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Universidade Federal de São João del Rei

Ciências Biológicas

Gabriel Martinez Rodrigues


Raquel Elisa Quintanilha
Sérgio Silvério Franco

Modelos de ecologia de restauração utilizados, que interagem com a


ecologia de metapopulações, utilizando em trabalhos e em aplicações no
Brasil.

São João del Rei


2021
A teoria de biogeografia de ilhas nos ajuda a compreender padrões de riqueza,
biodiversidade e suas relações com fatores como tamanho das ilhas, distância
entre ilhas e a fonte de organismos(local de que proverá as unidades
dispersoras nos processos de migração), migração e extinção. Para que seja
possível aplicar a biogeografia de ilhas em fragmentos terrestres mais fatores
devem que ser levados em conta, como por exemplo a permeabilidade da
matriz, capacidade de dispersão das espécies alvo do estudo e considerar
eventos como fluxo de indivíduos entre fragmentos, dessa maneira temos a
teoria de meta populações expandindo o escopo de aplicação da biogeografia
de ilhas.

Ambas teorias nos fornecem um modelo para elaborarmos estratégias de


conservação, já que podem fornecer insights como determinar tamanho e de
distância em áreas de reserva próximos do ideal para a manutenção das
populações de organismos foco da ação de conservação, além de nos
possibilitar compreender a dinâmica da população ou meta população que
habita os fragmentos.

Essas teorias são ferramentas importantes para conservação de biomas


brasileiros que se tornam cada vez mais fragmentos devido ao continuo avanço
do desmatamento, para a agricultura, mineração ou urbanização. Abaixo
citamos algumas técnicas utilizadas durante a implementação de ações de
conversação usando as teorias biogeografia de ilhas e meta população:

 Nucleação: é um processo que descreve a dinâmica espacial durante as


sucessões primárias, onde ocorre uma formação de ilhas de vegetação,
formada por espécies que são capazes de melhorar o ambiente de forma
ecológica, ocorrendo interações interespecíficas melhoradas, podendo ser
planta-planta, planta-animais, entre outras, além das relações entre as
espécies, há o incremento na relação presa e predador, reprodução, dispersão
e polinização. Nessas ilhas, a sucessão secundária irá se expandir ao longo do
tempo acelerando o processo natural, o núcleo deverá ser feito por meio de
plantio de sementes, transposição de solo, galharia, ou mix de técnicas,
restaurando pelo menos 10% dessa área. Esses núcleos são responsáveis por
restabelecer ambientes degradados, podendo estar mais próximos, causando a
densidade das ilhas.

Em geral, os espaços não são manejados, e o restaurador deverá optar para


substituir por completo ou parcialmente uma vegetação agressiva, por uma
menos agressiva, ou uma vegetação que favoreça uma sucessão posterior.

É necessário durante a nucleação que ocorra um monitoramento da área. Esse


monitoramento indica se a técnica aplicada foi a mais adequada para a área e
se foi bem executada. Após uma breve avaliação, as técnicas devem ser
modificadas ou mantidas, recomendando-se começar por pequenas áreas,
analisando a qualidade do solo, além das estruturas, composição vegetativa e
disponibilidade de água. Técnicas simples como cobertura do solo, pode ser
realizada com ocupação do ambiente, calculada com trena, observada ao
longo dos anos, através de registros fotográficos. A técnica mais comum para
observar a riqueza de espécies e densidade de regeneração é o
monitoramento através de uma faixa de altura com distanciamento entre as
arvoretas, monitoradas anualmente.

Existem várias técnicas de nucleação na qual possuem diversos efeitos e


particularidades, devendo abranger fatores diversos de ecologia para que
ocorra de forma correta a sucessão, respeitando os níveis energéticos, além da
biodiversidade regional sobre o ambiente e ocorrendo de forma correta a
conectividade entre as diversas paisagens fragmentadas. Quanto maior a
diversidade, maior o nível de complexidade das técnicas. De acordo com Reis
et al.(2003), Bechara(2006) e Tres Reis (2007) as técnicas de nucleação são:

 Abrigos artificiais: são os aglomerados de lenha ou resíduos


provenientes de podas de árvores em áreas urbanas, árvores exóticas,
ou até mesmo de limpeza de reservatórios artificiais após alagamentos,
que servem de refúgio para pequenas e médias espécies, constituindo
áreas de proteção contra o aquecimento global. Esses abrigos são
responsáveis por uma grande camada de húmus que reconstruirá a
biota do solo, onde a decomposição é feita por microrganismos e
pequenos insetos. Essa decomposição é proporcional ao diâmetro dos
galhos depositados, onde galhos grandes e de grande diâmetro irão
demorar anos para se decompor, enquanto a decomposição de galhos
pequenos ocorre de forma mais rápida e acelera o processo de
reconstituição do solo.
Uma forma de utilizar no Brasil,pode-se aplicar algumas técnicas a
morcegos  devido a grande urbanização os quirópteros utilizam de
construções para refúgios diurnos. A sociedade ainda os vê como
pragas urbanas, ignorando seus valores ecológicos, como controle de
insetos, dispersão de sementes e polinização, devido a possibilidade de
serem responsáveis por algumas zoonoses. Sendo assim, a criação de
abrigos artificiais em áreas conservadas e próximas a áreas urbanizadas
seria uma forma de conservação dessas espécies de grande
importância para a preservação de áreas degradadas. 
 Cobertura viva: nessa técnica é necessário o plantio de espécies
rústicas, de ciclo anual, onde florescem e frutificam em pouco tempo,
atraindo uma grande quantidade de animais polinizadores,
consumidores e transportadores de sementes. Essas plantas por
apresentar um ciclo curto, servem de alimentos para várias espécies
decompositoras, favorecendo a reciclagem da matéria orgânica do solo.
Nesse caso, na ausência de sementes nativas, ocorre a utilização de
plantas exóticas conhecidas por adubação verde, desde que haja um
processo de monitoração para que não ocorra uma invasão biológica.
No Brasil, alguns agricultores estão utilizando o cultivo de grãos e
leguminosas para a reciclagem de nutrientes dos solos degradados pela
monocultura. Sendo assim uma possível utilização da técnica. 

Transposição do solo/Retirada da superfície do solo: ocorre a retirada de


até 20cm do solo junto com a serapilheira de áreas naturais próximas
ocorrendo uma transposição na área degradada. Essa técnica favorece o fluxo
gênico da biodiversidade local, utilizando da germinação de sementes e
desenvolvimento da biota da área preservada. Embora essa técnica apresenta
um grande sucesso, recomenda-se que o uso ocorra em pequenas áreas,
usando topsoil, germinadas previamente em um viveiro florestal e utilizando as
placas de mudas de alta biodiversidade. Quando essas áreas são retiradas de
florestas maduras de forma espaçada e pequenas, a cicatrização do local é
rápida.  Espera-se que a área degradada recupere a fauna e flora de forma
micro e macro do ambiente.
No Brasil, a embrapa já vem utilizando esse procedimento,  o trabalho
científico em que foi aplicado a transposição tem o nome de Avaliação da
transposição do banco de sementes do solo na recuperação de uma área
degradada da Caatinga. e consistiu em  utilizar um área degradada da
caatinga, transpondo para ela dez áreas de solo contendo 1 metro por um
metro quadrado  e com cerca de  cinco centímetros de altura, após essa
transposição ser feita, e o solo ser assentado na área antes degradada foram
medidos diversos fatores como riqueza, abundância e também níveis de
umidade  dessas áreas e das áreas degradadas. 

 Transposição de chuva de sementes: ocorre um plantio de mudas


germinadas pelas sementes disponíveis de forma natural, sobre os
coletores permanentes aplicadas em áreas conservadas. Nesses
coletores são peneiradas as sementes, folhas e frutos para que
posteriormente sejam triturados e semeados em bandejas com
substratos naturais. Após a germinação, as raízes formam uma trama,
denominada placa de muda, que apresenta todas as formas vegetais. É
importante ressaltar que a coleta deverá ser de áreas bem conservadas,
sem espécies invasoras, evitando um novo processo de invasão
ecológica. Essa técnica é importante pois além da reestruturação, auxilia
na fertilização do solo da área degradada.
Uma forma de utilizar a transposição de sementes, é durante o processo
de recuperação de áreas degradadas pela mineração de rochas
balsâmicas, ou durante a restauração de margens de ribeirões. 
 Poleiros artificiais: são estruturas de grande altitude, utilizadas para
pouso de aves e morcegos, que promovem conectividade entre as áreas
devido a disseminação de sementes. A recomendação é que utilize o
poleiro de 10m de altura, denominado de “torre de cipó”, no qual utiliza-
se três varas de eucalipto com copa, enterradas e montadas em forma
de cone, onde devem ser introduzidas espécies de trepadeiras nativas,
promovendo atração desses animais.
Muitas vezes, utiliza-se esse método como modelo de nucleação para
áreas ciliares, sendo amplamente eficientes nas famílias Asteraceae e
Poaceae.

 Plantio de árvores nativas: é realizado um plantio em grupos de cinco a nove


mudas, seguindo um espaçamento de pelo menos 1x1m, porém espaçados
dos grupos já presentes na área. Adiciona-se grupos de mudas de bromélias,
preferencialmente as que armazenam água e detritos da fauna, para que
ocorra a atração de animais para aquela área.
No Brasil já temos empresas especializadas no plantio de árvores nativas,
como é o caso da CBFT - reflorestamento, que atua nesse nicho, focada em
áreas de mata ciliares, espécies ameaças e recuperações de áreas de
preservação permanente, a infraestrutura possui viveiros onde as mudas de
espécies nativas são cultivadas até estarem grandes o suficiente para serem
levadas até a mata onde serão plantadas, essas iniciativas privadas têm um
grande papel de preservar e reproduzir espécies que muitas vezes estão perto
da extinção no ambiente natural, e posteriormente podendo voltar a ocupar seu
habitat onde é natural e tem seu nicho específico.

Referências:

JUNIOR, José Akashi; DE CASTRO, Selma Simões. Corredores de


biodiversidade como meios de conservação ecossistêmica em larga escala no
Brasil: uma discussão introdutória ao tema. Brazilian Journal of
Environmental Sciences (Online), n. 15, p. 20-28, 2010.

NASCIMENTO, Alexandre Túlio Amaral et al. Conservação da biodiversidade e


dinâmica ecológica espacial: evolução da teoria. CEP, v. 60020, p. 181, 2012.

Portal Embrapa, visualizado no dia 13/04/2021- site:


https://www.embrapa.br/codigo-florestal/nucleacao#:~:text=Consiste%20na
%20forma%C3%A7%C3%A3o%20de%20%22ilhas,dessa%20%C3%A1rea
%20por%20outras%20esp%C3%A9cies.&text=Assim%2C%20a%20partir
%20desses%20n%C3%BAcleos,o%20processo%20de%20sucess%C3%A3o
%20natural.
BECHARA, F. C. Unidades demonstrativas de restauração ecológica através
de técnicas nucleadoras: Floresta Estacional Semidecidual, Cerrado e
Restinga2006. 248f. Tese (Doutorado em Recursos Florestais) - Universidade
de São Paulo, Piracicaba, 2006.

REIS, A.; KAGEYAMA, P. Y. Restauração de áreas degradadas utilizando


interações interespecíficas. In: KAGEYAMA, P. Y. et al. (Eds). Restauração
Ecológica de Ecossistemas Naturais . Botucatu: FEPAF , 2003. p. 91-110.

REIS, A. et al. Restoration of damaged land areas: using nucleation to improve


successional processes. Natureza & Conservação, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 85-92,
abr. 2003

TRES, D. R.; REIS, A. La nucleación como propuesta para la restauración de la


conectividad del paisaje. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE
RESTAURACIÓN ECOLÓGICA, 2., 2007, Santa Clara. Anais... Santa Clara:
Grupo Cubano de Restauración Ecológica, 2007. p. 1-11. 

https://tede.ufrrj.br/jspui/bitstream/jspui/3372/2/2014%20-%20Theany
%20Cecilia%20Biavatti%20Almeida.pdf

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