Você está na página 1de 12

Rl

Patrimônio Cultural e Educação


Artigos e Resultados

Goiânia
2008
ºP n ht 1

lph n

1 m

li 71

/IA UFG
Quanto ma1 m~ lapal 1tu, orno profi ion.11, quanto
ma1 1 tcmau,o minha e p, ntm ia,, quanto ma1
m, uuli10 do palnmtmiu J, to<lo l ao c1ual todo
c1 ., m , n 1r, ma1 aurnt nta mmha r pon ab1hJa<l~
l om o hornl n
Mln st•rio
da Cultura I' lllO I R[IRl
cidadão mai integro quanto à art , à ciência , ontribuindo, principal-
m nte, para a formação d p •s oa mai o iá\' i . Lo tudo, ao I ngo do
t mpo, ainda r munera o ime tim nto p la inten ifi a ão d turi mo qu
ir unda tai patrimônio , ampliando a riqu za d d t rminada r gião.
Configurações do campo do
96 Referências pa tnmon10 B ·1
. "' . noras,
SRA. Jl. Consmu1çào da Republica Federacn·a do Brasil, 19
Andréa Ferreira Delgado 1
GEPEL - AGE. C'IA Gou . ._ DE ULTURA PEDRO LUD VJCO TCIXEIR . Decreco Estadual n º
5 876, 1 .12 .2003 .
~
·€ IPH.\. 1 'STITUTO DO PATRIM . 10 HISTÓRICO E ARTISTI O 10 L. Carros patr1monia1s.
<
Brasília, 199 S.
Resumo
MALHA · , C. E. . M . de B. Da materialização à le91t1maçào do pas ado: a monumentali-
dade como mecefora do estado. Rio de Janeiro: Lucerna; F PERJ, 2002.
O artigo d lin ia a traj tória d con tituição do ampo do patrimônio no
Brasil a partir da análi e da prática di ursi a do órgão federal re pon-
EPLA . ECRETARl .. DO PLA EJ \ME rro E DE ' E VOLVIM o DE Go1 \ , ardeste 90,ano:
á I pela on tru ão prot ção do patrimônio hi tórico bra ileiro, atuaJ
um mrest1menro de futuro Go1ânia, 2004.
ln tituto do Patrimônio Hi tórico e Artí tico acional. De acordo com as
cone pçõ que ori ntam a produção do regim d verdade e da políti ~
ca ofi iai a r a do patrimônio nacional, divide- a hi tória do órgão m
quatro período : 1937-1968 : o monumento de p dra ai; 1969-1979: o
conjunto urbanos o turi mo; 1979-2002: o bens culturai ; d de 2003 :
o patrimônio imaterial ou intangí el. Em cada p ríodo, inve tigam-se a e -
tratégia di ur iva ag nciada no pro e o d tombamento para atribuir
um conjunto d ignifi ado e valore a det rminado ben com objetivo d
torná-lo ímbolo da m mória nacional e, portanto, patrimônios da nação.

Palavras-chave
Patrimônio; memória; nação.

Introdução
A con titui ão do campo do patrimônio no Bra il re ulta da tra-
tégia di ur iva não di ur i a do ln tituto do Patrimônio Históri o e
Artí tico a ional,2 qu inventou a noção d "patrimônio na ional" ao reali -

1. Doutora m História profe,sora no entro de nsino e Pe. qui a pli ada à Edu açã
(Cepae) da Universidade Fed ral de Goias.
2. O órgão federal do Patr1mônio acional recebeu diferente denominações desde a ua
zar o trabalho d produ ão, ge. tão imp ição d d terminado b n orno e gredo da identidad " (NORA, 1993, p. 18) qu e pretend uniformizar
Patrimonio impor orno na ional.
memoria coleti,·a.
O termo patr1mônio d signa, de de a pion ira
nacional
p ri·n ia fran a o pro o d con tituição do Estado nacionai moderno , 0
3 in e tim nto para olidificar dotar de duração tabilidade uma d termi-
no p nodo pó -r volu ionario, o onjunto d b n d ai r ultural pro·
tegido legalmente pelo E tado qu , em nom públi o, dev nada m mória para repr ntar o onjunto do habitante de um território
zelar para que ejam ultuado , pr ervado 1 gado à g futura . configura op raçõ d leção, organização uniformização da multipli i-
98 99
Depoi que o orgão tatal re pon áv I por in tituir o patrim ·nio atribui a dad d ignifi ado atribuído ao pas ado. E trat' gi a na con tru ão ocial
determinado b n a função d r pre ntar a nação, 1 pa am então a er hi tóri a da na ão, a m mória nacional con titui um in trumento d coer-
on iderados orno propriedad de todo o idadão . ção, d "impo ição, uma forma e p cífica de iolência imbólica" (POLLAK,
nomea ão ofi ia] de um bem orno patrimônio da na ão ob op. it., p. 3).
guarda do E tado ocorr por meio do regi trono Livro do Tombo. Ao diri- Enquanto modalidad d produção da m mória nacional, o patrimô-
gir e e proc o, o lphan não re gata valor intrín o ou pr ' -exi tent , nio nacional ' produto da relaçõ d ab repoder (FouCAULT, 1985) que
nem de cobre o valor e tético hi tóri o do ben ; p lo ontrário, in taura o eng ndram. A im, para delinear a traj tória do ampo do patrimônio no
e valore ao in cr ,· -lo na r de di cur iva d patrimônio, à medida Bra il, vou inv ntariar a prática di cur iva (FoucAULT, 1987) qu traçam as
qu o tecido da linguag m lhe atribui ignificado que o torna ímbolo da configuraçõ a umida p lo Iphan no difer nte período da ua hi tória .
memória nacional. Enquadramento e
E a operação de " nquadramento da m mória", na acepçãolugar d de memória Primeira configuração (1937-1968): os monumentos de
Michel Pollak ( 19 9), on titui um do m ani mo d on trução da iden- pedra e cal
tidade nacional. de laração la ificação d algun b n orno "monu-
O órgão fed ral re pon ável pela on trução proteção do patrimÔ·
mento " de algumas cidade como "hi tóri as" atribuem mat rialidad
nio hi tórico bra i\eiro foi fundado em 19 37, com o nom de erviço do
territorialidade a Hi toria qu in tituiçõ dotada do pod r d con agrar
Patrimônio Hi tóri o e Artí tico Nacional ( phan), , até o fmal da década
o ímbolo nacionai qu r m p rp tuar. Engendram- e, a im, o "lugare
d 1960, foi dirigido pelo mineiro Rodrigo M lo Franco de Andrade, qu ,
da memória", como no n ina Pi rre ora, ond a e tabilidade e apre r-
junto com um grupo de intelectuai moderni ta ,4 foi re pon ável p la in ti-
vação favorecem "o r lembrar o re ncontrar do p rt n imento, princípio
tucionalização d um onjunto d prática culturai , orno política oficial do
E tado, qu a ram ntou determinado objeto como patrimônio na ional.
fwidação. O eniço do Patnmonio Hi torico e Arusti o acional ( phan) foi organizado A organização da in tituição re pondia ao preceito da on titu1çao
de acordo com o Decreto nº 25, de 30 de novembro de 1937 Em 1946, o órgão foi trans-
de 1934 qu , no artigo 148 do Capítulo II dedi ado à duca ão e à cultura,
formado em Diretoria ob a 1gla Dphan . Em 1970, r beu a denominação de ln tituto do
Patr1monio Histori o e rtl tico acional (lphan). Em 1979, pa ou a con tituir uma ecre- con agrou a prot ção ao patrimônio hi tórico artí ti o como um princípio
tar,a e _as urnm no,amente a igla phan Em 1990, a phan foi e tinta criou- e o instituto on titu ional: "Cab à União, ao E tado ao muni ípio ( ... )proteger o
Brasileiro de Patrimonio ultural (IBP ) Com a Medida Provi ória n 61 O, de setembro
obj to de inter e hi tóri o o patrimônio artí ti o do pai "(ME · PHA I
de 1994, a denomina ão foi alterada novamente para o nom atual, ln tituto do Patrimônio
Hi torico e Arti oco acional (lphan) PRó-MEM RI , 1980, P· 16) .
3 "A fwição do poder publico de proteger o patrimônio foi si tematizada na França, logo
apo a _Revolução. Atendendo à impo ição de congregar a ociedade m torno da con trução 4. egundo Mariza Velo o anto (1996), o m mbros mais proerrunentes do grupo eram
da naçao france a orno espelho da identidade burgue a e de deter a de truição de inumero. o mineiro arlos Drummond de Andrade, Fran i o ampos, Gu tavo apanema, Pedro
monumento do Antigo Regime, coube ao governo revolucionário in tituir os monumentos ava, Afon o Ari nos M lo Franco. Também parti iparam intele tuais radi ado em ão Paulo,
qu materiali!3vam o pas ado e, ao m mo tempo, permitiam lições morais e pedagógicas aos como Mário de ndrade, e no Rio de Janeiro, como érg10 Buarque de Holanda , Manuel
ob nadore (RoORJGUE , 1998, p 3) Bandeira, Lúcio osta, ar ieme er, dentr outros.
Em 1936, GustaYo apanema, mini tro da du ação d 1934 a 1945, " xc p ional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artí tico",
oltcitou a Mario de ndrade, então dir tor do D partam nto d ultura ab ndo ao próprio órgão compor o patrimônio histórico artí tico nacio-
da Prefeitura de ão Paulo, a labora ão d um proj t d organiza ão do nal por m io do pro o d tombamento do monumento e colhido para
ampo do patrimônio no Bra il. Duas emana d poi , no m • d março, test munhar o pa ado nacional.
e ta,·a pronto o anteproj to do erYiço do Patrimônio rtí ti o Nacional Depoi d hancelar a aut nticidad do b n , caberia ao phan, d
( pan), logo aproYado por apan ma, que, em carát r xperimental, impl - a ordo om o D r to-L i, proteg"-lo a fim d garantir ua permanência,
100
mentou o erviço do Patrimônio Hi tórico Artí ti a ional ainda n e ou eja, vitar ua alt ração, mutilação ou d truição. E tá previ to qu o
101 ....
ano. direção, por ug tão de Mário d ndrad , foi onfiada a Rodrigo tombamento pod r rnluntário, a pedido do proprietário (artigo 7), ou :s
-o
.S!
Melo Fran o de Andrad , qu pa ou a r digir um proj to de I i federal para ainda compul Ório, quando o propn tário " e r usar a anuir à in crição da ~
~
r gulamentar a atua ão do noYo órgão ( HAGA , 2003).
O te. ·to do Decr to-Lei nº 25, de 30 d nO\ mbro d 1937, promul -
coi a" (artigo 8). Embora o imóvel tombado po a er vendido, o artigo 17
e tab I limit para o direito d propriedade : "a coi a tombadas não
-"'
o
cn
'€
<
gado p lo pr idente G tulio arga já na vig"ncia do tado ovo, red finiu poderão, em a o nenhum, r d truída , d molidas ou mutilada , nem ,
alterou ub tan ialment o anteprojeto do po ta moderni ta. 5 em pr ' ia autoriza ão e pe ial do rviço do Patrimônio Hi tórico Artí -
Capitulo I Do PatrimÕnio Historico e ArtJ ti o a 1onal ti o a ional, r r parada , pintada oure taurada "(idem, p. 115) .
Art 1 . on. titui o PatrimÕnio Hi torico e rtt ti o na ·onal o oniunto de bens a historiografia ofi ia! produzida no int rior da própria in tituição,
movei e imovei exi ·tentes no pai e cuja cons nação eia de intere e publico,
o p ríodo d criação e on olidação do phan ' denominado "fa heróica",
quer por ua ,;nculação a fato, memora,eis da Hi tóna do Brasil, quer por seu
e cepcional ,alor arqueologi o ou etnografico, bibliografico ou arttsti o. re altando- qu o "adj tivo par ce corre pond r à r alidade do trabalho
Paragrafo 1 . b n a que e r fere o pre nt artigo o erão con idera- que e I ou a efeito" (id m, p. 28). E a fa e ' definida no eguint ter-
do parte int grante do patrimônio hi torico e artí tico na 1onal , depois de mo :
inscrito eparada ou agrupadamente num do quatro Livro do Tombo. 6
( ... ) ão e por a aso que ela é a m sma em que Rodrigo Melo Franco de ndrade
(ME - PHA. · /PRó-MEMÓRIA, ºP- cit., P· 111)
e teve à frente da instituição, pois, na verdade, chegou a ser tal o envolvimento entre
a pes oa e o erviço que, para muitos anali;ta , torna- e difícil ou quase impo s1vel
A prática pre ervacioni ta foi a im in tituída para alvaguardar entender o Patrimômo sem conhecer e compr ender a personalidade de Rodrigo
ben i olado 7 vinculado a "fato memorá ei da Hi tóna do Bra il" ou de Melo Fran o d Andrade. ( ... ) A ontece que, sob pres ão do tempo perdido, de
sé ulos de abandono e da carên ia crôni a de recur os humanos, a in tituição, em
5 egundo Mario Chagas, uma das caracten ticas do anteprojeto de Mario de Andrade, al- eu primeiros anos de Yida, teve que redobrar os forço, para dar conta da tarefa
terada no proieto de lei aprovado, pode r ob ervada no próprio nome do órgão e tatal · a que se propunha. (ibidem)
phan - mclwu- e o termo "Hi toricon, ao nome original de er\'iço do Patrimônio Arti tice
acio~al . ~andonou- e, assim, a proposta do" i tema de lassifi ação octogonal, no qual o O phan, on truído a partir de uma relação imbióti a com o eu
termo arte era apenas a entrada principal para oito ategorias di tintas": arqueológica, ame-
diretor, torna - onform Mariza Velo o anto , uma "a ademia", ou ja,
nndia, popular, hi ton a, erudita nacional, erudita e\trangeira, aplicada nacional e aplicada
e trangeira "A 1m, pare e claro, o 'arb tice', em Mário d Andrade, não era restritivo; ao in titucionaliza - e om "um lugar da fala, que p rmit a emerg"ncia d
contrario, era amplo e abrangente e o seu conceito de patrimônio artístico abarcava o tangível uma formação p ífi a, uja dinâmi a imbólica é dada pela perman nte
e o intangwer ( op. cit , p. 1O1)
tematiza ão do ignifi ado da ategoria d hi tórico, d pa ado, d t' -
6 Livro do Tombo ArqueologKo, Etnografico e Pai agístico, Livro do Tombo Histórico; Livro
do Tombo das Belas-Arte e Li,To do Tombo das Arte Aplicadas. ti o , de na ional , d xemplar' t ndo orno eixo arti ulador a idéia d patri-

7 E a poltttca d ,alon7.a ão de b n I olado ignificou que ap na tardiamente os espaços mônio"(l996, p. 77).


urbano e integraram ao patrimônio. Tal con ep ão de pr ervação foi ge\tada internacio- O t ' ni o d notório ab r que ompunham o Con elho on ultirn
nalmente a arta de Atenas, d 1931, "re omendava a substituição d antigo onjuntos e
do phan d tinham poder publi ament r onh ido para nun iar O regim
~airro por e ;paços planejado d trafego moradia a cidade cabiam apenas monum nto
1 olado , expre ão de cultura antenore , ontrapondo a racionalidade estética a eficiência

do modernos spaços urbanos" (RoDRJt.ul,, 1994, p. 14) ·


de verdad ac r a do patrimônio (Fou AULT, 1996). o pautar a atua ão m centrado m Minas G rai , Rio de Jan iro Bahia; t mporalment , pr _
rigoro as pe qui a na crita de artigo jornalí ti o , relatório técni 0 domina amplam nt o é ulo XVIII, quando foram construído 54,7% do
p ializado publicado pela própria in tituição, u m mbro monum nto do ampo do patrimônio.
produziam uma ma a documental que C z muito mai do qu inventariar, Para xemplificar, vamo ob rvar o trabalho realizado m Mina
poi foi re pon ável pela im:en ão do patrimônio nacional. G rai qu , na narrativa produzida p lo Sphan, emerg como ín<lic d
Mariza Velo o anto Jo é Reginaldo Gon alv , utilizando- e d na ionalidad mbl máti o por ncarnar o mai I vado valor hi tóri-
102 103
referenciai teori o em lhante , inv tigam a tratégia d on trução co estéti o da ultura bra ileira: de 19 38 a 1967, do total d 689 b ns
di cur iYa qu objetiYam a na ão ao ncarná-la materialm nt em objeto tombado, 165 (23,9%) lo alizavam- e m Mina G rais, dentre e te 103
fí ico que ão po tulado como agrado e prot gido orno patrimônio eram religio o . AI' m di o, "nc e tado s on entra o maior número de
nacional. conjunto urbano pr s rvado em sua integri<lad ": Ouro Preto, ão João
egundo Mariza anto , a produção di cur iva do lphan ulmina na dei R i, Tirad nt , Mariana, rro , Diamantina, ongonha e abará. "Do
"nomeação imbólica do objeto móvei imó ei , qu ão tran formado onjunto mineiro , 123 bens on tam orno ndo do é ulo XVIII, qu foi o
em mdice de na ionalidad , em referenciai col tivos por po uír m den i- éculo mai pr rvado p la ação do phan" (id m, p. 102) .
dade hi tórica e e tética· (op. cit., p. 2) . E e di ur o do patrimônio cul- E a apropria ão da arquit tura olonial do écu lo XVIII orno patri-
tural con tituem, conforme Jo é Reginaldo Gonçal e , uma "modalidade d mônio na ional por c lência foi eng ndrada na dinâmica imbóli a t ida
p lo phan para on agrar o "lugar da m mória", por meio da atribuição
invenção di cur iva do Brasil" por produzirem "narrativa na ionai ( ... ) cujo
d ignifi ado e pe ífi o à r lação ntre arquitetura, pa ado, hi tória e
propó ito fundamental é a on trução de uma 'memória' d uma ' id nti-
dade' na ionai "(1996,p. ll) . nação.
O argum nto foram ge tado pelo arquit tos moderni ta que
Em pale tra proferida m 1961 , Rodrigo M lo Fran o d ndrade
o upavam a maioria da cadeira do Con elho on ulti\O do phan, de -
afirmou que o ben tombado ão "documento d identidad da nação bra -
ta ando- Lú io Co ta. Ele con ideravam qu o ciclo conômi o defi-
il ira", r velando a r lação fundamental que e tabele ia entre a con tru-
nido p la hi toriografia oficial corre pondiam a determinada produçõ
ção da nação a in tituição do patrimônio hi tóri o artí tico nacional. a
culturai , onfigurada , de man ira ex mplar, na arquitetura, cuja dura ão
oca ião, ele fez uma avaliação do monumento tombado atribuiu signi-
no tempo vi ibilidad no pa o garantiam a ontinuidade e a p rman "ncia
ficado ao ubconjunto do acervo: "d ntre o ben do onjunto, a igreja
dos ve tígio do pa ado. A partir da id' ia d qu a idad min ira on-
ão o te temunho do ideal e do C rvor r ligio o"; "o pr ' dio de intend "ncia,
formaram uma ivilização g nuinamente bra il ira, a valorização espe ífi a
de alfândega, e ca a de câmara e cadeia a inalam a forma de gov rno a
da arquit tura t nti ta foi justifi ada p la hanc la d "originalidad "
in tituiçõ política admini trativas e tabel cida no Bra il"· "a fonte e
"autenti idad " atribuída ao igno da formação da ultura e da id ntidad
chafarize a ca a de mi ri órdia ate tam o aba t cim nt d á~ua e a saúd
publica" (apud RUBI o, 1991, pp. 112- 113) . bra ileira .
O tombam nto d edifi açõ i olada ju tifi a- e, a im, a partir do
Com o ben tombado ntre 1938 e 1967, o phan foi produzindo
con ito d monumento hi tóri o: determinada on truçõ ão con agra-
um' ~apa do .p~trimônio no Bra il (RUBI o, 1996), com as guinte ara -
ten ti a : prmlegiam- e o ben i olado imóvei (apena 0 ,3% do ben
tombado ão mov • 3,8% orre pondem a onjunto ); d tacam - o 8. O mar o maugural do ampo do patrimônio no Brasil foi o tombamente de uro Pr to
- apitai de Mmas era1 até 1897, quando foi ub,titu1da pela cidad planeiada de Belo
ben que repr ntam a arquitetura religio a católica a arquit tura ligada Horizonte, em 12 d julho de 19 33, antes me mo da ena ão do phan, atra, e: do D reto
ao E tado ( ornando 65% do ben tombado ); ben tão di tribuído nº 22.928, do presid nte etúlio argas, qu a imt1tu1u orno primeiro monumento
de maneira irr guiar entre os E tado do Brasil vi to qu 64, 1% tão con- nacional".
d orno te temunha da hi toria e pas am a in orporar a funçã de su citar do Monumentos Fran e es. Tornou-se então necessário que enveredás emos por
outros ammhos, onde a preocupação maior residia no. planos diretores das adades.
a r memoração do pa ado. om i o, o onjunto do b n tombado p lo (MlC PHAN/ PRó-MEMÓRIA, 1981 b, p. 49)
phan con trói uma narrath-a material "de p dra ai" d d terminada histó-
ria do Bra ü con agrada orno a Hi tória nacional, cuja matriz dis ur iva foi O vínculo ntre patrimônio e conjunto urbano denota uma alteração
produzida no ln tituto Hi tóri o Geográfico Bra il iro (IHGB). da práti a pr erva ioni ta tabelecidas até então, poi a exemplaridad
104 E a política pr rvou o te temunho do pod r de uma lit com não tá mai ituada m monumento de tacadas da paisagem da cidade. Ao 105
ele propô a con trução da id ntidade hi tóri a ultural da nação bra i- contrário, a ação do poder público conforma um conjunto de b ns culturai
leira. ih·ana Rubino, ao anali ar e padrão d con titui ão do patrimônio, e d limita o entro hi tóri o para caracterizar determinada cidade como
afirma que "o conjunto eleito revela o de ejo por um paí pa ado, com "monum nto na ional".
quatro éculo de hi tória, e tremamente atóli o, guardado por anhõ e at ' ntão a a ão do phan concentrava- e m zelar pela aplica-
patriarcal, latifundiário, ord nado por intendên ia e ca a d âmara ção da I g islação qu garanti · e a pre r vação do ben isolado tombado ,
cadeia, e habitado por per onagen ilu tre , que caminham ntr ponte e inter~ rind p u o na dinâmica urbana, a partir de outro conceito , o lphan
chafarize "(id m, p. 98). interv ' m para mant r, r taurar, revitalizar g tara área urbana protegida .9
Do campo do patrimônio foram alijado o v tígio , por exemplo , E a práti as demonstram que, mai do que a produção d um determinado
do templo não atóli o , d nzala e do bairro op rário , legitimando pa sado para a idad con iderada ''hi tórica ", o novo arcabouço di cur-
o monopólio da memória por uma pequ na elite uja hi tória ' r pre ntada i o do campo do patrimônio volta- e para a invenção d um futuro.
pelo ben tombado . A produção da memória na ional onfigura- e, p r - Operam- e, então, importante tran formaçõ no campo do patri-
tanto, como uma forma e pecffi a d dominação imbóli a, à medida qu mônio. No <li ur o do Iphan , os novo rumo da política oficial, implanta-
nega o direito à memoria para a maioria da população bra ileira, d on id - do de de o início do anos 70, ju tifi avam- pelo diagnó ti o da tran for -
rando a pluralidade cultural e a xi t ' ncia da id ntidade parti ular. maçõe p la quai pa ava a o iedad bra ileira.
O rápido de envo lvim ento urban/sti o e viário do país, sua rescente industrializa-
ção sobr tudo a valorização imobiliária da/ decorr nte impu eram a implantação
Segunda configuração (1969-1979) : os conjuntos urbanos de medidas mais energ1cas e abrangentes. Pro urou-se, a parar de então, concil,ar
e o turismo a prcscnação dos valores trad1c1ona1s com o dcstnrol11mtnto uonôm,co das re91õts ( )
industrialização d regiões até então abandonadas e a abertura de estrada , faci -
a hi toriografia oficial do phan (ME - PHA / PRó-MEMÓRIA, op. litando o a esso a áreas afastada , provocaram demanda popula ional e d,fwão do
cunsmo. (MEc- PH NIPRó-MEMÓRIA, 19 O, p 32, grifo, meus)
cit.), apo o "período heróico" , que compre nd d d a cria ão até 1969,
ob a direção de Rodrigo Melo Franco de Andrad , inaugura- uma gunda
Ob rva- a in lu ão no ampo di cur h·o do patrimônio de uma
fa e da hi tória da in tituição: em 1970, o órgão pa ou a d nominar- e ln -
ategoria qu t rna fundam ntal para a compreen ão da a ão atual do
tJtuto do Patrimônio Hi tori o e Artí tico acional a dir ã foi a umida
lphan: o turi mo ultural. Em 1966, o go ern ~ deral, por m iodo D r to-
por Renato oeiro, qu p rman c u no cargo at ' 1979 .
L i nº 5 5, d 18 d nov rnbro, "defm a políti a na ional d turi mo, ria o
Vejama como Renato oeiro definia a nova políti a d tombamento
9. O efeito d vastadores da gunda Guerra Mundial nas cidades européia inílu nc'.aram a
qu pa ou a ori ntar a a ão do órgão e tatal :
in orpora ão dos nú leos urbanos orno objetos privill'gtados da práticas pre. ervaaom,t~
O patrimomo encontra- e em uma segunda fase Hou, uma prim ira , de 1937 a do campo do patrimônio ( arta de eneza, 1964) m 1975, a arta Europeia d_o ~atnmo
1967, em qu o importante para os no o trabalho. era o monumento histonco mo· Arqu,tetont
· • · o onsagra a conccpçao - d e " onsen.açao- m· tegrada " • ouc
, propoe
.. tornar ..o
i olado. 1 a egunda fase, a partir d 1967, om o de envolvimento mai. rápido do •
patrimon,o •
arqu1tcton1co o cencro do pJanCjamento urbano e da or9an, zarào
, do tcrncono e de taca a
pai , · namo a nece idade de mudar a politi a até ntão eguida. Fot ntão que, •
1mportanc1a • como fator de •concmu, dade hmonca ' , ' Jcn t1daJ, t seguranra
do patr1mon10 •
necc<.1ar111.1 ao
P la primeira ,ez, p d1mo o apoio da Unesco, que no emiou O ln petor Principal ·
homem diante das rap,das - d d d • a
craniformaçocs as soc,c a cs conccmporane s "(R ODRIGUE> • 1994, p. IS)
on. lho a ional de Turi mo a Empr a Bra il ira d Turi mo (Embra- gorias dis ur iva con truída na e C ra da onomia. 0 di cur O oficia l, ao
10
tur)", incorporando o turismo na pohti a públi a . Em on nân ia com lado do arát r ultural identificado om a id nti<lad das comunidades, as
o Plano de A ão Ec nôm1 a do governo de a telo Bran o, "o turismo passa interven õ no nú I o hi tóri o a ociam-se à promoção do turismo.
a erre onhecido como uma atividad capaz de ontribuir para a at nua ão órgão pas a ntão a apoiar a "atividades ulturai lo ais orno forma d r vi-
do. d ruvei regionai que ara terizavam a na ão" ( RUZ, 2002, p. 49) . talizar e dar u o aos monumento hi tóricos objeto de interven -o, a todo
Para operacionalizar a atuação do Iphan nes e p rÍ do, foi e traté- pa o ó io-e onômi o" (ME - PHA / PRó -MEM RIA, 1980, p. 39).
106 107
gico o Programa da idad ~ Hi tóri a , criado p lo gov rno C d ral, m ntido, havia nece idad d o lphan trabalhar om uma nova
197 3, cuja açõe. e ta,·am intimamente a . o iada à g tão da idad ao metodologia d inventário e g tão dos conjunto urbano con id rado
fomento do turi mo :" riar linha d cr' dito e p b n ulturai . Vimo qu , de de a criação do phan, o r gime de , rdad
imov i de tinado. ao aprov itamento tunsti o, a con ão d in entivo obre o patrimônio foi produzido no âmbito d u Con elho Con ultirn.
tributario , a forma ão d mão-de-obra esp ializada m re. tauro e in titui- o período qu e tam anali ando, outro órgão pas ou a criar enun iado
ção de I gislação protetora do a eno ultural, hi tórico artí ti o, incluído e propo içõ n ampo do patrimôni : o ntro a ional de R fcr'n ia
no plano diretor s d' d molYimento urbano" (RODRJ UE , 1994, pp. 75- Cultural ( RC), fundado em 1975 , para "a realização d tudo, p qui-
76). Incorporaram - e, as im, no onjunto d açõe do Iphan, a práti a d a , plano programas, vi ando stab I c r um ist ma reC ren ial bá i o,
r Yitalização da cidade hi tori a , atribuindo- e nO\ o ignifi ado ao patri - a er empr gado na de crição na análi e da dinâmi a cultural brasileira"
mônio a partir da rela ão da ategorias "pa ado" "futuro" da inclu ão da (id m, p. 161). O R atuou até 1980, quando foi sub tituído p la Fun-
ategoria "turi mo". da ão a ional Pró-M mória, inaugurando um novo momento na história
Em docum nto bilmgu a erca do Programa d idad Hi tóricas, do patrimônio no Bra il.
afirma- e: a gunda onfiguração di ur iva do ampo do patrimônio,
( ... ) a partir de uma " ão mai abrangente de patrimonio ultural que procura portanto, mbora perman ce a pr rrogati"a do ben mat riai , o foco
ms n-lo num contexto de planeiamento urbano global , a atual orientação dos da ação pr rva ioni ta não e c ntrava mai m monumento on id rado
organi mos que cuidam da presenação do aceno tuns11co bras1lc1To ba ia se no conceito
i oladam nt orno r pre entant s do pa ado, vi to qu incidia, prin ipal -
de que a inknen ão nos nucleo hi tóri os ó poderá obt r resultados pos1ti\os a
partir de uma pol111ca dm91da para o nucleo como um todo, ompr endendo traçado m nte, para delimitar" entro hi tóri o "no onjuntos urbano . Bu ou- e
urbano, lcgi>lação e regulamentação de u o do solo, promo ão de fontes de trabalho uma ação mai C tiva do órgão junto à omunidades, procurando apre-
e eniço para a popula~ão. ( ) Portanto, r stauraçã e pre, nação visam tanto a
nd r o ignifi ado o u o o iai do b n tombado no tempo pre-
pre enação e ,alorização do aceno cultural quanto ao bem- ,tarde eus moradores
que nele produzem e reproduzem ua força de trabalho. ente, om bj tivo d ub idiar a laboração de pohticas publi a capaz
De a ordo com o programa, r taurar um bem cultural s1gnil1 a, portanto, uma de impul ionar o d envolvimento da cidad , por meio, prin ipalm ntc ,
mtenen~·ão que tem como finalidade t!,mmar sua obsolesccnoa fisica e funoonal e per- do in entivo a turi mo ultural.
m,c,r sw pleno uso social, o que e\ita eu abandono de. tru1ção, alem de proporc,onar
a 9cração de renda na rqpão, em de orrência de no,a;, att, idad s sócio-e onômi as.
(PRO<..R\.\H Dr CIDADE H1 lÓRIC\. , /d, pp. 4, 10, gnfo;, no original) Terceira configuração ( 1979-2002): os bens culturais
Em 1979, ano que a história fi ial on idera "um mar o na traj to-
Denotand ruptura om o ampo dis ursirn laborado na prim ira
ria da pr rva ão valorização do patrimônio ultural no Brasil" (idem, P·
fa da in titui ão, es a oncep ão d patrimônio stá int rligada om ate-
51 ), o oord nador g ral do C R , 1 í io Magalhãe , a umiu a direçã
1O. Em 1967, ··o Brasil fo, si9natar10 do documento resu/canu do Encontro de Q],1to. promo11do pdo do lphan . imultan am nt , o orreu a prim ira r formula ão na e trutura
departamento de .üsuncos Cultura,s da Or9anuação dos Estados lmencanos OLI, no qual se rcco-
menda,a a mclwão do 'patnmonio monumental' nos planos de de emol.,menco naoona,s, acra,is do admini tratiYa do órgã , om a ria ão de duas ntidades interligada , in e-
tummo"(RODRI<..UE, 199 , p. 89). rida na trutura do Mini t ' rio da Edu ação ultura: o lphan foi tram-
formado em ecr taria do Patrimônio Hi tóri o rtí ti o a ional onfigura- , a im, a incorporação do on ito mai amplo de "patri-
umficado com a rec m-criada Funda ão a ional Pró-M mória, ob a igla mônio ultural" no campo di cur ivo do lphan , que s propõe a inventariar,
timular a práti a culturai e o onh im nto popular .
phan /Pro-Memoria.
no o p ríod do órgão do patrimônio, mai important qu a
Embora loí io Magalhã t nha xer ido por pou o t mpo o argo,
produção d uma m sa docum ntal qu at tas a aut nticidade do b ns
deúdo à ua morte pr matura, o hi toriadore do patrimônio n Bra il ão
tombado ra a inv tigação da dinâmi a atual d r lação d t com a comu-
108 unânime em enfatizar ua iníluên ia no pro e o d altera õ atego- 109
nidad m qu tiv em in rido . ant a pr du ão cultural tombada ra
nas imbolica que im ntam o patrimônio ultural bra il ir .
pen ada em t rmo da arquit tura, privi l giando- e o~ p ríodo mai r moto ,
Diferentement da narrativa patrimoniali ta d Rodrigo M lo Fran o
ne te mom nto valoriza-s a chver idade cultural brai;ileira nfatizam- o
de ndrade, on tru1da em relação à hi tória ofi ial, a narrativa de Aloísio ben culturai pr r\'ado produzido p las c munidade no pre nte. 11
Magalhãe incorpora no õe oriunda do campo da antropologia, ao propor Alt ram- também o in trum nto para produção do di cur o
que a pratica do Iphan e ,olta m para id ntifi ar, do um ntar, la ifi- qu I gitimam a ação do lphan, prc ervando- , por ' m, a autoridad do
ar, proteg r e diYulgar o ben ulturai bra il iro , "pro obretudo intele tuai na onstrução do conhe imento e o eu papel d promotor da
do faz r popular" que e tão "inserido na dinâmi a viva do tidiano" (MAGA- el ão vai ra ão de um b m orno patrimônio. Entre e a nova trat ' -
LHÃE , 19 4, P· 42). gia , d ta am- e a p qui a , r alizada junto à omunidade envolvida ,
Embora afirme qu a m tituição phan é "cr dora dor onh imento como in trum nto d do umentação I ção do ben a er m tombado·,
nacional", Alo1 io Magalhãe critica a políti a implem ntada até ntão p lo cujo r ultado d v riam er amplament divulgado .
orgão e propõ ua ampliação, re,·italização dinamiza ão a fim d " abrir Ex mplar da tran formaçõ na práti a do órgão do patrimônio
foi o tombam nto, m 1982, do li rr iro da a a Branca, em alvador, da
maior e pectro do b n. culturai ", vi to qu at' ntão:
rra da Barriga, em União do Palmar Alagoa . egundo Maria Í-
( .) o conceito de bem cultural no Brasil ontinua re trito ao bens mo, 1 e imó-
,ei , contendo ou não valor criativo proprio, impregnado de valor hi tórico ( sen- lia Fon a, e tombam nto re ultam "d uma mobilização conjunta d
cialmente voltado para o pas ado), ou o ben de cria~·ão individual e pontân a, movim nto n gro , intelectuai políti o " e "r pr ntam um marco na
obras que con tituem o no soa eno artisti o (mús1 a, literatura, cinema, artes pia história da políti a ~ d ral d pr ervação no Bra il" (1996, p. 160), poi ,
ticas, arquitetura, teatro), quase empr de apr iaçõ eliti ta idem, p 42)
p la prim ira v z, t temunho da cultura afro-brasileira pa aram a fazer
part do patrimônio ultural na ional. 12
, a hi toriografia ofi ia! do lphan , publicada m 1980, o próprio
orgão reconhece qu v rificou uma "hip rtrofía do tore d di ado
11 . "O mundo ocidental ó omeçou realmente a onsiderar e que tõe quando, apo. a
a on enação e r tauração do monumentos de p dra ai, com ·nfase aprovação da onven ão do Patrimônio Mundial, ultural e aturai da Une,co, em 1972,
principalm nt no r pres ntativo da aculturação da arquitetura urop ' ia países d Ter iro Mundo reivindi aram a reali,.a ão de estudo para a proposi ão, em nl\ cl
interna 1onal, de um instrumento de proteção à manile taçõc, popular de valor cultural
no Bra il". Ju tifica, no ntanto, tal itua ão, d vida à "am aça d d truição Em 1989, uma r sp sta foi dada a essa reivindica ão, por meio da Recomendação sobr a
que p ava sobre b n monum · ntai arquitetôni o ". alvaguarda da ultura Tradicional e Popular, apr vada pela onferência Geral da Un se "
( ANT' AN , 2003, p 50) .
Diagnosti ado s "d equi líbrio d formador da fi ion mia da in -
12 . a avaliação do antropólogo Gilb rto Velho , o tombam nto do li r~ciro de andombl ·
tituição", propõ - e a "formulação de um conceito mai n oh nt de bem Casa Bran a "impli a o reconhecimento da legiumidade d uma trad1çao rnltural e de um
ultural, at nto para a múltipla mani~ taçõ do fazer do hom m bra- si t ma d valor s que, ate ha relativamente pou o tempo, fora obJeto de di crimma ão e ate
perscguiçõ E. ta ini iativa t m orno ns quên ia o reconhecimento de que a . onedade
11 iro e para a ondiçõe do meio amb1 nte m qu brasileira ' muito mais ri a e diver 111 ada em termo, culturai d que e P <lena upor ª
(MEC.- PHA /PR -MEMÓRIA, 1980, p. 52). partir d uma vi ão ma1 tradicional d patrimônio" ( LLH O , 19 4, P· 38) .
con p ão d, patrimônio cultural ge tada nc período foi r gi e a questõc configuram um novo p ríodo na hi tória do órgão do patri-
trada na on titui ão Federal d 198 , no eguint termo·: mônio no Bra il.
A.rt 216, eção li DA ULTURA

Constituem pammôn,o cultural bras1le1To os ben. de natureza material e imaterial,


tomado, indi\idualmcntc ou cm conjunto, portadores de referên ia à identidad ,
Quarta configuração (desde 2003): o patri mônio imateria l
a ação, a memoria do diferentes grupos formadores da ociedade bra ileira, nos ou intangível
11 O quais se incluem
1 . a formas de expressão; egundo Regina Abreu Mário haga (2003), o campo do patri- 111
II - o modo de criar, lazer e vi\ er, mônio e tá viv ndo um momento novo, cujo marco ' o Decreto 3.551, de
III - as cnaçõe cientificas, art1. ti as e tecnológi as; 4 de ago to d 2000, qu in titui o "R gi tro de Ben Culturai de atu-
1\ - as obras, objeto., documentos, edificações e demai e~paços de tinados às mani- reza Imaterial qu con tituem o patrimônio ultural bra ileiro, ria o Pro-
fe ·taçõe ara tico·culturai ,
grama Nacional do Patrimônio Imaterial dá outras providências", dotando
V - o onjunto urbano e \ltÍO de valor lu tóri o, paisagi ti o, artí ti o, arqueoló-
o Estado do m io jurídi o para inventariar, prot ger e dirnlgar o b ns
gi o, paleontológi o, ecologico e cienafico.
ulturai d natur za imat ria! ou intangív 1: H
e durante décadas predominou um tipo de atua ão "pres nacioni. ta", voltada para
O campo do patrimônio, no texto constitu ional, a o à diver i-
o tombamento dos hamados bens de "pedra e cal" (. ), o referido decreto colocou
dade cultural. Em detrimento do conceito homogen izador ex lud nte de em cena uma antiga preocupação de alguns mtelectuai bra ileiros, ntre os quais se
id ntidade na ional, enfatiza- e que o ben materiai ou imat riai d m desta ou Mário de Andrade, qual seia , a de 1·alonzar o remo do incan9,,eJ, contribuindo
social e polmcamence para a construção de um acerso amplo t dncrsificado de expressões cu/.
repre entar a identidade, a ação e a m mória "do difer nt gTUpo forma-
tura,s, em diferences areas: lin9ua ,Jestas, mua,s, danças, lendas, muos, mus,ca, saberes, cécn,cas
dore da ociedade bra ileira". efa7eres dncrsificados. (2003 , p. 11 , grifos meu,)
Tal concepção ja materializava na prática por m ioda diver idad
d ben que foram apr entado para tombamento na d' ada d 1980/ 3 O lphan montou o Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial, oor-
muita veze por ini iativa d p oas, grupo ou in tituiçõ qu não p r- denado por Márcia ant' Anna, r pon áv 1, entre outra tar fa , p la ope-
tenciam ao lphan. egundo Maria ecflia Fon e a, i o ignifica qu "o patri- racionalização d nova e trat ' gia d proteção ad quada ao ben ulturai
mônio e tava ntão endo con iderado pela o iedad brasileira, me mo qu intangív i . O tombamento aplicado ao b n mat riai traz on igo a idéia
de maneira ainda ba tante limitada, como campo para a afirma ão d nova de qu ab a E tado z lar mant'- lo inalt rado , noção e ta que con-
identidade coletiva , qu valiam do ben cu lturai orno re~ rên ia traria a natureza proce sua] e dinâmi a própria da manife ta õe ulturai .
mat riai e imbólicas" (1996, p. 158). Torna- ntão, função do E tado a apli ação d outra forma de pr er-
Para o lphan, porem, a ampliação do univ r o de ben pa ívei
de tombamento trouxe uma éne d dificuldad , vi to que o orpo técni o 14. Maria e ília Fonsc a no au ·,lia a omprcender es e conceito. "Quando se fala cm pa
do órgão havia ido formacl para inv ntariar e proteg r, principalmente, tramônio imaterial ou intang,vel, nãos stá referindo a mera, abstrações, em ontraposação
a bens materiais ( ... ) . Todo signo (e não apena o, bem ulturais) tem climensão material (o
ben mat riai . Além di o, faltava uma legi lação e p íf1 a qu d linea e
canal físi o da comuni ação) e ,mbóli a (os ntido, ou melhor, os entidos) orno dua íau~,
o m io para presen ar o patrimônio imaterial. A ini iativa para r ol er de uma moeda . abe fazer a distinção , no aso dos bens ulturais, entre aqu les que, uma ,ez
produzidos, passam a apresentar um relativo grau de autonomia em rela ão a ,eu pro c,~o
13. Mana Cecília Fon eca cmphfica as olicitaçõe de tombamento "bens representativos
de produção, e aquelas manifestaç - e qu precisam er constantemente atualizada, , por m 'º
das corrente imigratona (alemã, italiana, japonc a), das etnias ind1gena. e afro .brasileiras,
da mobilização d suportes f,sico s corpo, m. trumento,, mdumentana e outros rccur º'
da expan ão das frontcir para oe te para o norte, de outras r lig,õe que não a atóli a, e
de carater material , o qu d pende da a~·ão d SUJc.'Ít s capa,c, de atuar, s~g~ndo de.ter
da cultura pop~ar" . lem d "mumeras con truçõe mais re entes e ligadas à vida moei rna":
minados cod1gos A imat natidade é relativa e, n • se sentido, tah e1 a e pre,sao patrimonao
a mdu tr1al1zaçao, ao comer 10, aos m aos de tran . porte, ao ab teciment , ao lazer e aos
· ' I' seia
mtang,vc · mais · · 1ug az , nue
· apropria d a, pois remete ao trans1torio, , nãos materializa cm
m io d comun,cação, a educação, a ciência a medicina ( 1996, pp t 57 158)
produtos duráveis" (2003, p. 66) .
"ª ão para o patnmônio imaterial, garantindo ua ontinuidade nquanto nh ceu vai rizou conhecimento forma d xpres ão próprio a seu uni-
pratica ultural. v r o ultural, ai' m d "mudar o eixo d a relaçõ s, r sgatando do pa . ado
ontando om um quadro técni o div r ifi ado em r la ã àqu a cultura indíg na xi tent no Bra il e in crevendo-a no pr nte, m
original, em que on tam hi toriadore , arqu ólogo , mu eól go , i nti ta ua div r idad ificidade, como partí ip s igualitários do patrimônio
ociai, antropólogo·, et. (F ' E , 1996), o Iphan laborou uma metodo- cultural na ional" (2003, p. 15) .
logia d inventario d r ~ rência ulturai om o bj tiv , apontado por que a in lusão no campo do patrimônio
112 113
Mareia ant' Anna, de ub idiar a açõ de regi tro r alizar um r ens a- indíg na atuai é int rpr tada como um dir ito d cida-
mento de a manife taçõe no pa.Í . dania, d m n trando que a importân ia de s grupo ' tnico não e refere
Trabalhando com categorias ínstitwdas pelo Decreto 3. S51 /2000, o Inventario ap na a pa ado histórico, ma in cr v no pre nt . umpre- e, por-
acional de referências ulturai e um ín trumento de p squ1 a que busca dar onta tanto, o pr eit on titu ional d abrang r a m mória "do diferent gru-
do. proce o de produ ão de . e ben , dos valores nele inv tido , d sua transmis-
<;âo e reprodução, bem orno das ua onclições materiais de produ ão. ( T' AN A,
po formador da o i dade bra ileira". Importa, por ' m, reconhe r qu
2003,p 53) há ainda muito a r alizar para que fetivam nt o Decreto 3.551 eja um
in trum nto para o x r í ioda cidadania . 15
O b n le ionado para regi tro ão in crito m livro d nomina- O ampo d patrimônio ara t riza- , d sde ua formação, orno
do : L11ro de re9istro dos saberes (para o regi tro d onh im nto modo de um pa o d <li puta onflito , que não ão ap na imbólico , mas tam-
fazer); Lmos das celebrações (para a fe ta , o rituai o folgu do ); Livro da b ' m políti o . onviv ram no lphan, ao longo da ua hi t6ria, di~ rentes
formas de expressão (para in crição d manife taçõ lit rária , mu i ai , plá - atore , onc ito prática pr rva ioni ta , que tabel ram a. confi -
tica , cênica lúdica ); U1ro de lu9ares (de tinado à in cri ão d paço guraçõ h g môni a a partir d d terminada con epção de cultura d ,
ond concentram e reproduzem prati a culturai col tiva ) . nação.
O quatro primeiro r gi tro foram o guint : no Livro de re91stro Durant tr· d ' ada , a hanc la do órgão e tatal ao b n d p dra
dos saberes, foi in crito, em dez mbro de 2002, o ofí i da pan 1 ira de e ai on truído p la elite ignifi ou o que im nto o ial da ultura
Goiab ira , em Vitória. o m mo m· , o Livro de re91stro dasformas de expres- popular a d truição d u produto . A in rpora ão do turi mo à prc -
são foi inaugurado com a in crição da arte kumva, pintura orporal art cupaçõ do g tor d patrimônio ampliou tombam nto para produzir
grafica do mdio wajãpi, po teriormente con id rada p la Un a idad hi tóri a , por ' m, refor ou a pr rrogativa do ben imove1
patrimônio oral intangív 1da humanidad . livro, tamb ' m on ta o L ntam nte, introduziu- o on ito d b m ultural para abranger, princi-
amba-de-roda do Recôn avo Baiano, propo to p lo mini tro da ultura, palm nt , a mani~ ta õ mat riais 1mat riai dos diver o grupo oc1a1.
Gilb rto Gil, como andidato à in crição na li ta do patrimônio cultural alijado do dir ito à m mória. Atualm nt , quand as prati a · discur iu\
mundial. o Livro das celebrações, foi r gi trado o írio d azaré, d B lém não-di ur iva do órgã orú: r m vi ibilidad ao patrimônio intangnel,
do Pará (idem, 2003). viv mo um profí uo d bat a er a da r laçõe entr patrimônio cidadania
E e ex mplo orroboram a noção d qu a diver idad cultural
d ve r o fundam nto da on trução do patrimônio imat rial bra ileiro. 15 . O direito a patrimônio cultural orno parte mt grantc dos direitos humano foi r ahr
mado num do um nto de um órgão da Unest'O, o ons lho Internacional de Monum~nto, <
Jo ' arlo · Levinho, dir tor do Mu u do Índio, r spon á I por n ami-
/tio (1 omos), em t 998 · "todo homem t m direito ao rc,p ito ao te temunhos autt'nlllo,
nhar a inscrição da art kusiwa no regi tro d b n ulturai d natureza ·
que expressam sua 1dent1dade cultura 1 no coniunto d a gran d Iamilia humana • tem d1rc1to
• .
imaterial, a,·alia qu o fato d o lphan atribuir a a mani~ tação cultural a onhe er seu patrimomo o dos outros, tem 1rc1to a uma l>oa udiz.vão
• d' · 1 , do patnmomo;
. . . _ - t ·nio e 0 , ulorc, cultural\ n<k
t m d1r 1to d participar das de I ocs que a1ctam o pa nmo . ,,
indíg na o titulo d "patrimônio cultural do Brasil" " ignifi ou um avanço . para a d e1·.c,a e, 'ª
. lonzaç.io de"c
r pr • ntados, e t m direito de assouar · patr1momo
oncreto na r laçõe com a oci dad indíg nas", na m dida m qu r o- (RODRIGUES, 2003, p 23)
a partir do reconhecim nto da pluralidad cultural da o i dad bra il ira MFc- PHA /PRó- MEM RI . "Proteção e revitalização do patnmônio cultural no Bra-
da importância de repre entá-la por m io da div r idad d b n tombado il : uma trajetória". ln : Publicações da Secretarw do Pammônio Hisconco eArtímco 000 _
na/ . Bra ília, n . 31, 1980 .
como patrimônio nacional.
luta pela memória como luta pela cidadania não d ve r tringir ___ . "Re tauração e revitalização de nú leos hi tóri o . Analise fa a expenên-
ia fran esa". ln : Publicações da Secretaria do Patnmônio Hucórico e Artístico acional
a reivindicaçõe p la d mocratização do ampo do patrimônio. prem nte
- Semmár,os / . Brasília, n . 30, 1981 .
114 promovermo adi cu ão ac rca dar c p ão apropriação de apitai ul - 115
MuHLHAU , C. "Para ai ' m da pedra e ai". ln : Re, ma osso H1stor,a. Rio de Janeiro,
tural. Mais do que i o, é ne e ário criar condiçõ mat riai imbólica
n . 13 ,2 004,p~62 -67.
para que o conJunto do bra il iro ncontr ignifi ado u ufrua do ben
ORA, P. "Entr memória e hi tóna. A problemática do lugar ". ln: Projeto H,stÓr,a ,
culturai , hi toricamente monopolizado pelo grupo dominante .
âo Paulo, n. 10, 1993, pp. 7-28.
entido, de,·emo lutar para que a educação patrimonial pa e a on tituir
POLLAK, M . "M mória, e quec1mento, il ' ncio". ln : Escudos Hmór,cos . Rio d Janeiro,
um objeto priYilegiado da pohti a pública bra il ira .
n . 3, vol. 2, 1989, pp. 3-1 S.

PROGRAMA DE IDADE HISTÓRI A . ln : Suplemento !nternac1onal Patr,mÔnio Hmor1co .


Referências Plane1amento e Desenrnlv1mento, . d.

ABREU, R. & CH <,A·, M. (org .). Memor,a e patr,mÔnw: ensaios contemporâneos. Rio de RoDRIGU , M . Ale9or,as do Passado - a mst1tu1çõo do patr1mônio em ão Paulo /067-
Janeiro : DP&A, 2003. 1987. Ti de Doutoram nto. Departamento d Historia, Uru\'er idad E tadual d
ampinas, 1994.
H~GA , M. "O pai de Macuna1ma e o patnmônio e piritual" . ln : ABREU, R . & CH
GA , M. (org .) Memor,a e patr,mÔnio.· ensaios contemporâneos . Rio d Janeiro: DP&A, ___ . "Patrimônio, idéia que nem empr é prática". ln : A construção da cidade Bra
2003 ília: Departam nto d Patrimônio Hi tóri o e Artí ti o do Di trito Federal, 199 .

___ . "Pre ervar con umir: o patnmônio hi tóri o e o turismo". ln: FUI\ARI, P. &
RUZ, R. Polmca de tummo e temtor,o . ão Paulo: Contexto, 2002.
P1 KY, J. (org .). Tummo e património cu/curai. ão Paulo : ontexto, 2003.
Fo~ EC~, M. "Da modernização à participação : a política t dera! de pre ervação no
RUBINO, . Asfachadas da h1stÓr,a: os antecedentes, a criação e os trabalhos do emço do Pac-
anos 70 e 80". ln : Rensta do Patrimônio Hmórico e Artístico acwnal. Bra ília, n. 24,
r,môn10 HistÓr,co e Artístico acwnal, J937-1968. D1s er tação de Me trado. Instituto
1996,pp. lS3-IS6.
d Filo fia i' ncias Humana , Univer idade E tadual de ampina, 1991.
FouCAULT, M. A arqueolo91a do saber. Rio de Janeiro : For n UniYer ·itana, 1987.
RUBI O, . "O mapa do Bra 11 pa ado". ln : Rernca do Patr1mônio Histor1co e ,lrtísrico
- - - · A ordem do discurso ão Paulo: E<liç-e Lo ola, 1996 . acional. Bra ília, n . 24, 1996, pp. 97-IOS .

- - - iticrojisica do poder. Rio de Janeiro: Ediçõe Graal, 198 S. A 'A A, M . "A fa e imaterial do patrimônio cultural: o no,o in trumento de
reconh im nto valoriza ão". ln: ABREU, R. & HA(, \, M. (orgs.) Memor,a e pat-
Go · LV , J. A retor,ca da perda os d 1scursos d o patr,monio
• cu Jtural no Brasil. Rio
· d
rimónio : ensaio contemporâneos Rio de Janeiro : DP&A, 2003.
Jan iro : Editora UFRJ/lphan, 1996.
ANTOs, M ." a e a A ad mia phan». ln ; Re11sta do Pammônio H1stor1co e lrt1st1co
LEvr HO, J. "Ku iwa, art gráfica waJãpi · patrimônio cultural do Bra ti". ln : ABREU,
acional. Bra ília , n. 24, 1996, pp. 77-95.
R. & HAG ' M · (org ) Memo"ª e patr,monio.
. •
ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro :
DP , 2003. - - -· O tecido do tempo : 1de1a de patr1môn10 cu/curai no Bnml l 920-1970 Te, de
Doutoram nto. D partam nto d Antropologia, Unn rsidade de Brasília, 1992
M GALHÃE
,, , A. "Ben cu Iturais: in. trumento para
um d envolvimento harmo-
VELJJO, G." ntropologia e patrtmônio cultural". ln : Re, ma do Pammôn10 H,stor!Co e
mo o . ln : Re11Sta do Patr1mônio H1stor1co e Arcímco ac1onal, Brasília , n . 20, 1984,
Artístico acional. Bras1lia, n. 20, 19 4, pp. 37- 39.
PP· 4-0-44

Você também pode gostar