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Governo do Estado do Rio de Janeiro

Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação


Fundação de Apoio à Escola Técnica

PIERRE BOURDIEU: A ESCOLA COMO REPRODUTORA DAS


DESIGUALDADES SOCIAIS

VALÉRIA DOCÍLIO DA SILVA

Campos dos Goytacazes, 2018

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PROF. ALDO MUYLAERT - ISEPAM

Av. ALAIR FERREIRA, 37- Turf-Club - TEL. FAX (22) 27315896

direcaogeralisepam@gmail.com

CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ


Governo do Estado do Rio de Janeiro
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação
Fundação de Apoio à Escola Técnica

PIERRE BOURDIEU: A ESCOLA COMO REPRODUTORA DAS


DESIGUALDADES SOCIAIS

VALÉRIA DOCÍLIO DA SILVA

Monografia apresentada ao Instituto


Superior de Educação Professor Aldo
Muylaert como requisito para a obtenção
do grau de licenciado em Pedagogia, sob
a orientação do Professor Ms. Edno
Gonçalves Siqueira.

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PROF. ALDO MUYLAERT - ISEPAM

Av. ALAIR FERREIRA, 37- Turf-Club - TEL. FAX (22) 27315896

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PIERRE BOURDIEU: A ESCOLA COMO REPRODUTORA DAS


DESIGUALDADES SOCIAIS

Trabalho aprovado em: ___/ ___/ 2018

Banca examinadora:
_______________________________________________________________
Profº. Edno Gonçalves Siqueira- Mestre em Cognição e Linguagem (UENF)
Orientador

_______________________________________________________________
Prof.ª Ana Beatriz Manhães Pinto - Mestre em Planejamento regional e Gestão
de Cidades (UCAM)

_______________________________________________________________
Prof. Mário Celso Colucci -

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PROF. ALDO MUYLAERT - ISEPAM

Av. ALAIR FERREIRA, 37- Turf-Club - TEL. FAX (22) 27315896

direcaogeralisepam@gmail.com

CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ


Agradecimentos

Primeiramente a meu pai, Adario de Jesus Docílio pelo seu cuidado,


dedicação e seu sorriso que em alguns momentos me deu а esperança para
seguir, a meus irmãos, Alex da Silva Docílio, Elizeu Docílio da Silva, Walace
Kaike Docílio pela presença e apoio que significou segurança е certeza de que
não estou sozinha nessa caminhada, em especial a minha prima Lilian de
Souza Docílio e minha sobrinha Laura de Souza Docílio pelos sorrisos que me
arrancaram em meio as dificuldades enfrentadas.
A meu orientador, Edno Gonçalves Siqueira pela paciência e toda
sabedoria em me guiar nos estudos do grande mestre Pierre Félix Bourdieu, o
qual me levou a concluir esse trabalho, devo também sua disponibilidade em
me orientar, bem como sua crença de que posso sempre me superar.
Por último, mas não menos importante aos meus colegas de curso, em
especial agradeço, Alessandra Trindade e Verônica Almeida por ter caminhado
durante a graduação ao meu lado, em especial ao colega de classe e amigo
pessoal, Rafael Moraes da Silva, a quem devo o folego que muitas vezes me
faltou.
RESUMO

A partir da segunda metade do século XX a instituição escola foi alvo de questionamentos


sobre seu papel e sua suposta neutralidade. O sociólogo francês Pierre Félix Bourdieu,
representante da chamada Sociologia Crítico-Reprodutivista, afirma que a função estrutural e
precípua da escola no ocidente moderno e contemporâneo é a reprodução das desigualdades
sociais. O autor produziu um extenso e qualitativo material sobre o papel da escola. O
sociólogo concebia a sociedade como um conjunto de esferas sociais e as caracterizava como
dotadas de autonomia relativa, ressaltando que o tecido social, a rede de instituições não
possuíam apenas uma única logica social, mas um complexo sistema de lógicas. Pierre Félix
Bourdieu obteve reconhecimento mundial a partir de suas pesquisas que se tornaram
conhecidas como exemplo proeminente da tendência Crítico-Reprodutivista. Ele qualificou e
embasou seu trabalho através do desenvolvimento de alguns conceitos, com o intuito de
compreender, bem como comprovar o caráter reprodutor da instituição, o autor desenvolveu
conceitos como o de habitus, uma reelaboração do conceito de socialização em que demonstra
como o sistema sustenta a estrutura da realidade social; de campos, conceito constituído na
ideia de espaço simbólico onde se desenvolvem as relações sociais materiais e imateriais; a
violência simbólica que seria a imposição de qualquer dominação sob o habitus do indivíduo;
capital cultural que corresponde a elementos simbólicos como o conhecimento, os saberes
instituídos e instituintes; capital econômico que diz respeito aos diferentes fatores presentes na
produção; capital social que é amplamente identificado com as redes de relações sociais e
seus derivados. O presente trabalho pretende explicitar os conceitos desenvolvidos por Pierre
Félix Bourdieu através de uma revisão bibliográfica de obras do sociólogo, bem como identificar
outros autores que validaram o trabalho conceitual desenvolvido por ele.

Palavras-chave: Habitus. Capital cultural. Capital simbólico. Capital econômico.


Reprodução. Desigualdades. Escola.
SUMÁRIO

1 O conceito de habitus ....................................................................................01

2 Os conceitos de estado incorporado, objetivado e institucionalizado............10


3 A dominação e reprodução sociais desde a linguagem............................... 14

4 O papel estruturante da ideologia...................................................................16

5 Considerações finais ..................................................................................... 22


6 Referências bibliográficas ............................................................................. 23
1. O conceito de habitus

Há maneiras diferenciadas de se representar a Escola como


instituição socialmente encarregada da posse, manutenção, desenvolvimento e
transmissão dos processos sistematizados por ela e outros, referidos à
Educação. Escola e Educação não auferem status semântico unívoco; variam
de acordo com a perspectiva em que se encontram inseridos. Perspectiva
ideológica, histórica, cujo contexto específico fará variar os modos simbólicos
(sígnicos, significativos) pelos quais essas instituições são representadas.

Autores como Bourdieu, Gramisci e Althusser, representam a escola


como uma instituição sob controle do Estado o que conseqüentemente a torna
um reflexo da ideologia do grupo e da lógica que o comanda. Isto é, em uma
sociedade capitalista a escola representará e transmitirá a ideologia da classe
dominante, como o fará em qualquer sociedade em que ela constituir-se na
sociedade. Fazendo uso da formulação de E. Durkheim, já no séc. XIX, a
escola na moderna sociedade ocidental sofre de um paradoxo constitutivo:
perpetuar os valores sobre os quais se constituiu, numa visão crítica; modificar
os valores tradicionais em face de novas demandas geracionais e ou sociais,
numa visão romântica da escola; equacionar os fatores intervenientes referidos
a essas duas representações.

O que subsidia aquela tese é a lógica segundo a qual as instituições


de uma sociedade tendem irremediavelmente a reproduzi-la através dos
processos de que se encarregam e do processo de socialização em particular.
Faz-se isso ainda, por meio e efeito dos saberes constituídos que sustentam,
da hierarquia de poderes que estruturam e mantêm a sociedade, e, pela via
dos processos ideológicos que justificam essas lógicas e práticas. Há também
a força coerciva e repressora dos Aparelhos do Estado 1 que fazem do

1 RANCIÈRE, J. “Sobre a Teoria da Ideologia” In: Lecturas de Althusser. Buenos Aires, Galerma, 1970, pp.
328, 330.

ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro, Graal, pp. 53-54.


monopólio da força (agressão, violência, repressão, intimidação) seu principal
capital de compromisso, serviço e razão de existir nos corpos institucionais das
sociedades disciplinares (Michel Foucault).

Escola no DELP (Dicionário Essencial da Língua Portuguesa – 2001)


é definida como um estabelecimento de ensino de todos os gêneros, e de
todos os níveis, definição restrita e ideologicamente marcada por caráter
funcional, diz-se instrumental, da instituição e que para nós é de interesse
porque corresponde à representação lato sensu, de consenso: a escola ensina,
sua função é ensinar. Vê-se que essa definição corresponde à base filosófica
humanista e idealista que sustenta nosso ordenamento jurídico e as
representações pautadas pelos ideais liberais forjados na emergência das
sociedades Industriais e pré-industriais europeias, o que equivale a dizer: não
democráticas, capitalistas insurgentes, expansionistas, colonizadoras,
imperialistas, ideologicamente marcadas pelos encobrimentos que se viu na
história moderna e contemporânea tanto da Europa, quanto das Américas.

Alguns autores fazem uma análise crítica do papel da escola na


sociedade. Bourdieu (1970), por exemplo, em seus estudos, elucida que a
escola age como uma instituição reprodutora das desigualdades sociais, ou
seja, conserva a estrutura social hierarquizada, onde uma classe impõe seus
ideais sobre a outra. A idéia de escola que se vive hoje se iniciou no século XIX
com a política educacional embasada em três vertentes, a saber: o poder da
ciência; a alegada igualdade de oportunidades; oferta universal de ensino
escolar como pré-requisito para a consolidação dos estados nacionais. Através
dessas vertentes, a escola ganha caráter de “redentora da humanidade”,
“alavanca social”, “equilibradora de desigualdades” – ideologias que tipificam
as representações da escola no ocidente capitalista após do séc. XIX. Vale
ressaltar que essas vertentes são perspectivas das classes dominantes que se
tornaram representações consensuais na sociedade:

A pesquisa histórica revela que uma política educacional, em seu


sentido restrito, tem inicio no século XIX e decorre de três vertentes
da visão de mundo dominante na nova ordem social. (...). A ideologia
nacionalista parece ter sido a principal propulsora de uma política
mais ofensiva de implantação de redes publicas de ensino. (PATTO,
1999, p.41)
Ao analisar a sociedade, Bourdieu conclui que ela está dívida em
espaços sociais, onde há diferenças e conseqüentemente classes ou grupos
sociais, que são reproduzidos através de estratégias que são práticas utilizadas
pelas elites para conservar ou aumentar seu capital material e principalmente
simbólico. Há uma sincronia de articulações entre instituições e representações
(ou ideologias): matrimônios, educação, economia, linguagem, modos de ser e
pensar. Ainda haja incongruências, eles têm como princípio o habitus. Há uma
relação de interdependência entre habitus e campo, local institucional e social
sujeito às ações dos processos contidos no fenômeno do habitus, para que
haja integração entre ambos, ainda que dialética, mas com preponderância das
representações sobre os entes sociais, pessoas, grupos e instituições.

Bourdieu analisou que ações, comportamentos e escolhas


individuais são sujeitos a pressões e estímulos do campo onde estão inseridos.
O habitus é um construto conceitual utilizado para tentar compreender a
homogeneidade nos gostos e preferências de grupos. Esse conceito consegue
captar princípios e disposições que normalmente não são vistos de forma
homogenia. Não pode ser interpretado como algo imutável, pois ele é
continuamente (re)construído, aberto a novas experiências. Surge para romper
com interpretações deterministas, pois tenta recuperar a noção dos sujeitos
como produtos da história e também de suas experiências individuais
acumuladas ao longo de sua trajetória. Os habitus individuais são produtos da
socialização e formados por condições sociais, reflexos de ambientes (grupos)
diferentes, como família, escola e trabalho.

As experiências se integram na unidade de uma biografia sistemática


que se organiza a partir da situação originaria de classe,
experimentada num tipo determinado de estrutura familiar. Desde que
a historia do individuo nunca é mais do que uma certa especificação
da história coletiva de seu grupo ou de sua classe [...]. O estilo
pessoal, isto é, essa marca particular que carregam todos os produtos
de um mesmo habitus, práticas ou obras, não é senão um desvio, ele
próprio regulado e as vezes mesmo codificado, em relação ao estilo
próprio a uma época ou a uma classe. (BOURDIEU, 1983, pp. 80-81)

O Habitus é referido como um sistema de disposição ligado à


trajetória social e essa teoria compreende a historicidade e a plasticidade das
ações, ou seja, os estudos baseados nessa teoria desvendaram que o habitus
não expressa uma ordem social funcionando para a reprodução, pelo contrário,
explicita estratégias e práticas que constituem a ordem social, isto é, os
agentes vão reagir e se adaptar, contribuindo no fazer da história. Há uma
tensão de gradientes imprecisos.

Segundo Maria da Graça Jacintho Setton, o conceito habitus tem


uma longa história, palavra de origem latina, surge na tradução escolástica
(pensamento cristão da idade média) é uma tradução da noção grega hexís
que foi utilizada por Aristóteles para designar as características desenvolvidas
na alma após o processo de ensino e aprendizagem. Emile Durkheim a utiliza
lhe dando um significado bem mais explícito, isto é, para esse autor habitus é a
orientação das ações dos indivíduos tanto de forma geral, quanto em seu
estado interior, e neste sentido, a educação estaria organizada de forma
profunda e duradoura, ou seja, pode-se afirmar que cada indivíduo interioriza e
depende dos princípios de escolarização

O conceito de habitus foi desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre


Bourdieu com o objetivo de pôr fim à antinomia indivíduo/sociedade
dentro da sociologia estruturalista.[1] Relaciona-se à capacidade de
uma determinada estrutura social ser incorporada pelos agentes por
meio de disposições para sentir, pensar e agir. É pertinente observar
que Tomás de Aquino, em seu Comentário ao Livro V da Ética a
Nicómaco, de Aristóteles, traduz o conceito grego de hexis para o
conceito de habitus, em latim. Provavelmente construiu essa
conceituação em fontes diversas, porque não lia grego. O texto de
Aquino que introduz o conceito escolástico de habitus é “Respondeo
dicendum quod, sicut supra dictum est, habitus non diversificantur nisi
ex hoc quod variat speciem actus, omnes enim actus unius speciei ad
eundem habitum pertinent. Cum autem species actus ex obiecto
sumatur secundum formalem rationem ipsius, necesse est quod idem
specie sit actus qui fertur in rationem obiecti, et qui fertur in obiectum
sub tali ratione, sicut est eadem specie visio qua videtur lumen, et qua
videtur color secundum luminis rationem”. Uma tradução possível
seria algo como: "Respondo dizendo que, como foi dito acima, os
hábitos não se diversificam a não ser que mude o tipo de ação, de
fato, todas as ações da mesma espécie pertencem ao mesmo hábito.
Sendo que a espécie da ação deriva do objeto segundo sua razão
formal, é necessário que a ação seja da mesma espécie que se liga à
razão do objeto, e que se ligue ao objeto sob tal razão, como é da
mesma espécie a vista pela qual se vê a luz e pela qual se ver a cor
dependendo da razão da luz". Estas “ações da mesma espécie”
compõem a héxis descrita por Aristóteles como uma “disposição
prática”, permanente e costumeira, automática, e muito
provavelmente despercebida, pertencente a um plano ontogenético.
Acerca da disposição argumentada por Aristóteles[2] Bourdieu localiza
no conceito de habitus o “primado da razão prática”, “uma disposição
incorporada, quase postural... o lado ativo do conhecimento prático
que a tradição materialista, sobretudo com a teoria do reflexo tinha
abandonado”. Em A Dominação Masculina, a construção do habitus é
explicada por Bourdieu da seguinte forma: “...o produto de um
trabalho social de nominação e de inculcação ao término do qual uma
identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação
mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social
desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um
habitus, lei social incorporada"2

Ao formular o conceito habitus, Bourdieu cria uma ferramenta de


interpretação da realidade, dialogando com o indivíduo e a sociedade,
demonstrando interesse em compreender as condições objetivas que
caracterizam a posição na estrutura social que o indivíduo ocupa. Segundo
Nogueira e Nogueira (2004) até 1960 a escola era vista como uma instituição
de socialização que contribuía para uma sociedade mais democrática ao se
colocar como fornecedora da promoção da igualdade de oportunidades,
convencendo-se de sua imparcialidade ao tratar os alunos, isto é, tratamento
igualitário aos educandos independente de sua posição social. Trabalhava-se
com o ponto de vista meritocrático, ou seja, acreditavam que o valor do
indivíduo reflete suas qualidades sem levar em consideração os aspectos
sociais e econômicos, destacando a ideologia do dom para que se justifique o
merecimento.

Vale destacar que na França em 1960 a sociedade estava


insatisfeita com a escola, devido ao conjunto de traços elitistas e autoritários do
sistema educacional, refletido em pouquíssimo retorno social e economico.
Bourdieu (2002) reforça que o papel da escola é manter e legitimar os
privilégios sociais , isso se dá porque existe uma adesão dos agentes sociais,
incluindo profissionais da educação ao sistema desigual, instituindo assim o
que conserva a reprodução das desigualdades sociais e naturaliza as
diferenças, resultando em,

Uma das teses centaris da sociologia da educação de Bourdieu é que


os alunos não são indivíduos abstratos que competem em condições
relativamente igualitáriasna escola, mas atores socialimente
constituidos que trazem, em larga medida, incorporada uma bagagem
social e cultural diferenciada e mais ou menos rentavél no mercado
escolar. (NOGUEIRA & NOGUEIRA, 2004, p.18)

Boudieu ressalta que não se deve ignorar as diferenças, visto que


alguns grupos caminham ao mesmo passo que a escola e isso facilita o bom

2 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Habitus; acesso em 02 Dez 2017.


desempenho escolar dos indivíduos que compõem esses grupos, e se não
forem visualizadas essas diferenças haverá um favorecimento ainda mais do
que já são favorecidos. Segundo Claudio Marcio de Araujo e Maria Claudia
Santos Lopes de Oliveira (2014), diante dessa realidade, Bourdieu (1973,1983
e 2007) faz elaborações acerca da relação escola e sociedade, destacando o
papel da escola na reprodução da estrutura social, e com isso, progride-se no
desenvolvimento de três conceitos: o de capital, seja cultural, social ou
econômico, o de violência simbólica e o conceito de habitus.

Para tentar compreender como as crenças da classe dominante são


reproduzidas no seio das classes menos abastadas, Bourdieu (2001)
desenvolve o conceito de violência simbólica que analisa como as imposições
culturais exercidas invisivelmente ou sutilmente apoiam-se em crenças e
preconceitos coletivamente reproduzidos no processo de socialização e
praticados por diferentes instituições sociais, como por exemplo a escola e o
estado. Bourdieu baseia-se nos estudos marxistas para desenvolver o conceito
de capital, diferindo no que diz respeito a relevância entre os fatores
econômicos, sociais e culturais. No campo educacional, Bourdieu analisa três
tipos de propriedades que influenciam e determinam as diferenças entre os
indivíduos, que são, o capital econômico, o capital social e o capital cultural.

O capital econômico consiste em bens materiais e posses de um


grupo ou indivíduo que pode facilitar ou dificultar o acesso a uma educação de
qualidade bem como outros tipos de bens culturais, pois o primeiro pode
garantir meios para cessar o segundo. Contudo, o capital social é definido
pelas relações interpessoais e institucionais que o indivíduo acesse direta ou
indiretamente e esse pode facilitar ou ampliar o acesso ao capital cultural e
econômico e por isso, segundo Bourdieu é o capital de maior relevância. Afim
de compreender a relação entre o capital econômico, a estrutura
socioinstitucional e a individualidade, Boudieu desenvolve o conceito de habitus
conforme inicialmente apresentado. Trata-se de um sistema auto-regulador de
princípios que leva os indivíduos a agir de forma harmoniosa com a sua classe,
afinal, é um princípio gerador e unificador do conjunto das práticas e das
ideologias características de uma classe.
Em 2007, Bourdieu afirma que o habitus pode ser analisado como
uma ‘apanhador’ dos estilos de vida e gostos pelo qual o indivíduo aprecia o
mundo e se comporta nele; são ações individuais e sociais associadas às
disposições incorporadas e estruturadas socialmente e atuantes nas ações e
interações sociais, isto é, são acumuladas experiências durante o trajeto social
dos indivíduos que podem ser sintetizados pelos gostos, apreciações,
comportamentos. O habitus não está condicionado às interferências externas
ao sujeito de uma forma mecanizada.

Segundo Bourdieu (2003), o conceito habitus é constituído por três


elementos: as estruturas das posições objetivas, a subjetividade dos indivíduos
e as situações concretas de ações. O habitus vai contribuir para que o
indivíduo dê mais créditos a suas práticas sociais comuns e exercidas no seio
de sua classe. Alguns autores, como por exemplo, Setton (2002), baseiam-se
nos estudos de Bourdieu e concluem que o conceito habitus refere-se a um
processo que envolve características tais como amplos estímulos e referências
muitas vezes contraditórias, ou seja, o habitus foi analisado como uma
interligação de trajeto histórico, passado, presente e futuro em um sistema
flexível e por isso mesmo mutável e adaptável. Vale ressaltar que nesse
aspecto a transferência cultural pode ou não ser bem sucedida, até porque o
habitus do indivíduo não pode ser totalmente concluído, mesmo levantando os
aspectos familiares e de classe, visto que, é constituído tanto por influências
sociais quanto subjetivas e individuais.

Segundo Calil (2003) e Paludo e Koller (2005) alguns aspectos


podem influenciar negativamente o desenvolvimento do indivíduo que se
denomina como situação de risco e vulnerabilidade social e esses aspectos
atuam diretamente no desenvolvimento insatisfatório escolar dos educandos.

Em 1982 Bourdieu retorna com o conceito habitus, mas dessa vez


com uma óptica diferente. Aproveitando as reflexões de outros autores como
Panofsky, para ele não basta apresentar as diferentes esferas sociais, é
importante ressaltar as condições e princípios que vão tornar possível a coesão
desses entes sociais. O autor vai explicitar que cabe à escola consciente e
também inconscientemente a constituição de sua cultura, ou seja, seu habitus.
A cultura não é apenas um código de um grupo; é na verdade um conjunto de
esquemas. Ele também vai acrescentar outro sentido a sua teoria que surge da
necessidade científica de compreender as afinidades entre os agentes e é
compreendido como:

[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que,


integrando todas as experiências passadas, funciona a cada
momento como uma matriz de percepções, de apreciações, e de
ações – e torna possível a realização das tarefas infinitamente
diferenciada, graças as transferências analógicas de esquemas [..]
(BOURDIEU, 1983b, p. 65)

Esse conceito foi concebido como mediador entre as práticas


individuais e as condições sociais de existência. Em 1963 Bourdieu observa
que os indivíduos arrancados do meio rural e submetidos a viver no meio
urbano apresentavam situações de desamparo. A noção de habitus é
universalizada a partir da ideia de examinar as características diversas do
indivíduo, ao propor mediar o indivíduo e a sociedade ele é capaz de conciliar a
realidade exterior e a realidade interior. Essas ideias na época eram
consideradas antagônicas, em síntese aqui se tratará de um sistema de
disposição que nos leva a agir de determinada forma em um conjunto de
circunstâncias dadas. Afirma em seus estudos que os agentes sociais
(indivíduos) estão introduzidos espacialmente em campos, isto é, espaço
estruturado de relações objetivas que são definidas em sua realidade e nas
determinações impostas a seus agentes ou ocupantes, tendo por base, regras,
princípios e hierarquias de poderes.

A exclusão das grandes massas não ocorre mais na passagem do


primário para o ginásio, mas, progressivamente, insensivelmente, ao
longo das primeiras séries do secundário...pelo
atraso...repetição...escolha de títulos desvalorizados. (BOURDIEU,
1979. p. 173)

Bourdieu desenvolve uma concepção sobre tipos de capitais para


responder às desigualdades sociais presentes na sociedade. Em seus estudos
são apontados três tipos de capitais. Pela metade do século XX a construção
de uma nova sociedade estava calcada na escolarização que fosse
democrática, pública e gratuita; ao democratizar o acesso à escola e prolongar
a obrigatoriedade, evidencia desigualdades sociais reflexos também do caráter
autoritário e elitista do sistema educacional.
Estudos de Bourdieu demonstram que a origem social do educandos
transforma-se em desigualdades escolares e a partir daí, descobre-se uma das
vertentes para a reprodução do sistema de dominação, com base em uma
análise profunda e detalhada do campo social, econômico e cultural,
descobrindo-se melhor como funciona cada tipo de capital e sua influência na
reprodução das desigualdades escolares que refletem a realidade social. O
capital cultural e social interagem com o capital econômico de maneira a
fortalecer os bons resultados educacionais em grupos pertencentes ou mais
próximos da classe dominante
Para compreender melhor a concepção de capital cultural, social e
econômico sob a perspectiva bourdieusiana é preciso primeiramente analisá-
las separadamente. Bourdieu visualiza o espaço social como um campo de
luta, onde os indivíduos (pertencentes a grupos sociais) elaboram estratégias
para melhorar ou manter sua posição social, isto é, essas estratégias
relacionam-se com diferentes tipos de capital.
Bourdieu esclarece que o capital econômico é uma forma de
estratégia que se dá sob forma de alguns fatores como a produção (fábricas,
terras) e de bens econômicos acumulados (dinheiro, patrimônio), esses podem
ser acumulados e multiplicados através de investimentos seja na área
econômica, social ou cultural. A educação escolar pode ser representada como
um tipo de capital, o cultural, que é na verdade uma estratégia tanto de
manutenção do estado social como reprodução e ascensão, isto é, tão útil
quanto o capital econômico o que também revela uma distribuição desigual
desses capitais que é justificado por alguns indivíduos ao aderirem a essas
estratégias.
Com base na concepção de capital social é possível identificar como
os indivíduos se beneficiam de suas posições em relações sociais estáveis,
destaca-se também o papel da família na construção desses capitais que se
refletem no desenvolvimento escolar e cognitivo dos educandos, assim como
no que diz respeito à construção do capital extrafamiliar, isto é, em contexto
econômico, estatal e comunitário. No capital social Bourdieu destaca três
aspectos importantíssimos para compreender melhor seu funcionamento: o
primeiro elemento é definido pela agregação de recursos ligados diretamente a
uma rede durável de relações que não compartilham apenas relações objetivas
ou econômicas e sociais; elas realizam trocas materiais e simbólicas, como a
família e a escola, produzindo pelo habitus um sentimento de pertencimento.
Em seguida temos os elementos quantitativos e qualitativos dos meios
fornecidos pelo grupo que vão depender das extensões dessas relações
podendo mobilizar capitais econômicos, culturais ou simbólicos.
Mesmo que o capital econômico seja a origem das outras formas de
capital, para Bourdieu o capital social pode se transformar em capital cultural e
econômico. Outro aspecto é a apropriação dos meios materiais e simbólicos
que permeiam o grupo. Logo em seguida encontra-se a reprodução do capital
social necessário na reprodução das relações, devendo-se aqui ressaltar a
importância desse capital para investimento escolar. A dinâmica do capital
começa com o conceito campo, referindo-se ao espaço no qual as relações de
poder manifestam-se, como os campos distribuem-se de forma desigual, o
indivÍduo que possui capital cultural dentro do grupo retém uma posição
superior, isto é, o campo é local onde ocorrem lutas e conflitos e os agentes
sociais valem-se de meios e estratégias diferenciados conforme sua posição
em toda essa estrutura, óbvio que sempre relacionando tal processo aos
próprios interesses, à própria subjetividade.
A ideia do capital cultural surge da necessidade de compreender as
desigualdades no âmbito escolar. Bourdieu diminui consideravelmente a
influência do capital econômico no ambiente educacional quando comparado
ao capital cultural no que diz respeito à explicação dessas desigualdades. O
autor separa o capital cultural em três aspectos: no Estado incorporado,
objetivado e institucionalizado.
2. Os conceitos de Estado incorporado, objetivado e
institucionalizado

Podemos caracterizar o Estado incorporado sob a forma de domínio


da língua culta e as informações sobre o mundo escolar, essa incorporação é
feita através de um trabalho baseado na assimilação que exige tempo e deve
ser unicamente realizado pelo indivíduo. O componente familiar atuará de
forma marcante no que diz respeito ao futuro escolar das próximas gerações,
afinal o domínio da língua culta que na maioria das vezes é uma herança
familiar facilitará o desenvolvimento escolar dos educandos pois a
aprendizagem é feita através de códigos escolares e culmina por unir a família,
escola, cognição e socialização.
A acumulação do capital cultural dá-se de início nos grupos que
recepcionam as novas gerações: família escola. Os membros da família que já
possuem seu capital cultural que segue distribuído durante todo processo de
socialização, sendo enxergado como um empreendimento em longo prazo. No
Estado incorporado o Capital Cultural só pode ser adquirido de forma
dissimulada e inconsciente permanecendo marcado pela aquisição primitiva.
Dessa forma a internalização é um trabalho de impor-se e de assimilar
exigindo-se investimento de longa duração para assim integrá-la à própria
pessoa.
Já no Estado objetivado, o capital cultural é transmissível por
herança, compra ou troca, lembrando o que o torna útil é a aquisição do
Capital Cultural Incorporado, isto é, o capital cultural objetivado é a posse de
bens culturais (obras de artes, livros e formas simbólicas abstratas como a
própria forma de pensar). Basicamente o Capital Cultural institucionalizado se
dá sob forma de títulos escolares, que é obtido através de investimento que
gerará lucro sob forma de acesso e valorização do mercado de trabalho
(diplomas de graduação, técnicos). Em resumo são eles o –capital econômico-
que constitui na produção financeira, no conjunto de bens materiais que podem
ser acumulados, -capital social-reconhecido pela proximidade de indivíduos,
isto é, grupo social com sentimento de pertencimento e o Capital Cultural este
ultima surge da necessidade para compreender as desigualdades. As classes
e grupos possuem determinados tipos de patrimônio cultural formado por
normas de fala, condutas, valores, etc., contudo a classe dominante dita quais
as normas são socialmente aceitas para que haja produção e reprodução de
valores, ideias que são impostos aos agentes e instituições (igreja, escola,
jurídico, etc.) o que exclui uma disputa igualitária por ascensão das classes que
não dispõem do mesmo padrão cultural da classe dominante, através de
alguns controles de regras como este é possível permitir a manutenção das
desigualdades na sociedade.
[...] a noção de capital cultural impôs-se, primeiramente, como uma
hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de
desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes
sociais, relacionando o sucesso escolar, ou seja, os benefícios
específicos que as crianças das diferentes classes e frações de
classe podem obter no mercado escolar, à distribuição do capital
cultural entre as classes e frações de classe (BOURDIEU, 1998, p.
73).

Passeron e Boudieu (1970) descobrem que a seleção escolar


marginaliza os educandos oriundos das classes dominadas e, em contra
partida, privilegia os educandos com maior capital cultural e social,
demonstrando que no sistema educacional não existe igualdade de chance. A
escola ignora essas diferenças socioculturais classificando como bem
sucedidos os indivíduos que melhor se expressam ou adaptam-se aos valores
culturais da classe dominante, conseqüentemente excluindo os que não
dominam o aparato cultural. Diante disso a escola age como um seguimento
que executa a prática social da classe dominante. Já para a classe dominada,
age como um impositor da cultura dominante. A escola contribui para legitimar
a reprodução das escalas sociais e escalas escolares através da ideologia que
segundo Karl Marx (1846) é um conceito que equivale à uma falsa consciência.
Os efeitos da ideologia derivam de dois tipos de reprodução: A reprodução
social e a reprodução escolar devem destacar-se apesar das semelhanças
estruturais no modelo de reprodução; sua configuração é temporal e local, isto
é, a relação entre dois modos de reprodução dependerá da época e da
localidade de cada sociedade.
[...] fornecia respostas originais, renovando o pensamento sociológico
sobre as funções e o funcionamento social dos sistemas de ensino nas
sociedades contemporâneas, e sobre as relações que mantêm os
diferentes grupos sociais com a escola e com o saber. Conceitos e
categorias analíticas por ele construído, constituem hoje moeda
corrente de pesquisa educacional, impregnando, com seu alto poder
explicativo, boa parte das análises brasileiras sobre condições de
produção e de distribuição dos bens culturais e simbólicos, entre os
quais se incluem obviamente os produtos escolares. (BOURDIEU,
1998, p. 07)

Em um determinado tipo de ordem social a educação, a escola


torna-se um bem de mercado, pois se torna um instrumento para os interesses
políticos. Segundo Maria Helena Souza Patto (1999), estudos de sociólogos
norte-americanos na década de 50 afirmaram que os Estados Unidos da
América reproduzem as desigualdades sociais através da escola. Argumenta-
se com base no conceito da profecia auto-realizante, um conceito que foi
realizado através de uma experiência realizada por dois pesquisadores norte-
americanos Robert Rosenthal e Lenore Jacobson (1968). A experiência
consistia na aplicação de um teste de inteligência em educandos. Em seguida
foi apresentado aos professores os nomes dos educandos que tinham
alcançado bom desempenho no teste. Vale ressaltar que os nomes
apresentados aos professores foram escolhidos aleatoriamente e não tinham
correspondência alguma com os resultados obtidos no teste. Oito meses
depois da aplicação do teste, os educandos que foram apresentados como
melhores haviam obtido um desenvolvimento superior aos demais. A conclusão
do teste fica por conta da suposta crença no maior potencial que alguns
possuíam.
Como as expectativas dos professores acabam por funcionar como
determinantes do aumento do desempenho intelectual? A hipótese
mais plausível parece ser a de que as crianças em relação às quais
se previu um desenvolvimento intelectual inusitado foram mais
acompanhadas por seus professores (ROSENTHAL e JACOBSON,
1981, p. 283).
Com base no conceito da profecia auto-realizante acima descrito,
PATTO (1999) afirma que principalmente escolas em periferias e em bairros
menos abastados e com ambiente extremamente agressivo implica em certa
imagem depreciada do educando e desencadeia um prejulgamento por parte
dos professores que estabelecem uma visão negativa do educando e de sua
capacidade em progredir, determinando como agirão de forma a manter e
justificar aquela imagem pré-concebida. Esse resultado expressa sobretudo o
preconceito com o educando pobre, pois antes mesmo de possuir contato com
o educando o professor já espera que o mesmo obtenha um rendimento
inferior. É através da seleção de quem entra e sai que a escola reproduz as
desigualdades sociais, Carlos Rodrigues Brandão (apud Christian Baudelot e
Roger Establet) elucida que a educação capitalista francesa possui uma teia de
ensino dividida entre primário-profissional destinado aos padrões de trabalho
operário e o tipo secundário-superior destinado aos filhos dos ricos.
Um tipo de educação que pode tomar homens e mulheres, crianças e
velhos, para torná-los sujeitos livres que por igual repartem uma vida
comunitária; um outro tipo de educação pode tomar os mesmos
homens, das mesmas idades, para ensinar uns a serem senhores e
outros, escravos, ensinando-os a pensarem dentro das mesmas
idéias e com as mesmas palavras, uns como senhores e outros como
escravos. (BRANDÃO, 1993, p. 34)
.
Ainda convém lembrar que a educação passa por processos de
organizações e reorganizações administrativas e, contudo, sempre possui
como eixo o regime político da nação. Segundo os estudos de Hélio Jorge dos
Santos, observa-se que na Alemanha durante o século XX, por exemplo, houve
uma oscilação no sistema de administração escolar: o regime político nacional
socialismo descentralizou a administração das escolas alemãs e lhes entregou
certa autonomia, logo depois o nazismo toma o poder e sobe regime totalitário
há uma centralização nacional da educação.

Se procurarmos examinar as tendências descentralizadoras de


alguns países ocidentais, veremos que a adoção ou não de um
regime centralizante do ensino aparece sempre ligada à estrutura
política de cada nação, bem como as suas tradições e costumes.
( SANTOS, 1983, p. 115)

Althusser em seu livro Ideologia e aparelhos ideológicos (1970),


caracteriza a escola como Aparelho Ideológico do Estado; ela ocupa a função
tanto da reprodução das relações materiais quanto sociais de produção,
assegurando assim que se reproduza a força de trabalho através das
qualificações embasada na submissão a ordem social estabelecida, assegura
“pela palavra” a dominação de uma classe sobre a outra.

3. A dominação e reprodução sociais desde a Linguagem

Segundo Althusser, a escola é “serva” (reprodutora) do modo de


produção capitalista, se tornando o principal aparelho ideológico do Estado no
que diz respeito à ideologia: seu conceito está definido na ação de mascarar e
manipular a realidade da sociedade. O autor afirma que o Estado está sob
controle dos mais ricos e para que esses os mantenham sob seu poder, para
continuar enquanto classe dominante utilizam a manipulação ideológica através
de várias instituições. A escola é das principais instituições ideológicas do
Estado, visto que quando o Estado rompe com a Igreja ele perde acesso às
camadas mais populares. Para desenvolver seu próprio conceito sobre
ideologia ele analisa e parte do pressuposto dos estudos sobre ideologia de
Karl Marx.

Como Marx dizia, até uma criança sabe que se uma formação social
não reproduz as condições de produção ao mesmo tempo em que
produz não conseguirá sobreviver um ano que seja. A condição última
da produção é, portanto a reprodução das condições da produção.
(ALTHUSSER, 1985, p. 09)

Segundo Bourdieu (2001) uma das formas de violência simbólica é a


utilização da linguagem e do próprio pensamento como reprodução das
desigualdades sociais, isto é, a escola tácita e explicitamente impõe certo
habitus da classe dominante já e desde o estabelecimento e reprodução dos
códigos linguísticos e tudo o mais que se veicula através deles. Ela integra
isoladamente indivíduos de grupos ou classes para que internalizem as ideias
da classe dominante. O estado impõe o conteúdo obrigatório as classe
dominadas, dessa forma o educando é excluído ou adapta-se, mas sempre
será aquém em seus resultados.

Enquanto força formadora de hábitus, a escola propicia aos que se


encontram direta ou indiretamente submetidos à sua influência, não
tanto esquemas de pensamentos particulares ou particularizados,
mas uma disposição geral geradora de esquemas particulares
capazes de serem aplicados em campos diferentes do pensamento e
da ação aos quais pode-se dar o nome de habitus cultivado.
(BOURDIEU, 2001, p. 211)

Segundo Bourdieu e Passeron (1975), a escola tem um papel


fundamental ao reproduzir características da sociedade capitalista: como a
cultura da classe dominante e as estruturas de classe, isto porque as
instituições de ensino reproduzem a “violência simbólica” através do sistema
escolar, como por exemplo, burocracias e ações pedagógicas que desprezam
a cultura popular de determinado grupo ou classe social, dificultando a
adaptação dos indivíduos pertencentes a esses grupos ou classes. A cultura
desses sujeitos acaba sendo excluída do processo educacional, isso reflete na
perda da identidade pessoal e de suas referências sociais que muitas vezes
os convertem insuficientes para a sociedade que valoriza apenas a cultura da
classe dominante.

As pesquisas de Althusser (1985) pretendiam compreender como a


classe dominante se reproduz materialmente, ideologicamente e
estrategicamente para manter o Estado sob seu poder, tanto pela repressão
quanto pela persuasão. O autor entende que o sistema capitalista divide a
sociedade em duas classes: A classe dominante que detém os meios de
produção (fábricas, capital financeiro) e a classe dominada que não tendo o
privilégio de deter os meios de produção necessita vender a sua força de
trabalho para sobreviver, essa relação entre classes é sustentada através da
exploração da força de trabalho. Althusser acrescenta que essa divisão de
trabalho é reforçada pela instituição escolar. A divisão social do trabalho
assegura que cada sujeito tenha seu status na sociedade, reconhecido como
necessário já a ideologia é um mecanismo que constitui na naturalização da
divisão do trabalho.

4. O papel estruturante da Ideologia

O aparelho escolar irá contribuir para a reprodução das relações


sociais de produção capitalista, isto é, a escola irá ensinar a diferentes
educandos, diferentes padrões de comportamento, conforme a classe a que
pertencer e o trabalho que possivelmente ela realizará, pois ela molda o sujeito
da classe dominada com pensamentos de submissão, justificando a
manutenção da classe dominante material, política e ideologicamente. A
ideologia cumpre um papel muito importante para a classe dominante, pois
ajuda a manter o Estado sob seu controle.

Na verdade não existe, excepto na ideologia da classe dominante,


divisão técnica do trabalho: toda a divisão técnica... do trabalho é a
forma e a máscara de uma divisão de classes. Assim, a reprodução
das relações de produção só pode ser um empreendimento de
classe. Realiza-se através de uma luta de classe que opõe a classe
dominante à classe explorada. (ALTHUSSER, 1970, p. 116)

Althusser produziu duas teses para conceituar a definição de


ideologia: o primeiro enquanto uma concepção imaginária e a segunda defende
sua existência material. A ideologia não representa apenas falsas ideias que
atuam tanto na imaginação quanto na compreensão do mundo e, sobretudo
tem existência material, isto é, trata-se de práticas sociais em instituições
comandadas pelo Estado e utilizadas como aparelhos ideológicos. Vale
ressaltar que essas práticas só existem para os indivíduos (sujeito) e por causa
deles. Com isso os bons sujeitos são assim considerados por causa da
intervenção ideológica do Estado através dos aparelhos ideológicos, isto é,
aqueles indivíduos que seguem a concepção de mundo do sistema capitalista,
fazem isso de forma natural e em contra partida, os maus sujeitos são aqueles
que não seguem a concepção de mundo da classe dominante e são punidos
pelo aparelho repressivo do Estado. Althusser afirma que é necessário
submetê-los ao sistema e seus modelos.

Apesar de a ideologia dominante ser aprendida e reproduzida na


escola, não se origina nela, pois tem origem na formação das classes sociais,
com os Estado e seus aparelhos. O Estado funciona tanto como um aparelho
ideológico como aparelho repressivo é um instrumento que assegura os
interesses da classe dominada com objetivo de garanti-los seja por ideologia
ou força física, ele nada mais é que um representante de Estado que ditará
regras, normas, padrões por meio de seus aparelhos e punirá condutas que
segundo ele são anormais e transgressoras através de seus aparelhos
repressivos, isto é, serve para manter a ordem sobre os sujeitos.

Lembremos que na teoria marxista o Aparelho de Estado (AE)


compreende: o governo, a administração, o exercito, a policia, os
tribunais, as prisões, etc., que constituem aquilo a que chamaremos a
partir de agora o Aparelho Repressivo de Estado. Repressivo indica
que o aparelho de estado em questão “funciona pela violência” – pelo
menos no limite (porque a repressão, por exemplo, administrativa,
pode revestir formas não físicas). (ALTHUSSER, 1970, pp. 42-43)

Ressalta-se que o aparelho ideológico se diferencia de aparelhos


repressivos, existem muitos aparelhos ideológicos e agem no ideal, já o
repressivo funciona tanto com a violência quanto com as ideias afinal sua
função é assegurar a reprodução das desigualdades sociais através das
relações de produção. A escola estatal é um aparelho ideológico controlado
pela classe dominante atua como norma do estado, isto é, sob os interesses da
classe burguesa, essa dominação feita através do aparelho escolar, de forma
sutil e com ação pedagógica, apresentando-se como antes a igreja o fazia,
como natural, útil e generosa.

Segundo Bárbara Freitag existem duas formas na qual a escola


contribui para a reprodução das desigualdades na saciedade, são elas:
reproduzindo forças produtivas e reafirmando as relações de produções
capitalistas, isto é, a escola não cria a divisão em classes, mas contribui para
sua reprodução. Ela vai atuar no interesse da dominação estatal e
conseqüentemente no interesse da dominação de classe, ressaltando-se que a
escola não é a única causa da reprodução das desigualdades sociais, nem o
único fator que as perpetua; instituições como a igreja, família, meios de
comunicação em massa também o fazem:

Designamos por Aparelhos Ideológicos de Estado um certo numero


de realidades que se apresentam ao observador imediato sob a forma
de instituições distintas e especializadas...(a ordem pela qual as
enunciamos não tem qualquer significado particular): O AIE religioso
(o sistema das diferentes Igrejas), O AIE escolar (o sistema das
diferentes escolas públicas e particulares), O AIE familiar, O AIE
jurídico, O AIE político (o sistema político de que fazem parte os
diferentes partidos), O AIE sindical, O AIE da informação (imprensa,
rádio-televisão, etc.). (ALTHUSSER, 1970, pp. 43-44)

Segundo Gramsci (1968) a organização cultural é ligada diretamente


ao poder dominante e que cada grupo social ocupa uma função na sociedade,
isto é, na produção econômica no qual se tem a existência da divisão entre
trabalho manual e intelectual. O autor tece uma crítica em relação a essa
divisão, destacando que ela é puramente ideológica servindo para desviar a
atenção da sua real função, tanto na vida social quanto na produtiva, afinal
Gramsci aponta que todo trabalho manual humano tem atividade intelectual.

Em seus estudos Gramsci denuncia o caráter ideológico da


dualidade entre o ensino técnico e o ensino clássico que segundo ele reflete a
divisão entre trabalho intelectual e manual e que se analisado mais
profundamente enxerga-se a histórica divisão entre subalternos e diretivos, ele
destaca a existência de um vinculo estreito entre a escola e o trabalho. Para
ele a escola é uma via fundamental para a formação do homem na sociedade.
O autor chegou a propor uma escola do trabalho (trabalhador) que para além
de qualificar profissionalmente também elaborasse uma cultura autônoma onde
haveria uma unidade sólida entre teoria e pratica, claro que nunca chegou a se
concretizar visto que a classe dominante não proporcionaria isso aos
trabalhadores. Gramsci afirma que a educação na esfera da sociedade política
se dá pela coesão já na esfera da sociedade civil de dá pela cultura, escola e
família.

Gramsci tem uma importante colaboração ao fazer uma revisão no


conceito de Estado. Ele conclui que existem duas subdivisões na sociedade,
são elas a sociedade política constituída pelo poder repressivo da classe
dominante através do governo, exercito, policia entre outras instituições, a
segunda subdivisão é denominada de sociedade civil que esta mais associadas
as instituições privadas como igreja, escolas e meios de comunicação, esta
ultima é controlada pela classe dominante através da hegemonia ( ....)
funcionando assim como um “cimento” para a reprodução da ordem social.
Quando Gramisci apresenta uma outra perspectiva da localização que a escola
ocupa na sociedade se torna mais fácil interpretar como ela age e demonstra
um novo enfoque do problema, tornando possível pensar dialeticamente tanto o
funcionamento escolar quanto o problema da educação reprodutora pois
segundo Gramisci “toda relação de hegemonia é necessariamente um a
relação pedagogia”

A escola é o instrumento para elaborar os dirigentes de diversos


níveis. A complexidade da função intelectual nos vários Estados pode
ser objetivamente medida pela quantidade das escolas
especializadas e pela sua hierarquização: quanto mais extensa for a
área escolar(…) tão mais complexo será o mundo cultural, a
civilização(…). (GRAMSCI,1968, p.132)

Segundo Saviani (2007) a partir da revolução industrial houve uma


incorporação intelectual no processo de produção. A escola então ficou com a
responsabilidade de difundir na sociedade a generalização dessas funções, ou
seja, qualificar o trabalhador para ingressar no processo produtivo. Para que o
trabalhador ingressasse neste processo era preciso um ensino básico
qualificatório, entretanto, com o desenvolvimento da maquinaria houve a
necessidade de conhecimento específico. Surge então os cursos profissionais
especializados.
Diante dessa realidade o resultado obtido foi uma escola dualista.
Isto é, as escolas de ciência e humanidades era destinada aos educandos mais
abastados restando apenas as escolas de ensino profissional para o
educandos menos abastados.
Se analisar a história da escola encontraremos um dos primeiros
modelos de educação na Roma antiga, a educação romana era ancestral
familiar e da comunidade, surge então a nobreza que enriquece através da
agricultura acaba por abandonar o trabalho com a terra e dedica-se a política,
cria regras para o império, separa os níveis e agencia de educação surgindo à
separação da educação entre escravos, senhores e servos que serve para
impor a vontade da classe dominante sobre povos vencidos. Hoje a cada ano
chega uma nova quota de crianças a instituição de educação, cada aluno traz
consigo uma diferente realidade tais como estímulos intelectuais, maneira que
se alimentaram e isso acarreta diferentes possibilidades, reflexo do ambiente e
experiências vividas. Segundo Bourdieu para as classes populares a escola se
porta apenas como classificador, afinal o titulo escolar se torna um veredicto
tanto para o sucesso quanto para o fracasso. Ao analisar historicamente o
papel da escola é possível notar que o novo e moderno modelo de educação
presente nos século XXI apenas reproduzem a antiga visão de separação
classista e trabalhistas entre subalterno e dominantes.
Um dos grandes perigos dos tempos atuais é uma escola a “duas
velocidades”: por um lado, uma escola concebida essencialmente
como um centro de acolhimento social, 17 Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 38, n. 1, p. 13-28, 2012.Para os pobres, com uma forte
retórica da cidadania e da participação. Por outro lado, uma escola
claramente centrada na aprendizagem e nas tecnologias, destinada a
formar os filhos dos ricos. (NOVOA, 2009, p. 64)

Nas teses de Freitag Essas ideias complementam-se e reforçam os


argumentos até aqui apresentados e é possível medir o grau de absorção
desses valores da classe dominante em cada estudante (abastados ou não),
visto que a ideologia impõe a consciência uma normatividade óptica sobe um
conjunto de regras pré-definidos pelos que comandam a instituição escola,
ressalta-se também que a socialização linguística também ajuda na reprodução
das desigualdades sociais, pois a língua funciona como um fator coadjuvante
fundamental afinal esta arraigada na estrutura de classes. Se analisarmos
profundamente o modo como se transfere a ideologia através da escola estará
claro que seu método é a linguagem e quem a domina bem, isto é, o indivíduo
que cresce em uma meio linguístico dominante sem duvida sairá melhor que
aqueles indivíduos de origem menos abastada.
A língua portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais.
Identificam-se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como
falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo
que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se
considerarem as variedades lingüísticas de menor prestígio como
inferiores ou erradas. (BRASIL, 200, p. 26)
A escola funciona com códigos linguísticos com flexibilização ou não,
permitindo ou não uma comunicação real entre os estudantes. E o período
escolar é decisivo na formação do individuo na sociedade, pois a educação se
expressa em uma doutrinação pedagógico que implícita ou explicita uma
filosofia de vida, se os autores já citados apresentam uma dualidade escolar,
isto é, escola da elite e escola dos trabalhadores, na educação moderna
podemos ressaltar que há uma mudança nessa concepção, visto que agora a
educação utiliza instrumentos estratégicos para a reprodução das
desigualdades sociais através de uma suposta democratização, que para
Bourdieu não é possível, isto é, segundo ele a partir da análise da sociedade
capitalista constituída de classes e com isso a divisão do trabalho a instituição
escolar ainda seguirá cumprida suas duas funções, a de reprodutora cultural e
estrutural das classes.
A linguagem oral é uma aquisição desenvolvida através da interação
do indivíduo com a classe ou grupo que esta inserido. A linguagem tanto oral
quanto escrita pode ser classificada em dois segmentos, o primeiro é reflexo
das definições de tradição acadêmica como na articulação da fala e da escrita
do meio intelectual que serve principalmente aos interesses da elite, são
aquisições predeterminadas de grandes obras clássicas do latim e do greco e
sendo assim o segundo segmento é apresentado pela maior parte da
sociedade que não entende os padrões impostos pela academia, padrões
esses que são impostos e reproduzidos em todos os âmbitos das instituições
de ensino. Segundo Bonnewitz (2003, p. 30) a linguagem na qual nós
expressamos não é sociologicamente neutra; ela encerra, no seu vocabulário e
na sua sintaxe, uma concepção de mundo.
A linguagem pode ser concebida como a primeira imposição e
validação da reprodução cultural da classe dominante como afirma Bourdieu
(2008), ela se estende para outros ‘locais’ da sociedade, como as artes, dança,
música etc.
Esta lógica tem a ver, certamente, com o fato de que a disposição
legítima adquirida pela freqüência de uma classe particular de obras,
a saber, as obras literárias e filosóficas reconhecidas pelo cânon
escolar, estende-se a outras obras, menos legítimas, tais como a
literatura de vanguarda, ou a domínios menos reconhecidos
escolarmente, por exemplo, o cinema: a tendência para a
generalização está inscrita no próprio princípio da disposição para
reconhecer obras legítimas, propensão e aptidão para reconhecer sua
legitimidade e percebê-las como dignas de serem admiradas em si
mesmas que é, inseparavelmente, aptidão para reconhecer nelas
algo já conhecido, a saber, os traços estilísticos próprios [...] Armada
com um conjunto de esquemas de percepção e apreciação de
aplicação geral, esta disposição transponível é o que dispõe a tentar
outras experiências culturais e permite percebê-las, classificá-las e
memorizá-las de outro modo [...]. (BOURDIEU, 2008, pp. 29- 31)

A política educacional estatal (pública, sob controle do estado)


sempre defenderá os interesses da classe dominante, ela cria condições para
que os indivíduos das classes subalternas aparentemente façam suas escolhas
por conta própria, ou seja, o estado não pode impor abertamente quais
profissões os estudantes devem escolha, mas fazem isso implicitamente
através de limitações de leitura, privação do direito à reflexão entre outros
meios. Ela age e se manifesta acima de tudo na superestrutura, mas sua ação
visa à infraestrutura, a sua atuação é direta quando visa à escola como centros
de qualificação da força de trabalho.
5. Considerações Finais

O presente trabalho teve como objetivo analisar prioritariamente os


conceitos desenvolvidos por Pierre Bourdieu para respaldar sua tese
estruturante, a saber: a função precípua da Escola na sociedade capitalista é a
reprodução dessa mesma sociedade e para tanto, vale-se de recursos e
estratégias sistemáticas, tácitas e explícitas, em imensa medida de caráter
dominador e simbólico. Corroboraram essa tese os estudos de diversos
autores sobre o caráter reprodutor da instituição escolar. Os estudos do
sociólogo contavam também com conceitos desenvolvidos pelo mesmo, que foi
explicitado durante o desenvolvimento deste trabalho, levando a uma melhor
compreensão acerca do tema, também utilizado diversos autores que
corroboraram as teses de Bourdieu.
Na agenda teórica de P. Bourdieu às teorias sociológicas
contemporâneas, merecem destaque: a retomada dos clássicos e sua
reelaboração (como na reelaboração do conceito de socialização de E.
Durkheim em habitus, o conceito de campos num diálogo remissivo ao conceito
de esferas de M. Weber), a construção de conceitos de cunho marxista mas
que lhes ultrapassaram a abordagem determinista, a postura crítica do
acadêmico interessado em explicitar os mecanismos sociais de dominação e
reprodução social. Outro mérito a citar é a tentativa de ultrapassar as
dicotomias como aquela que separa subjetivismo/objetivismo.

Esta postura consiste em admitir que existe no mundo social


estruturas objetivas que podem dirigir, ou melhor, coagir a ação e a
representação dos indivíduos, dos chamados agentes. No entanto,
tais estruturas são construídas socialmente assim como os esquemas
de ação e pensamento, chamados por Bourdieu de habitus. Bourdieu
tenta fugir da dicotomia subjetivismo/objetivismo dentro das ciências
humanas. Rejeita tanto trabalhar no âmbito do fisicalismo,
considerando o social enquanto fatos objetivos, como no do
psicologismo, o que seria a "explicação das explicações" 3.

Contrapondo-se ao Otimismo pedagógico, às ideologias gestoras e


pedagógicas centradas na meritocracia, às tendências neoliberais em
Educação, todas tão presentes no ideário contemporâneo nacional, o grande
mérito do repertório de Bourdieu é seu pessimismo pedagógico: ele funciona
como um anteparo às ilusões e armadilhas ideológicas e sua dificuldade de
superação indica o tamanho da tarefa a ser empenhada. Fica do sociólogo uma
grande lição filosófica: é preciso compreender os mecanismos da realidade
social antes da tentativa de elaboração de recurso desconstrutores ou
reconstrutores... essa parece ser uma tarefa popular, coletiva e cujos esforços
veem-se a distância, mas ainda assim, possíveis.

3 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_Bourdieu#Teoria_social; acesso em 23 Mar 2018.


6. Referências bibliográficas

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