e defende que a musicalidade porta as
características da pessoa que a manifesta, transmitindo “seus potenciais, tendências,
deficiências, limitações, habilidades, traumas etc.” O autor ainda propõe os elementos pelos
quais a musicalidade é transmitida: escalas (diatônicas maiores e menores, pentatônicas e
modais) e suas harmonizações; intervalos - “diferentes tensões, gravitações e repousos entre
os tons musicais, isto é, suas qualidades dinâmicas, sejam eles simultâneos (harmonia) ou
em sequência temporal (melodia)” (2006, p.3); ritmos métricos e livres - diferentes fórmulas
de compasso e suas acentuações; andamentos e suas graduações, pausas e fermatas;
intensidade - dinâmica de volume; timbre - a exploração de timbres no mesmo instrumento;
voz humana - respiração, colocação e sua utilização de acordo com os itens já citados.
Para concluir, Sacks (2011) amplia o termo definindo-o como “uma vasta gama de
habilidades e receptividades, das mais elementares percepções de tom e ritmo aos aspectos
superiores da inteligência e sensibilidade musical” (SACKS, 2011, p. 109), sendo essas,
indissociáveis umas das outras.
Discussão
Segundo Hallam (2006), existiram duas vertentes para a origem da musicalidade no Homem.
A primeira atribui aos seres humanos a capacidade de desenvolvimento musical. Essa vertente
é embasada por pesquisas neurológicas e sugere que: a apreciação musical é uma habilidade
encontrada em estruturas cerebrais desde o início do desenvolvimento neural; o
processamento musical é estruturado em dois elementos principais: a decodificação de alturas
musicais (notas ao longo de uma escala musical) e a noção de batidas regulares (pulso). A
segunda vertente sugere diferenças individuais determinadas geneticamente. Contudo, os
comportamentos e traços humanos dificilmente podem ser associados a genes específicos e,
como foram demonstradas em pesquisas recentes, as habilidades musicais são resultado de
uma gama de combinações genéticas, além de questões físicas, cognitivas e emocionais
(HALLAM, 2006).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Hoje, a corrente mais aceita é a que o ambiente no qual o indivíduo está inserido exerce
forte influência no desenvolvimento musical. Em paralelo, estudos começam a demonstrar
uma relação entre herança genética e influência do ambiente. Conforme essa linha, o processo
de desenvolvimento de alguma habilidade é facilitado quanto maior o conhecimento já
adquirido pelo indivíduo. As estruturas cerebrais são altamente adaptáveis e conforme o
acúmulo de experiências musicais e a inserção em um ambiente rico musicalmente são
capazes de aprimorar determinadas competências. (HALLAM, 2006) Essa teoria, embora
sendo a mais aceita hoje, possui alguns obstáculos. Ao tratar do savantismo4 e de crianças
prodígio, pesquisas sugerem que algumas funções cerebrais agem independentemente5 .
Piaget (apud CUERVO, 2009), descreve uma lista de fatores que influenciam no
desenvolvimento intelectual da criança: fatores biológicos que agem conjuntamente aos
estímulos de aprendizagem e experiência; experiência física a partir do contato com o objeto;
fatores sociais – estímulos e interação cultural; e equilibração- a “aprendizagem nova gera
um jogo de regulações e compensações que exige uma equilibração progressiva e dinâmica,
sendo esse processo decisivo no desenvolvimento.” (CUERVO, 2009, p. 56).
Cuervo (2009), baseando-se na teoria de Piaget, propõe uma analogia desses fatores
com o desenvolvimento musical. Segunda a autora, assim como ocorre no desenvolvimento
intelectual, os agentes que contribuem para o desenvolvimento musical agem mutuamente.
Dessa forma, os componentes responsáveis pela musicalidade vão além de aspectos técnicos
específicos (CUERVO, 2009). A autora cita que elementos como ambientes familiares e
escolares e a vivência musical em suas diversas esferas também são peças formadoras da
musicalidade. Todas as informações recebidas pelo sujeito ao longo de uma trajetória e toda a
interação que elas propiciam com o meio são fenômenos fecundos para o desenvolvimento de
determinadas habilidades, que são construídas gradativamente (CUERVO, 2009).
Sloboda (2008, p.25), assim como Blacking (1976) e Hallam (2006), defende que “tanto
a linguagem quanto a música são características da espécie humana que aparentam ser
universais para todos os seres humanos e específicas dos seres humanos”. Ele alega nessa
citação que todos os seres humanos em geral são capazes de desenvolver essas competências.
4
“(...) distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de
inteligência. Tais habilidades são sempre ligadas a uma memória extraordinária, porém com pouca compreensão
do que está sendo descrito.” (SINDROME...2008. Disponível em http://www.universoautista.com.br/.
5
Ver mais em HALLAM, 2006.
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Porém, se nem todas as pessoas adquirem o mesmo grau de habilidade é porque existem
condições específicas para tais desenvolvimentos. Assim, “lesões cerebrais ou carência de
experiências apropriadas” são determinantes nesses processos. (SLOBODA, 2008, p. 25)
A afirmação de Sacks (2011) também converge para essa ideia. Ele descreve o resultado
obtido por Suzuki através de seu método (de mesmo nome) ao ensinar crianças a tocar
violino. O método, fundamentado na imitação, comprovou que quase todas as crianças
ouvintes são capazes de tocar um instrumento musical (SACKS, 2011). Sacks ainda tece uma
analogia com a linguagem. Praticamente todas as pessoas desenvolvem essa competência por
ela fazer parte do ambiente em que criança cresce. A música, por outro lado, nem sempre está
presente e, como qualquer outra habilidade, necessita de determinados estímulos para
desenvolver-se inteiramente.
Considerações finais
A musicalidade é um termo abrangente e adquire diferentes significados conforme a cultura
que a analisa e percebe. No ocidente, geralmente compete habilidades musicais como
decodificação de alturas dentro de uma escala e de ritmos, além de habilidades referentes à
apreciação, memória e nível de envolvimento com a música. Para a educação musical, o
termo mais utilizado na cultura refere-se à transmissão de um discurso musical. Esse discurso
dá-se através da expressividade ao tocar.
Na cultura ocidental, o desenvolvimento musical ocorre principalmente através da
enculturação e pesquisas demonstram que o ambiente no qual o indivíduo está inserido exerce
forte influência na construção de habilidade e conhecimentos. Por exemplo, o sistema de
escalas é diferente de acordo com a região. No ocidente ela é construída a partir de tons e
semitons. No oriente, divide-se a escalas em partes ainda menores de semitons, o que para
nós, soaria desafinado.
A construção dessas competências é desenvolvida mutua e conjuntamente com aspectos
hereditários. Assim, formam-se as características ditas musicais em determinada cultura.
Porém, o desenvolvimento depende significativamente de estímulos específicos. A carência
desses estímulos pode comprometer a obtenção de certas habilidades. A menos que sejam
portadoras de lesões, más formações ou outros déficits biológicos, a maioria das pessoas é
capaz de desenvolver habilidades musicais. Tal fato foi observado com o Método Suzuki,
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onde quase todos os alunos foram hábeis a tocar violino com significativa qualidade, de
ouvido e por imitação.
Referências
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Cuervo, L. C. (2009). Musicalidade na performance com a flauta doce. Dissertação (Mestrado
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Sloboda, J. A. (2008). A mente musical: psicologia cognitiva da música. Trad. de B. Ilari e R.
Ilari. Londrina: EDUEL.
Wiese, T. (2011). O(s) conceito(s) de musicalidade na perspectiva de experts, professores e
bacharéis da área de flauta doce. Dissertação de Mestrado em Música. Curitiba:
Universidade Federal do Paraná.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Este artigo é um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido no ano de 2016
que se caracterizou como um estudo exploratório, com abordagem qualitativa, e teve como tema a
compreensão musical de crianças de 4 e 5 anos dentro de um projeto de extensão universitária. Como
objetivo, buscou-se investigar sobre a compreensão musical da criança e como esta é manifestada
durante as referidas aulas. Para tanto, fez-se necessário pesquisar, por meio de bibliografia
especializada e da observação a campo, como se dá o processo da compreensão musical na primeira
infância. Como técnica de coleta de dados, a observação não participante in loco de 6 aulas com
filmagem das principais atividades e a descrição das mesmas, resultou na análise dos dados, tendo o
referencial teórico pesquisado servido de base para o entendimento das situações observadas. Os
resultados reforçam a ideia de que as experiências concretas são fundamentais para o desenvolvimento
da compreensão musical nas crianças, bem como, as estratégias didáticas utilizadas pelo professor,
também exercem influência. Conhecer sobre os processos de compreensão musical auxiliam o
professor de música que desenvolve atividades com esta faixa etária e contribui com o tema música na
primeira infância.
Palavras-chave: compreensão musical, musicalização, primeira infância.
Introdução
Este artigo é um recorte do trabalho de conclusão de curso desenvolvido na Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul no ano de 2016 que teve por objetivo investigar a
compreensão musical de crianças na primeira infância. Nos últimos anos, a produção
acadêmica sobre o assunto vem aumentando, contribuindo com o tema, ampliando a discussão
tão necessária sobre a música na primeira infância. Longe de resolver as questões primordiais
sobre o assunto, esta pesquisa especificamente, buscou conhecer sobre a compreensão
musical da criança e como esta é manifestada em aulas de musicalização infantil. Sendo
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Metodologia
A pesquisa teve como objetivo investigar a compreensão musical de crianças de 4 e 5 anos,
participantes de aulas de musicalização do grupo pré-coro PCIUzinho (grupo iniciante do
Projeto Coral Infantojuvenil da UFMS), na cidade de Campo Grande/MS, buscando
indicadores que pudessem evidenciar a compreensão musical durante atividades das aulas
para crianças dessa faixa etária.
O grupo participante da pesquisa constituiu em 10 crianças na turma 1, sendo 7
meninas e 3 meninos; e 8 crianças na turma 2, sendo 5 meninas e 3 meninos. A técnica de
coletas de dados utilizada nessa pesquisa foi a observação não participante in loco, ou seja, no
local em que o evento aconteceu, com filmagens das principais atividades desenvolvidas
durante as aulas de musicalização do referido grupo.
As aulas observadas aconteceram na sala de Prática de Ensino do Curso de
Licenciatura em Música da UFMS, que possui variados instrumentos para musicalização
infantil. Ao todo, foram filmadas 6 aulas e a observação das mesmas resultou em um
detalhado diário de campo. Para a realização das filmagens, foram utilizadas 2 câmeras
digitais e, eventualmente, complementadas com filmagens realizadas no celular, pela própria
pesquisadora, que de acordo com o planejamento diário, focava em determinados alunos
durante específicas atividades. As aulas tiveram os seguintes encaminhamentos conforme
tabela abaixo:
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som, facilitando a compreensão da altura das notas. De acordo com Freire e Freire (2013), os
sinais corporais tornam mais clara a relação das alturas para os alunos. Ainda de acordo com
os autores, as “crianças pequenas tornam-se capazes de cantar, acompanhar os colegas e
visualizar o próprio movimento das notas” (Freire & Freire, 2013, p. 119). Sendo assim, o uso
de tal recurso pedagógico, facilita a compreensão dos pequenos e serve como experiência de
leitura corporal que antecede a grafia musical.
Em outro momento, depois de escutar a música ‘Introdução e Marcha Real do Leão’ do
Carnaval dos Animais de Camille Saint-Säens, os alunos interpretaram o leão fazendo gestos
e movimentos andando pela sala, e em seguida executaram a música tocando xilofones e
tambores. Em seguida, a professora pede aos alunos para irem à lousa escreverem o som que
ouvem. Ela coloca no aparelho de som apenas o trecho da música onde tocam os glissandos e
ostinatos. Depois de analisar todas as grafias, foram selecionadas as duas mais frequentes: 1)
emaranhado de linhas e 2) linha reta. Por meio de votação, os alunos escolhem a grafia que,
na opinião deles, mais se parecia com o som ouvido: o desenho 1 – emaranhado de linhas. É
colocado novamente o trecho da música que sugere o rugido do leão (glissandos), a
professora desenha simultaneamente enquanto ouve a música, o emaranhado de linhas nos
glissandos e traços pequenos no ostinato. Os alunos observam atentamente. Quando
perguntados pela professora do que se tratava a grafia na lousa, um aluno responde eufórico:
- ‘É o grito do leão!’, a professora responde que se trata da partitura do grito do leão e explica
que a partitura é onde se escreve a música. Em seguida, pede para as crianças ‘lerem’ com ela
a partitura, fazendo sons do glissando e a sílaba ‘ta’ no ritmo do ostinato.
Para Maffioletti (2013), ler uma partitura compreende em entender as regras que
conduzem os símbolos, a autora diz ainda, que a leitura e a escrita musical fazem parte da
construção do aprendizado em música. Sendo assim, a autora acredita ser necessário que as
crianças vivenciem um processo semelhante, para que o uso da escrita musical seja entendido
como uma necessidade lógica tornando-se uma forma de comunicação. Independentemente do
tipo da escrita – se convencional ou contemporânea – o importante é a produção de
significados compartilhados e discutidos no grupo, para então, adotar tais significações como
forma de representação.
Diante do que foi exposto, podemos dizer que a observação in loco e não participante,
foi uma etapa importante para este trabalho, visto que as filmagens coletadas contribuíram
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para análise de vários aspectos, que mesmo a pesquisadora estando presente nas aulas, talvez
a mesma não atentaria para alguns detalhes e comportamentos que foram cruciais para trazer
reflexões sobre os processos da compreensão musical das crianças.
Considerações finais
Uma pesquisa de caráter exploratório, muitas vezes, suscita novos questionamentos, abre o
campo de investigação, promove a familiaridade do pesquisador com o ambiente/fato/
fenômeno (Gil, 2010). Durante a primeira etapa deste trabalho, tivemos um referencial teórico
que nos trouxe subsídios para compreender o pensamento da criança. Porém, as referências
sobre compreensão musical foram limitadas, visto que há poucas pesquisas em língua
portuguesa sobre o assunto. No entanto, depois de irmos a campo e analisarmos as imagens,
acabamos nos deparando com a necessidade de buscar, além do referencial já lido, outras
referências pertinentes, devido às hipóteses que surgiram ao observar o comportamento dos
alunos.
Vimos neste estudo que a experiência concreta é importante para o processo de
aprendizagem musical das crianças. Essas experiências servem como recurso para que a
criança compreenda de forma mais clara e objetiva conceitos musicais. Vimos também que a
professora usou de estratégias para auxiliar a compreensão das crianças: a estratégia
mnemônica ajudou na compreensão e execução do ritmo; os gestos corporais auxiliaram os
alunos a ter mais clareza na altura das notas facilitando a entoação e afinação da canção ‘O
Cachorro’. Na brincadeira Morto/Vivo musical, por exemplo, foi feita uma analogia entre
morto-grave e vivo-agudo. Depois de compreendido esse significado a criança deve
descontruir essa analogia para obter novo significado (grave e agudo como parâmetro
musical). Esta desconstrução é necessária ao processo de aprendizagem musical, como
pudemos observar.
Diante da importância da musicalização para o desenvolvimento infantil, podemos
salientar o papel do professor como mediador do aprendizado da criança, pois cabe a ele
propiciar um ambiente que estimule os alunos a aprenderem. Através das aulas de
musicalização, o professor pode envolver os alunos em atividades lúdicas e ricas que levam a
criança à experimentação e vivência musical significativa, contribuindo para a compreensão
musical dos pequenos. No entanto, para que o professor efetivamente consiga desenvolver
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Referências
Caregnato, C. (2015).A compreensão musical da criança: o desenvolvimento da
simultaneidade em música a partir da obra de Piaget. Manaus: UEA Edições.
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educação musical. In: Revista da ABEM, vol. 9/10, (pp.22-31) Porto Alegre.
Deckert, M. (2004). Desenvolvimento cognitivo musical através de jogos e brincadeiras. In IV
Educere, II congresso nacional de educação. Extraído de http://www.pucpr.br/eventos/
educere/educere2004/anaisEvento/paginas/educere.htm
Freire, R.D.; Freire, S.F.C.D. (2013). Sinais Musicais: O Corpo como a primeira
representação da lógica musical pela criança. In: Ilari, B.S.; Broock, A. (orgs) Música e
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Gil, A.C. (2010) Como elaborar projetos de pesquisa. (5. Ed.) São Paulo: Atlas.
Ilari, B. (2009) Música na infância e na adolescência: um livro para pais, professores e
aficionados. Curitiba: Ibpex.
Maffioletti, L.A. (2013) Significações que possibilitam a compreensão musical. In: Ilari,
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Pereira, L.R.O.M. (2010) As Atividades de apreciação musical em diálogo com o desenho:
Uma análise das primeiras expressões do conhecimento musical por crianças de 3 a 6
anos. Dissertação de Mestrado em Música não publicada, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte.
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Cassius Bonfim
cassiusbonfim@gmail.com
Resumo: Este trabalho apresenta uma análise conceitual do método O Passo a partir de conceitos
advindos da teoria da percepção direta de J. Gibson. Inicialmente, descrevemos o método em questão,
focando-nos em seus pressupostos epistemológicos. Em seguida, apresentamos uma breve descrição
do conceito de percepção e ação, assim como as noções de affordances e invariantes, conforme a
teoria gibsoniana. Por fim, esboçamos a correlação entre os pressupostos do método O Passo com
esses conceitos.
Palavras-chave: pedagogia musical, percepção ecológica, psicologia cognitiva, cognição incorporada
e situada.
Introdução
Este trabalho apresenta uma análise do método O Passo sob a luz de noções advindas de
teorias que podemos situar dentro do paradigma dinâmico da cognição. De maneira geral,
pode-se entender que o desenvolvimento da ciência cognitiva abarca três principais
paradigmas: o paradigma cognitivista; o paradigma conexionista; o paradigma dinâmico da
cognição (Oliveira, 2014; 2016). Em cada um desses paradigmas observam-se reformulações
históricas das noções centrais dos estudos cognitivos, assim como do próprio entendimento do
que seja a cognição e das maneiras pelas quais é possível estudá-la. Empregaremos, neste
trabalho, alguns conceitos da teoria da percepção direta (também chamada de psicologia
ecológica) conforme formulada por J. J. Gibson (1966; 1979) – uma perspectiva a qual
podemos situar dentro do paradigma dinâmico da cognição – para analisar o referido método.
Seria impossível, dentro dos limites deste texto, oferecer uma análise completa da correlação
encontrada entre o método e a teoria, de forma que nos limitaremos a meramente esboçar os
pontos principais dessa correlação, após descrevermos brevemente o método O Passo e o
conceito de percepção e ação apresentado pela teoria gibsoniana.
“O Passo”
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Criado em 1996 por Lucas Ciavatta, o método tem como meta tornar o fazer musical
acessível, na contramão do processo altamente seletivo que é possível se observar quanto ao
acesso à prática musical, tanto nos espaços populares quanto nos espaços acadêmicos.
(Ciavatta, 2009, p.15)i.
A maior inspiração d’O Passo foi (...) o fazer musical popular brasileiro,
principalmente no que diz respeito à relação corpo e música no processo de
aquisição do suingue. Baseado num andar específico e orientado por quatro pilares
(corpo, representação, grupo e cultura), O Passo introduziu no ensino-aprendizagem
de ritmo e som novos conceitos, como posição e espaço musical, e novas
ferramentas, como o andar que dá nome ao método, notações orais e corporais e
a Partitura d'O Passo. (Ciavatta, 2009, p. 15)
Além dos quatro pilares citados, os quais serão detalhados ao longo do trabalho, o
método se baseia em dois princípios: inclusão e autonomia. Ao abordar a inclusão, o autor não
se prende ao sentido estrito do conceito em relação à educação e cidadania das pessoas com
deficiência (cf. descrito em Louro, 2012, p. 30), mas em vários outros fatores que, por
ventura, possam vir a se tornar obstáculos à aprendizagem musical, como a discussão acerca
do “dom musical”, e o acesso a quaisquer recursos materiais, que na sua falta,
impossibilitariam o aprendizado do aluno. Assim, o método foi idealizado a partir de um dos
mais naturais processos do ser humano (que não tenha alguma impossibilidade): o andar.
Todavia, mesmo esse recurso tão natural deve ser reaprendido para que se adapte aos
objetivos do programa.
No que diz respeito à autonomia, o ensino através d’O Passo tem como objetivo
desenvolver a capacidade do aluno de tocar ou cantar sem se “apoiar no outro”. Muitas vezes
os alunos, ao fazer música em grupo, aparentam saber o que estão fazendo, mas, ao realizar a
atividade sozinhos é que se nota a lacuna no aprendizado. O Passo, a partir do conceito de
posição, fornece as ferramentas necessárias para corrigir tal situação. Enfatizando que são de
suma importância o rigor do professor – que não deve ser confundido com rigidez – e a
vontade do aluno em aprender, para que esta lacuna seja preenchida.
O Passo se sustenta sobre quatro pilares: corpo, representação, grupo e cultura.
Sobre o corpo, o autor, em consonância com Jacques Dalcroze (1967), afirma que o ritmo
musical é um fenômeno essencialmente físico. Ou seja, qualquer manifestação do fazer
musical humano é indissociável do corpo e, qualquer alteração no movimento corporal altera
511
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
O quarto, e não menos importante, pilar é a cultura. Reflete-se sobre o modo como uma
cultura opera sobre os indivíduos que a compõem e como é por eles operada, e sobre a
dicotomia tradição versus novo, buscando fortalecer tanto os valores pessoais, quanto sociais.
Ciavatta (p. 36) alerta que “não há sentido, ou sequer possibilidade, de que se estabeleçam
dualismos paralisantes do tipo indivíduo versus cultura, ou novo versus velho, ou cultura
erudita versus cultura popular. Há apenas diálogo, interação.”.
Apesar dos pilares e princípios serem de grande valor, o grande trunfo, por assim dizer,
do método é o conceito de posição. O Passo, conforme dito anteriormente, tem suas bases no
andar – um andar específico, com função específica dentro das bases musicais. Cada passo é
realizado buscando estabelecer a pulsação da música e é posicionado no espaço em relação ao
tempo do compasso. De certa forma, tempos são apenas tempos, quando não se leva em conta
a posição que ele ocupa em relação pulso musical e/ou ao compasso. Assim, uma nota que
convencionamos como durando 1 tempo pode ter várias posições. Para Ciavatta, a forma
tradicional de ensino da leitura rítmica musical, somente levando em conta as durações, gera
uma enorme lacuna no desenvolvimento da percepção do aluno, justamente por geralmente
não deixar claro para o aprendiz a posição da nota.
Para estabelecer a posição, O Passo situa o andar em posições no espaço em que ele se
dá, tendo como referência o “pé forte”, ou seja, a lateralidade do indivíduo, para estabelecer o
512
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
tempo 1 e os outros tempos mantendo a alternância dos passos, fazendo assim, uma forma de
regência de compasso com os passos. Para alguns autores, entre eles Ciavatta, só existem
compassos simples ou compostos de 2, 3 ou 4 tempos, enquanto compassos com outra
configuração seriam chamados, segundo este viés, de compassos mistos. Assim, por exemplo,
um compasso de 5 tempos pode ser visto como um compasso de 2+3 ou 3+2 tempos.
O sistema também leva em consideração as subdivisões do tempo e os compassos
compostos. Para estabelecer corporalmente o contratempo, o andar necessita de dobrar os
joelhos entre cada passo. Assim, saber um contratempo é muito mais do que saber que é uma
nota que está no meio do tempo – é saber corporalmente que ela ocupa uma posição
exatamente intermediária entre os tempos, e as semicolcheias, entre os contratempos.
Esgotar todos os detalhes acerca do método ocuparia um espaço demasiado, e não é o
objetivo deste trabalho. Deste modo, aconselha-se que os interessados na metodologia
busquem mais detalhes através dos canais disponibilizados pelo autor.ii
Percepção e Ação
Como dito na Introdução deste trabalho, o trabalho do psicólogo norte-americano James J.
Gibson oferece uma abordagem teórica e experimental para o estudo da percepção que resulta
num entendimento não-computacional da mente humana. Dentro da teoria da percepção direta
assume-se, necessariamente, uma visão não-internalista da informação. A informação
(ecológica) é aquilo que está entre o organismo que percebe e o mundo que é percebido –
portanto, a informação não é uma representação mental de um sujeito elaborada a partir dos
seus sentidos. A percepção é direta, nesse entendimento, porque não precisa da mediação de
uma representação simbólica (a pedra fundamental da ciência cognitiva).
Assim como não se separa radicalmente o interno do externo, sendo a informação o que
acopla esses dois polos da existência, não se separa percepção de ação, como ocorre nas
descrições das teorias implícita ou explicitamente computacionais da ciência cognitiva. Nas
palavras de Michaels & Carello (1981, p. 47): “Para a percepção ser válida, ela precisa se
manifestar em ações apropriadas e efetivas sobre o ambiente. E, por sua vez, para ações serem
apropriadas e efetivas elas devem ser compelidas por percepções precisas do ambiente”. iii Em
resumo, percebemos para agir e agimos para perceber, em um sistema de causalidade circular
onde não existe um primeiro e um segundo, e que não podem ser separados para qualquer
tratamento teórico.
513
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
514
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Padrões rítmicos podem ser entendidos não como abstrações descoladas da corporeidade, mas
como invariantes perceptivas, que informam sobre as recorrências dos estímulos, e
affordances, que compelem à ação integrada. Neste sentido, O Passo mostra-se como um
método sintonizado com as abordagens mais recentes da ciência cognitiva, encontrando
correspondência com as abordagens dinâmicas da cognição musical, que se entende
incorporada e situada.
O segundo conceito sob investigação, a representação, é o mais controverso. Uma das
constantes das teorias cognitivas dinamicistas é que elas colocam em cheque a consideração
da representação mental como condição necessária para a explicação de processos cognitivos.
Neste ponto, o método em discussão aparenta carregar sem muito questionamento a
representação mental como condição necessária. Como coloca Haselager (2004), a ciência
cognitiva é viciada em tal noção, empregando-a sem questionamento ou revisão crítica quanto
a sua necessidade explicativa. O método O Passo, conformando-se à grande maioria das
pesquisas em cognição musical, assume que para compreender um fenômeno é preciso
representá-lo internamente. Não se trata de advogar uma exclusão da representação mental,
mas de rever-se quando ela é teoricamente indispensável,vii especialmente em perspectivas
que unificam os domínios da percepção e da ação.
O grupo é o terceiro pressuposto do método, entendendo-se que a prática coletiva é
muito importante para os processos de aprendizagem musical, assim como o é para a
performance musical em geral – música é, em sua essência, uma atividade coletiva. Dentro da
perspectiva do ensino musical, a prática em conjunto implica em dinâmicas complexas de
percepção e ação, de sincronização e dessincronização, de auto-organização e de auto-ajuste.
Tais conceitos são basais para as abordagens dinamicistas da cognição e, neste aspecto, O
Passo mostra-se como uma metodologia conceitualmente atualizada.
No que tange à cultura, Gibson propriamente não a aborda, pois concentra-se na teoria
da percepção direta, e para falar-se em cultura entra-se na chamada percepção de segunda-
mão, que envolve mediações. Não obstante, desenvolvimentos posteriores da psicologia
ecológica abordam a temática do aprendizado perceptivo, o qual envolve fatores culturais
(e.g. Gibson & Pick, 2000). Outros autores comprometidos com teorias que se inserem no
paradigma dinâmico da cognição abordam questões de cultura, em uma perspectiva
515
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
atuacionista, incorporada e situada (e.g. Maturana, 1995; Varela et al, 1991). Correlacionar O
Passo a tais teorias seria uma forma de justificar teoricamente esse pressuposto metodológico.
Por fim, temos o conceito de posição, fundamental na metodologia em questão.
Limitaremo-nos a apontar que, pelas hipóteses dinamicistas e ecológicas, o conceito de
posição conforme trabalhado n’O Passo é deveras interessante porque se concebe tal conceito
como ação, que envolve tanto percepção quanto propriocepção – outra noção importante para
Gibson. Assim, entende-se que a compreensão rítmica é não apenas um processo interno, de
processamento de representações mentais, mas um processo cognitivo que deve ser
considerado enquanto corporeidade, enquanto atuação, ou seja, como cognição incorporada e
situada, e que pode ser descrita pelos conceitos de affordances e invariantes.
Conclusão
Destarte, após passarmos por cada um dos pilares que edificam conceitualmente o método O
Passo, podemos verificar que suas proposições encontram ressonância com as teorias do
paradigma dinâmico da cognição. Portanto, mesmo que tal discussão esteja além daquelas
inicialmente evidentes na proposição metodológica original, a visão de mente – e,
especificamente, de mente musical – implicada supera a visão da mente computacional, ainda
que carregue, mesmo que de maneira desnecessária e acrítica, a noção de representação
mental. A análise crítica das metodologias de ensino musical a partir das teorias cognitivas
contribui significativamente para ambas as áreas: as metodologias de ensino se tornam mais
conscientes de seus pressupostos conceituais e da visão de mente que postulam, explicita ou
implicitamente; ao mesmo tempo, as teorias cognitivas contribuem de maneira direta não só
na revisão epistemológica da práxis pedagógico-musical, mas também oferecem justificativas
para determinadas práticas e sugerem novas abordagens.
Referências:
Andean, J. (2011). Ecological psychology and the electroacoustic concert context. Organized
Sound, 16 (2), 125–133.
Clarke, E. (2005). Ways of listening: an ecological approach to the perception of musical
meaning. New York: Oxford University Press.
Gibson, E. e Pick, A. (2000). An ecological approach to perceptual learning and
development. , Cambridge, MA.: Oxford University Press.
Gibson, J. J. (1966). The Senses Considered as Perceptual Systems. Boston: Houghton Mifflin
Company.
Gibson, J. J. (1979). Ecological Approach to Visual Perception. Hillsdate: Lawrence Erlbaum
516
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Associates Publishers.
Haselager, W. (2004). O mal estar do representacionismo: sete dores de cabeça da ciência
cognitiva. In Ferreira, A., Gonzalez, M., and Coelho, J. (eds): Encontro com as ciências
cognitivas, v. 4, pp 105–120. Coleção Estudos Cognitivos. Marília: Unesp Publicações.
Louro, V. (2012). Fundamentos da Aprendizagem da Pessoa com Deficiência. São Paulo: Ed.
Som.
Maturana, H. R. (1995). Da Biologia à Psicologia. Porto Alegre: Artmed.
Menin, D. e Schiavo, A. (2012). Rethinking Musical Affordances. AVANT, III (2), 202–215.
Mertzig, P. e Oliveira, A. L. G. (2009). Enaccionismo e ecologia: uma reflexão em educação
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Oliveira, A. L. G. (2005). Educação auditiva e educação musical: uma proposta
ecologicamente orientada. Encontro Anual da ABEM, Belo Horizonte.
Oliveira, A. L. G., Mertzig, P. e Schulz, S. (2006). Cognição musical como enacção e algumas
possibilidades de implicações metodológicas em educação musical. Actas de la V
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Oliveira L. F. (2014). O estudo da música a partir do paradigma dinâmico da cognição.
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Oliveira L. F. (2016). O debate sobre o representacionalismo nas Ciências Cognitivas.
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Varela, F. J., Thompson, E., and Rosch, E. (1991). The embodied mind: cognitive science and
human experience. Cambridge, MA: The MIT Press.
Windsor, L. (1995). An perceptual approach to the description and analysis of acousmatique
music. PhD thesis, University of Sheffield, Department of Music.
ii www.opasso.com.br
iii “For perception to be valuable, it must be manifested in appropriate and effective actions on the
environment. And, in turn, for actions to be appropriate and effective, they must be constrained by accurate
perception of the environment.”
517
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
vi
“(…) invariants are those higher-order patterns of stimulation that underlie perceptual
constancies, or, more generally, the persistent properties of the environment that an animal is said to know.”
vii N'O Passo considera-se também outras formas de representação, formas externas, não
necessariamente vinculadas ao conceito de representação mental da ciência cognitiva. Nossa análise, aqui,
refere-se exclusivamente a esse conceito.
518
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Jonatas Leal
UFBA
jonhlmusic@gmail.com
Diana Santiago
UFBA
disant@ufba.br
Resumo: Esta revisão tem como objetivo levantar o estado da arte da pesquisa em memorização
musical no Brasil a partir dos trabalhos publicados nos Anais do Simpósio de Cognição e Artes
Musicais (SIMCAM) que tratam da temática no período 2006-2016. Este artigo apresenta a Fase
1 da pesquisa, fase essa que teve como objetivos específicos: mapear quantitativamente os
estudos sobre a memória (quantidade de trabalhos, pesquisadores, instituições) e categorizá-los
por eixos temáticos. Foram estabelecidos seis eixos temáticos para categorização, dos quais três
são aqui apresentados. A próxima fase da revisão, em andamento, consiste na análise das
metodologias empregadas pelos pesquisadores em seus trabalhos e seus resultados.
Palavras-chave: memória, música, anais do SIMCAM.
Introdução
519
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
ocorrem anualmente e, desde 2011, têm sido exclusivamente a nível internacional1. Neles,
vários trabalhos têm sido apresentados, trazendo contribuições para a consolidação da área de
cognição musical no Brasil.
Uma das temáticas transversais aos inúmeros estudos relacionados à cognição musical,
são pesquisas relacionadas à memória. Ela é um dos principais processos cognitivos humanos
e, sem ela, não há retenção daquilo que foi ensinado, o que impossibilitaria o processo de
aprendizagem. Referindo-se à educação musical, Fonseca & Santiago (2014, p.122) afirmam
que, para a educação musical, “a memória alia-se ao fato de a música ser uma arte temporal e
necessitar do constante funcionamento de todos os tipos de memória humana para a sua
realização”. Desse modo, a memória tem uma contribuição muito importante e significativa
para a aprendizagem musical, indicando a relevância de uma revisão bibliográfica que tenha
como foco essa temática.
Critérios Metodológicos
Seguindo as etapas de uma revisão bibliográfica integrativa2, para a realização deste trabalho,
primeiramente foi delimitada a questão de pesquisa: como a memória tem sido abordada na
literatura produzida nos anais do SIMCAM? Após a revisão bibliográfica, estruturou-se os
eixos temáticos para sistematização da mesma: Eixo 1. MPP - Memória e Processos
Perceptivos; Eixo 2. MP - Memória e Performance; Eixo 3. MS- Memória e Saúde; Eixo 4.
MPC - Memória e Processos Criativos; Eixo 5. MEC - Memória e Estudos Culturais; Eixo 6.
MCL - Memória e Ciências da Linguagem. Esses eixos foram adaptados do SIMCAM 113.
Em seguida, tendo em vista a grande quantidade de trabalhos encontrados a partir da busca
por palavra-chave, ficou definido que o principal critério de inclusão dos trabalhos numa
primeira fase dessa revisão seria a presença do termo memória ou seus derivados nos títulos
dos trabalhos. Para esse artigo, optou-se por focar três eixos temáticos: Memória e Processos
2
De acordo com Souza, et.al. (2010), o processo de elaboração da revisão integrativa se divide em seis fases: 1ª) elaboração
da pergunta norteadora; 2ª) busca na literatura, ou seja, incluir os estudos encontrados; 3ª) coleta de dados; 4ª) análise crítica
dos dados; 5ª) discussão dos resultados; 6ª) apresentação da revisão integrativa. Estes podem ser expressos em tabelas,
gráficos ou quadros, nos quais seja possível a comparação entre todos os estudos selecionados.
3 Os eixos temáticos do SIMCAM 11 foram: Cognição Musical e Desenvolvimento da Mente Humana; Cognição Musical e
Processos Criativos; Cognição Musical e Processos Perceptivos; Cognição Musical e Ciências da Linguagem; Cognição
Musical e Saúde e Cognição Musical e Estudos Culturais. Disponível em http://www.abcogmus.org/documents/
SIMCAM11.pdf
520
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Perceptivos, Memória e Performance e Memória e Saúde. Esses três eixos temáticos somaram
28 trabalhos. Dessa forma, os dados e informações que estão apresentados aqui são o
resultado parcial da revisão bibliográfica realizada. Após a coleta dos dados, os registros
foram divididos em dados quantitativos e qualitativos, a saber: 1. Número de artigos com a
memória como temática principal; 2. Mapeamento das instituições e autores dos textos
selecionados; 3. Síntese do que trata cada artigo; 4. Principais referências bibliográficas
utilizadas pelos autores. Apresentamos aqui a síntese dos resultados da Fase 1 (descritiva).
4 Se o trabalho foi assinado por mais de um pesquisador de instituições diferentes, foram computadas todas as instituições.
521
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
do SIMCAM 6, vale salientar que seria muito complexo categorizar de maneira rígida os
trabalhos, visto que a maioria deles poderia ser colocada em mais de uma categoria. “Em
alguns casos, a intenção do (s) autor (es), os objetivos da pesquisa, métodos e referenciais
teóricos estavam muito claros e eram facilmente categorizáveis, porém, em outros casos, tal
categorização se tornou ainda mais difícil”.
Os trabalhos foram distribuídos nos respectivos eixos temáticos na seguinte proporção:
Eixo 1. MPP - Memória e Processos Perceptivos (13 trabalhos); Eixo 2. MP - Memória e
Performance (9 trabalhos); Eixo 3. MS- Memória e Saúde - (6 trabalhos); Eixo 4. MPC -
Memória e Processos Criativos (3 trabalhos); Eixo 5. MEC - Memória e Estudos Culturais (2
trabalhos). Eixo 6. MCL - Memória e Ciências da Linguagem (1 trabalho)5 .
5
As referências de todos os artigos estão em anexo.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
memórias à prática musical (SIMCAM 6), O efeito de doze meses de treino musical em
crianças na Avaliação Automatizada da Memória Operacional (AWMA) (SIMCAM 8), O
processo auditivo, a memória e suas interfaces nas habilidades musicais: um estudo
neurocientífico (SIMCAM 8), Em busca de um modelo de memória aplicável à audiação
notacional (SIMCAM 9). Nesse eixo temático, chamou atenção a concentração de artigos
oriundos da Universidade de Brasília (4 trabalhos), sendo três deles assinados pelo
pesquisador Ricardo Dourado Freire.
De maneira geral, os trabalhos no eixo sobre memória e processos perceptivos
buscaram integrar os estudos cognitivos com os processos de aprendizagem e percepção dos
aspectos musicais. Notou-se que a maior parte dos trabalhos envolveu metodologias
empíricas com utilização de testes, visando uma compreensão da memória. Dentre as
categorias de memória, os estudos estiveram centrados na relação entre a memória
operacional ou de trabalho e a apreensão dos elementos musicais. Observou-se que nas
referências bibliográficas dos trabalhos houve a predominância de autores estrangeiros, dentre
eles Alan Baddeley, Diana Deutsch e Edwin Gordon.
Por fim, pode-se concluir que os trabalhos desse eixo temático buscaram compreender
os processos cognitivos da percepção musical e como as relações com os diferentes tipos de
memória atuam durante o processo de identificação e decodificação dos elementos musicais.
523
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
6
Citada como Santiago, D. ou Fonseca, D.S.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
O primeiro artigo listado tratou da memória como uma das funções cognitivas mais
estudadas devido ao declínio desta função no processo de envelhecimento. A autora discutiu
como as práticas de estimulação cognitiva associada à música, canto e memórias orais
(intervenção musicoterapêutica) contribuem para a promoção do bem-estar para idosos com
queixas de memória e de baixo nível socioeconômico. O segundo artigo, numa perspectiva da
Cognição Social, concentrou-se em como as atividades com o canto estimulam trabalhar a
memória, contribuindo para a melhora da autoestima e da qualidade de vida dos idosos. No
terceiro artigo, os autores abordaram a contribuição que a Musicoterapia pode trazer como
uma das modalidades de tratamento para o indivíduo idoso, visando a reabilitação e/ou
preservação de suas funções cognitivas. Dentre as publicações citadas neste eixo, os últimos
três trabalhos foram escritos pelos mesmos autores e trataram de pesquisa sobre as memórias
evocadas pela música e como esta influencia a quantidade de conteúdo das memórias
autobiográficas.
Considerações Finais
Os estudos sobre a memória musical abarcados por esta revisão sistemática permitem-nos
observar a natureza versátil e interdisciplinar da pesquisa realizada na área. Os trabalhos sobre
memória e processos perceptivos (Eixo 1) buscaram compreender os processos cognitivos da
percepção e como as relações com os diferentes tipos de memória atuam durante o processo
de identificação e decodificação dos elementos musicais; no campo da performance (Eixo 2)
os estudos abordaram as pesquisas sobre estratégias de memorização que facilitassem a
compreensão do discurso musical e potencializassem o tempo despendido no estudo das
mesmas; já nos estudos sobre memória e saúde (Eixo 3), ficou evidenciada a preocupação em
entender como a prática musical pode evocar as memórias para contribuir com a melhoria da
autoestima e da qualidade de vida das pessoas.
Foi possível constatar que os estudos sobre memória estão distribuídos de forma
desigual entre as regiões do país, sendo a região Sudeste aquela com maior produção, seguida
pelas regiões Centro-Oeste e Nordeste. Os eixos temáticos mais pesquisados têm sido os que
abordam a memória em conjunto com os processos perceptivos, com a performance e com a
saúde. Dessa maneira, observou-se que há lacunas nas pesquisas sobre memória e estudos
culturais, memória e ciências da linguagem e memória e processos criativos. Além disso, a
utilização frequente de referências bibliográficas estrangeiras aponta que há possibilidades de
desenvolvimento nessa área de pesquisa no Brasil.
525
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
526
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
SIMCAM 10
2.VANZELLA, Patrícia et.al. (2014). O ouvido absoluto não facilita a memorização de melodias (p.
253-260). Anais do X SIMCAM 10, Campinas: UNICAMP.
3. BENASSI, Mariana et.al. (2014). Influência de dificuldades musicais em percepção e produção na
memória operacional para melodias (p.445-452). Anais do X SIMCAM, Campinas: UNICAMP.
4. FREIRE, Ricardo; IBARRA, Renata F. C. (2014). Memória de Trabalho e Solfejo (p.495-500). Anais
do X SIMCAM, Campinas: UNICAMP.
SIMCAM 9
5. SILVA, Ronaldo da, GOLDEMBERG, Ricardo, GIMENES Marcelo. (2013). Em busca de um modelo
de memória aplicável à audiação notacional (p.38-49). Anais do IX SIMCAM, Belém: UFPA.
SIMCAM 8
6. FREIRE, Ricardo D. (2012). Memória operacional e percepção dinâmica. (p.438-443). Anais do VIII
SIMCAM, Santa Catarina: UDESC/ Departamento de Música.
7. RIBEIRO, Fabiana S.; SANTOS, Flávia H. dos (2012). O efeito de doze meses de treino musical em
crianças na Avaliação Automatizada da Memória Operacional (AWMA). (p.202-207). Anais do VIII
SIMCAM, Santa Catarina: UDESC/ Departamento de Música.
8. CONCEIÇÃO, Maria B. L. (2012). O processo auditivo, a memória e suas interfaces nas habilidades
musicais: um estudo Neurocientífico (p. 546-551). Anais do VIII SIMCAM, Santa Catarina: UDESC/
Departamento de Música.
SIMCAM 7
9. WERKE, Mariana E. B. (2011). Memória de Curto Prazo para Melodias: Efeito das Diferentes Escalas
Musicais (p.86-88). Anais do VII SIMCAM, Brasília: UNB.
SIMCAM 6
10. BENASSI-WERKE et. al. (2010). Memória de Curto Prazo para Melodias: Efeito das Diferentes
Escalas Musicais (p. 301- 304). Anais do VI SIMCAM, Rio de Janeiro: UFRJ.
11. FREIRE, Ricardo D. (2010). Memória e Imitação na Percepção Musical (p.9-17). Anais do VI
SIMCAM, Rio de Janeiro: UFRJ.
12. BORTZ, Graziela. (2010). Contextualização Musical no Treinamento Auditivo: Transferindo
Memórias à Prática Musical (p.1-8). Anais do VI SIMCAM, Rio de Janeiro: UFRJ.
527
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
8. FIREMAN, Milson. (2008). O papel da memória na leitura à primeira vista. (p.374-379) Anais do IV
SIMCAM, São Paulo: USP/FFLCH – Departamento de Linguística.
SIMCAM 3
9. LISBOA, Tânia; CHAFFIN, Roger et. al. (2007). Memorizing in Cello Playing: practice, performance
and expression. (p.96-100). Anais do III SIMCAM, Salvador: UFBA.
528
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Luciane Cuervo
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
luciane.Cuervo@ufrgs.br
Resumo: A relevância dos temas concernentes aos estudos sobre a mente musical é argumento
consolidado por diversas pesquisas interdisciplinares das últimas décadas, as quais mostram um alto
engajamento neural nas práticas musicais. A inserção do assunto em cursos de formação e
popularização dos conhecimentos neurocientíficos aplicados à música, no entanto, ainda carecem de
iniciativas, apesar de constatada grande demanda na comunidade acadêmica. Pensando nisso, foi
criada a disciplina “Estudos sobre a mente musical”, propondo o assunto de modo introdutório na
graduação de música. De natureza eletiva, em 2017 a disciplina contempla a sua primeira turma,
ofertada na modalidade presencial a todos os cursos e ênfases da música na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul e sem exigir pré-requisitos dos estudantes. Nessa direção, o presente trabalho
parte da reflexão sobre a musicalidade humana, justificando a relevância do campo, e demonstra o
percurso desenvolvido da concepção até a aprovação e oferecimento da disciplina ao curso de
graduação em música, incluindo os desafios da sua implementação.
Palavras-chave: cognição musical, musicalidade, neurociências.
Studies on the musical mind: Creation of Curricular Discipline for undergraduate course
Abstract: The relevance of themes concerning studies of the musical mind is a consolidated
argument. Several interdisciplinary researches of the last decades showing a high neural engagement
in musical practices. However, the insertion of the theme into courses of training and popularization
of neuroscientific knowledge applied to music still lack initiatives, despite verified great demand in
the academic community. Thinking about it, the discipline "Studies on the musical mind" was
created, proposing the subject in an introductory way in the graduation of music. Of elective nature,
in 2017 the discipline will contemplate its first class, offered in the modality presencial to all the
courses and emphases of the music in the university XXX and without demanding prerequisites of
the students. In this direction, the present work starts from the reflection on human musicality,
justifying the relevance of the theme, and demonstrates the course developed from the conception to
the approval and offering of the discipline to the undergraduate music course, including the
challenges of its implementation.
Key-words: Musical cognition, musicality, neurosciences.
529
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
530
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
533
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
conforme levantamento realizado (Cuervo, 2014). Importante dizer que a proposta possui
caráter inclusivo, sem exigência de pré-requisito e aberta a todas as ênfases do curso de
música da universidade, além de integração com membros da extensão universitária em busca
de estudos interdisciplinares.
Essa disciplina contempla a introdução aos estudos sobre a musicalidade humana,
propondo o estudo acerca das contribuições das neurociências para a compreensão da mente
musical numa abordagem interdisciplinar. A partir do estudo e discussão das mais recentes
pesquisas da área, a disciplina se propõe a refletir sobre a percepção e apreciação, criação e
performance musical, contemplando o processamento da música no cérebro.
Para isso, possui como objetivos: estudar a musicalidade humana a partir das contribuições de
investigações no campo neurocientífico, introduzir os fundamentos do processamento
neuronal da música e discutir as contribuições das neurociências para a compreensão e
aperfeiçoamento dos processos de criação, execução e apreciação musical.
Convicta da necessidade de democratizar o acesso aos conhecimentos neurocientíficos,
conectando-os aos saberes e práticas musicais de modo acessível e atraente a estudantes de
música em nível de graduação, a disciplina parte da discussão acerca da natureza da
musicalidade e os mitos que circundam a temática música e cérebro. Pretende abordar, ainda,
reflexões sobre a memória e aprendizagem musical, o processo de leitura à primeira vista,
distúrbios da aprendizagem musical, o mapeamento da música no cérebro e os benefícios que
a música suscita no desenvolvimento cognitivo global do ser humano.
A primeira oferta da disciplina contemplará os fundamentos das ciências cognitivas,
adotando o conceito de Del Nero (s/ data) quando diz que o termo é vinculado a um conjunto
de esforços interdisciplinares que buscam “compreender a mente e a sua relação com o
cérebro humano”. Desses esforços, destacam-se as articulações entre as áreas de
neurociências, psicologia, linguística, filosofia e a inteligência artificial. Com o intuito de
tornar esses saberes acessíveis ao público da graduação, a disciplina, portanto, procura
introduzir conceitos básicos da cognição musical, e seus desdobramentos em psicologia,
neurofisiologia e neuroanatomia, sempre articuladas ao campo da música. Serão discutidos os
princípios dos processos de sinapse e redes neurais, memória e aprendizagem musical, o
conhecimento sobre o Sistema de Recompensa e a plasticidade neuronal, bem como o
mapeamento da música no cérebro, entre outros subtemas.
Sua metodologia inclui aulas presenciais com abordagem interacionista, incentivo de
participação de convidados especialistas e apoio metodológico complementar do ambiente
534
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Pôsteres
537
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Vilson Zattera
Laboratório de Acessibilidade / BC / UNICAMP
vilson.zattera@gmail.com
Resumo: O presente artigo, é parte de uma pesquisa em andamento que na sua totalidade, tem a
finalidade de investigar o uso de tecnologias digitais de informação e comunicação aplicadas à
prática do canto coral. No recorte específico deste trabalho, o objetivo é discorrer sobre pontos
que envolvem a percepção e a produção musical nos aspectos auditivos, vocais e emocionais como
fatores de influência na prática do canto coral. A metodologia de abordagem qualitativa, consiste
em pesquisa bibliográfica por meio de leitura e fichamento de textos relativos ao tema proposto
com o intuito de dialogar com as concepções de autores que tratam do assunto, bem como de
relacioná-las à prática coral. O coro adulto no contexto da educação musical tem o propósito de
incluir pessoas sem experiência musical anterior. Nesse sentido, é comum os indivíduos
apresentarem dificuldades de afinação, respiratórias, de emissão vocal, emocionais, entre outras.
As questões provenientes desses problemas podem estar ligadas a falta de vivência musical, a
percepção auditiva nos aspectos da memória e da atenção, ou ainda, a bloqueios que podem ter
sido ocasionados por crenças na ausência de aptidão para música.
Palavras-chave: Percepção musical. Audição. Voz. Emoção. Canto coral.
Perception and musical production in the auditory, vocal and emotional aspects as influencing
factors in the practice of choir singing
Abstract: This article is part of an ongoing research that in its totality has the purpose of
investigating the use of digital information and communication technologies applied to the practice
of choral singing. In the specific clipping of this work, the objective is to discuss points that
involve perception and musical production in the auditory, vocal and emotional aspects as
influencing factors in choral singing practice. The methodology of qualitative approach consists of
bibliographical research through reading and writing texts related to the proposed theme. With the
intention of dialoguing with the conceptions of authors that deal with the subject, as well to relate
them to the choral practice. The adult choir in the context of musical education is intended to
include people without previous musical experience. In this sense, it is common for individuals to
present tuning, respiratory, vocal emission, and emotional difficulties, among others. The issues
arising from these problems may be related to lack of musical experience, auditory perception in
aspects of memory and attention, or blockages that may have been caused by beliefs in the absence
of aptitude for music.
Keywords: Musical Perception. Audition. Voice. Emotion. Choir Singing.
Introdução
Na educação musical, o canto coral é uma área que possibilita a aprendizagem das
propriedades sonoras de altura, ritmo e intensidade. A prática coral está presente em escolas,
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
539
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Schafer (1991) sugere alguns exercícios que permitam o treinamento auditivo utilizando
sons do ambiente, como por exemplo, bater uma palma e perguntar qual foi o último som
ouvido antes da palma e qual foi o primeiro depois da palma. Na intenção de propor a
conscientização dos integrantes do coral em relação a paisagem sonora, o regente poderia
desenvolver atividades de gravação de sons em diferentes locais, tais como: casa, escola,
trabalho, entre outros. Os coristas poderiam representar as paisagens sonoras utilizando sons
corporais e vocais e logo após, discutirem em forma de roda de conversa sobre os efeitos
auditivos percebidos em cada um. A gravação e a representação sonora das atividades
poderiam ser auxiliadas por suporte tecnológico computacional. Considerando as interações
dos indivíduos com as paisagens sonoras atuais, possivelmente, o que e como as pessoas estão
ouvindo ultimamente, têm influência sobre sua percepção e produção musical, notadamente
quando estão envolvidas na prática do canto coral.
De acordo com Sobreira (2003) os requisitos essenciais relativos ao canto e que podem
ser as principais causas da desafinação são agrupados em percepção musical, memória
musical e produção vocal. Portanto, existem diversas questões envolvidas, quando um
indivíduo sem conhecimentos musicais se propõe a participar de um coro. Este trabalho tem
540
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
por objetivo apontar elementos da percepção auditiva nos aspectos da atenção e da memória
musical e da produção vocal dos indivíduos que se envolvem na participação de um coral.
Sobreira (2003) aponta que a memória musical pode ser estimulada no convívio social,
como família, escola e outros ambientes que os indivíduos frequentem e ainda em estudo
541
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
comparativo que mostram que as crianças que tiveram mais oportunidades de cantar com a
família, de ouvir música frequentemente e de serem expostas a maior variedade de estilos
musicais eram mais desenvolvidas musicalmente (Shelton, 1969 como citado em Sobreira,
2003, pp. 65-66).
A organização de alturas e sua relação com a percepção do ouvinte têm sido objeto de
estudo de alguns autores. Como sinaliza Krumhansl (2006, p. 76) “uma ideia que influencia
toda a pesquisa cognitiva em música é que a representação mental da música pode ser
formalizada mediante um conjunto de regras. Simon e Sumner (1968) articularam as
premissas básicas dessa abordagem”. Krumhansl (2006) salienta que primeiramente, a função
das regras é deixar que o indivíduo tenha expectativas em relação a eventos dispostos em
sequência. Depois, entende-se que as regras funcionam baseadas em estruturas definidas de
elementos. O terceiro ponto diz respeito a descrição das regras por determinados operadores e
o quarto item refere-se à aplicação das regras em padrões hierarquicamente organizados.
Nesse sentido de acordo com Huron, podemos inferir que a audição parece estar intimamente
ligada a expectativa. Os sujeitos constroem uma relação entre o que ouvem e o que esperam
que se realize concretamente. Huron (2006) traz um apontamento que trata do mecanismo
antecipatório que está presente nos indivíduos. A antecipação tende a ser naturalmente
pessimista e a gerar tensões, no entanto, à medida em que se tem familiaridade com um tema
ou atividade a ser desenvolvida, o mecanismo antecipatório é acalmado. A expectativa possui
três funções: motivação, preparação e representação. Quando é possível prever situações
relacionadas a eventos futuros, os indivíduos podem elaborar um planejamento procurando
minimizar consequências negativas, o que os leva a motivação ou então a preparar-se com
estratégias apropriadas para enfrentar imprevistos e ainda, representar situações de sucesso ou
de fracasso utilizando um mecanismo de seleção natural (Huron, 2006). Com o intuito de
trabalhar as dificuldades de afinação advindas da falta de treino, o regente poderia apresentar
as propriedades do som, o agrupamento de notas em pentacordes e intervalos de forma
sequenciada, escalas, até que os integrantes se familiarizassem com as sequências de sons.
Além disso, poderia elaborar pequenos exercícios que estimulassem a construção da memória
musical, tais como, repetições de pequenas frases musicais e cânones.
O estabelecimento de regras sequenciais musicais que o cantor pode vir a aprender
associadas a memorização consciente, poderia influenciar positivamente suas expectativas
relacionadas às experiências musicais no canto coral e ser um elemento facilitador no que diz
respeito as dificuldades de afinação derivadas de questões auditivas.
542
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Considerações finais
Este artigo procurou apresentar questões relacionadas a percepção e a produção musical nos
parâmetros auditivos, de emissão vocal e emocionais considerando-os como fatores
influenciadores na prática do canto coral. A metodologia consistiu em pesquisa bibliográfica
por meio de leitura e fichamento de textos relativos aos aspectos da percepção e da produção
musical como fatores de influência na prática do canto coral.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
A prática coral de adultos sem experiência musical traz alguns problemas relacionados
as dificuldades dos participantes em termos de percepção auditiva, afinação, memória e
emoção. Todos os indivíduos têm possibilidade de vivenciarem a música e precisam ser
orientados nesse sentido.
Quanto a percepção musical e a sociedade contemporânea discutiram-se as
modificações na produção musical provocadas pelo aparecimento dos computadores e pelas
diferentes formas de acesso à música na atualidade. Além disso, comentou-se a respeito dos
efeitos da paisagem sonora lo-fi sobre a percepção auditiva dos indivíduos, bem como de suas
implicações na prática do canto coral.
A percepção musical e os aspectos auditivos tiveram como foco buscar entender os
processos ocorridos na audição e que envolvem a capacidade de identificação do som nos
aspectos melódicos e harmônicos, a atenção e a memória musical. O ponto que apresentou a
produção musical nos aspectos vocais procurou enfatizar as dificuldades de produção vocal
mais frequentes, tais como problemas respiratórios, tensões musculares e dificuldade de
reprodução de intervalos. Na abordagem da percepção e a produção musical nos aspectos
emocionais ressaltaram-se as relações existentes entre a prática coral e a vivência de emoções,
bem como de interações com um grupo que tem o mesmo interesse musical.
O regente coral tem muitos desafios quando trabalha com um grupo sem conhecimentos
musicais, no entanto, é possível buscar compreender o indivíduo e todo o universo sonoro que
o cerca, de maneira a propor vivências musicais conscientes para que os integrantes do coro
tenham acesso ao fazer musical e consigam desenvolver suas habilidades de modo prazeroso.
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546
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Resumo: Essa pesquisa de iniciação científica em fase de desenvolvimento, tem como finalidade
principal investigar os processos de estudo de alunos ingressantes de um curso de música em
relação à sua escrita rítmica e melódica. Cientes de que essa habilidade tem sido uma das mais
desafiantes na disciplina Percepção Musical, o projeto mira a preparação para a tarefa, a realização
de exercícios e autoavaliação no final das atividades. Essa escolha tem fundamento nos princípios
da Autorregulação da aprendizagem, no prisma de Albert Bandura (2008), considerando ainda o
modelo de Zimmerman (2000, 2002). Em uma abordagem qualitativa, o trabalho conta com a
revisão de literatura, a elaboração e realização de encontros com alunos matriculados da disciplina
de percepção musical I da instituição e a análise dos resultados de acordo com Bardin (2010). O
intuito é que seja possível aprofundar conhecimento sobre as práticas de estudo individual dos
alunos participantes e auxiliar a melhoria dessas ações.
Palavras-chave: escrita musical, autorregulação da aprendizagem, percepção musical.
Title: Individual study of rhythmic and melodic writing and the self-regulated learning
Abstract: This scientific initiation research in the development phase has the main purpose of
investigating the study processes of incoming students of a music course in relation to their
rhythmic and melodic writing. Aware that this ability has been one of the most challenging in the
Musical Perception discipline, the project looks at task preparation, exercise and self-assessment at
the end of activities. This choice is based on the principles of Self-regulation of learning, in the
prism of Albert Bandura (2008), considering also the model of Zimmerman (2000, 2002). In a
qualitative approach, the work includes the literature review, the elaboration and accomplishment
of meetings with students enrolled in the discipline of musical perception 1 of the institution and
the analysis of the results according to Bardin (2010). The intention is that it be possible to deepen
knowledge about the practices of individual study of the participating students and to help improve
these actions.
Key-words: musical writing, self-regulation learning, aural perception.
Introdução e Justificativa
A atividade de escrita rítmica e melódica é um exercício recorrente à maioria dos estudantes
de graduação em música. Ela se faz presente na disciplina de percepção musical, sendo
também em alguns casos, pré-requisito para realização de Testes de Habilidade Específica
(THE) para o ingresso em cursos superiores de música.
Entretanto, nem sempre essas habilidades são de fácil aquisição, como ressalta Otutumi
(2008), “estudantes, em sua maioria, sabem traduzir a escrita musical para seu instrumento,
547
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
São diversos os fatores que contribuem para essas dificuldades, formação musical
fragmentada; falta de material de apoio; metodologia de ensino pautada em moldes
tradicionais, em que a estrutura de ensino é, muitas vezes, centrada no professor - esse aspecto
também alertado por educadores como Saviani (2009) e Mizukami (2001). Tendo em vista
esse quadro, entende-se a necessidade de estimular processos que acompanhem a tarefa e
privilegiem a autonomia na construção do conhecimento.
A Teoria Social Cognitiva (TSC) é produto do trabalho de Albert Bandura, professor
psicólogo e pesquisador canadense, referência na área. Os estudos que originaram a TSC
tiveram início a partir de 1950, sendo apenas em 1986 a primeira publicação oficial com essa
nomenclatura. Em seu trabalho, Bandura (2008) visa entender o comportamento humano
tendo como base a Agência, conceito relacionado às capacidades exclusivamente humanas
tais como a simbolização, pensamento antecipatório, autorreflexão, autorregulação (principal
referencial de nossa pesquisa), entre outras (POLYDORO E AZZI, 2011).
O mecanismo autorregulatório trata de um processo cíclico e individual, em que as
ações realizadas são autogeradas, e ajustadas de acordo com as metas, pensamentos e
sentimentos pessoais, além das crenças motivacionais de cada indivíduo (POLYDORO E
AZZI, 2008). O desenvolvimento do comportamento autorregulado está ligado a três
subfunções (POLYDORO E AZZI, 2008): auto-observação; processos de julgamento e
autorreações. A primeira delas, a auto-observação está relacionada ao monitoramento do
desempenho de uma ação, é nesta fase que são obtidas informações para que determinado
comportamento ocorra. É importante ressaltar que tal fase não se limita à mera observação,
trata-se de um processo ativo de autoconhecimento, crucial na definição de metas. Quanto
maior o refinamento da auto-observação, melhor será a integração das outras duas
subfunções.
As informações obtidas na primeira fase sofrem os processos de julgamento (segunda
subfunção), e, a partir das comparações, ocorre também a atribuição de valor ao
comportamento, que varia entre apropriada, neutra e sem valor (POLYDORO e AZZI, 2008).
A atribuição de valor está fortemente ligada a fatores motivacionais, quanto maior o valor
atribuído à atividade, maior serão os esforços para sua realização, e refinamento da auto-
observação e autorreação.
A última subfunção da autorregulação relaciona-se à autorreação, é nessa fase que
ocorre a avaliação do comportamento desenvolvido, sendo que ela pode ser positiva, negativa,
neutra ou ainda inexistente. A autorreação permite uma mudança ou aprimoramento do
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
comportamento, sendo que há também, nesses casos, os chamados autorreforços, este último
ligado aos:
[...] padrões de desempenho que, quando satisfeitos tendem a regular o
comportamento por meio de recompensas autoproduzidas, tais como orgulho e
autossatisfação. Quando as pessoas não conseguem corresponder a seus padrões, seu
comportamento é seguido de autoinsatisfação ou autocrítica (G. J. FEIST, J. FEIST,
ROBERTS, 2015, p. 340).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Objetivos:
• Discutir os aspectos da preparação e da autoavaliação no processo de estudo
individual relacionado à prática da escrita rítmica e melódica, com ingressantes
matriculados na disciplina Percepção Musical;
• Acompanhar as ações prévias, de execução da tarefa e de avaliação por meio do
diálogo, da leitura e escrita de textos e excertos musicais, atividades que se configurem
a partir do modelo de Zimmerman e o processo autorregulatório de aprendizagem;
• Verificar os resultados refletindo sobre as informações dos participantes e
dimensionando-as para o aprimoramento das práticas futuras na disciplina.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Na segunda fase ocorre a seleção das informações e o planejamento das atividades com
os alunos. Essas, englobam práticas de escrita rítmica e melódica, que tem por objetivo
identificar as técnicas e a dimensão da escrita dos voluntários. Foi elaborado um questionário
de natureza aberta, cujas questões abordam plano de aprendizagem do aluno, estabelecimento
dos objetivos e as técnicas de aprendizagem, temas estes, relacionados ao modelo de
Zimmerman (2000, 2002). Com o intuito de testar a eficácia das questões, será realizada a
aplicação de um questionário teste, aplicado a alunos veteranos. Para o alcance dos objetivos
haverá 05 encontros entre pesquisadores e alunos participantes, assim estruturados:
1º: apresentação da ideia geral do trabalho, construindo um diálogo sobre a
autorregulação da aprendizagem. Haverá também a discussão sobre o processo de escrita
rítmica e melódica dos participantes, no que se refere à organização, realização e avaliação.
Para tanto, estruturou-se uma breve explicação verbal para apresentação das ideias da
pesquisa; aplicação do questionário sobre a escrita rítmica e melódica; introdução sobre a
autorregulação, com posterior diálogo.
2º: Planejamento e realização junto aos estudantes, de um conjunto de ditados
(melódico e rítmico) de caráter experimental para localizar os alunos sobre os quesitos como a
concentração, memorização, anotação e outros. Para esses exercícios, haverá uma seleção de
materiais, extraídos de métodos de percepção rítmica e melódica. Pretende-se corrigir e
dialogar sobre o processo e as estratégias utilizadas.
3º: Realização de atividades lúdicas relacionadas aos conteúdos estabelecidos para os
ditados rítmicos e melódicos. Essas práticas pretendem aproximar os participantes aos
elementos da música, sua atenção às propriedades do som, ao movimento e direção das alturas
e dos padrões rítmicos.
4o: realização da escrita rítmica e melódica. Após os exercícios haverá avaliação
juntamente aos participantes. Os ditados serão realizados de maneira individual.
5º: a última reunião será para discussão sobre os processos de escrita desenvolvidos e as
impressões sobre o processo, além do estímulo ao planejamento e rotina de estudos,
gerenciamento de tempo, autocrenças, fatores desmotivacionais e outros.
A última fase da metodologia será a análise dos dados obtidos de acordo com a Análise
de Conteúdo de Bardin (2010). As reflexões serão expostas no grupo de pesquisa
Epistemologias e Práticas em Educação Musical – EPEM em conjunto à construção do artigo
com resultados finais do processo.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Resultados Esperados:
A partir dessa pesquisa espera-se como resultado, compreender as práticas de estudo
individual dos alunos participantes, com uma intenção secundária, mas não menos importante,
de auxiliar a melhoria dessas ações. Estabelecer uma conexão entre as práticas de estudo e o
modelo da autorregulação da aprendizagem, (com o fomento à discussão sobre o processo de
organização dos estudos) tem a finalidade de despertar nos alunos um processo
autorregulatório cada vez mais consciente.
Tendo em vista os conhecimentos heterogêneos de uma classe, e os desafios
pedagógicos relacionados, torna-se cada vez mais necessário trabalhos e abordagens que
estimulem práticas mais refinadas de estudo autônomo, com destaque para a busca do
autoconhecimento e metas eficazes de estudo.
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Patricia Dauzacker
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
patriciahalliwell@hotmail.com
Introdução
O ser humano desde que nasce sente necessidade de se comunicar e interagir com o meio.
Porém, existem crianças que desenvolvem uma forma especial de comunicação. Comunicação
com características específicas onde o indivíduo apresenta comportamentos peculiares,
alheios ao mundo ao seu redor que dificulta a interação social, a linguagem e o
comportamento.
As pessoas com estas características são diagnosticadas com Transtorno do Espectro do
Autismo (TEA), termo criado por Leo Kanner, em 1943, originalmente descrito como
Distúrbio Autístico de Contato Afetivo.
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A música enquanto aspecto multiforme permite uma experiência sensorial que não só
desenvolvem ações, como também ideias (Barros, 2012). De acordo com Gainza (1988, p.22)
“A música e o som, enquanto energias estimulam o movimento interno e externo no homem;
impulsionam-no a ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes
qualidade e grau”.
Brito (2003) corrobora:
A música é uma forma de linguagem que faz parte da cultura humana desde tempos
remotos. É uma forma de expressão e comunicação e se realiza por meio da
apreciação e do fazer musical. (...) Durante o processo de musicalização, a criança
desenvolve a capacidade de expressar-se de modo integrado, realizando movimentos
corporais enquanto canta ou ouve uma música (Brito, 2003, p.93).
Por ser considerada mais uma forma de linguagem, a música atinge e afeta, traduz e
condiciona sentimentos e ideias, e se transforma em um instrumento útil de sociabilidade e
descoberta, tão necessário para indivíduos com síndromes que impedem o desenvolvimento
dos processos de cognição.
1 A Teoria da Mente é a capacidade de atribuir estados mentais a outras pessoas (...) Em suma, a Teoria da Mente
possibilita prever sobre os sentimentos e pensamentos alheios, criar hipóteses e tomar decisões (CAIXETA;
NITRINI, 2002; LOURO, 2014).
556
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Dentre os inúmeros efeitos que a música traz ao corpo humano, Benenzon (1985 p.35)
cita a “diminuição da pressão sanguínea, regularização da respiração, aumento dos reflexos
musculares e diminuição do impacto de estímulos sensoriais”. Além disso, a música atua no
sistema nervoso ativando as áreas cerebrais durante certas atividades musicais, estimulando a
neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar quando o sistema nervoso é
exposto a novas experiências (Queiroz, 2003).
A relação pré-existente do ser humano com o som, aliado a uma técnica direcionada
para o bem estar do indivíduo, possibilitam à musicoterapia assim como também à educação
musical, a oportunidade de abrir-se uma janela para trabalhar os déficits cognitivos e dentro
da perspectiva musical, trabalhar os educacionais também.
Crianças com autismo que frequentemente evitam o contato interpessoal e muitas vezes
nem possuem a capacidade da fala desenvolvida, possuem habilidades musicais incomuns.
Isto talvez, porque tenham escolhido a música como principal canal de expressão e
comunicação, ou também porque a música está presente intrinsecamente em todas as fases do
ser humano e que precisa de tão pouca estimulação externa, quanto falar ou andar de uma
criança normal, que se torna parte pertinente da vida (Gardner, 1996).
A musicalização é entendida como um processo de educação musical voltada para a
potencialização da percepção dos parâmetros sonoros bem como a fruição musical através de
atividades lúdicas com o objetivo de socialização, desenvolvimento da criatividade e
psicomotricidade, otimizando a relação da criança com o seu universo e o mundo em que
vive. A educação musical tem como enfoque o fazer musical, porém se preocupa com os
mesmos propósitos da musicoterapia no sentido de desenvolvimento da socialização,
cognição e expressividade. (Almeida; Campos, 2013)
Segundo Fonterrada:
A educação musical não é apenas uma atividade destinada a divertir e entreter
pessoas, tampouco um conjunto de técnicas, métodos e atividades com o propósito
de desenvolver habilidades e criar competências, embora essa seja uma parte
importante de sua tarefa. O mais significativo na educação musical é que ela pode
ser o espaço de inserção na arte da vida do ser humano, dando lhe possibilidade de
atingir outras dimensões de si mesmo e de ampliar e aprofundar seus modos de
relação consigo próprio,com o outro e com o mundo. (Fonterrada, 2005, p.106).
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2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
indivíduo com TEA possua suas singularidades, a Educação Musical acontecerá para ele da
mesma forma.
No estudo apresentado por Molnar-Szakacs et al. (2009, p.91), o autor indica que:
Esse interesse de acordo com o estudo deve-se ao fato que, crianças com TEA não
desenvolvem a Teoria da Mente e, portanto, não são capazes de ler feições ou emoções
humanas, o que, por via de regra, as tornam propensas a direcionar a atenção para objetos
inanimados mais do que pessoas. Contudo, a música, por ser um conceito abstrato, com
padrões repetitivos, pode e é recomendada como ferramenta auxiliar no progresso e melhoria
da expressividade, empatia e linguagem (Molnar-Szakacs et al., 2009).
Metodologia
A este trabalho compete a análise sobre a produção científica em cima do tema Educação
musical e Autismo, dentro do contexto do SIMCAM (Simpósio Internacional de Cognição e
Artes Musicais promovido pela ABCM -Associação Brasileira de Cognição e Artes
Musicais). Tendo por enfoque a análise dos textos encontrados em anais dessa conferência,
desde seu início até o presente momento. O intuito é analisar o que vem sendo apresentado
sobre o TEA e onde a educação musical se encaixa no desenvolvimento e aprendizado para os
alunos portadores desse transtorno. Sendo a ABCM voltada para assuntos relacionados à
cognição, processos mentais de aprendizagem da música, a publicação de estudos
relacionando a temática com o autismo, é pertinente.
O mapeamento da produção foi elaborado com base nos doze anais do SIMCAM
durante o período de 2005 até 2016. Buscou-se identificar, entre artigos e pôsteres, textos
referentes à temática de Educação Musical e Autismo. Dentre os doze anais do SIMCAM,
foram encontrados seis textos dentro do contexto TEA e Educação.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
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Considerações finais
Esta pesquisa encontra-se em andamento, em fase de análise do teor dos textos levantados, e
ao final da análise dos artigos pretende-se estabelecer relações entre os estudos publicados no
SIMCAM e a necessidade de desenvolvimento da área de educação musical de indivíduos
com TEA.
Particularmente em síndromes como o Transtorno do Espectro Autista, a experiência
musical se traduz em uma abertura nos canais de comunicação, muitas vezes carentes nesses
indivíduos. Ou seja, mesmo em um transtorno global de conhecimento que, por vezes, desafia
a compreensão da comunidade científica, há a possibilidade de um conceito abstrato como é
conhecida a música, de trabalhar déficits cognitivos que até então, eram diagnosticados,
porém, não existia o tratamento terapêutico adequado.
Na busca pelo conhecimento, uma troca de informações no que diz respeito às pesquisas
e atividades propostas como estratégias de uma formação continuada, necessárias à educação
inclusiva, ainda está longe de alcançar patamares satisfatórios. Em doze anais do SIMCAM,
apenas seis artigos sobre o tema “Educação Musical e Autismo” foram encontrados. Em um
simpósio que aborda os processos cognitivos e sua relação com a música, deparar-se com
apenas seis artigos demonstra uma escassez de pesquisas de campo, levantamentos
bibliográficos e estudos de caso, trazendo luz a questionamentos que dizem respeito a todo
docente que trabalhe com a Educação Musical. A pouca quantidade publicada até o presente
momento reflete a necessidade de aprofundamento de pesquisas relacionadas ao tema, que
podem trazer benefícios aos indivíduos portadores desta síndrome bem como à Educação
Musical.
Referências
Almeida, D. T., Campos, A.M.P. Educador Terapeuta – Os benefícios do olhar especialista
em musicoterapia na educação musical. Revista Brasileira de Muscoterapia Ano XV,
nº15, p.43-56.2013.
Barros, M. R.. A música como mediadora no desenvolvimento cognitivo em crianças com
perturbações autísticas: intervenção junto de uma aluna com perturbações
autísticas.Tese de Mestrado da Escola Superior de Educação João de Deus de Lisboa.
Mestrado em Necessidades Especiais, 2012.
Benenzon, R. Manual de Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros, 1985.
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Playing and singing: proposal of methodological action with ludic interventions in the musical
practices of a children's choir
Abstract: The present work discusses a research project of doctorate in Music - Music and
Cognition, by the Graduate Program in Music of the Federal University of Paraná. Considering
choral singing as an activity carried out worldwide by the most varied backgrounds and with
different objectives, this research focuses specifically on children's choir. The research will be
carried out in the city of Curitiba - Paraná and has as general objective to analyze a proposal of
methodological action through playful intervention in the musical practices of two choirs in
different sociocultural contexts. The methodological approach to be used is qualitative, comprising
of action research to establish the aspects and effects of playfulness through interventions in the
choral practices of children. The data will be generated through practical field participation and
semi-structured interviews. The objective of the research is to identify instances from playful
action in the choral context, as promoters of the construction of musical knowledge, as well as to
provide the regents of children's choirs and musical educators a new look at play as an applicable
educational process.
Key-words: music pedagogy, learning, competences, playful, children choir.
Introdução
A proposição deste projeto, com ênfase na inserção lúdica no coro infantil, surgiu de reflexões
sobre o processo de ensino-aprendizagem da música nesse contexto e de questionamentos
quanto ao ser possível que o ensino de música esteja vinculado a ações metodológicas de
ensino-aprendizado que sejam práticas, divertidas e prazerosas.
Observa-se a existência de inúmeras pesquisas e relatos de experiências que registram
os diferentes espaços onde se efetivam o processo prático de ensinar e aprender música, bem
562
Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
como as diferentes formas como esse processo se dá. Desse modo, destaca-se uma ampliação
na atuação da Educação Musical nos mais diferentes contextos. Kraemer (2000) fundamenta a
Educação Musical nesses novos espaços, observando que se trata de uma área do
conhecimento que “ocupa-se com as relações entre a(s) pessoa(s) e a(s) música(s) sob os
aspectos de apropriação e de transmissão” (p. 52). Complementa Sousa (2000), em seus
trabalhos, apresentando contribuições teóricas e práticas para se entender a relação ‘cotidiano
e ensino’, que se aproximam das intenções e articulações teórico-metodológicas da pesquisa.
Ao discorrer sobre educação musical por meio do canto coral atrelamos ao assunto
questões de cunho técnico-musicais, mas também discutimos a importância que a música tem
na formação do indivíduo como um todo. Estudiosos sobre o assunto mencionam ainda que a
música estimula o desenvolvimento de uma série de virtudes e também proporciona a
integração entre outras áreas do currículo educacional.
Figueiredo (1990) comenta que “é fundamental que se reflita sobre a atividade coral. Os
regentes devem se lembrar de sua função educacional” (p. 90). Haverá assim, maiores
possibilidades de desenvolvimento consistente do conhecimento musical, que conduzirá ao
aprimoramento da prática coral.
As experiências profissionais enquanto professora de música e regente coral, instigam a
refletir sobre tal processo e suscitam questionamentos: É possível que o ensino de música
esteja atrelado a uma metodologia prática que seja divertida e prazerosa? Quais benefícios
são evidentes e como esses podem ser alcançados e utilizados nas atividades como regente
coral? Tais questionamentos se ampliaram e levam buscar respostas que possam esclarecer
um panorama quanto às atividades de ensino de música e prática coral com crianças de forma
que o envolvimento em tais atividades lhes seja de aprendizado prazeroso.
Autores como Brito (2003), Hentsche & Del Ben (2003), entre outros renomados,
contribuem com reflexões sobre experiências e propostas práticas do ensino de música para
crianças. Ampliando a reflexão quanto aos aspectos relacionados à prática de ensino para tal
faixa etária, a partir de leituras realizadas, de acordo com Macedo (2003), entende-se que as
atividades lúdicas oferecem à criança momentos em que colocam a serviço da aprendizagem
toda a sua energia, alegria e vontade. O referido autor apresenta indicadores que permitem
inferir a dimensão lúdica na aprendizagem. Tais aspectos foram observados e analisados na
pesquisa1 realizada durante o mestrado, onde se podem contemplar tais indicadores inseridos
1 Pesquisa que resultou na dissertação com título “A dimensão lúdica na regência de coro infantil”, defendida em
fevereiro de 2015.
563
2017 Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais
Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar uma proposta de ação metodológica com
intervenção lúdica nas práticas musicais do coro infantil em dois contextos socioculturais
distintos.
Para tanto, tem-se como objetivos específicos estudar aspectos sobre a regência de coro
infantil em contextos socioculturais diferentes; identificar as aproximações da prática lúdica
com o ensino musical; levantar possibilidades do contexto coral para intervenções lúdicas;
descrever após analisar, as interfaces das atividades de regência sob a óptica da ludicidade;
investigar por meio de entrevistas semiestruturadas as impressões beneficiárias quanto às
inserções lúdicas no contexto coral; identificar e descrever o olhar das crianças sobre as
propostas lúdicas vivenciadas em ambos os contextos.
Revisão de Literatura
Estudos e pesquisas na área de educação musical apontam o canto coral como um espaço de
ensino-aprendizagem da música. Sendo assim, pensar a educação musical por meio da prática
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
coral seria buscar a consciência da época em que vivemos e pensar nos participantes
envolvidos nesse contexto histórico-cultural complexo e dinâmico.
Como seres sociais, ninguém é igual. Constroem-se nas vivências e nas experiências
sociais em diferentes lugares - em casa, na igreja, nos bairros, escolas, e são construídos como
sujeitos diferentes e diferenciados, no seu tempo-espaço (Bourdieu, 2010). Kater (2004) faz
referência a algumas características de uso da música verificadas de maneira corrente em
projetos de ação social, com a finalidade de evidenciar novas perspectivas de formação
humana, oferecidas pela educação musical.
A atuação de regentes corais nos mais diferentes contextos tem sido discutida de forma
mais intensa nas últimas décadas. Na prática de um coro infantil, autores como Rao (1993),
Leck (1995), Campos (1997), Schimiti (2003), Lackschevitz (2006), Lima (2007), abordam o
tema por meio de suas experiências profissionais na área, salientando que o regente esteja
atento às necessidades decorrentes desta ação.
Considerando que “a criança aprende brincando e brincando ela é feliz” (Cely, 1997, p.
127), da revisão de literatura foram selecionados alguns autores que de forma direta ou
indireta contribuem para a discussão sobre o coro infantil enquanto espaço de aprendizagem
por meio de intervenções lúdicas - envolvendo o jogo e a brincadeira, numa perspectiva mais
ampla que inclui a questão pedagógico-musical.
Schimiti (2003) descreve a atuação dos regentes de coro infantil, refletindo sobre suas
ações bem como fornecendo diretrizes e atividades para o trabalho coral. A autora alerta que
no trabalho com crianças é preciso se dar conta de que teorias abstratas, se substituídas por
referências mais concretas, trazem um resultado mais imediato, uma compreensão mais
segura e lúdica. Segundo a autora, nada melhor que aproveitar recursos visuais para a fixação
e incorporação de conteúdos no trabalho com crianças, bem como dispor de atividades
criativas nos ensaios porque estimulam a atenção e aumentam o tempo de concentração.
No âmbito do coro infantil, uma boa aprendizagem se dá através da motivação e
dedicação do regente. O cuidado na preparação e no planejamento das atividades que farão
parte dos ensaios torna-se fundamental. Figueiredo (1990) em seu trabalho demonstra a
importância de uma preparação adequada do ensaio dentro de uma perspectiva educacional.
Uma prática prazerosa e bem fundamentada incitará posturas de busca constante pela
atividade e pelo aperfeiçoamento.
O ensaio no coro infantil é, portanto, um espaço de lazer onde diálogo, reflexão e
questionamento são constantes. Nesse sentido, Elza Lakschevitz (2006) atenta para atitudes e
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Metodologia
Baseado em autores como Gil (2008) e Thiollent (1986) o método de pesquisa escolhido para
esta investigação é a pesquisa-ação que se caracteriza pelo envolvimento do pesquisador e dos
pesquisados no processo de pesquisa, numa postura dialética (Gil, 2008).
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Considerações preliminares
A realização desta pesquisa trará benefícios à área de Educação Musical e Regência Coral não
só ao auxiliar regentes e educadores a refletirem sobre a importância e consequências de sua
prática em busca por desenvolver um trabalho que atenda as características socioculturais e
cognitivas do seu grupo, mas contribuirá principalmente na apresentação de ações
metodológicas para a atividade de canto coral infantil com ênfase na ludicidade.
Espera-se, ao longo do percurso investigativo, reunir evidências para argumentar em
favor da inserção lúdica no processo educacional, superando o senso comum de ludicidade
enquanto elemento complementar da educação e deslocando-o para o centro da ação
educativa, como forma de promover construção de conhecimento na música e defendendo a
proposta de educação musical no espaço do ensaio coral como uma possibilidade de ensino-
aprendizagem que seja eficaz, dinâmica e lúdica.
Referências
Bellochio, C. (1994). O canto coral como mediação ao desenvolvimento sócio-cognitivo da
criança em idade escolar. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal
de Santa Maria, Santa Maria.
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Resumo: O presente texto traz resultado parcial de uma pesquisa cujo objetivo geral foi investigar as
representações de alunos de licenciatura sobre o conceito de “criatividade musical” e sobre a ideia da
“criança musicalmente criativa”, utilizando como referencial teórico estudos sobre Criatividade e
Representações Sociais. A metodologia utilizada foi a survey e o instrumento de coleta de dados um
questionário. Participaram do estudo 21 alunos de licenciatura em música de uma instituição da cidade
Curitiba. Os resultados indicam que os estudantes de música possuem, em sua maioria, representações
sociais sobre a existência da ‘criança criativa musicalmente’ sendo capazes de elencar características
dessa criança. As representações dos estudantes sobre a criatividade musical das crianças
possibilitaram a organização de categorias gerais que incluíram aspectos de compreensão musical,
execução musical, sensibilidade, exploração sonora, entre outros.
Palavras-chave: Criatividade, representações sociais, aprendizado.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz como tema as representações sociais de alunos de licenciatura sobre a
criatividade musical. Para Addessi (et alii, 2010), ao levantarmos opiniões e pensamentos dos
estudantes de graduação, encontramos concepções e conhecimentos implícitos
(representações sociais) que afetam suas identidades profissionais e consequentemente suas
formas de ensinar e/ou aprender. Assim, considerando-se que o discente possui representações
sociais que guiam suas decisões e atitudes, o objetivo desta pesquisa foi investigar as
representações de alunos de licenciatura sobre o conceito de “criatividade musical” e sobre a
ideia da “criança musicalmente criativa”, utilizando como referencial teórico da pesquisa
1 Bolsistas do CNPq
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesta etapa do trabalho serão abordados dois tópicos. O primeiro tratando sobre as
representações sociais a partir da psicologia social. O segundo sobre o conceito de
criatividade e a relação com a música e aprendizagem.
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
por uma posição social particular tomada por indivíduos que a produzem, protótipos
implícitos que guiam nossos julgamentos e comportamentos como indivíduos que existem
num universo de consenso. As transformações acontecem por meio de conflitos de natureza
social podendo ser mutáveis.
2.2 Criatividade
A origem da palavra criatividade está ligada ao ato da criação e invenção. Não há uma única
definição para o conceito de criatividade, no entanto existem algumas formas de classificá-la
mais aceitas pela maioria dos pesquisadores científicos. Assim, entende-se que a criatividade
está relacionada à maneira de produzir algo como uma teoria, dança, história ou sinfonia, que
seja original e ao mesmo tempo válido (Sternberg, 2010). Segundo Barrett (2000) a tentativa
em definir criatividade tem-se mostrado a partir da perspectiva da pessoa, processo, produto e
ambiente no qual a atividade criativa se é observada.
No campo da música, Barrett (2000) evidencia o papel do professor no
desenvolvimento da criatividade que também está ligada a fatores de motivação intrínsecos
(internos) e extrínsecos (externos). Outros fatores principais descritos pela autora é o tempo
em que se está exposto à determinada atividade, envolvimento da tarefa e a autoconfiança
para ousar e explorar durante as atividades musicais.
Ao estabelecer ambientes que educam o “individuo criativo” em música, Barrett (2000)
cita uma série de elementos que precisam ser levados em conta, como o equilíbrio cuidadoso
entre as tarefas que são interpretadas como motivadoras intrínseca e extrinsecamente; o
cuidado com o desenvolvimento de estratégias cognitivas que ajudem os estudantes a lidar
com a atividade criativa e sentirem-se confortáveis ao correr riscos com materiais e processos
não familiares e familiares; o encorajamento do estudante para questionar e adotar uma
“orientação de descoberta” para suas atividades musicais.
3. METODOLOGIA E RESULTADOS
O método utilizado foi o estudo de levantamento (ou survey). De acordo com Gil (2000) e
Babbie (1999), a survey (ou o estudo de levantamento) é um método de pesquisa que propicia
a aquisição de dados sobre situações e comportamento de determinado grupo, através da
interrogação direta.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário, elaborado com questões de
múltipla escolha, fechadas, dependentes e abertas. O questionário foi testado, inicialmente,
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em um estudo piloto para análise da confiabilidade e coerência interna das questões. Após o
estudo piloto o questionário foi aplicado para a população definitiva. Participaram da pesquisa
21 alunos do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Paraná. Seguem,
abaixo, os dados de caracterização do grupo.
3.1. Idade: A maioria dos participantes se encontram na faixa etária entre 18 a 30 anos (ver
gráfico 1).
3.3. Período: A maior parte dos entrevistados foram estudantes do 2º e 6º período, que
correspondem ao 1º e 3º ano do curso (ver gráfico 3).
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4. CONCLUSÃO
O objetivo desta pesquisa foi investigar as representações de alunos de licenciatura sobre o
conceito de “criatividade musical” e sobre a ideia da “criança musicalmente criativa”,
utilizando como referencial teórico da pesquisa estudos sobre Criatividade e Representações
Sociais. Neste texto foram apresentados os resultados parciais referente às representações
sociais dos estudantes de graduação sobre “criança criativa” e criatividade musical das
crianças. Os dados indicaram que: (a) os estudantes participantes da pesquisa (em sua
maioria) possuem representações sociais sobre a existência da ‘criança criativa musicalmente’
e as suas características; (b) as representações construídas sobre a criatividade musical
possibilitaram a organização de categorias gerais que são fruto de ideias compartilhadas e
experiências pessoais vivenciadas pelos participantes; (c) as categorias elencadas pelos
participantes incluíram aspectos de compreensão musical, execução musical, sensibilidade,
exploração sonora, entre outros elementos; (d) 24% dos participantes não souberam responder
se existem crianças com maior criatividade musical, o que indica que, sobre este tema, os
alunos ainda poderão modificar/construir suas representações, a partir, por exemplo, das
experiências vivenciadas no curso de licenciatura em música e das suas experiências de
prática de ensino (dentre outros contextos).
Referências
Addessi A.R; Araújo R.C.; Valls A.; Gluschankof C. (2010). A comparative research about
social representations of music held by university students. In: Proceedings of the 11th
International Conference on Music Perception and Cognition (ICMPC 11). [pp. 28 – 35].
Seattle. Washington: University of Washington.
Araújo, R. C. (2015). Representações sociais na prática de ensino de professores de
instrumento. In: Anais do XXV Congresso da ANPPOM. Vitória: ANPPOM.
Babbie, E. (1999). Métodos de pesquisa de Survey. Belo Horizonte: UFMG.
Barrett, M. (2000). O conto de um elefante: Explorando o Quê, o Quando, o Onde, o Como e
o Porquê da Criatividade. In: Música, Psicologia e Educação. Nº 2. Porto, Portugal:
CIPEM.
Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. (6. ed.). São Paulo: Atlas.
Moscovici, S. (2007). Representações sociais: investigações em psicologia social. (5. Ed.).
Petrópolis: Vozes.
Nogueira, S. I. & Bahia S. (2005). Entre a teoria e a pratica da criatividade. In: Miranda, G. &
Bahia, S. (Eds). Temas de Psicologia da Educação: Temas de Desenvolvimento,
Aprendizagem e Ensino. [pp. 333-362]. Lisboa, Portugal: Relógio D’Água Editores
Sternberg, R. J. (2010). Psicologia Cognitiva. Tradução: Ana Maria Dalle Luche, Roberto
Galman. (5ª ed.). São Paulo: Cengage Learning.
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Resumo: O presente trabalho expressa uma visão reflexiva feita a partir do contato com a disciplina
de Estágio na rede básica de ensino, especificamente na rede pública e a partir de estudos realizados
desde o início do curso de Licenciatura em Educação Musical pela Ufscar, tendo como objetivo
discutir e contribuir para a reformulação da referida atividade no ensino básico, tendo em vista a Lei
11.769/08, ora em vigor, frente ao que foi verificada uma profunda desmotivação do alunado para com
esta disciplina. Como embasamento teórico, além do texto da referendada Lei, tivemos a leitura e
reflexão sobre alguns textos tirados da vasta literatura pertinente ao assunto. Tendo-se como variáveis
intervenientes as questões citadas pode-se esperar que a motivação pelas aulas de Educação Musical
ocorra a contento e o resultado do ensino de Educação Musical seja mais promissor. Espera-se que o
Questionário, instrumento de averiguação, aplicado aos alunos do 7º e 8º ano da rede básica de ensino,
participantes da disciplina de artes das seguintes escolas: Escola Estadual Amadeu Amaral – SP e na
Escola Estadual Altina Maynardes Araujo – Tatuí SP, revelará a opinião do alunado quanto a sua
participação nas aulas de Educação Musical e, certamente fornecerão conteúdos para sugerir
reformulação da árdua tarefa de ministrar aulas de uma disciplina tão importante para na vida dos
alunos no mundo moderno.
Palavras-chave: motivação, educação musical, ensino de música, professor de educação musical.
Abstract: The present work expresses a reflexive vision made from the contact with the discipline of
Internship in the basic network of education, specifically in the public network and from studies
carried out since the beginning of the Degree in Music Education by Ufscar, aiming to discuss and to
contribute to the reformulation of said activity in basic education, in view of Law 11.79 / 08, now in
force, in light of which there was a profound lack of motivation of the student to this discipline. As a
theoretical basis, besides the text of the referendada Law, we had the reading and reflection on some
texts taken from the vast literature pertinent to the subject. Having as intervening variables the
mentioned questions one can expect that the motivation for the Musical Education classes will occur
to the content and the result of the Education of Music Education will be more promising. It is
expected that the Questionnaire, an instrument of inquiry, applied to the students of the 7th and 8th
grades of the basic education network, participating in the arts discipline of the following schools:
Amadeu Amaral State School - SP and the Altin Maynardes Araujo State School - Tatuí SP , Will
reveal the student's opinion about their participation in Music Education classes and will certainly
provide content to suggest reformulation of the arduous task of teaching classes of such an important
discipline in the lives of students in the modern world.
Keywords: motivation, musical education, teaching music, professor of music education.
Introdução
Das mudanças do mundo moderno têm surgido muitos problemas de adequação aos novos
costumes, à nova maneira do viver humano. Um destes problemas está relacionado com a
educação, e nesta, com o ensino. O que ensinar? Como ensinar? A quem ensinar? Quem
ensina? Quem aprende? Responder a estas perguntas é um bom começo para abordar
577
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um campo de estudos que se refere não ao ensino técnico de música para formar
profissionais da prática musical, mas ao fornecimento dos subsídios para que um
cidadão tenha condições de, em se relacionando com a música, possa dela usufruir o
que de saudável ela proporcione. Mas nem todo mundo pensa desta forma,
confundindo educação com preparo técnico (OLIVEIRA, 2015, p. 3).
No Brasil a educação musical, tida como real recurso educacional tem acontecido de
forma assistemática e tantas vezes de maneira descontrolada, pois quem tem controlado as
preferências individuais dos lares, dos amigos e mesmo das escolas é a indústria cultural e,
frente a ela, até o folclore está perdendo o seu papel na Educação (OLIVEIRA, 2015, p. 3).
Diante do atual status que e fundamentado em nossa experiência em sala de aula, podendo
para isto ser listadas muitas variáveis como teremos oportunidade de analisar neste trabalho,
levando em consideração que nem sempre nos damos conta, professores e alunos, da
importância, da motivação para que consigamos realizar nossos objetivos. Não será que se
desse mais importância a este assunto se resolveriam muitos problemas que emperram o
andamento das aulas de educação musical, transformando- as em algo bem mais prazeroso?
Acreditamos que dando especial condição de motivação a alunos e professores frente à
problemática do ensino, sobretudo do ensino básico, foco do nosso trabalho, seríamos bem
sucedidos em nossas aulas de educação musical? Mas para constatar se estamos certos ou não,
quanto à existência de desmotivação e a que nível ela se antepõe pensamos em ouvir o
alunado falar.
Metodologia
O instrumento de coleta de dados que subsidiaram nosso estudo foi um Questionário que teve
as seguintes características: Elaboramos o Questionário tendo em mente as determinações
feitas por CERVO, 2007 p. 51, onde encontramos informações pertinentes sobre os principais
pontos quando, em pesquisa, opta-se pelo uso de um Questionário e tomamos nota do
seguinte: a) Elaborar uma ou mais perguntas referente a cada dado a ser levantado; b)
Selecionar o tipo de pergunta a ser utilizado diante das vantagens e desvantagens de cada tipo,
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com vistas ao tempo a ser consumido para obter os dados e a maneira de tabulá-los e analisá-
los. Estas duas indicações nortearam-nos na elaboração das cinco questões dispostas no
Questionário. Usamos um formato de indagação que não induzisse o respondente a dar
respostas estereotipadas, como as de dar notas de 1 a 10. Usamos para evitar este viés uma
“linha cega” (sem pontuação e que nas “Orientações” à aplicação do Questionário foi
instruído como preenchê-la) que induziria o respondente a pensar mais no gostar ou não da
variável indagada, do que conferir-lhe uma nota estereotipada. E continuando com o expresso
por CERVO (o.c.) quando diz que para que se possa ter algo concreto é preciso esquematizá-
lo da forma mais clara possível, para que o leitor consiga compreender os dados expostos e
suas respostas. Classificado, de acordo com o texto, que o questionário aplicado constará de
perguntas abertas onde, segundo Cervo (2007, p. 51) seja destinado à obtenção de respostas
livres, mesmo que possibilitem recolher informações ou dados mais ricos e variados e que
para sua codificação e análise apresentem maior dificuldade.
Foram cinco as questões formuladas no Questionário, sendo a primeira (“Gosto muito
da aula de Artes e Educação Musical” e seu oposto “Não gosto nada das aulas de Artes, em
especial das aulas de Educação Musical”) considerada a pergunta chave para responder sobre
a motivação do alunado à frequência às aulas de educação musical e as demais elaboradas
abordando variáveis que, a nosso ver, poderiam ter interferência com a primeira que como
dissemos supra deveria refletir a motivação ou não para ir às aulas de educação musical.
Questionário que foi aplicado a 83 participantes (48 homens e 35 mulheres) com idade
escolar entre 13 e 14 anos (média de 13,08), do 7º e 8º ano da rede básica do ensino, uma na
Capital (São Paulo): Escola Estadual Amadeu Amaral e outra no interior (Tatui/SP): Escola
Estadual Altina Maynardes Araujo.
Do Questionário constaram perguntas cujas respostas nos deviam fornecer subsídios
para a constatação do porquê de tanta desmotivação e conseqüentemente a indicação do
oposto: o que conduziria o alunado a uma motivação consistente e persistente à participação
nas aulas de Educação Musical. Servirão também como conteúdo à reflexão sobre o tema, as
observações no estágio na disciplina de Artes, expressas nos relatórios elaborados, que de
certo modo refletem acontecimentos observados nas propostas efetuadas pelos professores em
sala de aula, geralmente questões pertinentes ao comportamento dos alunos e do professor. Irá
ajudar também em reflexões sobre os resultados encontrados, além dos dados obtidos no
questionário e possíveis entrevistas, a busca bibliográfica a respeito do assunto. Na tentativa
de encontrá-las recorremos à pesquisa bibliográfica sobre o assunto (no caso: motivação/
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desmotivação) e encontramos ricos materiais usando-os como base para continuar e poder
desenvolver a pesquisa descritiva e experimental deste trabalho, podendo hipoteticamente
chegar a algumas conclusões às perguntas levantadas.
Resultados
Caracterizando os sujeitos pesquisados:
O presente trabalho teve como objetivo primário responder à pergunta: Por que, de modo
geral, é tão baixa a motivação do alunado contemporâneo para assistir às aulas de Educação
Musical, sobretudo na escola pública? Frente ao que foi formulada a seguinte hipótese: A
profunda desmotivação à frequência às aulas de Educação Musical e participação nas
mesmas, entre muitas variáveis, poderia estar afetando o despreparo dos professores em
relação à sua competência, quanto à metodologia usada, quanto à seleção dos conteúdos a
serem ministrados, a isto tudo somada a vocação ou carisma que o candidato a professor
deve ter para o desempenho desta profissão.
O instrumento de coleta de dados que subsidiaram nosso estudo foi um Questionário
que foi aplicado a 83 participantes (48 homens e 35 mulheres) com idade escolar entre 13 e
14 anos (média de 13,08), do 7º e 8º ano da rede básica do ensino, frequentadores de duas
escolas, uma na Capital (São Paulo): Escola Estadual Amadeu Amaral e outra no interior
(Tatui/SP): Escola Estadual Altina Maynardes Araujo, ambas escolas da rede pública.
Tabela 1
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MENINOS MENINAS
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Discussão
Observou-se pequena diferença entre médias e/ou porcentagens obtidas pelos respondentes de
modo geral. Com a aplicação de uma estatística mais refinada poder-se-ia eventualmente
encontrar diferenças significativas aceitáveis. Mas não tendo até o momento sido efetuada tal
estatística vamos deixar de apresentar possíveis conclusões a este estudo.
Tendo-se em vista que a pontuação máxima atribuível a cada quesito seria de 6557,00
pontos para cada Questão (79 mm tamanho da linha vezes 83 respondentes), apuramos para
cada questão o expresso na Tabela 1. Idem, agora considerados os dois sexos, meninos e
meninas, foram possíveis estabelecer as médias para cada grupo. O resultado está expresso na
Tabela 2.
Com base nos dados coletados conforme descritos na metodologia e transcritos acima,
tem-se a esperança de que seja possível responder as seguintes perguntas:
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Referências
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FADIMAN, J. & FRAGER, R. Teorias da Personalidade. Editora Harber & Row doBrasil
Ltda. 1979, p. 259-272.
FONTERRADA, Marisa Trench Oliveira. De tramas e Fios: Um ensaio sobre música e
educação. São Paulo: Editora Unesp, 2008.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LEI no. 11.769 de 18 de agosto de 2008, assinada pelo Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, Secretário da Educação, Fernando Haddad.
LOURENÇO, Abílio Afonso e PAIVA, Maria Olímpia Almeida de. A Motivação escolar e o
processo de aprendizagem. Centro de Investigação em Psicologia e Educação (CIPE),
Escola Secundária Alexandre Herculano, Porto, Portugal.
MADEIRA, Ana Ester Correia e MATEIRO Teresa “Motivação na aula de música: Reflexões
de uma professora” Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais, 2013 P. 67 à
82).
OLIVEIRA, José Zula. Introdução a Música de Todos os Tempos, teoria e prática, 2006.
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OLIVEIRA, José Zula. Palestra sobre oEnsino de Música: Educação Musical no ensino
básico. 2015. na FIg – Guarulhos SP
PENNA, Maura. Educação Musical e educação integral: a música no Programa Mais
Educação. Revista da ABEM. Londrina, v. 19, n. 25, p 141-152, 2011.
RICHARD, D. G. Psychology: The Science of Mind and Bahavior. 1992. p. 902-904.Hodder
& Stoughton, Cambridge London.
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Índice de autores
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Anais do XIII Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais 2017
Jardim Nogueira
Vanessa S., 197 Marcos, 31
Nunes-Silva
Krüger Marilia, 23
Igor M., 416, 424
Veridiana L. G., 416, 424 Oliveira
Guilherme A. D., 451
Leal José Zula, 577
Jonatas, 519 Luis Felipe, 30, 510
Lima Mário A. W., 392
Letícia D., 174 Opiechon
Loureiro Susan S., 569
Cybelle M. V., 88 Otutumi
Maurício A., 270, 287, 294 Cristiane H. V., 20, 547
Macedo Pedrosa
Franciele F., 577 Mayra S. D., 302
Madeira Penha
Renan M., 327 Bernardo A. S., 182
Magalhães Penteado
Tairone N., 270 Antonio F. C., 309, 383
Mantovani Pereira
Michele R., 477 Caoqui S., 61
Marchiano Piazzetta
María, 230 Clara M., 29, 114, 130
Martínez Povoas
Isabel C., 230 Maria Bernardete C. P., 27
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