Modelos de ecologia de restauração utilizados, que interagem com a
ecologia de metapopulações, utilizando em trabalhos e em aplicações no Brasil.
São João del Rei
2021 A teoria de biogeografia de ilhas nos ajuda a compreender padrões de riqueza, biodiversidade e suas relações com fatores como tamanho das ilhas, distância entre ilhas e a fonte de organismos(local de que proverá as unidades dispersoras nos processos de migração), migração e extinção. Para que seja possível aplicar a biogeografia de ilhas em fragmentos terrestres mais fatores devem que ser levados em conta, como por exemplo a permeabilidade da matriz, capacidade de dispersão das espécies alvo do estudo e considerar eventos como fluxo de indivíduos entre fragmentos, dessa maneira temos a teoria de meta populações expandindo o escopo de aplicação da biogeografia de ilhas.
Ambas teorias nos fornecem um modelo para elaborarmos estratégias de
conservação, já que podem fornecer insights como determinar tamanho e de distância em áreas de reserva próximos do ideal para a manutenção das populações de organismos foco da ação de conservação, além de nos possibilitar compreender a dinâmica da população ou meta população que habita os fragmentos.
Essas teorias são ferramentas importantes para conservação de biomas
brasileiros que se tornam cada vez mais fragmentos devido ao continuo avanço do desmatamento, para a agricultura, mineração ou urbanização. Abaixo citamos algumas técnicas utilizadas durante a implementação de ações de conversação usando as teorias biogeografia de ilhas e meta população:
Nucleação: é um processo que descreve a dinâmica espacial durante as
sucessões primárias, onde ocorre uma formação de ilhas de vegetação, formada por espécies que são capazes de melhorar o ambiente de forma ecológica, ocorrendo interações interespecíficas melhoradas, podendo ser planta-planta, planta-animais, entre outras, além das relações entre as espécies, há o incremento na relação presa e predador, reprodução, dispersão e polinização. Nessas ilhas, a sucessão secundária irá se expandir ao longo do tempo acelerando o processo natural, o núcleo deverá ser feito por meio de plantio de sementes, transposição de solo, galharia, ou mix de técnicas, restaurando pelo menos 10% dessa área. Esses núcleos são responsáveis por restabelecer ambientes degradados, podendo estar mais próximos, causando a densidade das ilhas.
Em geral, os espaços não são manejados, e o restaurador deverá optar para
substituir por completo ou parcialmente uma vegetação agressiva, por uma menos agressiva, ou uma vegetação que favoreça uma sucessão posterior.
É necessário durante a nucleação que ocorra um monitoramento da área. Esse
monitoramento indica se a técnica aplicada foi a mais adequada para a área e se foi bem executada. Após uma breve avaliação, as técnicas devem ser modificadas ou mantidas, recomendando-se começar por pequenas áreas, analisando a qualidade do solo, além das estruturas, composição vegetativa e disponibilidade de água. Técnicas simples como cobertura do solo, pode ser realizada com ocupação do ambiente, calculada com trena, observada ao longo dos anos, através de registros fotográficos. A técnica mais comum para observar a riqueza de espécies e densidade de regeneração é o monitoramento através de uma faixa de altura com distanciamento entre as arvoretas, monitoradas anualmente.
Existem várias técnicas de nucleação na qual possuem diversos efeitos e
particularidades, devendo abranger fatores diversos de ecologia para que ocorra de forma correta a sucessão, respeitando os níveis energéticos, além da biodiversidade regional sobre o ambiente e ocorrendo de forma correta a conectividade entre as diversas paisagens fragmentadas. Quanto maior a diversidade, maior o nível de complexidade das técnicas. De acordo com Reis et al.(2003), Bechara(2006) e Tres Reis (2007) as técnicas de nucleação são:
Abrigos artificiais: são os aglomerados de lenha ou resíduos
provenientes de podas de árvores em áreas urbanas, árvores exóticas, ou até mesmo de limpeza de reservatórios artificiais após alagamentos, que servem de refúgio para pequenas e médias espécies, constituindo áreas de proteção contra o aquecimento global. Esses abrigos são responsáveis por uma grande camada de húmus que reconstruirá a biota do solo, onde a decomposição é feita por microrganismos e pequenos insetos. Essa decomposição é proporcional ao diâmetro dos galhos depositados, onde galhos grandes e de grande diâmetro irão demorar anos para se decompor, enquanto a decomposição de galhos pequenos ocorre de forma mais rápida e acelera o processo de reconstituição do solo. Uma forma de utilizar no Brasil,pode-se aplicar algumas técnicas a morcegos devido a grande urbanização os quirópteros utilizam de construções para refúgios diurnos. A sociedade ainda os vê como pragas urbanas, ignorando seus valores ecológicos, como controle de insetos, dispersão de sementes e polinização, devido a possibilidade de serem responsáveis por algumas zoonoses. Sendo assim, a criação de abrigos artificiais em áreas conservadas e próximas a áreas urbanizadas seria uma forma de conservação dessas espécies de grande importância para a preservação de áreas degradadas. Cobertura viva: nessa técnica é necessário o plantio de espécies rústicas, de ciclo anual, onde florescem e frutificam em pouco tempo, atraindo uma grande quantidade de animais polinizadores, consumidores e transportadores de sementes. Essas plantas por apresentar um ciclo curto, servem de alimentos para várias espécies decompositoras, favorecendo a reciclagem da matéria orgânica do solo. Nesse caso, na ausência de sementes nativas, ocorre a utilização de plantas exóticas conhecidas por adubação verde, desde que haja um processo de monitoração para que não ocorra uma invasão biológica. No Brasil, alguns agricultores estão utilizando o cultivo de grãos e leguminosas para a reciclagem de nutrientes dos solos degradados pela monocultura. Sendo assim uma possível utilização da técnica.
Transposição do solo/Retirada da superfície do solo: ocorre a retirada de
até 20cm do solo junto com a serapilheira de áreas naturais próximas ocorrendo uma transposição na área degradada. Essa técnica favorece o fluxo gênico da biodiversidade local, utilizando da germinação de sementes e desenvolvimento da biota da área preservada. Embora essa técnica apresenta um grande sucesso, recomenda-se que o uso ocorra em pequenas áreas, usando topsoil, germinadas previamente em um viveiro florestal e utilizando as placas de mudas de alta biodiversidade. Quando essas áreas são retiradas de florestas maduras de forma espaçada e pequenas, a cicatrização do local é rápida. Espera-se que a área degradada recupere a fauna e flora de forma micro e macro do ambiente. No Brasil, a embrapa já vem utilizando esse procedimento, o trabalho científico em que foi aplicado a transposição tem o nome de Avaliação da transposição do banco de sementes do solo na recuperação de uma área degradada da Caatinga. e consistiu em utilizar um área degradada da caatinga, transpondo para ela dez áreas de solo contendo 1 metro por um metro quadrado e com cerca de cinco centímetros de altura, após essa transposição ser feita, e o solo ser assentado na área antes degradada foram medidos diversos fatores como riqueza, abundância e também níveis de umidade dessas áreas e das áreas degradadas.
Transposição de chuva de sementes: ocorre um plantio de mudas
germinadas pelas sementes disponíveis de forma natural, sobre os coletores permanentes aplicadas em áreas conservadas. Nesses coletores são peneiradas as sementes, folhas e frutos para que posteriormente sejam triturados e semeados em bandejas com substratos naturais. Após a germinação, as raízes formam uma trama, denominada placa de muda, que apresenta todas as formas vegetais. É importante ressaltar que a coleta deverá ser de áreas bem conservadas, sem espécies invasoras, evitando um novo processo de invasão ecológica. Essa técnica é importante pois além da reestruturação, auxilia na fertilização do solo da área degradada. Uma forma de utilizar a transposição de sementes, é durante o processo de recuperação de áreas degradadas pela mineração de rochas balsâmicas, ou durante a restauração de margens de ribeirões. Poleiros artificiais: são estruturas de grande altitude, utilizadas para pouso de aves e morcegos, que promovem conectividade entre as áreas devido a disseminação de sementes. A recomendação é que utilize o poleiro de 10m de altura, denominado de “torre de cipó”, no qual utiliza- se três varas de eucalipto com copa, enterradas e montadas em forma de cone, onde devem ser introduzidas espécies de trepadeiras nativas, promovendo atração desses animais. Muitas vezes, utiliza-se esse método como modelo de nucleação para áreas ciliares, sendo amplamente eficientes nas famílias Asteraceae e Poaceae.
Plantio de árvores nativas: é realizado um plantio em grupos de cinco a nove
mudas, seguindo um espaçamento de pelo menos 1x1m, porém espaçados dos grupos já presentes na área. Adiciona-se grupos de mudas de bromélias, preferencialmente as que armazenam água e detritos da fauna, para que ocorra a atração de animais para aquela área. No Brasil já temos empresas especializadas no plantio de árvores nativas, como é o caso da CBFT - reflorestamento, que atua nesse nicho, focada em áreas de mata ciliares, espécies ameaças e recuperações de áreas de preservação permanente, a infraestrutura possui viveiros onde as mudas de espécies nativas são cultivadas até estarem grandes o suficiente para serem levadas até a mata onde serão plantadas, essas iniciativas privadas têm um grande papel de preservar e reproduzir espécies que muitas vezes estão perto da extinção no ambiente natural, e posteriormente podendo voltar a ocupar seu habitat onde é natural e tem seu nicho específico.
Referências:
JUNIOR, José Akashi; DE CASTRO, Selma Simões. Corredores de
biodiversidade como meios de conservação ecossistêmica em larga escala no Brasil: uma discussão introdutória ao tema. Brazilian Journal of Environmental Sciences (Online), n. 15, p. 20-28, 2010.
NASCIMENTO, Alexandre Túlio Amaral et al. Conservação da biodiversidade e
dinâmica ecológica espacial: evolução da teoria. CEP, v. 60020, p. 181, 2012.
Portal Embrapa, visualizado no dia 13/04/2021- site:
https://www.embrapa.br/codigo-florestal/nucleacao#:~:text=Consiste%20na %20forma%C3%A7%C3%A3o%20de%20%22ilhas,dessa%20%C3%A1rea %20por%20outras%20esp%C3%A9cies.&text=Assim%2C%20a%20partir %20desses%20n%C3%BAcleos,o%20processo%20de%20sucess%C3%A3o %20natural. BECHARA, F. C. Unidades demonstrativas de restauração ecológica através de técnicas nucleadoras: Floresta Estacional Semidecidual, Cerrado e Restinga2006. 248f. Tese (Doutorado em Recursos Florestais) - Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2006.
REIS, A.; KAGEYAMA, P. Y. Restauração de áreas degradadas utilizando
interações interespecíficas. In: KAGEYAMA, P. Y. et al. (Eds). Restauração Ecológica de Ecossistemas Naturais . Botucatu: FEPAF , 2003. p. 91-110.
REIS, A. et al. Restoration of damaged land areas: using nucleation to improve
successional processes. Natureza & Conservação, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 85-92, abr. 2003
TRES, D. R.; REIS, A. La nucleación como propuesta para la restauración de la
conectividad del paisaje. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE RESTAURACIÓN ECOLÓGICA, 2., 2007, Santa Clara. Anais... Santa Clara: Grupo Cubano de Restauración Ecológica, 2007. p. 1-11.