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2.1 Saliva
A saliva é provavelmente um dos reguladores mais importantes da microbiota
bucal. Não somente varia com a idade e o estado da doença, mas o ritmo do fluxo e a
composição demonstram variações diurnas, que por sua vez afetam os números e
a composição da flora. O fluxo salivar é maior quando o indivíduo acorda, devido a
estímulos repetidos, e a composição varia com a secreção. A osmolaridade aumenta
com a secreção, assim como os níveis de bicarbonato e do pH, uma vez que a amônia,
a ureia e a concentração de tiocianato antimicrobiano variam inversamente com o
ritmo do fluxo. Outros componentes dependentes do fluxo, componentes que
continuam constantes, e fatores dietéticos afetam o número e a proporção dos
organismos presentes. A xerostomia causada por drogas; condições locais, tais
como doença de glândula salivar e irradiação; e doenças sistêmicas, tal como infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) podem afetar profundamente a flora e as
doenças que resultam da flora oral.
Composição
A saliva, com sua complexa composição, serve como um meio para os
microrganismos orais; assim suas variações ajudam a regular a microbiota. Os
conteúdos minerais e iônicos afetam a capacidade tampão, o pH, e o Eh e regulam a
atividade das enzimas. Os meios gasosos regulam a sobrevida e o crescimento de
vários microrganismos. O Eh determina se predominam os organismos anaeróbicos, os
aeróbios ou os facultativos.
Fator Chave
O pH é um fator chave no estabelecimento e na manutenção da flora, e até
mudanças transitórias podem afetar a presença de um organismo. A placa, com pH
geralmente ácido, pode ser um depósito natural de Helicobacter pylori, servindo como
fonte para a reinfecção do intestino. Todavia, a H. pylori pode ser transitória e
associada ao refluxo gástrico.
Componentes orgânicos
Os componentes orgânicos incluem proteínas, aminoácidos, vitaminas e
carboidratos derivados do plasma, secreções das glândulas salivares, produtos
metabólicos ou de degradação bacteriana e a dieta do hospedeiro. Eles servem
diretamente como nutrientes microbianos, facilitando o crescimento de alguns
organismos, enquanto inibem outros. Os conteúdos aminoácidos livres variam em
quantidade e composição. A alanina, a serina e a glicina estão regularmente presentes,
uma vez que outras podem ou não estar presentes.
Aminoácidos
Os aminoácidos servem como nutrientes para as bactérias, e aqueles na saliva
podem proporcionar nutrição adequada para o crescimento de alguns microrganismos.
Algumas proteínas têm atividade enzimática, proporcionando nutrientes, tais como
açucares para os microrganismos, ou inibindo os microrganismos (p.ex.,
lactoperoxidase).
Glicoproteínas
As glicoproteínas são os principais componentes da saliva. Elas dão viscosidade e
influenciam a aderência e a agregação dos organismos. Outras influenciam a
capacidade dos organismos de se aderirem a superfícies ou a outras bactérias. As
imunoglobulinas (Igs) são um grupo importante de glicoproteínas que cumprem uma
função defensiva. Estudos têm mostrado que, em humanos saudáveis, o ritmo de fluxo
salivar, conteúdo de proteína e níveis de Ig não muda com a idade, mas a atividade
opsônica diminui significativamente, possivelmente afetando a capacidade dos
indivíduos de lidar com bactérias anormais.
Os carboidratos salivares que produzem um grande efeito na microbiota oral são
aqueles derivados da dieta do hospedeiro, porque as quantidades secretadas na saliva
são baixas e provavelmente insuficientes para sustentar crescimento microbiano ótimo.
3.1 Estreptococos
Os estreptococos facultativos formam o mais numeroso grupo de organismos da
cavidade oral. Embora as porcentagens atuais variem entre os locais, os estreptococos
representam cerca de metade da contagem viável da saliva e do dorso da língua, e um
quarto da contagem da placa bacteriana e do sulco gengival. Os estreptococos orais
mais abundantes são membros do grupo viridans, o qual tem sido classificado por
muitos métodos. Os estreptococos viridans carecem de muitas características que
distinguem outros patógenos estreptocócicos importantes. As caraterísticas hemolíticas
são parâmetros importantes para a classificação dos estreptococos. Realmente, as
bases originais para a categoria dos estreptococos viridans foram suas alfa-hemólises.
Entretanto, de acordo com os métodos recentes, alguns estreptococos, que são alfa,
beta, ou gama-hemolíticos, algumas vezes, podem estar incluídos com os
estreptococos viridans.
Os estreptococos viridans previnem a colonização da cavidade oral por
serem mais agressivos do que os outros organismos. Eles competem por locais de
união na mucosa e produzem as bacteriocinas, que exercem um efeito bactericida em
alguns competidores. Os estreptococos viridans são geralmente de baixa virulência,
mas causam sérias infecções quando a mucosa oral é rompida, os mecanismos de
defesa do hospedeiro estão comprometidos ou ocorre uma combinação destas
condições. Pouco é conhecido sobre os mecanismos patogênicos dos
estreptococos viridans. Eles podem produzir algumas exotoxinas e enzimas líticas,
ativar complemento, induzir a produção de citocinas ou executar várias destas ações.
Os estreptococos orais podem explicar a maior proporção de microrganismos
associados à endocardite bacteriana, especialmente em indivíduos com próteses
valvares. Os mais comuns isolados são S. mitis, S.oralis, S. sanguis e S. gordonii.
Frequentemente, os S. anginosus, S. constellatus e S. intermedius são isolados de
infecções purulentas, especialmente em abscessos localizados profundamente. Os
estreptococos do grupo mutans tendem a se colonizar em dentes e estão associados à
cárie dentária.
Além da sua participação em abscessos e na endocardite em pessoas
primariamente saudáveis, os estreptococos orais são importantes nas infecções de
indivíduos imunocomprometidos e neutropênicos. A mucosite oral, frequentemente
relatada à quimioterapia para câncer, pode predispor pacientes a tais infecções. A
característica inicial da septicemia por S. viridans é a febre, que pode persistir por
muitos dias, mesmo depois que os organismos cultiváveis sejam esclarecidos no
sangue. A maioria dos pacientes se recupera, embora o choque séptico
fulminante possa ocorrer.
3.6 Espiroquetas
A estrutura básica da espiroqueta é um cilindro helicoidal, consistindo em
citoplasma anexado a uma membrana e circundado por uma fina camada de
peptideoglicanas, que permite que o microrganismo se dobre. As espiroquetas também
têm uma ou mais fibrilas provavelmente associadas à motilidade. As espiroquetas
variam em comprimento, espessura, número e amplitude dos helicoides.
Dos quatro gêneros da família Spirochaetaceae, somente dois, o Treponema e
o Borrelia, parecem ser patogênicos para os humanos. Os membros dos
gêneros Treponema geralmente produzem lesões teciduais locais. Estão incluídos
os agentes que causam a sífilis, a franbósia, a pinta e as espiroquetas orais. Os
organismos do gênero Borrelia incluem os agentes causadores da doença de Lyme e a
febre recidivante em humanos.
Habitat
As espiroquetas comumente habitam a cavidade bucal e podem invadir o tecido
conjuntivo ou o epitélio intacto em locais doentes. A maioria das espiroquetas
pertencem ao gênero Treponema. Sete espécies de Treponema têm sido
cultivadas: denticola, pectinovorum, socranskii, vicentii, maltophilum, medium,
amylovorum. Algumas outras têm sido cultivadas, mas não nomeadas e existem
numerosas espécies não cultivadas.
Microscopia
Os treponemas são observados melhor com microscopia de campo escuro ou em
fase de contraste por causa do seu tamanho e resistência à coloração. Onde
cultiváveis, eles são de crescimento lento e requerem condições anaeróbias e o meio
geralmente requer enriquecimento com sangue, soro ou líquido ascético. As
espiroquetas quase sempre estão presentes na cavidade oral de adultos saudáveis e
acham condições bastante favoráveis nas bolsas periodontais.
Patogenicidade
A patogenicidade das espiroquetas bucais não é clara, porque a separação de
seus efeitos daqueles de outras bactérias com as quais elas são frequentemente
encontradas, em especial as fusiformes, é difícil; os dois tipos frequentemente são
encontrados juntos nas lesões. Uma variedade de fatores de virulência potenciais tem
sido identificada, incluindo fatores citotóxicos, proteases, hemolisina e mecanismos
imunorreguladores. As culturas puras de espiroquetas orais não causam infecções
transmissíveis características, como ocorre quando populações mistas de espiroquetas
e outras bactérias orais são inoculadas.
As lesões observadas incluem gengivite ulcerativa necrosante aguda, lesões do
trato respiratório superior e noma, uma estomatite gangrenosa difusa que pode se
desenvolver em crianças com desnutrição ou doença debilitante.
3.7 Micoplasma
Os micoplasmas são pequenas bactérias que não têm uma parede celular rígida,
causando-lhes o aparecimento, principalmente, de todos ou formas cocóides. A maioria
é de anaeróbicos facultativos, embora tendam a crescer sob condições aeróbias.
Embora a infecção mais comum em humanos seja a pneumonia causada
pelo Mycoplasma pneumoniae, outras espécies são encontradas na cavidade oral,
incluindo M. salivarium e M. penetrans. Os M. penetrans são de particular interesse,
por ter sido demonstrado que aumentam a citotoxicidade do HIV.
3.9 Vírus
Com a exceção do vírus do herpes simples e do citomegalovírus, vírus parecem
ser transitórios no meio oral. A infecção pelo vírus do herpes simples está presente
numa grande proporção da população, frequentemente em forma latente. Sua
característica recorrente e a persistência de anticorpos significante de título indicam
que ele persiste durante toda vida, mesmo na forma latente no gânglio trigeminal ou
no estágio infeccioso na cavidade oral durante episódios agudos. Os vírus podem ser
isolados da saliva de indivíduos até 2 meses após a melhora da exacerbação aguda da
doença e de uma pequena porcentagem em adultos que não manifestam sintomas.
O citomegalovírus infecta vários tecidos, incluindo as glândulas salivares. Eles
também foram detectados em bolsas periodontais profundas de adultos e crianças,
sugerindo a capacidade de se reproduzir nos tecidos periodontais. As infecções em
crianças podem ser assintomáticas ou produzir icterícia, enterite e distúrbios do
sistema nervoso central. Se a mãe de uma criança foi infectada durante a gravidez,
esta pode ser manifestada como um defeito congênito. Em adultos, a infecção pode
ser assintomática ou produzir uma doença similar à mononucleose. Porque o vírus tem
sido isolado dos tecidos, tal como adenoide de pessoas aparentemente saudáveis, é
provável que esteja presente na saliva de portadores saudáveis assintomáticos.