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(uma crítica ao REAA praticado por Grandes Lojas do Brasil)

Ailton Pinto de Trindade Branco1

Origem

O Rito Escocês do Brasil aparece pela primeira vez nos rituais dos três graus
simbólicos criados em 1927 pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo
e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, presidido por Mário
Behring, e transmitidos à Grande Loja do Rio de Janeiro através de tratado entre as duas
Obediências. Foram colocados em execução em 1928 nas Grandes Lojas brasileiras
fundadas após a separação entre Supremo Conselho e Grande Oriente do Brasil.
Substituíram os rituais do REAA das Lojas Simbólicas do GOB.

O Rito Escocês do Brasil foi uma invenção ritualística circunstancial. Não é o


mesmo que Rito Escocês Antigo e Aceito, embora as Grandes Lojas brasileiras, por
imposição do Supremo Conselho, empreguem indevidamente essa denominação para o
seu ritual escocês. Indevidamente porque os procedimentos que constituem os primeiros
rituais do REAA, a partir de 1804, na França, são diferentes do que se faz no Brasil. O
REAA praticado no século 19 nos graus simbólicos das Lojas Capitulares2 do Grande

1
Publicado em: http://www.oficina-
reaa.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=category&id=39&Itemid=64. Ver também, do
mesmo autor “Rito Escocês Antigo e Aceito
http://www.redempcao.org.br/docs/trabalhos/O%20RITO%20ESCOCES%20ANTIGO%20E%20ACEIT
O.pdf

2
Explicação em http://iblanchier3.blogspot.com.br/2014/12/lojas-capitulares.html (transcrito ao final
deste)

1
Oriente do Brasil, portanto antes do surgimento das Grandes Lojas, é semelhante ao que
consta nos primeiros rituais franceses e diferente do Rito Escocês do Brasil.

Em 1927, as chamadas Lojas Capitulares do REAA abrangiam os graus 1 ao 18 e


eram comandadas pelo Grande Oriente do Brasil. O Supremo Conselho jurisdicionava os
graus 19 ao 33.

Na nova estrutura jurisdicional do REAA do começo dos anos 1900, decidida em


convenção mundial dos Supremos Conselhos, as Lojas Capitulares desapareciam; os três
primeiros graus ficavam sob responsabilidade de uma Obediência que pode ser uma
Grande Loja ou Grande Oriente e os 30 graus restantes sob o comando de outra
Obediência, o Supremo Conselho do Grau 33. Essa reformulação na divisão jurisdicional
dos 33 graus do REAA não teve receptividade pacífica no Brasil. O Grande Oriente
inicialmente aceitou, depois recuou e rejeitou o acordo. O conflito provocou
desdobramentos político-administrativos, culminando com a ruptura das relações entre as
Potências Maçônicas GOB e Supremo Conselho.

O Supremo Conselho, tendo se separado do Grande Oriente do Brasil, precisou de


novas Lojas Simbólicas para os três primeiros graus dos 33 do REAA. Por isso, criou as
Grandes Lojas. Sobre os rituais a ser adotados, tudo levava a crer que seriam os mesmos,
conhecidos do Supremo Conselho desde a época da convivência amistosa com o Grande
Oriente. Bastava recomendar às Grandes Lojas por ele criadas os mesmos rituais para as
suas Lojas Simbólicas.

Mas o Supremo Conselho não prestigiou a lógica operacional e nem a ética com os
maçons do Rito. Elaborou um ritual novo que gerou um rito diferente nos três primeiros
graus, constituído de procedimentos misturados do Rito Moderno, do Rito de Heredom,
do Rito de York e de alguns graus superiores do próprio REAA. Deve ter tido suas razões
para desprezar rituais consagrados. O Supremo Conselho como qualquer outra Potência
Maçônica pode criar um rito novo. O que não deve fazer é criar um rito novo e dar a ele
o nome de um rito antigo, tradicional, cujos rituais são conhecidos no mundo inteiro. O
ritual criado pelo Supremo Conselho para os graus simbólicos das Grandes Lojas
brasileiras é muito diferente do REAA original trazido para o Brasil pela primeira vez.
Mesmo assim, premeditadamente, foi dado ao conjunto de novos cerimoniais o mesmo
nome do rito Escocês Antigo e Aceito criado em 1801 nos Estados Unidos da América.
O Supremo Conselho rasgou parte do seu passado ritualístico obrigando as Grandes Lojas
a adotarem o nome do REAA embora seus rituais do simbolismo não contenham os
procedimentos desse Rito. O Supremo Conselho nunca explicou porque agiu dessa forma.
Presentemente, sabe-se que as pesquisas realizadas pela Oficina de Restauração do REAA
sobre os rituais originais de 1804 e a comparação com os rituais designados pelo Supremo
Conselho, desencadearam surpresa em todo o Brasil e alguns constrangimentos. Maçons
tidos como conhecedores do REAA, palestrantes convictos e aplaudidos, passaram a ser
questionados sobre afirmativas produzidas a respeito de procedimentos mostrados e
interpretados como sendo do REAA e que agora se sabe que não são.

Assim nasceu o Rito Escocês do Brasil, sistema ritualístico que apenas os maçons
brasileiros conhecem.

A obra da maçonaria celebra a repetição de si mesma e do seu próprio destino à luz


dos sucessivos elementos que são adicionados a cada nova descoberta de acontecimentos

2
históricos desenterrados do passado. Cada um desses fatos clareia a visão para
interpretações sobre condutas da coletividade maçônica, as quais têm oscilado entre
grandes feitos solidários com elevados humanitarismos e atitudes como alterar rituais
apenas para alimentar disputas políticas internas. Embora recomendado nos trabalhos em
Loja o respeito à inalterabilidade do desenvolvimento dos rituais em vigor, os caciques
das diferentes administrações modificam os rituais de suas Obediências sem muito pudor.
O exemplo na prática dos rituais brasileiros não recomenda a teoria dos princípios
maçônicos.

II

O Ritual Renegado

Em 1874, quando o Visconde do Rio Branco era Grão-Mestre do Grande Oriente


do Brasil e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Brasil do Rito
Escocês Antigo e Aceito, foi impresso um ritual completo para os três graus simbólicos
do Rito no Brasil.

O prefácio está assim redigido: “O Sapientíssimo Grande Oriente do Brasil em


sessão de 22 de setembro de 1874, E.V., resolveu autorizar todas as despesas precisas
para a reimpressão das presentes guias. E o Muito Poderoso Supremo Conselho, em
Assembléia de 01 de outubro do mesmo ano, autorizou ao Grande Secretário Geral da
Ordem a mandar corrigir, rever e organizar as “Guias de trabalhos dos três Graus
Simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito”, fazendo para isso as despesas que forem
necessárias. Em vista das supramencionadas disposições foram as presentes Guias
corretas e publicadas pelo abaixo assinado, sendo auxiliado nesse mister pelo pessoal
da Grande Secretaria Geral. Dr. Luiz Antônio da Silva Nazareth, Grande Secretário
Geral”.

Em 1889, no Grão-Mestrado de Visconde Vieira da Silva, foi impressa outra edição


do REAA, cópia de 1874. As duas apresentações são muito diferentes dos rituais que
vieram a ser adotados pelo Supremo Conselho para os graus simbólicos das Grandes
Lojas estaduais em 1928. A edição de 1874 usada no Brasil é tradução do segundo ritual
francês do REAA, produzido pelo Grande Oriente de França em 1816. O primeiro ritual
dos três graus simbólicos do REAA para o mundo surgiu em 1804, elaborado pela Grande
Loja Geral Escocesa de Paris. Para recordar mais uma vez: o REAA produzido em 1801
nos Estados Unidos nasceu com apenas 30 graus próprios.

Quando o Supremo Conselho rompeu relações com o GOB renegou o ritual de 1874.
Foi rasgado por questões meramente políticas. Esse ritual do simbolismo do REAA
aprovado em Assembléia do Supremo Conselho tornou-se descartável para as Grandes
Lojas por obra e graça do mesmo Supremo Conselho. Foi renegado depois da cisão de
1927. Uma verdade ritualística passou a ser uma mentira num passe de mágica.

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O Supremo Conselho dirigido por Mário Behring inventou um rito novo para ser
usado pelas Grandes Lojas Simbólicas estaduais, dando forma e conteúdo ao Rito Escocês
do Brasil, que o Supremo Conselho denomina até hoje de Rito Escocês Antigo e Aceito.
Não se encontra alegação consistente para entender que uma entidade como o Supremo
Conselho, que parece zelar pela sua honorabilidade e credibilidade, faça vistas grossas
para a constrangedora incompatibilidade ritualística entre os rituais dos graus simbólicos
de 1874 e 1889 do REAA com os rituais de 1928, também com o mesmo nome.

Como atenuante, as pesquisas mostram que a ritualística dos graus simbólicos no


começo dos anos 1900, que antecederam a criação das Grandes Lojas brasileiras, era
pouco conhecida e aplicada nas reuniões das Lojas Capitulares. Essas Lojas trabalhavam
nos graus mais elevados do Capítulo e com autoridade dirigente do grau Rosa-cruz. Os
graus simbólicos eram ritualizados apenas nas Iniciações e como degraus de passagem.
Em parte, por isso, o Supremo Conselho deu pouca importância aos rituais dos graus
entregues às Grandes Lojas. A mudança de jurisdição era recente e qualquer rascunho de
retalhos ritualísticos seria tolerado, como foi. Os maçons das primeiras 108 Lojas que
aderiram ao Supremo Conselho transformando-se de Lojas Capitulares em Lojas
Simbólicas quase nada sabiam de simbolismo.

O Supremo Conselho criou novos rituais para as Grandes Lojas para afrontar e
contestar os rituais que ficaram com o Grande Oriente do Brasil. Nas Lojas Simbólicas
pensaram que a transformação das Lojas Capitulares incluía rituais diferentes e
embarcaram na onda das mudanças.

Os graus simbólicos tinham mínima valorização funcional nas Lojas Capitulares e


o mesmo entendimento permaneceu nos anos seguintes ao surgimento das Lojas
Simbólicas. Nas sessões das Lojas Capitulares que eram corpos mistos independentes
com graus simbólicos e graus filosóficos, o Soberano Grande Comendador visitava a
Oficina e participava dos trabalhos sem o avental. Depois da inclusão dos graus
simbólicos escoceses no conjunto designado como maçonaria universal, onde o Soberano
Comendador do REAA não tem autoridade jurisdicional, a presença física do grau 33
limita-se ao simbolismo e às prerrogativas do mestre maçom e deve obedecer aos
regulamentos de funcionamento das Lojas simbólicas, ou seja, obrigatoriamente portar o
avental. Mas essa exceção permaneceu por muito tempo nos trabalhos do REAA.

O entendimento de submissão das Grandes Lojas estaduais ao Supremo Conselho,


apesar dos tratados de autonomia existentes entre essas Obediências em todo o Brasil
estava muito impregnado. A leitura de antigas atas de assembleias das Grandes Lojas
permite encontrar provas dessa servidão. Na abertura da ata da segunda Assembléia Geral
da Grande Loja Simbólica do Rio Grande do Sul, em 15 de janeiro de 1929, consta:
“reunidos os membros efetivos da Grande Loja Simbólica para a jurisdição do Estado
do Rio Grande do Sul, obediente ao Soberano Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo
e Aceito para os Estados Unidos do Brasil...”. Note-se a palavra obediente. Documentos
antigos mostram que as Grandes Lojas tiveram que retirar o nome do Rito Escocês Antigo
e Aceito de seus registros e adotar a configuração do cargo de Grão-Mestre como dos
Maçons Antigos, Livres e Aceitos para conseguir reconhecimento internacional.

As Grandes Lojas dos Estados Unidos entendiam que a especificação do REAA


vinculado ao nome da Grande Loja e de suas autoridades caracterizava falta de autonomia
em relação Supremo Conselho. É notório que esses maçons brasileiros não tinham

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conhecimento e nem autoridade de fato para examinar, analisar e contestar um ritual que
lhe foi imposto em 1928 em nome do REAA, um ritual anômalo e sem a identidade dos
procedimentos históricos do Rito.

III

Precedência
Em 26 de novembro de 1927 o Supremo Conselho do Brasil assinou tratado com a
Grande Loja Simbólica do Rio de Janeiro para assegurar obediência sobre o uso dos
Rituais para os Graus Simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito pelas Grandes Lojas
estaduais brasileiras a partir de 1928. O Supremo Conselho rompera com o Grande
Oriente do Brasil e precisou criar Potências que liderassem e coordenassem as Lojas
Simbólicas e realizassem as tarefas administrativas inerentes ao funcionamento dessas
Oficinas. O Supremo Conselho entregou rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre
como sendo do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Há quase cem anos se praticava o Rito no Brasil. O Supremo Conselho tinha os


exemplares ritualísticos usados pelo simbolismo das Lojas Capitulares do Grande Oriente
do Brasil. Bastava adaptá-los e repassá-los para as Grandes Lojas fundadas, retirando os
conteúdos dos graus 4 ao 18. Mas os rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre
entregues à Grande Loja Simbólica do Rio de Janeiro, em 1927, foram muito diferentes
do que se conhecia e praticava do REAA no Brasil, sem precedência em Lojas
Simbólicas. Não correspondiam ao Rito Escocês Antigo e Aceito como constava no papel
da capa.

Os graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito tiveram redação própria desde
1804, em Paris. A partir de 1816, ainda na França, quando o Grande Oriente de França
constituiu a Loja Capitular do Rito Escocês Antigo e Aceito e assumiu a liturgia e a
jurisdição dos primeiros 18 graus, promoveu algumas alterações nos rituais de 1804,
como o Oriente com piso elevado, mas preservou o catecismo anterior. A Loja Capitular
foi trazida para o Brasil e adotada pelo Grande Oriente do Brasil. O Supremo Conselho
do Brasil aprovou esses rituais. Mas o Supremo Conselho inventou outros rituais depois
da cisão com o GOB. E nesses aplicou o nome do Rito Escocês Antigo e Aceito. Desde
então, os maçons brasileiros tiveram dois rituais muito diferentes dos graus simbólicos
do REAA; os antigos usados pelas Lojas do GOB e os recém criados para as Grandes
Lojas. O ritual de 1928 inaugurou outro Rito no Brasil. A Escada de Jacob e as múltiplas
Instruções em cada grau, como se verifica no ritual de Emulação, a corda de 81 nós, as
colunetas das Luzes, são algumas dentre várias novidades do escocesismo brasileiro. Os
rituais originais franceses precedentes do Rito Escocês Antigo e Aceito nada referem
sobre esses símbolos e têm uma Instrução do grau.

As inúmeras discrepâncias entre os rituais dos graus simbólicos adotados no Brasil


pelo GOB e os rituais criados pelo Supremo Conselho dissidente, estimularam as centenas
de alterações introduzidas nos rituais das Grandes Lojas estaduais ao longo dos anos até
o presente. Cada nova Administração de Grande Loja em todo o país realizou
modificações, procurando aproximar os rituais de 1928 aos do Rito Escocês Antigo e

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Aceito que era conhecido pelos maçons mais antigos, em especial os que se transferiram
do GOB com suas Lojas. Tantas são as mexidas no ritual que o Supremo Conselho
publicou nota, reproduzida a seguir, para salientar que uma Grande Loja assinou
documento se comprometendo a não alterar o ritual criado pelo Supremo Conselho.

A publicação do Supremo Conselho está intitulada “Precedência”. No cabeçalho do


documento não consta o nome do Supremo Conselho, substituído pela foto da cabeça do
Comendador. A boa ética maçônica não apóia o culto à personalidade. O título escolhido
“Precedência” não poderia ser mais adequado para recordar 1928, ano que marcou o
lançamento de rituais sem nenhuma precedência de uso em Lojas Simbólicas do REAA.
Os rituais de 1928 compilados pelo Supremo Conselho são únicos. A precedência
invocada agora não foi respeitada em 1927.

O Rito foi criado em 1801 sem graus simbólicos e completado em 1804, em Paris,
quando foram confeccionados os primeiros rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre.
Precederam 124 anos de prática do REAA e o Supremo Conselho do Brasil inventou
rituais diferentes e os atribuiu ao Rito Escocês Antigo e Aceito.

O visual e o conteúdo da atual declaração mostram o cuidado de não fazer constar


no cabeçalho o nome do Supremo Conselho para não caracterizar posição de autoridade
sobre as Grandes Lojas e, com isso, colocar em risco os reconhecimentos internacionais
das mesmas. A história revela outro tipo de precedente, em 1930, que deve ter preocupado
o Supremo Conselho. A Grande Loja do Rio de Janeiro enviou correspondência às outras
Grandes Lojas mandando retirar o nome do Rito Escocês Antigo e Aceito vinculado ao
de cada Grande Loja porque as Potências estrangeiras negavam reconhecimento às
Grandes Lojas brasileiras recém criadas, alegando que elas eram subordinadas ao
Supremo Conselho. E tinham razão; no art. 2 do Decreto 4 do Supremo Conselho essa
subordinação está plasmada. Para atenuar a resistência das Potências estrangeiras foi
decidido trocar Grande Loja Simbólica do Rito Escocês Antigo e Aceito por Grande Loja
dos Maçons Antigos, Livres e Aceitos. As Grandes Lojas norte-americanas aceitaram o
artifício e fizeram tratados de reconhecimento de regularidade com as novas Potências
brasileiras.

No texto “Precedência” a autoridade do Supremo Conselho sobre as Grandes Lojas


brasileiras fica mascarada. A alegação de esbulho de competência refere-se ao direito
autoral sobre o ritual de 1928, que realmente pertence ao Supremo Conselho porque é
uma criação sua, que recebeu o título do REAA, embora formado por procedimentos
estranhos aos do ritual original desse Rito. A publicação da reprimenda ganhou conotação
pessoal do Comendador e não institucional do Supremo Conselho. O Supremo Conselho
não tem competência legal para fiscalizar rituais dos graus simbólicos. Mas como os
procedimentos e diversos diálogos nos rituais de 1928 desenham um novo Rito, o
Supremo Conselho tem o direito de reclamar que seja mantida a originalidade do seu
invento.

Se os rituais das Grandes Lojas fossem do simbolismo do REAA o Supremo


Conselho, por prudência, não reclamaria jurisdição sobre os mesmos. Eles são de domínio
público. Mas o Supremo Conselho usou de argúcia e inteligência, em 1928, para abrir um
canal de influência sobre as Grandes Lojas. Criou um novo ritual para os graus
simbólicos, ou seja, colocou um produto seu dentro da rotina funcional das Grandes
Lojas. O ritual diferente facilitou o registro de patente de direito exclusivo e isso permite

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que o Comendador critique os esbulhos das Grandes Lojas nas alterações. Se o Supremo
Conselho tivesse entregado para as Grandes Lojas rituais antigos semelhantes aos
adotados com o GOB, antes de 1928, esse direito não existiria porque são rituais
reconhecidos e praticados em outros Orientes estrangeiros dos quais o Supremo Conselho
não tem exclusividade. Diante disso, cabe a pergunta: quem praticava no mundo, em
nome do REAA, os rituais cedidos para as Grandes Lojas? Resposta: ninguém. Por isso,
são exclusivos do Supremo Conselho, embora pouco ou nada tenham de Rito Escocês
Antigo e Aceito.

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Os Supremos Conselhos têm jurisdição sobre os graus filosóficos do REAA e não
devem interferir na autonomia das Potências dos graus simbólicos. Aos maçons menos
informados sempre é conveniente salientar: o Rito Escocês Antigo e Aceito nasceu em
1801 nos Estados Unidos sem graus simbólicos próprios. Os primeiros rituais de Lojas
Azuis produzidos foram obra da Grande Loja Geral Escocesa, em 1804, Potência

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Maçônica não subordinada ao Supremo Conselho. Os segundos rituais do simbolismo
foram elaborados pelo Grande Oriente de França, Potência não subordinada ao Supremo
Conselho e que, em 1815, até fundou um Supremo Conselho subordinado ao GOF

Os Supremos Conselhos jurisdicionam Lojas dos graus 4 ao 33. Não fiscalizam


rituais dos graus simbólicos do REAA. Quando o primeiro Supremo Conselho foi
fundado nos Estados Unidos e o segundo na França, tiveram oportunidade de produzir
rituais próprios para o simbolismo de suas Lojas em 1801 e 1804. Não fizeram. E por
quê? Porque nos Estados Unidos, base da origem do REAA, o Supremo Conselho não
teve a mínima possibilidade de se envolver com as Lojas Simbólicas e nem com as jovens
Lojas Simbólicas do Rito que estão surgindo por lá. Portanto, pensar diferente disso
configura hipótese ridícula, impensável. O mesmo vale para a Inglaterra e para a França.
Não se deve confundir a ação de fundar Lojas Simbólicas, que os Supremos Conselhos
podem, com interferir na autonomia, sob qualquer pretexto inclusive ritualístico, das
Potências Simbólicas, que os Supremos Conselhos não podem.

Na eventualidade de representação formal de Grande Loja brasileira às Grandes


Lojas norte-americanas, por exemplo, manifestando a tentativa de interferência do
Supremo Conselho em sua soberania através dessa publicação encabeçada pelo
Comendador, os tratados de reconhecimento de regularidade assinados pelas Grandes
Lojas dos Estados Unidos com nossas Grandes Lojas podem ser denunciados e rompidos.
E isso ainda pode acontecer.

O melhor para o aperfeiçoamento ritualístico das Grandes Lojas brasileiras é o


Supremo Conselho exercer seu direito de propriedade sobre o ritual de 1928 e retirá-lo de
uso das Grandes Lojas sob argumento de esbulho de competência. Assim, desapareceria
essa influência constrangedora e as nossas Grandes Lojas teriam a liberdade de obter e
praticar rituais originais do REAA da França ou dos Países Baixos. Mas o Supremo
Conselho não quer isso. É apenas jogo de cena para (im)pressionar.

Concluindo, por enquanto, a análise desse tema “Precedência”, destaque para a


posição da Grande Loja Simbólica do Rio de Janeiro, em 1928, agraciada com uma
posição hierárquica superior ao ser eleita única credenciada e competente pelo Supremo
Conselho para assinar tratado em que é indicada autoridade responsável pela aplicação
dos rituais novos nas outras Grandes Lojas, que não assinaram tratado semelhante. Essa
autoridade implícita da Grande Loja do Rio de Janeiro sobre as demais está comprovada
nas inúmeras correspondências arquivadas na secretaria de cada Grande Loja, através das
quais procuram orientação ritualística e administrativa do Rio de Janeiro. Para citar fato
relevante, há nos arquivos da Grande Loja do Rio Grande do Sul pranchas de 1950
perguntando à Grande Loja do Rio de Janeiro qual o Rito em prática, eis que não se
parecia com o REAA.

Milhares de maçons das Grandes Lojas brasileiras perguntam em todos os Orientes


do país porque os rituais têm sido alterados. O filósofo canadense Marshall Mcluhan,
criador do termo Aldeia Global tem a explicação: “As respostas estão sempre dentro do
problema, não fora.”

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O Decreto da Cisão

O texto publicado pelo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito,


intitulado “Precedência”, reproduzido no ensaio III da série Rito Escocês do Brasil, refere
“relevante preocupação com movimentos no sentido de alteração nos Rituais dos Graus
1, 2, 3 – Simbólicos -, que foram entregues às Grandes Lojas pelo Il. e Pod. Ir. Mário
Behring, Soberano Grande Comendador, em 1928.” E prossegue afirmando que “estes
Rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito não podem sofrer qualquer modificação, senão
pelo Supremo Conselho,... porque é ele sua única e suprema autoridade...”(art. 5 do
Estatuto do Supremo Conselho).

O Soberano Grande Comendador e a cúpula administrativa do Supremo Conselho


sabem que os rituais de 1928 dos graus simbólicos estão muito modificados em todas as
Grandes Lojas brasileiras, se comparados com os originais fornecidos à Grande Loja do
Rio de Janeiro. O giro, a ornamentação do templo, as colunetas, as colunas zodiacais, as
conclusões do Orador e outros procedimentos foram alterados conforme entendimento da
Grande Comissão de Liturgia de cada Grande Loja ou da reunião dos Grão-Mestres em
mesas-redondas a partir de 1952. A Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil –
CMSB, que congrega os Grão-Mestres de todas as Grandes Lojas brasileiras, foi criada
em 12 de novembro de 1965 porque “As Grandes Lojas ressentiam-se da necessidade de
um consenso emanado exclusivamente das Potências Simbólicas para garantir e atestar
a verdadeira Soberania, transformando a Soberania teórica no seu pleno exercício.”
(página da CMSB). E justifica: “Inicialmente as Grandes Lojas seguiam as diretrizes
emanadas pelo Supremo Conselho, quer litúrgica, ou seja, o Supremo Conselho
determinava a ritualística, quer administrativamente, o que não refletia a proposta de
Soberania das Potências Estaduais.”

No texto da CMSB deduz-se que nos primeiros trinta anos de existência das
Grandes Lojas o Supremo Conselho influenciou ritualística e administrativamente as
Potências que ajudou a criar. As mesas-redondas dos Grão-Mestres diagnosticaram a
postura do Supremo Conselho perniciosa à soberania das Grandes Lojas e prejudicial aos
diversificados interesses dessas. Fundaram a CMSB para melhor reagir a esse esbulho de
competência do Supremo Conselho (aproveitando a expressão usada na publicação
“Precedência”). As duas atitudes – tanto da intenção do Supremo Conselho de interferir
nas Grandes Lojas, como das Grandes Lojas se insurgirem contra a interferência – têm
por base o conteúdo do Decreto n° 4 do Supremo Conselho, editado em 17 de junho de
1927. O texto, reproduzido a seguir, foi construído de forma a permitir interpretações
conflitantes. No art. 2, as Lojas simbólicas que trabalham no Brasil no REAA ficam
sujeitas aos Estatutos e Regulamentos Gerais do Supremo Conselho. No art. 6 fica
concedida às Lojas Simbólicas dos Estados a faculdade de se agremiarem formando
Grandes Lojas que proverão toda a vida maçônica estadual, reconhecida e garantida sua
plena, absoluta Soberania, sem reserva de espécie qualquer dentro do Simbolismo. Essa
ambivalência de conceitos sobre prerrogativas de obediência e autonomia serviu para
constranger as Grandes Lojas no período inicial de sua existência, carentes de melhor
organização e maior suficiência, a aceitarem uma intervenção não declarada, mas
consentida do Supremo Conselho. As Grandes Lojas fortaleceram sua organização e há
mais de 50 anos estão alterando, sem autorização do Supremo Conselho, os rituais de

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1928, acreditando que têm esse direito conforme a letra do art. 6. Há 50 anos os Grão-
Mestres criaram a CMSB para reforçar a Soberania na prática, embora se sucedam
reclamações até o presente de reiteradas tentativas do Supremo Conselho de interferir na
vida administrativa das Grandes Lojas.

O art. 2 do Decreto n° 4, que fala da obediência ao S.C., refere-se ao período de


transição quando as Lojas que fizeram opção pela dedicação exclusiva ao Simbolismo em
1928, deixando de ser Capitular, ainda não tinham uma Grande Loja para se filiar no
Estado. Exemplo, a Loja Rocha Negra, Oriente de São Gabriel – RS, que fez a troca de
regime ritualístico e desvinculou-se da sua Potência de origem. Filiou-se
temporariamente à Grande Loja do Rio de Janeiro porque a Grande Loja do Rio Grande
do Sul ainda não havia sido criada.

A Oficina de Restauração do REAA reproduz o original do Decreto n° 4 do


Supremo Conselho para que os leitores possam conhecer o teor dessa matéria que marcou
o momento de ruptura do Supremo Conselho com o Grande Oriente do Brasil e o começo
do surgimento das Grandes Lojas brasileiras, precedido pela Grande Loja da Bahia que
já existia nessa data.

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V

E o Giro, Comendador?

A Oficina de Restauração do REAA aumenta a diversificação de temas disponíveis


acrescentando a publicação de uma série de análises sobre conteúdos e procedimentos
adotados nos rituais dos graus simbólicos das Grandes Lojas brasileiras e um pouco de
história sobre esses estranhos no ninho do REAA. São expressivamente diferentes dos
usados pelo Supremo Conselho em condomínio com o GOB quando ambos eram
parceiros, antes das Grandes Lojas. As caminhadas dos Oficiais com sinal penal armado,
fazendo giros por fora do templo e por trás das Luzes são marcas de um novo e estranho
escocesismo, lançado em 1928. Apesar das discrepâncias, os rituais inventados pelo
Supremo Conselho foram também atribuídos ao REAA. São tão diferentes que
inauguraram um Rito novo. Há oitenta anos as Grandes Lojas praticam um Rito feito
somente para elas, um Rito Escocês brasileiro. E há oitenta anos as Administrações eleitas
promovem modificações nos rituais porque não os identificam com o REAA conhecido
antes. Umas Grandes Lojas modificaram mais que outras.

Os rituais de 1928 desfiguraram o Rito Escocês Antigo e Aceito precedente. O giro


em Loja imaginado para os rituais implantados nas Grandes Lojas foi surpreendente,
marcante e extravagante. A localização de Aprendizes e Companheiros fora do templo
complementa essa fantasia novidadeira na época do seu lançamento.

A área do Ocidente foi delimitada pelas Colunas Zodiacais, pelas Colunas B e J e


pela balaustrada do Oriente. Entre as Colunas Zodiacais e a parede do prédio do salão
onde está o templo há um espaço. O ritual de 1928 diz que no espaço situado no Norte
ficam os Aprendizes e no Sul, os Companheiros. Ambos, fora do ambiente considerado
templo. A idéia de separação entre o limite do templo simbólico onde funciona a Loja e
a parede do salão onde foi ornamentado o templo gerou muita confusão. A entrada do
templo no Ocidente fica entre as Colunas J e B, mas as batidas consideradas na porta do
templo são dadas na porta do salão. Para os maçons iniciantes e até para a maioria dos
mais antigos era difícil compreender que ao mesmo tempo em que Aprendizes e
Companheiros estavam fora do templo porque ficavam na parte externa das Colunas
Zodiacais e B e J, a porta do salão que ficava na parte externa das Colunas era a porta do
templo.

No ritual de 1928, considerado ainda em vigor pelo Supremo Conselho, durante os


trabalhos nos graus de Aprendiz e Companheiro a circulação dos Oficiais consiste em
esquadrejar o Ocidente pelos considerados espaços externos. Dentro da Loja o Oficial,
Mestre de Cerimônias como referência, para se dirigir ao Tesoureiro que se posiciona às
suas costas, para não andar para trás, atravessa a largura do Ocidente caminhando junto à
balaustrada, passa entre essa e o Hospitaleiro, sai no espaço entre as Colunas Zodiacais
no Sul e a parede do salão, dobra à direita, passa na frente dos Companheiros e atrás do
Segundo Vigilante. Após a última Coluna Zodiacal do Sul, vira à direita e percorre o
espaço entre a parede do salão e as Colunas B e J. Passa atrás do Primeiro Vigilante e
após a primeira Coluna Zodiacal do Norte dobra à direita e segue em direção à balaustrada
do Oriente. Passa na frente dos Aprendizes e entra no Ocidente do templo junto ao Oriente

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para chegar à mesa do Tesoureiro, pela esquerda do mesmo. Cumprida a tarefa segue a
caminhada até o seu lugar na Coluna do Norte. Um interminável entra e sai do templo.
Se o destino for o Venerável, o Mestre de Cerimônias sai do seu lugar, sobe os degraus
do Oriente, passa atrás do trono e se aproxima do Venerável pelas costas e no lado
esquerdo do mesmo.

Essa conjuntura era ensinada como decorrente do fato de que Aprendizes e


Companheiros não entravam no Templo de Salomão. No momento de ministrar as
instruções, algumas Lojas tidas como mais esclarecidas em liturgia conduziam o
Aprendiz ou Companheiro até entre as Colunas B e J para receberem o “salário” ou para
apresentação da peça de arquitetura sobre a instrução recebida. Outras Lojas mandavam
o Aprendiz ou Companheiro designado apenas levantar-se para receber a instrução no seu
lugar fora do templo ou ler a peça de arquitetura.

Deduz-se da descrição que o esquadrejamento se processa no sentido horário. Isso


origina diversos movimentos que agridem a coerência interpretativa do ritualismo. Para
fins de constatação de uma eventual situação prática, imagine-se que um Companheiro
vá receber uma Instrução do Grau. O Mestre de Cerimônias atravessa o Ocidente
paralelamente à balaustrada, dirige-se ao Companheiro na Coluna do Sul, fora das
Colunas, e o conduz até entre Colunas B e J. Após a Instrução, para voltar à Coluna do
Sul, o Mestre de Cerimônias conduz o Companheiro por fora das Colunas pelo lado Norte.
Próximo à balaustrada do Oriente entra no Ocidente, passa na frente da entrada do
Oriente, sai do Ocidente na Coluna Sul e chega ao lugar dos Companheiros. Essas
entradas e saídas laterais do interior do templo junto à balaustrada são irregulares porque
a entrada no templo deve ser apenas entre as Colunas B e J.

Outra incoerência – nos graus de Aprendiz e Companheiro as Lojas se reúnem para


trabalhos visando o aperfeiçoamento desses Irmãos. Mas eles ficam fora do ambiente do
trabalho que lhes é dedicado. Por analogia, uma escola onde os alunos ficam fora da sala
de aula durante a explanação do professor dentro da sala.

Tudo isso valeu até aproximadamente 1990. A circunvolução do ritual de 1928 e o


caminhar com o sinal foram abandonados pelas Lojas. Naturalmente! O Supremo
Conselho assimilou bem. Estava ansioso para se livrar do giro anacrônico e também da
incoerência entre as duas orientações conflitantes do ritual; caminhar à Ordem e ter o
corpo ereto com os pés em esquadria para fazer o sinal penal. Sumiram das Grandes Lojas
brasileiras. Esses procedimentos marcaram uma época em que jamais uma ritualística
maçônica foi desenvolvida com tanta burocracia funcional. Foram giros ritualísticos sem
precedência.

Os maçons contemporâneos desses procedimentos e, portanto, partícipes durante


anos dos trabalhos em Lojas do chamado REAA das Grandes Lojas, não receberam
interpretações confiáveis e convincentes para a dualidade de entendimentos sobre as
localizações de Aprendizes e Companheiros. Nos primeiros 60 anos dos rituais
inventados pelo Supremo Conselho em 1928, Aprendizes e Companheiros não possuíam
hierarquia Iniciática para habitar as dependências do Ocidente do templo. Num indefinido
momento o conceito mudou, foram considerados aptos e trazidos para o interior do
Ocidente. Acabara a discriminação. As alegações, diversas. Algumas sofisticadas, outras
longas. E o resultado final? Indiferente. Continuaram sendo feitos maçons do mesmo
modo em ambos os períodos. O que mudou foi a coerência dos procedimentos, a

16
diminuição do tempo dedicado ao andar inútil para a finalidade essencial da reunião em
Loja e a redução dos corredores de circulação fora das Colunas, espaço que foi
incorporado à área do Ocidente. Agora, as Colunas Zodiacais são esculpidas nas paredes
do salão.

Conforme o texto da mensagem do Soberano Comendador aos Irmãos das Grandes


Lojas, intitulada “Precedência”, quaisquer transformações ritualísticas de autoria das
Grandes Lojas sem autorização, são esbulho de competência. O proprietário dos seus
rituais é o Supremo Conselho. Portanto, as mudanças no giro, tanto no trajeto como na
postura física, durante os anos 1990 devem ser vistas como esbulho de competência. O
Supremo Conselho, na época, não recriminou os Irmãos das Grandes Lojas. Terá
autorizado em segredo as mudanças? Por que os giros foram trocados? Os anteriores
estavam irregulares? Não pertencem ao simbolismo do REAA? Ao longo de mais de meio
século muitas peças de arquitetura ensinaram que a caminhada do REAA por fora das
Colunas e por trás das Luzes, embora diferente da praticada em outras Potências, era
adequada. E os Irmãos das Grandes Lojas acreditaram. Tais peças de arquitetura, hoje,
podem ser esquecidas, apagadas. Uma precedência que não vale mais. A verdade no
templo das Grandes Lojas é outra. Na carta o Comendador não especificou quais
precedências são intocáveis.

VI

O Templo e o Ritual

No ensaio V da série Rito Escocês do Brasil o giro em Loja foi parcialmente


descrito com ênfase na circulação por trás das Luzes e das colunas zodiacais, um
procedimento inédito, sem precedência em rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito. Para
complementar, está sendo apresentado o desenho do templo dos rituais de 1928 das
Grandes Lojas brasileiras em que foram desenvolvidos esses movimentos.

Antes de 1928, quando ainda não havia Grandes Lojas, os trabalhos simbólicos do
REAA eram realizados nas Lojas Capitulares do Grande Oriente do Brasil e dos Grandes
Orientes estaduais. No GOB os rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre tiveram a
última edição atualizada em 1926 com a inscrição – “Ritual Adoptado pelo Sob. Supremo
Conselho do Gr. 33 do Rit. Esc. Ant. e Acc. para os Estados Unidos do Brasil – Rio de
Janeiro – 1926 (E.V.).” Edição de dois anos anteriores à criação das Grandes Lojas.
Apesar de possuir em mãos essa edição recente de ritual dos graus simbólicos do REAA,
o mesmo Supremo Conselho que homologou o ritual de 1926 premeditou um ritual
diferente a ser usado em 1928, depois da cisão. Um ritual que criasse incompatibilidade
ritualística do simbolismo das Grandes Lojas com o das Lojas Capitulares que
permaneceram no Grande Oriente. A ruptura com o GOB despertou ressentimentos de
Mário Behring e seus pares do Supremo Conselho que não se satisfizeram em mudar os
rituais que possuíam, inventaram outros e os creditaram também ao REAA.

17
Em 1928 morreram na maçonaria brasileira os rituais originais franceses do REAA
e nasceram os rituais plagiados pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês
Antigo e Aceito.

18
A partir daí surgiram novidades impensáveis para o escocesismo. Uma, o ensino
equivocado que o templo do REAA é o Templo de Jerusalém, chamado popularmente de
Templo de Salomão. Nos rituais de 1928 lê-se que os templos maçônicos têm sua origem
no Tabernáculo hebreu. O Tabernáculo, ou Tenda, era o santuário móvel usado pelos
hebreus para os serviços religiosos durante a peregrinação após o êxodo do Egito e até a
chegada a Canaã.

A maçonaria britânica não cristã, oficialmente organizada em 1717, adotou o


Templo de Salomão quando decidiu vincular-se a um passado operativo confiável e
tradicional. A maçonaria escocesa que começou com os altos graus não se apoiou na
história e no prestígio do templo hebreu. Para pesquisadores da Quator Coronati Lodge
2076 a maçonaria britânica buscou inspiração na cultura dos antigos construtores Greco-
Romanos de templos para valorizar a figura do “pedreiro livre” como construtor social,
fazendo analogia com obras de arquitetura suntuosa e perfeita. O Templo que Salomão
construiu para a habitação terrena de Deus, conforme o Antigo Testamento, foi erigido à
condição de símbolo de obra perfeita pelos maçons da Grã-Bretanha. Com o templo
hebreu a primeira Grande Loja de Londres de 1717 construiu a analogia que serviu de
referência para o trabalho dos pedreiros especulativos na caminhada em direção ao
aprimoramento pessoal.

A maçonaria anglo-saxônica escolheu o Templo de Jerusalém apenas como


paradigma, mas os rituais das Grandes Lojas brasileiras vão além; consideram o templo
maçônico a reprodução do Templo de Salomão e a cadeira do Venerável Mestre o Trono
de Salomão. Os rituais das Grandes Lojas criaram um Trono de Salomão no Templo de
Jerusalém onde não há Trono e trouxeram o Mar de Bronze para dentro do templo, quando
na Bíblia está fora junto com o Altar dos Sacrifícios.

Nos rituais originais franceses o templo dos graus simbólicos do REAA não é o de
Salomão. É a natureza, um templo que tem como cobertura o céu estrelado e simboliza
as 12 casas zodiacais através da corda de doze nós. A largura vai de Norte a Sul e a altura
até o céu. Para o escritor Marius Lepage a maçonaria francesa mostra-se com duas
correntes de influência: a operativa oriunda de forma genérica dos antigos construtores e
a especulativa idealizada pelos Hermetistas e filósofos Iluministas franceses. O conteúdo
hermético e metafísico inclui a corrente templária. As origens templárias ou herméticas
aparecem nos rituais dos Graus Superiores do Rito de Perfeição, que antecedeu o REAA,
a partir da segunda metade do século XVIII.

O templo desenhado nos rituais de 1928 das Grandes Lojas, reproduzido no início
deste ensaio, mostra uma arquitetura diferente como parte das novidades lançadas pelo
Supremo Conselho.

Venerável Mestre: no desenho do ritual de 1928 há sobre o estrado apenas uma


cadeira. Nas Lojas das Grandes Lojas há 3 cadeiras atualmente.

Ex-Veneráveis: situam-se abaixo do estrado e à direita do Sólio. Nenhum Ex-


Venerável senta-se ao lado do Venerável Mestre.

Estátua de Minerva: presente no lado esquerdo do Venerável Mestre, abaixo do


estrado.

19
Porta Espada e Porta Estandarte: são localizados lateralmente ao Venerável
Mestre. Não ficam na entrada do Oriente como atualmente nas Grandes Lojas.

Altar dos Juramentos: no Ocidente próximo aos degraus de acesso ao Oriente e


não no centro do Ocidente como atualmente.

Quadro da Loja: no centro do Ocidente no lugar que hoje é usado para situar o
Altar dos Juramentos.

Arquiteto e Mestre de Banquete: o desenho mostra-os na Coluna do Norte junto


dos Aprendizes, próximo da balaustrada. No ritual de 1928 sentam no lugar destinado
atualmente ao Aprendiz mais recente.

Hospitaleiro e Diretor de Harmonia: na Coluna do Sul, junto dos Companheiros


e próximos da balaustrada. Na planta do ritual de 1928 sentam no lugar destinado
atualmente ao Companheiro mais recente.

Estátua de Vênus: está presente próxima e atrás do Segundo Vigilante.

Estátua de Hércules: está presente próxima e atrás do Primeiro Vigilante.

Colunas zodiacais: não estão desenhadas.

Pedras bruta e polida: na planta baixa estão identificadas pelas letras B e C e


localizadas junto às Colunas B e J.

Castiçais com velas: não estão apontados na planta baixa do templo os três castiçais
que complementam o Altar dos Juramentos na ornamentação atual.

O Supremo Conselho afirma que o ritual de 1928 está valendo e deve ser obedecido.
As Lojas das Grandes Lojas acatam essa planta baixa do templo? Onde estão as pedras
bruta e polida? Onde senta o Ex-Venerável mais recente? Onde está o Altar dos
Juramentos? As estátuas estão preservadas? A planta do templo não mostra colunas
zodiacais, mas elas estão presentes.

Esse é o templo que o Supremo Conselho do Grau 33 desenhou em nome do Rito


Escocês Antigo e Aceito para as Grandes Lojas brasileiras. A pesquisa em muitos rituais
nacionais e estrangeiros do REAA mostra que nenhum possui disposição interna de
ornamentos e dos cargos que tenha a mínima semelhança. Não há precedência. O
Supremo Conselho do Grau 33 exige que as Grandes Lojas respeitem coletivamente a
precedência dos rituais cedidos em 1928, mas não respeitou a precedência dos rituais do
Rito Escocês Antigo e Aceito praticados desde 1804.

Para reflexão, lembrar o escritor irlandês Oscar Wilde quando disse: “A verdade
raramente é pura e nunca é simples.”

20
CORDAS DE 81 E 12 NÓS

Ailton Pinto de Trindade Branco

CORDA DE 81 NÓS

A corda de 81 nós apareceu nos rituais produzidos pelo Supremo Conselho do


REAA para as Grandes Lojas brasileiras a partir de 1928. Nessa ocasião, para marcar a
ruptura com o Grande Oriente do Brasil, rituais do simbolismo do REAA foram
reescritos, dando origem a um novo Rito, tantas foram as modificações introduzidas. A
corda de 81 nós foi uma das novidades, em substituição à corda de 12 nós usada nos
templos antigos do simbolismo desde o final do século XVIII.

A finalidade das modificações foi estabelecer forte contraste entre a ritualística do


GOB e das Grandes Lojas. A ideia básica foi incluir vários ornamentos dos graus
superiores, em especial do grau Rosa-cruz, o grau mais alto das Lojas Capitulares das
quais foram oriundos os maçons que elaboraram os novos rituais. A corda de 81 nós
representa as 81 letras que formam as palavras misteriosas características dos graus 1 ao
15. As 81 letras das palavras sagradas dos graus referidos estão individualmente no
interior de 81 casinhas que subdividem uma das faces da pedra cúbica piramidal usada
no grau Rosa-cruz do sistema escocês. Outros símbolos da Loja do Grau 18 foram
mantidos nos rituais criados em 1928 para os Graus de Aprendiz e Companheiro. O painel
mostrado nos rituais de 1928 das Grandes Lojas sob o título - Loja de Aprendiz - pertence
ao grau Rosa-cruz e não ao simbolismo. No desenho se vê uma pedra cúbica piramidal
em lugar da quadrada dos graus de Aprendiz e Companheiro e um transparente triangular
acima da porta do Ocidente entre as colunas.

No ritual de 1928 a descrição da corda de 81 nós não inclui borlas nas


extremidades. Não obstante, os templos das Grandes Lojas brasileiras têm a corda de 81
nós com borlas nas duas pontas.

Há uma interpretação diferente a respeito da inspiração que motivou a opção por


uma corda de 81 nós nos templos dos graus de Aprendiz e Companheiro das Grandes
Lojas. Diz-se que os 81 nós reproduzem a idade do Grande Eleito ou Perfeito e Sublime
Maçom, o quadrado de 9 ou 81 anos, Grau 14 e último da Loja de Perfeição do REAA.
Esse grau tem por base a ideia de reconstrução e o Presidente da Loja representa Salomão.

Embora não se tenha elementos definitivos para contrariar essa possível influência
do Grau 14 no número 81 de nós para a corda, pode-se questionar a interpretação usando
argumentos apoiados numa racionalidade viável. Qual a relação entre a corda com 81 nós
nas Lojas Simbólicas e o Mestre do Grau 14? Existe analogia entre o tema da reconstrução
do templo de Salomão do Grau 14 e o momento da caminhada do Aprendiz e do
Companheiro em seus Graus? Aprendiz e Companheiro ainda não implodiram
simbolicamente seu templo pessoal, o que se completa apenas no Grau de Mestre, para
iniciar a reconstrução. Será que os idealizadores da corda de 81 nós pensaram nisso
quando a colocaram no lugar da corda tradicional de 12 nós, fazendo desaparecer dos
templos um acessório adotado durante mais de cem anos antes?

21
Uma outra questão empresta mais sombras à tentativa de vincular a origem da
corda de 81 nós ao Grau 14. Nos rituais de 01 de julho de 1898 do Supremo Conselho do
Brasil a idade de 81 anos não é do Mestre do Grau 14 e sim do Grau 26, o Escocês
Trinitário. No Cobridor dos 33 Graus do REAA do Supremo Conselho do Brasil a idade
do Mestre do Grau 14 é 49 anos. A modificação surgiu depois da ruptura entre o Supremo
Conselho e o

Grande Oriente do Brasil em 1927. O Supremo Conselho modificou vários graus


dos antigos rituais que adotava, misturando infidelidade ritualística com política
institucional maçônica. Voltando às cogitações a respeito da motivação que criou a corda
de 81 nós; se o número 81 constava no Grau 26 quando os rituais do simbolismo foram
redigidos, qual a razão de tomar a idade do Mestre desse grau como referência para os
nós da corda que representa a união dos maçons universais?

CORDA DE 12 NÓS

No século XVIII os Ritos do Sistema Escocês foram praticados por diversas Lojas
que se reuniam em ambientes ornamentados com arquitetura e simbolismo genéricos para
os diferentes rituais dos graus simbólicos. O interior do templo possuía objetos que
representavam alegorias da maçonaria simbólica, independente das peculiaridades
ritualísticas das várias Lojas que se reuniam no local.

O Diccionario Enciclopédico de la Masoneria, de Frau Abrines e Arús Arderiu,


descreve como era o interior do Templo Simbólico dos Franco-maçons nas últimas
décadas dos anos 1700 e começo de 1800. A seguir, reprodução parcial do texto, extensiva
até a referência à corda de 12 nós que é o objeto desta pesquisa.

“Todas as Lojas regularmente constituídas celebravam seus trabalhos em local


reservado e solenemente consagrado para essa finalidade, denominado Templo. Sendo o
Templo Simbólico imagem do Universo, ele recebeu a forma de um cubo por
corresponder essa figura ao número 4 que simboliza a natureza. Tudo é simbólico nele;
os quatro elementos, os quatro pontos cardeais, a abóboda celeste com suas inúmeras
constelações, o sol, a lua, os signos zodiacais e demais objetos representados em seu
interior. Todos se referem ao mesmo sistema. A planta desse local é a de um
paralelogramo orientado na direção Leste-Oeste, cujos quatro lados são designados com
os nomes dos quatro pontos cardeais. No seu contorno estão doze colunas
representativas dos doze signos do zodíaco que sustentam uma abóboda azul com
brilhantes estrelas desenhadas. Circundando o recinto, ao longo do friso, imagem da
eclíptica, corre um grosso cordão enodoado em distâncias proporcionais formando doze
laços cujos extremos terminam em duas borlas que se apoiam sobre as colunas da
Ordem.”

Friso em arquitetura é o espaço compreendido entre a cornija, que é uma moldura


na parte superior da parede, e a arquitrave, viga mestra horizontal sobre colunas.

22
Outra publicação antiga, “Historia Pintoresca de la Franc-masonería y de las
Sociedades Secretas Antiguas y Modernas” de B. Clavel, também descreve o interior dos
templos em que se desenvolveram cerimônias dos Ritos do Sistema Escocês e os
endereços em Paris dessas Lojas. Um mesmo local, geralmente alugado, serviu para
várias Lojas. Os principais endereços: Grenelle – Saint Honoré, 48; Saint – Merry, 41;
praça do Palácio da Justiça, no Prado e rua da Douane, 16.

Escreve Clavel: “O templo está adornado em sua circunferência no friso, ou arquitrave,


por uma corda que forma doze nós representando laços de amor. Os dois extremos têm
uma grande borla e repousam sobre as Colunas J. e B.”

CADEIA DE UNIÃO

A corda de 12 nós que forma um friso nas paredes dos templos antigos da
maçonaria escocesa simboliza a Cadeia de União que une todos os maçons e foi inspirada
na corda mística “Dhyani-Paza”, o anel dos hindus que significa no bramanismo “não se
passa”. “Dhyani” é um palavra sânscrita que indica contemplação ou meditação e designa
a sétima das oito etapas da ioga. “Dan” + “Jnana” significa escola esotérica para reformar
a si mesmo através da meditação e do conhecimento, ou seja, um segundo nascimento
interior. “Paza” é o mesmo que laço.

O Dicionário de Magia e Esoterismo de Nevill Drury informa que o anel “não


passa” é uma expressão mística relativa ao “círculo de limitações” que restringe a
consciência dos ocultistas que ainda não atingiram os estados superiores de unidade
espiritual.

Portanto, a corda de 12 nós usada nos templos maçônicos é um laço místico,


ornamento que representa uma escola esotérica e sua literatura e simboliza o vínculo
sagrado e indissolúvel que se estabelece entre o maçom admitido e os demais membros
da Ordem. Essa deve ser a leitura do simbolismo da corda de 81 nós encontrada nos
templos das Grandes Lojas brasileiras. A corda de 81 nós corresponde à corda de 12 nós
dos templos originais onde foram praticados inicialmente os graus simbólicos do Rito
Escocês Antigo e Aceito.

RITUAL DE 1804 DO REAA

As Lojas francesas que adotaram os primeiros rituais organizados pela Grande


Loja Geral Escocesa em 1804 para os Graus de Aprendiz e Companheiro do Rito Escocês
Antigo e Aceito trabalharam nos templos ornamentados com a corda de doze nós, a qual
foi incorporada ao Rito a partir do simbolismo do local que caracteriza a natureza no
escocesismo. A corda de 12 nós substituiu em alguns templos as 12 colunas que
representam as casas zodiacais. Também as Lojas filiadas ao Grande Oriente de França

23
praticaram nos templos com a ornamentação aqui descrita os rituais de 1805 produzidos
pelo Grande Oriente para o mesmo Rito.

CORDA DE 7 NÓS E A BORDA DENTADA

Ailton Pinto de Trindade Branco

A pesquisa cuidadosa do emprego das cordas com nós pela maçonaria revela que a
confusão de diversos autores é enorme sobre origem e interpretação de cada uma delas,
gerando desinformação nos maçons.

Em “A Simbólica Maçônica” de Jules Boucher, está escrito: “Dá-se o nome de


borda dentada à corda de nós que rodeia o quadro do Aprendiz e o quadro do
Companheiro. Essa expressão parece imprópria e, no entanto, é consagrada pelo uso.
Trata-se de uma corda formando nós chamados laços de amor e terminada por uma borla
em cada extremidade.”

Boucher afirma que “essa expressão parece imprópria”, mas não explica o porquê.
Na mesma obra reproduz artigo do livro “Le Symbolisme” de W. Nagrodski, intitulado
“o Instrumento Desconhecido”: “Os instrumentos usados pelo maçom simbólico
correspondem exatamente ao equipamento normal de um companheiro maçom operativo.
Eles usam os mesmos nomes e um operário qualquer reconhecê-los-ia facilmente nos
“tapetes” dos graus do Aprendiz e do Companheiro... Ele ficaria espantado só quando
constatasse que o cordel, instrumento absolutamente indispensável na profissão, recebeu
na maçonaria simbólica o nome de borda dentada com laços de amor que une todos os
maçons. Esse simbolismo muito tocante do cordel do maçom é forçado em razão do
diletantismo sentimental dos maçons aceitos.”

“Eles não sabiam que toda a construção deve ser “marcada” no terreno antes de ser
começada e que o cordel representa um grande papel nesta operação que, em si, contém
um simbolismo muito mais profundo que esse dos “laços do amor” que não rimam
tecnicamente com nada. A importância da marcação de um edifício torna-se
particularmente grande quando se trata de um templo e, já no Egito antigo, essa
operação era executada pelos “esticadores de cordel”, profissionais acompanhados de
ritos semelhantes ao lançamento de nossas pedras fundamentais.”

Nagrodski é uma raridade entre os autores maçônicos que percebeu a confusão


entre a corda com nós usada pelos antigos construtores e a corda usada na maçonaria
representando a cadeia de união, idealizada pelos hindus para simbolizar uma escola
esotérica.

J. Boucher prossegue em “A Simbólica Maçônica: “A opinião de Nagrodski deve


ser anotada. Parece quase certo que os maçons especulativos, ao transpor um símbolo
operativo, falsearam o seu sentido original. Observamos acima que os agrimensores

24
egípcios serviam-se de uma corda com nós para traçar ângulos retos; da mesma forma,
os nós do cordel constituíam pontos de referência.”

A opinião de Boucher que dá o nome de borda dentada à corda de nós que rodeia o
quadro de Aprendiz, não se deve ao falseamento de sentido da corda dos painéis e menos
ainda provocada pelos primeiros maçons. Trata-se mesmo de confusão do autor em
repetição a outros e de pesquisa superficial. A borda dentada é uma moldura formada
por losangos, sem corda e, portanto, não tem os laços de amor. Apareceu com os painéis
desenhados por John Harris em 1823 para o ritual de emulação da maçonaria inglesa. A
corda com laços de amor está presente nos painéis da maçonaria francesa e germânica do
século 18 e foi inspirada na corda dos antigos construtores.

No livro “Morals and Dogmas”, Albert Pike diz que a borda dentada é um dos
ornamentos da Loja. Assim escreve Pike em sua obra: “As bordas do pavimento, se forem
losangos, serão, necessariamente endentadas ou denteadas, com dentes como uma serra
e, para completá-lo e acabá-lo, é preciso uma orla. Ele é completado por quadrados de
pedra como decoração nos cantos. Se esses e a borda têm algum significado simbólico é
fantasioso e arbitrário.”

Como se pode ver até aqui, para Boucher, a borda dentada é uma corda, para
Nagrodski, essa analogia é um simbolismo forçado e para Albert Pike, a borda dentada é
apenas um arremate do pavimento do templo e seu significado é fantasioso e
arbitrário. Nos rituais da maçonaria nos Estados Unidos, a borda em losangos lembra as
estrelas e planetas errantes que em seus complexos movimentos criam uma bela moldura
em torno do sol. No Brasil, a borda dentada saiu do piso, foi para próximo do teto e virou
corda de 81 nós.

A corda dos antigos construtores está descrita no livro “Os Segredos dos
Construtores” de Maurice Vieux. Diz o autor: “Decidida a construção de um grande
edifício e escolhido o local, havia que desenhar o que hoje se denomina um plano de
massa e que na Idade Média se realizava por meio de maquete. O mestre-de-obras reunia
os carpinteiros, mandava erguer o alojamento dos pedreiros e achava de seu dever
mostrar o traço aos companheiros que consistia de estabelecer a referência metrológica.
Essa base não poderia ser modificada no tempo e no caso de perda da régua do mestre-
de-obras, conhecida pelo nome de virga geométrica, fácil seria fazer nova régua de
idêntica precisão que se dividia em 24 polegadas duplas, ou seja, 4 pés. Depois da
execução da maquete com escala, o mestre-de-obras traçava no solo a linha mediana e
o eixo de transporte das pedras. Para esse trabalho e não dispondo de meios óticos, o
mestre-de-obras utilizava o processo egípcio da corda de 13 nós para formar o esquadro.
Esse método permitiu materializar o teorema de Pitágoras, construindo-se um esquadro
exato do tamanho desejado. O nó, marcando cada intervalo de uma forma particular, é
chamado lago do amor.”

A informação de Vieux favorece o esclarecimento de parte da confusão em torno


da corda que aparece nos painéis da maçonaria. O painel que as Lojas maçônicas mostram
foram idealizados a partir da maquete dos antigos construtores e a corda representa um
dos instrumentos de trabalho. Não é ornamento como a corda de 12 nós, ou 81 nós nas
Grandes Lojas, presa no friso próximo ao teto. A corda de 7 nós dos painéis corresponde
à referência metrológica dos antigos. Alguns painéis mostram uma corda de cinco ou três

25
nós. Todas têm o mesmo significado. A corda dos painéis da maçonaria ganhou a
designação de laços de amor em substituição aos lagos do amor dos construtores.

Os painéis com a corda de 7 nós predominam nos templos que representam a


natureza ou o universo porque os nós simbolizam os sete planetas conhecidos dos
astrólogos egípcios. Mas o número de nós da corda nos vários painéis maçônicos difere
e na esteira dessa diversidade variam as opiniões dos autores e as suas interpretações:
Vuillaume assinala sete nós na borda dentada do grau de Aprendiz e nove no grau de
Companheiro. Edouard Plantageneta também atribui sete nós ao grau de Aprendiz, mas
não especifica o número de nós relativos ao grau de Companheiro. Oswald Wirth atribui
três nós apenas aos dois graus. Ragon não indica o número de nós. A posição dos autores
citados pode levar à dedução enganosa que apenas nos graus simbólicos os painéis
mostram a corda de 7 nós. Mais adiante a pesquisa da Oficina de Restauração do Rito
Escocês Antigo e Aceito reproduz painel do grau Rosa-cruz com a corda que simboliza a
referência metrológica dos antigos.

No texto de “A Vida Oculta na Maçonaria” de C. W. Leadbeater encontra-se a


maior mistura de conceitos. Vejamos o entendimento de Leadbeater: “Diz-se que no
começo do século dezoito marcavam-se no solo com giz os símbolos da Ordem e esse
diagrama era circundado por uma corda pesada, ornamentada de borlas; era, por isso,
chamada borla dentada, posteriormente corrompida em borda marchetada. Os franceses
a chamam la houppe dentelée e a descreveram como sendo uma corda com lindos nós
que rodeia o quadro de traçar.”

Algumas considerações sobre esse texto de Leadbeater. A borla não pode ser
dentada porque se trata de um tufo de fios ou pelos do qual pendem franjas. A borla ser
confundida com borda parece ficção. A borda é uma moldura de quadro e, portanto, pode
ser dentada ou marchetada porque marchetaria é uma obra geralmente feita em material
duro que permita recortes e embutidos. Isso confirma que Leadbeater confunde a corda
com nós dos painéis franceses e alemães com a moldura dentada de losangos da tábua de
delinear do 1º grau da maçonaria inglesa, desenhada por J. Harris. La houppe dentelée é
um tufo de fios ou topete de cabelos, rendados. A seguir, alguns painéis em que a corda
de nós com laços de amor representa a corda de 13 nós dos antigos construtores.

26
27
O primeiro, painel do grau Rosa-cruz e o segundo, painel de Aprendiz e Companheiro
do sistema escocês no século 18 com a corda de 7 nós.

28
Na sequência, uma reprodução da tábua de delinear do primeiro grau do ritual de
emulação, desenhada por John Harris. No desenho nota-se a moldura retangular dentada
da qual pendem quatro borlas, uma em cada canto, como adornos da moldura. Não consta
nenhuma corda com nós representando laços de amor. Essa moldura também é
confundida por alguns autores com os cordões de viúvas, objetos relacionados ao luto e
usados no século 16 para cobrir o rosto.

Painel (Tábua de Delinear) do Ritual Emulação, com


borda dentada, sem corda com nós.

O desenho do painel inglês foi inspirado nas bandeiras das antigas corporações de
ofícios. Essas corporações tinham cada uma a sua bandeira, em forma de grandes painéis
retangulares, que estavam sempre presentes nos atos públicos. As bandeiras das
corporações mais ricas eram suspensas por cordões que podiam ser de seda e ouro. Eram
ornamentadas por grandes borlas pendentes, do mesmo material ou de prata. Tinham ricos
bordados e preciosas tarjas ou círculos dentro dos quais estavam imagens dos santos que
em vida exerceram ofícios mecânicos. Nos painéis da maçonaria inglesa a moldura
também consiste de uma tarja de losangos dentro da qual está a escada de Jacó com as
imagens simbólicas das virtudes teologais, as colunas, a bíblia, a prancheta e alguns
instrumentos do ofício maçônico.
29
Em síntese, a corda de sete nós, que também pode aparecer com três ou cinco, é a
representação da corda de 13 nós inventada pelos egípcios e usada pelos antigos
construtores antes de conhecerem recursos óticos de medição. Recorda o antigo meio de
referência metrológica. A corda de sete nós é um instrumento de trabalho como os demais
reproduzidos nos painéis das Lojas maçônicas. Não é ornamento como a corda de doze
nós fixada no friso das paredes dos templos. Os nós ganharam a denominação de laços de
amor em semelhança aos lagos do amor da corda dos construtores. E os painéis com a
corda de 7 nós adotados pela maçonaria representam a antiga maquete produzida pelo
mestre-de-obras no piso com o plano da obra. Assim fizeram as Lojas ao desenharem
inicialmente no piso, e depois em tapetes, os símbolos da reconstrução ética e moral do
maçom.

A corda de sete nós é uma referência metrológica de ética e de moral modernas.

30
DETALHES DOS RITUAIS DE 1804

ORIENTE COM DESNÍVEL GEOGRÁFICO E OS MESTRES INSTALADOS

Em 12 de outubro de 1804, foi criado em Paris o Supremo Conselho de França, o segundo


no mundo, para difundir na Europa o Rito Escocês Antigo e Aceito. Concebido,
inicialmente, como Rito para Altos Graus, chegou dos Estados Unidos sem ritual próprio
para os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. No dia 22 de outubro, uma Assembléia
Geral do Supremo Conselho de França fundou, também em Paris, a Grande Loja Geral
Escocesa para organizar o ritual francês das Lojas Azuis (Blue Lodges) do Rito Escocês
Antigo e Aceito (ainda não havia sido cunhado o termo simbolismo para os três primeiros
graus), tendo por base o Rito Antigo Aceito, praticado pela Grande Loja de Londres de
1751, a Grande Loja dos auto-proclamados "antigos" maçons.

Na França, o Grande Oriente tinha como rito oficial, o Rito Escocês dos Modernos, ou
Rito Francês, semelhante ao rito praticado pelas Lojas da Grande Loja de Londres de
1717, a primeira Grande Loja no mundo e denominada, pejorativamente, pelos seus
adversários, como sendo dos "modernos"( os que inventaram ritual novo ).

Quarenta dias depois, um acordo entre Grande Oriente e Supremo Conselho viabilizou a
prática do Rito Escocês Antigo e Aceito dentro do Grande Oriente de França.

COMEÇO DA CONTURBADA TRAJETÓRIA DOS GRAUS SIMBÓLICOS DO


REAA

O Grande Oriente fez misturas entre os dois ritos, em vários graus, principalmente porque
praticou o Rito Escocês Antigo e Aceito no seu templo adornado para o Rito Francês.
No ano seguinte, 1805, os maçons do Supremo Conselho afirmaram que o Grande Oriente
havia violado a combinação. Retiraram-se do Grande Oriente e passaram a trabalhar
sozinhos. Por carência de membros preparados adequadamente, o Supremo Conselho,
junto com a Grande Loja Geral Escocesa, ambos liderados pelo conde Alexandre de
Grasse-Tilly, convidaram Oficiais do Grande Oriente para dirigirem os Altos Graus.
Esses maçons oriundos do Rito Francês, não conheciam bem o Rito Escocês Antigo e
ainda, muitos, desdenharam o direito do Supremo Conselho comandar o Rito, na França.
Sob o abrigo do primeiro Grão-Mestre Adjunto, o Príncipe Cambaceres, que havia
aceitado ser Grão-Mestre de cada um dos sistemas escoceses, ou mesmo, a presidência
de honra, a Grande Loja Geral Escocesa e o Supremo Conselho se entregaram com
intensidade em toda a atividade que suas lideranças puderam realizar. No entanto, o
Grande Oriente manteve com vigor o funcionamento do Rito Moderno e, ao mesmo
tempo, lutou, ostensivamente, contra as tentativas das diversas autoridades do Supremo
Conselho e da Grande Loja, de fazerem firmar-se o Rito Escocês Antigo e Aceito, como
fora inicialmente organizado.

31
ESFACELAMENTO DO SUPREMO CONSELHO E DO REAA NA FRANÇA

O período não estava favorável ao novo rito, surgindo como agravante às pretensões do
Supremo Conselho, a queda do governo francês, em 1814. Em 1804, quando o REAA
chegou à França, Napoleão Bonaparte fora coroado Imperador e teve promulgado o
código civil napoleônico. Em 1814, Napoleão foi derrotado pelos aliados formados por
Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia. Napoleão se exila em Elba. O Grande Oriente, pela
sua força política, não teve que cessar totalmente as atividades, mas o Supremo Conselho
e a Grande Loja Geral Escocesa sofreram com a resistência que enfrentavam do Grande
Oriente e pouco realizaram. O Rito Escocês Antigo e Aceito praticamente desapareceu
na França, nesse período. Outro fator que muito contribuiu para o enfraquecimento do
rito foram as divergências entre os próprios integrantes, divididos em Supremo Conselho
de França e Supremo Conselho de América. A história dessas divergências internas
mostra que não houve unidade no Supremo Conselho francês, além de mal estruturado,
para enfrentar a campanha do Grande Oriente. O resultado foi a decisão do Grande
Oriente, em 1814, declarando, unilateralmente, que, em virtude de diferentes acordos
datados de antes e depois da revolução francesa, ele retomava todos os direitos sobre os
ritos Moderno e Escocês Antigo e Aceito.

PRIMEIRA IDÉIA DE LOJA CAPITULAR

Em 1816, o Grande Oriente assumiu a jurisdição de parte do Rito Escocês Antigo e


Aceito, decidindo que ficaria com o poder sobre o conjunto dos graus 1 ao 18. Essa
escolha baseou-se na intenção de dirigir o Rito Escocês Antigo e Aceito na mesma
abrangência simbólica que já fazia com o Rito Moderno, ou seja, do grau de Aprendiz ao
Rosa-Cruz. No Rito Moderno, o Rosa-Cruz é o 7º e no Escocês Antigo, o 18º. Em 1820,
o Grande Oriente organiza um ritual do REAA voltado para o funcionamento seqüencial
do grau de Aprendiz ao grau Rosa-Cruz. A esse conjunto de graus, sob a mesma
direção, foi atribuída a denominação de Loja Capitular, presidida preferencialmente por
um Cavaleiro Rosa-Cruz.

O TERMO SIMBOLISMO

Com o surgimento das Lojas Capitulares na França, a denominação Lojas Azuis


desapareceu, passando a ser empregado o termo "simbolismo" para representar o conjunto
de graus - Aprendiz, Companheiro e Mestre - dentro da então nova concepção obediencial
no Rito Escocês Antigo e Aceito: Lojas Simbólicas, Lojas de Perfeição, Capítulos (
obedientes ao Grande Oriente de França ), Conselhos Kadosh, Consistórios, Supremo
Conselho ( obedientes ao Soberano Supremo Conselho do Grau 33). Da França, o Rito
Escocês Antigo e Aceito foi difundido para os países de língua latina, em maioria. Os
países anglo-saxônicos, no entanto, não se submeteram às decisões do Grande Oriente de
França e seguiram o modelo inicial. O Supremo Conselho norte-americano continuou
administrando o Rito Escocês Antigo e Aceito dos graus 4 ao 33, servindo-se das Lojas
Azuis americanas, obedientes às Grandes Lojas, para perfazer o total de 33 graus.

32
AS LOJAS CAPITULARES NO BRASIL

O Supremo Conselho fez tratado de condomínio com o Grande Oriente do Brasil nas
condições definidas na França: o GOB assumiu os graus 1 ao 18, constituindo as Lojas
Capitulares e o Supremo Conselho os graus 19 ao 33. Permaneceu essa estrutura até 1927,
quando o Supremo Conselho denunciou o tratado com o Grande Oriente do Brasil e
recuperou seu poder sobre o Rito, do grau 4º ao 33º, reencontrando-se com o que
acontecera em 1801, em Charleston, nos Estados Unidos. A tendência mundial entre os
Supremos Conselhos com reconhecimento mútuo, no início do século vinte, era de
padronizar a divisão: graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre com jurisdição de
Grandes Lojas ou Grandes Orientes e os 30 graus superiores com jurisdição dos Supremos
Conselhos.

RITUAIS DESCARACTERIZADOS DO SIMBOLISMO

Devido à ruptura do tratado com o Grande Oriente do Brasil, o Supremo Conselho do


Brasil providenciou a criação das Grandes Lojas estaduais, que tiveram a incumbência de
organizarem e coordenarem a prática dos graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e
Aceito. Nessa oportunidade, o Supremo Conselho repetiu o que já acontecera em 1820,
na França, deixou o simbolismo atirado à sua desventura funcional, com ritualismo
confuso provocado ora pelas influências do Rito Moderno, ora dos Altos Graus do próprio
Rito Escocês Antigo e Aceito.

As modificações produzidas pelo Grande Oriente de França, em 1820, com o ritual que
criou as Lojas Capitulares, não foram desfeitas, sendo incorporadas aos graus simbólicos
do rito, definitivamente.

ORIENTE ELEVADO E COM ÁREA DELIMITADA

O piso do templo no ritual de 1804 é plano em toda a sua extensão. As colunas do norte
e do sul se estendem de oeste a leste. O Oriente é constituído pelo Venerável Mestre, que
fica no Trono num plano elevado. Não havia área demarcada do Oriente, como
conhecemos hoje. O fundo do Oriente era um semicírculo e todos os Irmãos presentes,
inclusive Oficiais, estavam incluídos em uma das colunas; norte ou sul. A exceção se
fazia quando da presença de autoridade maçônica, dos Altos Graus do Rito ou de outros
Ritos. Nessa ocasião, o Venerável Mestre mandava sentar próximo e abaixo do Trono,
acompanhando a curvatura da parede de fundo, de frente para o oeste. O tratamento era
pessoal, sendo concedida a palavra nominalmente, após a mesma circular nas colunas,
por iniciativa do Venerável Mestre, sem, contudo, anunciar a palavra no Oriente, como
presentemente.

O Oriente elevado, em comparação com o restante do templo, surgiu com as Lojas


Capitulares, na França, no ritual de 1820. Um terço da área do templo foi cercada por
uma balaustrada com uma abertura no centro para a passagem dos Irmãos, que separou
Oriente do Ocidente. O acesso ao oriente se dá através de quatro degraus. O Oriente
elevado e cercado foi idealizado para simbolizar o Santuário do Grau Rosa-Cruz, onde

33
está a direção da Loja, representada pelo Sapientíssimo Príncipe Rosa-Cruz. Os Irmãos
iniciados no grau 18º e acima, sentam-se no Oriente durante o desenvolvimento dos
trabalhos da Loja.

ORIENTE PROIBIDO PARA APRENDIZES E COMPANHEIROS

Durante o período em que os graus simbólicos estiveram incluídos na seqüência


ininterrupta até o 18º das Lojas Capitulares, os Aprendizes e Companheiros não tinham
permissão para ingressarem no Oriente. Nessa fase, os maçons ainda aspirantes ao grau
de Mestre, não desempenhavam cargos ritualísticos. Nas cerimônias de Iniciação nos dois
primeiros graus, Aprendizes e Companheiros não subiam ao Oriente para passar atrás do
Trono e bater no ombro do Venerável Mestre, como se faz presentemente. Nessa etapa, o
Sapientíssimo Mestre descia do Oriente e lhe era apresentado o candidato no Ocidente,
junto aos degraus de acesso ao Oriente. Esse procedimento alerta para o fato de que o
Oriente elevado e circunscrito nunca fez parte da ritualística dos graus simbólicos e,
portanto, não devia ter permanecido na descrição do Templo, após o desaparecimento das
Lojas Capitulares, porque contribuiu para desinformar a respeito do Templo adequado
para as Lojas Simbólicas.

MESTRES INSTALADOS NO ORIENTE DOS CAVALEIROS ROSA-CRUZ

Está salientado e explicado que o Oriente elevado em relação ao Ocidente, permaneceu


indevidamente nos Templos dos graus simbólicos por negligência da orientação dos
Supremos Conselhos, a começar pelo de França. No surgimento das Grandes Lojas
brasileiras, o Templo das Lojas que se transferiram do Grande Oriente do Brasil, antes
ajustado para os graus capitulares, não foi readaptado para o modelo original do Rito
Escocês Antigo e Aceito, anterior a 1820, ou seja, o piso plano em toda a extensão. Não
bastasse essa influência capitular no simbolismo do REAA, foi acrescentada a novidade
que viria transformar o REAA das Grandes Lojas num conjunto de procedimentos que
representaram a presença parcial de vários Ritos em um. A figura do Past Master (o
Mestre Instalado) da Grande Loja, dentro do REAA, foi outro lance que, junto com o
ritual criado em 1928, deformou ainda mais o REAA antes conhecido. A ritualística de
Instalação do Mestre de Loja é mais antiga que o grau de Mestre Maçom e faz parte das
duas únicas cerimônias formais que os ingleses realizavam desde a época em que foi
fundada a primeira Grande Loja, em Londres, em 1717. A iniciação do profano era feita
sem encenações. Tinham maiores formalidades a passagem ao Grau de Companheiro e a
posse do Companheiro Eleito na presidência de uma Loja Maçônica. A cerimônia de
Instalação faz parte da história cultural da maçonaria inglesa.
Da outra parte, os primeiros rituais das Lojas Azuis (mais tarde, Lojas Simbólicas), do
REAA, em 1804, foram feitos pela Grande Loja Geral Escocesa, com cultura original de
caráter operativo. O cerimonial pomposo para a posse do Respeitável Mestre eleito foi
sempre um reflexo da concepção inglesa de Maçonaria Real, não influenciada pelo
período operativo. A Inglaterra não teve Lojas operativas conhecidas. As posses, nas
Lojas Simbólicas do REAA foram em rito mais administrativo.
O surgimento da figura do Mestre Instalado no meio do espaçamento natural entre o
Mestre Maçom (grau 3) e o Mestre Secreto (grau 4), encontrou no Oriente elevado e
circunscrito um ótimo local para fortalecer nova categoria de Mestre Maçom no REAA.

34
Não havendo Loja Capitular nas Grandes Lojas brasileiras, o Oriente, lugar antes
reservado para os iniciados nos Graus Capitulares, foi ocupado pelos Mestres Instalados.
Com seus segredos diferentes dos Mestres Maçons, os Mestres Instalados são
considerados Mestres Maçons diferenciados e a eles é designado o Oriente elevado,
região do Templo também diferenciada em comparação com o Ocidente. Dessa forma, os
Mestres Instalados lembram nos graus simbólicos, os Cavaleiros Rosa-Cruz da antiga
Loja Capitular.
As Lojas Simbólicas do REAA que presentemente trabalham em Templo que possui o
piso da parte oriental mais elevado, não estão contribuindo para mostrar como foram
concebidos os três primeiros graus do REAA na França, em 1804. Por outro lado, se essas
mesmas Lojas reservam o Oriente para a localização dos Mestres Maçons que têm a
dignidade de Mestre Instalado, estão, as Lojas, praticando uma irregularidade ritualística,
pois reconhecem uma categoria superior à de Mestre Maçom, mas que não é a do Mestre
Secreto. A superioridade hierárquica do Mestre Instalado sobre o Mestre Maçom está
caracterizada e confirmada na cerimônia de Instalação, no momento em que todos os
Mestres Maçons não Instalados são obrigados a cobrirem o Templo. Nessa condição,
estão também os Mestres Maçons do REAA que tenham sido iniciados no grau 4, 5, 6,
etc... que não tenham sido eleitos Venerável Mestre. São tratados como os do grau 3 e
não permanecem no Templo, no momento de Instalação do Mestre Maçom eleito para
dirigir a Loja.

A dignidade do Mestre Instalado é compatível tão somente com Ritos anglo-americanos,


como o Craft e o York, que permitem no ritual a supremacia hierárquica do Mestre
Instalado sobre o Mestre Maçom não instalado, embora, oficialmente, a Grande Loja
Unida da Inglaterra não reconheça essa supremacia. O Mestre Instalado não tem lugar no
REAA com 33 graus seqüenciais. Serve, sim, para o REAA que conta apenas 30 graus
próprios, embora considere toda a cadeia com 33, como nos Estados Unidos.

O PAST MASTER (MESTRE INSTALADO) DO SANTO ARCO REAL

O Ritual Emulação tem uma extensão do terceiro grau, que não é considerada
oficialmente um novo grau, chamado Santo Arco Real. Embora não seja admitido pela
Grande Loja Unida da Inglaterra como um grau superior, tem, porém, uma ritualística
própria, na qual, em dada passagem, o Mestre Maçom é retirado do Templo e só
permanecem os Past Masters. Não deve o Santo Arco Real inglês ser confundido com o
corpo de Graus Superiores do sistema americano, conhecido como Real Arco, que tem
vários graus.
A história de que o Santo Arco Real inglês não é um grau, não é assim entendida pela
maioria dos maçons ingleses. Essa arrumação foi imaginada para contentar correntes
antagônicas que se debatiam em defesa de suas idéias e crenças ritualísticas, durante as
reuniões de negociações que prepararam a união das duas Grandes Lojas inglesas rivais,
a dos "modernos" e a dos "antigos", na Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813. A
Grande Loja Unida, apesar de inflexível na observância dos critérios de reconhecimento
de outras Potências Maçônicas, não proíbe, não faz tratados com Obediências dos Altos
Graus, não interfere nos assuntos relativos a esses Graus Superiores. Simplesmente,
ignora-os.
Os praticantes do Santo Arco Real, surgido por volta de 1751, apregoavam serem
detentores dos segredos da palavra sagrada que foi perdida, segundo a lenda do terceiro

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grau. Isso, despertava grande curiosidade naquela época e muitos maçons desejavam ser
exaltados no Santo Arco Real. Para que o ato de união entre as Grandes Lojas inglesas
rivais se efetivasse, foi encontrada essa solução que a cultura inglesa demonstrou ter
assimilado bem; incluir o Santo Arco Real como um complemento do terceiro grau, mas
sem se constituir no quarto grau. O Santo Arco Real é fundamentado no relato bíblico
que descreve o retorno do povo judeu da Babilônia, em 538 a.C. e na antiga lenda surgida
durante a construção do quarto Templo, em torno de 400 D.C., que descreve a descoberta
de uma cripta, de um altar e da palavra sagrada.
Assim, a estrutura da Franco-maçonaria inglesa considerou, em dado momento da
história, 1813, que a Maçonaria Pura e Antiga consiste de apenas três graus, mas que se
inclui nesses o Santo Arco Real. É, verdadeiramente, coisa para inglês ver.

Para administrar o Santo Arco Real, os ingleses têm o Supremo Grande Capítulo que
concede "Brevê Constitutivo" para a fundação dos Capítulos do Arco Real que funcionam
anexo às Lojas Simbólicas inglesas. A dignidade de Past Master (Mestre Instalado)
adotada pelas Grandes Lojas brasileiras tem origem nessa maçaroca inglesa que manteve
os quatro graus do Santo Arco Real, todos sob a denominação de um desse graus, o de
Past Master, sem considerá-lo grau superior. O Rito Escocês Antigo e Aceito ganhou,
através das Grandes Lojas, uma hierarquia formal entre os graus 3 e 4, sem considerá-la
grau superior ao de Mestre. Foi a continuação da maçaroca.

36
Lojas Capitulares3
As Lojas Capitulares foram frutos de uma anomalia acontecida por ocasião da fundação
do Segundo Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito em 1.802 na França (o
primeiro seria em 1.801 nos Estados Unidos da América do Norte).

Naquela oportunidade após a fundação do Segundo Supremo Conselho e o aparecimento


em 1.804 do primeiro ritual para o simbolismo do Rito Escocês, não tardaria para que o
Grande Oriente da França encampasse para si além dos três primeiros graus simbólicos,
também os ditos superiores, até o Grau 18 (Sublime Capítulo Rosa Cruz do REAA).

A título de ilustração não seria demais lembrar que o Rito Escocês Antigo e Aceito não
possuía no início os graus simbólicos, já que nos Estados Unidos da América do Norte,
onde surgiu o Primeiro Supremo Conselho em 1.801 - não o Rito - dito “mãe do mundo”,
o simbolismo era praticado apenas nas Lojas Azuis do Craft norte-americano, por aqui
chulamente conhecido como Rito de York (o americano, não o inglês).

Devido ao aparecimento em 1.802 do Segundo Supremo em solo francês, embora até já


tivessem existido Lojas Mães Escocesas a exemplo da de Marselha, o Rito Escocês
careceria na França de possuir os seus graus simbólicos exclusivos, o que aconteceria já
em 1.804 com o primeiro ritual privativo compilado e adaptado em solo francês por
maçons egressos da Maçonaria norte-americana.

A França assim ficaria também conhecendo o sistema “antigo”, comum ao Craft norte-
americano, já que até então o mesmo era desconhecido da Maçonaria francesa que
adotava à época apenas o sistema “moderno”, baseado nos apelidados Modernos da
Primeira Grande Loja em Londres de 1.717.

Devido a esses importantes acontecimentos é que o Rito Escocês, embora sendo filho
espiritual da França (raízes históricas principalmente no século XVIII em França),
também teria a sua vertente anglo-saxônica haurida do Craft norte-americano oriundo dos
“antigos” de Dermott em 1.751 (Grande Loja dos Antigos inglesa – Athol Lodges).

Retomando a questão das Lojas Capitulares e o Grande Oriente da França, esse último,
mesmo sendo uma Potência Simbólica, por razões políticas e históricas que não cabem
aqui comentários, já aproximadamente no ano de 1.810 tomava sob sua tutela além dos
graus simbólicos do Rito Escocês, também os graus a partir do 4º até o 18º.

Com isso surgiriam às denominadas Lojas Capitulares que trabalhavam no Templo


simbólico que seria então também adaptado para o Capítulo, cujas modificações mais
significativas seriam aquelas relacionadas à elevação e demarcação de limite do Oriente
da Loja, a da posição do Segundo Vigilante no extremo do Ocidente (simétrico ao
Primeiro) e da consolidação da cor encarnada (vermelha do Capítulo) no simbolismo do
Rito em questão.

Assim o presidente do Capítulo - o Athersata (governador) - era também o Venerável


Mestre nos três primeiros Graus. Esse feitio daria ao Grande Oriente da França naquela

3
Fonte: http://iblanchier3.blogspot.com.br/2014/12/lojas-capitulares.html

37
oportunidade a característica de uma Obediência mista no que concerne a mistura do
simbolismo com os ditos altos graus.

Entretanto, já no segundo quartel do século XIX o Segundo Supremo Conselho


reivindicando o que lhe era de direito retomaria para si novamente a tutela dos graus
Inefáveis, de Perfeição e Capitulares (do 4º ao 18º), ficando o simbolismo sob a égide do
Grande Oriente da França.

Em resumo, as coisas voltariam aos seus devidos lugares. Assim, desde o aparecimento
das Lojas Capitulares, estas seriam amplamente difundidas no escocesismo alcançando
também a Maçonaria brasileira, fato que duraria até os meados do século XIX época em
que se extinguiria o sistema das Lojas Capitulares.

No Brasil prevaleceu por um bom tempo, além das próprias Lojas Capitulares, também
com a particularidade pela qual o Soberano Grande Comendador do Rito Escocês Antigo
e Aceito era também o Grão-Mestre Geral da Maçonaria brasileira.

O resquício daquela época ainda prevalece no título de “Soberano” dado para o atual
Grão-Mestre Geral do GOB (veja a obra A História do Grande Oriente do Brasil – José
Castellani).

No tocante ao título “capitular” relacionado às Lojas simbólicas brasileiras, embora


irremediavelmente extinto, infelizmente muitas Oficinas ainda insistem em manter o
termo inserido no seu título distintivo, fato que tem dado aos menos atentos uma falsa
interpretação e uso indevido, já que além desse formato de Loja ter desaparecido ainda
no século XIX, há também a questão de que o Grande Oriente do Brasil é uma Obediência
simbólica e corretamente não admite, até por questão de reconhecimento, qualquer
ingerência de nenhum corpo ou sistema de graus além do simbolismo.

De tudo o que realmente permaneceu consuetudinariamente relacionado às Lojas


Capitulares (Capítulo) no Simbolismo foi o Oriente dividido e elevado em relação ao
Ocidente, também permaneceu sacramentada da cor encarnada (vermelha) na decoração
e paredes do Templo, assim como o avental de Mestre MB debruado em vermelho
(Conselho de Lausanne na Suíça em 1.875).

É bem verdade que ainda existem Obediências no Brasil que, na contramão da história,
mantém equivocadamente para o Rito em questão aventais e templos azulados herdado
por influência do Craft americano (conhecido como Rito de York).

Ainda em relação à extinção das Lojas Capitulares, é que após estas, o Rito Escocês no
seu simbolismo faria retornar originalmente o Segundo Vigilante ao meridiano do Meio-
Dia (centro da Coluna do Sul) como já preconizava o primeiro ritual datado de 1.804 na
França. Esse Ritual, como já mencionado, é a espinha dorsal de alguns procedimentos
ritualísticos com forte influência anglo-saxônica no simbolismo do Rito que é de vertente
francesa e que permanece até os dias atuais. Exemplo: a dialética de abertura e
encerramento e o Segundo Vigilante ao Sul (Meio-Dia). Complementando o final da
vossa questão, nenhuma Obediência adota atualmente uma Loja Capitular no simbolismo
porque elas legalmente não existem mais.

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Uma Loja Capitular é parte integrante do Capítulo de um Supremo Conselho do REAA
que nada tem a ver com o simbolismo. Uma Obediência Simbólica e um Supremo
Conselho são corpos maçônicos distintos, não havendo entre eles qualquer ingerência de
um sobre o outro, salvo aquele que prevê a participação em um corpo filosófico apenas
daqueles que obrigatoriamente estejam regulares e ativos no Terceiro Grau do
simbolismo.

Assim o simbolismo (três graus universais) é dirigido apenas e tão somente pela
Obediência Simbólica, enquanto que graus acima do Francomaçônico básico (Aprendiz,
Companheiro e Mestre) são particularidades de alguns Ritos que possuem seus próprios
Corpos Filosóficos, ou Supremo Conselho como é o caso do Rito Escocês Antigo e
Aceito.

Elementos confiáveis para pesquisa autêntica sobre a origem das Lojas Capitulares serão
encontrados a partir do Grande Oriente da França desde na fundação do Segundo
Supremo Conselho em 1.802.

No Brasil observar a documentação primária mencionada e apresentada, bem como o seu


roteiro bibliográfico integrante da obra A História do Grande Oriente do Brasil.

T.F.A. PEDRO JUK jukirm@hotmail.com AGO/2014.


Fonte: JB News – Informativo nr. 1.556 Florianópolis (SC) – quinta-feira, 18 de
dezembro de 2014

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