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LEGISLAÇÃO DE
ALIMENTOS
Ivonilce Venturi
Contaminação, deterioração
e preservação de alimentos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Todos os alimentos devem estar seguros e isentos de contaminação
e deterioração em todos os pontos de sua jornada, desde a produção
até o consumidor final. No entanto, a contaminação alimentar é um
grave problema de saúde pública, resultando nas doenças transmitidas
por alimentos (DTAs) que afetam muitas pessoas, em todos os países,
todos os anos. Já a deterioração dos alimentos, diferententemente da
contaminação, não causa doenças, porém causa muitas perdas para o
produtor, o comerciante e o consumidor.
Os alimentos perecíveis, como frutas, legumes, leite, carnes e peixes,
deterioram-se ou contaminam-se facilmente, de modo que quantidades
consideráveis desses alimentos são desperdiçadas em vários estágios
da cadeia de suprimento de alimentos, a menos que métodos especiais
sejam aplicados para a sua preservação.
Para garantir que não haja deterioração ou contaminação dos ali-
mentos, são utilizados diversos métodos que impedem ou retardam o
crescimento de microrganismos. A preservação de alimentos é uma das
tecnologias mais antigas usadas pela humanidade e envolve os processos
nos quais os alimentos in natura e perecíveis recebem tratamento físico
ou químico adequados para evitar sua deterioração e manter seu valor
nutritivo por longos períodos.
2 Contaminação, deterioração e preservação de alimentos
As DTAs podem ser divididas em duas classes principais: infecção alimentar e intoxica-
ção alimentar. A infecção alimentar ocorre quando os alimentos contaminados com
bactérias patogênicas, invasivas e intoxicantes são consumidos. Essas bactérias então
proliferam no corpo humano e eventualmente causam doenças. A intoxicação alimentar
ocorre após a ingestão de substâncias tóxicas pré-formadas que se acumulam durante
o crescimento de certos tipos bacterianos nos alimentos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Bactérias
As bactérias são os microrganismos mais importantes para os serviços de
alimentação coletiva. Muitas são inofensivas, outras indicam a provável pre-
sença de sujeira, causam deterioração e algumas causam doenças. Existem
milhares de espécies de bactérias, mas todas são unicelulares e se dividem
em três formas básicas: esféricas, hastes retas e hastes em espiral. Todas as
bactérias se reproduzem dividindo-se em duas células. As duas células se di-
videm para se tornar 4, 4 se tornam 8 e assim por diante. Sob condições ideais,
essa duplicação pode ocorrer tão frequentemente quanto a cada 15 minutos,
para que, dentro de 5 horas, haja mais de 1 milhão de células da célula única
original. Se houver 1.000 células originais em vez de uma única, haverá mais
de 1 bilhão de células em 5 horas (FORSYTHE, 2013).
Algumas bactérias em forma de bastonete são capazes de existir em duas
formas: esporos adormecidos e células vegetativas ativas. As células vegeta-
tivas formam esporos em condições adversas como meio de sobrevivência,
preservando as bactérias da falta de substratos, desidratação, congelamento,
produtos químicos e calor. Quando as condições se tornam favoráveis, os
esporos germinam, com cada esporo novamente se tornando uma célula vege-
Contaminação, deterioração e preservação de alimentos 5
Vírus
Os vírus são microrganismos muito pequenos compostos de um genoma de
DNA ou RNA dentro de uma camada de proteína. Ao contrário de bactérias,
leveduras e fungos, os vírus são incapazes de se reproduzir independentemente.
Em vez disso, eles devem primeiro invadir as células de outro organismo vivo
chamado hospedeiro antes que possam se multiplicar. No entanto, muitos vírus
mostram uma alta resistência ao calor, à desidratação, ao congelamento, à luz
UV, etc. e podem sobreviver por longos períodos de tempo nos alimentos ou
no ambiente (THE EUROPEAN FOOD INFORMATION COUNCIL, 2014).
A maioria das infecções virais ocorre em razão do contato humano com
humano, sendo a transmissão de alimentos um risco menor no contexto geral.
Vamos conhecer alguns dos principais microrganismos envolvidos na
contaminação de alimentos.
6 Contaminação, deterioração e preservação de alimentos
Clostridium perfringens
Clostridium botulinum
Listeria monocytogenes
Escherichia coli
A Escherichia coli é uma bactéria que pode ser encontrada no intestino das
pessoas e de muitos animais, principalmente bovinos e ovinos, e pode entrar
no solo, na água e nos alimentos por meio das fezes. Os alimentos comuns
que podem ser contaminados com E. coli patogênica incluem carne crua
ou malcozida (especialmente carne moída e salame), produtos lácteos não
pasteurizados e alimentos frescos como verduras e brotos de alfafa e bambu.
A E. coli e seus sintomas podem ser classificados em:
Bacillus cereus
Salmonella
Staphylococcus aureus
Os alimentos mais comuns nos quais são encontrados os St. aureus incluem
carnes vermelhas, especialmente saladas de presunto, frango, batata, macarrão
e atum, creme e produtos de panificação recheados com creme e molhos para
sanduíches (GERMANO, P.; GERMANO, M., 2011).
As intoxicações humanas são causadas pela ingestão de enterotoxinas
produzidas nos alimentos por algumas cepas de St. aureus, em geral porque
o alimento não foi mantido quente (60º C ou mais) ou frio o suficiente (7,2 ºC
ou menos) (FORSYTHE, 2013).
Os sintomas têm início repentino e incluem náusea e vômitos, cólicas
abdominais e diarreia.
Norovírus
Aspergillus
Atividade Temperatura
Microrganismo Faixa de pH
e água (ºC)
A deterioração pode ocorrer pelas ações biológica, química e física de maneira conjunta.
Por exemplo, bactérias, insetos e luz, todos podem operar simultaneamente para
estragar os alimentos no campo ou em um armazém. Da mesma forma, calor, umidade
e ar ao mesmo tempo afetam a multiplicação e a atividade de bactérias e atividades
químicas nos alimentos (RAWAT, 2015).
Acesse a revista Food Ingredients Brasil, disponível no link a seguir, e leia o artigo “Os
tipos e os efeitos da rancidez oxidativa em alimentos”.
https://qrgo.page.link/9YiQ6
Branqueamento
congelamento. Além disso, ela serve para amolecer e inchar os tecidos vegetais
e amolecer a sua pele eliminando quase a totalidade de gases contidos no
alimento. Outra vantagem é que essa técnica preserva as cores dos alimentos.
Os alimentos mais comuns que passam pelo processo de branqueamento são
milho, tomates, verduras, beterraba e batatas (DOMENE, 2011).
O alimento é colocado em uma máquina contendo um tambor no qual
circula água quente ou vapor, o que fará com que o alimento seja cozido.
Após esse processo, o alimento é tratado por corrente de ar frio para impedir
o cozimento demasiado. Então, o alimento pode ser congelado sem perder as
suas características sensoriais (DOMENE, 2011).
Conservas (enlatamento)
Pasteurização
A pasteurização é uma técnica criada por Pasteur em 1864, que tem por objetivo
o extermínio da flora normal e a eliminação total da flora microbiana patogê-
nica. A temperatura empregada não ultrapassa 100 ºC e pode ser obtida por
água quente, por calor seco, vapor, corrente elétrica e por radiação ionizante.
É uma tecnologia muito difundida e seu custo é relativamente baixo, porém,
requer a combinação de processos para aumentar o tempo de prateleira como
o uso de refrigeração e/ou aditivos e embalagens e também pode alterar o
sabor ou a cor do alimento (ORDÓÑEZ, 2005).
18 Contaminação, deterioração e preservação de alimentos
Os alimentos que mais comumente passam por essa técnica são leite, vinho,
suco de frutas, creme de leite, geleias, doces em pasta e sorvetes.
Existem dois tipos de pasteurização:
Esterilização
Refrigeração
Esse processo utiliza temperaturas entre –1ºC a 10ºC, portanto, não há este-
rilização ocorrendo, apenas a bacteriostase, ou seja, a inativação da atividade
enzimática dos alimentos e da taxa de crescimento dos microrganismos.
Algumas espécies patogênicas, como Clostridium botulinum ou Listeria
monocytogenes, podem crescer a temperaturas de refrigeração (DIONYSIO;
MEIRELLES, 2003).
O refrigerador mecânico é o aparelho mais utilizado para essa finalidade,
mas também pode-se utilizar gelo em escamas, seco ou britado. Exemplos
de alimentos que devem ser refrigerados são carnes, aves, ovos, peixe, leite
fresco e produtos lácteos, frutas e legumes que podem ser preservados por 2
a 7 dias sob refrigeração (GAVA; SILVA; FRIAS, 2008).
Congelamento
Secagem/desidratação
Acesse o link a seguir e assista a uma animação com orientações sobre o processo de
desidratação de frutas, produzida pela Embrapa Agroindústria de Alimentos.
https://qrgo.page.link/BEpC1
Contaminação, deterioração e preservação de alimentos 21
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nisms, impacts and prevention. International Journal of Scientific & Technology Research,
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DIONYSIO, R. B.; MEIRELLES, F. V. Conservação de alimentos. [S. l.], 2003. Disponível em:
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DOMENE, S. M. A. Técnica dietética: teoria e aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara
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