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Introdução e
Contabilidade Nacional
C apítulo 1
Introdução
D ESTAQUES DO C APÍTULO
Como a macroeconomia está fortemente ligada aos problemas econômicos cotidianos, ela
não oferece grandes recompensas àqueles cujo interesse principal é abstrato. A teoria macroe-
conômica é um pouco confusa na fronteira. Mas, então, o mundo é um pouco confuso próximo
às fronteiras. Este livro utiliza a macroeconomia para esclarecer eventos econômicos desde a
Grande Depressão até o início do milênio. Fazemos sempre referências aos eventos do mundo
real para elucidar o significado e a relevância do material teórico.
Há um teste simples para determinar se você compreendeu o material neste livro: você
pode aplicar o material para compreender as discussões atuais sobre a economia nacional e a
economia internacional? Macroeconomia é uma ciência aplicada. Raramente é bela, porém é
inegavelmente importante para o bem-estar das nações e dos povos.
1-1
MACROECONOMIA RESUMIDA EM TRÊS MODELOS
A macroeconomia tem muito a ver com a relação entre fatos e teorias. Começamos com
alguns grandes fatos e então nos voltamos para os modelos que nos ajudam a explicar estes e
outros fatos sobre a economia.
• Pode-se dizer com segurança que ao longo de décadas a economia dos Estados Unidos
cresce a 2% ou 3% ao ano.
• Em algumas décadas, o nível geral de preços permaneceu relativamente estável. Na década
de 1970, os preços praticamente dobraram.
• Em um ano ruim, a taxa de desemprego é o dobro da de um ano bom.
O estudo da macroeconomia está organizado em torno de três modelos que descrevem o
mundo, e cada modelo é mais aplicável em um horizonte temporal distinto. O comportamento
da economia no muito longo prazo é o domínio da teoria do crescimento, que enfoca o cresci-
mento da capacidade da economia de produzir bens e serviços. O estudo do muito longo prazo
está centrado na acumulação histórica do capital e nos aperfeiçoamentos tecnológicos. No
modelo que chamamos longo prazo, tomamos um instantâneo do modelo de muito longo prazo.
Nesse momento, o estoque de capital e o nível de tecnologia podem ser considerados relativa-
mente fixos, embora seja possível a ocorrência de choques temporários. Capital e tecnologia
fixos determinam a capacidade produtiva da economia – denominamos essa capacidade “pro-
duto potencial”. No longo prazo, a oferta de bens e serviços é igual ao produto potencial. Pre-
ços e inflação nesse horizonte são determinados por flutuações na demanda. No curto prazo,
flutuações na demanda determinam quanto da capacidade produtiva é utilizada e, dessa forma,
os níveis de produto e desemprego. Ao contrário do longo prazo, no curto prazo os preços são
relativamente fixos e o produto é variável. É no contexto do modelo de curto prazo que encon-
tramos o papel mais importante para a política macroeconômica.
Praticamente todos os macroeconomistas aceitam esses três modelos, mas as opiniões di-
ferem quanto ao horizonte temporal no qual cada modelo se aplica melhor. Todos concordam
que o comportamento ao longo de décadas é mais bem descrito pelo modelo da teoria do cres-
cimento. Há menos concordância quanto ao horizonte temporal aplicável para o modelo de
longo prazo em comparação com o de curto prazo.
Este capítulo destina-se, em grande parte, a esboçar os três modelos de forma breve.
O restante do livro se concentra nos detalhes.
Capítulo 1• Introdução 5
35
30
25
24
20 23
15 22
21
10
20
5 19
0 18
1
3
3
0
0
0
8
7
8
9
0
5
9
9
9
8
9
9
1
1
1
1
1
1
(a) (b)
FIGURA 1-1 PIB PER CAPITA DOS Estados Unidos, 1890-2005 (MILHARES DE DÓLARES DE 2000).
O diagrama inclui uma visão expandida do período 1973-1983. (Note que as escalas dos dois
painéis diferem.) (Fonte: U.S. Department of Commerce, Historical Statistics of the United States,
Colonial Times to 1970; e www.economagic.com.)
poupança é um determinante muito importante do bem-estar futuro. Países que estão dispos-
tos a fazer sacrifícios hoje terão um padrão de vida mais elevado no futuro.
Você realmente se importa se uma economia cresce a 2% ao ano em vez de a 4%? Ao
longo de uma vida, você se importará muito: ao final de uma geração de 20 anos, seu padrão
de vida será 50% mais elevado em um crescimento de 4% do que em um de 2%. Em cem anos,
uma taxa de crescimento de 4% produz um padrão de vida sete vezes maior que uma taxa de
crescimento de 2%.
O que determina a taxa de inflação – a variação do nível geral de preços? Por que os preços em
alguns países permanecem estáveis por muitos anos, enquanto os preços em outros países do-
bram a cada mês? No longo prazo, o nível de produto é determinado somente por considera-
ções do lado da oferta. Basicamente, o produto é determinado pela capacidade produtiva da
economia. O nível de preços é determinado pelo nível de demanda em relação ao produto que
a economia pode ofertar.
A Figura 1-2 mostra um diagrama de oferta agregada-demanda agregada com uma curva
de oferta agregada vertical. Pode ser um pouco prematuro pedir que você trabalhe com este
diagrama, já que dedicamos a maior parte dos Capítulos 5 e 6 para explicá-lo. Talvez devesse
P
OA
DA
Nível de preços
P0
Y0 Y
Produto
pensar no diagrama como uma visão preliminar do que está por vir. Por ora, vamos apresentar
as curvas de oferta agregada e de demanda agregada como relações entre o nível geral de pre-
ços da economia e o produto total. A curva de oferta agregada (OA) retrata, para cada nível
de preços dado, a quantidade de produto que as empresas estão dispostas a ofertar.
A posição da curva de oferta agregada depende da capacidade produtiva da economia. A curva
de demanda agregada (DA) apresenta, para cada nível de preços dado, o nível de produto
em que os mercados de bens e os mercados monetários estão simultaneamente em equilí-
brio. A posição da curva de demanda agregada depende das políticas monetária e fiscal e do
nível de confiança do consumidor. A interseção da oferta agregada com a demanda agregada
determina preço e quantidade.1
No longo prazo, a curva de oferta agregada é vertical. (Os economistas argumentam se
o longo prazo é um período de alguns trimestres ou de uma década.) O produto está atrelado ao
ponto em que essa curva de oferta encontra o eixo horizontal. O nível de preços, por sua vez,
pode assumir qualquer valor.
Desloque mentalmente a curva de demanda agregada para a esquerda ou para a direita.
Você verá que a interseção das duas curvas se desloca para cima e para baixo (o preço muda),
em vez de horizontalmente (o produto não se altera). Segue que no longo prazo o produto é
determinado somente pela oferta agregada e os preços são determinados tanto pela oferta
agregada quanto pela demanda agregada. Esta é nossa primeira descoberta importante.
A teoria do crescimento e os modelos de oferta agregada no longo prazo são intimamente
ligados: a posição da curva de oferta agregada vertical em dado ano é igual ao nível de pro-
duto para aquele ano do modelo de muito longo prazo, como mostrado na Figura 1-3. Como o
crescimento econômico no muito longo prazo é, em média, de poucas porcentagens ao ano,
sabemos que a curva de oferta agregada normalmente se move para a direita em poucas por-
centagens ao ano.2
1
Você deve ser informado de que a economia por trás das curvas de oferta agregada e de demanda agregada é muito
diferente da economia da oferta e da demanda comuns que você pode se lembrar do estudo da microeconomia.
2
Às vezes, há choques que temporariamente perturbam a progressão ordenada para a direita da curva de oferta agre-
gada. Esses choques raramente são maiores que poucas porcentagens do produto.
8 Parte 1• Introdução e Contabilidade Nacional
Y P
3
0A
0A
0A
0A
Nível de preços
Produto Y3
Y2
Y1
Y0
0 0
t0 t1 t2 t3 t Y0Y1 Y2 Y3 Y
Tempo Produto
(a) (b)
Estamos prontos para nossa segunda conclusão: taxas de inflação muito elevadas – isto
é, episódios com aumentos rápidos do nível geral de preços – devem-se sempre a mudan-
ças na demanda agregada. O motivo é simples. Movimentos da oferta agregada são da ordem
de poucas porcentagens; movimentos da demanda agregada podem ser pequenos ou grandes.
Logo, a única fonte possível de inflação elevada são movimentos grandes da demanda agre-
gada, que se desloca cruzando a curva de oferta agregada vertical. De fato, como normalmente
aprendemos, a única fonte de taxas de inflação realmente elevadas são os aumentos da oferta
de moeda sancionados pelo governo.3
A maior parte da macroeconomia pode ser sintetizada como o estudo da posição e da in-
clinação das curvas de oferta agregada e de demanda agregada. Você sabe agora que, no longo
prazo, a posição da curva de oferta agregada é determinada pelo crescimento econômico de
muito longo prazo e que a inclinação da oferta agregada é simplesmente vertical.
CURTO PRAZO
Examine o painel (b) na Figura 1-1. Quando fazemos um exame ampliado da trajetória do pro-
duto, vemos que ela não é exatamente suave. Flutuações do produto no curto prazo são sufi-
cientemente grandes para ter muita importância. Explicar as flutuações do produto no curto
prazo é domínio da demanda agregada.4
A distinção mecânica de oferta agregada-demanda agregada entre o longo prazo e o curto
prazo é imediata. No curto prazo, a curva de oferta agregada é horizontal. A curva de oferta
agregada no curto prazo determina o nível de preços no ponto em que a curva de oferta encon-
tra o eixo vertical. O produto, por sua vez, pode assumir qualquer valor. A hipótese subjacente
é que o nível de produto não afeta os preços no curto prazo. A Figura 1-4 mostra uma curva de
oferta agregada de curto prazo horizontal.
3
Aumentos temporários de preços de 10% ou 20% podem resultar de choques de oferta – por exemplo, a falha das
monções em chegar a uma economia agrícola. No entanto, aumentos de preços anuais de dois dígitos se devem à emis-
são de moeda em excesso.
4
Na maior parte das vezes. Choques de oferta – o embargo da Opep é um exemplo – às vezes também são importantes.
Capítulo 1• Introdução 9
P
Nível de preços
P0 OA
DA
Y0 Y
Produto
MÉDIO PRAZO
Precisamos de mais uma peça para completar nosso esboço da forma como a economia fun-
ciona: como descrevemos a transição entre o curto prazo e o longo prazo? Em outras palavras,
qual processo muda a inclinação da curva de oferta agregada de horizontal para vertical?
5
Como dissemos na nota de rodapé anterior: “na maior parte das vezes”. Este é um exemplo do que queremos dizer
quando afirmamos que a aplicação de um modelo necessita de julgamento. Há certamente períodos históricos em que
os choques de oferta superam os choques de demanda na determinação do produto.
10 Parte 1• Introdução e Contabilidade Nacional
A resposta simples é que, quando uma demanda agregada alta eleva o produto acima do
nível sustentável de acordo com o modelo de muito longo prazo, as empresas começam a au-
mentar os preços e a curva de oferta agregada começa a se mover para cima. O médio é pare-
cido com a situação mostrada na Figura 1-5; a curva de oferta agregada possui uma inclinação
intermediária entre a horizontal e a vertical. A questão “qual é a inclinação da curva de
oferta agregada?” é, na verdade, a principal controvérsia da macroeconomia.
A velocidade com que os preços se ajustam é um parâmetro crítico para nossa compreen-
são da economia. Em um horizonte de 15 anos, quase nada importa a não ser a taxa de cresci-
mento de muito longo prazo. Em um horizonte de 15 segundos, quase nada importa a não ser a
demanda agregada. O que se pode dizer sobre o que acontece entre esses dois casos?
Segue que os preços normalmente se ajustam de forma bem lenta; assim, em um hori-
zonte de um ano, mudanças na demanda agregada fornecem uma boa, embora imperfeita, ex-
plicação do comportamento da economia. A velocidade do ajuste de preços é resumida pela
curva de Phillips, que relaciona inflação e desemprego, como se pode ver na versão apre-
sentada na Figura 1-6.
Na Figura 1-6, a variação da taxa de inflação é colocada em um gráfico com a taxa de
desemprego. Preste muita atenção aos números pertencentes às escalas horizontal e vertical.
Uma queda de 2 pontos no desemprego é uma mudança muito grande. Você pode ver que essa
queda, por exemplo, de 6% para 4%, aumentará a taxa de inflação em apenas cerca de um
ponto em um período de um ano. Logo, em um horizonte de um ano, a curva de oferta agre-
gada será praticamente horizontal e a demanda agregada fornecerá um bom modelo de deter-
minação do produto.
P
Nível de preços
P0
OA
DA
Y0 Y
Produto
5 74
4
79
3 73
Variação da inflação (%)
2 80
87
69 66
00 88 78 84
1 05 89
68 90 03 77
99 70 04 63
0 67 65 95 64
01 93 96 62
61
97
–1 98 72 94 85
71 92
02 91
–2 86
75
–3 81 83
76
–4 82
–5
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Taxa de desemprego da população em idade ativa (%)
1-2
PARA REFORÇAR…
O restante do texto somente fornece os detalhes.
De forma mais séria, praticamente tudo o que você aprenderá sobre macroeconomia po-
derá ser enquadrado no esquema de teoria do crescimento, oferta agregada e demanda agre-
gada. Esse esboço intelectual é tão vital que compensa repetir partes da seção anterior em
palavras ligeiramente diferentes.
CRESCIMENTO E PIB
A taxa de crescimento da economia é a taxa à qual o produto interno bruto (PIB) cresce.
Em média, a maior parte das economias cresce em poucos pontos percentuais ao ano por
longos períodos. Por exemplo, o PIB real dos Estados Unidos cresceu a uma taxa média de
3,4% ao ano de 1960 a 2005. Mas esse crescimento certamente não é suave, como confirma
a Figura 1-1b.
O que faz que o PIB cresça ao longo do tempo? O primeiro motivo para a variação do
PIB é que a quantidade disponível de recursos da economia muda. Os principais recursos são
12 Parte 1• Introdução e Contabilidade Nacional
1. Em um período de duas gerações desejamos um modelo de crescimento de muito longo
prazo. Quase nada importa a não ser o desenvolvimento de novas tecnologias e a acu-
mulação de capital (supondo que você viva em uma economia desenvolvida). A taxas de
crescimento entre 2% e 4%, a renda vai mais que dobrar e menos que quintuplicar dentro
de duas gerações. Seus netos naturalmente viverão muito melhor que você. Certamente não
serão tão ricos quanto Bill Gates é hoje.
2. Inflações elevadas possuem uma causa: grandes deslocamentos para fora da curva de
demanda agregada provocados pelo excesso de emissão de moeda pelo governo. Pe-
quenas variações do nível de preços podem ter a contribuição de muitos fatores. Porém,
variações muito grandes de preços são domínio do modelo de oferta agregada-demanda
agregada de longo prazo, em que uma curva de oferta agregada vertical permanece
relativamente imóvel enquanto a curva de demanda agregada se desloca para fora.
3. Grandes variações do nível de atividade econômica e, assim, do desemprego em períodos curtos,
são explicados pelo modelo de oferta agregada-demanda agregada de curto prazo – com uma
curva de oferta agregada horizontal. No início da década de 1980, o Banco Central norte-ame-
ricano (Federal Reserve ou Fed) impôs restrições à demanda agregada, direcionando a economia
para uma recessão profunda. A intenção do Fed era reduzir a inflação – e, no final, foi exata-
mente o que aconteceu. Mas, como o modelo de curto prazo explica, ao longo de períodos muito
curtos, a retração da demanda agregada reduz o produto, o que aumenta o desemprego.
Há um lado negativo em saber qual modelo empregar para responder a uma questão:
você também precisa saber quais modelos ignorar. Ao pensar sobre crescimento ao longo de
duas gerações, a política monetária é completamente irrelevante. E, ao pensar sobre a grande
inflação alemã, as mudanças tecnológicas não importam muito. À medida que você estuda ma-
croeconomia, descobrirá que a memorização de listas de equações é muito menos importante
do que aprender a adequar um modelo ao problema a ser tratado.
o Zimbábue, por exemplo, tem apresentado muito pouco crescimento. A renda per capita do
Zimbábue era menor em 2004 do que em 1965, ao passo que a renda do Brasil mais que do-
brou. Obviamente, valeria muito a pena saber quais políticas econômicas, se houver, podem
elevar a taxa média de crescimento de um país durante longos períodos.
Pico
Tendência
Pico
ão
peraç
Produto
Pico
Pico
Recu
ão
peraç
ão
Rece
Rec
peraç
ess
Recu
Rece
ssão
ão
Recu
ssão
Vale Vale
Vale
Tempo
todo. Em termos econômicos, há pleno emprego de trabalho quando todos os que desejam um
emprego podem encontrar um em um intervalo de tempo razoável. Como a definição econô-
mica não é precisa, normalmente definimos o pleno emprego de trabalho por alguma conven-
ção, por exemplo, que o trabalho é plenamente empregado quando a taxa de desemprego é de
5%. O capital, de forma semelhante, nunca é plenamente empregado em um sentido físico;
por exemplo, prédios de escritórios ou salas de aula, que são parte do estoque de capital, são
utilizados somente em uma parte do dia.
O produto não está sempre no seu nível de tendência, isto é, o nível que corresponde ao
pleno emprego (econômico) de fatores de produção. Em vez disso, o produto flutua em torno
do nível de tendência. Durante uma expansão (ou recuperação), o emprego de fatores de pro-
dução aumenta, e isso é uma fonte de aumento da produção. O produto pode aumentar acima
da tendência porque as pessoas fazem horas extras e o maquinário é usado em diversos turnos.
Por outro lado, durante uma recessão, o desemprego aumenta e menos produto é obtido do que
na verdade poderia ser produzido com os recursos e a tecnologia existentes. A linha sinuosa na
Figura 1-7 revela esses desvios cíclicos do produto em relação à tendência. Os desvios do pro-
duto em relação à tendência são chamados hiato do produto.
O hiato do produto mede o hiato entre o produto efetivo e o produto que a economia
poderia produzir no pleno emprego, dados os recursos existentes. O produto de pleno em-
prego também é denominado produto potencial.
Hiato do produto produto efetivo – produto potencial (1)
O hiato do produto permite-nos medir o tamanho dos desvios cíclicos do produto em re-
lação ao produto potencial ou tendência do produto (utilizamos esses termos como sinônimos).
A Figura 1-8 exibe o produto efetivo e o produto potencial para os Estados Unidos; as linhas
sombreadas representam recessões. 6
A figura indica que o hiato do produto cai durante uma recessão, como em 1982. Mais re-
cursos ficam desempregados, e o produto efetivo cai abaixo do produto potencial. Por outro lado,
durante uma expansão, principalmente na longa expansão da década de 1990, o produto efetivo
aumenta mais rápido que o produto potencial, e o hiato do produto no final se torna até positivo.
Um hiato positivo significa que há sobreemprego, horas extras para os trabalhadores, e mais que
a taxa normal de utilização do maquinário. Vale a pena notar que o hiato é às vezes substancial.
Por exemplo, em 1982, ele chegou a cerca de 10% do produto.
6
A datação do ciclo econômico é feita, no caso dos Estados Unidos, pelo National Bureau of Economic Research
(NBER, www.nber.org/cycles.html). O NBER é uma organização de pesquisa privada sem fins lucrativos sediada em
Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos.
16 Parte 1• Introdução e Contabilidade Nacional
12.000
11.000
10.000
Bilhões de dólares de 2000
9.000
8.000
PIB Potencial
7.000
6.000
5.000
PIB Efetivo
4.000
3.000
2.000
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
A Figura 1-9 mostra a inflação, ou seja, a taxa de aumento dos preços. Podemos também
examinar o nível dos preços (ver a Figura 1-10). Toda a inflação das décadas de 1960 e de 1970
é somada para um grande aumento do nível de preços. No período 1960-2005, o nível de pre-
ços mais que sextuplicou. Em média, um produto, que custa $ 1 em 1960, custa $ 6,60 em
2005. Grande parte do aumento dos preços ocorreu após o início da década de 1970.
A inflação, bem como o desemprego, é um problema macroeconômico importante. Con-
tudo, os custos da inflação são muito menos óbvios que os do desemprego. No caso do desem-
prego, o produto potencial vai ser desperdiçado, e assim fica claro o motivo pelo qual a
redução do desemprego é desejável. No caso da inflação, não há nenhuma perda óbvia de
produto. Argumenta-se que a inflação perturba as relações de preços conhecidas e reduz a
eficiência do sistema de preços. Quaisquer que sejam os motivos, os formuladores de política
econômica estão dispostos a aumentar o desemprego em um esforço para reduzir a inflação
– isto é, trocar um pouco de desemprego por menos inflação. 7
7
Para uma explicação muito clara da inflação, ver: Milton Friedman. “The Causes and Cures of Inflation”, em seu li-
vro Money Mischief (Nova York: Harcourt Brace Jovanovich, 1992).
15
0
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
FIGURA 1-9 A TAXA DE INFLAÇÃO NOS PREÇOS AO CONSUMIDOR DOS Estados Unidos, 1960-2005.
(Fonte: Bureau of Labor Statistics.)
220
200
180
160
CPI (1982–1984=100)
140
120
100
80
60
40
20
0
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
17
18 Parte 1• Introdução e Contabilidade Nacional
1-3
ESBOÇO E VISÃO PRELIMINAR DO LIVRO
Até aqui, esquematizamos as questões principais que vamos discutir neste livro. Agora, esbo-
çamos nosso enfoque da macroeconomia e a ordem em que o material será apresentado. Os
conceitos gerais importantes, como observado, são crescimento, oferta agregada e demanda
agregada. O crescimento depende da acumulação de insumos econômicos e de aperfeiçoa-
mentos tecnológicos. A oferta agregada depende principalmente do crescimento, mas também
das perturbações, como as mudanças na oferta do petróleo. A demanda agregada é influen-
ciada pela política monetária, em especial por meio das taxas de juros e das expectativas, e
pela política fiscal.
A cobertura começa no Capítulo 2 com a contabilidade nacional, enfatizando dados e re-
lações que serão usadas repetidamente mais à frente no livro. A questão fundamental de longo
prazo do crescimento é desenvolvida nos Capítulos 3 e 4. O Capítulo 5 apresenta a estrutura de
oferta agregada-demanda agregada e trata da maneira como a oferta agregada e a demanda
agregada interagem para determinar tanto o PIB real quanto o nível de preços. O Capítulo 6
explora a curva de oferta agregada com mais detalhes. O Capítulo 7 examina ainda mais as
causas, os custos e o dilema entre inflação e desemprego. O Capítulo 8 fornece uma descrição
jornalística de como a política monetária é conduzida pelo banco central. Os Capítulos 9 a 11
apresentam os fundamentos da demanda agregada – o modelo IS-LM. O Capítulo 12 acres-
centa o comércio internacional ao modelo de demanda agregada. Os Capítulos 13 a 16 e o
Capítulo 18 examinam os setores individuais que, juntos, formam a economia como um todo.
O Capítulo 17 discute a teoria da política econômica – uma discussão sobre as dificuldade de
caminhar da teoria macroeconômica para a aplicação macroeconômica. O Capítulo 19 examina
as questões subjacentes às inflações realmente grandes e aos déficits públicos realmente gran-
des. O Capítulo 20 amplia a discussão do Capítulo 12 sobre o papel do comércio internacional
na macroeconomia. O Capítulo 21 faz uma viagem paralela ao estudo cuidadoso da economia
para examinar as fronteiras da pesquisa econômica. (A maior parte desse capítulo é material
opcional. Nem todos desejarão trabalhar com ele em uma primeira leitura.)
1-4
PRÉ-REQUISITOS E RECEITAS
Ao concluir este capítulo introdutório, temos algumas palavras sobre como utilizar este li-
vro. Note que o material não requer pré-requisitos matemáticos além da álgebra da escola
secundária. Utilizamos equações quando parecem ser úteis, mas elas não são algo indispen-
sável da exposição. No entanto, podem e devem ser dominadas por qualquer aluno sério de
macroeconomia.
Os capítulos ou seções tecnicamente mais difíceis podem ser pulados ou, então, estudados
cuidadosamente. Muitas seções são identificadas como “opcional” para demostrar que se trata
de um material difícil. Ou apresentamos essas seções como material suplementar ou fornece-
mos explicação não técnica suficiente para ajudá-lo a prosseguir sem elas no livro. O motivo
de apresentarmos um material mais avançado é proporcionar uma cobertura completa e atuali-
zada das idéias e técnicas principais em macroeconomia.
Capítulo 1• Introdução 19
RESUMO
TERMOS-chave
curva de demanda índice de preços curva de Phillips
agregada (DA) ao consumidor (IPC) produto potencial
modelo de oferta agregada- taxa de crescimento recessão
demanda agregada teoria do crescimento curto prazo
(OA-DA) inflação trajetória da tendência
curva de oferta longo prazo do PIB real
agregada (OA) médio prazo muito longo prazo
ciclo econômico hiato do produto
PROBLEMAS
Conceitual
1. Explique como o produto e os preços são determinados utilizando-se o modelo de oferta agregada-
demanda agregada. O produto vai variar ou permanecer fixo no longo prazo? Suponha que a curva
de demanda agregada permaneça fixa: o que podemos inferir sobre o comportamento dos preços ao
longo do tempo?
Técnico
1. Suponha que o produto efetivo seja igual a $ 120 bilhões e o produto potencial (de pleno emprego)
seja igual a $ 156 bilhões. Qual será o hiato do produto nesta economia hipotética? Baseado em
sua estimativa do hiato do produto, você espera que o nível de desemprego seja maior ou menor
que o normal?