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TOC 101 - Agosto 2008

C o n t a b i l i d a d e

Débito de despesas – como proceder?


Por Paula Franco

Tive oportunidade, há cerca de um mês, de elaborar um artigo de opinião sobre a


forma de distinguir determinado tipo de despesas que ocorrem nas empresas e que
se relacionam com os trabalhadores internos.

O
artigo então publicado versava – Refeições no valor de 200 euros, todas suportadas
sobre a distinção entre despesas por documentos legais emitidos pelos vários restau-
com “deslocação e estada”, ”des- rantes em nome do seu cliente;
pesas de representação”, “ajudas de custo” – Pagamento de Hotel no valor de 175 euros, suporta-
e “compensação pela deslocação em via- da com factura emitida em seu próprio nome;

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tura própria do trabalhador, ao serviço da – Realização de vários telefonemas para o seu cliente
entidade patronal”, mas apenas se referia a que pretende debitar-lhos;
Paula Franco trabalhadores dependentes da empresa. – Pagamento por conta do cliente de custas judiciais
Consultora da Câmara
dos Técnicos Oficiais de Contas Após a publicação deste texto, vários leitores no Tribunal.
questionaram-me sobre se aquele enquadra- Para cada uma das situações acima referenciadas, o
mento também se aplicava a elementos externos às em- sujeito passivo da categoria B deverá emitir os seguin-
presas quando estes pretendiam debitar/imputar custos a tes documentos:
empresas clientes, como sejam trabalhadores indepen- – Adiantamento por conta de honorários
dentes ou mesmo débitos de outras empresas que prestem Deverá ser emitido um “recibo verde” assinalando a op-
serviços com ou sem regularidade. A resposta é não. ção “Adiantamento por conta de honorários”, este recibo
Assim, importa esclarecer a forma como se procederá encontra-se sujeito a IVA, retenção na fonte e será consi-
nesses casos. derado rendimento da categoria B.
Em primeiro lugar, é fundamental termos presente que – Quilómetros percorridos na sua viatura 450 Km
qualquer despesa, para que seja aceite como custo Este débito deverá ser efectuado como se de uma presta-
por determinada empresa, tem que ter como suporte ção de serviços se tratasse, isto é, dará lugar à emissão de
um documento legal emitido por quem está a imputar um “recibo verde” com indicação que se refere a Hono-
essa mesma despesa. rários. Este débito encontra-se sujeito a IVA, retenção na
fonte e será considerado rendimento da categoria B.
Para suportar este tipo de despesas nunca servirá um sim-
Entende-se por “documento legal” uma factura ou docu-
mento equivalente. ples mapa de quilómetros como o que é elaborado pelos
trabalhadores dependentes da empresa para apresentação
das suas deslocações, quanto muito o mapa poderá vir
Vejamos um caso prático relacionado com um traba- anexo ao recibo para justificar à empresa cliente as deslo-
lhador independente, isto é, um prestador de serviços cações efectuadas.
que normalmente emite recibos de modelo oficial vul- – Refeições no valor de 200 euros suportadas por do-
go “recibos verdes”. cumentos emitidos em nome do cliente.
Um trabalhador independente tem várias avenças acor- Neste caso, como os documentos foram emitidos original-
dadas com empresas. Para além da avença estabelecida, mente em nome do cliente, apesar de ter que emitir reci-
por vezes, efectua deslocações relacionadas com servi- bo verde com o valor de 200 euros, assinalando a opção
ços prestados a empresas suas clientes, e, obviamente de “adiantamento para despesas em nome e por conta do
quer ser ressarcido dos custos suportados. O hipotético cliente”, este documento não constituirá rendimento na es-
profissional liberal, apenas utiliza recibos verdes e é um fera da categoria B pois apenas servirá para suportar a movi-
sujeito passivo de IVA no regime normal. mentação financeira existente entre o prestador e o cliente.
Assim, supondo que numa deslocação efectuada rela- Este débito não se encontra sujeito a IVA nem a retenção na
cionada com um trabalho para um cliente, para além de fonte. Juntamente com o “recibo verde” devem ser envia-
ter solicitado um adiantamento por conta de honorários, das todos os documentos originais de todas as despesas em
reuniu os seguintes encargos: causa para que possam ser lançadas como custos (despesas
– Km percorridos na sua viatura 450 Km; de representação) na contabilidade da empresa cliente. O

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prestador de serviços deverá ficar com cópias de todos os de débito. Este débito encontra-se sujeito a IVA, e será
documentos para justificar a operação. considerado proveito da empresa.
– Pagamento de Hotel no valor de 175 euros – factura Para suportar este tipo de despesas nunca servirá um
emitida em nome do profissional liberal simples mapa de quilómetros como o que é elabora-
Este débito deverá ser efectuado como se de uma pres- do pelos trabalhadores da empresa para apresentação
tação de serviços se tratasse, isto é, emissão de um das suas deslocações, quanto muito o mapa poderá
“recibo verde” com indicação que se refere a Honorá- vir anexo à nota de débito para justificar à empresa
rios. Este débito encontra-se sujeito a IVA, retenção na cliente as deslocações efectuadas.
fonte e será considerado rendimento da categoria B. – Refeições no valor de 200 euros suportadas por do-
– Débito de telefonemas cumentos emitidos em nome do cliente.
Este débito deverá ser efectuado como se de uma pres- Neste caso, como os documentos foram emitidos ori-
tação de serviços se tratasse, isto é, emissão de um ginalmente em nome do cliente, apesar de ter que se
“recibo verde” com indicação que se refere a Honorá- emitir uma nota de débito, este documento não consti-
rios. Este débito encontra-se sujeito a IVA, retenção na tuirá proveitos na esfera da empresa, pois, apenas servirá
fonte e será considerado rendimento da categoria B. para suportar a movimentação financeira existente entre
– Pagamento por conta do cliente de custas judiciais o prestador e o cliente. Este débito de despesas em nome
no Tribunal e por conta do cliente não se encontra sujeito a IVA.
Neste caso, como o documento foi originalmente emiti- – Pagamento de Hotel no valor de 175 euros
do em nome do cliente, apesar de ter que emitir recibo Este débito deverá ser efectuado como se de uma pres-
verde com o valor respectivo, deverá assinalar a opção tação de serviços se tratasse, isto é, tem que ser emitido
de “adiantamento para despesas em nome e por conta do uma factura ou documento equivalente que neste caso se
cliente”, este documento não constituirá rendimento na sugere que seja uma nota de débito. Este débito encontra-
esfera da categoria B pois apenas servirá para suportar a se sujeito a IVA, e será considerado proveito da empresa.
movimentação financeira existente entre o prestador de – Débito de telefonemas
serviços e o cliente. Este débito não se encontra sujeito a Este débito deverá ser efectuado como se de uma pres-
IVA nem a retenção na fonte. Juntamente com o “recibo tação de serviços se tratasse, isto é, tem que ser emitido
verde” devem ser enviadas todos os documentos originais uma factura ou documento equivalente que neste caso se
de todas as despesas em causa para que possam ser lança- sugere que seja uma nota de débito. Este débito encontra-
das como custos na contabilidade da empresa cliente. se sujeito a IVA, e será considerado proveito da empresa.
Se o que foi acima referido não for cumprido, o cliente nunca – Pagamento por conta do cliente de custas judiciais
poderá considerar tais despesas como custo. Chamamos a no Tribunal
atenção para o facto da maioria destas operações se encon- Neste caso, como os documentos foram emitidos origi-
trarem mal suportadas, muitas vezes por falta de conheci- nalmente em nome do cliente, apesar de ter que se emi-
mento sobre o procedimento correcto. Assim, é importante tir uma nota de débito, este documento não constituirá
que, quer o prestador do serviço quer o adquirente estejam proveitos na esfera da empresa, pois, apenas servirá para
atentos ao cumprimento destas normas para que mais tarde o suportar a movimentação financeira existente entes o
reconhecimento do custo não seja posto em causa. prestador e o cliente. Este débito de despesas em nome e
Também no caso de ser uma empresa a debitar a outra por conta do cliente não se encontra sujeito a IVA.
o tipo de despesas acima mencionadas, e considerando A título de conclusão refira-se que se pode, e deve,
que a empresa é um sujeito passivo de IVA no regime debitar todos os custos que se relacionem com os
geral deverá ser seguido o seguinte procedimento: clientes contudo, terão que, obviamente, ser seguidas
– Adiantamento por conta serviços a prestar regras para efectuar tais imputações.
No momento em que é efectuado o adiantamento de- Lembro também o princípio que, a um custo corres-
verá ser emitido uma factura ou documento equiva- ponderá sempre um proveito.
lente, neste caso entendemos o mais adequado é um Assim, basta pensarmos um pouco racionalmente, para
recibo. Este recibo encontra-se sujeito a IVA. que tudo o que foi acima referido ganhe forma e lógica,
– Quilómetros percorridos em viatura própria pois só assim se poderá entender esta troca de documentos
Este débito deverá ser efectuado como se de uma que embora nos possa parecer bizarra é indispensável para
prestação de serviços se tratasse, isto é, dará lugar à a sustentabilidade do débito de despesas a efectuar. ■
emissão de uma factura ou documento equivalente,
neste caso entende-se como mais indicada uma nota (Texto recebido pela CTOC em Junho de 2008)

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