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EXTRAÍDO DA OBRA

GUIA DOS PERPLEXOS


MAIMÔNIDES

Direitos reservados à Editora Sêfer


Todos os mandamentos possuem uma razão

Assim como os teólogos e pesquisadores se dividiram sobre


a questão se os atos de Deus vêm de Sua sabedoria ou somente
de Sua vontade, sem finalidade alguma, assim também eles se di-
vidiram na discussão sobre as leis que nos foram ordenadas. Há
quem não busque nelas nenhuma finalidade e afirme que todos os
mandamentos vieram somente de Sua vontade, e há quem afirme
que todos os preceitos ou proibições vieram da sabedoria Divina
e possuem algum objetivo, que para todos os preceitos existem ra-
zões e que foram ordenados por causa de alguma utilidade. Con-
tudo, nós, os israelitas, tanto as pessoas simples como os sábios,
cremos que todos os mandamentos possuem uma razão, mas, em
parte, ignoramos suas razões e não sabemos quais são de acordo
com a sabedoria Divina. Os textos da Escritura dizem isso cla-
ramente: “estatutos e juízos tão justos” (ibid. 4:8) e “verdadeiros
são os julgamentos do Eterno, todos igualmente justos” (Salmos
19:10).
Sobre os mandamentos denominados chukim (“estatutos”) –
como shaatnez1 (mistura de materiais heterogêneos, como lã e li-
nho), ingerir alimentos de carne com leite e o preceito do cabrito
expiatório (sair hamishtalêach)2 –, os Sábios disseram claramente:
“Coisas que Eu te ordenei e sobre as quais não é permitido refle-
tir, e o satã faz delas objeto de sua crítica, e as nações do mundo
as refutam.”3 Em geral, os Sábios não acreditavam que eles fossem
totalmente sem razão e sem motivo, pois isso conduziria à crença
que existissem atos à toa, conforme mencionamos.4 Pelo contrário,
todos os Sábios acreditavam que eles necessariamente tinham um
motivo, ou seja, uma finalidade útil, porém, que estava oculta de
nós – ou por causa da debilidade da nossa inteligência ou por cau-
sa da nossa falta de conhecimento.
1 Shaatnez é a proibição de vestir roupas feitas da mistura de heterogêneos como lã e linho. Ver Levítico
19:19 e Deuteronômio 22:11; Sefer Hamitsvot, Lo Taase 42 e outros. Ver Prof. Schwartz, nota 11.
2 Ver Levítico 16:5-26
3 TB Iomá 67b.
4 Parte 3:25.
Na opinião deles, todos os preceitos possuem uma razão, ou
seja, cada mandamento e cada proibição tem uma finalidade útil.
Alguns, sua utilidade é clara para nós – como a proibição de matar
ou roubar –, e alguns, sua utilidade não ficou clara – como as proi-
bições de usar os primeiros frutos das árvores (orlá) ou de enxertar
ramos de videira em outras plantas (kilê hakérem).
Os mandamentos cuja utilidade é evidente para todo mun-
do são denominados mishpatim (“leis”), e aqueles cujo proveito
não está claro são denominados chukim (“estatutos”). Os Sábios
dizem frequentemente sobre “Porque isto não é para vós coisa vã”
(Deuteronômio 32:47) que, “Se parecer vã, é da vossa parte” – ou
seja, que esta legislação não é coisa vã e sem uma finalidade útil,
e se te parecer assim a respeito de certos mandamentos, a falta
está na vossa compreensão. E tu estás ciente da famosa tradição
de que Salomão conhecia a razão de todos os mandamentos, com
exceção da vaca vermelha (pará adumá),5 assim como a opinião
dos Sábios de que Deus ocultou a razão dos mandamentos para
que não fossem desprezados, como aconteceu com Salomão em
relação a três mandamentos cujas razões foram indicadas.6 Este
princípio é proclamado constantemente e os textos dos livros sa-
grados apontam-no.
Entretanto, encontrei um texto dos Sábios no Bereshit Rabá7
que, numa primeira abordagem, parece dar a entender que exis-
tem alguns preceitos cuja razão é o mandamento em si, sem ne-
nhuma intenção de outra finalidade nem de qualquer utilidade
real. É o que eles dizem: “O que importa ao Santíssimo se alguém
degola um animal pelo pescoço ou pela nuca? Daqui podes inferir
que os mandamentos foram dados somente para purificar os seres
humanos, conforme foi dito: “a palavra do Eterno é pura” (Salmos
18:31).” Mesmo que essas palavras sejam surpreendentes, e não
haja nada que se assemelhe a elas nos escritos dos Sábios, eu as
interpretarei, como ouvirás, de forma que remanesço de acordo
5 Ver Números 19.
6 O Prof. Schwartz, na nota 19, indica TB San’hedrin 21b; Maimônides, Sefer Hamitsvot, Ló Taase 365.
7 Ver Bereshit Rabá 44:1.
com o princípio que aceitamos, ou seja, de que todos os manda-
mentos têm na realidade uma finalidade útil, na linha de “Porque
isto não é para vós coisa vã” (Deuteronômio 32:47) e “não falei
aos descendentes de Jacob ‘Procurai-Me’ em vão; Eu sou o Eter-
no, que fala com integridade, que declara as coisas verdadeiras”
(Isaías 45:19).
Todo ser humano cuja razão é saudável deve crer8 a respei-
to desse assunto o que te direi: Todos os mandamentos possuem
necessariamente uma razão e foram ordenados para alguma uti-
lidade. Porém, sobre os detalhes deles foi dito que foram dados
somente por causa dos mandamentos em si. Por exemplo, abater
animais pela necessidade de uma boa alimentação é de evidente
utilidade, como ainda exporemos, mas então que sejam degolados
pela parte superior do pescoço, e não pela de baixo,9 e que o corte
do esôfago e da garganta seja num ponto específico. Estes detalhes
e outros semelhantes não têm outra finalidade senão “purificar os
seres humanos”. Assim, o exemplo “se alguém degola um animal
pelo pescoço ou pela nuca” utilizado acima ficará claro a ti – e o
mencionei apenas porque ele foi dito pelos Sábios –, mas quan-
do verificamos o assunto verdadeiramente percebemos que, como
existia a necessidade de se alimentar de carne animal, foi imposto
um tipo de abate específico junto com uma maior facilidade de
consumo. Portanto, embora fosse possível degolar um animal com
qualquer tipo de espada ou instrumento semelhante, para realiza-
ção da shechitá (abate judaico) foi exigido um tipo de instrumento
muito afiado, de modo a ocasionar mais facilmente a morte do
animal.
Um exemplo mais preciso da essência verdadeira do tema dos
detalhes é encontrado no assunto dos sacrifícios. O preceito de
oferecer sacrifícios possui utilidade relevante e manifesta, como
te exporei,10 porém, que seja um cordeiro ou um carneiro e que a
quantidade deles seja um número específico – a isto jamais se dará
8 O Rab. Kapach diz “pensar”.
9 O Prof. Schwartz indica Mishná Chulin 2.
10 Parte 2:46.
uma razão. Na minha opinião, qualquer pessoa que se empenhar
em dar razões para algum destes detalhes estará imaginando ex-
tensas e distantes ilusões que não eliminarão o absurdo, e sim os
aumentarão. Quem imagina que seja possível dar razões a esses
detalhes encontra-se distante da verdade, como aqueles que ima-
ginam, de forma geral, que os preceitos não possuem uma utilida-
de real.
Saibas que a sabedoria Divina quis – e se quiseres, digas que a
necessidade exigiu – que existissem detalhes sobre os quais não se
pudesse indicar a razão. Em relação à Torá, é impossível que não
existissem coisas deste tipo, pois se perguntares “Por que se deve
oferecer um cordeiro e não um carneiro?”, no final das contas é
preciso que o sacrifício seja de alguma espécie. E se perguntares
“Por que ‘sete cordeiros’ (Números 28:27) e não oito?”, poderia se
interrogar igualmente se fosse dito “oito”, “dez” ou “vinte”, uma vez
que é necessário que seja algum número. De alguma forma, isto se
assemelha à natureza das coisas possíveis, em que necessariamen-
te deve-se realizar uma das possibilidades, e não se questiona por
que esta possibilidade e não a outra, pois a mesma questão seria
levantada se a outra possibilidade tivesse sido realizada ao invés
desta. Saibas este assunto e entenda-o.
Neste assunto, o que os Sábios disseram que todos os manda-
mentos possuem uma razão e que estas ficaram claras a Salomão é
sobre a utilidade que tal preceito possui de forma geral, sem aden-
trar em seus detalhes.
Por ser assim, pareceu-me certo dividir os 613 mandamentos
em vários grupos, sendo que cada grupo contém um certo núme-
ro de mandamentos que são da mesma espécie – ou, pelo menos,
análogos entre si –, e te farei conhecer a razão de cada um dos gru-
pos e te mostrarei a utilidade que é indubitável e indiscutível. Em
seguida, retornarei a cada um dos mandamentos incluídos naque-
le grupo e, um por um, esclarecer-te-ei a sua razão, de modo que
restarão somente poucos mandamentos cujo motivo ainda não se
esclareceu para mim até agora. Assim também ficaram esclarecidos
para mim alguns detalhes dos mandamentos e as condições de al-
guns deles cuja razão pode ser entendida. Tu ouvirás tudo isso mais
adiante. Porém, não poderei explicitar a ti todas essas causas sem a
introdução de preliminares úteis e preparatórias a este assunto que
me propus, que são os capítulos que iniciarei agora.

O objetivo geral da Torá é o


aperfeiçoamento da alma e do corpo

Os objetivos de toda a Torá são dois: o bem-estar da alma e do


corpo. A promoção do bem-estar da alma se dá através de ideias
corretas que são adquiridas pelos seres humanos de acordo com
suas respectivas capacidades.11 Portanto, parte delas é expressa
nas Escrituras explicitamente, e parte, mediante alegorias, uma
vez que não é da natureza dos seres humanos simples a capaci-
dade de compreender suficientemente este assunto como ele real-
mente é. O bem-estar do corpo é obtido por meio da melhora da
convivência humana, uns com os outros, e isto pode ser alcançado
de duas maneiras: a primeira, por meio da eliminação da violência
recíproca entre os seres humanos, de modo que não seja permi-
tido que cada um faça o que bem quiser daquilo que pode fazer,
e sim, que seja forçado a fazer o que é útil para todos; a segunda,
proporcionar que cada indivíduo possa adquirir virtudes morais
úteis à vida social, para que os interesses da sociedade estejam
bem ajustados.12
Saibas que, dentre esses dois objetivos, o mais importante é,
sem dúvida, o primeiro – o bem-estar da alma, ou seja, a aquisição
de ideias corretas. O segundo – o bem-estar do corpo – precede
o primeiro na natureza e no tempo e consiste na boa governança
da sociedade e na melhoria das condições dos habitantes, na medi-
da do possível. O segundo é mais enfatizado na Torá e foi exposto
11 Munk diz "faculdades".
12 O Prof. Schwartz diz "em harmonia".
com extrema precisão e detalhadamente, pois o primeiro só pode
ser atingido depois do segundo, uma vez que já foi demonstrado e
provado que o ser humano possui duas perfeições: a primeira é a
perfeição do corpo, e a segunda, a perfeição da alma. A primeira
consiste em que ele seja saudável no aspecto de suas condições
corporais, e isto só é possível se ele encontrar tudo o que necessi-
ta – sua alimentação e tudo que é necessário para o regime de seu
corpo, como moradia, higiene etc. Sozinho e absolutamente iso-
lado, o ser humano não poderá alcançar isto; ele somente e possi-
velmente o alcançará por meio da reunião social, porque, como é
sabido, o ser humano é um ser social por natureza.
Sua última13 perfeição é que ele se torne um ser racional em
ato, ou seja, que possua o intelecto em ato de tal modo que saiba
tudo que está no potencial do ser humano saber em relação a to-
das as coisas existentes, de acordo com sua última perfeição. Está
claro que, nesta última perfeição, não há atos ou virtudes, mas
somente ideias que foram alcançadas pela investigação e que são
resultado da reflexão. É evidente que só é possível atingir esta úl-
tima e sublime perfeição após ter alcançado a primeira, pois o ser
humano não pode captar ideias, mesmo quando explicadas a ele
e muito menos se despertar a elas sozinho enquanto estiver ator-
mentado e com dor, fome, sede, calor ou frio. Portanto, somente
depois de ter alcançado a primeira perfeição poderá alcançar a úl-
tima, que é indubitavelmente a mais nobre, e somente ela é a causa
da existência eterna do ser humano.14
Portanto, a Torá verdadeira – que, conforme explicamos,
é única e não há outra, e é a Torá de Moisés – vem somente nos
ensinar juntamente essas duas perfeições. Por um lado, ela rege
as relações mútuas entre os seres humanos, fazendo cessar a vio-
lência entre eles, e refina as virtudes boas e nobres, para que as
pessoas possam perpetuar sua existência e convivência, de modo
que cada um alcance a primeira perfeição e, por outro lado, pro-
13 "Segunda", de acordo com Munk.
14 O Rab. Kapach indica o comentário de Maimônides sobre San’hedrin 10:1. Mishnê Torá, Hilchót Iessodê
Hatorá 4:9 e Hilchót Teshuvá 8:3.
move a melhoria das crenças e das ideias saudáveis pelas quais é
possível se alcançar a última perfeição.
A Torá fala explicitamente sobre estas duas perfeições e nos
anuncia que a finalidade de toda a Torá é o alcance das mesmas,
como em “E o Eterno ordenou-nos observar todos estes estatutos,
e que temêssemos ao Eterno, nosso Deus, para que seja bem para
nós todos os dias, e para deixar-nos viver, como até hoje” (Deutero-
nômio 6:24). Esta passagem faz referência primeiramente à última
perfeição, de acordo com a sua importância, conforme esclarece-
mos, que esta é a finalidade última. Tu conheces o que os Sábios
disseram ao interpretarem as palavras das Escrituras “a fim de que
te seja bem15 e prolongues os teus dias” (ibid. 22:7). Eles disseram:
“Para que sejas feliz num mundo de felicidade completa e alcances
a longevidade num mundo de duração eterna.” Assim também, a
passagem “para que seja bem para vós todos os dias” (ibid. 6:24)16 se
refere ao mesmo assunto, ou seja, que alcancemos um mundo pleno
de bem e perdurável, que é a existência eterna, e “para deixar-nos
viver, como até hoje” (ibid.) se refere à existência corporal primeira,
que se prolonga um certo tempo e cuja ordem acontece somente
por meio da cooperação social, conforme expusemos.

Os mandamentos possuem uma razão

Uma das coisas que tu deves prestar atenção é que a Torá


mencionou a finalidade das ideias corretas pelas quais se alcan-
ça a última perfeição e nos convocou a acreditar nelas de forma
geral. As ideias corretas são: a existência de Deus, Sua unidade,
Sua Onisciência, Sua onipotência, Sua vontade e Sua eternidade.
Todas estas ideias são finalidades últimas esclarecidas em seus de-
talhes e exatidão somente depois da assimilação de outras ideias.
A Torá também nos conclama a certas crenças cuja aceitação é ne-
cessária para o ordenamento das condições sociais – por exemplo,
15 De acordo com Munk, "feliz".
16 Em hebraico, letov lánu col haiamim, que Munk traduz como "para que tenhas longevidade".
que acreditemos que Ele ficará irado com quem O desobedecer
e, portanto, deve-se temê-Lo, reverenciá-Lo e tomar cuidado em
não pecar.
As outras ideias corretas em relação a tudo que existe são os vá-
rios tipos de ciências pelo meio das quais sabemos que essas ideias
estão corretas e são a finalidade última. E mesmo que a Torá não
clame a elas expressamente, como no caso das primeiras ideias men-
cionadas, ela as aponta de uma forma geral, como em “... de amar
ao Eterno” (ibid. 11:13). Tu sabes a ênfase expressa no mandamento
referente a amar, como em “com todo o teu coração, com toda a tua
alma e com todas as tuas posses” (ibid. 6:5), pois já explicamos no
Mishnê Torá17 que este amor não pode ser realizado senão mediante
um profundo conhecimento de toda a existência e o reconhecimen-
to da sabedoria Divina que nela se manifesta, e mencionamos tam-
bém como os Sábios chamam a atenção sobre este assunto.
O resultado de tudo que introduzimos até agora sobre este as-
sunto é que o objetivo de todo preceito – seja um mandamento18 ou
uma proibição – é fazer cessar a violência recíproca,19 ensinar uma
boa virtude que conduz a boas relações sociais ou oferecer uma
ideia verdadeira na qual se deve acreditar – seja pelo assunto em
si, seja por ser necessário para afastar a violência e fazer adquirir as
boas virtudes morais. Logo, tal mandamento possui uma razão evi-
dente e uma utilidade manifesta, e sobre tais mandamentos não há
lugar para se questionar o seu objetivo, pois jamais ninguém esteve
perplexo, nem mesmo por um dia, para descobrir a razão pela qual
fomos ordenados a acreditar que Deus é um, por que nos foi proibi-
do matar ou roubar, por que nos foi proibida a vingança ou a reta-
liação20 ou por que fomos ordenados a amar uns aos outros. O que
causou perplexidade às pessoas – provocando que as opiniões di-
vergissem tanto, a ponto de alguns dizerem que não existe qualquer
utilidade nos mandamentos além dos mandamentos em si, e outros
17 Mishnê Torá, Sefer Hamadá, Hilchót Iessodê Hatorá 2:2.
18 Às vezes, a palavra mandamento será empregada como sinônimo de "preceito" ou "ordem", e às vezes
como preceito afirmativo, ou seja, uma das 248 mitsvot asse (mandamentos positivos ou ativos) da Torá.
19 Pode-se traduzir também como "exploração".
20 Em hebraico, nicmat dam – Prof. Schwartz.
dizerem que existe uma utilidade, mas que ela está oculta a nós –
são os preceitos que no seu sentido literal não parecem beneficiar a
nenhum dos três assuntos que mencionamos – não ensinam ideia
alguma, não fazem adquirir boas virtudes e não eliminam a vio-
lência. Aparentemente, estes preceitos não influenciam o bem-estar
da alma, ensinando as crenças, nem o bem-estar do corpo, por não
ditarem normas úteis ao governo do país ou ao direcionamento da
casa – por exemplo, como os preceitos que proíbem a mistura de
materiais heterogêneos, como lã e linho (shaatnez) e sementes agrí-
colas (kiláyim),21 e cozinhar carne com leite, e os mandamentos de
cobrir o sangue,22 quebrar a nuca da bezerra,23 resgatar o primogê-
nito do jumento24 e outros semelhantes. Tu escutarás a minha ex-
plicação sobre todos eles, suas verdadeiras razões, sustentadas por
demonstrações, com exceção de alguns detalhes e de alguns poucos
preceitos, como te mencionei. Vou te esclarecer que todos esses pre-
ceitos e semelhantes possuem necessariamente alguma relação com
um dos três princípios mencionados –melhoria da crença verdadei-
ra, melhoria da condição da sociedade mediante duas coisas: o fim
da violência recíproca e a instauração de boas virtudes morais.
Entendas o que dissemos em relação ao assunto das crenças.
Pode ser que a intenção do preceito seja somente trazer uma crença
verdadeira – como a crença na unidade, na eternidade e na incor-
poreidade de Deus –, e pode ser que a crença seja necessária apenas
para fazer cessar a violência recíproca ou para que se adquira boas
virtudes – como a crenças de que Deus tem muita ira de quem co-
mete violência, como em “E a Minha ira se acenderá e vos matarei”
(Êxodo 22:23), e de que Ele responde imediatamente ao grito do
oprimido ou do usurpado, como em “e quando clamar a Mim, Eu o
escutarei, porque Eu sou misericordioso” (ibid. 22:26).

21 De modo geral, kiláyim é a proibição de plantar ou enxertar dois tipos de plantas ou sementes; envolve
também o cruzamento (hibridação) e utilização de animais de espécies diferentes conjuntamente. Sefer
Hamitsvot, Ló Taase 193, 215, 216, 217, 218 e outros. Ver Prof. Schwartz, nota 12.
22 De aves e animais, após o abate dos mesmos. Levítico 17:13; Mishná Chulin 6; Sefer Hamitsvot, Asse
147, e outros. Ver Prof. Schwartz, nota 14.
23 Deuteronômio 21:1-9; Mishná Sotá 9; Maimônides, Sefer Hamitsvot, Asse 181 e outros. Ver Prof. Sch-
wartz, nota 15.
24 Êxodo 13:13.

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