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Apostila SPSH PDF
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necessidades e anseios, para poder exercer, em sua atividade profissional, a defesa e a promoção da cidadania
a todos, sem distinção de gênero, orientação sexual, cor, classe social, religião ou etnia. Atuando, dessa forma,
como um agente que promove os Direitos Humanos e protege a sociedade em toda sua diversidade.
Este curso reúne diversas informações e reflexões destinadas à articulação e ao desenvolvimento de
estratégias visando ao enfrentamento da discriminação e da violência contra a comunidade LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais), promovendo o respeito à diversidade, pautado nos princípios dos direitos
humanos.
Nota
Todos os cursos da REDE EAD SENASP seguem os princípios éticos, educacionais e pedagógicos
expressos na Matriz Curricular Nacional, prezando, assim, a promoção dos Direitos Humanos, a proteção de
pessoas em situação de vulnerabilidade, e a compatibilidade entre esses e a eficiência policial. Sendo assim, em
seus cursos, busca-se utilizar o termo “enfrentamento” ao invés de “combate”, uma vez que o primeiro, apoiado
na psicologia, diz respeito a estratégias que mobilizam os esforços cognitivos, atitudinais e
procedimentais frente a situações de danos, riscos, ameaças e desafios e que exigem respostas que não estejam
presentes na rotina e nem em procedimentos padrões, estando assim, mais adequado ao papel do profissional
de segurança pública no âmbito de um Estado Democrático de Direito. Contudo, neste curso, em muitos
momentos é utilizado o termo combate, pois o mesmo encontra-se alinhado aos documentos e políticas sobre
o tema.
Objetivo do curso
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• Proteger e abordar integrantes da comunidade LGBT, em conformidade com os princípios dos direitos
humanos; e
• Prestar o socorro às vítimas de comportamentos homolesbotransfóbicos, levando em consideração os
cuidados que cada caso exige.
Estrutura do curso
3
MÓDULO
CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
1
Apresentação do módulo
Objetivo do módulo
Estrutura do Módulo
Nesta aula você terá oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre a homossexualidade e sobre
outros conceitos relacionados à temática.
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1.1 Homossexualidade
Para que possa entender a homossexualidade, é necessário conhecer primeiramente outros conceitos.
Veja-os nas próximas telas.
1.1.1 Gênero
Para as ciências sociais e humanas, o conceito de gênero se refere à construção
social do sexo anatômico. Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da
dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie
humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela
cultura. Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade
social e não decorrência da anatomia de seus corpos. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA
ESCOLA: FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009, p .39).
Desse modo, perceba que o conceito de gênero foi construído para evidenciar que o sexo anatômico
não é o elemento definidor das condutas da espécie humana. Os diversos padrões culturais estão associados
a corpos que se distinguem por seu aparato genital e que, através do contato sexual, podem gerar outros seres:
isto é a reprodução humana. Observe como se entrelaçam o sexo, a sexualidade (aqui a heterossexual) e o
gênero.
Importante!
É necessário observar que, essas dimensões se cruzam, mas uma dimensão não decorre da outra!
Ter um corpo feminino não significa que a mulher deseje realizar-se como mãe. Corpos designados
como masculinos podem expressar gestos tidos como femininos em determinado contexto social, e podem
também ter contatos sexuais com outros corpos sinalizando uma sexualidade que contraria a expectativa
dominante de que o “normal” é o encontro sexual entre homem e mulher. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA:
FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009.)
Assim, orientação sexual refere-se ao sexo das pessoas que elegemos como objetos de desejo e afeto.
Atualmente, são preponderantes três tipos de orientação sexual:
Heterossexualidade: Atração afetiva, sexual e erótica por pessoas de outro gênero.
Homossexualidade: Atração afetiva, sexual e erótica por pessoas do mesmo gênero.
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Bissexualidade: Atração afetiva, sexual e erótica tanto por pessoas do mesmo gênero quanto pelo
gênero oposto.
Importante!
Vale lembrar que, o termo “orientação sexual” contrapõe-se a uma determinada noção de “opção
sexual”, entendida como escolha deliberada e supostamente realizada de maneira autônoma pelo
indivíduo, independente do contexto social em que se dá. Nossas maneiras de ser, agir, pensar e sentir
refletem de modo sutil, complexo e profundo, os contextos de nossa experiência social. Assim, a
definição dos nossos objetos de desejo não pode resultar em uma simples opção efetuada de maneira
mecânica, linear e voluntariosa. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA: FORMAÇÃO DE
PROFESSORAS/ES, 2009).
O psiquiatra norte-americano Robert Stoller, desde a década de sessenta, desenvolve estudos sobre
masculinidade, feminilidade e a questão da identidade de gênero, criando um ponto de partida para o estudo
mais sistemático do travestismo. Esse é um dos fenômenos da não conformidade com as exigências sociais de
“coerência” entre o sexo anatômico, a indumentária e o gestual supostamente referente ao sexo oposto. As
travestis elaboram identidades que não devem ser entendidas como “cópias de mulheres”, mas como uma
forma alternativa de identidades de gênero.
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Como você estudou anteriormente, a orientação sexual (homo, hetero ou bissexual) não é uma escolha
livre e voluntária; porém, “assumir-se” como lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual, seja perante amigos
e familiares, seja em contextos mais públicos, representa, em contrapartida, uma afirmação de pertencimento
e uma tomada de posição crítica diante das normas sociais. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA: FORMAÇÃO
DE PROFESSORAS/ES, 2009.).
1.1.5 Homossexual
A palavra homossexual deriva de duas raízes:
Do grego = “hómos” ou mesmo, e do latim “sexualis”= sexo.
O termo homossexual foi inicialmente cunhado e utilizado no campo médico psiquiátrico. Assim,
aqueles e aquelas que manifestavam desejos que contrariavam os comportamentos heterossexuais, além de
condenados por várias religiões, foram enquadrados/as no campo patológico e estudados/as pela medicina
psiquiátrica que buscava a cura para aquele mal.
Foi necessária a contribuição de outros campos do conhecimento para romper com a ideia de
“homossexualismo” como doença e construir os conceitos de homossexualidade e de orientação sexual,
incluindo a sexualidade como constitutiva da identidade de todas as pessoas. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA
ESCOLA: FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009.)
Após estudar todos esses conceitos, finalmente, pode-se compreender a homossexualidade como a:
Atração sexual por pessoas do mesmo gênero e relacionamento afetivo-sexual com elas. (GÊNERO E
DIVERSIDADE NA ESCOLA: FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009.).
Homossexualismo X Homossexualidade
É correto usar a palavra “homossexualidade”, e não “homossexualismo”, dado que o sufixo “ismo”
denota doença. A Organização Mundial da Saúde deliberou em 1990, que “a homossexualidade não constitui
doença, nem distúrbio e nem perversão”.
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Importante!
Sexualidade e gênero são dimensões diferentes que integram a identidade pessoal de cada indivíduo.
Ambos surgem, são afetados e se transformam conforme os valores sociais vigentes em uma dada
época. São partes, assim, da cultura, construídas em determinado período histórico, ajudando a
organizar a vida individual e coletiva das pessoas. Em síntese, é a cultura que constrói o gênero,
simbolizando as atividades como masculinas e femininas. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA:
FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009.).
Saiba Mais...
Uma dificuldade constrangedora enfrentada pelas pessoas transexuais e travestis é o fato de terem um
nome de registro que não combina com a sua identidade de gênero. Por exemplo, o nome de registro de uma
travesti é João da Silva, mas ela se chama e é conhecida como Joana da Silva. Em situações em que a pessoa é
obrigada a se identificar formalmente, o policial deve evitar o constrangimento, chamando a pessoa pelo nome
escolhido por ela, e tomando nota discretamente do seu nome de registro. É comum esse constrangimento
acontecer em serviços de saúde, quando se chama a pessoa travesti ou transexual pelo nome de registro na
frente de muitas pessoas na fila de espera.
Tramita, atualmente (2015), no Congresso Nacional, o Projeto de Lei nº 5002/2013, que dispõe sobre o
direito à identidade de gênero e altera o artigo nº 58, da Lei 6.015, de 1973. No campo da saúde pública,
principalmente em relação à AIDS, utiliza-se o termo “homens que fazem sexo com homens (HSH)”, para se
referir a homens que mantêm relações sexuais com outros homens, independentemente de sua orientação
sexual ou identidade de gênero. O termo se refere à prática sexual e não à identidade. Da mesma forma, em
relação a mulheres nessa situação, utiliza-se o termo “mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM)”.
Importante!
Em hipótese alguma o profissional de Segurança Pública deve utilizar termos preconceituosos ou
depreciativos para se referir ou se dirigir a LGBT, como: bicha, boiola, sapatão, traveco e assim por
diante.
As impressões pessoais dos profissionais de Segurança Pública sobre esse grupo não devem entrar no
mérito do atendimento. O respeito à diversidade e à pluralidade sexual é essencial para um
atendimento efetivo e de qualidade.
Os estudos dos aspectos históricos sobre homossexualidade irão ajudá-lo a entender e contextualizar as
atitudes predominantes na sociedade brasileira, relativas à homossexualidade.
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Procure utilizar esses conhecimentos para, eventualmente, reconsiderar valores próprios e também para
fundamentar uma atuação como profissional da área de segurança pública caracterizada pelo respeito à
comunidade LGBT.
2.1 Histórico
Pode-se dizer que a cultura predominante no Brasil, excetuando-se os povos indígenas, é uma cultura
“ocidental”.
Os valores e os costumes prevalentes atualmente derivam de uma construção milenar, vinda desde as
sociedades da antiguidade, com os povos da região da Palestina, os gregos e os romanos, consolidando-se na
Europa da Idade Média e estabelecendo-se também nas Américas com a colonização por europeus a partir do
século XVI. As atitudes em relação à homossexualidade no Brasil, hoje, refletem a forma como a
homossexualidade tem sido vista durante todo esse período.
Grécia e Roma Antiga: Historicamente, houve culturas, como na Grécia e na Roma antiga (há mais de
2000 anos), em que os relacionamentos homossexuais eram permitidos sob regras sociais rigorosas. Os gregos
da antiguidade permitiam relações homossexuais entre homens mais velhos e adolescentes, que eram vistas,
em parte, como uma forma de transmissão de sabedoria dos mais velhos para os mais novos.
Relacionamentos homossexuais afetivos entre homens também eram comuns entre soldados em regiões da
Grécia, como Sparta e Tebas.
A homossexualidade feminina também existia de forma aberta na Grécia, como no caso da poetisa
Safo (610-580 a.C.) − cuja obra fala de amor entre mulheres − que vivia na Ilha de Lesbos, onde existia uma forte
cultura de convivência entre mulheres. Essa é a origem da palavra “lésbica”.
Entre os romanos da antiguidade, a homossexualidade não era reprovada, mas também existiam
regras.
Europa na Idade Média: Na Europa, na medida em que as sociedades clássicas – principalmente a
grega e a romana – entraram em declínio e perderam seus impérios e o poder político e econômico, as suas
culturas de aceitação da homossexualidade também se perderam no tempo.
No decorrer dos séculos construíram-se, gradativamente, culturas de reprovação e também uma
concepção cristã da homossexualidade como sendo pecado.
Em determinados momentos na história, vários países europeus passaram a criminalizar atos
homossexuais. Um exemplo importante disso foi a sanção na Inglaterra, em 1533, da lei da Sodomia (“Buggery
Statute”), que determinou como crime: as relações sexuais entre homens; entre um homem e um animal e entre
uma mulher e um animal (a lei foi omissa em relação ao sexo entre mulheres), tendo como pena o enforcamento.
A lei vigorou até 1861, quando a pena passou a ser a prisão perpétua. A criminalização dos atos sexuais entre
homens só foi revogada em 1967, passados mais de 400 anos.
Colonização Europeia na América: A forma de legislação adotada pela Inglaterra se replicou na
maioria das colônias britânicas, inclusive na América do Norte e no Caribe (ex.: Jamaica, Trindade e Tobago).
Com o decorrer do tempo, as culturas de repressão à homossexualidade, em particular à
homossexualidade masculina, vigente nos principais países responsáveis pela colonização do Novo Mundo,
inclusive Portugal e Espanha, instalaram-se no Brasil junto com os colonizadores.
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2.1.1 A homossexualidade no Brasil
O Brasil já tinha seus habitantes indígenas muito antes da chegada dos europeus e a prática
homossexual já existia no Brasil entre alguns povos indígenas como nos informa Luiz Mott (2007), ao tratar
dos encontros dos cronistas coloniais com os indígenas.
É incorreta a suposição de que índios (...) ostentassem (...) uma conduta sexual
homogênea. O correto é falarmos de "sexualidades indígenas” (...) posto coexistirem,
lado a lado na Ameríndia (...) centenas e centenas de padrões sexuais completamente
diversos e às vezes antagônicos. Em comum, podemos detectar duas
macrotendências: a enorme diversidade estrutural dessas sexualidades e uma menor
rigidez repressiva... Não só os Tupinambás, como diversas outras tribos nas três
Américas, abrigavam em suas aldeias grande número de "invertidos sexuais" de
ambos os sexos, chamando aos homossexuais masculinos de "tibira" e às lésbicas
de "çacoaimbeguira". (MOTT, 2007a)
No Brasil, com o fim da Inquisição e por influência do Código de Napoleão, a "pederastia*" deixou de
ser um pecado passível de penalização, passando a ser tratada como doença a partir de 1824. (MOTT, 2007b).
*Era outro termo utilizado para se referir aos homossexuais masculinos. Pederastia: “Sodomia entre
homens”. (DICIONÁRIO MICHAELIS, 1998)
Nota
A cultura do colonizador em relação à homossexualidade foi fortemente repressora, inclusive com a
punição dos “sodomitas” pela Inquisição portuguesa.
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(conjugal e extraconjugal) para começar a ser tratado como problema clínico e de
saúde. Ou seja, passou a ser estudado e investigado num contexto médico-científico
preocupado em classificar todos os casos de patologia física e psíquica, em estudar
as doenças venéreas, os desvios e as anomalias, tanto com finalidade higiênica ou
profilática quanto com a finalidade de normalização de condutas tidas como
desviantes ou anormais. (CHAUÍ, 1991, p.16)
Em 1869, o médico húngaro Karóly Benkert* escreveu uma carta ao Ministério da Justiça da Alemanha
condenando o novo código penal que, em seu artigo 175, determinou que os atos sexuais entre homens fossem
considerados delitos. Foi nessa carta, também, que Benkert utilizou pela primeira vez o termo homossexual.
* Karl-Maria Kertbeny (Nome alemão de Karóly Benkert) ou Károly Mária Kertbeny (em húngaro), 1824 – 1882,
austro-húngaro nascido na cidade de Viena (onde recebeu o nome de Karl-Maria Benkert, originalmente, mas que mais
tarde foi modificado para Kertbeny), filho de um pai escritor e pintor, foi jornalista, tradutor, escritor, biógrafo e militante
dos Direitos Humanos. Ele introduziu nova terminologia sobre a homossexualidade no mundo, tendo sido o inventor do
termo homossexual (bem como heterossexual, entre outros menos pertinentes na atualidade).
Fonte: http://karl-maria-ketbeny.blogspot.com.br/2006/03/origem-da-palavra-homossexual.html.
Em 1897, surge na Alemanha o Comitê Científico Humanitário, o primeiro grupo dedicado à defesa
dos direitos de homossexuais, que visava, sobretudo, à revogação do artigo 175. Um dos fundadores do Comitê
foi Magnus Hirschfeld.
De 1933 a 1946, o movimento homossexual na Europa foi desmobilizado pelo regime nazista e pela
2ª Guerra Mundial. Durante o Holocausto, “dezenas de milhares” de homossexuais foram mortos nos campos
de concentração (HEGER, 1989, p.8.).
Na Europa Central, a partir de 1850 até 1933, iniciou-se um movimento de luta contra a repressão
dos atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo. O movimento se organizou mais e fez intervenções públicas
na Alemanha, onde foi liderado por Karl Heinrich Ulrichs* (1825-1895).
* Karl Heinrich Ulrichs nasceu em Aurich, então parte do Reino de Hanôver, no noroeste da Alemanha. Ulrichs,
homossexual assumido, publicou uma série de 12 panfletos sobre homossexualidade e foi considerado o primeiro ativista
gay da era moderna.
No Brasil, o movimento homossexual começou a se organizar em 1978. Houve dois marcos importantes
nesse ano: a fundação do Somos – Grupo de Afirmação Homossexual, em São Paulo, e a publicação do jornal
Lampião da Esquina, no Rio de Janeiro.
Entretanto, logo no início dos anos 1980, o movimento sofreu um retrocesso devido a divergências
políticas e à epidemia da Aids, quando vários dos líderes do movimento homossexual se engajaram na luta
contra a Aids e passaram a atuar no Movimento Aids (TREVISAN, 1986).
O crescimento do movimento homossexual no Brasil foi retornado a partir da primeira metade da
década de 1990. Atualmente é um movimento bastante consolidado e na primeira década do século 21
conseguiu avanços consideráveis no combate à discriminação e na promoção da igualdade de direitos.
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Em 2003, o Parlamento Europeu, no seu relatório anual sobre direitos humanos na União Europeia, recomendou
que fosse permitido aos homossexuais, casarem-se legalmente e adotarem crianças.
Na América do Norte, também está havendo reconhecimento legal das uniões homoafetivas, além do
Canadá, no dia 26 de junho de 2015, os Estados Unidos legalizou o casamento entre pessoas do mesmo
sexo em todo o seu território.
Na Oceania, é permitido o registro de união civil na Nova Zelândia e parte da Austrália. Mas, por outro
lado, há países onde a prática homossexual é crime passível de detenção.
No Oriente Médio e em parte da África vigora a pena de prisão em nove destes países: Bangladesh,
Butão, Egito, Índia, Maldivas, Nepal, Nicarágua, Cingapura, Uganda e Zanzibar. Já outros nove países dessa
mesma região podem punir atos homossexuais com a pena de morte por apedrejamento, enforcamento ou
decapitação: Afeganistão, Irã, Mauritânia, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, Emirados Árabes Unidos e
Iêmen.
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3.1 Manifestações da homofobia
Apesar do reconhecimento da homossexualidade como mais uma manifestação da sexualidade, os
gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) ainda sofrem cotidianamente as consequências da
homofobia, que pode ser definida como: o medo, a aversão ou o ódio irracional aos LGBT.
Para que você possa entender a homofobia, deverá compreender primeiro o conceito de
heteronormatividade.
Termo que se refere aos ditados sociais que limitam os desejos sexuais, as condutas
e as identificações de gênero que são admitidos como normais ou aceitáveis àqueles
ajustados ao par binário masculino/feminino. Desse modo, toda a variação ou todo
o desvio do modelo heterossexual complementar macho/fêmea – ora através de
manifestações atribuídas à homossexualidade, ora à transgeneridade – é
marginalizada/o e perseguida/o como perigosa/o para a ordem social. (GÊNERO E
DIVERSIDADE NA ESCOLA: FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009).
Assim a heteronormatividade está na base da ordem social em que meninas e meninos são
criadas/os e educadas/os; está no controle a que todas as pessoas são sujeitas no que diz respeito à sua
identificação como homem ou como mulher. Enquanto as disposições coerentes em relação ao que é esperado
do gênero masculino e do feminino são estimuladas e celebradas em meninos/as e adolescentes, as expressões
divergentes desse padrão, assim como as amostras de afeto ou atração por pessoas do “mesmo sexo” são
corrigidas.
Essa ordem produz violência contra as/os jovens identificadas e identificados como gays, lésbicas,
travestis, transexuais e transgêneros, que são constantemente advertidas/os de que a sociedade não respeitará
suas “escolhas”. A reprodução da norma heterossexista funciona também a serviço da reprodução da
dominação masculina.
A masculinidade se constrói tanto em oposição à homossexualidade, quanto à feminilidade: os meninos
e os adolescentes são submetidos a um controle minucioso destinado a exorcizar qualquer sinal de atração por
outros meninos, assim como qualquer atitude classificada como feminina. (GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA:
FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, 2009).
Junqueira (2007, s.p) ao estudar o termo homofobia afirma:
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Para Junqueira (2007), o termo homofobia é geralmente empregado referindo-se a conjuntos de
emoções negativas (tais como aversão, desprezo, ódio, desconfiança, desconforto ou medo) em relação a
pessoas homossexuais ou assim identificadas. Tais sentimentos, por vezes, seriam a exposição do receio
(inconsciente e “doentio”) de a própria pessoa homofóbica ser homossexual (ou de que os outros pensem que
ela seja).
Assim, seriam indícios (ou “sintomas”) de homofobia o ato de se evitarem homossexuais e situações
associáveis ao universo homossexual, bem como a repulsa às relações afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo
sexo.
Essa repulsa, por sua vez, poderia se traduzir em um ódio generalizado (e, de novo, “patológico”) às
pessoas homossexuais ou vistas como homossexuais. No entanto, Junqueira (2007) diz que:
Importante!
É possível afirmar que, em que pese a origem clínico e medicalizante do termo homofobia, esse nada
tem haver com atitudes irracionais, inconscientes e patológicas. Há sim a intencionalidade e a
racionalidade da pessoa homolesbotransfobica, moldada em uma sociedade heteronormativa, em
reproduzir a discriminação e a repulsa à pessoa LGBT.
3.2 Homofobia
O Terceiro Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil (2005), que focaliza o período entre
2002 e 2005, elaborado a partir de informações coletadas pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade
de São Paulo (NEV-USP) e pela Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos (CTV) junto a organizações
governamentais e não governamentais nacionais e estrangeiras, informa que “o número de homossexuais
assassinados no país passou de 126 em 2002, para 125 em 2003 e 157 em 2004. Esse número recuou,
15
significativamente, para 78 em 2005, mas de fato, ainda há muitos estados que não dispõem de informações
consistentes sobre assassinatos de homossexuais”. (MESQUITA NETO, 2007, p. 16).
Há uma tendência crescente de especificar por meio de terminologia própria outras variantes do termo
homofobia direcionadas aos diferentes segmentos dessa população. Dessa forma, por analogia, pode-se utilizar
a palavra “lesbofobia” em relação às lésbicas e “transfobia” em relação às pessoas transexuais e travestis.
O Relatório Sobre Violência Homofóbica no Brasil da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República (2012) destaca que:
Em 2012, foram registradas pelo poder público 3.084 denúncias de 9.982 violações
relacionadas à população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em
setembro ocorreu o maior número de registros, 342 denúncias. Em relação a 2011
houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram
notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs,
envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. […] denota‐se a predominância de
71,38% de vítimas do sexo masculino, em relação aos 20,15% do sexo feminino. Essa
proporção pouco modificou‐se comparada a de 2011, quando 67,5% das vítimas
eram do sexo masculino e 26,4% do sexo feminino.
Com base em pesquisas do Mapa da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ipea e do
GGB, o Brasil Post fez um ranking dos estados mais perigosos para ser uma mulher, um negro ou um
homossexual. Confira o resultado nas listas com os números absolutos discriminados a seguir:
1º Roraima – 6,35
2º Mato Grosso- 4,71
3º Rio Grande do Norte – 4,45
4º Paraíba – 4,34
5º Alagoas – 3,94
6º Pernambuco – 3,69
7º Amazonas – 3,43
8º Piauí – 3,34
9º Rondônia – 2,89
10º Sergipe -2,72
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Saiba Mais...
Nem toda manifestação de homofobia se dá de maneira patológica, ao ponto de se caracterizar por
violência física ou assassinato. Segundo Breiner (2007), há pessoas que podem se sentir desconfortáveis em
relação à homossexualidade alheia, por uma variedade de fatores, sem que isso as leve a reagir com violência
ou com discriminação. Tendo em vista todo o contexto discriminatório no qual a população LGBT foi envolvida
historicamente, é possível afirmar que todos nós, de maneira geral, “aprendemos” a ser homofóbicos, em
diferentes níveis, por fazermos parte de uma cultura de não respeito às diferenças.
Importante!
A Portaria Interministerial, NR 02 de 2010, que trata sobre os Direitos Humanos dos operadores de
segurança pública, aborda sobre o direito à diversidade desses profissionais e repudia a homofobia
institucional em sua diretriz de NR 13: "Fortalecer e disseminar nas instituições a cultura de não
discriminação e de pleno respeito à liberdade de orientação sexual do profissional de segurança
pública, com ênfase no combate à homofobia.”
Uma mostra de que as diversas formas de homofobia permeiam a sociedade brasileira encontra-se nos
resultados da abrangente pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela Unesco no ano 2000, e
publicada em 2004 (ABRAMOVAY et al., 2004).
Essa pesquisa comprova, cientificamente, a dimensão da homofobia nas escolas brasileiras, entre os
adultos e entre os jovens que ainda estão em formação.
A pesquisa foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas, em 14 capitais brasileiras, onde foram
entrevistados 16.422 estudantes, 3.099 educadores e 4.532 pais e mães de estudantes. Os resultados da pesquisa
foram:
- 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual;
- 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual; e
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- 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da
homossexualidade na sala de aula.
Outras pesquisas, como as realizadas nas Paradas LGBT no Rio de Janeiro (2004), São Paulo (2005) e
Pernambuco (2006), revelaram que 56% dos LGBT entrevistados já sofreram agressão verbal e 19% agressão
física. Um total de 69% já sofreu discriminação por ser LGBT.
As travestis e (as/os) transexuais foram aquelas/es que mais sofreram violência física (72%), seguido (de
longe) dos gays (22%) e das lésbicas (9%). 32% dos gays, 32% das lésbicas e 26% das transexuais sofreram
discriminação no ambiente familiar. (CLAM, 2007)
Todos esses dados revelam o quanto a homolesbotransfobia (ou homo-lesbo-transfobia) ainda
permeia nossa sociedade, sendo responsável pelo preconceito e pela discriminação do LGBT, no local de
trabalho, na escola, no espaço religioso, na rua, no posto de saúde ou em qualquer outro lugar, e também na
falta de políticas públicas afirmativas que contemplem o LGBT. Goldman (2007) reitera as ideias de Blumfeld,
também denominando de “homofobia cultural” essa forma de discriminação contra LGBT.
Homo-lesbo-transfobia
A negação de direitos em razão da orientação sexual e da identidade de gênero recebe o nome de
homo-lesbo-transfobia, uma violência que transforma características da diversidade sexual em motivo para
desigualdades, vulnerabilidades, exclusões e riscos de toda ordem. (PNUD, 2014)
A maior parte da discriminação contra os homossexuais surge de uma combinação composta por medo
e moralismo, no qual os homossexuais são tidos como ameaças para o universo moral. A violência antigay ainda
é aceita, porque os líderes políticos falam contra a discriminação racial e religiosa, mas ignoram a violência
contra os gays e as lésbicas. (GOLDMAN, 2007)
Infelizmente, os valores homofóbicos presentes em nossa cultura podem resultar em um fenômeno
chamado homofobia internalizada, através da qual os próprios LGBT podem não gostar de si pelo fato de
serem homossexuais, devido a toda a carga negativa que aprenderam e assimilaram a respeito.
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assumir como homossexual, preferindo o afastamento social ou a ocultação da própria orientação sexual à
temida rejeição, podendo surgir comportamentos e sentimentos associados com a homofobia internalizada,
conforme descrita anteriormente.
Importante!
É muito provável que os profissionais de segurança publica responsáveis pelo policiamento das vias
públicas, pela apurações de infrações penais e pela manutenção da ordem publica, encontrem, no
decorrer de suas atividades, travestis, transexuais e garotos que fazem programas sexuais, nos pontos
da cidade onde ficam à espera de clientes. Caso alguma intervenção policial seja necessária nessa
situação, é exatamente nesse momento que é preciso levar em consideração tudo o que foi estudado
neste curso sobre os processos de exclusão social e discriminação.
Se a pessoa age de forma agressiva, no sentido de querer chocar ou ser “escandalosa”, isto é uma
reação a toda a agressão que aquela pessoa sofreu durante esse processo de exclusão.
Você, como profissional de Segurança Pública, precisa demonstrar firmeza e agir com respeito, mesmo
quando se sentir desrespeitado. A sua intervenção será mais efetiva se prevalecer o respeito, do que
partir para a violência.
Finalizando...
19
• Blumfeld (1992) se aprofunda na análise da homofobia, definindo quatro formas que vão desde o
nível individual até chegar ao nível cultural.
• É dentro da própria família que, muitas vezes, pessoas LGBT vivenciam a sua primeira experiência com
a homofobia, na medida em que sua orientação sexual e/ou identidade de gênero começam a se manifestar.
Exercícios
20
Gabarito
21
MÓDULO
A HOMOSSEXUALIDADE NO CONTEXTO
2 JURÍDICO: AMPARO LEGAL SOBRE O TEMA
Apresentação do módulo
Antes de iniciar este módulo, acesse o site da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais (ABGLT) (disponível em
http://abgltbrasil.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html) e veja os principais avanços dos direitos da
Comunidade LGBT, nos últimos anos.
Objetivo do módulo
Estrutura do Módulo
22
Aula 1 – Legislação Nacional
Nesta aula, você estudará a legislação relativa à comunidade LGBT, dentro do contexto jurídico
nacional e terá a oportunidade de relacionar os dispositivos constitucionais ao respeito à dignidade
dos integrantes da comunidade LGBT e ao combate e enfrentamento à homofobia.
Ao esclarecer os direitos e garantias fundamentais, o artigo 5º, da Constituição Brasileira de 1988, define
que:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e
propriedade”.
23
É importante destacar que, conforme os dizeres de Sarlet (2001), “a nossa Constituição é, acima de
tudo, a Constituição da pessoa humana por excelência”.
Conforme Vieira (2006) todos os indivíduos gozam de dignidade humana:
Importante!
A dignidade é o princípio supraconstitucional, isto é, válido e superior à própria Constituição, segundo
o qual todos os direitos para o exercício de uma vida plena, saudável e livre devem ser garantidos e
efetivados ao ser humano.
1.1.4 Igualdade
Ao esclarecer os direitos e garantias fundamentais, a Constituição Federal de 1988 dispõe, em seu artigo
5º, caput, sobre o princípio constitucional da igualdade, perante a lei, nos seguintes termos:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade [...]”
A igualdade descreve o equilíbrio de direitos e deveres entre os membros da sociedade,
independentemente de orientação sexual, identidade de gênero, faixa etária, classe social, etnia e outras
distinções. Em alguns casos, para que essa igualdade seja concretizada, é imprescindível que o Estado assegure
políticas específicas direcionadas a grupos mais vulnerabilizados da sociedade.
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Os LGBTs, ao longo da história, tiveram seus direitos desrespeitados. A violação desses direitos se torna
clara quando observado os altos índices de violências tanto físicas como morais direcionadas às pessoas que
integram a comunidade LGBT.
Para a efetiva redução dessas violações, são necessárias políticas públicas direcionadas a esses grupos,
para que com tratamento específico sejam igualados os direitos dos desiguais.
1.1.5 Liberdade
O direito à igualdade deve ser garantido sem discriminação de orientação sexual, reconhecendo não
apenas a igualdade, mas também a liberdade de todas as pessoas viverem plenamente sua sexualidade.
A liberdade está intimamente ligada ao direito à autonomia e à espontaneidade de expressão de
uma pessoa. Prevê a livre expressão, movimentação, atividade política e organização dos cidadãos. Orienta o
cidadão a se expressar e a atuar politicamente em defesa de valores democráticos e dos direitos humanos, a
contestar e atuar politicamente contra situações de desigualdades sociais, políticas, jurídicas e econômicas.
O direito à expressão, que você estudará a seguir, está abordando claramente essa ideia.
Expressão do afeto
Pode ser observado na Parada do Orgulho LGBT, que acontece todo ano, demonstrações de afeto e
alegria numa manifestação pacífica para garantir a visibilidade desse grupo formado por brasileiras e brasileiros
que lutam para garantir a efetivação de seus direitos.
Ao ver duas pessoas do mesmo sexo demonstrando afeto nas vias públicas, elas estão somente, como
qualquer outra pessoa, expressando o carinho que sentem uma pela outra. O beijo, o abraço ou andar de mãos
dadas não são formas de ofensa a quem quer que seja, mas sim, formas de afeto entre duas pessoas,
independentemente do sexo, da identidade de gênero ou orientação sexual de cada uma delas.
“Se a Constituição Federal consagra a igualdade e veda a discriminação, a orientação sexual nunca pode
então ser motivo de preconceito”, afirma a Procuradora Regional dos Direitos do Cidadão, Adriana Fernandes,
num dos debates organizados pelo Movimento Gay, no dia 13 de julho de 2007, no Ministério Público Federal
em São Paulo/SP.
25
1.2 Legislação
Todas as leis se encontram subordinadas e ligadas diretamente à Constituição, devendo ser guiadas
pelos seus princípios e suas normas.
Algumas leis específicas abrangem todo território nacional e tratam de alguma forma do
reconhecimento e respeito à diversidade sexual. Há também o projeto de lei e o programa federal Brasil sem
Homofobia que discorrem sobre proteção, promoção dos direitos e “não discriminação” dos LGBT. Veja-as a
seguir.
• Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 - conhecida como Lei Maria da Penha, assegura a toda
mulher, independentemente de sua orientação sexual, a proteção e efetivação de seus direitos fundamentais.
• Projeto de Lei nº 122/2006 - trata da alteração da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que
define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, dando nova redação ao parágrafo 3º, do artigo
140, do Código Penal, e ao artigo 5º, da Consolidação das Leis do Trabalho.
Ao justificar a alteração da lei que irá criminalizar a homofobia, a Deputada Iara Bernardi, PT/SP
(Diário Oficial do Senado Federal, 15 de dezembro de 2006, p.38856), no dia 28 de agosto de 2001 expõe que:
A nova lei irá definir os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião,
procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.
26
Assim, o sexo do ofendido será indiferente para a caracterização do crime de Estupro, que, agora, como
visto, pode ser cometido tanto contra a mulher, como também contra o homem.
Importante!
Fique atento, pois no atendimento a vitimas de agressão sexual de membros da comunidade LGBT,
essas modificações podem ser muito importantes para avaliação do caso.
Saiba Mais...
Atualmente, a comunidade LGBT comemorou uma grande conquista com a decisão do STF de casais
homossexuais terem os mesmos direitos e deveres que a legislação brasileira estabelece para os
casais heterossexuais. Entre os quais: adotar filhos e registrá-los em seus nomes; receber pensão
alimentícia; ter acesso à herança de seu companheiro em caso de morte; ser incluídos como dependentes
nos planos de saúde e constituir entidade familiar. A decisão abriu caminho para que o casamento civil
entre pessoas do mesmo sexo também fosse permitido.
27
Mas ainda há muitos desafios. Atualmente estão em tramitação na Câmara Federal e no Senado vários
projetos de leis. Veja três deles!
• O Projeto Lei da Câmara 122/06 que prevê a criminalização da homofobia;
• Projeto de Lei nº 6655/06 que prevê a alteração de prenome para transexuais;
• Projeto de Lei do Casamento Igualitário (PL 5120/13), que altera o código civil.
Agora que já estudou sobre a legislação nacional, irá identificar a legislação relativa à comunidade
LGBT, dentro do contexto jurídico dos Estados.
O mapa a seguir demonstra a distribuição das leis estaduais que apresentam em seu texto,
expressamente, a “não discriminação” em relação à orientação sexual pelo Brasil.
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Distribuição das leis estaduais em relação à orientação sexual.
Fonte: Acervo do conteudista.
O Distrito Federal apresenta o tema orientação sexual tanto na Lei Orgânica quanto em leis.
Saiba Mais...
Saiba mais sobre as legislações nos Estados. Acesse http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/legislacao e
veja todas as principais leis estaduais LGBT, na íntegra.
Nesta aula você estudará a legislação relativa à comunidade LGBT, dentro do contexto jurídico dos
municípios, amparando-se assim, legalmente, o combate e enfrentamento à homofobia.
29
Todas elas garantem, de alguma forma, a todos os cidadãos, a igualdade e a promoção do bem-estar
baseado na dignidade humana e na não discriminação frente à orientação sexual e à identidade de gênero.
Algumas determinam sanções* a serem aplicadas quando desrespeitada essa regra. Elas têm como objetivo
impedir qualquer forma de discriminação.
* Penalidade imposta a quem transgride a lei. (De Plácido e Silva, 2005)
As leis municipais são regras dirigidas aos municípios, que, nesse caso, existem para proteger
expressamente o direito a não discriminação dos LGBT.
Em pesquisa recente, realizada em 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) descobriu
que apenas 79 cidades brasileiras possuem leis de proteção LGBT.
Veja abaixo os exemplos de alguns municípios que possuem leis municipais de proteção LGBT: Passe o
mouse nos estados em destaque.
MG:
• Belo Horizonte/MG com a Lei nº 8.176/01 e com a Lei nº 8.719/03;
• Juiz de Fora/MG com a Lei nº 9.789/00, com a Lei nº 9.791/00 e com a Lei nº 10.000/01;
SP:
• Campinas/SP com a Lei nº 9.809/98 e com a Lei nº 10.582/00;
• Guarulhos/SP com a Lei nº 5.860/02;
• São José do Rio Preto/SP com a Lei nº 8.642/02;
PR:
• Foz do Iguaçu/PR com a Lei nº 2.718/02;
• Londrina/PR com a Lei nº 8.812/02;
RJ
• Rio de Janeiro/RJ com a Lei nº 2.475/96 e com a Lei nº 3.786/02;
MS
• Campo Grande/MS com a Lei nº 3.582/98;
CE
• Fortaleza/CE com a Lei nº 8.211/98;
AL
• Maceió/AL com a Lei nº 4.667/97 e com a Lei nº 4.898/99;
RN
• Natal/RN com a Lei nº 152/97;
PE
• Recife/PE com a Lei nº 16.780/02 e com a Lei nº 17.025/04;
BA
• Salvador/BA com a Lei nº 5.275/97;
PI
• Teresina/PI com a Lei nº 3.274/04.
30
Os direitos dos LGBTs estão em processo de ampliação, mas ainda estão longe de acabar com todas
as violações pelas quais a comunidade LGBT é submetida.
O Movimento LGBT está engajado nessa luta e consciente de seus direitos. Em decorrência da
democracia, em breve, os direitos dos homossexuais deverão ser plenamente assegurados.
Artigo I
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.
Artigo II
“Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”.
Artigo III
“Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.
Artigo VI
“Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei”.
Artigo VII
“Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm
direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação”.
31
Além dessas declarações e pactos, existem diversas convenções que dispõem sobre o combate a todas
as formas de discriminação, inclusive aquelas exercidas em decorrência de sexo. Uma que pode ser destacada é
a Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) , de 1979.
Ela é considerada um dos mais importantes instrumentos globais para a garantia da igualdade da mulher.
Existe ainda a Declaração da II Conferência Internacional de Direitos Humanos, ocorrida em Vienna,
em 1993, que teve o objetivo de estimular o respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais de todas
as pessoas sem distinção de sexo, dentre outros.
O mais recente documento que trata da promoção dos direitos humanos à comunidade LGBT foi
produzido em novembro de 2006 e contou com 29 especialistas de 25 países, com experiências diversas e
conhecimento das questões da legislação de direitos humanos, reunidos num encontro em Yogyakarta, na
Indonésia. O resultado foram os Princípios de Yogyakarta sobre Aplicação da Legislação Internacional de
Direitos Humanos em relação à Orientação Sexual e Identidade de Gênero.
Em 2012, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos lançou um
relatório com as principais obrigações legais que Estados devem aplicar para a proteção de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). O documento, intitulado Nascido Livre e Igual (em inglês Born Free
And Equal), busca explicar para gestores públicos, ativistas e defensores dos direitos humanos as
responsabilidades do Estado com essa população e os passos necessários para alcançá-las.
Importante!
Todos os documentos internacionais reforçam a proteção, a promoção dos direitos humanos e o
tratamento igualitário decorrentes da Declaração Universal de Direitos Humanos.
As legislações, tanto nacionais quanto internacionais, devem ser observadas para alcançar o objetivo
de uma comunidade mundial fraterna. A mentalidade de uma sociedade poderá atingir esse fim,
através da proteção e da promoção, pelo Estado, dos direitos à diversidade sexual.
O conhecimento dessas legislações contribuirá para que você possa agir de forma a respeitar e
proteger as pessoas de diferentes orientações sexuais.
Veja abaixo o mapa-múndi com dados sobre os direitos LGBT, segundo a ONU.
32
Aula 5 – Sistema, programas e projetos de combate à homofobia
I - articulação interfederativa;
II - participação da sociedade civil;
III - articulação entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; e
IV - reconhecimento dos contextos socioculturais e regionais do Brasil.
A SDH/PR é o órgão central do Sistema Nacional LGBT, com competência para articular definir,
coordenar e articular as políticas a serem implementadas pelo Sistema Nacional LGBT, os outros órgãos
que integram o Sistema Nacional LGBT, são:
I […]
II - Órgãos Executores de Políticas LGBT;
33
III - Conselhos LGBT nacional, estadual, distrital e municipal;
IV - Comissão Intergestores da Política LGBT; e
V - Conferências LGBT.
A SDH/PR tem uma função fundamental na proteção e promoção dos direitos humanos da comunidade
LGBT. Ela desenvolve políticas públicas de enfrentamento ao preconceito e à discriminação contra Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). Tal missão é executada pela Secretaria Nacional de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos (SNPDDH) por intermédio das coordenações-gerais de Promoção dos
Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e do Conselho Nacional de Combate à
Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
A Coordenação Geral de Promoção dos Direitos LGBT tem a responsabilidade de coordenar a
elaboração e implementação dos planos, programas e projetos relacionados aos direitos de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais em âmbito nacional. É também competência da Coordenação a articulação
de ações pró-LGBT junto aos demais órgãos da Administração Pública Federal.
A Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos
LGBT presta apoio logístico e institucional à atuação desse órgão colegiado.
O Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT) é um órgão colegiado, integrante da estrutura básica da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), criado por meio da Medida Provisória
2216-37 de 31 de Agosto de 2001.
O CNCD/LGBT é composto por quinze representantes da Sociedade Civil e quinze do Governo Federal,
tem por finalidade formular e propor diretrizes de ação governamental, em âmbito nacional, voltadas para o
34
combate à discriminação e para a promoção e defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (LGBT).
A grande preocupação do CNCD/LGBT tem sido fomentar e acompanhar as políticas públicas, além da
busca incansável de sensibilizar os órgãos de Estado nas ações de defesa e garantia dos direitos da população
LGBT.
Dentre as várias ações já realizadas, podem-se destacar as ações da SDH/PR que é a responsável pelo
monitoramento do programa Brasil sem Homofobia.
Exemplos de ações realizadas:
• Criação dos Centros de Referência de Direitos Humanos LGBT;
• Apoio a eventos da sociedade civil como congressos e seminários;
• Cursos de capacitação para operadores de direito; e
• Apoio ao I Seminário Nacional de Segurança Pública, realizado na cidade do Rio de Janeiro em
parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública.
A cultura não foi esquecida. Já há alguns anos, o Ministério da Cultura, através da Secretaria da
Identidade e da Diversidade Cultural, promove apoio à realização das Paradas do Orgulho e à realização de
eventos LGBT em todo o território nacional.
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
• A Constituição da Republica Federativa do Brasil é considerada a lei de altíssimo grau de
relevância e de maior importância. Nenhuma lei pode contrariar a Constituição, logo, o direito à igualdade, livre
expressão e dignidade deve ser garantido sem discriminação de orientação sexual ou identidade de gênero,
pois a Constituição consagra a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental.
35
• Todas as leis se encontram subordinadas e ligadas diretamente à Constituição, devendo ser
guiadas pelos seus princípios e suas normas. Algumas leis específicas abrangem todo território nacional e tratam
de alguma forma do reconhecimento e respeito à diversidade sexual.
• Somente com a proteção dos direitos dos LGBT e o fortalecimento da educação crítica, através
de políticas públicas voltadas para promoção dos direitos desse grupo vulnerável, é que a sociedade será capaz
de transformar-se para a efetiva garantia dos direitos à liberdade e à igualdade, com respeito máximo às
diferenças.
• Em 2013, o Governo federal lançou o Sistema Nacional de Promoção de Direitos e Enfrentamento
à Violência Contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), o Sistema Nacional LGBT (SN LGBT)
é o que há de mais recente na Política Pública desenvolvida pelo Governo Federal.
• Vários estados brasileiros, como: Rio de Janeiro, Alagoas, Mato Grosso, Pará e Sergipe adotaram,
em sua Constituição Estadual, a proteção, clara e expressa, contra a discriminação por orientação sexual. Há
também, a Lei Orgânica do Distrito Federal que prevê, no artigo 2°, a “não discriminação” em razão da orientação
sexual.
• Os direitos dos LGBT estão em processo de ampliação, mas ainda está longe de acabar com todas
as violações pelas quais a comunidade LGBT é submetida.
• Existem convenções, tratados, protocolos, declarações e costumes internacionais que o Brasil se
comprometeu em assumir e proteger. Dentre eles, destaca-se a Declaração Universal de Direitos Humanos
(DUDH).
• As legislações, tanto nacionais quanto internacionais, devem ser observadas para alcançar o
objetivo de uma comunidade mundial fraterna. A mentalidade de uma sociedade poderá atingir esse fim, através
da proteção e da promoção, pelo Estado, dos direitos à diversidade sexual.
Exercícios
36
2) Sobre as leis municipais de proteção ao LGBT, é INCORRETO afirmar que:
a. Os direitos dos homossexuais estão em processo de ampliação, mas ainda está longe de acabar com
todas as violações pelas quais a comunidade LGBT é submetida.
b. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, não existe ainda leis municipais de defesa LGBT.
c. Diversos municípios brasileiros, através das Leis Orgânicas Municipais, adotaram a luta pela proteção
aos direitos dos homossexuais.
d. Juiz de Fora/MG possui a Lei nº 9.789/00.
3) O dispositivo internacional que diz que: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos” é:
a. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.
b. A Convenção de Viena.
c. A Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW.
d. A Declaração Universal dos Direitos Humanos.
37
Gabarito
38
MÓDULO
O PAPEL DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA
Apresentação do módulo
Objetivo do módulo
Estrutura do Módulo
Nesta aula você irá estudar sobre o papel da polícia no contexto de construção de uma identidade
cidadã das pessoas de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero e, principalmente, como
você, profissional de Segurança Pública, poderá atuar na proteção e promoção dos direitos desse
grupo.
40
Através de diálogos, pode-se chegar a soluções para uma série de problemas, tanto de relacionamento
com a polícia, como no enfrentamento à homofobia na sociedade.
Saiba Mais..
Em Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte, há um ótimo exemplo de que um diálogo entre LGBT e
polícia é plenamente possível. Desde o ano 2000, são realizados seminários em que convidados de vários setores
discriminados da sociedade fazem palestras para os policiais na Academia de Policia Militar de Minas Gerais e
na Academia da Polícia Civil, dentre eles estão representantes da comunidade LGBT.
Esse trabalho, porém, não ficou somente no campo discursivo. Ele teve grandes frutos, como a inserção
do assunto “proteção aos direitos LGBT” nos currículos de todos os cursos de formação da Polícia Militar de
Minas Gerais e incluídos também nos currículos da Polícia Civil dentro do tema Direitos Humanos, inclusive com
questões sobre o tema em concursos internos, e a criação de uma norma interna que diz como o policial deve
se portar ao atuar com integrantes da LGBT.
O professor de direitos humanos da Academia da Polícia Militar de Minas Gerais, o capitão Cláudio
Duani Martins, em entrevista durante o mesmo seminário, afirmou que:
"A polícia brasileira precisa entender-se como promotora dos direitos de todas as
pessoas que compõem a sociedade. No caso dos LGBT que são alvo de negação de
direitos, esse empenho deve ser ainda maior".
Importante!
A sociedade brasileira precisa estar ciente que transfobia, lesbofobia e homofobia, mesmo que ainda
não sejam legalmente criminalizadas, constituem-se como violações dos direitos humanos, portanto
devem ser devidamente combatidas.
41
Como profissional da área de segurança pública, você deve cumprir com suas obrigações, agindo
respeitosamente no que for preciso no tratamento tanto da vítima quanto do/a agressor/a.
Somente com a proteção dos direitos dos LGBT e o fortalecimento da educação crítica, através de
políticas públicas voltadas para promoção dos direitos desse grupo vulnerável, é que a sociedade será capaz de
transformar-se para a efetiva garantia dos direitos à liberdade e à igualdade, com respeito máximo às
diferenças.
Nesta aula você terá a oportunidade de conhecer os procedimentos técnicos para atuar em
ocorrências envolvendo a comunidade LGBT e identificar os procedimentos corretos para se efetuar
uma busca pessoal em integrantes da comunidade LGBT.
2.1 Procedimentos
Quando ocorre um crime ou a suspeita de ter acontecido um crime, contravenção penal ou violência
por um integrante da comunidade LGBT, o policial, em primeiro lugar, deve agir com total imparcialidade, de
maneira não preconceituosa e proceder com as investigações ou procedimentos que a situação exigir, sem
adotar atitudes de deboche, zombarias ou qualquer outro procedimento que vá constranger o/a abordado/a.
A Diretriz para Produção de Segurança do PMMG nº 3.01.05/2010 e o Manual Técnico Profissional
3.04.02 (Caderno Doutrinário nº02) que tratam respectivamente da “Filosofia de Direitos Humanos da Polícia
Militar de Minas Gerais” e da “Abordagem a pessoas”, em seus capítulos sobre atuação policial frente aos direitos
humanos, tratam especificamente das formas corretas de se abordar um/a cidadão/ã homossexual, conforme
descrito abaixo:
O policial como promotor dos diretos humanos e pedagogo da cidadania, deve lidar com o cidadão,
respeitando sua orientação sexual e dando-lhe a atenção devida, especialmente quando se fizer necessária a
intervenção policial em seu cotidiano.
Importante!
A pessoa LGBT deve ser tratada de forma respeitosa, sem gracejos nem críticas, pelos policiais que a
abordam ou são acionados por ela, em situação de vítima da criminalidade e abuso de poder.
42
2.2 Abordagens
Em abordagens a homossexuais do sexo masculino ou feminino, o policial deve conduzir-se de acordo
com as seguintes orientações contidas na Lei Estadual (Minas Gerais) nº 14.170 de 15/01/02, que determina a
imposição de sanções à pessoa jurídica por ato discriminatório praticado contra a pessoa, em virtude de sua
orientação sexual:
Saiba Mais...
Os procedimentos foram construídos pela ação conjunta entre a Polícia Militar de Minas Gerais e a
Associação dos Travestis de Belo Horizonte – ASTRAV, e são amplamente estudados e praticados por policiais
daquela instituição. Partindo dessa prática de êxito, também é possível adotar esses procedimentos,
principalmente, com as travestis. O fato de se ler o nome de registro em voz alta é altamente discriminatório,
pois aquela pessoa está vestida como mulher e como tal quer ser tratada pelo seu nome social. Por isso, o
boletim de ocorrência deve ser redigido com o nome de registro da pessoa e o tratamento verbal deve ser feito
pelo nome social (nome pelo qual a pessoa quer ser chamada).
Apenas a título de exemplo de procedimento, podemos citar as doutrinas da PMMG: uma vez
constatado que o fato que gerou a intervenção policial, se deu por motivo de intolerância, discriminação ou por
homofobia, esse detalhe deverá ser constado no histórico do BO/REDS, informando também a orientação sexual
ou identidade de gênero da vítima (lésbica, gay, bissexual, travesti ou transexual) afim de que se possa
futuramente possibilitar pesquisas e diagnósticos de vitimização por seguimento.
Importante!
Você, profissional de Segurança Pública, não deve confundir suas crenças e posições pessoais com a
atuação policial, pois a atividade de polícia, por si só, já é imparcial e segue o princípio da legalidade
(somente agir dentro do que prescreve a lei). Lembre-se de que você é o representante do Estado, que é
laico (não tem religião oficial). É vedado a você se expressar de forma a defender qualquer princípio
religioso com o fim de realinhar a conduta de quem quer que seja.
43
O policial não deve externar o que pensa, com posições pessoais, religiosas e morais sobre as
diferenças, e sim advertir, orientar e cumprir aquilo que por lei lhe for exigido, aplicando os devidos
procedimentos.
De olho na realidade...
Procure pesquisar se seu estado também possui leis nesse sentido.
De qualquer forma, saiba que manifestações de afeto como essas não devem ser coibidas, pois não se
trata de crime. Porém, é bom frisar que ato sexual em via pública, independentemente de quem o pratique, é
crime de ato obsceno (art. n° 233 do Código Penal), e não se enquadra no que foi dito anteriormente, sendo
assim, essa conduta deve ser impedida e os agentes detidos.
Nesta aula você terá oportunidade de conhecer os crimes mais comuns praticados contra integrantes
LGBT e estudará como atuar corretamente nessas situações, por meio de estudo de casos.
Caso 1
Você está trabalhando no policiamento motorizado e, por volta das 03h00min, é acionado para atender
a uma ocorrência em que uma travesti diz ter sido vítima de um “cliente” que negou pagar o programa. Ao exigir
seu pagamento, o “cliente” a agrediu. Em resposta a essa agressão, a travesti atirou uma pedra contra o veículo
do agressor, que danificou o vidro do veículo.
Agora, reflita!
Como você agiria nessa situação? Quais seriam as atitudes a serem tomadas nesse caso?
44
Nesse caso, existe uma situação complexa que deve ser analisada por partes. Primeiramente, no caso
do “programa” feito pela travesti e que não foi pago pelo “cliente”, temos que a prostituição não é tipificada
como crime e que, em contrapartida, também não é legalizada como profissão. Diante disso, não há, do ponto
de vista legal, um vínculo comercial entre a travesti e o indivíduo que manteve com ela relações sexuais. Por
conseguinte, não há o que se falar em obrigar o indivíduo a saldar a dívida.
O que se pode fazer é resolver o caso no local, registrando um boletim de ocorrência de atrito verbal
e descrevendo no histórico o fato ocorrido.
A situação se complicou quando a travesti foi agredida pelo indivíduo que não quis saldar a dívida.
Caso isso ocorra, a travesti deve ser levada a um hospital para ser medicada e, em seguida, para o Instituto
Medico Legal – IML, para a lavratura do Exame de Corpo de Delito. O agressor deverá ser encaminhado à
delegacia da Policia Civil, onde será encerrada a ocorrência.
O fato de ter atirado uma pedra contra o carro do agressor, torna a travesti autora do delito de dano,
e isso deverá ser registrado também no boletim de ocorrência – BO e, assim que tiver passado pelos
procedimentos do parágrafo anterior, também deverá responder pelo dano. Ela será conduzida também à
delegacia para prestar esclarecimentos.
Caso 2
Você está no policiamento a pé e é solicitado, por uma travesti, que lhe informa que foi discriminada
ao entrar em um restaurante para jantar com amigos e familiares. Ela foi impedida de entrar e ainda foi
humilhada pelo dono do estabelecimento que lhe disse o seguinte: “aqui, traveco não entra”. Em seguida foi
empurrada para fora por seguranças do local.
Agora, reflita!
Como você agiria nessa situação? Quais seriam as atitudes a serem tomadas nesse caso?
Esse é um caso de delito de constrangimento ilegal, capitulado no artigo 146, do Código Penal
Brasileiro, verbis:
Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por
qualquer outro meio a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou fazer o que ela não manda.
§ 2º Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
A condição de travesti não desabilita a pessoa de frequentar logradouros públicos, desde que não
atente ao pudor e à ordem pública. A conduta correta, neste caso, é a condução do proprietário até a delegacia
de polícia para prestar maiores esclarecimentos.
Caso 3
Um homossexual homem gay lhe aborda e diz que, na noite anterior, levou para o apartamento dele
um garoto de programa e que, hoje pela manhã, verificou que vários objetos desapareceram. Informa também
que foi vítima de um golpe, pois dormiu profundamente após ingerir uma bebida oferecida pelo autor.
Agora, reflita!
Como você agiria nessa situação? Quais seriam as atitudes a serem tomadas nesse caso?
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Esse caso deve ser encarado com a seriedade que exige. O registro da ocorrência deve ser realizado e
a providência no sentido de localizar o autor deve ser tomada. A vítima deverá ser levada a um hospital para ser
medicada, se for necessário.
Casos como esses, infelizmente, são muito comuns. Trata-se de um golpe conhecido como “Boa noite
Cinderela”, onde a vítima é drogada com um sonífero ou algo similar e, depois de cair em sono profundo, tem
sua residência saqueada. Esse é um crime que exige uma resposta por parte da polícia, principalmente, para
investigar e localizar quadrilhas especializadas nesse tipo de ação.
Importante!
Em todos os casos analisados, é preciso estar atento aos delitos apresentados, socorrer a vítima e
registrar adequadamente todas as informações, as quais irão subsidiar futuramente as ações cíveis e
penais inerentes a cada caso.
O assunto homossexualidade é revestido de uma série de preconceitos e tabus, o que realmente torna
difícil abordá-lo sem uma preparação adequada. Com um pouco de esforço e sensibilidade social, você pode
se tornar um excelente pedagogo da Segurança Pública, passando adiante exemplos práticos de condutas
éticas.
Veja as dicas para trabalhar o assunto na sua instituição, especialmente se você for instrutor, antes do
lançamento do turno de serviço ou em palestras e aulas.
• Tente sensibilizar os profissionais sobre o tema, mostrando estatísticas de violência homofóbica
ou ocorrências sobre o assunto na área de seu Batalhão ou delegacia;
• Utilize o material deste curso para montar suas instruções e aulas, incluindo as leituras/sites
complementares e filmes indicados;
• Procure exemplificar situações e pedir para que os policiais as resolvam, dando um feedback após
as instruções;
• Lembre-se de sempre dizer aos policias que não se trata de concordar ou não com aspectos
ligados à homossexualidade. O fenômeno social existe e deve-se tratar a todos com respeito e profissionalismo.
Finalizando...
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• Para atuar no enfrentamento da homofobia, é preciso muito mais do que vontade. São
necessárias ações positivas, ou seja, atitudes concretas, conhecimento básico sobre o assunto e a maneira
correta de agir em ocorrências dessa natureza;
• É interessante para o profissional de Segurança Pública saber transitar por vários setores da
sociedade, buscando soluções conjuntas de atuação e enfrentamento de problemas vividos por eles. Isso faz
parte da nova pauta de discussões para a construção de uma segurança cidadã;
• Através de diálogos, pode-se chegar a soluções para uma série de problemas, tanto de
relacionamento com a polícia, como no enfrentamento à homofobia na sociedade;
• O policial não deve externar o que pensa, com posições pessoais, religiosas e morais sobre as
diferenças, e sim advertir, orientar e cumprir aquilo que por lei lhe for exigido, aplicando os devidos
procedimentos;
• É preciso estar atento aos delitos apresentados, socorrer a vítima e registrar adequadamente
todas as informações, as quais irão subsidiar futuramente as ações cíveis e penais inerentes a cada caso.
Exercícios
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