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PAVIMENTOS

ECONÔMICOS
Tecnologia do uso dos
Solos Finos Lateríticos

Douglas Fadul Villibor


Job Shuji Nogami
© Copyright 2009 by Douglas Fadul Villibor e Job Shuji Nogami

Supervisão geral Douglas Fadul Villibor e Job Shuji Nogami


Coordenação gráfica Editora Arte & Ciência
Capa Elton Ferreira de Oliveira e Wesley Silva
Coordenação Editorial Elton Ferreira de Oliveira
Diagramação e projeto gráfico resolvo ponto com – soluções em design
Preparação de figuras Elton Ferreira de Oliveira
Revisão técnica Débora Nogueira Targas e João Virgilio Merighi
Revisão de texto Luciana Reis Andrade, Mirella Pennacchi Assali, Odilson Coimbra
Fernandes e Leticia Zini Antunes.

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Acácio José Santa Rosa, CRB-8/157)

V782p
Villibor, Douglas Fadul
Pavimentos econômicos: tecnologia do uso dos solos finos lateríticos /
Douglas Fadul Villibor, Job Shuji Nogami. – São Paulo: Arte & Ciência, 2009
p.291, 21 cm / contém anexos / Bibliografia
ISBN - 978-85-61165-34-5

1 Pavimentação econômica. 2. Pavimentação – Emprego de solos finos lateríticos.


3. Pavimentos – Construção – Baixo custo. 4. Solo lateríticos – Tecnologia do uso –
Pavimentação. 5. Engenharia rodoviária – Estudos de técnicas econômicas.
6. Rodovias – Construção. I. Nogami, Job Shuji. II. Título.
CDD - 625.8
- 625.85
- 625.123

Índice para catálogo sistemático:

1. Pavimentos Econômicos: Tecnologia do Uso dos Solos Finos Lateríticos 625.85


2. Pavimentação: 625.8
3. Pavimentos flexíveis: Emprego de base com Solos Finos Lateríticos 625.85
4. Geotecnica - Estudo de solos finos lateriticos com e sem agregados 624.13
5. MCT - Metodologia 624.13
6. Mecânica dos solos 624.131
7. Pavimentos: Construção: Aspectos econômicos 388.11
8. Solo arenoso fino laterítico: 624.131.2
9. Solos tropicais: 624.131.29

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DEDICATÓRIA

DEDICATÓRIA

À minha esposa, Maria Alice, que sempre


acreditou em minhas idéias.
Aos meus filhos, Simone e André, que sempre me apoiaram.
Aos meus netos Victor e Júlia, que me fortalecem
para a continuação do meu trabalho.

Douglas
HOMENAGEM E IN MEMORIAN

HOMENAGEM

Ao mestre e amigo Job Shuji Nogami, responsável pela minha


formação científica e pelo muito que tem feito para o desen-
volvimento do estudo dos solos tropicais e de novas técnicas
rodoviárias mais apropriadas à realidade nacional.

Douglas

IN MEMORIAN

Araken Silveira
Fernando Custódio Corrêa
Luiz P.V.Andreatini
Raphael do Amaral Campos
Sérgio Thenn de Barros
Pela contribuição à engenharia rodoviária.

Ao saudoso amigo Mario Kabalem Restom


Pelo apoio constante na divulgação de nosso trabalho,
por meio da ABPv.
AGRADECIMENTOS

AGRADECIMENTOS

O desenvolvimento da tecnologia apresentada, genuinamente


brasileira, é resultado da contribuição de muitos profissionais
que se dedicam ao estudo de pavimentos com solos tropicais;
entre eles, os autores agradecem:
t Aos colegas co-autores em diversos trabalhos técnicos,
fundamentais para a elaboração deste livro;
t Aos engenheiros Paulo R.M. Serra e Alexandre Zuppolini
Neto pela contribuição e apoio irrestrito a este trabalho;
t Aos técnicos e engenheiros que, direta ou indiretamente,
participaram para o desenvolvimento, em especial Sérgio
T. Bugni e Salvador de Almeida;
t A todos os professores das Instituições de Ensino ligados
a esta área, destacando-se: Glauco T. Fabbri, Jacques de
Medina, Liedi B. Bernucci e Salomão Pinto, pela divulga-
ção dessa tecnologia.
APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO

Os engenheiros de pavimentação que tiveram a oportunidade de participar


das reuniões anuais de pavimentação da ABPv – Associação Brasileira
de Pavimentação nas décadas de setenta, oitenta e noventa, foram
várias vezes surpreendidos com os excelentes resultados mostrados
pelos trabalhos dos Professores Nogami e Villibor, sobre o emprego
de Solos Arenosos Finos Lateríticos (SAFL) em bases de rodovias vici-
nais da região oeste do Estado de São Paulo e norte do Paraná. Estive
felizmente presente em vários desses eventos, presenciei e, como
todos, conheci as metodologias e técnicas construtivas descritas pelos
autores, que possibilitavam o uso de solos até então considerados
inadequados pelas tecnologias tradicionais oriundas da AASHTO,
ASTM e DNER, em camadas de base de pavimentos econômicos.
Em 2002 tive minhas primeiras experiências com este tipo de base e, então, o que
era uma surpresa por leitura de artigos técnicos se transformou em
realidade. Ao avaliar pavimentos de uma rodovia em São Paulo e de
outras no norte do Paraná, me deparei com pavimentos com degra-
dações superficiais, mas estrutura preservada e aproveitável, com
deflexões inferiores a 40 centésimos de milímetros, após mais de
20 anos de exposição ao tráfego. O primeiro pensamento foi lógico:
deveria tratar-se de bases de solo-cimento. Mas não: eram bases de
Solos Arenosos Finos Lateríticos (SAFL) sem qualquer aglutinan-
te, extremamente coesivas, com excelente desempenho em 20 ou
25 anos, requerendo intervenções de restauração econômica, com
apenas reforço ou nova camada de revestimento.
Ao longo de onze anos de trabalhos como consultor do BID – Banco Interamericano
de Desenvolvimento, avaliando projetos de pavimentação e de restau-
ração de pavimentos de rodovias e vias urbanas, em quase todos Esta-
dos do País, e nos dois últimos anos como consultor no BIRD – Banco
Mundial, tive a oportunidade de encontrar, em vários trechos, solos
finos laterizados e coesivos de boa qualidade, nem sempre aprovei-
tados por falta de estudos técnicos adequados. Em alguns poucos
casos, esses solos foram empregados em bases sem os devidos estudos
e critérios, resultando em sucesso, mas também havendo fracassos,
por não terem sido empregados métodos científicos.
Não foi este o caso de São Paulo e Paraná, onde os Professores Nogami e Villibor
foram inovadores, não lhes bastando a coragem e confiança para
executar as bases de SAFL, tendo ainda desenvolvido amplas pesqui-
sas científicas e definido tecnologias específicas de ensaios de labo-
ratório para caracterização desses solos, e procedimentos executivos
adaptados às suas peculiaridades.
O resultado desta inovação, que foi na verdade fruto de grande dedicação pessoal,
é inestimável. Qual terá sido a economia para a sociedade com a
extensa rede de rodovias e vias urbanas executadas com solos locais,
com baixo custo inicial e durabilidade adequada? Quantos quilôme-
tros a mais foram pavimentados com a economia de custos acarreta-
da? E quais os benefícios gerados com isto? Quantos produtores rurais
puderam ter auferido ganhos na venda de seus produtos quando
um pavimento barato reduziu os seus custos de transporte? Quan-
tos jovens puderam passar a sonhar com estudo em cidades mais
evoluídas, podendo se deslocar diariamente até as faculdades nos
pavimentos de baixo custo? Quantos doentes foram salvos pela opor-
tunidade de transporte em rodovias pavimentadas nas épocas de
chuvas intensas?
Mas os autores desta obra que lhes apresento não esperam homenagens
ou agradecimentos. Eles continuam a trabalhar e a brindar a comu-
nidade técnica com obras como esta, em que mostram as evoluções
da tecnologia aplicada aos Solos Arenosos Finos Lateríticos.
Neste livro, também, apresentam como grande contribuição, o desenvolvimento
de uma sistemática, genuinamente nacional, denominada MCT,
adequada para o estudo geotécnico de solos tropicais. Essa sistemática
permitiu os estudos de bases constituídas de materiais com predomi-
nância de Solo Fino Laterítico, com ou sem mistura de agregados, o
que ampliou as possibilidades de emprego desses solos em obras de
pavimentação econômica e durável.
Deus deu a alguns privilegiados, o dom de descobrir coisas novas e aplicá-las
bem – esses são os inovadores. Mas todos os engenheiros têm por
função básica buscar soluções econômicas, no que esta obra será
extremamente útil.

Marcílio Augusto Neves


Engenheiro Consultor em Transportes e Pavimentação
PREFÁCIO

PREFÁCIO

O conteúdo principal deste livro engloba as pesquisas sobre os Solos Arenosos


Finos Lateríticos (SAFL) e o estágio atual da tecnologia para seu uso
como base de pavimentos. Também, enfoca o desenvolvimento de
um estudo geotécnico das misturas solo laterítico - agregado para
bases. Os SAFL são peculiares das regiões tropicais úmidas e ocorrem
em vastas áreas do território brasileiro, em grandes depósitos (jazi-
das) naturais. Quando adequadamente compactados, muitas ocorrên-
cias de SAFL apresentam excelentes propriedades para servir como
base de pavimentos; isto já permitiu a viabilização de uma extensa
rede de rodovias vicinais pavimentadas, além de vários milhões de
metros quadrados de pavimentos em vias urbanas, aeródromos e
pátios industriais. Saliente-se que, segundo os critérios vigentes na
década de setenta (época da realização das primeiras pesquisas, tanto
no Brasil como no exterior), os solos referidos eram, frequentemente,
considerados inadequados para base de pavimentos.
O sucesso dos estudos sobre os SAFL deve-se, em grande parte, ao desenvolvimento
de uma nova sistemática de ensaios de solos, que caracteriza melhor
os solos tropicais em seu ambiente, proposta por Nogami e Villibor.
As pesquisas, parte fundamental dos objetivos da Tese de Doutora-
mento de Villibor (1981), foram complementadas, neste livro, utili-
zando novos procedimentos, consequentes à evolução dos próprios
ensaios e da técnica construtiva das bases de SAFL. Também, foi
feita uma adequação para se utilizar as novas terminologias de solos,
propostas pela publicação de um “Sistema Brasileiro de Classificação”
(1999) e de um “Novo Mapa de Solos do Brasil” (2001).
Cabe acrescentar que os primeiros estudos realizados para a finalidade em vista
puderam ser executados graças ao apoio tanto do Departamento
de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER-SP), como da
Universidade de São Paulo (USP), através da Escola Politécnica (EPUSP)
e da Escola de Engenharia de São Carlos (EESCUSP). Destaque-se que
os autores deste livro eram, na época do desenvolvimento daqueles
estudos, integrantes dos referidos Departamento e Escolas. Quanto às
pesquisas atuais, foram viabilizadas graças ao apoio da empresa LENC
- Laboratório de Engenharia e Consultoria, que executou os ensaios
necessários.
Quando possível, evitou-se repetir, neste livro, o que já constou no livro “Pavimentos
de Baixo Custo com Solos Lateríticos”, publicado em 1995. O conte-
údo de ambos os livros consubstancia, em grande parte, o conheci-
mento acumulado dos autores, que trabalham e pesquisam na área
de pavimentação com Solos Lateríticos, desde o final da década de
sessenta. Além disso, este livro contém dois anexos:
t Anexo I – Discussão de questões, essencialmente de conteúdo
pragmático, sobre o uso de base com predominância de Solo Fino
Laterítico.
t Anexo II – Apresentação dos Ensaios laboratoriais e de campo da
Sistemática MCT, ainda pouco divulgada.
Ambos foram incluídos por enfocarem conteúdos de grande importância
para os engenheiros e técnicos de pavimentação e são atualização de
conceitos apresentados em outros trabalhos dos autores, sobretudo
nas reuniões da ABPv (Associação Brasileira de Pavimentação).
A tecnologia de uso dos SAFL em bases está fundamentada, em parte, nos resultados
das pesquisas básicas apresentadas, salientando-se que elas foram
realizadas, inicialmente, para solos e condições climáticas de regiões
do Estado de São Paulo. Essa tecnologia foi utilizada, posteriormen-
te, para outros estados, com características similares, destacando-se
Paraná, Mato Grosso do Sul, Góias e Bahia.
Parte das pesquisas básicas apresentadas neste livro foi desenvolvida com
o uso da sistemática MCT, sobre amostras de solos utilizados na
execução de 36 trechos com base de SAFL, distribuídos em uma área
da ordem de 60% do Estado de São Paulo. Este estudo possibilitou um
conhecimento tecnológico profundo das características dos melhores
solos para esse tipo de base e gerou informações imprescindíveis para
a proposição adequada de sua técnica construtiva. Apoiados nisto, os
autores esperam que essa tecnologia e seus procedimentos possam ser
aplicados a qualquer região do Brasil com características similares às
das regiões em que foi desenvolvida.
Em outras regiões do Brasil onde também ocorrem os SAFL, utilizando-se
as informações e diretrizes apresentadas, poderão ser desenvolvidos
novos critérios de escolha destes solos e procedimentos construtivos
para bases, adaptados às condições locais, caso o uso dos propostos
neste livro não atenda adequadamente suas necessidades.
Do estudo geotécnico das misturas solo laterítico - agregados resultou um crité-
rio de qualificação (por meio da MCT) para seu uso em bases, nas
condições tropicais. Esse critério é mais adequado e abrangente do
que o atual que, para esse fim, utiliza os conceitos tradicionais para
estudo de bases estabilizadas granulométricamente e cuja origem está
associada às condições de regiões de clima temperado e frio.
PREFÁCIO

Para efeito de orientação ao leitor, os assuntos desse livro estão englobados


em três enfoques básicos:

Almeja-se que os conteitos apresentados possam contribuir para o surgimento


de novos programas de pesquisa na Área de Pavimentação no meio
científico. Espera-se, também, que contribuam para acelerar a imple-
mentação de programas de rodovias vicinais com pavimentação de
baixo custo, essenciais para o escoamento da safra agrícola, além de
propiciar o desenvolvimento de novas tecnologias de pavimentação
de baixo custo para vias urbanas, algo de que o Brasil é extrema-
mente carente.

Douglas Fadul Villibor


Job Shuji Nogami
SUMÁRIO

SUMÁRIO

1. Introdução ................................................................................................... 18
1.1 Histórico ........................................................................................................ 19
1.2 Comportamento de Trechos Executados com SAFL .......................................23
1.3 Objetivos .......................................................................................................28

2. Dificuldades e Deficiências da Sistemática .................................................30


2.1 Generalidades................................................................................................ 31
2.2 Dificuldades na Determinação do Comportamento Geotécnico
Laterítico dos SAFL ........................................................................................ 32
2.3 Dificuldades Inerentes à Metodologia dos Ensaios Tradicionais ...................... 33
2.4 Deficiências na Previsão de Problemas Construtivos e de Desempenho
nas Bases de SAFL ..........................................................................................35
2.5 Considerações Complementares .................................................................... 37

3. Desenvolvimento da Sistemática MCT para Estudo Geotécnico ...............38


3.1 Considerações Iniciais .................................................................................... 39
3.2 Sistemática MCT ...........................................................................................40
3.3 Programas de Ensaios para Estudo dos Solos
com a MCT ..................................................................................................58

4. Pesquisas Desenvolvidas com o Uso da Sistemática MCT ..........................68


4.1 Considerações Iniciais ....................................................................................69
4.2 Diferenças de Propriedades entre Solos de Comportamento
Laterítico (L) e não Laterítico (N) ...................................................................69
4.3 Peculiaridades das Propriedades dos SAFL Usados em Bases,
Verificadas com aplicação da MCT ................................................................ 87
4.4 Ensaios in situ e Correlações com os de Laboratório .................................... 103
4.5 Imprimadura Asfáltica Impermeabilizante sobre ...............................................
Bases de SAFL, em Laboratório .................................................................... 114
4.6 Granulometria, Mineralogia , Estrutura e Cor dos SAFL ................................ 124

5. Estudo Geotécnico de Solos para Bases de SAFL com o


Uso da Sistemática MCT ............................................................................ 134
5.1 Fase Preliminar ............................................................................................. 135
5.2 Fase Básica ................................................................................................... 141
6. Recomendações Construtivas e Controle Tecnológico de Bases SAFL.....148
6.1 Introdução ................................................................................................... 149
6.2 Tipos de SAFL para Base Segundo a Sistemática MCT .................................. 150
6.3 Recomendações sobre a Técnica Construtiva da Base e da Imprimadura .... 152
6.4 Controle Tecnológico da Base e da Imprimadura ......................................... 159
6.5 Defeitos Associados à Falhas ou Inadequações do Projeto e/ou
Técnica Construtiva ..................................................................................... 164

7 Estudo Geotécnico de Solo Laterítico-Agregado para Base com o ...............


Uso da MCT....................................................................................................170
7.1 Considerações Sobre Solo-Agregado .......................................................... 171
7.2 Análise Crítica do Procedimento Tradicional para Estudo Geotécnico
de Solo Laterítico-Agregado ....................................................................... 172
7.3 Uma Diretriz Filosófica para Estudo Geotécnico de Solo
Laterítico-Agregado ..................................................................................... 177
7.4 Proposta de Estudo Geotécnico de Materiais Naturais para
Base de Solo Laterítico-Agregado ............................................................... 180
7.5 Estudo Geotécnico de Mistura Artificial para Base de Solo
Laterítico-Agregado Descontínuo (SLAD) .................................................... 189

8. Considerações Finais .................................................................................. 194

Anexo 1 Conceitos Fundamentais para Utilização de Base com


Predominância de Solo Fino Laterítico .............................................198
Discussão das Questões .............................................................................. 201
1. Conceituação .............................................................................................. 201
2. Campo de Aplicação ...................................................................................208
3. Ocorrências de Jazidas ................................................................................209
4. Técnica Construtiva e Controle Tecnológico ................................................ 212
5. Comportamento Tecnológico ...................................................................... 219
6. Conservação e Recuperação ........................................................................ 242

Anexo 2 Métodos de Ensaio da Sistemática MCT.............................................248


1. Ensaio de Compactação Mini-Proctor (M1) .................................................. 249
1.1 Considerações Preliminares ................................................................... 249
1.2 Material e Aparelhagem Específicos .......................................................250
1.3 Procedimento de Ensaio ........................................................................ 251
1.4 Cálculo e Apresentação dos Resultados ................................................. 253
2. Ensaio Mini-CBR e Expansão (M2) ............................................................... 253
2.1 Considerações Preliminares .................................................................... 253
2.2 Aparelhagem Específica Essencial .........................................................254
2.3 Procedimento de Ensaio ........................................................................254
2.4 Cálculo da Expansão ..............................................................................256
2.5 Cálculo do Mini-CBR .............................................................................256
2.6 Apresentação dos Resultados ................................................................. 257
2.7 Variantes ............................................................................................... 257
3. Ensaio de Contração (M3) .......................................................................... 257
3.1 Considerações Preliminares .................................................................... 257
3.2 Aparelhagem Específica .........................................................................258
SUMÁRIO

3.3 Procedimento de Ensaio.........................................................................258


3.4 Cálculo da Contração ............................................................................ 259
3.5 Apresentação dos Resultados ................................................................. 259
4. Ensaios de Infiltrabilidade e de Permeabilidade (M4) ...................................260
4.1 Considerações Preliminares ....................................................................260
4.2 Aparelhagem Específica .........................................................................260
4.3 Corpos de Prova .................................................................................... 262
4.4 Procedimento para Determinação da Infiltrabilidade.............................. 262
4.5 Determinação da Permeabilidade .......................................................... 263
4.6 Representações Gráficas ........................................................................264
4.7 Cálculos ................................................................................................. 265
4.8 Representação dos Resultados ............................................................... 265
5. Ensaio de Compactação Mini-MCV (M5) .................................................... 265
5.1 Considerações Preliminares .................................................................... 265
5.2 Aparelhagem Específica e Preparo da Amostra.......................................266
5.3 Escolha do Procedimento.......................................................................266
5.4 Preparo da Amostra ............................................................................... 267
5.5 Procedimento de Ensaio Utilizando a Série de Parsons ........................... 267
5.6 Curvas de Deformabilidade da Série de Parsons ..................................... 267
5.7 Família de Curvas de Compactação, Linha das MEASmáx e
Coeficiente d’ (Procedimento Série de Parsons) ...........................................268
5.8 Procedimento de Ensaio Utilizando a Série Simplificada ......................... 269
5.9 Procedimento Mini-MCV-Classificatório ................................................. 269
6. Ensaio de Penetração da Imprimadura Betuminosa (M6) ............................ 272
6.1 Considerações Preliminares .................................................................... 272
6.2 Aparelhagem Específica e Materiais ....................................................... 272
6.3 Montagem, Extração e Secagem dos Corpos de Prova .......................... 272
6.4 Aplicação da Pintura Betuminosa, Cura e Determinação da
Penetração da Imprimadura ........................................................................ 272
7. Ensaio Mini - CBR de Campo – Procedimento Dinâmico (Aplicação
de Golpes de Soquete) (M7) ........................................................................ 273
7.1 Considerações Preliminares .................................................................... 273
7.2 Aparelhagem Específica ......................................................................... 273
7.3 Procedimento......................................................................................... 273
8. Ensaio da Perda de Massa por Imersão (M8) ................................................ 274
8.1 Considerações Preliminares .................................................................... 274
8.2 Aparelhagem Específica ......................................................................... 274
8.3 Preparo dos Corpos de Prova ................................................................. 275
8.4 Imersão e Coleta do Solo Desprendido .................................................. 275
8.5 Cálculo da Perda por Imersão ................................................................ 275
9. Classificação Geotécnica MCT (M9) ........................................................... 276
9.1 Considerações Preliminares .................................................................... 276
9.2 Ensaios e Procedimento Classificatório ................................................... 277
9.3 Procedimentos Expeditos de Classificação .............................................. 278
9.4 Exemplo para Obtenção da Classificação MCT de um Solo com
Uso da Série Simplificada de Nogami e Villibor ..................................... 279

Bibliografia ......................................................................................................289
INTRODUÇÃO

18
1.1 HISTÓRICO
As técnicas rodoviárias utilizadas em pavimentação nos países em
desenvol-vimento são, geralmente, originárias de países já desen-
volvidos. No Brasil, de uma maneira geral, os organismos responsá-
veis pela construção de pavimentos seguem o que recomendam as
normas e instruções do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT), as quais, por sua vez, se baseiam nas normas de
entidades norte-americanas, tais como: American Association of State
Highway and Transportation Officials (AASHTO), American Society
for Testing and Materials (ASTM), Asphalt Institute (AI) e Portland
Cement Association (PCA).
Tais normas resultaram, basicamente, de estudos do comportamento
de rodovias e pistas experimentais situadas nos Estados Unidos da
América (USA) e envolvem fixação de condições empíricas válidas
para os ambientes e solos mais representativos daquele País. Nelas
não se consideram, portanto, as peculiaridades relacionadas com as
condições e com os solos mais frequentes no Brasil, onde, tanto os
solos quanto os climas predominantes, podem ser englobados, gene-
ricamente, como do tipo “tropical úmido”.

O comportamento peculiar dos solos tropicais, constatado em obras


rodoviárias locais, justifica a importância de um estudo aprofundado,
em laboratório e no campo, objetivando sua aplicação na pavimen-
tação.
No Estado de São Paulo, o melhor aproveitamento dos solos laterí-
ticos, que são os tipos mais importantes dentre os solos tropicais,
em camadas de sub-base de pavimentos, surgiu no fim da década de
quarenta, logo após a introdução do uso do ensaio CBR, que permitiu
constatar valores excepcionalmente elevados deste suporte, mesmo
para variedades argilosas. Essa utilização foi intensificada na década
de cinquenta com o objetivo de eliminar as deformações frequentes
(recalques diferenciais) de pavimentos com bases de solo-cimento,
construídas sobre solos que apresentavam baixos valores de suporte.
Isto proporcionou maior familiaridade dos técnicos com esse tipo de
solo, para pavimentação, e abriu caminho para o desenvolvimento
das etapas subsequentes de sua utilização.

19
Pavimentos Econômicos

A primeira tentativa experimental sistematizada de utilização de


solos lateríticos como base de pavimento foi feita pelo DER-SP num
dos acessos a Campinas, no início da década de cinquenta, sob a
orientação do Engº Francisco Pacheco e Silva da então Seção de Solos
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Foi utilizada base de
argila laterítica compactada, protegida de todos os lados por pintura
betuminosa. O desempenho da base foi excelente, porquanto, por
vários anos, se manteve em condições de conservação idênticas às
demais contíguas, construídas de macadame hidráulico. Infelizmen-
te, apesar do sucesso da experiência, não houve continuidade dos
estudos relacionados com o uso daquele tipo de base.
A primeira utilização de base de Solo Arenoso Fino Laterítico (SAFL),
no DER-SP, ocorreu na Regional de Araraquara, em maio de 1967,
com a construção de duas variantes de trânsito na Via Washington
Luiz (SP-310), com cerca de 300 m cada uma (denominadas Cambuy
e Periquito). Projetadas e supervisionadas pelo Engº Fernando Custó-
dio Corrêa, ambas tinham como revestimento um tratamento super-
ficial simples e teriam que funcionar por três meses e meio, até a
construção do trecho definitivo. Após o término do prazo de utili-
zação das variantes, foi constatado que estavam em perfeitas condi-
ções; isto encorajou a realização de outras experiências, pela regional
de Araraquara, utilizando bases com esse solo. Na designação desse
tipo de solo, o termo fino foi incluído para não se confundir com
os pedregulhos lateríticos, que possuem elevada porcentagem da
fração retida na peneira de 2,00 mm; às vezes o SAFL é tão fino que,
praticamente, não possui fração retida na peneira de 0,42 mm.
Além desses trechos experimentais do DER-SP, em maio de 1968 a Companhia
Energética de São Paulo (CESP) construiu um trecho experimental,
com a extensão de 1 km, na rodovia Pereira Barreto-Ilha Solteira
(SP-310), sob a orientação do Engº Carlos de Souza Pinto do IPT-SP.
Foi construído, com base de SAFL, revestimento de penetração inver-
tida tripla e inserido entre dois outros trechos: um com base de
solo cimento e outro com base de pedregulho, ambos com o mesmo
revestimento utilizado na base de SAFL. A experiência foi realizada
para verificar a diferença de comportamento entre esse tipo de base
e as outras convencionais, quando submetidas a um tráfego pesado,
no caso, gerado pela construção e funcionamento da Usina Hidro-
elétrica de Ilha Solteira. Durante 33 anos de utilização, os trechos
foram objeto de várias avaliações (a última em 2001), não tendo
sido constatada qualquer diferença de comportamento entre os três
tipos de base. Após, a rodovia foi recapeada e as bases continuam
em serviço.

20
INTRODUÇÃO 1

Em julho de 1972 o DER-SP executou, na rodovia que liga Dois Córre-


gos a Guarapuã, um trecho experimental de 200 m, com base de
SAFL e revestimento de penetração invertida tripla, inserido entre
trechos com bases convencionais (uma estabilizada granulométrica-
mente e outra de solo-cimento) e com o mesmo tipo de revestimento,
para avaliar o desempenho relativo dos três tipos de base, quando
submetidos a um tráfego médio. Até o presente, não se notou dife-
rença entre os comportamentos daqueles trechos.
Em junho de 1974, o Engº Douglas Fadul Villibor defendeu, na
EESCUSP, sua dissertação de Mestrado: Utilização de Solo Arenoso Fino
na Execução de Bases para Pavimento de Baixo Custo (Villibor, 1974).
Além do estudo das áreas de ocorrência de SAFL no Estado de São
Paulo e de suas características tecnológicas, foi proposta uma tenta-
tiva de especificação e recomendações construtivas para seu emprego
em bases de pavimentos de baixo custo. Esse primeiro trabalho foi
fundamentado, exclusivamente, no desempenho das pistas experi-
mentais executadas pelo DER-SP, até 1973.
Em fins de 1974, o DER-SP utilizou as diretrizes, apresentadas no
referido Mestrado, para a elaboração de projetos e orientações para
o controle, execução e recebimento das bases de SAFL. Com isto,
o DER-SP pavimentou, até 1981, mais de 500 km de rodovias que
apresentavam tráfego inferior a 1200 veículos/dia, sendo, aproxima-
damente, 35% veículos comerciais.
Em 1975, foi apresentada, na EESCUSP, a dissertação de Mestrado
Comporta-mento de Trechos Experimentais com Bases de Solos Areno-
sos Finos (Corrêa, 1975), relatando o comportamento de algumas
das pistas até então construídas, com faixas adicionais para tráfego
pesado, na Via Whashington Luiz.
O Governo do Paraná, em 1976, para viabilizar seu plano de execução
de rodovias vicinais (VDM ≤ 1.000 veículos), solicitou o auxílio do
Departamento de Vias de Transporte e Topografia da EESCUSP. Sob
a coordenação dos Professores Villibor e Corrêa, foram elaborados
projetos de pavimentos econômicos e foi supervisionada a execu-
ção de trechos que totalizaram mais de 1.000 km de extensão. Para
aproximadamente 600 km, foram projetados pavimentos econômicos
com base de SAFL, obedecendo às diretrizes apresentadas por Villibor
em 1974.
A experiência adquirida na elaboração do projeto, na supervisão da
construção e no acompanhamento do comportamento, foi conside-
rável. Ressalte-se, entretanto, que em todos os trechos executados até
1980 a utilização de bases de SAFL baseou-se nas diretrizes propostas
em 1974, as quais vinham apresentando várias dificuldades e defici-
ências, o que tornou necessária sua revisão.

21
Pavimentos Econômicos

A revisão levou à elaboração de uma nova Sistemática, proposta em


1981 na Tese de Doutoramento Pavimentos Econômicos, Novas Consi-
derações defendida por Villibor (Villibor,1981) na EESCUSP, a qual
introduziu novos conceitos sobre o uso de bases de SAFL e apresen-
tou uma nova metodologia de ensaios, utilizando os conhecimentos
adquiridos até 1980. Essa metodologia, desenvolvida juntamente com
o Engº Job S. Nogami, usa corpos de prova (cp) de dimensões redu-
zidas e, entre outras inovações, apresenta um novo critério de estudo
tecnológico para definir intervalos de valores empíricos admissíveis
das propriedades mecânicas e hídricas de um solo para ser usado em
bases e, também, recomendações construtivas e de controle tecno-
lógico das mesmas.
A nova Sistemática leva em conta, também, o fato de aquelas bases
serem reves-tidas por camadas betuminosas delgadas (do tipo trata-
mento superficial), com alguns centímetros de espessura, e trabalha-
rem expostas diretamente às intempéries. Esses fatores exigem que
a parte superior da base, além de resistir aos esforços de construção
do revestimento, esteja ligada intimamente a ele produzindo uma
interface, base-revestimento, capaz de evitar que ocorra escorrega-
mento do revestimento, devido aos esforços, verticais e horizontais,
criados pelo tráfego. Como consequência, foi proposta uma dosagem
adequada da imprimadura impermeabilizante e a melhoria do seu
processo construtivo.
Com o uso dessa Sistemática, até o fim de 2003, a extensão da rede de
rodovias do DER-SP, utilizando tal tipo de base, já havia ultrapassado
os 7.500 km equivalendo a, aproximadamente, 75% das vicinais do
Estado, o que atesta a aceitação técnica dos pavimentos com base de
SAFL.
Em 1995 foi publicado por Nogami e Villibor o livro Pavimentação
de Baixo Custo com Solos Lateríticos, que trouxe o estágio, até 1992,
do desenvolvimento do uso de SAFL em bases. Sua leitura, segundo
os autores, é fundamental para a compreensão adequada do desen-
volvimento da tecnologia do uso de solos tropicais na pavimentação
rodoviária e urbana. Um dos seus enfoques foi apresentar a metodo-
logia MCT, fruto da filosofia e do trabalho incessante do Engº Job S.
Nogami em parceria com Engº Douglas F. Villibor, com a proposição
de seus ensaios e de sua classificação de solos, além de estudos apro-
fundados sobre as propriedades dos solos tropicais. O livro referido
apresenta, também, aplicações práticas da metodologia MCT para
estudos geotécnicos dos solos tropicais, que permitiram o desenvol-
vimento de critério para a escolha de materiais tropicais, visando
seu uso em bases de pavimento, além de técnicas construtivas para
as mesmas. Ainda constam, no livro, estudos das peculiaridades dos

22
INTRODUÇÃO 1

solos tropicais e de sua erodibilidade para prevenir erosão nas faixas


marginais das rodovias. Ressalta-se que, devido ao ineditismo e à
importância científica dos assuntos desenvolvidos, seu uso tem sido
intenso no meio acadêmico como fonte de consulta e gerador de
temas para diversos trabalhos em nível de Mestrado e Doutorado.
O presente livro apresenta o estágio, até 2007, do conhecimento
sobre o uso das bases de SAFL; embora muito do texto original do
Doutorado de Villibor (1981) tenha sido mantido, nele é revisado e
atualizado o conteúdo daquela Tese, visando torná-lo mais adequa-
do aos técnicos que militam na área. Além disso, incorpora novos
conceitos, pesquisas e informações técnicas que ocorreram após 1981,
incluindo aquelas relatadas no livro de Nogami e Villibor (1995).
Para um melhor entendimento são apresentados, no Anexo I, em
forma de discussão de questões, os aspectos fundamentais para o uso
adequado das bases de SAFL e, no Anexo II, os métodos de ensaios
da Sistemática MCT cujo conhecimento, pouco divulgado, é funda-
mental para os técnicos envolvidos na área de estudos geotécnicos
e de laboratório.

1.2 COMPORTAMENTO DE TRECHOS EXECUTADOS COM SAFL


A observação do comportamento dos pavimentos rodoviários com
base de SAFL, construídos no Estado de São Paulo, mostrou que
essa solução superou, em muito, as expectativas. Os primeiros trechos
pavimentados em estradas, projetados para vida útil de 3 anos, apre-
sentaram, após 6 anos de utilização, comportamento altamente satis-
fatório, sem terem sofrido recapeamento ou recuperação maior. Há
trechos, inicialmente projetados como proteção à terraplenagem
(entre eles, Cambaratiba-Borborema, Ibitinga-Itápolis e Itajobi-Novo
Horizonte) e construídos em 1974/75, que até meados da década de
oitenta funcionaram como estradas efetivamente pavimentadas, sem
apresentarem grandes problemas. Na realidade, ocorreram defeitos
inerentes ao tipo de revestimento adotado (tratamento superficial
delgado); entretanto, são percentualmente pequenos, considerando-
se a extensão total executada. Aqueles trechos, com esbeltos recape-
amentos executados posteriormente, ainda continuam em serviço.
Tendo em vista o excelente comportamento apresentado nos trechos
experi-mentais, a base de SAFL começou a ser empregada como parte
integrante da estrutura de pavimentos econômicos, em substituição
às bases convencionais, geralmente constituídas de material britado,
pedregulho ou solo cimento.
Desde então, pavimentos com esse tipo de base vêm sendo utili-
zados em vias urbanas, em pistas de aeródromos e em pátios de
estacionamento. Dentre os trechos pioneiros de vias urbanas citam-

23
Pavimentos Econômicos

se os construídos em Araraquara, Barretos, Descalvado, Presidente


Prudente, São Carlos e, de pista de aeródromo, o da Base Aérea de
Pirassununga, do Ministério da Aeronáutica, todos no Estado de São
Paulo. Os pavimentos têm atendido, perfeitamente, aos objetivos
propostos, além de serem econômicos por utilizarem, em suas bases,
materiais locais de baixo custo e revestimentos esbeltos de tratamen-
tos superficiais.

1.2.1 Características Gerais


A tabela 1.1 reúne algumas características dos principais trechos
executados, ressaltando-se o excelente comportamento do trecho
experimental Pereira Barreto-Ilha Solteira, executado em 1968 e em
funcionamento até o presente, o qual, na inspeção de 1981, não havia
sofrido recapeamento e já tinha sido submetido a um tráfego de
N>5 x 106 solicitações do eixo padrão de 80 kN, permanecendo com
sua base íntegra. Vários outros trechos, com revestimento do tipo
tratamento superfícial de espessura inferior a 3 cm, construídos na
década de setenta, em 1981 já haviam sido submetidos a um tráfego
superior a 106 solicitações.
O subleito da maioria dos trechos é constituído de solos lateríticos,
desde argilosos até arenosos. Há, entretanto, subtrechos sobre sublei-
tos saprolíticos de basalto ou arenito, nos quais o solo foi substituído
numa espessura mínima de 30 cm. A melhoria do subleito, geralmen-
te, foi executada em todos os trechos numa espessura de 15 cm e com
os graus de compactação a uma energia ≥ 95% do Proctor Simples.
Apesar de somente terem sido executadas pequenas correções e reca-
peamentos (e/ou rejuvenescimentos) esbeltos, todos os trechos conti-
nuam em serviço com comportamento altamente satisfatório, o que
comprova a qualidade estrutural de suas bases.
As condições climáticas das regiões em que se situam os trechos considerados são:
t Tipo Climático (segundo Köppen): Cwa (quente com inverno
seco), Aw (tropical com inverno seco) e Cwb (temperado com
inverno seco).
t Precipitação Anual: de 1.000 a 1.500 mm.

A análise dos dados da tabela 1.1 mostra:


t Reforço do Subleito: a espessura máxima construída foi de 30
cm para os subleitos argilosos. Nos arenosos, geralmente, não foi
construída camada de reforço; no entanto, em alguns trechos
foi executada a melhoria do subleito a 95% da Massa Específica
Aparente Seca do Proctor Modificado (PM).
t Base de SAFL: na maioria dos casos têm sido utilizadas bases com
espessura 15 cm, compactadas aproximadamente a 95% da Ener-

24
INTRODUÇÃO 1

Tabela 1.1 CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS TRECHOS COM BASE DE SAFL NO ESTADO DE SÃO PAULO.
DADOS LEVANTADOS ATÉ 1981.
Reforço Base Revestimento
Data Ext. Larg. VDM
Trecho esp. esp. Esp.
execução [km] [m] Tipo Nt
[cm] [cm] [cm]
Pereira Barreto – Ilha Solteira 1.212
6/68 1 14 20 15 P.t. 3
(SP-310) 5,0x106
SP-326 – Terra Roxa 810
2/73 17,4 14 15 — P.t. 3
(SP-353) 1,7x106
Cambaratiba – Borborema 1.180
8/74 18,4 10,4 15 — P.s. 0,5
(SP-304) 2,6x106
505
Cândido Rodrigues – SP-310 6/75 13,0 14 20 15 P.s. 3
1,0x106
100
Boa Esperança do Sul – Trabiju 7/75 8,2 12,4 — 20 P.t. 3
1,0x106
958
Itápolis – Ibitinga (SP-317) 7/75 24,9 14 15 - 30 — P.d. 1,4
2,2x106
1.179
SP-326 – Viradouro (SP-351) 7/75 25,4 14 15 15 P.t. 3
2,9x106
1301
Itajobi – N. Horizonte (SP-321) 7/75 31,8 16,5 15 — P.d. 1,4
1,9x106
Acesso de Gavião Peixoto à 500
5/76 13,5 10,4 — 20 P.t. 3
SP-331 1,0x106
N. Lusitânia – Gastão Vidigal 279
5/76 11,9 9,2 0 - 15 15 P.d. 1,4
(SP-473) 8x106
Nova Aliança – Bady Bassit P.d. 356
10/76 12 9,2 0 - 15 15 4,0
(SP-355) C.A. 1,1x106
P.d. 670
Jaci – Mirassol 1/77 8,6 9,2 0 - 15 15 4,5
C.A. 1,5x106
P.d 670
Potirendaba – Cedral 1/77 21 9,2 0 - 15 15 4,5
CA 1,5x106
963
Acesso à Boracéia 5/78 17,5 9,2 0 - 15 15 P.d. 1,4
1,0x106
VDM e Nt – volume diário médio e número total de solicitações do eixo de 80 kN;
C.A., P.s, P.d, P.t. – Concreto Asfáltico e Penetração Invertida Simples, Dupla e Tripla.
Em todos os trechos o reforço e a base foram compactados a > 95 % do Proctor Modificado

gia Modificada (por volta de 100% da Energia Intermediária). Nos


trechos em que o pavimento foi dimensionado (Método DER-SP),
usou-se o coeficiente estrutural da base igual a um.
t Camada de Revestimento Betuminoso: predomina a utiliza-
ção de tratamento superficial de penetração invertida simples,
dupla ou tripla, mas com espessura inferior a 3 cm. Somente dois
trechos, Jaci-Mirassol e Potirendaba-Cedral, foram executados
com tratamento invertido duplo (1,5 cm) e premisturado a quente

25
Pavimentos Econômicos

de 3 cm de espessura.
1.2.2 Apreciação do Comportamento
As principais peculiaridades no comportamento dos pavimentos com
base de SAFL, no Estado de São Paulo, são:
t Ausência de Ruptura da Base: a ruptura, caracterizada pela desa-
gregação estrutural do revestimento, acompanhada de excessi-
va deformação da superfície com expulsão lateral do material
da base, somente tem ocorrido, excepcionalmente, onde o nível
d’água está a menos de 1 m de profundidade e, em alguns locais,
nas bordas do pavimento, quando não existem acostamentos. Isto
mostra a alta capacidade de suporte da base de SAFL.
t Pequena Deflexão: as deflexões determinadas com a Viga
Benkelman, apesar das esbeltas capas de rolamento utilizadas,
apresentaram valores baixos, geralmente dentro do intervalo
20 a 50 centésimos de mm, quando medidas pelo Método de
Ensaio 024/94 do DNIT (similar ao da Canadian Good Roads
Association), sob ação da carga de 80 kN por eixo. As deflexões
têm permanecido dentro daquele intervalo, ao longo do tempo,
mesmo em períodos de chuvas (vide figuras 4.36 e 4.37).
t Contribuição Estrutural da Base: “as bacias” (ou linhas de influ-
ência) obtidas com o uso da Viga Benkelman têm acusado, com
certa frequência, formas que indicam, teoricamente, um módulo
de elasticidade maior das camadas superficiais (valor da relação de
módulos: cerca de 2 a 5). Outra peculiaridade de muitas “bacias”
é a de apresentarem formas semelhantes às dos pavimentos com
base de solo-cimento (irregularidades de curvatura, deslocamento
do ponto de máxima deformação).
t Módulo de Resiliência: determinações laboratoriais preliminares,
efetudas pelo IPT sobre amostras de SAFL em 1975 (Revista DER
nº 124-Maio 1977), acusaram valores bastantes altos, na faixa de
230 a 560 MPa, para o Módulo de Resiliência (MR). Alvares Neto
(1997), ultilizando o FWD (Falling Weight Deflectometer), reali-
zou medidas das deflexões recuperáveis em diversos trechos com
base de SAFL e obteve, por retroanálise, valores ainda elevados
para o MR (na faixa de 210 a 340 MPa) que, embora inferiores
aos do IPT, são explicáveis por incorporarem a influência do trin-
camento da estrutura da base. A revista citada mostra, também,
bases de brita com valores para o MR, na faixa de 105 a 246 MPa.
A comparação desses valores coloca as bases de SAFL em posição
privilegiada relativamente às de brita.
t Recalques: em geral, o tráfego tem causado pequenos recalques
ao longo das rodeiras. Essas deformações provocam um aumento
da densidade nas rodeiras, permanecendo as regiões contíguas

26
INTRODUÇÃO 1

com densidades inferiores. Esse fato, normalmente, não chega a


produzir trincamento no revestimento, dada a sua esbeltez e flexi-
bilidade. A ocorrência foi maior nos primeiros serviços de prote-
ção à terraplenagem e nos cortes, onde não se utilizava reforço do
pavimento e, ainda, nos locais onde a base foi mal compactada.
Atualmente, com a adoção de reforço e um controle mais rígido
na compactação da camada de base, tem-se conseguido minimi-
zar essas ocorrências.
t Trincas de Reflexão: o desenvolvimento de trincas em bases de
SAFL é uma constante e ocorre desde a fase de construção. A
reflexão dessas trincas na superfície do tratamento superficial tem
sido observada, com maior frequência, nos tratamentos simples
e, apenas excepcionalmente, nos duplos e triplos.
t Susceptibilidade à Água: a erosão da borda do pavimento nos
acostamentos tem ocorrido em alguns trechos, principalmente
quando o SAFL apresenta elevada porcentagem de material (mais
de 70%), passando na peneira de abertura 0,150 mm, devido
à grande susceptibilidade desses solos à ação erosiva da água.
Tem-se constatado que as “panelas” crescem rapidamente devido,
à elevada susceptibilidade da base à ação erosiva direta da água
em movimento, o qual é causado pelo trânsito de veículos.
t Recuperação: Em 2007 o DER-SP, dentro do Programa de Recu-
peração de Vicinais (Pró-Vicinais), levantou 8.000 km desse tipo
de rodovia e verificou que, aproximadamente 70% dos trechos
pavimentados nas regiões centro, norte e oeste do Estado possuí-
am base de SAFL. O levantamento confirmou também, através da
avaliação dos defeitos estruturais e de superfície desses pavimen-
tos, o excepcional comportamento do pavimento nos trechos com
esse tipo de base. Um fato auspicioso, para a continuidade do uso
da base de SAFL, foi a constatação de que, embora muitos trechos
já estivessem com mais de 30 anos de uso, o custo da recupera-
ção resultou muito abaixo do esperado. No Pró-Vicinais, a quase
totalidade do orçamento para recuperação refere-se ao custo dos
recapeamentos para melhoria da superfície e apenas um valor
residual, ao custo da recuperação da parte estrutural da base, tal
como ocorreu no Paraná no seu Programa de Recuperação de
Vicinais com base de SAFL. Outra constatação importante foi que
a recuperação das vicinais, com outros tipos de bases estabiliza-
das granulometricamente (solo-brita, pedregulho, brita graduada,
bica corrida, etc.), apresentou custos iguais, ou superiores aos com
base de SAFL, para tráfegos similares.
Cabe ressaltar que, para tráfego pesado, já foi testado um pavimen-
to com base de SAFL e camada de revestimento de 10 cm (5 cm
“binder” e 5 cm de concreto asfáltico) em 3 faixas adicionais da Via

27
Pavimentos Econômicos

W. Luiz. Essas faixas apresentaram, durante o período de teste de 7


anos, um comportamento excepcional. Após esse período, a rodovia
Washington Luiz (SP 310) foi recapeada, duplicada e as faixas experi-
mentais transformadas em acostamentos. Visualmente, verifica-se na
figura 1.1 o comportamento excepcional dessa base, com 20 cm, que
permaneceu íntegra e sem deformações, mesmo sob essa condição
extrema de tráfego.
Observe-se que a régua metálica acha-se perfeitamente nivelada sobre a
camada de rolamento, mostrando a inexistência de qualquer
deformação transversal nas rodeiras e ausência de trincas no
revestimento. Tal constatação confirma a elevada capacidade
de suporte da base de SAFL, obtida tanto no campo como em
laboratório, por meio dos resultados do ensaio de suporte (CBR
e Mini-CBR), assim como o elevado modulo de resiliência desse
tipo de base, que é confirmado pelos dados obtidos por Nogami
e Villibor (1995). Isto justifica a suma importância de se dar
continuidade aos estudos para utilização da base de SAFL, em
rodovias de tráfego pesado.
A figura 1.1, mostra o Engenheiro Fernando Custódio Corrêa, já
falecido, verificando o comportamento da base da faixa adicio-
nal na SP 310. Fernando, a quem os autores prestam homena-
gem, foi um dos pioneiros na implantação de pavimentos com
Figura 1.1 Faixa adicional do Km 219 base de solos finos lateríticos, no Brasil.
da SP 310.

1.3 OBJETIVOS
Este livro tem por objetivos apresentar:
t O Estudo geotécnico dos SAFL para bases de pavimentos, com o
uso de uma sistemática não tradicional, denominada MCT.
t Uma série de recomendações, construtivas e de controle tecno-
lógico, para bases de SAFL e suas imprimaduras, as quais resulta-
ram, em grande parte, dos estudos efetuados com a aplicação da
Sistemática MCT.
t Conceitos básicos e estudo geotécnico para bases de solo laterí-
tico-agregado.
Para atingir os objetivos, foram desenvolvidos os seguintes assuntos:
t Dificuldades e deficiências da sistemática tradicional para o
estudo tecnológico das bases de SAFL.
t Desenvolvimento da Sistemática MCT para o estudo geotécnico
de solos.
t Pesquisas desenvolvidas com o uso da Sistemática MCT.
t Estudo geotécnico de solos para bases de SAFL com o uso da
Sistemática MCT.

28
INTRODUÇÃO 1

t Recomendações construtivas e de controle tecnológico de base


de SAFL.
t Conceitos básicos e estudo geotécnico para bases de solo laterí-
tico-agregado.
Subsidiariamente são apresentados, no Anexo I, conceitos fundamen-
tais para a utilização das bases em questão, por meio da discussão
de quesitos de suma importância para o entendimento do assun-
to. Também, no Anexo II, enfocam-se características dos ensaios da
MCT, pouco difundidas no meio técnico.
Os resultados das pesquisas desenvolvidas com a utilização da Siste-
mática MCT deram subsídios para a proposição dos estudos geotécni-
cos dos SAFL e dos solos laterítico-agregados, tanto na fase de projeto,
como na elaboração das recomendações construtivas e de controle
da base e sua imprimadura. Espera-se, também, que elas contribuam
para um melhor conhecimento do comportamento dos solos lateríti-
cos em caráter geral, mediante a obtenção de resultados mais signi-
ficativos das suas características geotécnicas. Isso permitirá melhor
utilização desses solos em pavimentos de rodovias com trânsito mais
intenso, e/ou pesado, e em obras similares.
Acredita-se que o uso da Sistemática MCT contribuirá para o desen-
volvimento de uma tecnologia nacional própria, em pavimentação,
além de aumentar o emprego dos SAFL em bases de pavimentos. Isto
proporcionará uma economia substancial na execução de programas
de pavimentação de estradas secundárias (VDM ≤1.000 veículos), que
são de vital importância para o desenvolvimento do País. Para maio-
res volumes de tráfego pode-se usar base de solo laterítico-agregado,
cujo estudo geotécnico é apresentado no capítulo 7.
Além disso, com pequenas adaptações, essa Sistemática poderá ser
usada no estudo da pavimentação de aeródromos e vias urbanas,
com grande economia em relação aos pavimentos convencionais.
Para pavimentação urbana o livro Pavimentos de Baixo Custo para Vias
Urbanas de Villibor et al. (2007), já apresenta a tecnologia adaptada
para esse fim, preconizado o uso de bases constítuidas de solos com
predominância de finos lateríticos.

29
DIFICULDADES E DEFICIÊNCIAS DA SISTEMÁTICA

30
2.1 GENERALIDADES
Até o final da década de setenta, o DER-SP utilizava, para o estudo geotécnico
dos SAFL para bases, praticamente a mesma sistemática tradicio-
nal sugerida na dissertação de Mestrado de Villibor (1974), a qual é
fundamentada no seguinte:
t Determinação do comportamento laterítico do solo, baseada em
informações pedológicas.
t Obtenção dos resultados de ensaios tradicionais de laboratório:
Granulometria por peneiramento, Limites de Consistência [Limite
de Liquidez (LL) e Limite de Plasticidade (LP)] e CBR (Índice de
suporte e Expansão). A partir dos valores de LL e LP, é obtido o
Índice de Plasticidade: IP = (LL - LP).
Pa ra os resu ltados referentes a esses ensa ios, era m recomendados
os seguintes intervalos de valores:
a] Granulometria por Peneiramento
 Material que passa na peneira 0,42 mm .................85 a 100%
 Material que passa na peneira 0,075 mm ................. 25 a 45%
b] Limites de Consistência
 Limite de Liquidez (LL .............................................20 a 30%
 Índice de Plasticidade (IP) ...........................................6 a 9 %

c] CBR (California Bearing Ratio)


Determinados na Massa Específica Aparente Seca máxima (MEAS
máx) e umidade ótima (Ho) do Método M-53-71, DER- SP, na
energia Modificada (equivalente à AASHTO T-180-59).
 Índice de suporte California ........................................ ≥ 80 %
 Expansão ....................................................................≤ 0,1 %
Quanto ao controle tecnológico da execução, exigia-se para seu recebimento:
a] Grau de Compactação correspondente a, no mínimo, 95% da
MEAS máx referente à energia Modificada ou 100 % da energia
Intermediária (M-53-71, DER-SP).
b] Umidade de Compactação no intervalo de umidade ótima Ho
± 0,10 Ho, ajustando-o após os primeiros subtrechos, a fim de
conseguir-se o grau de compactação exigido.
A ado ç ão d a siste mát ic a t rad ic iona l aprese nt a vá r ios proble ma s,
entre os quais destacam-se:
t Dificuldades na determinação do comportamento geotécnico
laterítico dos SAFL.

31
Pavimentos Econômicos

t Dificuldades inerentes à metodologia dos ensaios tradicionais.


t Deficiências na previsão de importantes problemas, construtivos
e de comportamento, nas bases de SAFL.
Apesar disso, até hoje a referida sistemática é adotada em especificações
rodoviárias para o estudo de bases de SAFL, inclusive oficiais, como
a DER/PR ES-P08/5 (do Departamento de Estradas de Rodagem do
Estado do Paraná), e por muitos técnicos rodoviários. Esse fato justi-
fica uma análise minuciosa dos problemas e deficiências inerentes à
sua utilização. Esta análise é imprescindível, também, para o enten-
dimento da evolução da tecnologia do uso das bases de SAFL e das
vantagens da utilização da Sistemática MCT, ainda pouco divulgada
no meio técnico, que está sendo apresentada neste livro.

2.2 DIFICULDADES NA DETERMINAÇÃO DO COMPORTAMENTO


GEOTÉCNICO LATERÍTICO DOS SAFL
Cientificamente, os solos são considerados lateríticos se apresentarem
uma série de peculiaridades, tais como:
t Resultam de um processo pedológico inerente aos perfis de solos
bem drenados, desenvolvidos em climas quentes e úmidos.
t Permanência da caolinita como argilo-mineral exclusivo, ou
predominante, e fração argila caracterizada pela riqueza em
óxidos hidratados de ferro e/ou alumínio. Associadas a essa
constituição química e mineralógica, os solos apresentam, ainda,
macroestrutura e microestrutura porosas características, sobretu-
do, em sua parte argilosa.
t Morfologia peculiar dos perfis naturais, caracterizada pela grande
espessura do horizonte pedológico, camadas (horizontalizadas) cons-
tituintes pouco nítidas, cores típicas, macrofábrica aglomerada.
O critério pedológico acima referido nada diz, especificamente, sobre o
comportamento geotécnico dos solos lateríticos. Entretanto, na
década de setenta, no DER-SP, recorria-se à identificação de campo
com base nos dados do Levantamento de Reconhecimento dos Solos
do Estado de São Paulo, 1960. Consideravam-se de comportamento
geotécnico laterítico, para utilização em bases, os solos integrantes
das classes pedológicas discriminadas a seguir:
LEa: Latosol Vermelho Escuro – Fase Arenosa
LVa: Latosol Vermelho Amarelo – Fase Arenosa
PLn: Podzolizados Lins e Marília – Variação Lins
Pml: Podzolizados Lins e Marília – Variação Marília
RPV-RLV: Regosol Intergrade para Podzólico Vermelho Amarelo
e Intergrade para Latosol Vermelho Amarelo.

32
DIFICULDADES E DEFICIÊNCIAS DA SISTEMÁTICA TRADICIONAL 2

A aplicação prática desse procedimento apresentava sérias dificuldades pela subje-


tividade dos critérios adotados, pelo aumento crescente dos trechos
a estudar e por exigir, dos engenheiros e técnicos, conhecimento
especializado em pedologia (não exigido no tipo de formação deles).
Atualmente, as referidas classes foram abandonadas e substituídas
por outras, conforme consta no Capítulo 5.
Critérios, aparentemente menos subjetivos, têm sido propostos para a
determinação do comportamento geotécnico laterítico, como: a
razão sílica/sesquióxidos, o grau de petrificação segundo o Labora-
tório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa (LNEC), a microfábrica
revelada pelo microscópio eletrônico de varredura e a análise mine-
ralógica da fração argila. Esses critérios não se têm revelado adequa-
dos, ou por envolverem ensaios altamente especializados (difíceis de
serem realizados em laboratórios geotécnicos rodoviários), ou por não
estarem diretamente relacionados com o comportamento dos solos
na estrutura do pavimento.

2.3 DIFICULDADES INERENTES À METODOLOGIA DOS ENSAIOS


TRADICIONAIS
2.3.1 Limites de Consistência
Dos limites de consistência, são considerados relevantes, para a finalidade em vista,
o LL e o IP. Com a ampliação dos estudos, para atender uma grande
demanda por projeto e construção de pavimentos econômicos com
uso de bases de SAFL, ficaram patentes as deficiências da utilização
de LL e IP devido à pequena reprodutibilidade dos resultados dos
ensaios, o que tem sido confirmado em relatos de diversos trabalhos
genéricos sobre solos tropicais. Entre outros, podem ser citados:
a] Gidigasu (1976) em Lateritic Soil Engineering, no capítulo 10,
página 32, cita: “Outra fonte de dificuldade na obtenção da repro-
dutibilidade dos resultados dos ensaios de plasticidade de alguns
solos lateríticos é a tendência de apresentarem aumento de plas-
ticidade com o grau de misturação ou moldagem da amostra,
antes do ensaio”.
b] Programa Interlaboratorial Brasileiro desenvolvido pelo IPT-SP.
Alguns dos resultados obtidos pelo programa, para 3 amostras,
estão apresentados na figura 2.1. Sua análise revela a grande varia-
ção dos valores de LL e IP, obtidos por diversos laboratórios, em
ensaios executados segundo as NBR 6459/84 e 7180/84 da Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
c] Comparação de Resultados de LL e IP obtidos pelo DER-SP e IPT,
para SAFL, em ensaios executados conforme as normas acima. A
tabela 2.1 mostra a grande variação dos resultados, de 5 amos-

33
Pavimentos Econômicos

tras de SAFL utilizados em bases, confirmando


o que havia sido constatado no programa do
IPT.
No que se refere aos SAFL, as dificuldades ficam
aumentadas pois os valores limites considera-
dos na especificação proposta correspondem a
valores bastante baixos, próximos do limite
de exequibilidade dos ensaios envolvidos.
Devido a esses fatos, têm surgido vários proble-
mas, tanto na fase de projeto como na cons-
trutiva. No projeto, várias jazidas de SAFL,
satisfatórias por um laboratório, podem não
ser consideradas como tais por outros, gerando
sérias controvérsias. Na construção, várias jazi-
das aceitas como satisfatórias no projeto têm
sido abandonadas por não serem aceitas pelo
Figura 2.1 Programa Interlaboratorial: valores de LL e IP de 3
laboratório de controle, onerando de maneira
amostras. imprevista o custo das obras, pelo aumento da
distância de transporte.

2.3.2 Ensaio de CBR


A a v a l i a ç ã o d a c a p a c i d a d e d e s u p o r-
Tabela 2.1 COMPARAÇÃO LL, LP E IP
DE RESULTADOS DE
(%) EM ENSAIOS DE 5 AMOSTRAS DE SAFL. te e da expansão do solo para base é reali-
DER-SP zada, em geral, pelo CBR tradicional. Os valores
Laboratório IPT-SP do índice de suporte ≥ 80% e expansão ≤ 0,1%
(Araraquara)
Amostra
LL LP IP LL LP IP recomendados correspondem aos encontrados
A 24 16 8 19 14 5 nos solos das pistas experimentais, construí-
B 37 19 18 30 22 8 das pelo DER-SP, que apresentaram comporta-
C 26 15 11 20 15 5 mento satisfatório. Esses valores correspondem,
D 34 20 14 24 17 7 também, aos limites fixados pelo DNIT para
E 28 16 12 27 21 6 bases estabilizadas granulometricamente. A utili-
zação do ensaio CBR tradicional apresenta uma
série de problemas, destacando-se:
a] Grande Dispersão de Resultados
Essa dispersão foi motivo de considerações em vários trabalhos:
Peltier (1953), Souza Pinto e outros (1964) e Nogami (1972). Um
resumo dos resultados obtidos nesses trabalhos é apresentado na
tabela 2.2, a qual mostra que o valor máximo obtido nos ensaios,
para uma mesma amostra, chega a ser de 2 a 3 vezes maior que
o mínimo.
Para os SAFL, a dispersão é ainda maior devido à grande varia-
ção do índice de suporte com o teor de umidade de moldagem
dos corpos de prova. Variação de 1% de umidade em torno da

34
DIFICULDADES E DEFICIÊNCIAS DA SISTEMÁTICA TRADICIONAL 2

ótima pode ocasionar, em certos solos, uma diminuição de 50%


ou mais no valor do índice de suporte (Villibor, 1974). Assim,
o ensaio de CBR em um único corpo de prova, moldado para o
teor de umidade correspondente à ótima, não é confiável; isto
porque não apenas é difícil acertar o teor de umidade de molda-
gem com a necessária precisão, como também esse teor não fica
bem caracterizado na curva de compactação.

Tabela 2.2 VARIAÇÃO DO CBR SEGUNDO PELTIER, SOUZA PINTO E NOGAMI.


Nº de Valor CBR [%] Desvio
Trabalho Normas de ensaio Amostra
ensaios Min. Máx. Med. padrão
Peltier (53) Método Americano Areia argilosa 21 10,5 33,0 17,8 6,20
Souza Pinto DPT-M-48-64 (DNER) D 12 26,4 38,6 29,5 6,55
ABPv (64) Energia Intermediaria E 12 17,3 45,8 34,6 9,40
M-53-71 (DER-SP)
Nogami (72) SP-310 km 254 8 11 28 17,3 6,28
Energia Normal

b] Necessidade de uma Grande Quantidade de Material


Como visto acima, apesar de o CBR ser exigido apenas nas condi-
ções de Massa Específica Aparente Seca máxima e Umidade ótima,
tal exigência é difícil de ser satisfeita com apenas um corpo de
prova. Há necessidade de se construir a curva de variação do CBR
em função de vários teores de umidade diferentes, com a molda-
gem de, pelo menos, 3 corpos de prova com teores de umidade
em torno da ótima. Na prática, devido à dispersão dos resulta-
dos, é sempre desejável aumentar para 5 o número de corpos de
prova. Esse procedimento encarece consideravelmente os custos
da amostragem do material, de seu transporte e dos ensaios neces-
sários.

2.4 DEFICIÊNCIAS NA PREVISÃO DE PROBLEMAS CONSTRUTIVOS


E DE DESEMPENHO NAS BASES DE SAFL
Na fase de construção e na etapa seguinte (relativa ao desempenho do pavimento
em serviço), surgiram problemas específicos das bases de SAFL, impos-
síveis de serem previstos com a sistemática tradicional, a saber:
a] Dificuldades encontradas, em alguns tipos de SAFL para a obten-
ção do grau de compactação exigido no projeto.
b] Amolecimento da borda do pavimento, durante e após sua cons-
trução, devido à penetração d’água, resultando excessiva defor-
mação e eventual rompimento do revestimento e, ainda, intensa
erosão na borda do pavimento.

35
Pavimentos Econômicos

c] Trincamento excessivo da base, por contração provocada pela


perda de umidade, refletindo, em alguns casos, na camada de
revestimento, com consequente redução da vida útil do pavimen-
to e da sua serventia.
d] Comportamento inadequado da imprimadura betuminosa, que
dá origem ao escorregamento do revestimento, e à exsudação do
asfalto na superfície do mesmo.
e] Discrepância entre a capacidade de suporte pretendida e a real,
nas condições tropicais e com base na referida sistemática, o que
pode ocasionar rejeição de jazidas mais próximas, onerando o
custo do pavimento.
As pesquisas realizadas para a elaboração da Sistemática MCT, apresentada
neste livro, permitiram agrupar as principais causas das deficiên-
cias da sistemática tradicional, a saber:
t Granulometria
A consideração de apenas duas peneiras (0,42 mm e 0,075 mm)
não permite distinguir, de maneira adequada, os solos que apre-
sentam os problemas citados em itens a] e c]. Há necessidade,
como será visto mais adiante, da inclusão da peneira de 0,150
mm e, em alguns casos, da determinação da fração argila (diâme-
tro equivalente dos grãos inferior a 5 μm). Sabe-se, atualmente,
que essa deficiência pode ser detectada pelo uso da Classificação
Geotécnica MCT, principalmente pelas peculiaridades da curva
de deformabilidade na compactação laboratorial.
t Capacidade de Suporte
O conhecimento de dados de bases de trechos, já submetidos à
ação do tráfego, mostra a inconveniência de se adotar as condi-
ções estabelecidas na sistemática tradicional para a avaliação da
capacidade de suporte em termos de CBR, ou seja, suporte obtido
após imersão por 4 dias. Os dados obtidos em bases de trechos
em uso por vários anos mostraram ser mais condizente com a
realidade a utilização de novas condições para determinação da
capacidade de suporte, como será enfocado posteriormente.
t Propriedades Hídricas
Os problemas citados no subitem b] estão intimamente ligados às
propriedades hídricas das bases estudadas, não tratadas na siste-
mática tradicional.
t Contração
Os problemas relacionados com o trincamento referido no item c]
estão relacionados com a contração da base, devido, sobretudo, à
perda do teor de umidade. Essa propriedade não era considerada
na sistemática tradicional.

36
DIFICULDADES E DEFICIÊNCIAS DA SISTEMÁTICA TRADICIONAL 2

t Efeito da Imprimadura Betuminosa


Os problemas relacionados em d] são devidos ao complexo fenô-
meno de interrelacionamento entre a base compactada e o mate-
rial betuminoso usado na imprimadura. A sistemática tradicional
não considerava nenhum dos aspectos relacionados com esse
fenômeno, de vital importância, como será enfocado no Capí-
tulo 4.

2.5 CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES


As dificuldades e deficências apresentadas e comentadas, quanto à utilização
da sistemática tradicional para o estudo tecnológico das bases de
SAFL, estão presentes no meio rodoviário, até hoje, para o estudo
tecnológico de outros tipos de base. Assim, bases granulares (elevada
porcentagem retida na # 2,0 mm) de solos-agregados, ou de materiais
naturais (lateritas, pedregulhos, etc.), utilizam os ensaios tradicio-
nais para a obtenção dos limites de consistência (LL e LP), que são
determinativos para a aceitação de um material para sua execução;
isso conduz, frequentemente, a um aumento do custo das mesmas,
pelos motivos:
t Escolha inadequada desses materiais para base, causando proble-
mas de comportamento.
t Abandono de materiais de alta qualidade que ocorrem nos trópi-
cos e não atendem os limites de consistência preconizados.
Para contornar as deficiências referidas, uma linha promissora é aplicar a meto-
dologia MCT, sobre a fração que passa na # 2,00 mm, para obter suas
propriedades mecânicas e hídricas e verificar se elas estão dentro
de intervalos admissíveis que a qualifiquem para a finalidade em
vista; além disso, usar o ensaio de suporte CBR tradicional e requi-
sitos granulométricos sobre o material integral. A conjunção desses
procedimentos permite propor especificações mais adequadas para os
materiais constituintes desses tipos de base, conforme preconizado
por Nogami e Villibor em (1995) e (2007).

37
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT

3
PARA ESTUDO GEOTÉCNICO

38
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Detectadas as dificuldades e deficiências da sistemática vigente na década de 70
no DER-SP, a Tese de Doutoramento de Villibor (1981) veio trazer
soluções com a apresentação de uma nova sistemática para o estudo
tecnológico dos SAFL. A mesma é baseada numa diretriz que tornou
possível a obtenção de dados esclarecedores sobre as propriedades de
maior interesse para o desempenho deste tipo de solo como base de
pavimentos, nas condições climáticas brasileiras. Embora o enfoque
principal da pesquisa tenha sido o SAFL, o desenvolvimento da nova
Sistemática (MCT) permitiu um amplo estudo geotécnico dos solos
finos (100% passando na peneira de 2,00 mm), que são de interesse
para diversas aplicações rodoviárias.
Após 1981, ocorreram alterações tanto na designação dos ensaios como na
sua técnica executiva; por essa razão, julgou-se útil apresentá-los de
acordo com os procedimentos agora recomendados e utilizando a
terminologia vigente. Além disso, estão sendo introduzidos novos
ensaios objetivando, sobretudo, a Classificação Geotécnica MCT.
Alterou-se, também, a forma de redação para proporcionar uma
melhor idéia dos objetivos dos ensaios.

Ressalta-se que as referidas alterações são compatíveis com o conteúdo


do livro Pavimentação de Baixo Custo com Solos Lateríticos (Nogami
e Villibor,1995) e que foram, ainda, introduzidas novas alterações
sugeridas por informações obtidas após sua publicação.
A série de ensaios da nova Sistemática, que engloba os ensaios classificatórios da
MCT (M5, M8 e M9), constitui o elenco de Ensaios da Sistemática
MCT, a saber:
M1 – Ensaio de Compactação Mini-Proctor
M2 – Ensaio Mini-CBR e Expansão
M3 – Ensaio de Contração
M4 – Ensaios de Infiltrabilidade e Permeabilidade
M5 – Ensaio de Compactação Mini-MCV
M6 – Ensaio de Penetração da Imprimadura Betuminosa
M7 – Ensaio Mini-CBR de Campo - Procedimento Dinâmico
M8 – Ensaio da Perda de Massa por Imersão
M9 – Classificação Geotécnica MCT.

39
Pavimentos Econômicos

As propriedades mecânicas e hídricas da base de SAFL, consideradas


na metodologia MCT, estão diretamente relacionadas com o desem-
penho do pavimento que utiliza este tipo de base. Muitos dos defei-
tos dos pavimentos podem ser atribuídos a valores inadequados
de uma ou mais de suas propriedades, e/ou a problemas na técnica
construtiva da base. A tabela 3.1 mostra os ensaios e determinações
da Sistemática MCT e, também, suas associações com as propriedades
físicas das bases de SAFL e com os principais problemas e defeitos
construtivos das mesmas.
Ressalta-se que essa filosofia, de procurar ensaios que retratem de perto
as propriedades e o comportamento do pavimento, representa um
passo avante quando comparada com a abordagem tradicional, base-
ada na granulometria e nos limites de liquidez (LL) e índice de plas-
ticidade (IP), cujas limitações foram comentadas no Capítulo 2.

3.2 SISTEMÁTICA MCT


Esta Sistemática, cujos métodos de ensaio são apresentados no anexo II,
caracteriza-se pela utilização de corpos de prova (cp) cilíndricos, de
dimensões reduzidas, com diâmetro de 50 mm e de altura igual ou
próxima dessa medida; por isso foram designados de “Miniatura”,
com abreviação (M). Como, basicamente, são obtidos em laboratório
por compactação (C) e a Sistemática foi desenvolvida para solos tropi-
cais (T), isso justifica o uso da abreviatura MCT. Esses cp também
podem ser indeformados ou executados no campo in situ.
A Sistemática MCT é recomendada para o estudo de solos tropicais que passam
integralmente, ou têm pequena fração retida (menos de 10%), na
peneira de malha quadrada de abertura 2,00 mm. Os solos predomi-
nantes no Estado de São Paulo, e em outras áreas das regiões tropi-
cais, em sua quase totalidade satisfazem essa condição. Isso contrasta
com a abundância de solos de granulação grosseira, no hemisfério
Norte, de onde provêm os ensaios considerados tradicionais.
A compactação dos corpos de prova é feita de acordo com o procedimento
desenvolvido na Iowa State University (Lafleur et al; 1956) e no
DER-SP (Nogami,1972), que utiliza basicamente o processo dinâmi-
co. A determinação da capacidade de suporte e expansão é, também,
baseada no procedimento desenvolvido pela referida Instituição.
Várias modificações foram introduzidas nos detalhes executivos e, além disso,
foram desenvolvidos métodos de ensaios apropriados, com cp espe-
cíficos, para determinação dos valores de outras propriedades como:
infiltrabilidade d’água, permeabilidade, contração por secagem, pene-
tração da imprimadura betuminosa, etc. Cabe ressaltar que alguns dos
ensaios, ora apresentados, foram utilizados por Nogami e Villibor com
outras finalidades como em: “Mapeamento Geotécnico” (Villibor e

40
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

Nogami, 1979), “Diferenças de Propriedades entre Solos Lateríticos e


Saprolíticos Compactados” (Nogami e Villibor, 1979) e “Caracteriza-
ção e Classificação Gerais de Solos” (Nogami e Villibor, 1980).

Tabela 3.1 ENSAIOS DA MCT E FENÔMENOS FÍSICOS CORRELACIONADOS - ASSOCIAÇÃO COM OS DEFEITOS CONSTRUTIVOS
NA BASE.

41
Pavimentos Econômicos

No Anexo II são apresentados os métodos para realização dos ensaios, devidamente


atualizados e acrescidos de novos métodos, que constituem a Siste-
mática MCT. Alguns desses novos diferem, em detalhes, daqueles
originalmente utilizados por Villibor (Villibor,1981) no desenvolvi-
mento das pesquisas constantes deste livro, executadas na segunda
metade da década de setenta.
Sendo os ensaios básicos da Sistemática MCT ainda pouco conhecidos no meio
rodoviário brasileiro, seus aspectos essenciais serão expostos nos subi-
tens a seguir. Para a compactação dos corpos de prova e determina-
ção da capacidade de suporte e expansão, será dada maior ênfase às
adições e alterações efetuadas relativamente à metodologia original
de Iowa. Ressalta-se que toda citação de energia Normal (EN) ou de
energia Intermediária (EI) refere-se às dos ensaios do Mini-Proctor
da Sistemática MCT. Além dos aspectos expostos, são encontrados
no Anexo II os métodos de ensaios detalhados (M1 a M9) da
Sistemática MCT.

3.2.1 Ensaio de Compactação Mini-Proctor (M1)


Utiliza-se somente a fração do solo que passa na peneira de 2,00 mm. Todas
as amostras devem ser secadas previamente ao ar. Utilizam-se, sempre,
amostras virgens para cada ponto da curva de compactação. A unifor-
mização do teor de umidade de compactação, através da misturação
e homogeinização, é feita após a adição da água em cada alíquota de
solo; antes de iniciar a compactação, conserva-se a mesma em repou-
so, pelo menos por 12 horas, em recipiente hermético.
Para a compactação usam-se dois tipos de soquete: o leve (2,27 kg) e o pesado
(4,50 kg). Para reproduzir as condições próximas da energia dita
Normal (ASTM-D-698 ou AASHTO-99), aplicam-se 5 golpes de cada
lado do corpo de prova, com soquete leve, em apenas uma camada
e, para a energia conhecida como Intermediária adotada no Brasil
(DNER-ME-129-94), aplicam-se 6 golpes de cada lado, com soquete
pesado. Foi necessária a fixação do número de golpes, em cada ener-
gia, para possibilitar a obtenção de curvas de compactação (designa-
da Mini-Proctor), próximas às obtidas pelos métodos que se deseja
reproduzir; na prática, as discrepâncias encontradas têm sido pouco
significativas.
Os corpos de prova são moldados de maneira que sua altura atinja 50
± 1 mm, sem arrasamento. Tal exigência implica em que se despreze
pelo menos um corpo de prova, para se conseguir a altura requerida.
Para a obtenção da altura de cada corpo de prova, utiliza-se um dispo-
sitivo que fornece seu valor com aproximação de 0,1 mm.
Cabe acrescentar que o uso de anéis de vedação metálicos, no processo de
compactação ora recomendado (Anexo II), não foi obedecido nas

42
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

pesquisas efetuadas; porém os resultados obtidos não diferiram sensi-


velmente, porquanto procurou-se, sempre, obedecer rigorosamente a
folga recomendada entre os diâmetros do pé do soquete e do pistão
inferior e o diâmetro interno dos moldes utilizados. A figura 3.1
apresenta fotos ilustrativas e croqui do ensaio.




Figura 3.1 Fotos ilustrativas e croqui do ensaio.

3.2.2 Ensaio Mini-CBR e Expansão (M2)


O equipamento e procedimentos básicos são os desenvolvidos na Iowa State
University (Lafleur et al., 1956), onde o valor da capacidade de supor-
te é denominado Iowa Bearing Value. Em 1972, Nogami, introdu-
ziu modificações no equipamento e nos procedimentos básicos para
adaptá-los aos objetivos propostos, e denominou Mini-CBR o valor
do suporte. Os cp compactados são obtidos de acordo com a meto-
dologia referida no item anterior. O valor do suporte também pode
ser obtido em amostras indeformadas e em camadas in situ.
As principais alterações introduzidas na determinação da capacidade de suporte
e expansão, relativamente ao procedimento original de Iowa, são as
seguintes:

a] Utilização da Correlação com o CBR Tradicional


As correlações (I) e (II) foram desenvolvidas por Nogami (1972), com
o uso do metodo CBR do DER-SP, M 53-71, para solos típicos do
Estado de São Paulo. Os valores obtidos por essas correlações foram
designados de Mini-CBR. As penetrações de 2,5 e 5,0 mm no corpo

43
Pavimentos Econômicos

de prova do CBR correspondem às de 2,0 e 2,5 mm no Mini-CBR.


Para o valor do Mini-CBR, adota-se o maior dos valores obtidos pelas
expressões:
t para penetração de 2,0 mm:
log (Mini-CBR)=0,896 x log C1 – 0,254 (I)
t para penetração de 2,5 mm
log (Mini-CBR)=0,937 x log C2 – 0,356 (II)
onde C1 e C2 [kgf] são as cargas correspondentes às penetrações de
2,0 e 2,5 mm, obtidas no ensaio Mini-CBR.

Essas correlações foram inicialmente desenvolvidas para a “umidade ótima


de compactação” Ho, e nas seguintes condições: energia de compac-
tação Normal, com imersão e sobrecarga padrão.
A figura 3.2 mostra as retas correspondentes às expressões I e II e as retas
geradas por Villibor (1981) com o uso de uma série de resultados,
indicados na figura referida, obtidos com SAFL compactados segundo
o procedimento correspondente, para as condições de Ho da ener-
gia Intermediária, com imersão e sobrecarga padrão. Verifica-se que,
também para essas condições, as correlações propostas são aceitáveis
(a favor da segurança). Na figura 3.3 estão representados os valo-
res da umidade ótima e os valores das respectivas Massa Específica
Aparente Seca máximas (designadas MEASmáx), obtidos por Villibor
nos ensaios CBR tradicional e Mini-CBR, na energia Intermediária.
Nestas representações verifica-se que as umidades ótimas, pelos dois
processos, são praticamente iguais e as MEASmáx, obtidas no ensaio
de Mini-CBR, são ligeiramente menores que as do ensaio de CBR
tradicional.
Nas pesquisas efetuadas, os valores da capacidade de Suporte Mini-CBR
foram obtidos com o uso das expressões I e II, referidas acima, para
todas as condições de ensaio mencionadas no subitem c.3 adiante,
 

 

 

 

 




 

 
     
      
 
                 

Figura 3.2 Correlações na EI: CBR x carga Mini-CBR .

44
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

tanto para a energia de compactação Normal, como para a Interme-


diária (vide Método M2 para o cálculo do Mini-CBR com base em
cargas padrão).
A tabela 3.2 mostra as características do método CBR tradicional do DER-SP, M53-71,
e do Mini-CBR; a figura 3.4 ilustra os corpos de prova e seus moldes
de compactação.

Figura 3.3 Valores da Ho e da MEASmáx no CBR e Mini-CBR.

Tabela 3.2 DADOS DO CBR E DO MINI-CBR.

Dados dos Ensaios CBR Mini-CBR


Moldes diâmetro 152 mm 50 mm
volume do corpo de prova 2116 ml 100 ml
Amostras massa aproximada para 1 cp 5000 g 250 g
diâmetro máximo dos grãos 19 mm 2 mm
Normal: massa do soquete 2,5 kg 2,27 kg
altura de queda 348 mm 305 mm
golpes (total) 168 10
Compactação
Intermediária: massa do soquete 4,5 kg 4,5 kg
altura de queda 457 mm 305 mm
golpes (total) 130 12
Sobrecarga padrão 4540 g 490 g
Pistão de Penetração: diâmetro 49,5 mm 16,0 mm
Prensa para penetração: capacidade 44,5 kN 49 kN
Tempo de imersão padrão 96 h 24 h

b] Determinação da Expansão no ensaio Mini-CBR


A fórmula para o cálculo da Expansão é a mesma da expressão do
ensaio de CBR tradicional, a saber:

45
Pavimentos Econômicos

  
 

onde:
E = Expansão
Li e Lf = Leitura inicial e final do cp.
Lo = Altura inicial do cp.
Os valores da Expansão E são designados
Ec e Es, conforme as condições de sobre-
carga e de imersão do cp.

c] Variações das Condições de Ensaio


Figura 3.4 Moldes e corpos de prova do CBR e Mini-CBR, com c.1) Teor de umidade de compactação
extensomêtros para expansão. Foram usados vários teores de umidade,
diferindo entre si de maneira aproxima-
damente igual, para traçar a curva de
compactação. Nos casos usuais foram necessários, no mínimo, 4
valores para cada energia de compactação adotada.

c.2) Energia de compactação


Dependendo da finalidade, pode-se usar a energia correspondente à
Normal ou à Intermediária. Quando se pretende utilizar o solo para
bases ou sub-bases, deve ser usada a energia Intermediária.

c.3) Condições de imersão e sobrecarga


Para cada teor de umidade de compactação podem-se obter os valores
da Expansão e, utilizando-se as correlações apresentadas nas expres-
sões I e II, podem ser determinados os valores da capacidade de
suporte para as seguintes condições:
1a) Sem imersão com uso da sobrecarga-padrão de 490 g na
penetração e com teor de umidade de moldagem Hm. O índice
de suporte assim obtido, designado Mini-CBRHm, é o Mini-
CBR na umidade de moldagem. Quando a penetração é feita
na umidade ótima Ho, é designado Mini-CBRHo.
a
2 ) Com imersão por 24 horas e uso da sobrecarga-padrão
de 490g, no período de imersão e na penetração. O índice de
suporte assim obtido é designado Mini-CBRic e a Expansão
Ec, Expansão com sobrecarga.
3a) Com imersão por 24 horas, sem sobrecarga no período de
imersão e na penetração. O índice de suporte assim obtido é
designado Mini-CBRis e a Expansão, Es, Expansão sem sobre-
carga.
As figuras 3.5 e 3.6 mostram as fotos ilustrativas e o croqui do ensaio de Expan-
são e do suporte Mini-CBR.

46
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

Figura 3.5 Fotos ilustrativas da montagem e croqui do ensaio.

Figura 3.6 Fotos ilustrativas e croqui da penetração Mini-CBR.

47
Pavimentos Econômicos

Para verificar a dispersão dos resultados do ensaio Mini-CBR, foram ensaiados 9


corpos de prova de uma mesma amostra de solo, cujos resultados
estão na tabela 3.3.

Tabela 3.3 DADOS DA DISPERSÃO DOS VALORES DO ENSAIO MINI-CBR.


Valores do Mini- Desvio
Suporte Número da Amostra
CBR [%] Padrão
[%] 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Mín Méd Máx σ

Mini-CBRHo 70 83 70 83 67 76 79 84 80 67 76 84 2,37

Mini-CBRic 48 54 48 44 53 55 50 65 66 44 55 66 2,71

Mini-CBRis 40 47 44 42 46 49 43 55 59 40 50 59 2,43

Nota-se que os valores do ensaio Mini-CBR apresentam dispersão consi-


deravelmente menor do que os do CBR tradicional (vide tabela 2.2).
Para o Mini-CBR o maior valor chega a ser de, no máximo, 1,5 vezes
o mínimo, enquanto para o CBR tradicional, essa relação chega a 3.

3.2.3 Ensaio de Contração (M3)


O ensaio é efetuado medindo-se, diretamente, a Contração axial (Ct)
dos corpos de prova por secagem lenta ao ar (vide figura 3.7). O
ensaio utiliza corpos de prova não imersos previamente em água, e
para o cálculo da Contração, usa-se a fórmula:

   


onde:
Ct = Contração axial.
Li e Lf = Leitura inicial e final do cp.
Lo = Comprimento inicial do cp.

3.2.4 Ensaios de Infiltrabilidade e Permeabilidade (M4)


a] Infiltrabilidade
O ensaio é realizado em corpos de prova obtidos logo após a compac-
tação, ou em corpos de prova secos ao ar, ou seja, em condições
de baixíssimo grau de saturação. O corpo de prova absorve a água
por meio de uma placa porosa ligada a um tubo de vidro graduado,
disposto horizontalmente, cheio de água. Os volumes de água absor-
vidos pelo corpo de prova q [cm3], obtidos por meio da medida do
deslocamento do menisco de água no tubo, são lançados em gráficos,

48
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

Figura 3.7 Fotos ilustrativas da montagem e croqui do ensaio.

em função de t ½ (t em minutos). Da parte retilínea da curva obtém-se


o coeficiente de sorção s, pela fórmula:
onde:


 


Sp=área da seção do corpo de prova [cm 2].

Este valor é utilizado para avaliar o efeito da penetração da água na


camada compactada, pela sua superfície, na construção e após sua
cobertura pelas camadas betuminosas.
O mesmo dispositivo e procedimento podem ser utilizados para deter-
minar o coeficiente de sorção da água, após a secagem do corpo de
prova e, também, a velocidade de deslocamento da frente de umida-
de. No caso de corpos de prova secos ao ar, essa velocidade pode ser
calculada com base em determinações diretas (vide figura 3.8).

b] Permeabilidade
O valor aproximado do coeficiente de permeabilidade à água k,
é obtido utilizando-se corpos de prova que foram “saturados” pelo
ensaio de infiltrabilidade, submetidos a carga hidrostática variável e
com sobrecarga; esse procedimento é similar ao do ensaio tradicional
(vide figura 3.9).

49
Pavimentos Econômicos

Figura 3.8 Foto ilustrativa da montagem e croqui do ensaio.

Figura 3.9 Fotos ilustrativas da montagem e croqui do ensaio.

3.2.5 Ensaio de Compactação Mini-MCV (M5)


É, basicamente, um ensaio de compactação com várias energias, e o equipamento
utilizado é o mesmo indicado na figura 3.1. A Compactação MCV

50
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

(Moisture Condition Value), proposta em 1976 por Parsons, do Road


Research Laboratory, utiliza cp de 100 mm de diâmetro; na Compac-
tação Mini-MCV o diâmetro é de 50 mm. O processo consiste em
aplicar ao corpo de prova, com um determinado teor de umidade,
um número crescente de golpes até não haver acréscimo sensível em
sua densidade. Durante o processo de compactação são realizadas
medidas da altura do corpo de prova para determinação das MEAS. A
cada teor de umidade de compactação (Hc), corresponde uma curva
de deformabilidade; o coeficiente angular, dado pela inclinação de
cada uma delas, é denominado coeficiente c’ e a obtenção do seu
valor é apresentada no subitem 3.3.2.
Geralmente, ao longo de uma larga faixa de teores de umidade, o valor de c’
é pouco variável nas argilas e solos argilosos e bastante variável nos
solos siltosos e arenosos. Devido a isto, para seu cálculo, foi necessá-
ria a fixação de uma curva Mini-MCV de referência.
Para fins classificatórios adotou-se a curva de deformabilidade correspondente
ao Mini-MCV = 10, que, entretanto, raramente pode ser obtida na
prática, a partir dos resultados de ensaios. Utiliza-se, então, uma
curva traçada por interpolação gráfica, que fornece o valor de c’ com
precisão suficiente para tal fim.
O coeficiente d’ é a inclinação, medida nas proximidades da MEASmáx,
da parte retilínea do ramo seco da curva de compactação correspon-
dente a 12 golpes no ensaio Mini-MCV; seu valor é obtido com a
escala da MEASmáx em kg/m3 e a umidade em %, pela expressão:

d’= MEAS
Hc

Os coeficientes c’ e d’ são de grande utilidade prática na identificação dos


solos tropicais e para o uso da Classificação Geotécnica MCT.
Esse procedimento permite obter uma família de curvas de compactação
que é muito útil, tanto para a determinação da energia de compac-
tação mais apropriada para finalidades específicas, quanto para o
controle geotécnico da compactação no campo. Para melhores deta-
lhes, vide parte inferior da figura 3.20 e o M5 no Anexo II.

3.2.6 Ensaio da Penetração da Imprimadura


Betuminosa (M6)
É efetuado em corpos de prova providos de uma depressão na face superior
(com aproximadamente 1,5 mm de profundidade e 35 mm de diâme-
tro), produzida mediante a introdução de um macho circular apro-
priado, na fase de compactação dos corpos de prova.

51
Pavimentos Econômicos

Na depressão referida efetua-se a imprimação com asfalto diluído, deixando a área


imprimada em repouso para curar a imprimadura. Após a cura da
mesma, parte-se o cp, no sentido longitudinal, e mede-se a penetra-
ção da imprimadura asfáltica, no mínimo em seis locais. A média
dessas medidas é considerada como a penetração da imprimadura na
amostra. Para maiores detalhes, vide M-6 no Anexo II.
Esse ensaio correlaciona o valor obtido em laboratório com a penetração
da imprimadura que será obtida na base, quando imprimada.

3.2.7 Ensaio Mini-CBR de Campo – Procedimento


Dinâmico (M7)
Os ensaios de suporte in situ podem ser efetuados com facilidade devido à
pequena carga necessária: cerca de 500 kgf para base e menos de 100
kgf para subleitos naturais não compactados. As amostras indeforma-
das podem ser obtidas, facilmente com o uso de camisas metálicas.
No método M-7 é apresentado o procedimento em que a carga é
produzida por um golpe de soquete tipo leve, do mesmo tipo usado
no Mini-Proctor, porém com algumas adaptações.

3.2.8 Ensaio da Perda de Massa por Imersão (M8)


Este ensaio fornece uma das propriedades consideradas na classificação
geotécnica dos solos tropicais, compactados da maneira estabele-
cida pela Sistemática MCT. Para sua execução os corpos de prova
devem ser compactados segundo o método Mini-MCV e somente
poderão ser aproveitados aqueles dos quais se possa obter uma curva
de deformabilidade completa. Os cp escolhidos são extraídos apenas
parcialmente, a fim de que fiquem expostos, exatamente, 10 mm
da sua parte inferior; a seguir, os cp são imersos em água e é feita a
pesagem das massas desprendidas (vide figura 3.10).

A “Perda de Massa por Imersão Pi” é calculada por:




 
 

onde:
Mi = Massa seca desprendida [g].
Ms = Massa seca do corpo de prova, logo após a sua compactação [g].
Lcp = Altura final do cp, logo após a compactação [mm].
Lf = 10 mm = Altura do Cp, para molde.
Fc = 1,0 quando ocorre um despreendimento normal (esperado).
Fc = 0,5 quando a parte desprendida é um monobloco (exceção).

52
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

A perda Pi será utilizada para fins classificatórios da MCT e poderá,


também, dar subsídios ao estudo da erodibilidade do solo. Para maio-
res detalhes, vide M8 no Anexo II.


 

Figura 3.10 Foto ilustrativa e croqui do ensaio.

3.2.9 Classificação Geotécnica MCT (M9)


Esta Classificação veio permitir a verificação do comportamento laterítico, ou
não, dos solos e dar subsídios à avaliação das propriedades mecânicas
e hídricas dos solos típicos dos climas tropicais úmidos. Com essa
solução foram superados muitos problemas do estudo geotécnico,
incluindo os ocorridos na escolha de solos para fins rodoviários,
todos oriundos do uso inadequado das Classificações tradicionais,
baseadas nas propriedades índices (granulometria, LL e IP), compre-
endendo aquelas conhecidas por Classificação Unificada (USCS) e
HRB-AASHTO.
Assim, alguns solos considerados, por aquelas classificações, como inadequados
para bases de pavimentos, frequentemente, possuíam elevada capaci-
dade de suporte. Como resultado, o uso daquelas classificações para a
escolha preliminar de solos a serem utilizados em rodovias resultava,
muitas vezes, em erros que causavam aumento de custo e, também,
reduziam a utilização de solos adequados.
A Classificação MCT foi apresentada em 1981 por Nogami e Villibor no Simpósio
de Solos Tropicais em Engenharia (COPPE/UFRJ). Algumas alterações
substanciais foram apresentadas no Primeiro Congresso Internacio-
nal de Geomecânica Sobre Solos Tropicais Lateríticos e Saprolíticos
(Brasília, 1985) e a maior delas, realizada em 1998, refere-se à intro-

53
Pavimentos Econômicos

dução, no M-5, de uma nova conceituação do coeficiente c’, conforme


apresentado na 32ª RAPv, em outubro de 2000.
Os Ensaios Classificatórios, desenvolvidos após 1980, são: Compactação
Mini-MCV (M5), que fornece os coeficientes c’ e d’, e o da Perda de
Massa por Imersão (M8), que fornece o Pi.
O coeficiente c’ correlaciona-se aproximadamente com a granulometria. Assim, um
c’ elevado (acima de 1,5) caracteriza as argilas e solos argilosos,
enquanto que valores baixos (abaixo de 1,0) caracterizam as areias e
os siltes não plásticos ou pouco coesivos. Entretanto, entre 1,0 e 1,5 ,
encontram-se solos de vários tipos granulométricos, compreendendo
areias siltosas, areias argilosas, argilas arenosas, argilas siltosas, etc.
Desconhece-se eventual correlacionamento de c’ com a laterização.

Com os valores de Pi e d’ obtém-se o índice e’ pela expressão:



Onde:
e’= Índice de laterização.
O Gráfico da Classificação de Solos MCT, é traçado com os valores de c’ e e’ (vide
figura 3.11). Na fórmula acima e no Gráfico da Classificação MCT, os
valores foram obtidos considerando como modelo de comportamento
laterítico os solos classificados pedologicamente como latossol roxo
e latossol vermelho escuro, no “Levantamento de Reconhecimento
de Solos do Estado de São Paulo”, Ministério da Agricultura, 1960.
A análise de mais de uma centena de dados disponíveis, em 1981, indicou a
necessidade de se adotar a raiz cúbica a fim de que os solos de
comportamento lateríti-
co (L) e não laterítico (N)
ocupassem áreas equi-
valentes no Gráfico da
Classificação MCT. Por
essa nova conceituação,
o critério de identificação
do comportamento laterí-
tico, ou não, de um solo
é tecnológico, enquanto
que pela antiga, era pedo-
lógico (vide item 2.2).

Figura 3.11 Gráfico da classificação de solos MCT.

54
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

Segundo Nogami e Villibor (1995): “O índice e’ foi concebido para indicar


o comportamento laterítico ou não laterítico. Verificou-se que o
comportamento laterítico começa a se manifestar quando d’ > 20
e Pi < 100, o que permitiu o estabelecimento da linha horizontal
principal (correspondente a e’ = 1,15), que separa os solos L dos solos
N. Para os solos pobres em finos, a transição ocorre para valores
mais altos de Pi, o que levou ao estabelecimento da linha horizontal
secundária em posição um pouco acima (correspondente a e’ = 1,40)”.
Um número expressivo de ensaios, realizados com amostras de solos
francamente lateríticos, apresentou valores médios de d’ ≈ 30 e
Pi ≈ 80 (resultando em e’ ≈ 1,14), enquanto ensaios com amostras
de areias siltosas apresentaram valores médios de d’ ≈20 e Pi ≈ 150
(resultando em e’ ≈1,35). Esses resultados comprovam que o traçado
das linhas horizontais da figura 3.11 (correspondentes aos valores
e’ = 1,15 e e’ = 1,40) é adequado.
As tabelas 3.4 e 3.5 apresentam os valores das propriedades dos grupos da
Classificação MCT, com seus equivalentes numéricos na Ho da ener-
gia Normal do Mini - Proctor.

3.2.10 Procedimentos Expeditos de Classificação


da MCT
Numerosas tentativas têm sido feitas no sentido de se obter o procedimento
classificatório mais expeditamente do que pela forma acima
descrita. Dentre elas cabe citar:
a] Procedimento com o uso do Equipamento
Subminiatura 

É idêntico àquele baseado no Mini-MCV, apresentado no
subitem 3.2.5. Para tanto, usa-se o equipamento da figura
3.12. A massa menor da amostra (apenas 30g) permite que
seja mais rápido e com menos esforço.
b] Procedimento pelo Método das Pastilhas
Utiliza pastilhas moldadas com a fração de solo, em estado
pastoso, que passa na peneira de 0,42 mm, de consistên-
cia padronizada. Por meio delas são obtidos os valores da
contração diametral e da sua consistência.
Para a obtenção do estado pastoso, colocar a amostra sobre
a face esmerilhada da placa de vidro, molhando ou secan-
do a amostra, para que se possa efetuar uma espatulação
eficiente. A seguir, determinar a consistência da pasta utili-
zando um minipenetrômetro e ajustar sua umidade até
Figura 3.12 Equipamento
conseguir penetração de 1 mm; moldar pastilhas em anéis subminiatura, cp de 26 mm de
de 20 mm de diâmetro interno e 5 mm de altura. diâmetro (Nogami e Villibor,
1985).

55
Pavimentos Econômicos

Tabela 3.4 DADOS DE DIVERSOS DOS GRUPOS DE SOLOS DA CLASSIFICAÇÃO MCT.

 

Tabela 3.5 VALORES NÚMERICOS DAS PROPRIEDADES.

56
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

Após a moldagem, as pastilhas são submetidas à secagem a baixa temperatura,


cerca de 50° C (em estufa ou ao ar), e é medida a contração diame-
tral Cd de cada uma delas, conforme indicado na figura 3.13. Essa
contração correlaciona-se, razoavelmente, com o coeficiente c’ (eixo
x do Gráfico da Classificação MCT), pelas expressões:

0,1 < Cd < 0,5 mm c’ = [1+log10 Cd]/0,904 (I)


Cd > 0,6 mm c’ = [0,7+log10 Cd]/0,5 (II)
Em seguida, as pastilhas são submetidas a embebição de água, por capilari-
dade. Sua consistência, após a embebição, é determinada com o
uso do Minipenetrômetro, conforme figura 3.14. O valor da consis-
tência obtida pela penetração (p) na pastilha após a embebição
correlaciona-se com o índice e’. As figuras 3.15 e 3.16 ilustram as
pastilhas embebidas em água e a penetração (p), em uma delas.

Figura 3.13 Medida da Contração Diametral da Figura 3.14 Ensaio do Minipenetrômetro mecânico
Pastilha, designada Cd. com a indicação da penetração em uma pastilha.

Figura 3.15 Argila laterítica com permanência de Figura 3.16 Solo saprolítico argiloso, com
contração e consistência elevada, sem trincas, e inchamento, amolecimento e trincas.
Minipenetrômetro manual.

Com os valores do coeficiente c’, dados pelas expressões I e II, e o valor da penetração
p, obtém-se o grupo da classificação de solo MCT conforme tabela 3.6.

57
Pavimentos Econômicos

3.3 PROGRAMAS DE ENSAIOS PARA ESTUDO


Tabela 3.6 GRUPOS DA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS COM A MCT
MCT (NOGAMI E VILLIBOR 1994). As pesquisas apresentadas neste livro foram desenvolvidas,
principalmente, com uma série de ensaios da Sistemática MCT,
 
complementados com outros tradicionais, sobre uma grande
quantidade de amostras de solos, conforme os programas:

t Programa I – Designado Mini-Proctor e ensaios associa-


dos, desenvolvido antes de 1980, visa a obtenção dos valores
das propriedades mecânicas e hídricas de um solo, por meio
dos ensaios que compõem o fluxograma da figura 3.17.
t Programa II – Designado Mini-MCV e ensaio associado
(ensaios classificatórios) visa verificar se um solo tem, ou não,
comportamento tecnológico laterítico, por meio da classifica-
ção MCT, conforme o fluxograma da figura 3.19.

3.3.1 Programa I: Ensaio Mini-Proctor e Associados


Visa o desenvolvimento das pesquisas do capítulo 4 e, particu-
larmente, a obtenção das peculiaridades das propriedades dos
SAFL. Esse programa fornecerá subsídios para definir um crité-
rio de escolha dos SAFL para uso em bases. Foi implementado
com base em um elenco de ensaios sobre uma grande quan-
tidade de amostras de solos tropicais do Estado de São Paulo
e, em especial, sobre os SAFL usados nas bases dos 36 trechos
detalhados nas tabelas 4.7 e 4.8. Estes trechos já tinham sido
submetidos ao tráfego, há mais de 3 anos à época da coleta e,
conforme avaliação visual, apresentavam desempenho altamen-
te satisfatório. O Programa constou de:

a] Apresentação do Programa
a.1) Para cada amostra foram moldados 25 cp com 5 diferentes
teores de umidade (Hi ; i= 1,2,3,4,5), com intervalo de 1,5%
entre eles, aproximadamente.
a.2) Com cada série de 5 cp, com um mesmo teor de umidade
e compactados na energia Intermediária, foram executados os
ensaios relacionados no fluxograma da figura 3.17.

b] Curvas Geradas
Os resultados dos ensaios forneceram, para cada teor de umida-
de, os valores das propriedades mecânicas e hídricas do solo
ensaiado. Isso proporcionou a obtenção de curvas para diversas
propriedades, em função do teor de umidade.
Para o desenvolvimento das pesquisas foram utilizados não só os

58
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

Figura 3.17 Fluxograma Mini-Proctor e ensaios associados, da MCT.

dados das curvas, mas, também, os valores obtidos, particularmente,


na Ho. A análise do traçado e forma das curvas geradas será feita por
meio dos ensaios de compactação, sucção, permeabilidade, contração,
expansão e suporte do Mini-CBR, da Sistemática MCT, sobre duas
amostras de solos lateríticos. Os resultados são apresentados nos gráfi-
cos da figura 3.18. Além desses ensaios realizados, também foi feita a
análise granulométrica de solos com o método M-6 do DER-SP (1961)
e com o defloculante hexademetafosfato de sódio.
c] Considerações sobre o Traçado e Forma das Curvas Geradas
c.1) Curva de Compactação do Mini-Proctor
A forma da curva de compactação, nas proximidades do teor de
umidade ótima, é semelhante à curva do “Proctor” tradicional.
O teor de umidade de compactação é lançado em abscissas e a
MEAS em ordenadas, ambas em escala linear (ou proporcional
a l /MEAS, em ordenadas). Para a maioria dos SAFL, através dos
pontos assim representados, passam duas retas que representam,
graficamente, o ramo seco e o úmido. Para tanto é necessário
que, em cada ramo, haja pelo menos dois pontos. A interseção

59
Pavimentos Econômicos

Figura 3.18 Mini-Proctor e ensaios associados, da MCT.

das duas retas define a umidade ótima (Ho) e, por arredondamen-


to apropriado da curva de compactação próxima a esse teor de
umidade, obtém-se a sua Massa Específica Aparente Seca máxima
(MEASmáx).
c.2) Curva de Variação do Mini-CBR
As curvas de variação do Mini-CBR com o teor de umidade são
obtidas para as três condições citadas no item b do subitem 3.2.2.
(condições de imersão e sobrecarga, c3).
Para cada uma das condições, os valores do Mini-CBR foram

60
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

lançados nas ordenadas, em escala logarítmica, e os teores de


umidade, em escala linear, no eixo das abscissas. Os ramos seco
e úmido são, geralmente, assimilados à retas.
Em geral, tem-se observado nos solos lateríticos que:
 Os valores máximos do Mini-CBR com imersão situam-se nas
proximidades da umidade ótima.
 Os valores do Mini-CBR sem imersão são crescentes com a
diminuição do teor de umidade de compactação e as retas, dos
ramos seco e úmido, têm inclinações diferentes.
Uma característica importante a se notar nos SAFL é a drástica
queda no valor do suporte no ramo seco, devido ao aumento da
umidade do corpo de prova no processo de imersão. Já no ramo
úmido, essa queda é muito pequena, acompanhando de perto os
valores obtidos sem imersão.
c.3) Curvas de Variação da Expansão e da Contração
A variação da expansão com o teor de umidade de compactação
foi representada, graficamente, em escala linear. As curvas de
expansão, obtidas em ensaios com e sem sobrecarga, mostram
uma acentuada diminuição de valores com o aumento do teor
de umidade no ramo seco. O efeito da sobrecarga manifesta-se,
mais sensivelmente, no ramo seco onde se verificam valores de
expansão inferiores para o caso de ensaio com sobrecarga.
A variação da contração com o teor de umidade foi também repre-
sentada, graficamente, em escala linear e a curva é crescente.
c.4) Curvas de Variação dos Coeficientes de Sorção e Permea-
bilidade
Para a representação gráfica dos resultados do ensaio de infil-
trabilidade e permeabilidade, lançou-se em ordenadas o loga-
rítimo decimal do coeficiente obtido e, em abscissas, o teor de
umidade de compactação em escala linear. Nos SAFL os dois
coeficientes decrescem, bruscamente, para valores crescentes
do teor de umidade de compactação, passam por um mínimo,
num teor superior ao ótimo e, em seguida, crescem levemente.
(vide figura 3.18).
Pela figura nota-se que as granulometrias das amostras 09 e 24 têm a fração passada
na peneira 0,150 mm diferente (maior % na amostra 09) e aproxi-
madamente a mesma fração passando na peneira 0,075 mm. Mesmo
com essas particularidades, os coeficientes de sorção das duas amos-
tras são iguais ou seja, . Isso mostra que somente a
fração que passa na peneira 0,075 mm influencia esse coeficiente.

61
Pavimentos Econômicos

3.3.2 Programa II: Mini-MCV e Associado


Até 1980, o comportamento laterítico, ou não, de um solo, era obtido pela
Relação RIS. Com o advento da Classificação MCT, seus ensaios
permitem definir esse comportamento com muito mais segurança.
Os ensaios Compactação Mini-MCV (M5) e Perda de Massa por Imersão (M8)
têm caráter classificatório e objetivam a verificação do comportamen-
to laterítico, ou não, de um solo através da Classificação MCT, além
de preverem propriedades dos grupos integrantes das mesmas.
A introdução desses ensaios deve-se a estudos, laboratoriais e de campo, dos solos
tropicais e torna mais eficiente o critério de escolha dos SAFL para
bases. Apoiado nessa nova ferramenta, foi executado o Programa II,
aplicado nas amostras de solos das bases dos 36 trechos da Tabela 4.8,
que resultou nas pesquisas apresentadas no Capítulo 4, as quais são
complementares às apresentadas no Programa I.
O Programa, constou de:

a] Apresentação do Programa
a.1) Para cada amostra foram moldados 5 cp com cinco diferentes
teores de umidade, com intervalo de 1,5% entre eles.
a.2) Com cada um dos cp foram executados os ensaios do fluxo-
grama da figura 3.19, que também indica as curvas obtidas pelos
ensaios e os coeficiente necessários para a Classificação MCT.
O tipo de equipamento de compactação é o mesmo, tanto para o
Mini-Proctor, como para o Mini-MCV (esquema na figura 3.1).
a.3) Os resultados dos ensaios para amostras de solo L e solo N,
que se acham nas figuras 3.20 e 3.21, apresentam as curvas que

Figura 3.19 Fluxograma Mini-MCV e ensaio associado da perda de massa.

62
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

resultam dos ensaios Mini-MCV e Perda de Massa por Imersão,


respectivamente.

b] Curvas Geradas
Para cada teor de umidade da amostra de solo ensaiado foi
gerada uma curva de compactação Mini-MCV, também designa-
da curva de deformabilidade. Cada cp resultante desse ensaio
foi submetido ao ensaio da Perda de Massa por Imersão (Pi) e
esse procedimento foi repetido para os cinco diferentes teores de
umidade.
Além das curvas de deformabilidade foi obtida, com os dados dos ensaios,
uma família de curvas de compactação para diferentes energias que
englobam, desde energias menores que a Normal, até maiores que a
Modificada. Essas curvas são obtidas, no entanto, com massas cons-
tantes de 200 g e pela compactação segundo o Mini-MCV; suas ener-
gias, portanto, são diferentes das do Mini-Proctor cujo ensaio de
compactação preconiza volume constante.
As figuras 3.20 e 3.21 ilustram a família das curvas de deformabilidade e densida-
de de um solo L e de um solo N, além da curva de Pi x Mini-MCV.

c] Considerações sobre o Traçado e Forma das Curvas Geradas


Como este assunto ainda não é suficientemente conhecido no
meio técnico, julgou-se oportuno transcrever os conceitos perti-
nentes, expressos no livro Pavimentação de Baixo Custo com Solos
Lateríticos (Nogami e Villibor, 1995).
As curvas geradas pelos ensaios classificatórios M5 e M8, são de:
 Deformabilidade ou de Mini-MCV
 Compactação segundo Mini-MCV
 Perda de Massa por Imersão x Mini-MCV
c.1) Curva de Mini-MCV e coeficiente c’:
Para cada teor de umidade de compactação (Hi,i=1,2,3..), traçar a
curva de n (número de golpes de referência) em função do afun-
damento an=An-A4n (onde An e A4n são as alturas do cp após n e
4n golpes), utilizando papel monologarítmico, conforme ilustrado
nos gráficos das figuras 3.20 e 3.21. Essas curvas são denominadas
curvas de deformabilidade ou de Mini-MCV pois, a partir delas,
pode-se determinar o Mini-MCV. Para essa determinação, toma-se
a curva correspondente a um determinado teor de umidade de
compactação (correspondente, portanto, a um valor particular de
i) e procura-se a sua intersecção com a reta de equação a=2 mm,
que é paralela ao eixo das abscissas. Procura-se, em seguida, o
número de golpes, Bi, correspondente. O Mini-MCV será dado
pela fórmula: Mini-MCV = 10 x log (Bi)

63
Pavimentos Econômicos

Figura 3.20 Resultados de ensaios Mini-MCV e Perda de Massa, de um solo L, com a amostra
do SAFL utilizado na base do acesso a Água Vermelha – SP.

Por exemplo: na figura 3.20 tem-se para a primeira curva Bi = 3,6


golpes que gera um Mini-MCV= 10 log 3,6 = 5,5.
Para facilitar as determinações, as folhas de ensaio apresentam
uma escala com os valores de 10 x log n, que é uma escala linear.
Observe-se que Bi, geralmente não inteiro, é um valor particu-
lar de n, correspondente a um determinado teor de umidade de
compactação.
Portanto, serão obtidos tantos Mini-MCV quantos forem os corpos
de prova moldados com teores de umidade diferentes.
O coeficiente c’, utilizado na Classificação Geotécnica MCT, é o
coeficiente angular (sem o sinal) de uma reta representativa da
curva Mini-MCV, sendo que, para isso, o uso da escala linear no
eixo das abscissas, correspondente aos valores, facilita a operação.
Observe-se que, para cada curva Mini-MCV, existe um c’.

64
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

 


Figura 3.21 Resultados de ensaios Mini-MCV e Perda de Massa de um solo N (saprolítico


micáceo-caolinítico).

c.2) Curva de Compactação e Coeficiente d’:


De uma maneira geral, as areias argilosas bem graduadas possuem
curvas de compactação com picos bem acentuados e ramo seco
retilíneo, cuja inclinação se acentua sensivelmente, quando
a argila presente é de natureza laterítica. As argilas lateríticas
possuem, também, curvas de forma similar, porém com inclina-
ção menos acentuada.
Os siltes saprolíticos micáceos e/ou caoliníticos e as areias pouco
ou não coesivas possuem picos pouco acentuados e, quase sempre,
com algum encurvamento que dificulta a determinação de d’.
Os solos lateríticos, de uma maneira geral, atingem grau de satu-
ração elevado, fazendo com que os picos das curvas de compac-
tação se aproximem bastante da curva de MEASmáx, obtida no
ensaio Mini-MCV. O contrário acontece com as areias e siltes, que
são pouco ou nada coesivos.

65
Pavimentos Econômicos

Geralmente, as argilas lateríticas possuem d’ acima de 20, ao passo


que as argilas não lateríticas não atingem esse valor pois, frequen-
temente, possuem valores inferiores a 10. As areias puras possuem
d’ pouco acentuado, enquanto as areias finas argilosas podem
ter d’ muito elevado, ultrapassando 100. Os solos saprolíticos
siltosos, micáceos e/ou caoliníticos, possuem d’ muito pequeno,
frequentemente abaixo de 5. Esses dados mostram a importância
do coeficiente d’ para a classificação dos solos tropicais.
c.3) Curva da Perda de Massa por Imersão
Esse ensaio foi desenvolvido tendo como um dos objetivos distin-
guir os solos tropicais de comportamento laterítico, dos de não
laterítico, quando eles possuem características similares no que
se relaciona a:

1) Inclinação do ramo seco da curva de compactação Mini-MCV,


correspondente à energia de 12 golpes, soquete leve (coefi-
ciente d’).
2) Inclinação da curva Mini-MCV (ou de deformabilidade),
correspondente às condições padronizadas.

Tabela 3.7 Altura Final do cp e valor do


Mini-MCV para cálculo da Pi.

O valor da perda de massa, Pi, permite prever uma série de


comportamentos que, entretanto, só podem ser devidamente
avaliados se o ensaio for considerado, simultaneamente, com
outros dados fornecidos pela Sistemática MCT.
Para a determinação do valor da Pi, a ser usado para fins classi-
ficatórios, deve-se :
 Traçar a curva Pi x Mini-MCV.
 Verificar a altura do cp no final da compactação (hcp), para a
curva de deformabilidade mais próxima da curva correspon-
dente ao Mini-MCV = 10. Essa altura é função da MEAS do cp,
a qual pode ser alta ou baixa.
Essas informações, conjugadas com os valores da tabela 3.7, permi-
tem determinar Pi na curva Pi x Mini-MCV, conforme indicado.
Os cp moldados para obtenção da Pi, raramente correspondem
aos valores de Mini-MCV exigidos para fins classificatórios. Nesses
casos, também é necessária uma interpolação gráfica apropriada,
o que constitui mais uma razão para se traçar a curva Pi x Mini-
MCV.

66
DESENVOLVIMENTO DA SISTEMÁTICA MCT 3

3) Peculiaridades da Perda de Massa por Imersão dos Solos Late-


ríticos e Saprolíticos.
Quando os cp utilizados no ensaio são de solos lateríticos e
compactados segundo o procedimento Mini-MCV, os valores
da Pi apresentam, nitidamente, um decréscimo após o teor de
umidade correspondente ao Mini-MCV = 10. No caso de argilas
e argilas arenosas lateríticas, frequentemente a Pi próxima ao
Mini-MCV=10 é zero ou muito pequena; porém, para Mini-MCV
decrescentes (isto é, nitidamente no ramo úmido), o valor da Pi
tende a crescer.
Nas areias argilosas lateríticas, a tendência é similar; entretanto,
o decréscimo da Pi ocorre para Mini-MCV bem mais elevado, e a
condição de Pi=0 só ocorre para Mini-MCV acima de 15.
Os solos saprolíticos apresentam, geralmente, valores de Pi nitida-
mente superiores quando comparados com os solos lateríticos.
Essa peculiaridade é mais acentuada nas variedades siltosas micá-
ceas e/ou caoliníticas, nas quais valores da Pi superiores a 250%,
são constatados frequentemente.
Além disso, os valores da Pi variam muito pouco em função do
Mini-MCV, ou com o teor de umidade de compactação (ou de
moldagem), e a velocidade de desagregação dos cp é muito alta.
As areias saprolíticas apresentam valores da Pi difíceis de serem
previstos pois podem ser elevados ou baixos, conforme o grau de
entrosamento atingido no processo de compactação dos cp. As
argilas saprolíticas apresentam valores da Pi predominantemen-
te na faixa intermediária (próximos de 100%), apresentando um
nítido aumento com o aumento do Mini-MCV. Outra peculiarida-
de dessas argilas é que a desagregação, após a imersão dos cp, se
processa muito lentamente, podendo durar mais de 20 horas.

67
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO

4
DA SISTEMÁTICA MCT

68
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Utilizando, principalmente, a Sistemática MCT e os programas de ensaios


propostos em 3.3, foram desenvolvidos estudos de campo e pesqui-
sas em laboratório sobre diversas amostras de solos de comporta-
mento laterítico (solos L) e não laterítico (solos N), além daquelas
obtidas dos solos lateríticos constituintes das bases de SAFL de 36
trechos executados em São Paulo cujos pavimentos apresentaram
comportamento satisfatório. Os dados resultantes proporcionaram a
obtenção de um maior conhecimento científico das propriedades dos
solos referidos. Isso permitiu a proposição de um critério de escolha
de jazidas de solo, para uso em bases de SAFL, a partir de intervalos
de valores admissíveis de suas propriedades mecânicas e hídricas,
além de dar subsídios à técnica construtiva das bases e da sua impri-
madura impermeabilizante.
Esses estudos e pesquisas compreenderam os seguintes tópicos:
t Diferenças de propriedades entre solos de comportamento laterí-
tico (L) e não laterítico (N).
t Peculiaridades das propriedades dos SAFL usados em bases, veri-
ficadas com aplicação da Sistemática MCT.

t Ensaios in situ: correlações dos seus resultados com os de labora-


tório e associação com as peculiaridades construtivas.
t Imprimadura asfáltica impermeabilizante para base de SAFL.
t Granulometria, mineralogia, microfábrica e cor dos SAFL.
Após 1995, para complementar a pesquisa “Peculiaridades das propriedades dos
SAFL”, os solos daqueles 36 trechos foram submetidos aos ensaios
“Mini-MCV” e da “Perda de Massa por Imersão”, para se obter a
Classificação MCT dos mesmos.

4.2 DIFERENÇAS DE PROPRIEDADES ENTRE SOLOS DE


COMPORTAMENTO LATERÍTICO (L) E
NÃO L ATERÍTICO (N)
4.2.1 Considerações Iniciais
Para um melhor entendimento da pesquisa, é necessário apresentar
as conceituações abaixo, segundo Nogami e Villibor (1995):

69
Pavimentos Econômicos

t Solo: material natural não consolidado, isto é, constituído de


grãos separáveis por processos mecânicos e hidráulicos relati-
vamente suaves, como dispersão em água com uso de aparelho
dispersor de laboratório, que pode ser escavado com equipamen-
tos comuns de terraplanagem.
t Solo Tropical: aquele que apresenta peculiaridades de proprieda-
des e de comportamento relativamente aos solos não tropicais, em
decorrência da atuação de processos geológicos e/ou pedológicos
típicos das regiões tropicais úmidas (Commitee on Tropical Soils
of ISSMFE, 1985). Entre eles, destacam-se duas grandes classes: os
solos lateríticos e os solos saprolíticos (vide figura 4.1).

Figura 4.1 Designação genética geral das camadas de solo, nas regiões tropicais.

t Solo Laterítico: será considerado como significando solo de


comportamento geotécnico laterítico, a não ser que seja, espe-
cificamente, observado o contrário. Consequentemente, é carac-
terizado por possuir uma série de propriedades que levam a
classificá-lo como solo de comportamento laterítico, segundo a
Classificação MCT. Pedologicamente, o solo laterítico é uma varie-
dade de solo do horizonte superficial laterítico, típico das partes
bem drenadas das regiões tropicais úmidas.
t Solo Saprolítico: aquele que resulta da decomposição e/ou desa-
gregação in situ da rocha (considerada material consolidado da
crosta terrestre), mantendo, ainda, de maneira nítida, a estrutura
(ou fábrica) da rocha que lhe deu origem (Commitee on Tropi-
cal Soils of ISSMFE, 1985). É, portanto, um solo genuinamente
residual, razão pela qual é frequentemente designado residual
ou, mais especificamente, solo residual jovem. As camadas que
os solos saprolíticos constituem em suas condições naturais são
designadas horizonte saprolítico. Geralmente apresenta compor-
tamento não laterítico.

70
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Para ilustrar esses dois tipos de solos, apresenta-se um perfil de solo esquemático
(figura 4.1) e outro de um corte rodoviário (figura 4.2), no qual, em
sua parte superior (vermelha), aparece um solo de comportamen-
to laterítico e, na inferior, um solo de comportamento não laterí-
tico (saprolítico). Pelo aspecto visual do talude, pode-se verificar a
grande diferença de comportamento desses dois tipos de solo quanto
à erosão: a parte laterítica é resistente, enquanto a não laterítica é
muito susceptível a ela.

Figura 4.2 Perfil de um corte rodoviário – parte superior solo laterítico (vermelho)
e inferior solo saprolítico variegado.

Isto posto, esta pesquisa visou estudar as peculiaridades, de interesse para a


pavimentação, dos solos de comportamento laterítico, em relação
aos não laterítico, que apresentam propriedades índices similares.
Alguns dos gráficos e conclusões, resultantes desta pesquisa, já foram
utilizados por Nogami e Villibor (1980 e 1995).
Para o desenvolvimento da pesquisa foram executados ensaios, obedecendo
à Sistemática MCT, sobre duas séries de amostras:
1ª Série: amostras compostas em laboratório, sendo um grupo cons-
tituído de frações provenientes de um SAFL (L), e o outro, de um solo
Saprolítico (N) derivado do intemperismo do granito.
2ª Série: amostras naturais, sendo um grupo constituído de solos L
e outro, de solos N.
Os ensaios foram realizados nos laboratórios de Araraquara e central de São
Paulo, do DER-SP, sob a orientação dos técnicos Sérgio T. Bugni,
Salvador de Almeida, Antonio C. Gigante e Edson de Moura, com a
supervisão dos autores.

71
Pavimentos Econômicos

4.2.2 Pesquisas e Resultados Obtidos da 1a Série de


Amostras (Solos Compostos)
4.2.2.1 Dados dos Solos que Geraram a 1ª Série
de Amostras (Solos Compostos)
Os dados referentes aos locais de amostragem e demais características de interesse
geotécnico dos solos L e N, que forneceram as frações utilizadas, são
mostrados na tabela 4.1.

Tabela 4.1 CARACTERÍSTICAS L E N, QUE FORNECERAM AS FRAÇÕES DA 1ª SÉRIE DE


DOS SOLOS
AMOSTRAS (SOLOS COMPOSTOS).

As figuras 4.3 e 4.4 ilustram as microfábricas dos solos SAFL (L) e Saprolítico
(N), em questão.
t SAFL (L): caracterizada por apresentar argilos minerais aglutina-
dos em forma de “nuvens” ou pipocas.
t Saprolitico (N): caracterizada por apresentar argilos minerais
individualizados.

72
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.3 Microfábrica do solo L, aumento 10.000X. Figura 4.4 Microfábrica do solo N, aumento 10.000X.

4.2.2.2 Preparação dos “Solos Compostos” e Ensaios


Com as amostras brutas do SAFL e do solo saprolítico, constantes da tabela 4.1,
foram executadas as seguintes operações:
1ª – Separação do solo bruto por peneiramento, sem lavagem na
peneira de 0,42 mm (nº 40 ASTM) e com lavagem na peneira de
0,075 mm (nº 200 ASTM). O material, passado na peneira de 0,42
mm e retido na de 0,075 mm, foi denominado de fração grossa (Fg).
O material passado na peneira de 0,075 mm foi denominado fração
fina (Ff). As frações obtidas, antes das misturações referidas abaixo,
foram secadas ao ar e devidamente homogeneizadas.
2ª – Com diferentes porcentagens das duas frações, Fg e Ff, foram
obtidas oito combinações de misturas íntimas, denominadas solos
compostos; por exemplo: 20% da Ff e 80% da Fg.
3ª – Com cada um dos “solos compostos” assim obtidos, foram
compactados corpos de prova, na energia Normal, para a execução
dos seguintes ensaios:
t Propriedades índices: granulometria, LL e IP, e classificação HRB-
AASHTO.
t Ensaio de compactação Mini-Proctor (MEAS e Ho).
t Determinação da capacidade de suporte e expansão nas seguintes
condições:
 Mini-CBRHm (sem imersão, na umidade de moldagem e com
sobrecarga).
 Mini-CBRic e Expansão (Ec) (com 24h de imersão, com sobre-
carga).
 Mini-CBRis e Expansão (Es) (com 24h de imersão, sem sobre-
carga).

73
Pavimentos Econômicos

t Determinação dos coeficientes de sorção (s) e de permeabilidade


(k).
t Determinação da contração axial (Ct) por secagem ao ar.

4.2.2.3 Apresentação dos Resultados


a] Resultados de cada Solo Composto
Os resultados dos ensaios foram representados em gráficos tendo,
nas abscissas, o teor de umidade de compactação e, nas ordena-
das, os respectivos resultados dos ensaios realizados. A figura 4.5
ilustra os resultados de dois solos compostos em que Ff = 100%
e Fg = 0.
b] Gráficos Resumo
Considerando-se os resultados correspondentes aos diversos
solos compostos, foram construídos os gráficos resumo, apresen-
tados na figura 4.6, em função do material que passa na peneira
0.075 mm. No caso de resultados que dependem da umidade de
moldagem, foram considerados apenas aqueles correspondentes
à ótima de compactação (Ho).

4.2.2.4 Análise dos Resultados


A análise das curvas dos gráficos das figuras 4.5 e 4.6, e dos valores das tabelas 4.2 e
4.3, permite deduzir algumas das mais importantes peculiaridades
geotécnicas que diferenciam os solos de comportamento laterítico
(solos L) dos de não laterítico (solos N), representados por solos sapro-
líticos, apresentados e discutidos a seguir:
a] Propriedades da Fração Fina
A fração fina (Ff = 100%) do solo L apresentou propriedades bem
distintas daquelas da fração fina do solo N.
b] Características de Compactação
No ramo seco da curva de compactação dos solos L, verificou-se
uma maior variação dos valores da MEAS, em função do teor
de umidade de compactação, do que nos solos N. Essa peculia-
ridade pode ser quantificada considerando-se o coeficiente d’ =
ΔMEAS/ΔHc (razão do aumento da massa específica aparente seca
com o aumento do teor de umidade de compactação, calculados
no ramo seco da curva de compactação), com alguns valores ilus-
trados na figura 4.6. Os valores da MEAS dos solos L são superio-
res aos correspondentes dos solos N.
c] Suporte e Expansão

Valores do Suporte dos solos L e N:


Os valores do suporte Mini-CBR das amostras compostas dos solos L e N

74
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

apresentaram grandes diferenças quanto à perda deste por imersão,


podendo se afirmar, genericamente, que:
t Solo L: pequena perda do valor de suporte, com a imersão e com
a supressão da sobrecarga.
t Solo N: grande perda do valor de suporte, com a imersão e com
a supressão da sobrecarga.

SOLO “COMPOSTO”
PROPRIEDADES
LATERÍTICO Ff=100% SAPROLÍTICO Ff=100%


COEFICIENTE DE SORÇÃO (s) 
     ! 



COEFICIENTE DE 
PERMEABILIDADE (k) 
   

EXPANSÃO [%] 
  

  


CONTRAÇÃO [%] (Ct)

MINI-CBR [%] 

  
 



     


       



     


      






MEAS = MASSA ESPECÍFICA
APARENTE SECA [g/cm ] 
    


UMIDADE DE COMPACTAÇÃO [%] 



   


Figura 4.5 Resultados de dois solos “compostos”, um laterítico e outro saprolítico, correspondentes a Ff = 100% e
Fg = 0, na energia Intermediária.

75
Pavimentos Econômicos

Figura 4.6 Gráficos Resumo dos “Solos Compostos”, misturas L e N. Propriedades obtidas na Ho da energia Normal do
Mini-Proctor.

76
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

TABELA 4.2 RESULTADOS DA FRAÇÃO FINA DO SOLO L (L ATERÍTICO) E DO SOLO N (SAPROLÍTICO).

Para a quantificação indireta dessa diferença de comportamento do Mini-CBR,


definiu-se uma Relação RIS, em %,
TABELA 4.3 VARIAÇÃO DA RIS EM FUNÇÃO DA PORCENTA-
entre os valores do suporte Mini-
GEM DA FRAÇÃO GROSSA, NA MISTURA.
CBR: imerso, sem sobrecarga e com
sobrecarga, para a condição de Ho,
conforme a expressão.

  
 
 


A variação da porcentagem da fração grossa tem pouco efeito sobre a Relação RIS,
no caso do solo L, e um efeito bastante nítido, no caso do solo N.

Valores da Expansão dos solos L e N:


t Solo L: expansão muito baixa, com máximo de 0,2 %. É pouco
sensível ao aumento da porcentagem da fração da mistura que
passa na peneira 0,075 mm, e à presença, ou não, de sobrecarga.
t Solo N: expansão muito alta, a partir da porcentagem de 30 % da
fração da mistura que passa na peneira de 0,075 mm, chegando a
ultrapassar 10 %. É sensível à presença de sobrecarga, pois chega
a dobrar de valor com a retirada da mesma.
d] Contração Axial
Para os dois tipos de solo os valores da contração crescem com o
aumento de Ff. A partir de Ff = 25% os valores da contração dos
solos L são superiores aos dos N e, para os solos Ff = 100%, o valor
da contração dos solos L é muito superior ao dos solos N (mais
que o dobro).
e] Coeficientes de Sorção d’ água e de Permeabilidade
Nas amostras compostas, os valores dos coeficientes de sorção
d’água e de permeabilidade das misturas L são inferiores aos das
misturas N.

77
Pavimentos Econômicos

4.2.3 Pesquisas e Resultados Obtidos da 2ª Série de


Amostras (Amostras Naturais)
4.2.3.1 Dados dos Solos que Geraram a 2ª Série de
Amostras (Solos Naturais)
Para esse estudo, procurou-se escolher as amostras de solos provenientes
dos grupos pedologicamente genéticos que apresentam comporta-
mento laterítico e não laterítico, mas que pertencem à mesma clas-
sificação HRB-AASHTO. A metodologia seguida para o estudo foi a
seguinte:

4.2.3.2 Escolha dos Solos


a] O conjunto das amostras de solos naturais ensaiadas foi consti-
tuído por 7 solos de comportamento laterítico e 7 não laterítico,
pertencentes aos grupos HRB-AASHTO seguintes: A-7-5, A-6, A-4,
A-2-6 e A-2-4. Os pares de solos de comportamento laterítico (L)
e não laterítico (N), do mesmo grupo, foram escolhidos de forma
a apresentarem granulometrias da mesma ordem, além de ocupa-
rem posições próximas no Gráfico de Plasticidade (ou de Casa-
grande) da classificação USCS, conforme ilustrado na figura 4.7.

Figura 4.7 Posição no Gráfico de Plasticidade (segundo Casagrande) dos solos estudados, de
comportamento laterítico e não laterítico.

b] As características tecnológicas dos pares das amostras da figura


4.7, quanto ao LL, I.P, granulometria e material matriz dos solos
L e N, acham-se apresentadas na figura 4.8.

78
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.8 Gráficos dos solos naturais. Características do grupo HRB-AASHTO, LL, IP e Granulometria, de
alguns pares indicados na figura 4.7.

4.2.3.3 Ensaios, Apresentação e Análise dos Resultados


Com cada solo escolhido, foram executados os mesmos ensaios referidos
no subitem 4.2.2.2.
Para efeito de ilustração, a partir dos resultados dos ensaios de 14 amostras,
foram escolhidos 4 pares de solos cujos valores, obtidos para a umida-
de ótima de moldagem e na energia Normal, foram utilizados para
a construção dos gráficos resumo da figura 4.9. Ressalta-se, todavia,
que as conclusões apresentadas a seguir são representativas das 14
amostras estudadas. A análise dos resultados dos 4 pares permite
concluir que as diferenças mais notáveis, entre os solos de compor-
tamento (L) e (N), são:
a] Características de Compactação
Os solos L, geralmente, possuem MEAS muito maiores do que
os solos N, de granulometria e limites de Atterberg similares.
Também, com o aumento do teor de umidade no ramo seco da

79
Pavimentos Econômicos

curva de compactação, verifica-se um acréscimo da MEAS, niti-


damente maior, nos solos L.



Figura 4.9 Gráficos resumo dos solos naturais. Propriedades na Ho da energia Normal.

80
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

b] Capacidade de Suporte e Expansão


Os solos L apresentam valores da capacidade de suporte, nas
condições imersas (com ou sem sobrecarga), nitidamente supe-
riores aos correspondentes aos solos N. As diferenças são maiores
nos grupos A-4, A-6 e A-7-5 do que no grupo A-2-4. Nas mesmas
condições, a expansão dos solos L é bem menor do que a dos
solos N.
Independentemente do grupo HRB-AASHTO, a capacidade de suporte dos
solos L é pouco afetada pela sobrecarga, enquanto, nos solos N, a
influência é muito grande (a retirada da sobrecarga pode causar redu-
ção, de até 20 vezes, na capacidade de suporte).
Os valores da expansão dos solos L são extremamente baixos (menores
que 0,4 % para os solos estudados) e independem da presença, ou
não, da sobrecarga. Já os valores dos solos N são extremamentes
elevados (ultrapassaram 10% para os solos estudados) e bastante
sensíveis ao efeito da sobrecarga, pois a sua retirada pode aumentar,
em até 5 vezes, os valores da expansão.
c] Contração Axial
Para ambos os tipos de solo, os valores crescem bastante com o
aumento do teor da fração fina, mas, para a mesma porcentagem
da fração que passa na peneira de malha 0,075 mm, os valores
são nitidamente superiores para os solos de comportamento late-
rítico.
d] Permeabilidade
Constatou-se uma maior variação de valores ao longo da curva
de compactação, no caso dos solos L. Por sua vez, os solos N são
mais permeáveis do que os correspondentes Solos L do mesmo
grupo HRB-AASHTO.
e] Coeficiente de Sorção
Os valores apresentaram variações semelhantes à da permeabi-
lidade. O coeficiente de sorção, nos solos L, apresentou valores
menores do que nos solos N do mesmo grupo HRB-AASHTO.

4.2.4 Discussão dos Resultados – Solos Compostos


e Naturais
Os resultados obtidos através dos estudos descritos nos subitens 4.2.2
e 4.2.3 permitiram:
t Propor um critério para a verificação do comportamento “laterí-
tico” do solo.
t Verificar as limitações para a avaliação das propriedades mecâ-
nicas e hídricas dos solos, baseada no uso das classificações HRB-
AASHTO e USCS.

81
Pavimentos Econômicos

t Avaliar as propriedades dos solos utilizando a Classificação


Geotécnica MCT.

4.2.4.1 Critério para Verificação do Comportamento


Laterítico do Solo
O critério proposto destina-se, especificamente, a verificar se um solo tem
comportamento “laterítico” ou não, visando sua utilização como base
ou sub-base de pavimentos. Para essa finalidade, a análise dos resul-
tados mostra que o critério poderia fundamentar-se na propriedade
dos solos, de comportamento laterítico, de serem menos sensíveis à
diminuição dos valores do Mini-CBR com imersão, do que os solos
de comportamento não laterítico. Para tanto, utiliza-se a Relação RIS,
obtida na Ho e a partir de corpos de prova compactados na energia
Intermediária do Mini-Proctor, que é a utilizada na execução das
bases de SAFL.

  
 
 

A figura 4.10 apresenta os valores da Relação RIS em função da porcentagem
que passa na peneira 0,075 mm (fração fina), para solos de compor-
tamento laterítico e não laterítico, tanto compostos artificialmente
como naturais. A análise da figura mostra que os solos estudados
apresentam valores da RIS que se enquadram em 2 classes distintas,
a saber:
Comportamento Laterítico: RIS > 60%
Comportamento Não Laterítico: RIS < 30%

Figura 4.10 Relação RIS, em função da porcentagem que passa na peneira 0,075 mm, dos solos
compostos e naturais, estudados.

82
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Essa constatação mostra que a Relação RIS é um critério para a diferenciação desses
solos. Com o uso da energia Intermediária foi, então, feito um estudo
específico considerando-se 36 solos arenosos de comportamento late-
rítico (utilizados em bases) e 9 solos arenosos de comportamento
não laterítico (constituintes de subleitos). Os resultados dos ensaios
estão resumidos na figura 4.11 e o critério de separação dos solos, de
comportamentos laterítico e não laterítico, na tabela 4.4.

Figura 4.11 Valores da relação “RIS” para solos arenosos de comportamento Laterítico usados
em base, e não Laterítico, constituintes de subleito.

Para uma melhor comprovação da reprodu- TABELA 4.4 CRITÉRIO PARA DIFERENCIAÇÃO DOS SOLOS DE
tibilidade do critério proposto, COMPORTAMENTO L ATERÍTICO E NÃO L ATERÍTICO.
foram enviadas 3 amostras de
solos L e 3 de solos N ao labo-
ratório de Estradas do Depar-
tamento de Transportes (STT)
da Escola de Engenharia de São
Carlos, da USP. Os resultados
dos ensaios lá executados, e apresentados na tabela 4.5, confirmam
a validade do critério.
Outra forma de medir a sensibilidade da perda de suporte por imersão
do mini-CBR na umidade de moldagem, é usar a relação PSI obtida
pela expressão: PSI = 100-RIS, em %.
A relação PSI indica o valor, em porcentagem, da perda do suporte do Mini-CBR
na Ho com imersão em água por 24 horas, em relação ao valor inicial.
A PSI é obtida para as mesmas condições de compactação e umidade

83
Pavimentos Econômicos

TABELA 4.5 “RIS” PARA 3 SOLOS DE COMPORTAMENTO L ATERÍTICO E 3 DE NÃO L ATERÍTICO.

utilizadas para a obtenção da RIS. A relação que a define é a seguin-


te:

    
 

 

4.2.4.2 Avaliação das Propriedades dos Solos, pelas


Classificações HRB-AASHTO e USCS –
Suas Limitações
O primeiro grande problema é a pequena reprodutibilidade dos limites de consis-
tência, nos ensaios, já comentada no Capítulo 2. Esse fato, por si só,
já restringe as classificações citadas. No entanto, mesmo superando-
se essa deficiência, ainda assim constatam-se limitações apreciáveis
quanto à avaliação das propriedades mecânicas e hídricas dos solos,
a partir dos seus limites de consistência e sua granulometria.
No que concerne à construção de estradas, tem-se verificado que, para os solos de
comportamento laterítico, as propriedades das camadas executadas
são bastante superiores àquelas avaliadas pelas classificações consi-
deradas. Já para os solos de comportamento não laterítico, ocorre o
inverso.
A seguir, são apresentadas, em detalhes, considerações sobre limitações das
classificações HRB-AASHTO e USCS, diante dos resultados obtidos
nos estudos laboratoriais descritos anteriormente e, também, das
comprovações práticas das limitações advindas da HRB-AASHTO.
a] Classificação HRB-AASHTO
A figura 4.12 apresenta o Índice de Grupo em função do Mini-
CBRic (na umidade ótima, imerso e com sobrecarga padrão) dos
solos de comportamento laterítico e não laterítico estudados.
Verifica-se que é inexistente uma correlação entre o Mini-CBR e o
Índice de Grupo, sobretudo se considerados num mesmo universo
os solos de comportamento laterítico e os solos saprolíticos. Isso
contrasta com a excelente correlação encontrada para solos de
regiões não tropicais, ilustrada na figura 4.12. Conforme já salien-

84
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

tado e mostrado anteriormente, solos de comportamento laterí-


tico, ou não, de mesma classificação HRB-AASHTO, apresentam
diferenças marcantes de propriedades (vide figuras 4.6 e 4.9).
 

Figura 4.12 Índice de Grupo (I.G.) em função do Mini-CBRic, na Ho da EN.

b] Classificação USCS
No Gráfico de Plasticidade USCS, da figura 4.7, os solos de compor-
tamento laterítico e não laterítico, que ocupam posições próximas
e com a mesma classificação, têm índices de suporte nitidamente
diferentes, conforme se verifica pela figura 4.12. Isso ilustra que,
para a avaliação das propriedades, de um modo geral, é funda-
mental saber se o solo é de comportamento laterítico ou não. A
necessidade dessa informação já é apontada no próprio M-76-71
do DER-SP (Classificação do solo segundo HRB e USCS).
c] Comprovações Práticas das Limitações pela HRB-AASHTO
As limitações da avaliação das propriedades mecânicas e hídricas
dos solos pela classificação HRB-AASHTO já foram, muitas vezes,
confirmadas pelas práticas construtivas utilizadas no Brasil. Um
exemplo marcante desse fato é a técnica construtiva adotada na
região do “Embasamento Cristalino” do Estado de São Paulo. No
perfil de solos daquela região a zona intermediária é composta
de solos saprolíticos, genuinamente residuais das rochas existen-
tes, e, na zona superior, é frequente a ocorrência de camadas de

85
Pavimentos Econômicos

solos de comportamento laterítico. A técnica corrente na região,


para a construção de aterros, é a utilização de solos da camada
de comportamento laterítico, mesmo que pertencentes ao grupo
A-7 da classificação HRB, sobre solos saprolíticos do grupo A-4
(de comportamento não laterítico), por terem desempenho niti-
damente superior.
Outro exemplo marcante refere-se à utilização de SAFL de classificação A-4,
na execução de bases. Como se sabe, segundo a previsão da classifi-
cação em questão, os solos do grupo A-4 comportam-se de maneira
de regular a má, quando constituem subleitos de pavimentos.
Na opinião dos autores, as limitações consideradas inviabilizam o uso
da HRB e da USCS, para o estudo de solos tropicais. Essa afirmação
era esperada, pelo fato dessas classificações associarem os ensaios
classificatórios ao comportamento de solos formados em climas de
temperado à frio, e levantou a necessidade de se buscar um método
simples e seguro para classificar os solos tropicais.
Como resposta, Nogami e Villibor propuseram a Sistemática MCT, apresentada
no Capítulo 3, fruto de mais de 25 anos estudando as peculiaridades
dos solos tropicais finos (Φ < 2,00 mm) brasileiros. Essa sistemática
abrange a Classificação Geotécnica MCT e os ensaios para a deter-
minação direta dos valores das propriedades mecânicas e hídricas
dos solos tropicais.

4.2.4.3 Avaliação das Propriedades dos Solos pela


classificação MCT
t Classificação Geotécnica MCT
Os pares de solos indicados na figura 4.7 foram classificados pela
MCT e as suas posições são mostradas na figura 4.13.
A análise dessa figura torna evidente que os pares de solos em
questão pertencem a grupos distintos, o que não ocorre quando
são classificados pela HRB (figura 4.7). Essa constatação é decor-
rente de os pares terem origem pedogenética distinta (um é late-
rítico e o outro, saprolítico), e ressalta a compatibilidade da MCT
com a formação dos solos em condições ambientais tropicais.
t Valores das propriedades
Os intervalos de valores das propriedades, previstos para os
grupos da MCT em sua Classificação (subitem 3.2.9), são confir-
mados pelos valores obtidos nos ensaios da figura 4.9; para uma
melhor visualização, os valores numéricos dos quatro pares da
mesma são apresentados na tabela 4.6, confirmando o referido
acima. Isto mostra a adequação da MCT para estimar os valores
das propriedades dos solos tropicais.

86
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.13 Posição dos solos no gráfico classificatório da MCT.

TABELA 4.6 INTERVALOS DE VALORES DE ALGUMAS PROPRIEDADE DE 4 PARES DE SOLOS.

Ressalta-se que, na tabela, os pares pertencentes a um mesmo grupo da HRB


apresentam valores totalmente distintos. Isso mostra que essa clas-
sificação não é adequada para avaliar as propriedades dos solos em
questão e confirma as afirmações anteriores.

4.3 PECULIARIDADES DAS PROPRIEDADES DOS SAFL USADOS


EM BASES, VERIFICADAS COM A APLICAÇÃO DA MCT
A pesquisa, por meio de ensaios em laboratório e campo, visou a obtenção das
principais propriedades físicas, mecânicas e hídricas dos solos
considerados, a fim de estabelecer uma Sistemática adequada para a
escolha do material a ser usado em bases e dar subsídios à “técnica
construtiva de pavimentos do tipo econômico”. Os solos ensaiados
foram retiradas de jazidas utilizadas nas bases dos 36 trechos da
tabela 4.7. Essa amostragem é representativa de uma área da ordem
de 60% do Estado de São Paulo.

87
Pavimentos Econômicos

4.3.1 Programas de Ensaios


A s a most ras coletadas dos solos usados nos t rechos ind icados na
tabela 4.7 foram submetidas aos programas de ensaios do item
3.3.

TABELA 4.7 NÚMEROS DAS AMOSTRAS E LOCAIS DE COLETA.

88
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

4.3.2 Apresentação dos Resultados do Programa I:


Mini - Proctor e Associados.
Com os dados obtidos nos ensaios foram traçadas curvas de variação, das diversas
propriedades, em função da umidade de compactação. A figura 4.14
exemplifica esse procedimento para a amostra número 01. Esse
mesmo procedimento foi utilizado para a obtenção das propriedades
das demais amostras dos trechos.

Figura 4.14 Curvas de variação das propriedades, versus o teor de umidade na Ho da EI.

89
Pavimentos Econômicos

Os valores obtidos em laboratório, na Ho da energia Intermediária (EI) do


Mini-Proctor, para as propriedades mecânicas e hídricas dos solos
usados nas bases de SAFL dos trechos da tabela 4.7, são mostrados na
tabela 4.8, juntamente com suas características granulométricas.

TABELA 4.8 VALORES DAS PROPRIEDADES OBTIDOS NA HO DA EI DO MINI-PROCTOR.





4.3.3 Discussão dos Resultados


Nos próximos itens serão discutidas as seguintes propriedades:
t Características de compactação.
t Capacidade de suporte e expansão.

90
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

t Sorção d’água e permeabilidade.


t Contração.

4.3.3.1 Características de Compactação


Esta análise será baseada:
t Nas curvas de compactação de 3 solos lateríticos típicos, vide
figura 4.15, nas energias Normal (EN) e Intermediária (EI).

Figura 4.15 Curvas de compactação de 3 solos lateríticos típicos, com energias Intermediária e Normal.

t Nos valores de Ho e MEASmáx, mostrados na figura 4.16, obtidos


dos solos dos 36 trechos estudados.

Figura 4.16 Valores da Ho e da MEASmáx, da EI. Numeração das amostras conforme tabela 4.8.

91
Pavimentos Econômicos

t Nas curvas indicadas na figura 4.17, que mostram a quantidade


de golpes necessários do soquete leve (2,27 kg) para se obter 100%
da MEASmáx, na Ho da E.I.

Figura 4.17 Número de golpes do soquete leve para obtenção de um grau de compactação igual a 100% da
MEASmáx, na Ho da EI.

A análise dos resultados dos ensaios em laboratório permite concluir que:


a] As curvas de compactação apresentam acentuada inclinação
no ramo seco, ou seja, relativamente alto valor do coeficiente
d’ = ΔMEAS /ΔHc (grande aumento da MEAS com uma pequena
variação do teor de umidade). Para uma redução de 2% no teor de
umidade de compactação no ramo seco, observa-se um decrésci-
mo da ordem de 12% na MEAS.
b] A MEASmáx, obtida com energia Intermediária é da ordem de 5%
superior à obtida com a energia Normal.
c] Uma das características dos solos é a de atingir valores elevados da
MEASmáx, (frequentemente acima de 2,0 g/cm3), quando compac-
tados na energia correspondente à Intermediária. A mesma tem
variado de 1,90 a 2,15 g/cm3 e o teor de umidade ótima, entre 9
e 14%.
Pela figura 4.16 verifica-se que, para o universo dos 36 solos estudados, existe
uma correlação entre a MEASmáx e a Ho, com um coeficiente de
correlação (R 2) aceitável, conforme a expressão abaixo:

 
     

92
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Também a mesma figura mostra que, praticamente, 90% dos solos apresentam
Ho entre 9,2 e 13,2 % e MEASmáx de 1,95 à 2,10 [g/cm3].
d] Pela figura 4.17 verifica-se que o solo que apresenta elevada
porcentagem de areia fina (solo 05) necessita de um número de
golpes muito maior (maior energia de compactação) do que os
que possuem fração areia constituída predominantemente de
areia média e grossa (solos 06 e 21), para se alcançar a MEAS máx
correspondente à energia Intermediária na Ho. A parte inferior
da figura mostra que, no campo, o grau de compactação obtido
na execução da base com o solo 05 foi inferior aos obtidos nas
bases executadas com os solos 06 e 21, fato esse em consonância
com o que se obteve em laboratório. Numa pesquisa efetuada
no IPT, com solos de características próximas ao 05, verificou-se
que, para a obtenção de 100 % da MEASmáx da E.I., foi necessário
usar 12 golpes de soquete pesado (4,5 kg); isso mostra que, para
se conseguir a MEASmáx da E.I. no campo, é necessário utilizar
equipamentos pesados.

4.3.3.2 Capacidade de Suporte e Expansão


A determinação do índice de suporte Mini-CBR e da expansão dos corpos
de prova foi feita em diversas condições, como já mencionado. Os
resultados dos ensaios realizados estão apresentados nas figuras 4.18,
a 4.21; a análise delas permite concluir que:
a] As curvas de variação do Mini-CBR com imersão do corpo de
prova (em escala logarítmica), em função do teor de umidade de
compactação (em escala linear), apresentam 2 ramos retilíneos
cuja interseção está próxima da umidade ótima de compacta-
ção. A grande inclinação dessas retas deve-se à elevada variação
no valor do suporte, causada por pequenas variações no teor de
umidade de compactação.
b] As curvas de variação do (Mini-CBR Hm), em função do teor de
umidade de compactação, revelam elevados valores de suporte no
ramo seco e quedas substanciais no ramo úmido. Para o solo apre-
sentado na figura 4.18, verifica-se que os valores do Mini-CBR,
na umidade ótima, situam-se numa faixa estreita, compreendida
entre 50% e 65%, para as três condições do ensaio.
c] A imersão provoca uma drástica redução nos valores do Mini-
CBR Hm, nas umidades de moldagem correspondentes ao ramo
seco da curva, resultando numa diminuição da ordem de 80%
para o solo em questão, na Hm = 9,6%. Na figura 4.18, esse efeito
diminui nas proximidades da umidade ótima e nas umidades
correspondentes ao ramo úmido chegando, mesmo, a ser despre-

93
Pavimentos Econômicos

zível para valores muito elevados da umidade de moldagem dos


corpos de prova.

Figura 4.18 Curvas de Mini-CBR, Expansão e MEASmáx, na EI em função


do teor de umidade.

d] O índice de suporte Mini-CBR, na umidade de moldagem corres-


pondente à ótima, situa-se entre 40 e 90%. O Mini-CBR com
imersão varia de 30 a 60%. Não se obteve uma correlação adequa-
da entre eles (Coeficiente de correlação R 2 =0,42).

94
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

e] Os valores da expansão, com ou sem sobrecarga, são geralmen-


te bastante baixos, exceto para teores muito baixos da umidade
de moldagem dos corpos de prova. Os valores da expansão na
umidade ótima sem sobrecarga são, sempre, inferiores a 0,30%
(figura 4.19). Esta é uma das propriedades mais importantes dos
SAFL.

 
   

 
    

Figura 4.19 Índice de suporte Mini-CBR e Expansão, obtidos na Ho, da EI, das amostras e
dados da tabela 4.8.

f] As curvas de carga versus penetração, obtidas no ensaio de


Mini-CBR, geralmente não apresentam inflexões, dispensando,

95
Pavimentos Econômicos

dessa forma, as correções do método CBR tradicional (vide


figura 4.20).

Figura 4.20 Curvas de carga versus penetração, obtidas no ensaio do Mini -CBR, para 3 solos.

g] A família das curvas de Mini-CBR na umidade de moldagem,


com a mesma MEAS e em função do teor de umidade, apresenta
vários trechos retilíneos paralelos. Verifica-se, também, que, para
um mesmo valor da MEAS, há uma redução linear do valor do
suporte com o aumento da umidade, até atingir-se a umidade de
saturação (vide figura 4.21).

Figura 4.21 Famílias de Curvas do Mini-CBR de mesma MEAS, em função da umidade de moldagem,
obtidas através da variação da energia de compactação, para 2 solos.

96
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

4.3.3.3 Coeficientes de Sorção d’ água (s) e de


Permeabilidade (k)
A fim de ilustrar a influência do teor de umidade nos valores dos coeficientes
s e k, foram realizados ensaios sobre amostras dos 36 solos lateríti-
cos típicos da tabela 4.7. Os resultados dos ensaios, sobre 3 amostras
distintas, estão mostrados na figura 4.22. A figura 4.23 apresenta os
valores de s e k, obtidos na umidade ótima da energia Intermediária,
para amostras de cada um dos 36 solos. Visando uma melhor compre-
ensão do fenômeno da penetração (ou infiltração) da água em bases,
após secagem ao ar, também foram ensaiadas amostras de um dos
solos, cujos resultados refletem a influência da secagem no valor do
coeficiente de sorção (vide figura 4.24).

Figura 4.22 Curvas dos Coeficientes de sorção d’ agua (s) e de permeabilidade (k), de 3 amostras de
solos lateríticos típicos.

 
   

 
   

Figura 4.23 Valores dos Coeficientes (s) e (k), obtidos na Ho da EI, das amostras e dados da tabela 4.7.

97
Pavimentos Econômicos



Figura 4.24 Coeficiente de sorção d’ água (s) de um solo, na umidade de moldagem e após a secagem
ao ar.

A análise dos resultados mostra que:


a] As curvas dos coeficientes s e k decrescem, passam por um
mínimo e crescem, ligeiramente, com o aumento da umidade de
moldagem. Os mínimos das curvas ocorrem nas proximidades da
umidade ótima de compactação. A figura 4.22 mostra, ainda, que,
aproximadamente a 2% abaixo da umidade ótima, os valores dos
coeficientes aumentam substancialmente, chegando a ser até 15
vezes maiores do que os observados na umidade ótima.
b] Para os 36 solos ensaiados, o coeficiente de sorção de água variou
de 10 -2 a 10 -3 cm/ min e o coeficiente de permeabilidade variou
de 10 -6 a 10 -8 cm/s.
c] Para o solo pesquisado, a secagem causou grande variação no
coeficiente de sorção. Para corpos de prova compactados com um
mesmo teor de umidade, a secagem ao ar, até atingir a constância
de peso, produziu um aumento da ordem de 10 vezes, no valor
do coeficiente.

4.3.3.4 Contração Axial


Para analisar os níveis de contração dos solos constituintes das bases em estudo,
foram obtidos os valores da Contração na Ho (indicados na figura
4.26) das 36 amostras de SAFL utilizando o M3 do DER-SP. Para
exemplificar, a figura 4.25 mostra os valores de três das amostras
ensaiadas, a saber:

98
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

t Amostra nº1, com elevada porcentagem de silte mais argila (próxi-


ma ao máximo admissível para uso em bases).
t Amostras nºs 6 e 10, com baixa porcentagem de silte mais
argila.

Figura 4.25 Três tipos diferentes de contração em amostras de SAFL.

Os resultados dos ensaios apresentados nas figuras 4.25 e 4.26, mostram que:
a] Para um mesmo solo, a contração aumenta com o aumento da
umidade de moldagem.
b] A contração mais elevada é a da amostra nº 6 a qual, também, é
a que apresenta maior sensibilidade da contração com o teor de
umidade, em comparação com as demais.
c] Para a amostra nº 1, um acréscimo de 2% no teor de umidade,
em relação ao ótimo, aumenta o valor da contração da ordem de
3 vezes.
d] Os valores da contração para os corpos de prova das 36 amostras,
compactados na Ho, situam-se entre 0,03 e 0,6%. O valor médio
da contração das amostras é Ct = 0,28%.
e] Aproximadamente 90% dos solos das amostras apresentam
contração entre 0,1 e 0,5%. Dos restantes, dois têm contração
abaixo de 0,1% e dois, acima de 0,5%; os primeiros são extrema-
mente arenosos e pouco coesivos e os últimos, argilosos e muito
coesivos.
f] Os solos com contração de 0,1 a 0,5 (90%) foram os que apresen-
taram melhor comportamento como base.
g] O solo da amostra nº 20 tem uma elevada quantidade de mate-
rial passando na peneira 0,075 mm (47%) e apresenta a maior
contração, Ct = 0,6%, entre os solos usados para base. Já o solo

99
Pavimentos Econômicos

da amostra 32, que tem somente 37% do material passando na


referida peneira, também apresenta uma contração elevada,
Ct = 0,58%, provavelmente por seus finos serem mais ativos.
A importância da determinação da contração de um solo é que ela está ligada
ao desenvolvimento de trincas e fissuras na base, que ocorrem
pela perda de umidade após a sua compactação. Essa peculiarida-
de é de suma importância no comportamento da base.
A tabela 3.1 indica os problemas e defeitos construtivos ligados ao fenômeno
da contração.

 
   
                
  

 

 
 


 

   
    
    
  
 
    

Figura 4.26 Valores da contração (Ct) das amostras da tabela 4.7, obtidas na Ho.

4.3.4 Apresentação dos Resultados do Programa II:


Mini-MCV e Associado
Com o programa proposto no subitem 3.3.2, as amostras dos 36 solos usados em
bases foram submetidas aos ensaios Mini-MCV e da Perda da Massa
por Imersão (Pi). Seus resultados permitiram a obtenção da classifi-
cação MCT dos solos, que foram plotados no gráfico classificatório da
figura 4.27, com as indicações do número das amostras ensaiadas.

100
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.27 Gráfico da Classificação MCT com a localização dos 36 solos da tabela 4.7. Grupos LA, LA' e LG'.

4.3.5 Discussão dos Resultados


4.3.5.1 Considerações Iniciais
Na Classificação MCT é de suma importância a obtenção de c’, d’, Pi e e’, descritos
no item 3.2. Com os valores calculados de c’ e e’, pode-se obter a
Classificação MCT do solo.

4.3.5.2 Conceitos e Valores de e’, c’ e Pi dos SAFL


O valor de e’ está ligado a um índice de laterização do solo que indica um modelo
de comportamento designado laterítico e, quanto menor seu valor,
mais apropriado é o solo para execução de bases. Seu valor é função
direta do valor da Pi, e inversa do coeficiente d’. Assim, os melho-
res solos, quanto ao comportamento laterítico, são os que apresen-
tam baixa perda de massa (grande resistência à imersão em água) e
elevado coeficiente angular no ramo seco da curva de compactação
(curvas bem inclinadas).
Já o coeficiente c’ está ligado à granulometria do solo na compactação. Valores
baixos de c’ indicam baixa inclinação das curvas de compactação
mini-MCV, características de solos muito arenosos ou mesmo areia;
valores intermediários indicam solos arenosos. Com o aumento do
valor de c’, os solos passam a ter um comportamento argiloso e apre-
sentam inclinação alta nas curvas mini-MCV.

101
Pavimentos Econômicos

Com os resultados de um grande elenco de ensaios realizados, associados à


observação do comportamento dos solos como bases de pavimen-
tos, e a outras finalidades de interesse rodoviário, foram obtidos os
valores-limite, indicados no gráfico classificatório, para definir o
comportamento laterítico dos solos.

4.3.5.3 Discussão dos Resultados – Grupos MCT dos


SAFL e sua Associação com as Peculiaridades
Construtivas
Verifica-se, pelo gráfico da figura 4.27, que todos os solos usados nas bases
dos 36 trechos executados apresentam comportamento laterítico,
grupos LA, LA’ e LG’, e as seguintes peculiaridades:
a] Grupo LA – Areias Siltosas ou francamente arenosas
a.1) Solos pertencentes a esse grupo foram utilizados como base
em 7 trechos, representando, aproximadamente, 19% do total. Os
solos das amostras 04 e 11 são os que apresentam o menor valor
de c’ (entre 0,3 e 0,4) e estão no limite entre os solos de compor-
tamento laterítico e não laterítico, com índice de laterização e’
= 1,4.
a.2) Os solos desse grupo, em especial os com características simi-
lares às amostras 04 e 11 (ou próximas), têm, como peculiaridades,
dificuldade de compactação e pouca coesão; por isso, apresentam
problemas específicos para a execução de bases. A experiência de
campo indicou que, para a execução de bases com esse tipo de
solo, deve-se tomar extremos cuidados construtivos e de controle
tecnológico.
b] Grupo LA’ – solos arenosos ou areno-argilosos
b.1) Solos pertencentes a esse grupo foram utilizados como base
em 23 trechos, representando 64 % do total. Esses solos apresen-
tam valores de c’ entre 0,7 e 1,5, com índice de laterização e’ de
0,6 a 1,15, sendo, os melhores, aqueles mais próximos de 0,6.
b.2) Os solos desse grupo apresentam facilidade de compactação
e coesão adequada. Também, a experiência no campo mostrou
existirem nesse grupo as melhores jazidas para a execução de
bases e duas áreas, no gráfico classificatório (figura 6.1), com dife-
rentes peculiaridades construtivas.
c] Grupo LG’ – solos argilosos ou argilo-arenosos
c.1) Solos pertencentes a esse grupo foram utilizados como base
em 6 trechos, representando 17 % do total.
c.2) Os solos desse grupo apresentam facilidade de compactação
e elevada coesão. A experiência adquirida em campo permite

102
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

afirmar que os melhores solos desse grupo são os que apresentam


valores de c’ entre 1,5 e 1,7. Alguns solos deste grupo produzem
bases com elevada contração por secagem ao ar, após a constru-
ção, e demandam cuidados especiais para que esse trincamento
não comprometa a estrutura da base. Isso se consegue fixando a
contração máxima Ct ≤ 0,5%, sendo desejável os solos apresenta-
rem 0,2% ≤ Ct ≤ 0,4%.
Essas peculiaridades observadas deram subsídios para o desenvolvimento das
recomendações construtivas e de controle tecnológico apresenta-
das no Capítulo 6. Inclusive, conforme exposto no subitem 6.2.1,
a hierarquização para a escolha dos SAFL das melhores jazidas para
base, tanto sob o aspecto construtivo quanto de comportamento,
deve obedecer a ordem de preferência dos Tipos:
t Tipo I, com prioridade da subárea tipo II
t Tipo II, com prioridade da subárea tipo I
t Tipo III, com prioridade da subárea tipo II
t Tipo IV
Esses tipos, praticamente, englobam os SAFL dos 36 trechos, plotados na
figura 4.27, mais os solos das bases de vários outros trechos obser-
vados até 1995.

4.4 ENSAIOS IN SITU E CORRELAÇÕES COM OS


DE L ABORATÓRIO
4.4.1 Considerações Iniciais
Com objetivo de se determinar a MEAS, o teor de umidade e o Mini-CBR
das bases de SAFL, foram realizados ensaios in situ, durante a constru-
ção e em trechos já submetidos ao tráfego. Fundamentada nos valores
obtidos in situ, apresenta-se uma análise dos resultados e correlações
entre estes e seus correspondentes em laboratório.
Esses ensaios foram executados sobre amostras coletadas na metade superior
(0,0 a 7,5 cm) e na inferior (7,5 a 15,0 cm) da camada da base, obje-
tivando levantar dados para análise das variações da MEAS, do teor
de umidade e da capacidade de suporte, ao longo da espessura.
Além disso, essa pesquisa engloba determinações da deflexão em diversos
trechos, com a viga Benkelman, para verificação da deformabilidade
dos pavimentos com esse tipo de base.
No Capítulo 6 serão analisadas as características dos solos utilizados em
bases de SAFL, associadas a peculiaridades construtivas, a fim de
orientar a escolha dos solos mais adequados. Esta análise comple-
menta os estudos in situ, realizados sobre tais bases.

103
Pavimentos Econômicos

4.4.2 Massa Específica Aparente Seca, Teor de


Umidade no Campo e Correlações com
os Resultados em Laboratório
As determinações da MEAS foram feitas pelo método de funil e areia
(DER-SP-M23-60) e as da umidade, pelo método de determinação do
teor de umidade de solos em estufa (DER-SP-M1-61).
Essas determinações foram feitas para trechos na fase da construção e após sua
abertura ao tráfego. Os dados de campo foram obtidos em diversos
meses do ano, abrangendo períodos de estiagem e de chuvas, na
maioria dos trechos estudados; particularmente, durante 12 anos no
trecho Ilha Solteira- Pereira Barreto (SP).
a] Análise dos Resultados da MEAS e do Teor de Umidade
Os resultados obtidos estão representados nas figuras 4.28, que são
curvas de frequência dos valores da MEAS e da umidade, cons-
truídas com dados provenientes da quase totalidade dos trechos
executados com base de SAFL.
A análise da figura 4.28 mostra:
1) Quanto ao valor da MEAS, a metade inferior da base apresenta
valor médio nitidamente menor do que a superior. O valor médio
da mesma, na parte superior da camada de base (0 à 7,5 cm), é de
1,95 g/cm3, e, na parte inferior (7,5 a 15 cm), é de 1,85 g/cm3.
2) Quanto ao teor de umidade, a metade inferior da base apresenta
teor de umidade maior do que a superior. O valor médio do teor
de umidade da parte superior é 7,8% e o da inferior, 8,3%.



 


Figura 4.28 Curvas de frequência dos valores da MEAS e do teor de umidade nas bases de SAFL, em duas
profundidades.

104
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Conforme a figura 4.29, os teores de umidade da base, medidos ao longo do tempo,


sempre se mantiveram abaixo da umidade ótima da energia Inter-
mediária, mesmo nos períodos chuvosos.
 


 


Figura 4.29 Variação do teor de umidade da base para 3 trechos com base de SAFL e revestimentos
betuminos diferentes.

b] Correlação entre os Resultados in situ e em Laboratório


Para o estudo da correlação entre os resultados em laboratório e in
situ, foram determinados o grau de compactação e a porcentagem
da umidade in situ, em relação à umidade ótima em laborató-

105
Pavimentos Econômicos

rio. Os dados de laboratório, tomados como referência para esses


cálculos, foram obtidos dos ensaios de compactação correspon-
dentes à energia Intermediária e são mostrados nas figuras 4.30 e
4.31. Na figura 4.32 são apresentados os dados da porcentagem do
teor de umidade de moldagem in situ, obtidos durante a execução
das bases, em relação à umidade ótima em laboratório, de diver-
sos trechos executados.

Figura 4.30 Grau de compactação referido à energia Intermerdiária.

Figura 4.31 Porcentagem de umidade in situ em relação à umidade ótima correspondente


à energia Intermediária.

Dos resultados constantes nas figuras citadas, pode-se concluir:


1) Quanto ao Grau de Compactação: o grau de compactação da
camada de base in situ está entre 80 a 110 % relativamente à
MEASmáx obtida na energia Intermediária, conforme figura
4.30. Verifica-se, também, que o grau de compactação médio

106
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

da parte superior da base (97 %) é substancialmente superior


ao da parte inferior ( 92 %).
2) Quanto ao Teor de Umidade: como mostra a figura 4.31, os
teores de umidade nas diversas determinações nas camadas
de base, medidos in situ, estão compreendidos no intervalo
55 - 110 % da umidade ótima. Na metade superior da base,
aproximadamente 90% dos trechos estudados apresentaram
umidade in situ menor do que a umidade ótima.
3) Quanto ao Teor de Umidade na Época da Execução: nota-se
na figura 4.32 que, na parte superior da base (0-5cm), os teores
da umidade apresentam-se quase sempre inferiores a 80%
da umidade ótima, enquanto, na parte inferior, esses teores
variam entre 80 a 100% da referida umidade. Considerando-
se a base como um todo, pode-se afirmar que a umidade na
construção estava, praticamente, abaixo da umidade ótima
referente à energia Intermediária.

Figura 4.32 Diferenças do teor de umidade de compactação no campo, em trechos


com base de SAFL, nas partes: superficial (0 a 5 cm) e profunda (9 a 15 cm).

O exposto nas últimas conclusões mostra que, de uma maneira geral, as umida-
des de trabalho da base se encontram abaixo da umidade ótima de
laboratório, para a energia Intermediária, mesmo em períodos de
chuva.

107
Pavimentos Econômicos

4.4.3 Índice de Suporte Mini-CBR in Situ e


Correlações com Resultados de Laboratório
Foram feitas determinações da capacidade de suporte Mini-CBR in situ para
todos os trechos executados com SAFL, seguindo-se o procedimento
descrito no M7 do Anexo II. Os resultados obtidos, de trechos já
submetidos ao tráfego, estão resumidos na curva de frequência da
figura 4.33.

Figura 4.33 Curva de frequência dos valores do Mini-CBR in situ, de bases de SAFL.

O estudo da correlação, entre os valores in situ e em laboratório, foi feito


mediante a comparação das médias de frequência da capacidade de
suporte Mini-CBR, obtidas nos dois casos.
a] Análise dos Resultados de Suporte Mini-CBR in situ
Para uma melhor análise da capacidade de suporte da base, julgou-
se conveniente apresentar as curvas de frequência das determi-
nações em duas profundidades: 5 e 10 cm, na borda da pista;
estes dados acham-se na figura 4.34. Além disso, foram também
apresentados valores do suporte no eixo e na borda (rodeiro) da
pista de rolamento, para verificar suas variações, conforme mostra
a figura 4.35.
Dos resultados obtidos, conclui-se que:
t Em torno de 70% dos valores do Mini-CBR in situ das bases de
SAFL são superiores a 40%, com um valor médio de 53% (Vide
figura 4.33).
t Os valores do Mini-CBR obtidos in situ, mostram que há uma
variação do suporte ao longo da espessura da base e que a média
da sua parte superior (5 cm) é cerca de 30% maior do que a média
da sua parte inferior (10 cm), como mostra a figura 4.34.

108
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.34 Curvas de frequência dos valores do Mini-CBR in situ na borda da pista, para duas
profundidades, em trechos com base de SAFL.

t Na seção transversal da pista de rolamento verificam-se, sistema-


ticamente, valores de suporte na borda nitidamente superiores
aos do eixo (vide figura 4.35). Isso parece indicar que o tráfego
tem proporcionado uma compactação adicional na base de SAFL,
aumentando sua capacidade de suporte. As pequenas deformações
permanentes, produzidas nos rodeiros, são perfeitamente admis-
síveis para esse tipo de pavimento.

Figura 4.35 Curvas de frequência dos valores do Mini-CBR in situ, no eixo e na borda da pista,
em trechos com base de SAFL, na profundidade 10 cm.

Além das conclusões acima, cabe ressaltar que trechos cujas bases tiveram uma
execução aprimorada, motivada pelo uso de equipamentos adequa-
dos e de um maior rigor no controle tecnológico dos serviços, apre-

109
Pavimentos Econômicos

sentaram valores do Mini-CBR in situ da base (profundidade 5 e 10


cm) superiores a 50%, conforme pode-se constatar pela tabela 4.9.
Apoiados nisso, os autores afirmam que uma base, apresentando valor
do Mini-CBR in situ superior a 50% logo após sua execução, terá um
comportamento altamente satisfatório em serviço.

TABELA 4.9 VALORES DO MINI-CBR IN SITU E EM LABORATÓRIO, DE TRECHOS


ADEQUADAMENTE CONSTRUÍDOS E CONTROLADOS.

b] Correlação entre os Valores de Suporte in situ e em


Laboratório
De acordo com os valores médios do Mini-CBR Hm e do Mini-
CBR is obtidos da figura 4.19, e com o valor médio do Mini-CBR
in situ para base, indicado na Figura 4.33, constata-se que:
 O valor médio Mini-CBR Hm ≈ 70% é maior que o valor médio
do Mini-CBR is in situ ≈ 53%.
 O valor médio do Mini-CBR is ≈ 46% é menor que o valor
médio do Mini-CBR is in situ ≈ 53%.
Portanto, considerando os valores do Mini-CBR obtidos em laboratório para
todas as amostras de solos representativos dos trechos e as determi-
nações de Mini-CBR in situ obtidas em todos os trechos, constata-se
que o valor do suporte no campo acha-se entre os valores médios do
suporte em laboratório, determinados para as condições da umidade
de moldagem e com imersão por 24 horas.
Ainda cabe ressaltar que a média dos valores do Mini-CBR in situ dos trechos
da tabela 4.9 de 72 %, é da mesma ordem de grandeza do valor médio
do Mini-CBR Hm obtido em laboratório, ou seja 74 %.

4.4.4 Medidas de Deflexão


As deflexões obtidas com viga Benkelman, em dez trechos executados com base
de SAFL, revelaram valores baixos, geralmente entre 10 e 70 centési-
mos de mm, quando medidos pelo método da Canadian Good Roads

110
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Association, sob ação da carga de 80 kN no eixo, apesar das esbeltas


capas de rolamento utilizadas.
A figura 4.36 mostra os valores de deflexão obtidos, com um valor médio de
32 centésimos de mm.

Figura 4.36 Curva de frequência dos valores da deflexão, obtidos com uso da viga Benkelman.

A figura 4.37 mostra as deflexões, por estacas, e as “linhas de influência” (bacias)


levantadas, para o trecho Dois Córregos-Guarapuã, nas estacas núme-
ros 47 e 52 + 10m. As linhas de influência espelham a “Contribuição
Estrutural da Base de SAFL “ (subitem 1.2.2), e os valores das suas
deflexões máximas são utilizados para o cálculo do Raio de curvatura
(Rc) das bacias. No caso da figura 4.37, tem-se: Rc47 ≥ 220m e Rc52+10m ≥
260m, valores que mostram a alta qualidade das bases de SAFL
quanto ao aspecto de distribuição da carga, fato esse comprovado
por Leônidas Alvarez Neto (1997), nos estudos de bacias em diversos
trechos com base de SAFL.
As deflexões medidas após treze, sete e seis anos de funcionamento, respec-
tivamente nos trechos: Ilha Solteira - Pereira Barreto, Faixa adicio-
nal da Via W. Luiz - km 219 e Dois Córregos - Guarapuã (vide figura
4.38), revelaram que são pequenas e variaram muito pouco ao longo
do tempo. Isso é um dos motivos que explica o bom comportamento
desses trechos, até hoje, e dá uma expectativa de continuidade desse
comportamento desde que não sejam alteradas, substancialmente, as
condições de umidade da base e sub-base.

111
Pavimentos Econômicos

Figura 4.37 Deflexões e linhas de influência obtidas com uso da viga Benkelman no trecho experimental Dois Córregos-
Guarapuã.

4.4.5 Características, Associadas a Peculiaridades


Construtivas, dos solos Utilizados em Bases
de SAFL
Esta análise é fundamentada na experiência adquirida por Villibor na supervisão
da construção de diversos trechos no Estado de São Paulo. Os solos
estudados foram coletados nos trechos que apresentaram os maiores
problemas construtivos e naqueles que não apresentaram quaisquer
dificuldades.
Para essa finalidade, Villibor (1981) propôs que os solos sejam hierarquizados
nos grupos I,II ou III, da tabela 4.10, constituídos por intervalos
granulométricos e valores da contração axial (ensaio da Sistemática
MCT).

112
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.38 Deflexões medidas, ao longo do tempo, em três trechos com base de SAFL.

TABELA 4.10 HIERARQUIZAÇÃO DOS SOLOS PARA EXECUÇÃO DE BASES DE SAFL.

113
Pavimentos Econômicos

No trabalho As técnicas construtivas das bases de SAFL, Villibor, Nogami e Sória


(1987), subsidiados por novos estudos mais precisos, hierarquizaram
os tipos de solos em I, II, III e IV, que se posicionam em áreas do gráfi-
co Classificatório da MCT. Esses novos conceitos e estudos acham-se
detalhados no Capítulo 6.

4.5 IMPRIMADURA ASFÁLTICA IMPERMEABILIZANTE SOBRE


BASES DE SAFL, EM LABORATÓRIO
4.5.1 Considerações Iniciais
A imprimadura asfáltica consiste na aplicação de uma camada contínua de
material asfáltico diluído (CM-30 ou CM-70) sobre a superfície da
base concluída, com o objetivo de permitir a penetração da impri-
madura na mesma, em uma espessura (profundidade) que varia em
função das diversas características intrínsecas do solo, do seu grau
de compactação e do material utilizado na imprimação.
A imprimadura asfáltica, nesses pavimentos, tem funções bem definidas, quais sejam:
t Impermeabilizar a base evitando, tanto quanto possível, a pene-
tração da água que casualmente se infiltre pelo revestimento.
t Proporcionar aderência entre a base e o revestimento.
t Aumentar a coesão da porção superficial da base, ao formar nela
um "solo betume".
A imprimadura deve permitir a formação de um “solo betume”, pela penetração
do asfalto na camada superficial (cerca de 1cm) da base, para imper-
meabilizá-la; além disso, deve penetrar e preencher, tanto quanto
possível, as trincas de contração da camada da base (figura 4.39). A
execução da camada de rolamento, especialmente no caso de trata-
mento, não deve danificar a superfície da base pela ruptura frágil de
sua superfície, durante a rolagem dos agregados.

Figura 4.39 Formação do “solo betume”, impermeabilização da base e penetração do agregado.

114
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Constatou-se a necessidade de desenvolver essa pesquisa, pois a observação


sistemática de trechos com base de SAFL (durante e após a constru-
ção) mostrou que alguns dos defeitos que ocorriam nesses pavimen-
tos tinham, como causa principal, a imprimadura.
A partir disso, executou-se uma pesquisa, englobando dados de campo e laboratório,
que permitiu identificar quando o desempenho de um pavimento
com base de SAFL pode ser afetado pela qualidade da imprimadura
asfáltica e estabelecer um critério de dosagem para ela, por meio de
dois programas de ensaios: básico e complementar.
Essa pesquisa objetivou obter informações sobre a influência dos vários fatores
que interferem no processo de imprimação, a saber:
t Tipo e taxa de aplicação do material
asfáltico.
t Teor de umidade de compactação.
t Características dos solos.
t Massa Específica Aparente Seca.
t Influência da perda de umidade e da
irrigação prévia.
A figura 4.40 ilustra a execução da imprimadura de
uma via com CM-30. Logo após a aplica-
ção, apresenta-se com cor preta brilhante;
depois de curada, passa a ser opaca (com a
cor variando de preta a acastanhada) e com Figura 4.40 Ilustração da aplicação de imprimadura
a parte superficial da base endurecida. com CM-30 sobre base de SAFL.

4.5.2 OCORRÊNCIAS RELACIONADAS AO COMPORTAMENTO


DA IMPRIMADURA E SEU REFLEXO (EFEITO) NO
DESEMPENHO DO PAVIMENTO
4.5.2.1 Comportamento Insatisfatório
Nas observações efetuadas nos trechos, em construção e após a abertura ao
tráfego, foram identificadas características indesejáveis na imprima-
dura, associadas, muitas vezes, a defeitos
no pavimento. As características e os defei-
tos associados são os seguintes:
a] Penetração Excessiva da Imprima-
dura – Em alguns locais de trechos
onde a penetração da imprimadura na
base foi excessiva, chegando a 15 mm
(figura 4.41), ocorreu o desprendimento
da camada de revestimento, ocasiona-
do pela falta de aderência na interface
(base-capa) e pelo cravamento do agre- Figura 4.41 Aspecto geral de um trecho com excessiva
gado, da camada de revestimento, na penetração da imprimadura.

115
Pavimentos Econômicos

base. Observou-se, nesse último caso, a ocorrência de


um solo solto de cor preta, logo abaixo do revestimen-
to, causado pela ruptura do solo betume (crosta frágil)
pela pressão do agregado.
b] Penetração Reduzida da Imprimadura – Obser-
vada nos trechos onde o material betuminoso pene-
trou em pequena quantidade na base (figura 4.42)
e formou uma película betuminosa excessivamente
espessa na superfície. Isso ocasionou, muitas vezes,
exsudação de material betuminoso na camada de
Figura 4.42 Penetração reduzida da imprimadura e
formação de película betuminosa muito espessa. revestimento.

4.5.2.2 Comportamento Satistório


As imprimaduras que apresentaram resultados satisfatórios são caracterizadas por:
t Espessura de penetração do material betuminoso situada entre
4 e 10 mm.
t Película residual do material betuminoso na superfície, com
espessura não excessiva. A película, nesse caso, apresenta aspecto
característico com cor preta acastanhada.
As imprimaduras, nessas condições, resistiram adequadamente aos esforços
de cravamento do agregado da capa na base e aos horizontais, produ-
zidos pelo tráfego; além disso, não provocaram defeitos de exsudação.
A figura 4.43 ilustra uma imprimadura considerada
satisfatória.

4.5.3 Estudo do Processo de Imprimação


em Laboratório
De posse das informações obtidas em campo, foram
realizadas pesquisas em laboratório, para melhor
compreender os fatores que interferem no processo de
imprimação. Conforme citado, foram executados os
dois programas de ensaios: o básico e o complemen-
tar. No primeiro, os ensaios realizados são rápidos e
Figura 4.43 Aspecto de uma imprimadura com CM-
30, considerada satisfatória. necessitam de um pequeno número de corpos de prova;
já o programa complementar, por fornecer um volume
maior de informações sobre os fatores que influem no processo de imprimação,
é mais demorado e necessita de um grande número de corpos de prova. Nos
próximos subitens são descritos os dois programas e os resultados dos ensaios.

4.5.3.1 Programa Básico


Os ensaios foram executados segundo método M6, Anexo II, sendo os cp compac-
tados na energia Intermediária. A metodologia utilizada foi:

116
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

1) Para cada solo foram moldados cp em duplicata, correspondentes


a cinco teores diferentes de umidade em torno do teor ótimo de
compactação, e, em cada um deles, foi introduzido um macho
para produzir uma depressão circular. Após a compactação, cada
cp foi retirado do molde e parafinado, exceto na área a ser impri-
mada que corresponde à depressão circular citada.
2) Para cada teor de umidade os cp foram deixados à sombra por
um período de 60 horas, para perda de umidade ao ar e, em
seguida, umedecidos na taxa de 0,5 1/m 2 , aplicando-se a água
com contagotas.
3) Efetuou-se a imprimação com asfalto diluído tipo CM-30 ou
CM-70, viscosidade Saybolt-Furol de 100 a 125s e taxa de 1,2
ou 0,7 l/m 2 , 15 minutos após a operação de umedecimento ou
irrigação. Para garantir uma distribuição homogênea, a imprima-
dura na superfície rebaixada do corpo de prova foi aplicada com
contagotas.
4) Após a imprimação, os cp foram deixa-
dos em repouso por 72 horas, para cura
da imprimadura.
5) Em seguida, os Cp foram cortados
longitudinalmente e foi determinada
a espessura de penetração do material
betuminoso, pela média de 6 determi-
nações (vide figura 4.44).
Com os resultados obtidos do teor de umidade
de compactação, MEAS e espessura de
penetração, foram traçados gráficos apro-
priados para permitir uma análise do fenô- Figura 4.44 Corpo de prova cortado para a
meno. determinação da espessura de penetração.

4.5.3.2 Programa Complementar


Para sua execução, foi utilizada a seguinte metodologia:
1) Compactação de duas séries de cp, uma na energia Normal e
outra na Intermediária, sendo cada série composta por cp com
quatro diferentes teores de umidade.
2) Em cada série, para cada teor de umidade, foram moldados oito
cp, sendo seis (três pares) deixados à sombra para perda de umida-
de por diferentes períodos, enquanto os outros (um par) foram
ensaiados 15 minutos após a moldagem.
3) Os três pares de cp, deixados à sombra para perda d’água, foram
ensaiados quando atingiram aproximado 75, 50 e 25% da umida-
de de moldagem, sendo que, em cada par, um corpo de prova foi
imprimado sem irrigação prévia e o outro, com irrigação.

117
Pavimentos Econômicos

4) O processo de irrigação e imprimação é análogo ao do programa


básico, descrito anteriormente.

4.5.3.3 Ensaios Realizados


Com o programa básico, para efeito de ilustração, são apresentados os ensaios
de duas amostras de solos: amostras 01 e 28. Também, com esse
programa, foram ensaiadas 36 amostras representativas dos SAFL
utilizados em cada um dos 36 trechos da tabela 4.7. A partir de cada
amostra, foram moldados três cp tendo, todos eles, o mesmo teor de
umidade, igual a Ho-2%.
Para a execução do programa complementar, foram ensaiadas 3 amostras de
SAFL, possuindo, duas delas, baixa porcentagem de material que
passa na peneira 0,075 mm (± 25% de silte e argila) e a outra, elevada
porcentagem que passa naquela peneira (± 40%).

4.5.3.4 Apresentação e Análise dos Resultados Obtidos


em Laboratório
Programa Básico
Os resultados obtidos com esse programa são representados nos gráficos
das figuras 4.45 e 4.46.

Figura 4.45 Programa Básico: amostra 28.

118
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

A análise das figuras 4.45 e 4.46 permite concluir:

Figura 4.46 Programa Básico: amostras 01 e 28 (33 % e 20 % de argila).


a] Tipo e Taxa de Aplicação do Material Betuminoso
A imprimadura pode ser executada com asfalto diluído do tipo
CM-30 ou CM-70, cujas características são normalizadas pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), P-EB-651,
1973.
O asfalto diluído CM-70 é mais viscoso do que o CM-30, pene-
trando menos na parte superficial da base. Esse fato é constatado
na figura 4.45 que mostra as diferentes penetrações obtidas em
um mesmo solo imprimado com CM-30 e CM-70; mostra, ainda,
que a penetração da imprimadura, executada com CM-30, é supe-
rior à executada com CM-70. Por exemplo, para a umidade de
compactação Ho-2%, a penetração com CM-30 foi de 8,2 mm,
enquanto a penetração com CM-70 foi de 4,0mm, aproximada-
mente 50% menor.
A influência da taxa pode ser constatada fixando-se o tipo de
recortado (no caso CM-30) e variando sua taxa de aplicação.
Verifica-se que a penetração da imprimadura com taxa de 1,2
l/m 2 é superior (da ordem de 55 %) à penetração obtida com a
taxa 0,7 1/m 2 .
b] Influência do Teor de Umidade de Compactação
Nos solos ensaiados, nota-se uma inflexão, na curva de penetra-
ção da imprimadura contra umidade de moldagem, próxima à
umidade ótima, acima da qual a penetração se mantém baixa:
inferior a 1mm para amostra nº 01 e inferior a 4 mm para a nº 28.
Diminuindo-se a umidade de compactação para valores abaixo do

119
Pavimentos Econômicos

teor ótimo (Ho - 2%), nota-se um aumento acentuado da pene-


tração: superior a 2 mm para a amostra nº 01 e superior a 8 mm
para a nº 28 (vide figura 4.46).
c] Características dos Solos
Os SAFL, dependendo da porcentagem de argila em sua consti-
tuição, podem apresentar diferentes comportamentos quanto à
penetração da imprimadura.
Comparando-se a penetração na umidade Ho-2% (figura 4.46),
nota-se que a penetração no solo com pequena porcentagem de
fração argila, em sua constituição (Amostra 28, 20% de argila), é
substancialmente maior do que no solo com elevada porcentagem
dessa fração (Amostra 01, 33% de argila). Para o primeiro caso a
penetração da imprimadura foi de 8,2 mm, enquanto que, para
o segundo, foi de 2,3 mm.

Programa Complementar
Com os resultados do seu uso foram obtidos os gráficos das figuras 4.47, 4.48.
A análise dessas figuras permite concluir:
a] Influência da Irrigação Prévia
Obteve-se maior penetração da pintura asfáltica nos corpos de
prova que foram irrigados antes da aplicação da imprimadura
(figuras 4.47 e 4.48).
b] Influência da Umidade na Ocasião da Imprimadura
Os resultados, tanto na EN como na EI, para os corpos de prova
moldados no intervalo Ho a (Ho-1) e submetidos a diferentes
níveis de secagem, mostram que os pontos de máxima penetração

Figura 4.47 Programa complementar de ensaios de penetração da imprimadura


na Energia Normal (amostra 33).

120
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.48 Programa complementar de ensaio de penetração da imprimadura na


energia intermediária (amostra 33).

da imprimadura foram obtidos naqueles que apresentaram teor


de umidade de ordem de 50 a 70% da Hm.
Praticamente, este fato indica que, na execução de uma base de SAFL, é necessário
esperar sua cura, por secagem ao ar, até que seu teor de umidade
atinja de 50 a 70 % da inicial de compactação. Após, irriga-lá leve-
mente e aplicar a imprimadura, o que possibilita a obtenção de uma
penetração elevada na superfície da base.
c] Influência da Massa Específica Aparente Seca
A penetração da imprimadura, para uma mesma energia de compac-
tação, varia inversamente com a MEAS no ramo seco da curva. No
ramo úmido, verifica-se que as penetrações são pequenas, originan-
do uma camada residual asfáltica espessa na superfície dos corpos de
prova sem, praticamente, nenhuma penetração.
Para MEAS diferentes, mas com mesmo teor de umidade, observa-se
uma maior penetração da imprimadura com energia menor, conforme
se verifica nas figuras 4.47 e 4.48.
Por exemplo (figura 4.47), para um teor de umidade de compactação
Hm=9,5%, secando as amostras até o teor de umidade 0,6 Hm e para
MEAS=1,95g/cm3 (EN), tem-se uma penetração da imprimadura (com
umedecimento) de 18,0mm. Para as mesmas condições, porém para
MEAS=2,12g/cm3 (EI), tem-se uma penetração da imprimadura, de 4,0 mm
(figura 4,48), ou seja, 78% menor.

4.5.4 Determinações e Observações no Campo


As considerações a seguir são baseadas em observações do processo de imprimação,
segundo procedimentos rotineiros, complementadas com medidas no

121
Pavimentos Econômicos

campo, da penetração da imprimadura na base. Verificou-se que:


a] De uma maneira geral, as penetrações da imprimadura nas bases
executadas foram superiores àquelas obtidas nos ensaios do
programa básico laboratorial, no ponto de teor de umidade igual
a Ho-2%. O gráfico da figura 4.49, obtido através de um grande
número de determinações da penetração da imprimadura, tanto
no campo como em laboratório, ilustra essa afirmação. A mesma
figura mostra que a penetração da imprimadura em laboratório
(ensaio) varia entre 1 e 12 mm, com uma média de 6,4 mm,
enquanto as penetrações determinadas no campo variam entre 1
e 24 mm, com uma média de 8,2 mm. Pelos dados apresentados
verifica-se que o valor médio da penetração da imprimadura, no
campo, foi 28% superior ao valor médio obtido em laboratório.




 

  

Figura 4.49 Curvas de frequencia da penetração da imprimadura, obtida em laboratório e no campo.

b] Quando a base é compactada com umidade elevada (Hc>Ho),


a penetração da imprimadura é muito reduzida (< 1,0 mm). A
foto da figura 4.42 mostra o aspecto da imprimadura em uma
base com elevado teor de umidade, não se observando penetra-
ção visível da imprimadura e, sim, excessivo resíduo de asfalto
na superfície.
c] A secagem prévia da base, de uma maneira geral, propicia um
aumento na penetração da imprimadura.
d] A irrigação controlada facilita a penetração da imprimadura,
como mostra a figura 4.50. A imprimadura foi realizada 60 horas
após a execução da base, sendo: meia pista imprimada, com irri-
gação (± 0,5 1/m 2 ), e a outra metade, sem irrigação. Conforme

122
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

pode-se verificar, os valores da penetração para o primeiro caso


estão entre 5,5 e 7,0 mm e, para o segundo, entre 2,5 e 4,0 mm.
Isto mostra que a irrigação da base permite uma maior penetra-
ção da imprimadura na sua parte superficial. Esse fato tem sido
confirmado, em outras verificações realizadas no campo.

Figura 4.50 Penetração da imprimadura no acesso ao Caibar - Schutel (cada


ponto é representativo da média de 20 determinações).

e] Em outro trecho escolhido (Bady Bassit – Nova Aliança), foi veri-


ficada a influência do tempo na penetração da imprimadura. Os
resultados (vide tabela 4.11) mostram que a penetração ficou cons-
tante após 16 horas. Entretanto, a cura completa caracterizada pelo
endurecimento da parte imprimada, só ocorreu após 60 horas.

4.5.5 Conclusões e Critério


TABELA 4.11 INFLUÊNCIA DO TEMPO NA PENETRAÇÃO
para Fixar o Tipo e a
DA IMPRIMADURA.
Taxa de Imprimação
4.5.5.1 Conclusões
As conclusões mais importantes são:
1) De uma maneira geral, as conclusões
apoiadas nos resultados dos ensaios
em laboratório foram confirmadas
pelos resultados obtidos no campo.
2) O programa básico proposto permite,
em primeira aproximação, avaliar a
ordem de grandeza da penetração da
imprimadura que se consegue no campo.

123
Pavimentos Econômicos

4.5.5.2 Critério para Fixar o Tipo e a Taxa


de Imprimação
Tomando-se como referência os resultados do programa básico de ensaios, obtidos
com a aplicação do método M6 e usando asfalto diluído CM-30,
sugere-se o seguinte critério para fixar-se inicialmente a taxa e o tipo
de asfalto diluído a ser utilizado na imprimadura, com base no valor da
penetração obtido na curva–umidade versus penetração–no ponto
correspondente a Ho-2%:
1) Penetração inferior a 4 mm: asfalto diluído tipo CM-30 e tempe-
ratura de aplicação 30ºC, na taxa de 0,8 a 1,0 1/m 2 .
2) Penetração entre 4 e 10 mm: asfalto diluído tipo CM-30 e tempe-
ratura de aplicação 30ºC, na taxa de 1,0 a 1,4 1/m2.
Nos casos em que a penetração for superior a 10 mm, reensaiar o solo obedecendo
ao programa básico, porém utilizando asfalto diluído tipo CM-70
(viscosidade Saybolt-Furol de 80 a 100s a 40ºC). Com o resultado da
penetração da imprimadura no ponto correspondente a Ho-2%, fixar
a taxa conforme indicado nos passos 1 e 2 acima, porém utilizando
o CM-70, à temperatura de 40ºC.

4.6 GRANULOMETRIA, MINERALOGIA , ESTRUTURA E


COR DOS SAFL
4.6.1 Considerações iniciais
O estudo da granulometria das 36 amostras dos SAFL usados em bases visa
complementar a Sistemática proposta para o estudo dos mesmos. Tem
como objetivo avaliar, preliminarmente, o potencial de jazidas, que
deverão ser estudadas detalhadamente pela sistemática MCT, para
uso em bases.
Além do estudo granulométrico, é apresentado um estudo mineralógico
por meio de difratometria de raios X e análise química. A estrutu-
ra da microfábrica foi obtida utilizando microscópio eletrônico de
varredura (scanning) e a cor, de acordo com a tabela de Munsell,
com o objetivo de fornecer uma visão geral dos SAFL quanto a estas
características.

4.6.2 Granulometria
4.6.2.1 Método de Ensaio e Solos Ensaiados
Para efeito do estudo granulométrico desses solos, será usada a classificação
preconizada no M-6-53 DER-SP (defloculante hexametafosfato de
sódio), porém alterando-se os intervalos granulométricos que defi-
nem as frações silte mais argila, e argila. A classificação granulomé-
trica adotada está representada na parte inferior da figura 4.51.
O estudo foi realizado em duas séries de amostras:

124
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Figura 4.51 Curvas granulométricas da 1ª série (36 amostras).

1ª Série: trinta e seis amostras provenientes de jazidas típicas,


utilizadas nos principais trechos executados até fins de 1978, com
base de SAFL.
2ª Série: quatro amostras escolhidas como representativas dos
tipos considerados importantes do ponto de vista construtivo.

4.6.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados das


Amostras da 1ª Série
Os resultados de granulometria obtidos dos solos da 1ª série, são discriminados na
tabela 4.12 e representados graficamente na figura 4.51, pelas suas curvas
granulométricas.
A análise dos resultados permite concluir:
a] As amostras são constituídas, em mais de 50%, pela fração areia.
Além disso, a areia é predominantemente fina e média, sendo
que muitos finos passam, quase que integralmente, na peneira
0,42 mm.
b] As curvas granulométricas obtidas das 36 amostras, definem
uma “Faixa Geral (G) de Graduação” que engloba todas as curvas
mostradas na figura 4.51. As faixas A,B e C, segundo Villibor
(1981), sequencialmente indicam a hierarquização para escolha
preliminar das ocorrências mais promissoras para as jazidas de
SAFL. Essas faixas acham-se na tabela 4.13.
c] As amostras possuem a fração, que passa na peneira de abertura
0,075 mm (silte mais argila), constituída essencialmente de argila,
chegando o silte a constituir, frequentemente, menos de 10% do

125
Pavimentos Econômicos

TABELA 4.12 GRANULOMETRIA DAS AMOSTRAS DA 1ª SÉRIE.

total da amostra. Essa particularidade leva as curvas granulomé-


tricas a apresentarem uma forma descontínua (figura 4.51).
TABELA 4.13 GRANULOMETRIA DAS AMOSTRAS DAS d] A granulometria dos SAFL estudados pode apre-
FAIXAS DE GRADUAÇÃO. sentar-se com diferentes proporções de areia, silte mais
argila e argila. Esse fato pode ser observado pela análi-
se das curvas granulométricas das 04 amostras da 2ª
série, apresentadas na figura 4.52. A amostra nº 10, por
exemplo, possui baixa porcentagem de argila e elevada
porcentagem de areia fina em sua constituição, enquan-
to a amostra 22, apesar de também apresentar pequena
porcentagem de argila, tem fração areia predominante-
mente média e grossa.
e] Segundo a conceituação adotada pelo Unified
Soil Classification System (USCS), os solos utilizados
na execução das bases têm sua fração areia tipicamente
TABELA 4.14 COEFICIENTE DE UNIFORMIDADE mal graduada, isto é, do tipo SP (Sand Poorly graded),
E DE CURVATURA DA FRAÇÃO
conforme pode-se verificar pela tabela 4.14.
AREIA DOS SAFL.
f] Os grãos de areia apresentam-se, geralmente,
arredondados e subarredondados. A tabela 4.15 mostra
essa característica para três solos da 2ª série, a título de
elucidação.

126
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

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Figura 4.52 Curvas granulométricas de 4 solos lateríticos típicos.

TABELA 4.15 ARREDONDAMENTO DA FRAÇÃO AREIA DOS SOLOS.




4.6.2.3 Apresentação e Análise dos Resultados das


Amostras da 2ª Série
O estudo efetuado nessas amostras objetivou visualizar melhor a influência
das características granulométricas nas propriedades e nos proble-
mas construtivos, associados ao uso dos solos lateríticos em bases
de pavimentos.
a] Granulometria
Os resultados da análise granulométrica desta série são mostrados
na figura 4.52. Analisando as curvas obtidas, chega-se às seguin-
tes conclusões quanto às proporções relativas de areia, silte mais
argila e argila:
t Amostra 10: apresenta a menor quantidade de fração argila, e sua

127
Pavimentos Econômicos

fração areia é constituída, exclusivamente, de areia fina. Outra


característica dessa amostra é possuir fração silte relativamente
elevada (13%).
t Amostra 18: apresenta quantidade média de fração silte mais
argila e sua fração areia é constituída, predominantemente, de
areias fina e média.
t Amostra 20 : apresenta a maior quantidade das frações argila e
silte mais argila e sua fração areia é constituída, quase totalmente,
de areias fina e média.
t Amostra 22: apresenta a menor quantidade de fração silte mais
argila e sua fração areia é constituída, predominantemente, de
areias média e grossa.
b] Coeficientes de Uniformidade (Cu) e de Curvatura (Cc), segun-
do a Classificação USCS
Os resultados de granulometria da fração areia dos solos desta
série, com os respectivos valores de Cu e Cc, encontram-se na
figura 4.53.
Os valores obtidos para Cu e Cc da fração areia mostram que as amostras ensaiadas
se encontram dentro dos intervalos apontados na tabela 4.14 e são,
portanto, consideradas como areias mal graduadas. Verifica-se, também,
pelos valores dos coeficientes de uniformidade, que a fração areia da

Figura 4.53 Granulometria da fração areia dos 4 solos da 2ª Série.

128
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

amostra 10 é mais uniforme, ou seja, a de pior graduação, enquanto que


a de melhor graduação é a amostra 22.
c] Forma, Dimensões e Características da Superfície dos Grãos
da Fração Areia
Os resultados obtidos estão nas figuras 4.54, 4.55 e 4.56 e na
tabela 4.15. A análise dos resultados da tabela e das figuras citadas
mostra que os grãos de areia se apresentam geralmente arredon-
dados e subarredondados.
As fotos das frações areia das amostras mostram, nitidamente, as
diferentes dimensões e aspectos dos grãos de areia daquelas frações.
A amostra 10 é representativa dos SAFL mais finos, enquanto que a
22 representa os mais grossos.

Figura 4.54 Fração retida na


peneira 0,075 mm, obtida por
lavagem da amostra 10.
Ampliação: 20 vezes.

Figura 4.55 Fração retida na


peneira 0,075 mm, obtida por
lavagem da amostra 18.
Ampliação: 20 vezes.

Figura 4.56 Fração retida na


peneira 0,075 mm, obtida por
lavagem da amostra 22.
Ampliação: 20 vezes.

129
Pavimentos Econômicos

4.6.3 Mineralogia, Fábrica e Cor


Com amostras de SAFL de jazidas utilizadas em bases de pavimentos, foram
executados ensaios para identificação dos argilo-minerais e de sua
microfábrica, além da determinação da cor segundo a tabela de
Munsell. Para comparação, também foram ensaiadas amostras de
solos de comportamento não laterítico (solos saprolíticos e transpor-
tados), localizados abaixo do nível inferior de exploração de algu-
mas jazidas. Esses ensaios foram realizados no Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT-SP, 1975, 77 e 79) e no Departamento de Química
Tecnológica e de Aplicação da UNESP, em Araraquara, e compreen-
deram:
t Difratometria de Raio X das frações silte e argila.
t Análise química das frações silte e argila.
t Microscopia eletrônica de varredura das frações silte e argila.

4.6.3.1 Mineralogia
A fração areia dos SAFL ensaiados é constituída, quase que exclusivamente,
de quartzo; entretanto os minerais pesados (magnetita, ilmenita,
rutilio, granada,etc) estão sempre presentes, embora em porcentagem
muito pequena. É bastante frequente a presença da película opaca
que recobre, parcialmente, os grãos maiores e imprime à fração areia
uma coloração peculiar arroxeada, rósea ou amarelada, conforme se
pode observar nas figuras 4.54, 4.55 e 4.56.
A tabela 4.16 apresenta os minerais que constituem a fração silte mais argila
de 11 solos lateríticos estudados com uso da difratometria de Raio
X. O exame dessa tabela revela a presença constante de quartzo,
caulinita, gibsita e óxidos de ferro hidratados (goetita e magnetita).
Esse elenco mineralógico é uma característica peculiar dos solos de
comportamento laterítico.

TABELA 4.16 MINERAIS CONSTITUINTES DA FRAÇÃO FINA


(SILTE MAIS ARGILA) DE 11 AMOSTRAS DE SAFL.

A tabela 4.17 mostra a constituição mineralógica de amostras de dois perfis típi-


cos, ambos apresentando linha de seixos. Em cada perfil, uma das

130
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

amostras foi colhida da camada acima da linha de seixos (horizonte


laterítico) que forneceu material para construção da base e, a outra,
abaixo daquela linha.

TABELA 4.17 CONSTITUIÇÃO MINERALÓGICA DE AMOSTRAS DE SOLOS


COLETADOS EM DIFERENTES NÍVEIS.

Esses dados mostram, de forma nítida, que os solos integrantes da camada abaixo
da linha de seixos, apresentam constituição mineralógica diferente
da dos lateríticos, que estão acima daquele horizonte. Essa diferen-
ça é caracterizada pela presença de argilo-minerais, das famílias da
muscovita e montmorilonita, na camada subjacente à linha de seixos,
indicando que os mesmos não são lateríticos.

4.6.3.2 Fábrica
a] Quanto à Macrofábrica:
Em suas condições naturais, os SAFL apresentam-se com macro-
fábrica predominantemente homogênea e porosa e com baixa
MEAS in situ (da ordem de 1,5 g/cm 3), conforme mostram os
valores abaixo (em g/cm3), obtidos das jazidas dos trechos:
Aeroporto de Araraquara............................1,46
Trabiju - Boa Esperança do Sul..................1,48
São Carlos - Broa ........................................1,50
Cambaratiba - Borborema...........................1,47
b] Quanto à Microfábrica:
As conclusões obtidas a partir dos resultados do estudo feito pelo
IPT, da microfábrica de diversas amostras de SAFL, são resumidas
a seguir:
 As partículas individuais de argila não são, em geral, distin-
guíveis; quando distinguíveis, aparecem com muito pouca
nítidez.
 São vizualizados flocos relativamente grandes, aglutinando
partículas argilosas, com aspecto de “nuvens” ou “pipocas” e
tamanhos desde 1 a 2 até 50 a 100 mm, na sua maior dimen-
são.

131
Pavimentos Econômicos

 Estes flocos apresentam-se agregados na forma de grânulos, ou


como matéria intersticial entre os grãos de areia.
 Os aspectos citados ocorrem em todos os solos analisados,
independentemente da cor ou granulometria. As cores variam
desde vermelho, amarelo, marrom até cinza, e a granulome-
tria, desde argila arenosa até areia argilosa.
 Aparentemente, conforme o grau de laterização, o aspecto dos
flocos torna-se mais ou menos visível. Quanto menos lateriza-
do for o solo, mais facilmente são distinguíveis as partículas
individuais dos argilo-minerais.
O Departamento de Química da UNESP, analisando as imagens com o microscó-
pio eletrônico de varredura (scanning), chegou às mesmas conclusões
do IPT quanto às peculiaridades da microfábrica dos SAFL.
As figuras 4.57 a 4.60 ilustram microfábricas de SAFL usadas em bases.

Figura 4.57 Amostra 09 - Aumento 1.000X. Figura 4.58 Amostra 09 - Aumento 10.000X.

Figura 4.59 Amostra 33 - Aumento 1.000X. Figura 4.60 Amostra 33 - Aumento 10.000X.

132
PESQUISAS DESENVOLVIDAS COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT 4

Também foi realizado um estudo da microfábrica de amostras coletadas no trecho


Piacatu – (SP-245), em um mesmo perfil de solo, do qual foram extraí-
das duas amostras: uma, laterítica, usada para base, acima da linha de
seixos (amostra 05 da tabela 4.7), e outra, situada abaixo da linha.
A constituição mineralógica da amostra é apresentada na tabela 4.17 e as
microfábricas, da parte fina de seus solos, são ilustradas nas fotos das
figuras 4.61 e 4.62.

Figura 4.61 Amostra do furo 05, acima da linha de Figura 4.62 Amostra abaixo da linha de seixos do furo
seixos, de solo laterítico (Aumento 5.000X). da amostra 05, de solo saprolítico (Aumento 5.000X).

As figuras mostram, nitidamente, as diferentes microfábricas das amostras


estudadas acima e abaixo da linha de seixos. Acima, têm-se argilo-
minerais aglutinados (mostrando que o solo é laterítico); abaixo,
individualizados (indicando que o solo não é laterítico). Isto confir-
ma as conclusões anteriores baseadas no estudo mineralógico destes
mesmos perfis.
Pelo exposto fica evidente a importância da verificação da ocorrência da linha
de seixos, quando da procura de solos lateríticos promissores para
emprego em bases, o que pode ser feito através da prospecção geotéc-
nica, ou de cortes em rodovias existentes nas proximidades da estra-
da em estudo; cabe, entretanto, alertar que podem ocorrer casos em
que a separação, entre as camadas consideradas, não coincide com
a linha de seixos.

4.6.3.3 Cor
As amostras secas ao ar, segundo a tabela de cor Munsell, apresentam predomi-
nantemente cor vermelha (2YR 5/6, 4/8, 4/6, 5/8) e vermelho-ama-
relada (5YR 6/6 a 4/6). As variedades marrom (ou bruna) (7.5YR 4/4,
4/5, 5/6, 5/8) são, sobretudo, frequentes na área de ocorrência do
Latosol Vermelho Amarelo, textura arenosa.

133
ESTUDO GEOTÉCNICO DE SOLOS PARA BASES
DE SAFL COM O USO DA SISTEMÁTICA MCT

134
O estudo geotécnico para a escolha das jazidas de solos arenosos finos
lateríticos, segundo a Sistemática MCT, objetivando seu uso em bases,
é desenvolvido em duas fases: a preliminar e a básica.
Na fase preliminar utilizam-se informações pedológicas (basicamente cartas de
solos) obtidas pelo reconhecimento de campo e ensaios de granu-
lometria. Na fase básica efetua-se uma amostragem sistemática
acompanhada de: execução de ensaios de laboratório, tratamento
estatístico dos valores das propriedades, análise dos resultados esta-
tísticos, qualificação das jazidas e escolha das jazidas definitivas.

5.1 FASE PRELIMINAR


Essa fase dará subsídios para a escolha das ocorrências mais promissoras, nas
proximidades dos trechos a serem pavimentados, dos solos a serem
usados nas bases dos pavimentos, por meio de:
t Informações pedológicas.
t Reconhecimento de campo.
t Ensaios granulométricos e hierarquização das ocorrências.
t Fluxograma ilustrativo das atividades.

5.1.1 Informações Pedológicas


Inicialmente, para a verificação do comportamento laterítico, ou não,
dos solos, sugere-se a utilização de dados contidos nos mapas pedo-
lógicos. Por serem úteis apenas para a previsão das ocorrências de
solos de comportamento não laterítico (mais especificamente os solos
saprolíticos e os solos transportados holocênicos), cujo uso foge
do escopo deste livro, mapas e dados geológicos não serão conside-
rados.
O uso de mapas pedológicos como o “Mapa Pedológico do Estado de São
Paulo”, escala 1:500.000 - edição de 1999, publicado pelo IAC (Insti-
tuto Agronômico de Campinas) e pela EMBRAPA (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária - Centro Nacional de Pesquisa de Solos), é
bastante útil para a finalidade em vista. Esse mapa acompanha um
fascículo (intitulado “Legenda Expandida”) que contém as caracte-
rísticas gerais, de interesse pedológico, das 378 unidades de mape-
amento representadas. Outros mapas de solos, em escalas maiores,

135
Pavimentos Econômicos

são disponíveis para parte do Estado de São Paulo; entretanto, para a


maioria dos geotécnicos, o uso dos mesmos apresenta sérias dificul-
dades, decorrentes de unidades de mapeamento não mais adotadas
no Brasil, a partir de 1999.
Segundo o referido mapa, os solos de comportamento laterítico do ponto de
vista geotécnico (solos L), diante dos dados obtidos pelos autores
deste livro, podem ser encontrados nas unidades de mapeamento
que pertencem às ordens taxinômicas seguintes:
Latossolos (L) — Mais típicos quanto ao comportamento geotécnico
laterítico, incluindo praticamente todas as subordens integrantes.
Para aproveitamento como SAFL, são potencialmente mais favoráveis
as unidades de mapeamento que sejam constituídas por variedades
granulométricas denominadas de “textura média” e “textura areno-
sa”, e com relevos caracterizados pelas designações “plano” e “suave
ondulado”.
Argissolos (P) — Menos típicos quanto ao comportamento geotécni-
co laterítico, podendo algumas subordens e partes do perfil vertical
ter comportamento geotécnico não laterítico (solos N). Observa-se,
entretanto, que muitos solos de comportamento geotécnico lateríti-
co, e com excelente desempenho em bases de pavimento (portanto
considerados como SAFL), são encontrados nessa ordem, sobretudo
quando correspondem a unidades de mapeamento constituídas de
solos com “textura arenosa”, ou “textura média”, associada a relevo
“plano” ou “suave ondulado”. Cabe acrescentar que, no “Mapa de
Solos do Estado de São Paulo”, edição de 1960, muitas das unidades
constituídas de Argissolos pertencem a classes designadas de Podzó-
licos ou Podzolizados, eventualmente associados a classes designadas
de Regossolos, que eram consideradas potencialmente interessantes
como fornecedoras de SAFL, como comentado no Capítulo 2.
Nitossolos (N) — Menos típicos quanto ao comportamento geotécni-
co laterítico e com predominância de tipos excessivamente argilosos
(“textura argilosa”).
Neossolos (R) — Menos típicos quanto ao comportamento geotécni-
co laterítico, podendo algumas subordens e partes do perfil vertical
ter comportamento geotécnico não laterítico (solos N), por terem
baixa porcentagem de finos lateríticos. São promissores, sobretudo,
os da subordem Quartzarênicos (RQ).
Cambissolos — Raramente apresentam camadas de comportamento
laterítico; são, quase sempre, de pequeno volume e excessivamente
argilosos para aproveitamento como SAFL.
Além da orientação acima, os autores realizaram um estudo específico sobre amostras
de solos de jazidas usadas em camadas de pavimentos, incluindo
sua Classificação MCT, com a finalidade de associar as propriedades

136
ESTUDO DE SOLOS PARA BASES DE SAFL COM A MCT 5

mecânicas e hídricas, obtidas na umidade ótima (Ho) da energia


Intermediária (EI) daqueles solos, com as unidades de mapeamento
do “Mapa Pedológico do Estado de São Paulo” (1999).
O estudo das propriedades abrangeu as ocorrências da Região Central
do Estado e 97% das amostras coletadas são de solos pertencentes às
classes LV (Latossolos Vermelhos) e PVA (Argilossolos Vermelho-Ama-
relos). Foram ensaiadas, respectivamente, 62 e 36 amostras das unida-
des de mapeamento: LVi (i= 1,15,29,33,45,51,54,55,56) e PVAi (i=
2,3,10). Ainda, foram ensaiadas três amostras de solos da Classe LVAi
(i= 3,9,56).
O estudo para a Classificação, abrangeu 35 amostras e os resultados dos ensaios
mostraram que os solos têm comportamento laterítico (vide figura
5.1) e granulometria variando desde argilosos, até arenosos.



Figura 5.1 Posição das amostras de solos das Classes LV, LVA (23 amostras) e
PVA (12 amostras).

Além disso, os valores das propriedades mecânicas e hídrícas, obtidos pela


MCT, possibilitaram a elaboração de “ Famílias de Histogramas” para
os solos coletados pertencentes a cada uma das Classes citadas. A
figura 5.2 ilustra Histogramas e intervalos de valores admissíveis,
elaborados para uso dos solos em base das Classes LV e PVA.
A partir dos Histogramas, cuja finalidade é indicar as “propriedades
esperadas” de outras amostras correlacionadas com as Classes de
Solo em questão, foi elaborada a tabela 5.1. As porcentagens para as
propriedades indicadas na tabela foram retiradas dos histogramas e
mostram o percentual de amostras estudadas que atendem os inter-
valos de valores (tracejados em vermelho) necessários para que um
solo possa ser usado como base de SAFL.

137
Pavimentos Econômicos

Figura 5.2 Histogramas para uso do solo em base – Solos das Classes LV e PVA.
Ainda na fase preliminar, esse estudo torna possível que as informações pedo-
lógicas se constituam numa orientação muito confiável com proba-
bilidades > 80 %, para os solos da Classe
Tabela 5.1 PORCENTAGEM DOS SOLOS LV E PVA PARA USO EM
LV e > 95 % para os da PVA com texturas
BASE DE SAFL.
arenosa e média (areno-argilosa), para seu
uso em base. Isso permite que os engenhei-
ros possam utilizar essas informações para
a escolha das melhores jazidas a serem
detalhadas na fase básica.
Ressalta-se que a análise do Mapa Pedológi-
co mostra que os solos, coletados na Região
Central do Estado de São Paulo, também
ocorrem em outras regiões, perfazendo
uma área da ordem de 70 % do Estado. Classes de solos com características simi-
lares àquelas estudadas, e que ocorrem em outras regiões do Brasil, têm grande
probabilidade de se constituir em jazidas para base de SAFL.
Portanto, se estudos semelhantes forem feitos para outras Classes de solos, serão
geradas informações para essa mesma finalidade, em quaisquer partes
do território nacional.

138
ESTUDO DE SOLOS PARA BASES DE SAFL COM A MCT 5

5.1.2 Reconhecimento de Campo


A partir das informações pedológicas referentes às ocorrências mais promissoras,
a equipe geotécnica executora (supervisionada por um geotécnico)
deve realizar, obrigatoriamente, um reconhecimento de campo nas
áreas indicadas. Após, a equipe deverá realizar uma prospecção preli-
minar, executando cinco furos de sondagem, um em cada canto e
um no centro da área de cada ocorrência, com o objetivo de cole-
tar material para o exame tátil-visual das amostras. Outra informa-
ção de importância consiste em indicar, na prospecção realizada, a
posição da linha de seixos, quando esta ocorrer; também, é de vital
importância na definição da camada laterítica, acima da linha, a ser
estudada.
Essa camada é geralmente bastante desenvolvida e com espessura superior a
3 m, o que a qualifica para exploração econômica. Todavia, não é
recomendado, a não ser após estudos geotécnicos apropriados, o seu
emprego em bases de pavimentos, com os solos que ocorrem abaixo
da “linha de seixos”, (vide subitem 4.6.3.2).
Caso o geotécnico não seja capaz de diagnosticar, no campo, a textura e o caráter
laterítico das ocorrências de solo, deve-se realizar, nas amostras repre-
sentativas dos cinco furos, a classificação expedita MCT, pelo proce-
dimento das “pastilhas”, suplementado por outras determinações
como plasticidade e resistência ao esmagamento de pequenas esferas
secas (vide Nogami e Villibor, 1994).

5.1.3 Ensaios Granulométricos e Hierarquização


das Ocorrências
Após a definição das ocorrências potencialmente mais interessantes para jazidas,
utilizando as informações anteriores, devem-se submeter as cinco
amostras colhidas ao ensaio de granulometria simples.
Esses solos deverão ter granulometria média, determinada pelo Método
M-6-61 do DER-SP. Os resultados desses ensaios indicarão as ocorrên-
cias mais promissoras, caso ocorra seu enquadramento nas gradua-
ções das faixas granulómetricas A, B, C e G, indicadas na tabela 4.13.
Essas ocorrências assim hierarquizadas serão submetidas aos estudos
da fase básica.
Caso uma ocorrência não se enquadre em nenhuma das faixas (nem entre faixas),
ainda assim poderá ser utilizada para jazida, desde que atenda a todas
as exigências da fase básica; no entanto, é baixa a probabilidade de
que isto ocorra.

139
Pavimentos Econômicos

5.1.4 Fluxograma das Atividades da Fase Preliminar


A figura 5.3 ilustra o fluxograma das atividades descritas, constituintes da fase
preliminar do estudo geotécnico das ocorrências de SAFL.

Figura 5.3 Fluxograma da Fase Preliminar do Estudo Geotécnico das Ocorrências de SAFL.

140
ESTUDO DE SOLOS PARA BASES DE SAFL COM A MCT 5

5.2 FASE BÁSICA


Nessa fase serão determinados, por meio de ensaios da MCT, os valores das
propriedades dos solos das ocorrências mais promissoras para uso em
bases, com o objetivo de hierarquizar as melhores jazidas e fornecer
subsídios à técnica construtiva das mesmas. Essa fase é constituída
de:
t Amostragem sistemática.
t Ensaios da MCT e sua sequência de execução.
t Tratamento estatístico dos valores das propriedades.
t Qualificação das jazidas.
t Escolha das jazidas definitivas.
t Fluxograma ilustrativo das atividades.

5.2.1 Amostragem Sistemática


Na prospecção e amostragem das ocorrências para coleta de amostras destinadas
ao uso da Sistemática MCT, deve ser utilizado um procedimento
apropriado de sondagem, devidamente adaptado às condições tropi-
cais. Esse serviço, devido à pequena quantidade de solo necessária,
fica bastante facilitado por permitir a coleta das amostras em furos de
sondagem equidistantes 30 m, com o uso de trado cavadeira, dispen-
sando a abertura de cavas e poços exigidos pela maneira tradicional,
cujos custos são bem mais elevados, devido à maior quantidade de
solo necessária. Cada amostra colhida deverá ter massa aproximada
de 15 kg, quantidade suficiente para a realização de todos os ensaios.
As sondagens realizadas deverão permitir, também, a quantificação
do volume de solo da ocorrência estudada. Durante o processo de
sondagem, os furos devem ser executados até a profundidade em que
o solo for julgado aproveitável e deverá ser amostrado o perfil do solo
em duas profundidades: de 0,5m a 2m e de 2m até o final da ocorrên-
cia. Também deve ser identificada a ocorrência das linhas de seixos,
pois elas têm elevado significado genético, sendo que, geralmente, o
volume superior de solo acima delas apresenta comportamento late-
rítico, ajudando a esclarecer a geometria das camadas constituintes
das ocorrências de solos. Sobre as amostras de cada um dos furos,
executar os ensaios indicados nos subitens 5.2.2.1 a 5.2.2.5.

5.2.2 Ensaios MCT e sua Sequência de Execução


Com os solos das ocorrências mais promissoras, executar os ensaios laboratoriais,
conforme os métodos do Anexo II, segundo o roteiro:
a] Confirmação da fração que passa e da fração retida na peneira
de abertura nominal 2,00 mm, a fim de verificar se a Sistemática
MCT é aplicável ou não. Para que esse procedimento seja aplicá-

141
Pavimentos Econômicos

vel, o solo deve conter pelo menos 90% da fração que passa na
peneira de 2,00 mm.
b] Sendo a Sistemática MCT aplicável, são considerados essenciais os
valores das propriedades obtidos pelos ensaios indicados a seguir,
que devem ser realizados conforme a sequência do item 5.2.2.7.

5.2.2.1 Compactação Mini-MCV e Perda de Massa


por Imersão
Executar os ensaios obedecendo aos métodos M5 e M8 para obtenção
de valores que permitam uma classificação geotécnica (M9) compa-
tível com as peculiaridades dos solos tropicais.
É conveniente que se aproveitem os corpos de prova, obtidos segundo o Mini-MCV,
para a determinação do seu Mini-CBR nas condições de moldagem,
sem imersão e sem secagem. Isso porque, a partir desses dados, pode-
se inferir o Mini-CBR sem imersão, equivalente àquele corresponden-
te à umidade ótima do Mini-Proctor.
Esses ensaios permitem obter os grupos da MCT.

5.2.2.2 Compactação Mini-Proctor


Executar este ensaio conforme método M1, na energia Intermediária de
compactação.
Prov idenciar o preparo de alíquotas, de cada teor de umidade, em
quantidade suficiente para a compactação dos corpos de prova neces-
sários à execução dos ensaios especificados a seguir.

5.2.2.3 Mini-CBR e Expansão


Executar o ensaio conforme o método M2.
Os corpos de prova imersos podem ser ensaiados sem sobrecarga, para
pavimentos com revestimentos recobertos com camadas espessas.

5.2.2.4 Contração Axial


Aproveitar, eventualmente, os mesmos corpos de prova utilizados na deter-
minação do Mini-CBR, sem imersão, obedecendo os métodos M3 e
M2.
Para pavimentos delgados, sobre bases de SAFL, conceituou-se a relação
RIS, definida no subitem 4.2.2.1, que pode ser transformada em Perda
de Suporte por Imersão (PSI), pela expressão: PSI = 100 – RIS.

5.2.2.5 Infiltrabilidade e Permeabilidade


Executando-se o ensaio conforme o método M4, obtêm-se o Coeficiente
de Sorção, a Velocidade de Caminhamento da Frente de Umidade
e o Coeficiente de Permeabilidade. Para solos arenosos de permea-

142
ESTUDO DE SOLOS PARA BASES DE SAFL COM A MCT 5

bilidade alta, pode-se, eventualmente, utilizar corpos de prova do


Mini-Proctor.

5.2.2.6 Penetração da Imprimadura


A previsão do tipo e da quantidade de material betuminoso mais adequado para a
camada a imprimar pode ser feita com base no método M6, do Anexo
II. Recomenda-se, entretanto, que a fixação definitiva seja feita com
base na execução de trechos experimentais de controle, conforme
detalhado no subitem 6.4.3.1.

5.2.2.7 Sequência de Execução dos Ensaios


Os ensaios de uma ocorrência de solo (mínimo 10) para sua qualificação como
base, sempre, devem ser executados na seguinte sequência:

a] Ensaios para a qualificação do comportamento laterítico da jazida:


submeter as amostras aos ensaios indicados no subitem 5.2.2,
após classificá-las conforme o procedimento M9.
b] Cada jazida cujas amostras de solos apresentem comportamento
laterítico (grupos LA, LA’ ou LG’) deve ser submetida aos ensaios
indicados nos subitens 5.2.2.2 até 5.2.2.5. Esses ensaios permitem
obter, na Ho da energia Intermediária, os valores das proprieda-
des Mini-CBRHo, PSI, Es, Ct, s e k, representativas dos solos das
amostras. Para cada propriedade, efetuar o tratamento estatístico
dos valores obtidos (no mínimo 10).

5.2.3 Tratamento Estatístico dos Valores


das Propriedades
Os valores das propriedades obtidas nos ensaios em questão, executados em
uma jazida para qualificá-la para base, devem ser tabelados e subme-
tidos a um tratamento estatístico como, por exemplo, o indicado a
seguir. Os resultados estatísticos das propriedades devem atender às
inequações indicadas, cujos valores admissíveis são mostrados na
tabela 5.4. Caso todos os resultados dos ensaios atendam aos requi-
sitos, o tratamento estatístico poderá ser dispensado.
Quando do desenvolvimento dos estudos e pesquisas apresentados neste
livro, constatou-se que o intervalo de valores para aceitação do coefi-
ciente de permeabilidade (entre 10 -6 a 10 -8 cm/s) fica implicitamente
atendido, quando os intervalos admissíveis das outras propriedades
mecânicas e hídricas do solo para base de SAFL também são atendi-
dos. A partir desta constatação ficam, assim, opcionais a obtenção
e a exigência deste coeficiente para a aceitação do solo para base,
segundo o critério de escolha da tabela 5.4.

143
Pavimentos Econômicos

Aba i xo é apresentado o t rata mento estat ístico para os valores das


propriedades indicadas:
t Suporte Mini-CBR sem imersão:

t Perda de suporte por imersão (PSI em %):

t Expansão sem sobrecarga padrão:

t Contração Axial:

Sendo: a média e S o desvio padrão da amostragem, a saber:

onde:
N = número de amostras (no mínimo 10).
Xi = valores individuais das amostras.
K e K1 = coeficientes, função de N sendo, respecti-
Tabela 5.2 VALORES DOS COEFICIENTES K E K1. vamente, tolerância unilateral e bilateral, confor-
me valores da tabela 5.2.
No caso dos ensaios de infiltrabilidade e permeabi-
lidade, os resultados dos coeficientes s e k, de todas
as amostras, devem atender os intervalos admissí-
veis da tabela 5.4, sem a necessidade de tratamento
estatístico.

5.2.4 Qualificação das Jazidas


As ocorrências, cujos resultados estatísticos das
propriedades atenderem os critérios dos dois subitens abaixo, serão
qualificadas como jazidas para base.

5.2.4.1 Qualificação da jazida através da tabela 5.3 –


Uso Restrito
Os intervalos considerados na tabela 5.3 foram adotados a partir dos resultados
dos ensaios obtidos mediante o uso do ensaio Mini-MCV, em solos
usados em bases com desempenho considerado satisfatório, existen-
tes na região centro-oeste do Estado de São Paulo; o uso dessa tabela
é restrito, por enquanto, às condições prevalecentes naquela região.

144
ESTUDO DE SOLOS PARA BASES DE SAFL COM A MCT 5

Os intervalos de valores admissíveis para as propriedades foram obti-


dos nas condições indicadas na parte inferior da tabela 5.3.

Tabela 5.3 CRITÉRIO SAFL PARA BASES DE PAVIMENTOS. USO RESTRITO PARA
DE ESCOLHA DE
O ESTADO DE SÃO PAULO.

 

  

 



  LG’, LA’, LA M5 e M8


 !" >2000 M5

#$%&&'(" >50 M2

&)*'
(" >80 —
&++&
,&&'-
&(. <20 —
#'/0&/ 
<0,2 M2
+'$("
#,*'$,(" 0,2 a 0,5 M3

)&#1/#& +&2 )&+3&,&)&4&+ #$/,

5.2.4.2 Qualificação da jazida através da tabela 5.4 –


Uso Geral
Os intervalos considerados na tabela 5.4 foram obtidos tomando-se os valores,
para as propriedades, baseados nos dados provenientes dos estu-
dos apresentados no Capítulo 4 e, especificamente, nos subitens que
originaram aqueles valores. Embora estes estudos tenham sido reali-
zados em trechos executados no Estado de São Paulo, seu uso já foi
Tabela 5.4 CRITÉRIO GERAL DE ESCOLHA DE SAFL PARA BASES DE PAVIMENTOS. USO GERAL
PARA QUALQUER REGIÃO DO PAÍS.


 
    








 





145
Pavimentos Econômicos

ampliado para várias regiões do Brasil, com sucesso, para as seguintes


condições ambientais:
Tipos climáticos do sistema Köpen:
t Cwa (quente com inverno seco)
t Aw (tropical com inverno seco)
t Cwb (temperado com inverno seco)

5.2.5 Escolha das Jazidas Definitivas


Os solos de cada jazida qualificada devem ser plotados no gráfico classificatório
para se obter o tipo de SAFL para base, segundo a Sistemática MCT,
com o uso da compactação Mini-Proctor. As jazidas definitivas serão
escolhidas tendo em vista os melhores tipos de solos, quanto à sua
técnica construtiva, e porque conduzem a bases que apresentam
melhor comportamento em serviço.
Para as condições prevalecentes no interior do Estado de São Paulo (ou similares),
a escolha das jazidas mais adequadas para base deve ser realizada
segundo as recomendações apresentadas nos subitens 6.2.1 e 6.2.2,
que levam em conta as dificuldades construtivas dessas bases. Essas
recomendações indicam os tipos de solo: I, II, III e IV, com a hierar-
quização dos mesmos para definir as melhores jazidas.
O ensaio complementar da penetração da imprimadura é executado após
a escolha definitiva das jazidas, conforme exposto abaixo:
t As amostras das jazidas escolhidas devem ser submetidas ao
programa de ensaio de imprimadura para obter-se o tipo e a taxa
recomendados da imprimadura, que deverão servir para orienta-
ção da sua implementação no campo.
Cabe ressaltar, porém, que a execução da base deverá seguir técnica construtiva
adequada, em conformidade com o proposto no Capítulo 6.

5.2.6 Fluxograma das Atividades da Fase Básica


A figura 5.4 ilustra o fluxograma das atividades constituintes da fase básica do
Estudo Geotécnico das Ocorrências de SAFL.

146
ESTUDO DE SOLOS PARA BASES DE SAFL COM A MCT 5




Figura 5.4 Fluxograma da Fase Básica do Estudo Geotécnico das jazidas de SAFL para base.

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