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RESUMO
Este artigo traz uma breve discussão sobre a importância da aplicabilidade da figura do dolo
eventual ao longo dos delitos que envolvem homicídio no trânsito em razão de existir uma
expressiva forma de configuração de ameaça a um dos principais bem jurídicos tutelados
pelo ordenamento jurídico brasileiro, o qual apresenta previsão estabelecida ao longo do
artigo 5º, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que é a “vida”,
dessa forma há apresentação da justificativa de que a ausência da realização de uma
punição com maior grau de severidade aqueles agentes que tenham agido de forma
irregular no ambiente correspondente ao Trânsito acaba por ocasionar uma situação de
impunidade, o que gera uma maior situação de mortes em tal meio, em razão de a
sociedade não esteja desfrutando de uma situação de seguridade.
ABSTRACT
This article presents a brief discussion about the importance of the applicability of the figure
of eventual deceit throughout the crimes involving traffic homicide due to the existence of an
expressive form of threat configuration to one of the main legal assets protected by the
Brazilian legal system, which presents a prediction established during article 5, caput, of the
Constitution of the Federative Republic of Brazil of 1988, that is the "life", in this way there is
presentation of the justification that the absence of the accomplishment of a punishment with
a greater degree of severity those agents who have acted in an irregular manner in the
environment corresponding to the Traffic, end up causing a situation of impunity, which
generates a greater situation of deaths in that environment, because the society is not
enjoying a security situation.
INTRODUÇÃO
1 Servidor Público Federal, Graduado em Administração com ênfase em Comércio Exterior e graduando em
Direito, ambas pela Faculdade da Amazônia Ocidental – FAAO, atuou como Diretor de Secretaria do 2º
Juizado Especial Cível da Comarca de Rio Branco, bem como atuou na Coordenação de Gestão da Qualidade
da Diretoria de Organizações em Centrais de Atendimento, da Secretaria de Estado da Gestão Administrativa
do Acre, exerceu ainda a Diretoria de Transportes da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito -
RBTRANS e atualmente é Chefe do Gabinete Institucional do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Acre - Ifac. E-mail: amim.jefferson@gmail.com. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9826495032889144.
2 Possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2002). Possui pós-graduação em
O novo Código Brasileiro de Trânsito surgiu como sendo uma medida inovadora na
tipificação de condutas antes consideradas como meras contravenções penais. A Lei
9.503/97, que dispõe sobre as infrações, penalidade e crimes de trânsito, tem sido motivo de
muitas críticas doutrinárias e controvérsias tanto no que se refere à elaboração das normas
e às penas aplicadas como no tocante à excessiva preocupação na tipificação de condutas
e aplicação das penas em detrimento do rigor nas medidas de prevenção nas infrações de
trânsito.
Apesar de tais controvérsias, não se pode negar o mérito da nova lei como
importante instrumento regulador de prevenção e combate aos abusos praticados no
trânsito. A discussão em torno de sua eficácia traduz a real preocupação dos doutrinadores
no sentido de que esta possa vir a ser cada vez mais aperfeiçoada, tornando-se verdadeiro
instrumento de segurança no confuso trânsito das cidades brasileiras.
O deslocamento da competência para julgar determinados tipos de delitos de
trânsito, envolvendo as classificações entre a culpa e o dolo afirma-se como a maior das
controvérsias, razão pela qual tentaremos discorrer sobre essa situação neste artigo
científico.
A figura do Dolo apresenta sua previsão ao longo do artigo 18, inciso I, do Código
Penal Brasileiro e teve sua origem no Direito Romano, que tinha por conceito, a conduta ou
ação intencional, consciente e delituosa que feria a moral e as leis estabelecidas pelo
Estado.
A maior parte dos crimes denominados na Codificação Brasileira são dolosos, de
acordo com o disposto citado anteriormente do Código Penal, o preceito é que todo crime é
doloso, somente sendo possível a punição pela prática culposa, quando expressamente
previsto em lei. Ou seja, o dolo é a regra e a culpa é a exceção. O dolo nada mais é que, a
vontade consciente de fazer os elementos entendidos e constituídos em um tipo penal.
Nucci (2010, p. 109) em comentário acerca do Código Penal brasileiro traz a
definição de culpa em seu artigo 18, inciso II, consoante se extrai in verbis: “Art. 18, II, diz-se
o crime: culposo quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia”.
Assim, para caracterizar um crime como culposo é necessário que o agente, sem a
intenção de praticar o crime, não tenha agido com o cuidado necessário diante de
determinada conduta e o seu ato involuntário tenha gerado efeitos antijurídicos.
É essencial para configuração do crime culposo a violação do dever de cautela, que
embora apesar de se anteceder a regras implícitas da sociedade, necessita ponderar as
características particulares de cada indivíduo ao agir, a conjuntura por ocasião da situação
vivenciada, enfim, de acordo com o contexto jurídico e social de cada sujeito, em
consonância com o critério do homem-médio, caracterizará a configuração, ou não, de culpa
no caso em exame.
No tipo de injusto culposo este não se configura pela tão somente ação de resultado,
mas com o deslinde em que a ação se realiza, e da inobservância do dever de cautela.
A quebra do dever de cuidado constitui-se, portanto, na inobservância de regras
moralmente ou legalmente impostas ao indivíduo, ao realizar determinadas atividades que
envolvem certo grau de risco.
Obviamente que as circunstâncias em que ocorreu o fato deverão ser levadas em
consideração, bem como as características pessoais de cada sujeito, a fim de estabelecer a
culpa.
Damásio Evangelista de Jesus (2010, p. 68) conceitua que o Dolo Direto, também
denominado dolo determinado, é aquele onde a vontade do agente é voltada a um
determinado resultado.
Ainda segundo Damásio (2010, p. 70) há fases de realização da ação:
a) representa e antecipa mentalmente o resultado por ele pretendido;
b) escolhe os meios necessários a fim de alcançar o resultado e;
c) reflete sobre os efeitos concomitantes, que dizem respeito à utilização dos meios
por ele escolhidos, a fim de consumar a infração penal, já representada mentalmente.
Com relação ao tema ora expresso, bem como a respeito da questão do
reconhecimento da figura jurídica do Dolo Eventual na aplicabilidade da lei penal ao caso
em concreto, tem-se entendimento firmado em jurisprudência do STF (HC 107.801, min. rel.
Luiz Fux, julgado em 06.09.2011, STF), veja-se que:
2. CRIMES DE TRÂNSITO
É preciso, inicialmente destacar que a proteção à vida vem a ser a base dos Direitos
e Garantias fundamentais estabelecidos à figura da pessoa humana, dessa forma, este vem
a ser o mais fundamental dos direitos, uma vez que todos giram em torno dele, devendo ter
uma imposição absoluta por parte do Direito, mesmo que a sociedade apresente um
desvalor perante determinado indivíduo, entretanto a figura Estatal deverá ver de forma
objetiva.
O crime de homicídio vem a ser considerado um delito comum, haja vista o referido
tipo penal poder ser executado por qualquer pessoa, tanto de forma individual quanto em
concurso de agentes, não necessitando para ser configurado alguma qualidade especial
quanto ao agente ativo, inclusive este pode vir a agir tanto por ação individual quanto por
meio da utilização de materiais diversos na busca pela execução do delito.
A diferenciação entre o dolo eventual e culpa consciente, exigem elevada
capacidade de percepção, pois, em ambas as situações o sujeito tem a capacidade de
antever o risco do resultado de sua atitude, muito embora a culpa consciente não o admita
como possível e, no dolo eventual, admita a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe
indiferente.
Embora o dolo eventual guarde certa similitude com a culpa consciente há pontos de
dissemelhança importantes. "Em ambos há a previsão do resultado antijurídico. Só
que enquanto no dolo eventual o agente empresta anuência à realização do
resultado, preferindo prosseguir na ação, embora arriscando-se a produzi-lo, na
culpa consciente o agente não aceita a realização do evento: repele mentalmente o
resultado previsto, agindo na esperança ou na persuasão de que o evento não irá
verificar-se. Na culpa consciente há uma previsão negativa. O evento não se
verificará. No dolo eventual, uma previsão positiva: é possível que se verifique o
evento". (SCHECAIRA apud JUNIOR, 2002, p. 47).
Face a esta complexidade, em exame de casos concretos, a defesa busca junto aos
tribunais, descaracterizar o crime doloso para culposo, conforme a jurisprudência a seguir:
O caso em epígrafe traz uma denúncia sobre um homicídio com veículo automotor,
na modalidade do dolo eventual, que resultou na morte da vítima.
No entanto, não foi aceita a desclassificação do crime doloso para o culposo, tendo a
Turma não conhecido pela sua maioria de composição pela impetração do HC, entendendo
o Ministro Luiz Fux, pela existência de indícios comprobatórios mínimos acerca da denúncia,
não sendo possível a sua desclassificação para crime culposo, sem a ocorrência da análise
prévia do Conselho de Sentença do Tribunal do Júri.
Em Brasília, no Distrito Federal, um motorista foi sentenciado por homicídio doloso,
na modalidade de dolo eventual, por ceifar a vida uma idosa, pois estava em direção de
veículo automotor e em alta velocidade e, não bastasse, sob efeito de álcool. A sua defesa
requereu a nulidade da condenação, contudo, o STF negou o HC demandado, conforme a
seguinte jurisprudência:
3 In dubio pro reo é um princípio fundamental em direito penal que prevê o benefício da dúvida em favor do réu,
isto é, em caso de dúvida razoável quanto à culpabilidade do acusado, nasce em favor deste, a presunção de
inocência. (BADARÓ, 2008, p. 17).
4 In dubio pro societate é um princípio do direito penal que, em determinadas fases do processo penal – como no
oferecimento da denúncia e na prolação da decisão de pronúncia – inverte-se a lógica: a dúvida não favorece o
réu, e sim a sociedade. (BADARÓ, 2008, p. 17).
5 Actio libera in causa ocorre todas as vezes em que em um segundo momento um crime fosse praticado em
estado de incapacidade, que teria sido gerado em um primeiro momento como consequência de alguma
atitude do agente que o privasse parcial ou completamente de seus sentidos. (BETTIOL, 1969, p. 65).
pena, pois ele utiliza do meio para concretizar sua ação criminosa, o que seria diferente se a
embriaguez fosse proveniente de um caso fortuito ou de forma maior, dessa maneira se ela
fosse completa eximiria o agente de pena, pois seria uma excludente de culpabilidade, haja
vista o agente não ter a possibilidade de ser punido.
A partir do instante em que o agente age compelido por uma embriaguez, mas esta é
proposital ao cometimento de um dado delito no trânsito, como vem a ser o caso de
atropelamento proposital de um pedestre e/ou ciclista, o que faz com que o agente venha a
responder ao processo por crime doloso e na Vara do Tribunal do Júri, diferentemente de
caso ele tenha cometido um delito por embriaguez acidental completa ou parcial,
ressaltando que quando a embriaguez ocorre de forma acidental, ela faz por gerar uma
diminuição da pena aplicada ao caso concreto em razão de estar devidamente expressa em
lei.
Com relação a possibilidade de ocorrência da configuração de Dolo Eventual na
direção de veículo automotor, o que afasta a aplicação do art. 302, uma vez que a partir da
existência de tal modalidade dolosa, não há que se falar em forma culposa do delito em tela,
assim ao ser afastada a culpa, não pode o agente delituoso ser condenado como se tenha
cometido a conduta de forma dolosa, dessa maneira, não há intenção por parte do agente
em cometer determinada conduta, muito menos a intenção em assumir a produção de um
dado resultado na esfera jurídica existente.
Quando há caso em que o agente imprime velocidade incompatível com a definida
na via de tráfego terrestre, segundo as normas legais, o motorista acaba por assumir a
produção de um dado resultado, mesmo que este seja imprevisível a quem esteja agindo.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Marcelo. Leis sobre crime no trânsito. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito Processual Penal. Tomo I. Rio de Janeiro: Elsevier,
2008.
BETTIOL, Giuseppe. Diritto Penale – Parte Generale. 7ª edição. Itália: CEDAM, 1969 [livro
em meio digital].
_______. Curso de Direito Penal: Parte Geral: Volume I. 10.ed. Niterói: Impetus, 2008.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. v. I, t. II, Rio de Janeiro: Forense, 1958
[livro em meio digital].
JESUS, Damásio Evangelista de. Código Penal Anotado, 17. ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010.
_______. HC 107.801, min. rel. Luiz Fux, julgado em 06.09.2011, STF. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1509910>. Acesso
em: 20/06/2018b.
_______. HABEAS CORPUS 131.029 – RJ. Relator Ministro Luiz Fux. Disponível em: <
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=310282896&tipoApp=.pdf>.
Acesso em: 20/06/2018c.