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IRMÃOS ROBERTO

A EMERGÊNCIA DA ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA: a contribuição de Marcelo e Milton


Roberto (1936-1939)

http://www.leonardofinotti.com/projects/filter/architect/mmm-roberto

Um elemento parece romper toda a ordem imposta pelas sete fileiras horizontais de
brises verticais oblíquos que percorrem, ligeiramente
sobressalientes, as duas fachadas da esquina do edifício:
uma grande janela quadrada de vidro composta por nove
módulos quadrados menores, subdivididos em quadrados
ainda menores. Está localizada no centro da fachada
norte, a mais extensa, e avança pelo pavimentos 8 e 9, os
últimos a compor o corpo principal do edifício, sendo o
segundo um mezanino do primeiro.

Planta térreo

Seu estranhamento é enfatizado, em primeiro lugar, por uma fileira de brises -similares
aos dos pavimentos inferiores, porém com menor altura e menor espaçamento entre
eles- que percorre o pavimento 9 da mesma fachada. Tal fileira é interrompida pela
presença daquela janela, precisamente pelos seus três módulos superior, embora sem
muita continuidade com eles. A opacidade da fachada norte do pavimento 8 também é
interrompida por aquele elemento, por seus outros seis módulos. A linearidade tanto
dos brises do pavimento 9 como da opacidade do pavimento 8 é rompida por aquele
elemento.

Maurício e Marcelo Roberto


Em segundo lugar, aquela janela é o único elemento quadrado presente na
composição visual, à diferença da
marcação horizontal dos
pavimentos inferiores através de
brises que ocupam toda sua altura.
No entanto, há um aspecto do
edifício que provem da forma
quadrada: sua modulação estrutural
de 7 x 7 metros.

Planta 8° pavimento
Em terceiro lugar, ela é a única abertura do corpo principal do edifício a ser posta
diretamente sobre a fachada, sem nenhum tipo de proteção solar, permitindo a
entrada direta da luz solar no seu pavimento duplo.
Em quarto lugar, a janela parece criar
uma série de contrastes com as letras
“A B I” postas sobre a parede cega da
fachada oeste dos pavimentos 8 e 9. A
fachada principal do edifício parece
ser a vista em escorço da esquina,
mas com uma leve prioridade da
porção norte, por ser a mais extensa e
por ser nela que está localizado o hall
aberto dos elevadores, acesso
principal ao edifício. No lado menor,
secundário, as letras “A B I”, a sigla da
instituição que contém seu peso; no
lado maior, uma janela quadrada.

Porém, enquanto a janela está


centralizada horizontalmente em
relação à fachada norte, a sigla ABI
não o está em relação à fachada
oeste. Foi disposta ligeiramente mais
próxima à esquina. Tampouco está
centralizada verticalmente em relação
à faixa opaca da parte superior do
corpo principal do edifício. Parece
ocupar a altura do pavimento 8,
estando, assim, sugestivamente
alinhada aos seis módulos inferiores
da janela da fachada norte.

Percebe-se, então, outra interrupção:


sendo o escorço da esquina a fachada
principal do edifício, a faixa horizontal
de brises do pavimento 9, além de
fragmentada pela presença da janela, não mantém sua continuidade no lado oeste. E
do mesmo modo que a janela
quebra a homogeneidade da
faixa opaca do pavimento 8 no
lado norte, o letreiro ABI o faz no
lado oeste.

Em quinto lugar, a janela parece


se estender pelo interior do
pavimento 8. Os fechamentos
internos protegidos pelos brises
são feitos pela mesma sub-
modulação de vidros que
formam os módulos da janela
quadrada, imperceptíveis
externamente.

Salão de eventos. Mindlin, H., 1956


Em sexto e deliberadamente último lugar, a janela não é quadrada. Seus três módulos
inferiores não são quadrados. A faixa horizontal de brises do pavimento 9, assim como
os três módulos superiores da janela, partem com uma leve diferença em relação ao
nível do teto do pavimento. A faixa opaca superior à faixa de brises corresponde ao
guarda-corpo do terraço superior. A janela “quadrada” ocupa a largura do módulo
estrutural central, em continuidade com o hall dos elevadores, e, ainda com o pé-
direito duplo do pavimento, não alcança os mesmo sete metros em altura. Parece
haver sido feita para ser quadrada, porém, mesmo não podendo ser, continua a ser
vista como tal.

A chegada à esse pavimento deve possuir o mesmo estranhamento que aquele


elemento gera na fachada em escorço do edifício: um grande ofuscamento pela alta
luminosidade permitida pela janela, determinando o modo e o tempo para a
experimentação do espaço, uma planta livre permeada por pilares, uma grande altura
que abriga um mezanino. Uma referência: Villa Schwob, Le Corbusier, 1916.

Ficha técnica:

 Arquitetos:Marcelo e Milton Roberto


 Ano: 1943
 Tipo de projeto: Institucional
 Status:Construído
 Materialidade: Concreto
 Estrutura: Concreto
 Localização: Rio de Janeiro, Brasil
 Implantação no terreno: Adossado às 2 divisas
YVES, Braund – A arquitetura contemporânea no brasil

O movimento MMM Roberto

Ápice de 1949-1955

Tentativa de criação de uma arquitetura que rompe com o caráter estático das obras
anteriores, sendo a fachada móvel do edifício Marquês de Herval a representação máxima
dessa realização.

As primeiras obras, nada dinâmicas, de Marcelo e Milton Roberto não representavam a


evolução de sua arquitetura. o prédio da ABI consisti em uma massa pesada.

DINAMISMO DAS ESTRUTURAS


Foram poucas, e com sucesso, as ocasiões em que os roberto tentaram romper com o quadro
estático da arquitetura através da estrutura. Como:

- Edificios da Sotreq, 1953

- Igreja para o bairro Vicente de Carvalho, 1952 (influência do projeto de Oscar Niemeyer para
o teatro do ministério da educação – explorar a flexibilidade do concreto armado)

Os irmãos roberto, ao contrario de Niemeyer, permaneciam rígidos a plantas ortogonais, e


ousarem em coberturas mais curvas tendiam a ter menos unidade e clareza plástica do que a
composição de jogos curvos de Niemeyer.

- Pavilhão Samambaia

“um degelo em relação à dominante lecorbusieriana que caracteriza a maior parte da


arquitetura brasileira” Giulia Veronesi, 1960

- edifício Seguradoras, rj, 1949

Primeiro edifício onde se manifestou o movimento das fachadas -sistema original de brises
soleil e ondulação das paredes de canto

Paredes sinuosas que separam as lojas situados no térreo do prédio da ABI, representam
dinamismo, porém eram detalhes que não caracterizavam o conjunto da obra, e não
contribuíam para a expressão externa.

MINDLIN, Henrique - A arquitetura moderna no brasil

Edificio da ABI (associação brasileira de imprensa) – Edifício Herbert Moses,1938, RJ

Por concurso em 1936


CALOVI, Claudio

O CONCURSO – júri selecionado por Herbert Moses, que conhecia arte e fora influenciado por
Frank Lloyd Wright, constituído por membros da ABI e arquitetos e engenheiros de orgãos
especializados, diferente do caso do MESP – júri da IBA

RESULTADO:

1 – MM ROBERTO

2- Alcides da Rocha Miranda, Lélio Landucci, João Loureiro

4 - Jorge Moreira e Ernani Vasconcellos

Menções honrosa
Arquimedes Memória e François Cuchet

Oscar Niemeyer, Francisco Saturnino de Brito e Cássio Veiga de Sá

O TERRENO – doado pelo governo do RJ, prefeito Pedro Ernesto em 1935, terreno plano de
esquina, próximo à Biblioteca Nacional de Belas Artes e da Escola Nacional de Belas Artes, área
de atuação do Plano Agache

O PROGRAMA

- 12 pavimentos + subterrâneo (sala de exercícios e piscina)

- térreo comercial com portaria “ampla e majestosa”

- 1° a 4° andar – escritórios para aluguel

- 5° a 12° - dependências da ABI (incluído o terraço)

5 – diretoria

6 - biblioteca

7,8 – salões de festa e exposições

9 – serviços assistenciais

10 – salao de jogos e salas de leitura Legislação urbanística da área afastados do


11 – restaurante, terraço jardim e bar alinhamento em 1,75m e 3,50m
respectivamente.

PROJETOS
Moreira e Vasconcellos: perspectiva da A.B.I.
Revista PDF nº4, 1936

- 4° lugar- Jorge Moreira e Ernani Vasconcellos

Volume cubico, com janelas horizontais, que definem os planos das fachadas da esquina, e
quebra-sóis fixos em quadricula emoldurada, ocultando a marcação das aberturas, dando ao
edifício caracter abstrato – origem quebra sois corbusier argélia

Apresenta dois corpos sem muito articulação entre si verticalmente, as cortinas de vidro do
térreo em contraposição ao corpo principal caracterizado pelas faixas horizontais dos quebra-
sóis, separados por uma tênue marquise, que juntamente ao recuo dos pilotis no térreo,
acentua ainda mais o contraste tectônico dos corpos. Transição entre a batração geométrica
do art deco para as vanguardas europeias.

O setor de circulação é diferenciado por uma grelha e modulação ininterrupta, separad do


volume maior onde se encontram os espaços principais, o que faz com que a entrada do
edifício fique voltada para a face de menor importância, em posição periférica desassociada do
acesso do fluxo de veículos

Os banheiros ficam separados, maior liberdade dos pavimentos em planta livre – nave central
larga e naves laterais

- Equipe liderada por Oscar Niemeyer

Forma diferenciada de atenuar a agudez de esquinas (diagonal ou muro convexo),


neutralização da aresta de esquina do edifício – um muro côncavo. Inspirção zecca apostólica
de roma, Antonio da Sangallo, 1525. ( concavidade que sugere perspectivas para edifícios
vizinhos)

A esquina torna-se o acesso principal, marcado por duas colunas, sendo o centro da
composição. Ao lado da entrada do térreo, as vitrines das lojas. No restaurante recuado, a
forma convexa contrasta com a forma concova do restante do edifício.

A solução para insolação é resolvida por planos de vedação em ritmo ziguezague de


reentrâncias e saliências nas faixas horizontais do pavimentos

“A articulação plástica da A.B.I. de Niemeyer lhe confere um aspecto de leveza e ‘extroversão’.


Todavia, isso implica em menos sobriedade formal e unidade... A articulação entre base, plano
principal e coroamento é pouco precisa e a solução em esquina côncava, em que pesem suas
sugestivas conotações urbanísticas, afasta o edifício da integridade abstrata do prisma cúbico
presente nos projetos de Moreira e Vasconcellos e de Marcelo e Milton Roberto.”

No térreo, a área de lojas é diminuída pela decisão de projeto de um amplo hall, sendo que as
lojas tinham grande importância de rende ara instituição

Imprecisão do lançamento estrutural, sem atenção ao vão menor da ala menor

- 1° lugar- MM Roberto

Diferenças entre o projeto apresentado no concurso e o posteriormente publicado e m março


1937. (antes sem subsolo e suas instalações esportivas; hoje, auditório ocupa lugar do salão de
festas)
No concurso: composição diversificada menos unitária: brises verticais do 1-5
pavimentos e depois diversidade de aberturas, onde o pé direito duplo marca a parte nobre, e
o ritmo doa brises é retomado no pavimento anterior ao terraço jardim

Composição tripartida: volume negativo no térreo – piano nobile, bloco principal elevado
sobre pilotis (colunas clássicas) + coroamento orgânico afastado do alinhamento

Caráter hermético e austero (fechado, sólido, sóbrio) encontra contraste e equilíbrio com o
tratamento do embasamento e coroamento orgânico e afastados do plano principal

Contraste do ritmo horizontal dos rasgos horizontais e seus brises com a ortogonalidade da
quina vertical

Segundo calovi, “o edifício construído é um bloco purista, monocromático e unitário”

- “casa do jornalista” e “palácio d imprensa”

- monumento justaposto ao tecido (é monumento ao mesmo tempo que segue legislação)

- os brises são inspirados nos estudos (sem execução) de Le CORBUSIER paras as cidades de
Argel e Barcelona em 1933, porém a forma utilizada pelos irmãos roberto é inovadora,
somente planos de concreto oblíquos, que impedem as abertura nunca haviam sido
executadas, as janelas por sua vez ficam recuadas a 2m para criar um corredor de dispersão de
calor (fachada norte e oeste)

- No térreo, o acesso obrigatório de veículos é o mesmo para os pedestres, criando um única


abertura para o fluxo da rua, o que resulta em um espaço vazio (demarcado pelos três
intercolúnios) entre dois cheios ( volumes curvos)

“Os três intercolúnios centrais definem o vazio de acesso, que se contrai na parede
sinuosa que reduz o espaço para dois intercolúnios ao fundo. Essa parede sinuosa que
introduz a vitalidade barroca dentre a disciplina colunar clássica serve para ampliar a
área útil das lojas e como expressivo direcionador de fluxo aos elevadores.”

- parede sinuosa traduz carter dinâmico e organico

- malha de 7x7, laje nervurada

- janela grande de pé direito duplo, no auditório demonstra onde fica o espaço nobre da
instituição, marca o centro de simetria da composição, que também é a entrada principal para
o edifício, assim como o local da circulação vertical de elevadores
COMENTÁRIOS

- base em Element et Theorie de l’Architecture, Julian Guadet

- 5 pontos da arquitetura moderna, Le Corbusier

- vinda em 1929 e palestras na ENBA, mesmo ano da formatura de Marcelo e iniciação


de Milton

- prédio A.B.I. se assemelha a Ville Savoye pelo tratamento tripatidário, piano nobile de pilotis,
com volume de entrada recuado seguido por prisma rasgado horizontalmente por janela em
fita e por fim terraço jardim curvilíneo, como o térreo.

- diferentemente da ville savoye, o prédio da A.B.I apresenta dimensão e proporções maiores,


utiliza materiais nobres e duráveis para demonstrar o seu caráter institucional, que devem ser
duráveis (mármore travertino fachada, granito pilotis), representam caráter permeável dos
pórticos clássicos, sem a ideia de leveza

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