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O enigma dos quintais tropicais

CapítuloemSistemas Agroflorestais · Janeiro 2004

DOI: 10.1007/978-94-017-2424-1_10

CITAÇÕES LER
360 1.860

2 autores:

B. Mohan Kumar Pk Ramachandran Nair

Universidade de Estudos de Arunachal Universidade da Flórida

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 Sistemas Agroflorestais61:135-152, 2004.
© 2004Editora Acadêmica Kluwer. Impresso na Holanda.
135

O enigma dos quintais tropicais

BM Kumar1e PKR Nair2

1Faculdade de Silvicultura, Universidade Agrícola de Kerala, Thrissur – 680 656, Kerala, Índia; e-mail:
bmkumar53@yahoo.co.uk ;2Escola de Conservação e Recursos Florestais, Universidade da Flórida, Gainesville, Flórida
32611, EUA; e-mail: pknair@ufl.edu

Palavras-chave:Sequestro de carbono, Sistemas integrados de cultivo, Sistemas multiespécies, Diversidade de espécies, Inventário de
espécies, Sustentabilidade

Abstrato

Os quintais tropicais, uma das formas mais antigas de sistemas gerenciados de uso da terra, são
considerados um epítome da sustentabilidade. Embora esses sistemas de produção multiespécies
tenham fascinado muitos e fornecido sustento a milhões, eles receberam relativamente pouca
atenção científica. O objetivo desta revisão é resumir o estado atual do conhecimento sobre quintais
com vistas a utilizá-lo como base para melhorar os quintais e sistemas agroflorestais similares. A
descrição e o inventário dos sistemas locais dominaram os esforços de 'pesquisa' em quintais durante
os últimos 25 anos ou mais. Os principais atributos identificados como contribuindo para a
sustentabilidade desses sistemas são vantagens biofísicas, como a ciclagem eficiente de nutrientes
oferecida pela composição multiespécie, conservação da diversidade biocultural, diversificação de
produtos, bem como valores não mercadológicos de produtos e serviços, e valores sociais e culturais,
incluindo a oportunidade de igualdade de gênero na gestão dos sistemas. Com ênfase crescente em
modelos industriais de desenvolvimento agrícola, fragmentação da propriedade da terra devido a
pressões demográficas e, até certo ponto, o descaso – ou falta de valorização – dos valores
tradicionais, questões têm sido levantadas sobre o futuro dos quintais, mas tais preocupações
parecem infundadas. Muito pelo contrário, é cada vez mais reconhecido que a compreensão dos
princípios científicos desses sistemas multiespécies terá muito a oferecer no desenvolvimento de
agroecossistemas sustentáveis. Pesquisa sobre valoração econômica de produtos e serviços tangíveis
e intangíveis,

Introdução Embora vários autores tenham tentado descrever o termo

Os sistemas agrícolas descritos de forma variada no idioma
inglês como hortas agroflorestais, fazendas domésticas ou
de propriedade, fazendas compostas, jardins de quintal,
jardins florestais de aldeia, jardins de pátio e jardins
domésticos são abundantes nos trópicos. Alguns nomes
locais comoTalun-KebunePekaranganque são usados para
vários tipos de sistemas homegarden de Java (Indonésia),
shambaechaggana África Oriental e Huertos Familiaresda
América Central, também alcançaram popularidade
internacional devido aos excelentes exemplos dos sistemas
que representam (Nair 1993).
'horta', nenhum é talvez universalmente aceito como 'a
definição'; mas é bem entendido que o conceito se refere a
'combinações íntimas de vários andares de várias árvores e
plantações, às vezes em associação com animais domésticos,
ao redor de propriedades rurais'. Estima-se que essas
agroflorestas multiestratos ocupam cerca de 20% da terra
arável em Java (Jensen 1993a) e são consideradas o 'epítome
da sustentabilidade' nos trópicos (Torquebiau 1992). A
jardinagem doméstica tem sido um modo de vida há séculos
e ainda é fundamental para a economia local de subsistência
e segurança alimentar no estado de Kerala, na Índia
peninsular, que tem cerca de 5,4
136
milhões de pequenas hortas (a maioria com menos de
0,5 ha de área) (KSLUB 1995). Na África, América
Central, Caribe e Ilhas do Pacífico também, os quintais
são de vital importância (Ruthenberg 1980; Caballero
1992; Anderson 1993; Clarke e Thaman 1993;
Rugalema et al. 1994a, 1994b, 1995; High e Shackleton
2000) .
Presumivelmente, a horticultura é a atividade de uso da
terra mais antiga, atrás apenas do cultivo itinerante. Ela
evoluiu através de gerações de intensificação gradual da
colheita em resposta à crescente pressão humana e à
correspondente escassez de terras aráveis. Os dois grandes
épicos indianosRamayanaeMahabharata(baseado em
eventos que supostamente aconteceram por volta de 7000
aC e 4000 aC, respectivamente) contém uma ilustração de
Ashok Vatika, uma forma dos jardins caseiros de hoje (ver
Puri e Nair 2004). Os quintais javaneses teriam surgido no
sétimo milênio aC (Hutterer 1984), e acredita-se que os
quintais de Kerala tenham pelo menos 4.000 anos de idade.
Estudos de história natural no sul da Índia durante o final dos
anos 1800 até o início dos anos 1900 sugerem que as pessoas
tradicionalmente usavam suas propriedades para uma
variedade de necessidades, como comida, energia, abrigo e
remédios.1. Socioculturalmente, a horticultura caseira se
encaixa bem nos sistemas agrícolas tradicionais e nos estilos
de vida estabelecidos nas aldeias. Esses sistemas
provavelmente evoluíram ao longo de séculos de
transformações culturais e biológicas e representam a
sabedoria acumulada e as percepções dos agricultores que
interagiram com o meio ambiente, sem acesso a insumos
exógenos, capital ou habilidades científicas.
Muita coisa mudou, no entanto, na filosofia e nas
abordagens do uso da terra tropical durante as últimas
décadas. Quando a economia era predominantemente
voltada para a subsistência, os quintais que fornecem uma
variedade de produtos (Jose e Shanmugaratnam 1993) eram
sistemas de uso da terra bastante apropriados. Com o
advento da economia de mercado, e consequente ênfase na
maximização da produção e utilização de insumos externos
na produção agrícola, os quintais perderam parte de sua
relevância. Houve um ressurgimento do interesse, no
entanto, nas práticas tradicionais de uso da terra na esteira
da crescente deterioração ambiental e/ou fracassos de
empreendimentos agrícolas de espécies únicas;
consequentemente, os quintais têm recebido alguma
atenção, embora possam não abordar a deterioração
ambiental em grande escala porque existem em pequenas
parcelas dispersas.
Pesquisas pioneiras sobre quintais que datam da década
de 1940 foram relatadas na Indonésia (Terra 1953; 1958).
Estes foram seguidos pelos estudos de Ruthenberg.
ies em sistemas de cultivo de espécies mistas tropicais na
década de 1970 (Ruthenberg 1980) e trabalhos semelhantes
no Instituto de Ecologia, Bandung, Indonésia (por exemplo,
Soemarwoto 1987), o Central Plantation Crops Research
Institute, Kasaragod, Kerala, Índia (Nair 1979) , e em outros
lugares (por exemplo, Michon et al. 1983). Esses esforços
tiveram um impulso adicional quando o esforço do ICRAF
(Centro Internacional de Pesquisa em Agrofloresta) no
inventário global de sistemas agroflorestais começou (Nair
1987), e várias descrições e sínteses de sistemas de quintais
tradicionais foram publicadas (Nair 1989). Enquanto a
maioria dos relatórios registrados sobre quintais forneceu
perspectivas regionais, outros (notavelmente Brownrigg
1985; Fernandes e Nair 1986; Soemarwoto 1987; Gliessman
1990; Landauer e Brasil 1990; Nair 2001; Soemarwoto e
Conway 1991; Torquebiau 1992) foram mais abrangentes,
descrevendo a estrutura, funcionamento e sustentabilidade
de diferentes formas de quintais em vários lugares. E, todos
eles – sem exceção – destacaram a necessidade de pesquisas
científicas coordenadas sobre esses sistemas extremamente
interessantes. O objetivo deste artigo é resumir e analisar as
tendências na pesquisa de quintais durante os últimos 25
anos, com o objetivo de fornecer alguns novos insights e
orientações sobre como melhorar os quintais e, espera-se,
outros sistemas semelhantes.
Principais temas e avanços na pesquisa de
quintais
É sabido que os sistemas tradicionais de uso da terra
são influenciados em grande medida pelas
características biofísicas e socioculturais dos locais
onde são praticados. Jardins de casa não são exceção.
Um quintal típico, no entanto, é parte integrante do
sistema de cultivo do agricultor e um complemento
da casa, onde árvores, arbustos e ervas selecionadas
são cultivadas para produtos comestíveis e renda em
dinheiro, bem como para uma variedade de produtos
que têm tanto produção e valores de serviço,
incluindo benefícios estéticos e ecológicos. Embora a
literatura agroflorestal liste os quintais como uma
prática agroflorestal (Nair 1993), seria mais
apropriado dizer que o cultivo doméstico é um
conceito genérico – muito parecido com o próprio
agroflorestamento. Ambos envolvem diversas formas
de vida e regimes gerenciais,
Os ecologistas os descreveram de várias maneiras como
sistemas de 'estado estacionário' (onde a produção é igual à res-
 137
Tabela 1.Uma comparação dos atributos ecológicos de florestas clímax, quintais e sistemas agrícolas convencionais (monocultivo).

Parâmetro Vegetação clímax natural hortas Convencional

(trópicos úmidos) sistemas agrícolas

biogeoquímica Entradas de nutrientes saídas iguais Entradas e saídas se As saídas excedem em muito as entradas

equilibram
estresse biótico Baixo Baixo Alto
Arquitetura do dossel Multistrata Multistrata Alta de uma ou duas

Regimes de perturbação Raro, exceto distúrbios naturais, como Intermediário camadas

queda de árvore, arremesso de vento,
etc.

Diversidade Alto Intermediário Baixo

Sucessão ecológica Normalmente ininterrupto, atinge um Manipulado conscientemente Preso, sucessão não avança
estágio final estável, por exemplo, clímax além da fase inicial
climático

Entropia Baixo Baixo (?) Alto

espectro florístico Tolerante e intolerante à sombra tolerante e intolerante à sombra Principalmente intolerante à

Uso de entrada Sem entradas externas Baixo sombra Alta

Homeostase geral Alto (Odum 1969) Alto Baixo

Qualidade do site Melhoria progressiva (por exemplo, Melhoria progressiva Declínio constante
facilitação)
Biomassa permanente/produtividade O mais alto entre os ecossistemas Comparável às formações Baixo (NPP médio:
primária líquida (NPP) terrestres (NPP médio: clímax, mas faltam 650 gm-2 ano-1;
2000 gm-2 ano-1) estimativas firmes. Leith 1975)
Sustentabilidade sustentável sustentável insustentável

aNo entanto, um único relatório sobre isso (Christanty et al. 1986),cfTorquebiau (1992), fornece um valor de 5,23 kJ (= 1250 cal) m-2 ano-1 para o pekarangan
jardins em Java. Claramente, isso é menor do que a fixação anual de energia em ambas as terras cultivadas e florestas tropicais (ou seja, 11,3 e 34,6 MJ m-2
ano-1, respectivamente; Leith 1975).

a pirataria e/ou insumos contrabalançam os resultados), com
características estruturais comparáveis àquelas dos
sistemas naturais de vegetação florestal mista (Fassbender
1993; Jensen 1993a, b; Jose e Shanmugaratnam 1993). Talvez
a alta diversidade de espécies e a baixa 'exportação' dos
produtos colhidos lhes confiram sustentabilidade. Ewel
(1999) considera tais sistemas 'estruturalmente e
funcionalmente as imitações mais próximas de florestas
naturais já alcançadas'. Entretanto, dados quantitativos sobre
os processos biogeoquímicos e fisiológicos em quintais
tropicais são inadequados para fundamentar tais
comparações. Alguns dos atributos ecológicos dos quintais
em comparação com os sistemas agrícolas e florestais estão
resumidos na Tabela 1. É preciso notar que tais comparações
entre quintais e florestas, embora fascinantes para os
ecologistas, às vezes pode ser impopular entre os
agricultores. Por exemplo, fazendeiros em Java consideram
um insulto comparar seus pekaranganpara uma floresta,
porque eles consideram os quintais como lotes
cuidadosamente cuidados, ao contrário das áreas 'selvagens'
das florestas naturais (Soemarwoto 1987).
Relatórios científicos sobre quintais estão repletos de
declarações como 'os estudos sobre esses sistemas têm
sido desproporcionalmente menores do que seu eco-
valor econômico, benefícios ecológicos ou importância
sociocultural justificariam' (Nair 2001). Além disso, a
maioria dos estudos relatados são de natureza indutiva
descrevendo o sistema. Muito pouca pesquisa dedutiva
(formulação e teste de hipóteses) foi feita de modo que
nossa compreensão das racionalidades ecológicas por
trás da harmonia entre os humanos, os quintais e o meio
ambiente é limitada. Problemas metodológicos/de
projeto também dificultam a pesquisa em quintais mais
do que em qualquer outro campo relacionado. Cada
quintal é único à sua maneira, apesar das maiores
semelhanças estruturais e funcionais, tornando
extremamente desafiador o uso de projetos e
procedimentos de pesquisa comumente aceitos no
estudo de quintais.
A maioria dos estudos relatados sobre quintais são da
Ásia. Apesar do trabalho anterior a 1990, 38 dos 83 artigos
pós-1990 listados nos resumos do CABI foram conduzidos no
sudeste da Ásia (principalmente na Indonésia), seguidos por
22 na região do sul da Ásia. Os quintais são,
reconhecidamente, predominantes nessas regiões; no
entanto, relatos de outras regiões ricas em quintais, como a
América Central e a África Ocidental, são muito menores em
relação à extensão da prática.
138
As características únicas dos quintais têm atraído a
atenção de vários tipos de pesquisadores: de proponentes de
sistemas de produção modernos com uso intensivo de
energia a defensores de sistemas sustentáveis de baixo
consumo de insumos, e de cientistas biofísicos que estão em
busca incessante de quantificar todos os aspectos da
atividade biológica para cientistas sociais e comportamentais
para quem o todo é muitas vezes mais do que a soma de
suas partes. Esses vários esforços na pesquisa de quintais
durante o último quarto de século são brevemente revistos
aqui.
Inventário do sistema
A descrição do sistema tem sido o aspecto mais
dominante da pesquisa de quintais até agora.
Trinta e dois dos 83 trabalhos publicados sobre
quintais tropicais desde 1990 tratam disso. Esses
inventários publicados sugerem que as culturas
alimentares, medicinais, ornamentais, frutíferas,
polivalentes e forrageiras abundam nos
quintais. Componentes lenhosos geralmente
incluem árvores madeireiras, árvores frutíferas,
espécies de lenha e palmeiras, e podem incluir
tanto espécies nativas quanto exóticas, além de
plantas silvestres ou domesticadas. Tais estudos
também documentaram as práticas locais e o
inventário de espécies, elucidaram a
necessidade de conservação da diversidade
biocultural e documentaram os determinantes
socioculturais da biodiversidade, além dos usos
tradicionais de várias plantas. Embora o valor de
tais bancos de dados tenha sido reconhecido,
Composição e diversidade de espécies
Enquanto a maioria dos avanços na agricultura e na
silvicultura envolve povoamentos de uma única espécie,
caracterizados – muito apropriadamente – como 'desertos
biológicos' de baixa diversidade de espécies, quintais
tropicais são exemplos gloriosos de diversidade de espécies
em comunidades de plantas cultivadas e manejadas. Várias
variedades crioulas e cultivares e espécies raras e ameaçadas
foram preservadas nos quintais (Watson e Eyzaguirre 2002).
Soemarwoto e associados revisaram os primeiros trabalhos
sobre diversidade de espécies e densidade de plantas em
quintais indonésios (Soemarwoto 1987; Soemarwoto e
Conway 1991); relatórios mais recentes estão resumidos na
Tabela 2. Grandes variações em conjuntos de espécies de
diferentes regiões geográficas/ecoclimáticas são aparentes.
As comparações são, no entanto, difíceis devido às diferentes
critérios empregados para a elaboração de inventários por
diferentes trabalhadores. Muitos estudos sobre riqueza
florística de quintais também carecem de informações sobre
o grau de heterogeneidade na área de estudo (por exemplo,
extensão e natureza socioeconômica das unidades
amostrais). Além disso, pouca atenção tem sido dada para
relacionar a riqueza florística aos processos ecossistêmicos.
Alguns autores têm defendido uma abordagem ecológica
para computar índices de diversidade e análise de
correspondência (Rico-Gray et al. 1990; Kumar et al. 1994;
Drescher 1996; Vogl et al. 2002; Wezel e Bender 2003), que
ainda é relativamente novo em estudos de horta. Os
limitados estudos realizados nesta área indicam que os
índices de diversidade dos quintais são comparáveis aos das
formações florestais adjacentes (Gajaseni e Gajaseni 1999;
Kumar et al. 1994).
As combinações de culturas encontradas nos quintais de
uma região são fortemente influenciadas pelas necessidades
e preferências específicas da família e pela
complementaridade nutricional com outras fontes
alimentares importantes, além de fatores ecológicos e
socioeconômicos (Asfaw e Woldu 1997; Christanty et al. 1986;
Vogl et al. 2002). Os jardineiros são perpétuos
'experimentadores'. Eles estão constantemente
experimentando e testando novas espécies e variedades e
seu manejo (Niñez 1987). Uma nova espécie pode ser
escolhida pelo dono do jardim em função de suas
propriedades, ou seja, alimentícia, madeireira, medicinal,
religiosa, ornamental, baseada no instinto ou em
informações repassadas por vizinhos e parentes. Não existe,
no entanto, uma época do ano específica para a plantação ou
introdução de novas espécies vegetais nos jardins; vai
depender do espaço disponível e/ou das condições do solo
(Rico-Gray et al. 1990; Yamamoto e outros. 1991).
A riqueza de espécies dos quintais dentro de uma região
é influenciada pelo tamanho da propriedade. Kumar et ai.
(1994) relataram que a diversidade florística (medida pelo
número de espécies por unidade de área de terra) era maior
em jardins pequenos (<tamanho de 0,4 ha) (índice de
diversidade de Simpson, D = 0,61) do que em médio (0,4 a 2,0
ha, D = 0,44) e grande (>2 ha, D = 0,46) jardins. Drescher
(1996) também mostrou que o índice de Shannon baseado na
densidade diminuiu com o aumento do tamanho do jardim
até 599 m2, após o que, no entanto, aumentou até 1499 m2;
no entanto, os menores jardins localizados nas áreas urbanas
apresentaram a maior diversidade de espécies de cultivo em
seu estudo. Presumivelmente, o espaço limitado obriga as
pessoas a acomodar muitas espécies diferentes em números
relativamente pequenos em pequenas parcelas. Além disso,
as crenças religiosas/culturais, costumes e tabus dos aldeões
influenciam a diversidade/composição da pátria.
 139
Mesa 2.Elementos florísticos relatados em quintais em diferentes regiões do mundo.

Região/localização e espectro florístico amostrado Número de espécies Fonte

por jardim Total para
geográfico
localização

sul da Asia
Pitikele, Sri Lanka (espécies comestíveis) Kandy, Sri Lanka – 55 Caron (1995)
(espécies lenhosas) Thiruvananthapuram, Kerala, Índia 4–18 27 Jacob e Alles (1987) John e
(todas as espécies) Como acima – 107 Nair (1999) D. Jose (com.
26–36 – pessoal, 1992) Kumar et al.
Kerala, Índia (espécies lenhosas) 3–25 127 (1994)
Bangladesh (espécies perenes) – 30 Leuschner e Khaleque (1987)
Como acima – 92 Millat-e-Mustafa et al. (1996)
Kerala, Índia (todas as espécies) – 65 Nair e Sreedharan (1986)

Sudeste da Ásia
West Java (todas as espécies) Nordeste da Tailândia – 195 Abdoellah et al. (2001) Preto
(todas as espécies) Chao Phraya Basin, Tailândia 15–60 230 et al. (1996) Gajaseni e
(todas as espécies) West Java (todas as espécies) 26–53 – Gajaseni (1999) Karyono
– 602 (1990)
Central Sulawesi, Indonésia (todas as espécies) 28–37 149 Kehlenbeck e Maas (2004) K
Cianjur, West Java (todas as espécies) 4–72 – Sakamoto (com. pessoal, 2003)
Cilangkap, Java (todas as espécies) 42–58 – Yamamoto et al. (1991)

América do Sul/Central e Caribe Quintan Roo,

México (todas as espécies) Cuba (todas as 39 150
espécies) – 80
Amazônia Central (espécies lenhosas) – 60
Belize (todas as espécies) 30 164
Masaya, Nicarágua (todas as espécies) – 324
Santa Rosa, Amazônia peruana (todas as espécies) 18–74 168
Yucatán, México (todas as espécies) – 133–135
Como acima – 301
Chiapas, México (todas as espécies) 30 241
Cuba (todas as espécies) 18–24 101
De Clerck e Negreros-Castillo (2000)
Esquivel e Hammer (1992)
Guillaumet e outros. (1990)
Levasseur e Olivier (2000)
Méndez et al. (2001)
Padoch e de Jong (1991)
Rico-Gray et al. (1990)
Rico-Gray et al. (1991) Vogl
et al. (2002)
Wezel e Bender (2003)

Outras regiões
Catalunha, Espanha (todas as espécies) Sul da Etiópia (todas as – 250 Agelet et ai. (2000)
espécies) Bungoma, oeste do Quênia (todas as espécies) Ilha de 14.4 60 Asfaw e Woldu (1997)
Soqotra, Iêmen (todas as espécies) República Democrática do – 253 Backes (2001)
Congo (Zaire) (todas as espécies) Bukoba, Tanzânia (espécies 3.9–8.4 – Ceccolini (2002)
lenhosas) – 272 Mpoyi et ai. (1994)
– 53 Rugalema et al. (1994a)
Central, leste, oeste e sul da Etiópia (todas as espécies) – 162 Zemede e Ayele (1995)

aTodos, exceto a Catalunha, são tropicais.

ardens. Por exemplo, culturas/árvores/animais são mantidos
ou excluídos dependendo das considerações acima (Millat-e-
Mustafa et al. 1996). As mulheres também desempenham um
papel importante na determinação das espécies a serem
incluídas em seus quintais; de fato, em muitos casos,
os homens são responsáveis pela introdução de novas espécies
em seus quintais.
Estrutura
Presença de um grande número de espécies na mesma unidade
de manejo, muitas vezes aparentemente não seguidas
140
a geometria específica, dificulta a definição da
arquitetura temporal/espacial dos quintais. Embora um
quintal típico possa representar uma área claramente
demarcada (cercada ou delimitada por elevações de
campo), muitas vezes é difícil distinguir onde termina o
jardim e começa a cultura arável. Além disso, o tamanho
e a forma dos jardins e a natureza do cultivo são
dinâmicos, complicando ainda mais o padrão estrutural.
As entidades estruturais dos quintais são, no entanto,
dispostas em um padrão microzonal complexo com
estratificação vertical/horizontal bem definida, com cada
conjunto estrutural ocupando um nicho específico, de
modo que não podem ser facilmente dissociados um do
outro (Nair e Sreedharan 1986). . Compreender essas
inter-relações será um passo à frente na utilização das
vantagens da agrofloresta caseira.
Muitos autores relataram que zonas horizontais distintas
ocorrem nos quintais e que sua localização, tamanho e
composição de espécies de plantas refletem estratégias de
manejo deliberadas (Abdoellah 1990; Padoch e de Jong 1991;
Zemede e Ayele 1995; Millate-Mustafa et al. 1996; Agelet e outros
2000; Mendez e outros 2001). A posição ou distância de casa,
além do tamanho, forma, composição da cultura e padrão de
plantio do jardim são os principais determinantes a esse respeito.
O número dessas zonas de manejo por quintal varia de dois a
seis, com um valor de moda de três. Em geral, as espécies
produtoras de alimentos e frutas dominam perto dos
alojamentos e áreas de trabalho, e pequenas parcelas de
hortaliças anuais separam esta parte do jardim das partes mais
distantes favorecidas pelas espécies madeireiras. As espécies
medicinais e ornamentais são normalmente cultivadas em
pequenas áreas ou em vasos ao redor da casa, e as hortaliças em
áreas adjacentes à cozinha. Cabe esclarecer que tais hortas e
hortas ornamentais, não podem ter implicações agroflorestais;
mas todos eles geralmente se encaixam bem em um sistema de
uso da terra ao redor da casa em uma área relativamente
pequena de terra (muitas vezes menos de 0,5 ha), e toda a
unidade é chamada de 'horta'. Coqueiro ( e toda a unidade é
referida como 'horta'. Coqueiro ( e toda a unidade é referida
como 'horta'. Coqueiro (cocos nucifera) forma o 'núcleo' dos
quintais de Kerala, em torno do qual os outros componentes são
orquestrados (Jose e Shanmugaratnam 1993). Espécies arbóreas e
arbustivas polivalentes usadas como cercas vivas são geralmente
plantadas nos limites da fazenda, independentemente do
tamanho da propriedade. As árvores também podem ser
espalhadas por toda a propriedade ou em pontos específicos
para fornecer ou evitar sombra, necessária ou prejudicial a
diferentes plantas, além de servir de suporte para trepadeiras (p.
Piper nigrum; Mathew e outros. 1996). Plantas e seus usos locais,
que estão incluídos em diferentes zonas,
geralmente refletem as prioridades de manejo e as necessidades
socioeconômicas do agricultor.
A estrutura do dossel multicamadas é uma
das características mais distintivas dos quintais,
especialmente em terras baixas tropicais
úmidas. A maioria dos trabalhadores delineia
um sistema de três a seis estratos (p. 1996;
Hochegger 1998; Gajaseni e Gajaseni 1999; De
Clerck e Negreros-Castillo 2000), com cerca de
três quartos para cobertura total do terreno
(Jensen 1993b). Previsivelmente, a estratificação
vertical fornece um gradiente de luz e umidade
relativa, o que cria diferentes nichos para
permitir que vários grupos de espécies os
explorem. Obviamente, as culturas tolerantes à
sombra constituem o estrato inferior, as árvores
intolerantes à sombra a camada superior e as
espécies com vários graus de tolerância à
sombra nos estratos intermediários.
Os jardins mediterrânicos (Catalunha, Espanha) e os áridos
tropicais (ilha de Soqotra, Iémen) não exibem, contudo, uma
estrutura vertical tão complexa; a estratificação é geralmente
limitada a um estrato inferior de ervas e arbustos e um estrato
superior de árvores (Agelet et al. 2000; Ceccolini 2002). Da mesma
forma, Abdoellah et al. (2001) observaram que a estratificação
além de 5 m não era perceptível na maioria dos quintais
indonésios, sugerindo profundas variações entre locais.
Aparentemente, a idade e o manejo do jardim são fatores
importantes que influenciam a estrutura da vegetação. Jardins
mais antigos, independentemente do tamanho, podem
desenvolver uma estrutura de copa multiestratos. Da mesma
forma, em jardins onde a cobertura do solo ou a camada de
serapilheira é removida devido a capinas ou queimadas
repetidas, o desenvolvimento da cobertura do solo será afetado
negativamente (Hochegger 1998; Karyono 1990).
A questão da dinâmica de regeneração das plantas perenes
lenhosas em quintais também foi examinada apenas de forma
limitada. Kumar et ai. (1994) observaram que a estrutura
diamétrica das árvores nos quintais exibe um padrão de
distribuição levemente assimétrico (+), tendo a maior frequência
na classe de 20 a 30 cm, significando adequada 'regeneração' das
espécies arbóreas de quintais. Assim, quintais, especialmente do
tipo floresta-jardim (Wiersum 2004), podem se assemelhar a uma
floresta secundária jovem, tanto em estrutura quanto em
armazenamento total de biomassa, e podem ser considerados
como uma floresta artificial mantida em um estado permanente
de sucessão inicial. estado (Jensen 1993b).
Variações em tamanho, forma, layout, padrão zonal,
composição de espécies e objetivos de manejo são
abundantes nos quintais (Fernandes e Nair 1986; Land-

auer e Brasil 1990). Consequentemente, vários tipos de
hortas foram reconhecidos. Eles geralmente refletem
diferenças no tamanho (área) dos jardins (Jose e
Shanmugaratnam 1993; Kumar et al. 1994; Millat-e-
Mustafa et al. 1996) e as espécies de plantas dominantes
ou o nível de urbanização (Christanty 1990). Em
particular, uma maior urbanização aumentou a
abundância de espécies ornamentais e estéticas
(Drescher 1996; Karyono 1990; Rico-Gray et al. 1990).
Alguns pesquisadores (Michon et al. 1983; Michon e
deForesta 1999; Soemarwoto 1987) empregaram a
análise arquitetônica para obter uma compreensão das
características essenciais dos principais tipos de quintais.
Com base no zoneamento, diversidade, área total do
jardim e funções socioeconômicas, Mendez et al. (2001)
reconheceu seis tipos de quintais na Nicarágua
(ornamentais, artesanais, de subsistência, artesanato e
produção mista, produção mista e gestão mínima) – as
diferenças entre essas classes podem, no entanto,
parecer arbitrárias. Alguns pesquisadores (Leiva et al.
2002; Mendez et al. 2001; Quiroz et al. 2002) também
empregaram a análise de agrupamento de presença/
ausência de espécies cultivadas para designar os tipos de
quintais. Apesar do número de esquemas de
classificação, nenhum foi aceito universalmente. A
necessidade de tal esquema de classificação
universalmente aceitável é, no entanto, questionável; a
falta de tal esquema raramente surgiu como um pré-
requisito importante para intensificar a pesquisa ou o
desenvolvimento no assunto. O fato permanece, no
entanto, que independentemente do esquema de
classificação empregado, é importante considerar a
diversidade de todos os diferentes grupos funcionais de
plantas em quintais,
dinâmica funcional
A atenção da pesquisa sobre o potencial de produção e a
qualidade da biomassa de quintais tem sido modesta. Em um
desses estudos, Christanty et al. (1986) (cfTorquebiau 1992)
relatou uma produção primária líquida (NPP) de 5,23 kJ m−2
ano−1. Isso, no entanto, parece ser subestimado em vista dos
valores anuais de fixação de energia relatados por Leith
(1975) para terras cultivadas (11,3 MJ m−2ano−1; Tabela 1), e a
fixação de energia acima do solo em algumas plantações
tropicais (por exemplo, 9,1 a 20,6 MJ m−2ano−1para 8,8 anos
Ailanthus triphysa estandes – derivados da biomassa e
valores médios de combustão fornecidos por Shujauddin e
Kumar 2003 e Shanavas e Kumar 2003, respectivamente).
Relatórios sobre a dinâmica funcional dos quintais, ou seja,
mudança na
141
funções com tempo, também não estão disponíveis. Na maioria
dos estudos relatados, rendimentos de espécies componentes,
disponibilidade de produtos variados e colheitas contínuas ou
repetidas durante o ano são frequentemente tomados como
indicadores dessa dinâmica.
Hortas e segurança nutricional
Produção de alimentos diretamente (produção de frutas
comestíveis, nozes, grãos, rizomas e tubérculos, folhas, flores
etc.) ou indiretamente (facilitando a produção melhorada e/
ou sustentada) é uma função básica dos quintais tropicais.
Consequentemente, as culturas alimentares, incluindo
plantas herbáceas e vegetais e árvores frutíferas e arbustos
abundam nos quintais (Caron 1995; Mendez et al. 2001; Vogl
et al. 2002; Wezel e Bender 2003). Com base em uma ampla
revisão da literatura, Torquebiau (1992) concluiu que os
suprimentos alimentares dos quintais representavam de 3%
a 44% do total de calorias e de 4% a 32% do consumo de
proteínas. Deve-se notar, no entanto, que os quintais
raramente atendem a todas as necessidades básicas de
alimentos básicos da família em uma determinada área. Na
melhor das hipóteses, eles são complementares a outras
parcelas, como arroz (Oryza sativa) ou milho (Zea mays)
Campos. Assim, os quintais são um componente do sistema
agrícola mais amplo da família. De fato, se a roça for a única
terra disponível para o agregado familiar, culturas
alimentares como a mandioca (Manihot esculenta) dominará
a composição de espécies do jardim (Wiersum 1982).
Os quintais também são fontes significativas de
minerais e nutrientes (Asfaw e Woldu 1997). Além
disso, os diversos produtos disponíveis durante todo
o ano nos quintais contribuem para a segurança
alimentar, especialmente durante as estações de
escassez (Christanty et al. 1986; Karyono 1990).
Consequentemente, existe agora uma consciência
crescente de que a jardinagem combinada com a
educação nutricional pode ser uma estratégia viável
para melhorar a segurança nutricional familiar para
populações em risco, particularmente mulheres e
crianças. Em estudos experimentais, as famílias-alvo
aumentaram significativamente sua produção e
consumo durante todo o ano de frutas e vegetais
ricos em vitaminas em comparação com o grupo de
controle sem jardins. Isso, por sua vez, aliviou as
deficiências de iodo, vitamina A e ferro (Molina et al.
Relacionada à segurança alimentar está a questão da qualidade
nutricional dos alimentos. Como poucos ou nenhuns insumos
químicos são usados em sistemas de quintais, pode-se esperar que
os produtos dos quintais sejam de qualidade superior. Estudos sobre a
qualidade nutricional de produtos de horticultura
142
comparadas com as de produtos de outros sistemas, no
entanto, não foram relatadas na literatura. A julgar pela
experiência do café orgânico (caféspp.) na América Central
(Muschler 2001), os produtos dos quintais poderiam obter
preços premium em lojas de alimentos saudáveis em
sociedades preocupadas com a qualidade dos alimentos. Isso
talvez não seja um problema, pelo menos no futuro próximo,
porque a maioria dos produtos de horta é usada para o
consumo doméstico do produtor e o marketing não é
totalmente organizado na maioria das regiões dominadas
por hortas. No entanto, certamente vale a pena reconhecer a
disponibilidade de alimentos 'saudáveis' dos quintais como
um dos benefícios intangíveis do sistema.
Outra dimensão fundamental da horticultura é a
distribuição equitativa da produção dentro da comunidade.
Enquanto uma grande proporção da produção é consumida
domesticamente (Soemarwoto 1987; mas veja Jensen 1993b),
muitos produtos como frutas, vegetais e plantas medicinais/
ornamentais também são generosamente compartilhados
dentro das comunidades locais (Thaman 1990). Essa
distribuição igualitária da produção agrícola é significativa no
meio social e confere ao sistema de quintais uma disposição
social única.
Geração de receita em dinheiro
Embora o interesse em quintais tenha sido focado
principalmente na produção de itens de subsistência,
seu papel na geração de renda adicional não pode ser
negligenciado (Christanty 1990; Torquebiau 1992;
Dury et al. 1996; Mendez et al. 2001). Enormes
variações foram relatadas em diferentes regiões na
proporção de produtos de horta que são usados
para consumo doméstico em oposição à venda. Em
West Java, até dois terços da produção de hortas são
vendidas (Jensen 1993b), mas apenas 28% desses
produtos foram vendidos em hortas sul-africanas,
sendo o restante usado para consumo doméstico
(High e Shackleton 2000 ). A receita líquida gerada
pelos quintais também é correspondentemente
variável. Por exemplo, na Indonésia variou de 6,6% a
55,7% da renda total com uma média de
21,1% dependendo do tamanho dos jardins, necessidades da
família e composição de espécies (Soemarwoto 1987).
Produção de madeira e lenha
Embora existam muitos relatórios sobre segurança alimentar e
nutricional, relativamente poucos trabalhadores abordaram questões
ções relativas à produção de madeira e sua utilização
nos quintais. Na verdade, este parece ser um valor
não reconhecido dos quintais. Por exemplo, Singh
(1987) observou que 70% das toras em Bangladesh
veio de domicílios, e Krishnankutty (1990) descobriu
que os domicílios forneciam de 74% a 84% das
necessidades de madeira em Kerala, na Índia. Estima-
se que o estoque médio de madeira comercial nos
quintais de Kerala varie de 6,6 a 50,8 m3ha−1
(Kumar et al. 1994); a ampla gama de valores está
relacionada a variações nos níveis de estoque de árvores
dependendo das condições locais.
Vários trabalhadores (Krishnankutty 1990;
Wickramasinghe 1996; Levasseur e Olivier 2000; Shanavas e
Kumar 2003) também relataram que os quintais tradicionais
constituem a principal fonte de biocombustíveis para as
famílias rurais. Por exemplo, 51% a 90% da lenha coletada
em várias regiões geográficas no sul e sudeste da Ásia são
derivados de quintais (Krishnankutty 1990; Singh 1987;
Torquebiau 1992). Shanavas e Kumar (2003) observaram
profundas variações nas características de combustão frente
a frentetipos de tecido de plantas perenes lenhosas
cultivadas nas herdades de Kerala. Como na maioria dos
outros aspectos dos quintais, não foram realizados estudos
científicos sobre a quantidade e a qualidade dos
fitocombustíveis produzidos nos quintais e seus métodos de
extração.
Produtos florestais não madeireiros (PFNMs)
Os quintais são repositórios reconhecidos de produtos
não madeireiros, como plantas medicinais e aromáticas,
ornamentais, bambus, gomas, resinas, extrativos
químicos e esterco verde. Destas, a produção de plantas
medicinais recebeu alguma atenção científica modesta
(ver, por exemplo, Rao et al. 2004). Kumar et ai. (1994)
relataram que das 127 árvores e arbustos encontrados
nos quintais de Kerala, 25 eram de importância
medicinal. Da mesma forma, 27% das 272 espécies
mantidas ou cultivadas como flora doméstica na
República Democrática do Congo (Zaire) são relatadas
para fins medicinais (Mpoyi et al. 1994). Nos quintais
catalães, Agelet et al. (2000) documentaram cerca de 250
plantas medicinais com propriedades curativas,
paliativas, sintomáticas e/ou outras propriedades
medicinais. Um aspecto lamentável da situação, no
entanto, é o declínio gradual no estoque de plantas
medicinais conforme relatado em vários lugares (Rico-
Gray et al. 1990; Caballero 1992; Agelet et al. 2000).
Esforços organizados são necessários para conservar
esses recursos valiosos nos quintais.
geração de emprego
Além de fornecer renda em dinheiro e produtos de
subsistência para os agricultores, os quintais têm um
tremendo potencial para a geração de empregos rurais.

ação. Torquebiau (1992) resumiu vários estudos de caso
sobre demandas e flexibilidade de trabalho em hortas
caseiras e concluiu que as exigências de trabalho variavam
entre as regiões, dependendo do tamanho das hortas e da
intensidade da agricultura. A quantidade de trabalho
investido em um quintal também está relacionada ao
tamanho da família, dependendo dos quintais e da ocupação
principal do jardineiro. Variava de 50 min dia−1em 200m2
jardim em Lima, Peru, para 57 homens dias ano−1
no Sri Lanka (Torquebiau 1992). Mendez et ai. (2001)
relataram que os quintais usavam em média 32,6 h de−1
semana−1com as mulheres contribuindo com cerca de
metade (48%).
O uso de mão de obra familiar,
especialmente mão de obra feminina no
processo de produção, não apenas garante a
redução dos custos de produção (Rugalema et
al. 1994a; Benjamin et al. 2001), mas também
satisfaz uma ampla gama de necessidades
domésticas de forma mais econômica e sem
esforço do que através dos mercados locais
(Soemarwoto e Conway 1991). Tais cálculos são,
no entanto, baseados na suposição de que o
trabalho familiar é um 'dado', que de outra
forma permanecerá inutilizado e, portanto, não
precisa ser contabilizado. A validade dessa
suposição está sendo cada vez mais contestada
hoje. A complementaridade temporal na
alocação de trabalho é outra vantagem da
jardinagem caseira. Por exemplo,
A noção de que a jardinagem caseira é praticada apenas
por agricultores de subsistência nas áreas de fome aguda de
terra também foi questionada (Yamada e Gholz 2002).
Embora a maioria das necessidades de mão-de-obra,
especialmente nos quintais menores, possam ser atendidas
dentro da própria família, os quintais têm o potencial de criar
empregos nas áreas rurais e, assim, reverter os efeitos
negativos da migração para as áreas urbanas. Isso ocorre
porque a grande diversidade de produtos da horta oferece
oportunidades para o desenvolvimento de indústrias rurais
de pequena escala e cria empregos fora da fazenda e
oportunidades de comercialização (Nair e Sreedharan 1986;
Torquebiau 1992).
produção animal
A maioria dos quintais abriga uma variedade de animais –
vacas, búfalos, bois, cabras, ovelhas e pássaros como
galinhas e patos (Brownrigg 1985). Cultura, religião e
fatores econômicos e ecológicos são os principais
determinantes na escolha de espécies animais.
143
(Soemarwoto 1987). A produção de leite e ovos, tanto para
consumo doméstico como para venda, constituem os
objetivos dominantes da integração dos animais nestes
sistemas de produção. Além disso, os grandes ruminantes
podem fornecer força de tracção para a preparação da terra,
práticas de conservação do solo e transporte. Os animais
também são importantes para a manutenção da fertilidade
do solo e sustentabilidade do sistema de produção.
Sustentabilidade de sistemas de hortas
Os quintais são percebidos como altamente sustentáveis
em termos biofísicos e socioeconômicos. Devido à falta
de critérios de sustentabilidade amplamente aceitos, no
entanto, essas percepções não são quantificáveis. A
seção seguinte avalia a situação com base em noções de
sustentabilidade geralmente 'aceitas'.
aspectos biofísicos
Ciclagem de nutrientes
É geralmente considerado que os quintais possuem uma
ciclagem de nutrientes fechada, muito semelhante às
florestas tropicais (Nair et al. 1999; Soemarwoto e Conway
1991). A dinâmica de produção e decomposição da
serapilheira e posterior liberação de bioelementos, que
conferem sustentabilidade a essas florestas (Heal et al. 1997;
Lavelle et al. 1993), são, portanto, relevantes para os quintais.
N biológico2fixação e associações micorrízicas são
importantes; ainda assim, parece existir pouca informação
quantitativa a esse respeito. Em particular, o comportamento
de N2-fixação de árvores que são abundantes nesses
sistemas, informações sobre as quantidades de N2fixo, e sua
utilização posterior por culturas associadas não está bem
documentada. Os nutrientes da biomassa das árvores são
devolvidos ao solo naturalmente através da queda de
serapilheira e renovação das raízes, ou deliberadamente
através da poda. Os nutrientes circulados internamente em
um quintal javanês foram estimados em 223 kg N, 38 kg P,
373 kg K, 135 kg Ca e 50 kg Mg ha−1ano−1(Jensen 1993a).
Apesar de sua importância na manutenção dos fluxos de
matéria orgânica e nutrientes, os estudos sobre a dinâmica
da serapilheira e das raízes finas no sistema de quintais são
poucos e descoordenados. Além disso, às vezes o lixo
doméstico é removido para combustível e/ou como adubo
orgânico (para ser usado em outro lugar), sobre o qual,
novamente, existem poucos dados quantitativos.
Entre os relatórios disponíveis sobre a produção de serapilheira
em quintais, Gajaseni e Gajaseni (1999) afirmaram que a média de
serapilheira em uma lavoura em pé era ainda maior
144

(1728 gramas−2)do que o de uma floresta tropical típica (500 Para que os sistemas de quintais tropicais continuem a
gm−2; Jordânia 1985). Soemarwoto e Conway (1991) também fornecer benefícios sociais, econômicos e ambientais para
observaram uma pesada camada de serapilheira em quintais gerações sucessivas, é essencial uma compreensão clara dos
javaneses, e Jensen (1993a) estimou a queda de serapilheira e vários aspectos da ciclagem de nutrientes, incluindo os
a poda em 10,0 e 7,5 Mg ha−1ano−1de matéria seca, efeitos da adição de serapilheira/adubo verde na matéria
respectivamente. A produção total de serapilheira nos orgânica do solo e na dinâmica dos nutrientes.
quintais maias, no entanto, foi menor do que a de outros
sistemas comparados (1 a 4 Mg ha−1ano−1; Benjamim e cols. Baixo potencial de erosão do solo
2001). Tais variações não são incomuns, considerando que os Os quintais não são apenas semelhantes às florestas naturais
níveis de estoque, os atributos das espécies e o manejo, que em relação à sua alta diversidade de espécies e processos de
são variáveis, determinam a quantidade e a periodicidade da ciclagem de nutrientes, mas também são caracterizados por
queda de serapilheira (George e Kumar 1998). baixa 'exportação' de nutrientes. A copa e a arquitetura radicular
do quintal multicamada, além da camada de serapilheira, atuam
Embora centenas, se não milhares de estudos de decomposição como mecanismos multicamadas de defesa contra o impacto das
de serapilheira tenham sido relatados, apenas poucos deles dizem gotas de chuva que caem, resultando em baixos índices de
respeito à dinâmica de decomposição da serapilheira de quintais erosão do solo (0,05 a 0,06 t ha−1ano−1em relação aos limites
tropicais (Tabela 3). E, sem exceção, todas essas investigações se toleráveis estabelecidos pelo Serviço de Conservação do Solo
concentraram em caracterizar as taxas de decomposição da dos EUA, 2,2 a 11,2 t ha−1ano−1; Torquebiau, 1992). Em segundo
serapilheira monoespecífica. Isso possivelmente subestima as taxas de lugar, não há colheita completa nos quintais (Gajaseni e Gajaseni
decomposição da serapilheira dos quintais, pois, ao contrário dos 1999). No geral, as exportações de nutrientes desse sistema são
povoamentos monoespecíficos, os quintais fornecem serapilheira de modestas. No entanto, o argumento da baixa exportação de
uma mistura de espécies, e a resultante heterogeneidade da nutrientes pode não ser válido, se a colheita de árvores inteiras e
serapilheira alterará a dinâmica de decomposição. a remoção de serapilheira forem utilizadas, levando a uma perda
O número limitado de estudos comparando o apodrecimento de serapilheira monoespecífica no subdossel substancial de nutrientes no local (Kumar et al. 1998). Consistente
dos quintais com o da área aberta adjacente sugere que as variações nas taxas de apodrecimento relacionadas à com isso, alguns autores (Fassbender 1993; D. McGrath, Ph.D.
espécie ou ao local são prováveis (Tabela 3). No entanto, cinco das sete espécies sobre as quais existem dissertação, Universidade da Flórida, 1998) com base em estudos
informações quantitativas decaíram mais rapidamente no subdossel. A decomposição da matéria orgânica é em outros sistemas multiestratos sugeriram que as deficiências
geralmente dominada por sistemas de drilosfera formados por associações entre minhocas e bactérias do solo, de nutrientes podem eventualmente limitar a produtividade do
onde os regimes de umidade do solo são favoráveis; e sistemas de termitosfera com secura crescente (Lavelle et al. sistema. Mas a credibilidade de tais relatórios é questionada pela
1993). Devido ao maior fluxo de matéria orgânica e/ou relações favoráveis de umidade do solo (Tabela 3), espera- história de sobrevivência a longo prazo de quintais em uma
se que a atividade do sistema drilosfera seja maior nos quintais. Coerente com isso, maior atividade de minhocas e variedade de locais sem quaisquer indicações aparentes de
contagens de fungos/bactérias/actinomicetos em comparação com áreas abertas foram observadas nos quintais deficiência de nutrientes (Nair 2001).
de Kerala (SR Issac, comunicação pessoal 2001). Aparentemente, os processos de renovação da matéria orgânica

trazem uma melhoria geral nas propriedades físico-químicas do solo dos quintais (Tabela 3). Com o ressurgimento

do interesse pela agricultura orgânica, é provável que a pesquisa sobre a adição e/ou decomposição de resíduos Arquitetura subterrânea
agrícolas frescos e misturas de adubo verde/lixo se torne importante. Coincidentemente, os parâmetros e índices Sistemas radiculares de diferentes componentes no homeg-
de qualidade dos recursos que governam a decomposição e liberação de nutrientes têm recebido atenção
ardens devem se sobrepor consideravelmente e a resultante
científica considerável ultimamente (Nair et al. 1999; Palm et al. 2001). Em os processos de renovação da matéria
maior densidade de comprimento de raiz pode reduzir a lixiviação
orgânica trazem uma melhoria geral nas propriedades físico-químicas do solo dos quintais (Tabela 3). Com o
de nutrientes e facilitar a reciclagem de nutrientes do subsolo. Em
ressurgimento do interesse pela agricultura orgânica, é provável que a pesquisa sobre a adição e/ou
certos casos, a proximidade das árvores umas com as outras
decomposição de resíduos agrícolas frescos e misturas de adubo verde/lixo se torne importante.
determina a magnitude da recuperação de nutrientes do subsolo.
Coincidentemente, os parâmetros e índices de qualidade dos recursos que governam a decomposição e liberação
Por exemplo, Kumar e Divakara (2001) descobriram que em
de nutrientes têm recebido atenção científica considerável ultimamente (Nair et al. 1999; Palm et al. 2001). Em os
sistemas multiestratos baseados em bambu em Kerala, na Índia,
processos de renovação da matéria orgânica trazem uma melhoria geral nas propriedades físico-químicas do solo
32A absorção de P do subsolo foi maior quando as touceiras de
dos quintais (Tabela 3). Com o ressurgimento do interesse pela agricultura orgânica, é provável que a pesquisa
bambu (Bambusa arundinacea) e árvores dicotiledôneas (Tectona
sobre a adição e/ou decomposição de resíduos agrícolas frescos e misturas de adubo verde/lixo se torne
grandisevateria indica) estavam próximos um do outro. Por
importante. Coincidentemente, os parâmetros e índices de qualidade dos recursos que governam a decomposição
extensão, em quintais onde os componentes das árvores estão
e liberação de nutrientes têm recebido atenção científica considerável ultimamente (Nair et al. 1999; Palm et al.
intimamente integrados, há um potencial substancial para
2001). Em parâmetros de qualidade de recursos e índices que governam a decomposição e liberação de nutrientes
'capturar' os nutrientes de lixiviação mais baixos. A conservação
têm recebido atenção científica considerável ultimamente (Nair et al. 1999; Palm et al. 2001). Em parâmetros de
de nutrientes no local também pode ser realizada através da raiz
entrelaçada
qualidade de recursos e índices que governam a decomposição e liberação de nutrientes têm recebido atenção científica considerável ultimamente (Nair et al. 1999; Palm et al. 2001). Em
 145
Tabela 3.Comparação da dinâmica da serapilheira e propriedades do solo de alguns quintais tropicais e áreas abertas adjacentesa

Atributos Referência Comentários

Decadência da ninhada e meias-vidas Gopikumar Acacia mangiuma serapilheira apresentou menores taxas de apodrecimento 'dentro' dos quintais, coeficientes
e outros (2001)b de taxa de apodrecimento (k) 19 a 28% menores e meias-vidas de apodrecimento da serapilheira 22 a 40%
maiores em comparação com os quintais 'externos'.

Isaac e Nair serapilheira deAilanthus triphysa, Ancardium occidentale, Artocarpus heterophyllus,

Capacidade de retenção de água no solo
Porosidade
(2002); Mangifera indicaeSweetenia macrophylladecaiu mais rápido 'dentro' dos quintais—k valores
SR Isaac (pers. 7 a 14% mais e meias-vidas 2 a 29% menos do que 'fora'. Artocarpus hirsutus, no entanto,
com., 2001)b tiveram taxas de decaimento semelhantes dentro e fora. As variações reiteram o 'controle
químico da ninhada' da dinâmica de decaimento.
J. João (pers. 14 a 18% a mais em quintais
com., 1997)
14 a 23% a mais no interior 12

Densidade aparente a 20% a menos no interior 2 a

Densidade de partículas 5% a menos no interior

pH do solo Gajaseni e Redução de 10 a 14% nos quintais com solos 'quase neutros' e aumento de 10 a 12%
Gajaseni (1999) para solos mais ácidos na bacia de Chao Phrao, Tailândia (pH 'externo' do solo 5,8) –
'efeito de moderação' na reação do solo é possível?
C orgânico do solo (SOC) como acima Melhoria substancial: 33 a 600% mais SOC 'dentro' dos jardins tailandeses 48 a
J. João (pers. 62% mais para os jardins do sul de Kerala
com., 1997)
relação C:N Gajaseni e 58 a 205% a mais, exceto em quintais em locais inerentemente ricos em N, onde foi observado um
Gajaseni (1999) declínio de 4 a 24%

Total N como acima 21 a 249% a mais em jardins internos, dependendo das características do local e da profundidade do solo 21

Disponível N J. João (pers. a 41% a mais em jardins

com., 1997)
Solo total P Gajaseni e 27 a 311% a mais no interior
Gajaseni (1999)
Disponível P (Bray) como acima 4 a 363% a mais de P disponível em quintais tailandeses, dependendo das características do local e da
profundidade do solo

J. João (pers. 25 a 30% a mais para jardins caseiros de Kerala

com., 1997)
K trocável como acima 10 a 19% a mais no interior

microbiológica do solo SR Isaac (pers. As contagens de minhocas, fungos, bactérias e actinomicetos foram consistentemente
propriedades com., 2001) maiores dentro dos quintais (∼4, 36, 35 e 20% respectivamente).
Wichern et ai. As taxas de biomassa microbiana C, ergosterol e respiração basal foram geralmente mais
(2003) baixas (51 a 72, 53 a 79 e 10 a 49%, respectivamente) em quintais sul-africanos
'velhos' (cultivo prolongado), em comparação com os 'novos' (período de cultivo:∼1 ano).

aEmbora os atributos edáficos dos quintais tenham sido relatados por alguns autores; poucos (como mostrado acima) realmente compararam isso com áreas abertas
adjacentes.
bCalculado a partir de dados de desaparecimento de massa de serapilheira usando o modelo de decaimento exponencial (Olson 1963).

Jardins 'internos' indicam diretamente abaixo das copas das árvores e 'exterior' significa áreas abertas adjacentes, geralmente fora da área 'cercada'.

(enxertos radiculares e/ou conexões micorrízicas), que Aspectos socioeconômicos

atuam essencialmente como multiplicadores do alcance
dos 'sistemas radiculares'. Além disso, é provável a
transferência/compartilhamento horizontal de íons
nutrientes entre as rizosferas das plantas vizinhas. Ou
seja, as raízes das árvores podem liberar, lixiviar e/ou
exsudar materiais minerais e orgânicos na rizosfera das
plantas vizinhas, desde que interajam entre si (Kumar et
al. 1999).
Durante longos períodos na história do uso da terra em terras baixas
tropicais úmidas altamente povoadas, os quintais aparentemente
permaneceram como motores do desenvolvimento econômico e
social. Embora a produtividade comparada com as monoculturas
intensivas fosse modesta, a produção diversificada e a geração de
renda na perpetuidade eram características intrínsecas dos quintais
tropicais. A plantação e a manutenção de quintais também refletem a
cultura e o status da família, especialmente das mulheres, na
sociedade local. Em muitos lugares, as mulheres desempenham um
papel vital
146
importante no desenho e gestão destes sistemas de uso da
terra. O fato de os quintais serem predominantes nas
sociedades tradicionalmente matrilineares do sul e sudeste
da Ásia (por exemplo, Kerala, Java Central e Sumatra
Ocidental) reforça ainda mais esse ponto (Menon et al. 2002;
Soemarwoto e Conway 1991). Muitas actividades como o
cultivo de hortícolas, a colheita dos produtos (frutas, frutos
secos, legumes e plantas medicinais), a recolha de
combustível e a criação de animais, sobretudo nas roças mais
pequenas, são da exclusiva responsabilidade das mulheres,
com ou sem ajuda dos membros masculinos da família . A
possibilidade de igualdade de gênero para participar do
manejo da horta e repartir os benefícios talvez seja um dos
maiores estímulos para a continuidade da segurança familiar
desfrutada pelos jardineiros por gerações. Alguns outros
aspectos da sustentabilidade socioeconômica, como
segurança nutricional familiar e geração de renda, já foram
discutidos. Todo o aspecto da sustentabilidade dos quintais
parece ser um terreno fértil para a pesquisa em ciências
sociais. Apesar da falta de especialização dos autores nestas
áreas, com base em alguns estudos desta natureza que
encontramos (por exemplo, Arnold 1987; Soemarwoto e
Conway 1991; Jose e Shanmugaratnam 1993), alguns dos
problemas económicos, sociais e /ou fundamentos culturais
da jardinagem caseira, em comparação com outros
componentes do sistema agrícola em situações semelhantes
estão listados abaixo:
• Baixos requisitos de capital e custos de mão-de-obra -
adequados para situações de agricultura familiar e de
poucos recursos
• Melhor utilização de recursos, maior eficiência de
trabalho, distribuição uniforme de insumos de trabalho e
gerenciamento mais eficiente
• Gama diversificada de produtos de uma determinada área
e maior valor das saídas
• Aumento da autossuficiência e redução do risco de renda
de impactos climáticos, biológicos ou de mercado em
culturas/produtos específicos
• Maior renda com maior estabilidade, maior
equidade e melhores padrões de vida
• Melhor aproveitamento de terra, mão de obra ou capital
subutilizados, além de criar estoques de capital para fazer
frente a custos intermitentes ou imprevistos
• Maior segurança alimentar/nutricional e capacidade de atender às
necessidades de alimentos, combustível, forragem e madeira da
sociedade
• Maior satisfação das necessidades sociais e culturais por
meio do compartilhamento ou troca de produtos e
oportunidades recreativas
• Melhor preservação do conhecimento indígena
Métodos para valoração desses benefícios sociais e
culturais intrínsecos e intangíveis dos sistemas
agroflorestais são praticamente inexistentes. Alguns dos
esforços recentes nessa direção (por exemplo, ver
Alavalapati et al. 2004) mostram claramente as
oportunidades e os desafios envolvidos.
O futuro dos quintais
Os quintais estão se extinguindo?
Diz-se que a mudança é a única coisa constante. Os
padrões de uso da terra mudaram enormemente em
todo o mundo durante o último meio século. Os quintais
não são exceção: eles também mudaram e continuarão a
mudar. A preocupação que se levanta, no entanto, é: os
quintais estão saindo? Eles estão se tornando um
anacronismo? Irão – ou como irão – sobreviver ao teste
do tempo? Essas preocupações não decorrem de novas
descobertas que questionem os fundamentos ecológicos
de tais sistemas, mas do fato de que as tendências
recentes na estrutura agrária e a alta orientação para o
mercado, devido a políticas governamentais e pressões
demográficas, exercem pressões consideráveis sobre os
quintais. A comercialização causou um declínio da
estrutura e das funções do indonésiopekarangan(
Abdoellah 1990; Abdoellah et al. 2001; Soemarwoto e
Conway 1991) ekebun(Whitten et ai. 1996) sistemas. Uma
grande proporção dos quintais de Kerala foram
convertidos em plantações de coco e borracha em
pequena escala (Hevea brasiliensis) ou para sistemas de
cultivo que consistem em menor número de cultivos
(Ashokan e Kumar 1997). Na Catalunha (Espanha),
durante as últimas décadas, a migração da força de
trabalho para as áreas urbanas, a mecanização da
agricultura e a consequente especialização das tarefas
agrícolas levaram a um empobrecimento do sistema
tradicional de hortas caseiras (Agelet et al. 2000).
Diz-se que as perdas de espécies em quintais ocorrem a
uma taxa sem precedentes. Embora dados precisos não
estejam disponíveis, parece razoável supor que a diversidade
florística dos quintais na maior parte do mundo diminuiu
durante as últimas quatro a cinco décadas. Por exemplo,
muitas variedades locais de manga (Mangifera indica), Jaca (
Artocapus heterophyllus) e outras culturas tradicionais de
frutas/vegetais, que antes eram abundantes nos quintais de
Kerala, agora se extinguiram (observação pessoal dos
autores). Uma situação semelhante foi relatada em West
Java, Indonésia, onde 27 variedades de manga foram
perdidas durante um período de 60 anos (Soemarwoto 1987).
Agelet et ai.

(2000) também notaram a perda de muitas variedades
autóctones de plantas cultivadas e plantas medicinais dos
jardins da Catalunha.
A fragmentação de propriedades de terra devido ao
crescimento populacional desencadeou perdas de espécies
nochaggaquintais da Tanzânia (Rugalema et al. 1994b). Além
disso, o sistema de herança específico em uma sociedade
islâmica, onde uma propriedade é dividida igualmente entre
os herdeiros, causou a fragmentação do indonésio
pekaragans (Arifin et al. 1997). As mudanças na estrutura dos
quintais e nos processos ecológicos causados por tais
mudanças no tamanho dos quintais podem ser adicionadas
com segurança à já longa lista de tópicos que não foram, mas
precisam ser estudados. Não está claro, no entanto, se e em
que medida a fragmentação das propriedadesper setem
causado um declínio no tamanho médio dos quintais.
Embora a fragmentação resulte claramente em um aumento
no número de propriedades e, portanto, no número de
quintais, é duvidoso que o tamanho médio tenha diminuído
proporcionalmente; faltam provas.
'Aculturação', o processo pelo qual uma cultura é
transformada devido à adoção massiva de traços culturais de
outra sociedade, tem sérias consequências nas espécies
cultivadas em quintais (e pelos agricultores de subsistência
em geral) e na medida em que são usadas ( Caballero 1992).
Por exemplo, a modificação dos padrões tradicionais de
alimentação entre os grupos indígenas do México envolveu o
progressivo desuso de alimentos tradicionais por serem
considerados de menor valor nutricional ou de menor
prestígio social do que os produtos industrializados ou
outros alimentos oferecidos no mercado nacional ( Vogl et al.
2002). A preferência moderna pelo milho em vez do painço
tradicional, que costumava ser a base da dieta nas
sociedades africanas, é bem conhecida. Da mesma maneira,
a difusão da medicina moderna e dos estabelecimentos de
saúde levou ao declínio das medicinas tradicionais. Outra
ameaça ao jardim doméstico tradicional é o influxo em larga
escala (tanto deliberado quanto não intencional) de espécies
exóticas agressivas (por exemplo, espécies australianas e
mesoamericanas, comoAcácia spp.,Eucaliptospp.,Mimosa
invisa,Mikania micranthae assim por diante, especialmente
no sul da Ásia) que podem potencialmente competir com a
flora nativa. O efeito cumulativo dessas mudanças sociais e
culturais seria a redução da diversidade florística dos
quintais.
Outra consequência da comercialização é a mudança na
proporção da produção consumida. À medida que mais
produtos da horta são vendidos (para ganhar dinheiro para
comprar outros itens preferidos) e menos consumidos, existe
o perigo de que o papel dietético das hortas no fornecimento
de vitaminas e minerais seja reduzido se
147
não perdido (Soemarwoto e Conway 1991). A comercialização
também pode resultar na redução da equidade, com menor
partilha da produção mesmo entre parentes próximos, e os
tradicionais 'direitos' dos pobres podem desaparecer. Assim,
a jardinagem caseira pode, indiscutivelmente, enfrentar a
ameaça de auto-dissolução na arbitrariedade e irrelevância
se os jardineiros tradicionais forem todos transformados em
"modernos" urbanos. Em algumas sociedades, como as das
ilhas caribenhas e, até certo ponto, de Kerala, onde a força de
trabalho migra para terras industriais e economicamente
prósperas próximas (a América do Norte para o Caribe e o
Oriente Médio rico em petróleo para os keralitas) e remessas
do exterior é um componente importante das economias
locais, a jardinagem caseira e esses estilos de vida
tradicionais estão sendo relegados ao passatempo das
gerações mais velhas que retornam à terra para se
aposentar. A dinâmica de longo prazo das transformações
dos quintais pode ser uma área de estudo fascinante para
cientistas biofísicos e sociais.
Infelizmente, faltam evidências científicas para apoiar
ou contrariar as afirmações sobre o futuro dos quintais.
Com crescente consciência e interesse em todo o mundo
- especialmente nas sociedades industrializadas
– em movimentos como a agricultura orgânica, o 'retorno à
natureza' e o consumismo verde, não temos motivos, porém,
para abandonar e denegrir tudo o que é tradicional. A
agricultura química tem seu lugar, mas as sociedades que a
abraçaram com a exclusão total dos modos de vida
tradicionais estão pagando o preço – e muito caro. Essas
experiências, juntamente com o ritmo lento em que as
transformações econômicas e sociais acontecem nessas
sociedades, nos forçam a acreditar que as preocupações
sobre um futuro sombrio dos quintais são infundadas e
esperamos que sejam uma nuvem passageira. Tendo
afirmado isso, no entanto, o fio condutor do argumento que
percorre todo este capítulo precisa ser enfatizado
novamente: a necessidade de compreender melhor as bases
científicas desses sistemas fascinantes e desenvolver
métodos de valoração que possam retratar realisticamente
seus valores econômicos e sociais; em suma, a necessidade
de intensificar a pesquisa.
Pesquisa futura
A pesquisa é necessária em todas as frentes. A lacuna
de conhecimento que existe em várias questões
biofísicas já foi explicada. Compreender o equilíbrio
de nutrientes, energia e água nos quintais é crucial
para fornecer uma base científica para um melhor
projeto e gerenciamento do sistema para permitir o
uso eficiente de recursos, evitar perda de energia e in-
148
produção de vincos (Benjamin et al. 2001). Aspectos como o
'como' e o 'porquê' da interferência e coexistência de
diferentes espécies; razões para baixa pressão de herbivoria/
patogenicidade; as interações competitivas influenciadas
pela disponibilidade de recursos do solo e as relações da
matéria orgânica do solo dos quintais são praticamente
desconhecidas. Além disso, nenhum esforço foi feito para
examinar o impacto das pressões de colheita na regeneração
de recursos nos quintais. Com a ênfase crescente em todo o
mundo no sequestro de carbono em ecossistemas terrestres,
quintais que são principalmente sistemas de estado
estacionário, conforme explicado anteriormente (seção 2),
podem ser de importância crucial na discussão de crédito de
carbono (ver Montagnini e Nair 2004). Os relatórios
disponíveis indicam que a biomassa total dos quintais
javaneses é responsável por 10 a 126 Mg C ha−1(Jensen
1993a; Delaney e Roshetko 1999). Roshetko et ai. (2002)
estimou o estoque médio de C acima do solo (= metade do
estoque de C no comprimento máximo de rotação) de
quintais indonésios como 30 a 123 Mg C ha−1. Com uma
média de 35,3 Mg C ha−1aos 13 anos de idade, isso
corresponde aos estoques de C para florestas secundárias de
idade semelhante. Com fundamentos quantitativos sólidos e
respaldo de pesquisa para avaliar o potencial de sequestro
de C dos quintais e com políticas favoráveis implementadas
para recompensar proprietários de terras por créditos de
carbono (ver Alavalapati et al. 2004), os quintais do futuro
certamente terão um valor muito melhor e prestígio do que
hoje.
Embora um amplo espectro de bens e serviços seja obtido
desses sistemas tradicionais de uso da terra, ainda há um
entendimento incompleto sobre seus valores. Os métodos
convencionais (taxas de desconto, valores presentes líquidos,
preços-sombra, etc.) são inadequados para a avaliação realista de
produtos e serviços não convencionais fornecidos pelos quintais.
Igualmente insatisfatória é a situação em relação à avaliação da
sustentabilidade.
Claramente, faltam informações gerenciais com
relação à cobertura, produtividade e mudanças
temporais no uso de plantas lenhosas/outras. Mais foco
deve, portanto, ser dado à compilação das estatísticas
vitais dos sistemas nos níveis local, regional, nacional e
global (Nair 2001). Apesar dos pequenos quintais, parece
haver espaço para aplicações GIS para preparar bancos
de dados em diferentes escalas (local, regional, nacional e
global) e diferentes intensidades, a fim de fornecer uma
estrutura hierárquica sólida para extrapolar de locais de
campo para domínios de recomendação.
Com relativamente mais insumos gerenciais e seleção
criteriosa de espécies, os quintais podem ajudar a
retêm algumas das vantagens do uso tradicional da terra
e das práticas agrícolas comerciais. Uma ilustração
esquemática de algumas das oportunidades é
apresentada na Figura 1. Esperamos que isso possa
fornecer uma estrutura básica para pesquisas futuras
para melhoria de quintais.
Conclusões
A horta caseira é um exemplo testado pelo
tempo de uso agroflorestal sustentável e
multiespécie da terra, praticado como um
subconjunto do sistema agrícola,
predominantemente nas terras baixas dos
trópicos úmidos. A alta diversidade estrutural e
florística dos quintais tropicais é um reflexo do
ambiente biofísico único e dos fatores
socioculturais sob os quais eles existem. Como
conjuntos e repositórios de um grande número
de plantas em pequenas parcelas de terra ao
redor da casa em interação direta e constante
com seus proprietários, os quintais atendem às
necessidades econômicas, sociais e culturais
específicas dos proprietários individuais e
fornecem conservação biológica, sequestro de
carbono, e outros benefícios intangíveis, mas
valiosos para a sociedade. Com suas
semelhanças ecológicas com os ecossistemas
florestais naturais,
No entanto, os quintais tropicais são um
enigma. Suas virtudes são reconhecidas mais pela
intuição do que por quantidades medidas. Por
causa disso, os formuladores de políticas
raramente reconhecem sua importância, embora
os praticantes os adorem. Fundamental para
resolver esse quebra-cabeça e perceber o potencial
dos quintais como um poderoso modelo de uso da
terra é uma mudança muito necessária na visão de
mercadoria única de agrônomos, silvicultores e
outros especialistas em disciplina de uso da terra.
Na verdade, isso talvez seja pedir demais, porque
questiona todos os fundamentos da estrutura
educacional e de pesquisa. Não exigimos nem
desconhecemos as dificuldades em realizar uma
mudança tão radical. É realista, no entanto, exigir
estudos ecológicos e econômicos estendidos para
entender, valorizar e avaliar sistemas testados pelo
tempo, como jardins domésticos,
 149

Figura 1.Mudanças previstas na composição de quintais e méritos relativos de quintais convencionais, sistemas de produção agrícola/florestal
monoespecíficos e quintais melhorados.

usar sistemas. Dado o 'histórico' da pesquisa agroflorestal e Nota final

realizações durante o último quarto de século, certamente
esperamos que a pesquisa de hortas domésticas atraia sua 1. Mateer S., 1883. 'Vida nativa em Travancore.' WH Allen & Co,
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virtudes pode não ser viável em termos de extensão de áreas Travancore Government Press, Trivandrum, Kerala, 700 pp.
sob a prática, mas os princípios de seu funcionamento
podem ser usados como base para o desenho de melhores
práticas agroflorestais.
150
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