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Goiânia
2008
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Quanto ma1 m~ lapal 1tu, orno profi ion.11, quanto
ma1 1 tcmau,o minha e p, ntm ia,, quanto ma1
m, uuli10 do palnmtmiu J, to<lo l ao c1ual todo
c1 ., m , n 1r, ma1 aurnt nta mmha r pon ab1hJa<l~
l om o hornl n
Mln st•rio
da Cultura I' lllO I R[IRl
cidadão mai integro quanto à art , à ciência , ontribuindo, principal-
m nte, para a formação d p •s oa mai o iá\' i . Lo tudo, ao I ngo do
t mpo, ainda r munera o ime tim nto p la inten ifi a ão d turi mo qu
ir unda tai patrimônio , ampliando a riqu za d d t rminada r gião.
Configurações do campo do
96 Referências pa tnmon10 B ·1
. "' . noras,
SRA. Jl. Consmu1çào da Republica Federacn·a do Brasil, 19
Andréa Ferreira Delgado 1
GEPEL - AGE. C'IA Gou . ._ DE ULTURA PEDRO LUD VJCO TCIXEIR . Decreco Estadual n º
5 876, 1 .12 .2003 .
~
·€ IPH.\. 1 'STITUTO DO PATRIM . 10 HISTÓRICO E ARTISTI O 10 L. Carros patr1monia1s.
<
Brasília, 199 S.
Resumo
MALHA · , C. E. . M . de B. Da materialização à le91t1maçào do pas ado: a monumentali-
dade como mecefora do estado. Rio de Janeiro: Lucerna; F PERJ, 2002.
O artigo d lin ia a traj tória d con tituição do ampo do patrimônio no
Brasil a partir da análi e da prática di ursi a do órgão federal re pon-
EPLA . ECRETARl .. DO PLA EJ \ME rro E DE ' E VOLVIM o DE Go1 \ , ardeste 90,ano:
á I pela on tru ão prot ção do patrimônio hi tórico bra ileiro, atuaJ
um mrest1menro de futuro Go1ânia, 2004.
ln tituto do Patrimônio Hi tórico e Artí tico acional. De acordo com as
cone pçõ que ori ntam a produção do regim d verdade e da políti ~
ca ofi iai a r a do patrimônio nacional, divide- a hi tória do órgão m
quatro período : 1937-1968 : o monumento de p dra ai; 1969-1979: o
conjunto urbanos o turi mo; 1979-2002: o bens culturai ; d de 2003 :
o patrimônio imaterial ou intangí el. Em cada p ríodo, inve tigam-se a e -
tratégia di ur iva ag nciada no pro e o d tombamento para atribuir
um conjunto d ignifi ado e valore a det rminado ben com objetivo d
torná-lo ímbolo da m mória nacional e, portanto, patrimônios da nação.
Palavras-chave
Patrimônio; memória; nação.
Introdução
A con titui ão do campo do patrimônio no Bra il re ulta da tra-
tégia di ur iva não di ur i a do ln tituto do Patrimônio Históri o e
Artí tico a ional,2 qu inventou a noção d "patrimônio na ional" ao reali -
1. Doutora m História profe,sora no entro de nsino e Pe. qui a pli ada à Edu açã
(Cepae) da Universidade Fed ral de Goias.
2. O órgão federal do Patr1mônio acional recebeu diferente denominações desde a ua
zar o trabalho d produ ão, ge. tão imp ição d d terminado b n orno e gredo da identidad " (NORA, 1993, p. 18) qu e pretend uniformizar
Patrimonio impor orno na ional.
memoria coleti,·a.
O termo patr1mônio d signa, de de a pion ira
nacional
p ri·n ia fran a o pro o d con tituição do Estado nacionai moderno , 0
3 in e tim nto para olidificar dotar de duração tabilidade uma d termi-
no p nodo pó -r volu ionario, o onjunto d b n d ai r ultural pro·
tegido legalmente pelo E tado qu , em nom públi o, dev nada m mória para repr ntar o onjunto do habitante de um território
zelar para que ejam ultuado , pr ervado 1 gado à g futura . configura op raçõ d leção, organização uniformização da multipli i-
98 99
Depoi que o orgão tatal re pon áv I por in tituir o patrim ·nio atribui a dad d ignifi ado atribuído ao pas ado. E trat' gi a na con tru ão ocial
determinado b n a função d r pre ntar a nação, 1 pa am então a er hi tóri a da na ão, a m mória nacional con titui um in trumento d coer-
on iderados orno propriedad de todo o idadão . ção, d "impo ição, uma forma e p cífica de iolência imbólica" (POLLAK,
nomea ão ofi ia] de um bem orno patrimônio da na ão ob op. it., p. 3).
guarda do E tado ocorr por meio do regi trono Livro do Tombo. Ao diri- Enquanto modalidad d produção da m mória nacional, o patrimô-
gir e e proc o, o lphan não re gata valor intrín o ou pr ' -exi tent , nio nacional ' produto da relaçõ d ab repoder (FouCAULT, 1985) que
nem de cobre o valor e tético hi tóri o do ben ; p lo ontrário, in taura o eng ndram. A im, para delinear a traj tória do ampo do patrimônio no
e valore ao in cr ,· -lo na r de di cur iva d patrimônio, à medida Bra il, vou inv ntariar a prática di cur iva (FoucAULT, 1987) qu traçam as
qu o tecido da linguag m lhe atribui ignificado que o torna ímbolo da configuraçõ a umida p lo Iphan no difer nte período da ua hi tória .
memória nacional. Enquadramento e
E a operação de " nquadramento da m mória", na acepçãolugar d de memória Primeira configuração (1937-1968): os monumentos de
Michel Pollak ( 19 9), on titui um do m ani mo d on trução da iden- pedra e cal
tidade nacional. de laração la ificação d algun b n orno "monu-
O órgão fed ral re pon ável pela on trução proteção do patrimÔ·
mento " de algumas cidade como "hi tóri as" atribuem mat rialidad
nio hi tórico bra i\eiro foi fundado em 19 37, com o nom de erviço do
territorialidade a Hi toria qu in tituiçõ dotada do pod r d con agrar
Patrimônio Hi tóri o e Artí tico Nacional ( phan), , até o fmal da década
o ímbolo nacionai qu r m p rp tuar. Engendram- e, a im, o "lugare
d 1960, foi dirigido pelo mineiro Rodrigo M lo Franco de Andrade, qu ,
da memória", como no n ina Pi rre ora, ond a e tabilidade e apre r-
junto com um grupo de intelectuai moderni ta ,4 foi re pon ável p la in ti-
vação favorecem "o r lembrar o re ncontrar do p rt n imento, princípio
tucionalização d um onjunto d prática culturai , orno política oficial do
E tado, qu a ram ntou determinado objeto como patrimônio na ional.
fwidação. O eniço do Patnmonio Hi torico e Arusti o acional ( phan) foi organizado A organização da in tituição re pondia ao preceito da on titu1çao
de acordo com o Decreto nº 25, de 30 de novembro de 1937 Em 1946, o órgão foi trans-
de 1934 qu , no artigo 148 do Capítulo II dedi ado à duca ão e à cultura,
formado em Diretoria ob a 1gla Dphan . Em 1970, r beu a denominação de ln tituto do
Patr1monio Histori o e rtl tico acional (lphan). Em 1979, pa ou a con tituir uma ecre- con agrou a prot ção ao patrimônio hi tórico artí ti o como um princípio
tar,a e _as urnm no,amente a igla phan Em 1990, a phan foi e tinta criou- e o instituto on titu ional: "Cab à União, ao E tado ao muni ípio ( ... )proteger o
Brasileiro de Patrimonio ultural (IBP ) Com a Medida Provi ória n 61 O, de setembro
obj to de inter e hi tóri o o patrimônio artí ti o do pai "(ME · PHA I
de 1994, a denomina ão foi alterada novamente para o nom atual, ln tituto do Patrimônio
Hi torico e Arti oco acional (lphan) PRó-MEM RI , 1980, P· 16) .
3 "A fwição do poder publico de proteger o patrimônio foi si tematizada na França, logo
apo a _Revolução. Atendendo à impo ição de congregar a ociedade m torno da con trução 4. egundo Mariza Velo o anto (1996), o m mbros mais proerrunentes do grupo eram
da naçao france a orno espelho da identidade burgue a e de deter a de truição de inumero. o mineiro arlos Drummond de Andrade, Fran i o ampos, Gu tavo apanema, Pedro
monumento do Antigo Regime, coube ao governo revolucionário in tituir os monumentos ava, Afon o Ari nos M lo Franco. Também parti iparam intele tuais radi ado em ão Paulo,
qu materiali!3vam o pas ado e, ao m mo tempo, permitiam lições morais e pedagógicas aos como Mário de ndrade, e no Rio de Janeiro, como érg10 Buarque de Holanda , Manuel
ob nadore (RoORJGUE , 1998, p 3) Bandeira, Lúcio osta, ar ieme er, dentr outros.
Em 1936, GustaYo apanema, mini tro da du ação d 1934 a 1945, " xc p ional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artí tico",
oltcitou a Mario de ndrade, então dir tor do D partam nto d ultura ab ndo ao próprio órgão compor o patrimônio histórico artí tico nacio-
da Prefeitura de ão Paulo, a labora ão d um proj t d organiza ão do nal por m io do pro o d tombamento do monumento e colhido para
ampo do patrimônio no Bra il. Duas emana d poi , no m • d março, test munhar o pa ado nacional.
e ta,·a pronto o anteproj to do erYiço do Patrimônio rtí ti o Nacional Depoi d hancelar a aut nticidad do b n , caberia ao phan, d
( pan), logo aproYado por apan ma, que, em carát r xperimental, impl - a ordo om o D r to-L i, proteg"-lo a fim d garantir ua permanência,
100
mentou o erviço do Patrimônio Hi tórico Artí ti a ional ainda n e ou eja, vitar ua alt ração, mutilação ou d truição. E tá previ to qu o
101 ....
ano. direção, por ug tão de Mário d ndrad , foi onfiada a Rodrigo tombamento pod r rnluntário, a pedido do proprietário (artigo 7), ou :s
-o
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Melo Fran o de Andrad , qu pa ou a r digir um proj to de I i federal para ainda compul Ório, quando o propn tário " e r usar a anuir à in crição da ~
~
r gulamentar a atua ão do noYo órgão ( HAGA , 2003).
O te. ·to do Decr to-Lei nº 25, de 30 d nO\ mbro d 1937, promul -
coi a" (artigo 8). Embora o imóvel tombado po a er vendido, o artigo 17
e tab I limit para o direito d propriedade : "a coi a tombadas não
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gado p lo pr idente G tulio arga já na vig"ncia do tado ovo, red finiu poderão, em a o nenhum, r d truída , d molidas ou mutilada , nem ,
alterou ub tan ialment o anteprojeto do po ta moderni ta. 5 em pr ' ia autoriza ão e pe ial do rviço do Patrimônio Hi tórico Artí -
Capitulo I Do PatrimÕnio Historico e ArtJ ti o a 1onal ti o a ional, r r parada , pintada oure taurada "(idem, p. 115) .
Art 1 . on. titui o PatrimÕnio Hi torico e rtt ti o na ·onal o oniunto de bens a historiografia ofi ia! produzida no int rior da própria in tituição,
movei e imovei exi ·tentes no pai e cuja cons nação eia de intere e publico,
o p ríodo d criação e on olidação do phan ' denominado "fa heróica",
quer por ua ,;nculação a fato, memora,eis da Hi tóna do Brasil, quer por seu
e cepcional ,alor arqueologi o ou etnografico, bibliografico ou arttsti o. re altando- qu o "adj tivo par ce corre pond r à r alidade do trabalho
Paragrafo 1 . b n a que e r fere o pre nt artigo o erão con idera- que e I ou a efeito" (id m, p. 28). E a fa e ' definida no eguint ter-
do parte int grante do patrimônio hi torico e artí tico na 1onal , depois de mo :
inscrito eparada ou agrupadamente num do quatro Livro do Tombo. 6
( ... ) ão e por a aso que ela é a m sma em que Rodrigo Melo Franco de ndrade
(ME - PHA. · /PRó-MEMÓRIA, ºP- cit., P· 111)
e teve à frente da instituição, pois, na verdade, chegou a ser tal o envolvimento entre
a pes oa e o erviço que, para muitos anali;ta , torna- e difícil ou quase impo s1vel
A prática pre ervacioni ta foi a im in tituída para alvaguardar entender o Patrimômo sem conhecer e compr ender a personalidade de Rodrigo
ben i olado 7 vinculado a "fato memorá ei da Hi tóna do Bra il" ou de Melo Fran o d Andrade. ( ... ) A ontece que, sob pres ão do tempo perdido, de
sé ulos de abandono e da carên ia crôni a de recur os humanos, a in tituição, em
5 egundo Mario Chagas, uma das caracten ticas do anteprojeto de Mario de Andrade, al- eu primeiros anos de Yida, teve que redobrar os forço, para dar conta da tarefa
terada no proieto de lei aprovado, pode r ob ervada no próprio nome do órgão e tatal · a que se propunha. (ibidem)
phan - mclwu- e o termo "Hi toricon, ao nome original de er\'iço do Patrimônio Arti tice
acio~al . ~andonou- e, assim, a proposta do" i tema de lassifi ação octogonal, no qual o O phan, on truído a partir de uma relação imbióti a com o eu
termo arte era apenas a entrada principal para oito ategorias di tintas": arqueológica, ame-
diretor, torna - onform Mariza Velo o anto , uma "a ademia", ou ja,
nndia, popular, hi ton a, erudita nacional, erudita e\trangeira, aplicada nacional e aplicada
e trangeira "A 1m, pare e claro, o 'arb tice', em Mário d Andrade, não era restritivo; ao in titucionaliza - e om "um lugar da fala, que p rmit a emerg"ncia d
contrario, era amplo e abrangente e o seu conceito de patrimônio artístico abarcava o tangível uma formação p ífi a, uja dinâmi a imbólica é dada pela perman nte
e o intangwer ( op. cit , p. 1O1)
tematiza ão do ignifi ado da ategoria d hi tórico, d pa ado, d t' -
6 Livro do Tombo ArqueologKo, Etnografico e Pai agístico, Livro do Tombo Histórico; Livro
do Tombo das Belas-Arte e Li,To do Tombo das Arte Aplicadas. ti o , de na ional , d xemplar' t ndo orno eixo arti ulador a idéia d patri-
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