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Arte de Questionar Editora Sefer PDF
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Rabino Lord
Jonathan Sacks
Introdução
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rás a teu filho naquele dia, dizendo: Por isto o Eterno
me fez sair do Egito” (ibid. 13:8) e “E quando teu filho
amanhã te perguntar, dizendo: Que é isto?” (ibid 13:14).
Moisés não falou sobre liberdade, mas sobre edu-
cação. Ao agir assim, estava enfatizando um ponto fun-
damental. Pode ser difícil escapar da tirania, mas é ain-
da mais difícil construir e manter uma sociedade livre.
O judaísmo é um fenômeno raro: uma fé basea-
da em fazer perguntas – algumas vezes profundas e
difíceis – que parecem abalar as verdadeiras bases da
própria fé. É uma religião que carrega em seu âma-
go a educação dos filhos. Não existe responsabilidade
maior para qualquer pai.
Ao longo da nossa história como judeus, nos vi-
mos espalhados entre as nações do mundo. Confronta-
dos com perseguições, assimilação e diversos desafios
que ameaçaram a nossa existência, provamos ser um
povo obstinado. Somos um povo que não somente su-
pera os obstáculos como, apesar deles, ainda prospera.
Por que isso ocorreu? Porque sabemos que para de-
fender um país é necessário um exército, mas para defen-
der uma civilização é preciso educação. Nossa liberdade
como povo não vem do ambiente físico no qual vivemos;
muito pelo contrário, nossa liberdade começa com o que
ensinamos aos nossos filhos. É por isso que os judeus
se tornaram um povo com paixão pela educação, cujos
heróis são professores e cujas fortalezas são as escolas.
Em nenhuma outra ocasião isto fica mais evidente
do que em Pêssach, quando todo o ritual de transmissão
da nossa história para a próxima geração é estabeleci-
do por meio de perguntas feitas por uma criança. A
lição central de Pêssach é muito simples: encoraje seus
filhos a perguntar e lhes ensine a história da liberdade,
se você quiser que eles nunca a esqueçam.
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errado.” O físico judeu ganhador do prêmio Nobel, Isi-
dore Rabi, explicou certa vez como sua mãe o levou a
ser cientista: “Todas as outras crianças, ao chegarem da
escola, ouviam a seguinte pergunta: ‘O que você apren-
deu hoje?’ Minha mãe, porém, costumava perguntar:
“Isinho, você fez uma boa pergunta hoje?’” Na ieshivá,
local onde se estuda o Talmud, o melhor elogio que um
professor pode dar a um aluno é dizer “Du fregst a gutte
kasha” – “você levantou uma boa questão”.
E como nasceu essa paixão judaica pelas perguntas?
Isso claramente decorre do fato de Moisés citar três
vezes na Torá a indagação dos mais jovens em busca
de explicações sobre uma prática religiosa, e ainda no
versículo que diz: “E contarás a teu filho naquele dia,
dizendo...” Juntos, esses quatro versículos são a base
do conceito dos quatro filhos mencionados na Hagadá.
Educação não é doutrinação. É ensinar a criança a ser
curiosa, a meditar, refletir e perguntar.
Todo aquele que pergunta torna-se parceiro no
processo de aprendizado. Ele não é mais um recep-
táculo passivo daquele ato, mas um participante ativo.
Perguntar é crescer.
No entanto, fazer perguntas no judaísmo é mais
do que isso – é algo tão profundo que representa um
fenômeno religioso sui generis. Os heróis da fé fizeram
perguntas a Deus, e quanto maior o profeta, mais difícil
era a sua pergunta. Abrahão perguntou: “Aquele que é
o Juiz de toda a terra, não fará justiça?” Moisés inda-
gou: “Senhor, por que fizeste mal a este povo?” Jeremias
questionou: “Tu é justo, ó Eterno, e não posso conten-
der Contigo, entretanto Contigo arrazoarei: Por que
prospera o caminho do malvado?, Por que se sentem
seguros os que agem traiçoeiramente?” O Livro de Jó, o
maior de todos os questionamentos sobre o sofrimento
humano, é um livro de perguntas feitas por um homem;
perguntas às quais Deus responde com quatro capítulos
de perguntas formuladas por Ele mesmo. Os primeiros