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Antiguidade Classica Grecia - História
Antiguidade Classica Grecia - História
POVOAMENTO
Provavelmente os primeiros povos a habitar a Grécia foram os Pelasgos ou Pelágios. Por volta do
ano 2000 a.C. teve inicio na Grécia um grande período de invasões pelos povos arianos indo-europeus:
A célula básica da sociedade grega após o século XII era o GENOS: grande família ainda não
decomposta em famílias menores. Todos os descendentes do mesmo grupo, viviam no mesmo lar. São
características básicas do genos:
o chefe era o pater famílias que dirigia o culto aos antepassados, responsável pela justiça (baseada nos
costumes) e pela administração.
A propriedade era coletiva: não podia ser vendida, nem cedida, nem dividida.
O trabalho também era coletivo, realizado em iguais condições. A produção era distribuída
igualitariarnente, impedindo a diferenciação econômica. Era uma
economia exclusivamente agro-pastoril. Se existisse excedente, a família
comprava escravos, contratava artífices e adquiria mercadorias (tesouro do genos). Resumindo: a nível
econômico temos o coletivismo, do ponto de vista social a igualdade e, do ponto de vista político, a
autoridade do pater-familias.
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Os Genos, conforme suas afinidades culturais, agrupava-se em irmandades denominadas fratrias para
aumentar a segurança das famílias.
As fratrias agrupavam-se em tribos. A desagregação da estrutura tradicional e a diluição do poder entre os
eupátridas provocaram o surgimento de instâncias de poder superiores às dos antigos organismos. Surgia,
assim, a pólis ou cidade-estado, organização típica da Grécia Antiga. O processo de desagregação dos genos e
de formação da pólis marca a transição do período Homérico para o Arcaico. Durante este período, as cidades-
estado gregas atingiram seu esplendor, transformando-se na organização política mais característica da Grécia
Antiga. De todas as pólis, duas se destacaram: Atenas e Esparta.
A DIARQUIA: uma monarquia composta por dois reis (para evitar a autocracia).
Os reis escolhidos entre os membros das famílias mais importantes tinham cargo hereditário e possuíam o
comando supremo do exército - um deles comandava as tropas em guerra e o outro permanecia em Esparta.
Eram os sumo-sacerdotes e juizes supremos.
A GERÚSIA: representa o senado espartano, composto por 28 membros da aristocracia, com idade superior
a 60 anos. Cabia à Gerúsia tomar as decisões importantes e legislar, além de controlar os diarcas
O EFORADO: composto por 5 membros eleitos pela assembléia do povo. Possuíam as funções executivas,
administrativas e fiscalizavam a vida pública
A APELA: ou assembléia do povo, formada por todos os cidadãos espartanos maiores de 30 anos. Vota as
leis e escolhe os gerontes
SOCIEDADE ESPARTANA
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Havia em Esparta TRÊS CAMADAS SOCIAIS bem diferenciadas:
O GOVERNO ESPARTANO
A legislação espartana baseava-se num código de leis atribuído a um legislador lendário Licurgo,
cuja existência é posta em dúvida pela história. Essa legislação preservava a sociedade assegurando aos
espartíatas totais privilégios. Toda sociedade e a educação espartanas estavam voltadas para a guerra. Nesse
tipo de organização social o exército tinha importância fundamental. Era sobre ele que se assentava a ordem
interna e a defesa externa.
O estado espartano regulamentava minuciosamente a vida familiar. Não existe em Esparta a vida
privada e a vida pública, pois o Estado sintetiza todas as atenções e os interesses. Do ponto de vista cultural o
governo estimula o laconismo, a xenofobia e a xenelasia. O laconismo consiste em falar tudo de maneira
sintética, em poucas palavras. Isso para limitar a capacidade de raciocínio e o espírito crítico dos cidadãos. A
xenofobia (aversão aos estrangeiros) e xenelasia (expulsão dos estrangeiros) impedem o contato com idéias
inovadoras e, portanto, consideradas subversivas para o sistema espartano. Tanto o laconismo, quanto a
xenofobia e xenelasia, eram meios para reforçar o status quo e evitar mudanças.
O medo dos hilotas fortaleceu o estado e militarizou Esparta que organizou a sociedade
basicamente em torno de dois objetivos: formar os mais adestrados e disciplinados soldados e, ao mesmo
tempo, criar mecanismos que garantissem o máximo de coesão e solidariedade entre eles. O mais importante
passo dado nesse sentido foi a distribuição eqüitativa das terras conquistadas, em forma de lotes (Kleros) para
as famílias espartanas. Esses lotes, embora transmissíveis por herança, não eram propriedade privada, mas
estatais. Nele trabalhavam os hilotas que eram escravos do Estado cedidos aos cidadãos. Isso inibia a
concorrência e o individualismo, introduzindo a uniformidade entre os espartanos, que, orgulhosamente,
chamavam a si próprios de homoioi (iguais). Por outro lado, atendidos em suas necessidades básicas pelo
trabalho dos hilotas, os espartanos dedicavam-se integralmente à vida militar. E isso fazia sentido numa
sociedade na qual, para cada espartano, existiam dez hilotas. A superioridade numérica dos hilotas precisava ser
contrabalançada pela qualidade militar dos espartanos.
Nesse sentido, Esparta procurou sempre tornar suas leis imutáveis, tornando-se um Estado
conservador e reacionário. Para garantir o status quo, isto é, a dominação de uma minoria sobre a maioria
de escravos e periecos, Esparta organizou um sistema especial de educação. Os cidadãos deviam viver para o
Estado e não para a família ou para si mesmos. Deviam fazer guerra contra os inimigos de Esparta e procriar os
filhos necessários para fortalecer as fileiras do exército. Isso explica a relativa liberdade sexual: até os
empréstimos de esposas eram tolerados, desde que a finalidade fosse procriar filhos para o Estado.
A EDUCAÇÃO ESPARTANA
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Assim que nascia, a criança era examinada pelos velhos, que decidiam sobre sua vida ou sua morte. Se
fosse robusta, sem defeitos físicos, a criança devia viver; se não, era lançada do alto do Monte Taigeto, para que
não transmitisse mais tarde sua inferioridade física.
A criança ficava sob os cuidados da mãe até os sete anos de idade. Em seguida era entregue ao
Estado que lhe dava educação cívica até os doze anos. Todos os ensinamentos baseavam-se nos valores
próprios do Estado; Em grupos meninos e meninas eram instruídos e acordo com os interesses dos espartanos.
Aos 12 anos, os meninos eram mandados para o campo onde deviam sustentar-se por conta própria. Esta era a
fase de educação militar propriamente dita. Dormiam ao ar livre, sobre camas feitas de bambu que colhiam com
as próprias mãos, sem ferramenta às margem do Rio Eurotas. Tudo o que comiam era roubado. Aprendiam a
roubar com destreza e habilidade, pois se fossem surpreendidos roubando seriam espancados até a morte, não
por causa do roubo, mas pela demonstração de inabilidade.
Esta fase de educação tinha por finalidade fortalecer o físico e desenvolver a destreza,
indispensáveis ao bom soldado. Aos 17 anos, os rapazes eram submetidos a uma prova de habilidade, a Kríptia.
Durante o dia os meninos se espalhavam pelo campo munidos de punhais; à noite degolavam todos os escravos
que conseguiam apanhar. Aqueles que passavam por esta ‘prova‘ tornavam-se maiores e recebiam um lote de
terra. Em seguida passavam a viver como soldados no quartel. Até os 30 anos os espartíatas não podiam se
casar, apenas coabitar. Dos 30 anos em diante podiam participar da Assembléia, casar e deixar o cabelo crescer.
Aos 60 anos se aposentavam do exército e podiam tomar parte no Conselho dos Anciãos (Gerúsia).
Essa educação, ao mesmo tempo em que preparava para a guerra, contribuía para eliminar uma
parte de escravos. Isso impedia seu crescimento exagerado (que representava uma ameaça para os espartíatas)
e facilitava o seu domínio através do terror. Mas o próprio aumento da população espartíata era limitado por
esse tipo de educação. De fato, embora numerosos devido à liberdade sexual existente, muitos filhos morriam
logo depois de nascer, ao serem lançados do Taigeto; outros desapareciam durante a fase de educação militar,
mortos pela fome, pelo frio, pelos castigos ou na luta contra os escravos. Desse modo, o número de escravos
não aumentava e o dos cidadãos também não. Essa estabilidade demográfica contribuía para a preservação do
imobilismo da sociedade, pois aliviava a pressão dos escravos e diminuía a necessidade de mais terra para novos
cidadãos.
A educação feminina restringia-se a fazer das mulheres mães de crianças sadias. As jovens
praticavam ginástica e eram habituadas a se mostrar nuas nas festas, podendo chegar a serem emprestadas,
visando, evidentemente o aprimoramento da raça. Comparativamente, elas eram muito mais livres do que as
mulheres de Atenas, já que a vida familiar era reduzida a quase nada. A educação das crianças era tarefa do
Estado e os maridos passavam a maior parte do tempo nos quartéis.
1. A Monarquia
Havia o baileus (o rei), portanto uma monarquia hereditária. O rei é chefe de guerra, juiz e sacerdote. Seu
poder é limitado por um Conselho de aristocratas (Areópago).
Eupátridas: os bem nascidos. representam a aristocracia agrária, dona das melhores terras
Geomores: (georgoi) formada pelos pequenos proprietários de terras.
Demiurgos: comerciantes e artesãos
Metecos: classe social constituída de estrangeiros. Eram comerciantes, pessoalmente livres, mas sem
direitos civis ou políticos
Escravos: prisioneiros de guerra, sem direitos políticos, eram inicialmente inexpressivos, mas logo se
transformaram na base da produção agrária. Em Atenas atuavam em todos os ofícios, exceto na atividade
política. Podiam chegar à liberdade, mas nunca à cidadania.
Os eupátridas, donos das maiores e melhores terras na planície (pédion), buscavam preservar seus
privilégios e o poder. Já os comerciantes buscavam mudanças a fim de conseguir participação no poder. Em pior
situação estavam os georgois, habitantes da montanha, vivendo em péssimas condições e sem direitos políticos.
Muitos recorriam a empréstimos para poder cultivar suas terras, visando a sobrevivência. Não podendo
satisfazer suas contas, muitos tinham hipotecado suas terras aos ricos e depois, como eram incapazes de
pagarem as dívidas, eram reduzidos por ele à escravidão e até vendidos para o estrangeiro. (escravidão por
dívida)
2.Oligarquia
No século VIII a.C., a realeza já se encontrava em dissolução; a obediência ao rei era apenas
nominal, por parte dos chefes das famílias aristocratas. A monarquia cedeu lugar a um regime aristocrático: o
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Arcontado composto por nove pessoas: Arconte-Polemarco — comandante do exército, Arconte-Epónimo
— assuntos internos (administração), Arconte-Rei funções sacerdotais, Arcontes-Tesmótetas (seis)
encarregados pela legislação. Através dessa estrutura juridico-política, os eupátridas exerciam seu domínio sobre
toda a população da Ática, enquanto a massa trabalhadora não possuía qualquer poder de decisão política.
Com o Arcontado o Governo de Atenas passa a ser oligárquico. Com a colonização os
comerciantes e os artesãos tomaram-se cada vez mais numerosos, iniciando um processo de ascensão social. Os
aristocratas eram, portanto, pressionados pelos enriquecidos pelo comércio e pelos pobres marginalizados.
Queriam ambos a participação política. Inicia, assim, em Atenas um período de reformas entre as quais
destacam-se como mais importantes a de Drácon e a de Sólon.
3. A Timocracia
Drácon foi encarregado de preparar uma lei escrita, pois até então só era oral. As leis elaboradas
por ele eram extremamente severas e previam a pena de morte para a maioria dos crimes. A legislação de
Drácon foi importante, pois a partir de sua aprovação, a lei, a justiça, deixaram de ser privilégios dos eupátridas.
O estado se fortalece com isso. No plano prático, porém, pouca coisa mudou.
OBS:A reforma de Sólon foi importante porque grande foi a perda da classe aristocrata que viu
os comerciantes crescerem e ocuparem os altos escalões do governo ateniense. Por ser um governo formado
pelos mais ricos é chamado de plutocracia ou timocracia. A grande importância da Reforma de Sólon foi a
possibilidade de todos os cidadãos ateniense – daí excluídos os estrangeiros, as mulheres e os escravos –
poderem participar da assembléia do povo, que elegia todos os funcionários do Estado. A reforma de Sólon
desagradou aos eupátridas que tiveram que fazer grandes concessões e descontentou as classes inferiores,
acirrando a luta de classe em Atenas, favorecendo o advento da Tirania.
4.Tirania
Os atenienses foram divididos em cem circunscrições territoriais – demos – distribuídas por três
regiões: a cidade, a costa e o interior. Os cem demos foram agrupados em dez tribos, levando-se em conta um
detalhe importante: cada tribo era formada por um número proporcional de demos de cada uma das três
divisões regionais (cidade, costa, interior) para evitar particularismos. Com isso todos os cidadãos
independentemente de sua condição, passaram a pertencer a um demos. A influência dos interesses locais foi
neutralizada em favor dos interesses gerais como também foi neutralizada a influência política das grandes
famílias aristocráticas. Com esta reforma Clístenes organizou seu novo governo, do qual participavam todos os
cidadãos gregos.
Mas quem era cidadão em Atenas? Vamos procurar entender. Não eram todos os habitantes da
cidade! Em uma população calculada em 400 mil pessoas, eles somavam 40 mil.
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Deve-se entender que a noção de cidadania para os gregos estava intimamente vinculada à defesa
militar da cidade. Somente aqueles que estavam aptos para o combate e dispostos a arriscar a propria vida para
defende-la tinham o direito à cidadania plena. Encontravam-se nesta categoria todos os guerreiros que fossem
também proprietários de terra e, portanto, capazes de se equipar às próprias custas. Com base em tais critérios,
mulheres e crianças estavam excluídos dessa categoria por não serem combatentes, apesar de leais à cidade.
Os escravos, em geral capturados em guerra, eram considerados potenciais inimigos. Quanto aos
estrangeiros, as cidades gregas jamais mostraram disposição para incorporá-los. Ao proibir que adquirissem
terras, deixavam clara esta disposição. Por isso não lhes era atribuída a responsabilidade de defender a cidade
e, conseqüentemente, não se cogitava em que se tornassem cidadãos. Tudo isso fazia com que o universo de
cidadãos se restringisse a escassos 10% da população. Em comparação com o moderno conceito de democracia,
a grega era bastante limitada, pois, de fato, excluía a maioria da população das decisões políticas. A democracia
grega difere da moderna ainda em outro ponto: era uma democracia
direta, enquanto a nossa é representativa.
Foram, porém, eliminadas as desigualdades políticas
entre os cidadãos. Todos passaram a ter o mesmo direito de
participação, independentemente de sua origem social ou riqueza. Os
órgãos mais importantes desse sistema eram a Eclésia, ou
Assembléia popular, da qual participavam todos os cidadãos. Depois
existia a Bule ou Conselho dos 500 que possuía funções
legislativas. O poder judiciário era exercido pela Heliéia e o poder
executivo confiado inicialmente aos arcontes, passou a ser exercido
por generais denominados estrategos
Uma importante inovação do governo de Clístenes foi a
instituição do Ostracismo, uma espécie de medida defensiva do
Estado contra o ressurgimento da tirania: qualquer cidadão que por
má atuação política se tornasse perigoso à democracia, seria banido e
teria seus direitos cassados por 10 anos, findo os quais poderia
reintegrar-se à vida pública, recuperando seus direitos. Pode-se dizer
que, na verdade, o governo de Clístenes ampliou e aprofundou as
reformas da época de Sólon, democratizando o regime político de
Atenas.
OBS: Como percebemos, a Democracia ateniense era uma Democracia escravista: o trabalho
escravo era a base da vida econômica da sociedade, e os trabalhadores escravos, que constituíam a maioria,
pelo menos uma parcela considerável da população da Ática, não possuíam quaisquer direitos civis ou políticos.
Nestas condições a democracia ateniense, quando confrontada com nossas modernas concepções, surge como
uma oligarquia de fato, simplesmente menos estrita que as oligarquias de direito.
O PERÍODO CLÁSSICO
No entanto, foi também nesse período que alguns problemas graves surgiram, contribuindo para
que, em seguida ao apogeu, tivesse lugar a decadência da Grécia. Exerceram particular influência nesse aspecto
a guerras contra os persas e, em seguida a guerra que envolveu as duas maiores cidades-estado, Atenas e
Esparta.
As guerras contra os persas, denominadas de Guerras Médicas foram resultado da expansão dos
persas sobre a Ásia Menor, onde existiam cidades gregas. Quais seriam as causas?
Choque de interesses entre o imperialismo grego e o imperialismo persa, pois ambos visavam aos mercados
consumidores do Oriente Próximo.
A revolta das cidades gregas da Ásia Menor contra o domínio persa. Tais cidades não se submeteram e
foram apoiadas pelas cidades do continente, dando início ao conflito. Curiosamente, as cidades-estado
gregas, que até aquele momento haviam existido de forma autônoma e sem maiores ligações entre si,
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criaram uma aliança - Confederação de Delos - para enfrentar os persas. O expansionismo ateniense
valeu-se da posição hegemônica que a cidade ocupava na Liga.
A guerra foi concluída com a vitória espartana. Isso significou a decadência do comércio e da
democracia que será substituída pela oligarquia e a hegemonia espartana sobre as cidades gregas. Mas na
realidade, toda a Grécia perdeu: o enfraquecimento das cidades-estado era visível, e elas foram fácil presa para
um conquistador estrangeiro – Felipe da Macedônia - que conquistou toda a península. Após sua morte a
dominação foi mantida por seu filho Alexandre Magno. Alexandre, após consolidar o domínio da Grécia, avançou
seus exércitos em direção ao Oriente, chegando próximo da Índia. A esse momento os autores denominam de
Período Helenístico, definindo este termo como o resultado da fusão da cultura grega com a oriental.
A EDUCAÇÃO EM ATENAS
"A educação ateniense, posta em prática na escola e na cidade, tinha duas finalidades precisas: o
desenvolvimento do cidadão fiel ao Estado e a formação do homem que adquiriu plena harmonia e domínio
de si" sendo, por isso mesmo, absolutamente autárquico. Portanto, todo o problema educativo girava,
essencialmente, à volta da educação do homem como ser individual - por isso o objetivo fundamental da
educação era a formação do homem, tratando-se de saber qual o caminho que o processo educativo devia seguir
para que o homem, cada homem, pudesse alcançar o ideal, a aretê individual. Para além de formar o homem, a
educação deve, sobretudo, formar o cidadão. A finalidade cívica da educação passa, claramente, a primeiro
plano.
É originariamente grega a idéia, tão atual, de que a educação é preparação para a cidadania.
Habitante da Pólis, o homem só é o que é porque vive na cidade e sem ela não é nada. E o que diz respeito à
cidade, é comum, isto é, afeta a todos enquanto comunidade e afeta cada um enquanto cidadão ou membro
dessa comunidade.
Neste sentido, é evidente que, antes de mais, o homem é um animal político, como bem o captou
Aristóteles, distinguindo-o, assim, do animal pela sua qualidade de cidadão, e o Biós Politikos é a forma
própria e sublime de vida do homem como habitante da pólis.
Com exceção de Esparta, onde as mulheres desfrutavam de relativa liberdade, a condição feminina
em toda a Grécia era de completa submissão ao mundo masculino. As mulheres eram oprimidads pelos homens,
e a sua situação chegou a ser equiparada à dos próprios escravos: o senhor se impunha ao escravo da mesma
forma que os homens submetiam as mulheres aos seus desígnios. O próprio Aristóteles era da opinião de que‖
talvez a mulher seja um ser principalmente inferior e o escravo um ser totalmente medíocre.‖ Em Atenas, as
mulheres viviam confinadas num aposento da casa, o gineceu. Na reforma de Sólon, uma das suas primeiras
medidas foi proibir as mulheres de saírem de casa à noite. Para os gregos, as mulheres tinham apenas uma
função: a de gerar filhos, de preferência homens.
ESCRAVISMO e DEMOCRACIA
O direito grego considerava escravo, simultaneamente, uma pessoa que tinha direito à proteção
e uma mercadoria que podia ser vendida, doada, leiloada. Enquanto ser humano, fazia parte de uma
comunidade doméstica que o protegia, sendo tido come membro da família de seu proprietário.
A civilização grega é considerada, desde muito tempo, como a mais refinada e expressiva da
antiguidade. No entanto, existem dois aspectos básicos que merecem uma reflexão maior, quando se analisa
aquela civilização: a escravidão e a democracia.
Com relação à escravidão, sua importância foi tão significativa que os autores marxistas
consideram a Grécia e Roma como sociedades que vivenciaram o modo de produção escravista. As cidades-
estado gregas tornaram a escravidão pela primeira vez absoluta e dominante, transformando-a, desse modo, em
modo de produção bem definido.
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Sem a escravidão, não haveria o Estado grego, não haveria arte nem ciências gregas. Sem a
escravidão não haveria o império romano e sem a base do helenismo e do Império Romano não haveria o
mundo moderno. Foi nas cidades ‗comerciais‘ – e principalmente em Atenas – que o escravismo grego alcançou
verdadeiro apogeu. Fora as atividades políticas, privilégios dos cidadãos, quase não houve ofício ou ocupação em
que não encontrássemos escravos. As tarefas domésticas parecem ter sido uma das poucas atividades rejeitadas
pelos cidadãos. O escravo urbano ocupava-se nas tarefas de produção domésticas. Buscava os gêneros
alimentares na propriedade senhorial ou comprava-os no mercado e preparava os alimentos. Fiar, tecer, e
confeccionar vestimentas eram outras importantes atividades, principalmente da escrava. Estas tarefas eram
dirigidas pela senhora da casa; não raro, o escravo ocupava-se, alternadamente, no trabalho doméstico urbano
e na parcela agrária senhorial, se a distância permitisse. Mesmo as famílias mais pobres esforçavam-se em ter,
pelo menos, um escravo.
O cativo constituía importante fonte de renda senhorial. Era comum a compra de escravos para
alugá-los a particulares e ao Estado. As grandes obras e as minas eram mercado seguro para esta forma de
aplicação. Era igualmente comum conceder uma ampla liberdade de iniciativa e movimento aos escravos sob a
obrigação de entrega de uma renda periódica prefixada. Estes cativos podiam até mesmo habitar
independentemente e chegar a juntar considerável pecúlio, se habilidosos e cometidos. Nesta situação,
labutavam escravos dedicados a diversas atividades artesanais ou a várias formas de prestação de serviços. Em
Atenas e outras regiões da Grécia, escravos foram empregados como ‗funcionários públicos‘; comprados pelo
Estado, trabalhavam como varredores, agentes policiais, carrascos, verificadores de pesos e medidas,
escrivães....Geralmente recebiam o suficiente, segundo parece, para se vestires e alimentarem.
As condições de vida e trabalho do escavo urbano dependiam mais do contexto em que
trabalhavam e das funções que exerciam do que se seu status jurídico. Um escavo do Estado empregado em
importante função burocrática vivia existência aprazível. Um cativo exercendo tarefas duras e pesadas como o
transporte de mercadorias ou a moagem de grãos podia vegetar execravelmente. No geral, a vida do escravo
urbano parece ter sido suportável, segundo os padrões da época.
Na Grécia Antiga, os escravos mineradores conheceram os mais duros padrões de trabalho e
existência. A importante produção argentífera ateniense do Láurio sustentou-se essencialmente sobre o trabalho
escravo. O trabalho era pesadíssimo, o repouso escasso, a comida pouca. Acredita-se ter sido comum os
escravos trabalharem acorrentados e receberem castigos físicos. Dormiam em ‗senzalas‘ estreitas, insalubres e
estritamente vigiadas. A fuga de cativos mineradores era fato corriqueiro e, quando da invasão da Ática pelos
espartanos, na última década da guerra do Peloponeso, milhares de escravos desertaram e fugiram.
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A CULTURA e A RELIGIÃO
todos os fenômenos naturais são provocados por eles: os trovões, os raios, os ventos, as ondas do mar.
Antropomórfica enquanto os deuses são forças naturais calcadas em formas humanas idealizadas, aspectos do
homem sublinhados, personalizados, forças do homem cristalizadas em belíssimas formas. Em outras palavras,
os deuses não são mais do que homens ampliados e idealizados; são, pois, quantitativamente superiores a nós ,
não, porém, qualitativamente diferentes. O que os deuses exigem do homem não é a mudança intima de seu
modo de pensar, nem a luta contra as tendências naturais e seus impulsos; ao contrário, tudo o que para o
homem é natural vale diante da divindade como legítimo; o homem mais divino é aquele que cultiva com o
máximo empenho suas forças humanas e o comprimento do dever religioso consiste essencialmente nisto: que o
homem faça em honra da divindade o que é conforme à sua própria natureza.
Outra característica da religião pública grega é não ser revelada, mas natural. Os gregos,
diversamente dos hebreus, dos povos do Oriente e dos egípcios, não tinham livros sagrados ou tidos como fruto
de revelação divina. Por isso eles não tinham uma dogmática fixa e imutável. Pelo mesmo motivo não havia na
Grécia uma casta sacerdotal encarregada da guarda dos dogmas. Nesta ausência de dogmas e de encarregados
de sua guarda, ausência que permitia a mais ampla liberdade à especulação filosófica, os historiadores vêem
com razão um dos fatores mais importantes do ‗aparecimento e do desenvolvimento da filosofia entre os gregos.
Ressaltamos, para concluir, que a religião grega é politeísta : havia grande quantidade de
deuses morando no Monte Olimpo. Cada cidade tinha seus deuses protetores. No culto aos deuses, os gregos
pediam proteção para a família, a tribo ou a cidade, não a salvação da alma. As lendas que contam as aventuras
dos deuses são chamadas Mitos e o conjunto de mitos forma a mitologia. O mito representa a primeira
tentativa de explicar a realidade. Trata-se portanto de uma verdade intuitiva, não racional, não se discute, se
aceita.
A filosofia
Sócrates - Criou a maiêutica , método de reflexão que consistia em multiplicar as perguntas para obter, a
partir da indução de casos particulares, um conceito geral do objeto. Para Sócrates, a virtude era uma
ciência que se podia aprender. Uma voz interior, daimon, indicaria o caminho do bem. Irônico, hábil em
confundir o interlocutor, cercado de discípulos extravagantes, atraiu muitos inimigos. Acusado de renegar os
deuses e corromper a juventude, Sócrates foi condenado a beber cicuta, o que fez com bravura e
serenidade.
Platão - Principal discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas. Segundo sua teoria, baseada nas
idéias (formas essenciais), o mundo real transcende o mundo das aparências, o qual nada mais é do que
uma derivação das idéias matrizes. Em suas obras políticas, destaca como virtudes essenciais a bravura, a
serenidade e a justiça. Obras importantes: Apologia de Sócrates, O Banquete, Fédon, Pedro e A República.
Aristóteles - Considerado por muitos como o maior filósofo de todos os tempos. Abarcou todos os
conhecimentos de seu tempo — Lógica, Física, Metafísica, Moral, Política, Retórica e Poética. Partindo de
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Sócrates e Platão, Aristóteles sistematizou os princípios da Lógica, formando uma ciência que ele chamou de
Analítica. Sua Metafísica estuda o ―ser enquanto ser‖e investiga os ―primeiros princípios‖ e as ―causas
primeiras do ser‖. Em sua Teologia, Aristóteles procura demonstrar racionalmente a existência de Deus, o
―primeiro motor imóvel‖, o ―não-vir-a-ser‖, o ―ato puro‖.
História
Herôdoto de Halicarnasso - O Pai da História, como o chamou o orador romano Cícero, relatou as guerras
pérsicas. Tinha concepção religiosa, pois em seu tempo os fatos eram vistos como resultado da vontade dos
deuses. Mas se preocupava em conhecer os povos cujas histórias contava: visitou o Egito, a Itália e a Ásia
Menor.
Tucidedes - Escreveu a História da Guerra do Peloponeso. Considerava que causas políticas determinavam
os fatos históricos. Por isso, é tido como criador da história objetiva, que ele apresentava como modelo para
a vida prática. Deixou obra rica em reflexões.
Xenofonte - Escreveu Anabase, sobre a campanha de Ciro, o Jovem.
Tragédias e comédias
A democratização das cidades-estado foi a grande responsável pela evolução do teatro. Esse
tornou-se uma arte popular, assitido, inclusive pelos cidadãos pobres. Atenas foi a cidade que teve o teatro mais
desenvolvido. Os atores seram sempre homens, mesmo nos papeis femininos, já que a exibição pu´lica era
vetada às mulheres, e utilizavam máscaras que os despersonificavam para que pudessem representar os
diversos papéis em uma mesma peça. Os espetáculos teatrais parecem ter se originado nos festejos em
homenagem ao deus Dionísio. Havia dois tipos de espetáculos: tragédia e comédia.
A tragédia representava os problemas pessoais, os sentimentos humanos e os problemas da pólis,
sendo por isso, de grande contribuição para a educação. O triunfo da justiça tinha por finalidade emocionar os
assistentes e desenvolver a consciência cívica, valorizando a vida em sociedade.
A comédia, cujo maior representante é Aristófanes, era um espetáculo com a finalidade de provocar
riso, o que lhe garantiu, desde o início, maior liberdade e vitalidade. Tinha como alvo os deuses, colocados
sempre em situações grotescas e os políticos democratas de seu tempo.
Destacam-se:
Ésquilo - Exaltou Atenas e os deuses justiceiros. Deixou Os Persas (onde canta o orgulho insensato e a
punição de Xerxes); Os Sete Contra Tebas (narra o destino infeliz de Édipo); e Oréstia (narra a sorte da
família de Agamenon).
Sófocles - Suas obras mostram os heróis lutando contra as armadilhas do destino. Em Antigona, a heroína
põe o irmão numa sepultura proibida pelas leis urbanas; Édipo Rei mostra os velhos heróis encontrando a
paz e a morte num bosque sagrado.
Eurípedes - Menos religioso que os anteriores, crítico e pessimista. Em Alceste e Medéia, mostra sua
preocupação com os problemas do homem, suas grandezas, misérias e paixões.
O helenismo
Com a morte de Felipe II, rei da Macedônia, Alexandre iniciou a sua campanha contra a Pérsia,
anexando em seguida a Mesopotâmia e o Egito e chegando até a Índia com o objetivo de realizar o sonho de um
império universal. Nos territórios orientais conquistados, Alexandre fundou quase setenta cidades, muitas das
quais batizadas com o nome de Alexandria, sendo a mais famosa a do Egito. Essas cidades transformaram-se
em importantes centros de difusão da cultura grega, originando o fenômeno conhecido como Helenismo, ou
seja, a difusão e a fusão da cultura grega com o oriente.
Destacam-se três correntes de pensamento: o estoicismo, o epicurismo e o ceticismo. Os
estóicos afirmavam que tudo o que ocorre no universo tem uma finalidade racional, que seria o triunfo do bem.
O homem não é o senhor de seu destino, podendo aceita-lo ou não, mas não modifica-lo. Os epicuristas
acreditavam que o prazer seria a suprema aspiração do homem, condenando apenas os excessos depravados
dos prazeres carnais. O mais elevado de todos os prazeres era a satisfação da
alma, sua serenidade, obtido através do expurgo de todo medo,
principalmente do sobrenatural. O ceticismo pregava que todo conhecimento
era obtido por intermédio dos sentidos humanos e, por serem eles falhos, era
relativo e limitado. Como nada podia ser comprovado, a base da felicidade era a
despreocupação na busca da verdade.
A cidade de Roma situa-se no centro da parte ocidental da Península Itálica. Esta península ocupa
uma posição de destaque no Mar Mediterrâneo, separando as suas bacias oriental e ocidental. A leste, a
península é banhada pelo mar Adriático e, a oeste pelo Mar Tirreno.
Os primitivos habitantes chegaram à Itália por volta de 2000a.C., povos indo-europeus que se
estabeleceram na planície do Pó. Já, a partir do primeiro milênio, diversos povos, vindos principalmente dos
Alpes, ocuparam o centro da península. Foram chamados de italiotas ou itálicos. Eles se dividiam em latinos,
samnitas, umbrios e outros. No século VIII a.C., os gregos fundaram colônias na parte sul da península e na
Sicília ( este conjunto de colônias ficou conhecido como Magna Grécia) e os etruscos conquistaram o norte.
A respeito da origem de Roma, possuímos duas versões: uma lendária e uma histórica. Segundo a
tradição clássica, que foi responsável pela permanência da origem lendária ao longo dos tempos, a cidade de
Roma foi fundada por Rômulo . De acordo com a lenda, Rômulo e seu irmão Remo foram abandonados nas
margens do rio Tibre quando eram muito pequenos. Protegidos e amamentados por uma loba, foram,
posteriormente, recolhidos por pastores estabelecidos nas colinas localizadas às margens do rio. Mais tarde
Rômulo fundou Roma, após ter matado o irmão.
Segundo a história, Roma foi fundada por volta do ano 753 a.C. quando povoações latinas
espalhadas à margem do Rio Tibre fundiram-se em um única comunidade, edificando uma ‗fortaleza‘ para se
defenderem dos Etruscos que conquistaram o Lácio
Tradicionalmente, a história de Roma na Antigüidade Clássica é dividida em três grandes períodos:
A Realeza – da fundação da cidade até o ano 509 a.
A República – de 509 a.C. a 27 a.C.
Império – de 27a.C. em diante
O período monárquico iniciou-se com a fundação da cidade de Roma. Durante a monarquia a vida política e
social estava baseada nas gens ou comunidades gentílicas, que podemos definir como uma comunidade
formada por um grupo que se reconhecem descendentes de um antepassado comum e organizavam sua
vida econômica e social baseada na solidariedade. A gens romana, entretanto, não tinha características de
comunidade igualitária, pois constituía uma organização aristocrática, fortemente hierarquizada e
proprietária de escravos.
A organização em gens era restrita à população nativa da cidade e seus lideres eram conhecidos como
patrícios, derivação da palavra latina pater, que tinha direito de vida e morte sobre os outros membros. A
reunião de dez gens constituía uma cúria e da reunião de dez cúrias formava-se uma tribo. O conjunto das
tribos formava o populus romanus. Só pertencia ao povo romano quem fosse membro de uma tribo.
A organização social também sofria mudanças importantes, dividindo-se em classes sociais. A gens foi se
desintegrando em famílias restritas, e algumas famílias apropriaram-se dos melhores lotes de terra.
Os patrícios constituíam uma aristocracia de nascimento, cujo poder econômico era baseado na
propriedade privada da terra. Eram homens livres, possuíam terras, pagavam impostos e prestavam serviço
militar.
A maioria da população, que não possuía organização gentílica passou a constituir a plebe, isto é, homens
livres, porém sem direitos políticos. Os plebeus eram geralmente camponeses ou artesãos, os mais ricos
comerciantes. Representam as populações não nativas anexadas a Roma nas guerras, pelos estrangeiros
que afluíram durante a dominação dos etruscos e aqueles membros da gens que ficaram com pouca ou
nenhuma terra quando da desintegração do sistema gentílico romano. Não participam das decisões políticas,
sendo-lhes proibido possuir religião gentílica, casar com elementos das famílias patrícias e usar a terra
comum. Não pagam impostos e estão sujeitos à escravidão por dívida. Integram o exército romano.
Havia ainda uma camada intermediária – os clientes – formada por elementos da plebe, geralmente
estrangeiros, que se colocavam sob a dependência de uma família patrícia para obter proteção jurídica em
troca de prestação de serviços. Para melhor entender, podemos dizer que muitos plebeus conseguiram
enriquecer-se com o comércio, vindo a possuir bens móveis (dinheiro e mercadorias); para protegerem seu
patrimônio necessitavam de cobertura jurídica de que só gozavam os patrícios, que tinham o culto aos
antepassados. Eram pessoas que queriam ser incluídas no testamento do patrono, que pretendiam fazer
carreira, pobres coitados que não tinham como se alimentar, intelectuais pobres que dependiam dos favores
do aristocrata, comerciantes que esperavam proteção do político para seus negócios. A clientela tornou-se
mais importante na República e no Império, quando passou a fornecer o grande eleitorado que votava em
seus protetores para os cargos públicos. Os clientes também não têm direitos políticos.
Nesta fase os escravos eram em número muito reduzido e trabalhavam ao lado dos proprietários escravidão
(patriarcal ou doméstica). O escravismo só adquire grande importância com a expansão territorial no período
republicano.
OBS: durante o reinado de Tarquínio, o Soberbo, a classe aristocrática (patrícios) procurou limitar o
poder do rei. Em vista disso, ele adotou medidas favoráveis à plebe, com o objetivo de reforçar a sua
autoridade. Os patrícios sentiram-se ameaçados e depuseram o último rei etrusco, dando origem a um
movimento de reação, contra a dominação política estruca. Em 509 a.C. tal movimento aboliu a
monarquia e implantou uma republica, na qual apenas eles tinham acesso aos cargos políticos.
Iniciava o período republicano.
ROMA REPÚBLICA
O poder executivo, que antes pertencia ao Rei, passou a ser exercido por dois cônsules – supremos
magistrados com atribuições administrativas e militares. Cada cônsul tinha poder de veto sobre as decisões
do outro. Em caso de guerra ou de grave crise interna, era escolhido o ditador, com poderes absolutos pelo
prazo de seis meses
O Senado tornou-se o principal órgão da República. Seus membros vitalícios e descendiam dos antigos
chefes de gens.
A Assembléia Curiata, foi perdendo sua importância, ficando apenas com funções religiosas. Suas atribuições
foram transferidas para a Assembléia Centuriata, em que cada centúria possuía um voto. Também os
plebeus participam dessa assembléia mas representam a minoria. A assembléia elege os cônsules e vota as
leis.
As atribuições religiosas cabiam ao Colégio dos Pontífices chefiado pelo Pontífice Máximo
Formou-se um complexo aparelho de Estado: havia os pretores, encarregados pela justiça, os questores,
(finanças públicas), os censores, (censo e moralidade pública), os Edis (abastecimento e policiamento da
cidade, além dos jogos públicos)
A República foi implantada pela aristocracia patrícia, portanto na sua primeira fase o regime político, econômico
dos patrícios era completo. Por isso falamos de República Patrícia ou república aristocrática. A primeira fase da
República é marcada pela luta de classe entre patrícios e plebeus. Quais seriam as causas desta luta?
As guerras pela expansão territorial de Roma, obrigavam os plebeus a abandonarem suas terras.
Retornando das guerras encontravam suas terras abandonadas, passando a contrair dívidas junto aos
patrícios
Muitos plebeus eram reduzidos à escravidão por dívida
A maior parte dos espólios de guerra era dos patrícios
Reivindicavam a redação de um código de leis comum
Exigiam a autorização dos casamentos entre patrícios e plebeus
Lutavam pela obtenção de direitos políticos, civis, jurídicos e religiosos
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Os plebeus, revoltados com esta situação de pobreza e exclusão, em 494 a.C., abandonaram
Roma e refugiaram-se no Monte Sagrado para fundarem aí uma cidade só de Plebeus. A classe patrícia
assustada enviou Menenio Agrippa para negociar a volta dos plebeus, pois Roma não poderia dispensar a força
deles no exército. Dessa maneira tiveram que ceder às pretensões dos plebeus. Através de uma longa luta, os
plebeus foram conseguindo, gradativamente, importantes modificações nas leis romanas, que resultaram na
conquista de direitos políticos, religiosos e de justiça. Vale a pena citar as principais:
Tribunos da Plebe – eram os representantes dos plebeus. Defendiam as suas reivindicações e lutavam
pelos seus direitos, procurando impedir que fossem aprovadas leis contrárias aos interesses da Plebe. O
tribuno era considerado maldito e intocável
Concilium Plebis – trata-se de uma Assembléia só de Plebeus. Tomavam decisões sem valor oficial que
chamavam de Plebiscitus ( a plebe aceita). Os plebiscitos traziam a posição da plebe diante dos problemas
de Roma. Mais tarde a Lei Hortência estabeleceu que as decisões do Concilium Plebis teriam força de lei.
Lei das Doze Tábuas - Existia em Roma o direito consuetudinário e as leis, baseadas nas tradições e
costumes, eram facilmente reformadas e manipuladas pelos patrícios. Os plebeus prejudicados exigiram a
elaboração de leis escritas, para que tivessem conhecimento exato das leis e evitar distorções. Dez juristas,
nomeados pelo senado – os decênviros – elaboraram as primeiras leis escritas de Roma, gravadas sobre
doze tábuas de bronze e expostas no Fórum, para conhecimento de toda a população. As leis significam, de
um lado, a vitória dos plebeus, mas, de outro, a manobra dos patrícios em conter as reivindicações da plebe.
De fato não foi abolida a escravidão por dívida, os casamentos continuavam proibidos entre patrícios e
plebeus. Não podemos, porém, esquecer que as Leis das Doze Tábuas constituem um dos fundamentos do
Direito Romano.
Lei Canuléia – permite o casamento entre patrícios e plebeus, concedendo, portanto a igualdade civil.
Observe-se, porém, que, à época da promulgação dessa Lei, a expansão comercial de Roma enriquecia
muitos plebeus, enquanto que a desvalorização da terra como única fonte de riqueza arruinava muitas
famílias patrícias. Assim, era desejo de muitos plebeus ricos se unirem a famílias nobres ( pois a propriedade
da terra ainda conferia prestígio social) e o patriciado decadente tinha interesse em se unir pelo casamento
com a plebe rica, devido ao poder econômico desta. Os casamentos mistos formalizaram a criação de uma
aristocracia de dinheiro – a Nobreza patrício-plebéia.
Leis Licinias-Sextias – dava aos plebeus o direito de se candidatarem ao Consulado. Após esta lei o
consulado foi repartido: passaram a ser eleito dois cônsules, um patrício e outro plebeu. Determina ainda
que os juros já pagos fossem descontados do montante das dívidas e proíbe a escravidão por dívida. Limita
a posse de particulares em territórios públicos (ager publicus) – 14.5 hectares de terra e 500 cabeças de
gado.
Lei Olgúnia – permitiu o acesso dos plebeus aos colégios sacerdotais e ao cargo de Pontífice Máximo. De
fato os plebeus não podiam exercer função sacerdotal, pois era privilégio dos patrícios. Havendo forte
vinculação entre religião e estado, tal lei teve grande importância para os plebeus.
Lei Hortência - as decisões da Assembléia Popular teriam força de lei, sem passar pela aprovação do
senado.
OBS.: Os resultados das lutas sociais em Roma foram benéficos sobretudo para a camada rica da plebe – os
grande comerciantes – que, através de casamentos, uniu-se às famílias patrícias. As famílias mais
representativas dessa nova aristocracia, cujo poder era baseado na riqueza, e não mais no nascimento,
passaram a ocupar os mais altos cargos da República. A parte pobre da população, em sua maioria camponesa e
artesãos, embora tivesse alargado o espaço de manobra política, permaneceu espoliada. A igualdade, para os
plebeus pobres era quase que uma ficção: na verdade, nunca ocupariam os altos postos da administração do
Estado.
Repercussões econômicas:
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Enormes espólios de guerra
Grandes contingentes de escravos vendidos posteriormente nos mercados
Divisão das terras férteis entre os ricos proprietários que participavam das campanhas militares
acompanhada pela expulsão em massa dos pequenos proprietários. Isso contribuiu para a formação dos
latifúndios, grandes propriedades territoriais, exploradas com mão de obra escrava.
Os produtos das províncias convergem para Roma deixando os proprietários romanos sem condições de
concorrer com os importados
A economia romana de agro-pastoril, transformou-se numa economia apoiada no comércio
Repercussões sociais
Aumento das grandes possessões de terra e ruína da camada dos pequenos agricultores.
Migração de grandes massas de camponeses para as cidades, não podendo concorrer com a economia
escravista.
Formação nas cidades de um grande contingente de desempregados e ex-camponeses, onde o Estado
fornecia pão e vinho e espetáculos no circo romano (política de pão e circo) com a finalidade de alienar
essa multidão, cuja potencialidade revolucionária era evidente
A elite patrícia teve enormes lucros, através do monopólio dos cargos públicos, do comando do exército e
dos governos provinciais, além da apropriação de vastas porções de terras.
Surgimento de uma nova classe social: os Cavaleiros, grandes comerciantes que se dedicavam a atividades
rendosas como a cobrança de impostos na qualidade de publicanos, arrendamento da exploração de minas e
construções de obras públicas.
Repercussões culturais
Repercussões políticas
Os escravos constituíam uma mercadoria como qualquer outra; eram vendidos nos mercados e pelo
Direito Romano o escravo era uma peça... Pode ser comprado, vendido ou alugado e, em geral, punido ao gosto
de seu senhor. Sobre o trabalho manual, os romanos tinham uma concepção moral negativa, e sobre os
assalariados, essa negatividade era acentuada, já que o salário era considerado um atestado de escravidão a
outro homem. Era mais digno ser cliente, viver de favores de um aristocrata, do que assalariado.
Públicos: pertenciam ao estado e eram utilizados nos trabalhos das grandes construções (edifícios,
aquedutos), em obras de urbanização, nos serviços domésticos dos templos, nas minas e pedreiras
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particulares: dividiam-se em urbanos e rurais. Os escravos urbanos desempenhavam as mais variadas
formas de funções domésticas – cozinheiros, tecelões, pedagogos dos filhos das famílias aristocráticas.
Outros eram utilizados nas oficinas artesanais. Os rurais trabalhavam no campo, desvinculados da cidade.
Com o desenvolvimento da escravidão, a agricultura, tomou novos aspectos: o vinho e o azeite constituíam
praticamente os únicos produtos de exportação.
libertos: escravos emancipados. A concessão da liberdade a um escravo era, geralmente, a recompensa por
seus serviços. Muitas vezes, os libertos tornavam-se empregados dos seus antigos donos, sem receberem
qualquer remuneração, em troca apenas de roupa e alimentação. Os principais beneficiados com a
emancipação eram os escravos domésticos e os qualificados profissionalmente. Os escravos que trabalhavam
nas propriedades agrárias, localizadas fora da cidade, em geral, não eram contemplados com a manumissão.
Sempre ocorreram fugas e revoltas de escravos, em modo particular na Sicília e na Ásia Menor.
Formas mais quotidianas de resistência do que a insurreição – o roubo, a fuga, o justiciamento do senhor, a
escassa dedicação ao trabalho – determinaram profundamente o escravismo antigo. No mundo romano,
como no grego, a possibilidade de o escravo alcançar a liberdade pela fuga era preocupação eterna da classe
senhorial.
Recapturado tinha geralmente o rosto marcado a ferro; em Roma, entre outros suplícios, era hábito
condená-lo às correntes e ao ergástulo. Nem vigilância nem castigos sobrepuseram-se, porém, à tentação da
fuga. Senhores consultavam os oráculos sobre as íntimas intenções de seus escravos. Estes procuravam saber
nos vaticínios se seriam felizes na aventura.
Na península itálica, na Sicília, na Grécia continental e insular, as montanhas eram tradicionais
coutos de escravos fugidos que, muitas vezes, organizavam bandas de assaltantes. Não raro o escravo
alcançava voltar após mil peripécias, à sua terra natal.
Nem sempre uma fuga almejava a libertação. Os cativos gregos ‗martirizados‘ pelos senhores
tinham o direito de refugio em certos templos. Se os sacerdotes aceitassem suas súplicas, os senhores eram
obrigados a vendê-los.
As fugas de escravos oneravam a produção escravista. Para um pequeno senhor o desaparecimento
de um escravo artífice podia significar a miséria. A simples eventualidade de fuga já era danosa ao senhor. Os
‗agrônomos‘ romanos via como uma das grandes desvantagens dos latifúndios escravistas os necessários gastos
com a vigilância da escravidão. Algumas vezes, na Antigüidade, a fuga de escravos tornou-se movimento
multifundiário.
No final da década de 70 a.C., milhares de escravos rebelaram-se, liderados por Espartacus, e
durante longo tempo, resistiram aos ataques dos exércitos de Roma, derrotando-os repetidas vezes, mas sendo,
finalmente, dizimados. Ao contrário das outras insurreições, a revolta de Espartacus colocou em xeque a
ordem romana. Quando 74 gladiadores escaparam, em Cápua e se refugiaram no Monte Vesúvio, o fato não
provocou grande interesse. Nesta tumultuada época, outros bandos de escravos, libertos e livre-pobres,
infestavam a Itália. A banda de Espartacus cresceu porém em numero e organização e, confiante, ingressou em
outras regiões, onde recebeu maciça adesão dos escravos pastores. O movimento comandado por Espartaco não
almejava, formar um estado autônomo, como ocorreu nas revoltas na Sicília, Após subir a península itálica
pretendeu assaltar Roma, o coração da República. Apesar de vitorioso num primeiro momento, sucumbiu diante
da repressão romana.
A escravidão teve grande importância na evolução da economia e da sociedade romana. O sistema
escravista constituiu a base na qual assentaram a agricultura de mercado, e o artesanato urbano; e o tráfico de
escravos um importante setor do comércio marítimo. Sendo uma instituição solidamente enraizada nas
sociedades antigas, jamais se propôs sua abolição. Mesmo nas grandes rebeliões de escravos, os revoltosos não
possuíam uma nítida consciência de classe: pretendiam conseguir a liberdade individual e não a supressão da
ordem escravista.
OBS:Se houvesse tido êxito, Tibério teria desempenhado em Roma um papel equivalente ao do tirano Psistrato
em Atenas. Mas a situação em Roma era outra. Os pequenos proprietários, arrancados de suas terras para servir
ao exército, estavam ausentes, e os que residiam em suas terras encontravam-se dispersos. A plebe romana,
que teoricamente era o contingente a ser beneficiado pela reforma agrária, já não manifestava interesse pela
volta ao campo e ao trabalho, ociosa e corrompida que estava por sua transformação em clientela das grandes
famílias. Na verdade o projeto de Tibério era impraticável numa sociedade que havia assumido plenamente a
feição escravista.
A Reforma de Caio Graco: Como Tibério, seu irmão Caio, elegeu-se Tribuno da Plebe. Fundou
várias colônias agrícolas na Itália e nas províncias e mandou aprovar a Lei Frumentária, mediante a qual o
Estado era obrigado a vender trigo à população urbana por preço inferior ao de mercado. A oposição senatorial
foi, mais uma vez violenta. Caio foi obrigado a se suicidar.
OBS: Os irmãos Graco foram para os romanos a derradeira chance de encaminharem sua sociedade para a
democracia. Mas as bases sociais para o êxito dessas reformas – aquelas forças que na Grécia, se opuseram com
sucesso ao egoísmo aristocrático – estavam totalmente corroídas. Em Roma a aliança entre plebeus ricos e
plebeus pobres era impossível. Temendo a massa popular miserável e corrompida pelo clientelismo, os plebeus
ricos aliaram-se à nobreza fortalecendo a posição desta última. O fracasso dos irmãos Graco selou o destino da
república romana.
A CRISE DA REPÚBLICA
Após a morte dos Graco, houve em Roma a polarização política seguida da radicalização nas lutas
governamentais, e a República Romana entrou em crise. De um lado estavam os aristocratas, preocupados com
a manutenção da ordem existente; de outro, os populares ansiosos por reformas. Destacam-se nesse período o
general Mário, defensor da plebe e Silas defensor dos conservadores.
Mário, conseguiu transformar o exército, cujos postos eram privilégio dos cidadãos, em um exército
popular, composto por assalariados. Os soldados passaram a receber um soldo (salário), participação dos
espólios e, ao cabo de 25 anos de carreira, direito a um pedaço de terra. Com a morte de Mário, Silas
estabeleceu uma ditadura militar e perseguiu violentamente os antigos seguidores de deu antecessor.
Em 60 a.C., o senado acabou elegendo três fortes políticos ao Consulado: Júlio César, Pompeu e Crasso
que governaram juntos no chamado Primeiro Triunvirato dividindo entre si os domínios romanos. Crasso
morreu combatendo na Pérsia e Pompeu eleito cônsul único destituindo César do comando militar da Gália
(França). César ganhou a briga, mas em 44 a.C. foi assassinado a punhaladas no senado. Marco Antônio, Otávio
e Lépido formaram o Segundo Triunvirato. A vitória de Otávio sobre Marco Antônio representou a passagem
da República para o Império Romano.
O IMPÉRIO
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O império romano no século III foi afetado pela crise geral do escravismo. A causa desta crise foi
a diminuição da produção nos latifúndios. Isso aconteceu porque havia menos escravos para trabalhar. E a
escassez de escravos explica-se por três fatores: militar, religioso,
econômico.
No século III, observa-se uma redução na expansão do império. A contração das fronteiras era
resultado da crise que havia se instalado no interior da sociedade escravista romana. Como o império não mais
se estendia, também o número de escravos não crescia. Com o aumento do número de ociosos, também
cresceram os gastos do Estado Romano. Esses cidadãos recebiam trigo gratuitamente e o império romano
promovia uma série de espetáculos, também gratuitos, para o divertimento e o controle dessa multidão. Desse
jeito a manutenção do império tornou-se difícil. Um grande exército permanente era essencial para a defesa das
fronteiras. Era necessário equipar e pagar o exército, cujo custo aumentou quando os imperadores se viram
obrigados a contratar mercenários bárbaros do estrangeiro para suprir a escassez de recrutas nativos. A
administração e arrecadação das rendas exigiam um imenso e custoso serviço público. O sistema econômico,
enquanto se expandia, pôde suportar facilmente a ampliação das despesas do Estado, mas à medida que se
aproximava dos limites máximos tornou-se visível o desequilíbrio entre as rendas e os gastos.
Uma alternativa encontrada foi o aumento dos impostos, principalmente daqueles que recaiam
sobre as províncias que compunham o império. No entanto, elas também, se encontravam em dificuldades,
diante da falta de mão de obra. O grande defeito da economia romana é não ter sabido criar novas fontes de
riqueza. Durante o período de conquista, Roma viveu de tributos que impunha aos povos vencidos; a partir do
século III vive das suas reservas, no século IV esgotou-as.
A crise provocou o empobrecimento do império e o declínio populacional. O artesanato urbano
perdeu importância, e o comércio entre a parte ocidental do mundo romano e a parte oriental tornou-se
constantemente deficitário para os ocidentais. A decadência e, até mesmo, o desaparecimento de muitas
cidades, associadas às ameaças dos bárbaros, levaram os grandes proprietários a abandonar a vida urbana.
Muitos passaram a residir na vila. A vila não era apenas a residência no nobre latifundiário, mas também a
própria fazenda produtiva. Geralmente localizava-se numa região fértil, próxima das rotas do comercio ou dos
portos. Nessas grandes propriedades rurais, praticamente auto-suficientes, o trabalho, com a crise do
escravismo, modificou-se nas relações sociais. Para que o volume de produção fosse mantido, mesmo com a
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redução do número de escravos, os latifundiários tomaram medidas para que o trabalhador direto se
interessasse pelo processo de produção. As principais medidas foram:
a) a divisão dos latifúndios em duas partes: as reservas senhoriais e os lotes dos camponeses
b) a sujeição do camponês livre ou mesmo do pequeno proprietário que, em troca de proteção e do
direito de permanecer nas terras, deveria prestar serviços e pagar tributos ao latifundiário. Houve
assim, uma mudança na condição jurídica do camponês: de trabalhador livre para colono.
A decadência de Roma, iniciada no século III, atingiu o seu apogeu no século V. Segundo Engels:
‖Quanto mais o império ia decaindo, mais subiam os impostos e taxas e maior era a falta de vergonha com que
funcionários saqueavam e ameaçavam. O empobrecimento era geral: declínio do comércio, decadência dos
ofícios manuais e da arte, diminuição da população, decadência das cidades. Retorno da agricultura a um estágio
mais atrasado.‖
Além da feição econômica da crise, que provocou a ruralização da produção e a modificação das
relações de produção, os historiadores apontam outros sintomas que nos revelam o processo de decadência do
império Romano do Ocidente:
a corrupção resultante das conquistas, que atingiu toda a sociedade e o exército
o enfraquecimento do poder do estado
a mudança nos valores políticos e religiosos, após a expansão romana
crise econômica, que provocou a desvalorização da moeda, declínio da indústria e do comércio, abandono
das terras, concentração de numerosos desocupados nas cidade, agitações e fome
penetração dos bárbaros, que provocaram o abandono de grande áreas de cultivo
a incapacidade dos imperadores, elevados ao poder pelos exércitos que travavam guerra entre si, em várias
partes do império.
burocracia administrativa, dirigidas por oficiais incompetentes e funcionários que operavam o tesouro público
Impostos elevados que provocaram o descontentamento e o desinteresse pelos empreendimentos de ordem
econômica.
O CRISTIANISMO
Quando Cristo nasceu, por volta do ano 4 a.C., o imperador romano era Augusto, fundador
do império. Quando foi crucificado, o imperador era Tibério. Mas foi no governo de Nero, no ano de 64, que se
deu a primeira grande perseguição aos cristãos de Roma. As perseguições se repetiram por mais nove vezes
num espaço de 249 anos. Por que isso ocorria?
A razão principal é que o cristianismo de opunha ao paganismo. Os cristãos se recusavam a adorar os
deuses, protetores de Roma. Quando ocorria alguma calamidade, peste, seca, fome, incêndios, os pagãos
consideravam que era obra dos deuses, revoltados com a presença dos cristãos.
Não aceitando o paganismo, os cristãos não aceitavam também a origem divina do imperador. Por isso,
negavam-se a fazer o culto ao imperador.
Os cristãos se opunham também a todas as instituições imperiais, por estarem impregnadas de paganismo.
Uma razão principal para a perseguição foi a prática do culto secreto pelos cristãos. O culto cristão era
reservado aos iniciados, isto é, aos indivíduos catequizados e batizados. Pagãos não podiam participar. Isso
levantava suspeitas, pois a grande maioria de cristãos era formada de indivíduos pobres e principalmente de
escravos. Para essas camadas da população o cristianismo era uma verdadeira consolação e a promessa de
uma felicidade numa outra vida.
As revoltas de escravos eram temidas. Havia o exemplo de Espartaco. Por isso o culto cristão
adquiriu um caráter subversivo. Além disso as reuniões secretas eram proibidas, a fim de evitar conspirações
contra o governo. Não sabendo o que os cristãos faziam nas suas reuniões, os pagãos acusavam-nos de adorar a
cabeça de um asno, de assassinar crianças e cerimônias orgíacas e macabras.
Finalmente o cristão era motivo de divertimento. Tornou-se comum martirizar os cristãos nos
circos, diante da plebe romana, que tinha aprendido a gostar da violência nos espetáculos de feras e
gladiadores. Os cristãos resistiam ao sofrimento e esse comportamento era um desafio às massas pagãs; Os
carrascos que inventassem novas formas de martírio recebiam prêmios.
As perseguições não eram contínuas. Num período de 249 anos, elas foram mais intensas em dez
oportunidades. Em geral essas perseguições coincidiam com as crises econômicas que aumentavam as pressões
sociais e políticas. Elas serviam, então, como válvula de escape para essas pressões. Nero promoveu a primeira
grande perseguição em 64. Outros imperadores que mandaram martirizar os cristãos foram Domiciano, Trajano,
Marco Aurélio, Décio, Aureliano, Valeriano e Diocleciano.
Em 313, o imperador Constantino publicou o Edito de Milão, legalizando o cristianismo. Isso
por entender que a massa dos cristãos estava aumentando consideravelmente, podendo constituir uma das
bases de apoio político a seu governo. Além disso, fez devolver aos cristãos os seus bens, proibiu o trabalho nos
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domingos e o assassinato de escravos, restringiu as práticas do divórcio. Ao fundar a cidade de Constantinopla,
o imperador consagrou-a à Virgem Maria, Mãe de Jesus.
O progresso do cristianismo se acelerou a partir da sua oficialização. Foi nas camadas urbanas que
encontrou mais adeptos. O imperador Teodosio fez-se batizar em 380 e em 391 aboliu definitivamente o
paganismo. Nesse momento o cristianismo tornava-se religião oficial do Império. Como religião oficial, sofreria
muitas transformações, tornando-se poderosa instituição de um Império decadente.
De qualquer maneira muita coisa mudou em Roma com o advento e a vitória do cristianismo:
O divino foi decididamente colocado fora da natureza visível e acima dela. Deus aparece como ser único,
universal, dispensando todos os outros deuses
Enquanto a religião no mundo romano nada mais era que um conjunto de práticas, uma série de ritos que se
repetiam sem nenhum sentido, uma seqüência de fórmulas, recebendo o caráter sagrado senão de sua
Antigüidade, o cristianismo representava um conjunto de dogmas e um grande objetivo proposto à fé
O cristianismo não era a religião doméstica de uma família, a religião nacional de uma cidade ou de uma
raça, mas destinava-se à humanidade inteira
Antes o direito de praticar o culto era um privilégio. O estrangeiro, o plebeu eram rejeitados pelos templos.
O cristianismo apresenta um Deus único, um Deus universal, de todos, sem distinção de raças, famílias nem
estados
O sacerdócio deixou de ser hereditário, porque a religião não era mais um patrimônio e o culto não foi mais
mantido em segredo
Durante a monarquia e a república, a religião e o estado eram uma só coisa. O cristianismo irrompe
separando a religião do estado ―dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus‖ Isso porque
antigamente César era o sumo sacerdote, o chefe e órgão principal da religião romana
O pai perdeu a autoridade absoluta que seu sacerdócio lhe outorgara outrora. O direito à propriedade foi
mudado na sua essência; os limites sagrados dos campos desapareceram, a propriedade não derivou mais
da religião, mas do trabalho
Também o direito mudou de natureza. Em todas as nações antigas, inclusive em Roma o direito estava
sujeito à religião. A lei estava contida nos livros sagrados ou na tradição religiosa. Com o cristianismo, o
direito tornou-se independente procurando suas regras na natureza, na consciência, e na idéia de justiça.
A CULTURA: O DIREITO
Entre as sociedades antigas, o Direito fazia parte da Religião. As antigas leis não passavam de
prescrições religiosas aplicadas às relações dos homens entre si. Assim aconteceu também em Roma: as leis
costumeiras - baseadas nos costumes, chamadas Leis Reais - não foram criadas por um determinado legislador
ou pelos votos das Assembléias, mas correspondiam às crenças religiosas dos antigos povoadores da cidade.
O primeiro código escrito apareceu por volta do século V a.C.: as Leis das Doze Tábuas. Estas
conservavam muito o caráter mágico-religioso do Direito Costumeiro e são uma das principais fontes do Direito
Romano. As Leis das Doze Tábuas tratavam de assuntos referentes ao Direito Civil e ao Direito Penal. O papel
dos Pretores, magistrados especiais que passaram a julgar os processos civis, foi fundamental na evolução do
Direito Romano.
Para a aplicação da lei aos estrangeiros, que juntamente com os escravos não tinha acesso aos
tribunais, foi criada uma nova magistratura (Pretor Peregrino) e desenvolvido o Ius Gentium (Direito das
Gentes) que levava em conta os interesses das comunidades submetidas a Roma. O Ius Gentium é considerado
como fonte do Direito Internacional.
Em Roma havia uma nítida distinção entre o Direito Público - que regulava as relações entre o
cidadão e o Estado - e o Direito Privado - que tratava das relações dos cidadãos entre si. Deve-se acrescentar
que as mulheres não eram passíveis de serem julgadas pelos tribunais públicos. Competia ao pater famílias
exercer o direito de justiça, na sua própria casa, sobre os membros da família, subordinados à sua autoridade.
O Direito Romano evoluiu lentamente, sob a pressão dos acontecimentos sociais,
econômicos e políticos. A diversidade étnica e cultural do império, as relações comerciais entre Roma e as
províncias e a concessão da cidadania romana a todos os habitantes livres fizeram com que, aos poucos, o
Direito Romano se universalizasse e perdesse muito do seu excessivo formalismo. Essa evolução foi determinada
pela necessidade objetiva do império em que, por vezes, conflitavam o Direito Civil e os códigos penais.
Nesse sentido, foi muito importante a contribuição do Direito Natural - mais uma filosofia do que
uma teoria de Direito - reforçado pelo Cristianismo, que afirmara que todos os homens nasciam livres.
A HISTÓRIA
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época atribuíam a forças obscuras e/ou à vontade de alguns poucos privilegiados. Além disso, era uma história
a serviço das concepções dominantes de supremacia do Estado escravista romano.
A FILOSOFIA
No domínio da Filosofia, os pensadores romanos também foram muito influenciados pelos filósofos
gregos do período helenístico, principalmente pelas doutrinas do Epicurismo e do Estoicismo.
A filosofia materialista de Epicuro reduzia todo o conhecimento à existência sensível. O Epicurismo
pretende libertar os homens do medo dos deuses e da morte, afirmando que a felicidade estava na satisfação
dos desejos físicos naturais, na busca do verdadeiro prazer, porém com um profundo sentido ético e moral. O
prazer no qual, para Epicuro consiste a felicidade é a vida pacífica, a paz da alma e a ausência de qualquer
preocupação; prazer, portanto como ausência de dor e a virtude é o meio para conseguir o verdadeiro prazer.
O estoicismo, concebia o universo regido por um determinismo lógico e racional. Portanto, os
homens deviam proceder de conformidade com a natureza - a vida segundo a Natureza (ou seja, Deus e a Razão
Universal ) - aceitando, resignadamente, o destino traçado. Tal corrente filosófica pregava a valorização do
dever, o equilíbrio espiritual, a autodisciplina e a submissão à ordem natural das coisas. Para os estóicos, o
conhecimento derivava das impressões recebidas pelos sentidos e sintetizadas pela inteligência (Razão). Seneca,
Epíteto e Marco Aurélio foram os grandes representantes do estoicismo em Roma.
A EDUCAÇÃO ROMANA
Na república dos primeiros tempos, a educação adquire feição aristocrática, endereçando-se aos
patrícios. Era poderosa a influência do pater famílias, mas também é verdade que a matrona romana ocupou no
lar uma posição mais elevada do que na Grécia. Tratava-se de uma sociedade sóbria e austera que ministrou um
tipo de educação mais moral do que intelectual.
A partir do século III a.C., porém, em virtude da expansão romana pelo Mediterrâneo, a educação
desse povo sofre sensíveis mudanças. Enriquecendo-se, a sociedade romana acentuou a divisão entre os
economicamente poderosos e a plebe. Ainda mais: ocorre a invasão da cultura grega. Os cidadãos mais ricos
passam a ter preceptores (mestres) particulares, geralmente gregos imigrados. O espírito da nova educação
resume-se na palavra humanitas, uma espécie de educação de caráter universal, humanista, supranacional.
No império a educação deixa de ser assunto particular e adquire um caráter mais técnico que
filosófico: aplica-se, de preferência aos problemas práticos.
A educação militar era, também, uma das preocupações do Estado Romano. Tanto assim que, para
os jovens das famílias mais influentes, o treinamento militar iniciava-se desde cedo: disciplina, retidão moral,
adestramento físico, prontidão e habilidade no manejo das armas faziam parte do cotidiano daqueles que
freqüentavam o Campo de Marte - local onde eram realizados exercícios de arremesso de disco e de dardos, de
equitação. Essa educação, essencialmente voltada para a guerra, contribuiu, segundo alguns autores, para a
expansão do império, na medida em que dela resultaram quadros de legionários capacitados.
De maneira geral as principais características da cultura e da educação romana são as seguintes:
No humano, a valorização da ação, da vontade, sobre a reflexão e a contemplação
no político, a acentuação do poder, do afã de domínio, de império
no social, a afirmação do individual e da vida familiar
na cultura, falta de uma filosofia, de investigação desinteressada, mas, em compensação, criação das
normas jurídicas em direito
na educação, acentuação do poder volitivo do hábito e do exercício, com atitude realista, ante a intelectual e
idealista grega
a consideração da vida familiar e sobretudo do pai no exercício da educação.
TEXTOS COMPLEMENTARES
I
Leia com atenção o texto do historiador inglês contemporâneo M. I. Pinley sobre a escravidão na
Antiguidade, baseado em relato de Aulo Caprélio Timéteo, mercador de
escravos da época:
"Inevitavelmente, os gregos e romanos também tentaram
justificar a escravidão com base numa inferioridade natural dos
escravos. A tentativa fracassou por diversas razões. Em primeiro lugar,
havia uma minoria muito grande a quem tal teoria não se aplicava. Por
exemplo, após derrotarem os cartagineses de Aníbal, os romanos
voltaram-se para o leste e conquistaram o mundo grego, trazendo para
a Itália centenas de milhares de prisioneiros no decorrer dos dois
séculos seguintes. Esta invasão grega involuntária teve como um de
seus efeitos uma verdiu/eira revolução cultural ‗A Grécia cativa cativou
seu rude conquistador‘; disse o poeta romano Horácio; e era
evidentemente impossível aplicar a doutrina da inferioridade natural
(que pode ria até servir no caso dos germanos) a um povo que lhes
fornecia a maior parte dos professores, e que introduziu a filosofia, o
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teatro e o que havia de melhor em escultura e arquitetura no seio de uma sociedade que anteriormente não de-
monstra ra possuir virtudes voltadas para tais interesses.
Em segundo lugar, a prática de libertar escravos como recompensa pelo serviço fiel era bastante
disseminada na Antiguidade, ocorrendo com maior freqüência, talvez, no leito de morte. Não havia leis que
regulamentassem a prática, mas podemos ter uma idéia das proporções que atingiu através de um dos decretos
do primeiro imperador romano, Augusto. Ele tentou conter as libertações concedidas no leito de morte,
provavelmente para proteger os direitos dos herdeiros; estabeleceu então uma escala móvel segundo a qual
nenhum homem poderia libertar mais que cem escravos em seu testamento. Após séculos ,de contínua alforria,
quem poderia distinguir os ―naturalmente superiores‖ dos ―naturalmente inferiores‖ entre os habitantes das
cidades gregas e romanas (especialmente quando não havia nenhuma diferença na cor da pele)?
Os escravos, enquanto mercadoria, criavam problemas singulares para os comerciantes. Nas
grandes cidades, ao que tudo indica, havia lojas que vendiam escravos: em Roma, na época de Nero, elas se
concentravam nas imediações do templo de Castor, no Fórum. Mas eram a exceção. Não era possível ter
sempre à mão, como uma mercadoria comum, um estoque de gladiadores, pedagogos, músicos, artesãos
especializados, mineiros, crianças novas, mulheres para bordéis ou concubinato. O comércio de escravos sempre
foi conduzido de forma especial, e o mundo antigo não foi exceção. Por um lado, havia os grandes mercados de
escravos onde, provavelmente em datas prefixar/as, negociantes e intermediários podiam encontrar grandes
estoques à venda. Alguns centros localizavam-se nas cidades maiores, como Bizâncio, Éfeso ou Quios, mas havia
mercados menores que também eram importantes, como Titoréia, na Grécia centraL onde se realizava a cada
seis meses uma grande venda de escravos por ocasião dos festivais em homenagem à deusa Eris. Por outro
lado, mercadores itinerantes levavam seus escravos onde quer que existissem consumidores em
potencial:praças fortes, feiras interioranas, e muito mais. A venda em si dava-se normalmente por meio de
leilão. As únicas representações pictóricas ainda existentes estão, mais uma vez, em lápides funerárias, duas
lapides, para sermos exatos — uma de Cápua e outra de ArIes, ostentando cenas substancialmente
semelhantes. A lápide de ArIes apresenta um escravo de pé sobre uma plataforma rotativa, enquanto um
homem, possivelmente um comprador, levanta sua vestimenta revelando suas musculosas pernas e nádegas, e
o leiloeiro aguarda em pose característica, com um braço estendido. Como observou o filósofo estóico Sêneca,
"Quando se compra um cavalo, ordena-se que seu manto seja retirado; da mesma maneira, levantam-se as
vestimentas do escravo".
Nessa época, porém, a escravidão já estava em declínio, não como resultado de um movimento
abolicionista, mas em conseqüência de mudanças socioeconômicas complexas que substituíram o escravo-mer-
cadoria e, em grande parte, o camponês livre, por um outro tipo de trabalhador o colonus, o adscriptus glebi, o
servo. Os valores morais, os interesses econômicos e a ordem social não firam afetados por essas sutis
mudanças na condição social da população submetida. Tampouco desapareceu completamente a escravidão da
Europa. Os problemas jurídicos criados pela existência de escravos tomaram mais espaço que qualquer outro tó-
pico na codificação do imperador Justiniano. Filósofos, moralistas, teólogos e juristas continuaram a disseminar
uma variedade de fórmulas capazes de explicar, a eles e à sociedade em geral, como um homem podia ser um
homem e um objeto a um só tempo. O mundo ocidental teve de esperar ainda mil e quinhentos anos depois de
Sêneca para dar o passo final, ou seja, propor que a escravidão era tão imoral que devia ser abolida e mais tre-
zentos anos para que tal abolição se concretizasse, pela força e pela violência.
(Aspectos da Antiguidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.p.192-202.)
II
Que semelhança haveria entre os grandes espetáculos de teatro, rádio e televisão atuais
com os de Roma na Antigüidade? Seriam eles apenas entretenimentos ou serviam para desviar as
atenções do povo dos principais problemas político-sociais do Império Romano?
Durante os festivais, imensa turba convergia para o grande anfiteatro e para os circos de Roma, a
fim de assistir aos jogos do dia. No vasto Coliseu, mais de 50 mil pessoas podiam ver as lutas dos gladiadores
com as feras ou com outros gladiadores. No Circo Máximo, maior ainda, aglomeravam-se 260 mil pessoas para
aclamar aos temerários aurigas que corriam numa pista perigosa e estreita. "Aluía a estes espetáculos tal
multidão - relata Svetónio - que muitos forasteiros precisavam acomodar-se ao longo das estradas, e não raro
tal era a aglomeração que alguns deles morriam esmagados."
Geralmente, estes espetáculos de brutalidade eram encenados pelo governo. Uma das principais
finalidades deles era desviar a atenção das ameaçadoras hordas de desocupados, cujo número chegava, às
vezes a 150 mil.
Segundo vários comendadores severos, os romanos ociosos interessavam-se somente por duas
coisas: o pão distribuído pelo estado e os circos. Eventualmente, como os imperadores não cessassem de
proclamar ocasiões festivas, mais da metade dos dias do ano tornaram-se feriados. Embora os intelectuais se
sentissem chocados da carnificina, a plebe encontrava nesses espetáculos uma válvula para paixões que, de
outro modo, bem se poderiam voltar contra as autoridades e o Estado.
O Feudalismo
O nome de Idade Média para esse período da História Ocidental foi dado pelos Humanistas dos
séculos XV e XVI. Eles consideravam a Idade Média como um período Negro da História, sucedido pelo
21
brilhantismo do Renascimento. Falavam do período medieval - medium aevum - como uma fase de retrocesso
artístico, intelectual, filosófico e institucional de forma generalizada.
O sistema feudal ou pode ser dividido nas seguintes etapas:
O sistema feudal se formou através da conjugação de diversos fatores. Esses fatores foram
divididos em dois grupos: estruturais - os fatores fundamentais, de longa duração, que vieram do mundo
germânico e romano; conjunturais, os mais imediatos e passageiros.
A) No mundo romano em crise, a partir do século III, encontravam-se diversos elementos que
contribuíram decisivamente para a formação do sistema feudal. Os principais eram:
A vila: por volta do fim do Império Romano, os grandes senhores abandonaram as cidades, fugindo da crise
econômica e das invasões germânicas. Iam para seus latifúndios, onde passavam a desenvolver uma
economia voltada para a subsistência. Estes centros rurais eram conhecidos por vilas romanas. Originando
os feudos medievais
A decomposição do escravismo romano: homens de menos posses iam buscar proteção e trabalho nas
terras dos latifundiários. Para poderem utilizar a terra, eram obrigados a ceder ao proprietário parte do que
produziam. Essa relação entre o senhor das terras e aquele que produzia ficou conhecida como colonato.
A crise do poder político: com a ininterrupta ruralização do Império romano, o poder central foi perdendo
seu controle sobre os senhores agrários. Aos poucos, as vilas aumentaram sua autonomia. Cada vez mais o
poder político descentralizava-se, permitindo aos proprietários de terras administrar de forma independente
a sua vila.
O cristianismo: foi outra contribuição fundamental da civilização romana para a formação do feudalismo.
Após enraizar-se na cultura romana, passou a ser religião oficial do Império no século IV. No início da Idade
Média, o cristianismo havia triunfado sobre todas as seitas rivais na Europa. Em pouco tempo a Igreja
tornou-se a instituição mais poderosa do continente europeu, determinando a cultura medieval.
Fatores conjunturais: para que o sistema se formasse de fato, ficavam faltando apenas as
condições de isolamento, próprias do sistema feudal. Esse isolamento veio com as invasões da Europa durante
toda a Alta Idade Média.
As invasões germânicas que ocasionaram a insegurança, a falta de comunicação; o comércio cedeu lugar à
troca. As cidades despovoaram-se, a sociedade tornou-se essencialmente rural e a centralização política
desapareceu.
A presença dos muçulmanos:em 711, os muçulmanos vindo da África, conquistaram a península Ibérica, A
Sicília, a Córsega e a Sardenha. Isso significou uma redução do volume do comércio no Mar Mediterrâneo,
fato que contribuiu para uma maior interiorização da economia européia e para o avanço da ruralização da
sociedade. O aumento do clima de insegurança, também demonstra a expansão sarracena com a
emergência do feudalismo, aa medida em que fortaleceu os laços de dependência pessoal.
Como o Império Franco contribuiu para a consolidação do sistema feudal na Europa Ocidental? O apogeu do
Império Franco foi atingido durante o governo de Carlos Magno, no século VIII. No Natal do ano 800, Carlos
Magno foi sagrado imperador pelo Papa Leão III. Após a sua morte, em 814, seus herdeiros entraram em
22
conflito e, em 843, através do Tratado de Verdum, houve a divisão do império em três partes. As principais
características do império carolíngio em relação ao processo de consolidação do sistema feudal são:
A divisão do império em províncias administradas por condes, encarregados da defesa e da direção dos
territórios
A criação de marcas, províncias militarizadas das fronteiras, comandadas pelos marqueses
Utilização dos missi-dominici - funcionários que percorriam as províncias a fim de supervisionar os abusos
cometidos pelas dinastias provinciais e para garantir a autoridade e o controle sobre os vassalos
As doações de terras (em benefício ou usufruto) aos nobres em troca de serviço, fornecimento de tropas,
cobrança de impostos, administração e justiça em nome do suserano
A pratica da recomendação - ato de uma pessoa que se coloca sob a autoridade da outra
A autoridade o imperador baseava-se, portanto nos laços de fidelidade (ou de vassalagem)
O REGIME DE PROPRIEDADE
RELAÇÕES DE TRABALHO
Embora proprietário dos instrumentos de produção, o camponês não era livre. No domínio, o
trabalho era realizado pelos servos. Por isso o regime de trabalho era chamado servil e se baseava nas
obrigações costumeiras devidas pelo servo ao senhor. As principais obrigações eram:
Corvéia - consistia no trabalho forçado dos servos no cultivo da terra senhorial. O pagamento da corvéia em
geral era fixado em 3 dias semanais - podia variar, porém, de 2 a 5 dias. Esse trabalho podia ser estendido à
construção e reparação de pontes, estradas, represas e canais.
Talha - o camponês era obrigado a entregar uma parte da
produção obtida nos campos
Banalidades - presentes obrigatórios em ocasiões festivas e,
principalmente, uma taxa paga ao senhor pelo uso das
instalações do domínio (celeiro, moinho, forno..)
Taxa de casamento - cobrada quando o servo casava com
uma mulher fora da propriedade
Mão-morta - tributo pago após a morte do servo, no momento
da transmissão da herança aos herdeiros
Albergagem - espécie de hospitalidade forçada que os servos
deviam oferecer aos grandes barões locais em ocasião das suas
viagens, fornecendo alojamento e alimentação para toda a comitiva.
Censo - também chamado de foro - espécie de renda paga somente pelos vilões
Taxa de justiça - cobradas pelo senhor quando o servo cometia uma infração e requeria julgamento em um
tribunal presidido pelo senhor ou seu representante
Capitação - imposto por cabeça pago pelos servos anualmente
Tostão de São Pedro - taxa que a Igreja cobrava em épocas especiais e que enviava ao papa, em Roma.
A ECONOMIA FEUDAL
Na economia feudal, a terra era a principal fonte de riqueza e a produção essencialmente agrícola.
A produtividade era muito baixa e a extração de excedentes era de tal ordem que o campesinato ficava com
apenas 1/6 do total da produção. Não havia por parte deste, interesse em aumentar a produção, pois,
fatalmente, novos tributos seriam impostos pelos senhores. Para estes, a parte da produção retida pelo
camponês deveria corresponder ao mínimo necessário à sua sobrevivência e de sua família. A produção
manufatureira também se desenvolvia nos domínios feudais, aproveitando as matérias-primas de origem rural,
que eram transformadas por artesãos, muito do quais camponeses dependentes. Assim, o domínio feudal
tornava-se autosufiente em vários produtos, tais como vinhos, cerveja, óleo, derivados do leite, utensílios de
madeira, metal e couro, armas, tecidos, etc. No entanto, é importante ressaltar que, em função das próprias
limitações técnicas, não se pode afirmar que a produção na economia feudal era inteiramente autosufiente. Tal
fato levou inúmeros autores a admitirem que sempre houve uma significativa circulação comercial, suprindo o
domínio de produtos existentes apenas em determinadas regiões, como o sal, por exemplo, indispensável no
cotidiano, tanto para a alimentação, como para a conservação de carnes.
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A técnica de cultivo consistia em dividir a terra em dois ou três campos, alternando-se a cultura em
anos consecutivos. O repouso do campo a cada um ou dois anos evitava o esgotamento da terra; além disso, no
ano em que o campo repousava, recebia o gado, que estrumava e devolvia a fertilidade ao solo. Era o sistema
de pousio ou rotação de cultura que funcionava como aparece na tabela abaixo:
Como se vê, um terço da terra cultivável estava sempre em repouso, o que diminuía a produção
global e demonstra o caráter rudimental da técnica. O cultivo não se concentrava só em produtos consumidos
pelo homem, mas também plantas forrageiras - feno - para alimentar os animais no rigoroso inverno europeu.
A SOCIEDADE FEUDAL
No século XI, os bispos elaboraram uma teoria a respeito de como deveria ser a sociedade feudal.
Afirmavam eles que a ordem terrestre era o reflexo da ordem celeste, o que equivalia a dizer que a ordem social
era sagrada e imutável e que o lugar de cada um era determinado por Deus. Conseqüentemente, alterar esta
ordem equivaleria a contrariar a vontade de Deus e era, portanto, pecado. Para elaborar a sua teoria social, os
bispos tomaram como base os três pilares daquela sociedade: o religioso, o militar e o econômico.
A partir deles, criaram uma teoria trifuncional da sociedade, descrevendo-os como composta,
respectivamente pelos oratores (os que rezam – o clero), pelos pugnatores ou bellatores (os que lutam – os
nobres) e os laboratores (os que labutam ou trabalham – os servos) Estabeleceu-se, desse modo uma rígida
hierarquia: o topo era ocupado pelo clero, seguido pela nobreza e, por fim, na base, estavam os trabalhadores.
Cada uma dessas categorias representava uma ordem ou estamento. Essa sociedade consagrava a desigualdade
social, fundamentando-se na natureza, ou seja, uns nascem livres – os nobres – e outros não – os servos.
Mas esse princípio não valia para o clero, que se colocava acima das desigualdades características
do mundo profano. Dessa forma, a ordem social era definida como um estado de coisas que independia da
vontade dos homens. Conseqüentemente, tanto a hierarquia social quanto a desigual distribuição de riqueza
eram perfeitamente legitimas e expressavam a vontade divina. Uma vez que a função de cada um na terra era
ditada por Deus, tudo estava bem ordenado: cumpria ao clero rezar, ao nobre governar e guerrear e ao
camponês trabalhar, assegurando o sustento das outras duas categorias. Segundo essa concepção, a desordem,
social podia ocorrer em caso de usurpação das funções. Assim é que a Igreja procurava conformar as diferentes
camadas sociais numa ordem por ela concebida e na qual, na verdade, ela reserva a si mesma o lugar mais
importante. Tratava-se, portanto, de um esquema clerical que, no fundo pretendia sujeitar a todos, inclusive a
nobreza guerreira, aos sacerdotes e à instituição melhor organizada da época feudal, isto é, a Igreja.
O senhor - se define pela posse legal da terra, pela posse do servo e pelo monopólio do poder militar,
político, judiciário
O servo - se define pela posse útil da terra, pelo fato de ter obrigações e pelo direito de ser protegido pelo
senhor.
O clero - detentor do poder espiritual e cultural
Vilões - eram homens livres que deviam ao senhor obrigações menos pesadas que os servos. Além disso
não estavam presos à terra, podendo trocar de propriedade se o desejassem.
Escravos - eram pouco numerosos e em geral empregados em serviços domésticos. As restrições da Igreja
à escravização de cristãos contribuíam para fazer decrescer o número de escravos
Ministeriais - estavam a serviço do senhor e em geral se ocupavam com a administração da propriedade
feudal. Dependendo do seu tamanho, a propriedade podia ter bailios que tomavam conta de uma
propriedade menor, supervisionados pelo senescal. Esses funcionários fiscalizavam o trabalho dos servos na
reserva senhorial, cobravam os impostos e administravam a justiça nos tribunais locais. Os ministeriais
podiam subir na escala social, chegando até à pequena nobreza, na condição de cavaleiros.
OBS: A partir da Baixa Idade Média, desenvolveu-se uma importante instituição do mundo feudal, a cavalaria,
responsável pelo aparecimento de um rigoroso código moral e social, que, pelo menos em tese, procurava
valorizar a honra, a defesa dos valores cristãos e os mais fracos. A educação do cavaleiro passava por três
etapas:
Pajem: era o menino de seis a quatorze anos. Aprendia as boas maneiras com as damas do castelo, os
segredos da Cavalaria com os cavaleiros contratados pelo senhor e a leitura com os padres.
Escudeiro: dos quatorze aos vinte anos, cuidava das armas do senhor, servia este à mesa. Desenvolvia a
dança e a música
Cavaleiro: era armado aos 21 anos. Na noite que precedia a cerimonia tomava o banho purificador; vestia
uma túnica branca, símbolo da pureza, e uma túnica vermelha, símbolo do sangue que iria derramar pela
Igreja. No dia da armação, depois de jurar defender a Igreja, os fracos, os órfãos, cumprir a palavra dada,
ser cortês com as damas e leal na guerra, o padrinho lhe tocava o ombro com a espada.
As condições de vida nos domínios feudais eram muito duras. O castelo do senhor em geral não
tinha móveis, tapetes ou cortinas. Predominava a terra bruta. A alimentação era abundante, mas pouco variada
e preparada de maneira simples. O divertimento preferido dos senhores era a caça.
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O servo morava na aldeia ao pé do castelo, no qual se refugiava em caso de perigo. Sua casa era
de madeira ou pedras brutas com o chão de terra batida. Havia um fogão de pedras, cuja fumaça enegrecia as
paredes. Os menos miseráveis possuíam um forno e um colchão de plumas que servia de cama. A roupa de
tecido grosseiro, de lã, linho ou couro era feita por eles mesmos. Os divertimentos preferidos eram a luta, o
lançamento de peso, as brigas de galo, as touradas e a prática de tiro com arco e flecha. Esses divertimentos
eram reservados para os dias de festa; nos dias normais de trabalho não havia tempo para a diversão, nem à
noite, pois as velas para iluminação custavam caro e os archotes eram perigosos. Os servos não sabiam ler nem
escrever. Como viviam em condições higiênicas muito precárias, eram freqüentes as pestes e doenças, um
verdadeiro flagelo na Idade Média.
As relações que se estabeleciam entre senhor e servo criaram uma complexa rede de vínculos
pessoais, assumindo também caráter moral e religioso. Esses vínculos pessoais imiscuíam-se até na vida
privada. Para casar-se, por exemplo, os servos deveriam pedir permissão aos senhores, os quais se reservavam
também o direito de passar a primeira noite com a mulher de seu dependente.
As igrejas e suas terras incrustadas nos feudos recebiam imunidades e isenções, não pagavam
taxas nem estavam submetidas à autoridade dos senhores. Os pátios das Igrejas eram considerados locais de
asilo, onde viviam, da caridade religiosa, servos fugitivos, pobres, miseráveis, mendigos. A mentalidade religiosa
medieval protegia com o direito de hospitalidade o pobre, o louco, e o doente, porque Cristo havia santificado a
pobreza e, portanto, o pobre podia ser um enviado de Deus. Também os criminosos, temerosos da vingança de
suas vítimas, buscavam refúgio nas Igrejas.
A idéia de indivíduo isolado, livre para fazer o que quisesse, não existia na mentalidade medieval.
Alguém estava sempre subordinado a um grupo, dependia de proteção e devia fidelidade a alguém ou a uma
instituição. O indivíduo que se considerava livre, não sujeito a nenhuma proteção e fidelidade era o marginal
(aquele que vivia à margem do sistema) e, como tal, deveria ser perseguido pelos poderes estabelecidos: Igreja
e senhores.
Numa sociedade guerreira e viril, o lugar da mulher era secundário, reforçado pelo cristianismo,
que havia identificado o corpo feminino com as tentações diabólicas, o grande medo medieval. As mulheres
nobres ficavam fechadas nas alas femininas dos castelos, tecendo vestes finas para o castelão e seus
acompanhantes, enquanto esperavam o casamento arranjado, entre os membros da linhagem, ou o momento
de ir para o convento. Em nenhuma das opções sua vontade era levada em conta.
O amor conjugal era desconhecido na mentalidade medieval. A mulher casada tinha de gerar filhos
para a continuação da linhagem, trabalhar e aceitar como natural as inúmeras traições do marido com servas,
escravas e filhas de nobres vassalos. O adultério masculino era tolerado, mas se cometido pelas mulheres
tornava-se um grave pecado mortal e um crime severamente punido, inclusive com a morte. Entre a classe
trabalhadora, a situação da mulher era infinitamente pior que a dos homens. Ela participava do extenuante
trabalho agrícola e ainda realizava os afazeres domésticos, além de ser submetida a constrangimentos pelo
marido e pelos nobres. As filhas de camponesas desonradas geralmente prostituíam-se ou eram recolhidas a
algum convento.
AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS
Num sistema econômico e social como o que acabamos de descrever, o poder político só poderia se
local, isto é, exercido pelos senhores feudais e não centralizado nas mãos do rei.
Diversos fatores vinham contribuindo desde o início da Idade Média para o surgimento do poder
local. As invasões bárbaras provocaram a crise do poder imperial centralizado; começou então a
descentralização do poder, com o aumento da autonomia das grandes propriedades rurais. Nestas propriedades,
estabeleceu-se a relação direta entre dependentes e seus protetores. Os mais fracos buscavam a proteção de
homens poderosos, colocando-se sob sua guarda.
Aos poucos, essas unidades econômicas e políticas adquiriram uma autonomia quase completa,
com independência ao poder centralizado. Além disso, a fraqueza dos estados formados pelos bárbaros tornou
impossível a centralização. Apesar de sua autonomia, os senhores feudais também necessitavam de proteção.
Conseguiram-na junto a outros senhores feudais, através do juramento de fidelidade , feito sobre a Bíblia e
na presença de relíquias sagradas.
O juramento de fidelidade era feito por um senhor, que prestava homenagem a outro senhor,
tornando-se seu vassalo; o outro concedia o benefício, através da investidura do seu vassalo, pelo que
tornava-se suserano. Um beijo entre os dois senhores confirmava o compromisso que envolvia obrigações
recíprocas.
A quebra dos laços de fidelidade era muito rara, pois quem assim agisse incorria na traição
denominada felonia. A não ser que se tratasse mesmo de um senhor extremamente poderoso, a felonia era
uma falta gravíssima cuja conseqüência era o isolamento de quem a praticava, pois a pessoa em questão não
seria mais aceita como vassala de outros senhores. No entanto, esta possibilidade sempre existia, já que, como
um indivíduo podia ser vassalo de vários senhores ao mesmo tempo, no caso de um conflito entre estes, o
vassalo era colocado diante da difícil situação de escolha, pois devia fidelidade a todos eles. Na realidade, o
feudo não existia fora das relações de vassalagem. O poder de um senhor era medido pela quantidade de
vassalos e, em conseqüência, pela quantidade de terras possuídas.
Uma outra consideração: referimo-nos freqüentemente aos reis como soberanos. Mas os reis
medievais eram, na verdade, suseranos, e não propriamente soberanos. E‘ importante fazer esta distinção, pois
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a autoridade do suserano era muito mais restrita que a do soberano, já que o suserano era obedecido apenas
pelos seus vassalos imediatos, e não pelos vassalos dos seus vassalos. Assim, ao rei obedeciam, por exemplo,
os condes e os duques, mas não os vassalos desses condes e duques, e assim por diante. Na prática os reis
medievais não eram, pois soberanos, no rigor do termo, embora tendessem a assumir essa característica na
Baixa Idade Média. O sistema de vassalagem tinha a propriedade de criar múltiplos pólos de poder fracionando
ou parcelando a soberania.
O vassalo devia:
Prestar serviço militar por um determinado período do ano
Hospedar o suserano e sua comitiva durante alguns dias do ano
Dar um presente à filha do suserano quando ela se casava
Ajudar na formação do equipamento do filho quando era armado cavaleiro
Comparecer ao tribunal do suserano quando convocado
Contribuir para o resgate do suserano quando este fosse aprisionado
O suserano devia:
A concessão de um benefício (feudo) ao vassalo, que podia ser um domínio, um cargo, um direito ( ex.
cobrar pedágios numa ponte) ou mesmo uma pensão em dinheiro.
Proteção militar ao vassalo em caso de ataque
Proteção aos herdeiros do vassalo e garantia de hereditariedade no feudo
Comparecer ao tribunal para julgar o vassalo em caso de necessidade
À medida que o comércio se ampliava, surgiam as cidades. (já estamos na Baixa Idade Média
com o renascimento comercial) Considere-se que as relações entre senhores feudais, nos domínios dos quais as
cidades se localizavam, e os habitantes destas, chamados genericamente de burgueses, nem sempre foram
tranqüilas.
E' nesta perspectiva que se deve entender o chamado movimento comunal, particularmente
marcante entre os séculos XI e XIII, caracterizado pela reação das populações urbanas contra os abusos dos
senhores feudais (apreensão de mercadorias, diversos impostos, arbitrariedades judiciais...) O movimento
comunal objetivava, em última instância, a liberdade das cidades e a garantia da preservação das conquistas
burguesas, o que era conseguido através de um documento denominado Carta de Franquia ou Foral. Assim,
nascia uma cidade livre, que se tornava isenta do pagamento de taxas, passava a ter uma administração
própria, constituía sua força militar, além de gozar de uma jurisdição específica.
O estatuto de cidade livre era conseguido através da compra ou até mesmo da guerra contra os
senhores, fossem eles leigos ou eclesiásticos. Uma vez livre da tutela feudal, os antigos burgos passavam a ser
conhecidos por Comunas (na França), Repúblicas (na Itália) ou Cidades-Livres (Sagrado Império Germânico)
Nestas cidades são os mais ricos que passam a ter o poder político e o controle sobre a administração pública.
A Igreja católica era a mais poderosa instituição da época feudal. Sua influencia e força não
cessaram de crescer durante boa parte da Idade Média: Por que? Por quais fatores?
Grande poder econômico - devido às diversas doações e os dízimos exigidos, às isenções de impostos
chegando a possuir riquezas, bens móveis e imóveis
A imposição do celibato clerical - para a preservação dos bens eclesiásticos como patrimônio da Igreja,
excluindo qualquer direito legal a eventuais herdeiros dos sacerdotes
Unidade religiosa - conquistada através de constante ação evangélica e, diga-se, através também de
instrumentos repressivos como a Inquisição, criada no século XII. O combate às heresias manteve a Igreja
como única detentora do saber e da educação, sem esquecer a pregação e organização de empreendimentos
militares como as cruzadas, contra os inimigos (heréticos, pagãos e infiéis)
O controle da educação - de fato o clero constituía a minoria intelectual. Monopolizando o saber, ler e
escrever, dominando o ensino, a Igreja dirigiu as atividades culturais e formulou os princípios jurídicos que
nortearam o mundo feudal europeu
A sólida organização, centralizada e hierarquizada - fez da Igreja um verdadeiro estado, cujos limites
se sobrepunham às fronteiras e instituições medievais
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PODERES UNIVERSAIS: IMPÉRIO E PAPADO
Com a crise do Império Romano e a formação dos Reinos bárbaros, a Igreja ficou sem proteção de
que gozava com os imperadores romanos. Procurou então, um outro reino forte capaz de protegê-la. Isso
explica sua aliança com o Reino dos Francos. A Igreja pagava caro essa proteção, pois passava a sofrer a
interferência do poder político, sendo dominada por ele. As conseqüências desta intervenção do poder político
não se fizeram esperar. E' o caso do nicolaísmo - desregramento do clero, corrupção, vida mundana - e a
simonia, comércio dos bens da Igreja, das coisas sagradas.
Em 1073, foi eleito papa Gregório VII. Suas medidas reformistas sobre as investiduras dos bispos e
abades colocaram em choque o papado e o Sacro Império Germânico. Gregório VII, proibiu o casamento dos
padres, instituindo o celibato clerical (1074) para combater o nicolaísmo e a investidura leiga para acabar com a
simonia.. O imperador Henrique IV reagiu energicamente. Recusando-se em acatar as determinações de
Gregório VII, decretou a deposição do Papa. A resposta de Gregório VII foi a excomunhão do imperador, que
colocava Henrique IV fora da comunidade cristã e automaticamente o privava de todos seus direitos. Com isso
os vassalos do imperador não mais eram obrigados ao juramento de fidelidade. Tal situação era ideal para a
nobreza feudal germânica, contrária às pretensões de Henrique IV. Diante disso Henrique empreendeu a
Humilhação de Canossa. Durante três dias, sob o frio intenso, descalço e vestido de penitente, suplicou o perdão
do papa, sendo posteriormente absolvido.
A evolução da Igreja sofre altos e baixos durante a Idade Média. Graças ao poder político, pôde
expandir-se e combater com êxito as seitas rivais. Mas esse apoio acarretou também a tutela por parte dos reis
e imperadores que subjugaram a Igreja aos seus interesses durante toda a Alta Idade Média.
A Querela das Investiduras representou uma virada nas relações entre Igreja e Estado. De fato, de
dominada a Igreja passou a dominante, tornando-se a suprema força política e
espiritual de toda a Europa. Entretanto, as transformações econômicas, sociais e
políticas ocorridas durante a Baixa Idade Média provocaram o declínio dessa
hegemonia. As novas condições econômicas e sociais, oriundas do desenvolvimento
do capitalismo e da transformação do feudalismo, possibilitaram o fortalecimento do
poder real. Esse fortalecimento se traduziu na centralização do poder político em
toda a Europa, dando origem aos estados nacionais ou monarquias nacionais. Este
fato é decisivo para explicar a crise do papado, pois o tornou-se um adversário
forte, em condições de enfrentar e vencer o papa.
Os sucessores de Clemente residiram em Avignon até 1377, quando o papa Gregório XI retornou
para a cidade de Roma. O período de permanência do papado na França recebeu o nome de Cativeiro de
Avignon. Tal transferência retratava claramente o declínio da autoridade temporal do papa. Embora transferido
para Roma, o papado continuou a existir também em Avignon. Como? Com a eleição de dois papas ! De fato,
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em 1378 foram eleitos Urbano VI em Roma e Clemente VII em Avignon. Era o início do Grande Cisma que
somente terminaria em 1417.
Essa divisão provocou um movimento reformista que exigia uma mudança geral tanto na cabeça,
quanto no corpo da Igreja. Com efeito, não era só o papa ( a cabeça), mas sim a comunidade de todos os fieis
(o corpo) que representava a vontade de Deus e que deveria dirigir a Igreja através dos seus representantes, os
bispos. Essa teoria recebeu o nome de teoria conciliar. Ela é importante para se compreender a crise do papado,
pois o desenvolvimento dessa teoria culminou numa luta pelo exercício do poder na cristandade: o papado
contra o concílio. Os acontecimentos que se seguiram vieram fortalecer a teoria conciliar. Em 1409 foi eleito e
Pisa, com a proteção do Sacro Império, um terceiro papa. Os três papas entraram em luta pelo poder,
excomungando-se mutuamente e a todos os seguidores dos adversários. Praticamente toda a humanidade
estava condenada ao inferno, com efeito da excomunhão.
Essa reforma deveria melhorar o padrão intelectual do clero, combatendo assim a ignorância e a
imoralidade. A ausência de uma reforma criou as condições, a longo prazo, para a eclosão da Reforma
Protestante, iniciada por Martinho Lutero, no começo do século XVI.
Do ponto de vista econômico: formulou os princípios relativos às atividades econômicas que deveriam
atender às necessidades da comunidade e não ao proveito pessoal/individual. Elaborou a Teoria ou
doutrina do Justo Preço, condenando a usura e o lucro. O preço de um produto tem que corresponder à
soma do custo mais o correspondente à justa retribuição pelo trabalho realizado na produção da mercadoria
Do ponto de vista cultural: controlou e monopolizou o ensino durante a maior parte da Idade Média,
fixando as diretrizes pedagógicas, fundando escolas e preparando os futuros clérigos
Do ponto de vista político: elaborou a Teoria dos Dois Gládios ou dos Dois Poderes. Afirma que o poder
leigo (poder temporal) governa os corpos (os homens) e o poder eclesiástico ( poder espiritual) governava
as almas; como a alma é superior ao corpo, a autoridade eclesiástica sobrepunha-se à leiga. Se o papa é
detentor do poder espiritual que vem de Deus, quanto mais será superior ao poder temporal (de tempo, aqui
na terra). Assim como o papa pode conferir poder, por ser a maior autoridade na terra, assim o papa pode
excomungar (tirar o poder e excluir da comunidade) Essas concepções políticas, afirmando o
supranacionalismo / internacionalismo papal, inevitavelmente entrariam em choque com os interesses dos
reis no momento em que eles tentassem reforçar sua autoridade
Do ponto de vista social: justificando a divisão da sociedade entre os que 'oram, os que trabalham e os
que lutam'
Do ponto de vista jurídico: incidiu sobre os demais componentes da sociedade relativos à organização da
família, graças à regulamentação do casamento, envolvendo dotes, heranças, direitos e deveres dos
cônjuges.
igualmente importante foi a sua ação na defesa dos fracos e oprimidos, através da moderação da rudeza dos
costumes feudais, da concessão de direito de asilo e de ativa assistência social: por sua riqueza, pôde fundar
e manter orfanatos, hospitais e asilos; por seu poder, impôs o Asilo de Deus, que colocava sob a proteção
os que se encontrassem em domínios da Igreja e a Trégua de Deus, proibindo ações bélicas em
determinados dias e épocas do ano.
Durante a Alta Idade Média parece não haver dúvidas quanto ao monopólio cultural da Igreja. Foi
ela que, nos mosteiros e abadias, preservou os antigos textos gregos e latinos; seus monges copistas se
empenharam em sistematizar e simplificar os textos antigos, notadamente aqueles que se prestavam à
educação dos próprios membros da Igreja; assim como foi ela que silenciou sobre autores clássicos cujas obras
não se adequavam, pelo menos nos primeiros tempos da Idade Média, aos seus propósitos, como Aristóteles,
filósofo grego que somente foi "redescoberto" nos fins da Idade Média.
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Outro traço característico da Alta Idade Média foi a distância entre a chamada cultura erudita
(restrita aos clérigos) e a cultura popular ou folclórica, típica das "massas incultas", formadas pelos leigos. É
interessante observar que a própria palavra clero, tanto em francês (clerc) como em inglês (clerk), significa não
apenas aquele que pertence à Igreja, mas também o culto, o letrado, o que domina a escrita; pelo contrário, a
palavra leigo passa a ter o sentido de ignorante, iletrado, inculto. Na verdade, o vocabulário apenas referenciava
uma profunda divisão sociocultural.
Vale destacar que, apesar do monopólio da cultura erudita e do controle ideológico exercido pela
Igreja, verificou-se, entre as massas camponesas, a manutenção de uma forte tradição cultural pagã,
pré-cristã, associada a elementos culturais "bárbaros", que se manifestava em rituais e crenças populares que
não eram aceitas pelo clero. No entanto, a Igreja acabou se aproveitando da força de muitas dessas tradições
culturais que alimentavam o imaginário coletivo. É o caso, por exemplo, da própria definição da data do
nascimento de Cristo, historicamente imprecisa, e que a Igreja fez coincidir com uma antiga comemoração pagã
da época dos romanos, em homenagem a Saturno (deus que fazia parte da mitologia grega e que foi
incorporado, quando da dominação romana sobre a Grécia). Os festejos romanos em homenagem a Saturno
(iniciavam-se no dia 17 de dezembro e prolongavam-se por 7 dias), ao que tudo indica, estavam de tal maneira
incorporados às tradições culturais populares que acabaram sendo assimilados pela Igreja, exemplificando as
relações entre a cultura erudita e a cultura popular, ou, entre a cultura cristã e a cultura folclórica.
No que diz respeito à cultura eclesiástica, é
importante considerar que, junto aos mosteiros e abadias,
foram fundadas escolas, praticamente as únicas existentes
durante a Alta Idade Média, com o intuito de formar os
clérigos e atender às necessidades do culto. As escolas,
cujos professores eram padres e monges, geralmente
tinham dois tipos de ensino:
No campo artístico, o que se realiza na Alta Idade Média é, em grande parte, resultante da fusão de
elementos culturais de diversas origens: romanas (técnicas, utilização do arco na arquitetura, pintura mural),
orientais (formas rígidas marcadas por tradições sagradas), germânicas (estilização geométrica) e célticas
(utilização das linhas abstratas com finalidade ornamental). É importante assinalar, no entanto, que tanto a
temática como o caráter simbólico eram essencialmente cristãos. Através do simbolismo, buscava-se
compreender e interpretar o universo, o sentido da vida e da própria história do homem, pelos símbolos, como
resultado de uma verdade superior que era revelada pelas Escrituras e salvaguardada pela Igreja.
Nos primeiros tempos da Idade Média, verificou-se uma tentativa de harmonizar a Filosofia grega com
o Cristianismo, razão e fé. Procurava-se, assim, demonstrar que não havia antagonismo entre a doutrina cristã e
o racionalismo. Nesta perspectiva, valorizou-se, sobretudo, o filósofo ateniense Platão (429-347), discípulo de
Sócrates. O platonismo sustentava a idéia da existência de um "mundo das idéias", do qual a realidade não era
mais do que uma sombra. Esta concepção foi aproveitada por um dos principais pensadores e teólogos
medievais, Santo Agostinho (354-430),principal representante da Patrística, para quem, embora as verdades
da fé não possam ser demonstradas pela razão, são, no entanto, confirmadas por ela. Em sua obra máxima,
Cidade de Deus, escrita no ano 426, ele afirmava sua máxima "compreender para crer, crer para compreender",
harmonizando, assim, razão e fé.
Paralelamente às profundas transformações que se operam na Europa Ocidental, a partir do século XI,
também a vida cultural sofre modificações. Como o desenvolvimento das cidades e a expansão do comércio à
longa distância, surgem novas estruturas sociais. Lentamente, outras mentalidades coletivas e outras
concepções do homem, do universo, do tempo e da própria História emergem. Tudo isso se reflete nas
concepções teológicas, nas manifestações artísticas e na vida cultural como um todo. Também o impulso
demográfico, que se verifica nos três primeiros séculos da Baixa Idade Média, funciona como elemento
catalisador dos "novos tempos".
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O ambiente intelectual da Baixa Idade Média, sem dúvida, é outro, quando comparado com aquele que
impregnou a Alta Idade Média. As escolas, agora, se multiplicam, urbanas, junto às catedrais. Embora o "ciclo
dos estudos" ainda esteja preso às "sete artes liberais" dos tempos carolíngios, objetivando, em última instância
a preparação aos estudos de Teologia, a redescoberta do pensamento aristotélico abria espaço à dúvida e à
investigação. Ao redescobrir Aristóteles (filosofo grego, discípulo da "Academia de Platão"), os pensadores
cristãos, como Abelardo (1079-1142), filósofo e professor que atraia multidões de estudantes a Paris,
redefiniram as concepções teológicas aceitas pela Igreja até então. Afirmando que "aproximamo-nos da pesquisa
duvidando, e pela pesquisa percebemos a verdade", Abelardo procurava conciliar Fé e Razão.
No entanto, o grande teólogo da Baixa Idade Média foi São Tomás de Aquino (1224-1274), profundo
conhecedor da obra de Aristóteles e que, não desconhecendo a importância da razão para alcançar o saber,
afirmava que, sem o auxílio da graça divina e da fé, o homem não poderia atingir um grau ainda maior de
conhecimento. Desta maneira, conciliava-se Filosofia e Teologia, razão e fé, aristotelismo e pensamento cristão.
Em sua obra máxima. Suma Teológica, São Tomás de Aquino, através da Escolástica (método de estudo que
privilegiava o sentido das palavras, o raciocínio, a demonstração através da dialética e o recurso às fontes cristãs
e ao pensamento clássico), sistematizou e fez a síntese das concepções teológicas de sua época.
Percebe-se, assim, que o quadro cultural dos fins da Idade Média é bastante diverso daquele da Alta
Idade Média. Sem dúvida, a Igreja já não mais é detentora do monopólio do conhecimento. Essa transformação,
conforme se observou, é fruto da expansão demográfica, do crescimento urbano, do "renascimento comercial",
do movimento comunal que se traduziu na luta das cidades em busca de sua plena autonomia.
AS CORPORAÇÕES DE OFICIO
Com o crescimento das cidades, na Baixa Idade Média, cresceu também o mercado consumidor de
produtos dentro das cidades. Portanto, se no começo a cidade era um centro de mercadores, aos poucos foi
reunindo também os artesãos que produziam os artigos necessários aos habitantes das cidades e aos
moradores da zona rural próxima.
A produção das cidades foi organizada em torno das corporações de ofício.
A política econômica posta em prática pelas cidades tinha como objetivo atingir o equilíbrio
econômico, isto é, uma igualdade perfeita entre oferta e procura. Para atingir esse objetivo, não se podia deixar
o mercado funcionar livremente. Havia uma rígida intervenção na produção, de modo a fazê-la acompanhar o
ritmo do consumo: determinava-se a quantidade a ser produzida, controlava-se a qualidade dos produtos, os
preços que seriam pagos por eles, os salários dos trabalhadores que os produziriam, e até mesmo a quantidade
de moedas emitidas na cidade, pois essa emissão poderia alterar o valor dos produtos.
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As corporações, ou grêmios, têm uma origem bastante controvertida. Muitos ligam as corporações
aos collegia, ou artes, típicos do final do Império Romano, que congregavam trabalhadores do mesmo ofício;
outros vêem sua origem nos grêmios existentes nos grandes domínios feudais da época carolíngia.
Na realidade, as primeiras associações de trabalhadores tinham preocupações caridosas e
econômicas. A atividade caritativa era exercida em benefício dos próprios associados. Elas tinham muita
semelhança com as associações que se formavam em volta dos mosteiros.
Os graus da corporação
A unidade de produção típica na cidade medieval era a oficina. Seu proprietário — o mestre artesão
— era também o dono da matéria-prima e das ferramentas, O mestre ficava com todos os produtos fabricados e,
portanto, com todos os lucros da venda.
Para auxiliar o mestre, havia os oficiais ou companheiros, geralmente filhos ou parentes próximos
que recebiam um salário pelo seu trabalho. A situação dos oficiais não era muito inferior à do mestre. Eles
mesmos podiam tornar-se mestres, desde que houvesse uma expansão do mercado (exigindo mais produção) e
que a corporação permitisse a instalação de uma nova oficina.
Em seguida, vinham os aprendizes, filhos menores ou filhos de parentes próximos. Ficavam
subordinados diretamente ao mestre, com o qual aprendiam a profissão e noções gerais de educação. A etapa
de aprendizagem durava em geral sete anos, podendo variar de três a doze, após a qual o aprendiz se tornava
oficial.
A ascensão dentro da hierarquia era muito lenta. Dependia de uma série de condições. Uma era a
expansão do mercado local, que exigia mais produção e, portanto, mais oficiais, mestres e aprendizes. Além
disso, a conquista do grau de mestre, com o passar dos tempos, ficou sujeita a certas condições, como:
pagamento de direitos, nascimento legítimo, filiação burguesa e realização de uma obra de arte de outro da
especialidade, que era julgada pelo corpo de mestres já existente.
Este modo de produção artesanal era válido somente para o mercado local. Com o desenvolvimento
do comércio internacional, apareceram novas relações de trabalho. Primeiramente, os artesãos começaram a
depender de um comerciante que lhes fornecia a matéria-prima e os instrumentos de trabalho e lhes pagava um
salário. Esses trabalhadores podiam ser contratados por uma jornada de trabalho: eram os jornaleiros. Sua
situação era muito difícil, pois ficavam sujeitos aos azares do mercado, ao desemprego, enfim, a condições de
vida miseráveis. O comerciante intervinha na produção para conseguir melhores ganhos na venda do produto;
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conseguia isso baixando os custos da produção (comprando matéria-prima barata e contratando mão-de-obra
também barata). Este novo personagem era o comerciante manufatureiro, que preparava o aparecimento das
manufaturas da época moderna.
REVOLTAS POPULARES
TEXTOS COMPLEMENTARES
―Eu me queixo, pois, para São Miguel, que é o mensageiro do senhor do céu, de todos os vilões de
Verson...Os vilões devem carregar pedra todos os dias que for necessário.. .Eles devem serviço todos os dias em
que se fizer construção no forno e no moínho; devem servir de pedreiro, quer para trabalhar a pedra quer para
fazer a argamassa. Tudo isto os vilões fazem com freqüência.
O primeiro serviço do ano eles devem no dia de São João: eles devem ceifar o campo, depois
ajuntar, emparelhar e empilhar o feno. Quando ele estiver amontoado, devem carregá-lo ao castelo onde os
feitores armazenarão no celeiro. Também esse serviço eles o fazem freqüentemente.
Depois eles devem limpar o canal..., cada um com sua vara no ombro, retirar o estrume e o
entulho. E assim vem o mês de agosto: serviço não lhes falta, pois devem pagar a corvéia.. .Eles devem ceifar o
trigo, ajuntar e amontoar no meio do campo e carregá-lo para o celeiro. Este serviço é executado desde a
infância. Suas terras devem a talha:por isso, nunca tirarão para si todos os feixes. Eles pagam a talha com dor.
Se os vilões faltam com suas obrigações, o cobrador os faz passar vergonha.. .Eles carregam a talha em suas
carroças, levando-a ao celeiro; o seu trigo, no entanto, permanece no vento e na chuva...Eles amaldiçoam em
sua linguagem aquele que lhes herdou este destino, que os faz sofrer tanto. Depois vem o dia de Nossa
Senhora, em setembro, quando é necessário fixar a obrigação sobre os porcos. Se o vilão possui 8 porcos, ele
que pegue os dois mais bonitos e depois um outro, que será dado ao senhor, que não aceitará o pior...
E depois vem o dia de São Denis, quando os vilões são lembrados de que lhes falta pagar os
dízimos.. .Depois eles devem a obrigação para cercar os campos, e eles não poderão de forma alguma cercar os
seus campos antes de ter remetido uma renda para o senhor. Eles não poderão murar nem cercar, se sobre a
terra se cobra a talha...Eles não podem vender sua terra sem que o senhor tenha a décima terceira parte.
Depois eles devem a corvéia, quando vão lavrar a terra, quando vão guardar o trigo no celeiro e
quando deverão semear cerca de um acre de terra, cada um, em seu pedaço de terra. Depois eles devem o
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presente de Santo André, toucinho defumado, três semanas antes do Natal...No Natal eles devem as galinhas, e
se elas não forem boas e finas, o preboste exigirá penhor. Depois eles devem o direito para fabricar cerveja. ..Se
o vilão casa sua filha fora da senhoria, o senhor tem três soldos pelo casamento. Depois vem o Domingo de
Ramos, aí eles devem o direito sobre os carneiros...
Na Páscoa eles devem a corvéia.. .Eles podem ir ao ferreiro e fazer a ferradura para seus cavalos.
Depois eles devem o direito de transporte.. .Depois eles vão ao moinho coletivo com um alqueire de farinha.. .e
o moleiro tirará antecipadamente com uma pá a parte do senhor; depois tirará um punhado para si e mais uma
porção para pagar o transporte. Depois eles vão ao forno coletivo, onde devem pagar uma obrigação ainda
maior; se a mulher do vilão não está enviando desde muito tempo qualquer coisa que pague bem o uso do
forno, a forneira, orgulhosa e altiva, resmunga e o forneiro atenderá com má vontade, O vilão nunca comerá um
bom pão, ele será sempre mal preparado e pouco cozido.‖
Com a decadência da escravidão, há uma transformação nas relações de trabalho, que resultou na
estruturação da sociedade feudal. O fim do Império Romano do Ocidente fez com que todo aquele imenso
território, antes unificado por Roma e seus exércitos, se fragmentasse a tal ponto que surgissem muitas formas
de organização social e política, dependendo das condições de cada região naquele momento. Mas, apesar desse
fracionamento e de toda a diversidade de como se estruturou o sistema feudal, podem-se definir algumas
características predominantes nesse sistema. Vejamos:
A terra é o principal meio de produção, e as principais relações sociais desenvolvem-se em torno dela, uma
vez que se tem uma economia fundamentalmente agrícola. Mas a terra não pertencia aos produtores diretos,
isto é, aos camponeses e artesãos. Pertencia aos senhores feudais, devidamente hierarquizados.
Os trabalhadores tinham direito ao usufruto e à ocupação das terras, mas nunca à propriedade delas, Os
senhores, através dos laços feudais, tinham o direito de arrecadar tributos sobre os produtos ou sobre a
própria terra.
Na combinação dessas relações, pode-se detectar uma rede de vínculos pessoais de direitos e deveres e de
honra entre os senhores, e entre estes e os servos, em que uns trabalham em regime de servidão, no qual
não se goza de plena liberdade, mas, também, não se é escravo. O que há é um sistema de deveres para
com o senhor e deste para com os seus servos,
A sociedade feudal é uma organização social que se estrutura em estamentos e estes têm uma
relação entre si muito diversa e complexa. Aqui, a preocupação será identificar como se dão as relações
específicas na questão do trabalho. A propriedade feudal era constituída, no mínimo, de uma aldeia, das terras
dos camponeses, da floresta, das pastagens comuns, da igreja, da casa paroquial e das terras pertencentes a
ela, da casa do senhor, que possuía o moinho, o forno e o celeiro, bem como as melhores terras da propriedade.
A produção nesse sistema tinha como base o trabalho na terra e esta se subdividia, basicamente,
em três partes: uma para a plantação de outono, outra para a de primavera e uma outra, a do pousio, isto é,
uma porção, ou gleba, de terra que ficava descansando, sem plantação. Dessa maneira, anualmente se fazia um
rodízio entre as diversas glebas de terra, de tal maneira que sempre uma delas descansava enquanto as outras
estavam produzindo de modo intercalar, ora com a plantação de outono, ora com a plantação de primavera.
Essa organização espacial de alguma forma já definia e ordenava o trabalho no interior da
propriedade feudal. Os servos, além de trabalharem em suas terras, eram também obrigados a trabalhar nas
terras do senhor, bem como na construção e manutenção de estradas e pontes. Esta obrigação se chamava
corvéia. Entretanto, havia uma série de outras obrigações que os servos deviam aos senhores, como, por
exemplo, um imposto que se pagava por pessoa e atingia unicamente os servos. O censo era outro imposto,
mas esse era pago somente pelos homens livres (camponeses e aldeãos). A talha era uma taxa que se pagava
sobre tudo o que se produzia na terra e atingia todas as categorias dependentes. As banalidades consistiam em
outra obrigação devida ao senhor, e eram pagas pelos servos e camponeses, pelo uso do moinho, do forno, dos
tonéis de cerveja e pelo fato de, simplesmente, residirem na aldeia.
Como se pode perceber, eram os servos, os aldeãos, ou seja, as classes servis quem efetivamente
trabalhava nessa sociedade. Os senhores feudais e o clero viviam, pois, do trabalho dos outros.
Apesar de o trabalho vinculado à terra ser o preponderante na sociedade feudal, isso não significa
que outras formas de trabalho não existissem. Atividades artesanais nas cidades ou mesmo dentro do feudo e
atividades comerciais nas cidades completam as outras formas de trabalho. Cabe aqui caracterizar uma dessas
atividades que se desenvolveram nas cidades: o artesanato e a sua organização. As associações dos
trabalhadores de diferentes ofícios é um traço marcante da sociedade feudal. Essas associações, cujas origens
remontam ao mundo romano, aqui passam a ter uma ordenação bastante rígida. Havia uma regulamentação que
estabelecia o conceito de oficio, criava os mecanismos de controle da profissão (quem é que podia exercê-la) e
ainda determinava um grupo de conselheiros, encarregados de fazer observar os estatutos da associação. Essas
associações se tomaram conhecidas como corporações de ofício.
Para se compreender como foi possível essa situação de servidão se sustentar por tanto tempo, é
necessário que se entenda que a sociedade feudal, em termos gerais, se caracteriza pela solidariedade entre as
famílias senhoriais, pelo cumprimento irrestrito de compromissos, juramentos, e também pela presença da
Igreja sancionando esses compromissos e definindo claramente o lugar das classes servis nessa comunidade.
Desse modo, os senhores (nobreza e clero) conseguem não só manter pleno domínio da situação, mas também
fazer com que essa dominação seja aceita pelos dominados.
Segundo a concepção feudal, com base na Igreja Cristã, o trabalho era uma verdadeira maldição e
deveria acontecer somente na quantidade necessária à sobrevivência, não tendo nenhum valor em si mesmo.
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Como era a salvação individual o que importava, o trabalho era desqualificado, uma vez que não permitia a
quem o executava uma constante meditação e contemplação — a forma de se chegar mais perto de Deus e,
portanto, da salvação.
Essa situação, que se manteve durante séculos sem contradições e conflitos, não permaneceria
sempre assim. No século XIV, inicia-se a grande crise da sociedade feudal, com a fome generalizada causada
pelas chuvas, que acabam com as colheitas em quase toda a Europa. Juntamente com a fome que matava
milhares de pessoas, fazendo com que até o ar parecesse ameaçadoramente perigoso, surge a Peste Negra,
trazendo a morte para outros tantos milhares de pessoas. Nesse processo não se pode esquecer a Guerra dos
Cem Anos, que também dizimou um sem-número de vidas. A maioria dos historiadores admite que morreram
cerca de 35% a 40% do total da população européia.
No final do século XIV, surge um outro elemento importante quando se consideram as
transformações que estão desestruturando a sociedade feudal: são as insurreições camponesas. As revoltas
camponesas começam a pipocar em todos os lugares, pois a exploração dos senhores feudais se torna a cada dia
mais aguda, a eles não importando as condições de vida dos servos e camponeses. Seja na Inglaterra, em
Flandres, na Alemanha, na França, na Espanha ou na Itália, essas revoltas se alastram, pondo em risco a
manutenção dos laços de lealdade que subsistiam até então.
Por outro lado, há um movimento de resistência passiva por parte dos camponeses, que não
pagavam as rendas devidas ou protelavam o pagamento, de forma consciente, fazendo com que muitos
senhores não resistissem a tantos problemas daí decorrentes. Com a desagregação da estrutura feudal, surgem
os primeiros sinais da constituição lenta e permanente de um novo modo de produção em desenvolvimento: o
modo de produção capitalista e, conseqüentemente, de uma nova relação de trabalho
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