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FILOSOFIA – Prof. Thiago A. Fernandes.

ESTÉTICA – Texto extraído e adaptado da obra POÉTICA. ARISTÓTELES (384 a.C. – 322 a.C.).
Falemos da poesia – dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da composição que se deve
dar aos Mitos, se quisermos que o poema resulte perfeito, e, ainda de quantos e quais os elementos de cada espécie
e, semelhantemente, de tudo quanto pertence a esta indagação – começando, como é natural, pelas primeiras coisas.
A Epopeia, a Tragédia, assim como a poesia ditirâmbica e a maior parte da aulética e da citarística, todas são, em
geral, imitações. Diferem, porém, umas das outras, por três aspectos: ou porque imitam por meios diversos, ou
porque imitam objetos diversos ou porque imitam por modos diversos e não da mesma maneira.
Pois tal como há os que imitam muitas coisas, exprimindo-se com cores e figuras (por arte ou por costume), assim
acontece nas sobreditas artes: na verdade, todas elas imitam com o ritmo, a linguagem e a harmonia, usando estes
elementos separada ou conjuntamente. Por exemplo, só de harmonia e ritmo usam a aulética e a citarísitica e
quaisquer outras artes congêneres, como a siríngica; com o ritmo e sem harmonia, imita a arte dos dançarinos,
porque também estes, por ritmos gesticulados, imitam caracteres, afetos e ações.
Mas [a Epopeia e] a arte que apenas recorre ao simples verbo, quer metrificado quer não, e, quando metrificado,
misturando metros entre si diversos ou servindo-se de uma só espécie métrica – eis uma arte que, até hoje,
permaneceu inominada. Efetivamente, não temos denominador comum que designe os mimos de Sófron e de
Xenarco, os diálogos socráticos e quaisquer outras composições imitativas, executadas mediante trímetros jâmbicos
ou versos elegíacos ou outros versos que tais. Porém, ajuntando à palavra “poeta” o nome de uma só espécie
métrica, aconteceu denominarem-se a uns de “poetas elegíacos”, e outros de “poetas épicos”, designando-os assim,
não pela imitação praticada, mas unicamente pelo metro usado.
Dessa maneira, se alguém compuser em verso um tratado de medicina ou de física, esse será vulgarmente chamado
“poeta”; na verdade, porém, nada há de comum entre Homero e Empédocles, a não ser a metrificação: aquele
merece o nome de “poeta”, e este, o de “fisiólogo”, mais que o de poeta. Pelo mesmo motivo, se alguém fizer obra
de imitação, ainda que misture versos de todas as espécies, como o fez Quéremon no Centauro, que é uma rapsódia
tecida de toda a casta de metros, nem por isso se lhe deve recusar o nome de “poeta”.
Fiquem assim determinadas as distinções que tínhamos de estabelecer. Poesias há, contudo, que usam de todos os
meios sobreditos; isto é, de ritmo, canto e metro, como a poesia dos ditirambos e dos nomos, a Tragédia e a
Comédia – só com uma diferença: as duas primeiras servem-se juntamente dos três meios, e as outras, de cada um
por sua vez. Tais são as diferenças entre as artes, quanto aos meios de imitação.
[...] Agora vamos falar da Tragédia, dando da sua essência a definição que resulta de quanto precedentemente
dissemos.
É, pois, a Tragédia imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem
ornamentada e com várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes [do drama], [imitação que se
efetua] não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o ‘terror e a piedade, tem por efeito a purificação
dessas emoções’.
[...] Porém o elemento mais importante é a trama dos fatos, pois a Tragédia não é imitação de homens, mas de
ações e de vida, de felicidade [e infelicidade; mas felicidade] ou infelicidade, reside na ação, e a própria finalidade
da vida é uma ação, não uma qualidade. Ora, os homens possuem tal ou tal qualidade conformemente ao caráter,
mas são bem ou mal-aventurados pelas ações que praticam. Daqui se segue que na Tragédia, não agem as
personagens para imitar caracteres, mas assumem caracteres para efetuar certas ações; por isso as ações e o Mito
constituem a finalidade da Tragédia, e a finalidade é de tudo o que mais importa.
Fonte: DUARTE, Rodrigo (org.). O belo autônomo, textos clássicos de estética. São Paulo: Autêntica, 2012. Pág. 14-17.
VOCABULÁRIO

EPOPÉIA, s. f. poema em que se faz a narração de ações grandiosas e heróicas: A Ilíada, A Odisséia, Os Lusíadas são
epopéias. // (P. ext.) Acontecimentos extraordinários e maravilhosos; série de ações ilustres que poderiam fornecer assunto a
um poema épico: A sua viagem foi verdadeira epopéia. // (Fig.) Diferentes fases de um sentimento veemente: Epopéia do
amor. (Herc.) // F. gr. Epopoiia (canto heróico).
TRAGÉDIA, s. f. peça de teatro em que figuram personagens ilustres e cujo fim é excitar o terror e a piedade, terminando
geralmente por um acontecimento funesto: As tragédias de Shakespeare. Nos Anfitriões, a influência clássica das escolas de
Oviedo e de Salamanca, que tentavam, com o reitor Fernão Peres de Oliva e com o médico Francisco de Vila Lôbos, as
equivalências da tragédia grega e da comédia plautiana. (Júlio Dantas, Eles e Elas, p. 150) // A arte de representar ou fazer
tragédias: Thespin é o inventor da tragédia. // A musa trágica. // (Fig.) Acontecimento funesto; desgraça, idade, adversidade,
sinistro, males, catástrofe: ...pura e firme prosa de quem entre as quatro paredes de um convento onde se enclausurou com a
tragédia de sua vida, se entretinha com o lavor da escrita a pentear palavras. (Mário Barreto, Novíssimos Estudos, c. 15, p.
112). Foi uma verdadeira tragédia tudo aquilo. // F. lat. Tragoedia.
DITIRAMBO, s. m. (ant.) hino em honra de Baco. // Poesia lírica em estâncias (grupo de versos) irregulares para exprimir o
delírio do entusiasmo, da alegria: Aqui há oito anos eras um madrigal (pequena composição poética); depois passaste a elegia
(poema lutuoso), hoje és um ditirambo! (Camilo, Mulher Fatal, c. 8, p. 149, 2.ª Ed.) // F. gr. Dithyrambos.
AULÉTICA, s. f. arte de tocar aulo. // F. gr. Auletike.
AULO, s. m. flauta dos gregos antigos. // F. gr. Aulos.
CITARÍSTICA, s. f. arte da cítara, entre os gregos e romanos. // F. Citarista.
CÍTARA, s. f. instrumento músico de cordas semelhante à lira, de que usavam os antigos: ...a desferir as cordas dos seus
saltérios, das suas harpas, das suas cítaras, das suas cítaras, em harmonias aprendidas no céu. (Antero de Figueiredo, Espanha,
c. 3, p. 103. Ed. 1923). [Emprega-se para designar o gênio da harmonia e da poesia]. // F. lat. Cithara.
SIRÍNGICA, s. f. arte de tocar siringe.
SIRINGE, s. f. a flauta de Pã, entre os gregos e romanos; avena (antiga flauta pastoril): Os silenos e os faunos abandonavam
os sinistros e as siringes, símbolos da harmonia da natureza. (João Grave, Último Fauno, c. 1, p. 24). // Caverna, subterrâneo.
Especialmente, sepultura de rei egípcio no Vale dos Reis, perto de Tebas. // Órgão vocal das aves, situado na parte inferior da
traquéia. // F. lat. Syrinx, syringis.
JÂMBICO, adj. Pertencente ou concernente ao jambo. // Composto de jambos: Versos jâmbicos. // F. lat. Iambicus.
JAMBO, s. m. (poét.) pé métrico de duas sílabas, uma breve e outra longa. // Verso jâmbico. // F. lat. Iambus.
ELEGÍACO, adj. Pertencente à elegia: Gênero elegíaco; poeta elegíaco. // Chorão, choramingas; lastimador das tristezas
próprias ou alheias: Maior dever me corre de ser sisudo, elegíaco e espantador de peixes. (Camilo, Mulher Fatal, Introd., p. 8,
2,ª Ed.) // F. gr. Elegiacus.
ELEGIA, s. f. (ant.) poema grego ou latino composto de hexâmetros e pentâmetros alternados. // poema pequeno consagrado
ao luto e à tristeza. // Poemeto repassado de sentimento, sem galas de estilo. // Sentimento queixoso, de dó: O cavalo que teve a
sua epopéia, tem hoje, nos concursos hípicos, a sua elegia. (Júlio Dantas, Arte de Amar, p. 72, 2.ª Ed). // F. gr. Elegeia (canto
triste).
RAPSÓDIA, s. f. (antig. gr.) fragmento ou trecho de poemas épicos e particularmente dos de Homero; nome dos cantos ou
livros dos poemas de Homero. // (Fig.) Fragmento ou qualquer composição poética; Assim consegui umas quinze rapsódias ou
mais propriamente fragmentos de romances e xácaras. (Garrett.) // Coletânea musical em que coordenam vários trechos
escolhidos de diferentes composições: As imortais rapsódias húngaras de Liszt. As duas charangas ao desafio lançavam
torrenciais rapsódias pelas crateras metálicas de baixos e saxofones. (Aq. Ribeiro, Luz ao Longe, c. 9, p. 180, Ed. 1949). // F.
gr. Rhapsodia (fragmento de poema épico).

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