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Probióticos & Prebióticos

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Probióticos &
Prebióticos
Têm um sabor agradável, contribuem para o bom funcionamento dos intestinos,
reduzem a gravidade e duração da diarréia e, entre outros saudáveis benefícios,
servem para estimular a imunidade. Tais efeitos positivos são provocados
por micróbios que, invisíveis a olho nu, são normalmente adicionados a
um alimento. Estamos falando dos probióticos - definidos atualmente como
microorganismos viáveis que promovem ou apóiam um equilíbrio benéfico
da população microbiana nativa do trato gastrintestinal – e dos prebióticos -
componentes alimentares não-digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro
por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de
bactérias desejáveis no cólon.
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Probióticos & Prebióticos

A OMS - Organização
Mundial de Saúde de-
fine probióticos como
“organismos vivos
que, quando ad-
ministrados em quantidades ade-
quadas, conferem benefícios à saúde
do hospedeiro” (FAO/WHO, 2001). Os
probióticos têm efeito sobre o equilí-
brio bacteriano intestinal: controle
formadores de esporos, desprovidos
de flagelos, catalase-negativos e anae-
róbios. No que diz respeito à sua mor-
fologia, podem ter várias formas que
incluem bacilos curtos e curvados,
bacilos com a forma de bastão e baci-
los bifurcados. Atualmente, o gênero
Bifidobacterium incluí 30 espécies,
sendo 10 de origem humana (cáries
dentárias, fezes e vagina), 17 de ori-
na identificação do gênero, mas que
não permite a diferenciação entre as
espécies. Além da glicose, todas as
bifidobactérias de origem humana
são capazes de utilizar a galactose,
a lactose e a frutose como fontes de
carbono.
A gama de temperaturas para a
qual se registra crescimento ótimo os-
cila entre os 37 ºC e 41 ºC, ocorrendo
do colesterol e de diarréias e redução gem animal, 2 de águas residuais e 1 máximos e mínimos de crescimento
do risco de câncer. Podem ser compo- de leite fermentado; esta última tem a 43 ºC-45 ºC e 25 ºC-28 ºC, respecti-
nentes de alimentos industrializados, a particularidade de apresentar uma vamente. Em relação ao pH, o ótimo
como leites fermentados e iogurtes, boa tolerância ao oxigênio, ao contrá- verifica-se a valores de pH entre 6
ou podem ser encontrados na forma rio da maior parte das outras do mes- e 7, com ausência de crescimento a

Lista de possíveis fatores bifidogênicos e fatores de crescimento para Bifidobacterium spp.

Fatores bifidogênicos Fatores de crescimento


Oligissacarídeos transgalactosilados, Hidrolisado de k-caseína
(Galactosil galactose, galactosil glucose)
Frutooligossacarídeos (inulina, oligofrutose) Macropeptídeo de caseína
Lactulose Fator bifido de caseína (hidrólise por papaína)
Glucosil-inositol Alginatos despolimerizados
Xiloologossacarídeos (xilobiose) Hidrolisados de caseína
2-amino-3-carboxi-1,4-naftoquinona Hidrolisados de leite

de pó ou cápsulas. Os agentes pro- mo gênero. As bifidobactérias estão valores de pH ácidos de 4,5-5,0 ou a


bióticos são então definidos como inseridas na ordem dos actinomicetes, valores de pH alcalinos de 8,0-8,5.
“microorganismos viáveis (o que dentro do grupo das bactérias gram- Gênero Lactobacillus. Outro gê-
inclui bactérias lácticas e leveduras positivas, e são caracterizadas por nero que integra o mundo dos agentes
na forma de células liofilizadas ou de um conteúdo elevado de guanina e probióticos é o Lactobacillus, isolado
produto fermentado) que exibem um citosina que varia, em termos mola- pela primeira vez em 1900, pelo pe-
efeito benéfico sobre a saúde do hos- res, de 54% a 67%. Possuem também diâtro alemão Ernst Moro, a partir
pedeiro após ingestão, devido à me- algumas diferenças notáveis ao nível das fezes de lactentes amamentados
lhoria das propriedades da microflora das propriedades fisiológicas e bio- ao peito materno; este investigador
indígena”. Entre os diversos gêneros químicas, incluindo os constituintes atribuiu-lhes o nome de Bacillus
que integram as culturas probióticas, da parede celular. São organismos acidophilus, designação genérica
destacam-se o Bifidobacterium e o heterofermentativos, que produzem dos lactobacilos intestinais. Estes
Lactobacillus e, em particular, a espé- ácidos acético e láctico na proporção microorganismos são geralmente
cie Lactobacillus acidophilus. molar de 3:2, a partir de 2 moles de caracterizados como gram-positivos,
Gênero Bifidobacterium. As hexose, sem produção de CO2, exceto incapazes de formar esporos, despro-
bifidobactérias foram isoladas pela durante a degradação do gluconato. vidos de flagelos, possuindo forma ba-
primeira vez no final do século XIX A enzima-chave desta via metabólica cilar ou cocobacilar, e aero-tolerantes
pelo francês Henry Tissier e são, fermentativa é a frutose- 6-fosfato ou anaeróbios. O gênero compreende
em geral, caracterizadas por serem fosfocetolase, a qual pode por isso atualmente 56 espécies oficialmente
microorganismos gram-positivos, não ser usada como marcador taxonômico reconhecidas, sendo que as mais uti-

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cimento em diferentes momentos. No
princípio do século XX, defendia-se
que as bifidobactérias eram impor-
tantes para a saúde e nutrição das
crianças, incluindo os recém-nascidos
afetados por diarréias. Tal efeito era
atribuído à capacidade das bifidobac-
térias removerem as bactérias putre-
fativas responsáveis pelas desordens
gástricas, e de se restabelecerem eco-
logicamente como microorganismos
intestinais dominantes. Pouco tempo
depois, o zoologista e microbiologista
russo Elie Metchnikoff atribuiu pro-
priedades mágicas ao iogurte, capaz de
desencadear uma longevidade duradou-
ra, alegando-se que o consumo regular
de grandes quantidades de iogurte
contendo espécies de L. acidophilus
resultava em uma capacidade ampliada
de controle de infecções por agentes
patogênicos entéricos, associada ao
controle da toxemia crônica natural,
a qual tem um papel fundamental no
lizadas para fins de aditivo dietético láctico a partir da degradação da envelhecimento e, conseqüentemente,
são L. acidophilus, L. rhamnosus e glicose pela via de Embden-Meyerhof- na mortalidade.
L. casei. O L. acidophilus, o mais co- Parrnas1 (à taxa de 1,8 mol por mol Os alvos do estudo mais comuns
mum, é um bacilo gram-positivo com de glicose), embora também possa na avaliação do valor nutritivo de
pontas arredondadas que se encontra produzir algum acetaldeído; este últi- estirpes probióticas são os lacticí-
na forma de células livres, aos pares mo também pode ser proveniente do nios fermentados por lactobacilos e
ou em cadeias curtas, com tamanho metabolismo de compostos azotados
bifidobactérias. Tais produtos contêm
típico de 0,6 a 0,9 µm de largura e 1,5 (por exemplo, treonina), uma vez que
um elevado teor de nutrientes que
a 6 µm de comprimento. Esta espécie o L. acidophilus exibe uma elevada varia com o tipo de leite utilizado, o
tem a particularidade de ser pouco atividade de treonina aldolase. As con- tipo de microorganismo adicionado e
tolerante à salinidade do meio e ser dições ótimas para a sua multiplicação o processo de fabricação escolhido.
microaerofílico, com o crescimento em eficaz são temperaturas de 35ºC a 40ºC De forma geral, tais efeitos, ou seja,
meios sólidos favorecido por anaero- e valores de pH de 5,5 a 6,0. O cresci- o aumento da digestibilidade das
biose ou pressão reduzida de oxigênio. mento do L. acidophilus pode ocorrer proteínas e gorduras, a redução do
Uma grande parte das estirpes de a 45ºC, e sua tolerância em termos de conteúdo em lactose (a qual assume
L. acidophilus degradam amidalina, acidez do meio varia entre 0,3% e 1,9 particular importância para os indi-
cenobiose, frutose, galactose, glicose, %(v/v) de acidez titulável. víduos com intolerância à lactose,
lactose, maltose, manose, sacarose e Em qualquer um dos dois gêneros devido à deficiência congênita em
esculina. Os dados disponíveis apon- (i.e. Bifidobacterium e Lactobacillus), β-galactosidase ou a redução da ati-
tam para uma melhor utilização da as espécies correntemente utilizadas ao vidade daquela durante desordens
sacarose do que da lactose por parte nível tecnológico são não-patogênicas, intestinais), a absorção acrescida de
do L. acidophilus, um comportamento gozando do status GRAS (Generally cálcio e ferro, o equilíbrio de conteú-
atribuído a diferenças nas atividades Recognised As Safe). do em várias vitaminas e a presença
da β-galactosidase e da β-frutofura- de alguns metabólicos secundários,
nosidase; enquanto a primeira é uma Valor nutritivo e terapêutico acoplados à presença de células pro-
enzima constitutiva do L. acidophilus, A constatação de efeitos probió- bióticas viáveis, fazem dos leites fer-
a segunda pode ser induzida. Como ticos de aditivos bacterianos viáveis mentados um dos alimentos naturais
microorganismo heterofermentativo, data de muitos anos e tem variado ao mais valiosos recomendados para o
produz quase exclusivamente ácido longo do tempo em função do conhe- consumo humano.

1. O ciclo de EMBDEN-MEYERHOF-PARNAS, ou ainda EMBDEN-MEYERHOF nada mais é do que a GLICÓLISE, ou seja, a quebra de uma molécula de
glicose com subseqüente formação de duas moléculas de piruvato através de 10 reações enzimáticas e produção de 2 ATP.

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Características fisiológicas e bioquímicas selecionadas de Bifidobacterium spp. e
Lactobacillus acidophilus

Característica Bifidobacterium spp. Lactobacillus acidophilus


Fisiologia Anaeróbio Microaerofílico
Composição da parede celular:
Tipo de peptidoglicano Amino ácido básico no tetrapeptídeo Lys-D Asp
variável, ou ornitina ou lisina, vários
tipos de difosfatodolglicerol.
Composição fosfolípido/ Poliglicerolfosfolípido e seus liso-derivados, Glicerol
Ácido teicoico alanilfosfatidilglicerol, liso-derivados de
difosfatodolglicerol.
Composição base DNA 55-67 34-37
Mol % guanina+citosina
Configuração ácido láctico L DL
Metabolismo de açúcares Heterofermentativo Homofermentativo
(Adaptado de: Kurmann e Rasic, 1991; Mital e Garg, 1992)

Um dos valores terapêuticos que ativam os compostos pro-carcino- produção de macrófagos e anticorpos
atribuídos às bactérias probióticas gênicos em compostos carcinogênicos. IgA, bem como em alterações subs-
é o efeito benéfico sobre distúrbios Ensaios clínicos realizados por diver- tanciais na produção de citosinas.
e infecções intestinais. O epitélio sos pesquisadores em modelos animais
intestinal desempenha um papel de evidenciaram que algumas estirpes Produtos lácteos enriquecidos
barreira imunológica, estabelecendo de L. acidophilus e Bifidobacterium com agentes probióticos
a interface entre o conteúdo luminal possuem a capacidade de reduzir os
A ciência alimentar procura de-
e as células imunológicas sub-epite- níveis daquelas enzimas, diminuindo
senvolver novos produtos com elevada
liais. Qualquer perturbação a esta assim o risco de desenvolvimento de
qualidade e grande valor agregado. O
barreira, desencadeada por antí- tumores. O efeito benéfico tem sido
aumento do valor nutritivo e tera-
genos dietéticos, microorganismos atribuído à mudança favorável que
pêutico trazido pelas bifidobactérias
patogênicos, agentes químicos ou a ingestão de bactérias probióticas
radiações, conduz a um aumento da desencadeia na composição da flora tornou-as alvo preferido de uma série
permeabilidade intestinal e a altera- intestinal. Um estudo recente com de programas de pesquisa. Gerou-se,
ções estruturais no epitélio, as quais Lactobacillus casei (estirpe Shirota) então, um interesse considerável no
podem ocasionar aumento do fluxo permitiu tirar conclusões sobre o seu sentido da incorporação das bifi-
de antígenos e provocar diversos potencial na área de prevenção alimen- dobactérias em certos alimentos,
tipos de inflamação. O uso eficaz dos tar do cancro. principalmente alimentos infantis e
agentes probióticos nestas situações Outros efeitos benéficos de es- leites fermentados (e outros produtos
é justificado, não só no tratamento, tirpes probióticas, mas que estão lácteos). O maior desenvolvimento
mas também na prevenção de tais consubstanciados em estudos ainda ocorre em lacticínios, sendo que os
alterações. controversos, incluem o efeito hipo- produtos mais comuns incluem lei-
Diversos estudos também suge- colesterolêmico. Alguns estudos men- tes fermentados, iogurtes, gelados e
rem que os agentes probióticos po- cionam também a ocorrência de uma queijos, onde as bifidobactérias são
dem estar associados à carcinogênese melhor resposta imunológica após adicionadas como aditivos. As espé-
intestinal. Esta situação clínica é me- administração de agentes probióticos; cies mais freqüentemente utilizadas
diada por enzimas bacterianas fecais tal efeito se baseia no aumento da para a obtenção destes produtos são

Os probióticos podem ser componentes de alimentos


industrializados como, leites fermentados e iogurtes, ou podem
ser encontrados na forma de pó ou cápsulas.
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de origem humana, por exemplo, adequadas para fazer face às necessi- versas prevalecentes nos processos
Bifidobacterium adolescentis, B. dades fisiológicas do hospedeiro pelo industriais, como baixos valores
bifidum, B. breve, B. infantis, B. que, por isso, poderão mais facilmente de pH e presença de níveis não
longum (a mais comum e com maior colonizar o intestino. desprezíveis de oxigênio. Uma es-
êxito), Lactobacillus acidophilus, L. Outros estudos apontam para o tirpe recentemente identificada, a
casei subsp. rhamnosus e Enterococ- uso de estirpes de origem animal, Bifidobacterium. lactis, demonstra
cus faecium; considera-se que tais as quais são mais fáceis de cultivar um bom potencial como aditivo ali-
espécies reúnem as condições mais e mais resistentes às condições ad- mentar, pois além do efeito benéfico
desencadeado após a sua ingestão,
demonstra também uma boa tolerân-
Lista das espécies (por ordem alfabética) que integram os gêneros
cia a ácidos e ao oxigênio molecular.
Bifidobacterium e Lactobacillus
As estirpes probióticas podem ser
Lactobacillus Bifidobacterium adicionadas como cultura única, ou
em conjunto com outras bactérias
L. acetotolerans L. jenseniia B. adolescentisa lácticas, durante a fermentação, ao
L. acidophilusa L. johnsonii B. angulatum a produto final já fermentado ou ainda
L. agilis L. kandleri B. animalis ao produto fresco antes da respectiva
distribuição.
L. alimentarius L. kefir B. asteroides A produção de leite fermentado
L. amylophilus L. kefiranofaciens B. bifidum a de elevada qualidade contendo célu-
las viáveis de Bifidobacterium spp. e
L. amylovorus L. malefermentans B. boum
Lactobacillus acidophilus é um desa-
L. avarius L. mali B. brevea fio que se coloca à indústria alimentar,
L. bifermentans L. minor B. catenulatum a pois se trata de microorganismos que
se multiplicam muito lentamente no
L. brevisa L. murinus B. choerinum
meio líquido, o que implica em fer-
L. buchneria L. orisa B. coryneforme mentações longas e invariavelmente
L. casei subsp. caseia L. parabuchneria B. cuniculi a exigência de anaerobiose (como
conseqüência das necessidades de
L. collinoides L. paracaseia B. dentium a
potencial redox baixo na fase inicial
L. confusus L. pentosus B. gallicum de crescimento e da adição de fatores
L. coryniformis L. pontis B. gallinarum de crescimento). Adicionalmente, as
bifidobactérias produzem ácidos acé-
L. crispatusa L. plantarum a B. globosum a
tico e láctico (nas proporções molares
L. curvatus L. reuteria B. indicum 3:2) durante a fermentação, o que
L. delbrueckii L. rhamnosusa B. infantisa pode criar importantes restrições
L. farciminis L. ruminis B. lactis organolépticas, ou seja, um produto
com sabor e aroma “de vinagre”’ terá
L. fermentum a L. sake B. longum a obviamente uma aceitação limitada
L. fructivorans L. salivariusa B. magnum por parte dos consumidores. Assim, é
L. fructosus L. sanfrancisco B. merycicum recomendado uma seleção cuidadosa
das estirpes a serem utilizadas e uma
L. gallinarum L. sharpeae B. minimum monitorização constante ao longo de
L. gasseria L. suebicus B. pseudocatenulatum a todo o processo de fabricação, de
L. graminis L. vaccinostercus B. pseudolongum forma a assegurar um controle mais
eficaz dos produtos de fermentação,
L. halotolerans L. vaginalisa B. pullorum
designadamente em termos de pH
L. hamsteri L. viridescens B. ruminantium final.
L. helveticus B. saeculare Algumas pesquisas sugerem o
uso de culturas de Bifidobacterium
L. hilgardii B. subtile
spp. combinadas com culturas de
L. homohiochii B. suis L. acidophilus ou com culturas
L. intestinalis B. thermophilum de outras bactérias lácticas, por
exemplo, Lactobacillus delbrueckii
Há espécies isoladas de fonte humana
subsp. bulgaricus e Streptococcus

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Probióticos & Prebióticos
Potenciais valores, nutritivo e terapêutico, de alimentos funcionais contendo agentes probióticos

Melhor digestibilidade Degradação parcial de proteínas, lípidos e hidratos de carbono.


Melhor valor nutritivo Níveis elevados das vitaminas do complexo B e de alguns
aminoácidos, p.ex. metionina, lisina e triptofano.
Melhor utilização da lactose Níveis reduzidos de lactose no produto e maior
disponibilidade de lactase.
Ação antagônica contra agentes Distúrbios, tais como diarréia, colite mucosa, colite ulcerosa,
patogênicos entéricos diverticulite e colite antibiótica controlada pela acidez, inibidores
microbianos (i.e. H2O2, bacteriocinas e sais biliares) e inibição
da adesão e ativação dos patogênios (p.ex. consumo de ferro).
Colonização do intestino Sobrevivência no ácido gástrico, resistência à lisozima e à tensão
superficial baixa do intestino, adesão ao epitélio intestinal,
multiplicação no trato gastrointestinal, modulação imunitária.
Ação anticarcinogênica Conversão de potenciais pré-carcinogênicos em
compostos menos perniciosos.
Ação inibitória perante alguns tipos de cancro, p.ex. cancro do trato
gastrointestinal por degradação dos pré-carcinogênicos, redução das
enzimas promotoras de carcinogênicos e estimulação do sistema
imunitário.
Ação hipocolesterolêmica Produção de inibidores da síntese de colesterol.
Utilização do colesterol por assimilação e precipitação com sais
biliares desconjugados.
Modulação imunitária Melhor produção de macrófagos, estimulação da produção de células
supressoras e g-interferão.

thermophilus; as vantagens destas higiene e parâmetros nutritivos (e o seu efeito tampão), a presença
combinações incluem melhores ótimos. Diversos estudos apontam de microorganismos competitivos,
taxas de crescimento, redução do como conveniente a utilização de a temperatura de armazenagem e
tempo de fermentação, ausência culturas liofilizadas ou ultra-conge- a presença de inibidores bacteria-
de certos defeitos organolépticos ladas para inoculação direta, com nos na matriz alimentar, como são
e aumento do valor nutritivo dos capacidade de concentração até o cloreto de sódio e o peróxido de
produtos finais. 1010-1011 ufc/g, de modo a permitir hidrogênio. Existe um consenso de
Além da necessidade de uma uma maior flexibilidade no controle que produtos com acidez elevada (io-
boa tolerância ao ácido e sais bilia- das qualidades organolépticas e gurte) conduzem a uma maior perda
res (para assegurar a manutenção microbiológicas. Além dos aspectos de viabilidade do que produtos com
de um número elevado de células tecnológicos propriamente ditos, o baixa acidez (iogurte gelado, gelado
viáveis durante o armazenamento controle da viabilidade das estirpes tradicional e queijo), sendo, como
e passagem pelo trato gastrintesti- no alimento que serve de veículo no já mencionado, necessário efetuar
nal), é conveniente que as estirpes uma seleção cuidadosa das estirpes
momento de consumo é, igualmente,
selecionadas sejam capazes de gerar
de elevada importância. Para assegu- utilizadas.
um produto final com sabor e textura
rar um efeito benéfico, os produtos
aceitáveis.
probióticos devem conter um mínimo Os prebióticos na alimentação
Devido à propagação lenta das bi-
fidobactérias em leite, que se reflete de 106 ufc/ml, o que se baseia no Os prebióticos, na maioria carboi-
na falta de competitividade quando pressuposto de que a dose diária dratos, são usados pela engenharia
em presença de outros microorga- recomendada é de 108-109 células alimentar em alimentos funcionais
nismos, recomenda-se a produção viáveis, realizável pela ingestão de ou ingredientes alimentares não
das estirpes selecionadas em larga 100g de produto fermentado conten- digeríveis que podem beneficiar o
escala, sendo que tal produção deve do 106-107 células viáveis/ml. hospedeiro no sentido de estimular,
decorrer sob condições processuais A viabilidade depende de múl- seletivamente, o crescimento e/ou
pautadas por elevados padrões de tiplos fatores, por exemplo o pH a atividade de uma ou um número

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Probióticos & Prebióticos
limitado de espécies bacterianas no dieta, mas não são excluídos desta de- prebióticos mais comumente usados
cólon. Os prebióticos podem apresen- finição os não-carboidratos. Segundo no mercado. Outros oligossacarídeos
tar as seguintes características: os cientistas “… qualquer antibiótico prebióticos promissores atualmente
- não sofrem hidrólise ou absorção que reduz o número de bactérias po- estudados pelo mercado alimentí-
no intestino delgado; tencialmente prejudiciais e favorece cio são: os galactooligossacarídeos
- alteram a microflora colônica a proliferação de bactérias que pro- (GOS), os isomaltooligossacarídeos
para uma microflora bacteriana sau- movem a saúde pode ser considerado (IOS), os xiloolgossacarídeos (XOS),
dável, induzindo efeitos favoráveis à um prebiótico”. Embora esta defini- os oligossacarídeos de soja e a lacto-
saúde. ção não se refira a nenhum grupo de sacarose.
Comparados com os probióticos, bactérias em particular, para serem Parece existir um consenso geral
que introduzem bactérias exógenas prebióticos devem estimular de com relação aos efeitos benéficos dos
para o lúmen, os prebióticos estimu- forma seletiva grupos bacterianos, prebióticos, os quais apontam para a
lam o crescimento preferencial de um tais como bifidobactéria, lactobacilos influência favorável sobre o intestino
número limitado de bactérias, espe- e eubactéria, residentes no cólon. delgado, pela melhoria na digestão e
cialmente, mas não exclusivamente, Estes grupos são considerados como absorção dos açúcares, do metabolis-
Lactobacillus e Bifidobacterium. particularmente benéficos para o mo da glicose e dos lipídios, além de
De todos os prebióticos disponíveis, hospedeiro humano. uma proteção contra os conhecidos
os únicos que possuem estudos para Os SCC (Short-Chain Carbo- fatores de risco de doenças cardio-
serem classificados como componen- hydrates) e LDC (Low-Digestable vasculares. Na região do cólon, a pro-
tes ativos de alimentos funcionais Carbohydrates) apresentam possibi- dução fermentativa de ácidos graxos
são os frutooligossacarídeos (FOS) lidades interessantes de inclusão em de cadeia curta é considerada como
e a inulina. produtos alimentícios convencionais a principal característica benéfica
As principais fontes de inulina por seus efeitos “bifidogênicos”. Atu- relacionada à prevenção primária de
e oligofrutose empregadas na in- almente, vários produtos, candidatos câncer coloretal.
dústria de alimentos são a chicória a prebióticos, estão sendo estudados Outros benefícios confirmados
(Cichorium intybus) e a alcachofra de pela indústria alimentícia. A inulina dos prebióticos estão relacionados
Jerusalém (Helianthus tuberosus). A e os frutooligossacarídeos (FOS) são ao baixo valor de energia (menor do
inulina, a oligofrutose e os FOS são considerados como “fatores bifidogê- que 9 Kj/g), resultante de sua não-di-
entidades quimicamente similares, nicos” típicos e são provavelmente os gestibilidade, ao aumento de volume
com as mesmas propriedades nutri-
cionais; a única diferença é o grau de
polimerização, ou seja, o número de
unidades individuais de monossacarí-
deos que compõem a molécula.
Devido a sua estrutura, os prebi-
óticos são fermentados no cólon por
bactérias endógenas para substratos
metabólicos e energéticos e promo-
vem melhoria das funções intestinais
por meio do estímulo ao crescimento
de bactérias benéficas, resultando em
efeitos específicos sobre a fisiologia
gastrintestinal, biodisponibilidade
de minerais, sistema imune, gênese
de tumores e regulação do colesterol
sérico.
Alguns autores têm sugerido uma
dose de 4-20 g/dia, mas ainda não
existe uma dose recomendada. Dado
seu potencial osmótico e excessiva
fermentação, alguns efeitos colate-
rais são flatulência, dor ou mal estar
abdominal e diarréia.
Os principais prebióticos são os
Fonte: Probióticos e prebióticos: o estado da arte, Susana Marta Isay Saad, Departamento de Tecnologia
carboidratos mais resistentes da Bioquímico-Farmacêutica, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo

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Probióticos & Prebióticos
não são fermentados. Quando fer-
mentados pela microbiota endógena,
o que ocorre no local em que exercem
o efeito prebiótico, aumentam a pro-
dução de gás. Portanto, os prebióticos
apresentam o risco teórico de aumen-
tar a diarréia em alguns casos (devido
ao efeito osmótico) e de serem pouco
tolerados por pacientes com síndrome
do intestino irritável. Entretanto, a
tolerância de baixas doses de pre-
bióticos é geralmente excelente. Os
probióticos, por outro lado, não apre-
sentam esse inconveniente teórico e
têm sido efetivos na prevenção e no
alívio de diversos episódios clínicos
envolvendo diarréia.

Conclusão
Uma microbiota intestinal saudá-
vel e microecologicamente equilibra-
da resulta em um desempenho normal
das funções fisiológicas do hospedei-
ro, o que irá assegurar melhoria na
Fonte: Probióticos e prebióticos: o estado da arte, Susana Marta Isay Saad, Departamento de Tecnologia qualidade de vida do indivíduo. Este
Bioquímico-Farmacêutica, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo
resultado é de suma importância,
particularmente nos dias de hoje, em
do bolo fecal, a modulação da flora metabolismo lipídico, a modulação da que a expectativa de vida aumenta
colônica pelo estímulo das bactérias composição da microbiota intestinal, exponencialmente. O papel direto dos
benéficas (bifidobactéria, lactobacilos a qual exerce um papel primordial na microrganismos probióticos e indireto
e eubactéria), a inibição das bactérias fisiologia gastrintestinal, e a redução dos ingredientes prebióticos, no senti-
indesejáveis (clostrídios e bacte- do risco de câncer de cólon. Diversos do de propiciar, no campo da nutrição
róides), e resistência a colonização estudos experimentais mostraram a preventiva, essa microbiota intestinal
pelo Clostridium difficile. Alguns aplicação da inulina e da oligofrutose saudável e equilibrada ao hospedeiro,
dos efeitos postulados que ainda não como fatores bifidogênicos, ou seja, já está bem estabelecido. O efeito dos
tiveram uma confirmação final são a que estimulam a predominância microrganismos probióticos e dos
prevenção de infecções intestinais, de bifidobactérias no cólon. Con- ingredientes prebióticos pode ser
a modulação da resposta imune, a seqüentemente, há um estímulo do potencializado, através de sua asso-
prevenção de câncer coloretal, a sistema imunológico do hospedeiro, ciação, dando origem aos alimentos
redução do nível de colesterol sérico uma redução nos níveis de bactérias funcionais simbióticos. Apenas uma
e a melhora da biodisponibilidade. pequena fração dos mecanismos para
patogênicas no intestino, um alívio
a ocorrência dos efeitos probióticos e
A despeito das fortes indicações do da constipação, e uma diminuição do
prebióticos foi elucidada. Entretanto,
papel positivo dos LDC (Low-Diges- risco de osteoporose resultante da ab-
estudos nesse sentido são cada vez
table Carbohydrates) na manutenção sorção diminuída de minerais, parti-
mais intensos. Melhor compreensão
do trato gastrintestinal humano, o cularmente o cálcio. Adicionalmente,
sobre a interação entre os compos-
assunto não está totalmente escla- haveria uma redução do risco de ar-
tos vegetais não-digeríveis, seus
recido e ainda requer maior atenção teriosclerose, através da diminuição metabólitos intestinais, a microbiota
e pesquisas. na síntese de triglicérides e ácidos intestinal e o hospedeiro abrirá novas
graxos no fígado e diminuição do nível possibilidades de produzir novos in-
Propriedades benéficas à saúde desses compostos no sangue. gredientes para produtos alimentícios
Alguns efeitos atribuídos aos Assim como ocorre no caso de nutricionalmente otimizados que
prebióticos são a modulação de outros carboidratos não-digeríveis, os promovem a saúde do hospedeiro,
funções fisiológicas chaves, como a prebióticos exercem um efeito osmóti- através de reações microbianas no
absorção de cálcio e, possivelmente, o co no trato gastrintestinal, enquanto intestino. 

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