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Patrimônio Arqueológico da Amazônia: a pesquisa, a gestão e as pessoas

Article · November 2018

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3 authors, including:

Mariana Cabral
Federal University of Minas Gerais
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Arqueologia na Terra Indígena Wajãpi View project

Environmental Sensibility Index for Oil Spill in Maritime Basin of Amazon river mouth (Cartas de Sensbilidade Ambiental ao Derramamento de Óleo na Bacia Marítima
da Foz do Amazonas). View project

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ISSN 0102-2571
Nº 38 Nº 38 Nº 38
2018 2018 2018

Neste número
Ana Vilacy Galucio
António Miguel Lopes de Sousa
Camila Fernandes
Cristian Pio Ávila
Cristiana Barreto
Daiane Pereira
Denny Moore
Eliane Cristina Pinto Moreira
Elisabeth Costa
Fernando Canto
Hein van der Voort
Helena Pinto Lima
Hugues de Varine
Luciano Moura Maciel
Marcelo Brito
Marcia Bezerra
Márcio Couto Henrique
Marcondes Lima da Costa
Mariana Petry Cabral
Milton Hatoum
Roseane Costa Norat
Sérgio Paz Magalhães

O Patrimônio do Norte:
Outros Olhares para a Gestão
Mariana Petry Cabral, Daiane Pereira, Marcia Bezerra

a c i o n a l
P atrimônio arqueológico da A mazônia :
a pesquisa , a gestão e as pessoas *

N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o
H
a t r i m ô n i o
Introdução do Estado, ainda que tenhamos uma ampla
capacidade de escolhas e definições no
Neste artigo, nós partimos da análise de desenrolar dos projetos.

P
O que temos observado nas últimas

d o
dados atualizados do Instituto do Patrimônio

e v i s t a
Histórico e Artístico Nacional – Iphan, décadas é um contínuo aprimoramento, por
referentes ao patrimônio arqueológico na parte do Estado Nacional, dos instrumentos

R
Região Norte do país, para refletir sobre os de fiscalização, controle e proteção do
desafios de pensarmos a pesquisa e a gestão patrimônio arqueológico. De maneira
de modo conjunto. Nós estamos entendendo, complementar, também observamos o
portanto, que ambas são complementares fortalecimento profissional da arqueologia,
e estão profundamente entrelaçadas. Neste que ampliou seus quadros de modo muito
sentido, não podemos pensar gestão sem significativo, seja por meio de cursos de
pesquisa, nem tampouco pesquisa sem gestão. graduação e pós-graduação, seja pelo 247
Para entendermos as possibilidades aumento de setores de pesquisa arqueológica
deste entrelaçamento, vamos primeiramente em instituições públicas e privadas por todo
mapear os elementos oficiais que guiam
o país. As reflexões sobre esse crescimento
nossas atividades como arqueólogas. Desde
acelerado da arqueologia no Brasil têm se
a promulgação da Lei Federal nº 3.924,
voltado tanto para o ensino (por exemplo,
de 26 de julho de 1961, a chamada Lei da
Bezerra, 2008; Viana, Bezerra & Eremites de
Arqueologia, vigora no Brasil uma posição
Oliveira 2014), quanto para outros aspectos
muito explícita sobre o lugar central que
da nossa prática profissional, com ênfase Na Amazônia, as
o Poder Público ocupa em relação a todo coleções cerâmicas
na arqueologia preventiva (por exemplo, têm muitos vasos
e qualquer vestígio arqueológico do país, inteiros, criando
Zanettini, 2009; Wichers, 2010; Zarankin & desafios específicos
cabendo a ele sua guarda e proteção. A para a salvaguarda
Pellini, 2012). e a comunicação.
pesquisa arqueológica no território nacional, Reserva Técnica
do Laboratório de
portanto, é regida por essa relação de tutela Para desenvolver as reflexões que Arqueologia Peter
Hilbert, IEPA,
apresentamos neste artigo, tomamos como Macapá (AP)
Foto: Daiane Pereira,
*Texto editado e revisado pelas autoras. base um conjunto de dados disponibilizados 2008.
pelo Iphan, abarcando o Cadastro Nacional nossas pesquisas e seus entornos, tornando os
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas

de Sítios Arqueológicos – CNSA, a lista movimentos de socialização e aproximação


a c i o n a l

de instituições de guarda da Região Norte etapas fundamentais das pesquisas. Neste


registradas no Cadastro Nacional das sentido, propomos pensar neste artigo os
desafios que essas relações trazem para a
N

Instituições de Guarda e Pesquisa – CNIGP,


r t í s t i c o

e as autorizações de pesquisa arqueológica pesquisa e para a gestão, o que tem mobilizado


na Região Norte concedidas no período de nossas pesquisas e práticas na Amazônia.
A

1997 a 2017. Buscamos analisar esses dados Para estruturar essa discussão, buscamos
e

identificar, por meio da análise de dados do


i s t ó r i c o

em conexão com nossas próprias experiências


M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a

de pesquisa na Amazônia, assim como em Iphan, tendências de mudança que a pesquisa


diálogo com debates contemporâneos de e a gestão arqueológicas na Região Norte
H

têm seguido nas últimas duas décadas (1997-


a t r i m ô n i o

colegas envolvidos com a arqueologia na


Região Norte. Nosso intuito é refletir sobre 2017). Ao nos debruçarmos sobre esses dados,
desafios que se colocam não apenas para a procuramos contextualizá-los historicamente,
P

preservação do patrimônio arqueológico relacionando-os a transformações e


d o

dessa imensa região, mas também para a desenvolvimentos nas políticas públicas. De
e v i s t a

construção de narrativas sobre o passado, que modo complementar, buscamos usar esses
R

envolvem diretamente nossas percepções de dados para pensar alguns dos desafios que se
presente e de futuro1 para a Amazônia e para colocam no contemporâneo.
as populações que residem na região. O que Entendendo as coleções arqueológicas

almejamos com isso é expressar inquietações como elemento central de pesquisa e gestão
desse patrimônio, esboçamos algumas reflexões
que têm acompanhado nossas trajetórias de
sobre os caminhos que estão sendo percorridos
pesquisa e que apontam para a diversidade de
no debate contemporâneo sobre acervos
248 possibilidades que o patrimônio arqueológico
arqueológicos no Brasil e as particularidades
da Amazônia têm como materialidade no
que a Região Norte traz para essa discussão.
presente. Essa materialidade atinge não apenas
Complementarmente, avançamos em reflexões
pessoas diretamente ligadas à pesquisa, mas
sobre a aproximação de diversos coletivos
também os diversos coletivos humanos que
com o “arqueológico”, o que necessariamente
se entrelaçam com os materiais que nós nos
nos leva a rever não apenas nossas práticas,
acostumamos a chamar de “arqueológicos”
mas também os instrumentos legais e formais
(Bezerra, 2017; Cabral, 2013). De certo
que orientam nossa atuação. Essas reflexões
modo, temos entendido que um dos
apontam para uma série de descompassos, por
elementos pulsantes da arqueologia na Região
exemplo: entre pesquisadores e gestores; entre
Norte do Brasil, especialmente na Amazônia,
cientistas e outros interessados; entre a prática
é seu potencial de interação e diálogo com
e a legislação. Encarar tais descompassos e
os múltiplos coletivos humanos que povoam
construir pontes entre múltiplas perspectivas,
buscando ampliar e diversificar a arena de
1. Ver Holtorf (2012) e Harrison (2016) sobre discussões a
respeito da construção de futuros e a prática arqueológica. conversas, é um grande desafio. Este artigo
não pretende resolvê-lo, mas busca evidenciá- começaram a se fortalecer e ganhar mais

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
lo, como um modo de contribuir para que o espaço, servindo como instituições de apoio

a c i o n a l
patrimônio arqueológico da Amazônia se torne nas Portarias de Pesquisa do Iphan. Até então,
de fato um bem cultural compartilhado pelas o Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG
pessoas – muitas e diversas – da Amazônia. era a única instituição de guarda da Amazônia

Nr t í s t i c o
listada como Apoio Institucional, situação
Um pa n o r a m a d a que nos mostra um dos desafios no processo
Região

A
arqueologia na de aproximação das pessoas da Amazônia com

e
N o r t e a pa r t i r d o s d a d o s o patrimônio arqueológico: muitas coleções já

i s t ó r i c o
do Iphan (1997–2017)

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
não estão na região.
Seguindo os dados do Iphan referentes

H
A Amazônia atrai a atenção da pesquisa às autorizações de pesquisa nos últimos vinte

a t r i m ô n i o
em arqueologia desde o final do século 19, anos (1997-2017), é possível vislumbrar a
com uma série de expedições científicas ocorrência de algumas mudanças recentes.

P
e o início da construção de acervos Observamos que no período em questão

d o
institucionais (Barreto, 1999-2000). No foram emitidas 747 portarias, as quais

e v i s t a
entanto, é interessante observar que apenas receberam Apoio Institucional de quarenta

R
recentemente, a partir de 2002, instituições instituições sediadas na Região Norte e
de guarda sediadas na Região Norte de 35 instituições sediadas em estados das

249

Pavilhão Domingos
Soares Ferreira
Penna, denominado
“Rocinha”, no Parque
Zoobotânico do
Museu Paraense
Emílio Goeldi.
Neg. vidro, 1905
Foto: Arquivo Guilherme
de La Penha/ Coleção
Fotográfica/MPEG.
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l

250
M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
R e v i s t a d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e A r t í s t i c o N a c i o n a l
251

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:

Foto: Maurício de Paiva.


Macapá (AP), 2010
Campus da Unifap,
Arqueológico AP-MA-05:
Equipe do Iepa escava Sítio
patrimônio arqueológico.
entendimentos sobre o
têm ampliado nossos
Escavações arqueológicas
a pesquisa, a gestão e as pessoas
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

outras quatro regiões do país (Centro-Oeste, Outro elemento que chamou nossa
Nordeste, Sudeste e Sul). Destas portarias, atenção na análise dos dados relativos
cerca de 75% (574) receberam apoio de às portarias do Iphan, e que pode ser
instituições da Região Norte, o que mostra contrastado com dados do CNSA para o
252 um fortalecimento das organizações locais. mesmo período, se refere às pessoas que
Ao observar esses dados na distribuição
estão à frente das pesquisas na Região Norte.
anual, nota-se um contínuo aumento da
Os dados sobre as portarias mostram 160
participação de instituições do Norte a
arqueólogos e arqueólogas coordenadores de
partir de 2003, ainda que instituições de
projetos, sendo cerca de 57% com nomes
outras regiões continuem atuando até o
masculinos2. Para o mesmo período, temos
presente. Considerando que a pesquisa e a
112 pessoas listadas como responsáveis
gestão do patrimônio têm relação estreita
com os acervos arqueológicos gerados, e
2. Os dados disponibilizados pelo Iphan não apresentam
Laboratório no prédio que o fortalecimento de relações entre este identificação de gênero, mas de modo exploratório optamos por
hoje denominado fazer uma distinção a partir dos nomes das pessoas, ainda que
Emília Snetlhage, no patrimônio e a sociedade tem nas coleções cientes das falhas que tal divisão possa acarretar. Estamos também
Parque Zoobotânico
cientes das limitações que a divisão binária de gênero produz,
do Museu Paraense um espaço privilegiado de atuação, o fato mas optamos explorar estes dados a fim de incentivar reflexões
Emílio Goeldi, onde
atualmente funciona de portarias de pesquisa continuarem a ser neste caminho. Sugerimos que análises mais cuidadosas com um
a Diretoria do MPEG. viés de gênero têm um forte potencial para gerar reflexões sobre
Neg. vidro, [1904?]
Foto: Arquivo Guilherme
emitidas para outras regiões do país deve ser esses dados, seguindo discussões recentes que voltaram a florescer
de La Penha/ Coleção na arqueologia brasileira (Ribeiro et al, 2017; Ribeiro, 2017;
Fotográfica/MPEG. olhado com cautela. Caromano et al, 2017; Sene et al, 2018).
pelo registro de sítios arqueológico no enfoque da distribuição sexual do trabalho

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
CNSA, sendo 58% com nomes masculinos, (Gero, 1994), em que a atuação feminina

a c i o n a l
resultado muito similar ao das portarias. fica mais evidente em atividades de gabinete
Esses dados também podem ser analisados ou laboratório. No entanto, esta é uma
considerando a quantidade de portarias e possibilidade que requer um refinamento

Nr t í s t i c o
de sítios arqueológicos listados para cada nas análises, inclusive com o cruzamento dos
pessoa, já que uma pessoa pode ter muitas nomes de responsáveis pela coordenação de

A
portarias em seu nome ou ser responsável projeto e de responsáveis pelo registro dos

e
pelo registro de diversos sítios arqueológicos. sítios. Uma comparação rápida que fizemos

i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
É interessante observar que, no que se entre as dez pessoas com maior quantidade
refere à quantidade de sítios arqueológicos de portarias e de registros de sítios mostra

H
registrados por pessoa, há um pequeno que apenas cinco pessoas aparecem nas duas

a t r i m ô n i o
aumento da participação das pessoas com listas, um possível indício de que a tarefa de
nomes femininos, responsáveis por quase registro dos sítios nem sempre é realizada

P
metade do total de sítios registrados. por quem coordena o projeto.

d o
Na tabela a seguir, apresentamos esses Outro aspecto que pudemos observar

e v i s t a
dados sintetizados.3 nos dados do Iphan diz respeito ao espaço
Como um exercício exploratório na ocupado hoje pela arqueologia preventiva na

R
perspectiva de gênero, esses dados nos Região Norte. Das 747 portarias emitidas
ajudam a compor uma cena já explorada por no período de estudo, 647 (quase 90%)
outras pesquisadoras, na qual se destaca a estão vinculadas a projetos de arqueologia
forte presença de mulheres na arqueologia preventiva, refletindo uma tendência que
brasileira (Ribeiro et al 2017; Caromano vemos ocorrer em todo o país (Zanettini,
et al, 2017). A alteração observada na 2009; Zarankin & Pellini, 2012). Ainda
participação das pessoas com nomes assim, vale salientar que 11% das portarias 253

femininos no registro de sítios arqueológicos referem-se a projetos acadêmicos, um número


(com um aumento beirando 50% dos animador considerando-se um contexto
registros) poderia ser pensada a partir de um em que a arqueologia preventiva parecia

Distribuição percentual de
Responsável pela Responsável pelo Quantidade Quantidade portarias e registros de
coordenação de registro de sítio de portarias de sítios sítios arqueológicos de
acordo com o nome de
projeto arqueológico emitidas registrados responsáveis.
Base: dados do Iphan/2018.
Pessoas 57% 58% 60% 51,5%
com nomes
masculinos
Pessoas 43% 42% 40% 48,5%
com nomes
femininos
Total 160 pessoas 112 pessoas 747 portarias 2.828 sítios

3. Observe a nota anterior.


Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
a c i o n a l
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r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

254
Natureza do Projeto
1% 1%

Os megalitos de Calçoene
(AP): expressão da
11%
diversidade cultural
indígena desde a
Antiguidade. Sítio
Arqueológico AP-CA-18: Arqueologia
Rego Grande 1,
Calçoene (AP), 2010 Preventiva
Foto: Mariana Cabral/Iepa.

Arqueologia
Acadêmica

Gráfico 1: Distribuição das Intervenção em bem


portarias de autorização do 87% protegido
Iphan segundo a natureza
do projeto.
Base: dados do Iphan/2018. N.A.
dominar todo espectro de pesquisa. No houve também a criação ou fortalecimento

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
gráfico ao lado, apresentamos estes dados. de instituições com área de pesquisa em

a c i o n a l
Vale salientar que, no período em arqueologia, como é o caso do Instituto
análise, a Amazônia teve um significativo de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do
aumento no número de arqueólogos e Estado do Amapá – Iepa, em que duas de

N
r t í s t i c o
arqueólogas residentes, fortalecendo, nós atuamos por vários anos, e que provocou
portanto, instituições e grupos de pesquisa. mudanças substantivas na dinâmica da

A
Faz parte desse movimento a criação de pesquisa arqueológica no estado do Amapá

e
cursos de graduação ou pós-graduação nos (Saldanha & Cabral, 2012).

i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
estados do Pará (Universidade Federal do A ampliação da pesquisa arqueológica
Pará – UFPA e Universidade Federal do na Região Norte pode ser observada

H
Oeste do Pará – UFOPA), do Amazonas não apenas no aumento de portarias

a t r i m ô n i o
(Universidade do Estado do Amazonas de pesquisa emitidas pelo Iphan, mas
– UEA) e de Rondônia (Universidade também no aumento do número de sítios

P
Federal de Rondônia – UNIR), ampliando arqueológicos registrados. Nos gráficos a

d o
– potencialmente – as oportunidades de seguir, apresentamos esses dois conjuntos

e v i s t a
pesquisa acadêmica. Associado a isso, de dados.

R
255

Jovens professores Tiriyó


conversam sobre as
gravuras rupestres no seu
território, mostrando que o
conhecimento sobre sítios
arqueológicos é partilhado
por diferentes coletivos na
Amazônia. Terra Indígena
Parque do Tumucumaque (PA),
2009
Foto: Mariana Cabral.
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
a c i o n a l
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a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a
R

256

Gráficos 2 e 3: Relação Nos gráficos podemos ver que, enquanto pode estar relacionado com a realização
quantitativa de portarias
emitidas4 e sítios o número de portarias apresenta uma de projetos em grandes áreas. Além disso,
arqueológicos registrados
anualmente. tendência mais homogênea de crescimento temos que considerar que o Iphan buscou
Base: dados do Iphan/2018.

(formando uma curva mais contínua), o aprimorar seus instrumentos de controle e


registro de sítios arqueológicos tem um fiscalização ao longo dos anos, especialmente
movimento um pouco diferente: ainda para a pesquisa ligada ao licenciamento
4. A emissão de portarias
está registrada de acordo que aponte para um crescimento de 2004 ambiental. Com isso, projetos que antes
com a Superintendência
em que o processo foi
a 2013, há um contínuo decréscimo de poderiam ser realizados através de uma
registrado. É importante registros a partir de 2014. É interessante única portaria de autorização hoje requerem
observar que, na Região
Norte, até 2004, só havia observar que certo boom no registro de diferentes etapas de controle, resultando
Superintendência do
Iphan nos estados do sítios arqueológicos ocorrido na virada em um aumento de portarias emitidas.
Amazonas (1987) e Pará
(1992). A partir de 2009, para o século 21 não é acompanhado por É óbvio, no entanto, que o aumento
todos estados da região
passaram a sediá-las. uma maior quantidade de portarias, o que explosivo de emissão de portarias de
pesquisa, especialmente a partir de 2008, Coleções

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
arqueológicas
tem relação direta com o aumento real de e os desafios da gestão

a c i o n a l
empreendimentos no país, impulsionando
a arqueologia preventiva. Vale lembrar que Nas últimas décadas, a confluência de
2007 é o ano de lançamento do Programa

N
diversos processos modificou a forma como a

r t í s t i c o
de Aceleração de Crescimento – PAC do disciplina arqueológica e os vestígios materiais
Governo Federal, com financiamento de adquirem significância no presente (Salerno,

A
empreendimentos em todo país. 2012:192). O patrimônio arqueológico

e
A partir de um olhar ainda bastante

i s t ó r i c o
deixou de ser exclusivamente uma fonte de

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
focado nos dados quantitativos, há outro estudo das sociedades, para ser também um
aspecto singular no comparativo entre os aprofundamento da nossa compreensão sobre

H
dois conjuntos de dados representados nos

a t r i m ô n i o
a relação destes patrimônios na atualidade.
gráficos. Nos últimos anos, em especial a Nessa relação, as coleções arqueológicas
partir de 2015, parece haver uma inversão correspondem à acumulação da materialidade

P
entre o número de portarias emitidas (Brefe,1998: 286), e os desafios de sua gestão

d o
e a quantidade de sítios arqueológicos ultrapassam a nossa responsabilidade com

e v i s t a
registrados. Seria isto um reflexo da mudança sua conservação física e informacional e

R
mais recente dos trâmites no Iphan para o vão em direção a um conjunto de ações e
licenciamento ambiental, com a emissão da posicionamentos relativos ao que acreditamos
Instrução Normativa nº 001, de 25 de março ser o papel social da arqueologia.
de 2015, que refinou etapas de pesquisa e O amplo conjunto de ações que integram
tipos de empreendimento? Mesmo que essa a gestão das coleções arqueológicas compõe
seja uma possibilidade, ela não explica o a cadeia operatória da museologia e a cadeia
motivo da evidente queda na quantidade de produtiva da arqueologia (Wichers, 2010).
257
sítios registrados. Um dos seus principais desafios é congregar
Estes dados nos mostram que devemos diferentes campos do conhecimento, saberes
ser cuidadosas ao estabelecer qualquer tradicionais, coletivos humanos e profissionais
relação direta entre a quantidade de portarias aos quais as coleções arqueológicas envolvem.
emitidas e seus resultados práticos na Diante de tais desafios, a inserção dessa
identificação do patrimônio arqueológico, temática associada à análise de um panorama
pois nem sempre esses dois mecanismos estão geral do patrimônio arqueológico da Região
associados. Neste sentido, para pensarmos os Norte, aqui apresentada, é um movimento de
desafios da preservação desse patrimônio é valorização da gestão das coleções enquanto
preciso avançarmos também em observações área de pesquisa no âmbito da arqueologia,
qualitativas, fazendo uso de nossas e uma oportunidade para refletirmos sobre
experiências na Amazônia para seguir nesse características e pautas comuns da região.
apontamento de caminhos possíveis para Um caminho que acreditamos essencial
pesquisa e gestão do patrimônio arqueológico para avançarmos nos processos de gestões
na Região Norte. colaborativas dos patrimônios arqueológicos.
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
a c i o n a l
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a t r i m ô n i o
P
d o

Acompanhando o ritmo da arqueologia O mesmo ocorreu na Região Norte, uma


e v i s t a

brasileira, as coleções arqueológicas das pioneiras nos estudos arqueológicos e


apresentaram nas últimas décadas um na guarda de coleções arqueológicas no país,
R

crescimento acentuado (Bruno & Zanettini, com a criação do Museu Paraense em 1866.
2007:02). A quantidade de material Embora pesquisas arqueológicas estivessem
arqueológico armazenado nas instituições de sendo realizadas desde o século 19 na
guarda e pesquisa aumenta em grande escala, Amazônia brasileira, são escassos os registros
em um descompasso com os investimentos de como e onde os acervos gerados estavam
em melhorias estruturais, capacitação de sendo guardados, talvez com a única exceção
258
recursos humanos, pesquisas especializadas e do Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG.
comunicação das coleções. Vemos documentadas ações preambulares
A aceleração do crescimento das coleções de salvaguarda das coleções arqueológicas
evidenciou a desvalorização e as lacunas apenas a partir de 1956, com a criação de um
da gestão das coleções arqueológicas, “depósito das coleções” no MPEG, separado
fenômeno mundial conhecido como das áreas expositivas (Barreto, 1992: 234). O
“crise dos acervos” (Voss, 2012:145). que podemos afirmar é que, de modo geral,
Ao analisar a trajetória da disciplina essas coleções estavam se constituindo na
arqueológica no país e de suas coleções, é forma de enciclopédia classificatória, com
possível perceber como se consolidou uma materiais oriundos em grande parte de coletas
concepção antiquarista sobre as coleções e assistemáticas, sem uma maior reflexão sobre
espaços de guarda, com a predominância sua utilização social (Bruno, 1999: 82).
de características depositárias e de uma Para melhor contextualizarmos as coleções
institucionalização dos acervos voltada para arqueológicas salvaguardadas na Região
os pares arqueológicos. Norte, precisamos lembrar que se trata da
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
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Aa c i o n a l
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Pa t r i m ô n i o
d o
maior região do país, ocupando cerca de de 2002 outras instituições da região iriam

e v i s t a
45% do território nacional. Mesmo com sua aparecer como instituição de apoio nas
ampla extensão e potencial arqueológico, portarias do Iphan.

R
até duas décadas atrás ainda eram poucas A partir da primeira década do século
as instituições de pesquisa e formação de 21, em correspondência com o aumento
profissionais de arqueologia na região. A das pesquisas arqueológicas ligadas ao
grande distância entre os locais de origem licenciamento ambiental, vemos mais
dos vestígios e os de guarda, muitas vezes instituições de guarda da Região Norte
fora da Região Norte, impunha dificuldades aparecerem na relação de autorizações.
259
para a gestão das coleções no que tange às Analisando as portarias de autorização de
salvaguardas e comunicações. pesquisa no período de estudos, quarenta
Durante quase todo o século 20, instituições de guarda da Região Norte são
coleções arqueológicas foram levadas para identificadas. Todavia, podemos perceber que
fora da Região Norte, sendo guardadas em há uma ausência de padronização: nomes
instituições de outras regiões por profissionais distintos são dados à mesma instituição,
que desenvolviam pesquisas na Amazônia o que pode ter ocorrido pela alteração
Reserva Técnica
brasileira, mas estavam vinculados a entidades dos nomes no decorrer dos anos ou pela do Laboratório de
Arqueologia Peter
acadêmicas e científicas de diferentes lugares existência de subdivisões de departamentos Hilbert, Iepa, Macapá
(AP). No Núcleo de
do país. Segundo os dados fornecidos pelo em uma mesma instituição. Pesquisa Arqueológica
do Iepa, em Macapá,
Iphan sobre as portarias de autorização de Atualmente, com políticas nacionais de a reserva técnica
de arqueologia foi
projetada para ser
pesquisa de 1997 a 2017, até 2001 a única patrimônio cultural e arqueológico mais visível para visitantes,
através de uma ampla
instituição de guarda da Região Norte a consolidadas, e com o fortalecimento da parede de vidro,
ampliando o contato
figurar como Apoio Institucional foi o própria disciplina arqueológica no país, o com o patrimônio
arqueológico sob guarda
MPEG. Como já destacado, apenas a partir panorama é distinto. Foto: Daniel Nec/Iepa, 2012.
A partir de 2014, com a criação quinze como aptas em processo de fiscalização
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas

do Programa de Fiscalização do Iphan, e nove como aptas. Deste conjunto,


a c i o n a l

foi instituído o Cadastro Nacional das nos estados do Acre e de Roraima todas
Instituições de Guarda e Pesquisa (CNIGP). instituições estão inaptas, o que nos serve
Estabelecido pela Portaria Iphan nº 196, como um alerta sobre as condições de
N
r t í s t i c o

de 18 de maio de 2016, o cadastro é ampliação de acervos. Também é importante


composto pelas instituições que concederam ressaltar que mais da metade das instituições
A

endossos de pesquisa e por aquelas que cadastradas (54%) está ainda em processo
e

pretendem fazê-lo. As instituições devem de fiscalização, o que pode alterar as


i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a

passar por um processo de fiscalização condições de guarda na Região Norte nos


pelas Superintendências do Iphan, que as próximos anos. Como este é um processo em
H

classificam como aptas ou inaptas, de acordo implementação, ele está sendo alimentado e
a t r i m ô n i o

com os critérios estabelecidos na Portaria alterado com grande velocidade, de acordo


Iphan nº 196/2016 para a conservação de com os acompanhamentos do Iphan.
P

bens arqueológicos móveis. As fiscalizações Embora seja um movimento recente e


d o

devem ser realizadas periodicamente pelo em processo de efetivação, os avanços nas


e v i s t a

Iphan, com o objetivo de avaliar as condições políticas públicas direcionadas à guarda


de guarda dos bens arqueológicos. do patrimônio arqueológico estimulam
R

Até o momento, 28 instituições de guarda a discussão sobre a gestão dos acervos


da Região Norte constam no CNIGP. arqueológicos em outros âmbitos. Um deles
O gráfico a seguir mostra a distribuição dessas é o da consolidação da gestão das coleções
instituições por estado. como campo de pesquisa e a especialização de
De acordo com o CNIGP, das 28 profissionais nessa área.
instituições registradas na Região Norte, Como desafio, enfrentamos a decalagem
260 quatro estão classificadas como inaptas, entre os direcionamentos teóricos atuais da

Gráfico 4: Instituições de
guarda da Região Norte
de acordo com o Cadastro
Nacional das Instituições de
Guarda e Pesquisa – CNIGP.
Base: dados do Iphan/2018.
arqueologia e as práticas museológico-curato- A gestão das coleções arqueológicas no

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
riais predominantes. Aos critérios estabeleci- Norte do país denota a compreensão da

a c i o n a l
dos pelas políticas públicas para a conservação região e de suas singularidades. A Amazônia
do patrimônio arqueológico salvaguardado possui contextos arqueológicos vastos, com
é necessário somar um amadurecimento de enorme quantidade de vestígios, muitas vezes

N
r t í s t i c o
profissionais e instituições de guarda, de de grandes dimensões. Além da diversidade
modo que os anseios atuais da sociedade rela- da materialidade, da amplitude territorial,

A
tivos ao patrimônio possam ser atendidos. A a região possui uma rica multiplicidade

e
constatação desse descompasso precisa gerar cultural, com grupos indígenas, quilombolas

i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
uma reflexão capaz de motivar alterações e ribeirinhos que possuem diferentes relações
profundas no modo como entendemos, inte- com o patrimônio arqueológico, incluindo

H
gramos e realizamos a gestão do patrimônio práticas coletivas e pessoais de formação de

a t r i m ô n i o
arqueológico passível de salvaguarda. coleções (por exemplo, Bezerra, 2012; Rocha
Historicamente, a salvaguarda das et al, 2014).

P
coleções arqueológicas vem recebendo Ao propormos uma reflexão sobre a

d o
atenção diminuta ou de caráter desconexo gestão das coleções arqueológicas no nível

e v i s t a
com as demais discussões da disciplina. O regional, nosso objetivo é nos aproximarmos

R
fortalecimento das pesquisas sobre a gestão e avançarmos na compreensão de suas
dos acervos em outros campos (Ladkin, 2004) singularidades, e não a uniformização
e a diversidade de percepções e anseios atuais de práticas. A disciplina arqueológica
sobre o patrimônio arqueológico brasileiro frequentemente se apoia em uma narrativa
impulsionam a busca de novos caminhos de tecnológica e linear, reproduzindo um
interpretações e práticas. campo científico que emergiu de antigas
Quando pensamos esses desafios no nível práticas de antiquário (Hamilakis &
261
regional, as peculiaridades apontam também Anagnostopoulos, 2009: 71). Na gestão dos
para um movimento que perceba criticamen- acervos, considerando a retirada da cultura
te a roteirização das ações museológicas-cu- material de comunidades e a inacessibilidade
ratoriais dos acervos, respeitando seus con- da população ao patrimônio sob guarda das
textos, biografias, relações e potencialidades. instituições, temos que nos indagar como
Segundo Alejandro Haber (2011), é preciso essas ações estão sendo realizadas, e se de
desmistificar a objetividade dos objetos e alguma forma não estamos intensificando e
considerá-los sujeitos com biografias distintas, reproduzindo violências epistêmicas contra
entendendo que interpretar objetos, sujeitos e sociedades e suas formas de contar suas
paisagens é refletir sobre suas relações fluidas próprias histórias (Gnecco, 2009) e gerir seus
e heterogêneas no tempo. Desse ponto de patrimônios arqueológicos. Nesse sentido, os
vista, a gestão padronizada das coleções, por locais de salvaguarda das coleções, por serem
meio de procedimentos estagnados e homo- espaços e mecanismos essenciais na gestão
gêneos, deve ser questionada por nós, profis- do patrimônio arqueológico (Pereira, 2015),
sionais da arqueologia. tornam-se elementos cruciais na reflexão
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
acerca do trato dos coletivos humanos com da Sociedade de Arqueologia Brasileira – GT
as coleções arqueológicas, assim como dos Acervos da SAB. Entre essas ações, podemos
a c i o n a l

desafios da prática e gestão arqueológica. destacar a realização do I Encontro de Ingres-


Como a realidade mostra, a guarda dos so de Acervos Arqueológicos em Instituições
N

acervos em instituições não garante que de Guarda (2016), I Fórum de Arqueologia


r t í s t i c o

as coleções passem pelas ações necessárias da SAB Acervos Arqueológicos (2017),


para sua preservação. Compreendemos Fórum Remaae & GT Acervos da SAB
A

preservação no sentido amplo do termo, (2018), além de simpósios e reuniões que


e

como um conjunto de ações necessárias vêm acontecendo nos eventos de arqueologia


i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a

para a preservação não somente física dos e museologia tanto nacionais como regionais.
objetos, mas também informacional e social Essa mobilização já trouxe como resultado
H

(Desvallées & Mairesse, 2013: 79; Wichers, o fortalecimento das discussões e ações,
a t r i m ô n i o

2010: 30). sintetizadas em três documentos: Carta de


Ainda enfrentamos reservas técnicas Recomendações de Ouro Preto (I Fórum de
P

saturadas, ausência de políticas de acervos Arqueologia da SAB Acervos Arqueológicos);


d o

e de recursos humanos especializados, Moções e Recomendações Remaae (VII


e v i s t a

estruturas físicas inadequadas, Fórum Nacional de Museus); Carta de


R

enclausuramento dos acervos, com coleções Prioridades para Ações Articuladas sobre
malconservadas e com precária documentação Acervos Arqueológicos (Fórum Remaae &
(Ribeiro, 2012:16). Essa situação é reflexo GT Acervos da SAB).
de anos de normatização e continuidade de A Região Norte tem participado
práticas depositárias e irrefletidas ligadas às desse movimento, com representantes
coleções arqueológicas. Embora ainda haja de instituições de guarda e profissionais,
um longo caminho a percorrer, estamos levando as pautas específicas para os
262
avançando na construção de mecanismos que coletivos. Representantes regionais foram
visam superar os atuais desafios da gestão das eleitos dentro dos coletivos para facilitar
coleções arqueológicas, com o fortalecimento a comunicação e, como resultado, foi
de coletivos, o desenvolvimento de pesquisas organizado o I Fórum Gestão de Acervos
direcionadas, a formação de profissionais e Arqueológicos da Região Norte, como parte
a ampliação dos espaços de discussão e das da programação da III Reunião da Sociedade
políticas públicas. de Arqueologia Brasileira Regional Norte,
Nos últimos anos, profissionais da ar- realizada em 2016, em Porto Velho, capital
queologia, museologia e conservação estão do estado de Rondônia.
se organizando para diminuir descompassos O Fórum contou com a participação de
e ultrapassar desafios da gestão das coleções profissionais de instituições de guarda da Re-
arqueológicas por meio de discussões e ações, gião Norte, além de representações do Iphan e
conduzidas principalmente pela Rede de da SAB. Nos relatos das instituições de guar-
Museu e Acervos de Arqueologia e Etnologia da, foram apontados os desafios e possíveis
– Remaae e pelo Grupo de Trabalho Acervos caminhos a serem construídos regionalmente.
Com base nas discussões, algumas indicações acondicionar, conservar e documentar as

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
foram pontuadas: a) incluir disciplinas es- coleções preservando seu caráter físico e

a c i o n a l
pecíficas sobre gestão de acervos nos cursos documental, mas reconhecer seu papel
de graduação e pós-graduação; b) discutir social, possibilitando diferentes abordagens
regionalmente peculiaridades sobre o controle de socialização das coleções salvaguardadas

N
r t í s t i c o
ambiental em contextos tropicais; c) determi- (Pereira, 2015 e 2017).
nar verbas para gestão das coleções advindas Ações como exposições temporárias e iti-

A
de endossos institucionais; d) criar políticas nerantes, projetos colaborativos de gestão do

e
de acervos nas instituições atentas às peculia- patrimônio arqueológico com comunidades

i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
ridades do contexto amazônico; e) incentivar tradicionais e adoção de um modelo de reser-
as instituições de guarda a participar dos co- va técnica visível têm auxiliado a repensar as

H
letivos de discussão sobre gestão de coleções; práticas curatoriais desenvolvidas no NuPArq/

a t r i m ô n i o
f ) criar possibilidades de gestão das coleções Iepa a partir das discussões atuais da discipli-
que respeitem as demandas das comunidades na arqueológica, fortalecendo as relações entre

P
relacionadas às pesquisas arqueológicas. as práticas de pesquisa e de gestão (Cabral,

d o
Os desafios são muitos, diante da falta de Saldanha & Pereira, 2012). Uma conquista

e v i s t a
recursos financeiros, estruturais e profissionais que está em reconhecer o caráter dinâmico

R
especializados, realidade enfrentada pela das coleções arqueológicas salvaguardadas e
maioria das instituições. Discussões entre da necessidade de uma gestão engajada com
gestores das coleções arqueológicas têm sido as múltiplas formas de apropriação social do
em tom militante na busca por melhorias, patrimônio arqueológico.
que vão desde os itens básicos, como Embora recentes, esses avanços coletivos
medidores ambientais, até as intervenções sobre a gestão das coleções arqueológicas
estruturais, necessárias em muitas instituições. salvaguardadas na Região Norte apontam
263
Mesmo com dificuldades, vemos possibilidades otimistas no horizonte, com
pesquisas dentro da área de gestão do a equiparação das funções de salvaguarda
patrimônio arqueológico salvaguardado se (conservação e documentação) e comunicação
multiplicarem pela Amazônia. No Núcleo (exposição, extroversão e ações educativas/
de Pesquisa Arqueológica – NuPArq, culturais). Uma mudança estrutural, e ao
pertencente ao Instituto de Pesquisas mesmo tempo inacabada e heterogênea, na
Científicas e Tecnológicas do Estado do forma como percebemos e realizamos a gestão
Amapá – Iepa, uma de nós desenvolve desde dos acervos arqueológicos salvaguardados
2010 o projeto de pesquisa “Curadoria, precisa ser construída com base em reflexões
Conservação e Socialização da Reserva que contemplem os anseios atuais do
Técnica do Laboratório de Arqueologia patrimônio arqueológico e das pessoas da
Peter Hilbert”, que desenvolve a gestão das Amazônia. Uma transformação que não toma
coleções arqueológicas como uma linha de como definitivas e estáticas as definições da
pesquisa do NuPArq. Com isso, almejamos própria disciplina, mas que caminha junto
não somente ser capazes de sistematizar, com o fazer arqueológico colaborativo.
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas
a c i o n a l
N
r t í s t i c o
A
e
i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
H
a t r i m ô n i o
P
d o
e v i s t a

As pessoas e os desafios Esses problemas atingem também as


demais regiões do país, mas na Amazônia
R

d a g e s t ã o d o pat r i m ô n i o
arqueológico eles são singulares e superlativos. Há uma
intensa proximidade das pessoas com o ma-
Gerenciar o patrimônio arqueológico terial arqueológico. As coisas do passado, que
na Amazônia, hoje, é uma tarefa bastante “brotam” do chão após as chuvas, invadem as
desafiadora, que requer lidarmos com uma casas, os quintais, as roças, a vida das pessoas
expressiva ocorrência de sítios, somada que há séculos elaboram, explicam, interpre-
264 tam lâminas de machado, urnas, fragmentos
ao crescente número de pesquisas em
desenvolvimento e ao extraordinário volume de louça e os próprios sítios arqueológicos
dos acervos gerados por elas (especialmente (Bezerra, 2017). Essa materialidade figura
os estudos realizados no âmbito do nas narrativas em níveis que vão da funcio-
licenciamento ambiental, como já apontado). nalidade (o aproveitamento da terra preta no
Entre os problemas a enfrentar, destacam-se plantio, o uso de urnas para armazenamento
o turismo informal (Pereira & Figueiredo, de água e farinha) ao imaginário (a agência
2005), a venda de material arqueológico das coisas e lugares sobre as pessoas por meio
(Lima, Moraes & Parente, 2013), a destruição de visagens), passando também pelo afeto
Urna Aristé, município
de Calçoene de sítios causada por razões diversas (Schaan, (artefatos guardados como recordação de
(AP). As urnas
cerâmicas ricamente 2009), o impacto provocado pelos projetos de infância) (Bezerra 2017). É muito comum
decoradas são um
dos elementos
mais conhecidos
desenvolvimento (Cabral & Saldanha, 2009) encontrar nas casas coleções de artefatos
do patrimônio
arqueológico da
e a insuficiente infraestrutura para a curadoria reunidos por moradores, assim como é recor-
Amazônia. Iepa,
Macapá (AP) e guarda das coleções arqueológicas (Silveira rente o assentamento das moradias sobre os
Foto: Maurício de Paiva,
2009. et al, 2017). sítios arqueológicos da região. Esse grau de
“intimidade material” com o passado faz com percepções das pessoas que moram no

Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
que as relações entre as pessoas e o patrimô- entorno de sítios arqueológicos na Amazônia

a c i o n a l
nio arqueológico amazônico tenham que ser (Ravagnani, 2011; Moraes, 2012; Troufflard,
compreendidas em seus próprios termos. 2012; Gomes, Costa & Santos, 2014; Leite,
De acordo com a legislação que dispõe 2014; Rocha et al, 2014; Cabral, 2016;

N
r t í s t i c o
sobre os bens arqueológicos no Brasil5, os Silva, 2016, entre outros).
artefatos e sítios arqueológicos são bens da Por que, então, criminalizar essas

A
União e, assim sendo, não podem circular relações? Não estaríamos mais preocupados

e
em domínios privados. Ou seja, não é com a preservação das coisas, ou melhor,

i s t ó r i c o

M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a
permitida a sua posse por parte de pessoa com a conservação física das coisas do que
física, apenas instituições autorizadas têm com as pessoas e os sentidos que atribuem ao

H
o direito de salvaguardar coleções. Quanto mundo material? Será que o conhecimento

a t r i m ô n i o
aos sítios arqueológicos, os direitos inerentes das pessoas sobre a materialidade
à propriedade privada não incidem sobre arqueológica não é parte integrante dessa

P
o subsolo e nem sobre a sua superfície, o materialidade? Podemos pensar em uma

d o
que tornaria passíveis de punição os atos preservação descolonizante6?

e v i s t a
praticados, cotidianamente, por diversos Holtorf (2012) tem, exaustivamente,
coletivos humanos da região. Aqui há argumentado que temos uma “obsessão”

R
um problema quanto à classificação do com a ideia de preservação. Segundo o autor,
engajamento das pessoas com o que não é possível conservar tudo e, indo além,
denominamos patrimônio. diz que a destruição faz parte do processo
Lima, Moraes e Parente (2013) já de preservação. É nesse sentido, sem a
criticaram, por exemplo, a aplicação sombra da “obsessão” com a preservação,
do termo “tráfico” para o contexto da que propomos o entendimento das relações
comunidade de Valéria, em Parintins, estado referidas anteriormente. Não queremos 265

do Amazonas. Para os autores, uma vez dizer com isso que não se deva pensar em
que os moradores não estão conscientes da preservação. Sugerimos que a experiência
ilegalidade do ato, a situação não deveria ser material das pessoas que moram nos
tratada como tal. Bezerra (2012) também arredores de sítios arqueológicos, ou em
propõe que o hábito de colecionar artefatos cima dos próprios sítios, não seja embaçada
na Vila de Joanes, no Marajó, estado do por uma legislação criada em contextos
Pará, está conectado a um processo de distantes, tanto do ponto de vista temporal,
fruição com o passado, não podendo ser como conceitual.
entendido como ato de destruição. Há Na conferência de abertura do congresso
incontáveis exemplos que demonstram da Association of Critical Heritage Studies
as nuances que constituem as atitudes e – ACHS, realizado na China, em 2018,

5. Constituição de 1988 (Capítulos II e III), Lei nº 3.924/61,


Portaria nº 07/88, Instrução Normativa nº 001/15. Disponíveis 6. Para uma reflexão sobre conservação descolonizante, ver Sully
em <http://www.iphan.gov.br>. Acessado em jul.2018. (2008).
Michael Herzfeld7, ao falar sobre a relação assumido por todos aqueles que estão envol-
Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:
a pesquisa, a gestão e as pessoas

entre conservação e destruição, afirmou, vidos com o campo do patrimônio: gestores,


a c i o n a l

como Holtorf, que não é possível evitar a pesquisadores e as pessoas que moram em
destruição. De acordo com o conferencista, localidades onde há evidências arqueológicas.
nós, pesquisadores, temos o compromisso É preciso que haja uma política de fomento
N
r t í s t i c o

de dar um passo atrás e questionar as à realização de pesquisas colaborativas sobre


consequências de nossos atos ao interferirmos as relações entre as pessoas e o patrimônio
arqueológico na Amazônia. Esses estudos
A

na vida de coletivos humanos com os quais


e

trabalhamos. Ele se diz a favor da prática de poderão contribuir para o mapeamento dessas
i s t ó r i c o

relações em distintas localidades. Os resulta-


M a r i a n a P e t r y C a b r a l , D a i a n e Pe r e i r a , M a r c i a B e z e r r a

uma “antropologia engajada” como forma de


avaliar as situações com as quais convivemos dos dessas investigações podem ser discutidos
H

em nosso exercício profissional. em fóruns que reúnam os seus participantes


a t r i m ô n i o

para tratar de temáticas específicas, como


Pesquisa, gestão e turismo, “tráfico”, coleta, entre outros.
A compreensão da singularidade
pessoas: desafiando
P

os
d o

dessas relações, aliada à participação dos


desafios
e v i s t a

coletivos que convivem com o patrimônio


arqueológico, permitirá que os sentidos
R

Talvez possamos pensar em uma “gestão


conferidos às coisas do passado por aqueles
engajada” que reconheça os diferentes modos
que, há muitas gerações, lidam com essa
de conceber o patrimônio e que, a partir daí,
materialidade, passem a integrar, de alguma
crie mecanismos capazes de promover a pre-
forma, esse patrimônio. Na Amazônia,
servação sem, no entanto, interferir na dinâ-
a experiência das pessoas com o nosso
mica da vida social de coletivos que há séculos
“arqueológico” é cotidiana, rotineira.
convivem com as coisas do passado na Ama-
266 Apagar essa relação, ou não refletir sobre
zônia. Há uma história de ocupação de longa
ela, é esquecer que um dos sentidos de
duração na região, assim como há uma his-
pensar patrimônio cultural é estabelecer
tória de longa duração de cotidianidade das trocas, compartilhar, fazer junto. Só assim
pessoas com artefatos e sítios arqueológicos poderemos vislumbrar uma política de
e um conhecimento gerado por ela. Ignorar preservação que seja participativa, simétrica e
isso leva a um achatamento dessas relações e descolonizante na Amazônia.
denota uma atitude assimétrica entre agentes PS: No momento em que estamos encer-
do patrimônio e as populações para quem os rando a escrita deste texto, no dia 2 de setem-
esforços de preservação são apregoados. bro de 2018, o Museu Nacional do Rio de
Entendemos que a tarefa de desenvolver Janeiro, um patrimônio brasileiro, está sendo
uma gestão sensível deva ser um compromisso destruído pelas chamas. Com ele desaparecem
coleções arqueológicas de incalculável valor.
7. Critique as Heritage: The Cultural Significance and Its
Implications for Heritage Research é o título da conferência
Uma tragédia que aponta a urgência de uma
proferida por Michael Herzfeld na abertura da 4th Biennial reflexão sobre o estado em que se encontra o
Conference of the Association of Critical Heritage Studies,
Hangzhou, China, 2018. patrimônio cultural no Brasil.
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Patr imônio arqueológ ico da Amazônia:


a pesquisa, a gestão e as pessoas
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Foto: Oscar Liberal/
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