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A filosofia nasceu com o surgimento de uma nova forma de investigar a realidade (physis). O
pensamento filosófico representou uma ruptura com a tradição mitológica, que explicava a harmonia da
natureza, as estruturas sociais e muitas outras coisas através do simbolismo da mitologia. O pensamento
mítico é um recurso comum a todos os povos da antiguidade, mas, ainda assim, era uma forma de
racionalidade.
O verão e a primavera, por exemplo, eram causados pela visita de Perséfone ao Olimpo, e sua volta
ao reino de Hades tinha como efeito o outono e o inverno. A tempestade e o trovão eram causados por
Zeus, deus dos raios e autoridade máxima entre os deuses. Os nobres gregos seriam descendentes dos
deuses do Olimpo, portanto, tinham linhagem divina. Esses são exemplos do pensamento mítico que será
superado pelos primeiros filósofos.
A investigação racional da physis, que tem sua origem com Tales de Mileto, inaugura uma postura
investigativa que abandona, em certa medida, as explicações mitológicas.
A tradição filosófica, graças à incrível obra de Aristóteles (que registrou o pensamento dos pré-
socráticos), considera que Tales foi o primeiro a perguntar pelo princípio originário de todas as coisas
(Arché). Motivado pela admiração típica dos filósofos, Tales observou o movimento de geração e
corrupção da natureza, e concluiu que na multiplicidade dos seres existe uma unidade, um elemento
comum a todos. Através da indução, o primeiro filósofo avaliou casos particulares para concluir que a
água é o princípio da existência, elemento sem o qual a physis não seria possível.
Percebe-se assim uma forma de investigar baseada na observação e no pensamento racional, sem
recorrer à mitologia. Os demais filósofos pré-socráticos seguirão o exemplo de Tales. Anaxímenes,
Anaximandro, Parmênides, Heráclito e outros irão também investigar a natureza e chegar a outras
respostas. Entre eles teremos ainda duas fases: uma que busca o princípio físico e outra conceitual, que
investiga o Ser.
Heráclito sugere que a realidade é ordenada por uma razão universal (Logos). A razão, portanto, não
é propriamente humana. O homem apenas consegue exprimir o Logos através da linguagem. A
contemplação da physis nos leva a perceber essa razão universal.
Mas todos eles terão uma característica marcante: a ruptura com a mitologia, a investigação racional
e a busca pela unidade na multiplicidade. Não são explicações que repousam na tradição simbólica de
um povo, mas explicações de homens que não deram mais ouvidos ao mito, mas ao logos. Trata-se do
início daquilo que será chamado, séculos depois, de pensamento científico. Como exemplo, observe esta
explicação de Anaximandro, que não recorre a Zeus para explicar o relâmpago:
Segundo Anaximandro, os ventos produzem-se quando os vapores mais sutis do ar se separam e quando
são postos em movimento por congregação; a chuva resulta da exalação que se eleva das coisas que
estão ao sol, e o relâmpago origina-se sempre que o vento se desencadeia e fende as nuvens. (HIPÓLITO
apud REZENDE, 2008, pg. 22 ).
Apesar disso, o pensamento mítico não foi totalmente abandonado. A riqueza simbólica dos mitos são
um sofisticado recurso de linguagem para falar sobre coisas de difícil compreensão. Aquilo que pode ser
compreendido pela razão é desmistificado (como o relâmpago). Contudo, para aquilo que permanece
mistério os mitos são ainda nosso melhor recurso. Talvez por isso Tales tenha afirmado que “tudo está
cheio de Deuses “, e Heráclito, ao surpreender alguns convidados com a simplicidade de sua casa,
afirmou: “mesmo aqui, os deuses estão presentes”.
1
CARNEIRO, ALFREDO. Pré-Socráticos: do mito ao logos ou a origem da filosofia. Filosofia na rede. https://bit.ly/2TxFjza
A Filosofia é bastante questionada enquanto disciplina, é necessário que os professores, pais, alunos
e sociedade e geral conscientizem de que o ensino não deve ser considerado como uma disciplina a mais
no currículo.
O ideal é que o professor da disciplina tenha em mente o quanto é necessário fazer com que seus
alunos não fiquem dependentes de livros didáticos e nem de ideias dogmatizadas. É preciso desenvolver
o espírito reflexivo questionador, que favoreça a formação de alunos capazes de desenvolver seu próprio
pensamento, formando cidadãos capacitados para enfrentar as diversas situações que poderão surgir em
suas vidas. A Filosofia é fundamental na vida de todo ser humano, visto que proporciona a prática de
análise, reflexão e crítica em benefício do encontro do conhecimento do mundo e do homem.
De forma geral o ensino da Filosofia no Ensino Médio tem sido efetuado com o acento em seu ensino
e não no ato de aprender. Mas o que os professores transmitem quando “ensinam” a filosofia? Transmitem
uma tradição, uma postura ou um conhecimento?
A conclusão mais óbvia, é que os professores limitam a transmitir a tradição do pensamento filosófico,
ou seja, aquilo que foi pensado e produzido pelos filósofos ao longo dos tempos, através de textos
filosóficos, uma vez que, não se ensina a tradição filosófica sem recursos aos textos filosóficos. Porém,
nem todos os pensadores acreditam que a mera transmissão seja suficiente para oferecer aos jovens o
desenvolvimento de um pensamento crítico e autônomo.
O exemplo mais eminente é o de Jacques Rancière, (1940) filósofo francês, professor de filosofia na
Escola Europeia de Pós-Graduação em Saas-Fee e professor Emérito de Filosofia da Universidade de
Paris (Saint-Denis) que dirigindo aos professores franceses afirmou que: “o papel da filosofia nas escolas
deveria o de promover uma experiência de ignorância” coisa que nenhuma outra disciplina é capaz de
fazer. A aula de filosofia não pode ser mais o mero contato que os estudantes têm com esse conhecimento
transmitido, mediado pelo professor. Então, torna-se necessário colocar ênfase no aprender como
processo, e dessa forma, é que o aluno participa e desenvolve a experiência filosófica.
2
ARLINDO NASCIMENTO ROCHA. O Ensino da Filosofia no Ensino Médio. http://www.publikador.com/filosofia/arlindo-nascimento-rocha/o-ensino-da-filosofia-no-
ensino-medio
FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA
O que é Filosofia4
Desde a invenção da palavra “filosofia”, por Pitágoras, temos diversos problemas filosóficos e diversas
respostas a cada um deles.
Para os Pré-Socráticos: a physis;
Para a Filosofia Antiga: a atividade política, técnicas e ética do homem;
Para a Filosofia Medieval, o conflito entre fé e razão, os Universais, a existência de Deus, a
conciliação entre Presciência divina e Livre-arbítrio;
Para a Filosofia Moderna, o empirismo e o racionalismo;
Para a Filosofia Contemporânea, diversos problemas a respeito da existência, da linguagem, da arte,
da ciência, entre outros.
A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com uma explicação
mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a partir de uma realidade exterior, de ordem
sobrenatural, que governa a natureza. O mito não necessita de explicação racional e, por isso, está
associado à aceitação dos indivíduos e não há espaço para questionamentos ou críticas.
É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI a.C. que nasce Tales que, para Aristóteles
é o iniciador do pensamento filosófico que se distingue do mito. No entanto, o pensamento mítico, embora
sem a função de explicar a realidade, ainda ecoa em obras filosóficas, como as de Platão, dos
neoplatônicos e dos pitagóricos.
A autoria da palavra “filosofia” foi atribuída pela tradição a Pitágoras. As duas principais fontes sobre
isso são Cícero e Diógenes Laércio.
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os
homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as dificuldades mais comuns; depois,
avançando passo a passo, tentavam explicar fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua, o
curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação e admirar-se é
reconhecer-se ignorante.”
Epicuro (341 a.C. - 270 a.C.): “Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem o canse fazê-lo
quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a
4
PEREIRA, Wigvan. http://atividadesparaprofessores.com/a-filosofia/?print=print
Edmund Husserl (1859 - 1938): “O que pretendo sob o título de filosofia, como fim e campo de minhas
elaborações, sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual o pensador para quem, na sua vida de
filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?”
Friedrich Nietzsche (1844 - 1900): “Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, ouve, suspeita,
espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos próprios pensamentos como
se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por uma espécie de acontecimentos e de faíscas de
que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem
fatal, em torno do qual sempre tomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes.”
Ludwig Wittgenstein (1889 - 1951): “Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar à mosca a saída do
vidro.”
Gilles Deleuze (1925 - 1996) e Félix Guattari (1930 - 1993)5: “A filosofia é a arte de formar, de
inventar, de fabricar conceitos... O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência... Criar
conceitos sempre novos é o objeto da filosofia."
Karl Jaspers (1883 - 1969): “As perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada
resposta transforma-se numa nova pergunta”6.
García Morente (1886 - 1942): “Para abordar a filosofia, para entrar no território da filosofia, é
absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente indispensável que o
aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar seu estudo com uma disposição infantil. (…) Aquele para
quem tudo resulta muito natural, para quem tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo resulta
muito óbvio, nunca poderá ser filósofo”.7
TEORIA DO CONHECIMENTO8
Enquanto reflexão sobre o comportamento teórico, sobre aquilo que chamamos de ciência, a filosofia
é teoria do conhecimento científico, teoria da ciência. Enquanto reflexão sobre o comportamento prático
do espírito, sobre o que chamamos de valor no sentido estrito, a filosofia é teoria do valor. O campo da
filosofia divide-se portanto em três partes: teoria da ciência, teoria do valor e teoria da visão de mundo.
Uma ulterior divisão dessas partes fornece as principais disciplinas da filosofia. A primeira chamamos de
lógica; a última, de teoria do conhecimento.
Assinalamos, assim, o lugar que a teoria do conhecimento ocupa no conjunto da filosofia. Podemos
defini-la como teoria material da ciência ou como teoria dos princípios materiais do conhecimento
humano. Enquanto a lógica investiga os princípios formais do conhecimento, as formas e leis gerais
do pensamento humano, a teoria do conhecimento dirige-se aos pressupostos materiais mais gerais do
5
GALLO; Sílvio. “Ética e Cidadania – Caminhos da Filosofia, p. 22
6
Introdução ao pensamento filosófico, p. 140.
7
Fundamentos de filosofia, p. 33-34
8
PEDROSO, Claudemir. Resumo Teoria do Conhecimento. http://www.claudemirpedroso.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=125:resumo-
teoria-conhecimento&catid=36:artigo&Itemid=58
Como disciplina filosófica independente, não se pode falar de uma teoria do conhecimento nem na
Antiguidade nem na Idade Média. É só na Idade Moderna que a teoria do conhecimento aparece como
disciplina independente. Na filosofia continental, Immanuel Kant aparece como o verdadeiro fundador da
teoria do conhecimento. Esse método não investiga a gênese psicológica do conhecimento, mas sua
validade lógica. Em Fichte, o sucessor imediato de Kant, a teoria do conhecimento aparece pela primeira
vez intitulada "teoria da ciência". Em contraposição a esses tratamentos metafísicos da teoria do
conhecimento, o neokantismo, surgido na década de 1860, esforça-se por separar nitidamente o
questionamento metafísico do epistemológico. O neokantismo desenvolveu a teoria kantiana do
conhecimento numa direção muito bem determinada.
A teoria do conhecimento, como o nome já diz, é uma teoria, isto é, uma interpretação e uma explicação
filosóficas do conhecimento humano. Se aplicamos esse método, o fenômeno do conhecimento se nos
apresenta, nas suas características fundamentais, do seguinte modo. No conhecimento defrontam-se
consciência e objeto, sujeito e objeto.
O dualismo do sujeito e do objeto pertence à essência do conhecimento. A função do sujeito é
apreender o objeto; a função do objeto é ser apreensível e ser apreendido pelo sujeito. Vista a partir do
sujeito, essa apreensão aparece como uma saída do sujeito para além de sua esfera própria, como uma
invasão da esfera do objeto e como uma apreensão das determinações do objeto. Surge no sujeito uma
"figura" que contém as determinações do objeto, uma "imagem" do objeto. Visto a partir do objeto, o
conhecimento aparece como um alastramento, no sujeito, das determinações do objeto. Há uma
transcendência do objeto na esfera do sujeito correspondendo à transcendência do sujeito na esfera do
objeto. Pelo contrário, pode-se falar de uma atividade e de uma espontaneidade do sujeito no
conhecimento. Receptividade com respeito ao objeto e espontaneidade com respeito à imagem do objeto
no sujeito podem perfeitamente coexistir. Na medida em que determina o sujeito, o objeto mostra-se
independente do sujeito, para além dele, transcendente.
Todo conhecimento visa ("intenciona") um objeto independente da consciência cognoscente. Parece
existir uma contradição entre a transcendência do objeto em face do sujeito e a correlação constatada há
pouco entre sujeito e objeto. O objeto só não é separável da correlação na medida em que é um objeto
de conhecimento. A correlação entre sujeito e objeto não é em si mesma indissolúvel; só o é no interior
do conhecimento. A essência do conhecimento está estreitamente ligada ao conceito de verdade. Só o
conhecimento verdadeiro é conhecimento efetivo. "Conhecimento não-verdadeiro" não é propriamente
conhecimento, mas erro e engano. O conceito de verdade que obtivemos a partir da consideração
fenomenológica do conhecimento pode ser chamado conceito transcendente de verdade, vale dizer, ele
tem a transcendência do objeto como pressuposto. Ambos visam, com a verdade, a concordância do
conteúdo do pensamento com o objeto.
Como dissemos, o conhecimento possui três elementos principais: sujeito, "imagem" e objeto. Pelo
sujeito, o fenômeno do conhecimento confina com a esfera psicológica; pela "imagem", com a esfera
lógica; pelo objeto, com a ontológica. Enquanto processo psicológico num sujeito, o conhecimento é
objeto da psicologia. A "imagem" do objeto no sujeito é uma estrutura lógica e, enquanto tal, objeto da
lógica. O ser, porém, é objeto da ontologia. Quando se ignora isso e se encara o problema do
conhecimento, de forma unilateral, a partir do objeto, o resultado é o ponto de vista do ontologismo. Poder-
se-ia pensar que a tarefa da teoria do conhecimento estaria cumprida, no essencial, com a descrição do
fenômeno do conhecimento.
O método fenomenológico só pode oferecer uma descrição do fenômeno do conhecimento. De acordo
com o que foi dito, a descrição do fenômeno do conhecimento tem uma significação apenas preparatória.
Distinguimos correspondentemente um conhecimento espiritual e um conhecimento sensível. A fonte e o
fundamento do conhecimento humano é a razão ou a experiência? Essa é a questão sobre a origem do
Possibilidade do Conhecimento
Dogmatismo
Por dogmatismo (do grego dogma, doutrina estabelecida) entendemos a posição epistemológica para
a qual o problema do conhecimento não chega a ser levantado. O fato de que, para o dogmatismo, o
conhecimento não chega a ser um problema, repousa sobre, uma visão errônea da essência do
conhecimento. Ao contrário, acredita que os objetos de conhecimento nos são dados como tais, e não
pela função mediadora do conhecimento (e apenas por ela). A primeira forma de dogmatismo diz respeito
ao conhecimento teórico; as duas últimas, ao conhecimento dos valores. O dogmatismo ético lida com o
conhecimento moral; o religioso, com o conhecimento religioso. As reflexões epistemológicas estão, de
modo geral, afastadas do pensamento dos pré-socráticos (os filósofos jônios da natureza, os eleatas,
Heráclito, os pitagóricos). Dogmatismo, para eles, é fazer metafísica sem ter antes examinado a
capacidade da razão humana.
Ceticismo
O conhecimento como apreensão efetiva do objeto seria, segundo ele, impossível. Se se referir apenas
ao conhecimento metafísico, falaremos de ceticismo metafísico. Com respeito ao campo dos valores,
distinguimos o ceticismo ético do ceticismo religioso. Finalmente, cabe distinguir ainda o ceticismo
metódico do sistemático. A apreensão do objeto é vedada à consciência cognoscente. Não há
conhecimento. Isso representa uma negação das leis lógicas do pensamento, em especial do princípio
de contradição. Como não há juízo ou conhecimento verdadeiro, Pirro recomenda a suspensão do juízo,
aepokhé. Um conhecimento no sentido estrito, segundo eles, é impossível. O ceticismo também pode ser
encontrado na filosofia moderna. No filósofo francês Montaigne (1592), deparamos com um ceticismo,
sobretudo ético; em Hume, com um ceticismo metafísico. Em Bayle tampouco encontraremos um
ceticismo no sentido de Pirro, mas, no máximo, no sentido do ceticismo médio. Também aqui, porém, há
um conhecimento sendo expresso, a saber, o conhecimento de que é duvidoso que haja conhecimento.
A aspiração ao conhecimento da verdade é, do ponto de vista do ceticismo estrito, desprovida de sentido
e de valor. Nossa consciência ética dos valores, porém, protesta contra essa concepção. Não podemos
afirmar o mesmo do ceticismo especial. O ceticismo metafísico, que nega a possibilidade do
conhecimento do supra-sensível, pode ser falso, mas não contém nenhuma contradição interna. Na
história da filosofia, o ceticismo aparece como antípoda ao dogmatismo.
Subjetivismo e o Relativismo
Não há verdade alguma universalmente válida. O subjetivismo, como seu nome já indica, restringe a
validade da verdade ao sujeito que conhece e que julga. Todo juízo tem validade apenas para o gênero
humano. O juízo 2X2= 4 vale para todo indivíduo humano. O relativismo tem parentesco com o
subjetivismo. Também para ele, não há qualquer validade geral, nenhuma verdade absoluta. Toda
verdade é relativa, tem validade restrita. Os representantes clássicos do subjetivismo são os sofistas.
Esse princípio do homo mensura, como é abreviadamente chamado, muito provavelmente era tomado no
sentido do subjetivismo individual. O âmbito de validez da verdade coincide com o âmbito cultural do qual
provém seu defensor. O subjetivismo e o relativismo padecem de contradições semelhantes às do
ceticismo. O subjetivismo e o relativismo afirmam que não há nenhuma verdade universalmente válida.
No fundo, ambos são ceticismos, pois também negam a verdade, não diretamente, masna medida em
que contestam sua validade universal. Na prática, portanto, eles pressupõem a validade universal das
verdades que negam teoricamente.
Pragmatismo
O pragmatismo chega a um deslocamento valorativo do conceito de verdade porque parte de urna
determinada concepção da essência humana. A verdade do conhecimento consiste na concordância do
pensamento com os objetivos práticos do homem - naquilo, portanto, que provar ser útil e benéfico para
sua conduta prática. O filósofo americano William James (| 1910) é considerado o verdadeiro fundador
do pragmatismo. O erro fundamental do pragmatismo consiste em não enxergar a esfera lógica. Ele
Criticismo
Quanto à questão sobre a possibilidade do conhecimento, o criticismo é o único ponto de vista correio.
Devemos distinguir o criticismo enquanto método do criticismo enquanto sistema. Nessa medida, o
criticismo de Kant representa uma manifestação particular do criticismo. A aceitação do criticismo geral
nada significa, afinal, senão reconhecer a teoria do conhecimento como disciplina filosófica autônoma e
fundamental. Seria, de fato, uma contradição alguém querer salvaguardar a possibilidade do
conhecimento pela via do conhecimento. No primeiro passo do conhecimento, esse alguém já pressuporia
aquela possibilidade. Mas a teoria do conhecimento não pretende estar livre de pressupostos nesse
sentido. Muito pelo contrário, parte do pressuposto de que o conhecimento é possível. A partir desse
ponto de vista, envereda por um exame crítico dos fundamentos do conhecimento humano, de seus
pressupostos e condições mais gerais.
A Origem do Conhecimento
Em meu juízo "o sol aquece a pedra", exibe, pois, dois elementos, um deles proveniente da
experiência, o outro proveniente do pensamento. A consciência cognoscente apoia-se de modo
preponderante (ou mesmo exclusivo) na experiência ou no pensamento? De qual das duas fontes do
conhecimento ela extrai seus conteúdos? Onde localizar a origem do conhecimento? A pergunta sobre a
origem do conhecimento humano pode ter tanto um sentido lógico quanto psicológico. A resposta à
questão da validade pressupõe uma perspectiva psicológica determinada. Quem enxerga no pensamento
humano, na razão, o único fundamento do conhecimento, está convencido da independência e
especificidade psicológica do processo de pensamento. Por outro lado, quem fundamenta todo
conhecimento na experiência negará independência, mesmo sob o aspecto psicológico, ao pensamento.
Racionalismo
Chama-se racionalismo (de ratio, razão) o ponto de vista epistemológico que enxerga no pensamento,
na razão, a principal fonte do conhecimento humano. A razão disso é que, nesses casos, dependemos
da experiência. Daí resulta que os juízos baseados no pensamento, provindos da razão, possuem
necessidade lógica e validade universal; os outros não. Assim, prossegue o racionalista, todo
conhecimento genuíno depende do pensamento. É o pensamento, portanto, a verdadeira fonte e
fundamento do conhecimento humano. É óbvio que um determinado tipo de conhecimento serviu de
modelo à interpretação racionalista do conhecimento. É da matemática, mostra-nos a história, que vêm
quase todos os representantes do racionalismo. O mundo da experiência está em permanente mudança
e modificação. Se não devemos, pois, desesperar da possibilidade do conhecimento, deve haver, além
do mundo sensível, um mundo suprassensível do qual nossa consciência cognoscente retira seus
conteúdos. As ideias são os arquétipos das coisas da experiência. Não apenas as coisas, como também
os conceitos por intermédio dos quais nós as conhecemos, são derivados do mundo das ideias. A parte
central desse racionalismo é a teoria da contemplação das ideias. O conhecimento simplesmente ocorre
quando o espírito humano recebe as ideias do Naus, sua origem metafísica. No lugar do Nous, entra o
Deus pessoal do cristianismo. O núcleo desse racionalismo está, portanto, na teoria da iluminação divina.
Por "choses", ele entende as coisas do mundo exterior. Podemos chamar essa forma de racionalismo,
em contraposição ao teológico e ao transcendente, de racionalismo imanente. No século XIX, deparamos
com uma última forma de racionalismo. É algo puramente lógico, um Abstraio, e não significa nada senão
a personificação dos mais altos pressupostos e princípios do conhecimento. Também aqui, portanto, o
pensamento é fonte exclusiva do conhecimento. O conteúdo completo do conhecimento é deduzido
daqueles princípios superiores de maneira rigorosamente lógica. É mérito do racionalismo ter visto e
sublinhado insistentemente a importância dos fatores racionais no conhecimento humano. No entanto,
ele é unilateral ao fazer do pensamento a única ou a verdadeira fonte do conhecimento.
Empirismo
À tese do racionalismo, segundo a qual a verdadeira fonte do conhecimento é o pensamento, a razão,
o empirismo (de empeiría, experiência) contrapõe a antítese, dizendo que a única fonte do conhecimento
humano é a experiência. A consciência cognoscente não retira seus conteúdos da razão, mas
exclusivamente da experiência. Para justificar seu ponto de vista, aponta o desenvolvimento do
pensamento e do conhecimento humanos, que prova a grande importância da experiência para que o
Intelectualismo
Se para o racionalismo o pensamento é a fonte e o fundamento do conhecimento, e para o empirismo
essa fonte e fundamento é a experiência, o intelectualismo considera que ambas participam na formação
do conhecimento. Como conteúdos não-intuitivos da consciência, os conceitos são essencialmente
distintos das representações sensíveis, embora mantenham com elas uma relação genética, na medida
em que são obtidos a partir dos conteúdos da experiência. Assim, experiência e pensamento constituem
conjuntamente o fundamento do conhecimento humano. Por meio dos sentidos, recebemos imagens
perceptivas dos objetos concretos.
Dos conceitos essenciais assim formados obtemos, por meio de outras operações do pensamento, os
mais altos e mais universais de todos os conceitos, como os contidos nas leis lógicas do pensamento.
Em última instância, portanto, mesmo os mais altos princípios do conhecimento estão fundamentados na
experiência, pois nos apresentam relações entre conceitos que provêm da experiência.
Apriorismo
O apriorismo também considera tanto a experiência quanto o pensamento como fontes do conheci-
mento. Apesar disso, a determinação das relações entre experiência e pensamento toma, aqui, uma
direção diametralmente oposta à do intelectualismo. Essas formas recebem seu conteúdo da experiência
- aqui, o apriorismo separa-se do racionalismo e aproxima-se do empirismo. O intelectualismo deriva o
fator racional do fator empírico. Todos os conceitos provêm, segundo ele, da experiência. O fator a priori
não provém, segundo ele, da experiência, mas do pensamento, da razão. A razão leva, por assim dizer,
as formas a priori até o material da experiência e determina, dessarte, os objetos do conhecimento. Isso
ocorre por meio das formas da intuição e do pensamento. Os tijolos são tomados, como vimos, da
experiência.
Posicionamento Crítico
Se às observações críticas feitas na apresentação do racionalismo e do empirismo quisermos
acrescentar, como complemento, um posicionamento de princípio frente às duas orientações, devemos
manter o problema psicológico rigorosamente separado do lógico. O empirismo, que deriva da experiência
todo o conteúdo do conhecimento e que, portanto, só reconhece os conteúdos intuitivos de consciência,
é refutado pelos resultados da moderna psicologia do pensamento. A psicologia tem mostrado que, além
dos conteúdos intuitivos de consciência, há outros não-intuitivos e que, além dos conteúdos sensoriais,
há outros que são intelectuais. Mais precisamente deveremos distinguir entre o conhecimento das
ciências ideais e o conhecimento das ciências reais. No interior desse domínio, vale de fato a tese
empirista segundo a qual nosso conhecimento se baseia na experiência, nossos juízos encontram na
experiência seu fundamento de verdade.
Essas evidências mostram, como vimos, que tanto a experiência quanto o pensamento tomam parte
na produção do conhecimento. Ora, é exatamente essa a doutrina tanto do intelectualismo quanto do
apriorismo. Essa questão só poderá ser respondida quando estiver resolvido o problema realmente
central da teoria do conhecimento: a questão sobre a essência do conhecimento. A priori, aqui, não
significa necessário para o pensamento, mas apenas possibilitador da experiência, vale dizer,
possibilitador do conhecimento da realidade empírica, do conhecimento das ciências reais. Pressuposto
geral de todo o conhecimento das ciências reais é, por exemplo, o princípio da causalidade.
O que é a verdade?9
No início da história da Filosofia, os filósofos começaram a se perguntar sobre as mais diversas
questões que permeiam o pensamento humano. Uma delas é sobre a verdade. O que é a Verdade?
Platão inaugura seu pensamento sobre a verdade afirmando: “Verdadeiro é o discurso que diz as
coisas como são; falso aquele que as diz como não são”. É a partir daí que começou a se formar a
problemática em torno da verdade.
No dicionário Aurélio encontra-se a seguinte definição de verdade: “Conformidade com o real”. Talvez
merecesse um comentário mais amplo, a afirmação acima de Platão, mas partindo do conceito dado pelo
dicionário pode-se chegar as seguintes conclusões: Não existe uma verdade cujo sujeito possa ser o
seu detentor; a Filosofia chegou a distinguir cinco conceitos fundamentais da verdade: a verdade como
correspondência, como revelação, como conformidade a uma regra, como coerência e como utilidade.
Falar-se-á um pouco de cada uma.
A verdade como correspondência diz respeito à afirmação platônica que foi citado no início deste texto.
É a verdade que garante a realidade, ou seja, o objeto falado é apresentado como ele é. Aristóteles diz
que: “Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não
é, é verdade”. Essa definição de verdade é a mais antiga e divulgada.
A concepção de verdade, sob o aspecto da revelação, surge num tempo em que empirismo, metafísica
e teologia apresentaram novas formas de se entender a realidade. Trata-se de uma verdade que sob a
luz empirista se revelou ao homem por meio das sensações, e sob a perspectiva metafísica ou teológica
mostrou o verdadeiro por meio de um Ser supremo, Deus, que evidencia a essência das coisas.
A conformidade apresenta uma verdade que se adapta a uma regra ou um conceito. E esta noção de
conformidade foi usada pela primeira vez por Platão: “... tudo o que me parece de acordo com este,
considero verdadeiro,” e retornando a história, Santo Agostinho afirma: “existe, sobre a nossa mente, uma
lei que se chama verdade”. Em suma, a verdade, no sentido da conformidade, deve-se adequar a uma
regra ou conceito.
Já na metade do século XIX, surgiu no movimento idealista inglês, a noção de verdade como coerência.
Essa ideia de coerência foi difundida pelo filósofo Bradley. Ele critica o mundo da experiência humana
partindo da ideia de que “o princípio de que o que é contraditório, não pode ser real”, isso o fez aceitar
que “a verdade é coerência perfeita”.
Por fim, achou-se o pressuposto de verdade como utilidade, formulada primeiramente por Nietzsche:
“Verdadeiro não significa em geral senão o que é apto à conservação da humanidade. O que me deixa
sem vida quando acredito nele não é a verdade para mim, é uma relação arbitrária e ilegítima do meu ser
com as coisas externas”. A preocupação é que a verdade como utilidade seja algo que faça bem toda a
humanidade. O que não é de práxis para a conservação do bem, podemos dizer que é verdade?
Toda essa investigação sobre a verdade limita muito esse tema. A verdade possui inúmeros
significados, dependendo da pessoa que a defina. Ela continuará sendo uma das questões mais
abordadas nestes últimos tempos.
Estamos em um mundo de grandes transformações. Muitas ideologias são nos apresentadas como
verdades inquebrantáveis. Somos forçados a acreditar na mídia, na política e na manifestação religiosa.
Isso acontece de uma maneira inconsciente.
O que nos libertará de toda essa prisão é nossa atitude como sujeitos formadores de consciência
crítica. A questão é ir afundo sobre aquilo que nos é apresentado. Fugir do senso comum e criar opiniões
próprias. Depende de você encarar isso como verdade.
Sócrates
Aquela que é, talvez propriamente, a sabedoria humana. É, em realidade, arriscado ser sábio nela:
mas aqueles de quem falávamos ainda há pouco seriam sábios de uma sabedoria mais que humana, ou
não sei que dizer, porque certo não a conheço.eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, ao
contrário, nenhum de nós sabe nada de belo e bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa,
sem sabê-la, enquanto eu, como não si nada, também estou certo de não saber. Parece, pois, que ele
era mais sábio do que todos, nisso – ainda que seja pouca coisa: não acredito saber aquilo que não sei.
9
AGUIAR, Wisley. O que é verdade? http://abre.ai/1o5.
10
CAUSAS BRASIL. Conceitos de Verdade segundo os filósofos clássicos. http://abre.ai/1o6.
Platão
Platão pressupõe e define o que seria o discurso verdadeiro na obra Cratilo: “Verdadeiro é o discurso
que diz como as coisas são; falso é o que diz como elas não são” (385b.). Para Platão a verdade se
aplicava primeiro ao objeto, ou ao sujeito, e depois ao enunciado.
Aristóteles
Já para Aristóteles, cuja compreensão de verdade seria a mais celebrada, a verdade estaria ligada ao
ato de dizer. Assim, não existiria verdade sem enunciado, mas este não basta em si mesmo como
verdade. A visão aristotélica pressupõe a existência de uma materialidade exterior ao enunciado,
verdadeiro ou não.
Foi Aristóteles quem enunciou ou dois teoremas fundamentais desta compreensão de verdade. O
primeiro deles é de que a verdade estaria no pensamento ou na linguagem, e não no ser ou na coisa. A
segunda premissa é de que a medida da verdade, ou sua verificação, é exterior a ela; estaria presente
no ser, na ação, e não no pensamento ou no discurso produzidos sobre eles.
Desta forma Aristóteles utilizou de forma clara pela primeira vez a expressão lógica ou expressão
semântica da verdade. A relação aristotélica entre enunciado e coisa é caracterizada como de
correspondência, embora também tenha embutidos os conceitos de adequação e conveniência.
Sócrates é um dos filósofos mais conhecidos de toda a humanidade. Ele se opôs a um grupo famoso
e tido como manipulador do poder intelectual de até então, os sofistas. Tomando como base essas ideias,
pretende-se aqui, mesmo que de forma rápida, apresentar o método socrático e sofístico e também fazer
uma breve análise da relação entre eles.
Método Socrático
Conforme é sabido, Sócrates não deixou nenhum escrito, porém seus discípulos encarregaram-se de
transmitir à posteridade suas ideias e propostas epistemológicas e filosóficas. Sócrates valia-se de dois
métodos famosos, que o fizeram trazer grandes reflexões para os seus interpelados e discípulos. Aqui
pretendemos apresentar estes dois métodos e suas características.
O primeiro método famoso em todo pensamento socrático é a Ironia. Não se deve aqui, assumir o
sentido desse termo conforme a nossa língua corrente, ou seja, como zombaria, sarcasmo ou sátira. Mas,
antes, como o sentido original da palavra grega, isto é, como questionamento que traz uma refutação em
busca do conhecimento e da percepção da ignorância:
A refutação (elénchos) consistia, em certo sentido, a pars destruens do método, ou seja, o método
socrático levava o interlocutor a reconhecer sua própria ignorância. Primeiro ele forçava uma definição do
assunto sobre o qual a investigação versava; depois, escavava de vários modos a definição fornecida,
explicitava e destacava as carências e contradições que implicava; então exortava o interlocutor a tentar
nova definição, criticando-a e refutando-a com o mesmo procedimento; até o momento em que o
interlocutor se declarava ignorante. (REALE, 2007, p.102)
Contudo, Sócrates não era um cético e sim uma pessoa crente na verdade que habitava no ser humano
e que era necessário um processo/método para descobri-la. A este método Sócrates deu o nome de
Maiêutica, ou seja, a parturição da ideia: “Frequentes vezes comparava sua tarefa a de uma parteira,
profissão de sua mãe, dizendo que ele mesmo não tinha que dar à luz sabedoria, mas apenas ajudar os
outros a parir suas ideias.” (STÖRIG, 2009, p.124). Partindo do método irônico-refutador, Sócrates ajuda
ao outro a ir em busca da verdade e principalmente empenhava na descoberta e na questão que sempre
o incomodou: “Conhece-te a ti mesmo”.
Portanto, as grandes marcas metodológicas de Sócrates no pensamento da Paideia grega são seus
métodos diferenciados e que faziam o pensamento, as ideias e a verdade assumir seu caráter reflexivo e
epistemológico, não o deixando como opinião (doxa) e/ou retórica.
11
BRAGA. Jackson de Sousa. Método socrático e método sofístico: um breve paralelo. http://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2365
Devido ao pensamento de Platão e outros discípulos de Sócrates, os sofistas foram vistos apenas
como um mercantilizadores do saber. Entretanto, com os estudos atuais e toda a reflexão histórico-crítica,
os pensadores têm os apontado como grandes conhecedores e retórico de seu tempo que passavam
seus conhecimentos aos que podiam remunerá-los (existem autores que afirmam que os sofistas também
possuíam turmas gratuitas), sem ter por finalidade somente o caráter financeiro, mas antes a
democratização do saber (LISBOA, 2011, p. 113-116). Com o intuito de conhecer seu método e suas
ideias pretendemos aqui apresentá-los, para podermos fazer uma análise junto às características
socráticas.
O método sofista assumia um caráter de ensinamento dos saberes que obtinham de pensadores
anteriores e também da capacidade de defender a ideias e pensamentos que o sujeito tinha. Sua
característica mais marcante não é a busca do saber, mas antes de uma formação sobre os recursos da
linguagem e também sobre a arquitetura das ideias pessoais em busca da conquista e vitória,
retórico/oratória, do outro e seus argumentos.
Além disso, deve-se a eles grandes conquistas, destacando-se três realizações:
[…] os sofistas pela primeira vez na filosofia grega, desviaram o olhar da natureza e dirigiram-no mais
amplamente para o homem; segundo, foram eles os primeiros a fazer do pensamento objeto de
pensamento, dando início a uma crítica de suas condições, possibilidades e limites. E por último
submeteram os padrões dos valores éticos a uma reflexão perfeitamente racional, com isso abrindo
possibilidade de a ética ser tratada cientificamente, e de fazer-se dela um sistema filosófico coerente.
(STÖRIG, 2009, p.120)
Assim sendo, devemos superar o preconceito trazido no pensamento filosófico sobre os sofistas, como
somente charlatões do saber e assumi-los também como pensadores da realidade humana e homens
que distribuíam seu conhecimento a todos, mesmo que de forma remunerada. Ainda devemos ter
consciência de seu papel significativo de atenção à reflexão antropológica e ética.
Um Breve Paralelo
Aqui não pretendemos deixar a reflexão se findar, mas antes apresentá-la como um possível caminho
de aprofundamento diante das realidades e comparações feitas entre o método socrático e o método
sofista. Para isso, pretendemos apresentar tanto os aspectos de encontro do pensamento de Sócrates
com os sofistas, bem como suas divergências.
Quanto as pontos de encontro entre Sócrates e os sofistas apresentamos 3 como mais marcantes, a
saber: ambos acreditam na capacidade de todo o ser humano conhecer e pensar; ambos utilizam métodos
para o processo de conhecimento, ainda que os empreguem de forma divergente; tanto Sócrates
(“Conhece-te a ti mesmo” e o conhecimento é virtude) como os sofistas (“o homem é a medida de todas
as coisas”) se atentam para questões antropológicas e éticas em detrimento das científico-físicas.
Quanto aos pontos de divergência entre o método socrático e o sofístico, podemos também apontam
3 principais características, cuja relação é impossível desfazer: Sócrates se preocupa em descobrir a
verdade ou o saber verdadeiro, em contrapartida os sofistas estão preocupados em vencer o discurso,
com argumento retórico e não descobrir a verdade – alguns são considerados até mesmo cético ou
relativistas, ou seja, que não acreditam em uma verdade ou não podem atingi-la; Sócrates se considera
um desconhecedor ou ignorante contra os sofistas que se consideram os verdadeiros sábios; Sócrates
modifica o centro do saber: “Mas o que Sócrates aplicava era uma forma particular de conversa e
ensinamento. A situação normal, em que o discípulo pergunta e o mestre responde, é nele invertida. É
ele quem pergunta” (STÖRIG, 2009, p.124).
Portanto, não se deve considerar Sócrates e os sofistas longes e/ou totalmente contrários, mas antes
ter atenção para seus devidos estilos de pensamento e de Paideia – sabendo perceber os pontos de
encontro/desencontro que um tomou do outro. Além disso, esta reflexão poderá nos ajudar a superar os
preconceitos investidos sobre os sofistas, que muitas vezes Platão e outros discípulos de Sócrates/Platão
passaram ao pensamento e história posterior.
Francis Bacon é considerado pioneiro do chamado empirismo britânico, vertente memorada na história
da filosofia pela primazia do conhecimento pela empiria e a recusa de ideias inatas. O Lorde Bacon teve
12
FERREIRA. K. M. P. Duas perspectivas da questão do método na Filosofia Moderna. UNESP. Revista Eletrônica. Vol 8. 2015. <
http://www.marilia.unesp.br/#!/filogenese>
(I) O primeiro ponto tange ao caráter dedutivo do silogismo. Por conta dele, afirma o filósofo inglês,
haveria o estagirita corrompido sua física ao embasar-se na lógica15. Bacon cunha o método silogístico
como uma antecipação da natureza; isto é, Aristóteles visa a elaboração de enunciados universais
fundamentados em poucos casos da experiência. O londrino considera a indução o expurgo para livrar a
filosofia natural das amarras silogísticas. Para isso, diferencia a indução “vulgar” da “indução verdadeira”.
A indução considerada vulgar pelo Barão de Verulâmio é aquela que, uma vez com seus axiomas
estabelecidos, procura salvá-lo quando algum caso particular da experiência não consente com seu
enunciado; enquanto que o certo seria corrigir o axioma, e não mantê-lo;
(II) O outro ponto refere-se ineficiência do silogismo em oferecer demonstrações. Suas clarificações
discursivas a respeito dos fatos se deve em assentir o pensamento humano com as palavras e o modo
com que são articuladas, e o pensamento, por sua vez, submete à natureza. Bacon procura extinguir essa
postura da filosofia natural, e para isso, seu método deve submeter o investigador ao trato direto com a
realidade.
Para que seu método possa ser efetuado com o desejado sucesso, Bacon adverte que há tipos de
engano, aos quais a mente humana pode conduzir desapercebidamente no estudo da natureza. Esses
enganos são chamados ídolos, e Bacon define-os no aforisma XXXVIII do primeiro livro de sua obra.
Como o próprio autor adverte, seu método não é uma solução definitiva para expurgar a mente dos ídolos,
mas serve de instrução para evitá-los continuamente. Uma vez entendendo-os como obstáculos que
obstruem o alcance humano da verdade, houve uma divisão quadripartida feita dos ídolos pelo autor:
13
A tradução indicada em português por Raul Fiker (2007).
14
A Grande Instauração é como Bacon chama seu projeto de reformar a ciência em seu tempo. Esse projeto foi apresentado por Bacon numa obra homônima, de
utilidade sumária aos textos que pretendia que a seguissem. Sua Instauração consiste em seis partes, qual ele ocupou-se em estabelecer um inventário à ciência
emergente, um novo método para a filosofia natural e preocupações com seu caráter prático. Embora vasto, não conseguiu levar a cabo seu intento. Apenas uma
das partes fora concluída, que reside no método exposto no Novum Organum.
15
Nesta passagem, Bacon (1979, p. 32, I. LXIII) alega que Aristóteles “[...] corrompeu com sua dialética a filosofia natural”. Embora na filosofia aristotélica a palavra
“dialética” tenha um significado próprio e distinto da palavra “lógica”, tanto uma quanto a outra eram empregadas muitas vezes como sinônimas pelos medievais,
hábito que manteve-se na época de Bacon.
16
William Gilbert (1540-1603) foi um médico e físico inglês. Seu nome está diretamente relacionado com descobertas no campo do eletromagnetismo, como em
admitir haver um campo magnético próprio da Terra. Francis Bacon (1979, p. 27, I. LIV; p. 38-39, I. LXX) criticava a importância que Gilbert dava ao magnetismo em
sua física, que seria, para ele, equivocada.
17
A definição do conceito de forma é complexa na filosofia baconiana, resultando em interpretações díspares por parte de seus comentadores. Para não dispersarmo-
nos demais do tema, passaremos por esse conceito sem contemplar sua profundidade. Ela surge, contudo, como uma recepção das quatro causas aristotélicas:
Bacon considerava apenas a causa formal útil para a ciência. As causas material e eficiente não seriam confiáveis, e a causa final é, segundo ele, inexistente na
natureza.
18
História natural é uma ciência obsoleta, que hoje compreende partes da biologia e da geologia. Ela consistia em descrever espécimes animais, vegetais, tipos de
rochas e formas da crosta. O primeiro a empregar este termo foi naturalista romano Plínio, o Velho (23-79).
LÓGICA NA FILOSOFIA
A lógica tem origem no grego, tal ciência surgiu para conciliar os pensamentos filosóficos, as ideias
que surgiam mediando a verdade ou a falsidade de um argumento, ou seja, a tlógica se tornou uma
grande ferramenta como método de avaliação de uma ideia, dos argumentos. No entanto vários autores
destacam a dificuldade em definir a lógica, devido às mudanças e evoluções das ciências, como define
Cesar A. Motari:
“Lógica: é a ciência que estuda princípios e métodos de inferência, tendo o objetivo principal de
determinar em que condições certas coisas se seguem, são consequências, ou não, de outras” (Motari,
200, p. 2).
Um grande ícone da lógica seria o filosofo grego Aristóteles (384-322 a. C), ou seja, Aristóteles
contribuiu em várias áreas do pensamento, como a ética, política, física, metafísica, psicologia, poesia,
retórica, zoologia, biologia história natural e a lógica. Aristóteles foi o criador do silogismo, que foi uma
forma particular de argumentação, ficou nomeada de lógica aristotélica. O silogismo é formado sempre
por duas premissas e uma conclusão. Além disso apenas preposições denominadas categóricas
poderiam fazer parte de um silogismo. Exemplo de silogismo:
Todo gato é preto. Miau é um gato. Miau é preto.
Em metafísica, Aristóteles enunciou seus três princípios da lógica:
Princípio da identidade:
“Dado um enunciado, ele é sempre igual a ele mesmo”. (Nahara; Weber, 1997, p. 51).
Mesmo Aristóteles com sua grande contribuição, e tendo se preocupado em qualificar os tipos de
silogismo, tal técnica se mostrou muito limitada, porém foi durante muito tempo a única existente na
Grécia. No entanto houve outros pensadores que desenvolveram uma lógica diferente da de Aristóteles:
Crísipio (280-250 a. C). No entanto, as obras de Aristóteles ainda superaram seu concorrente, visto
desta forma na Grécia, como concorrentes, por isso suas obras não foram conciliadas em uma única
teoria.
Só no século XIX que outros grandes pensadores foram se ater ao assunto, tais como:
George Boole (1815- 1864), pensador de grande importância para o raciocínio lógico, trouxe uma
linguagem simbólica, a matematização da lógica, Boole também apresentou o chamado calculo lógico,
com número infinito de formas válidas de argumentos.
Gottlob Frege (1848-1925), trouxe sua contribuição para a lógica, o cálculo do predicativo e a utilização
de linguagens artificiais. A preocupação de Frege era a sistematização do raciocínio matemático, ou seja,
em encontrar uma caracterização precisa do que seria uma demonstração matemática (Motari, 2001, p.
29).
Daqui até os dias atuais o uso da lógica se tornou indispensável para a evolução em várias áreas do
conhecimento. Podemos afirmar que a lógica foi a ferramenta mais usada para evolução cientifica, temos
também, como no último tópico, visto acima, que o uso da linguagem, da simbolização para a utilização
19
VENANCIO, Matheus. Sobre a Lógica na filosofia. encurtador.net/sADV0
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Uma das questões mais complexas do mundo científico, teológico e filosófico contemporâneo é
oferecer uma boa compreensão do significado preciso de palavras como eu, sujeito, subjetividade, pessoa
etc... Essas instâncias são ora afirmadas como entidades, ora negadas; ora exaltadas como centrais em
toda reflexão humana, ora humilhadas... (conforme a expressão famosa de Ricoeur).
Em nossa perspectiva consideramos o sujeito um aspecto fundamental para que possamos pensar e
falar em ética. A ética implica um sujeito que possa assumir a responsabilidade por atos praticados (seja
ele pessoal, comunitário, institucional, ou outro) diante de outros. Em vista desse aspecto de nosso tema,
daremos especial atenção à constituição do sujeito: como chegamos a constituir um sujeito com certa
autonomia? O eu e a subjetividade não são uma condição inata a todo ser humano? Se o “eu” não é inato,
como o “eu” e a “subjetividade” se constituem em nós? Como nos tornamos seres “responsáveis”? Como
se constitui o que chamamos “liberdade”?
Uma das tarefas primeiras da ética é, pois, a de fundamentar o aparecimento dessas instâncias.
Procuraremos precisar a constituição do sujeito em seu entrelaçamento com o desenvolvimento da
capacidade responsiva do ser humano e o progressivo incremento da capacidade de se auto reconhecer
até alcançar uma autonomia relativa. O discurso ético afirma que somos livres e responsáveis e
assumimos em nós mesmos o ato ético e suas consequências enquanto ações significativas.
Por outro lado, perguntamos até que ponto podemos ser éticos, livres e responsáveis, numa estrutura
de pecado e com a constituição de sujeitos dentro dessa estrutura.
Nossa abordagem do tema será feita a partir da pergunta-tema:
1. Como se constitui o sujeito?
2. Como se forma o sujeito ético?
Propomos uma breve descrição da experiência de “ser sujeito” (acompanhada de indicações dadas
pela análise genético/generativa da manifestação do sujeito) como pano de fundo interpretativo de nós
mesmos. Usamos o método enomenológico de Husserl e descartamos qualquer explicação prévia,
filosófica ou científica.
A nossa experiência humana não é vista como confinada aos processos definidos como natureza, nem
a vida humana pode ser confinada à fisiologia, por exemplo. Isso indica a distância que mantemos do
chamado naturalismo científico.
A abordagem originária do ser humano nunca é “científica” no sentido de objetivismo factual; mais que
natureza, somos também cultura e a sociedade é também nossa convivência cotidiana, é corpo e também
é uma abrangência de nosso ser humano como um todo. O conhecimento não se produz do sujeito para
seu entorno, nem do seu entorno para o sujeito, é uma integração com a vida. A experiência de ser sujeito
é ampliada no sentido de abarcar a vida, integrando vida e subjetividade, subjetividade e vida. Na
correlação sujeito e vida afirmamos a superação de todo dualismo sujeito/objeto desenvolvido a partir da
ciência moderna (especialmente depois de Descartes).
20
Texto completo adaptado de JOSGRILBERG, R. S. A Constituição do Sujeito Ético.
Os conceitos de moral e ética, embora sejam diferentes, são com frequência usados como sinônimos.
Aliás, a etimologia dos termos é semelhante: moral vem do latim mos, moris, que significa “maneira de
se comportar regulada pelo uso”, daí “costume”, e de moralis, morale, adjetivo usado para indicar o que
é “relativo aos costumes”. Já ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de “costume”.
Segundo Adolfo Sánchez Vásquez, tanto ethos como mos indicam um tipo de comportamento
propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas
que é “adquirido ou conquistado por hábito”.
Lembrando a afirmação de filósofos como Aristóteles, para o qual o homem é um animal por natureza
social, político, e Thomas Morus, que afirmava que “nenhum homem é uma ilha”, podemos afirmar que a
moral tem um papel social, afinal, é o conjunto de regras que determinam como deve ser o comportamento
dos indivíduos em grupo, mas, ademais, é preciso ressaltar que ela também está relacionada com a livre
e consciente aceitação das normas. Dessa forma, o homem ocupa um papel ambíguo, de herdeiro e
criador de cultura, só conseguindo ter uma vida autenticamente moral quando, a partir da moral herdada,
é capaz de propor uma moral forjada em suas experiências de vida.
Já a ética é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que
fundamentam a vida moral. Essa reflexão pode seguir as mais diversas direções, dependendo da
concepção de homem que se toma como ponto de partida e, ao longo da história, filósofos foram
responsáveis por diversas concepções de vida moral, como veremos a seguir.
No período clássico da filosofia grega, os sofistas rejeitam a tradição mítica ao considerar que os
princípios morais resultam de convenções humanas. Embora na mesma linha de oposição aos
fundamentos religiosos, Sócrates se contrapõe aos sofistas ao buscar aqueles princípios não nas
convenções, mas na natureza, o que se apreende em inúmeros diálogos de Platão, nos quais são
descritas as discussões socráticas a respeito das virtudes e da natureza do bem. Resulta daí a convicção
de que a virtude se identifica com a sabedoria e o vício com a ignorância: portanto, a virtude não pode
ser aprendida.
Platão, como Sócrates, combate o relativismo moral dos sofistas. Sócrates estava convencido que os
conceitos morais se podiam estabelecer racionalmente mediante definições rigorosas. Estas definições
seriam depois assumidas como valores morais de validade universal. Platão atribui a estes conceitos
ético-políticos o estatuto de Ideias (Justiça, Bondade, Bem, Beleza etc.), pressupondo que os mesmos
são eternos e estão inscritos na alma de todos os homens. Para Platão a Justiça consiste no perfeito
ordenamento das três almas e das respectivas virtudes que lhe são próprias, guiadas sempre pela razão.
A felicidade, portanto, consiste neste equilíbrio.
Herdeiro do pensamento de Platão, Aristóteles aprofunda a discussão a respeito das questões éticas,
mas, para ele, o homem busca a felicidade, que consiste na vida teórica e contemplativa cuja plena
realização coincide com o desenvolvimento da racionalidade.
O que há de comum no pensamento dos filósofos gregos é a concepção de que a virtude resulta do
trabalho reflexivo, da sabedoria, do controle racional dos desejos e paixões.
Além disso, o sujeito moral não pode ser compreendido ainda, como nos tempos atuais, na sua
completa individualidade. Os homens gregos são antes de tudo cidadãos, membros integrantes de uma
comunidade, de modo que a Ética se acha intrinsecamente ligada à política.
Durante a Idade Média, a visão teocêntrica do mundo fez com que os valores religiosos impregnassem
as concepções éticas, de modo que os critérios de bem e de mal se achavam vinculados à fé e dependiam
da esperança de vida após a morte.
Na perspectiva religiosa, os valores são considerados transcendentes, porque resultam de doação
divina, o que determina a identificação do homem moral com o homem temente a Deus.
21
GÓES, K, Elizabeth. Conceitos de ética e moral com base em filósofos. < https://karenelisabethgoes.jusbrasil.com.br/artigos/145251612/conceitos-de-etica-e-moral-
com-base-filosofica>.
O QUE É NÃO-CIDADANIA?
23
FURTADO, B.
FILOSOFIA MORAL
Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao
permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos os seus membros. Culturas e sociedades
fortemente hierarquizadas e com diferenças muito profundas de castas ou de classes podem até mesmo
possuir várias morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social.
No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida
como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores
morais. Podemos dizer, a partir dos textos de Platão e de Aristóteles, que, no Ocidente, a ética ou filosofia
moral inicia-se com Sócrates.
Percorrendo praças e ruas de Atenas – contam Platão e Aristóteles -, Sócrates perguntava aos
atenienses, fossem jovens ou velhos, o que eram os valores nos quais acreditavam e que respeitavam
ao agir. Que perguntas Sócrates lhes fazia?
Indagava: O que é a coragem? O que é a justiça? O que é a piedade? O que é a amizade? A elas, os
atenienses respondiam dizendo serem virtudes. Sócrates voltava a indagar: O que é a virtude?
Retrucavam os atenienses: É agir em conformidade com o bem. E Sócrates questionava: Que é o bem?
(...)
24
ROS, A. C. P.
Diferentemente de outras religiões da Antiguidade, que eram nacionais e políticas, o cristianismo nasce
como religião de indivíduos que não se definem por seu pertencimento a uma nação ou a um Estado,
mas por sua fé num mesmo e único Deus. Em outras palavras, enquanto nas demais religiões antigas a
divindade se relacionava com a comunidade social e politicamente organizada, o Deus cristão relaciona-
se diretamente com os indivíduos que nele creem. Isso significa, antes de qualquer coisa, que a vida ética
do cristão não será definida por sua relação com a sociedade, mas por sua relação espiritual e interior
com Deus. Dessa maneira, o cristianismo introduz duas diferenças primordiais na antiga concepção ética:
em primeiro lugar, a ideia de que a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade (a
polis) nem com os outros. Nossa relação com o outros depende da qualidade de nossa relação com Deus,
único mediador entre cada indivíduo e os demais. Por esse motivo, as duas virtudes cristãs primeiras e
condições de todas as outras são a fé (qualidade da relação de nossa alma com Deus) e a caridade (o
amor aos outros e a responsabilidade pela salvação dos outros, conforme exige a fé). As duas virtudes
são privadas, isto é, são relações do indivíduo com Deus e com os outros, a partir da intimidade e da
interioridade de cada um; em segundo lugar, a afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou
livre-arbítrio – e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para o pecado, isto é,
para a transgressão das leis divinas. Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem (obediência
a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca). Em outras palavras, enquanto para os filósofos
antigos a vontade era uma faculdade racional capaz de dominar e controlar a desmesura passional de
nossos apetites e desejos, havendo, portanto, uma força interior (a vontade consciente) que nos tornava
morais, para o cristianismo, a própria vontade está pervertida pelo pecado e precisamos do auxílio divino
para nos tornarmos morais.
Qual o auxílio divino sem o qual a vida ética seria impossível? A lei divina revelada, que devemos
obedecer obrigatoriamente e sem exceção. O cristianismo, portanto, passa a considerar que o ser
humano é, em si mesmo e por si mesmo, incapaz de realizar o bem e as virtudes. Tal concepção leva a
introduzir uma nova ideia na moral: a ideia do dever.
Por meio da revelação aos profetas (Antigo Testamento) e de Jesus Cristo (Novo Testamento), Deus
tornou sua vontade e sua lei manifestas aos seres humanos, definindo eternamente o bem e o mal, a
virtude e o vício, a felicidade e a infelicidade, a salvação e o castigo. Aos humanos, cabe reconhecer a
vontade e a lei de Deus, cumprindo-as obrigatoriamente, isto é, por atos de dever. Estes tornam morais
um sentimento, uma intenção, uma conduta ou uma ação.
Mesmo quando, a partir do Renascimento, a filosofia moral distancia-se dos princípios teológicos e da
fundamentação religiosa da ética, a ideia do dever permanecerá como uma das marcas principais da
O cristianismo introduz a ideia do dever para resolver um problema ético, qual seja, oferecer um
caminho seguro para nossa vontade, que, sendo livre, mas fraca, sente-se dividida entre o bem e o mal.
No entanto, essa ideia cria um problema novo. Se o sujeito moral é aquele que encontra em sua
consciência (vontade, razão, coração) as normas da conduta virtuosa, submetendo-se apenas ao bem,
jamais submetendo-se a poderes externos à consciência, como falar em comportamento ético por dever?
Este não seria o poder externo de uma vontade externa (Deus), que nos domina e nos impõe suas leis,
forçando-nos a agir em conformidade com regras vindas de fora de nossa consciência?
Em outras palavras, se a ética exige um sujeito autônomo, a ideia de dever não introduziria a
heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um poder estranho a nós?
Um dos filósofos que procuraram resolver essa dificuldade foi Rousseau, no século XVIII. Para ele, a
consciência moral e o sentimento do dever são inatos, são “a voz da Natureza” e o “dedo de Deus” em
nossos corações. Nascemos puros e bons, dotados de generosidade e de benevolência para com os
outros. Se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta por Deus aos humanos,
é porque nossa bondade natural foi pervertida pela sociedade, quando esta criou a propriedade privada
e os interesses privados, tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos.
O dever simplesmente nos força a recordar nossa natureza originária e, portanto, só em aparência é
imposição exterior. Obedecendo ao dever (à lei divina inscrita em nosso coração), estamos obedecendo
a nós mesmos, aos nossos sentimentos e às nossas emoções e não à nossa razão, pois esta é
responsável pela sociedade egoísta e perversa.
Uma outra resposta, também no final do século XVIII, foi trazida por Kant.
Opondo-se à “moral do coração” de Rousseau, Kant volta a afirmar o papel da razão na ética. Não
existe bondade natural. Por natureza, diz Kant, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos,
cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. É
justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos seres morais.
A exposição kantiana parte de duas distinções:
1. a distinção entre razão pura teórica ou especulativa e razão pura prática;
2. a distinção entre ação por causalidade ou necessidade e ação por finalidade ou liberdade.
Razão pura teórica e prática são universais, isto é, as mesmas para todos os homens em todos os
tempos e lugares – podem variar no tempo e no espaço os conteúdos dos conhecimentos e das ações,
mas as formas da atividade racional de conhecimento e da ação são universais. Em outras palavras, o
sujeito, em ambas, é sujeito transcendental, como vimos na teoria do conhecimento. A diferença entre
razão teórica e prática encontra-se em seus objetos. A razão teórica ou especulativa tem como matéria
ou conteúdo a realidade exterior a nós, um sistema de objetos que opera segundo leis necessárias de
causa e efeito, independentes de nossa intervenção; a razão prática não contempla uma causalidade
externa necessária, mas cria sua própria realidade, na qual se exerce. Essa diferença decorre da distinção
entre necessidade e finalidade/liberdade.
Cultura e Dever
Rousseau e Kant procuraram conciliar o dever e a ideia de uma natureza humana que precisa ser
obrigada à moral. No entanto, ao enfatizarem a questão da natureza (Natureza e natureza humana),
tenderam a perder de vista o problema da relação entre o dever e a Cultura, pois poderíamos repetir,
agora, a pergunta que fizemos antes: Se a ética exige um sujeito consciente e autônomo, como explicar
História e Virtudes(...)
Para Espinosa, somos seres naturalmente passionais, porque sofremos a ação de causas exteriores
a nós. Em outras palavras, ser passional é ser passivo, deixando-se dominar e conduzir por forças
A tradição filosófica que examinamos até aqui constitui o racionalismo ético, pois atribui à razão
humana o lugar central na vida ética. Duas correntes principais formam a tradição racionalista: aquela
que identifica razão com inteligência, ou intelecto – corrente intelectualista – e aquela que considera que,
na moral, a razão identifica-se com a vontade – corrente voluntarista.
Para a concepção intelectualista, a vida ética ou vida virtuosa depende do conhecimento, pois é
somente por ignorância que fazemos o mal e nos deixamos arrastar por impulsos e paixões contrários à
virtude e ao bem. O ser humano, sendo essencialmente racional, deve fazer com que sua razão ou
inteligência (o intelecto) conheça os fins morais, os meios morais e a diferença entre bem e mal, de modo
a conduzir a vontade no momento da deliberação e da decisão. A vida ética depende do desenvolvimento
da inteligência ou razão, sem a qual a vontade não poderá atuar.
Para a concepção voluntarista, a vida ética ou moral depende essencialmente da nossa vontade,
porque dela depende nosso agir e porque ela pode querer ou não querer o que a inteligência lhe ordena.
Se a vontade for boa, seremos virtuosos, se for má, seremos viciosos. A vontade boa orienta nossa
inteligência no momento da escolha de uma ação, enquanto a vontade má desvia nossa razão da boa
escolha, no momento de deliberar e de agir. A vida ética depende da qualidade de nossa vontade e da
disciplina para forçá-la rumo ao bem. O dever educa a vontade para que se torne reta e boa.
Nas duas correntes, porém, há concordância quanto à ideia de que, por natureza, somos seres
passionais, cheios de apetites, impulsos e desejos cegos, desenfreados e desmedidos, cabendo à razão
(seja como inteligência, no intelectualismo, seja como vontade, no voluntarismo) estabelecer limites e
controles para paixões e desejos. Egoísmo, agressividade, avareza, busca ilimitada de prazeres
corporais, sexualidade sem freios, mentira, hipocrisia, má-fé, desejo de posse (tanto de coisas como de
pessoas), ambição desmedida, crueldade, medo, covardia, preguiça, ódio, impulsos assassinos,
desprezo pela vida e pelos sentimentos alheios são algumas das muitas paixões que nos tornam imorais
e incapazes de relações decentes e dignas com os outros e conosco mesmos.
Há ainda uma outra concepção ética, francamente contrária à racionalista (e, por isso, muitas vezes
chamada de irracionalista), que contesta à razão o poder e o direito de intervir sobre o desejo e as paixões,
identificando a liberdade com a plena manifestação do desejante e do passional. Essa concepção
encontra-se em Nietzsche e em vários filósofos contemporâneos.
A crítica pela crítica é uma atitude estéril. Acreditar que as mudanças ocorrem pelo andar natural da
casualidade e dos movimentos contínuos do destino proporciona uma derrota para aqueles que acreditam
ser o determinismo concepção falida. Os pressupostos da crítica, dessa forma, não podem significar
ações infundadas, sem o uso da razão condutora. Evidente que todo interesse por gerar mudanças está
amparado por um sentir emocional, o que não significa ofuscar o uso racional das argumentações.
DAMÁSIO (2000) afirma que os aspectos emocionais são elementos fundamentais na elaboração da
razão.
Criticar, antes de tudo, é refletir sobre a prática da própria crítica. Elaborar argumentos críticos não
deve ser estagnado por interesses particulares e dogmáticos, uma vez que está na natureza intrínseca
da crítica, na sua essência, a fuga de qualquer forma de dogmatização, a fuga por qualquer forma
totalitária de pensamento e concepção teórica explicativa para o todo. Essa mesma ideia é defendida,
com muita propriedade, por HORKHEIMER (1991). No seu ensaio “Teoria Tradicional e Teoria Crítica” é
possível verificar a repulsa pela tentativa do Positivismo de se impor como modelo de explicação para
todas as ciências. Segundo Horkheimer, quando uma linha epistemológica tenta dominar uma ciência, o
que está em jogo, na realidade, é a permanência da heterogeneidade do pensamento e,
consequentemente, da livre iniciativa da crítica. Essas colocações iniciais têm como objetivo questionar
as atuais estruturas da disseminação do conhecimento, consolidando um novo período da história com
nova faceta da sociedade, menos heterogênea e mais pragmática. Na atualidade, muito em consequência
da expansão da racionalidade instrumental, as relações humanas e sociais firmaram-se de forma
utilitarista. Essa prática é devida, em parte, ao advento de uma ideologia capitalista mediada por
interesses específicos, tornando os indivíduos reificados por um sistema, que tende fazer do homem mero
instrumento, destituindo-o da capacidade crítica. Não é raro, portanto, encontrar pessoas inseridas no
bolsão de opiniões maçantes e repetitivas, chegando ao exagero de se tornarem clichês sociais.
ADORNO e HORKHEIMER (1985), com sua crítica à Indústria Cultural, responsabilizam, em parte, a
mídia por disseminar a ideologia dominante. Assim, as informações propagadas são formas de controles
sociais agravadas pela máscara de uma “pseudocrítica”, ou seja, o debate de ideias, em última instância,
não propicia mudanças qualitativas e quantitativas para a coletividade. Portanto, a própria crítica está
envolvida pelos controles sociais instituídos, de tal modo que suas possibilidades de fuga restringem-se
ao que é permitido. O que está perdido, nessa situação, não é a liberdade; mas sim, a autonomia do
indivíduo, que apesar de absorver ideias e pensamentos, transpõe ideias “prontas”, cuja aparência crítica
oculta produtos elaborados e prontos para serem consumidos sem o devido questionamento do conteúdo
a ingerir. Cultiva o fetiche pela embalagem e a despreocupação real com o conteúdo. A autonomia, ao
contrário da liberdade, requer o esforço do questionamento das práticas ocorrentes, pelo uso da razão.
Quando se aceita uma ideia, já se realiza o exercício da liberdade; contudo, para o exercício da autonomia
o esforço é maior, requer a capacidade de questionar e avaliar criticamente o porquê de se aceitar tal
ideia. Somente por meio de análises reflexivas pode-se libertar as ideias de uma prática subordinativa e
dogmática. Nas palavras de HORKHEIMER (2000, p.31) encontra-se semelhante pensamento: “A
verdade e as ideias foram radicalmente funcionalizadas e a linguagem é considerada como um mero
instrumento, seja para a estocagem e a comunicação dos elementos intelectuais da produção, seja para
a orientação das massas”.
25
Extraído p/ fins didáticos de Convite à Filosofia - de Marilena Chauí - Ed. Ática, São Paulo, 2000.
http://www.projeto.unisinos.br/humanismo/etica/histetica.pdf.
26
MENEGHETTI, K. FRANCIS. Liberdade ou autonomia: Reflexões críticas sobre as organizações. EnANPAD. http://www.anpad.org.br/admin/pdf/EOR-C1430.pdf
Para falar sobre a autonomia com propriedade, antes é necessário falar sobre a práxis. Entendida a
práxis como a transformação da realidade feita pela consciência formada por um indivíduo ou por uma
sociedade, sua função essencial nesse processo de mudança somente se efetiva, quando as relações
materiais permitem tal feito. A autonomia, quando se refere às relações de trabalho ou às relações
organizacionais, não é a utilização incondicional da liberdade individual. Sua limitação está sujeita às
determinações materiais das relações sociais.
A práxis criadora (VÁZQUEZ, 1977, p. 247-253) não é um movimento disforme das alterações
materiais, apesar de os analistas nem sempre entenderem dessa forma. Os processos de formação da
consciência dos indivíduos são construídos pelas alterações efetuadas pelas relações de produção.
Assim, um operário, que sente os efeitos da reestruturação produtiva do seu setor, se vê objeto das
modificações materiais, seja por meio de sua exclusão ou pela necessidade de nova qualificação para se
adaptar às novas condições de produção. Nesse simples exemplo, é possível perceber que, quando
submetido a tais modificações das relações de produção, o indivíduo isolado perde seu poder de
reivindicação frente às novas realidades materiais. A autonomia, nesse caso, se dá pelo poder coletivo.
Do indivíduo ao coletivo, a autonomia percorre caminhos que lutam contra o individualismo apresentado
como valor moral do atual modelo econômico. Não só a autonomia passa a ser uma condição material de
existência, mas, também, os valores morais e o imaginário dela provenientes. Substituição da coletividade
pelo individualismo e do colaboracionismo pelo particularismo são alguns dos exemplos de ações em que
a autonomia perdeu espaço para uma ideologia que nos transforma em sociedade de produtores e
consumidores, caminhando em velocidade cada vez maior na direção do engessamento social. Na
autonomia, os indivíduos, quando articulados em grupos democraticamente formados, não são meros
coadjuvantes do processo de decisão. Sua ação é voltada para a participação efetiva, sem cair nos
discursos do falso participacionismo. Os indivíduos têm um papel ativo e significativo na formação da
consciência social (na cultura, na educação, na política, enfim, na vida pública) e são responsáveis por
realizar concretamente as transformações sociais, tornando-se cientes desse processo histórico. Essas
afirmações não deixam de ser, até certo ponto, idealistas, uma vez que a cooperação integral da
sociedade é uma utopia.
Todavia, uma sociedade mais participativa e cônscia da sua história é perfeitamente possível e, para
que isso ocorra, pelo viés da perspectiva materialista, é necessária nova configuração das condições
materiais de existência e das relações de produção. Conforme Marx afirma, não é a consciência que
transforma a realidade material, mas, sim, é esta que favorece a formação da consciência individual e
coletiva, logo, a liberdade é limitada pela própria materialidade do mundo. As limitações biológicas e
psíquicas levam à suposição do que seria a liberdade incondicional, embora a realidade possível seja
condizente com as transformações possíveis em uma consciência coletiva. Nesse sentido é que as
transformações são possíveis sem, contudo, cair no discurso infundado da liberdade irrestrita. As
transformações de uma sociedade que “progride” não se dão ao acaso ou por simples voluntarismo dos
seus agentes. As determinações surgem em uma realidade já concreta, mas interagem constantemente
com a natureza (incluindo os indivíduos). Assim, é possível falar de autonomia individual e coletiva,
entretanto, não é possível subjugá-la como sinônimo de liberdade total. As determinações das
determinações são fundamentais para entender a limitação das ações humanas. Outro fator diz respeito
à interação da realidade concreta com a vontade humana. Ambas são transformadas pela consciência
formada na práxis, que se qualifica, em muitos momentos, como reprodução da realidade, mas que não
deixa de ter sua dimensão voltada para as transformações sociais.
DETERMINISMO27
Alvo de muitas críticas, o determinismo é uma teoria filosófica que afirma que as escolhas e ações
humanas não acontecem devido ao livre-arbítrio, mas por relações de causalidade. A crença determina
que qualquer acontecimento ocorre de forma conexa à outros de uma maneira já fixada, seja por um
plano sobrenatural ou pelas leis da natureza. A teoria defende ainda, que todos os acontecimentos
ocorrem devido ao decurso natural, por uma causa específica, e devem de fato acontecer. Desta forma,
27
PETRIN, Natália. Determinismo. Disponível em: < http://www.estudopratico.com.br/determinismo/>.
Tipos de Determinismo
Dentro da teoria filosófica do determinismo, existem três tipos:
Pré-determinismo: de acordo com este tipo de determinismo, supõe-se que todos os efeitos estão
conectados totalmente em suas causas, sendo considerado um determinismo mecanicista. A
determinação, neste, é colocada no passado, ocasionando em uma cadeia causal explicada por completo
pelas condições iniciais do universo.
Pós-determinismo: nesse caso, as causalidades são determinadas por algum motivo, ou seja, a
determinação é vista no futuro e ligada a algo exterior, como um deus.
Co-determinismo: assim como a teoria do caos, todos os efeitos podem interagir com outros efeitos,
de forma a causar uma realidade em nível diferente das outras causas. É como se um efeito de uma
causa anterior, se tornasse a causa de um novo efeito, gerando desta forma níveis de realidades
diferentes. Pode-se usar como exemplo a interação no nível molecular, que forma um outro nível de
realidade, a vida. Ou então a interação entre indivíduos que gera uma realidade de outro nível, a
sociedade. A determinação, neste caso, é colocada no presente ou na simultaneidade dos processos.
A não-causalidade é usada por alguns estudiosos para justificar a livre escolha e o livre arbítrio. Os
críticos do determinismo afirmam que o desejo e a vontade dos animais existem em um universo diferente
do causal, no entanto, para os deterministas, estes críticos não levam em conta o terceiro tipo, o co-
determinismo, que leva em consideração a causalidade que possui outros níveis de realidade. Neste,
cada nível de realidade contém uma consistência que lhe dá autonomia, mas sem nunca parar de interagir
com os outros.
Liberdade28
A liberdade é motivo para reflexão de filósofos desde muito antes de Sartre, tanto na área do direito,
especificamente, como na tradição filosófica em si.
Na declaração dos direitos do homem e do cidadão consta que liberdade individual caracteriza-se pelo
poder de "fazer tudo o que não for nocivo a outrem; assim, o exercício dos direitos naturais de cada um
não tem outros limites além daqueles que asseguram aos outros membros da sociedade dos mesmos
direitos" (Vicente, 1985, v. 07, p. 2159).
O interesse pelo tema da liberdade humana vem permeando os estudos dos filósofos desde seu
princípio. Em Platão podemos perceber que a liberdade individual é capaz de atribuir mérito ou demérito,
segundo os atos realizados pelo próprio indivíduo, sendo que as leis são o peso utilizado para denominar
o mérito ou não. Podemos ainda apontar o conceito de liberdade assegurado pelos estoicos (Vicente,
1985, v. 5) de que seria uma adesão espontânea à necessidade natural.
Na Idade Média os limites da liberdade eram definidos segundo conceitos elaborados partindo do
conflito razão X teologia. Então eram elaborados basicamente pela religião predominante na Europa, o
cristianismo.
Continuando a linha de análise, na modernidade temos o conceito de Liberdade elaborado por
Descartes, sendo que ele apontou para o que denominou liberdade de indiferença, caracterizada pela
"adesão sem razão a uma de duas contrárias igualmente possíveis" (Vicente, 1985, v.7, p. 2160), e
afirmou ser esse o grau mais baixo de liberdade humana. Podemos neste ponto perceber a dicotomia
travada entre Teologia X Razão, em que Descartes acredita que o que é feito sem o uso da razão não
assegura a liberdade completa.
Leibniz denominou "toda a espontaneidade racional" de liberdade (Vicente, 1985, v.7, p. 2137), desde
que não houvesse a necessidade lógica. Assim, agir por estar inclinado e não necessitado seria agir
livremente.
28
SILVA, A, Andressa. A liberdade e a Filosofia. http://webartigos.com/artigos/a-liberdade-e-a-filosofia/60560
COMUNIDADE E SOCIEDADE29
Chamamos de comunidade a uma relação social na medida em que a orientação da ação social,
na média ou no tipo-ideal, baseia-se em um sentido de solidariedade: o resultado de ligações
emocionais ou tradicionais dos participantes.
Similar à compreensão de Tönnies (1995a) acerca da sociedade é a visão de Georg Simmel acerca
da metrópole. Para Simmel (1987), a metrópole é a expressão da individualidade, “berço” da
individualidade, seguida de alta impessoalidade e de subjetividade altamente diferenciada. Na metrópole,
emerge a atitude blasé, ou seja, uma incapacidade de reagir a estímulos e novas sensações. Essa atitude
é resultante da intensidade e quantidade de estímulos aos quais os indivíduos são expostos
cotidianamente na metrópole. Além disso, com o extensivo do grupo – como no caso dos grandes
agrupamentos urbanos –, os contatos com outras pessoas se tornam menos intensos e pessoais, o que
– mesmo que diminuam os laços sociais – aumenta a liberdade de ação das pessoas e dos grupos.
Tanto em Tönnies como em Weber, a ideia de comunidade aparece como uma tipologia. No caso de
Tönnies, ele parte das comunidades para as associações modernas e, a partir disso, cria uma filosofia da
história, e o desenvolvimento tem um rumo ao longo do tempo. Mas não se trata apenas disso. Tönnies
converte o caso específico que lhe era disponível – a diferença histórica entre comunidade e sociedade
Apostila gerada especialmente para: kauany souza 095.822.709-85 51
– em uma classificação que busca dar conta da análise de qualquer sociedade do passado e do presente
(Nisbet, 1967, p. 74). Da mesma forma, tanto para Tönnies quanto para Weber, a comunidade deve ser
entendida como um tipo ideal, um construto intelectual útil para a análise de grupos sociais, mas que deve
considerar que, na realidade, comunidade e sociedade se misturam.
De certo modo, pode-se verificar em Tönnies uma visão pessimista da modernidade. De seu ponto de
vista, aquilo que a Sociologia chamou de “social” se encontra principalmente na comunidade. É nela que
se encontram a relação social mútua e os códigos morais compartilhados; é nela que o afeto predomina
e determina os laços entre as pessoas. Porém, com a modernidade e a decadência da vida comunitária,
o que se vê mesmo é a decadência deste “velho social”. A sociedade emergente é, para ele, sinônimo de
atomização e individualização radicalizada e, assim, não pode representar uma forma de reconstrução
da vida comunitária e de seu aspecto afetivo, pessoal e agregador.
PRINCÍPIOS REPUBLICANOS
Liberdade e Igualdade
30
ZANON. LISSANDRA. A estreita relação entre o poder e o conhecimento. Webartigos. http://webartigos.com/artigos/a-estreita-relacao-entre-o-poder-e-o-
conhecimento/83295
Humanismo Cívico
Uma outra questão tratada pela teoria republicana diz respeito ao chamado humanismo cívico, em a
ser um tema muito discutido dentro do âmago republicano, e diz respeito às questões que transcrevemos
no capítulo anterior, ou seja as orientações condizentes ao conceito de liberdade política.
Isso é o que classicamente se convencionou ser o humanismo cívico. Tal preceito teve
desenvolvimento no período que vai do fim da Idade Média ao início do Renascimento, notadamente no
território italiano. Estas ideias remontam ao ideal proposto por Aristóteles, onde o mesmo acredita que o
homem é um animal político por excelência, ressurgindo está ideia nas obras de Maquiavel em sua
notável obra, O Príncipe.
Maquiavel rompe de vez com a interferência contemplativa do cristianismo na estruturação e
administração do Estado. O mesmo deve ser gerido de modo ativo baseando-se na virtú, ou seja na
participação efetiva da estruturação política dando primazia os aspectos racionais, que durante a Idade
Média ficaram relegados a segundo plano. O homem volta a ser visto como um ser dotado de
personalidade e criatividade, bastando fazer uso da razão a fim de atingir seus objetivos concretos.
A política de Maquiavel e relacionada com o embate entre a virtú e a fortuna. A virtú vem a ser a
capacidade tanto do cidadão quanto do governante de ser bem sucedido nas empreitadas contra seus
inimigos, ou seja consiste em traçar uma estratégia de sucesso que em curto prazo traga resultados para
a vida política de cada um, seu resultado só seria observado posteriormente dado o caráter positivo ou
negativo da ação que foi executada, em suma o conjunto de qualidades que o indivíduo julgasse
necessário agregar como valores para que o sucesso de seus atos fosse garantido. Não confunda virtú
com virtude cívica, a primeira é referente a qualidade que possam ser utilizadas a fim de manter a ordem
estatal, a segunda é a característica dos governos republicanos, ou seja a participação política.
A fortuna vem a ser literalmente entendida como a acepção do termo, ou seja o poder material
conferido aos homens. A fortuna não é prudente aos homens, pois a mesma o leva a agir de modo
egoístico somente atendendo ao anseio da paixão. A boa fortuna só nasce através da virtú, que traz fama
ao homem que virtuosamente alcançou o sucesso e, portanto merece ser afortunado. O indivíduo também
necessita da fortuna para atingir seus objetivos, ou seja metade da estratégia racional que acompanha o
ser humano é a fortuna, a outra a virtú.Com isto não podemos agir contra a fortuna, porém jamais
podemos nos entregar aos deleites oferecidos por ela. Este é o humanismo cívico que teve origem, na
Itália da época de Maquiavel.
Atualmente sabemos que se extrai três grandes críticas contra o humanismo cívico:
- A questão de que a liberdade reside de fato na e se realiza plenamente através da participação
política
FILOSOFIA POLÍTICA
Quando a Filosofia surge na Grécia Antiga e se consolida na cidade de Atenas que naquela época
havia se tornado um centro intelectual e cultural, a Filosofia vai adquirir uma característica bastante
peculiar. Filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e os Sofistas vão concentrar boa parte de suas
reflexões em torno das discussões antropológicas, quer dizer, em torno do próprio homem, do ponto de
vista individual, normativo, social, político e existencial.
Por sua ênfase nas discussões antropológicas e em torno da realidade política ateniense o historiador
da Filosofia, Jean-Pierre Vernant, chegou a declarar que a Filosofia é "filha da cidade", ou seja, havia
uma preocupação por parte de tais pensadores em discutir o papel social e coletivo dos indivíduos e esta
preocupação era tão forte que Aristóteles chegou a definir o homem como um "zoon politikon", um "animal
político".
A ágora (praça pública) era o lugar privilegiado onde o debate em torno dos problemas políticos e
sociais enfrentados pelos cidadãos atenienses se realizavam.
Vale lembrar que a Grécia Antiga é o berço da Democracia (governo do povo) e, pela primeira vez, os
cidadãos poderiam participar diretamente da coisa pública (res pública). Assim surge, se assim podemos
dizer, a Filosofia Política.
Os primeiros grandes mestres do pensamento político foram, sem dúvida, Platão e Aristóteles. Ambos
procuraram sistematizar suas ideias escrevendo obras cuja importância são reconhecidas ainda hoje, o
primeiro, é autor do clássico A República e o segundo, autor de Política. Obras fundamentais para quem
quer conhecer um pouco da história e das ideias em torno do fenômeno do poder.
Filosofia e Política têm mantido, entre si, ligações antigas. Platão oferece aquele que pode ser o seu
mais forte paradigma. O filósofo rei, aquele que está apto a exercer uma função pública de administrar a
cidade e que pode fazer passar, para a ordem instável do mundo sensível e na qual se encontra a cidade,
a imutabilidade do mundo das ideias, o mundo da verdade. Já com o filósofo alemão Karl Marx nós
encontramos um outro modelo. Pois agora a verdade é a dialética do movimento do mundo material (o
mundo das ideias platônico é uma quimera, só existe o mundo sensível, material) histórico e da luta de
classes entre opressores e oprimidos. Marx, além disso, denuncia a filosofia que, ocupando-se apenas
em interpretar o mundo, esquece de transformá-lo. Mas a práxis revolucionária marxista, que fique bem
claro, não é uma práxis que se faria às cegas. Toda práxis demanda sua teoria, e cabe à filosofia, então
revolucionária indicar-lhe o seu portador.
Marx pesquisou a história da humanidade. Foi um pensador, um estudioso, que queria entender a
sociedade. Sua grande contribuição foi uma profunda análise sobre o sistema Capitalista e como esse
modelo de organização política e Econômica favorece a ampliação das desigualdades sociais. E de como
esse modelo revela uma sociedade que não é uma sociedade preocupada com o bem estar geral, é uma
sociedade preocupada em vender, a sociedade do lucro, por isso que é a sociedade do capital, não a
sociedade do social, é a sociedade que só quer se manter para que cada vez mais seja produzido mais
31
MACHADO, S. Fernanda. Teoria dos Governos, Republicanismo e Humanismo Cívico.https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=9376
32
MEDEIROS, Alexsandro M. http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/.
Filosofia Política33
A Filosofia sempre se propôs a investigar os caminhos, percalços e melhor forma para a convivência
em sociedade. Fruto da antiguidade clássica, a ciência da Filosofia foi idealizada e criada pelos gregos,
como reflexo da inquietação sobre as suas vidas, sobre a religião ou sobre os fenômenos da natureza.
Os gregos se organizavam em cidade-estados chamadas “pólis”, que influenciaram na criação de
termos como “politiké”, a política. De uma forma geral, a política passou a designar todos os assuntos
referentes à pólis, e consequentemente, as sociedades, o sentido de comunidade e a vida urbana.
Partindo desse princípio foi criada a Filosofia Política que investigava todas as questões referentes ao
convívio em sociedade e ao espaços público e político.
Fonte: https://www.resumoescolar.com.br/filosofia/resumo-da-filosofia-politica/
A Grécia Antiga também foi berço da Democracia, ou o governo do povo, no qual pela primeira vez os
cidadãos podiam participar diretamente do espaço político, nas ágoras (locais de reunião). Vale lembrar
que a participação era válida apenas para homens gregos, com mais de 21 anos de idade.
33
Filosofia Política. Disponível em: < https://www.resumoescolar.com.br/filosofia/resumo-da-filosofia-politica/>.
Contratos Sociais
A ideia de homem como “animal político” perdurou até o século XVII, quando Thomas Hobbes (1588
– 1679) levantou a hipótese de que a sociedade se organizava a partir de um contrato social, em que
cada indivíduo prezava pela sua própria conservação dentro do convívio social, que implicava na perda
de um pouco de liberdade. É neste instante, que homens assinavam um contrato fictício de convívio em
sociedade. Se voltassem ao seu estado completamente livre, de natureza, o convívio em harmonia seria
praticamente impossível. Em sua obra “Leviatã”, Hobbes coloca o Estado como ceifador da liberdade
humana, usando seu poder para garantir a ordem social.
Já John Locke (1632 – 1704) pensava nesse contrato como leis naturais, que impediam os indivíduos
de viverem em guerra constante, antes da formação das sociedades. Para ele, a formação das
sociedades ocorreu apenas pela necessidade da garantia da propriedade privada. Sua ideia de que o
homem é livre e o Estado existe apenas para garantir o direito à vida e o direito da propriedade ocasionou
em um novo fundamento conhecido como liberalismo político.
Ainda baseado na ideia de um contrato social, estava Jean-Jacques Rosseau (1712 – 1780), que
acreditava no compartilhamento de recursos entre sociedades sem qualquer necessidade de guerras.
Para o filósofo, a propriedade privada era a maior representação da desigualdade e causadora das
mazelas sociais, como pobreza, crime e violência. Sua solução para melhorar essas sociedades é que
os governos seguissem inteiramente os desejos e anseios da maioria dos cidadãos.
No século XX, a noções de contratos sociais foram retomadas com Rawls (1921 – 2002), que prezava
pelos princípios da justiça escolhidos em função da sociedade. Esses princípios seriam igualitários e
designados pelos próprios indivíduos e que todos deveriam ter liberdades e oportunidades igualitárias.
Poder e o Estado
A Filosofia Política de alguns pensadores se baseava mais diretamente nas relações de poder que o
Estado deveria exercer sobre as sociedades.
Um desses nomes é o de Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), historiador, poeta, diplomata e músico
italiano do Renascimento. Com características céticas e realistas, Maquiavel trouxe um desenvolvimento
da Filosofia Política ao longo dos séculos na obra “O Príncipe”. Para ele, o Estado deveria ter uma
constituição forte visando sempre o resultado político, em que “o príncipe deveria buscar o sucesso sem
se preocupar com os meios.”
Maquiavel acreditava na separação total da esfera política com qualquer outro segmento, seja ele de
cunho moral ou religioso. Baseado nesse princípio, o governante poderia violar qualquer lei ou norma
imposta pela economia, moral ou religião. O historiador se baseava em uma verdade efetiva, em que
homens agiam de fato, e rejeitava a política dos gregos e qualquer pensamento utópico.
O filósofo alemão Karl Marx foi um dos principais pensadores da Filosofia Política a estruturar suas
teorias com base nos sistemas econômicos, principalmente o capitalismo. Para ele, alguns pensadores e
filósofos apenas se preocupavam em interpretar o mundo sem gerar mudanças nele.
Marx se preocupou em pesquisar a história da humanidade para entender a formação de cada
sociedade, principalmente a pós-capitalismo, sistema econômico que favorecia o crescimento das
desigualdades sociais. Uma de suas conclusões é de que a sociedade pouco se preocupa com o bem-
estar geral, e sim, com o lucro. Por isso a sociedade do capital não seria a sociedade do social.
“Como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente
procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se possa imaginar. E muita gente
imaginou repúblicas e principados que nunca se viram nem jamais foram reconhecidos como
verdadeiros.” (Maquiavel)
34
ANDERSON PINHO. O pensamento político de Maquiavel. Professor Anderson Pinho. https://filosofiaesociologia.com.br/o-pensamento-politico-de-maquiavel/
Durante a Idade Média, como vimos, o poder do rei era sempre confrontado com os poderes da Igreja
ou da nobreza. As monarquias nacionais surgem com o fortalecimento do rei, e, portanto, com a
centralização do poder, fenômeno este que se desenvolve desde o final do século XIV (Portugal) e durante
o século XV (França, Espanha, Inglaterra). Dessa forma surge o Estado moderno, que apresenta
características específicas, tais como o monopólio de fazer e aplicar as leis, recolher impostos, cunhar
moeda, ter um exército. A novidade é que tudo isso se torna prerrogativa do governo central, o único que
passa a ter o aparato administrativo para prestação dos serviços públicos bem como o monopólio legítimo
da força. É em função desse contexto que se torna possível compreender o pensamento de Maquiavel.
Itália Dividida
Na época de Maquiavel as cidades mais expressivas da Península Itálica eram: a sua Florença, Milão,
Nápoles e Veneza. Apesar de seu forte comércio elas eram frágeis politicamente e totalmente vulneráveis
a ataques externos. Na época dele era a coisa mais comum uma cidade invadir e dominar outra, por isso
a sua preocupação. Além disso, Maquiavel acreditava que a região italiana só teria a ganhar se fosse
unificada. Mas como fazer isso? Essa é a pergunta central de O Príncipe (1515), a sua grande obra prima
que iria mudar totalmente o modo dos homens ocidentais enxergarem a política. Enquanto as demais
nações europeias conseguem a centralização do poder, a região onde futuramente será a Alemanha e a
Itália se acham fragmentadas em inúmeros Estados sujeitos a disputas internas e a hostilidades entre
cidades vizinhas.
No caso da Itália, a ausência de unificação a expõe à ganância de outros países como Espanha e
França, que reivindicam territórios e assolam a península com ocupações intermináveis. É nessa Itália
dividida que vive Nicolau Maquiavel (1469-1527) na república de Florença. Observa com apreensão a
falta de estabilidade política da Itália, dividida em principados e repúblicas onde cada um possui sua
própria milícia, geralmente formada por mercenários. Nem mesmo os Estados Pontifícios deixavam de
formar os seus exércitos. Maquiavel não foi apenas um intelectual que refletiu a respeito de política, pois
viveu intensamente a luta de poder no período em que Florença, tradicionalmente sob a influência da
família Médici, encontrava-se por uma década governada pelo republicano Soderini.
Nessa época Maquiavel ocupa a Segunda Chancelaria do governo, função que o obriga a
desempenhar inúmeras missões diplomáticas na França, Alemanha e pelos diversos Estados italianos.
Tem oportunidade de entrar em contato direto com reis, papas e nobres, e também com o condottiere
César Bórgia, que estava empenhado na ampliação dos Estados Pontifícios. Observando a maneira de
Bórgia agir, Maquiavel o considera o modelo de príncipe que a Itália precisava para ser unificada. Quando
Soderini é deposto e os Médicis voltam à cena política, Maquiavel cai em desgraça e recolhe-se para
escrever as obras que o consagraram. Entre peças de teatro (como a famosa Mandrágora), poesia,
ensaios diversos, destacam-se O príncipe e Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio.
O Príncipe Virtuoso
Para descrever a ação do príncipe, Maquiavel usa as expressões
italianas virtú e fortuna. Virtú significa virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade de lutador e
guerreiro viril. Homens de virtú são homens especiais, capazes de realizar grandes obras e provocar
mudanças na história. Não se trata do príncipe virtuoso no sentido medieval, enquanto bom e justo
segundo os preceitos da moral cristã, mas sim daquele que tem a capacidade de perceber o jogo de
forças que caracteriza a política para agir com energia a fim de conquistar e manter o poder. O príncipe
de virtú não deve se valer das normas preestabelecidas da moral cristã, pois isso geralmente pode
significar a sua ruina.
Implícita nessa afirmação se acha a noção de fortuna, aqui entendida como ocasião, acaso. O príncipe
não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a ocasião. De nada adiantaria um príncipe virtuoso, se não
souber ser precavido ou ousado, aguardando a ocasião propícia, aproveitando o acaso ou a sorte das
circunstâncias, como observador atento do curso da história. No entanto, a fortuna não deve existir sem
a virtú, sob pena de se transformar em mero oportunismo.
O príncipe deve usar de todas as artimanhas possíveis, mentir, ludibriar, enganar. É o homem astuto,
esperto o suficiente para conseguir o que deseja. Desse modo, para conseguir o poder ele tem que
possuir a virtú, ou seja, qualidades especiais que o diferencie dos outros homens. É ela que vai possibilitá-
lo a reconhecer as circunstâncias certas (fortuna) para agir como se deve no momento certo. A fortuna é
o que muitos chamam de sorte, mas só a aproveita quem estiver preparado.
Esse é o elemento característico do pensamento renascentista nos seus ensinamentos. Maquiavel
sabe que existem forças independentes da vontade do homem agindo sobre ele. Mas o homem como um
ser racional, dotado de inteligência, não é uma simples marionete jogada de um lado a outro ao sabor do
acaso. Ele pode usar sua racionalidade para decidir os rumos de sua vida. Chegado ao poder, é preciso
saber como se manter nele. Para isso, é melhor ser temido do que amado. Maquiavel tinha uma visão
pessimista sobre o homem, acreditava que ele é um bicho escroto, que quando tá tudo bem, todo mundo
é seu amigo, mas “na hora do vamos ver” todo mundo lhe vira as costas.
Não existe essa de bem comum. Os indivíduos vivem em constante conflito em sociedade, e não dá
para agradar todo mundo. Para manter a lealdade de todos é melhor que eles o temam, pois assim é
mais fácil de obedecerem e se manterem fiéis. É até bom de vez em quando esfolar um infeliz para que
todos vejam que o príncipe não está para brincadeira.
Maquiavel escreveu essa obra, quando os Médici retornaram ao poder e ele foi posto para fora da
cena política. Ele a dedicou a Lorenzo de Médici, o único homem que poderia, aos olhos dele, unificar a
Itália e lhe trazer de volta o brilho e esplendor da Roma republicana anterior à ditadura de Júlio César. É
necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-
se disso segundo a necessidade.
Ética e Política
A novidade do pensamento maquiaveliano, justamente a que causou maior escândalo e críticas, está
na reavaliação das relações entre ética e política. Por um lado, Maquiavel apresenta uma moral laica,
secular, de base naturalista, diferente da moral cristã; por outro, estabelece a autonomia da política,
Autonomia da Política
Maquiavel subverte a abordagem tradicional da teoria política feita pelos gregos e medievais e é
considerado o fundador da ciência política, ao enveredar por novos caminhos “ainda não trilhados”. Pode-
se dizer que a política de Maquiavel é realista, pois procura a verdade efetiva, ou seja, “como o homem
age de fato”. As observações das ações dos homens do seu tempo e dos estudos dos antigos, sobretudo
da Roma Antiga, levam-nos à constatação de que os homens sempre agiram pelas vias da corrupção e
da violência. Partindo do pressuposto da natureza humana capaz do mal e do erro, analisa a ação política
sem se preocupar em ocultar “o que se faz e não se costuma dizer”.
Maquiavel Republicano
Quando estava no ostracismo político, Maquiavel se ocupa com a elaboração dos Comentários sobre
a primeira década de Tito Lívio, interrompendo esse trabalho por alguns meses para escrever O príncipe.
À medida que escreve os Comentários, lê trechos nas reuniões realizadas por jovens republicanos, a
quem dedica a obra. Aí desenvolve ideias democráticas, admitindo que o conflito é inerente à atividade
política e que esta se faz a partir da conciliação de interesses divergentes. Defende a proposta do governo
misto: “Se o príncipe, os aristocratas e o povo governam em conjunto o Estado, podem com facilidade
controlar-se mutuamente”. Considera importante que as monarquias ou repúblicas sejam governadas
pelas leis e acusa aqueles que, no uso da violência, abusaram da crueldade, ou a usaram para interesses
menores.
Maquiavel era um republicano, e não escreveu uma obra para um governante que quisesse se
perpetuar no poder de forma absoluta e despótica. Ele tinha um sonho, mas não era um ingênuo. Sabia
que teria de haver derramamento de sangue para que um grande Estado fosse criado, e que isso teria de
ocorrer sob a liderança de um único homem. No entanto, alcançada a estabilidade, um regime republicano
deveria ser instalado para que o interesse coletivo pudesse guiar o destino de todos, e os rumos do
Estado.
É claro que não encontramos isso em O Príncipe, que, como já dissemos, é um manual de como
conseguir o poder e se manter nele. Esse perfil republicano de Maquiavel é percebido em outra obra sua,
qual seja, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Vejamos um trecho dessa obra em que isso
fica bem evidente:
“Percebe-se facilmente de onde nasce o amor à liberdade dos povos; a experiência nos mostra que
as cidades crescem em poder e em riqueza enquanto são livres. É maravilhoso, por exemplo, como
cresceu a grandeza de Atenas durante os cem anos que sucederam à ditadura de Pisístrato. Contudo,
mais admirável ainda é a grandeza alcançada pela república romana depois que foi liberta dos seus reis.
Compreende-se a razão disto: não é o interesse particular que faz a grandeza dos Estados, mas o
interesse coletivo. E é evidente que o interesse comum só é respeitado nas repúblicas: tudo que pode
trazer vantagem geral é nelas conseguido sem obstáculos. Se uma certa medida prejudica um ou outro
indivíduo, são tantos o que ela favorece, que se chega sempre a fazê-la prevalecer, a despeito das
resistências, devido ao pequeno número de pessoas prejudicadas”
Essas palavras não parecem ser de um homem que defenda um governo absolutista, que deseja ver
um rei governar por toda a eternidade. Parecem mais o alerta de alguém que sabe a importância da
liberdade para a grandeza e prosperidade de um povo.
DIREITO E CIDADANIA
Os “Direitos” poder ser divididos em três tipos: Civis, Políticos e Sociais. A cidadania consiste na
conquista desses direitos35.
35
https://bit.ly/2SauFhp
FILOSOFIA DA CIÊNCIA36
Diferente da filosofia, a qual pretende alcançar a verdade; a ciência busca o entendimento da realidade.
Embora a definição de ciência comporte múltiplas explicações, tal como a afirmação de Aristóteles de
que seria a busca do universal e eterno.
A partir do século XIX, a ciência passou a ser entendida como um processo de investigação para
alcançar um conjunto de conhecimentos tidos como verdadeiros, por meio de generalizações verificáveis.
Mas se é assim, vale à pena insistir: afinal, qual a diferença entre filosofia e ciência?
Ciência e Filosofia
36
RAMOS, P, Fábio. Filosofia da Ciência: uma introdução a partir de considerações gerais. http://twixar.me/DfFn
Função da Filosofia
Diferente da filosofia, a qual pretende alcançar a verdade; a ciência busca o entendimento da realidade.
Embora a definição de ciência comporte múltiplas explicações, tal como a afirmação de Aristóteles de
que seria a busca do universal e eterno.
A partir do século XIX, a ciência passou a ser entendida como um processo de investigação para
alcançar um conjunto de conhecimentos tidos como verdadeiros, por meio de generalizações verificáveis.
Mas se é assim, vale à pena insistir: afinal, qual a diferença entre filosofia e ciência?
Ciência e Filosofia
Função da Filosofia
Durante a antiguidade, filosofia e ciência eram sinônimos, confundiam-se. Na Idade Média aconteceu
o mesmo, com a diferença que os teólogos utilizaram o conhecimento filosófico para manipular o senso
comum em favor da fé.
A situação só começou a mudar com Copérnico, Galileu e Descartes. No século XV, Nicolau Copérnico
contribuiu para alterar a mentalidade da humana, iniciando um processo complementado por Galileu.
O universo aristotélico geocêntrico foi deslocado para o mundo heliocêntrico e antropocêntrico, com o
homem no centro da construção do conhecimento.
No século XVI, Galileu iniciou a matematização da realidade, estudada com o auxílio de instrumentos
que ampliaram os sentidos, sistematizando a observação dos fenômenos para descobrir regularidades,
estabelecendo leis gerais e teorias.
Descartes referendou esta tendência, compondo o método e inaugurando a modernidade. No entanto,
a ciência só adquiriu autonomia, separando-se da filosofia e da religião, no século XVIII.
Dentro do espírito da revolução francesa, os iluministas começaram a defender a neutralidade
cientifica.
Eles foram responsáveis também, através da enciclopédia, pelo início da separação entre filosofia e
ciência, uma tendência completada no século XIX pelo positivismo.
Destarte, o iluminismo, como conseqüência, acabou especializando o conhecimento humano,
acelerando o progresso cientifico, a despeito dos estragos que seriam efetivados pelo fordismo no século
XX.
A partir do século XVIII, a ciência passou a pretender ser objetiva, neutra, isenta de influências
ideológicas, voltada à construção de um conhecimento desinteressado em prol do benefício da
humanidade.
Entretanto, esquece-se que existem homens que fazem a ciência, portanto, sujeitos as influências
sociais, culturais, políticas e econômicas.
Além disto, existem fatores como a pressão exercida pelos órgãos de fomento. O que leva a questionar
a possibilidade da existência de neutralidade cientifica.
Não podemos esquecer que a ciência reflete interesses os mais diversos, apresentando um modelo
que pretende desvendar a realidade e que é fruto desta mesma pretensa realidade.
O contexto especifico, circunscrito ao tempo e espaço, cria os problemas analisados e as soluções,
fazendo a ciência caminhar na direção que atende estes pressupostos.
O que conduz a questão da neutralidade para o campo da ética, porque em nome do progresso
humano desinteressado, pesquisas que afetam milhões de pessoas são efetivadas, beneficiando
concretamente uma pequena parcela destes indivíduos.
Em outras palavras, cabe questionar os limites da ciência, até que ponto determinados atos justificam
os métodos e recursos empregados.
É por isto que, a partir do século XIX, a filosofia passou a discutir a questão da neutralidade cientifica
e a ética do fazer ciência.
O que originou os atuais conselhos de ética cientifica, principalmente existentes quando seres
humanos ou animais estão envolvidos em experiências como cobaias37.
A palavra ciência tem sua origem etimológica no latim scientia, que significa sabedoria, conhecimento.
Podemos dizer, de modo bem simples, que a ciência é o conhecimento de caráter racional, sistemático e
seguro dos fatos e fenômenos do mundo.
37
Fonte: Prof. Dr. RAMOS, F. P.
38
Texto adaptado: http://twixar.me/JW31
Filosofia da Ciência
Na sua busca de explicar e compreender o mundo, a Ciência procura ampliar ao máximo a extensão
do conhecimento racional do homem. Nessa trajetória, ela se desenvolve investigando setores
específicos da realidade, que constituem as diversas áreas especializadas das disciplinas científicas,
como, por exemplo: a Física, a Psicologia, a Química, a Biologia, a Astronomia etc.
Questionando a realidade, os cientistas delimitam problemas a serem resolvidos e trabalham no
sentido de encontrar justificativas satisfatórias, segundo as exigências da Razão. É assim que se constitui
o chamado saber cientifico, o qual, em última análise, não se opõe ao saber filosófico. O que os diferencia
é mais uma questão de enfoque: a Ciência interessa-se mais em resolver problemas específicos,
delimitados, enquanto a Filosofia busca alcançar uma visão global, harmônica e crítica do saber humano.
O ramo da Filosofia diretamente voltado para a reflexão sobre os conhecimentos científicos denomina-se
Filosofia da Ciência.
O tema geral da Filosofia da Ciência é o desenvolvimento da reflexão crítica sobre os fundamentos do
saber científico. Esse tema geral desdobra-se numa série de questões discutidas pelos filósofos da
Ciência, tais como: o estudo do método de investigação científica, a classificação das ciências, a natureza
das teorias científicas e sua capacidade de explicar a realidade; o papel da Ciência e sua utilização na
sociedade etc.
Método Cientifico
Devemos ressaltar que o método científico não pode ser visto como uma receita rígida de regras capaz
de garantir soluções para todos os problemas. Na verdade, nunca existiu essa receita única, pois o
método científico não é conjunto fixo e estereotipado de atos a serem adotados em todos os tipos de
pesquisa cientifica.
O que chamamos de método científico consiste numa estrutura lógica de ações freqüentemente
utilizadas na pesquisa científica mas que, por se só, não é suficientemente para garantir o êxito desse
empreendimento. Pois o sucesso de uma pesquisa depende de um amplo conjunto de fatores, que
abrange desde a natureza do problema a ser pesquisado até os recursos aplicados na pesquisa e,
sobretudo, a criatividade e a inteligência do pesquisador.
- Resumem uma grande quantidade de fenômenos regulares, favorecendo uma visão global do seu
conjunto;
- Possibilidade a previsão de novos fenômenos que se enquadram na regularidade descrita.
As leis costumam fazer parte de uma teoria cientifica. “a teoria especifica a causa ou mecanismo
subjacente tido como responsável pela regularidade descrita na lei”. A teoria tem como objetivo explicar
as regularidades entre os fenômenos e deles fornecer uma compreensão ampla.
Costuma-se dizer que explicar e prever constituem a função fundamental das leis e teorias cientificas.
Compreensão e Explicação
A palavra compreensão tem uma origem etimológica no latim comprehensio, que significa ação de
aprender conjuntamente.
Ocorre compreensão de um fato quando conseguimos perceber os elementos internos que o
caracterizam. Quem compreende torna-se capaz de apreender globalmente as Partes que compõe um
Todo. Assim, por exemplo, a compreensão do conceito de animal implica apreendermos seus elementos
característicos, tais como os conceitos de: ser vivo, célula, reprodução, crescimento etc.
A palavra explicação tem origem etimológica no latim explicare, que significa desdobrar, justificar,
esclarecer.
Ocorre explicação de um fato quando apontamos as causas ou razões pelas quais o fato acontece
dessa forma e não de outra.
Para explicar um fato precisamos compreendê-los e, em seguida, justificá-lo, situando as causas que
o geraram e os fatores de seu desenvolvimento. Essas casas e esses fatores devem ser procurados
numa estrutura mais ampla de fatos que possam ser englobados numa teoria abrangente.
Se estudos, por exemplo, a Independência do Brasil, percebendo suas limitações internas, passo a
compreende-la. Mas se, posteriormente, procuro as causas da das limitações dessa Independência nas
relações socioeconômicas estabelecidas entre Portugal e suas Colônia com o capitalismo inglês, então,
compreendo essas relações socioeconômicas e, através delas, explico a Independência brasileira.
- Aristóteles
- Augusto Comte
O filosofo Augusto Comte (1798-1857) propôs uma classificação das ciências tendo como critério o
grau de simplicidade ou de generalidade dos fenômenos estudados. Afirmava ser necessário começar do
estudo dos fenômenos mais simples, ou mais gerais, procedendo, sucessivamente, até atingir os
fenômenos mais particulares ou mais complicados.
Para Comte, as ciências podem ser classificadas em cinco grupos básicos: Astronomia, Física,
Química, Fisiologia, Sociologia. Segundo ele, a primeira dessas ciências, a Astronomia, se ocupava dos
“fenômenos mais gerais, mais simples, mais abstratos e mais afastados da humanidade, e que
influenciam todos os outros sem serem influenciados por estes. Os fenômenos considerados pela última
pela última (Sociologia) são, ao contrário os mais particulares, mais complicados, mais concretos e mais
diretamente interessantes ao homem; dependem, mais ou menos de todos os precedentes sem exercer
sobre eles influencia alguma.”
Além desses cinco grupos, Comte reservava um lugar especial à Matemática, por representar,
segundo ele, a base fundamental de toda Ciência, “consistindo no mais poderoso instrumento que o
espírito humano pode empregar na investigação das leis e dos fenômenos naturais.”
- Carl Hempel
O professor Carl Hempel, da Universidade de Princeton (EUA), classificou as ciências em dois grupos:
- O das Ciências Empíricas – são aquelas que “procuram descobrir, descrever, explicar e predizer as
ocorrências no mundo em que vivemos”
As afirmações dessas ciências devem ser confrontadas com os fatos de nossa experiência só
aceitáveis quando amparadas por uma evidencia (experimentação, observação sistemática etc).
- O das Ciências Não-empíricas – são aquelas que dispensam a referência permanente a experiência
sensível. Desenvolvem-se no plano mais abstrato do raciocínio: é o caso da lógica e da matemática.
As Ciências Empíricas dividem-se me Ciências Naturais e Ciências Sociais ou Ciências Humanas. O
critério para essa divisão, adverte Hempel, não é muito claro, nem muito rígido, não havendo acordo geral
sobre onde se encontra a linha da separação.
Basicamente, podemos dizer que as Ciências Naturais são aquelas que estudam o conjunto de seres
e coisas, orgânicas e inorgânicas, que compõem a Natureza. Pertencem as Ciências Naturais: a Física,
a Química, a Biologia etc.
Por outro lado, as Ciências Sociais estudam as relações do homem consigo próprio, com os outros
homens e com a Natureza. Que tipo de relações? As relações que se originam do ato pelo qual o homem
produz cultura, agindo no mundo e a ele reagindo, criando e sofrendo os efeitos das suas criações.
Pertencem as Ciências Sociais: a Sociologia, A Economia, a Antropologia, a História etc.
A Psicologia é classificada como Ciência Natural e, outra vezes, como Ciência Social, conforme se
encare como seu objeto de estudo:
- O psiquismo e o comportamento do homem como manifestação pura e simples do seu organismo
natural (Visão das Ciências Naturais);
- A investigação do comportamento humano na sua significação ampla de porta-se com, isto é, a
postura do homem em relação a si mesmo, aos outros e a Natureza (visão das Ciências Sociais).
Mito do Cientificismo
Se formos avaliar o papel da ciência na história humana, seremos tentados a acreditar que o “método
científico” seria uma das formas de produção de conhecimentos mais bem-sucedidas que o Homem já
elaborou.
Por meio dele, o Homem pôde superar inúmeros limites e transformar sua relação com a natureza:
erradicou doenças endêmicas, foi ao espaço sideral, está decodificando códigos genéticos, inventou o
rádio, a televisão, o telefone, o laser, o microprocessador etc.
Segundo a Professora Cristina G. Machado de Oliveira, na medida em que a ciência se mostrou capaz
de compreender a realidade de forma mais rigorosa e tornou possível fazer previsões, rapidamente
transformou o mundo. Diante de tantas maravilhas, desenvolveu-se a tendência de desprezar outras
abordagens da realidade (religião, filosofia, arte, etc).
Já no séc. XIX, o positivismo valorizava exageradamente o conhecimento científico. Essa forma de
pensar foi explicitada pelo filósofo francês Augusto Comte, fundador do positivismo, corrente filosófica
segundo a qual a humanidade teria passado por estágios sucessivos (teológico e metafísico) até chegar
ao ponto superior do processo, caracterizado pelo conhecimento positivo, ou científico. A preocupação
positivista de tudo reduzir ao racional redunda no seu oposto, ou seja, na criação do mito do cientificismo,
segundo o qual o único conhecimento perfeito é o científico. Então, em que consiste tal “mito”?
É uma crença de que a ciência possui um poder ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhes o
lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades atemporais,
absolutas e inquestionáveis.
Mito do Progresso
Embutido no ideal cientificista, existe o mito do progresso. Segundo essa concepção, o progresso é
inicialmente algo embrionário, cabendo à ação humana transformadora trazer à luz as possibilidades
latentes. O progresso é explicado como um fenômeno linear, cuja tendência automática é o
aperfeiçoamento humano.
Por isso o ideal do progresso justificaria todas as ações humanas realizadas em seu nome. Mas
infelizmente já conhecemos as consequências (as fábricas poluem, a especulação imobiliária destrói, a
opulência não expulsa a miséria) – o que são de fato indicativos de regressão humana, o que nos leva a
rever a noção de progresso.
39
MAXIMINO, M, Silvio. O mito do cientificismo: algumas anotações. https://bit.ly/2EtHg6i
Outra ramificação importante deste mito está na crença de que a ciência constitui um saber neutro,
isto é, que as pesquisas não sofrem nenhuma influência econômica ou política e que cientistas visam
apenas ao conhecimento “puro” e desinteressado. Desse modo, não só a atividade científica estaria à
margem das questões históricas, como não caberia ao cientista discutir o uso político de suas
descobertas.
Essa imagem de neutralidade científica também é ilusória. A maioria dos resultados científicos que
usamos em nossa vida cotidiana teve como origem investigações militares e estratégicas, competições
econômicas entre grandes empresas transnacionais e competições políticas entre grandes Estados.
Muito do que usamos em nosso cotidiano provém de pesquisas nucleares, bacteriológicas e espaciais.
Como produtora de tecnologia, a ciência pode ser instrumento de poder.
A inconsciência dos cientistas é a causa da ambiguidade de suas atividades. Esta aptidão para se
transformar em instrumento de poder resulta, em primeiro lugar, de um aspecto perigoso e problemático
da tecnologia, o qual começou a se tornar evidente desde os primórdios desta. No momento em que o
homem percebeu que a técnica lhe possibilitava dominar os processos naturais, ele também percebeu
que ela possibilitava a dominação de outros homens. Trata-se de um setor sombrio da ciência, do qual o
principal propulsor é a guerra. Segundo a revista Impact of Science on Society, editada pela UNESCO
em 1980, quase a quarta parte dos recursos mundiais dedicados à pesquisa científica era consumida
pela pesquisa militar, e mais de meio milhão de cientistas estavam atrelados ao desenvolvimento de
novas armas.
Além disso, muitos pesquisadores acabam trabalhando para projetos bélicos sem sequer sabê-lo, visto
que seus trabalhos são usados para fins clandestinos. É o que aconteceu, por exemplo, no caso dos
desfolhantes que foram utilizados pelos EUA na guerra do Vietnã, os quais tiveram sua origem numa
pesquisa que visava o desenvolvimento de produtos agrícolas cujos resultados foram desviados pelos
militares americanos.
Essa má utilização da tecnologia também é geradora da falta de critério na seleção das pesquisas a
serem realizadas. A viagem à lua, por exemplo, que custou bilhões de dólares, foi um contrassenso diante
da situação calamitosa do mundo, com populações inteiras vivendo na miséria e morrendo de fome.
Ainda segundo Cristina G. M. Oliveira, é a filosofia que, diante do saber e do poder, avalia se estes
resultados estão a serviço do homem ou contra ele, isto é, se servem para seu crescimento espiritual ou
se o degradam se contribuem para a liberdade ou para a dominação.
Cabe, portanto, à filosofia recolocar o problema da unidade do saber, tornado “esquizofrênico” pela
ciência moderna, na medida em que foi compartimentalizado. O resultado dessa fragmentação é que o
homem se torna o grande ausente da ciência, já que a razão é posta a serviço da destruição da natureza,
da alienação humana e da dominação.
Em síntese, temos a ilusão de progresso e de evolução na ciência por dois motivos principais, segundo
M. Chauí:
1. do lado do cientista, porque este sente que sabe mais e melhor do que antes, já que o paradigma
anterior não lhe permitia conhecer certos objetos ou fenômenos. Tem o sentimento de que o passado
estava errado, era inferior ao presente aberto por seu novo trabalho;
2. do lado dos não-cientistas, porque vivemos sob a ideologia do progresso e da evolução, do “novo”
e do “fantástico”. Vemos os resultados tecnológicos das ciências: naves espaciais, computadores,
satélites, fornos micro-ondas, telefones celulares, cura de doenças julgadas incuráveis, objetos plásticos
descartáveis... e tais resultados tecnológicos são apresentados pelos governos, pelas empresas e pela
propaganda como “signos do progresso”. O progresso é uma crença ideológica.
A conclusão é que, se há um 'discurso competente', em contraposição, há os incompetentes (os
elaborados por não cientistas...), cujo não-saber supõe a aceitação passiva do discurso do saber.
INDUSTRIA CULTURAL
Estética40
O significado da beleza e a natureza da arte têm sido objeto da reflexão de numerosos autores desde
as origens do pensamento filosófico, mas somente a partir do século XVIII, com a obra de Kant, a estética
começou a configurar-se como disciplina filosófica independente.
Ciência da criação artística, do belo, ou filosofia da arte, a estética tem como temas principais a gênese
da criação artística e da obra poética, a análise da linguagem artística, a conceituação dos valores
estéticos, as relações entre forma e conteúdo, a função da arte na vida humana e a influência da técnica
na expressão artística. Os primeiros teóricos da estética foram os gregos, mas como "ciência do belo" a
palavra aparece pela primeira vez no título da obra do filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten,
Æesthetica (1750-1758). A partir dessa obra, o conceito de estética restringiu-se progressivamente até
chegar a referir-se à reflexão e à pesquisa sobre os problemas da criação e da percepção estética.
Antiguidade Clássica
A arte, objeto mais geral da estética, tem sido considerada de maneira distinta segundo as épocas e
os filósofos que dela se ocuparam. Na antiguidade, o problema do belo foi tratado por Platão, Aristóteles
e Plotino. No diálogo Hípias maior, Platão procura definir o belo em si, a ideia geral ou universal da beleza.
No Banquete e no Fedro, o problema da beleza é proposto em função do problema do amor. Por meio de
imagens sensíveis, da cópia ou imitação da Idéia, e no delírio erótico, somos possuídos pelo deus, o que
leva à reminiscência e à visão da realidade absoluta da beleza inteligível.
Na República, Platão sacrifica a estética à ética: critica os poetas que atribuem aos deuses fraquezas
e paixões próprias dos mortais e acrescenta a essa crítica outra de ordem metafísica: a arte não passa
de imitação da aparência, ou seja, é cópia de um objeto sensível, que, por sua vez, já é cópia, e imperfeita,
da Ideia. Assim, a arte produz apenas a ilusão da realidade.
Nas reflexões de Aristóteles sobre a arte (imitação da natureza e da vida, mimesis), dominam as ideias
de limite, ordem e simetria. Sua Poética aplica esses princípios à poesia, à comédia, à epopeia e afirma
que "o Belo tem por condição certa a grandeza e a ordem". Plotino, seguindo a inspiração platônica,
indaga nas Enéadas se a beleza dos seres consiste na simetria e na medida, pois tais critérios convêm
apenas à beleza física, plástica, indevidamente confundida com a beleza intelectual e moral. O próprio
ser físico, sensível, só é belo na medida que é formado por uma ideia que ordena e combina as múltiplas
partes de que o ser é feito.
Escolástica
A filosofia medieval inspirou-se no idealismo de Platão e no realismo de Aristóteles. Para os
escolásticos, a arte é uma virtude do intelecto prático, um hábito de ordem intelectual que consiste em
imprimir uma ideia a determinada matéria. Santo Tomás de Aquino definia a beleza como "aquilo cuja
visão agrada", cujos requisitos são a proporção ou harmonia, a integridade ou unidade e a clareza ou
luminosidade.
Kant
Na Crítica do juízo (ou da faculdade de julgar), que examina os juízos estéticos, ao referir-se aos
objetos belos da natureza e da arte, Kant concebe o juízo estético como resultado do livre jogo do intelecto
e da imaginação e não como produto do intelecto, ou seja, da capacidade humana de formar conceitos,
nem como produto de intuição sensível. O juízo estético provém do prazer que se alcança no objeto como
tal. Exprime uma satisfação diferente daquela que é proporcionada pelo agradável, pelo bem e pelo útil.
O belo, diz Kant, "é o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito". A satisfação
só é estética, porém, quando gratuita e desligada de qualquer fim subjetivo (interesse) ou objetivo
(conceito). O belo existe enquanto fim em si mesmo: agrada pela forma, mas não depende da atração
40
ESTÉTICA. Portal do Estudante de Filosofia. http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/estetica.php.
Hegel
O objeto da estética, segundo Hegel, é o belo artístico, criado pelo homem. A raiz da arte está na
necessidade que tem o homem de objetivar seu espírito, transformando o mundo e se transformando.
Não se trata de imitar a natureza, mas de transformá-la, a fim de que, pela arte, possa o homem exprimir
a consciência que tem de si mesmo. O valor ou o significado da arte é proporcional ao grau de adequação
entre a ideia e a forma, proporção que permite a divisão e classificação das artes. Sua evolução consiste
na sucessão das formas nas quais o homem exprime suas ideias a respeito de Deus, do mundo e de si
próprio.
As diferentes formas de arte correspondem às diferentes maneiras de apreender e conceber a ideia e
às diversas modalidades de incorporação do conceito à realidade. A propósito, Hegel distingue três
dessas modalidades, a que correspondem, metafísica e historicamente, as três formas fundamentais da
arte: arte simbólica, arte clássica e arte romântica. Para Hegel, a história da arte, do ponto de vista da
filosofia, mostra que a arte simbólica está à procura do ideal, a arte clássica o atinge e a romântica o
ultrapassa.
A evolução da arte reproduz a dialética da ideia infinita, que se nega ou aliena no finito, para negar a
negação na síntese do finito e do infinito. A esse processo correspondem graus crescentes de
interiorização do espírito, desde a arquitetura, arte do espaço vazio, mero receptáculo do divino, até a
poesia, arte puramente interior ou subjetiva.
Benedetto Croce
Os princípios estéticos de Hegel, desprezados na Alemanha durante toda a segunda metade do século
XIX, foram preservados na Itália por Francesco De Sanctis. Seu sucessor é Croce, cuja estética, baseada
no conceito da expressão individual, exerceu profunda influência no mundo inteiro. Segundo Croce,
qualquer ato artístico é meio de expressão e esta é a origem do lirismo. Só enquanto lirismo as obras de
arte são arte e têm valor estético. Uma das consequências dessa estética como ciência da expressão é
a abolição das fronteiras entre todas as artes e entre todos os gêneros literários.
Marxismo
A estética marxista, apenas esboçada na obra de Marx e Engels, é tributária da estética hegeliana, em
que encontra sua justificação, e parece ter achado sua formulação mais completa na obra do dramaturgo
e encenador Bertolt Brecht. A tese do "distanciamento" (Entfremdung), de Brecht, implica uma ruptura
com a concepção clássica da arte como catarse. O espectador toma consciência dos problemas que lhe
são apresentados na cena e é convocado a decidir e optar, colaborando na tarefa de libertação do
homem: seria esta a razão de ser da obra de arte.
Os filósofos do Instituto de Pesquisas Sociais, mais conhecido como Escola de Frankfurt, constituíram
o núcleo de uma linha original de pensamento estético de inspiração marxista, desenvolvido
principalmente por Walter Benjamin e Theodor Adorno. Benjamin analisou o papel da obra de arte na
época da reprodução mecânica e Adorno formulou o conceito de "indústria cultural" para designar o
tratamento de mercadoria aplicado aos bens culturais na sociedade contemporânea.
Existencialismo
A filosofia da existência não suscitou uma estética propriamente dita, embora alguns de seus
representantes (Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger, Sartre) tenham refletido sobre a arte e seus
problemas. Para Heidegger, a arte em sua essência é uma origem: um modo eminente de acesso da
verdade ao ser. Sartre, no meio da tradição hegeliana e marxista, oferece em seus ensaios sobre literatura
os elementos do que poderia ser uma estética, especialmente literária. Para ele, a gratuidade da obra de
arte é a imagem da liberdade. O artista, ao revelar o mundo e propor implicitamente sua mudança,
desempenha a função de inventar-se a si mesmo, ao mesmo tempo em que inventa a história.
Indústria Cultural
A partir de quando poderíamos falar em indústria cultural ou cultura de massa? E mais, o que significam
esses termos? Por que associar indústria a cultura? Que tipo de mercadoria essa indústria afinal de contas
produz? Como nos capítulos anteriores, este também se inicia com perguntas, às quais tentaremos
responder.
Talvez possamos falar em indústria cultural com segurança a partir do século XVIII. O fato marcante
foi a multiplicação de jornais na Europa. Se até a idade média a leitura e a escrita eram privilégios do
clero e de parte da nobreza, isso se modifica no capitalismo.
As características básicas do novo modelo socioeconômico que se impunha eram a urbanização, a
industrialização e, principalmente, a criação e ampliação do mercado consumidor. As cidades passam a
ser polos de importância social, econômica e cultural. A população vai abandonando o campo rumo à
cidade e ao trabalho nas fábricas. A mecanização barateia os produtos e, consequentemente, aumenta
o mercado consumidor. A burguesia comercial e industrial se estabelece como classe hegemônica, e
crescem as classes médias. Esse novo público vai ser conquistado pelo mercado em geral e, também,
pelo mercado de bens culturais.
É nesse sentido que os jornais assumem grande importância. Paralelamente ao barateamento do
papel, há uma elevação do número de leitores, uma tendência que se impõe. Os jornais divulgam notícias,
crônicas políticas e os chamados folhetins (precursores do romance e das novelas de tv atuais). A estória
que os jornais publicavam nos rodapés de suas páginas vinha em capítulos, obrigando o leitor a comprar
o próximo exemplar para saber a continuação da trama.
Stuart Hall, sociólogo jamaicano, afirma que não se pode pensar em cultura erudita ou em cultura
popular sem antes considerar a existência da indústria cultural. O jornal do século XVIII certamente já
interferia na produção e divulgação das ideias, bem como o predomínio de umas, e não de outras.
Além disso, se lembrarmos o quanto a sociedade estava mudando nesse período, poderemos
compreender a atitude dos primeiros folcloristas ou colecionadores, que queriam coletar e preservar as
velhas canções populares, ao perceberem que a nova sociedade dava cada vez menos espaço para
essas manifestações culturais. As populações camponesas chegavam às cidades e tinham que se
adaptar ao seu ritmo alucinante. O lazer e a arte que elas praticavam no seu dia-dia, no campo, sem
separá-los de sua rotina, passam a lhes ser oferecidos por profissionais que vivem exatamente da arte e
do lazer: companhias de teatro, os circos, os balés, que a partir de agora ocupam um espaço na divisão
social do trabalho.
Mas por que chamar isso tudo de cultura de massa ou de indústria cultural? O primeiro termo faz com
que vejamos a sociedade moderna como uma sociedade de massas, de multidões padronizadas e
homogêneas, ou no máximo compartimentalizadas em setores com características semelhantes. O
segundo termo remete às ideias de produção em série, de comercialização e de lucratividade,
características do sistema capitalista. Podemos imaginar, então, o estabelecimento de uma indústria
produtora e distribuidora de jornais, livros, peças, filmes, em resumo de “mercadorias culturais”.
O termo indústria cultural foi criado por Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973),
membros de um grupo de filósofos conhecidos como Escola de Frankfurt. Ao fazerem a análise da
atuação dos meios de comunicação de massa (mdcm), esses autores concluíram que eles funcionavam
como uma verdadeira indústria de produtos culturais, mas, mais do que isso, vende imagens do mundo
e faz propaganda deste mundo tal qual ele é e para que ele assim permaneça.
Segundo os dois autores, a indústria cultural pretendia integrar os consumidores das mercadorias
culturais, agindo como uma ponte nociva entre a cultura popular e a erudita. Nociva porque retiraria a
41
BIRUEL, H, Eduardo. A indústria Cultural. http://abre.ai/1qN.
Nesse sentido os MDCM funcionariam como fundamentais para a manutenção e a expansão de todas
as sociedades democráticas.
Eco irá criticar as duas concepções, os “apocalípticos” estariam equivocados por considerarem a
cultura de massa ruim simplesmente por seu caráter industrial. Para Eco, não se pode ignorar que a
sociedade atual é industrial e que as questões culturais têm que ser pensadas a partir dessa constatação.
Os “integrados”, por sua vez, estariam errados por esquecerem que normalmente a cultura de massa é
produzida por grupos de poder econômico com fins lucrativos, o que significa a tentativa de manutenção
dos interesses desses grupos através dos próprios MDCM. Além disso, não é pelo fato de veicular
produtos culturais que a cultura de massa deva ser considerada naturalmente boa, como querem os
“integrados”.
Eco acredita que não se pode pensar a sociedade moderna sem os MDCM. Nesse sentido, sua
preocupação é descobrir que tipo de ação cultural deve ser estimulado para que os MDCM realmente
veiculem valores culturais, remetendo aos intelectuais, o papel de fiscalizar e exigir que isso aconteça.
Outro autor também ligado à Escola de Frankfurt, mas com uma concepção diferente do papel da
indústria cultural, é Walter Benjamin (1886-1940). Para ele, a revolução tecnológica do final do século XIX
ARTE E ESTÉTICA
A sensibilidade de quem admira um objeto (qualquer ser ou paisagem) Quem é bonito? Quem é feio?
O que é bonito? O que é feio? Qual expressão artística pode ser considerada bonita, feia, boa ou ruim?
Difícil de responder não é!? Bom, a resposta para tais perguntas parece dizer respeito à questão de gosto
de cada pessoa. Será?42
O certo é que todas as vezes que observamos algo, sentimos e escutamos qualquer coisa, os nossos
órgãos sensoriais produzem informações para o nosso cérebro que rapidamente processa e nos
proporciona uma interpretação sobre o que nos cerca. Geralmente esta interpretação pode nos levar a
um sentimento de prazer, aprovação, reprovação, nojo, beleza, feiúra, etc.
E isso tudo ainda depende de como a nossa sociedade percebe as coisas e de como nós absorvemos
da sociedade esses significados. Assim, as ideias de belo, feio, bom, ruim estão intimamente ligadas à
cultura à qual pertencemos.
Arte
Do latim, ars, artis significa: o “ato de fazer”. Para os Gregos Antigos, a arte significava o domínio do
ser humano de uma ou mais técnicas. Deriva daí a ideia de que saber faze r algo muito bem feito é uma
arte, por exemplo: a arte da guerra, a arte da política, a arte de fazer parto, da medicina, do direito, etc.
Deste modo, arte é o ato de fazer a obra que será admirada, seja ela uma canção, uma escultura, uma
poesia, uma dança, uma arquitetura. A estética será, portanto, a disciplina que irá estudar, analisar a
relação existente entre a arte e o homem.
Mas o que determinaria o ato de fazer uma obra de arte? A resposta mais aceita é a personalidade do
artista e o contexto histórico-cultural do qual o artista faz parte e todas as influências que ele possa
receber. Para Gallo (1997), o próprio artista é quem determina a funcionalidade de sua obra.
Na política, por exemplo, o artista pode retratar uma injustiça, um problema social, uma ideologia. A
obra “Os retirantes”, de Cândido Portinari (1903-1962), representa a vida difícil dos milhares de brasileiros
que migram de cidades do interior para os grandes centros em busca de melhores condições de vida. A
imagem retrata a magreza, a fome, a miséria e o sofrimento das pessoas que se encontram nesta
situação.
Na religião, a arte serve para a representação do sagrado e está a serviço das instituições religiosas
e de suas crenças. A arte está presente nas pinturas, esculturas, hinos e arquitetura dos templos
religiosos. A maior representação de arte sacra está relacionada à Igreja Católica na forma das imagens
e esculturas que representam todas as divindades do cristianismo católico.
42
Blog do Enem. Arte e Estética. https://blogdoenem.com.br/filosofia-enem-arte-estetica/
Estética
Foi o filósofo Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1831), que utilizou a palavra “estética”, no conceito
moderno, pela primeira vez. Ele tinha o intuito de estabelecer uma disciplina da Filosofia que se
encarregaria de estudar todas as manifestações artísticas. Assim, já na Grécia Antiga, outros filósofos já
faziam o uso da palavra “estética” que deriva da palavra grega aesthesis e que significa sensibilidade.
Deste modo, no sentido mais estreito do significado, a palavra “estética” significa: “sensibilidade”.
Atualmente, seu significado moderno corresponde a: “doutrina do conhecimento sensível”.
Baumgarten definiu a estética como sendo uma disciplina que deveria refletir sobre as emoções
produzidas pelos objetos que são admirados pelos seres humanos. O autor ainda afirmava que a estética
deveria ser abordada de forma subjetiva, ou seja, a partir da consciência da cada indivíduo.
Este filósofo da arte entende que a única forma de se apreciar uma obra de arte se dá pela
sensibilidade do observador. Ela, a sensibilidade, só é possível quando o observador se permite
contemplar a arte a partir da sua própria subjetividade.
A pergunta fundamental em filosofia da arte43 é: qual a natureza da obra de arte? Teorias da arte
buscam respondê-la. Uma objeção frequente à pretensão de construir tais teorias é que a arte é um
fenômeno demasiado diversificado para que possa ser encontrada uma essência comum a todas as suas
manifestações, o que equivale a dizer que não podemos encontrar condições necessárias e suficientes
para a sua identificação, ou seja, condições que uma vez presentes nos garantam que estamos diante de
uma obra de arte. O que há de comum, afinal, entre o teto da capela Sixtina e as caixas de supermercado
Brillo de Andy Warhol? Muito pouco.
43
Texto adaptado de COSTA, C. F. A Essência da Grande Arte.
Representativismo
O representativismo é a mais antiga concepção da obra de arte, sugerindo que a sua função seja a de
representar alguma coisa. Platão e Aristóteles concebiam a arte como imitação ou mímese, ou seja, como
uma representação naturalista da realidade. Assim, a pintura imita a natureza, o drama imita a ação
humana. Essa concepção já era problemática na antiguidade. A música instrumental, por exemplo, não
parece imitar coisa alguma. E a pintura moderna tornou essa concepção ainda menos plausível. Um
quadro que intenta copiar a realidade é chamado pejorativamente de Trompe D’oeil, sendo em geral visto
como destituído de valor estético. Esse juízo não pode ser generalizado. Os autorretratos de Rembrandt,
nos quais ao longo da vida ele documentou, com honestidade e coragem, a sua própria decadência, são
obras de arte. Contudo, grande parte da pintura, da literatura, e quase toda a música, não são certamente
cópias literais de coisa alguma.
Uma segunda versão de representativismo é a teoria representacional propriamente dita. A obra de
arte não precisa ser uma cópia ou imitação da realidade, ou seja, uma representação naturalista. Ela pode
ser uma representação puramente convencional ou simbólica. Quadros cubistas e simbolistas, por
exemplo, embora pareçam muito pouco com o que representam, não deixam de ser considerados obras
de arte. Essa versão do representativismo é, mesmo assim, insuficiente. O que dizer de pinturas
realmente abstratas, como o Número 32 de Pollock, ou de objetos achados, como o pissoir de Marcel
Duchamp (intitulado A Fonte), ou de músicas puramente orquestrais, como a Sétima Sinfonia de
Beethoven? Convencionalmente essas obras não simbolizam nada.
A terceira versão do representativismo é o que já foi chamado de neo-representativismo. Nessa versão
não se exige que a obra de arte represente mais nada, mas que seja sobre algo, que possua um tema,
um assunto, um significado, que nos diga algo de alguma coisa. Mais tecnicamente: uma obra de arte
precisa ter algum conteúdo semântico. Com efeito, toda obra de arte admite ser interpretada, se ela
admite ser interpretada é porque ela nos diz algo e se ela nos diz algo é porque possui algum conteúdo
semântico. Esse conteúdo semântico não costuma ser convencionalmente estabelecido, o que o torna
aberto, polissêmico. Mesmo uma obra de arte que pretenda não ter significado algum paradoxalmente
acaba por tematizar algo, a dizer, a sua ausência de significado: ela significa a ausência de significado.
Uma objeção possível seria a seguinte: se uma música apenas exprime um sentimento, por exemplo,
a tristeza, ela não pode ser sobre o sentimento que exprime, sendo errado dizer que ela possui conteúdo
semântico. Mas essa objeção por si só não basta. Se alguém bate com a cabeça na porta de um armário
e exclama “Ai!”, sem dúvida esse proferimento possui função expressiva, ele exprime espontaneamente
a sensação de dor. Mas nem por isso (pace Wittgenstein) a palavra proferida precisa perder a sua
referência, pois ela pode (e parece) ser também sobre a dor que a pessoa sente, sendo este o seu
conteúdo semântico. O mesmo talvez possa ser dito da música: o fato de ela exprimir um sentimento não
prova que ela não é também sobre o sentimento que ela exprime.
Pode bem ser que a teoria neo-representativista da arte seja aplicável a toda e qualquer manifestação
artística. Mas não é esse o seu problema. É que ela é demasiado pobre como meio de esclarecer o que
é arte, pois o que semelhante teoria oferece é apenas uma condição necessária e não uma condição
suficiente para a identificação da obra de arte, posto que coisas demais possuem conteúdo semântico
sem ser arte. Tudo o que escrevi nos parágrafos acima, por exemplo, possui conteúdo semântico sem ter
nada a ver com arte.
Formalismo
Segundo as teorias formalistas, o que caracteriza a obra de arte é a sua forma e não o seu caráter
representativo. Um paradigma do formalismo é a teoria proposta por Clive Bell em 1914 com o objetivo
de defender o neo-impressionismo de pintores como Paul Cézanne. Para Bell o que caracteriza as artes
plásticas e talvez a música é a presença da forma significante. O conceito de forma significante é simples,
não podendo ser definido. Mas na pintura ele resulta da combinação de formas, linhas e cores. Considere,
por exemplo, a Composição em Vermelho, Amarelo e Azul, de Mondrian. O que faz a singularidade dessa
pintura é a inesperada harmonia entre as cores puras, as formas e dimensões de seus retângulos, de
modo a constituir uma forma significante. Próprio da forma significante é que ela produz uma emoção
estética em pessoas com sensibilidade para a arte.
A teoria da forma significante foi útil como defesa da pintura abstrata ou semi-abstrata surgida desde
o final do século XIX. Mas ela possui defeitos sérios. Para Bell a representação e o contexto não possuem
relevância. Mas não é difícil encontrarmos exemplos de obras de arte nas quais o elemento
Teoria Institucional
A teoria institucional da arte surgiu na década de 1960, tendo sido sustentada por George Dickie. Ela
enfatiza a importância da comunidade de conhecedores de arte na definição e ampliação dos limites
daquilo que pode ser chamado de arte. Dickie define a obra de arte como um artefato que possui um
conjunto de aspectos que lhe conferem o status de candidato à apreciação por parte das pessoas
pertencentes à instituição do mundo da arte. Nigel Warburton ilustra a teoria com a história da obra de
Alfred Wallis. Wallis era um marinheiro que nada entendia de arte e que aos 70 anos, após a morte da
esposa, decidiu pintar barcos na madeira para afugentar a solidão. Casualmente, dois pintores de
passagem pelo lugar gostaram de suas telas e o descobriram como artista. Como resultado, as obras de
Wallis podem ser hoje vistas em vários museus ingleses. Como disse um crítico, Wallis tornou-se um
artista sem sequer saber que era.
Há duas objeções principais à teoria institucional. A primeira é que, ou os entendidos em arte decidem
o que deve ser considerado uma obra de arte com base em razões, ou o fazem arbitrariamente. Se eles
o fazem com base em razões, essas razões baseiam-se em uma teoria da arte que não é a teoria
institucional. Assim, alguém poderá dizer que os quadros de Wallis apresentam excelentes combinações
de cores aliadas à simplicidade formal; mas essa seria uma maneira de dizer que eles possuem forma
significante. Nesse caso a teoria institucional colapsa em outra concepção acerca do que é a arte.
Suponhamos agora que os entendidos em arte decidam o que deve ser considerado obra de arte de
modo meramente arbitrário. Ora, nesse caso não fica claro porque devemos dar alguma importância à
arte. Uma objeção adicional seria a de que a teoria institucional é viciosamente circular. Obras de arte
são definidas como objetos que são aceitos como tais pelas pessoas que entendem de arte; e as pessoas
que entendem de arte são definidas como as que aceitam certos objetos como sendo obras de arte.
Expressivismo
Segundo as teorias expressivistas, a arte é expressão de emoções. As teorias expressivistas da arte
são mais modernas, embora sinais dela já pudessem ser encontrados na antiguidade, como na teoria
aristotélica da função catártica da tragédia de purgação das emoções. Para o expressivista a arte é para
o mundo interior das emoções um pouco como a ciência para o mundo exterior. A ciência tem como objeto
fenômenos físicos enquanto a arte tem como objeto as emoções humanas que ela exprime.
Uma versão ingênua da teoria expressivista é usualmente, embora injustamente, atribuída a Leon
Tolstoy. Primeiro o artista precisa ter um sentimento: Tolstoy vai à guerra e volta cheio de sentimentos
únicos. Ele produz então uma obra de arte destinada a expressá-los de forma clara, digamos, Guerra e
Paz. Por sua vez, a obra evoca no leitor os mesmos sentimentos que o artista teve ao passar pela guerra.
O esquema é simples:
Questões
01. “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio
originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa
proposta é importantíssima… podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta
filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental.” (REALE, Giovanni. História da filosofia:
Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-
socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles
investigado.
02. (Uncisal) O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões se
prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na
origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda formulação filosófica. Em tal contexto,
Demócrito afirma ser a realidade percebida pelos sentidos ilusória. Ele defende que os sentidos apenas
capturam uma realidade superficial, mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os
sentidos apreendam “as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem essa
realidade jamais se alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra.
Para Demócrito a physis é composta:
(A) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.
(B) pela água.
(C) pelo fogo.
(D) pelo ilimitado.
(E) pelos átomos.
A letra dessa canção de Lulu Santos lembra ideias do filósofo grego Heráclito, que viveu no século VI
a.C. e que usava uma linguagem poética para exprimir seu pensamento. Ele é o autor de uma frase
famosa: “Não se entra duas vezes no mesmo rio”.
Dentre as sentenças de Heráclito a seguir citadas, marque aquela em que o sentido da canção de Lulu
Santos mais se aproxima:
(A) Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo é sono.
(B) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra.
(C) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.
(D) Muita instrução não ensina a ter inteligência.
04. (Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente aquele que preencher os seguintes
requisitos:
(A) ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos
iguais a si.
(B) saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de
suas atitudes e a essência dos valores morais.
(C) não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, deixando-as
fluir livremente
(D) dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, juízos de fato
(E) ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua própria ação nem avaliar os
efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros.
05. O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o
espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas
dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia
de Lima Barreto).
O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade
inerente ao humano, porque as normas morais são:
(A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
(B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.
Apostila gerada especialmente para: kauany souza 095.822.709-85 86
(C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente.
(D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter
(E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas jurídicas.
06. (Leopoldino Rocha) Um dos problemas centrais da Ética como disciplina filosófica é a
fundamentação da moral. Sobre essa questão, marque a alternativa FALSA.
(A) “As teorias éticas são, ao final das contas, esforços de investigação da possibilidade de
fundamentação da moral, e em que medida disso ela é tal, ou seja, apontar uma forma racional, dar
razões para a moralidade. Entretanto, isso não significa dizer que toda teoria ética aponte a razão como
fundamento da moralidade”.
(B) “O cientificismo não recusa uma fundamentação racional para a moral, pois prescreve que não há
uma separação entre fatos e valores. A neutralidade axiológica própria da ciência, conforme Max Weber,
permite que os valores possam ser captados na sua objetividade”.
(C) “Na perspectiva do racionalismo crítico de K. Popper e H. Albert, qualquer esforço de
fundamentação última da ética vai fracassar porque termina por cair no Trilema de Münchaussen
(Regresso infinito, Círculo lógico e Decisionismo). Para eles, essa impossibilidade da fundamentação
última da moral faz com que esta seja, ao final, ancorada no dogmatismo que encobre a decisão de
colocar um princípio arquimédico imune a toda crítica”.
(D) “O pensamento débil ou pós-moderno rejeita a possibilidade de fundamentar a moral porque
considera que a tradição filosófica foi vítima de um engano centrado na epistemologia. Não é possível
uma razão totalizante, que forneça uma metanarrativa que integre os diversos aspectos do real. A razão
é frágil, débil, própria da finitude de nossa condição. Valores éticos universais são formas de
mascaramento da vontade de poder totalizante”.
(E) “O etnocentrismo ético defende que só podemos justificar uma decisão moral para aqueles que
compartilham uma determinada forma de vida, porque só eles podem nos entender. Além disso, a
objetividade da moral como uma verdade universal acima das contingências históricas e geográficas é
uma forma de encantamento que dificulta o consenso social de nossas sociedades democratas liberais”.
07. A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e
a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos e levá-la a sério? Sim, e por três razões:
em primeiro lugar, porque essa proposição anuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar,
porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado
de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?
(A) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.
(B) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
(C) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
(D) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
(E) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.
08. Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus amigos presumiam que a justiça era algo
real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no errado
apenas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não
passavam de invenções humanas.
RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradva, 2009.
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão, sustentava que a
correlação entre justiça e ética é resultado de:
(A) determinações biológicas impregnadas na natureza humana.
(B) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais.
(C) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas.
(D) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes.
(E) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas.
09. A felicidade é, portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses
atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é
a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão
10. A ética precisa ser compreendida como um empreendimento coletivo a ser constantemente
retomado e rediscutido, porque é produto da relação interpessoal e social. A ética supõe ainda que cada
grupo social se organize sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o exercício de um
pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política é também uma questão de educação e luta pela
soberania dos povos. É necessária uma ética renovada, que se construa a partir da natureza dos valores
sociais para organizar também uma nova prática política.
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado). O Século XX teve de repensar a
ética para enfrentar novos problemas oriundos de diferentes crises sociais, conflitos ideológicos e
contradições da realidade. Sob esse enfoque e a partir do texto, a ética pode ser compreendida como:
(A)Instrumento de garantia da cidadania, porque através dela os cidadãos passam a pensar e agir de
acordo com valores coletivos.
(B)Mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem ser ético e virtuoso.
(C)Meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do entendimento do
que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza.
(D)Parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação privada dos
cidadãos.
(E)Aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensionar sua vinculação
a outras sociedades.
12. Os juízos morais podem ser diferentes a depender do código moral no qual se baseiam. No entanto,
qualquer juízo moral tem em comum com o outro dois aspectos:
(A) Aspecto formal e aspecto físico;
(B) Aspecto formal e aspecto relativo;
(C) Aspecto formal e aspecto de conteúdo;
(D) Aspecto de conteúdo e aspecto físico.
13. A diferença que existe entre as diversas concepções de Ética possibilitou o estabelecimento de
alguns aspectos sobre o que é a Moralidade. Assinale a alternativa que não corresponde a um dos
aspectos da Moralidade:
(A) A moralidade como aquisição de virtudes para alcançar a felicidade.
(B) A moralidade como aquisição de meios para alcançar a riqueza.
(C) A moralidade como aptidão para resolver conflitos.
(D) A moralidade como prática solidária das virtudes comunitárias.
14. (PJC/MT – Delegado de Polícia Substituto – CESPE) A definição filosófica de ato moral como
um ato, sobretudo, de moderação, isto é, uma justa medida entre dois extremos, está relacionada ao
pensamento ético de
(A) Aristóteles, pois ele afirma que a virtude é uma qualidade que se exprime na escolha do meio-
termo entre a falta e o excesso.
15. (SEJUDH/MT – Advogado – IBADE) Corrente filosófica que enfatiza o papel da razão como
fundamento do modo de conhecer a realidade. Nesta perspectiva, a razão vai possibilitar a apreensão e
a justificação do conhecimento sem o recurso sensorial interferindo no processo do conhecimento. Tal
conceito refere-se à(ao):
(A) Fenomenismo
(B) Racionalismo
(C) Dogmatismo
(D) Empirismo
(E) Ceticismo
Gabarito
01.E / 02.E / 03.C / 04.B / 05.D / 06.B / 07.C / 08.D / 09.C / 10.A / 11.I-C-I-I / 12.C / 13.B / 14.A / 15.B
Comentários
01. Resposta: E
Tales de Mileto foi o primeiro filósofo. Ele surgiu em uma fase em que a questão central era a origem
do mundo. Com a emergência da filosofia, os pré-socráticos passaram a analisar esse objeto não como
cosmogonia, mas cosmologia, ou seja, uma análise racional acerca da origem do mundo. Apenas a partir
de Sócrates a filosofia adquiriu temas pertinentes ao homem e à forma de conhecimento humano.
02. Resposta: E
Vamos analisar cada uma das alternativas.
(A) O pré-socrático que defendeu as quatro raízes como sendo a physis foi Empédocles.
(B) O pensador que afirmou ser a água a physis foi Tales.
(C) O pensador que defendeu o fogo como sendo símbolo da mudança e do devir e por tanto physis
foi Heráclito.
(D) O pensador que afirmou que a physis era o ilimitado foi Anaximandro.
(E) Demócrito afirmou que a physis era os átomos que se uniam de diversas formas para originar tudo
que existe.
03. Resposta: C
Essa música é uma clara menção ao fragmento supracitado na alternativa “C”. No pensamento de
Heráclito, o mundo está em constante mudança. Nesse caso, ele afirma não ser possível entrar duas
vezes no mesmo rio, porque a cada segundo tudo o que existe se transforma, de modo que nada possa
permanecer o mesmo. Isso se aplica às pessoas e a todas as coisas.
04. Resposta: B
Vamos analisar cada uma das alternativas.
(A) Essa alternativa está errada, porque o sujeito moral precisa ter consciência de tudo que o cerca.
(B) Essa alternativa responde perfeitamente à questão. O sujeito moral é aquele que vive em plena
consonância com sua cultura, com seus objetivos e com os outros.
(C) O agir moral é o resultado de um acordo comunitário, por isso o homem precisa conter suas paixões
para que possa exercitá-lo.
(D) O sujeito moral precisar ter disposição para alterar a realidade através de seus atos.
(E) O sujeito moral deve responsabilizar-se inteiramente pelo que faz e abraçar as implicações de seus
atos totalmente.
06. Resposta: B
(A) Embora a ética seja conhecida como filosofia da prática, ela não visa formular leis, mas analisar o
agir moral.
(B) A ética apenas estuda os sistemas morais, por isso ela não é normativa, mas teórica.
(C) A tarefa última da ética é esclarecer reflexivamente a moral.
(D) A ética, assim como os demais campos da filosofia, não tem a finalidade de fazer um estudo neutro
dos sistemas morais, pelo contrário: ela tende a criticá-los, mas mesmo assim não é sua responsabilidade
eleger o melhor.
(E) A metaética analisa a ética em seu aspecto linguístico.
07. Resposta: C
Nietzsche refere-se a um grupo de filósofos pré-socráticos chamados de filósofos da natureza,
naturalistas, ou filósofos da phýsis. Esses buscavam a realidade primeira fundamental numa perspectiva
cosmológica. Nietzsche valoriza os pré-socráticos por investigarem o real de forma racional, sem "imagem
e fabulação" próprias da mitologia.
08. Resposta: D
O sofista Trasímaco entendia que a justiça não era mais do que a conveniência do mais forte, ou seja,
de acordo com os seus interesses. De fato, Sócrates fazia oposição aos sofistas justamente por causa
desse relativismo
09. Resposta: C
A eudaimonia é um conceito central para Aristóteles, o homem é um animal político que busca ser
feliz, donde temos que exercer por meio de nossa potência racional, a ponderação, a prudência enquanto
forma de se atingir um justo meio, a mediania, ou seja, não faltar nem pelo excesso nem pela falta, mas
manter um equilíbrio uma justa medida. Donde o fim de nossas ações, a partir deste crivo será
factualmente atingir a finalidade de toda conduta humana que é ser feliz.
10. Resposta: A
A partir do fragmento de Cordi, podemos inferir que a ética é produzida através das relações
interpessoais tendo como objetivo estabelecer o respeito entre indivíduos. Desta forma, a fim de enfrentar
problemas inerentes à sociedade e evitar conflitos, os indivíduos necessitam agir de acordo com os
interesses da comunidade em que vive, respeitando os princípios estabelecidos, temos aqui um bom
exemplo do que é o ETHOS de um povo.
11. Resposta:
Alternativa A: incorreta;
Alternativa B: correta;
Alternativa C: incorreta;
Alternativa D: incorreta.
12.Resposta: C
Os juízos morais, por mais diferentes que sejam entre si, têm em comum dois aspectos. No aspecto
formal, eles se referem a ações que supõem a liberdade do ser humano de escolher sua forma de agir
no mundo e, portanto, responsabilizar-se por aquilo que faz e entender a responsabilidade que está
envolvida em seu ato. No aspecto de conteúdo, o traço em comum entre os juízos morais é que eles se
referem àquilo que os seres humanos desejam ou necessitam.
14. Resposta: A
Para Aristóteles, o ser humano virtuoso é aquele que consegue ou que possui a justa medida daquilo
que deve realizar. Portanto, não falhará nem por excesso, nem por falta. A excelência moral é um caminho
de realização, de felicidade. Essa ética é chamada também de: Physis44.
15. Resposta: B
O filósofo francês René Descartes costuma ser designado como o pai do racionalismo. Para Descartes,
a razão era a via para aceder a verdades universais das quais se desprendiam todos os demais
conhecimentos da ciência45.
44
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-etica-em-aristoteles/
45
https://conceito.de/racionalismo