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Unidade II
5 DETERIORAÇÃO DE ALIMENTOS
• Alimentos estáveis ou não perecíveis: não são alterados facilmente (açúcar, farinha).
Na maior parte dos casos, ocorrem alterações profundas nos alimentos, mas as mudanças, no
início da alteração, não são capazes de impedir o consumo apesar de reduzir a qualidade do produto e
representar um sinal de alerta quanto à presença de um perigo significativo. De toda forma, alimentos
alterados podem ser sanitariamente admissíveis apesar de não estarem aptos para o consumo. A decisão
sobre um alimento no comércio estar ou não alterado exige experiência do profissional técnico da área
da saúde.
Compostos nitrogenados
Alguns compostos são utilizados pelos microrganismos para a obtenção de energia, como
carboidratos, ácidos orgânicos, aldeídos, cetonas, álcoois, glicosídeos, compostos cíclicos e lipídios.
Carboidratos
São os preferidos pelos microrganismos. Os di, oligo e polissacarídeos devem ser hidrolisados por
enzimas a substâncias mais simples, como os monossacarídeos (glicose, por exemplo).
— Fermentação por coliformes: ácido láctico, ácido acético, ácido fórmico, etanol, acetona,
butanodiol, H2, CO2.
— Fermentação propiônica por bactérias propiônicas: ácido propiônico, ácido succínico, ácido
acético e CO2.
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Alteram cor, textura, odor, sabor, geram manchas, causam exsudações etc. Exemplos:
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Unidade II
Ao lado das atividades bacterianas, existe um fator tão importante quanto o bacteriológico
na tecnologia dos alimentos, que é a atividade enzimática ou diástase, que são proteínas de
origem orgânica, sem vida própria e que agem como catalisadores. As enzimas são produzidas
principalmente por bactérias e glândulas de secreção de seres superiores e sua ação é específica
para cada tipo de reação.
Crescem em temperaturas de 0 ºC, mas sua temperatura ótima está em torno de 20‑30 ºC (mesófilos).
• Listeria monocytogenes.
• Vibrio cholerae.
• Yersinia enterocolitica.
• Aeromonas hydrophila.
Pseudomonas
• Bastonetes pequenos.
• Gram‑negativas.
• Não esporulados.
• Aeróbios estritos.
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Geralmente, produzem pigmentos solúveis em água, que podem apresentar fluorescência sob luz
UV. Algumas espécies de Pseudomonas são importantes agentes de doenças em plantas e no homem,
como P. maltophilia, P. syringae, P. aeruginosa, P. cepacia e P. cocovenenans.
A propriedade fisiológica mais notável dessas bactérias é a faixa muito ampla de compostos orgânicos
diferentes que podem utilizar como fontes de carbono e energia. Dentre esses compostos estão álcoois,
ácidos, aminoácidos, carboidratos e compostos cíclicos. Essa extraordinária versatilidade metabólica exige
diversas enzimas especiais. Algumas espécies apresentam temperatura ótima de crescimento entre 20 ºC e
25 ºC (são psicrófilas), e a 55 ºC são destruídas. Geralmente, metabolizam hexoses (carboidratos) através da
via Entner‑Doudoroff, a qual é bem difundida entre as bactérias, principalmente as gram‑negativas, e rara
ou inexistente entre os anaeróbios.
A degradação aeróbica dos substratos gera CO2, como produto principal ou único, e ocorre pelo ciclo
de Krebs (ciclo do ácido tricarboxílico). Para que ocorra a oxidação dos inúmeros substratos, é verificada
a presença de inúmeras rotas metabólicas especiais, que convergem para o ciclo de Krebs.
• Apresentam a capacidade para atacar várias substâncias nos peixes para produzir compostos
associados com mau cheiro (metil‑mercaptano, dimetil sulfito, dimetil sulfeto, dimetilamina,
3‑metil butanol).
No início, o peixe fresco possui flora, cor e textura características, com predominância de Flavobacteria.
Durante a refrigeração, as Pseudomonas crescem facilmente. Após 9‑10 dias de estocagem, 60% a 90%
da população é de Pseudomonas. Em peixe fresco, a P. fragi está em baixa porcentagem, porém, com
12 a 15 dias de estocagem, essa espécie é responsável por 20‑50% do total da flora contaminante.
As Pseudomonas são um dos gêneros predominantes em carnes de aves, ao lado de Flavobacterium e
Micrococcus. Após a refrigeração, 90% a 95% da microflora é de Pseudomonas. Frango com população
de 108 células/g já apresenta mau cheiro.
No leite, a proteólise sob refrigeração é iniciada por Pseudomonas. A P. fragi produz uma lipase
termoestável que suporta a pasteurização quando presente no leite cru.
Nos ovos, a P. fluorescens e a P. ovalis produzem pigmentos fluorescentes. Fazem parte da flora
causadora da deterioração, mesmo sob condições de estocagem refrigerada.
• Problemas químicos, particularmente a corrosão interna das latas, com liberação de hidrogênio e
consequente estufamento destas.
Exemplo de aplicação
Quer visualizar a deterioração dos alimentos (CASSANTI et al., 2008)? Então, mãos à obra
neste experimento!
Materiais
• Açúcar
• Amido de milho
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• Filme plástico
• Leite
• Óleo de cozinha
• Vinagre
Procedimentos
• Prepare um mingau. Para isso, coloque sob o fogo uma colher de sopa de açúcar, três colheres de
sopa de amido de milho e um copo de leite.
• Divida a quantidade de mingau feita em 15 copos plásticos. Três dos copos serão o controle, ou
seja, eles ficarão à temperatura ambiente. Os outros serão submetidos a diferentes tratamentos:
geladeira, com adição de óleo, com adição de vinagre e tampado com filme plástico.
A observação dos resultados deve ser feita durante, aproximadamente, cinco dias.
Espera‑se que em todos os copos, com exceção do que foi guardado na geladeira, ocorra grande
proliferação de microrganismos. Poderão ser observados, principalmente, os fungos.
1 2 3 4 5
Figura 26 – Resultados do experimento: 1) aberto a temperatura ambiente; 2) coberto com filme plástico
a temperatura ambiente; 3) com óleo; 4) com vinagre; 5) colocado na geladeira sem cobertura
Desde os tempos históricos mais remotos, os microrganismos são utilizados para produzir alimentos.
Os processos microbianos causam alterações nos alimentos que lhes conferem mais resistência à
deterioração ou algumas características organolépticas (sabor, textura) mais desejáveis. Nesse grupo,
estão todos os microrganismos utilizados na fabricação de alimentos fermentados, como queijo, vinhos,
pães, iogurtes, manteiga etc.
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Unidade II
• Produção de ácidos orgânicos: ácido acético (vinagre) por bactérias acéticas, como Acetobacter;
ácido láctico por bactérias lácticas; ácido propiônico por bactérias propiônicas; ácido cítrico; ácido
glucônico; ácido fumárico; ácidos giberélicos.
• Produção de enzimas.
• Produção de antibióticos.
• Produção de solventes.
• Produção de polissacarídeos.
• Produção de lipídios.
• Produção de alimentos por fermentação láctica, como picles, azeitona, queijo, chucrute, iogurte.
• Produção de inseticidas.
• Produção de vacinas.
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Muitos microrganismos são utilizados pela indústria para produzir grande diversidade de alimentos
e outras substâncias. Alguns exemplos são listados a seguir:
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Unidade II
Picles Pepinos
Lactobacillus sp. Bacilos, Gram+
Pediococcus sp. Cocos, Gram+
Leite fermentado Leite L. acidophilus Bacilos, Gram+
Pão Farinha Saccharomyces cerevisiae Levedura
Ricota Leite pasteurizado L. bulgaricus Bacilos, Gram+
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Após a água, o álcool é o solvente mais comum, além de representar a matéria‑prima de maior uso em
laboratórios e na indústria química. Na biossíntese do etanol, são empregadas linhagens selecionadas de
Saccharomyces cerevisiae, que realizam a fermentação alcoólica, a partir de um carboidrato fermentável.
É muito importante que a cultura de levedura possua um crescimento vigoroso e uma elevada tolerância
ao etanol, apresentando, assim, à fermentação um maior rendimento final. O etanol é inibidor em
altas concentrações, e a tolerância das leveduras é um ponto crítico para uma produção elevada dessa
substância. A tolerância ao etanol varia consideravelmente de acordo com as linhagens de leveduras.
De modo geral, o crescimento cessa quando a produção atinge 5% de etanol (v/v), e a taxa de produção
é reduzida a zero na concentração de 6% a 10% de etanol (v/v).
O etanol pode ser produzido a partir de qualquer carboidrato fermentável pela levedura, como
sacarose, sucos de frutas, milho, melaço, beterrabas, batatas, malte, cevada, aveia, centeio, arroz, sorgo,
mas é necessário hidrolisar os carboidratos complexos em açúcares simples fermentáveis, pelo uso de
enzimas da cevada ou fúngicas, ou ainda pelo tratamento térmico do material acidificado. Material
celulósico, como madeira e resíduos da fabricação da pasta de papel, podem ser utilizados.
A produção de etanol é iniciada aerobicamente para produzir o máximo de biomassa. De modo geral,
o processo envolve as seguintes etapas: preparo do substrato, correção do mosto, preparo do inóculo,
fermentação e destilação.
• Formam ácidos por oxidação incompleta de açúcares ou álcoois: o acetaldeído é formado por
oxidação ou é convertido a ácido acético; 75% do acetaldeído é convertido em ácido acético e os
outros 25% em etanol.
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Unidade II
• São razoavelmente tolerantes a condições ácidas. Suportam pH < 4,0 (pH ótimo em torno de
5,0 a 6,0).
• A motilidade é limitada e não são pigmentadas (com exceção de Gluconobacter oxydans, que
produz um pigmento marrom).
Elas são contaminantes indesejáveis na fabricação de vinhos. Junto com as leveduras e as bactérias
lácticas, as bactérias acéticas têm sido frequentemente citadas como deteriorantes na indústria de
bebidas. O tipo de deterioração inclui sabores desagradáveis, crescimento limoso e formação de gás.
O acúmulo do ácido cítrico por alguns fungos foi descoberto por volta de 1893 quando Wehmer
descobriu que o Citromyces (hoje identificado como Penicillium sp.) e o Mucor possuíam a capacidade
de acumular esse ácido durante seu cultivo. Atualmente, a fermentação industrial para a produção do
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
citrato é conduzida utilizando uma única espécie de fungo, o Aspergillus niger. A levedura oxidativa
Saccharomycopsis (Candida) tem apresentado características importantes nesse processo.
Emprego do citrato
Cerca de 70% da produção é utilizada pela indústria de alimentos e bebidas; 12% pela indústria
farmacêutica e 18% por outras indústrias. Na indústria de alimentos, o citrato é usado em larga escala
como acidulante, por apresentar sabor agradável, baixíssima toxicidade e alta solubilidade. Além disso,
esse ácido tem capacidade de complexação com metais pesados, como o ferro e o cobre. Essa propriedade
tem conduzido a crescente utilização como estabilizante de óleos e gorduras para reduzir sua oxidação
catalisada por esses metais. Essa propriedade, aliada ao baixo grau de corrosividade a certos metais, tem
permitido seu uso na limpeza de caldeiras e instalações especiais. Na indústria farmacêutica, o ácido
cítrico é usado como estabilizante de ácido ascórbico por causa de sua ação quelante. Nos antiácidos e
analgésicos efervescentes, o ácido cítrico é usado junto com carbonatos e bicarbonatos para gerar CO2.
Sais de citrato, como citrato trissódico e citrato tripotássico, são usados na medicina para evitar a
coagulação do sangue e na indústria alimentícia como emulsificante para fabricação de certos produtos,
como o queijo. Ésteres de ácido cítrico, como trietil, tributil e acetildibutil, são usados como plastificantes
não tóxicos nas películas plásticas de embalagens de alimentos.
Na produção do ácido cítrico, a glicose é transformada em piruvato pela via glicolítica. O piruvato é
transformado em acetil‑CoA, que entrará no ciclo de Krebs para a formação do citrato.
A presença de carboidrato prontamente metabolizável é essencial para uma boa produção de ácido
cítrico. Maltose, sacarose, manose, glicose e frutose são os açúcares mais apropriados para a produção
de ácido. Na prática, o ácido cítrico é produzido a partir de carboidrato purificado (sacarose) ou da
fonte de carboidrato bruto, de preço mais conveniente, como melaço de cana‑de‑açúcar, melaço de
beterraba, sacarose bruta, caldo de cana e hidrolisado de amido.
Os bastonetes não crescem a pH maior que 6,0, sendo o pH ótimo para crescimento 4,5; para os
cocos, o pH ótimo para crescimento é o pH neutro. Quando crescem na presença de O2, substâncias
oxidantes tóxicas ao metabolismo são produzidas como peróxidos (H2O2), superóxidos (O‑2) e radical
‑
hidroxila (OH ).
• Animal: flora normal da pele e mucosas, orofaringe, trato gastrintestinal e trato geniturinário
(associado a patógenos, exclusivamente do gênero Streptococcus).
• Vegetal: vivem em associação com vegetais e crescem com a utilização de nutrientes eliminados
a partir da morte do vegetal.
• Leite: acesso através da pele e de mucosas do animal (forragem, vegetais); linhagens patogênicas
provocam a mastite (Streptococcus agalactiae).
As bactérias lácticas podem ser divididas em dois subgrupos bioquímicos de acordo com os produtos
formados a partir de glicose:
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Fermentação láctica
As bactérias podem formar inúmeros ácidos diferentes. No entanto, os de maior interesse econômico
são os de algumas das bactérias produtoras de ácido láctico, ácido acético e de ácido propiônico.
atuarem provocando a morte dos microrganismos, não permitem que se desenvolvam, inclusive
os patogênicos.
As bactérias lácticas também são utilizadas na produção de carnes curadas, como salames e
outros embutidos, para conferir características específicas de textura e sabor e aumentar a vida
de prateleira.
Espécies dos gêneros Micrococcus, Arthrobacter e Brevibacterium são usadas na produção industrial
do ácido glutâmico. Um dos principais empregos do ácido glutâmico é como condimento e agente
favorecedor de sabor, sob a forma de glutamato de sódio.
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Lipase
Aspergillus niger, Rhizopus Láctea Sabor ao queijo
spp., Mucor spp.
Pectinase
Aspergillus niger, Rhizopus Alimentícia Clarificação de vinho e de
spp., Penicillium sucos de frutas
Impede que a cerveja se
Protease
Aspergillus oryzae, Bacillus Cerveja, panificação, enturve ao resfriar, abranda
subtilis alimentícia as carnes
Enzimas parecidas Mucor Alimentícia Coalhada do leite para
com a renina fabricação de queijo
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Unidade II
Os fungos na biotecnologia
Muitas espécies de fungos têm sido testadas e utilizadas para a produção de substâncias de interesse
industrial ou médico. Etanol, ácido cítrico, ácido glucônico, aminoácidos, vitaminas, nucleotídeos e
polissacarídeos são exemplos de metabólitos primários produzidos por fungos, enquanto os antibióticos
constituem importantes metabólitos secundários.
Leveduras
As leveduras são fungos como os bolores, mas se diferenciam deles por se apresentarem
predominantemente sob forma unicelular. Por serem células mais simples, elas crescem e se
reproduzem mais rapidamente do que os bolores. Uma levedura típica consta de células ovais, que
se multiplicam assexuadamente comumente por brotamento ou emulação. A maioria das leveduras
não vive no solo, mas se adaptou a ambientes com alto teor de açúcares, tal como néctar das flores
e a superfície de frutas.
As leveduras fermentativas vêm sendo exploradas pelo homem há milhares de anos, na produção
de cerveja e do vinho e na fermentação do pão, embora somente no século XIX tenha sido reconhecida
a natureza biológica dos agentes responsáveis por esses processos. O principal agente da fermentação
alcoólica, o Saccharomyces cerevisiae, é uma levedura ascomicética.
• DTA: doenças consequentes à ingestão de perigos biológicos, químicos ou físicos nos alimentos.
As DTA também podem ser denominadas enfermidade transmitida por alimentos (ETA), doença
veiculada por alimentos (DVA), doença de origem alimentar (DOA) e toxinfecção alimentar.
Observação
= 1 → hospedeiro assintomático
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Unidade II
A toxicidade tem relação com a ação das exotoxinas (proteínas produzidas pelos microrganismos)
e das endotoxinas (partes das bactérias). É a capacidade de causar doença pela ação de produtos
metabólicos produzidos em consequência de metabolismo microbiano ou de liberação de suas estruturas.
Os microrganismos, ao se multiplicarem em nosso organismo (intestino, pele, vísceras) ou nos alimentos,
podem produzir pequenas cadeias proteicas que causam doença por conta do poder tóxico, causando
quadros clínicos toxêmicos ou toxinóticos ou quadros endotóxicos.
As exotocinas são substâncias proteicas produzidas pelas bactérias, decorrentes de sua multiplicação
ou esporulação. Algumas são termossensíveis. Não costumam produzir febre no hospedeiro.
As endotoxinas são substâncias que fazem parte das estruturas das bactérias (citoplasma)
e que são liberadas quando há lise bacteriana por processos físicos, químicos ou por ação de
antimicrobianos no organismo. Geralmente produzidas por bacilos gram‑negativos, constituindo‑se
de lipopolissacarídeos (LPS), fosfolipídios e outras estruturas internas. São termorresistentes. Em
geral, produzem febre no hospedeiro.
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Conceitos-chave
— Diversos fatores são necessários para que um micróbio cause uma doença
B) Exposição adicional
A DTA é qualquer síndrome que resulta da ingestão de alimentos contaminados em qualquer etapa
da cadeia produtiva com perigos biológicos, químicos ou físicos. Doença usualmente de natureza
infecciosa, toxinogênica ou tóxica, causada por agentes que entram no organismo por meio da ingestão
de alimentos. Todas as pessoas estão sob risco de DTA.
Lesões ou danos fisiológicos por fragmentos sólidos contaminantes, presentes nos alimentos,
não estão completamente caracterizadas como DTA. Entretanto, fazem parte dos agravos possíveis à
integridade física e saúde dos consumidores.
Entre as causas de origem química, poderiam ser apontados principalmente as plantas tóxicas,
os metais pesados, presentes ou lançados no ambiente, e os resíduos de pesticidas utilizados nas
práticas agropecuárias.
As doenças podem ser divididas em relação àquelas ocasionadas por microrganismos que usam o
alimento como veículo de transmissão (brucelose, cólera) e por microrganismos que usam o alimento
como meio de crescimento (infecção e intoxicação).
Intoxicações Infecções
Salmonelose: endotoxina por Salmonella
Muitos fatores contribuem para a emergência de doenças infecciosas, classificadas como emergentes
e reemergentes. São eles:
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Microrganismos
patogênicos causadores
Microrganismos que de DTA Microrganismos que não
continuam causando eram reconhecidos como
surtos e são bem Clássicos Emergentes causadores de DTA e
conhecidos clinicamente são comprovados como
e epidemiologicamente novos agentes etiológicos
Reemergentes
São doenças causadas pela ingestão de uma exotoxina secretada por células microbianas durante
o processo de multiplicação no alimento. Não há, portanto, necessidade de ingestão de células viáveis,
pois a própria toxina é responsável pelo sintoma.
As toxinas absorvidas atingem diretamente um alvo particular, por exemplo, o intestino (enterotoxina)
ou o sistema nervoso (neurotoxina).
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Unidade II
Os sintomas das intoxicações variam desde acessos de vômitos e diarreia (intoxicação estafilocócica)
até o comprometimento grave da função muscular (botulismo).
7.1.2 Infecções
Doenças que resultam da ingestão de células microbianas intactas em grande número, presentes no
alimento, que prosseguiram o processo de desenvolvimento no trato intestinal, invadindo o hospedeiro
e causando danos aos tecidos. Os microrganismos podem infectar a superfície intestinal ou então invadir
o intestino e outras estruturas do organismo dos hospedeiros. São ocasionadas por toxinas produzidas
por certos microrganismos depois que o alimento foi ingerido. Há, portanto, necessidade da ingestão de
células viáveis do microrganismo (acima de 106).
A maioria delas manifesta‑se por diarreia de grau variável e desconforto abdominal. É importante
considerar que esses sintomas podem ocorrer a expensas de toxinas microbianas liberadas no intestino
do hospedeiro, durante a fase de seu desenvolvimento nos tecidos invadidos.
A infecção pode ser invasiva (mucosa intestinal, sistêmica, sistema nervoso central, músculos, fígado)
ou enterotoxinogênica (produção ou liberação de toxina no intestino).
Lembrete
• Toxinogênica (produção de toxinas): Clostridium sp., Bacillus cereus clássico. Vibrio cholerae.
Quadro clínico com diarreia, sem febre e período de incubação entre 8 e 18 horas.
• Invasiva (agressão ao epitélio): Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli patogênica, Vibrios
patogênicos etc. Quadro clínico com diarreia ou disenteria, com febre e período de incubação
entre 12 e 72 horas.
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
7.1.4 Infestações
Infestações ou infecções podem ser causadas pela ingestão de parasitos. O período de incubação é
de vários dias e o quadro clínico é crônico. Os agentes mais característicos de infestações são:
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Unidade II
Adaptado de: Sesa (2018); Bertin e Mendes (2011), Senac (2001); Senai (2000).
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• Relacionando o agente com o perfil da doença, por observar o cumprimento dos postulados que
confirmam o agente e o veículo de uma doença:
— Isolando o mesmo agente a partir de material biológico tanto do afetado como do alimento.
— Por experimentação em pessoas (neste caso, adultos e sadios, para agentes microbianos).
— Por experimentação em animais (recurso possível para os agentes químicos e algumas toxinas
de origem microbiana – dose infectiva ou concentração).
Lembrete
• Deve estar ausente nos alimentos que estão livres do patógeno, ou estar presente em
quantidades mínimas.
Escherichia coli
A Escherichia coli é utilizada como indicador de contaminação fecal presente na água desde 1982.
Hoje, ela também é utilizada como indicador da qualidade higiênico‑sanitária do alimento.
Além dos requisitos anteriormente citados, também apresenta outras características que a classificam
como um bom microrganismo indicador:
7.2.1 Coliformes
As doenças entéricas causadas pelos coliformes são transmitidas quase exclusivamente pela
contaminação fecal de água e alimentos. A transmissão por meio de águas contaminadas constitui
uma das mais sérias fontes de infecção responsável por grandes epidemias de doenças entéricas graves,
como febre tifoide e cólera. Para avaliar a presença de organismos patogênicos na água, é determinada
a presença ou a ausência do microrganismo e sua respectiva população. Dessa forma, esse organismo é
chamado de indicador, que deve apresentar as seguintes características:
Não existe um indicador ideal da qualidade sanitária da água, mas sim alguns microrganismos que
se aproximam das exigências referidas. Para possibilitar a comparação de dados obtidos nas diferentes
localidades e laboratórios, a metodologia deve ser padronizada tanto na detecção como na amostragem.
Todo material a ser usado deve ser previamente esterilizado, e a coleta deve ser feita em condições
assépticas. O transporte deve ser rápido, e as amostras devem ser mantidas em banhos de gelo. Para
amostras de água clorada, deve‑se neutralizar o cloro imediatamente após a coleta, com 100 mg/mL de
solução esterilizada de tiossulfato de sódio.
Coliformes totais
Os coliformes totais constituem‑se em um grande grupo de bactérias que são utilizadas como
indicadores da qualidade da água, originários de solos poluídos e não poluídos e fezes de seres humanos
e outros animais de sangue quente. Fermentam a lactose com produção de aldeído, ácido e gás a
35‑37 ºC em 24‑48 horas. O grupo inclui os seguintes gêneros: Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e
Klebsiella. Não é possível afirmar categoricamente que uma amostra de água com resultado positivo para
coliformes totais tenha entrado em contato com fezes. A pesquisa de coliformes fecais, principalmente
em água, tem como objetivo avaliar as condições higiênicas.
Coliformes fecais
Os coliformes fecais também são conhecidos como termotolerantes por suportarem uma
temperatura superior a 40 ºC. São bactérias que estão presentes em grandes quantidades no
intestino dos animais de sangue quente. Podem contaminar a água pelas fezes de animais. Eles são
adquiridos quando penetram na pele ou são ingeridos com a água ou alimentos contaminados e
são constantemente liberados em grandes quantidades junto com as fezes. A principal característica
bioquímica usada para identificar os coliformes fecais é sua capacidade de fermentar a lactose, com
produção de gás, à temperatura de 44,5‑45,5 ºC. Os coliformes fecais são utilizados como indicadores
de contaminação fecal e avaliam as condições higiênico‑sanitárias deficientes.
O indicador de poluição fecal mais empregado é o grupo coliforme. São microrganismos típicos
da microflora fecal, podendo a maioria ser encontrada em outros locais. A espécie Escherichia coli é
considerada de origem unicamente fecal.
A detecção e a medida de bactérias coliformes têm sido efetuadas na água desde o fim do século XIX.
A metodologia emprega um meio seletivo com inibidores de gram‑positivo e capacidade de fermentação
da lactose.
A temperatura de incubação elevada, de 35‑37 ºC para coliformes totais e 44,5±0,2 ºC para coliformes
fecais, tem como objetivo evitar o crescimento de bactérias não fecais, mas adaptadas a temperaturas
mais baixas do meio ambiente. Por esse motivo, o teste de coliformes fecais torna‑se mais seletivo para
Escherichia coli, e mais específico para determinação de contaminação de origem fecal.
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Unidade II
A contagem de bolores e leveduras representa a somatória desses dois grupos e tem a mesma
finalidade da CPP nos alimentos em que eles constituem os principais deteriorantes. É usada para frutas,
sucos, doces, farinhas e alguns produtos de origem animal para os quais os grupos são importantes,
como iogurtes.
Coliformes totais
A contagem de coliformes totais é usada para certos alimentos, tais como leite pasteurizado e sucos,
para indicar as condições higiênicas em que foram produzidos.
Os indicadores de contaminação fecal estão entre as bactérias pertencentes ao grupo dos coliformes,
utilizam a lactose a 44,5 ºC com produção de gás. O microrganismo mais importante desse grupo é a
Escherichia coli, fazendo parte exclusiva do intestino do homem e de animais de sangue quente. Essas
bactérias indicam uma possível presença de microrganismos patogênicos. São também denominadas
coliformes termotolerantes ou coliformes a 45 ºC. Como são expelidas em grande quantidade nas fezes
(> 106 por grama) e por terem resistência semelhante aos patógenos entéricos, sua presença indica que
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
houve contaminação fecal no alimento e que, por isso, existe a possibilidade de haver patógenos, como
a Salmonella. As fontes dessa contaminação podem ser: mãos, matéria‑prima, contaminação cruzada,
insetos, utensílios e equipamentos contaminados.
Existem outros microrganismos que não fazem parte de padrões microbiológicos e podem
ser pesquisados em caso de surtos. Em alimentos manipulados, realizam‑se também análises de
Salmonella sp. e Staphylococcus aureus.
Vários agentes causadores de doença no homem podem ser transmitidos pelos alimentos:
• Bactérias patogênicas.
• Fungos toxigênicos.
A Clostridium botulinum é uma bactéria esporulada que só se multiplica em ambientes sem ar (latas
de palmito, por exemplo). Produz uma toxina (veneno) que pode ser fatal em grande parte dos casos.
É encontrada no solo e está relacionada com o consumo de alimentos em conserva. Essa bactéria tem
como características bastonete gram‑positivo, anaeróbio estrito, esporulado, pH de 4,5 a 8, temperatura
ótima de 30 ºC, a 37 ºC, produtor de gás (fermenta carboidrato).
As células vegetativas, em condições de anaerobiose, produzem esporos ovais ou esféricos que, com
frequência, dilatam a parede celular. A germinação dos esporos exige anaerobiose estrita e pH superior
a 4,6 para que haja produção de toxinas.
O habitat da Clostridium botulinum é o solo, o trato intestinal de animais, alimentos (peixes, rações) e
sedimentos de oceanos e lagos. Sua disseminação ocorre por animais sadios portadores assintomáticos,
por solo e poeira.
A resistência térmica dos esporos é alta e, em geral, o tratamento térmico aplicado é 100 ºC/360 min,
105 ºC/120 min, 110 ºC/36 min, 115 ºC/12 min ou 120 ºC/4 min (dependente do alimento).
Em geral, os alimentos envolvidos possuem baixa e média acidez (não ácidos), como conservas
caseiras, alimentos embalados a vácuo e enlatados consumidos sem cozimento.
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Unidade II
Existem oito tipos de Clostridium botulinum, classificados como A, B, Cα, Cβ, D, E, F e G1, com base
na especificidade antigênica de suas toxinas. As neurotoxinas A, B, E e F causam doenças humanas; as
neurotoxinas C e D, por sua vez, causam doenças em animais (galinhas, patos, equinos).
As toxinas botulínicas são as mais ativas que se conhece, podendo determinar a morte, mesmo em
quantidades ínfimas, 0,1 mg a 2,0 mg/kg de peso corpóreo. Elas são toxinas termolábeis, e a temperatura
necessária para sua destruição depende do tipo considerado. De modo geral, a 80 ºC a destruição ocorre
em 30 minutos, e a 100 ºC são necessários 3 minutos.
Caracterização da doença
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MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
em substratos com pH superior a 4,6. Nesses alimentos, há condições adequadas para o agente produzir
uma potente neurotoxina, capaz de levar os intoxicados a óbito.
• Botulismo infantil: corresponde a uma doença infecciosa causada pela ingestão de esporos
e subsequente germinação, multiplicação e toxigênese no intestino de crianças com menos de
1 ano de idade.
A taxa de mortalidade por botulismo é alta. Antes do desenvolvimento dos sintomas neurológicos,
perturbações gastrintestinais ocorrem (tais como náuseas, vômito, diarreias, prisão de ventre etc.). Além
desses sintomas, há os seguintes:
• distúrbios visuais;
• paralisia respiratória.
Sinais excitatórios
a partir do sistema
nervoso central
Músculo
Normal Botulismo
A acetilcolina (A) induz a A toxina botulínica, , bloqueia a
contração das fibras musculares liberação de A, inibindo a contração
119
Unidade II
O controle ocorre por meio de tratamentos térmicos adequados dos alimentos, assegurando a
destruição dos esporos, e do uso de métodos químicos e físicos (redução de Aa, acidificação) que inibem
totalmente o desenvolvimento da bactéria.
A Staphylococcus aureus é uma bactéria normalmente presente na boca, no nariz e na garganta das
pessoas e que pode ser transmitida para o alimento por meio de hábitos anti‑higiênicos. Está relacionada
com uma grande variedade de alimentos, principalmente proteicos (carnes, molhos, cremes). Causa
intoxicação alimentar por produzir toxinas (venenos) em alimentos contaminados e que foram mantidos
em condições inadequadas por tempo prolongado.
Características
Bactérias do gênero Staphylococcus são habitantes usuais da pele, das membranas mucosas
(nasal), do cabelo, do trato respiratório superior e do intestino do homem e de animais de sangue
quente. Destacando‑se entre elas o S. aureus, o de maior patogenicidade, responsável por considerável
proporção de infecções humanas, notadamente no âmbito hospitalar. São cocos gram‑positivos que,
ao exame microscópico, podem aparecer aos pares, em cadeias curtas ou agrupados em cachos,
semelhantes aos de uva.
• Aa de 0,99 a 0,86.
Algumas cepas produzem uma toxina, proteína altamente termoestável, responsável no homem
pelos quadros de estafiloenterotoxemia ou estafiloenterotoxicose. A toxina é denominada enterotoxina
por causar gastrenterite ou inflamação das mucosas gástrica ou intestinal. Essa enterotoxina é dividida
em seis tipos: A, B, C1, C2, D e E.
A dose infectante é acima de 105 UFC/g de alimento. Nessas condições, quantidades suficientes de
enterotoxinas serão produzidas e liberadas no alimento causando a intoxicação quando for ingerido.
A dose mínima da enterotoxina, capaz de provocar a manifestação clínica da intoxicação estafilocócica,
varia de 0,015 a 0,357 mg/kg corpóreo.
120
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
A disseminação ocorre por manipuladores de alimentos, úbere de vaca, pele e carcaça de animais,
equipamentos e utensílios. O período de incubação é, em média, de 1 a 6 horas.
Doenças associadas
• náuseas;
• vômitos;
• diarreia;
• salivação intensa;
• sudorese;
• desidratação;
A doença dura por volta de 24 horas e não é fatal, a menos que o indivíduo acometido esteja debilitado.
Alimentos envolvidos
Entre os alimentos envolvidos na contaminação por bactérias do gênero Staphylococcus estão aves
congeladas, saladas (batata, ovos, atum), bolos recheados (doces com creme, tortas), leite cru, sorvetes.
Também aqueles com alto teor de umidade e com alta porcentagem de proteína, tais como as carnes e
os produtos derivados de bovinos, de suínos e de aves, além de ovos.
O leite e seus derivados, como queijos cremosos, bem como os produtos de confeitaria, os doces
recheados de creme, as tortas de creme e as bombas de chocolate são frequentemente incriminados em
surtos de intoxicação estafilocócica.
De modo geral, todos os alimentos que requerem considerável manipulação durante seu preparo e
cuja temperatura de conservação é inadequada, como acontece com saladas e recheios de sanduíches,
são passíveis de causar a intoxicação.
Controle
121
Unidade II
A Salmonella sp. é uma bactéria que causa infecção intestinal e pode estar presente em uma série de
alimentos, principalmente de origem animal (carnes, ovos e leite não pasteurizado), e vegetais que foram
adubados com esterco sem tratamento. As infecções provocadas pelas bactérias do gênero Salmonella
pertencente à família Enterobacteriaceae são universalmente consideradas, na atualidade, como as mais
importantes causas de DTA. A maior parte dessas bactérias é patogênica para o homem, apesar das
diferenças quanto às características e à gravidade da doença que provocam.
Aspectos gerais
Doenças
• Febre entérica: causada pela S. paratyphi. É semelhante à febre tifoide, com sintomas
mais brandos.
• dores abdominais;
• náuseas;
• vômitos.
122
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Reservatórios
Alimentos envolvidos
Os alimentos envolvidos na contaminação por Salmonella sp. são todos aqueles com alto teor de
umidade e com alta porcentagem de proteína, entre eles: produtos lácteos (leite e queijos cremosos),
ovos (pudim, gemada, licores de ovos, maionese), carnes e produtos derivados (de bovinos, de suínos
e de aves). São apontados ainda como responsáveis pela ocorrência de surtos de salmonelose: peixes,
camarões, pernas de rã, levedura de cerveja, coco, molhos e temperos de salada, mistura para bolos,
sobremesas recheadas com cremes, gelatina em pó, manteiga de amendoim, cacau, chocolate e até
mesmo suco de laranja não pasteurizado.
Pessoas expostas
Controle
• Higiene do abate.
• Pasteurização do leite.
• Prescrição cuidadosa de antibióticos nos casos humanos (e animais), a fim de diminuir a ocorrência
de cepas resistentes.
O Bacillus cereus é uma bactéria largamente encontrada na natureza, principalmente no solo, e que
pode contaminar uma série de alimentos, especialmente vegetais e grãos. Causa dois tipos de quadro:
emético (vômito) e infecção intestinal.
Essa bactéria apresenta como características bacilo gram‑positivo, aeróbio facultativo, formador de
esporos, produtor de uma exoenterotoxina: entérica, emética, fosfolipase e hemolisina I e II.
Sua diferenciação com outras espécies de Bacillus se dá em função de sua motilidade e de sua
atividade hemolítica.
A doença causada pelo Bacillus cereus é caracterizada por síndrome diarreica, provocada por
uma proteína de elevado peso molecular, passível de inativação a 56 ºC por 5 minutos, instável em
pH inferior a 4 e superior a 11. A temperatura ótima é de 32 ºC a 37 ºC. Já a síndrome emética é
atribuída a uma proteína de baixo peso molecular, termoestável a 126 ºC por 90 minutos, sem perda
de estabilidade entre pH 2 e 11, e temperatura ótima de 25 ºC a 30 ºC. A intoxicação por B. cereus
apresenta distribuição mundial.
A contaminação inicial dos alimentos se dá por meio dos esporos. Nos alimentos preparados ou nas
sobras alimentares, mantidas entre 10 ºC e 60 ºC, há germinação e posterior multiplicação bacteriana.
A síndrome diarreica está associada com uma longa lista de alimentos, tais como cárneos, hortaliças,
leite e derivados, cremes, sopas e molhos, purê de batatas e salada de legumes. Ervas secas e especiarias,
utilizadas como condimentos, são apontadas como a origem da contaminação dos alimentos por
esporos do B. cereus.
A síndrome emética está relacionada com produtos amiláceos e cereais, em especial o arroz.
124
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Clostridium perfringens é uma bactéria esporulada que está relacionada com a preparação de
carnes em grandes quantidades que são mantidas em condições inadequadas de conservação ou
exposição prolongada em temperatura ambiente. Causa toxinfecção intestinal, pois se multiplica no
intestino e, ao formar o esporo, libera uma toxina (veneno). Desde o final do século XIX, o Clostridium
perfringens está associado a quadros diarreicos no homem, apesar de somente em 1943 ter sido
considerado um microrganismo transmitido por alimentos. Na atualidade, é reconhecido como um
dos agentes mais frequentemente envolvido em surtos de toxinfecções alimentares, no mundo todo,
ao lado das salmoneloses.
A inativação térmica da enterotoxina em caldo de carne dá‑se entre 59 ºC e 65 ºC, variando o tempo
de cocção entre 1,5 e 72,8 minutos (60 ºC por 10 min).
Doenças associadas
São conhecidas ainda outras exotoxinas, não associadas com toxinfecções alimentares, mas
relacionadas primordialmente com ferimentos, instrumentos cirúrgicos, fraturas expostas, úlceras
diabéticas e abortos sépticos etc.
A dose infectante do Clostridium perfringens para o homem é de 106 bactérias por grama, ou a fração
ingerida do alimento contaminado deve conter uma quantidade superior a 108 células vegetativas.
A contaminação faz‑se pelas mãos dos manipuladores, pelos roedores e pelas moscas. A infecção
se dá pela ingestão de células vegetativas que ultrapassam a barreira gástrica resistindo ao pH ácido e
atingem o intestino delgado, onde se desenvolvem, esporulam e liberam a enterotoxina. A ingestão de
toxina pré‑formada nos alimentos é muito rara.
Alimentos envolvidos
O microrganismo tem preferência por alimentos com elevado teor de umidade e com alta porcentagem
de proteína, como carnes e produtos cárneos, aves e molho de carne. É comum em carnes reaquecidas.
Embutidos, conservas de peixes, patês, saladas, tortas, queijo minas frescal, queijos fermentados e ostras
também oferecem boas condições para o desenvolvimento do Clostridium perfringens.
É uma bactéria patogênica oportunista, capaz de sobreviver e multiplicar‑se fora dos organismos dos
hospedeiros em meios com nutrientes simples. Nos animais e no homem, multiplica‑se intracelularmente.
Gram‑positiva, não formadora de esporo, anaeróbia facultativa; sua multiplicação se dá entre 2,5 ºC e
44 ºC, com pH ótimo entre 6 e 8. Invade o intestino humano onde são fagocitadas por macrófagos,
ficando protegidas contra a ação de leucócitos polimorfonucleares.
Os surtos de listeriose têm sido causados com relativa frequência por consumo de couve crua, leite
contaminado após pasteurização, patê, língua de porco em gelatina e queijos tipo brie e camembert,
126
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
produzidos com leite não pasteurizado. As superfícies úmidas das plantas processadoras de alimentos
podem albergar a Listeria monocytogenes, o que, ao lado da capacidade de multiplicação a baixas
temperaturas, possibilita sua ocorrência em refrigeradores e câmaras frias.
A Escherichia coli enteropatogênica é uma bactéria que faz parte da flora intestinal, normalmente
usada como indicador da condição higiênica dos alimentos, mas pode apresentar algumas espécies
que causam doença no homem. Está relacionada com produtos de origem animal, vegetais, laticínios e
produtos prontos que não sofreram processamento higiênico adequado.
A E. coli é membro da família Enterobacteriaceae, gênero bacteriano com apenas uma única espécie
e aproximadamente mil tipos antigênicos. Os sorotipos dessa bactéria são definidos com base nos
antígenos somáticos O, flagelares H e capsulares K. As principais características da E. coli são:
• Bastonete gram‑negativo.
• Anaeróbio facultativo.
O habitat dessa bactéria é o trato intestinal do homem e dos animais. A disseminação ocorre por
meio de material fecal e de vários veículos que podem contaminar a água e os alimentos.
As doses infectantes de E. coli, que permitem a colonização do microrganismo ao nível das células
intestinais dos indivíduos infectados e a consequente produção de toxina, para causar a infecção em
crianças menores de 5 anos é muito pequena, enquanto para adultos é superior a 106 células. Nas
infecções entero‑hemorrágicas e enteroinvasivas, a dose infectante é de apenas 10 células. Para a forma
enterotoxigênica, estima‑se que haja necessidade da ingestão de 108 a 1010 células.
Os sintomas compreendem diarreia intensa aquosa, febres, náuseas, vômitos, dores abdominais,
fezes sanguinolentas. O período de incubação é de 6 a 36 horas. A duração dos sintomas é de
1 a 4 dias.
• Difusamente aderente (DAEC): acomete indivíduos cujo sistema imunológico ainda não está
totalmente formado e crianças desnutridas.
Alimentos envolvidos
Água contaminada com despejos de esgotos é a mais importante via de transmissão do agente na
natureza. Por outro lado, qualquer alimento exposto à contaminação fecal, seja por meio da água de
preparo ou dos manipuladores infectados, é capaz de veicular a E. coli enteropatogênica.
A carne bovina moída (hambúrguer) é a maior responsável pela ocorrência de surtos, sobretudo
quando consumida crua ou insuficientemente cozida; constitui, também, a causa mais comum das
infecções entero‑hemorrágicas e enteroinvasivas. Nas mesmas condições, a carne de aves, em especial
de galinha, tem sido apontada como causa de surtos de toxinfecção alimentar, principalmente a
enteropatogênica.
Os produtos lácteos, especialmente o leite cru e, em menor extensão, os queijos, são vias de
transmissão importantes para o patógeno. O leite cru em particular tem sido responsável por surtos
de toxinfecções entero‑hemorrágicas e enteroinvasivas. Sucos de frutas não pasteurizados têm sido
causas de infecção entero‑hemorrágica.
Os produtos de origem vegetal consumidos crus também constituem perigo em saúde pública, se
oriundos de culturas irrigadas com águas de despejos contaminados com matéria fecal.
Pessoas expostas
Todas as pessoas estão expostas ao risco da infecção, notadamente, as que têm hábito de
consumir carnes bovinas e de aves cruas ou malcozidas, bem como leite e sucos de frutas não
pasteurizados. A gravidade da manifestação clínica depende da cepa de E. coli envolvida, contudo
crianças e idosos são os grupos que padecem mais intensamente com a infecção.
Controle
Essa bactéria é também um patógeno encontrado com relativa facilidade como contaminante de
carcaças ou retalhos de aves. O gênero Campylobacter compreende inúmeras bactérias patogênicas para
o homem, sendo a mais importante a Campylobacter jejuni, isolada, com frequência, de pessoas com
quadros de gastroenterite. C. laridis e C. coli também representam esse gênero.
Reservatórios
Bactérias do gênero Vibrio sp. são encontradas em pescados que podem ter sido contaminados no
local de pesca, durante o embarque, o armazenamento e o processamento industrial. Elas podem causar
quadros graves de infecção intestinal (cólera, por exemplo).
129
Unidade II
O V. cholerae apresenta vários sorogrupos, contudo só o O1 e o O139 têm sido responsáveis por
epidemias. O sorogrupo O1 divide‑se em três sorotipos, Inaba, Ogawa e Hikojima (não comum) e em dois
biótipos, o clássico e o El Tor.
Com frequência, o agente está associado à ingestão de água contaminada com despejos, embora
sejam os alimentos contaminados a via de transmissão primária da maioria dos surtos e os maiores
veículos de disseminação da doença, durante as epidemias.
São bacilos gram‑negativos, pleomórficos, curvados ou retos, móveis, catalase e oxidase positivos,
anaeróbios facultativos, sensíveis às temperaturas de cocção.
Reservatórios
Inúmeras evidências apontam o solo e a água de dois rios na Índia, o Ganges e o Brahmaputra, como
reservatórios naturais do V. cholerae; nessas áreas endêmicas, a transmissão e a disseminação da cólera
está associada com a peregrinação aos rios e com a prática religiosa de banhar‑se em suas águas.
Pessoas expostas
As pessoas expostas ao Vibrio estão em populações em que há falta de saneamento básico, além de
pessoas com hábito de se alimentarem com pescado ou produtos marinhos crus, também aquelas que
lidam com o pescado, limpando‑o e preparando‑o para o processamento, podendo ferir os dedos e as
mãos com espinhas dos peixes e fragmentos cortantes das cascas ou conchas de crustáceos.
O controle da contaminação envolve a não ingestão de águas sem qualquer tratamento prévio.
Do mesmo modo, sua utilização para higienizar frutas e vegetais, que serão consumidos crus. A lavagem
de utensílios, recipientes e superfícies pode propiciar a veiculação dos vibrios. Nesse caso, a água deverá
ser previamente fervida ou tratada com cloro antes de sua utilização. O controle também envolve o uso
de luvas na manipulação de pescados.
7.3.10 Protozooses
Os parasitos são seres que podem causar uma série de quadros agudos ou crônicos e que estão
relacionados com a matéria‑prima contaminada ou com a contaminação durante o processo. Podem ser
protozoários (Giardia, Entamoeba) ou helmintos (Ascaris, Taenia).
Os protozoários ocupam lugar de destaque em saúde pública como causadores de quadros infecciosos,
principalmente nos indivíduos imunocomprometidos, embora todos os seres humanos sejam suscetíveis
às infecções por eles determinadas.
O congelamento, a lavagem com ação mecânica e o calor podem eliminar os parasitos presentes em
alimentos. Já no processo de cloração, eles podem sobreviver.
Os cistos sobrevivem fora dos hospedeiros na água, no solo, nos alimentos, especialmente sob
condições de umidade. Quando ingeridos, causam infecção depois do desencistamento no trato digestivo
– estágio de trofozoítos. A forma cística pode perdurar por três meses no lodo dos esgotos.
131
Unidade II
Controle
7.3.11 Fungos
A micotoxicose é a doença produzida pela ingestão de toxina com alimento contaminado com
fungos (micotoxinas). É tóxica e carcinogênica e atinge mais os animais que os homens.
Os fungos são indesejáveis nos alimentos, porque são capazes de produzir uma grande variedade
de enzimas que, agindo sobre o alimento, provocam sua deterioração. É frequente a deterioração de
alimentos ácidos ou com baixa Aa, como frutas frescas, vegetais, cereais, queijos, alimentos congelados,
desidratados e em conserva, como picles, quando armazenados em condições inadequadas. Muitos
fungos (toxinogênicos) são produtores de toxinas (micotoxinas) que correspondem a produtos
metabólicos secundários.
132
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Micotoxinas
As micotoxinas são produtos metabólicos secundários produzidos pelos bolores que causam
alterações biológicas prejudiciais aos seres humanos e outros animais. Podem estar contidas no
interior dos esporos de bolores, em seus micélios, ou então serem liberadas no alimento contaminado
por esses microrganismos. Elas ocorrem principalmente em cereais (arroz, milho, trigo, cevada) e
oleaginosas (amendoim).
133
Unidade II
Tipos
Medidas preventivas
• Secar completamente os grãos, no campo, até níveis seguros de umidade, mesmo em períodos
chuvosos, ou seja, até que estejam bem secos (umidade inferior ou igual a 10%). Nunca ensacar,
empilhar ou armazenar os grãos antes de sua secagem completa no campo.
• Não permitir que os grãos sejam molhados ou reumedecidos, após sua secagem, durante o
armazenamento ou transporte.
A integridade física do grão é muito importante, porque lesões mecânicas ou provocadas por insetos,
ou durante o processamento, tornam os cereais muito suscetíveis à proliferação de fungos.
7.3.12 Vírus
Os vírus entéricos (como o da hepatite infecciosa, o Norwalk e o rotavírus) são transmissíveis por
alimentos. As contaminações ambientais por fezes de afetados (solo, água) são a principal fonte de
contaminação de alimentos, além do contato direto do alimento com pessoas afetadas por viroses.
Causam diversas doenças em humanos, como diarreias, meningites assépticas, paralisia, hepatites,
conjuntivites e miocardites. São patógenos bastante estáveis no meio ambiente. A transmissão é
fecal‑oral e a replicação ocorre no trato gastrointestinal.
134
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Hepatite A
A transmissão da hepatite A é via fecal‑oral. Ela causa lesões hepáticas. Água, moluscos crus e
vegetais crus são alimentos envolvidos na contaminação. A incubação do vírus é longa, de 2 a 6 meses.
Rotavírus
Adenovírus
A patogenicidade dos adenovírus pode variar de acordo com o sorotipo, conforme segue:
Vacinas foram desenvolvidas para os sorotipos 4 e 7, mas estão disponíveis somente para
prevenção de doença respiratória aguda e quando da cloração de água de abastecimento. O período
de incubação é de 3 a 10 dias, sendo que a diarreia dura de 10 a 14 dias. Pode causar intussuscepção,
adenite mesentérica e apendicite.
Astrovírus
O astrovírus ocorre no mundo todo e acomete principalmente crianças maiores de 7 anos de idade. A
transmissão pessoa a pessoa é via fecal‑oral. Epidemias ocorrem devido à contaminação fecal de águas
e frutos do mar.
Doentes ou
Hepatite Vírus da Leite, mariscos, 10‑50 dias; perda de Cozimento dos
portadores, água
infecciosa hepatite salada de batata apetite mariscos
contaminada
136
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Salmonella sp.
Trato intestinal do homem e dos animais doentes ou portadores. Na cozinha, se disseminam
Fontes e disseminação através da contaminação cruzada, falta de higiene pessoal e insetos, principalmente.
Produtos de origem animal (carnes, aves, ovos e leite), vegetais crus e algumas frutas. Ostras
Alimentos envolvidos cruas, salmão, salada de atum e coquetel de camarão foram veículos de surtos.
Todo sorotipo de Salmonella é potencialmente patogênico. O período de incubação varia de
Infecção 8 a 22 horas. Os sintomas são náusea, vômito, dores abdominais com diarreia, podendo haver
febre ou não.
Medidas preventivas de Calor, prevenir a contaminação cruzada, não permitir pessoas portadoras de Salmonella.
controle
Staphylococcus aureus
Cavidades bucal e nasal do homem e dos animais, bem como pele e fezes. Equipamentos e
Fontes e disseminação utensílios usados no processamento de alimentos, como moedores de carne, facas, tábuas de
cortar e serras.
Pratos de carne ou frango cozido, peru recheado, salsichas, bolos recheados, creme de leite,
Alimentos envolvidos chantili, queijos, salgadinhos, presuntos, bacon e outros produtos industrializados.
O microrganismo S. aureus produz enterotoxinas que são termoestáveis, podendo o alimento
Toxinose envolvido em um surto não apresentar S. aureus viável, mas sim a toxina.
Medidas preventivas de Tempo e temperatura, práticas de higiene, refrigeração dos alimentos.
controle
Bacillus cereus
Fontes e disseminação Solo, água e superfície de grãos de cereais e dos vegetais, poeira e sujidades.
Feijão cozido, verduras cozidas, sopas, molhos, bolos e empadões de carne. O tipo emético é
Alimentos envolvidos mais descrito em arroz cozido ou frito. O tipo diarreico é mais comum, sendo descritos surtos
principalmente em pratos ou sobremesas contendo amido ou cereais.
Existem dois tipos de B. cereus, o emético e o diarreico. O tipo emético produz enterotoxina
termoestável no alimento, causando vômito, náuseas, raramente diarreia, sem febre; o período
Toxinfecção/toxinose de incubação é de 1 a 6 horas. O tipo diarreico causa infecção intestinal com fortes diarreias,
náuseas, vômitos raros e sem febre, sintomas que surgem após 8 a 22 horas.
Medidas preventivas de Calor, resfriamento rápido.
controle
Vibrio parahaemolyticus
Estuários e ao longo de outras áreas litorâneas na maior parte do mundo. Frutos do mar
Fontes e disseminação contaminados são os responsáveis pela disseminação.
Frutos do mar, especialmente os ingeridos crus ou malcozidos. A doença tem sido associada ao
Alimentos envolvidos consumo de caranguejos contaminados, ostras, camarão, lagosta e peixe cru.
Os sintomas mais comuns são diarreia, dores abdominais, náusea, vômito e enxaqueca. O
Infecção período de incubação é de 12 a 18 horas.
Medidas preventivas de Calor, higiene pessoal, congelamento.
controle
Clostridium perfringens
Solo e intestino do homem e de animais. Daí se disseminam para a água, para os vegetais e
Fontes e disseminação para os produtos de origem animal crus.
Alimentos envolvidos Feijoadas, vegetais cozidos, molhos, carnes e aves assados e cozidos e alimentos transportados.
Os esporos de C. perfringens germinam e se multiplicam rapidamente em anaerobiose quando
a faixa de temperatura de 30 ºC a 50 ºC é atingida. Para resultar em toxinfecção, a população
Toxinfecção de microrganismo deve chegar a 10 milhões por grama, o que ocorre sem modificações
sensíveis no aspecto sensorial. As células vegetativas, se ingeridas, esporulam no intestino.
O período de incubação é de 8 a 22 horas, sendo os sintomas diarreia e muita cólica.
137
Unidade II
Medidas preventivas de Resfriamento rápido, manutenção pós‑cocção, prevenção da contaminação cruzada, higiene
controle pessoal, de superfícies e equipamentos.
Clostridium botulinum
Solo e água, especialmente nos sedimentos. Dessas fontes, através do contato direto ou da
Fontes e disseminação poeira, chegam aos pescados, vegetais e produtos de origem animal.
Conservas caseiras, de vegetais, pescado e carnes. Patês, escabeche de peixe, pescado
Alimentos envolvidos defumado, produtos industrializados apertizados, bolo de carne, ensopados, saladas, palmitos
e azeitonas.
A toxina botulínica é extremamente potente. Ela é uma proteína termolábil. Uma vez ingerida,
Toxinose os sintomas aparecem entre 12 e 72 horas, começando com náuseas, vertigens, visão dupla,
dificuldade de deglutir, paralisação da respiração e morte.
Medidas preventivas de Processamento térmico apropriado: 100 ºC por 10 minutos.
controle
E. coli O157:H7 (entero‑hemorrágica – STEC‑EHEC)
Fontes e disseminação Trato intestinal de animais.
Alimentos envolvidos Hambúrguer, carne bovina, leite cru, embutidos, iogurte, alface, água, maçã (e sucos).
A toxina lesa a mucosa de 1 a 10 dias (média de 2 a 5 dias), causando diarreia aquosa,
Infecção diarreia sanguinolenta, dor intensa, sangue na urina, síndrome hemolítico‑urêmica, colite
hemorrágica. Febre ausente.
Medidas preventivas de Controle da origem das carnes (animais infectados), cocção suficiente, pasteurização/
controle fermentação/desidratação, boas práticas de manipulação dos alimentos.
E. coli enteroinvasiva (EIEC)
Fontes e disseminação Trato intestinal humano e de animais, água.
Alimentos envolvidos Saladas, queijos e outros alimentos não tratados com higiene, água.
Invasão da mucosa intestinal, causando necrose, ulceração e inflamação, dor abdominal
Infecção intensa, febre, diarreia aquosa purulenta, com sangue e muco intenso. Tempo de incubação de
12 horas a 3 dias.
Medidas preventivas de Cocção e reaquecimento adequados, refrigeração (trabalho com porções pequenas), preparo
controle próximo ao momento do consumo, BPFM.
E. coli enterotoxigênica (ETEC)
Fontes e disseminação Trato intestinal humano (raro) e de todos os animais.
Alimentos envolvidos Água, diversos alimentos (saladas, queijos).
Enterotoxina termolábil (LT) e termoestável (ST). Causa, de 12 horas a 3 dias, dores abdominais,
Infecção diarreia aquosa, vômitos, febre leve, prostração. Doença conhecida como “diarreia do viajante”.
Medidas preventivas de Boas práticas de limpeza e higiene pessoal, controle do resfriamento e refrigeração, cocção
controle adequada.
E. coli enteroagregativa (EAggEC)
Fontes e disseminação Trato intestinal humano (passa de pessoa a pessoa).
Alimentos envolvidos Não descritos.
Infecção Por aderência à mucosa intestinal, causando diarreia aquosa, e raramente ocorre febre.
Medidas preventivas de Não foram relatados surtos associados à ingestão de alimentos.
controle
Campylobacter jejuni (Campylobacteriaceae)
Trato intestinal de animais (coelhos, roedores, carneiros, cavalos, bovinos, suínos, pássaros,
Fontes e disseminação galinhas e outros de sangue quente).
Alimentos envolvidos Leite cru, frango, ovos, carnes, bolo gelado, moluscos crus, mexilhões, fígado bovino, água).
Após 2 a 7 dias (média de 3 a 5 dias) causa dores abdominais, diarreia profusa (com muco e
Infecção sangue), mialgia, febre, anorexia, náuseas, sequela da Síndrome de Guillain‑Barré.
138
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Medidas preventivas de Cocção adequada, não consumo de leite cru, eliminação do trato intestinal de frangos na sua
controle limpeza para consumo, boas práticas de higiene das mãos e de superfícies.
Aeromonas hydrophila (Vibrionaceae)
Fontes e disseminação Águas (doce, marinha, residuais).
Peixes, mariscos, caracóis, água, carne de aves e bovina, vegetais e leite cru. A bactéria tolera
Alimentos envolvidos concentração alta de sal (até 4%), pH amplo (4 a 10) e temperaturas baixas. É deteriorante
também.
Causa dois tipos de diarreia: uma, após 1 a 2 dias, semelhantes à cólera – aquosa,
Infecção acompanhada de febre moderada; outra semelhante à diarreia causada por Shigella – com
muco e sangue.
Medidas preventivas de Saneamento básico, cocção adequada, prevenção da contaminação cruzada.
controle
Yersinia enterocolitica (Enterobacteriaceae)
Fontes e disseminação Água, fezes (principalmente de suínos).
Leite cru, achocolatados, carne de suínos e derivados, ostras e pescados. A bactéria
Alimentos envolvidos multiplica‑se sob refrigeração (4 ºC a 10 ºC).
Causa dores abdominais (simulando apendicite), febre baixa, anorexia, náuseas, vômitos. O
Infecção período de incubação é de 2 horas a 6 dias (em média 72 horas), com duração da doença de 7
dias. Pode migrar para outros órgãos, causando meningite, pneumonia, problemas renais.
Medidas preventivas de Cozimento e pasteurização completos, prevenção da contaminação cruzada, assegurar a
controle qualidade da água.
Vibrio vulnificus (Vibrionaceae)
Fontes e disseminação Ambiente marinho (requer sal) em meses não quentes.
Alimentos envolvidos Ostras, moluscos crus, caranguejos.
Período de incubação médio de 16 horas. Causa lesões na pele, choque séptico, calafrios
e náuseas. Raramente provoca vômitos e diarreia. 50% dos acometidos falecem. Mais
Infecção suscetíveis: imunocomprometidos, diabéticos, pacientes com câncer, doentes renais e
hepáticos, alcoólatras.
Medidas preventivas de Cocção completa, prevenção da contaminação cruzada, refrigeração rápida de ostras.
controle
Listeria monocytogenes
Solo, vegetação, sedimentos marinhos, água. Recentemente comprovaram‑se surtos em
Fontes e disseminação humanos por alimentos contaminados.
Alimentos envolvidos Leite, queijos frescos, produtos cárneos processados, pescados, vegetais, patês.
Há invasão na mucosa intestinal, ocorrendo sintomas de gripe, febre, cefaleia, vômitos.
Infecção Também causa meningite, encefalite, abortos, septicemia.
Medidas preventivas de Calor (cocção, pasteurização), evitar o consumo dos alimentos citados.
controle
Rotavírus, agente Norwalk
Fezes do homem, água contaminada com fezes. Podem ser transmitidos por contágio (pessoa
Fontes e disseminação a pessoa).
Alimentos envolvidos Mariscos, frutas e verduras cruas, saladas mistas de vegetais com carnes, aves ou peixes.
Provocam doenças decorrentes da ingestão de alimentos crus. Os sintomas são diarreia, febre,
Infecção vômitos, cólicas abdominais, distúrbios respiratórios, podendo variar em função do vírus
envolvido.
Medidas preventivas de Calor, evitar a contaminação da água por dejetos humanos, boas práticas de higiene durante o
controle processamento.
139
Unidade II
Adaptado de: São José e Abranches (2019); Germano e Germano (2015); Rey e
Silvestre (2009); Riedel (2005); Hobbs e Roberts (1998); Frazier e Westhoff (1993).
• Toxinas de moluscos: toxinas paralisantes, diarreicas, neurotóxicas, amnésicas (de algas). Medidas
preventivas: seleção de fornecedores.
• Metabólitos tóxicos: tiramina (queijos e algumas frutas, como banana e morango), histaminas
e aminas vasopressoras de escombrídeos (atum, cavalinha). Medidas preventivas: controle de
temperatura, seleção de fornecedores.
140
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• danos neurológicos;
• câncer;
Por sua vez, a exposição prolongada, em níveis altos, a agentes químicos pode causar:
• doenças agudas;
• aborto etc.
A rastreabilidade dos agentes químicos de doenças no homem não é tarefa fácil, uma vez que a
doença pode se manifestar após exposição prolongada, o que pode dificultar e confundir a análise
das suas causas. A determinação da toxicidade e o efeito deletério à saúde são evidenciados por
experimentação em animais de laboratório, por análise de dados epidemiológicos e por diagnóstico de
patologia clínica.
Algumas condições que favorecem os agentes químicos na contaminação dos alimentos são:
• Contato com superfícies contaminadas: qualquer alimento que entre em contato com
superfícies contaminantes ou contaminadas, como metais pesados, detergentes, embalagens
com substâncias tóxicas que migram para o alimento.
• Aditivos tóxicos: qualquer alimento que recebe aditivos tóxicos, por falhas na sua proporção ou
no processo de mistura ou por uso inadequado, como nitratos, nitritos e sulfitos.
• Outras causas: algumas condições favoráveis aos agentes químicos podem ter ação criminosa,
como adição intencional de substâncias tóxicas, fraudes e falsificações com produtos tóxicos.
Os perigos físicos na contaminação dos alimentos envolvem: lascas de madeiras, pedras, fragmentos
de metais, fragmentos de plásticos, espinhas e fragmentos de ossos, pragas, cabelos e pelos, pedaços
de vidros.
• Selecionar fornecedores.
• Treinar a equipe.
• quebra de dentes;
• cortes na língua;
• engasgamento;
As lesões associadas com os agentes físicos são consideradas acidentes, uma vez que eles não se
encontram homogeneamente distribuídos no produto. O relato de casos não está disponibilizado na
medida necessária. Apesar de estar configurado como perigo e, portanto, como agente de doença
(lesão física) transmissível por alimento, os dados de ocorrência não estão disponíveis para estudos
epidemiológicos. Portanto, existem casos, não surtos.
Algumas condições que favorecem os agentes físicos na contaminação dos alimentos são:
• Alimentos de origem animal contaminados com insumos para aplicação de drogas veterinárias,
como agulhas de seringas.
• Qualquer alimento que entre em contato com superfícies malconservadas, lascas de madeira, de
metais (além de parafusos e similares) e de plásticos rígidos.
• Qualquer alimento elaborado com matérias‑primas que estão em embalagens cujos fragmentos
podem ser introduzidos nele, tais como plásticos e metais.
• Práticas inadequadas dos consumidores, tais como mastigação inadequada, consumo de ossos
(pescoço de frango, por exemplo) e espinhas de pescados.
• Outras causas, por exemplo, agulhas usadas para introdução de temperos em carnes (perus), fios
de cabelo em mamadeiras, fragmentos de ossos em carnes desossadas.
Sintomas prevalentes
Refere‑se aos principais e mais frequentes sinais clínicos apresentados pelos afetados que
consumiram o alimento que contém o agente.
143
Unidade II
Período de incubação
Refere‑se ao intervalo de tempo entre o consumo do alimento que contém o agente e o aparecimento
dos primeiros sintomas no indivíduo afetado.
Efeito cumulativo
Propriedade do agente de se fixar no órgão ou tecido e de ocorrer o efeito quando alcança a dose
infectiva ou a dose‑resposta.
Magnitude do efeito
Efeito sobre a saúde do consumidor, podendo ser classificado, em relação à gravidade dos sintomas,
como de:
• Severidade alta: risco de vida do afetado. Necessita de atendimento hospitalar, como em caso de
botulismo, febre tifoide, câncer.
• Média: quando o perigo, biológico ou químico, é capaz de causar transtornos intestinais, vômitos
ou outras toxinfecções que necessitem internação do consumidor sem risco de morte ou possa
causar doença crônica com baixa probabilidade de levar a óbito. Quando o perigo físico é capaz
de causar ferimentos médios com necessidade de cuidados médicos ou odontológicos.
• Alta: quando o perigo, físico, químico ou biológico, pode causar a morte do consumidor.
• Perigos biológicos:
— Alta: são as resultantes de contaminações por microrganismos ou suas toxinas com quadro
clínico muito grave. Exemplos: toxinas de Clostridium botulinum, Salmonella typhi, Shigella
dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Brucella melitensis, Clostridium perfringens tipo C, vírus da
hepatite, Listeria monocytogenes (em alguns pacientes), Taenia solium (em alguns casos).
• Perigos químicos:
— Alta: contaminações dos alimentos por substâncias químicas proibidas (certos agrotóxicos e
produtos veterinários) ou usadas indevidamente (agrotóxicos e produtos veterinários), certos
metais, como o mercúrio, ou aditivos químicos que podem provocar casos de alergias severas
ou intoxicações quando em quantidades elevadas ou que podem causar dano a determinadas
classes de consumidores. Toxinas microbianas (micotoxinas) e metabólitos tóxicos de origem
microbiana também são exemplos.
— Baixa: substâncias químicas permitidas no alimento que podem causar reações moderadas,
como alergias leves e passageiras. Exemplo: uso inadequado de aditivos, como os sulfitos.
• Perigos físicos:
— Alta: representados por materiais como pedras, vidros, agulhas, metais e objetos pontiagudos
ou cortantes, que podem causar danos ou lesões, podendo até trazer risco à vida do consumidor.
— Baixa: representados por materiais estranhos que normalmente não causam lesões ou danos à
integridade física do consumidor, como sujidades, leves e pesadas (terra, areia, serragem, insetos
inteiros ou fragmentos, excrementos de insetos ou roedores, pelos de roedores etc.), que podem,
porém, causar choque emocional ou danos psicológicos, quando presentes no alimento.
145
Unidade II
Risco
Relação entre a presença de perigo no alimento e sua manifestação, assim como a magnitude do
efeito que causa à saúde das diferentes categorias de consumidores. A avaliação do risco pode ser
influenciada pelos seguintes fatores:
• Apoiar a adoção e indicar medidas de controle relacionadas com a redução de riscos microbiológicos.
• Estabelecer uma base analítica de custo‑benefício dos méritos relativos das estratégias de
mitigação de riscos microbiológicos (facilitar a seleção de opções de controle).
Alta Sa Me Cr
Probabilidade de ocorrência
Média Sa Me Ma
Baixa Sa Me Me
Desprezível Sa Sa Sa
Figura 30 – Matriz de avaliação de risco: Sa: satisfatório (desprezível); Me: menor; Ma: maior; Cr: crítico
146
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Período de recuperação
Fatalidade
A duração e a magnitude do efeito podem ser agrupadas em três categorias, que são:
• Longa duração: sequelas ou consequências que podem durar a vida toda, como artrite reativa,
cirrose hepática, afecção do feto por toxoplasmose.
Incidência
É a estimativa da proporção da DTA por um agente (perigo) em particular, que é transmissível por
um ou mais alimentos.
Dose infectiva
Dose‑resposta
Quantidade ou concentração do agente, calculada por modelos matemáticos, que pode afetar um
indivíduo. É a probabilidade de um único microrganismo causar a doença em determinados indivíduos.
A probabilidade aumenta à medida que a quantidade ou a concentração do agente também aumenta
até níveis iguais ou superiores ao da dose infectiva.
8 AVALIAÇÃO DE SURTOS
147
Unidade II
Ambiente
A ocorrência de casos de uma doença claramente além das expectativas, em geral, é denominada
surto. Endemia é a presença constante da doença em uma dada área geográfica ou grupo populacional.
Pandemia é a ocorrência da doença em todos os continentes, num dado período de tempo.
Surto de DTA é um episódio no qual uma ou mais pessoas apresentam sintomas clínicos semelhantes
depois de ingerirem alimentos de mesma origem e procedência. Ou seja, ocorre quando:
• Duas ou mais pessoas (não relacionadas entre si) apresentam uma doença similar depois de
consumirem um alimento comum.
• Duas ou mais pessoas apresentam uma doença similar depois de consumirem alimentos diferentes
em um mesmo local.
De forma geral, as possíveis causas são abuso de tempo e temperatura, contaminação cruzada e
higiene pessoal deficiente.
Caso de DTA é a especificação do número de indivíduos que foram afetados por uma doença de
origem alimentar.
148
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Saiba mais
A forma de obtenção dos dados de ocorrência das DTA varia entre os países, de acordo com o
sistema de notificação e de busca de dados. No Brasil, é por notificação específica e exclusiva de surtos,
e praticamente não se computa a ocorrência de casos de DTA, que são consideradas um problema
disseminado de saúde pública no mundo. Sua subnotificação é uma realidade mundial.
As DTA, e em especial as doenças diarreicas, estão disseminadas no mundo. Estima‑se que cerca
de 2 milhões de crianças morrem por ano, predominantemente nos países em desenvolvimento.
A contaminação de alimentos representa um enorme problema social e econômico nas comunidades e
em seus sistemas de saúde.
149
Unidade II
150
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Saiba mais
A investigação e o controle das DTA são importantes e são desafios multidisciplinares. Requerem o
envolvimento da clínica médica, epidemiologia, laboratório de análises clínicas e de análise microbiológica
e química de alimentos, segurança e controle de alimentos e gestão e comunicação de riscos. Muitos
surtos de DTA são pouco investigados, seja por indisponibilidade dos profissionais necessários, seja por
um investigador de campo que espera que todos os envolvidos deem respostas, mesmo sem capacitação
prévia das questões a serem formuladas.
Com relação às DTA, hoje o conhecimento e o alerta dos efeitos sérios e crônicos à saúde pelas
doenças de origem alimentar têm implicações amplas na saúde. Além do aumento do número de pessoas
vulneráveis, como idosos, imunocomprometidos ou suprimidos, mulheres grávidas, bebês e crianças e
indivíduos subnutridos.
151
Unidade II
Há também aumento do alerta das consequências econômicas, como custos com atenção médica e
hospitalar, perda de produtividade, perda do alimento, redução do comércio e de negócios e decréscimo
no turismo.
• Para implementar as intervenções ou ações corretivas e prevenir que outras pessoas adoeçam.
• Para saber mais sobre as implicações dos agentes de DTA com relação à saúde pública e
do consumidor.
• Para aumentar o conhecimento científico, como base e suporte das ferramentas de controle
(justificativas para a tomada de decisão de medidas de controle).
• Verificar o diagnóstico.
• Descrever a epidemiologia.
• Desenvolver hipóteses.
• Avaliar as hipóteses.
• Comunicar os resultados.
152
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
A investigação dos surtos de DTA deve ser realizada com o cumprimento das seguintes etapas:
• Histórico do alimento.
153
Unidade II
• Porcentagem de ocorrência.
• Observação dos fluxogramas dos alimentos suspeitos para avaliação dos pontos críticos que não
foram controlados.
Notificação da doença
Os surtos podem ser previstos depois de se detectar o aumento do risco da exposição da população
ou do consumidor, por exemplo, a contaminação da água potável ou o consumo de um alimento
comercialmente disponível.
154
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• Detalhes da clínica, incluindo data e hora do início, duração e severidade dos sintomas.
• Resultados de laboratório.
— Caso provável: tem o quadro típico da doença, mas não tem confirmação laboratorial.
155
Unidade II
Hipóteses
Com base nas informações preliminares, é possível levantar hipóteses sobre a doença e o respectivo
agente, o alimento veiculador mais provável e as possíveis falhas que favoreceram o agente do surto.
É importante para programar a investigação dos dados, como questionários, número de pessoas a
entrevistar, avaliação no local, coleta e análise de amostras biológicas, de alimentos e de ambiente etc.
• informação demográfica;
• informação clínica;
• O surto ou caso representa uma ameaça imediata à saúde da população ou dos consumidores
do local.
156
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Informações demográficas
Informações clínicas
A identificação dos casos, conforme definido, é a base para a entrevista sobre os sintomas e outras
informações clínicas. Essas informações clínicas dos casos colaboram na formulação de hipótese sobre
a etiologia possível.
• Natureza inicial e subsequente dos sinais e sintomas (curso evolutivo dos sinais e sintomas).
• Recuperação.
Para identificar a fonte e os veículos do surto, são necessárias informações do questionário sobre
fatores de risco do alimento consumido e fatores de risco dos consumidores.
157
Unidade II
158
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
1 Aditivos intencionais
2 Substâncias tóxicas
2 Cocção incompleta
11 Reaquecimento incompleto
Funcionário infectado
13
Preparo do alimento com muito tempo de
17 antecedência (>12 horas)
30 Resfriamento inadequado
Alimentos crus podem estar contaminados e ser fontes de Salmonella, Campylobacter, Clostridium
perfringens, Yersinia enterocolitica, Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus ou outro patógeno.
Pescados crus estão frequentemente contaminados com Vibrio parahaemolyticus, V. vulnificus e, em
algumas regiões, com Vibrio cholerae não O1. Arroz e outros grãos em geral apresentam Bacillus cereus,
sendo que ervas e especiarias também apresentam o C. perfringens. Além disso, os fatores a seguir
também podem contribuir para o surto de DTA (contaminação):
• Equipamentos (fatiadores, cortadores, moedores, facas para corte, recipientes para conservação
etc.) não limpos apropriadamente.
159
Unidade II
• Alimentos de alta acidez conservados ou mantidos em recipientes que contêm metais tóxicos
(antimônio, cobre, cádmio, chumbo, zinco), causando migração destes para o alimento.
• Contaminação do alimento durante a conservação, por exemplo, por exposição com fontes de
material fecal.
• Substâncias tóxicas, como pesticidas presentes nas matérias‑primas, falta de cuidado, acidentes ou
conservação imprópria destas, ou, ainda, por serem confundidas com ingredientes de alimentos.
• Pessoas infectadas.
• Manipulação inadequada.
• Recipientes tóxicos.
160
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• Aumento da água ativa em produtos secos ou intermediários, por exemplo, por condensação ou
exposição ao ambiente.
Etapa Condições
Recebimento Contaminação
Armazenamento Multiplicação
Congelamento ‑
Descongelamento Multiplicação
Refrigeração Multiplicação
Reconstituição Contaminação
Pré‑preparo/preparação Contaminação/Multiplicação
Cocção Sobrevivência
Espera pós‑cocção Multiplicação
Reaquecimento Sobrevivência
Espera Multiplicação
Porcionamento Contaminação
Dessalgue Multiplicação
Distribuição Multiplicação
Sobras Multiplicação
Transporte Multiplicação
161
Unidade II
• Descongelamento inadequado.
Fatores contribuintes %
Relativos à contaminação (bacteriana/química)
Matéria‑prima contaminada antes do preparo (bacteriana) 81,7
Contaminação durante o preparo
Manipuladores contaminados ou infectados (bacteriana) 55,0
Equipamentos contaminados (bacteriana) 34,6
Contaminação cruzada (bacteriana) 34,6
Alimento venenoso (química) 22,4
Contaminação (química) 1,4
Relativos à sobrevivência (bacteriana)
Processamento inadequado pelo calor (tempo/temperatura < 60 ºC) 41,2
Reaquecimento inadequado (tempo/temperatura < 70 ºC) 11,3
Relativos à multiplicação (bacteriana)
Conservação inadequada pelo frio (tempo/temperatura > 10 ºC) 79,2
Tempo muito longo entre preparo e consumo (acima de 2 h entre 83,5
10 ºC e 60 ºC)
A soma dos percentuais excede 100%, porque diversos fatores contribuíram para cada surto.
162
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Assim que os primeiros questionários respondidos foram obtidos, as informações têm que ser
trabalhadas e consolidadas, para dar uma noção clara sobre a distribuição dos sintomas clínicos e de
outros fatores entre os casos. Os dados podem ser colocados em tabelas, cujas linhas se referem aos
casos e as colunas representam uma variável de interesse.
No caso de surtos circunscritos (local e hora específicos, como em restaurantes, creches, escolas,
festas), a análise e a investigação têm por base refeição e alimento, além dos demais dados, como
demográficos, clínicos e fatores de risco. Trata‑se de “fonte comum ou fonte pontual do surto” (avaliar
curva epidêmica).
Data e hora
Taxa de ataque
A taxa de ataque é definida como a proporção entre os que ficaram doentes depois de uma exposição
específica, considerando os que não ficaram. Por exemplo, em um surto de gastroenterite com 50 casos
dentre uma população de 2.500 expostos, a taxa de ataque da doença é de 0,02 (50/2500, que é o
mesmo cálculo que 2/100 ou 20/1000).
A taxa de ataque específica é calculada para identificar pessoas da população que apresentam
maior risco de ficar doente do que as demais. Pode ser calculada por idade, residência, sexo ou
ocupação. Para identificar o veículo alimentar potencial em surto de DTA, o cálculo é feito com base
no número de casos, dentre os que comeram cada alimento, dividido pelo número total de pessoas
que comeram cada alimento.
Mediana é o ponto médio de uma série de valores ordenados. É a divisão da série de valores em
duas partes iguais. Ela também é usada para elaborar histograma. É obtida pela soma dos períodos de
incubação obtidos por entrevistas individuais dividida pelo número de entrevistados.
163
Unidade II
O alimento veiculador pode ser caracterizado reunindo os dados dos alimentos consumidos e dos
indivíduos expostos (doentes e não doentes), conforme preconizado no quadro a seguir.
Quando o RR apresenta um valor igual a 1, temos uma ausência de associação. Quando o RR é menor
que 1, a associação sugere que o fator estudado teria uma ação protetora. Quando o RR é maior que 1, o
fator estudado teria uma associação com a doença, e quanto maior, maior sua força de associação entre a
exposição e a doença. O RA quantifica o quanto da incidência da doença pode ser atribuída exclusivamente
ao fator de risco em estudo.
Saiba mais
Muitas fontes de informação podem ser utilizadas durante a investigação dos surtos, tais como:
164
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• Inventários.
• Registros de transporte e outras documentações relacionadas com a fonte dos produtos implicados.
• Revisão dos registros de saúde dos colaboradores sobre a condição física sua e de seus familiares
durante o período de interesse, na presença deles.
165
Unidade II
• O agente poderia ter sido introduzido em alguma etapa? Justificar, com base na investigação.
A coleta de amostras (clínicas e de alimentos) deve ser realizada o mais rápido possível,
acondicionadas, identificadas e transportadas adequadamente. Amostras conservadas para fins de
análise devem ter relatório acompanhando as condições de conservação. Os resultados, para serem
válidos, devem ser interpretados levando em conta histórico do surto, tipo de amostras, conservação
e transporte e análise da coerência entre os resultados das amostras clínicas, dos alimentos, dos
manipuladores e outras que tenham sido coletadas, como de meio ambiente, água etc.
A interpretação dos resultados consiste nas conclusões sobre qual agente, quem, quando e que
fatores contribuíram para o surto. A qualidade da interpretação dos dados obtidos na investigação é
fundamental para o estudo do agente, das condições que os favorecem, das medidas que podem ser
adotadas para seu controle, entre outros dados de interesse e importância para reduzir a incidência de
DTA a um nível aceitável aos consumidores e pela saúde pública.
Observação
166
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
• APPCC
• Conhecer os agentes e seus veículos para a identificação dos perigos a serem usados nos
planos APPCC.
• Conhecer as causas que favoreceram as DTA para identificar pontos críticos de controle no plano
APPCC e para o desenvolvimento da tecnologia.
• Avaliar os custos e gastos com o controle dos agentes – para a relação custo‑benefício do controle.
• Dar garantia de controle dos agentes para os consumidores por controlar as causas que favorecem
as DTA para satisfazer às expectativas de segurança dos consumidores.
Resumo
Exercícios
Questão 1. (IFB 2017) Dentre as alterações da cor da carne provocadas por microrganismos
produtores de pigmentos, assinale a alternativa incorreta.
B) O esverdeamento de produtos cárneos como salsicha e carnes curadas é provocado pela H2O2
produzida por bactérias quando o produto é exposto ao ar.
A) Alternativa correta.
Justificativa: são bactérias produtoras de pigmentos, por exemplo, Serratia marcescens ou qualquer
outra bactéria produtora de pigmento vermelho, e Pseudomonas syncyanea, que transmite cor azul à
superfície do produto.
B) Alternativa correta.
168
MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS
Justificativa: em carnes vermelhas processadas, dois tipos de esverdeamento podem ocorrer, sendo
um causado pelo peróxido de hidrogênio (H2O2) e o outro pelo H2S. No caso do esverdeamento por
H2O2, que ocorre em alguns tipos de salsichas e outras carnes curadas e embaladas a vácuo, esse defeito
geralmente aparece após a exposição desses produtos ao ar. Na presença do ar, há formação de H2O2,
que reage com nitroso‑hemocromo, produzindo uma porfirina oxidada esverdeada. O esverdeamento
também ocorre em decorrência do crescimento de microrganismos no centro do produto, onde o baixo
potencial redox propicia o acúmulo de H2O2. Apesar de o Lactobacillus viridescens ser o microrganismo
mais comum nesse tipo de esverdeamento, outros também podem estar envolvidos, como Leuconostoc,
Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis. Essa deterioração pode ainda ser causada por bactérias
produtoras de H2O2, como Lactobacillus fructivorans e Lactobacillus jensenii.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa correta.
Justificativa: em condições de aerobiose nos produtos cárneos, a fosforescência pode ser causada
por bactérias luminescentes ou fosforescentes que crescem na superfície da carne, tendo como exemplo
o microrganismo Photobacterium. O fenômeno de fosforescência da carne deve‑se à ação da enzima
luciferase, contida nesta bactéria.
E) Alternativa correta.
Justificativa: pela presença de bactérias, pode ocorrer a descoloração bacteriana, surgindo pigmentos
de cor verde, como a sulfomioglobina, devido ao desenvolvimento de bactérias produtoras de H2S
(Pseudomonas mephitica).
B) Outra causa possível, embora menos comum, de intoxicação alimentar é a infecção por um dos
tipos da bactéria Clostridium, uma das variedades da bactéria responsável pela doença chamada
botulismo, que, em vez do intestino, ataca o sistema nervoso, os sintomas podem ser indicativos
de alterações neurológicas, como visão dupla e dificuldade para focalizar objetos, falar e engolir.
169
Unidade II
A) Alternativa correta.
B) Alternativa correta.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa correta.
E) Alternativa incorreta.
171
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
C) GIARDIA-SP-INTESTINAL-PROTOZOAN-SITUATED-IN-AN-UPRIGHT-POSITION-ON-THE-MUCOSAL-
SURFACE-OF-THE-INTESTINE-725X508.JPG. Disponível em: https://pixnio.com/free-images/science/
microscopy-images/giardia-muris-protozoan/giardia-sp-intestinal-protozoan-situated-in-an-
upright-position-on-the-mucosal-surface-of-the-intestine-725x508.jpg. Acesso em: 17 dez. 2019.
172
Figura 5
MIOTO, R. Pele tem centenas de tipos de bactérias. Folha de S. Paulo, 29 maio 2019. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2009/05/573579-pele-tem-centenas-de-tipos-de-
bacterias.shtml. Acesso em: 11 nov. 2019.
Figura 6
Figura 7
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 28.
Figura 8
SILVA JR., E. A. da. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 7. ed. São Paulo: Varela,
2014. Adaptada.
Figura 9
Figura 10
Figura 12
CARVALHO, I. T. Microbiologia básica. Recife: EDUFRPE, 2010. p. 57. Disponível em: http://pronatec.
ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2013/06/Microbiologia_Basica.pdf. Acesso em: 7 out. 2019.
173
Figura 13
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 167.
Figura 14
Figura 15
CARVALHO, I. T. Microbiologia básica. Recife: EDUFRPE, 2010. p. 62. Disponível em: http://pronatec.
ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2013/06/Microbiologia_Basica.pdf. Acesso em: 7 out. 2019.
Figura 16
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 160.
Figura 17
Figura 18
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 160.
Figura 19
Figura 20
Figura 21
174
Figura 22
B) CARVALHO, I. T. Microbiologia básica. Recife: EDUFRPE, 2010. p. 104. Disponível em: http://pronatec.
ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2013/06/Microbiologia_Basica.pdf. Acesso em: 7 out. 2019.
Figura 23
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 170.
Figura 24
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 170.
Figura 26
GENTILE, P. Como ensinar microbiologia, com ou sem laboratório. Nova Escola, 1º jun. 2005. Disponível
em: https://novaescola.org.br/conteudo/385/como-ensinar-microbiologia. Acesso em: 11 nov. 2019.
Figura 27
A) TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 434.
B) MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 714.
Figura 28
GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e vigilância sanitária de alimentos. 5. ed. São Paulo:
Manole, 2015. Adaptada.
Figura 29
MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 722.
Figura 30
175
Figura 31
SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Curso técnico da área da saúde: habilitação
profissional de técnico em vigilância em saúde. São Paulo: SMS, 2001. p. 33. Disponível em:
http://sms.sp.bvs.br/lildbi/docsonline/get.php?id=2695. Acesso em: 19 nov. 2019.
Figura 32
FORSYTHE, S. J. Microbiologia da segurança dos alimentos. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 42.
Figura 33
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (SVS). Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil.
Brasília: Ministério da Saúde, 2019. p. 5. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/
pdf/2019/maio/17/Apresentacao-Surtos-DTA-Maio-2019.pdf. Acesso em: 7 out. 2019.
Figura 34
REFERÊNCIAS
Textuais
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Exercícios
Unidade I – Questão 2: CEBRASPE. Polícia Científica de Pernambuco. Perito Criminal – Biologia. 2016.
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180
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183
184
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000