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CRISTIANISMO, JUDAÍSMO MESSIÂNICO E JUDAÍSMO NAZARENO

Por Sha’ ul Bentsion


(Baseado parcialmente em estudo do Rav. Moshe Koniuchowsky)

I – OBJETIVO

Como muitos em nosso meio possuem interesse sobre o movimento de restauração da fé original, mas pouco
conhecem a respeito de Judaísmo Messiânico e menos ainda a respeito de Judaísmo Nazareno, resolvi fazer
este pequeno estudo comparando as diferentes posições teológicas do Cristianismo, Judaísmo Messiânico e
Judaísmo Nazareno. O objetivo não é discriminar crença alguma, mesmo quando discordamos dela, mas sim
que possamos entender um pouco melhor até onde somos iguais, e até onde somos diferentes, e porque.

II – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Muitos estão sempre prontos a criticar qualquer estudo que use de generalizações. Contudo, a generalização é
absolutamente necessária para que possamos entender os movimentos. Sabemos que sempre haverá grupos
que fugirão ao padrão aqui descrito, porém é impossível relatarmos todas as possíveis e imagináveis crenças
de cada grupo.

Para efeito deste estudo, utilizamos os seguintes padrões: Entendemos como “ padrão” para o Cristianismo o
Protestantismo clássico da Reforma. Para o Judaísmo Messiânicos, tomamos como padrão a “ MJAA”
(Messianic Jewish Alliance of America). Para o Judaísmo Nazareno, tomamos como padrão a “ UNJS”
(Union of Nazarene Jewish Synagogues). Reconhecemos que haja variações mesmo dentro de cada
movimento, e algumas destas variações mais relevantes foram mencionadas. Porém é impossível aqui
relatarmos todas elas.

III – ESTUDO COMPARATIVO

1 - A “ IGREJA”

- O Judaísmo Messiânico vê a “ Igreja” como uma entidade distinta do “ povo de Israel” (i.e. os judeus) e
predominantemente “ gentílica” . Ambos formariam o “ corpo do Messias” , mas permaneceriam distindos e
sempre haveria esta distinção pelo menos aqui na terra. Em alguns casos, até mesmo a separação entre
congregações e serviços judaicos e gentílicos chega a ser encorajada.

- O Cristianismo vê a “ Igreja” como uma entidade que substitui a Israel. Chama-a, embora sem base bíblica
alguma, de “ Israel Espiritual” . Os judeus que crêem no messias teriam se “ convertido” e agora fariam parte
desta “ Igreja” (que, naturalmente, também possui predominância “ gentílica” ).

- O Judaísmo Nazareno diz que não existe uma entidade chamada “ Igreja” separada de Israel, que sempre foi
e sempre será o povo da aliança. De acordo com o Judaísmo Nazareno, não existe “ a Igreja” como na
concepção cristã. O corpo do Messias sempre foi e sempre será Israel, composta predominantemente de
judeus e efraimitas (remanescentes das 10 tribos agora restaurados) que amam e seguem a D-us, juntamente
com aqueles que se convertem a Israel (vide o caso de Rute e Raabe). Esta é a “ Assembléia/Congregação” de
Yeshua. A “ Assembléia/Congregação” é uma, a mesma de sempre.

2 – CRENTES “ GENTIOS”

- O Judaísmo Messiânico entende que, de um modo geral, os “ gentios salvos” como não sendo israelitas, não
tendo sangue israelita algum, e não tendo nenhum argumento legítimo de descender fisicamente dos
patriarcas Avraham, Yitschak e Ya’ akov. Crêem que os “ gentios salvos” que alegam descender fisicamente
de judeus ou têm algum sangue judeu, ou então vivendo um engano. A idéia de que um crente não-judeu
possa ser um israelita não-judeu (isto é, descendente das demais tribos) é vista como sendo errônea.

- O Cristianismo por sua vez normalmente crê numa distinção (inexistente biblicamente) entre “ judeus
físicos” (numa alusão aos filhos de Israel), e os “ judeus espirituais” . Um “ gentio salvo” , assim como um
“ judeu salvo” , seriam “ judeus espirituais” .

- O Judaísmo Nazareno crê que a grande, esmagadora maioria dos seguidores não-judeus de Yeshua são de
fato israelitas – mais especificamente, efraimitas (descendentes das 10 tribos), que foram dispersos entre as
nações gentílicas a partir de 721 AC. Eles um dia foram “ lo ami” (considerados como não sendo povo de
D-us), mas foram restaurados (vide 2 Kefá/Pedro 2:10) conforme a promessa de Hoshea (Oséias), através do
Messias de Israel. Estes “ gentios” na verdade são israelitas, e foram lavados, remidos e despertados para sua
identidade israelita através do cumprimento das promessas em Yeshua HaMashiach. Seu reconhecimento
como semente de Efraim e sua união com Yehudá (Judá) é importante para a restauração do Reino. Vale
porém ressaltar que o Judaísmo Nazareno não afirma que eles se tornaram “ judeus” ou substituem a Yehudá
(Judá). O Judaísmo Nazareno busca a união das duas casas de Israel (Yehudá e Efraim).

3 - SALVAÇÃO

- O Judaísmo Messiânico vê o reajuntamento, a identificação, e as alegações dos crentes não-judeus de que


são efraimitas como uma heresia. Crêem que o conceito de duas casas de uma única entidade, Israel, é
“ salvação por DNA” , ou “ salvação por sangue” , ao invés de ser salvação pela graça através da fé. Pensam
que os que crêem nas duas casas pregam que a salvação é só para Israel, isto é, que os gentios não teriam
salvação. Eles crêem na realidade da salvação no sangue de Yeshua, mas negam a realidade do reajuntamento
de Israel (as 10 tribos que estavam afastadas) como sendo parte da salvação. Infelizmente, em muitas
comunidade acaba se criando “ duas classes” de salvos, os “ salvos judeus” e os “ salvos gentios” .
- O Cristianismo vê a salvação como sendo também pela graça através da fé, pelo sangue do Messias Yeshua.
Crê, embora isso não seja dito de forma muito aberta por razões políticas, que o Israel físico que não “ se
converter” vai direto pro inferno. Muitas vezes igualam o “ crer em Yeshua” como o “ se tornar cristão” , e
vêem a salvação como forma de uma pessoa passar a pertencer ao “ Israel espiritual” . Costumam ignorar a
questão efraimita como um todo.

- O Judaísmo Nazareno, ao contrário do que pensam alguns de nossos opositores, vê a salvação como sendo
uma dádiva gratuita a todo aquele que crê. Cremos na mesma salvação pela graça, por meio da fé. Contudo, o
Judaísmo Nazareno ensina que de fato a semente de Efraim cumpriu a profecia de uma multiplicidade dada
aos patriarcas, e vê o reajuntamento das “ ovelhas perdidas” como de fato sendo um cumprimento literal de
uma promessa, e crê sim que a grande maioria dos salvos são de fato descendentes físicos das 10 tribos,
restaurados pela fé em Yeshua. Contudo, admite-se também que existem aqueles que não são de origem
israelita (embora minoria), mas que ao aceitarem o D-us de Israel, e o Messias de Israel, passam a fazer parte
de Israel, sem distinções. Rejeitamos qualquer parede de separação no povo de D-us.

4 – COMUNIDADE DE ISRAEL

- O Judaísmo Messiânico vê a comunidade de Israel como sendo formada pelos judeus messiânicos mais “ a
igreja gentílica” , enxertada em Israel. Dentro da comunidade de Israel, contudo, o Judaísmo Messiânico
muitas vezes faz distinção entre judeus e não-judeus, tratando-os como entidades separadas, apesar das
alegações do contrário. Muitas comunidades, embora isto esteja gradativamente mudando, crêem em dois
padrões, um para a “ igreja gentílica” e outro para o movimento messiânico. A Torá é um privilégio e um
“ fardo” que somente os judeus messiânicos podem carregar e participar. Alguns grupos dizem que os
“ gentios” não devem praticar a Torá. Outros dizem que podem, mas é opcional. Normalmente recomendam
as “ leis noéticas” rabínicas, ou os requisitos de Atos 15.

- O Cristianismo, embora possa não admitir isto na teoria, na prática crê que são os “ judeus salvos” que se
enxertam na “ Igreja” , ao contrário do que diz Romanos 11. Normalmente não só não crêem na prática da
Torá, como muitas vezes até encorajam judeus “ convertidos” a deixarem de lado esta prática. Crêem que a
graça é “ incompatível” com as “ leis de Moisés” .

- O Judaísmo Nazareno crê que todos na comunidade de Israel, incluindo judeus, efraimitas restaurados e
conversos ao povo de Israel, têm todos os privilégios de cidadania. Crê que é mais importante a pertinência
ao corpo do Messias (Israel) do que uma distinção entre tribos, ou mesmo entre quem é natural e quem é
convertido a Israel. Todos os membros do corpo são israelitas, seja por nascimento (judeus e efraimitas, a
grande maioria do corpo) ou por adoção (gerim – convertidos). Israel sempre foi, e sempre será o povo da
aliança. Não existe Israel físico e Israel espiritual, mas sim um único Israel. Todos os israelitas devem se
esforçar ao máximo para viverem na Torá, e são responsáveis por isto à medida em que vão aprendendo. Aos
efraimitas, que estão retornando, o Conselho dos Nazarenos em Atos 15 deu a recomendação de começar
com um padrão mínimo, e irem evoluindo à medida em que aprendiam a Torá nas sinagogas (vide Atos
15:21). Não existe distinção entre um judeu nazareno e um israelita nazareno.
5 – ISRAEL FÍSICO X ISRAEL ESPIRITUAL

- Na teoria, o Judaísmo Messiânico é radicalmente contra a noção de “ Israel Físico” x “ Israel Espiritual” . O
Judaísmo Messiânico corretamente diz que só existe um Israel. Porém, na prática, muitos grupos ao crerem
em uma entidade chamada “ Igreja” acabam adotando a mesma crença em um “ Israel Físico” e outro
“ Espiritual” , porém com uma mudança terminológica. Contudo, em comparação com o Cristianismo, o
Judaísmo Messiânico tem o ponto positivo, de ser fortemente contrário à maligna teologia da substituição, a
qual diz que Israel foi substituído pela Igreja. Porém, mesmo que sem terem a intenção, ao crerem numa
entidade à parte chamada “ Igreja” , acabam continuidade à batalha entre Yehudá (Judá) e Efraim pelo
reconhecimento como sendo o “ Israel legítimo” . Infelizmente, o Judaísmo Messiânico tem contribuído
fortemente para a parede de separação entre judeus e efraimitas.

- O Cristianismo tradicional crê na teologia da substituição. Trocando em miúdos: Israel falhou e foi
substituída por uma entidade chamada “ Igreja” , que é o Israel espiritual. Alguns grupos ainda reconhecem
que há determinadas promessas feitas para o “ Israel Físico” , outros grupos dizem que a “ Igreja” se tornou
herdeira das bênçãos de Israel (curiosamente foi apenas das bênçãos, e não das aflições). Crêem que esse
“ Israel Espiritual” é formado por “ judeus espirituais” , ou seja, cristãos.

- O Judaísmo Nazareno crê que não existem duas noivas do Messias, e também que D-us não pode ter duas
esposas. Como D-us já escolheu a Israel como esposa, não a rejeitará. A noiva do Messias, o corpo do
Messias, é Israel. A noiva é composta por judeus e por efraimitas, quer conheçam suas origens quer estejam
sendo restaurados. A casa de Yehudá (Judá) e a casa de Efraim, os dois reinos dividos, são feitos um com a
queda da parede de separação, e como Israel restaurado formam a noiva do Messias. Como já dissemos antes,
os gentios que se achegam à fé em sua grande maioria são efraimitas, isto é, descendentes das 10 tribos
dispersas. Existem também gentios não-efraimitas, mas que se tornam israelitas por opção, ao desejarem se
juntar ao povo de Israel como fizeram Ruth e Rahav (Raabe). Não existem israelitas físicos e outros
espirituais. Existem apenas israelitas físicos, espiritualmente restaurados. Esta nação única é o Israel físico e
espiritual. Portanto não existe sentido nesta briga entre Yehudá (Judá) e Efraim, que começou logo depois do
reinado de Shlomo HaMelech (o rei Salomão), mas que há de acabar.

6 – DISTINÇÕES RACIAIS

- O Judaísmo Messiânico frequentemente alega não fazer distinções raciais no corpo do Messias, mas isso
nem sempre é verdade em todas as congregações. A noção de que “ judeus e gentios” foram grupos de
pessoas diferentes muitas vezes gera uma divisão. Termos como “ judeu messiânico” e “ gentio messiânico”
são frequentes, enfatizando uma diferença nacional e étnica no povo de D-us. Infelizmente, o Judaísmo
Messiânico permanece no mesmo erro de se recusar a ver o retorno dos efraimitas, as ovelhas perdidas da
casa de Israel que estavam dispersas e misturadas entre as nações. O grau de distinção nas comunidades
messiânicas varia muito. Em algumas, preticamente não há distinção. Em outras, ocorrem distinções dentro
da congregação. Outras ainda chegam a recomendar que os gentios fiquem em suas “ igrejas” , deixando as
sinagogas para os judeus.
- Enbora o Cristianismo leve vantagem sobre o Judaísmo Messiânico ao não fazer diferenciação nas
congregações, existe ainda muita discriminação e anti-semitismo nas igrejas cristãs. Como o Cristianismo é
muito diversificado, isto varia muito de igreja para igreja. Mas, no geral, vêem os judeus como um povo que,
não crendo no Messias, se não se arrepender irá para o inferno. Esquecem-se de que a rejeição dos judeus é
parte do plano de D-us para restaurar as nações. Esquecem-se de que D-us prometeu salvar a todo Israel.
Normalmente, o Cristianismo realiza um verdadeiro holocausto espiritual tentando “ converter” os judeus ao
Cristianismo.

- O Judaísmo Nazareno crê que quando os membros do corpo se dão conta de que, sendo judeus, efraimitas,
ou mesmo israelitas por opção, na realidade agora são parte da comunidade de Israel, a questão da raça perde
importância. Somos todos o mesmo povo ao qual D-us sempre amou e do qual D-us sempre cuidou. Rav.
Sha’ ul (Paulo), nos originais semitas, diz que “ não existe judeu ou arameu” . A palavra “ arameu” era
frequentemente usada para se referir àqueles que haviam se dispersado na região da Assíria. Ou seja: as 10
tribos perdidas de Israel! Não importa a que tribo pertençamos, somos todos israelitas! Como semente de
Avraham (Abraão), nossa nação (Israel) é uma nação de sacerdócio real. Portanto, o foco deixa de ser na
lacuna entre dois grupos, e passa a ser na restauração do Reino de Israel, em sua plenitude, conforme
prometido pelos profetas! O conceito de “ dois corpos” , ou “ dois grupos” , ou ainda um “ Israel físico” e outro
“ espiritual” , são divisões dos homens, doutrinas destrutivas, fruto da imaginação de grupos religiosos, e que
não se encontra em lugar algum nas Escrituras. Tão certo quanto só há UM D-us, UMA Palavra, e UM
Messias, só existe UM povo escolhido.

7 – A RESTAURAÇÃO DO REINO DE ISRAEL

- O Judaísmo Messiânico tem crenças variadas a este respeito. Alguns crêem que este evento já ocorreu, ou
no tempo do rei Josias, ou no tempo em que Yehudá (Judá) retornou da Babilônia. Outros crêem que isto
ocorreu com o retorno dos judeus a Israel em 1948. Outros ainda crêem que a restauração está ocorrendo
gradativamente, e que culminará no reajuntamento das 10 tribos perdidas no advento do Messias.

- O Cristianismo, por normalmente minimizar a questão do que eles chamam de “ Israel Físico” , normalmente
não dá muita importância à questão. Alguns grupos atualmente ainda olham para Israel como sendo o
cronômetro para o fim-dos-tempos. Contudo, pouco é dito acerca do reajuntamento das tribos perdidas.

- O Judaísmo Nazareno crê que esta restauração esteja sendo gradativa, mas que ainda não tenha ocorrido
devido a uma série de fatores. Primeiramente, os talmidim (discípulos) perguntaram a Yeshua quando isto
ocorreria, portanto o evento não poderia ter sido o retorno de Yehudá (Judá) na época do rei Josias, ou da
Babilônia. Da mesma forma, o Judaísmo Nazareno crê que o retorno de Yehudá (Judá) à terra prometida em
1948 é um passo nesta direção, assim como também é um passo nesta direção a restauração gradativa de
Efraim. Contudo, o evento descrito em Ezequiel 37 é um reajuntamento e um retorno completo, de todas as
tribos, e não um reajuntamento parcial somente de Yehudá (Judá). Além disto, a restauração será
acompanhada da gravação das leis de D-us no coração, e do fim do pecado. Isto só ocorrerá quando o
Messias retornar. Atualmente, Efraim ainda ama o paganismo, o culto ao deus-sol, e Yehudá (Judá) ainda
está imerso em esoterismo. A plenitude ocorrerá quando o Messias regressar, quando a grande maioria em
Yehudá (Judá) o aceitará como rei, para reinar sobre todo o Israel.

8 – TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO

- O Judaísmo Messiânico rejeita a teologia da substituição com todas as suas forças, e faz tudo o que pode
para eliminar esta doutrina de demônios dos meios teológicos. Contudo, tragica e ironicamente, acaba
incidentalmente a fomentando quando propaga a idéia errada de que existe um grupo chamado “ Igreja”
distinto de Israel.

- No Cristianismo, a teologia da substituição é extremamente comum. Embora alguns grupos já estejam


começando a abrir os olhos e rever esta crença, a grande maioria das igrejas ainda propaga esta doutrina de
que os cristãos são o “ Israel Espiritual” . Esta doutrina anti-semita, demoníaca e sem base bíblica tem sido o
principal motivo para a perseguição tanto física (cruzadas, inquisições, etc.) quanto espiritual (evangelismo
agressivo, conversões, etc.) dos judeus. É com base nesta doutrina diabólica que chegam à conclusão de que a
“ Igreja” será arrebatada antes da tribulação (algo que não tem base bíblica alguma) e que Israel “ se lascará
sozinho” durante o reinado do antimessias.

- Como o Judaísmo Nazareno crê que Israel sempre foi e sempre será o mesmo, física e espiritualmente, e
que os que seguem a Yeshua ou são efraimitas restaurados (grande maioria) ou pessoas que se tornaram
israelitas por opção, deixa de fazer sentido a idéia de uma possível teologia da substituição. A idéia de que
existam "duas noivas" ou "dois corpos" é uma doutrina estranha propagada pelo inimigo para trazer divisão
em Israel. Tal qual o Judaísmo Messiânico, o Judaísmo Nazareno é radicalmente contra a diabólica teologia
da substituição. Porém, ao contrário do Judaísmo Messiânico, o Judaísmo Nazareno propõe uma solução
teológica que não faz distinção de raças.

9 – SHABAT E MOEDIM

- O Judaísmo Messiânico procura observar o Shabat, Rosh Chodesh (Lua Nova) bem como os demais
festivais bíblicos apontados pelo Eterno, e descritos na Torá. Porém, normalmente dizem que para os
“ gentios” esta celebração é vista como opcional.

- O Cristianismo, salvo raras exceções, normalmente não observa os festivais do Eterno. Ao invés disto,
observa festas da tradição romana (Natal, Páscoa, domingo, etc.) que infelizmente possuem raízes no
paganismo. Em alguns casos mais extremados, a celebração das festas do Eterno chega a ser vista como algo
errado, fruto de quem “ não está na graça” .

- O Judaísmo Nazareno também procura observar o Shabat, Rosh Chodesh (Lua Nova) bem como os demais
festivais bíblicos apontados pelo Eterno, e descritos na Torá, e enfatiza que todos aqueles que amam ao
Eterno devem participar de tais celebrações.

10 – OBSERVÂNCIA DA TORÁ

- Neste ponto, também há divergências dentro do Judaísmo Messiânico. Alguns grupos crêem que a
observância da Torá para os “ gentios” é totalmente opcional, e que a insistência de que os “ gentios” devam
observar a Torá é legalismo. Normalmente estes grupos ignoram que a própria Torá proíbe termos “ duas leis”
distintas. Ou seja: proíbe a criação de classes no Reino. Estes grupos costumam manter a muralha que foi
erguida em volta da Torá pelo Judaísmo tradicional, tornando-a um privilégio apenas para judeus ou, no
máximo, para alguns “ gentios” que têm um “ chamado especial” . Outros grupos já reconhecem que Atos 15
estabelece um mínimo para que o “ gentio” aprenda a Torá gradualmente, e que a Torá é para todo o povo de
D-us.

- O Cristianismo tradicional rejeita a Torá. Da Torá, mantêm apenas 12 mandamentos: os “ 9 mandamentos”


(isto é, os 10 menos o Shabat), o de amar ao próximo como a si mesmo, o de amar a D-us sobre todas as
coisas, e o do dízimo. Os demais mandamentos são descartados sem o menor critério. O Cristianismo
tradicional confunde lei com legalismo, e acha que o problema está nas leis de D-us. Alguns grupos
minimizam a observância da Torá, outros a descartam, outros ainda crêem que quem observa a Torá “ caiu da
graça” .

- O Judaísmo Nazareno crê que existe somente uma Torá para o povo de D-us. Tanto judeus, quanto
efraimitas restaurados (que representam a maioria dos que crêem), quanto israelitas por opção devem guardar
a Torá. O Judaísmo Nazareno reconhece que Atos 15 recomenda que aos novos na fé, deve ser dado o leite, e
que gradativamente os mesmos devem ser ensinados na Torá. Uma vez que se atinja a maturidade, é não
somente um privilégio observar a Torá, como é mandamento divino. A Torá foi dada a todos os filhos de
Israel e, através da dispersão de Efraim, foi oferecida em todas as nações. Agora, a Torá pode ser cumprida
em seu pleno propósito através da fé em Yeshua HaMashiach. Todos os filhos de Israel devem lembrar que a
Torá foi dada a nossos pais no Monte Sinai de forma eterna e irrevogável.

11 – PAULO

- O Judaísmo Messiânico rejeita a falsa premissa de que Rav. Sha’ ul (Paulo) teria falado contra o
cumprimento das mitsvot (mandamentos) da Torá. Alguns grupos crêem que Rav. Sha’ ul (Paulo) falou
apenas contra o “ forçar um gentio” a cumprir a Torá, demonstrando a opcionalidade da mesma para os
não-judeus. Outros grupos crêem que Rav. Sha’ ul (Paulo) falou contra o legalismo rabínico, e não contra a
Torá, e que Rav. Sha’ ul (Paulo) não era contra os “ gentios cumprirem a Torá” , muito pelo contrário. Ambos
reconhecem que Rav. Sha’ ul (Paulo) viveu uma vida reta, como um judeu zeloso e cumpridor da Torá, e que
Rav. Sha’ ul (Paulo) jamais falou contra a Torá, mas sim contra o mau uso da mesma.
- O Cristianismo vê na teologia paulina uma exaltação da graça acima da lei. O Cristianismo normalmente
crê que não estamos mais na “ dispensação da lei” , mas sim na “ dispensação da graça” . Normalmente
passagens do Tanach (Primeiro Testamento) que mostram que sempre estivemos na graça, e que a Torá é
eterna costumam ser minimizadas. Curiosamente, o Cristianismo não vê problemas na sua interpretação de
Rav. Sha’ ul (Paulo) contradizer revelação anterior, pois há uma ênfase maior na revelação do “ Novo”
Testamento do que na do “ Velho” Testamento.

- O Judaísmo Nazareno também rejeita a falsa premissa de que Rav. Sha’ ul (Paulo) tenha falado contra a
Torá. O Judaísmo Nazareno mantém que as “ leis” condenadas pelas Escrituras como sendo um jugo pesado
são, segundo a própria definição de Yeshua, leis rabínicas, e não leis da Torá. O Judaísmo Nazareno mantém
então posição semelhante ao Judaísmo Messiânico de que o problema estava no legalismo rabínico, e não nas
leis de D-us. O Judaísmo Nazareno mantém ainda que existem versículos suficientes em todas as Escrituras
que demonstram que quem ama a D-us deve, por amor, guardar a Torá, a medida em que vai aprendendo da
mesma.

12 – TRADIÇÕES JUDAICAS

- O Judaísmo Messiânico enfatiza bastante a questão das tradições judaicas, e procura seguí-las ao máximo.
O Judaísmo Messiânico reconhece a grande importância das tradições na cultura e identidade dos judeus.
Contudo, em alguns grupos, a cultura judaica é enfatizada acima da Torá. Em certos casos, mesmo quando a
tradição de nossos pais, por decisões rabínicas, fere a Torá, as tradições são seguidas acima da Torá. Um
exemplo disto é o uso dos fios puramente brancos nos tsitsiyot (as franjas do talit), quando a Torá determina
que um dos fios seja azul. Frequentemente, a chamada “ Torá Oral” , que o próprio Judaísmo Messiânico
reconhece não existir, é usada como desculpa para esta atitude.

- O Cristianismo mais tradicional não tem muito interesse, a não ser por talvez um pouco de curiosidade, nas
tradições judaicas. O problema principal é quando o Cristianismo confunde a tradição judaica com a Torá.
Uma coisa é a imposição de uma cultura, o que é errado à luz das Escrituras. Outra coisa é pregar a
obediência aos preceitos bíblicos da Torá. Quem prega a Torá, que nada mais é do que Bíblia pura e simples,
é frequentemente chamado de “ judaizante” .

- O Judaísmo Nazareno também reconhece o valor e a importância da cultura judaica, até mesmo no
entendimento de certas passagens bíblicas. Contudo, o Judaísmo Nazareno enfatiza a observância da Torá
acima de qualquer tradição. Se alguma tradição minimiza ou viola a Torá, então para o Judaísmo Nazareno
prevalece a observância da Torá. O Judaísmo Nazareno também reconhece que ninguém é obrigado a
cumprir as mitsvot (mandamentos) da Torá da “ forma judaica” , desde que os mandamentos sejam cumpridos.
Valorizamos e procuramos por uma questão cultural sempre que possível manter a identidade judaica e a
forma tradicional de cumprir as mitsvot (mandamentos), e ainda procuramos manter a cultura judaica mesmo
quando não há mitsvá (mandamento) envolvido. Contudo reconhecemos que a única coisa que tem
autoridade sobre nós em termos de prática são as mitsvot (leis) de D-us. A cultura é um elemento importante,
mas opcional.
13 – AS DEZ TRIBOS

- O Judaísmo Messiânico possui visões bem variávels a respeito deste assunto. A maioria normalmente crê
que as dez tribos deixaram de existir como nação identificável e que os indivíduos que mantiveram sua
identidade foram absorvidos por Yehudá (Judá). A maioria portanto crê que os judeus da atualidade são a
nação visível, reunida e reconstituída de Israel, produto do reajuntamento de todas as 12 tribos. Estas 12
tribos da atualidade são conhecidos apenas como ‘ judeus’ , e portanto não haveria necessidade de um novo
reajuntamento da Casa de Israel. Alguns grupos messiânicos contudo vêem o reajuntamento das 10 tribos de
Israel como um evento futuro, que ocorrerá na segunda vinda do Messias.

- O Cristianismo tende a minimizar a questão, pois não há muito enfoque no “ Israel físico” . As promessas do
“ Israel físico” teriam passado para o “ Israel espiritual” . Dentre os que crêem que há promessas para o “ Israel
físico” , a maioria também vê o retorno ao Estado de Israel como sendo o cumprimento desta profecia.

- O Judaísmo Nazareno crê que a nação de Israel ainda não foi totalmente restaurada. Ambas as casas
encontram-se ainda em estado de cegueira espiritual, até a consumação dos tempos. Yehudá (Judá) continua
fundamentalmente (e propositadamente) cego com relação ao Messias Yeshua, até que o tempo de Efraim
possa se completar. Esta cegueira foi a forma que D-us encontrou para restaurar Efraim. Já Efraim continua,
como dizem as Escrituras, amando o paganismo. Mesmo tendo sido salvos no Messias Yeshua, a grande
maioria de Efraim ainda se encontra imersa no paganismo romano. O Judaísmo Nazareno crê que tanto a
restauração de Yehudá (Judá) quanto a de Efraim está se dando aos poucos. A restauração de Yehudá (Judá)
está se dando à medida que os judeus começam a reconhecer em Yeshua o Messias prometido. A restauração
de Efraim (a chamada “ plenitude dos gentios” – promessa dada a Efraim pelo patriarca Ya’ akov/Jacó) está
ocorrendo a partir do momento em que Yeshua tem feito as boas novas da restauração se propagarem pelas
nações em busca das ovelhas perdidas da Casa de Israel. O Judaísmo Nazareno não crê que as 10 tribos
estejam totalmente perdidas, mas apenas “ escondidas” entre as nações, mas sendo restauradas no Messias.

14 – O TABERNÁCULO DE DAVID

- O Judaísmo Messiânico crê que o Tabernáculo de David se refere apenas à Casa de Yehudá (Judá), isto é,
ao povo judeu. Portanto para trazer a reconciliação bíblica nestes últimos dias, deve ser feito um esforço para
reconciliar os judeus com a “ Igreja” , trazendo a “ Igreja” de volta às suas “ raízes judaicas” . O Judaísmo
Messiânico é muito ativo na restauração destes dois “ corpos” de D-us, praticamente admitindo ou que a
teologia da substituição está correta, ou que existam “ duas noivas” do Messias.

- O Cristianismo crê que a restauração do Tabernáculo de David se deu com a “ restauração da fé” através da
criação da “ Igreja” , que seria o “ Israel Espiritual” . O cumprimento profético da restauração do Tabernáculo
de David seria apenas no âmbito espiritual. Para dar sentido à sua teologia, é muito comum no Cristianismo a
“ espiritualização” de muitas promessas que se refiram a Israel.
- O Judaísmo Nazareno crê que historica e biblicamente o Tabernáculo de David sempre foi definido como
sendo Israel, e que portanto uma restauração do Tabernáculo de David seria uma restauração do povo de
Israel tal qual ele era no tempo durante o qual David reinou e, consequentemente, estabeleceu o seu
Tabernáculo. Naqueles tempos, o povo de Israel era um. Quando houve a separação do Reino do Norte
(Israel/Efraim) e do Sul (Yehudá), D-us prometeu que o povo um dia seria restaurado. O Judaísmo Nazareno
é muito ativo no sentido de promover a restauração, através do Messias Yeshua, deste relacionamento
atualmente ferido entre as duas Casas de Israel, que culminará profeticamente na restauração do Reino de
Israel. O Judaísmo Nazareno crê que a restauração na irmandade de Israel é bíblica e crê que o conceito
cristão de que exista uma “ Igreja” distinta de Israel, ou conhecida como “ Israel Espiritual” , como sendo
demoníaco, anti-bíblico e fictício. O Judaísmo Nazareno também rejeita a noção de que os judeus teriam
status especial no Reino de Israel restaurado, pois não há base bíblica para distinção entre israelitas.

15 – CONVERSÕES AO JUDAÍSMO

- O Judáismo Messiânico crê que a única forma de uma pessoa se tornar parte de Israel é através de uma
conversão ao Judaísmo. O pior disto tudo é que muitos grupos sequer possuem “ ritual de conversão” ,
forçando os que desejam se juntar a Israel a se submeterem a uma conversão tradicional (ortodoxa ou
reformista). Alguns grupos aceitam “ conversões messiânicas” , outros somente “ conversões tradicionais” ,
outros ainda apenas “ conversões ortodoxas” . Infelizmente, esta crença e prática estão arraigadas na falsa
premissa de que apenas o povo judeu é Israel, e que consequentemente não há israelita que não seja judeu.
Esta crença e prática também, além de frontalmente contrária às Escrituras, é arrogante e exclusivista, e só
faz fomentar a criação de classes no Reino.

- Se o Cristianismo por um lado possui a vantagem de não fazer distinção de classes, por outro exige um tipo
de conversão que fatalmente significa para o judeu ter que abandonar totalmente suas tradições e também
trocar a Torá por uma fé anti-nomiana. Chega-se muitas vezes a dizer que a pessoa deixou de ser judeu para
se tornar cristão. A prática da violação da Torá muitas vezes é até incentivada para que o judeu prove que “ se
converteu de coração” . Tal prática conversória é um verdadeiro holocausto espiritual.

- O Judaísmo Nazareno entende que algumas pessoas optem por fazer o processo de conversão, desde que
não neguem a Yeshua, apenas para que sejam reconhecidos pela comunidade judaica tradicional, ou para que
tenham direito a fazer aliá (irem morar em Israel). Contudo, o Judaísmo Nazareno rejeita completamente a
noção de que uma conversão é necessária para que a pessoa se torne parte de Israel. O Judaísmo Nazareno
reconhece que aqueles que se aproximam de Yeshua são, em sua maioria, efraimitas que estão tendo suas
raízes restauradas, ou, embora em menor escala, pessoas que desejam se unir a Israel. As Escrituras não dão
base para nenhum ritual de conversão para adoção como parte de Israel, além da conversão ao D-us de Israel.
A idéia de conversão não só é uma invenção humana arrogante, discriminatória e que diminui a importância
da graça de D-us, como ainda, na melhor das hipóteses, representa uma “ mudança de lado” dentro de uma
mesma família. Ou seja, não faz o menor sentido espiritualmente falando, nem torna a pessoa mais ou menos
israelita aos olhos de D-us.
16 - KASHRUT

- O Judaísmo Messiânico de um modo geral costuma seguir a kashrut (leis alimentares) puramente bíblica, tal
qual o evitar porco e camarão. Alguns segmentos, embora minoritários, seguem a halachá rabínica e separam
carne do leite. Este segmento contudo é minoria no Judaísmo Messiânico.

- O Cristianismo tradicional crê que Yeshua anulou as leis da kashrut, e que portanto D-us não se importaria
com a nossa alimentação.

- O Judaísmo Nazareno também costuma seguir a kashrut (leis alimentares) puramente bíblica. Alguns
grupos optam por seguir a halachá rabínica de separação de carne e leite apenas por uma questão de
convivência com a comunidade judaica local. Porém o Judaísmo Nazareno tem como bem claro que a única
coisa que tem verdadeira autoridade no assunto são as mitsvot (mandamentos) de D-us.

17 – CIRCUNCISÃO (B’ RIT MILÁ)

- O Judaísmo Messiânico não é unânime nesta questão. Alguns grupos defendem que os “ gentios” não
precisam se circuncisar, e que este seria o exemplo de mais uma mitsvá (mandamento) que só seria relevante
para os judeus. Outros grupos defendem que apenas os “ gentios que se convertem ao judaísmo” (vide tópico
sobre conversão) devem se circuncisar. Outros grupos ainda defendem que a circuncisão, como toda mitsvá
(mandamento) do Eterno, é para todos. O que esses grupos têm em comum, diferente do Cristianismo
tradicional, é que reconhecem que um “ gentio” pode se circuncisar, coisa que para o Cristianismo tradicional
muitas vezes é vista como sendo “ cair da graça” . A questão daqueles que foram circuncisados por questões
de saúde também varia muito. Alguns grupos defendem o ritual de “ Hatafat Dam” , que passa pela extração
de uma gota de sangue do pênis para poder tornar a circuncisão “ kasher” , isto é, própria segundo as leis
rabínicas. Outros grupos dizem que isto não é necessário, e que basta a pessoa passar a aceitar sua própria
circuncisão.

- O Cristianismo tradicional não reconhece a circuncisão apesar de Gênesis 17 deixar claro que todos os que
são da casa de Avraham, naturais ou “ comprados” , deveriam ser circuncisados. Existem dois motivos para
isto: o primeiro seria relacionado à doutrina de que as leis de D-us teriam sido abolidas. O segundo está no
fato de não compreenderem a questão de Rav. Sha’ ul (Paulo) ter sido contra a circuncisão por legalismo, que
muitas vezes nem mesmo era uma “ circuncisão” , mas sim o ritual de “ Hatafat Dam” para serem aceitos no
Judaísmo Rabínico. Por perder a identidade semita de sua fé, o Cristianismo acabou caindo numa
não-compreensão desta questão.

- O Judaísmo Nazareno não só vê a circuncisão como sendo uma mitsvá (mandamento) pertinente a todos,
como também reconhece nela uma grande importância no processo de restauração da identidade dos
efraimitas. O Judaísmo Nazareno concorda com o Judaísmo Messiânico e com o Cristianismo que a
circuncisão não é questão de salvação. Porém, assim como a passagem pelo mikveh (batismo), é uma questão
de demonstração de obediência. Os pais tementes ao Eterno têm a responsabilidade de circuncisar seus filhos
homens ao oitavo dia do nascimento. No caso de um adulto, de acordo com a ordem dos fatores estabelecida
em Atos 15, deve se circuncisar tão logo adquira certa independência em sua compreensão da Torá. Aos que
já são circuncisados por questões de saúde, rejeita-se a noção de que seria necessário o ato de “ Hatafat Dam”
(extração de sangue), que para o Judaísmo Nazareno é uma lei rabínica sem base bíblica.

18 – HALACHÁ

- A halachá consiste em decisões rabínicas acerca do cumprimento de uma mitsvá (mandamento). Por
exemplo: a Torá fala que “ é proibido trabalhar no Shabat” . A halachá diria o que significa “ trabalhar no
Shabat” , e assim por diante. O Judaísmo Messiânico respeita e muitas vezes aceita a halachá rabínica, muitas
vezes com status de mitsvá (mandamento). A obediência à halachá tradicional muitas vezes varia de
congregação para congregação, e também de acordo com a conveniência da mesma. Como o Judaísmo
Messiânico luta para ser reconhecido como a quarta grande ramificação do Judaísmo (depois do Ortodoxo,
Conservador e Reformista), isto pode culminar no aceitar grande parte da halachá rabínica tradicional, com
grande parte de suas leis rabínicas.

- Se o Cristianismo rejeita quase todas as mitsvot (mandamentos) da Torá, obviamente rejeita a halachá
rabínica. Contudo, muitas vezes inconscientemente, acaba adotando um preceito semelhante no que diz
respeito às tradições romanas. Muitas tradições estabelecidas por Roma hoje são dogmáticas para as igrejas
cristãs, em maior ou menor grau de acordo com cada igreja. O preceito é muito semelhante, embora em não
tão grande escala, ao da halachá rabínica.

- O Judaísmo Nazareno vê a questão da halachá como sendo diferente. O Judaísmo Nazareno crê que Yeshua
deu a seus seguidores a autoridade para fazerem halachá (vide Mt. 18:18). Porém, crê também na proibição
explícita que existe na Torá para com adições à mesma. O Judaísmo Nazareno portanto crê que a halachá seja
como jurisprudência e não lei. Ou seja: o objetivo é auxiliar e orientar aos que temem ao Eterno sobre como
viverem na constituição que D-us nos deu, que é a Torá. Contudo, o Judaísmo Nazareno rejeita a noção de
que uma “ violação à halachá” seja pecado, ou seja igual à violação à Torá, pois a halachá não tem status de
lei. A halachá deve ser um benefício, um auxílio para o povo, e não um jugo, como muitas vezes o é a
halachá rabínica. O Judaísmo Nazareno reconhece que muitas vezes a halachá rabínica acerta, mas em muitas
outras perde o espírito da coisa, erra, e se torna um fardo. Portanto crê que os nazarenos devem ter sua
própria halachá. A halachá rabínica possui instruções valiosas, mas deve ser revista aos olhos dos
ensinamentos de Yeshua, e da própria Torá (pois frequentemente a halachá rabínica viola a Torá escrita). Em
suma, a halachá nazarena seria uma soma de decisões próprias com revisões das decisões rabínicas, porém
todas elas colocadas em seu devido lugar, como apoio para a Torá, e não em substituição ou mesmo nível da
mesma.

19 – TEOLOGIA DA SUBSTITUIÇÃO REVERSA

- O fenômeno da “ teologia da substituição reversa” é extremamente comum no Judaísmo Messiânico. Chega


a ser irônico, pois o Judaísmo Messiânico é dos mais ferrenhos opositores da teologia da substituição. Mas o
que vem a ser este fenômeno? A teologia da substituição diz um corpo chamado “ Igreja” substituiu Israel.
Essa noção é rejeitada pelos messiânicos no que diz respeito à casa de Yehudá (Judá). Contudo, ao se
recusarem a ver a questão da casa de Efraim, os messiânicos condenam os efraimitas a não terem como
restaurar suas origens (a não se que passem por “ conversão ao Judaísmo” ), forçando-os a serem apenas parte
do corpo chamado “ Igreja” , e não de Israel. Ou seja, é como se a “ Igreja” tivesse engolido e substituido a
Efraim, mas a não a Yehudá (Judá). Isto é o fenômeno da teologia da substituição reversa. A casa de Efraim,
isto é, as 10 tribos, é tão semita e tão parte de Israel quanto Yehudá. E, no entanto, através deste ato de
não-reconhecimento do processo de restauração de Efraim, o Judaísmo Messiânico tragicamente pratica
contra eles o anti-semitismo (isto é: rejeita a origem semita de Efraim) através desta teologia da substituição
reversa.

- Para o Cristianismo tradicional, esta não é uma questão relevante, pois costuma pregar a teologia da
substituição para todo o Israel, quer Yehudá (Judá) quer Efraim. Os chamados “ israelitas remanescentes” ou
até mesmo os “ reenxertados” agora fariam parte da “ Igreja” , que seria o “ Israel Espiritual” . É um modelo
exatamente reverso do que descreve Rav. Sha’ ul (Paulo) em Romanos 11.

- O Judaísmo Nazareno é radicalmente contra qualquer tipo de teologia da substituição, incluindo nisto a sutil
“ Teologia da Substituição Reversa” . Ao proclamar que as duas Casas de Israel estão sendo gradativamente
restauradas no Messias Yeshua, nenhuma Casa é ignorada, rejeitada, substituída, vista como inferior ou como
superior, nem tampouco é uma das casas, ou ambas, substituídas por uma instituição fictícia e inventada pelo
homem chamada de “ a Igreja” . A “ Igreja” na concepção cristã não existe. A única “ Igreja” que foi fundada
pelo Eterno foi fundada no Sinai, e é chamada de Israel. Não existe nos planos do Eterno, conforme fica bem
claro ao longo das Escrituras, principalmente dos Escritos dos Nevi’ im (Profetas), qualquer outra instituição
aos olhos do Eterno que não seja Israel. Aqueles que amam e seguem ao Eterno são parte de Israel, quer por
serem naturais de Yehudá (Judá), Efraim, ou por serem israelitas por opção. Estas pessoas foram um só povo,
sem barreiras e sem divisões, e são unidos espiritualmente através dos laços de amor de Yeshua HaMashiach,
em uma única entidade chamada de “ Assembléia do Messias” , ou “ Corpo do Messias” , que sempre foi e
sempre será Israel. O Judaísmo Nazareno vê com grande preocupação o crescimento da “ Teologia da
Substituição Reversa” no meio messiânico.

20 – ORDENAÇÃO

- No Judaísmo Messiânico, não há um critério unânime para a ordenação. O que acaba ocorrendo é que, em
muitas congregações, aqueles que foram ordenados no Cristianismo e migraram para o Movimento
Messiânico mantêm suas ordenações como pastores. Contudo, só são reconhecidos como rabinos pelo
Movimento Messiânico tradicional aqueles que são de origem judaica. Alguns grupos messiânicos só
ordenam rabinos que sejam devidamente instruídos em Yeshivot (escolas de rabinos), outros grupos ordenam
‘ rabinos’ a qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento, outros grupos ainda usam o título
‘ rabino’ como sendo sinônimo de pastor ou líder.

- No Cristianismo tradicional, só são ordenados pastores aqueles que possuem instrução de alguma
instituição. Não são vistos com bons olhos os “ pastores” de algumas igrejas mais modernas que são
ordenados mesmo sem terem instrução alguma. Existe, com relação ao Judaísmo Messiânico, o ponto
positivo de que a ordenação não depende da origem étnica da pessoa.
- No Judaísmo Nazareno, primeiramente não existe o reconhecimento da ordenação de outras religiões. Para
que alguém seja ordenado no meio nazareno, deve ser instruído na fé nazarena. O Judaísmo Nazareno
também reconhece, na falta de rabinos plenamente formados, um ancião da congregação, que esteja bem
fundamentado na fé nazarena, pode liderar a congregação, porém se esta liderança for em caráter mais
definitivo, deve estudar para obter formação plena. O Judaísmo Nazareno é firme na posição de que para uma
pessoa se sagrar rabino deve possuir um bom nível de instrução. Porém, o Judaísmo Nazareno reconhece que
qualquer pessoa que partilhe da fé nazarena pode se tornar um rabino, quer judeu, quer efraimita, quer
israelita por opção. Não há base bíblica para a “ distinção de berço” para a figura de um rabino.

21 – MEMBRESIA

- Embora isto não seja fato para todas as congregações messiânicas, a MJAA (Messianic Jewish Alliance of
America) só reconhece membresia total, com direito ao privilégio de voto, a quem seja judeu. Aos “ gentios”
é oferecido apenas o status de “ associado” . Os associados da MJAA podem dar dízimo, ofertas, etc. mas não
têm direito à membresia completa. A MJAA não considera esta posição como racista, mas sim como uma
proteção da identidade judaica do movimento. Já a UMJC (Union of Messianic Jewish Congregations), a
segunda organização mais importante do movimento messiânico, pensa diferente e dá direito de membresia
total a qualquer pessoa que ame ao Eterno.

- Neste ponto, novamente o Cristianismo está em vantagem com relação ao Judaísmo Messiânico. Nenhum
membro é obrigado a dar certidão de nascimento, sobrenome ou provar linhagem para possuir status de
membro em uma organização cristã.

- A UNJS (Union of Nazarene Jewish Synagogues) também oferece membresia a qualquer pessoa que ame e
siga ao D-us de Israel. A UNJS não vê com bons olhos o sistema de “ associação para membros não-judeus”
da MJAA, pois cria uma divisão no Corpo do Messias (Israel). A UNJS mantém que se uma pessoa é aceita
por D-us como parte do Corpo do Messias (Israel), quer judeu, quer efraimita, quer israelita por opção, então
essa pessoa também tem direito a pertencer a qualquer organização que alegue representar ao D-us de Israel.

22 – A DIVINDADE DE YESHUA

- Quando foi estabelecido, o Judaísmo Messiânico (o movimento moderno) era composto unicamente por
homens que defendiam com unhas e dentes a divindade do Messias Yeshua. Isto é: o fato de que Yeshua é a
manifestação física do Eterno. Contudo, a exemplo do que aconteceu historicamente com o Cristianismo,
hoje em dia existem grupos que apostataram e o consideram como um ser divino porém separado do Eterno.
Porém, ao contrário do que aconteceu com o Cristianismo, muitos destes grupos têm permanecido dentro do
movimento messiânico, pondo em risco a sã doutrina do movimento. Deve haver uma ação em cima deste
problema o mais rápido possível. Para citar um dos grandes líderes do movimento “ esta [heresia] está
destruindo o movimento.”
- O Cristianismo neste ponto acerta ao considerar apóstatas os grupos que negam a divindade do Messias. A
divindade do Messias também é uma doutrina fundamental do Cristianismo.

- O Judaísmo Nazareno tem como pilar fundamental de fé o fato de que o Messias é uma manifestação do
Eterno, e não um “ deus à parte” . Para fazer parte da UNJS, toda congregação deve professar essa verdade de
fé sobre a divindade do Messias. Vários líderes e congregações tiveram seus pedidos de filiação rejeitados
por não partilharem desta doutrina que consideramos fundamental no Judaísmo Nazareno.

23 – OS ESCRITOS DOS NAZARENOS

- O Judaísmo Messiânico também não possui uma posição bem definida quanto à origem dos manuscritos
dos Escritos dos Nazarenos (isto é, o “ Novo” Testamento). Alguns grupos crêem que os originais foram
escritos em línguas semitas, isto é, em hebraico e/ou em aramaico, e consideram que isto é importante para
entendermos a verdade das Escrituras. Outros grupos partilham desta crença, mas adotam os manuscritos
gregos como sendo os mais próximos dos originais. Outros ainda, embora em menor número, crêem que o
“ Novo” Testamento foi escrito essencialmente em grego.

- O Cristianismo tradicional, embora alguns grupos mais modernos discordem, crê que o “ Novo” Testamento
foi escrito fundamentalmente em grego. Alguns grupos crêem que houve uma tradição oral em aramaico
antes dos escritos se consolidarem em grego, mas a grande maioria mantém que a autoria foi em grego.

- O Judaísmo Nazareno considera histórica, linguística e culturalmente impossível que o “ Novo” Testamento
tenha sido escrito em grego, visto que os escritores eram de origem semita. A crença na primazia hebraica e
aramaica é vista como sendo fundamental para o esclarecimento de alguns pontos importantes da fé. Existem
variações na opinião sobre quais sejam os manuscritos mais próximos dos originais, mas existe uma
unanimidade na aceitação de que os originais tenham sido semitas.

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