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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

FUNDAMENTOS DA FITOTERAPIA VETERINÁRIA

DENISE BOTELHO DE OLIVEIRA BRAGA

NITERÓI

2013
2

HISTÓRICO DA FITOTERAPIA
1 1
Denise Botelho de Oliveira Braga , Marília Botelho de Oliveira Chaudon ,
2
Alcir das Graças Paes Ribeiro

A história da medicina começa com a fitoterapia. As plantas foram os


primeiros medicamentos utilizados pelo Homem. Os estudos arqueológicos, através
dos vestígios deixados pelos nossos antepassados de Neanderthal, constatam que
há mais de 3.000 anos as ervas eram utilizadas com fins terapêuticos.
Todas as civilizações, em todos os continentes, deixaram registros das
virtudes das plantas para fins alimentícios, medicinais e cosméticos. Um papiro
egípcio de 1.600 a.C. descreve muitas plantas, animais e remédios inorgânicos.
Alguns como o coentro, o funcho, o alho, o sene e o absinto são usados ainda hoje.
Existe uma clara evidência de ópio produzido a partir da papoula cultivada na
Mesopotâmia, foi a primeira experiência do Homem na área da preparação de
medicamentos.
Na China, as referências ao uso de plantas medicinais, encontradas nos
“oráculos dos ossos” (meios de gravação de informação), são anteriores à Dinastia
Ming (1.500 a.C.).
Até o século XIX os medicamentos eram formulados basicamente a partir de
plantas, entretanto, com a industrialização no início do século XX, surgiram os
medicamentos sintéticos, que aos poucos substituíram as plantas, e que hoje
dominam o mercado farmacêutico. A fitoterapia atualmente existe principalmente no
mercado informal, o que representa um grande perigo à saúde da população, pois
neste há a comercialização de drogas vegetais sem controle fitosanitário e de
identidade e pureza. Há a necessidade de um controle maior e melhor desse ramo
farmacêutico, pois os fitoterápicos representam uma alternativa economicamente
mais viável à população e por razões de resgate histórico do conhecimento. No
Brasil, apenas em 1995 passou a existir normatização oficial sobre a fitoterapia.
Acredita-se que o conhecimento das propriedades curativas das plantas foi,
no início, meramente intuitivo, ou observando os animais que, quando doentes,
buscavam nas ervas a cura para seus males. Com esse comportamento, passando

1
Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF.
2
Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio
3

de geração a geração, adquiriram gradualmente mais conhecimento, tornando-os


capazes de utilizar as diferentes plantas e ervas.
Por mais de 5.000 anos a arte da cura tem sido uma doutrina crescente e em
constante mudança, entretanto ao se comparar a história da medicina em várias
civilizações podemos perceber muitos paralelos.

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA


A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) compreende diversas técnicas
terapêuticas que são usadas em associação ou isoladamente no tratamento das
doenças, conforme cada caso. Entre estas técnicas, a fitoterapia destaca-se como a
principal para tratamento de doenças internas e divide com a acupuntura os méritos
de serem os pilares da MTC.
Os tratados médicos de fitoterapia chinesa (Ben Cao Jing, cuja tradução é
Tratado de Árvores e Ervas) incluem não só substâncias do reino vegetal, mas
também, produtos minerais e animais. Como as plantas são a maioria absoluta dos
produtos usados medicinalmente, no ocidente esta técnica é chamada de fitoterapia,
entretanto o nome mais correto seria naturopatia.
A MTC é um termo que engloba também as outras medicinas da Ásia, como
os sistemas médicos tradicionais do Japão, da Coréia, do Tibete e da Mongólia e
constitui-se num dos sistemas médicos com a tradição mais antiga (+ 5.000 anos) de
que se tem conhecimento. Nesta evolução milenar, a fitoterapia chinesa foi se
organizando, se estruturando e se tornando o sistema terapêutico mais avançado do
mundo no fim do século XX. Este conhecimento começou a difundir pela Europa no
século II d.C, trazido por exploradores famosos como Marco Polo.
A MTC se fundamenta numa estrutura teórica sistemática e abrangente, de
natureza filosófica, na qual utiliza três princípios para explicar alguma mudança na
saúde do corpo humano: a) os cinco elementos: a madeira, o fogo, a terra, o metal e
a água; b) a relação entre Yin e Yang e c) a circulação da energia Qi (energia ou
força vital) pelos meridianos.
O sistema médico chinês, tendo como base o reconhecimento das leis
fundamentais que governam o funcionamento do organismo humano e sua interação
com o ambiente segundo os ciclos da natureza, procura aplicar esta compreensão
tanto ao tratamento das doenças quanto à manutenção da saúde através de
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diversos métodos. A doença é causada por um desequilíbrio num ou mais canais ou


áreas do corpo.

Figura 1- Os cinco elementos, a relação Yin/Yang, os meridianos. Fonte: Wikipédia

MEDICINA AYURVÉDICA
Ayurveda é o nome dado ao conhecimento médico desenvolvido na Índia há
cerca de 7 mil anos, o que faz dela um dos mais antigos sistemas medicinais da
humanidade. Ayurveda significa, em sânscrito, ciência (veda) da vida (ayur) e tem-se
difundido por todo o mundo como uma técnica eficaz de medicina tradicional.
Também usa muitas plantas para o tratamento das doenças.
A MTC e a medicina ayurvédica são consideradas as duas linhas da medicina
que se mantiveram praticamente inalteradas com o passar dos anos. Não se sabe
ao certo quando a medicina ayurvédica começou.
A doença, para a Ayurveda, é muito mais que a manifestação de sintomas
desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. A Ayurveda, como ciência
integral, considera que a doença inicia-se muito antes de chegar à fase em que ela
finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar
com o passar do tempo, se não forem corrigidos, originando a enfermidade muito
antes de podermos percebê-la. O conceito de equilíbrio numa pessoa e também no
seu ambiente é novamente a teoria central.
A medicina ayurvédica também reconhece o conceito de força vital
(denominado prana) e se baseia em cinco elementos: a terra, o ar, o fogo, a água e
o etéreo. Toda a matéria que existe no universo provém destes 5 elementos,
inclusive o corpo humano (que além da matéria, também é formado por buddhi -
discernimento, ahamkara - ego e manas - mente). De acordo com o Ayurveda,
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quando algum dos 5 elementos está em desequilíbrio no corpo do indivíduo, inicia-


se o processo da doença.
Segundo essa tradição, os seres humanos são influenciados pelos 5
elementos através do dosha (a possibilidade de combinação dos cinco elementos
da natureza no Homem). Os doshas são vata, regido por ar e éter, pitta, regido por
fogo e água, e kapha, regido por terra e água. Todas as pessoas possuem os três
doshas, mas em diferentes proporções. No momento da nossa concepção a nossa
constituição é definida, isto é, os doshas que estão presentes em maior quantidade
no nosso organismo. Ao nascermos, tal proporção está em equilíbrio (prakrti), mas
com o tempo e a vida desregrada surge o desequilíbrio em um ou mais desses
doshas (vikrti), contribuindo para o surgimento e desenvolvimento de doenças.

MEDICINA GREGA
No ocidente, a medicina pode ser rastreada desde o tempo dos gregos. No
Século V a.C. Empédocles descreveu quatro elementos que asseguravam a vida: a
terra, o ar, o fogo e a água. Acreditou-se que se relacionavam a quatro humores do
corpo, nomeadamente bílis preta, sangue, bílis amarela e muco. O princípio era de
que um desequilíbrio em algum desses elementos causava a má saúde. Antes deste
ponto, no ocidente, acreditava-se que a doença e a morte eram causadas pela
influência de demônios e outras entidades sobrenaturais. Com a teoria de
Empédocles foi a primeira vez que um conceito de saúde chegou a dominar a
medicina no ocidente.
A medicina como ciência, baseada na interpretação natural da doença, surgiu
no século V a.C, com Hipócrates (460-375 a.C.), indiscutivelmente o médico mais
conhecido do seu tempo e também referido como o Pai da Medicina. Ele usou uma
gama de 300 remédios diferentes que, juntamente com uma mudança no estilo de
vida e dieta, foram usados para corrigir desequilíbrios no corpo. Ele é também
recordado por utilizar as massagens e a aquaterapia.
Hipócrates acreditava que “É mais importante conhecer o tipo de pessoa que
tem a doença, do que conhecer o tipo de doença que a pessoa tem”. A medicina
holística tem assim uma história muito longa.
Hipócrates criticou o princípio racionalista, propôs seu método e traçou a
origem e evolução da medicina. A crítica foi dirigida àqueles que, partindo
inicialmente de uma hipótese, derivam dela uma causa única para todas as doenças.
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Da mesma forma como os filósofos pré-socráticos partiam de um pequeno número


de elementos fundamentais para explicar a diversidade do mundo, muitos médicos
do século V a.C. pretendiam fundar a arte da medicina sobre um ou dois princípios
que sistematizam toda a patologia. Assim, Hipócrates criticou a medicina “filosófica”
e afirmou a autonomia da arte médica em relação à filosofia.
A partir desta crítica, Hipócrates expôs seu método: a medicina deve apoiar-
se sobre observações e fatos. Afirmou que “as doenças não são consideradas
isoladamente e como um problema especial, mas é no homem vítima da
enfermidade, com toda a natureza que o rodeia, com todas as leis universais que a
regem e com a qualidade individual dele, que o médico se fixa com segura visão”, ou
seja, o corpo humano, para ser conhecido, deve ser estudado em relação com o
meio ambiente. As causas das doenças, portanto, deveriam ser buscadas não
apenas no órgão ou mesmo no organismo enfermo, mas também e principalmente
no que há de essencialmente humano no homem, a alma, esse componente
espiritual que distingue o homem dos outros organismos vivos do planeta. Mais do
que um biólogo, mais do que um naturalista, o médico deveria ser,
fundamentalmente, um humanista. Um sábio que, na formulação do seu diagnóstico,
leva em conta não apenas os dados biológicos, mas também os ambientais,
culturais, sociológicos, familiares, psicológicos e espirituais.
Hipócrates introduziu a avaliação metódica dos sinais e sintomas como base
fundamental para o diagnóstico. Em termos de tratamento, advogava que dois
métodos terapêuticos poderiam ser utilizados com sucesso: a "cura pelos contrários"
(Contraria Contrariis Curentur), consolidada por Galeno (129-199 d.C.) e Avicena1
(980-1037), que é a base da medicina alopática; e a "cura pelos semelhantes"
(Similia Similibus Curentur), reavivada no século XVI por Paracelso2 (1493-1591) e
consolidada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, quando este criou a
Homeopatia. Hipócrates dizia que essas duas formas de tratamento eram eficazes
no restabelecimento da saúde, portanto a lei dos contrários e a lei dos semelhantes

1
AVICENA (Ibn Sina) é considerado um dos maiores sábios do Islã, sendo reconhecido
principalmente por seu trabalho filosófico (síntese crítica das obras de Platão, Aristóteles e Plotino).
Já aos 16 anos, Avicena era bastante conceituado por seu talento como médico, tendo sido um dos
grandes difusores da obra de Galeno.

2
PARACELSO (Aureolus-Phillippe-Teophrastus Bombast von Hohenhein) nasceu na Suíça. Seu pai
era médico e o instruiu desde cedo nos segredos da arte de curar. Entretanto, Paracelso logo se
rebela contra estes ensinamentos – considerados por ele antiquados – tornando-se um dos mais
controversos médicos e alquimistas de todos os tempos.
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não se opunham em seu pensamento. Ele sempre tratava o paciente de forma


abrangente e raramente se referia a enfermidade de maneira isolada.
Hipócrates traçou a origem e a evolução da medicina a partir da evolução da
alimentação humana. O nascimento da medicina confunde-se com a descoberta do
regime alimentar. É o desenvolvimento da culinária adaptada aos diferentes tipos de
doentes que marca o início da medicina propriamente dita. A medicina primitiva
seria, portanto, uma espécie de culinária personalizada. Mas ela é precedida pelo
desenvolvimento da alimentação dos indivíduos sadios, ou seja, da culinária como
tal, que consiste em adaptar o alimento à natureza humana por meio de múltiplos
preparos, como o cozimento e a mistura. Esta dupla descoberta permitiu a
passagem da vida selvagem, quando o homem se alimentava como os animais,
para a vida civilizada. É neste passado que se encontra o ponto de partida da
medicina. A simples hipótese em substituição à realidade observada é erro que
transforma a ciência em especulação sem fundamento. Desta forma, em
conformidade com o pensamento do século V a.C, Hipócrates colocou a medicina
em bases racionais e a atribui aos homens, e não aos deuses, como relatado no
Prometeu acorrentado, de Ésquilo (525-456 a.C.).
O uso das ervas medicinais e plantas era provavelmente empírico naquele
momento, mas no Século III a.C., o primeiro livro sobre ervas ocidentais era
produzido por Theophrastus. Este livro descrevia 455 plantas medicinais, muitas das
quais ainda são utilizadas.

MEDICINA ROMANA
Os romanos foram os primeiros a fazer um avanço impressionante quanto aos
cuidados com a saúde. Estabeleceram a importância do uso de água limpa,
dispuseram de sistema de esgotos e consequentemente de higiene. Esta foi a
primeira forma de medicina preventiva. Os romanos também aceitaram a idéia de
isolar quem estava com determinadas doenças.
O uso das ervas floresceu durante o Império Romano, usando o
conhecimento que provavelmente foi obtido dos Gregos. Celsus (5 a.C. a 57d.C.)
escreveu um guia para a prática médica que incluía plantas e minerais, também
venenos como mercúrio, arsênico e chumbo. Dioscórides (40-90 d.C) fez um
herbário descrevendo 600 plantas, ilustrado a cores. Galeno (129 a 200 d.C)
empreendeu a primeira forma de controle de qualidade, incentivando os funcionários
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públicos romanos a fiscalizarem o conteúdo dos remédios. (Não há registros de


como faziam este controle). Galeno também foi o primeiro a combinar ervas na
prática médica ocidental. Estas misturas de ervas eram conhecidas como galênicas,
um termo que ainda é utilizado nos dias de hoje.

MEDICINA PERSA/ÁRABE
O declínio do Império Romano reduziu o avanço do conhecimento na Europa.
Este período é recordado na história como a “Idade das Trevas”, onde o trabalho
científico e cultural ficou estagnado. Também, os avanços na teoria médica e herbal
declinaram. Entretanto o conhecimento sobre o uso das ervas foi mantido vivo pelos
monges. Eles estavam numa posição privilegiada podendo ser capazes de manter
registros escritos disponíveis e manterem o conhecimento médico e herbal
relativamente intacto durante este período. A lacuna deixada pelo colapso do
Império Romano era preenchido pelo surgimento do Islã e a proeminência do
Império Muçulmano que perdurou dez séculos. Os persas e os árabes mantiveram
as idéias de Galeno, mas adicionaram os seus próprios remédios como a cânfora e
o bórax. No Século XI uma enciclopédia médica chamada “The Canon Medicinae” foi
escrita pelo médico Avicena (980-1037). Esta tornou-se a base para o conhecimento
no Ocidente por muitos séculos.

MEDICINA NO OCIDENTE
Como todos os grandes impérios, a força do Império Muçulmano declinou,
dando caminho para o renascimento da cultura européia e o Período da
Renascença. Este foi o período das descobertas, com as viagens de Cristóvão
Colombo, numerosas invenções e o começo das bases físicas e químicas. Aspectos
científicos e culturais no mundo ocidental progrediram com grande velocidade.
Com a invenção da impressão nos Séculos XVI e XVII, viu-se a produção de
muitos trabalhos sobre ervas. Havia também traduções de trabalhos médicos do
grego clássico para muitas línguas. Durante este tempo, o conhecimento de plantas
aumentou com o trabalho de William Turner (1568), Jonh Parkinson (1640) e
Nicholas Culpepper (1652). Estes herbalistas estabeleceram o lugar para muitas das
ervas que nós usamos hoje.
No século XVI um médico que chamava a si próprio Paracelsus (significando
literalmente melhor do que Celsus) começou por questionar os antigos conceitos e
9

opiniões dos humores, e o desequilíbrio dos humores no corpo. Viu a doença como
um evento externo e sugeriu que as plantas tinham ingredientes ativos que poderiam
influenciar tais eventos. Esta foi a época onde epidemias como a peste bubônica, a
malária e a sífilis tiveram que ser enfrentadas. Entretanto, o passo mais significativo
na medicina ocidental foi o renascimento durante o Século XVIII, da idéia de higiene
e saúde, que os romanos introduziram séculos antes. O escocês Jenner, o francês
Pasteur e o alemão Koch, foram os primeiros a reconhecer que microorganismos
poderiam ser responsáveis por doenças infecciosas e que muitas doenças e
epidemias eram transmitidas de pessoa para pessoa e pela falta de higiene. Lister
foi o primeiro a esterilizar instrumentos cirúrgicos. No Ocidente, as ervas foram
usadas geralmente como medicamentos entre os Séculos XV e XIX.

MEDICINA MODERNA
Em 1785, o Doutor William Whithering registrou a descoberta da Digitalis
(dedaleira), útil no tratamento da hidropisia (hoje utilizada para problemas
cardíacos). O alívio da dor era um dos maiores interesses durante o Século XIX, e
foi conseguido usando substâncias naturais como álcool, ópio e hioscina. O
clorofórmio (obtido a partir da destilação do álcool) foi usado para anestesia e alívio
da dor durante o parto e em pequenas (ou mesmo grandes) cirurgias.
A história registra um episódio interessante sobre um pioneiro japonês que
aprendeu a arte de usar as ervas ocidentais. Ele queria testar a eficácia de uma
mistura herbal contendo plantas com alcalóides tipo hioscina, para efeito anestésico.
A sua idosa mãe voluntariou-se para a experiência, já que julgava morrer logo. O
pioneiro, entretanto, decidiu administrar esta mistura na mulher, e de comum acordo
entre os três; pois poderia encontrar uma nova mulher, mas nunca poderia ter outra
mãe.
Assim como a ciência progrediu, muitos tiveram a ambição de extrair das
plantas os ingredientes que eram responsáveis pela sua ação, algo que Parecelsus
tinha previsto séculos antes. Em 1903, o alemão Friedrich Sertuner, um
farmacêutico com 20 anos, foi bem sucedido ao isolar uma substância particular do
ópio, à qual não colocou nome. Alguns anos mais tarde a atropina foi isolada da
Beladona e a quinina (antimalárica) foi isolada da Cinchona spp (os gêneros com
maior teor de quinina são C. ledgeriana e C. officinalis). Em 1860 a cocaína era
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extraída das folhas da coca, tornando-se popular como um anestésico local para
pequenas cirurgias.
Os cientistas prosseguiram então para a etapa seguinte sintetizando estas
substâncias no laboratório. Primeiro prepararam-se para copiar a estrutura química
do ingrediente natural ativo e então produziram estas estruturas químicas novas e
similares, mas não encontradas na natureza.
Um exemplo notável é a conhecida aspirina. Por muitos séculos, a medicina
tradicional francesa usou a casca de salgueiro, que continha o ingrediente ativo
salicina. Em 1827, um químico francês isolou o mesmo componente da erva barba-
de-bode e meio século mais tarde, em 1899, a salicina era usada como a base para
formar o ácido acetilsalicílico (Aspirina). O Homem aprendeu deste modo a copiar a
natureza e a isolar componentes ativos que estavam presentes e adaptá-los. Foi o
nascimento da indústria farmacêutica.
Durante o Século XX, mais e mais componentes foram descobertos, isolados
das plantas e copiados. Com a grande compreensão da fisiologia humana durante a
segunda metade do século a indústria farmacêutica foi-se desenvolvendo cada vez
mais.
A fisiologia também é a base na qual os fitoterapeutas modernos explicam a
função de uma planta como um todo e os seus extratos. Cada vez mais, estamos
utilizando este conhecimento para nos ajudar a compreender como usar as plantas
na medicina moderna. Diferente dos gregos e romanos que não tinham um claro
entendimento de como o corpo humano funcionava, a Fitoterapia moderna tem as
vantagens das descobertas feitas durante o século XX.

SITUAÇÃO ATUAL DA FITOTERAPIA


O reconhecimento das potencialidades das plantas medicinais gerou
crescente interesse em todo o mundo pelos assuntos ecológicos e pelos remédios
naturais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% da
população mundial consomem remédios à base de ervas e plantas medicinais. No
Brasil, estima-se que quatro milhões de brasileiros lancem mão de alguma forma de
terapia complementar para tratar doenças.
As plantas medicinais são usadas a partir de informações provenientes da
tradição. No Brasil, além da biodiversidade da flora brasileira, a fitoterapia é
enriquecida pela miscigenação das culturas indígena, negra e européia.
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Por algum tempo a fitoterapia foi marginalizada e classificada de “medicina


empírica”, entretanto, cerca de 45% dos remédios usados pela medicina
convencional são feitos a partir de substâncias extraídas de vegetais. É com grande
ironia que muitas companhias mandam seus cientistas por todo o mundo, procurar
nas plantas e nas medicinas tradicionais indícios de como as plantas podem ajudar
na doença e tentar isolar estes componentes ativos. O exemplo mais recente e
extensamente difundido sobre isto é o Taxol, extraido de casca de “Taxus
breviafolia”. O taxol é um diterpenóide, da família dos taxanos. A sua estrutura
invulgar e a sua forte atividade anticancerígena, despertaram a atenção para o
mundo científico, e esta talvez tenha sido a molécula mais estudada nos últimos 20
anos. Atualmente, uma formulação semi-sintética do Taxol é prescrita para tratar
alguns cancros de ovário e da mama.
O respaldo científico e a importância econômica vêm inserindo a Fitoterapia
como prática regular no sistema de saúde público e privado.
O mercado brasileiro é carente em profissionais com uma sólida formação
para trabalhar com a fitoterapia. Faz-se necessário capacitar profissionais, através
de uma formação técnica e científica atualizada, a fim de atender a população e
mudança de hábitos do mercado, que vem gradualmente valorizando soluções mais
naturais e saudáveis
Ainda há muito que conhecer sobre as plantas. Muitas delas utilizadas pela
medicina tradicional precisam ser identificadas e testadas para comprovar suas
utilidades terapêuticas. A destruição dos habitats naturais causa grande
preocupação para muitos no campo da fitoterapia. Das 400 plantas medicinais
comercializadas no Brasil, 75% são de origem extrativa, coletadas diretamente de
seu habitat na Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga e Cerrado, sem qualquer manejo,
o que gera grande pressão ambiental no ecossistema causando problemas na
sustentabilidade e risco de extinção. Na Conferência de Chiang-Mai (OMS, 1987)
fez-se um pedido para “salvar as plantas que salvam vidas”, em um alerta contra o
extrativismo desordenado.

FITOTERAPIA NA MEDICINA VETERINÁRIA


Apenas 1% do mercado de fitoterápicos no país é voltado ao segmento
veterinário, mas a maior parte se destina a grandes animais, como bovinos e
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eqüinos. Porém, é o setor que mais cresce: cerca de 25% ao ano (DIÁRIO DO
COMÉRCIO & INDÚSTRIA, 2004).
Algumas vantagens da fitoterapia em relação à alopatia são: a diversidade
florística (facilidade em obter as plantas), o baixo custo na aquisição e a alta eficácia
com baixa toxicidade e efeitos colaterais.
Na medicina veterinária a fitoterapia é utilizada na produção agroecológica, na
agricultura familiar e em pequenos animais.

Produção agroecológica
Na produção animal há uma demanda cada vez maior por produtos
agropecuários livres de resíduos químicos (antibióticos, parasiticidas e outros) que,
quando desprezados os períodos de carências para eliminação metabólica deste
produtos, acabam por atingir também o ser humano. A manipulação de produtos
tóxicos podem provocar danos à saúde, por mais que estejam disfarçados sob o
nome de “defensivos agrícolas” ou de “remédios”.
Nos últimos 4 anos, o mercado brasileiro foi um dos que mais cresceram no
mundo, com taxas de 35 a 50% ao ano. Entretanto, no mercado de produtos
orgânicos, a produção de carnes (aves, bovinos, suínos e ovinos), produtos lácteos e
mel, quando comparada à produção de vegetais, representa aproximadamente 5%.

Agricultura familiar
Na agricultura familiar, quando um médico veterinário, deixa um receituário
com uma lista enorme de medicamentos (conhecimento terapêutico-mercadológico),
não adequado à baixa renda do proprietário, gera: perdas econômicas pela
permanência da enfermidade e, consequentemente, perda da produção; perdas
sociais pelas conseqüências negativas na saúde física e emocional, que a baixa
condição econômica provoca. Esta situação não deve induzir à conclusão de que
recorrer ao uso plantas medicinais direciona-se unicamente aos produtores em
situação de exclusão sócio-econômica, mas para mostrar que muitas tecnologias
reforçam esta exclusão.
Cerca de 30% dos produtores rurais não podem arcar com os tratamentos de
seus animais, comercializando derivados (carne, leite, queijo, pele e lã) muitas vezes
abaixo do nível de competitividade no mercado. Isto porque o abate acaba sendo
feito com animais doentes, a pele fica fraca e o leite perde em qualidade nutricional.
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A grade curricular da maioria das faculdades de veterinária no Brasil é voltada


para o agronegócio, entretanto o CENSO IBGE ( 2006) revelou os seguintes dados:
a) 84,4% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares, o
que significa 12,3 milhões de pessoas em cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos
familiares;
b) na produção nacional, a Agricultura Familiar foi responsável por 58% do leite,
59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos;
c) 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária são produzidos por agricultores
familiares.

Pequenos animais
O uso de fitoterapia em pequenos animais ocorre, normalmente, quando o
proprietário tb usa terapias naturais.
O Brasil é o terceiro do mundo no mercado pet. Existem mais de 45 milhões
de cães, mais de 11 milhões de gatos, 4 milhões de pássaros e, ainda, 500 mil
aquários espalhados por todo o Brasil.

Na Medicina Veterinária, a fitoterapia não significa apenas intervir no


processo de cura de doenças. A teoria da ecologia médica - a qual vê o ser como
um microcosmo que deve estar em equilibrio consigo mesmo e com o meio que o
cerca, o macrocosmo - enfatiza a relação estabelecida entre os componentes da
chamada tríade epidemiológica (agente causal, hospedeiro e ambiente). Fritjof
Capra, físico e escritor austríaco, em seu livro A teia da vida - uma nova
compreensão científica dos sistemas vivos, lançado em 1996, propôs a visão de
uma interligação ecológica de todos os eventos que ocorrem na Terra e da qual
fazemos parte, de forma fundamental e afirmou que a arte de curar é algo mais
integrador dos aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais, ambientais e
espirituais.
A fitoterapia juntamente com a acupuntura e a homeopatia são exemplos de
medicinas holísticas, pois se baseiam na relação do indivíduo com todo o universo.
A cura não se trata apenas de eliminar os sintomas, mas sim achar a causa da
doença.
14

É comum encontramos profissionais da área médica e proprietários


completamente refratários ao tratamento com plantas medicinais, mas quando
deparam com resultados eficazes mudam de opinião. O preconceito ocorre pela falta
de conhecimento das potencialidades das ervas medicinais, pela aquisição em
fontes duvidosas, pela preparação errada (usando partes sem princípio ativo) e uso
inadequado (quantidade insuficiente ou exagerada), comprometendo a eficácia e
gerando efeito adverso ou tóxico (via de administração errada).

REFERÊNCIAS
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<http://www.homeopatiaveterinaria.com.br/producao_organicos_Brasil.htm>. Acesso
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GROSS, E. Um breve painel sobre os produtos orgânicos e a agroecologia.


Disponível em <http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo30.htm>. Acesso em 25
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<http://www.ibge.com.br/ home/default.php>. Acesso em: 25 maio 2010.

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Acesso em: 25 maio 2010.

TESKE, M.; TRENTINI, A.M.M. Compêndio de fitoterapia. 3. ed. Curitiba:


Herbarium Laboratório Botânico. 1999. 317p.
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FUNDAMENTO DAS TERAPIAS NATURAIS


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Denise Botelho de Oliveira Braga , Marília Botelho de Oliveira Chaudon ,
2
Alcir das Graças Paes Ribeiro

As terapias naturais são fundamentadas no Vitalismo, princípio filosófico


caracterizado por postular a existência de um impulso vital sem o qual a vida não
poderia ser explicada. Trata-se de uma força específica, distinta da energia,
estudada pela Física e outras ciências naturais, que atuando sobre a matéria
organizada daria como resultado a vida. Nesta concepção o corpo físico dos seres
vivos é animado e dominado por um princípio imaterial chamado força vital, cuja
presença distingue o ser vivo dos corpos inanimados e sua falta ou falência
determina o fenômeno da morte.
A força vital, também denominada de energia vital ou princípio vital, é definida
como a unidade de ação que rege a vida, que antecede a atividade mecânica e
elétrica do organismo e que, na verdade, é sua mantenedora. Este princípio
dinâmico, imaterial, distinto do corpo e do espírito, integra a totalidade do organismo
e rege todos os fenômenos fisiológicos. O seu desequilíbrio gera as sensações
desagradáveis e as manifestações físicas a que chamamos doença. No estado de
saúde mantém as partes do organismo em harmonia. Sua natureza não pôde até
hoje ser comprovada, mas admite-se que estaria próxima de outras manifestações.
A mais sólida das explicações vitalistas é o animismo de Aristóteles: qualquer
corpo vivo goza de uma forma substancial única, essencialmente superior à dos
corpos inanimados, chamada princípio vital ou até alma vegetativa, que forma com a
matéria primeira deste corpo, uma substância viva de tal espécie que nos animais e
no homem, se identifica com a alma sensível e intelectual (H. Collin, Manual de
Filosofia Tomista).
O Vitalismo influenciou a Medicina até o século XIX, quando a mentalidade
mecanicista ofereceu novas explicações ditas racionais para a compreensão dos
fenômenos vitais, banindo-o das concepções médicas. A partir desses avanços
considerados científicos, os postulados vitalistas sofreram ataques imediatos dos
antivitalistas, chamados mais tarde de materialistas, que consideravam um

1
Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF.
2
Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio.
16

retrocesso científico-ideológico atribuir aos fenômenos da vida às conotações


metafísicas do Vitalismo.

O VITALISMO NA MILENAR CULTURA CHINESA


O tratado de Medicina mais antigo que se conhece, o de Nei King, atribuído
ao imperador Hoang Ti, da dinastia Han, data de 500 a.C., já mencionava que o
corpo humano funcionava devido à presença de forças ocultas, estabelecendo as
primeiras concepções de Vitalismo. Desde a sua origem, concebeu a existência de
uma energia vital dividida em uma potência positiva (yang) e uma negativa (yin) de
cujo equilíbrio dependeria a saúde. Suas afirmações foram preponderantes para o
sustento do pensamento filosófico e médico da China antiga até os nossos dias e
sua história se confunde com a do Taoísmo, do Confucionismo e da Acupuntura.

O VITALISMO NA GRÉCIA ANTIGA


HIPÓCRATES (460-377 a.C.) - fundou a escola médica da ilha de Cós, considerada
a primeira escola formalmente instituída de Medicina na História. O pai da Medicina
pregava uma ciência que priorizava o enfermo como uma unidade. A doença era
vista como uma perturbação deste e não como processos independentes de seus
órgãos. A escola de Cós, como ficou conhecida, procurava ressaltar os aspectos do
temperamento e da constituição na concepção da enfermidade, preconizando a
existência de doentes e não de doenças. Esta escola esboçou a idéia de um
princípio unificador e diretor do organismo, chamado de “eidolon” que fazia parte da
natureza e era considerada a psiquê individual trazendo a mesma conceituação que
hoje se dá à alma.
Hipócrates dizia que havia na natureza dos seres vivos um duplo dinamismo
que os faziam crescer e movimentar-se, um princípio de ação que seria a alma – o
ânima, aquilo que anima, que atuaria através do cérebro, nutrindo e animando o
corpo. Essa alma se desprenderia com a morte. Era um sopro (pneuma) que vem de
fora e opera as maravilhas do pensamento, uma espécie de ar que penetrava no
corpo ao nascer, animando-o de vida, e preenchia em graus de qualidades
diferentes, sendo mais pura no cérebro, onde produzia o pensamento. Assim
segundo este pensador, a vida é produto da alma. Estabeleceu ainda que a alma
impunha a vis medicatrix nature (expressão latina que significa poder curativo do
próprio corpo) como o impulso que opera em todos os seres vivos para a
17

manutenção da saúde, trazendo em si a possibilidade da própria cura. O médico


deveria limitar-se a agir como servidor dessa força natural. Para ele a alma e força
vital eram um só princípio, o ânima, tendo sido o fundador do pensamento animista,
que admite a alma como entidade que organiza e dinamiza, vivificando, todo o
organismo.
O que resta das suas obras testemunha a rejeição da superstição e das
práticas mágicas da "saúde" primitiva, direcionando os conhecimentos em saúde no
caminho científico. Hipócrates fundamentou a sua prática (e a sua forma de
compreender o organismo humano, incluindo a personalidade) na teoria dos quatro
humores corporais (sangue, fleugma1 ou pituíta, bílis amarela e bílis negra) que,
consoante às quantidades relativas presentes no corpo, levariam a estados de
equilíbrio (eucrasia) ou de doença e dor (discrasia). Esta teoria influenciou Galeno e
dominou o conhecimento até o século XVIII.
A teoria humoral (ou teoria dos quatro humores, também conhecida por
teoria humoral hipocrática ou galénica) constituiu o principal corpo de explicação
racional da saúde e da doença entre o século IV a.C. e o século XVII . Segundo
esta teoria existiam no organismo quatro humores (sangue, fleugma, bílis amarela e
bílis negra, procedentes, respectivamente, do coração, sistema respiratório, fígado
e baço.) que se relacionavam com os quatro elementos da natureza (terra, água, ar
e fogo) e com as quatro qualidades (calor, secura, frio e humidade). Os humores
davam origem a temperamentos, que resultam da relação entre os quatro humores.
Segundo o predomínio natural de um destes humores na constituição dos
indivíduos, teríamos os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o
bilioso ou colérico e o melancólico (figura 1).
A saúde resultava do equilíbrio entre os quatro humores. Já a doença
resultava de um desequilíbrio ou da combinação incorreta entre eles. As causas
destas doenças podiam ser externas, nomeadamente o clima, a alimentação e os
parasitas; ou ainda internas, das quais são exemplo o sexo, a idade, e as doenças
congênitas.

1
A fleuma (flegma ou fleugma) é um muco secretado pelas membranas mucosas de humanos e
outros animais. Sua definição é limitada aos mucos produzidos pelo sistema respiratório, excluindo as
“cacas de nariz” e o fluido da tosse. Sua composição varia, dependendo do clima, da genética, e do
estado do sistema imunológico, mas é basicamente um gel d’água consistindo de glicoproteínas,
leucócitos, lipídeos, e etc. A fleuma pode ter mũitas côres.
18

Figura 1 - No sentido horário, a


partir da figura superior direita:
colérico, melancólico, sanguíneo,
fleumático.

Para Hipócrates, o trabalho do médico era restaurar e harmonia dos quatro


humores, através da administração do humor em falta ou pela eliminação do humor
em excesso. No entanto, esta intervenção só ocorria caso a natureza por si só não
restabelecesse esse equilíbrio, ou com o intuito de acelerar esse restabelecimento.
A expulsão de humores do organismo poderia ocorrer através de várias vias,
através da boca, do nariz, do recto, das vias urinárias e ainda através de sangrias.
Dietas apropriadas e medicamentos que promovessem a extração de humores eram
os recursos mais utilizados no restabelecimento dos humores. Os medicamentos
existentes tinham as funções de diuréticos, purgantes, sudoríferos, eméticos e
soníferos. Alguns exemplos de diuréticos são o alho, a cebola e melancia; de
purgantes são a escamónea e heléboro; de sudoríferos são bebidas quentes e
farinha cozida; no caso dos eméticos são exemplos o heléboro-branco e hissopo, e
por último alguns exemplos de soníferos são a mandrágora, a dormideira e o
meidendro.
Teoria humoral moderna - embora a associação dos temperamentos com
fluidos corporais seja obsoleta, a teoria dos quatro humores foi adaptada por outros
pesquisadores, muitos sem usar os nomes originais, e muitos acrescentaram a
extroversão como um novo fator, que determinaria os relacionamentos interpessoais
(quadro 1).
19

Quadro 1 - Os quatro humores e seus equivalentes modernos são apresentados a seguir:

Características
Humor Elemento Nome antigo Nome moderno MBTI*
antigas

Corajoso, prestativo,
Sangue Ar Sanguíneo Artesão SP
amoroso

Bílis amarela Fogo Colérico Idealista NF Irritadiço, agressivo

Desanimado,
Bílis negra Terra Melancólico Racional NT
inquieto, irritadiço

Fleuma Água Fleumático Guardião SJ Calmo, racional

MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) é um instrumento utilizado para identificar características e preferências pessoais.
Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers desenvolveram o indicador durante a Segunda Guerra Mundial,
inspiradas nas teorias de Carl Jung sobre os Tipos Psicológicos. O indicador é frequentemente utilizado nas áreas de
aconselhamento de carreira, pedagogia, dinâmicas de grupo, orientação profissional, treino de liderança, aconselhamento
matrimonial e desenvolvimento pessoal, entre outros. Muitos psicólogos acadêmicos têm criticado o indicador, afirmando que
"carece de dados válidos convincentes”. S=sensoriais; P=percepção; N= intuitivo; F=emocionais; T=racionliatas; J=julgadores

PLATÃO (427-347 a.C) – estabeleceu um pensamento dualista, admitindo a alma


como entidade separada do corpo. Além disso, a dividiu em três porções: razão,
emoção e animalidade, que residiam no cérebro, no tórax e no abdome,
respectivamente.

ARISTÓTELES (384-322 a.C.) – discípulo de Platão, acreditava que a alma não é o


corpo, mas não pode existir sem ele, assim como não há luz sem objeto luminoso.
As funções da alma seriam a nutrição e o pensamento. Mas há uma unidade entre
corpo e alma, diferentemente do dualismo platônico. Junto com Hipócrates
representa os principais pensadores animistas. A alma forma e dá vida ao corpo,
diferenciando-o da matéria bruta. Aristóteles confere ainda à alma uma concepção
de substância.
Historia Animalium, De Partibus Animalium e De Genetatione Animalium são
alguns dos tratados dedicados à classificação, comportamento, fisiologia, anatomia
comparada, embriologia e patologia animal. “A vida dos animais pode, então, ser
dividida em dois atos: procriação e alimentação; pois é nestes dois atos que se
concentram todos os seus interesses e toda a sua vida. O seu alimento depende em
muito da substância principal da sua constituição; pois a fonte do seu crescimento,
em qualquer caso, será esta substância. E como tudo o que é conforme com a
natureza é agradável, todos os animais buscam o prazer, mantendo a sua natureza.”
20

GALENO (130-200 d.C) - médico romano de origem grega, baseado pela doutrina
Hipocrática, esquematizou pela primeira vez a teoria dos quatro humores. Segundo
Galeno o corpo humano era constituído por partes simples, ou seja, formadas por
matéria de natureza próxima, e por partes compostas que eram resultado a união de
várias partes simples. Estas partes simples eram formadas pelos componentes
elementares da matéria (terra, água, ar e fogo) e comunicavam entre eles as suas
qualidades (calor, secura, frio e humidade), de acordo com a esquematização da
teoria dos humores hipocráticos (a bílis amarela, a bílis negra o sangue e a linfa). De
acordo com o esquema feito por Galeno (figura 2) há uma relação entre os quatro
humores, as quatro qualidades e os quatro componentes elementares da matéria.
Cada elemento relaciona-se com duas propriedades e assim:
 a água seria fria e húmida,
 o ar seria húmido e quente,
 o fogo seria quente e seco,
 a terra seria seca e fria.
Cada um destes elementos e de acordo com as suas propriedades
relacionavam-se com os quatro humores, e portanto:
 a água (por ser fria e húmida) relacionava-se com a linfa,
 o ar (por ser húmido e quente) relacionava-se com o sangue,
 o fogo (por ser quente e seco) relacionava-se com a bílis amarela,
 a terra (por ser quente e fria) relacionava-se com bílis negra.

Cada um dos humores predominava numa determinada parte do corpo e


consequentemente a linfa predominava no cérebro, o sangue no coração, a bílis
amarela no fígado e a bílis negra no braço.
Em teoria, um organismo saudável cumpria algumas condições. Em primeiro
lugar um todas as partes simples teriam que estar em proporções ideais e por outro
lado os diferentes espíritos (vital, localizado no coração; natural localizado no fígado;
animal localizado no cérebro) responsáveis pelas funções fisiológicas tinham que
exercer correcta e adequadamente a sua função. No entanto, alguns humores
tinham um certo ascendente sobre outros, algumas funções encontravam-se
desreguladas gerando certos temperamentos:
21

 nos Coléricos predominava a bílis amarela e eram normalmente representados por


uma espada,
 nos Sanguíneos predominava o sangue, estes eram considerados hiperactivos
sexualmente,
 nos Fleugmáticos predominava a linfa, estes eram tidos como calmos e racionais
sendo frequentemente representados a ler,
 nos Melancólicos predominava a bílis negra, estes eram relacionados com a
melancolia e são frequentemente representados na cama.
Esta relação entre humores, propriedades e elementos era fundamental para
compreender a doença e adequar a cura.
Os humores formavam-se a partir dos alimentos e ao se converterem em
humores permaneciam deste modo para sempre, ou seja, não poderiam regredir de
novo a alimentos. Estes alimentos podiam ser convertidos a humores de forma
corrupta, o que iria gerar doença, por factores externos, como por exemplo a
ingestão de um alimento estragado. A corrupção de humores também poderia
ocorrer devido a regimes de vida desadequados ou ao clima

Figura 2 - Esquema da teoria dos humores sistematizada por Galeno. Fonte: <http://pt.ars-
curandi.wikia.com/wiki/Teoria_dos_quatro_humores>.

As doenças, segundo este autor, eram relacionadas com as estações do ano


(as doenças na primavera eram preferencialmente por excesso de sangue, as do
22

verão por excesso de bílis amarela, as do outono por excesso de bílis negra e as do
inverno por excesso de linfa), com a idade (na infância grande parte das doenças
deviam-se a um excesso de sangue, na juventude e idade adulta por um excesso de
bílis negra e amarela e na velhice por um excesso de linfa), localização geográfica e
hereditariedade. Um homem podia então estar doente por causas externas, internas
e conjuntas.
Para restabelecer a saúde existiam várias opções: ou através da cirurgia, ou
através de uma alimentação adequada ou ainda com o recurso a alguns fármacos.
Na aplicação de qualquer um destes métodos Galeno tinha sempre presente alguns
princípios Hipocráticos, nomeadamente o Primum non nocere e o Contraria
Contrariis. O primeiro princípio significa que não se deve prejudicar o doente, ou
seja, caso o próprio organismo esteja a expulsar os humores em excesso por si só o
médico não deve interferir com essa resposta do organismo. O segundo princípio
significa que o tratamento deve consistir em provocar efeitos contrários aos
sintomas.
O recurso de Galeno a fármacos foi substancial e a área da farmacoterapia
conheceu um grande desenvolvimento nesta época. Foi feita a distinção entre
alimento, veneno e medicamento. Aplicou pela primeira vez um conceito do
medicamento semelhante ao actual, ou seja, em que coexistiam substâncias que
tinham propriedades terapêuticas, as que tinham acção correctiva das
características organoléticas e ainda os excipientes.

O VITALISMO NA IDADE MÉDIA


Durante a Idade Média (séc. V a início do séc. XV), no entanto, o médico
deveria tratar o corpo, a alma era assunto da Igreja e nesta não lhe cabia meter-se.
Talvez por isso, a medicina galênica tenha prevalecido com o apoio da Santa Sé. A
teoria dos humores foi largamente empregada, onde se via nos doentes excessos ou
falta dos quatro elementos constituintes da natureza. Para retirá-los empregava-se
as sanguessugas, os vesicatórios, os purgativos e as sangrias. O conhecimento
hipocrático ficou restrito aos mosteiros, mantido pelos monges ao longo da noite
escura da Idade Média. Os principais pensadores que influenciaram a evolução da
concepção vitalista neste período foram:
23

AL-RAZI OU RHAZES (864-930) - Como alquimista, filósofo e médico, buscava a


cura de seus pacientes receitando especialmente dietas equilibradas e com
alimentos corretos, aliada a fatores psicológicos na saúde. Era profundo conhecedor
da arte da medicina dos antigos gregos e dos ensinamentos dos persas e hindus.
Concebeu seu próprio sistema filosófico cujos elementos básicos eram: o criador, o
espírito, a matéria, o espaço e o tempo.

AVICENA (980-1037) – médico e filósofo persa autor do “Cânon da Medicina”, o livro


em que se baseou a Medicina européia até o século XVII. Admitia a existência da
alma, que mantinha as relações do corpo com a mente, obedecendo a princípios
teleológicos.

SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225-1274) – “Doutor da Igreja”, considerava a unidade


do homem, dizendo que todas as almas são na verdade uma só que tanto controla a
razão como a vida vegetativa do homem.

PARACELSUS (1493-1541) – médico suíço que ressuscitou os ensinamentos de


Hipocrates, voltando-se à visão unitária do homem, sendo considerado o precursor
da Homeopatia. Seguiu também o mesmo raciocínio de Venetus, admitindo um
princípio ativo e organizador dos seres vivos, mas expandiu esse conceito para
todos os corpos da natureza. Por isso considerava o espírito do sal, do enxofre, do
mercúrio, dos cristais, etc. No corpo ele dividiu o princípio vital em arqueus, as almas
menores que presidem as funções dos órgãos. Aproximou seu pensamento da lei
dos semelhantes de Hipocrates e criou a Lei das signaturas – uso de plantas
orientado pela forma aproximada do órgão doente (princípio dos florais).
Considerado o pai da bioquímica, foi um dos primeiros médicos medievais a rejeitar
a teoria dos humores de Galeno. Influenciou o pensamento de Hahnemann que
incorporou a concepção de uma força oculta no homem, capaz de amplas ações em
todo o organismo, inclusive na mente.

O VITALISMO NA IDADE MODERNA (séc. XV a XVIII)


Até meados do século XVII dominavam a medicina os mesmos pensamentos
que moviam a Idade Média, subordinando-a a um empirismo dogmático, destituído
de qualquer sustento lógico. A cirurgia era exercida pelos barbeiros e a teoria dos
24

humores ainda era a única a favorecer algum subsídio para as práticas médicas. No
século XVIII a escola vienense de Medicina passou a dominar o pensamento médico
da época, trazendo uma forte necessidade de se implantar uma metodologia no
estudo desta disciplina. Nesta época foram criados os ambulatórios, as enfermarias
e a teoria dos humores começou a ser contestada.
Na mesma ocasião, floresceram duas outras escolas médicas: a alemã e a
francesa. A escola francesa, defendida pelos Enciclopedistas, oriundos do
Iluminismo, pregava também a necessidadede se racionalizar o estudo médico. Os
iluministas lutavam para libertar o pensamento científico das imposições religiosas,
passando a caminhar por vias livres e divergentes dos teólogos medievais. Nasce a
metodologia científica nesta época, com a necessidade de se chegar ao
conhecimento pelas vias da experimentação objetiva. Surge aí o Movimento
Mecanicista e Materialista da Medicina, defendido por Renné Descartes1 (1596-
1650), que estrutura a visão do organismo como uma máquina, em obediência a
separação da ciência e da fé, e refletindo a mentalidade moderna que se apoiava
em raciocínios objetivos, exigentes de lógica. Surge a necessidade da busca de
novas etiologias para as doenças, segundo a compreensão mecanicista do homem,
nascendo a nosologia, ao se estabelecer critérios para a classificação metodológica
das enfermidades. Estava dado o primeiro passo para as especializações médicas.
O organismo humano era destituído definitivamente da alma, apartando-se a
Medicina do vitalismo hipocrático. O lado humano, as emoções e os
relacionamentos foram ignorados. As pessoas eram consideradas preguiçosas e
ineficientes e precisavam ser controladas e estimuladas financeiramente para que
cumprissem suas obrigações.
Em biologia, mecanicismo refere-se às teorias que afirmam que todos os
fenômenos que se manifestam nos seres vivos são mecanicamente determinados e,
em última análise, essencialmente de natureza físico-química.
A escola alemã, embasada pelos idealistas e influenciados por Leibniz,
mantinha a visão do ser humano como uma unidade de funcionamento, baseada no
magnetismo animal. Era a única que ainda fomentava fortemente o Vitalismo,

1
René Descartes (1596-1650) – filósofo francês que propôs resolver os grandes enigmas da filosofia
e da ciência com o uso da razão e com ela alcançar a verdade. Via o corpo humano como uma
máquina funcionando com a força motriz gerada pelo calor que vinha do coração. Identificando na
alma a essência do pensamento, proferiu a sua famosa frase: “penso, logo existo”.
25

mantendo-se uma escola universalista, vendo o ser humano como uma totalidade e
com tendências naturalistas, imitando nos procedimentos terapêuticos as ações da
natureza, em consonância com o pensamento hipocrático.
Seguindo a história do vitalismo no pensamento médico, nesta época se destacam:

LEIBNIZ (1646-1716) – este importante filósofo alemão manteve-se no pensamento vitalista,


sendo considerado o maior animista da filosofia moderna. O corpo estaria sob a ação da
mônada, o “eu” feito de também de uma substância, porém de essência puramente
imaterial.

ERNEST STAHL (1660-1734) – este filósofo seguiu Leibniz, aplicando o Vitalismo à


Medicina na Alemanha, partindo da idéia de que a vida não é produto de um funcionamento
mecânico e o ser vivo não é uma máquina, reagindo contra a Medicina mecanicista e
química que nascia do pensamento cartesiano.

VON HALLER (1708-1777) - pertenceu à Escola Médica de Montpellier que foi o centro
máximo de produção e sustentação das teses vitalistas entre os séculos XVII e XIX. Com
ele o Vitalismo encontrou uma observação experimental renovada. Suas observações
terminaram apontando para a necessidade de uma nova ordem de conhecimento em
Medicina. Propôs a experimentação dos medicamentos no homem, para se estudar os seus
efeitos que, no entanto, não chegou a praticar. Sua veemente crença no Vitalismo ajudou a
mantê-lo vivo nas escolas médicas da época e dizem que exerceu positiva influência em
Hahnemann.

PAUL JOSEF BARTHEZ (1734-1806) – médico da escola de Montpellier, filósofo e poeta


francês promoveu uma separação entre Animismo e Vitalismo. Em seu trabalho “Ensaio
para um novo princípio para o homem” concebeu um princípio vital que anima e confere vida
ao homem. Princípio, no entanto que não é idêntico à alma, o que coincide com a visão do
Vitalismo hahnemaniano. Considera-se que seja ele o criador do conceito de princípio vital.

SAMUEL HAHNEMANN (1755-1843) – de origem presbiteriana, nasceu em meios às


diferenciadas visões que iniciavam a morte do Vitalismo, a exceção da Medicina alemã que
ainda se mantinha na mesma idéia, sustentada por Leibniz. Contam seus biógrafos que ele
se encantou de início com o Corpus Hipocráticus e ressuscitou-o com a Homeopatia. Pela
observação ele logo notou a presença dos miasmas contagiantes nos barbeiros que
drenavam abscessos e nas parturientes que se contaminavam pela falta de assepsia. Em
1790, no entanto, é que inicia a Homeopatia, ao traduzir a obra de Culen que descrevia os
26

efeitos curativos da quina na malária, imputando sua ação ao fato de ser um tônico para o
estômago. Hahnemann, não estando de acordo com essa explicação, decidiu procurar outra
e resolveu experimentar em si mesmo os efeitos da quina, sendo acometido, para surpresa
sua, de um acesso febril. Recordou-se então de Hipocrates que já anunciara o princípio do
semelhante: uma doença se cura por uma droga capaz de produzir os seus mesmos
sintomas. Juntou ao fato a sua observação de que as doenças semelhantes se excluíam
mutuamente e não podiam conviver simultaneamente no organismo. Por exemplo, um
episódio agudo de diarréia trata uma colite crônica, a vacina curava e prevenia a varíola
pelos mesmos motivos. Hahnemann criou então a experimentação no homem são,
estabelecendo assim um dos princípios fundamentais da Homeopatia. E graças a isso
chegou ao estudo do psiquismo humano, o que não conseguiria com experimentações em
animais. Desta forma, foi o precursor do método experimental em Medicina, iniciando-as no
homem antes mesmo de Claude Bernard instituí-las nos animais.

HERMANN LUDWIG FERDINAND VON HELMHOLTZ (1821-1894) – médico alemão,


criador do oftalmoscópio e professor da Faculdade de Medicina de Berlin. No ano de 1813
realizou estudos de termodinâmica, eletrodinamismo e movimentação de fluídos, concluindo
e afirmando que nenhuma força de natureza espiritual atua no organismo humano, senão as
forças físico-químicas conhecidas. Excluiu assim, das escolas médicas, o que ainda restava
de Vitalismo, como se simplesmente por não enxergá-lo com seus grosseiros métodos de
pesquisas, ele não fosse uma realidade. A escola alemã, onde o pensamento de Leibniz
mantinha vivo as idéias animistas, teve assim abolida todas as práticas médicas que
visavam estimular estas pretensas forças, como o magnetismo.

CLAUDE BERNARD (1813-1878) – fisiologista francês que procurou estabelecer um


neovitalismo imaginando que a força vital seria somente uma força legislativa e não
executiva. Foi o pai da fisiologia moderna. Seu primeiro trabalho, datado de 1843, concluiu
pela inexistência do Vitalismo ou qualquer força de natureza espiritual que atue no interior
do homem, de forma invisível e material. Todas as forças que atuam no organismo podem
ser conhecidas e seriam provenientes de agentes físicos. Considera-se que foi o iniciador do
método experimental em Medicina, introduzindo os testes em animais, dando origem à
técnica de conhecimento da ação dos medicamentos em cobaias, tal como hoje é realizada,
onde se pretende conhecer apenas a sua ação puramente fisiológica e material, mesmo no
plano mental. Os conhecedores da Homeopatia, no entanto, sabem que a primazia de tal
método pertence, merecidamente, a Hahnemann.
27

A Era Moderna, com o advento destes pensadores, assistiu, paulatinamente, às


idéias mecanicistas dominarem o campo médico, extinguindo o que ainda havia de
vitalismo. Com o predomínio do pensamento materialista, o Vitalismo é nesta época
definitivamente banido da Medicina. As escolas de Berlin e Viena se juntam nesta nova idéia
à escola francesa, influenciando de modo decisivo todo o pensamento médico moderno, na
Inglaterra e nos Estados Unidos. O Vitalismo começou a ser combatido na Alemanha e
Hahnemann se refugiou na França, em 1835. A escola francesa, embora embalada pelas
novas idéias mecanicistas, felizmente sempre teimou em fazer ao contrário do que seus
amigos anglo-saxônicos e deu guarida ao maior representante do Vitalismo na época:
Hahnemann. Acolheu-o depois que sua presença foi indesejada na Alemanha, mantendo a
Medicina Homeopática em suas escolas e dando o impulso inicial à Homeopatia, que dali se
difundiu para todo o mundo. Os oito últimos anos de Hahnemann foram vividos em Paris,
para onde se mudou e aonde veio a falecer. A Homeopatia unicista, com seus avançados
postulados, foi basicamente formulada na fase francesa da vida de Hahnemann, quando se
dedicou a escrever sobre as doenças crônicas.

O VITALISMO NA ATUALIDADE
EDWARD BACH (1886-1936) - médico inglês, acreditava que a personalidade da pessoa
deve ser tratada e não a doença. A doença seria o resultado do conflito da alma (Eu
Superior - a parte mais perfeita do Ser) e da personalidade (Eu Inferior - o que nós somos,
no nosso dia-a-dia). Ele dizia: "O sofrimento é mensageiro de uma lição, a alma envia a
doença para nos corrigir e nos colocar no nosso caminho novamente. O mal nada mais é do
que o bem fora do lugar". Entendeu que a origem das doenças seria proveniente de sete
defeitos: Orgulho, Crueldade, Ódio, Egoísmo, Ignorância, Instabilidade Mental, Cobiça e
Gula. Apontou sete caminhos do equilíbrio emocional, que seriam: Paz, Esperança, Alegria,
Fé, Certeza, Sabedoria, Amor. E o seu conceito de saúde seria: Harmonia, Integração,
Individualidade, Integridade.

CONSTANTIN HERING (1880-1880) - o Vitalismo no final do século XIX acompanhou as


peripécias deste médico austríaco. Por ser um brilhante aluno, foi encarregado por um de
seus professores a defender uma tese contra a Homeopatia. No entanto, após estudá-la
detidamente, deixa-se convencer pela sua veracidade e passa a defendê-la ardorosamente,
tornando-se um homeopata. Era um missionário presbiteriano e por isso foi enviado em
missão religiosa para as Guianas, trazendo consigo a Homeopatia para a América. Das
Guianas mudou-se para os EUA e na Filadélfia criou a primeira escola americana de
Homeopatia, no início do século, a Post-Graduate School of Homeopathy. Posteriormente
28

transferiu-se para Chicago, onde fundou a Hahnemann Medical College and Hospital e
depois a Hering Medical College.

JAMES TYLER KENT (1849- 1916) - formado na Hering Medical College, foi um dos mais
eminentes e conhecidos homeopatas depois de Hahnemann. Criou a sua própria escola de
Homeopatia em Nova York, deixando como seguidores nomes como Timoty Allen e Pablo
Paschero, o famoso homeopata argentino.

JOHN HENRY ALLEN (1854 - 1925) - outro renomado homeopata que nos legou
importantes obras (Diseases and Therapeutics of the Skin, Chronic Miasms, Chronic
Miasms), formou-se também na escola médica de Hering, onde passou a lecionar.

REFERÊNCIAS
CHAPERMANN, R. - Vitalismo e Homeopatia. Disponível em
<www.homeopatiabrasil. org.br>. Acesso em : 23 maio 2010.

ORVALHO FARMÁCIA HOMEOPÁTICA. Conceito. Disponível em


<http://www.orvalho farmaciahomeopatica.com.br/html/conceito.html>. Acesso em :
23 maio 2010.
MARTINS, L. A.P.; SILVA, P.J.C.; MUTARELLI, S.R.K. A teoria dos
temperamentos: do corpus hippocraticum ao século XIX. Disponível em
<http://www.fafich.ufmg.br/~ memorandum/a14/martisilmuta01.pdf>. Acesso em : 25
maio 2010.

WIKPÉDIA. Teoria humoral. Disponível em


<http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_humoral>. Acesso em : 23 maio 2010.
29

CONCEITOS E FUNDAMENTOS EM FITOTERAPIA


1 1,
Denise Botelho de Oliveira Braga , Marília Botelho de Oliveira Chaudon
2
Alcir das Graças Paes Ribeiro

Para melhor compreensão dos assuntos abordados em fitoterapia, é


necessário entender alguns conceitos e fundamentos que norteiam o uso de plantas
medicinais.

FITOTERAPIA
É um método de tratamento caracterizado pela utilização de plantas
medicinais em suas diferentes preparações, sem a utilização de substâncias ativas
isoladas, ainda que de origem vegetal.

AROMATERAPIA
É a ciência que estuda os óleos essenciais e sua aplicação terapêutica. Pode
ser considerada uma disciplina especializada da fitoterapia.
Foi recentemente “redescoberta”, entretanto, desde a Antiguidade os óleos
essenciais eram utilizados como conservantes de alimentos e para preparar
perfumes.

MEDICINA COMPLEMENTAR
É a medicina praticada por médicos que utilizam todos os recursos
disponíveis da medicina convencional e a complementam utilizando métodos
terapêuticos e propedêuticos (análise clínica) não convencionais, porém de eficácia
comprovada. Complementar, conforme os dicionários, quer dizer preencher, suprir a
deficiência de outro.

MEDICINA ALTERNATIVA
É aquela praticada por aqueles que utilizam uma opção diferente, uma
alternativa à medicina convencional. Alternativa, neste caso, dá idéia de exclusão;
de substituição ao sistema estabelecido.

1
Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF.
2
Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio
30

MEDICINA CONVENCIONAL
É a medicina que aprendemos nas escolas médicas. É a medicina oficial da
maioria dos países ocidentais. Todo médico que pratica a medicina complementar -
segundo a Associação Brasileira de Medicina Complementar - deve conhecer
profundamente a medicina convencional.

MEDICINA TRADICIONAL
É aquela praticada tradicionalmente por uma sociedade ou cultura. É a soma
total do conhecimento, habilidades e práticas com bases nas teorias, crenças das
diversas culturas, sendo explicáveis ou não, usadas na manutenção da saúde bem
como em sua prevenção. Também pode ser chamada de medicina popular. São
exemplos de medicinas tradicionais: medicina chinesa, medicina Ayurvédica, ervas
da tradição cabocla brasileira, etc.

MEDICINA HOLÍSTICA
Indica somente que as pessoas são tratadas como um todo: corpo-mente-
espírito. Tanto a medicina complementar quanto a medicina convencional pode
empregar essa abordagem.

MEDICINA ETNOVETERINÁRIA
É a ciência que envolve a opinião e o conhecimento das práticas populares
utilizadas para o tratamento ou prevenção das doenças que acometem os animais
(MATHIUSMUNDY e MCCORKLE, 1989). Dentre os ramos desta ciência milenar
está a Fitoterapia. A etnoveterinária tem como um de seus objetivos validar os
conhecimentos de diversas comunidades na utilização de medicamentos elaborados
a partir de plantas medicinais, principalmente em países em desenvolvimento, que
necessitam de alternativas economicamente viáveis visando o bem-estar animal.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo tratamento que não é


integrado ao sistema de saúde predominante de um país é medicina
alternativa/complementar. Vale lembrar que o que é chamado de “complementar” ou
“alternativo” em um país, pode ser “tradicional” ou “convencional” em outro.
Acreditamos que o termo Medicina Tradicional seja mais adequado, pois é uma
forma de tratamento profundamente arraigada no conhecimento local da população.
31

DROGA VEGETAL
Planta medicinal ou suas partes, que contenham as substâncias, ou classes
de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta,
estabilização e/ou secagem, podendo ser íntegra, rasurada (cortada), triturada ou
pulverizada.

PLANTA MEDICINAL
Espécie vegetal cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos (OMS,
2003). Chama-se planta fresca aquela coletada no momento de uso e planta seca a
que foi precedida de secagem, equivalendo à droga vegetal.

MATÉRIA-PRIMA VEGETAL
Planta fresca, droga vegetal ou seus derivados: extrato, tintura, óleo, cera,
suco e outros.

REMÉDIO
É um cuidado utilizado para curar ou aliviar os sintomas das doenças, como
um banho morno, uma bolsa de água quente, uma massagem, um medicamento,
entre outras coisas.
Remédio caseiro de origem vegetal é a preparação caseira com plantas
medicinais, de uso extemporâneo (para uso imediato), que não exija técnica
especializada para manipulação e administração.

FITOTERÁPICO
Produto obtido de planta medicinal, ou de seus derivados, exceto substâncias
isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa.
Os fitoterápicos podem ser produzidos a partir de planta fresca (sucos e
alcoolaturas) ou planta seca (infusos, decoctos, extratos, tinturas, óleos medicinais).
As formas físicas de apresentação do fitoterápico são as formas
farmacêuticas, as quais podem ser classificadas em líquidas (tinturas, xaropes,
soluções, extratos fluidos), sólidas (extratos secos, comprimidos, cápsulas) e semi-
sólidas (extratos moles, pomadas, géis, cremes).
O fitoterápico industrializado para ser comercializado necessita ser registrado.
Os destinados a uso humano devem ser registrados na Agência Nacional de
32

Vigilância Sanitária (ANVISA - Ministério da Saúde) e os de uso veterinário no


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O fitoterápico
manipulado é uma preparação magistral e/ou oficinal, sob orientação de um
farmacêutico.
Tanto o fitoterápico industrializado quanto o manipulado devem seguir as
Boas Práticas de Fabricação/Manipulação (BPF/BPM).

PREPARAÇÃO MAGISTRAL
É aquela preparada na farmácia, a partir de uma prescrição de profissional
habilitado, destinada a um paciente individualizado, e que estabeleça em detalhes
sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar.

PREPARAÇÃO OFICINAL
É aquela preparada na farmácia, cuja fórmula esteja inscrita na Farmacopéia
Brasileira, no Formulário Nacional ou em Formulários Internacionais reconhecidos
pela ANVISA ou MAPA.

EXSICATAS
É uma amostra de planta seca e prensada numa estufa (herborizada), fixada
em uma cartolina de tamanho padrão (no Brasil, o tamanho mais econômico e usual
é o de 42 x 28cm) acompanhadas de uma etiqueta ou rótulo contendo informações
sobre o vegetal e o local de coleta, para fins de estudo botânico. Exsicatas são
normalmente guardadas num herbário.
Uma exsicata deve ter todos os elementos para sua classificação (raiz, caule,
folhas, flores e frutos). No caso de plantas de pequeno porte, devem ser retiradas
inteiras, junto com a raiz. No caso de arbustos ou árvores, devem ser coletados
ramos com cerca de 30 cm, onde estão as flores e frutos.
A secagem do material deve ser feita à sombra, com o material prensado em
jornal, e se a secagem for realizada a temperatura ambiente, o jornal deve ser
trocado todos os dias, para evitar o crescimento de fungos.
Após a secagem, a planta deve ser fixada em papel ou cartolina, de
preferência com linha e agulha, reservando-se o canto inferior direito para a etiqueta.
Na etiqueta deve conter o máximo de informações sobre a coleta da planta, tais
como: nome popular, nome cientifico, família, local e data da coleta, nome do coletor
33

e o nome do botânico que a identificou. Feito isso, coloca-se esta cartolina numa
capa de papel pardo resistente (padrão no Brasil, o dobro da medida anterior), que
envolve a cartolina com função de proteger o material.

HERBÁRIO
O herbário é uma coleção de exsicatas, que serve como material de pesquisa
para todas as áreas da ciência que utilizam os vegetais como seu objeto de estudo
ou como comprovante das classificações já feitas. Dele pode-se extrair, utilizar e
adicionar informação sobre cada uma das populações e/ou espécies conhecidas ou
novas. Portanto, num herbário, a sua coleção está em constante atualização.
Regularmente são feitas novas colheitas de exemplares, acompanhadas com
informações adicionais sobre a evolução do habitat, do clima, da vegetação e outras
informações que se considerarem relevantes. Se corretamente conservadas, um
espécie-tipo pode durar centenas de anos.
Uma espécie de planta num herbário é uma fonte insubstituível de registro da
biodiversidade das plantas.

BANCO DE GERMOPLASMA
São unidades conservadoras de material genético (animal, vegetal,
microorganismos), de uma ou de várias espécies, de uso imediato ou com potencial
de uso futuro. Geralmente consiste de base física, em centros ou instituições
públicas e/ou privadas.
Existem várias formas de conservação de germoplasma vegetal, são elas:
sementes, explantes ou plantas a campo.
Podem ser classificados em "bancos de base" ou em "bancos ativos". Os
bancos de base são aqueles em que se conserva o germoplasma em câmaras frias
(conservação de 1ºC até -20ºC), in vitro (conservação de partes vegetais em meio
de cultura de crescimento) ou em criopreservação (conservação em nitrogênio
líquido a -196ºC), por longos prazos, podendo até mesmo ficar longe do local de
trabalho do melhorista genético. São considerados "bancos ativos" aqueles que
estão próximos ao pesquisador, nos quais ocorre o intercâmbio de germoplasma e
plantios freqüentes para caracterização, o que proporciona a conservação apenas a
curto e médio prazos.
34

HORTO MEDICINAL
Destina-se à identificação, à propagação e ao cultivo de plantas de interesse
medicinal, com o propósito de preservar as espécies e resgatar o uso popular,
valorizando e divulgando a sabedoria tradicional. Podem ser classificados em:
a) Horto didático - destinado a identificação e estudo das espécies medicinais. Nele
se cultiva uma grande variedade de espécies em pequena quantidade.

b) Horto comercial/produtivo - tem o objetivo de produzir plantas medicinais em


escalas maiores, seja para mudas, plantas secas ou para produção de fitoterápicos,
sendo ainda utilizado para pesquisas de práticas agrícolas. Geralmente são
cultivadas poucas espécies em maior quantidade.

c) Horto caseiro/doméstico - pode ser grande ou pequeno, tendo como objetivo


produzir plantas medicinais para suprir as necessidades da família. Normalmente as
plantas são cultivadas junto com as hortaliças.

FARMÁCIA VIVA
Compreende a estrutura e a prática de cultivo de plantas medicinais nativas
ou aclimatadas, com perfil químico definido, para dispensação de planta fresca e/ou
seca, podendo ter acoplada uma Oficina Farmacêutica de Fitoterápicos.
Geralmente é instalada em pequenas comunidades, escolas, empresas,
postos de saúde ou hospitais.

OFICINA FARMACÊUTICA DE FITOTERÁPICOS


Área física acoplada ou não, aos canteiros de plantas medicinais, aparelhada
com equipamentos destinados à rasura e moagem de plantas medicinais e
manipulação de medicamentos fitoterápicos magistrais e oficinais.

DISPENSAÇÃO
Ato de fornecimento e orientação ao consumidor de planta medicinal, droga
vegetal e/ou medicamentos fitoterápicos magistrais ou oficinais, mediante
apresentação da prescrição.
35

MANIPULAÇÃO
É o conjunto de operações com a finalidade de elaborar medicamentos
fitoterápicos, seja magistral ou oficinal.

PRODUTO ACABADO
É a matéria prima vegetal, integral ou suas partes, droga vegetal ou
medicamento fitoterápico magistral ou oficinal embalado e etiquetado, pronto para
consumo.

PRINCÍPIO ATIVO
É a substância ou grupo de substâncias contidas no vegetal, responsável por
desencadear diversas reações nos organismos vivos, determinando a atividade
curativa ou tóxica daquele vegetal.
Ao contrário dos medicamentos convencionais, que possuem quantidades
conhecidas de princípios ativos isolados, ou seja, das substâncias responsáveis
pelos efeitos, nos fitoterápicos os princípios ativos não são isolados. Eles coexistem
com uma série de outras substâncias presentes na plantas. Em cada planta, apenas
uma parte é utilizada para a formulação de medicamentos. A diversidade de
substâncias existentes nessas partes é chamada de fitocomplexo, que é
responsável pelo efeito terapêutico mais suave e pela redução dos efeitos colaterais.
O efeito terapêutico da valeriana1, por exemplo, só é atingido quando se administra o
fitocomplexo. Quando o princípio ativo é administrado isoladamente, não há efeito
significativo.
Os princípios ativos são classificados em função de vários aspectos, como:
classe química, classe terapêutica, alvo molecular ou especificidade.
Quanto à especificidade, existem apenas duas classes: a dos fármacos
específicos e a dos inespecíficos. Os específicos correspondem à maioria dos mais
de sete mil fármacos constantes no arsenal terapêutico, tais como analgésicos e
antiinflamatórios, os agentes cardiovasculares, anti-histamínicos, hormônios,
agentes antiparasitários diversos etc. Os inespecíficos são em número bastante
reduzidos. Não atuam seletivamente sobre determinados receptores. A ação

1
Valeriana officinalis - vem sendo usada no tratamento de insônia e, ao contrário dos medicamentos
convencionais, não provoca dependência nem tolerância. No entanto, se ingerida em grandes
quantidades e por tempo prolongado, ela pode ser tóxica para o fígado.
36

farmacodinâmica desta classe depende apenas de suas propriedades físico-


químicas, sendo estes pouco vulneráveis às modificações estruturais. Entre os
fármacos inespecíficos mais comumente manipulados temos os, rubefacientes,
adstringentes, emolientes, umectantes, hidratantes, queratoplásticos anti-sépticos,
queratolíticos e cáusticos.

FARMACOPÉIA BRASILEIRA
A Farmacopéia Brasileira é o Código Oficial Farmacêutico do País, onde se
estabelecem, dentre outras coisas, os requisitos mínimos de qualidade para
fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde.
É elaborada pela Comissão Permanente de Revisão da Farmacopéia
Brasileira (CPRFB), uma comissão oficial nomeada pelo Diretor-Presidente da
ANVISA, caracterizando-se como uma entidade particular.
Além da publicação da Farmacopéia Brasileira, a CPRFB publicou a 2ª edição
da Farmacopéia Homeopática Brasileira e a edição atual das Denominações
Comuns Brasileiras (2003).
A escolha dos medicamentos a serem incluídos na Farmacopéia não é feita
ao acaso. Em primeiro lugar, são escolhidos os medicamentos que constam da
Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais (RENAME) ou da lista da OMS.
São, também, elaboradas em caráter de prioridade as monografias dos
medicamentos de escolha dos programas especiais de saúde e os produtos novos
de grande interesse terapêutico.
Para elaborar monografias para a Farmacopéia Brasileira, a subcomissão
pertinente, ou um membro da CPRFB com sua equipe, ou um órgão oficial de
controle de qualidade (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde
[INCQS] e o Instituto Adolfo Lutz [IAL]) ou uma indústria farmacêutica propõem a
monografia para um fármaco. Esta não é uma monografia simples, devendo ser
submetida à uma série de estudos especiais, que comprovam o cumprimento de
todas as exigências de um estudo químico (validação). Após a elaboração da
monografia, a CPRFB faz a avaliação e se for julgada adequada, ela é remetida para
outros colaboradores da Farmacopéia nos três segmentos que a compõem: órgãos
oficiais de controle de qualidade, indústria farmacêutica e universidades, para fins de
certificação (verificar se a metodologia funciona e fornece resultados iguais em
diferentes laboratórios). Caso os resultados encontrados sejam adequados, essa
37

monografia é reavaliada pela CPRFB e, sendo aprovada, é colocada em Consulta


Pública durante três meses para que a comunidade científica se manifeste. Somente
após esse período é que a monografia (caso não ocorram manifestações contrárias)
é enviada à apreciação e oficialização da ANVISA.
As subcomissões da CPRFB são criadas, em áreas específicas de
conhecimento, com a finalidade de elaborar trabalhos direcionados. Assim sendo, a
Subcomissão de Homeopatia deve elaborar a Farmacopéia Homeopática Brasileira,
a Subcomissão do Formulário Nacional deve elaborar o Formulário Nacional, a
Subcomissão de Imunobiológicos deve elaborar monografias de soros, vacinas, e
outros produtos imunobilógicos, a Subcomissão de Material de Referência deve
coordenar a elaboração dos padrões de referência da Farmacopéia Brasileira, e
assim por diante. Todas as subcomissões são subordinadas à CPRFB.
O primeiro código do Brasil Colônia foi a Farmacopéia Geral para o Reino e
os Domínios de Portugal, sancionada em 1794 e obrigatória em nosso país a partir
de 1809. Após a Independência, foram utilizados, além desta, o Codex
Medicamentarius Gallicus francês e o Código Farmacêutico Lusitano, hoje
considerado como a 2ª edição da Farmacopéia Portuguesa. Isto, até que o Decreto
n° 8.387, de 19/01/1082, estabeleceu que "para o preparo dos medicamentos oficiais
seguir-se-á a Farmacopéia Francesa, até que seja composta uma farmacopéia
brasileira..."
Em 1926, as autoridades sanitárias do país aprovaram a proposta de um
Código Farmacêutico Brasileiro, apresentada pelo Farmacêutico e Professor de
Farmácia Rodolpho Albino Dias da Silva. Aprovado pelas autoridades sanitárias da
época, este Código foi oficializado em 1929 e tornou-se a primeira edição da
Farmacopéia Brasileira. Obra de um único autor, a primeira edição da Farmacopéia
Brasileira equiparava-se às Farmacopéias dos países tecnologicamente
desenvolvidos, porém diferenciava-se das demais por conter descrições de mais de
200 plantas medicinais, a maioria delas de origem brasileira.
A última teve início em 1988, saiu em fascículos, nos anos de 1996, 2000,
2001, 2002, 2003 e 2005, todas em vigor.
A Farmacopéia Brasileira até o momento, não possui laboratórios, sede
própria ou orçamento específico. Seus trabalhos de pesquisa, elaboração, validação
e certificação de produtos são realizados nos laboratórios em que os membros
participantes da CPRFB trabalham, ou seja, as atividades da Farmacopéia são
38

realizadas colaborativamente nas universidades (públicas e privadas), nos órgãos


oficiais de controle de qualidade de medicamentos e nas indústrias farmoquímicas e
farmacêuticas.
A OMS relata a existência de mais de cinco dezenas de farmacopéias. Os
países não são obrigados a elaborar farmacopéias. Um país pode adotar
farmacopéias de outros países. Entretanto, como a Farmacopéia reflete o avanço da
ciência e da tecnologia de um país, a existência de uma farmacopéia nacional pode
ser considerada como um assunto de segurança nacional, por assegurar a
qualidade de medicamentos em uso e garantir a não dependência de outros países
A Farmacopéia Brasileira se insere, rigidamente, nos padrões internacionais,
porém, procura soluções coerentes com o desenvolvimento tecnológico de nosso
país, como, por exemplo, o estabelecimento de métodos alternativos de análises.
O Decreto nº 96.607, de 30 de agosto de 1988, determina que as drogarias e
farmácias e estabelecimentos de ensino de Medicina, Farmácia, Odontologia e
Veterinária, órgãos de fiscalização e controle de qualidade de medicamentos,
laboratórios industriais e os estabelecimentos congêneres, são obrigadas a manter
exemplar atualizado da Farmacopéia Brasileira.
A fiscalização da disponibilidade da Farmacopéia Brasileira nestes
estabelecimentos é determinada pelas Secretarias de Saúde Estaduais, por meio da
Vigilância Sanitária de cada Estado ou Município.
A Farmacopéia Brasileira pode ser adquirida nas livrarias especializadas ou
na Editora Atheneu São Paulo LTDA. A atual sede da Farmacopéia Brasileira
localiza-se na Universidade Federal de Santa Maria (www.ufsm.br/farmacopeia).

GLOSSÁRIO DE TERMOS FARMACÊUTICOS


Adstrigente - causam precipitação de proteínas e, consequentemente, auxiliam no
bloqueio da difusão de um processo inflamatório. Atuam por vasoconstrição local e
coagulação das albuminas, levando a absorção dos exsudatos de feridas e erupções
cutâneas. Provocam a constrição das superfícies mucosas, pele, vasos sanguíneos,
tecidos diversos, diminuindo as secreções e corrimentos. Em alguns casos
provocam uma constrição tão forte dos capilares e outros vasos sanguíneos de
calibre pequeno que podem ser utilizados para estancar pequenas hemorragias.
São utilizados também como antiperspirantes e desodorizantes, o que se deve a
constrição que provocam nos poros e ao efeito bactericida que muitos revelam. Os
39

adstringentes aplicam-se em soluções aquosas, pomadas, cremes, supositórios,


óvulos e emplastros. Ex.: agrião, aperta-ruão, aroeira, barbatimão, bolsa-de-pastor,
chicória, cipó-chumbo, óleo de eucalipto, guaraná, jaca, jatobá, jequitibá, maça, mil-
em-rama, óleo de alho, romã, açoita-cavalo, álamo, avenca, begônia, caqui, chorão,
cambuí, casca-de-anta, casca-de-cedro, cipó-escada, guabiroba, goiabeira,
marmeleiro, nogueira, rosa, sempre-viva, videira (folhas).

Alterantes - plantas que produzem sêde. Ex.: jurubeba

Analépticos - que restauram as forças; tônico. Ex.: cenoura, abóbora, couve,


abacaxi, maçã, mel puro.

Anticatárticos - combatem a diarréia. Ex.: abóbora, alcachofra, goiaba, manga,


maçã, carvão vegetal.

Antifiséticos - eliminam gases. Ex.: cenoura, abacate, melancia, carvão vegetal.

Antiflogísticos - o mesmo que anti-inflamatório; substâncias aplicáveis contra as


inflamações. Ex.: abóbora, repolho, banana, melão, limão, figo, laranja, cebola, óleo
de alho, acerola, goiaba, óleo de copaíba, erva-baleeira, espinheira-santa,
esporinha, romã, castanha-da-índia, garra-do-diabo.

Antissépticos - tudo o que for utilizado no sentido de degradar ou inibir a


proliferação de microrganismos presentes na superfície da pele ou mucosas. São
substâncias usadas para desinfectar ferimentos, evitando ou reduzindo o risco de
infecção por acção de microorganismos. Ex.: alecrim pimenta, alfavaca-cravo,
alfazema, calêndula, cardo-mariano, língua-de-tucano, angelicó, coerana, óleo de
eucalipto, óleo de alho, espinheira-santa.

Balsâmicos - que suavizam e amenizam.

Béquicos - combatem a tosse. Ex.: agrião, alecrim, alfavaca, alfazema, avenca,


cambará, cravo-da-índia, douradinha-do-campo, guaco, erva-cidreira, hortelã, jaca,
jatobá, limão, língua-de-vaca, maçã, madressilva, malva, manjerona, margarida,
40

gervão, poejo, rabo-de-arara, rainha-da-noite, saudades, tuna, umbaúba,


vassourinha, verônica, violeta, mel puro.

Calmantes - acalmam e sedam as dores e irritações da pele; lenitivo; que exerce a


função de acalmar os nervos. Ex.: camomila, capim-santo, capim-cidreira, erva-
cidreira, cidrão, erva-cidreira-de-arbusto, macela, erva-doce, acariroba, agrimônia,
malva-cheirosa, maracujá, valeriana; açafrão, alface, alcaçuz, anil, arruda, beijo-de-
moça, beladona, chorão, cipó-mil-homens, coentro, cordão-de-frade (cachopa),
corticeira, gerânio, mulungu, mandioca (brotos), malva, margarida, papoula, óleo de
prímula , sálvia, tília, timbó.

Carminativos - promovem a eliminação dos gases desenvolvidos no canal


digestivo, acalmando as dores que êles causam, e estimulando o estômago e os
intestinos; combate as flatulências (gases) estomacais ou intestinais. Ex.: abacate,
alecrim, óleo de alho, alfazema, alfavaca, ananás, angélica, anis, artemísia, bambu,
baunilha, boldo-do-chile, camomila, capim-cidreira, cambará, canela, sassafrás,
casca-de-anta, cidra, coentro, cominho, dorme-dorme, endro, erva-doce, erva-
cidreira, erva-de-são-joão, espinheira-santa, funcho, gengibre, guaraná, hortelã,
losna, louro-preto, louro, manjerona, manjericão, erva-de-são-joão, mil-em-rama,
pacová, paracari, pau-amargo, pariparoba, picão, pimenta, poejo, quebra-pedra,
quitoco, quássia, amora, salsa, salva, erva-dos-gatos, aniz-estrelado, boldo-do-chile,
carubá, cipó-cravo, criptocária, fel-da-terra, fruto de bicuiba, garaná, laranjeira-da-
terra, laranjeirinha-do-mato, maytenus, noz-moscada, tinguaciba, uva-do-mato.

Catárticos - ação purgante energética; purgativa mais enérgica que dos laxantes e
menos que dos drásticos. Ex.: cáscara-sagrada.

Colagogos - estimulam o fluxo biliar; excitam a secreção da bile; provocam a


secreção da bile. Ex.: boldo-do-chile, cáscar-sagrada, alcachofra, acelga, berinjela,
agrião, melão, mamão.

Coleréticos - aumentam a secreção da bile. Estimular a liberação da bile. Promove


o esvaziamento da vesícula biliar. Ex.: boldo-do-chile.
41

Cáusticos - medicamentos tópicos destinados a destruir ou corroer determinadas


porções do tecido. Ex.: ácido nítrico, cloreto de zinco (solução aquosa 3 a 5 %),
nitrato de prata, ácido tricloroacético, ácido azótico, fenol, hidróxido de potássio
nitrato de mercúrio, cloreto de zinco.

Diaforéticos - sudoríferos, estimulam a transpiração, provocam o suor. Ex.: óleo de


alho, picão-da-praia, salsa, cebola, figo, maracujá (chá quente das folhas de ambas
as frutas), alfavaca, angelicó, cálamo-aromático, camomila-da-alemanha, cana-do-
brejo, caroba, guaiaco, jurubeba, pariparoba, pau-ferro, pipi, sabugueiro,
salsaparrilha, sassafrás, violeta. Banhos quentes de vapor.

Emolientes - formulações semisólidas, viscosas e monofásicas, possuindo


combinações de água, óleos e gorduras destinadas a ajudar a hidratar a pele e
restaurar a oleosidade perdida devido ao ressecamento da pele. Amolecem e
abrandam uma inflamação dos tecidos e mucosas, aliviando a dor; abranda o tecido
endurecido por abscessos, úlceras, inflamações, contusões, em qualquer parte do
corpo. Ex.: altéia, camomila, óleo de linhaça, malva, vassoura, vassourinha, violeta,
araticum (folhas), bananeira-do-mato, batata-doce (folhas e batata ralada), bolsa-de-
pastor, caruru-do-reino (folhas), caqui, cardo-santo, cevada, coerana (folhas),
confrei, cambuí, camomila, carrapicho, caruru, celidônia, douradinha, figo, grama
(chá), erva-de-santa-maria, erva-grossa, erva-moura, gervão, guaxuma, orapro-
nobís, Maracujá, margarida, pariparoba (folhas), pepino, taioba, timbó, trapoeraba,
tuna, verbasco, vinagreira.

Emplastro - material esmagado cru ou fervido, ainda morno e colocado sobre a


parte doente; cataplasma.

Emulsificante - estabiliza uma emulsão (substância de consistência leitosa).

Hidratantes - os hidratantes possuem características hidrofílicas, assim como os


emolientes. Entretanto eles são mais absorvíveis, dada a sua origem natural
(bioquímica), sendo capazes de hidratar os tecidos em níveis mais profundos,
inclusive o intra e intercelular.
42

Queratolíticos - medicamentos capazes de dissolver as formações queratínicas.


Provocam o desaparecimento das calosidades e cicatrizes. No mesmo grupo estão
incluídos os depilatórios. Ex.: ácido glicólico, ácido retinóico, pepsina papaína, etc. O
ácido salicílico é um dos queratolíticos mais empregados em pomadas epidérmicas
em concentração maior a 2%. Em concentração de 1 a 2% é queratoplástico.

Queratoplásticos - produtos que intensificam a queratinização dos epitélios


promovendo a regeneração da camada córnea, que corresponde à zona celular
mais extensa da pele. A sua espessura varia nas diferentes partes do corpo. Este
fato é importante na formulação de cremes e pomadas dérmicas pois a penetração
destas preparações depende, em grande parte da espessura da camada córnea.
Ex.: ácido pícrico ou trinitrofenol empregado em soluções alcoólicas ou aquosas no
tratamento de queimaduras.

Revulsivantes - produzem uma inflamação superficial para neutralizar os efeitos de


outro processo inflamatório mais profundo e perigoso.

Rubefacientes - possuem ação irritante que provoca aumento da circulação local e


contribui para dissipar processos inflamatórios. Eles provocam enrijecimento da pele
e das mucosas com que entram em contato, em especial através da dilatação dos
capilares sanguíneos.

Umectantes - são substâncias hidrofílicas, em geral compostos sintéticos


polihidroxilados, que por sua natureza mantêm a pele umedecida. Na verdade, os
agentes umectantes não adicionam umidade à pele; eles ajudam a pele a manter a
sua umidade natural. A maioria dos agentes umectantes são cremes ou loções que
contêm óleo.

Vulnerários - cicratizantes de feridas. Ex.: alecrim-de-jardim, algodoeiro, angico,


aperta-ruão, açoita-cavalo (lavar e tomar chá), andiroba (banhos), aroeira (lavar,
tomar), arruda, barbatimão, bardana (tomar e banhar), beldroega (aplicar), bolsa-de-
pastor (chá), buva (chá), calêndula, camomola-da-alemanha, carqueja, cavalinha,
celidônia, centáurea-menor, confrei, cana-do-reino (chá), canforeira (lavar), caroba
(banhos e tomar), caruru-da-índia (aplicar as folhas), cedro-rosa (lavar), cipreste
43

(chá), cinamomo (banhos com casca ou folhas), erva-de-santa-luzia, erva-moura,


erva-de-lagarto (chá), erva-passarinho, espinheira-santa, fenogrego (banhos),
gervão (chá), girassol (chá e banhos), guandu (tomar e banhar), hortelã (banhos),
imbiri (banhos), ingá (chá), jaracatiá (folhas aplicar), jurema-preta (banhos), juciri,
limão, manjerona, margarida (aplicar, tomar), mil-em-rama, óleo-de-copaíba (óleo
aplicar e tomar), óleo de eucalipto (lavar), pacová, parietária, perna-de-saracura
(lavar, aplicar), pinhão-do-paraguai, pitasaião, quina (lavar), salva, serpão, serralha-
brava (aplicar) timo, tinhorão, trevo-cheiroso, pita (chá).

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Medicamentos
fitoterápicos: parte 1- registro e políticas. Disponível em <www.anvisa.gov>.
Acesso em: 16 set 2009.

CAMPOS, S. Farmacopéia Brasileira. Disponível em: <http://www.drashirleyde


campos.com.br/noticias/11293>. Acesso em: 29 ago. 2009.

ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Seretaria do Estado de Saúde. Resolução n.1590


de 12 de fevereiro de 2001. Aprova regulamento técnico para a prática da fitoterapia
e funcionamento dos Serviços de Fitoterapia no âmbito do Estado do Rio de Janeiro
e dá outras providências. Disponível em <http://www.saude.rj.gov.br/Docs/
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Disponível em <http://www.plantamed.com.br/index.html>. Acesso em: 29 ago 2010.

STEDMAN. Dicionário médico. 23. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1987.

TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Compêndio de Fitoterapia. 3. ed. Curitiba:


Herbarium Laboratório Botânico. 1999. 317p.

VEIGA, R. F. A. Bancos de germoplasma. Disponível em <http://www.biota.org.br/


pdf/v72cap04.pdf>. Acesso em: 30 ago 2009.

VELLOSO, C. C.; PEGLOW, K. Plantas medicinais. Porto Alegre: Emater/RS,


ASDCAR. 2003.
44

NOÇÕES SOBRE PRINCÍPIO ATIVO DE PLANTAS MEDICINAIS


1 1
Denise Botelho de Oliveira Braga , Marília Botelho de Oliveira Chaudon ,
2
Alcir das Graças Paes Ribeiro

1 INTRODUÇÃO
Os vegetais são fontes importantes de substâncias biologicamente ativas. A
diversidade, em termos de estruturas e propriedades químicas, na qual essas
substâncias ocorrem na natureza podem servir, para o desenvolvimento de um
grande número de medicamentos (fitofármacos e fitoterápicos).
Nas células dos organismos vivos é sintetizada uma enorme variedade de
substâncias orgânicas, importantes para a sobrevivência das próprias espécies que
as fabricam. Esse conjunto das reações químicas que ocorrem num organismo vivo
com o fim de promover a satisfação de necessidades estruturais e energéticas é
denominado de metabolismo.
A principal característica dos vegetais é o fato de serem organismos
autotróficos, isto é, capazes de elaborar sua própria matéria orgânica a partir de
compostos inorgânicos, como o gás carbônico e a água que absorvem do meio,
utilizando como fonte de energia a luz do Sol. Esse processo, fundamental para a
vida na Terra, é conhecido como função clorofílica ou fotossíntese a qual todo o
metabolismo vegetal está condicionado.
As reações fotossintéticas podem ser agrupadas em duas categorias:
reações de claro, nas quais a energia solar será absorvida por moléculas de
clorofila e transferida destas para moléculas armazenadoras de energia (ATP e
NADPH), e reações de escuro, nas quais as moléculas de ATP e NADPH servirão,
respectivamente, como fonte de energia e força redutora no processo de fixação do
CO2, o qual será convertido principalmente em glicose. Através do metabolismo da
glicose são formados praticamente todos os metabólitos primários e secundários.
Entende-se por metabolismo primário o conjunto de processos metabólicos
que desempenham uma função essencial no vegetal, tais como a fotossíntese, a
respiração e o transporte de solutos. Os compostos envolvidos no metabolismo
primário são substâncias que existem em todas as plantas, constituindo a matéria-
prima de reações posteriores, catalizadas por enzimas e controladas geneticamente.
Esse é o caso dos aminoácidos, dos nucleotídeos, dos lipídios, carboidratos e da
clorofila.
45

Em contrapartida, o metabolismo secundário origina compostos não são


necessários para todas as plantas. Embora o metabolismo secundário nem sempre
seja necessário para que uma planta complete seu ciclo de vida, ele desempenha
um papel importante na interação das plantas com o meio ambiente.
Um dos principais componentes do meio externo cuja interação é mediada
por compostos do metabolismo secundário são os fatores bióticos. Desse modo,
produtos secundários possuem um papel contra a herbivoria, ataque de patógenos,
competição entre plantas e atração de organismos benéficos como polinizadores,
dispersores de semente e microorganismos simbiontes. Os metabólitos secundários
também possuem ação protetora em relação a estresses abióticos, como aqueles
associados com mudanças de temperatura, conteúdo de água, níveis de luz,
exposição à UV e deficiência de nutrientes minerais, podendo influenciar e alterar a
composição química dos vegetais
Há interações e adaptações coevolutivas complexas, que se produzem entre
planta-planta, planta-animal e planta-microorganismos de um dado ecossistema. Por
exemplo, a interação inseto-planta que depende da presença, no tempo certo e na
quantidade apropriada, de determinados compostos voláteis, responsáveis por
aromas característicos. Essas substâncias voláteis, difundidas com facilidade a partir
da evaporação, constituem verdadeiro elo de comunicação entre a fonte produtora e
o meio ambiente. Tudo indica que os insetos reagem às substâncias voláteis através
de mecanismo olfativo semelhante ao nosso, sentindo-se, portanto, atraídos ou
repelidos pelos odores produzidos pelas plantas.
Os metabólitos secundários distribuem-se pelos diferentes órgãos das plantas
de forma desigual, em função da especialização das células, podendo estar
concentrados nas raizes, nas folhas, nas flores, nas sementes, nos caules, nos
rizomas, nos talos ou nos caules. Em algumas espécies essa distribuição pode
ocorrer em todas as partes das plantas e em outras não. Além disso, uma mesma
planta pode produzir princípio ativo medicinal em uma parte e substância tóxica em
outra. Por exemplos, o Panax ginseng (ginseng) concentra seu princípio ativo na
raiz, o Symphytum officinale (confrei) produz alantoína (cicatrizante) na raiz e
alcalóides (tóxico) no caule.
O teor de princípios ativos de uma planta não é estável. Vários são os fatores
que podem alterá-lo, tais como:
46

Época do ano - as variações sazonais de determinados princípios ativos sugerem


que essas substâncias estão ligadas a alguma fase do ciclo vegetal, como floração
ou frutificação. Isso pode determinar a época ideal de colheita para uso medicinal.

Clima - alguns metabólitos secundários estão relacionados à adaptação climática.


Certos vegetais se desenvolvem em climas frios enquanto outos em climas quentes,
um sobrevivem apenas em climas secos enquanto outros apenas em climas úmidos.
Para cada planta existe um valor ótimo de temperatura e água para a produção de
metabolitos secundários. A chuva excessiva pode levar à perda de substâncias
solúveis em água das folhas e das raízes por lavagem, fato já verificado em algumas
plantas produtoras de alcalóides, glicósidos e óleos voláteis, mesmo que
aparentemente possam apresentar boas condições.

Solo - as diversas variedades de plantas têm necessidades muito diferentes em tipo


de solo e nutrientes. O tipo de solo onde a planta foi cultivada, ou nasceu
espontaneamente, é também determinante do tipo e quantidade dos metabólitos
secundários produzidos.

Os metabólitos secundários podem ser utilizados em estudos taxonômicos


(quimiosistemática). Um exemplo clássico são as antocianinas e betalainas, as quais
não ocorrem conjuntamente em uma mesma espécie vegetal. As betalainas são
restritas a dez famílias de plantas, pertencentes à ordem Caryophyllales, que
conseqüentemente não possuem antocianinas. Como a beterraba (Beta vulgaris)
pertence a uma dessas famílias (Chenopodiaceae), a coloração avermelhada de
suas raízes só pode ser atribuída à presença de betalainas, e não às antocianinas,
como erroneamente costuma se pensar.
Existem três grandes grupos de metabólitos secundários: terpenos,
compostos fenólicos e alcalóides (figura 1). Os terpenos são feitos a partir do ácido
mevalônico (no citoplasma) ou do piruvato e 3-fosfoglicerato (no cloroplasto). Os
compostos fenólicos são derivados do ácido chiquímico ou ácido mevalônico. Por
fim, os alcalóides são derivados de aminoácidos aromáticos (triptofano, tirosina), os
quais são derivados do ácido chiquímico, e também de aminoácidos alifáticos
(ornitina, lisina).
47

Figura 1- Principais vias do metabolismo secundário e suas interligações. Fonte: Peres (2004).

2 PRINCÍPIOS ATIVOS

2.1 TERPENOS
Os terpenos constituem uma classe variada de carbonetos produzidos por
uma grande variedade de plantas, principalmente as coníferas. No entanto, estas
substâncias tambem podem ser produzidas por insetos como as borboletas.
Os terpenos e seus derivados sinteticamente modificados (terpenóides) são
muito utilizados como flavorizantes em alimentos e como frangâncias, na
aromaterapia e medicina alternativa.
Eles apresentam funções variadas nos vegetais, sendo encontrados em
sementes, flores, folhas, raízes e madeira de plantas superiores assim como no
musgo, algas e líquens.
A classificação dos terpenos é feita de acordo com a quantidade de unidades
isopreno em:
Hemiterpenóides (C5) - Também chamado de isopreno. Exemplo: cadeia lateral
das citocininas.
Monoterpenóides (C10) - são constituintes dos óleos voláteis, atuando na atração
de polinizadores ou repelindo pragas. Exemplos: piretrinas e óleos essenciais.
48

Sesquiterpenóides (C15) - apresentam funções protetoras contra fungos e


bactérias. Exemplos: ácido abscísico e lactonas.
Diterpenóides (C20) - dão origem aos hormônios de crescimento vegetal.
Exemplos: giberelinas e taxol.
Triterpenóides (C30) - apresentam uma gama de funções. Muitos têm funções de
proteção contra herbívoros, alguns são antimitóticos, e outros atuam na germinação
das sementes e na inibição do crescimento da raiz. Exemplos: esteróides
(brassinoesteróides) e saponinas.
Tetraterpenóides (C40) - Exemplos: carotenóides.
Polisopreno (N) - Exemplo: borracha.

Como se pode observar, muitos compostos vegetais importantes são


terpenos ou possuem derivados de terpenos em partes de sua molécula. Entre
esses compostos encontram-se, inclusive, quatro (citocininas, ácido abscísico,
giberelinas e brassinoesteróides), das seis principais classes de hormônios vegetais.
Os monoterpenos, devido ao seu baixo peso molecular, costumam ser
substâncias voláteis, sendo, portanto denominados óleos essenciais ou essências.
Contudo nem todos os óleos voláteis são terpenóides; alguns podem ser compostos
fenólicos (fenilpropanóides). Eles podem estar estocados em flores (laranjeira),
folhas (capim-limão, eucalipto, louro) ou nas cascas dos caules (canelas), caule
(sândalo, pau-rosa) e frutos (erva-doce).
A função dos óleos essenciais nas plantas pode ser tanto para atrair
polinizadores (principalmente os noturnos) quanto para repelir insetos (pragas).
Entre o primeiro grupo estão o limoneno (encontrado nas cascas de frutas cítricas)
e o mentol (encontrado na Mentha piperita), os quais possuem cheiro agradável
também para nós. Um exemplo clássico do segundo grupo são as piretrinas. Esses
compostos são inseticidas naturais derivados do cravo-de-defunto (Chrysanthemum
spp). A volatilidade desse inseticida tem sido bastante útil para o desenvolvimento
dos conhecidos inseticidas domésticos para repelir pernilongos.
Muitos sesquiterpenóides também são voláteis e, assim como os
monoterpenos, estão envolvidos na defesa contra pragas e doenças. Dois exemplos
são o gossypol (dímero de C15), o qual está associado à resistência a pragas em
algumas variedades de algodão, e as lactonas, presentes na família Compositae e
responsáveis pelo gosto amargo de suas folhas (Artemisia absinthium). Alguns
49

sesquiterpenos são considerados fitoalexinas, como a rishitina de tomateiro.


Entretanto, a maior parte das fitoalexinas é na verdade compostos fenólicos
(isoflavonóides).
Os diterpenos normalmente estão associados às resinas de muitas plantas.
Um exemplo é a resina cicatrizante de jatobá (Hymenaea courbaril). Contudo, talvez
o principal papel desempenhado por um diterpeno seja o das giberelinas, as quais
são importantes hormônios vegetais responsáveis pela germinação de sementes,
alongamento caulinar e expansão dos frutos de muitas espécies vegetais.
Entre os triterpenos está uma importante classe de substâncias tanto para
vegetais quanto para animais. Trata-se dos esteróides, os quais são componentes
dos lipídios de membrana e precursores de hormônios esteróides em mamíferos
(testosterona, progesterona), plantas (brassinoesteróides) e insetos (ecdiesteróides).
Outra classe importante de triterpenos são as saponinas. Como o próprio
nome indica, as saponinas são prontamente reconhecidas pela formação de espuma
em certos extratos vegetais. Essas substâncias são semelhantes ao sabão porque
possuem uma parte solúvel (glicose) e outra lipossolúvel (triterpeno). Nas plantas, as
saponinas desempenham um importante papel na defesa contra insetos e
microorganismos. Isso pode ocorrer de diversos modos. Uma delas é a complexação
das saponinas com esteróides dos fungos, tornando-os indisponíveis. As plantas
também podem desenvolver saponinas como análogos de hormônios esteróides de
insetos. Esses análogos, denominadas fitoecdisonas, interferem no
desenvolvimento dos insetos, tornando-os estéreis. Há inclusive a possibilidade de
sintetizar hormônios animais a partir de saponinas. Isso tem ocorrido com a
saponina diosgenina, derivada da planta mexicana “cabeza de negro” (Dioscorea
macrostachya), para produção industrial da progesterona. A produção industrial de
hormônios animais a partir de saponinas vegetais causou uma significativa mudança
no comportamento da sociedade contemporânea, pois foi a base da produção dos
anticoncepcionais.
Outro triterpeno que tem mudado o comportamento da sociedade, ou pelo
menos seus hábitos alimentares é o colesterol. Embora o colesterol seja um
importante componente de membrana e precursor de hormônios esteróides, sua
acumulação tem sido associada com doenças cardíacas. Tal constatação fez com
que a população passasse a buscar alimentos com baixos níveis desses compostos.
É comum encontrarmos em diversos produtos de origem vegetal, tais como óleos,
50

azeites e margarinas, a indicação de que eles não contêm colesterol. Nem poderia
ser diferente, já que as plantas normalmente acumulam pouco colesterol devido à
ação da enzima esterol metiltransferase. Essa enzima adiciona metil ou etil ao
carbono 24 dos esteróides levando à acumulação de outros esteróides (sitosterol,
campesterol) e não do colesterol, pois esse último não possui CH3 no carbono 24.
Outras saponinas que merecem destaque são a azadiractina, uma saponina
do tipo limonóide presente no neem (Azadirachta indica), a tomatidina (um alcalóide
esteroidal), a glicirrizina presente no alcaçuz (Glycyrrhiza blabra) e o
protopanaxodiol extraído do ginseng (Panax ginseng). Embora essas saponinas
tenham sido desenvolvidas pelas plantas para sua proteção, elas vêm sendo
utilizadas pelo homem em diferentes aplicações como inseticidas naturais
(azadiractina) e remédios (protopanaxodiol e glicirrizina).
Os tetraterpenos mais famosos são sem dúvidas os carotenos e as
xantofilas. Esses compostos lipossolúveis desempenham um importante papel
tanto nas plantas quanto nos animais. Nas plantas, basta dizer que os carotenóides
fazem parte das antenas de captação de luz nos fotossistemas. Sem os
carotenóides não haveria, portanto a fotossíntese. Além disso, esses compostos são
importantes antioxidantes e dissipadores de radicais livres gerados pela
fotossíntese.
Embora os vertebrados não sejam capazes de sintetizar carotenóides, esses
compostos desempenham importantes papéis no metabolismo animal. Além de o
betacaroteno ser precursor da vitamina A (retinal), outros carotenóides como o
licopeno são importantes dissipadores de radicais livres nos animais.
Por fim, o último grupo de terpenóides é composto pelos polisoprenos. Entre
esses compostos está a borracha: um terpeno formado por 1.500 a 15.000 unidades
de isopreno. A borracha está presente no látex de diversas plantas, sendo a mais
importante a seringueira (Hevea brasiliensis).

2.2 COMPOSTOS FENÓLICOS


Numerosos derivados do fenol estão difundidos na natureza, formando um
grupo de compostos bastante presentes no nosso dia a dia, embora nem sempre
nos demos conta disso. Desse modo, muito do sabor, odor e coloração de diversos
vegetais que apreciamos são gerados por compostos fenólicos.
51

Alguns desses compostos, como o aldeído cinâmico da canela


(Cinnamomum zeyllanicum) e a vanilina da baunilha (Vanilla planifolia), são
empregados na indústria de alimentos, enquanto o eugenol do cravo (Syzygium
aromaticum) e o isoeugenol da noz-moscada (Myristica fragans) na indústria
farmacêutica.
Os compostos fenólicos não são apenas atrativos para nós, mas também
para outros animais, os quais são atraídos para polinização ou dispersão de
sementes. Além disso, esse grupo de compostos é importante para proteger as
plantas contra os raios UV, insetos, fungos, vírus e bactérias. Há inclusive certas
espécies vegetais que desenvolveram compostos fenólicos para inibir o crescimento
de outras plantas competidoras (ação alelopática). Exemplos de compostos
fenólicos com ação alelopática são o ácido caféico e o ácido ferúlico.
Além de sua importância na proteção das plantas contra fatores ambientais e
bióticos adversos, acredita-se que os compostos fenólicos tenham sido
fundamentais para a própria conquista do ambiente terrestre pelas plantas. Esse é o
caso da lignina, a qual proporciona o desenvolvimento do sistema vascular, dando
rigidez aos vasos. De modo coerente com essa hipótese, plantas primitivas que
habitam principalmente ambientes úmidos, como briófitas e pteridófitas, são pobres
em compostos fenólicos.
Os compostos fenólicos são dividos em dois grupos:
Fenóis - compostos simples. Consiste em uma hidroxila ligada ao anel benzênico.
Os fenóis apresentam diversas aplicações práticas, tais como: desinfetantes (fenóis
e cresóis); preparação de resinas e polímeros; preparação do ácido pícrico (usado
na preparação de explosivos) e síntese da aspirina e de outros medicamentos.
Entre os diidroxifenóis, a hidroquinona é a mais importante. A partir dela se
produzem as quinonas, que são compostos coloridos, variando do amarelo ao
vermelho. Não apresentam caráter aromático, sendo fortemente insaturados. A ação
redutora da hidroquinona, que à temperatura ambiente age com grande rapidez
sobre os sais de prata, faz dela um revelador fotográfico de largo emprego.

Flavonóides - possuem vários anéis de fenol (polifenóis). São encontrados em


várias frutas e hortaliças em geral, assim como em alimentos processados como chá
e vinho. Os efeitos biológicos incluem entre outros: ação anti-inflamatória, anti-
alérgica e anti-câncer. Tanto a indústria como pesquisadores e consumidores têm
52

demonstrado grande interesse nos compostos flavonóides pelo seu papel na


prevenção do câncer e das doenças cardiovasculares devido às suas propriedades
antioxidantes (combatem radicais livres).
Os mais de cinco mil compostos flavonóides que ocorrem na natureza
subdividem-se nos grupos:

Flavanas - função antimicrobiana (antifungos, antibactérias e antivírus), pois são os


agentes constitutivos que produzirão as fitoalexinas em resposta a ataques
microbianos. Exemplos: catechina e meciadonol

Flavanonas - são intermediárias biossintéticas da maioria das classes de


flavonóides, podendo influenciar no sabor amargo ou doce.

Flavonas e flavonóis - conferem coloração do branco ao amarelo ao vegetal.


Exemplos: apigenina, luteolina, canferol, quercetina, miricetina.

Isoflavonas - são compostos orgânicos pouco distribuídos na natureza, presentes


principalmente na soja e em seus derivados. Estes compostos apresentam efeito
estrogênico por apresentarem semelhança estrutural com os hormônios
estrogênicos e, também, efeito antifúngico e antibacteriano (fitoalexinas) e inseticida
(rotenóides).

Antocianinas - são pigmentos responsáveis por uma grande variedade de cores de


frutas, flores e folhas que vão do vermelho-alaranjado, ao vermelho vivo, roxo e azul.
Em particular, são os responsáveis pela cor rubi-violáceo (cor "bordô") do vinho tinto
jovem. São largamente distribuídos entre as plantas nas quais são encontrados em
muitas frutas escuras como a framboesa, amora, cereja, uva, mirtilo, morango,
jabuticaba, acerola, entre outras.
53

Quadro 1 - Tipo de antocianidina, coloração que produz nos vegetais e suas respectivas fontes.
Fonte:
Antocianidina Coloração Fonte

Aurantinidina

Cianidina vermelha cereja, jamelão, uva, morango, amora, figo, cacau, açaí

Delfinidina beringela, romã, maracujá

Europinidina

Luteolinidina

Pelargonidina vermelha-alaranjada morango, banana, acerola, pitanga, gerânio, amora, ameixa

Malvidina violeta uva, feijão, acerola

Peonidina púrpura cereja, jabuticaba, uva

Petunidina violeta uva, petúnia

Rosinidina

2.3 ALCALÓIDES
Alcalóide (de álcali, “básico”, com o sufixo -oide, "-semelhante a" ) é uma
substância de caráter básico derivada principalmente de plantas (mas não somente,
podendo ser também derivadas de fungos, bactérias e até mesmo de animais) que
contêm, em sua fórmula, basicamente nitrogênio, oxigênio, hidrogênio e carbono.
Os alcalóides representam cerca de 20% das substâncias naturais descritas.
Seus nomes comuns e que estamos mais habituados a ver, geralmente terminam
com o sufixo ina: cafeína (do café, que é chamada de pseudoalcalóide por ser, na
verdade, uma xantina), cocaína (da coca), pilocarpina (do jaborandi),
papaverina/morfina/heroína/codeína (da papoula), psilocibina do cogumelo psilocybe
cubensis, almíscar que é extraído de uma glândula do cervo-almiscarado, etc
São geralmente sólidos brancos (com exceção da nicotina). Nas plantas
podem existir no estado livre, como sais ou como óxidos.
Os alcalóides são sempre dotados de elevada toxicidade, mas também
correspondem aos principais terapêuticos naturais com ação: anestésica,
analgésica, psicoestimulantes, neurodepressores, etc.
54

Podem ser divididos em três grupos:


Alcalóides verdadeiros - possuem anel heterocíclico com um átomo de nitrogênio e
sua biosíntese se dá através de um aminoácido (ornitina, lisina, fenilalanina, tirosina,
triptofano, ácido antranílico).

Protoalcalóides - átomo de nitrogênio não pertence a anel heterocíclico e se


originam de um aminoácido (ex: cocaína).

Pseudo-alcalóides - são derivados de terpenos ou esteróides e não de


aminoácidos.

As dicotiledôneas são as que apresentam maior número de famílias com


espécies alcaloídicas, embora os alcalóides possam aparecer em algumas
monocotiledôneas e menos freqüentemente nas gimnospermas e nas pteridófitas.
Entre as dicitiledônias têm-se como exemplos as famílias Apocianáceas,
Papaveráceas, Fabáceas, Asteráceas, Berberidáceas, Borragináceas, Buxáceas,
Quenepodiáceas, Euforbiáceas, Lauráceas, Loganiáceas, Magnoliáceas,
Ranunculáceas, Rubiáceas, Rutácease e Solanáceas e entre as monocotiledóneas
destacam-se as famílias das Liliáceas e Amarilidáceas.
A distribuição é irregular, raramente servindo de padrão quimiotaxonómico.
Eles distribuem-se por toda a planta, mas tendem a se acumular em certas regiões,
em particular nos tecidos externos, no tegumento das sementes e nas cascas dos
caules e raízes. Em geral, são acumulados em tecidos distintos dos da sua síntese.
(A nicotina é sintetizada nas raízes da planta do tabaco e concentra-se nas folhas).
Em cada planta existe sempre uma mistura própria de vários alcalóides com
estrutura química semelhante, e geralmente observa-se predomínio de um deles
(alcalóide principal).
Em algumas famílias repartem-se largamente pelos seus táxones, caso das
Solanáceas (atropina e hiosciamina) e das Papaveráceas (papaverina). Certos
alcalóides são característicos de um único género (caso do género Cinchona –
quinina, quinidina, cinchonina, cinchonidina). Alguns apenas foram reconhecidos
numa espécie (Erythroxylon coca – cocaína).
As raízes, ramos e folhas da graviola (Anona muricata) possuem alcalóides:
reticulina, coclaurina, aterospermina, anomurina e anomuricina. A reticulina tem
55

efeito analgésico espasmolítico e antibacteriano além de estimular o sistema


nervoso central. A aterospermina tem efeito sedante, anestésico, anti-convulsionante
e anti-fúngico.
Da papoula (Papaver somniferum) se extraem alcalóides como morfina,
etilfmorfina e papaverina.
A cicuta (Conium maculatum) é uma planta herbácea com odor parecido com
o de urina de rato devido a presença de 8 alcalóides de piritidina, sendo o principal
deles a coiina. Esses alcalóides afetam o sistema nervoso causando: agitação,
tremedeira, pupilas dilatadas, baixa freqüência cardíaca, coma, morte por parada
respiratória. Os animais envenenados por esta planta apresentam o mesmo odor na
urina.

REFERÊNCIAS
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Editora Ltda. 1995. 550p.

HÉLIO DE MATTOS ALVES - A diversidade química das plantas como fonte de


fitofármacos. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n.3, 2001.
Disponível em <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/03/divers.pdf>. Acesso em:
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PERES, L. E. P. Metabolismo secundário. Apostila, EALQ/USP. 2008. Disponível


em <http://docentes.esalq.usp.br/lazaropp/FisioVegGradBio/MetSec.pdf>. Acesso
em: 14 set. 2009.

VELLOSO, C. C.; PEGLOW, K. Plantas medicinais. Porto Alegre: Emater/RS,


ASDCAR. 2003.
56

PREPARAÇÕES CASEIRAS DE FITOTERÁPICOS


12 13
Denise Botelho de Oliveira Braga , Alcir das Graças Paes Ribeiro Marília Botelho de Oliveira
1 3
Chaudon , Laila Pereira Coutinho

1 OBTENÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS


1.1 COLHIDAS NO CAMPO
Esta é uma forma extrativista de obtenção de plantas medicinais. Tem que
haver a preocupação de se fazer a colheita de forma sustentável para evitar a
extinção da mesma.
Ao serem colhidas podem ser usadas imediatamente (planta fresca) ou
secadas e armazenadas (planta seca) para uso posterior.

1.2 CULTIVADAS EM HORTAS


Muitas pessoas têm o costume de cultivar em suas hortas as plantas
medicinais que mais usam. Neste caso as preparações são feitas com a planta
fresca.

1.3 CULTIVADAS EM FARMÁCIAS VIVAS


Nas farmácias vivas são cultivadas as plantas medicinais utilizadas pela
comunidade. A colheita é feita no momento de uso (planta fresca), entretanto, no
caso plantas sazonais, faz-se a secagem e armazenamento das mesmas.

1.4 COMPRADAS EM CASAS DE ERVAS, EM BANCAS OU LOJAS DE


PRODUTOS NATURAIS
Nestes estabelecimentos são encontradas plantas secas, torradas, trituradas,
rasuradas ou pulverizadas, muitas vezes sem identificação da origem e com nomes
populares.

1.5 COMPRADAS COM MATEIROS


Os mateiros vendem tanto a planta fresca como a seca. Quem não conhece a
planta que procura, ter que ter cuidado para não ser enganado na hora da compra.

12
Prof. Associado IV, Dr, Depto de Patologia e Clínica Veterinária, UFF.
13
Pesquisador, Me, Laboratório de Controle Biológico, PESAGRO-Rio
3 Acadêmica ......
57

Muitos são de confiança, mas precisamos ter o cuidado de, indiretamente, estarmos
contribuindo para a extinção de alguma espécie colhida na natureza.

2 FORMAS DE APRESENTAÇÃO
As preparações caseiras de fitoterápicos são elaboradas a partir droga
vegetal (planta fresca, seca, torrada, triturada, rasurada ou cortada, pulverizada) ou
de seus derivados (óleo vegetal, óleo essencial, cera, tintura ou alcoolatura e
outros).
Os óleos vegetais são gorduras de plantas formadas por triglicerídio.
Extraídos principalmente das sementes e frutas, aumentam a proteção da pele
contra a perda excessiva de líquidos, permitem a respiração cutânea e assimilam a
luz solar. Muito usados para sinergias e diluição dos óleos essenciais, também
auxiliam o restabelecimento de peles rachadas e ressecadas, normalizando e
reforçando a estrutura do tecido. Ao contrário dos óleos minerais, os de origem
vegetal causam menos reações citotóxicas e alérgicas. Finalmente, possuem outra
característica também muito importante: são biodegradáveis, não poluem e nem
agridem o meio ambiente.
Os óleos essenciais são compostos aromáticos voláteis extraídos de plantas
aromáticas por processos de destilação, compressão de frutos ou extração com o
uso de solventes. Geralmente são altamente complexos, compostos às vezes de
mais de uma centena de componentes químicos. Por serem concentrados, o seu
efeito é mais pronunciado que o uso da planta inteira ou o seu extrato. Existe uma
diferença marcante na composição química dos óleos essenciais naturais e de
essências sintéticas.
A cera é uma substância tenra e amarelada que se funde entre 35 a 100 o C e
é miscível com corantes. Existem ceras de origem animal, vegetal, mineral e
sintética. Primeiramente, o nome foi utilizado para designar a única cera então
conhecida, a de abelhas, e depois passou a denominar produtos que se lhe
assemelham quimicamente. Modernamente, consideram-se ceras quaisquer
materiais cerosos que, apesar de suas diferentes composições químicas,
apresentem características físicas semelhantes. As ceras animais ou vegetais são
ésteres resultantes da combinação de certos ácidos graxos (palmítico, cerótico,
mirístico) com álcoois diferentes do glicerol (cetílico, etc.). Contêm também uma
certa quantidade de ácidos graxos e de álcoois no estado livre, bem como
58

hidrocarbonetos. Estas ceras não produzem glicerol quando são hidrolizadas e,


diferentemente das gorduras, não exalam cheiro acre e irritante quando aquecidas e
não rançam. São geralmente mais consistentes que as gorduras.
A tintura ou alcoolatura, uma formulação muito conhecida nos receituários
de plantas medicinais, consiste numa solução preparada com álcool, na qual uma
parte dos princípios ativos deve ser extraída. Pode ser preparada com uma ou mais
matérias-primas, sendo assim classificada em simples ou composta. Em geral, as
tinturas são produzidas com uma relação massa:volume de 1:10 até 2:10, ou seja,
100g a 200g de planta seca para 1L de álcool. No caso de plantas frescas, a massa
vegetal utilizada deve ser dobrada.
Em tinturas para uso oral, utiliza-se álcool de cereais como líquido extrator.
No caso da produção de tinturas para aplicações externas, é possível usar o álcool
etílico doméstico. Para ensaios experimentais sugere-se o uso de etanol para
análise (PA), cujo teor é de 99,5%.
Quando houver necessidade de um preparo mais rápido, o material vegetal
deve ser pré-fracionado com uma tesoura de poda ou picado com as mãos e batido
no liquidificador até a completa trituração. A trituração aumenta o contato entre o
material vegetal e o álcool, favorecendo uma rápida retirada dos princípios ativos.
Independentemente da forma de preparo, a tintura deve ser armazenada em
um recipiente fechado, protegido da luz e de altas temperaturas, para evitar a
degradação dos princípios ativos e a volatilização do álcool. O material vegetal deve
ficar em contato com o álcool durante 7 a 10 dias (preparo rápido) ou de 7 a 30 dias
(preparo lento) e, durante esse período, ser agitado levemente pelo menos uma vez
ao dia. Ao final desse período, a tintura deve ser peneirada para retirada das frações
vegetais de maior tamanho e, logo após, filtrada com papel filtro e armazenada, o
quanto antes, em recipiente de vidro âmbar com tampa vedadora, onde
permanecerá até o momento do uso. Pode-se optar também por uma garrafa
comum revestida com papel alumínio. Conforme o produto e as condições de
armazenamento, a tintura terá uma validade entre 1 e 2 anos.
Para evitar acidentes e troca de produtos, recomenda-se confeccionar um
rótulo contendo informações como a espécie vegetal e partes da planta empregadas
na tintura, a data de fabricação e vencimento e a proporção de material vegetal em
relação ao volume de álcool. Na falta de balança para pesar o material vegetal a ser
utilizado, procede-se da seguinte forma:
59

a) Planta fresca - picar, colocar num frasco e adicionar álcool de cereais até cobrir as
plantas.
b) Planta seca - picar, colocar até a metade do frasco e adicionar álcool de cereais
até encher o vidro.
Deixar em repouso por 20 a 40 dias em local escuro e coar à medida que for
usando.
No preparo de sabonete, xampu e creme deve-se usar a tintura glicólica.
Esta deve ser elaborada na seguinte proporção: 800mL de glicerina bidestilada +
100mL de álcool de cereais + 100mL água deionizada ou mineral. As plantas são
adicionadas na mesma proporção da anterior.

3 FORMAS DE USO
3.1 USO INTERNO
3.1.1 Sumo ou suco
Obtidos da planta medicinal fresca por meio de pilão, espremedores manuais,
liquidificadores ou centrífugas. Em alguns casos pode-se acrescentar uma pequena
quantidade de água para facilitar a obtenção do sumo. Deve ser preparado na hora
de utilizar para não haver oxidação e, conseqüentemente, perda de alguns princípios
ativos. Como não é aquecido aproveita muito mais as vitaminas, sais minerais e
outras substâncias que são degradadas pelo calor.

3.1.2 Infusão
Para preparar uma infusão basta derramar água fervente sobre a planta
medicinal ou droga vegetal numa vasilha, tampar, esperar esfriar (10 a 15 minutos) e
coar.
É uma forma de preparo indicada para partes pouco densas das plantas,
como folhas macias e flores. Exemplos: capim-limão, erva-cidreira, erva-doce,
alecrim, camomila, macela, calêndula, flor de mamão macho.

3.1.3 Tisana
Colocar a planta medicinal ou droga vegetal numa vasilha com água fervente
por 0,5 a 2 minutos. Após esse tempo retira-se o recipiente do fogo, deixando
descansar (tapado) por cerca de 15 minutos.
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Indicada para partes medianamente densas ou densas bem trituradas.


Exemplos: sete-sangria, pata-de-vaca, chapéu-de-couro, parietária, tansagem, cana-
do-brejo.

3.1.4 Decocção
Colocar a planta medicinal ou droga vegetal numa vasilha com água, levar ao
fogo e deixar ferver. O tempo de fervura pode variar de dois a 30 minutos,
dependendo da dureza da parte da planta a ser utilizada. Após esse tempo retira-se
o recipiente do fogo, deixando descansar (tapado) por cerca de 15 minutos.
Indicada para o preparo de partes densas das plantas medicinais como
cascas, raízes e sementes. Exemplos: casca de canela e de catuaba, raiz de
gengibre e inhame, semente de sucupira.

3.1.5 Xarope
Colocar numa vasilha açúcar ou rapadura e água na proporção de 2:1 e levar
ao fogo até formar uma calda. Adicionar plantas frescas e picadas, mexendo-se por
3 a 5 minutos. Depois de frio, coar e guardar em frasco de vidro escuro. O mel
quando usado em substituição ao açúcar, não deve ser aquecido.

3.1.6 Vinho medicinal


Adicionar 5g de erva(s) seca(s) e picada(s) para cada 100mL de vinho
(moscatel). Acondicionar em recipiente bem tampado, em local escuro, por 15 a 20
dias. O recipiente deve ser agitado 1 ou 2x/dia para melhorar a extração dos
princípios ativos. Depois de filtrado, o produto deve ser conservado em local arejado.
O vinho medicinal é também chamado elixir. Quando o vinho é substituído por
cachaça ou vodka é conhecido como garrafada.

3.2 USO EXTERNO


3.2.1 Compressa
Preparação de uso tópico que atua pela penetração dos princípios ativos
através da pele. Pode ser quente ou fria. Utilizam-se chumaços de algodão, gaze ou
pequenos panos dobrados embebidos em um infuso concentrado, decocto, sumo ou
tintura da planta dissolvida em água, comprimindo-se a área afetada (daí o nome
compressa) por 15 a 20 minutos.
61

Após um trauma, o melhor é a aplicação de compressa fria, que faz


vasoconstrição do local afetado e, conseqüentemente, evita ou diminui a formação
de edema e hematoma.
O uso de compressas quentes é indicado como analgésico, para aliviar
cólicas e dores musculares e articulares. Em contraturas musculares, são ótimas
para relaxar a região permitindo reduzir os espasmos musculares e endurecimento
de articulações. O calor gerado ativa a circulação e pode ajudar no tratamento de
doenças inflamatórias.
Compressas quentes devem ser utilizadas somente após a diminuição do
inchaço. Caso sejam aplicadas antes do tempo correto, pode-se aumentar o fluxo
sanguíneo na região afetada causando um aumento do sangramento, ou até mesmo
estimular o aparecimento de inflamação.

3.2.2 Emplasto / cataplasma


Feito a partir de uma farinha, na qual adiciona-se a(s) planta(s), misturando-
se com óleos vegetais, óleos minerais ou água até se formar uma pasta que é
aquecida e aplicada diretamente sobre a pele ou entre 2 panos finos.
Muitas vezes os emplastros são utilizados na forma de pasta, elaborados com
farinha e diversos tipos de vegetais ralados, como inhame, gengibre, arnica, confrei,
manjerona, nabo, batata, mostarda, folhas verdes (emplastro de clorofila) e outros.
É usado para alívio das inflamações e das dores mais diversas, inclusive
reumáticas, nevrálgicas e musculares, bem como para a cura de abscessos e
demais afecções da pele. Emplastos de folhas de batata-doce aquecidas são bons
como emolientes, para acnes e furúnculos.

3.2.3 Unguento
Feitos de óleos ou gorduras aquecidos com ervas (tinturas, óleos, pós,
infusões). Coloca-se 10g de ervas secas ou 20g de ervas frescas em 20mL de
óleo/azeite ou gordura, mantendo-se em banho-maria por 2h. Coa-se e acrescenta-
se cera de abelha ou vaselina para dar consistência.
Os ungüentos são mais apropriados quando a pele precisa de lubrificação
mais intensa.
62

3.2.4 Pomada
É uma emulsão de cera, óleo ou gordura na qual adiciona-se água e ervas
frescas ou secas, podendo também utilizar tinturas, óleos, pós, infusos ou decoctos.

Modo de preparo 1:
Aquecer 150g de cera de abelha em banho-maria. Acrescentar 70g de azeite,
80mL de água e 30g de ervas secas ou 75g de frescas. Deixar ferver durante 3h,
mexendo sempre. Depois de fria, colocar em pote tampado. Em geladeira dura 3
meses.

Modo de preparo 2:
Em uma vasilha misturar 800g de vaselina com 200g de lanolina até
conseguir uma pasta homogênea. Acrescentar 200mL de tintura e homogeneizar
novamente. Tem validade de 2 anos.
Pomada para contusão: 500g de base pronta (vaselina + lanolina) + 100 mL
de tintura alcoólica (saião, murta, arnica-do-mato, erva-baleeira e cipó-cravo).

3.2.5 Creme e loção


Feitos com uma base específica, água e tintura glicólica na seguinte
proporção:
CREME LOÇÃO

Base croda 150g 150g


Água 700mL 900mL
Tintura glicólica 10% 10%

Modo de preparo:
Em um recipiente apropriado aquecer a água, desligar o fogo e acrescentar
base croda, mexendo bem até ganhar a consistência de creme ou loção. Após obter
a consistência desejada adicionar tintura glicólica.
Creme cicatrizante: 500g de base pronta (creme ou loção) + 50mL de tintura
glicólica (babosa, confrei, tansagem, calêndula).
Creme hidratante: 500g de base pronta (creme ou loção) + 50 mL de tintura
glicólica (calêndula, beterraba, rosa branca).
63

3.2.6 Colírio
Misturar o chá medicinal com solução salina a 0,9% na proporção de 1:1.
Pingar 2 gotas no olho afetado várias vezes ao dia. Tem validade de 5 dias, em
geladeira.

3.2.7 Banho
Faz-se uma infusão ou decocção bem concentrada, coa-se e mistura-se na
água do banho. Em grandes animais, aplica-se com pulverizador costal.

3.2.8 Xampu
Modo de preparo 1:
Picar 100g de sabão de coco em pequenos pedaços, juntar ½ litro de água,
aquecer em banho-maria até dissolver todo o sabão. Adicionar 2 copos de plantas
bem picadas, deixar levantar fervura e abafar até esfriar. Após 15 min., coar e
colocar em vidro limpo e esterilizado.
Modo de preparo 2:
Misturar 1 Kg de base para xampu com 2,5 L de água filtrada, mexendo bem
até homogeneizar. Acrescentar 250 mL de anfótero para dar consistência. Separar a
quantidade que irá ser usada para fazer o xampú e acrescentar 10 ou 20% de tintura
glicólica. A base pronta, que não for usada, pode ser guardada em geladeira. Tem
validade de 1 ano.
Xampú contra ectoparasitos: 500 mL de base pronta + 50 mL de tintura
glicólica (babosa, alecrim, arruda, boldo e erva-de-santa-maria). Além das ervas
específicas, é recomendável usar sempre o alecrim (dá brilho) e a babosa (evita
ressecamento).

3.2.9 Sabonete
Dissolver ½ Kg de glicerina sólida em banho-maria, tomando cuidado para
não deixá-la ferver. Tirar do banho-maria, acrescentar a 50 mL de tintura glicólica e
13 mL de essência e colocar em formas apropriadas. Se formar espuma, pulveriza-
se o sabonete com álcool. O tempo de secagem varia de acordo com a temperatura
ambiente. Em dias frios é de aproximadamente de 3 horas. Em dias quentes, após
este período, coloca-se na geladeira por 15 a 30 minutos. Em seguida, retirar da
forma e embalar como preferir.
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4 ALGUMAS PLANTAS E SUAS INDICAÇÕES


4.1 PLANTAS COM AÇÃO ANALGÉSICA
Salix alba - salgueiro
Ageratum conyzoides - mentrasto, erva-de-são-joão
Calendula officinalis - calêndula
Arnica montana - arnica
Melissa officinalis - erva-cidreira, melissa
Euphrasia officinalis - eufrásia
Plantago major - tansagem
Achillea millefolium - dipirona, mil-em-rama
Ptychopetalum olacoides - marapuana
Pilocarpus jaborandi - jaborandi
Piper gaudichaudianum - jaborandi
Cymbopogon citratus - capim-limão
Petiveria alliacea - guiné
Kalanchoe brasiliensis - saião
Sambucus nigra - sabugueiro
Maytenus ilicifolia - espinheira-santa
Alternanthera brasiliensis - terramica, doril, anador
Foeniculum vulgare - funcho, erva-doce
Vernonia condensata - boldo-da-bahia, alumã
Tynnanthus fasciculatus – cipó-cravo

4.2 PLANTAS COM AÇÃO CICATRIZANTE, ANTINFLAMATÓRIA E ANTISSÉPTICA


Ageratum conyzoides - mentrasto
Kalanchoe brasiliensis - saião
Calendula officinalis - calêndula
Arnica montana - arnica
Symphytum officinale - confrei
Allium tuberosum - alho
Uncaria tomentosa - unha-de-gato
Matricaria chamomilla - camomila
Plectranthus barbatus - boldo-brasileiro
Maytenus ilicifolia - espinheira-santa
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Plantago major - tansagem


Aloe vera - babosa
Bidens pilosa - picão-preto
Cecropia spp - embaúba
Baccharis trimera - carqueja
Jatropha gossypiifolia - pinhão-roxo, pião-roxo
Cordia verbenácea - erva-baleeira
Carapa guianensis - andiroba
Stryphnodendron barbatiman - barbatimão
Copaifera spp - copaíba
Bixa orellana - urucum

4.3 PLANTAS INDICADAS PARA CONTUSÃO E ARTRITE


Cordia verbenacea - erva-baleeira
Symphytum officinale - confrei
Solidago microglossa - arnica brasileira
Chenopodium ambrosioides - erva-de-santa-maria, mastruz
Arnica montana - arnica
Kalanchoe brasiliensis - saião
Origanum majorana - manjerona
Vernonia polyanthes - assapeixe
Achillea millefolium - dipirona, mil-em-rama
Harpagophytum procumbens - garra-do-diabo

4.4 PLANTAS COM AÇÃO ANTIMICROBIANA


Aloe vera - babosa
Casearia sylvestris - guaçatonga, café-bravo
Chenopodium ambrosioides - erva-de-santa-maria, mastruz
Calendula officinalis - calêndula
Alternanthera brasiliensis - terramica, doril, anador
Arnica montana - arnica
Echinacea purpúrea - equinácea
Baccharis trimera - carqueja
Hydrastis canadensis - hidraste
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Melissa officinalis - erva-cidreira, melissa


Plantago major - tansagem
Achyrocline satureioides - macela
Schinus terebinthifolius - aroeira
Bidens pilosa - picão-preto
Stryphnodendron barbatiman - barbatimão
Glycyrrhiza glabra - alcaçuz
Copaifera sp - copaíba
Plectranthus barbatus - boldo-brasileiro

4.5 PLANTAS COM AÇÃO ANTIHEMORRÁGICA


Vernonia condensata - boldo-da-bahia, alumã
Achillea millefolium - dipirona, mil-em-ramas
Chenopodium ambrosioides - erva-de-santa-maria
Symphytum officinale - confrei
Aloe vera - babosa
Stryphnodendron barbatiman - barbatimão

4.6 PLANTAS COM AÇÃO ANTIALÉRGICA


Echinacea purpúrea - equinácea
Euphrasia officinalis - eufrásia
Matricaria chamomilla - camomila
Jacaranda puberula - carobinha
Plantago major - tansagem
Aloe vera - babosa
Glycyrrhiza glabra - alcaçuz

4.7 PLANTAS COM AÇÃO ANTISSEBORRÉICA


Aloe vera - babosa
Arnica montana - arnica
Myrtus communis - murta
Equisetum arvensis - cavalinha
Arctium lappa - bardana
Artemisia absinthium - losna, artemisia
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Momordica charantia - melão-de-são-caetano


Simmondsia chinensis - jojoba
Guazuma ulmifolia - mutamba
Copaifera sp - copaíba
Pilocarpus jaborandi - jaborandi
Piper gaudichaudianum - jaborandi

4.8 PLANTAS COM AÇÃO ECTOPARASITICIDA


Chenopodium ambrosioides - erva-de-santa-maria
Momordica charantia - melão-de-são-caetano
Artemisia absinthium - losna, artemísia
Mentha pulegium - poejo
Pelargonium spp - gerâneo
Ruta graveolens - arruda
Azadirachta indica - neem
Tagetes patula - cravo-de-defunto
Cymbopogon citratus - capim-limão
Cymbopogon winterianus - citronela
Plectranthus barbatus - boldo-brasileiro
Polygonum hydropiperoides - erva-de-bicho

4.9 PLANTAS COM AÇÃO ANTIHELMÍNTICA


Casearia sylvestris - guaçatonga, café-bravo
Tanacetum vulgaris - erva-lombrigueira, catinga-de-mulata
Chenopodium ambrosioides - erva-de-santa-maria
Mentha spp (M.piperita, M. crispa) - hortelã, menta
Artemisia absinthium - losna, artemísia
Momordica charantia - melão-de-são-caetano
Eugenia uniflora - pitangueira
Aloe vera - babosa
Musa spp - bananeira
Allium tuberosum - alho
Baccharis trimera - carqueja
68

4.10 PLANTAS COM AÇÃO ANTIOFÍDICA


Eclipta alba (E. prostata) - surucuína, erva-botão
Jatropha elliptica - purga-de-lagarto, raíz-de-cobra
Tabernaemontana catharinensis - leiteiro-de-vaca
Stryphnodendron adstringens - barbatimão
Casearia sylvestris - guaçatonga, café-bravo
Mikania glomerata - guaco

4.11 PLANTAS COM AÇÃO LAXANTE


Cassia angustifólia - sene
Cynara scolymus - alcachofra
Rhamnus purshiana - cáscara sagrada
Cordia verbenácea - erva-baleeira
Maytenus ilicifolia - espinheira-santa

4.12 PLANTAS COM AÇÃO ANTIDIARRÉICA


Psidium guajava - goiabeira
Eugenia uniflora - pitangueira
Ageratum conyzoides - mentrasto, erva-de-são-joão
Melissa officinalis - melissa, erva-cidreira
Plantago major - tansagem
Cymbopogon citratus - capim-limão

4.13 PLANTAS COM AÇÃO ANTITÓXICA (HEPATOPROTETORA)


Solanum paniculatum - jurubeba
Plectranthus barbatus - boldo-brasileiro
Maytenus ilicifolia - espinheira-santa
Harpagophytum procumbens - garra-do-diabo
Baccharis trimera - carqueja
Cynara scolymus - alcachofra

4.14 PLANTAS COM AÇÃO ANSIOLÍTICA


Valeriana officinalis - valeriana
Hypericum perforatum - hipérico, erva-de-são-joão
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Matricaria chamomilla - camomila


Passiflora spp - maracujá
Cymbopogon citratus - capim-limão
Melissa officinalis -erva-cidreira, melissa

4.15 PLANTAS INDICADAS PARA AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS


Mikania glomerata - guaco
Tropaeolum majus - capuchinha
Ananas comosus - abacaxi
Salvia officinalis - sálvia
Eucalyptus globulus - eucalipto
Justicia pectoralis - anador
Rorippa nasturtium aquaticum - agrião
Kalanchoe brasiliensis - saião
Zingiber officinale - gengibre
Carica papaya – mamão (flor do mamão macho)
Vernonia polyanthes - assapeixe, cambará-branco

4.16 PLANTAS INDICADAS PARA AFECÇÕES URINÁRIAS


Phyllanthus spp - quebra-pedra, erva-pombinha
Echinodorus macrophyllum - chapéu-de-couro
Equisetum arvensis - cavalinha
Taraxacum officinalis - dente-de-leão
Cecropia spp - embaúba
Zea mays - milho
Costus spp (C. spicatus, C. scaber) - cana-do-brejo
Arctium lappa - bardana
Persea gratíssima - abacateiro
Parietaria officinalis - parietária
Leonotis nepetifolia - cordão-de-frade
Kalanchoe brasiliensis - saião
Rorippa nasturtium-aquaticum - agrião
Urera baccifera - urtiga-vermelha
Smilax aspera - salsaparrilha
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Plantago major - tansagem

4.17 PLANTAS INDICADAS PARA INFECÇÕES DO SISTEMA REPRODUTOR


Polygonum hydropiperoides - erva-de-bicho
Psidium guajava - goiabeira
Costus spp (C. spicatus, C. scaber) - cana-do-brejo
Schinus terebinthifolius - aroeira
Stryphnodendron barbatimam - barbatimão

4.18 PLANTAS INDICADAS PARA RETENÇÃO DE PLACENTA


Gossypium hirsutum (G. herbaceum) - algodão
Aloe vera - babosa
Hydrastis canadensis - hidraste
Mentha pulegium - poejo
Arnica Montana - arnica
Obs.: Estas plantas estimulam a contração uterina, portanto são contra-indicadas
para gestantes.

4.19 PLANTAS INDICADAS PARA AFECÇÕES OFTÁLMICAS


Euphrasia officinalis - eufrásia
Euphorbia hirta e E. ophthalmica - erva-de-santa-luzia
Rosa alba - rosa branca
Ocimum basilicum - manjericão
Alternanthera brasiliensis - terramica
Arnica montana - arnica

4.20 PLANTAS COM AÇÃO ANTISSÉPTICA ORAL


Malva sylvestris - malva
Malva parviflora - malva-de-cheiro, malva lisa
Mentha spp (M.piperita, M. crispa) - hortelã, menta
Casearia sylvestris - guaçatonga, café-bravo
Psidium guajava - goiabeira
Eugenia caryophyllata - cravo-da-índia
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4.21 PLANTAS COM AÇÃO IMUNOESTIMULANTES


Matricaria chamomilla - camomila
Echinacea purpúrea - equinácea
Harpagophytum procumbens - garra-do-diabo
Uncaria tomentosa - unha-de-gato
Centella asiática - centelha, pata-de-burro
Colocasia esculenta - inhame

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Usar plantas que conhece e evitar exageros ou uso prolongado.
 Colher somente plantas íntegras e de locais livres de contaminação química.
 Separar material estranho e não permitir contaminação com dejetos animais.
 Fazer a secagem à sombra, em local ventilado, protegido de poeira e do ataque
de insetos e outros animais. O material está pronto para ser armazenado quando
começa a ficar levemente quebradiço.
 Colocar em potes de vidro ou sacos plásticos e manter em local seco e ventilado,
protegido da luz, de insetos e de roedores.
 Inspecionar constantemente avaliando-se as características físicas da planta e a
presença de fungos ou insetos.
 Na preparação, deve-se observar cuidadosamente a qualidade, as partes
vegetais a serem usadas, sua forma de uso e dosagem.
 Os chás ou decoctos devem ser preparados, de preferência, em vasilha de barro,
esmaltada ou de vidro, para evitar interferência do metal com os constituintes
químicos da planta.

REFERÊNCIAS
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