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Janeiro / Fevereiro de 2005

Ano 6 - n 1
Brasil
o
ISSN 1518-9740

Marcha
• Avaliação de variáveis da marcha usando microfones
• Estudo da marcha em indivíduos com hálux valgo
• Comparação entre caminhada no corredor e na esteira rolante

Neuro funcional
Fisioterapia
• Estimulação elétrica neuromuscular na paralisia cerebral
• Escala de Fugl-Meyer e desempenho do membro superior
na hemiparesia
• Vibração sonora de baixa freqüência na espasticidade
e controle motor

Câncer
Facilitação neuromuscular proprioceptiva
em mulheres mastectomizadas

Acupuntura
Conseqüências de anomalias do forame esternal

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Março / Abril de 2005

Ano 6 - n 2
Brasil
o
ISSN 1518-9740

Laserterapia
Laser terapêutico na cicatrização tendinosa
Fisioterapia
Respiratória
• Influência da drenagem torácica intercostal na respiração e voz
• Ventilação não-invasiva na unidade de terapia intensiva

Neuro funcional
Piscina terapêutica e lesão raquimedular

Esporte
• Atividade física e lombalgia
• Duração do alongamento passivo

Dermato funcional
Importância da crioterapia na lipólise

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Fisioterapia

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - Maio / Junho de 2005
ISSN 1518-9740

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - Julho / Agosto de 2005
Setembro / Outubro de 2005

Ano 6 - n 5
Brasil
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2005

o
ISSN 1518-9740

Eletromiografia
Atividade muscular durante a marcha com diferentes
tipos de calçados

Biomecânica
Avaliação do arco longitudinal medial do pé através
Fisioterapia
da biofotogrametria

Respiratória
Alteração do índice diafragmático em cirurgia de Fobi-Capella

Ultra-som
Verificação e controle de equipamentos

Filosofia
Espiritualidade e reabilitação da saúde

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Fisioterapia

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2005
2 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

○ ○
Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.6, nº1 janeiro/fevereiro 2005 - 1~80)
EDITORIAL
Feliz Ano Novo com Klopstock ou Robespierre, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................ 5

ARTIGOS ORIGINAIS
Efeitos da estimulação elétrica neuromuscular em pacientes com paralisia cerebral do tipo diplegia espástica,
Ana Lúcia Portella Staub, Newra Tellechea Rotta, Mahmud Ahmad Ismail Mahmud, Airton Suslik Svirski,
Antonio Cardoso dos Santos, Valéria Raymundo Fonteles, Eraldo Belarmino Jr., Cristiano Firpo Freire, Gionana Sebben,
Cristiane Segatto, Yamara Gomes da Silva ............................................................................................................................................................ 6
Efeitos do ultra-som na migração das células satélites após uma lesão experimental em ratos,
Joseani Ceccato, Ivan Pacheco, Gordon Bock, Adriana Moré Pacheco ............................................................................................................. 10
A utilização da escala
Fisioterapia de Fugl-Meyer no estudo do desempenho funcional de membro superior no tratamento
prática
de indivíduos hemiparéticos pós AVE, Carlos Henrique Senkiio, Fernanda Kill, Marcos Roberto Negretti,
Cleber Alexandre de Oliveira, Nazareti Pereira Ferreira Alves, Selma Ramos da Silva e Souza ...................................................................... 13
Avaliação da imagem e esquema corporal em crianças portadoras da síndrome de Down e crianças
sem comprometimento neurológico, Fernanda Ishida Corrêa, Fernanda Púpio Silva , Tânia Gesualdo ............................................... 19
Efeitos da vibração sonora de baixa freqüência na espasticidade e controle motor de pacientes de acidente
vascular encefálico com reflexo tônico cervical assimétrico, Graziela Saraiva Reis, Lúcia Souza Magro,
Nivaldo Antônio Parizoto, Paulo Umeno Koeke, Flávio Pulzatto ................................................................................................................. 24
Efeitos da facilitação neuromuscular proprioceptiva na performance funcional de mulheres mastectomizadas,
Patrícia Viviane Gallo Nogueira, Elaine C. O. Guirro, Rinaldo R. J. Guirro, Valéria A. Palauro ................................................................... 28
Intervenções fisioterapêuticas e podológicas nos pés de idosos podem proporcionar marcha mais segura,
Maria Lucia Bergamini Mitsuichi, Sada Gracia Jamussi, Emerson Fachin Martins ........................................................................................ 36
Comparação entre o teste de caminhada de seis minutos no corredor e na esteira rolante,
Andreza Toledo, Karla Ribeiro, Audrey Borghi e Silva, Dirceu Costa ............................................................................................................. 41
Proposta de um método de avaliação de variáveis temporais da marcha usando microfones: resultados preliminares
em indivíduos saudáveis, Christiano Bittencourt Machado, Cássio Rodrigues Lopes,
Miriam
Ginásticade Castro Folly, André Luís Lima de Oliveira ....................................................................................................................................... 46
Laborativa
Estudo de elementos temporais da marcha em indivíduos com hálux valgo,
Irocy Knacfuss, Stella Rosenbaum, Luiz Alberto Batista .................................................................................................................................. 53

REVISÃO
Atribuições adicionais ao fisioterapeuta no pré-operatório da cirurgia cardíaca,
Lucas de Oliveira Alonso, Cynthia Kallás Bachur ............................................................................................................................................... 61
A biomecânica do transverso abdominal e suas múltiplas funções,
Alonso Monteiro Lemos, Leila de Albuquerque Feijó ........................................................................................................................................................................................................................................... 66

ESTUDOS DE CASOS
A presença do forame esternal anômalo e a prática de acupuntura no meridiano extra (ren mai),
Márcio Antônio Babinski ..................................................................................................................................................................................... 71
Fisioterapia aquática na qualidade de vida e capacidade funcional de pacientes com espondilite anquilosante,
Nidia Aparecida Hernandes, Maiza Ritomy Ide , Fátima Aparecida Caromano ............................................................................................. 75

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ........................................................................................................................................................... 79

EVENTOS ................................................................................................................................................................................................ 80
4 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Fisioterapia Brasil
www.fisioterapiabrasil.com.br

Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo)

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE – Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS - Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 5

Editorial

Feliz Ano Novo com Klopstock


ou Robespierre
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva*


marco@atlanticaedu.com.br

Mergulhado em um cenário onde predominava a visão Sustentados por uma fala social desprovida de qualquer
de verdejantes e coloridas colinas que se sucediam formando senso de reflexão, há séculos mantemos uma tradição cultural
vales de indescritível beleza, experimentava, naquela doce e de desejarmos aos nossos os intermináveis e repetidos votos
fresca manhã, uma serenidade digna dos anjos. O que via de feliz ano novo. A expressão toma para si a tarefa quase
na natureza e o que sentia criava uma verdadeira mistura mecânica de manter e levar adiante os costumes que nos
entre misticismo e sensibilidade. Podia precisar, sem nenhuma foram legados pelos nossos antepassados. A linguagem falada,
dificuldade, a época e o lugar em que me encontrava: a imaginada em um mimetismo circunstanciado a um cumpri-
poética e impetuística Alemanha de Klopstock1. mento do dever, não está mais, de um modo geral, a serviço
Subitamente, me vi transportado para Place de La do que realmente pensamos e acaba evidenciando uma
Concorde, na França de 1790, assumindo a personalidade contradição entre aquilo que realmente desejamos e aquilo
de um parlamentar girondino, prestes a ver separada de que exprimimos. Querendo fugir deste ambiente ingenuamente
meu pescoço a minha preciosa cabeça. Tinha diante de mim falso, reporto-me às duas situações que vivi quando dormia.
duas importantes figuras daqueles difíceis tempos, as quais Agora, substituindo os tradicionais votos de muitas felicidades,
me eram muito familiares – o meu editor executivo e o seu etc, etc! sonhando acordado, construo e ofereço, para reflexão
sócio – incorporando respectivamente as personagens de todos, dois momentos. Um primeiro, que seria a opção de
Maximilien Robespierre e Saint-Just. Estavam para me ofe- uma navegação tranqüila através de verdejantes montanhas,
recer indulgência, quando uma chamada telefônica me onde os nossos atos serão aprovados pelo conjunto de regras
acordou. O sonho tornou-se realidade e realidade virou sonho. facultativas que normalmente avaliam o que fazemos e que
Robespierre estava ao telefone; havia se transportado do Foucault chama de ética. Um segundo, em que, no momento
século XVII aos nossos dias e agora me cobrava o editorial. de desespero, deixamos que o instinto profissional canibalizado
Ainda sob efeito do terrível pesadelo e achando que poderia por uma concorrência desleal e injusta nos leve a também
salvar a minha vida, prometi o editorial para o mesmo dia. desrespeitar a convivência profissional por outros ultrajada e
Entretanto, recuperado dos efeitos da inusitada expe- acabe, com o tempo, por nos inserir como vítimas dos jacobinos
riência, sabia que a promessa feita ao editor teria que esperar, da Place de la Concorde de 1790.
porque havia algumas inquietações que me incomodavam e A Revista Fisioterapia Brasil longe, portanto, de desejar
que teriam quer ser resolvidas. Não era a coincidência entre um feliz 2005, deseja apenas uma boa reflexão, esperando
o real e o imaginário que me preocupava, afinal sempre que os nossos atos se identifiquem com o primeiro momento.
fizeram parte de minha existência e já me havia acostumado Vivamos com dignidade e ética e sejamos felizes em 2005,
a premonições e coisas similares. O que importunava era a 2006, 2007...
convivência de dois sonhos que se intercomunicaram e que
foram a expressão de sentimentos tão díspares: a extrema
serenidade e o mais intenso e pior dos pavores.
Resignado pela falta de equacionamento temporário das
questões levantadas, retorno à tarefa de elaborar o editorial
1
e me lembro de que ainda não houve tempo para levarmos Friederich Gottlieb Klopstock (1724-1803), destacado poeta
até os nosso leitores a nossa mensagem de final de ano. alemão, autor de vários hinos à natureza de poemas à amizade
Tenho, então, a oportunidade de agora fazê-lo. e ao amor.

* Editor científico de Fisioterapia Brasil, Pós-Doutorado na UFRJ, Professor do curso de mestrado da UCB
6 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Artigo original

Efeitos da estimulação elétrica neuromuscular


em pacientes com paralisia cerebral do tipo
diplegia espástica
Effects of neuromuscular electrical stimulation
in children with spastic diplegic cerebral palsy

Ana Lúcia Portella Staub*, Newra Tellechea Rotta**, Mahmud Ahmad Ismail Mahmud*, Airton Suslik
Svirski***, Antonio Cardoso dos Santos****, Valéria Raymundo Fonteles*****, Eraldo Belarmino Jr.*****,
Cristiano Firpo Freire*****, Gionana Sebben*****, Cristiane Segatto*****, Yamara Gomes da Silva*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, **Chefe da Unidade de Neurologia Pediátrica no Departamento
de Pediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Profª Adjunta de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, ***Médico Fisiatra do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ****Médico Fisiatra – Prof. da
Disciplina de Reabilitação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Chefe do Serviço
de Fisiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, *****Médicos Residentes de Neurologia Pediátrica Departamento de
Pediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da The aim of this study was to evaluate the effects of
utilização da estimulação elétrica neuromuscular (EENM) neuromuscular electrical stimulation (NMES) on gross motor
na funcionalidade, tônus muscular e marcha de pacientes funcion, muscle tone and gait in children with spastic diplegic
com paralisia cerebral (PC) do tipo diplegia espástica. Quatro cerebral palsy. Four children between 3.7 and 8 years of age
crianças entre 3,7 e 8 anos realizaram, durante dezesseis completed a 16 week treatment with NMES. The frequency of
semanas, tratamento com EENM numa freqüência de três treatment was thrice a week, followed by gait training. All the
vezes por semana, seguido de treino de marcha. Todos foram children were evaluated before and after treatment. The parameters
avaliados no início e no final do tratamento. Os parâmetros used were pulse width 300 ms, 40 Hz of frequency, and ramp or
utilizados foram largura de pulso de 0,3 ms, freqüência de 40 rise time set at 2 seconds; on-off times were set for 6 seconds.
Hz, tempo de subida e descida de 2 s; tempo de sustentação The intensity was set obbeying child´s tolerance. Ours results
e repouso de 6 s, e intensidade de corrente conforme tolerância da showed improvement on gross motor function and gait in all
criança. Nossos resultados demonstraram uma melhora na children.
funcionalidade e na marcha nas crianças. Key-words: cerebral palsy, diplegy, electrical stimulation.
Palavras-chave: paralisia cerebral, diplegia, estimulação elétrica.

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Introdução mantido a mesma, em razão da sobrevida de recém-


nascidos com muito baixo peso. A incidência das formas
A Paralisia Cerebral (PC) é um grupo não progressivo, moderadas e severas está entre 1,5 e 2,5 por 1000
mas freqüentemente mutável, de distúrbio motor (tônus nascidos vivos nos países desenvolvidos; mas há relatos
e postura), secundário a lesão do cérebro em desenvol- de incidência geral, considerando todos os níveis de
vimento. O evento pode ocorrer no período pré, peri ou comprometimento de até 7:1000 [ 2]. A taxa de in-
pós-natal [1,2]. cidência de PC entre prematuros pesando abaixo de 1.500
Apesar dos avanços dos cuidados intensivos peri- gramas é de 25 a 31 vezes maior do que entre nascidos a
natais, a incidência de PC nos últimos anos tem-se termo [3,4].

Recebido 5 de janeiro de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Ana Lúcia Portella Staub, Rua Honório Silveira Dias, 1400/201, 90540-070 Porto Alegre RS, Tel: (51)
33373732 / (51) 91141190, E-mail: anastaub@terra.com.br, astaub@hcpa.ufrgs.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 7

Na PC, são comuns os achados de retardo nas neste estudo. O trabalho foi desenvolvido entre março e
aquisições motoras, persistência de reflexos primitivos, junho de 2002.
anormalidades de tônus e posturas, além de hiperreflexia A idade das crianças variou de 3,7 a 8 anos. Duas
e sinais patológicos [5,6,7]. crianças eram do sexo masculino e duas crianças do sexo
A hipertonia muscular, hiperatividade reflexa, feminino. As crianças apresentaram grau de envolvimen-
persistência de reflexos primitivos e a fraqueza muscular to motor dos membros inferiores de leve ou moderado, e
comprometem a funcionalidade do movimento normal funcionalidade para marcha independente ou às custas
e impossibilitam manutenção da postura [5] . de dispositivos de auxílio.
A diplegia espástica é um dos tipos de PC e caracteriza- Constituíram critérios de inclusão da pesquisa: a) um
se por envolvimento maior dos membros inferiores em bom nível de compreensão e colaboração por parte dos
relação aos superiores [8]. O padrão de marcha mais pacientes; b) ausência de encurtamentos musculares ou
comumente encontrado se caracteriza por flexão, adução deformidades articulares incapacitantes; c) não-exposição
e rotação interna de quadril, excessiva flexão de joelhos a tratamento com EENM, toxina botulínica A ou fenol
resultantes de espasticidade e/ou contratura dos músculos nos últimos 6 meses. A aceitação de participação na
isquiotibiais e excessiva flexão plantar decorrente de pesquisa foi registrada sob forma de consentimento
espasticidade e/ou contratura dos músculos tríceps surais informado, assinado pelo responsável. Este estudo teve
[9,10]. aprovação do Comitê de Pesquisa e Ética em saúde do
O desequilíbrio muscular entre agonistas e antagonistas, Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
a perda do controle motor seletivo, assim como as con- No estudo, utilizou-se aparelho de EENM com
traturas musculares e tendinosas, produzem limitação do característica de onda bipolar e simétrica, com 2 canais
movimento articular [8,10,11]. de estimulação. Os parâmetros de estimulação empre-
A estimulação elétrica neuromuscular (EENM), gados foram: largura de pulso de 0,3ms, frequência de
também conhecida por estimulação elétrica funcional 40 Hz, tempo de subida e descida de 2 segundos; tempo
(FES), é uma forma de eletroterapia capaz de produzir de sustentação e repouso dos trens de pulso de 6 segundos
contrações musculares. A EENM é particularmente a fim de evitar desconforto. A intensidade da corrente
útil nas áreas de reabilitação ortopédica e neuromuscular foi ajustada conforme tolerância do paciente e obser-
[12]. vação da ocorrência de contração muscular. Eletrodos
A EENM foi desenvolvida por Pape e col em 1990, e auto-adesivos foram os escolhidos pela facilidade de
vários estudos demonstraram sua efetividade, geralmente aplicação.
em combinação com a fisioterapia [13-15]. As crianças foram tratadas com EENM em decúbito
A utilização da EENM foi considerada segura e efetiva dorsal na frequência de três vezes na semana, com 10
no tratamento de atrofia de desuso. Além disso, é útil na minutos de estimulação em cada ponto motor, por um
manutenção da amplitude de movimento e na reeducação período de 16 semanas.
muscular [12,14,16,17]. Os músculos abordados foram quadríceps femoral e
Alguns autores têm estudado a influência na força tibial anterior bilateralmente. As sessões de tratamento
muscular e no controle motor [18,19]. foram finalizadas com treino de marcha em barras paralelas
Poucos são os artigos que retratam o uso da EENM ou andador clínico após as aplicações.
em crianças com PC do tipo diplegia espástica. Carmick Os pacientes foram submetidos a avaliações de
[16], em 1993, utilizou a EENM para redução da funcionalidade por uma fisioterapeuta especializada em
espasticidade em crianças com diplegia espástica, o que pediatria, e avaliações médicas neurológica e fisiátrica,
possibilitou ganho de atividades funcionais, melhor no início do tratamento e após 12 semanas de aplicação
controle motor e reeducação muscular. da EENM. Foram avaliados: a) nível de funcionalidade,
Os achados acima mencionados nos motivaram a b) força muscular, c) tônus muscular através da escala de
analisar o efeito da EENM em pacientes com PC do tipo Ashworth, d) reflexos superficiais e profundos. O estudo
diplegia espástica. Este estudo de casos descreve os efeitos contou também com análise de vídeo de marcha.
observados neste grupo de pacientes submetidos a terapia As mudanças na função motora das crianças em
com EENM. tratamento, foram avaliadas segundos as 4 categorias
abaixo relacionadas:
Material e métodos 1. Realiza marcha às custas de dispositivos de auxílio
(andador, muletas, apoio de outra pessoa);
Quatro crianças com PC do tipo diplegia espástica, 2. Realiza marcha de forma independente com quedas
provenientes dos ambulatórios do Serviço de Fisiatria e freqüentes;
do Setor de Neuropediatria do Serviço de Pediatria do 3. Realiza marcha independente sem quedas;
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, foram incluídas 4. Corre.
8 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Resultados Houve melhora na força muscular dos extensores de


joelhos e dorsiflexores dos tornozelos.
Caso 1: E.B.
Caso 4: A. A. S.
Criança do sexo masculino, com 3 anos e 7 meses ao
início do tratamento. Demonstrava envolvimento Criança do sexo feminino, 8 anos de idade ao início do
bilateral, porém assimétrico de hipertonia, diminuição tratamento. Apesar do envolvimento bilateral de aumento
de força muscular e hiperreflexia nos membros inferiores, de tônus, demonstrava comprometimento maior à direita,
sendo o lado esquerdo o mais comprometido. Espasticidade ocasionando marcha ceifante deste lado. Exibia
grau II no membro inferior esquerdo. Criança com impossibilidade de realizar choque de calcanhar durante a
independência para a marcha e história de quedas freqüentes marcha. O equilíbrio estático se mostrava mais
em razão de dificuldade de realização da dorsiflexão ativa, comprometido que o dinâmico, e a coordenação
principalmente à esquerda. prejudicada pelo envolvimento distal dos membros
Ao final do tratamento, observou-se evolução da inferiores.
categotia 2 para 4. Criança concluiu o estudo sendo capaz Criança encontrava-se na categoria 3 ao início do
de correr aproximadamente 10 metros sem apresentar estudo. Exibiu importante ganho na dorsiflexão passiva
quedas. e ativa dos tornozelos, principalmente à direita, o que
Houve também diminuição da hiperatividade dos possibilitou melhora da fase de choque de calcanhar da
reflexos aquileo, patelar e adutor, além de redução do marcha e o correr, passando então para categoria 4. Além
grau de espasticidade de adutores, extensores de joelhos e do equilíbrio dinâmico para a marcha, também se observou
flexores plantares. melhora no equilíbrio estático assim como da coordenação
para atividades motoras amplas.
Caso 2: M.B.
Discussão
Criança do sexo feminino, 3 anos e 7 meses de idade
ao início do tratamento. Realizou apenas nove semanas O principal achado deste estudo se baseia na melhora
de tratamento devido ao ingresso em outro serviço de da funcionalidade nos 4 casos, após a intervenção com
reabilitação. Ao iniciar o estudo encontrava-se na categoria EENM.
2, sendo as quedas, a principal queixa da paciente e seus O efeito da EENM sobre o sistema músculo-esquelético
familiares. tem sido pesquisado por Trimble e Enoka [20]. Estes autores
Mostrava envolvimento bilateral e simétrico dos estudando os efeitos do treinamento associados à EENM,
membros inferiores, com presença de hiperreflexia e concluíram que há, preferencialmente, ativação de unidades
aumento de área de difusão dos reflexos aquiliano, patelar motoras de contração rápida. É possível que estas sejam
e de adutores. Espasticidade grau II de adutores e grau III ativadas somente com exercícios voluntários de alta in-
de tríceps sural. Ao final de 9 semanas de tratamento foi tensidade. Os autores concluíram que a EENM fornece
possível observar redução do tônus de tríceps surais e dos um feedback cutâneo que altera a população de unidades
reflexos profundos. A criança passou da categoria 2 para 3. motoras ativadas. Adicionalmente, o aumento da pro-
priocepção proporcionado pela EENM, somado ao treino
Caso 3: D.S. de marcha, talvez tenha contribuído para a melhora do
equilíbrio. Este estudo confirma os resultados de relatos
Criança do sexo masculino, 4 anos e 7 meses ao início prévios nos quais a EENM foi utilizada em crianças PC
do tratamento. Exibia ao início do estudo envolvimento [13,16,17,21-24].
bilateral e simétrico dos membros inferiores, com Carmick [13] descreveu 2 casos de crianças com diplegia
hiperreflexia de reflexos profundos, espasticidade grau III espástica que se beneficiaram com o uso do FES. Neste
de adutores, grau II de extensores de joelhos e de tríceps trabalho, a autora propõe o fortalecimento de tríceps sural
surais. através da combinação do FES com fisioterapia como forma
Encontrava-se na categoria 1 ao início do tratamento, de manejo da postura em eqüino dos pés. Os resultados
deslocando-se apenas com apoio de uma das mãos e apontaram melhora da marcha, equilíbrio, postura e
importante desequilíbrio dinâmico. amplitude de movimento ativo e passivo do tornozelo. Não
Ao longo do estudo, a criança adquiriu marcha inde- houve aumento da espasticidade. A autora, no entanto, não
pendente, conseguindo deslocar-se por curtas distâncias, com descreve os parâmetros de estimulação utilizados.
característica de marcha lenta e equilíbrio instável. Evoluiu Park et al. [17] relataram os efeitos de estimulação
para categoria 3 tornando-se independente para deslo- elétrica sobre o controle de tronco de crianças com diplegia
camentos em ambiente domiciliar. espástica. Neste estudo randomizado, os autores descreveram
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 9

melhora do controle de tronco no grupo que recebeu Paralisia Cerebral). Paralisia Cerebral aspectos práticos. São
tratamento com EENM. Paulo: Memnon; 1998. p. 8-32.
Sommerfelt et al 25, em um estudo randomizado, 7. Rotta NT. Paralisia cerebral, novas perspectives
concluíram que não houve efeito significativo na função terapêuticas. J Pediatr 2002;78(1):548-54.
motora e de marcha de pacientes diplégicos submetidos 8. Bleck EE. Spastic Diplegia. In: Orthopaedic management in
cerebral palsy. Philadelphia: MacKeith Press; 1987. p.142-212.
ao tratamento com estimulação elétrica transcutânea. No
9. Sutherland DH, Olshen RA, Cooper L, Woo SLY. The
entanto, a avaliação subjetiva realizada pelos pais
development of immature gait. J Bone Joint Surg
evidenciou significativa melhora motora em 11 das 12 1980;62:336-53.
crianças tratadas. Os autores utilizaram a estimulação 10. Gage JR. Gait analysis in cerebral palsy. New York:
elétrica em nível de sub-contração. MacKeith Press/Cambridge University Press; 1991.
A evolução dos nossos casos leva-nos a acreditar que a 11. Perry J. Determinants of muscle function in the spastic
EENM, através de sua atuação sobre a atividade das lower extremity. Clin Orthop 1993;288:10-26.
unidades motoras dos dorsiflexores, tenha proporcionado 12. De Vahl J. Neuromuscular electrical stimulation (NMES)
a melhora na funcionalidade e na marcha das crianças. in rehabilitation. In: Gersh MR. Electrotherapy in
Mesmo com limitações visivelmente encontradas no Rehabilitation, Philadelphia: FA Davis; 1992. p 218-68.
estudo, principalmente quanto aos métodos de avaliação 13. Carmick J. Managing equinus in children with cerebral
dos achados pós EENM, pode-se notar que houve melhora palsy: electrical stimulation to strengthen the triceps
nas crianças, através dos relatos familiares e na evolução surae muscle. Dev Med Child Neurol 1995;37(11):965-75.
14. Hazlewood ME, Brown JK, Rowe PJ, Salter PM. The use
das categorias. Isto nos leva a acreditar que possivelmente
of therapeutic electrical stimulation in the treatment of
através da EENM, infringimos, de alguma forma, uma hemiplegic cerebral palsy. Dev Med Child Neurol
melhora funcional às crianças submetidas a eletroterapia. 1994;36(8):661-73.
Melhores evidências se fazem necessárias para 15. Wright PA, Granat MH. Therapeutic effects of functional
consolidar novos achados, bem como de outros autores. electrical stimulation of the upper limb of eight children with
cerebral palsy. Dev Med Child Neurol 2000;42(11):724-7.
Conclusão 16. Carmick J. Clinical use of neuromuscular electrical
stimulation for children with cerebral palsy, part 1: lower
extremity. Phys Ther 1993;73(8):505-13;523-7.
Neste estudo, foi obtido uma melhora da função motora
17. Park ES, Park CI, Lee HJ, Cho YS. The effect of electrical
para marcha, em todas as quatro crianças submetidas ao stimulation on the trunk control in young children with
tratamento com EENM. Parâmetros como grau de spastic diplegic cerebral palsy. J Korean Med Sci
espasticidade e resposta dos reflexos profundos também 2001;16(3):347-50.
evoluíram favoravelmente com a terapêutica. O estudo 18. Delito A, Snyder-Mackler L. Two teories of muscle
demonstrou que a EENM pode ser uma ferramenta strength augmentation using percutaneous electrical
complementar da fisioterapia no manejo da PC. Os stimulation. Phys Ther 1990;70(3):158-64.
mecanismos pelos quais a EENM melhora a função motora 19. Kulzer AM, Mahmud MAI, Homrich JG. Estimulação
não estão totalmente esclarecidos. Novos estudos se fazem elétrica transcutânea: estudo de seu efeito sobre o
músculo esquelético sadio, através da análise
necessários para uma adequada avaliação dos efeitos da
eletromiográfica. Revista de Fisioterapia 1991;4(1):87-106.
EENM em crianças com PC. 20. Trimble MH, Enoka RM. Mechanisms underlying the
training effects associated with neuromuscular electrical
Referências stimulation. Phys Ther 1991;71(4):273-9.
21. Dubowitz L, Finnie N, Hhyde AS, Scott OM, Vrbova G.
1. Nelson KB, Swaiman KF, Russman BS. Cerebral palsy. In: Improvement of muscle performance by chronic
Swaiman KF, ed. Pediatric neurology: principles and practice. electrical stimulation in children with cerebral palsy.
vol. St. Louis: Mosby Company; 1994. Vol1. p. 471-88. Lancet 1988;12:587-8.
2. Kuban KCK, Levinton A. Cerebral Palsy. N Engl J Med 22. Laborde JM. The effectiveness of surface electrical
1994;20:188-95. stimulation in improving quadriceps strenght and gait in young
3. Volpe JJ. Intracranial hemorrhage: Intraventricular cerebral palsy patientes. Dev Med Child Neurol 1986;28:26-7.
hemorrhage of the premature infant. In: Volpe JJ. 23. Miyazaki MH, Lourenção MIP, Ribeiro JRS et al.
Neurology of the newborn. 3° ed. Philadelphia: WB Estimulação elétrica funcional (FES) na paralisia cerebral.
Saunders; 1995. p. 403-63. Rev Hosp Clin Fac Med S Paulo 1992;47(1):28-30.
4. Olhweiller L, Silva AR, Rotta NT. A study of 24. Pape KE, Kirsk SE, White MA, Chipman ML. Therapeutic
psychomotor development in premature patients during electrical stimulation (TES) in the rehabilitation of spastic
the first year. Revista de Neurologia 2002;35(8):727-30. hemiplegia. Clin and Invest Med 1990;13: B100.
5. Bobath K. The normal postural reflex mechanism and its 25. Sommerfelt K, Markestad T, Berg K, Saetesdal I.
deviation in children with cerebral palsy. Physiotherapy 1997. Therapeutic electrical stimulation in cerebral palsy: a
6. Piovesana AMSG. Paralisia cerebral: Contribuição do randomized, controlled, crossover trial. Dev Med Child
estudo por imagem In: ABPC (Associação Brasileira de Neurol 2001; 43:609-13. 
10 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Artigo original

Efeitos do ultra-som na migração das células satélites


após uma lesão experimental em ratos
Effects of the ultrasound on proliferation of satellites
cells after experimental injury in rats

Joseani Ceccato*, Ivan Pacheco, D.Sc.**, Gordon Bock***, Adriana Moré Pacheco, M.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta do Clube Grêmio Náutico União – Porto Alegre-RS, Fisioterapeuta da Clínica SOS Esportes, **Médico Ortopedista e
Traumatologista do Esporte da Clínica SOS Esportes, Médico Ortopedista e Traumatologista do Esporte e Coordenador do Centro de
Medicina e Reabilitação do Clube Grêmio Náutico União, Diretor Médico da Federação Gaúcha de Futebol, ***Fisioterapeuta em Santa
Cruz do Sul-RS, ****Fisioterapeuta do Clube Grêmio Náutico União, Fisioterapeuta da Clínica SOS Esportes, Professora do Curso de
Fisioterapia da PUCRS

Resumo Abstract
O ultra-som terapêutico é muito utilizado nas lesões Therapeutic ultrasound is commonly used in muscle lesions.
musculares para acelerar o processo de cicatrização. Muitas A lot of investigations are carried out to verify its effects during
investigações são realizadas para verificar os seus efeitos the phases of regeneration of the skeletal muscle tissue. The
durante as fases da regeneração do tecido muscular esquelético e porpose of this study was to analyse different approaches found
alguns estudos revelam que a proliferação de células satélites é on the effects of the ultrasound on migration of satellites cells
aumentada com a utilização do ultra-som. A intenção de realizar to the injury site. Were used male adults rats, of the Wistar
este estudo partiu das diferentes abordagens encontradas sobre lineage (obtained at the laboratory of FFFCMPA), randomly
os efeitos do ultra-som na migração das células satélites para o distributed in five groups, where the gastrocnemius muscle in
sítio da lesão. Foram utilizados ratos machos, adultos, da linhagem both inferior members were injured with experimental
Wistar (obtidos no laboratório da FFFCMPA), distribuídos alea- contusion. The right side received treatment with ultrasound,
toriamente em cinco grupos, onde o músculo gastrocnêmio de while the left side was the control group. The frequency used
ambos membros inferiores foram lesionados com uma contusão was 3 mHz, pulsed to 20%, intensity of 1w/cm2 for 4 minutes,
experimental. O lado direito recebeu tratamento com ultra-som, for two days in the group I, 4 in the group II, 6 in the group III,
enquanto o esquerdo foi o controle. A freqüência utilizada foi 13 in the group IV and 20 in the group V, each group was
3MHz, pulsado a 20%, intensidade de 1w/cm2 durante 4 minutos, sacrificed on the 3, 5, 7, 14 and 21 days, respectively. There was
por dois dias no grupo I, 4 no grupo II, 6 no grupo III, 13 no prevalence of satellites cells in the treated member on 18 mouses
grupo IV e 20 no grupo V, sendo sacrificados nos dias 3, 5, 7, 14 (54,54%) (p < 0,05). We can conclude that, even with increase of
e 21, respectivamente. Houve predomínio de células satélites no proliferation of satellites cells, we cannot affirm that the alteration
membro tratado em 18 ratos (54,54%) (p < 0,05). Conclui-se was provoked only by the effect of the ultrasound. Further
que, mesmo ocorrendo esse aumento de proliferação de células studies are required in this area.
satélites, não se pode afirmar que a alteração foi provocada somente Key-words: ultrasound, cicatrisation.
pelo efeito do ultra-som. Mais estudos aprofundados devem ser
realizados nesta área.
Palavras-chave: ultra-som, cicatrização.

Recebido 16 de março de 2004; corrigido 13 de dezembro; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Adriana Moré Pacheco, Rua Comendador Rheingantz, 362/601 B, Auxiliadora 90450-020 Porto Alegre
RS, E-mail: adrimpacheco@terra.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 11

Introdução com ração Nuvilab CR1 (Nuvital Nutrientes Ltda) e a


água era fornecida por mamadeira de vidro com bico de
A lesão muscular é observada com frequência na prática inox em rolha de borracha, ambos ad libitum.
desportiva e está associada ás afecções das fibras musculares Os ratos foram divididos aleatoriamente em cinco
e do tecido conjuntivo. Pode ser manifestada por contusões grupos com oito animais cada, e um grupo piloto com
diretas, distensões, rupturas parciais e totais ou ainda por cinco animais para a realização de um teste, com o objetivo
microtraumas repetitivos (overtraining) [1,2]. de validar o mecanismo de contusão. Foi construído um
Desde o momento do trauma, aparecem modificações dispositivo com adaptações a um modelo experimental
morfológicas na fibra muscular como acúmulo de mi- já existente [7]. Tal contusão foi realizada no complexo
tocôndrias alteradas, fragmentação das miofibrilas, ruptura muscular gastrocnêmio de ambos os membros inferiores
parcial do sarcolema, entre outras. Há uma necrose inicial de cada espécime.
que se segue após cerca de doze horas por uma reação Depois de realizado o teste piloto e obtido um resultado
inflamatória, ocorrendo fagocitose dos resíduos necróticos satisfatório, os cinco grupos de oito animais foram
da fibra muscular [1,2]. O reparo muscular envolve a re- submetidos às contusões e devolvidos às suas caixas.
moção dos componentes celulares lesionados, a proliferação Para efetuar a lesão muscular, os ratos foram anes-
das células satélites (células reparadoras mononucleadas tesiados com ketamina (50mg/ml) e Xilazina (20mg/
situadas normalmente entre a lâmina basal e a membrana ml), via peritoneal. Durante o efeito anestésico, o animal
plasmática da fibra muscular) para a for mação de foi colocado sobre um suporte apropriado e o membro
componentes de nova fibra muscular; e a fusão das células inferior a ser lesionado foi posicionado em uma superfície
satélites para a formação de novos miotúbulos. As células de madeira com o joelho em extensão e o pé em dorsi-
satélites são armazenadas sob forma inativa dentro da flexão de 90o, ficando a face anterior da perna em contato
membrana basal de sustentação e são liberadas quando o com essa superfície. A contusão foi produzida pela queda
processo de reparo inicia. Elas representam 4 a 11% do de um pêndulo constituído por uma haste de alumínio
músculo, nos humanos [3,4,5]. cuja extremidade superior estava acoplada a um par de
Um dos meios mais utilizados na reabilitação rolamentos e na extremidade inferior havia uma esfera
esportiva, associado com os exercícios terapêuticos é o de resina fixada com nove milímetros de diâmetro, que
ultra-som. O ultra-som terapêutico promove a liberação atingiu diretamente o gastrocnêmio do rato (Figura 1). A
de mediadores químicos, resultando na proliferação de massa do pêndulo (400g), bem como seu comprimento e
tecido de granulação e estimulando a atividade dos fibro- altura de queda (45cm) foram calibrados com células de
blastos. Há uma melhor atividade circulatória e celular, carga piezoelétricas no Laboratório de Resistência dos
com aumento de fagócitos e macrófagos para reduzir o Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade
edema e acelerar o processo de cicatrização [3]. Federal do Rio Grande do Sul, obtendo um pico de força
Há algumas controvérsias em relação aos efeitos que de 27,23.
o ultra-som proporciona na migração de células satélites Transcorridas 36 horas após a lesão, os ratos iniciaram
durante a regeneração muscular, alguns autores acreditam um tratamento com onda ultrassônica no gastrocnêmio
que ocorra apenas um aumento na proliferação dessas direito, ficando o esquerdo como controle. Foi utilizado
células e outros que há uma modificação na estrutura o aparelho de ultra-som da KLD Biossistemas Equipa-
global do músculo [2,6]. Portanto, o objetivo deste estudo mentos Eletrônicos. O tratamento constituiu de uma
foi verificar o efeito do ultra-som terapêutico na migração aplicação diária de ultra-som no local da lesão, com um
das células satélites para o sítio da lesão, durante a rege- transdutor de 10 mm, uma freqüência de 3 MHz, modo
neração do músculo, após uma lesão experimental no pulsado a 20%, intensidade de 1 W/cm 2, durante 4
gastrocnêmio de ratos. minutos, conforme referências revisadas [6,8,9].
Após um determinado período de tratamento com o
Material e métodos ultra-som todos os espécimes foram sacrificados: dois dias
de tratamento para o grupo 1; quatro dias para o grupo 2;
O experimento foi realizado no Laboratório de seis dias para o grupo 3; treze dias para o grupo 4 e 20 dias
Fisiologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências para o grupo 5.
Médicas de Porto Alegre. Foram utilizados 45 ratos Após o sacrifício dos ratos (conforme Lei 6638/08/
machos, adultos (180 dias), heterozigotos, com peso entre 1979), os músculos gastrocnêmios de ambas as patas de
320 e 400 gramas, da espécie Rattus novergicus da cada animal foram dissecados, desinseridos e fixados em
linhagem Wistar/FFFCMPA. Eram mantidos em gaiolas formol acetato 10% para posteriormente serem realizadas
de polipropileno de dimensões 40X32X16cm, sob um as técnicas histológicas. Em todas as peças foram reali-
ciclo de dia e noite de 12 horas (das 7h às 19h) com zados cortes transversais (no centro do ventre muscular)
temperatura controlada de 22,O°°C. Foram alimentados e após a desidratação, clareamento e impregnação foram
12 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

incluídas em parafina e coradas com hematoxilina e eosina. quantidade de células satélites na região em processo cicatricial
As lâminas foram enviadas para a análise histopatológica, comparado ao membro controle, concordando com o estudo
não sendo identificado ao patologista, o grupo controle e o de Rantanen e Thorsson et al. [9] que observaram um aumento
tempo de tratamento realizado. significativo de 96% das células satélites em relação ao grupo
que não recebeu tratamento com onda ultrasônica. O nosso
Resultados estudo demonstrou um aumento significativo de 85,7% no
grupo V. Acredita-se que como já apresentava uma fase mais
Os resultados foram computados em 33 ratos, de uma adiantada da regeneração muscular (21 dias) demonstrou uma
amostra de 40, pois durante o desenvolver do trabalho, 7 diferença maior que os demais grupos.
ratos foram descartados por morte precoce. A amostra Outros autores, como Kitchen e Bazin [6], demons-
foi dividida em cinco grupos, que inicialmente seriam de traram uma diferença na motilidade dos fibroblastos,
8 espécimes cada. Com a exclusão dos 7 espécimes, foram porém em relação à proliferação celular não observou
divididos 5 grupos com 2 contendo 6 ratos e 3 grupos nenhuma modificação, sugerindo assim, mais estudos.
contendo 7 ratos. A quantidade de células satélites per- Na análise do nosso estudo, observamos apenas a
maneceu inalterada em ambos os membros do grupo I. migração das células reparadoras, pois para uma análise da
Já no grupo II observamos um aumento de 50% das células motilidade dos fibroblastos necessitaríamos de outras
satélites no membro tratado com ultra-som. A proli- investigações imunohistoquímicas mais detalhadas. Os
feração de células satélites no grupo III foi maior em 59,1% resultados analisados demonstraram uma diferença
dos membros tratados em relação ao esquerdo (28,5%). estatística significativa entre os grupos estudados (p < 0,05).
No grupo IV, houve predomínio dessas células em 57,1%
dos membros tratados e o quinto grupo apresentou um Conclusão
aumento significativo de células satélites no membro que
recebeu ultra-som em relação ao membro controle, Concluímos que a migração das células satélites foi
correspondendo a 85,7%. aumentada com a utilização do ultra-som. Como estas
células estão envolvidas na formação de novas fibras
Figura 1 – Relação entre os grupos estudados e a quantidade de musculares poderia se supor um melhor reparo muscular,
células satélites encontradas.
porém mais estudos devem ser realizados para confirmar
esta hipótese.

Referências

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estriado en el deportista. In: Enciclopedia Médico-
Quirúrgica. Paris: Elsevier; 1992. p.1-8.
2. Reider B. Sports medicine. The school-age athlete. [s.l],
[s.ed.], 1996.
3. Hurme T et al. Healing of skeletal muscle injury: an
ultrastructural and immunohistochemical study. Med Sci
Sports Exerc 1991;23(7):801-9.
4. Paula JL. Ultra-som: considerações gerais. Fisioter Mov
1994;7(1):9-17.
5. Wood S, Buckwalter J. Injury and repair of the
Discussão muscleskeletal soft tissues. Georgia: American Academic
of Orthopedic Surgeons; 1987.
O ultra-som terapêutico é utilizado com frequência na 6. Kitchen S, Bazin S. Eletroterapia de Clayton. 10 ed. São
reabilitação de lesões musculares, e vários estudos já foram Paulo: Manole; 1996.
7. Crisco JJ et al. A muscle contusion injury model. Am J Sports
realizados para explicar o seu efeito sobre os tecidos. A
Med 1994;22(5):702-9.
restauração muscular envolve a remoção de componentes 8. Fuirini Jr N, Longo G.J. Ultrasom. KLD – Biossistemas
celulares lesionados e a proliferação de células satélites para Equipamentos Eletrônicos, 1996.
a fusão e formação de novas fibras musculares. 9. Rantanen J, Thorsson et al. Effects of therapeutic ultrasound
Em nosso estudo, a maioria dos membros que receberam on the regeneration of skeletal myofibers after experimental
tratamento com onda ultrasônica apresentou uma maior muscle injury. Am J Sports Med 1999;27(1):54-9. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 13

Artigo original

A utilização da escala de Fugl-Meyer no estudo


do desempenho funcional de membro superior
no tratamento de indivíduos hemiparéticos pós AVE
Utilization of Fugl-Meyer scale in superior limb functional
performance applied to hemiparetic individuals after stroke

Carlos Henrique Senkiio*, Fernanda Kill*, Marcos Roberto Negretti*, Cleber Alexandre de Oliveira**, Nazareti Pereira
Ferreira Alves, M.Sc.***, Selma Ramos da Silva e Souza, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmicos de Fisioterapia da Universidade Camilo Castelo Branco,**Fisioterapeuta, Supervisor de Estágio em Hidroterapia e em


Fisioterapia Pediátrica da Universidade Camilo Castelo Branco – SP, ***Fisioterapeuta, Supervisora de Estágio de Fisioterapia Aplicada às
Disfunções Motoras Hospitalares da Universidade Camilo Castelo Branco – SP, Professora da Faculdade do Clube Náutico Mogiano – SP,
***Fisioterapeuta, Supervisora de Estágio em Neurologia do Adulto na Universidade Camilo Castelo Branco

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi utilizar um instrumento de The purpose of this study was to use an evaluation
avaliação e verificar o grau de confiabilidade do mesmo instrument and to verify its grade of reliability while applied in
enquanto aplicado em indivíduos com seqüelas de acidente vas- individuals with stroke damage. The Fugl-Meyer evaluation,
cular encefálico (AVE). A avaliação de Fugl-Meyer, validada desde validated since 1975, is broadly applied in international experiments
1975, é amplamente aplicada em experimentos internacionais directed to hemiparetic individuals with brachial predominance.
direcionados a indivíduos portadores de hemiparesia com The tests offer conditions of scoring functional activities which
predomínio braquial. Os testes oferecem condições de pontuar need the participation of superior limbs and that are subjective. A
atividades funcionais que necessitam da participação dos membros group formed by ten individuals with hemiparesis were initially
superiores e que são consideradas subjetivas. Um grupo composto submitted to Fugl-Meyer evaluation, received physical therapy
por dez indivíduos portadores de hemiparesia foi submetido treatment and once more were evaluated. The results show that
inicialmente à avaliação de Fugl-Meyer, receberam tratamento Fugl-Meyer evaluation permit to quantify the motor performance
fisioterapêutico e novamente foram reavaliados. Os resultados individuals with stroke damages without ignoring quantitative
mostram que a avaliação de Fugl-Meyer permitiu quantificar o analysis.
desempenho motor do indivíduos com seqüela de AVE sem que Key-words: performance assessment, upper limb,
a análise qualitativa fosse desconsiderada. cerebrovascular accident, Fugl-Meyer scale.
Palavras-chave: avaliação de desempenho, membro superior,
acidente cerebrovascular, Escala de Fugl-Meyer.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução do fluxo sangüíneo para o encéfalo, originado tanto por


obstrução de uma artéria que o supre caracterizando o AVE
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é a doença isquêmico, quanto por ruptura de um vaso caracterizando
vascular que mais acomete o sistema nervoso central, o AVE hemorrágico [1].
bem como a principal causa de incapacidades físicas e cog- As seqüelas estarão relacionadas diretamente com a
nitivas. Suas causas estão relacionadas com a interrupção localização, tamanho da área encefálica atingida e o tempo

Recebido 29 de março de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004


Endereço para correspondência: Selma Ramos da Silva e Souza, Universidade Camilo Castelo Branco – Clínica de Fisioterapia, Rua
Carolina Fonseca, 727 Itaquera 08230-030São Paulo SP, Tel: Tel: (11)6170-0052, E-mail: selma_fisio@hotmail.com
14 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

que o paciente esperou para ser socorrido. A alteração mais dez sessões de cinesioterapia adaptada às atividades fun-
comum é a hemiparesia, correspondendo à deficiência cionais para membro superior relacionada com as atividades
motora caracterizada por fraqueza no hemicorpo con- de vida diária. A avaliação de Fugl-Meyer foi aplicada
tralateral a lesão, também podendo ser acompanhada por novamente ao término do cumprimento das dez sessões de
alterações sensitivas, mentais, perceptivas e da linguagem fisioterapia.
[2-5]. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da ins-
O membro superior parético do indivíduo com seqüela
tituição envolvida e todos os pacientes assinaram o termo
de AVE limita suas atividades motoras, desde a mais simples
de consentimento informado.
como levar um copo até a boca, até a mais complexa como
abotoar uma camisa. Essas restrições são consequências dos
prejuízos relacionados a alteração do tônus, força muscular, Resultados e discussão
amplitude do movimento e habilidades motoras específicas
para o membro referido [3,5,7]. Baseado nos dados coletados acerca do grupo observou-
Para que o processo de reabilitação ocorra de forma se que em todos os itens avaliados houve evolução
adequada há necessidade de estabelecer critérios de relacionada ao desempenho motor do membro superior
avaliação, tratamento e reavaliação. Os parâmetros acometido, com exceção dos itens atividade voluntária que
utilizados na avaliação devem reproduzir fielmente o se refere a flexão pura de ombro de 90º à 180º e abdução
método eleito para que a qualquer momento que se faça pura de ombro até 90º conforme já descrito na Tabela I.
necessário a repetição de sua aplicação, o avaliador possa Verificou-se que, durante a execução dos itens men-
contar com o menor índice de variabilidade possível. cionados, os voluntários referiram dificuldades relacionadas
à dor localizada no ombro acometido.
Materiais e métodos Ao progredir com a carga de exercícios durante o
tratamento fisioterapêutico do paciente com seqüela de AVE,
A amostra foi composta por dez indivíduos hemiparéticos é possível que ocorra complicações no ombro como tendinite
com predomínio braquial, sendo 6 mulheres e 4 homens ou bursite [5,9,10].
com média de idade de 49,5 anos. Embora tenha ocorrido a diminuição de duas funções
Os indivíduos com comprometimento cognitivo, distúr-
relacionadas à atividade voluntária, outros aspectos
bios de linguagem, componente espástico severo e cadeirantes
importantes verificados na avaliação apresentaram evolução
foram exclusos do experimento.
O instrumento de avaliação utilizado foi a Escala de como estabilidade de punho, preensão e coordenação motora
Fugl-Meyer [8] traduzida e adaptada que tem por objetivo que são primordiais para beneficiar a execução de atividades
quantificar o desempenho funcional de membros superior cotidianas.
e inferior de portadores de hemiparesia, sendo que nesta O progresso pôde ser notado em simples atividades como
pesquisa foi abordado apenas a avaliação de membro a sustentação de um copo, uma escova de dentes ou de
superior. outros objetos. Em relação à melhora do desempenho de
Os indivíduos foram submetidos à avaliação na diversos tipos de preensão palmar pode-se afirmar que esta
Clínica-Escola da Universidade Camilo Castelo Branco – atividade contribui para a facilitação de funções como segurar
SP, respeitando os mesmos parâmetros para todos os objetos pequenos como caneta ou então uma folha de papel.
participantes, como local utilizado para a avaliação, Averigou-se nos resultados expostos na Tabela II melhora
duração, orientação prévia quanto ao posicionamento dos da coordenação motora dos pacientes submetidos ao
testes e execução das atividades solicitadas e sequen- tratamento que foram favorecidos quanto à execução de
ciamento dos itens avaliados, sendo atividade reflexa, ações como escrever, colocar uma chave na fechadura ou
atividade voluntária, atividade voluntária associada ao
então controlar a direção do segmento para a realização
sinergismo, atividade voluntária associada a pouco
dessas atividades.
sinergismo, atividade reflexa normal, estabilidade de
O fato dos pacientes realizarem atividades seletivas
punho, movimentação da mão e coordenação. Todos esses
itens receberam pontuação segundo escore estabelecido utilizando o membro superior acometido, beneficiou outras
pelo método (Tabela I). atividades relevantes como as funcionais. Para o paciente
A Tabela I mostra todos os itens avaliados, as posturas neurológico, recuperar a integridade do membro superior é
do paciente e avaliador e as respectivas pontuações de um fator decisivo durante o período de reabilitação, pois,
forma detalhada. da mesma forma que a marcha, a funcionalidade dos
Após ser realizada a avaliação, os voluntários foram membros superiores confere ao indivíduo o caráter de
submetidos a tratamento fisioterapêutico que consistiu em independência.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 15

Tabela I – Avaliação de Fugl-Meyer modificada.


Parte A Descrição da atividade Opções de resposta

I. Atividade reflexa Percutir os tendões dos músculos Score 0 – reflexo ausente


bíceps e tríceps braquial Score 2 – reflexo presente
Score máximo = 4
II. Atividade voluntária a)Sinergismo flexor- paciente sentado Score 0 – não realiza
é instruído a levar a mão afetada até Score 1 – realiza parcialmente
a orelha. Deve-se avaliar: Score 2 – realiza perfeitamente
ombro retraído – até 2 pts
ombro elevado – até 2 pts
ombro abduzido pelo menos ‘a 90º – até 2 pts
ombro em rotação externa – até 2 pts
cotovelo totalmente fletido – até 2 pts
antebraço supinado – até 2 pts
Score máximo = 12
b)Sinergismo extensor-paciente Score 0 – não realiza
sentado é instruído a levar a mão Score 1 – realiza parcialmente
afetada em direção ao joelho oposto. Score 2 – realiza perfeitamente
Deve-se avaliar:
ombro aduzido e em rotação interna – até 2 pts
cotovelo estendido – até 2 pts
antebraço pronado – até 2 pts
Score máximo = 6
III. Atividade voluntária O paciente sentado é instruído a desempenhar
associada ao sinergismo três ações isoladas
flexor e extensor a)Levar a mão afetada até a região lombar Score 0 – não realiza
Score 1 – realiza passando a mão pela
espinha ilíaca ântero-superior
Score 2 – realiza perfeitamente
b) Realizar flexão pura de ombro até 90º Score 0 – não realiza ou então abduz o
ombro ou flexiona o cotovelo logo no
início do movimento
Score 1 – realiza e abduz e/ou flexiona
o cotovelo após o início da atividade
Score 2 – realiza perfeitamente
c) Realizar prono-supinação de Score 0 – não consegue manter a
antebraço (ombro à 0Ú e cotovelo) postura correta,
flexionado à 90º e/ou não realiza a
prono-supinação de antebraço
Score 1 – realiza parcialmente a prono-
supinação mantendo ombro cotovelo
corretamente posicionados
Score 2 – realiza perfeitamente
Score máximo = 6
IV. Atividade voluntária a) Abdução pura de ombro até 90º Score 0 – não realiza ou
desempenhada com pouco com cotovelo estendido à 0Ú e flexiona o cotovelo e/ou não mantém
ou nenhum sinergismo antebraço pronado o antebraço pronado logo no início da
atividade
Score 1 – realiza parcialmente, ou
durante o trajeto do movimento o
cotovelo flexiona e/ou antebraço não se
mantém em pronação
Score 2- realiza perfeitamente
b) Flexionar o ombro de 90º à 180º Score 0 – não realiza, ou
(cotovelo totalmente estendido e então ao iniciar o movimento
antebraço em posição neutra) abduz o ombro e/ou flexiona o cotovelo
Score 1 – realiza abduzindo e/ou
flexionando cotovelo após o início da
atividade
Score 2 – realiza perfeitamente
16 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Parte A Descrição da atividade Opções de resposta

c) Pronação e supinação de Score 0 – não consegue


antebraço com cotovelo estendido e manter a postura correta,
ombro em posição entre 30º e 90º e/ou não realiza a prono-
de flexão supinação de antebraço
Score1 – realiza parcialmente a prono-
supinação, mantendo ombro e cotovelo
corretamente posicionados
Score 2 – realiza perfeitamente
Score máximo=6
V. Atividade reflexa Percutir os tendões dos músculos Score 0 – caso existam de
normal bíceps e tríceps, e também estimular dois a três reflexos exacerbados
a região ventral da mão Score 1 – caso exista um reflexo
Score máximo = 2 exacerbado e no máximo dois reflexos
vivos
Score 2 – não mais que um reflexo vivo
e nenhum reflexo exacerbado
Parte B Descrição da atividade Opções de resposta

Estabilidade de punho a) Paciente sentado com ombro à 0Ú, Score 0 – não realiza a atividade
cotovelo à 90º de flexão e antebraço Score 1 – realiza a extensão
totalmente pronado, é instruído a: de punho, mas não suporta
estender o punho aproximadamente à 15º a resistência oferecida pelo avaliador
(o avaliador deve oferecer resistência Score 2 – realiza a extensão
ao movimento solicitado e, pode suportando resistência leve oferecida
posicionar o cotovelo na angulação pelo avaliador
solicitada)
b) Paciente sentado, com ombro à 0°, Score 0 – não realiza a atividade
cotovelo à 90º de flexão e antebraço Score 1 – realiza de forma
totalmente pronado, é instruído a: ativo/assistida
realizar movimentos alternados de Score 2 – realiza perfeitamente
flexão/extensão de punho
c) Paciente sentado com ombro semi Score 0 – não realiza a atividade
flexionado e/ou semi abduzido, cotovelo Score 1 – realiza a extensão
estendido e antebraço pronado, é instruído de punho, mas não suporta a
a alternar movimento de flexão e extensão resistência oferecida pelo avaliador
de punho (o avaliador pode , se necessário, Score 2 – realiza extensão suportando
sustentar a postura) resistência leve oferecida pelo avaliador
d) Paciente sentado, com ombro semi Score 0 – não realiza a atividade, ou
flexionado e/ou semi abduzido, cotovelo então não sustenta a posição
estendido e antebraço pronado, é instruído Score 1 – realiza extensão de
a estender o punho até 15º e suportar punho, mas não suporta resistência
resistência oferecida pelo avaliador oferecida pelo avaliador
Score 2 – realiza a extensão
suportando resistência leve oferecida
pelo avaliador
e) Paciente sentado, com ombro semi Score 0 – não realiza a circundução
flexionado e/ou semi abduzido e Score1 – realiza o movimento de
cotovelo totalmente estendido é instruído forma abrupta ou circundução
a realizar circundução de punho incompleta
Score máximo= 10 Score 2 – realiza perfeitamente
Parte C Descrição da atividade Opções de resposta

Mão a) Paciente sentado é instruído a Score 0 – não realiza


flexionar os dedos Score 1 – realiza semi flexão dos dedos
Score 2 – realiza perfeitamente
(comparar com a mão não afetada)
b) Paciente sentado é instruído a Score 0 – não realiza
estender os dedos Score 1 – realiza a semi extensão dos
dedos
Score 2 – realiza perfeitamente
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 17

Parte C Descrição da atividade Opções de resposta

c) Paciente sentado é instruído a Score 0 – a posição solicitada


manter a arts. metacarpofalangeanas não pode ser mantida
estendidas do II-V dedos e flexiona as Score 1 – a posição poderá
interfalangeanas distais e intermédias ser mantida, mas a preensão
O avaliador deve oferecer alguma é insuficiente
resistência. Score 2 – a posição pode ser mantida
com muita resitência
d) Paciente sentado é instruído a Score 0 – não realiza
realizar adução pura de polegar e do Score 1 – o papel colocado
I metacarpofalangeana, com entre o polegar e a
interfalangeanas a 0Ú(posicionar um metacarpofalangeana se
papel entre o polegar e a articulação solta quando puxado pelo
metacarpofalangeana) avaliador
Score 2 – segura bem o papel entre os
dedos mesmo quando puxado pelo
avaliador
e) Paciente sentado é instruído Score 0 – não realiza
a realizar a oponência do polegar Score 1 – o lápis que está entre o
contra o segundo dedo. O avaliador polegar e o segundo dedo se solta
coloca um lápis entre os dedos quando puxado pelo avaliador
Score 2 – segura bem o lápis quando
puxado pelo avaliador
f) Paciente sentado é instruído a Score 0 – não realiza
segurar um objeto cilíndrico (latinha) Score 1 – o objeto que está entre o
com o polegar e o segundo dedo. polegar e o segundo dedo se solta
quando puxado pelo avaliador
Score 2 – segura bem o objeto quando
puxado pelo avaliador
g) Paciente sentado é instruído a Score 0 – não realiza
segurar uma bolinha de tênis, Score 1 – a bolinha escapa da mão ao
realizando abdução de todos os ser puxada pelo avaliador
dedos Score 2 – segura bem a bolinha quando
puxada pelo avaliador
Score máximo=14
Parte D Descrição da atividade Opções de resposta

Coordenação e Paciente sentado é intruído a


velocidade realizar o teste index-nariz em
cinco tempos
O avaliador verifica:
Tremor Score 0 – tremor acentuado
Score 1 – tremor sutil
Score 2 – ausência de tremor
Dismetria Score 0 – dismetria acentuada
Score 1 – dismetria sutil
Score 2 – ausência de dismetria
Velocidade Score 0 – realiza o index 6 sg
mais lento quando comparado ao
membro não afetado
Score 1– realiza o index com
atraso de 2 à 5 seg em relação
ao membro não afetado
Score 2 – realiza com atraso
menor que 2 seg em relação ao
membro não acometido
Score máximo= 6

Pontuação total da atividade motora de membro superior = 66


18 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Tabela II – Resultados das avaliações inicial e final do grupo.


Atividade Avaliação inicial Avaliação final

Parte A
Atividade reflexa x = 2,66 σ = 1,73 x = 3,70 σ = 0,66
Sinergismo flexor x = 9,77 σ = 2,90 x = 10,44 σ = 2,00
Sinergismo extensor x = 5,22 σ = 1,20 x = 5,66 σ = 0,70
Mão à região lombar x = 0,88 σ = 0,60 x = 1,33 σ = 0,70
Flexão pura de ombro à 90º x = 0,55 σ = 0,72 x = 0,77 σ = 0,97
Prono supinação de antebraço com cotovelo fletido x = 1,33 σ = 0,70 x = 1,55 σ = 0,52
Abdução de ombro à 90º x = 0,88 σ = 0,92 x = 0,88 σ = 0,92
Flexão de ombro de 90º à 180º x = 0,66 σ = 0,86 x = 0,55 σ = 0,72
Prono supinação com cotovelo estendido x = 0,88 σ = 0,78 x = 1,11 σ = 0,78
Atividade reflexa normal x = 1,11 σ = 0,60 x = 1,70 σ = 0,44
Parte B
Estabilidade de punho a x = 1,22 σ = 0,83 x = 1,77 σ = 0,66
Estabilidade de punho b x = 1,11 σ = 0,60 x = 1,22 σ = 0,83
Estabilidade de Punho c x = 1,55 σ = 0,88 x = 1,66 σ = 0,70
Estabilidade de Punho d x = 1,0 σ = 0,86 x = 1,22 σ = 0,97
Estabilidade de Punho e x = 0,77 σ = 0,83 x = 1,11 σ = 0,78
Parte C
Atividade com a mão a x = 1,88 σ = 0,33 x = 2,00 σ = 0,00
Atividade com a mão b x = 1,11 σ = 0,78 x = 1,33 σ = 0,86
Atividade com a mão c x = 1,44 σ = 0,72 x = 1,66 σ = 0,50
Atividade com a mão d x = 0,77 σ = 0,66 x = 1,11 σ = 0,78
Atividade com a mão e x = 1,00 σ = 0,86 x = 1,33 σ = 0,86
Atividade com a mão f x = 1,00 σ = 0,70 x = 1,66 σ = 0,70
Atividade com a mão g x = 1,33 σ = 0,86 x = 1,88 σ = 0,33
Parte D
Tremor x = 1,22 σ = 0,83 x = 1,11 σ = 0,78
Dismetria x = 0,77 σ = 0,66 x = 1,44 σ = 0,88
Velocidade x = 1,22 σ = 0,97 x = 1,33 σ = 1,00

Conclusão acidente vascular encefálico. Fisioter Bras 2003;4(3):195-9.


2. O’Sullivan S, Schmitz T. Fisioterapia: Avaliação e tratamento.
São Paulo: Manole;1993.
A avaliação de Fugl-Meyer permitiu quantificar o
3. Bobath B. Hemiplegia no adulto: avaliação e tratamento.
desempenho motor dos indivíduos com sequela de AVE São Paulo: Manole;1980.
sem que a análise qualitativa fosse desconsiderada. 4. Ekman LL. Neurociência: Fundamentos para a
A utilização de um instrumento de avaliação para uma reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
criteriosa coleta de dados quantitativa, se bem interpretada 5. Rowland LP. Merritt Tratado de neurologia. Rio de
afim de que uma melhor conduta de tratamento seja Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
estipulada, vem favorecer a evolução funcional do paciente 6. Freitas ED. Manual prático de reeducação motora de
neurológico e o fisioterapeuta passa a contar com um membro superior na hemiplegia: fundamentado no
confiável recurso de avaliação. método Brunnstrom. São Paulo: Memnon; 2000.
7. Page SJ, Sisto S, Levine P, Johnston MV. Modified
constraint induced therapy: A randomized feasibility and
Agradecimentos efficacy study. J Rehabil Res Dev 2001;38(5):583-90.
8. Fugl-Meyer AR, Jääskö L, Leyman I, Olsson S, Steglind.
Aos Prof. Ms. Sandro Rogério dos Santos, Prof. Ms. The post-stroke hemiplegic patient: a method for evaluation
Adriano Ribeiro de Freitas pela concessão do espaço e of physical performance. Scand J Rehab Med 1975;7:13-31.
incentivo à produção científica. Aos voluntários pela paciência 9. Horn AI, Fontes SV, Carvaho SMR, Silvado RAB, Barbosa
e dedicação quando solicitados. PMK, Durigan Jr. A, Attalah AN, Fukujima MM, Prado
GF. Cinesioterapia previne ombro doloroso em pacientes
hemiplégicos/paréticos na fase sub-aguda do acidente
Referências vascular encefálico. Arq Neuropsiquiatr 2003;61(3B):768-
71.
1. Souza SRS, Oliveira CA, Mizuta NA, Santos MH, Moreira 10. Martínez JFM. Síndrome doloroso regional camplejo tipo
AP. Reabilitação funcional para membros superiores pós- I. Rev Medunab 2001;4(10):1-7. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 19

Artigo original

Avaliação da imagem e esquema corporal


em crianças portadoras da síndrome de Down
e crianças sem comprometimento neurológico
Evaluation of image and corporal scheme in children
with Down syndrome and children without neurological disease

Fernanda Ishida Corrêa* , Fernanda Púpio Silva**, Tânia Gesualdo***


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Professora mestre do Dep. de Fisioterapia da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP),


** Mestranda Engenharia Biomédica pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP),
*** Graduada em fisioterapia pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP)

Resumo Abstract
Os portadores de patologias neurológicas, como a Individuals with neurological pathologies, as Down syndrome,
Síndrome de Down, podem apresentar alterações do Esquema can present alterations of the Outline and Corporal Image,
e Imagem Corporal, dificuldades na integração das infor- difficulties in the integration of the information among the
mações dentre as modalidades como o sistema visual e/ou modalities as the system visual and/or proprioceptive and in the
proprioceptivo e na seleção sensorial. Isto significa uma falta sensorial selection. This means a lack of ability to select a sensorial
de habilidade para selecionar uma modalidade sensorial para modality for the postural control when have different information
o controle postural quando há diferentes informações che- about the position of the body in space. There are several kinds of
gando sobre a posição do corpo no espaço. Existem várias formas evaluations of Outline and Corporal Image, that can be used in
de avaliações do Esquema e da Imagem Corporal, que podem ser children and adolescents. This study used a table and a game of
utilizadas em crianças e adolescentes. Neste estudo, foram utilizados fitting of parts of the human body as form of analyzing the
uma tabela e um jogo de encaixe das partes do corpo humano Corporal Outline. And the analysis of Corporal Image, the evaluation
como forma de analisar o Esquema Corporal. E para a análise da was made through the drawing of the human illustration. Those
Imagem Corporal, a avaliação foi feita através do desenho da figura evaluations were made in children and adolescents (between 6 and
humana. Essas avaliações foram feitas em crianças e adolescentes 15 years), being two groups, one composed by individuals with
(entre 6 e 15 anos), sendo dois grupos, um composto por portadores Syndrome of Down and other group formed by individuals
da Síndrome de Down e outro grupo formado por indivíduos que without neurological disease. It could be observed clearly that all
não apresentam comprometimento neurológico. Pôde-se observar the children with Syndrome of Down, presented a delay in Outline
claramente que todos os crianças portadores da Síndrome de Down and in Corporal Image, being able to interfere directly in individual
em estudo, apresentaram um atraso no Esquema e na Imagem development psicomotor.
Corporal, podendo este, interferir diretamente no desenvolvimento Key-words: Down syndrome, corporal outline, corporal image.
psicomotor desses indivíduos.
Palavras-chave: Síndrome de Down, esquema corporal, imagem
corporal.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução 1866. A causa exata da presença do cromossomo adicional


é desconhecida [1].
A Síndrome de Down (SD) é uma doença caracterizada Em 1966, foi publicada por Hall, uma lista de 10
por um cromossomo vinte e um extra (trissomia 21). É a aspectos característicos de recém-nascidos com SD. Essas
mais comum e bem conhecida de todas as síndromes mal características incluem hipotonicidade, reflexo de Moro
formativas. Foi descrita por John Langdon Down em fraco, hiperextensibilidade articular, excesso de pele na

Endereço para correspondência: Fernanda Ishida Corrêa Rua Professor Francisco Galvão Freire, 163, Urbanova II 12244-479 São José dos Campos
SP, E-mail: fecorrea@univap.br
20 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

região posterior do pescoço, perfil facial aplanado, fissuras O procedimento para a realização da pesquisa iniciou-se
palpebrais em declive, aurículas anômalas, displasia com a elaboração do questionário e dos termos de con-
pélvica, displasia da falange média do 5o dedo e rugas sentimento, junto com a montagem da boneca de isopor
siminianas. Além desses aspectos, há outros que dão um para ser utilizada como forma de avaliação do Esquema
quadro sintomatológico, como: disgenesias (alguns órgãos Corporal. Desenvolveu-se, também, um gabarito baseado
que não se formam completamente), espina bífida, na tabela modificada de [6], como outra forma de teste
deformação do coração, deformação do pavilhão da do Esquema Corporal.
orelha e estrabismo [2], podendo ainda, apresentar O primeiro teste aplicado em cada indivíduo foi o da
alterações físicas e mentais variáveis, associadas ao atraso Figura Humana, baseado nos conhecimentos dos autores
do desenvolvimento neuropsicomotor [3]. [1,7,8]. Não foi determinado o tempo para coleta dos
O desenvolvimento psicomotor da criança portadora da desenhos. O segundo teste foi o da tabela modificada do
Síndrome de Down é semelhante ao desenvolvimento de Esquema Corporal de [6]. E, por fim, aplicação do jogo
crianças sem a síndrome, porém, geralmente ele se apresenta de encaixe, onde cada criança deveria encaixar as partes
com um ritmo mais lento [1]. do corpo da boneca de isopor.
A presença de graus importantes de hipotonia muscular, Foram feitas as análises dos testes e desenhos de cada
presente desde o nascimento, seguramente contribui para criança e adolescente, com o embasamento das referências
um atraso motor. A variabilidade no desenvolvimento é bibliográficas. Posteriormente, os dados analisados foram
comparados de acordo com a idade, entre os indivíduos
muito mais ampla do que a observada em grupos de crianças
portadores da Síndrome de Down e do grupo sem
normais. Um atraso no desenvolvimento motor da criança
comprometimento neurológico. Em seguida, foi elaborada
vai interferir com o desenvolvimento em outras áreas de
uma análise estatística de cada grupo, quanto aos desenhos
atuação [4].
da figura humana, montagem da boneca e identificação
Sabendo que as disfunções do Esquema e Imagem
das partes do corpo.
Corporal, podem prejudicar o domínio dos movimentos e a
consciência dos segmentos corporais, influenciando
Resultados
diretamente no desenvolvimento neuropsicomotor, o
objetivo deste trabalho foi avaliar o Esquema e Imagem
Corporal de crianças e adolescentes em idade escolar, As crianças e adolescentes que não possuem patologia
portadoras da Síndrome de Down e em crianças e adoles- neurológica, em estudo, não apresentaram alterações do
centes que não apresentam patologias neurológicas, com a Esquema e Imagem Corporal, de acordo com a tabela,
jogo de encaixe da boneca, e desenho da figura humana.
finalidade de constatar possíveis disfunções destes compo-
Já as crianças com Síndrome de Down, apresentaram
nentes da psicomotricidade.
atrasos que serão expostos a seguir:
Materiais e métodos Fig.1 – Gráfico demonstrando a porcentagem de crianças com
SD que conseguiram apontar em si os segmentos da parte do corpo humano
Os sujeitos que contribuíram para esta pesquisa foram (cotovelos, ombros, boca, sombrancelha, queixo, tornozelo, quadril, pescoço,
16 crianças portadoras da Síndrome de Down, sendo 10 do polegar, punhos, lábios) pela tabela modificada do Esquema Corporal de
sexo masculino e 6 do sexo feminino, com idade entre 6 e Bérges & Lézine [6].
15 anos e 13 sujeitos de uma escola de Ensino Fundamental,
sendo 6 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idade
entre 6 e 15 anos.
Todas as crianças deveriam ter cognitivo preservado,
para a compreensão da aplicação do teste, verbalização
preservada, controle motor suficiente para segurar um lápis,
nenhuma outra patologia neurológica associada à Síndrome
de Down.
Foram utilizados os seguintes materiais para a aplicação
dos testes: Questionário destinado aos responsáveis sobre o Os resultados do esquema corporal, obtidos pela tabela
desenvolvimento motor da criança; folha de papel sulfite modificada do Esquema Corporal, (Fig. 1), onde os
para desenho; lápis grafite HB para cada sujeito desenhar; indivíduos deveriam apontar as partes do seu corpo,
uma tabela de avaliação do Esquema Corporal para cada demonstram que 31% acertaram 11 segmentos do corpo
criança; jogo de encaixe: de cartolina e velcro com o desenho solicitados (todos); 31% acertaram de 8 a 10 segmentos;
do corpo humano (boneca) dividido em cabeça, tronco, 19% acertaram de 5 a 7 segmentos do corpo; 19% dos
membros superiores e inferiores. mesmos acertaram de 1 a 4 segmentos do seu corpo.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 21

Fig. 2 – Gráfico demonstrando a porcentagem de crianças com S.D que Os resultados do esquema corporal, obtidos pela tabela
conseguiram apontar no educador os segmentos da parte do corpo humano modificada do Esquema Corporal (Fig. 4), onde os indivíduos
(cotovelos, ombros, boca, sombrancelha, queixo, tornozelo, quadril, pescoço, deveriam dizer o nome dos segmentos do corpo indicados
polegar, punhos, lábios), pela tabela modificada do Esquema Corporal de no educador, demonstram que: 25% não souberam dizer o
Bérges & Lézine [6]. nome dos segmentos corporais solicitados; 19% responderam
de 1 a 4 segmentos do educador; 25% responderam de 5 a
7 segmentos; 25% disseram 11 segmentos solicitados (todos);
e 6% responderam de 8 a 10 segmentos.
Fig. 5 – Gráfico demonstrando a porcentagem de crianças com SD que
conseguiram montar o jogo de encaixe representado por uma boneca, elaborada
pelos autores De Meur & Staes [8].
Os resultados do esquema corporal, obtidos pela tabela
modificada do Esquema Corporal, (Fig. 2), onde os indivíduos
deveriam apontar no educador os segmentos corporais,
demonstram que, 31% acertaram entre 5 e 7 segmentos;
25% acertaram 11 segmentos solicitados (todos); 25%
acertaram entre 8 e 10 segmentos; e 19% dos indivíduos
acertaram entre 1 e 4 segmentos do corpo do avaliador.
Fig. 3 – Gráfico demonstrando a porcentagem de crianças com
SD que conseguiram dizer o nome dos segmentos (cotovelos, ombros,
boca, sombrancelha, queixo, tornozelo, quadril, pescoço, polegar,
punhos, lábios) do corpo indicados em si, pelo educador, pela tabela Os resultados do esquema corporal, obtidos pela
modificada do Esquema Corporal de Bérges & Lézine [6]. montagem da boneca (Fig. 5), demonstram que metade (50%)
das crianças colocaram corretamente todas as partes (9
segmentos); 19% colocaram corretamente 5 segmentos; 13%
colocaram corretamente 8 segmentos; 6% colocaram
corretamente 4 segmentos do jogo de encaixe; 6% colo-
caram 7 segmentos corretamente; e 6% recusaram em
realizar a tarefa.
Fig. 6 – Gráfico demonstrando a idade correspondente de cada criança de
Os resultados do esquema corporal, obtidos pela tabela acordo com o desenho da figura humana, pela interpretação dos conhecimentos
modificada do Esquema Corporal (Fig. 3), onde os indivíduos dos autores Di Leo [4], Chazaud [5], Meredieu [7] e com auxílio de uma
deveriam dizer o nome dos segmentos do corpo indicados psicóloga.
em si, pelo educador, demonstram que 25% responderam
entre 1 e 4 segmentos indicados; 25% disseram o nome de
5 a 7 segmentos indicados; 25% responderam 11 segmentos
solicitados (todos); 19% não souberam dizer o nome da
parte do corpo indicada; e 6 % responderam entre 8 e 10
segmentos.
Fig. 4 – Gráfico demonstrando a porcentagem de crianças com SD que
conseguiram dizer o nome dos segmentos (cotovelos, ombros, boca,
sombrancelha, queixo, tornozelo, quadril, pescoço, polegar, punhos, lábios)
do corpo indicados no educador, pela tabela modificada do Esquema Corporal
de Bérges & Lézine [6].

Os resultados da imagem e esquema corporal, obtidos


pelo o desenho da figura humana, interpretados baseando
nos conhecimentos dos autores [7-9] (Fig. 6), demonstram
que 25% apresentaram idade psicomotora de 5 anos
inferior a sua idade cronológica; 19% apresentaram idade
psicomotora de 6 anos inferior a sua idade cronológica;
22 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

19% apresentaram idade psicomotora de 9 anos inferior desordens comportamentais [7]. O desenho, em que a
a sua idade cronológica; 13% apresentaram idade criança faz a figura humana, mostra em qual estágio de
psicomotora de 7 anos inferior a sua idade cronológica; integração do Esquema Corporal ela se encontra [4].
6% apresentaram idade psicomotora de 10 anos inferior As crianças e adolescentes portadores da SD precisaram
a sua idade cronológica; 6% apresentaram idade de um tempo maior para a realização dos testes -
psicomotora de 11 anos inferior a sua idade cronológica; aproximadamente 30 minutos cada um – e as crianças do
6% apresentaram idade psicomotora de 4 anos inferior a grupo controle realizaram o teste em menos de 15 minutos.
sua idade cronológica e 6% não souberam representar-se. Através dos resultados obtidos, notamos a significativa
alteração do Esquema e Imagem Corporal das crianças
Discussão portadoras da Síndrome de Down.
Todos os indivíduos sem deficiência neurológica
As crianças com Síndrome de Down podem apre- acertaram 100% da tabela de Bergès & Lézine [1] modi-
sentar dificuldades na integração dos sistemas visual e/ ficada, além do jogo de encaixe representado por uma
ou proprioceptivo; problemas na seleção sensorial, o que boneca, elaborada pelos autores [8]. Esses indivíduos não
significa uma falta de habilidade para selecionar uma tiveram atraso da idade psicomotora em relação a idade
modalidade sensorial para o controle postural quando há cronológica.
diferentes informações chegando sobre a posição do corpo Aproximadamente 81% dos indivíduos portadores da
no espaço [3]. Síndrome de Down não acertaram todos os itens da tabela
Os distúrbios do Esquema Corporal dificilmente podem do Esquema Corporal, e de acordo com Bergès & Lézine
ser isolados, embora sejam fundamentais. A apreensão do [1], quando o indivíduo não identifica as partes do corpo,
espaço e consciência do corpo são correlativos; mas o apresentam disfunção do Esquema Corporal. Cerca de
esquema corporal supõe também identificação, imitação, 19% desses indivíduos, acertaram toda a tabela.
experimentação práxica. As crianças deficientes apresen- Pela análise do Esquema Corporal, 50% dos indivíduos
tam, de fato, prejuízos da discriminação direita/esquerda, encaixaram corretamente as partes da boneca e 44% dos
de localização dos dedos [8]. indivíduos encaixaram as partes do corpo de forma
Qualquer perda da orientação do nosso corpo, também incorreta. Segundo De Meur & Staes [8], a montagem da
levará a uma perda de orientação em relação ao corpo dos boneca desenvolve noções do Esquema Corporal, e
outros. Uma falha de integração das vias de percepção traz quando os indivíduos tem o Esquema Corporal preservado,
dificuldades na percepção do próprio mundo e, portanto, não apresentarão erros ao encaixar as partes do corpo. Os
na possibilidade de adaptação correta num mundo mal per- indivíduos que não conseguiram realizar a montagem
cebido, ou mal ajustamento ao mundo [2]. correta da boneca, segundo De Meur & Staes [8], possuem
Pode-se perceber estes distúrbios da orientação pelo a representação corporal prejudicada, o que indica um
desenho, segundo Di Leo [4], a criança não conhece as distúrbio do Esquema Corporal. Uma criança (6%) se
partes de seu corpo quando: a criança desenha uma figura recusou a realizar a avaliação e apresentou um compor-
humana, seu desenho é bem pobre para a sua idade; as tamento agressivo.
partes estão mal dispostas; a criança executa seu desenho Através da análise dos desenhos da imagem do próprio
por meio de uma justaposição de detalhes; revela-se incapaz indivíduo, todos os portadores da Síndrome de Down
de reconstruir um boneco articulado, ignora o vocabulário tiveram alterações da idade psicomotora. Cerca de 94% dos
corporal, não situa bem seus membros ao gesticular, não indivíduos apresentaram alteração da sua idade psicomotora,
percebe bem a posição de seus membros, ou por falta de relacionada com sua idade cronológica. De acordo com Di
concentração, ou porque ainda não descobriu todas as Leo [4], quando o indivíduo representa-se através de um
possibilidades espaciais de seu corpo. Não imita bem um desenho indica o estágio da integração do esquema corporal
exercício apresentado. Seus gestos do dia-a-dia não são em que ela se encontra. Uma criança (6%) não soube
harmônicos. representar-se, desenhando flores ao invés de si.
Assim, a análise do desenho foi a forma de avaliarmos As crianças portadoras de SD tendem a manipular e
a possibilidade de um distúrbio da imagem e esquema explorar menos, talvez pela sua menor habilidade motora
corporal, nas crianças e adolescentes portadores da que é evidentemente necessária para a manipulação, então
Síndrome de Down. a estimulação propiciada pelo meio em que a criança vive
No estudo dos desenhos, o pesquisador estabelece o tem grande importância [5].
grau em que um dado encontrado se relaciona com os De acordo com Regen [9], os objetivos principais de
significados atribuídos a ele. As crianças, que ainda não um programa de intervenção precoce por fisioterapeutas
têm desenvolvido a orientação espacial, podem desenhar para o tratamento destas disfunções é aumentar o poten-
a figura humana de cabeça para baixo ou de lado, e as cial de cada criança, através de um estudo no seu ambiente
crianças que desenham figuras desarticuladas evidenciam familiar e na instituição em que convivem, designando assim,
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 23

o ritmo e a velocidade dos estímulos; maximizar o potencial Referências


dos pais, de modo em que interajam com as crianças
fornecendo mutualidade precoce na comunicação e afeto, e 1. Bergès & Lézine. Test d’imitation de gestes. Paris: Masson;
prevenir o advento de patologias emocionais e cinestésicas; 1972.
disseminar informações, auxiliando novas for mas 2. Pueschel S. Síndrome de Down: Guia para pais e
terapêuticas. educadores. 2a ed. São Paulo: Papirus; 1995.
O portador da síndrome de Down necessita de 3. Grüspun H. Distúrbios psiquiátricos da criança. 3 a ed.
São Paulo: Atheneu; 2000.
constantes treinamentos para desenvolver suas habilidades
4. Sarro KJ, Salina ME. Estudo de alguns fatores que
sensoriais e psicomotoras. Deve-se encorajá-lo a explorar
influenciam no desenvolvimento das aquisições motoras
o seu universo, com liberdade e segurança, através das de crianças portadoras de Síndrome de Down em
atividades da vida cotidiana, tais como tomar banho, tratamento fisioterápico. Fisioter Mov 1999;13(1).
vestir-se, comer sozinho [9]. 5. Di Leo. A interpretação do desenho infantil. 3a ed. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul; 1991.
Conclusão 6. Chazaud J. Introdução à psicomotricidade: síntese dos
enfoques e dos métodos. 1 ed. São Paulo: Manole; 1976.
7. Meredieu F. O desenho infantil. 1a ed. São Paulo: Cultrix;
Concluiu-se que os portadores da Síndrome de Down 1974.
em estudo apresentaram alteração do Esquema e Imagem 8. De Meur A, Staes L. Psicomotricidade: Educação e
Corporal. E essas disfunções, provavelmente, podem reeducação - níveis maternal e infantil. 1a ed. São Paulo:
influenciar negativamente no seu desenvolvimento Manole; 1984.
psicomotor. 9. Regen M. Estimulação precoce: habilitação da criança
portadora de deficiência mental. In: Diament A, Cepel S.
Neurologia infantil: Lefevre. São Paulo: Atheneu; 1990. 
24 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Artigo original

Efeitos da vibração sonora de baixa freqüência


na espasticidade e controle motor de pacientes
de acidente vascular encefálico e reflexo
tônico cervical assimétrico
Sound low frequency vibration on spasticity and motor control
in stroke patients and asymmetrical cervical tonic reflex

Graziela Saraiva Reis*, Lúcia Souza Magro*, Nivaldo Antônio Parizoto, D.Sc.**,
Paulo Umeno Koeke, M.Sc.***, Flávio Pulzatto****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar,**Fisioterapeuta, Orientador Específico do
Programa de Pós-graduação Interunidades Bioengenharia - EESC/FMRP/IQSC – USP, Docente do Programa de Pós-Graduação em
Fisioterapia – UFSCar, ***Fisioterapeuta, Programa de Pós-graduação Interunidades Bioengenharia – EESC/FMRP/IQSC – USP,
Professor da disciplina de Anatomia do curso de Fisioterapia e Enfermagem das Faculdades Católicas Salesianas – Araçatuba – SP,
****Fisioterapeuta, Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia – UFSCar

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da terapia vibratória The aim of this study was to evaluate the effect of the sound
de baixa freqüência na inibição da espasticidade. Foram estudados 8 vibration of low frequency on spasticity inhibition. We used 8
voluntários, os quais haviam sofrido acidente vascular encefálico volunteers which had suffered stroke. A generator of sound low
(AVE). Aplicou-se um gerador de intra-som (15 sessões) no tendão frequency probe (15 sessions) was applied in the distal tendon of
distal do músculo tríceps braquial do lado afetado. A evolução dos the triceps brachial muscle of the affected side. The evolution of
voluntários foi avaliada através da goniometria e de uma ficha de the volunteers was evaluated through goniometry and evaluation
avaliação de desempenho nas AVDs. O relato dos voluntários e/ of performance in the diary activities. The report of the volunteers
ou acompanhantes, indicaram melhora no controle motor e maior and/or companions had indicated improvement in the motor
independência, além disso, observaram-se ganhos consideráveis de control and better independence, moreover, observed considerable
amplitude de movimento total da articulação do cotovelo. Estes profits the range of movement of the elbow (active and passive).
resultados sugerem que a terapia permitiu padrões motores mais These results suggest that the therapy allowed motor standards
próximos da normalidade. Assim, podemos concluir que a vibração close to the normality. Thus, we can conclude that the vibration
de baixa freqüência atuou positivamente sobre alguns aspectos da of low frequency sound acted positively on some aspects of the
espasticidade, e que ela pode ser usada como recurso auxiliar e spasticity, and that it can be used as additional resource and to
complementar ao tratamento fisioterapêutico convencional. complement the conventional physical therapy treatment.
Palavras-chave: terapia vibratória, espasticidade, AVE. Key-words: vibratory therapy, spasticity, stroke.

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Introdução As ações fisiológicas da terapia vibratória de baixa freqüência


são diversas e de acordo com Hagbarth et al. [1]; Radovanovic
A terapia vibratória de baixa freqüência vem sendo et al. [2]; Figuière et al. [3]; Bisschop et al. [4] e Crepon [5] este
estudada há algum tempo, porém a sua utilização dentro da tipo de terapia pode modificar a circulação arteriocapilar, pois
fisioterapia ainda não é muito freqüente. vibrações de pequenas amplitudes provocam vasodilatação com

Recebido 16 de junho de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Nivaldo Antonio Parizotto, Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal
de São Carlos, Via Washington Luís, km 235, CP 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP, Brasil, Tel: (16) 2608630 E-mail: parizoto@power.ufscar.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 25

aumento da temperatura cutânea local e aquelas de amplitudes pressão exercida pelo aplicador era equivalente a sensação de
maiores causam vasoconstrição. Há, também, a ação sobre o toque do cabeçote de vibração com o osso sob o tendão.
trofismo ósseo, contribuindo para a consolidação pós-fratura, A análise estatística dos resultados obtidos foi feita pelo
pois compressões mecânicas estimulam os efeitos piezoelétricos teste de ANOVA para medidas repetidas e teste Post hoc de
das estruturas cristalinas dos ossos. Outra ação é a antálgica, Duncan para testar as diferenças na evolução (p d” 0,05).
proveniente da ação de mecanoreceptores cujas aferências
bloqueiam os influxos algogênicos ao nível medular. No aparelho Resultados
respiratório, pode aumentar a ventilação e diminuir a viscosidade
da secreção. Foram observados ganhos significativos na ADM da
Além dessas ações, a vibração de baixa frequência tam- articulação do cotovelo após a aplicação da terapia vibratória
bém tem importante ação neuromuscular [1-4]. de baixa freqüência, tanto na flexão (figura 1), como na
Neste trabalho, o nosso objetivo foi avaliar os efeitos extensão (figura 2). A figura 3 mostra a evolução da ADM
da terapia vibratória de baixa freqüência na espasticidade total da articulação do cotovelo em três momentos: antes
de indivíduos portadores de reflexo tônico cervical assimé- do início do tratamento; logo após o término do tratamento
trico (RTCA), através do relato destes pacientes e da e 15 dias após o término do tratamento.
mensuração goniométrica. O teste Post Hoc de Duncan, mostrou que as diferenças
estão entre os momentos antes e logo após (p = 0,003) e
Material e métodos também entre os momentos antes e 15 dias após (p =
0,0006). E que não há diferenças entre os momentos logo
Esse trabalho foi realizado na Unidade Especial de Ensino após e 15 dias (p = 0,4454).
Pesquisa e Extensão em Fisioterapia, na Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar). Participaram do estudo 8 indivíduos Fig. 1 – Valores em graus relativos a goniometria da articulação do cotovelo
para o movimento de flexão ativa nos momentos: antes, logo após e 15 dias
adultos que haviam sofrido AVE, sendo 5 pacientes hemiplégicos
após o tratamento por terapia vibratória.
à esquerda e 3 à direita, de ambos os sexos (5 mulheres e 3
homens), com idade variando entre 64 e 78 anos.
Os critérios de inclusão foram: presença de graus leve,
moderado ou grave de espasticidade, padrão de RTCA e
alguma deficiência do controle motor. Já os critérios de
exclusão foram: presença de neoplasias, processos infeccio-
sos e inflamatórios agudos no local da estimulação.
Uma avaliação física inicial determinou a presença da
espasticidade, do RTCA e de distúrbios do controle motor, e
ainda nesta avaliação foi mensurada, através de goniometria, a
amplitude de movimento da articulação do cotovelo a ser tratado.
Outras duas avaliações idênticas à inicial foram realizadas, uma
sendo 2 dias após a última sessão de tratamento e a segunda, 15
dias após esta última. O período total de tratamento foi de 35
dias, com 15 sessões de terapia vibratória 3 vezes por semana,
com um intervalo de 48 horas entre cada sessão. Entre a primeira Fig. 2 – Valores em graus relativos a goniometria da articulação do cotovelo
e a segunda reavaliação não houve qualquer tipo de tratamento para o movimento de extensão ativa nos momentos: antes, logo após e 15
adicional, assegurando a fidelidade da segunda reavaliação quanto dias após o tratamento por vibração.
ao efeito da terapia aplicada. O objetivo era comparar evolução
dos pacientes quanto à goniometria e controle na realização das
AVDs, tendo cada sujeito como próprio controle. A goniometria
era realizada antes e após cada sessão com o voluntário sentado
e com a cabeça na linha média.
A terapia vibratória foi aplicada utilizando-se um
equipamento gerador de intra-som de baixa freqüência da
marca NOVAFON modelo SK2, com freqüência principal
de 100 Hz, 7cm² de área do cabeçote e oscilação entre 1 e 2
mm. O tempo de aplicação era de 15 minutos com o cabeçote
mantido no mesmo lugar durante todo este período, em
contato direto com a pele, perpendicularmente ao tendão
(inserção) do músculo tríceps braquial do lado afetado. A
26 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Fig. 3 – Valores em graus relativos a goniometria da articulação do cotovelo Alguns pacientes relataram ter sentido o braço com mais
para o arco de movimento ativo nos momentos: antes, logo após e 15 dias força na realização de serviços domésticos e AVDs.
após o tratamento por vibração.
Discussão

Os resultados apresentados neste trabalho são sugestivos


de que a terapia por vibração nas baixas freqüências sonoras
interfiram sobre mecanismos da espasticidade, ao menos nas
condições descritas para os parâmetros utilizados. Os possíveis
mecanismos explicativos para isso são descritos a seguir.
No estudo feito por Hagbarth et al. [1], demonstraram
que as aferências musculares são importantes no controle
motor e que a vibração pode modulá-las, tendo assim,
aplicação terapêutica. Esses autores observaram também que
após a vibração, o músculo apresenta uma resposta reflexa
de contração sustentada e relaxamento simultâneo do seu
antagonista. A vibração aumenta o influxo aferente final do
fuso muscular primário e permite a contração reflexa desse
A sensação causada pela vibração foi descrita de maneiras músculo, o chamado reflexo tônico de vibração (RTV) [2].
diferentes pelos voluntários. Segundo Figuière et al. [3], a vibração aplicada no tendão
Nos portadores de espasticidade severa, por exemplo, a muscular produz uma sensação ilusória de movimento, que
vibração foi sentida inicialmente como um “formigamento” pode levar ao alongamento do músculo no qual a vibração
leve na região do epicôndilo lateral e com o decorrer das sessões, está sendo aplicada. A sensação ilusória de movimento está
ela passou a ser percebida no antebraço e mão. Quando os usualmente associada a uma resposta tônica excitatória no
efeitos da vibração atingiram a mão, ela manteve-se com certa músculo antagonista ao músculo que está sendo vibrado
abertura que perdurava do final de uma sessão até o início da (resposta vibratória antagonista ou RVA).
outra, possibilitando aos pacientes realizarem a abdução dos De acordo com Bisschop et al. [4], a vibração de baixa
dedos, antes impossível. Alguns pacientes relataram que freqüência exerce importante ação neuromuscular, pois os
conseguiram até realizar parte de sua higiene sozinho, não reflexos tendinosos podem ser abolidos ou ao menos
necessitando da ajuda de familiares e acompanhantes. A atenuados com freqüências de 100Hz. Vibrações aplicadas
resistência à extensão passiva do cotovelo após as aplicações durante o reflexo miotático geram o RTV que é, na verdade,
diminuiu, perdurando após o término das 15 sessões. a permanência do reflexo miotático enquanto a vibração
Nos pacientes com espasticidade moderada, a vibração perdura, através de uma série de estiramentos. É por isso
foi sentida como “formigamento” logo de início desde o local que se recomenda esse tipo de vibração para promover
da aplicação até à mão, com movimentos espontâneos dos estados de relaxamento e inibição nos episódios espásticos
dedos. Além disso, sentia-se contrações musculares no local. centrais.
A abertura da mão também ocorreu de forma prolongada Conforme os resultados apresentados em nosso trabalho,
(do final de uma sessão ao início da outra). Outro relato a terapia vibratória provoca efeito prolongado, porém, ainda
interessante feito pelos pacientes foi que o membro submetido não está claro. No estudo de Hagbarth et al. [1], foi observado
à vibração “ficava mais leve” após as sessões. Também houve que os pacientes submetidos a tal técnica, tiveram uma
ganhos interessantes quanto à extensão do cotovelo e a notável melhora em suas atividades de vida diária (AVDs),
resistência ao movimento passivo de extensão do cotovelo poucos dias após o encerramento do tratamento com a
foi menor do que nos pacientes com espasticidade severa. vibração.
No grupo dos pacientes com espasticidade leve, além Canning et al. [6], observaram que após um AVE, as
do ganho na extensão de cotovelo, eles também sentiram a pessoas apresentam diminuição de destreza e de coordena-
vibração como um “formigamento” no cotovelo até a mão, ção, relacionada principalmente ao excesso de ativação do
observou-se abertura da mesma. É interessante ressaltar músculo bíceps braquial.
que nesses pacientes, o dedo indicador foi o que mais Baseado nas informações dos estudos citado nesta discussão
apresentou abertura, perdurando mais ou menos 48 horas. pode-se acreditar que a nossa proposta terapêutica foi benéfica
A resistência ao movimento passivo de extensão do cotovelo para diminuição da espasticidade do bíceps (princípio da
ao final das mesmas era praticamente nula. Ademais, os inervação recíproca), já que em nosso estudo os pacientes
pacientes relatavam sensação de “leveza” no braço vibrado tiveram um aumento da destreza, da coordenação e da força
que durava até o início da próxima sessão e continuou após muscular (de acordo com os relatos dos pacientes). A associação
o término das 15 sessões. desses fatores proporcionou um ganho de amplitude da
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 27

extensão ativa do cotovelo com o decorrer das sessões. Notou- Referências


se que houve uma persistência dos valores de ADM no período
após 15 dias do tratamento, havendo, portanto, uma 1. Hagbarth K, Hagbarth E, Eklunk G. The effects of muscle
permanência nos resultados durante este período. vibration in spasticity, rigidity and cerebellar disorders. J Neurol
No presente estudo também pudemos notar que todos os Neurosurg Psychiat 1968;31:207-13.
voluntários e seus familiares relataram melhora no desempenho 2. Radovanovic S, Járic S, Milavonic S, Vukcevic I, Ljubisavljevic
das AVDs. Alguns que não conseguiam fazer sua própria higiene M, Anastasijevic R. The effects of prior antagonist muscle
vibration on performance of rapid movements. J Eletromyogr
sozinha passaram a fazê-la por completo, ou pelo menos, parte
Kinesiol 1998; 8:139-45.
dela. Já os voluntários que eram relativamente independentes,
3. Figuière SC, Romaiguère P, Gilhodes JC, Roll JP. Antagonist
passaram a ajudar no serviço doméstico. motor responses correlate with kinesthetic illusions induced
by tendon vibration. Exp Brain Res 1999;124:342-50.
Conclusão 4. Bisschop G, Bisschop E, Commandré F. Vibrações mecânicas.
Eletrofisioterapia. 1a ed. São Paulo: Livraria Santos; 2001.
O uso da terapia vibratória de baixa freqüência parece 5. Crepon F. Eletrofisioterapia e reeducação funcional. São Paulo:
Lovise; 1996. 191p.
ser eficaz na diminuição da espasticidade, pois se observou
6. Canning CG, Ada L, O’Dwuer NJ. Abnormal muscle activation
benefício na qualidade de vida dos pacientes, como: aumento characteristics associated with loss of dexterity after stroke. J
da amplitude articular do cotovelo, melhora do controle Neurol Sci 2000; 176:45-56. 
motor, do estado emocional e na autoconfiança.
Assim, concluímos que a terapia vibratória pode ser usada
como coadjuvante ao tratamento de fisioterapia convencional.
28 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Artigo original

Efeitos da facilitação neuromuscular proprioceptiva na


performance funcional de mulheres mastectomizadas
Effects of proprioceptive neuromuscular facilitation
on functional performance of mastectomized women

Patrícia Viviane Gallo Nogueira*, Elaine C. O. Guirro**, Rinaldo R. J. Guirro**, Valéria A. Palauro***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Mestranda em Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba/ Docente da UNICASTELO – Campus Descalvado,


**Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia FACIS – Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP – Professor,
***Graduação em Fisioterapia FACIS – UNIMEP – aluno

Resumo Abstract
O câncer de mama é uma das principais causas de mortalidade The mamma cancer is one of the most causes of mortality
entre as mulheres. Ocupa o primeiro lugar entre os cânceres em between women. Concerning surgery interventions, it is in the
número de intervenções cirúrgicas, acarretando várias alterações, first place and leads to several disorders such as muscle weakness
dentre elas a fraqueza muscular e limitação da amplitude de and limitations on the movement amplitude (MA) at the same
movimento (ADM) homolateral à cirurgia. O estudo teve como side of the surgery. The purpose of this study was to evaluate the
objetivo verificar a atividade e força dos músculos deltóide médio activity and the force of the medial and superior portions of the
(DM) e trapézio superior (TS), bem como a ADM de mulheres deltoid muscle and the MA of women with recent and late
submetidas à mastectomia radical modificada recente e tardia, após modified radical mastectomy after a training with proprioceptive
treinamento utilizando a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva neuromuscular facilitation exercises, 2 times a week, during 8 weeks.
(PNF), 2 vezes semanais, por 8 semanas. Foram selecionadas 12 Twelve volunteers (56.2 ± 11.8 years) were divided into two groups:
voluntárias entre 40 e 70 anos (56,2 ± 11,8), separadas em 2 grupos: 1 – recent modified radical mastectomy (until 2 years of surgery);
1 – mastectomia radical modificada recente (até 2 anos de cirurgia); 2 – late modified radical mastectomy (greater than 2 years). The
2 – mastectomia radical modificada tardia (acima de 2 anos). Os dates obtained before and after the treatment were analyzed by
dados eletromiográficos colhidos pré e pós-intervenção, foram the normality KSL test for force and non-normalized wrapper.
analisados através do teste de normalidade KSL para força e envoltória Also the goniometry was verified before and after the treatment.
não normalizada (ENN). A análise também constou da goniometria The results showed that there was a significantly increase on the
pré e pós-intervenção. Os resultados demonstraram aumento activation and force (p < 0.0001) of the muscles and on the MA
significativo (p < 0,0001) na ativação e força dos músculos analisados, (p ≤ 0.02), which were more evident on the recent group. Therefore,
bem como aumento na ADM (p ≤ 0,02), sendo mais evidente no it is possible to conclude that the training protocol was efficient
grupo recente. Conclui-se que o protocolo proposto foi eficaz mainly for the first group, where the intervention was performed
principalmente no grupo 1, onde a intervenção ocorreu mais more precociously.
precocemente. Key-works: breast cancer, mastectomy, proprioceptive
Palavras-chave: câncer de mama, mastectomia, facilitação neuromuscular facilitation, electromyography.
neuromuscular proprioceptiva, eletromiografia.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução sexualidade e a própria imagem pessoal, além dos


desconfortos e debilidades físicas [1].
O câncer de mama no Brasil é a principal causa de morte Para o tratamento do câncer de mama, classicamente
entre as mulheres, causando grande temor entre as mesmas, dispõe-se de terapêuticas como a mastectomia, compreen-
pelos efeitos psicológicos que afetam a percepção da dida na técnica cirúrgica de retirada da mama, sendo

Recebido 18 de junho de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Patrícia Viviane Gallo Nogueira, Rua Dr. Anastácio Vianna, 1771 Jardim Belém 13690-000 Descalvado
SP, Tel: (19) 3583-8120, E-mail: patyvgallo@terra.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 29

realizada de acordo com o quadro de cada paciente, podendo de analisar o recrutamento da musculatura durante os
ainda ocorrer o esvaziamento de nodos linfáticos axilares padrões das diagonais primitivas. Foi observado, através
(linfadenectomia). da EMG, que ocorre ativação efetiva principalmente do
A mastectomia pode acarretar uma série de músculo deltóide fibras anterior e média, durante
complicações físicas e motoras como: infecção, linfedema, realização da diagonal primitiva (flexão-abdução-rotação
limitação da capacidade funcional do braço e do ombro, externa e extensão-adução rotação interna) [10].
dor e parestesia, podendo colocar em risco o desempenho Atualmente, a EMG é empregada na avaliação de
das atividades de vida diária e dos papéis da mulher doenças neuromusculares, e como instrumento para o
mastectomizada [2,3]. estudo da função muscular. A EMG cinesiológica é
As complicações como a restrição na funcionalidade utilizada extensamente no estudo da atividade muscular
do ombro, linfedema e alteração de sensibilidade, estão e no restabelecimento do papel de diversos músculos em
intimamente relacionadas com a associação da técnica atividades específicas [11].
cirúrgica escolhida onde ocorre dissecção de linfonodos Sendo assim, a compreensão de todas as possíveis seqüelas
axilares após radioterapia [4]. pós-mastectomia, em especial a limitação da amplitude de
A cirurgia do câncer de mama está associada a seqüelas movimento e redução da força muscular do membro
e complicações em até 70% dos casos, afetando envolvido, bem como a reabilitação de tais complicações se
negativamente a qualidade de vida das pacientes. Esta alta tornou o foco principal neste estudo, aplicando como
morbidade faz com que cada vez mais se intensifiquem as intervenção o método de Facilitação Neuromuscular.
pesquisas para tornar o procedimento menos agressivo [5].
Em estudos, foram observados que comprometi- Materiais e métodos
mentos como o linfedema e a limitação da ADM na
articulação do ombro, abalam a rotina de pacientes Foram selecionadas 12 voluntárias adultas do sexo
mastectomizadas diminuindo a qualidade de vida das feminino, com idade variando entre 40 e 70 anos (56,2
mesmas por impossibilitar e/ou limitar suas atividades ± 11,8), sedentárias, apresentando mastectomia radical
de vida diária [6]. modificada recente ou tardia, sendo divididas em 2 grupos,
A terapia física incluindo exercícios, eletroestimulação cada qual correspondendo com o tempo de cirurgia (Grupo
e drenagem linfática são métodos de extrema importância 1 – recente/ tempo de cirurgia de até 2 anos, composto
para evitar que o linfedema se instale, além de se obter um por 6 mulheres; Grupo 2 – tardia/ tempo de cirurgia maior
aumento e/ou manutenção da ADM na articulação do que 2 anos, também composto por 6 mulheres).
ombro homolateral à cirurgia [7]. Foi utilizado como critério de exclusão, portadoras de
A equipe de saúde exerce um papel importante na traumas na região do ombro e cintura escapular, sinais
prevenção, profilaxia e tratamento de tais complicações. clínicos patológicos e/ou instabilidade articular,
Nesse sentido, a prática de atividade relacionadas à hipertensas e que possuíssem linfedema.
reabilitação física de mulheres pós-cirurgia por câncer de A pesquisa foi conduzida de acordo com o Conselho
mama, tem sido um desafio para vários pesquisadores [8]. Nacional de Saúde (Resolução 196/96), sendo analisada
Dentre tais atividades é preciso chamar a atenção para e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade, sob
as orientações e prescrição de exercícios físicos específicos protocolo número 39/2002. As voluntárias foram
para membro superior pós-mastectomia, pois estas tem informadas sobre os procedimentos utilizados no estudo
sido de grande importância para prevenir a limitação e assinaram um termo de consentimento.
articular no ombro, alterações posturais entre outras.
A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (PNF) Instrumentação
no processo de reabilitação promove melhora da condição
física do indivíduo por dar condições de acelerar a resposta Para o registro eletromiográfico foi utilizado um módulo
do mecanismo neuromuscular por meio da estimulação condicionador de sinais analógico/digital de 12 bits de
de proprioceptores além de receptores táteis, visuais e resolução, 16 canais de aquisição e freqüência de amostragem
auditivos [9]. de 1.000 Hz (Modelo CAD 12/32 da Lynx Eletronics Ltda).
Os procedimentos básicos da PNF podem ser usados Esse condicionador de sinais possui filtro analógico do tipo
no tratamento de pacientes com qualquer diagnósticos Butterworth de passa-alta (10 Hz) e passa-baixa (500 Hz), e
ou condição, podendo ser adaptados de acordo com o caso, o ganho interno de 100 vezes para este experimento.
trazendo benefícios como aumento da força, diminuição Para a captação dos sinais foram utilizados dois
da fadiga muscular, além de auxiliar no aumento ou eletrodos ativos diferenciais simples de superfície (Lynx
manutenção da amplitude de movimento [9]. Eletronics Ltda), constituído de duas barras paralelas de
A literatura aponta que a realização da PNF prata, cada uma com 1 cm de comprimento, 1 mm de
monitorada pela eletromiografia (EMG) tem a finalidade largura e distanciadas 1 cm entre si, fixas em um
30 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

encapsulado de poliuretano (20 mm x 33 mm x 5 mm), mesmo durante a coleta dos sinais. Para a CIVM foi utilizado
ganho de 20 vezes, modo de rejeição comum (CMRR) de o comando verbal sempre pela pesquisadora, de forma
> 80 dB e impedância de entrada maior que 100. Para vigorosa objetivando modular a força e a duração da resposta
redução dos ruídos de aquisição foi utilizado um eletrodo requerida. Os sinais foram coletados 3 vezes dando 2 minutos
retangular (33 x 31 mm) de aço inoxidável como eletrodo de descanso entre uma coleta e outra a fim de evitar a
de referência (terra). fadiga.
Para avaliar a força muscular dos músculos do O eletrogoniômetro foi fixado com o auxílio de fita
complexo de ombro, foi acoplada ao eletromiógrafo uma adesiva (Micropore) paralelo a coluna vertebral e alinhado
célula de carga do tipo universal, construída em alumínio ao epicôndilo lateral do úmero do membro a ser analisado.
anodizado, com strain gauge, modelo MM 50 (Kratos Previamente ao início da coleta, foi realizado um
Dinamômetros Ltda.), e capacidade nominal de 50 Kgf de treino da contração isométrica voluntária máxima
tração. O seu sinal de saída é de 2 mV. (CIVM) no posicionamento proposto pelo estudo (abdução
O sinal gerado pela célula de carga durante a tração de 90º), visto que a habilidade para o movimento
exercida pela voluntária foi coletado simultaneamente influencia a magnitude dos sinais.
ao sinal eletromiográfico, através do canal 3 do
condicionador de sinais, cuja calibração e amplificação Treinamento muscular
permitiram a leitura direta na tela do computador em
quilogramas (Kgf). O treinamento muscular pré-determinado como
Neste estudo, um eletrogoniômetro constituído de um protocolo, constou de exercícios de Facilitação Neu-
potenciômetro de 10 K foi conjugado ao sistema de romuscular Proprioceptiva, em que o movimento foi
aquisição de sinais eletromiográficos, de forma que os resistido manualmente pelo pesquisador em ambos
resultados foram registrados simultaneamente aos sinais membros superiores, 2 vezes por semana por um período
eletromiográficos, com a mesma freqüência de de 8 semanas, com duração média de 1 hora cada sessão.
amostragem (1.000 Hz). Os exercícios foram aplicados, visando alongamento e
treinamento de força muscular [9], sendo mantida a
Procedimentos resistência por 15 segundos.
O padrão de PNF utilizado no protocolo foi a diagonal
Para a avaliação inicial foram realizadas a goniometria e a primitiva de flexão-abdução-rotação externa e extensão-
perimetria. A goniometria foi realizada com a utilização de adução-rotação interna (inversão lenta), realizadas sempre
um goniômetro comum avaliando todas as amplitudes de com o cotovelo estendido em um membro de cada vez. A
movimentação ativa de acordo com Hoppenfeld [12]. voluntária foi posicionada em decúbito dorsal próxima à
Em seguida, foi feita a assepsia do local utilizando gaze borda da maca, sendo orientada para manter o cotovelo
embebida em álcool 70%, para evitar que resíduos no tecido estendido.
comprometessem a qualidade do sinal.
Os eletrodos foram fixados nos pontos motores no
Processamento dos sinais
músculo deltóide fibras médias (DM) e trapézio fibras
Os dados das voluntárias de ambos grupos foram
superiores (TS), perpendicularmente à direção das fibras e
convertidos no próprio sistema do software Aqdadosâ, em
fixado com fita adesiva (Micropore) [13]. O eletrodo de
linguagem binária denominada ASCii, sendo processados
referência (terra) foi untado com gel eletrocondutor e fixado
para análise no software Matlab (versão 5.0).
por fita adesiva no epicôndilo lateral do úmero no membro Após a coleta dos sinais eletromiográficos, foram
a ser analisado. realizadas análises espectrais com o objetivo de caracterizar
A célula de carga utilizada no experimento foi fixada na a qualidade dos mesmos, bem como avaliar a envoltória
extremidade superior, a uma braçadeira se mantendo do sinal e a freqüência mediana.
perpendicular ao segmento e a extremidade inferior fixada As rotinas eletromiográficas do software Matlab foram
a uma corrente de aço, sendo esta fixada ao chão. Desta realizadas com base na envoltória não normalizada para
forma, durante a contração muscular, a célula de carga foi possibilitar a análise da diferença entre os tratamentos,
tracionada tornando possível a leitura da força exercida. visto que a utilização da envoltória normalizada anularia
Os sinais foram coletados durante 4 segundos com a estes resultados.
voluntária realizando uma contração isométrica volun-
tária máxima (CIVM) a 90º de abdução, com membro Análise estatística
superior em posição neutra, quanto à rotação escápulo-
umeral. Foi realizada uma análise exploratória dos dados pelo
O membro examinado foi posicionado a 90º em um programa SAS – JMP (Statistical Analisys Sistem), onde
dispositivo de apoio, com finalidade de se evitar a fadiga do aplicou-se o teste de normalidade de SHAPIRO – WILK, para
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 31

a variável estatística densidade espectral de potência (n < 2000), Os resultados obtidos mediante a célula de carga tiveram
e o teste de normalidade KSL para força e envoltória do sinal um aumento significativo (p < 0,0001). Com base nestes
(n> 2000), dos diferentes grupos experimentais. resultados pode-se verificar que a força de abdução gerada
Para a análise da goniometria e performance muscular na avaliação pós-intervenção foi maior (Fig. 3).
pré e pós-treinamento, em ambos grupos experimentais,
foram aplicados o teste t – Student e os testes das Ordens Fig. 3 – Valores da célula de carga pré e pós-intervenção referente ao grupo
1 – cirurgia recente (*p<0,0001).
Assinaladas de Wilcoxon/ Kruskal Wallis respectivamente.

Resultados

Efeito do treinamento no grupo recente

Os resultados obtidos pela análise da variável envoltória


não normalizada (ENN) nos músculos DM e TS pré e
pós-intervenção foram significativos (p < 0,0001, Fig. 1).
Fig. 1 – Valores da ENN para os músculos deltóide médio (DM)
e trapézio superior (TS) pré e pós-intervenção referente ao grupo
1 – cirurgia recente (*p< 0,0001).

Os dados obtidos através da goniometria previamente e


posteriormente ao treinamento apontaram também um
aumento significativo na flexão (**p < 0,001), extensão
(***p < 0,02), abdução (*****p < 0,0003), rotação
interna (****p < 0,002) e rotação externa (**p < 0,001)
do membro homolateral a cirurgia (Fig. 4).
Fig. 4 – Resultado da goniometria pré e pós-intervenção no
grupo 1 – cirurgia recente (**p< 0,001; ***p< 0,002; ****p<
0,002; *****p< 0,0003).

Os valores da freqüência mediana, também apresentaram


um aumento significativo (p < 0,0001) pré e pós-intervenção
para os músculos DM e TS (Fig. 2).
Fig. 2 – Valores da freqüência mediana para os músculos deltóide médio
(DM) e trapézio superior (TS) pré e pós-intervenção referente ao grupo 1 –
cirurgia recente (*p< 0,0001).

Efeito do treinamento no grupo 2


(cirurgia tardia)

A análise da variável envoltória não normalizada (ENN)


nos músculos DM e TS pré e pós-intervenção no grupo
considerado tardio apresentou um aumento significativo p
< 0,0001, Fig. 5).
32 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Fig. 5 – Valores da ENN para os músculos deltóide médio (DM) e Os valores referentes a goniometria do grupo considerado
trapézio superior (TS) pré e pós-intervenção referente ao grupo 2 – cirurgia tardio também apresentaram uma diferença significativa para
tardia (*p<0,0001). os movimentos de flexão (**p<0,001), abdução (***p <
0,002), rotação interna (******p < 0,0006) e rotação externa
(*****p < 0,0003) não apresentando significância (p > 0,05)
o movimento de extensão (Fig. 8).
Fig. 8 – Resultado da goniometria pré e pós-intervenção no grupo 2 –
cirurgia tardia, não apresentando significância (p>0,05) apenas no
movimento de extensão (**p<0,001; ***p<0,002; *****p<0,0003;
******p<0,0006).

Os valores referentes à freqüência mediana para o grupo


considerado tardio, não apresentou significância (p > 0,05,
Fig. 6).
Fig. 6 – Valores da freqüência mediana para os músculos deltóide (DM) e
trapézio (TS) pré e pós-intervenção referente ao grupo 2 – cirurgia tardia
(p>0,05).
Discussão

A eletromiografia é amplamente utilizada em pesquisas


que envolvem o movimento humano, as quais visam escla-
recer como o sistema nervoso central controla a contração
muscular, sendo apontada em vários estudos [10,14] como
sendo um método eficaz na identificação da atividade
muscular do complexo do ombro após a PNF, justificando
sua utilização neste estudo.
Estudos realizados por meio da EMG de superfície, para
avaliação do padrão de ativação das três porções do músculo
deltóide, apresentaram maior semelhança no padrão de
ativação as porções média e anterior, desempenhando
Os resultados da célula de carga para o grupo considerado importante papel na abdução do braço [15]. Com base
tardio se mostrou estatisticamente significativo (p < 0,0001). nestes dados, optou-se neste experimento pela colocação
Portanto a força gerada na avaliação pós-intervenção foi maior do eletrodo apenas na porção média do deltóide.
se comparada com a avaliação pré-intervenção (Fig. 7). São vários os tipos de eletrodos existentes para a análise
eletromiográfica, sendo alguns invasivos. O eletrodo de
Fig. 7 – Valores da célula de carga pré e pós-intervenção referente superfície pode ser utilizado em músculos superficiais,
ao grupo 2 – cirurgia tardia (*p<0,0001). tendo como principal vantagem a facilidade na colocação
e o conforto do paciente, por tratar-se de uma técnica
não invasiva [16].
A opção da utilização de eletrodos de superfície,
possibilitou a execução deste estudo, visto que é contra-
indicado qualquer intervenção invasiva no membro homo-
lateral a cirurgia de câncer de mama.
De Luca [13] defende a fixação dos eletrodos diferenciais
de superfície de detecção perpendicular às fibras musculares,
no ventre muscular, entre o ponto motor e o tendão. Consi-
deram, com base em pesquisas anteriores, que esta técnica
está menos sujeita a erros sistemáticos, sendo por esse motivo
a técnica utilizada neste estudo.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 33

O comando verbal e a resposta muscular estão inti- Em relação à mobilidade do ombro, Tengrup et al. [27]
mamente relacionados, ou seja, quanto mais alto e firme referem que um número considerável de mulheres que são
for o comando verbal, melhor será o desempenho do paciente submetidas ao tratamento cirúrgico da mama desenvolve,
quanto à contração muscular desenvolvida, dependendo tanto objetiva como subjetivamente, problemas no braço, e
também de outros fatores como, por exemplo, sexo, idade, que tais problemas deveriam ser identificados no seguimento
condição física e personalidade do indivíduo em avaliação de rotina. Chamam ainda atenção ao fato de que estas
[17,18]. alterações deveriam ser diagnosticadas o mais cedo possível,
Para a execução das análises, houve uma grande preo- a fim de iniciar precocemente o tratamento, evitando assim,
cupação com a reprodução exata dos movimentos neces- problemas futuros com o braço.
sários para coleta de dados, sendo que o comando verbal A perda de movimento na articulação do ombro
foi utilizado com este intento. homolateral à cirurgia associado à fraqueza dos músculos,
A repetição é outra forma de diminuir a diferença entre é uma das complicações pós-mastectomia mais comuns,
os resultados. Três repetições são consideradas suficientes apontando para a grande necessidade da prática de
para a padronização dos dados [19,20], e são normalmente exercícios com os membros superiores, podendo ser
utilizadas [21], visto que em experimentos, nos quais são iniciados de forma leve logo após a retirada do dreno [28].
testadas várias situações, a realização de um número maior Baseados em estudos realizados, Na et al. [29] concluíram
de repetições levaria à fadiga muscular dos voluntários. que a recuperação da funcionalidade do complexo do ombro
De acordo com Gertz et al. [22], a força desenvolvida pós-mastectomia, depende de um bom programa de
por um músculo em contração, depende da excitação reabilitação e de preferência iniciado precocemente.
neural que lhe é aplicada. Assim a EMG, ao medir o Existem evidências suficientes para afirmar que os
nível de excitação, pode ser utilizada como um indicador exercícios são efetivos como recurso para manter ou
de força, sendo impossível, porém, graduar qual a força melhorar a independência funcional em pacientes pós-
aplicada sendo possível, apenas, determinar com boa pre- mastectomia [30].
cisão a diferença no nível de atividade mioelétrica e conse- O objetivo do exercício não é somente restabelecer a
qüentemente a variação da força aplicada. Neste contexto, função articular, mas também estimular a circulação
a EMG pode ser utilizada para avaliação da eficácia de venosa e linfática [31].
diferentes protocolos propostos [16,23]. Os exercícios têm um papel importante na prevenção
A atividade elétrica muscular não dá informações do linfedema, principalmente, se iniciados precocemente
concernentes à força dos músculos ou ao tipo de contrações podendo ajudar a desenvolver canais linfáticos colaterais
que ocorrem. Contudo a adição de transdutores de força, nas regiões de ombros e escápulas, assumindo o trabalho
ou algum outro tipo de dispositivo de medida ao sistema de dos canais lesados pela cirurgia. Os exercícios também
registro, permite a documentação simultânea desses dados. podem funcionar como bomba nestes canais, e auxiliar a
Por este motivo foi acoplada a célula de carga ao ele- recuperação da força muscular [32]. As voluntárias deste
tromiógrafo. estudo não eram portadoras de linfedema, pois a presença
É descrito na literatura, alguns tipos de eletrogo- deste poderia interferir na coleta de dados.
niômetros, semelhantes aos modelos convencionais usados Estudos recomendam que deve ser evitado qualquer
em estudos, nas mais diversas situações funcionais, sendo movimento vigoroso, repetitivo e contra resistência, no
reconhecido pela sua credibilidade e acurácia durante as entanto não há nenhuma evidência comprovada que
avaliações dos movimentos [24,25]. possa sugerir que tais atividades possam levar a um
Desta forma, optou-se pela utilização do eletro- desenvolvimento ou piora do quadro [33].
goniômetro, a fim de se obter um posicionamento mais Brennan & Miller [34], realizando uma revisão de
preciso no momento da avaliação. literatura sobre avaliações e opções de tratamento pós-
Durante a execução da EMG, todos os procedimentos mastectomia, afirmam que o exercício físico melhora a
necessários à padronização foram contemplados. Previa- flexibilidade, a força muscular, a capacidade aeróbia, ajuda
mente ao tratamento dos dados, os sinais foram analisados a paciente a voltar ao nível funcional mais rápido, e sugerem
individualmente, por amostragem, e os resultados de- ainda que os exercícios precisam ser individualizados para
monstraram que o traçado eletromiográfico apresentava-se alcançar as necessidades de cada paciente.
dentro dos padrões de normalidade. Desta forma, pôde-se identificar melhora na capa-
A literatura tem apontado para a importância dos exer- cidade funcional do braço homolateral à cirurgia através
cícios na reabilitação após cirurgia do câncer de mama. Estudos da goniometria, onde foi percebido um maior benefício
determinaram o efeito da imobilização do ombro pós- da PNF no grupo considerado recente principalmente
mastectomia radical, sugerindo que a prática dos exercícios para o movimento de flexão. Podemos inferir, que a
deve iniciar por volta do 5º dia pós-operatório, para evitar a resistência tecidual imposta pela extensa cicatriz pode
formação de seroma e disfunção do ombro [26]. ter influenciado na eficiência do ganho de flexibilidade no
34 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
movimento de extensão. imposta na PNF, envolve estímulo suficiente para incre-
Box et al. [35] constataram através de estudos a mentar a força tanto no membro treinado, como no
recuperação da movimentação da articulação do ombro, contralateral. No mesmo estudo, os autores ainda obser-
em especial a abdução e flexão anteriormente diminuída, varam que esse efeito ocorre tanto em mulheres jovens (20
devido à cirurgia de câncer de mama. Descrevem ainda a anos), quanto em mulheres idosas (58 anos).
importância da intervenção fisioterapêutica nos primeiros Estas observações vão de encontro, com o que diversos
meses pós-mastectomia. Esta intervenção envolve a autores descrevem sobre o bom prognóstico de intervenções
movimentação do membro, bem como cuidados com a fisioterapêuticas iniciadas precocemente. No entanto é difícil
pele, principalmente da cicatriz. encontrar na literatura quais atividades teriam melhor
Estudos utilizando a PNF para tratar paciente pós- indicação nestes casos, necessitando de mais estudos de caráter
mastectomia radical modificada, com restrição da amplitude comparativo entre diferentes protocolos de tratamento, como
de movimento de ombro no pós-operatório tardio, obteve também de uma maior investigação eletromiográfica em
melhora significativa dos movimentos referentes à cintura mulheres mastectomizadas, com o intuito de investigar suas
escapular permitindo à paciente a realização das atividades debilidades motoras.
funcionais bem próximas do normal [36]. Com a PNF é possível obter um aumento da extensão
Este fato foi observado neste estudo, através de ativa do movimento, fortalecer a musculatura, produzir um
depoimentos das voluntárias de ambos grupos que relataram correto direcionamento do movimento, e ainda reduzir a
maior facilidade para realização de suas tarefas diárias. fadiga. O alongamento muscular também é beneficiado por
Os exercícios que envolvem resistência ou carga desde estar ocorrendo de forma ativa, sendo mais efetivo e rápido,
que, não excessiva, e sempre respeitando os limites de além de trabalhar com padrões de fácil reprodução.
cada paciente podem estar influenciando de forma positiva
a reabilitação desta, promovendo um aumento da força
muscular no membro envolvido, conseqüentemente Conclusão
facilitando suas atividades de vida diária.
A maioria das técnicas de PNF desenvolve-se a partir O tratamento baseado na PNF para a mulher submetida
do conhecimento dos efeitos da resistência. Apesar de a mastectomia se mostrou eficiente, o que fornece subsídios
Kabat e outros terem utilizado o termo máximo para para que outros profissionais da área façam uso da mesma
descrever a quantidade apropriada de resistência, vários técnica como protocolo, e que novas pesquisas sejam feitas
instrutores atuais do método, consideram os termos ótima sobre o assunto devido sua escassez. Além de ter se mostrado
ou apropriada, mais precisos. A quantidade de resistência eficiente, é uma intervenção de baixo custo e de fácil
aplicada durante uma atividade deve estar de acordo com aplicação, podendo ser realizada em qualquer clínica possibi-
as condições do paciente e com os objetivos da atividade litando em pouco tempo bons resultados.
[9]. No estudo, durante a resistência imposta, foi
observado o limite de cada voluntária, dada sua condição Referências
física.
Enfatizando a importância da prática de exercícios na 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer/
reabilitação pós-mastectomia, foi utilizado neste estudo INCA Coordenação de Programas de Controle do
a PNF, justamente por ser uma técnica bastante eficiente Câncer/Pro-ONCO. Câncer no Brasil: dados de registro
para o ganho de ADM, força muscular e melhora da de Base Populacional. Rio de Janeiro. INCA/PRO-
ONCO 2003.
coordenação [9].
2. Mamede M. V. Reabilitação de mastectomizadas: um
Após estudos comparando os efeitos da PNF e de novo enfoque assistencial. Ribeirão Preto: USP, Escola
alongamento estático, foi concluído que a PNF foi mais de Enfermagem de Ribeirão Preto; 1991. p.140.
eficiente resultando em aumento de força e flexibilidade 3. Haid A, Kuen T, Konstantiniuk P, Koberle R. Shoulder –
dos músculos do complexo do ombro em um grupo de arm morbidity following axillary dissection and sentinel
atletas [37]. node only biopsy for breast cancer. EJSO 2002;28:705-10.
Godges et al. [38] concluíram após estudos utilizando 4. Nagel P H, Bruggink E D, Wobbes T, Strobe L J. Arm
como tratamento a PNF, melhora imediata na amplitude morbidity after complete axillary lymph dissection for
de movimento e posteriormente da força em pacientes breast cancer. Acta Chir Belg 2003;103(2):212-6.
com desordens na articulação do ombro. 5. Torrezan RZ, Santos CC, Conde DM, Brenelli HB.
Preservação do nervo intercostobraquial na
Com o auxílio da célula de carga foi possível verificar
linfadenectomia axilar por carcinoma de mama. Rev Bras
o aumento da força de 52% no grupo recente e 43% no Ginecol Obstet 2002;24(4).
grupo tardio. Este ganho de força deve estar relacionado 6. Voogd AC, Ververs JM, Vingerhosts AJ, Roumen RM,
com o treinamento com resistência, bem como a adapta- Coebergh JW et al. Lymphoedema and reduced shoulder
ção neural, que para BemBen & Murphy [39], a resistência function as indicators of quality of life after axillary lymph
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 35

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36 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Artigo original

Intervenções fisioterapêuticas e podológicas


nos pés de idosos podem proporcionar
marcha mais segura
Physical therapy and podologic interventions
in feet of elders can provide safer gait

Maria Lucia Bergamini Mitsuichi*, Sada Gracia Jamussi**, Emerson Fachin Martins, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta graduada pela UNISANT’ANNA e Técnica em Podologia pelo SENAC, **Fisioterapeuta graduada pela FCNM,
Mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Coordenadora do Curso
de Fisioterapia da UNISANT’ANNA, *** Fisioterapeuta graduado pela UFSCar, Doutorando e Mestre em Neurociências
e Comportamento pela USP e Professor no Curso de Fisioterapia da UNISANT’ANNA

Resumo Abstract
Dentre as condições geradoras de incapacidades que Among conditions of incapacities that can contribute for a
podem contribuir para um declínio da qualidade de vida na decline of the quality of life in elderly population takes highlight
população idosa toma destaque a instabilidade postural. to the posture instability. Resulted of factors involving many
Resultado de fatores envolvendo muitos sistemas orgânicos organic systems in the elderly process, posture instability favors
no processo de envelhecimento, a instabilidade postural falls that, jointly to their consequences, represent a growing
favorece quedas que, juntamente às suas conseqüências, problem to the large majority of the elders. The aim of this work
representam um problema crescente à grande maioria dos was to evaluate the feet of a determined elderly population,
idosos. O objetivo deste trabalho foi avaliar os pés de uma describe the anomalies found and show evidences that feet can
determinada população idosa, descrever as anomalias influence the gait of the elder and, consequently, to improve their
encontradas e mostrar evidências de que o cuidado com os quality of life. Subjects were randomly divided in two groups one
pés pode influenciar na marcha do idoso e, conseqüen- formed by elders submitted to the treatment protocol, once a
temente, melhorar sua qualidade de vida. Sujeitos foram month, during seven months constituting the treated group, and
divididos, de forma aleatória, em dois grupos sendo um another by elders that in this same period did not receive any kind
formado por idosas submetidas ao protocolo de tratamento, of treatment constituting the control group. Both groups were
uma vez por mês, durante sete meses constituindo o grupo evaluated before and after the same period of seven months. The
tratado, e outro por idosas que neste mesmo período não results showed that the time spent in the gait for achievement of
receberam nenhum tipo de tratamento constituindo o grupo the trajectory increased around 1 minute maintaining the step
controle. Ambos os grupos foram avaliados e reavaliados length for the control group while reduction in the time of
após o mesmo período de sete meses. Os resultados obtidos performance of the trajectory associated with increase in the step
demonstram que o tempo gasto na marcha para realização length was observed in the treated group. This, we conclude that
do percurso aumentou cerca de 1 minuto mantendo o the elders, after receiving specific care, walked with more quickness
comprimento da passada para o grupo controle, enquanto and security.
uma redução no tempo de realização do percurso associado Key-words: elderly, gait, quality of life.
a aumento no comprimento da passada foi observada no
grupo tratado. Desta forma, podemos concluir que as idosas,
após receberem cuidados específicos, caminharam com mais
rapidez e segurança.
Palavras-chave: idoso, marcha, qualidade de vida.

Recebido 21 de julho de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Emerson Fachin Martins, Avenida Antônio Frederico Ozanan, 9200, casa 216, Jardim Shangai 13214-
206 Jundiaí SP, Tel: (11) 6221-8000, E-mail martinse@usp.br
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limitante funcional levando o indivíduo idoso aos


diferentes níveis de dependência [1,5].
Introdução Desta forma, o objetivo deste estudo foi observar a
qualidade do pé de idosos e se o tratamento para estas
Embora estejamos vivendo mais e melhor, o processo condições podem proporcionar melhoras no padrão de
de envelhecimento normal traz consigo alterações e marcha, visualizadas por parâmetros temporal e espacial,
reduções graduais de capacidades dos diversos sistemas em idosos submetidos a protocolo de tratamento para
do organismo humano. os pés.
O processo de envelhecimento não é, por si só,
incapacitante, porém, uma parcela significativa da Material e métodos
população idosa desenvolve disfunções ou incapacidades
freqüentemente associadas não somente à perda pro- Sujeitos
gressiva das funções orgânicas, mas também às múltiplas
condições mórbidas que podem estar relacionadas à Participaram deste trabalho 10 (dez) mulheres
terceira idade. Assim, o envelhecimento mostra-se um voluntárias, com idade acima 65 anos. Todas as
processo complexo que envolve muitas variáveis, tais participantes deram o consentimento de sua participação
como fatores genéticos, ambientais, aqueles relacionados no estudo por meio de autorização formal registrada em
às peculiaridades da biologia celular e sua influência na termo de consentimento particular em regularidade com
qualidade funcional de tecidos e órgãos [1]. as normas do Comitê de Ética.
Muitas alterações no sistema músculo-esquelético que Foram considerados critérios absolutos de exclusão,
são relevantes para a deambulação, ocorrem com o as situações em que houvesse presença de amputação de
envelhecimento. Clinicamente, uma evidência predo- qualquer nível nos membros inferiores, presença de
minante é a redução da flexibilidade geral. Essa consta- afecção neurológica com comprometimento da marcha
tação, bem como as alterações que acontecem nas ou da mobilidade geral e utilização de quaisquer meios
cartilagens e nas superfícies articulares, podem levar a auxiliares de marcha por quaisquer motivos. A figura 1
alterações posturais que serão refletidas na marcha [2]. mostra o aspecto geral do pé geriátrico avaliado neste
A capacidade de deambulação também está relacio- estudo.
nada a outros indicadores. Por exemplo, a deambulação
dependente e a segurança diminuída durante as atividades Fig. 1 – Fotografia mostrando aspecto geral do pé geriátrico que
da marcha, são motivos comuns para a internação em foi avaliado neste estudo.
casas geriátricas ou outras instituições residenciais. Um
grande percentual de quedas ocorre nos idosos enquanto
eles caminham e podem ser atribuídas a vários fatores.
Algumas quedas resultam em lesão. As estimativas
sugerem que até 25% daqueles que são admitidos em um
hospital por causa de uma fratura de quadril morrerão
dentro de 1 ano [3].
Também constituem fatores de risco para quedas
algumas das alterações próprias do pé geriátrico. Dentre
estas alterações possuem destaque as unhas mal aparadas,
hálux valgo, calosidades, onicomicoses que, princi-
palmente, envolvem modificações que evoluem com
alterações tróficas da unha e espessamento do leito
ungueal e, ainda, deformidades em artelhos como os
observados na sobreposição e presença de garra. Estas
características parecem interferir no uso de calçados que
acabam por provocar dor ou alterações da informação
proprioceptiva do pé em contato com o solo, que resultaria
em má qualidade da marcha com instabilidades e
predisposição às quedas [4].
Além da alta mortalidade, as quedas apresentam Protocolo experimental
também alta morbidade, representada pelas seqüelas das
lesões ou fraturas delas decorrentes, ou mesmo pelo medo Definidos os participantes, estes foram
de cair novamente, que podem funcionar como um grave aleatoriamente submetidos ou não ao protocolo de
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tratamento após a avaliação. Assim, foram formados, Fig. 2 – Fotografia mostrando plataforma de teste com 4 metros de
respectivamente, os grupos tratado (n = 5) e controle comprimento após a impressão das pegadas formadas pela impregnação de
(n = 5). Todas as voluntárias foram submetidas a uma talco na sola dos pés de idoso submetido ao protocolo experimental. A reta
avaliação dos pés para constatação das possíveis pontilhada (a) perpendicular às retas paralelas tangenciais ao extremo
alterações descritas na introdução. As idosas incluídas anterior (b) e posterior (c) da pegada imediatamente à frente no esquema
no grupo controle que foram avaliadas no mesmo mostram o procedimento realizado para registro do comprimento da passada.
período das integrantes do grupo tratado, só foram
reavaliadas 7 (sete) meses após a avaliação inicial, não
tendo neste período participado de qualquer tratamento
específico.
Após avaliação dos parâmetros definidos no próximo
item, o grupo tratado foi submetido a tratamento mensal
que seguia protocolo, em seqüência, de higienização e
assepsia de ambos os pés, corte e polimento de todas as
unhas, colocação de órteses em unhas encravadas,
debridamento em áreas de hiperqueratoses, remoção de
calos dorsais e calos plantares, massagem e manipulação
dos pés e tornozelos e por fim a drenagem linfática na
região dos pés e tornozelos.
Passado 7 (sete) meses de uma aplicação mensal do
protocolo descrito acima, as participantes do grupo tratado
foram reavaliadas seguindo os mesmos parâmetros de
registro utilizados na avaliação inicial que serão descritos
a seguir.

Parâmetros registrados

Além da inspeção qualitativa, parâmetros temporais Análise estatística


e espaciais foram também registrados por meio de
técnicas de plantigrafia. Os parâmetros registrados na Coletadas as medidas, os dados foram processados e
plantigrafia foram por nós definidos como temporal, que analisados por grupo por meio de estatística descritiva das
correspondeu ao tempo de duração para realização da medidas de posição e dispersão. Em seguida, para com-
marcha na plataforma de teste, e como espacial, que paração entre os grupos controle e tratado os dados foram
consistiu na medida em metros do comprimento da analisados pelo teste-t de Student para amostra dupla
passada. As voluntárias foram orientadas a andar pressupondo variâncias iguais. Para a comparação entre
normalmente sem aumentar ou diminuir a velocidade antes e após o tratamento, os dados foram analisados pelo
durante o percurso da plataforma. A duração da marcha teste-t de Student para amostra dupla pressupondo
foi registrada por meio de cronômetro Kenko, modelo variâncias desiguais. Os resultados das comparações foram
profissional, com disparo manual, durante um percurso considerados desigualdades significativas se p < 0,05 e foi
demarcado de 4 metros. A medida do comprimento da considerada tendência a desigualdades se 0,1 > p > 0,05.
passada foi possível por registro indireto das pegadas
produzidas durante o percurso, pela sola dos pés das Resultados
participantes que foram previamente impregnadas com
talco comercial em uma passadeira de material EVA (Etil Pela análise qualitativa foi observado que 70% de todas
Vinil Acetato) de cor preta para melhor visualização. As as participantes de ambos os grupos negavam quaisquer
medidas foram coletadas sempre em superfície plana, em alterações nos pés. Entretanto 50% destas possuíam uma
linha reta não havendo obstáculos. O comprimento da ou mais alterações. A primeira tomada de dados foi feita
passada correspondeu a valor em metros do comprimento em igualdade de condições, ou seja, nenhuma das
de uma reta perpendicular as retas paralelas que pacientes havia recebido qualquer tratamento, ou foi
tangenciavam o extremo anterior de uma pegada com o orientada a fazê-lo.
extremo posterior da pegada a sua frente. O procedimento Após os 7 (sete) meses, na reavaliação, observamos
realizado está esquematizado na figura 2. Todos os testes que no grupo controle houve um aumento nas alterações
foram realizados pelo mesmo indivíduo sob as mesmas próprias do pé geriátrico que foram observadas na avaliação
condições para garantir uniformidade. inicial, ou seja, os pés no grupo controle apresentavam
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áreas maiores de ressecamento, calosidades mais espessadas Fig. 4 – Comportamento espacial da marcha pela aplicação do
e a marcha qualitativamente menos eficiente. O grupo protocolo de tratamento em idosos dos grupos controle e tratado
tratado no entanto apresentava um quadro de melhora em durante a avaliação e na reavaliação. Teste estatístico detectou
relação à hidratação dos pés, a unhas estavam menos diferenças significativas (p < 0,05) representadas por & para
espessadas e as calosidades diminuídas. comparações entre os grupos e # para comparações entre o período
Pela comparação dos dados de duração da marcha ao de avaliação.
desenvolver o percurso foi possível observar que entre
controles e tratados, por ocasião da avaliação, os grupos
gastaram o mesmo tempo para desenvolver a tarefa,
contudo, na reavaliação, os grupos se comportaram de
maneira diferente. No grupo controle, o valor médio do
tempo de marcha no início do protocolo era de 5,94 ±
1,14 min (média ± desvio padrão minutos). Na rea-
valiação, o teste estatístico detectou um acréscimo
significativo e o grupo controle gastou 6,08 ± 1,21 min.
No grupo tratado ocorreu o inverso, o valor médio inicial
era de 6,26 ± 0,58 min e, na reavaliação, o tempo médio
gasto decresceu, significativamente, para 5,04 ± 0,85 min.
O gráfico na figura 3 mostra o comportamento temporal
descrito entre os grupos.
Fig. 3 – Comportamento temporal da marcha pela aplicação do
protocolo de tratamento em idosos dos grupos controle e tratado
Discussão
durante a avaliação e na reavaliação. Teste estatístico detectou
diferenças significativas (p < 0,05) representadas por & para
comparações entre os grupos e # para comparações entre o período Para entender melhor o processo de envelhecimento do
de avaliação. pé, enquanto estrutura, optamos por estudar o enve-
lhecimento normal, pelo fato de não existir literatura
específica de como seria o processo de senescência do pé.
As alterações relacionadas ao pé da pessoa idosa são em
geral, de caráter estrutural, mas, em sua evolução, acabam
por comprometer o desempenho funcional do indivíduo
em vários níveis.
As alterações encontradas no pé do idoso são de grande
relevância e interesse para a prática clínica, uma vez que
podem determinar conseqüências nefastas, que vão desde
a instalação de incapacidade pelo comprometimento da
mobilidade até o favorecimento de quedas e seqüelas,
colocando em risco a independência desses idosos [1].
Um dado interessante é que as pacientes que fizeram parte
deste estudo negaram ter quaisquer alterações referentes
aos pés e no entanto mais de 70% delas as possuíam. Este
achado pode se justificar, pela idéia errada que se tem de
que tais alterações não constituem processos patológicos
Da mesma forma que na análise da variável temporal, e que fazem parte do envelhecimento normal [6,7].
a média do comprimento da passada, variável espacial, O alto índice de alterações nos pés, mesmo sem
foi a mesma para os dois grupos. Entretanto, na queixas dolorosas, pressupõe que há uma certa
reavaliação, os grupos mostraram média de passada desconsideração da população em relação à saúde dos pés.
significativamente diferente. O controle manteve o Nos idosos, o problema se agrava devido aos fatores
comprimento da passada na reavaliação de 0,51 ± 0,13 incapacitantes que acompanham o processo de enve-
m. Entretanto, o grupo tratado que realizava passada de lhecimento, fazendo com que os indivíduos idosos dependam
0,48 ± 0,05 m na avaliação, na reavaliação, aumentou de outras pessoas para cuidarem de seus pés ou o façam de
significativamente o comprimento do passo para 0,63 ± forma precária.
0,08 m. O gráfico na figura 4 mostra o comportamento Assim parece importante a preocupação com o cuidado
espacial descrito entre os grupos. dos pés no idoso. Segundo Tinetti et al. [8], quer seja na
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presença de alterações proprioceptivas, na presença de Apesar de não encontrarmos nenhum estudo que
alterações biomecânicas, ou em ambas situações, o avaliasse o pé do idoso, sob a ótica do protocolo
resultado final é o comprometimento da adequação do estabelecido, ficou claro que cuidados simples como, o
pé ao solo. Em outras palavras, quaisquer fatores que corte de unhas, remoção de calosidades e hidratação,
interfiram nessa relação podem ser desencadeantes das aliados a recursos fisioterapêuticos, podem auxiliar nas
quedas. Robbins et al. [9] mostra evidências de que a situações comuns ao pé do idoso, diminuindo edemas,
melhora da retroalimentação das informações proprio- aumentando a mobilidade da articulação talo crural e
ceptivas garantem maior estabilidade postural ao idoso garantindo uma marcha mais segura.
com repercussão na qualidade da marcha.
Encontramos uma relação favorável entre a remoção Conclusão
de calosidades plantares, corte de unhas e cuidados
fisioterapêuticos com a melhora no tempo de marcha Pelos resultados podemos concluir que o pé geriátrico
para a realização de um percurso e o aumento no com- possui alterações que podem ser impedidas ou minimizadas.
primento da passada. Entendemos que a remoção de placas Ainda, o tratamento destas alterações, aliado a protocolos
de hiperqueratoses além de diminuir a dor aumenta a de tratamentos fisioterapêuticos focados no pé do idoso
sensibilidade plantar, melhora a propriocepção e propor- melhoram a velocidade de realização da marcha e
ciona maior segurança no ato de deambular. Aliado a proporcionam passadas mais alargadas que garante maior
isso, os recursos fisioterapêuticos fornecem nutrição ade- segurança e que, possivelmente, contribuem para a
quada, pela melhora do aporte sanguíneo, e flexibilidade prevenção de quedas e melhora da qualidade de vida desta
necessária para os movimentos e descargas de peso população.
ocorridos nos pés durante a locomoção.
O estudo aponta para a importância de cuidados
Referências
preventivos e observação constante nos pés dos idosos,
com o objetivo de evitar o desenvolvimento de alterações
1. Rocco JCP. Avaliação do pé geriátrico e sua relação com quedas.
que venham a comprometer o bom desempenho das [Dissertação] São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade
funções do pé e, desta forma, promover uma marcha mais de Medicina; 2000.
segura e melhorar a qualidade de vida para o idoso. 2. Karpman RR. Foot problems in the geriatric patient. Clin
Nossos dados demonstram que existe uma relação de Orthop 1995;316:59-62.
melhora na qualidade da marcha influenciada pelo 3. Guccione AA, Sullivan PE, Gibbs WK. Fisioterapia
tratamento dos pés. Observamos que 7 (sete) meses foram geriátrica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
capazes de promover aumentos significativos no tempo 4. Tinneti ME, Speechley M. Prevention of falls among
gasto para percorrer um trajeto em idosos e que o cuidado elderly. N Engl J Med 1989;320:1055-59.
com os pés, além de reduzir este tempo, proporcionou ao 5. Mitsuichi MLB, Jamussi S, Martins E.F. Educação e
orientação de cuidados simples podem melhorar a vida
grupo realizar uma passada mais alargada. Esses dados
do idoso. In: Fórum Mundial da Educação São Paulo; 2004.
poderiam nos dar a entender que a melhora da marcha se 6. Era P, Avlund K, Jokela J. Postural balance and self-reported
deu pelo fato dos participantes estarem realizando o teste functional ability in 75-year-old men and woman: a
na plataforma pela segunda vez, conseqüentemente com crossnational comparative study.J Am Geriatr Soc
mais confiança e segurança uma vez que já conhecem o 1997;45(1):21-9.
teste. Entretanto, essa possível habituação ao teste é 7. Evanski PM. The geriatric foot. In: JASS M. Disorders of
descartada. No grupo controle, não observamos alteração the foot. Philadelphia: WB Saunders; 1982. p. 964-78.
no comprimento da passada por ocasião da reavaliação, 8. Tinetti ME, Speechley M, Ginter SF. Risk factors for falls
enquanto um aumento significativo do tempo de marcha among elderly persons living en the community. N Engl
J Med 1988;319:1701-7.
para realização do mesmo percurso foi evidenciado. Esta
9. Robbins S, Waked E, McClaran J. Proprioception and
evidência nos faz acreditar que as melhoras por nós stability: foot position awareness as a function of age and
observadas são devidas à facilitação do envio de informação foot wear. Age Ageing 1995;24(1):67-72. 
proprioceptiva, conforme descreve Robbins et al. [9], que
foi promovida pelo tratamento.
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Artigo original

Comparação entre o teste de caminhada


de seis minutos no corredor e na esteira rolante
Comparison of corridor and treadmill six-minute walk test

Andreza Toledo*, Karla Ribeiro*, Audrey Borghi e Silva, D.Sc.**, Dirceu Costa, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas, alunas do Curso de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP,


**Fisioterapeuta, Prof. Dra da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, ***Fisioterapeuta, Prof. Dr do Curso de Mestrado
em Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde (FACIS) da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP

Resumo Abstract
Objetivo: Comparar a distância percorrida, a sensação subjetiva Objective: To compare six-minute walk test (6MWT) using
de dispnéia, saturação de oxigênio (SpO2) e freqüência cardíaca corridor (6MWTC) or treadmill (6MWTT) analysing walking
(FC) entre um teste de caminhada de seis minutos (TC6) no distance, dyspnea sensation, oxygen saturation and heart rate.
corredor (TC6C) e na esteira (TC6E). Métodos: Foram incluídos Methods: 60 patients with clinic and spirometric diagnostic of
no estudo 60 indivíduos com diagnóstico clínico e espirométrico chronic obstructive pulmonary disease (COPD), FEV 1
de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), VEF 1 40,8±15,01% predicted, 63,6±7,3 years old, with clinical stability
40,8±15,01% do previsto, idade 63,6±7,3 anos, estáveis were included. Patients were submitted to 6MWTC and 6MWTT,
clinicamente. Os pacientes realizaram um TC6C e um TC6E, com with 1 hour interval, in which they were instructed to cover as
intervalo de 1 hora entre eles, nos quais foram orientados a much ground as possible in the six minutes, with standard
percorrer a maior distância possível por um período de seis incentivation words every minute. Heart rate and oxygen saturation
minutos, com incentivo padronizado a cada minuto. Os pacientes were monitored using a oxygen saturation monitor. Every 2
foram monitorados com oxímetro de pulso que mensurava FC e minute, they were inquired about dyspnea sensation according to
SpO2, sendo questionados quanto à sensação de dispnéia pela the Borg dyspnea scale rating. Wilcoxon test were used, with p <
escala de Borg a cada 2 minutos. Utilizou-se o teste de Wilcoxon, 0.05. Results: 6MWTC showed longer walking distance (307,8 ±
com p < 0,05. Resultados: Observou-se maior distância percorrida 94,3m) compared to 6MWTT (235 ± 85,5m). No significant
no TC6C (307,8 ± 94,3m) quando comparado ao TC6E (235 ± difference were found in the other variables comparing 6MWTC
85,5m). Para as demais variáveis não foram constatadas diferenças and 6MWTT. Conclusion: The better performance in the walking
significativas entre os dois tipos de TC6. Conclusão: O maior distance with 6MWTC could be explained by the fact of the patients
desempenho, em distância percorrida, no TC6C pode estar to be less familiar with the treadmill.
associado ao fato dos pacientes estarem menos familiarizados Key-words: COPD, six-minute walk test, treadmill, exercise.
com a esteira.
Palavras-chave: DPOC, teste de caminhada de 6 minutos,
esteira rolante, exercício.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
[3]. A Bronquite Crônica é caracterizada por presença de
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é tosse produtiva por 3 meses consecutivos em 2 anos
definida como uma doença caracterizada por presença de sucessivos, sem outra causa aparente. O Enfisema é definido
obstrução ao fluxo aéreo progressiva, irreversível ou par- como alargamento anormal dos espaços aéreos distais ao
cialmente reversível [1,2]. Sob essa denominação incluem- bronquíolo terminal, acompanhado de destruição de suas
se a Bronquite Crônica (BC) e o Enfisema Pulmonar (EP) paredes [1,4,5].

Recebido 3 de agosto de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Andreza Toledo, Av. São Geraldo, 631/131 Centro – 14.801-210 Araraquara SP, Tel: (16) 3336-0978/
9788-6193, E-mail: andrezatoledo@aol.com
42 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Os pacientes com DPOC possuem uma maior limitação Diante do exposto, justificou-se a elaboração deste estudo,
ao exercício quando comparados a indivíduos saudáveis. com a finalidade de comparar a distância percorrida no TC6E
Uma das causas é a limitação ventilatória, que é devido a com o TC6C, assim como o comportamento das variáveis
um grande aumento da resistência do fluxo de ar expiratório, fisiológicas: saturação periférica de oxigênio (SpO 2),
levando a uma hiperinsuflação e à inabilidade de sustentar freqüência cardíaca (FC) e também sensação subjetiva de
os baixos níveis de ventilação, e também devido ao aumento dispnéia por meio de uma escala de percepção de esforço
da exigência ventilatória para um dado nível de exercício, de Borg.
porque ambos, ventilação e troca gasosa estão ineficientes
nesses pacientes [6,7]. Materiais e métodos
Outra causa de limitação ao esforço físico é devido à
troca gasosa e metabolismo anormais que esses pacientes
Amostra
possuem. No DPOC grave, tanto a habilidade de
aumentar a perfusão pulmonar e distribuir a ventilação Foram estudados sessenta indivíduos de ambos os
inspirada durante o exercício está comprometida, quanto
sexos encaminhados, sob prescrição médica, para o
o seu espaço morto fisiológico está freqüentemente
serviço de reabilitação pulmonar (RP) à Unidade
aumentado. Devido ao comprometimento da troca gasosa,
Especial de Fisioterapia Respiratória da Universidade
um nível crítico de estimulação ventilatória estaria
Federal de São Carlos (UFSCar) com diagnóstico
agravando a dinâmica de hiperinsuflação e causaria uma
clínico e espirométrico de DPOC. Este grupo foi
limitação ventilatória ao exercício mais precoce [8,9,10].
composto de pacientes com DPOC grave e moderada
A habilidade em percorrer determinada distância
de acordo com o I Consenso Brasileiro sobre
através de caminhada em um dado período de tempo é
um método de baixo custo, rápido e freqüentemente Espirometria (1996) [18]. Todos apresentavam
utilizado para avaliar a tolerância aos exercícios em estabilidade clínica, sem períodos de agudização da
pacientes com DPOC [11]. Na década de 60, foi doença, para que pudessem compor a amostra
desenvolvido o teste de caminhada de 12 minutos, experimental, e foram informados sobre os objetivos
inicialmente para pessoas saudáveis e posteriormente foi desse estudo e consentiram em participar volun-
adaptado para indivíduos com DPOC [12]. Este teste tariamente, assinando um termo de consentimento
sofreu aprimoramento e foi reduzido para 6 minutos, para a realização do mesmo.
porém com a mesma utilidade que o teste de 12 minutos, Foram utilizados como critérios de inclusão a ausência
além de ter se demonstrado menos exaustivo para o de doenças cardiovasculares associadas, de doenças
paciente [12]. ortopédicas que impedisse a realização dos testes e a
O teste de caminhada de seis minutos (TC6) é presença de estabilidade clínica do quadro respiratório.
considerado por alguns pesquisadores como um teste A Tabela I mostra as características antropométricas
submáximo, cuja finalidade é de avaliar a capacidade e demográficas individuais dos indivíduos estudados, com
funcional ao exercício e a tolerância aos esforços físicos relação à média da idade, sexo, peso, altura, índice de
em pacientes com DPOC [13,14]. O TC6 é um teste de massa corpórea (IMC), em médias e desvios padrão.
fácil aplicação, interpretação, bem tolerado pelos pacientes
Tabela I – Características antropométricas e demográficas dos
e que mais reflete as atividades de vida diária quando
indivíduos estudados.
comparado a outros testes [15]. O TC6 pode ser realizado
em esteira (TC6E) ou em corredor (TC6C) [16]. VARIÁVEIS N = 60
O TC6C é de fácil aplicação e não necessita de
equipamento para sua realização, deve ser aplicado em SEXO 30 M/30F
IDADE (anos) 63,6 ± 7,3
ambiente coberto para não sofrer interferências climáticas,
PESO (kg) 65,4 ± 10,7
em um corredor de pelo menos 30 metros de ALTURA (m) 1,60 ± 0,07
comprimento, pois um corredor muito curto exige que IMC (kg/m2) 23,7 ± 3,9
os pacientes mudem freqüentemente de direção podendo
reduzir a distância percorrida [12]. M: masculino; F: feminino; m: metros; kg: quilogramas; N:
O TC6E tem sido realizado como uma alternativa número de indivíduos estudados.
para do teste realizado em corredor, principalmente na Na Tabela II estão contidos os resultados espi-
inexistência deste. Também é uma técnica simples de rométricos da Capacidade Vital Forçada (CVF), Volume
realizar, bem tolerado pelos pacientes, e apresenta a van- Expiratório Forçado no primeiro segundo (VEF 1 ),
tagem de necessitar de um espaço físico menor do que o Ventilação Voluntária Máxima (VVM) e Fluxo Expi-
TC6C para sua realização, porém sua eficácia não está ratório Forçado entre 25-75% (FEF25-75%), em médias e
ainda bem definida [16,17]. desvio padrão da porcentagem, em litros.
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Tabela II – Resultados da avaliação funcional pulmonar dos Teste de Caminhada de Seis Minutos na
indivíduos estudados. esteira rolante (TC6E)
VARIÁVEIS % L
O TC6E foi realizado em uma esteira rolante e as
CVF 66,2 ± 20 2,01 ± 0,61 mesmas medidas empregadas no TC6, foram obtidas com
VEF1 36,9 ± 11,5 0,75 ± 0,32 o mesmo equipamento e pelo mesmo avaliador.
VVM (l/min) 36,6 ± 11,5 31,8 ± 8 O TC6E consistiu de uma caminhada de seis minutos,
FEF25-75% 12,09 ± 5,4 0,36 ± 0,13 sendo que a velocidade da esteira foi aumentada a pedido
%: porcentagem do previsto; L: litros. do paciente, o qual semelhante ao TC6C foi instruído a
percorrer a maior distância possível por um período de
seis minutos, com incentivo também padronizado a cada
Métodos minuto.
Igualmente ao TC6C, a monitorização foi contínua e
Os pacientes usaram vestimenta adequada e foram foram registrados os valores de FC, SpO 2 e sensação
orientados a fazer uma refeição leve com pelo menos subjetiva de dispnéia no 2°, 4° e 6° minutos . Após o
duas horas antecedentes aos testes e abstiveram-se de término do TC6E, as mesmas medidas foram realizadas
exercícios vigorosos nas últimas 24 horas precedentes no 2°, 4° e 6° minutos de repouso, enquanto o paciente
aos testes. descansava na posição sentada.
De acordo com os critérios da ATS (2002) [12], os
testes deveriam ser interrompidos imediatamente, se os Análise estatística
pacientes apresentassem dor torácica, dispnéia intolerável,
câimbra nas pernas, vertigem, palidez intensa, embora Tanto para análise estatística das variáveis fisiológicas
não tenha havido interrupção. quanto para comparar a distância percorrida entre os
Todos os pacientes realizaram um teste de caminhada dois testes, foi utilizado o teste não paramétrico de
de seis minutos no corredor e um teste de caminhada Wilcoxon. O nível de significância utilizado foi de p <
de seis minutos na esteira rolante, sendo que entre um 0,05.
teste e outro havia um intervalo de descanso de uma
hora. Resultados

Teste de Caminhada de Seis Minutos no Na Tabela III estão contidos os valores das médias e
corredor (TC6C) desvio padrão das respostas fisiológicas (FC, SpO2) e a
sensação subjetiva de dispnéia, assim como a distância
O TC6C foi realizado num corredor plano de 30 percorrida em metros, tanto no TC6C quanto no TC6E.
metros de comprimento e 1,5 metros de largura,
demarcados a cada 3 metros. Antes de iniciar o TC6 Tabela III – Valores das médias e desvio padrão dos valores das
foram medidas a pressão arterial sistólica (PAS), pressão variáveis fisiológicas, distância percorrida e sensação de dispnéia
arterial diastólica (PAD) – por meio de um estetoscópio no TC6C e no TC6E, bem como resultados estatísticos entre os
Diasist e esfigmomanômetro BD, pelo método dois testes.
auscultatório indireto –, a freqüência cardíaca (FC), a VARIÁVEIS TC6C TC6E WILCOXON
saturação periférica de oxigênio (SpO2) – por meio de um (p<0,05)
oxímetro de pulso portátil da marca NONIN – e, a
FC (bpm) 119,2±13,9 116,1±12,3 NS
sensação subjetiva de dispnéia – por meio da escala de
Dispnéia 1,4±1,1 1,6±1,4 NS
percepção de esforço de Borg. SpO2 (%) 86,6±7,1 91,3±4,2 NS
O TC6C consistiu de uma caminhada na qual o Distância
paciente foi orientado a percorrer a maior distância percorrida (m) 307,8±94,3 235,0±85,5 p<0,000047*
possível por um período de seis minutos, com
incentivo padronizado a cada minuto [12]. Os FC: freqüência cardíaca; bpm: batimentos por minuto; SpO2:
saturação periférica de oxigênio; m: metros.
pacientes foram acompanhados pelo avaliador durante
os seis minutos, com monitorização contínua da Como pode ser observado nos dados da tabela III, apesar
SpO 2 , e os registros dos valores de FC e sensação de não ter havido diferenças entre os valores fisiológicos
subjetiva de dispnéia no 2°, 4° e 6° minutos . Após o e nem entre a sensação subjetiva de dispnéia, constatamos
término do teste foram realizadas as mesmas medidas que os pacientes percorreram, em média, uma maior
no 2°, 4° e 6° de repouso, enquanto o paciente des- distância no TC6C que no TC6E, conforme ilustra o
cansava na posição sentada. gráfico da Figura 1.
44 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Fig. 1 – Gráfico box plot da distância percorrida pelos pacientes e tão pouco a sensação de dispnéia relatada pelos pacientes
no TC6C e no TC6E. que, apesar de tratar-se de um dado subjetivo, consiste de
um importante fator limitante ao exercício físico nos
pacientes com DPOC.
Não constatamos diferenças fisiológicas e nem na
sensação de dispnéia em nossos pacientes, entre um teste
e outro (TC6C e TC6E), o que indica que qualquer outra
diferença, como é o caso da distância percorrida pode ser
atribuído também a fatores técnicos do próprio teste.
De acordo com alguns autores, como, Stevens et al.
[17] e Swerts et al. [16], os pacientes com DPOC
conseguiram caminhar uma maior distância no TC6C
do que no TC6E. Nossos dados estão de acordo com os
achados desses autores, pois os mesmos pacientes
apresentam, em média, mais de 60 metros percorridos
no TC6C do que no TC6E.
Essa diferença pode ser atribuída ao fato de que os
indivíduos são mais familiarizados com caminhada em
solo do que em esteira, o que também foi relatado por
Swerts et al. [16] e por Enright et al. [19]. Outro fator que
pode estar relacionado a esse resultado é o fato do paciente
ter que solicitar o aumento da velocidade na esteira, o
que pode subestimar sua real capacidade de caminhada,
Discussão apesar do encorajamento verbal recomendável nesse teste
ter sido padronizado tanto no TC6C quanto no TC6E, e
O TC6 tem sido considerado por alguns autores como aplicado pelo mesmo examinador [14].
um teste submáximo, que tem a finalidade de avaliar a Nossos resultados indicam também que há
tolerância aos esforços físicos em pacientes com DPOC necessidade de fazer uma avaliação longitudinal,
[13]. Além disso, também é utilizado para avaliar envolvendo procedimentos tanto de avaliação quanto de
efetividade de terapias como programa de RP, cirurgia treinamento, nos quais o uso da esteira possa ser mais
redutora de volume pulmonar ou transplante de pulmão adaptável para os nossos pacientes com DPOC e que
[19,20]. O TC6 é simples de realizar e não requer possam garantir a similaridade entre os testes.
equipamentos sofisticados de alto custo [21].
Poucos são os estudos realizados para comparar o TC6C Conclusão
com o TC6E. Swerts et al. [16], demonstraram um aumento
significativo na distância percorrida no TC6C quando Com base nos nossos resultados, podemos concluir
comparado ao TC6E, e relatam que uma possível causa que embora ambos os testes apresentem reprodutibilidade,
para esse achado é que os pacientes são mais familiarizados o TC6C ainda oferece melhor desempenho de resultados.
com caminhada em corredor do que em esteira. Contudo, há que se ressaltar que entre as limitações, de
Stevens et al. [17] também demonstraram um aumento um lado o alto custo do teste na esteira e de outro a
significativo na distância percorrida no TC6C quando inviabilidade de um espaço físico adequado para o TC6C,
comparado ao TC6E, porém sugere que mais estudos especialmente em clínicas de fisioterapia, com pouco
sejam realizados. espaço físico, levam-nos a buscar novos estudos que
Embora alguns estudos apontam para uma possível permitam explorar com mais profundidade as diferenças
padronização do TC6C, ainda permanecem muitas e semelhanças técnicas dos TC6, reforçando a necessidade
diferenças nas técnicas de sua aplicação em diferentes de padronização desse teste que vem sendo
centros clínicos e laboratórios de pesquisa. Além disso, a progressivamente utilizado na avaliação do desempenho
variação de um teste realizado em esteira, desde que o físico do paciente respiratório.
paciente seja livre para alterar a velocidade, pode
apresentar compatibilidade com o TC6C [22]. Ainda Referências
assim, há estudos que demonstram uma menor distância
percorrida no teste realizado na esteira [16,17], sem, 1. American Thoracic Society. Standards for the diagnosis
contudo, referirem as condições fisiológicas de seus and care of patients with chronic obstructive pulmonary
pacientes, especialmente no que se referem a SpO2 e FC, disease. Am J Respir Crit Care Med 1995;154:S77-S120.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 45

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46 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Artigo original

Proposta de um método de avaliação de variáveis


temporais da marcha usando microfones:
resultados preliminares em indivíduos saudáveis
Proposal of an assessment method of gait temporal variables
using microphones: preliminary results with healthy subjects

Christiano Bittencourt Machado*, Cássio Rodrigues Lopes**, Miriam de Castro Folly***, André Luís Lima de Oliveira****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Programa de Engenharia Biomédica – COPPE/UFRJ, **Fisioterapeuta, Clínica Fisiofriburgo, Universidade Estácio de Sá,
Campus Friburgo-RJ, Professor de Recursos Terapêuticos Manuais, Universidade Estácio de Sá, Campus Friburgo-RJ,
***Fisioterapeuta, Clínica Fisiofriburgo, Universidade Estácio de Sá, Campus Friburgo-RJ, ****Fisioterapeuta, Diretor da Clínica Fisiofriburgo,
Universidade Estácio de Sá, Campus Friburgo-RJ, Professor de Eletroterapia e Fisioterapia Aplicada à Traumato-Ortopedia e Reumatologia –
Universidade Estácio de Sá, Campus Friburgo-RJ

Resumo Abstract
A avaliação quantitativa da marcha quase sempre repre- Quantitative gait assessment usually represents a hard,
senta um procedimento difícil e caro, devido à necessidade expensive procedure, due to the need of high-cost and
de equipamentos complexos e de alto custo. O objetivo desse complex equipments. The purpose of this study was to
trabalho é desenvolver um algoritmo capaz de estimar as develop an algorithm able to estimate gait temporal variables,
variáveis temporais da marcha, assim como fornecer esta- as well as to provide basic statistics, using the sound recording
tísticas básicas, usando a gravação do som proveniente de mi- from microphones placed at each foot of a subject, since this
crofones, colocados um em cada pé do indivíduo, uma vez que device can capture the heel strike on the ground at step onset.
esse dispositivo pode captar o toque do calcanhar no chão no In order to obtain preliminary results, it was recruited
início do passo. Para a obtenção de resultados preliminares, foram apparently healthy subjects, without any visible locomotion
recrutados indivíduos aparentemente saudáveis, sem nenhum impairment. The results show a consistency concerning
distúrbio locomotor visível. Os resultados mostram uma variables estimations. Although there are some limitations,
consistência nas estimativas. Apesar de apresentar algumas the new proposed method is promising, enabling physical
limitações, o novo método se mostra promissor, capacitando therapists to continuing follow up the progress of patients,
fisioterapeutas a seguir continuamente o progresso de pacientes, without considerable difficulties.
sem dificuldades consideráveis. Key-words: gait, techniques and measurement equipment.
Palavras-chave: marcha, técnicas e equipamentos de medição.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução resultados positivos na intervenção terapêutica e no


prognóstico, uma vez que existem limitações no suporte
A análise da marcha tem um papel fundamental no de peso corporal no membro afetado durante a fase de
processo de reabilitação. Por exemplo, a avaliação da apoio da marcha, ou mesmo na fase de balanço, devido a
locomoção em pacientes pós-AVE (acidente vascular perda da função [8].
encefálico) [1-4], lesão de medula espinhal [1,5,6], ou Existem variáveis que podem descrever o padrão da
patologias ortopédicas [7] é decisiva na obtenção de marcha humana, e vários métodos para medir tais

Recebido 8 de outubro de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Christiano Bittencourt Machado, Laboratório de Ultra-Som, Programa de Engenharia Biomédica,
COPPE/UFRJ Ilha do Fundão, Centro de Tecnologia, Caixa Postal 68510, 21945-970 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 9843-8059, E-mail:
cbm@peb.ufrj.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 47

parâmetros têm sido propostos, principalmente o uso dos do contato do calcanhar. A figura 1 mostra o gráfico de
complexos laboratórios de biomecânica [9,10]. O uma gravação de som de um metrônomo com um ritmo
comprimento da passada e do passo, largura da base de de 96 batidas por minuto (bpm). Se também for
suporte e o grau do artelho desviado para fora compõem considerado que cada pico de magnitude positiva máxima
as variáveis espaciais da marcha; as variáveis temporais (PMPM) pode ser um contato do calcanhar, os intervalos
incluem a duração da passada e do passo, cadência e entre dois picos podem representar o tempo entre dois
velocidade. Portanto dados quantitativos podem fornecer passos. A cadência poderia ser o número de picos dividido
informações sobre as características e fatores que afetam pelo tempo total, do início da gravação até o último pico,
a deambulação normal, como a idade, altura, sexo, força e finalmente a velocidade poderia ser estimada pela
muscular e aspectos cognitivos [11,12]. distância percorrida dividida pelo tempo total. Infeliz-
Apesar da importância de sistemas de medidas na mente, como será visto a posteriori, esse padrão de gráfico
obtenção desse tipo de informação, os fisioterapeutas não está presente quando a gravação é realizada com os
geralmente não têm um suporte financeiro suficiente para microfones nos pés durante a marcha, embora existam
adquirir equipamentos adequados para uma análise cinética muitas similaridades.
e/ou cinemática. Sendo assim, o desenvolvimento de
métodos mais simples e de baixo custo mostra-se de Figura 1 – Som provindo de um metrônomo funcionando a 96
bpm (equivalente a uma cadência de 1,6 passos/s). Note a
grande valor, contribuindo na prática diária do profis-
presença de 15 picos, que corresponderia a 15 passos dados
sional.
por uma pessoa usando um microfone em cada pé.
Diversas variáveis da marcha podem ter como
referência de medida o contato do calcanhar no chão,
freqüentemente considerado como a primeira subunidade
da fase de apoio [10,11,13]. Logo, se for possível identificar
e gravar esse momento, pode-se então estimar aspectos
temporais da locomoção. Um dispositivo que poderia
detectar esses toques no chão é o microfone, que representa
um acessório de baixo custo, principalmente aqueles co-
mumente usados em microcomputadores.
Sendo assim, esse estudo visa apresentar um novo
método para estimar variáveis temporais da marcha,
usando microfones-padrão para microcomputadores,
colocados um em cada pé. Um algoritmo foi desenvolvido
para fornecer dados quantitativos, como cadência,
velocidade, e duração da passada e do passo, utilizando a
gravação do som enquanto o paciente caminha por uma
distância predeterminada. Para a obtenção de resultados
preliminares, o método foi testado em indivíduos
aparentemente saudáveis, como está descrito na seção Com o objetivo de estimar as variáveis temporais da
Métodos. marcha, um algoritmo foi desenvolvido e implementado
no software Matlab (The MathWorks Inc., USA). Após a
Métodos gravação do som, o programa realiza as seguintes
instruções:
O algoritmo (1) Leia o arquivo (extensão .wav) gravado, salvo e introduzido
pelo usuário;
Como foi mencionado antes, o contato do calcanhar (2) Mostre o gráfico originado da gravação (Figura 1, por
na fase de apoio tem um papel importante na medida exemplo);
de diversas variáveis da marcha. Conseqüentemente, se (3) Encontre o tempo, em segundos (s), relativo a cada
existe um dispositivo capaz de capturar esses toques no PMPM, construindo um vetor de dados x1 com N pontos
chão, é possível calcular, por exemplo, o tempo entre (N picos, ou N passos);
dois passos ou duas passadas, a velocidade e a cadência (4) Calcule a diferença de tempo entre os picos, construindo
da marcha. um vetor x2, onde para 2 ≤ i ≤ N-1, x2(1) = x1(2) – x1(1) e
Um microfone colocado em cada pé de um indivíduo x2(i) = x1(i+1) – x1(i). Esses pontos representarão a duração
poderia ser designado para essa tarefa. Suponha que as entre cada par de passos. Note que o intervalo entre o
batidas de um metrônomo pudessem ser consideradas início da gravação e o primeiro pico é excluído do novo
como sendo o som capturado pelo microfone, provindo vetor. Isso é muito importante, uma vez que o início da
48 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

gravação é feito manualmente pelo usuário, o que pode Fig. 2 – Uma ampliação no sexto pico do gráfico da figura 1. Note a
diminuir o tempo real do primeiro passo, e conseqüentemente presença de vários picos de amplitude positiva, muito próximos uns dos
induzir a erros nas estimativas. Portanto, o algoritmo outros, dentro da região entre 3.68 e 3.69 s. Sem a divisão do sinal em
identificará o segundo PMPM como sendo o primeiro passo segmentos, o algoritmo encontraria vários picos, quase no mesmo instante
realizado pelo indivíduo; de tempo.
(5) Assumindo que o indivíduo realizou seu primeiro passo
com o pé esquerdo (primeiro pico, que é excluído), construa
dois novos vetores, y1 e y2, onde para 1 ≤ i ≤ N-1:
• se i é ímpar, y1(j) = x2(i) + x2(i+1); senão se i é par,
y2(j) = x2(i) + x2(i+1); j varia de 1 até N/2, se N é
ímpar; se N é par, j varia de 1 até N/2 para y1, e de 1
até (N/2)-1 para y2;
• y 1 e y 2 representam a duração entre cada passada
esquerda e direita, respectivamente;
(6) Calcule a cadência da marcha (passos por segundos –
passos/s), dividindo N pelo tempo total em s;
(7) Calcule a velocidade da marcha (m/s), dividindo a
distância percorrida (m) pelo tempo total (s);
(8) Mostre as estatísticas básicas, tal como média, desvio-
padrão, coeficiente de variação (%), valores máximo e
mínimo, dos vetores x2 (passos), y1 (passadas esquerdas) e
y2 (passadas direitas).
Indivíduos
O usuário precisa introduzir 3 entradas para o
programa, após analisar o gráfico de som: Para a obtenção de resultados preliminares com o método
(a) Limiar de amplitude (LA): o algoritmo encontra os em questão, foram recrutados 5 indivíduos do sexo feminino
picos que estão acima desse valor. A importância dessa (idade média = 21,4 anos, desvio-padrão (DP) = 0,54,
entrada será discutida em breve; amplitude = 21 – 22). A escolha do sexo feminino não teve
(b) A distância total percorrida pelo indivíduo, para uma finalidade específica; apenas para obter uma amostra
estimar a velocidade da marcha; homogênea quanto ao sexo. Todos eles eram estagiários da
(c) O tamanho da janela temporal de busca: com o objetivo clínica de fisioterapia onde foi realizado o estudo, e assinaram
de encontrar picos, o sinal é dividido em M segmentos um termo de consentimento livre e esclarecido. Os
com tamanho t s, seguindo critérios heurísticos. Dentro voluntários deveriam apresentar uma condição
da janela temporal, o algoritmo procura pelo PMPM que aparentemente saudável, sem nenhum distúrbio visível da
está acima do LA. Essa divisão do sinal é muito marcha.
importante, uma vez que, geralmente, um valor máximo
aparente é composto de mais do que um pico, como pode
Protocolo experimental
ser visto em uma ampliação em um pico na figura 2. Se a
Para gravar o som provindo do contato do calcanhar no
divisão do sinal não fosse feita, o algoritmo encontraria
solo durante a marcha, foram usados dois microfones
vários picos que estão próximos entre si. Porém, atenção
padrões para microcomputadores (Leadership, freqüência
deve ser tomada: se o tamanho da janela for muito grande,
de resposta: 50 Hz~16 kHz, sensibilidade: -58 ± 3dB,
o algoritmo pode identificar um pico apenas, quando na
razão sinal-ruído: 40dB), cada um conectado a uma
verdade pode haver dois ou mais PMPMs dentro dos
extensão de fio estéreo de 15 metros de comprimento. O
limites impostos.
volume do microfone usado foi de 1/6 do máximo, para
O uso dessas janelas poderia ter um inconveniente: capturar apenas o barulho produzido pelo contato do
se uma região de pico fosse capturada por duas janelas (o calcanhar. O Gravador de Som do Microsoft Windows
final de uma e o início da próxima), o algoritmo deter- XP foi usado para gravar e salvar o arquivo (extensão
minaria dois picos (como se fosse dois passos do indivíduo), .wav, formato de áudio PCM 22,050 kHz; 8 Bit; Mono).
quase no mesmo instante de tempo. Para evitar isso, uma A figura 3 ilustra como os microfones foram colocados,
margem de erro (ME) foi utilizada. Sendo assim, se o um em cada pé, posteriormente ao maléolo lateral, com
final de uma janela encontrar um pico em t1 s, e o início a extremidade distal a aproximadamente 5 mm do chão.
da próxima janela encontrar outro pico em t2 s, onde t2 ≤ A extremidade proximal e 1/3 distal do dispositivo foram
t1 + ME, o último pico será descartado. fixadas com elásticos. Além disso, um esparadrapo foi
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 49

colocado próximo à extremidade distal, e a conexão entre o


microfone e a extensão foi fixada na cintura do indivíduo,
evitando assim barulho indesejável proveniente dos
conectores se arrastando no chão.
Fig. 3 – Posição dos microfones, colocados um em cada pé (exemplo no pé
direito), posterior ao maléolo lateral. Note a presença de elásticos e
esparadrapo, para evitar movimento excessivo do microfone. Os conectores
do microfone e da extensão foram fixados na cintura do voluntário.
Primeiramente, cada indivíduo permaneceu em pé com
Foram utilizados 3 ritmos R (R1 = 96 bpm, ou 1,6 passos/
s; R2 = 108 bpm, ou 1,8 passos/s; e R3 = 120 bpm, ou 2,0
passos/s). De acordo com Shumway-Cook & Woollacott
[10], a cadência média de um indiíduo adulto é de
aproximadamente 1,9 passos/s. Para cada ritmo do
metrônomo, o indivíduo:
• Permanecia em pé por 1 minuto, sem qualquer calçado,
somente ouvindo as batidas do metrônomo;
• Percorria por três vezes uma distância predeterminada
de 8 m, marcada no chão com duas linhas brancas,
seguindo a cadência fornecida pelo metrônomo (um
passo por batida), sempre começando pelo pé esquerdo.
O primeiro passo devia ser dado em cima da linha de
início do percurso; esse procedimento garante que o
algoritmo exclua o primeiro passo (esquerdo), e compute
o segundo passo como sendo o primeiro do percurso,
com o pé direito. Isso retira o erro devido ao início manual
da gravação, feita pelo usuário;
• Percorria mais duas vezes (teste-reteste), porém agora
com gravação do som. O usuário dava o comando ver-
bal, e o indivíduo começava a andar;
os dispositivos acoplados nos membros inferiores. Uma • A cada percurso, uma pessoa ficava encarregada de con-
gravação de som foi realizada e mostrada graficamente tar e anotar quantos passos foram dados pelo indivíduo,
para análise, para garantir a ausência de barulho consi- para verificar se o algoritmo falhava;
derável dentro da sala de experimento (figura 4a). Um • Cada gravação era salva para posterior análise.
metrônomo (Wittner® Taktell Junior, series 820) foi então
O LA é escolhido de acordo com cada gráfico de
disparado dentro da sala a um ritmo predeterminado, e
som. Por exemplo, considere a figura 5 como sendo uma
uma nova gravação de som foi realizada (figura 4b).
gravação da marcha. Nesse caso, um bom LA seria 0,6,
Fig. 4 – Som provindo: (a) da sala experimental, sem nenhum tipo de uma vez que é possível eliminar picos que não estão
isolamento acústico. A amplitude máxima foi 0,12.; (b) do metrônomo relacionados com o contato do calcanhar no solo. O
funcionando dentro da sala experimental. A amplitude máxima foi algoritmo calcula corretamente 12 passos (o primeiro é
0,19. excluído, conforme discutido antes). O tamanho da
janela temporal de busca usado foi de 0,2 s para todos os
sinais (uma vez que, no caso de indivíduos normais,
não haveria a possibilidade de haver mais do que um
passo em um intervalo de tempo de 0,2 s). A ME
implementada foi de 0,2 s. Toda a coleta de dados foi
realizada por um usuário.
Para verificar se o algoritmo calculava corretamente a
cadência, os sons das batidas do metrônomo em
diferentes ritmos (96, 108, 120, 138 e 160 bpm) foram
gravados (ver figura 1 como exemplo), e a seguir
processadas pelo programa. O algoritmo estimou com
precisão todos os ritmos.
50 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Fig. 5 – Gravação do som da marcha usando microfones. Note a presença Resultados


de 13 picos de amplitude, que correspondem a 12 passos dados (o primeiro é
excluído para evidar viés de procedimento). Um LA adequado seria 0,6 A Tabela I mostra as estimativas de cadência para cada
(linha tracejada), eliminando outros picos menores (ruído). indivíduo durante teste-reteste, em diferentes ritmos.
Apesar do interesse do estudo não ser medir a habilidade
do indivíduo em seguir um ritmo de marcha predeter-
minado, a consistência nos dados pode ser observada,
com poucas exceções (discutidas mais adiante).

Discussão

A análise dos dados, apesar de não haver nenhum


tratamento estatístico, mostra que o método é promissor
e consegue estimar as variáveis temporais da marcha. Não
há dúvidas quanto à precisão do algoritmo em estimar a
cadência e, conseqüentemente, outras variáveis, como
foi testado antes com o metrônomo. Sendo assim, se o
microfone é capaz de marcar o toque do calcanhar no
chão, a avaliação pode ser realizada.

Tabela I – Estimativas de cadência, feitas pelo algoritmo, da gravação do som da marcha usando diferentes ritmos.

Cadência (passos/s) Indivíduo

Ritmo 1 2 3 4 5 Média DP

R1 (teste) 1,58 1,62 1,70 1,60 1,64 1,63 0,04


R1 (reteste) 1,61 1,67 1,69 1,60 1,60 1,63 0,04
R2 (teste) 1,81 1,85 1,77 1,82 1,84 1,82 0,03
R2 (reteste) 1,80 1,87 1,78 1,81 1,82 1,82 0,03
R3 (teste) 1,98 2,03 2,01 2,00 1,97 2,00 0,02
R3 (reteste) 2,00 2,02 2,00 1,99 2,00 2,00 0,01

Na Tabela II, os resultados para velocidade podem ser visualizados, e na tabela III os resultados referentes às médias na
duração dos passos.
Tabela II – Estimativas de velocidade, feitas pelo algoritmo, da gravação do som da marcha usando diferentes ritmos.

Velocidade (m/s) Indivíduo

Ritmo 1 2 3 4 5 Média DP

R1 (teste) 0,99 0,87 1,15 0,99 1,01 1,00 0,10


R1 (reteste) 0,99 1,04 1,16 0,99 0,99 1,03 0,07
R2 (teste) 1,12 1,24 1,20 1,12 1,04 1,14 0,07
R2 (reteste) 1,12 1,24 1,21 1,12 1,12 1,16 0,06
R3 (teste) 1,24 1,38 1,38 1,23 2,02 1,45 0,32
R3 (reteste) 1,34 1,52 1,34 1,25 2,04 1,50 0,31

Tabela III – Estimativas de média da duração dos passos, feitas pelo algoritmo, da gravação do som da marcha usando diferentes ritmos.

Média da duração dos passos (s) Indivíduo

Ritmo 1 2 3 4 5 Média DP

R1 (teste) 0,62 0,60 0,57 0,62 0,60 0,60 0,02


R1 (reteste) 0,62 0,60 0,57 0,62 0,61 0,60 0,02
R2 (teste) 0,55 0,53 0,55 0,55 0,55 0,54 0,01
R2 (reteste) 0,55 0,53 0,55 0,54 0,54 0,54 0,01
R3 (teste) 0,50 0,48 0,48 0,50 0,49 0,49 0,01
R3 (reteste) 0,50 0,47 0,50 0,49 0,49 0,49 0,01
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 51

Como um exemplo de utilidade do método, a tabela IV Com exceção do indivíduo 3, caminhando com R1 (1,6
mostra o cálculo de todas as variáveis temporais do indivíduo passos/s), o qual obteve cadências de 1,70 e 1,69 (teste e
5, caminhando de acordo com o ritmo de 96 bpm, reteste, respectivamente), todos os outros resultados para
equivalente a 1,6 passos/s. Note o alto coeficiente de cadência (tabela I) mostram uma consistência nas estimativas,
variação nos passos, indicando uma possível diferença entre se comparado com as batidas do metrônomo. O estudo em
os passos esquerdos e direitos. A figura 6 comprova tal fato, questão não visa avaliar a capacidade de um indivíduo em
onde ilustra os passos esquerdo-direito e direito-esquerdo seguir determinada cadência, mas sim verificar se o método
nesse caso específico, mostrando que a partir de certo ponto estima os valores de forma satisfatória.
há uma diferença entre eles. Na Tabela II, verifica-se um maior desvio padrão, o que já
é esperado, uma vez que, no caso da cadência, o voluntário
Tabela IV – Resultado da análise da marcha do indivíduo 5, caminhando tenta seguir ao máximo o ritmo dado pelo metrônomo, o
com R1 (teste).
que não acontece com a velocidade. Ao aumentar o ritmo
Número total de passos 12 (R3), a diferença de velocidade entre os indivíduos aumenta,
já que há o comprimento de passo varia.
Tempo total do percurso (s) 7,92 Com a exclusão do primeiro pico (primeiro passo após
Velocidade (m/s) 1,01
o início da gravação) foi possível evitar erros de medida
Cadência (passos/s) 1,64
no começo do teste, no que concerne às estimativas de
Passos: cadência. Contudo, as medidas de velocidade da marcha
Média (s) 0,60 podem ser afetadas no final da gravação, uma vez que os
DP 0,06 indivíduos nunca chegam na linha final do percurso com
Coeficiente de variação (%) 10,19
um passo justamente em cima da demarcação, e a
Passo máximo (s) 0,70
Passo mínimo (s) 0,51 distância percorrida é geralmente distorcida. Acreditamos
que, na nossa prática diária, não seria um grande problema,
Passadas direitas: pois o interesse aqui seria obter dados quantitativos
Média (s) 1,20 razoáveis para possibilitar ao fisioterapeuta uma avaliação
DP 0,06
do estado do paciente no momento de entrada no serviço
Coeficiente de variação (%) 5,11
Passo máximo (s) 1,26 fisioterapêutico, e a partir daí seguir seu progresso após
Passo mínimo (s) 1,10 intervenção. Apesar disso, não excluímos a necessidade
Passadas esquerdas: de corrigir esse viés.
Média (s) 1,12 Os microfones não foram colocados ao lado do maléolo
DP 0,06 medial, pois poderia causar barulho indesejável, especial-
Coeficiente de variação (%) 4,90 mente durante a fase de balanço, devido aos possíveis
Passo máximo (s) 1,31
contatos entre as hastes do microfone. A posição lateral
Passo mínimo (s) 1,14
evita esse problema. Quanto a forma de acoplamento
dos microfones (elásticos e esparadrapo), não verificamos
Fig. 6 – Tempos entre os passos direito e esquerdo. nenhum inconveniente. Os voluntários relataram não
sentir incômodo algum, e a qualidade do sinal provindo
da gravação foi satisfatória. Porém, no futuro, o desen-
volvimento de um objeto para fixar os microfones na
perna se mostra importante.
Como uma sugestão, é possível implementar um teste
de hipótese para verificar se há diferença significativa
entre os passos. Isso pode ter um valioso poder diagnóstico
e prognóstico em diversas patologias, como escoliose,
diferenças nos comprimentos dos membros inferiores,
distúrbios locomotores em geral, etc.
Esse método tem muitas vantagens para a prática do
fisioterapeuta (claro, uma vez que ele possua um
computador a disposição em sua clínica): (1) os microfones
usados são muito baratos; (2) o método não é invasivo;
(3) o método é muito simples, não trazendo nenhum
tipo de inconveniente para o paciente; e (4) não é
necessária uma isolação acústica no recinto, bastando
apenas garantir o mínimo de ruído possível, o suficiente
52 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

para capturar o som do toque do calcanhar no chão. Referências


No entanto, é importante frisar que o objetivo do
trabalho foi apresentar uma idéia nova, e obter resultados 1. Umphred DA. Neurological Rehabilitation. 4th ed. St. Louis,
preliminares com o novo método. Para tal, apenas Missouri: Mosby; 2001.
indivíduos saudáveis, com um padrão normal de marcha 2. Miller EW, Quinn ME, Seddon PG. Body weight support
(retirando o pé do chão e colocando novamente o treadmill and overground ambulation training for two
calcanhar no próximo passo) foram recrutados. Para o patients with chronic disability secondary to stroke. Phys
Ther 2002;82:53-61.
futuro, é indispensável o uso do método em grupos de
3. Laufer Y, Dickstein R, Chefez Y, Marcovitz E. The effect
pacientes, como pacientes pós-AVE, com distúrbios trau-
of treadmill training on the ambulatory of stroke survivors
mato-ortopédicos, etc. Não se sabe qual será o padrão do in the early stages of rehabilitation. J Rehab Res Dev
gráfico de som provindo da marcha nesses casos, sendo 2001;38:69-78.
necessária uma análise detalhada e uso de estratégias 4. Cunha Filho IT, Lim PAC, Qureshy H et al. A
adequadas de programação. comparison of regular rehabilitation and regular
Uma outra desvantagem do método é que, às vezes, o rehabilitation with supported treadmill ambulation
gráfico de som não se mostra com um padrão adequado, training for acute stroke patients. J Rehab Res Dev
ou seja, não é possível definir os PMPMs relativos aos 2001;38:245-55.
passos do indivíduo. Nesses casos, uma nova gravação 5. Field-Fote EC, Tepavac D. Improved intralimb
coordination in people with incomplete spinal cord injury
deve ser feita, e o terapeuta deve ser capaz de discernir se
following training with body weight support and
o LA é capaz de selecionar os picos corretos. electrical stimulation. Phys Ther 2002;82:707-715.
6. Behrman AL, Harkema SJ. Locomotor training after
Conclusão human spinal cord injury: a series of case studies. Phys
Ther 2000;80:688-700.
O presente método para avaliação de variáveis temporais 7. O’Sullivan SB, Schmitz TJ. Physical rehabilitation:
da marcha usando microfones se mostra promissor. Se o assessment and treatment. 4 th edition. USA: FA Davis;
2001.
fisioterapeuta possui um computador em sua clínica, basta
8. Rose J, Gamble JG. Human walking. 2 nd ed. USA:
adquirir os microfones, de muito baixo custo. A princípio, Lippincott Williams & Wilkins; 2000.
apesar dos resultados preliminares apresentados serem 9. Pélissier J, Laasel EM, Guibal C. Analyse métrologique
relativos a indivíduos saudáveis, pacientes com um padrão de la marche et pratique de rééducation. Cah Kinésithér
de marcha que retire o pé do chão, recolocando-o no próximo 2001;208:7-10.
passo, poderiam ser beneficiados com o uso dessa ferramenta. 10. Shumway-Cook A, Woollacott MH. Motor control:
O fisioterapeuta teria dados quantitativos essenciais para o Theory and practical applications. 2 nd edition. USA:
diagnóstico cinésio-funcional, assim como para o Lippincott Williams & Wilkins; 2001.
acompanhamento desse paciente. 11. Norkin C, Levangie P. Joint structure and function. A
comprehensive analysis. 2nd ed. USA: FA Davis;1992.
Para o futuro, estão previstos mais estudos, principalmente
12. Philip J. Marche et participation des mécanismes
em pacientes com patologias diversas, assim como avaliar a cognitifs. Ann Kinésithér 2001;28:277-84.
validade e confiabilidade do método em questão. 13. Hamill J, Knutzen KM. Biomechanical basis of human
movement. 2 nd ed. USA: Lippincott Williams &
Agradecimentos Wilkins;1995. 

O primeiro autor agradece a FAPERJ pelo suporte


financeiro. Todos os autores agradecem Fabrício Machado
e Dr. Ulysses Serra, pelo suporte técnico e cooperação
durante a realização do trabalho.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 53

Artigo original

Estudo de elementos temporais da marcha


em indivíduos com hálux valgo
Study of gait temporal elements of individuals with hallux valgus

Irocy Knacfuss*, Stella Rosenbaum*, Luiz Alberto Batista**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro,


**Laboratório de Biomecânica, Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Mestrado em Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro

Resumo Abstract
O objetivo desse estudo foi comparar a duração do apoio A temporal study of the gait was carried out observing
relativo versus diferentes regiões do pé em indivíduos com e sem sixty patients of both sexes, 21 to 76 years old. Thirty
hálux valgo. Foram investigados 60 indivíduos de ambos os sexos individuals had hallux valgus and thirty individuals
(15 masculinos e 45 femininos) com idades entre 21 e 76 anos, constituted a control group. Contact transductors were fixed
divididos em dois grupos de 30, sendo um composto por sujeitos on the plantar region at calcanean level and on the plantar
que apresentavam hálux valgo e o outro sem deformidade (grupo region at the level of the metatarsian heads of the fifth,
controle). Para a captura dos dados foram fixados transdutores de permitting quantification of time duration of foot-ground
contato nas regiões plantares do calcâneo e da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª cabeças contact from the moment of the calcaneous shock until the
metatarsais sendo os dados registrados por um cronógrafo analógico loss of ground contact of the five metatarsian heads. At the
especificamente habilitado para o feito. Os resultados obtidos evaluation of these temporal components of the gait the feet
demonstram que: os pés com hálux valgo apresentaram valores who had hallux valgus revealed to have significant inferior
significativamente menores no tempo de contato da 1ª cabeça values on the first metatarsian head in relation to those of the
metatarsal em relação à 2ª e 3ª, quando comparados com os pés do second and third metatarsian heads, which did not occur in the
grupo controle; o tempo de contato da região do antepé sob a 3ª, 4ª control group. The time of contact of the forefoot over the 2nd-5th
e 5ª cabeças não foi diferente nos dois grupos, muito embora pés metatarsian heads were not different in either groups although
com hálux valgo demorassem mais tempo desde o choque do feet with hallux valgus had a greater time span from calcanean
calcâneo até o fim do apoio. shock to the end support.
Palavras-chave: biomecânica, marcha, hálux valgo, cinemática. Key-words: biomechanics, gait, hallux valgus, kinematic.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução provocado por essas cargas em estruturas desarmonizadas


também já foi mapeado e há evidências de que o hálux
As evidências clínicas indicam que a síndrome da valgo pode ser um fator predisponente para a ocorrência
insuficiência do apoio do primeiro raio do pé está de fraturas de stress no pé [7].
freqüentemente associada ao valgismo do hálux. Apesar da importância dessa síndrome e da elevada
O pé tem um papel fundamental no processo de incidência deste desvio anatômico, poucos estudos acerca
deslocamento humano e seu comportamento se alterará das características temporais da marcha de indivíduos com
tanto em função de diferentes tipos de deslocamento, essa condição clínica foram realizados até o momento.
como desordens em sua própria estrutura [1]. Em termos Isto tem dificultado o delineamento de critérios objetivos
biomecânicos, a harmonia estrutural da região do halux que auxiliem nas indicações terapêuticas ortopédicas, como
é um fator importante na dinâmica da marcha tendo em também no acompanhamento dos avanços obtidos no
vista que este setor do pé está sujeito a forças de grande tratamento fisioterápico da marcha desses pacientes.
magnitude [2-6] e só as suporta, de forma eficiente se estiver Qualquer estudo sobre a cinemática da marcha, seja em
estruturalmente preparado para fazê-lo. O resultado condições normais ou patológicas, deve considerar a medida

Recebido 26 de novembro de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Luiz Alberto Batista, UERJ/IEFD, Laboratório de Biomecânica, Rua São Francisco Xavier, 524 Prédio
João Lyra Filho, Bloco F, sala 8122, 20550-013 Rio de Janeiro RJ.
54 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

e a avaliação de parâmetros básicos da mesma. Dentre estes, da marcha, comparando a deambulação de indivíduos com
a duração dos ciclos da marcha, fase de apoio mais a fase e sem deformidade tipo hálux valgo, de forma a verificar
oscilante, a freqüência dos passos ou passadas, somatório se os parâmetros se apresentam em magnitudes diferentes,
de dois passos sucessivos, bem como a sua simetria espacial utilizando uma técnica especificamente voltada à captura
ou temporal têm sido considerados importantes indicadores de dados temporais, que propicia a determinação sensível
da normalidade [8,9]. Já há algum tempo, estas investigações e precisa dos instantes de inicio e fim dos eventos em
têm sido associadas a outros de natureza dinâmica e, por exame.
isso, utilizam tecnologias adequadas a esse fim, como os
sistemas de captura de imagem sofisticados e as plataformas Material e métodos
de força [10]. Apesar de indicar um crescimento no potencial
investigativo da área em foco, isso, em certa magnitude, Foram investigados 60 indivíduos, 45 femininos e 15
gera o inconveniente de elevar o custo dos equipamentos masculinos, com idade compreendidas entre 21 e 76 anos,
utilizados, o que, indiretamente, faz aumentar a distância sendo que 30 apresentavam hálux valgo e integraram o
entre a rotina clínica e o exame efetivo de parâmetros grupo patológico enquanto os restantes 30, não apresentavam
biomecânicos, tais como a freqüência dos eventos cíclicos e queixas dolorosas nem hálux valgo e constituíram o chamado
a porcentagem de tempo relativo dos eventos em relação grupo controle.
ao tempo total de ocorrência do fenômeno ou mesmo entre Os registros gráficos dos ciclos da marcha foram obtidos
eventos. com os indivíduos sem sapatos, tendo sido estudados os
Quanto à freqüência da marcha, estudos mostraram que pés separadamente. Para a obtenção dos registros foi utilizado
a maioria das pessoas anda dentro de um intervalo entre um sistema eletrônico constituído por um bloco registrador,
80 e 140 passos por minutos, buscando sempre a faixa de um cronógrafo analógico, transdutores de contato e uma
maior eficiência para se locomover [11-15]. Sabe-se também chave seletora que tem como função selecionar o canal rela-
que a assimetria temporal no andar, quando considerados tivo a uma das cinco cabeças metatarsais.
os lados esquerdo e direito, está associada a alguns tipos de Seis transdutores de contato foram fixados no pé. Um
patologias [16]. deles foi colocado na região calcaneana e os outros cinco
No caso do comportamento temporal do apoio dos pés, foram fixados no antepé nas regiões correspondentes às
nas regiões consideradas na presente investigação, os estudos cinco cabeças metatarsais. As regiões foram identificadas
têm demonstrado após o choque do calcâneo a área de através de palpação sempre pelo mesmo examinador.
apoio se desloca da região lateral para a medial do pé. No No registro do sinal foram identificados os seguintes
entanto estes dados foram obtidos através do exame de componentes:
impressões plantares, tendo sido considerado como variável 1) Instante em que o contato da região calcânea fecha
a extensão das áreas de contato da planta do pé com a o circuito com a pista, que constitui a posição de início
superfície horizontal do vidro transparente da plataforma da fase de apoio (contato do calcâneo);
de espelhos [17,18]. O inconveniente de se fazer estudos 2) Instante de contato da região metatarsiana subjacente
temporais através do registro da área de impressões plantares à cabeça do metatarsiano que está sendo considerada,
é que a referência de tempo não é precisa, o que pode significando que o pé iniciou o apoio da região do antepé,
comprometer os valores obtidos. embora o contato do calcâneo ainda esteja ativo;
Hutton e Dhanendran [19] realizaram estudos em pés 3) Instante do início da fase de propulsão caracterizado
normais e com hálux valgo utilizando um sistema de registro pelo momento em que o contato do calcâneo é desfeito;
com plataforma de força, em que demonstraram que os pés 4) Instante em que o contato do antepé é desativado,
com deformidade despendem maior percentagem do tempo significando que o pé não se encontra mais apoiado por
de contato com o solo sobre seus calcanhares, médio pé e as esta região.
três cabeças mais laterais. Da mesma forma Grundy et al. Não foi fixada nenhuma freqüência de marcha, sendo
[20] e Hutton e Dhanendran [21] identificaram um maior considerada a habitual do indivíduo como a mais significativa
tempo de apoio sobre regiões posteriores do pé neste grupo, para se avaliar o comportamento das características tem-
diferentemente de indivíduos sem hálux valgo os quais porais da marcha.
transferiam, rapidamente, o apoio para o antepé. Os testados foram orientados a caminhar varias vezes
Quanto a participação dos dedos, os trabalhos de Katoh sobre uma pista utilizando o equipamento, para que pu-
et al. [22] e Stott et al. [23] identificaram uma redução na dessem acostumar-se à situação de teste reduzindo a mag-
função de suporte e transferência do peso no fim do apoio nitude do efeito retroativo.
em pés com hálux valgo, caracterizando uma insuficiência No tratamento estatístico dos dados, foi utilizado o teste
na propulsão. Z para diferenças de médias, conforme recomenda por
No presente estudo, examinamos o comportamento Carvajal [24], com á = 0,05.
temporal relativo entre regiões do pé, presente no decurso Termos dos componentes temporais da marcha adotados:
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 55

• Tempo de apoio: tempo dispendido pelo pé durante toda Na análise de significância entre as diferenças de média,
a fase de apoio com o solo durante a locomoção, não tanto de forma intergrupal como intragrupal, não foram
sendo considerado o tempo de contato do hálux; observadas diferenças significativas entre os valores encon-
• Tempo de ponta: tempo dispendido pelo pé, quando se trados.
encontra apoiado apenas pela região correspondente o antepé. Na Tabela II, os valores indicam a duração, no grupo
Inicia-se quanto o calcâneo abandona o contato com o solo controle, do tempo de apoio do pé desde que este estabelece
durante a marcha e termina, quanto o antepé deixa o contato contato com o solo pela região calcaneana, até o instante
com o mesmo. O tempo de apoio do hálux não está incluído. em que as cinco cabeças metatarsans perdem o contato
• Tempo do 1º metatarsiano/falange distal do hálux: lapso com o mesmo, iniciando-se logo após a fase oscilante. O
de tempo em que tanto a cabeça do 1º metatarsal como tempo de envolvimento do hálux não está aqui considerado.
o halúx estão em contato com o solo. Tanto do lado direito, como no esquerdo, observa-se que
• Fase oscilante: durante a marcha, tempo em que o pé todas as regiões estudadas dispenderam mais de meio segundo
como um todo, não tem contato com o solo. no apoio.
• Duração do ciclo da marcha: o tempo decorrido entre dois
contatos sucessivos pelo mesmo pé com o solo. Somatório Tabela II –Duração do tempo de apoio, em milisegundos, do 1º ao 5º
do tempo de apoio mais o tempo da fase oscilante. Raios do pé. Grupo controle.
• Freqüência da marcha: o número de passos – dois con-
Raios Direito Esquerdo
tatos sucessivos contralaterais – executados pelos indi-
víduos, por minuto 1º N = 96 __ N = 93 __
X = 644,4 X = 643,6
DP = 95,2 DP = 85,6
Resultados N = 95 N = 91
__ __
2º X = 631,6 X = 630,8
Foram tratados 5.904 dados numéricos denotativos dos DP = 81,6 DP = 120,0
tempos em milisegundos oriundos dos registros gráficos dos N = 92 N = 90
ciclos da marchas realizadas pelos indivíduos que __ __

compuseram os sujeitos deste estudo. 3º X = 634,4 X = 615,2


DP = 81,6 DP = 80,0
Na Tabela I, vêem-se os dados referentes à duração, N = 94 N = 92
com precisão de milisegundos, dos ciclos da marcha, fase __ __
de apoio mais fase oscilante, considerando-se os dois 4º X = 612,0 X = 604,0
membros inferiores. DP = 68,0 DP = 85,6
N = 96 N = 91
__ __
Tabela I – Tempo de duração dos ciclos da marcha, em segundos, (fase de
5º X = 588,0 X = 560,4
apoio + fase oscilante).
DP =78,4 DP = 68,0
Grupo Direito Esquerdo Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.
Controle __N= 87 __N= 82 A partir da 1ª cabeça metatarsal que tem os mais altos
X = 1,155 X = 1,173
valores (= 644,4 mseg, DP = 95,2 mseg na direita; =
DP = 0,170 DP = 0,190
643,6 mseg, DP = 85,6 mseg na esquerda) os valores
Patológico __N
= 100 __N
= 130 vão decrescendo até a 5ª cabeça que dispende os mais
X = 1,182 X = 1,192 baixos tempos no apoio (= 588,0 mseg, DP = 78,4
DP = 0,121 DP = 0,132 mseg na direita; = 560,4 mseg, DP = 68,0 mseg na
Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004 esquerda).

Tabela III – Tempo de apoio significância estatística. Grupo controle.

Direito Esquerdo

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
1º 0,77 2,66 4,47 1º 2,32 3,16 0,36
2º 0,99 2º 0,92
3º 0,23 3º 1,14
4º 2,03 4º 0,91
5º 2,26 5º 3,82

Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004


56 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Vê-se que as testagens de diferença de média entre as Da mesma forma que no grupo controle, os valores
cinco regiões na direita revelaram que os tempos de apoio tanto no pé direito, como no esquerdo ultrapassaram meio
entre a 1ª, 4ª e 5ª, a 3ª e 4ª e 4ª e 5ª cabeças foram segundo, sendo importante observar que os valores cor-
significativamente diferentes. No lado esquerdo, as respondentes aos metatarsais centrais 2º e 3º e laterais 4º e
diferenças também são significativas entre os tempos da 5º têm uma duração absoluta maior que os correspondentes
1ª, 3ª, 3ª e 4ª e entre a 4ª e 5ª cabeças. nos pés dos indivíduos do grupo controle.
Os dados da Tabela IV referem-se a valores da mesma A Tabela V indica que os valores desta variável tiveram
variável anterior, em pés com hálux valgo. um comportamento diferente do observado no grupo
controle.
Tabela IV – Duração do tempo de apoio, em milisegundos, do No lado direito existem diferenças significativas entre a
1º ao 5º Raios do pé. Grupo patológico. 1ª, 2ª e 3ª cabeça cujo tempo de contato é mais elevado,
enquanto no lado esquerdo só há diferença significativa,
Raios Direito Esquerdo
__ __ entre a 1ª e 5ª e entre esta e a 4ª cabeça, respectivamente.
1º N = 127 X = 634,0 N = 159 X =659,2 Os dados explicitados na Tabela VI referem-se às com-
DP =129,6 DP = 99,6 parações dos dados de forma intergrupal.
2º N = 128 __ N=141 __
Os dados demonstram que não existem diferenças
X = 664,8 X = 655,2 significativas entre os tempos das primeiras cabeças na direita
DP = 102,8 DP = 113,6 e entre os tempos da 1ª e 2ª na esquerda; os demais valores
são muito diferentes com o grupo patológico demorando
3º N = 119 __ N=134 __
mais tempo no apoio, o que se confirma pelos valores
X = 669,2 X = 651,2
DP = 116,4 DP = 93,6 absolutos mais elevados neste grupo.
Segundo Perry [25] é durante o tempo de ponta que
4º N = 119 __ N=137 __ ocorre maior sobrecarga sobre a região, resultado da ação
X = 653,6 X = 642,0 combinada do peso corporal mais contração muscular mais
DP = 98,0 DP = 103,6
tensão da fascia plantar.
5º N = 115 __ N=127 __ As Tabelas IX e X indicam os escores Z obtidos para as
X = 635,2 X = 614,8 diferentes comparações realizadas com os valores desta
DP = 98,8 DP = 92,4 variável.
Fonte:SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004

Tabela V – Tempo de apoio. Significância Estatística. Grupo patológico.

Direito Esquerdo

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
1º 2,10 2,25 1,34 0,08 1º 0,32 0,70 1,25 3,92
2º 0,02 2º 0,31
3º 1,12 3º 0,77
4º 1,43 4º 2,36
5º 5º

Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.

Tabela VI – Tempo de apoio – significância estatística – Grupo controle / Grupo experimental.

Controle

Direito Esquerdo

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
Patológico

1º 0,7 1º 1,31
2º 2,7 2º 1,69
3º 2,55 3º 3,10
4º 3,71 4º 3,0
5º 3,90 5º 5,0

Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.


Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 57

Tabela VII – Duração do tempo de ponta, em milisegundos, da 1ª, 2ª, 3ª, Tabela VIII – Duração do tempo de ponta em milisegundos da 1ª, 2ª, 3ª,
4ª e 5ª cabeças metatarsais. Grupo controle. 4ª e 5ª cabeças metatarsais. Grupo patológico.

Raios Direito Esquerdo Raios Direito Esquerdo


__ __ __ __
1º N = 101 X = 175,2 N = 99 X = 164,8 1º N = 152 X = 143,6 N = 182 X = 140,0
DP = 54,8 DP = 49,2 DP = 58,8 DP = 56,0

2º N = 99 __ N = 96 __ 2º N = 151 __ N = 165 __
X = 182,8 X = 177,2 X = 175,2 X = 162,0
DP = 43,6 DP = 37,2 DP = 55,2 DP = 58,0

3º N = 100 __ N = 95 __ 3º N = 148 __ N = 149 __


X = 181,2 X = 170,8 X = 184,0 X = 159,2
DP = 46,8 DP = 47,6 DP = 64,4 DP = 54,4

4º N = 98 __ N = 96 __ 4º N = 139 __ N = 149 __
X = 164,4 X = 159,6 X = 156,4 X = 156,0
DP = 41,6 DP = 46,4 DP = 52,8 DP = 59,6

5º N = 99 __ N = 95 __ 5º N = 129 __ N = 139 __
X = 142,0 X = 132,8 X = 142,4 X = 139,6
DP = 44,8 DP = 38,0 DP = 49,2 DP = 46,0

Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004. Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.

Nenhum valor dos dois grupos ultrapassou 200 milise- A 5ª cabeça metatarsal, independentemente do pé
gundos, sendo que os valores do grupo controle são mais considerado, direito ou esquerdo, apresenta os mais baixos
elevados em termos absolutos que os tempos correspon- valores de contato, sendo as médias significativamente
dentes no grupo patológico. diferentes de todas as demais cabeças.
De relevante é que no grupo controle não se evidenciaram No grupo patológico, ocorre uma significativa
diferenças significativas nas médias dos tempos obtidos para a diferença entre a 1ª cabeça (= 143,6 mseg DP = 58,8
1ª, 2ª, 3ª e 4ª cabeças, tanto no lado direito, como no esquerdo. mseg na direita e =140,0 mseg DP = 56,0 mseg na esquerda)
A única exceção ocorreu entre a duração média da 1ª e 2ª em relação à 2ª cabeça (= 175,2 mseg DP = 5,2 mseg na
cabeça no lado esquerdo (= 164,8 mseg, S = 49,2 e = 177,2 direita e = 162,0 mseg DP = 58,0 mseg na esquerda).
mseg e S = 37,2 respectivamente).

Tabela IX – Tempo de ponta – significância estatística – Grupo controle.

Direito Esquerdo

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
1º 1º
2º 1,10 2º 2,02
3º 0,85 0,25 3º 0,90 1,02
4º 1,50 2,94 2,64 4º 0,73 2,91 1,67
5º 4,69 6,52 6,08 3,65 5º 5,06 8,16 6,05 4,37

Z tab = 1,96 Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.

Tabela X – Tempo de ponta – significância estatística – Grupo patológico.

Direito Esquerdo

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
1º 4,80 5,64 1,89 0,17 1º 3,62 3,20 2,52 0,07
2º 1,25 2,99 0,15 2º 0,48 0.37 3,80
3º 4,00 5,04 3º 0,50 3,31
4º 2,17 4º 2,65
5º 5º

Z tab = 1,96 Fonte: SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.


58 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Já a duração do tempo de ponta da 1ª cabeça é ciclos das marchas, parece não ter interferido na dinâmica
significativamente menor do que o da 2ª e 3ª cabeças na das mesmas. Isto é importante neste tipo de exame funcional,
direita e até da 4ª cabeça, quando se considera o lado esquerdo. porque estudos mostram que os parâmetros básicos da
Na Tabela XI, encontram-se os escores Z calculados marcha são dependentes da velocidade do andar e fatores
para as diferenças intergrupais à duração média dos tempos que possam interferir na dinâmica da mesma podem conduzir
ponta; as únicas diferenças estatisticamente significativas a resultados não fidedignos.
ocorrem entre os tempos das 1ª cabeças no lado direito e os Outro aspecto relevante foi a inexistência de diferenças
da 1ª e 2ª cabeças no esquerdo. significativas entre as médias das durações dos ciclos da
marcha, quando comparados o lado direito e o esquerdo e
Discussão o mesmo lado no grupo controle e no patológico.
Isto indica que não houve assimetria temporal no andar
destes indivíduos, demonstrando que a Síndrome da
Neste trabalho considerou-se que a quantificação da
Insuficiência do apoio do 1º raio do pé, parece não afetar a
duração do tempo de apoio de certas regiões do pés poderia
freqüência e a duração das fases da marcha, embora isto
revelar durante a marcha uma insuficiência de apoio do 1º
possa ocorrer com outros tipos de alterações no aparelho
raio em pés com hálux valgo. locomotor, como demonstram estudos citados na revisão.
Os dados (Tabela I) mostram que, nos sujeitos estudados, a Ao examinar-se os dados relativos à duração do tempo
duração média dos ciclos das passadas tanto no lado direito de apoio do 1º ao 5º raios do pé do grupo controle (Tabela
como no esquerdo, ultrapassou um segundo, indepen- VIII) observou-se que a duração do tempo de apoio dos
dentemente do indivíduo ter ou não hálux valgo. Quando estes pés direito e esquerdo, naquele grupo, atingiu mais de meio
valores foram convertidos para uma freqüência de marcha, os segundo em todas as regiões consideradas neste estudo. A
mesmos indicaram um valor médio de 104 passos/minuto, o duração do envolvimento da região plantar dos pés cresceu
que está um pouco abaixo dos valores encontrados por Drillis a partir da 5ª cabeça, tornando-se progressivamente maior
[11] em transeuntes, porém próximos dos obtidos por Rozendall, até atingir seu valor máximo na região subjacente a 1ª e 2ª
e apontados por Inman como sendo as mais típicas freqüências cabeças nos pés direitos, os tempo de apoio em relação a 1ª,
encontradas na marcha entre indivíduos. 2ª e 3ª cabeças não tinham diferenças significativas,
Isto demonstra que a freqüência da marcha calculada evidenciando que esta região teve um comportamento
neste trabalho encontra-se numa faixa considerada normal funcional uniforme. A partir da 4ª e 5ª cabeças, este tempo
para a maioria das pessoas e que, sob o ponto de vista meto- diminuiu de forma significativa, o que mostra que estas
dológico, o equipamento empregado para os registros dos regiões deixam de contactar o solo mais cedo que as demais.
Tabela XI – Tempo de apoio-significância estatística. Grupo controle/Grupo patológico.

Controle

Direito Esquerdo

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
Patológico

1º 4,32 1º 3,82
2º 1,19 2º 2,58
3º 0,39 3º 1,75
4º 1,34 4º 0,55
5º 0,12 5º 1,30

Fonte:SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004.

Tabela XII – Relação percentual entre tempo de ponta/tempo de apoio. Grupo controle e Grupo patológico.

Grupo controle Grupo patológico

Raios Direito Esquerdo Raios Direito Esquerdo

1º 27,1% 25,6% 1º 22,6% 21,2%


2º 28,9% 28,1% 2º 26,3% 24,7%
3º 28,5% 27,8% º3º 27,5% 24,5%
4º 26,8% 26,4% 4º 23,9% 24,3%
5º 24,1% 23,6% 5 22,4% 22,7%

Fonte:SOT/UFRJ, LABIOM/UERJ, UCB, 2004


Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 59

No pé esquerdo, o comportamento dos dados foi significativas entre os tempos de ponta da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª
semelhante ao do pé direito exceto, quanto à existência de cabeças. A 5ª cabeça ficou o menor tempo em apoio, sendo
uma diferença significativa entre 1ª e a 3ª cabeça, embora esta diferença muito significante em relação às demais
isto não tenha ocorrido entre a 2ª e a 3ª. cabeças.
Os indivíduos do grupo controle terminaram o apoio No lado esquerdo, as diferenças são significativas entre
pelas regiões do antepé sob 1ª, 2ª e 3ª cabeças metatarsais, a 1ª e a 2ª cabeça que permaneceu um tempo maior no
enquanto a 4ª e 5ª perderam o contato, bem mais cedo apoio. As demais apresentaram tempos de ponta seme-
com o solo, fazendo com que a zona de apoio se deslocasse lhantes, sendo que a 5ª cabeça manteve um comporta-
da região lateral para a medial do pé Dados semelhantes mento similar à correspondente no pé direito.
foram obtidos em estudos que utilizaram a plataforma de O lapso de tempo entre o início do contato da região
espelhos de Ducroquet [16]. calcaneana e o início do contato das cinco cabeças meta-
No grupo patológico, verificou-se um comportamento tarsianas, indica a seqüência da entrada em contato como o
diferente do apresentado pelo grupo controle. Em termos solo das mesmas. Este tempo não foi considerado neste
de valores absolutos, enquanto a duração do apoio, nos trabalho, porque o objetivo do mesmo foi estudar parti-
pés sem hálux valgo decrescia a partir da 1ª cabeça para a cularmente o comportamento da região do antepé, em-
5ª em ambos os pés, neste grupo houve um aumento bora a região calcaneana tenha sido considerada como
desses tempos na região correspondente à 2ª, 3ª e 4ª um referencial para o tempo de apoio total do pé.
cabeças caracterizando um desvio lateral desses tempos. Os dados mostram que nos pés sem hálux valgo
Embora no pé direito a diferença entre o tempo de apoio ocorreu um equilíbrio na duração dos tempos de ponta
da 1ª, 2ª e 3ª cabeça fosse significante, no pé esquerdo das cabeças, exceto em relação à 5ª que teve um tempo
estes valores com 95% de certeza não são diferentes até a menor de contato como o solo. Isto é coerente com a
4ª cabeça metatarsiana, indicando um maior apoio na necessidade de não haver concentrações anormais de stress
parte lateral da região plantar do antepé durante a marcha, (força/área de contato), na região plantar, seja por um
estes achados são similares aos obtidos por Hutton e aumento no módulo destas forças, seja por um tempo
Dhanendran [4], os quais utilizaram plataforma de força maior na atuação das mesmas. Quando podem surgir
em seus estudos. manifestações clínicas anormais, conforme alguns estudos
Na comparação intergrupal, o dado relevante foi que, à têm identificado em certas deformidades em que os pés
exceção do tempo relativo à 1ª cabeça no pé direito do encontram-se envolvidos [20].
grupo patológico, todos os tempos de apoio da 2ª até a 5ª No grupo com hálux valgo, o que ocorreu foi que a 1ª
cabeça são superiores no grupo com hálux valgo em relação cabeça tanto no pé direito como no esquerdo, teve um tempo
ao grupo controle. No lado esquerdo, todos os tempos de de ponta significativamente menor do que a 2ª e 3ª no pé
apoio correspondentes ao grupo patológico são superiores direito e até da 4ª cabeça no esquerdo, caracterizando uma
aos do grupo controle. insuficiência de apoio nesta região.
A partir deste comportamento pode-se inferir que, Na comparação intergrupal, observa-se que houve uma
enquanto pés sem hálux valgo demoram menos tempo e diferença significativa entre os tempos de ponta da 1ª cabeça
terminam o apoio pelas regiões subjacentes às 1ª, 2ª e 3ª na direita que se estende até a 2ª na esquerda. Os demais
cabeças, nos pés patológicos aqui considerados os apoio foi tempos não foram diferentes nos seus valores.
muito mais demorado e envolveu regiões mais laterais do Quando se considerou a relação entre o tempo de apoio
antepé. e o respectivo tempo de ponta das diferentes cabeças,
Embora estes dados já indicassem diferenças na dinâmica surgiram novos dados que ratificaram a ocorrência da
do apoio entre pés com e sem a deformidade hálux valgo, é insuficiência do apoio nesta região. O tempo de apoio do
interessante discutir o comportamento do antepé, quando 1ª metatarsal não foi significativamente diferente entre
inicia-se a fase de propulsão do corpo, no momento em que pés patológicos e não patológicos, o que não ocorreu com
a região calcaneana perde contato com o solo. as demais cabeças.
Nesta fase, o peso corporal concentra-se progressiva- No grupo patológico, em relação aos 1º metatarsais, a
mente na região do antepé, sobrecarregando as cinco igualdade no tempo de apoio do pé como o grupo controle,
cabeças metatarsais. A quantificação dos tempos de apoio foi conseguida, apesar do menor tempo de ponta, por uma
das cabeças nesta fase do ciclo da marcha torna-se rele- maior permanência em contato com o solo de regiões mais
vante, porque permite uma melhor compreensão do posteriores ao antepé; o mesmo mecanismo ocorreu com
comportamento do antepé sob uma variação dinâmica as demais cabeças que têm tempos de ponta iguais ao grupo
da carga, diferentemente do acontece nos estudos controle, mas tempos de apoio muito superiores a estes.
realizados de forma estática. Este comportamento dos valores mostrou que os
Numa análise comparativa, dentro do grupo controle, portadores de hálux valgo apoiaram-se um tempo maior
verificou-se não haver diferenças estatisticamente sobre regiões posteriores do pé, enquanto que os do grupo
60 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

controle, transferiram rapidamente o apoio para o antepé e 3. Grieve DW, Rashid T. Pressure under normal feet in standing
quando isto ocorreu, distribuíram melhor a área de contato and walking as measured by foil pedobarography. Ann Rheum
com o solo entre as cinco cabeças metatarsais. Dis 1984;43:816-8.
Esta alteração na dinâmica do apoio coincide com 4. Hutton WC, Dhanendran M. A study of the distribution
os achados de Grundy et al. [20] e Hutton e Dhanendran of load under the normal foot during walking. Int Orthop
1979;3:153-7.
[19].
5. Soames RW. Foot pressure patterns during gait. J Biomed
O chamado índice do antepé, sugerido por Grundy et
Eng 1985;7(2):120-6.
al. [20] fica alterado nos pés patológicos, como uma 6. Stott JR, Hutton WC, Stokes IA. Forces under the foot. J
participação do antepé sobre o retropé muito reduzida. Bone Joint Surg 1973; 55B(2):335-44.
Nestes casos, o pé fica amortecendo choques e não funciona 7. Kiyoshi Y, Wasushi K. Relationship between stress
eficientemente na propulsão ou fase motora da marcha. fractures of the proximal phalamax of the great toe and
A proporção da participação de cada tempo de ponta hallux valgus. Am J Sports Med 2004;32(4):1032-5.
sobre o tempo de apoio total dos pés também foi 8. Imms JF, McDonald IC. Abnormalities of the gait occurring
determinada. Tomando-se como 100% o tempo de during recovery from fractures of the lower limb and their
permanência do pé em contato com o solo, verificou-se improvement during rehabilitation. Scand J Rehab Med
que ocorreu uma flagrante diferença entre pés sem hálux 1978;10:193-9.
valgo, com maior porcentagem de tempo de ponta, em 9. Tibarewala DN, Ganguli S. Use of a gait abnormality
contraposição com os patológicos, onde ficou evidenciada, index for locomotion efficiency evaluation. J Biomed Eng
1979;1:263-4.
mais uma vez, que a primeira cabeça metatarsiana tem o
10. Lee G, Pollo FE. Technology overview: The gait analysis
mais baixo índice de participação no apoio total, 22,6% e
laboratory. J Clin Eng 2001;25
21,2% contra 27,1% e 25,6% nos pés do grupo controle. 11. Drills R. Objective recording and biomechanics of
pathological gait. Ann NY Acad Sci 1958;17:86-119.
Conclusões 12. Pat Murray M, Drought AB, Ross C. Walking patterns of
normal men. J Bone Joint Surg 1964;46A(20):335-59.
Da análise de 5.904 dados numéricos sobre componentes 13. Cavagna GA, Margaria R. Mechanics of walking. J Appl
temporais da marcha dos indivíduos com hálux valgo Physiol 1966; 21(1):271-8.
considerados neste estudo pode-se concluir que: 14. Inman VT, Ralston HJ, Todd F. Human walking. Baltimore:
Williams & Wilkins; 1981.
• Nos pés com hálux valgo, a 1ª cabeça metatarsal apresentou 15. Winter DA, Quanbury A, Reimer GG. Analysis of instantaneous
um tempo de ponta significativamente menor que os energy of normal gait. J Biomechanics 1976;9:253-61.
tempos da 2ª e 3ª cabeças, demonstrando que na fase de 16. Ducroquet R, Ducroquet J, Ducroquet P. Walking and limping.
apoio durante a marcha, contacta o solo menos tempo A study of normal and pathological walking. Philadelphia: JB
que as cabeças centrais 2ª e 3ª. Este comportamento não Lippincott; 1968.
ocorreu nos pés do Grupo controle. 17. Lelièbre J. Patologia del pie. Barcelona: Toray Masson; 1976.
18. Viladot A. Diez lecciones sobre patologia del pie. Barcelona:
• Pés do Grupo controle e patológico tiveram tempos de
Toray; 1981.
apoio semelhantes em relação à 1ª cabeça metatarsiana
19. Hutton WC, Dhanendran M. The mechanics of normal and hallux
embora o mesmo não tenha acontecido com as demais valgus feet – a quantitative study. Clin Orthop 1981;157:553-65.
cabeças onde os pés com hálux valgo demoraram um 20. Grundy M, Tosh PA, Mcleish RD, Smidt L. An investigation
tempo maior no contato com o solo. of the centres of pressures under the foot while walking. J
• Estas alterações na dinâmica do apoio durante a marcha Bone Joint Surg 1975;57-B:99-103.
caracterizam nos pés com hálux valgo considerados 21. Hutton WC, Dhanendran M. The short first metatarsal. J
neste trabalho, um quadro de insuficiência da coluna Bone Joint Surg 1983;5:297-301.
medial do pé que ao estar associado com outros sinais e 22. Katoh Y, Chao EYS, Laughman RK, Schneider E, Morrey
sintomas configuram a chamada Síndrome da Insuficiência BF. Biomechanical analysis of foot function during gait
and clinical applications. Clin Orthop 1983;177:23-33.
do 1ª Raio.
23. Stott JRR, Hutton WC, Stokes IA. Forces under the foot. J
Bone Joint Surg 1973;55B(2):335-44.
Referências 24. Carvajal SR. Elementos de Estatística – com aplicações às
Ciências Médicas e Biológicas. Rio de Janeiro: UFRJ/CCMN;
1979.
1. Jahss MH (ed). Disorders of the foot. Philadelphia: WB 25. Perry J. Anatomy and biomechanics of the hindfoot. Clin
Saunders; 1982. Orthop 1983;177:9-15.
2. Collis WJ, Jayson MI. Measurement of pedal pressures. Ann 26. Lord M, Reynolds D, Hughes JR. Foot pressure measurement:
Rheum Dis 1972; 31:215-17. a review of clinical findings. J Biomed Eng 1986;8:283-94. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 61

Revisão

Atribuições adicionais ao fisioterapeuta


no pré-operatório da cirurgia cardíaca
Attributions to physical therapy in daily pre-operative cardiac surgery

Lucas de Oliveira Alonso*, Cynthia Kallás Bachur, M.Sc.**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Graduando do curso de Fisioterapia pela Universidade de Franca-SP, **Docente da Disciplina de Fisioterapia Cardiológica,
Supervisora de estágio na disciplina de Fisioterapia Cardiovascular Ambulatorial na Universidade de Franca-SP

Resumo Abstract
Objetivo: O objetivo deste trabalho é propor ítens para orientações Objective: The objective of this work was to propose items for
específicas no pré-operatório através de explicações e conscientizações specific orientations in pre-operative pacients through explanations
em relação aos procedimentos realizados durante o período de and conciousness related to the procedures realized during the
internação hospitalar no paciente com indicação de cirurgia cardíaca. hospital internment period in suitable patients for cardiac surgery.
Métodos: Este estudo baseia-se numa revisão bibliográfica de diversos Methods: This study is based in literature review and collect of
autores e uma coleta de artigos científicos com pesquisadores da scientific papers of health area, collecting data that can contribute
área de saúde, levantando dados que pudessem contribuir para for a discussion about this theme. Results: Through literature
uma discussão sobre este tema. Resultados: Através dos dados data, it was justified to add orientations suggested by the author
descritos na literatura, justifica-se inserir as orientações propostas as physical therapy routine in patients that will be submitted to
pelo autor como rotina fisioterapêutica nos pacientes que serão cardiac surgery in the pre-operative period. Conclusion: This work
submetidos à cirurgia cardíaca no período de pré-operatório. allowed the development of an awareness of the hospital
Conclusão: O trabalho realizado permitiu o desenvolvimento de procedures for the patient submitted to cardiac surgery, and also
uma conscientização dos procedimentos realizados no âmbito to better understand and contribute with the techniques used by
hospitalar numa abordagem fisioterapêutica para o paciente physical therapy. Although all the scientific evidences, recent studies
submetido à cirurgia cardíaca, levando-o a uma melhor compreensão demonstrate that the large majority of patients still do not receive
e colaboração nas técnicas utilizadas pelo fisioterapeuta. Apesar de adequate orientation, fact that needs to be reverted to get benefits
todas as evidências científicas, estudos recentes demonstram que a of the prevention.
grande maioria dos pacientes ainda não recebe a orientação adequada, Key-words: cardiac surgery, pre-operative.
fato este que necessita ser revertido para que possa realmente haver
prevenção com seus benefícios.
Palavras-chave: cirurgia cardíaca, pré-operatório.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução titui, hoje, um dos mais avançados e notáveis trabalhos


da medicina, destacando-se pelo extraordinário progresso
No século XX, com grandes avanços no campo alcançado nos últimos anos [2].
tecnológico, torna-se possível o início da cirurgia cardíaca. O objetivo deste trabalho é propor ítens para
A primeira cirurgia a céu aberto com sucesso foi realizada orientações específicas no pré-operatório através de expli-
pelo doutor John Lewis em 02 de setembro de 1952. O cações e conscientizações em relação aos procedimentos
primeiro transplante do coração ocorreu na cidade do realizados durante o período de internação hospitalar no
Cabo, África no ano de 1967 [1]. A cirurgia cardíaca cons- paciente com indicação de cirurgia cardíaca. Este estudo

Recebido 1 de dezembro de 2003; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Lucas de Oliveira Alonso, Universidade de Franca, Clínica de Fisioterapia / Departamento de
Reabilitação Cardiovascular, Av. Dr. Armando Salles Oliveira, 201 Parque Universitário 14404-600 Franca SP, E-mail:
lucas.alonso@uol.com.br; kallashc@bol.com.br
62 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

baseia-se numa revisão bibliográfica de diversos autores e tavam ansiedade no pré-operatório, como em pacientes que
uma coleta de artigos científicos com pesquisadores da apresentavam um nível muito elevado de ansiedade. Sendo
área de saúde, levantando dados que pudessem contribuir assim, justifica a necessidade da avaliação e atenção da equipe
para uma discussão sobre este tema. de saúde, para prevenção de maiores complicações destes
As repercussões do prolongamento do tempo de espera quadros reativos [5].
de pacientes candidatos à cirurgia cardíaca em nosso meio, A abordagem do paciente cirúrgico envolve uma equipe
constitui tema de investigação pouco explorado, ainda que multidisciplinar composta por anestesiologista, cirurgiões,
esta realidade não seja atributo exclusivos de países de terceiro clínicos, enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas [6].
mundo nem constitua uma variável nova na dinâmica de
funcionamento das investigações hospitalares [3,4]. Fisioterapia no pré-operatório de cirurgia
Tem-se evidenciado, exaustivamente, a relação entre cardíaca
fatores psíquicos e doenças cardiovasculares. De modo geral,
os parâmetros mensurados referem-se às características A fisioterapia tem importante participação no preparo
prévias de personalidades dos cardiopatas, especificamente dos pacientes antes da cirurgia e no pós-operatório [6]. O
aquelas relacionadas às modalidades de gestão das emoções esclarecimento do paciente sobre todas as etapas do ato
que participam ativamente da formação de um modo de médico-cirúrgico ao qual será submetido pode dar mais
vida que potencializa os efeitos de alguns fatores de risco confiança, facilitando a sua cooperação pré e pós-operatório,
para o aparecimento da doença, tais como hiperco- minimizando a ansiedade e as complicações do pós-
lesterolemia, hipertensão arterial, tabagismo, sedentarismo operatório que possam ocorrer por falta desse preparo [11].
e estresse [5]. Com esses dados, o que se pode perceber, é As preocupações geradas pela cirurgia tiveram causas
que a cirurgia cardíaca tem uma história recente e ainda externas e aquelas intrínsecas ao procedimento cirúrgico.
vista como misteriosa pelos pacientes. Dentre as causas externas estão as familiares e as relacionadas
Segundo Melo apud Pedro [5] a cirurgia cardíaca é um ao trabalho. Por exemplo, medo de deixar os filhos, de deixar
grande evento na vida das pessoas, porque tanto pode o cônjuge, não poder mais trabalhar. Com relação aos
preservar a vida e melhorá-la, quanto extinguí-la. Do procedimentos cirúrgicos, preocupação com a tricotomia,
ponto de vista individual, pouco importa se a grande com o tubo de respiração entre outros. Em sua maioria, as
maioria dos pacientes se sai bem, para quem opera o expectativas geradas pela cirurgia são de melhora [5].
coração é sempre tudo ou nada, podendo gerar preocu- A ansiedade e a depressão são os principais diagnósticos
pações nos pacientes, pois é vista como aquela que vai psiquiátricos presentes em unidades terapêuticas intensivas
mexer com o centro da vida, o templo dos sentimentos. Têm (UTIs) clínicas. Observam que a ansiedade e o desespero estão
adquirido relevo, na literatura, as investigações dos níveis inicialmente presentes devido à falta de autocontrole, no entanto
e do manejo da ansiedade e da depressão no pré-operatório alguns pacientes conseguem aceitar a condição de internação,
de cirurgia cardíaca e sua influência no índice de morta- percebendo na experiência da UTI um aprendizado e motivo
lidade cirúrgica, assim como no aparecimento de compli- para mudança de valores e de estilo de vida.
cações orgânicas e psíquicas no pós-operatório. As preo- Novaes et al., em 1999, observaram uma tendência
cupações e fantasias em relação à cirurgia incluem: medo decrescente de ansiedade e depressão após o segundo dia de
da morte; propriamente operar o coração envolvido em internação na UTI, sugerindo que, após a definição diagnóstica
toda sua simbologia emocional; medo da anestesia geral; e o início do tratamento, o paciente vai diminuindo suas
os cuidados e procedimentos realizados na Unidade de respostas emocionais frente ao estresse da hospitalização,
Terapia Intensiva (UTI) que têm uma imagem de isola- sendo importante comunicar ao paciente que nem tudo está
mento e abandono e a dor pós-operatória que é um fato perdido, que não vai abandoná-lo por causa de um diagnóstico,
real, também envolvendo algumas preocupações ao longo que é uma batalha a ser tratada em conjunto, o paciente, a
prazo, como: a capacidade de desempenhar trabalho, prá- família e a equipe da UTI, não importando o resultado final.
tica de esportes, restrições alimentares e proibições do O vínculo de confiança deve ser sempre preservado e o
tabagismo, o uso crônico de medicamentos, atividade se- médico deve suportar essa relação de maneira continente [12].
xual, além da possibilidade de reoperações. Para Mello, em 2003, com o passar do tempo e com a
A ansiedade pode ser considerada para qualquer um aquisição de vários meios tecnológicos começamos a
que esteja vivenciando uma doença. Um certo nível de entender a importância da fisioterapia como instrumento
ansiedade numa situação pré-cirúrgica é até desejável, pois de soma para total restabelecimento do paciente em seu
demonstra a capacidade do indivíduo de entrar em contato meio sócio-econômico. Em meio as grandes descobertas
com a realidade. Estudo feito no Brasil sobre vivência na cirurgia cardíaca, como por exemplo, redução do tempo
emocional de pacientes cardíacos no período pré-cirúrgico de intubação, novas drogas, notamos que medidas simples
e suas implicações para o pós-operatório em que ocorrem como o acompanhamento fisioterapêutico do pré-operatório
maiores complicações tanto em pacientes que não apresen- de cirurgia cardíaca faz a diferença [14].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 63

Devemos orientar o paciente sobre o porquê dos inúmeros 7. Anestesia geral: Conscientizar o paciente que a anestesia
equipamentos que se fazem necessários e também a rotina será geral, induzida no centro cirúrgico, impossibilitando
da fisioterapia – as manobras de higiene brônquica, as técnicas vivências desconfortantes e traumatizantes;
de reexpansão pulmonar e a necessidade da tosse eficaz para 8. UTI – Aspectos geral: A UTI simboliza gravidade da
a recuperação satisfatória [13]. doença. É importante ressaltar que é um setor que
Concluída a avaliação pré-operatória na fisioterapia, tem equipamentos contínuos em casos de inter-
os autores deste trabalho sugerem as orientações ao corrências. A informação ao paciente quanto ao seu
paciente quanto aos procedimentos realizados durante o estado geral e a monitorização contínua na qual ele se
período hospitalar (figura 1): encontra é interessante conscientizar, pois assim o
Fig. 1 – Orientações de pré-operatório para pacientes submetidos
paciente não assusta tanto com as punções venosas,
à cirurgia cardíaca. as sondas, quanto com o tubo orotraqueal;
9. Limitação de movimentos por precauções: A equipe
Orientações pré-operatório multidisciplinar, principalmente a enfermagem, res-
tringe os braços dos pacientes como prevenção de
1 - tempo internação
2 - descrição da cirurgia agitações psicomotoras;
3 - tipo incisão 10.Orientação tempo/espaço: Ainda com o paciente
4 - jejum 12h antes cirurgia sedado cabe ao fisioterapeuta a orientação verbal,
5 - tricotomia localizar o espaço em que o paciente se encontra, pos-
6 - visita diária sibilitando a conscientização facilitando o desmame
7 - anestesia geral
8 - uti - aspecto geral
do respirador;
9 - limitação de movimentos por precaução 1 1 .Respiração artificial: Informar ao paciente, ainda
10 - orientação tempo/espaço sobre o efeito da anestesia, que ele ficará em ventilação
11 - respiração artificial mecânica com o tubo orotraqueal, o qual dificulta a
12 - extubação deglutição e a fala, portanto a colaboração do paciente
13 - importância fisioterapia respiratória
facilitaria o processo de extubação precoce;
14 - tosse eficaz
15 - mobilização precoce de membros 12.Extubação: Informar ao paciente que após o efeito
16 - 3º dia p.O - alta uti anestésico, estando ele consciente será realizado o des-
17 - reabilitação cardíaca propriamente dita mame seguindo o protocolo descrito na literatura
18 - 7º dia p.O - alta hospitalar (figura 2) e a seguir a retirada do tubo orotraqueal;
19 - panfleto informativo
20 - encaminhamento fase 2 reabilitação cardíaca
Fig. 2 – Valores indicativos para o sucesso do desmame da
21 - ouvir o paciente
ventilação mecânica [9].

1 . Tempo de internação: Quando o paciente evolui sem Função Medida


nenhuma intercorrência, geralmente seu tempo de
Oxigenação SaO2 acima de 90% e FIO2 de 40%
internação são 7 dias, sendo 3 dias na UTI e 4 dias na Shunt intrapulmonar < 20%
enfermaria, tempo este necessário para estabilidade
do paciente; Mecânica Capacidade vital > 10ml/Kg ou 1 litro
2. Descrição da cirurgia: Informar ao paciente qual será ventilatória Volume corrente > 5ml/Kg
Capacidade residual funcional > 50%
o procedimento cirúrgico e o tipo de cirurgia, em uma
Complacência estática > 30ml/cmH20
linguagem coloquial, e menos detalhada para que não
haja impacto e medo; Comprimento Força inspiratória máxima > 20cm H20,
3. Tipo de incisão: Informar o paciente que será feito uma dos músculos 25cmH20, > 30cmH20
incisão vertical no tórax (toracotomia), e quando for respiratórios Fração espaço morto < 0,6
retirada a veia safena, também vai haver incisão na perna; Demanda Ventilação minuto para PaO2 de 40mmHg
4. Jejum de 12 horas antes da cirurgia: O jejum deverá ventilatória de 10 l/min ou 180ml/kg/min
ser feito 12 horas antes da cirurgia para evitar efeitos
Reserva Ventilação voluntária máxima > 2 vezes a
colaterais da anestesia geral;
ventilatória Ventilação minuto para uma PaCO2 de
5. Tricotomia: Informar ao paciente que será realizado
40mmHg
a depilação do corpo todo minimizando as possíveis
possibilidades de infecção;
6. Visita diária: Geralmente o paciente se encontra carente 13. Importância da fisioterapia respiratória: A fisio-
terapia tem como principal importância promover a
e só, sendo assim, a maioria dos hospitais permite a visita
redução do tempo de intubação. O programa direcio-
de familiares na tentativa de suprir a carência;
64 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

nado principalmente para prevenção e tratamento de Complicações no pós-operatório de


complicações pulmonares, entretanto para melhor cirurgia cardíaca
compreensão de programa de tratamento, é necessário
uma abordagem sintética sobre a história natural das Os fatores de risco para complicações no pós-operatório
doenças, o tipo de cirurgia realizado e alguns cuidados de cirurgia cardíaca são: dor; edema pulmonar; distensão
que elas requerem; pulmonar; confusão mental; atelectasia; paralisia/paresia do
14.Tosse eficaz: Informar ao paciente da diminuição da nervo frênico; pneumonia, entre outros [6].
eficácia da tosse que está relacionada com a anestesia Observando três grupos de pacientes, Hall et al. [7]
e cirurgia. Orientar o paciente a tossir, com drenagem evidenciaram a importância da fisioterapia respiratória
brônquica e vibro-compressão, promovendo a limpeza no período pré-operatório. O grupo-controle, que não
pulmonar central e periférica. A tosse apropriada en- realizou fisioterapia nem no pré, nem no pós-operatório,
volve uma completa e profunda inspiração diafragmá- apresentou 47% de complicações respiratórias. O grupo
tica. Como a tosse desistabiliza o tórax e provoca dor, que fez fisioterapia respiratória somente no pós-operatório
ensina-se a dar um apoio para a incisão com um traves- teve 27%, enquanto que o grupo que a praticou nos
seiro ou com as mãos; períodos pré e pós-operatório mostrou apenas 12% de
15.Mobilização precoce de membros: Orientar ao complicações.
paciente da importância da mobilização dos membros No paciente cirúrgico a avaliação pré-operatória é
inferiores, prevenindo trombose venosa profunda primordial, principalmente para quem apresenta riscos
ocasionada pelo tempo prolongado no leito; para complicações pós-operatórias. Todos os pacientes
16.3o dia pós-operatório – alta UTI: Após o terceiro dia, devem ser informados sobre as complicações pós-
o paciente estando hemodinamicamente estável, operatórias de cirurgia cardíaca e também instruídos para
recebe alta da UTI, e passa para a enfermaria (local a importância da realização de exercícios diafragmáticos
menos invasivo) começando uma deambulação precoce como inspiração sustentada e a tosse eficaz, que influen-
sendo monitorizado pelo fisioterapeuta observando ciaram de forma benéfica diretamente na prevenção das
sinais vitais, avaliando as respostas hemodinâmicas complicações respiratórias [8].
induzida pelo esforço progressivo; No pós-operatório de cirurgia cardíaca, ocorre a
17.Reabilitação cardíaca propriamente dita: Os diminuição dos volumes e capacidades pulmonares de
objetivos imediatos podem ser alcançados por meio 40% a 50% e assim a avaliação pré-operatória entra com
de mobilização precoce, em que também se preocupa a sua importância. Juntamente com a anestesia ocorre a
em evitar complicações pulmonares (atelectasia, diminuição da capacidade residual funcional (CRF) em
eventos tromboembólicos), osteomusculares (descal- aproximadamente 36%, que talvez seja um dos principais
cificação, hipotrofia), alterações intestinais, urológicas fatores que levam à hipoxemia e à atelectasia pós-
e instabilidade vasomotora (lipotímia); operatória. Essa diminuição ocorre logo após a indução
18.7o dia de pós-operatório – alta hospitalar: Estando o anestésica e nem mesmo a utilização da pressão positiva
paciente estável, geralmente recebe alta hospitalar após expiratória final (PEEP) ou até a ventilação com vários
7 dias da cirurgia cardíaca; volumes pode evitar tal ocorrência. A diminuição da CRF
19.Panfletos informativos: Ao receber alta hospitalar, é causada por certos fatores que são: o relaxamento do
cabe aos fisioterapeutas orientar os pacientes quanto diafragma e parede torácica que vão interferir na dimi-
aos cuidados necessários do pós-operatório por escrito; nuição do volume torácico e a complacência pulmonar,
20.Encaminhamento fase II reabilitação cardíaca: respectivamente. Existem fatores que se associam à
Paciente é encaminhado para reabilitação cardíaca, ocorrência das complicações pós-cirúrgicas e juntamente
fase ambulatorial, para dar continuidade às adaptações com o tempo cirúrgico e anestésico, relaciona-se com a
cardiovasculares induzidos pelo exercício. idade do paciente, história pregressa de tabagismo,
21.Ouvir o paciente: Após a explicação dos itens acima, doenças respiratórias presentes, obesidade e outras
faz-se necessário ouvir o paciente, identificando doenças clínicas. As desvantagens de uma anestesia
possíveis incompreensões e fantasias, corrigindo-as
prolongada incluem arritmias, depressão miocárdica,
e esclarecendo, evitando assim, aumento da
hipotensão e hipóxia [8].
ansiedade.
No pós-operatório, a dor acarreta limitações dos movi-
Portanto o interesse em realizar a avaliação pré-operatória mentos prejudicando a tosse efetiva, a respiração
de um paciente cirúrgico, repousa na possibilidade de profunda e as mudanças de posições estarão restritas.
identificar os fatores de risco capazes de aumentar a Assim sendo, a analgesia é de grande necessidade para
incidência de complicações pulmonares e instituir conduta atenuar esta dor e proporcionar um trabalho efetivo para
fisioterapêutica mais específica [7]. o fisioterapeuta [8].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 65

A prevenção é importantíssima e é aonde a fisioterapia Referências


exerce papel fundamental, a atenção, os cuidados e a higiene
são atitudes primordiais. O tratamento fisioterapêutico em 1. Braile DM, Godoy MF. História da cirurgia cardíaca. Arq Bras
geral dura de cinco a sete dias com um direcionamento para Cardiol 1996;66(6):329-37.
prevenção e tratamento de complicações pulmonares [6]. 2. Andrade JC. Circulação extracorpórea. 1a ed. São Paulo:
Pacientes submetidos à cirurgia cardíaca normalmente Ipecicar; 1986. p. 9-14.
vão se encontrar sob efeito anestésico, pelas necessidades 3. Haddad N, Bittar OJNV, Pereira AAM, Silva MB, Amato
VL, Farsky PS et al. Conseqüências do prolongamento do
de um maior tempo cirúrgico [9], sendo que a anestesia
tempo de espera em pacientes candidatos à cirurgia cardíaca.
prolongada e o uso indiscriminado de opiáceos podem
Arq Bras Cardiol 2002;78(5).
causar depressão respiratória e inibição do reflexo de tosse 4. Teo KK, Spoor M, Pressey T, Williamson H, Calder P,
[10]. Os opiáceos usados para indução e manutenção da Gelfant ET, et al. Impact of managed waiting for coronary
anestesia geral diminuem a freqüência respiratória e artery bypass graft surgery on patient perceived quality
podem contribuir para a hipoxia e hipercapnia no pós- of life. Circulation 1998; 98(suppl): II29-II33.
operatório, poderão retardar o desmame da ventilação 5. Pedro CP, Duarte MSZ. Cirurgia cardíaca: ansiedade e
mecânica em alguns indivíduos, principalmente em depressão no período pré-cirúrgico. [Monografia].
pacientes idosos. Durante um período mais prolongado Franca: Universidade de Franca; 2000. 71p.
de assistência ventilatória, os pacientes tornam-se 6. Sofia RR, Almeida LG. Complicações pulmonares no
pós-operatório de cirurgia cardíaca. In: Regenda MMM.
dependentes do respirador, exigindo então uma avaliação
Fisioterapia em cardiologia da U.T.I. à reabilitação. 1 a
criteriosa, tanto da parte psicológica do paciente como ed. São Paulo: Roca 2000; p. 31-45.
da sua mecânica respiratória. A avaliação do trabalho 7. Hall JC, Tarala R, Tapper J. Prevention of respiratory
respiratório (consumo de oxigênio pela musculatura complications after abdominal surgery: a randomised
respiratória) e a ação e função dos músculos respiratórios clinical trial. BMJ 1996;312:148-53.
darão idéia exata dessa incapacidade que o paciente poderá 8. Cavalheiro LV, Chiavegato LD. Avaliação pré-operatória do
estar apresentando quando do momento inicial do paciente cardiopata. In: Regenga MM, Fisioterapia em cardiologia
desmame [9]. na U.T.I. à reabilitação. 1a ed. São Paulo: Rocca 2000; p. 21-30.
9. Azeredo CAC. Fisioterapia respiratória no hospital geral. São
Paulo: Manole; 2000. p. 347-51.
Conclusões 10. Gun C. Avaliação do risco cirúrgico do paciente
cardiopata, cap. 76. In: Socesp cardiologia atualização e
O trabalho realizado permitiu o desenvolvimento de reciclagem. São Paulo: Atheneu; 1994; p. 814-9.
uma conscientização dos procedimentos realizados no 11. Romaldini H, Bogossian M, Afonso H. Risco cirúrgico
âmbito hospitalar numa abordagem fisioterapêutica para do pneumopata. In: Knobel E. Condutas no paciente
o paciente submetido à cirurgia cardíaca, levando-o a uma grave. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1999. vol.2. p. 995-1004.
melhor compreensão e colaboração nas técnicas utilizadas 12. Novais MAFP, Kühl SD, Knobel E. Aspectos psicológicos
em UTI. In: Knobel E. Condutas no paciente grave. 2a ed.
pelo fisioterapeuta.
São Paulo: Atheneu; 1999. vol.2. p. 1297-304.
Apesar de todas as evidências científicas, estudos 13. Umeda IIK. Avaliação pré-operatória. In: Manual de fisioterapia
recentes demonstram que a grande maioria dos pacientes na cirurgia cardíaca. São Paulo: Manole. p. 11-4.
ainda não recebe a orientação adequada, fato este que 14. Mello CS. A eficácia da cinesioterapia preventiva no pré-
necessita ser revertido para que possa realmente haver operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio.
prevenção com seus benefícios. Rev Socerj 2003;16(supl A):434-5. 
66 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Revisão

A biomecânica do transverso abdominal


e suas múltiplas funções
Biomechanics of transversus abdominis and its multiple functions

Alonso Monteiro Lemos*, Leila de Albuquerque Feijó**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, formado pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), **Fisioterapeuta, docente da UCSAL,
na Disciplina Cinesioterapia

Resumo Abstract
O transverso abdominal é o mais profundo dos músculos The transversus abdominal is the deepest of the abdominal
abdominais, tendo sua função primordial, até pouco tempo atrás, muscles, having its primordial function, until few years ago,
associada apenas à realização de atividades fisiológicas vitais, como associated only the accomplishment of vital physiological activities,
defecação, tosse ou parto. Atualmente, procura-se vinculá-lo a defecation, parturation or cough. Currently, it aims at liking it
outras atividades de grande relevância, como estabilização da coluna with to it other activities of great relevance as spinal stability,
lombar, sinergismo com os músculos do assoalho pélvico e interaction with pelvic floor and fundamental component part of
componente fundamental da mecânica respiratória. Esse trabalho respiratory mechanics. This study aimed at approaching the
procurou abordar o transverso abdominal nessas diversas funções, transversus abdominis muscle in these several functions, carrying
realizando, para isso, uma revisão bibliográfica. Observou-se que out, for this purpose, a literature revision. It was observed that
existe grandes indícios que vêm confirmar sua ação efetiva tanto exists large indications confirming its effective action in human
na fisiologia humana, como na reabilitação, principalmente, de phisiology, in rehabilitation of urinary incontinence patients and
pacientes incontinentes e portadores de dor lombar. Com isso, with low back pain. Better knowledge of this muscle stimulates a
abre-se oportunidade para que um melhor conhecimento desse more directed and effective approach of the physical therapist,
músculo estimule uma abordagem mais direcionada e efetiva dos using to advantage all its real potentiality, as much in the context
fisioterapeutas, aproveitando toda a sua real potencialidade, tanto of intervention, and in prevention.
no contexto da intervenção, como na prevenção. Key-words: transversus abdominis, spinal stability, abdominal
Palavras-chave: transverso abdominal, estabilidade, músculos muscles, respiration and pelvic floor.
abdominais, respiração e assoalho pélvico.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução defecação, parto e tosse [1]. Seu enfraquecimento pode levar


a protusão abdominal e aumento da lordose lombar [2]. Sua
A relevância funcional e biomecânica do Transverso ação estabilizadora da coluna lombar permite melhor
Abdominal (TA) ainda é pouco explorada, sendo o mesmo realização dos movimentos de membros superiores e
visto como coadjuvante diante dos outros músculos. Seu papel inferiores, e previne acometimentos nessa região [3-11]. Essa
na reabilitação fica sacrificado, já que grande parte dos autores ação foi demonstrada na realização de exercícios específicos
não o isolam dos outros componentes da musculatura para pacientes com dor lombar [3,8,11,12]. Soma-se a isso, a
abdominal. Este músculo constitui uma verdadeira cinta possibilidade de relação terapêutica entre ele e os músculos
abdominal, sustentando vértebras lombares e vísceras, do assoalho pélvico [3,13,14,15]. O TA possui fibras inseridas
intervindo na mecânica respiratória como antagonista- superiormente na face anterior das seis últimas costelas com
sinergista do diafragma, e em funções fisiológicas vitais como digitações que se intercruzam com o diafragma;

Recebido 22 de junho de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Leila de Albuquerque Feijó, Rua da Graviola, 364, apto 701, Itaigara 41810-420 Salvador BA, E-mail:
proleila@pop.com.br, proleila@hotmail.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 67

posteriormente nos processos transversos da vértebras lom- O papel do transverso abdominal na


bares e 12a torácica por intermédio da aponeurose posterior estabilidade lombar
do transverso ou tóraco-lombar; inferiormente, nos ¾
anteriores do lábio interno da crista ilíaca e no 1/3 lateral do Graças a um sistema eficaz de estabilização, o corpo
ligamento inguinal, na fáscia ilíaca [16,17]. Por suas inserções humano realiza movimentos, supera alterações decorrentes
diversificadas e multifuncionalidade, vê-se nesse músculo de forças externas e mantém posturas sem sacrificar as
importância fundamental na fisiologia do corpo humano. estruturas formadoras da coluna. Panjabi [23], subdividiu o
Apesar disso, não lhe é dado o enfoque reservado aos outros sistema de estabilização da coluna em três: 1)subsistema
abdominais, quanto à produção de movimento. Tem-se, assim, musculoesquelético passivo: vértebras, ligamentos, discos
a oportunidade de descrevê-lo em sua integridade de relações, intervertebrais, facetas e cápsulas articulares, bem como as
conhecendo-o para melhor reabilitá-lo. Este trabalho consiste propriedades mecânicas passivas dos músculos; 2) subsistema
na abordagem do TA em seus papéis, de estabilizador lombar, musculoesquelético ativo: músculos e tendões que estão
sinergista dos músculos do assoalho pélvico, sua atuação na inseridas na coluna; 3)subsistema neural e de feedback:
mecânica respiratória e com os outros músculos abdominais. receptores nos ligamentos, tendões e músculos além do cen-
tro de controle neural. A instabilidade da coluna é reflexo
Métodos da alteração de algum dos subsistemas, que funcionam de
forma interdependentes, fazendo com que algum dano que
Para esta revisão de literatura foram consultadas as bases os afete, leve ao prejuízo funcional dela, gerando assim,
de dados MEDLINE e LILACS. Buscou-se os termos: instabilidade nessa estrutura.
transversus abdominis, stability, abdominal muscles, respiration, pelvic Bergmark [24], em um estudo biomecânico, revelou a
floor, transverso abdominal, estabilidade, músculos abdo- existência de dois sistemas musculares que mantêm a
minais, respiração e assoalho pélvico nas palavras-chaves. estabilidade da coluna: o sistema muscular global, músculos
Priorizaram-se artigos e livros publicados em datas compre- mais superficiais (reto abdominal, oblíquo externo), cujas
endidas entre 1987 a 2004, que apresentam dados referentes inserções estão no tórax e pélvis, responsáveis pela estabi-
ao músculo em questão. lização geral da coluna, e por sua orientação e ação contra
os distúrbios externos; sistema muscular local, músculos
Discussão diretamente inseridos nas vértebras lombares (multifidus),
responsáveis pela estabilização segmentar e controle direto
O papel do transverso abdominal na do segmento lombar. Apesar do TA não constar nesse estudo,
respiração devido à possibilidade desse músculo estar envolvido na
estabilização da coluna lombar, pode-se considerá-lo como
Na respiração basal, durante a inspiração, o diafragma parte integrante do sistema muscular local [4,8-10,22].
ativamente deprime sua cúpula, comprimindo e deslocando Graças à constituição horizontal de suas fibras, o TA tensiona
o conteúdo abdominal para frente. Ao mesmo tempo, o a fáscia tóraco-lombar, criando uma maior rigidez da coluna
TA, por sua ação tônica [18], e os outros músculos lombar, e pelo aumento da pressão intra abdominal, gera
abdominais através do relaxamento, evitam que essas uma pressão visceral na face anterior da coluna, que seria
estruturas sejam “expulsas”, funcionando como antagonistas- contrária à lordose lombar [3-5,7,8,25]. Cresswell et al. [26]
sinergistas do diafragma [19,20]. Já na expiração tranqüila, foram os primeiros a investigarem o TA como possível
há uma ação passiva desses músculos, ocorrendo a retração estabilizador lombar, quando esse músculo esteve
elástica dos pulmões e gradil costal, havendo atividade continuamente ativo durante movimentos de flexo-extensão
muscular apenas durante a expiração forçada [18,19,21]. da coluna. Posteriormente, procurou-se relacionar sua
Em outros estudos [20,22], foi observado que, durante a função estabilizadora durante movimentos dos membros
respiração, os quatro músculos abdominais não trabalham superiores [4] e inferiores [5,6]. Eletrodos verificaram,
como uma unidade, mas sim, de forma individualizada. O através do uso de EMG, em associação aos outros músculos
TA, por ser o mais profundo deles, é o mais efetivo abdominais, reto abdominal, oblíquos externo e interno, e o
mecanicamente no aumento da pressão intra-abdominal, o multifidus, que o TA foi, invariavelmente, o primeiro
que se confirmou através da Eletromiografia (EMG), pois, músculo a ser ativado, em relação sinergista principal com o
tanto na posição supina como em ortostase, durante a deltóide anterior para os membros superiores e flexores,
expiração, na respiração tranqüila, o transverso abdominal abdutores e extensores de quadril para membros inferiores,
foi ativado, contrariando a teoria de que durante essa fase, independente da direção adotada na realização dos
o processo fosse passivo [19,21]. Durante a expiração movimentos. Esse evento, definiu-se como “feedforward”.
forçada, o TA foi o primeiro músculo a ser acionado [20,22], Assim, ao antecipar-se ao movimento e aos distúrbios
demonstrando sua importância na mecânica respiratória. produzidos pela ação do agonista, o TA atuaria produzindo
uma rigidez necessária à coluna lombar, evitando que esta
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
sofra qualquer alteração que leve a instabilidade geradora urinária, tem sido proposto devido a crença de que estes
de dor lombar [3-6,8-12,27,28]. últimos produzem aumento da pressão intra-abdominal, o
que poderia levar a exacerbação dos sintomas da
O transverso abdominal na dor lombar incontinência [13,14]. Apesar disso, nenhum estudo
comprovou essa afirmação. Contudo, Sapsford et al. [13],
A dor lombar afeta diretamente a ativação do TA demonstraram que a contração dos músculos abdominais
[3,5,8,11,31]. Hodges et al. [5], comparando, através de EMG, ocorre normalmente durante o treinamento dos músculos
a ação dos músculos abdominais em pessoas com e sem do assoalho pélvico, sendo o TA muito mais ativo.
lombalgia durante movimentos no membro superior, obtiveram Isoladamente, estes músculos não obtém uma contração
como resultado uma diminuição acentuada da ativação do TA suficiente para produzir o efeito necessário de reabilitação.
em comparação aos outros músculos, realizando sua contração Neumann e Gill [14], analisaram, através de EMG, a
após a ação do agonista. Em função deste retardamento na ação dos músculos abdominais e do assoalho pélvico em
ativação do TA, os pacientes com dor lombar não obteriam tarefas como tossir, realizar expiração forçada, diminuir a
uma boa estabilização da coluna, estando então expostos a mais perimetria abdominal (encolhimento da barriga), contrair
dor, em um ciclo vicioso. Hodges [30], em um estudo músculos pélvicos isoladamente, em posição supina e em
comparativo semelhante, confirmou os resultados obtidos, mas ortostase, e associados com exercícios abdominais. Os
não identificou como a dor poderia alterar a via nervosa resultados mostraram que aqueles que realizaram a
responsável pela ativação do TA. Sabe-se, contudo, que esse contração isolada dos músculos pélvicos conseguiram
músculo possui condução nervosa diferente dos outros apenas 25% da sua contração máxima voluntária, realizada
abdominais, sendo necessário um programa específico de em associação com a ativação do TA. Além disso, durante
exercícios para ele [3,6,8-10,22,31]. Recentemente, Hodges et as ações musculares, a pressão intra-abdominal aumentou
al. [32], demonstraram que a dor lombar aguda induzida por em 6 mmHg quando o transverso abdominal foi ativado
drogas também altera o feedfoward do TA, levando a um isoladamente, contra 9mmHg quando em sinergismo. Esses
retardo do início da atividade desse músculo. Richardson et al. achados mostraram que a contração associada dos músculos
[11], já estabeleciam a reeducação do TA em pacientes com pélvicos com o TA não determinariam um aumento
dor lombar. Esses exercícios, explorando a contração entre ele significativo da pressão intra-abdominal, sendo, portanto,
e o multifidus, devem ser realizados a partir de uma suave esta ação a mais indicada para o treinamento dos músculos
depressão da parede abdominal, especialmente a parte inferior, pélvicos, já que, isoladamente, a contração não satisfaz os
para cima e para dentro. Pode-se posicionar o paciente em princípios de treinamento de força. Recentemente, Bo et
posição de quatro apoios, em similaridade com o exame al. [33], em um estudo comparativo sobre a ativação do
muscular idealizado por Lacôte [1], em decúbito ventral, TA e os músculos do assoalho pélvico, revelaram resultados
sedestação ou em ortostase. O´Sullivan [9], comparou pacientes diferentes. Interpretado pelo ultra-som transabdominal, o
com lombalgia, que utilizavam exercícios específicos baseados qual avalia o deslocamento do assoalho pélvico em mulheres
no trabalho de Richardson et al. [11] e outros com tratamentos assintomáticas, demonstrou-se que a contração isolada dos
diversos, como exercícios gerais (caminhada, natação), músculos do assoalho pélvico seria mais efetiva nessa
supervisionados e aplicação de massagem e ultra-som. ascensão do que em sinergismo com o TA ou este
Resultados melhores no primeiro, apontaram efetividade da isoladamente, sendo, segundo os autores, mais efetivo no
reeducação do TA. O mesmo autor, em 2000 [8], comparando trabalho de reabilitação dessa musculatura para pacientes
padrões de instabilidade lombar, utilizou os mesmos princípios incontinentes.
de treinamento, obtendo resultados excelentes. Hides et al. [3],
analisaram os efeitos a longo prazo (1 a 3 anos) dos exercícios Resultados
específicos, comparados com pacientes que utilizavam
fármacos. Observou-se uma menor recorrência de dor lombar O estudo demonstra que o TA tem uma importância
no primeiro grupo (cerca de 30 a 35%), em relação ao segundo funcional tão ou mais efetiva que os outros músculos
(cerca de 75 a 84%), comprovando a eficácia dos exercícios abdominais. Seja na respiração, estabilidade da coluna, em
específicos para essa moléstia. Os resultados encontrados associação com outros músculos no desempenho de
confirmaram que aqueles que privilegiaram a ação específica determinadas funções, observa-se que o papel de coadjuvante
do TA, obtiveram uma redução maior dos sintomas. não pode ser mais aplicado: é indispensável que ele seja melhor
trabalhado para executar essas múltiplas funções.
Relação entre o transverso abdominal e os O TA aparece como um importante estabilizador da
músculos pélvicos coluna lombar. Depois que surgiram as primeiras hipóteses
que a fáscia tóraco-lombar e a pressão intra-abdominal
Contração isolada dos músculos pélvicos, com eliminação poderiam ser responsáveis por parte da rigidez lombar [25],
da ação dos abdominais, em pacientes com incontinência estudos posteriores [23,24] procuraram relacionar os
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 69

músculos que possuem suas inserções na coluna como músculos do assoalho pélvico como melhor medida para
geradores da estabilidade necessária a estrutura, sendo intervenção de pacientes incontinentes. Entretanto, o ultra-
destacado o TA [3-12,28,31,34]. A partir daí, em grande som não avalia a qualidade de contração dos músculos, ao
parte desses trabalhos, acredita-se que ele possui um papel contrário da EMG, e sim, apenas o deslocamento ascendente
de destaque diante dos outros músculos abdominais. do assoalho pélvico. Graças ao aumento da pressão intra-
Essa possibilidade se reforça no momento em que se abdominal gerado pela ativação do TA, cria-se uma força
passou a relacioná-lo com pacientes portadores de dor lombar, contrária à elevação do assoalho pélvico, o que leva este
quando foi observado que o TA é o primeiro músculo a ser músculo a ser designado, antecipadamente, como antagonista
acionado na produção de movimentos [3-6,31] e que esta aos músculos pélvicos. Porém, essa força descendente pode
característica é abolida em pessoas com lombalgia [3,5,9,10]. ser vista como um estímulo a ação resistida desses músculos
O´Sullivan et al. [9], ao isolá-lo diante dos outros músculos à contração do TA, sendo considerado, nessa situação, como
abdominais na reabilitação desses pacientes, obtiveram uma sinergista durante um trabalho específico. Essa mesma ação
melhora significativa dos sintomas daqueles que realizavam sinergica-antagônica pode ser visualizada na respiração, diante
os exercícios específicos idealizados por Richardson [11], da relação entre o diafragma e o TA [19,20].
passando a considerar o TA como possível estabilizador da Na respiração, viu-se que o TA é ativado na expiração
coluna lombar. Recentemente [35], em um estudo compa- tranqüila, indo de encontro à verdade, até então, soberana, de
rativo, demonstrou-se que pacientes que realizaram exercícios que a expiração é um processo totalmente passivo [18,19,21].
específicos obtiveram uma melhora da dor e da função mais Entretanto, não se sabe a verdadeira dimensão dessa descoberta,
evidente que o grupo controle. Isso o credencia a receber uma vez que poucas unidades motoras são acionadas, não sendo
uma atenção especial dos fisioterapeutas em relação a condução evidente a real função dessa ação [20,22]. Já na expiração
de um programa específico de treinamento e não mais associá- dinâmica, onde os outros músculos abdominais são acionados,
lo em exercícios abdominais globais. o TA foi, invariavelmente, o primeiro músculo a ser recrutado,
Salienta-se que o TA atuaria como estabilizador lombar destacando-se a sua relevância na mecânica respiratória.
via tensionamento da fáscia tóraco-lombar e/ou aumento da Vislumbra-se, assim, a possibilidade desse músculo ter seu
trabalho direcionado naqueles que necessitem de uma maior
pressão intra-abdominal. Hodges [3] idealizou um sistema que
exigência de aumento de fluxo expiratório. Champignion [18] e
denominou de “canister”, comparado a uma lata fechada, onde
Puckree et al [38] o consideram como o maior contribuidor da
o diafragma contrai-se superiormente (tampa da lata), o TA
função respiratória dentre os músculos abdominais.
horizontalmente (corpo da lata) e os músculos do assoalho
pélvico inferiormente (fundo da lata), fazendo com que, além
do aumento da pressão intra-abdominal, haja um aumento Conclusão
da tensão da fáscia tóraco-lombar, criando rigidez necessária
a coluna. Apesar disso não há ainda nenhum estudo que Este trabalho buscou esclarecer e reforçar alguns pontos
comprove mecanicamente como ele desempenha essa função. que atualmente estão em evidência acerca da multifun-
Em relação aos músculos do assoalho pélvico, sabe-se cionalidade do TA. Sugere-se a possibilidade de uma melhor
que, além dessa função estabilizadora citada, são fundamentais exploração deste na prevenção e reabilitação de pacientes
na reabilitação de pacientes com incontinência urinária ou com lombalgias e acometimentos respiratórios e uro-
fecal e desordens perineais [15,33,36]. O que se demonstrou ginecológicos, fazendo com que esse músculo, tão importante
é que, ao contrário que pensavam [13], em sinergismo com o e, até pouco tempo atrás, tão negligenciado, seja alvo de
TA, os músculos do assoalho pélvico obtém uma qualidade uma abordagem mais direcionada e efetiva dos fisiotera-
de contração muito maior, cerca de 75%, comparado ao peutas, aproveitando-se de toda a sua potencialidade. Espera-
realizado isoladamente [14]. Discute-se, porém, a possibilidade se, com isso, estimular a realização de novos estudos que
dessa contração associada gerar um grande aumento da possam ser definitivos acerca da biomecânica do músculo
pressão intra-abdominal, o que é comprometedor para aqueles TA.
incontinentes, já que pode-se exacerbar os sintomas. Também
foi demonstrado que, em mulheres assintomáticas, esses Referências
exercícios não geram excessivo aumento ou comprometimento,
o que aponta a possibilidade de trabalhá-lo preventivamente 1. Lacôte M et al. Avaliação clínica da função muscular. 1a ed. São
nessa população. Além disso, observou-se que durante o Paulo: Manole; 1987.
treinamento do TA, a ação sinérgica dos músculos do assoalho 2. Kendall FP, Mccreary EK, Provance PG. Músculos,
provas e funções. 4a ed. São Paulo: Manole; 1995.
pélvico pode levar a um aumento em torno de 16% da
3. Hodges PW. Is there a role for transversus abdominis in
espessura deste músculo, acenando como uma importante lumbo-pelvic stability? M Ther 1999;2(4):74-86.
alternativa para reabilitação [37]. 4. Hodges PW, Richardson CA. Feedforward contraction of
Bo et al. [33], através do ultra-som transabdominal, transversus abdominis is not influenced by the direction of
observaram resultados distintos, elegendo a ação isolada dos arm movement. Exp Brain Res 1997;114(2):362-70.
70 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

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p.175-89.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 71

Estudo de caso

A presença do forame esternal anômalo e a prática


de acupuntura no meridiano extra (ren mai)
Presence of anomalous sternal foramen and the practice
of acupuncture in extra meridien (ren mai)

Márcio Antônio Babinski, M.Sc.


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Professor Assistente de Anatomia do Departamento de Morfologia, Instituto Biomédico, Universidade Federal Fluminense (UFF),
*
Instituto Brasileiro de Medicina Tradicional Chinesa (IBMTC), ABA-RJ

Resumo Abstract
O esterno é um osso plano, situada na parede óssea anterior Sternum is a plane bone situated in the anterior skeletal
do tórax. Uma vez que, esse osso apresenta vários centros de wall of the thorax. This bone has some centers of ossification,
ossificação, o mesmo pode ser interrompido por um forame and can be interrupted by an anomalous foramem in under
anômalo no terço distal. Essa variação tem importância na punção mid shaft. The importance of this variation is mainly in the
de medula óssea do esterno e principalmente na prática de punction of sternum medulla and for acupunctural pratice.
acupuntura. Portanto o objetivo do presente estudo foi relatar Therefore, the aim of this study was to relate two cases of
dois casos de variações anatômicas e relacioná-las com a prática de anatomical variations and to link them with the acupunctural
acupuntura, bem como, verificar a descrição das anomalias, pratice, as well as to verify the description of the anomalies,
precauções e conseqüências na literatura específica de acupuntura. precautions and consequences in the acupuncture literature.
Palavras-chave: forame esternal, variação anatômica, Key-words: sternal foramen, anatomical variation, acupuncture.
acupuntura.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução e criar”) com grande freqüência para tratamento de problemas


dos órgãos genitais internos femininos e.g., dismenorréia,
O esterno é um osso plano que forma uma parte da parede leucorréia, uretrite, ovários policisticos, etc.. No homem,
óssea do tórax. Consiste de três partes: o manúbrio, o corpo e trata impotência, uretrites, hérnias inguinais, cólicas
o processo xifóide, em sentido craniocaudal. Devido a sua abdominais etc. Uma vez que o meridiano passa pelo tórax
acessibilidade e à pequena espessura de sua compacta, o esterno trata-se também problemas respiratórios. Este meridiano
pode ser puncionado por uma agulha, e a medula pode ser conecta-se com todos os meridianos Yin, por isso, chama-se
aspirada para estudo [1]. Na fase infanto-juvenil apresenta vários “o mar dos meridianos Yin” [4,5]. Percorre da região perianal e
centros de ossificação com 3 linhas (cartilagens), mais ou menos na face anterior do tronco passando pelo osso esterno,
distintas que cruzam a face anterior, separando o corpo do exatamente na linha média, terminando na depressão do
esterno em três partes [1,2]. No terço distal, a cartilagem pode sulco labiomentual inferior [4-8]. Dispõe de 24 acupontos
ser interrompida por um forame, que é preenchido por (pontos de acupuntura), sendo que 06 situam-se na região
cartilagem hialina no vivo [3]. O processo xifóide pode ser esternal (linha mediana) e destes, 02 sobre áreas de variação
além de bífido, ausente e ainda apresentar-se com forame, no xifo-esternal, são eles os pontos Zhongting (vc16) e Shangzong
qual é mais freqüentemente que o corpo do esterno [1,3]. (vc17) [8,9].
A teoria da Acupuntura Tradicional Chinesa indica o Na literatura até o momento são poucos os trabalhos que
uso do meridiano (canal) Vaso Concepção (Ren Mai= “nascer” descrevem sobre essas variações anatômicas correlacionando,

Recebido 27 de janeiro de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Prof. Márcio Antônio Babinski, Departamento de Anatomia – IBRAG, Av. 28 de Setembro 87, (Fds),
Vila Isabel 20551-030 Rio de Janeiro RJ, Fax: (21) 2587-6121, E-mail: babinski@vm.uff.br, e babinski3@bol.com.br
72 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

sobretudo, as implicações na prática de acupuntura [9] nesses Discussão


locais. Portanto, o objetivo do presente estudo é relatar dois
casos de variações anatômicas no osso esterno e relacionar Derivada dos radicais latinos acus e pungere, que significam
com a prática de acupuntura bem como, verificar a descrição agulha e puncionar, respectivamente, a acupuntura visa à terapia
das anomalias, precauções e conseqüências na literatura e cura das enfermidades pela aplicação de estímulos através da
específica de acupuntura. pele, com a inserção de agulhas em pontos específicos chamados
acupontos [4,7,10,11,12]. Trata-se também de uma terapia
Relato de caso reflexa, em que o estímulo de uma área age sobre outra(s).
Para este fim, utiliza, principalmente, o estímulo nociceptivo
Durante as aulas regulares de dissecção e preparo de [12,13].
peças ósseas para as aulas, foi identificado à presença do As precauções usuais no exercício da acupuntura no
forame esternal e no mesmo osso a presença do forame canal Ren Mai (VC), especificamente nos acupontos
no processo xifóide (Fig. 1). Outra peça apresentou a Zhongting (vc16) e Shangzong (vc17) são relatadas em
fissura esternal e agenesia de processo xifóide (Fig. 2). todos os livros de MTC e Acupuntura, no entanto,
existem poucos trabalhos [9] no que se refere as prováveis
Fig. 1 – Fotomacrografia mostrando o osso esterno masculino variações anatômicas. No caso do osso esterno, o
com a presença bem definida do forame esternal e outro forame no processo acupunturista deve respeitar a angulação da agulha
xifóide. (obliquamente em 45º), a profundidade da inserção
(geralmente 0,3 á 0,5 Cun = medida chinesa equivalente
a 1 polegada) [5,7]. Uma vez atendido esses quesitos e
anteriormente a eles, um bom exame palpatório local,
evitar-se-á a punção cardíaca que em conseqüência poderia
causar o tamponamento cardíaco [7], no caso do forame
esternal (Fig. 3). As variações anômalas no forame xifóide
poderiam ainda perfurar o fígado (Fig.4) na inspiração.
Fig. 3 – Desenho esquemático de um corte transversal do tórax ao nível da
vértebra T7 representando uma possível perfuração do coração pela presença
do forame esternal conforme Fig. 2.

M = Manúbrio, CE = Corpo do Esterno, PX = Processo Xifóide,


Seta Superior = Forame Esternal, Seta Inferior = Forame do
Processo Xifóide.

Fig. 2 – A fotomacrografia mostra o osso esterno feminino com a presença


de uma fissura esternal e a mesma peça ainda é caracterizada pela agenesia
do processo xifóide.

Muitas variações anatômicas originam-se de desvios no


desenvolvimento embrionário normal [2,3] e o interessante
é que elas acabam por testar os conhecimentos do
profissional de saúde ou afligi-lo. No caso do osso esterno
as variações de forma estão geralmente relacionadas com o
tipo de desenvolvimento. Duas faixas intramembranosas
longitudinais unem as extremidades anteriores das costelas
M = Manúbrio, CE = Corpo do Esterno, Seta = Fissura Esternal. em desenvolvimento no início da vida embrionária. Estas
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 73

faixas se fundem e forma uma estrutura mediana única, o poucos autores, Chen [7] em sua obra: “Anatomia
esterno [1,2]. topográfica dos pontos de acupuntura” sugere aos leitores
“não inserir a agulha profundamente, uma vez que pode
Fig. 4 – Desenho esquemático de um corte transversal do tórax ao nível da atravessar a cavidade torácica dentro do pericárdio e do
vértebra T10 representando uma possível perfuração do lobo esquerdo do coração, causando sangramento maciço”. Com a mesma
fígado pela presença do forame e ou fissura no processo xifóide.
sugestão o autor indica esse cuidado ainda para os
A fusão completa conduz a uma série de simples centros acupontos Yutang (vc18) e Zigong (vc19). No caso do
acuponto Huagai (vc20) “não inserir a agulha
profundamente, uma vez que pode penetrar através do
timo infantil ou cavidade torácica dentro do adulto dentro
da traquéia”. Sendo assim, essa é uma das poucas obras
na literatura que indica a real conseqüência da inserção da
agulha sem um maior cuidado, no que tange a inclinação e
profundidade da superfície. Outros livros [4,5,8]
descrevem somente a localização exata do ponto, bem
como, o trabalho de Yamamura et al. [9].
Além do empecilho semântico, a prática da acupuntura
se depara com deficiências no ensino e difusão científica
[12,14]. Muitos dos profissionais (de formação técnica)
habilitados a exercer a acupuntura tiveram apenas o
direcionamento para o cuidado com a estrutura normal,
i.e., “desviar” a artéria, o nervo e a veia, porém lhes falta a
orientação das variações anatômicas. Outrossim, cabe
lembrar que isso é de responsabilidade dos educadores dos
cursos em Acupuntura. Portanto, o objetivo deste trabalho,
medianos de ossificação, que estão presentes no manúbrio e
destinou-se a relatar dois casos de variações anatômicas,
em cada um dos segmentos corporais na época do
com intuito informativo de chamar a atenção para estes
nascimento. No entanto, pode não existir centro para o quarto
fenômenos que alteram a estrutura e que tem implicação
segmento. A fusão incompleta predispõe a ossificação bilateral,
na prática de acupuntura.
especialmente no terceiro e no quarto segmentos. O grau em
É contra indicada a instituição do tratamento com
que existem centros de ossificação bilateral determina a forma
acupuntura antes de um elaborado diagnóstico segundo a
do osso adulto. A fusão ainda menos íntima leva à formação
MTC, pois se corre o risco de mascarar ou alterar os sinais
de um forame esternal ou a fissura esternal completa [1,9]. A
clínicos [15], Portanto, no diagnóstico e tratamento pela
variação descrita nesse trabalho e contida nas figuras (1 e 2),
acupuntura, corroboramos que é necessário o conhecimento
refere-se a esse tipo de anomalia.
anatômico para exame físico através da Anatomia palpatória
O centro de ossificação aparece no processo xifóide
de superfície, bem como, a necessidade dos conhecimentos
durante a infância. Os centros do corpo esternal fundem-
das possíveis variações, para que os profissionais acu-
se entre o fim da puberdade e o início da idade adulta.
punturistas não sejam traídos pelas anomalias do
Ocasionalmente ocorre a interrupção por um forame
desenvolvimento estrutural humano ou ainda pela ignorância,
também no processo xifóide [3], o qual, foi visto nesse
i.e., falta de bom senso em seguir as indicações de angulação
trabalho (figura 1). Eles se ossificam durante a puberdade
e profundidade das agulhas.
e podem articular-se com o manúbrio ou fundir-se com
ele. O esterno pode ser muito fundo ou deprimido (“tórax
em funil”), mas tal condição não causa, necessariamente, Agradecimentos
sintomas [1,2] e também não interfere na prática de
acupuntura. Na literatura até o momento não temos O autor agradece ao acadêmico Rafael Leite Roquette
conhecimento de descrição dessas variações anatômicas cor- Maciel do curso de Biomedicina da Universidade Federal
relacionando, sobretudo, as implicações na prática de acu- Fluminense (UFF) pelo prestimoso apoio técnico nos
puntura nesses locais. desenhos esquemáticos.
Segundo Chen [7], nos últimos 30 anos, muitos artigos
e livros têm sido publicados sobre estruturas anatômicas Referências
dos acupontos. Todavia, observamos que a maioria da
literatura especializada não aborda as prováveis variações 1. Gardner E, Gray DJ, O’Hailly R. Anatomia: estudo
anatômicas que podem surpreender o profissional, ou- regional do corpo humano, 4 ed. Rio de Janeiro:
trossim, é ligeiramente abordado sobre as precauções. Dos Guanabara Koogan; 1988. p.255-6.
74 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

2. Williams P, Warwick R, Dyson M, Bannister LH. Gray: (Zhongting) do canal curioso Ren Mai. Rev Paulista Acupunt
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 75

Estudo de caso

Fisioterapia aquática na qualidade de vida e capacidade


funcional de pacientes com espondilite anquilosante
Aquatic physical therapy on quality of life and functional capacity
of patients with ankylosing spondylitis

Nidia Aparecida Hernandes*, Maiza Ritomy Ide**, Fátima Aparecida Caromano, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, pós-graduanda em Fisioterapia Cárdio-Respiratória pelo CBES, **Fisioterapeuta, docente do curso de fisioterapia da
UNIOESTE e UNIAMÉRICA, ***Fisioterapeuta, Profa Dra do curso de fisioterapia da FMUSP

Resumo Abstract
A espondilite anquilosante é uma patologia reumática The ankylosing spondylitis is a rheumatic disease
caracterizada por comprometimento articular progressivo. characterized by progressive compromising of joint. It is able
Pode alterar a capacidade funcional (CF) dos sujeitos em to modify functional capacity (QOL) of subjects in different
diferentes graus, influenciando a qualidade de vida (QV). degrees, changing the quality of life. Objectives: To evaluate
Objetivos: Avaliar a QV e CF de pacientes com espondilite the QOL and FC of patients with ankylosing spondylitis
anquilosante submetidos a um programa de fisioterapia submitted to a program of aquatic physical therapy. Methods:
aquática. Métodos: Foram selecionados quatro sujeitos com Four patients with ankylosing spondylitis, three men and
espondilite anquilosante, três do sexo masculino e média de average age of 33,25 years. The patients had been submitted
idade de 33,25 anos. Todos foram submetidos à avaliação to physical therapy, functional capacity (using HAQ and 6-
fisioterapêutica, da CF (através do HAQ e DP-6) e QV minute Walk Test) and quality of life outcome (using the SF-
(através do SF-36) pré e após um programa de fisioterapia 36) before and after a ten weeks aquatic therapy program,
aquática de dez semanas, aplicado três vezes por semana. applied three times a week. Results: The scores of SF-36
Resultados: Os escores do SF-36 revelaram melhora na QV, questionnaire showed improvement in the QOL, showed
expressa pela melhora na capacidade funcional, dor e vita- by functional capacity, pain and vitality improvement in all
lidade em todos os indivíduos. Quatro outros aspectos melho- the subjects. Four other aspects increased in three and the
raram em três e o aspecto físico em apenas dois deles. A physical aspect in only two of then. The reduction of 38,95%
redução média de 38,95% nos escores do HAQ e o aumento in the HAQ scores and increase of 69,32% in the 6-minute
médio de 69,32% na distância percorrida em seis minutos Walk Test suggest improvement in the FC. Conclusion: It
sugerem melhora na CF. Conclusão: Observou-se melhora was observed an improvement in the QOL and FC in subjects
na QV e CF de pacientes com EA submetidos a um programa with ankylosing spondylitis submitted to a program of aquatic
de fisioterapia aquática. Entretanto são necessários estudos physical therapy. However, studies with more subjects and
com amostra e período de tempo mais prolongados para que time are necessary for definitive conclusions.
se estabeleçam conclusões definitivas. Key-words: quality of life, functional capacity, ankylosing
Palavras-chave: qualidade de vida, capacidade funcional, spondylitis, aquatic physical therapy.
espondilite anquilosante, fisioterapia aquática.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução ao seu redor (anquilose óssea), resultando em imobilidade,


dor e rigidez [1-4].
A espondilite anquilosante é uma forma de espon- Os sintomas da doença são notados primeiramente
diloartrite crônica soronegativa, caracterizada por compro- no final da adolescência ou no início da idade adulta [4],
metimento progressivo das articulações sacroilíacas e média de 25 anos de idade [5]. A prevalência de EA na
vertebrais, com eventual ossificação nessas articulações e população geral é de cerca de 1% e, atualmente, sabe-se

Recebido 17 de junho de 2004; aceito 15 de dezembro de 2004.


Endereço para correspondência: Nidia Aparecida Hernandes, Rua Assis Chateaubriand, 296, Vila Santo Antônio 87030-190 Maringá
PR, Tel: (44) 263-1526/9953-9563, E-mail: nyhernandes@onda.com.br
76 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

que mulheres jovens são afetadas quase tão freqüen- Material e métodos
temente quanto homens jovens [1,3,6].
O quadro clínico da patologia é resultado do progres- Para compor a amostra, foram selecionados quatro sujeitos
sivo comprometimento articular, que altera a capacidade com diagnóstico de espondilite anquilosante, sendo três do
física dos pacientes espondilíticos. Além das manifestações sexo masculino e uma do sexo feminino. Os sujeitos foram
articulares, destacam-se as extra-articulares: oculares, pul- denominados A, E, S e V. A idade média foi de 33, 25 anos.
monares, cardiovasculares, renais, gastrointestinais, e O tempo de evolução da doença foi de 13,5 anos, em média.
neurológicas [1,3,4,6,7]. Todos eram acompanhados por um médico reumatologista,
A influência da espondilite anquilosante na qualidade com tratamento clínico baseado em antiinflamatórios não-
de vida depende, portanto, da apresentação do quadro clínico hormonais e corticoesteróides.
(atividade e gravidade). Pode conduzir a diferentes graus de Os critérios de exclusão incluíam tabagismo, queixas, sinais
incapacidade física, social, econômica ou psicológica [5]. Por ou sintomas que impediriam a realização das atividades
isso a intervenção fisioterapêutica visando redução de propostas, e foram consideradas ainda disponibilidade de tempo,
sintomas, preservação ou melhora da mobilidade, meios de transporte e aceitação da rotina de treinamento.
conscientização postural e melhora da capacidade funcional Todos os participantes foram submetidos à avaliação
é indicado para pacientes com EA [8]. fisioterapêutica pré e pós intervenção, de acordo com proto-
A avaliação da qualidade de vida e capacidade fun- colo previamente desenvolvido, visando verificar as condi-
cional na EA é tão importante no auxílio do diagnóstico ções patológicas em que se encontrava cada paciente e ex-
quanto na avaliação do tratamento aplicado. Este tipo de cluir contra-indicações à participação no programa. A avalia-
avaliação pode ser realizado através de questionários auto- ção incluía anamnese, exame físico, aplicação dos ques-
aplicáveis ou com o auxílio de entrevistadores. Os tionários HAQ e SF-36 e realização do teste DP-6.
questionários específicos são mais indicados, pois oferecem Os questionários foram aplicados por entrevistadores
informações mais especializadas e concisas sobre áreas de previamente treinados. A pergunta e todas as opções de res-
interesse primário. Dentre os específicos para avaliação posta eram lidas ao paciente. O mesmo indicava qual das opções
da capacidade funcional, pode-se citar o HAQ constituído era a mais indicada e esta era marcada pelo entrevistador.
por oito componentes que avaliam aspectos distintos da O teste DP-6 foi realizado sobre uma superfície
vida diária. A média aritmética mínima dos escores dos demarcada com 10 metros de comprimento. Foram men-
componentes é zero e a máxima é 2. A redução na média surados oximetria de pulso, freqüência cardíaca e pressão
dos escores é indicativa de melhora da capacidade funcional arterial e aplicada escala de Borg antes e após a realização
[9,10]. Dentre os genéricos, pode-se citar o SF-36 do teste. Antes de iniciar os testes, os indivíduos perma-
composto por 36 itens, englobados em oito escalas: capa- neceram sentados durante 10 minutos. Durante a cami-
cidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de nhada, os pacientes receberam estímulos verbais quanto
saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e ao seu desempenho e quantidade de tempo remanescente.
saúde mental. Aumento nos valores dos escores dos ítens Após seis minutos de caminhada em rápida velocidade,
capacidade funcional, estado geral de saúde, aspectos era calculada a distância percorrida e anotada.
físicos, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais Após avaliação, os sujeitos foram submetidos a um
e saúde mental e redução nos escores do componente dor programa de fisioterapia aquática desenvolvido para a
indicam melhora da qualidade de vida do indivíduo ava- realização deste trabalho, ilustrado na foto 1. O programa
liado [11,12]. incluiu exercícios de mobilidade para esqueleto axial e
O teste DP-6 também é amplamente utilizado para periférico, exercícios respiratórios, alongamentos,
avaliar a capacidade funcional de pacientes reumáticos [13]. relaxamento e condicionamento cardiorrespiratório.
O teste mensura a distância que o paciente é capaz de Todas as atividades foram executadas na Clínica de
percorrer rapidamente sobre uma superfície estável durante Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
seis minutos. Avalia respostas globais e integradas de todos (UNIOESTE). O programa de hidrocinesioterapia foi
os sistemas envolvidos durante o exercício, incluindo os realizado em piscina aquecida a 32°C ± 1, de dimensões 11 x
sistemas pulmonar e cardiovascular, circulação sistêmica e 7m e 1,25m de profundidade, por um período de 10 semanas,
periférica, sangue, unidades neuromusculares e metabolismo com três atendimentos semanais de uma hora de duração.
muscular. O aumento da distância percorrida, comparada
com teste realizado previamente, indica melhora da Resultados
capacidade funcional do indivíduo [14].
Este estudo objetivou avaliar a qualidade de vida e Para análise dos resultados, os valores dos escores dos
capacidade funcional de pacientes com espondilite questionários SF-36 e HAQ e os valores da distância
anquilosante submetidos a um programa de fisioterapia percorrida no teste DP-6 pré e pós-intervenção foram
aquática. comparados em cada indivíduo.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 77

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Foto 1 – Programa hidrocinesioterapêutico. Gráfico 2 – Porcentagem das médias dos escores do HAQ do máximo
valor obtido – inicial e final. A redução nos valores indica melhora na
capacidade funcional.

FONTE: do autor.

Os dados estão sintetizados na tabela I e gráficos 1 e 2.


FONTE: do autor.
Gráfico 1 – Valores da distância percorrida no teste DP-6 pré e pós
intervenção. indivíduos, revelando que o programa hidrocinesio-
terapêutico promoveu melhora da capacidade física dos
participantes. A dor também aumentou em todos os
participantes. Este aumento pode ser atribuído à rigidez,
que inicialmente se comporta como resistência aos
exercícios. Os parâmetros estado geral de saúde, aspectos
sociais, aspectos emocionais e saúde mental mostraram
valores aumentados em três participantes, e reduzidos em
um indivíduo da amostra. O parâmetro aspectos físicos
apresentou-se aumentado em dois pacientes.
A comparação das médias aritméticas dos escores do
questionário HAQ dos pacientes pré e pós intervenção
demonstrou redução nos escores, representando uma
maior capacidade funcional dos participantes após a
aplicação do programa de tratamento. Hidding e Linden
FONTE: do autor. [15] realizaram um estudo com 68 pacientes com EA
submetidos a nove semanas de tratamento fisioterapêutico
Discussão em grupo. A intervenção consistiu de um programa de
30 minutos de exercícios diários para casa e um programa
A análise dos valores das médias dos escores do semanal de exercícios supervisionados. Este foi constituído
questionário SF-36 mostrou que os parâmetros capacidade por exercícios de mobilidade para coluna e articulações
funcional e vitalidade apresentaram aumento em todos os periféricas, exercícios para aumento de força muscular

Tabela I – Valores dos escores do questionário SF-36 – inicial e final.

SUJEITO
Capacidade Aspectos Dor Estado geral Vitalidade Aspectos Aspectos Saúde
funcional físicos de saúde sociais emocionais mental

Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós Pré Pós

A 15 22 5 8 4,2 7,1 10 18,4 8 20 6 9 4 6 25 28


E 24 25 8 7 8,1 8,4 13,4 13,4 14 20 8 6 5 4 24 19
S 15 24 7 4 4,2 9,4 13 15,4 18 20 6 8 4 6 26 29
V 17 25 4 8 4,2 8,2 11 16,4 18 22 5 10 3 6 19 27

FONTE: do autor.
78 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

de tronco e membros inferiores e hidroterapia. Os resultados Conclusão


demonstraram correlação significante entre melhora do
estado de saúde global e redução nos escores do HAQ Um programa de fisioterapia aquática voltado a melhorar
(p=0,01). Uhrin, Kuzis e Ward [16] também observaram mobilidade geral e condicionamento cardiorrespiratório in-
redução de 0,08 ponto, em média, nos escores do HAQ fluencia positivamente a qualidade de vida e capacidade fun-
(p < 0,001) em 241 pacientes com EA submetidos a cional de pacientes com espondilite anquilosante, visto que
exercícios de mobilidade e alongamento cinco a sete dias permite-lhes realizar com maior qualidade suas atividades
por semana durante um período de seis meses. de vida diária. Entretanto são necessários estudos com amos-
Abbott, Helliwell e Chamberlain [9], em estudo com tra e período de tempo mais prolongados para que se esta-
42 pacientes com EA submetidos a três tipos de tratamento beleçam conclusões definitivas.
fisioterapêutico, também observaram melhora na capacidade
funcional dos indivíduos. Os autores desenvolveram e Referências
utilizaram um questionário similar ao HAQ, que avaliava a
capacidade funcional de pacientes espondilíticos através de 1. Janson RW. Espondilite anquilosante. In: West SG. Segredos
em reumatologia: respostas necessárias ao dia-a-dia em
cinco grupos funcionais: mobilidade, inclinação anterior,
rounds, na clínica, em exames orais e escritos. 1ª ed. Porto
habilidades, inclinar os braços e extensão do tronco. Houve Alegre: Artmed; 2000. p 258-64.
redução nos escores dos pacientes de 1,07 ± 0,75 (p < 2. Provenza JR, Watanabe CT, Lima ACR. A importância da
0,01). distância dedo-chão como método propedêutico diagnóstico
Os valores do teste DP-6 pré e pós intervenção mostraram da espondilite anquilosante. Rev Ciênc Méd 1999;8:19-22.
aumento expressivo na distância percorrida em todos os 3. Salter RB. Distúrbios e lesões do sistema músculo-esquelético.
participantes, revelando uma melhora na capacidade funcional. 3ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2001. p. 245-248.
Gowans, Hureck e Voss [13], em estudo com 39 pacientes 4. Skare TL. Reumatologia: princípios e prática. 1ª ed. Rio de
reumáticos submetidos a sessões semanais de hidrocinesio- Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. p. 171-4.
terapia, relataram aumento estatisticamente significativo (p < 5. Meirelles ES, Kitadai FT. Espondilite anquilosante: aspectos
epidemiológicos e clínicos. Acta Ortop Bras 1998; 6:173-9.
0,0001) na distância percorrida durante o teste DP-6 realizado
6. Karr RW. Afecções reumáticas: diagnóstico e tratamento –
antes e após o tratamento. A intervenção consistiu de exercícios entesopatias. In: Weinstein SL, Buckwalter JA. Ortopedia de Turek:
de mobilidade contra resistência da água durante 20 minutos princípios e sua aplicação. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2000. p. 171-2.
e 10 minutos de caminhada dentro de piscina aquecida. O 7. Skinner AJ, Thompson AM. Duffield: exercícios na água. 3ª
aumento na distância percorrida foi, em média, de 51 ± 12 ed. São Paulo: Manole; 1985. p. 113-8.
metros (17,23%). 8. Cronsted H, Waldner A, Stenström C H. The swedish version
A alteração nos escores de ambos os questionários, SF- of the Bath ankylosing spondylitis functional index: reability
36 e HAQ, e na distância percorrida no teste DP-6 aplicados and validity. Scand J Rheumatol 1999; 28:1-9.
no presente estudo revelou que o tratamento fisioterapêutico 9. Abbott CA, Helliwell PS, Chamberlain MA. Functional
assessment in ankylosing spondylitis: evaluation of a new sefl-
utilizado influenciou o estado de saúde geral dos pacientes,
administered questionnaire and correlation with anthropometric
sendo visto através da melhora da capacidade funcional. variables. British J Rheumatol 1994; 33:1060-6.
Observou-se ainda que tal melhora foi percebida mesmo 10. Cury SE, Ferraz MB, Sato EI, Atra E. Qualidade de vida e espondilite
com o curto período de aplicação dos exercícios. anquilosante: estudo-piloto. Rev Bras Reumatol 1995;35:77-87.
Devido à forma de apresentação da EA ser caracterizada 11. Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR.
por acometimento global do paciente, muitas vezes é difícil Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário
analisar os efeitos de uma intervenção terapêutica. Geral- genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-
mente, uma melhora isolada em determinada amplitude de 36). Rev Bras Reumatol 1999;39:143-50.
movimento ou força muscular não reflete direta ou 12. Hays RD, Morales LS. The RAND-36 measure of helth-
necessariamente uma melhora em hábitos que o paciente related quality of life. Ann Med 2003.
13. Gowans SE, deHueck A, Voss S. Six-minute walk teste: a
considera importante, como calçar um sapato ou escovar
potential outcome measure for hydrotherapy. Arthritis Care
os dentes. Portanto, por se tratar de uma patologia crônica e Res 1999;12:208-11.
progressiva, a qualidade de vida na EA torna-se um parâ- 14. Brooks D, Solway S, Gibbons W J. ATS statement: guidelines
metro bastante significativo. Por esta razão, a aplicação de for the six-minute walk test. Am J Respir Crit Care Med
questionários que analisam a capacidade física e funcional 2002;166:111-7.
do paciente torna-se uma modalidade bastante válida para 15. Hidding A, Linden SVD. Factors related to change in
se avaliar a eficácia de uma intervenção terapêutica, pois global health after group physical therapy in ankylosing
avalia os benefícios que um tratamento gera a todo o paciente spondylitis. Clin Rheumatol 1995;14:347-51.
e as implicações destes benefícios na sua vida diária. 16. Uhrin Z, Kuzis S, Ward MM. Exercise and changes in
health status in patients with ankylosing spondylitis. Arch
Inter Med 2000;160:2969-75. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005 79

Normas de publicação Fisioterapia Brasil


A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral 4. Resumo e palavras-chave
e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas (Abstract, Key-words)
relacionadas à Fisioterapia. Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150
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publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros seguido da versão em inglês.
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
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A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodolo-
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Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
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seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
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www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual
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podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
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mesmo, que será notificado ao autor. 5. Agradecimentos
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Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
especificações anteriores. do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
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Livro:
e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser
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Capítulo ou parte de livro:
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em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven
com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. press; 1995. p.465-78.

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- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
acadêmicos. final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
- Local de trabalho dos autores. são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
endereço, telefone e E-mail. disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
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3. Autoria Exemplo:
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trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
conteúdo. Res 1994;54:5016-20.
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80 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2005

Calendário de eventos
2005 Junho
4 a 7 de junho
Março 7th Congress of the European Federation of
National Associations of Orthopaedics and
8 de março Traumatology (EFORT)
2º FISIOTRAB – Congresso Brasileiro de Lisboa, Portugal
Fisioterapia do Trabalho efort2005@netcabo.pt
Hotel Bourbon Tower, Curitiba, Paraná
Informações: (41) 2840-3194 17 a 19 de junho
E-mail: fisiotrab@fisiotrab.com.br I Congresso Gaúcho de Fisioterapia Ortopédica e
Traumatológica
Marau, RS
Abril
Informações: www.fisioterapiamarau.com.br ou (54) 342-6542
1 a 2 de abril 26 a 30 de junho
I Simpósio de fisioterapia da associação XVIII World Congress of Gerontology: New
niterioense dos deficientes fisicos.: abordagem Perspective: Healthy Aging in the XXIst century:
interdisciplinar no traumatismo raquimedular “Building Bridges Between Research and
Informações: Dra. Ana Lucia Lessa Valente Practice”
Tel: (21) 9854-9110/2729-0005 Rio de Janeiro, RJ
www.andef.org.br nortonsa@uol.com.br
10 a 14 de abril
3º Congresso da Sociedade Internacional de Julho
Medicina Física e de Reabilitação
15 a 17 de julho
Hotel Gran Meliá, São Paulo
2º ENAF – BH
Informações: isprm2005@isprm.org
Belo Horizonte, BH
14 a 17 de abril Informações: www.enaf.com.br
Reatech 2005-01-21 IV Feira internacional de
22 a 24 de julho
tecnologias em reabilitação e inclusão
10º Congresso Brasileiro Multidisciplinar e
Centro de exposições Imigrantes, São Paulo
Multiprofissional em Diabetes
www.reatechvirtual.com.br
UNIP, São Paulo
21 a 24 de abril Informações: Anad (11) 5572-6559
38º ENAF www.anad.org.br
Poços de Caldas, MG
Informações: www.enaf.com.br
Agosto
25 a 27 de agosto
Maio IV Congresso de fisioterapia do oeste paulista
12 a 14 de maio São José do Rio Preto, SP
XI Simpósio de Fisioterapia em Cardiologia
Centro de Eventos SOCESP/Campos do Jordão, Outubro
Campos do Jordão
Informações: (11) 3179-0044 6 a 8 de outubro
International Spine Symposium
21 a 25 de maio Londres, Reino Unido
6th International Conference on Preventive contact@spineinternational.org
Cardiology
Foz do Iguaçu, PR
prcardio2005@congresosint.com.ar 2006

Março
20 a 25 de março
5th International Conference on Advances in
Pulmonary Rehabilitation and Management of
Chronic Respiratory Failure
Stresa, Itália
Informações: congressi@effetti.it
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 81

○ ○
Fisioterapia Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Índice
(vol.6, nº2 março/abril 2005 - 81~164)
EDITORIAL
Habemos retrocesso, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................................................................. 83

ARTIGOS ORIGINAIS
Estudo sobre diferentes tempos de manutenção do alongamento passivo,
Luanna Nunez Gutierrez Passos, Rodrigo Alcorinte Hubinger ...................................................................................................................... 84
Influência do mobiliário adaptado na variação angular da curvatura lombar de indivíduos com paralisia
cerebral espástica, Lígia Maria Presumido Braccialli, Eduardo José Manzini, Roberto Vilarta ................................................................. 90
Efeito do laser terapêutico na cicatrização tendinosa: estudo experimental em ratos,
Marcelo Rodrigo Tavares, Nilton Mazzer, Mônica Pastorello ........................................................................................................................... 96
Fisioterapia
A práticatorácica intercostal fechada com selo d’água na respiração e voz,
influência da drenagem
em sujeitos hospitalizados com doenças pleuropulmonares,
Júlia Barreto Bastos de Oliveira, Jacy Perissinoto, Lílian Kátia Barroso Moura, Denise Gonçalves Moura .............................................. 101
Avaliação das atividades de vida diária pelo Índice de Barthel de pacientes acometidos
de acidente vascular encefálico, Paulo Roberto Garcia Lucareli, Jaime Carlik, Tatiana Klotz ................................................................. 108
Prevalência de lombalgia no setor de fisioterapia do município de Cosmópolis-SP e o papel
da fisioterapia na sua prevenção e recuperação,
Rosana Macher Teodori, Fábio Marcon Alfieri, Maria Imaculada de L. Montebello .................................................................................... 113
Lesão raquimedular: uso da piscina terapêutica para minimizar a espasticidade,
Guilherme Carlos Brech, Adriano Borges Amaral, Ana Paula Restiffe ......................................................................................................... 119
Utilização do laser de baixa potência nas clínicas de fisioterapia de Piracicaba, SP,
Luciana Cezimbra Weis, Adriana Arieta, Juliana Souza, Rinaldo R.de J.Guirro ........................................................................................... 124
Efeitos do ultra-som terapêutico pulsado associado à indometacina no edema de ratos artríticos,
João Luiz Quagliotti Durigan, Irinéia Paulina Baretta, Carlos Nannini Costa, Heraldo Echeverria Borges ............................................. 130
Estudo da tensão muscular masseterina, através da eletromiografia em professores da Faculdade
Ginástica
de FisioterapiaLaborativa
de Caratinga-FAFISC, Marcus Vinícius de Mello Pinto,
Ricardo Assis de Oliveira Quintela Chagas, Fábio Gomes Oliveira ............................................................................................................... 136
Trauma raquimedular – perfil epidemiológico dos pacientes atendidos pelo serviço público do estado
de Goiás nos anos de 2000 a 2003, Melissa Nascimento Barros, Renata Cristina Basso ........................................................................... 141

REVISÕES
Ventilação não-invasiva na unidade de terapia intensiva: o manuseio da técnica pelo fisioterapeuta,
Verônica Franco Parreira, Simone Assunção Mota de Carvalho ..................................................................................................................... 145
Importância da crioterapia na lipólise, Vanessa Correia Fernandes Bacelar,
Cláudia Maria Bahia Pinheiro, Paula Montagna, André Luís Alves Bacelar ................................................................................................... 151
Atividade física e lombalgia,Vanessa Ferreira Bréder, Débora Feliciano de Oliveira,
Marco Antônio Guimarães da Silva ................................................................................................................................................................... 157

NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................................................................................. 163

EVENTOS ........................................................................................................................................................................................................ 164

INFORMAÇÃO IMPORTANTE AO ASSINANTE - PAG.: 89


82 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Fisioterapia Brasil
www.fisioterapiabrasil.com.br

Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná)
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo)
Grupo de assessores
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Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE – Bahia)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
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Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 83

Editorial

Habemus retrocesso?

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva*


marco@atlanticaedu.com.br

Nada como uma volta ao passado, para tentar prever ou genética e ao tentar impedir que o paciente tenha livre arbítrio à
pressupor as dificuldades que os que pensam e executam as hora da própria morte? Todos sabemos a resposta.
pesquisas científicas terão pela frente, caso se confirme a postura O perigo ainda maior estaria em dirigentes que se deixam
ultraconservadora e radical de Joseph Ratzinger, carinhosamente influenciar por teorias retrógradas e passam eles mesmos a
apelidado pelo Daily Mirror como Gods Rottweiller (tradução representar um duplo poder: o do Estado e da Igreja. Um temível
propositalmente omitida). exemplo está na redescoberta do Criacionismo (teoria da origem
Duas obras, “Carta a Cristina de Lorena (Lettera alla dos seres por criação, oposta à evolução espontânea), que ganha
Sereníssima Madre Madama Cristina de Lorena, 1615, já referida corpo mais expressivamente no sul dos Estados Unidos e já se
por mim em editorial passado) e Carta sobre a Tolerância (Epistola manifesta timidamente em algumas regiões do Brasil. Os
de Tolerantia-, 1689)” escritas respectivamente por Galileu e Locke, inimigos declarados de Darwin têm a simpatia e até mesmo o
talvez nos ofereçam alento para resistir a possíveis pressões incentivo de governadores e presidentes e vêm impondo, às
obscurantistas. crianças e jovens, um modo de pensar e viver digno do mais
A obra de Galileu, tida como manifesto programático da obscuro período da humanidade.
revolução científica, defende a cosmologia copernicana de sua Em um mundo em risco de ser totalmente dominado por
aparente contradição com as Escrituras. A polêmica à época era se esses neofundamentalistas cristãos, ponho me a pensar que fim
a teologia podia seguir sendo a mãe tutelar das ciências ou se levaria o progresso cientifico explicado à luz dos preceitos das
estas podiam gozar de autonomia plena. Uma releitura de Locke quebras de paradigmas defendida por Kuhn (Thomas Samuel,
nos permite idealizar uma ciência livre de pressões do estado ou 1922-1966) ou justificado sob a forma critica, mediante conjeturas
da igreja. Sua Carta é uma reivindicação e homenagem filosófica e refutações, de Popper (Karl Raimund, 1902-1944). Obviamente
à liberdade de consciência e à liberdade religiosa, representando o progresso científico não existiria e todos teríamos que rever as
uma continuidade da legitimação da liberdade que já havia sido nossas perspectivas sonhadoras em poder assistir, ainda nesta
preconizada por Spinoza em seu Tratado teológico político. geração, a cura do diabetes ou de alguns tipos de câncer, além da
Com rigor e ordem metodológica, Locke estabelece a ordem prevenção de cardiomiopatias e de outras inúmeras enfermidades.
das sociedades civil e religiosa, deixando claro que todo intento Sendo inevitável fugir de influências religiosas sobre o poder
de confundir ambas as ordens sinaliza para intolerâncias que estatal, melhor seria que a Igreja católica, menos dogmática e
prejudicam a liberdade individual e o bem estar geral. Ao definir mais adaptada às conquistas e avanços científicos e tecnológicos
o Estado como sendo uma sociedade de homens constituída que o presente/futuro nos reserva, pela força que tem,
para conservar e promover somente os bens civis (a vida, a influenciasse o Estado e até mesmo outras religiões, e assumisse
liberdade, a integridade corporal e a propriedade privada) e a o papel chave na saúde e bem estar da sociedade. Oxalá estejamos
igreja como uma sociedade de homens que se reúnem equivocados com a previsões feitas sobre o Papado que agora se
espontaneamente para honrar publicamente a Deus, do modo inicia. Quem sabe o Santo Padre, um dia, ao acordar, se inspire,
que melhor julgarem para agradar a divindade e assim obterem a auxiliado pela luz primaveril que já insiste em substituir o cinza
salvação de suas almas, o filósofo nos leva às seguintes do recém finado inverno romano, e tome a seguinte decisão: a
conclusões: o Estado tem o dever de respeitar a liberdade da partir de hoje não mais obstaculizaremos os avanços científicos e
consciência humana, a liberdade de credo, a liberdade de culto de as reformas sociais dos paises emergentes. Afinal, conclui ele:
todas as religiões e a Igreja não deve interferir nos bens civis ou resolvi ter um rebanho mais saudável, feliz, sem culpas e receios
fazer uso da força, porque esta última sempre prejudica a aspiração de ter vindo parar neste confuso planeta e, sobretudo, sem medo
de salvação do ser humano. de, ao morrer, ter que enfrentar o tédio de um purgatório ou o
Estariam o Estado e a Igreja mantendo a isenção preconizada excessivo calor de um inferno.
por Locke em suas áreas de atuação? Estaria o “Estado” sendo Céu para todos! Vivas para o Papa e para a santa e milenar
influenciado pela Igreja, ao restringir as pesquisas com células paciência do homem!! Vade Retrum retrocesso!
tronco, ao dificultar outras investigações cientificas na área da

* Editor científico de Fisioterapia Brasil, Pós-Doutorado na UFRJ, Professor do curso de mestrado da UCB
INFORMAÇÃO IMPORTANTE AO ASSINANTE - PAG.: 89
84 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Estudo sobre diferentes tempos de manutenção


do alongamento passivo
Study about different times of maintenance of passive stretching

Luanna Nunez Gutierrez Passos*, Rodrigo Alcorinte Hubinger, M.Sc.**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, aprimoramento em Gerontologia no HSPE/SP e especializanda pelo CECAFI/USP, **Professor das disciplinas
Cinesioterapia, Cinesiologia e Trabalho de Conclusão de Curso na UNINOVE – Centro Universitário Nove de Julho

Resumo Abstract
O alongamento do músculo esquelético é comumente The stretching of the skeletal muscle is commonly used to
utilizado com o objetivo de aumentar a flexibilidade de um increase the individual’s flexibility. The aim of this work was to
indivíduo. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de evaluate the effects of different times of maintenance of passive
diferentes tempos de manutenção do alongamento passivo stretching in the hip flexion grade, verified through the straight
no grau de flexão do quadril, verificado através do teste de leg raising (SLR) test. Fifteen volunteers were selected and
Elevação da Perna Estendida. Foram selecionadas 15 volun- distributed in 3 groups. The group A executed three repetitions
tárias, distribuídas em 3 grupos de estudo. O grupo A realizou of passive stretching with 15 seconds of maintenance, group B
três repetições de alongamento passivo com 15 segundos de executed three repetitions with 30 seconds of maintenance and
manutenção, o grupo B realizou três repetições com 30 segun- group C three repetitions with 60 seconds of maintenance, three
dos de manutenção e o grupo C realizou três repetições com times a week, for 4 successive weeks. Group A presented an ADM
60 segundos de manutenção; três vezes por semana, durante increase average, in relation to the initial goniometry, 19,6o, group
4 semanas. O grupo A apresentou uma média de aumento de B of 24o and group C of 14,6o. It was verified that the reliability
ADM, em relação à goniometria inicial, de 19,6o, o grupo B, of the sample is 99%. The time of passive stretching maintenance
de 24o e o grupo C, de 14,6o. Foi verificado através do teste t was effective to increase the volunteers ADM, for all groups in
que a confiabilidade da amostra é de 99%. Todos os tempos this study showed a significant increase of ADM. However, the
escolhidos de manutenção do alongamento passivo foram time of passive stretching maintenance of 30 seconds seems to
eficazes para aumentar a ADM das voluntárias, pois todos be more effective than 15 and 60 seconds, in the population of
os grupos apresentaram um aumento significativo da ADM. this study.
Porém, parece que o tempo de manutenção do alongamento Key-words: stretch, flexibility, muscles, hamstrings.
passivo de 30 segundos é mais eficaz que os tempos de
manutenção de 15 e 60 segundos.
Palavras-chave: alongamento, flexibilidade, músculos,
isquiotibiais.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução A amplitude de movimento (ADM) é a quantidade


disponível de movimento de uma articulação, ao passo
Alongamento e flexibilidade que a flexibilidade é a capacidade de as estruturas que
compõem os tecidos moles, como músculo, tendão e
Pode-se definir flexibilidade como qualidade física tecido conjuntivo, se alongarem através da amplitude
responsável pela execução voluntária de um movimento disponível de movimento articular [2].
de amplitude angular máxima, por uma articulação ou A elasticidade é a propriedade de uma estrutura em se
conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, alongar enquanto uma força é aplicada, retornando ao
sem o risco de provocar lesão [1]. seu comprimento original quando a força é retirada.

Recebido em 13 de novembro de 2003; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Luanna Nunez Gutierrez Passos, Rua Alfredo Araujo de Lima, 57 Vila Augusta 07022-260 Guarulhos SP,
Tel: (11)6421-2472, E-mail: luannagutierrez@feal.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 85

Dentro da elasticidade existem conceitos como exten- mente proporcionais à força aplicada. As propriedades
sibilidade e rigidez. Extensibilidade vem definida como a viscosas são caracterizadas como tempo-dependentes,
habilidade de um músculo em permitir o alongamento, onde a razão de deformação (mudança no comprimento
mais especificamente a ADM além do que o membro muscular) é diretamente proporcional à força aplicada [9].
pode ser passivamente movido (o ângulo máximo) [3]. O comportamento viscoelástico da unidade musculo-
O uso do alongamento do músculo esquelético para tendínea é caracterizado pelas respostas de: relaxamento de
aumentar a flexibilidade é uma prática comum [4]. estresse, ou seja, a queda ao longo do tempo da tensão gerada,
Benefícios dos exercícios de alongamento: evita ou se esta for alongada e mantida nessa posição; arrasto, a
elimina o encurtamento musculotendíneo; diminui o ris- ocorrência de deformação contínua sem aumento da força
co de alguns tipos de lesão muscular e articular; aumenta de alongamento aplicada; histerese, a absorção de energia
o relaxamento muscular e melhora a circulação sangüínea; durante a aplicação de uma força é maior que a energia
melhora a coordenação e evita a utilização de esforços dissipada durante a retirada da força e a dependência da taxa
adicionais no trabalho e no desporto; reduz a resistência de deformação, ou seja, maior geração de tensão quando o
tensiva muscular antagonista e aproveita mais econo- alongamento é feito em menor tempo [7].
micamente a força dos músculos agonistas; libera a rigidez
e possibilita melhorar a simetria muscular; evita e/ou O alongamento passivo
elimina problemas posturais que alteram o centro de
gravidade, provocando adaptação muscular [5]. O alongamento passivo é um método no qual um mús-
Para que haja amplitude de movimento normal, são culo é vagarosamente alongado até o tolerável (alongamento
necessárias mobilidade e flexibilidade dos tecidos moles confortável e com pequena dor) e a posição, mantida nessa
que afetam a articulação, ou seja, músculos, tecido co- extensão de comprimento tolerada [10] por 15 a 120
nectivo e pele, além de mobilidade articular. Cada tecido segundos [11].
mole apresenta qualidades próprias que afetam sua exten- O movimento lento tem como objetivo minimizar a
sibilidade, ou seja, sua capacidade de alongar-se. Quando contração reflexa do músculo e a geração de tensão que
procedimentos de alongamento são aplicados a esses te- ocorreria em um alongamento mais rápido e a manutenção
cidos moles, a velocidade, intensidade e duração da força da posição visa ao relaxamento do estresse [7].
de alongamento irão afetar a resposta dos diferentes tipos de A quantidade e duração da força aplicada durante a
tecido mole. Tanto as características mecânicas dos tecidos realização do alongamento são os principais fatores que
contráteis quanto as propriedades neurofisiológicas do tecido determinam o grau de alongamento elástico ou plástico
contrátil afetam o alongamento do tecido mole [6]. do tecido conjuntivo. O alongamento elástico é exacer-
A fisiologia do alongamento miotendinoso envolve bado pelo alongamento com muita força e pouca duração,
principalmente a atividade reflexa do músculo induzida ao passo que o alongamento plástico resulta do alonga-
pelo alongamento e o comportamento viscoelástico da mento de pouca força e longa duração [2].
unidade musculotendínea [7]. Um alongamento de baixa intensidade é definido
O tecido conjuntivo, formado por colágeno e fibras elás- como um alongamento baseado na percepção de cada
ticas, é o foco físico mais importante dos exercícios de indivíduo, do início do desconforto na musculatura a ser
amplitude de movimento, quando submetido a um alongada [12].
alongamento terapêutico durante a reabilitação pós-lesão ou O tempo de uma sessão de alongamento dependerá do
durante um programa de rotina de flexibilidade. O número de grupos musculares e das diversas variáveis de tempo
componente viscoso permite um estiramento plástico que relacionadas à técnica de alongamento. Essas variáveis são o
resulta em alongamento permanente do tecido depois que a tempo de manutenção do alongamento e o número de
carga é removida. Inversamente, o componente elástico repetições de cada alongamento. A freqüência do alongamento
torna possível o estiramento elástico, que é um alongamento deve ser de, no mínimo, três vezes por semana [13].
temporário, com o tecido retornando ao seu comprimento Os benefícios desta técnica lenta de alongamento
anterior depois que o estresse é removido [2]. incluem o fato de o alongamento prevenir o tecido no
O músculo adapta-se a alterações em seu comprimento sentido de absorver grande quantidade de energia por
por meio da regulação do número de sarcômeros em série. unidade de tempo, enquanto o alongamento lento não
Além disso, a posição (encurtada ou alongada) em que o irá obter forte reflexo de contração [14].
músculo é mantido, é fator determinante na regulação
do número de sarcômeros em série (diminuindo ou Objetivo
aumentando, respectivamente) [8].
Considera-se que o músculo tem ambas as proprie- Avaliar os efeitos de diferentes tempos de manutenção do
dades: elástica e viscosa. A elasticidade implica que as alongamento passivo no grau de flexão do quadril, verificado
mudanças no comprimento, ou deformações, são direta- através do teste de Elevação da Perna Estendida (EPE).
86 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Métodos mente). No último dia de estudo não foram realizadas as


manobras de alongamento.
Foram selecionados 15 indivíduos, do sexo feminino, com Para a avaliação da ADM foi utilizado o Goniômetro
20 a 30 anos de idade (idade média de 23,27 anos). Foi CIRUCAM, da Medical Center & Home Center Ltda,
assinado um termo de compromisso após a leitura de uma círculo de 360o e braços com 16 cm de comprimento.
carta informativa, onde foi explicado o objetivo do trabalho De acordo com o método estatístico de Stephen King,
e todo o procedimento a ser realizado. foram calculados a média, o desvio padrão (ó), os
Todos os indivíduos foram avaliados pelo teste de coeficientes de variação populacional e amostral (CV pop
Elevação da Perna Estendida (EPE), e seu grau de flexão e CV am) e a distribuição normal (p) de todos os resultados
(ADM) do quadril quantificado em graus, com o auxílio obtidos. Para aferir a validade deste estudo de caso foi
de um goniômetro. Foram selecionados os indivíduos que utilizado o teste t de Student. Segundo este teste pode-se
apresentaram, durante o teste, um ângulo de flexão do analisar se a distribuição normal ou aproximadamente
quadril do membro inferior dominante menor que 80o, normal é válida aplicando-se o teste para observações
representando um encurtamento dos músculos isquio- independentes. Foram estabelecidos oito graus de
tibiais. Esses indivíduos foram randomizadamente liberdade, por se tratar de dois dados avaliados
distribuídos em 3 grupos de estudo: grupo A (n = 05), (goniometria inicial e final), com cinco indivíduos em
grupo B (n = 05) e grupo C (n = 05). cada momento da avaliação.
Posicionamento durante o teste: indivíduo sobre um
divã revestido, em decúbito dorsal e pernas estendidas. Resultados
Um terapeuta (assistente) realizou a flexão do membro
inferior a ser avaliado com o joelho estendido e pé
relaxado, enquanto o membro inferior contralateral foi Gráfico 1 – Mostra as médias das goniometrias iniciais e após 4
mantido estendido sobre o divã, além da coluna lombar semanas de alongamento verificadas nos grupos A, B e C.
e osso sacro mantidos firmemente contra o divã. O
terapeuta (responsável pelo estudo) realizou a goniometria
durante o teste.
O grupo A realizou três repetições de alongamento
passivo com 15 segundos de manutenção, com intervalo
de 30 segundos entre as manobras. O grupo B realizou
três repetições de alongamento passivo com 30 segundos
de manutenção, com intervalo de 30 segundos entre as
manobras. O grupo C realizou três repetições de alongamento
passivo com 60 segundos de manutenção, com intervalo de
30 segundos entre as manobras.
Os três grupos realizaram as manobras de alonga-
mento passivo nos músculos isquiotibiais da perna
dominante, através do posicionamento de EPE, três vezes
por semana, durante quatro semanas consecutivas (em
horários alternativos). No membro contralateral não foi
realizado nenhum procedimento. A avaliação da ADM
foi realizada no primeiro e no último dia de estudo
(goniometria inicial e goniometria final, respectiva-

Tabela I – Valores estatísticos das avaliações de ADM inicial e após 4 semanas dos grupo A, B e C.

ADM inicialADM após 4 semanas

Média σ CV pop CV am Média σ CV pop CV am

Grupo A 62,4 5,01 6,54 % 8,02 % 82,0 5,37 5,85% 6,54%


Grupo B 66,0 3,74 4,85 % 5,67 % 90,0 4,90 4,44% 5,44%
Grupo C 61,4 5,44 7,21 % 8,92 % 75,6 4,80 5,93% 6,35%

σ - desvio padrão / CV pop- coeficiente de variação populacional / CV am- coef. de var. amostral
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 87

Diante dos valores de desvio padrão (ó), coeficientes de Todos os grupos desse estudo apresentaram um aumento
variação populacional (CV pop) e coeficientes de variação na ADM, verificado através do teste de EPE, após o período
amostral (CV am) dos três grupos, é possivel verificar que a de quatro semanas de alongamentos. Isso permite verificar
amostra selecionada para o estudo apresenta-se homogênea. que todos os tempos escolhidos de manutenção do
alongamento passivo foram eficazes para aumentar a ADM
Tabela II – Valores estatísticos das diferenças entre goniometria
das voluntárias, após estas quatro semanas.
final e goniometria inicial dos grupos A, B e C.
Porém, houve diferenças entre os grupos. A média de
Média σ CV pop CV am ADM do grupo A mostrou-se maior que a média de ADM
do grupo C, e a média do grupo B maior que as médias de
Grupo A 19,6o 5,9530 26,53 % 30,37¨%
ADM dos grupos A e C.
Grupo B 24,0o 7,6157 25,00 % 31,73 %
Grupo C 14,6o 5,0438 27,95 % 34,55 % Diante disso, parece que o tempo de manutenção do
alongamento passivo do grupo B (30 segundos) é mais
σ - desvio padrão / CV pop- coeficiente de variação popula- eficaz que os tempos dos grupos A e C (15 e 60 segundos,
cional / CV am- coef. de var. amostral respectivamente) na população estudada.
Diante dos resultados verificados na diferença de Um estudo com um programa de alongamento diário
goniometrias (diferença entre a goniometria final e a durante três semanas, com 10 repetições de alongamento
goniometria inicial), pode-se verificar que a média do grupo passivo de 15 segundos de manutenção e 15 segundos de
A é maior que a média do grupo C e a média do grupo B, repouso, verificou que o grupo que realizou os alongamentos
maior que as dos outros dois grupos. apresentou um aumento significante do comprimento dos
Utilizando os valores pesquisados, pode-se verificar músculos isquiotibiais, verificado através do teste de EPE [17].
que o teste t resulta em 5,775 para o grupo A, 7,747 para Com o objetivo de comparar os efeitos do alongamento
o grupo B e 4,127 para o grupo C. Portanto, a passivo e da amplitude de movimento dinâmica (ADMD)
confiabilidade da amostra é de 99%. sobre a flexibilidade dos músculos isquiotibiais, um estudo
realizou no grupo de ADMD, 6 repetições de extensão
Discussão ativa do joelho, mantidas por 5 segundos, e uma repetição
de alongamento passivo mantido por 30 segundos, no gru-
Este trabalho avaliou o efeito de diferentes tempos po de alongamento. O estudo foi realizado durante 6 sema-
de manutenção do alongamento passivo na ADM de nas, com uma freqüência de 5 vezes por semana. Foi verifi-
flexão do quadril. cado que os dois grupos mostraram um ganho significativo
A maior parte dos estudos com músculos humanos na flexibilidade, porém o alongamento passivo mostrou-se
tem usado a ADM máxima de uma articulação para repre- mais efetivo que a ADMD [14].
sentar uma medida do comprimento e da extensibilidade Um estudo comparou os efeitos de alongamentos diários
passiva muscular. Muitos desses estudos têm focado nos de 15, 30 e 60 segundos de manutenção. Os alongamentos
músculos biarticulares, porque eles podem ser alongados foram realizados nos músculos isquiotibiais uma vez ao dia,
ao seu máximo comprimento fisiológico sem limitações 5 vezes por semana, durante 6 semanas. O alongamento
ósseas [15]. Clinicamente, o comprimento dos músculos por 30 e 60 segundos mostrou um ganho maior de ADM
isquiotibiais não é medido diretamente, mas sim que o alongamento por 15 segundos e o controle. Como 15
representado indiretamente pela medida angular da flexão segundos de alongamento não foram mais efetivos que o
unilateral do quadril com o joelho estendido, também grupo controle, foi questionado o uso de 15 segundos ou
chamado de teste de elevação da perna estendida (EPE), menos de alongamento. Além disso, apenas um aumento
ou pela flexão unilateral do joelho seguida de extensão do mínimo da flexibilidade dos músculos isquiotibiais (ADM)
joelho com o quadril fletido a 90o [16]. ocorreu pelo aumento da duração do alongamento de 30
O teste de EPE provavelmente é o teste clínico mais para 60 segundos. O uso de uma longa duração de
comum utilizado para avaliar o comprimento dos mús- alongamento, portanto, poderia ser questionado. Os
culos isquiotibiais. O teste é usado com pacientes para resultados desse estudo sugeriram que a duração de
quantificar as limitações de base e documentar a efetividade alongamento mais efetiva foi a de 30 segundos. De acordo
da intervenção terapêutica. Em indivíduos saudáveis, o com esses autores, avaliar apenas uma sessão não fornece
EPE é usado para examinar a efetividade de programas uma indicação verdadeira do que realmente ocorre como
de exercícios designados a aumentar a função normal e resultados dos alongamentos [10].
encorajar um desempenho atlético otimizado [17]. Com o propósito de determinar o tempo e a freqüência
A técnica de alongamento passivo foi escolhida porque mais eficazes para aumentar a flexibilidade dos músculos
tem sido relatada como uma técnica confortável e simples isquiotibiais, foram comparados os efeitos de 5 freqüências
de ser realizada [12], além de ter um baixo potencial de diárias e durações do alongamento passivo sobre a flexi-
lesão muscular [10]. bilidade desses músculos. Os indivíduos foram divididos em
88 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

5 grupos: o grupo I (n = 18) realizou três repetições de Diante dos resultados de todos os autores pesquisados,
alongamentos mantidos por 60 segundos, com 10 segundos pôde-se verificar que o alongamento passivo é eficaz no
de repouso; o grupo II (n = 19) realizou três repetições de aumento da ADM de flexão do quadril.
alongamentos mantidos por 30 segundos, com 10 segundos A escolha do melhor tempo a ser utilizado,
de repouso; o grupo III (n = 18) realizou uma repetição de entretanto, merece maiores pesquisas. Fica aqui a sugestão
alongamento mantido por 60 segundos; o grupo IV (n = para futuros trabalhos, que poderão comparar os diferentes
18) realizou uma repetição de alongamento mantido por tempos citados em uma mesma população, com um maior
30 segundos e o grupo V (n = 20) foi o grupo controle. número de indivíduos, e em populações diferentes, como
Todos os alongamentos foram realizados 5 vezes por por exemplo, em idosos. Também poderia ser comparada
semana, durante 6 semanas. Foi demonstrado que, apesar a eficácia de um mesmo tempo de manutenção em grupos
do alongamento por 30 e 60 segundos, uma ou três vezes de sexos diferentes.
por dia, 5 vezes por semana, durante 6 semanas, ser mais Fatores como a dificuldade do examinador em estabilizar
efetivo para o aumento da flexibilidade muscular (ADM) a pelve das voluntárias, durante a avaliação das goniometrias
que o não alongamento, não houve diferença entre o e nas manobras de alongamento, e a dificuldade das
alongamento uma ou três vezes por dia, usando tanto 30 voluntárias em relaxarem durante os procedimentos, pode
ou 60 segundos de alongamento. Entretanto, uma duração colocar em questão a fidedignidade dos resultados
de 30 segundos de alongamento é um tempo efetivo de encontrados neste trabalho. Futuros trabalhos com esses
alongamento dos músculos isquiotibiais com o objetivo de fatores melhor controlados são necessários para se assegurar
aumentar a ADM [18]. a eficácia dos diferentes tempos de manutenção do alon-
Esses dois últimos estudos são concordantes com o gamento passivo. Além disso, o uso de outras técnicas de
presente estudo, sugerindo que o alongamento passivo aferição da ADM de uma articulação poderia apresentar
mantido durante 30 segundos parece ser mais eficiente maior exatidão dos graus de ADM avaliados.
que os outros tempos eleitos (15 e 60 segundos).
Com o objetivo de comparar duas “doses ideais” de Conclusão
alongamento, foram realizados alongamentos passivos
com uma repetição de 30 segundos e 4 repetições de 18 Todos os tempos escolhidos de manutenção do
segundos (com 10 segundos de repouso), uma vez por alongamento passivo foram eficazes para aumentar a
semana, durante três semanas. Foi verificado um ganho ADM das voluntárias após 4 semanas de alongamento,
estatisticamente significativo após o programa de pois todos os grupos desse estudo apresentaram um
alongamento. Além disso, os resultados obtidos sugeriram aumento significativo estatisticamente da ADM.
ser indiferente o uso de qualquer uma das duas doses Porém, parece que o tempo de manutenção do alon-
testadas, ao menos no que diz respeito a um programa gamento passivo do grupo B (30 segundos) é mais eficaz
com duração de três semanas [7]. que os tempos dos grupos A e C (15 e 60 segundos, respec-
Foi realizado um estudo com o objetivo de determinar tivamente) na população estudada.
os efeitos de dois protocolos de alongamento passivo na
flexibilidade e na resistência passiva dos músculos Referências
isquiotibiais. Cada sessão de alongamento consistia de 5
repetições de alongamento passivo mantidos por 30 1. Dantas EHM. Flexibilidade – Alongamento e flexionamento.
segundos, com 30 segundos de repouso. Os indivíduos 4a ed. Rio de Janeiro: Shape; 1999. 327p.
foram divididos em 4 grupos: o grupo I realizava uma 2. Harrelson GL, Leaver-Dunn D. Amplitude de movimento
e flexibilidade. In: Andrews Jr, Harrelson GL, Wilk KE.
série por dia, três vezes por semana, durante 8 semanas;
Reabilitação física das lesões desportivas. 2a ed. Rio de
o grupo II realizava duas séries por dia, com um intervalo Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 504p.
de 60 segundos entre as séries, três vezes por semana, 3. Halbertsma JPK, Göeken LNH. Stretching exercises:
durante 4 semanas; os grupos III e IV foram controles effect on passive extensibility and stiffness in short
dos grupos I e II, respectivamente. Foi encontrado um hamstrings of healthy subjects. Arch Phys Med & Rehabil
ganho na flexibilidade em ambos os grupos de 1994;75:976-81.
treinamento, sem diferenças significativas entre os 4. Magnusson SP, Aagaard P, Nielson JJ. Passive energy
regimes de 4 e 8 semanas, o que sugere que ambos os return after repeated stretches of the hamstring muscle-
protocolos são eficientes no aumento da ADM [19]. tendon unit. Med Sci Sports Exerc 2000;32(6):1160-4.
5. Junior AA. Exercícios de alongamento – anatomia e
Entretanto, foi observado no regime de 4 semanas
fisiologia. 1a ed. São Paulo: Manole; 2002. 550p.
um aumento da resistência passiva dos músculos 6. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos – fundamentos e
isquiotibiais no ângulo máximo articular correspondente, técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998. 746p.
o que sugere uma adaptação insuficiente dos tecidos moles 7. Grandi L. Comparação de duas “doses ideais” de alon-
durante as 4 semanas. gamento. Acta Fisiátrica 1998;5(3):154-8.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 89

8. Marques AP. Cadeias musculares – um programa para ensinar 14. Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The effect of static stretch
avaliação fisioterapêutica global. 1a ed. São Paulo: Manole; and dynamic range of motion training on the flexibility of
2000. the hamstring muscles. J Orthop Sports Phys Ther
9. Taylor DC, Dalton JD, Seaber AV, Garret WE. 1998;27(4):295-300.
Viscoelastic properties of muscle-tendon units. Am J 15. Gajdosik RL. Passive extensibility of skeletal muscle:
Sports Med 1990;18(3):300-9. review of the literature with clinical implications.
10. Bandy WD, Irion JM. The effect of time on static stretch Clinical Biomechanics 2001;16:87-101.
on the flexibility of the hamstring muscles. Phys Ther 16. Gajdosik RL, Rieck MA, Sullivan DK, Wightman SE.
1994;74(9):845-50. Comparison of four clinical tests for assessing hamstring
11. Willy RW, Kyle BA, Moore AS, Chleboun GS. Effect of muscle length. J Orthop Sports Phys Ther 1993;18(5):614-18.
cessation and resumption of static hamstring muscle 17. Gajdosik RL. Effects of static stretching on the maximal length
stretching on joint range of motion. J Orthop Sports Phys and resistance to passive stretch of short hamstring muscles.
Ther 2001;31(3):138-44. J Orthop Sports Phys Ther 1991;14(6):250-5.
12. Feland JB, Myrer JW, Schulthies SS, Fellingham GW, 18. Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The effect of time and
Measom GW. The effect of duration of stretching of the frequency of static stretching on flexibility of the
hamstring muscle group for increasing range of motion hamstring muscles. Phys Ther 1997;77(10):1090-96.
in people aged 65 years or older. Phys Ther 19. Chan SP, Hong Y, Robinson PD. Flexibility and passive
2001;81(5):1110-7. resistance of hamstrings of young adults using two
13. Knudson D. Stretching: from science to practice. Journal of different static stretching protocols. Scand J Med Sci
Physical Education, Recreation & Dance 1998;69(3):38-42. Sports 2001;11:81-6. 

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90 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Influência do mobiliário adaptado na variação


angular da curvatura lombar de indivíduos
com paralisia cerebral espástica
Influence of adapted furniture on the angular variation
of lumbar curvature of subjects with spastic cerebral palsy

Lígia Maria Presumido Braccialli*, Eduardo José Manzini*, Roberto Vilarta**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Departamento de Educação Especial, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, Universidade Estadual Paulista,
**Faculdade de Educação Física, Unicamp

Resumo Abstract
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a postura The present work aimed at evaluating the seated posture
sentada de estudantes com paralisia cerebral espástica, of students with spastic cerebral palsy, verifying the angular
verificando a variação angular da curvatura lombar da coluna variation in the lumbar curvature of the spine with and
vertebral, quando os participantes utilizavam, ou não, mobi- without adapted furniture. 10 students, from both genders,
liário adaptado. Participaram do estudo, 10 alunos porta- ages between 8 and 15 years, carrying spastic cerebral palsy,
dores de seqüelas de paralisia cerebral, de ambos os sexos, who were able to keep the seated posture with no aid, and
com idade entre 8 e 15 anos, que eram capazes de permanecer whose parents gave written permission, participated in the
na postura sentada sem auxílio e cujos pais assinaram o termo study. The participants were filmed in the seated position,
de consentimento esclarecido. Os participantes foram in a saggital direction, in several situations, with and without
filmados na posição sentada, no plano sagital, em diferentes the equipments for the furniture.The data obtained in each
situações, com e sem mobiliário adaptado. Os dados obtidos position were submitted to statistical analysis by means of
em cada posição foram submetidos a análise estatística por Friedman´s Variance analysis and Multiple Comparisons
meio do Teste de Análise de Variância Não Paramétrica de tests. he comparison of angular variation of the lumbar
Friedman, para determinar se haviam diferenças signifi- curvature in the different postures through the Friedman´s
cativas entre elas, e pelo Teste de Comparações Múltiplas, test verified that, at least, two medium ranks presented
para verificar em quais situações os ajustes posturais ocor- statistically significant differences (p < 0,0001). The results
ridos eram estatisticamente significativos (p < 0,0001). Os of the comparisons among medium ranks, obtained through
resultados mostraram que: a utilização da mesa para apoio the Multiple Comparisons test showed that: using the arm-
dos braços favoreceu a manutenção das curvaturas fisioló- supporting table favored the maintenance of the spine´s
gicas da coluna vertebral; o apoio para os pés contribuiu physiologic curvatures; feet support contributed to
para a deterioração da curvatura lombar piorando a postura deteriorate the lumbar curvature, worsening the seated
sentada e o uso do abdutor para as pernas não interferiu no posture, and the use of leg abductor did not interfere in spine
posicionamento da coluna vertebral nos indivíduos com positioning of students with spastic cerebral palsy.
paralisia cerebral espástica. Key-words: cerebral palsy, posture, adaptive seating.
Palavras-chave: paralisia cerebral, postura.

Recebido em 28 de fevereiro 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Lígia Maria Presumido Braccialli, Departamento de Educação Especial – Faculdade de Filosofia e Ciências
– UNESP, Av. Hygino Muzzi Filho, 737 Campus Universitário 17525-900 Marília SP, E-mail: bracci@marilia.unesp.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 91

Introdução No entanto, para minimizar ou prevenir os encurta-


mentos, as contraturas e as deformidades do corpo que,
Alteração de tônus, limitação de movimentos, libe- posteriormente, dificultam a aquisição da postura ereta e da
ração de reflexos patológicos, dificuldade na deambulação deambulação, a postura sentada deve ser utilizada com
são características existentes na paralisia cerebral espástica, critérios. A indicação de um mobiliário adequado poderia
que contribuem para que estas pessoas realizem grande auxiliar no melhor posicionamento corporal destes indivíduos.
parte de suas atividades de vida diária na posição sentada Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo
como, por exemplo, as atividades recreativas, educacionais verificar a variação da angulação na curvatura lombar da
e ocupacionais. coluna vertebral de indivíduos com paralisia cerebral
Manter-se na postura sentada, para o indivíduo com espástica, com o uso de mobiliário adaptado.
paralisia cerebral, é considerado mais fácil do que se man-
ter em pé, porque esta posição oferece maior estabilidade Metodologia
e um menor grau de dificuldade no controle postural.
Alguns estudos têm demonstrado que o alinhamento pos- Sujeitos
tural e a maior estabilidade existente nesta postura facili-
tam a performance funcional da criança com paralisia Participaram do estudo, 10 estudantes diagnosticados
cerebral [1-5]. A conquista deste alinhamento possibilita, como portadores de seqüelas de paralisia cerebral do tipo
assim, o aperfeiçoamento das habilidades manuais, o espástica, de ambos os sexos, na faixa etária entre 8 anos e
desenvolvimento postural, visual, perceptual e cognitivo, 4 meses e 15 anos e 7 meses, que mantinham-se na postura
tornando o indivíduo mais dinâmico e participativo. A sentada sem auxílio. Os participantes foram submetidos a
liberação das mãos, atingida nessa postura, favorece o uma avaliação neuromotora, que consistiu de dois
manuseio de objetos, os atos de agarrar e soltar e o controle momentos: anamnese e exame físico. Por meio desta
olho-mão. Ao mesmo tempo, a postura sentada estimula avaliação foi possível verificar as habilidades funcionais de
as reações de equilíbrio, sendo considerada um excelente cada indivíduo, assegurando que os mesmos tivessem as
exercício isométrico para as musculaturas anteriores e características e condições necessárias ao estudo (Tabela
posteriores do tronco, resultando em um melhor controle I). Participaram do estudo, apenas os indivíduos cujos pais
postural [6]. assinaram o termo de consentimento esclarecido.

Tabela I – Identificação dos participantes.

Participante Idade Diagnóstico

1 8 anos e 4 meses He Hemiplegia espástica à esquerda


2 12 anos e 5 meses M Diplegia espástica
3 13 anos e 3 meses F Diplegia espástica
4 13 anos e 6 meses F Diplegia espástica
5 12 anos F Hemiplegia espástica à direita
6 15 anos e 4 meses F Diplegia espástica
7 13 anos M Hemiplegia espástica à esquerda
8 15 anos e 7 meses F Quadriplegia espástica
9 10 anos e 11 meses M Diplegia espástica
10 12 anos M Diplegia espástica

Procedimentos Para facilitar a análise da angulação da curvatura


lombar, os seguintes pontos anatômicos foram demar-
Os participantes foram filmados sentados, em uma cados: a décima segunda vértebra torácica (T12), a terceira
cadeira sem encosto, em diferentes situações experimentais, vértebra lombar (L3) e a quinta vértebra lombar (L5).
posicionados lateralmente a um fio de prumo, que serviu Foram escolhidos estes pontos anatômicos devido à pre-
de referencial e permitiu a análise de alterações na angulação cisão e facilidade para localizá-los. Os pontos foram demar-
da coluna (Tabela II). A linha de prumo coincidia com as cados com auxílio de marcadores autocolantes refletivos
seguintes estruturas: ligeiramente atrás do eixo da articulação e localizados por intermédio de apalpação [8].
do quadril, com os corpos das vértebras lombares, com a Em cada posição os indivíduos foram filmados por
articulação do ombro, com os corpos das vértebras cervicais um período de 3 minutos. Esse tempo de filmagem foi
com o meato auditivo externo e ligeiramente atrás do ápice necessário para eliminar os efeitos que precedem os ajustes
da sutura coronal [7]. na postura sentada [9].
92 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Tabela II – Posturas utilizadas para a coleta de dados.

Posições

P1 sentado na cadeira, sem utilizar abdutor, membros superiores sem apoio e pés sem apoio plantar
P2 sentado na cadeira, membros superiores sem apoio, pés sem apoio plantar e com utilização de abdutor de coxas
P3 sentado na cadeira, membros superiores sem apoio, pés apoiados mantendo um ângulo de 90° em relação às
pernas e com abdutor de coxas
P4 sentado na cadeira, membros superiores apoiados sobre a mesa à altura do tórax, e pés mantidos com apoio
plantar formando um ângulo de 90° em relação às pernas com abdutor de coxas
P5 sentado no banco, membros superiores apoiados sobre a mesa à altura do tórax, pés sem apoio plantar, utilizando
abdutor de coxas
P6 sentado na cadeira, membros superiores apoiados sobre a mesa à altura do tórax, pés apoiados formando um
ângulo de 90° em relação às pernas, utilizando abdutor de coxas
P7 sentado na cadeira, membros superiores sem apoio, pés apoiados formando um ângulo de 90° em relação às
pernas com abdutor de coxas
P8 sentado na cadeira com abdutor de coxas
P9 sentado na cadeira, sem abdutor de coxas, pés e membros superiores sem apoio

Foram realizados os registros da filmagem com os Resultados


participantes posicionados em vista lateral à filmadora.
Para o registro da filmagem, a filmadora permaneceu fixa Na Tabela III temos os dados encontrados na análise
em um tripé, em nível, a uma altura de 0,80 cm do solo estatística descritiva. A mediana atinge os menores valores
e a uma distância de 3 m do participante. Estes valores em posições nas quais os indivíduos utilizaram a mesa
foram mantidos sem variação durante toda a situação para apoio dos braços (P4 = 14,56º, P5 = 12,32º e P6 =
experimental, pois permitiram uma maior fidedignidade 11,93º), sendo indicativo de que esse mobiliário contribuiu
e constância na coleta dos dados. Para esta coleta, foram para a preservação da curvatura lombar. A mediana na
utilizados uma câmera filmadora da marca Sony, modelo posição P9 (30,73º), ou seja, quando todo o mobiliário
Handycan CCD- FX230BR, fixada a um tripé com nível, adaptado foi retirado, teve um maior valor, indicando
um vídeo cassete da marca Sony, um computador PC486, que ocorreu uma piora da postura nessa situação. Verificou-
com placa de vídeo blaster FS-200. se, também, que a mediana em P3 (25,87º), quando se
A análise dos dados foi realizada por fotogrametria utilizou o apoio para os pés, foi maior do que os valores
computadorizada. Assim, as imagens de cada voluntário encontrados nas demais posições, exceto em P9 (30,73º),
nas diferentes posturas foram armazenadas em fita de vídeo indicando que essa posição, também, favoreceu a inversão
e, posteriormente, reproduzidas em vídeo cassete acoplado da curvatura lombar. Observa-se que nas posições P4
a um microcomputador, no qual foram capturadas as (145,48%), P5 (147,02%) e P6 (128,18%) os coeficientes
imagens congeladas, nos diversos momentos, por de variação apresentaram valores altos, indicando que a
intermédio de uma placa de vídeo blaster. As imagens utilização da mesa para apoio dos braços interfere,
foram convertidas em arquivos de extensão bmp, em diferentemente, no ângulo da curvatura lombar em cada
escala de cinza, para otimizar a velocidade de manuseio indivíduo estudado. Isto se deve a heterogeneidade da
dos dados, obtendo-se um trabalho com menor número amostra estudada.
de bytes a serem registrados. Com as imagens gravadas no A análise estatística da angulação da curvatura da
computador em forma de arquivos, realizaram-se os região lombar por meio do Teste de Análise de Variância
ajustes, a digitalização e a quantificação por meio do de Friedman mostrou-se significante (p < 0,0001),
programa Alcimagem 2.0. portanto existem, pelo menos, dois postos médios
Analisou-se o ângulo formado pelos pontos demarcados diferentes.
nas apófises espinhosas T12-L3-L5 que determinou a Os resultados das comparações entre os postos médios,
angulação da curvatura lombar. obtidos por meio do Teste de Comparações Múltiplas para
Os dados obtidos, em cada postura, foram submetidos a curvatura lombar, foram significantes nas seguintes
à análise estatística descritiva por meio do Teste de situações: P1 comparado a P3; P1 comparado a P4; P1
Análise de Variância Não Paramétrica de Friedman, para comparado a P5; P1 comparado a P6; P1 comparado a P9;
determinar se haviam diferenças significativas entre elas, P2 comparado a P3; P2 comparado a P6; P2 comparado a
e pelo Teste de Comparações Múltiplas, para verificar P9; P3 comparado a P4; P3 comparado a P5; P3 comparado
em quais situações os ajustes posturais ocorridos eram a P6; P3 comparado a P7; P3 comparado a P8; P4
estatisticamente significantes. comparado a P8; P4 comparado a P9; P5 comparado a P8;
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 93

Tabela III – Descrição da variação angular na região lombar da amostra estudada

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9

N 10 10 10 10 10 10 10 10 10

Mínimo 12,32 3,18 18,15 -18,18 -22,72 -11,71 5,45 4,58 18,43
Máximo 36,98 29,68 34,33 27,27 25,54 25,55 32,35 28,30 41,38
Amplitude total 24,66 26,50 16,18 45,45 48,26 37,26 26,90 23,72 22,95
Mediana 19,62 16,64 25,87 14,56 12,32 11,93 15,02 19,88 30,73
Média aritmética. 21,62 16,77 25,40 9,98 9,44 9,46 16,11 18,82 31,44
Desvio Padrão 7,68 8,56 5,08 14,52 13,89 12,13 8,13 6,43 7,05
Coefic. de variação %35,55 51,05 19,99 145,48 147,02 128,18 50,45 34,18 22,42
IC (95%) 16,12 a 27,12 10,65 a 22,90 21,77 a 29,03 -0,41 a 20,36 -0,49 a 19,38 0,79 a 18,14 10,30 a 21,92 14,22 a 23,42 26,40 a 36,49

P5 comparado a P9; P6 comparado a P7; P6 comparado a


Tabela IV – Resultado do Teste de Comparação Múltiplas do
P8; P6 comparado a P9; P7 comparado a P9 e P8 comparado
grupo em estudo para a região lombar.
a P9. A comparação entre os demais postos não mostrou
significância estatística. Quando a diferença entre os postos Comparações múltiplas: valor crítico = 18,003
resultou em um valor positivo, indicou que a curvatura
Contraste Contraste de diferença Resultado
lombar estava tendendo à concavidade, havendo, portanto,
de grupos entre postos
melhora na postura. Quando a diferença entre os postos
resultou em valor negativo a curvatura da região lombar P1 – P2 (54,0 – 47,0) = 7,0 NS
estava tendendo a convexidade, ou seja, estava ocorrendo P1– P3 (54,0 – 76,0) = -22,0 S
uma inversão da curvatura, piorando, por conseqüência, a P1– P4 (54,0 – 31,0) = 23,0 S
P1– P5 (54,0 – 31,0) = 23,0 S
postura (Tabela IV).
P1– P6 (54,0 – 28,0) = 26,0 S
Como as diferenças entre os postos P1 e P3 e P2 e P3 P1 – P7 (54,0 – 49,0) = 5,0 NS
foram negativas, entendeu-se que a utilização do apoio P1– P8 (54,0 – 50,0) = 4,0 NS
para os pés favoreceu a inversão da curvatura lombar, P1– P9 (54,0 – 84,0) = -30,0 S
piorando a postura dos participantes. As diferenças entre P2– P3 (47,0 – 76,0) = -29,0 S
P1 e P4, P1 e P5, P1 e P6, P2 e P6, P3 e P4, P3 e P5, P3 P2– P4 (47,0 – 31,0) = 16,0 NS
e P6 resultaram em valores positivos, indicando que a P2– P5 (47,0 – 31,0) = 16,0 NS
P2– P6 (47,0 – 28,0) = 19,0 S
utilização da mesa para apoio dos membros superiores,
P2– P7 (47,0 – 49,0) = -2,0 NS
independentemente do uso do apoio para os pés, favoreceu P2– P8 (47,0 – 50,0) = -3,0 NS
o surgimento da curvatura lombar. Como as diferenças P2– P9 (47,0 – 84,0) = -37,0 S
entre os valores dos postos P3 e P7, P3 e P8 foram P3– P4 (76,0 – 31,0) = 45,0 S
positivas, considerou-se que a posição sentada, com P3– P5 (76,0 – 31,0) = 45,0 S
abdutor para as coxas e com apoio ou não para os pés, P3– P6 (76,0 – 28,0) = 48,0 S
após a retirada da mesa para apoio dos membros superiores, P3– P7 (76,0 – 49,0) = 27,0 S
P3– P8 (76,0 – 50,0) = 26,0 S
é melhor para o posicionamento da curvatura lombar do
P3– P9 (76,0 – 84,0) = -8,0 NS
que a posição inicial, na qual utilizou-se o abdutor e o P4– P5 (31,0 – 31,0) = 0,0 NS
apoio para os pés. P4– P6 (31,0 – 28,0) = 3,0 NS
A comparação entre os valores obtidos nos postos P4– P7 (31,0 – 49,0) = -18,0 NS
médios P4 e P8, P5 e P8, P6 e P7; P6 e P8 foi negativo, P4– P8 (31,0 – 50,0) = 19,0 S
portanto, a retirada da mesa para apoio dos membros P4– P9 (31,0 – 84,0) = -53,0 S
superiores favoreceu a deterioração da curvatura lombar. P5– P6 (31,0 – 28,0) = 3,0 NS
P5– P7 (31,0 – 49,0) = -18,0 NS
Os resultados obtidos da comparação entre os postos P5– P8 (31,0 – 50,0) = -19,0 S
médios P1 e P9, P2 e P9; P4 e P9, P5 e P9, P6 e P9, P7 e P5– P9 (31,0 – 84,0) = -53,0 S
P9, P8 e P9 foram valores negativos, implicando assim P6– P7 (28,0 – 49,0) = -21,0 S
que a posição final, na qual todo o mobiliário adaptado é P6– P8 (28,0 – 50,0) = -22,0 S
retirado, é significativamente pior para o posicionamento P6– P9 (28,0 – 84,0) = -56,0 S
da curvatura lombar do que todas as demais posições, P7– P8 (49,0 – 50,0) = -1,0 NS
P7– P9 (49,0 – 84,0) = -35,0 S
exceto a posição P3. Desta forma, existe indicativo de
P8– P9 (50,0 – 84,0) = -34,0 S
que o tempo de permanência na posição sentada pode ser
uma variável importante para a manutenção da postura. S: Significativo, NS: Não Significativo
94 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Discussão O abdutor para coxas, utilizado neste estudo, não


mostrou ser suficiente para provocar modificações signi-
O período de tempo em que o indivíduo com paralisia ficantes na angulação da curvatura lombar dos indivíduos
cerebral espástica permanece sentado foi uma variável com paralisia cerebral espástica. Isso pode ter ocorrido
que exerceu forte influência nas condições de manutenção devido ao modelo de abdutor utilizado, ou seja, fixo no
de uma postura adequada. assento da cadeira. Apesar desse tipo de recurso manter
Os dados encontrados neste estudo indicaram que, os quadris abduzidos, ele não é eficaz no posicionamento
quanto maior o tempo que os indivíduos com paralisia do indivíduo na cadeira, pois não evita o deslizamento
cerebral espástica permanecem sentados, pior a postura do corpo, uma vez que não exerce nenhuma força de
adotada, visualizada na região lombar. contenção contrária. Portanto, seria recomendada a
Parece-nos que as curvaturas fisiológicas da coluna utilização de uma órtese contra extensora/abdutora fixa,
vertebral em pessoas com paralisia cerebral tendem a dete- posicionada na altura da região do joelho que teria como
riorar, provavelmente, porque os músculos atingem um função manter o quadril abduzido e exercer uma força
estado de fadiga mais rápido durante o trabalho estático contrária àquela exercida pelo encosto da cadeira, o que
[10] e apresentam uma capacidade reduzida para controlar evitaria o escorregamento do indivíduo. Os estudos de
e alterar a aplicação de forças musculares [11]. Green & Nelham [16] corroboram com tais afirmações.
Assim, no decorrer do dia, é necessário dar opor- O bloqueio na região do joelho exerceria uma força em
tunidades para estes indivíduos modificarem sua postura, direção contrária a do encosto da cadeira facilitando a
bem como possibilitar a utilização de um mobiliário que manutenção da flexão do quadril em 90º e, conseqüen-
proporcione o alinhamento adequado dos segmentos cor- temente, estabelecendo uma ação equilibrada entre a
porais e a manutenção das curvaturas fisiológicas. Estas musculatura agonista e antagonista que envolve a articula-
estratégias poderiam minimizar ou prevenir os encur- ção do quadril. A manutenção da flexão do quadril em
tamentos, contraturas e deformidades no corpo, possibi- 90º promoveria o relaxamento da musculatura do quadril,
litando o desenvolvimento global destes indivíduos. inibindo a fixação do padrão patológico e contribuindo
Em relação à utilização da mesa, com recorte em para o posicionamento da pelve em anteversão, resultando
semicírculo à altura do tórax para apoio dos membros na restauração da curvatura lombar.
superiores, constatou-se que foi o recurso que mais inter- Quanto à utilização do apoio para os pés, o estudo
feriu na angulação da curvatura lombar e, por conseqüên- indicou que este recurso colaborou para a inversão da cur-
cia, no posicionamento do tronco no espaço, indiferen- vatura lombar. A análise sugeriu que a posição sentada
temente à utilização de outros acessórios. com os pés apoiados favoreceu o desencadeamento de
O uso da mesa proporcionou o endireitamento do modificações básicas no alinhamento das estruturas cor-
tronco, pois restabeleceu a curvatura fisiológica da região póreas, tais como: a curvatura lombar foi retificada e a
lombar, conseqüentemente a retroversão pélvica diminuiu pelve foi posicionada em retroversão.
e a cabeça alinhou-se com o corpo. As pessoas com paralisia cerebral espástica, geral-
A manutenção das curvaturas fisiológicas da coluna mente, apresentam inúmeros encurtamentos musculares.
vertebral é primordial, pois aumenta a resistência da coluna Baseado no conceito de cadeias musculares, o estiramento
à carga, oferece a elasticidade necessária ao movimento realizado em um músculo isolado será, obrigatoriamente,
do tronco e preserva a integridade dos discos interver- recuperado por um encurtamento em um outro ponto
tebrais [12]. qualquer da cadeia [17]. Portanto, a ação de sentar com
Essa postura é considerada fundamental, também, os pés apoiados, nesses indivíduos, parece ter sido sufi-
para a inibição de reflexos patológicos e para estimular o ciente para promover um estiramento na região da pantur-
desenvolvimento perceptual e cognitivo das pessoas com rilha, que provavelmente tracionou os músculos ísquios-
paralisia cerebral. Estudos realizados por Nwaobi [1], tibiais, resultando na báscula posterior da pelve e na tração
Myhr & Von Wendt [2], MCClenaghan et al. [13] e Pope do tronco para trás, favorecendo a fixação do padrão
et al. [3] confirmam que o alinhamento e a estabilidade patológico e o escorregamento da cadeira.
postural adequada melhoram o desempenho funcional de
crianças com paralisia cerebral, quando sentadas. Conclusão
Assim, os resultados encontrados em nosso trabalho
ratificam as afirmações de Myhr & Von Wendt [14,2] e Considerando que o portador de paralisia cerebral
Myhr et al. [15] que preconizam a utilização da mesa com espástica tem uma tendência natural a encurtamentos e
recorte em semicírculo à altura do tórax, para melhorar o contraturas musculares, devido à existência de dificuldades
controle da cabeça, estimular a simetria e a experimentação na modulação do tônus muscular e alterações morfo-
sensorial de membros superiores, além de facilitar o lógicas, fisiológicas e mecânicas das fibras musculares, a
aparecimento das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. utilização de mobiliário que leve a um mau posiciona-
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 95

mento da coluna vertebral funcionaria como fator desen- cerebral espástica: considerações sobre a literatura
cadeante de inúmeras compensações, que seriam respon- especializada. Revista Brasileira de Educação Especial
sáveis pelo agravamento dos encurtamentos, contraturas 2001;7:25-34.
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96 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Efeito do laser terapêutico na cicatrização tendinosa:


estudo experimental em ratos
Effect of therapeutic laser in tendon healing: experimental study in rats

Marcelo Rodrigo Tavares, M.Sc.*, Nilton Mazzer, D.Sc.**, Mônica Pastorello, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta pela UNIFENAS,, Docente da Disciplina de Anatomia do Sistema Locomotor e Anatomia de Órgãos e Sistemas,
Supervisor do Estágio em Traumatologia e Ortopedia do Curso de Fisioterapia – UNIFENAS – Campus Alfenas –MG,
**Pós Doutor, Livre Docente – Professor Associado, Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor,
FMRP –USP RP, ***Médica pela USP RP, Responsável pelo Setor de Patologia do Hospital da Clínicas da FMRP – USP

Resumo Abstract
Este estudo experimental visa observar as alterações The aim of this study was to observe the alterations caused
causadas pela irradiação do laser (904nm), no tendão by laser (904nm) in the calcaneal tendon of rats. Thirty rats were
calcâneo, em ratos. Foram utilizados 30 ratos, divididos em divided in 2 groups – one with 20 and other with 10 animals, all
dois grupos, um com 20 e outro com 10 animais. Todos os ofthem submitted to right calcaneal tendon tenotomy. One group
animais foram submetidos à tenotomia do tendão calcâneo started laser treatment at a dose of 4 J/cm2 24 hours after surgery,
direito. O tratamento com laser foi iniciado após 24 horas the other being used as control. Both groups were divided in
em um dos grupos, com a dose de 4 J/cm2; e o outro grupo foi subgroups, sacrificed at different times – on the 8th and 15th
utilizado como controle. Os grupos foram divididos em postoperative day, respectively. The tendon was submitted to
subgrupos, e os animais, sacrificados em períodos distintos, histology analysis using light microscopy. There was a statistically
no 8º e 15º pós-operatório. O tendão foi submetido à análise significant difference (p < 0.05) between control and treated group
histológica pela microscopia de luz. Houve diferença, in collagen deposition and presence of inflammatory cells. This
estatisticamente significante (p < 0,05), entre controle e study suggests that laser therapy accelerates healing in calcanean
tratado, na deposição de colágeno e presença de células tenotomy in rats by increase collagen deposition both in the early
inflamatórias. Este estudo sugestiona que a terapia a laser, and late parts of the treatment.
proporciona a aceleração da cicatrização na tenotomia Key-words: therapeutic laser, tenotomy, healing.
calcâneana em ratos, pelo aumento da deposição de colágeno,
tanto na fase inicial, como na fase tardia do tratamento.
Palavras-chave: laser terapêutico, tenotomia, cicatrização.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Alguns autores [7-10] relatam que o efeito do laser


terapêutico que mais se destaca é o cicatrizante. Este é
Vários estudos foram realizados, no sentido de caracterizado por três fatores principais:
minimizar os problemas da cicatrização tendinosa. Os a) Incremento à produção de ATP. Acredita-se que o
que mais se destacam estão relacionados com a técnica laser eleva a produção de ATP [11], proporcionando um
cirúrgica empregada [1], mobilizações e imobilizações [2], aumento da atividade mitótica [7-10] e um aumento da
utilização de recursos físicos para acelerar o processo de síntese de proteína, por intermédio da mitocôndria
reparação tecidual [3-6]. [12,13]. Tem-se, como conseqüência, o aumento da
A radiação a laser tem sido usada para acelerar os regeneração tecidual em um processo de reparo [7-10];
processos cicatriciais, tanto em estudos experimentais, b) Estímulo à microcirculação, que aumenta o aporte
quanto na prática fisioterapêutica [3,7,8]. de elementos nutricionais associado ao aumento da velo-

Recebido em 20 de março de 2004, aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Marcelo Rodrigo Tavares, Clínica de Fisioterapia - HUAV, Rua Geraldo Freitas da Costa, 120, 37130-
000 Alfenas MG, Tel: (35)3299-3549, E-mail: marcelo.tavares@unifenas.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 97

cidade mitótica, facilitando a multiplicação das células Os animais foram sacrificados no 8º e 15º dia pós-
[7,9]; operatório e distribuídos nos grupos conforme a Tabela I.
c) Formação de novos vasos a partir dos pré-existentes
[7-9,14,15]. Tabela I – Demonstra a divisão dos animais nos grupos, número
de aplicações de laser e dia do sacrifício dos animais.
Muitos autores [16-18] indicam a utilização do laser
As-Ga para obter cicatrização dos tecidos. Grupos N AL DS
Outros autores [5] demonstraram que o laser
terapêutico He-Ne possui um efeito cicatrizante, através A1 10 7 8º
A2 10 14 15º
da estimulação da matriz colagenosa. Foram utilizados
B1 5 - 8º
24 coelhos da raça Nova Zelândia, com os quais realizou- B2 5 - 15º
se uma tenotomia no tendão de Aquiles, seguido de sutura.
Os animais foram imobilizados e submetidos a uma dose N = número de ratos por grupo, AL = Aplicações do laser, DS =
de 1 J/dia do laser He-Ne (632,8 nm), por 14 dias, no Dia do sacrifício do animal.
tendão de Aquiles. No 15° dia os coelhos eram sacrificados Os animais do grupo A, foram tratados com a dose de
e o tendão, excisado para posterior análise bioquímica. 4 J/cm2. O método usado foi o da aplicação direta pontual
Observaram um aumento de 26% de colágeno, quando (de apenas um ponto no local da tenotomia) sobre a pele
comparando com o grupo controle. do animal. As radiações foram feitas na mesma hora do
Baseado nestas evidências, o objetivo deste estudo foi dia, observando o período de 24 horas entre as aplicações.
analisar o efeito do laser terapêutico As-Ga na cicatrização Cada animal foi sacrificado com dose excessiva do
do tendão calcâneo de ratos, através da microscopia de luz. anestésico (éter etílico), por via respiratória. Posterior-
mente foi realizada a dissecação do tendão calcâneo,
Métodos procurando-se preservá-lo ao máximo. Foi feito um corte
rente ao osso calcâneo e outro na junção miotendinosa
O aparelho de laser utilizado foi um modelo clínico portátil, do músculo tríceps sural, no membro pélvico direito.
de AsGa com comprimento de onda de 904 nm, e com pico de O tendão foi colocado em um cassete e mantido em
potência de 15 W, potência média de 3 a 7 mW, com a duração álcool 70% para a fixação, com volume 10 vezes superior
de pulso de 180 ns e frequência de 2000 Hz. ao volume da peça. As lâminas dos tendões foram prepa-
Foram utilizados 30 ratos albinos, machos, da linhagem radas da seguinte forma: (a) descrição, (b) desidratação,
Wistar, de idade adulta e peso variando de 200 a 250g. Durante (c) difusão com xilol, (d) impregnação com parafina, (e)
o experimento, os ratos permaneceram em gaiolas de inclusão e (f) microtomia.
polietileno, contendo quatro animais cada, com condições de Foram realizados cortes longitudinais do local da lesão,
temperatura, iluminação e ventilação adequadas, e também sendo estes cortes de cinco micras, corados por Hematoxi-
com livre acesso à água e alimentação. lina de Harris/ Eosina-Floxina e Tricrômico de Masson.
A anestesia de todos os grupos, foi realizada por ina- As lâminas foram, então, analisadas por microscopia
lação de éter etílico, em uma câmara de dessecação. Logo de luz e os resultados, registrados por uma análise semi-
após, foi realizada a tricotomia na perna direita (região quantitativa da reação inflamatória, definida por: presença
posterior) dos animais e, em seguida, foram realizadas as de células inflamatórias (macrófagos e leucócitos), fibro-
seguintes etapas: posicionamento do animal em decúbito blastos, deposição de colágeno, neovascularização, presença
ventral e fixação dos membros; anti-sepsia da pele com de necrose e presença de microcalcificações, em graus que
álcool iodado 4%; colocação de campos frenestrados; incisão variam de: ausente (-), presença leve (+), presença mode-
longitudinal na região posterior do tendão calcâneo direito; rada (++) e presença acentuada (+++). A presença de
isolamento e tenotomia total do tendão calcâneo direito na células inflamatórias foi classificada, também, em focal
região intermédia (entre a junção miotendinosa e a inserção); (F) e difusa (D) e a formação de novos vasos nunca era
fechamento da pele com sutura simples, com fio de poliéster ausente e sim normal (N).
/ algodão 2-0; aplicação de álcool iodado sobre a sutura, Os registros em cruzes (+), foram revertidos em
sendo esta deixada sem curativos. valores numéricos, da seguinte maneira: 0 para (-), 1 para
Após a cirurgia, os animais foram identificados e divi- (+), 2 para (++) e 3 para (+++); foram também
didos aleatoriamente em dois grupos, um com tratamento a considerados valores intermediários, tais como: 0,5 para
laser (grupo A) e outro para controle (grupo B), os quais, (-/+), 1,5 para (+/++) e 2,5 para (++/+++).
possuindo, respectivamente, 20 e 10 animais, subdivididos A análise estatística foi feita através do teste de
em dois subgrupos, com 10 animais (A1 e A2) e 5 animais contraste de médias, onde a média de cruzes de cada
(B1 e B2). variável foi comparada entre os grupos de tratamento e
O grupo A recebeu aplicações com o laser 24 horas após a nos diferentes tempos de sacrifício O teste t student foi
cirurgia, com irradiações diárias por 7 dias consecutivos. realizado em relação à significância p < 0,05.
98 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Resultados e discussão Figura 1 – Microscopia do tendão calcâneo de rato sacrificado no 8º PO,


corados pela Hematoxilina-Eosina. Corte longitudinal, mostrando maior
O laser AsGa 904 nm foi escolhido porque, além de presença de colágeno no grupo tratado e menor presença de células
possuir um maior poder de penetração, em torno de 1,4 inflamatórias também no grupo tratado. Aumento de 400x (A1= grupo
milímetros (mm), o seu tamanho é reduzido, facilitando tratamento e B1= grupo controle).
o manuseio. O custo do aparelho é menor (em relação
aos outros presentes no mercado), ele é seguro e de simples
aplicação [19].
A dose de 4 J/cm2 foi utilizada por estar na faixa “3 à
6 J/cm 2”, que é responsável pelo efeito cicatrizante
[6,9,18,20].
Durante irradiação, a caneta do aparelho foi posicio-
nada a um ângulo de 90º, em relação ao tendão do animal,
procurando, portanto, diminuir o índice de dispersão das
ondas eletromagnéticas [8]. A ponta da caneta esteve em
contado direto com a pele, no sítio da lesão.
A aplicação do laser foi sempre realizada 24 horas após
a lesão, com a intenção de iniciar o tratamento na fase
aguda de cicatrização, portanto, observando os efeitos do
laser AsGa nos eventos primários do reparo tendinoso.
No grupo tratado, houve radiação na fase aguda pelo
período de 7 dias consecutivos (10 animais), e outros 10
animais foram mantidos, por mais sete dias, também
consecutivos, conforme a tabela I. O tempo para
intervenção laserterápica foi realizado considerando os
eventos celulares e extracelulares, bem como as alterações
ultra-estruturais do estágio inicial e tardio do processo de
reparo [21,22].
Optamos em sacrificar os animais 24 horas após a
última aplicação de laser, portanto, no 8º dia pós-operatório No contraste de médias entre o controle e o tratado na
(para analisar a fase inicial) e 15º dia pós-operatório (para fase inicial e tardia, não houve diferença estatística
analisar a fase tardia do processo de reparo tendíneo). significativa na neovascularização, com valores absolutos
Houve diferença estatística muito significante no também iguais para A1 e B1, e A2 com maior vascularização
contraste de médias da presença de células inflamatórias, do que B2 (Figuras 1, 2, 3 e 4).
entre os grupos controle (B1) e tratamento (A1) na fase Comparou-se o grupo tratado na fase inicial e tardia,
inicial de reparo, prevalecendo uma maior quantidade de com relação a neovascularização, onde observou-se
células inflamatórias no subgrupo B1. Na fase tardia não diferença estatística altamente significativa com prevalência
houve diferença estatística significante, entretanto, em de maior grau de vascularização no subgrupo A2. Nos
valores absolutos, no subgrupo A2 verificou-se um índice subgrupos controle, não houve diferença estatística signi-
maior de presença de células inflamatórias. ficativa, entretanto observou-se maior grau de vascularização
Verificamos, também, diferença estatística significan- no subgrupo B2.
te no contraste de médias entre fase inicial (A1) e tardia Alguns autores [14] demonstraram que o laser promove
(A 2) de tratamento. Prevaleceu um índice maior de a formação de novos vasos a partir dos pré-existentes no
presença de células inflamatórias no subgrupo A2. No sítio da lesão, porém, há muitas variações em relação ao
contraste de médias entre fase inicial (B1) e tardia (B2) do nosso experimento, como por exemplo, a dose utilizada, o
controle, não houve diferença estatística significante, tipo de laser, o animal e o tipo de tecido estudado. É
porém, em valores absolutos, observou-se um índice maior importante ressaltar que outros autores [10,15] concordam
de presença de células inflamatórias no subgrupo B1. com este efeito do laser.
Outros autores [18] também encontraram em seu Na comparação entre o controle e o tratado, com
experimento uma menor quantidade de infiltrado infla- relação à presença de fibroblastos na fase inicial e tardia,
matório, após a aplicação do laser. Entretanto, alguns autores não houve diferença estatisticamente significativa.
[7-9,23] descrevem o efeito anti-inflamatório do laser, que Entretanto, houve uma pequena diferença em valores
encontramos em nosso experimento, ao menos na fase inicial absolutos, com maior presença de fibroblastos nos
da cicatrização. subgrupos B1 e B2.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 99

Figura 2 – Comparação das médias entre os grupos A1 e B1 – Histograma Um autor [10] afirma que o laser promove a multi-
ilustrando o comportamento das variáveis no 8º PO. Os resultados são plicação dos fibroblastos, o que, no entanto, não foi
obtidos através das médias de cada variável. demonstrado em nosso experimento. Outros autores
relatam a maior presença de fibroblastos na fase inicial
do processo de reparo [22,24-26].
Com relação à presença de fibras de colágeno, houve
diferença estatisticamente significante entre os grupos
controle e tratamento na fase inicial de reparo. Também
houve diferença estatística, altamente significante, entre
os grupos controle e tratado na fase tardia de reparo. Em
ambos os casos, fase inicial e tardia, houve prevalência
de presença de fibras colágenas no grupo tratado.
Na comparação do grupo tratado, entre fase inicial e
tardia, não houve diferença estatística significante. Isto
ocorreu também na comparação do grupo controle entre
fase inicial e tardia. Em ambos os casos, houve aumento
de colágeno na fase tardia em valores absolutos.
Alguns autores [5] concluíram que o laser estimula a
cura do tendão, através da produção aumentada de
colágeno pela matriz colagenosa, porém, a dose utilizada
foi menor, comparada com o nosso experimento. Vários
Em contraste, houve diferença estatística muito signifi-
outros autores concordam que o laser promove a deposição
cativa, comparando-se a fase inicial e tardia do tratamento,
acelerada de fibras de colágeno na zona de lesão [10,15,25].
com prevalência de maior quantidade de fibroblastos no
subgrupo A1. Figura 4 – Comparação das médias entre os grupos A2 e B2 –
Já no grupo controle não houve diferença estatística Histograma ilustrando o comportamento das variáveis no 15º
significativa, porém, houve diferença em valores abso- PO. Os resultados são obtidos através das médias de cada variável.
lutos, sendo que o subgrupo B1, com maior presença de
fibroblastos.
Figura 3 – Microscopia do tendão calcâneo de rato sacrificado no 15º PO,
corados por Tricrômico de Gomori. Corte longitudinal, mostrando maior
presença de colágeno no grupo tratado. Aumento de 200x (A2 = grupo
tratamento e B2= grupo controle).

Foi constatada, também, a presença de células gigantes


multinucleadas em dois animais. Isto se deve, provavel-
mente, à fusão de macrófagos, transformando-se em
células epitelióides, que são o resultado de uma inflamação
persistente [26]. A inflamação persistente pode ser
explicada pela descarga de peso no membro lesado, já que
os animais não foram imobilizados.
Encontramos, ainda, a presença de metaplasia
cartilaginosa em dois animais, um no grupo controle e
outro no grupo tratamento. Não encontramos na
literatura nenhuma explicação para este fato.
100 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Assim, pode-se ver que este estudo fornece evidências laser increase ATP level in cells cultivated in vitro. Journal of
do efeito benéfico da irradiação por laser, com relação à Photochemistry and Photobiology B: Biology 1995;27:219-
cicatrização do tendão calcâneo em ratos. Embora os 23.
estudos em animais, como os delineados acima, 12. Greco M et al. Increase in RNA and protein synthesis by
mitochondria irradiated with Helium – Néon laser.
efetivamente avancem, e diminuam a lacuna existente
Biochem Biophys Res Commun 1989;163:1428-34.
entre a pesquisa e a prática clínica, ainda restam alguns 13. Passarella S et al. Increase in the ADP/ATP exchange in
questionamentos a serem respondidos, tais como: dose ideal rat liver mitochondria irradiated in vitro by hélium –
para um determinado tratamento; tipo de laser a ser neon laser. Biochem Biophys Res Commun 1988;156:978-
utilizado; fase da inflamação ideal para a intervenção 86.
laserterápica e outros. 14. Bibikova A, Belkin V, Oron U. Enhancement of
angiogenesis in regenerating gastrocnemius muscle of the
Conclusão toad (Bufo viridis) by low-energy laser irradiation. Anat
Embryol 1994;190:597-602.
Com base nos resultados encontrados, o laser AsGa 15. González MV, Cruañas JC. Comportamiento de la luz
en la interaccion con los tejidos, en especial el laser de
904nm, utilizado na dose de 4J/cm 2 , promoveu a
baja potencia. Boletim do Centro de Documentación
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tardia. Além disso, minimizou a presença de células 16. Longo L et al. Effect of diodes-laser silver arsenide-
inflamatórias na zona de lesão, na fase inicial da aluminium (Ga-Al-As) 904 nm on healing of experimental
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11. Karu T, Pyatibrat L, Kalendo G. Irradiation with He-Ne p.44 -77. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 101

Artigo original

A influência da drenagem torácica intercostal fechada


com selo d’água na respiração e voz, em sujeitos
hospitalizados com doenças pleuropulmonares
The intercostal thoracic close drainage influence with underwater
seal in breathing and voice in hospitalized patients
with pleuropulmonary diseases

Júlia Barreto Bastos de Oliveira*, Jacy Perissinoto, D.Sc.**, Lílian Kátia Barroso Moura***,
Denise Gonçalves Moura****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza – Unifor, **Orientadora do Mestrado em


Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina,
***Fonoaudióloga do Hospital Geral de Fortaleza – HGF, ****Graduanda em Fisioterapia da Universidade de Fortaleza – Unifor
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Parte de tese (mestrado) em Ciências dos Distúrbios da Comunicação Humana: Campo Fonoaudiológico – Mestrado Interinstitucional –
Universidade Federal de São Paulo –UNIFESP/EPM – Universidade de Fortaleza – UNIFOR – CE

Resumo 440,17 ml, CVFNNO 2587,22 ml e CVFNO 2762,22 ml. Na


Este estudo objetivou verificar a influência do dreno avaliação da voz com dreno, a média da CFS foi de 209,58,
torácico intercostal fechado com selo d’água na respiração e CFC de 207,05, TMFP 12,15s, TMFO/TMFP de 1,03s e, sem
voz, em sujeitos portadores de doenças pleuropulmonares. o dreno, a média da CFS foi de 134,15, CFC de 95,42, TMFP
Foram avaliados 18 sujeitos com drenagem torácica inter- 2,81s, TMFO/TMFP de 0,54s. Concluiu-se que o dreno não
costal fechada com selo d’água de ambos os sexos, com faixa exerce influência quanto às medidas da mecânica respiratória;
etária de 18 a 74 anos de idade. Foram realizadas duas avalia- apesar dos sujeitos permanecerem com as mesmas alterações
ções envolvendo voz e respiração, sendo a primeira, 48 horas pulmonares, não houve diferença quanto ao tempo pneumo-
após a colocação do dreno e, a segunda, logo após a retirada fonoarticulatório; o nível de sensação de desempenho respira-
do dreno, incluindo anamnese respiratória e fonoaudio- tório e vocal aumentou com o uso do dreno.
lógica; medidas de cirtometria do tórax; propedêutica Palavras-chave: respiração, voz, drenagem torácica, doenças
pulmonar; testes de medidas de Pimax e Pemax; testes de pleurais.
função pulmonar, avaliando o VCI e CVF; testes pneumo-
fonoarticulatórios (TMF, CFS, CFC, TMFP e TMFO) e
questionário sobre o comportamento da respiração e voz. O Abstract
comportamento dos dois grupos se assemelhou, em termos The aim of this study was to check the influence of the closed
de medida-resumo, com médias da cirtometria com dreno intercostal underwater seal drain on respiration and voice in
SAIF 91,58 cm, SAEF 89,69 cm, XIF 93,17 cm, XEF 91,11cm, patients with pleuropulmonary disorders. There were 18 subjects
BIF 88,17cm e o BEF 86,08 cm. As médias da pressão with closed intercostal thoracic water seal drainage of both genders,
respiratória máxima foram: Pimax 71,11 cm H 2O, Pemax with ages ranging from 18 to 74. There were two assessments on
61,94 cm H2O. Quanto às médias da função pulmonar: VCI voice and respiration, the first one was 48 hours after the
427,78ml, CVFNNO 2169,44 ml e CVFNO 2316,11ml. Sem placement of the drain, and the second one right after its removal,
dreno: SAIF 92,08 cm, SAEF 89,08 cm, XIF 92,86 cm, XEF including respiratory and phonoaudiological anamnesis, measure
90,36 cm, BIF 88,67 cm e BEF 85,36 cm e as médias da pressão of the thoracic cyrtometry, pulmonary propedeutics, Pimax and
respiratória máxima foram: Pimax 82,72 cm H 2O, Pemax Pemax tests, pulmonary function tests, checking on VCI and
73,56cm H2O. Quanto às médias da função pulmonar: VCI CVF, pneumophonoarticulatory tests (TMF, CFS, CFC, TMFP

Recebido em 21 de março de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Julia Barreto Bastos de Oliveira, Av. dos Bandeirantes, 76, CxP 106, Jacundá 61760-000 Eusébio CE, Tel:
(85) 260-3001 / (85) 9123.7421, E-mail: juliabbo@terra.com.br
102 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

and TMFO) and a questionnaire on voice and respiration patterns. measures of pulmonary function: VCI 440.17ml, CVFNNO
Both groups showed similar behavior as to the summary measure 2587.22 ml and CVFNO 2762.22. On the voice examination with
with averages of cyrtometry with the drain SAIF 91.58 cm, SAEF the drain, the average of CFS was 209.58, CFC 207.05, TMFP
89.69 cm, XIF 93.17 cm, XEF 91.11 cm, BIF 88.17 cm and BEF 12.15s, TMFO/TMFP 0.54s. Therefore, it is shown that the drain
86.08 cm. The maximum averages of respiratory pressure were: does not influence the measures of the respiratory mechanics;
Pimax 71.11 cm H2O, Pemax 61.94 cm H2O. As to the measures despite the subjects having presented the same pulmonary
of pulmonary function: VCI 427.78ml, CVFNNO 2169.44 ml alterations, there was no difference on pneumophonoarticulatory
and CVFNO 2316.11 ml. Without the drain: SAIF 92.08 cm, timing; and that, with the drain, the level of vocal and respiratory
SAEF 89.08 cm, XIF 92.86 cm, XEF 90.36 cm, BIF 88.67cm and performance increased.
BEF 85.36cm and the maximum measures of respiratory pressure Key-words: respiration, voice, thoracic drainage, pleural
were: Pimax 82.72 cm H2O, Pemax 73.56cmH2O. As to the disorders.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução importância da respiração para a fala normal e para a


produção da voz. Entretanto, não é surpresa o fato de
Na vivência prática, temos observado que muitas que a avaliação e o tratamento do comportamento da
doenças pulmonares, insuficiência cardíaca congestiva respiração sejam considerados importantes componentes
(ICC) e, até mesmo, os traumas torácicos, tendem a desen- do processo clínico, quando se trata de pacientes com
volver doenças pleurais, como derrame pleural, pneumo- distúrbios de fala e voz.
tórax, empiema pleural e hidropneumotórax. Essas doenças A experiência nos tem mostrado que respirar e falar
pleurais, quando instaladas, comprometem o sistema exigem, além do ar expirado, um controle excelente nas
respiratório como um todo, desde sua capacidade contrações cinéticas e posturais dos músculos envolvidos
volumétrica até seu mecanismo de expansão e retração, no e, quando isso não ocorre, os pacientes passam a apresentar
sentido de não atuar na sua condição de complacente [1,2] . movimentos desordenados do tórax, o que causa
Essas patologias, quando evoluem para doenças pleurais, incongruência entre respiração e o movimento laríngeo
caracterizam-se, na sua grande maioria, por acúmulo de ou entre ataque vocal e a articulação [12-18].
líquido e/ou ar entre os folhetos pleurais, necessitando, Levando em conta as considerações ora referidas, este
quando indicado pelo médico, que o paciente seja submetido estudo partiu da hipótese de que, apesar do comprome-
a um procedimento médico-cirúrgico, no caso, a timento do sistema respiratório, causado pelas doenças
toracotomia, a fim de abrir acesso às pleuras ou até mesmo pleuropulmonares, o dreno torácico intercostal fechado
aos pulmões [2]. O acesso é feito através de um dreno com selo d’água influencia no comportamento da
torácico intercostal fechado com selo d’água, cujo principal respiração e da voz, dentro de valores quantitativos e
objetivo é remover o líquido e/ou ar da cavidade pleural, qualitativos das variáveis mecânicas do sistema respi-
além de restabelecer a pressão intrapleural, com a ratório e pneumofonarticulatório; já que esse procedi-
conseqüente reexpansão pulmonar [3,4]. Pacientes mento tem o objetivo de equilibrar as pressões do sistema
submetidos à drenagem torácica, por qualquer que seja a respiratório, especialmente a pressão pleural (Ppl),
causa, ao serem avaliados pelo fisioterapeuta, apresentam resultante de forças elásticas da caixa torácica e pulmão.
alterações significantes, tanto na mecânica respiratória A partir desta hipótese, a pesquisa tomou rumo para o
envolvendo a elasticidade, a complacência torácica e seu desenvolvimento.
pulmonar, como na função pulmonar, principalmente na A influência do dreno torácico intercostal fechado
capacidade vital (CV), no volume corrente (VC) e na com selo d’água na respiração e voz possibilitará maior
capacidade residual funcional (CRF). Além disso, há uma visão nas abordagens terapêuticas e integração multidis-
perda de qualidade na voz, percebida na fala: a voz é pouco ciplinar, proporcionando melhor qualidade de vida para
audível, com característica entrecortada [5-9]. os pacientes drenados, portadores de doenças pleuropulo-
Acreditava-se, no início do século, que os distúrbios monares.
respiratórios constituíam a base das disfonias [7,8,9],
embora alguns estudiosos no assunto não associem Objetivo geral
qualquer alteração da respiração com a voz, desde que
seja capaz de manter um adequado fluxo de ar, necessário Este estudo objetivou verificar a influência do dreno
para a emissão do som [10]. No entanto, sabe-se que o ar torácico intercostal fechado com selo d’água na respiração
expirado contribui para a produção da fala e esse ar, ao e na voz de sujeitos hospitalizados, com doenças
sair dos pulmões, chega até a laringe, onde é produzido o pleuropulmonares e que foram submetidos a uma
som por força de ondas vibratórias. Hoit [11] descreveu a toracotomia para colocação do referido dreno.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 103

Objetivos específicos Todos os sujeitos foram submetidos a duas avaliações


fisioterápicas respiratórias (pela pesquisadora fisiote-
1. Identificar o comportamento da mecânica respiratória rapeuta) que avaliou medidas de expansão pulmonar,
dos sujeitos com dreno torácico intercostal fechado e elasticidade, Pimax, Pemax [21-23], volume corrente (VC)
sem ele. e capacidade vital lenta (CVL). Foram realizadas,
2. Especificar os coeficientes fônicos e tempo máximo também, avaliações fonoaudiológicas, envolvendo
da fonação previsto, dos sujeitos com o dreno e após Coeficiente Fônico Simples (CVF), Tempo Máximo de
sua retirada. Fonação Previsto (TMFP) e Tempo Máximo de Fonação
3. Registrar a percepção dos sujeitos quanto à respiração Obtido (TMFO) (pela fonoaudióloga especialista em voz)
e voz, antes da colocação do dreno, com o dreno e e um questionário com informações sobre respiração e
após sua retirada. voz [9,15]. A primeira avaliação foi realizada 48 horas
após a colocação do dreno, e a segunda avaliação, logo
Material e métodos após a retirada do mesmo. Os dados obtidos foram mos-
trados pelo método estatístico de uma análise descritiva
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Bussab Moretin [24], essencialmente cálculos de medidas
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo / EPM, resumo, tabelas de contingências e alguns gráficos.
sob o código CEP No 0495/03 datado de 25/09/03. Foi
um estudo delineado como descritivo e comparativo, com Resultados e discussão
abordagem quantitativa. Envolveu uma amostra de
dezoito (18) sujeitos de ambos os sexos, na faixa etária de A Tabela I apresenta algumas medidas-resumo e
18 a 74 anos de idade, portadores de doenças pleuropul-
intervalos de confiança para as médias de cada uma das
monares, em atendimento clínico no Hospital do Coração
variáveis para os dois grupos. Podemos observar que os
de Messejana, Fortaleza – CE, no período de outubro de
2002 a maio de 2003, e que se submeteram a procedi- comportamentos dos dois grupos se assemelham bastante,
mentos cirúrgicos do tipo toracotomia, para a colocação em termos das medidas-resumo. Tanto as médias, quanto
do dreno torácico com selo d’água. Os sujeitos incluídos a variabilidade (CV%) apresentam valores próximos para
na pesquisa foram todos aqueles que apresentassem a grande maioria das variáveis. Vê-se, também, que todos
estabilidade clínica [16,19,20], sendo selecionados através os intervalos de confiança se interceptam, o que reforça a
dos dados do prontuário e de informações clínicas. idéia do comportamento semelhante dos grupos.
Tabela I – Medidas-resumo das variáveis em estudo por grupo relacionadas à avaliação fisioterápica respiratória dos sujeitos com dreno e sem dreno.

Grupo Variável n Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão CV(%) Intervalo de Confiança (95%)
LI LS

com dreno SAIF* 18 79,50 110,00 91,58 8,17 8,92 87,81 95,36

SAEF* 18 77,50 109,00 89,69 9,29 10,36 85,40 93,99


XIF* 18 81,00 116,00 93,17 9,56 10,26 88,75 97,58
XEF* 18 79,00 115,00 91,11 9,44 10,36 86,75 95,47
BIF* 18 70,50 119,00 88,17 11,52 13,07 82,84 93,49
BEF* 18 68,50 117,00 86,08 11,56 13,43 80,74 91,43
PiMAX* 18 37,00 150,00 71,11 34,51 48,54 55,17 87,06
PeMAX* 18 38,00 136,00 61,94 24,98 40,32 50,41 73,48
VCI* 18 100,00 833,00 427,78 201,18 47,03 334,84 520,72
CVFNNO* 18 600,00 2900,00 2169,44 544,84 25,11 1917,75 2421,14
CVFNO* 18 240,00 3200,00 2316,11 740,53 31,97 1974,01 2658,21
sem dreno SAIF* 18 80,00 109,00 92,08 8,72 9,47 88,05 96,11
SAEF* 18 77,00 108,00 89,08 9,10 10,22 84,88 93,29
XIF* 18 80,50 117,00 92,86 9,46 10,19 88,49 97,23
XEF* 18 79,00 115,00 90,36 9,77 10,81 85,85 94,87
BIF* 18 70,50 122,00 88,67 11,71 13,21 83,26 94,08
BEF* 18 62,00 119,00 85,36 12,83 15,03 79,43 91,29
PiMAX* 18 30,00 150,00 82,72 41,98 50,75 63,33 102,12
PeMAX* 18 35,00 147,00 73,56 32,63 44,36 58,48 88,63
VCI* 18 176,00 660,00 440,17 136,55 31,02 377,09 503,25
CVFNNO* 18 1700,00 3850,00 2587,22 445,93 17,24 2381,22 2793,23
CVFNO* 18 1900,00 3900,00 2762,22 429,21 15,54 2563,94 2960,50

* Os intervalos de confiança se interceptam.


104 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

As figuras 1, 2 e 3 apresentam os box-plots das variáveis


em estudo. Podemos notar que as medianas (linha branca
em cada gráfico) apresentam-se próximas para quase todas
as variáveis. Embora o comportamento com relação à
assimetria não seja o mesmo, os gráficos reforçam a idéia
do comportamento semelhante dos grupos.
Figura 1 – Box-plot das variáveis em estudo por grupo,
relacionadas às medidas cirtométricas axilar, xifoideana e basal
do tórax em inspirações e expirações forçadas com o dreno e após
a retirada do dreno.

As tabelas II, III e IV apresentam os cruzamentos entre


as condições, logo após a colocação do dreno e, logo após a
retirada do mesmo, com relação à expansibilidade. Podemos
notar que, em todas as condições (tórax superior, médio e
inferior), a porcentagem de indivíduos com expansibilidade
parece ter aumentado, notadamente na condição tórax
inferior (o percentual foi de 16,7% para 72,3%), sugerindo
que o dreno parece ter melhorado a condição respiratória
dos pacientes.
A tabela V apresenta algumas medidas-resumo e
intervalos de confiança para as médias das variáveis e
avaliação da coordenação pneumofonoarticulatória.
Podemos notar que as médias para todas as variáveis, à
Figura 2 – Box-plot das variáveis em estudo por grupo, exceção da CFS, mostram-se bastante próximas e, além
relacionadas às pressões expiratórias máximas dos músculos
disso, os coeficientes de variação (CV) indicam que a
respiratórios.
variabilidade dos grupos é bastante semelhante. Por fim,
verificamos que todos os intervalos de confiança se
interceptam, o que endossa a equivalência do compor-
tamento dos grupos com relação a estas variáveis. Esses
resultados vão ao encontro daqueles obtidos para as
variáveis relacionadas à avaliação fisioterápica respiratória.
As tabelas VI e VII apresentam os cruzamentos entre
as condições dos indivíduos, referentes à voz, com o dreno
e logo após sua retirada. Estas indicam que todos os
pacientes melhoraram de alguma forma, repentinamente,
ou depois de algum tempo.
Na avaliação fisioterápica respiratória dos sujeitos com e
sem dreno torácico intercostal com selo d’água, pudemos
Figura 3 - Box-plot das variáveis em estudo por grupo, observar que a média das medidas-resumo apresentam valores
relacionadas à função ventilatória, considerando volume corrente muito próximos entre si e que os intervalos de confiança se
e capacidade vital. interceptam, reforçando a idéia do comportamento
semelhante nas duas etapas de avaliação, exceto quando
avaliamos a CVFNNO e CVFNO (tabela I).
Autores como Azeredo [15], Gonçalves [21], Jamami
et al. [22] e Fujimoto et al. [25] mencionaram que não é
possível correlacionar dados de pacientes com as alterações
pulmonares, em virtude da subjetividade de certos testes,
como o da cirtometria torácica para a verificação da
elasticidade do tórax superior, médio e basal e testes da
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 105

Tabela II – Cruzamento entre as condições de tórax superior após a colocação do dreno e após a retirada do dreno, relacionadas à
avaliação da palpação para a expansibilidade tóraco-pulmonar.

Após a colocação do dreno

Expansibilidade assimétrica Expansibilidade normal Expansibilidade ausente Total

Após a retirada Expansibilidade assimétrica 2 [11,1%] 0 [0,0%] 0 [0,0%] 2 [11,1%]


do dreno Expansibilidade normal 3 [16,7%] 8 [44,4%] 2 [11,1%] 13 [72,2%]
Expansibilidade ausente 0 [0,0%] 1 [5,6%] 2 [11,1%] 3 [16,7%]
Total 5 [27,8%] 9 [50,0%] 4 [22,2%] 18 [100,0%]

Tabela III – Cruzamento entre as condições de tórax médio, após a colocação do dreno e após a retirada do dreno, relacionadas à
avaliação da palpação para a expansibilidade tóraco-pulmonar.

Após a colocação do dreno

Expansibilidade assimétrica Expansibilidade normal Expansibilidade ausente Total

Após a retirada Expansibilidade assimétrica 9 [50,0%] 1 [5,6%] 1 [5,6%] 11 [61,1%]


do dreno Expansibilidade normal 2 [11,1%] 3 [16,7%] 0 [0,0%] 5 [27,8%]
Expansibilidade ausente 0 [0,0%] 0 [0,0%] 2 [11,1%] 2 [11,1%]
Total 11 [61,1%] 4 [22,2%] 3 16,7%] 18 [100,0%]

Tabela IV – Cruzamento entre as condições de tórax inferior após a colocação do dreno e após a retirada do dreno, relacionadas à
avaliação da palpação para a expansibilidade tóraco-pulmonar.

Após a colocação do dreno

Expansibilidade assimétrica Expansibilidade normal Expansibilidade ausente Total

Após a retirada Expansibilidade assimétrica 4 [22,2%] 0 [0,0%] 0 [0,0%] 4 [22,2%]


do dreno Expansibilidade normal 9 [50,0%] 3 [16,7%] 1 [5,6%] 13 [72,2%]
Expansibilidade ausente 0 [0,0%] 0 [0,0%] 1 [5,6%] 1 [5,6%]
Total 13 [72,2%] 3 [16,7%] 2 [11,1%] 18[100,0%]

Tabela V – Medidas-resumo das variáveis em estudo por grupo, relacionadas à avaliação da coordenação pneumofonoarticulatória.

Grupo Variável n Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão CV(%) Intervalo de Confiança


(95%)

LI LS

Com dreno CFS 18 84,00 416,60 209,58 108,97 52,00 159,24 259,92
CFC 18 102,30 437,10 207,05 91,39 44,14 164,83 249,27
TMFP 18 3,06 16,53 12,15 3,09 25,41 10,72 13,58
TMFO/TMFP 18 0,40 2,00 1,03 0,52 50,56 0,79 1,27
Sem dreno CFS 18 72,50 625,00 226,84 134,15 59,14 164,86 288,81
CFC 18 113,60 445,50 229,38 95,42 41,60 185,30 273,46
TMFP 18 8,67 21,94 14,45 2,81 19,47 13,15 15,75
TMFO/TMFP 18 0,30 2,40 1,01 0,54 53,98 0,75 1,26

Tabela VI – Cruzamento da questão 4 com a questão 6 referente à respiração do sujeito com o dreno e após a retirada do dreno.

Questão 6 – após a retirada do dreno

normal melhorou muito Total

Questão 4 – com dreno Sentiu melhora repentina 5 [27,8%] 4 [22,2%] 9 [50,0%]


Melhorou aos poucos 2 [11,1%] 7 [38,9%] 9 [50,0%]
Total 7 [38,9%] 11 [61,1%] 18 [100,0%]
106 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Tabela VII – Cruzamento da questão 5 com a questão 7 referente à voz dos sujeitos com o dreno e após a retirada do dreno.

Questão 7 – após a retirada do dreno

normal melhorou muito Total

Questão 5 – Com dreno Sentiu melhora repentina 3 [16,7%] 7 [38,9%] 10 [55,6%]


Melhorou aos poucos 4 [22,2%] 4 [22,2%] 8 [44,4%]
Total 7 [38,9%] 11 [61,1%] 18 [100,0%]

palpação manual para a verificação da expansibilidade das mecânica tóraco-pulmonar, como também as funções
áreas torácicas superior, média e inferior. Além disto, ventilatória e fonatória [29-31].
ainda que considerando o possível aspecto subjetivo dessas A especialista responsável pelas avaliações fonoaudio-
provas, esses autores estabeleceram medidas cirtométricas, lógicas concluiu não haver diferenças estatísticas que
para expiração e inspiração forçada, em pacientes sem justifiquem a influência direta do dreno torácico, na voz
alterações pulmonares e propuseram, na axila, uma medida dos indivíduos aqui analisados.
que varia entre 105 cm e 95 cm e no processo xifóide, Os dados obtidos no estudo mostraram a importância
variando de 94 cm a 87 cm. Os sujeitos aqui estudados da complementação do trabalho integrado das duas áreas,
não corresponderam às medidas consideradas como padrão que trouxe informações objetivas e subjetivas, favorecendo
de normalidade. Na manovacumetria foram encontradas as condutas terapêuticas e a qualidade de vida do paciente.
medidas de Pimax = –71 a –82 cm H 2O, com e sem
dreno, respectivamente, o que não mostra alteração de Conclusão
força muscular, já que a literatura nos apresenta como
fraqueza, valores menores que –70cm H2O. Na Pemax A análise crítica dos resultados da presente pesquisa
com dreno, encontramos uma média de + 61.94 e sem permitiu-nos estabelecer as seguintes conclusões:
dreno +73,56cm H2O, o que já se pode considerar como Estatisticamente, o dreno não exerce influência nas
uma fraqueza dos músculos expiratórios, tendo em vista medidas da mecânica respiratória, nem na função
que seus valores de normalidade são de +100 a pulmonar, no que diz respeito ao volume corrente e à
+150cmH 2O [4,5,14-17,23,26]. capacidade vital.
Quanto à função pulmonar, pudemos observar, Mesmo persistindo as mesmas alterações respiratórias,
conforme os dados, não ter havido diferença significativa não houve diferença nos dados, quanto ao comportamento
para o estudo. Porém, as variáveis, ao serem comparadas pneumofonoarticulatório.
com o Normograma de Radford [13], tiveram seus valores Embora não tendo havido melhora estatística
aproximados da normalidade para os sujeitos, após a significante quanto à influência do dreno, os sujeitos
retirada do dreno, quando já era constatada a expansão alegaram melhora na sensação da respiração e voz, após a
pulmonar [2,5]. colocação e retirada do dreno. Esse dado foi observado,
A obtenção destes dados permitiu concordar com a quando 72% dos sujeitos responderam “sim”, ao serem
idéia de que, na prática clínica fisioterápica e na avaliação questionados sobre a influência do dreno na respiração e
física, há alterações na função pulmonar no sentido de voz. Embora esta seja uma forma subjetiva de se avaliar,
volumes e capacidades diminuídas e que, à medida que o teve sua significância para a pesquisa.
sujeito vai evoluindo na sua expansão pulmonar, os
volumes vão aumentando [27]. Referências
Não encontramos, na literatura, nenhum dado
específico referente à melhora da mecânica respiratória 1. Tarantino AB. Doenças pulmonares. 4a ed. São Paulo:
ou função pulmonar, por influência do dreno torácico Guanabara Koogan; 1997.
intercostal. Entretanto, Nunez et al. [28], em estudo de 2. Thomson A, Skinner A, Piercy J. Fisioterapia de Tidy.
12a ed. São Paulo: Santos Livraria; 1994.
pesquisa sobre efeitos de vários métodos de drenagem
3. Lemle A, Vianna AS, Mello FCQ, Soares SLM. Derrame
torácica na função respiratória em grupos de coelhos, pleural. ARS Curandi 1996;29:55-80.
verificaram que a drenagem bilateral, em determinado 4. West JB. Fisiologia respiratória moderna. 5a ed. São Paulo:
grupo com pressão negativa, diminuía a pressão parcial Manole; 1996 a.
do CO2 (PaCO2) e pressão parcial do oxigênio (PaO2), 5. West JB. Fisiopatologia pulmonar moderna. 4a ed. São
não sendo verificadas mudanças de mecânica respiratória Paulo: Manole; 1996 b.
nem equilíbrio ácido básico. O que se tem na literatura, 6. Brandi E. Disfonias para melhor tratar [livro online]. São
portanto, é que as doenças pleurais, assim como outras Paulo: Atheneu; 1996. p.110-22. [citado 2003 jun 31].
doenças restritivas pulmonares, comprometem, não só a Disponível em: URL: http://www.unineyt.edu/tratado/
C020682.html
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 107

7. Alisson LW, Davis PI, Adams RD, Ellis E. Breating 20. Bassualto CL. Músculos respiratórios em la limitacion
patterns during spontaneous speach. J Speech Hear Res crônica del fluxo aéreo. Bol Esc Med 1995;24:64-9.
1995;38:124-44. 21. Gonçalves JL. Terapia intensiva respiratória: ventilação
8. Colton RH, Gasper JK. Compreendendo os problemas artificial. Curitiba: Lovise; 1992.
da voz: uma fisiologia ao diagnóstico e ao tratamento. 22. Jamani M, Pires VA, Oishi J, Costa D. Efeitos da
Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1996; p.281-321. intervenção fisioterápica na reabilitação pulmonar de
9. Behlau M. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica
Revinter; 2001. (DPOC). Rev Fisioter Univ São Paulo 1999;6(2):140-63.
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respiratory and laringeal activity associated with changes in normal: values and relationship to age and sex. Am Rev
vocal intensity during speech. J Speech Hear Res 2000;43:934-6. Respir Dis 1969;99:969-702.
11. Hoit, JD. Influency of body position on breathing and its 24. Bussab WO, Morettin PA. Estatística básica: revisão
implications for the evaluation and treatment of speach ampliada. 5a ed. São Paulo: Saraiva; 2002.
and voice disorders. J Voice 1995;9(4):341-7. 25. Fulimoto K, Kubo K, Miyahara T, Matsuzawa Y,
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São Paulo: Manole; 1994. p. 535-6. therapu using specialy designed plates in patients with
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Atheneu; 1999. 26. Neder JA, Andreoni S, Lerário MC, Nery LE. Reference
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indivíduos sem queixa vocal: análise comparativa, 31. Scanlan CL, Wilkins RL, Stoller JK. Fundamentos da
qualitativa e quantitativa [tese]. São Paulo: Universidade terapia respiratória de egam. 7a ed. Barueri: Manole;
Federal de São Paulo; 1991. 2000. 
108 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Avaliação das atividades de vida diária pelo Índice


de Barthel de pacientes acometidos de acidente
vascular encefálico
Evaluation of activities daily life by means of Barthel Index
in patients with chronic stroke sequels

Paulo Roberto Garcia Lucareli, M.Sc.*, Jaime Carlik, D.Sc.**, Tatiana Klotz***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Professor do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – Marquês de São Vicente, Fisioterapeuta do Laboratório de Marcha da AACD,
**Professor Adjunto Responsável pelas Disciplinas de Endodontia e Farmacologia do Curso de Odontologia da Universidade de Mogi das Cruzes,
***Fisioterapeuta, Especializanda do Curso de Fisioterapia Motora Ambulatorial e Hospitalar aplicada à Neurologia na Unifesp

Resumo Abstract
É de conhecimento que o acidente vascular encefálico It is known that stroke is one of the most devastating traumas
(AVE) é um dos traumas mais devastadores para a perso- for the personality, that it constitutes a disastrous blow for the
nalidade como um todo, que ele constitui um golpe nefasto person, affecting his activities of daily life (ADV), family and
para a pessoa, afetando diretamente suas atividades de vida friends. The treatment and the adults’ reintegration with cerebral
diária (AVDs), sua família e amigos. O tratamento e a reinte- lesion as a result of a vascular accident constitute one of the most
gração dos adultos com lesão cerebral, sofrida como resultado important and challenging tasks in the field of rehabilitation.
de um acidente vascular, constitui uma das tarefas mais This is not just owed the complexity of the lost functions, but
importantes e desafiadoras no campo da reabilitação. Isso also because the stroke constitutes the most frequent cause of
não é devido apenas a complexidade das funções perdidas, serious inability in our society. The objective of this study was to
mas também porque o AVE constitui a causa mais freqüente verify the influence of the physical therapy treatment in patients’
de incapacidade grave na nossa sociedade. O objetivo deste ADV with chronic sequel of stroke. Were selected 22 outpatients,
estudo foi verificar a influência do tratamento fisioterapêu- 13 male and 9 female, 63 years old, with sequel of stroke , of the
tico nas AVDs dos pacientes com seqüela crônica de AVE. physical therapy clinic UNIP Pompéia – São Paulo. The ADV
Foram selecionados, de maneira retrospectiva, 22 pacientes, patients were evaluated by the Barthel Index previously to the
sendo 13 do sexo masculino e 9 do sexo feminino, com idade treatment. They received three weekly sessions of 50 minutes of
média de 63 anos, com seqüela de AVE há mais de 6 meses, classic physical therapy for 45 days and they were reevaluated. The
tratados na clínica de fisioterapia UNIP Pompéia – São Paulo. physical therapy intervention, when carried through in chronic
Os pacientes foram submetidos à avaliação de suas AVDs patients, comes against acquired biomechanical vices during the
por meio da Escala de Barthel, previamente ao tratamento. installation of motor deficits, what it results in pejorative clinical
Os mesmos receberam três sessões semanais de 50 minutos evolution. New studies are necessary to elucidate the subject.
de fisioterapia clássica durante 45 dias e foram reavaliados. Key-words: Barthel Index, stroke, activities of daily life.
A análise estatística dos dados indicou diferença significante
para a variável evacuação, enquanto que nas demais variáveis
foi registrado um aumento no resultado final, apesar de não
significante estatisticamente. É portanto, possível sugerir que
a intervenção fisioterapêutica, quando realizada em pacientes
crônicos, esbarra em vícios biomecânicos adquiridos ao
longo da instalação dos déficits motores, o que pode dificul-
tar a evolução clínica. Faz-se necessária a realização de outros
estudos para melhor elucidar o assunto.
Palavras-chave: Escala de Barthel, acidente vascular
encefálico, atividades de vida diária.

Artigo recebido em 12 de maio de 2004; aceito 15 de março de 2005


Endereço para correspondência: Tatiana Klotz, Rua Joaquim Antunes 996/12 Pinheiros 05415-001 São Paulo SP, E-mail:
tatiklotz@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 109

Introdução gravidade e altera a superfície de suporte, estabelece-se uma


condição de instabilidade e de desequilíbrio, que interferem
O acidente vascular encefálico é definido como um no desempenho das atividades funcionais e prejudicam a
desenvolvimento súbito de sinais clínicos de perda de execução das tarefas da vida diária [4].
função cerebral focal ou global, documentável e presente Em geral, pacientes que tiveram acidente vascular
por, no mínimo, 48 horas após o episódio agudo, sem outra apresentam dificuldade para realizar as atividades da vida
causa aparente, que não seja infarto cerebral ou hemorragia diária, tornando-se dependentes, em escala correspon-
intracerebral [1]. De acordo com Braga [2], é caracterizado dente à gravidade do acidente.
pela instalação de um déficit neurológico focal, repentino Mayo et al. [6], observando as incapacidades vivenciadas
e não convulsivo determinado por uma lesão cerebral por pacientes durante o primeiro ano pós-AVE, verificaram
secundária à um mecanismo vascular e não traumática. que o pico da recuperação motora ocorria por volta dos 3
As doenças cerebrovasculares são compostas por um meses iniciais, alcançando seu platô de recuperação 6 meses
grupo heterogêneo de transtornos vasculares de diferentes após o AVE. Os autores atribuíram os ganhos adicionais
etiologias. Estimou-se que cerca de 85% dos acidentes após este período a um maior aprendizado e vivência, por
vasculares encefálicos sejam de origem isquêmica e 15%, parte do paciente, de diferentes tarefas.
hemorrágica [3]. Wolfe [7], acompanhando pacientes pós-AVE durante
Segundo Pereira et al. [1], nos pacientes sobreviventes 6 meses, observou uma contínua diminuição das inca-
ao primeiro mês, cerca de 10% têm cura espontânea, 10% pacidades físicas e funcionais durante este período, esti-
ficam severamente incapacitados, com alteração mando que após um ano, cerca de 65% dos pacientes
persistente do estado de consciência e os 80% restantes eram independentes.
ficam com disfunção neurológica, maior ou menor, Na realização desse trabalho científico foi empregado
necessitando de reabilitação para diminuir seu estado de o “Barthel Index”, uma escala desenvolvida por Mahoney
dependência e prevenir complicações. e Barthel, em 1965, destinada a quantificar a indepen-
Um dos comprometimentos motores evidentes na dência funcional de pacientes com necessidade de um
hemiplegia é a tendência em manter-se em uma posição de longo tempo de reabilitação, cuja pontuação, de zero a
assimetria postural, com distribuição de peso menor sobre o cem, indica desde a dependência total até a independência
lado afetado, e conseqüente transferência do peso corporal total, respectivamente.
para o lado oposto. Essa assimetria e a dificuldade em suportar Cabe destacar que a Escala de Barthel tem sido
o peso no lado afetado interferem na capacidade de manter largamente utilizada em pesquisas por constituir-se uma
o controle postural, impedindo a orientação e estabilidade medida criteriosa, capaz de fornecer um perfil válido e
para realizar movimentos com o tronco e membros. Cabe representativo das atividades da vida diária [8-10, 5,11].
ressaltar que a execução das atividades de vida diária, tais Outra descrição relativa ao Índice de Barthel, elaborada
como se vestir, alimentar-se, mudar de posição, andar, sentar, por Wang [10], considera os itens alimentação, asseio,
alcançar objetos, dependem e envolvem esse controle evacuação, micção, toalete, mobilidade, higiene, locomoção
postural. No caso do hemiplégico manter uma atitude em escadas, vestimenta e uso de cadeira/cama como
postural que desloca o plano de distribuição do centro de essenciais à mensuração das atividades básicas da vida diária.
110 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Objetivo sendo os pacientes submetidos a duas sessões semanais de


terapia com 50 minutos de duração cada, num período médio
Esse trabalho visou analisar, por meio do Index de de quarenta e cinco dias. Uma vez finalizado o programa de
Barthel, a evolução clínica dos pacientes que sofreram reabilitação, todos os pacientes foram reavaliados em relação
acidente vascular após aplicação de um programa de ao seu grau de independência funcional nas atividades de vida
reabilitação. diária (AVD’s). Em ambas avaliações foi empregado o “Barthel
Index” ou Escala de Barthel.
Material e métodos As leituras dos dados individuais dos pacientes
avaliados, e respectivos valores dos parâmetros da escala
Foi realizado um levantamento retrospectivo dos de Barthel, foram organizados e registrados em acordo ao
pacientes do setor de fisioterapia adulto da Clínica de Programa GMC (versão 2002) para pesquisa biológica e
Fisioterapia da Universidade Paulista, unidade Pompéia desenvolvido pelo Prof. Dr. Geraldo Maia Campos para
(São Paulo, SP). a respectiva análise estatística, e conseqüente obtenção e
Foram eleitos 22 pacientes, sendo 13 homens e 9 interpretação dos resultados.
mulheres com idade média de 63 anos, todos portadores Uma vez calculados os parâmetros amostrais (médias,
de hemiplegia com histórico de acidente vascular, tanto desvios-padrão da amostras e erros padrão das médias), e
isquêmico como hemorrágico, com mais de seis meses realizados os testes de normalidade, necessários e
do acometimento, e que não apresentaram qualquer outra imprescindíveis para a determinação do teste estatístico
doença decorrente ou antecedente na fase aguda. mais específico, verificou-se que as amostras obtidas em
Esses pacientes selecionados, em tratamento todos itens avaliados não eram paramétricas, isto é,
fisioterapêutico, foram avaliados em relação ao seu grau de apresentaram uma distribuição não normal.
independência funcional nas atividades de vida diária (AVD’s), Diante destes resultados preliminares, empregou-se o
no início de 2002, pelos respectivos estagiários responsáveis. Teste U de Mann-Whitney destinado a comparar duas
O tratamento fisioterapêutico era baseado em amostras não vinculadas, não importando se a distribuição
cinesioterapia clássica no solo, não incluindo técnica específica, dos erros é ou não normal.
Resultados
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 111

Discussão segundo Pereira et al. [1], Cifu e Stewart [12] e Laurito et al.
[9], constantes da revisão da literatura, não foi considerado.
Crescente interesse tem sido focalizado no estudo do Tal decisão destinou-se a limitar o maior número de fatores
Acidente Vascular Encefálico à medida que a sobrevida e capazes de influir nos resultados obtidos pelo Índice de
as seqüelas, em longo prazo, tornam-se mais claras. No Barthel.
entanto, há aproximadamente quinze ou vinte anos, essa A análise estatística dos dados indicou diferença
doença implicava, para a maioria da equipe médica, uma significativa, em nível de 5%, somente em um dos parâmetros
situação altamente desfavorável na qual as saída imediatas avaliados pela Escala de Barthel (evacuação); na realidade,
eram a morte ou a presença de seqüelas severas. Com a tal diferença entre as avaliações iniciais e finais em valores
adequação de métodos de tratamento, estudos dos fatores percentuais correspondeu a 28,03%, constituindo a maior e
de risco e a imediata aplicação de profilaxia, houve melhor mais significativa evolução observada. Por outro lado, a
possibilidade de compreensão e assimilação da doença. diferença entre as avaliações iniciais e finais do parâmetro
Por não estar claramente descrito em pesquisas qual é micção em valores percentuais, de apenas 5,5%, curio-
a evolução dos déficits físicos de pacientes com AVE em samente, foi a segunda menor evolução constatada.
uma fase tardia, questiona-se o que ocorre, em longo prazo, Os demais parâmetros avaliados, também em valores
com os ganhos motores obtidos durante a reabilitação. percentuais, exibiram um incremento na pontuação final
O paciente poderia continuar a ter aquisições funcionais, em relação à inicial em grandezas distintas a saber: ali-
poderia simplesmente manter os ganhos motores já mentação (14,28%); asseio (23,08%); vestir (24,00%);
obtidos ou poderia perder as funções motoras cadeira/cama (12,49%); toalete (15,62%); mobilidade
desenvolvidas, devido à falta de continuidade de um (19,56%); e, escadas (11,53%).
tratamento específico. Talvez, melhoras funcionais O item banho, tanto não apresentou diferença estatística
posteriores a este período seriam decorrentes de uma maior significativa, quanto não registrou diferença em valores
adaptabilidade do paciente às suas tarefas diárias. percentuais, constituindo-se no único parâmetro sem registro
Entretanto, conforme já mencionado, segundo Pereira evolutivo entre as duas avaliações.
et al. [1], Cifu e Stewart [12] e Laurito et al. [9], há a Em relação à pontuação total, a comparação entre as
necessidade de um processo reabilitacional precoce para avaliações iniciais e finais apontou um incremento de 12,77%.
pacientes com seqüelas pós-AVE, já que é sabido que a Pelo exposto, os achados deste trabalho registrados em
recuperação sensório-motora destes pacientes ocorre período médio de 45 dias, além de importantes, confirmam
principalmente em uma fase inicial. De acordo com os estudos indicando como período de recuperação máxima
Pereira et al. [1], a capacidade de recuperação de pacientes
pós-AVE os 6 meses iniciais, com maior ênfase nos primeiros
com AVE é observada quando se institui um tratamento
três meses. Mesmo assim, e por conta dos resultados
precoce e bem especializado.
estatísticos não significativos observados, novas investigações
Pode-se, assim, observar certa concordância, entre os
envolvendo avaliações em intervalos de tempo maiores,
autores, em definir que o período de recuperação máxima
parecem ser plenamente justificáveis.
após-AVE ocorre entre os 6 meses iniciais, com maior
ênfase nos primeiros três meses. Os estudos, de acordo
Conclusão
com Mayo et al. [6], Cifu e Stewart [12], Wolfe [7], Green
et al. [5] e Kwakkel et al. [11], em sua maioria, fazem um
Diante do exposto e dentro das condições estabelecidas
acompanhamento da evolução das incapacidades físicas
para esse experimento, parece lícito concluir que o Índice de
destes pacientes por um período médio de um ano.
Barthel mostrou ser um instrumento importante na avaliação,
No presente estudo buscamos avaliar, pela Escala de
tanto da eficácia do tratamento fisioterapêutico, quanto do
Barthel, o tratamento fisioterapêutico baseado em cinesio-
nível de recuperação de pacientes vitimados por AVE.
terapia clássica, não incluindo técnica específica em dois
Mesmo em períodos médios de 45 dias, o tratamento
períodos distintos, com intervalo médio de quarenta e cinco
fisioterapêutico, baseado em cinesioterapia clássica, refletiu
dias. Ao início e ao final do programa de reabilitação, todos
uma evolução favorável detectada pelo incremento na
os pacientes foram avaliados em relação ao seu grau de
pontuação do Índice de Barthel.
independência funcional nas atividades de vida diária (AVD’s).
Cabe mencionar que alguns dados foram coletados por
Referências
diferentes examinadores nas duas avaliações realizadas, isto
devido a progressão dos alunos nos estágios de aprendizagem 1. Pereira CF, Lemos MM, Benvenuto MC, Fonseca GA.
e a variabilidade dos intervalos entre as avaliações iniciais e Enfoque sobre a pesquisa prospectiva no AVC. Med
finais. Reabil 1993;34:9-13.
Vale destacar, também, que o momento da instituição 2. Braga JL, Alvarenga RM. Acidente vascular cerebral. Rev Bras
do tratamento reabilitador, outra variável importante Med 2003;60(3):88-94.
112 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

3. Raffin CN, et al. Primeiro consenso brasileiro para trombólise 8. Creel GL, Light KE, Thigpen MT. Concurrent and construct
no acidente vascular cerebral isquêmico agudo. Arq validity of scores on the timed movement battery. Phys Ther
Neuropsiquiatr 2002;60:1-12. 2001;81:789-98.
4. Chagas EF, Tavares MCGCF. Simetria e transferência 9. Laurito D, Bustamante M. La eficacia de un programa de
de peso do hemiplégico: relação dessa condição com o rehabilitación en pacientes com accidente cerebrovascular. Salus
desempenho de suas atividades funcionais. Rev Fisioter Militiae 2001;26:85-8.
Univ São Paulo 2001;8:40-50. 10. Wang CH, Hsieh CL, Daí MH, Chen CH, Lai YF. Inter-rater
5. Green J, Forster A, Bogle S, Young J. Physiotherapy for reliability and validity of the stroke rehabilitation assessment of
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a randomised controlled trial. The Lancet 2002;359:199-202. 11. Kwakkel G, Kollen BJ, Wagenaar RC. Long term effects of
6. Mayo NE, Wood-Dauphinee S, Ahmed S, Gordon C, intensity of upper and lower limb training after stroke: a
Higgins J, Mcewen S, Salbech N. Disablement following randomised trial. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2002;7:473-9.
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2000;56:275-86. Arch Phys Med Rehabil 1999;80:35-9. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 113

Artigo original

Prevalência de lombalgia no setor de fisioterapia


do município de Cosmópolis-SP e o papel da fisioterapia
na sua prevenção e recuperação
Low-back pain prevalence in the unit of physical therapy
in Cosmópolis-SP and the role of physical therapy in prevention
and functional recovery

Rosana Macher Teodori, D.Sc.*, Fábio Marcon Alfieri, M.Sc.**, Maria Imaculada de L. Montebello, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta - Docente do programa de mestrado em Fisioterapia FACIS-UNIMEP, **Fisioterapeuta FACIS-UNIMEP,


Docente do curso de Fisioterapia-UNASP, ***Matemática, Docente do programa de mestrado em Fisioterapia FACIS-UNIMEP

Resumo Abstract
A incidência, prevalência e conseqüências da lombalgia The incidence, prevalence and consequences of low back
nos países ocidentais merecem uma abordagem epidemio- pain in the western countries deserve an epidemiological
lógica, pois a lombalgia pode causar limitações funcionais, approach, due to the functional limitations that they
internações, cirurgias, afastamento do trabalho e, muitas promote, such as internments, surgeries, absence of the work
vezes, impossibilidade para a atividade profissional. Esses and, a lot of times, impossibility for the professional activity.
problemas geram ônus ao Estado, às empresas e aos próprios These problems generate obligation to the State, to the companies
trabalhadores, afetando diretamente o aspecto bio-psico- and to the own workers, affecting directly the individual bio-
social do indivíduo. No Setor de Fisioterapia de Cosmópolis- psico-social aspects. In the physical therapy unit of Cosmópolis-
SP, a prevalência de lombalgia no período de março de 2001 SP, the low-back pain prevalence in the period of March/2001 to
a março de 2002 foi de 22,2%, havendo significativa March/2002 was 22.2% in respect to the other diseases that
discrepância em sua distribuição, em relação às outras doen- happened in the same period (p<0.05). In this context, the national
ças que ocorreram no mesmo período (p<0,05). Nesse con- panorama of the alterations that involves the spine (from 2000
texto, discute-se o panorama nacional das alterações que to 2002) is discussed, pondering the responsibilities with hospital
envolvem a coluna vertebral (de 2000 a 2002), no que se refere internments and number of work accidents that lead to the worker’s
aos encargos com internações hospitalares e número de aci- removal. In this study, the feature of physical intervention on
dentes de trabalho, que levam ao afastamento do trabalhador. health promotion, prevention and functional recovery is discussed
Discute-se, também, aspectos da intervenção fisioterapêutica too.
no âmbito da promoção de saúde, prevenção e recuperação Key-words: low-back pain prevalence, spine, postural alteration.
funcional.
Palavras-chave: lombalgia, prevalência, coluna vertebral,
alteração postural.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução A dor na coluna vertebral é a causa músculo-esquelética


mais comum de problemas físicos, sendo que 80% das
A lombalgia é um distúrbio que acomete a população alterações acometem a região lombar [1].
mundial em grande escala e devido à sua incidência, A literatura afirma que 50% a 80% da população em
prevalência e conseqüências, merece ser estudada e tratada geral são acometidos por lombalgia em algum momento
sob o ponto de vista epidemiológico. da vida, constituindo, assim, uma problemática dentro
da saúde pública na sociedade moderna [2,3,4,5].

Artigo recebido em 25 de junho de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Profa. Dra. Rosana Macher Teodori, Rodovia do Açúcar, km 156 Taquaral 13400-911 Piracicaba SP, E-
mail: rteodori@unimep.br
114 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

No Reino Unido, cerca de 6% a 7% da população Dados obtidos do Ministério da Saúde (Tabela I)


procura um médico, pelo menos uma vez ao ano, para a demonstram que, no período de janeiro a setembro de
solução do problema [1]. 2002, a lombalgia, cujos Códigos Internacionais de
A lombalgia representa um grande problema de saúde Doença (CIDs) são: M54-5, M54-4 e M51-1, foi a doença
pública nos países ocidentais, devido à alta prevalência e relacionada à coluna vertebral com maior freqüência de
importantes conseqüências para o indivíduo e para a internação hospitalar, envolvendo um custo de R$
sociedade, como incapacidades e perda de trabalho, alto 9.740.646,40, representando 85,44% de todas as
custo com tratamento, etc. Em um estudo feito na Ho- freqüências e 65,15% dos gastos com internação hospitalar
landa com 22.145 pessoas, metade reportou ter sentido relacionada à coluna vertebral [10].
dor na região lombar no ano anterior à pesquisa, sendo
que 19% relatou dores crônicas [6]. Tabela I – Freqüência e valor em reais destinado à Autorização de
Internação Hospitalar (AIH) diagnóstico principal relacionado à coluna
Nos Estados Unidos, as dores na coluna vertebral
vertebral, de janeiro a setembro/2002.
são a causa mais comum de limitação de atividades em
pessoas com menos de 45 anos; a segunda razão mais CID Alteração Frequência Valor Total
freqüente para consultas médicas; a quinta causa de em Reais
admissão em hospitais e a terceira causa mais comum
M40-0 Cifose postural 1 357,05
de procedimentos cirúrgicos. Anualmente, cerca de 2%
M40-1 Cifose secundária 4 3.532,00
dos trabalhadores são indenizados por injúrias na coluna M40-2 Outras cifoses 2 4.393,79
[7]. Neste mesmo trabalho é relatado que, em 1987, M40-3 Retificação da
na Suécia, 14.8 milhões de dias de trabalho foram coluna vertebral 1 108,07
perdidos devido às limitações causadas pela lombalgia, M40-4 Outras lordoses - -
o que corresponde à cerca de 13,5% de todos os dias M40-5 Lordose não especificada 8 2.574,76
perdidos referentes às doenças em geral. M41-1 Escoliose idiopática juvenil 122 333.317,35
M41-2 Outras escolioses idiopáticas 55 139.692,53
No estado australiano de Victoria, com 4.3 milhões de
M41-5 Outras escolioses secundárias 18 61.657,66
pessoas, o sistema de indenização de trabalhadores gastou M41-8 Outras formas de escoliose 117 295.992,37
no ano financeiro de 1996-1997, $A 385 milhões nas M41-9 Escoliose não especificada 69 134.023,76
reivindicações de indenização para as dores na coluna [8]. M43-0 Espondilólise 6 6.796,46
No Brasil, sabe-se que a situação inspira cuidados, pois M43-1 Espondilolistese 44 106.453,30
a lombalgia é uma das dores mais incidentes, recorrentes M43-5 Outras subluxações
e intensas nas queixas apresentadas pela população em vertebrais recidivantes - -
M43-6 Torcicolo 14 1.808,25
geral; sendo uma das principais causas médicas respon- M47-8 Outras espondiloses
sáveis por abandono de emprego [2]. sem mielo/radiculopatia 54 148.318,88
Diversos autores corroboram com o fato da lombalgia M47-9 Espondilose não especificada 225 714.654,65
ser também um problema de ordem econômica e social M51-1 Transt. de discos lombares
[2,3,4,5]. e outros discos 3.017 4.624.978,54
As estatísticas brasileiras e de outros países mostram M51-2 Outros deslocamentos
que a lombalgia é a causa mais freqüente de decréscimo discais intervertebr. 875 793.018,54
M53-1 Síndrome cérvico-braquial 11 3.294,35
permanente ou temporário da capacidade laboral entre M53-2 Instabilidade
pessoas com idade produtiva [9]. da coluna vertebral 292 1.084.782,72
Este problema traz prejuízos para o Estado, para as M53-8 Outras dorsopatias
empresas e para os próprios indivíduos. O desenrolar do especificadas 43 100.823,60
processo envolve dor, perda de trabalho, redução da M53-9 Dorsopatias não especificadas 40 88.383,90
remuneração, dificuldades para realizar as atividades M54-2 Cervicalgia 292 149.654,88
M54-3 Ciática 1.767 255.352,25
cotidianas, alterações emocionais, entre outros, pois afeta
M54-4 Lumbago com ciática 8.651 2.702.072,00
diretamente os aspectos bio-psico-sociais do indivíduo. M54-5 Dor lombar baixa 18.508 2.413.595,95
Para a empresa, a redução do número de trabalhadores M54-6 Dor na coluna torácica 99 70.931,54
por hora provoca, em médio prazo, grande perda na M54-8 Outra dorsalgia 37 32.432,64
produtividade e qualidade do trabalho. Para o Estado, as M54-9 Dorsalgia não especificada 281 48.374,30
despesas recaem sobre o Instituto Nacional do Seguro M62-4 Contratura do músculo 663 173.472,30
Social (INSS), pois este é quem arca com os custos dos Total 35.316 14.494.848,39
benefícios previdenciários no Brasil e também para o
Fonte: Dados brutos do Ministério da Saúde – Governo Federal.
Ministério da Saúde, responsável pelas despesas que
incluem medicamentos, internações, consultas, cirurgias As doenças que afetam a coluna vertebral represen-
e reabilitação. taram 1,8% de todos os motivos de acidente de trabalho
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 115

no ano de 2000 e 2% no ano de 2001, sendo que destas, as ginástica, natação, dança, balé, atletismo, lutas, basquete, entre
lombalgias correspondem a mais de dois terços, conforme outras e, até mesmo, profissionais que trabalham com saúde,
se observa na Tabela II. como os enfermeiros, que apresentam alta incidência. Este
problema acomete desde crianças até idosos.
Tabela II – Acidentes de trabalho registrados segundo a Classificação Algumas formas de dor lombar são causadas por
Internacional de Doenças CID-10 em 2000 e 2001, relacionados às
anomalia congênita, hemivértebra, afecções traumáticas,
alterações da coluna vertebral.
doenças degenerativas, artrite, ou ainda, por fatores varia-
Total dos, como: estresse, ansiedade, má postura e tensão emo-
CID Especificação 2000 2001 cional. Em indivíduos que apresentam tais precedentes,
a sobrecarga durante atividades funcionais pode desen-
M40-0 Cifose postural 2
cadear episódios de dor aguda, que podem evoluir para
M40-1 Cifose secundária 1
M40-3 Retificação coluna vertebral 1 um quadro crônico com a repetição da atividade.
M40-4 Outras lordoses 1 2 Como se observa pelos dados apresentados, a lombalgia
M40-5 Lordose não especificada 7 atinge grandes proporções em todo o mundo, o que ressalta
M41-9 Escoliose não especificada 2 a importância de um trabalho educativo, com orientações
M43-0 Espondilólise 9 2 sobre as formas mais adequadas para a realização das
M43-1 Espondilolistese 25 31 atividades de vida diária (AVDs), além do tratamento
M43-5 Outras subluxações vertebrais
fisioterapêutico.
recidivantes 3
M43-6 Torcicolo 11 24 Embora a maior parte dos pacientes (cerca de 90%)
M47-8 Outras espondiloses sem tenha evolução satisfatória do quadro clínico, um trata-
mielo/radiculopatia 6 9 mento inadequado pode tornar o caso crônico [9,6]. Talvez
M47-9 Espondilose não especificada 5 14 por isso, a lombalgia seja uma das principais queixas nos
M51-1 Transtornos de discos lombares consultórios clínicos e nos centros de reabilitação.
e outros discos com radiculopatia 18 34 O diagnóstico da lombalgia pode ser obtido através
M51-2 Outros desloc. discais intervert.
especif. 3 15
de exame físico, radiológico, cintilografia óssea, discografia,
M53-1 Síndrome cérvico-braquial 318 295 mielografia, tomografia computadorizada ou ressonância
M53-2 Instabilidade da coluna vertebral 11 16 magnética.
M53-8 Outras dorsopatias especificadas 18 15 Os objetivos do tratamento dependem de vários aspec-
M53-9 Dorsopatias não especificadas 42 41 tos, principalmente da etiologia do problema, porém, de
M54-2 Cervicalgia 578 608 forma geral, incluem alívio de dor, de edema e de pressão
M54-3 Ciática 115 124 contra estruturas nervosas sensíveis à dor (quando for o
M54-4 Lumbago com ciática 1.718 1.730
M54-5 Dor lombar baixa 3.087 3.306
caso), reequilíbrio muscular e orientação sobre as posturas
M54-6 Dor na coluna torácica 149 145 assumidas nas AVDs.
M54-8 Outra dorsalgia 100 111 O tratamento do paciente com lombalgia depende
M54-9 Dorsalgia não especificada 300 288 dos objetivos e proposta de intervenção, traçados indivi-
M62-4 Contratura do músculo 74 82 dualmente, mas, basicamente se orienta repouso, terapia
Demais física (termoterapia, cinesioterapia, massoterapia, mani-
Cids Outras 357.279 332.738
pulações), uso de analgésicos, procedimentos cirúrgicos
Total 363.868 339.645 (em casos decorrentes de problemas mais abrangentes) e
reeducação muscular.
Fonte: Dados brutos do Ministério da Previdência e Assistência
Social – Governo Federal.
Por esses dados, é possível perceber a gravidade do
Obs.: Estão incluídos nesta tabela os segurados de acidente de problema e isso desperta nos profissionais da saúde, espe-
trabalho e não o todo da massa segurada. cialmente nos fisioterapeutas, o interesse pela realização
de intervenções preventivas.
Segundo dados do Ministério da Previdência Social Este artigo tem por objetivo avaliar a prevalência de
[11], apresentados na Tabela II, nos anos de 2000 e 2001 lombalgia em pacientes atendidos pelo Sistema Único de
a dor lombar (CIDs – M54-5, M54-4 e M51-1) foi o Saúde no Setor de Fisioterapia da Secretaria Municipal
principal motivo de acidente de trabalho registrado dentre de Saúde de Cosmópolis-SP e discutir os aspectos da
as doenças que afetam a coluna vertebral dos trabalha- promoção de saúde, prevenção e recuperação funcional.
dores, correspondendo a mais de 73% de todos os acidentes
de trabalho relacionados à coluna vertebral. Materiais e métodos
A lombalgia acomete trabalhadores braçais, donas-de-
casa, executivos, sedentários, indivíduos praticantes de Este estudo retrospectivo foi realizado a partir de dados
atividades físicas das mais diversas modalidades, como registrados no Setor de Fisioterapia do Serviço Municipal
116 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

de Saúde da cidade de Cosmópolis-SP, vinculado ao CERC conforme mostra a Figura 1, e que a freqüência desse
(Centro Especial de Reabilitação de Cosmópolis). diagnóstico na amostra é um dado discrepante em relação
A população em análise foi constituída por 760 aos demais (Figura 2).
usuários registrados no setor de Fisioterapia, no período
de março de 2001 a março de 2002. Os dados foram Figura 1 – Porcentagem de casos registrados no Setor de
Fisioterapia do S.M.S. de Cosmópolis, no período de março de
transcritos das fichas de registro.
2001 a março de 2002, segundo a doença.
Utilizou-se, também, um critério especial para a
seleção das doenças, sendo classificadas apenas aquelas
com freqüência acima de dez casos, no período citado.
Assim, a amostra disponível constitui-se de 545 pacientes.
Para analisar a uniformidade da distribuição de
freqüências do número de casos em cada doença, aplicou-
se o teste de aderência de Qui-Quadrado (c2).

Resultados

Os registros analisados apresentavam dados de


indivíduos com idade entre 19 e 80 anos. Do total de
registros, 121 (22,2 %) correspondiam a lombalgia,
havendo um predomínio deste tipo de alteração em
indivíduos com idade entre 31 e 50 anos (58,67%). Quanto
à distribuição por sexo, 57,02% eram do sexo feminino e
42,98%, do sexo masculino. Os dados referentes à
ocupação dos indivíduos estão explícitos na Tabela III.
Tabela III – Distribuição dos casos de lombalgia no setor de Figura 2 – Discrepância do número de casos.
Fisioterapia da SMS de Cosmópolis (março 2001 a março 2002),
segundo o sexo e a ocupação.

Ocupação sexo Nº de indivíduos

Do lar F 61
Motorista M 9
Pedreiro M 6
Doméstica F 3
Soldador M 3
Lavrador M 2
Carpinteiro M 3
Cabeleireiro M 2
Serviços gerais M 5
Segurança M 5
Revisora têxtil F 2
Costureira F 2
Mecânico M 4 Discussão
Atendente F 1
Carregador M 5 Como pôde ser constatado neste estudo, a alta signi-
Encanador M 2 ficância da lombalgia em relação às outras doenças é algo
Aposentado M 6
que merece atenção, pois envolve várias questões de solu-
Total 121 ção complexa.
A lombalgia envolve aspectos sócio-econômicos, uma
Conforme mostra a Figura 1, a lombalgia representou vez que a receita familiar diminui cerca de 65% depois de
praticamente o dobro dos casos que aparecem a partir do um episódio de dor crônica [12]. Outras questões como
segundo lugar, como dor no ombro, instabilidade no joe- aposentadoria precoce, por invalidez, absenteísmo no
lho ou cervicalgia. trabalho, problemas psicológicos, encargos ao INSS, des-
Observa-se, no presente estudo, que a não unifor- pesas para empresas e incapacidades do próprio indivíduo
midade na distribuição do número de casos das diferentes acometido por lombalgia, são fatores relevantes no con-
doenças é estatisticamente significativa (p < 0,05), texto da doença.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 117

A lombalgia atinge vários segmentos da sociedade Para avaliar os efeitos de dois tipos de tratamento para
(governo, empresas e o próprio trabalhador), que a partir lombalgia, Moffett et al. [15] acompanharam um grupo
do início da dor passa a apresentar incapacidade para o controle (que permaneceu apenas sob cuidados médicos)
trabalho. Ao procurar o médico da empresa, é e um grupo que realizou exercícios de fortalecimento,
encaminhado ao INSS e, após tratamento e aprovação alongamento e aeróbios durante 4 semanas. Eles
pela perícia, recebe alta, voltando ao trabalho. Esse pro- demonstraram que o grupo que realizou programa de
cesso é moroso e o paciente permanece afastado nesse exercícios apresentou maior efetividade clínica, menores
período. Se não receber o tratamento adequado, o traba- custos e maior preferência dos pacientes, quando
lhador volta a exercer sua função até que reaparece a dor comparado ao grupo controle.
ou doença, trazendo como conseqüência, novamente, a O resultado da avaliação de um grupo de indivíduos
incapacidade para o trabalho. que recebeu terapia manual como forma de tratamento
A implantação de políticas de administração mais da lombalgia crônica e outro que recebeu exercício
adequadas, tanto do governo quanto das empresas, que terapêutico, demonstrou que houve melhora significativa
devem considerar que o trabalhador não é um mero exe- em ambos os grupos, porém, 67% dos pacientes do grupo
cutor de tarefas, mas parte fundamental no processo de de terapia manual retornaram para o trabalho, enquanto
desenvolvimento de uma empresa, poderia contribuir para essa porcentagem para o grupo de exercícios terapêuticos
a solução deste problema. foi de 27% (p < 0,01) [16].
A fisioterapia, enquanto profissão da área da saúde, Uma técnica que tem sido bastante utilizada é a de
tem muito a contribuir nesta problemática. Não há dúvida inativação de pontos-gatilho miofasciais para tratar
que na fase de reabilitação, quando a dor já está instalada, pacientes com lombalgia crônica, demonstrando
a atuação fisioterapêutica – que em um primeiro momento resultados estatisticamente significantes quanto à redução
visa a eliminação da dor – é imprescindível. na intensidade da dor e aumento do limiar de tolerância
Diversas formas de tratamento são utilizadas nas à pressão. A inativação dos pontos-gatilho é uma
diferentes fases da lombalgia. Um estudo que comparou modalidade terapêutica eficaz para o tratamento da
a eficácia do tratamento da lombalgia aguda, utilizando lombalgia crônica [17].
eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS) associada Para as alterações instaladas, prioriza-se, atualmente, a
ao ultra-som pulsátil e o método Maitland, verificou que recuperação funcional à mera redução ou eliminação da
os dois tratamentos foram eficazes quando se comparou dor [18].
dor e ganho de amplitude de movimento, antes e após o Clinicamente, uma agressão à coluna vertebral envolve
tratamento, porém, os pacientes submetidos ao tratamen- alteração das aferências locais e, conseqüentemente, um
to pela técnica de mobilização vertebral tiveram alívio prejuízo do controle preciso do sistema nervoso sobre os
de dor e ganho de amplitude de movimento mais precoce músculos daquela região. Deve-se considerar, ainda, a presença
que os sujeitos submetidos ao tratamento com TENS [2]. de dor, que limita o movimento e desencadeia uma postura
Outro estudo comparou a efetividade de quatro tipos antálgica. Os músculos passam a contrair em comprimento
de tratamento para lombalgia sub-aguda: massagem anormal, alongados ou encurtados em decorrência dessa
compressiva terapêutica, manipulação suave dos tecidos, postura. Isso propicia um feedback proprioceptivo anormal
exercícios de educação postural e uso placebo de laser, em sobre a nova postura e o novo movimento, a partir da agressão.
6 sessões de fisioterapia, durante 1 mês. O grupo tratado Com a repetição dos movimentos anormais, as aferências
com massagem terapêutica compressiva obteve diferenças anormais são reforçadas e o sistema nervoso assimila e aceita
estatisticamente significantes no que se refere à diminuição a nova postura e o novo movimento.
da intensidade e qualidade de dor comparado aos outros Assim, nos casos em que a intervenção corretiva é
grupos, demonstrando ser esta, uma importante forma de necessária, ressalta-se a importância da reeducação postural,
tratamento nos casos de lombalgia sub-aguda [13]. buscando o reequilíbrio muscular, possibilitando a postura
Visando avaliar a eficácia de três tipos de atividades livre de dor que, a partir de inputs sensoriais, especialmente
terapêuticas para pacientes portadores de lombalgia proprioceptivos, reorganiza as respostas motoras que
crônica, foram divididos 148 indivíduos em três grupos permitem o estabelecimento da postura correta. Na ausência
de tratamento: fisioterapia ativa, recondicionamento da dor, os músculos terão tônus mais normal, as amplitudes
muscular através de treino em aparelhos e exercícios aeró- de movimento articulares estarão aumentadas, e as
bios de baixo impacto. Ao final do tratamento, que teve habilidades funcionais estarão facilitadas. A partir do
duração de 3 meses com 2 sessões semanais, todos os reequilíbrio muscular, o movimento normal deve ser
grupos apresentaram redução similar na freqüência e continuamente repetido até que, pela recuperação do feedback
intensidade da dor. Ressalta-se a importância de programas proprioceptivo, seja incorporado à postura normal. Com
de exercícios, o que pode reduzir os elevados custos esta conduta no processo de reabilitação, a reintegração do
associados ao tratamento [14]. paciente à sua atividade profissional, associada à orientação
118 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

para as AVDs e adequação ergonômica do ambiente de trabalho, Referências


seria uma conseqüência natural, com menores riscos de novos
períodos de afastamento do trabalho. 1. Wing P. Rheumatology: 13 - minimizing disability in patients
A reeducação deve ser acompanhada por medidas with low-back pain. CMAJ 2001;164(10):1459-68.
preventivas. No entanto, se a preocupação com a preven- 2. Calonego CA, Rebelatto JR. Comparação entre a
ção for uma rotina no cotidiano do trabalhador, não é aplicação do método Maitland e da terapia convencional
no tratamento de lombalgia aguda. Rev Bras Fisioter
necessário experimentar a dor e a limitação funcional
2002;6(2):97-104.
que interferem tão significativamente com a capacidade
3. Delisa JA. Reabilitação do paciente com dor na coluna
para o trabalho. vertebral. In: Tratado de medicina de reabilitação. 3a ed.
Atualmente, a Fisioterapia apresenta propostas vol- São Paulo: Manole; 2002. p.1495-521.
tadas à promoção da saúde e prevenção, direcionadas à 4. Knoplick J. Importância da dor nas costas na clínica
atividade específica de cada trabalhador, envolvendo pro- médica e na indústria.
jetos de ergonomia, realização de ginástica laboral e pro- 5. In: Enfermidade da Coluna Vertebral. São Paulo:
gramas de educação em saúde, que visam orientar cuidados Panamed; 1986. p.30-5.
posturais gerais e no trabalho, exercícios de relaxamento 6. Mounce K. Back pain. Rheumatology 2002;41:1-5.
e posturas mais adequadas para realização das AVDs. É 7. Picavet H, Schouten J. Physical load in daily life and low
evidente que a prevenção se caracteriza como o caminho back problems
ideal para combater o problema. 8. in the general population – the MOGEN study. Prev Med
Nos EUA essa conduta é adotada e, a cada US$ 1,00 2000;31:506-12.
9. Andersson G. Epidemiological features of chronic low-
investido em prevenção, economiza-se de US$ 3,00 a US$
back pain. Lancet 1999;354:581-5.
6,00 em tratamento [12]. No Brasil, apesar dos esforços
10. Buchbinder R, Jolley D, Wyatt M. Population based
do Ministério da Saúde, que nos últimos anos tem destinado intervention to change back pain beliefs and disability:
maiores recursos para assistência à saúde em geral, ainda é three part evaluation. BMJ 2001;332:1511-6.
necessário enfatizar a promoção e a prevenção. Isso poderia 11. De Vitta A. A lombalgia e suas relações com o tipo de
contribuir para a diminuição da incidência e prevalência ocupação, com a idade e o sexo. Rev Bras Fisioter
de lombalgia, entre outras doenças ocupacionais que 1996;1(2):67-72.
incapacitam os indivíduos para o trabalho e causam sérios 12. AIH com diagnóstico principal dos CIDs selecionados.
prejuízos econômico-sociais, além de contribuir para a [citado 2003 mar 03]. Disponível em: URL: http://
diminuição dos encargos do empregador e do Estado. www.datasus.gov.br
Seria ideal uma parceria entre o governo e as empresas, 13. Melo LE. Acidentes de trabalho registrados segundo a
no sentido de promover melhores condições aos traba- classificação de CID-10 relacionados à coluna vertebral -
lhadores, envolvendo a atuação mais efetiva de profis- ano 2000 e 2001. 12/dez./2002. comunicação pessoal.
14. Figueiró JA. In: Ministério da Saúde analisa programa de
sionais da saúde no ambiente de trabalho, a fim de
atenção à dor. [citado 2002 jul 17]. Disponível em: URL: http:/
concretizar a promoção de saúde, bem como a prevenção /www.radiobras.gov.br/ct/2001/materia_1611011.htm
de tais doenças, refletindo na melhora da qualidade de 15. Preyde M. Effectiveness of massage therapy for subacute
vida dos trabalhadores. low-bak pain: a randomized controlled trial. CMJA
2000;13:1815-20.
Conclusão 16. Mannion AF, Muntener M, Taimela S, Dvorak J.
Comparisson of stress activity therapies for chronic low
Considerando as limitações provocadas pela lombalgia, back pain: results of a randomized clinical trial with one-
tanto para o paciente quanto para a empresa e sistema de year follow-up. Rheumatology 2001;40:772-8.
saúde, torna-se importante a realização de ações voltadas à 17. Mofett JK, Torgerson D, Bell-Syer S, Jackson D, Llewlyn-
conscientização do problema, bem como propostas de Phillips H, Farrin A, Barber J. Randomized controlled
trial of exercise for low back pain clinical outcomes, cost
prevenção que permitam a preservação da saúde. A
and preferences. BMJ 1999;319:279-83.
Fisioterapia pode contribuir de forma efetiva, não apenas 18. Aure FO, Nilsen HJ, Vasseljen O. Manual therapy and
no processo de reabilitação, mas também no aspecto exercise therapy in patients with chronic low back pain:
preventivo, atuando na educação em saúde e possibilitando a randomized, controlled trial with 1-year follow-up. Spine
melhora da qualidade de vida dos indivíduos. 2003;28(6):525-31.
19. Lima ICM et al. Tratamento da lombalgia crônica pela
Agradecimento inativação de pontos-gatilho miofasciais. Acta Fisiátrica
1999;6(1):10-3.
Ao Prof. Dr. Barjas Negri, pela orientação na obtenção 20. Cailliet R. Dor Lombar. In: Doenças dos tecidos moles.
dos dados junto aos Ministérios da Saúde e da Previdência Porto Alegre: Artmed; 2000. p. 117-76. 
e Assistência Social, bem como pelo auxílio na análise e
interpretação desses dados.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 119

Artigo original

Lesão raquimedular: uso da piscina terapêutica


para minimizar a espasticidade
Spinal cord injury: the use of swimming-pool therapy
to minimize the spasticity

Guilherme Carlos Brech*, Adriano Borges Amaral**, Ana Paula Restiffe, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Mestrando em Ciências, área de concentração em Ortopedia e Traumatologia da FMUSP, **Co-orientador da Monografia e
Fisioterapeuta responsável pela Fundação Selma Reabilitação Física e Social-SP, ***Orientadora da Monografia, Doutoranda em Ciências,
área de concentração em Neurologia da FMUSP. Este trabalho faz parte da Monografia de conclusão do Curso de Fisioterapia – Instituto de
Ciências da Saúde, Universidade Paulista-Bacelar/SP, 2002.

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi avaliar e verificar a alteração The purpose of this work was to assess and verify the qualitative
qualitativa e quantitativa do tônus muscular, de membros infe- and quantitative muscle tone alteration of spinal cord injured
riores de pacientes com seqüelas de lesão medular, por meio de people’s lower limbs by using a questionnaire and three assessement
um questionário e de três testes de avaliação (Escala de Ashworth tools (Modifyied Ashworth Scale; Goniometric and the fast and
Modificada; Goniometria e Teste de Abdução Brusca e Lenta), slow movements of Abduction Tests), which were performed
realizados antes e após de uma única sessão de hidroterapia. Foram before and after only one Hydrotherapy session. Five patients with
selecionados cinco pacientes da Fundação Selma Reabilitação Física spinal cord injury above the 12th thoracic level (T12) from Fundação
e Social, com lesão acima da décima segunda vértebra torácica, os Selma had been selected and been submited to the same set protocol.
quais foram submetidos ao protocolo de hidroterapia estabelecido. Nearly 50% of lower limbs’ muscle groups assessed by Modifyied
Aproximadamente 50% dos grupos musculares dos membros Ashworth Scale had shown statistical difference (hip flexors and
inferiores, avaliados pela escala de Ashworth Modificada, abductors and ankle dorsoflexors). It was also found statistical
apresentaram alterações de espasticidade estatisticamente signi- difference in the fast and slow movements of Abduction Tests.
ficantes (flexores e abdutores de quadril; dorsiflexores de The goniometric quantitative assessment was found statistical
tornozelo). Observou-se, também, uma diferença estatisticamente difference in one-sided knee for the flex movement and in both
significante nos testes de abdução lenta e brusca de quadril. Na sided ankle dorsoflexors. Although the sample size was small,
avaliação quantitativa por meio da goniometria, observou-se uma there was statistical difference suggesting that the hydrotherapy can
diferença estatística significativa da terapia, de forma unilateral em be beneficial to minimize the spasticity in spinal cord injured above
joelho, para os movimentos de flexão e, em tornozelo, para os T12.
movimentos de dorsiflexão. Embora o tamanho da amostra tenha Key-words: spinal cord injuries, muscle spasticity, hydrotherapy,
sido pequeno, houve diferença, estatisticamente significativa, nas rehabilitation.
três avaliações realizadas pós-tratamento, sugerindo que a
hidroterapia pode ser benéfica em minimizar a espasticidade, em
pacientes portadores de lesão raquimedular acima do décimo
segundo segmento torácico.
Palavras-chave: traumatismos da medula espinhal,
espasticidade muscular, hidroterapia, reabilitação.

Artigo recebido em 8 de julho de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Guilherme C. Brech Rua Ministro Roberto Cardoso Alves, 1101 casa 05, 04737-001 São Paulo SP, Tel:
(11) 5686-0031, E-mail: guilhermebrech@yahoo.com.br
120 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Introdução e comprovado cientificamente, para ser indicado pelo meio


médico [4,10].
A lesão medular ocorre por um processo traumático A respeito da utilização do recurso de piscina
ou não-traumático que acomete a medula espinhal, terapêutica, inclusive em lesão medular, podem ser citados
levando a alterações sensitivas, autonômicas, viscerais, dois artigos de Pagliaro e Zamparo, cuja proposta foi avaliar
reflexas e motoras. A paraplegia ou tetraplegia, decorrente os benefícios da hidroterapia na redução da espasticidade
da lesão medular, constitui uma grave seqüela que de membros inferiores em pacientes com seqüelas
acarreta profundas modificações na vida de seus neurológicas. Os resultados indicam que a utilização da
portadores. As principais causas de acometimento do hidroterapia por duas semanas aumentou,
trauma raquimedular e suas seqüelas são: 50%, por significativamente, a velocidade da deambulação dos
projéteis de ar ma de fogo; 35%, por acidentes indivíduos afetados por paresia espástica estacionária. Além
automobilísticos; 10%, por mergulho e 5%, por queda disso, houve uma diminuição do gasto energético, durante
de altura; atingindo, predominantemente, indivíduos de a execução dessa atividade [18-19].
18 a 25 anos. Nos Estados Unidos, aproximadamente 40 O objetivo deste trabalho foi verificar se, após a realização
a 50 pessoas em cada um milhão apresentam seqüelas de de uma única sessão de piscina terapêutica, haveria alteração
traumas raquimedulares [1-6]. quantitativa e qualitativa da espasticidade de membros
A lesão medular pode ser completa ou incompleta. Na inferiores, em pacientes com lesão medular, utilizando como
lesão completa, ocorre secção total da medula, enquanto meios de avaliação: Escala de Ashworth [4,20], Goniometria
na incompleta, a secção é parcial. Em ambos os tipos de [21-22], Abdução Brusca e Lenta [23] e um questionário.
lesão, há o choque medular, com diminuição dos reflexos
medulares localizados abaixo da lesão. Essa supressão reflexa Material e métodos
pode levar dias a meses; outras vezes, os reflexos tornam-
se hiperativos, caracterizando-se por hiperreflexia, Esta pesquisa, na qual a espasticidade dos membros
hipertonia e clônus, cujos sinais caracterizam a espasticidade inferiores de pacientes lesados na medula foi avaliada
[3,7-8]. qualitativa e quantitativamente, teve caráter clínico e
A espasticidade e os espasmos musculares constituem transversal.
duas das mais graves seqüelas da lesão do sistema nervoso O experimento foi realizado com cinco pacientes
central (SNC), que pode levar à incapacidade funcional lesados medulares, de ambos os sexos (3 masculinos e 2
dos pacientes ou tornar-se um sério e debilitante problema, femininos), que realizaram tratamento em piscina tera-
tanto para os pacientes, como para os terapeutas, já que pêutica, no período de abril a junho de 2002, na Fundação
dificulta a realização de movimentos [9-12]. Selma Reabilitação Física e Social, na cidade de São Paulo.
Não existe um tratamento que ofereça, no caso da Foram excluídos os pacientes que tiveram lesão
espasticidade, total reabilitação para o paciente, e sim, medular abaixo do décimo segundo segmento torácico
paliativos que possam diminuir as incapacidades geradas por (T12); apresentaram um quadro de hipotonia; não reali-
esta seqüela. Entre os diversos recursos fisioterapêuticos zaram tratamento nessa instituição no período determi-
utilizados para adequação de tônus em pacientes com lesão nado; que não tiveram disponibilidade de horário; e que
medular, estão: eletroterapia, crioterapia, cinesioterapia e apresentaram alteração cognitiva. Todos os pacientes acei-
piscina terapêutica [3,9,13-14]. taram, voluntariamente, participar do estudo, após este
A piscina terapêutica é um recurso que propicia, ao ter sido aprovado pela equipe médica e fisioterapêutica
paciente, uma combinação de efeitos fisiológicos e da instituição supracitada.
terapêuticos derivados da imersão, da ausência da gravi- O Termo de Consentimento Livre Esclarecido foi
dade, do calor da água aquecida e dos exercícios realizados, obtido no dia em que o pesquisador realizou a sessão
promovendo uma adequação do tônus e uma facilitação de hidroterapia. Foram realizados um questionário e uma
do movimento voluntário [12,15-17]. avaliação antes, e outra avaliação posteriormente à
Embora o tratamento em água aquecida (hidroterapia) sessão de hidroterapia. O questionário teve como
seja tão antigo quanto a história da humanidade, sua objetivo levantar dados sobre sexo, idade, tempo de lesão,
utilização oscilou no decorrer dos anos. No século XX, etiologia, altura da lesão, terapias realizadas antes das
mais especificamente após a Primeira Guerra Mundial, a avaliações e da sessão de hidroterapia, e, posterior-
hidroterapia foi introduzida no programa de reabilitação mente, foi complementado com dados coletados dos
no tratamento de poliomielite. A partir de 1980, apesar prontuários da Fundação Selma. Além disso, perguntou-
desse recurso estar sendo utilizado de forma mais siste- se ao paciente se tomava alguma medicação para
mática e técnica, ainda existe uma grande escassez de redução da espasticidade; qual período do dia em que
estudos científicos, o que dificulta a confrontação dos havia um aumento da espasticidade; e quais sintomas
resultados, a aceitação desse recurso com método eficiente, que o precediam.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 121

A avaliação, realizada antes e depois da sessão de Tabela II – Caracterização geral dos pacientes.
hidroterapia, consistia em utilizar a Escala de Ashworth
Modificada, Goniometria e o Teste de Abdução Brusca e N° Idade Sexo Lesão Etiologia Altura
(anos) (anos)
Lenta nos membros inferiores dos pacientes. Após a sessão
de hidroterapia (30 min), a mesma avaliação era realizada, a 1 47 M 5 acidente auto T3
fim de comparar os efeitos do tratamento. A sessão de 2 25 M 4 mergulho C5
hidroterapia era, predominantemente, constituída por 3 24 F 1 FAF T1
exercícios de alongamento passivos e exercícios para 4 58 M 7 queda T1-C7
adequação do tônus muscular (Tabela I). 5 23 F 16 atropelamento T8

Tabela I – Protocolo da sessão de hidroterapia realizada com os FAF= ferimento por arma de fogo
pacientes, por aproximadamente 30 minutos. A partir das respostas obtidas por meio do questio-
nário, apenas dois indivíduos realizaram tratamento
Seqüência Descrição dos exercícios
fisioterapêutico em solo, antes da coleta de dados. Este
1 Mobilização passiva: 10 vezes, movimentos tratamento era caracterizado por cinesioterapia tradicional
de rotação interna e externa individualmente e/ou pelo ortostatismo. Com exceção de um paciente,
com cada membro inferior e, depois mais 10 todos os outros faziam uso de algum medicamento para
vezes, com os dois membros simultaneamente
redução da espasticidade.
(sanfona rotativa). A cabeça do paciente fica
apoiada sobre o braço do terapeuta;
Foi constatado que 60% (n = 3) dos pacientes tinham
2 Movimentos de serpenteio ou algas, com a uma percepção de aumento da espasticidade pelo período
cabeça apoiada sobre o ombro do terapeuta e da manhã, fato que pode estar relacionado ao aumento
as mãos do terapeuta apoiadas uma em cada dos impulsos aferentes do fuso muscular, após um logo
lado da caixa torácica realizando movimentos período de inativação [24-25]. Já 40% afirmaram que, ao
em direção opostas, 10 vezes para cada lado; realizarem a atividade de transferência de sua cadeira de
3 Mobilização ativa: com apoio cervical e
rodas para qualquer outro assento, observaram um
espaguete no quadril (e onde mais necessário),
foi realizada abdução ativa dos membros
aumento da espasticidade em membros inferiores. Talvez,
inferiores, 10 vezes com cada membro; isso seja devido ao fato do fuso muscular estar acomodado
4 Alongamento passivo de região posterior de e, ao serem realizadas as transferências, eles tornam-se
coxa e adutores de quadril por 25 segundos ativados [26]. A maioria (60%) relatou a presença de algum
em cada posição, 5 vezes; fator desencadeante para o aumento da espasticidade,
5 Paciente sentado no degrau da piscina será como infecção urinária, ossificação heterotópica e emissão
induzido a realizar descarga de peso sobre os de ruído sonoro elevado (como bater porta, grito) [27].
membros inferiores separadamente, com as
Além disso, três indivíduos (60%) relataram que a
mãos posicionadas sobre o ombro do
terapeuta. Se possível realizar o mesmo percepção do aumento da espasticidade era sentida por
procedimento com os dois membros ao meio das contrações abdominais.
mesmo tempo, por 10 vezes, permanecendo A Tabela III mostra que, em alguns grupos musculares,
30 segundos cada vez. a avaliação qualitativa, segundo a Escala de Ashworth
Modificada, anterior ao tratamento de hidroterapia, foi
próxima de zero, o que indica a impossibilidade de alterar
Análise estatística a espasticidade em grupos musculares com tônus normal
(Ashworth = 0).
A eficácia do tratamento foi avaliada pelo Teste-t para Os resultados das medidas avaliadas por meio da
dados pareados. O nível de confiança adotado foi de 95% Ashworth Modificada (Ashw) e da Goniometria (ADM)
(portanto, a = 0,05) e a formulação escolhida foi de teste para os movimentos de flexão de quadril foram
unicaudal, uma vez que o tratamento aplicado não estatisticamente significativos, somente em membro
produziu efeitos negativos no paciente. Em virtude do inferior esquerdo. As medidas Ashworth Modificada para
número de pacientes observados (n) ser relativamente o movimento de abdução de quadril foram estatis-
baixo, a não rejeição da hipótese nula não deve ser vista ticamente significantes, também, somente no membro
como um posicionamento definitivo. inferior esquerdo, entretanto, ao avaliar as medidas
goniométricas deste movimento e a distância inter-
Resultados e discussão condilar medial dos joelhos no Teste de Abdução Lenta
e Brusca, ambos os membros inferiores apresentaram
A idade dos pacientes variou entre 23 a 58 anos, com diferenças estatisticamente significativas. As Figuras 1 e
idade média de 35 anos. O tempo de lesão variou de 1 a 2 ilustram a diferença encontrada no Teste de Abdução
16 anos, com tempo médio de 7 anos (Tabela II). Brusca e Lenta. As medidas goniométricas e de Ashworth
122 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Modificada para os movimentos de adução do quadril explicada pelo fato de que o fator limitante não era a
(direito e esquerdo) não apresentaram diferença estatística espasticidade, e sim, o encurtamento muscular ou a
significativa, fato que pode ser justificado pelos músculos deformidade ósteo-articular (Tabela III).
abdutores de membros inferiores não apresentarem
espasticidade, ou pelo número da amostra ter sido muito Figura 1 – Distância entre os côndilos mediais realizadas com uma fita
métrica no Teste de Abdução Brusca de Quadril.
pequena, não possibilitando a verificação da diferença
estatística (Tabela III).
Tabela III – Médias das avaliações realizadas antes e depois da
terapia e o nível de significância (p < 0,05).

Parâmetro avaliado Valor - p Média Média


Antes Depois

Ashw D/ flexão quadril 0,071 2,4 1,4


Ashw E/ flexão quadril 0,045* 2,4 1,4
ADM D/ flexão quadril 0,187 107 109
ADM E/ flexão quadril 0,016* 104 110
Ashw D/ abdução quadril 0,250 2 1,4
Ashw E/ abdução quadril 0,049* 1,8 1
Dist IC Brusco 0,016* 34 39,6 Figura 2 – Distância entre os côndilos mediais realizadas com uma fita
Dist IC Lento 0,014* 46 50,2 métrica no Teste de Abdução Lenta de Quadril.
ADM D/ abdução quadril 0,011* 19 29
ADM E/ abdução quadril 0,005* 22 34
Ashw D/ adução quadril 0,187 0,6 0,2
Ashw E/ adução quadril 0,187 0,6 0,2
ADM D, adução quadril 0,238 9 11
ADM E, adução quadril 0,089 7 9
ADM D, flexão joelho 0,016* 132 138
ADM E, flexão joelho 0,104 134 137
Ashw D, dorsiflexão 0,045* 2,6 1,6
Ashw E, dorsiflexão 0,049* 2,6 1,8
ADM D, dorsiflexão 0,071 10 15
ADM E, dorsiflexão 0,089 9 11
Ashw D, flexão plantar 0,186 0,2 0
Ashw E, flexão plantar 0,186 0,2 0 Os efeitos não uniformes do tratamento da hidroterapia,
ADM D, flexão plantar 0,045* 35 40 em ambos os membros (direito e esquerdo), também foram
ADM E, flexão plantar 0,089 40 42 relatados por Pagliaro e Zamparo [19]. Estes autores utilizaram
* = significante (p< 0,05)
uma amostra composta por 26 indivíduos com paresia
Ashw= Escala de Ashworth Modificada; ADM= Amplitude de espástica não evolutiva (6 com hemiplegia; 13 lesados
Movimento (goniometria); medulares e 7 com esclerose múltipla) para avaliar
Dist IC= Distância Inter Condilar; E= Esquerdo; D= Direito. quantitativamente o reflexo miotático, ou seja, a hiper-
As medidas goniométricas no movimento de flexão reflexia, antes e após o tratamento de hidroterapia. Ao
dos joelhos apresentaram diferença estatística significativa analisar os efeitos do tratamento, considerando o grupo
somente em membro inferior direito. como um todo, independentemente da doença, houve uma
As medidas de Ashworth Modificada para os movi- redução da hiperreflexia (efeito positivo) em um dos
mentos de dorsiflexão de ambos os tornozelos apresen- membros, em 7 pacientes; e em ambos os membros, em 3
taram diferença estatisticamente significativa, entretanto, sujeitos. Entretanto, houve um aumento da hiperreflexia
não houve diferença significativa para as medidas (efeito negativo) unilateral em 7 indivíduos, em 10,
goniométricas deste movimento, bilateralmente. Já nas bilateralmente, e em 6 indivíduos, não foi encontrada
avaliações goniométricas da flexão plantar, houve dife- diferença estatística em nenhum dos membros inferiores.
rença estatisticamente significativa somente em torno- Ainda neste estudo, não foram encontradas diferenças
zelo direito. Nas medidas goniométricas de tornozelo, significativas no reflexo miotático, após o tratamento de
houve pacientes, cujas deformidades ósteo-musculares em hidroterapia, ao analisar, separadamente, os quatro grupos
flexão plantar (eqüinismo) impediram o posicionamento de indivíduos, segundo as doenças (hemiparesia, paraplegia,
neutro da articulação (grau 0°) para realização da dorsi- tetraplegia e esclerose múltipla).
flexão. A impossibilidade de detectar alterações na ampli- Embora a metodologia de um outro estudo realizado
tude de movimento articular nos tornozelos pode ser pelos autores supracitados tenha sido distinta do nosso,
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 123

observou-se que o tratamento de hidroterapia foi eficiente 8. Schneider FJ. Lesão medular traumática. In: Umphred DA.
ao diminuir o consumo de oxigênio, durante a marcha Fisioterapia neurológica. 2a ed. São Paulo: Manole; 1994. p.421-81.
de indivíduos com espasticidade não evolutiva (hemiplegia, 9. Casalis MEP. Espasticidade: cinesioterapia e terapia
lesados medulares e esclerose múltipla), após duas semanas medicamentosa. Med Reabil 1997;45:15-8.
10. Lopes PG, Sahuquillo JB, Garcia ER. Baclofen intrarraquiano
de hidroterapia. Isto é, houve uma melhora do padrão de
no tratamento da espasticidade grave e do espasmo muscular.
marcha nestes indivíduos, principalmente, quando esta era Arq Bras Neurocirurg 1994;13:163-7.
realizada com uma velocidade de progressão lenta [18]. 11. Pribe MM, Sherwood AM, Thornby JI, Kharas NF, Markowski J.
Há, certamente, uma grande escassez de estudos Clinical assessment of spasticity in spinal cord injury: a
científicos sobre os efeitos do tratamento de hidroterapia, multidimentional problem. Arch Phys Med Rehabil 1996;77:713-6.
em pacientes com espasticidade, mas estes poucos sugerem 12. Skinner JB, Thomson AM. Duffield: exercícios na água. 3a ed.
que as propriedades físicas da água, como a força do empuxo, São Paulo: Manole; 1985.
ausência da ação da gravidade, a temperatura e os 13. Casalis MEP. Reabilitação/Espasticidade. Rio de Janeiro:
movimentos ativos e passivos realizados nela, podem ser Atheneu, 1990.
14. Rodrigues EM, Guimarães CM. Manual de recursos
eficientes para a redução da espasticidade em pacientes com
fisioterapêuticos. Rio Janeiro: Revinter; 1998.
lesão raquimedular. 15. Becker BE. Propriedades físicas da água. In: Ruotti, RG, Morris
DM, Cole AJ. Reabilitação aquática. São Paulo: Manole; 2000.
Conclusão p.17-26.
16. Israel VL. Hidroterapia: Tratamento do lesado medular em
A partir das análises estatísticas dos resultados encon- piscina terapêutica. Fisioter Mov 1990;2:39-43.
trados, há indícios de que a hidroterapia pode ser benéfica 17. Hall J, Bisson D, O‘Hare P. The physiology of immersion.
para pacientes portadores de lesão medular, acima do déci- Physiother 1990;9:517-52.
mo segundo segmento torácico, uma vez que este recurso 18. Zamparo P, Pagliaro P. The energy cost of level walking before
pode alterar o tônus muscular desses pacientes. Há, ainda, a and after hydro-kinesitherapy in patients with spastic paresis.
Scand J Med Sci Sports 1998;8:222-8.
necessidade de realizar um ensaio clínico com uma
19. Pagliaro P, Zamparo P. Quantitative evaluation of the strech
amostragem maior e mais homogênea, para quantificar os reflex before and after hydro kinesy therapy in pacientes affected
efeitos da hidroterapia em membros inferiores acometidos by spastic paresis. J Electromyogr Kinesiol 1999;9:141-8.
por espasticidade não progressiva. 20. Allison SC, Abraham LD. Correlation of quantitative
measures with the modified Ashworth scale in the assessment
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injury. J Neurol 1995;242:699-706.
1. Coutinho DF, Schincariol FLA. Grupo de orientação da lesão 21. Marques AP. Normas para medir os ângulos articulares dos
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124 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Utilização do laser de baixa potência nas clínicas de


fisioterapia de Piracicaba, SP
Use of the low power laser in physical therapy clinics,
in Piracicaba, State of São Paulo

Luciana Cezimbra Weis*, Adriana Arieta**, Juliana Souza**, Rinaldo R.de J.Guirro***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Mestranda do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia – UNIMEP-SP, **Fisioterapeutas graduadas pela UNIMEP-SP,


***Professor do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia – UNIMEP- SP

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi investigar as condições de The aim of this work was to investigate the conditions for the
uso dos equipamentos lasers de baixa potência, bem como use of low level laser equipment’s and to correlate the knowledge of
correlacionar o conhecimento do fisioterapeuta em relação a the physical therapy in relation to the lasers practical use in clinics. A
sua utilização na prática clínica. Um questionário, com questionnaire with open and multiple-choice questions was used
questões abertas e de múltipla escolha, foi aplicado a 41 with 41 physical therapists who have laser equipment available in
fisioterapeutas que dispunham deste equipamento em clínicas their clinics, in the city of Piracicaba, Sao Paulo. The results showed
de fisioterapia da cidade de Piracicaba, SP. Os resultados that the majority of these professionals (73.1%) graduated 5 or more
indicaram que a maioria dos profissionais (73,1%) é graduada years ago, 75.6% have been in the workplace since their first year
há mais de 5 anos, 75,6% atuam no mercado de trabalho desde following qualification, 51.2% have some kind of post-graduation
o primeiro ano de formação, 51,2% possuem algum tipo de qualification, and 7.3% have a master’s degree. From a total of 34
especialização e 7,3% têm mestrado. Num total de 34 laser equipments surveyed, 6% are AsGaInP, 23,5% are HeNe and
equipamentos, 6% são AsGaInP, 23,5% são HeNe e 70,5% são 70,5% are AsGa. Around 60% of the professionals use equipment
AsGa. Cerca de 60% dos profissionais utilizam equipamentos bought more than 5 year ago, with an average usage of 15 sessions
adquiridos há mais de 5 anos, tendo uso médio de 15 aplicações per week, and with a preferred density of power of 3 J/cm2. As to the
semanais, com densidade de energia preferencialmente de 3 calibration of the laser equipments, 46,3% of the professionals state
J/cm². Quanto à aferição/calibração dos equipamentos lasers, that they have calibrated them, 19.5% have never done this and 34%
46,3% dos profissionais afirmam já ter aferido, 19,5% nunca didn’t respond to the question. The conclusion from this study is
aferiram e 34% não responderam. Com este estudo concluiu- that the laser equipment used is old and has little maintenance,
se que os equipamentos são ultrapassados, com pouca predominantly of the AsGa.
manutenção e, em sua maioria, são AsGa. Key-words: low power laser, calibration, equipments.
Palavras-chave: laser de baixa potência, calibração,
equipamentos.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução como, por exemplo, a monocromaticidade, a coerência e a


polarização [1].
O laser de baixa potência é um dos recursos físicos As propriedades do laser estão diretamente relacio-
utilizados nas clínicas de fisioterapia para o tratamento da nadas com seu comprimento de onda. Outros
dor, inflamação, cicatrização e lesões músculo-esqueléticas. parâmetros, no entanto, como potência média, potência
A forma de emissão da radiação luminosa, proporcio- de pico, área irradiada e regime de pulso (contínuo ou
nada pelo laser, apresenta algumas características especiais pulsado), também são importantes para descrevê-lo [2].
que a diferenciam da radiação eletromagnética natural Outros autores incluem ainda, como parâmetros, a den-

Artigo recebido em 08 de julho de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Luciana C. Weis, Rua Duque de Caxias, 1451/302 Santa Maria RS, Tel: (55) 222-9111, E-mails:
lcweis@unimep.br e luciana.weis@bol.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 125

sidade de potência e a densidade de energia ou dose [3], com a realidade e as especificidades relacionadas à terapia
que é definida como a energia total transmitida por unidade laser.
de área [4], sendo expressa em J/cm² nos lasers de baixa Frente ao exposto, o objetivo deste estudo foi
potência. investigar as condições de uso dos equipamentos de laser
Dentre os equipamentos disponíveis, os mais de baixa potência, bem como correlacionar o conhe-
utilizados são os de Hélio-Neônio (HeNe) e Arseneto de cimento do fisioterapeuta à sua utilização na prática clínica.
Gálio (AsGa), embora também existam no mercado
nacional alguns outros, lançados mais recentemente, Material e métodos
como os de Alumínio-Gálio-Índio-Fósforo (AlGaInP) e
Arseneto-Gálio-Alumínio (AsGaAl) [5]. Atualmente Para o desenvolvimento deste estudo buscou-se,
encontram-se equipamentos analógicos ou digitais que inicialmente, localizar e caracterizar a população de
viabilizam diferentes informações quanto à precisão na fisioterapeutas que atuava no mercado de trabalho na cidade
emissão de seus parâmetros. de Piracicaba, SP.
A ação do laser sobre os tecidos depende, em grande Foram identificados 65 profissionais que utilizavam o
parte, de sua potência média, do tempo de emissão nas
equipamento laser em suas práticas terapêuticas.
diferentes densidades de energia e da área do diodo.
Elaborou-se um questionário contendo questões abertas
Assim, se estes parâmetros não forem devidamente
aferidos e/ou calibrados, poderão apresentar erros que irão e de múltipla escolha a respeito do profissional, do
promover a ineficiência do tratamento aplicado, equipamento, bem como da prática clínica. Foram solicitadas
comprometendo, conseqüentemente, a confiabilidade da algumas informações como tempo de formação e atuação
terapia. profissional, nível de qualificação do mesmo, aspectos de
Ainda nesse contexto, salienta-se a importância da manutenção (aferição/calibração), caracterização (marca,
aferição dos equipamentos, cujas recomendações estão modelo e comprimento de onda) e utilização do equipamento
expressas na Portaria nº1, de março de 1996, da Secretaria (número de pacientes atendidos por semana, densidade de
de Vigilância Sanitária [6] e na NBR IEC 601-1 de 1994 energia mais empregada e utilização de óculos de proteção).
[7], que preconizam a necessidade de aferição periódica e
Antes da aplicação do questionário, fez-se um pré-teste,
anual dos equipamentos eletromédicos.
sendo enviado cinco questionários a alguns fisioterapeutas
Após a publicação de normas internacionais como a
IEC 825-1 de 1993 [8], que determina algumas peculia- e, a partir das respostas contidas nos mesmos, verificou-se
ridades relacionadas ao laser terapêutico, e de normas a necessidade de reformular algumas questões para facilitar
brasileiras como a NBR IEC 601-2-22 de 1997 [9], que a compreensão dos profissionais que seriam entrevistados.
regulamentam algumas particularidades na segurança Foram entregues, pessoalmente, 65 questionários
desses equipamentos, os fabricantes têm buscado o cum- definitivos aos fisioterapeutas, dos quais apenas 41
primento dessas normatizações. retornaram.
O laser de baixa potência, a partir do final da década Buscando ampliar o número de entrevistados, enviou-
de 60, início dos anos 70, tornou-se um meio físico se, através de e-mail, 130 questionários a fisioterapeutas de
importante no tratamento terapêutico, bem como no diferentes localidades do país, não se obtendo, no entanto,
desenvolvimento de pesquisas e experimentos, que
nenhum retorno.
buscam obter maiores conhecimentos a respeito de seus
A análise dos dados, a partir da tabulação dos mesmos,
efeitos fisiológicos e parâmetros ideais de aplicação,
visando o uso mais efetivo dessa terapia. O profissional será apresentada sob a forma de estatística descritiva,
integrado à prática clínica, necessita, por isso, estar contendo informações sobre os procedimentos empregados
permanentemente atualizado para acompanhar os na prática clínica do profissional de fisioterapia.
progressos relacionados a laserterapia [3]. Porém, em
relação aos meios que os fisioterapeutas buscam para Resultados
sua atualização profissional, evidencia-se uma certa
tendência cultural brasileira, vinculada, principal- Através da análise dos resultados, observou-se, através
mente, à procura de literatura, em língua portuguesa da Figura 1, que a maioria dos fisioterapeutas entrevistados
(livros, manuais, etc). No entanto, a leitura e a é formada há mais de 5 anos (73,1%) e 31 (75,6%) deles
interpretação de artigos científicos deveriam fazer parte atuam no mercado de trabalho desde o primeiro ano de
da rotina não só dos cursos de graduação, como também sua formação profissional.
da prática clínica de todos os profissionais que atuam Do total de fisioterapeutas entrevistados, 21 (51,2%)
no mercado de trabalho [10], tendo em vista que tais possuem algum tipo de especialização e 3 (7,3%) têm
publicações podem proporcionar maior comprovação qualificação de mestrado.
126 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Figura 1 – Tempo de formação (anos) dos fisioterapeutas entrevistados na Figura 3 – Tempo de aquisição (meses) dos equipamentos de laser
cidade de Piracicaba, S.P. n = 41. terapêutico, n = 40.

Pode-se constatar, através dos resultados, que mais de


Quando questionados sobre sua atualização em relação
50% dos 41 profissionais entrevistados utilizam a terapia laser
às pesquisas mais recentes, relacionadas à terapêutica laser,
numa média de 15 aplicações semanais. Quando questionados
26 (63,4%) responderam que procuram se atualizar da
sobre o tempo reservado para a utilização de laser durante
forma mais abrangente possível (através de pesquisas, livros,
uma sessão de tratamento terapêutico, 30 fisioterapeutas
revistas e cursos de atualização), 11 (26,8%), que não buscam
(73,2%) estabeleceram tempos que variam de 1 a 10 minutos
qualquer tipo de atualização e 4 (9,8%) não responderam.
por aplicação, dependendo da patologia a ser tratada, tendo
Pela análise da Figura 2, evidencia-se que entre os 34
como principais locais de aplicação os tendões, os músculos e
equipamentos, cujo modelo foi informado pelos
os ligamentos (Figura 4).
fisioterapeutas, 2 (6%) são Arseneto-Gálio-Índio-Fósforo
Sobre as patologias mais freqüentes em que o laser é
(AsGaInP), 8 (23,5%) são Hélio-Neônio (HeNe) e 24
utilizado como recurso terapêutico, apenas 33 fisiote-
(70,5%) são Arseneto de Gálio (AsGa).
rapeutas responderam a questão. De acordo com 29 destes
Figura 2 – Emissores de laser mais utilizados pelos fisiotera- (88%), o laser é mais empregado em lesões de esforço
peutas entrevistados na cidade de Piracicaba, S.P. n = 34. repetitivo como tendinites, epicondilites e bursites, bem
como em algias musculares e articulares.
Figura 4 – Locais de aplicação do equipamento laser entre os
profissionais entrevistados na cidade de Piracicaba, S.P. n = 41.

HeNe (Hélio-neônio); AsGaInP (Arseneto de gálio, índio


e fósforo); AsGa (Arseneto de gálio); AsGaAl (Arseneto de
gálio e alumínio).
Quanto ao tempo de aquisição dos equipamentos, dos
40 fisioterapeutas que responderam a questão, 60%
adquiriram seus equipamentos entre 5 e 10 anos (Figura Em relação às densidades de energia mais utilizadas
3). Justificam sua aquisição, principalmente, como mais durante as terapias a laser, apesar de 2 (4,8%) profissionais
um recurso terapêutico a ser utilizado, em razão de suas afirmarem não saber responder, a maioria dos fisioterapeutas
respostas antiinflamatória, circulatória, analgésica e entrevistados (73,2%) estabeleceu o valor de 3 J/cm² como
regenerativa. o preferencial, seguido de 4 J/cm². Ainda nesse contexto,
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 127

quanto ao manuseio do equipamento, apesar da grande daqueles que procuram se atualizar da melhor maneira
maioria, 29 (70,7%), se considerar apta a manuseá-lo, este possível (63,4%) não possam ser considerados elevados,
dado se mostrou contraditório, quando 24 (58,5%) dos verifica-se que há uma certa preocupação dos mesmos na
entrevistados afirmaram não possuírem conhecimentos busca de maiores conhecimentos, que possam servir de
suficientes para determinarem a dosagem correta, ficando suporte à modernização e à eficiência de sua prática
os mesmos restritos à prática clínica e/ou ao manual do clínica. Isto vem ao encontro da Resolução COFFITO
equipamento. 10, Capítulo 1, Artigo 5º do Código de Ética do
Em relação à aferição/calibração, dos 41 profissionais Profissional Fisioterapeuta que estabelece ser de
entrevistados, apenas 22 sabiam diferenciar aferição de responsabilidade do fisioterapeuta a “atualização e
calibração e, destes, 13 (59,1%) as definiram corretamente, aperfeiçoamento de seus conhecimentos técnicos,
4 (18,2%) responderam de forma incorreta e 5 (22,7%) não científicos e culturais em benefício do cliente e do
responderam. Quanto à realização de aferição/calibração desenvolvimento de sua profissão” [11].
dos equipamentos, 19, ou seja, 46,3% do total de A atualização é fundamental para o profissional que
fisioterapeutas questionados afirmaram que o laser já foi busca prestar um serviço de qualidade no mercado de
aferido/calibrado, 8 (19,5%) registraram nunca terem trabalho. Para isso, o mesmo deve se interar não apenas
aferido e 14 (34,2%) não responderam. No entanto, esses das informações teóricas e avaliações clínicas, mas
dados apresentam-se contraditórios, pois quando também das comprovações científicas que possam
questionados sobre a última aferição, 11 (26,7%) afirmaram contribuir para estabelecer uma base mais consistente à
terem aferido o equipamento há, pelo menos, 2 anos, 3 sua atividade prática. Neste sentido, Sampaio et al. [10]
(7,3%) há mais de 4 anos, o que gera um percentual de enfatizam que “a fisioterapia adota um modelo de ensino
34% de profissionais que aferiram seus equipamentos e 27 voltado para a transmissão de informação relacionada a
(66%) não responderam à questão (Figura 5). técnicas de tratamento. Com o tecnicismo a informação
científica não é devidamente valorizada e, dessa forma,
Figura 5 – Tempo de aferição/calibração dos equipamentos lasers evidências científicas não são aplicadas na prática.”
entre os profissionais entrevistados na cidade de Piracicaba, S.P.,
Isso precisa ser corrigido, pois o fisioterapeuta, enquanto
n = 41. NR = não responderam.
profissional da saúde, tem que se manter dentro de uma
educação continuada, aprendendo, no entanto, a apreciar
de forma crítica as pesquisas científicas que lê, na intenção
de avaliar a validade e a aplicabilidade das mesmas na sua
terapêutica diária. Precisa conhecer os reais efeitos dos
equipamentos que utiliza, relacionando sua realidade
prática com os ensinamentos provindos de sua formação
profissional, aprendendo a questionar, aos fabricantes, sobre
a potência média ou a de pico, se há correção da potência
emitida nos equipamentos de fibra óptica ou, ainda, qual a
vida útil de uma caneta emissora de laser [5].
Os lasers utilizados pelos fisioterapeutas entrevistados
são, em sua maioria, equipamentos analógicos, cujos
recursos são bastante restritos quando comparados aos
atuais, que são microprocessados. Apresentam, portanto,
uma tecnologia ultrapassada. Equipamentos mais
Quanto ao fato de utilizar óculos de proteção, como atualizados, como AsGaInP e AsGaAl, são pouco
procedimento de segurança ao uso do equipamento, ficou utilizados, embora apresentem vantagens fundamentadas
evidenciado que apenas 7 (17%) dos entrevistados no fato de se apresentarem na forma de diodo e de
relataram a utilização de óculos para o fisioterapeuta e emitirem potência média superior (30mW) à do HeNe
para o paciente e 3 (7,3%), somente para o fisioterapeuta. (2mW) ou mesmo à do AsGa, que são os mais usados [5].
Cabe, também, ressaltar que a maioria dos equipamentos
Discussão foi adquirida há mais de 5 anos, o que denota um tempo,
relativamente longo, de aquisição, tendo em vista que o
O fato de 31 fisioterapeutas (75,6%) atuarem no mercado laser, embora seja considerado uma descoberta tecnológica
de trabalho desde o primeiro ano de sua formação justifica a nova, passou por enormes avanços e aperfeiçoamentos em
importância que a fisioterapia adquiriu ao longo do tempo. curto espaço de tempo. O tempo de aquisição e a falta de
Embora os percentuais de profissionais que realizam aferição/calibração periódica dos mesmos, referenciada
cursos (51,2% de especialização e 7,3% de mestrado) e através dos questionamentos sobre a última aferição, quando
128 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

apenas 11 (26,7%) dos profissionais entrevistados responderam Entretanto, a radiação incidente no globo ocular, diretamente
terem aferido seus equipamentos há pelo menos 2 anos, e 3 ou por reflexão, pode causar danos à retina, dependendo da
(7,3%), há mais de 4 anos, são fatores que contribuem para a energia absorvida e da duração da exposição, ocasionando
sua ineficiência, gerando terapias menos efetivas, resultantes uma perda de visão permanente ou temporária [5]. Isto
do próprio desgaste do equipamento em uso e da ausência de explica a obrigatoriedade do uso de óculos protetores,
procedimentos metrológicos de rotina por parte do profissional específicos para cada tipo de emissão, tanto pelo paciente
[12]. como pelo terapeuta.
A importância da aferição/calibração, embora ainda Frente a todas estas considerações, cabe salientar ainda
não tenha sido descrita para o equipamento de laser, já foi que o percentual de profissionais entrevistados que
demonstrada em outros equipamentos terapêuticos como utilizam óculos de proteção como medida preventiva é
ondas curtas [13] e ultra-som [14,12], quando foi constatada muito baixo, o que demonstra um descuido por parte de
a presença de vários equipamentos com parâmetros fora certos profissionais, pois os lasers de baixa potência, de
das especificações exigidas pelas normas vigentes. acordo com a Secretaria de Vigilância Sanitária, Portaria
Sabe-se que há uma ampla variação nas recomendações nº 1, de março de 1996 [6], encontram-se na classe de
da energia ideal para diferentes situações. A densidade de equipamentos de médio risco para seres humanos.
energia mais utilizada pela maioria dos fisioterapeutas Portanto, os óculos devem ser usados corretamente e em
entrevistados foi de 3 J/cm², a qual está incluída entre os ótimas condições, evitando-se, com isso, provocar danos,
valores estabelecidos por Baxter que são de 1 a 12 J/cm² não apenas ao terapeuta, mas também ao paciente que
[15]. Laakso et al. [16] salientam que se tem sugerido que está sob seus cuidados.
a dose total de tratamento não deva exceder 8 a 9 J/cm²
sob aplicações realizadas de forma pontual na área de Conclusões
irradiação.
Entretanto, Prentice [17] observa que “a dose ou Com base no estudo realizado conclui-se que:
densidade de energia deve ser calculada precisamente para • a maioria dos equipamentos de laser atualmente em
padronizar tratamentos e estabelecer diretrizes de uso nas clínicas de fisioterapia da cidade de Piracicaba,
tratamento para lesões específicas.” O que se observa na S.P. está desatualizada e necessita de manutenção;
prática clínica, no entanto, é um percentual, relativa- • a aferição/calibração do equipamento de laser terapêu-
mente elevado, de profissionais que, por não possuírem tico não são medidas adotadas como rotina pelos pro-
conhecimentos suficientes para determinar a dosagem fissionais;
correta, ficam restritos aos manuais dos equipamentos, • os fisioterapeutas necessitam de maior domínio dos
considerando os padrões estabelecidos nos mesmos como parâmetros físicos relacionados ao laser;
corretos e definitivos. Isto preocupa, tendo em vista que • as aplicações terapêuticas com laser ficam restritas,
os manuais nem sempre cumprem as especificações principalmente, a patologias como tendinites, epicon-
estabelecidas através de normas como a IEC 60825-1 de dilites, bursites e algias de origem músculo-esqueléticas
1998 e a IEC 60825-1 de 2001, principalmente no que se em geral.
relaciona a parâmetros como tempo de emissão, potência • há necessidade de uma atualização constante do
real de saída e limite de emissão acessível. profissional fisioterapeuta no que se relaciona a tera-
Apesar de patologias como as tendinites, epicondilites pêutica laser, buscando ampliar seus conhecimentos,
e bursites terem sido citadas, por 88% dos fisioterapeutas principalmente, quanto aos verdadeiros efeitos, parâ-
entrevistados, como as principais enfermidades tratadas metros ideais de aplicação e enfermidades onde o laser
com esta radiação, é preciso que o profissional esteja atento demonstre ser um tratamento eficaz.
quanto às inovações relacionadas à terapêutica laser, que, • os profissionais necessitam conhecer melhor os equi-
por ser relativamente recente, ainda está em fase de pamentos que utilizam em suas atividades na prática
convalidação de seus efeitos, na qual busca ratificar os clínica.
mecanismos de ação e fixar os parâmetros ideais de
aplicação, que se faz necessário para uma melhor definição
das patologias que, realmente, possam ser beneficiadas Referências
através da laserterapia [18].
Em função de suas potências, geralmente inferiores a 1. Laakso L, Richardson C, Cramond T. Factors affecting
500mW [19] e dos perigos que podem proporcionar, o low level laser therapy. Aust J Physiother 1993;2(39):95-9.
2. Tunér J, Hode L. Low level laser therapy. Clinical
laser terapêutico é classificado como IIIB, de acordo com
practice and scientific background. Spjutvagen: Prima
a norma IEC 825-1 de 1993. Dentro desta classificação, Books; 1999. p.393.
o feixe não tem efeito térmico apreciável e não produz 3. Nussbaum EL, Zuylen JV, Baxter GD. Especification of
lesões cutâneas em uma aplicação normal [17]. treatment dosage in laser therapy:unrealiable equipment
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 129

and radiant power determination as confounding factors. Ocupacional – COFFITO - Código de Ética Profissional.
Physiotherapy Can 1999;157-67. Brasília, DF: Diário Oficial, 1978.
4. Fischer JC. A short glossary of laser terminology for 12. Guirro RRJ, Santos SCB. Evaluation of the acoustic intensity
physicians and surgeons. J Clin Laser Med Surg 1991;345-8. of new ultrasound therapy equipment. Ultrasonics
5. Guirro EC, Guirro RRJ. Fisioterapia dermato-funcional: 2002;(39):553-7.
fundamentos, recursos e patologias. 3a ed. Barueri: Manole; 13. Cancelieri AS, Carbonari EC, Nardin F, Guirro RRJ. Aferição
2002. p.209-22. dos equipamentos de ondas curtas terapêuticos. Anais do 8º
6. Diário Oficial da União - Secretaria de Vigilância Sanitária - Congresso de Iniciação Científica da Unimep, 2000, CO.05:37-
Portaria conjunta nº1, 8 de março de 1996, ofício nº73/96, 12 8.
de março de 1996.
14. Artho PA,Thyne JG, Warring BP, Willis CD, Brismée JM,
7. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR IEC
Latman NS. A calibration study of therapeutic ultrasound
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Eletrotecnical Commission. Geneva. 1993, p.208. 1997.
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prescrições particulares para segurança de equipamento Physiother 1993;39:87-92.
terapêutico e de diagnóstico a laser. Rio de Janeiro; 1997. 17. Prentice WE.Modalidades terapêuticas para fisioterapeutas.
10. Sampaio RF, Mancini MC, Fonseca ST. Produção 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. 427p.
científica e atuação profissional: aspectos que limitam 18. Ortiz MCS, Carrinho PM, Santos AAS, Gonçalves RC,
essa integração na Fisioterapia e na Terapia Ocupacional. Parizotto NA. Laser de baixa intensidade: princípios e
Rev Bras Fisioter 2002;6(3):113-8. generalidades - Parte 1. Fisioter Bras 2001;4(2).
11. Ministério da Educação. Conselho Federal de Educação. 19. Kitchen S. Eletroterapia: prática baseada em evidências. 11 ed.
Resolução nº 10 do Conselho Federal de Fisioterapia e terapia São Paulo: Manole; 2003. p.171-90. 
130 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Efeitos do ultra-som terapêutico pulsado associado


à indometacina no edema de ratos artríticos
Effects of pulsed therapeutic ultrasound associated
with indometacin on the edema in arthritic rats

João Luiz Quagliotti Durigan*, Irinéia Paulina Baretta, M.Sc.**, Carlos Nannini Costa, M.Sc.***,
Heraldo Echeverria Borges, D.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba – SP, **Farmacêutica – Diretora do Instituto de Ciências
Biológicas, Médicas e da Saúde da Unipar – Universidade Paranaense. Umuarama – PR,
***Fisioterapeuta – Coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade Paranaense Campus Umuarama, Umuarama – PR,
****Farmacêutico – Professor da Universidade Paranaense. Paranavaí – PR

Resumo Abstract
O objetivo do estudo foi observar o efeito do ultra-som The aim of this study was to observe the effects of the
terapêutico no desenvolvimento do edema de pata de ratos therapeutic ultrasound in the development of the edema in arthritic
artríticos, associado ao tratamento farmacológico por 21 dias. rat’s paw associated with the pharmacological treatment for twenty-
Ratos Holtzman machos adultos receberam injeção intra- one days. Adult male Holtzman rats received intradermic shot in
dérmica na pata esquerda, contendo Micobacterium the left paw containing inactivated Mycobacterium tuberculosis
tuberculosis inativado para a indução da artrite. Os animais for the arthritis induction. The arthritic animals were submitted
artríticos foram submetidos a quatro diferentes tratamentos, to four different treatments one day after the induction: the control
um dia após a indução: grupo controle recebeu salina; os group received saline; the other groups received a daily treatment
demais grupos receberam tratamento diário com ultra-som with ultrasound (frequency of 1 Mhz, pulsed 20%, intensity 0,4
(freqüência de 1 MHz, recorte de 20%, intensidade média de W/cm2), indomethacin (1,5 mg/kg corporal weight) or ultrasound
0,4 W/cm2), indometacina (1,5 mg/kg peso corporal) e ultra- associated with indomethacin. The animals were assessed through
som associado à indometacina. Os animais foram avaliados the daily mensuration of the volume of the inoculated paw
através da mensuração diária do volume da pata inoculada, a through the volume displacement system. The data were analized
partir do deslocamento de volume em um sistema de by ANOVA and the Tukey test (p<0,05). The administration of
volumetria. Os dados foram analisados por meio de ANOVA the indomethacin curbed significantly the edema of the paw (-
e pelo teste de Tukey (p<0,05). A administração da 74,29%), and the ultrasound intensified significantly (46,95%)
indometacina restringiu significativamente o edema de pata and the association of the treatment reduced significantly (-
(-74,29%), já o ultra-som intensificou-o significativamente 57,16%) if they are compared to the control group. The results
(46,95%) e a associação dos tratamentos reduziu o edema suggest that the antiinflammatory properties of the
significativamente (-57,16%), se comparados com o grupo indomethacin are able to reduce the edema and the intensity
controle. Os resultados sugerem que as propriedades of the performed ultrasound was harmful to the tissues,
antiinflamatórias da indometacina são capazes de reduzir o promoting the increase of the edema.
edema e que a intensidade do ultra-som utilizada foi lesiva Key-words: therapeutic ultrasound, arthritis rheumatoid, edema.
aos tecidos, promovendo aumento do edema.
Palavras-chave: ultra-som terapêutico, artrite reumatóide,
edema.

Artigo recebido em 18 de novembro de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para corresepondência: João Luiz Quagliotti Durigan, Rua Alferes José Caetano, 1128/162 Centro 13400-123 Piracicaba SP,
Tel: (19) 9619-5811, E-mail: jldurigan@unimep.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 131

Introdução álgico em pacientes portadores de osteoartrite de joelho [15].


Ademais, Goddard et al. [16] demonstram que o ultra-som
A artrite reumatóide (AR) é uma doença inflamatória, terapêutico não possui efeitos antiinflamatórios no seu
caracterizada por poliartrite crônica, simétrica, erosiva e modelo experimental.
geralmente progressiva, podendo comprometer outros Embora o ultra-som terapêutico seja amplamente
órgãos e tecidos. No entanto, apresenta etiologia estudado, há controvérsias, uma vez que as pesquisas são
desconhecida, com a participação de fatores genéticos e realizadas com metodologias ditas inadequadas e a maioria
ambientais, levando à alteração da resposta imunológica, dos resultados encontrados não são atribuídos aos efeitos
responsável pela perpetuação dos fenômenos inflamatórios do ultra-som. Gam e Johannsen [17], em revisão
e articulares [1]. bibliográfica sobre os efeitos do ultra-som no tratamento
Atualmente, a abordagem terapêutica da AR é realizada das desordens músculo-esqueléticas, mediante meta-
por meio de medicamentos e fisioterapia, com objetivo análise, encontraram em apenas 9 trabalhos, evidências
de reduzir os sintomas da doença tais como: dor, edema, de que o ultra-som foi o responsável pelos achados e
rigidez e hipotrofia muscular [2]. concluíram que o tratamento ultra-sônico está baseado
Há muito se sabe que a administração intradérmica em atitudes empíricas. Robertson e Baker [18]
de adjuvante completo de Freund (ACF), na região da examinaram 35 trabalhos publicados entre os anos de
pata ou cauda em ratos de linhagem Holtzman, induz a 1975 a 1999 e concluíram que apenas 10 trabalhos
uma síndrome conhecida como artrite induzida por possuíam metodologia aceitável.
adjuvante (AIA). Esta síndrome é caracterizada por A fim de contribuir para o entendimento dos
poliartrite crônica deformante e por alterações sis- mecanismos do ultra-som terapêutico na artrite
têmicas, com perda de peso corporal e lesões dermato- reumatóide experimental, o presente estudo objetivou
lógicas, oculares e uretrais [3,4,5]. Pela semelhança com verificar o efeito do ultra-som terapêutico no desenvol-
a doença humana, este modelo é utilizado para avaliação vimento do edema de pata de ratos com AIA e a seu
dos procedimentos terapêuticos utilizados na AR comportamento com o tratamento farmacológico
humana. (indometacina).
O ultra-som terapêutico é amplamente utilizado na
prática da fisioterapia, tendo como objetivo diminuir Material e métodos
os sintomas e as manifestações inflamatórias em diversos
processos patológicos, como: bursites, tendinites, artrite Foram utilizados 20 ratos machos da linhagem
reumatóide, osteoartrite, úlceras varicosas, dentre outros Holtzman, com peso variando entre 180 e 220g. Os
[6,7]. animais foram mantidos em gaiolas coletivas, com no
Desde sua introdução como recurso terapêutico, há máximo 5 animais cada, alimentados com ração e água
mais de 50 anos, as ações biológicas do ultra-som têm ad libitum e sob condições controladas (23 ± 2ºC e ciclo
sido investigadas. Os efeitos clínicos do ultra-som fotoperíodo de 12 h claro/escuro).
terapêutico se devem aos mecanismos térmicos e Em todos os animais, dos 4 grupos, induziu-se à
atérmicos. Os efeitos considerados térmicos estão artrite reumatóide, por meio da administração de 100
representados pelo aumento da elasticidade de estruturas ml de uma emulsão óleo-água contendo Micobacterium
colagenosas, diminuição da rigidez articular, diminuição turbeculosis inativado na concentração de 0,5% (ACF),
da dor e do espasmo muscular e aumento do fluxo inoculado intradermicamente na pata posterior es-
sanguíneo [8,9]. Os efeitos tidos como não-térmicos são querda. Após este período, os animais foram divididos
o aumento da permeabilidade celular [10], aumento da aleatoriamente em 4 grupos, conforme mostra a Tabela
síntese protéica [11], aumento da mobilização do cálcio I.
[12], aumento da atividade fibroblástica, degranulação
de macrófagos [13], visando a reparação tecidual. Tabela I – Distribuição dos grupos experimentais, n = 5.
Apesar do ultra-som terapêutico ser utilizado na prática Grupos experimentais Número de animais
clínica, a sua efetividade no processo inflamatório crônico
e em outras patologias é, ainda, controversa. Em 1990, Grupo Controle 5
Falconer et al. [14] observaram que o ultra-som produz Grupo Indometacina 5
Grupo Ultra-som 5
resultados positivos na melhora da dor e amplitude de
Grupo Ultra-som + Indometacina 5
movimento das disfunções inflamatórias agudas e da
osteoartrite, mas não encontraram melhora da dor e Os animais artríticos foram submetidos a quatro
amplitude de movimento das disfunções inflamatórias diferentes tratamentos, após um dia de indução da AR. O
crônicas. No entanto, o ultra-som não foi capaz de grupo controle foi submetido à aplicação de 0,2 ml solução
aumentar a amplitude de movimento e reduzir o quadro salina (NaCl 0,9%) via oral e à radiação simulada de ultra-
132 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

som da pata esquerda. Os demais grupos receberam tratamento do 4° dia, progredindo até o final do tratamento, onde
diário com ultra-som, indometacina e ultra-som associado à alcançou aumento de aproximadamente 120% (p < 0,05).
indometacina. Os animais foram avaliados através da
mensuração diária da massa corporal e do volume da pata Figura 1 – Média ± e.p.m. do peso corporal (%) dos grupos controle
(quadrado), tratado com indometacina (círculo), tratado com ultra-
inoculada com ACF, através da volumetria, por um período
som (triângulo) e tratado com ultra-som associado à indometacina
de 21 dias após a inoculação.
(losango). n:5,* p < 0,05 comparado ao grupo controle.
A indometacina foi administrada diariamente no
mesmo período do dia por via oral, através de sonda
orogástrica na dose de 1,5 mg/kg peso, sendo diluída em
tampão Tris (pH 8,6), imediatamente antes do uso.
Para os grupos que receberam ultra-som, foi utilizado o
modelo SONACEL Dual da empresa BIOSET Indústria
de Tecnologia Eletrônica Ltda. Os parâmetros físicos
utilizados foram: freqüência de 1 MHz, área de irradiação
efetiva (ERA) de 4 cm2, regime pulsado com ciclo de
trabalho de 20%, intensidade média de 0,4 W/cm2, durante
três minutos com aplicação subaquática (água destilada)
na pata posterior esquerda, diariamente (mesmo período
do dia), após um dia da indução da AR. A aplicação do Nos animais que receberam administração diária via
ultra-som foi realizada após a medida do edema. oral de indometacina (1,5 mg/kg peso corporal), durante
A intensidade da reação inflamatória nas patas de ratos 21 dias após a inoculação do ACF, foi observado redução
com AIA foi determinada por meio da alteração do significativa de 74,29% do edema da pata posterior
volume da pata. Para De-Lacerda [19], o volume de um esquerda durante o período de tratamento (figura 2), em
objeto orgânico pode ser determinado segundo o relação ao grupo controle.
deslocamento do nível de água que ele provoca ao ser A aplicação do ultra-som isoladamente durante 21 dias,
colocado num recipiente contendo o líquido, seguindo o após a indução da AR, intensificou significativamente o
princípio de Arquimedes. Assim, o volume foi estimado desenvolvimento do edema da pata posterior esquerda, quando
pela imersão da pata até o nível do maléolo em um tubo comparado com o grupo controle, assim como a terapia com
de plástico com 3 centímetros de diâmetro e 6 centí- indometacina ou o tratamento combinado do ultra-som e
metros de comprimento e verificado a quantidade de indometacina (figura 2), obtendo um aumento de 46,95, 86,36
líquido deslocado para outro tubo de plástico graduado e 77,27% no volume da pata, respectivamente.
em milímetros que foi acoplado ao sistema de medida. Já a aplicação do ultra-som associado à administração da
Desse modo, o volume de água deslocado pela pata imergida indometacina (1,5 mg/kg peso corporal) reduziu (-57,16%),
para o outro tubo graduado em milímetros, possibilitou significativamente, o desenvolvimento do edema dos ratos
calcular o seu volume conforme descrito na literatura artríticos tratados, se comparados ao grupo controle (figura 2).
[19,20]. Os resultados foram expressos como porcentual
Figura 2 – Média ± e.p.m. do volume da pata (%) dos grupos controle
do volume final da pata em relação ao inicial logo após a
(quadrado), tratado com indometacina (círculo), tratado com ultra-
inoculação do ACF.
som (triângulo) e tratado com ultra-som associado à indometacina
Os dados obtidos foram submetidos ao teste estatístico
(losango). n:5,* p < 0,05 comparado aos outros grupos.
ANOVA, seguido pelo teste de Tukey, sendo consi-
derados resultados estatisticamente significativos quando
p < 0,05. Os resultados foram expressos como a média
seguida do erro padrão da média (e.p.m).

Resultados

Em relação ao ganho de peso corporal (figura 1), apesar


de não apresentar diferença significativa entre os
diferentes grupos, ocorreu uma tendência de redução da
média de aproximadamente 7,64%, durante o desen-
volvimento da artrite.
Com relação ao desenvolvimento do edema, observou-
se que no grupo controle o edema se intensificou a partir
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 133

Discussão e, até mesmo, destruídas devido à formação de ondas esta-


cionárias.
Os recursos terapêuticos da fisioterapia e os antiin- Apesar da intensidade de 0,4 Wcm2 selecionada, por ser
flamatórios não-esteróides são freqüentemente utilizados a mais indicada nessa fase do processo inflamatório [9,13],
no tratamento dos sintomas e seqüelas da AR. Neste e por não provocar a estase celular sanguínea [23], os
sentido, a utilização dos recursos fisioterapêuticos, associa- resultados apresentados sugerem que a aplicação do ultra-
dos ao tratamento medicamentoso, podem permitir a som estacionário pode ter levado à formação de dois
redução, tanto das doses, quanto do período de utilização fenômenos: a cavitação transiente e a formação de ondas
das drogas e, conseqüentemente, minimizar os efeitos estacionárias com contribuição para o aumento do edema
adversos observados em doenças crônicas [2,7]. da pata dos grupos tratados com o ultra-som.
Na década de 60, diversos autores sugeriram que a Clinicamente, as intensidades baixas do ultra-som são
AR induzida por adjuvante pode promover redução de as mais indicadas para evidenciar os efeitos terapêuticos
peso corporal durante o desenvolvimento da patologia desejados, já que intensidades mais altas podem ser lesivas
[3,4,5]. Neste ínterim, os dados apresentados tiveram uma [30]. Um fato a ser considerado é que, em experimentos
tendência de redução do peso corporal de 7,64% após 21 realizados com baixa intensidade, o ultra-som mostrou
dias de desenvolvimento da AR. não possuir efeitos antiinflamatórios. Pereira et al. [7]
Com relação ao desenvolvimento do edema no grupo avaliaram a evolução do edema de pata, em ratos tratados
de ratos tratados com indometacina e no grupo tratado através do ultra-som terapêutico contínuo com
com a associação da indometacina e ultra-som, ocorreu intensidade de 0,2 W/cm 2 apreciado ao tratamento
uma diminuição significativa do edema em relação ao farmacológico (indometacina). Os autores observaram que
grupo controle. O ultra-som não potencializou a ação da o ultra-som não foi capaz de reduzir o edema das patas
indometacina, já que não houve diferença significativa posteriores dos ratos artríticos, mas a associação do ultra-
entre o desenvolvimento do edema de pata dos grupos som com a indometacina foi capaz de inibir o edema.
ultra-som e o grupo ultra-som associado com a indome- Esses resultados coincidem com os resultados
tacina. Esses resultados sugerem que as propriedades apresentados por Goddard et al. [16], que submeteram
antiinflamatórias da indometacina são capazes de inibir recipientes contendo Mycobacterium tuberculosis ao ultra-
significativamente o edema de pata dos ratos artríticos, som de baixa intensidade, com freqüência de 1,5 MHz e
corroborando com o descrito na literatura [21,22,7]. com antiinflamatório não esteroidal fluerbiprofem, do 0
Por outro lado, o grupo tratado somente com o ultra- ao 4º dia. Os autores demonstraram que não houve
som apresentou aumento significativo do edema em diferença significativa na qualidade e na quantidade do
relação aos outros grupos. Talvez, o aumento do edema infiltrado inflamatório entre o grupo tratado com o ultra-
da pata ocorreu devido a não movimentação do transdutor som e o grupo controle, porém, houve diferença
durante a aplicação, pois, neste estudo, utilizou-se a significativa entre o grupo tratado com fluerbiprofem e o
aplicação do ultra-som na forma estacionária, pois a ERA controle.
do transdutor era maior do que a área da pata irradiada. Esses estudos corroboram com os resultados
Quando se utiliza o ultra-som terapêutico e não se apresentados, reforçando o que a literatura relata, de que
movimenta o aplicador continuamente durante o os efeitos do ultra-som terapêutico em processos crônicos
tratamento, aumentam-se as chances da produção de ainda permanecem obscuros. Neste sentido, fica evidente
campos de ondas estacionárias e da cavitação transiente a necessidade de mais investigações para determinar a
[23]. A cavitação transiente ocorre quando há uma intensidade terapêutica e os parâmetros físicos mais
violenta implosão de bolhas, podendo promover danos adequados para utilização do ultra-som terapêutico em
teciduais decorrentes de altas temperaturas e pressões AR experimental.
geradas, induzindo a lesão dos tecidos adjacentes e a A literatura também é conflitante, quando são estu-
produção de radicais livres [24]. dados os efeitos do ultra-som terapêutico em processos
Segundo Garavello [25], a irradiação com ultra-som inflamatórios crônicos em humanos. Falconer et al. [15]
estacionário pode promover um aumento de temperatura pesquisaram o efeito do ultra-som na osteoartrite de joelho
nos tecidos irradiados revelando, em resultado por em 34 pacientes, sendo que os indivíduos foram tratados
microscopia, necrose na epiderme, derme, tecido subcutâneo com ultra-som contínuo, com intensidade máxima
e no músculo esquelético com conseqüente formação de tolerada de até 2,5 W/cm2 e concluíram que não foram
ondas estacionárias. Haar et al. [26] demonstraram que o encontradas diferenças significativas entre o grupo tratado
fluxo sanguíneo pode apresentar estase celular, se o vaso com ultra-som e o grupo controle. Também foi analisado
estiver exposto a ondas estacionárias. Além disso, células que o ultra-som foi efetivo na melhora da dor e amplitude
fixas como as endoteliais, que revestem o lado luminal dos de movimento das disfunções inflamatórias agudas, fato
vasos sanguíneos e também os eritrócitos, podem ser lesadas não observado nas disfunções inflamatórias crônicas [14].
134 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Um fato a se destacar é que diversos estudos mostram 6. Basford JR. Physical Agents. In: DeLisa JA, Gans BM, editors.
que o ultra-som terapêutico não possui benefícios em Rehabilitation medicine: principles and practice. Philadelphia:
humanos, com osteoartrite de joelho, mas a maioria dos Lippincott-Raven; 1998. p.483–503.
7. Pereira LSM, Francisch JN, Silva FMP, Santos AMC,
estudos encontrados não possui metodologia confiável
Tiradentes K, Carmo SC. Os efeitos do ultra-som na
[27,28,29]. Existem poucas evidências que o ultra-som hiperalgesia e no edema de ratos artríticos. Rev Fisioter
terapêutico seria mais eficaz do que placebo para aliviar Univ São Paulo 1998;2:83-96.
dor ou tratar lesões dos tecidos músculo-esqueléticos ou 8. Dyson M. Mechanisms involved in therapeutic
outros [27,18]. ultrasound. Phisiotherapy 1982;79(3):116-20.
Considerações devem ser feitas quanto à escolha da 9. Dyson M. Non-thermal cellular effects of ultrasound. Br
técnica de acoplamento. Neste estudo, a técnica sub-aquática J Cancer 1987;45:9165-75.
10. Dyson M, Suckling J. Stimulation of tissue repair by
foi utilizada, entretanto, poderia ser utilizada a técnica de
ultrasound: a survey of the mechanism involved.
contato direto do ultra-som com a área insonada, utilizando Physiotherapy 1978;64(4):105-8.
gel tópico como acoplador, tendo em vista a diminuição da 11. Pospisilová J. Effect of ultrasound on collagen synthesis
reflexão das ondas sonoras, direcionando as ondas mecânicas and deposition in experimental granuloma tissue.
somente no local desejado, possibilitando, assim, maior Possibilities of clinical use of ultrasound in healing
efetividade do ultra-som [7]. disorders. Acta Chir Plast 1976;18:176-83.
A efetividade do ultra-som no processo inflamatório 12. Roche C, West J. A controlled trial investigating the effect
of ultrasound on venous ulcers referred from general
crônico é ainda controversa e existem poucos trabalhos
practioners. Physiotherapy 1984;70:475-7.
experimentais que observaram o seu efeito em relação a 13. Young SR, Dyson M. The effect of therapeutic ultrasound
esses processos. Apesar disso, o ultra-som é muito utilizado on the healing of full-thickness excised skin lesion.
na prática clínica com resultados positivos. Portando, Ultrasonics 1990;28:175-80.
pesquisas alterando a dosimetria e os parâmetros físicos do 14. Falconer J, Hayes KW, Chang RW. Therapeutic
ultra-som terapêutico devem ser incentivados para estudos ultrasound in the treatment of musculoskeletal conditions.
comparativos, já que, segundo Ferrari [30], o objetivo Arthritis Care Res 1990;3(2):85-91.
15. Falconer, J. Effect of ultrasound on mobility in
principal da utilização das ondas ultra-sônicas tem sido
osteoarthritis of the knee. Arthritis Care Res 1992;5(1):29-
estabelecer limiares abaixo dos quais não ocorram efeitos 35.
lesivos. 16. Goddardd H, Revell PA, Cason J, Gallagher S, Currey
HLF. Ultrasound has no anti-inflammatory effect. Ann
Conclusão Rheum Dis 1983;38:582-4.
17. Gam AN, Johannsen NF. Ultrasound therapy in
Os resultados sugerem que as propriedades antiinflama- musculoskeletal disorders: a meta-analysis. Pain
tórias da indometacina foram capazes de inibir o edema de 1995;63(1):85-91.
18. Robertson VJ, Baker KG. A review of therapeutic
pata dos ratos artríticos, e que a intensidade do ultra-som
ultrasound: effectiveness studies. Physiotherapy
utilizada foi lesiva aos tecidos, promovendo aumento do 2001;81:1339–50.
edema. 19. De-Lacerda, CAM. Manual de quantificação morfoló-
gica: morfometria, alometria, estereologia. 2a ed. Rio de
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 135

25. Garavello I. Medida da variação de temperatura por termografia 28. Geoffrey R, Harris M, Jeffrey LS. Managing musculoskeletal
em tecidos ósseos e muscular e em placa metálica implantada, complaints with rehabilitation therapy: summary of the
após irradiação ultra-sônica terapêutica. Estudo experimental Philadelphia Panel evidence-based clinical practice guidelines on
em coelhos. [Dissertação de Mestrado]. Ribeirão Preto (SP): musculoskeletal rehabilitation interventions. J Fam Pract
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; 1992. 2002;51(12):1042–6.
26. Haar GR, Daniels S. Evidence for ultrasonically induced 29. Welch V, Brosseau L, Peterson J, Shea B, Tugwell P, Wells
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136 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Artigo original

Estudo da tensão muscular masseterina, através


da eletromiografia em professores da Faculdade
de Fisioterapia de Caratinga-FAFISC
Study of masseterine miofascial tension by electromyography
in teachers of physical therapy of FAFISC

Marcus Vinícius de Mello Pinto, D.Sc.*, Ricardo Assis de Oliveira Quintela Chagas**, Fábio Gomes Oliveira**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Professor Titular de Biofísica da Faculdade de Medicina, Fisioterapia e Química do Centro Universitário
de Caratinga – MG, **Acadêmicos do 10º período de Fisioterapia da Faculdade de Fisioterapia de Caratinga – FAFISC –
UNEC – MG

Resumo Abstract
Pelo fato de a fala ser o instrumento de trabalho dos The fact of the speech be the teachers work instrument requires
professores, dentre outros contextos pedagógicos e didáticos, a an improved attention level. The teacher’s stress is frequently
atividade da docência exige um nível de atenção mais apurado. occasionated by the muscle tension in the over-activity of the TMJ
Isto se deve à questão destes professores sofrerem estresse, que, and it can generate anger, sleep disturb, becoming a negative retro-
por sua vez, dará origem à tensão muscular e hiperatividade da feeding cicle, resulting in a decrease of the teacher’s efficience. The
ATM, o que pode gerar irritabilidade, distúrbios do sono, aim of this study was to obtain information about masseterine
resultando em um ciclo de retro-alimentação negativa que, por miofascial tension relationated with the articular over activity,
fim, resultará em uma queda do rendimento do professor. Esta throughout the eletromiographic activity of the masseter muscle,
pesquisa teve, como objetivo, colher dados da tensão miofacial after a rest or silence period. Eight volunteers teachers from FAFISC,
masseterina, relacionada com a hiperatividade articular, através da with ages between 26-50, male and female were evaluated. Fifty
atividade eletromiográfica do músculo masseter, depois de um percent of the amostral population presented tensional difference
período de descanso (ou silêncio). Foram avaliados 08 (oito) in the left masseter muscle in comparison with the right one; in
professores da Faculdade de Fisioterapia de Caratinga-FAFISC, isometry 50% of the sample presented tensional difference in the
voluntários, com faixa etária entre 26 a 50 anos, de ambos os right masseter; and in isotony, 25% of the volunteers presented
sexos. Os dados da colheita eletromiográfica em repouso significative variation of 01 cm (one centimeter) of discrepancy in
informaram que 50% da população amostral apresentaram the right side compared with the left-one. Precocious diagnosis and
diferença tensional no músculo masseter maior, à esquerda, em treatmen twill be possible in the future, avoiding a pain producer
relação ao masseter direito; em isometria, 50% da amostra source of the masticatory equipment and speech.
apresentaram diferença tensional no masseter direito; e, em Key-words: muscular tension, masseter, eletromiography.
isotonia, 62,5% da população apresentaram diferença tensional
maior no masseter esquerdo, em relação ao masseter direito. Foi
sugestiva a antropometria de face, onde 25% dos voluntários
apresentaram variância significativa de 01 cm (um centímetro) de
discrepância do lado direito, em relação ao esquerdo. Será possível
realizar no futuro um diagnóstico e tratamento precoce, evitando,
assim, uma fonte geradora de dor, transtorno da fala e do aparelho
mastigatório.
Palavras-chave: tensão muscular, masseter, eletromiografia.

Artigo recebido em 22 de novembro de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Marcus Vinícius de Mello Pinto, E-mail: orofacial@funec.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 137

Introdução De acordo com a revisão da literatura, os estudos


eletromiográficos têm demonstrado que as desordens
Atualmente, tem crescido o interesse de profissionais, têmporo-mandibulares (DTM’s) produzem incoordenação
de diversas áreas de atuação, em conhecer a articulação na atividade dos músculos mastigatórios [10,14].
temporo-mandibular (ATM), também conhecida como O procedimento de eletromiografia (EMG) compara
articulação crânio-mandibular (ACM), sendo a mais a atividade elétrica das fibras músculo-esqueléticas, em
complexa do corpo humano, por suas estruturas repouso e durante a ativação voluntária do músculo.
anatômicas, por sua capacidade de movimentação, bem Como em qualquer procedimento clínico, uma variedade
como por ser constituída por duas articulações em um de condições ou de situações pode limitar ou impedir o
osso único [1,2,3]. uso dos procedimentos de avaliação eletrofisiológica. O
A articulação da mandíbula com o osso temporal examinador deve ter cuidado na aplicação, mediante
pertence ao tipo sinovial de articulação, ATM. É uma outras condições, tais como edema externo, dermatite,
combinação de gínglimo e juntura plana, formada pelo paciente não-cooperativo, infarto do miocárdio recente,
côndilo mandibular, que se articula na fossa mandibular imunossupressão, marcapasso, hiper-sensibilidade à
do osso temporal. Entre os mesmos ossos está o disco estimulação (feridas abertas e queimados) [15].
articular, que permite os movimentos complexos da Este estudo tem como objetivo, colher dados da tensão
articulação, para que não se articulem diretamente. As miofacial masseterina relacionada com a hiperatividade
articulações sinoviais possuem, em geral, grande articular, através da atividade eletromiográfica do músculo
mobilidade e apresentam elementos constituintes: masseter, depois de um período de descanso (ou silêncio).
cápsulas, cavidade, superfícies articulares e ligamentos O tema foi escolhido, devido ao interesse acadêmico
[4,5,6]. em relatar os índices da tensão masseterina e sua relação
A terminologia Desordem Têmporo-Mandibular com a hiperatividade articular diária, sofrida pelos
(DTM) é adotada pela American Dental Association para professores da Faculdade de Fisioterapia de Caratinga -
referenciar essa desordem, quando há dor na região pré- FAFISC. Este estudo é de interesse dos fisioterapeutas
auricular, nos músculos mastigatórios ou na ATM, ruídos orofaciais e futuros fisioterapeutas orofaciais e odontólogos
nessa articulação durante o funcionamento da mandíbula e, principalmente, do corpo docente da FAFISC, pois o
e limitações ou desvios nos movimentos mandibulares estudo referido é pouco desenvolvido no âmbito da
de extensão [7,8]. fisioterapia.
O masseter corresponde a um dos músculos da Pelo fato de a fala ser o instrumento de trabalho dos
mastigação. É um músculo quadrilátero, espesso, que se professores, dentre outros contextos pedagógicos e
localiza na face lateral do ramo da mandíbula e é dividido, didáticos, e a atividade de docência exigir um nível de
parcialmente, em porções superficial, média e profunda. atenção mais apurado, há a geração de um nível maior de
O masseter é suprido pelo nervo trigêmeo, divisão estresse, conseqüentemente gerando hiperatividade da
mandibular. É um poderoso levantador da mandíbula, ATM e tensão muscular. O resultado final pode ser
sendo considerado o músculo principal dessa função. As irritabilidade, distúrbios do sono, criando um ciclo de
fibras superficiais ajudam a tracionar a mandíbula para retro-alimentação negativa, que resultará em uma queda
frente, durante o movimento de protração [5,6,9]. do rendimento do professor. Quase sempre, essa relação
A maior característica da dor miofacial inclui fraqueza com a hiperatividade passa despercebida na visão global
muscular e dor pontual, denominada trigger points, dor dos professores, todavia, trazendo grandes prejuízos
local e referida. Entretanto, dor miofacial, particularmente futuros na vida dessas pessoas [3].
na cabeça e pescoço, tem numerosos achados e associações
comuns com desordens articulares e outras desordens Materiais e métodos
dolorosas, que podem confundir o diagnóstico [10].
Em Caratinga, a incidência de dor por tensão muscular A revisão de interesse acadêmico visou promover uma
masseterina é de 44,5%, sendo a comunidade feminina a estruturação do projeto, baseada em artigos científicos e
mais acometida, de acordo com o Projeto denominado dissertações, no decorrer dos seis meses de pesquisa para
“Dia D”, executado no centro da cidade, nos dias 14 de levantamento de dados.
outubro de 2002 e 28 de abril de 2003, pelos alunos da Para a execução desta pesquisa, foi feito um estudo de
Instituição FUNEC, Fundação Educacional de Caratinga, campo analítico. Foram avaliados 8 professores da
na disciplina Preventiva, ministrada pelo professor Marcus Faculdade de Fisioterapia de Caratinga-FAFISC,
Vinícius de Mello Pinto. O sexo feminino apresenta voluntários, com faixa etária entre 26 a 50 anos, mediante
lassidão articular que não estabiliza a ATM. A tensão assinatura do termo de consentimento do Projeto
miofascial é, freqüentemente, vista como uma causa Científico, respeitando a resolução 196/96, segundo o
comum de dor persistente [2,10-13]. Conselho Nacional de Saúde e Comitê de Ética
138 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Institucional. No presente estudo, foram selecionados amostragem superior a 30 Khz em cada canal. O limite de
professores assintomáticos, previamente avaliados pelo tensão de entrada elétrica no eletromiógrafo é de,
fisioterapeuta orofacial e orientador deste projeto para aproximadamente, 5 Volts, a velocidade de conversão
determinar os critérios de inclusão e exclusão. mioelétrico na ordem de 25ms.
Os critérios que determinaram esta metodologia A curva de calibração estática do sensor da célula de
seguem abaixo: carga é do tipo Y = 366.24.X + 11,74, esse numeral
A) Critérios de inclusão: matemático refere-se à quantidade de carga vetorial que
o masseter pode receber no exame clínico.
• Disponibilidade de tempo do professor;
O computador utilizado foi um Note Book Pentium
• Apresentar tensão masseterina exacerbada espontânea;
4, marca Metron de 1Ghz, com uma impressora HP 610-
• Dor espontânea e/ou palpatória, na avaliação do
C. O sistema de informática que foi usado é da marca
fisioterapeuta orofacial;
EMG SYSTEM do Brasil. Esse instrumento chama-se
B) Critério de exclusão: Aq dados de eletromiografia.
• Professores que não cumprirem o critério de inclusão; Este projeto não teve a intenção de risco significativo
• Professores que não são exclusivos da FUNEC; aos humanos voluntários. A dificuldade encontrada para
• Professores que apresentem edema externo, dermatite, a execução do projeto foi a disponibilidade de tempo dos
imunossupressão, marcapasso, hipersensibilidade à voluntários.
estimulação (feridas abertas e queimados);
• Professor não-cooperativo; Resultados
• Professor que tenha sofrido infarto do miocárdio,
recentemente; Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos
• Professores que apresentem distúrbios psicológicos; à análise interferencial, com a aplicação de análise des-
• Professores que apresentam distúrbios cervicais. critiva, tendo os cálculos de interpretação, significância
estatística, pois os dados obtidos não foram coerentes com
O estudo foi iniciado no mês de novembro de 2003. a aplicação de teste paramétrico. Tal fato pode ser
O diagnóstico fisioterapêutico foi feito pelo fisioterapeuta justificado, tendo em vista o estado de tensão muscular
orofacial e orientador deste projeto. contralateral e da biomecânica da Articulação Temporo-
A avaliação eletromiográfica foi realizada durante o Mandibular da amostra estudada.
período de aula. Estatisticamente, os resultados apresentam-se
Cuidados para a realização do exame EMG: positivos, conforme abaixo, mostrando as alterações
• A temperatura do laboratório para o experimento foi importantes que devem ser relevadas.
de 18o a 26oC. Figura 1 – Representação gráfica da antropometria facial, comparando o
• O paciente apresentava-se assentado. lado direito com o esquerdo, após avaliação eletromiográfica – Caratinga
• A higienização da face dos pacientes foi realizada com MG, 2003.
álcool a 70%;
• Foram aderidos 02 (dois) eletrodos auto-adesivos, de
um eletromiógrafo de superfície no ventre do músculo
masseter;
• Teste para verificação se todos os eletrodos foram
corretamente fixados;
• Solicitação para o paciente relaxar a musculatura;
• Realização da contração voluntária máxima, após aviso,
e continuidade dessa, durante todo o ensaio (de 20 a
35 segundos).
• Realização de uma seqüência de 10 (dez) etapas em
intervalo de 02 a 05 segundos, sem intervalo para
descanso;
• Gravação do sinal adquirido, com o uso do SAD 32,
para, posteriormente, ser processado.
A Figura 01 nos mostra a antropometria facial de 08
Foi eleita a eletromiografia com sensores de célula de professores voluntários avaliados. Percebemos que 25% dos
carga e placa auto-adesiva da marca EMG System do Brasil voluntários apresentaram variância significativa de 01 cm
LTDA. O equipamento eletromiógrafo consiste em uma (um centímetro) de discrepância do lado direito, em relação
placa A/D interna com resolução 16 Bites e taxa de ao esquerdo.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 139

Figura 2 – Representação gráfica da avaliação eletromiográfica em repouso, A Figura 4 nos mostra a avaliação eletromiográfica do
comparando o músculo masseter direito e esquerdo – Caratinga-MG, 2003. músculo masseter, bilateralmente em isotonia, de 08
professores voluntários avaliados. Percebemos que
apresentam variância significativa. Foram utilizados, para
maior fidedignidade do teste, células de carga do tipo
Strain Gauges, sendo verificado que a força muscular
mastigatória à esquerda é mais presente em força e
voluntarismo das fibras musculares do masseter. Na
ordem de 62,5% dos professores apresentaram diferença
tensional maior à esquerda, 25% à direita e 12,5% não
apresentaram diferença tensional.

Discussão

A Figura 2 nos mostra a avaliação eletromiográfica do Os resultados desta pesquisa, embora satisfatórios no
músculo masseter bilateralmente em repouso, de 08 que tange aos três níveis de contração muscular
professores voluntários avaliados. Percebemos que mastigatória, têm suas importâncias como fomento
apresentam variância significativa. Dos professores, 50% clínico para trabalhos futuros, além de incentivar, cada
apresentaram diferença tensional maior à esquerda, 25% vez mais, a prática de pesquisa.
dos professores apresentaram diferença tensional maior à Esses achados contrastam com os resultados de Turcio
direita e 25% não apresentaram diferença tensional. [9], que demonstrou uma dominância co-contracional em
90% da população amostral, do lado direito, sendo que os
Figura 3 – Representação gráfica da avaliação eletromiográfica resultados desta presente pesquisa mostram dominância
em isometria, comparando os músculos masseter direito e co-contracional e desordem funcional à esquerda, em
esquerdo – Caratinga-MG, 2003. 62,5%. Este episódio clínico apresentou-se em detrimento
dos níveis de atividade laboral da população amostral
envolvida neste trabalho.
De acordo com os resultados da presente pesquisa, foi
sugerida a antropometria de face, com verificação das
curvas de spee, sendo observada uma relação de 25% dos
voluntários, apresentando uma discrepância de 01 (um)
centímetro da ATM direita, em relação a ATM esquerda
[16].
Os dados obtidos em repouso, dentro da avaliação
eletromiográfica de superfície, foram de padrão de
A Figura 3 nos mostra a avaliação eletromiográfica do significância, pois 50 % da amostra apresentaram
músculo masseter bilateralmente em isometria, de 08 diferenças tensionais maiores no músculo masseter
professores voluntários avaliados. Percebemos que esquerdo, em relação ao direito. Nesse caso, a literatura
apresentam variância significativa. Dos professores, 50% reforça alterações biomecânicas na ATM, visto, neste
apresentaram diferença tensional maior à direita, 25% à trabalho, na alternância das curvas de spee, dando
esquerda e 25% não apresentaram diferença tensional. alteração na mecânica articular da ATM [17,18].
Os valores obtidos eletromiograficamente, na condição
Figura 4 – Representação gráfica da avaliação eletromiográfica isométrica do músculo masseter, demonstraram uma
em isotonia, comparando o músculo masseter direito e esquerdo variável de 50% do universo amostral estudado, tendo
– Caratinga-MG, 2003. em vista que o músculo masseter direito apresentou-se
com maior viabilidade contracional de força e tensão.
Autores sugerem que, na contração isométrica, o estado
mecânico articular sofre uma modificação fisiológica, pois
a concentração de força masseterina altera o eixo de
fixação das cinco aponeuroses do músculo masseter, assim
sobrecarregando mais um lado, em relação ao outro, da
articulação temporo-mandibular [19].
Na condução eletromiográfica, para verificação da
isotonia mastigatória presente neste estudo, observamos
140 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

que 62,5% da população amostral estudada apresentaram 3. Bakke M, Stoltze K, Tuxen A. Variables related to masseter
estado tensional significativo, na musculatura masseterina muscle function: a maximum R2 improvement analysis. Scand
esquerda e 25% na musculatura masseterina direita, e J Dent Res 1993;1001:159-65
12,5% apresentaram estado de equivalência bilateral na 4. Okeson JP. Dor orofacial: guia de avaliação, diagnóstico e
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assim, o estado biomecânico articular da ATM será o symptoms associated with temporomandibular disorders
responsável por alterações no sinal mioelétrico, visto na in Hong Kong chinese. J Orofac Pain 2001;15(3):228-34.
coleta eletromiográfica desta pesquisa [2]. 7. Balbinot A. Sistema experimental, assistido por
computador desenvolvido para medições do período de
Conclusão silêncio de pessoas com problemas na articulação
têmporo-mandibular. [Citado 2003 jun 5]. Disponível em
De acordo com a análise estatística, concluímos que URL: http://www.abopa.org.br/ Materiacientif.htm
8. Palastanga N, Field D, Soanes R. Anatomia e movimento
houve uma variação do sinal eletromiográfico do músculo
humano – estrutura e função. São Paulo: Manole; 2000.
masseter esquerdo, em relação ao direito, sendo que, em 9. Turcio KHL et al. Avaliação eletromiográfica e
repouso, 50% da amostra apresentaram diferença tensional eletrovibratográfica antes e após o tratamento da desordem
maior no masseter esquerdo e isotonia, com 62,5% dos têmporo-mandibular. Araçatuba 2002. 08 (f.). [Monografia].
professores apresentando maior diferença tensional à Araçatuba: UNESP Faculdade de Odontologia. PGRO-
esquerda, em contraste com o sinal eletromiográfico em Pós-Grad Rev Bras Odontol 2002;5(2).
isometria, que apresentou 50% da população amostral 10. Henry Gray FRS. Gray anatomia. 29a ed. Rio de Janeiro:
com diferença tensional à direita. Sendo assim, Guanabara; 1999. p.242-3.
observamos que, nesse caso, a literatura reforça alterações 11. Bassanta AD, Sproesser JG, Paiva G. Estimulação elétrica
transcutânea (“TENS”): sua aplicação nas disfunções
biomecânicas na ATM, vistas neste trabalho na
têmporo-mandibulares. Rev Odontol Univ São Paulo
alternância das curvas de spee, dando alteração na
1997;11(2):109-16.
mecânica articular da ATM. 12. Machado SG. Disfunções têmporo-mandibulares: fatores
A fala, por ser um fator agravante, necessita de um etiológicos e conseqüência da musculatura mastigatória.
diagnóstico e tratamento precoce, evitando, no futuro, São Paulo: Centro de especialização em fonoaudiologia
uma fonte geradora de dor, transtorno da fala e do aparelho clínica motricidade oral; 1998. p.66.
mastigatório. Sabe-se que existem medidas preventivas, 13. Molina OF. Fisiopatologia crânio mandibular. [S.l.]:
de baixo custo, que podem ser oferecidas pela própria Pancast; 1989. p.372-3.
instituição FUNEC, justificando-se realizar um estudo 14. Bakke M, Michler L, Hank & Möller E. Clinical
aprofundado com um N mais significativo e com estudos significance of isometric bite force versus electrical
activity in temporal and masseter muscles. Scand J Dent
de controle randomizado, para que possamos observar o
Res 1989;98:539-51.
nível de disfunção muscular facial, para que o fisioterapeuta 15. Pinto MVM et al. Estudo da Eletromiografia de superfície
orofacial, no futuro, atue na atenção primária à saúde, em 40 pacientes portadores de tendinite do músculo
visando a prevenção, a promoção e a recuperação masseter. In: X Congresso Brasileiro de Biomecânica.
funcional das estruturas lesadas da articulação crânio [S.l.]: CAPES, CNPQ e FAPEMG; 2003. p.376.
mandibular. 16. Fricton JR. Masticatory myofascial pain. Bull Group Int
Rech Sci Stomatol Odontol 1999: p. 14-25.
Referências 17. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia clínica:
eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2a ed. Porto Alegre:
1. Henry JL, Weinman JP. The patterns of the resorption Artmed; 2002. p.353.
and repair of human cementum. J Am Dent Assoc 18. Okeson JP. Fundamentos de oclusão e desordens têmporo-
1951;42:270. mandibulares. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992. p.449.
2. Lam DK, Lawrence HP, Tenenbaum HC. Aural symptoms 19. Zanini CFC. Os hábitos parafuncionais na disfunção da
in temporomandibular disorder patients attending a articulação temporo-mandibular. [Monografia] Porto
craniofacial pain unit. J Orofac Pain 2001;15(2). Alegre: Centro de especialização em fonoaudiologia
clínica motricidade oral; 1999. p.62. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 141

Artigo original

Trauma raquimedular – perfil epidemiológico


dos pacientes atendidos pelo serviço público do estado
de Goiás nos anos de 2000 a 2003
Spinalcord injury – statistical research of patients treated
by the public service of Goiás state at 2000 and 2003

Melissa Nascimento Barros*, Renata Cristina Basso**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

* Fisioterapeuta do Hospital de Urgências de Goiânia, Membro do Serviço de Cirurgia da Coluna Vertebral da Faculdade
de Medicina do Hospital das Clínicas da UFG, Professora de Fisioterapia e Saúde Pública da Faculdade Cambury,
**Especialista em Traumato-ortopedia pela USP (FMUSP-RP), Membro do Serviço de Cirurgia da Coluna Vertebral
da Faculdade de Medicina do Hospital das Clínicas da UFG, Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação e Readaptação
Dr. Henrique Santillo-CRER, Fisioterapeuta do Hospital de Urgências de Goiânia.

Resumo Abstract
As fraturas de coluna são lesões que, se desprezadas no Spinal cord injury has a high morbidity rate when it is under-
atendimento inicial, cursam com alta morbidade. Não é raro treated. Commonly that kind of injury takes place in conjuntion
que pacientes sofram lesões medulares em decorrência de with an inadequate first attendance or a fraught initial medical
um socorro inicial inadequado ou de um primeiro atendi- assistance. The emerging of high-specialized rescue groups with
mento hospitalar mal conduzido. Com o surgimento de rigid spinal cord injury prevention protocols hopefully will decrease
equipes de resgate nos grandes centros urbanos, que adotam the prevalence of several injuries. Every accident victim must be
protocolos rígidos de prevenção de traumas raquimedulares assessed for vertebral fractures. At the state of Goiás, all the spinal
(uso de colares cervicais, pranchas), espera-se que o número fractured patient are taken to the Hospital de Urgências de Goiânia
de lesões secundárias diminua. Todo politraumatizado deve (HUGO) and Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
ser examinado para afastar a hipótese de lesões vertebrais. (FMHC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), which
No estado de Goiás, todos os pacientes com fraturas de colu- treatment responsibility falls over the Grupo de Cirurgia da Coluna
na são encaminhados ao Hospital de Urgências de Goiânia Vertebral (Spinal Cord Surgery group) of the FMHC-UFG. The
(HUGO) e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina physical therapy group did an injured patients epidemiological
(FMHC), da Universidade Federal de Goiás (UFG), cuja research. From January 2000 to December 2003, 632 patients’
responsabilidade de tratamento é da equipe de Cirurgia da histories were collected. Most of those patients were males under
Coluna Vertebral da FMHC-UFG. O serviço de fisioterapia 25 years old. The main etiology was spinal cord injury caused by
desta equipe realizou um levantamento epidemiológico dos car accident (44%), with a mean toraco-lumbar level (51%) with
pacientes com trauma raquimedular. Foram avaliados 632 no sensitive and motor functions alteration (44%). The main
pacientes no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2003, deficit was paraplegia (26%). Seventy five per cent were
com faixa etária predominante de pacientes jovens com até complications free and at 54% of the cases the first aids were
25 anos, sendo a maioria do sexo masculino. A principal conducted by non-medical persons. The main of this study is to
etiologia de lesão medular foi acidente de trânsito (44%), o demonstrate the importance of educational and preventive
nível de lesão mais freqüente foi o tóraco-lombar (51%), o programs in reducing of the spinal cord injured incidence.
quadro sensitivo e motor permaneceu inalterado em 44% e o Key-words: spinal cord injury, epidemiology, public health.
principal déficit foi a paraplegia (26%); 75% dos casos não
apresentaram complicações e os primeiros socorros, em sua
maioria (54%), foram prestados por leigos. O objetivo desta
pesquisa é demonstrar a necessidade de elaborar e implantar
campanhas educativas e preventivas, visando diminuir a inci-
dência de pacientes vítimas de lesão medular.
Palavras-chave: lesão medular, epidemiologia, prevenção.

Recebido em 1 de fevereiro de 2005; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Renata Cristina Basso, Rua T13, 132/803, Ed. Ipanema, Setor Bela Vista 74823-400 Goiânia GO. Tel: (62)
255-4095/9687-1222, E-mail: renatabasso@yahoo.com.br
142 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Introdução melhorando a qualidade de vida da população e diminuindo


os custos com esses pacientes, como também, campanhas
A lesão da medula é uma grave síndrome incapacitante de esclarecimento para a população a fim de elucidar
neurológica que acomete o ser humano [1]. O trauma medidas adequadas a serem tomadas frente a qualquer
que altera a função medular produz, como conseqüência, acidentado .
além de déficits sensitivos e motores, alterações viscerais,
sexuais e tróficas abaixo da lesão [2]. Material e métodos
No Brasil, apesar de não haver dados epidemiológicos
nacionais, a incidência da lesão medular vem aumentando O trabalho foi desenvolvido no Hospital de Urgências
significativamente, principalmente nos grandes centros de Goiânia – HUGO e Hospital das Clínicas – HC, nos
urbanos. As lesões medulares acometem pacientes jovens, anos de 2000 a 2003, onde 632 pacientes foram avaliados
com predomínio do sexo masculino, sendo sua principal pelo serviço de fisioterapia, após diagnóstico médico de
etiologia, a traumática [1]. traumatismo raquimedular.
Dentre as causas traumáticas que podem ser vistas, A metodologia utilizada para o diagnóstico do trauma
destacam-se as fratura-luxações decorrentes de acidentes raquimedular foi através de avaliação clínica, exame
de trânsito, esporte, quedas e acidentes de trabalho, assim neurológico completo, incluindo a classificação da ASIA
como os ferimentos por arma branca e arma de fogo [2]. e radiografia, tomografia computadorizada e ressonância
Segundo Knobel [3], o traumatismo raquimedular pode magnética.
ser produzido de forma direta ou indireta. A lesão indireta O questionário desenvolvido buscou determinar a
decorre de forças aplicadas à distância, que se traduzem idade dos pacientes com traumatismo raquimedular, bem
em flexão ou extensão anormais, além de tração, compres- como o sexo, o estado civil, a procedência, a data do
são ou rotação, e mecanismos combinados. A lesão direta trauma, etiologia, o nível da lesão medular, tempo de
é provocada por ação direta contra a coluna, podendo ser internação, tipo de tratamento, complicações durante
fechada (decorrente de lesão vascular, ruptura meníngea período de internação, patologias associadas, quadro
e laceração de substância nervosa com conseqüente sensitivo-motor e os prestadores de primeiros socorros.
isquemia e necrose), ou aberta (decorrente de lesão por O tipo de pesquisa utilizado foi a pesquisa de survey. Uma
arma de fogo ou armas brancas). As lesões esqueléticas vez coletados, os dados foram resumidos e apresentados
encontradas são o acunhamento vertebral ou fratura por em gráficos, a fim de que se pudesse realizar uma análise
compressão, explosão vertebral, luxação com tração e exploratória dos mesmos.
rotação.
O cuidado agudo do indivíduo com lesão medular é Resultados
direcionado à estabilização da condição clínica, tratamento
das lesões associadas quando presentes, e imobilização Foram avaliados 632 casos de pacientes com trauma
apropriada. O prognóstico do paciente com trauma raqui- raquimedular atendidos pela Equipe de Fisioterapia do
medular dependerá do nível da lesão medular, do grau de Serviço de Cirurgia da Coluna Vertebral da FMHC-UFG
lesão medular em diâmetro e comprimento, do tempo no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2003. Destes,
de instalação da lesão e do manejo realizado [2]. 542 (86,2%) eram do sexo masculino e 90 do sexo
Após a fase de choque, o sistema nervoso volta a feminino (13,8). A idade média foi de 27 anos. Quanto à
desempenhar respostas sinápticas, no início, de baixa etiologia, 255 (44%) referem-se a acidentes de trânsito,
intensidade ou intermitente, que logo reagem de forma sendo 187 (26%), acidentes automobilísticos e 78 (19%),
excessiva e incoordenada aos estímulos periféricos, acidentes motociclisticos, 195 (31%) por queda, 79 (13%)
formando respostas reflexas localizadas ou em massas. por arma de fogo, 58 (9%) por mergulho em águas rasas e
Tal situação de liberação dos reflexos medulares ocorre 55 (8%) por outras causas. No que concerne à data do
na região da lesão do sistema nervoso central, onde há trauma, 217 (35%) ocorreram no período de janeiro a
lesão do neurônio motor superior, e não em lesões do abril, 206 (32%) de maio a agosto e 209 (33%) de setembro
sistema nervoso periférico, com conseqüente lesão do neu- a dezembro. O nível de lesão mais acometido foi o tóraco-
rônio motor inferior, como nos casos de lesão de cone lombar, com 338 (51%) casos, seguido pelo nível cervical
medular e cauda eqüina [2]. com 270 (45%) casos, e 10 (1%) pacientes tiveram acome-
Os dados epidemiológicos nacionais sobre trauma timento cervical associado ao tóraco-lombar. Quatorze
raquimedular são escassos, sendo que este trabalho tem (3%) casos não apresentaram lesões. As complicações
por objetivo traçar um perfil dos pacientes atendidos pelo respiratórias foram as mais encontradas, totalizando 63
serviço público do estado de Goiás nos anos de 2000 a (10%) casos. Cinqüenta (8%) pacientes apresentaram
2003, contribuindo com dados que poderão ser usados úlceras de decúbito, 43 (7%) apresentaram infecção de
em campanhas educativas de prevenção de acidentes, trato urinário e a grande maioria, 475 (75%) casos, não
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 143

apresentou nenhuma complicação. Duzentos e setenta e sete


(44%) não apresentaram déficit neurológico, enquanto que
118 (17%) apresentaram tetraplegia, 164 (26%), paraplegia,
27 (4%), tetraparesia, 12 (2%), paraparesia e 44 (7%), outras
(monoparesia, hemiparesia e Brow-Sequard). Os primeiros
socorros foram prestados por leigos em 339 (54%) casos,
169 (27%) por bombeiros, 23 (4%) por policiais e 101 (15%)
não souberam informar.

Discussão

Os dados encontrados se mostram consensuais com a


literatura pesquisada, porém, a falta de literatura brasileira
sobre estatística do trauma raquimedular é fato presente
e apontado, principalmente, por Greve e Amatuzzi [1]
quando dizem: “No Brasil, embora não haja dados epide-
miológicos nacionais, a incidência de lesão medular vem
aumentando de maneira significativa, principalmente nos
grandes centros urbanos”.
Vale ressaltar a importância de se correlacionar a idade
dos pacientes com a causa do trauma, para avaliar se a
incidência das lesões ocorre por imprudência desses pa-
cientes. No que concerne à idade, a grande maioria dos
pacientes encontra-se na faixa etária compreendida entre
12 e 35 anos, ou seja, em plena produtividade, o que
significa um prejuízo bastante significativo para o estado.
Fatores característicos da própria idade em relação à
responsabilidade são de conhecimento público e notório
e amplamente utilizados pelas seguradoras de veículos,
onde a imprudência é mais característica em indivíduos
jovens do sexo masculino [4]. Da mesma forma, observou-
se que 39% das lesões raquimedulares foram causadas por
acidentes de trânsito.
Pode-se dizer que constatamos que o aumento
proporcional no número de lesões está diretamente rela-
cionado aos feriados prolongados e aos finais de semana,
pois, ao avaliar a variação de ocorrência de trauma raqui-
medular nos diferentes meses do ano, há um aumento de
traumas próximo a feriados e datas festivas.
As complicações apresentadas são pouco significantes,
fato este que comprova a eficiência do tratamento precoce
e a integração da equipe multidisciplinar no cuidado com
o paciente lesado medular. Assim, pode-se atuar na
prevenção das úlceras de decúbito, complicações respira-
tórias e do imobilismo, reabilitação vesical e intestinal, e
oferecer orientações acerca da importância das mudanças
de decúbito para o paciente e seus familiares.
144 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Outra consideração importante é a ocorrência de lesão despreparados, sugerindo que devem ser incentivadas
medular resultante de má manipulação do paciente, campanhas de orientação quanto a procedimentos básicos
imediatamente após a lesão [6]. Entretanto, os primeiros de primeiros socorros e/ou deve-se conscientizar a
socorros são realizados, na maioria das vezes, por pessoas população a aguardar socorro especializado (p.ex. equipes
inabilitadas e inexperientes. de resgate dos bombeiros). Para tanto, o governo e os
Os primeiros socorros devem ser prestados por profissionais de saúde devem se organizar de forma a
profissionais qualificados, os quais transportarão o assumir esse papel, visando uma medicina preventiva.
paciente para o centro hospitalar, em uma superfície plana Apesar da amostra ser composta apenas por aqueles
e rígida, além de um colar cervical. Estas medidas tratados pelo serviço de Fisioterapia da equipe de Cirurgia
auxiliam na manutenção da coluna vertebral em uma da Coluna Vertebral da FMHC-UFG, através de pedidos
posição anatômica, neutra e impedindo outras lesões de parecer da equipe médica, podemos concluir que o
neurológicas [4]. Cerca de 10% dos pacientes com trauma prejuízo social gerado é bastante significativo e que as
raquimedular apresentam lesões em outros locais, assim, campanhas de prevenção de uso de drogas e bebidas
é necessário ter cuidado ao transportar estes pacientes. alcoólicas, de acidentes de trânsito, de desarmamento e
Uma imobilização inapropriada pode provocar desloca- de acidentes de trabalho é a melhor solução para diminuir
mento da fratura e comprometer a medula, conseqüen- a ocorrência de lesão medular no Brasil.
temente, o prognóstico bom, passará a ser ruim [5].
Grande parte dos pacientes procedeu do interior do Referências
estado de Goiás e de outros estados. Os hospitais, sendo
projetados para atender a população de Goiânia ficam 1. Amatuzzi MM. Medicina de reabilitação aplicada à
sobrecarregados, havendo, assim, a necessidade da ortopedia e traumatologia. São Paulo: Roca; 1999. p. 323-
construção de novos locais que ofereçam atendimento 4.
2. Llanza S. Medicina de reabilitação. 23a ed. Rio de Janeiro:
especializado.
Guanabara Koogan; 1995. p. 300-1, 324.
3. Knobel Elias. Condutas no paciente grave. 23a ed. São
Conclusão Paulo: Atheneu; 1998. p. 183.
4. O’Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia, avaliação e
Acidente de trânsito foi a principal causa de fraturas tratamento. 23a ed. São Paulo: Manole; 1993. p. 874, 887-8.
de coluna, nesta série. Indivíduos jovens do sexo 5. Belanger E, Levi AD. The acute and chronic management of
masculino constituem a maioria das vítimas e, portanto, spinal cord injury. Miami: J Am Coll Surg 2000;190(5):603-18.
este deve ser o principal alvo de campanhas de prevenção. 6. Adams RD, Victor M. Neurologia. 53a ed. Rio de Janeiro:
A maioria dos pacientes é resgatada por indivíduos Mc Graw-Hill; 1996. p. 254. 
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 145

Revisão

Ventilação não-invasiva na unidade de terapia intensiva:


o manuseio da técnica pelo fisioterapeuta
Noninvasive ventilation in intensive care unit: management
of the technique by the physical therapist

Verônica Franco Parreira, D.Sc.*, Simone Assunção Mota de Carvalho**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Respiratória – Serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, **Fisioterapeuta, Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo Abstract
Este artigo tem o objetivo de discutir o papel do fisiote- The aim of this study is to discuss the physical therapist’s role
rapeuta no manuseio da ventilação não-invasiva dentro da about the management of noninvasive ventilation in intensive
unidade de terapia intensiva, que presta assistência a pacientes care unit for adult patients. The use of noninvasive ventilation as
adultos. A utilização da ventilação não-invasiva como abor- a therapy for critically ill patients needs the presence of a
dagem terapêutica a pacientes criticamente enfermos pres- multiprofssional team. Specifically, the role of the physical therapist
supõe a presença de uma equipe multiprofissional. Especifi- varies widely from hospital to hospital and presents basically three
camente, o papel do fisioterapeuta é variável de uma institui- sides: evaluation (clinical and laboratorial data), technique
ção à outra e apresenta basicamente três faces: observação/ implementation (choice of ventilatory mode, ventilator settings
avaliação do paciente (dados clínicos e laboratoriais), aplica- and interface) and patients follow-up (needs of setting
ção da técnica (escolha da modalidade ventilatória, ajustes adjustments and non-invasive ventilation interruption or ending).
do ventilador e interface) e acompanhamento da evolução Non-invasive ventilation has been used to help critically ill patients
do paciente (necessidade de realizar ajustes e a decisão de because of advantages with respect to invasive ventilation
interromper ou finalizar a ventilação não-invasiva). A venti- performed by endotracheal tube or traqueotomy. Literature has
lação não-invasiva tem sido utilizada na unidade de terapia related clinical situations and patients that could benefice from
intensiva procurando favorecer pacientes críticos, em virtude non-invasive ventilation. Aa adequate patient’s selection is one of
de suas vantagens em relação à ventilação invasiva, realizada the most important factors for therapy success. Predictors of
através de tubo endotraqueal ou traqueostomia. A literatura success, failure and contraindications for noninvasive ventilation
tem descrito as situações clínicas e a clientela que poderá se are relatively well established.
beneficiar com o uso da mesma. A seleção adequada desses Key words: noninvasive ventilation, intensive care unit, acute
pacientes é um dos principais fatores responsáveis pelo respiratory failure.
sucesso da técnica. Atualmente, fatores preditivos de sucesso,
critérios de falência e contra-indicações à ventilação não-
invasiva já estão, relativamente, bem estabelecidos.
Palavras-chave: ventilação não-invasiva, unidade de terapia
intensiva, insuficiência respiratória aguda.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução inicialmente, realizada através da aplicação de pressão


negativa, que utiliza o princípio de gerar uma pressão
Ventilação não-invasiva (VNI) refere-se às formas de negativa dentro do tórax através de dispositivos presentes
ventilação artificial que são implementadas sem excluir em diferentes equipamentos como o pulmão de aço, o
as vias aéreas superiores da “rota de passagem” do fluxo poncho ou a couraça [2,3]. Porém, desde a publicação dos
aéreo, ou seja, sem o uso de tubo endotraqueal ou cânula resultados obtidos com o uso de pressão positiva, em
de traqueostomia [1]. A ventilação não-invasiva foi, relação àqueles obtidos utilizando a pressão negativa, a

Recebido em 27 de abril de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Profa. Dra. Verônica Franco Parreira, Rua Dona Cecília, 500/1504 Serra 30220-070 Belo Horizonte
MG, E-mail: parreira@metalink.com.br
146 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

VNI tem sido realizada de forma preponderante através A forma de atuação é variável de um hospital a outro,
da aplicação de pressão positiva [4]. numa mesma cidade ou região do Brasil, e sem dúvida
O uso da VNI como parte da abordagem terapêutica a essas diferenças existem também entre os países [22,23].
pacientes criticamente enfermos, pressupõe a presença de Apesar disto, a contribuição do fisioterapeuta na assistên-
uma equipe multiprofissional, composta basicamente de cia ao paciente crítico e na organização do processo de
médicos, fisioterapeutas e enfermeiros. Especificamente, trabalho dentro da unidade de terapia intensiva tem sido
o papel do fisioterapeuta no manuseio dessa técnica tem reconhecida [5,24]. Este profissional desempenha um
três faces: observação/avaliação do paciente, aplicação da papel de interface entre a tecnologia e o paciente [22].
técnica e acompanhamento da evolução do paciente [5]. Este artigo pretende abordar o papel do fisioterapeuta
No Brasil, recentemente, foi regulamentada pelo Ministério na unidade de terapia intensiva, no que se refere à seleção
de Saúde a necessidade de, pelo menos, um fisioterapeuta dos pacientes, escolha de interface e modalidades
para cada 10 leitos na unidade de terapia intensiva (portaria ventilatórias, e acompanhamento da evolução do paciente.
n° 3432, de 13/08/1998). A realidade nos mostra que,
apesar desta regulamentação, existem unidades de terapia Avaliação inicial
intensiva que ainda não dispõem, em seus quadros, do
fisioterapeuta. Nestas instituições a VNI é realizada, Definida a indicação da VNI, os benefícios que podem
quando plausível, por outros profissionais da equipe. ser alcançados serão otimizados através da correta escolha
Durante a reunião de consenso sobre o uso da VNI na de diferentes modalidades ventilatórias, ajustes de parâmetros
insuficiência respiratória aguda (IRA), realizada sob os do ventilador e interfaces disponíveis [6,8]. Explicar ao
auspícios de diferentes sociedades científicas incluindo a paciente, com clareza e cuidado, os procedimentos que serão
American Thoracic Society e a European Respiratory Society, realizados, transmitindo-lhe segurança e estabelecendo uma
ficou estabelecido que os objetivos dessa forma de assistência relação de confiança, é fundamental para o sucesso da
ventilatória dependem basicamente do contexto clínico. terapêutica [8]. O primeiro passo é observar e avaliar os
Na presença de IRA hipercápnica, a finalidade da VNI seguintes dados clínicos e laboratoriais apresentados pelo
seria reduzir o trabalho respiratório e aumentar a ventilação paciente: freqüência respiratória, padrão respiratório, uso de
alveolar buscando a estabilização do pH arterial, enquanto musculatura acessória, saturação em oxigênio da hemo-
na IRA hipoxêmica o objetivo seria manter um nível globina (SaO2), gasometria e níveis de pressão arterial [5]. A
adequado de oxigenação até que o problema de base seja escolha da modalidade ventilatória e o ajuste dos parâmetros
resolvido [6]. De forma conjunta, o uso da VNI na IRA do ventilador serão realizados em função dessa avaliação
busca evitar a intubação endotraqueal, minimizar ou inicial. Existem, no mercado, diferentes ventiladores
suprimir as complicações relacionadas ao uso de interface específicos para a implementação da VNI, bem como
invasiva, preservar a comunicação e alimentação, evitar a ventiladores que são utilizados tanto para a ventilação
necessidade de sedação, permitindo enfim, maior conforto mecânica convencional invasiva, como para a VNI,
ao paciente; buscando a redução da morbidade, da assegurando o uso de várias modalidades ventilatórias.
mortalidade e da estadia hospitalar [7,8].
A VNI é atualmente indicada em pacientes portadores Seleção dos pacientes
de IRA hipercápnica (em especial, em pacientes porta-
dores de doença pulmonar obstrutiva crônica, com os quais Uma seleção adequada dos pacientes é crucial para
já está demonstrada a redução de intubação, taxas de que se obtenha sucesso com a aplicação da técnica. Vários
mortalidade e estadia hospitalar) [6,8-10]. Na IRA autores têm descrito as características dos pacientes que
hipoxêmica de diferentes etiologias [6,8,11], a VNI parece poderão se beneficiar com a VNI, assim como as situações
ser responsável por especial benefício aos pacientes clínicas que diminuem ou, definitivamente, contra-
portadores de edema agudo de pulmão. Existem contro- indicam o uso desta abordagem [6,8,9,11,25,26]. Os
vérsias sobre o aumento da incidência de infarto do quadros 1 e 2 descrevem, de maneira sucinta, os critérios
miocárdio observado com o uso da VNI, ao serem compa- de seleção e os fatores preditivos de sucesso da VNI. A
rados dois níveis de pressão positiva e pressão positiva colaboração do paciente contribuirá para a adequada
contínua nas vias aéreas. Mehta et al. [12] encontraram execução da técnica e obtenção dos resultados esperados.
resultados diferentes para estas duas modalidades, não tendo
sido observado o mesmo no estudo de Park [13]. A VNI Escolha da interface
também está indicada em pacientes considerados de alto
risco para o desenvolvimento de insuficiência respiratória Outro fator importante na aplicação da VNI é a
aguda [14-16], como os imunossuprimidos [17,18], ou escolha da interface. Esta escolha deve ser baseada em
durante o desmame da ventilação mecânica convencional características como o peso da máscara, o conforto do
[19,20], entre outras indicações [14,21]. contato, o tipo de fixação (facilitando a colocação e a
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 147

Quadro 1 – Critérios de seleção de pacientes com insuficiência respiratória aguda para uso da ventilação não-invasiva.

Primeiro passo – Identificar pacientes que necessitam de assistência ventilatória:

- dispnéia moderada a severa


- FR > 24 irpm
- Uso de musculatura acessória
- respiração paradoxal
- PaCO2 > 45 mmHg e pH < 7,35 ou PaO2/FiO2 < 200
Segundo passo – Excluir pacientes que apresentem:

- necessidade de intubação imediata


- instabilidade hemodinâmica
- hipotensão, arritmia cardíaca ou isquemia
- hemorragia digestiva alta em atividade
- excesso de secreção
- ausência de proteção de vias aéreas superiores
- agitação ou não cooperação
- trauma facial ou anormalidade anatômica que interfira na fixação da máscara

Fonte: [8,36].
preocupação constante com qualquer vazamento existente
Quadro 2 – Fatores preditivos de sucesso durante a aplicação da
pode levar à tendência de supercompensar as perdas,
ventilação não-invasiva. através do ajuste da máscara excessivamente apertada
junto à face do paciente, podendo contribuir para alguma
Idade intolerância à máscara. Existem, no mercado, modelos
Baixo escore de APACHE de ventiladores que reconhecem perdas e ajustam o fluxo
Possibilidade de cooperar para manter os níveis da ventilação pré-determinados.
Capacidade de sincronização com o ventilador De qualquer forma, a presença de escapes importantes
Menor escape de ar
Hipercapnia (PaCO2 > 45 mmHg e < 92 mmHg)
requer atenção especial para o ajuste, tamanho, tipo de
Acidemia (pH <7,35 e >7,10) máscara e níveis pressóricos utilizados [29].
Melhora da hematose, FR e freqüência cardíaca dentro de 1 ou 2 O fisioterapeuta precisa dedicar tempo na escolha da
horas máscara. O ideal é dispor de diferentes tipos, possibilitando
Bom nível de consciência a escolha mais adequada a cada paciente. Nava et al. [30]
avaliaram o tempo gasto por fisioterapeutas, enfermeiros e
Fonte: [8,26].
médicos que atuam na unidade de terapia intensiva, nas
primeiras 48 horas de aplicação de assistência ventilatória
retirada da mesma), a presença do menor espaço morto realizada de forma invasiva ou não-invasiva em dois grupos
e, que a pressão exercida sobre os diferentes pontos de de pacientes semelhantes. Os resultados demonstraram uma
contato da face do paciente, seja a mais homogênea diferença significativa no tempo gasto pelo fisioterapeuta,
possível, prevenindo o aparecimento de lesões. Na nas primeiras 6 horas de assistência ventilatória realizada de
unidade de terapia intensiva a máscara mais utilizada forma não invasiva. Este estudo corrobora a idéia de que é
é do tipo facial ou naso-bucal, pois limita os efeitos necessário para o fisioterapeuta investir tempo suplementar
deletérios advindos da diminuição significativa do durante o início do uso da técnica.
volume corrente que, efetivamente, chega aos pulmões,
relacionados às perdas bucais. Assim sendo, os Escolha da modalidade ventilatória
pacientes que apresentam insuficiência respiratória
grave, freqüentemente, têm dificuldade de manter uma Pressóricas
oclusão bucal satisfatória quando é usada máscara nasal
[27,28]. As modalidades pressóricas são, com base na literatura
Uma máscara bem adaptada é fundamental para se existente, as mais utilizadas na prática clínica durante a
obter uma assistência ventilatória eficaz [6]. Entretanto, assistência ventilatória não-invasiva na unidade de terapia
um leve vazamento ao redor da máscara durante a intensiva. Provavelmente, isto ocorre em função da
ventilação não é prejudicial. O escape não pode ser grande melhor tolerância e adaptação, traduzindo uma melhor
o suficiente a ponto de interferir na ciclagem do sincronia paciente-ventilador [31-33] e uma correção mais
ventilador, sendo a monitorização do volume corrente rápida das alterações de gases sanguíneos [34]. As mais
espirado um bom indicador da ventilação adequada. A utilizadas são:
148 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

• A pressão positiva contínua nas vias aéreas (Continuous gerando quedas na SaO2, cujos níveis mínimos ficavam
Positive Airway Pressure- CPAP), que possibilita a abaixo de 80%. O uso de uma freqüência respiratória de
manutenção de um mesmo nível de pressão positiva segurança parece recomendável durante a aplicação de
durante todo o ciclo respiratório. Ela está indicada ventilação com dois níveis de pressão positiva, pois
essencialmente quando se busca uma melhora da evitaria o aparecimento de instabilidade do ritmo respi-
oxigenação em pacientes que não apresentam ratório, especialmente durante o sono [38]. Este estudo
hipercapnia. Este benefício é atingido através de um [38] foi realizado com sujeitos normais e, portanto, extra-
aumento da capacidade residual funcional e da polar estes resultados para pacientes com hipoventilação
ventilação colateral, da diminuição do shunt pulmonar, alveolar ou hipercapnia, não seria necessariamente correto.
assim como de contrabalançar os efeitos da hiperin- Entretanto, partindo do pressuposto que um dos objetivos
suflação dinâmica [5,33,35]. O modo espontâneo que fisiológicos da VNI é aumentar a ventilação alveolar dos
possibilita ao paciente iniciar e finalizar cada ciclo pacientes, é provável que estas observações, realizadas em
respiratório, é o único disponível quando se utiliza a sujeitos normais, sejam aplicáveis também a pacientes.
pressão positiva contínua nas vias aéreas. É necessário Além disso, quedas na SaO 2 de pacientes com hipo-
que o paciente tenha drive respiratório suficiente para ventilação noturna durante a VNI, realizada através de
desencadear os ciclos respiratórios [35]. dois níveis de pressão positiva no modo espontâneo, foram
• O suporte pressórico, que possibilita um auxílio observadas por outros autores [39].
inspiratório sem a utilização de pressão positiva no
tempo expiratório. Atingindo-se um bom ajuste do Volumétrica
nível de pressão inspiratória, espera-se um aumento
do volume corrente, uma diminuição da freqüência A ventilação volumétrica, muito utilizada na assistência
respiratória, a redução da atividade muscular e, em ventilatória não-invasiva domiciliar, é caracterizada pela
conseqüência, uma redução do consumo de oxigênio. determinação de um volume corrente pré-fixado. Dentro
O suporte pressórico tem sido utilizado em situações da unidade de terapia intensiva, sua utilização parece muito
clínicas com hipercapnia aguda [9,36]. restrita. Provavelmente, isto se deva a associação freqüente
• A ventilação com dois níveis de pressão positiva, que entre ventilação volumétrica e o modo controlado, que
apresenta a possibilidade de se associar um nível de
requer um período de adaptação à ventilação, sendo de difícil
pressão inspiratória diferente do nível de pressão expi-
implementação em pacientes que apresentam um quadro
ratória. Com essa modalidade é possível se obter, teori-
de insuficiência respiratória aguda com indicação de
camente, os benefícios clínicos descritos anterior-
assistência ventilatória [34].
mente, relativos aos efeitos da aplicação de pressão
positiva de forma contínua (CPAP), associados àqueles
obtidos quando a pressão é realizada somente no tempo
Ventilação proporcional assistida
inspiratório, o suporte pressórico [5,37].
A ventilação proporcional assistida é uma modalidade
Quando se trabalha com o suporte pressórico ou com ventilatória nova, baseada, mais no esforço desenvolvido
dois níveis de pressão positiva, pode-se utilizar o modo pelo paciente, que no ajuste de pressão ou volume, tendo
espontâneo ou o assistido. Quando se utiliza o modo como possíveis vantagens, melhorar o conforto do
assistido se pré-determina, além da pressão inspiratória paciente, reduzir o pico de pressão durante a ventilação
ou inspiratória e expiratória, respectivamente, uma assistida e evitar a intubação, entre outras [40]. Recen-
freqüência respiratória de segurança. Parece recomendável temente, alguns estudos realizados com pacientes
o uso de pressões inspiratórias em torno de 15 ou 20 cm portadores de insuficiência respiratória aguda, hipercáp-
H2O, com as quais é possível atingir aumento efetivo de nica ou não, têm demonstrado efeitos superiores desta
ventilação minuto e melhora clínica significativa, modalidade, quando comparada ao suporte pressórico, em
observada através da redução da freqüência respiratória, relação ao conforto do paciente [41], diminuição mais
padrão respiratório e gases sanguíneos [9,11,38]. Para se rápida da freqüência respiratória e número de complicações
atingir o nível de pressão inspiratória ideal é interessante [42]. É importante ressaltar que esta é uma modalidade
realizar um aumento progressivo, permitindo ao paciente ventilatória que está disponível em poucos ventiladores,
um período de adaptação [8]. se comparada a outras modalidades.
Experimentalmente, foi demonstrada a presença de
instabilidade do ritmo respiratório, com a ocorrência de Acompanhamento da evolução
períodos de apnéias do tipo central, quando se utilizou
ventilação com dois níveis de pressão positiva no modo O acompanhamento da evolução do paciente pelos
espontâneo [37]. Num estudo posterior, este fenômeno profissionais envolvidos na atenção ao paciente sob VNI,
ocorreu durante vigília, mas foi exacerbado pelo o sono, é imprescindível. Os ajustes do ventilador serão feitos
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 149

em função do estado cardiorrespiratório, assim como dos Referências


dados hemodinâmicos e gasométricos do paciente, que
podem se alterar de um momento a outro. Portanto, cabe 1. Parreira VF. Upper airways in non-invasive mechanical
ao profissional avaliar a evolução e participar da tomada ventilation - physiological and clinical studies. [S.l.]:
de decisão de finalizar a aplicação da técnica, quando o Université Catholique de Louvain – Bélgica; 1997. 165 p.
2. Woollam CHM. The development of apparatus for
paciente apresentar sinais de melhora de seu estado inicial,
intermittent negative pressure respiration. Anaesthesia
bem como a decisão de interromper a VNI com a adoção 1976;31:537-47.
de assistência ventilatória de forma invasiva, quando não 3. Woollam CHM. The development of apparatus for
for observada uma melhora satisfatória, ou mesmo, intermittent negative pressure respiration. Anaesthesia
quando ocorrer agravamento do quadro inicial [5,28,43]. 1976;31:666-85.
O quadro 3 descreve critérios de falência da VNI. 4. Ellis ER, Bye PT, Bruderer JW, Sullivan CE. Treatment of
respiratory failure during sleep in patients with
Quadro 3 – Critérios de falência da ventilação não-invasiva. neuromuscular disease. Positive-pressure ventilation
through a nose mask. Am Rev Respir Dis 1987;135:148-52.
Necessidade de FiO2>60% 5. Bachy S, Roeseler J, Delaere S, Thys F, Reynaert M.
Queda do pH e/ou aumento da PaCO2 Ventilation non invasive: Rôles du kinésithérapeute.
Elevação da FR ou persistência de FR=35 irpm
Kinerea 1998;20:71-5.
Diminuição do estado de consciência ou agitação
6. Evans TW. International consensus conferences in
Instabilidade hemodinâmica
intensive care medicine: non-invasive positive pressure
Arritmias graves
ventilation in acute respiratory failure. Intensive Care
Isquemia miocárdica
Distensão abdominal
Med 2001;27:166-78.
7. Keenan SP, Kernerman PD, Cook DJ, Martin CM,
Intolerância à máscara
McCormack D, Sibbald W. Effect of noninvasive positive
Fonte [44] pressure ventilation on mortality in patients admitted
with acute respiratory failure: a meta-analysis. Crit Care
Considerando a possibilidade de uso intermitente da Med 1997;25:1685-92.
VNI, observa-se a condição respiratória do paciente 8. Mehta S, Hill NS. Noninvasive ventilation - state of art. Am
durante o tempo livre do ventilador para avaliar a J Respir Crit Care Med 2001;163:540-77.
necessidade de persistência da VNI [44]. A literatura não 9. Brochard L, Mancebo J, Wysocki M, et al. Noninvasive
dispõe de dados objetivos que especifiquem o momento ventilation for acute exacerbations of chronic obstructive
exato de interromper ou prosseguir o uso da VNI, mas pulmonary disease. N Engl J Med 1995;333:817-22.
10. Plant PK, Owen JL, Elliott MW. Early use of non-invasive
na prática clínica, a melhora ou não do padrão
ventilation for acute exacerbations of COPD on general
respiratório, FR, condições hemodinâmica e gasométrica, respiratory wards: a multi-centre randomised controlled
durante o período em que permanece sem o auxílio trial. Lancet 2000;355:1931-5.
ventilatório, têm sido os parâmetros utilizados para 11. Antonelli M, Conti G, Roccuo M et al. Comparison of
direcionar essa decisão. noninvasive positive pressure ventilation and conventional
mechanical ventilation in patients with acute respiratory failure.
Conclusão N Engl J Med 1998;339:429-55.
12. Mehta S, Jay GD, Woolard RH, et al. Randomized trial
Considerando as vantagens e indicações da VNI of bilevel versus continuous positive airway pressure in
descritas na literatura e observadas na prática clínica, cabe acute pulmonary edema. Crit Care Med 1997;25:620-8.
13. Park M. Comparação entre oxigenioterapia, pressão
ao fisioterapeuta participar de todo o processo de
positiva contínua em vias aéreas e ventilação em dois
acompanhamento dos pacientes que, potencialmente, níveis de pressão por máscaras no tratamento do edema
possam se beneficiar da VNI. O papel do fisioterapeuta agudo dos pulmões de origem cardíaca. São Paulo:
está vinculado ao conhecimento e domínio da técnica, Universidade de São Paulo; 2001. 104 p.
devendo estar, o profissional, envolvido na avaliação 14. Fernández MM, Villagrá A, Blanch L, Fernandez R. Non-
inicial do paciente, na aplicação da técnica e no invasive mechanical ventilation in status asthmaticus.
acompanhamento da evolução do mesmo. Estudos Intensive Care Med 2001;27:486-92.
avaliando a influência da participação deste profissional, 15. Joris JL, Sottiaux TM, Chiche JD, Desaive CJ, Lamy ML.
na equipe que aborda o paciente sob VNI, poderiam Effect of bi-level positive airway pressure (BiPAP) nasal
contribuir para evidenciar a importância da participação ventilation on postoperative pulmonary restrictive
syndrome in obese patients undergoing gastroplasty.
do fisioterapeuta.
Chest 1997;111:665-9.
16. Ferreira FR, Moreira FB, Parreira VF. Ventilação não
Agradecimentos invasiva no pós-operatório de cirurgias abdominais e car-
díacas - revisão da literatura. Rev Bras Fisioter 2002;6:69-
Agradecemos o apoio recebido do CNPq. 76.
150 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

17. Antonelli M, Conti G, Riccioni L, Meduri GU. Noninvasive respiratory failure due to chronic obstructive pulmonary
positive-pressure ventilation via face mask during disease: correlates for success. Thorax 1995;50:755-7.
bronchoscopy with BAL in high-risk hypoxemic patients. Chest 32. Renston JP, DiMarco AF, Supinski GS. Respiratory
1996;110:724-8. muscle rest using nasal BiPAP ventilation in patients with
18. Hilbert G, Gruson D, Vargas F, et al. Noninvasive stable severe COPD. Chest 1994;105:1053-60.
ventilation in immunosuppressed patients with 33. Appendini L, Patessio A, Zanaboni S, Carone M, Gukov
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 151

Revisão

Importância da crioterapia na lipólise


Importance of cryotherapy in lipolysis

Vanessa Correia Fernandes Bacelar*, Cláudia Maria Bahia Pinheiro**, Paula Montagna***, André Luís Alves Bacelar****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, docente da disciplina fisioterapia aplicada à dermatologia e estética da Faculdade Integrada da Bahia (FIB)
e da Faculdade Adventista de Fisioterapia (FAFIS), **Fisioterapeuta, coordenadora do curso de fisioterapia da Faculdade
Integrada da Bahia (FIB), doutoranda em cinesiologia pela USAM – Buenos Aires, ***Fisioterapeuta, especialista
em administração hospitalar – UNASP,, diretora e docente da Faculdade Adventista de Fisioterapia (FAFIS),
****Educador Físico, especialista em metodologia do ensino superior em educação física, docente das disciplinas
motricidade humana I e II da UNIBAHIA

Resumo Abstract
No Brasil, o excesso de peso alcança valores relevantes e Obesity in Brazil reaches important indices and takes in all
atinge todas as classes sócio-econômicas, estando diretamente social and economic strata and it is directly related to morbidity
relacionado com o índice de morbidade, incluindo hipertensão, rates, including such common conditions as hypertension,
diabetes mellitus tipo II e moléstias cardio-vasculares. O aumento diabetes mellitus type II, and cardiovascular diseases. The
do percentual de gordura é conseqüência da elevação da ingestão corpulence gradual increase is a consequence of the caloric in-take
calórica, em detrimento da demanda energética. Além dos meios increase in detriment to an actual demand for it. Besides
convencionais, dieta hipocalórica e/ou exercício físico, a crioterapia conventional procedures such as hypocaloric diets and/or physical
possibilita efeitos de grande importância para o aumento do exercise, cryotherapy has appeared as an effective alternative since it
metabolismo energético, por liberar hormônios lipolíticos, bumps up the energetic metabolism because it releases lipolytic
determinando a hidrólise dos triglicerídeos dos depósitos de hormones that trigger the hydrolysis of the triglycerides in fat
gordura. O presente trabalho revisa a importância da crioterapia deposits. Therefore, this article reasserts the importance of
na lipólise. A exposição ao frio faz com que haja uma necessidade cryotherapy for lipolysis. Exposition to cold creates an additional
extra de calor para garantir a homeotermia. Assim, o hipotálamo need for heat to maintain homeothermia. Thus, lipolysis in a
estimula a liberação hormonal para ativar a termogênese e manter triglyceride molecule favors the appearance of free fatty acids to be
a temperatura em níveis normais. Os ácidos graxos livres são, utilized by the mitochondria as the energetic substratum for the
então, utilizados como substratos energéticos pelas mitocôndrias production of heat.
para produção de calor, aumentando, dessa forma, o dispêndio Key-words: adipose tissue, cryotherapy, lipolysis.
energético.
Palavras-chave: tecido adiposo, crioterapia, lipólise.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução classes sócio-econômicas [1]. O excesso de peso e a


obesidade, como uma entidade única, constituem,
A obesidade já é considerada epidemia no Brasil. atualmente, um dos problemas de saúde mais sérios
Embora sejam escassos os dados acerca da prevalência do Brasil [2].
da obesidade em nosso país, o Ministério da Saúde A Organização Mundial de Saúde, desde 1975, passou
(1997) aponta que 38% dos homens e 39% das a considerar a obesidade, junto com suas duas aliadas, a
mulheres apresentam sobrepeso, problema que, diabetes e a arteriosclerose, como epidemia nos países
segundo os indicadores, é encontrado em todas as desenvolvidos [3].

Recebido em 16 de junho de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Vanessa Bacelar, Av. São Rafael, 1200 / 1º andar – Academia Bacelar Fitness, São Marcos 41253-190
Salvador BA, E-mail: vanessa_bacelar@yahoo.com.br
152 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

O aumento da prevalência da obesidade está diretamente Com relação à inervação do tecido unilocular, este possui,
relacionado com o índice de morbidade, incluindo quase que exclusivamente, inervação de fibras do sistema
hipertensão, diabetes mellitus tipo II e moléstias car- nervoso simpático, podendo ocorrer também, do sistema
diovasculares [4,5,2,6,7]. O excesso de peso determina, nervoso parassimpático. O tecido adiposo é inervado por
além do aspecto estético, comprometimento psicológico fibras simpáticas do sistema nervoso autônomo, sendo que
desses indivíduos. Por tudo isso, o interesse em determinar no tecido unilocular, as terminações nervosas estão
novas medidas terapêuticas para diminuir os índices de dispostas apenas na parede dos vasos sanguíneos; já no tecido
obesidade/sobrepeso, morbidade e melhorar a qualidade multilocular os próprios adipócitos recebem a inervação
de vida desses pacientes, torna-se fundamental. simpática [4,12]. Apesar disso, há evidência da inervação
Sendo o excesso de peso conseqüência do balanço ener- direta nos adipócitos brancos [4].
gético positivo, no qual a energia ingerida excede o gasto, Praticamente todo o tecido adiposo existente no
é evidente, por conseguinte, que o tratamento da obesidade homem é do tipo unilocular, e este representa o primeiro
requeira a criação de um balanço negativo de energia, quer sítio de metabolismo e armazenagem de gordura.
seja através da modificação da energia ingerida, do gasto O outro tipo de tecido adiposo é o marrom ou
energético ou de ambos. O interesse pelo gasto energético multilocular. Nesse tecido, o citoplasma é rico em
é, relativamente, recente. Esse fato originou, na abordagem gotículas lipídicas de variados tamanhos; o retículo
farmacológica, o uso de drogas termogênicas, como endoplasmático, tanto liso quanto granular, mostra-se
hormônios tireoideanos, agonistas b3 adrenérgicos e outros, pouco desenvolvido; a vascularização e o número de
como tratamento da obesidade [8,9,10]. Essas drogas mitocôndrias apresenta-se em maior quantidade do que
aumentam o poder de termogênese do tecido adiposo, no no tecido adiposo branco [8,14,15,11,12,16,17,13].
entanto, por serem substâncias exógenas, podem apresentar Assim, o grande número de mitocôndrias em suas células
efeitos colaterais e dependência. confere uma capacidade extraordinária de gerar calor pela
Dentro deste contexto, a crioterapia apresenta-se oxidação dos ácidos graxos [18,8,11,4,19,17].
como um recurso capaz de incrementar a liberação de O tecido adiposo marrom ou multilocular possui uma
hormônios e estimular a termogênese. distribuição limitada no homem, estando localizado em sítios
anatômicos característicos, como o mediastino, na região
Anatomia e histologia do tecido adiposo interescapular, ao redor dos rins, no pescoço e no abdômen.
Após períodos de inanição ou de alimentação muito
O tecido adiposo é um tipo especial de tecido conjun- deficiente em calorias, o tecido adiposo unilocular perde
tivo que tem como característica armazenar lipídios den- quase toda a sua gordura e apresenta-se com raras gotículas
tro das suas células, sendo capaz de remover os ácidos lipídicas [4,20]. O tamanho e a forma da mitocôndria
graxos da circulação para a síntese dos triglicerídeos, e parecem não ser afetados durante o jejum [4]. No entanto,
também, manufaturá-los a partir da glicose. Desse modo, a mitocondriogênese é evidenciada em adipócitos expostos
a célula adiposa estoca, sintetiza e libera ácido graxo, ao frio [18,4,19,17].
dependendo das necessidades do organismo.
Existem duas variedades de tecido adiposo, que diferem Lipólise e hormônios lipolíticos
entre si por características próprias de localização, cor,
estrutura celular, inervação, vascularização e funções O processo pelo qual ocorre a degradação ou hidrólise
[8,11,4,12,13]. do triglicerídeo contido nos adipócitos, com liberação de
O tecido adiposo comum, amarelo ou unilocular, é ácidos graxos e glicerol, é denominado lipólise.
formado por células grandes, que possuem no seu A membrana celular do adipócito possui receptores
citoplasma uma grande gota de gordura principal e em certas áreas de sua superfície externa que estão conec-
gotículas lipídicas menores; quando completamente tados com uma enzima, a adenilciclase. Tais receptores
desenvolvidas, as células possuem apenas uma gotícula possuem uma estrutura própria e elevada afinidade para
de gordura, ocupando quase todo o citoplasma [12]. fixar hormônios. Quando fixado ao hormônio, o receptor
Aproximadamente 60% a 80% do peso de um depósito reconhece sua mensagem e estimula assim a adenilciclase.
de tecido adiposo branco são representados por lipídio, Essa enzima ativada vai catalisar a formação de adenosina-
sendo aproximadamente 90% a 99% triacilgliceróis; monofosfato cíclico (AMP-cíclico) a partir do ATP,
existem ainda pequenas quantidades de ácidos graxos ativando a “cascata lipolítica” até incidir na lipase intra-
livres, diacilgliceróis, colesterol, fosfolipídios e monoa- adipocitária, responsável pela hidrólise dos triglicerídeos.
cilgliceróis [4]. Nessa mistura de lipídios, os ácidos graxos A Lipase Hormônio Sensível (LHS), enzima abun-
perfazem aproximadamente 90% do total, o restante do dante no meio intracelular do tecido adiposo, é responsável
peso é representado por água (5 a 30%) e proteínas (2 a por catalisar a degradação dos triglicerídeos, transfor-
3%) [4]. mando-os em ácidos graxos e glicerol [15,21]. Essa enzima
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 153

é convertida da sua forma inativa em ativa, pelo AMP- Os glicocorticóides, além de mobilizar a gordura de seus
cíclico, via proteína-quinase. sítios de armazenamento no tecido adiposo, quando
Dessa forma, os hormônios lipolíticos atuam na secretados em quantidades excessivas, aumentam o volume
membrana celular, ativando a enzima adenilciclase que, desses adipócitos, estimulando a atividade da lipoproteína
por sua vez, catalisa a transformação do ATP em AMP- lipase, responsável pela incorporação de triglicerídeo nas
cíclico. Este ativa a proteína-quinase, a qual transforma células gordurosas e, diminuindo a lipólise [28,27].
a lipase inativa em ativa, sendo que esta última hidrolisa A insulina é um hormônio que estimula a deposição de
os triglicerídeos [15,22,23,21]. triglicerídeos dentro do adipócito.
As catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) O efeito anti-lipolítico da insulina se dá através do
exercem um papel importante no tecido adiposo, sobretudo aumento da captação de glicose pelas células e pela redução
no estímulo à lipólise. Isso ocorre devido à ligação do do nível de AMP-cíclico e diminuição da atividade da
hormônio ao receptor de membrana na célula adiposa proteína-quinase, os quais são responsáveis pela hidrólise
[9,22,24,23,25]. do triglicerídeo dentro do adipócito [28,26].
Quando ocorre uma estimulação simpática, com Alguns hormônios podem aumentar ou diminuir a
liberação de catecolaminas nas terminações nervosas do afinidade adipocitária à insulina. Os estrógenos e a prolac-
adipócito, esse hormônio se liga aos receptores â tina aumentam esta afinidade, enquanto a progesterona, LH,
adrenérgicos, localizados na membrana do adipócito, e testosterona e glicocorticóides a diminuem [15].
estimula a proteína G a ativar a adenilciclase que, ao ser O hormônio do crescimento (GH) é importante, não
ativada, vai catalisar a transformação do ATP em AMP- apenas para o crescimento linear, mas também para a
cíclico. O nível intracelular de AMP-cíclico controla a diferenciação de adipócitos e no metabolismo energético. O
ativação da proteína-quinase A, que regula a transformação GH aumenta a sensibilidade lipolítica às catecolaminas,
da LHS inativa em ativa, hidrolizando o triglicerídeo ocorrendo um incremento no número de receptores beta-
em ácidos graxos e glicerol. adrenérgicos nos adipócitos [27], além de ativar a lipase
A principal função dos receptores adrenérgicos do hormônio sensível (LHS), que causa a rápida degradação dos
adipócito é controlar a atividade da lipase hormônio triglicerídeos, mobilizando os ácidos graxos e aumentando os
sensível (LHS) e favorecer a lipólise [15,9,24,23]. níveis plasmáticos de ácidos graxos livres [28,26,10].
Portanto, as catecolaminas são agentes lipolíticos potentes
que promovem a rápida degradação dos triglicerídeos. Termogênese
Os efeitos adrenérgicos das catecolaminas são
potencializados pelos hormônios: TSH, T3, T4, ACTH, O organismo dispõe de mecanismos reguladores
LH, glucagon, prolactina e secretina [15] . fisiológicos capazes de assegurar um ambiente térmico
Os hormônios tireoideanos têm uma função importante ótimo, por meio de alterações na produção de calor celular.
no estímulo à lipólise do tecido adiposo, tanto através de Essa regulação homeotérmica garante um equilíbrio
um efeito mediado pelo sistema adenilciclase-AMPc quanto interno, impedindo o aquecimento e o resfriamento exces-
pela sensibilidade do tecido aos demais agentes lipolíticos já sivo do corpo para manter uma constância nas suas funções,
citados. qualquer que seja a temperatura exterior.
Um dos principais efeitos dos hormônios tireóideos é Termogênese é definida como um fenômeno químico,
a aceleração do metabolismo energético e do turnover de em que as transformações químicas do metabolismo vão
ATP, com resultante transformação e consumo de energia se exprimir na produção de calor.
e produção de calor [8,26,27]. Por exemplo, mamíferos A temperatura corporal média é constante, e seu valor
com hipotireoidismo, incluindo o ser humano, podem está em torno de 370 C. O equilíbrio térmico é mantido
apresentar hipotermia e intolerância ao frio, perdendo por mecanismos nervosos de feedback que operam, em
parte da homeotermia e capacidade de adaptação ao meio sua maioria, por meio dos centros termorreguladores
ambiente. localizados no hipotálamo. O hipotálamo anterior
O glucagon é outro importante hormônio lipolítico, responde às variações de aumento de temperatura, já os
atuando no sentido de diminuir as reservas de glicose e centros posteriores ou dorsomediais têm uma grande
de ácidos graxos no fígado e no tecido adiposo, relevância na defesa contra o frio [28,26].
respectivamente, aumentando a disponibilidade dessas O hipotálamo anterior obtém informações das
fontes de energia para oxidação [28,26]. temperaturas internas e externas, que são comparadas com
A liberação de corticotrofina (ACTH) pela adeno- a temperatura do set point (habitualmente 37 0 C).
hipófise estimula o córtex supra-renal a secretar quan- Estabelecendo-se a diferença entre o set point e a informação
tidades excesssivas de glicocorticóides. Estes hormônios sensitiva térmica, o hipotálamo posterior procede à correção,
aumentam a liberação de ácidos graxos a partir do tecido seja no intuito de diminuir o frio ou diminuir o calor, a fim
adiposo. de trazer a temperatura de volta a este nível normal.
154 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

As mitocôndrias existentes no músculo esquelético e no Assim, a exposição ao frio representa uma situação
tecido adiposo são responsáveis pela fosforilação oxidativa fisiológica interessante, na qual a diminuição da resposta
dos ácidos graxos, para produção de calor. Esse processo lipolítica dos adipócitos às catecolaminas é contrabalançada
ocorre devido à expressão e ao funcionamento das proteínas por um aumento na receptividade a outros hormônios
desacopladoras (UCPs) no tecido muscular esquelético e no lipolíticos.
tecido adiposo [8,29,22,13]. Em patos aclimatados ao frio (4 0 C), a atividade
Os ácidos graxos, como desacopladores, têm como lipolítica basal é maior (55%) do que no grupo controle.
função a produção de calor em situações de emergência, Isso é consistente com os níveis plasmáticos aumentados
quando a manutenção da temperatura corpórea tem de ácidos graxos (57%) e glicerol (31%) plasmáticos in
prioridade sobre outras funções. vivo[33].
Assim, os ácidos graxos são importantes para o funcio- Porcos, assim como humanos, apresentam predomi-
namento das UCPs, já que na sua ausência o desacoplamento nância de tecido adiposo branco. Estudos mostram que
não ocorre [8,29]. estes animais, quando aclimatados ao frio, aumentam a
A excitação do núcleo da termogênese não calafrio termogênese. Todo esse incremento no metabolismo
desencadeia uma elevação na produção de calor, por meio energético está associado aos incrementos no metabolismo
de mecanismos de natureza não muscular. A estimulação de lipídios no tecido adiposo branco e às capacidades
simpática e a conseqüente introdução de catecolaminas oxidativas no fígado e nos músculos [34].
na circulação conduzem a um incremento no metabo- De fato, em porcos, quatro semanas de aclimatação
lismo celular devido à habilidade desses hormônios em ao frio (40 C) determinam uma diminuição no peso dos
desacoplar a fosforilação oxidativa, e em estimular a depósitos de gordura interescapular (38%) e retroperitoneal
lipólise nos depósitos de gordura. (51%), associada a um decréscimo no conteúdo total de
lipídios de 55% e 63%, respectivamente. Observou-se,
Crioterapia e seus efeitos na lipólise ainda, um aumento importante no conteúdo total de pro-
teínas para as mesmas regiões, 520% e 561%, sugerindo
Crioterapia significa, literalmente, “terapia com frio”. uma importante estimulação do metabolismo e conteúdo
Assim, crioterapia é, então, a aplicação terapêutica de enzimático dessas regiões [18].
qualquer substância ao corpo, que resulta em remoção de Ainda, o frio determinou um aumento na atividade
calor corporal, diminuindo a temperatura dos tecidos [30]. mitocondrial, medida pela enzima citocromo oxidase, de
O uso do frio no estímulo à lipólise ainda é recente, 12 vezes no depósito interescapular e 8 vezes no
evocando, dessa forma, noções reduzidas e errôneas por retroperitonial [18].
parte da literatura e de quem o utiliza. A mitocondriogênese e o aumento na expressão de UCP
Na exposição severa ao frio, evitar uma hipotermia pode ser vista como índices de transformação de fenótipo de
depende do equilíbrio entre a perda e a produção de calor. unilocular para multilocular [18,4,19]. Essa conversão é uma
A mobilização e oxidação de substratos de energia metabo- descoberta importante, já que o tecido adiposo marrom tem
lizáveis supre o corpo com combustível para trabalho e calor. como característica dissipar calor rapidamente em resposta
Os principais substratos a serem oxidados durante a ao frio e já que esse tecido encontra-se limitado no homem.
exposição ao frio são os ácidos graxos, liberados dos Portanto, será mais um mecanismo de diminuir os depósitos
depósitos de triglicerídeos no tecido adiposo branco [31]. A de gordura em humanos, se essa conversão for realmente
mobilização do ácido graxo é mediada através da ativação possível. Novos estudos serão necessários para avaliar as reais
do sistema nervoso simpático estimulado pelo frio. transformações ocorridas no tecido adiposo branco, visto que
Avaliando-se o tecido adiposo branco interescapular não apenas o número de mitocôndrias, como também a
de ratos expostos ao frio (1hora a 40 C), observa-se que o estrutura histológica, inervação e vascularização, diferem esses
consumo de energia dobra e a resposta lipolítica aumenta dois tecidos.
2,7 vezes o valor basal [31]. Em estudo realizado em humanos à temperatura de 50 C
Dentro do contexto da lipólise no tecido adiposo bran- durante três horas, observou-se um aumento nos níveis
co, Rockon e Bukowiecki (1990) observaram que a plasmáticos de glicerol (222%), ácidos graxos livres (107%) e
exposição ao frio (50 C – 7 dias) aumentou em torno de na taxa metabólica de 2,7 vezes dos valores de repouso [34].
60% a lipólise basal, mas induziu um decréscimo na recep- O frio aumentou a lipólise em humanos em 197% [34].
tividade e sensibilidade dos adipócitos para o efeito
lipolítico das catecolaminas. No entanto, a taxa de lipólise Conclusão
basal continuou aumentada, isto porque houve um
aumento da receptividade dos adipócitos à ação lipolítica Através da presente revisão literária, percebe-se a
do ACTH e do glucagon, além dos efeitos antilipolíticos importância da crioterapia na lipólise e o fornecimento de
da insulina [32]. ácidos graxos para produção de calor. O processo ocorre
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 155

devido à atuação dos hormônios lipolíticos na membrana 12. Herpin P, et al. Adipose tissue lipolytic activity and urinary
celular adipocitária, induzida pelo frio. catecholamine excretion in cold-aclimated piglets. Can J Physiol
A estimulação simpática e a conseqüente introdução de Pharmacol 1991;69:362-8.
catecolaminas na circulação, conduzem a um incremento 13. Zaninovich aa. Hormonas tiroidas, obesidad y termo-
no metabolismo celular devido à habilidade desses genesis em grasa parda. Medicina 2001;61:597–692.
14. Bizzi A. et al. Different responses of white and brown
hormônios em desacoplar a fosforilação oxidativa e estimular
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a lipólise nos depósitos de gordura. Pharmacol 1968;17:2407-12.
Além do incremento de catecolaminas, o frio desencadeia 15. Ciporkyn H, Paschoal LH. Histologia e revisão da
a liberação de outros hormônios lipolíticos como tireoideanos, fisiologia do tecido conjuntivo adiposo. In: Ciporkyn H,
glucagon e ACTH. Paschoal LH. Atualização terapêutica e fisiopatogênica
Diante dos efeitos anteriormente citados, conclui-se da lipodistrofia ginóide (LDG). São Paulo: Santos Ed; 1992.
que a crioterapia é um recurso eficaz no estímulo à lipólise, p.11-63.
por desencadear a termogênese facultativa, utilizando os 16. Morroni M, et al. Immunohistochemical, ultrastructural
ácidos graxos provenientes, principalmente do tecido and morphometric evidence for brown adipose tissue
adiposo branco, nas fosforilações mitocondriais. recruitment due to cold acclimation in old rats. Int J
Ainda assim, serão necessários estudos que objetivem Obesity 1995;9:126-31.
17. Nicholls DG, Locke RM. Thermogenic mechanisms in
a terapêutica e utilização desta técnica para que se possa
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ampliar o conhecimento no meio científico, no que diz 18. Atgié c, et al. B 3 – adrenoreceptor in guinea pig brown
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 157

Revisão

Atividade física e lombalgia


Physical activity and low back pain

Vanessa Ferreira Bréder*, Débora Feliciano de Oliveira**, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Especialista em Fisioterapia Traumato-ortopedia Funcional – UCB, RJ, Mestranda em Ciência da Motricidade Humana – UCB RJ,
**Especialista em Traumato-ortopedia (UNESA) Estácio de Sá, Mestranda em Ciência da Motricidade Humana – UCB RJ,
***Professor Titular UCB/ UFRRJ

Resumo Abstract
A lombalgia constitui um problema de saúde relevante, The low back pain constitutes a serious problem of health, for
por tratar-se de uma afecção extremamente comum na popu- being an extremely common disease in the population. It has,
lação. Tem, portanto, atraído grande atenção dos pesquisa- therefore, attracted great attention of the researchers, mainly about
dores, principalmente quanto à prática e ao tipo de atividade practical and kind of physical activity carried out. Frequent
física realizada. Os traumatismos, produzidos com freqüên- complications in trauma causes several injuries in locomotive device,
cia, ocasionam uma série de lesões no aparelho locomotor, varying in accordance to the practiced physical activity. The physical
variando de acordo com a atividade física praticada. A ativi- activity has been prescribed to improve the good physical shape
dade física tem sido prescrita para melhorar a boa forma and the welfare in apparently healthful individuals and with cardiac
física e o bem estar em indivíduos aparentemente saudáveis and orthopedic problems, and other populations of patients.
e com problemas cardíacos, ortopédicos, e outras populações Physical activity has not been studied as a unique treatment for
de pacientes. Esta prática não tem sido estudada como trata- patients with low back pain. Thus, the aim of this research is to
mento único para pacientes com lombalgia. Assim, a pesquisa study the effect of the physical activity in low back pain patients and
tem como objetivo estudar os efeitos da atividade física em the effect of physical activity in health maintenance of the lumbar
pacientes portadores de lombalgia e na manutenção da saúde column through a literature revision. Taking into consideration
da coluna lombar, através de uma revisão de literatura. Com these findings, we can conclude that the exercises for prevention of
os achados, podemos concluir que os exercícios para preven- low back pain need to become incorporated to daily life, but, before
ção de lombalgia precisam incorporar-se à vida diária, mas, prescribing physical activities, professionals should be aware of
ao se prescrever as atividades físicas, deve-se conhecer as each individual health conditions and physical conditioning so
condições de saúde e condicionamento físico de cada indiví- that the same ones are adjusted and safe.
duo para que as mesmas sejam adequadas e seguras. Key-words: low back pain, physical activity.
Palavras-chave: lombalgia, atividade física.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução atividade física, os quais podem levar a uma disfunção ou


algia na região lombar.
Vários autores, desde tempos remotos, vêm estudando A atividade física tem sido prescrita para melhorar a
a lombalgia, afecção mais comum na população mundial. boa forma física e o bem estar, em indivíduos
De acordo com pesquisadores especializados, o seu aparentemente saudáveis e com problemas cardíacos,
diagnóstico é difícil devido a inúmeros fatores, como ortopédicos, e outras populações de pacientes. Esta prática
traumas mecânicos, características psicossociais e não tem sido estudada como tratamento único para
comportamentais, tipos de ocupação, tipo e local da pacientes com lombalgia.

Artigo recebido em 1 de março de 2005; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Vanessa Ferreira Bréder, Avenida do Imperador, 888/1206 Centro 25620-000 Petrópolis RJ, Tel: (24)
9254-9852, E-mail: vanessa.breder@ig.com.br
158 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

A lombalgia com sintomas relacionados é um A dor lombar, associada ou não à dor ciática, causa,
problema comum e persistente na sociedade de hoje, em seus portadores, uma grande incapacidade funcional.
afetando 60% a 90% de todos os adultos durante o tempo Seu índice de prevalência tem sido elevado, sendo que
de vida. O custo do cuidado médico e o tempo de trabalho em algumas pesquisas alcançam até 80% da população
perdido têm sido estimados em bilhões de dólares, urbana. E o mais grave é que atinge os indivíduos nas
anualmente. Considerável tempo e esforço têm sido gastos fases mais ativas de produtividade. Tem representado,
no desenvolvimento de uma intervenção eficaz para assim, um grande ônus para a sociedade, constituindo
reduzir essa incapacidade, a dor lombar. A prática da ati- um problema de saúde pública. A deficiência que ela causa
vidade física abrange pessoas de todas as idades, sexos e em seu portador, vai de uma dor transitória até a completa
classes sociais. Com a expansão do número de praticantes incapacidade para caminhar, algumas vezes, de forma
desta atividade em academias, clínicas e ambientes de definitiva [3].
trabalho, e a grande prevalência de dor lombar nesta Essa afirmação acima também deve ser lida com certa
classe, tem-se a preocupação de estudar os seus efeitos em cautela, pois o mesmo não apresenta grupo controle para
pacientes portadores de lombalgia para que, no futuro, a comparação dos seus resultados, além de uma
seja possível promover-se a elaboração de um programa delimitação do próprio estudo que é a dificuldade de
de educação para a saúde. abranger pacientes em todas as fases de manifestação da
Este trabalho pretende, à luz de uma análise crítica, doença, diminuindo, assim, sua credibilidade.
discutir a relação entre atividade física e lombalgia. Para atletas de diferentes esportes, a incidência deste
problema pode aumentar de 50% para 85%. Isto tem
Desenvolvimento sugerido que a lombalgia está associada à função muscular
comprometida e à fadiga muscular de manifestação
A relação entre atividade física e saúde tem sido primitiva [4]. Esta informação pode ser fielmente utilizada
exaltada ao longo do século, através das contribuições de em outros estudos, já que o autor se preocupou com a
diversos autores. Alguns deles definem a atividade física confiabilidade do seu trabalho.
como qualquer movimento corporal produzido pelos Em pesquisas anteriores, o exercício aeróbico tem sido
músculos esqueléticos, resultando em gasto energético, usado em combinação com outros tratamentos, na
sem se preocuparem com a magnitude desse gasto de reabilitação de dor lombar, mas não como tratamento
energia. Os referidos estudiosos diferenciam atividade exclusivo. Ele pode contribuir para o plano de tratamento
física e exercício físico, a partir da intencionalidade do total para pacientes com lombalgia, em função dos
movimento. Consideram que o exercício físico é um sub- benefícios que traz para a população geral, dentre eles:
grupo das atividades físicas, porque ele é planejado, melhora no estado de humor, força e apoio da musculatura
estruturado e repetitivo, tendo como propósito a manu- lombar, aumento da nutrição para o disco, prevenção de
tenção ou a otimização do condicionamento físico. A futuras lesões lombares e prevenção do estado de doenças
prática da atividade física contribui como parte integrante gerais. O exercício aeróbico pode ser importante na
para o desenvolvimento do ser humano. Por meio da reabilitação e manutenção da saúde lombar, porque é uma
educação física, dos jogos e dos esportes, cada indivíduo forma de exercício que pode minimizar a carga espinhal,
utiliza e desenvolve o seu físico e sua motricidade, o que enquanto apresenta cargas suficientes nos músculos
atua direta e/ou indiretamente nos aspectos motor, afetivo lombares para conduzir o efeito de um tratamento [5].
e cognitivo [1]. A citação acima foi retirada de um estudo deturpado
A informação dada acima possui alta credibilidade, pelo procedimento utilizado. Utilizou-se, no mesmo,
pois a autora do estudo preocupou-se em escrever, de forma entrevistas semanais por telefone, procedimento
clara e objetiva, sobre o propósito da pesquisa, com sua considerado inadequado, pois só conta com a palavra do
metodologia corretamente utilizada, não nos deixando paciente, já que os dados colhidos eram importantes e
dúvidas sobre a confiabilidade dos seus resultados. foram comparados entre dois grupos, experimental e
A lombalgia foi definida, no Questionário Nórdico controle, durante 30 meses.
de dor nas costas, como uma dor ou desconforto na área Estudos ratificam que exercícios de impacto, como a
sombreada, se isto se estende, ou não, por uma ou ambas ginástica e a corrida, acarretam forças de reação na estrutura
as pernas (ciática). A área sombreada é delineada em um óssea. A maior parte das lesões ocorridas nas ginastas é
diagrama corporal, representando a área entre a décima devida ao impacto. Agudo ou crônico, planejado ou não,
segunda costela torácica e a prega glútea [2]. este impacto se exacerba graças ao aparelho ou superfície
Já essa definição deve ser lida com cautela, pois o artigo que não são devidamente planejados para os fins propostos.
discutido pelo autor citado acima nos coloca em dúvida E em correlação com as grandes forças de compressão
sobre a validação do instrumento utilizado, que não foi aplicadas sobre a coluna, podem preceptar ou agravar os
esclarecido na sua pesquisa. problemas lombares [6]. Paestre et al. [7] complementa,
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 159

ainda, que o treinamento físico intenso e sistematizado, na sensação de dor e desconforto, causada pelo fenômeno
adotado principalmente por atletas de alta performance, da dor muscular tardia.
gera alterações morfológicas e funcionais no organismo. Deve-se ter cuidado com a informação anterior, pois
Tais modificações, necessárias para a melhora do a mesma partiu de uma revisão de literatura, onde não se
desempenho atlético, tendem a serem definitivas para os tem conhecimento da qualidade metodológica das
praticantes, dependendo do tempo de exposição, técnica, referências utilizadas, mas, ainda assim, é bastante
modalidade e especificidade do treinamento. relevante, já que os mecanismos envolvidos na etiologia
A primeira citação possui alta credibilidade, já a da dor muscular tardia são ainda indefinidos.
segunda deve ser lida com cautela pela incerteza da Recomendações sobre exercícios, através das diferentes
validação do instrumento utilizado e por não haver grupo diretrizes nacionais, mostram algumas variações.
controle para comparação dos seus resultados. Naqueles produzidos pela Nova Zelândia e United
Segundo Tricoli [8], tipos específicos de atividades Kingdon, exercícios específicos posteriores são conside-
físicas, principalmente aquelas com maior componente rados inúteis durante as primeiras semanas do episódio.
excêntrico, podem causar danos às fibras musculares, Evidências recentes proporcionam pouca indicação que
contudo, pelo fato de o dano estrutural resultar em dor exercícios específicos são eficazes para o tratamento de
ou porque a dor é de efeito tardio, ainda não estão lombalgia aguda, mas eles podem ser úteis para pacientes
completamente esclarecidas. Deve ser enfatizado que o com lombalgia crônica. [9].
treinamento físico periódico é altamente específico, não Nessa citação, o autor preocupa-se em fazer uma meta-
somente para o grupo muscular envolvido no exercício, análise da literatura utilizada, fazendo com que a
mas também para o tipo de contração e padrão de informação acima possa ter alta credibilidade.
movimentos executados, que, provavelmente, irão Nahas [10] julga que os exercícios de alongamento visam
aumentar a resistência da fibra muscular ao dano aumentar a amplitude dos movimentos e, possivelmente,
estrutural. Um aumento na quantidade de tecido prevenir câimbras, contraturas e lesões musculares ou
conectivo, observado após um período de treinamento ligamentares. Dantas e Soares [11] complementam que o
físico, irá, também, aumentar a resistência muscular e efeito fisiológico do alongamento é a deformação dos
minimizar as possibilidades de danos à estrutura componentes plásticos (mitocôndrias, retículo sarcoplas-
miofibrilar e, conseqüentemente, diminuir a ocorrência mático, sistema tubular, ligamentos e discos interver-
da dor muscular tardia (caracterizada pela sensação de tebrais). Este efeito, durante a performance, facilita a
desconforto e dor na musculatura esquelética, que ocorre execução dos movimentos e aumenta sua eficiência pela
algumas horas após a prática de uma atividade física, à pré-deformação desejável dos componentes plásticos.
qual não estamos acostumados). Esta pode ser explicada Utiliza-se o alongamento durante o aquecimento e na volta
por forças mecânicas elevadas, particularmente durante à calma. Em concordância com esta apreciação, Weineck
contrações excêntricas, que causam distúrbios nas [12] acrescenta, ainda, que o aquecimento serve, tanto para
proteínas estruturais encontradas na célula muscular e a preparação de um estado psicológico, coordenativo e
no tecido conectivo. Associados a estes fatores, os danos cinestésico ideal, como para a profilaxia de lesões.
estruturais no sarcolema são acompanhados por um Wirhed [13] constata que as sobrecargas assimétricas
influxo de íons cálcio do interstício para o interior da provocam pressão maior que as simétricas. Da mesma
fibra muscular, resultando em níveis elevados de cálcio maneira, ao se levantar objetos pesados, nota-se um
intracelular. No meio intracelular, o excesso de cálcio aumento da pressão no disco intervertebral: o núcleo
faz com que a mitocôndria acumule esse íon, o qual inibe pulposo é capaz de romper o anel fibroso, resultando em
a respiração celular e a produção de energia, comprome- hérnia de disco.
tendo a capacidade da célula de, ativamente, eliminar o As diferentes posições assumidas por um indivíduo e
cálcio de seu interior. A sobrecarga de cálcio, então, os diferentes exercícios para os membros superiores
precipita uma fase autogênica onde um aumento na ação proporcionam diferentes sobrecargas nos discos
de proteases e fosfolipases resulta na degradação das intervertebrais. A curvatura lombar se acentua, ao
miofibrilas e da membrana celular. A progressiva deterio- utilizarem altas cargas de trabalho para membros
ração do sarcolema, no período pós-exercício, é acompa- superiores, especialmente quando estes se encontram
nhada pela difusão dos componentes intracelulares para elevados acima da cabeça. Além disso, os movimentos
o intertício e para o plasma, onde eles atraem monócitos de flexão de braço e glúteos em quatro apoios, em função
que se convertem em macrófagos nas áreas da lesão. Um das altas intensidades de trabalho exigidas e da grande
acúmulo adicional de histaminas e quininas no interstício, incidência de execuções inadequadas, podem resultar em
como resultado da fagocitose e da necrose celular, bem uma postura hiperlordótica da região lombar [14].
como uma pressão tecidual elevada, decorrente do edema A citação acima possui alta credibilidade, podendo,
no local, pode, então, ativar os receptores de dor e resultar então, ser utilizada em outras pesquisas.
160 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Músculos espinhais seguram o tronco em uma postura por parecer mais predisposta a elas. Fehr e Silva [20] ainda
fixa e possibilitam movimentos controlados da coluna. acrescentam que a busca pela profissionalização faz com
Eles podem proteger a coluna, especialmente durante os que os atletas sejam submetidos a horas de treinamentos
movimentos de flexão do tronco. Portanto, essa ação diários e seguidas disputas de campeonatos. Isto os expõe
protetora pode ser prejudicada se os músculos espinhais a vários tipos de lesões. Dois fatores fundamentais são:
tornarem-se fadigados. Pacientes com lombalgia em curso franqueza inerente da estrutura e as forças ou cargas que a
ou intermitente têm, significativamente, menor pessoa enfrenta durante tarefas cotidianas e atividades
resistência que sujeitos saudáveis. E resistência muscular recreativas desportivas. Os profissionais especializados
é definida como habilidade para produzir trabalho sobre desconhecem o diagnóstico preciso de lombalgia em 80 a
tempo ou habilidade para sustentar esforço. Resistência 90% dos pacientes. Ela constitui uma das maiores causas
pobre nos músculos paraespinhais lombares é um fator do afastamento do trabalho nos últimos anos. Estatísticas
contribuinte no desenvolvimento de lombalgia idiopática mundiais a respeito desta patologia indicam que 60 a 80%
e um preditor para ocorrência, pela primeira vez, de lesão de todos os adultos experimentaram, experimentam ou
na coluna lombar [15]. Já alguns autores têm sugerido experimentarão lombalgia, no decorrer da vida. A
que a reabilitação de pacientes deve enfatizar a recuperação síndrome dolorosa lombar pode ser definida como uma
dos músculos multífidos, uma vez que esta não é dor localizada na região lombar, de início, insidiosa, vaga
espontânea após a remissão de sintomas como dor e ou muito interna [6].
incapacidade funcional na coluna lombar, pois estes Staal et al. [21] achou como resultado, em sua pesquisa,
sintomas têm sido relacionados à etiologia de diversas que a atividade gradual para lombalgia em um local
disfunções da coluna torácica e lombar [16]. ocupacional tem um efeito benéfico, na ausência de
A primeira informação saiu de um artigo muito bom, trabalho, mas não tem efeito estatisticamente significante
mas que apresenta certa imprudência na interpretação em condições funcionais e apresenta dor, quando
dos seus resultados, por ter trabalhado com uma comparado com o cuidado usual. A redução em dias de
população muito pequena. Já na segunda, trata-se de um ausência de trabalho por causa desta intervenção é
artigo altamente relevante, porque pouco se tem promissora e confirma resultados de um teste de Swedish
estudado sobre a anatomia e função dos músculos de Lindstron e colegas.
multífidos, o que dificulta a prescrição de exercícios A primeira afirmativa parte de um artigo sem
específicos visando sua reabilitação. Mas o mesmo tem nenhuma credibilidade, tendo, então, que ser lida com
sua credibilidade diminuída, quando não utiliza cautela, pela falta de uma estatística presente para
nenhuma estatística para apresentação dos resultados, e comparação dos seus resultados. Já as três posteriores,
pela amostra insuficiente. diferentes da citada por Fortes [19], são altamente
Uma terapia física popular para lombalgia é a técnica confiáveis, pois partiram de um trabalho claro e sucinto,
Mackenzie, com ênfase em exercícios de extensão passiva onde a metodologia foi utilizada de maneira correta.
da coluna lombar para reduzir a pressão intradiscal, Programas de condicionamento físico para pacientes
levando o núcleo pulposo a migrar anteriormente e, assim, com dor crônica nas costas podem ser eficazes em reduzir
a aliviar pressão de dor em estruturas sensitivas, tais como o número de dias perdidos de trabalho, quando comparados
ligamento longitudinal posterior e anel fibroso [17]. Esta com o cuidado usual que incorpora uma abordagem
afirmação possui alta credibilidade, podendo ser utilizada comportamental cognitiva. Estes programas têm como
em outros estudos. objetivo facilitar o retorno ao trabalho, melhorar condições
Coimbra e Oliveira [18] também afirmam que de trabalho dos trabalhadores, fazendo com que executem
certas atividades atléticas podem acelerar a degeneração tarefas modificadas, ou possibilitar realização de alto nível
espinhal, assim como as posturas inclinadas e rotação de de função de aumento de força, resistência, flexibilidade
tronco. O exercício de agachamento, muito utilizado, e condição cardiovascular. Tais programas simulam
não só nas academias, mas também em ambiente de trabalho ou tarefas funcionais em um ambiente
trabalho, mesmo executado corretamente, aumenta supervisionado, geralmente uma clínica ou um ginásio
significativamente a compressão intradiscal. Na condição [22].
incorreta, a compressão é significativamente maior que A informação acima veio de uma revisão bibliográfica,
na condição correta. onde o autor conta apenas com citações de outros autores,
A afirmação anterior parte de um estudo deturpado e não esclarece, em seu estudo, se a bibliografia passou
pela falta de um grupo controle e pela presença de amostra por uma análise crítica ou meta-análise.
insuficiente para execução do trabalho. Morken et al., em seu estudo sobre a ausência de
De acordo com Fortes et al. [19], todo atleta está doenças em trabalhadores industriais, a atividade física
propenso a sofrer injúrias e a região lombar da coluna não pareceu afetar independentemente ausência de doença
vertebral é a parte mais suscetível às lesões desportivas, de desordens musculoesqueléticas nesta população.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 161

Embora haja evidência que a atividade física realça a saúde, Conclusão


dados da literatura no relacionamento entre atividade
física de lazer e sintomas musculoesqueléticos em A constatação de que o número de praticantes de
populações trabalhadoras ainda são inconsistentes, e o atividade física em academias, clínicas e ambientes de
efeito da atividade física na ausência de doença parece trabalho, em todo o Brasil, tem crescido de forma
não ser claro [23]. impressionante, só vem a incentivar e a respaldar a
Este é um estudo que peca por não informar a necessidade do embasamento científico aos profissionais
confiabilidade dos instrumentos utilizados em sua que atuam nessa área.
pesquisa, podendo afetar a afirmação. Inadiável é esforçar-se para que a intensidade da
Vários estudos anteriores têm examinado diferenças atividade física seja dosada segundo cada faixa etária e é
de gênero, em sintomas clínicos entre pacientes com dor imprescindível que o fator individualidade biológica
crônica. Outros estudos, contudo, têm relatado diferenças sempre esteja presente com nitidez em qualquer programa
mínimas de gênero na severidade da dor [24]. Pesquisas de atividade física.
clínicas limitadas têm endereçado diferenças de gênero A lombalgia, na maior parte dos países, tem
em resultados da reabilitação. Em um estudo de medicina ocasionado um grande interesse e desafio para os
física sobre tratamentos para dor nas costas, a terapia especialistas no assunto, não só na busca de um maior
física convencional era mais eficaz para homens, enquanto entendimento, mas também de soluções terapêuticas para
exercícios posteriores dinâmicos intensivos produziam o seu tratamento. Distingue-se, entre as lombalgias,
melhor redução de dor entre mulheres [25]. aquela que molesta atletas de alto nível e a que atinge
Por tratar-se de uma revisão bibliográfica, devemos pessoas dedicadas à prática de atividades físicas
ter a mesma cautela que em Schontein et al. [22]. Tal tema obedeceu, principalmente, a finalidades
Jacob [26] em seu estudo, avaliou o relacionamento didáticas, pois esta pesquisa se organiza, tanto visando
entre prevalência de lombalgia e atividade física na contribuir com profissionais especializados na área da saúde
população de Israel e constatou que a alta proporção da (fisioterapeutas, médicos), quanto na do desporto
participação em atividades esportivas regulares (50%) pode (educadores físicos e atletas). Atendendo, portanto, a estas
ser atribuída a características sócio-demográficas da duas faixas de público, correlacionou-se, em seguida, por
população estudada, caracterizada como “trabalhadores meio de uma revisão bibliográfica, os efeitos da atividade
de colarinho branco” (classe sócio-demográfica alta e física e lombalgia.
média) e a diferenças da população geral em Israel Embora seja de conhecimento geral que os exercícios
(ligeiramente jovens e mais educados). Os resultados físicos produzem bons efeitos na aptidão física e na saúde,
apoiaram evidências anteriores da associação direta entre as possíveis lesões causadas por estas atividades arriscam-
prevalência de lombalgia e atividade física esportiva e da se a se elevar. Alguns parâmetros de exercícios, como a
associação direta entre prevalência de lombalgia e carga intensidade, duração e freqüência, que determinam efeitos
física durante o trabalho. de aptidão e saúde de treinamento físico, também parecem
Essa afirmação também deve ser lida com cautela pelo influenciar nos riscos de lesão.
fato de ter utilizado o procedimento de coleta de dados Os exercícios para prevenção da lombalgia precisam
do questionário por telefone, podendo gerar confusão na incorporar-se à vida diária, com intuito de se obter
avaliação funcional, diminuindo, assim, a confiabilidade resultados satisfatórios, ao garantir a redução da preva-
da afirmação e de seus resultados na pesquisa. lência de algias lombares.
Muitas diretrizes para a lombalgia aguda preconizam Ao prescreverem-se as atividades físicas de maneira
identificação de fatores prognósticos desfavoráveis, tais como adequada e segura, recomenda-se, inicialmente, conhecer
medo, dor na perna ou baixa satisfação no trabalho [27]. as condições atuais de saúde e condicionamento físico de
Por tratar-se de uma revisão de bibliografia, devemos cada indivíduo, tanto nas academias, clínicas ou em
ter a mesma cautela que em Fillingim et al. [24]. ambientes de trabalho.
Desordens musculoesqueléticas representam um É aconselhável que a elaboração de programas educa-
importante fator de incapacidade e morbidade. tivos, tanto de prevenção, quanto contra a recorrência
Atualmente, 40% dos custos de saúde relacionados ao de lombalgia, através da atividade física, direcione-se no
trabalho mundialmente são atribuídos a desordens sentido de desencadear conhecimentos, atitudes e
musculoesqueléticas. Vários autores relacionam ausência comportamentos compatíveis com uma dinâmica social
de doença de desordens musculoesqueléticas a fatores, tais fisicamente ativa e desenvolvida, no cotidiano, ao longo
como ambiente físico e psicossocial, posição no trabalho, da vida das pessoas, independentemente da sua área de
e a ausência de cultura. O nível do indivíduo, idade, gênero atuação.
e diagnóstico têm sido relacionados com a ausência de
doença de desordens musculoesqueléticas [23].
162 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005 163

Normas de publicação Fisioterapia Brasil


A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral 4. Resumo e palavras-chave
e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas (Abstract, Key-words)
relacionadas à Fisioterapia. Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados),
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meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
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requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J gia, análise).
Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
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164 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 2 - março/abril de 2005

Calendário de eventos
2005 15 a 17 de Julho
IV Jornada Para Calouros de Fisioterapia
Rio de Janeiro, RJ
Maio (21) 3867-1358 / 2576-6884 / 9296-0908
12 a 14 de maio 22 a 24 de julho
XI Simpósio de Fisioterapia em Cardiologia 10º Congresso Brasileiro Multidisciplinar e
Centro de Eventos SOCESP/Campos do Jordão, Campos do Multiprofissional em Diabetes
Jordão – SP UNIP, São Paulo
Informações: (11) 3179 0044 Informações: Anad (11) 5572 6559
19 a 22 de maio www.anad.org.br
Congresso Paulista de Fisioterapia Respiratório 28 a 30 de Julho
São Pedro – SP I Congresso Mundial de Estudantes de
Informações: (11) 5018-4437 / 5084-5847 Fisioterapia
www.sobrafir.com.br Santiago, Chile
(02) 7512261
21 a 25 de maio
6th International Conference on Preventive Cardiology
Foz do Iguaçu, PR Agosto
prcardio2005@congresosint.com.ar
25 a 27 de agosto
IV Congresso de fisioterapia do oeste paulista
Junho São José do Rio Preto SP
03 a 05 de Junho 27 a 30 de Setembro
XI Encontro Paranaense de Fisioterapia Respiratória Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional
Paranaguá, PR Teatro Guararapes, Auditório República, 05/S.100, Setor C
(41) 3019-2828 / 9944-5874 / 9973-0610 Associação do Estado de Pernambuco - ATOPE
Recife, PE
4 a 7 de junho www.recifecvb.com.br
7th Congress of the European Federation of Tel: (81) 3227 2085
National Associations of Orthopaedics and
Traumatology (EFORT)
Lisboa, Portugal Outubro
efort2005@netcabo.pt 05 a 08 de Outubro
XVI Congresso Brasileiro de Fisioterapia – Cobraf
17 a 19 de junho
Internacional Trade Mart (ITM EXPO)
I Congresso Gaúcho de Fisioterapia Ortopédica e
Av. Roberto Zuccolo, 555 – Vila Leopoldina
Traumatológica
São Paulo, SP
Marau, RS
Informações: www.fisioterapiamarau.com.br ou (54) 3426542 6 a 8 de outubro
International Spine Symposium
26 a 30 de junho Londres, Reino Unido
XVIII World Congress of Gerontology: New contact@spineinternational.org
Perspective: Healthy Aging in the XXIst century:
“Building Bridges Between Research and Practice” 08 a 12 de Outubro
Rio de Janeiro, RJ 39º ENAF
nortonsa@uol.com.br Poços de Caldas, MG
(35) 3712-7000

Julho
11 a 16 de Julho 2006
11º ENEEFISIO – Encontro Nordestino de
Estudantes de Fisioterapia Março
Recife, PE
www.enefisio.com.br 20 a 25 de março
5th International Conference on Advances in
15 a 17 de julho Pulmonary Rehabilitation and Management of
2º ENAF – BH Chronic Respiratory Failure
Belo Horizonte, BH Stresa, Itália
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 165

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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.6, nº3 maio/junho 2005 - 165~240)
EDITORIAL
Ver os que os outros não podem ver, Marco Antonio Guimarães da Silva .................................................................................... 167

ARTIGOS ORIGINAIS
Ação da postura corporal estática e da força dos músculos respiratórios e sua correlação com a produção
e qualidade vocal em professores, Rita de Cássia Vasconcelos Cialdini, Mara Suzana Behlau ................................................................. 168
Avaliação dos desvios posturais em escolares: estudo preliminar, Ana Lúcia Correa, João Santos Pereira,
Marco Antônio Guimarães da Silva ...................................................................................................................................................................... 175
Estudo comparativo entre técnicas manuais aplicadas em lutadores de jiu-jitsu com dor lombar,
Paulo Cesar Cotecchia Salgueiro, Marco Antônio Guimarães da Silva ............................................................................................................. 179
Fisioterapia
Efeitos prática
da estimulação elétrica neuromuscular associada ou não a exercícios de contração muscular
voluntária máxima, Janine Cuzzolin E Silva, Luis Ferreira Monteiro Neto, Flávio Cirillo, Evandro Emanoel Sauro,
Selma Garcia Laraia Colman, Paulo Koeke, Nivaldo Antonio Parizotto ......................................................................................................... 186
Avaliação da posição corpórea do paciente com doença de Parkinson através da biofotogrametria
computadorizada, Hugo Machado Sanchez, Mario Antonio Baraúna, Karla Maria Pereira Baraúna,
Charvston Gardellari Viana, Eliane Gouveia de Morais, Lucas Machado Sanchez, Ruiz Ângelo Ventura Silva,
Roberto Sérgio de Tavares Canto .......................................................................................................................................................................... 192
Dores e lesões na coluna vertebral, hábitos e costumes em acadêmicos de fisioterapia,
Paula de Castro Nunes, Luciene Bini Ouverney, Leonor Venâncio, Valdir F. Veiga Júnior, Carlos A. V. Mello ......................................... 198
Acupuntura cinética como tratamento coadjuvante na qualidade de vida de pessoas com distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho, Vasco Senna-Fernandes, Daisy França, Sebastião D. Santos-Filho,
Célia Cortez, Mário Bernardo-Filho, Marco Antônio Guimarães ..................................................................................................................... 204

REVISÕES
Agentes de acoplamento de ultra-som terapêutico e fonoforese, Maria Fernanda Bertini Mardegan,
Rinaldo Roberto de Jesus Guirro ......................................................................................................................................................................... 211
Ginástica Laborativa
Desmame da prótese ventilatória de recém-nascido: uma questão em aberto,
Soraya Calixto, Heitor S. Lopes, Esperidião E. Aquim ...................................................................................................................................... 217

ESTUDOS DE CASO
O uso da dança como aspecto lúdico no tratamento fisioterapêutico para criança portadora
de paralisia cerebral, Karina Hollatz, Karine Jacon Sarro .............................................................................................................................. 223
Análise do comportamento cinemático da marcha de um indivíduo submetido a artroplastia
total de quadril, Marielly Grassi, Jaqueline de Fátima Biazus ......................................................................................................................... 226
Protocolo de tratamento fisioterapêutico para pacientes portadores de neurocisticercose,
Scintilla Santos da Silva, Edson Alexandre La Terza Fonseca, Hilana Regina Ribeiro de Souza, Ernani Costa Mendes,
Raimundo Wilson de Carvalho ............................................................................................................................................................................. 230

RESUMOS ............................................................................................................................................................................................................ 234

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ..................................................................................................................................................................... 238

EVENTOS ............................................................................................................................................................................................................ 240


166 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Fisioterapia Brasil
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Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná)
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo)
Grupo de assessores
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Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE – Bahia)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 167

Editorial

Ver os que os outros não podem ver

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Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci.


marco@atlanticaedu.com.br

Com uma programação que incluía entre outros temas a a questão sobre uma ótica que se opõe diametralmente à exposta
discussão sobre “A importância dos Periódicos de no título “Importância dos Periódicos de Fisioterapia no
Fisioterapia no Desenvolvimento da Pós-graduação stricto Desenvolvimento da Pós-graduação stricto sensu na área de
sensu na área de Fisioterapia”, a Universidade Federal de Fisioterapia”. Se o nosso olhar e nossa percepção fossem menos
São Carlos organizou, no mês de maio deste ano, I Fórum enrijecidos, poderíamos ampliar nosso debate, discutindo
Nacional de Pós-graduação stricto sensu em Fisioterapia. exatamente o oposto do sugerido pela maioria dos presentes.
Os editores das principais revistas da área de fisioterapia, Passaríamos a discutir alguma coisa como: A importância da Pós-
especialmente as indexadas, foram convidados para participarem graduação stricto sensu na área de Fisioterapia para o Desenvolvimento
do evento. A Revista Fisioterapia Brasil, por mim representada, dos periódicos.
adotou uma linha de discussão distinta sobre o tema proposto Já se sabe que a importância dos periódicos da área de
que acreditamos merece melhor explicitação. Apesar de algumas fisioterapia, ou de qualquer área, está representada pela
digressões, recorro ao pensamento do Foucault para amparar os oportunidade de publicação que esses mesmos periódicos
argumentos sobre a questão que trarei a seguir. oferecem àqueles que terminaram suas pesquisas. Obviamente
No primeiro capitulo do livro As palavras e as coisas também já conhecemos o papel ímpar desses veículos de
(Foucault,1966), o filósofo faz um estudo do quadro Las Meninas, divulgação para a produção de novos conhecimentos científicos.
de Velásquez, no qual o pintor apresenta os personagens desde Mas sobreviveríamos, como revistas, sem a produção cientifica
várias perspectivas e como protagonistas de um jogo de esconder dos docentes e alunos dos programas de pós-graduação? Talvez
e revelar, que oferece vários ângulos: o quadro pode ser visto a sim, mas com uma periodicidade muito aquém da desejada e
partir do espectador, a partir do rei ou a partir do pintor, mas que talvez não atendesse às regras dos indexadores. Além desta
com a particularidade de que cada personagem vê o quadro desde questão, existe ainda a qualidade da pesquisa, que, boa ou ruim,
uma perspectiva distinta e, ao mesmo tempo, vê o que o outro uma vez concluída acaba gerando um ou mais artigos. Pesquisas
não pode ver, sem ser visto pelos outros. O que destaca Foucault com delineamentos equivocados e com resultados que não têm
e o que nos interessa destacar no presente editorial são os fôlego para resistirem a uma análise baseada na palavra de moda
múltiplos planos existentes nesse quadro: o nível de percepção (evidências) são muito freqüentes. Mais uma vez, a Pós-graduação
que Velásquez simboliza com a luz que penetra pela janela retratada stricto sensu pode ser de vital importância no desenvolvimento de
no quadro e o nível de linguagem, ambos distintos e seguindo periódicos e na manutenção de seus padrões de qualidade, já que
suas próprias leis. É essa situação que trago para refletir sobre o o entorno acadêmico é um foro privilegiado para providências
referido encontro que se propunha discutir a importância dos que equacionem os erros cometidos nas investigações cientificas.
periódicos de Fisioterapia. Entretanto, para chegarmos a novas conclusões, é preciso que
Todos os editores presentes ao evento (exceção para saibamos, como nos ensina Foucault através do quadro de
Fisioterapia Brasil) optaram por focalizar as suas apresen- Velásquez, desdobrar o nosso olhar e fazer com que ele busque
tações nas normas e procedimentos para a seleção de artigos. novas perspectivas.
Seguindo o olhar plural foucaultiano, sugerido pelo quadro A nossa simples existência, como revista indexada, oferece a
de Velásquez, vislumbrei uma outra perspectiva voltada para perspectiva alternativa que simboliza a importância que temos
a interpretação textual do significado no assunto título do para o desenvolvimento da pós-graduação na área da fisioterapia
evento e adotei um discurso que não coincidiu com o ou de quaisquer outras áreas. Existir e nada mais, eis a nossa
apresentado pelos outros colegas editores. Procurei discutir contribuição.

* Editor científico de Fisioterapia Brasil, Professor da UFRRJ e de Doutorado recomendado no exterior.


168 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Artigo original

Ação da postura corporal estática e da força dos


músculos respiratórios e sua correlação com a produção
e qualidade vocal em professores
Assessment of the static posture and the respiratory muscle forces and
its connection to the production and voice quality in school teachers
Rita de Cássia Vasconcelos Cialdini*, Mara Suzana Behlau, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta e Professora da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), **Fonoaudióloga, UNIFESP, SP

Resumo Abstract
O objetivo principal do presente trabalho foi caracterizar as The main objetive of this study was to characterize the body
alterações de postura corporal estática e quantificar a força dos static posture changes and measure the force of the respiratory
músculos respiratórios em professores do ensino fundamental, muscles in teachers of elementary schools in Fortaleza-CE. The
em escolas públicas, na cidade de Fortaleza/CE, correlacionando study points out the complexity of the body static posture and
estas alterações com produção e qualidade vocal. O campo de the respiratory muscle forces and its relation with production and
investigação dessa área torna-se amplo, exigindo um estudo quality of voice of the teachers. The studt involved sixty teachers
profundo e abrangente para destacar a complexidade da postura from both sexes of public schools in Fortaleza. They answered a
corporal estática e da força dos músculos respiratórios e de sua questionnary with open questions, related to activities before and
inter-relação com a produção e qualidade vocal de docentes. after their professional performance, as well as the posture,
Utilizou-se um questionário respondido por 60 professores de respiratory and vocal reactions after teaching, muscle pain, posture
ambos os sexos, contendo perguntas abertas, relativas às práticas alterations, respiratory pattern changes, muscles tension, physical
de atividades utilizadas antes e após o desempenho profissional, stress and voice tiredness. The result showed negligence and lack
bem como as reações posturais, respiratórias e vocais que se of information about the relevance of the posture and its close
manifestaram após seus desempenhos em sala de aula, que relation between the abdominal thoracic balance and the integrated
assinalam dor muscular, perturbações funcionais da postura, action of muscle-respiration. The teachers did not use
alteração do padrão respiratório, tensão muscular, estresse físico e phonotherapy to prevent voice weariness, proving the carelessness
cansaço vocal. Os resultados obtidos grifaram: os professores in preparing the voice muscles.
não utilizavam a fonoterapia como prática preventiva do desgaste Key-words: Posture, muscles respiratory, teachers–elementary
de voz, configurando o descuido na preparação da musculatura schools, voice
vocal. A negligência e desinformação acerca da relevância
desempenhada pela postura, sua íntima relação com o equilíbrio
torácico-abdominal e a ação integrada músculo-respiração, avaliaram
o despreparo vocal dos docentes.
Palavras-chave: postura, músculos respiratórios, professor–
ensino fundamental, voz.

Artigo recebido em 24 de março de 2004; aceito 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Rita de Cássia Vasconcelos Cialdini, Rua Osvaldo Cruz, 3472, Dionísio Torres 60125-151 Fortaleza CE, Tel: (85)
247-7117, 9987-4614, E-mail: ritacialdini@unifor.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 169

Introdução uso abusivo vocal, pouca hidratação, freqüentes mudanças


climáticas, estresse, doenças hormonais, metabólicas, alergias
Os profissionais que apresentam alta demanda vocal e outros problemas, estes podem desencadear alterações
correm o risco de desenvolverem alterações vocais e, sendo mais sérias que, muitas vezes, interagem desenvolvendo um
assim, os docentes integram um grupo especial, não só em desarranjo na funcionalidade e eficiência vocal.
razão do uso excessivo da voz, mas também da acústica Behlau e Pontes [4] reconheceram ainda que os
ambiental inadequada, face à relevância que representa a problemas de voz são limitantes para desenvolvimento das
postura corporal, o equilíbrio torácico-abdominal e a ação atividades profissionais que demandam excessivo uso, até
integrada músculo-respiração. porque os instrumentos na área de voz continuam pouco
Ao destacar a relevância da postura corporal, é conhecidos. Entretanto, o desenvolvimento de algumas
indispensável que se reafirme a compreensão de que esta práticas e regras especiais que podem auxiliar na
resulta de um processo evolutivo de milhões de anos [1], quantificação da limitação vocal faz-se essencial. A mesma
inclusive da apreensão de um fato inegável: lidar com a autora comenta que tais procedimentos instruem o clínico e
postura do corpo é lidar com o homem, muito mais que os profissionais das áreas específicas da voz, servindo como
com sua coluna vertebral e seus músculos. Todavia, os guia de referência para a adequada atuação e desempenho
avanços da ciência e da tecnologia têm provocado mudanças profissional.
substanciais nos padrões das posturas, fazendo com que os Não é prudente deixar de reportar-se aos padrões
cuidados de tratamentos e os programas em busca de saúde respiratórios que tais pessoas podem apresentar, quando
sejam adaptados a essa nova realidade. A referida evolução esses distúrbios se tornam evidentes. A respiração fica difícil
faz com que seja necessária, não somente uma apreciação e acaba por desencadear descompensações na posição
das situações correntes, como também a definição de pneumofonoarticulatória. Uma postura corporal retraída e
cuidados, metas e de formas de prevenção e recuperação encurtada traduz desvios de movimentos, os quais podem,
de doenças causadas por disfunções musculares e posturais por compressões ou tração, alterar a mecânica da musculatura
[1]. cervical e incidir diretamente na qualidade da voz. Os
Nesta linha de raciocínio e, atentando para a complexidade músculos respiratórios como o diafragma e os abdominais
e abrangência deste enfoque, acredita-se que é com o têm, não apenas participação direta na postura, mas também
desenvolvimento de estudos desta natureza que se pode na voz [5, 6].
avançar na terapêutica postural, na medida que se está O mau uso ou abuso do mecanismo de produção
contribuindo para a melhoria do futuro profissional, vocal, sozinho ou combinado com outros fatores
investindo na formação de pessoas que possam, a partir biológicos e psicossomáticos, pode resultar em sintomas
das informações e dados transmitidos pelos professores, agudos ou crônicos de desgaste vocal, como fadiga,
elaborar seu próprio protocolo e que este possa refletir as rouquidão e desconforto vocal [6]. Behlau e Pontes [4]
necessidades específicas de cada um. refiriram que a orientação vocal tem sido ignorada na
Este assunto envolve muitos outros aspectos de avaliação realidade brasileira, sendo escassos os programas
postural, os quais devem ser objeto de análise e estudo, preventivos.
entretanto, a atenção direcionada a avaliar os efeitos da inter- As hipóteses deste estudo incidiram nos fatores de
relação postural, músculos respiratórios e voz é relevante, alterações posturais, do padrão respiratório e alterações
pois estes são essenciais ao funcionamento do sistema vocais que implicam na produção e qualidade vocal de
respiratório, muitas vezes, acometido de redução da professores de escolas públicas de ensino fundamental em
capacidade pulmonar, devido a músculos fracos e limitados Fortaleza/CE.
em sua função, interagindo negativamente com a força e Este estudo foi possível a partir da percepção da
resistência muscular respiratória. Em decorrência disso, é problemática-queixa, que constituiu o critério de inclusão
essencial o conhecimento dos músculos e da biomecânica na amostra: professores com dores musculares na região
respiratória, a fim de auxiliar a fisioterapeuta em sua avaliação cervical, escapular e ombros, perturbações posturais e
e conduta no tratamento de males respiratórios, já que ambos respiratórias, encurtamento, estresse físico e queixas vocais.
inter-relacionam-se mutuamente [2]. Decorrentemente, configurou-se uma visão integrada das
Segundo Behlau [3], outra noção importante para a abordagens posturais, respiratórias e vocais, proporcionando
discussão refere-se à voz humana, que é um atributo inerente conhecimentos que podem subsidiar melhor desempenho
ao indivíduo, uma das formas de comunicação, já que é por de um trabalho interdisciplinar, garantindo sucesso e
meio dela que se tem possibilidades e oportunidades de expor desempenho profissional e melhor qualidade de vida para
sentimentos e emoções, quer sejam de alegria, tristeza ou os indivíduos pesquisados.
outras diversas sensações. A voz pode ser prejudicada quando A contribuição desta dissertação reside no fato de que o
não for utilizada de forma correta. Por isso, deve haver estudo da questão postural não se resume, exclusivamente,
uma forma consciente de se colocar a voz, porquanto se há ao universo biológico, nem a forma de sentar-se ou de
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locomovers-se, mas a uma forma de viver, já que o homem Resultados e discussão


nunca se descobriu como “corpo” [7], além de que o estudo
da postura e a respiração apresentam íntima relação com a Os resultados referem-se ao estudo, que teve como
produção da qualidade da voz. objetivos, avaliar a postura corporal estática, resistência
muscular respiratória, incluindo-se a produção e qualidade
Material e método vocal de professores de ensino fundamental.
Através de índices levantados, considerou-se o gênero
Em razão da multiplicidade de fatores que se inter- feminino como parcela significativa (85%), atuando
relacionam no estudo, segundo os objetivos estabelecidos, profissionalmente em sala de aula (95%) dispondo de apenas
caracterizou-se este estudo como do tipo descritivo, de um período de repouso vocal, diariamente (71,7%).
investigação avaliativa expost-facto e quantitativa. Com relação ao perfil das alterações anatômicas e
Participaram da análise, 60 professores, de escolas públi- posturais e à auto-avaliação da sintomalogia, indicada pelos
cas, na faixa etária de 25 a 55 anos, de ambos os sexos. A sujeitos da pesquisa, foram inseridas as tabelas e figuras que
média de tempo de exercício profissional foi de mais de 10 apresentaram os aspectos mais objetivos da realidade
anos, com tempo mínimo de mais de 5 anos e máximo de vivenciada pelos docentes participantes deste estudo.
mais de 15 anos - o percentual mais elevado.
O critério básico de inclusão dos sujeitos do estudo foi Figura 1 – Distribuição do número de docentes em relação aos padrões
respiratórios avaliados.
de que nenhum deles apresentasse qualquer alteração de
voz ocasionada por problemas neurológicos, metabólicos e
doença de natureza que envolvesse problemas de voz como
conseqüência.
A avaliação privilegiou o uso de manovacuômetro,
modelo CRK-MV-120, para um teste destinado a detectar
o nível de pressões respiratórias, a fim de realizar a medição
dos valores da Pressão Respiratória Máxima (PI MAX),
que permitiram uma avaliação simples, rápida e fidedigna
da força muscular respiratória.
No exame físico foram realizadas a inspeção visual dos
indivíduos e a palpação do estado geral da postura, após a
prática de atividades em sala de aula, incluindo-se a
observação geral do padrão respiratório e comportamento
vocal frente às alterações posturais e de respiração. Através O padrão respiratório modifica-se em conformidade com
da mãos, apalpou-se os músculos da coluna cervical, intercos- a postura e contração muscular. Dos dados obtidos, 13
tais, diafragma, cintura escapular e ombros, pressionando professores (21,7%) integraram o grupo classificado como
com os dedos os pontos de tensão para cada grupo muscular, Apical; um segundo grupo de 20 dos pesquisados (33,3%)
em busca de detectar manifestações relativas às práticas de assinou o padrão respiratório costo-diafragmático, enquanto
atividades utilizadas antes e após o desempenho profissional o maior grupo, constituído por 27 sujeitos da amostra (45%),
que pudessem ter na história de avaliação dos músculos sublinhou a inclusão no padrão torácico.
alterações do padrão respiratório, tensão muscular, estresse Os músculos intercostais internos na sua porção
físico e cansaço vocal. intercartilaginosa recebem o nome de intercostais paresternais,
Os professores participantes responderam individual- atuando para diminuir o ângulo entre o esterno e as costelas,
mente a um questionário pré-elaborado, contendo elevando-as lateralmente e aumentando o volume pulmonar [8].
perguntas abertas, incluindo questões que configurassem A ação dos músculos intercostais, tanto internos quanto
o perfil dos sujeitos da amostra, das alterações de externos, em faixa de volume corrente, é inspiratória,
sintomatologia indicada pelos docentes, avaliando os grupos enquanto a insuflação progressiva dos pulmões, até a metade
musculares acionados nos processos respiratórios dos da capacidade inspiratória, altera suas ações, tornando-se
avaliados, alterações posturais, o mau uso e abuso vocal, expiratória [9].
condições do local de atuação profissional e, finalmente, Partindo-se da consideração de que o comportamento
queixas globais e vocais. da caixa torácica é constituído pelas vértebras dorsais (as
O questionário continha questionamentos, inclusive costelas) e, em face da presença das articulações costo-
subjetivos, destinados a coletar informações de auto- externais e das costo-vertebrais, a caixa torácica apresenta
avaliação dos sujeitos, relacionados às queixas e aos maior amplitude axial [5].
procedimentos que empregaram como alternativa para Deve-se saber que o padrão respiratório é a forma como
melhoria da postura, respiração e voz. os compartimentos torácicos e abdominais movimentam-se
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 171

durante o ato respiratório e que esse padrão é modificado causados devido a horas seguidas de sua utilização em aulas,
segundo a posição postural e, ainda, pela contração além de evitar interferência das tensões musculares e do
volumétrica de diferentes grupos de músculos [10]. padrão respiratório muito alterado, ambos, podendo implicar
Nesta figura, foi detectado que a maior percentagem de significativamente em modificações vocais.
indivíduos que usavam o padrão respiratório torácico estava
em desconformidade com a adequada função de expansi- Tabela I - Distribuição dos grupos musculares acionados no processo
respiratório dos avaliados.
bilidade e com o uso direto do músculo efetor principal da
inspiração, o diafragma. Tipo(s) de Freqüência(N) Percentual(%)
O padrão respiratório apical é o último recurso a ser usado, músculo(s)
indicador esse, de cansaço muscular. O padrão respiratório acionado(s)
costo-diafragmático é aquele que deveria ter sido privilegiado
Abdominais 1 1,70
pelos docentes, o que indica comprometimento do mecanismo Intercostais 9 15,30
respiratório em razão de problemas posturais [11]. Acessórios 21 35,00
Diafragma 29 48,00
Figura 2 – Distribuição do número de professores, segundo a prática
habitual de exercício fonoterapêuticos. T O TAL 60 100,00

O músculo mais acionado no processo respiratório,


conforme a avaliação realizada nos sujeitos da pesquisa, foi
o diafragma, percebido em 29 dos docentes (48%), seguido
dos músculos acessórios, destacados em 21 dos sujeitos da
amostra (35%), enquanto os músculos intercostais foram
utilizados por apenas 9 dos professores (15,37%), e somente
um indivíduo fazia uso dos abdominais (1,70%).
Os dados indicados nesta tabela levam a prever um
desequilíbrio no ciclo respiratório, pois os músculos acessórios
não deviam ser destacadamente acionados durante o processo
respiratório, a fim de que não se comprometesse negativamente
a mecânica respiratória e a função pulmonar [16].
A maioria dos avaliados, 52 profissionais de educação Os músculos intercostais internos, em sua função de
(86,7%), não incluia a fonoterapia como prática preventiva diminuir o ângulo entre o esterno e as costelas, e também
do desgaste da voz, ressaltando o descuido de preparação da de elevar lateralmente a volume dos pulmões, não são só
musculatura vocal, enquanto apenas oito dos sujeitos da fixadores, mas também agonistas da inspiração e, como o
amostra (13,3%) utilizavam-na regularmente. Esta constatação diafragma, encontram-se durante o processo respiratório
é preocupante, pois, entre as várias profissões que se utilizam tranqüilo [8].
da voz falada como veículo básico no desempenho de seu O diafragma é o músculo mais importante do processo
trabalho, a de docente é a principal implicada. de respiração, funciona como um septo músculo-fibrinoso
Vários autores têm-se preocupado com as alterações de em forma de cúpula, voltado cranialmente, separando a
voz na docência e com o desconhecimento reinante acerca cavidade torácica da abdominal. Considere-se que a
da necessidade de instituir-se, entre esses profissionais as inspiração na respiração basal depende primordialmente da
práticas de fonoterapia, visando à preservação da deterio- contração do diafragma [5].
ração vocal, cansaço e disfonias [4,12,13]. Ao encontrar-se com o diafragma, o conteúdo abdominal
É consenso entre os fonoaudiólogos que o mau uso da é forçado para baixo e para frente, resultando no aumento
voz e a despreocupação com o emprego de práticas preven- do diâmetro ântero-posterior e látero-lateral, durante a
tivas e protetoras dessa propriedade humana, propiciam o respiração de repouso, assim o nível deste músculo move-
desencadeamento, não só dos sinais característicos de se de 1 a 1,5 cm; porém, na respiração forçada, pode elevar-
agressão à produção vocal, como de outros fatores relativos se, atingindo até 6 cm. E, caso esteja paralisado, move-se
à saúde geral e daqueles provenientes do meio ambiente, para cima em vez de descender na expiração [17]. Na
que se associam aos desvios de conduta vocal e, por vezes, ocorrência de paralisia diafragmática há a perda de mais da
interferem até na evolução da terapia, quando procurada metade da capacidade inspiratória [18].
[14]. O funcionamento do diafragma é relevante também para
Para Viola [14], é fundamental que profissionais de que ocorra o relaxamento e o indivíduo não necessite fazer
educação conscientizem-se de que uma prática vocal bem esforço para respirar e para que não exista comprometimento
estruturada evita, não só o uso indevido da voz, como da mecânica respiratória e da função pulmonar. A força da
preserva sua saúde de forma correta, prevenindo os males musculatura respiratória é definida como a pressão máxima
172 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

ou mínima desenvolvida dentro do sistema respiratório a se que seis indivíduos (10%) apresentavam postura protraída.
um específico volume pulmonar. Em dois grupos, formados, cada um, de 15 professores
(25%), postura relaxada e cifótica foram apresentadas. Foram
Tabela II - Valores referentes à força muscular respiratória e ao nível de identificados, de acordo com os dados, que 24 docentes
valores pressóricos dos sujeitos da pesquisa, mediante utilização do
(40%) da amostra apresentaram postura tensa.
manovacuômetro.
A postura é decorrente de inúmeros atos motores,
Níveis Pressóricos Freqüência(N) Percentual(%) entretanto, não existe um modelo pronto de postura correta,
por isso é necessário considerar diversos fatores (sociais,
Pressão Inspiratória Máxima: -80 36 60,00 culturais, biológicos e neurológicos) que se refletem sobre o
Pressão expiratória Máxima: +100
corpo humano, inclusive a reatividade psicofísico-emocional
Pressão Inspiratória Máxima: -90 24 40,00
Pressão expiratória Máxima: +120 e doenças derivadas da deficiência de exercícios físicos [1].
Os estudos sobre postura conciliam concepções anteriores
T O TAL 60 100,00
e atuais, defendendo que, em se tratando da posição do corpo
Na tabela acima, estão configurados os valores obtidos na no espaço, têm referência especial aquelas partes que exigem
pressão inspiratória e expiratória máximas, que atingiram em menor esforço para evitar fadiga desnecessária.
torno de -80 cmH2O a +120 cmH2O, respectivamente. Não A postura tensa decorre do mau posicionamento de
foram destacadas expectativas acentuadas de fraqueza muscular, retrações musculares, inclusive encurtamentos, derivados
já que os valores preditivos de fraqueza muscular são de -70 das tensões internas a que os indivíduos são submetidos no
cmH2O a +75 cmH2O, para ambas as pressões [11]. dia-a-dia. As posições cifóticas e protraídas são conseqüências
O exposto, através da tabela mencionada, levou à análise de desvios patológicos à posição correta: relaxada [20,21].
de que os sujeitos não apresentaram alterações na força
muscular respiratória, porquanto os valores obtidos Tabela IV - Distribuição numérica de sintomas dadas alterações globais e
apresentaram-se aproximados dos considerados normais vocais decorrentes do desempenho em sala de aula.
com PI MÁX = -90 a –120 cmH2O e, PE MÁX = +100 a
Sintomas de Freqüência(N) Percentual(%)
+150 cmH2O [19].
alterações global
O emprego do manovacuômetro destacou os valores e vocal
pressóricos que indicaram que 36 dos docentes analisados
(60%) apresentaram PI MÁX de - 80 cmH2O e PE MÁX Dor muscular 14 23,3
de +100 cmH2O, enquanto os 24 outros (40%) alcançaram Tensão muscular 8 13,3
Cansaço físico 11 18,3
PI MÁX de 90 cmH2O e PE MÁX de +120 cmH2O.
Cansaço vocal 15 25,00
Tabela III - Distribuição numérica segundo alterações posturais decorrentes Estresse 12 20,00
de inadaptações anatômicas às condições em que são executadas as atividades T O TAL 60 100,00
pelos professores.
As informações sobre alterações posturais e as possíveis
Alterações posturais Freqüência(N) Percentual(%) alterações por estresse físico apresentadas pelos docentes,
após desempenho em sala de aula, registraram a prevalência
Protraída 6 10,00
de cansaço físico em 15 dos sujeitos da amostra (25%),
Relaxada 15 25,00
Cifótica 15 25,00 enquanto 14 outros (23,3%) referiram manifestação de dor
Tensa 24 40,00 muscular. Em 11 professores (18,3%), apresentou-se tensão
T O TAL 60 100,00
muscular e oito deles (13,3%) referiram cansaço vocal.
Decorrentes de alterações globais, prevaleceram mani-
Utilizada a avaliação postural clássica em conformidade festações de cansaço físico, presença de dor e tensão
com a atividade profissional dos sujeitos da amostra, detectou- muscular, e estresse, em 12 docentes (20%) da amostra.

Tabela V - Freqüência numérica e percentual resultante da observação de queixa global versus queixas vocais e repercussões na voz.

Queixas globais Cansaço físico (N) Dor e tensão Sem queixa TTotal
otal
e queixas vocais

(N) (%) (N) (%) (N) (%)


Cansaço vocal 7 53,8 6 46,2 0 0,0 100,00
Alteração da voz 30 30,9 2 6,1 1 3,0 100,00
Alteração de voz + Cansaço 5 50,0 5 50,0 0 0,0 100,00
Sem queixas 0 0,0 0 0,0 4 100,0 100,00
T O TAL 42 70,0 13 21,7 8 8,3 100,00
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 173

O cansaço vocal apresentou-se em razão de que, para diminuição dos espaços de fonação, alterando o ritmo da
uma fonação normal, é essencial que as forças aerodinâmicas voz e dando lugar a queixas vocais diversas [7,13,25].
estejam equilibradas com as mioelásticas da laringe, para a É consenso entre os fonoaudiólogos que a respiração
produção da voz e fala normais, sendo indispensável a para a produção de voz é adaptada a partir da respiração
coordenação da respiração e do controle expiratório. vital, sendo ativa na inspiração e passiva na expiração.
Como a postura corporal define grande parte do Quanto à inter-relação resultante da utilização de lazer e
comportamento respiratório, se o corpo encontra-se em descanso como prevenção de desgaste e situação respiratória,
desequilíbrio, as relações mecânicas e as forças inerentes ao 24 (40%) dos professores declararam que utilizavam o lazer
sistema respiratório estão conseqüentemente alteradas, como como prevenção, enquanto os 36 outros (60%) afirmaram
ficou configurado na pesquisa, segundo os percentuais que que não o utilizavam com significância.
referem dor e tensão muscular, cansaço físico e alterações Na confrontação das duas variáveis do percentual
globais [1,4,13,22,23]. afirmativo, cerca de 22 docentes (36,7%) apresentaram
O cruzamento estatístico dos dados processados – queixas situação respiratória normal, todavia, cerca de 38 sujeitos
globais vs. queixas vocais - assinalou 13 professores, sendo da amostra (63,3%) apresentavam situação respiratória
que, destes, seis (46,2%) relataram dor muscular e tensão ofegante, do que se depreende que, apesar da utilização do
mais cansaço vocal, enquanto sete (53,8%) apresentaram lazer, dois professores apresentavam respiração ofegante,
cansaço físico mais cansaço vocal. Dos universos pois não o utilizam como prática de descanso.
pesquisados, 30 docentes (90,9%) perfizeram um grupo bem Na concepção de Azeredo [26], o lazer e o descanso
elevado que apresentou cansaço físico mais alteração vocal, como práticas de prevenção de desgaste e de situação
enquanto dois sujeitos da amostra (6,1%) tiveram dor respiratória não foram bem empregados pelos docentes,
muscular, e somente um indivíduo (3,03%) não apresentou apontando para o despreparo dos professores que não con-
queixa de cansaço físico e nem de cansaço vocal. Todavia, sideram necessários investimentos em programa de saúde,
de dez dos professores pesquisados, cinco (50%) principalmente com relação ao descanso que interage na
apresentaram dor e tensão muscular mais alteração de voz situação respiratória e influente nas condições de produção
e cansaço e os cinco outros, tiveram cansaço físico mais vocal.
alteração de voz e cansaço vocal, porém apenas quatro não A fadiga vocal é o problema mais freqüentemente
apresentaram queixas. encontrado em profissionais docentes, em que a ocupação
A análise dos dados apresentados nesta tabela destacou exige uma grande demanda vocal, principalmente, se
que o cansaço físico e a dor física intensificam a atividade considerada a porcentagem significante deles que emite abuso
vocal, causando transtornos no aparelho fonador [24]. As e mau uso vocal, como forçar a voz, falar alto e muito.
alterações da voz atingiram 90,0%, assinalando alta Segundo Colton, Casper [6], o mau uso vocal sugere uma
porcentagem dos docentes que apresentaram alterações e produção de comportamentos que destacam a propensão
problemas da voz. anormal do mecanismo fonatório a trabalhar efetiva e
O sistema respiratório é a fonte de energia para a voz e eficazmente.
é responsável também pela não ocorrência de cansaço físico
e, ausência ou presença de dores musculares e tensões [6]. Conclusão
Os sintomas envolvidos na fonação estão entrelaçados ou
isolados de outros, sendo necessário que se assegure a Com base na análise dos dados obtidos, foi possível
ocorrência de bom fluxo de inspiração e de expiração, concluir que o padrão respiratório dominante foi o torácico
auxiliando na redução de tensões da laringe, para que se e que os professores estavam em desconformidade com a
evite o fechamento da glote antes do início da fonação. função de expansibilidade e com o uso do músculo efetor
A coluna cervical, por ser uma região de tensão, na da inspiração - o diafragma. Embora a voz do professor
posição bípede, pode modificar o comportamento das seja o instrumento essencial para o seu trabalho, 86,7% dos
cartilagens da laringe e, conseqüentemente, estabelecer a sujeitos da amostra não utilizaram a fonoterapia como prática
Tabela VI - Freqüência numérica resultante da inter-relação: utilização de lazer como prevenção de desgaste e situação respiratória.

Discriminação Sim Não TTO


OTAL

N % N % N %

Utilização do lazer como


prevenção de desgaste 24 40,0 36 60,0 60 100,00
Situação respiratória
Normal 22 36,7 0 0 22 36,7
Ofegante 0 0 38 63,3 38 63,3
174 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

preventiva de desgaste da voz, conseqüentemente viabili- 4. Behlau M, Pontes P. Avaliação e tratamento das disfonias. São
zando o mau uso e abuso da voz, uma vez que a maioria Paulo: Lovise; 1995.
dos professores apresentou desequilíbrio no ciclo respiratório, 5. Slutzky LC. Músculos respiratórios. São Paulo: Sul América; 1997.
com o destacado acionamento dos músculos acessórios. 6. Colton RH, Casper JK. Compreendendo os problemas da
voz – uma perspectiva fisiológica ao diagnóstico e ao
Os índices de PI max e PE max encontrados nos
tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996.
avaliados, embora não destaquem expectativas acentuadas 7. Bankoff ADP, Freire, JB, Villarta, R. Postura corporal:
de fraqueza muscular, estão em divergência com os índices integração dos fatores culturais e sociais aos fatores biológicos.
de normalidade consagrados de acordo com a avaliação Brasília: HEE/MS/MEC; 1997.
propiciada pelo manovacuômetro. 8. Detroyer A, Farkas AG. Mechanical arrangement of the
A avaliação postural clássica, segundo a atividade parastenal intercostais in the differents interpaces. J Appl
profissional da amostra, indicou predomínio da postura tensa Physiol 1989;66(3):1421-9.
seguida da cifótica e relaxada, que apresentaram níveis 9. Rocco PRH, Zin WA. Mecânica respiratória. In: Gonçalves JL.
idênticos de presença entre os docentes, destacando, pri- Terapia intensiva respiratória e ventilação artificial. São Paulo:
Lovise; 1991.
meiro, o mau posicionamento de retrações musculares,
10. Castiogoli L, Cuello A. Voluntary control of de diaphragm in
inclusive encurtamentos de musculatura derivados das one subject. J Appl Physiol 1966;21(6):1911.
tensões intensas vivenciadas pelos indivíduos cotidianamente, 11. Azeredo CAC. Fisioterapia respiratória médica. São Paulo:
enquanto as duas últimas grifaram posturas patológicas. Manole; 2002.
Conclui-se que há, entre os professores, acentuado índice 12. Malitchenko N, Lafon JC, Faure M. A pathologie vocale des
de posturas inadequadas e patológicas que interagem enseignantes. Bulletin d’Audiophonologie 1992;8(4/5):403-12.
dificultando a boa respiração e produção de voz. 13. Garcia AA. Fatores associados aos desvios da conduta vocal
Uma porcentagem significativa de professores apresentou em professores. Fono Atual 2000;5(22):40-52.
sintomas de cansaço físico, dor muscular, estresse, tensão 14. Brandi E. Voz falada – estudo – avaliação – tratamento. São
muscular e cansaço vocal, resultantes da inter-relação dos Paulo: Atheneu; 1996. v 1,2.
15. Viola IC. Estudo descritivo das crenças populares no tratamento
fatores comentados anteriormente, uma vez que cada um
das alterações vocais em profissionais da voz. In: Ferreira LP, ed.
deles e, em conjunto, interagem profundamente na harmonia Dissertando sobre voz. Carapicuíba: Pró-fono; 1998.
funcional e postural, muscular e na produção de voz – 16. Mier A, Brophy C, Estenne M, Moxham J, Green ME, Detroyer
porquanto as alterações posturais são geradoras de deficiên- A. Action of abdominal muscles on rib cage in humans. J
cia de força muscular, inadequado processo respiratório e, Appl Physiol 1985;58(5):1438-43.
ainda, contribui para diversas alterações entre a quais figuram 17. Costa D. Fisioterapia respiratória básica. São Paulo: Atheneu; 1999.
as de ordem psico-emocional e física. 18. Feltrin MIZ, Jardim JRB. Fisiologia muscular respiratória. São
Considerou-se fundamental a indicação de proposta de Paulo: Revinter; 1988.
atuação mais atenciosa dos docentes com relação à saúde 19. Abreu CM, Santos DG, Valle PHC, Costa D. Treinamento da
musculatura inspiratória em indivíduos normais e portadores
integral, na qual desempenham papel preponderante as
de patologias respiratórias. Fisioter Mov 2000;13(2)141-52.
práticas fisioterapêuticas e fonoterapêuticas, bem como 20. Williams JS, Jansen PL, Fuller DD, Fregusi RF. Influence of
atividades alternativas, como exercício de relaxamento, posture and breating route on neural drive to upper airway
respiração, alongamento, caminhada, yoga e natação. É dilatos muscles duing lazer. Arizona: The University of
imprescindível a conscientização de que má postura, dores Arizona; 2000.
musculares e disfunções respiratórias alteram prioritariamente 21. Tribastone F. Tratado de exercícios corretivos aplicados à
a produção da voz, interferindo no sistema fonatório. reeducação motora postural. São Paulo: Manole; 2001.
22. Behlau M, Pontes P. Avaliação global da voz. São Paulo:
Referências Paulista Publicações Médicas; 1990.
23. Braccialli LMP. Reflexões teóricas. Fisioter Mov 2001; 17(1):65-71.
1. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos: filosofia, patologia e 24. Behlau M, Pontes P. Higiene vocal: informações básicas. São
tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus; 1995. Paulo: Lovise; 1993.
2. Azeredo CAC. Fisioterapia respiratória moderna. 2a ed. Rio 25. Wilkman E. Riscos ocupacionais e desordens vocais. Revista
de Janeiro: Revinter; 1996. Long Phone 1996;21:137-41.
3. Behlau M. Qualidade vocal: avaliação global da voz. São Paulo: 26. Azeredo, CAC. Bases do treinamento muscular respiratório
EEPM; 1989. com novo sistema de aplicação de carga linear pressórica.
Pulmocare 1994;1(1)120-5. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 175

Artigo original

Avaliação dos desvios posturais em escolares:


estudo preliminar
Evaluation of postural deviation in scholars: preliminary study
Ana Lúcia Correa*, João Santos Pereira, D.Sc.**, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Universidade Castelo Branco - RJ, Docente em Fisioterapia da Universidade de Barra Mansa - RJ, **Professor titular do PROCIMH
Universidade Castelo Branco, ***Professor titular do PROCIMH Universidade Castelo Branco

Resumo Abstract
O estudo aborda a avaliação postural, destacando a boa e a má The aim of this study was to assess posture, with emphasis
postura. Os problemas posturais são preocupações que envolvem a to good and bad posture. The postural problems involve the
qualidade de vida do indivíduo e podem interferir negativamente na quality of life and can interfere negatively in the functional
produtividade funcional do mesmo. Vários são os desvios posturais productivity of the same. The child postural deviations presented
apresentados pela criança durante sua fase de crescimento e during growth phase and development are many, as the coming
desenvolvimento, como as alterações provenientes do próprio alterations of the growth. The objective of this study was to
crescimento. O objetivo deste estudo é verificar as alterações posturais verify the more frequent alterations posture found in scholars.
mais freqüentes encontradas em escolares. Caracteriza-se como uma This is an experimental study, with randomized sample of 72
pesquisa do tipo experimental, cuja amostragem se limita a 72 escolares scholars. The measure instrument was a questionnaire with open
da 2ª e 3ª série do Ensino Fundamental (antigo 1º grau), escolhidos and close questions, including an evaluation record and specific
de forma aleatória. O instrumento de medida foi um questionário tests for the diagnosis of the found alterations. The most
desenvolvido com questões abertas e fechadas, incluindo uma ficha important deviations evaluated were: scoliosis, hyperkyfosis,
de avaliação postural que consiste no alinhamento do pé e provas hyperlordosis (36,1%), genu valgum (13,88%), foot valgum
para flexibilidade, comprimento muscular e teste de flexão de pé, (49,99%); we verified also that the girls present more postural
teste de Adam, teste de deslizamento lateral de Mackenzie, teste de alterations that the boys, probably because the alterations occurred
flexão lateral para o diagnóstico das alterações encontradas. Após o during the puberty, period of redistribution of the tissues.
desenvolvimento da metodologia e discussão de resultados Key-words: motor system, posture, posture evaluation, balance.
encontrados, foram verificadas as seguintes alterações: escoliose,
hipercifose, hiperlordose, joelho valgo, pé valgo, sem alterações
(41,65%). Constatamos que as meninas apresentam mais alterações
posturais que os meninos. Provavelmente, as alterações ocorrem
durante a puberdade, pela redistribuição dos tecidos.
Palavras-chave: sistema motor, postura, avaliação postural,
equilíbrio.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução

A realização da análise postural dos alunos de 2ª e 3ª sociais, que influenciam diretamente na postura do indivíduo.
séries do ensino fundamental tem por finalidade detectar as Os problemas posturais quase sempre têm sua origem
alterações músculo-esqueléticas mais freqüentes ocorridas na infância, principalmente aquels relacionados com a coluna
nesta população. vertebral, os quais podem ser desencadeados por
O corpo humano, de modo geral, está inserido em uma traumatismos, fatores emocionais, sócio-culturais e
complexa fusão entre os aspectos físicos, psicológicos e hereditários, ou ainda, por indumentária inadequada [1].

Artigo recebido em 08 de abril de 2004; aceito em 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Ana Lúcia Correa, Av. Retiro, 2556/103 Retiro 27275-260 Volta Redonda RJ, Email: analuciacorrea@bol.com.br
176 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Quando o corpo está em movimento, os sentidos captam citados para o trabalho, de casos de aposentadoria precoce
informações pelas terminações neurais, que enviam infor- nos Estados Unidos da América [8], bem como dias de
mações para os córtices sensoriais da visão, da audição, do trabalho perdidos por ano na Suécia [9].
paladar, do olfato e das sensações somáticas. Através deste estudo experimental, serão demonstradas
Os reflexos são responsáveis por manter a postura, ou as alterações posturais mais freqüentes em escolares, com o
seja, a posição adequada de equilíbrio. Esta, por sua vez, objetivo preventivo, evitando que se tornem estruturais, com
proporciona uma distribuição de peso à massa corporal, a problemas definidos, no decorrer do tempo.
fim de evitar as quedas. A postura é necessária à habilidade
motora para vencer a gravidade [2]. Material e métodos
É definida como a posição que o corpo assume na
preparação do próximo movimento. A boa postura é o estado Foram avaliados, aleatoriamente, 72 escolares de uma
de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas turma de 2a série e duas turmas de 3a série do Ensino
de suporte do corpo contra lesão ou deformidade progres- Fundamental de uma Escola Municipal de Barra Mansa –
siva, independentemente da atitude nas quais essas estruturas RJ, com idade entre 8 e 15 anos, que não apresentavam
estejam trabalhando em repouso. Sob tais condições, os patologias neurológicas, adquiridas, congênitas. O estudo foi
músculos funcionam mais eficientemente e posições ideais realizado com consentimento dos responsáveis dos escolares.
são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais. Os alunos foram avaliados na própria escola, em uma
A má postura é uma relação defeituosa entre várias partes sala adaptada para avaliação, utilizando os seguintes
do corpo, que produz uma maior tensão sobre as estruturas instrumentos: espectrômetro, prancha de pé, fio de prumo,
de suporte, sobre as quais ocorre um equilíbrio menos lápis dermográfico, maca e fita métrica. As avaliações se
eficiente do corpo [3]. estenderam por um período de um mês, no horário da tarde,
Vários são os desvios posturais apresentados pela criança período extra-classe. A avaliação foi realizada pelo mesmo
durante a fase de crescimento e desenvolvimento, prove- examinador. Os alunos, usando traje de banho (meninos,
nientes do estirão do crescimento [1]. sunga e meninas, biquíni), foram avaliados, individualmente,
As altas incidências de alterações posturais em adultos nas posturas anterior, lateral direita, esquerda e posterior,
têm atingido um ponto crítico. Muitos casos de dor na região seguindo o protocolo [3]. Antes, porém, foram realizados
lombar estão relacionados com postura defeituosa ou hábitos questionários com perguntas abertas e fechadas sobre o
posturais adquiridos e com efeitos acumulativos de assunto em pauta, bem como uma anamnese. Os resultados
sobrecargas pequenas e constantes, durante um longo dos testes e as alterações encontradas foram independentes
período de tempo. Um estudo com escolares de idade média da cor, biotipo e classe social.
de 12,8 anos demonstrou que eles apresentaram dores
específicas na região lombar, advindas de maneiras erradas Exame postural
de sentar durante o período de aula [4], ou diante da televisão
e do esforço em conduzir mochila [5]. Consiste no alinhamento do pé e provas para flexibilidade
Dentre as deformidades que podem ocorrer na coluna e comprimento muscular. Foram utilizados: prancha de
vertebral, pode-se citar a hipercifose, costas planas, postura, que é uma tábua de madeira que possui o desenho
hiperlordose e escoliose [5]. da impressão dos pés; lápis demográfico, utilizado para
Outras alterações músculo-esqueléticas são comumente marcar acidentes anatômicos e processos espinhosos, a fim
encontradas na segunda infância, tais como as alterações nos de observar a posição da coluna em casos de desvio lateral
joelhos, sendo as mais freqüentes: o joelho valgo ou varo, que e discrepância de membros inferiores; fita métrica, usada
apresenta estágios normais durante o desenvolvimento dos para tirar medidas de comprimento de pernas e para medir
membros inferiores. Inicialmente, ocorre um varismo, seguido a limitação de flexão de tronco para frente. Na ficha de
de valguismo extremo, que regride gradativamente até ceder avaliação foi feito o registro das observações do exame,
lugar à posição normal do valguismo, no meio e no final da contendo os resultados de testes e as alterações encontradas.
segunda infância, o joelho recurvato [6,7].
Os pés têm uma ligação com a postura, pois são Anterior
responsáveis pela estática e dinâmica do corpo, suportando
o peso, ajudando na propulsão e no amortecimento durante O paciente fica em pé sobre a prancha com os pés na
a marcha e a corrida. Quando se detecta alteração nos posição indicada pelas impressões podálicas. Observa-se,
mesmos, é possível diagnosticar patologias relacionadas ao quanto à posição: os pés, joelhos, pernas, artelhos, aspectos
resto do corpo. As principais deformidades nos pés são: pé do arco longitudinal, alinhamento. Verifica-se a pronação
varo, pé valgo, pé cavo, pé eqüino [5]. ou supinação do pé, rotação do fêmur, conforme indicado
Problemas posturais estão sendo, atualmente, uma pela posição da patela, genu valgum, genu varum, rotação
preocupação universal, pois é grande o número de incapa- de cabeça, aspectos anormal de costelas.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 177

Lateral possibilidades de movimentos nos planos de construção anatômica


do corpo, é válido entender que, frente à alteração de uma unidade
Observam-se ambos os lados, direito e esquerdo, as biomecânica, haja, pelo refinamento dos sistemas do controle
curvaturas da coluna vertebral, joelhos, pés. postural, acomodações das estruturas corporais próximas ou
distantes dela, através das compensações posturais ou como a
Posterior criação de escolas de postura, que têm como objetivo básico a
orientação e prevenção dos desvios posturais [10].
Observam-se os pés, joelhos, pernas, as curvaturas e Os dados que analisam um equilíbrio estático não se
coluna vertebral. Após esta etapa, iniciamos os testes aplicam ao equilíbrio dinâmico. Ao passar da posição parada
específicos de avaliação nos escolares selecionados. à progressão, o corpo do indivíduo adota um modo de
equilíbrio diferente [11].
Teste de flexão de pé (TFP) A locomoção deve responder, entre outras exigências, à
coordenação entre postura e equilíbrio, a todo momento.
O objetivo deste teste é observar a cifose geral, do occipito A tabela I e gráficos 1 e 2 demonstram a análise do percentual
à bacia. Esta cifose deverá ser harmoniosa e sem interrupção, de escolares, de ambos os sexos, com alterações posturais.
deverá continuar nos membros inferiores, por uma extensão A escoliose juvenil primária ou idiopática foi encontrada
dos joelhos. A posição do aluno é com os pés juntos. em 38,88% de escolares do sexo feminino, e pôde-se
O profissional deve se posicionar ao lado do aluno e observar que esta alteração surge com mais freqüência em
solicitar que ele flexione sucessivamente a cabeça, a coluna meninas que em meninos, e sua evolução depende da
cervical, a coluna dorsal, coluna lombar e bacia. precocidade do diagnóstico e dos aspectos preventivos [12].
Devem-se observar os artelhos, as fáscias plantares, os É importante compreender o possível desenvolvimento
tornozelos, as panturrilhas, os joelhos, os ísquios-tibiais, a da escoliose na menina, durante os anos finais do curso
lordose lombar, a cifose dorsal, as gibosidades, a curvatura fundamental, assim como na puberdade, em conseqüência
cervical e a cabeça. da redistribuição dos tecidos [7]. A idade ideal para triagem
das meninas é imediatamente antes do estirão de crescimento
Teste de Adam pubertário, próximo dos 9 até os 11 anos de idade. As meninas
têm muito mais probabilidade, do que os meninos, de terem
O profissional fica em pé, diretamente atrás do paciente, curvas que progridam além dos 10 graus, e maior ainda de
inspecionando, palpando a extensão completa da espinha, curvas que vão além dos 20 graus [13].
procurando escoliose. Em seguida, o paciente é solicitado a A cifose estrutural afeta adolescentes, em geral meninos
flexionar o tronco anteriormente, e o profissional vai entre 13 e 16 anos de idade. A sua distribuição se dá de
inspecionar, e também palpar em busca de escoliose. forma igual entre meninos e meninas [13], mas alguns
estudos afirmam ter incidência maior em meninos [14].
Teste de Deslizamento Lateral de Mackenzie A cifose postural se deve à ação de vários músculos
rígidos ou fracos sobre a coluna torácica [7].
O profissional se posiciona em pé, ao lado do paciente A diminuição dos arcos plantares, pé valgo, foi encon-
que também está em pé. Com o ombro, faz-se o bloqueio da trado com freqüência no sexo feminino, mais é significativo
coluna torácica. Com ambas as mãos, o profissional deve no sexo masculino [7].
pegar a pelve do paciente e puxá-la para si. Manter essa posição Estudos afirmam que o joelho valgo é mais freqüente
por 10 a 15 segundos. Repetir este teste para o lado oposto. nas crianças que sentam com o tronco entre os pés, pois
esta posição é capaz de provocar o alongamento dos liga-
Teste de flexão lateral (TFL) mentos da face interna do joelho. O grau do joelho valgo
tende a regredir à medida que a criança cresce, embora seja
O paciente deve posicionar-se de pé, com os pés juntos, normal um pequeno grau de valgismo do joelho, em virtude
e o profissional deve solicitar que ele se desloque lentamente das relações entre fêmur e pelve, bem como do ângulo entre
de um lado, depois do outro. fêmur e tíbia [15]. Esta anomalia preocupa muito um grande
Deve-se observar até onde desliza a mão em relação ao número de pais, mas na maioria das vezes regride ao longo
joelho. A cabeça, a coluna cervical, dorsal, lombar, a bacia e do tempo sem nenhum tratamento [7].
os membros inferiores devem desenhar uma convexidade A hiperlordose lombar não traduz uma fisiologia postural
lateral harmoniosa. incorreta ou ruim, nem mesmo caracteriza uma defor-
midade. A lordose lombar se acentuará com a finalidade de
Resultados e discussão equilibrar o sistema [16].
O dorso curvo é caracterizado como uma deformidade
Dada a complexidade biomecânica da postura que permeia antiestética e antifuncional, devendo-se a um aumento do
a integração funcional dos vários segmentos e, nestes, as ângulo da cifose dorsal fisiológica, conhecido como hipercifose
178 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

e, geralmente, aparece como conseqüência do aumento da pelas crianças, que não dão grande importância para as
lordose lombar, com a finalidade de manter o equilíbrio da posturas que seus filhos assumem em casa, como quando
coluna vertebral, devido ao deslocamento de seu centro de assistem à televisão ou quando realizam tarefas diárias,
gravidade. Estudos demonstraram a prevalência da lombalgia, escolares, dentre outras. Dessa maneira, com o decorrer do
detectada em 29,9% de um grupo de esportistas de ambos os tempo poderão surgir alterações posturais.
sexos, na faixa etária de 10 a 19 anos [17]. Não foi encontrada associação entre a idade dos escolares
e as possíveis causas dos desvios posturais. Uma das alterações
Gráfico 1 - Percentual do resultado da avaliação postural no sexo feminino encontradas foi pertinente ao sexo feminino, devido ao ajuste
do corpo que se prepara para o resplandecer da puberdade.
Diante disto, sugerimos que trabalhos preventivos sejam
realizados nas escolas, através da conscientização, por meio de
palestras, dinâmicas, do que vem a ser uma boa postura, como a
melhor maneira de sentar, de carregar materiais escolares, realizar
atividades físicas, tanto na escola quanto na vida diária dos
escolares. Já aqueles com desvios estruturais, necessitam de
encaminhamento a um profissional da área de saúde, para abolir
ou reduzir as alterações, assim como suas conseqüências futuras.

Referências

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A postura é necessária à habilidade motora para vencer 11. Viel E. A marcha humana, a corrida e o salto, biomecânica,
a gravidade. Havendo alterações posturais, ocorrerão investigações, normas e disfunções. São Paulo: Manole; 2001.
também modificações no tônus muscular, dando origem a 12. Asher C. Variações da postura na criança: pediatria para pós-
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Os desvios posturais que ocorrem em crianças, durante
2000.
a fase de crescimento, podem aumentar durante as atividades 14. Thomson A et al. Fisioterapia de Tidy. São Paulo: Santos; 1994.
escolares e, através do estudo realizado, vimos que não existe 15. Shepherd RB. Fisioterapia em pediatria. São Paulo: Santos; 1985.
conhecimento específico por parte dos educadores sobre o 16. Lianza S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara
assunto em pauta: quanto à melhor postura a ser adquirida Koogan; 1995.
na sala de aula, pelos alunos e também pelos responsáveis 17. Bernhardt HF. Postura. Rev Bras Ortop 1998;21(4):144-8. J
Tabela I - Resultado da avaliação postural em escolares de ambos os sexos.
entre 8 e 15 anos.
Sexo Escoliose Hiper cifose Hiper lordose Joelho valgo Pé valgo Sem alteração

Feminino 38,88% 5,50% 27,77% 13,88% 30,55% 13,88%


Masculino 13,88% 22,22% 8,33% 0% 19,44% 27,77%
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 179

Artigo original

Estudo comparativo entre técnicas manuais aplicadas


em lutadores de jiu-jitsu com dor lombar
Comparative study among manual applied techniques in jiu-jitsu
athletes with low back pain
Paulo Cesar Cotecchia Salgueiro, M.Sc.*, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Pós-graduado em Fisioterapia Traumato-Ortopédica, Professor de Educação Física e Fisioterapeuta, Professor dos cursos de graduação de
Educação Física e Fisioterapia da UNIGRANRIO, Responsável pela Clínica-Escola de Fisioterapia UNIGRANRIO, **Professor do
PROCIHM/UCB - RJ

Resumo Abstract
O objetivo geral da pesquisa foi comparar a eficácia da aplicação The aim of this study was to compare the effectiveness of the
de métodos fisioterapêuticos clássicos com a eficácia de técnicas application of classic physical therapy methods and the osteopathic
manuais osteopáticas e quiropráticas, em casos de lombalgia aguda and chiropractic manual techniques in jiu-jitsu athletes with acute
em atletas de jiu-jitsu. Foram estudados 60 atletas portadores de low back pain. We studied 60 athletes with acute low back pain,
lombalgia aguda, que foram divididos em três grupos de 20 divided in three groups of 20 patients. They were submitted,
pacientes, sendo submetido, cada grupo, a apenas uma das terapias either to osteopathic or chiropratic manual technique or classic
estudadas. As técnicas estatísticas utilizadas foram: o teste t de physical therapy. The results were evaluated by the student test t
Student para comparação intragrupos e o teste ANOVA for the intragroups study and the ANOVA test combined with
combinado ao teste de Tukey, para comparação intergrupos. Na the Tukey test, for comparison intergroups. All the groups should
primeira comparação, nos três grupos (p = 0,000) foi evidenciada (p = 0,000) improvement of the lumbar pain. The ANOVA test
melhora da dor lombar após tratamento. O teste ANOVA (p = (p = 0,000) indicated no significant difference among the three
0,000) indicou diferença estatisticamente significativa entre os três groups. The Tukey test pointed out significant difference between
grupos. O teste de Tukey apontou diferença estatisticamente the group of classic physical therapy and the osteopathic and
significativa entre o grupo de fisioterapia clássica e os grupos de chiropractic groups. The average values observed in the post-test
osteopatia e quiropraxia. As médias dos valores encontrados no of the analogical scale (that measured the intensity of the low
pós-teste da escala analógica (que mediu a intensidade da lombalgia back pain after each treatment) were: classic physical therapy: 2,6;
após cada tratamento) foram: fisioterapia clássica: 2,6; osteopatia: osteopathy: 1,9 and chiropractic: 1,25. In conclusion the most
1,9 e quiropraxia: 1,25. Concluiu-se, portanto, que o método mais effective method in the treatment of the acute low back pain in
eficaz no tratamento da lombalgia aguda em atletas de jiu-jitsu foi jiu-jitsu athletes was the chiropractic manual technique. Though,
a quiropraxia, seguida pela osteopatia e pela fisioterapia clássica. osteopathic manual technique and classical physical therapy were
Palavras-chave: manipulação músculo-esquelética, osteopatia, also efficient on back pain rehabilitation.
quiroprática, dor lombar. Key-words: physical therapy (speciality), osteopathic medicine,
chiropractic, low back pain.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução trabecular mais denso, dando ao corpo vertebral e às lâminas


terminais uma resistência maior ao colapso. Entretanto,
A resposta da coluna aos esforços do levantamento mesmo os atletas, apresentando esta condição diferenciada
repetitivo de cargas pesadas depende de sua condição em relação à coluna, não estão isentos de sofrerem de
preexistente. A coluna de um atleta, sujeita à repetida lombalgia, chegando a apresentar quadros álgicos que
atividade extenuante (não além do ponto de causar lesão), prejudicam sua performance atlética.
responde através do desenvolvimento de hipertrofia óssea, Isso porque a sobrecarga biomecânica sobre a coluna
com um córtex vertebral mais espessado e um sistema lombar é um dos mais importantes fatores relacionados com

Artigo recebido em 21 de julho de 2004; aceito em 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Rua Professor José de Souza Herdy, 1.160, Clínica-Escola de Fisioterapia UNIGRANRIO 25 de Agosto 25073-
200 Duque de Caxias RJ, Tel.: (21) 2672-7772, E-mail: pcotecchia@unigranrio.com.br
180 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

a lombalgia. Forças excessivas podem provocar estresses Apenas mais recentemente, nos Estados Unidos, foram
nas estruturas internas de sustentação e movimento da coluna desenvolvidas duas categorias distintas de recuperadores:
lombar e tronco, que levam à fadiga e falência tecidual. Os os osteopatas e os quiropráticos [7].
estudos epidemiológicos apontam, com clareza, para a Andrew Taylor Still (1828-1917) foi o criador da osteopatia.
relação sobrecarga e lombalgia e os efeitos das forças Em sua tese principal, definiu o corpo como uma unidade
desenvolvidas durante o trabalho [1]. que apresenta a capacidade de lutar contra todas as doenças,
As forças de tração atuam na porção anterior da coluna e que a causa destas era a pressão mecânica sobre os vasos
lombar por contração do diafragma, em sentido cranial. sangüíneos e nervos, produzida por ossos luxados, ligamentos
Esportes que exigem extensão forçada desse segmento anormais ou músculos contraídos, principalmente as
vertebral apresentam maior incidência de lesões das apófises musculaturas estáticas, diferente de outros métodos que
vertebrais. Esse fato tem sido descrito em ginastas, tenistas, utilizam as musculaturas dinâmicas. Still também denominou
jogadores de futebol, lutadores jiu-jitsu e participantes de essa mecânica como lesão osteopática e isso se tornou a base
luta romana, entre outros [2,3]. de seu sistema de tratamento [7]. Desta forma, a osteopatia
Dor lombar (lombalgia) é a designação dada a um pode ser definida como uma abordagem manual, diagnóstica
processo doloroso que se instala na cintura pélvica. A dor e terapêutica das disfunções de mobilidade – tissular (em geral)
está ligada a uma agressão a um nervo. Na análise da e articular (em particular) [8].
incidência de dor na coluna vertebral, pode-se constatar que Em 1895, Daniel David Palmer criou a quiropraxia. Seu
existe uma evidente associação entre a região em que há conceito original era o de pôr os ossos de volta em seus
dor, o suporte de peso corporal e o movimento. É a região lugares. A partir de suas idéias houve o desenvolvimento de
lombar que suporta o peso corporal e tem relativa mobi- dois grupos: os ortodoxos e os não-ortodoxos. As concepções
lidade, mas os discos ficam sujeitos, devido à sua posição relatadas pelos ortodoxos são originais: o distúrbio da função
oblíqua, à força de cisalhamento, que, na torção do tronco, nervosa é responsável pela maior parte das doenças e os
causa rupturas no ânulo [4]. ajustes estruturais são necessários para que ocorra a
As lombalgias podem ser divididas em três grupos, com normalização da função nervosa e, conseqüentemente, a
base na duração dos sintomas: aguda (sete dias ou menos); restauração e a manutenção da saúde. Quanto aos não-
subaguda (uma semana a três meses) e crônica (três meses ortodoxos, igualmente acreditam na ciência do tratamento
ou mais) [5]. de doenças pela manipulação e ajustes, mas defendem
Como método interventivo capaz de minorar o quadro também o uso de outras medidas mecânicas, fisioterapêuticas
de lombalgia em atletas, encontra-se a fisioterapia clássica e nutricionais, excluindo as drogas e as grandes cirurgias [7].
que, bem conduzida, torna-se adequada ao quadro de cada Os quiropraxistas tratam o complexo da subluxação
paciente, a partir da caracterização do tipo de dor lombar vertebral, que pode implicar uma série de alterações na
com base nos sinais e sintomas. As sessões de fisioterapia articulação, podendo afetar a integridade neurológica,
incluem instruções aos pacientes sobre as modificações dos muscular, ligamentar e vascular da área lesada. Este
hábitos posturais agressores da coluna e a manutenção de complexo da subluxação vertebral pode ocorrer em casos
uma boa postura, beneficiando a coluna lombar [6]. agudos ou aparecer gradualmente depois de anos de uso
Outra opção no tratamento da lombalgia é a utilização exagerado de processos lesivos agudos ou crônicos, variações
de terapias manuais, tais como a osteopatia e a quiropraxia. mecânico-posturais, escoliose, problemas de malformação
As ciências da arte de manipulação utilizam diversas técnicas congênita, processos degenerativos, lesões por movimentos
de precisão na manipulação manual de articulações individuais repetitivos, estresse, entre outros, que irão alterar a estrutura
e específicas. Com movimentos precisos, rápidos, sem força, e e a função normal da cartilagem hialina e dos tecidos vizinhos,
com uma amplitude controlada, a articulação sobrepassa a fazendo com que as áreas envolvidas tenham uma
barreira fisiológica passiva para estabelecer a movimentação progressão acelerada do processo degenerativo da área. Estas
livre e indolor da articulação, normalmente acompanhada por áreas estarão mais vulneráveis a uma reincidência de dores
um estalido. A manipulação do tecido conjuntivo dos músculos, no futuro, diminuindo a qualidade de vida do indivíduo [9].
tendões e ligamentos aumenta sua distensibilidade. No tecido Enquanto na quiropraxia a abordagem para o tratamento
miofascial, a manipulação aumenta a elasticidade das camadas das disfunções músculo-esqueléticas é relacionada à causa
da fáscia, diminuindo a dor e ajudando a aumentar a amplitude da disfunção e ao tratamento da dor, com base na noção de
de movimentos da articulação. que todos os distúrbios são causados pela pressão sobre os
Historicamente, a manipulação em tecidos moles (terapia nervos e podem ser curados com ajustes, na osteopatia há a
manual) é bem antiga e encontra-se em registros médicos, preocupação com a manutenção e estabilidade normal das
tais como os de Hipócrates (460-380 a.C.), Galien (131- estruturas integrantes do corpo através da utilização de
202 a.C.), Graham (1884-1912) e Menel (1853-1912), nos diversos métodos osteopáticos [10].
quais existe indicação constante de massagem e manipulação, Desta forma, partiu-se do pressuposto de que os
porém não são apontadas diferenças entre as duas terapias. métodos clássicos de fisioterapia e as terapias manuais
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 181

(quiropraxia e osteopatia) têm muito a oferecer no âmbito Critérios de exclusão:


da prática de desporto, em relação ao restabelecimento físico - existência de patologias associadas que determinassem
dos desportistas que seja mais adequado à atual realidade quadro de lombalgia;
das competições atléticas. Na dor lombar, as três terapias - uso de medicamentos visando alívio do quadro álgico.
elevam seu valor terapêutico. Contudo, cada uma possui
um rumo próprio e independente para os procedimentos
Instrumentos de pesquisa
nas dores lombares, o que trouxe a necessidade de
aprofundamento para a formulação de uma opinião crítica Como instrumentos de pesquisa foram utilizados:
e com fundamentação em bases de conhecimento científico
sobre o assunto em questão. - questionário direcionado aos atletas, composto por 13
Assim, desenvolveu-se a pesquisa com base nos seguintes perguntas abertas;
fatos: - escala visual analógica de 10 pontos, referente à inten-
sidade da dor lombar antes e depois do tratamento.
- a dor lombar constitui uma grande causa de morbidade e
incapacidade, sendo sobrepujada apenas pela cefaléia, na
escala dos distúrbios dolorosos que afetam o ser humano Procedimentos do estudo
[11,12,13];
- em todo o mundo, 60 a 80% das pessoas apresentarão Programa fisioterapêutico
lombalgia durante grande parte da vida, e de 2 a 5%
O programa da fisioterapia clássica foi composto de 10
sofrerão algum episódio de dor lombar [14,15,16];
sessões, com duração média de 60 minutos cada, em que
- a incidência de lesões traumáticas da coluna vertebral
foram utilizados os seguintes recursos:
relacionadas à prática de esportes é estimada em 10 a
15%, sendo de 0,6 a 1% com algum grau de déficit - posturas de relaxamento (método de Willians);
neurológico associado [17]; - TENS no local da dor durante 30 a 40 minutos.
- as lombalgias constituem uma condição comum e
inabilitante que afetam a capacidade de o atleta treinar e Programa osteopático
competir [18].
O programa osteopático foi composto de 10 sessões,
Portanto, a finalidade do estudo foi aprofundar os com duração média de 40 minutos cada, sendo realizadas
conhecimentos relativos à aplicação de métodos fisiotera- manobras de músculo-energia para:
pêuticos clássicos e técnicas manuais (osteopáticas e
quiropráticas) em casos de lombalgia aguda em atletas de - disfunção de uma vértebra lombar em NSERD (indicada
jiu-jitsu com idades variando entre 25 e 35 anos, avaliando- para déficit da mobilidade de uma vértebra lombar em
se a eficácia de cada intervenção terapêutica. rotação esquerda e látero-flexão direita);
- disfunção de uma vértebra lombar em ERDSD (indicada
para déficit da mobilidade de uma vértebra lombar em
Material e métodos flexão, rotação esquerda e lateroflexão esquerda);
- disfunção de uma vértebra lombar em FRDSDD (indicada
para déficit da mobilidade de uma vértebra lombar em
Amostra extensão, rotação esquerda e lateroflexão esquerda).
A amostra foi constituída por 60 atletas de jiu-jitsu,
portadores de lombalgia aguda, na faixa etária compreendida Programa quiroprático
entre 25 e 35 anos, do sexo masculino, divididos em três O programa quiroprático foi composto de 10 sessões,
grupos, constando de 20 sujeitos cada. O primeiro grupo com duração média de 40 minutos cada, tendo sido realizadas
foi submetido à intervenção fisioterapêutica (grupo F), o as seguintes manobras:
segundo foi submetido à manipulação osteopática (grupo
O) e o terceiro foi submetido à quiropraxia (grupo Q). - ajuste geral direto;
Critérios de inclusão: - ajuste geral para lombares;
- ajuste específico para lombar posterior;
- atletas de jiu-jitsu; - ajuste específico para lombar anterior;
- sexo masculino; - ajuste geral para ligamentos anteriores.
- idades entre 25 e 35 anos;
- participantes de competições; Análise estatística
- episódio de lombalgia aguda (dor presente por uma semana);
- realização de uma única modalidade terapêutica dentre Foram utilizadas as seguintes técnicas de estatística
as três abordadas neste estudo. descritiva e de estatística de inferência:
182 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

- teste t de Student para comparação intragrupos; Os medicamentos utilizados foram antiinflamatórios ou


- teste ANOVA combinado ao teste de Tukey, para analgésicos.
comparação intergrupos das médias observadas nas
variáveis analisadas. Média de episódios de dor lombar
O nível de significância considerado foi de p < 0,05, isto Grupo F: 9.
é, 95% de certeza para as afirmativas e/ou negativas que o Grupo O: 7,6.
presente estudo denotou. Grupo Q: 6,2.
No sentido de verificar as possíveis relações funcionais
de proporcionalidade entre as variáveis analisadas, foi aplicado Média de idade em que os atletas procuraram ajuda
o teste de correlação de Pearson, com o objetivo de identificar profissional para dor lombar
os possíveis conjuntos de variáveis correlacionadas, e com
isso reduzir o tamanho do corpo analítico de variáveis, Grupo F: 22,5 anos.
minimizando, pois, as redundâncias nas conclusões. Grupo O: 21 anos.
Grupo Q: 22,25 anos.
Resultados
A maior parte dos atletas dos três grupos buscou ajuda
profissional de médicos, pela primeira vez, devido ao
Questionário aumento da dor.

Média de idade Condutas adotadas após consulta com profissional


para episódio de dor lombar, considerando todo o
Grupo F: 32 anos. universo amostral
Grupo O: 31,25 anos.
Grupo Q: 32 anos. Medicamentos, alongamento e crioterapia (53,44%) /
alongamento (35%) / crioterapia e repouso (11,56%).
Média de tempo de prática de jiu-jitsu
Profissionais indicados após consulta com profis-
Grupo F: 10,75 anos. sional para episódio de dor lombar, considerando-se
Grupo O: 12,5 anos. todos os grupos
Grupo Q: 11,75 anos.
Fisioterapeuta (58,45%) / ortopedista (22%) / osteopata
Média de idade em que ocorreu o primeiro episódio (19,55%).
de dor lombar
Escolha da modalidade terapêutica
Grupo F: 21,5 anos.
Nos três grupos, o tratamento realizado por último
Grupo O: 20,75 anos.
(fisioterapia clássica, osteopatia ou quiropraxia) foi iniciado
Grupo Q: 21,25 anos.
por indicação de colegas de jiu-jitsu (grupo F: 60,12% /
Definir a idade em que ocorreu o primeiro episódio de grupo O: 61,79% / grupo Q: 70,14%).
dor lombar teve por finalidade verificar se o aparecimento
de lombalgia estaria relacionado à prática de jiu-jitsu. Os Programa de manutenção
resultados indicaram que não existe tal associação, tendo
em vista que a maioria dos participantes apresentou este A maior parte dos atletas (63,46%) segue programa de
primeiro episódio em idade anterior àquela em que foi manutenção para que não haja recidiva da dor lombar, sendo:
iniciada a prática de jiu-jitsu. grupo F: 33,33% / grupo O: 24,33% / grupo Q: 5,8%.
A intenção deste questionamento foi avaliar, juntamente
Condutas adotadas no primeiro episódio de dor lombar com os resultados apresentados a seguir, a eficácia de cada
tratamento.
Grupo F: medicamentos (40%) / alongamento e repouso
(35%) / medicamentos, alongamento e repouso (25%). Média de tempo de tratamento para dor lombar
Grupo O: medicamentos e repouso (50%) / crioterapia
e repouso (30%) / medicamentos e fisioterapia (20%). Grupo F: 12,5 meses.
Grupo Q: medicamentos e crioterapia (45%) / crioterapia Grupo O: 13,75 meses.
e repouso (30%) / repouso (25%). Grupo Q: 9,25 meses.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 183

A finalidade deste levantamento foi verificar se o tempo Verificou-se, ainda, que poucos atletas do grupo Q
de acompanhamento terapêutico prévio permitiria a ava- realizam programa de manutenção para que não houvesse
liação dos resultados do tratamento atual e a análise compa- recidiva de dor lombar. Além disso, ficou evidenciado que
rativa com os demais tipos de tratamentos realizados pelos neste grupo se encontra o maior percentual de entrevistados
atletas. que definem o tratamento atual como excelente, ficando o
grupo F com o menor percentual.
Avaliação do tratamento Outro dado importante diz respeito à comparação entre
o tratamento atual e as terapêuticas utilizadas anteriormente:
Os resultados do tratamento atual (fisioterapia clássica, no grupo Q foi encontrado o maior percentual de sujeitos
osteopatia e quiropraxia) foram considerados excelentes para que consideram o tratamento atual o melhor dentre todos
31,73% dos atletas do grupo F; 48,43% do grupo O e já os experimentados, e no grupo F foi observado o menor
96,86% do grupo Q. percentual.
O tratamento atual foi considerado melhor do que todos Portanto, tendo em vista que os valores encontrados no
os demais realizados por 36,74% do grupo F; 53,44% do pós-teste da escala analógica do grupo F (que mediu a
grupo O e 98,53% do grupo Q. intensidade da lombalgia após cada tratamento) foram
superiores aos dos grupos O e Q, verificou-se que estas
Escala visual analógica últimas modalidades terapêuticas foram mais eficazes no
tratamento da dor lombar, nos sujeitos estudados. Os valores
Teste t de Student do grupo O foram maiores do que os do grupo Q, o que
demonstra maior eficácia da quiropraxia no tratamento da
Nos três grupos foi encontrado p = 0,000, (p < 0,05), dor lombar aguda.
indicando que houve diferença significativa entre o antes e
o depois, em relação aos efeitos do tratamento realizado, Discussão
evidenciando melhora da dor lombar após todas as
modalidades terapêuticas. Existem muitas abordagens para o tratamento das
disfunções músculo-esqueléticas. As divergências geralmente
Teste ANOVA se relacionam à causa da disfunção e ao tratamento da dor.
Os osteopatas se preocupam com a manutenção e
No que se refere à comparação dos efeitos das três estabilidade normal de estruturas integrantes do corpo
modalidades terapêuticas em casos de dor lombar entre os através da utilização de vários métodos. Já os quiropráticos
grupos F (2,6000), O (1,9000) e Q (1,2500), através do acreditam que todos os distúrbios são causados pela pressão
teste ANOVA, encontrou-se o valor de p = 0,000, (p < sobre os nervos e podem ser curados com ajustes [7].
0,05), indicando diferença estatisticamente significativa entre A osteopatia, por analisar a influência da estrutura do
os três grupos no pós-teste. corpo sobre as doenças e desconfortos dos pacientes,
consegue aliviá-los das sensações dolorosas mais rapidamente
Teste de Tukey do que a fisioterapia clássica, afirmativa que vem de encontro
aos resultados da pesquisa ora apresentada, tendo em vista
Houve diferença estatisticamente significativa entre os a média dos valores encontrados neste grupo após o
grupos F e O e F e Q, o mesmo não ocorrendo entre os tratamento osteopático [19].
grupos O e Q. Nwuga, em 1982, conduziu um estudo clínico na Nigéria
para comparar a eficácia da manipulação vertebral com o
Comentários tratamento convencional para lombalgia. Um total de 51
mulheres com lombalgia aguda foi dividido em 2 grupos: o
Considerando-se os resultados apresentados, observou- grupo controle recebeu tratamento convencional consistindo
se que a grande maioria dos atletas procurou ajuda de ondas curtas, seguido de exercícios isométricos leves,
profissional no primeiro episódio de dor lombar, sendo orientações de como carregar peso adequadamente e
escolhida a consulta médica, prioritariamente. A conduta educação postural; o grupo experimental recebeu
predominantemente adotada nesta ocasião foi a de exercícios manipulações e orientações. Foi realizada uma avaliação no
de alongamento associada a antiinflamatórios e crioterapia início do tratamento e outra após seis semanas, utilizando-
(53,44%). Em 58,45% dos casos, os médicos indicaram se as seguintes medidas: amplitude de movimento total ativa
acompanhamento fisioterapêutico. Não existe correlação de flexão-extensão, flexão lateral e rotação da coluna lombar
entre esta indicação e a continuidade do tipo de tratamento e teste de alongamento de membros inferiores. Os resultados
no que se refere às modalidades estudadas nos grupos desta demonstraram diferenças significativas entre os dois grupos:
pesquisa. todos os critérios de avaliação foram superiores no grupo
184 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

experimental, sendo a média de tempo de tratamento menor com queixa de lombalgia que se manteve por sete dias após
neste grupo. O autor concluiu que a manipulação obteve a consulta inicial. Setenta e oito por cento dos pacientes
melhores resultados comparativamente ao tratamento apresentavam os sintomas há menos de seis semanas, 56%
convencional para este tipo de paciente [9]. já haviam apresentado episódios prévios duas ou mais vezes.
O mesmo foi verificado no presente estudo, tendo em Foram excluídos os pacientes que apresentaram alívio da
vista que na comparação intergrupos, realizada pelo teste dor nos sete dias após a consulta com o clínico geral, aqueles
de Tukey, observou-se diferença significativa entre o grupo com história de cirurgia na coluna, dor ciática, sinais
submetido à fisioterapia clássica e os grupos submetidos à neurológicos severos ou outras patologias associadas, além
osteopatia e quiropraxia. dos que estavam realizando algum tratamento previamente.
Um estudo italiano realizado por Postacchini et al., em Os pacientes foram randomizados para um dos três grupos.
1988, comparou a eficácia de várias formas de tratamento Os resultados foram avaliados através da medida de
conservador para lombalgia. Trezentos e noventa e oito incapacidade antes do tratamento, utilizando-se uma Roland
pacientes foram divididos em dois grupos: o grupo 1, Disability Scale modificada e uma escala visual analógica de
composto por pacientes com lombalgia simples, sendo 11 pontos, avaliando o quanto os sintomas incomodavam
subdividido em aguda, crônica ou recidivante; o grupo 2, os pacientes. Uma melhora de 2,5 pontos na Roland Disability
composto por pacientes com dor lombar com irradiação Scale é considerada significativa. Em quatro semanas de
para glúteos e coxa e sem déficit neurológico, sendo também tratamento, a melhora no grupo controle foi de 6,8 pontos,
subdivididos em lombalgia aguda e crônica. Pacientes de no grupo submetido à fisioterapia, foi de 8,1 pontos e no
cada grupo foram, então, randomicamente submetidos aos grupo submetido à quiropraxia, a melhora foi de 8,4 pontos.
seguintes tratamentos: manipulação, medicamentos, Na 12a semana após o início, a melhora foi de 7,4 pontos no
fisioterapia clássica, placebo, repouso (nos casos agudos grupo controle; 8,1 pontos no grupo da fisioterapia e 9 pontos
apenas) e escola de coluna (nos casos crônicos). A no grupo da quiropraxia. Na primeira e na quarta semanas
manipulação foi realizada por quiropráticos com uma técnica foram realizadas pesquisas a respeito da satisfação dos
padronizada. Os pacientes foram tratados diariamente na pacientes com o tratamento: 75% dos grupos de fisioterapia
primeira semana e três vezes por semana, durante três e de quiropraxia classificaram o tratamento como muito
semanas nos casos agudos, ou seis semanas nos casos bom ou excelente, em comparação a 30% do grupo controle
crônicos. As avaliações foram realizadas no início do com mesma opinião. Após um ano e dois anos de tratamento
tratamento, na terceira semana, segundo e sexto mês após o os pacientes foram indagados sobre as recidivas da lombalgia
início do tratamento, baseadas em duas medidas subjetivas e a necessidade de nova intervenção. A porcentagem de
e quatro objetivas. Resultados no grupo 1 mostraram que pacientes que precisou faltar ao trabalho em conseqüência
na terceira semana a principal melhora nos pacientes foi da dor foi de 17% no grupo controle, 14% no grupo da
constatada no grupo submetido à manipulação, e a melhora fisioterapia e 7% no grupo da quiropraxia [9].
menos significativa, no grupo placebo; os melhores resultados Novamente, aqui se observa uma superioridade da
nas medidas objetivas e subjetivas foram obtidos nos grupos quiropraxia sobre outras técnicas e recursos, o que foi
da manipulação, sendo as diferenças estatisticamente apontado pelos resultados da pesquisa ora apresentada, já
significativas entre os grupos. Neste relato houve que a aplicação do teste ANOVA demonstrou diferença
superioridade da técnica quiroprática em termos de significativa entre os três grupos; o teste de Tukey apontou
resultados positivos em casos de lombalgia [9]. que esta diferença esteve relacionada às díades fisioterapia
No presente estudo obteve-se, na comparação intergrupos clássica/osteopatia e fisioterapia clássica/quiropraxia; e a
pelo teste ANOVA, o valor de p = 0,000 (para p < 0,05), o que média da dor lombar depois do tratamento foi menor no
indicou diferença significativa entre os três grupos, em relação grupo submetido à quiropraxia.
aos efeitos de cada tratamento em casos de dor lombar. Ressalta-se que um número considerável de artigos e
Considerando-se, conjuntamente, que a média da dor lombar, meta-análises foi produzido recentemente sobre a eficácia,
depois de cada modalidade terapêutica, ficou distribuída de satisfação do paciente e custo-benefício do tratamento
forma que a média da fisioterapia clássica > osteopatia > quiroprático. As pesquisas são consistentes ao relatar
quiropraxia, conclui-se que este resultado denota semelhança evidências substanciais de que o tratamento quiroprático é
com o encontrado na pesquisa anteriormente citada, em que eficaz para dor aguda e crônica da coluna lombar, dados
foram verificados resultados mais positivos com a utilização que se coadunam com as conclusões desta pesquisa.
da quiropraxia em relação à fisioterapia clássica.
Estudo de Cherkin et al., datado de 1998, comparou a Conclusão
efetividade da fisioterapia, quiropraxia e uma apostila
educativa para tratamento de lombalgias. A população do A partir deste estudo chega-se às seguintes conclusões:
estudo foi composta por 321 adultos, que procuraram Foi verificada diferença estatisticamente significativa entre
clínicos gerais de uma seguradora de saúde de Washington, os resultados da aplicação de métodos fisioterapêuticos
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 185

clássicos e os das técnicas osteopática e quiroprática em 7. Gould JA. Fisioterapia em ortopedia e medicina do esporte.
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Não houve diferença estatisticamente significativa entre 8. Queff B, Pailhous P. Osteopatia: manipulações práticas de
os resultados da aplicação da técnica osteopática e os da coluna vertebral. São Paulo: Lovise; 1995. p.12.
9. Castro EA. Quiroprática: (chiropractic): um manual de ajustes
técnica quiroprática, em casos de lombalgia aguda em atletas
do esqueleto. São Paulo: Ícone; 1999. p.67-78.
de jiu-jitsu; 10. Conselho Nacional de Examinadores em Quiropraxia. Estudos
As técnicas manipulativas mais adequadas a casos de sobre quiropraxia: um sumário de estudos e investigações
lombalgia aguda em atletas de jiu-jitsu são: osteopatia e oficiais publicados que documentam a eficácia e adequação do
quiropraxia. tratamento quiroprático voltado para a saúde. [S.l.]; 2000. p.54.
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pages/osteoclin. J
186 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Artigo original

Efeitos da estimulação elétrica neuromuscular


associada ou não a exercícios de contração
muscular voluntária máxima
Effects of the neuromuscular electrical stimulation associated
or not with exercises of maximum voluntary muscular contraction
Janine Cuzzolin E Silva, M.Sc.*, Luis Ferreira Monteiro Neto, M.Sc.*, Flávio Cirillo, M.Sc.**, Evandro Emanoel Sauro,
D.Sc.** , Selma Garcia Laraia Colman, D.Sc.***, Paulo Koeke, M.Sc****, Nivaldo Antonio Parizotto, D.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Programa de Pós-graduação em Bioengenharia, Universidade Vale do Paraíba,


**Curso de Fisioterapia, Faculdade de Educação Física de Lins, Faculdades Salesianas de Lins, ***Hospital e Maternidade São Lucas
Lins – SP, ****Departamento de Fisioterapia, Programa de Pós-graduação em Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da estimulação The aim of this study was to evaluate the effects of the
elétrica neuromuscular (EENM) sobre o tecido muscular e panículo neuromuscular electrical stimulation (EENM) in the muscular
adiposo, suprajacente ao músculo reto do abdome, comparando tissue and in the upper adiposus panniculus of the abdominal
os resultados entre 18 e 36 sessões. A pesquisa envolveu 16 rectum muscle. The survey include 16 female individuals between
voluntários do sexo feminino, com idade variando entre 18 e 23 18 and 23 years, randomized in two groups, to the application of
anos, divididos, aleatoriamente, em dois grupos distintos, EENM and EENM associated with exercises of maximum
classificados segundo aplicação da EENM e da EENM associada voluntary contraction (MVC). The groups were stimulated during
ao exercício de contração voluntária máxima (CVM). Os 12 weeks. Each individual was stimulated 3 times a week, totaling
participantes foram estimulados durante 12 semanas, 3 vezes por 36 sections. A medium frequency electrical stimulators of 2500
semana, totalizando 36 sessões, utilizando um eletroestimulador, Hz with 50 Hz pulse modulated in 200 ms bursts and 10 ms
de média freqüência, de 2500 Hz, com pulsos de 50 Hz, modulado interpulse interval with an amplitude over 100 mA was used to
em salvas de 200 ms e repouso de 10 ms, amplitude acima de 100 produce visible muscular contraction. There was no food control
mA, suficiente para produzir contração muscular visível. Não during the period and no changes in the food intake. As a variant
houve controle alimentar durante a pesquisa e, também, nenhuma of control the diameter of the muscular and adiposus tissue was
alteração da rotina alimentar dos indivíduos. Para variável de measured in all individuals before and after the program. In order
controle, todos os indivíduos foram submetidos à mensuração to evaluate the effects of the electrical stimulation, the Test-t was
da espessura do tecido muscular e do panículo adiposo, antes e used. After analyzing the ultrasonographic exam and processing
após o programa proposto por meio de ultra-sonografia. Para the data, a significant increase was noticed in diameter of the
avaliar os efeitos da eletroestimulação foi utilizado o teste de t muscular tissue in both groups (p < 0,05). There were no
student para amostras dependentes. Após análise do exame ultra- satisfactory results in the adiposus panniculus. Therefore the
sonográfico e tratamento dos dados, constatou-se aumento EENM was efficient only in the muscular tissue with the
significativo na espessura ântero-posterior do tecido muscular parameters just described.
dos dois grupos (p < 0,05), tanto em 18, como em 36 sessões. Key-words: electrical stimulation, neuro-muscular electrical
Não houve resultados satisfatórios no panículo adiposo. Portanto, stimulation, ultrasonography.
a EENM mostrou-se eficaz com os parâmetros descritos apenas
para o tecido muscular.
Palavras-chave: eletroestimulação, estimulação elétrica
neuromuscular, ultra-sonografia.

Artigo recebido em 20 de agosto de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Nivaldo Antonio Parizotto, Depto de Fisioterapia da UFSCar, Via Washington Luiz, km 235 Caixa Postal 676
13.565-905 São Carlos SP, E-mail: parizoto@power.ufscar.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 187

Introdução sitárias, com idade entre 18 e 23 anos, divididas, aleatoria-


mente, em dois grupos distintos, classificados segundo o
A eletroestimulação tem sido utilizada amplamente, há protocolo de tratamento.
muitos anos, para promover contração muscular, na Como critério de inclusão, estava o fato dos indivíduos
reabilitação e na área desportiva, na tentativa de melhorar a serem sedentários, além de aceitarem a orientação para não
performance dos atletas. A popularidade da EENM se deve realizarem atividade física durante o período de tratamento,
ao fato de ela apresentar um baixo custo e de ter grande assim como nenhuma alteração na ingestão alimentar. Nenhum
aplicabilidade em diversas enfermidades clínicas [1]. controle alimentar foi realizado durante o período. Não havia
A utilização da EENM, na diminuição da espasticidade e qualquer história de patologia músculo-esquelético em
espasmos, tem sido relatada por diversos autores [2,3]. Seu nenhuma das 16 voluntárias. Um termo de consentimento,
uso na área desportiva, para aumento de força muscular, livre e esclarecido, para participar do experimento foi assinado
tem obtido resultados satisfatórios em diversas aplicações [4]. pelas participantes. O protocolo não envolveu riscos a elas e
Este crescente interesse na EENM é ainda mais motivado foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar,
pelas pesquisas na área de engenharia biomédica, na elaboração segundo os termos da Resolução CNS 196/96.
de eletroestimuladores cada vez mais sofisticados [5,6].
Diferenças de respostas à EENM entre sexos, foram
Materiais
demonstradas por Alon et al. [7] e Laufer et al. [1]. Portanto,
é importante separar as análises, ao se efetuar EENM em Foi utilizado aparelho de eletroestimulação de média
grupos de pessoas de diferentes sexos. freqüência de 2.500 Hz, forma de onda senoidal, duração
O número de pessoas que procuram técnicas alternativas de fase simétrica, modulada em salvas, conhecida como
ao exercício convencional vem crescendo, visando obter Corrente Russa. Foram utilizados dois canais, com os
resultados mais rápidos no âmbito estético. Alguns relatos eletrodos de superfície auto-adesivos comerciais, posicio-
têm sido descritos sobre a aplicação de eletroestimulação, nados sobre o ventre muscular do reto abdominal próximos
visando melhorar o aspecto estético em diversos grupos a inserção e origem, bilateralmente.
musculares, entretanto, estes relatos apresentam apenas dados
Para mensuração da espessura do tecido muscular e
qualitativos, ficando impossibilitada a repetição do experi-
do panículo adiposo foi utilizado um equipamento de ultra-
mento para comparação dos resultados, por outros pesquisa-
sonografia da marca Medison, modelo Sonoace 6000 C-
dores. Este foi um dos motivos que motivou a elaboração
digital, com um transdutor linear para regiões pequenas,
desta pesquisa, objetivando apresentar resultados de uma
com freqüência variável de 7,5 à 10,0 MHz, tendo sido
maneira quantitativa e não de forma empírica.
optado, nas análises realizadas neste trabalho, pela
O programa de tratamento com a EENM foi proposto
freqüência de 7,5 MHz.
com a intenção de melhorar o aspecto estético que, nos
dias atuais, tem sido uma das causas da procura de
Procedimentos
tratamentos ligados à fisioterapia estética. Quando essa
musculatura não é freqüentemente estimulada, como na
Foram estabelecidos os seguintes parâmetros experi-
ausência de atividade física e devido a vários outros fatores,
mentais e protocolos para o tratamento. Os dois grupos
como a condição genotípica, desequilíbrio endócrino, hábito
receberam o mesmo tratamento com EENM, com 50 Hz
nutricional inadequado e postura viciosa sentada, pode
de freqüência de pulso, salvas de 200 ms e intervalo de 10
apresentar acúmulo de panículo adiposo e flacidez local.
ms, tendo sido estabelecido tempo do ciclo on de 9 segundos
O objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos da estimu-
e tempo do ciclo off de 27 segundos, com um ciclo útil de 1:
lação elétrica neuromuscular (EENM) sobre a região do
3, durante 20 minutos. Foram realizadas 36 sessões, três
reto do abdome, visando observar, principalmente, as
vezes por semana, em dias alternados. A posição escolhida
alterações na espessura do tecido muscular e do panículo
para estimulação foi decúbito dorsal, com membros
adiposo suprajacente à parede abdominal.
inferiores fletidos e relaxados para ambos os grupos. Em
Material e métodos um dos grupos, que chamaremos de A, as voluntárias foram
orientadas a não realizarem nenhuma contração voluntária
Condições ambientais do músculo reto do abdome durante a eletroestimulação e
foi utilizada a EENM isoladamente.
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de
No grupo chamado de B, utilizou-se de EENM associada
Eletrotermofototerapia da Faculdade Salesiana, e no Hospital
à CVM (contração voluntária máxima), com o exercício
e Maternidade São Lucas, na cidade de Lins, São Paulo.
abdominal realizado de forma isométrica durante o tempo
Sujeitos on, realizando uma elevação do ombro do divã de,
aproximadamente, 20º de flexão da lombar. A intensidade
Para a realização deste estudo, a amostra experimental de estimulação para os dois grupos foi sempre superior a
foi composta de 16 voluntários do sexo feminino, univer-
188 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

100 mA, respeitando o limiar doloroso das pacientes. As Tabela I - Valores das médias (X) e desvios padrão (DP), relativos à espessura
contrações eletricamente evocadas foram sempre suficientes (dados em mm) do tecido adiposo sobre a região abdominal. Cada dado relativo a um
para promover contração visível. indivíduo representa a média de seis medidas tomadas sobre as regiões dos músculos
Foi selecionado, para controle mensurável das variações retos do abdome (proximal, média e distal) bilateralmente (três de cada lado).
apresentadas pelo músculo reto do abdome e panículo adiposo, Grupo A – EENM Grupo B – EENM+CVM
o exame de ultra-sonografia em modo bidimensional. Pelo 18 sessões 18 sessões
exame, foram aferidas as medidas da espessura das regiões
do terço proximal, médio e distal direita e esquerda do músculo ADI-PRE ADI-POS ADI-PRE ADI-POS
reto do abdome. Pode ser observado, na figura 1 um exemplo 1 23,50 22,00 18,17 17,17
de exame ultra-sonográfico, com as respectivas medidas. O 2 13,83 13,00 14,33 13,50
exame de ultra-sonografia mostrou-se um método eficaz no 3 7,33 7,83 8,83 9,00
4 10,17 11,83 11,00 10,17
controle da espessura do tecido muscular e do panículo adiposo
5 14,83 13,33 10,83 10,33
[8] e, por isso, adotou-se o mesmo protocolo de avaliação de 6 17,67 17,67 7,50 6,50
trabalhos similares já realizados. 7 9,17 8,33 10,83 11,50
Os dados foram tabelados, segundo a média dos três 8 12,67 11,33 18,83 21,50
valores encontrados em cada músculo abdominal, realizadas X 13,64 13,16 12,54 12,45
bilateralmente, totalizando seis medidas de cada voluntário, DP 5,17 4,70 4,17 4,82
tomadas antes, na 18ª sessão e após o período de tratamento, (p) 0,26742 0,85725
completando 36 sessões.
Panículo adiposo 36 sessões
Análise estatística
O grupo A mostrou que a EENM não apresentou diferenças
Os dados do exame foram analisados, através do teste- significativas entre os valores obtidos para o panículo adiposo,
t de Student para amostras dependentes para os dois grupos antes e após o protocolo de tratamento (p>0,05), apresen-
e para os dois períodos, e teste-t para amostras independentes tando, também, aumento na espessura do panículo adiposo
para os resultados dos tecidos musculares, com nível de em 4 dos 8 voluntários (Tabela 1). A média do grupo, antes
significância de 5%. da eletroestimulação, foi de 13,66 mm e após, de 12,47 mm
de espessura.
Resultados O grupo B, cujos voluntários receberam EENM associado
a CVM, também não apresentou diferenças significativas
Foram analisadas as médias das seis medidas da parede entre os valores, antes e após o protocolo de tratamento (p
abdominal referente aos dois grupos protocolados e entre > 0,05), apresentando apenas 2 voluntários com aumento
os períodos de 18 e 36 sessões e, para a análise ficar mais na espessura do panículo adiposo. A média do grupo antes
objetiva, os resultados foram divididos em dados do panículo da eletroestimulação foi de 12,54 mm e após, de 12,50 mm
adiposo e, posteriormente, dados relativos ao tecido de espessura (Tabela II).
muscular. Tabela II - Valores das médias (X) e desvios padrão (DP) relativos à espessura
(dados em mm) do tecido adiposo sobre a região abdominal. Cada dado relativo a um
Panículo adiposo 18 sessões indivíduo representa a média de seis medidas tomadas sobre as regiões dos músculos
retos do abdome (proximal, média e distal) bilateralmente (três de cada lado).
O grupo A mostrou que a EENM não apresentou
diferenças significativas entre os valores obtidos para o Grupo A – EENM Grupo B – EENM+CVM
36 sessões 36 sessões
panículo adiposo, antes e após o protocolo de tratamento (p
> 0,05), apresentando também aumento na espessura do ADI-PRE ADI-POS ADI-PRE ADI-POS
panículo adiposo em 2 dos 8 voluntários (Tabela I). A média
1 23,50 18,33 18,16 16,50
do grupo antes da eletroestimulação foi de 13,64 mm e 2 13,83 12,16 14,33 13,50
após, de 13,16 mm de espessura. 3 7,33 7,50 8,83 10,33
O grupo B, cujos voluntários receberam EENM associa- 4 10,16 10,66 11,00 10,16
do a CVM, também não apresentou diferenças significativas 5 14,83 13,83 10,83 10,16
6 17,50 16,00 7,50 6,83
entre os valores, antes e após o protocolo de tratamento
7 9,16 8,83 10,83 11,00
(p>0,05), apresentando apenas 3 voluntários com aumento 8 13,00 12,50 18,83 21,50
na espessura do panículo adiposo. A média do grupo antes
X 13,66 12,47 12,54 12,50
da eletroestimulação foi de 12,54 mm e após, de 12,54 mm
DP 5,15 3,58 4,17 4,59
de espessura (Tabela I). (p) 0,100503 0,93688
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 189

Tecido muscular 18 sessões Tecido muscular 36 sessões


Tanto o grupo A, de EENM, como o grupo B, de EENM
Tanto o grupo A, de EENM, como o grupo B, de EENM
associado a CVM, apresentaram diferenças significativas nos
associado a CVM, apresentaram diferenças significativas nos
resultados, antes e após o protocolo de tratamento (p < 0,05), resultados, antes e após o protocolo de tratamento (p < 0,05),
com todos os voluntários dos dois grupos apresentando com todos os voluntários dos dois grupos apresentando
aumento na espessura do tecido muscular (Tabela III). A média aumento na espessura do tecido muscular (Tabela V). A média
do grupo A, antes da eletroestimulação, foi de 9,06 mm e do grupo A, antes da eletroestimulação, foi de 9,16 mm e
após, de 9,83 mm de espessura, apresentando um aumento após, de 11,02 mm de espessura, apresentando um aumento
de 0,77 mm, correspondente a ganho de 8,4 %. A média do de 1,85 mm, correspondente a ganho de 20,2 %. A média do
grupo B, antes da eletroestimulação, foi de de 8,54 mm e grupo B, antes da eletroestimulação, foi de 8,54 mm e após,
após, de 9,60 mm de espessura, apresentando um aumento de 10,60 mm de espessura, apresentando um aumento de
de 1,06 mm, correspondente a ganho de 12,4 %. 2,06 mm, correspondente a ganho de 24 %.
Tabela III - Valores das médias (X) e desvios padrão (DP) relativos à espessura Após verificar as respostas do tratamento no tecido muscular,
(dados em mm) do tecido muscular sobre a região abdominal. Cada dado relativo a um dirigiu-se a uma análise dos dados, observando as médias das
indivíduo representa a média de seis medidas tomadas sobre as regiões dos músculos diferenças de aumento da espessura entre os dois grupos,
retos do abdome (proximal, média e distal) bilateralmente (três de cada lado). detectando que os mesmos não apresentam diferenças significativas
na resposta de ganho entre eles (p > 0,05) (Tabela VI).
Grupo A – EENM Grupo B – EENM+CVM
18 sessões 18 sessões Tabela V - Valores das médias (X) e desvios padrão (DP) relativos à
espessura (dados em mm) do tecido muscular sobre a região abdominal. Cada
MUS-PRE MUS-POS MUS-PRE MUS-POS dado relativo a um indivíduo representa a média de seis medidas tomadas
1 10,17 10,33 8,83 9,83 sobre as regiões dos músculos retos do abdome (proximal, média e distal)
2 7,83 8,83 7,17 9,00 bilateralmente (três de cada lado).
3 9,50 9,83 7,50 8,50
4 9,17 9,50 10,50 10,83 Grupo A – EENM Grupo B – EENM+CVM
5 9,33 10,50 7,67 8,83 36 sessões 36 sessões
6 9,17 10,67 9,50 10,17 MUS-PRE MUS-POS MUS-PRE MUS-POS
7 8,17 9,33 8,83 10,17
8 9,17 9,67 8,33 9,50 1 10,16 10,33 8,33 10,33
X 9,06 9,83* 8,54 9,60* 2 7,83 11,00 7,16 9,66
DP 0,73 0,62 1,11 0,79 3 9,50 10,33 7,50 9,50
(p) 0,003157 0,000264 4 9,16 11,50 10,50 12,00
5 9,33 11,00 7,66 9,66
* Valores estatisticamente significante em relação a avaliação 6 9,16 11,66 9,50 11,33
realizada anteriormente com p £ 0,05. 7 8,16 10,00 8,83 11,50
8 10,00 12,33 8,33 10,83
Após verificar as respostas do tratamento no tecido muscular,
X 9.16 11,02* 8,54 10,60*
procedeu-se a uma análise dos dados, observando as médias das DP 0,81 0,78 1,11 0,95
diferenças de aumento da espessura entre os dois grupos, (p) 0,000974 0,000004
detectando que os mesmos não apresentam diferenças significativas
na resposta de ganho entre eles (p > 0,05) (Tabela IV). * Valores estatisticamente significante em relação a avaliação
realizada anteriormente com p £ 0,05.
Tabela IV - Valores das médias (X) e desvios padrão (DP) relativos ao
aumento das diferenças da espessura (em mm) de tecido muscular, entre os dois Tabela VI - Valores das médias (X) e desvios padrão (DP) relativos ao aumento
grupos, após a aplicação dos protocolos de EENM e a associação de das diferenças da espessura (em mm) de tecido muscular entre os dois grupos, após
EENM+CVM. a aplicação dos protocolos de EENM e a associação de EENM+CVM.
N EENM 18 EENM+CVM 18 N EENM 36 sessões EENM+CVM 36 sessões

1 0,17 1,00 1 0,17 1,50


2 1,00 1,83 2 3,17 2,50
3 0,33 1,00 3 0,83 2,00
4 0,33 0,33 4 2,33 1,50
5 1,17 1,17 5 1,67 2,00
6 1,50 0,67 6 2,50 1,83
7 1,17 1,33 7 1,83 2,67
8 0,50 1,17 8 2,33 2,50
X 0,77 1,06 X 1,85 2,06
DP 0,49 0,44 DP 0,96 0,45
190 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Discussão diferenças entre o uso isolado da EENM e a sua associação


com a CVM [13].
Os resultados obtidos neste trabalho podem ser analisa- A estimulação elétrica neuromuscular (EENM) pode ser
dos em duas vertentes. Sob a ótica da eletroestimulação sobre usada para aumentar a força do músculo saudável ou lesado.
o panículo adiposo e sob o que se fez sobre o tecido muscular. A força é definida como a força máxima, ou torque máximo,
Pode-se observar, também, que não houve modificação que um músculo ou um grupo muscular pode gerar em
na espessura da camada de gordura localizada sobre o uma determinada velocidade [14].
abdome das mulheres submetidas a um programa de 36 Grupos de indivíduos do sexo feminino, submetidos a
sessões de tratamento, tanto naquelas que usaram apenas regime de treinamento com EENM, conseguiram menor
EENM, como também nas que usaram a CVM, simultanea- proporção de ganho de força quando comparados com
mente. Portanto, pode-se observar, através dos resultados, indivíduos do sexo masculino. Os autores atribuem isso ao
que este tipo de tratamento é ineficaz para o protocolo e fato de que as mulheres, geralmente, têm menor força inicial,
parâmetros propostos para redução da gordura localizada. o que dificultaria o ganho adicional, já que o músculo não
As variações observadas foram, provavelmente, decorrentes treinado poderia ganhar mais força que um músculo pré-
de interferências, como modificações alimentares, parâme- treinado. Os nossos resultados podem ser analisados à luz
tros estes, não controlados neste trabalho ou de variações deste fato, uma vez que, para haver aumento do trofismo,
nas medidas. Utilizando protocolos diferentes, mas com que normalmente, é o fator desencadeador de maior torque,
objetivos semelhantes, Jarussi et al. [9] observaram que não há a necessidade adaptativa de elevar o número de
havia interferência da EENM no panículo adiposo, assim sarcômeros em paralelo, aumentando o volume e, portanto,
como no músculo das mulheres tratadas com protocolo de a espessura da estrutura muscular [13].
15 sessões. A variação das dosagens influi diretamente no grupo
Outro dado importante que deve ser ressaltado é o fato muscular estimulado, conforme estudo de Massey et al.
de que, mesmo tendo havido contrações voluntárias [15]. Eles analisaram o efeito do fortalecimento da EENM
máximas por parte das mulheres, não houve redução da em 4 grupos de soldados da marinha americana, nos quais
camada de gordura suficiente, para alterar o resultado da uma corrente pulsada monofásica, de duração de pulso
ação da EENM. desconhecida e freqüência de 1000 Hz foi aplicada nos
Por outro lado, quando analisamos o músculo, há músculos deltóide médio, peitoral maior, trapézio, bíceps
diferenças significantes, observando um aumento da sua braquial, tríceps braquial, entre outros. Todos os grupos
espessura, tanto para o grupo que recebeu apenas a EENM treinaram 3 vezes por semana, durante 9 semanas. O
como para aquele que recebeu a associação de EENM e treinamento com EENM produziu ganhos de força
CVM. Porém, não houve diferença quando comparados os equivalentes aos do exercício voluntário. Todos os três
dois grupos. Portanto, a CVM parece que, dentro do grupos experimentais estudados demonstraram força
protocolo proposto, não desempenhou papel importante. aumentada, versus os grupos controle, sem exercícios. Este
Brasileiro et al. [10] verificaram que parece não depender estudo é um dos poucos que demonstraram aumentos
da eletroestimulação, o recrutamento para se conseguir similares nos grupos com EENM e a sua associação com
torques aumentados e, mesmo sob associação com a CVM.
contração voluntária máxima, a eletroestimulação não elevou Variações na forma de pulso, alterações da sensibilidade
o torque para uma contração isolada em indivíduos saudáveis. à EENM, entre outros fatores, têm sido estudados por
Devemos lembrar que as mulheres que se submeteram diversos autores [1,7]. Além disso, a variabilidade de resposta
ao experimento eram sedentárias e foi orientado a não à estimulação elétrica dependente do sexo é um fator que
realizarem atividades físicas no período de aplicação do não se deve deixar de lado. Neste estudo, foram escolhidos
protocolo. Os treinamentos propostos para ganho de força indivíduos do sexo feminino e analisados parâmetros
muscular ou torque por Eriksson et al. [11], Laughman et al. idênticos de estimulação, dentro das faixas mais recomen-
[12] e Currier e Mann [4] se mostraram ineficazes no sentido dadas nos diversos trabalhos, inclusive os mais recentes [1].
de relacionar a associação da CVM com a EENM, Foi detectada menor resposta de torque nas mulheres, quando
estabelecendo que, para o quadríceps, não há aumento comparadas com os homens, cujos autores detectaram
significativo do recrutamento de fibras musculares, além diferenças significativas, o que nos leva a crer que há um
daquele produzido pela CVM isoladamente. potencial de resposta preservado nas voluntárias utilizadas
Os nossos resultados corroboram este dado para os neste trabalho, em função do déficit de treinamento e do
músculos abdominais, já que não houve diferença entre os sedentarismo. Portanto, como não houve treinamento
aumentos de espessuras das mulheres que se submeteram à adicional, além daquele protocolizado, podemos sugerir que
EENM isoladamente, e à associação da EENM com CVM. o resultado sobre o aumento na espessura do músculo
Eriksson et al. [11] também avaliou aspectos do metabolismo abdominal foi decorrência do treinamento com a EENM e,
muscular sob treinamento do quadríceps e não observou também, da associação da EENM com CVM.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 191

Um dado importante, do ponto de vista metodológico é 5. Scholze S, Nohama D, Nohama P. Sistema EENM de dois
o tipo de medida realizada neste trabalho, ou seja, espessura canais sincronizados. In: I Seminário de Iniciação Científica e
do músculo e a correlação com o desenvolvimento de força Tecnológica; 1996; Curitiba. Anais. Curitiba: CEFET-PR; 1996.
muscular. Maughan et al. e Winter e Maughan [16,17] p.37-40.
6. Teixeira CC, Nohama P. Sistema de EENM multicanal
utilizaram ressonância magnética nuclear e tomografia
microcontrolado. In: I Seminário de Iniciação Científica e
computadorizada para mensurar a área da secção transversa Tecnológica; 1996; Curitiba. Anais. Curitiba: CEFET-PR; 1996.
de fibras musculares e conseguiram determinar boa p.33-6.
correlação entre os seus achados e a força muscular 7. Alon G, Kantor G, Smith GV. Peripheral nerve excitation and
desenvolvida pelos músculos estudados. Os dados foram plantar flexion force elicited by electrical stimulation in males
corroborados por Mayhew [18] e em outro trabalho de 1993 and females. J Orthop Sports Phys Ther 1999;29(4):208-13.
[19], cujos resultados mostraram boa aplicabilidade da 8. Radominski RB, Vezozzo DP, Cerri GG, Halpern A. O uso
tomografia computadorizada e medidas antropométricas da ultra-sonografia na avaliação da distribuição de gordura
com a força muscular mensurada, por meio de ótima abdominal. Arq Bras Endocrinol Metab 2000;44:5-12.
9. Jarussi GO, Neto LFM, Koeke PU, Moreno BGD, Sauro EE,
correlação de Pearson, entre ambos os parâmetros.
Cirillo FP et al. Estudo dos efeitos da NMES sobre o tecido
Portanto, sugere-se que a EENM pode ser usada adiposo e muscular do abdômen. Fisioter Bras 2001;2(3):138-
clinicamente para produzir mudanças fisiológicas dentro do 41.
músculo para fortalecimento e movimento, o que permite 10. Brasileiro JS, Castro CES, Parizotto NA, Sandoval MC.
que os indivíduos atuem melhor nas suas atividades diárias Estudio comparativo entre la capacidad de generación de
[20], mas não é um método eficiente, dentro dos parâmetros torques y la incomodidad sensorial producidos por dos formas
aqui utilizados, para reduzir a espessura do panículo adiposo de estimulación eléctrica neuromuscular en sujetos sanos.
na região abdominal. Revista Iberoamericana de Fisioterapia y Kinesiologia
2001;4(2):56-65.
11. Eriksson E, Haggmark T, Kiessling H. Effect of electrical
Conclusão
stimulation on human skeletal muscle. Int J Sports Med
1981;2(1):18-22.
Podemos concluir, com base nos resultados apresentados,
12. Laughman RK, Youdas J, Garret TR. Strength changes in
que a EENM mostrou-se eficaz na elevação da espessura normal quadriceps femoris muscle as a result of electrical
do tecido muscular em ambos os grupos, tanto com 18, stimulation. Phys Ther 1983;63(4):494-9.
como com 36 sessões, nas mulheres tratadas com a EENM 13. Lieber RL. Skeletal muscle structure and function: implications
isoladamente, ou com sua associação à CVM na região for rehabilitation and sports medicine. Baltimore: Williams &
abdominal. Porém, não ocorreu diferença significativa entre Wilkins; 1992. p.159-209.
os grupos quando comparados, em relação ao aumento desta 14. Knuttgen HQ, Kraemer WJ. Terminology and measurement
espessura do músculo. Com relação ao panículo adiposo, in exercise performance. Journal of Applied Sport Science
não houve diferenças significativas, mostrando que a EENM Research 1987;1:1-10.
15. Massey BH, Nelson RC, Comden T. Effects of high frequency
isolada ou a sua associação com a CVM são ineficazes com
electrical stimulation on the size and strength of skeletal
relação aos parâmetros descritos neste trabalho. muscle. J Sports Med Phys Fitness 1965;5:136-44.
16. Maughan RJ, Watson JS, Weir J. Strength and cross-sectional
Referências area of human skeletal-muscle. J Physiol 1983;338:37-49.
17. Winter EM, Maughan RJ, Strength and cross-sectional area
1. Laufer Y, Ries JD, Leininger PM, Alon G. Quadriceps femoris of the quadriceps in men and women. J Physiol 1991;438:P175
muscle torques and fatigue generated by neuromuscular 18. Mayhew JL, Ball TE, Ward TE, Hart CL, Arnold MD.
electrical stimulation with three different waveforms. Phys Relationships of structural dimensions to bench press
Ther 2001;81(7):1307-16. strength in college males. J Sports Med Phys Fitness
2. Peterson T, Klemar KB. Electrical stimulation as a treatment 1991;31:135-41.
of lower limb spasticity. J Neuro Rehab 1988;2:103-8. 19. Mayhew JL, Piper FC, Ware JS. Anthropometric correlates
3. Apkarian JA, Naumann S. Stretch reflex inhibition using with strength performance among resistance trained athletes.
electrical stimulation in normal subjects and subjects with J Sports Med Phys Fitness 1993;33:159-65.
spasticity. J Biomed Eng 1991;3:67-73. 20. Delitto A, Snyder-Mackler L, Robinson AJ. Estimulação elétrica
4. Currier DP, Mann R. Muscular strength development by do músculo: técnicas e aplicações. In: Robinson AJ, Snyder-Mackler
electrical stimulation in healthy individuals. Phys Ther L. Eletrofisiologia clínica: eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2a
1983;63(6):915-21. ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. p.119-43. J
192 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Artigo original

Avaliação da posição corpórea do paciente com doença


de Parkinson através da biofotogrametria
computadorizada
Evaluation of corporal position of patient with Parkinson disease
through computerized biophotogrammetry
Hugo Machado Sanchez*, Mario Antonio Baraúna D.Sc.****, Karla Maria Pereira Baraúna*, Charvston Gardellari Viana**,
Eliane Gouveia de Morais**, Lucas Machado Sanchez***, Ruiz Ângelo Ventura Silva*, Roberto Sérgio de Tavares Canto, D.Sc.*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas, **Graduandos em Fisioterapia (UNITRI), ***Graduando em Medicina (UFU),


****Docente do Mestrado em Fisioterapia (UNITRI), *****Docente do Mestrado em Fisioterapia (UNITRI)

Resumo Abstract
A doença de Parkinson caracteriza-se por apresentar vários The Parkinson disease is characterized for presenting some
sinais. Dentre eles, a alteração postural tem sido descrita como signals, amongst them, the postural alteration have been described
um dos sinais mais debilitantes de tal patologia. O presente estudo as one of the most debilitating of such pathology. The aim of
teve como objetivo avaliar e correlacionar a idade e o tempo de this study was to evaluate and to correlate the age and the time of
evolução da doença com o grau de anteriorização corpórea adotado evolution of the disease with the degree of anteriorization of the
pelos parkinsonianos. Para tanto, foram avaliados 25 voluntários body adopted by the parkinsonians. Were evalueted 25 carrying
portadores da doença de Parkinson, sendo 17 homens e 8 parkinsonian volunteers, 17 men and 8 women, with age between
mulheres com idade variando entre 51 e 87 anos. Estes foram 51 and 87 years. These had been located in the right profile and
posicionados no perfil direito e tiveram seus pés alinhados para the feet lined up for capture of the image with digital machine
captura da imagem com máquina fotográfica digital. As imagens photographic. The images had been carried to the computer for
foram transportadas para o computador, para o cálculo do ângulo the calculation from the referring angle to the corporal position
referente à posição corpórea adotada por estes indivíduos, através adopted by these individuals through the program ALCimage
do programa ALCimage 2.1. Os resultados mostraram correlação 2.1. The results showed correlation between the time of evolution
entre o tempo de evolução da doença e da idade com a of disease and the age with the corporal anteriorization in the
anteriorização corpórea nos homens, enquanto nas mulheres men, while in the women we only find correlation between the
encontramos correlação apenas entre o tempo de evolução da time of evolution of the pathology, we still verify that the men
patologia e o grau de anteriorização corpórea. Verificamos, ainda, had presented greater degree of previous projection when
que os homens apresentaram maior grau de projeção anterior compared the women. We conclude that men present greater
quando comparados às mulheres. A partir dos resultados conclui- anteriorization of the body that the women, and that the
se que os homens apresentam maior anteriorização corpórea do evolution of the pathology is better in the men, in relation to the
que as mulheres, e que a evolução da patologia se mostrou maior alteration of position.
nos homens, no que se refere à alteração da postura. Key-words: Postural anteriorization, Parkinson disease,
Palavras-chave: anteriorização postural, Parkinson, computerized biophotogrammetry.
biofotogrametria computadorizada.

Artigo recebido em 08 de outubro de 2004; aceito em 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Hugo Machado Sanchez, Secretaria de Pós-Graduação - UNITRI (Centro Universitário do Triângulo), Av. Nicomedes
Alves dos Santos, 4545 Gávea 38411-106 Uberlândia MG, E-mail: fthugoms@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 193

Introdução Para a avaliação postural, os indivíduos devem se


submeter previamente à demarcações nos pontos anatômicos
Os indivíduos portadores da doença de Parkinson referenciais, que deverão corresponder aos ângulos, e as
apresentam vários sinais característicos que os distinguem imagens captadas devem ser de boa qualidade, para uma
de outros indivíduos idosos, dentre eles, as dificuldades no adequada interpretação fotogramétrica [20].
controle postural. Nesta patologia, a propriocepção mostra- Deste modo, o presente estudo teve como objetivo
se diminuída, o que dificulta a manutenção da postura normal quantificar em graus o deslocamento anterior da postura do
[1,2,3,4]. Parkinsoniano, através da Biofotogrametria Computadorizada,
A instabilidade postural mostra-se como um dos sinais correlacionando este deslocamento com a evolução da
mais debilitantes da doença de Parkinson [5,6]. patologia, a altura, o peso, o sexo e a idade dos voluntários.
Dimitrova et al. [7] relatam que os distúrbios posturais
manifestam-se devido à perda de reflexos posturais, à Material e métodos
alteração da propriocepção muscular e articular, e à
inabilidade de se manter uma geração de estímulos normais, O presente estudo avaliou-se 25 parkinsonianos de ambos
o que leva à incapacidade da manutenção das respostas os sexos, dos quais 17 eram homens e 8 eram mulheres,
musculares corretas. com idade compreendida entre 51 e 87 anos, média de 67,3
Morris [8] relata que a razão da postura alterada não é anos ± 9,76 (MA = 68,9 anos - homens e MA = 63,8 anos
clara, embora pareça estar associada a distúrbios de - mulheres). Os portadores de Parkinson foram selecionados
neurotransmissores em suas projeções de saída dos glóbulos na cidade de Uberlândia-MG, sem distúrbios psíquicos,
internos do pálido para o mesencéfalo e as regiões do talo neurológicos ou ortopédicos que alterassem a posição
do cérebro, envolvidas em manter a postura ereta e a corpórea, e com diagnóstico clínico da patologia.
atividade muscular postural. Não se avaliou, portanto, indivíduos com deficiência
De acordo com Frank et al. [9], na doença de Parkinson visual, com encurtamento de membro inferior, com seqüelas
estão afetados três diferentes tipos de controle postural: as ortopédicas ou neurológicas de membro inferior, astásicos,
preparações posturais centralmente iniciadas, as reações bem como pacientes que não conseguiam permanecer em
posturais perifericamente provocadas, e o tônus postural. posição ortostática, amputados, portadores de diabetes e
A posição do tronco tem papel importante no indivíduos que apresentavam déficit de equilíbrio estático.
desenvolvimento de força nos segmentos vertebrais, e no O presente estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética
posicionamento dos membros superiores e inferiores, em Pesquisas em Humanos do UNITRI (Centro
podendo seu mau posicionamento afetar varias funções [10]. Universitário do Triângulo), do qual recebeu parecer positivo
As alterações posturais levam à alteração do centro de para sua realização. Antes de iniciarem-se as avaliações, todos
gravidade, passando este a se localizar sobre seu antepé ou os participantes da amostragem foram orientados dos
mesmo na frente de seus pés, o que requer readaptações procedimentos e assinaram um termo de consentimento
em uma nova base de suporte e adaptações na orientação informado.
corporal durante a execução das atividades de vida diária Os voluntários foram encaminhados e avaliados na
[11,12,13]. Já no indivíduo normal, segundo Kendall et al. Clínica-Escola de Fisioterapia do UNITRI, a qual
[14], o centro de gravidade se localiza entre os pés. apresentava-se com um bom espaço livre, dimensões
Segundo Morris et al. [15] e Adkin et al. [16], as adequadas e boa iluminação. A disposição dos instrumentos
dificuldades posturais dos parkinsonianos é um agravante foi precisa e previamente estabelecida, estando devidamente
que pode induzir às quedas. Para Willemsen et al. [17], os nivelados, todos os equipamentos utilizados na coleta das
fatores intrínsecos à doença de Parkinson, que alteram a imagens. Convém ressaltar que tais equipamentos, durante
sua estabilidade corpórea, são responsáveis por cerca de a coleta de dados, só foram usados para esse fim.
79% das quedas destes indivíduos. Após a inclusão dos voluntários, foi realizado o
Para avaliação da postura, utiliza-se a avaliação preenchimento da ficha de avaliação, a qual continha nome,
posturométrica com quadro postural e a radiologia, recurso data de nascimento, telefone, endereço, sexo e tempo de
este que causa acúmulo de radiação nos indivíduos [18]. evolução da patologia. Os parkinsonianos, após descalços,
A Biofotogrametria Computadorizada fundamenta-se na foram pesados em balança devidamente aferida pelo
aplicação do princípio fotogramétrico às imagens fotográficas, INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
obtidas de movimentos corporais. Realizam-se as bases e Qualidade Industrial), e tiveram suas alturas mensuradas.
apropriadas para a fotointerpretação, sendo este método um Os parkinsonianos foram posicionados em perfil direito,
recurso de avaliação não-invasivo, apresentando vantagens de modo que os demarcadores pontuais de superfície fossem
na efetividade de sua aplicação clínica, oferecendo baixo custo facilmente visualizados nos locais que, segundo Kendall et
do sistema de recolha e fotointerpretação da imagem, assim al. [19], correspondem à linha de passagem do centro de
como a alta precisão e reprodutibilidade dos resultados [19]. gravidade. O posicionamento dos pés também obedeceu à
194 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

citação do autor supracitado, o qual menciona uma separação Todo o processo de análise das imagens, acima referido,
de 7,5 cm dos calcanhares e uma abdução do antepé de, foi executado no Laboratório de Análise de Movimento –
aproximadamente, 10 graus da linha média. Para tanto se UNITRI.
demarcou tais distâncias com fita adesiva no solo. No instante Para análise estatística deste estudo utilizou-se o
da coleta, os voluntários se apresentavam com roupas Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman, com o
adequadas, de modo a poderem visualizar os pontos objetivo de correlacionar o grau de anteriorização da posição
anatômicos referenciais, os quais eram: o pavilhão auditivo corpórea com as demais variáveis, isto é, peso, altura, tempo
externo e anterior ao maléolo lateral. A câmera fotográfica de evolução da doença e idade. Primeiramente, fez-se a
digital foi então colocada em prumo, a uma altura de 90 cm correlação para todos os indivíduos analisados e,
do solo e à distância ideal de acordo com cada parkinsoniano, posteriormente, separados pelo sexo. Além disso, foi feita a
de maneira a captar a imagem de corpo inteiro do perfil dos comparação das variáveis grau de anteriorização da posição
voluntários. corpórea, peso, altura, tempo de evolução da doença e idade
As imagens captadas pela máquina fotográfica digital entre os sexos, através do Teste t de Student. E, ainda, a
foram então transportadas para um computador Atlhon 1.1 Análise de Variância (ANOVA) para compararem-se os
GHz, o qual resgatou as imagens através da placa de vídeo valores de anteriorização corpórea, quando estratificamos
Pixel View e as digitalizou. a amostragem por década etária. Toda a análise estatística
Para o cálculo dos valores angulares referentes à posição foi realizada com nível de significância de 5%.
corpórea dos voluntários, utilizou-se o programa ALCimage
2.1. Para determinação dos ângulos referentes à posição Resultados
corpórea, realizou-se a demarcação de vértices, estes
formando um triângulo, o qual foi demarcado pelos pontos A partir da análise dos dados, observamos que a maior
anatômicos acima citados. A constituição dos vértices foi: parte da amostragem foi composta de voluntários do sexo
vértice A no meato auditivo externo, vértice B levemente masculino (68%). Através do teste de Spearman, verificou-
anterior ao maléolo lateral, e vértice C acima de B, se que existe uma correlação positiva significativa entre o
perpendicular ao solo (Figura I). Assim, verificava-se o ângulo grau de projeção anterior do corpo e o tempo de evolução
formado no vértice B, e este era maior à medida que os da patologia, assim como a idade do paciente, sendo p<0,00.
pontos dos vértices A e C distanciavam-se. No entanto, quando estratificamos por sexo, estas diferenças
são encontradas apenas no sexo masculino (p<0,00),
Figura I – Ilustração dos pontos – vértices - determinantes da posição enquanto no sexo feminino houve correlação (p<0,05)
corpórea. apenas entre o grau de anteriorização do corpo e o tempo
de evolução da doença (Tabela I).
Comparando-se todas as variáveis entre si, observamos
que a média do grau de anteriorização para todo o grupo
foi de 12,6 graus (calculado a partir do programa ALCimage
2.1), com desvio padrão de 3,24 graus. Quando separamos
os sexos, a média para o sexo masculino foi de 13,5° (±
3,47°), e no sexo feminino, de 10,8° (± 1,67°). Analisando-
se estes valores, verifica-se diferença no ângulo de
anteriorização, com p< 0,05, isto significa que os homens
têm maior anteriorização do que as mulheres. Com relação
às outras variáveis, a altura também foi maior nos homens
(p<0,00). Os valores das médias e desvio-padrão são
descritos na Tabela II.
Quando separamos em grupos dividindo por década
etária, observamos que, no sexo masculino, o valor médio
do grau de anteriorização, na faixa etária compreendida entre
os 50 e 60 anos, foi de 9,2°, dos 60-70 anos, de 13,5°, dos
70-80 anos, de 15,6° e dos 80-87 anos, de 15,7°. Desta
forma, a evolução da anteriorização corpórea entre a década
etária de 50 anos e 60 anos foi de 4,3°, da década de 60 e
70 anos foi de 2,1° e da década de 70 e 80, de 0,1°. A partir
destes dados vimos que a maior evolução na anteriorização
do corpo se dá entre as idades de 50 e 60 anos, e a menor
evolução é entre a sétima e oitava década. Quando se
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 195

Tabela I - Correlação entre o grau de anteriorização e: peso, altura, tempo de evolução e idade, para ambos os sexos.

Grau x variáveis Correlação de Spearman

N R t Valores de p

Todos Peso 25 -0,169167 -0,823161 0,418870


Altura 25 0,271368 1,352177 0,189466
Tempo de evolução 25 0,846010 7,609861 0,000000*
Idade 25 0,846010 7,609861 0,000000*
Masculino Peso 17 0,012423 0,048117 0,962258
Altura 17 0,140088 0,547960 0,591781
Tempo de evolução 17 0,794140 5,060907 0,000141*
Idade 17 0,772362 4,709420 0,000279*
Feminino Peso 8 -0,234586 -0,591110 0,576022
Altura 8 -0,240981 -0,608205 0,565348
Tempo de evolução 8 0,812136 3,409474 0,014328*
Idade 8 0,231707 0,583443 0,580848

(*) p<0,05

Tabela II - Comparação das variáveis graus de anteriorização, peso, altura, tempo de evolução e idade entre os sexos.

Variáveis analisadas Masculino (médias) Feminino (médias) Valor de p (teste t)


Valor

Grau 13,5±3,47 10,8±1,67 0,047735*


Peso 61,7±6,25 66,8±9,65 0,12802
Altura 1,66±0,05 1,58±0,08 0,008145*
Tempo de Evolução 10,6±4,39 7,1±2,95 0,05555
Idade 68,9±10,93 63,8±5,70 0,22205

(*) p<0,05

Tabela III - Comparação dos valores de idades x grau de projeção anterior do corpo.

Faixa etária Média (em graus) da anteriorização corpórea

Homens Mulheres
50-60 anos 9,2° 8°
60-70 anos 13,5°* 11,2°
70-80 anos 15,6°* 11,0°
80-90 anos 15,7°* -

(*) p< 0,05, ou seja, valores estatisticamente superiores ao menor valor (homens), mas não diferentes entre si.

comparou o grau de anteriorização entre as décadas etárias estatisticamente não houve significância (p = 0,23) entre
analisadas, verificou-se diferença estatisticamente significativa grau de anteriorização nas décadas etárias analisadas (Tabela
(p = 0,0008) das décadas de 60, 70, 80, em comparação III).
com os voluntários de idade compreendida na década de
50 anos. Com relação às mulheres, a faixa etária analisada Discussão
foi menor, estendendo-se apenas até a sétima década de
vida. O valor médio da anteriorização corpórea nas A metodologia utilizada neste estudo mostrou-se confiável
mulheres, entre os 50-60 anos, foi 8°, dos 60-70 anos, de para análise da posição corpórea dos indivíduos com doença
11,2° e aos 70 anos, de 11°. A evolução da postura de Parkinson, pela sua praticidade, fidedignidade, e baixo
anteriorizada do corpo entre a década etária de 50 anos e custo, que são fatores de suma importância [19,20,21,22,23],
60 anos foi de 3,2°, da década de 60 e 70 anos foi de -0,2°. já que os outros meios disponíveis para análise da postura,
Como aconteceu no sexo masculino, a maior evolução da como os questionários [17], os exames clínicos, os testes
projeção anterior do corpo se deu entre a quinta e sexta funcionais de atividades diárias [15,24,25,26], demonstram-
década etária, havendo uma queda na evolução desta se subjetivos, enquanto as plataformas de força ou de análise
projeção entre os 60 e 70 anos de idade, no entanto, corporal [16,25], e a posturografia computadorizada [27,28],
196 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

utilizadas em outros estudos, são de difícil acesso para a significativas, como demonstrado no presente estudo. Morris
maioria dos profissionais de saúde. et al. [15], no entanto, ao estudar a postura do parkinsoniano,
A faixa etária avaliada do presente estudo estendeu-se comparando-o ao idoso sem a patologia, relatam que a
dos 51 aos 87 anos, com média de 67,3 anos (± 9,76). instabilidade postural dos dois grupos não se altera
Observa-se que é a partir dos 50 anos que a doença de significativamente. Entretanto, seu estudo se realizou através
Parkinson se manifesta com maior freqüência [1,2,8,29]. de testes funcionais, enquanto no presente trabalho utilizou-
Com relação ao sexo, a prevalência foi de 17 voluntários se um software altamente confiável e válido para análise da
do sexo masculino e 8 voluntárias do sexo feminino. Rogers postura humana.
[2], em seus estudos, afirma que a doença de Parkinson é Umphred [1], Rogers [2], Morris [8], Grill [29] relatam
preferencialmente masculina, enquanto Umphred [1] relata que a maior parte das alterações posturais aparecem, não
que a patologia acomete os dois sexos igualmente, não tendo em decorrência da carência ou fraqueza dos grupos
nenhuma preferência pelo sexo masculino. No entanto, o nosso musculares envolvidos, como no caso de idosos normais
estudo se traduziu como um estudo de campo, enquanto o sem a patologia, mas em decorrência de alterações no Sistema
autor supracitado fez uma revisão, o que traz, aos nossos Ner voso Central, que resultam em uma falha de
resultados, maior validade para a clínica fisioterapêutica. estruturação dos mecanismos de controle neurológicos, nos
Pelo fato de a doença de Parkinson ser preferencialmente núcleos da base, da contração muscular, seja ela dinâmica
masculina, suspeitava-se de maior projeção anterior nos homens ou estática. Entretanto, existem evidências de que a postura
em relação às mulheres, fato este confirmado na presente pode vir a ser influenciada pela estrutura muscular [18].
pesquisa, já que por afetar mais homens, sua evolução nestes No presente estudo não se verificou correlação positiva
ocorre de forma mais acelerada. Ao avaliar a amostragem, significativa entre o grau de projeção anterior do corpo, dos
dividindo-a em faixas etárias de grupos com intervalo de idade voluntários parkinsonianos do sexo masculino e feminino.
de 10 anos, verificamos que em ambos os sexos sua maior Segundo Tribastone [18], apesar da tipologia do indivíduo,
evolução se deu entre a quinta e a sexta década de vida, sendo em especial a altura, que pode alterar o comprimento dos
maior a evolução nos homens (4,3° contra 3,2°), o que mais músculos e ossos, a força, o arco de movimento, as alavancas
uma vez vem a confirmar evolução mais rápida da patologia musculares, a ação dos músculos e as funções articulares
no sexo masculino. O que não condiz com os estudos de Morris não interferem na postura adotada pelo indivíduo.
et al. [15], que, ao estudar a instabilidade postural dos
parkinsonianos, encontrou semelhança entre a instabilidade Conclusão
postural do homem e da mulher. No entanto, verifica-se mais
uma vez que o presente estudo revela-se mais confiável, pois A partir dos resultados obtidos, conclui-se que a projeção
foi utilizada uma metodologia computadorizada de alta anterior do corpo nos portadores de Parkinson está
confiabilidade, ao invés de testes funcionais. correlacionada ao tempo de evolução da patologia e à idade
À medida que a patologia evolui, e, conseqüentemente, dos parkinsonianos, sendo mais acentuada nos homens do
o indivíduo também envelhece, há uma maior projeção que nas mulheres. Além disso, verificou-se também que a
anterior do corpo dos parkinsonianos, e isto pode ser projeção corpórea está relacionada à altura dos indivíduos
evidenciado no presente estudo, no qual observamos no sexo masculino e que a maior projeção do corpo destes
correlação positiva significativa entre a projeção anterior indivíduos se dá após os 60 anos de idade.
do corpo, a idade e o tempo de evolução da doença nos
indivíduos do sexo masculino [1,2,12,15,30], enquanto nas Agradecimentos
mulheres houve correlação apenas entre o grau de projeção
anterior e o tempo de evolução da patologia. Agradecimentos ao PROSUP-CAPES pelas bolsas de
A projeção anteriorizada do corpo foi alvo dos estudos mestrado.
de Frank et al. [9], Woollacott e Shumway-Cook [31] e
Romero e Stelmach [32], que esclarecem que o tônus Referências
postural, os níveis eletromiográficos e a propriocepção são
fatores que se alteram com a idade, o que pode interferir na 1. Umphred DA. Fisioterapia neurológica. 2a ed. São Paulo:
postura adotada pelos idosos. Além disso, ao falarem sobre Manole; 1994.
2. Rogers MW. Disorders of posture, balance, and gait in
o Parkinson, relatam que, nas fases iniciais da patologia,
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pouco se observam as alterações posturais, sendo estas mais 3. Wegen EE, Emmerik RE, Wagenaar RC, Ellis T. Stability
evidentes nas fases mais adiantadas da doença. No entanto, boundaries and lateral postural control in parkinson’s disease.
observa-se ainda na literatura que estes mesmos fatores Motor Control 2001;5(3):254-9.
também estão alterados em idosos não afetados pela 4. Smiley-Oyen AL, Cheng HK, Latt LD, Redfern MS. Adaptation
patologia, sendo assim, percebe-se que a idade avançada e a of vibration-induced postural sway in individuals with
evolução da patologia, associadas, geram alterações posturais Parkinson’s disease. Gait Posture 2002;16(2):188-97.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 197

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198 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Artigo original

Dores e lesões na coluna vertebral, hábitos


e costumes em acadêmicos de fisioterapia
Spine pains and lesions, habits and behavior
in physical therapy students
Paula de Castro Nunes*, Luciene Bini Ouverney*, Leonor Venâncio*, Valdir F. Veiga Júnior, D.Sc.**, Carlos A. V. Mello***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmicas Curso de Fisioterapia Universidade Estácio de Sá, **Professor da Universidade Estácio de Sá,
*** Coordenador do Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Campus Nova Friburgo/RJ

Resumo Abstract
Um estudo do perfil das alterações posturais, relatadas por One of the most common complaints from students is back
estudantes universitários, evidencia um índice bastante elevado pain, originated by spine disorders, like scoliosis, lordosis and
de reclamações, acarretadas por más posturas, sendo a maioria kyphosis. The present study analyzes the postural alterations,
dessas ocorrências, evitáveis, através de um profissional de told by university students, as a quite elevated index of complaints.
fisioterapia. Objetivo: O interesse despertado pelo tema ocorreu Objective: The aim of this study was to verify the prevalence of
no intuito de saber se os acadêmicos de fisioterapia, tendo spine lesions involving physical therapy students and its behavior
conhecimento dos benefícios da ciência fisioterapêutica, upon treatments. Material and Method: The sampling was obtained
estabelecidos na área traumato-ortopédica e, em especial, na área on 2003 September and October, from 300 physical therapy
da coluna vertebral, recorrem a tratamentos nesse campo. Material graduation students registered at the Universidade Estácio de Sá,
e Método: Entre os meses de setembro e outubro de 2003 foram Campus Nova Friburgo/RJ. The research instrument was
entrevistados 300 alunos que cursam a graduação de fisioterapia constituted of a questionnaire with objective questions related to
na Universidade Estácio de Sá, Campus Nova Friburgo/RJ. O the age, weight, height, body mass index (BMI), sex, types of
instrumento de pesquisa constitui-se de um questionário com lesions, types of physical therapy treatment and results obtained
perguntas objetivas relacionadas à idade, peso, altura, sexo, tipos in the treatment. Statistical analysis were performed using test c2
de lesões, tipos de tratamento fisioterapêutico, tempo e resultados (p < 0,05). Results: 61% of the students were female and 39%
obtidos no tratamento. Análises estatísticas, através do método male, with age between 18 and 60, being, in its majority of 18 to
Qui quadrado, foram utilizadas para definir a significância da 24 years, 64% of the total. From 191 occurrences of spine lesions,
dependência entre as variáveis (p < 0,05). Resultados: Dos only 38 received treatment. Conclusion: This study was of great
entrevistados, 61% eram do sexo feminino e 39% do sexo importance to analyze the lesions found in students spines and
masculino, com idade entre 18 e 60 anos, sendo, em sua maioria concluded that most of them did not undergo physical therapy
de 18 a 24 anos, 64% do total. Foram relatadas 191 ocorrências de treatment.
lesões na coluna vertebral, das quais apenas 38 receberam o Key-words: spine lesions, physical therapy students.
tratamento. Destes, cerca de 69% submeteu-se ao tratamento
apenas na fase aguda, por cerca de 21 dias. RPG foi o tratamento
mais procurado. Conclusão: A pesquisa realizada foi de grande
importância para analisar as lesões encontradas na coluna vertebral
dos estudantes e concluiu que a maioria não se submeteu a
tratamento fisioterapêutico.
Palavras-chave: lesões da coluna vertebral, acadêmicos de
fisioterapia.

Artigo recebido em 23 de novembro de 2004; aceito 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Carlos A. V. Mello, Universidade Estácio de Sá – Jardim Sans Souci, s/no Sans Souci 28600-000 Nova Friburgo RJ,
Tel: (22)2525-1500, E-mail: carlos.melo@estacio.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 199

Introdução podemos, assim, prever que uma alteração do tônus trará


prejuízos posturais ao indivíduo, sem citar os processos
Lesões na coluna vertebral têm sido objeto de vários álgicos, um dos grandes responsáveis pela grande demanda
estudos e pesquisas em decorrência do aumento significativo de pacientes com lombalgias nas clínicas de fisioterapia [2].
de atendimentos registrados, especialmente nas faixas etárias A conhecida “dor nas costas” é uma das queixas de maior
mais jovens. transcendência e freqüência em nossa sociedade, ocorrendo
Esse fato tem chamado a atenção dos meios de comu- normalmente a partir dos 20-30 anos quando a incidência
nicação, tanto no Brasil quanto no exterior, pela extensão das algias vertebrais é maior, sendo também cada vez mais
do problema, uma vez que, além de atingir crianças desde a freqüente também em crianças [4].
idade escolar, assume proporções impensadas há alguns anos, Desde os centros escolares cada vez com mais freqüência
resultando no afastamento de grande parte da força de encontramos alterações na coluna vertebral relacionadas
trabalho para tratamento fisioterapêutico. com as atitudes e hábitos posturais errôneos, mobiliário
Pesquisas sobre o assunto têm procurado identificar os tipos escolar prejudicial e o grande peso no transporte de mochilas
de lesão mais comuns entre jovens e relacioná-los com seus e materiais que se perdura até o âmbito acadêmico [4,5].
hábitos e costumes, desde os alimentares aos de postura Em todo o material a respeito das lesões em grupos de
corporal, tendo em vista as mudanças profundas ocorridas no estudantes, os tipos mais freqüentemente encontrados são a cifose,
modo de vida moderno, em que o computador muitas vezes a lordose e a escoliose, originando lombalgias que acometem
ocupa um ponto central. Passando dos jogos eletrônicos para a grande número de pessoas, independentemente da idade. A estas
internet, conversas em chats e amizades virtuais, envio e lesões estão intimamente ligadas à vida sedentária e aos hábitos e
recebimentos de inúmeras mensagens eletrônicas, além de uma costumes atuais, que levam à má postura e interferem na
alimentação qualitativamente pobre são alguns itens focalizados formação e desenvolvimento da coluna vertebral [6,7].
e desenvolvidos em todos os trabalhos a respeito desse tema. A cifose, a lordose (desvios da coluna associados à má
Na infância e na adolescência formam-se as características postura) e a escoliose (sem causa definida) que pode começar
principais do aprendizado e do comportamento. Por isso, atuar a desenvolver-se desde a pré-adolescência, são os tipos
sobre os hábitos poucos saudáveis nessas idades pode ter um focalizados por serem aqueles que, obviamente, podem ser
maior impacto no desenvolvimento de futuras doenças. encontrados numa pesquisa bastante específica como esta [7,8].
Pesquisas realizadas na Espanha, sobre os hábitos de vida em
uma população escolar, mostraram que os estudantes daquela Materiais e métodos
região apresentaram hábitos extremamente nocivos, como uma
elevada quantidade de horas assistindo televisão associado ao Nesta pesquisa participaram, voluntariamente, 300 alunos
consumo regular de guloseimas, baixo consumo de frutas e do 1º ao 8º período de Fisioterapia de uma universidade
verduras cruas. A influência do nível sócio-econômico é particular da cidade de Nova Friburgo/RJ (Universidade
indiscutível na presença de hábitos de risco [1]. Estácio de Sá), entre os meses de setembro/outubro, do
Em pesquisa realizada em 1996, entre alunos de primeiro e ano letivo de 2003. Os alunos voluntários eram de dois
segundo graus em Fortaleza (Ceará), um estudo estatístico foi turnos (manhã e noite) e foram sujeitos a uma entrevista
realizado com o objetivo de demonstrar a necessidade do estado (questionário) com perguntas objetivas.
criar condições para a obrigatoriedade de fisioterapeutas serem Após a coleta, os dados foram tabelados e agrupados de
contratados pelas escolas, para que, através da análise de caso, forma a gerar os gráficos apresentados neste estudo.
possam corrigir hábitos posturais, adequar atividades físicas e De forma a avaliar se as lesões são dependentes do gêne-
estabelecer ações gerais, contribuindo para a diminuição das ro ou da faixa etária, análises estatísticas através do teste qui
famosas “dores nas costas” (lombalgias) que acometem a grande quadrado foram realizadas para definir a significância da
maioria dos alunos, as quais, se não tratadas, poderão dependência entre as variáveis (p < 0,05).
transformar-se em lesões da coluna vertebral [2].
Aproveitaremos os índices encontrados pelos estudantes Resultados e discussão
de estatística de Fortaleza como parâmetro para nosso
estudo, bem como aqueles que foram estabelecidos por Os resultados obtidos espelham, não somente os alunos
pesquisa de teor similar, realizada por docentes da do curso de fisioterapia, mas também seus hábitos e costumes
Universidade de Manchester [3]. alimentares e posturais, devido a modificações ocorridas na
É do conhecimento de todos que a coluna vertebral vida cotidiana.
corresponde à grande maioria dos motivos de queixa dos Dos 300 entrevistados, 184 (61%) eram do sexo
problemas ortopédicos e álgicos (dor), sendo uma das feminino enquanto 116 (39%) pertenciam ao sexo masculino.
estruturas mais afetadas pelo sedentarismo e má postura. Resultado esperado em função do percentual da própria
Considerando que o tônus muscular é um dos responsáveis população de alunos deste curso, que, neste campus, é
pela manutenção da postura anatomicamente correta, majoritariamente feminino. Da amplitude de idade obser-
200 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

vada, 18 a 60 anos, a faixa etária de 18 a 24 anos foi a que quais encontraram esta patologia em 31% dos casos [2].
contou com maior percentual (64%). Quanto à cifose e lordose, ambas foram encontradas em 22
O relato de algum distúrbio na coluna foi realizado por % das mulheres que relataram lesões. Essas diferenças
64% dos alunos (191). A relação entre a porcentagem de decorrem dos hábitos e costumes próprios de cada lugar,
homens e mulheres que relataram lesões é próxima de 1 (0,89), uma vez que sabemos que em Nova Friburgo prevalecem
com maior incidência entre as mulheres. Dos 116 homens lesões provocadas, muitas vezes, pela má postura, enquanto
entrevistados, 69 (59%) relataram algum problema na coluna. naquela cidade do nordeste prevalece a escoliose, que não
Entre as mulheres, foram 122 relatos, 66% das 184 entrevistas. tem causa definida e, freqüentemente, é atribuída a questões
Esta diferença, entretanto, não se mostrou estatisticamente de ordem estrutural e outras deficiências que contribuem para
significante ao nível adotado na pesquisa (p < 0,05). o seu desenvolvimento. Considera-se, finalmente, que é
bastante alto o índice relativo a outras lesões, onde estão
Figura 1 - Relatos de lesão na coluna segundo o sexo. incluídas a hérnia de disco, uncoartrose, etc, que apresentaram
menos relevância estatística em relação a lombalgia
(denominada pelos estudantes apenas como “dores nas
costas”) correspondente a 40% do total de relatos, sendo
superior a qualquer das demais citadas, semelhante ao resultado
apresentado na Universidade de Manchester [3].
Entre os homens constatou-se a maior incidência de
escoliose, 23%, superior à taxa encontrada para as estudantes
(16%), e menor incidência de cifose (17 %) e lordose (16
%). A taxa para “outros tipos de lesões” correspondeu,
igualmente, a um grande percentual dos relatos (44%), em
* Diferenças não-significativas (p > 0,05) sua maioria para lombalgia.
Os relatos correspondentes ao sexo feminino chegaram a Apesar dos resultados indicarem perfis diferenciados
66% do total pesquisado, que correspondem a 122 estudantes entre os sexos, as diferenças não foram significativas para o
entrevistadas, sendo maior que os parâmetros registrados por nível de significância adotado.
pesquisas similares, os quais variam de 40% a 60%, Quando dividimos os relatos por faixa etária, observa-
(dependendo das características próprias de cada amostra), mos um perfil bastante diferenciado. Como a maior parte
em Fortaleza [2] e Manchester [3], respectivamente. Já entre dos universitários pertence à menor faixa etária, foram estu-
os homens a taxa de relatos afirmativos de lesão é de 59%, dados os percentuais relacionando-os à idade dos estudantes.
bastante semelhante à de outras pesquisas [2,3]. Ressaltamos, Nesta faixa etária (entre 18 e 24) observamos porcentagens
porém, que pode haver confundimento nos resultados devido próximas a 20 % em cada um dos tipos de lesão relatados,
a diferenças atribuídas à especificidade de cada amostra, devido mas os relatos de escoliose (22 %) foram mais comuns entre
a hábitos e costumes diversos, além de modificações ocorridas os mais jovens, que nas demais faixas etárias.
na vida cotidiana, desde alimentares até a postura corporal. Observamos, ainda, que metade das mulheres na faixa
Quando são analisados os percentuais, entre homens e de 36 a 42 anos relata a existência de cifose, o que significa
mulheres, do tipo de lesão, observa-se um perfil bastante distinto. um valor elevado se comparado à faixa etária de 18 a 24
anos, equivalente a 22%.
Figura 2 – Relatos de lesão na coluna segundo o tipo e o sexo. Entre os 30 e 36 anos, por outro lado, o maior percentual
foi o de lordose, com 71 % dos relatos, valor elevado, se
comparado às demais faixas etárias.
Figura 3 - Tipos de lesão por faixa etária no sexo feminino.

* Diferenças não-significativas (p > 0,05)


Para fins de avaliação dos tipos de lesão foram encon-
trados, entre as mulheres, 16% de escoliose, diferentemente
dos padrões identificados para os estudantes de Fortaleza, os * Diferenças significativas (p < 0,05)
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 201

No estudo realizado em Fortaleza [3], observou-se na Entre os homens foi observado que a taxa de 28% de
relação entre os tipos de lesões uma taxa superior de escoliose, cifose é inferior àquela encontrada na faixa etária de 36 a
em relação à cifose e lordose, com percentuais próximos. Em 42 das estudantes, que é de 50%. A taxa foi distribuída de
Nova Friburgo, diferentemente, as taxas se distribuem de forma irregular para faixas de idade inferior.
modo mais uniforme, com exceção para “Outros” que Verificou-se que a faixa etária de 30 a 36 anos apresentou
apresentou taxa de 37%, dos quais constaram como principais, índice maior de lordose, em relação às demais faixas etárias.
os relatos de lesões como hérnia de disco e artrose. O mesmo foi observado para o sexo feminino, onde foram
As lesões na coluna têm sido, muitas vezes, relacionadas observados 71% de relatos.
com o excesso de peso, principalmente entre os mais jovens. A taxa de escoliose, entretanto, foi a que apresentou,
Para poder avaliar se este fator se correlacionava com os proporcionalmente, a maior prevalência na faixa etária de
tipos ou com a incidência de lesões, os índices de massa
30 a 36 anos, diferentemente dos resultados para o sexo
corporal (IMC) foram calculados e divididos em três classes:
feminino, que apresentou índice mais elevado de 22%, na
magros (IMC < 18,5), normais (IMC entre 18,5 e 24,9) e
faixa etária de 18 a 24 anos e nenhum caso relatado entre
com sobrepeso (IMC > 25,0).
os 30 e 36 anos.
Figura 4 - IMC em relação à faixa etária no sexo feminino.
Figura 6 - IMC em relação à faixa etária no sexo masculino.

* Diferenças significativas (p < 0,05)


Foi encontrado que 82% das mais jovens apresentavam
índice de massa corporal normal, na faixa de 18-24 anos.
* Diferenças significativas (p < 0,05)
Não foi registrado nenhum caso de sobrepeso, ou mesmo
de obesidade, entre essas estudantes, não permitindo, Comparando o IMC às faixas etárias, observamos que,
portanto, se correlacionar com os tipos de lesão. entre os homens, o IMC considerado normal é o principal
Em relação ao IMC menor que 18,5, relativo ao conceito na faixa etária de 18 a 24 anos (86%), resultado semelhante
de magreza, o percentual foi maior nas mulheres na faixa ao observado para o sexo feminino (82%). Este IMC foi
de 30 a 36 anos e não na faixa mais jovem. Tal fato deve-se, o principal em todas as faixas etárias não permitindo,
provavelmente, aos hábitos e costumes alimentares. novamente, a correlação com as diferentes lesões na
coluna.
Figura 5 - Tipo de lesão por faixa etária no sexo masculino. Na faixa de IMC considerado de obesos, os percentuais
alcançaram os 25 % para os mais velhos, o que pode ter
sido influenciado pela diminuição da taxa do metabolismo
basal, bem como pelo sedentarismo, favorecendo o possível
surgimento de lesões na coluna vertebral.
Entre os alunos que relataram alguma lesão na coluna,
somente um terço procura atendimento fisioterápico. Um
percentual de 32% de relatos afirmativos demonstrou que
os estudantes de Fisioterapia participantes desse estudo, em
sua grande maioria, não fazem uso de qualquer tratamento
para suas lesões na coluna e lombalgias.

* Diferenças significativas (p < 0,05)


202 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Figura 7 - Porcentagem de alunos que relataram lesão que procuram obtido naquelas pesquisas, nas quais essa taxa chegou a 80%.
tratamento. Ou seja, os estudantes participantes deste estudo não fazem
os tratamentos como deveriam e, por conseqüência, não
obtêm os resultados que esperavam.
Figura 9 – Tempo de tratamento.

Quando o tratamento é procurado, foi observado que o


tipo mais escolhido entre estudantes do sexo feminino foi
RPG (Reeducação Postural Global) [9], que correspondeu
a 33%, com resultado ainda maior para os homens
pesquisados, 37 %. Sabe-se que tal tratamento não faz parte
do currículo acadêmico da Universidade onde a pesquisa
foi realizada. Observou-se, também, um índice elevado
quanto aos tratamentos, denominados nesta pesquisa como
“Sem Tipificação”, onde foram incluídos tratamentos como Conclusão
acupuntura clássica, mecanoterapia, hidrocionesioterapia,
massoterapia, etc. Os relatos de tratamento indicaram que A pesquisa visou identificar alguns aspectos concernentes
40 % dos participantes do estudo não tipificaram o tipo de aos estudantes de Fisioterapia, procurando identificar traços
tratamento ao qual se submeteram. gerais de comportamento diante das suas próprias lesões da
coluna vertebral, além de verificar o nível de interesse deles
Figura 8 - Relatos de tipo de tratamento realizado. em conhecer, tipificar e tratar essas lesões.
Quanto ao conhecimento dos tipos de lesão que sofrem,
vimos que é significativo o número de estudantes que não
sabem tipificá-los.
Os Índices de Massa Corporal (IMC) obtidos indicaram
que estudantes do sexo feminino situam-se na faixa
correspondente ao conceito de Magreza/Normalidade, não
havendo, por isso, relação direta entre IMC e desvios da
coluna vertebral. Quanto ao sexo masculino, observou-se
que estes estão incluídos no conceito de Normalidade/
Sobrepeso. Cabe, ainda, ressaltar que a faixa etária de 30 a
36 anos apresentou um maior índice de sobrepeso, onde os
mesmos obtiveram maior incidência de lesões na coluna
A porcentagem de 69% de relatos sobre a duração do vertebral, o que demonstra que, neste caso, houve relação
tratamento, que não passa de 21 dias, encontra-se abaixo direta entre o IMC e desvios na coluna vertebral.
dos parâmetros observados em pesquisas similares, as quais Finalmente, pudemos verificar que os estudantes, em
apresentam concentração de 80% neste mesmo período. sua grande maioria, não realizam qualquer tratamento e,
Pode-se concluir, portanto, que os alunos, em geral, não dentre os que fazem, a técnica mais procurada é a
terminam o tratamento no tempo estipulado, o que influencia Reeducação Postural Global (RPG), que não integra o
diretamente o andamento do tratamento e, por conseqüência, currículo acadêmico. Outro fator importante para a
o resultado alcançado. realização do tratamento é o baixo poder aquisitivo dos
A satisfação com o resultado alcançado é relativamente estudantes, pois os mesmos já arcam com despesas na
grande, de cerca de dois terços (66 %) daqueles que universidade (mensalidade, material didático, alimentação,
procuraram tratamento, e próxima do percentual que etc), fazendo com que o tratamento fisioterápico fique em
termina em menos de 21 dias (69 %). Entretanto, quando segundo plano ou, praticamente, inviável.
comparado com outros estudos, foi observado que o Em termos de duração de tratamento e de resultados
percentual de satisfação encontra-se em nível inferior ao esperados, os estudantes que participaram deste estudo não
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 203

se aplicam com rigor ao tratamento ao qual se submetem. nov 25]. Disponível em URL: <http://
Em conseqüência, os índices encontrados, referentes ao www.seinfo.hipermart.net/fisio.htm>
tempo de duração, assim como ao resultado esperado, 3. Dores Lombares, Pesquisa Médica 18/75 anos. Universidade
encontram-se abaixo daqueles que observamos em pesquisas de Manchester. Inglaterra. In: Revista de Atualização Médica
[on line]. [citado 2003 nov 25]. Disponível em: URL <http:/
similares.
/ram.uol.br>
Como medida preventiva podemos citar a importância
4. Castillo Sánchez MD, Espinosa De Los Monteros L,
da higiene postural e prática de exercícios físicos desde a Rodriguez N. Educación para la salud: Una experiência
infância, mudanças de hábitos e costumes que evitariam os educativa sobre hábitos posturales saludables. Universidad
vícios posturais adquiridos pelo uso ao longo da vida, trabalho de Granada [on line]. Disponível em: <http://
cotidiano, e de posições que ao parecer mais cômodas vão webpages.ull.es/users/apice/pdf/412-019.pdf.
modificando e viciando a biomecânica postural. 5. Limon S, Valinsky LJ, Bem-Shalon Y. Risk Factors for low
back pain in the elementary school environment. Spine
Referências 2004;29(6):697-702.
6. Hamil J, Knutzen KM. Bases biomecânicas do movimento
1. Ruano I, Serra Pujol ME. Hábitos de vida en una población humano. 1 ed. São Paulo: Manole; 1999.
escolar de Mataró (Barcelona), asociados al número de veces 7. Rosa Filho Blair J. Reeducação Postural. World Gate Brasil;
diárias que vê televisión y al consumo de azúcares. Rev Esp 2001. Disponível em:<http://www.wgate.com.br/fisioweb>
Salud Publica ;71:487-98. 8. Bricot B. Posturologia. São Paulo: Ícone; 1999.
2. Fisioterapia e o Computador. Revista Eletrônica SE Info. 9. Souchard PE. Reeducação postural global: método do campo
Universidade de Fortaleza 1999/2000 [on line]. [citado 2003 fechado. 4 ed. São Paulo: Ícone; 1998. J
204 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Artigo original

Acupuntura cinética como tratamento coadjuvante


na qualidade de vida de pessoas com distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho
Kinetic acupuncture as complementary treatment in the life quality
of individuals with work related muscleskeletal disorders
Vasco Senna-Fernandes*, Daisy França**, Sebastião D. Santos-Filho, M.Sc.***, Célia Cortez, D.Sc.****,
Mário Bernardo-Filho, D.Sc.*****, Marco Antônio Guimarães, D.Sc.******
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Médico Cirurgião Plástico, Acupunturista, Professor de Ambulatório de Acupuntura e Eletroacupuntura da Academia Brasileira de Arte e
Ciência Oriental (ABACO), **Fisioterapeuta, Acupunturista, Professora de Ambulatório de Acupuntura e Eletroacupuntura da ABACO,
***Fisioterapeuta, Professor de Fisioterapia Geral e Biofísica da UNIFOA, ****Médica, Professora Adjunta do Departamento de Ciências
Fisiológicas da UERJ, *****Biomédico, Professor Titular do Departamento de Biofísica e Biometria da UERJ,
******Médico, Professor Adjunto da Patologia Geral do Departamento de Patologias e Laboratórios da UERJ

Resumo diversas. Os parâmetros de avaliação foram: a) a intensidade da dor


Este trabalho apresenta uma proposta de tratamento para os (ID), através do método de Escala Visual Analógica (EVA); b) a
Distúrbios Osteomusculares Relacionados com o Trabalho ou melhora da dor (MD); c) a mobilidade funcional (MF); e d) a
Lesões por Esforços Repetitivos (DORT/LER), através de um satisfação terapêutica em relação às atividades físicas do trabalho
método terapêutico combinado, que associa a acupuntura a pela Escala de Avaliação Numérica (EAN). A parte emocional destes
cinesioterapia durante a reabilitação, conhecido como Acupuntura pacientes foi pesquisada pela Avaliação Psicológica de Kubler-Ross
Cinética (AC) ou cinesioacupuntura. É uma conduta multidisciplinar Modificada (APKRM). Os resultados foram de 10,19 mm ± 16,10
que tem por vantagem a aplicação sincronizada destes dois de ID (p < 0,001), de 92,13% ± 15,85 da MD; do ganho MF foi de
procedimentos em uma só sessão, dividida em três fases, as quais 92,70% ± 14,24 (p < 0,001); e quanto a ST, em relação a atividade do
se fundamentam na: 1) preparação da estrutura para receber o trabalho, foi de 91,35% ± 13,16. A APKRM mostrou, por parte
estímulo fisioterapêutico, mediante inibição do ciclo espasmo-dor; dos pacientes, negação (20), raiva (9), pena (5) e depressão (3).
2) promoção do movimento pelo efeito potencializador e sinérgico Quando submetidos a nova avaliação depois do tratamento, a
da Acupuntura durante a execução da Cinesioterapia; e 3) maioria obteve integração plena (28), enquanto outros permaneciam
manutenção de resultado terapêutico, mediante estímulo na negação (2), raiva (1), pena (4) e depressão (2). Apesar da
(acupuntura) de ação prolongada, através da microacupuntura amostragem limitada, pode-se sugerir através desse trabalho
(agulhas e sementes), que melhora o sistema musculoesquelético preliminar que a Acupuntura Cinética possui eficácia, não somente
(SME), em relação ao DORT/LER, através da diminuição do quadro como recurso natural de reabilitação, mas também como meio para
álgico, relaxamento muscular, redução do bloqueio fibrótico, evitar as possíveis recidivas do quadro álgico. A dor é o principal
miogelose e a reintegração do sistema neuromotor e emocional. fator limitante durante a realização das atividades profissionais,
Foram tratados 37 pacientes com lesões provenientes do DORT/ diminuindo a qualidade de vida, e também no que se refere ao
LER (síndrome do túnel do carpo, cotovelo do tenista, dedo em estado emocional do portador de DORT/LER.
gatilho, cervicobraquialgia e ombralgia), sendo 28 mulheres e 9 Palavras-chave: DORT/LER, acupuntura cinética, qualidade de
homens (idade entre 28 a 75 anos), com atividades ocupacionais vida.

Artigo recebido em 27 de janeiro de 2005; aceito em 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Vasco Senna-Fernandes, Rua Leonardo Vilas Boas, 124A. São Francisco 24360-550 Niterói RJ, Tel: (21) 2610
4528 / 9625 9490, E-mail: vascosf@provide.psi.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 205

Abstract results were evaluated by the parameters: pain intensity (PI) under
The aim of this work is to suggest a procedure to treat the Visual Analogue Scale (VAS) method; pain improvement (PIm),
Work Related Muscleskeletal Disorders (WRMD) through a functional mobility (FM), and therapeutic satisfaction (TS) by
combined therapeutic method that associates the acupuncture to Numeric Rating Scale (NRS). The emotional aspect of these
the kinesiotherapy during the rehabilitation, known as Kinetic patients was studied by a modified Kubler-Ross psychological
Acupuncture (AC) (or Kinesioacupunture). It is a multidisciplinary evaluation (MKRPE). The results were 10,19mm ± 16,10 of PI
therapeutic approach offering the advantage of synchronizing two (p<0,001); 92,13% ± 15,85 of PIm; 92,70% ± 14,24 of FM
therapeutic procedures which take place simultaneously, divided (p<0,001); and 91,35% ± 13,16 of TS in relation to professional
in three phases: (i) preparing the injured structure to receive the activities. The MKRPE before treatment showed, patients in denial
physical therapy stimulation, considering that acupunture is able stage was 20, anger (9), bargaining (5) e depression (3). After
to inhibit the pain-spasm cycle, (ii) promoting the movements treatment another MKRPE was carried out, the majority of these
restoration by the acupunture synergical and potentializer effect patients was in the integration stage (28), and others, denial (2),
during the kinesiotherapy exercises; and (iii) maintaining the long anger (1), bargaining (4) and depression (2). It is possible to
acting stimulation by microacupuncture (needles or seeds), which show with this preliminary research that the Kinetic Acupuncture
improves the muscleskeletal system (MSS)) relating to the WRMD, seems to be effective not only as a natural way of rehabilitation,
pain, fibrotic blocking, miogelosis and reintegration of the but also as a manner to avoid the possible recurrences of the pain.
neuromotor system. 37 patients with WRMD (carpal tunnel Pain is the main undesirable factor, during the accomplishment
syndrome, tennis elbow, trigger finger, cervicobrachialgia and of the work activities and also when it concerns in emotional state
shoulder pain), being 28 women and 9 men (age from 28 up to of the patients with WRMD altering their life quality.
75 years old), with different occupational activities. The treatment Key-words: WRMD, kinetic acupuncture, life quality.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Os DORT/LER acarretam uma preocupação de ordem


governamental, em relação a morbidade que vem
A qualidade de vida no trabalho representa uma condição aumentando com a modernidade, visto que são o grupo de
que envolve a prática empresarial mundial na busca da doenças que mais aflige a classe trabalhadora dos países
produtividade e qualidade total [1]. Segundo Ciborra e Lazara industrializados e cujos prognósticos são, geralmente, de
[2], a definição de qualidade de vida é ampla e envolve, não difícil solução clínica ou até incapacitantes [6,7].
somente o impacto tecnológico, como a saúde física, mental O tratamento convencional de DORT/LER é, inicial-
e o bem estar do trabalhador. Também é discutido que a mente, clínico (analgésico, antiinflamatórios não hormonais,
competência pessoal, auto-estima, produtividade e qualidade corticosteróides), associado ou não a fisioterapia (eletrote-
de vida norteiam os princípios de formação das empresas e rapia, termoterapia, hidroterapia, cinesioterapia) e, posterior-
seus funcionários, para atingir o grande objetivo de produção mente, cirúrgico. Contudo, os prognósticos não são dos
eficiente [3]. melhores e os resultados continuam polêmicos [1,2]. Na
No passado, o cuidado com a saúde do trabalhador era Medicina Tradicional Chinesa (MTC), o tratamento de afec-
praticamente inexistente e o número de indivíduos portadores ções relacionado com DORT/LER pela Acupuntura já era
de lesões oriundas do trabalho aumentou consideravelmente. documentado por Hua Tuo, na Dinastia Han Ocidental (25
Estas foram denominadas de Distúrbios Osteomusculares d.C.-220 d.C) [8,9].
Relacionados ao Trabalho ou Lesões Por Esforços Repe- Atualmente, a eficácia da acupuntura vem sendo grada-
titivos (DORT/LER) e foram, então, estabelecidas estratégias tivamente confirmada desde a década de 1970, devido a
com o objetivo de prevenir e tratá-las [4,5]. exaustivos estudos laboratoriais, pesquisas científicas e ensaios
Os DORT/LER são afecções relacionadas às atividades clínicos. Os efeitos benéficos pesquisados incluem: liberação
laborativas diárias e/ou profissionais, associadas a repetições de substâncias vasoativas, induzida por processo inflamatório
diversas, como as de movimentos bruscos, ou não, com asséptico provocado pelo microtrauma acupuntural; melhora
interrupções súbitas, esforço físico com grau alterado de força da oxigenação celular e das trocas metabólicas pelo aumento
exigida, pressão mecânica constante sobre determinados do aporte sangüíneo local; ativação do sistema imunológico
segmentos, ergonomia e equipamentos inadequados, estresse que, pela liberação de trombocinas, aumenta a atividade
e predisposição individual. Da mesma forma, as alterações fagocitária que leva a lise leucocitária, inibindo o processo
morfofuncionais adaptativas, geralmente subclínicas, podem inflamatório articular e preparando as estruturas para receber
acometer estruturas anatômicas constituintes do aparelho o estímulo fisioterapêutico; atuação no sistema linfático, pois
locomotor, principalmente o membro superior, resultando os meridianos e pontos de acupuntura também se encontram
em dor, fadiga, queda de performance no trabalho e próximos aos vasos linfáticos e exercem influência sobre o
incapacidade temporária. Conforme o caso, podem evoluir fluxo linfático local; analgésico e relaxamento muscular, por
para síndrome dolorosa crônica, gerando problemas emocio- liberação de serotonina e opiáceos (endorfina, encefalina,
nais devido a incapacidade. dinorfina) [10,11].
206 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Este trabalho apresenta uma proposta de Acupuntura bola, exercício de coordenação de membro superior; 2) CT:
Cinética [12] (método terapêutico que associa a aplicação relaxamento cervical, mobilização articular de cotovelo,
da Acupuntura a Cinesioterapia, durante a reabilitação). Ela massagem em nódulos associada a manipulação da agulha,
pode ser viabilizada para o tratamento das lesões ocasionadas alongamento de membro superior; 3) DG: massagem da
pelo DORT/LER, através de seus princípios de: inibir o região com óleo quente, mobilização articular da mão e do
ciclo espasmo-dor na fase pré-cinética pela acupuntura; punho e ombro, exercício ativo livre de mão; 4) CB: relaxa-
potencializar estimulação cinesioterapêutica, pela acupuntura, mento cervical, alongamento da musculatura do pescoço
na recuperação do movimento durante a fase pré-cinética; associado a padrão respiratório, exercício ativo livre de coluna
e manter o estímulo acupuntural de ação prolongada, cervical, manipulação com agulha nos pontos que apresen-
mediante aplicação de sementes, cristais ou metais em pontos tavam nódulos, exercício ativo livre de coluna cervical; 5)
específicos na fase pós-cinética. Ombralgia: relaxamento cervico-dorsal, mobilização articular
da escapula e ombro, alongamento de membro superior.
Material e métodos Na terceira fase, o paciente foi submetido a auriculopun-
tura, sendo preconizado o uso de sementes de mostarda
Este trabalho foi realizado no Ambulatório de Pesquisa protegidas por micropore, em acupontos auriculares, de
em Acupuntura da Academia Brasileira de Arte e Ciência acordo com cada quadro sindrômico [17]. A aplicação era
Oriental (ABACO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil, no período de renovada de semana em semana, sendo os pacientes orien-
2000 a 2003. tados em relação a higiene auricular, além de receberem
Todos os pacientes foram previamente submetidos a orientações quanto a postura no trabalho ou em domicílio.
avaliação médica, associada a laudos de ortopedia, diagnos- Os parâmetros de avaliação foram a intensidade da dor
ticados de acordo com a MTC. A seguir, foram submetidos (ID), a melhora da dor (MD), a mobilidade funcional (MF)
ao estudo cinesiológico e, posteriormente, ao tratamento e satisfação terapêutica (ST) em relação às atividades físicas
adequado ao quadro patológico, segundo as três etapas da do trabalho. A ID foi avaliada através do método de Escala
Acupuntura Cinética. Foram tratados 37 pacientes com lesões Visual Analógica (EVA), em milímetros, que consiste em
provenientes do DORT/LER – síndrome do túnel do carpo uma escala de 0 a 100 mm, sendo “0 mm”, sem dor e
(STC), cotovelo do tenista (epicondilite lateral) (CT), dedo “100mm”, a dor mais intensa. A MD, a MF e ST em relação
em gatilho ou tenossinovite estenosante (DG), cervicobra- às atividades físicas do trabalho foram avaliadas em
quialgia (CB) e ombralgia (OM) –, sendo 28 mulheres e 9 percentual, pela Escala de Avaliação Numérica (EAN),
homens, com faixa etária entre 28 e 75 anos de idade, variando de zero a 100%. Todos estes parâmentros foram
pertencentes a diversas atividades ocupacionais. Na primeira avaliados nos períodos antes e depois do tratamento, sendo
fase, o paciente era tratado pela acupuntura sistêmica, uma vez por semana para cada sessão terapêutica.
segundo a MTC [8] e craniopuntura [13] (Tabela I). As A parte emocional foi pesquisada pela Avaliação
agulhas eram de aço inoxidável com medidas de compri- Psicológica de Kubler-Ross Modificada (APKRM) [19],
mento (cabo/lâmina)/diâmetro variando entre 25x5x0,25 adaptada para pacientes com DORT em cinco estágios
mm e 25x30x0,25 mm. A eletroacupuntura era aplicada em que são: 1) Negação. O paciente não aceita a lesão e
casos resistentes a conduta primária, para quadro de dor de consulta outros médicos para ouvir um diagnóstico
difícil resolução; a ventosa, para contraturas musculares, e diferente; 2) Raiva. Sentimento de ressentimento,
a moxibustão, para síndromes de deficiência. hostilidade, inveja, raiva e fúria, e as pessoas mais atingidas
Na segunda fase, o paciente era submetido a cinesio- são os amigos e familiares que estão tentando ajudá-lo; 3)
terapia de acordo com cada afecção clínica, dando ênfase Pena. Sentimento de pesar pela perda da aptidão que
ao alongamento, mobilizações articulares e drenagem [15,16]. possuía e todos os benefícios que conseguia com sua
Foi aplicada em conjunto com os acupontos da craniopun- atividade, há utilização de mecanismos de defesa como
tura, que eram mantidos estimulados e revisados em relação ficar lembrando os grandes feitos do passado e fantasiando
ao Hibiki [13]. Em caso de presença de rigidez articular ou acerca do futuro; 4) Depressão. Ao aceitar a sua lesão
contratura muscular segmentar persistente, eram pesqui- permanente, o paciente submete-se a sensação de perda
sados nódulos álgicos, que foram tratados pela manobra definitiva, gerando sentimentos de depressão, isto é, o
dinâmica de Jiao [14]. (Obs: A cinesioterapia aplicada nesta indivíduo se isola do seu meio social e familiares, e mesmo
fase incluiu técnicas específicas para cada caso e para cada daqueles que possam ajudá-lo na superação; 5) Rein-
paciente, tais como no: 1) STC: relaxamento cervical, alonga- tegração. A fase de superação e a volta às atividades
mento de membro superior, massagem nos nódulos associa- profissionais, ou de aceitação das seqüelas provocadas pela
dos a manipulação com agulha, mobilização passiva da doença.
escapula, ombros, mão e punho, drenagem linfática de mem- Em relação ao estudo de estatística, foram incluídos Teste
bro superior, exercício ativo assistido da mão e punho (enrolar de ANOVA e Teste t-Student, através do programa SPSS
e desenrolar atadura.), exercício ativo livre com auxílio da 13.0 para avaliação do nível de significância da ID e da MF.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 207

Resultados A Figura 3 mostra o gráfico de freqüência relativa medida


pela ST dos indivíduos tratados pela AC no caso de DORT/
A Tabela II mostra a distribuição demográfica em relação LER em que foi igual ou superior a 90%, foi significativo (p
a idade e sexo, sendo 75,67% (28/37) do sexo feminino e < 0,001) para a maioria dos pacientes.
24,33% (9/37) do sexo masculino, e com idade compreendida A Figura 4 mostra a distribuição destes pacientes quando
entre 28 e 75 anos. A faixa etária mais atingida foi aquela submetidos a APKRM, conforme os seus cinco estágios
entre 41 e 60 anos, que correspondeu a 59,46% (22/37). evolutivos durante o período de reabilitação. Os 37 pacientes
A Tabela III e as Figuras 1, 2 e 3 foram baseadas na foram avaliados antes de serem submetidos ao tratamento,
prevalência das afecções de DORT tratadas, sendo 32,43% sendo que a grande parte apresentava negação (20) e depois
dos pacientes com STC; 24,32% com CT, 21,62% com por raiva (9), pena (5) e depressão (3). Todavia, os mesmos
DG; 13,52% com CB e 8,11% com ombralgia. quando submetidos a nova avaliação depois do tratamento,
A Tabela 3 mostra a distribuição de resultados de média e a maioria obteve integração plena e volta a atividades de
desvio padrão obtidos por EVA da ID; e por EAN da MD, trabalho (28), enquanto que outros permaneciam na negação
do ganho de MF e da ST dos pacientes em relação às (2), raiva (1), pena (4) e na depressão (2).
diferentes afecções de DORT/LER. A média da ID foi 15,00
mm ± 16,02, da MD foi 76,37% ± 29,67; do ganho da MF, Discussão
79,33% ± 29,58; e da ST em relação a volta às atividades
diárias e profissionais, 77,11% ± 29,45. A AC mostrou eficiente Sob o ponto de vista médico e fisioterapêutico, os pacientes
tratamento da STC de estágio inicial em relação ao nível médio com DORT/LER quando não respondem ao tratamento
de melhora da dor, de 94,50% ± 12,29, com EVA, de 93,67 conservador (clínico: analgésico, antiinflamatório e corticóides;
mm ± 17,07 a 5,50 mm ± 12,84 (p < 0,001), do ganho da imobilização do punho, fisioterapia, como eletroterapia,
MF, de 48,33% ± 21,24 a 95,83% ± 9,96 (p < 0,001). termoterápicos, hidroterapia e cinesioterapia), recorrem a
O grupo de pacientes com DG apresentou nível médio cirurgia, que tem por finalidade de descomprimir estruturas
de MD de 95,62% ± 6,23, com EVA, de ID de 97,50mm nobres, tais como tendões, nervos, vasculares, etc [15,16].
± 7,07 a 4,38mm ± 6,23 (p < 0,001), do ganho da MF de Contudo, nem sempre os procedimentos cirúrgicos aplicados
32,50% ±10,35 a 95,00% ± 9,25 (p < 0,001), e de ST de oferecem total eficácia, isto é, as dores podem persistir e as
91,25% ± 3,53 (Tabela 2). doenças tratadas podem se recidivar [2].
Os pacientes com cotovelo de tenista (epicondilite lateral) Enquanto os quadros crônicos e atróficos com com-
obtiveram o nível médio de melhora da dor de 95,56% ± prometimento neuro-sensitivo e/ou neuromotor tenham
7,26, com EVA de 97,89mm ± 6,33 a 4,44mm ± 7,26 (p < indicação absoluta de intervenção cirúrgica pela presença
0,001), do ganho da MF de 42,22% ± 18,56 a 97,78% ± de bloqueio fibrótico, contraturas musculares e tumores, os
6,67(p < 0,001), e de ST de 98,89% ± 3,33. Porém, pacientes quadros agudos e subagudos com quadro álgico predomi-
com distúrbios de cervicobraquialgia (melhora da dor: nante podem ser tratados com sucesso por condutas
71,40% ± 27,72, ID variando de 100mm a 32,60mm ± conservador [15,16,21].
18,78 (p < 0,001), MF variando de 38% ± 14,83 a 80% ± A conduta conservadora é aplicada com sucesso em
17,32 (p < 0,05), ST: 78% ± 19,32), e ombralgia (MD: síndromes compressivas de nervos periféricos como cita
76,37% ± 29,37; ID de 85,16mm ± 33,70 a 15mm ± 16,02 nos trabalhos de Spinner e Bora Junior [21] em relação a
(p < 0,05); MF de 34,36% ± 15,48 a 79,33% ± 29,58; ST: STC. A AC mostrou eficiente tratamento em todas as
77,10% ± 29,44) (Tabela 3). A média geral do número se afecções de DORT estudadas de estágio inicial, inclusive as
sessões terapêuticas foi 10,17 ± 3,13 dias. de STC, em relação a melhora da dor e do ganho do MF.
As Figuras 1, 2 e 3 mostram as freqüências relativas de Isto sugere os efeitos analgésicos e antiflogísticos eficientes
indivíduos portadores de DORT/LER, tratados por AC, promovidas pela acupuntura nos tecidos moles, os quais
em relação ao percentual de MD, MF e da ST da STC, CT, incluem os nervos periféricos [11].
DG, CB e ombralgia. Os pacientes com DG pelo tratamento convencional,
A Figura 1 mostra a freqüência relativa dos pacientes em geral, só é suprimido ou atenuado pela infiltração de
tratados por AC, em relação ao nível de melhora da dor, corticóides na fase inicial (primeira semana), porém quando
para os pacientes de DORT/LER. Observa-se que o nível se recidiva após 4 meses, a indicação é cirúrgica [20].
de melhora da dor igual ou superior a 90% foi significativo Contudo, quando foi submetido a AC este grupo apresentou
(p<0.001) para a maioria dos pacientes. nível médio de melhora da dor de do e de recuperação do
A Figura 2 mostra o gráfico de freqüência relativa em MF significantes. Quatro casos foram considerados curados
relação ao ganho de MF igual ou superior a 90% foi signifi- por remissão total do quadro sindrômico que inclui dor e
cativo (p<0.001) para a maioria dos pacientes. Contudo, bloqueio ou ressalto do tendão flexor através da polia [20],
não foi significativo (p > 0,05) em pacientes com ombralgia e que ainda permaneceram assintomáticos por mais de 1
em relação a mobilidade funcional. ano.
208 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Tabela I - Pontos de acupuntura sistêmica e microssistêmica mais uti1izados na Acupuntura Cinética para tratamento de DORT/LER

DME Acupuntura sistêmica Acupuntura microssistêmica

YNSA AURICULO

(1ª fase) (2ª fase) (3ª fase)

STC CS3, CS4, CS6, CS7, CS8, C3, C7, F2, F3, R3, R6; CS3-CS6;P7-P5; BeC Shemen, Rim Baço-
C7-C3 (EL-Sinal 3 (*));IG4, IG11, IG10, IGF15, F3, BP6, ID3, E36, E40, PâncreasFígado a mão
TA5, TA14, TA15, VC4, VB39,VB34; Baxie**, Sifeng**, Yintang**;
DG R3,CS3,CS6, CS7, CS8, C3, C8,C7, BP6, BP9, F3,VB34, E36, BeC Shemen, Rim Baço-
IG4, IG10, IG11, TA14, TA5; Baxie**, Sifeng**, Yintang;** Pâncreas Fígado a mão
CT R3, R6, CS3, CS7, F3;IG4, IG10, IG11, IG15, TA5, TA10, TA14, T15, VB34, BeC Shemen, Rim Baço-
E36, ID3;Yintang**; Pâncreas Fígado a mão
CB CS6, VC4, BP6, R3, F3; ID3, ID9, ID10, IG4, IG15, TA15, VB20, B, C e E Shemen, Rim Baço-
VB21, VB34, Bx10, Bx11, Bx13, E36; Huato Cervical**; Pâncreas Fígado a mão
OM R3, F3, ID9, ID10, ID11, IG4, IG15, TA5, TA10, TA14, TA15, B, C e Y1 Shemen, Rim Baço-
VB21, VB34, E40. Pâncreas Fígado a mão

DME-doenças musculoesqueléticas envolvidas: STC-síndrome do Túnel do Carpo, CT-Cotovelo de Tenista, DG-Dedo em Gatilho, CB-
Cervicobraquialgia, OM-ombralgia; Pontos de acupuntura sistêmica: canais yin: CS-Circulação e Sexualidade, C-Coração, F-Fígado, P-
Pulmão, R-Rim, VC-Vaso de Concepção; e canais yang: ID-Intestino Delgado, IG-Intestino Grosso, TA-Triplo Aquecedor, VB-Vesícula
Biliar, Bx-Bexiga,Pontos microssistêmicos: YNSA- Yamamoto New Acupuncture, B e C - pontos cinéticos, Y1- Ponto Yipsilon do Intestino
Delgado, Auriculo-Auriculopuntura; (*) EL-Eletroacupuntura,(**) Pontos Extras.

Tabela II - Distribuição demográficas (profissão, sexo e idade )

Profissão N Feminino Masculino 20-40 anos 41-60 anos > 61 anos

Do lar 15 15 - - 10 5
Digitador 5 2 3 4 1 -
Músico 1 - 1 - 1 -
Médico 1 - 1 - 1 -
Enfermeira 1 1 - - 1 -
Costureira 3 3 - - 1 2
Tipógrafo 1 - 1 - - 1
Professor 2 2 1 - 1 1
Fotografo 1 1 - - 1 -
Massoterapeuta 2 1 - - 2 -
Escriturário 3 2 1 1 1 1
Operador de caixa 2 - 1 - 2 -
Total 37 28 9 5 22 10

N: número total de pacientes.

Tabela III - Medidas da intensidade da dor por Escala Visual Analógica (EAV) em milímetro; e medidas da melhora da dor (MD), da Mobilidade Funcional
(MF) e da Satisfação Terapêutica (ST) pela Escala de Avaliação Numérica (EAN) em percentual, de pacientes submetidos à Acupuntura cinética (AC).

Doenças(np) ID-pré
Doenças(np)ID-pré ID-pós ID MD MF -pré
MF-pré MF -pós MF ST
EVA (mm) valor-p EAN(%) EAN(%) valor-p EAN(%)

STC (12) 93,67 ±17,07 5,50 ±12,85 P<0,001 94,50 ±12,84 48,33 ±21,24 95,83 ±9,96 p<0,001 95,00 ±10,00
CT (9) 97,89 ±6,33 4,44 ±7,26 P<0,001 95,56 ±7,26 42,22 ±18,56 97,78 ±6,67 p<0,001 98,89 ±3,33
DG (8) 97,50 ±7,07 4,38 ±6,23 P<0,001 95,6 ±26,23 32,50 ±10,35 95,00 ±9,26 p<0,001 91,25 ±3,54
CB (5) 100 ±00 32,60±18,78 P<0,001 71,40 ±27,72 38,00 ±14,83 80,00 ±17,32 p<0,05 78,00 ±19,24
OM (3) 100 ±00 24,33 ±26,16 p<0,05 75,67 ±26,16 30,00 ±20,00 80,00 ±34,64 p>0,05 76,67 ±25,17
Total (37) 85,17 ±33,70 15,01 ±16,02 76,37 ±29,67 34,36 ±15,49 79,33 ±29,58 77,11 ±29,45

Distribuição de resultados de média e desvio padrão da intensidade da dor, da melhora da dor, da mobilidade funcional e da satisfação
terapêutica obtidos através do número de pacientes(np) em cada afecção de DORT/LER (STC-síndrome do Túnel do Carpo, CT-Cotovelo
de Tenista, DG-Dedo e Gatilho, CB-Cervicobraquialgia, OM-ombralgia) e do nível de significância da intensidade da dor e da
mobilidade funcional das mencionadas.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 209

Figura 1 - Freqüência relativa de indivíduos com DORT/LER tratados Figura 3 - Freqüência relativa de indivíduos com DORT/LER tratados
pela AC (em percentual) em relação ao nível de melhora da dor (STC- pela AC (em percentual) em relação ao nível de satisfação terapêutica e a
síndrome do Túnel do Carpo, CT-Cotovelo de Tenista, DG-Dedo e Gatilho, reintegração a atividades diárias e profissionais. (STC-síndrome do Túnel
CB-Cervicobraquialgia, OM-ombralgia do Car po, CT-Cotovelo de Tenista, DG-Dedo e Gatilho, CB-
Cervicobraquialgia, OM-ombralgia).

Figura 2 - Freqüência relativa de indivíduos com DORT/LER tratados


pela AC (em percentual) em relação ao nível do ganho de mobilidade funcional. Figura 4 - Distribuição de pacientes com DORT submetidos à Avaliação
(STC-síndrome do Túnel do Carpo, CT-Cotovelo de Tenista, DG-Dedo e Psicológica de Kubler-Ross Modificada em relação aos cinco estágios
Gatilho, CB-Cervicobraquialgia, OM-ombralgia. evolutivos: negação, raiva, pena, depressão e reintegração; observados durante
o período de reabilitação.

Os pacientes com CT responderam muito bem ao efeito tratamento, os resultados foram mais animadores. O estudo
da AC na maioria dos casos devido ao fato de serem quadros psicológico os portadores de DORT/LER é muito complexo
agudos e recentes. Porém, pacientes com distúrbios de CB e que levam em consideração das suas características individuais,
ombralgia, já não responderam tão bem devido a cronicidade sociais, econômicas e culturais e suas interações em relação
e complexidade dos seus casos. aos fatores de risco (os esforços repetitivos, trabalho em
O APKRM foi eficiente e adequado em relação ao estudo postura estática contínua, exigência de força, condições
psicológico de reabilitação do portador de DORT/LER. organizacionais desfavoráveis, exposição a vibração e frio,
Através deste trabalho, percebe-se que antes do tratamento, sobrecarga contínua das estruturas anatômicas ou falta de
os pacientes ao serem submetidos a esta avaliação, tempo para se recuperar no trabalho) [5]. Todas essas
apresentavam-se desanimados ou preocupados devido ao circunstâncias podem influenciar os resultados do APKRM,
medo da incapacidade funcional provocada por DORT/LER, assim como levar a interpretações falsas ou errôneas [5,19,20].
poderia levá-los ao desemprego ou de mudança de atividades A acupuntura por possuir propriedades de inibição do
domésticas. Todavia, o mesmo questionário feito no pós- ciclo espasmo-dor, através de efeitos como: estimulação
210 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

analgésica; relaxamento muscular; aumento do aporte Foundation for Oriental Medicine-CBS/OIUCM-UNIMEC


sanguíneo; melhora de oxigenação; efeitos antiflogísticos; pelo apoio recebido no Ambulatório de Pesquisa de
facilita a execução os exercícios fisioterapêuticos. Assim, a Acupuntura da ABACO, e ao Dr. Emmanuel Miranda Pereira
AC é eficiente ao indivíduo portador de lesões por DORT/ (Sikuro - Sistema e Equipamentos Eletrônicos Ltda) pelo
LER através das suas três fases de tratamento. Já que a fornecimento de aparelhos de eletroacupuntura.
Acupuntura tem por função de terapia coadjuvante
potencializadora. Referências
Na fase pré-cinética, a Acupuntura é um excelente
recurso preparatório eficiente para a Fisioterapia por ter 1. Lacaz FAC. Quality working life and health/ illness. Ciência
como princípio básico, o aquecimento orgânico. Nesta fase Saúde Coletiva 2000;5(1).
optamos por Eletroacupuntura como método potencializador 2. Ciborra C, Lanzara GF (eds). Progettazione delle tecnologie e
qualita del lavoro. Milão: Franco Angeli; 1985. 330 pp.
analgésico através da aplicação de um eletroestimulador DS-
3. Castellani M. Autogestão e qualidade de vida. [citado 2005 jan 5].
100 (Sikuro - Sistema e Equipamentos eletrônicos Ltda) de Disponível em URL: http://www.castellani.psc.br/artigos.php.
corrente alternada assimétrica ajustado ao modo denso- 4. World Health Organization. Identification and control of work
disperso, que consiste na freqüência mista de 2-100Hz, com related diseases. Geneva: WHO, Technical report series, 714; 1985.
intervalo 3/3s em 30 minutos, preconizada por Han [22]. 5. Maeno M, Almeida IM, Martins MC, Toledo LC, Paparelli R,
É uma conduta consagrada por apresentar 2 vantagens, Silva JAP. Lesões por esforços repetitivos (LER) e distúrbios
apresentar duas freqüências extremas que elevam o limiar osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Ministério
da dor através da produção de diferentes tipos de opiáceos da Saúde Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações
como â-endorfina, encefalina, endomorfina e dinorfina que Programáticas e Estratégicas Área Técnica de Saúde do Trabalhador.
tem efeito analgésico sinérgico prevenir a fadiga muscular Série A. Normas e Manuais Técnicos,n°103. Brasília; 2001.
6. Lianza S. Medicina de reabilitação. 3ª ed. Rio de Janeiro:
através de um período de estimulação estipulado [22].
Guanabara Koogan; 2001.
Na fase per-cinética, a Acupuntura se mostrou eficiente 7. Salaroli CA. LER/DORT. São Paulo: Fundacentro; 2000.
como agente facilitador da Cinesioterapia, mediante os seus 8. Xinnong C. Chinese acupuncture and moxibustion. Beijing:
efeitos analgésicos e miorrelaxante e antiflogísticos. E na Foreign Languages Press; 1987.
fase pós-cinética, foi eficiente como agente mantenedor de 9. Zhang EQ. Health Preservation and Rehabilitation. Shanghai:
estímulos prolongados de analgesia e miorrelaxamento Publishing House of Shanghai College of Traditional Chinese
mediada pela auriculopuntura associada a orientações Medicine; 1990.
posturais e exercícios de alongamento para ser realizado em 10. Draehmpaehl D, Zohmiann A. Acupuntura no cão e no gato
domicílio ou no trabalho [12]. - Princípios básicos e prática científica. São Paulo: Roca; 1994.
11. Silbernagl S, Despopoulos A. Taschenatlas der Physiologie.
New York/Stuttgart: Augleg, Georg Thieme; 1991.
Conclusão 12. Senna-Fernandes V, França D, Cortez C, Silva G, Pereira F.
Acupuntura cinética: tratamento sistemático do aparelho
À medida que o mundo tecnológico e industrial se expande, locomotor e neuromuscular da face por acupuntura associada
fatores determinantes para a progressão da doença vão se a cinesioterapia. Fisioter Bras 2003;4(3):185-94.
formando, atingindo os indivíduos na sua vida profissional, 13. Yamamoto T. Yamamoto New Scalp Acupuncture – YNSA.
domiciliar e no lazer. O aumento de número de DORT/ Tokyo: Springer Japan;1998.
LER é inevitável. Assim, a conduta adotada para a sua recu- 14. Jiao S. Scalp Acupuncture and clinical cases. Beijing: Foreign
peração deve ser eficiente e menos traumática, visto que a Languages Press; 1997.
prevenção é a principal conduta para eliminar, amenizar ou 15. Hall CM, Brody LT. Exercícios terapêuticos na busca da função.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.
evitar esta categoria de distúrbios. Através deste trabalho pre-
16. Cailhet R, Dor no Ombro. 3º Ed. Porto Alegre, Artmed; 2000.
liminar pode-se sugerir que a Acupuntura Cinética constitui 17. Nogier P. Noções práticas de auriculoterapia. São Paulo:
um método preventivo e curativo favorecendo a eficácia não Andrei; 1998.
somente como recurso natural de reabilitação. Também 18. White A. Measuring pain. Acupunct Med 1998;16(2).
corresponde a um meio para evitar as possíveis recidivas do 19. Becker Jr B, Samulski D. Manual de treinamento psicológico
quadro álgico, o qual é o principal fator limitante, durante a para o esporte. Rio Grande do Sul: Feevale, 1998.
realização das atividades diárias ou profissionais e no que se 20. Kubler-Ross E. On death and dying. New York: Touchstone;
refere no estado emocional do portador de DORT compro- 1996.
metendo a qualidade de vida dos trabalhadores. 21. Pardini A. Cirurgia da mão – Lesões não-traumáticas. São
Paulo: Medsi; 1990.
22. Han JS. What are the best parameters of electroacupuncture
Agradecimentos (EA) stimulation for the treatment of pain and drug addiction.
Beijing: Neuroscience Research Institute, Beijing Medical
Nosso agradecimentos ao Prof. Dr. Sohaku Bastos, a University Beijing, China. Abstracts of ICMART ’98
Dra. Elisa Bastos e a Dra. Liege Brunini da Sohaku-In International Medical Acupuncture Congress; 1998. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 211

Revisão

Agentes de acoplamento de ultra-som


terapêutico e fonoforese
Coupling agents of therapeutic ultrasound and phonophoresis
Maria Fernanda Bertini Mardegan*, Rinaldo Roberto de Jesus Guirro, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Mestranda em Fisioterapia pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, Professora do Curso de Fisioterapia da
Universidade de Uberaba – UNIUBE, **Fisioterapeuta, Coordenador e professor do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia da
Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP

Resumo Abstract
Este artigo de revisão bibliográfica aborda os agentes de This study is a literature review on the coupling agents used in
acoplamento utilizados na terapia ultra-sônica e a fonoforese, que therapeutic ultrasound and phonophoresis, which consists in
consiste na introdução de fármacos para o interior dos tecidos introducing pharmaceuticals into tissues through ultrasound
biológicos, através do ultra-som terapêutico (UST). Dentre os (TUS). Among the factors that can modify the ultrasound
fatores que podem alterar a transmissividade ultra-sônica estão: transmissibility are the frequency of the transducer, intensity, pulse
freqüência do transdutor, intensidade, regime de pulso, além dos regimen as well as the coupling agents needed in TUS since it does
acoplantes, que são necessários nas aplicações de UST, em virtude not spread in the air. Several products have been described as
deste não se propagar no ar. A literatura mostra que existem coupling agents and many of them lessen the ultrasound wave
vários produtos utilizados como agentes de acoplamento e muitos impairing the efficacy of the phonophoresis to its utmost.
deles provocam atenuação da onda ultra-sônica, fazendo com que Therefore, it is important for the professional to take the scientific
a fonoforese, nesses casos, não tenha a eficácia esperada. De nada principles into account on choosing a coupling agent as the physical
adiantará pensar nos parâmetros físicos do aparelho de UST se o parameters of a TUS device will not produce the desired effect if
agente de acoplamento não for bem selecionado. Por isso, é the coupling agent is not suitable.
importante que o profissional faça uma cuidadosa seleção do Key-words: Therapeutic ultrasound, coupling agents,
acoplante a ser empregado, levando em consideração preceitos phonophoresis.
científicos.
Palavras-chave: Ultra-som terapêutico, agentes de
acoplamento, fonoforese.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução o UST também é muito utilizado, mas não são encontrados


registros desse tipo na literatura.
A primeira aplicação, com sucesso, de ultra-som (US) A aplicabilidade da onda ultra-sônica tem aumentado
em medicina ocorreu no início de 1950, sendo que, a partir com o passar dos anos, auxiliando no tratamento das mais
daí, sua evolução foi muito rápida. Atualmente, o ultra-som variadas patologias. O UST vem sendo considerado um
terapêutico (UST) é um dos recursos mais utilizados na recurso físico de grande importância nas afecções do sistema
fisioterapia, tanto no Brasil quanto em outros países. Estima- músculo-esquelético, atuando na reparação óssea, processos
se que são realizados 15 milhões de tratamentos cicatriciais e inflamatórios, bem como na redução da dor
fisioterapêuticos com US por ano, nos Estados Unidos [1]. [3,4,5]; além disso, há evidências de que o ultra-som pode
Foi verificado, através de um questionário respondido por atuar incrementando a síntese de fibroblastos e colágeno,
171 fisioterapeutas australianos, que 84% deles usavam US além de acelerar a resposta inflamatória pela liberação de
diariamente em seus tratamentos [2]. Sabe-se que, no Brasil, histamina, macrófagos e monócitos [4].

Recebido em 9 de agosto de 2004; aceito 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Maria Fernanda Bertini Mardegan, Rua Sérgio Pereira Dias, 413 Jardim Induberaba 38040-140 Uberaba MG, Tel:
(34) 3336-3214, E-mail: mfbmardegan@ig.com.br ou maria.mardegan@uniube.br
212 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Um fator importante e pouco considerado pelos usuários sônica, sendo os sólidos ainda melhores, pois suas moléculas
do UST é o material utilizado para o acoplamento do trans- estão mais próximas umas das outras e, dessa forma,
dutor à pele do paciente, pois diversos meios de acoplamento repassam a energia mais facilmente [14]. Há de se considerar,
utilizados podem acarretar atenuação da energia irradiada ainda, que a transmissão depende da elasticidade do meio,
[6]. Os agentes de acoplamento são usados nas aplicações assim como de sua densidade, as quais, associadas à
de UST, em virtude deste não se propagar no ar, fazendo composição química, provavelmente interferem diretamente
com que o coeficiente de atenuação entre os dois meios na transmissividade [15].
envolvidos se torne similar e, assim, quase toda a intensidade Para que a energia produzida pelo ultra-som seja bem
incidente seja transmitida [7]. Para Casarotto [8], os produtos aplicada deve-se conhecer, quantitativamente, a velocidade
mais utilizados como acoplantes, no Brasil, são a vaselina, o do som e seu coeficiente de absorção, além da proporção
óleo mineral, o gel, as pomadas e os cremes. entre a quantidade de energia que atinge o paciente e a que
Muitas patologias exigem o uso tópico de medicamentos é perdida durante a transmissão no agente acoplante [16].
em seu tratamento, o que leva à necessidade de desenvolver Nesse contexto, considera-se que a transmissividade é
metodologias que possibilitem a associação de fármacos com inversamente proporcional à impedância [17]. Para a maioria
agentes físicos. Por isso, estão sendo usados métodos como dos líquidos e sólidos, se a energia acústica transmitida é
a iontoforese e a fonoforese, na tentativa de aumentar a alta e a impedância do agente acoplante é baixa, sua
permeação cutânea de fármacos [9]. temperatura será baixa (porque não houve grande atenuação
A fonoforese consiste na introdução, de medicamentos e o tecido a ser tratado foi atingido).
selecionados, nos tecidos biológicos, sob a influência do ultra- Existem várias técnicas de acoplamento que podem ser
som terapêutico [10]. realizadas na terapia com ultra-som, sendo a sua escolha
Frente ao exposto, o presente estudo tem como objetivo dependente da área a ser tratada [8]:
atualizar os conceitos sobre agentes de acoplamento
1. O método direto é aquele usado em superfícies lisas, onde
utilizados com ultra-som terapêutico e fonoforese, discutindo
o acoplamento (gel, óleo mineral, vaselina, pomadas e
alguns estudos realizados nessa área.
cremes) é colocado entre a pele e o transdutor;
2. O método indireto pode ser realizado de duas maneiras:
Desenvolvimento técnica de imersão (a área a ser tratada e o transdutor
ficam submersos num recipiente com água) e técnica do
Agentes acoplantes
balão de água (um balão é preenchido com água e
colocado entre o transdutor e a área a ser tratada). Essas
A interface metal-ar do transdutor ultra-sônico promove
duas técnicas são empregadas quando a superfície é
um índice de reflexão próximo a 100%. Por isso, para que a
irregular.
transmissão da energia ultra-sônica ocorra de maneira
adequada, possibilitando a transferência de energia entre o Apesar de descrita na literatura, a técnica indireta que
transdutor e a área a ser tratada, faz-se necessária a utilização utiliza meios intermediários não apresenta bons índices de
de um meio de acoplamento que impeça a formação de transmissividade. Em estudo realizado recentemente foi
camadas ou bolhas de ar nessa região [8]. analisada a transmissividade do ultra-som a 1,0 MHz em
A função do meio de acoplamento é excluir o ar existente colimadores, balões e luvas de látex. Independentemente
entre o transdutor e o tecido cutâneo no local de aplicação, dos meios intermediários utilizados, ocorre uma atenuação
possibilitando que a onda ultra-sônica chegue na região a próxima a 80 % da intensidade emitida. Dessa forma, esses
ser irradiada. Para Williams [11], alguns critérios precisam meios são contra-indicados para aplicações terapêuticas de
ser pensados ao se procurar um meio de acoplamento ideal, US, sendo a técnica subaquática apropriada em áreas onde
como por exemplo: impedância acústica similar a do tecido o acoplamento não é satisfatório [6], considerando que a
a ser irradiado, baixo coeficiente de absorção, disponibilidade, superfície corpórea deve estar sempre a 90 graus em relação
baixo custo e aceitabilidade geral. Meidan [12] acrescenta, à face do transdutor, para se evitar a reflexão e a refração
ainda, que um meio de acoplamento ideal deve exibir da energia incidente.
coeficiente de absorção similar ao da água e conservar O fármaco, incorporado ao meio de transmissão do US,
consistência gelatinosa à temperatura corpórea para, então, é colocado na pele na forma de gel, creme, pomada ou
manter o contato entre o transdutor e a pele. líquido [12], sendo os géis, eficientes meios de acoplamento
A transmissão da onda ultra-sônica, através de um meio para US, de acordo com os resultados de alguns estudos
de acoplamento, está relacionada às características desse [18].
meio, por isso há necessidade de uma seleção cuidadosa do Um questionário foi aplicado em clínicas de fisioterapia
material [13]. da cidade de Santa Maria (RS), através do qual pôde-se
Dentre os agentes de acoplamento, os líquidos, observar que, em 70% das clínicas, o agente de acoplamento
especialmente a água, são bons transmissores de onda ultra- mais utilizado foi o gel aquoso, o que condiz com os dados
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 213

da literatura. O gel medicamentoso e a vaselina também contínuo. Para isso, foi utilizada uma balança Medisonics
foram citados, sendo ambos utilizados em 15% das clínicas, para mensurar a potência acústica transmitida através de
enquanto a aplicação subaquática não foi citada [19]. cada acoplante. A superfície superior da câmara de
Um fator que pode alterar a transmissão da energia ultra- mensuração era composta por água desgaseificada e por
sônica através dos acoplantes é a freqüência utilizada nos uma membrama de Kapton, que permite 100% de trans-
aparelhos de UST. Sabe-se que, quanto maior a freqüência, missão da onda sonora, que separava os agentes de acopla-
menor a penetração no tecido, por isso há uma maior mento da água. Dessa forma, observou-se que os produtos
tendência do uso de freqüências próximas de 1 MHz [20]. na forma gel apresentavam alta transmissividade (acima de
Um outro fator que também pode afetar a transmis- 80%) e, conseqüentemente, baixa atenuação, enquanto que
sividade do US é a espessura da camada do agente de aco- os produtos na forma creme apresentavam baixa trans-
plamento. Quando se aplica uma fina camada de agente de missão. Cabe destacar que alguns produtos na forma creme
acoplamento, qualquer produto pode ser utilizado na terapia não apresentaram nenhuma transmissividade.
ultra-sônica, através da técnica de contato direto. Isso porque Os produtos: Feldene gel, Ibugel, Oruvail gel, Proflex
o efeito do coeficiente de atenuação não age significa- cream, Traxam gel e Voltarol emulgel foram analisados com
tivamente nesses casos [21]. o objetivo de identificar os anti-inflamatórios não esteroidais
Um estudo foi realizado para avaliar a transmissividade (NSAID) tópicos, cujas características são adequadas como
indireta de cinco agentes de acoplamento: Aquasonic gel, agente acoplante de UST [18]. Para isso, os autores utilizaram
glicerol, água destilada, acoplamento de eletrocardiograma um watímetro digital Bio-Tek (modelo UW – II) que media
(ECG) e parafina líquida, além do ar (ou nenhum agente de a potência acústica total e um US (Sonacel Multiphon II),
acoplamento). Os produtos foram testados com intensidades modo contínuo, com potência acústica total de 1.5 e 5.0 W
de 0.7, 1.4, 2.1, 2.8 e 3.5 W/cm2, no modo contínuo, sendo (equivalente a 0.3 e 1.0 W/cm 2 , respectivamente) e
as leituras tomadas em intervalos de 1 minuto por 5 minutos freqüências de 0.75, 1.5 e 3.0 MHz. A análise revelou
consecutivos. Os resultados mostraram que o Aquasonic diferenças significativas entre as freqüências do US, mas
gel foi o mais efetivo, transmitindo uma média de 72,60%, não apontou diferenças significativas entre as potências ou
seguido pelo glicerol e água destilada. O acoplamento de formulações tópicas. Quanto às freqüências só houve
ECG transmitiu apenas 26,60%, enquanto a parafina líquida diferença significativa quando se comparou 0.75 MHz com
transmitiu 19,06% e o ar, como esperado, não transmitiu 1.5 e 3.0 MHz, mas não quando foram comparadas 1.5 e
uma quantidade mensurável [15]. 3.0 MHz entre si. Segundo os autores, mesmo não havendo
A transmissividade ultra-sônica e a mudança da diferença significativa entre as formulações tópicas, eles
temperatura na glicerina, óleo mineral e água (da rede de observaram que os resultados sugerem que os géis trans-
abastecimento) também foram analisadas [17]. Para isso, mitem US mais eficientemente que os cremes.
foi utilizada a técnica de imersão com as seguintes distâncias A transmissividade acústica e as alterações térmicas da
entre transmissor e receptor: 0.5, 1.0, 2.0, 3.0, 4.0 e 5.0 cm. vaselina, óleo mineral, gel de carbopol e água desgaseificada
Para cada distância foram usadas as intensidades: 0.1, 0.5, foram avaliadas quando estes produtos se encontravam em
1.0, 1.5 e 2.0 W/cm2. Os resultados demonstraram que a situação de acoplamento ultra-sônico [21]. Para verificar as
transmissividade através da água foi significativamente características de transmissividade dos meios de acoplamento,
maior, quando comparada aos meios não aquosos, em todas foi utilizada uma célula para medição de densidade de líquidos
as intensidades e distâncias estudadas. Além disso, houve de Adamowski, que fornecia os resultados dos coeficientes
um maior aumento da temperatura nos meios não aquosos, de reflexão, atenuação e transmissividade, além da densidade
sendo maior com a glicerina, o que pode estar relacionado à e impedância dos acoplantes. A análise das perdas térmicas
maior absorção da onda ultra-sônica. dos mesmos foi realizada através da irradiação do US e do
Para um acoplante ser mais apropriado, ele precisa que aumento da temperatura no transdutor, registrado pela
suas características de viscosidade e transmissividade sejam colocação de um termopar na face interna do alumínio do
altas, precisa ter odor agradável ou neutro, baixo custo, além transdutor do aparelho de UST de 1 MHz (Bioset, modelo
de ter susceptibilidade a bolhas e atenuação baixas. Nesse Sonacel III). Foram usadas camadas de 0.5 e 0.3 mm de
contexto, 14 agentes de acoplamento foram analisados sob acoplante, as quais foram irradiadas pelo US por 5 minutos
essas características, o que permitiu concluir que os acoplan- numa intensidade de 1.0 W/cm2,, sendo realizadas 6 medidas
tes, em forma de óleo, apresentam uma alta taxa de atenua- para cada acoplante. Como resultado verificou-se que a água
ção da onda, ao contrário das formulações em gel [22]. e o gel possuem os menores coeficientes de reflexão e
Mais de 40 produtos tiveram sua transmissividade ultra- atenuação, apresentando a impedância acústica mais próxima
sônica testada [23]. Dessa forma, foram divididos em quatro da pele, o que acarreta menor reflexão nesta interface. Já os
grupos (agentes acoplantes de US, formulações para dados térmicos apontaram a vaselina e o óleo mineral como
inflamações, corticoesteróides tópicos e anestésicos locais), tendo o maior aquecimento, devido às características de
usando diferentes freqüências (0.75, 1.5 e 3.0 MHz) e regime condutividade térmica dos meios e não por perdas devido à
214 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

atenuação. Dessa forma, a conclusão da autora é que o gel 98%, 2nd Skin: 100% e Geliperm: 100%. Com isso, foi
é o produto que apresenta as características mais apropriadas possível concluir que o US pode ser aplicado sobre soluções
à transmissão das ondas sonoras. de continuidade, tendo como meio de acoplamento os
Catorze medicamentos utilizados na prática de fisiote- curativos avaliados nesse estudo.
rapeutas de Natal/RN foram avaliados [10]. O procedi-
mento inicial do trabalho constava de uma análise qualitativa Fonoforese
da transmissão ultra-sônica (baseado em modelo sugerido
por Cameron & Monroe – 1992), para isso o ultra-som era A fonoforese é definida como sendo o uso do ultra-som
ligado no regime contínuo e depois no pulsado, na freqüência para dirigir moléculas de fármacos através da pele [23].
de 1 MHz, com intensidade ajustada gradativamente de 0.2 Essa técnica envolve a aplicação de formulações tópicas
até 1.0 W/cm2. Os medicamentos considerados de condu- sobre a pele na área a ser tratada, associada à irradiação de
tividade negativa eram excluídos e os de condutividade posi- energia ultra-sônica [26].
tiva foram submetidos à análise quantitativa, que era realizada A fonoforese é um procedimento aceito na fisioterapia
através de uma balança semi-analítica. Como resultado da e que pode ser uma modalidade de tratamento eficaz. Os
análise qualitativa, 3 produtos obtiveram condutibilidade dados do questionário aplicado em 20 clínicas de fisioterapia
negativa (Inflamene creme, Iodex pomada e Gelol). Através na cidade de Natal-RN revelaram que 65% das clínicas
da análise quantitativa, 2 agentes tiveram transmissão ruim fazem uso da fonoforese [10].
(Clofenak gel: 30.9% e Proflam creme: 13.5%), 1 moderada Deve ser tomado um certo cuidado durante a aplicação
(Calminex pomada: 52.4%) e 8 boa (Feldene gel: 105.1%, da fonoforese, pois como já se sabe, esta pode acentuar a
Profenid gel: 102.7%, Gel Sonic: 95.4%, Voltarem emulgel: penetração transdérmica do fármaco, enquanto promove o
94.2%, Reparil gel: 93.6%, Nisulid gel: 89.7%, Cataflan efeito terapêutico do UST e, com o aumento da penetração
emulgel: 84.0% e Scaflan gel: 83.4%). do fármaco, pode-se aumentar os benefícios ou malefícios
De acordo com os estudos anteriormente apresentados, clínicos promovidos pelo medicamento no organismo [13].
observa-se que o gel é o meio que melhor transmite a onda Os mecanismos pelos quais o UST acentua a penetração
ultra-sônica, sendo, portanto, o agente de acoplamento de de fármacos ainda não estão muito bem esclarecidos, mas
UST mais indicado. suas propriedades térmicas e não-térmicas devem ser
Alguns curativos também podem ser utilizados como consideradas. O aquecimento provocado pelo UST aumenta
agentes de acoplamento para ultra-som e, na literatura, são a energia cinética das moléculas do fármaco e da membrana
encontrados artigos que sustentam seu uso. Um deles trata- celular, dilata os pontos de entrada dos folículos pilosos e
se de um estudo que avaliou o Geliperm como um agente glândulas sudoríparas e aumenta a circulação da área
de acoplamento estéril para US [24]. Geliperm é um gel irradiada. As características mecânicas não-térmicas do UST
impermeável à bactérias, contendo 96% de água, usado para podem aumentar a difusão de fármacos pela oscilação em
cobrir fraturas expostas, úlceras de decúbito, queimaduras, alta velocidade das células, mudanças no potencial de repouso
entre outros ferimentos. Os parâmetros do UST foram: da membrana celular e ruptura da membrana de algumas
freqüência de 1 MHz, intensidade de 0.5 W/cm2 e modo células da área irradiada. A cavitação é uma propriedade
contínuo. Primeiramente, o experimento foi feito sem o mecânica do UST que pode alterar o transporte de fármacos,
Geliperm e depois com este interposto entre a balança de através do estresse mecânico, elevação da temperatura ou
radiação e o transdutor, sendo que as amostras (3.3 mm de aumento da reatividade química que ocasiona [27].
espessura e 5 cm2) ficavam submersas em água durante o Dentre variáveis que podem alterar a eficácia da
experimento. Sob essas condições, as amostras de Geliperm fonoforese estão os parâmetros de tratamento, que deveriam
permitiram a transmissão de 95% da potência incidente, ser selecionados a partir de critérios científicos. Ao invés
mostrando ser um acoplante eficiente com US, sem que disso, o que vemos é que a escolha dos parâmetros decorre
houvesse risco de infecção ou irritação mecânica causada de idéias subjetivas de fisioterapeutas e de clínicas individuais
pelo movimento do transdutor. [12].
Outro trabalho, que segue a mesma linha do anterior- Um dos primeiros relatos de caso realizados sobre a
mente citado, investigou a transmissividade acústica em eficácia da fonoforese foi utilizando a hidrocortisona para
alguns curativos, pois, dessa forma, o US poderia ser aplicado, o tratamento da disfunção têmporo mandibular (DTM).
promovendo reparação em feridas abertas [25]. Nos Para isso, utilizou-se um UST no modo contínuo por 8
experimentos, utilizou-se um UST com freqüências de 1 e minutos com uma intensidade de 1.0 a 1.5 W/cm2 (até que
3 MHz e os curativos (Geliperm, 2nd Skin, Opsite e o paciente sentisse um calor agradável) e uma pomada de
Granuflex film). Os valores da transmissividade foram hidrocortisona a 10% [28]. A autora observou, ao final do
comparados à água obtendo-se para 1 MHz: Granuflex: tratamento (10 sessões), aumento da amplitude de movi-
80%, Opsite: 98%, 2nd Skin: 99% e Geliperm: 100%. Com mento (de 16 para 32 mm) e diminuição da dor (de 10 para
3 MHz os resultados obtidos foram: Granuflex: 73%, Opsite: 3 quando mastigava alimentos sólidos).
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 215

Num estudo com 77 fisioterapeutas do Norte da Conclusão


Califórnia, foi aplicado um questionário sobre a utilização
da fonoforese [13]. 77% dos fisioterapeutas afirmaram usar, Alguns meios de acoplamento podem interferir na
regularmente, o ultra-som através da fonoforese durante o eficácia da terapia ultra-sônica e na fonoforese, por
tratamento de seus pacientes. O fármaco mais utilizado por apresentarem baixa transmissividade. A literatura nos mostra
esses profissionais foi a hidrocortisona, nas concentrações que os géis são os melhores meios para serem empregados
10 e 1%, sendo a primeira concentração utilizada por 81% com o UST. Por isso, é importante que o profissional faça
dos entrevistados. Quanto aos meios de transmissão mais uma cuidadosa seleção do acoplante a ser empregado, levando
utilizados, estão o creme (46%) e creme misturado com gel em consideração preceitos científicos. De nada adiantará
para ultra-som (44%). Além disso, nesse mesmo estudo pensar, apenas, nos parâmetros físicos do aparelho de UST,
avaliou-se a transmissão de UST através de alguns meios, se o agente de acoplamento não for bem selecionado.
usando uma balança de força de radiação (Ohmic – UPM No Brasil, existem poucas pesquisas com relação à
30) e um UST. O aparelho de UST gerava uma potência de fonoforese e aos agentes de acoplamento de UST. Por isso,
0-3 W/cm2, numa freqüência de 1MHz e ERA de 8.5 cm2, há necessidade de que mais estudos sejam desenvolvidos
sendo que o transdutor era coberto por uma camada de 5 nessa área, a fim de averiguar a transmissividade dos
mm de agente acoplante. Como resultado, os acoplantes acoplantes utilizados pelos profissionais brasileiros e o modo
utilizados foram divididos em dois grupos: boa transmissão e os parâmetros que são empregados durante a fonoforese
(transmissão maior que 80%) e transmissão ruim (menor ou a terapia ultra-sônica convencional.
que 40%). Os géis corticoesteróides, creme de metil salicilato
e outros meios, especialmente formulados para serem usados Referências
com US, se encaixaram no primeiro grupo e os géis de US,
misturados com pó de acetato de hidrocortisona, no segundo. 1. Näslund J. Modes of sensory stimulation – clinical trials and
As autoras desta pesquisa acreditam que o gel de US physiological aspects. Physiotherapy 2001;87(8):413-23.
misturado com hidrocortisona apresentou baixa transmissão, 2. Warden SJ, McMeeken JM. Ultrasound usage and dosage in
sports physiotherapy. Ultrasound in Medicine & Biology
em função das partículas do fármaco gerarem reflexão do
2002;28(8):1075-80.
US. 3. Guerino MR, Luciano E, Gonçalves M, Leivas TP. Aplicação
Uma meta-análise foi realizada com o intuito de averiguar do ultra-som pulsado terapêutico sobre a resistência mecânica
a relevância e a confiabilidade da fonoforese nas desordens na osteotomia experimental. Rev Bras Fisioter 1997;2(2):63-
músculo-esqueléticas, e sua utilização clínica [20]. Para isso, 6.
foram selecionados 56 artigos de 1954 a 2001, que foram 4. Guirro ECO, Guirro R, Ferreira AL. Efeitos da estimulação
submetidos a critérios de inclusão e exclusão, resultando em ultra-sônica pulsada de baixa intensidade no processo cicatricial:
apenas 6 artigos. estudo experimental em ratos. Rev Cienc Tecnol 1995;2(8):37-
Acreditando-se que a metodologia relatada pudesse ser 47.
5. Ter Haar G. Therapeutic ultrasound. Eur J Ultrasound
adequada para obter conclusões sobre a utilização da
1999;9:3-9.
fonoforese como recurso terapêutico, foram elaborados 6. Guirro R, Cancelieri AS, Sant’Anna IL. Avaliação dos meios
parâmetros para avaliação: grupo controle, estudo duplo- intermediários utilizados na aplicação do ultra-som terapêutico.
cego, estudo aleatório, fármaco – tipo de antiinflamatório Rev Bras Fisioter 2001;5(2):49-52.
(esteroidal ou não), fármaco manipulado na forma gel, valor 7. Okuno E, Caldas IL, Chow C. Física para Ciências Biológicas
de concentração do fár maco no gel, calibração do e Biomédicas. São Paulo: Harbra; 1986.
equipamento de ultra-som, 10 amostras no mínimo, 10 8. Casarotto RA. Agentes acoplantes em fisioterapia: perdas
sessões no mínimo, modo de emissão das ondas acústicas acústicas e térmicas. [Tese]. São Paulo: Escola Paulista de
do equipamento (contínuo ou pulsado), freqüência do Medicina, Universidade Federal de São Paulo; 1999. 51f.
transdutor, intensidade, tempo/ERA e mensuração da dor. 9. Machet L et al. In vitro phonophoresis of mannitol, oestradiol
and hydrocortisone across human and hairless mouse skin.
Para a execução da meta-análise, esses parâmetros
Int J Pharm 1998;165:169-74.
funcionaram como filtros, verificando a relevância e 10. Brasileiro JS, Alves TC, Escóssia CC. Análise da
confiabilidade desses artigos. Após esses procedimentos, os transmissibilidade ultra-sônica de medicamentos utilizados
autores observaram que nenhum estudo seguiu inteiramente na prática da fonoforese. Rev Bras Fisioter 2003;7(2):139-144.
os critérios propostos, por isso, eles colocam em dúvida a 11. Williams R. Production and transmission of ultrasound.
relevância e a confiabilidade dos resultados obtidos, em razão Physiotherapy 1987;73(3):113-6.
das falhas no processo de elaboração da pesquisa ou omissão 12. Meidan VM, Walmsley AD, Irwin WJ. Phonophoresis – is it
de parâmetros importantes. a reality? Int J Pharm 1995;118:129-49.
Dessa forma, novas investigações precisam ser feitas a 13. Cameron MH, Monroe LG. Relative transmission of
ultrasound by media customarily used for phonophoresis.
fim de estabelecer as condições ideais para o uso da
Phys Ther 1992;72(2):142-8.
fonoforese.
216 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

14. Wood EJ. Ultra sound as I see it. Physiotherapy 1973;3-7. 22. Docker MF, Patrick MK, Foulkes DJ. Ultrasound couplants
15. Reid DC, Cummings GE. Efficiency of ultrasound coupling for Physiotherapy. Physiotherapy 1982;68(4):124-5.
agents. Physiotherapy 1977;63(8):255-7. 23. Benson HAE, McElnay JC. Transmission of ultrasound
16. Reid DC, Cummings GE. Factors in selecting the dosage of energy through topical pharmaceutical products. Physiotherapy
ultrasound: with particular reference to the use of various 1988;74(11):587-9.
coupling agents. Physiother Can 1973;25(1):5-9. 24. Brueton RN, Campbell B. The use of geliperm as a sterile
17. Griffin JE. Transmissiveness of ultrasound through tap water, coupling agent for therapeutic ultrasound. Physiotherapy
glycerin and mineral oil. Phys Ther 1980;60(8):1011-6. 1987;73(12):653-4.
18. Benson HAE, McElnay JC. Topical non-steroidal anti- 25. Pringle DW. Therapeutic Ultrasound: Acoustic
inflammatory products as ultrasound couplants: their potential transmissiveness of wound dressings. Physiotherapy
in phonophoresis. Physiotherapy 1994;80(2):74-6. 1995;81(4):240.
19. Agne, JE, Franco CW, Griebeler D, Petri FC. O uso do ultra- 26. Benson HAE, McElnay JC, Harland R. Use of ultrasound to
som terapêutico em clínicas de fisioterapia da cidade de Santa enhance percutaneous absorption of benzydamine. Phys Ther
Maria – RS – Brasil. Fisioter Mov 2003;16(2):11-6. 1989;69(2):113-8.
20. Parizotto NA, Koeke PU, Moreno BGD, Lourencin FTC. 27. Byl NN. The use of ultrasound as an enhancer for
Utilização da fonoforese em desordens músculo-esqueléticas: transcutaneous drug delivery: phonophoresis. Phys Ther
uma meta-análise. Rev Brás Fisioter 2003;7(1):9-15. 1995;75(6):539-53.
21. Casarotto RA, Adamowski JC, Fallopa F, Bacanelli F. Coupling 28. Wing M. Phonophoresis with hydrocortisone in the treatment
agents in therapeutic ultrasound: acoustic and thermal of temporomandibular joint dysfunction. Phys Ther
behavior. Archives Physical Medicine and Rehabilitation 1982;62(1):32-3. J
2004;85:162-5.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 217

Revisão

Desmame da prótese ventilatória de recém-nascidos:


uma questão em aberto
Weaning from mechanical ventilation in new-born:
an open question
Soraya Calixto*, Heitor S. Lopes, D.Sc.**, Esperidião E. Aquim, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Mestranda em Bioengenharia CEFET / UTI Neonatal / Hospital Evangélico, **Bioengenharia USP / CPGEI /
Centro de Educação Tecnológica do Paraná, ***Universidade Tuiuti do Paraná

Resumo Abstract
Atualmente, pouco se sabe sobre a prevalência da falha Nowadays, little is known about the prevalence of weaning
na extubação em neonatologia. Grande número de pacientes failure in neonatology. A great number of pacients returns to the
acaba retornando ao respirador, provavelmente, em virtude mechanical ventilation, probably, due to the inexistence of a protocol
da inexistência de um protocolo para desmame da ventilação mecâ- for weaning from mechanical ventilation in new-born. There are
nica em recém-nascidos. Não existem critérios que garantam o no criterium that assure the success of weaning in new-born as we
sucesso na extubação em neonatos, como podemos obter em have in adults. The definition that the new-born can maintain
adultos. A definição de que o neonato é capaz de manter a sua their own spontanous ventilation is still controversial and difficult
ventilação espontânea ainda é controversa e de difícil mensuração. to evaluate. Due to this reason, the weaning failure in adults is
Por esse motivo, o índice de falha na extubação em adulto situa- approximately betwen 3% to 19%, while in the new-born is much
se entre 3 e 19%, enquanto que no neonato é bem maior, situando- higher, around 22% to 30%. This literature review shows the
se entre 22 e 30%. Esta revisão bibliográfica tem como objetivo physiological and anatomical differences of the new-born pre-term,
caracterizar as diferenças anatômicas e fisiológicas do recém-nascido as well as the difficulties of adapting them to the required modality.
pré-termo, bem como a dificuldade em adaptá-lo na modalidade This is due to several reasons that lengthen the removal of the
assistida, as quais prolongam a retirada do respirador, reforçando mechanical ventilation reinforcing the real need of creating specific
a real necessidade da criação de protocolos específicos de desmame. weaning protocols for new-born.
Palavras-chave: ventilação mecânica, desmame, recém-nascido. Key-words: mechanical ventilation, weaning, new-born.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Segundo Cuello et al. [4], a fisioterapia passou a ser


imprescindível nas UTIN, desempenhando um papel
Os avanços tecnológicos dos equipamentos de suporte importante no reconhecimento dos problemas inerentes
à vida e a presença de uma equipe multidisciplinar de a prematuridade e suas complicações, favorecendo a esco-
profissionais especializados nas Unidades de Terapias lha de técnicas fisioterapêuticas apropriadas no intuito
Intensivas Neonatais (UTIN) têm proporcionado uma de manter a função pulmonar adequada.
redução no índice de mortalidade, principalmente em A imaturidade orgânica, como um todo, é uma das
recém-nascidos pré-termos (RNPT), com idade gesta- principais barreiras a serem enfrentadas pelo RN. Em
cional inferior a 37 semanas [1,2,3]. muitos casos, seus sistemas ainda não estão completamente
aptos à realização efetiva de suas funções [5,6].

Artigo recebido em 9 de dezembro de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: E-mail: esperidiao@inspirar.com.br e sorayazacharias@hotmail.com
218 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Um dos sistemas mais influenciados por este fator é o máticas resistentes à fadiga (fibras oxidativas de contração
pulmonar, em que peculiaridades anatômicas e fisiológicas lenta ou tipo I), provoca, em particular no RNPT, uma
interferem na dinâmica respiratória do neonato, respiração paradoxal e pouco efetiva, ainda mais, quando
principalmente do RNPT, como citado anteriormente. associadas a processos patológicos, sendo de suma
importância o suporte ventilatório adequado.
Desenvolvimento
Suporte ventilatório
Kopelman et al. [7] citam que, após o nascimento, o
processo de desenvolvimento e crescimento pulmonar A introdução da ventilação pulmonar mecânica (VPM)
continua, com remodelamentos consideráveis em sua nas UTIN tem proporcionado aumento na sobrevida dos
estrutura, até por volta dos oito anos de idade (Tabela I). recém-nascidos. Por outro lado, essa diminuição da
mortalidade tem levado a um aumento na incidência de
Tabela I - Alterações do tamanho pulmonar com o crescimento.
seqüelas pulmonares e neurológicas, tais como a doença
30 RNT Adulto Aumento pulmonar crônica (broncodisplasia pulmonar) e a
semanas após hemorragia peri ou intraventricular [11,12].
nascimento Os objetivos principais da ventilação mecânica (VM)
Volume (ml) 25 120 – 150 5000 23 vezes no período neonatal são:
Peso (g) 20 – 25 50 800 16 vezes • Reduzir as alterações da relação ventilação/perfusão
Número
(V/Q), mantendo uma pressão arterial de oxigênio (PaO2)
de alvéolos – 50 x 106 300 x 106 6 vezes
Superfície (m2) 0,3 3–4 75 – 100 23 vezes normal, ou em torno de 60 mmHg;
Diâmetro (mm) 32 150 300 2 vezes • Melhorar a ventilação alveolar, mantendo uma PaCO2
Número adequada;
de vias aéreas 24 24 24 Constante • Diminuir o trabalho respiratório, evitando a fadiga
muscular.
Entre as diversas fases do desenvolvimento pulmonar,
na canalicular, que é caracterizada pelo período compreen- Pelo custo, facilidade de manipulação e utilização de
dido entre a 17ª e 26ª semana gestacional, observa-se cânula sem o cuff nas UTIN, que dificulta a mensuração
um crescimento maior, tanto em número quanto em do volume corrente (VC), recomenda-se o uso de venti-
tamanho, das estruturas respiratórias (bronquíolos respira- ladores ciclados a tempo, limitados a pressão e de fluxo
tórios, ductos alveolares e alvéolos), comparadas com as contínuo [13,14,15].
vias aéreas condutoras.
Após o nascimento, a expansão dos sítios de trocas Ventilação mecânica neonatal
gasosas ocorre às custas da alveolização.
Outros fatores interferem na dinâmica respiratória do RN, Nas últimas décadas, todo empenho científico em
tais como a imaturidade do centro respiratório e as variações ventilação mecânica foi direcionado ao paciente adulto,
nas concentrações de oxigênio e dióxido de carbono (CO2). com poucas repercussões na ventilação mecânica neonatal.
Enquanto o adulto apresenta hiperventilação como As modalidades de ventilação mecânica permitem a
resposta à hipóxia, o RN demonstra um padrão de res- respiração assistida e a assistida-controlada ou espontânea, com
posta bifásica, caracterizada por um aumento na ventilação a finalidade de promover melhor interação entre o paciente e
nos dois minutos iniciais, seguido por um decréscimo, uma o respirador, objetivando melhor intercâmbio gasoso [16,17].
Os objetivos principais da modalidade assistida são:
vez que a hiperventilação inicial não é mantida [8,9,10].
A resposta ventilatória à hipercapnia é medida por • melhorar a troca gasosa (V/Q);
quimioreceptores centrais, sensíveis às variações na pressão • diminuir a sobrecarga da musculatura respiratória;
arterial de dióxido de carbono (PaCO2), que determinam • prevenir complicações relacionadas com a ventilação
aumento na freqüência respiratória e no volume corrente mecânica, tais como pneumotórax e sobrecarga da
(VC). Nos recém-nascidos, existe uma menor sensibilidade musculatura respiratória;
ao CO 2, em decorrência da imaturidade dos quimio- • facilitar o desmame da ventilação mecânica.
receptores centrais.
O predomínio de estruturas cartilaginosas que levam Ventilação assistida
à uma caixa torácica muito complacente, às costelas
situadas horizontalmente em relação ao diafragma A ventilação pulmonar mecânica assistida fornece uma
(proporcionando uma zona de oposição mínima entre as respiração com pressão positiva em resposta ao esforço
duas estruturas) e ao pequeno número de fibras diafrag- inspiratório do paciente.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 219

Para fornecer este modo de ventilação, o aparelho deve qual não possibilita uma ventilação assistida, e o Inter 3R,
ter um mecanismo denominado de assistido. Caso esse que pode ser acoplado a um módulo de sincronismo opcional,
mecanismo não esteja incorporado ao aparelho de VPM, o através de um sensor de fluxo, que permite a ventilação
paciente não poderá iniciar a fase inspiratória. O disparo assistida e sincronizada (SYNC).
(“gatilho”), habitualmente, é iniciado por uma pequena queda Uma característica que limita a utilização do SYNC é o
na pressão da via aérea no início da inspiração do paciente. sensor de sensibilidade, que é adaptado entre o intermediário
Stephanie [18] cita que, para estabelecer a eficácia do da cânula do paciente e o “Y” da traquéia do respirador.
mecanismo assistido, deve-se avaliar dois parâmetros: Sendo um sensor muito sensível, qualquer partícula de água
sensibilidade e tempo de resposta. condensada no circuito do respirador ou secreção traqueal
do paciente pode levar a inutilização do sensor, voltando o
Sensibilidade paciente para uma ventilação mandatória intermitente.
Por outro lado, conforme Barrinfton et al. [23], quando
A sensibilidade é o parâmetro que determina o esforço o paciente desencadeia o ciclo inspiratório no aparelho,
inspiratório necessário para desencadear o gatilho do o grau de alívio da sobrecarga de trabalho respiratório
aparelho de VPM. Habitualmente, o paciente inala um depende do sincronismo entre o fluxo de gás do aparelho
pequeno volume de gás do circuito do respirador, ocasio- e a demanda ventilatória do paciente. Ao contrário, se hou-
nando uma queda de pressão que ativa o mecanismo assistido. ver uma perda de sincronismo, isso pode dar origem a uma
Alguns mecanismos podem responder a uma queda de troca gasosa inadequada, resultando em hipoxemia e/ou
volume ou fluxo em vez da queda de pressão. Utiliza-se hipercapnia, aumento da sobrecarga da musculatura respi-
uma relação para determinar a eficiência do mecanismo de ratória, aumento da pressão intratorácica e comprometi-
sensibilidade: mento da função cardiovascular [24].
Sensibilidade (%) = ( VI/VC )100 em que VI é volume Vários motivos podem resultar na perda de sincronis-
inspirado e VC é volume corrente. mo entre paciente e respirador, a saber:
• um aparelho muito ou pouco sensível;
Tempo de resposta • um fluxo inspiratório insuficiente;
• tempo inspiratório prolongado;
Desde que haja um esforço respiratório adequado, o • pressão inspiratória inadequada;
aparelho de VPM deve responder a uma respiração e fornecê- • tempo expiratório curto, com a freqüência respiratória
la em um tempo razoavelmente curto. Um tempo de resposta alta, ocorrendo uma hiperinsulflação dinâmica e alta
lento causa perda de sincronismo entre o paciente e o PEEP (pressão expiratória positiva final).
respirador. Quando isto ocorre pode haver um aumento na Outros fatores também podem interferir no mecanismo
PCO2 e vários outros efeitos como agitação, hipóxia, do gatilho do paciente em relação à sensibilidade do aparelho:
barotrauma e hemorragia intraventricular.
O tempo de resposta é definido como retardo de tempo • erros em virtude da velocidade do sinal de pressão;
entre o esforço inspiratório inicial e o momento que a • erros em decorrência do mostrador digital do transdutor
respiração assistida atinge a via aérea do paciente. de pressão;
• falha do sistema de gatilho, levando a um aumento do
Tempo de resposta (%) = tempo de resposta do VPM
trabalho respiratório e, posteriormente, à fadiga muscular.
/ Ti ? 100 onde Ti é o tempo inspiratório do paciente.
Estes motivos, associados às características anatômicas
Tipos de mecanismos assistidos e fisiológicas do neonato, dificultam a permanência deste
paciente na modalidade assistida [17,18,24].
Segundo Carvalho et al. [19-22], existem vários tipos de
mecanismos assistidos acoplados ao respirador, os quais Ventilação por pressão de suporte (PSV)
podem funcionar pneumaticamente, eletronicamente ou uma
combinação de ambos, tais como: É um modo assistido de ventilação muito utilizado em
adultos, porém, na literatura de neonatologia encontra-se
• Pneumáticos;
pouco relato sobre sua utilização [18,25].
• Eletro-pneumático;
Considerando este método como espontâneo, o pacien-
• Transdutor de pressão;
te necessita de um estímulo respiratório efetivo.
• Sensores de superfície corpórea.
Ao iniciar o ciclo respiratório, o ventilador fornece um
A dificuldade em obter respiradores com a modalidade fluxo gasoso necessário para alcançar e manter uma pressão
espontânea nas UTINs deve-se ao alto custo dos pré-determinada pelo aparelho de VPM.
equipamentos disponíveis no mercado, tornando difícil sua O paciente controla o ciclo respiratório. O volume
aquisição. Os respiradores mais utilizados são o Sechrist, o corrente (VC) depende do tempo e da intensidade com que
220 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

o paciente realiza o esforço inspiratório e das condições • estabilização hemodinâmica;


mecânicas do sistema respiratório, ou seja, da complacência • diurese efetiva;
e da resistência. • gasometria arterial adequada;
Esse método é extremamente dependente de mecanismos • suporte nutricional adequado;
assistidos. Portanto, os gatilhos por pressão ou fluxo, podem • integridade músculo-esquelética;
resultar em autociclagem por diversos motivos, como: • função pulmonar adequada.
• extravasamento de ar ao redor da cânula endotraqueal;
• perda de ar, que pode ocorrer no circuito do respirador; Critérios fisiológicos
• oscilações de água condensadas no circuito do aparelho;
• observação de falso gatilho, nos sistemas que utilizam Os parâmetros fisiológicos capazes de predizer o sucesso
movimentos abdominais. do desmame da VM devem ser de fácil mensuração e devem
objetivar a avaliação da capacidade ventilatória e a oxigenação
A grande vantagem desse método é o sincronismo
adequada.
entre o paciente e o aparelho de ventilação, proporcio-
Segundo Steven [17], os parâmetros devem ser
nando um conforto respiratório e, conseqüentemente,
objetivos, facilmente reprodutíveis, ter coerência com a
uma melhor troca gasosa.
fisiopatologia da insuficiência respiratória e ser de fácil
Por outro lado, a falha desse sistema de gatilho pode
realização, de preferência, à beira do leito.
levar ao aumento do trabalho respiratório e, posterior-
A monitoração da troca gasosa é facilmente feita por
mente, à fadiga muscular respiratória [16,25,26].
meio da oximetria de pulso, da capnografia e da análise
dos gases arteriais. Não existem critérios objetivos que
Descontinuação do suporte ventilatório
garantam o sucesso na extubação em recém-nascidos,
como se pode obter em adultos pela espirometria,
A iniciativa de retirar um paciente da prótese ventilatória
manovacuometria, índice de Yang e Tobin, entre outros.
torna-se tão importante quanto a decisão de instituí-la, pois sua
má utilização e seu uso prolongado podem acarretar Estes parâmetros auxiliam a avaliação funcional
complicações adicionais a sua patologia de base [27]. pulmonar. Parâmetros fora dos limites da normalidade
Nota-se que a ventilação mecânica (VM) é uma medida podem predizer o fracasso do desmame. No entanto, o
de suporte e não é curativa. Uma vez instituída, para minimizar inverso não traduz, necessariamente, sucesso.
seus efeitos colaterais, opta-se por regimes menos agressivos, Chemello et al. [5] relatam que a permanência de
com o objetivo de suspendê-la o mais breve possível [28,29]. RNPTs, por um tempo maior do que 7 dias em VM,
O desmame é o nome dado ao processo de retirada da VM. seria causa direta da falha na extubação. Este tempo
Os pacientes que requerem curto espaço de tempo de suporte prolongado é conseqüência de uma patologia de base mais
ventilatório, como aqueles em recuperação anestésica, não séria, que influencia na evolução em longo prazo.
necessitam de um programa de desmame [30,31]. Conseqüentemente, um longo período de ventilação
O desmame deve ser empregado nos pacientes cuja mecânica induz à atrofia da musculatura diafragmática e
musculatura respiratória está debilitada, envolvendo todos os incoordenação motora, o que proporciona maior dificul-
fatores que podem contribuir para desenvolver adequadamente dade no processo de desmame.
a força e a “endurance” da musculatura respiratória [32,33]. A dificuldade em colocar o RNPT em ventilação
Antes de considerar a liberação da VM, qualquer assistida pode prolongar a permanência do paciente em
impedimento clínico ou fisiológico deve ser identificado para ventilação mecânica. Muitas vezes, ele é retirado de uma
que os objetivos possam ser atingidos com sucesso, como a ventilação mandatória intermitente para o CPAP (pressão
resolução da doença de base [34,35]. positiva contínua na via aérea), ou campânula de oxigênio
Usualmente, inicia-se o desmame conforme a tolerância [37,38].
do paciente em reassumir a ventilação espontânea até o A ventilação assistida auxilia a força e a “endurance”
momento em que ele tenha condições de suportá-la com da musculatura respiratória, facilitando o processo de
uma troca gasosa efetiva [3,36]. desmame da VM.
Outro fator limitante é a imaturidade orgânica como
Critérios para a realização do desmame um todo, tendo em vista que vários fatores contribuem para
sua insuficiência: a imaturidade do centro respiratório, o
Critérios clínicos reduzido calibre das vias aéreas, acentuada complacência
torácica, entre outras características citadas anteriormente,
Conforme Khan et al. [35], os pacientes devem apresentar: prejudicam a função pulmonar.
Estas circunstâncias acima citadas, associadas com a
• resolução ou melhora da causa determinante da insuficiência
falta de protocolos de desmame para o RNPT, levam a
respiratória, ou seja, estabilização da doença de base;
um alto índice de reentubações.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 221

Conclusão 10. Ryan CA, Finer NN. Nasal intermittent positive-pressure


ventilation offera no advantages over nasal continuos
Vários livros, textos e artigos têm publicado guias para positive airways pressure in apnea of prematury. Am J
orientar a suspensão da ventilação mecânica, já bastante Dis Child 1989;143:1196-8.
11. Luchi JL, Benetts FC. Predictours of neurodevelopment
utilizados em adultos, entretanto, não objetivamente
outcome following bronchopulmonary dysplasia. Am J
validados em RNs.
Dis Child 1991;145:813-7.
A incapacidade de suportar uma ventilação espontânea 12. Morris FC. Postintubation sequelae. In: Levin, Morris,
tem origem multifatorial, sendo difícil reconhecer todas Moore (eds). A practical guide to pediatric intensive care.
as condições ideais para extubar um paciente, tanto adulto 2a ed. St. Louis: Mosby. p.191-6.
como criança. 13. Lima EL, Mangia CMF, Carvalho WB. Ventilação de
Quando ocorre falha na extubação, ou seja, RNs que alta freqüência em pediatria. Rev Bras Ter Intensiva
retornam para VM em menos de 48 horas, deve-se procurar 1999;11(2):62-77.
mecanismos fisiopatológicos que expliquem tal fato. 14. Lin CH, Wang ST, Lin YJ. Efficacy of nasal intermittent
Normalmente, deve-se à resolução incompleta da doença positive pressure ventilation in treating apnea of
de base, o aparecimento de novos problemas ou prematurity. Pediatr Pulmonol 1998;26:349-53.
15. Mariani GL, Carlo WA. Ventilatory managemente in
complicações, como fadiga da musculatura respiratória ou
neonate. Clin Perinatol 1998;25:33-48.
imaturidade orgânica, entre outros.
16. Lopes RS. Modos de ventilação pulmonar mecânica. In:
Existem características e modalidades de respiradores Carvalho WB, Kopelman BI. Ventilação pulmonar mecânica
que têm por finalidade facilitar o desmame, tais como a em neonatologia e pediatria. São Paulo: Lovise; 1995. p.17-32.
ventilação assistida ou a pressão de suporte. Entretanto, são 17. Steven MD, Donn MD, Sunil K, Sinha MD. Invasive and
poucos os trabalhos relatando sua utilização na neonatologia. noninvasive neonatal mechanical ventilation. Respir Care
Uma boa avaliação clínica é básica para permitir a 2003;48(4).
retirada do suporte ventilatório. Porém, da mesma forma 18. Stephanie DD. Neonatal and pediatric respiratory
que os critérios para indicar uma intubação traqueal não diagnostics. Respir Care 2003;48(4).
são precisos, também não se dispõe de critérios bem 19. Carvalho CR. Ventilação mecânica. Vol. II - Avançado.
definidos para o momento certo da extubação. Rio de Janeiro: Atheneu; 2002.
Obviamente, mais estudos são necessários para que se 20. Carvalho CRR, Amato MB, Barbar CSV. Monitorização
da mecânica respiratória. In: Terzi RGG. Clínicas
possa definir com exatidão o reconhecimento do momento
brasileiras de medicina intensiva. Vol. 5. Atheneu; 1998.
ideal para realizar a extubação e quais as situações de maior 21. Carvalho WB. Ventilação pulmonar mecânica no período
risco para a falha da mesma. neonatal. In: Carvalho WB. Terapêutica intensiva
pediátrica. São Paulo: Atheneu, 1997. p.373-8
Referências 22. Carvalho WB, Jiménez HJ, Sasbón JS. Ventilación
pulmonar mecânica em pediatria. São Paulo: Atheneu
1. Avery GB, Fletcher MA, MacDonald MG. Fisiopatologia e Hispânica; 2001.
tratamento do RN. 4 ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. 23. Barrinfton KJ, Bull D, Finer NN. Randomized trial of nasal
2. David C. Ventilação mecânica: da fisiologia ao consenso. synchronized intermittent mandatpry ventilation compared
Rio de Janeiro: Revinter; 1996. with continuos positive airway pressure after extubation of
3. Gursahaney AH, Gottfried SB. Desmame da ventilação very low birth weight infants. Pediatrics 2001;107:638-41.
mecânica. In: Stock MC, Perel A. Manual de suporte 24. Boynton BR, Chammond MD. Pulmonary gás exchange:
ventilatório mecânico. 2a ed. São Paulo: Manole; 1999. basic principles and the effects of mechanical ventilation. In:
4. Cuello AF, Aquim EE, Masciantonio L. Terapêutica BR Boyton, WA Carlo. New terapies for neonatal tespiratocry
funcional respiratória del recién nacido. Buenos Aires: failure. New York: Cambridge Univ. Press; 1994. p.115-30.
Intermédica; 1993. 25. Pachi PR, Bittar R. Outras modalidades de assistência. In:
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ventilatório em crianças. Porto Alegre: Revista Médica PUC- Revinter; 2000. p.141-3.
RS 2001;11(3):191-5. 26. Terzi RGG. Histórico da medida e monitorização da mecânica
6. Goldsmith JP, Karotkin EH. Introduction to assited respiratório. In: Terzi RGG. Clínicas Brasileiras de Medicina
ventilation. In: Goldsmith JP, Karotkin EH. Assisted Intensiva. vol. 5. [S.l]: Atheneu; 1998. p.1-10.
ventilation of neonate. 2a edição. Philadelphia: Saunders; 1998. 27. Finer N, Body J. Complications: bronchopulmonary
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7. Kopelman B, Miyishi M, Guinsburg R. Distúrbios respiratórios Goldsmith J. Assisted ventilation of the neonate. Philadelphia:
no período neonatal. Rio de Janeiro: Atheneu; 1998. W.B. Saunders Company; 1996. p.327-52.
8. Ramos JR, Odeh CSA, Lopez JMA. Mecânica pulmonar do 28. Benzo R, Marks P, Teba L. Non-invasive mechanical ventilation:
recém-nascido normal. J Pediatr 1994;70:163-6. the benefits of the BiPAP system. W V Med J 1996;92:18-21.
9. Rebello CM, Costa SAV, Moreira JR. Ventilação pulmonar 29. Troster EJ. Assistência respiratória no período neonatal. In:
mecânica: condução no recém-nascido. Pediatr Mod Marcondes E. Pediatria básica. 8a ed. São Paulo: Sarvier; 1994.
2000;26:54-7. p.380-2.
222 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

30. Fortenberry J, Del Torro J, Fefferson L, Haase D. Management 35. Khan N, Brown A, Ventaraman ST. Predictors of
of pediatric acute hypoxemic respiratory insufficiency with extubation success and failure in mechanically
bilevel positive pressure (BiPAP) nasal mask ventilation. Chest ventiled infants and children. Crit Care Med
1995; 108 (S.l.): 1059-64. 1996;24:1568-79.
31. Friedlich P, Lecart C, Posen R, Romocone E, Chan L, 36. Korones SB. Complications: bronchopulmonary
Ramanathan RA. Randomized trial of nasopharyngeal- dysplsia, air leal syndromes and retinopathy of prematurity.
synchronized intermittent mandatory ventilation versus In: Goldsmith, JP, Karotkin EH. Assisted ventilation of the
nasopharyngeal continuos positive airway pressure in very low neonate. 3a ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 1996.
birt weight infants aftr ectubation. J Perinatol 1999;19:413-8. p.327-52.
32. Greenough A, Chan V, Chird MD. Positive end expiratory 37. Guerin C, Girard R, Chemorin C, Devarax R, Fournier
pressure in acute and chronic neonatal respiratory. Arch Dis G. Facial mask noninvasive mechanical ventilation
Child 1992;67:320-3. reduces the incidence of nosocomial pneumonia.
33. Guinsburg R. Ventilação mecânica convencional no período Intensive Care Med 1997;2:1096.
neonatal. In: Rugolo LMSS. Manual de neonatologia. 2. ed. 38. Keenam S, Kernerman PD, Cook DJ, Marin CM,
São Paulo: Revinter. p.129-34. Mccormack D, Sibbald WJ. Effect of noninvasive positive
34. Haouzi P, Marchal F, Grance JP. Respiratory mechanics pressure ventilation on mortality in patients admitted
in spontaneously breathing term and preterm neonates. Biol with acute respiratory failure: a meta-analysis. Crit Care
Neonate 1991;60:350-60. Med 1997;25:1685-92. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 223

Estudo de caso

O uso da dança como aspecto lúdico


no tratamento fisioterapêutico para criança
portadora de paralisia cerebral
Use of dance like a play activity in the physical therapy
of a child with cerebral palsy
*Karina Hollatz, **Karine Jacon Sarro, M.Sc.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Especialista em Neurologia Infantil pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP,


**Fisioterapeuta, Especialista em Pediatria, Mestre pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP

Resumo Abstract
O presente artigo avaliou a efetividade da dança, em uma The present article evaluated the effectiveness of the dance in a
sessão de fisioterapia aplicada à Neurologia Infantil, no tratamento physical therapy session applied to Child Neurology in the Cerebral
da paralisia cerebral. Foi selecionado um único paciente, portador Palsy treatment. Only one patient “ female, 4 years old “ with a
de paralisia cerebral, do tipo diparético, com idade de quatro anos, diparetic type of Cerebral Palsy was selected. An evaluation form
sexo feminino. Realizou-se uma ficha de avaliação, a fim de avaliar was filled in, in order to assess positions, transferences, muscular
posturas, transferências, tônus, reflexo, citometria. Aplicou-se uma tonus, reflex and cytometry. One was applied at the beginning of
ficha ao início do tratamento e outra, após seis meses, ao término treatment and another one 6 months after the end of the first
da aplicação da proposta. Observou-se que, dentre as inúmeras application. It was observed that amongst the many ways of
formas de se trabalhar com crianças portadoras de paralisia cerebral, working with children with Cerebral Palsy, the procedures used in
os procedimentos utilizados na dança destacam-se, evidenciando the dance stood out, evidencing a PDI/MDI improvement, an
uma melhora do DNPM, ampliação das experiências e exploração extension of the experiences and the exploration of her own body
do próprio corpo durante a terapia. Em avaliação neurológica during the therapy. In a final neurological evaluation, it was observed
final, observou-se melhora da força muscular, simetria, equilíbrio, an improvement of the muscular power, symmetry, balance, motor
coordenação motora, locomoção, normalização de tônus, além coordination, locomotion and muscular tonus normalization,
do prazer que a criança demonstrou em comparecer à terapia. besides the pleasure the child demonstrated in coming to the therapy.
Através do contexto lúdico, criado pela associação da dança ao Through the play context created by the association of the dance
programa de fisioterapia, observaram-se, tanto benefícios psíquicos with the physical therapy program, both psychical and physical
como físicos, indicando a relevância do aspecto lúdico na vida e no benefits were observed, indicating the relevance of the play element
desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral sem to the life and to the development of children with Cerebral Palsy
comprometimento cognitivo. without cognitive damage.
Palavras-chave: paralisia cerebral, lúdico, dança, criança. Key-words: cerebral palsy, play activity, dance, child.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
de síndromes neurológicas residuais, produzidas por lesões
Dentre as patologias neurológicas, a paralisia cerebral não progressivas do encéfalo, consecutivas à ação de hipóxia,
merece estudo, pois se apresenta em uma incidência de, anóxia pré-natal, perinatal e pós-natal, manifestando-se,
aproximadamente, dois para cada 1000 nascidos vivos em essencialmente, por distúrbios motores, algumas vezes
países desenvolvidos [1]. Lianza et al. [2] definiram paralisia isoladamente, porém, geralmente em associação com
cerebral como um grupo heterogêneo, e não bem delimitado, transtornos psíquicos, sensoriais ou de linguagem.

Artigo recebido em 11 de março de 2004; aceito em 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Karina Hollatz, Rua Cilos, 4, Água Fria 02335-060 São Paulo SP, E-mail: fisioterapeutakarina@yahoo.com.br
224 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Independentemente de qual tenha sido sua etiologia, e disfunção motora apresentará limitação para explorar o seu
qual o grau de acometimento motor/mental, a criança ambiente, o que, futuramente, acarretará deficiências e
necessitará de uma assistência familiar e de uma equipe lacunas nas áreas perceptual e cognitiva. Ela poderá parecer
multiprofissional; a ausência destas pode influenciar possuir déficit de percepção, mas este pode não ser orgânico,
resultados como: dependência pessoal, imobilidade, ausência e sim causado pela falta de estimulação e experiências. Uma
do controle de esfíncter, locomoção, comunicação e cognição. inteligência normal pode ser camuflada por uma deficiência
É importante que a criança tenha acompanhamento, da física grave.
infância à vida adulta. A terapia com dança, além de propiciar um efeito lúdico,
A paralisia cerebral apresenta tipos clínicos como: baseia-se também em princípios de que o uso do movimento
espástica (tetraplegia, diplegia, hemiplegia), atetóide, ataxia, expressivo pode alterar comportamentos, atitudes e estados
e misto. físicos. A dança na terapia foi utilizada, não para ensinar a
Diagnósticos secundários estão associados à paralisia dançar, mas para usar o comportamento não-verbal para
cerebral, como relatam Kuban e Leviton [3], principalmente expressar emoções, e condições físicas para futuras aquisições
epilepsia (25 a 33%), deficiência mental (50%), atraso na motoras.
aquisição da fala, prejuízo sensorial da audição, distúrbio de A dança vem sendo aplicada em diversas patologias, em
comportamento e a alta freqüência de convulsão. centros clínicos, psiquiátricos, a fim de que, com respostas
Devido à variabilidade das causas que levam à paralisia coreográficas, seja possível exteriorizar habilidades funcionais
cerebral, há diferentes tipos clínicos, bem como diferentes e emocionais do indivíduo. Assim, esta é uma modalidade
prognósticos. Enfatizaremos, aqui, o prognóstico de lúdica e terapêutica que possibilita ao indivíduo o
deambulação que, associado ao lúdico, propicia uma maior autoconhecimento e o restabelecimento físico, através da
demanda de estímulos à criança. construção de uma consciência de ultrapassar seus próprios
O estudo da idade de aquisição da postura sentada e da limites.
aquisição de deambulação parecem ser os parâmetros mais Desta forma, a dança aplicada em criança com paralisia
fidedignos, para prognosticar deambulação, existentes na cerebral tem como objetivo o conhecimento de seu
literatura. Afirma-se que a criança que consegue adquirir a organismo e suas limitações, enfocando os princípios desta
postura sentada, antes dos três anos de idade, apresenta atividade que se mostram deficitários em tal patologia, como
grande possibilidade de vir a adquirir deambulação. Quanto equilíbrio, postura, direção, fortalecimento, alongamento e
mais cedo a criança conseguir o equilíbrio sentada, maior a o movimento propriamente dito, para que, assim, possa-se
chance de adquirir marcha independente, isto é, as crianças adquirir a marcha.
que conseguem sentar antes de um ano de idade têm uma
grande possibilidade de andar de forma independente. As Material e métodos
crianças que conseguem a postura sentada entre o primeiro
e segundo ano de vida têm uma maior probabilidade de Realizou-se o estudo de um único caso. Criança portadora
necessitarem de algum auxilio na marcha, como o uso de de paralisia cerebral, sexo feminino, 4 anos de idade, sem
muletas. Quanto mais cedo o equilíbrio de tronco for comprometimento cognitivo.
alcançado, maior a chance de a criança conseguir Durante as terapias realizadas, fizemos uso de: rolo
deambulação, e melhor sua autonomia na marcha. médio e grande, bola terapêutica Bobath 40/60/80 cm de
A efetividade do tratamento em crianças com paralisia diâmetro cada, colchonete 1,20 x 1,60 m, bastão médio e
cerebral está limitada pela gravidade do retardo mental. grande, rádio, brinquedos adaptados, como chocalho/cubos
Todas as crianças que não adquirem deambulação, e são com cores vivas e propriedades sonoras que aumentam o
portadoras de retardo mental, apresentam uma grave atrativo do brinquedo. Utilizou-se, também, um espelho
deficiência física, o que impossibilita a aquisição da marcha. grande com o decorrer da terapia, pois se notou que, quando
O tratamento fisioterapêutico convencional deve iniciar- a criança deparava com a própria imagem, sentia-se motivada
se precocemente, programado de acordo com cada criança, a finalizar a atividade/movimento solicitado, da maneira mais
suas características, idade, fase em que se encontram aspectos adequada perante suas limitações. A música associada ao
a serem desenvolvidos, freqüência e etc. O programa deve movimento gerava a dança, assim, fizemos uso de certas
visar metas de curto e longo prazo, sendo estas direcionadas melodias infantis como: Põe o pezinho pra frente, Põe o pezinho
para a qualidade do movimento, para a função e melhor pra trás, a fim de ativar determinados grupos musculares
controle postural nas diferentes posturas e movimentos. trabalhados para a aquisição da marcha.
O tratamento fisioterapêutico convencional, associado A criança realizava terapias semanais, constando de duas
ao uso lúdico da dança, tem como uma de suas principais sessões de, aproximadamente, cinqüenta minutos cada. As
metas, abordar a criança em todos os seus aspectos, sessões foram realizadas em solo com terapia individual.
deficitários ou não. Não somente o aspecto motor, mas Foram realizadas duas avaliações, uma ao início do
também o aspecto sensorial e emocional, pois a criança com tratamento e a outra ao término. A cada sessão, era
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 225

preenchida uma ficha de evolução e fotos registravam Calais Germam [5] relatou que a fisioterapia teria surgido
algumas terapias. através da dança, pois estas muito se completam, ambas
Durante a terapia, a criança utilizava roupas confortáveis trabalham diretamente com o movimento, revelando, assim,
que não impedissem sua amplitude de movimento, e que resultados satisfatórios quando dirigidas para aqueles que
contribuíssem para a observação do terapeuta; sempre necessitam do movimento.
descalça, a fim de haver um equilíbrio e estimulação Maria Fux [6] relata que a dança é um recurso que tem
proprioceptiva. por finalidade o bem estar físico e psíquico do ser humano,
Sempre foram respeitadas as limitações da criança. Ao o que vai de encontro a Souza e Ferrareto [7], que difundem
notar-se cansaço após algumas repetições, eram aplicadas que a criança com paralisia cerebral tem de ser abordada
novas atividades com mesmo objetivo, para que se em todos os aspectos, deficitários ou não.
mantivesse a criança sempre colaborativa e interagindo; a Assim sendo, nota-se concordância entre os autores acima
estimulação lúdica esteve presente em todo momento. O citados e Bernstein [8], que diz que a dança é o movimento
comando verbal foi altamente utilizado, fazendo-se uso de a serviço da cura, integrando áreas cinestésicas, emocionais,
um vocabulário simples, de fácil compreensão para a criança. cognitivas, independentemente da patologia e de seu grau
A terapia sempre respeitava uma seqüência, iniciava-se de acometimento.
com brincadeiras, onde se alongava a musculatura de
quadríceps, isquiotibial, e tríceps sural. Exercícios de descarga Conclusão
de peso e treino de equilíbrio eram realizados, mediante
uma situação lúdica, fazendo uso de bola terapêutica. A fim Em um relato, Kuban e Leviton [3] diziam que o
de treinar posturas e transferências, a criança era estimulada desenvolvimento de uma criança normal depende de sua
a alcançar o brinquedo em diferentes posições, adquirindo capacidade de movimentar-se e experimentar sensações. O
habilidades funcionais que a permitiam assumir a postura ato motor promove aprendizagens que facilitam futuras
ortostática. Através do ritmo musical, a criança era estimulada aquisições básicas ao indivíduo.
a movimentar MMII e a iniciar treino de marcha. A criança Com a realização deste trabalho, acredita-se ter
foi incentivada à troca da fase de apoio (período em que o promovido experiências novas e agradáveis, que geraram
pé está apoiado ao solo); fase de balaço (período em que o uma maior interação e a preparação/iniciação da marcha,
pé esta fora do solo); fase de primeiro apoio duplo (onde os sendo estes, os objetivos iniciais da proposta.
dois pés estão apoiados ao solo). Os resultados sugerem que, através do contexto lúdico
criado pela associação da dança ao programa de fisioterapia,
Resultados a criança sentiu-se mais motivada a participar do tratamento.
Puderam ser observados, tanto benefícios psíquicos, como
Os resultados evidenciaram ganho de equilíbrio, o que físicos, indicando a relevância do lúdico na vida e no
permitiu, à criança, adquirir a postura ortostática e iniciar desenvolvimento de crianças com distúrbios neurológicos
marcha. O controle cervical tornou-se compatível à sua idade sem comprometimento cognitivo.
cronológica. Houve melhora da força muscular, de grau 2
(deslocamento a favor da gravidade) para grau 3 Referencias
(deslocamento contra a gravidade) e para grau 4 (vence
pequena resistência), ao término do tratamento. Evidenciou- 1. Volpe JJ. Intracranial hemorrhage: intraventricular hemorrhage
se, também, melhor expressão física e psíquica da criança, of the premature infant. In: Volpe JJ. Neurology of the
além de melhor aceitação ao toque e aos comandos verbais. newborn. 3a ed. Philadelphia: WB Saunders; 1995.
2. Lianza S, Gomes C, Santos A, Silva JUA. Medicina de
O lúdico propiciou vivências, até então, não conhecidas pela
reabilitação princípios e prática. Rio de Janeiro: Guanabara
criança, o que a permite, hoje, interagir com crianças sem Koogan; 1995.
comprometimento físico/distúrbio neurológico, observando- 3. Kuban KCK, Leviton A. Cerebral palsy. N Engl J Med
se, assim, a sua inclusão na sociedade. Além dos resultados 1994;330(3):188-95.
satisfatórios alcançados, a dança proporcionou à paciente, 4. Whitehouse MS. Physical movement and personality.
prazer em comparecer à terapia, respondendo bem às Houston: Jung Institute; 1958.
solicitações. 5. Germain BC. Anatomia para o movimento. São Paulo:
Manole; 1992.
Discussão 6. Fux M. Dança, experiência de vida. 3a ed. São Paulo: Summus;
1983.
7. Souza AMC, Ferrareto I, Paralisia cerebral: aspectos práticos.
Apesar de difundida por Whitehouse [4], a dança ainda
São Paulo: Memmon; 1998.
é pouca explorada na prática terapêutica, assim, encontra- 8. Bernstein P. Eight theoretical approaches in dance – movement
se certa dificuldade em encontrar literatura especializada. therapy. Dubuque: Kendall / Hunt; 1979. J
226 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Estudo de caso

Análise do comportamento cinemático da marcha


de um indivíduo submetido a artroplastia total de quadril
Cinematic behavior analysis of gait of a patient submitted
to a whole hip arthoplasty
Marielly Grassi*, Jaqueline de Fátima Biazus**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta – Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, **Professora Especialista do Curso


de Fisioterapia da UNISUL – Tubarão SC
Resumo Abstract
A expectativa de vida da população brasileira vem aumen- The Brazilian population life expectancy is increasing and the
tando. Com isso, as conseqüências do envelhecimento vêm aging consequences are coming associated with them. In the midst
associadas. Dentre elas, a artrose de quadril. A artrose é a of them there is the hip arthrosis. Arthrosis is the pathology that
patologia que mais leva à limitação da amplitude de movimento, brings more limitations to the movement amplitude, making
impossibilitando a marcha normal, levando o indivíduo a ser difficult the normal walk. And the individual has to be submitted
submetido a artroplastia total de quadril, a fim de ter uma qualidade to a whole hip arthroplasty, to have a better life quality. The aim
de vida melhor. O objetivo deste estudo foi avaliar, através da of this study was to evaluate the walk behavior of a person before
cinemática, o comportamento da marcha de um indivíduo no pré and after surgery of a total hip arthroplasty, through the cinematics.
e no pós-operatório de artroplastia total de quadril. Este estudo This exploratory study is a study case and was done between
foi do tipo exploratório, um estudo de caso, sendo realizado February and April 2003, at Clínica Escola de Fisioterapia da
entre os meses de fevereiro e abril de 2003, na Clínica Escola de Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul – Tubarão S/C.
Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Some materials were used to the data gathering: an eletric matting
Tubarão/SC, sendo utilizados os seguintes materiais para a coleta trademark Embreex; a digital camera Sony Mavica (MVC – FD
de dados: esteira elétrica da marca Embreex, máquina fotográfica 73); a movie camera JVC; isopor balls; some dark fabric with three
digital Sony Mavica (MVC – FD 73), filmadora JVC, bolinhas de meters width and two meters length; tape; a Carci ganiometer;
isopor; pano escuro com três metros de largura e dois de tape measure; an approval term and an evaluation card. The
comprimento, durex; goniômetro Carci, fita métrica, termo de statistics method used was the classical. The achieved results revealed
consentimento e ficha de avaliação. A estatística foi do tipo clássica. the efficacy of the whole hip artroplasty.
Os resultados obtidos revelam a eficácia da artroplastia total do Key-words: total hip arthroplasty, gait.
quadril.
Palavras-chave: Artroplastia total de quadril, marcha.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução A Artroplastia Total de Quadril (ATQ) está indicada


para pacientes que possuem casos graves de osteoartrite,
A fisioterapia vem expandindo seu campo de trabalho, artrite reumatóide, fratura do colo femoral e acetábulo, e
diversificando suas áreas. Uma das áreas mais procuradas também nas luxações crônicas da cabeça do fêmur [3]. A
dentro da fisioterapia é a ortopedia, na qual há grande expectativa e o sofrimento de dor por longo prazo, a
incidência de indivíduos idosos com diagnóstico de artrose limitação progressiva da amplitude de movimento e a
de quadril, que apresentam dores crônicas, deformidade diminuição da força, devido ao uso diminuído da
articular e, principalmente, desgaste da articulação extremidade, levam a alterações na deambulação.
coxofemoral. Estes indivíduos acabam realizando a A ATQ é a substituição da cabeça do fêmur por uma
substituição desta por uma prótese, devido à dificuldade prótese, geralmente de polietileno, com um componente
que possuem para deambular. femoral intramedular e um acetabular. Esta prótese pode ser

Artigo recebido em 27 de abril de 2004; aceito 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Marielly Grassi, R. Rio de Janeiro, 57 B, Universitário Lages SC, E-mail: mariellyg2@hotmail.com ou
Jaqueline de Fátima Biazus, E-mail: jbiazus@unisul.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 227

de vários tipos, tais como: cimentada, não cimentada, híbrida, O paciente foi encaminhado, através da Clínica de
cefálica unipolar, cefálica bipolar, endo-prótese e em copa [5]. Ortopedia e Imagem, localizada em Tubarão/SC, onde
Dentre os tratamentos utilizados para ATQ devido a foi realizado um contato com ele, esclarecendo os objetivos
artrose, a fisioterapia preocupa-se em restabelecer o padrão da pesquisa, garantindo sigilo e aplicando o termo de
da marcha, reduzindo as complicações decorrentes desta consentimento (Anexo I). Foi avaliado no pré-operatório
cirurgia. (um dia antes da cirurgia), e no pós-operatório (43 dias
O ciclo da marcha é definido como a maneira ou estilo após a cirurgia). Foi encaminhado, então, à Clínica Escola
de andar do indivíduo. Nela, estão incluídos alguns de Fisioterapia da UNISUL, localizada em Tubarão/SC,
padrões, como velocidade de locomoção e número de com roupa adequada (tênis e bermuda), onde foi
passos completados por unidade de tempo [6]. preenchida a ficha de avaliação (Apêndice A). Lá, também
Para que a fisioterapia possa realizar um tratamento, foi realizada a goniometria de membros inferiores,
há a necessidade de se conhecer as alterações decorrentes perimetria e mensuração dos membros inferiores e foram
desta ATQ e, principalmente, quais as alterações relativas posicionados os pontos anatômicos das articulações do
à marcha. quadril, joelho e tornozelo. Uma fita métrica de um metro
Os efeitos negativos do mau uso muscular sobre a e meio foi utilizada para mensurar a amplitude da passada,
articulação, estruturas periarticulares, amplitude de sendo posicionada no solo com um metro e meio de
movimento, força e função articular normal, tornam distância da esteira, sendo que a distância entre a máquina
lógico que o primeiro, e talvez mais importante, objetivo fotográfica e a esteira foi de três metros. O paciente
fisioterapêutico após a cirurgia, consista em eliminar o deambulou na esteira da marca Embreex, sendo orientado
comportamento motor anormal do paciente. quanto à postura.
Em decorrência das alterações da marcha, às quais o
indivíduo no pós-operatório é submetido, faz-se necessária Procedimentos para análise e discussão
a análise, através dos componentes cinemáticos, para que dos dados
o tratamento fisioterápico seja mais efetivo e traga
melhores resultados para o indivíduo e também para que Os dados serão analisados através de um comparativo
o mesmo retorne às suas atividades de vida diária, o mais dos dados obtidos na primeira avaliação com a segunda
rápido possível e com o mínimo de seqüelas. avaliação. Será exposto em gráficos.
Este trabalho consiste em um estudo de caso, de caráter
exploratório, que analisa, através da cinemática, a marcha Resultados e discussão
no pré-operatório e no pós-operatório da artroplastia total
de quadril, idealizando uma comparação dos achados As principais indicações para a realização da
nestas duas fases. Seus objetivos específicos são: observar substituição total de quadril são: dor, perda de movimento,
a velocidade da marcha; observar o comprimento perda da função, sobretudo, capacidade de andar distâncias
uniforme do passo; analisar as fases da marcha (apoio e razoáveis, ou uma combinação de todos estes fatores. A
balanço), força muscular, perimetria e amplitude da magnitude dos sintomas que representam indicações
articulação do quadril. válidas para a cirurgia depende do paciente [7].
A presente pesquisa foi dividida em três capítulos. O
Gráfico 1 – Perimetria do MIE no Pré e Pós-Operatório.
primeiro capítulo enfoca a marcha, fases da marcha,
movimentos angulares, anatomia do quadril, artroplastia
total de quadril, indicações, contra-indicações, tipos de
próteses e complicações. O segundo capítulo refere-se à
metodologia da pesquisa, no sentido de demonstrar como
ela foi realizada. O terceiro capítulo apresenta a análise e
discussão dos dados obtidos na pesquisa.

Materiais e métodos

Foi utilizado o seguinte material: esteira elétrica


Embreex; máquina fotográfica Digital Sony Mavica (MVC
– FD 73), com lente zoom de 10x (para visualização da
marcha); filmadora JVC; bolinhas de isopor; durex; fita
métrica; pano escuro com três metros de largura e dois
de comprimento; goniômetro Carci de acrílico; termo
de consentimento; ficha de avaliação.
228 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Após a cirurgia de ATQ, pode-se observar, com as Gráfico 3 – Teste de força muscular no MIE no Pré e Pós-
avaliações, valores expressivos no que se refere à realização Operatório.
da perimetria.
A perimetria é uma medida utilizada para verificar a
presença, ou o aumento, de volume na região mensurada.
Com base nestes dados, verificou-se que, na medida supra-
patelar com referência de 5 cm, não houve diferença, e
na medida de 10 cm houve diferença de 1 centímetro,
entre os valores pré e pós-operatório, conforme o gráfico
acima.
Após a cirurgia de ATQ, observaram-se na avaliação,
valores expressivos no que se refere à realização da
goniometria.
Comparando valores da goniometria no pré-operatório,
na flexão de quadril, observou-se uma diferença de 10
graus, na extensão de quadril, de 3 graus e na abdução de
quadril, de 21 graus.
Após a ATQ, a liberdade de movimento é maior, o
Gráfico 2 – Goniometria do MIE no Pré e Pós-Operatório.
que provavelmente leva a uma maior exigência muscular,
que, por sua vez, favorece o aumento de massa muscular.
Durante a avaliação no pré-operatório, o paciente
apresentava-se com limitação de movimento e dor na
articulação do quadril. Foi na avaliação do pós-operatório
que esses fatores já haviam regredido. O que demonstra
os três gráficos que seguem abaixo.
Gráfico 4 – Variação da velocidade e tempo percorrido no Pré e Pós-
Operatório.

O resultado encontrado acima, provavelmente,


pode estar relacionado à artrose. A artrose ou
osteoartrose se refere ao processo degenerativo que
acomete as articulações. As alterações começam na
cartilagem articular, que sofre um processo de
deterioração, chegando, inclusive, a desaparecer em
fases avançadas [2].
As modificações bioquímicas e fisiológicas, que
ocorrem após a imobilização do músculo esquelético, Após 43 dias, o paciente recebeu alta do médico para
acabam retornando ao normal, porém, em períodos deambular sem auxílio de muletas, permitindo, com isso,
diferentes, após o término da imobilização. a avaliação do tempo e a velocidade da marcha na esteira.
Pode-se observar, durante a avaliação, que no Nos três primeiros minutos no pré-operatório, o
músculo quadríceps não houve alteração, no pré e pós- paciente alcançou 0,6 km/h; no pós-operatório, no mesmo
operatório, mantendo-se grau 4 de força. Nos músculos tempo, ele alcançou 1,2 km/h, tendo um aumento de
abdutores, encontrou-se grau 3. No gastrocnêmio a percurso de 0,6 km/h. No quinto minuto do pré-operatório,
diferença foi de 1 grau e nos músculos posteriores da o paciente alcançou 1,2 km/h e, no pós-operatório, 1,8
coxa, também foi observado 1 grau de diferença, km/h, sendo o aumento de 0,6 km/h. No sétimo minuto
conforme o gráfico abaixo. do pré-operatório, o paciente alcançou 1,7 km/h e no
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 229

sétimo minuto do pós-operatório, o paciente alcançou 2,0 No pré-operatório a amplitude da passada foi de 2 cm e,
km/h, tendo aumentado 0,3 km/h. no pós-operatório, de 5 cm. A passada é o período entre o
Durante o ciclo da marcha, ocorrem alterações na início da fase de apoio de um pé até o início de apoio do
velocidade instantânea do corpo: ele acelera e desacelera. mesmo, compreendendo todo o ciclo da marcha [4].
As velocidades e acelerações máximas ocorrem quando o
pé está deixando o solo para iniciar o balanço da perna [1]. Conclusão
Gráfico 5 – Número de passadas e tempo percorrido no Pré e Ao final deste estudo, verificaram-se as reduções do
Pós-Operatório quadro álgico no quadril e da limitação de movimento,
as quais tornavam o paciente inativo e o levaram a ser
submetido à cirurgia de artroplastia total de quadril, obten-
do, como resultado, aumento da força muscular, gonio-
metria, perimetria, velocidade da marcha e amplitude da
passada.
Sugere-se a associação da artroplastia total de quadril
à fisioterapia para que o tempo de pós-operatório, no qual
o paciente permanece sem deambular, e/ou deambula
com auxílio de órtese (muletas ou bengalas), seja reduzido
com segurança, para que o mesmo retorne às suas
atividades de vida diária com maior eficiência e eficácia,
melhorando, com isso, a sua qualidade de vida.

Referências

No pré-operatório todas as fases da marcha chegam a 1. Durward BR, Baer GD, Rowe PJ. Movimento funcional
humano. São Paulo: Manole; 2001.
189 passos, sendo que o paciente suportou somente sete
2. Gabriel MRS, Petit JD, Carril MLS. Fisioterapia em
minutos de marcha sobre a esteira. Já no pós-operatório,
traumatologia, ortopedia e reumatologia. Rio de Janeiro:
permaneceu sobre a esteira por dez minutos, elevando, Revinter; 2001.
com isso, a quantidade de passos para 283; em todas as 3. Gould III JA. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do
fases da marcha. Conforme gráfico acima. esporte. 2a ed. São Paulo: Manole; 1993.
4. Greve JMA, Amatuzzi MM. Medicina de reabilitação
Gráfico 6 – Análise da amplitude da passada no Pré e Pós- aplicada à ortopedia e traumatologia. São Paulo: Roca; 1999.
Operatório. 5. Ramos RP. Prótese total de quadril. [citado 2002 mar 28].
Disponível em URL http:www.geocities.com/doug_unesp
6. Smith LK, Weiss EL, Lehmukuhl LD. Cinesiologia
clínica de Brunnstron. 5a ed. São Paulo: Manole; 1997.
7. Tidswell M. Ortopedia para fisioterapeutas. São Paulo:
Premier; 2001. J
230 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Estudo de caso

Protocolo de tratamento fisioterapêutico para pacientes


portadores de neurocisticercose
Physical therapy protocol in patient with neurocysticercosis
Scintilla Santos da Silva*, Edson Alexandre La Terza Fonseca*, Hilana Regina Ribeiro de Souza*, Ernani Costa Mendes,
M.Sc.**, Raimundo Wilson de Carvalho, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas, **Professor Mestre em Ciências Biológicas e Doenças Parasitárias, *** Professor Doutor em Biologia Parasitária

Resumo Abstract
A neurocisticercose humana é causada pelo parasitismo de The human neurocysticercosis is caused by Taenia solium larvae
lar vas de Taenia solium no sistema nervoso central, com in the nervous central system, showing consequent motor
conseqüente aparecimento de sintomas motores que estão symptoms, which are related to host immune response, to the
relacionados à resposta imune do hospedeiro, ao número e à fase number and the stage and parasite involution. The purposes of
de involução dos parasitas. Os objetivos deste artigo foram this article were to describe the clinical status shown by a 60-year
descrever o quadro clínico apresentado por um paciente do sexo old male patient, with the presence of neurocysticerci in the brain
masculino, de 60 anos, com presença de neurocisticercose nos hemispheres and cerebellum showing important kinetic-functional
hemisférios cerebrais e cerebelo com importantes alterações alterations, by performing a survey of the pertinent literatures
cinético-funcionais; fazer um levantamento da literatura e enfatizar and emphasizing the necessity of physical therapy in the treatment
a indispensabilidade da fisioterapia no tratamento das seqüelas of the sequelae caused by parasite diseases. The study was carried
motoras causadas pelas doenças parasitárias. O estudo foi realizado out at the UNIG university hospital, located in the city of
no hospital universitário da UNIG, localizado em Mesquita, Rio Mesquita, State of Rio de Janeiro, during the period of May 2003
de Janeiro, no período de maio de 2003 a março de 2004. Após a to March 2004. After the application of kinesiotherapy protocol,
aplicação do protocolo de cinesioterapia, observou-se uma ampla an ample recovery in the patient functional ambit has been
recuperação no âmbito funcional do paciente. Conclui-se que as observed. The conclusion reached is that the parasite diseases and
doenças parasitárias, e suas possíveis seqüelas, vêm reafirmando a their possible sequelae are reaffirming the actuation of the physical
atuação do fisioterapeuta em saúde pública e, em especial, na therapist in the public health, and especially in the primary
atenção primária. attention.
Palavras-chave: neurocisticercose, alterações funcionais. Key-words: neurocysticercosis, functional alterations.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
A cisticercose humana é causada pela presença da forma
A saúde e o desenvolvimento estão intimamente larvária da Taenia solium em tecidos, principalmente no sistema
relacionados. Tanto um desenvolvimento insuficiente que nervoso central, onde assume características peculiares,
conduza à pobreza, como um desenvolvimento inadequado sendo denominada neurocisticercose. Atualmente, a
que resulte em consumo excessivo, associados a uma localização no sistema nervoso central é a forma mais
população mundial em expansão, podem resultar em sérios estudada, pela gravidade dos sintomas, elevadas morbidade
problemas para a saúde, relacionados ao meio ambiente, tanto e letalidade [2].
nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos. Os A falta de uma sintomatologia ou de um quadro clínico
vínculos existentes entre saúde e melhorias ambientais e sócio- que distinga a cisticercose é o que caracteriza a patologia.
econômicas exigem esforços intersetoriais [1]. As manifestações clínicas dependem da localização dos

Artigo recebido em 3 de agosto de 2004; aceito em 15 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Scintilla Santos da Silva, Rua São Sebastião, 26 Austin 26397-060 Nova Iguaçu RJ, Tel: (21) 9278-1082, E-mail:
scintillafisioterapia@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 231

parasitas, do número destes, da circunstância de estarem estabelecer o acompanhamento funcional do paciente com
vivos ou mortos, e da maneira pela qual reage o organismo neurocisticercose. O protocolo de tratamento é embasado
em cada caso [3]. na aplicação da cinesioterapia, utilizando a técnica de
As localizações mais freqüentes dos neurocisticercos são Frenkel, exercícios passivo, ativo livre e resistido, e
leptomeninge e córtex (substância cinzenta), no cerebelo e treinamento proprioceptivo.
medula espinhal já são mais raros. Em geral, as manifestações
clínicas aparecem alguns meses após a infecção; o cisticerco Histórico e avaliação funcional inicial do
está maduro aos seis meses, quando então morre, desenvolve sujeito de estudo
um processo inflamatório e calcifica-se. Em todos esses
períodos há manifestações clínicas, que são mais intensas Constituiu-se de um indivíduo com neurocisticercose,
durante a inflamação [4]. encaminhado ao setor de fisioterapia do Hospital
A cisticercose é considerada como grave problema em Universitário da Universidade Iguaçu. A tomografia
saúde pública em vários continentes, principalmente na Ásia, computadorizada apresentada pelo paciente demonstrava a
África e América Latina, particularmente nos países presença de neurocisticercos nos hemisférios cerebrais e
subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Atualmente, cerebelo, que diagnosticava a patologia. O tratamento teve
é considerada endêmica nos estados de São Paulo, Minas início em maio de 2003 e término em março de 2004.
Gerais, Paraná e Goiás [5,6]. O paciente, R.A.M., 60 anos, apresentava paresia dos
Pela estimativa da Organização Mundial de Saúde membros superiores, anestesia, hipobatiestesia,
(OMS), a neurocisticercose (NCC) é responsável por 50.000 hipobaregnosia, hipobarestesia, hipografestesia em mão e
óbitos a cada ano, tendo em vista que é a forma da doença antebraço direito e mão esquerda, e dificuldade para flexão
mais grave. Chama atenção, ainda, o fato de aqueles que e abdução dos membros superiores. Em membros inferiores,
sobrevivem à neuroinfecção, apresentarem graves apresentava hipotrofia e dificuldade para abdução de quadril,
complicações e seqüelas neurológicas. Neste momento, o os pés apresentavam varismo e possuía impotência funcional
conhecimento de doenças parasitárias, assim como sua para a execução de atividades de vida diária, tais como:
patogênese, pelo fisioterapeuta, é ponto crucial para subir e descer degraus, sentar-se e levantar-se de uma cadeira
abordagem desses pacientes, e estruturação de condutas e mudança de decúbitos. O equilíbrio e a coordenação
fisioterapêuticas adequadas [7]. motora também se mostravam comprometidos, o paciente
Os avanços tecnológicos em fisioterapia são imprescindíveis, possuía grande dificuldade para a realização da marcha, visto
fazendo dela, uma ciência indispensável na área da saúde, tanto que apresentava uma acentuada escoliose estrutural sinistro
que precisamos fundamentar nossas bases terapêuticas no convexa.
sentido de proporcionarmos, a essa clientela, possibilidade de
recuperação social através de nosso arsenal terapêutico, dentre Protocolo de tratamento
do qual a cinesioterapia é o mais forte aliado. O compromisso
e a responsabilidade social do fisioterapeuta, apesar de todo Aplicado a partir da avaliação fisioterapêutica, a proposta
avanço tecnológico, fazem-se necessários frente as peculiaridades de tratamento compreendeu a utilização da cinesioterapia
de nossa clientela, uma vez que um grande número de seqüelas (passiva, ativa livre e resistida); exercícios de Frenkel
cinético-funcionais advém de situações crônicas de nosso país, empreendendo as posições 1, 2 e 3 em decúbito dorsal;
como o subdesenvolvimento. Para tanto, será relatado um estudo técnicas de Rood (escovação), e também foi realizada
de caso de um paciente com seqüelas de neurocisticercose, cinesioterapia respiratória, incrementando a reexpansão
para o qual, através do tratamento fisioterapêutico, pulmonar.
possibilitamos uma recuperação social, no que diz respeito a Esta proposta de tratamento constou de alongamento
melhoras acentuadas de suas AVD’s. antes e após a cinesioterapia, técnica de tensão e contra-
tensão com distencionamento do tecido conjuntivo,
Material e métodos treinamento de marcha e propriocepção. Cada sessão de
tratamento teve duração de sessenta minutos e foi realizada
Origem do caso duas vezes por semana.

Este caso foi encontrado em um levantamento na Proposta de um protocolo de tratamento


documentação médica do Hospital Geral de Nova Iguaçu. cinesioterapêutico

Caracterização do estudo Cinesioterapia passiva


O estudo de caso aqui apresentado relata a aplicação de Eram realizados os seguintes movimentos: abdução,
um protocolo de tratamento cinesioterapêutico, objetivando adução, flexão e extensão de ombro; flexão e extensão de
232 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

cotovelo; abdução, adução, flexão e extensão de quadril; Propriocepção


flexão e extensão de joelho. Efetuavam-se duas séries de
dez repetições, evoluindo para cinesioterapia ativa livre. Com o paciente em posição ortostática, são estimuladas
as reações protetoras para frente, para trás e para os lados,
Cinesioterapia ativa livre inicialmente com os olhos abertos e depois com os olhos
fechados.
Com a cinesioterapia ativa livre, eram realizados os
movimentos: abdução, adução, flexão e extensão de ombro; Técnica de Rood
abdução e adução de quadril; flexão e extensão de joelho,
em duas séries de dez repetições; após 6 atendimentos Era aplicada nos membros superiores, objetivando a
fisioterapêuticos o paciente evoluiu para a cinesioterapia estimulação de receptores táteis.
resistida.
Resultados
Cinesioterapia resistida
Após 7 meses do início da aplicação do protocolo de
Devido à incapacidade funcional apresentada pelo tratamento, foi realizada uma avaliação pós-tratamento, na
paciente perante os exercícios resistidos, realizaram-se apenas qual encontramos ampla recuperação no âmbito funcional
os movimentos de flexão, extensão de cotovelo (com halter do paciente. Com relação à sensibilidade, ocorreu
de 1 kg) e flexão e extensão de quadril (com caneleira de 1 recuperação parcial da sensibilidade superficial e profunda,
kg). Foram realizadas duas séries de dez repetições. além de melhora na discriminação de dois pontos e cinestesia.
Quanto ao equilíbrio, houve melhora na mudança de
Cinesioterapia respiratória decúbito dorsal para sentado, de sentado para posição
ortostática e maior estabilidade na realização da marcha.
Devido à acentuada escoliose apresentada pelo paciente, Em relação aos membros superiores, ocorreu aumento da
o mesmo possuía dificuldades respiratórias, sendo então força muscular, favorecendo os movimentos de flexão e
incrementada a reexpansão pulmonar. O paciente era abdução da articulação glenoumeral, nos membros inferiores
instruído a praticar exercícios reexpansivos três vezes ao observou-se aumento de trofismo, facilitando o movimento
dia. de abdução da articulação coxo-femural. A coordenação
motora também apresentou recuperação, que pôde ser
Exercícios de Frenkel observada principalmente na realização dos exercícios de
Frenkel. A realização das atividades de vida diária também
Os exercícios de Frenkel foram aplicados, visando demonstrou melhora, o paciente ganhou independência em
melhorar o controle proprioceptivo dos membros inferiores. atividades gerais como: levantar da cama, levantar da cadeira,
Inicialmente, o paciente realizou as posições 1, 2 e 3 em pegar e segurar objetos.
decúbito dorsal.
Exercício 1 – Flexionar o quadril e o joelho de um Discussão
membro, deslizando o calcanhar em contato com a cama.
Retornar à posição inicial. Repetir com o outro membro. Pela estimativa da OMS, 50 milhões de indivíduos estão
Exercício 2 – Flexionar como no exercício 1. Abduzir o infectados pelo complexo teníase/cisticercose e 50 mil
quadril fletido. Retornar à posição fletida e à posição original. morrem a cada ano. No Brasil, a neurocisticercose é
Exercício 3 – Flexionar o quadril e joelho somente a encontrada com elevada freqüência nos estados de São
meio caminho, e retornar à posição estendida. Adicionando Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás [8], sua prevalência
abdução e adução. em necropsias varia de 0,12% a 19%. A faixa etária
predominante é entre 21 e 40 anos, o sexo masculino é o
Técnica de tensão e contra-tensão com distenciona- mais atingido e a procedência é na zona rural. O quadro
mento do tecido conjuntivo clínico mais preponderante é a epilepsia, seguida de
hipertensão intracraniana [8-11].
Esta técnica é aplicada para promover a organização A infecção é freqüentemente subestimada pela
das fibras musculares e é realizada nos membros inferiores. dificuldade no diagnóstico clínico, porém tanto a Organização
Pan-Americana de Saúde como a Organização Mundial de
Treinamento de marcha Saúde consideram os índices de 1% para teníase humana,
0,1% para cisticercose e 5% para cisticercose animal como
O paciente realiza distribuição do peso corporal e endêmicos, confirmando o importante problema de saúde
deambulação com apoio em barra paralela. pública da Teníase/Cisticercose na América Latina. A
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 233

neurocisticercose, embora sendo uma doença tratável em sensório-motora. Sua indicação ocorre toda vez que existir
muitos casos, é geralmente uma infecção aguda ou com um uma determinada doença que modifique o modo normal
passado longo, afetando a qualidade de vida do paciente de viver. A partir deste princípio é que observamos a extrema
com um envolvimento social [12]. necessidade da aplicação da cinesioterapia ao portador de
Sendo Nova Iguaçu o segundo município mais populoso neurocisticercose.
da Baixada Fluminense, existem áreas onde se observa o
baixo poder aquisitivo e, conseqüentemente, a deficiência Referências
no sistema de saneamento básico, o que propicia o apareci-
mento das parasitoses. 1. OPAS. Epidemiologia y control de la Teníase/Cisticercosis en
Diante da alta prevalência da neurocisticercose e das América Latina. Washington: Organização Panamericana de
seqüelas cinético-funcionais por ela causadas, ressaltamos a Saúde; 1994.
2. Agapejev S, Padula NAMR, Morales NMO, Lima MMF.
fisioterapia como mais um recurso para promover a melhora
Neurocisticercose e síndrome de Lennox-Gastant. Arq
na qualidade de vida desses pacientes. O manejo terapêutico Neuropsiquiatr 2000;58:538-47.
do cliente com seqüelas neurológicas, resultantes de um 3. Rey L. Cisticercose humana. In.: Bases da parasitologia médica.
distúrbio cerebral inflamatório, desafia o terapeuta a lidar Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 208-14.
com diversos problemas e elaborar, com criatividade, um 4. Nascimento E. Teníase e cisticercose. In.: Neves DP.
programa de intervenção [13]. Parasitologia humana. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 207-15.
Na elaboração de um protocolo de tratamento que 5. Takaynagui OM, Leite JP. Neurocisticercose. Rev Soc Bras Med
atenda às necessidades dos portadores de neurocisticercose, Trop 2001;34:21-34.
ressaltamos a aplicação da cinesioterapia, que é uma das 6. Clemente MAM, Werneck ALS. Neurocisticercose. Arq
ferramentas-chave que um fisioterapeuta usa para restaurar Neuropsiquiatr 1990;48:207-9.
7. Mendes EC, Moraes MIDM. O Papel do fisioterapeuta em
e melhorar o bem-estar musculoesquelético ou cardiopul-
saúde pública no século XXI - uma abordagem em
monar do paciente [14]. Isso concorda com Magalhães e parasitologia. In.: Barros FBM. O fisioterapeuta na saúde da
Moreira [15], que também demonstraram a importância da população. Rio de Janeiro: Fisiobrasil; 2002. p. 193-201.
fisioterapia no tratamento das seqüelas cinético-funcionais 8. Gobbi M, Adad SJ, Neves RR et al. Ocorrência de cisticercose
causadas pelas parasitoses, através de um relato de caso (Cysticercus cellulosae) em pacientes necropsiados em Uberaba,
que observou a melhora de um paciente portador de mielo- Minas Gerais. Rev Patol Trop 1980;9:51-9.
patia esquistossomal. 9. Costa-Cruz JM, Rocha A, Silva AM et al. Ocorrência de
Este trabalho, apesar de ser um estudo de sujeito único, cisticercose em necrópsias realizadas em Uberlândia, Minas
possibilitou, ao paciente, conquistas no âmbito funcional e, Gerais, Brasil. Arq Neuropsiquiatr 1995;53:227-32.
10. Agapejev S. Epidemiology of Neurocysticercosis in Brazil.
para nós, fisioterapeutas, mostrou a importância da fisio-
Rev Inst Med Trop São Paulo 1996;38:207-16.
terapia em mais um campo de atuação. Tais descobertas 11. Lino Júnior RS, Reis MA, Teixeira VPA. Ocorrência de
nos levam a aprimorar cada vez mais nossos conhecimentos, cisticercose (Cysticercus cellulosae) encefálica e cardíaca em
para que tenhamos condições de atender às necessidades necrópsias. Rev de Saúde Pública 1993;33:60-3.
de nossa clientela. Ressaltamos, mais uma vez, a importância 12. Flisser A. Taeniasis-cysticercosis: an introdution. Southeast
do fisioterapeuta como membro da equipe multidisciplinar, Asian J Trop Med Public Health 1991;22:233-5.
a qual deve, também, atuar na prevenção das parasitoses, e 13. Porter RE. Manejo terapêutico do cliente com distúrbios
não apenas nas seqüelas por elas causadas. cerebrais inflamatórios e infecciosos. In.: Umphred DA.
Fisioterapia neurológica. São Paulo: Manole; 1994. p.483-505.
14. Kisner C, Colby LA. Amplitude de movimento. In: Exercícios
Conclusão
terapêuticos -fundamentos e técnicas. Rio de Janeiro: Manole;
1998. P. 25-54.
Através da cinesioterapia, podemos aplicar exercícios 15. Magalhães CMS, Moreira KLAF. Protocolo hidrocinesio-
terapêuticos aos diversos segmentos corporais em vários terapêutico na mielopatia esquistossomal. Fisioter Bras
planos, eixos e posicionamentos, promovendo a estimulação 2002;3:327-32. J
234 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Resumos

Alexsandra Marinho Dias*, ClÛudia Assistência familiar e suas relações com a terceira idade
Mara Campestrini Bonissoni**,
Giovana Zarpellon Mazo***, Danilo Introdução: A população idosa vem crescendo em proporções mais elevadas do
Campestrini**** que as previstas gerando a necessidade de uma reestruturação familiar. Na terceira
idade, em geral, observa-se um declínio físico e, às vezes, mental que automaticamente
*Fisioterapeuta, Professora do curso
induzem à assistência ao idoso. As relações familiares variam em função do contexto
de Fisioterapia da UNIVALI,
cultural, sócio-econômico e histórico. No passado ela funcionava como o sustentáculo
**Mestranda em Ciências do
mais importante das relações sociais e os idosos, patriarca ou matriarca, exerciam
Movimento Humano da UDESC,
***Educadora Física, Professora do amplos poderes sobre os demais. Com a modificação da estrutura familiar estas
Mestrado em Ciências do Movimento relações também sofreram profundas alterações, apesar de que uma das funções da
Humano da UDESC, Dra. Em família continua sendo a de proteção e assistência. Objetivo: O objetivo deste estudo
Educação Física pela Universidade de foi o de analisar os dados referentes aos padrões gerais de assistência familiar de
Porto (Portugal), ****Filósofo e idosos do município de Florianópolis. Metodologia: Foram obtidos, através de pesquisa
Biólogo, Professor dos cursos de bibliográfica, os dados referentes ao perfil do idoso do município de Florianópolis,
Pedagogia e Jornalismo da UNIVALI, coletados por BENEDETTI et al (2004), do qual foram captados dados referentes
Doutorando em Engenharia de à ajuda ou assistência que a família presta ao idoso e vice-e-versa, de 875 idosos de
Produção da UFSC, Contato: Cláudia ambos os sexos. Resultados: O perfil do idoso, coletado pelos autores acima citados,
Mara Campestrini Bonissoni, E-mail: indica que a ajuda ou assistência familiar em 56,4% dos relatos relaciona-se a
claudiam@ccs.univali.br companhia/cuidado pessoal, 24,7% a dinheiro, 14,1% a moradia e 12,5% a outro
tipo. Em relação à ajuda ou assistência que o idoso presta à família em 51,8% dos
relatos relaciona-se a companhia/cuidado pessoal, 45,27% a dinheiro, 39,3% a moradia.
21,7% a cuidado de crianças e 10% a outro tipo. Conclusão: Os dados acima deixam
evidente o papel da família na vida do idoso sendo que percebe-se que não apenas a
família assiste o idoso, mas que este também presta significativa assistência à família
desmistificando o papel do idoso como “peso” para a família no município estudado.
O envelhecimento nem sempre reduz consideravelmente as faculdades do indivíduo
a ponto de impedi-lo de continuar ativo e útil ao grupo social o qual pertence.

Caromano, FÛtima Aparecida Caromano, Efeitos da técnica de relaxamento muscular progressivo sobre a
D.Sc.*, Maiza Ritomy Ide, M.Sc**, Juliana freqüência cardíaca e relato verbal
Monteiro Candeloro*** Ronaldo Luˇs da
Silva***, Beatriz Calil Padis Campos*** Cada vez mais fisioterapeutas recebem em seus consultórios pacientes com queixas
e disfunções musculoesqueléticas cuja causa de base é o estresse não controlado. O
*Professora Doutora – USP, **Professora tratamento fisioterapêutico deve ser iniciado com recursos terapêuticos que promovam
Mestra – UNIOESTE, ***Fisioterapeuta, um leve relaxamento muscular corporal, de tal forma que a aplicação da cinesioterapia
Laboratório de Fisioterapia e
seja melhor aproveitada e se mostre eficiente. Estes recursos preparatórios incluem,
Reatividade Comportamental do Curso
principalmente, relaxamento em imersão, massoterapia, calor e relaxamento por meio
de Fisioterapia da Faculdade de
de cinesioterapia. A técnica de relaxamento progressivo consiste em uma série de
Medicina da Universidade de São Paulo
(LaFi-ReaCom), E-mail: contrações musculares ativas orientadas verbalmente pelo terapeuta, seguidas de
fcaromano@uol.com.br ausência de contração - relaxamento, sempre associada com o controle da respiração.
O objetivo desta técnica é ensinar o paciente a reconhecer a tensão muscular em
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 235

diferentes áreas do corpo e posteriormente, realizar auto-relaxamento. Este trabalho


objetiva avaliar a variação na freqüência cardíaca (FC) e no relato verbal decorrente
da aplicação de três sessões de relaxamento muscular progressivo em sujeitos com
relato de estresse. Foram selecionadas dez mulheres, com média de idade de 40,5 ±
3,2 anos, professoras de ensino médio, com jornada de oito a dez horas de trabalho
por dia e queixa de tensão muscular e cansaço físico, sem presença de dor. As
participantes foram submetidas a três sessões de relaxamento, com duração de 20 ±
6 minutos. A medida da freqüência cardíaca foi coletada utilizando o freqüencímetro
da marca Ohmron e o relato verbal coletado a partir de entrevista com questão única
para avaliar o efeito da técnica sobre tensão e cansaço: “Conte se você sentiu alguma
alteração no seu corpo após as três sessões de relaxamento”. A diferença, em
porcentagem, entre o pré e o pós-tratamento apresentou redução significativa nas
três sessões, entre a primeira e segunda sessões e entre a segunda e terceira sessões (p
£ 0,05 obtido no teste t de Student), conforme observado na tabela abaixo.
Tabela 1 – Diferença na FC nas sessões de relaxamento.

Sessão % de redução média na FC (bpm)

1 ª
9 + 5%
2ª 16 ± 3%
3ª 19 ± 2%

Quanto ao relato verbal, todos os sujeitos reconheceram a eficiência da técnica na


redução da tensão muscular. A diminuição do cansaço foi relatada por sete dos dez
participantes. Destes, quatro a associaram com a melhora do sono e dois com o aumento
na disposição para o trabalho e um com a melhora na capacidade de auto-organização.
Todos os sujeitos demonstraram interesse na continuidade do tratamento e disponibilidade
para realizar a prática de relaxamento sem supervisão. Apesar do comportamento da
FC provavelmente ter sido afetada pelo aprendizado, acredita-se que a redução observada
seja indicativa de relaxamento. O relato verbal, associando a prática de relaxamento
com redução na tensão muscular, suporta a idéia de que a queda da freqüência cardíaca
esteja associada com relaxamento muscular. A técnica utilizada mostrou-se prática e
viável para ser utilizada como recurso de relaxamento muscular pelo fisioterapeuta.
Sugere-se a realização de estudos com a presença de grupo controle, maior número de
sessões e analisando sujeitos submetidos a diferentes tipos de estresse.

Maiza Ritomy Ide, M.Sc.*, **FÛtima Estudo comparativo do efeito de um protocolo de cinesioterapia
Aparecida Caromano, D.Sc.** respiratória desenvolvido em dois diferentes meios, aquático e
terrestre, na função respiratória de idosos
*Universidade Estadual do Oeste do
Paraná,** Professora doutora - USP O envelhecimento populacional é uma preocupação governamental. Conduz a
E-mail: maizaide@hotmail.com perdas fisiológicas sistêmicas, incluindo prejuízos respiratórios. Observa-se um maior
investimento em prevenção, menos dispendioso e socialmente mais viável que
intervenções terapêuticas. A cinesioterapia é um recurso fisioterapêutico muito utilizado,
mas conta com pouco embasamento científico, principalmente quando relacionada à
prevenção em idosos e em meio aquático. Este estudo objetivou analisar os efeitos de
um protocolo de cinesioterapia respiratória sobre a força muscular respiratória,
expansibilidade torácica e flexibilidade de tronco/pélvis em idosos saudáveis, além de
verificar os efeitos do meio de realização sobre o mesmo. Completaram o estudo 59
sujeitos com idades entre 60 e 65 anos, não fumantes nem praticantes de atividade
física regular. Foram submetidos à avaliação da força muscular inspiratória e
expiratória, expansibilidade torácica e flexibilidade e randomizados em três grupos. O
G1 foi submetido a um protocolo de cinesioterapia respiratória em ambiente aquático.
O G2 utilizou o mesmo protocolo em ambiente terrestre. O G3 atuou como controle.
236 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Os protocolos foram aplicados três vezes por semana, por dez semanas consecutivas.
Após este período, os sujeitos foram reavaliados e os resultados comparados com os
obtidos pré-intervenção e entre os grupos. A força muscular respiratória e
expansibilidade torácica foram analisadas utilizando o teste t-student para amostras
pareadas e através do teste do Sinal. A comparação entre os grupos utilizou a variância
paramétrica e não paramétrica e o teste de Dunnett para comparar o G1 e G2 versus
G3. A flexibilidade foi analisada a partir da análise de covariância. Adotou-se um nível
de significância de 5%. A força inspiratória apresentou melhora significativa no G1
em relação ao G3, sugerindo efeitos mediados pelo meio aquático. Entretanto, esta
análise deve ser cuidadosa, visto que a relevância estatística foi alcançada com o
auxílio de uma não explicada redução nos escores do G3. Em relação à expansibilidade
torácica, somente o G1 apresentou melhora significativa quando comparado com
seus próprios escores pré-intervenção. Porém, estas alterações não foram relevantes
se comparadas ao G3. A força expiratória e a flexibilidade de tronco/pélvis não
sofreram alterações. Conclui-se que a cinesioterapia respiratória realizada em meio
aquático melhora a força muscular inspiratória de idosos saudáveis. Entretanto, não
influencia a força expiratória nem a flexibilidade de tronco/pélvis, independente do
meio de realização. Apesar da significativa melhora obtida pelo G1, a expansibilidade
torácica não sofreu alteração estatisticamente significativa.

Carolina Farias Almeida Gomes*, Análise do perfil dos operários de uma fábrica de colchões: uma
Marcela Rodrigues da Silva**, Raisse abordagem preventiva
Fernandes Barbosa***
Introdução: A mecanização e os novos processos industriais fazem com que os
*Pós-graduanda da Faculdade de trabalhadores permaneçam por longos períodos em posições estáticas em seus
Ciências Médicas- FCM, E-mail: postos de trabalho, desempenhando tarefas mecânicas repetitivas que no decorrer
carolinafisiopb@hotmail.com,
do tempo ocasionam desconfortos físicos e predispõem à fadiga física e mental. A
**Graduanda em Fisioterapia, Univ.
análise do perfil ocupacional é importante porque a prevenção apenas torna-se
Estadual da Paraíba UEPB, E-mail:
possível quando se conhece a história natural do distúrbio e se elimina ou minimiza
cela23_1@hotmail.com, ***Pós-
graduanda do Depto. de Medicina seus fatores predisponentes. A postura que o indivíduo desenvolve para realização
Social, Univ. Federal de Pernambuco de suas tarefas influencia tanto na sua saúde como na produtividade da fábrica,
UFPE, E-mail:raissefb@yahoo.com.br visto que os prejuízos causados pela postura inadequada resultam em seu
afastamento do trabalho, acarretando custos significativos com tratamentos e perda
de produtividade. O objetivo do presente trabalho consiste em realizar uma análise
do perfil dos operadores de um setor produtivo da fábrica de colchões.
Metodologia: Pesquisa de campo descritiva com método de abordagem quantitativa,
realizada por meio de visitas semanais, no período compreendido entre 12 de
novembro a 19 de dezembro do ano de 2004. A pesquisa foi realizada com os 65
operários, de ambos os sexos, dos diversos postos de trabalho de uma Fábrica de
Colchão, localizada no município de Campina Grande-PB. A abordagem
metodológica utilizada para atender ao objetivo da pesquisa foi a observação direta,
e como instrumentos facilitadores foram utilizados recursos fotovisuais e um
questionário contendo perguntas fechadas.
Resultados: Foi observado que a faixa etária dos operadores situou-se entre 25 e
36 anos, sendo 95% do sexo masculino e apenas 5% do sexo feminino. O nível de
instrução apresentado foi o ensino fundamental incompleto para 90% dos sujeitos.
A altura média apresentada foi de 1,65 m, enquanto o peso médio foi de 65 kg. De
modo geral, as atividades eram realizadas predominantemente na posição bípede,
com a realização de trabalhos dinâmico e estático, havendo pausas apenas para as
principais refeições. Dos 65 operários, 25% afirmaram não realizar nenhum tipo
de atividade física, aspecto importante para o condicionamento e prevenção de
lesões osteomusculares. Todos os participantes da pesquisa referiram algum tipo de
incômodo físico e/ou mental, dentre estes foi mais relatada a fadiga de intensidade
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 237

leve, surgida na região dos membros inferiores (pernas e pés) e coluna lombar.
Para 4,61% e 3% dos trabalhadores as dores de intensidade moderada e intensa
foram os sintomas mais referidos.
Conclusões: Através das informações obtidas observou-se que a idade produtiva,
gênero, escolaridade e estrutura física dos operários eram compatíveis com o esforço
físico requerido pelas diversas funções desempenhadas. No entanto, as posturas adotadas
para a realização das tarefas durante a jornada de trabalho eram na maioria inadequadas,
influenciando o surgimento dos desconfortos, os quais ocorreram nos seguimentos
corporais mais expostos às sobrecargas. Isso mostra a necessidade de que sejam corrigidas
tais posturas e detectados os riscos ocupacionais inerentes às atividades, assim como a
realização de pausas intermitentes, sempre que possível, com o intuito de melhorar a
interação homem-trabalho. O estudo do perfil dos operadores da fábrica foi relevante,
visto que proporcionou o diagnóstico da situação de saúde destes, a qual subsidiará o
planejamento de ações preventivas visando uma melhor qualidade de vida.

Josenei Braga dos Santos, M.Sc.*, Prática de natação e RPG realizada por portadora de escoliose
Diogo Cunha dos Reis**, Eliane idiopática
Ramos**
Objetivo: Nesta pesquisa descrevemos um processo de intervenção desenvolvido
*Mestre em Engenharia de Produção – com uma estudante universitária, com 25 anos de idade, portadora de escoliose idiopática
Ergonomia/UFSC, Prof. Educação
desenvolvida desde a infância, que foi submetida a duas cirurgias: artrodese na coluna
Física, Laboratório de
dorso-lombar e incherto ósseo. Este estudo foi realizado um ano após a cirurgia sendo
BiomecânicaBIOMEC/CDS/
que durante este período a estudante submeteu-se a vários tratamentos de reabilitação
UFSC,**Bolsista PIBIC/CNPq –
UFSC, Laboratório de Biomecânica –
física (uso de colete pré e pós-operatório, hidroterapia, fisioterapia respiratória e RPG).
BIOMEC/CDS/UFSC, E-mail: Material e métodos: Os dados foram analisados mediante os seguintes
joergo@pop.com.br procedimentos: a) pré-teste - mensuração da massa corporal e estatura da estudante
para o cálculo do índice de massa corporal (IMC) segundo classificação da
Organização Mundial da Saúde (1997), mensuração da flexibilidade através do
teste de sentar e alcançar (TSA) proposto por Wells e Dillon (1952), teste de preensão
manual (Dinamômetro Jamar) para medir a força muscular, na qual adotou-se
como normas de classificação os valores da Canadian Society for Exercise Physiology
(1998) e avaliação da postura corporal através do método Portland State University
– PSU (1988); b) intervenção - natação e RPG ambas praticadas duas vezes por
semana com duração 60 minutos e c) pós-teste - reaplicação dos testes citados
anteriormente, após um período de dois meses.
Resultados: Os resultados obtidos indicaram que no pré-teste o IMC ficou estimado
em 19,60 kg/m2 sendo classificado como normal e no pós-teste 19,39 kg/m2 também
sendo classificado como padrão normal. No TSA percebemos que no pré-teste o valor
apresentado foi de 7 cm sendo classificada numa situação que precisava melhorar e no
pós-teste houve uma redução para 5 cm demonstrando que a estudante permanecia na
mesma classificação. A força muscular no pré-teste apresentou um valor de 28 kg/f
também sendo classificada numa situação que precisava melhorar e no pós-teste o
valor foi aumentado para 30 kg/f, permanecendo na mesma situação de classificação.
Com relação a avaliação da postura corporal, no pré-teste o índice de correção postural
(ICP) apontou para 73,33% sendo classificada como boa postura, onde a região da
cabeça e do pescoço (RCP) ficou estimada em 52%, região da coluna dorsal e lombar
(RCDL) 60%, região do abdômen e quadril (RAQ) 86,66% e região de membros
inferiores (RMI) 100%. Já no pós-teste o (ICP) passou para 78,66% com incremento
de 5,33%, permanecendo na mesma classificação, onde a RCP ficou estimada em
68%, melhora de 16%, RCDL 60%, RAQ 86,66% e RMI 100%.
Conclusão: Podemos salientar que apesar dos resultados indicarem redução da
flexibilidade e melhora das outras variáveis corporais, suas classificações não foram
alteradas, demonstrando que não houve reversão do quadro clínico.
238 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. dos artigos originais.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros 4. Atualização ou divulgação
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um
Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
artigo de revisão.
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações
que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical 5. Relato de caso
Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e- características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não e pode ser realizado em humano ou animal.
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
6. Comunicação breve
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
1. Editorial comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
de seus membros. A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
7. Resumos
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato 8. Correspondência
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências trabalho antes de se publicar a carta.
bibliográficas. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL

3. Revisão 1. Normas gerais

São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005 239

fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as 5. Agradecimentos
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, em uma secção especial.
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e 6. Referências
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
nome do artigo, data e autor. relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
2. Página de apresentação
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
- Título em português e inglês. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
títulos acadêmicos. ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Exemplo:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Livro:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
pública do seu conteúdo. iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. a abreviação latina et al.

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo Cancer Res 1994;54:5016-20.
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês. Os artigos, cartas e resumos devem ser
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: enviados para:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto- Jean-Louis Peytavin
dologia, análise). Atlantica Editora
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para Tel: (21) 2221 4164
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
240 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 3 - maio/junho de 2005

Calendário de eventos
2005 Setembro
27 a 30 de Setembro
Julho Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional
Teatro Guararapes, Auditório República, 05/S.100, Setor C
11 a 16 de Julho
Associação do Estado de Pernambuco - ATOPE
11º ENEEFISIO - Encontro Nordestino de Estudantes
Recife – PE
de Fisioterapia
www.recifecvb.com.br
Recife – PE
Tel: (81) 3227 2085
www.enefisio.com.br
28 de setembro a 1 de outubro
15 a 17 de julho
XXIX Encontro de fisioterapia
2º ENAF - BH
II Simpósio de Fisioterapia desportiva
Belo Horizonte, BH
Cruz Alta/RS
Informações: www.enaf.com.br
Informações: www.encfisio.cjb.net e xxixencfisio@yahoo.com.br
15 a 17 de Julho
IV Jornada Para Calouros de Fisioterapia
Outubro
Rio de Janeiro - RJ
(21) 3867-1358 / 2576-6884 / 9296-0908 05 a 08 de Outubro
XVI Congresso Brasileiro de Fisioterapia – Cobraf
22 a 24 de julho
Internacional Trade Mart (ITM EXPO)
10º Congresso Brasileiro Multidisciplinar e
Av. Roberto Zuccolo, 555 - Vila Leopoldina
Multiprofissional em Diabetes
São Paulo – SP
UNIP, São Paulo
Informações: Anad (11) 5572 6559 6 a 8 de outubro
www.anad.org.br International Spine Symposium
Londres, Reino Unido
28 a 30 de Julho
contact@spineinternational.org
I Congresso Mundial de Estudantes de Fisioterapia
Santiago - Chile 08 a 12 de Outubro
(02) 7512261 39º ENAF
Poços de Caldas - MG
Agosto (35) 3712-7000

12 a 14 de agosto
V Congresso Gaúcho de Pneumologia e Cirurgia 2006
Torácica
II Simpósio Gaúcho de Fisioterapia Respiratória
III Março
Centro de Convenções do Hotel Serrano, Gramado RS
Informações: (51) 3311-8969, E-mail: plenar@terra.com.br 20 a 25 de março
5th International Conference on Advances in
25 a 27 de agosto
Pulmonary Rehabilitation and Management of
IV Congresso de fisioterapia do oeste paulista
Chronic Respiratory Failure
São José do Rio Preto SP
Stresa, Itália
Informações: congressi@effetti.it
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 241

○ ○
Fisioterapia Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Índice
(vol.6, nº4 julho/agosto 2005 - 241~320)
EDITORIAL
Muitos trabalhos e muita paciência, Os Editores ......................................................................................................................................... 243

ARTIGOS ORIGINAIS
Incidência de alterações podais em pré-escolares de 2 a 6 anos de idade,
Sandra Beatriz Pantanali, Francisco Rosa Neto, Giane Caon ............................................................................................................................. 245
Influências do envelhecimento, do tempo de evolução da doença e do estado cognitivo sobre
os episódios de quedas, em uma população parkinsoniana,
Fernando Amâncio Aragão, Fabiana Magalhães Navarro ................................................................................................................................... 250
A influência do isostretching nas alterações dos parâmetros da marcha em idosos,
Renata Coury Figueredo Sanglard, João Santos Pereira ..................................................................................................................................... 255
Fisioterapia prática
Eletroestimulação diafragmática transcutânea em indivíduos saudáveis,
Eli Maria Pazzianotto Forti, Graciele Porta Pachani, Maria Imaculada de Lima Montebelo, Dirceu Costa ................................................ 261
Fisioterapia durante a gestação: um estudo comparativo, Lorena Miranda de Souza,
Rodrigo Nascimento Alves, Reggiane Vilela Gonçalves, Virgínia Maria F. R. Caldeira ................................................................................. 265
Alterações do sistema nervoso autônomo decorrentes da mobilização articular cervical,
Alexandre Herz França, Rodrigo Eston Armond, Nédison Gomes Pain, Wladimir Musetti Medeiros, Yara Juliano ........................... 271
Imobilização em flexão plantar do tornozelo induz alteração metabólica em músculo esquelético de ratos,
Carolina Náglio Kalil Dias, Carlos Alberto da Silva, Rinaldo Guirro, Karina Maria Cancelliero, Luciano Júlio Chingui ......................... 277
Disfunção muscular e lombalgia em pilotos de helicóptero, Gilvan Vasconcelos da Silva,
Alexander Barreiros Cardoso Bomfim, Marco Antônio Guimarães da Silva, Célia Garrido Rodriguez,
Fabiana Cosendey, Joelson Fernandes de Andrade ............................................................................................................................................ 281

REVISÕES
A utilização da estimulação elétrica nervosa transcutânea após cirurgias cardíacas,
Robson Dias Scoz, Claudia Thoefern ................................................................................................................................................................... 290
Ginástica Laborativa
Asma induzida pelo exercício em crianças: manuseio não farmacológico,
Lidianny Pereira da Silva, Maria José Junho Sologuren, Mário Antônio Baraúna ......................................................................................... 294
Reabilitação cardíaca e qualidade de vida, Daiane Breda ............................................................................................................................ 298
Eletromiografia: interpretação e aplicações nas ciências da reabilitação,
Juliana de Melo Ocarino, Paula Lanna Pereira da Silva, Daniela Virgínia Vaz, Cecília Ferreira de Aquino,
Rachel Soares Brício, Sérgio Teixeira da Fonseca .................................................................................................................................................. 305

ESTUDOS DE CASO
O método isostretching no tratamento da hipercifose torácica,
Sheyla Mariana de Souza Moraes, Elaine Cristine Lemes Mateus ..................................................................................................................... 311
Aplicação da escala Alberta Infant Motor Scale (AIMS) em Síndrome de Down no tratamento
das crianças da APAE de Barbacena , Amélia Ananias Ambrosano, Andréia Amaral da Silva,
Andressa Souza Milagres, Danielle Rezende Pereira, Laila C. Moreira Damázio ............................................................................................ 314

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ......................................................................................................................................................... 318

EVENTOS .............................................................................................................................................................................................. 320


242 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 243

Editorial

Muitos trabalhos e muita paciência


Os Editores

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Estamos recebendo muitos artigos originais, revisões Ainda é insuficiente e estudamos soluções para editar
e estudos de caso de todas as escolas de fisioterapia do o dobro ou o triplo de artigos nos próximos anos. Por
Brasil, e agradecemos a todos os autores, publicados ou enquanto, os custos de impressão e de distribuição pelos
não, que estão fazendo o sucesso de nossa (sua) revista. Correios impedem este crescimento, mas vamos encon-
Isto é o lado positivo do sucesso: temos a possibilidade trar outras soluções, tais como números especiais e publi-
de escolher os melhores artigos e publicar cada vez mais cações eletrônicas que geralmente nos são solicitadas por
trabalhos de qualidade, os quais podem servir de modelo vocês..
para futuras pesquisas. Tentamos, na medida do possível, respeitar a ordem
Os artigos publicados nas seguintes páginas são apenas de chegada dos artigos, dando, às vezes, prioridade a artigos
uma amostra dos trabalhos dos fisioterapeutas de hoje, de excelente qualidade e originalidade. Para agilizar a
que trabalham em todas as áreas da saúde, desde a clássica publicação, é muito importante receber já uma primeira
traumato-ortopedia até a experimentação de novas versão que respeita as normas de publicação, principal-
tecnologias. mente no que se refere às referências. Também damos
O lado negativo desta produção de trabalhos é a muita importância à qualidade dos resumos (não esque-
demora da publicação. Recebemos muitos pedidos de çam que a maioria dos leitores vai decidir ler o seu artigo
agilização da publicação, principalmente por parte dos somente após ter apreciado o resumo), e ao trabalho de
que têm de apresentar “cartas de aceite” para inscrição estatística nos artigos de pesquisa.
em mestrado ou doutorado. Afinal, respondemos a todos os autores que enviam
Somos bem conscientes desta dificuldade e tentamos seus artigos para publicação e desculpem-nos se as
publicar o maior número possível de artigos; desde o publicações de seus trabalhos demoram mais tempo do
lançamento da revista, quase dobramos o número de que o desejado.
artigos em cada edição, para chegar, em 2005, a mais de
100 artigos publicados no ano.

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 245

Artigo original

Incidência de alterações podais


em pré-escolares de 2 a 6 anos de idade
Incidence of foot alterations in preschool children
aged 2 to 6 years
Sandra Beatriz Pantanali*, Francisco Rosa Neto, D.Sc.**, Giane Caon***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Graduada em Fisioterapia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), **Professor do Departamento de Ciências Biológicas
da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e Coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Humano (LADEHU) da
UDESC, ***Graduada em Fisioterapia pela UDESC e Colaboradora do LADEHU

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi verificar a incidência de alterações The aim of this study was to verify the incidence of foot
podais em pré-escolares da faixa etária de 2 a 6 anos, matriculados alterations in preschool children aged 2 to 6 years old, registered
durante o primeiro semestre de 2001 no “Colégio Dehon”, de during the first semester 2001, in “Dehon School”, Tubarão/SC,
Tubarão/SC, procurando levar a feito ações preventivas para alte- trying to take preventive actions for further posture alterations. A
rações posturais ulteriores. As 97 crianças matriculadas nas séries total of 97 children were assessed. The foot alterations were
de pré-escola, na época da realização da pesquisa, constituíram a detected with a footscan pedograph. Through the observation,
amostra. As alterações podais foram detectadas com o auxílio de the children’s shoes were analyzed; size adaptation and presence
um podógrafo. Através da observação, foram analisados os cal- of medial arch and wearing were observed. An incidence of 50,5%
çados das crianças, observando-se a adequação do tamanho, presen- of flat foot was observed; 61,2% were found in the age group, 2
ça de arco medial e desgastes. Foi observada uma incidência de to 4 years old, being considered physiologic. Hallux valgus was
50,5% de pés planos, dos quais 61,2% foram encontrados na the only present alteration in the toes and was verified in 11,3%
faixa etária de 2 a 4 anos, sendo considerados fisiológicos. A única of the children. Alterations were more common in males than in
alteração presente nos artelhos foi o hálux valgo, constatada em females. Children’s shoes did not show significant wearing, with
11,3% da amostra. No sexo masculino prevaleceu a maior parte low prevalence of small shoes (5,2%) and medial arch (15,5%).
das alterações. O calçado da maioria das crianças não apresentou Considering stages of foot development in humans, the earlier
desgaste significativo, com baixa prevalência de calçados pequenos identification of foot alterations, discerning physiologic and
(5,2%) e com arco medial (15,5%). Considerando as etapas pathological aspects, make possible preventive intervention of
maturacionais do pé humano, identificar de forma precoce as future complications.
alterações podais, discernindo aspectos fisiológicos e patológicos, Key-words: foot, alterations, preschool, primary prevention.
é deveras relevante, possibilitando intervenção preventiva de
futuras complicações.
Palavras-chave: pés, alterações, pré-escola, prevenção
primária.

Recebido 30 de outubro de 2003; aceito 15 de março de 2005


Endereço para correspondência: Giane Caon, Rua Desemb. Pedro Silva, 2202, bl. 16/03 Coqueiros 88080-700 Florianópolis SC, Tel: (48)
348-4559, E-mail: gianecaon@ig.com.br
246 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Introdução A escolha da faixa etária embasou-se no conhecimento


das etapas maturacionais normais do desenvolvimento
Os pés constituem a base de sustentação corporal. O pé podálico, considerando o período de alterações podais
humano possui uma função dupla de suportar o corpo na fase fisiológicas, representado pelo faixa etária de 1 a 4 anos (a
de estação (apoio) e de propulsão (oscilação) durante a marcha. pesquisa teve a idade de 2 anos como limite inferior por
Qualquer alteração nesta base resultará em compensações ser característica da amostra), e a transição para a aquisição
biomecânicas, as quais podem vir a comprometer os vários de padrões mais maduros, na busca por uma ação preventiva
segmentos do corpo e causar alterações posturais. precoce.
Do nascimento até o final da segunda infância, o pé passa Os instrumentos utilizados na coleta de dados foram
por diversos estágios de maturação e etapas evolutivas normais ficha de avaliação e podógrafo. A ficha de avaliação foi
[1]. Segundo Diméglio [2], os membros inferiores sofrem uma utilizada para registro dos resultados da avaliação podal e
evolução morfofisiológica natural, passando de uma fase de dos calçados de cada sujeito.
geno varo para valgo, denotando variações temporárias nos A avaliação podal foi realizada com o auxílio de um
formatos podálicos. Assim, os termos “pé chato” ou “valgo” podógrafo, de acordo com as descrições de Bricot [4]. O
não devem ser empregados na faixa etária de 1 a 4 anos, a não método de avaliação de Bricot foi utilizado por descrever
ser que acompanhados do termo “fisiológico”. Na verdade, a de forma didática a seqüência das etapas de avaliação, em
maioria das crianças dessa faixa etária possui pé planovalgo que é verificada a rigidez ou a flexibilidade do pé plano. É
(ou chato) fisiológico, tratando-se de um pé plano falso, visto uma técnica freqüentemente praticada em avaliações
que o arco longitudinal está formado, mas não é visualizado podais, citada por autores clássicos [3,5].
por estar recoberto por uma espessa camada de tecido adiposo. Pela íntima relação com a saúde do pé, fez-se necessário
Conforme Behman e Kligman [1], a velocidade normal a avaliação dos calçados das crianças, observando-se o
da maturação podálica varia de acordo com cada indiví- tamanho e o tipo de desgaste apresentado. A classificação
duo. Assim, a persistência de pés palnovalgo até os 8 para tamanho adequado foi baseada no procedimento
anos de idade pode ser considerada normal. Já por volta descrito por Murahvschi [6]. Para o autor, o calçado pode
dos 10 e 12 anos de idade, a criança geralmente apresenta ser considerado como ideal se possuir a distância da largura
um arco plantar bem desenvolvido e neutro em relação do polegar do terapeuta, entre a ponta do hálux e sua
aos movimentos de varismo e valgismo do retropé [3]. extremidade anterior.
De acordo com Diméglio [2], as alterações podálicas Para verificar o desgaste do calçado, foram empregadas
mais comumente encontradas são: pé planovalgo, pé cavo, as afirmações descritas por Cailliet [7], cuja normalidade
pé eqüino e pé calcâneovalgo. envolve o desgaste discreto da parte externa do salto.
O diagnóstico precoce de alterações podais ainda na A coleta de dados foi realizada entre os meses de junho
infância é de importância fundamental, pelo seu papel na e julho de 2001, com as devidas autorizações da
gênese de alterações biomecânicas que, cronicamente, podem coordenação do educandário, dos pais das crianças
tornar-se sintomáticas, denotando problemas posturais, constituintes da amostra e dos professores.
desgastes articulares e distúrbios de marcha, entre outros. Os dados foram analisados qualitativamente e apresentados
A atenção sobre os calçados utilizados por crianças de forma descritiva. Para a análise estatística dos mesmos, foi
também é importante, considerando que sua inadequação utilizado o software EPIINFO 6.0 para Windows.
contribui para a incidência de desvios posturais, favorece
a má formação óssea e compromete componentes mio- Resultados e discussão
articulares.
A presente pesquisa teve por objetivo verificar a Dos 97 sujeitos constituintes da amostra, em relação
incidência de alterações podais em pré-escolares da faixa ao gênero, 44,3% eram do sexo feminino e 55,7% do
etária de 2 a 6 anos, matriculados no “Colégio Dehon”, de masculino, distribuídos na faixa etária de 2 a 6 anos
Tubarão/SC, procurando relacioná-la com o uso de calçados conforme o gráfico 1.
inadequados, a fim de proporcionar atitude preventiva
primária no que se refere a alterações posturais ulteriores. Gráfico 1 - Distribuição da amostra segundo faixa etária.

Material e métodos

Trata-se de uma pesquisa de campo, do tipo descritiva


diagnóstica, realizada em todos os pré-escolares de 2 a 6
anos de idade matriculados no primeiro semestre letivo
de 2001 no Colégio Dehon, da cidade de Tubarão, Santa
Catarina, totalizando 97 sujeitos.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 247

No referente à incidência de alterações podais gerais, Gráfico 3 - Incidência de desgaste dos calçados em vista posterior.
foi observado que 43 das 97 crianças (44,3%) não
apresentaram alterações. Dos 55,7% restantes, a grande
maioria apresentou pés planos (gráfico 2). Não houve a
presença de alterações podais do tipo pés calcâneovalgo e
em eqüinismo.
Gráfico 2 - Incidência de alterações podais gerais.

No referente ao desgaste da superfície da sola, a maioria


das crianças (47,9%) apresentou-o na parte anterior e
posterior, enquanto para 7,3% o desgaste se restringiu à
parte posterior da sola. Não houve desgaste em 44,8% dos
calçados avaliados.
Em relação ao gênero, a maior prevalência de pés
Do total de pés cavos observados, 3,2 % eram cavos planovalgo ocorreu no sexo masculino, correspondendo
sem desvio em valgo ou varo, enquanto os 2% restantes a 63,3% dos casos em que foram detectadas alterações
apresentaram pés cavo valgo. podais. Na alteração em hálux valgo, referente à avaliação
Na avaliação dos artelhos, a única alteração que se fez dos artelhos, da mesma forma, prevaleceram os casos no
presente foi o hálux valgo, incidindo em 11,3% das sexo masculino, englobando 72,7%.
crianças. Destas, 7,2% possuíam hálux valgo à direita, Quanto à faixa etária, 61,2% dos casos de pés
3,1% à esquerda e em 1% dos casos a alteração era bilateral. planovalgo incidiram entre crianças de 2 a 4 anos de idade,
Segundo Serra, Petit e Carrel [8], a gênese para tal não sendo observado casos do tipo rígido, denotando a
deformidade pode estar relacionada ao uso de calçados presença do pé chato fisiológico. Conforme Diméglio [2],
estreitos e pontiagudos, pois os mesmos obrigam os dedos o pé chato é considerado fisiológico entre 1 e 4 anos de
a se agruparem uns sobre os outros, o que, a longo prazo, idade, sendo descrito como um falso pé chato, visto que
conduzirá à uma debilidade dos músculos intrínsecos do a abóbada plantar está presente, mas não está visível por
pé e, conseqüentemente, à limitação da formação do arco ser recoberta por uma espessa camada adiposa.
anterior, alterando a estrutura de metatarsos e falanges. Dentre os pés cavos encontrados, as crianças entre 5
Os mesmos autores descrevem, ainda, alterações em pé e 6 anos foram as que apresentaram maior incidência.
chato e cavo como agentes precursores da deformidade em Apenas um infante de 2 anos de idade apresentou esse
hálux valgo. No presente estudo, a associação entre hálux tipo de alteração.
valgo e pés planovalgos foi observada em 7,2% da amostra. Dentre as alterações podálicas encontradas, 17,5%
Para Manfio [9], há um componente hereditário na mereceram atenção especial, sendo consideradas
predisposição para hálux valgo, mas a influência do uso significativas para patologias em potencial. As crianças
de calçados inadequados é considerável. portadoras de tais alterações foram encaminhadas para
Na avaliação dos calçados, observou-se que 5,2% das avaliação e tratamento especializado.
crianças apresentaram calçados pequenos, conforme No estudo comparativo entre alterações podais e
critério de Murahvschi [6]. Na observação do arco medial, desgaste dos calçados, não foi encontrada relação quanto
constatou-se que em 84,5% dos casos o mesmo era ao pé cavo. Dos 49 pré-escolares que possuíam pés
ausente; já 15,5% das crianças possuíam calçados com planovalgo, 6,78% apresentaram desgaste do lado interno
arco medial. do calçado, achado que comprova a afirmação de Adams
É preciso salientar que o calçado inadequado altera a e Hamblen [10], a qual revela que crianças com esse tipo
sensibilidade do pé da criança. Para exemplificar, o sapato de alteração podálica desgastam mais rapidamente o lado
com suporte para o arco médio perturba a propriocepção interno do calçado.
fina do pé, provocando retardo na maturidade do sistema Em relação ao tamanho do calçado, por sua vez, foi
proprioceptivo podálico. Assim, a ausência de pressão sobre observada prevalência de 9,3% de calçados pequenos no
exteroceptores e proprioceptores desta zona pode provocar sexo feminino, percentual em franca queda para o sexo
um desequilíbrio do pé; um exemplo é o pé varo [3]. masculino, cuja constatação foi feita em 2,7% dos casos.
Quanto ao desgaste dos calçados, observado em vista É importante salientar a significância positiva que o
posterior, o gráfico 3 demonstra que a grande maioria das acompanhamento longitudinal do desenvolvimento
crianças não apresentou qualquer tipo de desgaste. morfofuncional podálico de infantes tem na prevenção e
248 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

terapêutica precoce de alterações. Dessa forma, seria de Neste sentido, o discernimento entre alterações
grande interesse o estabelecimento de programas de fisiológicas e patológicas se faz necessário, para que a
seguimento sobre o desenvolvimento físico de pré- intervenção possa ser eficaz e apropriada.
escolares, com atenção voltada à base corporal: os pés. Acompanhar o desenvolvimento morfo-funcional dos
Outro ponto de considerável importância é a avaliação pés desde a mais tenra idade permite a identificação
e a instrução a pais e educadores quanto aos calçados precoce de alterações negativas, e a intervenção corretiva
utilizados pelas crianças da pré-escola. De acordo com sobre as mesmas, no sentido de minimizar seus efeitos
Carmo e Domingos [11], pré-escolares devem andar na maturação orgânica.
descalços pelo menos por algum período do dia, em
terrenos enriquecidos de estímulos geradores de reflexos Referências
que induzam a tonificação da musculatura do pé, o que é
proporcionado por diferentes texturas do terreno (areia, 1. Behman R, Kligman R. Nelson: princípios pediátricos.
grama, etc). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1990.
Os pais, por sua vez, devem examinar a profundidade 2. Diméglio A. Ortopedia pediátrica. São Paulo: Santos; 1990.
3. Sizíneo H et al. Ortopedia e traumatologia: princípios e
dos calçados para terem certeza de que o topo do sapato
práticas. 2a ed.. Porto Alegre: Artmed; 1998.
não esteja apertando os artelhos. O ideal é procurar por 4. Bricot B. Posturologia. São Paulo: Ícone; 1995.
calçados com formato “arredondado” que proporcionem 5. Hoppenfeld S. Propedêutica ortopédica: coluna e
liberdade de movimentos aos dedos dos pés, o que é extremidades. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001.
necessário para seu crescimento em tamanho e função 6. Murahvschi J. Pediatria: diagnóstico + tratamento. São
quanto ao suporte de peso e equilíbrio [11]. Paulo: Sarvier; 1995.
7. Cailliet R. Pé e tornozelo. São Paulo: Manole; 1975.
Conclusão 8. Serra G, Petit D, Carril S. Fisioterapia em traumatologia,
ortopedia e reumatologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2001.
Considerando as características funcionais dos pés, 9. Manfio E. Estudo de parâmetros antropométricos e
biomecânicos do pé humano para a fabricação de
aplicadas inclusive em termos da ontogênese motriz, uma
calçados segundo critérios confortáveis, saúde e
abordagem de observação sobre aspectos morfológicos segurança. [dissertação]. Santa Maria: Universidade de
podálicos constitui atitude preventiva em relação a Santa Maria; 1995.
deformidades ascendentes futuras. 10. Adams JC, Hamblen DL. Manual de ortopedia. 11a ed.
Porto Alegre: Artes Médicas; 1994.
11. Carmo G, Domingos A. O pé plano e sua correção através
de exercícios ginásticos. Florianópolis: UDESC; 1984. J
250 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Artigo original

Influências do envelhecimento, do tempo de evolução


da doença e do estado cognitivo sobre os episódios
de quedas, em uma população parkinsoniana
Influences of aging, period of disease development and cognitive state
on fall episodes in patients with Parkison disease
Fernando Amâncio Aragão, M. Sc*, Fabiana Magalhães Navarro**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Cascavel-PR,
**Fisioterapeuta, Especialista em Gerontologia pela PUC-PR

Resumo Abstract
Episódios de quedas são importantes fatores limitantes Falls are important events during the physical treatment of
no tratamento de pacientes parkinsonianos, provocando a patients with Parkinson disease, so they may be prevented in
piora inexorável do seu quadro clínico e do seu prognóstico. order not to exacerbate the clinical signs. The aim of this study
Esse trabalho tem como objetivo analisar a correlação entre was to investigate if there was any direct association among aging,
a evolução da idade, o tempo de evolução da doença de the time of PD evolution and the cognitive changes on fall episodes
Parkinson e alterações no estado cognitivo sobre episódios in PD patients. Fifty subjects with PD were submitted to a
de quedas de parkinsonianos. Cinqüenta pacientes portadores de preliminary questionnaire and to the Mini Mental Test to evaluate
doença de Parkinson foram avaliados através de um questionário, their cognitive state. The statistical analysis (paired T-test with p <
com posterior aplicação do teste do Mini Exame do Estado 0,05) showed a direct correlation between the cognitive decline
Mental. A análise estatística inferencial (teste de hipóteses com and aging, as well as the period of sickness development
teste T pareado adotando p < 0,05) confirmou a correlação entre contributed to the increased fall risk. On the other hand, the
o envelhecimento e o nível de disfunção cognitiva crescente dos cognitive changes were not associated to the increased fall risk.
pacientes. Houve, ainda, relação entre a evolução da DP e o risco Key-words: Parkinson’s disease, cognition, accidental falls,
aumentado de quedas, entretanto, não se confirmou a hipótese aging.
de que alterações cognitivas podem predizer um risco aumentado
nos episódios de quedas para essa amostra de parkinsonianos.
Palavras-chave: Doença de Parkinson, cognição, acidentes por
quedas, envelhecimento.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução aparecem graus variados de rigidez e bradicinesia, com


alterações posturais e instabilidade. Por fim, surgem
Considerada por alguns pesquisadores como uma distúrbios motores significativos, é quando o paciente
aceleração anormal do envelhecimento de etiologia necessita de ajuda, em algumas ou todas as suas atividades
desconhecida, mas intimamente relacionada à idade, a de vida diária. Normalmente, para que estes sintomas
Doença de Parkinson (DP) foi primeiramente denominada sejam deflagrados, é necessária uma depleção de pelo
como paralisia agitante por James Parkinson, em 1817 [1]. menos 70% dos neurônios da substância negra, que leva
Trata-se de uma doença neurodegenerativa crônica e a uma diminuição de 85-90% da concentração de dopamina
progressiva, e seus sinais e sintomas variam de acordo com nos gânglios da base. Isto gera uma diminuição na interação
o estágio de evolução da doença [2,3]. entre informações sensitivas nos gânglios da base, levando
No inicio, a DP é caracterizada por uma sensação de a uma alteração no planejamento motor e na facilitação do
fadiga, a seguir surgem tremores progressivos e, então, movimento [2,4-7].
Artigo recebido em 7 de agosto de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.
Endereço para correspondência: Fernando Amâncio Aragão, Rua Universitária, 2069 (CCBS/UNIOESTE) 85819-110 Cascavel PR, Tel:
(45) 220-3236, E-mail: faaragao@unioeste.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 251

À medida que a doença progride, a farmacoterapia nesses pacientes demanda uma inevitável investigação das
paliativa mostra-se menos efetiva em minimizar as restrições questões pertinentes tanto ao envelhecimento natural quan-
motoras, elevando-se o impacto e custos sociais sobre o to à fisiopatologia específica da DP, e se torna uma grande
sistema previdenciário [8]. e poderosa ferramenta preventiva no tratamento fisiote-
Nesse contexto, as quedas e a instabilidade postural tor- rapêutico do paciente parkinsoniano.
nam-se graves conseqüências relacionadas à perda dos refle- Esse trabalho buscou analisar a correlação existente entre
xos posturais, gerada pelas alterações de processamento sen- alterações no estado cognitivo, idade e tempo de evolução
sorial [9,10], que provocam danos físicos e sociais à popu- da DP sobre os episódios de quedas em uma população de
lação parkinsoniana. pacientes parkinsonianos.
No Brasil, 30% dos idosos caem ao menos uma vez ao
ano. Sendo a freqüência dos episódios de quedas maiores em Material e métodos
mulheres do que em homens da mesma faixa etária [11,12].
Além disso, dois terços das mortes ligadas à complicação de O presente estudo foi realizado com 50 indivíduos
lesões são decorrentes de episódios de quedas [13,14]. portadores de Doença de Parkinson na Associação Paranaense
Fatores relacionados ao ambiente, como tapetes, pisos, de Portadores de Parkinson (APPP), situada na cidade de
obstáculos no chão são determinantes para quedas em Curitiba–PR, no período entre 09/2003 e 11/2003.
parkinsonianos e, em razão da morbidade gerada pela doença, Foram incluídos na pesquisa indivíduos com mais de 60
as quedas podem provocar graves conseqüências, entre elas anos, de ambos os sexos, portadores de Doença de Parkinson
hematomas subdurais, fraturas de fêmur e de punho, que clinicamente diagnosticada, não acamados e com nenhuma
levam a severas incapacidades funcionais [3,10]. outra patologia associada.
Aspectos psicológicos incidem ainda sobre o paciente Os critérios para exclusão da pesquisa foram:
parkinsoniano vítima de quedas, o que provoca uma perda indivíduos não deambulantes, deficientes visuais
de confiança na capacidade de realizar suas atividades de (cegos), indivíduos com diagnóstico de demência, com
vida diária, isolamento social e estado de dependência alguma interferência acentuada na comunicação oral
aumentada. Esses indivíduos se tornam mais propensos a ou que apresentassem sinais e sintomas que colocassem
novos episódios de quedas, gerando um ciclo vicioso de em risco a saúde dos idosos durante a realização do
retro-alimentação positiva relacionado à morbidade e acele- teste.
rando a evolução da doença [15]. Realizou-se uma anamnese sucinta com idosos
Além dos aspectos motores descritos, a doença de parkinsonianos, onde se interrogou acerca da história da
Parkinson acompanha também um declínio cognitivo, doença, sua evolução, principais sinais e sintomas,
que muitas vezes já está instalado pela própria idade do medicamentos utilizados e histórico de quedas, com
indivíduo e que se acentua pelo caráter progressivo da doença posterior aplicação do teste do Mini Exame do Estado
ou como efeito colateral do tratamento farmacológico [5,6]. Mental (MEEM). Além disso, caso houvesse a presença
Tudo o que ocorre entre a experiência sensorial básica e o de acompanhantes com os indivíduos avaliados, os
inicio da resposta pode ser considerado como cognição, não questionamentos relacionados à doença eram realizados
só processos do pensamento, atenção, linguagem e memória, na presença destes.
mas também aspectos da consciência e das emoções [16]. O MEEM é um teste cognitivo amplamente utilizado
O declínio cognitivo que atinge os parkinsonianos não é na prática clínica para identificar alterações cognitivas
tão grave quanto o que ocorre na doença de Alzheimer, iniciais. É uma ferramenta útil por se constituir de um
onde estão presentes componentes apráxicos, agnósicos e questionário rápido, prático, validado e bastante seguro
afásicos; apenas 15 a 20% dos pacientes com DP apresentam em seus resultados em relação ao estado cognitivo dos
uma demência profunda. Normalmente, o sintoma mais indivíduos avaliados [21].
característico da demência nestes pacientes é o padrão de O teste envolve duas categorias de respostas, verbais e
lentidão mental [10,17,18]. não-verbais, onde estão inseridos fatores relacionados à
Nas fases iniciais, essas alterações cognitivas são coordenação perceptivo-motora, compreensão de instrução.
detectáveis apenas através da aplicação de testes neuropsi- O MEEM é composto por 30 questões categóricas e, a
cológicos específicos. Com o avançar da doença, os sintomas cada resposta considerada correta, é atribuído um ponto ao
cognitivos vão se tornando evidentes e cerca de 1/3 dos paciente. Normalmente a pontuação é feita da seguinte
pacientes acabam desenvolvendo um quadro de demência forma: 30 a 26 pontos, função cognitiva preservada (nor-
associada aos sintomas motores do parkinsonismo [19]. mal); 25 a 24 pontos, o indivíduo apresenta uma alteração
Poucos estudos até o presente momento buscaram estu- leve sugestiva de déficit e com 23 pontos ou menos, o teste
dar a efetiva relação entre o estado cognitivo e o risco de sugere déficit de cognição [22].
quedas em parkinsonianos [20]. O conhecimento acerca Após o término das avaliações, fez-se a compilação dos
dos possíveis fatores envolvidos nos episódios de quedas dados e em seguida foi realizada sua análise estatística
252 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

descritiva e inferencial. Para análise inferencial foi empregado A Figura 3 traz resultados correlacionando o teste
o teste T de Student, adotando-se (a = 0,05). Para tanto, foi cognitivo (MEEM) e o histórico de quedas dos pacientes
utilizado o software estatístico GraphPad Prism v.3.0, 1999. estudados. Nela é possível observar que não existe correlação
A análise estatística inferencial foi baseada em teste de direta entre as alterações cognitivas e aumento do índice de
hipóteses para os pareamentos realizados com os dados quedas. O asterisco representa a diferença estatisticamente
obtidos na ficha de avaliação aplicada. significativa encontrada entre os resultados obtidos (p=0,023
Portanto, para que fossem confirmadas as hipóteses Teste T de Student).
testadas, não deveriam ser encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre os pareamentos dos testes Figura 3 – Gráfico comparativo entre o estado cognitivo (MEEM) e o
histórico de quedas. Não houve correlação entre os resultados encontrados
realizados, classificando essas respostas como correlacionáveis.
para a hipótese testada. O asterisco representa a diferença estatisticamente
significativa encontrada (*p < 0,05 Teste T de Student).
Resultados

A análise dos resultados mostrou que 22 pacientes


(44%) pertenciam ao sexo feminino, enquanto que 28
(56%) pertenciam ao sexo masculino. Além disso, a
idade dos pacientes da amostra variou entre 60 e 84
anos.
A Tabela 1 mostra os resultados relativos à estatística
descritiva aplicada em cada uma das variáveis estudadas.
Tabela 1 – Resultados obtidos durante a avaliação dos pacientes
contendo a Média, o Desvio Padrão e os valores Mínimo e Máximo.

Média D. P. Min Máx


A Figura 4 mostra a correlação entre o resultado do
Idade (anos) 69,14 ±6,443 60 84 MEEM e a faixa etária dos pacientes, mostrando que existe
MEEM (pontos) 25,22 ±4,372 12 30 uma relação direta entre a progressão da idade e o aumento
Histórico do de comprometimento cognitivo nos indivíduos da amostra,
número de
evidenciada pela ausência de diferença estatística entre s
quedas (freq) 3,56 ±5,35 0 30
grupos testados (p = 0,252).
Evolução da
doença (anos) 7,24 ±5,11 1 25 Figura 4 – Gráfico comparativo entre o estado cognitivo e a faixa etária
dos pacientes. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os
A Figura 2 mostra os dados coletados sobre a
resultados estudados, confirmando a hipótese de que a progressão da idade
incidência de quedas entre os pacientes, desde o inicio
leva ao aumento das alterações cognitivas.
dos sinais e sintomas da Doença de Parkinson, mostrando
que 64% das mulheres e 68% dos homens apresentavam
história de quedas, isto é, 66% dos indivíduos portadores
de Doença de Parkinson já apresentavam ao menos um
episódio de queda.
Figura 2 – Histórico de quedas relatado pelos pacientes da amostra.

Na Figura 5, é apresentada uma comparação entre o


tempo de evolução da DP desde seu aparecimento, e o
histórico de quedas dos pacientes avaliados. É observada
uma correlação direta entre o tempo de evolução da doença
e o aumento da presença de quedas nos indivíduos pesqui-
sados, evidenciada pela ausência de diferença estatisticamente
significativa entre os dados estudados (p = 0,061).
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 253

Figura 5 – Gráfico comparativo entre a evolução da DP e o histórico de aspectos do exame mental tradicional, tais como humor,
quedas. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas excentricidade ou alucinações. Nesse sentido, apesar de
entre os resultados, confirmando a hipótese de que quanto maior o tempo de confiável, o MEEM é visto como um instrumento de
evolução da DP, maior a freqüência de quedas dos indivíduos. rastreamento e não de diagnóstico [24,25].
Portanto, embora a eficácia e validade do MEEM estejam
comprovadas, pacientes normalmente possuem baixas
performances em testes que avaliam a capacidade de
seqüenciamento e ordenação temporal de idéias e fatos, e
em testes que analisam as estratégias de recordação, pois o
componente puro envolvendo a memória, que também está
comprometida, pode influenciar, de forma determinante,
testes que visam avaliar a função cognitiva geral, já que
pequenas deteriorações mentais e intelectuais, características
do processo de envelhecimento, podem por si só compro-
meter em alguns casos esses testes [19].
É importante considerar também que os dados relacio-
nados ao histórico de quedas e tempo de evolução da lesão,
à medida que foram coletados a partir dos relatos dos
Discussão próprios pacientes ou de acompanhantes, estão sujeitos a
imprecisões.
De maneira geral, os resultados mostram que o estado O envelhecimento natural, associado aos sintomas decor-
cognitivo não mostrou estar relacionado com o risco de rentes da DP, faz com que a deficiência cognitiva seja
quedas aumentado, entretanto, a faixa etária do indivíduo freqüentemente uma marca registrada desses pacientes [26].
mostrou estar relacionada com alterações cognitivas, e o Esse dado é corroborado pelos dados apresentados, à
tempo de evolução da doença influenciou o aparecimento medida que os resultados evidenciam que foi encontrado um
de episódios de quedas em parkinsonianos. decréscimo da função cognitiva com o avançar da idade,
A doença de Parkinson é claramente uma afecção relacio- comprovando uma correlação entre a evolução natural da
nada à idade, isto é, atinge com maior freqüência a população idade do indivíduo com DP e sua maior propensão a
mais idosa [5], provocando sinais e sintomas que interferem desenvolver crescentes deficiências cognitivas (Figura 4).
muito na independência funcional e na qualidade de vida Episódios de quedas nesta população também se tornaram
destes indivíduos, que passam a acumular alterações próprias aparentemente importantes, pois 66% dos entrevistados,
do envelhecimento, juntamente com a exacerbação dos défi- referiram ter ao menos um episódio de queda desde o inicio
cits instalados por ocasião da DP, como a deficiência cognitiva da manifestação dos sinais e sintomas característicos da DP, e
[23]. Assim, torna-se interessante e necessária a investigação apenas 34% referiram nunca terem caído (Figura 2).
dessa população, buscando encontrar e isolar as melhores Com o avançar da idade e a instalação de sinais
formas de intervenção para o tratamento fisioterapêutico e característicos de envelhecimento, são cada vez maiores as
prevenção de complicações desses indivíduos. possibilidades de que idosos desenvolvam os sintomas
Apesar dos resultados mostrarem que muitos pacientes clínicos que caracterizem a presença da DP, aumentando
possuíam alterações cognitivas, como já era esperado, a sua propensão a quedas [27].
hipótese de que essas alterações cognitivas presentes nos Foi observado que portadores de DP que relatavam
indivíduos poderiam predizer um maior risco de quedas terem sido vítimas de quedas tinham a instalação da doença
não se confirmou (Figura 3). Esse dado é de certa forma em média há 12 anos, e indivíduos sem relatos de quedas
interessante, pois é natural imaginar que durante o desen- há pelo menos 6 meses, possuíam a doença até no máximo
volvimento de alterações cognitivas, principalmente em 10,9 anos [20].
indivíduos que já desenvolveram sintomas motores impor- Nesse estudo, os achados confirmam a hipótese de que
tantes, como na DP, esses estejam mais predispostos a quedas, quanto maior o tempo de evolução e instalação da doença,
como conseqüência da somatória das lentidões cognitiva e mais propensos a quedas tornam-se os indivíduos portadores
motora. da DP (Figura 5), confirmando dados clássicos que apontam
O desenvolvimento do Mini Exame do Estado Mental a evolução dos sinais e sintomas da DP em caráter
(MEEM) resultou de um estudo que observou que 80% dos progressivo ao longo dos anos de instalação da doença, e
distúrbios cognitivos entre os idosos não eram detectados reafirmando a necessidade de maiores cuidados com esses
pelo clínico geral. Este teste provê uma análise para pacientes com o passar do tempo.
identificação de distúrbios cognitivos não identificados no Pesquisas que apontem claramente informações úteis para
idoso, avaliando somente a cognição, não se atendo a outros a prática no dia-dia do tratamento fisioterapêutico de indivíduos
254 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

parkinsonianos se fazem cada vez mais necessárias, à medida 10. Fahn S, Przedborski S. Parkinsonismo In: Rowland LP. Merrit
que o envelhecimento progressivo da população torna esse Tratado de neurologia. 10a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
tipo de paciente cada vez mais comum nos consultórios e clínicas Koogan; 2002. p.589–602.
11. Graziano KU, Maia FOM. Principais acidentes de causa externa
de fisioterapia e que, possivelmente, orientações simples podem
no idoso. Gerontologia 1999;7:133-9.
nortear especificidades do tratamento crônico desses pacientes
12. Chandler JM. Equilíbrio e quedas no idoso: questões sobre a
e, principalmente, prevenir eventos que claramente reduzem a avaliação e o tratamento. In: Guccione AC. Fisioterapia
qualidade de vida e o prognóstico do paciente parkinsoniano, geriátrica. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.
como é o caso das quedas. 265 – 77.
13. Pereira SRM. O idoso que cai. In: Sociedade Brasileira de
Conclusão Geriatria e Gerontologia. Caminhos do envelhecer. Rio de
Janeiro: Revinter; 1994. p.217-23.
Esse estudo confirmou uma evolução natural entre o 14. Raina P, Dukeshire S. Paterms of self-reported health care use
aumento da idade e a progressão da disfunção cognitiva em in injures and injured olders adults. Aging 1999;28:316–8.
15. Portin R, et al. Impairment of semantic knowledge in
parkinsonianos, embora não tenha se confirmado, com a
Parkinson disease. Arch Neurol 2000;57(9):1338-43.
metodologia adotada, a hipótese de que indicativos de 16. Bertolucci PHF. Cognição. In: Levy JA, Oliveira ASB.
alteração cognitiva podem predizer um maior risco de Reabilitação de doenças neurológicas. São Paulo:
episódios de quedas nesses indivíduos. Por outro lado, Atheneu; 2003. p.73–80.
com a evolução da DP, fica clara a maior predisposição a 17. Teive HAG, Arruda WO. Fisiopatologia dos sinais da
quedas desses indivíduos, devendo o fisioterapeuta estar doença de Parkinson. In: Meneses MS, Teive HAG.
sempre atento às progressivas alterações deletérias Doença de Parkinson. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara
presentes, para que esses eventos não se tornem o fator Koogan; 2003. p.50–3.
limitante na qualidade de vida e no prognóstico de 18. Unverzagt FW. Cognitive decline and education in mild
tratamento dos pacientes parkinsonianos. dementia. Neurology 1998;50:181-5.
19. Tumas V. Disfunção cognitiva. In: Meneses MS, Teive
HAG. Doença de Parkinson. 2a ed. Rio de Janeiro:
Referências Guanabara Koogan; 2003. p.129–36.
20. Behrman AL, et al. Is the functional reach test useful for
1. Parkinson J. An essay on the shaking palsy. London: identifying falls risk among individuals with Parkinson’s
Sherwood Neely and Jones; 1817. Disease? Arch Phys Med Rehabil 2002;83:538–42.
2. Sullivan SBO. Doença de Parkinson. In: Sullivan SBO, 21. Bertolucci PHF, Brucki SMD, Compacci SR. Proposta de
Schitz TJ. Fisioterapia, avaliação e tratamento. 2a ed. São padronização do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM):
Paulo: Manole; 1993. p.549–64. estudo piloto cooperativo (FMUSP/EPM). Arq
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neurológica. 2a ed. São Paulo: Manole; 1994. p.557–64.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 255

Artigo original

A influência do isostretching nas alterações


dos parâmetros da marcha em idosos
The influence of the isostretching on the alterations
of the gait parameters in elderly people
Renata Coury Figueredo Sanglard*, João Santos Pereira, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Mestranda do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ / Professora do Curso
de Fisioterapia do Centro Universitário de Barra Mansa, **Professor Titular do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu
em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ

Resumo Abstract
O processo de envelhecimento é freqüentemente acompanhado The aging process is frequently accompanied by alterations in
de alterações posturais e da mobilidade, ocasionando instabilidade posture and mobility, causing gait instability. The present study
na marcha. O presente estudo verificou a influência que o verified the influence that the Isostretching exerts on the alterations
Isostretching exerce sobre as alterações dos parâmetros da marcha of the gait parameters in elderly people, using the Cerny Protocol.
em idosos, utilizando o Protocolo de Cerny. Os participantes The participants were female, with age between 60 and 69 years
eram do sexo feminino, com idade entre 60 a 69 anos e foram and they were divided in two groups, the control group and the
divididos em dois grupos, o grupo controle e o grupo experimental group. Both were evaluated twice, in other words,
experimental. Ambos foram avaliados duas vezes, ou seja, o grupo the control group at the beginning and at the end of the study
controle no início e no fim do estudo e o grupo experimental and the experimental group before and after it being submitted
antes e após ter sido submetido às sessões de Isostretching. Os to the sessions of Isostretching. The data were statistically analyzed,
dados foram analisados estatisticamente, concluindo-se que, para being concluded that, for p < 0.05, there was significant
p < 0,05, houve melhora significativa nos valores dos parâmetros improvement in the value of the gait parameters after the
da marcha após a intervenção. intervention.
Palavras-chave: sistema motor, isostretching, idoso, marcha. Key-words: motor system, isostretching, elderly people, march.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
reação, diminuição da acuidade visual e auditiva, da
A população idosa está crescendo mais rapidamente que sensibilidade tátil, da massa óssea, aumento da rigidez
a população mundial, numa proporção de 2,5% ao ano [1]. articular, diminuição da força muscular, alterações no
A cada ano, cerca de 10% da população adulta a partir dos equilíbrio, na postura e na marcha [3].
75 anos perde a independência em uma ou mais atividades A locomoção é um tipo de movimento muito comum no
de vida diária [2]. comportamento motor humano, composta por movimentos
A senescência, acompanhada por uma série de alterações integrados e complexos dos segmentos do corpo humano [4].
nos sistemas nervoso, sensorial e aparelho locomotor, traduz Cada pessoa tem sua maneira idiossincrática de andar, de
a diminuição do número de neurônios, diminuição da acordo com sua idade e sua anatomia, que associadas a outros
velocidade de condução nervosa, diminuição do tempo de fatores, podem alterar os parâmetros da marcha, que é

Artigo recebido em 24 de agosto de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Renata Coury Figueredo Sanglard, Rua São Clemente, 185 bloco 2/1006 Botafogo 22260-001 Rio de Janeiro RJ, Tel:
(21)2538-9041/8808-9041, E-mail: renatasanglard@aol.com
256 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

caracterizada por duas fases: a de apoio, na qual o pé está Material e métodos


em contato com o solo e, a de balanço que é determinada
quando o pé está no ar. A fase de apoio ocupa 60% da O estudo em questão foi realizado através de uma
passada e a fase de oscilação ocupa 40% da passada. Uma pesquisa experimental, de caráter quantitativo e comparativo,
combinação entre equilíbrio, flexibilidade e força muscular utilizando um grupo controle e um grupo experimental.
fornece os ajustes necessários para uma marcha eficiente
[5,6]. População e amostra
Ocorrem diferenças significativas nos valores do tempo
de duplo apoio em relação à idade, a porcentagem deste Na seleção inicial foi utilizado um grupo de 56 indivíduos
tempo na passada aumenta com o aumento da idade. Estes idosos, do sexo feminino, com idade variando de 60 a 69
fatos ocorrem devido à necessidade do idoso de utilizar anos, com queixas de instabilidade postural e, no mínimo,
mecanismos de compensação para as alterações do equilíbrio, uma queda no último ano, escolhidos aleatoriamente, per-
visando obter maior equilíbrio durante a marcha [7,8]. tencentes a um grupo de Terceira Idade, na cidade de Barra
Um dos determinantes primordiais da qualidade de vida Mansa, no Estado do Rio de Janeiro. A seguir, os indivíduos
dos idosos é a sua capacidade de deambular. Dificuldades foram submetidos a uma avaliação clínica geral para que se
na marcha, queda e medo para andar causam significativa pudesse realizar a exclusão dos que não fossem compatíveis
incapacidade nos idosos, que apresentam dificuldades na com a amostra proposta. Foram excluídos do estudo os indi-
regulação das respostas que requerem velocidade e precisão. víduos que apresentavam patologias ortopédicas, neurológicas,
Durante a marcha eles aumentam a base de sustentação, os otorrinolaringológicas, vasculares, metabólicas, degenerativas
passos são curtos e lentos, o tronco tende a fletir-se para e neoplásicas. Dos participantes deste grupo, 16 foram excluídos
proporcionar estabilidade. No entanto, isso pode inibir as da pesquisa por se enquadrarem nos fatores de exclusão ou
reações automáticas de equilíbrio, restringir as atividades ou por não apresentarem disponibilidade e interesse.
até mesmo provocar a imobilidade. Há também diminuição Após esta triagem, fizeram parte do estudo 40 indivíduos
da amplitude dos movimentos de flexão dorsal dos idosos, do sexo feminino, divididos em dois grupos de 20
tornozelos. A associação destas alterações faz com que não indivíduos cada, constituindo os grupos controle e experi-
se consiga retornar ao centro de gravidade, com conseqüente mental. A idade média foi de 64,7 e 64,6 anos para o grupo
perda do equilíbrio, alterando a marcha e podendo predispor controle e experimental, respectivamente.
o idoso a sofrer quedas [9]. O projeto foi submetido à aprovação do Comitê de Ética
Muitos autores sugerem, baseados em seus estudos, da Universidade Castelo Branco, estando de acordo com a
que através de exercícios físicos é possível obter efeitos Resolução número 196 de 10/10/1996, do Ministério da Saúde.
positivos sobre os parâmetros da marcha, diminuir o risco Os participantes assinaram um termo de livre consen-
de quedas e melhorar as atividades funcionais de idosos timento para serem submetidos à pesquisa e autorizando a
[10-13]. divulgação dos resultados para fins científicos, sem serem
O método Isostretching busca, através da manutenção identificados.
de posturas durante o ato expiratório, exercícios de alonga-
mento e contrações isométricas, promover uma maior Instrumento de medida
mobilidade articular, tonificar a musculatura, desenvolver
a tomada de consciência das posições corretas da coluna e A mensuração dos parâmetros da marcha foi realizada
da capacidade respiratória, desenvolver a propriocepção e através do Protocolo de Cerny [17], que é um método cinemático
melhorar o funcionamento corporal, contribuindo para a quantitativo, capaz de fornecer dados relevantes para o estudo
melhora da postura, do equilíbrio e conseqüentemente dos da marcha, como o comprimento do passo e da passada, largura
parâmetros da marcha e da qualidade de vida. Por do passo, cadência e velocidade da marcha através do
promover a harmonia das curvaturas fisiológicas da coluna deslocamento habitual do indivíduo pelo ambiente. Os parâmetros
vertebral, este método pode evitar a anteriorização do avaliados são de grande valor para a realização da marcha, já
tronco, comum no processo de envelhecimento e que que alterações neles podem ocasionar disfunção da marcha.
contribui para as alterações do equilíbrio e dos parâmetros Para a realização deste protocolo são necessários: um
da marcha. O fortalecimento é essencial para uma boa cronômetro, duas canetas hidrocor, fita adesiva e uma passarela
sustentação da posição ereta e também para facilitar o de dezesseis metros com piso regular. As canetas são fixadas
movimento, já que a atividade estática precede e prepara na região posterior dos sapatos dos indivíduos testados com
para a realização do movimento [14,15]. O funcionamento a ajuda da fita adesiva de modo que a ponta da caneta toque
eficaz do aparelho osteomioarticular promove melhora da o solo, enquanto o mesmo deve caminhar pela passarela que
postura e das reações de equilíbrio e facilita a marcha, nas deve conter as seguintes medidas: 5,0 metros iniciais, 6,0
situações em que o sistema nervoso central se mantém metros centrais e 5,0 metros finais. Os sapatos utilizados devem
íntegro [16]. ser de plataforma baixa e amarrados superiormente.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 257

O indivíduo deve ser instruído a deambular em velocidade Figura 2 - Posturas assimétricas do método Isostretching.
habitual do início ao final da passarela e o avaliador irá acionar
o cronômetro no início dos 6,0 metros centrais e desativá-lo
ao final destes 6,0 metros centrais. Todos os dados analisados
serão retirados do percurso central.
O comprimento do passo direito é medido no espaço
compreendido entre o toque da caneta presa no pé esquerdo
e o toque da caneta presa no pé direito. O comprimento do
passo esquerdo é medido no espaço compreendido entre o
toque da caneta presa no pé direito e o toque da caneta
presa no pé esquerdo. O comprimento da passada direita é Figura 3 - Posturas do método Isostretching utilizando bastão e bola.
medido no espaço compreendido entre dois toques consecu-
tivos da caneta presa no pé direito. O comprimento da
passada esquerda é medido no espaço compreendido entre
dois toques consecutivos da caneta presa no pé esquerdo. A
largura do passo refere-se à distância coberta por um passo
perpendicular à direção da locomoção, conforme medido a
partir dos pontos de contato do calcanhar. O comprimento
e a largura do passo e o comprimento da passada devem
ser expressos em centímetros. A cadência é uma medida da
freqüência do passo, que é definida como o número de
passos realizados por unidade de tempo e é usualmente
Análise estatística
expressa em passos por minuto. A velocidade da marcha é
Após o experimento, os resultados de ambos os grupos
definida como a distância percorrida na direção da loco-
foram analisados e comparados estatisticamente, através do
moção por unidade de tempo, e pode ser expressa em metros
teste t-Student, para dados pareados e não pareados. O nível
por minuto.
de significância estatística determinado para este estudo foi
de p < 0,05.
Procedimento
Resultados
Os participantes do grupo experimental foram avaliados
de acordo com o Protocolo de Cerny, antes e após se
1 - Grupo controle x grupo experimental (1ª avaliação)
submeterem ao programa de Isostretching. Os participantes
Através da inferência estatística realizada pelo teste t-
do grupo controle foram avaliados no início e no final da
Student para amostras independentes, com o objetivo de
pesquisa, ou seja, na mesma data em que os indivíduos do
detectar se existe igualdade, em média, ou não entre os
grupo experimental foram avaliados, porém não foram
grupos analisados, observou-se que, para p<0,05, havia
submetidos à intervenção terapêutica.
diferença significativa entre os valores médios das variáveis
As sessões de Isostretching foram realizadas duas vezes
“passada direita” e “passada esquerda”. Para as demais
por semana, com duração de 40 minutos cada, por um período
variáveis não havia diferença significativa entre os valores
de doze semanas, totalizando vinte e quatro sessões. Em cada
médios apresentados, conforme Tabela I.
sessão foram utilizadas posturas diferentes, sendo que nas
primeiras oito sessões, somente foram utilizadas as posturas Tabela I - Teste de significância para igualdade de médias populacionais,
simétricas por serem mais fáceis de serem realizadas. A partir com amostras independentes.
da nona sessão, foram iniciadas as posturas assimétricas e
somente após a décima oitava sessão, utilizou-se os bastões e V ariável Grupo controle Estatística p-valor
x grupo teste t
as bolas de 1 kg para dificultar a realização dos exercícios.
experimental
Figura 1 - Posturas simétricas do método Isostretching. PASSO D 1ª avaliação 0,64 0,526
PASSO E 1ª avaliação 1,51 0,140
PASSADA D 1ª avaliação 2,39 0,022
PASSADA E 1ª avaliação 2,17 0,036
CADÊNCIA 1ª avaliação - 0,90 0,372
VELOCIDADE 1ª avaliação 0,63 0,531

Para as variáveis que apresentaram diferenças entre suas


médias, havia a necessidade de saber qual o tipo de diferença
258 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

apresentavam, por isto foram testadas novamente. Assim, Tabela IV - Teste de significância para igualdade de médias populacionais,
evidenciou-se que os valores médios para as variáveis testadas com amostras dependentes.
são maiores no grupo controle do que no grupo experimental,
V ariável Grupos Estatística p-valor
sendo encontrados os valores de t = 2,39 e p = 0,989 para
teste t
a variável “passada direita”, e t = 2,17 e p = 0,982 para a
variável “passada esquerda”. PASSO D C1 X C2 1,22 0,237
2 - Grupo controle x grupo experimental (2ª avaliação) PASSO E C1 X C2 1,15 0,266
Através da inferência estatística realizada pelo teste t-Student PASSADA D C1 X C2 2,30 0,033
PASSADA E C1 X C2 2,14 0,046
para amostras independentes, com o objetivo de detectar se
CADÊNCIA C1 X C2 1,46 0,161
existe igualdade, em média, ou não entre os grupos VELOCIDADE C1 X C2 1,26 0,223
analisados, observou-se que, para p < 0,05, havia diferença
significativa entre os valores médios das variáveis, conforme Foi necessário saber qual o tipo de diferença apresentavam,
Tabela II. evidenciando que os valores médios das variáveis testadas
eram maiores na 1ª avaliação, sendo encontrado o valor de
Tabela II - Teste de significância para igualdade de médias populacionais, t = 2,30 e p = 0,983 para a variável “passada direita”, e t =
com amostras independentes. 2,14 e p = 0,977 para a variável “passada esquerda”.
4 - Grupo experimental (1ª avaliação) x grupo experimental
V ariável Grupo controle Estatística p-valor
x grupo teste t (2ª avaliação)
experimental Foi aplicado o teste t-Student para amostras dependentes,
comparando os valores médios apresentados na 1ª e 2ª
PASSO D 2ª avaliação -9,13 0,000 avaliações do grupo experimental. Sendo que, para p<0,05,
PASSO E 2ª avaliação -7,11 0,000
havia diferença significativa entre os resultados das
PASSADA D 2ª avaliação -7,49 0,000
PASSADA E 2ª avaliação -7,65 0,000 comparações da 1ª e 2ª avaliações de todas as variáveis
CADÊNCIA 2ª avaliação -6,11 0,000 testadas, conforme Tabela V.
VELOCIDADE 2ª avaliação -8,88 0,000 Tabela V - Teste de significância para igualdade de médias populacionais,
com amostras dependentes.
Foi necessário saber qual o tipo de diferença apresentavam.
Assim, evidenciou-se que os valores médios para as V ariável Grupos Estatística p-valor
variáveis testadas são maiores no grupo experimental do teste t
que no grupo controle. Os dados estão expressos na Tabela
PASSO D E1 X E2 -17,01 0,000
III.
PASSO E E1 X E2 -11,36 0,000
Tabela III - Teste de significância para igualdade de médias populacionais, PASSADA D E1 X E2 -16,46 0,000
PASSADA E E1 X E2 -13,69 0,000
com amostras independentes.
CADÊNCIA E1 X E2 -5,16 0,000
V ariável Grupo controle Estatística p-valor VELOCIDADE E1 X E2 -14,11 0,000
x grupo teste t As variáveis foram testadas novamente e evidenciou-se que
experimental
os valores médios das variáveis eram maiores na 2ª avaliação.
PASSO D 2ª avaliação -9,13 0,000 Os valores estão expresso na Tabela VI.
PASSO E 2ª avaliação -7,11 0,000
PASSADA D 2ª avaliação -7,49 0,000 Tabela VI - Teste de significância para igualdade de médias populacionais,
PASSADA E 2ª avaliação -7,65 0,000 com amostras dependentes.
CADÊNCIA 2ª avaliação -6,11 0,000
V ariável Grupos Estatística p-valor
VELOCIDADE 2ª avaliação -8,88 0,000
teste t
3 - Grupo controle (1ª avaliação) x grupo controle (2ª PASSO D E1 X E2 -17,01 0,000
avaliação) PASSO E E1 X E2 -11,36 0,000
Foi aplicado o teste t-Student para amostras dependentes, PASSADA D E1 X E2 -16,46 0,000
comparando os valores médios apresentados na 1ª e 2ª PASSADA E E1 X E2 -13,69 0,000
avaliações do grupo controle. Sendo que, para p<0,05, havia CADÊNCIA E1 X E2 -5,16 0,000
diferença significativa entre os resultados das comparações VELOCIDADE E1 X E2 -14,11 0,000
da 1ª e 2ª avaliações das variáveis “passada direita” e
“passada esquerda”. Para as demais variáveis não havia Discussão
diferença significativa entre os valores médios na 1ª e 2ª
avaliações, conforme Tabela IV. O sexo feminino foi escolhido para o estudo, pois vários
estudos indicam maior chance de quedas neste sexo [18-20].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 259

Murray et al. [7] acreditam que as mudanças no andar Em um estudo realizado por Teixeira-Salmela et al. [25]
do idoso estão mais associadas à perda do controle do com indivíduos adultos e idosos, com média de idade de
equilíbrio do que às mudanças no ciclo do passo 63,6 ± 6,3, concluiu-se, entre outros dados, que a velocidade
propriamente dito, tendo em vista que os resultados do da marcha apresentou melhora significativa após o programa
estudo com homens saudáveis, com força e amplitude de de treinamento, com um ganho percentual de 25%.
movimento normais, revelaram que os homens com mais Castro et al. [26] encontraram a velocidade de 1,05 m/
de 67 anos de idade apresentaram velocidades de andar s e cadência de 119 passos/minuto como sendo a velocidade
significativamente mais lentas (118 a 123 cm/s) do que os e a cadência confortáveis para idosos do sexo feminino,
jovens (150 cm/s), assim como diminuição do comprimento com idade entre 60 e 69 anos. Na 1ª e 2ª avaliações do
do passo e da amplitude de movimento de flexão do quadril, grupo controle e na 1ª avaliação do grupo experimental, a
joelho e tornozelo. Concluiu-se que os idosos não média da velocidade da marcha e da cadência foi menor no
apresentavam um andar patológico, mas sim um andar que presente estudo do que no estudo realizado por Castro et al.
pudesse fornecer mais estabilidade, assim como os idosos [26]. Porém, na 2ª avaliação do grupo experimental
do presente estudo. observou-se que a média da velocidade da marcha atingiu
Em um estudo realizado na Escócia por Potter et al. valores superiores aos sugeridos no estudo anterior.
[21], foi possível concluir que a velocidade da marcha pode
refletir na realização das atividades da vida diária. Esta Conclusão
conclusão foi elaborada a partir dos dados colhidos durante
um estudo, no qual constatou-se que os idosos que apresen- O aumento dos valores dos parâmetros da marcha,
tavam velocidade da marcha menor do que 25 m/min obtidos através do Protocolo de Cerny, demonstrou que os
tinham significativamente mais probabilidade de apresen- idosos submetidos à intervenção, através do Isostreching,
tarem dependência em uma ou mais atividades da vida diária, foram capazes de realizar passos e passadas maiores, além
enquanto os indivíduos com velocidade da marcha de aumentar a velocidade e a cadência da marcha.
compreendida entre 35 m/min e 55 m/min eram indepen- As alterações, provocadas pelo envelhecimento, sobre
dentes nas atividades de vida diária. Cress et al. [22] corrobora os parâmetros da marcha podem predispor o idoso à quedas
com os autores acima ao afirmar que a velocidade da marcha e conseqüentemente à perda da independência funcional.
é um bom preditor do estado da função física em idosos. Como estas alterações não são ocasionadas por uma única
Taaffe e Marcus [23] consideram o fortalecimento muscular causa, mas pelo somatório de inúmeros fatores, os programas
como sendo um dos métodos capazes de diminuir o risco de manutenção e restauração da eficiência da marcha devem
de quedas e fraturas, diminuindo assim a dependência incluir atividades complexas, ou seja, o treinamento não deve
funcional. ser específico e sim global. Esta proposta pode ser eviden-
Através dos resultados fornecidos pelo protocolo de ciada através do Isostretching, percebendo-se, pela melhora
Cerny, observou-se que as médias das varáveis “passada do controle postural e da imagem corporal, resultados
direita” e “passada esquerda” na 1ª avaliação eram maiores satisfatórios
no grupo controle do que no grupo experimental, prova-
velmente devido ao fato de os indivíduos terem sido escolhi- Referências
dos aleatoriamente. As demais variáveis não apresentavam
diferença significativa (p>0,05) entre suas médias. Ao se 1. Carter N, O’Driscoll ML. Life begins at forty! Should the route
analisar os resultados do grupo controle e experimental na to promoting exercise in elderly people also start in their forties?
2ª avaliação, encontrou-se diferença significativa (p<0,05) Physiotherapy 2000;86(2):85-93.
2. Beissner KL, Collins JE, Holmes H. Muscle force and tange
entre as médias de todas as variáveis testadas, sendo estas
of motion as predictors of function in older adults. Phys
maiores no grupo experimental. Assim, para o grupo estu- Ther 2000;80(6);556-63.
dado, foi possível concluir que houve melhora significativa 3. Soares AV, Matos FM, Laus LH, Suzuki S. Estudo
nos valores dos parâmetros da marcha nos idosos que foram comparativo sobre a propensão de quedas em idosos
submetidos aos exercícios de Isostretching. institucionalizados e não institucionalizados através do nível
A velocidade da marcha parece ser uma das variáveis de mobilidade funcional. Fisioter Bras 2003;4(1):12-6.
dos parâmetros da marcha potencialmente útil nos estudos 4. Bruniera CAV. Estudo biomecânico da locomoção humana:
que avaliam a eficácia de uma determinada intervenção análise de várias descritivas para o andar e correr [dissertação].
terapêutica. Fransen et al. [24] ressaltam que mudanças nos São Paulo: EEFE – Escola de Educação Física e Esporte; 1994.
5. Rose J, Gamble JG. Marcha humana. 2a ed. São Paulo: Premier;
parâmetros da marcha podem ocorrer, em muitas pessoas,
1998. 280p.
antes que qualquer perda funcional seja percebida. Este 6. Barr AE, Backus SI. Biomecânica da marcha. In: Nordin M,
estudo pode justificar o uso de programas físicos, como o Frankel VH. Biomecânica básica do sistema
Isostretching, para retardar as alterações funcionais musculoesquelético. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
provocadas pela diminuição da velocidade da marcha. 2003. p. 379-96.
260 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

7. Murray MP, Kory RC, Clarkson BH. Walking patterns in 17. Cerny KA. Clinical method of quantitative gait analysis. Phys
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preliminares. Acta Fisiátrica 2000;7(3):103-7. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 261

Artigo original

Eletroestimulação diafragmática transcutânea


em indivíduos saudáveis
Transcutaeous diaphragmatic electrostimulation in healthy individuals
Eli Maria Pazzianotto Forti*, Graciele Porta Pachani**,
Maria Imaculada de Lima Montebelo***, Dirceu Costa, D.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia e Coordenadora do Curso de Especialização em Fisioterapia


Cardiorrespiratória da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP,
**Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP,
***Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde e da Faculdade de Ciências Matemáticas,
da natureza e tecnologia da informação – UNIMEP, ****Docente do Programa de Mestrado em Fisioterapia
da Faculdade de Ciências da Saúde – UNIMEP

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da EDT The objective of this study was to evaluate the influence of
na função diafragmática em 20 mulheres jovens e saudáveis, transcutaneous diaphragmatic electrostimulation (TDE) in the
divididas em dois grupos de 10, sendo um controle e outro function of the diaphragmatic muscle in 20 female young and
experimental. A EDT foi realizada com o Phrenix Dualpex, healthy that were divided into two groups of 10, namely the control
cuja intensidade no grupo controle foi a mínima, para promover group and the study group. The equipment used to apply the TDE
sensação de formigamento e no experimental, a suficiente para was Phoenix Dualpex, and the intensity applied to the control
promover contração visível e palpável do diafragma. Foram group was just enough to cause a tingling sensation, enough
avaliadas as medidas de PImax e PEmax, volume corrente (VC), intensity was applied to promote a visible and palpable contraction
volume minuto (VM), capacidade inspiratória (CI), capacidade of the diaphragm. PImax and PEmax, the current volume (CV),
vital (CV) e freqüência respiratória (FR), antes e após dez sessões minute volume (MV), inspiratory capacity (IC) and vital capacity
de 30 minutos de EDT. Os resultados no grupo controle não (VC), the respiratory frequency (RF) before and after ten 30-minute
foram significativos. No experimental, os resultados foram DTE sessions were evaluated. The results in the control group
significativos para PImax , VC , VM e CI (p < 0,05). Para os were no statistically significant. To the study group, the results
valores da PEmax, CV e FR (p > 0,05) não revelaram diferença showed a statistically significant difference for PImax , CV, MV and
significativa. Podemos concluir que a EDT se mostrou efetiva na IC (p < 0.05). The PEmax, VC and RF did not show statistically
melhora da performance do músculo diafragma desses indivíduos. significant differences. We can conclude that TDE was effective in
Palavras-chave: fisioterapia respiratória, treinamento muscular the performance improvement of the diaphragm muscle.
respiratório, eletroestimulação transcutânea diafragmatica, função Key-words: respiratory physical therapy, respiratory muscle
pulmonar. training, transcutaneous diaphragmatic electrostimulation, lung
function.

Artigo recebido em 17 de setembro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005


Endereço para correspondência: Eli Maria Pazzianotto Forti, Curso de Fisioterapia - Faculdade de Ciências da Saúde - Universidade
Metodista de Piracicaba, Rodovia do Açúcar, km 153 Piracicaba SP, Tel.: 3124-1585, E-mail: empforti@unimep.br
262 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Introdução As voluntárias foram divididas, randomicamente, em


2 grupos de 10, sendo um placebo e um experimental,
A eletroestimulação diafragmática transcutânea (EDT) definidos de acordo com a intensidade da corrente elétrica
constitui uma técnica utilizada na fisioterapia respiratória (EDT) aplicada. Foram realizadas 10 sessões, sendo cinco
com objetivo de fortalecimento muscular diafragmático, dias consecutivos por duas semanas e uma sessão por dia,
que começou a ser estudada em 1857 por Ziemmsem. com duração de 30 minutos, respeitando sempre o mesmo
Entretanto, a partir de 1950, ela passou a ser mais estu- período do dia para cada voluntária.
dada, aplicada em humanos e indicada para portadores Para a realização da EDT foi utilizado o equipamento
de doença pulmonar com o objetivo de melhora da função Phrenix Dualpex com os seguintes parâmetros: freqüência
diafragmática e diminuição da secreção pulmonar de pulso de 30 Hz, freqüência respiratória de 14 rpm,
expectorada [1,2]. tempo de subida (rampa) de 0,7s, largura de pulso de 1,2
Estudos realizados por meio da estimulação diafrag- ms e a intensidade foi aplicada de duas formas, o que
mática contribuíram na definição de dados importantes caracterizou cada grupo de eletroestimulação. Sendo que
relacionados à sua aplicação, como a definição dos pontos em um grupo a intensidade foi suficiente para promover
motores do diafragma, assim como a corrente e os uma contração visível e palpável do diafragma e, no outro
parâmetros a serem utilizados [3,4]. a intensidade foi a mínima e insuficiente para promover
Segundo Fitting [5], a aplicação da técnica de EDT contração visível e palpável do diafragma, promovendo
está indicada em casos de disfunção do nervo frênico, somente sensação de formigamento.
podendo estar associada – ou não – a paresia/paralisia Para a realização das medidas de Pressão Inspiratória
unilateral ou bilateral do diafragma, dependendo do grau Máxima (PImax) e Pressão Expiratória Máxima (PEmax)
de comprometimento de fibras nervosas, que pode ser foi utilizado um manovacuômetro da marca FAMA-
causado por lesão cervical alta, polimiosites, neuropatias, BRAS, com intervalo operacional de 0 a +300 cm H20
polineurites, miopatias, uso de solução gelada para a para a PEmax, e de 0 a –300 cm H20 para PImax. Utilizou-
cardioplegia e doenças virais. se um dispositivo de plástico rígido, que serviu de
A utilização prolongada de ventilação mecânica, com adaptador de bocais, no qual havia um pequeno orifício
ou sem doença pulmonar associada, promove o de 2mm de diâmetro como válvula de alívio de pressão
desenvolvimento de atrofia muscular diafragmática por da cavidade oral, gerada exclusivamente por contração
desuso, sendo uma das causas da disfunção do nervo da musculatura da parede bucal. Um circuito flexível
frênico. Assim, a EDT pode ser indicada para o serviu de intermediário entre o manovacuômetro e o
recondicionamento do diafragma, melhorando sua função dispositivo de plástico rígido e um clipe nasal foi utilizado
e, conseqüentemente, diminuindo o tempo requerido para para evitar o escape de ar durante a realização das medidas
realizar o desmame do ventilador mecânico [6,7]. de PImax e Pemax [8].
Como forma de avaliar a performance do músculo As medidas de Volume Corrente (VC), Volume
diafragma frente a EDT, é possível realizar as medidas de Minuto (VM), Capacidade Inspiratória (CI) e Capacidade
PImax e PEmax, que refletem a força da musculatura Vital (CV) foram realizadas utilizando o ventilômetro da
respiratória [8], e as medidas dos volumes e capacidades marca OHMEDA que foi conectado ao paciente através
pulmonares que estão relacionadas à função pulmonar e de uma máscara de silicone, envolvendo as cavidades nasal
são dependentes da integridade dos músculos respiratórios e oral. Um cronômetro digital para obtenção da medida
[5]. da freqüência respiratória também foi utilizado.
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar Para a realização da EDT, as voluntárias ficaram em
a influência da EDT na função pulmonar e na força decúbito dorsal na maca de exame, com os joelhos
muscular respiratória em indivíduos saudáveis. flexionados, pés apoiados, braços ao longo do corpo e com
a cabeça sobre um travesseiro. Posição esta que diminui a
Material e métodos tensão dos músculos da parede abdominal, melhor
direcionando a EDT.
A eletroestimulação foi aplicada em 20 voluntárias Foram utilizados 4 eletrodos de carbono, sendo
saudáveis do sexo feminino, na faixa etária entre 18 e 25 posicionados 2 na musculatura paravertebral na altura da
anos, sem história de doença pulmonar, cardiovascular, 4ª vértebra lombar (Fig. 1), sendo localizado nas cristas
neuromuscular ou alterações posturais importantes que ilíacas, em seu ponto mais alto; e os outros 2 eletrodos,
pudessem comprometer a musculatura respiratória. nos pontos motores do músculo diafragma, entre o 6º e
Anteriormente à coleta de dados, todas as voluntárias 7º espaços intercostais, nas linhas axilares anterior direita
assinaram um termo formal de consentimento, conforme e esquerda (Fig. 2). Os eletrodos foram fixados à pele,
determina o Conselho Nacional de Saúde, através da previamente desinfetada com álcool 70%, com fita
Resolução 196/96. micropore.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 263

Figura 1 - Colocação dos eletrodos – vista posterior: na muscu latura Figura 4 - médias e desvios padrões das medidas de VC,VM e CI
paravertebral na altura da 4ª vértebra lombar. antes e após a EDT no grupo experimental, n= 10 p<0,05.

Figura 2 - Colocação dos eletrodos – vista anterior: nos pontos motores do


músculo diafragma entre o 6º e 7º espaços intercostais nas linhas axilares
anterior direita e esquerda.

Discussão

Após a aplicação da EDT, com intensidade suficiente para


promover um formigamento local, nossos resultados indicaram
Para a análise das variáveis, dentro do mesmo grupo, foi que não houve diferenças significativas nas variáveis analisadas
aplicado o teste Wilcoxon-T para dados pareados, PImax, PEmax, VC, VM, CI, CV e FR nas voluntárias do
considerando-se os dados obtidos antes e após a EDT. As grupo placebo. Esses resultados já eram esperados, pois no
análises foram processadas através do Sistema grupo placebo a EDET não promoveria contração da
Computacional Statística, e o nível de significância foi musculatura a ser estimulada. Isso pode ser explicado pelo
p<0.05. parâmetro “intensidade”, utilizado no grupo placebo, que foi
a mínima necessária para promover uma sensação de
Resultados formigamento, não permitindo contração muscular visível;
assim, não houve estimulação elétrica muscular e, portanto,
Os resultados mostraram que no grupo controle, não houve alteração da performance do músculo, tampouco
quando comparamos as variáveis antes e após a EDT, dos volumes e capacidades respiratórias medidas. Apesar de
não houve diferença significativa entre os valores da Aquim [9] ter encontrado, após a aplicação da EDT com
PImax, PEmax, VC, VM, CV, CI e FR . intensidade suficiente apenas para promover formigamento
Quando comparados os valores obtidos antes e após a local, melhora de valores de PImáx e volumes e capacidades
EDT, no grupo experimental, os resultados revelaram pulmonares. Tal diferença em relação aos dados da literatura
que houve aumento significativo na PImax, VC, VM e talvez seja explicada pelo tipo de corrente utilizado por Aquim
CI, como ilustram os gráficos das figuras 3 e 4. Sendo que [9].
os valores da PEmax, CV e FR não tiveram diferença No grupo experimental, os valores de PImax, VC,
significativa. VM e CI foram significativamente maiores após a EDT,
embora os valores de PEmax, CV e FR não tenham
Figura 3- Médias e desvios padrões das medidas de PI max, antes
apresentado diferenças significativas após a EDT.
e após a EDT, no grupo experimental, n=10. P<0,05.
Uma possível explicação para esses resultados reside
no fato de que a EDT visou estimular a musculatura
inspiratória e não a expiratória. As medidas de PImax,
VC, VM e CI estão relacionadas ao ato inspiratório, e as
medidas de PEmax e capacidade vital, ao ato expiratório.
Sendo o músculo diafragma predominantemente
inspiratório e responsável por 80% da inspiração, a EDT
certamente promoveu a melhora da sua função e,
conseqüentemente, aumentaram as medidas relacionadas
à força inspiratória da respiração.
A melhora do VM está relacionada ao aumento do
VC, pois aquele resulta da medida deste multiplicado pela
264 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

FR. Como não encontramos alterações nos valores de FR, nessas voluntárias no grupo experimental, evidenciado pelo
podemos atribuir o aumento do VM ao aumento real do aumento do volume corrente e capacidade inspiratória. Com
VC, mais uma vez enfatizando o incremento do ato isso, espera-se que essa técnica de EDT tenha grande
inspiratório após a EDT. importância na recuperação da força muscular respiratória
Apesar de não haver uma semelhança absoluta entre de pacientes com disfunção pulmonar, especialmente aqueles
nossa metodologia e a de Mier [10], nossos resultados com comprometimento da musculatura respiratória e,
estão de acordo com os desse autor, que realizou eletroes- portanto, sugerimos que a EDT incorpore os recursos e
timulação bilateral nos nervos frênicos em 3 indivíduos técnicas empregadas na Fisioterapia Respiratória.
saudáveis, e relatou aumento de volumes e capacidades
pulmonares relacionados à inspiração. Referências
Da mesma forma, Azeredo [6,7] relata que a aplicação
da EDT em indivíduos portadores de lesão cervical alta 1. Azeredo CAC, Slutzki LC. Eletroterapia respiratória. São
auxilia no desmame do ventilador mecânico precocemente, Paulo: Manole; 2001.
devido à melhora da função diafragmática desses pacientes, 2. Slutzky LC. Eletroterapia respiratória. São Paulo:
Manole; 1999.
sendo esta evidenciada por meio da eletromiografia,
3. Fernandes PV. Estimulação diafragmática elétrica
fluoroscopia, pressão transdiafragmática, manovacuometria transcutânea. [citado 1999 Jul 12] Disponível em URL:
e ventilometria. http//www.interfisio.com.br/index.asp
Poucos estudos foram realizados com a EDT em 4. Fernandes PV. Marcapasso diafragmático. [citado 1999 Jul 12].
pacientes com disfunção muscular, especialmente com com- Disponível em: URL: http//www.interfisio.com.br/index.asp
prometimento da musculatura respiratória. Nossos resul- 5. Fitting MDJW, Grassino MDA. Diagnosis of diaphragmatic
tados sugerem que mais estudos devam ser realizados com dysfunction. Clin Chest Med 1987;8(1):91-103.
tais pacientes e, se possível, envolvendo outras técnicas 6. Azeredo CAC. Fisioterapia respiratória moderna. 3a ed. São
tradicionais que são empregadas para a melhora da força Paulo: Manole; 1999.
muscular respiratória, bem como da função pulmonar. 7. Azeredo CAC. Fisioterapia Respiratória moderna. 4a
ed. Barueri: Manole; 2002.
8. Black FL, Hyatt ER. Maximal respiratory pressures: normal
Conclusões values and relationship to age and sex. Am Rev Respir Dis
1969;99:696-702.
Dentro das condições experimentais utilizadas, os 9. Aquim EE, Nascimento P. A aplicação da eletroestimulação
resultados obtidos neste trabalho nos permitem concluir que: transcutânea diafragmática em indivíduos normais. Fisioter
após a aplicação da EDT houve melhora da força muscular Bras 2000;1(1).
inspiratória das voluntárias que compuseram o grupo 10. Mier A, Brophy C. Measurement of twitch transdiaphragmatic
experimental, evidenciada pelas medidas de PImax; houve pressure: surface versus needle electrode stimulation. Thorax
um incremento dos volumes e capacidades pulmonares 1991;46(9):669-70. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 265

Artigo original

Fisioterapia durante a gestação: um estudo comparativo


Physical therapy during pregnancy: a comparative study
Lorena Miranda de Souza*, Rodrigo Nascimento Alves**, Reggiane Vilela Gonçalves***, Virgínia Maria F. R. Caldeira****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta e docente da disciplina Fisioterapia Aplicada a Uroginecologia e Obstetrícia do Centro Universitário do Leste de Minas
Gerais – UNILESTE-MG, **Fisioterapeuta e docente da disciplina Fisioterapia Esportiva da Faculdade de Fisioterapia do Vale do Aço
– UNIVAÇO-MG, ***Fisioterapeuta, ****Fisioterapeuta e docente da disciplina Fisioterapia Aplicada a Uroginecologia e Obstetrícia da
Faculdade de Fisioterapia de Caratinga – FAFISC

Resumo Abstract
O objetivo do estudo foi comparar as diferentes percepções The aim of this study was to compare the different perceptions
nas alterações causadas pela gravidez e na recuperação pós-parto, in alterations caused by pregnancy and postnatal recovery in
entre as puérperas submetidas ao atendimento fisioterapêutico puerpera submitted and not submitted to physical therapy
durante a gravidez e as mulheres não submetidas ao atendimento. attendance. Material and methods: 26 puerperas were evaluated at
Foram avaliadas 26 puérperas nas maternidades do Município de Caratinga city hospital. It consisted of two groups: the
Caratinga, divididas em dois grupos: o grupo experimental (G1), experimental group (G1), of 13 women who had undergone
de 13 mulheres que fizeram fisioterapia durante a gestação, e o physical therapy during the pregnancy and, the control group (G2),
grupo controle (G2), de 13 mulheres que não fizeram fisioterapia. of 13 women who had not undergone physical therapy. A
Foi aplicado um questionário que analisava informações sobre as questionnaire was applied to analyze the physical conditions during
condições físicas durante a gravidez e no pós-parto imediato. Para the immediate postpartum and pregnancy. For statistic analyse
análise estatística utilizou-se o teste Qui-quadrado com nível de we utilize the Qui-square test with level significance of p < 0.05.
significância de p < 0,05. A amostra apresentou média de idade Results: The sample presented an average of age in G1 of 28 ±
no G1 de 28 ± 5,05 anos e no G2 de 24 ± 3,55. As condições 5.05 years and in G2 of 24 ± 3.55. Some of the physical conditions
físicas dor lombar, dor nas pernas e edema, durante a gestação, during the pregnancy as low back pain, leg pain and edema were
não obtiveram diferenças significativas entre os grupos. As variá- not significantly different between the two groups. The dyspnea
veis dispnéia (p < 0,05), parestesia, cansaço e câimbra (p < 0,005) (p < 0.05), paresthesia, fatigue and cramp (p < 0.005) variables
foram significativas. O tratamento fisioterapêutico pode ser um were significant. Conclusions: Physical therapy attendance can be a
instrumento benéfico na melhoria da qualidade de vida e bem- beneficial tool in order to improve quality of life and physical
estar físico no período gestacional. well-being during pregnancy.
Palavras-chave: percepção, condições físicas, gestação. Key-words: perception, physical conditions, pregnancy.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
involuntário; alteração cardiovascular, através do volume
O período gestacional humano compreende diversas total de sangue, sendo o fluxo aumentado para o útero e
adaptações corporais e psicológicas. Ao longo de para os rins; o crescimento do feto, resultando na ampliação
aproximadamente 39 semanas de gravidez, a gestante sofre e deslocamento do útero; e, finalmente, o aumento de peso
adaptações fisiológicas e anatômicas, as quais são provocadas corporal e mudanças adaptáveis no centro de gravidade e
por alterações funcionais e metabólicas [1]. postura [2].
As adaptações da gravidez são resultantes, Além das mudanças posturais e hemodinâmicas, ocorre
principalmente, da interação direta de quatro fatores: também um deslocamento superior do diafragma, alterando
mudanças hormonais mediadas no colágeno e no músculo a percepção da respiração, sendo uma das causas do relato

Artigo recebido em 18 de novembro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Rodrigo Nascimento Alves, Rua Nelson Soares de Faria, 214/101 Cidade Nova 31170-030 Belo Horizonte MG,
Tel: (31) 8863-1408 / 3484-4863 / 9935-7166, E-mail: rodrigolapes@pop.com.br
266 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

de dispnéia durante a gravidez, além do volume minuto Foi realizado um estudo comparativo entre puérperas
alterado e esforço respiratório aumentado [3]. que fizeram fisioterapia durante a gestação, totalizando duas
Segundo Baracho [4], os bloqueios e desequilíbrios do sessões semanais e puérperas não submetidas ao atendimento
corpo da gestante podem ser fontes de dores locais ou fisioterapêutico durante a gravidez.
referidas ou provocar mecanismos compensatórios infraja- O trabalho de campo foi desenvolvido diariamente, no
centes ou suprajacentes, com conseqüente distúrbio do sis- período de 22 de março de 2002 a 22 de julho de 2002. A
tema musculoesquelético, entre eles a dor lombar, dor nas partir de todos os nascimentos ocorridos neste período foi
penas, fadiga, parestesias e câimbras. obtida uma população de 595 puérperas. Para este estudo,
Dentre os distúrbios musculoesqueléticos, a dor lombar foi selecionada uma amostra de 26 voluntárias das 595,
apresenta uma incidência de aproximadamente 50% durante escolhidas aleatoriamente. As 26 voluntárias foram divididas
a gestação [5]. Pacientes queixam-se de dor lombar persis- em dois grupos: o grupo experimental (G1), de 13 mulheres
tente e geralmente não intensa. A dor pode irradiar-se para que fizeram fisioterapia durante a gestação; e o grupo
uma ou ambas as nádegas. A dor é freqüentemente unilateral, controle (G2), de 13 mulheres que não foram submetidas a
sendo agravada ao andar e aliviada no repouso [6]. tratamento fisioterapêutico durante a gravidez.
Outro desconforto muscular associado à gestação são as Este estudo se limitou a analisar a influência dos resul-
câimbras na região posterior da perna, sugerindo que o aumento tados das sessões de fisioterapia no pré-natal, não abordando,
da atividade deste grupo muscular para manutenção do desta forma, os processos causais e terapêuticos, bem como
equilíbrio corporal pode levar à fadiga e conseqüentemente a influência do atendimento psicológico.
contribuir para o aparecimento das câimbras [7]. O trabalho de campo foi informado à coordenação das
Além destas alterações durante toda a gravidez, a gestante maternidades do Município de Caratinga (Hospital Nossa
acumula um excesso de 8,5 litros de água. O excesso de 2,5 Senhora Auxiliadora e Casa de Saúde União), onde o termo de
litros está mais provavelmente distribuído na substância básica consentimento foi assinado com as maternidades, autorizando
do tecido conjuntivo, visível como edema depressível de a visita diária do pesquisador e o acesso aos prontuários médicos.
tornozelo em aproximadamente 40 a 50% das gestantes Era também informado às voluntárias, por escrito e verbalmente
normais [8]. Para Karzel Jr. e Friedman [9], 83% das gestantes (através do termo de esclarecimento e consentimento), o
notam edema durante algum estágio de sua gravidez. conteúdo do questionário e a finalidade da pesquisa.
Segundo o Guia Oficial da YMCA para Exercícios Pré- As puérperas que fizeram fisioterapia (G1) deveriam ter
iniciado as sessões no segundo trimestre de gestação, com no
Natais [10], a atividade física proporciona benefícios à
mínimo duas sessões semanais, seguindo o protocolo de
saúde da gestante, tais como: uma melhor circulação
tratamento adotado na Clínica de Fisioterapia Uroginecológica
sangüínea, redução do edema, alívio dos desconfortos
e Obstétrica da Faculdade de Fisioterapia de Caratinga,
intestinais, diminuição das câimbras e facilita a recuperação
composto de aquecimento, atividade aeróbica, fortalecimento
no pós-parto.
muscular, alongamento, desaquecimento e relaxamento. Estas
A prática de exercício durante a gravidez evita o aumento
não poderiam participar de nenhum outro programa de atividade
de peso corporal, reduz o estresse cardiovascular, estimula a
física. Não foram incluídas na coleta de dados mulheres que
boa postura, previne algias nas regiões da coluna vertebral, o
sofreram aborto e foram submetidas à curetagem.
diabetes gestacional, melhora a imagem corporal e con-
O questionário aplicado analisava as percepções quanto
seqüentemente o estado psicológico, além de facilitar o tempo
às condições físicas durante a gestação (dor lombar, dor nas
de desprendimento fetal em partos vaginais [2]. Entretanto, as pernas, câimbras, parestesia, edema, cansaço, dispnéia e o
percepções corporais da puérpera no pós-parto imediato quanto ganho ponderal), no pós-parto (dor, disposição, cansaço, dor
aos diferentes sinais e sintomas causados pela gravidez e ainda nas pernas, edema e gases), além de informações sócio-
às percepções sobre os efeitos da prática fisioterapêutica durante econômicas e demográficas. As variáveis idade materna (em
a gestação permanecem com necessidade de investigação. anos completos), renda familiar (em salários mínimos),
Neste intuito, o presente estudo visa comparar as per- escolaridade materna (em anos completos na escola), números
cepções nas adaptações causadas pela gravidez e na recu- de filhos (primípara e multípara), e profissão foram incluídas
peração no pós-parto em puérperas submetidas e não sub- nesta análise por serem potenciais fatores na associação com
metidas ao atendimento fisioterapêutico durante a gestação. a prática ou não da fisioterapia durante a gestação.
As entrevistas com as puérperas foram realizadas diaria-
Material e métodos mente no pós-parto imediato nas maternidades e quando as
mesmas recebiam alta hospitalar antes da visita diária do
O presente estudo é uma extensão do Projeto de Iniciação pesquisador, os endereços das parturientes eram identifi-
Científica (PIC) – “Levantamento dos partos no Município cados nos prontuários e as entrevistas eram realizadas na
de Caratinga e a influência da fisioterapia e do atendimento residência da respectiva puérpera.
psicológico no pré-natal”, aprovado e desenvolvido na O procedimento estatístico constou da análise descritiva
Fundação Educacional de Caratinga – FUNEC. da amostra, da análise percentual dos dados e, para
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 267

comparação das médias, foi utilizado o Teste Qui-quadrado, Eventualmente, as parturientes do G1 apresentam um melhor
considerando o nível de significância p < 0,05. Utilizou-se nível sócio-econômico e cultural com maior renda familiar e
para análise dos dados o pacote estatístico SPSS 10. grau de instrução, o que pode ter levado a maior procura da
fisioterapia como recurso de preparo para o parto.
Resultados e discussão Pode ser constatado que as multíparas perfazem a maioria
em ambos os grupos, sendo 84,62% no G1 e 76,93% no
Desde o início do trabalho foram avaliados dois grupos, G2; apenas 15,38% no G1 eram primíparas, ou seja, tinham
totalizando 26 voluntárias, divididas em dois grupos de 13 somente um filho e 23,07% no G2. As multíparas são
parturientes. beneficiadas sobremaneira da prática fisioterapêutica durante
Os resultados das características sócio-demográficas das a gestação, uma vez que enfrentam dificuldades em função
parturientes demonstram: a média de idade do G1 é de 28 de já terem filhos. Estas dificuldades parecem decorrer, dentre
anos com desvio-padrão de ± 5,05, a média de idade do G2 é outros fatores, do desconhecimento total do próprio corpo e
de 24 anos com desvio-padrão de ± 3,55. Quanto ao estado do seu funcionamento, dos seus papéis frente à sociedade e
civil tem-se observado uma predominância de mulheres dos mitos e tabus relacionados à maternidade [12].
casadas, 84,62% em ambos os grupos, encontrando-se também Mesmo o número de partos vaginais apresentando uma maior
mães solteiras e amasiadas. No que tange às ocupações exercidas, incidência em ambos os grupos, como pode ser visto neste
a maioria das parturientes de ambos os grupos era do lar, sendo trabalho, o número de partos cesárea é alto, confirmando o
69,23% no G1 e 92,31% das puérperas no G2. que demonstra Faúndes e Cicatti [13], que o Brasil é um dos
Com relação à escolaridade das puérperas entrevistadas, líderes mundiais neste tipo de parto, com taxas em torno de
no G1, 38,48% tinham o segundo grau incompleto; 30,76% 30% desde o início da década de 80, contrariando as
o segundo grau completo; 23,07% primeiro grau completo recomendações da World Health Organization - WHO -
e 7,69% tinham o terceiro grau completo. No G2 a maioria Organização Mundial de Saúde, que é de 15% [14].
das parturientes, 76,93%, tinha o primeiro grau incompleto;
15,38%, o segundo grau incompleto e 7,69%, o segundo Figura 1 - Tipo de parto.
grau completo, como pode ser observado na tabela1.
Tabela I - Escolaridade das parturientes.

Escolaridade G1 G2

Primeiro grau incompleto - 76,93%


Primeiro grau completo 23,07% -
Segundo grau incompleto 38,48% 15,38%
Segundo grau completo 30,76% 7,69%
Terceiro grau completo 7,69% -

O nível educacional é a mais importante das medidas


convencionais da situação sócio-econômico, sendo a
educação e a renda familiar utilizadas por muitos autores Com relação ao tempo de trabalho de parto representado
como indicadores deste índice [11]. Assim, utilizamos as na tabela III, 38,46% das parturientes do G1 apresentaram
variáveis escolaridade e renda familiar para avaliar o nível de 4 a 7 h de trabalho de parto; 23,07%, de 8 a 12 h;
sócio-cultural das voluntárias. A amostra do G2, na sua 23,07% não souberam responder e 15,40% ficaram de 1 a
maioria, tem se caracterizado pela baixa renda e baixa 3 h em trabalho de parto. No G2, 30,76% das puérperas
escolaridade como pode ser observado no estudo. tiveram de 8 a 12 h de trabalho de parto; 30,76% ficaram
Com relação à renda familiar das parturientes avaliadas, o 19h em trabalho de parto; 15,41% não souberam responder;
G1 apresentou um melhor nível de renda comparado ao 15,38% de 4 a 7 h e 7,69% ficaram de 1 a 3 h em trabalho
G2, como observado na Tabela II. de parto.
Tabela II - Renda Familiar (em salários mínimos). Tabela III - Tempo de trabalho de parto.

Renda Familiar G1 G2 Tempo de trabalho de parto G1 G2

Menos que 1 salário - 23,10% 1a3h 15,40% 7,69%


1 salário 7,69% 30,76% 4a7h 38,46% 15,38%
2 salários 15,38% 30,76% 8 a 12 h 23,07% 30,76%
3-5 salários 38,46% 15,38% 13 a 18 h - -
5-10 salários 23,07% - 19 h - 30,76%
Não souberam 15,40% - Não sabe 23,07% 15,31%
268 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Polden e Mantle [2] relatam que o exercício durante a Ostgaard et al. [16] identificaram os efeitos de exercícios
gravidez facilita o tempo de período expulsivo em partos físicos na redução da dor lombar em gestantes, confirmando
vaginais. Desta forma, pode-se observar neste estudo que o efeito benéfico desta atividade. Cuidados com a região
houve uma tendência das parturientes do G1 a apresentarem lombar reduzem significativamente a dor nesta região em
um menor tempo de trabalho de parto que as parturientes gestantes com histórico de dor [17].
do G2, sugerindo o benefício da fisioterapia na redução do No presente estudo, ao serem analisadas as variáveis
tempo de trabalho de parto. dor lombar e dor nas pernas durante a gestação, não foram
Sobre o ganho ponderal durante a gestação, pode ser constatado encontradas diferenças significativas entre os dois grupos.
na tabela IV que a média de ganho ponderal após uma gestação Somente em relação a números absolutos foram observadas
típica de quarenta semanas chega a aproximadamente 12,5 kg, diferenças entre o grupo G1 e G2, para dor lombar e dor
um aumento de 20% do peso corporal para a maioria das nas pernas. A causa para esta pequena diferença entre os
mulheres. A maior parte deste ganho (68%) ocorre durante as dois grupos se deve ao fato de a fisioterapia ter como
últimas vinte semanas de gravidez [15]. objetivo prevenir as dores anteriormente ao parto. Porém,
isso não será possível em todos os casos, mas em geral
Tabela IV - Ganho ponderal durante a gestação. pode ser evitada uma maior intensidade da dor, ou pelo
Ganho PPonderal
onderal G1 G2 menos a sua gravidade e duração podem ser reduzidas
[2].
Menos que 7 kg - 7,70% Um dos objetivos da fisioterapia durante o pré-natal é
7 a 9 kg 15,38% - reduzir o aparecimento de câimbras nas pernas durante a
10 a 12 kg 38,48% 38,46%
13 a 15 kg - 23,07%
gravidez. No presente estudo, a incidência de câimbras foi
16 a 18 kg 30,76% - significativamente menor nas gestantes do G1, sugerindo o
19 a 21 kg - 23,07% beneficio da prática na redução da fadiga muscular e con-
Acima de 21 kg 15,38% 7,70% seqüente diminuição das câimbras.
Algumas gestantes desenvolvem síndromes comparti-
Para Polden e Mantle [2], o exercício durante a gravidez mentais reversíveis na porção inferior das pernas, em
evita o ganho de peso. Neste estudo não foram observadas combinação com o edema na gravidez. O edema pode
diferenças entre os dois grupos, sugerindo, desta forma, que reduzir o espaço disponível em áreas anatômicas relati-
a prática da fisioterapia durante a gestação não interfere na vamente estreitas, resultando nas síndromes de compressão
variável ganho ponderal, permanecendo a grande parte das nervosa [4]. Neste estudo, não houve diferença significativa
parturientes, de ambos os grupos, dentro dos parâmetros entre os dois grupos para a variável edema, sugerindo que
recomendados. outros fatores como a ingesta hidroeletrolítica, a variação
As condições físicas durante a gestação, representadas térmica e a terapia comportamental poderiam interferir
na figura 2, caracterizadas pelas variáveis dor lombar, no resultado.
dor nas pernas e edema, não obtiveram diferenças Segundo o American College of Obstetricians and
estatisticamente significativas entre os grupos. Enquanto Gynecologists (ACOG) [18], o útero em crescimento desloca
que as variáveis dispnéia (p < 0,05), parestesia, cansaço o diafragma para cima, reduzindo a altura das cavidades
e câimbras (p < 0,005) foram estatisticamente pleurais em até 4 cm e, em algumas mulheres, este
significativas, destacando a diferença destas variáveis entre mecanismo gera um desconforto e sensação de dispnéia.
os grupos G1 e G2. A maior incidência de cansaço e dispnéia nas gestantes
Figura 2 - Percepção das condições físicas na gestação. sedentárias, assim como uma significativa redução de
parestesia nas parturientes que fizeram fisioterapia durante
a gestação, sugere que as medidas fisioterapêuticas utilizadas
no pré-natal com objetivo de reduzir esses sintomas são
benéficas para este grupo.
Quanto às condições físicas no pós-parto, apresentadas
na figura 3, demonstrou-se que as variáveis dor lombar,
dor nas pernas, disposição, desânimo, cansaço e edema não
obtiveram diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos. Por outro lado, a variável gases (p < 0,05) foi
estatisticamente significativa, destacando a diferença desta
variável entre os grupos G1 e G2.
A dor lombar pode não ter sido incômoda durante a gravidez,
mas ela surge com freqüência após o parto. Isto se deve aos
Teste: *p<0,05; **p<0,005. efeitos tardios da relaxina sobre a estabilidade da espinha.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 269

Muitas mulheres irão se queixar de pernas doloridas, Com relação às condições físicas no pós-parto, podemos
pesadas e mesmo que os pés e tornozelos inchados não concluir que não houve diferença entre os grupos, tornando-
tiverem sido um problema antes do nascimento do bebê, eles se necessário um estudo voltado especificamente para este
podem ficar assim no período do pós-parto imediato [2]. período. Devendo as parturientes, como durante a gestação,
O timpanismo ou aumento de gases é muito comum no serem submetidas a tratamento fisioterapêutico no pós-parto
pós-parto, devido à diminuição no ritmo peristáltico [4]. imediato para conclusões mais precisas.
Neste estudo, as parturientes que fizeram fisioterapia Mesmo havendo necessidade de amostras maiores e
no pré-natal apresentaram uma menor incidência de dor estudos mais controlados, com o conhecimento dos
lombar no pós-parto, assim como uma menor incidência de processos causais e a freqüência da sintomatologia, ainda
dor nas pernas, não apresentando, porém, diferenças assim, podemos concluir que o tratamento fisioterapêutico
significativas entre os dois grupos. Em relação ao timpanismo durante a gestação pode ser um instrumento benéfico na
e o aparecimento de edema no pós-parto (p < 0,05), foi melhoria da qualidade de vida e bem-estar físico da mulher
observada uma maior incidência nas parturientes do G1. A grávida.
possível causa para este aumento é o fato de nenhum dos
grupos terem sido submetidos à prática fisioterapêutica no Referências
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Artigo original

Alterações do sistema nervoso autônomo


decorrentes da mobilização articular cervical
Alterations of the autonomic nervous system after
mobilization of the cervical spine
Alexandre Herz França*, Rodrigo Eston Armond*, Nédison Gomes Pain*,
Wladimir Musetti Medeiros*, Yara Juliano, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Universidade Santo Amaro – UNISA, Hospital Geral do Grajaú-HGG, **Universidade Santo Amaro – UNISA,
Titular da disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro

Resumo Abstract
As técnicas de mobilização articular são, muitas vezes, aplicadas Joint mobilization techniques are very often used for analgesic
com o propósito de promover analgesia. Sabe-se que essa analgesia purposes. It is known that this analgesia occurs under the influence
sofre influência do sistema nervoso autônomo. A variabilidade of the Autonomous Nervous System. The heart rate variability
da freqüência cardíaca possui variáveis que estão intimamente depends on parameters intimately connected to the Autonomous
ligadas a este sistema. Os trabalhos pesquisados não usaram Nervous System. The current studies did not used reliable analysis
métodos de análises fidedignos, resolveu-se, assim, fazer um methods, and, for this study, more complete and credible variables
estudo mais completo e com variáveis fiéis ao estudo. O estudo were chosen. The present study took place at The Hospital Geral
foi realizado no Hospital Geral do Grajaú, onde 15 universitários, do Grajaú, where 15 college students, average 22 years old, without
com média etária de 22,0 anos, sem histórico de alguma patologia, any pathology, were submitted to cervical joint mobilization. To
foram submetidos à mobilização articular cervical. Para a análise the statistical analysis the Friedman test was used, showing
estatística, usou-se o Teste de Friedman, apresentando significância significance in the majority of the studied variables. The
na maioria das variáveis estudadas. Evidenciou-se a atuação do performance of the Autonomous Nervous System was evident
sistema nervoso autônomo durante todo o processo de during all the mobilization process. There was a major
mobilização articular, havendo um maior predomínio do sistema predominance of the Parasympathic Nervous System before and
nervoso parassimpático, antes e durante a mobilização. Após a while the mobilizations, and the Sympathic Nervous System was
mobilização, houve predomínio do sistema nervoso simpático. more predominating after the mobilization.
Palavras-chave: sistema nervoso autônomo, mobilização Key-words: autonomic nervous system, mobilization articular,
articular, cervical. cervical.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
rápido, além do final do arco de movimento que não pode
As técnicas de mobilização articular (MA) são, muitas ser interrompido pelo paciente.
vezes, aplicadas com o propósito de promover analgesia Segundo Maitland [3], estas manobras podem ser
[1]. Abenhaim e Bergeron [2] demonstraram a eficiência aplicadas em diferentes articulações, com diferentes velo-
das mobilizações para este fim e para a rápida restauração cidades, sempre de forma oscilatória, e são dividas em 4
da função das articulações; Maitland [3] define MA como graus de MA e 1 grau de MPA, que devem se adequar ao
movimentos oscilatórios rítmicos dentro do arco de objetivo pretendido, sendo:
movimento da articulação, e pode ser interrompida pelo a) Mobilização grau I: movimentos de pequena amplitude,
paciente caso propicie algum desconforto, e manipulação próximos ao início do arco de movimento, com o propósito
articular (MPA), como um movimento passivo e muito de provocar analgesia;

Artigo recebido em 26 de novembro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Alexandre Herz França, Rua Urussuí, 333/14 Itaim Bibi 04542-051 São Paulo SP, Tel: (11) 3168-6680, E-mail:
alexandreherz@yahoo.com.br
272 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

b) Mobilização grau II: movimentos de grande amplitude (VFC) durante a aplicação da técnica de acupuntura, tendo
que não chegam ao final do arco, não encontrando observado trocas no balanço do tônus do sistema simpático
resistência, com o mesmo propósito citado acima; e parassimpático.
c) Mobilização grau III: caracteriza-se por movimentos de Segundo os autores Marinzeck et al. [17], Sterling et al.
grande amplitude que alcançam o final do arco, [14] e McGuiness et al. [15], estas alterações no sistema
encontrando resistência, com objetivo de reduzir a rigidez autônomo necessitam ser melhor explicadas, pois além da
articular; falta de especificidade dos recursos utilizados para se medir
d) Mobilização grau IV: movimentos de pequena amplitude a função do sistema autônomo de algumas pesquisas, outros
no final do arco de movimento até o encontro da trabalhos apresentaram discrepância dos resultados, como
resistência, com o objetivo análogo ao anterior; a inibição do sistema simpático após mobilização de T2-T5,
e) Manipulação grau V: movimentos de pequena amplitude encontrada por Kappler et al. [18] e de C1-C7, observada
de alta velocidade, além do final do arco de movimento, por Harris e Wagnon [19].
com o objetivo de quebra de aderências e ativação do Fica clara a necessidade de uma investigação dos efeitos
Órgão Tendinoso de Golgi (OTG). da mobilização cervical sobre o sistema autônomo, avaliando-
se o papel, tanto do sistema simpático como parassimpático,
Segundo Korr e Wyke [4], as mobilizações articulares grau
e a VFC, FC, PA, FR, testes autonômicos, em indivíduos
I e grau II promovem analgesia, pois estes movimentos esti-
jovens saudáveis.
mulam os mecanoceptores da articulação, que vão estimular
grandes fibras sensoriais, que deprimem a transmissão dos sinais
dolorosos, tanto provenientes da mesma área corporal, como Material e métodos
os que se originam de áreas muitas vezes correspondentes a
População
vários segmentos de distância. Uma outra hipótese para esta
analgesia, segundo estudos recentes, são os efeitos neuro-
A população deste estudo foi constituída por 15
fisiológicos que se seguem imediatamente após a MA. Estes
indivíduos saudáveis, todos do sexo masculino, com idade
estudos observaram efeitos analgésicos paralelamente ao
entre 18 e 25 anos (média de 22,0 anos), sendo que todos
aumento da atividade nervosa simpática [5].
foram voluntários para o estudo. Nenhum participante tinha
Esta analgesia está baseada numa ativação do sistema
história de trauma, patologia, seqüela ou dor na região da
supressor da dor, iniciando-se na substância cinzenta
coluna cervical, cabeça ou tronco, doenças cardíacas,
periaquedutal (SCP), que envia sinais para o núcleo magno
autonômicas, metabólicas ou neurológicas.
da rafe, a partir deste núcleo, os sinais são retransmitidos
Todos os voluntários estavam cientes dos riscos e
para as colunas dorso laterais na medula espinhal, onde se
procedimentos associados ao estudo, e assinaram uma Ficha
encontra o complexo inibitório da dor [6].
de Autorização para participação.
O sistema nervoso simpático (SNS) está intimamente
Na primeira e única vivência, os participantes foram
ligado, tanto à dor como à analgesia. Esta hipótese tem sido
introduzidos no ambiente experimental e conheceram os
confirmada por inúmeros trabalhos, como os farmacológicos
aparatos de medição, para compreensão e familiarização,
e experimentais de ablação, realizados por Abram [7], por
visando evitar alguma situação de estresse posterior.
meio de alterações na temperatura da pele, pressão arterial,
Foi orientado a todos os voluntários que não ingerissem
plestimografia de oclusão, microneurografia, e termografia.
cafeína, nicotina, outros tipos de drogas, alimentos e líquidos
[8-12]
por, pelo menos, 2 horas, além de não realizarem atividades
Diversos estudos avaliaram as alterações no sistema
físicas antes do experimento.
nervoso autônomo, observando aumentos significativos do
tônus simpático após MA; Petersen et al. [13] encontraram
As variáveis estudadas
variações no SNS periférico após mobilização póstero-
anterior em C5-C6, o mesmo foi encontrado por Sterling et HF: (0,15 a 0,40 Hz). Banda de alta freqüência (HF),
al. [14], após uma mobilização latero-postero-anterior de oscilando a uma freqüência de 0,15 a 0,40 Hz, ou seja, 9-24
C5-C6. ciclos/min e correspondendo às variações da freqüência
McGuiness et al [15] estudaram os efeitos da mobilização cardíaca, relacionadas com o ciclo respiratório (arritmia
articular cervical (MAC) sobre a freqüência respiratória (FR), sinusal respiratória). São tipicamente moduladas pelo
pressão arterial (PA) e freqüência cardíaca (FC), encontrando parassimpático [20].
aumentos significativos nestas variáveis, sugerindo um LF: (0,04 a 0,15 Hz). Banda de baixa freqüência ou LF
aumento na atividade do sistema nervoso simpático, porém (0,04 a 0,15 Hz ou 2,4 a 9 ciclos/min), modulada tanto
estes efeitos podem ser explicados também por uma retirada pelo simpático quanto pelo parassimpático, com predo-
do sistema nervoso parassimpático (SNP), sendo que Haker minância simpática em algumas situações específicas, e que
et al. [16] avaliaram a variabilidade da freqüência cardíaca reflete as oscilações do sistema baroreceptor [20].
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VLF: (0,01 a 0,04 Hz). Banda de muito baixa freqüência Frequency (HF: 0,15 a 0,40 Hz), Low Frequency (LF: 0,04 a
ou VLF (0,003 a 0,04 Hz ou 0,2 a 2,4 ciclos/min), 0,15 Hz), Very Low Frequency (VLF: 0,01 a 0,04 Hz), a relação
dependente dos mecanismos termoreguladores e do sistema entre o LF e o HF (LF/HF), a porcentagem de intervalos
renina-angiotensina, cuja regulação também é efetuada pelo RR adjacentes com diferença de duração superior a 50
simpático e parassimpático [20]. milisegundos (PNN 50), a raiz quadrada da média do
SD 1: a tendência do conjunto de intervalos RR anali- quadrado da diferença entre intervalos RR normais
sados [20]. adjacentes, em milisegundos (RMSSD), a tendência do
SD 2: o erro padrão de estimativa que expressa a variabi- conjunto de intervalos RR analisados (SD 1), o erro padrão
lidade instantânea dos intervalos RR, sem influência e sem de estimativa que expressa a variabilidade instantânea dos
tendências [20]. intervalos RR sem influência e sem tendências (SD 2).
RMSSD: a raiz quadrada da média do quadrado da dife- Foi preconizada a ausência de aparelhos eletroeletrônicos
rença entre intervalos RR normais adjacentes, em milise- na sala para evitar a ocorrência de possíveis alterações na
gundos [20]. mensuração por parte do freqüencímetro.
PNN 50: a porcentagem de intervalos RR adjacentes As Pressões Arteriais Sistólica (PAS) e Diastólica (PAD)
com diferença de duração superior a 50 milisegundos [20]. foram aferidas na artéria braquial, num intervalo de 5
minutos com um esfignamanômetro da marca Protec, modelo
Protocolo Torre, com o auxílio de um estetoscópio da marca Littmann,
modelo Classic III.
O voluntário foi submetido a uma prévia avaliação, Tanto a freqüência cardíaca quanto à pressão arterial
através de uma ficha padrão de Avaliação Ortopédica do eram anotadas paralelamente em uma Ficha de Dados.
Ambulatório de Fisioterapia do Hospital Geral do Grajaú.
O procedimento foi realizado em um laboratório, situado Coleta e análise dos dados
no setor de Fisioterapia do Hospital Geral do Grajaú.
Os dados obtidos foram representados por suas médias
Execução (M). Aplicou-se a análise de variância de Friedman [21] para
comparar as medidas efetuadas no período pré-mobilização
No laboratório foram realizados os seguintes proce- articular, durante a mobilização articular e após a mobilização
dimentos: articular.
1. Colocação do freqüencímetro na altura da quinta costela; Fixou-se em 0,05 ou 5% (p < 0,05) o nível de rejeição
2. Posicionamento do voluntário na maca, em decúbito da hipótese de nulidade.
ventral, com apoio do osso frontal em cima das mãos; Os dados coletados foram transferidos para documentos
3. Fixou-se repouso inicial de 20 minutos; do software Microsoft Word 2000 e para a planilha de cálculos
4. Três séries de mobilização cervical em C5, sendo que do Microsoft® Excel 2000, sendo esses componentes do
cada série tinha a duração de 60 segundos, com intervalos Microsoft Office 2000.
de 60 segundos, totalizando um período de 3 minutos de
mobilização; Resultados
5. Após a mobilização, recomendou-se mais 20 minutos de
Os resultados foram apresentados, separando-se os três
repouso.
momentos, sendo eles os momentos pré-mobilização articular
O terapeuta posicionou-se de frente para o participante (A), durante a mobilização articular (B) e pós-mobilização
e realizou a técnica de mobilização articular com base no articular (C).
princípio de Maitland [3], com graduação nível 2.
As mobilizações realizadas em todos os voluntários foram Figura 1 – Gráfico representativo das médias da variável VLF.
feitas pelo mesmo terapeuta.

Aparelhos e instrumentos

O voluntário foi monitorado por todo esse período por


um monitor de Freqüência Cardíaca da marca Polar, modelo
S810, com N° de série F201710400030 – Polar Electro Oy
Professorintie 5, integrado há um computador com o software
Polar Precision Performance SW, que fornece as variáveis
necessárias para o estudo, sendo elas a Variabilidade da
Freqüência Cardíaca (VFC), Freqüência Cardíaca (FC), High
274 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Observou-se que, do momento A para o momento B, influência significativa desta, como foi observado no estudo
houve uma diminuição dos valores da variável VLF, do realizado por Schipke et al. [23], que avaliou quinze indivíduos
momento B para o momento C houve um aumento saudáveis, em seis freqüências respiratórias diferentes, não
significativo (p<0,05) da variável VLF, o mesmo ocorrendo observando diferença significativa nas variáveis RMSSD,
do momento A para o momento C. PNN 50. Já a análise expectral pode sofrer influência da
respiração, como foi observado por Barbosa et al. [24], logo,
Figura 2 - Gráfico representativo das médias da variável LF. para garantirmos a fidelidade dos resultados obtidos neste
estudo, referente à variabilidade da freqüência cardíaca, foi
solicitado aos indivíduos que realizassem uma freqüência
respiratória de 10 a 15 respirações por minuto.
Outra precaução tomada para garantir a fidelidade da
pesquisa foi a de realizar os procedimentos no período da
manhã, pois segundo o trabalho realizado por Sugawara et
al. [25], as respostas vagais têm comportamento distintos
nos diferentes períodos do dia.

Análise temporal
Observou-se que, do momento A para o momento B,
houve um aumento dos valores da variável LF, do momento Segundo a análise da variável RMSSD, observamos um
B para o momento C houve um aumento significativo (p < aumento desta durante o momento B, indicando, segundo
0,05) da variável LF, o mesmo ocorrendo do momento A Grupi et al. [22], um aumento do tônus vagal.
para o momento C. A variável PNN 50, segundo Nolan et al. [26] e Bordalo-
Figura 3 - Gráfico representativo das médias da variável SD2.
Sá et al. [27], também apresenta forte correlação com o
tônus vagal. Foi observado neste estudo um comportamento
desta variável similar à variável RMSSD, já que no momento
B também se observou um aumento dela, indicando
novamente um aumento do tônus vagal. Entretanto foi
observada, nesta variável no momento C, uma redução,
tanto quando comparada ao momento B como quando
comparada ao momento A, sugerindo uma diminuição da
ação parassimpática após a mobilização articular.

Plotagem de Poincaré

Significância (p < 0,05) do momento B para o momento C. A variável SD1 representa a largura dos intervalos RR
Significância (p < 0,05) do momento A para o momento C. plotados no gráfico de Lorenz (plotagem de Poincaré),
representando a diferença entre os intervalos RR, e apresenta
Observou-se que, do momento A para o momento B, correlação com a atividade vagal [28-32]. Sendo assim,
houve uma diminuição dos valores da variável SD 2, do podemos observar que, durante a mobilização, não ocorreu
momento B para o momento C houve um aumento signi- nenhuma alteração significativa desta variável, porém, após
ficativo (p < 0,05) da variável SD 2, o mesmo ocorrendo a mobilização, observamos uma diminuição do SD1,
do momento A para o momento C. sugerindo diminuição da atividade parassimpática. Este
achado se mostra inédito, tendo em vista outros trabalhos
Discussão [5,14,17,31,32] que avaliaram o balanço autonômico pós-
mobilização articular, utilizando metodologia inadequada
A freqüência cardíaca, mais especificamente os ciclos para mensuração da função parassimpática.
sinusais, não apresenta a mesma duração, mesmo em A análise da variável SD2 (Figura 3) mostra que, durante
condições de repouso. Isto se deve ao sinergismo existente a mobilização articular, ocorreu uma redução na atividade
entre a rica inervação simpática e parassimpática presente Simpática e após a MA, houve um aumento significante
no coração. Este sinergismo pode ser definido como desta variável. Vale lembrar que a variável SD2 representa
variabilidade da freqüência cardíaca (VFC), sendo esta o comprimento dos intervalos RR quando plotados no
dividida em análise temporal e expectral [22]. A VFC também gráfico de Lorenz, apresentando forte correlação com a
pode sofrer influência da freqüência respiratória, porém, atividade Simpática [28-30]. Este dado somado ao
quando avaliada no domínio do tempo, não apresenta comportamento da variável SD1, vem confirmar que as
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 275

duas vias de regulação autonômica, simpática e parassim- Com base na análise dessas duas variáveis, LF e HF, e
pática, atuam de forma integrada para a obtenção do do balanço autonômico, observa-se que durante a MA
predomínio Simpático pós-mobilização articular. houve um incremento tanto do tônus simpático como do
tônus vagal, com predomínio deste último, e após a MA,
Análise expectral houve um maior predomínio do tônus simpático, devido ao
incremento deste e também à diminuição do tônus vagal.
Os dados obtidos nesta pesquisa demonstram que,
durante a mobilização articular, ocorreu uma queda da VLF Conclusão
(Figura 1), o que poderia sugerir uma diminuição do tônus
simpático, entretanto, no momento pós-MA ocorreu um Identificou-se que as mobilizações articulares cervicais
aumento significativo (p < 0,05) desta mesma variável, têm ação sobre o Sistema Nervoso Autônomo, sobre o Sis-
sugerindo uma maior participação do SNS. Porém, o tema Nervoso Simpático e Sistema Nervoso Parassimpático.
componente expectral de muito baixa freqüência (VLF), A ação da mobilização articular sobre o Sistema Nervoso
segundo Grupi et al. [28], é influenciado pelo Sistema Autônomo provoca um aumento da atividade de ambos,
Nervoso Simpático, mas os mesmos autores [22], em um porém posteriormente a aplicação dessas manobras, o efeito
trabalho mais recente, e Akselrod et al. [20] apud Takase et sobre o SNS perdura, provocando um constante incremento
al. [33] observaram que esta variável é dependente dos deste sistema, e no Sistema Nervoso Parassimpático ocorre
mecanismos termo-reguladores e do sistema renina- o inverso, uma diminuição da atuação deste sistema, até
angiotensina. Sendo assim, a análise de forma isolada desta chegar a um tônus vagal final inferior ao inicial, pré-
variável impede inferir que tenha ocorrido um aumento do mobilização articular.
tônus simpático.
Segundo os trabalhos realizados por Grupi et al. [22], Referências
Haker et al. [16], Sosnowski et al. [30], Guzzetti [31], Jiménez
et al. [33] e Montano et al. [34], a variável LF é dependente 1. Mclean S, Naish R, Reed L, Urry S, Vicenzino B. A pilot study
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significativo (p < 0,05) desta variável, durante e após a 1992;15:527-35.
mobilização articular, o que sugere um aumento da atividade 3. Maitland G, Hengeveld E, Banks K, English K.Maitland´s
simpática, vindo de encontro aos resultados obtidos por vertebral manipulation. 6a ed. Adelaide: Butterworth-
Sterling et al. [14], Marinzeck et al. [17] e Paugmali et al. Heinemann; 2000.
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Segundo trabalhos realizados por Grupi et al. [22], Haker J Am Osteopath Assoc 2001;101(9):535-41
et al. [16], Sugawara et al. [25], Sosnowski et al. [30], Guzzetti 5. Vicenzino B, Collins D, Benson, H, Wright A. An investigation
[31], Jiménez et al. [33] e Montano et al. [34], a variável of the interrelationship between manipulative therapy-induced
expectral HF é um indicador de atividade vagal pura. Os hypoalgesia and sympathoexcitation. J Manipulative Physiol
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resultados dessa pesquisa mostram um aumento da variável
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HF durante a mobilização articular, e uma posterior mobilization techniques. Sympathetic nervous system effects
diminuição da mesma, no momento pós-mobilização, and their relationships to analgesia. Adelaide: Butterworth-
apresentando valor final inferior ao mensurado no momento Heinemann; 1995.
inicial pré-mobilização, sugerindo uma diminuição do tônus 7. Abram S. Pain and the sympathetic nervous system. Man
vagal ao final da MA. Ther 1997;6:216-20.
A investigação do balanço autonômico pode ser feita, 8. Dyrehag LE, Wiederstrom E, Carlsson SG, Andersson SA.
segundo Sosnowski et al. [30] , Montano et al. [34], Guasti et Effects of repeated sensory stimulation sessions (electro-
al. [36] e Nakamura et al [35], pela relação expectral entre acupuncture) on skin temperature in chronic pain patients.
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LF e HF. Nesta pesquisa, os resultados obtidos mostram
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durante a mobilização articular, provocada por um maior acupuncture-like stimulation to a hindlimb in anesthetized
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aumento mais expressivo dessa relação, resultante, não 11. Knardahl S, Elam M, Olausson B, Wallin G. Sympathetic
somente do incremento contínuo do tônus simpático, mas nerve activity after acupuncture in humans. Pain 1998;75:19-
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 277

Artigo original

Imobilização em flexão plantar do tornozelo induz


alteração metabólica em músculo esquelético de ratos
Ankle plantar flexion immobilization infers metabolic alteration
in rats skeletal muscle
Carolina Náglio Kalil Dias*, Carlos Alberto da Silva, D.Sc.**, Rinaldo Guirro, D.Sc.*** ,
Karina Maria Cancelliero, M.Sc.**** , Luciano Júlio Chingui*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmica do Curso de Fisioterapia – UNIMEP, **Professor da Faculdade de Ciências da Saúde – UNIMEP,


***Professor da Faculdade de Ciências da Saúde – UNIMEP, ****Mestre em Fisioterapia – UNIMEP e Doutoranda em Fisioterapia –
UFSCar, *****Acadêmico do curso de Fisioterapia – UNIMEP

Resumo Abstract
O objetivo do trabalho foi avaliar as alterações metabólicas no The aim of this study was to evaluate the metabolic alteration
músculo esquelético após imobilização de membro posterior de in skeletal muscle after immobilization in ankle plantar flexion.
ratos em flexão-plantar de tornozelo. Ratos machos Wistar foram Male rats Wistar were divided in 2 groups (n = 6): control and
divididos em 2 grupos (n = 6), controle e imobilizado 7 dias. immobilized 7 days. After the experimental period the animals
Após o período experimental, os animais foram sacrificados e os were sacrificed and soleus (S), white gastrocnemius (WG) and red
músculos sóleo (S), gastrocnêmio branco (GB) e vermelho (GV), (RG), anterior tibial (AT) and extensor digitorum longus (EDL)
tibial anterior (TA) e extensor longo dos dedos (ELD), coletados muscles collected for glycogen analysis (GLY) and S and EDL for
para análise do glicogênio (GLI) e o S e ELD, para avaliação do weight evaluation. The statistic analysis was performed by ANOVA
peso. A análise estatística foi feita pela ANOVA e teste t (p < 0,05). and t test (p < 0.05). The immobilization promoted GLY
A imobilização promoveu redução no GLI em 63% no S, 50% reduction of 63% in S, 50% in WG, 50% in RG, 61,9% in AT and
no GB, 50% no GV, 61,9% no TA e 56,2% no ELD. O peso 56,2% in EDL. The muscular weight was reduced in 39,3% in S
muscular foi reduzido em 39,3% no S e 7% no ELD. A órtese and 7% in EDL. The orthesis was effective to promote anatomic
mostrou-se efetiva em promover alterações anátomo-fisiológicas, and physiologic alterations, suggesting its utilization in other
sugerindo sua aplicação em outros estudos. studies.
Palavras-chave: imobilização, músculo esquelético, atrofia Key-words: immobilization, skeletal muscle, muscular atrophy,
muscular, glicogênio. glycogen.

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Introdução
O principal substrato energético utilizado pelas fibras mus-
Lesões nos desportos, doenças degenerativas articulares, culares é a glicose, cuja absorção é de caráter multifatorial,
fraturas ósseas, rupturas ligamentares ou desnervação são dependente da insulina, do metabolismo dos tecidos ou da
situações clínicas que podem levar à imobilização do mem- elevação da atividade contrátil das fibras [2].
bro, acarretando, inevitavelmente, atrofia e alterações no Há tempos vem se observando que a imobilização
metabolismo muscular. promove fraqueza e atrofia muscular, e só nos anos 90 foi
Segundo Garret e Best [1], para haver uma homeostasia verificado o comprometimento nas vias sinalizadoras de
energética das fibras musculares, deve-se ter uma integridade insulina e no transporte de glicose. Estudos mostram que,
entre as estruturas musculares e a placa motora, além de de forma concomitante com a imobilização, existe modifi-
uma constância do suprimento de substratos metabólicos. cação na homeostasia do músculo esquelético, comprome-

Artigo recebido em 15 de dezembro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Karina Maria Cancelliero, Rua Gomes Carneiro, 875 Centro 13400-530 Piracicaba SP, Tel: (19) 3434-0322, E-
mail: karca@terra.com.br
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tendo ou não a síntese de proteínas miofibrilares, afetando Para a órtese ser acoplada no membro posterior do animal,
a dinâmica contrátil e integridade das vias metabólicas, que foram utilizados canos de PVC cortados com aproximadamente
juntas precedem o processo de atrofia. 2cm de largura, para envolver o abdome como uma cinta, e
Antigos estudos se contradiziam com relação ao tipo de também rotadores de pesca para unir a órtese com a cinta e
fibra mais susceptível à atrofia decorrente de imobilização. possibilitar a movimentação normal do animal (figura 2). Esta
Segundo McDougall et al. [3], as fibras brancas (tipo II) são movimentação foi realizada através do arrastamento do
as que mais sofrem atrofia por desuso muscular. Porém, membro imobilizado, sem haver descarga de peso. Este modelo
Booth e Kelso [4] se referiram às fibras vermelhas (tipo I) de imobilização foi de baixo custo, baixo peso (aproximadamente
como as que apresentam atrofia mais evidente. Entretanto, 22 gramas) e permitiu a mobilidade do rato.
investigadores como Williams e Goldspink [5] apresentaram Após o período experimental, os animais foram
trabalhos que não evidenciam qualquer diferença no sacrificados por deslocamento cervical e os músculos sóleo,
comportamento dos diferentes tipos de fibras à atrofia. gastrocnêmio branco, gastrocnêmio vermelho, tibial anterior
Porém, os estudos mais atuais mostram que a fibra tipo I é e extensor longo dos dedos foram coletados para análise do
a mais suceptível à atrofia gerada pelo desuso muscular [6]. glicogênio, através do método fenol sulfúrico, segundo SIU
A imobilização em diferentes períodos gera uma atrofia et al. [10], no qual as amostras foram digeridas em KOH
muscular de 15% a 70%, dependendo do animal e do tipo 30% a quente e o glicogênio, precipitado a partir da passagem
de fibra, mas a maior perda ocorre nos primeiros 7 dias [7]. por etanol a quente. Entre uma fase e outra de precipitação,
A posição de imobilização também é fator determinante as amostras foram centrifugadas a 3000 rpm, durante 15
para a quantificação do processo de atrofia muscular. O minutos. Após a precipitação, o glicogênio foi submetido à
número de sarcômeros é ajustado de forma que seja hidrólise ácida na presença de fenol. Os valores foram
permitido um comprimento ótimo destas estruturas, expressos em mg/100mg de peso úmido.
ocorrendo assim, um “overlap” ideal dos filamentos para A avaliação do peso foi realizada nos músculos sóleo e extensor
desenvolver tensão durante as contrações [8]. Segundo Apell longo dos dedos. A análise estatística dos dados foi feita através
[9], se o músculo for imobilizado em posição de da análise de variância seguida do teste de Tukey. Em todos os
encurtamento, ocorre uma diminuição significativa do cálculos, foi fixado o nível crítico de 5% (p < 0,05).
comprimento muscular por diminuição do número de
sarcômeros. Williams e Goldspink [5] afirmaram que, se o Figura 1 - Modelo da órtese de metacrilato de etila com o molde de gesso
inserido, mostrando a manutenção da articulação do tornozelo em flexão
músculo for imobilizado em posição de alongamento, ocorre
plantar. A cinta abdominal é acoplada à órtese com rotadores laterais,
aumento de tamanho através da elevação do número de
permitindo a mobilidade e a funcionalidade do animal.
unidades sarcoméricas.
Neste contexto, o objetivo do trabalho foi confeccionar
uma órtese de metacrilato de etila, obedecendo aos
parâmetros de adaptação e funcionalidade, e verificar as
alterações metabólicas e funcionais, induzidas por
imobilização de membro posterior de ratos em flexão plantar
do tornozelo, durante 7 dias.

Material e métodos

Ratos albinos Wistar, com idade de 3 a 4 meses foram


alimentados com ração e água ad libitum e submetidos a
ciclo fotoperiódico de 12h claro/escuro, sob temperatura
controlada. Os animais foram divididos em 2 grupos Figura 2 - Órtese adaptada ao membro posterior esquerdo do animal.
experimentais (n = 6): controle (C) e imobilizado (I).
A imobilização foi aplicada no membro posterior
esquerdo com órtese de resina acrílica em flexão plantar do
tornozelo durante 7 dias, sendo que o sóleo foi mantido em
posição de encurtamento e o extensor digital longo em
alongamento.
A confecção da órtese de metacrilato de etila (figura 1)
obedeceu ao padrão utilizado na odontologia, passando pelas
seguintes fases: moldagem; modelagem; desgaste do modelo;
expulsividade; aplicação da resina acrílica; acrilização;
expulsão.
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Resultados no processo contrátil e no metabolismo muscular de glicose,


que leva à atrofia muscular. Segundo Qin et al. [7], a
O desuso muscular, decorrente da imobilização durante imobilização tem a função de tratar lesões teciduais e ósseas,
7 dias, promoveu alterações na dinâmica metabólica muscular levando à atrofia muscular e à redução da performance
concomitantemente às alterações na dinâmica da placa motora. muscular.
As reservas de glicogênio foram comprometidas em todos os O desuso muscular crônico, produzido por condições
músculos analisados, havendo redução significativa de 63,2% de longo período na cama, gesso ou osteossíntese em
no sóleo (C: 0,38 ± 0,03 (média ± epm) e I: 0,13 ± 0,009 membros e microgravidade leva à resistência à insulina e a
mg/100mg), de 30,5% no gastrocnêmio branco (C: 0,46 ± um estado catabólico no músculo esquelético afetado, em
0,02 e I: 0,31 ± 0,02), de 41,5% no gastrocnêmio vermelho humanos [11,12].
(C: 0,41 ± 0,01 e I: 0,24 ± 0,02), de 48,4% no tibial anterior Em estudos animais, incluindo aqueles com ratos,
(C: 0,31 ± 0,03 e I: 0,15 ± 0,01) e de 41,7% no extensor confirmou-se que a imobilização é associada à resistência à
digital longo (C: 0,36 ± 0,03 e I: 0,21 ± 0,02), como pode ser captação de glicose induzida pela insulina [13]. Segundo
observado na Tabela I. Thompson et al. [14], o desuso muscular causa progressivo
Com relação ao peso muscular, foi observada uma decréscimo na força, associado ao decréscimo na área de
redução de 38% no sóleo, que permaneceu na posição de secção transversa das fibras musculares. A atrofia muscular
encurtamento, porém não houve diferença estatística no é o resultado do decréscimo da síntese de proteínas
extensor longo dos dedos, o qual permaneceu em posição musculares, seguido da quebra de proteínas e, segundo
de alongamento, como pode ser observado na figura 3. Wineski [15], essa atrofia resulta em diminuição do conteúdo
de proteínas musculares. A resistência à insulina é também
Figura 3 - Valor da média ± epm do peso muscular (mg) do sóleo (S) e
o maior problema em pacientes doentes criticamente, os
extensor longo dos dedos (ELD) dos grupos controle (C) e imobilizado 7
quais são inativos fisicamente e/ou imobilizados [16].
dias (I). n = 6, p < 0,05 * comparado ao grupo controle.
Porém, ainda não está claro se, ou como, o desuso
muscular crônico ou a imobilização alteram a sinalização de
insulina, embora sejam situações conhecidas por diminuir a
captação de glicose estimulada pela insulina.
A manutenção das reservas de glicogênio muscular faz
parte de um dos mecanismos ativados pela insulina. A
condição de desuso muscular pode promover a diminuição
dos transportadores GLUT-4 pelo desenvolvimento da
resistência ao transporte de glicose, estimulado pela insulina
[17,18]. Esta alteração na dinâmica de sinalização da insulina
pode explicar a redução nas reservas de glicogênio em todos
os músculos analisados sob a condição aguda de imobilização.
A posição articular interfere no grau da atrofia, havendo
maior déficit quando o músculo se encontra encurtado. Os
resultados mostraram que a atrofia significativa ocorreu no
músculo sóleo, que se manteve na posição de encurtamento,
além de sofrer maior redução nas reservas de glicogênio.
Discussão Picquet et al. [19] mostraram que a posição de encurtamento
pode gerar atrofia muscular pela não ativação de sensores
Situações clínicas encontradas na prática fisioterapêutica de estiramento no músculo nesta posição.
como fraturas ósseas, doenças degenerativas articulares, Outros autores associam o tipo de fibras ao grau de
lesões miotendinosas, permanência no leito por longo tempo, atrofia muscular, sendo que como o sóleo possui um maior
lesão medular ou rupturas ligamentares, acarretam, número de fibras tipo I e o extensor digital longo mais fibras
inevitavelmente, imobilização do membro, gerando alterações do tipo II, o primeiro músculo sofre mais pela diminuição

Tabela I - Valor da média ± epm da concentração de glicogênio dos músculos sóleo (S), gastrocnêmio branco (GB), gastrocnêmio vermelho (GV), tibial
anterior (TA) e extensor digital longo (EDL) dos grupos controle e imobilizado 7 dias. N = 6, p < 0,05 * comparado ao grupo controle.

S GB GV TA ELD

Controle 0,38 ± 0,03 0,46 ± 0,02 0,41 ± 0,01 0,36 ± 0,03 0,31 ± 0,03
Imobilizado 0,13 ± 0,009* 0,31 ± 0,02* 0,24 ± 0,02* 0,15 ± 0,01* 0,21 ± 0,02*
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de estímulo durante a imobilização, na qual não há descarga 1978;127(3):459-68.


de peso, diminuindo a solicitação das fibras posturais [6,20]. 6. Tanaka T, Kariya Y, Hoshino Y. Histochemical study on the
Ploug et al. [13] observou, ainda, que o músculo sóleo, que changes in muscle fibers in relation to the effects of aging on
é um músculo postural, normalmente tem uma atividade recoveryfrom muscular atrophy caused by disuse in rats. J
Orthop Sci 2004;9:76-85.
basal maior do que os não posturais, o que explica sua
7. Qin L, Appell HJ, Chan KM, Maffulli N. Eletrical stimulation
susceptibilidade à inatividade. prevents immobilization atrophy in skeletal muscle of rabbits.
Tanaka et al. [6] ainda afirmam que as fibras musculares Arch Phys Med Rehabil 1997;78:512-7.
rápidas atrofiam mais na desnervação e na tenotomia, porém 8. Herring SW, Grimm AF, Grimm BR. Regulation of sarcomere
atrofiam menos na imobilização, e que, nos músculos lentos, number in skeletal muscle: a comparison of hypotheses.
há uma redução de peso, atrofia de fibras e uma Muscle Nerve 1984;7:161-73.
transformação de tipos de fibras lentas em fibras do tipo 9. Appell HJ. Morphology of immobilized skeletal muscle and
rápidas, conseqüente à imobilização. the effects of a pre- and postimmobilization training program.
Os resultados deste trabalho corroboram com os estudos Int J Sport Med 1986;7(1):6-12.
10. Siu, LO, Russell JC, Taylor AW. Determination of glycogen in
acima citados, pois o sóleo foi o músculo que mais sofreu pela
small tissue samples. J Appl Physiol 1970;28(2):234-6.
diminuição do estímulo, mesmo sendo um modelo de imobilização 11. Ferrando AA, Lane HW, Stuart CA, Davis-Street J, Wolfe RR.
diferente dos outros, como por exemplo, a suspensão do membro, Prolonged bed rest decreases skeletal muscle and whole body
uso de gesso, tecidos de contenção [20,21]. protein synthesis. Am J Physiol 1996;270:E627-33.
12. Stein TP, Schulter MD, Boden G. Development of insulin
Conclusão resistance by astronauts during spaceflight. Aviat Space Environ
Med 1994;65:1091-6.
Este novo modelo de imobilização foi eficaz na indução 13. Ploug T, Ohkuwa T, Handberg A, Vissing J, Galbo H. Effect
de atrofia muscular e do comprometimento metabólico. of immobilization on glucose transport and glucose
Como esta situação é muito freqüente na prática clínica transporter expression in rat skeletal muscle. Am J Physiol
1995;268:E980-6.
fisioterapêutica, este modelo pode ser utilizado em estudos
14. Thompson C. Experimental muscular atrophy. J Bone Joint
futuros para a aplicação de recursos fisioterapêuticos, como
Surg Am 1994;564-71.
por exemplo a eletroestimulação, a fim de retardar a atrofia 15. Wineski LE, von Deutsch DA, Abukhalaf IK, Pitts AS, Potter
muscular e minimizar as alterações metabólicas induzidas DE, Paulsen DF. Muscle-specific effects of hindlimb
por desuso muscular. suspension and clenbuterol In mature, male rats. Cells Tissues
Organs 2002;171:188-98.
Referências 16. Hirose M, Kaneki M, Sugita H, Yasuhara S, Martyn JAJ.
Immobilization depresses insulin signaling in skeletal muscle.
1. Garret Jr WE, Best TM. Anatomy, physiology and mechanics Am J Physiol Endocrinol Metab 2000;279:E1235-41.
of skeletal muscle. In: Simon SR (ed). Orthopaedic basic 17. Henriksen EJ, Rodnick KJ, Mondon CE, James DE, Holloszy
science. Rosemont: American Academy of Orthopaedic JO. Effects of denervation or unweighting on GLUT-4
Surgeons; 1994. p. 89-126. protein in rat soleus muscle. J Appl Physiol 1991;70:2322-7.
2. Andersen PH, Lund S, Schmitz O, Junker S, Kahn BB, Petersen 18. Block NE, Menick DR, Robinson KA, Buse MG. Effects of
O. Increased insulin-stimulated glucose uptake in athletes: denervation on the expression of two glucose transporter
the importance of GLUT4 mRNA, GLUT4 protein and fibre isoforms in rat hindlimb muscle. J Clin Invest 1991;88:1546-52.
type composition of skeletal muscle. Acta Physiol Scand 19. Picquet F, Falempin M. Compared effects of hindlimb
1993;149:393-404. unloading versus terrestrial deafferentation on muscular
3. McDougall JD, Elder GCB, Sale DC, Moroz JR, Sutton JR. properties of the rat soleus. Exp Neurol 2003;182:186-94.
Effects of strength training and immobilization on human 20. Herrera NMJr, Zimmerman AN, Dykstra DD, Thompson
muscle fibers. Eur J Appl Physiol 1980;43:25-34. LV. Clenbuterol in the prevention of muscle atrophy: a study
4. Booth FW, Kelso JR. Effect of hind-limb immobilization of hindlimb-unweighted rats. Arch Phys Med Rehabil
on contractile and histochemical properties of skeletal muscle. 2001;82:930-4.
Pflugers Arch 1973;342:231-338. 21. Salvini TF, Coutinho EL, Gomes ARS, França CN. A new
5. Williams PE, Goldspink G. Changes in sarcomere length and model for immobilization on the rat hind limb. Braz J Med
physiological properties of immobilized muscle. J Anat Biol Res 2002;35:1329-32. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 281

Artigo original

Disfunção muscular e lombalgia


em pilotos de helicóptero
Muscular dysfunction and low back pain in helicopter pilots
Gilvan Vasconcelos da Silva*, Alexander Barreiros Cardoso Bomfim*, Marco Antônio Guimarães da Silva**,
Célia Garrido Rodriguez***, Fabiana Cosendey****, Joelson Fernandes de Andrade*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco,
Rio de Janeiro-RJ, Comissão de Desportos da Aeronáutica, **Prof. UFRRJ, Rio de Janeiro-RJ, ***Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro-RJ, Instituto de Ciências
da Atividade Física da Força Aérea Brasileira, ****Instituto de Ciências da Atividade Física da Força Aérea Brasileira,
*****Comissão de Desportos da Aeronáutica

Resumo alongados (trapézio médio e inferior, rombóide, eretor da coluna


O presente trabalho tem como objetivo levantar as possíveis lombar, flexores do quadril, oblíquo externo). O levantamento
diferenças de equilíbrio muscular entre os pilotos de helicóptero bibliográfico e a pesquisa realizada com os pilotos permitiram a
(PH) com queixa de lombalgia (LBG) e aqueles sem histórico de identificação dos principais grupos musculares, supostamente envol-
dor. Para realizar o levantamento de dados, aplicou-se um vidos nos fatores desencadeantes da lombalgia nessa população.
questionário similar àquele utilizado em estudos realizados na Esse estudo poderá contribuir para o desenvolvimento de futuras
Holanda, acerca do efeito do vôo de helicóptero sobre a saúde dos pesquisas sobre a influência e a relação dos músculos na etiologia da
pilotos. Os dados coletados no referido questionário foram: idade, lombalgia.
peso, altura, horas totais de vôo em aeronaves de asas rotativas, Palavras-chave: músculos, lombalgia, pilotos, helicóptero.
média de horas voadas por semana, nível de atividade física,
característica, freqüência, intensidade e região da dor, sua relação
com o vôo, etc. A amostra foi composta por 21 pilotos de helicóptero Abstract
(a idade foi de 33,8 ± 8,7, peso 78,9 ± 12,4, altura 1,77 m ± 0,15). The purpose of this study is to survey any possible muscular
Cada piloto da amostra passou por uma bateria de testes: dysfunction in helicopter pilot (HP) with and without low back
inicialmente aferiram o peso e a estatura, em seguida realizaram a pain (LBP). The questionnaire applied was the same utilized in
avaliação postural, a goniometria de cinco articulações e, por último, three studies in Netherlands about the effects of helicopter flight
a perimetria de sete seguimentos do corpo. Todos esses in pilots’ health. Twenty one HP (33,8 ± 8,7 yr; 78,9 ± 12,4kg;
procedimentos tiveram o objetivo de verificar a presença de algum 1,77 ± 0,15 m) participated on this study, sixteen (76,2%) had
desequilíbrio muscular que pudesse estar envolvido com a causa da experienced LBP and five had declared that did not feel any pain.
LBG nessa população. Após a resposta do questionário, constatou- Each pilot was tested in postural evaluation, goniometry of five
se que 16 pilotos (76,2%) reportaram queixa de LBG durante ou joints and perimeter of seven body segments aiming to verify any
imediatamente após o vôo, e 05 reportaram não sentir dor alguma, muscular unbalance that might be involved with the etiology of
sendo, então, divididos em dois grupos: PC (pilotos com dor) e PS LBP in this population. The tests results permitted to identify
(pilotos sem dor). O grupo que relatou LBG apresentou uma some postural disability in HP with LBP that allowed realizing
maior caracterização de enrolamento horizontal de ombro, abdução some restricted stretching muscles and others so stretched.
de escápula, retificação dorsal, retificação lombar e quadril em Differences between the groups with regard to muscles stretch
retroversão, que o grupo sem dor. Esses desvios posturais e os and postural problems conducted to the identification of the
resultados da goniometria permitiram inferir que alguns músculos main muscular groups supposed to be involved with the LBP
encontravam-se encurtados (serrátil anterior, peitoral menor, trapézio etiology in helicopter pilots.
superior, abdominais superiores, extensores do quadril) e outros Key-words: muscles, low back pain, pilots, helicopter.

Artigo recebido em 7 de janeiro de 2005; aceito em 29 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Gilvan Vasconcelos da Silva, Av. Mal. Fontenelle, 755 bl 4/401 Sulacap 21740-000 Rio de Janeiro RJ, Tel:
(21) 9273-0366, E-mail: gilvasconcelos81@yahoo.com.br
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Introdução esforço da musculatura paravertebral [8]. Ainda em relação


à postura, Rosa et al. [11] comentam que a manutenção de
A lombalgia (LBG) é uma das doenças mais comuns no uma determinada atitude corporal parece propiciar mudanças
mundo ocidental, afetando aproximadamente 80 a 85% da estruturais no músculo como forma de adaptação postural,
população em alguma época da sua vida [1]. sendo essas alterações as responsáveis pela perda de
É a segunda causa mais comum para a procura de cuidados flexibilidade.
médicos, chegando a 30% das consultas ortopédicas e a 50% A postura inadequada adotada em vôo e a modificação
dos pacientes atendidos na fisioterapia [2]. da lordose lombar na posição sentada são as causas do
Segundo Cartas et al. [3], a lombalgia é considerada o início da LBG em PH [12].
segundo maior problema médico nas sociedades industriais O simples fato de sentar traz conseqüências danosas à
modernas, em termos de absenteísmo e diminuição da coluna lombar, em função da retificação acentuada que
produtividade. ocorre na lordose lombar nesta posição [13].
Sua influência sócio-econômica é vasta, sendo uma Lord et al. [14] verificaram que o ato de sentar acarreta
das maiores causas de ausência ao trabalho e levando, uma redução de 50% da lordose lombar.
inclusive, à aposentadoria precoce [2]. Em seu estudo, Shirazi-Adl e Parnianpour [15]
A incapacidade resultante de dor na coluna lombar observaram um aumento na pressão intradiscal, quando
(CL) é mais comum do que qualquer outra causa de da passagem da postura lordótica para a postura com
limitação da atividade profissional, em adultos com idade retificação da lordose lombar.
abaixo de 45 anos, e a segunda maior causa de artrose em Músculos e lombalgia
pessoas com idade entre 45 e 65 anos [4]. A etiologia da LBG tem confundido clínicos e
Estudos têm sugerido uma maior prevalência de profissionais de saúde. Várias tentativas têm sido feitas
lombalgia em pilotos de helicóptero (PH), quando na busca de fatores comuns que possam conduzir a uma
comparados à população em geral [5]. causa precisa, mas os dados são cada vez mais controversos.
Auffret & Villefond [6] verificaram em seu estudo A insuficiência de força dos extensores lombares tem sido
que a ocorrência de LBG em pilotos de helicóptero é apontada como um dos fatores desencadeantes da lombalgia.
duas vezes mais freqüente que na população em geral. [16].
Shanahan [7] afirma que a prevalência de lombalgia Talvez a principal causa da dificuldade de se estudar a
em PH é de 73%. Bongers et al. [8], em revisão sobre o LBG seja a carência de uma explicação patogênica plausível
assunto, citam vários estudos onde a prevalência de algia para a maioria dos casos [17]. Fritz [18] comenta que os
vertebral (AV) em PH varia de 21 a 95%, e Bowden [9] pacientes, para os quais não é possível definir um diagnóstico
comenta que a prevalência de LBG em pilotos de específico da etiologia da dor lombar (DL), geralmente são
helicóptero durante o vôo varia de 40 a 100%. Em um diagnosticados como portadores de LBG mecânica.
estudo realizado com 197 pilotos brasileiros, foi encontrada Procurando serem ainda mais específicos, Goodman
uma prevalência de lombalgia de 44,6%, sendo que deste & Snyder [19] consideram que a dor nas costas é um
grupo, 98,15% relataram sentir dor lombar durante ou sintoma, não um diagnóstico, mas muitas vezes um
imediatamente após o vôo [10]. diagnóstico específico é impossível ou não está disponível.
Cabe ressaltar que a dor lombar apresentada pelos pilotos A dor nas costas pode surgir na coluna, devido à distúrbios
de helicóptero tem suas características próprias. Em revisão mecânicos, inflamatórios, metabólicos ou neoplásicos, ou
de literatura, Bowden [9] resume a lombalgia em PH da pode ser referida a partir de doenças abdominais ou
seguinte maneira: é uma dor temporária (dura apenas pélvicas [19].
algumas horas), que se manifesta de maneira difusa na região Vários músculos têm sido identificados na literatura
lombar, acompanhada de uma sensação de cansaço, que como tendo potencialmente um importante papel no
normalmente aparece durante ou imediatamente após o processo de estabilização da coluna [20-24].
vôo e que só se manifesta após algum tempo do início da Panjabi [25] sugere que uma disfunção ou dor crônica
atividade aérea, cessando com o término dessa atividade pode ocorrer se a estabilidade da coluna não puder ser ade-
ou algumas horas após e não retornando até um próximo quadamente mantida pelos músculos e pelos componentes
vôo, caracterizando a dor como recorrente. passivos da coluna.
Shanahan [7] sugere que o fator primário que predispõe Um encurtamento muscular pode afetar de forma
os pilotos de helicóptero a LBG é a postura inadequada adversa a biomecânica da região lombar, pélvica e do
adotada por eles durante o vôo. Haja vista que para quadril. Os músculos que tendem a se contrair na presença
manterem a aeronave controlada, em função da disposição de disfunção devem ser avaliados quanto à sua capacidade
dos comandos de controle, têm que adotar uma postura de extensão. Esses músculos abrangem o eretor da espinha,
inclinada à frente e com ligeira inclinação lateral e rotação os músculos posteriores da coxa, o reto da coxa, o iliopsoas,
de tronco à esquerda. Esta posição exige um elevado o tensor da fáscia lata, os adutores e o piriforme [26].
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De acordo com Lee [26], na disfunção da CL, os Descobriram também que a deficiência podia ser revertida
músculos que tendem a se contrair/encurtar são: eretor com um programa apropriado de exercícios [26].
da espinha, quadrado lombar, posteriores da coxa, reto Dessa forma, o presente estudo tem o intuito de
da coxa, iliopsoas, tensor da fáscia lata, adutores, piriforme levantar as possíveis diferenças de equilíbrio muscular
e rotadores externos do quadril. Do ponto de vista clínico, entre os PH com algia vertebral e aqueles sem histórico
quando existe mobilidade articular anormal, os músculos de dor, de maneira a se ter uma base para a elaboração de
contraídos produzem restrição ou desvio de movimentos um programa de exercícios físicos que venha a compensar
nos testes funcionais. as possíveis deficiências musculares dessa população, como
O desequilíbrio entre os músculos encurtados e também proporcione o fortalecimento dos principais
enrijecidos do grupo eretor da coluna e psoas maior, como músculos envolvidos na estabilização da coluna vertebral.
também a verificação dos músculos glúteos e abdominais
enfraquecidos, é evidente em pacientes que apresentam Material e métodos
lombalgia [27].
Os achados variam em relação à existência de qualquer Antes de se iniciar o estudo, foi realizada uma palestra
diferença na força muscular em pacientes com lombalgia, para todos os pilotos de helicóptero do 3º/8º Grupo de
quando comparados a sujeitos normais [27]. Contudo, Aviação (GAV) - Rio de Janeiro-RJ, enfocando os
em pacientes com lombalgia crônica, padrões de dese- objetivos da pesquisa, a elevada prevalência de LBG em
quilíbrio muscular podem ser observados freqüentemente PH, em comparação com a população em geral, como
nesta área, tais como fraqueza dos músculos abdominais também a importância do estudo em tentar descobrir
e glúteos combinada com rigidez do eretor da coluna e uma solução para a diminuição desse mal que afeta, em
psoas maior [27]. grande escala, essa classe profissional, buscando, assim,
Segundo Pollock e Wilmore [28], aproximadamente uma melhora da qualidade de trabalho e de vida dessa
80% de todos os problemas lombares são de origem população.
muscular, e os pacientes que sofrem de lombalgia crônica Nessa palestra também foram informados e esclare-
freqüentemente apresentam uma musculatura lombar cidos todos os testes a que seriam submetidos, bem como
fraca. todos os procedimentos que seriam executados em cada
Uma função muscular debilitada é normalmente citada teste. Informou-se, ainda, sobre a importância da veraci-
como fator de risco para a LBG. Embora pesquisas ainda dade das respostas do questionário e que só o autor da
não tenham estabelecido definitivamente uma relação pesquisa tomaria conhecimento das mesmas.
entre a força dos músculos paravertebrais e a LBG, tem Também foi realizado, antes do referido estudo, a
sido estimado que mais de 80% de todos os casos de LBG padronização teórico-prática dos avaliadores com os
são causados pela fraqueza dos músculos do tronco [29]. protocolos que seriam utilizados, onde foram estabelecidas
Os distúrbios da força (musculatura enfraquecida) e as precauções que deveriam ser tomadas para uma maior
desequilíbrios mais freqüentemente encontrados em precisão das medidas, de maneira a se minimizar os
pacientes que apresentam problemas lombares são: pouca possíveis erros intra e inter avaliadores, e assim permitir
flexibilidade da musculatura poplítea e dos músculos da uma melhor validade, fidedignidade e objetividade das
região lombar, pouca flexibilidade dos músculos flexores medidas colhidas. Para o aperfeiçoamento da prática
do quadril, além de musculaturas abdominal e lombar laboratorial, utilizou-se de voluntários da Comissão de
enfraquecidas [28]. Desportos da Aeronáutica, que foram avaliados em um
Mooney et al. [30] observaram uma fraqueza muscular primeiro momento e reavaliados depois, para a verificação
dos extensores da coluna, nos pacientes com lombalgia da precisão das medidas intra e inter avaliadores.
crônica. Inicialmente, aplicou-se um questionário similar
Nos problemas associados com postura defeituosa àquele utilizado por Bongers et al. [8] e conforme citado
habitual, fraqueza e alongamento estão tão estreitamente pelo referido autor, também em outros dois estudos
relacionados que, trocando um pelo outro, representam realizados na Holanda, de Musson et al., Boshuizen et al.
causa e efeito [31]. apud Bongers et al. [8], acerca do efeito do vôo de
Hides et al. [23,26] encontraram fraqueza e inibição helicóptero sobre a saúde dos pilotos. Os dados coletados
local em um nível segmentar do músculo multífido lombar no referido questionário foram: idade, peso, altura, horas
em todos os pacientes com primeiro episódio de lombalgia totais de vôo em aeronaves de asas rotativas, média de
aguda/subaguda. Em um estudo de acompanhamento [23], horas voadas por semana, nível de atividade física,
esses estudiosos descobriram que, sem intervenção característica, freqüência, intensidade e região da dor, sua
terapêutica, o multífido não recuperava seu tamanho ou relação com o vôo, etc.
função original e que o índice de recidiva de lombalgia ao A amostra foi composta por 21 pilotos de helicóptero
longo de um período de oito meses era muito alto. pertencentes ao 3°/8 GAV (idade foi de 33,8 ± 8,7, peso
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78,9 ± 12,4, altura 1,77 m ± 0,15). Todos os PH foram Baseado nos estudos de Kendall [31], levantou-se a
submetidos a exames médicos idênticos antes de inicia- hipótese de que as alterações posturais apresentadas pelos
rem as suas atividades aéreas e, anualmente, aos mesmos PH eram conseqüência de fraqueza e/ou encurtamento
exames médicos de verificação periódica. muscular.
Após a resposta do questionário, constatou-se que 16 Como forma de avaliar uma possível flacidez ou
pilotos (76,2%) reportaram queixa de DL durante ou encurtamento das musculaturas envolvidas com a LBG,
imediatamente após o vôo e 5 reportaram não sentir dor de acordo com a literatura [26,27,34-36], foram realizadas
alguma, sendo, então, divididos em dois grupos: PC medidas goniométricas de alguns movimentos das
(pilotos com dor) e PS (pilotos sem dor). seguintes articulações: ombro – extensão horizontal,
Os integrantes do PC foram avaliados através do teste coluna lombar – flexão/extensão e flexão lateral, quadril
de elevação da perna retificada [32,33], que por alongar, - flexão/extensão, joelho – flexão, tornozelo – dorsiflexão
principalmente, o nervo ciático e as raízes nervosas e flexão plantar.
espinhais nos níveis L5, S1 e S2, permite a verificação da Para a verificação dessas medidas, utilizou-se o Protocolo
presença de patologias do nervo ciático, comprome- LABIFIE de Goniometria [37] e um goniômetro de hastes
timento discal ou, simplesmente, encurtamento da longas, em metal, do Goniometer Lafayette Set.
musculatura posterior da coxa. Todas as medidas de amplitude de movimento foram
Os sujeitos que, por acaso, apresentassem teste tomadas pelas fisioterapeutas, auxiliadas por dois
positivo (dor), ainda realizavam os testes de Braggard e profissionais de educação física, no horário da manhã e
Lasègue, respectivamente [33], para avaliar o nível sem aquecimento prévio. Os valores, em graus, foram
neurológico suspeitado e possível confirmação do anotados na ficha individual.
diagnóstico. Aqueles que, por ventura, apresentassem A avaliação da perimetria foi realizada por dois
indícios de discopatias seriam excluídos do estudo, contudo profissionais de educação física com larga experiência em
nenhum sujeito da amostra referiu sinais ou sintomas avaliação funcional. Para a sua verificação utilizou-se a
dessa patologia. técnica e os pontos anatômicos descritos por Norton et
O que se pôde observar nestes testes foi uma grande al. [38]. Foram realizadas as seguintes medidas: tórax,
limitação muscular dos componentes do PC para erguer cintura, quadril, braço, antebraço, coxa medial e
a perna estendida, com queixa de dor na região poplítea e panturrilha; para os quatro últimos segmentos citados,
posterior da coxa. as medidas foram tomadas bilateralmente para a
Cada piloto da amostra passou por uma bateria de verificação de uma possível assimetria entre os
testes: inicialmente, aferiram o peso e a estatura, em hemicorpos.
seguida realizaram a avaliação postural, a goniometria de
cinco articulações e, por último, a perimetria de sete Resultados
seguimentos do corpo. Todos esses procedimentos
tiveram o objetivo de verificar a presença de algum Questionário
desequilíbrio muscular que pudesse estar envolvido com
a causa da LBG nessa população e foram registrados em Apenas 12,5% se queixaram de que a dor ocorria
uma ficha de avaliação individual. regularmente, 87,5% relataram que a dor persistia por
A análise postural foi realizada por duas fisioterapeutas várias horas ou por menos de uma hora.
que utilizaram um simetrógrafo, para facilitar a A curta duração, a baixa freqüência, a variação do
visualização do alinhamento segmentar dos sujeitos, e o padrão e a alternância entre os períodos com dor e sem
protocolo de Kendall [31]. Os sujeitos também foram dor, bem como a não radiação para as pernas e a falta de
fotografados nas posições frente, costas, perfil direito e necessidade de tratamento médico, caracterizaram a LBG
esquerdo, para uma posterior comparação com a ficha de relatada como recorrente em aproximadamente 80% da
avaliação e possível aferição dos dados. amostra.
Para melhor seguir os procedimentos descritos no
protocolo de Kendall, foi confeccionada uma ficha de Avaliação postural
avaliação postural adaptada do livro “Músculos, Provas e
Funções” [31], que era preenchida pelas duas fisiotera- Após a avaliação realizada pelas fisioterapeutas, foram
peutas, conjuntamente, durante o processo de avaliação verificados alguns desvios posturais apresentados pela
e depois, através das imagens fotográficas, fazia-se a com- amostra, conforme tabela I, onde se destacam os
paração com as fichas. A avaliação postural era sempre o seguintes:
primeiro teste a ser realizado pelos componentes da - 100% da amostra (PC e PS) apresentaram a cabeça
amostra para que outros testes não viessem a alterar os projetada para frente e hiperlordose cervical;
padrões posturais dos sujeitos.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 285

- 87% dos PC apresentaram enrolamento horizontal do Tabela I - Distribuição da freqüência dos desvios posturais.
ombro, contra 60% dos PS;
Desvios posturais PC (n=16) PS (n=5)
- 60% dos PS apresentaram a cabeça inclinada para a
Freq. % Freq. %
esquerda e o ombro esquerdo elevado;
- 100% dos PS apresentaram as escápulas aduzidas, Cabeça anteriorizada 16 100 05 100
contra 37,5% dos PC; Cabeça inclinada para D 06 37,5 00 00
- 50% dos PC apresentaram as escápulas abduzidas, Cabeça inclinada para E 05 31,3 03 60
Hiperlordose cervical 16 100 05 100
contra 0% dos PS;
Enrolamento vertical
- 94% dos PC apresentaram retificação da coluna torácica de ombro 07 43,5 02 40
entre T3 e T8, contra 40% dos PS; Enrolamento horizontal
- 81% dos PC apresentaram retificação da coluna lombar, de ombro 14 87,5 03 60
contra 60% dos PS; Elevação de ombro D 06 37,5 02 40
- 81% dos PC apresentaram o quadril em retroversão, Elevação de ombro E 10 62,5 03 60
contra 60% dos PS. Escápulas aduzidas 07 43,5 05 100
Escápulas abduzidas 08 50 00 00
A análise estatística (Qui-quadrado = 10,05, g.l=14 e Hipercifose dorsal* 06 37,5 03 60
sig.p = 0,7579 > 0,05) denota que não existe diferença entre Retificação dorsal* 15 93,8 02 40
as respectivas distribuições das freqüências dos dois Grupos, Hiperlordose lombar 00 00 00 00
Retificação lombar 13 81,3 03 60
quanto à prevalência de desvios posturais.
Quadril retrovertido 12 75 03 60
Contudo, a partir dos modelos de Kendall [31], pode-
Quadril anterovertido 04 25 01 20
se chegar a algumas conclusões sobre quais os principais
*esses sujeitos apresentaram uma longa hipercifose dorsal com
músculos que se encontram em posição de encurtamento e
uma pequena retificação entre as escápulas, de 3 a 5 vértebras,
alongamento. Pois, segundo o referido autor, para cada variando de T3 a T8.

Quadro 1 - Função muscular em relação aos defeitos posturais.

Defeito PPostural
ostural Músculos Encurtados Músculos Alongados Tratamento

Cabeça anteriorizada Extensores da coluna cervical Flexores da coluna cervical Alongar os extensores da
(CC) e Trapézio superior CC; fortalecer os flexores
da CC; fortalecer os
Hipercifose dorsal Fibras superiores e laterais Extensores da coluna torácica, extensores da coluna
do oblíquo interno, adutores trapézio médio e inferior torácica (CT); alongar o
do ombro, peitoral menor peitoral menor; fortalecer
e intercostais trapézio médio e inferior e
rombóide.
Enrolamento horizontal de ombro Serrátil anterior, peitoral Trapézio médio e inferior
menor, trapézio superior

Retificação da CT e CL Abdominais superiores e Eretor da CL e flexores Fortalecer os músculos da


extensores dos quadris dos quadris região lombar, fortalecer os
flexores dos quadris e
alongar os posteriores
da coxa.

Quadril retrovertido Abdominais superiores, Oblíquo externo e flexores Fortalecer os abdominais


principalmente reto superior, do quadril inferiores, salientando o
oblíquo interno e extensores oblíquo externo, alongar
do quadril posteriores da coxa,
fortalecer flexores do
quadril, utilizar flexão
alternada de quadril a partir
da posição sentada ou
elevação alternada das
pernas a partir da posição
supina.

Adaptado do livro Músculos, provas e funções, Kendall, F. P., 3ª ed., 1990 - Pág. 333, 343,349 e 357.
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defeito postural existe uma musculatura encurtada e uma Perimetria


alongada responsável por esta disfunção, conforme se pode
verificar no quadro 1, adaptado do livro “Músculos, Provas Na avaliação da perimetria, os grupos não apresentaram
e Funções” [31], que nos permite analisar os principais diferenças significativas de simetria, nem intra nem
desvios posturais verificados na amostra do presente intergrupos, mas apenas o normal em relação à dominância.
estudo e descritos na tabela I.
Discussão

Goniometria A prevalência de LBG encontrada na amostra foi de


76,2%, confirmando os achados da literatura [5,6,8-10,12]
De maneira geral, a amostra se enquadrou dentro da e a elevada taxa desse evento apresentada pelos PH.
faixa de normalidade, com uma tendência ao encurtamento Dos 21 integrantes da amostra, nenhum apresentou
muscular e o grupo PC apresentou uma maior mobilidade qualquer sinal ou sintoma de discopatia e/ou comprome-
em relação ao PS, conforme o quadro 2, que apresenta os timento do nervo ciático, mas tão somente um encurtamento
resultados encontrados. Para possibilitar a análise das medidas, muscular de toda a musculatura posterior dos membros
foi realizada uma comparação com um padrão de inferiores, indicando que a LBG reportada é de origem
normalidade, tendo se utilizado, para tal, a tabela de mecânica, reforçando o descrito por Froom [5].
amplitudes médias, em graus, de movimentos articulares da A característica recorrente da dor lombar que foi
American Academy of Orthopedic Surgeons, retirada do encontrada na amostra estudada também indica a ausência
livro Measurement of joint motion [39]. de problemas discais, assim como o surgimento da dor
Três movimentos (flexão anterior e lateral da CL e flexão durante e/ou imediatamente após o vôo e seu desapare-
de quadril com as pernas estendidas) destacaram-se cimento pouco tempo após cessar a atividade aérea
negativamente, apresentando valores bem abaixo da média concorrem para uma possível causa muscular [8,12,28,29].
descrita pela literatura utilizada. Esses valores indicam que Apesar de a análise estatística demonstrar que não
a musculatura posterior da coxa, como também a da região existe diferença significativa (p < 0,05) nas distribuições
lombar, encontra-se em posição de encurtamento, pois, das freqüências dos desvios posturais dos grupos com e
segundo Kendall [31], se a flexibilidade de determinada sem dor, pode-se, segundo o Método Heurístico, levar
articulação estiver limitando o movimento, deve ser em consideração que o grupo que relatou LBG apresentou
interpretado como um encurtamento dos músculos uma maior caracterização de enrolamento horizontal de
envolvidos no referido movimento daquela articulação. ombro, abdução de escápula, retificação dorsal, retificação
O PC apresentou uma maior mobilidade da articulação do lombar e quadril em retroversão, que o grupo sem dor.
joelho (0 – 139º), quando comparado ao PS (0 – 131º) e uma Segundo Kendall [31], esses desvios posturais são
hipermobilidade em ralação à faixa de normalidade (0 –135º). causados em função de alguns músculos encontrarem-se

Quadro 2 - Amplitudes médias em graus, de movimentos articulares.

Articulação Movimento Amplitudes Médias (graus)


PC (n= 16) PS (n=5) Normalidade

Ombro Extensão Horizontal D 0 – 65 0 – 52 0 – 60


Extensão Horizontal E 0 – 62 0 – 54 0 – 60
Coluna Lombar Flexão 0 – 20 0 – 18 0 – 80
Extensão 0 – 31 0 – 22 0 – 25
Flexão Lateral D 0 – 27 0 –24 0 – 45
Flexão Lateral E 0 – 24 0 – 21 0 – 45
Quadril Flexão D 0 – 74 0 – 77 0 – 120
Flexão E 0 – 72 0 – 68 0 – 120
Extensão D 0 – 28 0 – 27 0 – 30
Extensão E 0 – 25 0 – 24 0 – 30
Joelho Flexão D 0 – 139 0 – 131 0 – 135
Flexão E 0 – 139 0 – 131 0 – 135
Tornozelo Flexão Dorsal D 0 – 20 0 – 20 0 – 20
Flexão Dorsal E 0 – 19 0 – 18 0 – 20
Flexão Plantar D 0 – 46 0 – 46 0 – 50
Flexão Plantar E 0 – 54 0 – 48 0 – 50

Adaptado de Norkin, C.C. & White, J.D. Measurement of joint motion: a guide to goniometry. Philadelphia: F.A. Davies, 1995, p. 221-223.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 287

encurtados (serrátil anterior, peitoral menor, trapézio joelho, inclusive acima da faixa de normalidade, denota uma
superior, abdominais superiores, extensores do quadril) e flacidez da musculatura anterior da coxa. Como ambos os
outros alongados (trapézio médio e inferior, rombóide, grupos apresentaram uma elevada rigidez da musculatura
eretor da CL, flexores do quadril, oblíquo externo). posterior da coxa, esse alongamento do quadríceps facilita a
Em relação à goniometria, como já comentado, de forma posição do quadril em retroversão observada na avaliação
generalizada, a amostra demonstrou homogeneidade em postural, como também o aparecimento da LBG, de acordo
todas as articulações avaliadas, sem diferenças significativas com vários autores [12-15,26,27].
e se enquadrou na faixa de normalidade, com uma tendência Após a coleta de todos os dados, foi realizada a análise
ao limite inferior da mesma (encurtamento), porém, ao se comparativa entre os grupos PC e PS, onde se pôde chegar
comparar os grupos, através de uma ótica heurística, verifica- a algumas hipóteses de musculaturas em posição de
se que o grupo PC apresentou, de maneira geral, uma maior alongamento e/ou encurtamento e compará-las com os
mobilidade articular que o grupo PS, o que pode indicar dados presentes na literatura, conforme quadros 3 e 4.
que uma grande mobilidade pode predispor o indivíduo à
LBG, provavelmente pela dificuldade de os músculos Conclusão
manterem a estabilidade segmentar, corroborando com o
pensamento de Panjabi [25] e outros autores [20,24]. A literatura demonstra muitas evidências acerca da
Dentre essa maior mobilidade apresentada pelo grupo influência da função muscular na etiologia da dor lombar,
com dor lombar, a grande amplitude articular de flexão de inclusive identificando alguns dos principais músculos. Em

Quadro 3 - Músculos encurtados em pacientes com LBG.

Chapman & De FFranca,


ranca, 2002 Oliver & Middleditch, 1998 Richard & Sallé, 1996 Presente Estudo

Iliopsoas Iliopsoas Iliopsoas Iliopsoas


Ísquios Ísquios Ísquios Ísquios
Eret. da coluna Eret. da coluna Eret. da coluna Eret. da coluna
Quadrado lombar Quadrado lombar Quadrado lombar
Tríceps sural Tríceps sural Tríceps sural
Posteriores da coxa Posteriores da coxa Posteriores da coxa
Tensor da fáscia lata (TFL) TFL
Piriforme Piriforme
Reto femoral Reto femoral
Adutores Adutores
ECOM ECOM
Trapézio Trapézio
Peitoral maior Peitoral maior
Elev. da escápula Ext. do pescoço
Tibial posterior

Quadro 4 - Músculos alongados em pacientes com LBG.

Chapman & De FFranca,


ranca, 2002 Oliver & Middleditch, 1998 Richard & Sallé, 1996 Presente Estudo

Reto abdominal Reto abdominal Reto abdominal Reto abdominal


Glúteo máximo Glúteo máximo Glúteo máximo Glúteo máximo
Glúteo médio Glúteo médio Glúteo médio Glúteo médio
Multífido Multífido Multífido
Quadrado Lombar Quadrado Lombar Quadrado Lombar
Quadríceps Quadríceps Quadríceps
Oblíquos int. e ext. Oblíquos int. e ext. Oblíquos int. e ext.
Transverso do abd Transverso do abd
Rombóide Rombóide
Serrátil Anterior Serrátil Anterior
Trapézio Trapézio
Escaleno Escaleno

Tibial Anterior
Fibulares Elev. da Escápula
Ext. do pescoço Iliopsoas Flex. do pescoço
288 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

contrapartida, ainda existe controvérsia nos resultados, 11. Rosa GMMV, Gaban GA, Pinto LDP. Adaptações
indicando a necessidade de aprofundamento nesse campo. morfofuncionais do músculo estriado esquelético relacionadas
Segundo Viel e Esnault [40], os músculos são uma à postura e o exercício. Fisioter Bras 2002;3:1100-7.
proteção contra as pressões excessivas da coluna, mas seu 12. Shanahan DF, Reading TE. Helicopter pilot back pain: a
preliminary study. Aviat Space Environ Med 1984;55:117-21.
papel ainda não é completamente conhecido. Da mesma
13. Herdman TP, Fernie GR. Mechanical response of the lumbar
maneira, Oliver e Middleditch [27] comentam que os spine to seated postural loads. Spine 1997;22:734-43.
achados em relação à existência de qualquer diferença na 14. Lord MJ, Small JM, Dinsay JM, Watkins RG. Lumbar lordosis
força muscular em pacientes com LBG, quando compa- effects of sitting and standing. Spine 1997;22:2571-4.
rados a sujeitos normais, apresentam variações. A pesquisa 15. Shirazi-Adl A, Parnianpour M. Role of posture in mechanics
realizada permitiu, por meio de um acurado levantamento of the lumbar spine compression. J Spinal Disord 1996;9:277-
bibliográfico e da avaliação da função muscular dos pilotos 86.
da amostra, a identificação dos principais grupos musculares, 16. Pollock ML, Leggett SH, Graves JE, Jones A, Fulton M, Cirulli
supostamente envolvidos nos fatores desencadeantes da J. Effects of resistence training on lumbar extension strength.
Am J Sports Med 1989;17:624-9.
lombalgia nessa população, como foi possível verificar nos
17. Bouter LM, Mauritus WVT, Bart WK. Methodologic issues
quadros 3 e 4, com pequenas diferenças da população em in low back pain in primary care. Spine 1998;23:2014-20.
geral. 18. Fritz JM, et al. Segmental instabilizing of the lumbar Spine.
Este estudo poderá contribuir para o desenvolvimento Phys Ther 1998;78:889-96.
de futuras pesquisas sobre a influência e a relação dos 19. Goodman CC, Snyder TEK. Diagnóstico diferencial em
músculos na etiologia da lombalgia, como também fisioterapia. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
auxiliar na pesquisa e elaboração de programas de trata- 20. Bogduk N, et al. A universal model of the lumbar back muscles
mento para a LBG a partir do equilíbrio muscular. in the upraight position. Spine 1992;17:897-913.
21. Macintosh JE, Bogduk N. The biomechanics of the lumbar
multifidus. Clin Biomech 1986;1:205-13.
Agradecimentos
22. Mcgill SM. Distribution of tissues load in the low back during
a variety of daily and rehabilitation tasks. J Rehabil Res Dev
Ao comandante e aos integrantes do 3º/8º GAV pela 1997;34:448-58.
colaboração, boa vontade e empenho durante todas as 23. Hides, et al. Multifidus muscle recovery is not automatic after
etapas do presente estudo. resolution of acute first episode low back pain. Spine
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 289

35. Richard F, Sallé J. Tratado de osteopatia – teórico e prático. São 38. Norton K, Whittinghan N, Carter L, Kerr D, Gore C, Marfell-
Paulo: Robe Editorial; 1996. Jones M. Tecnicas de medicion en antropometria. In: Norton K,
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1997;2:21-32. sentada – conselhos e exercícios. São Paulo: Manole; 2000. J
290 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Revisão

A utilização da estimulação elétrica nervosa


transcutânea após cirurgias cardíacas
The use of transcutaneous electrical nerve stimulation
after cardiac surgeries
Robson Dias Scoz*, Claudia Thoefern**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Acadêmico do Oitavo Semestre do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI;


* Especialista em Ciências Morfofisiológicas - UDESC, Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI

Resumo Abstract
Este trabalho tem como objetivos revisar e analisar as The aim of this study was to review the literature about
pesquisas sobre o uso da estimulação elétrica nervosa transcutânea the use of transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS)
(TENS) no pós-operatório de pacientes submetidos a cirurgias after cardiac surgeries. Twelve reports with different methods
cardíacas. Foram encontrados 12 trabalhos com metodologias e and results for analgesic effect, opioid consumption and
resultados diferentes para grau de analgesia, consumo de postoperative pulmonary complication were encountered.
medicamentos analgésicos e complicações pulmonares. Uma Therapeutic parameters and methods standardization are
padronização nos parâmetros terapêuticos e metodologias é needed to correctly evaluate this therapeutic technique. A
necessária para se avaliar melhor esta técnica terapêutica. Um grupo therapeutic parameter group is suggested at the end of this
de parâmetros terapêuticos é recomendado ao final desta revisão. review.
Palavras-chave: estimulação elétrica transcutânea do nervo, Key-words: transcutaneous electrical nerve stimulation, TENS,
TENS, cirurgia torácica. thoracic surgery.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
procedimentos cirúrgicos de alto teor álgico, como cirurgias
Os narcóticos, de um modo geral, são associados a traumato-ortopédicas, abdominais, torácicas, apendicectomia,
efeitos colaterais indesejáveis, como depressão respira- colecistectomia e cesarianas [2,3].
tória, sedação – e conseqüente redução do reflexo da tosse, Estudos demonstram que as cirurgias torácicas, muito
do volume corrente e da perfusão gasosa – além de náusea realizadas na cardiologia, produzem elevados graus de dor
e vômito [1]. Sendo assim, métodos adjuvantes de analgesia pós-cirúrgica [4]. Além disso, anormalidades na função
pós-operatória que possam reduzir a necessidade de uma pulmonar (como queda nos volumes e capacidades pulmo-
administração elevada de opióides – e conseqüentemente, nares) e complicações pulmonares pós-operatórias ocorrem
o número e intensidade dos efeitos colaterais – são de consi- freqüentemente após esses tipos de cirurgias [5-8].
derável interesse. A utilização da TENS como recurso analgésico no pós-
A estimulação elétrica nervosa transcutânea (Transcutaneous operatório de cirurgias torácicas continua sendo um assunto
Electrical Nerve Stimulation – TENS) tem sido utilizada como controverso [2,3]. As diversas variáveis envolvidas durante
recurso fisioterapêutico para o controle da dor após vários esse processo analgésico (como parâmetros eletroterapêuticos,

Artigo recebido em 10 de fevereiro de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Robson Dias Scoz, Rua Padre Lourenço de Andrade, 545 Santo Antônio de Lisboa 88050-400
Florianópolis SC, Tel: (48) 9111-3870, E-mail: robsonscoz@pop.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 291

formas de aplicação, medicação analgésica e tipo de incisão resultados mostraram o alívio da dor e o aumento dos valores
cirúrgica) fazem com que existam resultados conflitantes na capacidade vital forçada, no volume expiratório forçado
nos poucos ensaios clínicos sobre o assunto [1,4,9-18]. e no peak-flow, no grupo tratamento.
Este trabalho tem como objetivo analisar as pesquisas Klin et al. [13] utilizaram a TENS em 40 pacientes
sobre o uso da estimulação elétrica nervosa transcutânea sofrendo de dores peitorais persistentes após cirurgia
(TENS) no pós-operatório de pacientes submetidos à cardíaca com esternotomia mediana; além de outros 10
cirurgias torácicas e/ou cardíacas. Cada estudo é discutido pacientes que estavam sofrendo de dor entre 3 a 8 semanas
separadamente, buscando indicativos para uma possível de pós-operatório. Para seu estudo, foi utilizada uma escala
contribuição ao processo de reabilitação cardíaca inical. numérica subjetiva de dor (de 1 à 5), a medida da medi-
cação analgésica total necessária, a medida da capacidade
Desenvolvimento inspiratória, e exames radiológicos. Os autores concluem
que o uso da TENS em cirurgias cardíacas ajuda a reduzir
O maior estudo randomizado na literatura encontrada a necessidade por narcóticos, sendo uma importante fer-
[4] agrupou 324 pacientes, submetidos à diversas cirurgias ramenta para a recuperação pulmonar no pós-operatório,
torácicas (como toracotomia posterolateral, costotomia, pois uma boa analgesia permite a mobilidade, os exercícios
esternotomia e toracoscopia vídeo-assitida). Estes pacientes respiratórios e a expectoração. Principalmente em pacientes
foram divididos em três grupos: Grupo TENS (em trata- idosos e/ou com doenças pulmonares crônicas.
mento), Grupo TENS Placebo (com o aparelho desligado) Bayindir et al. [14] realizaram um estudo semelhante
e Grupo Controle. No período pós-operatório imediato de (TENS em esternotomizados) em 89 pacientes. Seus
12 horas, o grupo em tratamento foi submetido à esti- resultados também mostraram redução da dor, da
mulação elétrica adjuvante e à medicação analgésica normal- medicação analgésica necessária. Os autores também
mente utilizada. Seus resultados mostram que os pacientes comentam sobre a melhora do humor do paciente e da
do Grupo TENS precisaram de administrações extras de melhor mobilidade no leito.
opióides, em média, 3 horas depois do grupo controle. Warfield [15] analisou os efeitos da TENS em pacientes
Em uma pesquisa mais recente [9], realizou-se uma submetidos à toracotomia. Diferentemente dos outros estudos,
análise de pacientes submetidos à toracotomias e com o autor utilizou aplicações longas da TENS no período pós-
quadros de radiculopatias. Através da escala analógico- operatório. Os resultados mostraram, principalmente: 1) uma
visual de dor, os autores identificaram que a média de redução na dor referida pelo paciente no segundo dia de pós-
dor numérica apresentada pelos pacientes no período pós- operatório (com uma média de 3 pontos menores na escala
operatório era de 7,55; e que após a aplicação da TENS de dor analógico-visual); 2) uma melhor resistência do paciente
estes valores caíram para 2,33. Apesar de não ter sido aos exercícios respiratórios, fisioterapia e capacidade de tossir/
mensurado, os autores afirmam que tal fato facilitou a expectorar; e 3) uma redução no tempo de permanência na
mobilização do paciente no leito, além de diminuir sua UTI (média de 8 horas para o grupo em tratamento e de 15
angústia, devido à dor. horas no grupo controle).
Navarathnam et al. [10] agruparam 31 pacientes subme- McCallum [16] realizou estudos semelhantes com a TENS
tidos à cirurgia de revascularização do miocárdio ou troca em pacientes pós-cirúrgicos. No entanto, seus resultados não
de válvula mitral e aórtica. Foi aplicada a TENS nas primeiras mostraram diferenças estatisticamente relevantes entre os
72 horas de pós-operatório em um grupo tratamento, grupos tratamento e os grupos controle. Stubbing e Jellicoe
enquanto o grupo controle recebeu tratamento placebo [17] também não encontraram diferenças nas avaliações de
(aparelho desligado). Os resultados mostraram que, nos dor, mas seu grupo tratamento apresentou menores
primeiros três dias de pós-operatório, os valores de peak-flow complicações pulmonares pós-operatórias.
foram estatisticamente maiores no grupo tratamento. Forster et al. [18] estudaram 45 pacientes após
O estudo realizado por McMicham et al. [11] durou 12 revascularização do miocárdio, randomizados em três gru-
meses, e contou com a participação de 141 pacientes sub- pos: tratamento, controle e placebo. Seu trabalho não mos-
metidos à toracotomia. Estes foram alocados em 3 grupos: trou ganhos nas capacidades e volumes pulmonares ou
Controle (I), Tratamento à 110Hz (II) e Tratamento à 65Hz redução de medicação analgésica (apesar da diminuição da
(III). Os autores encontraram diferenças significativas em dor relatada pela escala de dor).
relação à necessidade de analgésico pós-operatório entre os Uma revisão de 46 pesquisas que utilizavam a esti-
grupos tratamento e controle, tendo este último utilizado mulação elétrica no controle da dor aguda pós-operatória
quantidades maiores durante sua estadia no hospital. [2], após vários processos cirúrgicos, foi realizada para se
Ho et al. [12] aplicaram TENS em 15 pacientes sub- tentar obter o motivo de resultados conflitantes. Sua análise
metidos à toracotomia nos três primeiros dias de pós- indica diferenças marcantes entre as metodologias utilizadas
operatório. Os autores fizeram duas aplicações diárias de nos vários trabalhos (como parâmetros da TENS, modo de
15 minutos e avaliaram a dor e a função pulmonar. Os aplicação, controle da medicação analgésica e número de
292 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

aplicações durante o pós-operatório), alertando que este seja [19-21,24]. De acordo com White [28], tal fato reascende a
o motivo de resultados opostos. hipótese de que a eletroanalgesia possa ser uma técnica
Existem autores que comentam sobre os diferentes analgésica muito mais explorada e utilizada no futuro. Apesar
parâmetros da TENS [19-24] e sobre as diversas variáveis de os estudos já realizados apontarem para bons resultados
envolvidas em sua administração. Freqüência, intensi- (sejam estes redução da dor, do consumo de medicamentos,
dade, tipo de onda, número de aplicações por dia, duração do tempo de hospitalização ou das complicações pulmonares),
do pulso, forma e local de aplicação podem afetar drasti- novas pesquisas com parâmetros terapêuticos e metodológicos
camente os resultados obtidos com a estimulação elétrica. padronizados e atualizados são necessárias para que se possa
Brodsky e Mark [25] questionam a relação custo- avaliar com mais clareza as vantagens reais da eletroanalgesia
benefício da adesão da TENS no ambiente hospitalar. no pós-operatório de cirurgias cardíacas.
Sustentam a hipótese de que a contratação de pessoal Para tal, recomendamos os parâmetros coletados nas
qualificado (fisioterapeutas), além da compra de equipamento, pesquisas aqui descritas (as quais estão de acordo com os
aumentaria os já elevados gastos das instituições hospitalares. padrões de tratamento mais atuais ou de, aparentemente,
Bjordal et al. [3] realizaram uma meta-análise sobre o efeito melhor resultado): onda bifásica retangular, freqüência
da TENS no consumo de medicamentos analgésicos durante o 80-120Hz, largura de pulso 100-120ms, amplitude em
pós-operatório de vários tipos de cirurgias. Para tal, padronizou um grau sensorial, 4-5 aplicações diárias (intervalos de 4
um grupo de parâmetros eletroterapêuticos ideais de tratamento horas) de 30-60 minutos (para cirurgias torácicas), e o
(freqüência de 25-150Hz e intensidade num nível sensorial). Ao posicionamento dos eletrodos em volta de todas as incisões
analisar 21 trabalhos (somando 964 pacientes), concluiu que a (cirúrgica e drenos torácicos).
TENS pode significativamente reduzir o consumo de analgésicos
no período pós-operatório. Levando isso em conta, pode-se Referências
calcular a grande economia mensal realizada pelos hospitais em
medicação analgésica. Além disso, outros autores [26,27] reforçam 1. Antunes AAM, Bonfante MS, Simão RB, Resende MA,
essa idéia, ao afirmarem que a combinação de TENS e medicação Parreira VF. Os efeitos da estimulação elétrica nervosa
analgésica (morfina ou clonidine) produz melhores resultados transcutânea no pós-operatório de cirurgias torácicas e
abdominais – revisão de literatura e relato de casos. Rev
que a medicação isolada, ou seja, a eletroestimulação potencializa
Fisioter Univ São Paulo 2002;9(1):23-35.
o efeito opióide. Em sua revisão sobre métodos analgésicos não- 2. Carroll D, Tramer M, McQuay H, Nye B, Moore A.
opioides, White [28] relata que, na maioria das pesquisas realizadas, Randomization is important in studies with pain
a eletroanalgesia pôde reduzir a necessidade de opióides em 15- outcomes: systematic review of transcutaneous electrical
30%. O autor relata que isso poderia reduzir não só os custos nerve stimulation in acute postoperative pain. Br J
com medicação opióide, mas também os efeitos colaterais Anaesth 1996;77:798-803.
causados pela excessiva utilização desta (como sedação, náusea, 3. Bjordal JM, Johnson MI, Ljunggreen AE. Transcutaneous
vômito e depressão dos centros respiratórios). electrical nerve stimulation (TENS) can reduce
Alguns estudos [4,13,15,17] mostraram que o tratamento postoperative analgesic consumption. A meta-analysis
adjuvante da eletroanalgesia provocou uma menor incidência with assessment of optimal treatment parameters for
postoperative pain. Eur J Pain 2003;7:181-8.
de complicações pós-operatórias (como atelectasias e redução
4. Benedetti F, Amanzio M, Casadio C, Cavallo A, Cianci
da função pulmonar), além de precisarem de um menor tempo R, Giobbe R et al. Control of postoperative pain by
de permanência na unidade de terapia intensiva. Ao saber do transcutaneous electrical nerve stimulation after thoracic
elevado custo que um paciente em tratamento intensivo tem, operations. Ann Thorac Surg 1997;63:773-6.
sua liberação antecipada torna-se uma opção economicamente 5. Kochamba GS, Yun KL, Pfeffer TA, Sintek CF, Khonsari
atrativa. S. Pulmonary abnormalities after coronary arterial bypass
Em uma revisão de estudos randomizados sobre a grafting operation: cardiopulmonary bypass versus mechanical
eletroanalgesia em dores agudas pós-operatórias, Carroll stabilization. Ann Thorac Surg 2000;69;1466-70.
et al. [2] chegaram à conclusão de que estes diferentes 6. Çimen S, Özkul V, Ketenci B, Yurtseven N, Günay R, Ketenci
B et al. Daily comparison of respiratory functions between
resultados parecem estar relacionados às diferentes técnicas
on-pump and off-punp patients undergoing CABG. Eur J
cirúrgicas, vias de acesso cirúrgico e opióides utilizados em Cardiothorac Surg 2003;23:589-94.
cada instituição; além de diferentes parâmetros para a 7. Vargas FS, Terra-Filho M, Hueb W, Teixeira LR, Cukier A,
eletroanalgesia (como duração, freqüência, intensidade, Light RW. Pulmonary function after coronary artery bypass
número de aplicações diárias, modalidade, etc). surgery. Respir Med 1997;91:629-33.
8. Berrizbetia LD, Tessler S, Jacobowits IJ, Kaplan P, Budzilowics
Conclusão L, Cunningham JN. Effect of sternotomy and coronary bypass
surgery on postoperative pulmonary mechanics. Comparison
Muitos parâmetros terapêuticos e metodológicos, of internal mammary and saphenous vein bypass grafts. Chest
utilizados em algumas dessas pesquisas, mudaram atualmente 1989;96:873-6.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 293

9. Carrol EN, Badura AS. Focal intense brief transcutaneous electric 19. Gopalkrishnan P, Sluka KA. Effect of varying frequency,
nerve stimulation for treatement of radicular and intensity, and pulse duration of transcutaneous electrical nerve
postthoracotomy pain. Arch Phys Med Rehabil 2001;82:264-8 stimulation on primary hyperalgesia in inflamed rats. Arch
10. Navarathnam RG, Wang IYS, Thomas D, Klineberg PL. Phys Med Rehabil 2000;81:989-90.
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11. McMicham JC, Oliver WC, Holtackers TR, Pairolero 21. Sluka KA, Judge MA, McColley MM, Reveiz PM, Taylor
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Chest 1994;106:1343-8. 2001;92:505-13. J
294 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Revisão

Asma induzida pelo exercício em crianças:


manuseio não farmacológico
Exercise induced asthma in children:
non pharmacological management
Lidianny Pereira da Silva*, Maria José Junho Sologuren**, Mário Antônio Baraúna, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Graduanda em Fisioterapia, **Livre docente em Pediatria, ***Centro Universitário do Triângulo – Unitri

Resumo Abstract
Asma induzida pelo exercício (AIE) ou broncoespasmo Exercise induced asthma (EIA) or exercise induced bronchial
induzido pelo exercício (BIE) são termos sinônimos, usados constriction (EIB) are synonymous terms, used to describe the
para descrever o aumento transitório da resistência das vias transitory increase in the resistance of the airways after a vigorous
aéreas após exercício intenso. A clínica é característica; os exercise. The clinic is characteristic; the symptoms appear from
sintomas aparecem cinco a dez minutos após o final de five to ten minutes after the end of physical effort performed
atividade física realizada sem dificuldade, sendo manifestada without difficulty, and are manifested through wheezings, cough
por sibilos, tosse e dispnéia. A presença de AIE pode ser and dyspnea The presence of EIA can be demonstrated in
demonstrada em laboratório pelo uso de bicicleta ergomé- laboratory by the use of ergometric bicycle and/or treadmill; the
trica e/ou esteira; o decréscimo de 13,1% do volume decrease of 13,1% of the forced expiratory volume in the first
expiratório forçado de um segundo (VEF1) ao final do second (VEF1) after exercise in relation to the basal VEF1 pre-
exercício em relação ao VEF1 pré-exercício define o exercise defines the diagnosis. The treatment’s goal is the
diagnóstico. O padrão ouro de tratamento é a prevenção ou prevention or reduction of the EIA symptoms, aiming at making
redução dos sintomas de AIE, com a intenção de tornar o the asthmatic capable of performing physical activity on different
asmático capaz de realizar atividade física em diferentes levels of intensity without showing severe respiratory limitations.
níveis de intensidade, sem manifestar severas limitações Key words: exercise induced asthma, diagnosis, treatment.
respiratórias
Palavras chave: asma induzida pelo exercício, diagnóstico,
tratamento.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
Segundo Carvalho [2], o exercício físico é desenca-
Asma induzida pelo exercício (AIE) ou broncocons- deante de episódios agudos de asma. É particularmente
trição induzida pelo exercício (BIE) são termos sinônimos, importante em crianças, pelo elevado grau de atividade
usados para descrever o aumento transitório na resistência física dessa faixa etária, mas presente em qualquer idade,
das vias aéreas, após um exercício vigoroso, o que pode em pessoas suficientemente ativas. Estímulo não
ocorrer em 23% de escolares com asma [1]. Entre 15% e imunogênico, com freqüência, é desencadeante único em
30% dos asmáticos de todas as faixas etárias têm AIE [2]. crianças com rinite alérgica, sem história clínica de asma.
AIE exclusiva também é encontrada em adultos.

Artigo recebido em 03 de agosto de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Maria José Junho Sologuren, Rua Guaicurus, 270 Saraiva 38408-394 Uberlândia MG, Email:
fichina@triang.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 295

Os aspectos clínicos da AIE são habitualmente carac- determinada pela intensidade do exercício, especificamente
terísticos. Pacientes sensíveis ao exercício podem completá- a ventilação necessária para executá-lo, as condições climáticas
lo sem dificuldade. Quando param, contudo, desenvolvem, e o grau de hiperresponsividade brônquica (HRB) subjacente.
por tempo limitado, constrição torácica, chiado, dispnéia e Ar seco e/ou frio amplifica a resposta e, mantidas suas
tosse. A broncoconstrição atinge seu máximo cinco a dez condições, a obstrução é diretamente proporcional ao volu-
minutos após o exercício e, a seguir, sobrevém uma remissão me-minuto. Por essa dependência a fatores internos e exter-
espontânea, que se completa entre 20 e 40 minutos. O exer- nos, mutáveis no tempo, a expressão clínica apresenta grande
cício nunca causa estado de mal asmático e/ou episódios variabilidade. Após infecções virais e exposição a alérgenos,
recorrentes de broncoconstrição [3,4]. mínimos esforços podem produzir obstrução severa. Re-
Cerca de 75 % dos asmáticos têm agravada a bron- gressão espontânea e completa é outra característica da
coconstrição ao realizarem determinados exercícios, como entidade.
andar de bicicleta. Essa resposta asmática é influenciada Prática de exercícios continuados ou repetidos leva a
por fatores ambientais, como o frio, que agrava a resposta, um período refratário de até duas horas em muitos asmá-
enquanto o ar quente e úmido a atenua. Aparentemente, é a ticos, intervalo no qual há supressão ou significativa redução
transferência de calor e de água para o ar inspirado que da AIE [2].
afeta a osmolaridade da mucosa, instigando a bronco-
constrição. Diagnóstico
Sabe-se, atualmente, que eosinófilos são uma das células
inflamatórias presentes em maior numero no escarro de Nem sempre a AIE é reconhecida em crianças. Como
criança com AIE, comparado com o escarro de crianças ela ocorre após exercício, tende a limitar a atividade
com asma sem AIE [5]. apenas quando a asma é moderada ou severa. Outra
Estudo recente identificou um aumento agudo de dificuldade para reconhecê-la é que nem sempre a criança
eosinófilos no escarro de asmáticos com AIE, porém o é capaz de informar os sintomas que apresenta. Para
mesmo não ocorreu em asmáticos sem AIE [6]. Estes agravar a dificuldade em se supor a ocorrência de AIE,
estudos, associando AIE e eosinófilos no escarro sugerem, 50% das crianças se tornam refratárias à brococonstrição
segundo Anderson [1], nova definição para AIE: é uma quando os exercícios são repetidos após uma hora do
manifestação que reflete inflamação ativa das vias aéreas, episódio inicial. Esta refratariedade significa que a
usualmente associada à atopia e eosinófilos no escarro. É associação de exercícios e sintomas de asma podem não
caracterizada por variável severidade ao longo do tempo ocorrer em todas as ocasiões em que os exercícios são
e de acordo com o tratamento. A intensidade e duração realizados [1].
do exercício, o conteúdo de água e temperatura do ar Em função destas particularidades na criança, torna-
ambiente determinam o potencial de AIE. se necessário investigar rotineiramente a AIE.
A presença de AIE pode ser demonstrada em laboratório,
Epidemiologia através da queda de 13,1% do volume expiratório forçado
no primeiro segundo (VEF1), em relação ao VEF1 basal,
A prevalência de AIE é variável. Quarenta a noventa por pré-exercício [1]. Há autores que consideram que uma queda
cento dos asmáticos e 40% dos pacientes com rinite alérgica de 15% do VEF1 define diagnóstico mais preciso [11,12].
apresentam BIE [7,8,9]. É elevada em crianças, pelo maior Para o diagnóstico, existem protocolos de provocação
nível de atividade física dessa faixa etária, mas presente em ao estímulo do esforço, utilizando esteiras ergométricas e
qualquer idade, em pessoas suficientemente ativas. consensos com a programação da duração, intensidade
Muitos pacientes têm broncoconstrição apenas durante do esforço, freqüência cardíaca máxima, níveis de lactato,
o exercício. Uma pesquisa encontrou AIE não diagnosticada medidas da temperatura e umidade do ar inspirado. A
em 29% dos atletas que se apresentaram para um exame de intensidade do esforço deve estar abaixo de 85% da
participação atlética [10]. freqüência cardíaca máxima. Acima destes valores
ocorrem: 1) maior liberação de catecolaminas que podem
Manifestações clínicas estimular a broncodilatação, resultando em diagnóstico
falso negativo, 2) fadiga em certos indivíduos, que não
A clínica é característica. Tipicamente, os sintomas conseguem completar o exercício prescrito [13].
surgem 5 a 10 minutos após o encerramento do esforço Na prática, utiliza-se o chamado “teste de campo”,
físico realizado sem dificuldade. A obstrução respiratória muito mais simples, quando a avaliação é efetuada através
é progressiva e a regressão gradual, geralmente completa de corrida livre por 6 a 8 minutos. Antes da corrida, a
em 20 a 40 minutos. Há variantes, como pacientes que determinação do VEF1 deve ser feita com pelo menos
não apresentam sibilância, apenas tosse e dispnéia. Crises três medidas, retendo-se a de maior valor como parâmetro
intensas, com risco de vida, são muito raras. A severidade é para posterior comparação [13].
296 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Considera-se positivo, quando, após esforço progressivo O padrão ouro de tratamento é a prevenção ou redução
de 7 a 10 minutos, o volume expiratório forçado no primeiro dos sintomas de AIE, com medicamentos adequados para
segundo (VEF1) diminui 15% ou o paciente apresenta sinais cada situação, objetivando tornar o asmático capaz de ter
clínicos como tosse, sibilância ou dispnéia [14]. atividade física em diferentes níveis de intensidade, sem
apresentar sérias limitações respiratórias [26].
Tratamento não farmacológico O tratamento não farmacológico inclui:
- Melhorar o condicionamento físico.
Pela própria característica da criança, que se movimenta
- Aquecimento por, pelo menos, 10 minutos antes de
e se exercita continuamente, a AIE pode alterar inclusive
começar os exercícios.
sua convivência com os colegas. Crianças asmáticas com
- Cobrir a boca e o nariz com um lenço ou máscara,
alterações psico-sociais apresentam marcante melhora do
quando o tempo estiver frio.
desenvolvimento da personalidade ao participarem de
- Exercitar-se em ambiente aquecido e umidificado, se
programas de treinamento físico que enfatizam a impor-
possível.
tância de sua integração com o meio ambiente e o esporte
- Evitar alérgenos e poluentes ambientais.
[15]. Em contrapartida, crianças submetidas a um estado
- Esfriar o corpo ou abaixar gradualmente a intensidade
emocional negativo, inseguras em relação às condições das
do exercício antes de parar.
vias aéreas, tendem a supervalorizar os sintomas e interpretar
- Esperar pelo menos duas horas após uma refeição para
as sensações gerais relacionadas ao exercício (fadiga, pulsação
se exercitar [27].
cardíaca elevada, hiperpnéia) como relacionadas à asma [16].
Crianças asmáticas tendem a ter um condicionamento São necessários mais estudos para comprovar a
físico menor, com capacidades aeróbica (VO2 máx.) e vantagem na utilização de outras medidas, que envolvem
anaeróbica menores. Utilizando o teste de Cooper, observou- alteração na dieta, vitaminas e antioxidantes.
se que a capacidade aeróbica de crianças asmáticas foi
significativamente menor que a do grupo controle [17]. Mesmo Conclusão
quando a queda da função pulmonar não é significativamente
mensurada, pode haver uma exigência de maior ventilação O portador de AIE deve ser cuidado por equipe
no paciente asmático durante o exercício [18]. Apesar de Mölki multiprofissional, com participação, principalmente, do
e Impivaara [19] interrogarem se a atividade física melhoraria médico, do fisioterapeuta, do educador físico, estando
a função pulmonar em indivíduos com asma, outros autores inserido, sempre que possível, em um programa de educação
demonstraram que, apesar da hiperresponsividade brônquica em asma, para ter suas atividades o mais próximo possível
à histamina manter-se inalterada [20], não há duvida de que do normal e com adequada qualidade de vida.
um programa de treinamento melhora a capacidade aeróbica
[21], com conseqüente diminuição da ventilação minuto e da Referências
resposta bronco-construtiva ao exercício, levando à melhora
da sensação de dispnéia [22]. 1. Anderson SD. Exercise-induced asthma in children:a marker
Além de um programa de treinamento físico, a escolha of airway inflammation. Med J Aust 2002;177:561-3.
2. Pereira CAC, Carvalho CRR, Nakatani J. Pneumologia:
do esporte e as condições em que ele é realizado podem
atualização e reciclagem. São Paulo: Atheneu;1996. 200p.
afetar o desempenho do paciente asmático. Atividades muito 3. Anderson SD, Silverman M, Konig P, Godfrey S. Exercise-
asmatogênicas incluem esportes em condições adversas como induced asthma - a review. Br J Dis Chest 1975;69:1-39.
clima frio e/ou seco (exemplo: esqui na neve e hóquei no 4. McFadden ERJr. Exercise performance in the asthmatic.
gelo) e os que demandam alta ventilação-minuto (exemplo: Am Rev Respir Dis 1984;129:S84-7.
corrida livre e futebol). É interessante constatar que a asma é 5. Yoshikawa T, Shoje S, Fujii T, et al. Severity of exercise-
particularmente prevalente em nadadores, pois a natação está induced bronchoconstriction is related to airway
entre as atividades físicas melhor toleradas pelos asmáticos, eosinophilic inflammation in patients with asthma. Eur
que são orientados a praticar natação [23], provavelmente Respir J 1998;12:879-84.
dando origem à crença popular de que a natação “cura a 6. Kivity S, Argaman A, Onn A, et al. Eosinophil influx into
the airways in patients with exercise-induced asthma.
asma”.
Respir Med 2000;94:1200-5.
Uma orientação simples na prática clínica seria a de 7. Kumar A, Busse WW. Recognizing and controlling
realizar aquecimentos curtos e repetidos, reduzindo a exercise-induced asthma. J Respir Dis 1995;16:1087-96.
resposta asmatogênica ao exercício [24]. Em aproximada- 8. Mc Fadded ER, Gilbert IA. Exercise-induced asthma. N Engl
mente metade dos asmáticos, a resposta brônquica à hiper- J Med 1994;330:1362-7.
pnéia não se repetirá com intensidade se o exercício for 9. Kawabori I, Pierson WE, Conquest LL, Bierman CW.
repetido, nas mesmas condições, até 2 a 4 horas após, Incidence of exercise-induced asthma in children. J Allergy
configurando o período refratário da AIE [25]. Clin Immunol 1976;58:447-55.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 297

10. Rupp NT, Guill MF, Brudno DS. Unrecognized exercise exchange during exercise in asthmatic children with a postexertion
induced bronchospasm in adolescent athletes. Am J Dis FEV 1 fall less than 15 percent. Chest 1994;106:1083-88.
Child 1992;146:941-4. 19. Mölki E, Impivaara O. Intensity of physical activity and
11. ATS. ATS Guidelines for methacholine and exercise respiratory function in subjects with and without
challenge testing. Am J Respir Crit Care Med bronchial asthma. Scand J Med Sci Sports 1998;8(1):27-32.
1999;161:309-29. 20. Matsumoto I, Araki H, Tsuda K, Odajima H, Nishima S,
12. National Health LaBI. Global strategy for asthma Higaki Y, et al. Effects of swimming training on aerobic
management and prevention. NHLBI/WHO Workshop capacity and exercise induced bronchoconstriction in
1993;95:1-167. children with bronchial asthma. Thorax 1999;54(3):190-1.
13. Cassol VE, Trevisan ME, Moraes EZC, Portela LOC, 21. Neder JA, Nery LE, Silva AC, Cabral AL, Fernandes
Menna Barreto SS. Broncoespasmo induzido pelo AL. Short-term effects of aerobic training in the clinical
exercício em crianças e adolescentes com diagnóstico de management of moderate to severe asthma in children.
asma. J Bras Pneumol 2004;30:102-8. Thorax 1999;54(3):202-6.
14. Nieman DC. Upper respiratory tract infections and 22. O‘Byrne PM. Exercise-induced bronchoconstrition:
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15. Engström I, Fälkström I, Karlberg E, Bju-re J. Psychological Pharmacotherapy 1997;17:31S-8S.
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16. Mannix ET, Dresser KS, Aukley D, Farber MO, Garcia JG. 24. De Bisschop C, Guenard H, Desnot P, Vergeret J.
Cardiopulmonary exercise testing in the evaluation of patients Reduction of exercise-induced asthma in children by short,
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syndrome. J Investig Med 1998;46(5):236-42. 25. Edmunds AT, Tooley M, Godfrey S. The refractory period after
17. Costa NP, Spinelli AR, Infante LMC, Solé D, Naspitz CK. exercise-induced asthma:its duration and relation to the severity
Avaliação da condição aeróbica em crianças com asma e of exercise. Am Rev Respir Dis 1978;117:247-54.
controles, pelo teste corrida-caminhada (teste de Cooper). Rev 26. Sinha T, David AK. Recognition and management of exercise-
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18. Baraldi E, Santuz P, Magagnin G, Filippone M, Zacchello F. 27. Tan RA, Spector SL. Exercise-induced asthma. Sports Med
Effect of disodium cromoglycate on ventilation and gas 1998;25:1-6. J
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Revisão

Reabilitação cardíaca e qualidade de vida


Cardiac rehabilitation and quality of life
Daiane Breda*
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Cardio-Respiratória pela UTP – Universidade Tuiuti do Paraná.

Resumo Abstract
Sabe-se que os pacientes acometidos por doenças arteriais It is known that patients with arterial diseases tend to present
coronarianas tendem a apresentar restrições físicas, psicológicas e physical restrictions, psychological and of the social function. In
da função social. Com o intuito de amenizar ou até reverter essas order to reduce or to revert these conditions, the cardiac rehabilitation
condições, a reabilitação cardíaca tem sido muito indicada. É has been very suitable. It is divided in 3 phases and there are several
dividida em 3 fases e possui diversas indicações, como para indications: for patients after acute myocardial infarction, after
pacientes após infarto agudo do miocárdio, após cirurgia de revas- coronary artery bypass grafting, percutaneous transluminal coronary
cularização, angioplastia, pacientes transplantados, entre outras. angioplasty, transplanted patients and other indications. The aim
O objetivo desse artigo foi realizar uma revisão bibliográfica crítica of this article was to carry out a critical bibliographical revision about
sobre os efeitos da reabilitação cardíaca na qualidade de vida, verificar the effects of the cardiac rehabilitation in the quality of life, evaluate
a existência de um questionário padrão para ser utilizado e justificar if a standard questionnaire is available and to justify in which
em quais populações a reabilitação cardíaca, além de ser indicada, population the cardiac rehabilitation promotes beneficial results.
promove resultados benéficos. Foi realizado levantamento Bibliographical information was collected in books and scientific
bibliográfico em livros e artigos científicos, utilizando como des- articles concerning cardiac rehabilitation and quality of life, for the
critores a reabilitação cardíaca e qualidade de vida, nos últimos 10 last 10 years. In accordance to the bibliographical review, the
anos. De acordo com a revisão bibliográfica, o questionário mais questionnaire usually applied to evaluate the quality of life in cardiac
utilizado para avaliar a qualidade de vida em pacientes cardíacos é patients is Health Survey SF-36 and was observed several patients
o Health Survey SF-36 e dentre as condições mais encontradas, with acute myocardial infarction, coronary artery bypass grafting,
estavam pacientes pós-infarto agudo do miocárdio, pós-cirurgia percutaneous transluminal coronary angioplasty. Although there
de revascularização, angioplastia e idosos. Embora existam muitos are many works about cardiac rehabilitation and quality of life, we
trabalhos sobre a reabilitação cardíaca e qualidade de vida, ainda still observe a lack of scientific evidences due to the different types
observa-se falta de evidências científicas, devido aos diferentes of interventions and the quality of the trials. It is suggested that
tipos de intervenção e a qualidade dos ensaios. Sugere-se que new works should be carried out in order to have more concrete
novos trabalhos sejam realizados para que possam ser criadas scientific evidences.
evidências científicas mais concretas. Key-words: cardiac rehabilitation, quality of life.
Palavras-chave: reabilitação cardíaca, qualidade de vida.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
utilizado para recuperação de um indivíduo que sofreu algum
A reabilitação cardíaca foi definida pela Organização tipo de doença coronariana [3]. Há evidências científicas
Mundial da Saúde, em 1964, como o conjunto de atividades significativas de que a atividade física aeróbica regular reduz o
necessárias para assegurar, da melhor maneira possível, as risco de doença cardiovascular e de que o estilo de vida
condições físicas, mentais e sociais do cardiopata, possibilitando sedentário é freqüentemente considerado um dos cinco maiores
o seu retorno à comunidade, proporcionando vida ativa e fatores de risco para doença cardiovascular [1].
produtiva da melhor maneira possível [1,2]. Atualmente, o A abordagem da reabilitação cardíaca tem sido multidis-
treinamento físico é aceito como parte integrante do tratamento ciplinar, incluindo a atividade física regular, processos

Artigo recebido em 24 de agosto de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Daiane Breda, Rua João Motta Espezzim, 859 Ed. Feijó Vieira, Bloco 1ª/302 Saco dos Limões 88045-400
Florianópolis SC, E-mail: dai@certto.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 299

educacionais que englobam ensinamentos nutricionais, aspec- grama inclui o aquecimento com alongamento, exercícios
tos psicológicos, aspectos sociais, alteração no curso normal de endurance, estímulo e atividades de resfriamento [3,4,8].
da doença arterioesclerótica [4,5] e redução da morbimor- Usualmente, os pacientes iniciam seu exercício com baixa
talidade [1,4]. Autores indicam que a reabilitação cardíaca intensidade e de forma intermitente [3], e as atividades que
reduz cerca de 25% dos índices de morbimortalidade. Turner utilizam grandes grupos musculares são as mais ideais [3,11],
et al. [6] referem que a avaliação do estado psicológico e da que podem ser mantidas por um longo período de tempo, e
qualidade de vida deveria ser parte integral da avaliação dos devem ser de natureza rítmica e aeróbica [11]. Os exercícios
pacientes que entram para a reabilitação cardíaca, pois facilita de fortalecimento enfatizam o formato de baixa resistência e
a identificação de riscos e detecta pacientes que precisariam repetição elevada para envolver os principais grupos
de um suporte psicológico desde o início. musculares. As sessões são realizadas em clínicas, hospitais,
onde há capacidade de se tratar emergências [3]. Na fase III
Indicações e contra-indicações da reabi- os objetivos são a continuidade do aumento da capacidade
litação cardíaca física, do bem-estar psicossocial e a correção dos fatores de
risco [4]. Ocorre longe do hospital, onde há menor supervisão,
As indicações da reabilitação cardiovascular englobam, excetuando-se a capacidade de se tratar emergências [3,11].
além dos coronariopatas, os miocardiopatas de diferentes
etiologias e graus de insuficiência cardíaca compensada, pós- Benefícios da atividade física
transplantes cardíacos [4,7,8], pacientes com angina estável,
portadores de marca-passo [7,8], os pós-operados de valvo- É inquestionável que os pacientes com doença
patias, cardiopatias congênitas e os indivíduos que apresen- coronariana apresentam melhora da função cardiovascular
tam fatores de risco para a doença coronária [4,8]. As prin- como resultado de um programa de exercício. Isso é
cipais e mais freqüentes indicações são para os coronariopatas demonstrado pelos maiores valores de VO2 máx, pelas
após infarto do miocárdio, cirurgia de revascularização maiores taxas de trabalho obtidas sem isquemia, pelo
miocárdica [3,4,7,8,9,], angioplastia transluminal coronária aumento do trabalho submáximo prolongado, melhora do
[3,4,7,8] e para aqueles com insuficiência coronária crônica endurance cardiorrespiratório [1,3], redução da freqüência
[4]. Segundo Franklin e Fardy [8], a terapia de exercício cardíaca, redução do lactato sanguíneo [12], diminuição dos
também se aplica a pacientes com cardiopatia não isquêmica, níveis pressóricos [7,12,13], aumento do fluxo coronário,
pacientes com problemas pulmonares simultâneos, pacientes aumento de tolerância aos esforços [4,7], melhora do perfil
com implante de cardioversor-desfibrilador, pacientes idosos, lipídico, ou seja, aumento do HDL [1,3,7,12-14], diminuição
pacientes com distúrbios médicos adicionais como hiper- dos triglicérides [7,13], aumento da tolerância à glicose,
tensão, doença vascular periférica e diabetes mellitus. As aumento da motivação para a perda de peso [7], redução
contra-indicações da reabilitação cardíaca incluem angina, da agregação plaquetária e aumento da atividade plasmática
determinadas anormalidades cardíacas estruturais, doença fibrinolítica [15] (Quadro 1). A diminuição dos efeitos
arterial coronariana grave, arritmias ventriculares graves ou deletérios da inatividade física [4,7] e a modificação dos
distúrbios do ritmo [7,8], miocardite, isquemia aguda [7] e fatores de risco [1,3,4,7] promovem um aumento da
outras condições médicas que poderiam agravar-se com o capacidade funcional e melhora da qualidade de vida com
exercício [8]. bem-estar psicológico e físico [1,4,7,12,16] diminuindo os
níveis de ansiedade e depressão [7].
Fases da reabilitação cardíaca
Quadro 1 - Principais modificações dos fatores de risco.
A reabilitação cardíaca é dividida em três fases Diminuição da pressão arterial sistólica de repouso
[3,4,7,8,10,11]. Na primeira fase, o programa de exercício Aumento da fração HDL do lipidograma
utilizado serve para auxiliar o paciente a realizar a transição Diminuição dos triglicérides
do evento cardiovascular no momento da alta hospitalar Aumento da tolerância à glicose
[3]. A parte inicial do programa é conduzida em unidade Aumento da motivação para perda de peso
cardiovascular de tratamento intensivo, assim que o paciente Diminuição da ansiedade e depressão
se encontrar estável [11]. A prescrição do início do programa
e sua progressão devem respeitar as adaptações fisiológicas,
Prescrição do exercício
até se obter a porcentagem ideal de intensidade e sua corres-
pondente freqüência cardíaca [3,11]. A partir do momento A prescrição de exercícios para alterações cardiovas-
em que o paciente recebe a alta hospitalar, é iniciada a fase culares e condicionamento físico deve considerar a
II que possui como objetivos a independência dos pacientes freqüência, a duração e a intensidade do exercício aeróbico
nas atividades cotidianas, o reinício das atividades ocupa- [1,8,11]. Os pacientes que participarão da reabilitação
cionais e a introdução de hábitos positivos [11]. Esse pro-
300 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

cardíaca precisam ter um programa de exercícios indivi- 10 anos, sobre os efeitos da reabilitação cardíaca sobre a
dualizado, de acordo com os limites impostos pela sua doença. qualidade de vida, verificar como a mesma pode ser avaliada
A atividade física aeróbica regular deve ficar entre 40 e e justificar em quais populações a reabilitação cardíaca, além
85% da freqüência cardíaca máxima, com melhora do débito de ser indicada, promove resultados benéficos.
cardíaco máximo e a extração periférica de oxigênio [1]. A
intensidade com que a atividade física é realizada pode definir Resultados e discussão
se o paciente obterá resultados benéficos. Cita-se que o maior
benefício físico, metabólico e respiratório parece estar nas Qualidade de vida é um termo que tem sido amplamente
atividades aeróbicas de intensidade moderada à vigorosa, utilizado para descrever o uso de medidas diversas do estado
ou seja, entre os limiares [17]. de saúde, bem-estar psicológico e função social na
reabilitação cardíaca [5], e alguns autores a consideram como
Problemas associados uma forma para avaliar a efetividade da atividade física
regular [1]. Muitos trabalhos têm sido publicados com a
Problemas psicossociais como depressão, ansiedade, utilização da qualidade de vida como desfecho para
estresse, irritabilidade [15,18], desordens do sono, dificuldades verificação da efetividade da reabilitação cardíaca. A seguir,
sexuais e problemas com a família são comuns em pacientes é descrito o questionário mais utilizado para avaliação da
com doença isquêmica avançada [18]. Foi constatado que qualidade de vida, da reabilitação cardíaca e qualidade de
pacientes com sintomas de depressão apresentam perfil de vida em grupos específicos de pacientes, intervenções, idade,
risco maior, especialmente triglicerídeos elevados e baixos a questão do sexo e a aderência aos programas de
níveis de lipoproteínas de baixa densidade [14], assim como reabilitação.
baixo escore de qualidade de vida [19]. Além disso, foi No levantamento realizado, foi constatado que o
demonstrado que a ansiedade crônica e a depressão podem questionário mais utilizado para avaliação da qualidade de
ser imunodepressivas e existem evidências acumuladas de vida de pacientes que participam dos programas de
que a reatividade cardiovascular aos estressores é consi- reabilitação cardíaca é o Health Survey (SF-36), validado e
derada um fator de risco para hipertensão [20]. Dessa forma, aprovado pela World Health Organization Quality of Life [24].
a depressão e exaustão vital, síndrome de fadiga e perda de O SF-36 tem provado ser útil para populações gerais e
energia, aumento da irritabilidade e sintomas depressivos específicas de diferentes doenças, diferenciando os benefícios
também têm sido demonstrados como fatores de risco para de saúde para diferentes tratamentos e exames individuais
o infarto do miocárdio e angina pectoris recorrente, após de pacientes. Este questionário é composto por 36 questões,
cirurgia da artéria coronária [18]. Turner et al. [6] ainda divididas em 8 partes: função física, papel físico, dor
relatam que pacientes, após infarto do miocárdio, que corpórea, saúde geral, vitalidade, função social, papel
apresentam doenças psiquiátricas, possuem tendência à um emocional e saúde mental. As questões são organizadas em
pior prognóstico. Falta de suporte social/integração, baixo 8 seções, objetivando a saúde física e mental. Dentro de
nível sócio-econômico e a presença de dois ou mais sintomas cada seção, as questões são traçadas numa escala linear,
depressivos independentemente predizem recorrentes dando um valor entre 0 e 100, onde os valores mais altos
eventos cardíacos em mulheres com doença cardíaca refletem a melhor função [25]. McGee et al. [5] constataram
isquêmica [18]. Entretanto, há uma evidência aumentada, que o SF-36 pode ser considerado um dos melhores meios
para ambos os sexos, de que o treinamento por meio do para avaliar a qualidade de vida em casos de reabilitação
exercício ajuda a diminuir o estresse, a ansiedade e realça o cardíaca, porém continua sendo um questionário genérico e
bem estar geral [15]. não exclusivo para a reabilitação cardíaca.
Pode-se resumir que os objetivos da reabilitação cardíaca Na literatura especializada, vários trabalhos têm demons-
são a limitação dos efeitos adversos da doença, tratamento trado que as doenças arteriais coronarianas impõem restri-
efetivo dos sintomas, modificação dos fatores de risco [8,21], ções não apenas físicas, mas também psicológicas [26,27] e
prevenção da progressão da doença [21,22], estratificação da função social [27]. As evidências indicam altos níveis de
do risco a um evento cardíaco posterior, de forma a auxiliar depressão e ansiedade pós-eventos cardíacos [4,5,14], sendo
na condução clínica do tratamento que será seguido [21], e que as queixas variam de 18 a 23%, com uma prevalência
aumento do bem-estar psicossocial [8]. A maior responsa- pouco maior no sexo feminino [14]. O coração é considerado
bilidade dos programas de reabilitação é a promoção de foco freqüente de queixas de fundo emocional, porque além
atividade física, educação, ambiente supervisionado com de ter a função resposta real ao estresse psicológico, carrega
assistência médica, para ajudar as pessoas com doenças uma extensa carga de atributos simbólicos e psicológicos
cardiovasculares a melhorarem a qualidade de vida e a [26]. Grande parte da depressão pós-evento cardíaco,
apresentarem mudanças em seus comportamentos [23]. observada nos pacientes, é resultado do medo de perder a
O objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão vida e a perda da capacidade de participar com segurança
bibliográfica crítica em livros e artigos científicos dos últimos de diversas atividades diárias e recreativas [22]. A
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 301

reabilitação cardíaca focaliza a melhora nos desfechos necessário um treinamento supervisionado para que não
psicossociais como a depressão, humor geral, ansiedade e ocorra declínio. Por isso, após período do IAM, os pacientes
estresse psicológico [5,14]. Uma vez que o paciente devem ser encorajados a manter seu nível prévio de atividade
coronariano se conscientiza que através de um programa [27], ainda mais que as pessoas idosas possuem menor
de reabilitação ele pode se tornar, na maioria dos casos, probabilidade de participarem dos programas de reabilitação
mais ativo do que era antes do evento, grande parte da [23]. A reabilitação cardíaca possui efeitos benéficos em
depressão e medo é vencida [22]. A reabilitação cardíaca pacientes idosos, que embora apresentem menor
melhora os pacientes com doença cardiovascular, porém condicionamento que os jovens, possuem maior ganho em
deve-se lembrar que pacientes com dependência farma- relação ao condicionamento após o tratamento, com melhora
cológica não podem interromper seus agentes farmacológicos do nível de lípides sanguíneos, obesidade, características
[14]. A manutenção dos pacientes ativos é um grande desafio comportamentais e parâmetros da qualidade de vida [30].
para os profissionais da saúde [23]. Analisando pela idade, as pessoas mais jovens têm mais
Tem sido demonstrado que a mudança no estilo de vida chances de se tornarem incapacitadas por suas doenças do que
pode efetivamente melhorar a sobrevida total e a qualidade as pessoas mais velhas [31]. Lavie & Milani [14] demonstraram
de vida de pacientes com doença cardiovascular [23]. que pacientes com menos de 55 anos, que tiveram problemas
Pacientes que participam dos programas de reabilitação cardíacos, apresentam alto índice de ansiedade e, após programa
cardíaca adotam comportamentos mais saudáveis e de reabilitação, conseguem melhorar esses índices além de
melhoram suas habilidades de prevenção com o passar do melhorarem a qualidade de vida.
tempo [18]. O Vestfold Heartcare Study [28], por meio de Há 20 anos, os pacientes com insuficiência cardíaca
uma modificação no estilo de vida, observou tendência à crônica eram desencorajados a realizar atividade física
melhora da qualidade de vida após 2 anos, em 197 pacientes regularmente e os sintomas eram considerados contra-indi-
cardíacos, divididos em grupo intervencional e cuidado usual cações da reabilitação por muitos cardiologistas [32]. Isto
e as modificações incluíam a dieta, fatores de risco, manejo foi baseado em uma suposição errada de que, no caso de
psicossocial e redução do estresse mental. um prejuízo da função cardíaca, o exercício poderia
A inatividade física, ou sua redução, associada ao processo deteriorar hemodinamicamente os já comprometidos níveis
de envelhecimento pode transformar os idosos em indi- de repouso e da função cardiovascular, constituindo assim
víduos funcionalmente dependentes. A atividade física uma ameaça aos pacientes [32,33]. Ao mesmo tempo, os
melhora o humor, reduz a ansiedade, aumenta a motivação programas de treinamento foram provando serem benéficos
e reduz episódios depressivos. O aumento da secreção de para os pacientes que sofreram de disfunção miocárdica
endorfinas, induzido pelos exercícios físicos, observado nos aguda e sintomas de falência cardíaca. Todos esses dados
adultos jovens, poderia contribuir para tais alterações, mas encorajaram os pesquisadores em relação ao efeito dos
tal fato não está bem esclarecido para os idosos [12]. Hage programas de reabilitação sobre os pacientes com
et al. [16] realizaram um estudo randomizado em 3 grupos insuficiência cardíaca crônica [32]. Em trabalho publicado
de idosos: com infarto agudo do miocárdio (IAM), episódio por Carels [19], constatou-se que 62% de 56 pacientes com
de angina instável e o último como grupo-controle. Avaliaram insuficiência cardíaca congestiva apresentaram sintomas de
a qualidade de vida e o nível de atividade física. Após três depressão e índice baixo de qualidade de vida, após duas
meses de atividade física aeróbica, os pacientes idosos semanas de investigação, por meio de um questionário diário
apresentaram melhora significativa da capacidade física, auto-aplicável de qualidade de vida com 52 itens. Silva et al.
porém as medidas da qualidade de vida não mostraram [33] investigaram o benefício do treinamento físico no
diferenças estatísticas entre os grupos, apenas uma leve tratamento da insuficiência cardíaca e concluíram que a
melhora foi identificada. Stahle et al. [27] realizaram pesquisa atividade física tem alto grau de adesão, é segura e apresentou
semelhante e constataram, após 12 meses, que os pacientes um resultado otimista com menor número de eventos no
idosos que sofreram de IAM obtiveram melhora significativa grupo treinado em relação ao controle. Isso é confirmado
em muitas medidas de qualidade de vida e em sentimentos por Piotr [32], que refere que o treinamento físico melhora
subjetivos de bem-estar. Marchionni et al. [29] compararam os sintomas debilitantes e a qualidade de vida de pacientes
indivíduos de média idade (45-65 anos), velhos (66-75 anos) com insuficiência cardíaca crônica.
e muito velhos (com mais de 75 anos) após 12 meses e Em pacientes acometidos por infarto agudo do
concluíram que os pacientes velhos e muito velhos miocárdio, a reabilitação melhora a qualidade de vida, reduz
apresentam melhora da qualidade de vida, reforçando o o nível de depressão [8] e melhora o quadro de ansiedade e
fato que a reabilitação cardíaca é particularmente útil nesses tolerância ao exercício [34]. Após oito semanas de inter-
pacientes. Os resultados encontrados por Hage et al. [16] venção, já pode ser observada melhora estatisticamente sig-
podem ser justificados pelo período curto e agudo da inter- nificativa da ansiedade e tolerância ao exercício em grupos
venção física nesses pacientes. Os efeitos benéficos tendem randomizados e controlados, comparando a reabilitação com
a não persistirem por muito tempo em idosos, sendo o atendimento convencional [34]. Em estudo desenvolvido
302 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

em pacientes obesos e com predomínio do sexo masculino, coronária, os fatores de risco e o modo de ação para reduzi-
que sofreram recente infarto do miocárdio, a reabilitação los, além de diminuir a ansiedade, motivar e aumentar a
cardíaca melhorou a qualidade de vida, sendo bem aderência ao programa [4,23]. Dracup et al. [9], quando
evidenciada na fase 2, porém com o passar do tempo investigaram a reabilitação cardíaca de duração de um ano
começou a declinar [35]. Nordhorn et al. [31] avaliaram, em pacientes pós IAM, também observaram que os pacientes
após um ano, o programa de reabilitação cardíaca realizado tiveram melhor ajustamento psicosocial e apresentaram maior
enquanto os pacientes estavam internados e depois que satisfação com o casamento, concluindo que as pessoas casadas
receberam alta, pois foram incentivados a manter a atividade possuem melhor suporte social, sendo que o apoio oferecido
física, sendo que não foram apresentadas diferenças pelo cônjuge aumenta a aderência do tratamento.
significativas em pacientes que sofreram infarto agudo do Alguns autores referem que o sexo feminino tende a
miocárdio, enquanto em pacientes que realizaram angio- participar menos dos programas de reabilitação [23,31].
plastia e cirurgia de revascularização, os resultados parece- Gardner et al. [39] confirmam esse fato, através de seu estudo
ram melhores. Isso caracteriza o fato de que a manutenção com 472 pacientes, sendo 114 mulheres e 358 homens (IAM,
da atividade física faz permanecer os efeitos benéficos cirurgia de revascularização e angioplastia), divididos pelo sexo
alcançados. Dracup et al. [9] também confirmaram a melhora e sendo avaliadas a qualidade de vida e a auto-eficácia após
dos sinais de ansiedade e depressão nos primeiros seis meses reabilitação cardíaca. Como resultado, constataram que houve
em pacientes após infarto agudo do miocárdio e cirurgia de melhora da qualidade em ambos os sexos, porém a melhora
revascularização da artéria coronária, classificados como da auto-eficácia foi maior no sexo masculino.
grau I e II da New York Heart Association, que participaram Com base nos estudos analisados, a reabilitação cardíaca
de um programa de reabilitação cardíaca por um ano. é capaz de proporcionar muitos benefícios ao paciente, como
Em relação à atividade física e qualidade de vida após a melhora na capacidade física e aeróbica, redução dos
transplante cardíaco, foi constatado que após oito semanas fatores de risco [9,22], melhora ou alívio do desconforto do
de atividade os benefícios são mais evidenciados, destacando- esforço, além de que o treinamento físico pode retardar a
se os aumentos entre 30% e 40% do consumo máximo de progressão da doença coronariana e reduzir a probabilidade
oxigênio e entre 30% e 35% na capacidade de exercício. A de futuros eventos coronarianos [21,22].
melhora da qualidade de vida e da estabilidade psicológica Embora haja uma evidência de consistente melhora da
também é relatada após período de 3 a 6 meses e o apoio e qualidade de vida em pacientes que participam de programas
o envolvimento familiar são imprescindíveis [36]. de reabilitação cardíaca, essa melhora possui leve equivalência
Segundo Arakaki et al. [4], longos períodos de ao cuidado usual [13]. McGee et al. [5], em sua meta-análise,
convalescença têm sido associados a baixo índice de retorno constataram que havia poucas evidências que confirmassem
ao trabalho. Pocock et al. [37] constataram que pacientes a melhora da qualidade de vida, mas consideraram
cardíacos submetidos a angioplastia retornam mais rapida- inquestionável a influência benéfica sobre os aspectos físicos.
mente ao trabalho e ao seu padrão de vida, do que os pacien- Já os efeitos benéficos dos exercícios da reabilitação cardíaca
tes submetidos à cirurgia de revascularização e respondem na mortalidade total parecem ser independentes das
mais rapidamente ao tratamento. Arakaki et al. [4] descrevem características dos pacientes (idade e sexo), das características
que a mobilização hospitalar precoce sugere resultados bas- da intervenção (duração, dose e tempo após o evento
tante favoráveis na reabilitação física e psicológica do pa- cardíaco) e da qualidade do ensaio [13]. Dessa forma, se a
ciente, com conseqüente alta hospitalar precoce e retorno reabilitação cardíaca tem efeitos sobre a qualidade de vida,
mais breve ao trabalho para os pacientes que sofreram de os resultados ainda não parecem claros [31]. Como conclusão,
infarto do miocárdio. Dugmore et al. [38], através de um com base nos ensaios recentes, não há evidência de suporte
estudo controlado, afirmaram que os pacientes que fazem para a crença de que a reabilitação cardíaca tem continuado
parte da reabilitação retornam mais rapidamente ao trabalho a oferecer benefícios a mais com relação à mortalidade, do
e com empregos de dia inteiro. Quanto à qualidade de vida, que os cuidados usuais [13].
Sin et al. [23] demonstraram que os pacientes empregados e Com base em todos esses dados levantados, sugere-se a
com menor risco de saúde apresentaram melhor índice realização de mais estudos de qualidade acerca do assunto,
através da avaliação do SF-36, tanto no componente físico para que sejam criadas evidências concretas de que a
quanto no mental, do que os pacientes sem emprego e com reabilitação cardíaca é realmente capaz de melhorar a
maior risco de saúde. A atividade profissional tem sido qualidade de vida dos pacientes cardíacos.
considerada laborterapia para a recuperação dos pacientes
após evento coronariano [4]. Conclusão
A aderência ao tratamento pode ser influenciada por
fatores biológicos, fisiológicos, psicológicos e sócio-culturais A reabilitação cardíaca é um meio seguro e eficaz de
[23]. O valor educacional para o paciente e sua família é melhorar a capacidade funcional dos pacientes cardíacos.
capaz de aumentar o conhecimento sobre a doença arterial De modo geral, a reabilitação cardíaca exerce papel
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 303

importante na compreensão das doenças coronárias pelos 14. Lavie CJ, Milani RV. Prevalence of anxiety in coronary patients
pacientes que apresentam evento coronário. A convivência with improvement following cardiac rehabilitation and exercise
com outras pessoas que atravessaram a mesma experiência, training. Am J Cardiol 2004;93:336-9.
por si só, contribui também para a diminuição dos níveis de 15. Brill PA, Scott CB, Gordon NF. Exercise and cardiovascular
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ansiedade e depressão, além dos benefícios físicos causados
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pelo treinamento, que possibilitam o retorno às atividades 16. Hage C, Mattsson E, Stahle A. Long term effects of exercise
habituais de maneira satisfatória, melhorando dessa forma training on physical activity level and quality of life in elderly
a qualidade de vida. Basta apenas melhorarmos as evidências coronary patients - a three - to six-year follow-up. Physiother
científicas, já que na prática é mais do que visível o benefício Res Int 2003;8(1):13-22.
proporcionado pela atividade física aos pacientes cardíacos. 17. Belotti G, Bocchi EA, Guimarães GV, Ramires JF, Teixeira L,
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 305

Revisão

Eletromiografia: interpretação
e aplicações nas ciências da reabilitação
Electromyography: interpretation and applications
in the rehabilitation sciences
Juliana de Melo Ocarino, M.Sc.*, Paula Lanna Pereira da Silva*, Daniela Virgínia Vaz*,
Cecília Ferreira de Aquino*, Rachel Soares Brício*, Sérgio Teixeira da Fonseca, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas, **Fisioterapeuta, Professor Adjunto do Departamento de Fisoterapia, Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo Abstract
A eletromiografia (EMG) é uma técnica que permite o registro Electromyography (EMG) is a procedure used to register the
dos sinais elétricos gerados pelas células musculares, possibilitando electrical activity generated by muscle cells, allowing the analysis of
a análise da atividade muscular durante o movimento. A muscle activity during movement. The comprehension of
compreensão de conceitos relativos a EMG é essencial para se concepts relative to EMG is essential to assure the validity and
assegurar a validade e confiabilidade desse instrumento de reliability of this instrument in rehabilitation research and clinical
mensuração em pesquisas da área de reabilitação e na prática clínica practice of physiotherapists. Therefore, the objective of this study
de fisioterapeutas. Dessa forma, foi objetivo deste estudo discutir was to discuss relevant aspects related to the acquisition, processing
aspectos relevantes relacionados à coleta, processamento e análise and analysis of electromyographic data in order to assist the
de dados eletromiográficos de forma a facilitar a compreensão da comprehension of the instrumentation, applications and
instrumentação, aplicações e limitações da técnica. De acordo com limitations of the technique. According to the literature review,
a revisão realizada, diversos fatores que influenciam a qualidade several factors that can influence the quality of the data collected
dos dados coletados devem ser considerados, não apenas na should be considered not only for the utilization of the technique
utilização da técnica, mas também na interpretação e avaliação but also for the interpretation and critical appraisal of studies that
crítica de estudos que utilizam a EMG. Quando todos estes fatores use EMG. Provided that all this factors are considered, EMG is an
são considerados, a EMG se torna uma ferramenta adequada para adequate instrument for the investigation of muscle function
investigação da função muscular, tanto na pesquisa quanto na either in research or in clinical practice of physical therapists.
prática clínica de fisioterapeutas. Key-words: electromyography, rehabilitation, muscle function.
Palavras-chave: eletromiografia, reabilitação, função muscular

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
pesquisas em diversas áreas de interesse de fisioterapeutas
A eletromiografia (EMG) é uma técnica que permite o e de outros profissionais que tenham como foco de interesse
registro dos sinais elétricos gerados pela despolarização das o movimento humano.
membranas das células musculares [1]. Esta técnica As aplicações específicas da EMG nas pesquisas em
possibilita o registro da atividade muscular durante o fisioterapia são inúmeras. Dentre elas estão a investigação
movimento, não fornecendo informações sobre o torque de estratégias musculares de estabilização articular [4], o
produzido pelos músculos analisados [2]. Desde 1940, a estudo de técnicas de alongamento utilizadas na prática
EMG tem sido amplamente utilizada para se compreender fisioterapêutica que se propõem a gerar um maior
as funções e disfunções do sistema muscular durante o relaxamento muscular [5], avaliação da atividade muscular
movimento humano [3]. Este recurso tem possibilitado durante atividades funcionais, como a marcha [6] e a passa-

Artigo recebido em 1 de setembro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005


Endereço para correspondência: Cecília Ferreira de Aquino, Rua Grão Mogol, 320/601 Carmo 30310-010 Belo Horizonte MG Tel: (31) 3281-
1145/9684-9822, E-mail: cferaquino@yahoo.com.br
306 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

gem de sentado para de pé [4] e caracterização da atividade impedância pode variar em função da umidade, quantidade
muscular obtida durante a realização de exercícios terapêu- de óleo e da densidade da camada córnea da pele [2]. Para
ticos [7]. Além disso, esta técnica pode ser utilizada para que a medida eletromiográfica obtida seja adequada, valores
avaliação da fadiga muscular [8] e para realização de avalia- de impedância da pele entre 5.000 e 10.000 ohms devem
ções ergonômicas em condições de trabalho [9]. ser obtidos [2,14]. Para se atingir tais valores, deve-se realizar
A EMG, além de ser utilizada nas pesquisas científicas, um processo de preparação da pele, que consiste de retirada
tem sido utilizada também na prática clínica com a função dos pêlos, limpeza da pele com água e sabão e leve abrasão
de auxiliar no treinamento de músculos específicos [10]. com álcool [2,14,15].
Este recurso, denominado biofeedback, por fornecer infor- Os eletrodos ativos de superfície possuem um pré-
mações a respeito da atividade muscular durante a realização amplificador que amplifica os sinais eletromiográficos assim
de exercícios terapêuticos, tem auxiliado vários fisioterapeutas que eles atingem o eletrodo, minimizando interferências externas
no trabalho de reeducação muscular em diversas disfunções [14]. Por esta razão, os cuidados para o controle da impedância
como hemiplegia [11], dores lombares [12] e síndrome da pele podem se restrigir a uma limpeza com álcool [3].
patelo-femural [13].
A compreensão de conceitos relevantes da EMG é essen- Amplificação diferencial e rejeição do modo comum
cial para se obter o máximo de validade e confiabilidade na
sua utilização em pesquisa e para se alcançar o máximo de A energia gerada no músculo, ou seja, a atividade elétrica
vantagens deste instrumento na prática clínica [3]. Além disso, muscular, tem valores muito pequenos que são medidos
o entendimento destes conceitos é importante para possi- em microvolts. Devido a isto, para serem visualizados, os
bilitar a análise crítica de dados eletromiográficos por leitores sinais eletromiográficos, uma vez detectados pelos eletrodos,
dos diversos estudos que são realizados com a utilização da devem ser amplificados. Durante a amplificação, o tamanho
EMG. Dessa forma, foi objetivo deste estudo discutir do sinal biológico é tornado maior e esse processo é
aspectos relevantes relacionados à coleta, processamento e denominado “ganho” [2].
análise de dados eletromiográficos de forma a facilitar a Nas primeiras décadas de utilização da EMG, todo o
compreensão de sua instrumentação, de suas aplicações e sinal captado pelo eletrodo, tanto atividade muscular (sinal
de suas limitações. eletromiográfico), como atividade eletromagnética externa
(ruído), era amplificado. Devido a isso, a quantidade de
Desenvolvimento interferência externa era muito alta, ou seja, a proporção de
ruído no sinal era muito grande [2]. Este fato exigia que as
Coleta dos dados eletromiográficos coletas fossem realizadas em locais especiais (“cooper cages”),
que sofriam interferências mínimas dos sinais eletromag-
Seleção de eletrodos e impedância da pele néticos externos [2]. Em 1950, a engenharia biomédica
introduziu o esquema de amplificação diferencial e rejeição
A energia gerada pelos músculos é a fonte do sinal eletro- do modo comum que fez com que a utilização da EMG
miográfico e é detectada primeiramente pelos eletrodos [3]. não mais se restringisse às “cooper cages” [2].
Existem diversos modelos de eletrodos que podem ser divi- Para se realizar a amplificação diferencial, três eletrodos
didos, de maneira geral, em dois tipos: eletrodos de superfície são necessários: dois eletrodos para detecção do sinal e um
e eletrodos intramusculares [14]. Estes dois tipos de eletrodos de referência [2,14]. Os eletrodos de detecção são colocados
são igualmente adequados para a coleta dos sinais [2]. O no músculo de interesse, seguindo a orientação das fibras, e
fator que determina a escolha de um ou outro eletrodo é a o de referência (denominado eletrodo terra), fazendo contato
profundidade do músculo a ser avaliado. No caso de mús- com qualquer proeminência óssea do corpo [14]. A energia
culos superficiais, os eletrodos de superfície devem ser utili- biológica que atinge os eletrodos de detecção (potencial de
zados, uma vez que não causam desconforto durante a coleta ação das unidades motoras + sinais eletromagnéticos
dos dados [1]. No entanto, no caso de músculos profundos, externos) é comparada com a energia que atinge o eletrodo
os eletrodos intramusculares devem ser escolhidos para de referência (sinais eletromagnéticos externos). Apenas a
avaliação muscular no intuito de evitar interferências (cross- energia que é específica aos eletrodos de detecção (potencial
talk) dos sinais dos músculos que se encontram mais de ação das unidades motoras) passa pelo processo de
superficialmente [14]. amplificação e registro (amplificação diferencial) [2,14].
Os eletrodos de superfície podem ser do tipo passivo ou O processo de amplificação diferencial é possível porque,
ativo [3]. No caso da utilização de eletrodos passivos, a pele quando os eletrodos são colocados paralelos às fibras mus-
constitui uma barreira entre os potenciais de ação das culares, o potencial de ação gerado pelas unidades motoras
unidades motoras e os eletrodos [14]. Dessa forma, a impe- os alcança em tempos diferentes [2]. Dessa forma, a energia
dância da pele (ou resistência imposta pela pele à passagem detectada por cada eletrodo é diferente. O sinal que é único
da corrente eletromiográfica) deve ser considerada [14]. Esta a cada eletrodo é amplificado e a energia que é comum aos
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 307

dois eletrodos de detecção e ao de referência - o modo amplitude desses sinais. A amplitude da atividade muscular
comum - é eliminado do processo [14]. O “modo comum” representa a quantidade de energia gasta para realização de
geralmente vem de sinais eletromagnéticos externos, como uma determinada contração [3].
a corrente de 60 Hz, necessária para o funcionamento de Existem dois meios principais, através dos quais os valores
lâmpadas e outros equipamentos elétricos [2,14]. de intensidade dos sinais eletromiográficos são derivados: a
eletromiografia integrada (IEMG) e a Root Mean Square
Processamento do sinal eletromiográfico (RMS) [16,17]. A IEMG é a soma dos produtos da
intensidade eletromiográfica pelo período de coleta dos sinais,
Antes de serem analisados, os dados eletromiográficos que é inversamente proporcional à frequência de coleta.
passam por uma série de processamentos. Pesquisadores Este valor representa a área embaixo da curva gerada pela
desenvolveram métodos de processamento com o objetivo atividade eletromiográfica e é medida em unidades de
de minimizar interferências de outras fontes que não o microvolts/segundo [1]. Já a RMS quantifica o sinal
campo eletromagnético externo, e de permitir a quantificação eletromiográfico da seguinte forma: elevam-se os dados ao
do sinal eletromiográfico [3]. quadrado, obtem-se a média dos valores resultantes e
O primeiro nível de processamento é a filtragem do sinal. finalmente extrai-se a raiz quadrada do valor médio obtido
A maioria dos instrumentos de EMG de superfície possui [14]. O valor RMS é uma média estimada de potência de
um filtro de 60Hz, denominado “notch filter”. Ele pode ser um sinal que varia com o tempo, como é o caso da EMG
encontrado no circuito eletrônico do instrumento (filtro [16]. Este valor corresponde à intensidade de uma corrente
analógico) ou no software por ele utilizado (filtro digital). O contínua que produz a mesma potência média do sinal
“notch filter” é um filtro de rejeição de uma banda de eletromiográfico em análise e, portanto, representa sua
frequência específica (de 59-61Hz). O objetivo desse filtro amplitude efetiva [16].
é eliminar qualquer interferência do ambiente (60Hz) que Apesar de a IEMG e RMS informarem objetivamente
exceda a capacidade de rejeição do modo comum [2,3,14]. a respeito da quantidade de energia produzida por uma
Outro filtro que é muito utilizado é denominado “band- contração muscular, a comparação direta de valores
pass filter”, que permite a seleção de amplitudes de frequência eletromiográficos entre músculos e indivíduos não é possível,
específicas para análise [16]. Por exemplo, um típico filtro sendo que a normalização dos dados é sempre necessária
“band pass” deixa toda energia acima de 20Hz passar e se para tal fim [3].
fecha para aquela que estiver acima de 300Hz. A escolha
deste filtro se deve ao fato de que aproximadamente 80% da Normalização dos dados eletromiográficos
energia muscular encontra-se nesta amplitude de frequência
(de 20 a 300 Hz) [2]. O ponto de corte inferior elimina sinais A comparação de valores eletromiográficos intra e
com frequências muito baixas que normalmente estão interindivíduos é potencialmente problemática. A EMG
relacionados com a movimentação de cabos ou com outros sofre influência de diversos fatores que determinarão a
artefatos relacionados a movimentação lenta [16]. O ponto quantidade de energia que será registrada pelos eletrodos
de corte superior elimina sinais com frequências mais altas do eletromiógrafo [2,3,14-16]. Alguns dos fatores que podem
do que a frequência de atividade muscular [2,3,14]. influenciar a detecção do sinal eletromiográfico e, conse-
A retificação dos sinais eletromiográficos constitui outro qüentemente, a sua comparação, incluem: espessura do teci-
ponto importante do processamento dos dados [1]. Nesta do adiposo subcutâneo, velocidade de contração, área de
etapa, todos os potenciais elétricos negativos são secção transversa do músculo, idade, sexo, mudanças súbitas
transformados em positivos. Como o sinal eletromiográfico de postura, distância entre eletrodos, diferenças antropo-
é uma corrente alternada, em que um potencial positivo é métricas entre os locais de coleta e impedância da pele [2,15].
sempre seguido de um potencial negativo, a retificação é Normalização é o nome do processo que foi desenvol-
necessária para quantificação desse sinal [14]. A magnitude vido para lidar com os fatores que interferem no sinal eletro-
do sinal eletromiográfico é o que importa para a quantificação miográfico e que dificultam as comparações intra e interin-
da energia produzida pelo músculo, e não a polaridade do divíduos. A normalização é um processo em que se referencia
sinal [2]. Após todo o processamento descrito, os sinais o dado eletromiográfico a algum valor padrão [2,3,14]. Para
eletromiográficos podem ser analisados. se normalizar dados eletromiográficos pode-se dividir cada
ponto da curva a um determinado valor de referência [2,14]
Análise dos dados eletromiográficos ou também quantificar o sinal eletromiográfico produzido
por um determinado músculo (utilizando RMS, IEMG) e,
Quantificação do sinal eletromiográfico posteriormente, dividir o número obtido pelo valor padrão
selecionado [3].
Os sinais eletromiográficos podem ser quantificados, ou Existem diversos valores de referência possíveis de serem
seja, é possível obter informações objetivas relacionadas à utilizados e eles podem ser obtidos durante contrações
308 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

estáticas ou dinâmicas [3]. O valor mais comumente utilizado de ruído [3]. Isto não ocorre quando eletrodos ativos são
é obtido durante uma contração isométrica voluntária utilizados, uma vez que este sinal é pré-amplificado no
máxima (CIVM) do músculo de interesse [18]. Essa con- próprio eletrodo, de forma que um sinal maior irá percorrer
tração é quantificada e o valor obtido é utilizado para nor- o cabo do eletrodo até chegar no amplificador do aparelho.
malizar os dados gerados por este músculo durante os testes Portanto, a quantidade relativa de ruído no sinal eletro-
realizados na pesquisa [18]. No entanto, deve-se considerar miográfico será menor [3].
que a habilidade de ativar maximamente todas as unidades A localização dos músculos a serem monitorados deve
motoras depende de muitos fatores, tais como nível de ser considerada quando avaliamos a adequação do tipo de
treinamento e motivação. Devido a isso outros valores de eletrodo utilizado nos estudos [3]. A atividade de músculos
referência têm sido propostos na literatura [19-22], como: profundos deve ser monitorada preferencialmente por ele-
porcentagem da CIVM [2,22], valor eletromiográfico máxi- trodos intramusculares para evitar a interferência (cross-
mo ou pico da atividade eletromiográfica obtido durante o talk) da atividade de músculos mais superficiais [1]. Entre-
teste ou atividade de interesse da pesquisa [19,22], valor tanto, alguns autores utilizam eletrodos de superfície para
eletromiográfico médio obtido durante a atividade ou testes avaliação de músculos profundos, como os oblíquos internos
de interesse [20,22]. e transverso abdominal [24,25]. Nestes casos, a possibilidade
Os métodos de normalização possibilitam inferência de interferência do sinal de músculos abdominais mais
sobre a intensidade da contração, pois retiram o efeito dos superficiais deve ser considerada.
outros fatores que influenciam a captação do sinal. Dessa O desenvolvimento do amplificador diferencial e rejeição
forma, somente após algum processo de normalização, é do modo comum garantiram maior flexibilidade para as
possível se comparar músculos e indivíduos diferentes quanto coletas, minimizando a quantidade de interferência externa
à quantidade de energia produzida durante uma determinada no sinal eletromiográfico [14]. No entanto, a capacidade de
contração [2,3,14]. rejeição do modo comum é limitada e exigiu o desenvol-
vimento de filtros auxiliares (“notch filter”) que têm a função
Discussão de eliminar interferências excedentes do campo eletromag-
nético externo (corrente de 60 Hz) [14].
A EMG é uma técnica amplamente utilizada em estudos Além da interferência eletromagnética externa, outros
realizados na área da fisioterapia com intuito de se investigar sinais com frequências muito lentas (movimento de cabos e
a função muscular, através da aquisição dos sinais elétricos da interface eletrodo-pele) não condizentes com o espectro
produzidos pelos músculos [14]. Embora a EMG seja uma de frequência da ativação muscular podem gerar artefatos
técnica que permite a quantificação da atividade elétrica no sinal eletromiográfico [16]. Devido a isso, os softwares
muscular, ela sofre influência de diversos fatores que inter- dos eletromiógrafos possuem filtros digitais, como é o caso
ferem na captação do sinal [3]. A compreensão de como de “band pass filter”, que podem ser utilizados para retirar a
estes fatores podem ser controlados é que garante a validade influência destes artefatos [16].
dos resultados e a utilização adequada da EMG nos estudos Após a filtragem e retificação, os sinais eletromiográficos
relacionados ao movimento humano. Os fisioterapeutas que podem ser quantificados [3]. Tanto a IEMG quanto a RMS
fazem uso da EMG na prática clínica e que são leitores de são métodos de quantificação adequados e amplamente
estudos que utilizam a EMG devem estar atentos a utilizados na literatura [16]. No entanto, a IEMG, por ser
metodologia utilizada durante a coleta, processamento e uma medida da área do sinal eletromiográfico [1], sofre
análise dos dados, com o objetivo de analisar de forma crítica influência do tempo de coleta [2]. Por exemplo, um estudo
os resultados relatados por diversos autores. pode ter como objetivo comparar a intensidade da contração
Durante a coleta, a observação dos cuidados realizados do quadríceps em dois exercícios diferentes. Se a duração
para redução do nível de impedância da pele é de extrema do exercício 1 for maior do que a do exercício 2, a IEMG
importância em estudos que utilizam eletrodos passivos de do exercício 1 será maior, mesmo se a intensidade média de
superfície [23]. Quando este tipo de eletrodo é utilizado, os ativação for a mesma nos dois exercícios. Portanto, o valor
cuidados com a impedância são essenciais, uma vez que os IEMG não representa só a intensidade de uma contração
sinais captados só são amplificados ao alcançarem o muscular, mas é também influenciado pelo tempo em que
amplificador do eletromiógrafo [3]. Dessa forma, o sinal esta contração é realizada [16]. Dessa forma, a utilização
muscular captado se desloca pelo cabo do eletrodo, estando deste método de quantificação exige uma normalização do
sujeito à interferência do meio externo (ruído). Como o sinal tempo de coleta. A RMS, por ser uma média estimada de
eletromiográfico captado é muito pequeno, a quantidade voltagem e por representar a amplitude efetiva da atividade
relativa de ruído presente no mesmo é grande [2]. A redução muscular, pode ser utilizada sem ser influenciada pelo tempo
da impedância da pele é realizada na tentativa de facilitar a de coleta [16].
condução da atividade muscular, maximizando o tamanho O sinal eletromiográfico pode ser influenciado por
do sinal eletromiográfico, e diminuindo a quantidade relativa diversos fatores que devem ser considerados na análise dos
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 309

dados [3]. A intensidade do sinal registrado não é resultado permite quantificação da atividade elétrica muscular [14].
somente da quantidade de energia gerada pelo músculo, mas Os usuários e leitores precisam ter em mente que a
depende de outros aspectos que podem atenuar ou minimização da impedância, amplificação diferencial, a
potencializar o tamanho do sinal que é captado e visualizado rejeição do modo comum e a filtragem são essenciais para
[3]. Por exemplo, um indivíduo com mais gordura subcutânea o controle das interferências no sinal eletromiográfico. Além
do que outro terá o seu sinal mais atenuado, mesmo que os disso, para se fazer uma análise crítica dos dados e com-
dois estejam produzindo a mesma quantidade de energia parações entre os estudos, é necessário que se leve em con-
com a contração. Portanto, dois sinais do mesmo tamanho sideração os processos utilizados para quantificação e nor-
não necessariamente carregam a mesma quantidade de ativi- malização dos sinais eletromiográficos. Isso é importante
dade elétrica muscular e, devido a isso, não podem ser porque processos de quantificação e normalização distintos
comparados diretamente. Para permitir a comparação dos podem conduzir a resultados diferentes. Quando todos estes
dados obtidos entre diferentes sujeitos, diferentes ensaios e fatores são considerados, a EMG se torna uma ferramenta
grupos musculares distintos, são necessários procedimentos adequada para registro da atividade elétrica muscular.
de normalização [2,3,14].
Knutson et al. [18] sugerem o uso da CIVM para Referências
normalização em detrimento dos demais métodos de
normalização, uma vez que esta é confiável e informa 1. Aparicio AV et al. Electromiografía cinesiológica. Rehabilitación
melhor sobre a intensidade de contração muscular. Ao se 1997;31:230-6.
utilizar a CIVM como valor padrão de referência para 2. Cram JR, Kasman GS. Instrumentation. In: Cram JR,
Kasman GS, Holtz J. Introduction to surface
normalização, os sinais eletromiográficos obtidos durante a
electromyography. 1a ed. Maryland: Aspen Publishers Inc;
atividade serão referidos em porcentagem da sua atividade 1998. p. 43-80.
máxima [3]. No entanto, existem algumas situações em que 3. Soderberg GL, Knutson LM. A guide for use and
não é possível obter a CIVM, como no caso de indivíduos interpretation of knesiologic electromyographic data. Phys
com disfunção neurológica ou idosos [3]. Nestes casos, Ther 2000;80(5):485-98.
valores de referência obtidos a partir de eventos dinâmicos 4. Roberts CS et al. A deficient anterior cruciate ligament does
têm sido utilizados por alguns autores [19,22,26,27]. Mais not lead to quadriceps avoidance gait. Gait Posture
especificamente, Knutson et al. [18] sugerem a utilização do 1999;10(3):189-99.
pico de atividade eletromiográfica, quando não for possível 5. Osternig LR et al. Differencial reponse to proprioceptive
obter a CIVM dos sujeitos. No entanto, este método, apesar neuromusculaqr facilitation (PNF) stretch techniques. Med
Sci Sports Exerc 1990;22(1):106-11.
de diminuir a variabilidade da medida e possibilitar a
6. Berhuck M, et al. Gait adaptations by patients who have a
comparação entre ou intra-indivíduos, não informa sobre a deficient anterior cruciate ligament. J Bone Joint Surg Am
intensidade de contração muscular como a CIVM, uma vez 1990;72(6):871-7.
que o pico obtido durante uma atividade específica não 7. Taylor W. Dynamic EMG biofeedback in assessmet and
necessariamente é a atividade máxima possível para um treatment using a neuromuscular re-education model. In:
determinado músculo. Cram JR. Clinical EMG for surface recordings. Nevada City:
A normalização e os outros métodos de processamento CA Clinical Resources; 1990. p. 175-96.
são passos indispensáveis para o tratamento dos dados 8. Bonato P et al. EMG -based measures of fatigue during a
eletromiográficos. Além disso, a compreensão e aplicação repetitive squat exercise. IEEE Eng Med Biol Mag
2001;20(6):133-43.
de todo o processamento são essenciais para se garantir a
9. Nakata M et al. Perceived musculoskeletal discomfort and
interpretação adequada dos sinais obtidos com a EMG. electromyography during repetitive light work. J Electromyogr
Embora a EMG seja uma técnica que deva ser utilizada Kinesiol 1992;2:103-11.
com critério, é uma tecnologia extremamente útil para 10. Holf S et al. EMG feedback training durind dynamic
fisioterapia. Diversos estudos a serem realizados com o movement for low back pain patients. Behav Ther
objetivo de investigar a função muscular durante atividades 1982;13:395-406.
funcionais ou exercícios terapêuticos usados na prática 11. Schleenbaker RE, Mainous AG. Electromyographic
clínica, por exemplo, podem usar como instrumento a EMG. biofeedback for neuromuscular reeducation in the hemiplegic
Além disso, essa técnica, através do biofeedback, pode ser stroke patient: a meta-analysis. Arch Phys Med Rehabil
de grande utilidade para fisioterapeutas que trabalham com 1993;74(12):1301-4.
12. Hasenbring M et al. The efficacy of a risk factor-based cognitive
reeducação muscular nas diversas áreas da fisioterapia.
behavioral intervention and electromyographic biofeedback
in patients with acute sciatic pain. An attempt to prevent
Conclusão chronicity. Spine 1999;1(24):2525-35.
13. Durson N et al. Electromyographic biofeedback-controlled
O uso da EMG de superfície tem muitas vantagens, exercise versus conservative care for patellofemoral pain
uma vez que é um método não invasivo, seguro e fácil, que syndrome. Arch Phys Med Rehabil 2001;82(12):1692-5.
310 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

14. Basmajian JV, DeLuca CJ. Muscles alive: their function revealed 21. Yang JF, Winter DA. Electromyography reliability in maximal
by electromyography. 5a ed. Baltimore: Willians & Wilkins; and submaximal isometric contractions. Arch Phys Med
1985. Rehabil 1983;64(3):417-20.
15. Kellis E. Quantification of quadriceps and hamistring 22. Yang JF, Winter DA. Electromyography amplitude
antagonist activity. Sports Med 1998;25(1):37-62. normalization methods: improving their sensitivity as
16. Hillstrom HJ, Triolo RJ. Emg Theory. In: Craick RL, Oatis diagnostic tools in gait analysis. Arch Phys Med Rehabil
CA. Gait analysis: theory and application. 1a ed. St Louis: 1984;65(4):517-21.
Mosby; 1995. p. 271-92. 23. Fonseca ST et al. Análise de um método eletromiográfico
17. Brouwer B, Ashby P. Altered corticalspinal projections to lower para quantificação de co-contração muscular. Rev Bras Ciênc
limb motoneurons in subjects with cerebral palsy. Brain Mov 2001;9(3):23-30.
1991;114:1395-407. 24. Granata KP, Marras WS. The influence of trunk muscle
18. Knutson LM et al. A study of various normalization coactivity on dynamic spinal loads. Spine 1995;20(8):913-19.
procedures for within day electromyographic data. J 25. Vakos JP et al. Electromyographic activity of selected trunk
Electromyogr Kinesiol 1994;4(1):47-59. and hip muscles during a squat lift. Spine 1994;19(6):687-95.
19. Knutsson E, Richards C. Different types of disturbed motor 26. Kadaba MP et al. Repeatability of kinematic, kinetic and
control in gait of hemiparetic patients. Brain 1979;102(3):405- electromyographic data in normal adult gait. J Orthop Res
30. 1989;7:849-60.
20. Winter DA, Yack HJ. EMG profiles during normal human 27. Unnithan MT et al. Cocontraction and phasic activity during
walking: stride-to-stride and inter-subject variability. gait in children with cerebral palsy. Electromyogr Clin
Electroencephalogr Clin Neurophysiol 1987;67:402-11. Neurophysiol 1996;36:487-94. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 311

Estudo de caso

O método isostretching no tratamento


da hipercifose torácica
The isostretching method for thoracic hyperkyphosis treatment
Sheyla Mariana de Souza Moraes*, Elaine Cristine Lemes Mateus**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta com aprimoramento profissional em Fisioterapia aplicada à Ortopedia e Traumatologia do Hospital


das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, **Fisioterapeuta responsável pela área de Disfunções
da Coluna Vertebral e Lesões Medulares da Seção de Reabilitação Neuromuscular do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto – USP

Resumo Abstract
A boa postura está envolvida com o bem estar do The good posture is involved with the individual well-being.
indivíduo. Fatores como fraqueza muscular e posturas Factors as muscular weakness and incorrect postures cause muscular
incorretas ocasionam desequilíbrios musculares, podendo unbalances and may also cause postural dysfunctions.
levar às disfunções posturais. O Isostretching é uma técnica Isostretching is a technique that supplies the need of a global
que supre a necessidade de um tratamento global, essencial treatment, essential in those cases. In this work the Isostretching
nesses casos. Neste trabalho, o Isostretching foi aplicado em was applied in one female patient with thoracic hyperkyphosis. At
um paciente do sexo feminino com hipercifose torácica. Ao the end of the treatment it was observed, through radiologic and
final do tratamento observou-se, através da avaliação photographic evaluation, reduction in the kyphotic angulation
radiológica e fotográfica, redução da angulação cifótica e and improvement in muscular chains retraction, showing the
melhora das retrações das cadeias musculares, demonstrando effectiveness of that technique in the referred postural dysfunction.
a eficácia dessa técnica na referida disfunção postural. O The aim of this work was to analyze the effects of the Isostreching
trabalho objetivou analisar os efeitos do método Isostretching method in the postural thoracic hyperkyphosis through physical
na hipercifose torácica postural, através do exame físico, examination, radiologic and photographic evaluation.
avaliação fotográfica e radiológica. Key-words: thoracic hyperkyphosis, isostretching
Palavras-chave: hipercifose torácica, isostretching

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
Considerando que os músculos se superpõem e formam
O sedentarismo, atitudes viciosas, fraqueza muscular linhas de força, denominadas cadeias musculares, observa-
e até mesmo atividades físicas intensas favorecem o se a vantagem de um trabalho com o corpo baseado na
desequilíbrio muscular, podendo levar à alteração das globalidade [5-7]. Através do método Isostretching, que
curvaturas fisiológicas da coluna vertebral, pois estas se é uma ginástica postural global, isso ocorre através do
encontram em constante modificação em função de fortalecimento da musculatura profunda, melhora da
atitudes e gestos. Dessa forma, surgem disfunções posturais flexibilidade muscular e mobilidade articular, controle
como a hipercifose torácica [1-4]. Verifica-se, nesses casos, respiratório e consciência corporal, solicitando um
a necessidade de uma boa postura, boa mobilidade e trabalho de todo o corpo a cada postura, e realizando as
desenvolvimento da consciência corporal. correções necessárias através do posicionamento da pelve,

Recebido em 17 de fevereiro de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Sheyla Mariana de Souza Moraes, Rua Capitão Humberto Aldrovandi 670/142, 13405-242 Piracicaba
SP, Tel: (19) 3421-2247, E-mail: she_mb@yahoo.com.br
312 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

alinhamento da coluna vertebral e verificação das apresentou redução dessa angulação para 40º, verificado
compensações [4]. As posturas são escolhidas de acordo através de exames radiológicos (fig. 11 e 12).
com cada indivíduo, respeitando seus limites, porém Esses dados confirmam os resultados encontrados por
obtendo o máximo de aproveitamento em cada postura, Beloube et al. [8], segundo o qual a redução da angulação
através da qualidade corretiva. cifótica foi significativa nos dois pacientes avaliados e
submetidos ao método Isostretching, estudo este que
Materiais e métodos também obteve resultado positivo para a angulação
escoliótica de um desses pacientes.
Um paciente portador de hipercifose torácica foi
atendido na Seção de Reabilitação Neuromuscular do Figuras 1 e 2
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, sendo este
do sexo feminino, com 9 anos de idade. Inicialmente, o
paciente foi avaliado utilizando uma ficha de avaliação
postural padrão, obtendo os dados necessários para a
observação e análise das alterações posturais presentes.
Em seguida, realizou-se a avaliação fotográfica nas
vistas anterior, lateral (direito e esquerdo), posterior e
com flexão do tronco.
Foi realizada, ainda, a avaliação radiológica da coluna
torácica e lombar na incidência perfil para avaliar a
angulação cifótica, dada pela medida do ângulo de Cobb.
Para análise da maturidade esquelética, foi utilizado o
Sinal de Risser, através do exame radiológico da pelve. Vista anterior.
A partir da análise dos dados, iniciou-se o tratamento Figuras 3 e 4
fisioterapêutico com a aplicação da técnica de isostretching,
não sendo empregado qualquer outro tratamento. O
paciente foi submetido a 10 sessões, com duração de 45
minutos cada uma.
As sessões foram compostas de posturas decúbito dorsal,
sentada e em pé, sendo que em algumas delas foram utilizados
bastão (1,0 m) e bola (3 kg). Cada postura era mantida durante
o tempo de uma expiração prolongada e, como tratava-se de
posturas simétricas, eram repetidas seis vezes.
Ao final do tratamento, novas fotografias foram
realizadas a fim de analisar e comparar as disfunções
posturais pré e pós-tratamento, assim como nova
avaliação radiológica.
Vista lateral direita.
Resultados Figuras 5 e 6

Através do estudo comparativo dos exames fotográ-


ficos (avaliação da retração das cadeias musculares) e radio-
lógicos (medida do ângulo de Cobb) pré e pós-tratamento,
com a técnica de isostretching, foram obtidos os seguintes
resultados:
Na avaliação fotográfica, os dados demonstraram
melhora da retração das cadeias musculares, melhorando
o alinhamento da coluna vertebral e conseqüentemente
de outros segmentos corporais, como pode ser visualizado
nas figuras de 1 a 10, que apresentam imagens fotográficas
do pré e pós-tratamento, respectivamente.
No início do tratamento, o paciente apresentava
hipercifose torácica de 60º, no final do tratamento Vista lateral esquerda.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 313

Figuras 7 e 8 Figura 12

Vista posterior.
Radiografia da coluna torácica, com medida do ângulo de Cobb,
Figuras 9 e 10 pré-tratamento fisioterapêutico.

Conclusão

O método isostretching é uma ginástica postural global


que age na correção das disfunções posturais, através da
melhora da flexibilidade e força muscular, atuando
também na consciência corporal e postural.
Verificando os dados posturais fotográficos e
radiológicos obtidos após a aplicação da técnica, podemos
concluir que o método isostretching pode ser empregado
no tratamento das alterações posturais como a hipercifose
torácica, pois demonstrou eficácia no caso estudado,
porém novos trabalhos devem ser realizados com uma
amostragem e um período de tratamento maior (se
Vista lateral com flexão do tronco. necessário) para que se possa validar definitivamente os
Figura 11 efeitos do método sobre as disfunções da coluna vertebral.

Referências

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tratamento das principais patologias. São Paulo: Savier;
1997.
2. Gabriel MRS, Petit JD, Carril MLS. Fisioterapia em
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Revinter; 2001. p. 221-6.
3. Herbert S, Xavier R. Ortopedia e traumatologia:
princípios e prática. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 1998.
p. 69-85.
4. Redondo B. Isostreching: a ginástica da coluna. Piracicaba:
Skin Direct Store; 2001.
5. Busquet L. As cadeias musculares. Belo Horizonte:
Busquet; 2001.
6. Marques AP. Cadeias musculares: um programa para
Radiografia da coluna torácica, com medida do ângulo de Cobb,
ensinar avaliação fisioterapêutica global. São Paulo:
pós-tratamento fisioterapêutico.
Manole; 2000.
7. Souchard PE. Reeducação postural global. São Paulo:
Ícone; 1986.
8. Beloube DP, Costa SEM, Junior EAB, Oliveira RJDP. O
método isostretching nas disfunções posturais. Fisioter
Bras 2003;4:72-4.
314 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Estudo de caso

Aplicação da escala Alberta Infant Motor Scale


(AIMS) em Síndrome de Down no tratamento
das crianças da APAE de Barbacena
Application of Alberta Infant Motor Scale (AIMS) in Down syndrome
in the treatment of APAE’S children in Barbacena
Amélia Ananias Ambrosano*, Andréia Amaral da Silva*, Andressa Souza Milagres*,
Danielle Rezende Pereira*, Laila C. Moreira Damázio**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmicas do 8º período de Fisioterapia da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC),


**Fisioterapeuta, Professora de anatomia e neuroanatomia da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC)

Resumo Abstract
A Síndrome de Down é uma patologia que provoca atraso Down syndrome is a pathology in which people have mild to
mental leve a moderado, retardo no desenvolvimento motor, moderate mental retardation, motor development delay, and
sendo que os bebês se desenvolvem mais lentamente que os babies grow more slowly than the other ones. Therefore, the
outros. Desta forma, a fisioterapia busca conceitos, como o Bobath, physical therapy searches for concepts, such as Bobath, in order to
na tentativa de minimizar este atraso. O estudo tem como objetivo minimize this delay. The study aims at evaluating a child’s motor
avaliar o desenvolvimento motor de uma criança tratada pelo development treated by Bobath concept and treated by Doman-
conceito Bobath e outra tratada pelo método Doman-Delacato. Delacato method. The children with less than one year and nine
As crianças com idades menores que um ano e nove meses foram months of age were evaluated pre and post treatment by Alberta
avaliadas pré e pós-tratamento pela escala AIMS, sendo que o Infant Motor Scale, and the treatment consisted of 14 (fourteen)
tratamento constou de 14 sessões de fisioterapia, com duração de physical therapy sessions, one hour each session, three times a
uma hora cada sessão, realizadas três vezes na semana, durante week for a month. The child treated based on Bobath´s concept
um mês. A criança tratada pelo conceito Bobath obteve melhora has improvement in her development, 7 (seven) points in the
no desenvolvimento de 7 pontos no escore total, já a criança total score, and the child treated using Doman-Delacato method
tratada pelo método Doman-Delacato obteve evolução de apenas got only 5 (five) points in the total score. In accordance with the
5 pontos no escore total. De acordo com a análise dos resultados, analysis of the results, the child that was treated by Bobath resulted
a criança tratada pelo conceito Bobath obteve melhor desenvol- in better motor development than the one treated by Doman-
vimento motor do que a criança tratada pelo Doman-Delacato. Delacato. We conclude that Bobath is an efficient therapy for
Conclui-se que o Bobath é uma terapia eficiente no tratamento de children with developmental delay, and aims at adjusting the
crianças com atraso no desenvolvimento, e visa ajustar as posturas normal postures through stimulus of the automatic reactions.
normais por meio de estímulos das reações automáticas. Key-words: Down syndrome, Bobath, AIMS.
Palavras-chave: Síndrome de Down, Bobath, AIMS.

Artigo recebido em 20 de outubro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Laila C. Moreira Damázio, Rua Maria Miranda da Silva, 32 Monsenhor Mário Quintão 36200-000 Barbacena
MG, Tel: (32)3332-9891/9935-0034, E-mail: lailadamazio.damazio@bol.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 315

Introdução de desempenho motor, esclarecido com base na amostra


normativa do teste [11].
A Síndrome de Down é decorrente de um erro genético O objetivo do presente estudo é avaliar, através da escala
presente desde o momento da concepção ou imediatamente após. AIMS, o desenvolvimento motor de uma criança tratada pelo
Essas alterações decorrem de defeito de um dos gametas [1]. método Doman-Delacato e outra tratada pelo conceito Bobath.
Essa síndrome não é uma doença, mas sim um acidente
genético caracterizado na maioria dos casos pela trissomia Material e métodos
do par 21 [2].
Não foi exatamente esclarecida a causa da síndrome, no O estudo foi realizado na APAE da cidade de Barbacena-
entanto, alguns fatores são considerados de risco, como a grande MG, e a seleção dos pacientes foi realizada utilizando um
incidência de mães com idade avançada apresentando óvulos critério de idade inferior a 19 meses, patologia síndrome de
envelhecidos e, por isso, mais propensos a alterações [3]. Down, sexo feminino, sem problemas cardiorespiratórios e
A exposição ao raio X, a administração de certas drogas, músculo-esqueléticos graves.
problemas hormonais e imunológicos, espermatócitos e infec- A criança D.L.N.G, de um ano e cinco meses foi tratada
ções virais específicas poderiam causar a Síndrome de Down [4]. pelo método Doman-Delacato e a criança G.O.A., de um
As pessoas com Síndrome de Down sofrem atraso mental ano e três meses, tratada pelo conceito Bobath.
leve a moderado, algumas têm retardo no desenvolvimento O trabalho constou de uma avaliação pré e pós-tratamento,
motor. Os bebês com esta síndrome se desenvolvem mais utilizando a escala AIMS. O tratamento durou 1 mês,
lentamente que os outros [5]. constando de 14 sessões, três vezes por semana, com duração
As evidências revelam que as crianças portadoras de de uma hora cada sessão. O tratamento utilizando o conceito
Síndrome de Down apresentam atraso nas aquisições de Bobath objetiva exploração corporal, transferência de peso,
marcos motores básicos, indicando que ocorrem em tempos estabilização das cinturas, dissociação, ativação muscular
diferenciados (superiores) dos de uma criança com desenvol- (estimulação) e até alongamento muscular [9].
vimento normal [6].
As crianças normais costumam caminhar com doze a Resultados
quatorze meses de idade, e as crianças com a síndrome
geralmente andam com quinze a trinta e seis meses. Através da análise das tabelas pré-tratamento e pós-
A fisioterapia procura minimizar o atraso do desenvol- tratamento, podemos observar que a criança tratada pelo
vimento na síndrome de Down, para isso ela busca abor- método Doman-Delacato desenvolveu 5 créditos no seu
dagens diferentes de tratamentos na tentativa de garantir repertório motor e a criança tratada pelo conceito Bobath
melhores avanços no controle motor destas crianças [7]. adquiriu 7 créditos a mais no seu repertório motor.
Existem diversas abordagens de tratamento utilizadas O escore total pré-tratamento da criança D.L.M.G. era
por fisioterapeutas, como: Ayres, Bobath, Doman Delacato, de 36 pontos e da criança G.O.A. de 26 pontos. Pós-
Kabat, Peto e Vojta [7,8]. tratamento, a criança D.L.M.G. passou para um escore de
O objetivo do Bobath é o desenvolvimento da coor- 41 pontos e a criança G.O.A. para 33 pontos.
denação e controle postural automático, como resposta a
Tabela I
um estímulo do meio ambiente, no qual o terapeuta pode
influenciar, oferecendo dificuldade. Já o Doman-Delacato Pré-tratamento – G.O.A.
propicia padronização de movimentos, utilizando reflexos
globais, visuais, auditivos, táteis e motores [9]. Créd. Não créd. Escore
O atraso de desenvolvimento motor das crianças poderá Prono 9 11 9
ser avaliado pela escala Alberta Infant Motor Scale (AIMS), Supino 3 6 3
desenvolvida por Martha C. Piper e Johanna Darrah, as Sentado 12 0 12
quais debateram a teoria neuromaturacional e a teoria dos De pé 2 14 2
sistemas, demonstrando que a escala AIMS apresenta um
guia teórico neurevolutivo eficiente na identificação de qual Tabela II
fase de atraso motor a criança se encontra [10].
A aplicação da escala AIMS leva em média 20 minutos, cada Pós-tratamento – G.O.A.
item observado no repertório das habilidades motoras da criança Créd. Não créd. Escore
recebe escore um e os não observados recebem zero. Os itens
observados em cada uma das subescalas são somados, resultando Prono 9 11 9
em quatro subtotais (prono, supino, sentado e de pé). Supino 8 1 8
Sentado 12 0 12
O escore total é a soma dos subtotais obtidos em cada
De pé 4 12 4
subescala. Este resultado pode ser convertido em percentual
316 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Tabela III nervoso é controlar a ação muscular [9].Observamos que,


apesar de este método ser baseado no reflexo, a criança
Pré-tratamento – D .L
D.L .M.G
.M.G..
.L.M.G
D.L.M.G. apresentou um bom desenvolvimento, visto que
Créd. Não cred. Escore a família era a principal estimulante da criança.
A família constitui o primeiro universo de relações sociais
Prono 13 8 13
da criança, podendo proporcionar-lhe um ambiente de
Supino 9 0 9
Sentado 12 0 12 crescimento e desenvolvimento. A influência da família no
De pé 2 14 2 desenvolvimento de suas crianças se dá, primordialmente,
através das relações estabelecidas por meio de uma via
fundamental: a comunicação, tanto verbal como não-verbal.
Tabela IV
A gama de interações e relações desenvolvidas entre os
Pós -tratamento – D
Pós-tratamento .L
D.L .M.G
.M.G..
.L.M.G membros familiares mostra que o desenvolvimento do
indivíduo não pode ser isolado de desenvolvimento familiar
Créd. Não cred. Escore [12]. Este fato pôde ser observado pelo desenvolvimento
Prono 14 7 14 da criança tratada pelo Doman-Delacato.
Supino 9 0 9 O conceito Bobath tem como finalidade ajustar posturas
Sentado 12 0 12 normais, por meio de estímulos das reações automáticas,
De pé 6 10 6 evidenciando mais o desenvolvimento motor. Tem como meta
inibir padrões anormais de movimento, enquanto facilita
Tabela V movimentos normais durante atividades funcionais [9].
Observamos que a criança G.O.A. teve uma evolução
melhor que a criança tratada pelo Doman-Delacato, apesar
da superproteção dos pais, que pode acarretar dificuldades
para a criança interagir com o meio.
Pesquisadores que postulam a implementação de
programas especiais de estimulação, em geral, qualificam,
no ambiente de crianças procedentes de famílias de baixa
renda, estilos inadequados de interação familiar, baixa
estimulação verbal/cognitiva, principalmente na interação
materno-infantil, de mães com pouco grau de instrução e
trabalhadoras manuais, ou de suas substitutas. Zamberian
[13] estudou vários aspectos de lar, considerados como
relevantes para o desenvolvimento cognitivo, entre eles
destacou-se a interação verbal dos pais com as crianças, a
Discussão posição da criança na família, a qualidade e variedade de
brinquedos e estímulos disponíveis no ambiente.
De acordo com a análise da tabela, a criança D.L.M.G.,
tratada pelo método Doman-Delacato não evolui muito em Conclusão
prono: antes do tratamento o escore era 13 e após o
tratamento evolui para 14. Os escores da posição supino e Com a análise dos resultados obtidos através da escala AIMS,
sentado não tiveram alteração. No entanto, na posição de pôde-se comprovar uma evolução significativa no desen-
pé, a evolução foi significativa e o escore evoluiu de 2 pontos volvimento motor da criança. O Bobath é um dos principais
para 6 pontos após o tratamento. Ao avaliar o escore total, conceitos hoje utilizados no tratamento da fisiopatologia do
a pontuação evolui de 36 para 41 pontos. SNC, sendo assim um conceito válido, e aqui, mais uma vez,
A criança G.O.A., tratada pelo conceito Bobath, não demonstramos sua efetividade. Um tratamento realizado com
evoluiu nas posições sentado e prono, sendo que, nas posições integração família, paciente e terapeuta também são importantes.
supino e de pé, houve uma evolução considerável. Na posição A educação dos pais e familiares torna-se necessária porque
supino, a pontuação evoluiu de 3 para 8 pontos e de pé, a estes são os estimuladores reais desta criança. Mostrar o mundo,
evolução foi de 2 para 4 pontos. O escore total evoluiu de deixar com que a criança interaja é o principal fator para sua
26 para 33 pontos. evolução clínica.
O método Doman-Delacato possui um modelo de
controle motor baseado no reflexo, que se caracteriza por Referências
estímulo, originando resposta comandada pela medula e
tronco encefálico. Neste modelo, o objetivo do sistema 1. Schwartzan JS. Síndrome de Down. São Paulo: Memnon; 1999.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 317

2. Barreto ALXM. Variação numérica nos cromossomos da 8. Stokes M. Neurological physiotherapy. London: Mosby; 1998.
síndrome de Down. [citado 12 mar 2004]. Disponível em 9. Monteiro CBM. Paralisia cerebral: identificação do modelo de
URL: www.ufv.br/dbg/bioano01/div07.htm controle motor utilizado por seis diferentes abordagens de
3. Kelnar CJH, Harvey D, Simpson C. O recém-nascido doente: tratamento. Revista de Fisioterapia do Centro Universitário –
diagnóstico e tratamento em neonatologia. São Paulo: Santos; UNIFMU 2003;1(1):27-31.
2001. 460p. 10. Piper MC, Darrah J. Motor assesment of the developing
4. Newcombe N. Desenvolvimento infantil. Porto Alegre: infant. Philadelphia: WB Saunders; 1994. p.1-14.
Artmed; 1999. 561p. 11. Mancini MC et al. Estudo do desenvolvimento da função
5. Bartoshesky LE. Síndrome de Down. [citado 8 Mar 2004]. motora aos 8 e 12 meses de idade em crianças pré-termo e a
Disponível em URL: kidshealth.org/kid/en_espanol/ termo. Arq Neuropsiquiatr 2002;60:974-80.
enfermadades/down_syndrome_esp.html 12. Silva NLP, Dessen MA. Deficiência mental e família: implicações
6. Mancini MC. Comparação do desempenho funcional de para o desenvolvimento da criança. Psicologia: Teoria e Pesquisa
crianças portadoras de síndrome de Down e crianças com 2001;17:1-10.
desenvolvimento normal aos 2 e 5 anos de idade. Arquivo 13. Zamberian MAT. Interação mãe-criança: enfoques teóricos e
Neuropsiquiatr 2003;61:409-14. implicações decorrentes de estudos empíricos. Estud Psicol
7. Umphred DA. Fisioterapia neurológica. São Paulo: Mackenzie; 2002;7:1-11. J
1994.
318 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. dos artigos originais.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros 4. Atualização ou divulgação
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um
Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
artigo de revisão.
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações
que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical 5. Relato de caso
Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e- características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não e pode ser realizado em humano ou animal.
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
6. Comunicação breve
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
1. Editorial comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
de seus membros. A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
7. Resumos
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato 8. Correspondência
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências trabalho antes de se publicar a carta.
bibliográficas. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL

3. Revisão 1. Normas gerais

São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005 319

fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as 5. Agradecimentos
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, em uma secção especial.
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e 6. Referências
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
nome do artigo, data e autor. relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
2. Página de apresentação
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
- Título em português e inglês. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
títulos acadêmicos. ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Exemplo:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Livro:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
pública do seu conteúdo. iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. a abreviação latina et al.

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo Cancer Res 1994;54:5016-20.
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês. Os artigos, cartas e resumos devem ser
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: enviados para:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto- Jean-Louis Peytavin
dologia, análise). Atlantica Editora
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para Tel: (21) 2221 4164
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
320 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 4 - julho/agosto de 2005

Calendário de eventos
2005 5 a 8 de outubro
2º Congresso Internacional e 3º Simpósio Brasilei-
ro sobre o Diagnóstico Cinesiológico Funcional
Setembro Fortaleza, CE
5 a 17 de setembro Informações: (85) 3094-0464 / 3458-1350 / 9982-1173
I Congresso Goiano de Fisioterapia 6 e 7 de outubro
Goiânia, GO II Simpósio de Fisioterapia do Hospital central da
Informações: (62) 289-9108 / 9998-5096 Marinha
22 a 25 de Setembro Escola de Guerra Naval, Praia vermelha, Rio de Janeiro
II CONFIA - Congresso de Fisioterapia de Anápolis Informações: (21)3849 6553
Anápolis, GO simposiohcm@yahoo.com.br
Informações: (62) 9614-7353 6 e 8 de outubro
27 a 30 de setembro International Spine Symposium
Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional Londres, Reino Unido
Teatro Guararapes, Auditório República, 05/S.100, Setor C contact@spineinternational.org
Associação do Estado de Pernambuco - ATOPE 8 a 12 de outubro
Recife, PE 39º ENAF
www.recifecvb.com.br Poços de Caldas, MG
Tel: (81) 3227 2085 (35) 3712-7000
28 de setembro a 1 de outubro
XXIX Encontro de Fisioterapia
II Simpósio de Fisioterapia desportiva
2006
Cruz Alta, RS
Informações: www.encfisio.cjb.net e xxixencfisio@yahoo.com.br Março
20 a 25 de março
Outubro 5th International Conference on Advances in
5 a 8 de outubro Pulmonary Rehabilitation and Management of
XVI Congresso Brasileiro de Fisioterapia – Cobraf Chronic Respiratory Failure
Internacional Trade Mart (ITM EXPO) Stresa, Itália
Av. Roberto Zuccolo, 555 - Vila Leopoldina Informações: congressi@effetti.it
São Paulo, SP
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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.6, nº5 setembro/outubro 2005 - 321~400)
EDITORIAL
Ethos cultural, portadores de deficiência física e publicações cientificas, Marco Antonio Guimarães da Silva .......................... 323
OPINIÃO
Espiritualidade e reabilitação da saúde, Olavo Feijó .................................................................................................................................... 325
ARTIGOS ORIGINAIS
Análise eletromiográfica da atividade muscular durante a marcha em crianças, utilizando
diferentes tipos de calçados, Denise Hollanda Iunes, Christiane B. Abrão Santos, Flavia P. Freitas,
Alexandre Rocha Gonçalves ................................................................................................................................................................................... 328
Avaliação do grau de funcionalidade de pacientes que sofreram acidente vascular encefálico antes
e após intervenção fisioterapêutica no solo e na hidroterapia, Carina Tárzia Kakihara, Cristiane Gaspar Neves ............................ 332
Programa de verificação e controle de equipamentos de ultra-som terapêuticos,
Ana Carolina Brandt de Macedo, Pedro Gewehr ................................................................................................................................................. 339
Fisioterapia prática
A fisioterapia no Programa Saúde da Família de Sobral CE, Mirella Maria Soares Véras,
Vicente de Paulo Teixeira Pinto, Eliany Nazaré Oliveira, Paulo Henrique Dias Quinderé ............................................................................ 345
A importância da ginástica laboral na diminuição das algias e melhora da qualidade de vida do trabalhador,
Paulo Henrique Cinelli Moreira, Gisele Cirelli, Paulo Roberto Benicio Santos ............................................................................................... 349
Análise da relação entre mudanças posturais na coluna e alterações visuais,
Giselle Notini Arcanjo, Raquel Fiterman Lima, Raimunda Hermelinda Maia Macena, Laís Cristina de Almeida ..................................... 354
Proposta de um modelo teórico de intervenção fisioterapêutica no controle da dor e inflamação,
Marcos Antônio Resende, Pereira, LSM, Castro MSA ........................................................................................................................................ 361
Avaliação do ângulo de congruência da patela em pacientes com diagnóstico de condromalácea,
Bianca Callegari, Janaina Proença de Oliveira, Marília Maniglia de Resende, Vera Lúcia Alves dos Santos ................................................. 365
Avaliação do arco longitudinal medial do pé de crianças através da biofotogrametria computadorizada,
Mario Antonio Baraúna,Vinícius Emanuel Isaac Machado, Ruiz Angelo Ventura Silva, Frederico Pereira Montes,
Márcio Vinícius Batista Mendes, Hugo Machado Sanchez, Kellen Gonçalves Garcia, Thaíse Cristina Davi de Miranda,
Gustavo Simões Barbosa, Fabrício Duarte, Roberto Sergio Tavares Canto .................................................................................................... 368
Qualidade da execução de AVDs em idosos institucionalizados e não-institucionalizados
que permaneciam sem sair de suas residências por mais de 6 meses,
Ginástica
Ana Laborativa
Carolina Ferrantin, Camila Fernanda Borges, José Geraldo da Silva Morelli, José Rubens Rebelatto ................................................ 372
Lombalgia em fisioterapeutas e estudantes de fisioterapia: um estudo sobre a distribuição da freqüência,
Clayton de Souza da Silva, Marco Antônio Guimarães da Silva ....................................................................................................................... 376
REVISÃO
Propriedades anatômicas e funcionais da ATM com aplicabilidade no tratamento fisioterapêutico,
Paulo C. Nunes Jr, Rafael L.R. Maciel, Márcio A. Babinski ................................................................................................................................ 381
ESTUDO DE CASO
Tratamento hidrocinesioterapêutico em pessoa com espondilite ancilosante, Josimari Melo de Santana,
Valter Joviniano de Santana Filho, Walderi Monteiro da Silva Júnior ............................................................................................................. 388
ATUALIZAÇÃO
Descrição do método de avaliação postural Portland State University, Josenei Braga dos Santos,
Antônio Renato Pereira Moro, Marcelo Reis Cezar, Pedro Ferreira Reis, Jorge Dias Luz, Diogo Cunha dos Reis ................................... 392
RESUMOS ............................................................................................................................................................................................... 396
NORMAS DE PUBLICAÇÃO .......................................................................................................................................................... 398
EVENTOS ............................................................................................................................................................................................... 400
322 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Fisioterapia Brasil
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Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná)
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo)
Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro)

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 323

Editorial

Ethos Cultural, portadores de deficiência


física e publicações cientificas
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci.


marco@atlanticaedu.com.br

Curioso com o fato de que, nesses seis anos de existência se, entretanto, que as variações regionais podem ser muito
com quase 500 artigos publicados, não havia indicação de importantes e em algumas áreas geográficas superariam em
que temas relacionados a pessoas portadoras de deficiências muito as taxas da OMS. Os dados prospectivos para a
tivessem merecido lugar em nossa revista, resolvi buscar América Latina, realizados na década de 90 para o final do
uma explicação com o editor executivo. Talvez ele me século XX, apontavam para uma variação de 53 a 85 milhões
pudesse explicar o estranho fato. de pessoas com algum tipo de incapacidade. Está clara a
O nosso editor executivo, um francês, médico por associação entre incapacidade e pobreza, com a agravante
profissão e jornalista e filósofo por vocação, com algumas de que a maioria desses núcleos fica à margem dos serviços
obras publicadas em sua terra natal e uma longa experiência de atenção de saúde e somente uns 2% da população
na área de edições científicas, apesar de sua eclética formação, incapacitada da América Latina recebe atenção sanitária
também não foi capaz de justificar o fato, o que me levou a adequada.
refletir sobre a questão. Uma extensa lista poderia justificar as incapacidades,
A falta de publicações sobre portadores de deficiências mas, sem dúvida, os acidentes em casa, os acidentes de
talvez seja um indicativo de que o fato ainda não ganhou a trânsito, as enfermidades de todo o tipo, além das seqüelas
dimensão que merece. O problema pode ser encarado sob de conflitos armados podem representar constituir as causas
diversos prismas. Contudo, no que se refere à escassez dessas mais relevantes.
publicações, é possível levantarmos algumas suposições: há No Brasil, o decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de
trabalhos de pesquisas sobre o assunto, mas seus autores não 1999, regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de
se preocupam em publicar; os centros de reabilitação 1989, que dispõe sobre a política nacional para a integração
geradores de trabalhos científicos são em escasso número, e da pessoa portadora de deficiência, consolidando as normas
os trabalhos ali produzidos se pulverizam nas revistas; os para a sua proteção além de outras providências. O artigo n.
que fazem o trabalho na área não estão engajados com o 4 do decreto, em seu item I, que se relaciona mais diretamente
espaço acadêmico; ou, uma última hipótese, não se faz com a fisioterapia, define o deficiente físico, considerando
trabalho na área. Imagino que alguns desses fatores podem a pessoa portadora de deficiência como a que se enquadra
coexistir e acabam por expressar o que pode estar ocorrendo nas seguintes categorias:
na área de atendimento às pessoas portadoras de deficiência. I - deficiência física - alteração completa ou parcial de
Resolvo, então, tentar entender e melhor dimensionar o um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o
fato. As fontes que possuo sobre o tema estão amparadas, comprometimento da função física, apresentando-se sob a
sobretudo, pela III Conferência Intergurbernamental forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,
Iberoamericana sobre Políticas para Adultos Mayores y Personas tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
com Discapacidad (Estatutos de la Red Iberoamericana de hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia
Cooperación Técnica. Madrid. Ministério de Asuntos cerebral, membros com deformidade congênita ou
Sociales; 1994:19-25). adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 10% produzam dificuldades para o desempenho de funções;
da população mundial apresenta algum tipo de incapacidade. Os decretos-lei assinados, as cartas de intenções e de
Os dados estatísticos da OMS são algumas vezes questionados apoio de órgãos internacionais e as dezenas de milhares de
e a sua verificação está sujeita a múltiplas limitações. Sabe- associações que tratam do tema sugerem que o problema
324 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

deveria ser alvo de grande atenção e, portanto, melhor em uma profunda e enraizada mestiçagem, acaba por ser
equacionado. Já sabemos que isso não acontece. Onde estaria considerada a base de um ethos cultural tipicamente latino
a origem de tal omissão? americano, que se arrasta desde o século XVII até hoje.
Não encontrando culpados, resolvo transferir a discussão Exemplos atuais desta herança podem ser vistos, muito
para a maneira como nós sedimentamos o nosso nível sócio- claramente, no comportamento indecente dos políticos; na
cultural ao longo dos séculos. Nessa direção, não há como institucionalização de propinas; na corrupção e no suborno
deixar de abordar a colonização na América Latina. que ocorrem em todas as esferas do serviço público; na
Durante os séculos XV, XVI e XVII os países que nos passividade com que nós cidadãos encaramos todos esses
colonizaram, Portugal e Espanha, foram centros desmandos e, obviamente, em nossa própria atitude de
hegemônicos, cujos declínios se iniciam nos séculos XVI e insistir em eleger tão mal aqueles que nos representam nas
XVII. O declínio dos colonizadores acabou por deixar as diversas esferas.
colônias sem um referencial e praticamente entregues a si Há ainda uma última hipótese ainda não levantada por
mesmas.O modelo social que então se cria é fortemente mim. A de os portadores de deficiências recebem tratamento
amparado por uma diversificação cultural que apresenta à altura e que existem no Brasil muitíssimos trabalhos de
diversas combinações que coexistem antagonicamente: pesquisa e publicação na área discutida, que não chegam aos
codificadas e caóticas; eruditas e populares; oficiais e ilegais. nossos editores. Neste caso, terei cometido neste editorial a
Como sugere o sociólogo português Boaventura Souza maior das heresias sociológicas jamais vista. Todos torcemos
Santos, a prática social nos paises da América Latina, baseada para que esta hipótese seja verdadeira.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 325

Opinião

Espiritualidade e reabilitação da saúde


Olavo Feijó, D.Sc.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Professor de psicologia, Fundação Getúlio Vargas (Escola Interamericana de Administração Pública), Universidade Gama Filho,
Faculdades Integradas Bennett, Universidade Estácio de Sá, Universidade Veiga de Almeida, Universidade Castelo Branco, Universidade
do Contestado/SC, Professor visitante e pesquisador de pós-doutorado em psicologia desportiva, University of Maryland, College Park,
Maryland (com bolsa do CNPq)

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Saúde e espiritualidade: agenda atual oração sobre o processo de cura. Outras universidades
americanas seguiram o mesmo curso, valendo citar Harvard
As relações entre transcendência e a saúde do ser humano University, University of California at Los Angeles (UCLA),
datam de tempos antigos. Na filosofia oriental, o tema nunca Kentucky University, University of Pennsylvania, Duke
foi novidade. No campo ocidental do pensamento, o debate University, Iowa University e, no Canadá, McGill
do dualismo corpo-mente foi abordado a partir de Platão. University.
Do lado oriental, o dualismo optou pela supremacia do Com o desenvolvimento dos instrumentos eletrônicos
espírito. Quanto ao dualismo ocidental, a opção de de diagnóstico pela imagem, as neurociências passaram a
superioridade contemplou o corpo. descrever “ao vivo” o funcionamento do cérebro,
A tendência ocidental para o materialismo obteve seus acompanhando passo a passo a complexidade das suas
frutos mais notórios nas práticas da ciência experimental e experiências. A lista das ferramentas inclui a tomografia
das ciências da saúde. Até a primeira metade do século XX, computadorizada, a ressonância magnética e a tomografia
cuidar da saúde sempre foi sinônimo de cuidar do corpo: por emissão de pósitrons.
conhecer a anatomia e a fisiologia era o que se exigia para a É exatamente desta área sofisticada das neurociências
formação do bom profissional da saúde. que estão surgindo, contemporaneamente, as descobertas e
Foi nos Estados Unidos que a dimensão da espiritualidade as hipóteses mais desafiadoras sobre o impacto da
recebeu a atenção dos cientistas e dos médicos, no transcorrer espiritualidade no campo da reabilitação e da manutenção
do século passado. Em psicologia, por exemplo, nada menos da saúde.
que um Willian James ousou estudar cientificamente o tema
da religião, escrevendo seu As variedades da experiência religiosa Cousins e a cura pela mente
[1]. Talvez por causa de um começo tão auspicioso, o campo
da psicologia da religião sempre recebeu a atenção de sérios Norman Cousins não era médico. Profissional da
escritores, nos Estados Unidos. Na Europa, até a primeira comunicação gráfica, foi um excelente escritor. Atuou,
metade do século XX, não houve muitos que trataram do também, como redator de uma das mais respeitadas revistas
assunto com a mesma profundidade de Jung, ao publicar norte-americanas, a Saturday Review. Acometido de uma
seu Psicologia e Religião [2]. grave enfermidade foi hospitalizado, sem esperanças de
Quanto à área da investigação científica, na década de recuperação.
1960, o Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cousins estava destinado a ser mais um dos óbitos
Boston, começou pesquisas focalizando o impacto da causados pela espondilite anquilosante. Quando, após
macumba (voodoo) sobre a saúde. Anos depois, o mesmo vários dias no hospital e ter enormes coletas de seu sangue,
grupo de Boston foi pioneiro ao pesquisar o impacto da feitas para vários exames, mas por diferentes equipes que

Artigo recebido em 8 de julho de 2005; aceito em 15 de agosto de 2005.


326 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

não se comunicavam entre si, Norman teve uma longa Newberg: a neurociência da espiritualidade
conversa com seu médico, Dr. Willian Hitzig. Por causa
da amizade que os unia por mais de vinte anos, porque O fim do século XX e início do XXI significam uma fase
sempre conversavam sobre assuntos de publicações completamente nova, no campo da saúde, da abordagem ao
médicas e, acima de tudo, porque o Dr. Hitzig acreditava binômio corpo/mente, das implicações da transcendência,
que o paciente deve ser parte integrante e decisiva do das pesquisas científicas sobre espiritualidade. A grande
processo de cura, a vida de Norman Cousins foi preservada explicação para este fenômeno deve ser procurada nas
e o mundo ganhou um dos maiores batalhadores em favor tendências contemporâneas de investigação, entre alguns
da psiconeuroimunologia. A história desta mudança foi estudiosos das neurociências.
escrita em vários artigos, publicados em revistas médicas A lista é longa. Mas há alguns nomes que merecem mais
e revistas de divulgação científica. Foi contada, também, ênfase: Austin, Zen and the brain: toward an understanding of
no sem número de conferências e palestras que Cousins foi meditation and consciousness [5]; Benson, Medicina espiritual: O
convidado a fazer em vários países. E se encontra, poder essencial da cura [6]; Cooper, É melhor acreditar [7];
detalhada, em dois livros. O primeiro, publicado em 1979, D’Aquili, Senses of reality in science and religion [8]; Damásio
foi impresso em português pela editora Saraiva, em 1993, O erro de Descartes [9], O mistério da consciência [10], Em busca
sob o título de A força curadora da mente [3]. A mesma Saraiva de Espinosa [11]; Eccles, Brain and conscious experience [12];
publicou o livro mais completo, originalmente impresso Joseph, The transmitter to God: the limbic system, the soul and
em 1989, com o título português Cura-te pela cabeça – A spirituality [13]; Le Doux, The emotional brain [14]; May, Saúde
biologia da esperança [4]. da mente, Saúde do espírito; Moyers, org. A cura e a mente.
Todo profissional da saúde, principalmente aquele que Um lugar de destaque, entretanto, deve ser reservado à dupla
se dedica à missão de reabilitação do corpo, deveria ter um D’Aquili e Newberg, da University of Pennsylvania, cujo
encontro marcado com Norman Cousins e ser desafiado a trabalho de parceria produziu o livro The mystical mind: probing
manejar bem os recursos humanos da espiritualidade. the biology of religious experience [15]. Enquanto isso, os dois
Na leitura de A força curadora da mente existe um pouco pesquisavam as imagens mentais, ao vivo, da experiência de
de tudo. Há, por exemplo, o relato quase inacreditável das transcendência mística, registrando as vivências de meditação
injeções intravenosas de ácido ascórbico, que chegaram a budista e de contemplação mística de freiras católicas. Os
25 gramas por dia e foram acompanhadas por reações resultados da investigação, constituiu a matéria-prima do livro
saudáveis e motoras do seu tecido conjuntivo, bem como Why God won’t go away, publicado em 2001, quase três anos
diminuição de febre, desaceleração do pulso e capacidade após o falecimento do Dr. Eugene D’Aquili [16].
de dormir sem o uso de soníferos. Escreve ele: “No fim do A mensagem básica das pesquisas deles e do seu livro,
oitavo dia, eu já conseguia mover meus dedos sem sentir em resumo, diz o seguinte: há uma área especializada do
dor” (p. 29). cérebro, que se torna ativa quando o eu pessoal se associa
Das experiências recuperadoras de Cousins, talvez a que com o seu entorno – e que fica bloqueada, quando o eu
mais chamou a atenção do público não-médico foi a do pessoal entra em meditação e transcende em direção a uma
impacto do riso. Quando estava hospitalizado, Norman realidade mística, espiritual. Daí o título sugestivo do livro
personificava a figura do paciente da doença incurável, de que, em português, seria “Porque Deus não vai embora”.
desesperança, de dores e febre, de perda gradual dos Uma das maneiras mais adequadas de resumir a
movimentos do corpo. O ambiente hospitalar o deprimiu contribuição neurocientífica de D’Aquili e de Newberg para
tanto que, de comum acordo com seu médico, mudou-se a compreensão da espiritualidade, talvez seja a de usar
para o quarto de um hotel. Sua terapia de riso, começada palavras de Vince Rause, o escritor de divulgação científica
ainda no hospital, iniciou com filmes selecionados do que ajudou os dois pesquisadores na redação do livro deles.
programa Câmera indiscreta (Candid Camera) e incluiu Rause começa a descrever a parceria entre D’Aquili e
clássicos humorísticos dos irmãos Marx. Pesquisando a Newberg, informando que ambos filmaram a atividade
respeito do assunto, foi descobrindo que o bom humor cerebral, ao vivo, usando a tecnologia de imagem denominada
desempenha papel estratégico no funcionamento do sistema SPECT, instrumento de tomografia de última geração.
imunológico. “Durante a análise das imagens, a atenção dos cientistas
O testemunho maior de Norman Cousins, entretanto, foi atraída para uma porção do lobo parietal esquerdo,
gira em redor do desejo de viver e da capacidade do corpo de denominada área de associação e orientação. Essa região
assimilar os valores espiritualmente saudáveis da mente. estabelece a fronteira entre o eu físico e o restante da
O Dr. René Dubos, na Introdução do A força curadora da existência, tarefa que requer um fluxo constante de
mente, escreve a seguinte síntese: “Da mesma forma que a informações neurais, canalizadas pelos sentidos. As
cura, a reabilitação implica a participação tanto da mente tomografias revelaram que, nos momentos de pique das
como a do corpo, integrados através do desejo de se obter preces e da meditação, esse fluxo sofria uma redução drástica.
um processo criativo de mudanças adaptáveis” (p. 14). Com a área de orientação privada das informações
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 327

necessárias para separar o eu do mundo – acreditam os pesquisas Religião e Saúde, prescreve a meditação como um
cientistas – o indivíduo experimentaria uma sensação de recurso básico no tratamento das doenças. Eles, inclusive,
percepção ilimitada, fundindo-se ao espaço infinito”. introduziram mais sofisticação científica às tradicionais pesquisas
A tese de D’Aquili e Newberg implica dizer que o dos médicos da Boston University, quando constataram o
fenômeno religioso, da espiritualidade, realmente não impacto da oração sobre a recuperação dos enfermos.
depende do raciocínio intelectual, mas está intimamente O Dr. Cooper, disseminador do jogging, conhecido no
relacionado com “experiência” neural, com a vivência Brasil como cooper, em um dos seus mais recentes livros,
registrada e integrada pelo cérebro. Para explicar melhor, pregou a importância da fé para a boa forma física. O título,
eles usam a metáfora eletrônica, afirmando que a espiritua- bastante sugestivo, é: É melhor acreditar – A importância da fé
lidade vai permanecer na experiência humana, enquanto para a saúde e a boa forma [7].
permanecer a “‘fiação’ do cérebro (que) foi projetada para Eis um campo aberto e promissor, para os pesquisadores
experimentar a realidade de Deus” [17]. brasileiros. Um dos desbravadores, do lado de cá, tem sido
Para Newberg, a experiência espiritual é registrada pelo o Dr. Esdras Vasconcelos, professor do doutorado em
cérebro como “real”: “Tão real quanto esta mesa. Mais real, psicologia, da USP, e que foi nosso pioneiro nos estudos da
até” [17]. psiconeuroimunologia.
A boa saúde espiritual é essencial para a boa saúde física.
Espiritualidade, saúde e reabilitação A fé é um instrumento poderoso, tanto para o paciente, quanto
para o terapeuta.
Para os clínicos e os neurocientistas citados nas refe- Afinal de contas, vale a pena crer que o ser humano não
rências deste ensaio, não há dúvida de que a espiritualidade foi feito para viver enfermo, em nenhuma de suas dimensões,
constitui uma das dimensões significativas da dinâmica da seja no pólo físico, seja no pólo espiritual.
saúde – seja na sua prevenção, como na sua reabilitação.
No livro que escrevi em 1992, com Segunda edição em Referências
1998, esbocei a teoria bipolar da personalidade que afirma,
pelo menos, duas premissas [18]. A primeira, hipotetiza que 1. James W [1890]. Varieties of religious experience. New York:
o universo é um contínuo energético e que nós, seres University Books; 1963.
humanos, fazemos parte deste contínuo. A segunda hipótese 2. Jung CG. Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes; 1995.
diz que a estrutura energética do ser humano é bipolar: isto 3. Cousins N. Cura-te pela cabeça: a biologia da esperança. São Paulo:
Saraiva; 1993.
é, vai do polo mais caracteristicamente denso, que é o polo
4. Cousins N. A Força curadora da mente. São Paulo: Saraiva; 1993.
físico, até o polo mais definidamente leve, que é o polo
5. Austin J. Zen and the brain: toward an understanding of meditation
mental. Esta segunda hipótese estabelece que, por conse- and consciousness. Cambridge, Mass.: MIT Press; 1998.
qüência, impõe-se uma simultaneidade psico-física, no 6. Benson H. Medicina espiritual – o poder essencial da cura. Rio de
entendimento da funcionalidade humana. Janeiro: Campus; 1998.
Pinçando-se o caso da saúde, no contexto da simulta- 7. Cooper K. É melhor acreditar: a importância da fé para a saúde e a
neidade dos dois polos da energia humana, a teoria bipolar boa forma. Rio de Janeiro: Record; 1998.
sugere que construir a saúde, bem como reabilitá-la, exige 8. D’Aquili E. Senses of reality in science and religion. Zygon
práticas tanto físicas, quanto espirituais. Assim, não basta 1982;17:361-84.
9. Damásio A. O erro de Descartes: Emoção, razão e cérebro humano.
alimentar-se bem: a motivação da pessoa, por detrás de suas
São Paulo: Companhia das Letras; 1996.
decisões dietéticas, pode determinar tanto um bom
10. Damásio A. O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao
aproveitamento, quanto uma conflitiva reação, quando da conhecimento de si. São Paulo: Companhia das Letras; 2000.
ingestão dos alimentos. 11. Damásio A. Em busca da Espinosa: prazer e dor na ciência dos
Por outro lado, a psicologia desportiva tem alertado para sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras; 2004.
o fato de que atletas que jogam na base do medo ou de outras 12. Eccles JC ed. Brain and conscious experience. New York: Springer
emoções “negativas”, parecem mais abertos a microlesões Verlag; 1996.
e, a longo prazo, a lesões incapacitantes. Ainda neste contexto, 13. Joseph R. The transmitter to God: the limbic system, the soul, and
fisioterapeutas experientes têm constatado que a submissão spirituality. San José: University Press Califórnia; 2000.
às práticas da cinesioterapia, após cirurgias na área do 14. Le Doux J. The emotional brain: the mysterious underpinnings of
emotional life. New York: Simon & Schuster; 1996.
manguito rotador, somente se mantém regular quando o
15. D’Aquili E, Newberg AB. The Mystical mind: probing the biology
paciente crê na competência do terapeuta e aceita as dores
of religious experience. Minneapolis: Fortress Press; 1999.
possíveis do processo reabilitador. 16. Newberg A, D’Aquili E. Why God won’t go away: brain science
O Dr. Herbert Benson, professor de medicina, na and the biology of belief. New York: Ballantine Books; 2001.
Universidade Harvard, não tem dúvidas, nas afirmações do seu 17. Rause V. Em busca do divino; 2003.
livro Medicina espiritual: o poder essencial da cura [6]. Ele, bem 18. Feijó OG. Psicologia para o esporte: corpo e movimento. Rio:
como seus colegas da Duke University, que criaram o núcleo de Shape; 1998. J
328 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Artigo original

Análise eletromiográfica da atividade muscular


durante a marcha em crianças,
utilizando diferentes tipos de calçados
Electromyographic analysis of muscular activity during gait
in children using different types of shoes
Denise Hollanda Iunes*, Christiane B. Abrão Santos**, Flavia P. Freitas**, Alexandre Rocha Gonçalves***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Professora da disciplina Reabilitação em Postura da UNIFENAS, **Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação em Biofdeeback –


UNIFENAS, ***Fisioterapeuta formado pela UNIFENAS

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo é a análise eletromiográfica (EMG) The aim of this study was an electromyographic (EMG)
da atividade muscular durante a marcha normal, usando analysis of muscle activity during normal human gait wearing
diferentes tipos de calçados e descalço, no intuito de observar different type of shoes and bare feet, in order to observe
alterações biomecânicas na marcha. A análise foi realizada com biomechanical changes of the gait. The analysis was made with
22 sujeitos normais do sexo feminino com idade entre 8 e 12 22 normal female subjects, 8-12 years old, using EMG
anos, usando eletrodos de superfície para medição de dados measurement by surface electrodes. The three muscles selected
eletromiográficos. Os três músculos selecionados para estudo for study were tibialis anterior, gastrocnemius (triceps surae)
foram tibial anterior, gastrocnêmio (tríceps sural) e músculos lower back muscles (paravertebralis). The data were registered
lombares (paravertebrais). Foi feita a análise com os sujeitos when the subjects were walking on normal and natural speed,
deambulando de forma natural, primeiro descalços, depois at first bare feet; wearing small heel shoes and then wearing
usando salto baixo e finalmente salto alto. Os dados foram high heel shoes. The data were recorded during the swing-
gravados durante a transição da fase de oscilação para a fase de stance transition of gait cycle, at heel contact. Tibialis anterior
apoio da marcha, no momento do toque de calcanhar. Tibial (TA) and gastrocnemius (TS) showed an increase of muscle
anterior (TA) e o gastrocnêmio (TS) mostraram um aumento activity during the high heel gait when comparing with bare
da atividade muscular durante a marcha com salto alto, quando foot gait. During small heel gait the muscle activity of TA and
comparada com a marcha descalça. Durante a marcha com salto TS was different than bare foot gait. The lower back muscle
baixo, a atividade muscular de TA e TS foi diferente da marcha showed no significant alteration. We could conclude that the
descalça. Os músculos lombares não mostraram uma alteração muscle activity of TA and TS is different wearing different type
significativa. Nós pudemos concluir que a atividade muscular of shoes and bare feet at the same gait phase. The results of this
de TA e TS é diferente, usando diferentes tipos de calçados e biomechanical changes possible would be report in future
descalço, durante a mesma fase da marcha. Os resultados destas studies.
alterações biomecânicas possivelmente podem ser relatados em Key-words: gait, shoes, children.
estudos futuros.
Palavras chave: marcha, calçados, crianças.

Artigo recebido em 30 de dezembro de 2003; aceito em 15 de julho de 2005.


Endereço para correspondência: Denise Hollanda Iunes, Rua Prof. Carvalho Junior, 53/901 37130-000 Alfenas MG, Tel: (35) 3291-2351, E-mail:
deniseiunes@ioli.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 329

Introdução aleatória. Foram excluídas crianças com alterações neuro-


psicomotoras, alterações de marcha e em uso de órteses.
Ao caminhar, o ciclo da marcha começa com o toque do Todos os voluntários receberam informações para a
calcanhar e só termina quando o mesmo calcanhar voltar a participação no projeto e assinaram um termo de consen-
tocar o solo, completando assim uma passada. Sendo o passo timento formal concordando em participar da pesquisa, de
definido pelo toque inicial de um dos calcanhares, até o acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de
toque de calcanhar do outro pé [1]. Saúde.
O sistema de análise da marcha concentra-se em duas fases
distintas: fase de apoio, quando o pé está em contato com o Calçados utilizados
chão, e a fase de oscilação, quando o pé está fora do chão [1].
Alves et al. [2] estudaram dados de plataforma de força durante o Foram utilizadas uma sandália da marca Ortopé, com salto de 2,5
caminhar, com crianças normais entre 1 e 7 anos. Segundo eles, cm, e outra sandália da marca Compasso com salto de 5,5 cm.
o padrão de marcha maduro ocorre aos 3 anos de idade. Afirmam,
ainda, que o desenvolvimento do caminhar está completo na Aparelho Biofeedback eletromiográfico
idade de 5 anos. A marcha das crianças de 7 anos de idade
aproxima-se muito a dos adultos e poucas diferenças são O aparelho utilizado neste trabalho foi o Neuroeducator 3,
encontradas. Porém, a estrutura óssea do pé não está completa aparelho com 4 canais independentes de EMG, com
nessa idade, pois este aumenta em comprimento até mais ou amplitude de faixa de 10-1000 Hz, ideal para registrar acura-
menos 12 anos para os meninos e 10 anos para as meninas [3]. damente os potenciais nervosos e musculares para EMG
Quando uma criança está em fase de desenvolvimento, os clínica e adequadas para eletrodos de superfície. Os artefatos
calçados não devem ter salto e a sola deve ser reta e firme o de movimento foram minimizados ao extremo, já que
suficiente para dar estabilidade [4]. Pois, segundo Nasser et ocorrem em freqüências inferiores a 10-20 Hz [8].
al. [5], o aumento da altura do calcanhar provoca modifi- Após o preparo da pele com fricção de gaze embebida em soro
cações no padrão de caminhar e também uma instabilidade. fisiológico, foram conectados eletrodos de superfície nos
Ou seja, quanto mais alto o salto, menor a participação do músculos tibial anterior, gastrocnêmio, paravertebrais lombares
antepé no caminhar. no nível de L4 e L5. Os eletrodos usados foram do tipo Ag/
A análise eletromiográfica da atividade muscular durante AgCl (Medi – trace 200 Kendal). Os eletrodos captaram a ação de
locomoção tem sido estudada por alguns autores [6]. Os cada um desses músculos durante a marcha de crianças com
dados eletromiográficos identificam a diferença de potencial diferentes tipos de calçados, podendo assim quantificar a ação
elétrico, fornecendo um indicador direto da ação muscular. dos referidos músculos e compará-las em cada fase da marcha.
O sinal elétrico que acompanha a estimulação neurológica Os dados foram colhidos durante a marcha descalça, usando
das fibras musculares é transmitido através dos músculos e salto baixo e usando salto alto, e armazenados em disquete,
tecidos moles adjacentes [7]. depois foram impressos e analisados em momento específico
O Biofeedback eletromiográfico corresponde a uma instru- da marcha.
mentação eletrônica para fornecer uma informação (feedback) a
um individuo sobre uma função ou resposta fisiológica. O seu Avaliação da marcha
uso permite detectar ou retroalimentar os sinais mioelétricos
oriundos de unidades motoras das membranas dos músculos, As crianças foram orientadas a realizarem a marcha de forma
resposta à sua ativação fisiológica [7]. livre e tranqüila, chegando o mais próximo possível de suas
Atualmente as crianças estão sendo induzidas a utilizar marchas habituais, e familiarizadas com o percurso de 3,5
calçados com salto, cada vez mais cedo. Portanto, o objetivo m, de piso duro e antiderrapante.
deste trabalho consistiu em analisar a ação dos músculos A orientação foi importante para que não se criasse
tibial anterior, gastrocnêmio, paravertebrais lombares, expectativa nas crianças, podendo assim sair dos padrões
durante a marcha de crianças com diferentes tipos de habituais de sua marcha.
calçados. Utilizando, na análise, o aparelho de Biofeedback Os eletrodos de superfície, autocolantes, foram dispostos nos
eletromiográfico, foi observada a ação muscular, que foi seguintes músculos: tibial anterior, na região anterior do seu
captada através de eletrodos de superfície. ventre muscular e lateral da perna; no músculo gastrocnêmio,
também em seu ventre muscular, na região posterior da perna; e
Material e métodos nos músculos paravertebrais lombares na altura de L2 e L4 nas
regiões lateral e posteriores da coluna lombar baixa.
Crianças avaliadas Foram realizadas três análises, sendo a primeira com a
criança fazendo o percurso descalça; a segunda utilizando
Foram analisadas 22 crianças com a idade variando entre 8 um calçado com 2,5 cm de salto; e, finalmente, a terceira
a 12 anos de idade, do sexo feminino, escolhidas de forma utilizando um calçado de 5,5 cm de salto. Cada uma dessas
330 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

três análises foi realizada três vezes e todas foram registradas. Tabela II - Relação entre tibial anterior e calçados, mostrando
O momento da marcha selecionado foi o contato inicial do que este músculo, com o sapato de salto alto, tem sua ação aumentada.
calcâneo. Este momento foi escolhido pela dificuldade de
Marcha Médias Médias originais
separação das outras fases da marcha neste método de
análise, pois a variante tempo se dá em segundos na marcha Descalça 7.326872 53.183059
normal e espontânea. Salto baixo 7.368149 53.789617
Salto alto 7.516133 55.992261
Análise estatística
Tabela III - Relação entre tríceps sural e calçados, mostrando
Utilizou-se o delineamento estatístico canalizado em que este músculo, com o sapato de salto alto, tem sua ação aumentada.
esquema fatorial 3x3 (três calçados e três músculos), com
Marcha Médias Médias originais
22 repetições. Os dados armazenados foram analisados pelo
teste de Tukey com comparação entre as médias. Descalça 4.104538 16.347232
Salto baixo 4.158702 16.794801
Resultados Salto alto 4.383023 18.710891

Os paravertebrais não tiveram alterações estatisticamente


O aparelho de eletromiografia Biofeedback para este trabalho
significativas nas três marchas. Apesar de que sua ação maior
selecionado captou os sinais neuromusculares e os transmitiu
foi na marcha com salto (tabela IV).
em forma de números, quantificados em microvolts,
permitindo assim observar a atividade dos grupos musculares Tabela IV - Relação entre paravertebrais lombares e calçados.
selecionados: tibial anterior, tríceps sural e paravertebrais
lombares. Marcha Médias Médias originais
A forma descalça neste estudo foi considerada controle, Descalça 4.653285 21.130619
sendo realizadas comparações dos calçados com ela. Segundo Salto baixo 4.989138 24.391496
Dubo e Peat [6], a atividade muscular do tibial anterior (TA) Salto alto 5.589249 30.739708
registrada por análise da marcha com EMG mostra 2 picos
de atividade, o primeiro durante a fase de apoio no contato
calcanhar e outro pico, menor, durante a transição do apoio Discussão
para oscilação, o momento da aceleração. Segundo o mesmo
relato, o tríceps sural (TS) apresenta um único pico de ativi- Alguma possível alteração que possa vir a ocorrer no pé
dade durante a fase de apoio, precisamente na retirada do pode gerar uma sobrecarga, alterando as superfícies de
calcanhar. O período escolhido neste estudo foi a fase do sustentação do peso, o que, por sua vez, altera a mecânica do
contato do calcanhar, durante a qual foi realizada a análise e joelho, do quadril e possivelmente da coluna vertebral
comparação dos dados. lombar.
Os resultados obtidos mostram que os grupos musculares se Nosso estudo condiz com os achados de Nasser, Mello e
comportam de maneira semelhante quando comparados Ávila [5], que observaram que o salto mais alto gera uma
descalço e salto baixo; porém, em relação ao salto alto esta maior sobrecarga na região anterior do pé, o que por nós foi
diferença, estatisticamente, é consideravelmente maior que observado com maior ação do tibial anterior.
nas outras marchas (tabela I). Ou seja, na marcha com salto Segundo Starkey e Ryan [1], no momento do contato inicial
alto houve uma ação maior de tibial anterior e tríceps sural, do calcanhar, o tríceps sural está praticamente sem atividade.
quando comparados com a marcha sem salto e com salto Em estudo realizado com uso de salto alto em mulheres
baixo (tabelas II e III). adultas [9], foi observado que o gastrocnêmio contrai com
Na marcha com salto baixo a ação desses músculos maior intensidade para produzir força requerida, para elevar
estatisticamente não é tão intensa quanto na marcha com o pé na fase de apoio médio até a retirada do calcanhar, e
salto, mas também não reproduz a marcha descalça. quando o calcanhar está elevado ocorre uma sobrecarga
muscular. Os relatos de Amatuzzi e Greve [10] descrevem
Tabela I - Relação entre os calçados – Médias seguidas por letras distintas que este mesmo grupo muscular tem o início de sua atividade
diferem entre si com relação à significância indicada d.m.s. 5%= 0,37681 no meio da fase de apoio, de forma excêntrica, controlando
d.m.s. 1%= 0,46964. a queda do corpo para frente. Porém, nesse estudo, os
resultados mostraram que o tríceps sural teve um maior
Marcha Médias Médias originais 5% 1%
recrutamento de unidades motoras na fase do toque do
Salto alto 33.482704 a calcanhar, enquanto outros autores descrevem que sua
Salto baixo 29.808653 ab atividade deveria estar diminuída nessa fase, o que pode
Descalça 28.246380 b gerar alterações, a longo prazo, dolorosas e/ou adaptativas.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 331

Foi observado que isto aumenta o gasto metabólico da crianças de evitar o salto alto, escolhendo sapatos com
marcha e resulta na aceleração da fadiga muscular. Esta elevação do salto por volta de 2 cm.
sobrecarga nos músculos pode prejudicar a estabilidade do
pé e causar entorses ou quedas [9]. Agradecimento
A atividade muscular durante a marcha foi avaliada através
de eletromiografia dinâmica e descrita por Amatuzzi e Greve À Unifenas pela permissão da realização deste trabalho no
[10]. Segundo estes autores, o grupo pré-tibial (tibial anterior, Centro de Reabilitação em Biofeedback.
extensor do hálux e comum dos dedos) é responsável pela
dorsiflexão, possui uma ação excêntrica durante o contato Referências
inicial, evitando que a porção anterior bata contra o solo.
Possui uma ação concêntrica no momento que inicia a 1. Starkey C, Ryan J. Marcha. In: Avaliação de lesões ortopédicas e
oscilação, evitando que os dedos se choquem no chão. esportivas. São Paulo: Manole; 2001. p.235-49.
O grupo dos flexores do pé (sóleo/gastrocnêmio) inicia sua 2. Alves MGS, Oliveira A, Klavdianos ACD, Gonçalves CA. Forças
atividade no meio da fase de apoio, através de uma ação de reação do solo durante a marcha de criança obesa e normal em
diferentes tipos de solo. In: VII Congresso Brasileiro de Biomecânica;
excêntrica onde controla a queda do corpo para frente; na
1999; Florianópolis. Anais. Florianópolis: Centro de Educação
fase de apoio, inicia uma contração concêntrica do tríceps
Física e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina –
sural, que mantém a altura da pelve; na fase de duplo apoio,
UDESC; 1999. p.343-46.
a atividade muscular ajuda no desvio da força que leva o 3. Hennig EM, Staats A, Rosenbaum D. Plantar pressure distribution
centro de gravidade para trás e, na força contrária, para frente. patterns of young school children in comparasion to adult. Foot
Ankle Int 1994;15:35-40.
Conclusão 4. Kendall FP, McCreary KE, Provance PG. Músculos, provas e
funções. 4a ed. São Paulo: Manole; 1995.
Os grupos musculares não respondem da mesma forma com 5. Nasser JP, Mello SIL, Ávila AOV. Análise do impulso em calçados
diferentes alturas de salto. O salto baixo assemelha-se à femininos em diferentes alturas de salto. Anais do VII Congresso
atividade muscular da marcha descalça, mas não reproduz a Brasileiro de Biomecânica, 1999.
mesma marcha fisiológica. Já com o salto mais alto, existe 6. Dubo HIC, Peat M, Winter DA, Quanbury AO, Hobson DA,
Steike T, Reimer G. Electromyographic temporal analysis of gait:
uma sobrecarga muscular de tibial anterior e gastrocnêmio,
normal human locomotion. Arch Phys Med Rehabil 1976;57:256-
não sendo este um calçado adequado para crianças. A maior
9.
ocorrência da fadiga muscular, causada pela sobrecarga, leva
7. Batisttella RL, Saad M. Análise de marcha – manual do CAMO -
à diminuição da força dos músculos anteriores e posteriores SBMFR. São Paulo: Lemos; 1997.
da perna, o que pode reduzir a amplitude de movimentos 8. Sullivan SOB, Schmitz TJ. Fisioterapia - avaliação e tratamento. 2a
normal do pé. Isto provavelmente acarretará prejuízos na ed. São Paulo: Manole; 1993.
fase de crescimento. Quando a limitação de movimentos 9. Gefen A, Megido-Ravid M, Itzchak Y, Arcan M. Analisys of
vem acompanhada da diminuição da força, levando à fadiga, muscular fatigue and foot stability during high-heeled gait. Gait
isto pode limitar a habilidade de responder a perturbações Posture 2002;15:56-63.
posturais. Os resultados sugerem que, para manter o conforto 10. Amatuzzi MM, Greve JMDA. Ortopedia e Traumatologia. São
e reduzir o risco de lesão, é importante conscientizar as Paulo: Rocca; 1999. J
332 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Artigo original

Avaliação do grau de funcionalidade de pacientes que


sofreram acidente vascular encefálico antes e após
intervenção fisioterapêutica no solo e na hidroterapia
Functional assessment of neurological patients with stroke,
before and after physical therapy and hidrotherapy
Carina Tárzia Kakihara*, Cristiane Gaspar Neves**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Supervisora do Estágio de Fisioterapia Neurológica (Solo) da Universidade Paulista, Campus Anchieta, São Paulo,
**Supervisora do Estágio de Fisioterapia Neurológica (Hidroterapia) da Universidade Paulista, Campus Anchieta, São Paulo

Resumo Abstract
O acidente vascular encefálico (AVE) é caracterizado pela The stroke is characterized by installation of a sudden, non
instalação de um déficit neurológico focal, repentino, não convulsive and focal neurological deficiency, determined by a
convulsivo, determinado por uma lesão cerebral secundária a secondary vascular brain damage mechanism. The patient with
um mecanismo vascular. O paciente que sofre um AVE pode stroke may show abnormal posture and movement, and
apresentar postura e movimentos anormais e, com isso, há um therefore an important risk of structural deformities
grande risco de desenvolver deformidade estrutural e limitação development and limitation on daily activities. The aim of this
nas atividades de vida diária (AVD). Este trabalho propõe-se a study was to compare the stroke patients functionality degree,
comparar o grau de funcionalidade de pacientes após AVE, antes before and after physical therapy on ground, with or without
e após a intervenção fisioterapêutica no solo, com ou sem a hidrotherapy. As a result, it was identified improvement of
hidroterapia. Como resultado, foi identificada melhora dos patients with hidrotherapy in the following variables: cleaness,
pacientes que fizeram hidroterapia nas seguintes variáveis: urination, dress, mobility and stairs. About the patients without
asseio,micção, vestir, mobilidade e escadas. Nos pacientes que hidrotherapy, it was identified improvement about following
não fizeram hidroterapia, houve melhora nas seguintes variables: evacuation, urination, chair/bed, stairs and bath. It
variáveis: evacuação, micção, cadeira/cama, escadas e banho. can be concluded that even in brief time, physical therapy on
Conclui-se que mesmo em um curto período de tempo, a ground and hidrotherapy help in improvement of realization of
fisioterapia no solo e a hidroterapia auxiliam na melhora da daily activities for patients with stroke, and that, always when
realização das AVDs nos pacientes com AVE e que, sempre que possible, hidrotherapy must be suggested as a complementary
possível, a hidroterapia deve ser sugerida como terapia therapy.
complementar. Key-words: physical therapy on ground, hidrotherapy, stroke,
Palavras-chave: fisioterapia no solo, hidroterapia, acidente daily activities, Barthel index.
vascular encefálico, atividade de vida diária, escala de Barthel.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ragia no cérebro ou a sua volta, em conseqüência de doenças


de vasos sangüíneos cerebrais. Pelas definições clínicas
Introdução convencionais, diagnostica-se acidente vascular encefálico
em uma pessoa se os sintomas continuam por mais de 24
O acidente vascular encefálico (AVE) é definido como horas [1].
início abrupto, ou em forma de crise, de sintomas neuro- Nos pacientes sobreviventes ao primeiro mês, cerca de 10%
lógicos focais ou globais causados por isquemia ou hemor- têm cura espontânea, 10% ficam severamente incapacitados,

Artigo recebido em 14 de abril de 2004; corrigido em 1 de seembro de 2005; aceito em 15 de outubro de 2005.
Endereço para correspondência: Carina Tárzia Kakihara, Rua Padre Machado, 584/61 Saúde 041270-001 São Paulo SP, E-mail:carinatk@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 333

com alteração persistente do estado de consciência e os 80% Em 1965, Mahoney e Barthel publicaram uma escala
restantes ficam com disfunção neurológica, maior ou menor, importante para mensurar AVDs básicas com pacientes com
necessitando de reabilitação para diminuir seu estado de incapacidades crônicas. Descrito como “um simples índice
dependência e prevenir complicações [2]. de independência para pontuar a habilidade do próprio
Um dos comprometimentos motores evidentes na paciente com uma desordem neuromuscular ou músculo-
hemiplegia é a tendência em manter-se em uma posição de esquelética”, o Índice de Barthel inclui 10 itens, como
assimetria postural, com distribuição de peso menor sobre alimentação, transferência, arrumar-se e higiene, banho,
o lado afetado e conseqüente transferência do peso corporal toalete, andar, transpor degraus, e controle do intestino e
para o lado oposto. Essa assimetria e dificuldade em suportar bexiga. Itens são pontuados diferentemente, de acordo com
o peso no lado afetado interferem na capacidade de manter o um sistema de pontuação que marca pontos baseados na
controle postural, impedindo a orientação e estabilidade para realização independente ou com auxílio. Um paciente com
realizar movimentos com o tronco e membros. Cabe um escore máximo de 100 pontos é definido como
ressaltar que a execução das atividades de vida diária, tais continente, capaz de se alimentar e vestir-se de forma
como: vestir-se, alimentar-se, mudar de posição, andar, independente, de andar pelo menos um quarteirão, e subir e
alcançar objetos dependem e envolvem esse controle descer degraus. Os autores foram cuidadosos para notar que
postural. No caso do hemiplégico manter uma atitude um escore máximo não significa necessariamente indepen-
postural que desloca o plano de distribuição do centro de dência, mesmo porque AVDs como cozinhar, limpar casa e
gravidade e altera a superfície de suporte, estabelece-se uma socialização não são avaliadas [4].
condição de instabilidade e de desequilíbrio que interfere Considerando as alterações nas AVDs após AVE e a
no desempenho das atividades funcionais e prejudica a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para uma
execução das tarefas da vida diária [3]. recuperação funcional de pacientes que foram acometidos
Tarefas de autocuidado são atividades da vida diária e de por AVE, julgou-se relevante um estudo cujo objetivo é
rotina, necessárias para sobreviver. Essas tarefas dependem comparar o grau de funcionalidade de pacientes após AVE,
da idade, gênero e meio ambiente de cada pessoa. Exemplos antes e após a intervenção fisioterapêutica em 2 grupos de
dessas atividades são: vestir, comer, tomar banho, arrumar- pacientes: um grupo de pacientes que só realizou fisioterapia
se, toalete e mobilidade dentro de casa. Se a performance no solo e outro onde os pacientes fizeram fisioterapia no solo
dessas atividades é dificultada ou não é possível, está presente mais a hidroterapia, em um período de 2 meses de tratamento.
uma incapacidade. Se a falta de habilidade para realizar essas
atividades resulta em desvantagem social, a condição é vista Material e métodos
como uma deficiência física [4].
Dificuldades na realização das AVDs e a dependência de Sujeitos
outros para completar essas tarefas podem provocar um efeito
devastador nos aspectos psicológico, social e financeiro dos O presente estudo foi realizado com 11 pacientes com
pacientes. Depressão, diminuição da auto-estima e perda da diagnóstico de AVE isquêmico ou hemorrágico, de ambos
motivação podem resultar no fracasso da reabilitação desses os sexos, com idade entre 53 e 81 anos, e encaminhados
pacientes, enquanto que a melhora na realização dessas AVDs para a Clínica de Fisioterapia da Universidade Paulista, no
pode conduzir a um aumento da auto-estima [5-7]. Campus Anchieta, no período de outubro a dezembro de
Bartels [8] sugere que quando uma pessoa é independente 2003. Desse total de pacientes, todos realizaram a fisioterapia
nas AVDs e quando ela se mostra incapaz de realizar estas no solo, sendo que apenas 5 realizaram hidroterapia em
AVDs devido a uma patologia, a situação muda comple- associação à terapia do solo.
tamente. Independência nas AVDs ajuda a rebater a idéia de Cada paciente realizou a fisioterapia no solo, 2 a 3 vezes
que a pessoa com uma incapacidade pode ser um fardo semanalmente e na água, 1 vez por semana. A sessão no solo
financeiro ou social para a sociedade. Bartels nota que uma teve duração de 50 minutos e cada terapia na água durava 40
incapacidade somente se torna um fardo para a realização minutos.
de alguma atividade, quando assim é considerado pelo Os pacientes ou responsáveis foram informados que eles
paciente perante outras pessoas ou quando o meio ambiente poderiam ser selecionados para participar desse presente
faz isso também. estudo. Após os esclarecimentos, os pacientes ou respon-
O Índice de Barthel foi desenvolvido para monitorar sáveis assinaram termo de consentimento para autorizar a
independência funcional em pacientes que necessitam de participação do paciente nesse trabalho.
reabilitação a longo prazo e é utilizado extensivamente em
pesquisas como uma medida das AVDs. Ele é simples de Procedimentos
administrar, e a credibilidade e validade dos dados obtidos
com esse índice é provado em vários estudos com uma Inicialmente, realizou-se uma triagem de cada paciente,
variedade de populações de pacientes [9-13]. constituída por uma anamnese. Então, o paciente era
334 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

encaminhado para realizar a fisioterapia no solo e a Para isso, no solo utilizou-se a abordagem baseada nos
hidroterapia, se houvesse indicação específica para esta conceitos do Kabat e do Bobath. Na água, a proposta de
última abordagem terapêutica, disponibilidade de horário, tratamento foi baseada na utilização dos efeitos físicos,
liberação dermatológica e se o paciente tivesse controle do fisiológicos e cinesiológicos provenientes da imersão do
esfíncter vesical e anal. Após a avaliação completa de cada corpo ou parte dele, além de técnicas específicas de reabili-
paciente, a supervisora responsável completava a ficha do tação aquática, como Watsu, Halliwick e Bad Ragaz.
Índice de Barthel, onde o paciente, ou o responsável, A partir dos resultados do Índice de Barthel, antes e após
respondia às perguntas referentes à esse Índice (Tabela I). a fisioterapia no solo e hidroterapia, foi feita uma análise
comparativa e descritiva dos mesmos.
Tabela I - Índice de Barthel.

Atividade Pontuação opcional Critérios Método estatístico

V1-Alimentação 1050 Independente Com a finalidade de avaliarmos possíveis diferenças entre


Necessita ajuda
os escores avaliados no mês de dezembro em relação ao mês
Dependente
V2-Asseio 50 Independente de outubro, para as variáveis previamente definidas, tanto
Dependente no grupo sem terapia na água como no grupo com terapia na
V3-Evacuação 1050 Continente água, usamos o teste não paramétrico para 2 amostras não
Acidente ocasional independentes de Wilcoxon [14].
Incontinente Para avaliarmos possíveis diferenças entre os grupos para
V4-Micção 1050 Continente cada variável no final da observação, isto é, em dezembro,
Acidente ocasional
preferimos definir a variável delta %:
Incontinente
V5-Vestir 1050 Independente ∆% = Escore dez – escore out x 100
Necessita ajuda Escore out
Dependente A razão desta variável é que, avaliando o valor absoluto
V6-Cadeira/Cama 151050 Independente dos escores em dezembro, podemos ter valores iguais, que
Ajuda mínima em outubro eram diferentes entre si e, portanto, um mesmo
Capaz de sentar
valor em dezembro não tem o mesmo significado, pois
Dependente
V7-Toalete 1050 Independente ele é uma função do valor que havia em outubro.
Necessita ajuda O nível de rejeição para a hipótese de nulidade foi fixado
Dependente sempre em um valor igual ou menor do que 0,05 (5%).
V8-Mobilidade 151050 Independente As médias foram calculadas e apresentadas a título de
Ajuda mínima informação.
Independente em cadeira Não foram calculados desvios-padrão pois, usando testes
de rodasImóvel
não paramétricos, estamos pressupondo que as variáveis em
V9-Escadas 1050 Independente
Necessita ajuda causa não se comportam como curva de Gauss e, portanto,
Incapaz não há sentido o seu cálculo.
V10-Banho 50 Independente
Dependente Resultados
V11- Total (máximo 100 pontos)-
Pontuação Total Final: A partir dos escores obtidos com o Índice de Barthel, no
Fonte: Mahoney e Barthel (1965). mês de outubro e dezembro, dos pacientes que não realizaram
hidroterapia (N = 0), temos os seguintes valores das variáveis:
Uma vez avaliados, os pacientes foram submetidos a
tratamento fisioterapêutico, seguindo os métodos de Tabela II - Resultados do Índice de Barthel para cada variável em
facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) e conceitos outubro e dezembro dos pacientes que não fizeram hidroterapia.
do método Bobath. Após 2 meses de tratamento, os pacientes
Pacientes
responderam novamente o Índice de Barthel para a mesma V ariáveis P 1 P2 P6 P8 P9 P10
supervisora responsável.
A proposta de tratamento fisioterapêutico no solo e na Ou1 5 5 10 5 5 5
Dv1 5 5 10 5 5 5
água visou: amenizar ou normalizar as seqüelas da lesão
Ov2 5 0 5 0 0 5
cerebral, como por exemplo: hipertonia, fraqueza muscular Dv2 5 0 5 0 0 5
e amplitude de movimento, além de fornecer um ambiente Ov3 10 5 10 0 10 5
estável para a participação ativa do paciente na melhora da Dv3 10 10 10 0 10 5
habilidade funcional. Ov4 0 0 10 0 5 5
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 335

Pacientes Pelo teste estatístico, as médias das 6 últimas variáveis


V ariáveis P 1 P2 P6 P8 P9 P10 dos pacientes que não realizaram hidroterapia são apresen-
tadas na Tabela VI.
Dv4 5 0 10 0 5 5
Ov5 10 5 10 0 5 5 Tabela VI - Médias das variáveis 6 a 11, dos pacientes que não
Dv5 10 5 10 0 5 5
realizaram hidroterapia.
Ov6 15 10 15 0 10 5
Dv6 15 15 15 0 10 5
N Médias
Ov7 10 5 10 0 10 5
Dv7 10 5 10 0 10 5 Out V6 6 9,167
Ov8 15 10 15 0 10 10 Out V7 6 6,667
Dv8 15 10 15 0 10 10 Out V8 6 10,000
Ov9 5 0 10 0 5 0 Out V9 6 3,333
Dv9 5 5 10 0 5 0 Out V10 6 ,833
Ov10 0 0 5 0 0 0 Out V11 6 54,167
Dv10 5 0 5 0 0 0
Dez V6 6 10,000
Ov11 75 40 100 5 60 45
Dez V7 6 6,667
Dv11 85 55 100 5 60 45 Dez V8 6 10,000
Dez V9 6 4,167
Pelo teste de Wilcoxon, nos pacientes que não realizaram Dez V10 6 1,667
hidroterapia, as 5 primeiras variáveis, nos meses de outubro Dez V11 6 58,333
e dezembro foram de:
A partir dos escores obtidos com o Índice de Barthel, no
Tabela III - Teste de Wilcoxon para as 5 primeiras variáveis. mês de outubro e dezembro, dos pacientes que realizaram
Dez V1 Dez V2 Dez V3 Dez V4 Dez V5 terapia no solo mais a hidroterapia (S = 1), temos os seguintes
Out V1 Out V2 Out V3 Out V4 Out V5 valores das variáveis (Tabela VII).

Z calculado ,000 ,000 -1,000 -1,000 ,000 Tabela VII - Resultados do Índice de Barthel para cada variá-
p 1,000 1,000 0,317 0,317 1,000 vel em outubro e dezembro dos pacientes que fizeram
hidroterapia.
Pelo teste estatístico, tas médias das 5 primeiras variáveis
dos pacientes que não realizaram hidroterapia são apresen- Pacientes
V ariáveis P3 P4 P5 P7 P11
tadas na Tabela IV.
Ov1 5 10 10 5 5
Tabela IV - Médias das variáveis 1 a 5, dos pacientes que não Dv1 5 10 10 5 5
realizaram hidroterapia. Ov2 5 0 5 5 0
Dv2 5 5 5 5 0
N Médias Ov3 10 10 10 10 10
Dv3 10 10 10 10 5
Out V1 6 5,8
Ou4 10 10 10 10 5
Out V2 6 2,5
Dv4 10 10 10 10 10
Out V3 6 6,7
Ov5 5 10 10 10 5
Out V4 6 3,3
Dv5 10 10 10 10 5
Out V5 6 5,8
Ov6 5 15 15 15 10
Dez V1 6 5,8
Dv6 5 15 15 15 10
Dez V2 6 2,5
Ov7 10 10 10 10 10
Dez V3 6 7,5
Dv7 10 10 10 10 10
Dez V4 6 4,2
Ov8 10 10 10 15 0
Dez V5 6 5,8
Dv8 10 15 10 15 10
Ov9 0 5 5 5 0
Pelo teste de Wilcoxon, nos pacientes que não realizaram Dv9 0 10 5 5 10
hidroterapia, as 6 últimas variáveis, nos meses de outubro e Ov10 5 5 5 5 0
dezembro, são apresentadas na Tabela V. Dv10 5 5 5 5 0
Ov11 65 85 90 90 45
Tabela V - Teste de Wilcoxon para as 6 últimas variáveis.
Pelo teste de Wilcoxon, nos pacientes que realizaram
Dez V6 Dez V7 Dez V8 Dez V9 Dez V10
Out V6 Out V7 Out V8 Out V9 Out V10 terapia no solo mais hidroterapia, as 5 primeiras variáveis,
nos meses de outubro e dezembro, são apresentadas n Tabela
Z calculado -1 0 0 -1 -1 VIII.
p 0,317 1 1 0,317 0,317
336 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Tabela VIII - Teste de Wilcoxon nos pacientes que realizaram Pelo teste estatístico, as médias das 6 últimas variáveis
hidroterapia com relação às 5 primeiras variáveis. dos pacientes que realizaram terapia no solo mais a
hidroterapia são apresentadas na Tabela XI.
DEZ V1 D EZ V2 DEZ V3 DEZ V4 DEZ V5
OUT V1 OUT V2 OUT V3 OUT V4 OUT V5 Tabela XI - Médias das variáveis 6 a 11, dos pacientes que reali-
zaram hidroterapia.
Z calculado 0 -1 -1 -1 -1
p 1 0,317 0,317 0,317 0,317 N Médias

Pelo teste estatístico, as médias das 5 primeiras variáveis OUT V6 5 12,0


OUT V7 5 10,0
dos pacientes que realizaram terapia no solo mais a
OUT V8 5 9,0
hidroterapia são apresentadas na Tabela IX. OUT V9 5 3,0
Tabela IX - Médias das variáveis 1 a 5 dos pacientes que realiza- OUT V10 5 4,0
OUT V11 5 75,0
ram hidroterapia.
DEZ V6 5 12,0
N Médias DEZ V7 5 10,0
DEZ V8 5 12,0
Out V1 5 7,0 DEZ V9 5 6,0
Out V2 5 3,0 DEZ V10 5 4,0
Out V3 5 10,0 DEZ V11 5 83,0
Out V4 5 9,0
Out V5 5 8,0 Para compararmos possíveis diferenças no resultado final
Dez V1 5 7,0
entre os grupos sem hidroterapia e com hidroterapia para
Dez V2 5 4,0
Dez V3 5 9,0 todas as variáveis, usando-se a variável previamente definida
Dez V4 5 10,0 (delta %), os resultados são apresentaos na Tabela XII.
Dez V5 5 9,0
Discussão
Pelo teste de Wilcoxon, nos pacientes que realizaram
terapia no solo mais hidroterapia, as 6 últimas variáveis, nos Com relação ao grupo de pacientes sem hidroterapia,
meses de outubro e dezembro são apresentadas na Tabela X. as variáveis V1, V2 e V5 (alimentação, asseio, vestir), no
mês de outubro, apresentaram médias, respectivamente,
Tabela X - Teste de Wilcoxon nos pacientes que realizaram
hidroterapia com relação às 6 últimas variáveis. de 5,8; 2,5 e 5,8. Em dezembro, estas médias se manti-
veram com o mesmo valor. Observa-se que não houve
DE
DEZZ V6 DEZ V7 DEZ V8 DEZ V9 DEZ V10 uma diferença estatisticamente significativa, sendo o Z
OUT V6 OUT V7 OUT V8 OUT V9 OUT V10 calculado = 0,00 (p = 1,00), o que mostra evidentemente
Z calculado 0 0 -1,342 -1,342 0 que não houve uma diferença estatisticamente signi-
p 1 1 0,18 0,18 1 ficativa (Tabelas III e IV).

Tabela XII - Teste de Mann-Whitney (delta %) com as variáveis V1 a V5.

Hidro DEL
DELTTA V1 DEL
DELTTA V2 DEL
DELTTA V3 DEL
DELTTA V4 DEL
DELTTA V5

Sem N Mean 60,0 30,0 520,0 30,0 50,0


Com N Mean 50,0 30,0 5-10,0 520,0 520,0
Teste de Mann-Whitney
Z calculado 0,000 0,000 -1,342 -0,775 -1,000
P 1,000 1,000 0,421 0,786 0,690

Tabela XIII - Teste de Mann-Whitney (delta %) com as variáveis V6 a V11.

Hidro DEL
DELTTA V6 DEL
DELTTA V7 DEL
DELTTA V8 DEL
DELTTA V9 DEL
DELTTA V10 DEL
DELTTA V11

Sem N Média 510,0 50,0 50,0 30,0 10,0 68,5


Com N Média 50,0 50,0 412,5 333,3 40,0 513,9
Teste de Mann-Whitney
Z calculado -1,000 0,000 -1,118 -1,000 0,000 - ,796
p 0,690 1,000 0,556 0,700 1,000 0,537
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 337

A variável V3 (evacuação), no mês de outubro, calculado = -1,00 (p = 0,317), mas ocorreu um aumento na
apresentou média de 6,7. Em dezembro, esta média foi de média dessa variável (Tabelas VIII e IX).
7,5. Observa-se que não houve uma diferença estatis- A variável V5 (vestir), no mês de outubro apresentou
ticamente significativa, Z calculado = -1,000 (p = 0,317), média de 8,0. Em dezembro, esta média passou para 9,0.
embora tenha havido uma melhora nesta variável nos Não houve diferença estatisticamente significativa, Z
pacientes que só realizaram terapia no solo (Tabelas III e calculado = -1,00 (p = 0,317), embora tenha havido melhora
IV). nesta média após as terapias no solo mais hidroterapia
A variável V4 (micção), no mês de outubro, apresentou (Tabelas VIII e IX).
média de 3,3. Em dezembro, está média foi de 4,2. Observa- A variável V8 (mobilidade), no mês de outubro, mostrou
se que não houve uma diferença estatisticamente signifi- média de 9,0. Em dezembro, esta média subiu para 12,0.
cativa, Z calculado = -1,000 (p = 0,317), mas nota-se que Não houve diferença estatisticamente significativa, Z
ocorreu um aumento na média desta variável nos pacientes calculado = -1,342 (p = 0,180), mas ocorreu aumento na
que só realizaram terapia no solo (Tabelas III e IV). média dessa variável (Tabelas X e XI).
As variáveis V7 e V8 (toalete e mobilidade), no mês de Na variável V9 (escadas), no mês de outubro, a média foi
outubro, apresentaram médias, respectivamente, de 6,7 e de 3,0 e em dezembro esta média foi igual a 6,0. Não houve
10,0. Em dezembro, estas médias se mantiveram com diferença estatisticamente significativa, Z calculado igual a
mesmo valor. Observa-se que não houve uma diferença -1,342 (p = 0,180), embora tenha havido um aumento na
estatisticamente significativa, Z calculado = 0,00 (p = 1,00) média dessa variável (Tabelas X e XI).
(Tabelas V e VI). Na variável V11 (total), no mês de outubro, a média foi
A varíável V6 (cadeira/cama), no mês de outubro, de 75,0 e em dezembro, esta média foi igual a 83,0. Não
apresentou média de 9,2, e em dezembro esta média foi houve diferença estatisticamente significativa, Z calculado
igual a 10,0. Nota-se que não houve uma diferença igual a – 1,604 (p = 0,109), mas nota-se um aumento nesta
estatisticamente significativa, Z calculado = -1,00 (p = média (Tabelas X e XI).
0,317), mas ocorreu aumento na média desta variável nos Na tabela XII, observa-se que em relação a variável V3,
pacientes que só realizaram terapia no solo (Tabelas V e VI). a média no grupo sem hidroterapia foi de 20,0%, enquanto
A variável V9 (escadas), no mês de outubro, apresentou que no grupo com hidroterapia a média foi de -10,0%. Isso
média de 3,3, e em dezembro esta média foi igual a 4,2. Não significa que, para esta variável, o percentual de melhora no
houve uma diferença estatisticamente significativa, Z grupo sem hidroterapia foi 20% em média, enquanto que no
calculado = -1,00 (p = 0,317), embora tenha havido uma grupo com hidroterapia esta variável foi de -10%, ou seja,
melhora nesta variável nos pacientes que só realizaram houve uma pequena piora. Entretanto, não houve uma
terapia no solo (Tabelas V e VI). diferença estatisticamente significativa pois a estatística
A variável V10 (banho), no mês de outubro, mostrou calculada foi igual a – 1,342 (p = 0,421).
média de 0,8, e em dezembro esta média foi igual a 1,7. Não Quanto à variável V4, nota-se que a média no grupo sem
houve uma diferença estatisticamente significativa, Z hidroterapia foi de 0,0%, enquanto que no grupo com
calculado = -1,00 (p = 0,317), mas nota-se que ocorreu um hidroterapia a média foi de 20,0%. Isso significa que para
aumento na média desta variável (Tabelas V e VI). esta variável o percentual de melhora no grupo com
A variável V11 (total), no mês de outubro, apresentou hidroterapia foi de 20% em média, mostrando, entretanto,
média de 54,2, e em dezembro esta média foi igual a 58,3. não haver uma diferença estatisticamente significativa, pois
Não houve uma diferença estatisticamente significativa, Z a estatística calculada foi igual a -0,775; com p = 0,786
calculado = -1,342 (p = 0,180), mas nota-se que ocorreu (Tabela XII).
uma melhora desta variável nos pacientes que somente Quanto à variável V5, também se nota que a média no
realizaram terapia no solo (Tabelas V e VI). grupo sem hidroterapia foi de 0,0%, enquanto que no grupo
Quanto ao grupo tratado com a terapia no solo e com a com hidroterapia a média foi de 20,0%. Isso mostra que
hidroterapia, nota-se que houve melhora nas seguintes para esta variável o percentual de melhora no grupo com
variáveis; V2, V4, V5, V8, V9 e V11. hidroterapia foi de 20% em média, observando-se,
A variável V2 (asseio), no mês de outubro, apresentou entretanto, não haver uma diferença estatisticamente
média de 3,0. Em dezembro, esta média foi de 4,0. Observa- significativa, pois a estatística calculada foi igual a -1,00 ,
se que não houve diferença estatisticamente significativa, Z sendo o p = 0,690 (Tabela XII).
calculado = -1,00 (p = 0,317), mas ocorreu uma melhora na Na variável V6, no grupo sem hidroterapia, houve uma
média dessa variável após o paciente ter realizado terapia melhora de 10% enquanto que no grupo com hidroterapia
no solo mais hidroterapia (Tabelas VIII e IX). não se observou nenhuma melhora (Tabela XIII).
A variável V4 (micção), no mês de outubro, apresentou Quanto à variável V8, verifica-se que a média no grupo
média de 9,0. Em dezembro, esta média foi de 10,0. Observa- sem hidroterapia foi de 0,0%, enquanto que no grupo com
se que não houve diferença estatisticamente significativa, Z hidroterapia, foi de 12,5%. Ou seja, para esta variável o
338 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

percentual de melhora no grupo com hidroterapia foi de acidente vascular encefálico podem apresentar uma maior
12,5% em média, embora não tenha havido uma diferença facilidade em realizar suas atividades de vida diária devido
estatisticamente significativa, pois a estatística calculada foi à prática da fisioterapia, mesmo que sua reabilitação
igual a -1,118, sendo o p = 0,556 (Tabela XIII). completa só seja conquistada após anos de tratamento
Quanto à variável V9, nota-se que a média no grupo sem fisioterapêutico.
hidroterapia foi de 0,0%, enquanto que no grupo com
hidroterapia, a média foi de 33,3%. Isso significa que para Referências
esta variável o percentual alto de melhora no grupo com
hidroterapia foi de 33,3% em média, mostrando, entretanto, 1. Sacco RL. Patogênese, classificação e epidemiologia das doenças
não haver uma diferença estatisticamente significativa, pois vasculares cerebrais.
a estatística calculada foi igual a -1,00 e o p = 0,70 (Tabela 2. In: Rowland LP, Merrett. Tratado de neurologia. 9a ed. Rio de
XIII). Janeiro: Guanabara Koogan; 1989. p.177-90.
3. Pereira CF, Lemos MM, Benvenuto MC, Fonseca GA. Enfoque
Quanto à variável V11, nota-se que a média no grupo
sobre a pesquisa prospectiva no AVC. Med Reabil 1993;34:9-13.
sem hidroterapia foi de 8,5%. Já no grupo com hidroterapia,
4. Chagas EF, Tavares MCGCF. Simetria e transferência de peso do
a média foi de 13,9%. Não houve diferença estatisticamente
hemiplégico: relação dessa condição com o desempenho de suas
significativa, pois a estatística calculada foi igual a -0,796 e atividades funcionais. Rev Fisioter Univ São Paulo 2001;8(1):40-
o p =0,537, mas ocorreu um aumento na média na variável 50.
total (Tabela XIII). 5. Christiansen CH, Schwartz K, Barnes KJ. Self-care: evaluation and
management. In: DeLisa JA (ed). Rehabilitation medicine: principles
Conclusão and practice. Philadelphia: JB Lippincott; 1988.
6. Aitken MJ. Self-concept and functional independence in the
Apesar do trabalho não apresentar, dentre as variáveis, hospitalized elderly. Am J Occup Ther 1982;36:243-50.
nenhuma diferença estatisticamente significativa, verificou- 7. Malick MH, Almasy B. Assessment and evaluation-life works tasks.
se que houve melhora em algumas variáveis após 2 meses de In: Hopkins HL, Smith HD (eds). Willard and Spackman´s
occupational therapy. 6a ed. Philadelphia: JB Lippincott; 1983.
fisioterapia, tanto no grupo onde os pacientes só realizaram
8. Slatter SB, Sussman MB, Stroud MW. Participation in household
terapia no solo, quanto no grupo em que os pacientes foram
activities as prognostic factor for rehabilitation. Arch Phys Med
submetidos à terapia no solo mais hidroterapia. Rehabil 1970;51(10):605-10.
Os pacientes que não realizaram hidroterapia apresen- 9. Bartels EC. A contemporary framework for independent living
taram aumento nas médias das variáveis: evacuação, micção, rehabilitation. Rehabil Lit 1985;46:325-7
cadeira/cama, escadas, banho e na variável total. 10. Jacelon CS. The Barthel Index and other indices of functional
Os pacientes que realizaram hidroterapia, associada à ability. Rehabil Nurs 1986;11(4):9-11.
terapia no solo, apresentaram melhora nas médias das 11. Van der Putten JJMF, Hobart JC, Freeman JA, Thompson AJ.
variáveis: asseio, micção, vestir, mobilidade, escadas e na Measuring change in disability after inpatient rehabilitation:
variável total. comparison of the responsiveness of the Barthel Index and the
Se compararmos as diferenças das médias da variável functional independence measure. J Neurol Neurosurg Psychiatry
1999;66:480-4.
total de outubro e dezembro entre os pacientes que não
12. Roy CW, Togneri J, Hay E. Pentland B. An inter-rater reliability
fizeram hidroterapia e os que fizeram hidroterapia,
study of the Barthel Index. Int J Rehabil Res 1988;11:67-70.
perceberemos que houve uma variação de 4,1 nos pacientes
13. McGinnis GE, Seward ML, DeJong G, Osberg JS. Program
que não fizeram hidro, enquanto que, nos pacientes que evaluation of physical medicine and rehabilitation departments using
fizeram hidroterapia, essa variação foi maior: 8,0. Isso self-report Barthel. Arch Phys Med Rehabil 1986;67:123-5.
sugere que os pacientes que associam a terapia no solo à 14. Roden-Julling A, Britton M, Gustafsson C, Fugl- Meyer A.
hidroterapia têm maior probabilidade de melhorar as AVDs Validation of four scales for the acute stage of stroke. J Intern Med
do que aqueles que só realizam a terapia no solo. 1994;236:125-36.
Esse trabalho demonstra que, mesmo em um curto 15. Siegel S. Estatística não-paramétrica (para as ciências do
período de tempo de 2 meses, os pacientes que sofreram um comportamento). São Paulo: Manole; 1999. J
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Artigo original

Programa de verificação e controle de equipamentos


de ultra-som terapêuticos
Program of verification and control of therapeutic ultrasound
equipment
Ana Carolina Brandt de Macedo, M.Sc.*, Pedro Gewehr, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente dos Cursos de Fisioterapia da UTP-PR e Uniandrade, **Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica
e Informática Industrial (CPGEI), ênfase em Engenharia Biomédica

Resumo Abstract
Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um programa This work presents the development of a program for
para verificação e controle de equipamentos de ultra-som verification and control of therapeutic ultrasound equipment.
terapêuticos. O programa é baseado em normas técnicas e em The program is based on technical standards and management
gerenciamento de tecnologias, e consiste em etapas de aquisição, of technologies and consists of: acquisition, initial inspection,
inspeção inicial, controle e manutenção dos equipamentos. O control and preventive maintenance of the equipment. The
programa foi implementado em 5 clínicas, particulares e/ou program was implemented in 5 clinics, being analyzed 19
vinculadas a instituições de ensino e pesquisa. Foram analisados ultrasound equipment of 5 different manufacturers and 10
19 equipamentos de ultra-som de fabricação nacional e different models, with variable ages and time of use. For the
estrangeira, de 5 marcas e 10 modelos, com tempo de uso e data implemented program, technical cards of the equipment and
de fabricação variados. Na implementação do programa, foram their registers were analyzed, qualitative tests (calorimeter test)
analisadas as fichas técnicas dos equipamentos e seus registros, for the verification of the performance of the equipment and,
durante a etapa de aquisição, realização de testes qualitativos electrical safety tests for the installations and equipment were
(teste do calorímetro) para verificação do desempenho do also carried out. Considering the results obtained several
equipamento e realização de testes de segurança elétrica. Pelos problems were identified as: incomplete technical cards and
resultados obtidos, diversos problemas foram identificados: excessive variation of the values of energy from the ultrasound
fichas técnicas incompletas e variação excessiva dos valores de equipment, electrical hazards in the electrical installations of
energia de ultra-som dos equipamentos, falhas nas instalações the clinics and equipment etc. In order to assure greater efficacy
elétricas das clínicas e nos equipamentos avaliados, etc. A fim in the physical therapy with ultrasound equipment, it is
de se garantir maior eficácia nos tratamentos fisioterápicos em mandatory the implementation of programs like this or similar,
que o equipamento de ultra-som é utilizado, mostra-se necessária which could be carried out in clinical practice.
a implementação de programas do tipo desenvolvido ou outros Key-words: therapeutic ultrasound, standards, management
similares, os quais poderiam ser implementados na prática clínica. program.
Palavras-chave: ultra-som terapêutico, normas, programa de
gerenciamento.

Artigo recebido em 27 de abril de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Ana Carolina Brandt de Macedo, Av. da República, 7651/55, 80610-220 Curitiba PR, E-mail: ana.brandt@utp.br
340 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Introdução Material e métodos

O ultra-som terapêutico é um recurso amplamente Inicialmente, com o intuito de obter subsídios para o
utilizado em clínicas de fisioterapia e tem como objetivo o programa e verificar as condições de utilização dos
tratamento de distúrbios músculo-esqueléticos, circulatórios equipamentos de ultra-som terapêuticos, efetuou-se uma
e neurais. A faixa de freqüência empregada na prática clínica pesquisa diagnóstica junto aos usuários desses equipamentos
está entre 0,5 a 5 MHz [1], sendo mais utilizadas as de 1 e 3 (Tabela I). Para tanto, elaborou-se uma ficha de dados sobre
MHz. A escolha da freqüência depende da profundidade do o equipamento, contendo: tempo de utilização diária, número
tecido a ser tratado, ou seja, para tecidos mais profundos, de pacientes que o utilizam, conhecimento das normas
freqüências mais baixas e, para tecidos mais superficiais, específicas pelos profissionais etc. Foram selecionados e
freqüências mais altas. entrevistados dez fisioterapeutas de cinco instituições para
As intensidades com objetivo terapêutico situam-se em responderem ao questionário da pesquisa e forma utilizados
torno de 0,1 a 3,0 W/cm2. A geração de ondas ultra-sônicas 19 equipamentos para se obter os dados pertinentes.
pode ocorrer no modo contínuo, onde os efeitos térmicos Os resultados da pesquisa diagnóstica evidenciaram a
são maximizados ou no modo pulsado, caso em que são falta de informações a respeito do equipamento, o que pode,
maximizados os efeitos não térmicos. O ultra-som no modo muitas vezes, prejudicar a sua operação prática. Portanto,
contínuo aumenta a velocidade de condução do nervo verificou-se a importância de se estabelecer um programa
sensorial e motor, a extensibilidade das estruturas ricas em que determine procedimentos para garantir a operação
colágeno, a deposição de colágeno, o fluxo sangüíneo, etc. adequada dos equipamentos. Assim, decidiu-se pelo
No modo pulsado, o ultra-som aumenta a permeabilidade desenvolvimento e implementação de um programa de
vascular, reduz edema, auxilia na regeneração dos tecidos, verificação e controle de equipamentos de ultra-som
entre outros [2]. terapêuticos, o qual consiste na avaliação da aquisição, na
Os efeitos, tanto térmicos quanto não térmicos, só são inspeção inicial, na manutenção preventiva, com a
obtidos se o equipamento estiver devidamente aferido e realização de testes qualitativos e de segurança elétrica,
calibrado. Um equipamento não calibrado e com intensidade conforme descrito a seguir.
maior do que a especificada no painel pode causar lesões Aquisição: Nesta etapa realiza-se um levantamento das
teciduais [3], e uma intensidade menor pode ser ineficaz, fichas técnicas dos equipamentos, nas quais devem constar
acarretando prejuízo para o paciente. Portanto, é essencial os itens especificados pela norma NBR IEC 1689 [1], como:
que o fisioterapeuta preocupe-se com a verificação dos potência de saída declarada, área de radiação efetiva,
parâmetros e com a manutenção do aparelho. intensidade efetiva, freqüência de trabalho acústico, relação
Normas técnicas nacionais e internacionais para de não-uniformidade do feixe, intensidade máxima do feixe,
equipamentos de ultra-som terapêuticos especificam valores tipo de feixe, duração de pulso, período de repetição de
dos parâmetros do aparelho e propõem testes para pulso, fator de operação e a relação entre a potência de
verificação desses valores. Com base em normas, realizaram- saída máxima temporal e a potência de saída para cada
se diversos trabalhos [3-12] para verificar a performance ajuste de modulação e forma de onda de modulação.
dos equipamentos. Esses estudos mostraram que a maioria Também deve ser verificado o local de instalação do
dos equipamentos não possuía as características de acordo equipamento, incluindo espaço necessário, tensão elétrica,
com as normas, o que prejudicava a eficácia terapêutica na peso do equipamento.
aplicação desse recurso aos pacientes. Inspeção inicial: Verifica-se a integridade física do
De acordo com a Food and Drug Administration (FDA) dos equipamento. Esta etapa contém os seguintes proce-
EUA, os equipamentos devem ser calibrados anualmente [13]. dimentos [16]: verificação de todos os componentes e
Porém, entre cada calibração, não existem métodos simpli- acessórios, comparando o recebido com o referenciado
ficados para verificar a funcionalidade dos equipamentos. Um na nota fiscal e na ordem de compra; efetuação do teste
método utilizado na prática, em geral, é o teste da nebulização, de aceitação antes do equipamento ser utilizado em
em que o fisioterapeuta coloca água no transdutor e liga o pacientes; registro dos valores obtidos para comparação
equipamento. Após a especificação da intensidade, a água no com futuras inspeções; inclusão do equipamento na
transdutor deve nebulizar, indicando que há a produção da agenda de inspeção de manutenção preventiva, se
onda mecânica, porém, não a quantificando. necessário. Também devem ser efetuados procedimentos
O objetivo deste trabalho foi desenvolver e implantar um administrativos durante a inspeção, como: arquivamento
programa de verificação e controle para equipamentos de da ordem de compra do equipamento, do certificado de
ultra-som terapêuticos, com a finalidade de melhorar a garantia e dos valores dos testes de desempenho e
eficácia do tratamento. O programa foi baseado nas normas segurança; registro das informações do equipamento
NBR IEC 601-1 [14], NBR IEC 601-2-5 [15], NBR IEC 1689 (marca, modelo, número de série, data de compra);
[1] e em programas de gerenciamento de tecnologias [16,17]. arquivamento dos manuais do operador.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 341

Tabela I - Resultados da pesquisa diagnóstica.

Itens da Pesquisa Instituição

A B C D E
Número de equipamentos 2 1 7 7 2Calibr. (1)
Marca do equipamento 2 marcas 1 marca 5 marcas 7 marcas 2 marcas
Data da compra 1986 (1)2000 (1) Sem data 2000 (7) 2000 (5)Sem data (2) Sem data (3)
Manual de operação 1 sim1 não Não 6 sim1 não 7 sim 2 sim1 não
Número de pacientes atendidos/dia 20 2 Sem controle Sem controle Sem controle
Número de pacientes que utilizam o ultra-som 20 2 Sem controle Sem controle Sem controle
Tempo de utilização diária 2 horas 30 minutos Sem controle Sem controle Sem controle
Data da última calibração * * * * *
Freqüência de manutenção Só quando danifica Nunca 1 vez por ano Só quando danifica 2 vezes por ano
Realizam o teste da nebulização Sim** Sim** Sim Sim Sim
Conhece as normas da ABNT Não Não Não Não Não
Relatam algum problema Aquecimento Aquecimento Não nebulizam Aquecimento Não
do cabeçote do cabeçote do cabeçote nebulizam
Barulho
Proximidade de campos magnéticos Sim Sim Não Sim Sim

*Nenhum equipamento foi calibrado, com exceção de um da instituição E. Todos os demais foram enviados para manutenção no ano.
**O teste da nebulização não é realizado antes de cada aplicação. É realizado apenas esporadicamente.

Manutenção preventiva: Deve ser efetuada para minimizar polaridade (fase, neutro, terra) e valor nominal da tensão da
o risco de falhas e garantir a contínua operação do equi- rede de alimentação, valor da resistência do condutor de
pamento e inclui limpeza, lubrificação, ajuste e reposição aterramento, níveis de correntes de fuga do gabinete e através
de determinadas peças. Há quatro etapas no processo de do paciente, isolação etc.
manutenção preventiva [17]: inspeção visual, limpeza, testes Para aplicação e teste do programa, selecionaram-se cinco
de funcionamento (testes quantitativos e qualitativos) e testes clínicas, particulares e/ou vinculadas a instituições de
de segurança elétrica. ensino e pesquisa. Foram utilizados 19 equipamentos de
Inspeção visual: Verificam-se, visualmente, itens que ultra-som para fisioterapia, de fabricação nacional e
podem apontar problemas, incluindo danos visíveis em estrangeira, de cinco marcas e dez modelos, com tempo de
qualquer peça, pintura lascada, leitura no painel incom- uso e data de fabricação variados (Tabela I). À parte dos 19
preensível, componentes perdidos, sinal de curto-circuito equipamentos, utilizou-se um outro equipamento (operando
[16]. em 1 e 3 MHz) como referência nas medições. O mesmo foi
Testes de funcionamento: Inclui testes quantitativos e testado pela empresa fabricante e é considerado como
qualitativos. No programa desenvolvido não foram in- “calibrado” nos testes. Para os testes de cada equipamento,
cluídos testes quantitativos absolutos (medição de potência escolheu-se uma sala reservada das clínicas, com a
direta). Para avaliar qualitativamente a potência ultra-sônica, temperatura ambiente variando entre 20-25ºC.
optou-se por realizar o teste do calorímetro [18]. O
calorímetro é um dispositivo utilizado para medir a tem- Resultados
peratura de um determinado volume de água, que é aquecida
quando em contato com o transdutor ultra-sônico em Aquisição: Dois modelos, dos 10 avaliados, não possuíam
operação. É composto de dois beakers de plástico de 200 ml, manual de operação, impedindo a sua análise. Assim,
um termômetro digital e uma seringa. Anteriormente à totalizaram-se 8 fichas técnicas analisadas, com as quais
realização do teste do calorímetro, deve-se efetuar o teste da obteve-se a Tabela II, onde foi registrada a porcentagem de
nebulização para verificar o funcionamento do transdutor manuais de equipamentos (para cada item), especificados
de ultra-som. de acordo com as normas.
Segurança elétrica: Verificam-se as condições de segurança Inspeção inicial: Dos 19 equipamentos, 100% possuíam
elétrica dos equipamentos e das instalações elétricas das salas os componentes e acessórios necessários como gel, cabeçote
que contêm os equipamentos. Para as medições, foi utilizado emissor, cabo de alimentação e 90% possuíam o manual de
o Turbo Tester da Biotek, que é um analisador de segurança operação. Nenhum possuía ordem de compra e certificado
elétrica comercial projetado para testes de segurança elétrica de garantia. O teste de aceitação realizado pelos usuários em
em equipamentos biomédicos. Esse equipamento mensura todos os equipamentos foi o da nebulização. Nenhum
os parâmetros associados à segurança elétrica, que incluem: equipamento possuía a data de compra especificada e os
342 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

profissionais conheciam somente o ano da aquisição, sem a Figura 1 - Variação de temperatura versus intensidade, obtido
data precisa (vide Tabela I). com o calorímetro para 1 MHz no ultra-som “calibrado” e para a
média dos demais 14 equipamentos.
Tabela II - Resultado da análise das fichas dos equipamentos (n
= 8).

Especificação da ficha técnica


técnicaPPorcentagem de manuais
dentro da norma

Potência de saída declarada 100%


Área efetiva de radiação 100%
Intensidade efetiva 100 %
Freqüência 100 %
Intensidade máxima do feixe 12,5 %
Relação da não uniformidade do feixe 12,5 %
Tipo de feixe 12,5%
Duração do pulso 100 %
Período de repetição do pulso 87,5 % Analisando-se a correlação entre as intensidades e as
Fator de operação 87,5 %
temperaturas, observa-se que, a uma mesma intensidade, as
Relação entre a potência de saída máxima
temporal e a potência para cada ajuste temperaturas são diferentes. Portanto, quando se gera uma
de modulação 0% intensidade de 0,5 W/cm2, por exemplo, ocorre uma maior
Forma de onda de modulação 0% temperatura inicial nos equipamentos não calibrados, o que
Faixa de temperatura 50% pode interferir nos resultados terapêuticos desejados com a
aplicação do ultra-som.
Para a operação em 3 MHz, a figura 2 mostra os dados
Manutenção preventiva obtidos (pontos), assim como a reta de ajuste aos dados do
ultra-som “calibrado” e da média dos outros equipamentos
Inspeção visual: Dois equipamentos apresentaram leitura (n = 4). A figura 2 apresenta um desvio de zero menor do
do painel ilegível, porém isso não impossibilitava a que a figura 1, mostrando que, a uma mesma intensidade, as
utilização do aparelho. Nos demais equipamentos, não foi temperaturas são praticamente as mesmas.
observada nenhuma alteração que pudesse ser detectada
visualmente. Figura 2 - Variação de temperatura versus intensidade, obtida
com o calorímetro em 3 MHz no ultra-som “calibrado” e na média
Teste do calorímetro: O teste foi realizado com um
dos demais 4 equipamentos.
equipamento de ultra-som previamente “calibrado’’ pelo
fabricante e construiu-se o gráfico “variação da tempe-
ratura (∆T) versus variação da intensidade (∆I)”, nas
freqüências de 1 MHz e 3 MHz. Em seguida, o teste foi
realizado com os demais equipamentos e os resultados
comparados com o equipamento “calibrado” para cada
freqüência de operação. Entretanto, dos 19 equipamentos,
dois não nebulizaram, impedindo a realização do teste do
calorímetro. Assim, apenas 17 equipamentos foram
avaliados: 14 de 1 MHz e 4 de 3 MHz (um equipamento
operava tanto em 1 MHz quanto em 3 MHz), totalizando
18 medições para cada intensidade de potência ajustada.
A figura 1 mostra os dados obtidos (pontos), assim como Testes de segurança elétrica: Nestes testes, também foram
a reta de ajuste aos dados do ultra-som “calibrado” e da utilizados os 17 equipamentos. Analisando-se os valores
média dos outros equipamentos (n=14), operando em medidos nos testes de corrente de fuga, verificou-se que todos
1MHz. os equipamentos estavam dentro da norma que especifica que
Nota-se, na figura 1, um desvio de zero entre o a corrente de fuga, através do gabinete para equipamentos do
equipamento “calibrado” e a média dos demais equipa- tipo BF, em condição normal, é de até 0,5 mA [14].
mentos. O desvio de zero ocorre quando todos os valores de Para o condutor de aterramento do equipamento, mediu-
saída aumentam ou diminuem na mesma quantidade se a resistência através de um ohmímetro nos equipamentos
absoluta, o que pode caracterizar uma calibração errônea de que possuíam o pino de aterramento. Seis equipamentos não
fábrica ou variações ambientais de temperatura, choques possuíam o pino de aterramento no plugue, o que vai contra
mecânicos, vibrações, etc [17]. a norma NBR IEC 601-1 [14]. Dos 11 equipamentos com
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 343

pino de aterramento, em 5 não houve leitura de resistência, Apenas é necessário o registro das medições no recebimento
portanto, não existia o condutor de aterramento. Dos 6 de cada equipamento, para efeitos de comparação. Uma
equipamentos em que se determinou a resistência de variação além de ± 20% (fora da curva de calibração do
aterramento, somente um apresentou valor (5,5 W) que equipamento) implicará procedimentos de reparo precoces,
estava fora da norma NBR IEC 601-1 [14], que especifica pois o equipamento estará funcionando em uma intensidade
um valor inferior a 0,1 Ù. Dessa forma, dos 6 equipamentos diferente da especificada pela norma e fora da sua curva
que possuíam o condutor de aterramento, 83% (5) estavam padrão de sensibilidade. Neste trabalho, totalizaram-se 72
de acordo com a norma citada. casos de medições de variação de temperatura (56 para 1
Apesar de todas as tomadas testadas (30) das salas terem MHz e 16 para 3 MHz), nas diferentes intensidades (0,5;
apresentado valores de tensão entre fase e neutro, que podem 1,0; 1,5 e 2,0 W/cm2), para os 17 equipamentos. Em 70 %
ser consideradas adequadas para a tensão nominal de 127 V dos casos medidos para 1 MHz (39) e em 87 % dos casos
(Curitiba), houve falhas nas instalações elétricas. Em 20% para 3 MHz (14) houve variações além do permitido.
das tomadas (6), mediu-se valores de tensões diminuídos Os resultados dos testes de segurança elétrica mostraram
(<127 V) para fase-terra e, em 46,7% das tomadas (14), que em 3 das 5 clínicas avaliadas, as instalações elétricas
mediu-se valores elevados para tensões neutro-terra, o que apresentaram valores de tensões das tomadas inadequadas,
indica falhas entre os condutores e no aterramento da podendo ocasionar vários problemas ao equipamento.
instalação. Segundo a norma NBR IEC 601-1 [14], o ultra-som é
classificado como equipamento de classe I e do tipo BF,
Discussão classe essa que deve conter um recurso de conexão do
equipamento ao condutor de aterramento e ter confiabilidade
A análise das fichas técnicas mostrou que, com relação da conexão de aterramento. Os testes nos 17 equipamentos
aos 13 itens que deveriam ser especificados (Tabela II), mostraram que 6 deles não possuíam o pino de aterramento
nenhum equipamento estava totalmente de acordo com as no plugue. Mesmo para os equipamentos que possuem o
normas, pois um manual trazia 84,6 %, outro 69,2 % e 6 condutor de aterramento, o mesmo torna-se insuficiente na
deles, 53,8% dos itens. Os itens “relação de não unifor- falta de aterramento adequado das instalações elétricas.
midade do feixe”, “intensidade máxima do feixe” e “tipo Também, as tensões medidas entre neutro-terra não próximas
de feixe”, foram encontrados em somente um manual, apesar de zero, podem fazer com que os operadores dos equipa-
da importância, pois se, por exemplo, a relação for elevada, mentos tomem choques ao tocá-los, devido aos mesmos
pode provocar picos de intensidade nos cabeçotes e causar estarem sob tensão.
danos ao equipamento [3].
Na inspeção inicial, foi observado que nenhum Conclusão
equipamento possuía ordem de compra e certificado de
garantia, impossibilitando o conhecimento das suas datas Pelos resultados obtidos na implementação do programa
de compra. Em relação aos componentes e acessórios, todos proposto, observou-se que a maioria dos equipamentos
estavam adequados à norma de referência NBR IEC 1689 avaliados apresentava alguma divergência em relação às
[1], excluindo-se os manuais de operação, que estavam normas gerais e específicas para equipamentos de ultra-som
presentes para 90% dos equipamentos. O teste de aceitação terapêuticos.
padrão realizado no momento da aquisição do equipamento A etapa de aquisição, que deve ser realizada no momento
pelos fisioterapeutas é, em geral, o teste da nebulização que da compra do equipamento, proporciona a identificação dos
apenas verifica se o aplicador (transdutor) está operacional. parâmetros de seu funcionamento. Por exemplo, o conhe-
Considerando a manutenção preventiva, no item inspeção cimento da área de radiação efetiva possibilita o cálculo do
visual, verificou-se que 2 equipamentos apresentavam o painel tempo de tratamento ideal para uma determinada região [6].
de leitura ilegível, porém continuaram em uso. A etapa de inspeção mostrou a falta de preocupação dos
O teste do calorímetro foi realizado com o objetivo de profissionais em armazenar a ordem de compra e o
avaliar a funcionalidade do equipamento de uma forma mais certificado de garantia, o que impossibilita a verificação da
eficiente. Pye et al. [18] aplicaram o teste do calorímetro em data em que o equipamento deveria ser calibrado. O teste de
equipamentos de ultra-som na Inglaterra e verificaram a nebulização, quando utilizado (pois muitos profissionais não
correlação entre a variação da temperatura e a intensidade utilizam nem mesmo esse teste), apenas verifica o
de saída. Essa correlação também foi encontrada nos testes funcionamento do transdutor e não possibilita analisar o
realizados neste trabalho. Os resultados obtidos mostram funcionamento do aparelho em mais detalhes.
que o teste do calorímetro pode ser utilizado para verificar A aplicação do teste do calorímetro mostrou que o
as intensidades dos equipamentos, através do aumento de mesmo pode ser efetuado sem maiores dificuldades práticas,
temperatura, devendo-se registrar, no decorrer do tempo, a de modo que um fisioterapeuta treinado pode realizá-lo em
mesma variação de temperatura para as mesmas intensidades. sua clínica. Apesar do teste do calorímetro não ser um teste
344 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

quantitativo em termos absolutos, ele poderia ser utilizado 6. Fyfe MC, Parnell SM. The importance of measurement of effective
rotineiramente para verificação das intensidades, através da transducer radiating area in the testing and calibration of “therapeutic”
variação de temperatura, que, se diferir do padrão, indicará ultrasonic instruments. Health Phys 1982;43(3):377-81.
presença de alguma falha do equipamento. Em muitas 7. Guirro R, Serrão F, Elias D, Bucalon AJ. Calibration of acoustic intensity
of therapeutic ultrasound equipment in use in the city of Piracicaba. Rev
circunstâncias clínicas, há a queixa do paciente em relação
Bras Fisioter 1997;2(1):35-7.
ao superaquecimento do cabeçote, o que demonstra a
8. Ishikawa NM. Avaliação de equipamentos de ultra-som para fisioterapia
importância de um teste que verifique esse aumento da
segundo a norma NBR IEC 1689 da Associação Brasileira de Normas
temperatura, em geral, relacionado a um aumento de Técnicas. [Dissertação] Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
intensidade indesejada. Janeiro, COPPE; 2000.
Em relação aos testes de segurança elétrica, faz-se 9. Kossoff G. Calibration of ultrasonic therapeutic equipment.
necessária uma maior atenção quanto à instalação elétrica Acoustica 1962;12:84-90.
das clínicas, pois geralmente os profissionais fisioterapeutas 10. Lloyd JJ, Evans JAA. Calibration survey of physiotherapy ultrasound
preocupam-se apenas com o manuseio do equipamento e, equipment in North Wales. Physiotherapy 1988;74:56-61.
como verificado, pode haver falhas na instalação, o que causa 11. Pye SD, Milford C. The performance of ultrasound physiotherapy
erros na operação dos equipamentos e riscos de segurança machines in Lothian Region, Scotland. Ultrasound Med Biol
para o paciente e para o operador. 1994;20(4):347-59.
12. Snow CJ. Ultrasound therapy units in Manitoba and North
Assim, pode-se concluir que se o programa proposto for
Western Ontario: performance evaluation. Physiother Can
implantado como rotina nas clínicas de fisioterapia, possibilitará
1982;34:185-9.
uma maior segurança para o profissional e para o paciente na 13. Rivest M, Girardi CQ, Searbone D, Lambert J. Evaluation of
aplicação deste recurso tão importante nesta área. therapeutic ultrasound devices: performance stability over 44 weeks
of clinical use. Physiother Can 1987;39(2):77-86.
Referências 14. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR IEC 601-
1: Equipamento eletromédico. Parte 1: Prescrições gerais para
1. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR IEC 1689: segurança. Rio de Janeiro; 1994.
Ultra-som-sistemas de fisioterapia - prescrições para desempenho e 15. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR IEC 601-
métodos de medição na faixa de freqüências de 0,5 MHz a 5 MHz. 2-5: Equipamento eletromédico. Parte 2: Prescrições particulares
Rio de Janeiro; 1998. para segurança de equipamentos por ultra-som para terapia. Rio de
2. Low R, Reed A. Eletroterapia explicada - princípios e prática. 3a Janeiro; 1997.
ed. São Paulo: Manole; 2001. 16. Bronzino JD. Management of medical technology - a primer for
3. Kitchen SS, Partridge CJ. The efficacy of ultrasound. Physiotherapy clinical engineers. Boston: Butterworth-Heinemann; 1992.
1990;76:595-8. 17. Webster JG, Cook AM. Clinical engineering: principles and
4. Allen KGR, Batthye CK. Performance of ultrasonic therapy practices. New Jersey: Prentice-Hall; 1979.
instruments. Physiotherapy 1978:174-8. 18. Pye S, Hildersley K, Somer E, Munro V. A simple calorimeter for
5. Docker MF. A review of instrumentation available for therapeutic monitoring the output power of ultrasound therapy machines.
ultrasound. Physiotherapy 1987;73:154-5. Physiotherapy 1994;80:219-23. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 345

Artigo original

A fisioterapia no Programa Saúde da Família


de Sobral CE
The physical therapy in the Family Health Program of Sobral CE
Mirella Maria Soares Véras* ,Vicente de Paulo Teixeira Pinto**, Eliany Nazaré Oliveira**,
Paulo Henrique Dias Quinderé***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Preceptora da Fisioterapia na Residência em Saúde da Família, Escola de Formação em Saúde da Família,
Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, **Preceptores da Residência em Saúde da Família, Escola de Formação em Saúde
da Família, Universidade Federal do Ceará, Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, ***Psicólogo do Centro de Atenção
Psicossocial – CAPS, Sobral-CE

Resumo Abstract
O Programa Saúde da Família (PSF) é uma estratégia que The Family Health Program (PSF) it is a strategy that has as
tem como objetivo principal contribuir para a reorientação do main objective to contribute for the reorientation of the care to
modelo assistencial à saúde a partir da atenção básica, em the health starting from the basic attention, in accordance with
conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde. O the beginnings of the Unique System of Health. In Sobral city,
município de Sobral, localizado na região norte do Estado do placed in the north of the State of Ceará, this strategy has been
Ceará, vem adotando esta estratégia desde 1997 e, a partir de used since 1997 and after 1999 the physical therapist was inserted
1999, o fisioterapeuta foi inserido no Programa. O objetivo deste in the Program. The objective of this study was to know opinions
trabalho foi conhecer opiniões de usuários do sistema sobre a of the users about the physical therapist performance inside the
atuação do fisioterapeuta dentro do PSF. A pesquisa foi realizada PSF. The research was accomplished through the qualitative
através do método qualitativo com abordagem descritiva do method with descriptive approach of exploratory type and
tipo exploratória. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas through semi-structured interviews applied to the users of
com os usuários dos serviços de fisioterapia no PSF. A partir da physical therapy in PSF. From the interviews analysis, we
análise das entrevistas, observamos que os profissionais vêm observed that the professionals are acting mainly in the
atuando principalmente na realização de atividades referentes accomplishment of activities regarding the health promotion
à promoção da saúde e prevenção de doenças. Apesar do pouco and prevention of illness. In spite of the short performance
tempo de atuação do fisioterapeuta na Estratégia Saúde da time of the physical therapist in the Family Health Strategy, the
Família, o resultado tem se mostrado bastante promissor, pois result has shown to be quite promising, and reveals a
revela uma mudança paradigmática na atuação deste pro- paradigmatic shift in the performance of this professional, who
fissional, que antes desempenhava suas ações principalmente previously carried out actions principally in the rehabilitation
no campo da reabilitação, e que agora passa a intervir signifi- field, and now goes on to intervene significantly in the
cativamente na prevenção de doenças e na promoção da saúde. prevention of illness and the promotion of health.
Palavras-chave: atenção primária saúde, fisioterapia Key-words: Primary health care, community physical therapy,
comunitária, programa Saúde da Família. Health Family Program.

Artigo recebido 10 de maio de 2004; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Mirella Maria Soares Véras, Travessa Manga, 89/91 Junco 62020-940 Sobral CE, Tel: (88) 614 1943/8804 6676, E-
mail: mirellasv@yahoo.com
346 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Introdução tanto do ponto de vista de sua formulação, aplicação técnica,


como dos usuários a quem se destina [3].
O Programa Saúde da Família (PSF) foi criado pelo A amostra foi constituída por 30 usuários dos serviços
Ministério da Saúde em 1994, tendo como principal objetivo de fisioterapia do PSF de Sobral-CE, escolhidos aleato-
uma reorientação do modelo assistencial a partir da atenção riamente. O estudo foi realizado no município de Sobral-
básica e com definições de responsabilidades entre os CE. As entrevistas foram realizadas no período de 17 de
serviços de saúde e a população [1]. junho a 16 de agosto de 2002. Foi utilizado como instru-
As diretrizes do PSF estão em conformidade com os mento uma entrevista semi-estruturada. Havendo, entre-
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa tanto, um pré-teste para avaliar a viabilidade e validação do
aponta para mudanças significativas e inovadoras, tanto na instrumento. Para o processamento e análise das informações
parte técnica, política e administrativa dos recursos do setor foi realizado uma leitura exaustiva do material obtido, com
saúde, como na própria organização dos serviços e na prática intuído de compreender e apreender o sentido das
do profissional atuante. De 1994 até os dias atuais, observa- informações. Foi utilizada a categorização das informações,
se que o programa caminha a passos largos, tanto em termos proposta por Minayo [3]. A pesquisa foi realizada de acordo
de expansão, adesão da comunidade, produção científica, com os princípios éticos da portaria 196/96 do Conselho
surgimento de novas estratégias para antigos problemas da Nacional de Saúde que rege a pesquisa em seres humanos.
comunidade e mudanças nas práticas dos profissionais
atuantes. [2]. Resultados e discussão
Neste contexto, começou a ocorrer no Brasil, em
diferentes regiões, a inserção do profissional fisioterapeuta Opinião do usuário sobre o trabalho do fisioterapeuta no
no campo da atenção primária ou mesmo dentro do Programa PSF de Sobral.
Saúde da Família. Neste novo paradigma, o fisioterapeuta
a) Acesso ao fisioterapeuta antes do PSF
passa a contribuir para uma melhoria nas ações de atenção à
saúde nos diferentes níveis de complexidade. Procura Figura 1 - Usuários que tiveram acesso à tratamentos fisio-
otimizar, principalmente, o acesso e a integralidade definidos terapêuticos antes da inseção do fisioterapeuta no PSF de Sobral-
pelo SUS às demandas básicas atendidas pelas unidades de CE.
saúde. [2].
No município de Sobral, localizado na região norte do
estado do Ceará, o fisioterapeuta foi inserido no PSF no ano
de 1999 e a partir de 2000, a partir de um projeto que visava
à construção de um novo modelo para a fisioterapia, bus-
cando “desconstruir” as ações estritamente curativas e
passando a inserir a promoção da saúde e a prevenção de
doenças nas intervenções do profissional.
Face ao exposto, o objetivo deste trabalho foi conhecer a
opinião dos usuários acerca dos serviços de fisioterapia no
PSF de Sobral. De acordo com a figura 1, 53% dos entrevistados (17
usuários) e/ou seus filhos já receberam tratamento
Material e métodos fisioterapêutico anteriormente, enquanto que 47% (13
usuários) não tiveram atendimento. Observamos nesses
Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. A dados que há uma parcela significativa da amostra que não
metodologia qualitativa nos induz a aprofundar-se no teve acesso aos tratamentos fisioterapêuticos, significando
caráter social e nas dificuldades de construção do uma limitação no acesso, em função do pequeno número de
conhecimento, não apenas como uma alternativa ideológica profissionais em relação à demanda.
às abordagens quantitativas [3]. As investigações sociais O direito constitucional de “ir e vir” ficam muitas vezes
deveriam contemplar uma característica básica do seu esquecidos, pois há uma demanda reprimida, restrita ao leito
objeto: o aspecto qualitativo, considerando o sujeito em por limitações funcionais, sem acesso à fisioterapia e sem
sua condição social, com suas crenças, valores e oportunidade de melhorar sua qualidade de vida [4]. De
significados. A pesquisa qualitativa torna-se importante acordo com as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS),
para: compreender os valores culturais e as representações o acesso aos serviços de saúde deve ser garantido a toda a
de determinado grupo sobre temas específicos; b) para população e em todos os níveis de complexidade do sistema
compreender as relações que se dão entre atores sociais de saúde [5].
tanto no âmbito das instituições como dos movimentos Tipo de trabalho que os fisioterapeutas realizam no PSF
sociais; c) para avaliação das políticas públicas e sociais descritos pelo usuário
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 347

Figura 2 - Atividades Realizadas pelos Fisioterapeutas no PSF de consideraram as palestras e sessões educativas importantes
Sobral de junho a agosto de 2002, segundo a opinião dos usuários. para sua qualidade de vida.
A Sociedade para o Estudo da Dor no Distrito Federal
afirma que atualmente a dor é um dos problemas mais
importantes de saúde pública. A dor pode levar a
incapacidades permanentes, ausências no trabalho,
diminuição na produtividade, restrição na execução das
atividades da vida diária, além de uma diminuição na
qualidade de vida das pessoas. [7]. Aliado a esses fatores há
também o gasto com internações, medicamentos, exames,
cirurgias e licenças que traduzem em imensos gastos ao setor
público. Em nosso estudo, 26% dos entrevistados relataram
uma melhoria nos níveis de dor. Isso nos faz crer que a
Os entrevistados foram questionados sobre quais eram fisioterapia interviu de maneira positiva em um dos mais
as atividades realizadas pelos fisioterapeutas nas unidades importantes problemas de saúde pública. A melhora dos
de saúde. Conforme mostra a figura 2, dentre as atividades movimentos foi o percentual mais citado (34%). A
citadas pelos usuários, observamos que aquelas referentes à cinesioterapia é um recurso terapêutico e físico da profissão
promoção da saúde (grupos de postura e de gestantes), somam e que tem sua ação desenvolvida por meio do movimento.
48%, seguidos pelas atividades curativas - atendimentos O objeto de intervenção da fisioterapia é o movimento, a
individuais na unidade (18%), visitas domiciliares (18%) e postura, a atividade do homem e as variáveis relacionadas a
fisioterapia respiratória (11%) - que somam um total de 47%. esses assuntos [8]. Um dos fatores limitantes do movimento
Segundo dados de uma pesquisa, 95% das assistências poder ser a dor e, nesse aspecto, observamos que os
realizadas pelos profissionais fisioterapeutas são voltadas fisioterapeutas do PSF estão conseguindo intervir de maneira
para reabilitar ou recuperar indivíduos já lesados. [6]. Em significativa, o que pode estar, conseqüentemente,
Sobral, o resultado revela uma mudança paradigmática na melhorando na mobilidade dos indivíduos. A atuação da
atuação deste profissional, antes meramente curativo, fisioterapia na comunidade deve buscar alcançar níveis
apontando para uma participação promissora do fisio- adequados de capacidade física e independência dos indi-
terapeuta no PSF. Desse modo, a população passa a ter uma víduos ou grupos em seus próprios ambientes [9]. Consi-
atenção fisioterapêutica integral, onde o profissional terá a deramos também que a melhoria na mobilidade dos
oportunidade de intervir prevenindo seqüelas e incapa- indivíduos é um fator que contribui significativamente na
cidades, propiciando condições que favoreçam à saúde da qualidade de vida dos mesmos, pois pode lhe proporcionar
população. independência em suas Atividades de Vida Diária (AVDs).
e) Melhorias descritas pela população após a atuação Semelhantemente à melhora na mobilidade dos usuários,
dos fisioterapeutas uma das melhorias que poderiam ter aparecido nos resultados
é na qualidade de vida dos familiares “cuidadores” que
Figura 3 - Melhorias Descritas pela População após a Inserção da passam a ter menos tarefas nos cuidados com os usuários, a
Fisioterapia no PSF. medida em que os mesmos vão adquirindo maior indepen-
dência. Extraímos a fala de uma usuária nº 02, mãe de uma
criança de 06 meses de idade que foi encaminhada ao
fisioterapeuta com o diagnóstico de mielomeningocele e que
expressa sua angústia em relação à freqüência do atendimento
fisioterapêutico:
“Todo dia. Era pra ter todos os dias da semana. Por que
a gente que é mãe de criança assim, não tem tempo. Em casa
a gente tem muita tarefa, muita coisa puxa a gente, no posto
é diferente. Nunca é como no posto, com o profissional. Se
fosse todo dia ele melhorava mais rápido”.
O trabalho centrado no ambiente familiar e comunitário
De acordo com a figura 3, 38% dos usuários referiram requer mudanças de atitudes do profissional, onde os mesmos
que após o tratamento fisioterapêutico melhorou sua não devem impor suas decisões, mas buscar soluções
capacidade de realizar movimentos; 26% afirmou ter havido conjuntamente com a família. [10]. Observamos que em
redução na intensidade da dor; 12% referiram melhora da casos como o citado acima, faz-se necessário uma atuação
função respiratória; 10% referiram melhora em tudo; 8% preliminar intensa do fisioterapeuta com o paciente e sua
citaram melhora no desempenho das articulações e 6% família. Inicialmente deveria ser realizada uma assistência
348 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

freqüente à criança, visando melhorar significativamente qualidade de vida e vem contribuindo para garantir o acesso
suas atividades de vida diária (AVDs). Simultaneamente ao da população aos serviços, definidos pela constituição.
trabalho realizado com a criança é necessário não perder a
idéia do conjunto das relações e trabalhar com a família para Referências
que esta possa identificar a importância de seu papel no
tratamento e poder colaborar com a terapia. Litchfield & 1. Véras MMS. O fisioterapeuta no Programa Saúde da Família. In.
MacDougall em 2002, conduziram um estudo com dez Barros FMB, ed: O Fisioterapeuta na saúde da população: atuação
fisioterapeutas que realizavam atendimentos domiciliares a transformadora. Fisiobrasil 2002;185-192.
crianças na Associação de Crianças Incapacitadas (CCA) 2. Véras MMS. A inserção do fisioterapeuta na estratégia de saúde da
família de Sobral-CE. [Monografia]. Sobral; 2002.
em Adelaide, sul da Austrália. Os autores observaram que
3. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
este tipo de trabalho requer relações mais intensas do
saúde. São Paulo: Hucitec. Rio de Janeiro: Abrasco; 1999.
profissional com a família sendo, também, uma oportu-
4. Novaes R. O fisioterapeuta pode e deve fazer parte do PSF. Fisiobrasil
nidade do fisioterapeuta ter um maior contato com as pessoas 2001;(50):2.
que lidam com a criança [10]. 5. Pustai JA. O sistema de Saúde no Brasil. In Ducan BB, Schmidt
MI, Giugliani E et al.. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em
Conclusão atenção primária. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1996.
6. De Vitta A. Atuação preventiva em fisioterapia. Bauru: EDUSC;
Em nosso estudo, observamos que os profissionais 1999.
fisioterapeutas do PSF de Sobral CE estão direcionando 7. Sociedade para o Estudo da Dor no Distrito Federal. Brasília, 2002.
maior parte de suas atividades para a promoção da saúde e a [citado 2002 aug 3]. Disponível em URL: http://
prevenção de doenças. O fisioterapeuta adaptou seus www.dornodf.hpg.ig.com.br/saude/97/index_int_2.html.
8. Rebelatto JR, Batomé SP. Fisioterapia no Brasil: fundamentos para
conhecimentos adquiridos na graduação para atuar nesta
uma ação preventiva e perspectivas profissionais. São Paulo:
estratégia procurando desenvolver tecnologias que sejam
Manole; 1999.
condizentes com os novos conceitos de saúde. 9. Seymour JC, Kerr KM. Community based physiotherapy in the
Isso nos revela uma mudança paradigmática da profissão, Trent region : a survey. Physiotherapy 1996;82(9):514-20.
que teve seu início fortemente marcado pela sua atuação na 10. Litchfield R, McDougall C. Professional issues for physiotherapists
reabilitação. Contudo, temos observado que os profissionais in family-centred and community-based settings. The Australian
vêm buscando desenvolver uma nova práxis e melhorado a Journal of Physiotherapy 2002;48:105-12. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 349

Artigo original

A importância da ginástica laboral na diminuição


das algias e melhora da qualidade de vida do trabalhador
Importance of labour gymnastics in pain decrease and improvement
of worker quality of life
Paulo Henrique Cinelli Moreira*, Gisele Cirelli**, Paulo Roberto Benicio Santos***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Basquete, Docente das Disciplinas Administração em Fisioterapia, Exercícios Terapêuticos
e Reeducação Funcional, Recursos Terapêuticos Manuais e Prática Supervisionada em Ortopedia do Curso de Fisioterapia
da Universidade de Taubaté – UNITAU, **Fisioterapeuta; Mestranda em Engenharia Biomédica – UNIVAP; Docente das Disciplinas
Administração em Fisioterapia, Eletrotermofototerapia, Recursos Terapêuticos Manuais e Prática Supervisionada em Ortopedia
do Curso de Fisioterapia da UNITAU, ***Graduado em fisioterapia pela Universidade de Taubaté – UNITAU

Resumo Abstract
Fatores como o aumento do ritmo de trabalho, alta Factors as the increase of the work rhythm, high speed of
velocidade de produção, movimentos repetitivos, stress, pressão production, repetitive movements, stress, pressure of command,
de chefias, entre outros, faz com que o trabalhador a cada jornada among others, make with that the worker to each day of working
de trabalho padeça de algias em diversos segmentos corporais. suffers of pain in diverse corporal segments. The labour
A ginástica laboral, associada às melhorias ergonômicas e a gymnastics, associated to the ergonomic improvements and the
correção postural, promove um alívio destas sintomatologias, postural correction, promote a relief of these symptoms, besides
além de preparar o funcionário para a carga diária de trabalho. preparing the employee for the daily load of work. Of this form,
Desta forma, foi implantado um programa de prevenção de a program of occupational illnesses prevention was implanted,
doenças ocupacionais, com ênfase na ginástica laboral, no setor with emphasis in the labour gymnastics, in the sector of packing
de embalagem de três indústrias farmacêuticas, sendo duas of three pharmaceutical industries, being two studied in a period
estudadas em um período de três anos e uma por um ano, of three years and one for one year, using statistical test of
utilizando o teste estatístico de distribuição qui-quadrado (p < distribution qui-square (p < 0.05) for evidence of the data. The
0,05) para comprovação dos dados. Ao final do estudo, conclui- study concludes that the labour gymnastics shows significant
se que a ginástica laboral possui eficácia significativa na redução effectiveness in the reduction of the pain in workers of these.
das queixas álgicas em trabalhadores do setor de embalagem de Key-words: stretching, labour gymnastics, pain, worker health
indústrias farmacêuticas. prevention.
Palavras-chave: alongamento, ginástica laboral, dor, saúde do
trabalhador, prevenção

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução individual da mente, além de ser considerado um componente


vital no desenvolvimento de habilidade para artes marciais
Relatos sobre exercícios de alongamentos advêm da [1]. Hipócrates recomendava a ginástica médica (fortale-
antiguidade, no qual, os gregos utilizavam algumas formas cimento e alongamento) como tratamento de patologias. No
de treinos de flexibilidade como parte de programas de final do século XIX e início do século XX, estas técnicas de
ginástica [1]. reabilitação foram muito estudadas e utilizadas, sendo de
Na Ásia e em povos de cultura Oriental, os alongamentos grande valia no tratamento de feridos em campos de batalha
vêm sendo utilizados como uma forma de alterar o estado após as grandes guerras mundiais [2].

Artigo recebido 9 de agosto de 2004; corrigido 10 de julho de 2005; aceito 15 de setembro de 2005.
Endereço para correspondência: Paulo Henrique Cinelli Moreira, Rua Leite Ferraz, 75/113-C Vila Mariana 04117-120 São Paulo SP, Tel: (11) 5579-
1298/ 9756-9794, E-mail: phcmoreira@ig.com.br
350 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Com relação a esta prática no ambiente de trabalho, os Nas três empresas, o programa proposto era composto
primeiros registros datam de 1925 na Polônia, Bulgária, de palestras, melhorias ergonômicas, orientações posturais,
Alemanha Oriental, Holanda e Rússia, denominada Ginástica ginástica laboral e atendimento fisioterapêutico, de forma
da Pausa. No Japão, nesta mesma época, esta prática foi flexível, moldado à realidade de cada empresa, possuindo
impulsionada pela cultura e tradição oriental, o Taissô [3]. como ênfase a prevenção de lesões ocupacionais com a
No Brasil, esta se iniciou no início da década de 70, com ginástica laboral, que era realizada cinco vezes por semana
a chegada de executivos japoneses, mas após algumas com acompanhamento de um fisioterapeuta. As melhorias
experiências isoladas, houve um período de esquecimento, ergonômicas visavam à otimização do posto de trabalho,
ressurgindo apenas na segunda metade da década de 80, realizando ajustes e não troca de materiais. Os atendimentos
como medida de promoção da saúde do trabalhador [4]. fisioterapêuticos eram apenas realizados em funcionários
Como promoção de saúde, empresas empregaram não afastados ou aqueles em atividade, com lesões ocupacionais
só a ginástica laboral, mas também os conceitos de ergonomia diagnosticadas através de avaliação médica.
e antropometria, estudando e correlacionando os aspectos A empresa a foi estudada entre o período de maio de
do trabalho com o bem estar do trabalhador, avaliando fatores 1997 a maio de 2000, sendo realizadas, desta forma, quatro
como altura de bancadas, temperatura, unidade, ruídos etc levantamentos de queixas álgicas. No primeiro ano deste
[5,6]. estudo, esta empresa possuía 80 funcionários neste setor,
Esta somatória de ações ocorreu devido ao crescimento diminuindo este número a cada ano avaliado, sendo 72, 68 e
de doenças ocupacionais, as chamadas DORT, que foram 60 funcionários, nos anos de 1998, 1999 e 2000, respec-
reconhecidas no Brasil, no final da década de 80, gerando tivamente, média e mediana de 70 funcionários, com desvio
um grande aumento sazonal destas patologias [7]. São padrão de 8,3. O horário de trabalho no setor da embalagem
caracterizadas pelos sinais e sintomas de perda de força, era das 7:00 às 16:00 e a ginástica laboral era empregada em
diminuição do trofismo (hipotrofia), alterações sensitivas dois períodos de 10 minutos cada, às 9:00 hs e às 15:00 hs,
(parestesias e adormecimentos), dor, diminuição de ou seja, de forma compensatória.
mobilidade, perda da função, entre outros [8]. A empresa b foi estudada entre o período de maio de
Desta forma, os alongamentos possuem grande impor- 2001 a maio de 2004, ou seja, quatro levantamentos. No
tância na prevenção destas patologias, pois auxiliam no primeiro ano deste estudo, esta empresa possuía 23
aumento do comprimento das estruturas elásticas dos tecidos funcionários neste setor, número este que foi se alternando
moles encurtados, aumentando assim a performance durante nos anos subseqüentes, com 27, 25 e 29 funcionários, nos
a atividade, além de melhorar a postura e promover analgesia anos de 2002, 2003 e 2004, respectivamente, com média e
e relaxamento da mente [1,9,10]. mediana de 26 funcionários e desvio padrão de 2,6. O
Este estudo possui por objetivo demonstrar os resultados horário de trabalho no setor da embalagem era das 7:15 às
provenientes de um programa de prevenção composto por 16:15 e a ginástica laboral era empregada em dois períodos
ginástica laboral, orientações posturais e atendimento de 10 minutos cada, às 7:15 hs e às 12:30 hs, ou seja, a
fisioterapêutico, no setor de embalagem de três indústrias primeira na forma preparatória e a segunda de forma
farmacêuticas. compensatória.
A empresa c foi estudada entre o período de maio de
Materiais e métodos 2003 a maio de 2004, ou seja, dois levantamentos. No
primeiro ano deste estudo, esta empresa possuía 50
Este estudo foi realizado no período de maio de 1997 a funcionários, número este que aumentou no ano seguinte
maio de 2004, em três diferentes indústrias farmacêuticas, para 57 funcionários, com média e mediana de 53,5
identificadas no estudo em questão por empresas a, b, c. funcionários e desvio padrão de 5 funcionários. O horário
Este estudo apresenta dados apenas do setor de embalagem de trabalho no setor da embalagem era das 6:00 às 14:15 e a
destas empresas, sendo realizado na forma de entrevista com ginástica laboral era empregada em apenas um período de
os funcionários, os quais responderam perguntas referentes 10 minutos, às 9:00 hs, ou seja, de forma compensatória.
à presença de dor durante o período de trabalho e a Todos os indivíduos foram informados sobre o estudo e
localização destas algias. Adotou-se esta forma de coleta de a divulgação dos dados, mediante preenchimento voluntário
dados, pois segundo Vicent et al., um dos indicadores para de um termo de consentimento.
se detectar os problemas ou algias nos postos de trabalho são Utilizou-se como critério de inclusão funcionários que
as queixas relatadas pelos próprios trabalhadores [11]. trabalhavam no setor de embalagem de empresas farma-
Lesões as quais não possuíam relação com a atividade cêuticas, devido à proximidade e a repetitividade apresen-
ocupacional foram excluídas deste estudo, sendo identi- tada na realização das tarefas ocupacionais.
ficadas através de avaliações clínicas. Estes levantamentos Os dados coletados foram tabulados no programa
mantiveram a periodicidade anual, sendo realizados sempre Microsoft Excel, ao qual realizou a análise estatística através
no mesmo período (mês). do teste de distribuição qui-quadrado (p < 0,05) e os fatores
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 351

média, mediana e desvio padrão, apresentando após estes Gráfico III – Comparativo levantamento queixas de dor empresa c.
dados dispostos em gráficos para melhor visualização.

Resultados

Na tabela a seguir estão expostos os dados referentes ao


número de funcionários em cada ano do estudo realizado
nas empresas a, b, c (Tabela I).

Tabela I - Número de funcionários em cada ano do levantamento


nas empresas a, b, c.

1º ano 2º ano 3º ano 4º ano

Empresa a 80 72 68 60 * p < 0,05


Empresa b 23 27 25 29
Empresa c 50 57 - -
Discussão
Obs: A empresa c foi estudada durante dois anos, sendo
realizados apenas dois levantamentos. Más condições de trabalho relacionadas com o meio
Os gráficos dispostos a seguir apresentam os dados físico e material geram um desgaste maior do funcionário e
referentes às três empresas estudadas. Estes exibem os perda de motivação, desta forma, diversas companhias estão
números relacionados aos levantamentos de queixas de dor buscando filosofias administrativas que visam às neces-
realizados anualmente, sendo compostos apenas pelo sidades dos trabalhadores, já que a capacidade do trabalhador
percentual de dor divulgado pelos funcionários envolvidos. é o mais importante fator de se obter produtividade [12]. Os
programas de qualidade de vida no trabalho visam fazer
Gráfico I – Comparativo levantamento de queixas de dor na com que a satisfação das necessidades individuais passe a
empresa a. ser alcançadas dentro do próprio ambiente de trabalho, pois
com os funcionários satisfeitos melhor é a qualidade do
serviço prestado [13].
Além do aspecto qualidade de vida, é importante ressaltar
que prevenir é muito mais barato para a empresa do que
remediar. Segundo o Prof. José Pastore, empresas estão
gastando R$ 12 bilhões anuais apenas com os acidentes de
trabalho e doenças profissionais [14].
Com este pensamento, a implantação do programa de
ginástica laboral objetiva prevenir os acidentes de trabalho
e as lesões ocupacionais, incrementando o rendimento, a
disposição profissional e a motivação no trabalho, além de
* p < 0,05 conscientizar os funcionários sobre práticas saudáveis,
fazendo assim cumprir as leis regulamentadoras da NR-17
Gráfico II – Comparativo levantamento queixas de dor empresa b. [13].
Com relação aos dados expostos anteriormente, observa-
se uma redução das queixas álgicas ao longo dos anos, quando
comparados o primeiro e o último levantamento nas três
empresas que adotaram o programa de prevenção abordado.
Esta redução das queixas na empresa a, significou o montante
de 48%; na empresa b, representou 63% e na empresa c,
66%.
Na empresa a, houve uma diminuição gradual das queixas
de dor, mesmo com a diminuição do número de funcionários
com a mesma carga na produção, ou seja, aumentando os
esforços relativos durante a atividade ocupacional. Estas
queixas apresentaram-se na ordem de 46%, 39%, 34% e
* p < 0,05 24%, respectivamente, com uma média de 35,7%, mediana
352 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

de 36,5% e desvio padrão de 9%, assim sendo, do primeiro implantação da ginástica laboral diária em dois períodos
para o segundo levantamento, houve uma redução de 15% de 10 minutos de forma compensatória, encontrou após
das queixas, deste para o terceiro 13% e do terceiro para o um ano, 10,40% de queixas (aumento de quatro funcionários
último levantamento uma redução de 30% das queixas de no setor, ou seja, 134), e 12,67% após dois anos de
dor. implantação com 142 funcionários no setor neste período,
Na empresa b encontrou-se um aumento do número de assim, concluiu que provavelmente a ginástica laboral
funcionários do primeiro para o segundo levantamento, no auxiliou a redução de queixas álgicas quando comparadas
terceiro houve uma redução, mas ainda assim mantendo mais com o levantamento inicial, mesmo com a empresa
funcionários do que no primeiro e no último levantamento incentivando aumento de produção e horas extras; o
aumentou novamente o número de funcionários, sendo o segundo analisou os efeitos fisiológicos e mecânicos da
ano com maior quantidade de funcionários neste setor. Com ginástica laboral compensatória, realizada diariamente
relação à produção, esta aumentou ano a ano, possuindo um durante 11 meses, entre 8 a 10 minutos, em funcionárias
pico no quarto ano de análise. Sobre as queixas observou-se de uma indústria de tabaco de Havana, Cuba, encontrando
no primeiro levantamento 57% de queixas álgicas passando ao final uma melhoria subjetiva das algias relacionadas ao
para 30%, 32% e 21% nos anos seguintes com uma média de trabalho, dispnéia e dor precordial, mas com relação ao
35%, media 31% e desvio padrão de 15%. Analisando estes exame fisiológico de capacidade física, capacidade vital,
dados, no segundo levantamento observou-se uma volume expiratório (VEF 1) e eletrocardiograma, este não
diminuição de 47% das algias, no terceiro levantamento um encontrou alterações significativas 19,20].
leve aumento de 7% nas queixas e no último, encontrou-se Resultados semelhantes foram encontrados pelas
uma redução em 34%. Este aumento nas queixas de dor no empresas Dana-Albarus que implantou a ginástica laboral
terceiro levantamento pode estar ligado à redução de de forma preparatória no setor de forjaria, associando a forma
funcionários em relação ao ano anterior com aumento de compensatória em funcionários com problemas mais
carga de trabalho para satisfazer a demanda, fato corrigido avançados de lombalgia e tendinites, além da fisioterapia
pela empresa no ano seguinte. quando necessário, e após três meses de programa, houve
Na empresa c, encontrou-se uma redução em 66% das uma diminuição de 46% dos acidentes ocorridos no primeiro
queixas de dor do primeiro para o segundo levantamento, turno do setor forjaria, e uma diminuição de 54% da procura
sendo que, devido à alta demanda de trabalho, esta empresa ambulatorial; e na empresa eletrônica Selenium, com o
aumentou o número de funcionários em 14% para manter a programa de ginástica laboral, avaliação ergonômica e
produtividade. sistema de rodízio na produção, após seis meses de
Quando um funcionário trabalha com um grupo implantação do programa de ginástica laboral, o índice de
muscular em posição de encurtamento ou quando realiza absenteísmo diminuiu 38%, os acidentes de trabalho
uma atividade repetitiva com movimento reduzido ao longo decresceram 86,67% e as queixas álgicas reduziram em 64%
do tempo, gera uma resposta de perda de sarcômeros em dos trabalhadores [21].
série e aumento de colágeno, induzindo à rigidez. Esta
perda faz com que o músculo gere mais tensão em uma Conclusão
fibra de menor comprimento quando comparada com uma
fibra padrão, indicando uma resposta de adaptação tecidual Nas três empresas estudadas, encontrou-se redução
[15,16]. significativa (p < 0,05) nas queixas álgicas ao longo dos anos,
As adaptações agudas dos exercícios de flexibilidade principalmente quando comparados os levantamentos inicial
utilizados durante a prática da ginástica laboral, são e final.
explicadas através da resposta viscoelástica do músculo à O programa de prevenção de lesões ocupacionais
tensão, que gera relaxamento, diminuição da dor e da rigidez abordado no presente estudo, o qual enfatiza a implantação
muscular, além de proporcionar bem estar e diminuição de da ginástica laboral, apresentou-se eficaz na redução de
ansiedade, devido a liberação de opióides endógenos no queixas álgicas em funcionários do setor de embalagem em
plasma, â-endorfina e â-lipotrofina [9,15,17,18]. indústrias farmacêuticas.
A redução nas queixas álgicas após implantação do Estudos abordados, assim como o nosso, associam a
programa de prevenção no presente estudo vem de encontro ginástica laboral a outros métodos de prevenção e
com os dados apresentados nos estudos de Longen e tratamento, como a orientação postural, análise de
Pommerenck et al., sendo que o primeiro estudou a atividades, melhorias ergonômicas e fisioterapia, não sendo
influência da ginástica laboral e melhorias ergonômicas uma prática isolada.
(análise de atividades) no setor de empacotamento em uma Mesmo com os dados apresentados, há a necessidade de
empresa de salgadinhos, o qual relatou que no início do realizarem-se mais estudos sobre o tema em questão, pois
estudo 20,76% dos 130 funcionários do setor se queixavam existe uma carência em pesquisas sobre a implantação da
de algias durante o período de trabalho, e após a ginástica laboral na saúde ocupacional.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 353

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354 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Artigo original

Análise da relação entre mudanças posturais na coluna


e alterações visuais
Analysis of relation between spine postural changes and eye troubles
Giselle Notini Arcanjo*, Raquel Fiterman Lima**, Raimunda Hermelinda Maia Macena, M.Sc.***,
Laís Cristina de Almeida****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente da Faculdade Integrada do Ceará, especialista em RPG/REPOSTURARSE, **Fisioterapeuta da clínica


MEDFISIO, especialista em RPG/REPOSTURARSE, ***Enfermeira, Docente da Faculdade Integrada do Ceará, ****Fisioterapeuta,
Docente da FCMMG, D. O. em Osteopatia

Resumo Abstract
Durante muito tempo o olho foi visto apenas como um For a long time the eye was seen only as a recipient organ of
órgão receptor de estímulos visuais. Atualmente, numerosos visual stimulus. Nowadays many studies have demonstrated
estudos têm demonstrado o papel do olho como participante the eye function as a participant in the control of the posture
do controle do sistema postural e, portanto, a influência da system and therefore the influence of vision in the body posture.
visão no posicionamento corporal. Este trabalho tem como Therefore, the main purpose of this study was to analyze if a
objetivo analisar se uma população com desvantagens visuais population with visual disadvantage can suffer alterations in
pode sofrer alterações no ajuste postural, o que poderia ocasionar the posture adjustment that may cause changes in the body
mudanças no alinhamento corporal e deformidades na coluna. alignment and deformity in the spinal cord. The study group
A amostra estudada foi composta por 29 pacientes, de ambos was composed by 29 patients, from both sex, 10 to 38 years old.
os sexos, na faixa etária de 10 a 38 anos. Os integrantes foram These patients were directed for a complete ophthalmologic
encaminhados para consulta oftalmológica completa e sub- consultation, radiographic exam of spinal cord, photographic
metidos a exames radiográficos da coluna, avaliação fotográfica and postural evaluation. The results were analyzed and related
e postural. Os dados obtidos foram analisados e relacionados through descriptive statistic analyses. The final result suggests
através de recursos da estatística descritiva. Os achados sugerem that exists a relation between postural changes and eye troubles,
existir efetivamente uma relação entre mudanças posturais e but we cannot confirm the direct influence of the vision in the
distúrbios visuais, no entanto não podemos confirmar a influên- postural alterations. In this case, we suggest the development
cia direta da visão nas alterações posturais. Desta forma, pro- of a new study and a better integration between ophthalmologist
pomos a realização de novos estudos e uma maior integração and physical therapist.
entre oftalmologistas e fisioterapeutas. Key-words: evaluation, posture, vision.
Palavras-chave: avaliação, postura, visão.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Fiergang et al. [8] observaram a compensação da postura


da cabeça presente em um grande número de pacientes com
Estudos têm mostrado que existe um papel essencial da ambliopia, ptose congênita assimétrica ou unilateral e baixa
visão no controle postural [1-5] e que a informação visual acuidade visual. Kushner [3] relata que uma postura anormal
sozinha é um estímulo suficiente para o ajustamento postural. da cabeça pode acompanhar o estrabismo e Bricot [9]
Assim, uma população com uma desvantagem visual pode relaciona, além destas patologias visuais, os distúrbios de
sofrer influência no ajuste postural, o que poderá ocasionar convergência e heteroforias intervindo no desequilíbrio
mudanças do alinhamento corporal e deformidades da coluna. tônico postural. Desta mesma forma, Havertape e Cruz [10]
Além disso, evidências têm sido acumuladas em relação à observaram em estudo com cinco pacientes com alta
escoliose idiopática e controle postural envolvendo visão [7]. hiperopia, a influência na postura anormal da cabeça, que

Artigo recebido 17 de setembro de 2004; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Giselle Notini Arcanjo, Rua Dr. José Lourenço, 2510/1002 Joaquim Távora 60115-282 Fortaleza CE, Tel: 2464272/
99983301, E-mail: gnotini@fic.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 355

era eliminada pela oclusão de ambos os olhos e também A integração dos músculos oculares, músculos cervicais
pelo uso de correção refrativa. e os órgãos de equilíbrio é descrita por Mitchell Jr. e Mitchell
A explicação dos distúrbios visuais influenciarem na [15] quando afirmam que os músculos oculares proprio-
postura pode ser vista em Bienfait [11], o qual refere que a ceptores enviam impulsos pela divisão oftálmica do nervo
pessoa que apresenta uma dominância de visão de um olho trigêmio. As ramificações do 2º neurônio vão do núcleo
leva esse órgão para frente, para recentrá-lo, isso com uma trigeminal para o núcleo vestibular, onde neurônios de 3ª
rotação da cabeça para o lado oposto e essa má posição da ordem ramificam-se no trato vestibuloespinhal para fazer
cabeça no Atlas tende a causar escoliose. Uma análise sinapse com neurônios motores alfa e gama dos músculos
recíproca destes estudos foi relatada por Wingfield e Gorman cervicais (Figura 1).
[12], quando afirmam que desordens músculo-esqueléticas
da coluna cervical talvez causem distúrbios visuais. Figura 1 - Conexões centrais dos reflexos óculo-cervicais [15].

Fatores que alteram a postura

Para manutenção do ajuste postural estático e dinâmico,


há uma intervenção prioritariamente, do pé e do olho. Estes
são considerados os captores principais do sistema postural
e associam exterocepção e propriocepção, sendo receptores
sensitivos internos e externos. Intervirão também a pele, os
músculos e as articulações, o sistema estomatognático e os
centros superiores [9].
Quando algum destes captores estiver desregulado,
surgirá um desequilíbrio tônico postural e o conjunto se
adapta, se desequilibra e as dores aparecerão [9]. Todo
problema álgico vai promover uma modificação na estática,
através do recrutamento de músculos para criar uma
compensação confortável [13].
As mensagens provenientes da maior parte dos domínios
sensoriais, as informações proprioceptivas, vestibulares e Um movimento visual do ambiente, produzido por um
visuais são integradas no sistema motor extrapiramidal desequilíbrio postural induz um ajuste na direção do
constituindo o que chamamos de esquema corporal [14]. movimento [2]. A visão, juntamente com outros meca-
A fonação e a adequada abertura das vias respiratórias nismos de equilíbrio, é uma importante fonte de informação
superiores, a flutuação do líquido cefalorraquidiano, a para o controle da postura, influenciando diretamente o
circulação craniana, o equilíbrio ocular, o bom equilíbrio posicionamento da cabeça, a musculatura cervical e o
das sístoles e diástoles dos hemisférios cerebrais, a percepção equilíbrio do corpo, devendo, portanto, ser levada em
auditiva, os movimentos mandibulares, são funções que consideração na reabilitação, já que um deslocamento da
exigem o equilíbrio do corpo [11]. visão gera uma resposta postural, o que nos leva a analisar
Portanto, quando se faz um diagnóstico postural, é a visão como responsável por alterações no sistema
importante não esquecer de observar problemas visuais que postural. Oliver e Middleditch [16] afirmam que a posição
podem estar influenciando na posição da cabeça, a posição da cabeça, ombro e tronco é determinada pela tarefa a ser
da cabeça em relação ao pescoço e ao corpo, a relação da desempenhada especialmente com relação aos reque-
coluna cervical com a articulação atlanto-occipital, avaliar rimentos visuais.
a articulação temporomanbibular, a posição do pé, pelve e O sistema tônico postural é um todo estruturado
sacro, pois todos estes fatores isoladamente ou em associação indissociável. Assim, uma alteração causativa ou adaptativa
podem ser os responsáveis direta ou indiretamente pelas em um de seus captores (pé, olho ou aparelho mastigador),
alterações álgicas e/ou posturais referidas pelos pacientes poderá perturbar um ou os outros captores. Desse modo,
nos consultórios fisioterapêuticos. um desequilíbrio dos músculos oculomotores, por exemplo,
resulta em um desequilíbrio dos músculos do corpo
O sistema oculomotor apresentando inclinações e rotações [9].
Herman et al. [17] sugerem uma correlação das variáveis
A visão tem um importante papel na estabilização da da visão, sistema vestibular e a magnitude da curva
postura, dispondo ao sistema nervoso contínuas informações escoliótica. Bricot [9] também relata achados de uma
aperfeiçoadas a respeito da posição e movimentos de segmentos participação ocular nas crianças escolióticas com assimetria
do corpo em relação com o outro e com o meio ambiente [4]. de convergência e/ou heteroforias. Assim, além da adap-
356 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

tação postural estar associada com o controle visual durante estudo. Entretanto, considerou-se que mesmo estes fizessem
perturbações impostas no corpo, uma instabilidade ocular uso de correção visual (óculos), deveriam estar sem esta
pode resultar em uma escoliose estrutural. durante a realização da avaliação.
Os distúrbios de refração como miopia, astigmatismo e Após a identificação dos potenciais sujeitos, estes eram
hipermetropia dizem respeito à exterocepção sensorial do convidados a participar do estudo sendo orientados a cerca
olho, e os distúrbios de convergência e heteroforias, do estudo, metodologia e preceitos éticos a serem
relacionados à propriocepção muscular extra-ocular considerados [18]. Ao aceitarem, solicitou-se a assinatura
correspondem a patologias que irão intervir no desequilíbrio do termo de consentimento e procedeu-se a coleta de dados.
tônico postural à partir da entrada ocular. Os distúrbios de O processo de aquisição dos dados ocorreu em quatro
refração são na maioria das vezes conhecidos e corrigidos, momentos: 1 - Avaliação clínica fisioterapêutica visando
porém quando mínimos, assimétricos ou de aparição recente identificar relações entre alterações posturais realizada pelos
e sem hereditariedade devem ser considerados de caráter pesquisadores; 2 - Avaliação fotográfica que tinha por
adaptativo sobre o sistema postural, não necessitando objetivo confirmar as assimetrias e o posicionamento da
correção. Já os defeitos de convergência nunca se corrigem cabeça; 3 - Avaliação radiográfica através de exame
sozinhos e, se não forem tratados, provocaram uma nova radiológico da coluna dorsal e lombar em AP e PERFIL
integração do esquema corporal que passará a funcionar com para análise de existência de escoliose; 4 - Avaliação
o desequilíbrio postural que acompanhará este defeito [9]. oftalmológica realizada por médicos especialistas que
Além disso, algumas pessoas usam óculos comple- tinham como objetivo detectar alterações visuais.
tamente desequilibrados e esta má simetria da armação A avaliação fisioterapêutica constitui na realização de
quando não é justificado por uma assimetria notável do rosto, testes de cadeia muscular anterior, no qual pede-se ao
pode provocar um desequilíbrio postural. Outro problema, paciente um alinhamento do tronco na posição de pé tanto
mais grave ainda, porém menos freqüente, é a má centra- com os braços abertos quanto fechados e testes de cadeia
lização das lentes dos óculos. Isto ocorre quando o centro de muscular posterior no qual o paciente deve realizar uma
grau para adequação da visão, que deverá manter-se em frente flexão anterior do tronco, um alinhamento do tronco
da pupila em posição primária, encontra-se alterado [9]. associado a uma flexão de quadril e na posição sentada com
Uma limitação ou uma insuficiência de convergência de alinhamento do tronco e as pernas estendidas associado
um olho provoca sempre desequilíbrios cefalocervicoesca- também tanto com os braços abertos quanto fechados. Nesses
pulares. Por exemplo, um olho hipoconvergente irá provocar testes classifica-se se o paciente tem mais retrações de uma
uma rotação da cabeça para o mesmo lado e a partir daí irá cadeia muscular ou de outra podendo mostrar desequilíbrios
provocar compensações em todo o corpo (tronco, pelve, etc) posturais. A partir de relatos do próprio paciente em questões
gerando rotações adaptativas para manter o equilíbrio [9]. de dor, dificuldade em realizar os testes e compensações
Portanto, as assimetrias corporais parecem provocar mais associadas foi observado um maior ou menor encurtamento
compensação que os distúrbios posturais simétricos e assim da cadeia testada. Eram anotados os achados e somados onde
também acontece com o olho. Um grande defeito nos dois as maiores características de uma cadeia era classificada como
olhos causará menos compensações que um pequeno defeito a predominante. As características de retrações de cadeia
sobre apenas um olho. posterior aparecem quando o paciente apresenta pé cavo,
joelho varo, retroversão pélvica, retificação lombar e
Material e métodos torácica, aumento da lordose cervical e ombros elevados.
Nas retrações de cadeia anterior caracterizam-se por pé
Foi realizado um estudo exploratório, descritivo e plano, joelho valgo, anteversão pélvica, hiperlordose lombar,
transversal no período de outubro de 2002 a fevereiro de hipercifose cervical, retificação cervical e ombros enrolados.
2003. Sendo a amostra composta por vinte e nove (29) Também foram avaliadas as assimetrias corporais. Neste
pacientes de ambos os sexos, na faixa etária entre 10 e 38 mesmo momento procedia também a avaliação fotográfica
anos. Ressalta-se que a opção por esta faixa se fez pelo fato utilizando uma câmera digital da marca Canon Power Shot
de serem pacientes jovens sem presbiopia e os que mais A200 a uma distância de dois metros e meio para poses de
procuram consultórios fisioterápicos com problemas de frente, perfil e costas e numa distância de 40 cm para close
coluna, sejam por algias ou desequilíbrios posturais. O do rosto com ênfase nos olhos e assimetrias faciais.
critério de inclusão foi ser portador de desequilíbrios estáticos A partir disto, os indivíduos eram encaminhados para
da coluna cervical e cabeça, sendo os sujeitos selecionados exames de radiográficos da coluna em AP e PERFIL e
pelos pesquisadores a partir dos clientes atendidos em duas posterior análise do laudo e das películas por um dos autores.
clínicas privadas de assistência em fisioterapia através de Finalmente, os sujeitos eram submetidos a uma consulta
observação qualitativa da posição da cabeça e cervical, ou oftalmológica onde foram submetidos aos seguintes exames:
seja, os que apresentaram desvios, lateralização, rotação, acuidade visual; cover test (para diagnosticar estrabismo);
projeção anterior e retificação pertenceriam à amostra do biomicroscopia (para análise microscópica do olho e análise
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 357

da córnea, diagnóstico de catarata e uveíte); fundoscopia relataram sintomatologia ou impossibilidade de realizar o


(para exame do nervo óptico e retina) e exame da pressão teste, sendo que, neste teste, todos tiveram lateralização
intra-ocular (para diagnóstico do glaucoma), além de acompanhada de rotação da cabeça (41,4% com lateralização
determinação do olho dominante. à esquerda e 58,6% com lateralização à direita e 65,5% com
Os procedimentos realizados pelos autores do projeto rotação para à esquerda e 34,5% para o lado D).
em associação com médicos oftalmologistas ocorreram em Do total da amostra, 93,1% rodavam a cabeça para o lado
três clínicas oftalmológicas e em dois consultórios de oposto da lateralização, e o restante rodava a cabeça para o
fisioterapia. As avaliações foram registradas em um mesmo lado da lateralização o que pode traduzir que a maioria
formulário específico composto pela descrição detalhada do pacientes tinha problemas occipto-atlanto-axiais que levam
das avaliações previamente determinadas, constando: a uma lateralização com rotação para o lado oposto, sendo
avaliação oftalmológica, avaliação fisioterapêutica, avaliação que a lateralização com rotação para o mesmo lado pode
radiográfica e fotográfica. caracterizar uma lesão de cervical baixa (C3-C7) [19].
A análise dos dados foi através de recursos da estatística No teste de cadeia posterior apenas 3,4% apresentaram
descritiva, onde foi realizada a interpretação dos dados com compensação mínima; 51,7% apresentaram compensação
cálculos estatísticos e elaboração de gráficos e tabelas. Já as máxima e 44,8% relataram alguma sintomatologia ou
fotografias foram analisadas a partir da sobreposição de um impossibilidade de realizar o teste, confirmando assim que
eixo de ordenadas e abscissas para avaliação de assimetria a maioria dos pacientes tinha mais retrações de cadeia
facial e corporal. posterior, pois estes testes são de provocação, ou seja,
exacerbam ou induzem as retrações.
Resultados Em relação ao posicionamento de cabeça, os testes de
cadeia posterior confirmaram o mesmo posicionamento em
A amostra foi composta de 79,3% pessoas do sexo relação aos de cadeia anterior. Apenas 27,6% apresentaram
feminino e 20,7% do sexo masculino. gibosidade no teste de flexão anterior de tronco o que sugere
que a maioria das escolioses não era estruturada.
Avaliação fisioterapêutica
Avaliação fotográfica e radiográfica
Entre os pacientes analisados, 51,7% apresentavam pé
plano; 34,5% joelho valgo; 20,7% anteversão pélvica; 6,9% Os resultados obtidos através de fotografias retiradas nas três
hiperlordose; 3,4% hipercifose; 48,3% tinham retificação posições (frente, costas e perfil) mostraram a ocorrência de algumas
cervical; 86,2% tinham ombros enrolados, 37,9% tinham pé alterações. Nas fotos tiradas de frente podemos observar que em
cavo, 65,5% tinham joelhos varos; 75,9% tinha retroversão 65,5% da amostra uma lateralização com rotação de cabeça
pélvica; 79,3% tinham retificação lombar; 89,7% tinham (Figura 2) e um desnivelamento de crista ilíaca.
retificação torácica e 96,6% tinham ombros elevados. Na avaliação fotográfica do dorso dos pacientes podemos
A amostra apresentou ainda uma distribuição de 48,3% observar que 20,6% da amostra tinham o ombro direito
com horizontalização do sacro; 58,6% com lordose elevado e a crista ilíaca esquerda (CIE) elevada; mais de um
diafragmática. Estes dados sugerem que as lordoses quarto da amostra (34,5%) tinham o ombro esquerdo elevado
fisiológicas da lombar estão diminuídas na maioria dos e a crista ilíaca direita também elevada e 6,9% tinham o ombro
pacientes, sendo compensadas por outras formas de lordoses. esquerdo elevado e a CIE elevada. Portanto, 41,4% tinham o
Observou-se que 96,6% tinham posicionamento incorreto ombro oposto mais elevado em relação à crista ilíaca elevada,
de cabeça em posição ereta, relaxado com lateralizações confirmando a hipótese do mecanismo de compensação da
acompanhadas de rotações. Na avaliação de cabeça, 86,2% escoliose proposto por Souchard e Ollier [20].
tinham projeção anteriorizada, o que pode sugerir que míopes
apresentam maior probabilidade de projeção da cabeça do que Figura 2 - Paciente apresentando assimetria facial com de incli-
nação da cabeça para à direita.
pessoas com visão normal, já que na amostra 80,1% e 76,6%
eram míopes do olho direito e esquerdo, respectivamente.
Em relação às assimetrias corporais, 96,6% tinham
desequilíbrios nos ombros e pelve, o que também pode
sugerir que o posicionamento anormal de cabeça cause
mudanças corporais ou vice-versa, já que todas as pessoas
da amostra que apresentaram essas assimetrias, tinham
posicionamento incorreto da cabeça e 76% tinham escolioses
comprovadas radiograficamente.
Nos testes de cadeia anterior 44,8% obtiveram compen-
sação mínima; 34,5% compensação máxima e 20,7%
358 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Já nas fotografias em perfil, mais de dois terços da objetivos analisar o fundo de olho, confirmar suspeita de
amostra (75,9%) apresentavam cabeça anteriorizada glaucoma e realizar microscopia do olho, respectivamente.
sugerindo que pacientes míopes podem apresentar maior Neste estudo, 13,8% dos pacientes obtiveram como resultado
probabilidade de projeção anterior da cabeça do que pessoas do cover test uma deficiência da motilidade ocular. Na amostra,
com visão normal. 18,2% tinham assimetria facial.
Nos exames radiográficos observamos que em 76% da
amostra foi diagnosticado algum tipo de escoliose (dorsal Discussão
ou lombar) e que em 24% havia um alinhamento axial de
coluna. Ressaltamos que em alguns laudos não foi encontrada Os pacientes foram avaliados pelos fisioterapeutas sem o
a especificação do tipo da escoliose, tendo sido descrito uso dos óculos, o que poderia sugerir que o provável
apenas a convexidade (12%). posicionamento incorreto de cabeça, observado em 96,6%
da amostra pesquisada, poderia ser de uma influencia da
A avaliação oftalmológica não correção visual, o que também foi visto em Havertape e
Cruz [10] que observaram uma postura anormal da cabeça
Dentre a amostra estudada 86,2% possuíam acuidade apresentada em pacientes com acuidade visual não corrigida.
visual adequada (20/20)1 do olho direito e 93,1% do olho Krefman e Goldberg in Havertape e Cruz [10] citam
esquerdo, sendo que 72,8% referiam uso de correção. um paciente que tinha alta miopia e anisometropia que
Entre os sujeitos estudados, 51,7% tinham problemas de apresentava cabeça inclinada para o lado do olho que tinha
refração do olho direito, sendo que 80,1% eram míopes e melhor acuidade visual indicando que, uma correção
19,9% tinham astigmatismo. Em relação ao olho esquerdo, refrativa apropriada diminui ou resolve a posição alterada
58,6% apresentaram problemas de refração deste olho, sendo da cabeça. Em nossa pesquisa, 58,62% dos pacientes tinham
que 76,6% miopia e 23,4% astigmatismo. diferenças de refração de um olho para outro. Destes,
Observou-se também que 24,1% da amostra tinha miopia 31,03% apresentavam a cabeça inclinada para o lado de
diagnosticada desde a infância. melhor acuidade visual. Nestes pacientes, o fator visual
parece ter maior relevância no mau posicionamento da
Quadro I – Distribuição dos dados em relação aos resultados do cabeça. Bienfait [11] refere que a pessoa apresentando uma
exame oftalmológico dos sujeitos da pesquisa. Fortaleza-CE 2003. dominância de visão de um olho leva esse órgão para frente,
para reecentrá-lo, com uma rotação da cabeça para o lado
Item avaliado oposto. Entre a amostra observou-se que 44,82% apresen-
Fa fr taram a cabeça rodada para o lado oposto ao do olho
Acuidade visual OD 20/20 25 86,20 dominante, sendo este resultado pouco significativo para
Acuidade visual OD 20/30 01 3,4 nos permitir supor que a rotação da cabeça foi influenciada
Acuidade visual OD20/40 01 3,4 pela dominância do olho.
Acuidade visual OD 20/100 02 6,9 Nos resultados do exame de cover test, parece não ser
Acuidade visual OE 20/20 27 93,1
significativo para estar relacionada com alterações posturais.
Acuidade visual OE 20/25 01 3,4
Acuidade visual OE 20/40 01 3,4 No entanto, Havertape e Cruz [10] relataram a observação
Refração OD 15 51,7 de uma série de pacientes com estrabismo, nistagmo,
Refração OE 17 58,6 problemas refrativos, diminuição do campo visual e
Exame de fundoscopia negativo 29 100,0 esotropia, que mantinham uma postura anormal da cabeça
Exame da pressão intraocular negativo 29 100,0 para ter uma melhor acuidade visual. Shapiro [22]
Exame de biomicroscopia negativo 29 100,0 complementa citando que defeitos na musculatura ocular
Olho dominante E 14 48,3
como, por exemplo, do olho direito pode causar inclinação
Olho dominante D 15 51,7
Exame de cover test positivo 04 13,8 da cabeça para o ombro direito. Mitchell [23] descreve a
Presença de assimetria facial 02 18,2 escoliose como um processo secundário a uma paralisia de
Miopia diagnosticada desde infância 07 24,1 um ou mais músculos do olho.
Neste estudo observamos que algumas pessoas apresen-
A dominância do olho à direta esteve presente em 51,7% tavam assimetria facial associada à inclinação da cabeça.
da amostra e 48,3% apresentaram dominância à esquerda. Os Em Shapiro [22] há explicação sobre a cabeça inclinar-se
resultados de fundoscopia, pressão intra-ocular, biomicrocopia para equalizar a altura dos olhos, nos casos onde um olho
tanto do OD, quando do OE não apresentaram alterações. A está mais alto que o outro, para manter o nível de
realização destes exames justificou-se, pois estes possuem por binocularidade numa visão precisa.

1
Visão 20/20: A acuidade é marcada com dois números (por exemplo, 20/40). O primeiro número representa a distância de teste entre o quadro
e o paciente, e o segundo representa a fileira menor das letras que o olho do paciente pode ler. 20/20 é uma visão normal [21].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 359

O posicionamento incorreto da cabeça na posição de isto é, que os pacientes incluídos na amostra sejam oriundos
pé na maioria dos pacientes é um dado semelhante ao que dos consultórios oftalmológicos devendo ser realizado,
foi encontrado por Mitchell [23] que observou nos inicialmente, o diagnóstico prévio e positivo de uma visão
pacientes o mau posicionamento da cabeça nesta alterada e somente a partir desta análise seguir para avaliação
combinação de posições. Havertape e Cruz [10] infor- fisioterapêutica para que possa ser diagnosticado um possível
maram que em 30 pacientes com inclinação e rotação da desvio da cabeça e/ou um problema de coluna e após fazer
cabeça a combinação deste tipo de posição era encontrada a correção visual, refazer os exames posturais com a
em 73% dos pacientes, na tentativa de melhorar a acuidade correção.
visual. Supomos que a existência de uma maior integração entre
Num estudo realizado por Catanzariti et al. [7] uma oftalmologistas e fisioterapeutas pode ser o início de uma
deficiência visual ou no sistema oculomotor pode resultar parceria promissora, possibilitando não só um encontro para
numa deformidade do tronco levando ao aparecimento de novas pesquisas que possam proporcionar a melhoria de uma
escoliose, sendo esta provavelmente resultante de uma saúde global dos pacientes, como também uma estratégia efetiva
postura anormal da cabeça, ao analisar 18 pacientes com de ampliação do campo de atuação da fisioterapia, seja no sentido
escoliose estrutural foi observado que todos tiveram uma de tornar-se mais resolutiva nas ações de promoção da saúde
postura anormal da região céfalo-cervical, associado com dos pacientes, seja no sentido de ampliar sua visibilidade na
inclinação e rotação da cabeça, que poderia ser pela sociedade, firmando-se como uma profissão de grande potencial
adaptação visual. Shapiro [22] cita a compensação da de crescimento e sustentabilidade no mercado de trabalho deste
inclinação da cabeça também como provável causa de mundo globalizado.
mudanças na região lombar e na torácica, explicando que ao
ocorrer uma inclinação da cabeça para a direita causa Agradecimentos
mudança na região lombar para a direita e uma segunda
compensação na região torácica para a esquerda. Isso Dr. João Helder Alves Arcanjo (oftalmologista), Dr.
acontece como uma ação da coluna para neutralizar a Eron Moreira (oftalmologista), Dr. David Lucena
angulação cervical, sendo uma tentativa da pessoa para (oftalmologista), Dr. Júlio César Lima Sousa (ortopedista),
manter a coluna ereta para coordenação. Essas questões Dr. Henrique Bastos (ortopedista).
podem explicar o motivo pelo qual a maioria das pessoas
pesquisadas apresentava desequilíbrios de ombros e pelve e Referências
tinham escoliose.
1. Decker W, Dannheim DE. Neglected constrained head posture in
Conclusão early childhood strabismus. Klin Monatsbl Augenheilkd
1999;215(2):95-8.
Apesar de inúmeros relatos afirmando que a visão teria 2. Guerraz M, Thilo KV, Bronstein AM, Gresty MA. Influence of
action and expectation on visual control of posture. Brain Res
influência no posicionamento da cabeça e do corpo, não foi
Cong 2001;11(2):259-66.
possível comprovar neste estudo, devido à utilização de uma
3. Kushner, B. J. The usefulness of the cervical range of motion device
amostra restrita. Além disso, problemas de coluna podem
in the ocular motility examination. Arch Ophthalmol
advir também de problemas nos pés, nos joelhos, na pelve, 2000;118(7):946-50.
na articulação temporomandibular, dentre outros. Sabíamos 4. Lord SR, Menz HB. Visual contributions to postural stability in older
que os nossos pacientes tinham problema de coluna, mas adults. Gerontology 2000;46 (6):306-10.
não tínhamos a certeza da origem. 5. Morad Y, Nemet P. Abnormal head posture in a monocular viewing
No entanto, alguns achados deste estudo são indícios patient. J Pediatr Ophthalmol Strabismus 1999;36(5):298-300.
que sugerem existir efetivamente uma relação entre as 6. Kuno S, Kawakita T, Kawakami O, Miyake Y, Watanabe S. Postural
mudanças posturais e as alterações visuais. Dentre eles adjustment response to depth direction moving pattern produced
destacamos a relação entre o posicionamento incorreto da by virtual reality graphics. J Physiol 1999;49(5):417-24.
cabeça (lateralização e rotação) apresentado em todos os 7. Catanzariti JF, Salomez E, Bruandet JM, Thevenon A. Visual
deficiency and scoliosis. Spine 2001;26(1):48-52.
pacientes que possuíam problemas visuais; a inclinação da
8. Fiergang DL, Renneth WW, Jill AF. Unilateral or asymmetric
cabeça para o lado de melhor acuidade visual; a presença
congenital ptosis, head posturing and ambliopia. J Pediatr
de projeção anterior da cabeça nos pacientes míopes; a
Ophthalmol Strabismus 1999;36:74-7.
ocorrência significativa de assimetrias corporais nos 9. Bricot B. Posturologia. São Paulo: Ícone; 2001.
pacientes com postura incorreta da cabeça e a presença de 10. Havertape SA, Cruz OA. Abnormal head posture associated with high
escolioses. hyperopia. J AAPOS 1998;2(1):12-6.
Assim, propomos a realização de novos estudos, 11. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos. 3 ed. São Paulo: Summus;
sugerimos ainda que estes sigam o fluxo inverso dos sujeitos, 1995.
360 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

12. Wingfield BR, Gorman RF. Treatment of severe glaucomatous visual 18. Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde. Resolução CNS
field deficit by chiropractic spinal manipulative therapy: a 196/96. [citado 2002 set 10]. Disponível em URL: http://
prospective case study and discussion. J Manipulative Physiol Ther conselho.saude.gov.br/comissao/conep/resoluçao.html.
2000;23(6): 428-34. 19. Almeida LC. Apostilas do curso Reposturarse – Reestruturação da
13. Busquet L. As cadeias musculares. 1 ed. Belo Horizonte: Busquet; Postura e Sensopercepção. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa e
2001. Educação Continuada da Fundação Educacional Lucas Machado –
14. Souchard PE, Ollier M. As escolioses. São Paulo; 2001. FCMMG; 2001.
15. Mitchell Jr FL, Mitchell PKG. The Muscle energy manual. Vol.1 20. Souchard PE. Reeducação Postural Global (método do campo
East Lansing, Michigan: Met Press; 1995. fechado). 3 ed. São Paulo: Ícone; 1998.
16. Oliver J, Middleditch A. Anatomia funcional da coluna vertebral. 21. Kanski JJ. Oftalmologia Clínica. 3 ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2000
Rio de Janeiro: Revinter; 1998. 22. Shapiro IJ. Relation between vertical facial asymmetry and Postural
17. Herman R, Mixon J, Fisher A, Maulucci R, Stuyck J. Idiopathic Changes of the spine and ancillary muscles. Optom Vis Sci
scoliosis and the central nervous system: a motor control problem. 1994;71(8):529-38.
Spine; 10(1): 1-14, 1985. 23. Mitchell PR. Ocular torticolis. Trans Am Ophthalmol Soc
1999;97:697-769. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 361

Artigo original

Avaliação do arco longitudinal medial do pé


de crianças através da biofotogrametria
computadorizada
Medial longitudinal arch evaluation of children
foot through computerized biophotogrammetry
Mario Antonio Baraúna, D.Sc.*,Vinícius Emanuel Isaac Machado, M.Sc.**, Ruiz Angelo Ventura Silva, M.Sc.**,
Frederico Pereira Montes***, Márcio Vinícius Batista Mendes***, Hugo Machado Sanchez****,
Kellen Gonçalves Garcia***, Thaíse Cristina Davi de Miranda***, Gustavo Simões Barbosa***,
Fabrício Duarte, M.Sc.**, Roberto Sergio Tavares Canto, D.Sc.*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Doutor em Motricidade Humana, **Mestre em Fisioterapia, ***Fisioterapeuta, ****Mestrando em Fisioterapia,


*****Pós- Doutorado em Traumatologia

Resumo Abstract
O objetivo do presente estudo foi quantificar e analisar o The purpose of the present studies was to quantify and
arco longitudinal medial do pé de crianças de 8 a 11 anos, e analyse the medial longitudinal arch of foot of children 8 to 11
verificar se o mesmo relaciona-se com o Índice de Massa years old, and to verify if the same is related with the body mass
Corporal (IMC) das crianças avaliadas. Foram analisadas 25 index (BMI) of the evaluated children. 25 children, being 10
crianças, sendo 10 do sexo feminino e 15 do sexo masculino, female and 15 male had been analyzed, in which was also
nas quais também foi mensurado o IMC, correlacionando-o measured the BMI correlated with the medial longitudinal arch
com o arco longitudinal medial do pé de cada criança, avaliado of the children´s feet, appraised by the biophotogrammetry
pela biofotogrametria computadorizada no programa computerized in the AUTOCAD 2004 program. In the present
AUTOCAD 2004. No presente estudo não houve correlação study, there was not significant correlation between the BMI,
significativa entre o IMC, altura do dorso do pé e o índice do the height of the feet´s dorsum and arch index. The evaluated
arco. E as crianças avaliadas não apresentaram pés planos. children had not showed plane feet. Therefore the fall of the
Portanto, a queda do arco deve estar relacionada a outros fatores arch must be related with others factors that do not be the BMI.
que não seja ao IMC. Key-words: evalution, medial longitudinal arch, body mass index,
Palavras-chave: avaliação, arco longitudinal medial, índice de computerized biophotogrammetry.
massa corporal, biofotogrametria computadorizada.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução sistêmicas, raquitismo, obesidade, sobrepeso, calçados


fechados por tempo prolongado, em crianças com
A configuração do arco plantar pode ser influenciada aproximadamente seis anos. Sendo as causas mais
pela idade, por fratura, osteotomias, alterações posturais, comuns, frouxidão ligamentar e história familiar [1-4].
desequilíbrio das potências musculares, frouxidão liga- Segundo Bordin et al. [4], o arco longitudinal medial do
mentar, inadequação na distribuição dos tecidos da fáscia pé está completamente formado por volta dos 7 a 8 anos
plantar, alterações congênitas, hereditariedade, doenças de idade.

Artigo recebido 17 de fevereiro de 2005; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Mario Antonio Baraúna/ Ruiz Angelo Ventura da Silva, Laboratório de Análise do Movimento, Centro Universitário
do Triângulo – UNITRI, Av Nicomedes dos Santos, 4545 Bairro Gávea 38411-106 Uberlândia MG, E-mail: barauna@unitri.edu.br,
ruizangelo31@yahoo.com.br
362 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Muitos pesquisadores utilizaram métodos para avaliação Universitário do Triângulo – UNITRI, e todos os
quantificada do arco longitudinal medial, sendo eles de forma responsáveis pelas crianças assinaram um termo de
indireta, isto é pela impressão plantar, utilizando apenas a consentimento informado.
podoscopia [5], ou esta associada à Fotogrametria Compu- A estatura das crianças foi medida usando uma fita
tadorizada [6,7] ou diretamente utilizando, o paquímetro métrica da marca Fiber-Glass, sendo estas posteriormente
[8], a radiografia [9], a fotografia [10] e a ultrassonografia pesadas, utilizando-se uma balança da marca Techline. As
[11]. crianças foram posicionadas em apoio unipodal direito,
Williams e McClay [8] ao avaliar em o arco longitudinal com 100% do peso corporal, sobre uma linha horizontal,
do pé o fizeram através de sete métodos de mensuração direta as crianças ficaram apoiadas com os braços estendidos em
e descreveram como protocolo mais fidedigno para aquele uma parede, que estava na sua frente e posteriormente ao
que avalia a relação da altura do dorso do pé pelo com- calcâneo foi colocada uma régua de 15 cm de altura, a qual
primento da região posterior do calcâneo até o centro da serviu de escala para redimensionar a fotografia no
primeira articulação metatarsofalangeana, pois a medida de programa AUTOCAD 2004. A câmera foi posicionada
todo comprimento do pé pode ser alterada na presença de lateralmente ao pé sobre um tripé da marca VF W012
deformidades como dedos em garra e hálux valgo. minitripod distante 90 cm do voluntário, e a altura do centro
É necessário quantificar o arco plantar para o estabele- da lente até o solo foi de 26 cm (figura 1). Foi demarcado
cimento de uma ação tanto preventiva quanto para uma no pé direito a primeira articulação metatarsofalangeana
elaboração de estratégias de tratamento [12,13], e esta de usando um pincel Pilot Color 850. Após esse procedimento
grande valia, considerando os tipos de pés; normal, cavo ou foi realizado o registro fotográfico do pé direito das crianças
plano, pois se sabe que o tipo de pé, poderá gerar instabi- utilizando-se uma câmera digital da marca Sony Handycam
lidades nas articulações do tornozelo e pé, podendo promo- 8mm.
ver alterações biomecânicas que aumentam os riscos de
lesões e também o posicionamento postural anormal das Figura 1 - Posicionamento do voluntário e da câmera fotográfica.
articulações superiores ao segmento corporal [14]. Segundo
Bordin et al. [4], antes que o arco esteja completamente
formado intervenções precoces podem evitar tratamento
cirúrgico.
Segundo Williams e McClay [8]; as anormalidades do
ALM do pé são comumente associadas a maior predis-
posição á lesões. Inúmeros investigadores têm buscado uma
relação entre a estrutura do arco longitudinal medial com
índice de lesões em extremidades de membros inferiores.
Os resultados encontrados por estes autores tem demons-
trado que o aumento do arco apresenta maior probabilidade
de desenvolver fratura por “stress” em tíbia e fêmur em
Fonte: Laboratório de análise do movimento humano do UNITRI.
relação ao arco diminuído. Enquanto que são encontradas
maiores incidências de lesões metatársicas no arco diminuído Os dados obtidos foram transportados para um
[14,15]. computador Athlon, 1,91 Ghz, do Laboratório de Análise
Portanto, o objetivo do presente estudo foi quantificar e do Movimento da UNITRI, as medidas foram analisadas
analisar o arco plantar do pé em crianças de 8 a 11 anos, e usando-se a Biotogrametria Computadorizada através do
verificar se o mesmo relaciona-se com o Índice de Massa programa AUTOCAD 2004.
Corporal (IMC) das crianças. O registro fotográfico foi transportado para o computador
e os dados foram analisados da seguinte forma: foi traçada
Material e métodos uma linha horizontal do calcâneo até a ponta do pé e então
foi traçada uma transversal na metade desta até o dorso do
A amostragem foi constituída de 25 crianças, pé, após o procedimento foi traçado outra linha horizontal
estudantes de uma escola da rede estadual de ensino da região posterior do calcâneo até o centro da primeira
fundamental da cidade de Uberlândia – MG, sendo 10 articulação metatarsofalangeana, e a medida foi estabelecida
(40%) do sexo feminino e 15 (60%) do sexo masculino, através da divisão dessas linhas (Figura 2). Para classificação
com idades variando de 8 a 11 anos. Foram excluídas as do pé foram considerados valores segundo o protocolo de
crianças com fraturas, osteotomias, dedos em garra, Williams e McClay [8]: normais, os situados entre 0,275
hálux valgo, alterações congênitas, doenças sistêmicas, centímetros e 0,357 centímetros, sendo que abaixo de 0,275
e raquitismo. O estudo teve aprovação do Conselho de centímetros, o pé é considerado plano e acima de 0,356
Ética e Pesquisa em Seres Humanos do Centro centímetros, cavo.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 363

Figura 2 - Visualização do cálculo das variáveis propostas pelo Figura 5 - Incidência dos tipos de pés em meninas.
AUTOCAD 2004.

Discussão

No presente estudo houve uma preocupação em avaliar


e analisar o arco longitudinal do pé em crianças com faixa
etária entre 8 a 11 anos, uma vez que Pinto e Sinelli [15] e
Volpon [17] verificaram que as modificações na altura do
ALM do pé ocorrem até a idade aproximada de 6 anos. Por
isso, alterações do arco plantar a partir dessa idade podem
ser consideradas como definitivas [4].
Fonte: Laboratório de análise do movimento humano do UNITRI.
Vários métodos são utilizados para quantificação da
Para analise estatística, foi aplicado o coeficiente de altura do ALM, que podem gerar controvérsias acerca da
correlação por Postos de Spearman [16], para toda amostra, classificação dos mesmos. Giladi et al. [18] classifica os tipos
com o objetivo de verificar a existência ou não de correlações de pés baseando-se na avaliação visual, isto é, observação.
significantes entre as medidas de relação entre as distâncias Enquanto que a análise de impressões plantares, como
obtidas e o IMC. método indireto de quantificação do ALM apresenta
validade duvidosa e é considerado inválido como preditor
Resultados da altura do arco [17]. Portanto, na pesquisa atual empregou-
se um método de quantificação direto, baseado num
Não foram observadas correlações estatisticamente protocolo descrito na literatura de confiabilidade e validade
significantes entre as variáveis visualizadas na tabela I. testadas [8]. O protocolo de Williams e McClay [8] para
mensuração do ALM consiste na divisão da altura dorso do
Tabela I - Correlação entre o IMC, a altura do arco e o índice do pé pelo comprimento da região posterior do calcâneo até a
arco.
primeira articulação metatarsofalangeana, pois a medida de
Variável A Variável B r p todo comprimento do pé pode ser alterada na presença de
deformidades como dedos em garra e hálux valgo.
IMC altura do pé 0,442424 0,200423 Vários métodos tais como o paquímetro [8], a radiografia
IMC índice do arco 0,006061 0,986743
[9], a fotografia [10] e a ultrassonografia [11], podem ser
Nas figuras 3, 4 e 5 estão representadas as porcentagens utilizados para o cálculo das variáveis propostas por
conforme os tipos de pés de toda amostra, de homens e Williams e McClay [8]. Na presente pesquisa, as variáveis
mulheres. foram quantificadas através do software Autocad 2004,
baseando-se nos princípios da Biofotogrametria Com-
Figura 3 - Incidência dos tipos de pés na amostra. putadorizada. Esta técnica oferece parâmetros quantitativos,
permitindo uma interpretação fidedigna, com precisão de
quatro casas decimais ou mais, com retas precisas e cálculos
realizados através do software Autocad 2004 [19]. Ao
contrário da radiografia cujo método utilizado por Saltzman
et al. [9], para análise do ALM. Neste método, as retas são
traçadas manualmente sob o filme radiográfico e para
Figura 4 - Incidência dos tipos de pés em meninos. realização dos cálculos das variáveis propostas por Williams
e McClay [8], podendo acarretar erros, comprometendo
então a sua fidedignidade [17]. Além disso, esse método é
invasivo podendo ser maléfico ao organismo [19].
De acordo com Bordin et al. [4], existe uma significante
relação entre IMC e presença de pé plano. Entretanto, no
presente estudo não foram observadas correlações signifi-
364 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

cativas ao relacionar o IMC com a altura do dorso do pé e 2. Staheli LT, Chew DE, Corbett M. The longitudinal arch. J Bone
com índice do arco. Os resultados deste estudo estão de acor- Joint Surg (Am) 1987;69:426-8.
do com Leme et al. [1], que demonstraram que a obesidade 3. Rao UB, Joseph B. The influence of footwear on the prevalence of flat
não interferiu como causa da queda do arco longitudinal foot. A survey of 2300 children. J Bone Joint Surg 1992;74:525-27.
4. Bordin D, Giorgi G, Mazzocco G, Rigon F. Flat and cavus foot,
medial . Acredita-se então que a queda do arco deve estar
indexes of obesity and overweight in a population of primary-
relacionada a outros fatores, principalmente pela insuficiência
school children. Minerva Pediatr 2001; 53(1):7-13.
muscular, frouxidão ligamentar e a hereditariedade [1-4].
5. Valenti V. Ortesis del pie. Madrid: Medicina Panamericana; 1979. p.175.
Bordin et al. [4] analisou 243 crianças, utilizando como 6. Baraúna MA. Estudo comparativo entre a avaliação do equilíbrio
método, a podoscopia associada a fotografia precedida por estático de indivíduos amputados de coxa e não amputados. 1997.
exame clínico, e constatou uma alta incidência de pé plano [Tese]. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa;1997.
que representou cerca de 16,4% do total da amostra. Porém, 7. Paula GM. Obtenção e análise de impressão plantares em crianças com
no estudo realizado por Leme et al. [1], numa amostra com os pés normais e planos, através de um protocolo Fotogramétrico
1090 crianças, foi encontrado apenas 2% de crianças com computadorizado. [Dissertação]. Uberlândia MG: Centro Universitário
pé plano, no entanto na presente pesquisa não foi encontrado do Triângulo – UNIT; 2002.
nenhuma criança com pé plano e isso pode estar associado a 8. Williams DS, McClay IS. Measurements used to characterize the
pequena amostra. Os resultados deste estudo são mais foot and the medial longitudinal arch: Resbility and validity. Phys
Ther 2000;80:864-71.
confiáveis e fidedignos, pois o método de análise é direto e o
9. Saltzman CL, Nawoczenski DA, Talbot KD. Measurement of the
protocolo validado, enquanto que Bordin et al. [4] preferiu
medial longitudinal arch. Arch Phys Med Rehabil 1995;76:45-9.
um método indireto, de validade duvidosa, não quantitativa, 10. Cowan DN, Robinson RJ, Jones BH, Polly DW, Berrey HB.
que classifica o pé apenas como cavo e plano, excluindo os Consistency of visual assessment of arch height among clinicians.
pés normais. E Leme et al.(1), na sua pesquisa, não relatou o Foot Ankle 1994;15(4):213-17
método de avaliação do ALM. 11. Henning BM, Cavanagh PR. Ultrasonic quantification of the weight
Dessa forma, este protocolo vem acrescentar para a bearing foot. In: Winter DA, Norman Rw, Wolls RP, Hayer KC,
prática na área da saúde, mais um instrumento e um protocolo Paula AE. Biomechanies IX-B Champaiga IL. Human Kinchies
na realização de diagnóstico da estrutura do pé possibilitando Publishers;1985. p.211-16.
intervenções e indicações para o uso de palmilha para o 12. Viladot PA. Dez lições de patologias do pé. São Paulo: Roca;1986.
calçado adequado, a fim de minimizar ou prevenir futuras 13. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos. Fisiologia, patologia e
tratamento fisioterapêutico. 2 ed. São Paulo: Summus; 1995.
lesões de membro inferior e também de alterações posturais.
14. Vasconcellos LPWC, Sodré H. Tratamento da talalgia plantar
postural. Rev Brás Ortop 1993;28(7):440-42.
Conclusão 15. Pinto LG, Sinelli S. Pé plano da infância e adolescência – Conceitos
atuais. J Bras Méd 1985; 48(4).
Pode-se concluir a partir deste estudo que não houve 16. Siegel S. Estatística não-paramétrica, para as ciências do
correlação significativa entre o IMC, a altura do dorso do pé comportamento. São Paulo: McGraw-Hill; 1975. p.350.
e o índice do arco. E as crianças avaliadas não apresentaram 17. Volpon JB. Footprint analysis during the growth period. J Ped
pés planos. Orthop1994;14:83-5.
18. Giladi M et al. The low arch, a protective factor in stress fractures.
Referências A prospective study of 295 military recrutary. Orthop Rev
1985;14:709-12.
1. Leme JL, Valério MJ, Tourinho MB, Sichinelli R, Pinto SQ, 19. Souza CF. Estudo das impressões plantares através da podoscopia
Pechibilski SI. Incidência e prevenção de pé plano valgo em crianças associada a biofotogrametria computadorizada em indivíduos normais
da primeira série do primeiro grau nas classes A e D. Fisioter Mov magros com sobrecarga artificial de peso. [Dissertação]. Uberlândia
1990;3:71-92. MG: Centro Universitário do triângulo – UNITRI; 2004. J
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 365

Artigo original

Avaliação do ângulo de congruência da patela em


pacientes com diagnóstico de condromalácea
Evaluation of knee congruence angle in patients with chondromalacia
Bianca Callegari, M.Sc.*, Janaina Proença de Oliveira**, Marília Maniglia de Resende***,
Vera Lúcia Alves dos Santos****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Coordenadora do Curso de Fisioterapia - Faculdade Seama.(Macapá -AP),


**Fisioterapeuta, Especialista em Reabilitação, ***Fisioterapeuta, especialista em Pediatria, Professora disciplina
de Cinesiologia Faculdade Seama, ****Fisioterapeuta, Chefe do serviço de fisioterapia do Hospital Santa Isabel

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Resumo Abstract
O joelho é uma articulação sujeita a um maior número de The knee is a joint that commonly presents pathologies
patologias de origem mecânica, das quais mais comuns são from mechanical origins. One of the most common is the
femoropatelares, dentre elas a condromálacea. A condromalácea patellofemoral syndrome, among them the chondromalacia. The
patelar é definida como o amolecimeto da cartilagem articular chondromalacia is defined as a patellar articular cartilage
da patela por desgastes de origem diversas. O desgaste softening due to diverse origins. The cartilage lesions produced
cartilaginoso produzido pelo desgaste diário afeta secun- by the daily activity, secondary affects the cartilage and synovial
dariamente as superfícies cartilaginosas e sinovial na articulação surfaces in the knee joint, and spread osteoartritic alterations.
do joelho, produzindo alterações osteoartríticas disseminadas. The congruence angle is a good pointer to measure the patellar
O ângulo de congruência é um bom indicador para mensurar o alignment. In several studies the normal value of the congruence
alinhamento patelar. Em estudos realizados o valor normal da is of -6º, with the knee in 45º. The objective of this study was to
congruência é de -6º com o joelho em 45º. Esse estudo objetivou compare the patellar congruence angle in patients with diagnosis
avaliar o ângulo de congruência da patela de pacientes com of chondromalacia in the literature. The values that we found
diagnóstico de condromalácea com os achados na bibliografia. suggest the existence of an increase in the congruence angle
Os valores que encontramos sugerem a existência de aumento and bad patellar alignment associated with the pathology.
do ângulo de congruência e mau alinhamento patelar associados Key-words: chondromalacia, patellofamelar joint, patellar
à patologia. alignment.
Palavras-chave: condromálacea, articulação femoropatelar,
alinhamento patelar.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução
lados, e é mantida a uma distância constante da tuberosidade
O joelho é uma articulação condilar composta, que é tibial durante o movimento. Se a tíbia move-se sobre o fêmur,
formada por duas articulações funcionais: a articulação a patela desliza sobre os côndilos femorais. Quando o fêmur
fêmoro-tibial e fêmoro-patelar. Sua estabilidade na posição move-se sobre a tíbia fixa, os côndilos femorais deslizam
estendida é conseguida pelo quadríceps anteriormente e pelo sobre a patela [2,3,4]
gastrocnêmio e poplíteo posteriormente [1]. O joelho é uma articulação sujeita a um maior número
A articulação patelofemoral é uma parte do mecanismo de patologias de origem mecânica, das quais mais comuns
extensor do joelho. A patela está fixada em todos os seus são femoropatelares, dentre elas a condromálacea [5].

Recebido 11 de fevereiro de 2005; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Bianca Callegari, Av Nações Unidas 1201 Bairro Jesus de Nezaré 68908-170 Macapá AP, Tel: (96) 91114563 ou (96)
2174230, E-mail: biancafisio@seama.edu.br
366 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

A condromalácea patelar é definida como o amolecimeto Com base nos achados anteriores, esse estudo objetivou
da cartilagem articular da patela por desgastes de origem avaliar o ângulo de congruência da patela de pacientes com
diversas. O desgaste cartilaginoso produzido pelo desgaste diagnóstico de condromalácea com os achados na bibliografia.
diário afeta secundariamente as superfícies cartilaginosas e
sinovial na articulação do joelho, produzindo alterações Material e método
osteoartíticas disseminadas [2,6,7,8].
De acordo com Turek [4], há três categorias discretas da Treze pacientes com diagnóstico de condromalácea
patologia: um tipo idiopático primário que ocorre em foram submetidos a uma breve avaliação prévia, aplicada
adolescentes e adultos jovens, causando dor crônica com o intuito de tornar o grupo homogêneo e detectar
persistente e que geralmente cede deixando pouco ou nenhum possíveis fatores de exclusão. Os critérios de exclusão
resíduo; um tipo adolescente secundário resultante de um abrangeram qualquer referência a alterações que puderam
trauma direto na patela ou devido a traumas repetidos com ser consideradas fator de erro na avaliação como outras
deslocamento patelar e que geralmente terminam em patologias associadas acometendo o joelho e patologias
osteoatrite com avanço da idade e um tipo adulto que começa neurológicas que impedissem o posicionamento do paciente.
ainda na segunda década, quando se desenvolvem alterações Os pacientes foram submetidos a uma radiografia axial
osteoartríticas sem sintomas, progride com a idade e torna- da patela e tiveram seus ângulos de congruência mensurados.
se sintomático na meia idade ou depois. Esses dados foram comparados com achados bibliográficos.
Segundo Moller, Krebs e Jurik [9], a condromalácea pode Os exames radiológicos foram realizados com os
ocorrer em conseqüência de uma inclinação patelar (do indivíduos em decúbito ventral e joelho fletido a 90° e raio
aparelho extensor) associada à compressão secundária incidente de 30°. A medida do ângulo de congruência foi
prolongada, principalmente dos 40 a 80º de flexão do joelho. realizada seguindo a figura 1.
De acordo com Hiralio, Rolando e Margarita [10], a
condromalácea sem desalinhamento do aparelho extensor Figura1- medida do ângulo de congruência.
tem sua fisiopatologia contravertida, por este motivo usa-se
para esses casos a denominação de “condromalácea
essencial” (traumática), a qual utilizaram para diferenciar
de condromalácea por mau alinhamento. Já Shin et al. [6],
afirmam que a condromalácea sempre pressupõe a existência
de mau alinhamento patelar e que o trauma direto ou
torcional, desencadeia a sintomatologia.
A queixa característica da condromálacia é uma dor
difusa em queimação sobre a face frontal ou ântero-medial
do joelho que piora quando este funciona sob carga em flexão,
Resultados
como subir e descer escadas e ficar sentado por tempo
prolongado com joelho em flexão. Isto irá provocar dor que
A figura 2 representa o exemplo do exame radiológico
é aliviada com a extensão do joelho, chamado de sinal de
de um dos pacientes.
cinema [6,7,11,12]
Uma das maneiras de confirmar o diagnóstico de Figura 2
condromalácia além do exame clínico, seria o exame
radiológico simples na incidência ântero-posterior, perfil e axial
da patela, sempre de maneira comparativa [5,8,9,11,13,14]. O
exame radiológico simples axial dará uma idéia sobre a
integridade da cartilagem articular e do alinhamento patelar
[14,15]. Ângulos axiais de 30, 60, 90º dão noção da congruência
patelo-femoral, profundidade da tróclea, alturas dos vertentes,
alteração anatômica da patela ou corpos livres. A posição que
Hugston cita é com o paciente em decúbito ventral e com o
joelho a 60º de flexão com raio central em 50º.
O ângulo de congruência descrito por Merchant et al. é
um bom indicador para mensurar o alinhamento patelar.
Em estudos realizados o valor normal da congruência é de -
6º com o joelho em 45º. O ângulo de congruência de
Merchant et al. pode ser aplicado aos exames radiológicos Os valores dos ângulos de congruência encontrados nas
em qualquer grau de flexão [4,9,14,15]. radiografias dos pacientes estão descritos na Tabela I.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 367

Tabela 1 - Valores dos ângulos de congruência conseqüência de uma inclinação patelar, mas associa essa
inclinação à compressão secundária prolongada [18].
Angulos
Os valores que encontramos sugerem a existência de
Paciente 1 0 aumento do ângulo de congruência e mau alinhamento patelar
Paciente 2 4 associados à patologia, quando os pacientes são radiografados
Paciente 3 7 com joelho a 90º de flexão. Esse achado, porém, não pode
Paciente 4 0 ser considerado um padrão que determine o diagnóstico visto
Paciente 5 3
que o número de pacientes participantes foi restrito.
Paciente 6 -2
Paciente 7 2 Outro fator de discussão foi o fato de não ter sido realizado
Paciente 8 1 uma analise em grupo controle, para confirmar o aumento
Paciente 9 3 do ângulo com joelho fletido à 90º. Em nosso utilizamos
Paciente10 -3 como parâmetro de comparação o ângulo descrito por
Paciente 11 2 Merchant et al. [9,14,15].
Paciente 12 3
Sugerimos, então, que tal comparação seja realizada com
Paciente 13 5
número maior de pacientes.
O gráfico 1 ilustra os dados acima.
Referências
Gráfico1
1. Gardner WD, Osburn WA. Anatomia do corpo humano. São Paulo:
Atheneu; 1980.
2. Kapandji IA. Fisiologia articular São Paulo: Manole; 1987.
3. Lehmkuhl L, Smith H. Cinesiologia clínica. São Paulo: Manole; 1989.
4. Turek. Ortopedia de Turek. São Paulo: Manole; 1991.
5. Sizínio H, Xavier R, Pardini A, Barros T. Ortopedia e traumatologia:
princípios e prática. Porto Alegre: Artmed; 1998.
6. Shin AY, Loncarich DP, Hennrikus WL, Case SR. A comparison of
three methods for measuring patella malalignment in children. J
Pediatr Orthop B 1998;7(4):303-6.
7. Sant’Anna MM, Apfel MI. Chondromalacia induced by patellar
subluxation: morphological and morphometrical aspects in rabbits.
J Cell Mol Med 2002;6(2):261-70.
A média encontrada dos valores acima foi de 1.923077º 8. Lee SH, Suh JS, Cho J, Kim SJ, Kim SJ. Evaluation of
chondromalacia of the patella with axial inversion recovery-fast
Discussão e conclusão spin-echo imaging. J Magn Reson Imaging 2001;13(3):412-6.
9. Moller BN, Krebs B, Jurik AG. Patellofemoral incongruence in
Segundo Moller, Krebs e Jurik [9], o ângulo de chondromalacia and instability of the patella. Acta Orthop Scand
congruência de Merchant et al. pode ser aplicado aos exames 1986;57(3):232-4.
radiológicos em qualquer grau de flexão. Em nosso estudo, 10. Hiralio CA, Rolando B, Margarita CM. Crondromalacia de rótula /
Chondromalacia of patella MediCiego 1997;3(1):4-7.
aplicamos esse ângulo à exames radiológicos axiais
11. Elias DA, White LM. Imaging of patellofemoral disorders. Clin
realizados com joelho fletido à 90º [9].
Radiol 2004;59(7):543-57.
A média que encontramos das medidas dos ângulos foi
12. Outerbridge RE. The etiology of chondromalacia patellae. Clin
de 1.923077º. Esse valor, quando comparado com a medida Orthop 2001;(389):5-8.
já descrita por Merchant et al. (-6º para indivíduos normais), 13. Campos MG, Mercado CM. Análise clínico-radiográfico de la
demonstra que houve aumento do ângulo de congruência condromalacia patelofemoral: estudio comparativo. Rev Méd IMSS
nos induvíduos com diagnóstico de condromalácea [14,15]. 1996;34(1):33-7.
Esse aumento do ângulo de congruência, lateralização 14. Inoue M, Shino K, Hirose H, Horibe S, Ono K. Subluxation of the
da patela, confirma os achados de Hugston e Isall, que patella. Computed tomography analysis of patellofemoral
afirmam que a condromalácea pressupõe a existência de mau congruence. J Bone Joint Surg Am 1988; 70(9):1331-7.
alinhamento patelar. 15. Carson WG, James SL, Larson RL, Singer KM, Winternitz WW.
Concordando com os autores acima, Carson et al. [15] Patellofemoral disorders: physical and radiographic evaluation. Part
também afirma que a condromalácea pode ocorrer em II: Radiographic examination. Clin Orthop 1984;(185):178-86. J
368 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Artigo original

Proposta de um modelo teórico de intervenção


fisioterapêutica no controle da dor e inflamação
Suggestion of theoretical model of physical therapy intervention
about control of pain and inflammation
Marcos Antônio Resende, D.Sc.*, Leani de Souza Máximo Pereira*, Maria Salete de Abreu Castro**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Profº Adjuntos do Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte MG,
**Profª Adjunta do Departamento de Farmacologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte MG

Resumo Abstract
A dor e a inflamação geram incapacidade devido ao Pain and inflammation induce disfunction and modify the
comprometimento no controle motor e consequente disfunção motor control on the lesioned body. Therefore, it is desirable to
do segmento corporal lesado. A presença do quadro álgico e control the algesic response and inflammation as soon as
inflamatório dificulta a avaliação clínica, a proposta terapêutica possible, since it will confuse physical evaluation and hamper
bem como o processo de reabilitação. Diante disso, é desejável clinical development. Besides, the persistence of inflammation
o controle do quadro álgico e inflamatório o mais rápido possível, may evolve to a chronic condition (central sensitization), further
evitando dessa maneira a cronicidade da lesão (sensibilização complicating the physical therapy intervention. The
central). Para que esse processo seja viável, o fisioterapeuta development of chronic pain can be prevented by reducing the
deverá evitar o desenvolvimento da dor crônica através da hypersensitivity increasing during an acute pain and
redução da hiperreatividade apresentada pelo paciente durante inflammatory condition. The role of physical therapist in this
o processo de instalação da dor e inflamação. Durante a context is to suggest the treatment and its execution, as well as
normalização da reatividade do paciente frente ao quadro álgico changes and adjustments that may be necessary to stabilize the
e inflamatório, o fisioterapeuta propõe o tratamento e executa, patient clinical situation. The aim of this first stage of control is
mas na maioria das vezes é necessário fazer modificações e to lead on to full recovery of normal function. Beyond this
adaptações ao tratamento instituido até que se consiga a goal, the suggested treatment should restore balance amongst
estabilidade da situação clínica, para que em um segundo the several body segments, whose functional interrelation has
momento possa atingir o seu objetivo principal de recuperar a been lost due to inflammation.
função. Posteriormente, o tratamento em algumas situações Key-words: physical therapy intervention, pain and
visa restabelecer o equilíbrio dos segmentos corporais, uma vez inflammation, central sensitization, function.
que os segmentos corporais apresentam uma interrelação na
sua funcionalidade. O objetivo desse artigo é propor um modelo
teórico de atuação do fisioterapeuta para o controle da dor e
inflamação durante a sua prática clínica.
Palavras-chave: intervenção em fisioterapia, dor e inflamação,
sensibilização central, função.

Artigo recebido 2 de fevereiro de 2005; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Marcos Antônio de Resende, Departamento de Fisioterapia, Unidade Administrativa II, 3º andar, 31270-010 Belo
Horizonte MG, E-mail: mresende@eeffto.ufmg.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 369

Introdução o aumento da permeabilidade vascular e a conseqüente


formação de edema no local da lesão são respostas imediatas,
A Associação Internacional de Estudos da Dor define e observadas no início do desenvolvimento de quase todas
dor como uma experiência sensorial e emocional desagra- as reações inflamatórias [8].
dável, associada a uma lesão atual ou potencial dos tecidos Promover o controle da dor e do processo inflamatório
ou que se manifesta em função dessa lesão. Atualmente pode o mais breve possível é necessário devido as seguintes
ser interpretada como uma evidência de comprometimento considerações: a) a inflamação é uma resposta fisiopatológica
da integridade física e emocional. complexa dos tecidos vivos e não um processo fisiológico; o
A avaliação quantitativa e rotineira da intensidade da sistema imunológico pode ser ativado e a resposta
dor que usualmente é realizada na clínica fisioterapêutica é inflamatória pode ser amplificada [9], b) a resposta
de fundamental importância para avaliar os resultados inflamatória pode se tornar crônica, tornando mais dificil a
provenientes do tratamento proposto [1,2]. A compreensão resolução do processo [10], c) o tecido lesado sofre com a
dos mecanismos fisiológicos do controle da dor ou agressão e a região cicatrizada vai ser mais frágil do que o
inflamação e um maior conhecimento da cascata de eventos tecido natural [11], d) o processo inflamatório induz a uma
relacionada ao desenvolvimento do processo inflamatório e hiperreatividade do individuo, provocando dificuldades na
álgico bem como das suas conseqüências sobre o controle sua avaliação física, e) durante o processo inflamatório, a
motor, permitirá ao fisioterapeuta a compreensão adequada presença do edema altera o limiar dos mecanorreceptores
e o uso das estratégias terapêuticas propostas para o controle presentes na capsula articular, induzindo uma redução na
da dor e inflamação. O desconhecimento da fisiopatologia atividade dos motoneurônios a com conseqüente perda da
da dor e inflamação e dos mecanismos de ação dos recursos força muscular e a presença da hipotrofia muscular [12,13].
terapêuticos utilizados, muitas vezes limita o profissional O edema provoca tração mecânica sobre os tecidos, dificulta
da fisioterapia em atingir o seu objetivo terapêutico. a nutrição dos mesmos e reduz a possibilidade de cicatrização
A recuperação da funcionalidade perdida é o objetivo do tecido lesado [8]. A contínua liberação de mediadores
principal do profissional de fisioterapia, que inicia com uma químicos no local da lesão vai provocar uma alteração no
abordagem de controle da dor e inflamação durante a resposta fenótipo das fibras grossas mielinizadas do tipo Ab,
do organismo a um agente agressor, como acontece, por sensibilizando- as a conduzir estímulos nocivos e contri-
exemplo, após um trauma físico, visto que, o quinto sinal da buindo para o desenvolvimento da sensibilização central
inflamação é a perda da função causada pela dor e edema (alodinia) [14,15,16].
presentes no local da lesão [3]. Portanto, entender a resposta A redução da amplitude do movimento articular pela
inflamatória significa intervir de forma mais eficiente na presença da dor e edema promove a retração dos músculos,
recuperação da função, uma vez que o processo inflamatório tendões, fáscias e capsula articular, favorecendo ainda mais
leva à disfunção [4]. Por outro lado, a compreensão da a disfunção do segmento corporal lesado.
resposta inflamatória permitirá um melhor entendimento
dos mecanismos de ação dos nossos recursos terapêuticos, Modelo teórico de atuação fisioterapêu-
possibilitando dessa forma, uma maior eficiência e indicação tica em pacientes com quadro álgico e
mais segura dos mesmos. inflamatório

Inflamação e disfunção Promover o controle da dor e inflamação de forma rápida


e eficiente é uma conduta terapêutica desejável. Para isto, é
Quando seres humanos ou animais apresentam lesões necessário que o paciente desenvolva uma baixa reatividade
corporais, uma série de modificações ocorrem na área lesada às manifestações álgicas e inflamatórias para que se possa
e ao redor dela. Manifestações tais como a hiperalgesia conseguir uma evolução clínica de forma satisfatória.
primária que ocorre no sítio da lesão e a hiperalgesia Propomos uma atuação fisioterapêutica fundamentada em
secundária que acontece próxima da área lesada estão três objetivos: a) redução da hiperreatividade como
associadas a mecanismos medulares [5]. O aumento da conseqüência da manifestação do processo álgico e
sensibilidade à dor (hiperalgesia), é provavelmente devido à inflamatório; b) recuperação da função do segmento corporal
sensibilização dos nociceptores presentes nos terminais lesado; e c) restauração dos desequilíbrios entre os segmentos
aferentes primários, após a migração de leucócitos corporais.
mononucleares e a liberação de mediadores químicos durante Em um primeiro momento, a atenção fisioterapêutica
o processo inflamatório [6]. Esse evento está associado com deve estar voltada para a redução da reatividade do paciente,
o aumento da excitabilidade dos neurônios do corno dorsal uma vez que, diante do quadro de dor ou inflamação, a
da medula espinhal [7]. Após lesão periférica, uma complexa avaliação física do paciente está comprometida. Neste
cascata de eventos é iniciada e várias substâncias pró- momento a escolha das estratégias para o controle do quadro
inflamatórias são liberadas. A hiperalgesia, a vasodilatação, álgico e inflamatório é de fundamental importância e requer
370 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

conhecimento sobre os mecanismos fisiológicos do processo [19,20]. Nessas condições, o indivíduo pode estar predisposto
álgico e inflamatório, bem como dos mecanismos de ação a uma lesão e, se ela ocorrer com persistência da dor, poderá
dos diferentes recursos fisioterapêuticos disponíveis para evoluir para um quadro de cronicidade, dificultando ainda mais
este propósito. a recuperação do segmento corporal comprometido, conforme
Após a escolha dos recursos terapêuticos e durante a verificado na fig. 2.
aplicação dos mesmos, até se conseguir uma estabilidade na
resposta do paciente para que a recuperação da função seja Figura 2 - Representação esquemática da cronificação da dor
após lesão tecidual.
possível, existe um movimento de ir e vir, de considerar e
reconsiderar o tratamento proposto, simbolizado pela flecha
de duas pontas (fig. 1), em que as estratégias de controle da
dor e inflamação são modificadas de acordo com as respostas
do paciente. Essa modificação das técnicas propostas se deve
a vários fatores, entre eles a individualidade do paciente, o
nível de reatividade do paciente, a variabilidade dos
organismos em responder às diferentes estratégias propostas,
a presença de uma sensibilização central associada à memória
da dor, e o não envolvimento do paciente no programa de
tratamento. Após a redução da reatividade do paciente, o
objetivo de restaurar a função fica mais fácil e normalmente
consegue-se um período de estabilidade do quadro clínico.
Em seguida a recuperação da função do segmento lesado, o
objetivo é a restauração dos desequilíbrios corporais, pois
em algumas situações clínicas é possível verificar que a Durante a nossa prática clínica percebemos que o
origem da disfunção não está no local da lesão, mas em outro paciente chega na maioria das vezes com um quadro de
segmento corporal, uma vez que os segmentos corporais hiperreatividade devido às manifestações álgicas e infla-
guardam entre si uma relação de funcionalidade [17]. matórias conforme é visto nas situações da síndrome do
impacto, síndrome patelo-femoral e lombalgia. Nessas
Figura 1 - Modelo de atuação fisioterapêutica no controle da dor condições é muito difícil saber qual foi a origem da
e inflamação.
disfunção. Entretanto, nessa fase o importante é o controle
da dor porque ela é a causa do aumento da lesão via insta-
bilidade biomecânica, e tratar a instabilidade biomecânica
porque ela predispõe à lesão.

Dor crônica: sensibilização central

A persistência da liberação de substâncias pró-


inflamatórias no local da lesão pode sensibilizar as fibras
grossas mielinizadas do tipo Ab a conduzir impulsos de dor
como ocorre com as fibras Ad e C. A sensibilização das fibras
Inflamação e controle motor Ab é chamado de alodinia, isto é, essas fibras que conduziam
estímulos inócuos como o tato, passam a conduzir estímulos
A dor manifestada em conseqüência de um processo de dor [21,22]. Dessa forma, pode ocorrer um aumento da
inflamatório pode provocar padrões de movimentos indesejados atividade elétrica dos neurônios do corno dorsal da medula
e posturas em desequilíbrio [18]. A dor restringe ou até mesmo conhecido como sensibilização central, verificado durante as
interrompe o movimento, conforme é verificado na clínica situações de dor crônica [14]. A condição de sensibilização
fisioterapêutica, através de uma marcha claudicante ou restrição central vai manter alterado o controle motor como é visto nos
total dos movimentos da coluna lombar durante um quadro de quadros de dor crônica. Além disso, a sensibilização central
lombalgia aguda. A presença da dor parece aumentar a atividade pode aumentar a excitabilidade dos motoneurônios a
em determinados grupos musculares, e inibição e fraqueza em justificando o aumento do reflexo flexor de retirada, bem
outros grupos, provocando dessa forma, um comprometimento como o aumento da excitabilidade dos fusos musculares via
no controle motor [10]. Esse déficit no controle motor que motoneurônio g, induzindo um aumento do espasmo e tensão
ocorre em função de um desequilíbrio muscular pode resultar muscular na região [10].
na perda da estabilidade articular e, conseqüentemente vai A intervenção fisioterapêutica nas condições de dor aguda
predispor o individuo à uma vulnerabilidade biomecânica e crônica pressupõe a desensibilização das vias de dor, bem
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 371

como aumento da liberação de substâncias anti-inflamatórias 8. Hurley JV. Inflammation. In: Staub NC, Taylor AE eds. Edema.
e redução das substâncias pró-inflamatórias liberadas New York: Raven Press; 1984. p. 463-488.
durante o processo inflamatório [13,22]. 9. Nathan C. Points of control in inflammation. Nature 2002; 420:
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10. Sterling M, Jull G, Wright A. The effect of musculoskeletal pain on
Conclusão
motor activity and control J. Pain 2001; 2: 135-145.
11. Barlow Y, Willoughby J. Pathophysiology of soft tissue repair. Br
A compreensão dos mecanismos de ação dos recursos
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utilizados pela fisioterapia, frente às manifestações do 12. McNair PJ, Marshall RN, Maguire K. Swelling of the knee joint:
processo inflamatório e álgico de forma clara e sistematizada, effects of exercise on quadriceps muscle strength. Arch Phys Med
fundamentada no modelo teórico em forma de tríade Rehabi 1996;77: 896-8.
proposta neste artigo, possibilitará ao profissional de Fisio- 13. Sluka KA. Pain mechanisms involved in musculoskeletal disorders.
terapia a busca da eficiência para os seus objetivos terapêu- JOSPT 1995; 24:240-54.
ticos. Além disso, permitirá uma ação mais consciente de 14. Hunt JL, Winkelstein BA, Rutkowski MD, Weinstein JN, Deleo
seu trabalho, bem como ampliar o seu conhecimento sobre JA. Repeated injury to the lumbar nerve roots produces enhanced
o binômio função-disfunção. mechanical allodynia and persistent spinal neuroinflammation. Spine
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17. Schilder P. A imagem do corpo – as energias construtivas da psique. São
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372 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Artigo original

Qualidade da execução de AVDs em idosos


institucionalizados e não-institucionalizados
que permaneciam sem sair de suas residências
por mais de 6 meses
Quality of ADL execution in elderly institutionalized
and not institutionalized that remained without leaving their
residences for more than 6 months
Ana Carolina Ferrantin*, Camila Fernanda Borges*, José Geraldo da Silva Morelli, M.Sc**,
José Rubens Rebelatto, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Graduada em Fisioterapia pela Universidade Camilo Castelo Branco – Unicastelo – Campus VIII – Descalvado,
**Fisioterapeuta, responsável pela disciplina de Fisioterapia aplicada a Geriatria e Gerontologia do curso de Fisioterapia
da Universidade Camilo Castelo Branco – Unicastelo – Campus VIII, ***Prof. adjunto do curso de Fisioterapia
da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Resumo Abstract
O objetivo foi verificar a qualidade da execução de AVDs The objective was to verify the quality of the execution of
em idosos institucionalizados (I) e não-institucionalizados (NI) ADL in elderly institutionalized (I) and not institutionalized
que permaneciam sem sair de suas residências por mais de 6 (NI) that remained without leaving their residences for more
meses. Os institucionalizados foram selecionados em asilos de than 6 months. The institutionalized ones were selected in
Descalvado SP e região e os não-institucionalizados a partir de asylums of Descalvado SP and region and the not
informações adquiridas em postos de saúde destas cidades. institutionalized ones from information acquired in Health
Constituíram o grupo dos não-institucionalizados indivíduos Services of these cities. The group of not institutionalized was
que não saíam de suas residências por mais de 6 meses. Para os constituted of individuals that did not leave their homes for
grupos foram eleitos sujeitos com capacidade de compreensão more than 6 months. For the groups individuals with
e cognição. Utilizou-se 44 idosos de ambos os sexos, sendo 22 understanding and cognition capacity were selected. Were used
institucionalizados e 22 não-institucionalizados, com idades 44 aged people from both sex, being 22 institutionalized and 22
médias de 74,86 ± 8,89 e 71,68 ± 6,45 anos, respectivamente. not institutionalized with average age between 74,86 ± 8,89 and
Todos os idosos foram entrevistados por meio do Índice de 71,68 ± 6,45 years old respectively. All the aged were interviewed
Barthel e os resultados foram analisados pelo teste T-Student, by means of the Index of Barthel and the results were analyzed
com significância de p < 0,05. Não houve diferença by the T-Student test, with a significance of < 0.05. There was
estatisticamente significativa para a pontuação referente à not a significant difference of the punctuation with reference to
execução das AVDs realizadas pelos institucionalizados (17,72 the execution of the ADL carried by the institutionalized (17,72
± 3,70) e não-institucionalizados (16,09 ± 4,38). Dessa forma, ± 3,70) and the not institutionalized (16,09 ± 4,38). Therefore, it
sugere-se que a execução das AVDs é semelhante entre idosos is suggested that the execution of the ADL is similar between
asilados e aqueles idosos da comunidade que não saem de suas the aged living in asylums and those of the community that do
residências há mais de 6 meses. not leave their homes for more than 6 months.
Palavras-chave: AVD, idosos, institucionalizados e não- Key-words: ADL, elderly, institutionalized, not institutionalized.
institucionalizados.

Artigo recebido 28 de fevereiro de 2005; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: José Geraldo da Silva Morelli, Av. Prudente de Moraes, 985 Centro 14801-170 Araraquara SP, Tel: (16)3335-3140/9994-
2532, E-mail: jg.morelli@uol.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 373

Introdução asilares. Os idosos não-institucionalizados tinham idades


compreendidas entre 63 e 89 anos (71,68 ± 6,45 anos) e os
Segundo Carvalho Filho & Papaléo Netto [1], o Brasil idosos institucionalizados tinham idades compreendidas
terá, em 2025, a sexta maior população de idosos do mundo, entre 61 e 89 anos (74,86 ± 8,89 anos). Os idosos foram
com uma proporção de aproximadamente 14% da população selecionados na comunidade e em instituições asilares da
e em números absolutos, cerca de 32 milhões de idosos. A cidade de Descalvado e região. Todos os idosos entrevistados
partir dessa constatação é possível compreender a necessidade deambulavam sozinhos ou com auxílio de pessoas ou de
da adoção de políticas públicas voltadas para essa parcela da algum tipo de órtese, mas os não-institucionalizados não
população bem como de estudos que possam caracterizar de saíam de suas residências ou quando saíam, só faziam com
forma mais clara esses indivíduos e seus problemas. auxílio de uma outra pessoa há mais de seis meses. Foram
O processo de envelhecimento por si só, promove excluídos aqueles idosos cadeirantes ou com baixa capaci-
inúmeras perdas ao ser humano e dentre elas pode ser citada dade cognitiva. Os idosos participantes bem como os
a diminuição da cognição. Segundo Ruchinskas et al. [2] a responsáveis pelas instituições asilares assinaram um Termo
redução da cognição nos idosos pode estar correlacionada de Consentimento Livre e Esclarecido de acordo com a
com a diminuição do desempenho na realização das resolução 196/96 do CNS.
atividades de vida diária (AVDs) e essas dificuldades
cognitivas determinam a necessidade de supervisão de Procedimento
cuidadores, especialmente em idosos institucionalizados.
Outro fator que merece ser destacado está diretamente Foi utilizado o questionário Índice de Barthel que avalia
relacionado ao imobilismo, fato este bastante prevalente nesta a qualidade da execução de determinadas AVDs.
faixa populacional. A falta de mobilidade característica de Os idosos foram identificados por meio de visitas a
idosos institucionalizados favorece a perda de massa muscular instituições asilares da cidade de Descalvado e região. Nas
ou sarcopenia nos membros inferiores, aumenta a probabilidade instituições foi feito um levantamento daqueles idosos que
de quedas, hospitalizações e, conseqüentemente, perda poderiam ser participantes do estudo de acordo com os
importante da qualidade de vida [3]. Esse mesmo fato pode ser critérios de inclusão e exclusão citados anteriormente.
encontrado naqueles idosos que apresentam dificuldade em Quanto aos idosos não-institucionalizados, foram realizadas
sair de suas residências, pois, da mesma forma que para os visitas a dois centros de saúde da referida cidade, onde foram
idosos institucionalizados, a falta de capacidade para realização coletadas informações sobre aqueles idosos que apresen-
de AVDs pode gerar as conseqüências citadas e outras tavam dificuldade em sair de suas residências. De posse
igualmente importantes, como por exemplo, quadros dessas informações e com o acompanhamento de uma agente
demenciais, patologias respiratórias, maior perda de densidade comunitária do centro de saúde, foram realizadas visitas a
óssea, entre outros. Além disso, estudar a população idosa, estes idosos. Em seguida foi aplicado o Índice de Barthel
considerando os idosos institucionalizados e aqueles que não nos idosos que estavam em concordância com os critérios
saem de suas residências é, porém, importante pelo fato de não estabelecidos.
ser uma comparação usual. Tal aspecto permite que várias O Índice de Barthel [4] se caracteriza por apresentar
questões sejam formuladas: qual a diferença entre a qualidade questões referentes a qualidade da execução de determinadas
de vida de idosos institucionalizados e não-institucionalizados AVDs. São elas: função intestinal e da bexiga, capacidade
que não saem de suas residências? Suas condições cognitivas de realização de cuidados pessoais, uso do banheiro,
são semelhantes? Suas condições físicas são semelhantes? A alimentar-se, capacidade de transferir-se da cama para cadeira
execução das AVDs apresentam a mesma qualidade? ou ao contrário, mobilidade de forma geral, vestir-se, subir
e descer escadas e banhar-se. Toda as atividades são
Objetivo pontuadas de zero (0) a um (1), zero (0) a dois (2) ou zero (0)
a três (3) pontos. O máximo de pontos que uma pessoa pode
Este trabalho teve como objetivo verificar a diferença na atingir são vinte (20) pontos, sendo estes, representativos da
qualidade da execução de atividades de vida diária (AVDs) de melhor qualidade na realização das AVDs citadas.
indivíduos institucionalizados e não-institucionalizados que Os dados encontrados foram analisados por meio do teste
permaneciam sem sair de suas residências por mais de seis meses. T-Student, respeitando um nível de significância p < 0,05.

Material e método Resultados

Sujeitos Por meio da análise da Figura 1 é possível observar que


não há diferença estatisticamente significativa (p < 0,05)
Foram observados 44 idosos de ambos os sexos, sendo entre a pontuação atingida pelos idosos institucionalizados
22 moradores da comunidade e 22 moradores de instituições (17,72 ± 3,70) e os idosos não-institucionalizados com alta
374 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

permanência no lar (16,09 ± 4,38). Também é possível acontecem nos mais variados sistemas orgânicos do corpo
destacar que, de acordo com o índice utilizado, os dois humano. Dentre estes sistemas que apresentam perdas
grupos estudados apresentaram valores próximos à funcionais podem ser citados os sistemas intestinal, urinário,
pontuação máxima preconizada pelo teste. visual e músculo-esquelético, entre outros [1,3].
A diminuição no funcionamento geral dos sistemas
Figura 1 - Valores médios e desvio padrão referentes às pontuações orgânicos do idoso também pode gerar um a diminuição na
no Índice de Barthel de idosos institucionalizados e não-
qualidade da execução de atividades de vida diária (AVDs)
institucionalizados.
desta população. Segundo Thapa et al. [5], 45 a 70% dos
idosos residentes em instituições sofrem quedas anualmente
e esta taxa é duas vezes maior que em idosos não-
institucionalizados. A maior prevalência de quedas em
idosos institucionalizados talvez esteja correlacionada à
maior inatividade destas pessoas e isto vem ao encontro do
relato de Lichtenberg et al. [6] que afirmam que em idosos
institucionalizados pode ser encontrada maior redução da
cognição e esta pode estar associada com a diminuição da
habilidade para desenvolver as AVDs.
As afirmações citadas estão em discordância com os
resultados encontrados neste estudo se for considerada a
população que, embora não-institucionalizada, permanece
por tempo prolongado em suas residências. De uma
pontuação máxima de vinte (20) pontos, tanto idosos
Vale ressaltar que de todas as atividades de vida diária
institucionalizados como não-institucionalizados atingiram
propostas pelo Índice de Barthel, foi possível notar que o
pontuações próximas, 17,72 ± 3,70 e 16,09 ± 4,38 pontos,
item “escadas” apresentou maior diferença entre os grupos
respectivamente. Por outro lado a literatura aponta uma
(Figura 2). Na faixa etária de 60 a 69 anos, 60% dos idosos
baixa sensibilidade do Índice de Barthel [4], falta de força
institucionalizados obtiveram pontuação máxima (2 pontos)
discriminatória fina e introdução de subjetividade à avaliação
neste quesito, sendo que nenhum idoso com alta permanência
feita por este índice [7]. Além disso, Rockood et al. [8]
no lar apresentou esta pontuação. Nos idosos que se
afirmam que o Índice de Barthel pode ser um instrumento
encontravam na faixa etária de 70 a 79 anos, 66% dos
útil para avaliação de indivíduos hospitalizados bem como
institucionalizados apresentaram pontuação máxima e 25%
de indivíduos com algum grau de demência. Dessa forma,
dos idosos que permaneciam no lar apresentaram a mesma
estes relatos podem explicar a alta pontuação dos grupos,
pontuação. Quanto aos idosos com 80 a 89 anos, 66% dos
visto que eles possuem características pessoais diferentes
institucionalizados e 55% dos com alta permanência no lar,
daquelas em que o Índice de Barthel pode ser mais sensível,
apresentaram a Não-Institucionaliz
segundo os autores citados. Outro fator que pode explicar a
Figura 2 - Pontuação máxima obtida pelos sujeitos estudados alta pontuação dos grupos é o citado por Creel et al. [4] que
para o item escadas do Índice de Barthel. afirmam que uma das limitações do Índice de Barthel inclui
a possibilidade de apresentar o “efeito teto”, especialmente
quando não for utilizado em populações com características
semelhantes às citadas.
Vale ressaltar que a não significância estatística encontrada
demonstra que a qualidade da execução das AVDs para os
dois grupos estudados é semelhante e que mesmo idosos que
não são moradores de instituições asilares podem apresentar
imobilismo e as conseqüências da inatividade. Segundo
Xavier et al. [9] a percepção em relação à qualidade de vida
para idosos está diretamente relacionada à saúde e,
conseqüentemente, à funcionalidade e autonomia.
A partir destas constatações, mesmo levando em
consideração as limitações do Índice de Barthel para a
Discussão população estudada, algumas afirmações podem ser
consideradas: a) idosos moradores de instituições asilares
Vêm sendo amplamente discutida na literatura as perdas podem apresentar a mesma qualidade na execução de AVDs
funcionais que ocorrem com a senescência e, estas perdas, que idosos moradores da comunidade que permanecem por
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 375

longo tempo em suas residências; b) a semelhança na execução 2. Ruchinskas RA et al. Cognitive status and ambulation in geriatric
das AVDs talvez esteja amparada no imobilismo e não na rehabilitation: walking without thinking? Arch Phys Med Rehabil
situação de moradia. Ou seja, a adoção de um outro estilo de 2000;81:875-82.
vida parece ser a alternativa mais adequada, pois segundo 3. Lustri WR, Morelli JGS. Aspectos biológicos do envelhecimento.
In: Rebelatto JR; Morelli JGS. Fisioterapia Geriátrica – A prática
Rebelatto e Morelli [10] o imobilismo leva à maior perda de
da assistência ao idoso. São Paulo: Manole; 2004. p.37-84.
massa muscular, especialmente nos membros inferiores,
4. Creel GL, Light KE, Thigpen MT. Concurrent and contruct validity
podendo gerar maior grau de dependência com o passar do
of scores on the timed movement battery. Phys Ther
tempo. Robert Pires [11] afirma que a prática sistemática de 2001;81(2):789-98.
atividade física pode produzir inúmeros benefícios aos idosos 5. Thapa PB, Brockman KG, Gideon P, Fought RL, Ray WA Injurious
e, conseqüentemente, à qualidade de vida. falls in nonambulatory nursing home residents: a comparative study
O exame dos dados encontrados também permite analisar of circumstances, incidence, and risk factors. JAGS 1996;44:273-8.
novos aspectos relativos a importância das adequações 6. Lichtenberg PA et al. A preliminary investigation of the role of
ambientais e funcionais para os indivíduos idosos, indepen- cognition and depression inpredicting functional recovery in geriatric
dentemente de tais adequações serem implementadas em rehabilitation patients. Adv Med Psychol 1994;7:109-24.
instituições formais ou nas próprias residências. 7. Dickstein R, Hocherman S, Pillar T, Shaham R. Stroke
rehabilitation. Three exercise therapy approaches. Phys Ther
1986;66(8):1233-8.
Conclusão
8. Rockood K, Stolee P, Fox RA. Use of goal attainment scaling in
measuring clinically important change in the frail elderly. J Clin
Por meio da análise dos resultados obtidos sugere-se que Epidemiol 1993;46(10):1113-8.
a qualidade na execução de algumas AVDs em idosos 9. Xavier FMF, Ferraz MPT, Marc N, Escosteguy NU, Moriguchi
institucionalizados não difere significativamente de idosos EH. Elderly people‘s definition of quality of life. Rev Bras Psiquiatr
não-institucionalizados que não saem de suas residências. 2003;25(1):31-9.
10. Rebelatto JR, Morelli JGS. Fisioterapia Geriátrica – A prática da
Referências assistência ao idoso. 1ed. São Paulo: Manole; 2004.
11. Robert Pires CM. Fisiologia do exercício aplicada ao idoso. In:
1. Carvalho Filho ET, Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, Rebelatto JR, Morelli JGS. Fisioterapia Geriátrica – A prática da
clínica e terapêutica. 1ed. São Paulo: Atheneu; 2000. assistência ao idoso. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2004.p.123-65. J
376 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Artigo original

Lombalgia em fisioterapeutas e estudantes


de fisioterapia: um estudo sobre a distribuição
da freqüência
Low back pain in physical therapists and undergraduates:
a study concerning the frequency distribution
Clayton de Souza da Silva, M.Sc.*, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.*
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Programa de Mestrado em Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro RJ

Resumo Abstract
O estudo objetivou identificar a prevalência de dor lombar This study aimed to identify the prevalence of low back
em fisioterapeutas freqüentadores dos cursos de pós-graduação pain among physical therapists who attend the post-graduation
da Universidade Castelo Branco das cidades de Volta Redonda, course at Castelo Branco University in Volta Redonda, Juiz de
Juiz de Fora e Rio de Janeiro. Foi utilizado um questionário Fora and Rio de Janeiro. A self-applicable epidemiological
epidemiológico, auto-aplicável, adaptado, validado, do Quebec questionnaire, adapted from the Quebec Back Pain Disability
Back Pain Disability Scale, enfocando a dor lombar e os aspectos Scale and validated, was used, focusing on the low back pain
que envolvem os fisioterapeutas. Participaram do estudo 202 and also on the aspects related to the physical therapists. The
profissionais e acadêmicos de ambos os sexos, com média de sample was constituted by 202 workers and undergraduates of
idade igual a 25,7 ± 3,7 anos. Foram empregadas técnicas de both sex and age 25,7 ± 3,73. In the analysis, it was used both
estatística descritiva para caracterização dos dados médios das descriptive statistical techniques with the purpose of
respectivas variáveis, e técnicas de estatística inferencial, através characterizing the average data of the respective variables and
de um teste não paramétrico qui-quadrado, para uma significância inferential statistical techniques by means of a no parametric
de p < 0,05. A prevalência de lombalgia encontrada foi de 76,4% test Qui-square to reach a significance level of p < 0,05. The
e os achados apontam que tal valor varia de acordo com a prevalence of low back pain found in this study was of 76,4%.
idade, estado civil, massa corporal, freqüência da prática de And these results show that this number vary according to the
atividade física, pré-aquecimento e cansaço físico após a jornada age, marital status, body mass, frequency of physical activities,
de trabalho. O conhecimento adquirido pelos fisioterapeutas warming and physical tiredness after a working day. The
tem demonstrado não lhes garantir imunidade quanto à knowledge acquired by the physical therapists does not prevent
presença da lombalgia. them from the low back pain.
Palavras-chave: lombalgia, prevalência, fisioterapeutas, saúde Key-words: Low back pain, prevalence, physical therapists,
coletiva. public health.

Artigo recebido em 4 de julho de 2005; aceito em 15 de outubro de 2005.


Endereço para correspondência: Clayton de Souza da Silva, Av. Euclides Alves G. Cotia, 57 Centro 27420-000 Quatis RJ, Tel.: (24) 9831-2372 / (24)
3353-6669, E-mail: quafis_rj@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 377

Introdução de hora ou restrição no trabalho, ou transferência para outro


cargo [10].
A lombalgia, dentre as patologias osteomioarticulares, A lombalgia é comumente tratada por fisioterapeutas,
merece atenção especial e pode ser considerada como apesar destes estarem sendo apontados como portadores deste
problema de saúde pública devido a alguns fatores: magnitude quadro [3], conforme estatísticas de prevalência australianas,
(abrangência), transcendência (o custo social do agravo à as quais se aproximam dos levantamentos americanos,
população) e vulnerabilidade (o quanto à doença pode ser canadenses e britânicos.
controlada com a adoção de medidas apropriadas) [1]. Atividades envolvendo contato com paciente, prática
Vários estudiosos têm trabalhado para demonstrar a comum no atendimento do fisioterapeuta, estão diretamente
extensão dos fatores acima citados. Quanto à magnitude e ligadas às lesões ocupacionais entre terapeutas [7]. A dor
transcendência relativas à dor lombar, os dados a apontam lombar pode aparecer após esforço físico excessivo em
como a principal causa de inabilidade física em populações estruturas normais ou após ação de força física normal em
ativas de países industrializados, como exemplo da estruturas lesadas [13].
Inglaterra, o que a torna um dos maiores problemas da saúde A prática da fisioterapia requer a realização de muitas
pública neste país. Seus custos foram estimados em cerca de tarefas de trabalho intenso no que se refere ao tratamento do
£1,632 bilhões. Somente o setor de fisioterapia é responsável paciente, como levantar, abaixar, rotacionar, alongar,
pelo atendimento de 1.3 milhões de pessoas ao ano, com um executar terapias manuais e manter posições fletidas [11].
gasto de £251 milhões [2]. Tais atividades, quando desempenhadas por um período de
A prevalência de lombalgia na população geral em países tempo prolongado, podem resultar em lesões. Nos estudos
como o Canadá é semelhante à da Inglaterra (27%) e próxima de diversos pesquisadores, os fisioterapeutas relataram sofrer
à dos Estados Unidos (26-29%) [3]. Já a mesma prevalência mais lesões ocupacionais na coluna lombar do que em
na população geral australiana entre jovens (15-24 anos) é de qualquer outra área anatômica [10-12].
cerca de 16% e 18% entre os adultos jovens (25-34 anos) [4]. Vem sendo observado que a prevalência de lombalgia
Destaque tem merecido o fator vulnerabilidade. Estudos também é elevada entre os estudantes de fisioterapia [4,14].
demonstram que são desconhecidos os mecanismos Em relação à idade, as afecções lombares atingem os
patogênicos relativos à maioria das lombalgias e que apenas fisioterapeutas em sua fase mais produtiva da vida, antes da
cerca de 10% dos pacientes evoluem para a fase crônica. terceira década [14].
Contudo, estes últimos são responsáveis por 75-90% dos A tabela I demonstra a comparação da prevalência de
custos sociais que envolvem o tratamento da dor lombar, lombalgia em fisioterapeutas/acadêmicos, conforme a
demonstrando a importância dos cuidados para que esta fase média de idade encontrada por alguns pesquisadores.
não seja atingida [5]. Diante de uma patologia com uma Observa-se que apesar do ambiente de tratamento existir
abrangência tão ampla, mais importante que tratar a dor com a finalidade de oferecer tratamento àqueles que estão
lombar é preveni-la [6]. doentes ou apresentam lesões, este pode ser um local de
Diversos estudos têm demonstrado que a lombalgia é risco para se trabalhar [15].
muito comum em algumas profissões e ambientes envol-
vendo a área de saúde [7], caracterizando-a, nessas situações, Materiais e métodos
como uma lesão ocupacional [3,8-12]. A desordem
musculoesquelética relacionada ao trabalho (DMT) é Foram convidados a participar do estudo, fisioterapeutas
definida como uma lesão musculoesquelética resultante de e estudantes de fisioterapia, alunos dos cursos de pós-
um evento ligado à atividade laboral, que pode levar à perda graduação voltados para os profissionais da área na

Tabela I - Prevalência de lombalgia em fisioterapeutas/acadêmicos conforme a média de idade.

Autor Prevalência de lombalgia em fisioterapeutas Média de idade

Nyland & Grimmer [4] 69,2% - ao longo da vida 16,4 ± 2,9 anos
63,2% - 12 meses
Madeira et al. [14] 19% início do estágio 25,5 anos
30% durante o estágio
62% final do estágio
Salik e Özcan [24] 25,5% 30,4 ± 4 anos
West & Gardner [12] 35% 38,1 anos
Cromie et al. [9] 62,5% - 12 meses 38,0 anos (80% = 20-29 anos)
Holder et al. [10] 62% - 24 meses 37,9 anos
maiores taxas observadas em idades entre 21 e 30 anos
378 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Universidade Castelo Branco, das cidades de Volta Redonda,
Rio de Janeiro e Juiz de Fora.
A amostra estudada contou com 202 (duzentos e dois)
participantes, sendo 74 alunos da cidade de Volta Redonda,
60 (sessenta) alunos do Rio de Janeiro e 68 (sessenta e oito)
de Juiz de Fora, totalizando 178 profissionais e, destes, 32
eram acadêmicos.
A opção pela escolha dos cursos de pós-graduação se deu
devido ao fato de encontrarmos reunidos profissionais e
estudantes de fisioterapia atuantes em áreas diversificadas, A amostra estudada apresentou uma média de idade
como a fisioterapia voltada à traumato-ortopedia, neuro- baixa (25,70 ± 3,73 anos), sendo aquela relacionada aos
logia, pediatria e respiratória. terapeutas com dor lombar (25,45 ± 3,36 anos) inferior
Os estudantes de fisioterapia foram incluídos no estudo àquela daqueles sem dor (26,72±4,76 anos).
com base na revisão da literatura, a qual demonstra a Os achados sugerem que tal prevalência varia de acordo
presença de lombalgia incidindo nestes de forma precoce. com a idade (p = 0,0003), o estado civil (p = 0,0024), massa
Apesar de ciente quanto às limitações existentes nos corporal (p = 3,05), freqüência da prática regular de atividade
estudos ditos transversais, onde a relação exposição-doença física (p = 0,0006), prática do pré-aquecimento (p = 0,0006),
é examinada em uma determinada população em um dado além do cansaço físico após a jornada de trabalho (p =
momento, foram inseridas questões sobre o passado, neste 0,0145).
caso, referente à manifestação da dor lombar, com o intuito Os fisioterapeutas que relataram a presença da dor lombar
de esclarecer melhor as relações referentes ao fenômeno (76,4%) apontam que a lombalgia se manifestou, princi-
estudado. palmente, com uma freqüência de forma esporádica (43,9%),
A coleta dos dados foi feita pelo próprio autor, através da seguida pela semanal (29,8%), diária (13,4%) e mensal
aplicação de questionário, devidamente adaptado e validado, (12,9%), respectivamente. Quanto à intensidade da dor,
com perguntas pertinentes ao objetivo do estudo, durante as observou-se uma predominância de respostas “moderada”
aulas dos cursos de pós-graduação. (57,3%) em relação à “suave” (24,9%) e “severa” (17,8%).
Foi utilizado como instrumento de pesquisa um A grande maioria (87,2%) relatou não ter reduzido suas
questionário epidemiológico, auto-aplicável, do Quebec Back atividades nos últimos 12 meses e 13,6% sofreram algum
Pain Disability Scale. Foram necessárias algumas alterações tipo de impedimento em realizar suas atividades/trabalho
no questionário original com a finalidade de adaptá-lo à neste período, devido à dor lombar. Apenas 15,4%
realidade dos fisioterapeutas, sendo devidamente validado. procuraram ajuda médica. Houve manifestação da dor, nos
O tratamento estatístico foi dividido em duas partes últimos 7, dias em 67,3% daqueles que relataram lombalgia,
distintas. A primeira, relativa à estatística descritiva na qual e somente 37,0% confirmam realizar algum tipo de
foram estudadas as distribuições de freqüências para os dados tratamento voltado ao quadro álgico lombar.
discretos, obedecendo ao sistema de contagem para Dentre os fisioterapeutas com lombalgia (76,4%), a pré-
composição dos valores quantitativos. existência da dor lombar em relação ao seu trabalho foi
Na segunda parte foram aplicados métodos relativos à apontada por 63,6% (48,6% da amostra total). Destes, 65,6%
estatística inferencial, através da qual fez-se o teste de (18,8% da amostra) negam que a prática da fisioterapia tenha
hipóteses, formuladas pelo presente estudo. O teste utilizado sido determinante no agravamento de suas dores e 34,4%
para tal foi o teste Não Paramétrico Qui-quadrado de (9,0% de toda a população estudada) atribuem o trabalho
Pearson, tendo como variável discricionária à questão como fisioterapeuta à piora de seu quadro.
relativa a presença de dor lombar, no sentido de verificar a
existência ou não de relações funcionais e de prevalência da Discussão
dor lombar com as demais questões formuladas pelo
instrumento questionário. No presente estudo, identificou-se que a prevalência de
Observou-se um nível de significância p < 0,05, como lombalgia dentre os fisioterapeutas estudados foi de 76,4%.
base crítica para análise conclusiva dos resultados observados A distribuição da freqüência de dor lombar encontrada é
nos cruzamentos constituídos. muito superior àquela referente à população geral, mas
aproxima-se dos estudos relatados pela literatura pertinente
Resultados à mesma classe de profissionais [4,10,12,14], cuja média
de idade foi tão baixa quanto a nosso grupo – 25,70 anos –
No presente estudo, identificou-se que a prevalência de (Tabela I). Tal fato corrobora com pesquisas, as quais de-
lombalgia dentre os fisioterapeutas estudados foi de 76,4%. monstram que a prevalência de lombalgia em fisio-
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 379

terapeutas é mais significativa entre estudantes e terapeutas ao pensamento de Alexandre, Henrique & Moraes apud
mais jovens. Madeira [14], o qual acredita que a obesidade é um fator de
Apesar da pesquisa ter sido realizada em três locais risco para o aparecimento da lombalgia.
distintos, observou-se que este fator não apresentou A prática ou não de atividade física demonstrou nesse
resultados estatisticamente diferentes, relativos à presença estudo ser fator de grande relevância quanto à presença ou
de dor lombar (p = 0,9664). Por outro lado, percebemos ausência de dor lombar. Deparamo-nos com uma amostra
que as taxas de prevalência de lombalgia diferem muito de predominantemente sedentária, onde, dentre aqueles com
acordo com os países estudados. Tal fato nos sugere duas dor, somente 33,3% praticam e 65,4% não praticam
possibilidades de interpretação. A primeira referente à falta atividades físicas. Diante da elevada prevalência de dor
de rigor metodológico empregado nos estudos, como citado lombar encontrada nesse grupo, a importância da prática de
por Loney & Stratford [16] o que pode levar, em última atividade ou exercícios físicos para a classe de fisioterapeutas
análise, à grande variação das taxas encontradas. A segunda é ainda mais reforçada. Tal afirmativa vai de encontro aos
nos leva a refletir se há ou não uma homogeneidade quanto achados citados na revisão da literatura, os quais apontam
ao trabalho destes profissionais em relação a uma mesma para a prática de exercícios físicos atuando positivamente
região ou a um país. O “trabalho” mencionado acima sobre a presença da dor lombar [13,19-23].
envolvendo todo o ambiente e as diversas técnicas
empregadas. Conclusão
A idade dos profissionais se mostrou relevante quanto à
presença da dor. Os indivíduos com lombalgia apresentaram Os ambientes de saúde têm demonstrado não tornar os
médias de idade inferiores (25,45 anos), comparativamente agentes de saúde imunes às doenças relacionadas ao trabalho
àqueles sem dor lombar (26,72 anos), (p = 0,0003) (DORTs) como, por exemplo, às lombalgias ocupacionais.
confirmando os estudos de diversos autores, que relatam Acometem, principalmente, terapeutas que necessitam de
que as dores lombares atingem os fisioterapeutas em sua contatos físicos constantes com o paciente, como enfermei-
fase mais produtiva da vida, antes da terceira década, dentre ros, fisioterapeutas, dentre outros.
os cinco primeiros anos de exercício da profissão Os estudos direcionados aos profissionais de saúde, mais
[3,4,12,14,17,18]. especificamente com relação às classes da enfermagem e da
Concordamos com a opinião de Madeira et al. [14] a fisioterapia, têm demonstrado haver uma elevada prevalên-
respeito do acometimento dos jovens profissionais pelas cia de dor lombar nestes profissionais.
DMTs, devido à falta de experiência aliada à vontade de Os dados arrolados nesta pesquisa demonstram uma alta
querer se superar somadas aos ambientes inadequados. prevalência de dor lombar acometendo os profissionais e
Acreditamos que devemos adicionar aos fatores acima a falta acadêmicos de fisioterapia (76,4%), quando comparados à
de preparo profissional quanto aos conhecimentos população geral (26-29% - Estados Unidos). Resultados
ergonômicos, biomecânicos e posturais por parte dos semelhantes aos desta pesquisa foram encontrados nos
terapeutas, assim como a falta de uma conscientização da demais estudos que, de forma similar, possuíam baixa média
necessidade de cuidados especiais com a forma física, que de idade dentre os fisioterapeutas e acadêmicos. Tal fato
certamente lhes será exigida em quase todas as áreas de demonstra o acometimento precoce destes profissionais pela
atuação fisioterapêutica. dor lombar, interferindo em seu trabalho e em sua vida
A presença de dor lombar se mostrou independente do particular.
sexo (p = 0,4542), corroborando com os achados de Cromie A prática de exercícios físicos regulares demonstrou,
et al. [12], os quais relatam não ter havido diferença entre os através de resultados estatisticamente significativos, ter
terapeutas homens e mulheres quanto à prevalência da impacto positivo no que diz respeito à manifestação da dor
maioria das lesões, incluindo a dor lombar. Por outro lado, lombar dentre os entrevistados.
Nyland & Grimmer [4] encontraram relevância estatística Contudo, é fato que a lombalgia se faz presente na vida
(p < 0,005), sendo mais expressiva nas mulheres. dos fisioterapeutas estudados independentemente do
Os indivíduos que apresentaram maior massa corporal trabalho destes profissionais ser causa ou fator contribuinte
(65,8 kg) denotaram maior prevalência de dor lombar quando para o surgimento ou recidiva da mesma. Partindo do
comparados à população sem dor (60,6 kg). Este resultado princípio de que o terapeuta detém os conhecimentos para
quando combinado aos observados na estatura, que se minimizar ou debelar a dor, este não poderia desenvolver
apresentaram semelhantes, implica que, se observarmos a ao longo do ato da cura do outro uma dor particular. Os
distribuição de massas diferentes em corpos de mesma resultados suscitam a necessidade de se buscar observar com
estatura, o fator IMC ganha importância na identificação de maior acurácia as informações pertinentes a este objeto de
prevalência de dor lombar, uma vez que tal fator está estudo em particular - prevalência de lombalgia em
associado à questão da obesidade. Tal fato vai de encontro fisioterapeutas.
380 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Há relevância quando se agrega valor ao processo de 11. Bork BE, Cook TM, Rosecrance JM, et al. Work-related
conscientização do universo pesquisado e, desta forma, são musculoskeletal disorders among physical therapists. Phys Ther
constituídas mudanças paradigmáticas na prática da 1996;76:827-35.
atividade fisioterapêutica, objetivando realizar de modo 12. Cromie JF, Robertson VJ, Best MO. Work-related musculoskeletal
disorders in physical therapists: prevalence, severity, risks, and responses.
efetivo ações de profilaxia da dor nos dois sentidos do
Phys Ther 2000;80:336–51.
conjunto fisioterapeuta-paciente.
13. Freire M, Natour J. Exercícios na dor lombar crônica. Uma
abordagem terapêutica. Sinopse de Reumatologia 1999;1:9-13.
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lombalgia em acadêmicos de fisioterapia no ambulatório de um
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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 381

Revisão

Propriedades anatômicas e funcionais da ATM com


aplicabilidade no tratamento fisioterapêutico
Anatomical and functional properties of temporomandibular joint with
aplicability in physical therapy
Paulo C. Nunes Jr *, Rafael L.R. Maciel **, Márcio A. Babinski, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Departamento de Fisioterapia, Centro de Saúde, Universidade Estácio de Sá, **Departamento de Morfologia, Instituto Biomédico,
Universidade Federal Fluminense

Resumo Abstract
A ATM é uma articulação que merece atenção especial por Temporo-mandibular joint (TMJ) deserves special attention
suas características morfológicas e fisiológicas. A ATM é bilateral, for its morphological and physiological characteristics. The TMJ
estando em frente a cada orelha e é responsável pelos is bilateral, in front of each ear and is responsible for opening
movimentos de abrir e fechar, executados pela mandíbula. and closing mandibular movement. It participates of the chew
Participa do processo da mastigação, do movimento da fala e da process, speech movements and deglutition. Had its constant
deglutição. Por estar em constante movimento, é muito exigida. movement very they are demanded. It is of the most complex
É das mais complexas articulações do corpo humano e o joints of the human body and the knowledge of its anatomy is
conhecimento da anatomia é essencial, pois visa reabilitação essential, in order to improve the rehabilitation of patients with
mais eficaz dos pacientes com disfunções temporomandibulares. TMJ dysfunctions. Thus, the objective of this work was to do a
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão revision directed for practice of physical therapy.
direcionada para a prática da fisioterapia. Key-words: anatomy, temporo-mandibular joint.
Palavras-chave: anatomia, articulação temporomandibular.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

mandibular (ATM) estão presos através de um processo


ligamentar. Qualquer dano nessa área resulta no desloca-
Introdução mento do disco articular da mandíbula [4,6]. A mandíbula é
o maior e mais forte osso da face, sendo um corpo em forma
As estruturas crânio-cervicais são relacionadas entre si e de ferradura com duas projeções principais, contínuas em
formam um complexo que se integra a outras estruturas do cada um dos lados com o ramo mandibular [3,7,8].
corpo humano [1]. Os músculos inseridos na mandíbula se Os ossos mandibulares são conectados através de dois
relacionam direta ou indiretamente com os músculos músculos principais: o temporal e o masseter. Alterações
cervicais e torácicos [2,3]. O conhecimento básico da em qualquer um dos componentes do sistema da mastigação
anatomia e biomecânica dessa articulação torna mais fácil o provocam reações e adaptações nos demais [9]: estudos
seu exame, permitindo uma melhor compreensão dos anátomo-cinesiológicos da ATM mostram o grau de
fenômenos patológicos [4] e, conseqüentemente, uma dificuldade existente para que se mantenha o equilíbrio
abordagem fisioterapêutica criteriosa [1,5]. Como em outras fisiológico desta juntura [10]. Quando este equilíbrio se
articulações, os componentes da Articulação Temporo- rompe, podem surgir comprometimentos mais ou menos

Artigo recebido em 3 de junho de 2004; aceito em 15 de março de 2005


Endereço para correspondência: Márcio Antônio Babinski, Departamento de Morfologia, Instituto Biomédico, UFF, Rua Prof. Ernani Mello, 101, São
Domingos, 24210-150 Niterói RJ, Fax: (21) 2587-6121, E-mail: babinski@vm.uff.br ou mababinski@gmail.com
382 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

intensos na ATM e nas demais estruturas crânio-mandi- que pode desenvolver movimentos de rotação e de translação
bulares, envolvidas na mastigação [11,12]. [7,28]. Apresenta ainda várias características próprias que a
A oclusão dental é responsável pela estabilidade da diferencia de outras articulações do corpo humano, dentre
ATM. Uma oclusão inadequada é a responsável direta pela elas duas são mais importantes:
disfunção da ATM [13,14]. Os problemas que acometem
A)funciona como unidade única, apesar de apresentar-se
essa articulação com maior freqüência são artrites, traumas,
bilateralmente (a articulação direita não pode mover-se
tumores, deslocamentos do disco, perfurações e travamento
independente da esquerda);
mandibular [15-17]. Pacientes com disfunção na ATM
B) apresenta um ponto rígido de fechamento terminal
apresentam sintomas nos músculos da mastigação, alterações
(superfície oclusal dos dentes).
posturais e sintomas álgicos [4,18]. São fatores etiológicos
da disfunção temporomandibular: traumatismos, alterações É a ATM que permite o movimento de abrir e fechar a
na coluna cervical, excessiva abertura da boca, lassidão boca, cada vez que se fala, mastiga ou deglute. Trata-se de
ligamentar e a má-oclusão dentária [19-21]. As Desordens uma articulação de mobilidade complexa [2]. Há também
Temporomandibulares (DTM) são consideradas um uma relação de interdependência da ATM com a oclusão
conjunto de distúrbios articulares e musculares na região dos dentes de ambos os arcos, o que a torna peculiar e
orofacial, caracterizados principalmente por dor, ruídos nas funcionalmente complexa [29]. O termo má-oclusão designa
articulações e função mandibular prejudicada [4,22]. encaixe errado dos dentes. Como o movimento final das
O tratamento neuromuscular em pacientes com disfun- ATM’s ocorre no contato dos dentes, um encaixe errado
ção da ATM, através da fisioterapia, objetiva tratar a pode, em alguns casos, provocar problemas nas articulações
musculatura envolvida, restabelecer sua condição de tônus, [13,14]. A abertura normal, quando medida interinci-
flexibilidade e performance e levar o paciente à diminuição sivamente e ressalvando-se as características individuais,
do processo inflamatório e álgico [18,23] . Conforme varia entre 53 mm e 58 mm [5,8].
Hoppenfeld [22], a ATM representa uma preocupação O movimento de deslizamento é o tipo mais comum,
constante de várias especialidades médico-odontológicas e pode ocorrer numa articulação sinovial acontecendo no eixo
clínico-cirúrgicas, que desejam compreender o compor- antero-posterior [27]. Especula-se que a ATM é uma
tamento da articulação nas atividades biomecânicas como articulação bicondilar e biaxial, possuindo uma superfície
mastigação, fala, bocejo, deglutição, ressonar, e em outras articular levemente côncava e outra ligeiramente convexa;
funções que utilizem a boca, nos seus 1.500 a 2.000 permitindo movimentos em dois planos perpendiculares
movimentos diários. entre si [27]. É altamente especializada, pois, interligada
A pesquisa apurada da anatomia da face propiciou a pela mandíbula, articula-se em ambos os lados, em sua
determinação da importância das diversas estruturas da porção póstero-superior com a região média da base externa
região [4,7,13,23-25]. Assim, o estudo anátomo-funcional do crânio, na face inferior do osso temporal, com o processo
da ATM é de grande relevância para a interação entre os condilar da mandíbula [28].
profissionais de odontologia e fisioterapia [5,11,26], visando A ATM está na base do crânio e é constituída pela fossa
uma reabilitação mais eficiente e eficaz dos pacientes com mandibular do osso temporal e pelo processo condilar da
DTM. Sendo assim, pretendemos apresentar revisão sobre mandíbula. A mandíbula inteira pode ser identificada por
as propriedades anatomo-funcionais da ATM, procurando palpação, particularmente a sínfise e o ângulo, logo, está à
compreender as diversas abordagens acerca da estrutura e frente do meato acústico externo, enquanto se abaixa a
disfunções dessa articulação. A revisão da literatura foi mandíbula [27]. Conforme Llorca [27], o músculo pterigóide
realizada através de busca na base de dados do site do NCBI lateral é o único músculo que desloca o côndilo para adiante,
Pubmed (Medline), no qual foram encontrados 15 artigos na abertura da boca, atuando como depressor da mandíbula
de 1982 a 2003. As palavras-chave foram: Anatomy, [3]. Distingue-se das demais articulações, pois suas
Treatment, Disfunction Temporomandibular. Foram utilizados, superfícies são recobertas por tecido fibroso avascular,
ainda, 10 artigos nacionais e 12 livros especializados. contendo células cartilaginosas, fibrocartilagem. A
superfície temporal da ATM estende-se da fissura tímpano-
Estrutura da ATM escamosa, posteriormente à margem anterior do tubérculo
articular do temporal, anteriormente [28].
Articulações sinoviais são caracterizadas por serem As partes ósseas da ATM são a cabeça da mandíbula
livremente móveis [3]. O movimento das articulações (clinicamente chamada de côndilo), eminência articular e
sinoviais é limitado somente por ligamentos, músculos, fossa mandibular do temporal [29]. O côndilo tem formação
tendões ou ossos adjacentes [3,27]. cilíndrica irregular devido à ligeira inclinação do colo da
A ATM é uma complexa juntura sinovial bicondilar mandíbula, porção estrangulada entre o côndilo e o ramo. A
(elipsóide) entre o osso temporal e a mandíbula. Também é superfície articular do côndilo dirige-se para cima e
considerada como uma articulação di-artroidal, uma vez anteriormente, e possui duas vertentes. A face mesolateral
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 383

do processo condilar é duas vezes o tamanho da face antero- ao qual está unida [28], situada entre o côndilo da mandíbula
posterior, com dimensões de 15-20 mm e 8-10 mm, e a fossa mandibular do osso temporal, dividindo a cavidade
respectivamente [1], sendo o pólo medial geralmente mais articular em dois compartimentos. Sua face superior é
proeminente que o lateral. O côndilo é a parte anterior côncavo-convexo para se adaptar à forma da fossa mandi-
convexa da mandíbula. No adulto, os côndilos mandibulares bular e a eminência articular. Sua face inferior, em contato
são cerca de duas vezes mais largos no plano frontal que no com o côndilo, é côncava. Sua parte central é mais delgada
plano sagital, proporcionando uma grande área articular [7]. que a periférica.
Assim, a grande variação na forma dos côndilos entre O disco é uma estrutura destinada a suprir as deficiências
diferentes indivíduos e entre os côndilos direito e esquerdo anatômicas existentes entre o tubérculo articular do osso
de um mesmo indivíduo explica-se pelo padrão genético e temporal e do côndilo da mandíbula tornando-as adequadas
pela ação de forças biomecânicas dentro dos limites para o desempenho da atividade funcional a que estão
fisiológicos, promovendo remodelação dos componentes destinadas [28]. Em toda sua margem relaciona-se com a
articulares. Na região mais anterior e inferior, encontra-se cápsula articular. Anteriormente o disco e a cápsula fundem-
uma depressão denominada fóvea pterigóidea onde se insere se, no que permite a inserção do feixe superior do músculo
o músculo pterigóideo lateral. pterigóideo lateral, lateralmente e medialmente o disco e a
O côndilo é composto por um osso esponjoso revestido cápsula estão fixadas independentemente nas partes lateral
por uma camada de tecido fibrocartilaginoso denso, formado e medial do côndilo da mandíbula, posteriormente o disco e
principalmente pelo colágeno e apenas escassas fibras a cápsula estão unidos por um tecido conjuntivo frouxo
elásticas [28]. Esse revestimento é mais espesso em áreas de vascularizado e inervado. Esta união frouxa dá ao disco
maior demanda funcional, fornecendo condições biológicas liberdade necessária permitindo o movimento anterior, no
adequadas para receber carga durante a mastigação. Quando caso de protrusão e abaixamento da mandíbula. A espessura
os dentes encontram-se em contato na posição de máxima do disco parece variar de acordo com o relevo das superfícies
intercuspidação, as regiões anterior e superior do côndilo articulares. Na periferia esta espessura é maior que no centro
repousam na parede posterior da eminência articular. Esta onde, em raras ocasiões, pode haver um orifício comu-
parece ser a área de maior demanda funcional. nicando as cavidades superior e inferior da ATM [22].
Durante o movimento de abertura máxima, o côndilo O disco é avascular, denervado e tem a principal função
translada até a crista da eminência, podendo ultrapassá-la de prolongar a fossa mandibular nos movimentos anteriores
em algumas articulações. Na região posterior da fossa do côndilo da mandíbula estabelecendo concordância entre
temporal encontra-se a parede timpânica, nessa área as superfícies articulares. Os meios de união são represen-
encontram-se as fissuras escamo-timpânica, petrotimpânica tados pela cápsula articular, reforçada por dois ligamentos
e a retro-escamosa. A fissura petrotimpânica estabelece uma intrínsecos e três ligamentos extrínsecos independentes [22].
comunicação entre a orelha média e a ATM, por ela passam A cápsula articular possui fibras longas e espessas super-
o nervo da corda do tímpano, a artéria e a veia timpânica. ficialmente que se estende de uma à outra superfície óssea.
Essas estruturas nervosas e vasculares estão fora dos limites Outras fibras profundas e curtas partem da superfície óssea e
funcionais da articulação, estando protegidas de qualquer terminam nos bordos do disco articular. A cápsula é delgada
pressão do côndilo. na maior parte de sua extensão, principalmente na sua parte
Na porção mais profunda da fossa mandibular, encontra- anterior onde temos a fusão do músculo pterigóideo lateral
se uma compacta óssea muito delgada, o que sugere que esta com o disco.
não seja uma área biologicamente desenvolvida para receber O ligamento temporomandibular, que reforça por fora a
pressão durante os esforços mastigatórios. A eminência cápsula articular, constitui o principal meio de união da
articular pode ser dividida em duas paredes, a parede articulação. Acima se insere no tubérculo zigomático e na
posterior e a anterior. A inclinação da eminência articular borda inferior da raiz longitudinal do arco zigomático. Deste
contribui para a má oclusão dos dentes posteriores durante a ponto se dirige obliquamente para baixo e para trás e vai
protrusão mandibular. fixar-se na parte póstero-lateral do colo da mandíbula. O
Diferentemente da fossa mandibular, a eminência ligamento temporomandibular é o único verdadeiro
articular é espessa, tolerando a presença de forças durante a ligamento da ATM. Ele age como ligamento suspensório da
função. O mesmo revestimento conjuntivo fibroso denso mandíbula, mas como suas fibras profundas são muito
presente no côndilo encontra-se na parede posterior e medial inclinadas, quase horizontais, servem também para limitar
da eminência articular. movimentos retrusivos da mandíbula e assim evitar a
A fossa mandibular é dividida em duas partes por uma compressão das estruturas situadas através da cabeça da
fenda estreita, a fissura petro-timpânica. A parte anterior é mandíbula [29].
lisa e articular e a parte posterior rugosa e não articular. O Ligamentos acessórios completam o sistema ligamentar
disco articular da ATM é uma lâmina fibrocartilaginosa de da ATM são o esfeno-mandibular e o estilo-mandibular. A
forma elíptica cujo eixo maior é paralelo ao eixo do tubérculo cápsula e seus ligamentos limitam os movimentos da
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mandíbula, particularmente depressão e retrusão. A protrusão movimento que para a força, é fundamentalmente um
da mandíbula é limitada pelo ligamento estilo-mandibular elevador da mandíbula [7]. O músculo pterigóideo medial é
[27]. Vasconcellos [22] e Fernandes et al. [4] relatam que a um potente elevador da mandíbula, que auxilia na
inervação da ATM é originada do ramo mandibular do nervo lateralidade centrífuga contra-lateral. O músculo pterigóideo
trigêmeo através do nervo aurículo-temporal. A presença de lateral na contração bilateral está para o deslizamento e
fibras nervosas mielinizadas na articulação é escassa, principalmente para protrusão.
encontrando-se maior quantidade delas próximo a vasos Tencate [28] esclarece que os músculos atuam na ATM
sanguíneos e na parte posterior do disco [28]. para efetuar a abertura e o fechamento da boca, protrusão e
retrusão, alternar movimentos laterais, fornecer estabi-
Anatomia funcional da ATM lidade. Conforme já exposto esses movimentos não ocorrem
de forma isolada, assim envolvem uma combinação
Segundo a 3ª Lei de Newton: “todos os movimentos ordenados complexa de atividade muscular.
nascem de uma base estável que resiste aos deslocamentos com força Costa Curta [30] divide os movimentos da ATM em
igual e oposta à força do movimento. Tais bases são proporcionadas Movimentos Funcionais, Movimentos Acessórios e
pelas articulações do corpo, que atuam como ponto de apoio aos Circundução, conforme a tabela e figuras:
momentos em que em torno delas a força age”. A ATM é uma Movimentos Movimentos Circundução
unidade operacional formada de complexos articulares. Como funcionais acessórios
a mandíbula é um osso único, as articulações de cada lado estão
1º Grupo: 4º Grupo (*)
coordenadas para que atuem em todos os movimentos [13,29].
Abaixamento - abertura
Para Tencate [28] o papel dos músculos na estabilidade não da boca (Fig.2) Intrusão (Fig.1)
deve ser superestimado, pois durante a mastigação as forças Elevação - fechamento
aplicadas na articulação não são apenas grandes, mas são da boca (Fig.2) Extrusão (Fig.1)
também constantemente modificadas. 2º Grupo 5º Grupo
O mecanismo dos movimentos da ATM pode ser bem Propulsão (Fig.4) Retrusão (Fig.3)
Retropulsão (Fig.3) Protrusão (Fig.4)
demonstrado na articulação do joelho, onde os côndilos
3º Grupo
femorais, reunidos anteriormente, estão apenas afastados uns Lateralidade centrífuga (Fig.5)
dois centímetros e meio, posteriormente. Como na Lateralidade centrípeta (Fig.5)
mandíbula, os côndilos femorais rodam em torno de um
eixo transversal na flexão e na extensão. Por outro lado, na (*) Circundução: é constituída de movimentos combinados
extensão completa, o fêmur roda em torno de um eixo (conforme ocorre na mastigação). Segundo Sicher [7], a oclusão
vertical aonde o côndilo lateral vai à frente, sobre uma central simboliza o conceito de posição normal da mandíbula,
cartilagem articular deslizante, da mesma maneira que a onde os dentes estão totalmente interdigitados ao mesmo
tempo, enquanto que todos os componentes cinéticos do
mandíbula no deslocamento lateral [29]. Já para Tencate
aparelho bucal estão em equilíbrio harmônico.
[28] o disco não é comparável ao menisco de algumas outras
articulações, sendo, porém, um achado único da ATM, na Figura 1 - Desenho esquemático da anatomia da ATM (vista
qual ele facilita a complexidade dos movimentos a serem lateral) sem a cápsula articular, mostra-se o músculo temporal e
realizados nela e que não podem ser feitos em qualquer outra ligamento estilo-mandibular. Notar que a oclusão não altera a
articulação. Clinicamente, Martini et al. [5] enfatizam que posição dos lábios na superfície.
em caso de deslocamento anterior do disco, por abertura e
fechamento da boca, pode haver reposicionamento discal
por meio de manipulação externa, o que viabiliza o
tratamento não-cirúrgico da articulação.
Rocabado [29] estabelece que há na relação do crânio
com a coluna cervical, uma interação entre a mandíbula e o
osso hióide. Segundo Tencate [28] em termos funcionais,
grupos de músculos acessórios são envolvidos na mastigação,
tais como o grupo pós-cervical que estabiliza a base do crânio.
O grupo infra-hióide estabiliza o osso hióide e permite que
os músculos milo-hióide e ventre anterior do digástrico
influenciem a posição mandibular.
O músculo masseter executa uma propulsão mandibular,
quando os músculos do lado direito e esquerdo atuam
simultaneamente, é o mais superficial dos músculos
mastigadores [13]. O músculo temporal está mais para o
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Figura 2 - Desenho esquemático da anatomia da ATM (vista Figura 5 - Desenho esquemático representativo dos movimentos
lateral) com a cápsula articular, mostrando ainda a abertura da funcionais da ATM (vista frontal), lateralidade centrífuga e centrípeta.
boca evidenciando os músculos temporal e masseter. Notar o deslocamento lateralizado da mandíbula com a presença
dos músculos pterigóides, medial (inferior no desenho) e lateral.

Figura 3 - Desenho esquemático representativo dos movimentos No abaixamento (abertura da boca) considera-se duas fases:
funcionais da ATM (vista lateral), retropulsão/retrusão. Em evi- a 1ª efetuada pela articulação disco-mandibular e a 2ª pela
dência os músculos temporal e masseter, bem como o ligamento
articulação disco-temporal, o movimento de elevação
tempôro-mandibular. Nesse caso a mandíbula está encurtada pro-
(fechamento da boca) é a volta a posição primitiva das superfícies
movendo uma projeção da arcada dentária superior.
articulares [30]. O movimento de propulsão é o afastamento
anterior dos incisivos inferiores em relação aos superiores, o
de retropulsão consiste na volta ao ponto inicial da propulsão
(máxima intercuspidação) posição de repouso de onde partem
todos os movimentos mandibulares. A lateralidade centrífuga
é o deslocamento da mandíbula para a direita ou para a
esquerda, distanciando-se da linha mediana, já a lateralidade
centrípeta é o retorno a ponto de máxima intercuspidação.
O movimento de intrusão é a compressão não fisiológica
do arco dental mandibular sobre a maxila a partir da máxima
intercuspidação, em sentido vertical, enquanto o de extrusão
é o retorno ao estado de descompressão dos arcos dentais. O
movimento de retrusão consiste no deslocamento posterior
da mandíbula partindo da oclusão cêntrica, a protrusão é o
movimento inverso de retrusão.
Figura 4 - Desenho esquemático representativo dos movimentos Para Sicher [7] seis músculos pares controlam os
funcionais da ATM (vista lateral), propulsão/protusão. Em evi- movimentos da mandíbula: o masseter, o pterigóideo medial e
dência os músculos da figura 2,3 e a projeção da mandíbula à o temporal são músculos elevadores da mandíbula, dois deles
frente da face. têm, também, força retrocesssiva, isto é, a porção profunda do
masseter e a porção posterior do temporal; o músculo
pterigóideo lateral é o protrusor da mandíbula; os músculos
gênio-hióideo e digástrico são abaixadores e retrocessores da
mandíbula, todos os doze músculos são ativos em todos os
movimentos da mandíbula - alguns são movimentadores, outros
equilibradores e alguns estatores. Mas os músculos para-
vertebrais do pescoço, fixando a posição do crânio, e os músculos
estilo-hióideo, gênio-hióideo e infra-hióideos, fixando o osso
hióide, são indispensáveis para a execução dos movimentos
mandibulares, porque os músculos mandibulares precisam agir
na mandíbula em bases fixas.
A ATM forma uma alavanca de 3ª classe (interpotente)
onde a articulação serve de apoio (eixo). A resistência é
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representada pela força da gravidade, que atua sobre os dentes através de medidas analgésicas e antiinflamatórias
e a potência que tem a função de movimentar a mandíbula ou (acupuntura, infravermelho, ultra-som, terapia combinada).
manter a posição de máxima intercuspidação, é representada Para inibição da dor, poder ser utilizada, também, a
pelos músculos da mastigação. Vasconcellos [25] relata o estimulação elétrica transcutânea (T.E.N.S.) em suas diversas
comprometimento da musculatura mastigadora na disfunção, formas de aplicação. A eletroterapia é utilizada desde os
desde o prejuízo direto sobre a articulação até os distúrbios à tempos mais remotos, quando já havia o conhecimento da
distância, tais como os da musculatura da mímica e cervical aplicação de suas técnicas, através do uso de correntes
posterior. Lembra ainda como é difícil o equilíbrio da cabeça, elétricas para finalidades terapêuticas como a analgesia, a
pois a articulação atlanto-occipital tem a alavanca de flexão estimulação funcional muscular e no tratamento de diversas
do crânio maior anteriormente do que posteriormente. Em patologias que acometem o ser humano [35].
compensação, o braço de alavanca da musculatura pós- Para um melhor condicionamento muscular, podem ser
vertebral é maior do que a musculatura pré-vertebral. realizadas terapias manuais como: manter-relaxar, técnica
de Jones, pompagens, exercícios ativos livres e resistidos,
Aplicação fisioterapêutica exercícios para ganho de amplitude e técnicas para
reeducação postural. Para Kisner e Colby [36], as técnicas
Todas as situações que exigem movimento e força da manuais diversificadas, compostas por alongamentos e
ATM, i.e., abrir e fechar a boca na mastigação, hábitos exercícios terapêuticos, têm por objetivo final aquisição de
mastigatórios, fala, disfunção no aparelho estomatognato, movimento e função livres de sintomas, prevenindo a
oclusão, bruxismo, ou ainda uso de próteses dentárias disfunção e o desenvolvimento, restaurando ou a mantendo
sobrecarregam os elementos ligamentares, discos, envolvidos, a força, resistência à fadiga, mobilidade flexibilidade,
enfraquecendo-os progressivamente [2,11,28]. Concorrem estabilidade, relaxamento, coordenação, equilíbrio e
para essa agressão progressiva o uso de próteses dentárias, habilidades funcionais.
estrutura e organização dos dentes nas arcadas. Conforme Verifica-se, assim que é fundamental a atuação fisioterapêutica
Ribeiro & Sady [31], os acometimentos em órgãos de estrutura na DTM para alívio álgico e do processo inflamatório, retorno à
e movimento, freqüentemente trazem sérias repercussões à normalidade funcional da ATM em relação a sua força, amplitude
qualidade de vida do indivíduo, restringindo sua convivência de movimento, flexibilidade e reequilíbrio da coordenação de
social, acarretando prejuízos as suas atividades profissionais, movimento. Conforme Alves et al. [39] “a preocupação de um
relações afetivas e estabilidade emocional. tratamento diferenciado ao paciente portador de DTM,
A ATM, por possuir características únicas no ser humano, envolvendo uma visão interdisciplinar, evoca um acontecimento
não está totalmente independente, pois age simultaneamente relativamente recente, não apenas no Brasil, mas em outros
tanto com ação antagonista como sinergista. Navarro & Reis centros de atendimento do exterior. Geralmente o paciente
[32], esclarecem que “as dores orofaciais e desordens na procura um profissional da área odontológica, que busca
região temporomandibular são problemas comuns que o diagnosticar e tratar de forma individualizada, centrada apenas
cirurgião dentista enfrenta”. em seus conhecimentos, sem se preocupar com os demais
Portadores de DTM apresentam sinais e sintomas nos agravantes dessa patogenia. No entanto, atualmente sabe-se que
músculos mastigadores, alterações posturais e álgicas. as DTMs constituem conjunto de sinais e sintomas caracterís-
Vasconcellos [33], citando Dufourmentel, relata que já em ticos de uma síndrome, que não se restringe apenas à área de
1929, “afirmava-se que a compreensão de que tudo que atuação da Odontologia, mas abrange também outras áreas”.
constitui uma má posição dentária pode ser causa de artrite Ressalta-se, mais, uma vez, a importância da interação entre os
crônica, do mesmo modo que tudo o que constitui uma má profissionais visando uma reabilitação mais eficiente e eficaz
posição do corpo possa ser causa de artrite vertebral”. Os para estes pacientes.
principais fatores etiológicos da DTM são: traumatismos, Para cada situação de desordens da ATM existem
alterações na coluna cervical, excessiva abertura da boca, protocolos e técnicas adequadas destinados à reeducação da
lassidão ligamentar e a má oclusão dentária. musculatura que aciona a mandíbula na mastigação e fala,
Segundo Heinrich [34], o fisioterapeuta, com seus fortalecendo e corrigindo as disfunções fisiológicas e
conhecimentos e habilidades competentes do tratamento pode patológicas. Entretanto, mais importante do que aplicar
ser altamente eficaz ajudando dentistas e médicos nos quadros corretamente determinado protocolo de tratamento, é que o
de dores craniofaciais. Conforme Porto [35], “diversas profissional de Fisioterapia conheça bem a anatomia-
modalidades fisioterapêuticas, como a mecanoterapia, a funcional da ATM, bem como, as técnicas a serem utilizadas,
eletroterapia, a termoterapia, a fototerapia e a acupuntura, além para assim adaptá-las a cada paciente.
das técnicas manuais são utilizadas na terapêutica de DTM”.
As principais queixas relatadas por estes pacientes são: Referências
dor na ATM, dificuldade de abrir a boca, dor muscular,
cefaléia, ruído na ATM, otalgia, bruxismo, travamento 1. Grieve GP. Moderna terapia manual da coluna vertebral. São Paulo:
aberto, tontura. Estes pacientes apresentam melhoria álgica Panamericana; 1994.
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388 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Estudo de caso

Tratamento hidrocinesioterapêutico em pessoa


com espondilite ancilosante
Hydrotherapeutic treatment for case of ankilosing spondylitis
Josimari Melo de Santana*, Valter Joviniano de Santana Filho**, Walderi Monteiro da Silva Júnior, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*
Fisioterapeuta, Mestranda em Ciências da Reabilitação pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP),
**Fisioterapeuta, Mestrando em Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP),
***Fisioterapeuta, Doutorando em Engenharia de Produção na Área de Ergonomia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Este trabalho foi apresentado no Congresso de Educação Física e Fisioterapia da UNIT, Aracaju (SE), em 31 de maio de 2003

Resumo Abstract
A espondilite ancilosante é uma patologia inflamatória Ankylosing spondylitis is a systemic inflammatory pathology
sistêmica que afeta, predominantemente, a coluna vertebral, which affects vertebral column, hip, shoulders and sacroiliac
quadris, ombros e articulações sacro-ilíacas, acompanhada por joint, with associated inflamation of connective tissues. This
inflamação dos tecidos conjuntivos. A doença evolui com erosão disease evolves with bone’s erosion, making granulation tissue
óssea, formação de tecido de granulação, que é substituído por which is substituted by fibrous tissue and later ankylosis of
tecido fibroso, e conseqüente anquilose das articulações affected joints. The disease symptomatology is characterized
acometidas. A sintomatologia desta doença é característica, by chronic, progressive and persistent pain, harshness to
apresentando dores crônicas, persistentes e progressivas, rigidez movements, toil, appetite loss, breathing difficulty. This study
aos movimentos, cansaço, falta de apetite, dificuldade with application of hydrotherapeutic protocol in patient with
respiratória, entre outros. O presente estudo, com aplicação de ankylosing spondylitis aimed to provide relief of pain and
protocolo hidroterapêutico para portador de espondilite muscular spasm, maintenance of the mobility of vertebral
ancilosante objetivou promover alívio da dor e do espasmo column, shoulders and hips, to reduce rigidity and shortening
muscular; manutenção da mobilidade da coluna, ombros e of mound tissues; to promove muscular strengthening; to
quadris; minimizar a rigidez e o encurtamento dos tecidos moles; improve postural and body conscience.
promover fortalecimento muscular; trabalhar consciência Key-words: ankylosing spondylitis, hydrotherapy.
corporal e postural.
Palavras-chave: espondilite ancilosante, tratamento, exercícios
aquáticos.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Afeta, principalmente, o adolescente e os adultos jovens,


dos 15 aos 35 anos [1,2], especialmente do sexo masculino,
A espondilite Ancilosante (EA) é uma doença infla- numa proporção de 2 a 5 para 1 [2,4], dificilmente vindo a
matória sistêmica, de padrão reumático, que afeta os tecidos se desenvolver depois dos 40 anos [4]. A causa da doença é
conjuntivos [1] e atinge, predominantemente, a coluna desconhecida [5]. Tem-se que a doença é cerca de 300 vezes
vertebral, as articulações sacro-ilíacas, do quadril e ombros, mais freqüente em pessoas que herdam um determinado
além de causar inflamação das inserções de ligamentos, grupo sangüíneo dos glóbulos brancos, quando comparadas
cápsulas articulares e tendões [2,3]. com aquelas que não possuem esse marcador genético,
denominado HLA B27 [1,6-10].

Artigo recebido em 13 de abril de 2004; aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Josimari Melo de Santana, Rua Adalberto Pajuaba, 957 Residencial Ilha Verde Bloco B/13 Sumarezinho 14055-220 Ribeirão
Preto SP, E-mail: josimelo@infonet.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 389

Fisiopatologicamente, existem duas lesões básicas: a pode ser evidenciada perda de lordose lombar, intenso
sinovite das articulações e a inflamação nas junções fibro- espasmo muscular, cifose dorsolombar, anteriorização da
ósseas e nos tendões, o que causa destruição da cartilagem cabeça; “posição do esquiador” [8,12-13]. Algumas pessoas
articular e do osso periarticular e comprometimento dos podem ter, apenas, uma série de leves dores e desconfortos,
tecidos moles. As alterações patológicas ocorrem em três durante vários meses sem, entretanto, incomodá-las demais.
estágios: uma reação inflamatória com infiltração de Isso parece ser mais comum nas mulheres [14-16].
linfócitos, formação de tecido de granulação e erosão do Não há cura para esta patologia, embora tenda a ser
osso adjacente; substituição do tecido de granulação por menos ativa conforme a idade avança, o paciente deve estar
tecido fibroso; e calcificação do tecido fibroso, levando à consciente de que o tratamento deve ser constante. No
ancilose da articulação [11]. tratamento, objetiva-se o alívio dos sintomas e a melhora ou
Como sinais e sintomas, percebem-se dores na coluna; manutenção da mobilidade da coluna onde a mesma tenha
lombalgia crônica; dor no quadril e ombro; lombociatalgia; rigidez diminuído, manutenção da postura e da função articular,
lombar pela manhã; tendinites e entesites; mal-estar global; dor no evitar deformidades atróficas, permitindo ao paciente um
peito, que piora com a respiração profunda; diminuição da melhor convívio social e profissional [2,17].
expansibilidade do tórax, durante a respiração profunda [1-4,8].
O diagnóstico da EA é baseado no conjunto de sinais e Material e métodos
sintomas, no raio-X da coluna e das articulações afetadas, na
história clínica e exame físico. No exame físico da coluna Caso clínico
podem ser encontrados espasmo muscular, má postura e
mobilidade articular. Deve-se examinar, também, as outras Paciente com 43 anos, sexo masculino, com diagnóstico
articulações, principalmente as proximais, como quadris e clínico de espondilite ancilosante rizomélica, há cerca de dez
ombros. O diagnóstico da EA é confirmado por raio-X [4,11]. anos. Tem como queixa principal dores e hipomobilidade na
Os critérios para o diagnóstico se dão em presença de coluna. Apenas há quatro anos foi diagnosticada a EA, desde
sacroileíte bilateral de grau 2 a 4 ou unilateral de grau 3 ou então passou a fazer fisioterapia. Na avaliação fisioterapêutica,
4, com, pelo menos, um dos seguintes critérios clínicos: dor apresentou à inspeção, anteriorização da cabeça, depressão da
lombossacra, com, no mínimo, três meses de duração; cintura escapular, cifose dorsolombar, retificação de lordose
limitação da mobilidade lombar nos três planos; redução da lombar, retroversão pélvica, ligeira flexão de joelhos. À palpação,
expansibilidade torácica [2]. espasmos musculares em toda a paravertebral e trapézio. As
As alterações radiológicas mais freqüentes são no medidas obtidas na goniometria ativa e passiva da coluna foram,
esqueleto axial. Pode-se encontrar de forma progressiva: respectivamente: flexão (35°, 40°), extensão (15°, 27°), inclinação
perda da nitidez dos contornos da articulação; pseudo- lateral para direita e para esquerda (5°, 10°); rotação para direita
alargamento; esclerose óssea subcondral; erosões nas bordas (15°, 25°) e para esquerda (15°, 20°). Ao serem aplicados os
articulares e ângulos vertebrais; formação de traves ósseas; exames específicos, obteve-se: Índice de Schober (10,5 cm);
redução do espaço articular; fusão (ancilose) das articulações Distância dedo-solo (61 cm); Teste da parede (não consegue o
interapofisárias, sacroilíacas e de corpos vertebrais; osteítes; contato do occipital). Executa a marcha com passos curtos, de
quadratura dos corpos vertebrais; formações de sindes- forma lenta e sem dissociação de cinturas escapular e pélvica.
mófitos; calcificações de discos intervertebrais e ligamentos
interespinhosos [2,8]. Objetivos do tratamento hidrocinesiotera-
No período inicial, o exame clínico tem grande valor, pêutico
desde que preceda as alterações radiológicas. Neste exame
são feitos testes a fim de se evidenciar as alterações causadas - Promover alívio da dor e do espasmo muscular;
pela EA: índice de Schober (avalia a restrição da mobilidade - Manutenção da mobilidade da coluna, ombros e quadris;
lombar, em que se traça uma linha que une as duas fossas - Minimizar a rigidez e o encurtamento dos tecidos moles;
situadas abaixo das espinhas ilíacas póstero-superiores e, - Promover fortalecimento muscular;
partindo do ponto médio dessa linha, faz-se a marcação 10 - Trabalhar consciência corporal e postural.
cm acima e 5 cm abaixo; ao realizar flexão anterior de tronco,
mede-se, no paciente, a distância entre as duas marcas, sendo
que a normalidade se situa a partir dos 5 cm de diferença); Conduta hidrocinesioterapêutica
limitação da rotação da coluna; redução do perímetro
respiratório do tórax; distância dedo-solo (finger-floor, avalia a - Caminhadas para frente, para trás e laterais (para promover
flexão da coluna, anotando-se a distância, em centímetros, da um prévio aquecimento a fim de melhor desempenho
ponta do terceiro dedo ao solo, quando em flexão da coluna); dos exercícios posteriores);
teste da parede (em bipedestação, verificar se o occipital, as - Passo cruzado à frente (trabalhar a mobilidade de quadril,
nádegas e os calcanhares conseguem tocar a parede). Ainda bilateralmente);
390 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

- Alongamento de musculatura anterior de tronco na borda às articulações. Exercícios para melhorar mobilidade, força
da piscina (para promover afastamento das fixações e condicionamento cardiovascular podem, facilmente, ser
musculares, opondo-se à flexão de tronco); realizados na água [18,19].
- Alongamento de canto (no canto da piscina); Esta terapia tem sido validada como um recurso ideal
- Abdução e adução; Rotações interna e externa de ombro para treinar endurance, força, flexibilidade e mobilidade
com bastão (aumentar a mobilidade da articulação dos geral, mas até recentemente suas respostas fisiológicas e
ombros, geralmente comprometida pela hipomobilidade); repercussões clínicas têm sido pouco pesquisadas. Algumas
- Mobilização para retração de cintura escapular (favorecer evidências apóiam experiências clínicas positivas em
mobilidade e alinhamento corporal); pacientes com dor lombar crônica, em programas completos
- Remada com palmares (fortalecer músculos costais e, de hidroterapia [20].
conseqüentemente favorecer a extensão e alinhamento As forças hidrostáticas experimentadas quando sujeitos
postural); saudáveis estão imersos na água produzem a resposta
- Caminhar de costas com resistência pélvica; fisiológica de centralização do fluxo sangüíneo. O sangue é
- Movimentos pélvicos ântero-posteriores e látero-laterais redistribuído para os membros inferiores e do abdome para
(facilitar a mobilidade da cintura pélvica); o tórax, o que resulta em retorno venoso, aumentado para o
- Alongamento de isquiotibiais, quadríceps e tríceps sural coração e fluxo sanguíneo intrapulmonar [21].
(aumentar a ADM de membros inferiores); Freqüentemente, os sintomas de dor diminuem na água,
- Abdominais reto e cruzado nas barras (promover o que pode ser atribuído ao estímulo sensitivo aumentado
fortalecimento do grupo muscular abdominal e gerar pela turbulência, pressão e temperatura da água; atividade
maior equilíbrio muscular de tronco); muscular diminuída resultante de relaxamento ganho, a
- Flutuação em supino com rotação pélvica (fortalecer partir de flutuação na água; compressão articular diminuída
musculatura lateral de tronco, favorecendo rotação e secundária à flutuação na água; estimulação mental e social
inclinação em uma posição de flutuação mais relaxante); aumentada, servindo como distração para a dor [22,23].
- Extensão de MMII e tronco na barra resistida pela água Quando o corpo imerge gradualmente, a água é deslocada,
(exercício para fortalecimento mais globalizado, exigindo criando a força de flutuação. Isto retira a carga das articu-
trabalho de ADM de vários complexos articulares lações imersas progressivamente, e com imersão até o pes-
concomitantemente); coço, somente cerca de 7,5 kg de força compressiva é exer-
- Plié (aumentar a ADM de quadril e favorecer postura de cida sobre a coluna, quadris e joelhos. A flutuação diminui
alinhamento central, sem contato das fáscias plantares); os efeitos da gravidade. Como resultado, há menos
- Diamante (com contato das fáscias plantares); compressão sobre as articulações e diminuição da atividade
- Rotação de quadril com joelhos flexionados em flutuação muscular, enquanto suportado na água [23].
vertical; A combinação de descarga esquelética induzida pela
- Bicicleta dinâmica (exercício aeróbio dinâmico que flutuação e relaxamento muscular é capaz de aumentar a
mobiliza grande parte do sistema músculo-esquelético). ADM e a mobilidade, devendo-se considerar a força de
flutuação e o seu efeito sobre o movimento desejado, a posição
da extremidade e a ADM disponível para a articulação, a
Resultados
direção do movimento desejado e o uso de qualquer aparelho
de flutuação. Exercícios de extensão podem ser realizados
Segundo informações colhidas, o paciente obteve
pelos portadores de EA com maior facilidade na água sem
significativo alívio da sintomatologia álgica e da funcionalidade.
forças compressivas sobre a coluna. O processo da doença
Os quadros de espasmo muscular, principalmente em
também se associa com desvios posturais, fibrose, e
musculatura dorsal do tronco, foram reduzidos devido ao estado
ossificação de cápsulas articulares e tecidos moles periar-
de relaxamento obtido no tratamento e subseqüente
ticulares, o que também pode contribuir para uma
manutenção. As medidas obtidas na goniometria ativa e passiva
diminuição na capacidade pulmonar [23,24].
não demonstraram aumento de ADM significantes, assim como
À medida que a sustentação controlada de peso se torna
os testes específicos, índice de Schober, distância dedo-solo e
tolerada em várias profundidades de água, os padrões
teste da parede. A marcha passou a ser desenvolvida a passos
normais de marcha são mais facilmente controlados. Os
mais largos e com maior ritmo, exibindo, em alguns momentos
princípios fisiológicos de co-contração e resistência máxima
isolados, dissociação de cinturas escapular e pélvica.
a padrões de movimento em massa podem ser aplicados ao
exercício na água [25]. Andar na água oferece muitos
Discussão
benefícios [26].
A resistência na água é fornecida pela turbulência e
A hidroterapia é um método alternativo de exercício
flutuação e é influenciada pela área de superfície, pela
que beneficia o paciente devido à redução da carga imposta
velocidade de movimento e pelo arrasto. As atividades de
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 391

fortalecimento da musculatura postural realizadas na água 7. De Juan MD, Reta A, Belzumegui J, Figueroa M, Maruri N, Cuadrado
raramente envolvem movimento de grande amplitude ou E. HLA-A 2402 and a microsatelite (D6S248) are secondary
esforço de máxima força. Mais freqüentemente, o fortale- independent susceptibility markers to A in basque patients. Hum
cimento postural enfatiza controle, técnica e alinhamento Immunol 2004;65(2):175-80.
8. Gonçalves CR. Espondiloartropatias. Disponível em: URL:
postural correto [27].
www.usp.br/medicina/departamento/ clinmed/reumatologia/
A turbulência da água exige estabilização central, com
espond.html
co-contração de músculos abdominais e das costas, antes
9. Sims AM, Wordsworth BP, Brown MA. Genetic susceptibility to
que o movimento distal seja possibilitado. A reeducação
ankylosing spondylitis. Curr Mol Med 2004;4(1):13-20.
dos músculos do tronco reforça a importância de usar os 10. Bjarnason I, Helgason KO, Geirsson AI, Sigthorsson G, et al.
músculos abdominais e dorsais para controle postural em Subclinical intestinal inflammation and sacroiliac changes in relatives
terra [23,28]. Os pacientes com EA são submetidos aos of patients with ankilosing spondylitis. Gastroenterology
efeitos da gravidade, que comprime o corpo, promovendo 2003;125(6):1598-605.
flexão do tronco. Essa postura é grandemente diminuída no 11. Rudwaleit M. Early diagnosis of ankilosing spondylitis. Z
ambiente aquático [29]. Rheumatol 2003;62(2):106-7.
A água, que é 600 a 800 vezes mais eficiente em dar 12. Boonen A, van Tubergen A, van der Linden S. Insurance problems
suporte ao peso do corpo do que o ar, constitui um ambiente among patients with ankilosing spondylitis. Ann Rheum Dis
apropriado para reeducação da mecânica corporal. 2003;62(12):1242-3.
Exercícios aquáticos para melhorar a postura, coordenados 13. Gabriel MRS, Petit JD, Carril MLS. Fisioterapia em traumatologia,
ortopedia e reumatologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2001.
com respiração diafragmática, podem minimizar essas
14. Chorus AM, Miedema HS, Boonen A, van der Linden S. Quality of
complicações [30].
life and work in patients with rheumatoid arthritis and ankilosing
spondylitis of working age. Ann Rheum Dis 2003;62(12):1178-84.
Conclusão 15. National ankylosing spondylitis society. Ankylosing spondilytis: a
guidebook for patients. UK.
A espondilite ancilosante envolve sintomatologia 16. Pinar B. Functional disability and quality of life in patients with
característica, com grande evidência de quadro álgico na ankilosing spondylitis. Rheumatol Int 2004;24(1):59-60.
coluna vertebral e articulações acometidas, espasmo 17. Dai SM, Han XH, Zhao DB, Shi VO, Liu Y, Meng JM. Prevalence
muscular e rigidez aos movimentos articulares. of rheumatic symptons, rheumatoid arthritis, ankilosing spondylitis
Os exercícios aquáticos promovem grande benefício, ao and gouting Shangai, China: a COPORD study. J Rheumatol
serem utilizadas adequadamente, as propriedades físicas da 2003;30(10):2245-51.
água como empuxo, densidade, profundidade, turbulência, 18. Michalsen A, Lüdtke R, Bühring M, Spahn G, Langhorst J, Dobos
fluxo laminar, viscosidade, aquecimento. O meio aquático G. Thermal hydrotherapy improves quality of life and hemodynamic
function in patients with chronic heart failure. Am Heart J
parece ser melhor alternativa que a cinesioterapia conven-
2003;146:E11.
cional ou a mecanoterapia para estes casos, visto que promove
19. Baum G. Aquaeróbica: manual de tratamento. São Paulo: Manole;
maior relaxamento muscular, diminui a dificuldade, o impacto
2000.
e a sobrecarga dos exercícios, aumenta a amplitude de 20. Bates A, Hanson N. Exercícios aquáticos terapêuticos. São Paulo:
movimento com o auxílio da água e, principalmente, colabora Manole; 1998.
para a manutenção de uma quadro álgico menos intenso, 21. Barker KL, Dawes H, Hansford P, Shamley D. Perceived and
perfazendo uma melhor qualidade de vida. measured levels of exertion of patients with chronic back pain
exercising in a hydrotherapy pool. Arch Phys Med Rehabil
Referências 2003;84:1319-23.
22. Becker BE, Cole AJ. Terapia aquática moderna. São Paulo: Manole;
1. Meirelles ES. Espondilite anquilosante. Disponível em: URL: 2000.
www.emedix.com.br/artigos/ reu001_1g_espondilite.shtml 23. Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação aquática. São Paulo:
2. Cecon R. Espondilite anquilosante. Disponível em: URL: Manole; 2000.
www.grupoea.com.br/espondilite.htm 24. Campion MR. Hidroterapia: princípios e prática. São Paulo:
3. Souza Junior AS. Espondilite anquilosante: avaliação pulmonar Manole; 2000.
pela tomografia computadorizada de alta resolução e morbidade 25. Boyle A. The bad ragaz ring method. Physiotherapy 1981;67:265.
das paredes torácicas. Radiol Bras 2001;34(4):246. 26. Katz J. Exercícios aquáticos na gravidez. São Paulo: Manole; 1999.
4. Cobra C, Cobra A Espondilite anquilosante. Disponível em: URL: 27. Koury JM. Programa de fisioterapia aquática. São Paulo: Manole;
www.reumatismo.med.br/doenca_03.html 2000.
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6. Conde RA, Sampaio-Barros PD, Donadi EA, et al. Frequency of allied conditions. 11a ed. Philadelphia: Lea & Febiger; 1989. p. 934.
HLA B27 alleles in Brazilian patients with ankilosing spondylitis. J 30. Harrison SA. Tolerance of pool therapy by ankilosing spondilytis
Rheumatol 2003;30(11):2512. patients with low vital capacities. Physiotherapy 1981;67:296. J
392 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Atualização

Descrição do método de avaliação postural de Portland


State University
Description of posture evaluation method of Portland State University
Josenei Braga dos Santos, M.Sc.*, Antônio Renato Pereira Moro, D.Sc.**, Marcelo Reis Cezar***, Pedro Ferreira Reis,
M.Sc.****, Jorge Dias Luz*****, Diogo Cunha dos Reis******
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Prof. Educação Física, **Prof. Centro de Desportos, Prof. Educação Física - Laboratório de Biomecânica BIOMEC/CDS/UFSC,
***Fisioterapeuta, Laboratório de Biomecânica, BIOMEC/CDS/UFSC, ****Prof. Educação Física CESUFOZ Foz do Iguacú PR,
*****Prof. Educação Física, Laboratório de Biomecânica, BIOMEC/CDS/UFSC, ******Graduando em Educação Física, Bolsista
PIBIC/CNPq, UFSC, Laboratório de Biomecânica, BIOMEC/CDS/UFSC

Resumo Abstract
O presente artigo aborda uma metodologia de avaliação The present article approaches a methodology of evaluation
postural baseada no método proposto pela Portland State postural based on the method proposed by Portland State
University (PSU) e adaptado por Althoff, Heyden e Robertson. University (PSU) and adapted by Althoff, Heyden and
Neste sentido, descrevemos passo a passo o protocolo e seus Robertson. In this sense we described step-to-step the protocol
escores sobre a interpretação de desvios posturais. A aplicação and its result about the interpretation of posture deviations.
requer a utilização de um simetrógrafo, uma base sobre o chão The method uses basically, a simetrógrafo, a base on the ground
para o posicionamento dos pés, fio de prumo e avaliação subjetiva for the feet positioning, plumb line thread and subjective
dos desvios posturais do avaliado, tomando sempre como evaluation about the individual deviations, always taking like
referência a linha vertical do fio de prumo, com o avaliado na baseline the vertical reference, with the subject stand up. At the
posição em pé. Ao final, o avaliador tem como parâmetro as end the appraiser has as parameter the current asymmetries in
assimetrias presentes no sujeito e classificá-los conforme o Índice the subject and can classify them according to the Postural
de Correção Postural (ICP). Correction Index.
Palavras-chave: postura corporal, avaliação postural, método Key-words: body posture, evaluation posture, body posture
de avaliação postural. method.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução sidades especiais, cujo principal enfoque é analisar a postura


corporal destas pessoas, diagnosticando os desvios posturais
Diversos métodos de avaliação da postura corporal são e identificando as regiões mais acometidas.
desenvolvidos, estudados e implementados como instru- Para tanto, indicamos alguns fatores que devem ser
mento de trabalho em clínicas, academias, escolas de postura levados em consideração no momento da avaliação da postura
e cursos de extensão universitária. corporal na utilização deste método:
Com isto, nossa proposta visa fazer uma descrição sobre
- Escolares: A fase de crescimento (peso e estatura), desen-
o método Portland State University (PSU) adaptado por
volvimento dos caracteres secundários (desenvolvimento
Althoff, Heyden e Robertson, demonstrando suas equações
dos seios nas meninas) e as influências dos acessórios esco-
matemáticas, visto que as informações contidas sobre este
lares (material escolar, mochila, mobiliários e posturas
método encontram-se dispersas na literatura.
adotadas);
A descrição está baseada em pesquisas realizadas durante
- Atletas: A modalidade esportiva e os segmentos corporais
um período de cinco anos com escolares, atletas, trabalha-
mais predominantes nos gestos motores;
dores, mulheres grávidas, idosos e portadores de neces-

Artigo recebido em 8 de dezembro de 2004; aceito em 15 de junho de 2005.


Endereço para correspondência: Josenei Braga dos Santos, Laboratório de Biomecânica BIOMEC/CDS/UFSC, Rua Prof. Bento Águido Vieira 340/
102, 88036-410 Florianópolis SC, Tel: (48)334-0010, E-mail: joergo@pop.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 393

- Trabalhadores: A posição de execução do trabalho (em Já no que se refere à classificação da postura corporal,
pé, sentado, suspenso e deitado), ações gestuais e o tempo estes autores consideram como aceitáveis (boa postura),
de permanência naquela posição; percentuais acima dos valores seguintes:
- Adultos: 65%
Mulheres grávidas: Acentuação da curvatura da região
- Crianças: 85%
lombar (hiperlordose) durante o período de gestação;
(Valores atribuídos conforme experiência em avaliações
Idosos: Aumento da curvatura cifótica (ombros e pescoço
realizadas por diversos pesquisadores).
voltados para frente);
Quanto ao método de visualização, utiliza-se o simetró-
Portadores de Necessidades Especiais: O grau de compro-
grafo que é um aparelho quadrado de acrílico transparente,
metimento da doença e sua influência na postura corporal
graduado com linhas horizontais e verticais definidas em 5
do portador.
x 5 cm, sendo contornado por um suporte de alumínio ou
Ultimamente, muito se tem ouvido falar e pesquisado
madeira, medindo 180 cm de altura x 90 cm de largura. Este
sobre os problemas posturais, tanto em crianças, como em
aparelho ajuda a detectar as assimetrias e os possíveis desvios
jovens, adultos, idosos e portadores de necessidades
posturais entre os segmentos corporais, permitindo suspeitar
especiais.
de alterações na postura corporal do avaliado a fim de
Uma das formas mais comumente utilizada para
identificar quais os desvios que mais ocorrem nos avaliados.
avaliação da postura corporal é o Portland State University
Para análise da postura propriamente dita, ele adota como
(PSU), adaptado por Althoff, Heyden e Robertson (1988),
padrão duas posições com o sujeito em pé: dorsal e lateral,
que é um instrumento que usa os sentidos visuais (obser-
conforme Figuras 1 e 2, tendo como parâmetro a demarcação
vação) dentro de uma perspectiva subjetiva, cujo principal
do escore diagnóstico em cada região. Ex: 1.1 região da
objetivo é detectar as assimetrias e os possíveis desvios
cabeça, 1.2 região dos ombros e assim por diante.
posturais entre os segmentos corporais, permitindo, ao
avaliador, quantificar o Percentual (%) e o Índice de Correção Figura 1 - Avaliado na posicão dorsal.
Postural (ICP) do avaliado, através das equações matemáticas
que são estipuladas pelo escore diagnóstico, ou seja, o total e
por regiões, na qual adota como critério de avaliação três
escalas:
- Sem desvio (5)
- Ligeiro desvio lateral (3)
- Acentuado desvio lateral (1)
Para que se possa compreender como realizar uma
avaliação postural bem sucedida, faz-se necessário perceber
e entender que este método utiliza como referência a
descrição dos escores obtidos em cada região. Depois, para
se calcular o ICP, ele aponta como critério somar o escore
de todas as regiões, dividir por 75 e multiplicar por 100 para
se achar o percentual como demonstrado abaixo:

Escore diagnóstico da avaliação Figura 2 - Avaliado na posição lateral.

ICP = Pontos (RCP + RCDL + RAQ + RMI) x 100


(25+15+15+20)
RCP – Região da Cabeça e do Pescoço (5 regiões)
(1.1+1.2+2.1+2.2+2.3/25) x 100
RCDL – Região da Coluna Dorsal e Lombar (3 regiões)
(1.3+2.4+2.5/15) x 100
RAQ – Região do Abdômen e Quadril (3 regiões)
(1.4+2.6+2.7/15) x 100
RMI – Região de Membros Inferiores (4 regiões)
(1.5+1.6+1.7+2.8/20 x 100
ICP – Índice de Correção Postural
(O valor máximo de pontos sempre será 75 em virtude
do somatório das regiões estabelecidas pelo método)
394 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Já para análise da região dos pés, ele utiliza uma Conclusão


plataforma que serve de base para a colocação dos pés nas
duas posições (dorsal e lateral), colocada atrás do simetró- Apesar de ser um método de fácil utilização que auxilia
grafo e uma caixa contendo talco para análise da impressão no diagnóstico da postura corporal para, então, embasar a
plantar dos pés. Esta análise deve ser efetuada por último, prescrição de atividades físicas, tratamentos ortopédicos,
em virtude do avaliado ter que colocar seus pés dentro da tratamentos estéticos, entre outros, ele também possui
caixa de talco. algumas limitações assim como outros métodos.
Um dos critérios mais percebidos é que ele dificulta a
Figura 3 - Posicionamento e impressão bipodal do avaliado. percepção dos pontos anatômicos a serem observados,
principalmente, para quem está começando a avaliar postura.
O que se percebe de importante quanto a sua utilização
é: 1) Que ele depende exclusivamente da experiência prática
do avaliador, ou seja, está intrinsecamente centrado na
subjetividade e prática do avaliador; 2) É um método simples
e de rápida aplicação e, por isso, pode ser utilizado nas
academias, escolas, clínicas, clubes e centros de orientação;
3) Auxilia na detecção parcial das assimetrias (por regiões) e
total, quando houver.
Com isto, cabe ressaltar que se faz necessário criar um
método que permita aplicar medidas objetivas de mensuração
para que se possa qualificar e quantificar as regiões estudadas
com maior precisão, dando mais subsídios para uma boa
avaliação.

Referências

1. Althoff SA, Heyden SM, Robertson LD. Back to the basics - whatever
Para que se possa ter uma boa avaliação, faz-se necessário happened to posture? Journal of Physical Education, Recreation
utilizar um fio de prumo ao lado do simetrógrafo ou preso and Dance 1988;59(7):20-4.
na parede para obter o nivelamento entre o chão e o avaliado, 2. Althoff SA, Heyden SM, Robertson LD. Posture screening - a
program that works. Journal of Physical Education, Recreation
bem como demarcar no solo um espaço destinado para
and Dance 1988;59(8):26-32. J
colocação dos pés dos avaliados.
Já na Figura 4, podemos visualizar que se faz necessário
ter um local de referência para efetuarmos a avaliação, ou
seja, o avaliador deverá permanecer a uma distância de, no
mínimo, 3 m do avaliado e este, por sua vez, de 30 cm do
simetrógrafo, para futura análise e interpretação das regiões
corporais.

Figura 4 - Distância entre o avaliador e o avaliado.


Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 395

Posição dorsal Posição lateral

(5) Sem desvio, (3) Ligeiro desvio lateral, (1) Acentuado desvio lateral (5) Sem desvio, (3) Ligeiro desvio lateral (1) Acentuado desvio lateral
396 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Resumos de trabalhos e congressos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Pardo SM, Caromano FA Estudo comparativo dos efeitos da utilização de dois tipos de
(orientadora), Silva RL (pesquisador comandos verbais diferentes no treinamento de
colaborador). [dissertação]. São alongamento muscular
Paulo: Faculdade de Medicina, Curso
de Fisioterapia, Universidade de São Objetivo: Este estudo avaliou os efeitos da utilização de dois tipos de
Paulo; 2005. 90 p. comportamentos verbais, denominados aqui comando verbal detalhado (CVD) e
comando verbal simplificado (CVS), em um programa de alongamento, na força
muscular e na flexibilidade. Método: Trinta e um alunos (27mulheres), alunos do
primeiro ano dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Faculdade de
Medicina da USP, com idade entre 18 e 28 anos, voluntários nesse estudo, foram
divididos em dois grupos. O Grupo A submeteu-se a um programa de alongamento
muscular, com grau de dificuldade de execução crescente, aplicado por um período
de doze semanas, uma hora por sessão, duas vezes por semana, com CVD. O Grupo
B submeteu-se ao mesmo protocolo, com CVS. Avaliou-se a flexibilidade por meio
do teste de flexão anterior do tronco, utilizando-se o método fotográfico
computadorizado. Pesquisou-se a postura durante o teste utilizando-se as categorias
de encurtamentos musculares descritas por Kendall. Mensurou-se a força muscular
por meio de testes musculares manuais associados à miometria (dinamometria). A
análise de dados comparou cada grupo em dois tempos distintos (pré-teste e pós-
teste) e os grupos entre si, por meio do método paramétrico de comparação de uma
média e do teste paramétrico de comparação entre duas médias não pareadas com
desvio padrão desconhecido, respectivamente. Para avaliação da eficácia da
intervenção, considerando-a uma forma de tratamento, foi aplicada uma análise de
significância clínica proposta por Jacobson e Truax (índice de mudança confiável).
Resultado: O treinamento de alongamento promoveu melhora na flexibilidade de
ambos os grupos com diferença entre eles estatisticamente não significativa. A análise
do índice de mudança confiável evidenciou melhora de 93,3% de todos os sujeitos,
afetando 14 sujeitos em cada grupo. A observação da postura durante o teste de
flexibilidade mostrou que o principal efeito do treinamento no Grupo A foi a
suavização das curvaturas da coluna cervical, torácica e lombar. O principal efeito
do treinamento do Grupo B foi a atenuação da curvatura da coluna cervical, associada
à diminuição do ângulo de flexão do quadril. A diferença observada entre o
comportamento da postura durante o teste nos grupos A e B foi creditada ao comando
verbal e sugere a colocação dos músculos a serem alongados numa situação de maior
exigência ou recrutamento no caso dos sujeitos sob CVD. A avaliação da força muscular
mostrou que não ocorreu variação, de forma significativa, entre o pré-teste e o pós-
teste, em ambos os grupos, como esperado para o tipo de intervenção proposta e o
tempo de treinamento pesquisado. Embora o ganho de força tenha sido
estatisticamente não significativo, o índice de mudança confiável mostrou que o
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 397

treinamento foi suficiente para produzir uma tendência à equiparação entre as forças
dos grupos musculares dos lados dominante e não dominante no Grupo A.
Associamos este fato unicamente ao tipo de comando verbal empregado. Conclusão:
A escolha do comando verbal pode influenciar a resposta motora, especificamente
durante o teste de flexibilidade, e não produz grande variação na força muscular.
Este achado é um alerta para que haja um refinamento na elaboração de programas
de intervenção fisioterapêutica e no ensino da prática profissionalizante.
398 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade 3. Revisão


bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relaciona-
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. das à Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão tam- ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revis-
bém ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) tas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros mesmo dos artigos originais.
que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os
autores já aceitem estas condições. 4. Atualização ou divulgação
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” São trabalhos que relatam informações geralmente atuais
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedi- sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (no-
cal journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado vas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, distintas de um artigo de revisão.
com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do
5. Relato de caso
International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE),
htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos ex-
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções plorando um método ou problema através de exemplo. Apre-
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrôni- senta as características do indivíduo estudado, com indicação
co/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retor- 6. Comunicação breve
no de acordo com a circunstância, realizar modificações nos Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, re-
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. sultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar co-
mentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
1. Editorial argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
por um de seus membros.
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4
sobre-escrito, etc.
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Ro-
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
man) com todas as formatações de texto, tais como negrito,
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que
editados em Power Point, Excel, etc
dez referências.
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
7. Resumos
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimen-
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
tais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e
Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, 8. Correspondência
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
sobre-escrito, etc. relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacio-
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato nados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao au-
Excel/Word. tor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (for- Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especifi-
mato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, cações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Excel, etc. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bib-
liográficas. 1. Normas gerais
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processa-
o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profis- dor de texto (Word), em página de formato A4, formatado da
sional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho
do texto. 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005 399

1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
cada tabela junto à mesma. para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciên-
especificações anteriores. cias da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e do possível, é melhor usar os descritores existentes.
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, 5. Agradecimentos
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliogra- Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio fi-
fia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para nanceiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do arti-
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. go, antes as referências, em uma secção especial.
Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (dis-
quetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta
6. Referências
no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor.
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancou-
ver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográ-
2. Página de apresentação ficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parên-
A primeira página do artigo apresentará as seguintes infor- teses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,
mações: seguindo as seguintes normas:
- Título em português e inglês. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras ini-
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular ciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do
e títulos acadêmicos. livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo -
- Local de trabalho dos autores. itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
Exemplo:
para paginação.
Livro:
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparel-
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
hos, etc.
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par- 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
ticipado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade
pública do seu conteúdo. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
O crédito como autor se baseará unicamente nas contri- iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
buições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de
a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, pági-
revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo in- nas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os
telectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medi-
Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e cus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a
c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual
na coleta de dados não justifica a participação como autor. A de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até
supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and lo-
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máx- calization of urokinase-type plasminogen activator receptor in
imo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
para os estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: Os artigos, cartas e resumos devem ser
- Objetivos do estudo. enviados para:
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto-
dologia, análise). Jean-Louis Peytavin
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e es- Atlantica Editora
tatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior 20021-180 Rio de Janeiro RJ
novidade. Tel: (21) 2221 4164
E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
400 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 5 - setembro/outubro de 2005

Calendário de eventos
2005 2006

Outubro Março
27 e 28 de outubro 20 a 25 de março
II Fisio Ceucel I Mostra Cientifica do HPC 5th International Conference on Advances in
Fisioterapia em ação: Múltiplas percepções Pulmonary Rehabilitation and Management of
Centro Universitário Celso Lisboa - Rua 24 de Maio, 797 Enge- Chronic Respiratory Failure
nho Novo – Rio de Janeiro Stresa, Itália
Informações: (21) 2501-4722 Informações: congressi@effetti.it
www.ceucel.com.br
Abril
Novembro
6 a 9 de abril
9 a 11 de novembro Reatech – V Feira Internacional de tecnologias em
V Fisiohupe reabilitação e inclusão
Perspectivas da Fisioterapia para o Século XXI Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo
Auditório 11 – UERJ – Pavilhão João Lyra Filho Informações: www.cipanet.com.br
Informações: (21) 2587-6251 / 6100
12 de novembro Outubro
Simpósio de Reabilitação Neurológica
6 a 9 de outubro
Auditório do Hospital Copa D´Or Rua Figueiredo de Maga-
V CONNEFI - Congresso Norte Nordeste de Fisiote-
lhães, 875
rapia
Copacabana, Rio de Janeiro
Hotel Tropical, Manaus, AM
Coordenação: André Chevitarese Lorraine Esteves Forneiro
Organização: SOAMFI (Sociedade Amazonense de Fisiotera-
Informações: (21) 2527-0604
pia)
18 e 19 de novembro Informações: Adriana (92) 88127674, Dr. Marcos Cortez (92)
I Congresso Carioca de Fisioterapia Respiratória e 81111030)
Fisioterapia em Terapia Intensiva www.soamfi.org.
Centro de Convenções do C.B.C., Rua Visconde Silva, 52
Botafogo Rio de Janeiro
Informações: www.interfisio.com.br ou www.sobrafir.com.br ou
www.crefito2.org.br
19 de novembro
Considerações sobre reabilitação do joelho. Enfoque
no atleta
Auditório do Praia Clube São Francisco, Niterói RJ
Organização: Vitor Braga Teixeira
Informações: (21) 9663 4645
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 401

○ ○
Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.6, nº6 novembro/dezembro 2005 - 401~480)
EDITORIAL
Filosofia da linguagem, quebra paradigmática e o significado
da palavra fisioterapia, Marco Antonio Guimarães da Silva .......................................................................................................................... 403

ARTIGOS ORIGINAIS
Tratamento fisioterapêutico das fraturas de tornozelo do tipo B e C de Weber,
Gustavo Cardoso Vieira, Ana Regina de S. B. Barros ......................................................................................................................................... 405
Avaliação da eficácia de protocolos de treinamento da atividade sentado-para-de-pé em mulheres idosas,
Mônica de Barros Ribeiro Cilento, Antônio Cláudio Lucas da Nóbrega, Abelardo de Queiroz Campos Araújo .................................... 412
Estudo do padrão postural de jogadores de futebol da categoria infantil,
Pamela Branco Schweitzer,
Fisioterapia prática David Miqüelluti ....................................................................................................................................................... 419
Análise comparativa da alteração do índice diafragmático em pacientes submetidos
à cirurgia de Fobi-Capella por via laparoscópica, Ana Paula Druziki, Sílvia R Valderramas,
Ângela C. S. R Villa, Júlio Romani ........................................................................................................................................................................ 424
Efeitos do laser de 660 nm no reparo de ruptura parcial do tendão calcâneo de ratos,
Ana Claudia Bonome Salate, Gisele Barbosa, Paulo Sérgio Bossini, Nivaldo Antonio Parizotto .............................................................. 429
Impacto da manipulação da informação visual e somatossensorial na estabilidade postural
de crianças de 7 a 10 anos de idade, Marcos S. Kishi, Filipe Melo, Leonor Ribeiro, Eloisa Tudella ........................................................ 433
Efeitos da fisioterapia respiratória e da mobilização passiva sobre a pressão intracraniana,
Sérgio N. Nemer, Soraya T. Machado, Jefferson B. Caldeira, Leandro M. Azeredo, Thiago Clipes, Ricardo Gago,
Paulo R. S. Filho, Iracema C. Seródio, Marcius G. Rocha, João M. Garcia, Jorge I. Lain, Paulo César P. Souza ........................................ 437
Influência da prática regular de futebol sobre a elasticidade da cadeia muscular cinética
reta posterior de jovens, Nuria López Sendín, Francisco Alburquerque Sendín, Miguel Santos del Rey,
Erika Quintana Aparício, José Rubens Rebelatto ............................................................................................................................................... 444

REVISÕES
Ginástica
Vertigem Laborativa
posicional paroxística benigna: diagnóstico cinesiológico funcional,
Nícolas Aprígio Koenigkam, Juliano Bergamaschine Mata Diz, André Luís dos Santos Silva ................................................................... 450
Modificações fisiológicas através do riso na interação fisioterapeuta-paciente,
Carolina Fontes Bispo, Fernanda D. S. e Travagini Freire ................................................................................................................................... 457

ESTUDOS DE CASO
Efeito do exercício em cadeia cinética fechada no tratamento da síndrome da dor fêmoropatelar,
Guilherme Lotierso Fehr, Valdeci Carlos Dionísio, Gil Lúcio Almeida ........................................................................................................... 462
Intervenção fisioterapêutica em dois recém-nascidos prematuros com síndrome
do desconforto respiratório: estudo da variação da saturação de oxigênio,
Vanessa Cristina de Oliveira, Alessandra Benatti Burkle, Nivaldo Pavan ........................................................................................................ 467
Influência da lesão diafragmática na função respiratória em pacientes
na unidade de terapia intensiva, Priscila Pretti Rimério, Cristina Aparecida Velozo,
Rosmari Aparecida Rosa Almeida Oliveira, Sebastião Araújo ........................................................................................................................... 472

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ..................................................................................................................................................................... 477

EVENTOS ............................................................................................................................................................................................................ 480


402 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Fisioterapia Brasil
www .fisioterapiabrasil.com.br
www.fisioterapiabrasil.com.br
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Prof. Dr. Dirceu Costa (UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná)
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo)
Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

Rio de Janeiro Direção de arte


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Europa - 1 ano: € 150,00 Jean-Louis Peytavin
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w w w. a t l a n t i c a e d i t o r a . c o m . b r
Ilustração da capa: Umberto Boccioni, Dinamismo de um jogador de futebol – 1913 – óleo sobre tela (193,2 x 201 cm)

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Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 403

Editorial

Filosofia da linguagem, quebra


paradigmática e o significado
da palavra fisioterapia
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci.


marco@atlanticaedu.com.br

Ao longo dos séculos e até os nossos dias, a fisioterapia Russel e a falta de sentido da linguagem filosófica). O mito da
aponta para a direção de um “modus operandi” exclusivamente significatividade ou verificabilidade (apontar as possibilidades
curativo, exceção à época Renascentista, quando a característica empíricas de verificar a verdade ou falsidade da sentença em
preventiva parece associar-se à arte curativa. É curioso notar que, questão), grande tema de debate dos neo positivistas do Circulo
no Brasil, a fisioterapia surge para equacionar as seqüelas do elevado de Viena, fica também revisto e corrigido através da teoria dos
número dos acidentes de trabalho, sem apontar, salvo ações jogos de linguagem, contido em Investigações Lógicas. Para
isoladas, para medidas preventivas. Wittgenstein, a linguagem não define as coisas, só as mostra. De
Os reflexos pela opção curativa tornam-se evidentes quando acordo com esta teoria, o significado não vem dado nem por sua
comparamos as pesquisas e publicações realizadas nas citadas construção lógica (sintaxe), nem pelo conceito que temos das
áreas. palavras (semântica), e sim pelo uso que damos às palavras na
Ainda que o tema mereça uma análise mais cuidadosa, poder- vida cotidiana. Confirmando-se a teoria Wittgensteiniana,
se-ia inferir, em um primeiro momento, que o predomínio do derivações à parte e proporções devidamente guardadas, ações
ato curativo fisioterapêutico sobre o ato preventivo fisioterapêu- em direção a um “agir profilático” poderiam modificar o sentido
tico relaciona-se à etimologia da palavra Fisioterapia, que nos que nós, comunidade, damos à palavra fisioterapia, sem que
remete diretamente à arte de curar. necessariamente tivéssemos que alterar a sua grafia. Um exemplo
Talvez haja inúmeras propostas para justificar a relação entre que parece confirmar o que acima levantei, seria o significado de
etimologia e ação, mas gostaria de sugerir, para futuros aprofun- alguns procedimentos fisioterapêuticos (osteopatia, rpg, pilates,
damentos, apenas duas: uma primeira justificativa, amparada na etc...) que, lamentavelmente, acabaram ganhando status quo
capacidade do ser humano de formar conceitos e símbolos, próprio e são tratados como profissões sem vínculo com a
fundamentais para a compreensão, previsão e criação da realidade, fisioterapia. Os fisioterapeutas que, ao longo do tempo, passaram
na qual o empirismo e racionalismo crítico se relativizam - todo a se autodenominar osteopatas, rpegistas, pilatistas, etc. estavam,
entendimento humano é interpretação, nenhuma interpretação é sem que o soubessem, consolidando um referencial contextua-
definitiva; e uma segunda exposição, intimamente ligada a lizado a um efetivo universo especifico de ações técnicas. Se a
primeira, ancorada no pensamento de Wittgenstein (1889-1951). moda pega, amanhã teremos os eletroterapeutas, mecanote-
Com relação à segunda proposta, observamos que das duas rapeutas, hidroterapeutas e por aí a fora.
obras básicas de Wittgenstein ,Tractatus Lógico-Philosophicus A primeira proposta passa pelo questionamento do para-
(1918)- e Investigações Lógicas, é esta última, escrita em 1953, que digma atual (realizações científicas universalmente reconhecidas
merece a nossa maior atenção, (ambas se destinam a aclarar a que, durante certo tempo, proporcionam modelos de problemas
função da linguagem e a definir o papel da filosofia) porque se e soluções a uma comunidade científica) e pelo teste deste mesmo
propõe a corrigir alguns equívocos cometidos na primeira obra paradigma com outras alternativas que não deixem de considerar
(isomorfismo entre proposição e realidade, suposta crença em os contextos culturais, os contextos psicológicos e os contextos
uma linguagem perfeita, a redução da realidade ao atomismo de sócio-econômicos da comunidade onde estamos inseridos. Não

*Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil
404 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

se pode deixar de atentar para o fato de que a nova proposta lastreada na rejeição de todas as interpretações unívocas da realidade
paradigmática se consolidará à medida que se torne mais adequada e de todas as identificações de uma concepção da realidade com a
às condições e circunstâncias dos indivíduos ou da cultura. própria realidade. Ela aceitará a multiplicidade do espírito humano
O autor Richard Tarnas (Epopéia do Pensamento Oci- e a necessidade de traduzir constantemente diferentes vocábulos
dental) utiliza um texto de Robert Bellah (Beyond Belief) no científicos e criativos. Reconhecerá a propensão do ser humano a
epílogo de seu livro que pode resumir o caminho que deve- ater-se comodamente a alguma simples interpretação literal do
remos adotar: mundo e, portanto, a necessidade de estar continuamente aberto
“Talvez estejamos testemunhando o início do processo de ao renascimento em novo céu e nova terra. Ela admitirá que,
reintegração de nossa cultura, uma nova possibilidade de unidade afinal, tanto na cultura religiosa como na cientifica, tudo que
de consciência. Se assim for, não terá como base nenhuma temos são os símbolos, mas que há uma imensa diferença entre
ortodoxia nova, seja religiosa ou científica. Tal reintegração será a letra morta e o mundo vivo.”

O ano de 2005 vai ficando pra trás e 2006 já se divulgação de resultados que atualizam o saber e a prática
descortina com promessas de mudanças e realizações em cotidiana; e a todos aqueles envolvidos na produção e
todos os níveis. divulgação do periódico que, com dedicação ímpar, fazem
Nesta última edição do ano da revista Fisioterapia a ciência caminhar e chegar aos mais recônditos lugares
Brasil, gostaríamos de, mais que fazer juramentos, deste enorme Brasil.
agradecer a todos que colaboraram e participaram, direta Sem cada um de vocês, não seria possível compor
ou indiretamente, do sucesso do periódico: ao conselho uma revista dinâmica, atual e relevante para as ciências em
científico, por seu trabalho incansável na leitura dos artigos geral, principalmente para aquelas diretamente relacionadas
e na seleção de assuntos pertinentes ao aprimoramento com nossa proposta. Que em 2006 consigamos ainda
científico, acadêmico e profissional do leitor; aos ensaístas, mais realizações no âmbito da pesquisa e da prática
articulistas e pesquisadores, por sua contribuição na científica.
Os editores
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 405

Artigo original

Tratamento fisioterapêutico das fraturas


de tornozelo do tipo B e C de Weber
Physical therapy in Weber B and C ankle fractures
Gustavo Cardoso Vieira*, Ana Regina de S. B. Barros, M.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, com Aprimoramento Profissional em Ortopedia e Traumatologia – HCFMRP-USP, **Fisioterapeuta, Supervisora do


Aprimoramento em Ortopedia e Traumatologia – HCFMRP-USP

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi desenvolver um protocolo de The aim of this study was to develop a treatment protocol to
tratamento para fraturas do tornozelo do tipo B e C de Weber, Weber B and C ankle fractures, beyond the assessment of the
além de avaliar os resultados do tratamento. Foram atendidos treatment outcome. Four patients were treated from the first
quatro pacientes do primeiro dia de pós-operatório até a 16ª postoperative day until sixteenth postoperative week. The
semana de P.O. Os parâmetros avaliados foram ADM, força evaluated topics were ROM (range of motion), muscle strength
muscular e edema (perimetria). Através da aplicação do questionário and swelling (perimeter). Through the Olerud and Molander
de Olerud e Molander (1984), avaliamos, de forma subjetiva, dor, scoring scale (1984), we evaluated subjective topics as pain, rigidity,
rigidez, edema, capacidade de subir escadas, correr, saltar, agachar, swelling, climbing stairs, running, jumping, squat, weight bearing
suporte de peso e atividades diárias. Ao final do tratamento, todos and everyday activities. At the end of the treatment, all patients
os pacientes apresentaram melhoras significativas nos parâmetros got significant improvement in the evaluated topics, beyond
avaliados, além de retornarem ao mesmo nível de atividade prévia returning to the same activity level before trauma. The average
ao trauma. A pontuação média no questionário de Olerud e score in the Olerud and Molander scale was 81.25. Physical therapy
Molander foi de 81,25. A intervenção fisioterapêutica foi intervention was determinant and essential to functional patients
determinante e indispensável para a recuperação funcional destes recover.
pacientes. Key-words: ankle, fracture, rehabilitation.
Palavras-chave: tornozelo, fratura, reabilitação.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução há também os movimentos somados: inversão, que é a


somatória de supinação com adução, e eversão, que é a
O tornozelo é uma articulação de extrema importância somatória de pronação e abdução.
para o membro inferior. Segundo Araújo et al. [1], o tornozelo Segundo Hebert et al. [3] e Araújo et al. [1], as fraturas e
constitui uma articulação terminal de apoio, de função luxações do tornozelo são as lesões mais comuns do sistema
complexa por estar diretamente ligada aos movimentos das músculo-esquelético, e dentre as articulações de carga, o
articulações subtalar e mediotársica. Para Kapandji [2], os tornozelo é a que apresenta maior incidência de fraturas.
movimentos do tornozelo ocorrem em três eixos, possibi- Esses autores atribuem este fato à própria situação e
litando seis movimentos: dorsiflexão/flexão plantar, prona- característica anatômicas do tornozelo.
ção/supinação, abdução/adução. Além desses movimentos,

Artigo recebido em 10 de fevereiro de 2004; aceito em 15 de novembro de 2005


Endereço para correspondência: Gustavo Cardoso Vieira, Rua José Machado, 196/ap.102 Nova Suíça 30460-250 Belo Horizonte MG,
Tel:(31)3373-3930 / (16)3966-2029, E-mail: ft.gustavo@ig.com.br
406 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

É uma articulação que suporta todo o peso do corpo A instabilidade de sindesmose tende a ser maior na
quando se está em apoio unipodal, sendo que este peso pode presença da ruptura do ligamento deltóide, podendo ou não
ser aumentado pela energia cinética quando o pé entra em estar indicado o reparo cirúrgico deste. Na fratura tipo C, a
contato com o solo durante a marcha, corrida ou salto [2]. conexão ligamentar inteira entre a tíbia e a fíbula distal pode
As fraturas do tornozelo são consideradas intra-articulares ter se rompido, e a necessidade de estabilização cirúrgica da
por envolverem o maléolo medial ou lateral, ou 20 a 25% sindesmose é mais provável. Além disso, é improvável que
do maléolo posterior, e para que o funcionamento articular em fraturas mais altas, como a de Maisonneuve, a laceração
normal se restabeleça, é necessária uma precisa redução da membrana interóssea ascenda tão proximal quanto à
anatômica dos fragmentos [4]. Estas fraturas têm grande fratura fibular. O ligamento colateral lateral pode ser suturado
repercussão sobre a sua função, podendo produzir desar- ou reinserido [8]. No estudo de Neto et al. [7], a rotura do
ranjos articulares como instabilidade, limitação de movimento, ligamento deltóide foi reparada sempre que presente.
incongruência articular e artrose secundária (pós-traumática), O objetivo do presente estudo foi o desenvolvimento de
podendo ser necessário artrodesar o tornozelo [3]. um protocolo de tratamento específico para pacientes com
Há muitos padrões de fraturas maleolares e várias fratura de tornozelo do tipo B e C, além de avaliar os resultados
classificações são usadas. Adotamos a classificação de Danis- do tratamento. Dessa forma, visamos fornecer um tratamento
Weber, que é adotada pelo grupo suíço AO/ASIF mais atualizado para estes pacientes, no intuito de melhorar a
(Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen/Association for the Study funcionalidade da articulação afetada e do paciente como
of Internal Fixation), e que leva em consideração o nível da um todo, além de prevenir qualquer tipo de seqüela.
fratura fibular. O nível da fratura fibular permite uma
dedução das lesões ligamentares, além da direção e energia Material e métodos
da força aplicada. A classificação de Danis-Weber é feita
em três tipos e três grupos [5]: Este trabalho foi realizado na seção de Reabilitação
A - Fratura fibular infra-sindesmótica; Neuromuscular (ambulatório de fisioterapia) do Hospital
• A1 (fratura infra-sindesmótica isolada), das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão
• A2 (fratura infra-sindesmótica, com fratura do maléolo Preto (HCFMRP-USP), no período de julho de 2003 a
medial), janeiro de 2004.
• A3 (fratura infra-sindesmótica, com fratura póstero- Foram incluídos neste estudo 5 pacientes com fratura
medial). de tornozelo do tipo B e C, sendo que 2 pacientes tiveram
B - Fratura fibular trans-sindesmótica; fratura do tipo B e 3 do tipo C .
• B1 (fratura fibular trans-sindesmótica isolada), Todos os pacientes, por apresentarem a fratura do tipo
• B2 (fratura fibular trans-sindesmótica, com lesão medial), B ou C, foram submetidos ao tratamento cirúrgico, seguindo
• B3 (fratura fibular trans-sindesmótica, com lesão medial o método AO (Figuras 1, 2 e 3).
e um Volkmann – fratura do rebordo póstero-lateral).
Figura 1a - Pct. M.B., fratura Weber C, antes da osteossíntese, RX (AP).
C - Fratura fibular supra-sindesmótica.
• C1 (fratura supra-sindesmótica, diafisária simples),
• C2 (fratura supra-sindesmótica, diafisária multifrag-
mentária),
• C3 (fratura supra-sindesmótica, proximal – Maisonneuve).
Segundo Paccola et al. [6], para as fraturas Weber B e C,
o procedimento cirúrgico é indicado para os pacientes que
apresentam o encurtamento do maléolo lateral e subluxação
lateral do tálus ao RX. Para as fraturas Weber A, a cirurgia
está indicada na impossibilidade de se conseguir redução
incruenta satisfatória. A presença de lesão medial (óssea ou
ligamentar), e também de lesão da sindesmose, pode con- Figura 1b - Pct. M.B., fratura Weber C, após osteossíntese, RX (AP e perfil).
tribuir para a opção de tratamento cirúrgico [7].
Nas fraturas Weber A, não há lesão da sindesmose tíbio-
fibular; nas fraturas Weber B, a sindesmose pode ou não
estar rompida; e nas fraturas Weber C, a sindesmose sempre
está rompida [6].
As fraturas maleolares com desvio muitas vezes
envolvem subluxação ou luxação tibiotalar. Raramente uma
fratura tipo C é estável, sem desvio e suscetível ao tratamento
não-operatório [8].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 407

Figura 2a - Pct. L.D.O., fratura Weber B, antes da osteossíntese, RX (AP). Dos 5 pacientes, 2 eram do sexo masculino e 3 do sexo
feminino. Nenhum paciente apresentou fratura exposta. A idade
dos pacientes variou de 19 a 61 anos, com média de 33,4 anos.
Os mecanismos de trauma foram: trauma direto em 2
casos e entorse em 3 casos. Dois pacientes tiveram acome-
timento do lado esquerdo e três do lado direito. Um paciente
teve fratura isolada do maléolo lateral, três tiveram fratura
bimaleolar (considerando o maléolo posterior), e um teve
fratura proximal da fíbula (fratura de Maisonneuve)
associada à fratura do maléolo medial.
A fratura proximal da fíbula foi tratada conserva-
Figura 2b - Pct. L.D.O., fratura Weber B, antes da osteossíntese, RX doramente. Os três pacientes com fratura do tipo C tiveram
(Perfil). Observar fratura do maléolo posterior. procedimentos cirúrgicos visando o reparo da articulação
tibiofibular distal. Um paciente com fratura do tipo B
necessitou de sutura da sindesmose.
O tempo transcorrido entre o trauma e a RAFI (redução
aberta e fixação interna) variou de 5 a 11 dias, com uma
média de 6,8 dias.
Os pacientes foram submetidos a uma avaliação inicial,
que constou de uma anamnese detalhada, além de um exame
físico completo. Os parâmetros avaliados foram: perimetria,
goniometria e teste de força. Estes foram reavaliados após 6
semanas, e ao final do tratamento, com exceção da perimetria,
Figura 2c - Pct. L.D.O., fratura Weber B, após osteossíntese, RX (AP).
que foi reavaliada apenas ao final do tratamento. Através da
aplicação do questionário de Olerud e Molander [9], avaliamos
também: dor, rigidez, edema, capacidade de subir escadas,
correr, saltar, agachar, suporte de peso e atividades diárias.
Este questionário foi aplicado ao final do tratamento.
A perimetria foi realizada da seguinte forma: o centro
do maléolo lateral foi utilizado como ponto de referência.
Outros dois pontos foram tomados a partir daí; um 5 cm
proximal (acima) e outro 5 cm distal (paralelo ao 5º meta-
tarso). Dessa forma, três pontos foram anotados, visando a
avaliação do edema.
Figura 3a - Pct. M. F., fratura Weber B, antes da osteossíntese. Para um paciente também foi realizada a perimetria para
avaliação do trofismo do tríceps sural, sendo o ponto de
referência o mesmo utilizado na perimetria do edema, porém
não foi realizada a medida neste ponto. Usamos três pontos
acima do ponto de referência: um ponto a 10, outro a 20 e
o último a 30 cm.
A goniometria foi realizada com goniômetro conven-
cional, ativa e passivamente. Os movimentos avaliados
foram: dorsiflexão, flexão plantar, inversão e eversão.
O teste de força foi realizado para os grupos dorsifle-
xores, flexores plantares, inversores e eversores. O teste obe-
Figura 3b - Pct. M. F., fratura Weber B, após osteossíntese.
dece à escala de força utilizada por Hoppenfeld [10] e
Kendall et al. [11], que é a seguinte:
0. Zero/Nula: não há evidência de contratilidade.
1. Dificultado/Traço: evidência de contratilidade, sem
movimento articular.
2. Sofrível/Fraca: movimentação completa, sem a resistência
da gravidade.
3. Mediano/Regular: movimentação completa contra a força
da gravidade.
408 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

4. Bom/Boa: movimentação completa contra a gravidade • Fortalecimento de intrínsecos


e alguma resistência. • Alongamento de IT, TS e Tibial Anterior
5. Normal/Normal: movimentação completa contra a • Exercícios resistidos p/ DF (theraband) (3º semana)
gravidade e resistência total. • Mobilização passiva manual p/ EV / INV (3º semana)
Os pacientes foram atendidos a partir do 1º dia de pós- Fase 3: (4ª a 5ª semana)
operatório (1º PO). No período de internação o atendimento • Exercícios ativos p/ EV / INV (pranchas - sentado)
foi feito diariamente. Após a alta hospitalar, os pacientes foram • Turbilhão (após cicatrização adequada)
orientados a continuar com o programa de exercícios em casa • Bicicleta ergométrica s/ carga
até o dia da retirada dos pontos. Após, os pacientes entraram Fase 4: (6ª a 7ª semana)
automaticamente para o tratamento no ambulatório de • Isométricos p/ EV / INV
fisioterapia, onde foram atendidos até a 16ª semana de PO. • Alongamento de EV / INV
Três pacientes receberam atendimento fisioterapêutico 2 • Exercícios resistidos p/ todos os grupos musculares (7º
vezes por semana e um paciente foi atendido 1 vez por semana. semana)
Quatro pacientes (80%) saíram da cirurgia com • Se liberado, carga 50 % - Treino de marcha em colchões
imobilização em tala gessada até a parte superior da perna. (c/ 1 muleta)
A tala foi retirada para realizar os exercícios conforme o Fase 5: (8ª a 10ª semana) Se liberado, carga total
protocolo, e foi recolocada após. E foi retirada em definitivo • Treino de marcha c/ e s/ obstáculos
junto com a retirada dos pontos. • Treino de marcha na prancha p/ EV / INV
A liberação de carga para a marcha foi feita pela equipe • Cadeia cinética fechada para QF e TS
médica, variando de caso para caso. • Bicicleta ergométrica c/ carga progressiva
Para todos os pacientes, a carga para o membro inferior • Treino proprioceptivo (apoio bipodal c/ 8 semanas e unipodal
operado após a cirurgia foi zero. A liberação da carga ocorreu c/ 10 semanas- pranchas, colchões, balancim, etc...)
da seguinte forma: • Iniciar trote – esteira rolante (plano e inclinado)
· para dois pacientes (Weber B), foi liberado carga total Fase 6: (11ª semana em diante - atletas)
progressiva na 6ª e 8ª semana respectivamente. • Progressão dos exercícios da fase 5
· para um paciente (Weber C), foi liberado 20% de carga • Exercícios pliométricos (11º semana - cama elástica)
na 6ª semana e 50% na 11ª semana. A carga total foi • Trote em subida / descida
liberada na 12ª semana. • Trote em gramado / areia
· um paciente (Weber C) teve 20% de carga liberada na 7ª • Trote c/ aceleração / desaceleração
semana e 50% na 12ª semana. A liberação da carga total • Trote em “8”, em “zig-zag”
foi prejudicada pela perda do seguimento médico deste • Treino c/ bola
paciente, sendo liberada apenas na 19ª semana. • Treino de saltos
O protocolo de tratamento foi desenvolvido através de • Encaminhar o paciente para academia
revisão bibliográfica, constituindo-se de um programa de Legenda: DF = dorsiflexão, FP = flexão plantar, EV =
exercícios direcionados para cada semana do pós-operatório, eversão, INV = inversão, A = ativo, P = passivo, I.C.E. =
sendo adicionadas crioterapia e hidroterapia (turbilhão). ice compression elevation, MTF = metacarpofalangeanas,
IT = isquiotibiais, TS = tríceps sural, QF = quadríceps
Protocolo de tratamento femoral, SLR = straight leg raise.
A 5ª fase do protocolo foi limitada pela liberação de
Fase 1: (1º P.O. a 1ª semana) Da enfermaria até retirada dos pontos carga total. Ou seja, para iniciar esta fase, era necessário
• I.C.E. (3 a 5x ao dia) estar na 8ª semana de PO e ter sido liberado carga total.
• Exercícios metabólicos A 6ª fase do protocolo não foi aplicada a nenhum
• Exercícios ativos p/ MTF e Joelho paciente, sendo apenas orientada no momento da alta da
• Isométricos p/ quadríceps fisioterapia.
• Massagem p/ edema c/ elevação
• Mobilização passiva manual e ativa p/ DF / FP Resultados
• Isométricos p/ DF
• SLR (s/ carga) Dos 5 pacientes incluídos neste estudo, um abandonou o
Fase 2: (2ª a 3ª semana) No ambulatório de fisioterapia tratamento, sendo os seus dados desconsiderados. Outro não
• Massagem cicatricial concluiu o protocolo até o fim, mas foi reavaliado na 22ª semana
• SLR (c/ carga progressiva) de PO, e seus dados foram incluídos neste trabalho. Dessa forma,
• Exercícios ativos e ativos-assistidos p/ DF / FP (c/ toalha os resultados correspondem a 4 pacientes (4 pcts. = 100%).
no chão, pranchas) Três pacientes (75%) apresentaram intercorrências: um
• Exercícios ativos e ativos-assistidos p/ EV / INV paciente foi inicialmente submetido à redução fechada e fixação
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 409

provisória com fixador externo em delta, permanecendo por 7 Tabela I - goniometria (em graus) - início, meio e fim do tratamento.
dias com este até a RAFI. Este paciente evoluiu com síndrome
pct. início meio fim mov
mov..
compartimental 2 dias após o trauma e internação, sendo
submetido a fasciotomia. Após, evoluiu com falha de cobertura a p a p a p
na parte lateral da perna e dorso de pé, necessitando de enxerto A 12 20 30 40 30 40 DF
de pele posteriormente. Outro paciente apresentou infecção 15 20 20 20 20 25 FP
da ferida cirúrgica, evoluindo com deiscência da cicatriz na 3º 10 10 30 35 30 40 INV
8 8 20 20 25 30 EV
semana de pós-operatório, apresentando boa resolução. O
B 8 15 8 20 25 30 DF
terceiro paciente apresentou déficit na extensão do hálux, 5 10 10 20 15 20 FP
hipoestesia na borda medial do pé, estendendo até a borda 8 10 10 22 12 30 INV
medial do hálux e tinel positivo para nervo tibial. Esses sinais 3 10 5 20 15 30 EV
prevaleceram desde o período pós-operatório até o final do C 15 18 35 40 35 40 DF
tratamento, sem melhora significativa. 10 15 15 20 15 20 FP
Um paciente (25%) fez retirada de material de síntese 10 12 40 45 40 45 INV
8 15 20 22 20 22 EV
(total), incluindo o parafuso transindesmoidal. Este
D 15 25 30 40 35 40 DF
procedimento foi realizado na 11ª semana de P.O.. 12 15 10 15 20 30 FP
Dois pacientes (50%) apresentaram redução considerável 8 10 18 25 35 35 INV
do edema. Um paciente (25%) obteve pouca melhora do 5 12 10 23 15 23 EV
edema. Um paciente (25%) apresentou aumento do edema.
Em relação à ADM, todos os pacientes apresentaram legenda : pct.= paciente, mov.= movimento, a= ativo, p=
passivo, DF= dorsiflexão, FP= flexão plantar, INV= inversão,
melhora importante já na reavaliação intermediária (6ª
EV= eversão.
semana). Ao final do tratamento, 3 pacientes (75%)
apresentavam ADM completa para todos os movimentos,
Tabela II - Força muscular - início, meio e fim do tratamento.
em comparação com o lado contralateral. Um paciente
(25%) apresentou um déficit de 5º para flexão plantar pct. início meio fim gr
gr.. ms.
comparando-se com o lado contralateral, sendo que não
foi retirado o parafuso transindesmoidal deste paciente. A 4 5 5 DF
4 5 5 FP
Todos os pacientes apresentaram déficit para dorsiflexão 4 5 5 INV
no movimento de agachar, sendo este prejudicado (Tabela 4 5 5 EV
I). B 4 4 5 DF
Na avaliação inicial para força muscular, todos os 4 4 5 FP
pacientes apresentaram grau 4 para dorsiflexores e flexores 3 4 5 INV
plantares. Um paciente (25%) apresentou grau 4 para todos 3 3 5 EV
C 4 4 5 DF
os grupos. Três pacientes (75%) apresentaram grau 3 para
4 4 5 FP
inversores e eversores. Na avaliação intermediária também 3 4 5 INV
houve melhora considerável. Ao final do tratamento, todos 3 4 5 EV
os pacientes apresentaram grau 5 de força muscular para D 4 4 5 DF
todos os grupos testados (Tabela II). 4 5 5 FP
Um paciente apresentou hipotrofia importante e 3 4 5 INV
diminuição do tônus muscular do tríceps sural após o trauma. 3 4 5 EV
Para este paciente foi realizada a perimetria do tríceps sural. legenda: pct.= paciente, gr. ms.= grupo muscular, DF= dorsifle-
Ao final do tratamento, este paciente apresentou grande xores, FP= flexores plantares, INV= inversores, EV= eversores.
recuperação da massa muscular, porém, ainda apresentava
diminuição importante do tônus.
Na aplicação do questionário de Olerud e Molander [9] Discussão
ao final do tratamento, um paciente (25%) obteve 75 pontos,
outro obteve 80 pontos e dois pacientes (50%) atingiram Concordamos com vários autores [1,6,12-16] que
85 pontos. A pontuação média foi de 81,25 pontos. atribuem o sucesso da reabilitação a fatores como a
Dois pacientes (50%) relataram dificuldades para subir mobilização precoce e a sustentação de carga parcial precoce.
escadas ao final do tratamento. Os outros dois pacientes Com base em observações clínicas, Van Laarhoven et al.
relataram dificuldades para descer escadas. Três pacientes [15] afirmam que a fisioterapia promove efeitos positivos
(75%) relataram desconforto para andar descalço. na recuperação do movimento do tornozelo. Para Tropp et
Ao final do tratamento, todos os pacientes eram capazes de al. [14], a imobilização pós-operatória com gesso é
pular com apoio no membro acometido, e conseguiam correr. obviamente desfavorável para a reabilitação. Atribuímos os
410 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

bons resultados do nosso estudo principalmente à mobilização total de 7) apresentaram dor difusa e edema no tornozelo
precoce, tanto passiva quanto ativa. após 18 meses de P.O..
No estudo de Hedström et al. [17], não foi constatado Em nosso estudo, apenas um paciente não apresentou
que exercícios ativos melhorem os resultados da ADM final, dor ao final do tratamento, e 75% apresentaram dor de
como por exemplo a dorsiflexão. Já para Ahl et al. [12,13], alguma forma, sempre de intensidade leve, e sem
os melhores resultados para dorsiflexão foram atribuídos comprometer as atividades diárias. No acompanhamento
ao grupo em que foi instituída a sustentação de carga feito por Ahl et al. [12], em 6 meses, 57% dos pacientes
precoce. O déficit de ADM significativo apresentado pelos estavam totalmente livres de dor.
pacientes do nosso estudo foi dorsiflexão em cadeia cinética No estudo de Ebrahein et al. [20] nenhum paciente
fechada (movimento de agachar). apresentou problemas com a fixação da sindesmose com
A liberação da carga parcial (20%) para os nossos parafuso. A retirada deste parafuso ocorreu na 8ª semana.
pacientes foi instituída por volta da 6ª e 7ª semana, e carga Concordamos com Tropp et al. [14], que diz que a fixação
total após a 10ª semana. No estudo de Araújo et al. [1] e com parafuso sindesmótico pode prejudicar a movimentação
Neto et al. [7], a carga parcial foi liberada na 3ª,4ª e 6ª do tornozelo, porém não achamos evidências disso em nosso
semana, e a carga total na 6ª e 8ª semana. estudo. Dos 2 pacientes com parafuso sindesmótico, um
Para Shaffer et al. [18], a imobilização após a cirurgia paciente fez retirada do material de síntese na 11ª semana,
promove um grande decréscimo no torque muscular e na sem posterior aumento significativo da ADM; o outro
resistência à fadiga, sendo que o pico de torque isométrico paciente não retirou o parafuso sindesmótico, mas também
pode diminuir em 45% com apenas uma semana de não apresentou déficit importante de ADM.
imobilização. A melhora na força muscular pode ser A sutura do ligamento deltóide ainda é discutida na
observada já na 5ª semana de tratamento, e pode ultrapassar literatura. Araújo et al. [1] acredita que, apesar de invasivo,
a força do membro contralateral na 10ª semana. O maior tal procedimento confere maior estabilidade ao lado medial
ganho de força ocorre nas primeiras cinco semanas do do tornozelo e melhor reparo anatômico deste ligamento.
tratamento. Nossos resultados são semelhantes aos resultados Neto et al. [7] também opta pela sutura do ligamento deltóide.
apresentados por Shaffer et al. [18]. Já na 6ª semana, todos Já Paccola et al. [6] e Strömsöe et al. [21] acreditam que este
os pacientes apresentavam melhoras visíveis na força procedimento não é necessário. Em nosso estudo não houve
muscular e ao final do tratamento todos os pacientes sutura do ligamento deltóide.
apresentavam força igual ao lado contralateral.
Consideramos que a diminuição da força muscular não Conclusão
seja um parâmetro tão importante quanto a ADM, por
exemplo. Porém, o trabalho de força muscular jamais deve Podemos concluir que, apesar do pequeno número de
ser deixado de lado. pacientes incluídos na pesquisa, o protocolo proposto
Lash et al. [19] verificou uma pontuação média de 76 proporcionou resultados satisfatórios, pois estes apresentaram
pontos de acordo com score de Olerud e Molander. Já Tropp melhoras significativas nos parâmetros avaliados. A
et al. [14] utilizou a escala de Olerud e Molander modificada, intervenção fisioterapêutica foi determinante e indispensável
que mostrou, com 10 semanas, uma pontuação média de 75, para que estes pacientes retornassem ao mesmo nível de
e após 12 meses, aumentou para 91 pontos. Van Laarhoven atividade anterior ao trauma.
et al. [15] também utilizou a escala de Olerud e Molander
modificada, apresentando uma média de 90 pontos. Neto et Referências
al. [7] obteve com seus pacientes uma média de 95 pontos.
Nossos resultados mostraram uma média de 81,25 1. Araújo CPC, Neto JSH, Santin RAL. Tratamento cirúrgico
pontos (variando de 75 para 85) no score Olerud e Molander das fraturas maleolares tipo B de Danis-Weber: avaliação de
ao final do tratamento. A pontuação entre 61 e 90 é resultados. Rev Bras Ortop 2000;35:347-51.
2. Kapandji AI. Fisiologia articular. 5a ed. Rio de Janeiro:
considerada como “bom” pelos autores. Verificamos que os
Guanabara Koogan; 2000. p.158-75.
parâmetros que mais contribuíram para a perda de pontos 3. Barros Filho TEP, Hebert S, Pardini Júnior AG, Xavier R, et
foram: dor, edema e capacidade para subir escadas. Os al. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 2a ed. São
trabalhos que apresentaram pontuação superior a 90, tiveram Paulo: Artmed; 1998. p.710-6.
um seguimento maior que o nosso estudo, muitas vezes 4. Hoppenfeld S, Murthy VL. Tratamento e reabilitação de
superior a 1 ano. fraturas. 1a ed. São Paulo: Manole; 2001. p.402-24.
Apesar de 50% dos pacientes terem apresentado boa 5. Allgöwer M, Müller ME, Schneider R, Willenegger H. Manual de
melhora do edema, todos apresentaram edema residual. No osteossíntese. 3a ed. São Paulo: Manole; 1993. p.148-9 / 595-612.
estudo de Ahl et al. [12], edema constante e edema noturno 6. Paccola CA, Reis Filho LC, Volpon JB. Resultado precoce do
tratamento cirúrgico das fraturas maleolares. Rev Bras Ortop
foram verificados em 27 e 39% dos casos, respectivamente.
1983;18(5):188-92.
Ebraheim et al. [20] demonstrou que 2 pacientes (de um
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 411

7. Neto CT, Fernandes HJA, Neto PFT, Reis FB, Faloppa F. 15. Van Laarhoven CJHM, Van der Werken C. Postoperative
Tratamento de fraturas do tornozelo tipo Danis-Weber B treatment of internally fixed ankle fractures: a prospective
com placa antideslizante póstero-lateral. Rev Bras Ortop randomised study. J Bone Joint Surg Br 1996;78(3):395-9.
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1995;16(2):79-83.
412 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Artigo original

Avaliação da eficácia de protocolos de treinamento


da atividade sentado-para-de-pé em mulheres idosas
Evaluation of the efficacy of training protocols
for the sit-to-stand activity in elderly women
Mônica de Barros Ribeiro Cilento*, Antônio Cláudio Lucas da Nóbrega**, Abelardo de Queiroz Campos Araújo***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neurofuncional, Professora do Programa de Graduação em Fisioterapia e Coordenadora do


Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia Neurofuncional da Universidade Católica de Petrópolis, **Professor Adjunto de Fisiologia da
Universidade Federal Fluminense, Pesquisador do CNPq, Coordenador do Laboratório de Ciências do Exercício da Universidade Federal
Fluminense, ***Professor Adjunto de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador do CNPq, Chefe do Serviço de
Neurologia do Instituto de Pesquisa Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz

Resumo Abstract
O principal objetivo desse estudo de intervenção foi avaliar, The main purpose of this intervention study was to evaluate
de forma comparativa, a eficácia de três protocolos de treinamento the efficacy of three sit-to-stand training protocols, in elderly
da atividade sentado-para-de-pé, em mulheres idosas. As 63 idosas women. The 63 elderly women selected were randomly divided
selecionadas foram randomicamente divididas em 4 grupos: into four groups: group I – Traditional Strength Training (use of
grupo I – Fortalecimento Muscular Tradicional (com o uso de cuff weights to emphasize quadriceps, gluteal, anterior tibial, triceps
caneleiras para enfatizar os grupos musculares quadríceps, glúteo, surae and hamstring muscle groups); group II – Functional
tibial anterior, tríceps sural e isquiotibial); grupo II – Treinamento Training (circuit training format composed of five functional
Funcional (um circuito de treinamento composto de cinco situations utilizing the sit-to-stand activity); group III –
situações funcionais, utilizando a atividade sentado-para-de-pé); Proprioceptive Neuromuscular Facilitation (techniques of
grupo III – Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (técnicas rhythmic initiation and combination of isotonics used to facilitate
de iniciação rítmica e combinação de isotônicas usadas para facilitar the activity of sit-to-stand) and the group IV – Control (included
a atividade sentado-para-de-pé) e o grupo IV – Controle (inclui activities for memory and participation in informative lectures on
atividades para a memória e participação em palestras informativas topics concerning aging). Subjects participated in 30 minute
sobre temas relacionados com o envelhecimento). As idosas sessions of their group activity, two times per week for ten weeks.
participaram de sessões de 30 minutos de suas atividades de grupo, The evaluation criteria that was used pre and post intervention
duas vezes por semana por dez semanas. Os critérios de avaliação included: the Sit-to-Stand-to-Sit Test, the Timed Up and Go Test, the
que foram usados, pré e pós-intervenção, incluíam: o Sit-to-Stand- Functional Reach Test and Manual Muscle Tests for bilateral hip and
to-Sit Test, o Timed Up and Go Test, o Functional Reach Test e o teste knee extensors. Comparing the efficacy of the three interventions
de força muscular manual para os músculos extensores de quadril and one control on the performance of the sit-to-stand activity in
e joelho bilateralmente. Comparando-se a eficácia das três 63 elderly females, the three intervention groups showed
intervenções com um grupo controle, no desempenho da ativi- statistically significant improvement in all measured criteria
dade de sentado-para-de-pé em 63 idosas, os três grupos de compared to the control group, with the exception of right hip
intervenção mostraram uma melhora, estatisticamente signifi- extensor strength which statistically improved in all groups.
cativa, em todos os critérios de mensuração, comparados com o Key-words: elderly, sit-to-stand, functional activity, therapeutic
grupo controle, com exceção da força muscular do extensor do intervention.
quadril direito, que melhorou significativamente nos quatro
grupos.
Palavras-chave: idoso, sentado-para-de-pé, atividade
funcional, intervenção terapêutica.

Artigo recebido em 16 de junho de 2004; aceito em 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Mônica de B. R. Cilento, Rua Dr. Hermogênio Silva, 999 casa 8 Retiro 25715-060 Petrópolis RJ, Tel: (24)2237-
2056, E-mail: equilib@compuland.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 413

Introdução Material e métodos

O processo do envelhecimento pode vir acompanhado Trata-se de um estudo de intervenção, com grupo
de inúmeras debilidades corporais, decorrentes do próprio controle, randomizado, não mascarado, realizado entre
envelhecimento biológico e resultantes, em grande parte, março e agosto de 2002. Foram estudadas mulheres idosas
como já comprovado recentemente por alguns autores, do (a partir de 60 anos de idade), de qualquer raça, que relatavam
desuso e do sedentarismo [1]. Vários distúrbios físicos são alguma dificuldade para realizar a passagem sentado-para-
comumente encontrados em indivíduos acima dos 60 anos, de-pé, sem, contudo, apresentarem incapacidade funcional
tais como fraqueza e diminuição da massa muscular, redução justificável objetivamente para tal atividade. A amostra foi
de informações sensoriais secundárias a déficits visuais, selecionada a partir de uma entrevista de rádio, com palestra
auditivos e táteis, diminuição da flexibilidade e disfunções de esclarecimento subseqüente e posterior triagem e exame
do equilíbrio e da coordenação [2]. Tais alterações podem físico, resultando a amostra final em 63 idosas.
influenciar a qualidade de vida dessas pessoas, limitando-as O estudo foi previamente aprovado, nos seus aspectos
em sua funcionalidade e convívio social. éticos, pela Secretaria de Saúde do Município de Petrópolis e
Dentre as várias atividades realizadas na vida diária, a todas as idosas concordaram com a participação voluntária e
habilidade de levantar-se e sentar-se é essencial para a assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
independência funcional de qualquer indivíduo. O ato de se Foram incluídas mulheres a partir de 60 anos de idade
levantar é um pré-requisito para a execução de todas as que relatavam alguma dificuldade para realizarem a passagem
atividades realizadas na postura em pé, como o caminhar. sentado-para-de-pé, sendo porém capazes de realizá-la quan-
Há evidências de que a ação de levantar-se é uma das tarefas do solicitadas. Foram excluídas as mulheres que apresen-
funcionais mais executadas no dia a dia [3] e de que a perda tavam qualquer enfermidade, física ou psíquica, que pudesse
de independência nessa atividade é um dos principais fatores impedir a realização adequada dos protocolos de treina-
associados ao risco de institucionalização [4]. mento, mulheres com atividade física intensa, ou idosas que
Observam-se com muita freqüência, na prática clínica com haviam ingressado em algum programa de atividade física
idosos, relatos de dificuldade em levantar-se da cama pela manhã, há menos de 6 meses.
impossibilidade de levantar-se da poltrona, do banco do ônibus Após a avaliação inicial, as idosas foram submetidas a
ou do vaso sanitário, sem ajuda. Chamberlain e Munton, e uma entrevista clínica composta pela resposta a questionário
Munton et al. constataram que 42% a 43% dos indivíduos padronizado com dados de identificação, história clínica e
idosos entrevistados por eles apresentavam dificuldades para exame físico padronizado. Todas as idosas foram pesadas em
se levantarem de uma cadeira [5,6]. Tais indivíduos encontram- uma balança Lightex, modelo LHX-2016, e medidas com o
se limitados em sua autonomia, necessitando por vezes do auxílio auxílio de uma fita métrica e marcação em uma parede.
constante de um acompanhante. Foram selecionados testes funcionais que envolvem o ato
O ato de se levantar, executado de forma funcional e de se levantar, e testes específicos para as deficiências prováveis
em tempo hábil, requer força muscular dos membros causadoras do declínio funcional, como os testes de força
inferiores, flexibilidade e equilíbrio, para mover a massa muscular e equilíbrio. Os testes foram realizados pela autora,
corporal para diante – a partir de uma base de suporte ampla em 3 momentos: antes das intervenções, logo após as 20 sessões,
(coxas e pés) para uma base menor (pés) [7]. Estas habilidades e 8 semanas após o término das intervenções para avaliar a
podem estar extremamente comprometidas em idosos retenção da aprendizagem. Os testes utilizados foram:
sedentários e doentes.
a) Timed Up and Go Test
Atualmente, vários estudos embasam a eficácia da
Material utilizado: uma poltrona de braços de 38 cm de
atividade física na minimização das deficiências encontradas
altura, um cronômetro de marca Mondaine™, fita adesiva,
nas pessoas idosas e, conseqüentemente, na sua indepen-
e uma sineta de escritório, de metal.
dência funcional e qualidade de vida. Muitas pesquisas se
Descrição: com a idosa sentada na poltrona, afastada do
detêm na prevenção de quedas e melhoria da deambulação
encosto, ao som da sineta ela é orientada a se levantar, se
através de programas específicos de fortalecimento, treina-
possível sem apoiar os braços, andar até a marca da fita
mento funcional e equilíbrio. Não se encontram, porém, na
adesiva, colocada a uma distância de 3 metros, voltar e sentar-
literatura atual trabalhos que enfoquem especificamente a
se. O cronômetro é acionado, imediatamente após a sineta,
otimização do ato de levantar-se em indivíduos idosos.
e interrompido no momento em que a idosa se senta. A
O presente trabalho foi desenvolvido objetivando avaliar,
média entre três tentativas é então computada [8].
de forma comparativa, a eficácia de alguns protocolos de
treinamento da atividade sentado-para-de-pé em mulheres b) Sit-to-Stand-to-Sit Test
idosas, com o intuito de otimizar seu desempenho, buscando Material utilizado: uma cadeira de madeira de tamanho
prevenir limitações funcionais e melhorar, assim, a sua padrão, um cronômetro da marca Mondaine e uma sineta
qualidade de vida. de escritório, de metal.
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Descrição: A idosa começa na posição sentada, com os então solicitada. A resistência é aplicada pelo terapeuta no
braços cruzados sobre o peito. Ao som da sineta a idosa é terço inferior da coxa, posteriormente.
solicitada a levantar-se completamente e sentar-se dez vezes Para a avaliação dos extensores de joelho, a idosa é posi-
ininterruptamente. Seu tempo é cronometrado do toque da cionada sentada, e o terapeuta realiza a resistência na parte
sineta até a idosa sentar-se pela décima vez. A melhor média distal da perna, anteriormente.
entre duas tentativas é computada [9]. As 63 idosas foram divididas em 4 grupos por
randomização em bloco, seguindo o protocolo quadrado
c) Functional Reach Test
latino [12], onde o fator condicional foi a idade. Três dos
Material utilizado: Uma fita métrica, fita adesiva e um
grupos foram submetidos a um protocolo específico de
esquadro de plástico.
treinamento, objetivando a melhora da execução da atividade
Descrição: A fita métrica foi presa na parede, paralela
de levantar-se. O grupo 4 foi o grupo controle que participou
ao chão a uma altura de 135 cm. A idosa inicia o teste na
de atividades de memória e palestras informativas sobre
postura de pé, com um dos ombros fletido a aproxima-
temas ligados à terceira idade. As sessões de atendimento
damente 90°, e o cotovelo estendido, próximo à parede,
foram realizadas com a freqüência de duas vezes por semana
com a fita métrica afixada, com a mão cerrada e em uma
e com a duração de 30 minutos cada uma , sendo o programa
postura alinhada. Tira-se então a primeira medida na altura
desenvolvido em 20 sessões. As intervenções foram reali-
da cabeça do 5o metacarpo. Solicita-se à idosa que se incline
zadas pela autora com a colaboração de 15 alunos do último
o máximo para frente, mantendo seu membro superior
ano do curso de graduação em Fisioterapia da Universidade
estendido. Por fim, mede-se novamente a posição do 5o
Católica de Petrópolis.
metacarpo, para calcular-se o deslocamento. A média entre
3 tentativas é computada [10].
Grupo I – Fortalecimento Tradicional (17
d) Teste de Força Muscular Manual idosas)
Material utilizado: Uma cadeira padrão e uma mesa de
1m de altura. A sessão iniciava-se com uma caminhada de 5 minutos
Descrição: Utiliza-se uma escala de graduação de força, e uma série de alongamentos dos músculos tríceps sural,
descrita no Quadro I [11]: isquiotibiais, quadríceps e glúteos, mantidos por 20 segundos.
Ao término dos alongamentos, as idosas sentavam em cadei-
Quadro I - Graduação utilizada para o teste de força muscular manual
ras de madeira e realizavam 10 movimentos de dorsiflexão
Grau muscular Definição Po n t o s e flexão plantar do tornozelo.
Iniciava-se a série de fortalecimento muscular, com a
5 Força normal 10 utilização de caneleiras, após a determinação da carga inicial
5- Fraqueza quase indetectável 9
ideal (aproximadamente 80% da carga máxima). Nas
4+ Mesma que 4, porém mais forte
que o músculo de referência 8 primeiras duas semanas foi realizada uma série de 10
4 O músculo é fraco, mas move a articulação repetições de cada grupamento muscular. Na terceira semana
contra uma combinação de gravidade evoluiu-se para duas séries de 10 repetições, com intervalos
e alguma resistência 7 de 3 minutos de descanso entre elas. Na sexta semana houve
4- Mesma que 4, porém mais fraco um aumento de 1 kg de carga nas séries e, na nona semana,
que o músculo de referência 6 houve um aumento do número de repetições para 12 em
3+ O músculo é capaz de mover
cada série. Cada repetição foi realizada vagarosamente ao
a articulação contra a gravidade
e uma pequena adição de resistência 5 longo de toda a amplitude de movimento, 2-3 segundos para
3 O músculo é capaz de mover a articulação, a elevação do peso (contração concêntrica) e 4-6 segundos
em toda a sua amplitude, contra a gravidade 4 para a descida do peso (contração excêntrica). As séries de
3- O músculo move a articulação contra a gravidade, fortalecimento eram realizadas da seguinte forma:
mas não em toda a amplitude de movimento 3 a) extensores de quadril: com a caneleira na parte inferior
2 O músculo move a articulação, quando da perna, na postura de pé, a idosa estendia o quadril de um
a gravidade é eliminada 2
1 Um traço de contração é observado
membro inferior com o joelho mantido em extensão. Em
ou sentido no músculo 1 seguida realizava a mesma atividade com o outro membro.
0 Ausência de contração muscular 0 b) flexores de joelho: com a caneleira na parte inferior
da perna, na postura de pé, a idosa fletia o joelho de um
São avaliados os extensores de quadril e de joelho membro inferior. Em seguida realizava a mesma atividade
bilateralmente. Para a avaliação dos extensores de quadril, a com o outro membro.
idosa é posicionada em pé, apoiando os antebraços sobre c) plantiflexores de tornozelo: com as caneleiras na parte
uma mesa de 1 metro de altura, com o joelho do membro a inferior das pernas, na postura de pé, a idosa ficava na ponta
ser avaliado fletido, sendo a extensão da articulação do quadril dos pés.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 415

d) extensores de joelho: com as caneleiras na parte inferior de altura cada (uma sobre a outra) posicionadas entre
da perna, na postura sentada, a idosa estendia um dos joelhos. elas. A distância de cada cadeira à mesa era de 80 cm.
Em seguida realizava a mesma atividade com o outro As idosas iniciavam a atividade na posição sentada. Uma
membro. delas começava segurando uma manta dobrada. As duas
e) dorsiflexores de tornozelo: com as caneleiras no antepé, idosas então se levantavam, a que tinha a manta
na postura sentada com um membro inferior cruzado sobre colocava-a sobre a prateleira e a outra, então, pegava a
o outro e o pé pendente, a idosa dorsifletia o tornozelo. Em manta, exigindo-se, assim, que ambas se levantassem e
seguida realizava a mesma atividade com o outro pé. alcançassem a prateleira no alto. A atividade foi repetida
A série de fortalecimento era, então, seguida por uma por cinco vezes.
caminhada de 5 minutos para desaquecimento, e repetição e) Com duas cadeiras, de tamanho padrão, colocadas de
das atividades de alongamento realizadas no início da sessão. frente uma para outra, a uma distância de 150 cm, as idosas
iniciavam a atividade na posição sentada. Uma delas
Grupo II – Treinamento Funcional (16 começava segurando uma toalha de rosto. As idosas então
idosas) se levantavam e estendiam os membros superiores para cima
como se estivessem pendurando a toalha em um varal alto.
A sessão iniciava-se com as mesmas atividades de Na repetição seguinte, a outra idosa tinha a toalha e a
aquecimento e alongamento descritas no grupo I. atividade foi repetida por cinco vezes.
Iniciava-se, então, a série de treinamento funcional que A série de treinamento funcional era então seguida por
foi formada por um circuito de cinco situações funcionais uma caminhada de cinco minutos para desaquecimento e
envolvendo a passagem sentado-para-de-pé. A série consistia repetição das mesmas atividades de alongamento, realizadas
em cinco repetições de cada atividade do circuito, com um no início da sessão.
intervalo de três minutos de descanso entre as séries. As
atividades foram realizadas em pares com uma idosa de Grupo III – Facilitação Neuromuscular
frente para a outra. As idosas iniciavam a primeira semana Proprioceptiva (PNF) (15 idosas)
com uma série, e evoluíam, se possível, para duas séries na
terceira semana e para até três séries nas últimas semanas. As idosas se posicionavam de pé, à frente das cadeiras,
Atividades do circuito: para o início de suas séries. Cada idosa era atendida por um
a) Com duas cadeiras de tamanho padrão colocadas de terapeuta, sendo cinco delas atendidas de cada vez. Foram
frente uma para outra, a uma distância de 185 cm, as idosas utilizadas as seguintes técnicas de PNF:
iniciavam a atividade na posição sentada, com uma delas a) Combinação de isotônicas: O terapeuta posiciona suas
segurando uma bola de plástico. As duas idosas então se mãos sobre as cristas ilíacas da idosa e a atividade se inicia
levantavam, apenas parcialmente, e uma entregava a bola de pé. O terapeuta começa a impor uma resistência
para a outra, exigindo-se que ambas flexionassem o tronco (aproximação) gradual em direção aos calcanhares da idosa
anteriormente. Na repetição seguinte, a outra idosa tinha a e lhe solicita que sustente a posição. Em seguida, solicita-se
bola e a atividade foi repetida por cinco vezes. à idosa que se deixe empurrar um pouco para baixo, em
b) Com duas poltronas de braços, de 38 cm de altura, direção à cadeira, como se fosse “sentar no ar” (contração
colocadas de frente uma para outra, a uma distância de 170 excêntrica). Pede-se uma sustentação dessa posição
cm, as idosas iniciavam a atividade na posição sentada. Uma intermediária, por aproximadamente cinco segundos, e a
delas começava segurando um livro. As duas idosas então idosa então se levanta (contração concêntrica) e nova
se levantavam, apenas parcialmente, e uma entregava o livro contração mantida é solicitada. A seqüência se repete cinco
para a outra, exigindo-se que ambas flexionassem o tronco vezes, estimulando a idosa, a cada descida (contração
anteriormente. Na repetição seguinte, a outra idosa tinha o excêntrica), a se aproximar, cada vez mais, do assento da
livro e a atividade foi repetida por cinco vezes. cadeira.
c) Com duas cadeiras de madeira levemente acolchoadas, b) Iniciação rítmica: A atividade se inicia com a idosa na
de 36 cm de altura, colocadas de frente uma para outra, a posição sentada. O terapeuta posiciona suas mãos sobre as
uma distância de 185 cm, as idosas iniciavam a atividade na cristas ilíacas da idosa. Com uma modificação da técnica
posição sentada. O terapeuta jogava uma revista no chão para se adequar a atividade proposta, o momento passivo
para cada uma das idosas que devia apanhá-la, ainda na inicial é omitido. Inicia-se então, solicitando-se à idosa que
posição sentada, levantar-se com a revista na mão e entregá- se levante 10 vezes, mantendo o ritmo, imposto pelo
la de volta ao terapeuta. A revista era jogada em posições terapeuta. As primeiras repetições são realizadas com certa
diferentes a cada vez, até completar-se a repetição de assistência ao movimento, que vai se transformando em
número cinco. resistência gradual. Logo após as 10 repetições a idosa
d) Duas cadeiras de tamanho padrão eram colocadas continua executando mais 10 elevações de forma ativa livre,
uma de frente para a outra, com duas mesas de 70 cm mantendo o mesmo ritmo.
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Nas primeiras semanas, as idosas executavam uma série Os tempos para a realização de um movimento completo
das duas técnicas, evoluindo para até cinco séries ao término de levantar-se, caminhar 3 metros e sentar-se, medidos antes
das 20 sessões, com intervalos de três minutos para descanso (pré) e depois (pós) da intervenção de diferentes
entre as séries. À medida que as idosas evoluíam em seu características (grupo), estão descritos na Tabela II.
desempenho, a resistência, exercida pelo terapeuta, ia aumen-
tando, porém sempre respeitando as possibilidades de Tabela II - Resultados pré e pós do Timed Up and Go Test.
execução da tarefa de forma adequada. Grupo Pré (s) Pós (s) Diferença (%)

Grupo IV – Grupo controle (15 idosas) Fortalecimento (n=17) 11,5 10,6* -7,0
Funcional (n=16) 12,2 9,8* -17,9
PNF (n=15) 12,1 9,9* -16,1
Este grupo intercalou atividades de memória, através de
Controle (n=15) 12,0 11,8 -1,4
exercícios de memorização visual e auditiva (uma vez por
semana), com palestras informativas sobre temas de * P<0,05 vs. Pré
interesse para a terceira idade (uma vez por semana).
As distâncias de alcance, como medida do equilíbrio antes
Na análise estatística todos os dados foram submetidos
(pré) e depois (pós) da intervenção de diferentes carac-
ao teste univariado de Kolmogorov-Smirnov, para que se
terísticas (grupo), estão descritas na Tabela III.
determinasse se obedeciam a uma distribuição normal. Cada
variável foi submetida a uma análise de variância (ANOVA) Tabela III - Resultados pré e pós do Functional Reach Test.
de dois fatores, onde os fatores principais foram: grupo
(nome dos grupos) e tempo (pré e pós), com medida repetida Grupo Pré (cm) Pós (cm) Diferença (%)
no fator tempo. No caso de valores de F significativos, o Fortalecimento (n=17) 26,5 28,4* 7,9
teste Post-hoc de Bonferroni foi utilizado para as compara- Funcional (n=16) 26,7 29,7* 12,5
ções par-a-par. As magnitudes das variações de cada variável, PNF (n=15) 27,1 30,1* 13,0
em cada um dos grupos, foram comparadas pela ANOVA Controle (n=15) 25,6 25,7 0,5
de um fator, seguidas pelo teste de Bonferroni, quando
* P<0,05 vs. Pré
apropriado. Todos os resultados foram apresentados como
média ± erro padrão e foram considerados significativos os A força muscular dos extensores de joelho, direito e
resultados das análises onde P < 0,05. esquerdo, e dos extensores de quadril, direito e esquerdo,
está descrita nas Tabelas IV, V, VI e VII.
Resultados
Tabela IV - Força muscular dos extensores do joelho direito, antes (pré)
e depois (pós) da intervenção de diferentes características (grupo).
A amostra foi constituída por 63 idosas, com média de
idade de 71,56 anos. Após avaliar, de forma comparativa, a Grupo Pré (kg) Pós (kg) Diferença (%)
eficácia de três protocolos de treinamento da atividade
sentado-para-de-pé, em 63 idosas, em comparação com um Fortalecimento (n=17) 8,5 9,8* 17,9
Funcional (n=16) 8,4 9,9* 21,0
grupo controle, constatou-se uma melhora, estatisticamente
PNF (n=15) 8,8 10,0* 16,1
significativa, do desempenho da atividade nos três grupos Controle (n=15) 8,4 8,8 5,2
de intervenção, sem resultados significativos no grupo
controle, em todas as variáveis, com exceção da força * P<0,05 vs. Pré
muscular dos extensores do quadril direito.
Os tempos para execução de 10 movimentos completos Tabela V - Força muscular dos extensores do joelho esquerdo, antes (pré)
de sentar-se e levantar-se, antes (pré) e depois (pós) da e depois (pós) da intervenção de diferentes características (grupo).
intervenção de diferentes características (grupo), estão
Grupo Pré (kg) Pós (kg) Diferença (%)
descritos na Tabela I.
Fortalecimento (n=17) 8,5 9,8* 19,1
Tabela I - Resultados pré e pós do Sit-to-Stand-to-Sit Test Funcional (n=16) 7,9 9,9* 30,7
PNF (n=15) 8,9 10,0* 14,5
Grupo Pré (s) Pós (s) Diferença (%)
Controle (n=15) 8,7 9,0 3,2
Fortalecimento (n=17) 26,9 22,7* -14,8
Funcional (n=16) 27,7 22,4* -16,7 * P<0,05 vs. Pré
PNF (n=15) 27,3 19,8* -25,5
Controle (n=15) 25,8 26,0 0,8

* P<0,05 vs. Pré


Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 417

Tabela VI - Força muscular dos extensores do quadril direito, antes (pré) não envolvendo, portanto, características fundamentais da
e depois (pós) da intervenção de diferentes características (grupo). tarefa, como a velocidade com a utilização do momentum.
No Timed Up and Go Test, as três intervenções mostraram
Grupo Pré (kg) Pós (kg) Diferença (%)
resultados significativos, sendo os grupos PNF e Treina-
Fortalecimento (n=17) 6,6 8,8* 39,1 mento Funcional os de melhores resultados. O resultado
Funcional (n=16) 7,4 8,8* 22,2 menos significativo do grupo de Fortalecimento Muscular
PNF (n=15) 7,2 9,5* 35,8 Tradicional reforça, mais uma vez, os fundamentos das atuais
Controle (n=15) 6,7 7,1* 5,8 Teorias de Controle e Aprendizagem Motora [13]. Nesse
* P<0,05 vs. Pré teste, como que simulando uma situação funcional, vemos
envolvidos aspectos bem mais amplos que apenas a força
Tabela VII - Força muscular dos extensores do quadril esquerdo, antes muscular, tais como equilíbrio, a marcha, o ato de ir até um
(pré) e depois (pós) da intervenção de diferentes características (grupo). ponto preestabelecido e retornar para sentar-se. Tais aspectos
são mais bem explorados nos protocolos de PNF e Treina-
G r u p o Pré (kg) Pós (kg) Diferença (%) mento Funcional. Apesar de vários autores terem compro-
vado a eficácia do Fortalecimento Tradicional dos músculos
Fortalecimento (n=17) 6,2 8,7* 43,4
Funcional (n=16) 7,3 8,9* 26,9 dos membros inferiores, não só no ganho de força muscular
PNF (n=15) 6,9 9,4* 39,4 mas também no desempenho de atividades funcionais [15-
Controle (n=15) 6,7 7,0 4,6 17], constatou-se no presente estudo que protocolos que
envolvem a atividade funcional específica a ser trabalhada
* P<0,05 vs. Pré tendem a ser mais eficazes.
Com relação ao Functional Reach Test, novamente os
Discussão resultados obtidos nesse estudo comprovaram a maior
eficácia dos protocolos dos grupos de PNF e Treinamento
Consideramos o Sit-to-Stand-to-Sit Test como o mais Funcional, que envolvem a atividade a ser otimizada de
importante no estudo, por avaliar o ato de se levantar, da maneira funcional. Apesar de menos expressivos, os efeitos
forma mais ampla, envolvendo força muscular de membros obtidos pelo grupo de Fortalecimento Muscular Tradicional
inferiores, equilíbrio (devido à velocidade) e resistência. Os também foram estatisticamente significativos, comparados
resultados, encontrados no estudo foram estatisticamente com os resultados do grupo controle. Tais resultados
significativos nos 3 grupos de intervenção, sendo mais provavelmente se devem à influência que o fortalecimento
expressivos (-25,5%) no grupo PNF, seguidos pelo grupo muscular dos grandes músculos dos membros inferiores
de Treinamento Funcional (-16,7%), e, por fim, com menor exerce no equilíbrio, na postura em pé, considerando-se as
expressão, no grupo de Fortalecimento Muscular Tradicional características do teste, como já descrito por outros autores
(-14,8%). Os dados encontrados podem ser explicados pelas [15,16].
novas Teorias de Controle e Aprendizagem Motora, onde No Teste de Força Muscular Manual, os resultados
se preconiza a especificidade e a variabilidade da tarefa como obtidos no presente estudo, para os músculos extensores de
características fundamentais para a otimização do desem- joelho direito e esquerdo, foram estatisticamente signifi-
penho de uma atividade [13]. cativos nos três grupos de intervenção, em comparação com
No seu protocolo, o grupo PNF utilizou o ato de se o grupo controle.
levantar propriamente dito, inicialmente modificado por O grupo de Treinamento Funcional mostrou os resul-
resistência manual e variação no tempo da atividade, tados estatisticamente mais significativos, sugerindo
finalizando, porém, com a técnica de iniciação rítmica que, novamente a importância da repetição e da variabilidade da
em sua fase final, encoraja a realização independente e tarefa para a otimização da atividade [13]. Especificamente
ininterrupta da atividade, no ritmo pré-estabelecido pelo no aumento da força muscular dos músculos extensores de
terapeuta [14]. O resultado esperado portanto foi confir- joelho direito e esquerdo, constatou-se aumento mais
mado pela avaliação pré e pós-intervenção. expressivo dessa variável, ao se utilizar um protocolo que
O grupo de Treinamento Funcional, através da utilização contém o levantar-se de diferentes superfícies, associado a
das tarefas em seqüência, todas elas envolvendo o ato de se uma atividade funcional, como ocorre no grupo de
levantar, também utiliza os critérios de especificidade e Treinamento Funcional.
variabilidade, justificando assim seus resultados. O grupo PNF apresentou resultados menos expressivos
O grupo de Fortalecimento Muscular Tradicional, como do que o grupo de Treinamento Funcional. Esses resultados
a intervenção mais utilizada citada na literatura, demonstra talvez possam ser explicados pela utilização de resistência
evolução no teste em questão, porém com menor signi- manual e treinamento independente em seu protocolo, porém
ficância, provavelmente por não apresentar em seu protocolo sem variação das superfícies utilizadas, apresentando,
o ato de se levantar, propriamente dito, como treinamento, portanto, repetição sem variabilidade de ambiente.
418 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Na avaliação da força muscular dos músculos extensores sentado-para-de-pé, quando comparadas com um grupo
do quadril foram verificados resultados, igualmente signifi- controle. Os protocolos de Treinamento Funcional e de PNF
cativos, nos grupos de Fortalecimento Muscular Tradicional mostraram-se os mais eficazes, reforçando as novas teorias
e no grupo de PNF, apesar de o grupo de Treinamento de controle e aprendizagem motora que preconizam a
Funcional ter também apresentado resultados expressivos. especificidade e a variabilidade da tarefa como características
A avaliação dos extensores de quadril direito foi a única fundamentais para a otimização do desempenho de uma
variável que apresentou resultados estatisticamente signifi- atividade.
cativos, nos grupos submetidos à intervenção e no grupo
controle. Tais resultados talvez se devam ao fato de que, Referências
apesar de não se submeterem a nenhum tipo de intervenção
física, as idosas do grupo controle também se deslocavam, 1. Monteiro PP. Envelhecer – histórias, encontros,
com a mesma freqüência, para o local de atendimento, mos- transformações. Belo Horizonte: Autêntica; 2001.
trando-se igualmente motivadas com as atividades de memó- 2. Lyndon-Griffith B. Exercise parameters for the elderly.
Gerontology manual of the school of occupational therapy
ria e as palestras em grupo.
and physical therapy. Tacoma: University of Puget Sound;
Em relação à avaliação da força muscular especifica- 1996.
mente, devemos também considerar as características do 3. Berger RA, Riley PO, Mann RW et al. Total body dynamics in
teste utilizado como uma possível explicação para os resul- ascending stairs and rising from a chair following total knee
tados, estatisticamente significativos, encontrados nos grupos, arthroplasty. In: Proceedings of the 34th Annual Meeting of
submetidos à intervenção, e no grupo controle. Sendo um the Orthopedic Research Society. Atlanta: GA; 1988.
teste semiquantitativo, devemos considerar a possibilidade 4. Branch LG, Meyers AR. Assessing physical function in the
de alguma interferência na percepção individual do exami- elderly. Clin Geriatr Med 1987;3:29-51.
nador. 5. Chamberlain MA, Munton J. Designing chairs for disabled
Como limitações do estudo podemos considerar: arthritic. Br J Rheumatol 1984;23:304-8.
6. Munton JS, Ellis MI, Chamberlain MA, Wright V. An
a) Características da população: a restrição da validade exter-
investigation into the problems of easy chairs used by the
na pela utilização exclusiva de pessoas do sexo feminino. arthritic and the elderly. Rheumatol Rehabil 1981;20:164-73.
b) Métodos de análise: a utilização de ferramentas de avalia- 7. Carr JH, Shepherd R. Neurological rehabilitation – optimizing
ção de baixa tecnologia e custo tornou o estudo viável, motor performance. Butterworth Heinemamm: Oxford;
porém pode ter comprometido a precisão dos resultados. 1998.
A impossibilidade de realização de uma avaliação cega 8. Podsiadlo D, Richardson S. The timed “ up and go”: a test of
também tem que ser considerada como um fator de basic functional mobility for frail elderly person. J Am Geriatr
possível interferência nos resultados. Soc 2000;48(1):104-5.
c) Análise de retenção: os resultados colhidos para avaliar a 9. Csuka M, McCarty DJ. Simple method for measurement of
lower extremity muscle strength. Am J Med 1985;78:77-81.
retenção não puderam ser considerados, pois a maior
10. Duncan PW, Weiner DK, Chandler JM, Studenski S. Functional
parte das idosas participantes do estudo não permaneceu reach; a new clinical measure of balance. J Gerontol
inativa durante as oito semanas após as intervenções. Algu- 1990;45:M192-7.
mas ingressaram em novos programas e outras se sentiram 11. Florence JM, Shree P, Wendy MK et al. Clinical trials in
motivadas a realizar outras atividades, como caminhar Duchenne Dystrophy. Phys Ther 1984;64:41-5.
médias distâncias. d) Tamanho amostral: para a genera- 12. Zar JH. The latin square experimental design – multiway
lização dos achados desse experimento a amostra deveria factorial analysis of variance. In: Biostatistical analysis. 2a ed.
ser maior. Englewoods Cliff: Prentice – Hall; 1984. p. 248.
O presente estudo abre novos questionamentos para 13. Winstein CJ. Knowledge of results and motor learning –
futuras pesquisas na área da funcionalidade da pessoa idosa, implications for physical therapy. Phys Ther 1991;71:140-9.
14. Adler SS, Beckers D, Buck M. PNF in practice – an illustrated
principalmente no que diz respeito à criação de protocolos
guide. 2a ed. NewYork: Springer-Verlag; 2000.
simples e eficazes para prevenir e reabilitar atividades 15. Fiatarone MA, O’Neill EF, Ryan ND, et al. Exercise training
funcionais em pessoas idosas. and nutritional supplementation for physical frailty in very
elderly people. N Engl J Med 1994;330:1769-75.
Conclusão 16. Chandler JM, Duncan PW, Kochersberger G, Studenski S. Is
lower extremity strength gain associated with improvement
As mulheres idosas que foram submetidas aos protocolos in physical performance and disability in frail, community-
de Fortalecimento Muscular Tradicional, Treinamento dwelling elders? Arch Phys Med Rehabil 1998;79:24-30.
Funcional e PNF, usados nesse estudo, mostraram melhoras 17. Brill PA, Probst JC, Greenhouse D L, Schell B, Macera CA.
significativas nos parâmetros de medida da atividade Clinical feasibility of a free-weight strength-training program
for older adults. J Am Board Fam Pract 1998;6:445-51.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 419

Artigo original

Estudo do padrão postural de jogadores


de futebol da categoria infantil
Study of postural pattern in infantile category of soccer players
Pamela Branco Schweitzer*, David Miqüelluti**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, pós-graduada em Ciências Morfofisiológicas, Mestranda em Biomecânica, **Doutorando em estatística

Resumo Abstract
Levantar um referencial teórico sobre cadeias musculares e The aim of this study was to raise theoretical reference about
analisar o padrão postural, segundo as cadeias musculares, de muscular chains and to analyses the postural pattern, according to
jogadores de futebol da categoria infantil, relacionando-os aos the muscular chain, of the soccer players of the infantile category;
movimentos repetitivos inerentes a prática dessa atividade, foram to bring into relation with repetitive movements inherent to the
os objetivos desse trabalho. Foram estudados 22 jogadores com practice of this activity. Twenty-two players were studied, with the
idade de 15 anos, pertencentes ao quadro do Sport Club age of 15, belonging to Sport Club Internacional, Porto Alegre,
Internacional, Porto Alegre, RS. As posturas foram analisadas RS. The postures were analyzed through pictures and they were
através de fotografias e comparadas aos padrões ideais de postura. compared to the ideal model pattern of posture. The repetitive
Os movimentos repetitivos foram observados através do movements were observed through accompanying the habitual
acompanhamento dos treinos habituais realizados pela equipe, training accomplished by the team, relating them with the more
relacionando-os com a musculatura mais utilizada, sob a ótica das utilized musculature, under muscular chain optic. The variables
cadeias musculares. As variáveis idade, peso, posição em que joga, age, weight, soccer position, presence of the knee lesions and
presença de lesões no joelho e prática de outra atividade física practice of another physical activity were also considered, and their
também foram consideradas, e seus valores foram obtidos através values were obtained through the no structured interview with
de entrevista não estruturada com os indivíduos estudados. the group studied. It was observed that there is modification of
Observou-se que existe uma alteração do padrão postural nos the postural pattern on the knee in flex and varo, due to a higher
joelhos dos jogadores em flexo e varo, devido a maior utilização utilization of the opening and flexion chain by the over
das cadeias de abertura e flexão pela sobreprogramação dessas programming of these chains during the repetitive movements
cadeias nos movimentos repetitivos de chute durante os treinos. of the kick in the practice of the soccer. Another postural
Outras alterações posturais na região do quadril, pés, coluna modification on the hip, foot, vertebral column and shoulders
vertebral e ombros também analisados não revelaram um padrão also analyzed did not revealed a consistent pattern. These postural
consistente. Essas alterações posturais variaram de jogador para modifications diversified from player to player, not observing an
jogador, não se observando uma sobreprogramação das cadeias overprogramming of the chains on those joints. The variables,
nessas outras articulações. As variáveis altura, peso, idade e prática height, weight, age and practice of another sport activity did not
de outras atividades desportivas não influenciaram o padrão influence the postural pattern observed on the players.
postural dos jogadores observados. Key-words: muscular chains, postural pattern, soccer.
Palavras-chave: cadeias musculares, padrão postural, futebol.

Recebido 16 de agosto de 2004; aceito 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Pamela Branco Schweitzer, Clínica de Fisioterapia Pámela, Rua João de Castro 68 Sala 402, 88501-160 Lages SC,
Tel: (49) 2225773, E-mail: clinipam@uniplac.net
420 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Introdução atividade física, obedecendo-se um questionário pré-definido


(Anexo 1).
Todo cidadão tem direitos que visem à melhoria de sua Os treinos observados foram aqueles procedidos
condição social. Dentre os direitos essenciais está à saúde. habitualmente pelos jogadores em seu programa de
A saúde não está identificada meramente pela ausência de treinamento. Esta observação relacionou-se ao tipo e ao
doenças, mas pelo bem estar físico, psíquico e social. Sob tempo de treinamento.
este ponto de vista, a saúde preventiva deve ser encarada Os jogadores foram fotografados na posição ortostática
como uma prioridade. de frente e de perfil. Utilizou-se uma câmera fotográfica
Uma situação comum em nossa clínica é o tratamento Olympus Super Zoom 70. Os jogadores foram fotografados
de reabilitação de jogadores de futebol com lesões ligamen- a uma distância de três metros e 30 centímetros. Logo à
tares e tendíneas de joelho. O ligamento e o tendão por frente dos jogadores pendurou-se uma barra com fio de
serem estruturas de tecido conjuntivo, podem estar sendo prumo. O peso do prumo caia na base de sustentação padrão
submetidos a uma sobretensão decorrente de uma desordem (entre os maléolos internos, de frente; e a frente do maléolo
do esquema funcional dessas estruturas. Esta desordem, por lateral, de perfil).
sua vez, pode estar relacionada à alteração postural dos A análise da postura foi conduzida de acordo com a
segmentos envolvidos, o que estaria provocando as lesões apresentada por Kendall [3] (Figuras 1 e 2) e Bienfait [4]
apontadas. (Figuras 3 e 4).
Para prevenir estes problemas, devem-se buscar prová-
veis causas desses traumatismos, e com isso, dar-se ênfase Figura 1 - Alinhamento Ideal de Prumo.
aos trabalhos preventivos.
Uma das variáveis que influencia diretamente a carac-
terística do padrão postural é o uso predominante de uma
cadeia muscular. Essa por sua vez, obedece, segundo Busquet
[1], a três leis: equilíbrio, economia e conforto. As atividades
ligadas ao futebol, dadas as suas características de repetição
nos treinamentos podem resultar na utilização mais freqüente
de certos grupos musculares e com isto, desenvolver ou
alterar um padrão postural. Essa situação pode acarretar
sobretensões nas articulações ou tecidos adjacentes, o que
poderia explicar o surgimento de lesões repetidas nestas
estruturas. A partir desses fatos, nesse trabalho pretende-se
levantar um referencial teórico sobre as cadeias musculares,
e sua relação com o padrão postural. Além disso, também,
verificar se o uso repetitivo de certos grupos musculares
tende a provocar lesões, complementando o trabalho com
observações de campo para dar maior clareza ao tema.

Material e métodos
Fonte: Kendall [3].
A pesquisa constou de uma revisão bibliográfica sobre o
tema complementada por uma descrição das observações a Figura 2 - Alinhamento Ideal dos Pés e Joelhos.
campo [2]. Para o estudo a campo foi considerada a
preparação física habitual, nos treinamentos dos atletas e a
sua relação com o padrão postural.
O universo para esse trabalho foi composto pelos
jogadores de futebol da categoria infantil, pertencente ao
quadro do Sport Club Internacional, Porto Alegre, RS, que
estavam em atividade, durante a pesquisa.
As técnicas utilizadas constaram de: a) Entrevista não
estruturada com os jogadores e treinadores; b) Observação
direta dos treinos; c) Análise de fotografias.
A entrevista foi conduzida individualmente com os
jogadores. As questões relacionavam-se a idade, posição em
que jogam, peso, altura, lesões de joelho, prática de outra Fonte: Kendall [3].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 421

Figura 3 - Alinhamento Ideal Lateral. maléolos internos, as convexidades internas dos músculos
tríceps sural (panturrilhas), os côndilos internos e o ápice
dos músculos adutores devem estar em contato.

Resultados

Caracterização do grupo

Os jogadores estudados apresentavam a idade de 15 anos


e tempo de prática de futebol variável de um a nove anos
(Anexo 1). Quanto ao posicionamento em campo, metade
dos jogadores permaneceu na mesma posição nos últimos
sete anos e, a outra parte, ocupou posições variadas, durante
o mesmo período.
Os dados biométricos de peso e altura apresentaram
variações entre 56 e 76 kg e 1,62 e 1,93 m, respectivamente.
Fonte: Bienfait [4].
A prática da atividade física ligada a outra modalidade
Figura 4 - Alinhamento Ideal dos Membros Inferiores. esportiva é rara no grupo analisado. Apenas um deles pratica
natação ou voleibol, regularmente uma vez pôr semana.
A presença de lesões nos joelhos foi verificada em apenas
cinco dos 22 jogadores. As lesões observadas foram tendinite
do quadríceps, derrame articular do joelho e Síndrome de
Osgood Schlater. Mesmo em pequena proporção, esse fato
pode indicar uma maior predisposição a lesões nos joelhos de
jogadores de futebol, mesmo entre os mais jovens (Anexo 2).

Observações durante os treinos

Fonte: Bienfait [4]. Os treinos observados foram aqueles procedidos


habitualmente pelos jogadores em seu programa de
Essa avaliação individual da postura foi efetuada através treinamento. A freqüência é de seis vezes por semana com
da comparação com o padrão que se refere a uma postura duração de uma a duas horas cada treino.
ideal visualizada de frente e de perfil. A linha de referência O tipo de treinamento é condicionado pelo objetivo
vertical apresenta um plano o qual coincide com a linha mediana pretendido e compreende: aquecimento, com duração média
do corpo. Ela é visualizada iniciando a meio caminho entre os de quinze minutos; treino técnico, onde são trabalhados os
calcanhares e se estendendo para cima, através da linha mediana fundamentos do futebol; treino físico, onde se trabalham as
da pelve, coluna, esterno e crânio. As metades direita e esquerda valências físicas como: força, flexibilidade, resistência física,
das estruturas esqueléticas são essencialmente simétricas. No coordenação e amplitude de movimento; treino tático
exame postural de vista lateral, a linha de referência vertical compreende a sistematização e as estratégias de jogo; treino
apresenta um plano que hipoteticamente divide o corpo em coletivo, que é a simulação do jogo propriamente dita; e
secções de frente e de trás de igual peso. Estas secções não são treino combinado, que engloba mais de um tipo de treino.
simétricas. As relações do corpo baseiam-se nos fatores O tempo de treinamento em relação a uma variedade
econômicos e fisiológicos envolvidos. Em vista de frente ele do treino, não predispõe a uma repetitividade alta de um
fica de pé de modo que os pés estejam eqüidistantes da linha movimento específico. Isso provavelmente, não acontece
de prumo. A quantidade de desvio dos vários pontos de com os jogadores com maior tempo de atividade ligada ao
referência em relação ao fio de prumo revela e extensão na futebol, com posições definidas, e com movimentos de
qual o alinhamento do paciente é defeituoso. A sínfise repetição muito mais freqüentes que os jogadores mais jovens.
mentoniana deve estar no alinhamento da sínfise pubiana. Deve Os jogadores não realizam trabalho muscular específico,
haver o alinhamento occipto-escápulo-sacro. As extremidades como musculação, hidroginástica, entre outros, a não ser
inferiores estão retas, nem arqueadas nem batendo os joelhos, quando há necessidade de um tratamento individual. Os
as patelas estão diretamente de face para frente, os pés estão goleiros seguem um programa de treinamento especial após
numa posição central, nem pronados nem supinados. o aquecimento. Os jogadores de linha, devido às caracte-
No plano frontal os preceitos da boa estática consideram rísticas de suas posições, recebem uma influencia maior da
que, em um bom alinhamento dos membros inferiores, os repetitividade de movimentos.
422 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

A maior parte de tempo de treino de todos os jogadores é Figura 6 - Sobreprogramação da Cadeia de Abertura.
realizado com bola. Apesar da variedade de movimentos ser
grande, esse fato faz com que o movimento do chute seja o
de maior utilização na atividade esportiva desses jogadores.

Resultado da análise do padrão postural


dos jogadores

A análise fotográfica demonstrou que o padrão postural


predominante encontrado nos jogadores é o joelho flexo
com 81,82% dos jogadores apresentando esse padrão (Anexo
2). Isso está provavelmente relacionado a maior utilização
da cadeia de flexão dos membros inferiores e da cadeia reta
anterior do tronco. Estas descrições concordam anatomi- Fonte: Busquet [1].
camente com Busquet [1] e Weineck [5], que relacionam a
presença desse comportamento à utilização da cadeia De posse das informações sobre as alterações posturais
muscular de flexão dos membros inferiores. Esta situação instaladas pela sobreprogramação das cadeias de flexão e
ocorre porque os treinos são realizados, na maior parte do de abertura nos membros inferiores, também se procurou
tempo, com bola, e tem no chute o movimento mais fre- observar os desvios posturais dos outros pontos de referência
qüente. Analisando os músculos que fazem parte da cadeia acima do quadril, dados por Kendall [3] e Bienfait [4]. Essa
flexora do membro que chuta, associada a cadeia reta análise não revelou um padrão consistente, comparati-
anterior do tronco, e a cadeia cruzada anterior do tronco, vamente ao que se esperava. Isto provavelmente ocorreu,
relacionada a musculatura utilizada no chute em extensão, por não haver um movimento repetitivo de tronco e cabeça
verifica-se que a maior utilização da primeira cadeia acarre- desses jogadores, com a freqüência necessária para provocar
tará numa sobreprogramação e um encurtamento dessa um desvio no padrão postural.
musculatura. Segundo Kendall [3] isso determina a aproxi-
mação da origem inserção desses músculos fazendo com Conclusão
que a postura adotada não esteja de acordo com a postura
estática ideal de menor sobrecarga aos músculos e tecidos A análise da postura ideal através das cadeias musculares,
conjuntivos (Figura 5). Além do chute em extensão, tem-se mostra a necessidade de preservar a liberdade das estruturas
o movimento de condução da bola, o qual é realizada na com fim de que a pessoa possa expressar plenamente, através
maior parte do tempo, durante a prática do futebol. Nesse do seu corpo, através da expressão do seu pensamento, o
caso a cadeia de abertura do membro inferior está sendo movimento e os gestos. O funcionamento das cadeias
utilizada uma grande quantidade do tempo. A sobrepro- musculares é informatizado. O programa integra anatomia,
gramação dessa cadeia também levaria a uma alteração fisiologia e a relação do homem com o meio exterior. Sendo
postural esperada (Figura 6). Essas alterações posturais, assim, as cadeias musculares podem responder aos problemas
provavelmente, levariam a um aumento do risco de lesões da estática, do movimento e do comportamento mediante
das estruturas envolvidas. uma infinita variedade de composições. Não há um esquema
complicado, somente múltiplas respostas simples que se
Figura 5 - Sobreprogramação da Cadeia de Flexão.
somam. Em função disso, mesmo que a utilização da cadeia
de flexão e abertura sejam mais utilizadas na prática do
futebol, o comportamento compensatório de cada indivíduo
não é o mesmo como se observou na análise realizada com
os jogadores de futebol da categoria infantil. As respostas
são tão variadas em relação as compensações ascendentes,
que não conseguimos fazer nenhuma outra associação ao
padrão esperado nas outras articulações (membros inferiores,
quadril, tronco, pescoço) conforme sobreprogramação das
cadeias nas figuras 5 e 6, a não ser o joelho flexo.
Não se pode afirmar se os resultados observados devem-
se ao fato de terem sido utilizados jogadores da categoria infantil.
Estes, pelo tempo de profissão, tempo e tipo de treinamento,
Fonte: Busquet [1]. talvez não tenham enfatizado tanto a cadeia flexora e de abertura
para se esperar uma sobreprogramação. Também, o trabalho
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 423

de treinamento pode ter sido compensatório à instalação dessas esperadas pela prática de futebol, mas analisar-se através das
deformidades, ou, ainda, se o fato se deve a relação do homem cadeias musculares, as alterações posturais individuais já
com o meio externo, onde os impulsos comportamentais estão instaladas de cada jogador e trabalhar-se a correção dessas
necessariamente associados a uma disposição particular das deformidades como forma de prevenção das lesões.
alavancas ósseas e das cadeias musculares. Neste último caso,
cada impulsão determinaria gestos preferenciais, e a repetição Referências
desses gestos fiaria uma tipologia.
Com bases nos resultados e nas limitações enfrentadas 1. Busquet L. Las Cadenas Musculares. 2 ed. Barcelona:
neste trabalho, sugere-se que o mesmo seja realizado em Paidotribo; ([s.d.)].
jogadores de categorias mais avançadas, onde as variáveis 2. Rudio FV. Introdução ao projeto de pesquisa científica.
Petrópolis: Vozes; 1986.
tempo e repetitividade alcançam valores maiores, fazendo-
3. Kendall FP, McCreary EK. Músculos provas e funções. 3 ed.
se assim um estudo relacional mais abrangente. São Paulo: Manole; 1987.
Se o resultado esperado nas outras categorias for o mesmo, 4. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia e
pode-se concluir que, quanto à prevenção das lesões, não se tratamento Fisioterapêutico. São Paulo: Summus; 1995.
deve esperar que se possa evitar a instalação das deformidade 5. Weineck J. Anatomia aplicada ao esporte. 3 ed. São Paulo:
Manole; 1986.
ANEXO 1
Questionário aplicado nos jogadores
1) Nome:
2) Idade:
3) Altura:
4) Peso:
5) Posição que Joga:
6) Quanto tempo joga nessa posição?
7) Posição que jogava anteriormente
8) Quanto tempo jogou na posição anterior?
9) Pratica outro tipo de atividade física?
10) Qual?
11) Já apresentou alguma lesão no joelho?
12) Qual?

ANEXO 2 - Quadro de análise postural


Jogadores P osição Tempo que L e s ã o Anterior a articulação As extremidades estão Posição do
que joga joga (anos) no joelho do joelho retas nem arqueadas joelho
(Sim/Não) (Sim/Não) nem os joelhos (Flexo/V aro)
(Flexo/Varo)
batendo (Sim/Não)

1 Gol 5 N S S V+F
2 Gol 6 N N N V+F
3 Gol 9 N N S F
4 Gol 4 N N N V+F
5 Lat Dir 7 S N N V+F
6 Lat Dir 5 N N N V+F
7 Zag 1 N N N F
8 Zag 1 N S N Falso V
9 Zag 2 N N N F
10 Zag 5 S N N V+F
11 Zag 1 N N N Falso V
12 Lat Esq 7 N N N V+F
13 Volante 3 S S N V+F
14 Volante 11 N N N V+F
15 Meia Esq 2 N S N Falso V
16 Meia Dir 1 N S N V+F
17 Meia Dir 3 N N S F
18 Atacante 5 N N N F
19 Centro Av 1 S S N V+F
20 Atacante 5 N N N F
21 Volante 6 N N N F
22 Atacante 3 S N N F
424 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Artigo original

Análise comparativa da alteração do índice


diafragmático em pacientes submetidos à cirurgia
de Fobi-Capella por via laparoscópica
Comparative analysis of diaphragmatic index alteration in patients
undergone to Fobi-Capella surgery by laparoscopy approach
Ana Paula Druziki*, Sílvia R Valderramas**, Ângela C. S. R Villa***, Júlio Romani****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta Graduada pelo Centro Universitário Campos de Andrade, **Fisioterapeuta, Docente de Fisioterapia do Centro Universitário
Campos de Andrade – UNIANDRADE e Faculdade Evangélica do Paraná – FEPAR, ***Fisioterapeuta, Docente de Fisioterapia do
Centro Universitário Campos de Andrade – UNIANDRADE e Responsável técnica do serviço de Fisioterapia do Hospital Cruz Vermelha
e Maternidade N.S. Rosário - Materdei de Curitiba-PR, ****Fisioterapeuta, Docente de Fisioterapia do Centro Universitário Campos de
Andrade – UNIANDRADE

Resumo Abstract
Objetivo: O objetivo desse estudo foi analisar a alteração do Pur pose: The aim of this study was to evaluate the
índice diafragmático em pacientes que foram submetidos à cirurgia diaphragmatic index alterations in patients undergone to Fobi-
de Fobi-Capella pela via laparoscópica. Materiais e Métodos: Os Capella surgery, comparing values of pre-operative and post-
dados foram obtidos através da análise das medidas do pré e pós- operative. Materials and Methods: The observation includes 25
operatório através da cirtometria. Foram avaliados 25 pacientes patients evaluated in pre-operative and post-operative, finding
no pré e pós-operatório, obtendo-se as medidas do Índice Diafrag- values of diaphragmatic index. This index reflects the movement
mático (ID) através da cirtometria destas mesmas fases. Este índice between thorax and abdomen. Changes dimensions of thoracic
é capaz de refletir o movimento tóraco-abdominal, determinado box and abdomen obtained this movement. It was calculated
pelas mudanças nas dimensões ântero-posteriores da caixa torácica across formula: ID = ∆ AB/∆ AB+∆ CT. Results: The medium
(CT) e do abdome (AB) e foi calculado utilizando-se a seguinte diaphragmatic index in the preoperative was of 0,54 and the post-
formula: ID = ∆ AB/∆ AB+∆ CT. Os dados foram obtidos operative was of 0,41. The difference gain was of 0,13. Conclusion:
através da análise das medidas do pré e pós-operatório. Resultados: Was observed alterations in thoracic and abdominal expansibility
Observou-se uma diferença significativa entre as médias do índice in postoperative of all the patients and an important difference
diafragmático na fase pré-operatória de 0,54 e de 0,41 na fase pos between diaphragmatic index of preoperative and post-operative.
– operatória (T = 0,0; Z = 4,37; p = 0,000012), provando a The statistics significance was 5% (p < 0,05).
diminuição do ID nos 2 primeiros dias pós-cirúrgicos. Conclusão: Key-words: morbid obesity, bariatric surgery, Roux-en-Y gastric
Segundo esse estudo, todos os pacientes apresentaram alteração bypass, Fobi-Capella operation, post-operative complications.
do Índice Diafragmático, que diminuiu 13% no primeiro dia de
pós-operatório, permanecendo inalterado no 2º dia de pós-
operatório. É visível a diminuição da expansibilidade tóraco-
abdominal no período pós-operatório.
Palavras-chave: obesidade mórbida, cirurgia bariátrica,
derivação gástrica, anastomose em Y de Roux, operação de Fobi-
Capella, complicações pós-operatórias.

Recebido 14 de fevereiro de 2005; aceito 15 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Ana Paula Druziki, Rua Generoso Marques, 2510 Centro 83601-050 Campo Largo PR, E-mail:
adruziki@hotmail.com.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 425

Introdução evidenciar a importância da conscientização do acom-


panhamento fisioterapêutico tanto na fase pré-operatória
A cirurgia de Fobi-Capella é uma técnica que consiste na quanto no pós-operatório para os médicos e pacientes.
criação de um pequeno reservatório gástrico de 30 a 50 ml, Existem poucas evidências na literatura sobre a alteração
que corresponde a 5% do estômago. Essa bolsa é circundada do índice diafragmático no pós-operatório desse tipo de
por um anel de contenção de silicone cuja função é evitar a cirurgia. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar o
dilatação desse neo-reservatório e regular o esvaziamento grau de alteração do índice diafragmático em pacientes que
gástrico dos sólidos. O restante do estômago fica excluído se submeteram à cirurgia de gastroplastia pela técnica de
do trânsito alimentar. A reconstituição do trânsito gastro- Fobi-Capella por via laparoscópica. O conhecimento da
intestinal se faz com uma alça longa de jejuno em Y de provável alteração ocorre pela comparação entre o pré-
Roux, de aproximadamente 100 cm de comprimento, o que operatório e os dois primeiros dias de pós-operatório.
confere caráter disabsortivo a essa técnica. A alça jejunal é
interposta entre o neo-reservatório gástrico e o segmento Materiais e métodos
remanescente do estômago, com intuito de evitar restabe-
lecimento espontâneo da comunicação gastrogástrica [1]. O presente trabalho foi desenvolvido no Hospital Cruz
A obesidade mórbida é considerada uma doença epidê- Vermelha de Curitiba, durante os meses de junho a outubro
mica na América do Norte em vários paises do mundo, de 2004.
destacando-se como um problema de saúde pública. Esta Antes de ocorrer o inicio do estudo, o pré-projeto do
doença caracterizada por ser multifatorial, de origem genética mesmo obteve a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa
e metabólica, agravada pela exposição a fenômenos do Centro Universitário Campos de Andrade. Houve
ambientais, culturais, sociais e econômicos, associados a fato- esclarecimentos aos pacientes sobre os objetivos do estudo,
res demográficos e ao sedentarismo [2]. bem como suas possíveis repercussões, tendo assim como
Segundo Puglia [2] o índice aceito universalmente para a documento assinado o Consentimento Livre e Esclarecido.
classificação da obesidade e o de massa corpórea (IMC) proposto A amostra inicial foi constituída de 35 pacientes, sendo
por Quetelej, em 1835, e é expresso pelo peso em quilogramas que 6 não permitiram concluir a pesquisa pela dor do pós-
do individuo dividido pelo quadrado da altura em metros. operatório e quatro receberam alta antes da avaliação do
Fandino et al. [3] a OMS classifica a obesidade baseando-se pós-operatório. Foram incluídos todos os pacientes candi-
no índice de massa corpórea (IMC) e no risco de mortalidade datos à cirurgia de Fobi-Capella via laparoscópica, que não
associada. Assim considera-se obesidade quando o IMC encontra- apresentavam doenças respiratórias associadas, mesmo que
se acima de 30 kg/m2. Quanto à gravidade, a OMS define referissem dispnéia, não importando o grau da mesma.
obesidade grau I quando o IMC situa-se entre 30 e 34,9 kg/m2, Seriam excluídos todos aqueles que apresentassem algum
grau II quando o IMC está entre 35 e 39,9 kg/m2 e, por fim, tipo de complicação péri ou pós-cirúrgica, o que não ocorreu.
obesidade grau III quando o IMC ultrapassa 40 kg/m2. Portanto, a amostra definitiva constou de 25 pacientes de
Puglia [2] cita que a classificação aceita pela Sociedade ambos os sexos, com média de idade 40,44 anos, IMC médio
Americana de Cirurgia Bariátrica e pela Federação Inter- de 40,898, sendo 18 mulheres (72%) e 7 homens (28%).
nacional de Cirurgia da Obesidade divide a obesidade em Dos 25 pacientes, 48% eram fumantes ou já tinham
seis níveis: obesidade pequena (27 a30 kg/m2), obesidade sido fumantes alguma vez, e 52% nunca tinha sido fumantes.
moderada (35 a 40 kg/m2), obesidade mórbida (40 a 50 kg/ Quanto ao padrão respiratório, 72% dos pacientes
m2), superobesidade (50 a 60 kg/m2). apresentavam tipo respiratório predominantemente costal
O índice diafragmático reflete o movimento tóraco- e 28% tipo respiratório predominantemente abdominal.
abdominal e é determinado pelas mudanças nas dimensões No período pré-operatório cada paciente foi submetido
ântero-posteriores da caixa torácica e do abdome através a um questionário de avaliação onde constavam questões
da seguinte fórmula: ID+DAB/DAB+DRC, onde DAB é sobre antecedentes de tabagismo, dispnéia, doenças
a diferença da dimensão abdominal obtida entre a fase associadas e tipo de padrão respiratório, bem como cons-
inspiratória e a expiratória e DRC é a diferença da dimensão cientizado sobre a importância da realização da fisioterapia
da caixa torácica, obtida nas mesmas fases [4]. nos períodos que antecipavam e procediam as cirurgias. Em
Os pacientes obesos apresentam por natureza alterações seguida foi realizada a cirtometria para obtenção das medidas
significativas da mecânica respiratória e por isso, quando para o calculo do Índice Diafragmático (ID).
submetidos a uma intervenção cirúrgica passam a reduzir a No pós-operatório cada paciente foi reavaliado, sendo
complacência torácica e abdominal, apresentando impor- novamente mensurada a cirtometria para o calculo do Índice
tantes alterações pulmonares. Diafragmático (ID).
A análise desta alteração permitirá classificar o paciente Este índice é capaz de refletir o movimento tóraco-abdo-
quanto aos fatores de risco para complicações pulmonares minal, determinado pelas mudanças nas dimensões ântero-
que freqüentemente ocorrem após as cirurgias, bem como posteriores da caixa torácica (CT) e do abdome (AB) e foi
426 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

calculado utilizando-se a seguinte formula: ID = ∆ AB/∆ Figura 2 - Gráfico da distribuição representativa dos valores do ID de 25
AB+∆ CT, em que ∆ era a diferença entre as circunferências pacientes no pré e pós-operatório de gastroplastia. Cada coluna representa
abdominal (AB) e torácica (CT). Essas medidas são feitas um paciente.
com uma fita métrica nas regiões torácica e abdominal durante
uma inspiração máxima seguida de uma expiração normal.
O IMC de cada paciente foi calculado utilizando-se a
seguinte formula: IMC = peso/altura².
As variáveis de desfecho foram então tabuladas e
comparadas estatisticamente pela média, desvio padrão, va-
riância e teste de Wilcoxon para amostras pareadas. A análise
foi aplicada para comparar cada uma das variáveis do estudo
antes e após as intervenções fisioterapêuticas. Fixou-se em
5% o nível de rejeição da hipótese da nulidade.

Resultados
Figura 3 - Gráfico da distribuição representativa dos valores de ID de 25
pacientes no pré e pós-operatório de gastroplastia. Houve uma diferença
O IMC médio dos pacientes antes da operação foi de
significativa com T = 0,0; Z = 4,37; p = 0,000012.
40,90, com um desvio padrão de ± 4,20. O valor mínimo
obtido foi igual a 32 e o máximo, 51. A moda dos dados
(valor que mais apareceu) foi 41, indicando que todos os
pacientes possuíam um IMC considerado acima do normal
para adultos, isto está demonstrado na Figura 1.
O ID médio dos pacientes antes da operação foi de
0,54 com um desvio padrão de ± 0,08. O valor mínimo
obtido foi igual a 0,43 e o máximo, 0,75. A moda dos dados
(valor que mais apareceu) foi 0,50. Após a cirurgia, o ID
médio diminuiu para 0,41 com um desvio padrão de ± 0,09.
O valor mínimo foi de 0,25 e o máximo de 0,50, sendo a
moda dos dados igual a 0,50 (semelhante ao obtido no pré-
operatório) (Gráfico 2).
Após a análise dos dados e a comprovação de que estes
não possuíam um padrão normal de distribuição (p < 0,05),
o Método estatístico de Wilcoxon observou uma diferença
significativa entre o índice diafragmático do pré e do pós-
operatório (T = 0,0; Z = 4,37; p = 0,000012), provando a
diminuição do ID nos 2 primeiros dias pós-cirúrgicos Discussão
(Gráfico 3).
Alterações da mecânica respiratória e complicações
Figura 1 - Gráfico da distribuição representativa dos valores de IMC em pulmonares são bastante comuns em cirurgias tóraco-
25 pacientes no pré-operatório de gastroplastia. A faixa cinza indica o abdominais altas. As complicações pulmonares no pós-
IMC considerado como normal para adultos. operatório de cirurgias abdominais com incisão con-
vencional apresentam uma incidência que varia de 30% a
80% [5].
A técnica cirúrgica laparoscópica visa diminuir essas
complicações, sendo que a mais comum delas é a atelectasia
de bases.
A diminuição dos volumes expiratórios está associada à
diminuição da complacência pulmonar, o que aumenta o
trabalho elástico do pulmão. Para minimizar este trabalho
os pacientes apresentam respiração superficial e aumento
da freqüência respiratória, podendo assim diminuir o volume
pulmonar [6].
Todas essas alterações contribuem para o desenvolvi-
mento do atelectasias e pneumonias [6].
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 427

Os obesos são suscetíveis a tosse ineficaz, atelectasia Porém, foi constatado neste estudo que mesmo tendo
nas bases, hipóxia progressiva, facilitando a instalação de os pacientes acompanhamento fisioterapêutico nos períodos
secreções e infecções [7]. pré- e pós-operatório, ocorrem alterações da mecânica
Entretanto, outros fatores tornam os pacientes mais pulmonar. Isso é visível até mesmo pela expansibilidade
predisponentes a desenvolverem tais complicações, como: tóraco-abdominal que aparece diminuída no período pós-
IMC acima de 35 kg/m2, presença de patologias associadas, operatório.
tais como: dispnéia, tabagismo, tipo de respiração, uso da Apesar, desta técnica cirúrgica oferecer menor tempo e
musculatura acessória e apnéia do sono. Todos os pacientes riscos e embora não tenham sido avaliados os benefícios da
avaliados citaram pelo menos um destes itens na avaliação fisioterapia respiratória nos períodos de pré e pós-operatório,
pré-operatória. torna-se evidente o fato de que o acompanhamento e inter-
Por esta razão, não foram incluídos no estudo pacientes venção fisioterapêutica são extremamente importantes. Todos
que apresentassem antecedente de doenças pulmonares, os pacientes tinham prescrição para fisioterapia motora e
porém, aqueles que relataram dispnéia foram incluídos no respiratória, onde eram estimulados a realizar padrões
estudo, visto que a mesma é freqüente em obesos mórbidos. ventilatórios, exercícios diafragmáticos, respirações associadas
É relatada a associação entre a maior incidência de à movimentação de MMSS e MMII, deambulação, import-
complicações pulmonares no pós-operatório de cirurgia abdo- ância da tosse e expectoração e uso do incentivador. Desta
minal com um tempo médio de cirurgia superior a 210 forma, constatou-se que a fisioterapia possui um papel
minutos [8]. fundamental na prevenção de patologias, pois nenhum dos
Neste estudo, houve uma média de 120 minutos de pacientes apresentou complicações no pós-cirúrgico segundo
tempo cirúrgico, o que prova a diminuição da probabilidade verificação dos prontuários dos pacientes, antes dos mesmos
de complicações pulmonares, pois nenhum paciente foi serem submetidos à mensuração dos valores no pós-
prejudicado com tais problemas. operatório.
O índice diafragmático, o qual relaciona a movimentação
tóraco-abdominal, diminuiu 13% (p < 0,05) no primeiro Conclusão
dia de pós-operatório, permanecendo inalterado no 2º dia
de pós-operatório. Embora, o índice diafragmático tenha A partir da visualização destes dados conclui-se que
sido medido por uma técnica menos aprimorada que a mecânica respiratória após intervenções cirúrgicas abdo-
pletismografia e o magnetômetro, foi constatado queda em minais encontra-se alterada.
seus valores nos dois primeiros dias após a cirurgia, refletindo Apesar do trabalho da fisioterapia ter sido realizado, ainda
a disfunção diafragmática que ocorre neste tipo de inter- há necessidade de maior conscientização para os pacientes
venção cirúrgica. e médicos sobre a importância e a necessidade da realização
Várias possibilidades poderiam explicar a alteração do da fisioterapia diária hospitalar e ambulatorial, bem como
índice diafragmático. Mas segundo Stock apud Souza et al. no período pós- alta hospitalar, até que ocorra a norma-
[3], a disfunção diafragmática temporária, longos períodos lização das funções pulmonares.
em decúbito dorsal, a dor na ferida operatória e os efeitos Assim, torna-se evidente a atuação do fisioterapeuta por
residuais anestésicos contribuem para diminuição da meio de técnicas de higiene brônquica, reeducação e
Capacidade Residual Funcional (CRF). treinamento muscular diafragmático e reexpansão pulmonar,
Todos os pacientes relataram dor na região abdominal e que proporcionarão uma melhor e mais rápida recuperação
dificuldade para realizar uma inspiração profunda conforme após a cirurgia, podendo até mesmo reduzir a alteração no
solicitado, bem como não demonstravam interesse às índice diafragmático e/ou fazer com que os valores basais
orientações e ao trabalho da Fisioterapia. Ainda referiam retornem ao normal antes do 4º dia após a cirurgia.
que, o uso do incentivador Respiron era difícil e necessitavam Sugere-se continuidade deste trabalho através de um
de auxílio para utilização do mesmo. grupo controle para que se possa comprovar a efetividade
Segundo Chiavegato [5], a queda do índice diafragmático das intervenções fisioterapêuticas no pré-operatório e pós-
nos primeiros três dias de pós-operatório é significantemente operatório neste tipo de intervenção cirúrgica, pois se
menor quando comparado com o pré-operatório. Sendo que acredita que a atuação do profissional fisioterapeuta permita
os valores basais somente retornam ao normal entre o 4º e uma recuperação mais rápida dos valores basais do índice
o 6º dia de pós-operatório [2]. diafragmático, e, até mesmo que essa alteração possa ser
Isto não pode ser comprovado neste estudo, devido ao menor.
fato dos pacientes receberem alta hospitalar após o 2º dia
de pós-operatório.
428 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Referências 5. Chiavegato LD, Jardim JR, Faresin SM, JulianoY. Alterações


funcionais respiratórias na colecistectomia por via laparoscópica.
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V, Arruda SLM. Obesos mórbidos tratados com gastroplastia 6. Souza RV, Denari SC, Ruiz LR, Baroni R, Montagnini AL.
redutora com bypass gástrico em Y de Roux. Brasília Méd Complicações pulmonares após cirurgias abdominais altas. O
2002;39(1/4):26-34. papel da fisioterapia respiratória: revisão da literatura. Hospital
2. Puglia CA. Indicações para o tratamento operatório da do Câncer. [citado 2004 apr 9]. Disponível em URL:
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3. Fandiño J, Benchimol AK, Coutinho WF, Appolinário JC. 7. Saad IAB, Zambon L. Variáveis clínicas de risco pré-operatório.
Cirurgia bariátrica: aspectos clínico-cirúrgicos e psiquiátricos. Rev Ass Méd Brás (on-line) 2002;47(2):117-24.
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Roca, 2000. cirurgia abdominal alta. J Pneumologia 1996;22:19-26.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 429

Artigo original

Efeitos do laser de 660 nm no reparo


de ruptura parcial do tendão calcâneo de ratos
660 nm laser effect on repair of partial rupture
of Achilles tendon in rats
Ana Claudia Bonome Salate*, Gisele Barbosa*, Paulo Sérgio Bossini*, Nivaldo Antonio Parizotto*
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP
*

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi analisar os efeitos do laser de The aim of this study was to analyze the low-level laser effect
baixa intensidade após ruptura parcial do tendão calcâneo. Dezoito after partial rupture of Achilles tendon. Eighteen male rats were
ratos machos foram submetidos à lesão com queda de 186 gramas submitted to lesion by a falling of 186 g from a height of 20 cm
de uma altura de 20 centímetros sobre o tendão direito. Estes above the right tendon. They were divided into 3 groups: 1 (n =
foram divididos em 3 grupos: 1 (n = 8) tratado com laser AsGaAl 8) was treated by GaAlAs laser of 660 nm with 10 mW, during 10
de 660 nm, com 10 mW, durante 10 segundos; 2 (n = 8) recebeu seconds; 2 (n = 8) received sham treatment and 3 (n = 8) did not
tratamento placebo e 3 (n = 8) não recebeu nenhum tratamento. receive any treatment. On the 8th day of lesion, the animals were
No 8º dia após a lesão, os animais foram sacrificados e analisados euthanized and analyzed qualitatively. The results showed that
qualitativamente. Os resultados mostraram que os tendões the groups treated with laser presented better repair quality with
tratados com laser apresentaram melhor qualidade de reparo, com high collagen organization, low inflammatory cells, and accelerated
melhor organização das fibras colágenas, menor quantidade de tissue repair compared with other groups. Then, we have concluded
células inflamatórias e aceleração do processo de cicatrização do that laser was an efficient form to treated partial ruptures of Achilles
tecido comparado com os demais grupos. Assim, concluímos tendon in rats when compared with group control and non-
que o laser foi eficaz no tratamento após lesão parcial do tendão treated group.
calcâneo quando comparados com os grupos placebo e sem Key-words: low level laser therapy, Achilles tendon, tissue repair,
tratamento. tendon rupture.
Palavras-chave: laser de baixa intensidade, tendão calcâneo,
reparo tecidual, ruptura tendínea.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução aceleração do processo de cicatrização e a melhora da


qualidade do reparo, proporcionando redução das possíveis
Nas últimas duas décadas aumentou a atenção dos clínicos seqüelas e o retorno rápido do indivíduo às suas atividades
na evidência biológica para acelerar o reparo tendíneo e funcionais.
esta informação tem mostrado uma grande influência nas Baseada nos estudos científicos, esta modalidade
estratégias adotadas para o tratamento das lesões [1]. terapêutica vem ganhando cada vez mais aceitação tanto
O uso do laser de baixa intensidade no reparo de lesões no campo de pesquisa como na área clínica, o que reforça a
tendíneas vem sendo estudado por vários pesquisadores importância de estudos bem controlados sobre seus reais
[2,3,4], pois parece influenciar de forma benéfica a efeitos e indicações.

Recebido 15 de fevereiro de 2005; aceito 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Ana Claudia Bonome Salate, Rua Décimo Cassetari, 78 Vila Carmelo 18609-540 Botucatu SP, Tel: (16)
33715872/ (14) 38825807, E-mail: acbsalate@ig.com.br
430 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

A ruptura do tendão calcâneo tem recebido bastante Figura 1 - Modelo de lesão parcial do tendão calcâneo.
atenção por vários pesquisadores. Esta atenção é baseada
no fato de que, além de ser uma lesão grave, é uma das
mais comuns dentre as lesões tendíneas [3].
Enquanto a maior parte dos tecidos moles cicatriza
essencialmente por proliferação celular, os tendões requerem
ao menos três processos separados, porém relacionados, que
são: fase inflamatória, quando existe a presença de infiltrado
inflamatório, fase proliferativa, onde ocorre intensa angiogênese
e proliferação fibroblástica e a fase de remodelamento, onde
é observada grande organização de fibras colágenas,
hipocelularidade e recuperação da inervação normal [5, 6].
A fase inicial do reparo requer de 7 a 10 dias para ocorrer e
a reabilitação completa pode exigir semanas ou meses [6].
Algumas pesquisas [7,8], relatam que o laser atua sobre Um peso de 186 gramas foi solto, de uma altura de 20
o processo inflamatório, modulando a neovascularização e cm sobre o tendão e em seguida foi removido, resultando
a proliferação fibrosa. Porém, estudos sobre os efeitos em energia potencial de queda de 364,9 mJ. O peso e a
biológicos do laser ainda estão em um estágio em que mais altura foram determinados em estudos prévios neste
evidências devem ser demonstradas [7,9]. laboratório, porém não publicados. Estes estudos mostraram
Além disso, a grande dificuldade encontrada na prática que a localização da lesão foi na região profunda do tendão.
clínica para definição de parâmetros como a dose e a
potência mais adequadas e o tipo de laser mais efetivo para Equipamento laser
os diferentes tecidos biológicos em condições fisiológicas
especiais, bem como a ação dessa forma de terapia na Foi utilizado um equipamento portátil de laser AsGaAl
aceleração do processo cicatricial, proporcionando o retorno da marca MMOptics, modelo Twin Laser, classe 3B, com
rápido do indivíduo às atividades funcionais, torna visível a comprimento de onda de 660 nm na faixa vermelha do
necessidade de realizar mais pesquisas nesta área. espectro, modo contínuo e área do feixe de 4,0 mm2.
Assim, a proposta deste estudo foi analisar os efeitos do Os animais do grupo 1 receberam a primeira irradiação
laser de baixa intensidade no reparo tecidual, objetivando no mesmo dia, aproximadamente 6 horas após a lesão e as
determinar um modo eficaz de promover um tratamento subseqüentes durante os próximos 6 dias com intervalo de
adequado após uma lesão parcial do tendão calcâneo. 24 horas entre cada aplicação, totalizando 7 irradiações. Foi
utilizada a técnica de contato e potência de saída de 10 mW,
Materiais e métodos durante 10 segundos, proporcionando densidade de energia
de 2,5 J/cm 2. O grupo 2 recebeu tratamento com o
Foram utilizados 18 ratos machos da raça Wistar (Rattus equipamento desligado durante 10 segundos, sendo, portanto,
norvegicus albinus), com massa corporal variando entre 235 e considerado placebo. Já os animais do grupo 3 permaneceram
270 gramas (249,15 ± 11,83), mantidos em gaiolas de todos os dias dentro das gaiolas sem receber nenhum
polipropileno com três animais em cada, em ambiente tratamento.
higienizado com ciclo claro/escuro de 12 horas, recebendo No 8º dia após a lesão, os animais de todos os grupos
água e ração balanceada ad libitum durante todo o procedimento. foram sacrificados com inalação excessiva de éter etílico e
Todos os animais foram lesionados e divididos os tendões retirados e mantidos em formol a 10 % para
aleatoriamente em 3 grupos: grupo 1 (n = 6) que sofreu análise morfológica.
irradiação por 7 dias com laser AsGaAl, 660nm de 10 mW,
durante 10 segundos; grupo 2 (n = 6) submetido ao Preparação das amostras
tratamento placebo com o aparelho desligado; e grupo 3 (n
= 6) não recebeu tratamento algum, sendo considerado O material foi submetido a banhos de desitratação e
controle sem tratamento. diafanização em soluções de álcool e xilol, respectivamente
e colocados em parafina. Foram feitos cortes de 7
Procedimento de lesão micrômetros e as lâminas posteriormente coradas com
Hematoxilina e Eosina (HE) para a análise.
Os animais foram anestesiados com injeção intraperitoneal Os tendões foram analisados qualitativamente em
de Ketamina (35 mg/kg) e Xilazina (4mg/kg) e em seguida a microscópio de luz comum da marca Olympus, onde foram
perna direita foi levemente tracionada e o tendão posicionado observadas a presença de infiltrado inflamatório e
no equipamento de lesão (Figura 1). organização das fibras de colágeno e condições do tecido.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 431

Resultados Discussão

De acordo com a análise qualitativa efetuada, o grupo Os resultados deste estudo demonstraram que a
irradiado mostrou que os tendões tratados com laser irradiação com laser de baixa intensidade foi um meio de
apresentaram melhor qualidade de reparo, com melhor tratamento eficiente durante os primeiros 7 dias após lesão
organização das fibras colágenas em relação aos grupos parcial do tendão calcâneo de ratos, podendo evidenciar
placebo e controle sem tratamento após 7 dias. aceleração no reparo tecidual devido à menor predominância
Além disso, foi também evidenciada menor predomi- de infiltrado inflamatório e maior organização das fibras
nância de células inflamatórias no grupo irradiado em relação colágenas quando comparados com os grupos placebo e
aos demais grupos. controle sem tratamento.
O grupo placebo apresentou menor predominância de Algumas pesquisas [2,3,4,6], sugerem que a fotoes-
células inflamatórias e melhor organização das fibras timulação laser de baixa intensidade pode estimular o reparo
colágenas em relação ao controle sem tratamento. Entretanto, tendíneo por favorecer a liberação de fatores de crescimento
a qualidade do reparo tendíneo no grupo placebo foi inferior dos fibroblastos e estimular o processo cicatricial, além de
ao do grupo irradiado como demonstrado na Figura 2 A, B aumentar a síntese de ATP, promover a produção de ácidos
e C abaixo. nucléicos e aumentar a divisão celular.
A Figura 2 A demonstra o grupo tratado com laser, O aparecimento precoce da morfologia ondulada nas
evidenciando um tecido mais organizado, com maior fibras colágenas de tendões lesados induzidas pela irradiação
quantidade de fibroblastos em relação ao grupo placebo laser propicia uma influência significativa na performance
(FIGURA 2 B) e sem tratamento (Figura 2 C). funcional dessa estrutura corporal [2,3,4]. Também é
reportado que a LLLT aumenta a microvascularização ao
Figura 2 - Fotomicrografia do tendão calcâneo de ratos (HE). A: Tendão mesmo tempo em que acelera a proliferação fibroblástica,
calcâneo irradiado com laser 10 mW, mostrando organização de colágeno e
melhorando assim a qualidade do reparo [10]. Os resultados
pouca quantidade de células inflamatórias. B: Tendão calcâneo que recebeu
deste trabalho corroboram os dados da literatura, sob as
tratamento placebo, com desorganização de fibras e maior número de células
condições aqui estudadas.
inflamatórias. C: Tendão calcâneo que não recebeu tratamento algum, com
grande desorganização de fibras e maior número de células inflamatórias.
Segundo Mester et al. [11], o laser de baixa intensidade
aumenta a proliferação celular e acelera a formação precoce
do tecido de granulação. Os mesmos autores sugerem que
as vias metabólicas são as responsáveis por este efeito
cicatrizante em decorrência principalmente do aumento da
A: disponibilidade de energia química (ATP) nas células. Outros
autores [12], consideram que com o aumento da proliferação
de fibroblastos, a fase proliferativa do reparo pode ser
acelerada.
Paolini & Paolini-Pisani [11], observaram um efeito
positivo do laser de He-Ne (632,8 nm) no tratamento de
tendinite de tendões do manguito rotador, quando
comparado com o tratamento com diodo laser não-coerente
(660 nm) e o uso de antiinflamatórios não esteroidais. Além
disso, outros autores [2], estudaram o efeito do laser de He-
B:
Ne (632,8 nm) e da estimulação elétrica em tendões
tenotomizados de coelhos mostrando melhora na
performance biomecânica e bioquímica desses tendões após
a terapia combinada.
Schmitt et al. [8], realizaram um experimento em trinta
cães que foram submetidos a tenotomia e tenorrafia do
tendão calcâneo de ambas as patas. Os autores relataram
que macroscopicamente os tendões tratados com laser
Arseneto de Gálio (904 nm) apresentaram melhor
C: vascularização, com redução de aderências e ótimo aspecto
estético de cicatrização.
De acordo com Longo & Mester [10], permanece ainda
uma lacuna de conhecimentos sobre as melhores condições
de atuação do laser de baixa intensidade no reparo tecidual
432 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

[10], mas neste estudo, pode ser obser vada uma 4. Enwemeka CS, Rodriguez OO, Gall NG, Walsh NE.
demonstração de que este método terapêutico influencia Morphometrics of collagen fibril populations in HeNe laser
positivamente a etapa inicial do processo de reparo das lesões photostimulated tendons. J Clin Laser Med Surg 1990;8:47-
tendíneas. 62.
5. Enwemeka CS. Inflammation, cellularity, and fibrillogenesis
Devido à grande diversidade de resultados e ausência
in regeneration tendon: implications for tendon rehabilitation.
de padronização de protocolos de tratamento, ainda há Phys Ther 1989;69:816-25.
dificuldade na interpretação dos dados e a relação destes 6. Soma CA, Mandelbaum BR. Repair of acute Achilles tendon
com os efeitos da laserterapia em cada tecido. Porém, este ruptures. Orth Clin N Am 1995;26:239-47.
meio de tratamento tem um grande futuro na prática clínica, 7. Honmura A, Yanase M, Obata J, Haruki E. Therapeutic effect
necessitando de estudos mais detalhados para determinar of Ga-Al-As diode laser irradiation on experimentally induced
mais precisamente os efeitos proporcionados no tecido inflammation in rats. Las Surg Med 1992;12:441-9.
biológico. 8. Schmitt I, Raiser AG, Graça Dl, Castagna CD, Gehver C,
Maiorka P. Os efeitos da radiação laser de arseneto de gálio
(AsGa) sobre a regeneração de tendões em cães. Braz J Vet Res
Conclusão
Anim Sci 1993;30:145-9.
9. Kipshidze N, Nikolaychik V, Keelan M, Shankar LR, Khanna
Com base neste estudo, pode-se concluir que a terapia A, Kornowski R, Leon M, Moses J. Low-power helium: neon
com laser de baixa intensidade foi eficaz na promoção de laser irradiation enhances production of vascular endothelial
melhor qualidade de reparo tendíneo após ruptura parcial growth factor and promotes growth of endothelial cells in
induzido por um trauma. vitro. Las Surg Med 2001;28:355-64.
10. Longo L, Mester A. Present and future of laser cicatrization.
Referências In: Proceeding 2nd Congress World Association for Laser
Therapy. Kansas City, Missouri, USA; 1998. p. 10-11.
1. Palmes D et al. Achilles tendon healing: Long-term 11. Mester E, Mester AF, Mester A. The biomedical effects of
biomechanical effects of postoperative mobilization and laser application. Las Surg Med 1985;5:31-9.
immobilization in a new mouse model. J Orth Res 2002;20: 12. Young S et al. Macrophage responsiveness to light therapy.
939-46. Las Surg Med 1989;9: 497-505.
2. Reddy GK, Stehno-Bittel L, Enwemeka CS. Laser 13. Paolini DE, Paolini-Pisani LE. Tratamiento de la lesion del
Photostimulation of collagen production in healing rabbit tendon manguito de los rotadores con laser de baja potencia
Achilles tendons. Las Surg Med 1998;22:281-87. – estudo prospectivo. [citado 2004 may 25]. Disponível em
3. Stehno-Bittel L, Reddy GK, Gum S, Enwemeka CS. URL: http://www.laser.nu/lllt/lllt-science7.htm#5.
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Exe 1998;30:788-793. processes. Laser Ther 2000;12:22-30.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 433

Artigo original

Impacto da manipulação da informação visual


e somatossensorial na estabilidade postural
de crianças de 7 a 10 anos de idade
Visual and somatosensory information manipulation impact
on postural stability of 7 to 10 years old children
Marcos S. Kishi*, Filipe Melo, D.Sc.**, Leonor Ribeiro***, Eloisa Tudella, D.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Núcleo de Estudos em Neuropediatria e Motricidade, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos,
**Doutor em Sciences et Techniques des Activités Physiques et Sportives pela Université d’Aix-Marseille II; Professor Associado da Faculdade
de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa, ***Licenciada em Educação Especial e Reabilitação pela Faculdade de
Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, ****Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Núcleo de Estudos em
Neuropediatria e Motricidade Docente do Departamento de Fisioterapia da UFSCar

Resumo Abstract
Objetivo: Verificar o impacto da informação visual e soma- Objective: To verify the influence of visual and somatosensory
tossensorial na estabilidade postural de crianças. Métodos: Partici- information on children’s postural stability. Method: The subjects
param 21 crianças divididas em grupos de 7-8 e 9-10 anos. A were twenty one children divided in groups of 7-8 and 9-10 years
estabilidade postural foi mensurada pela velocidade de oscilação old. Postural stability was measured through body sway speed,
postural, sobre uma plataforma de força do sistema Balance Master. by positioning the children over the Balance Master System force
Os sujeitos foram testados em 4 condições experimentais: olhos plate. The subjects were tested in four experimental conditions:
abertos sobre superfície firme; olhos fechados sobre superfície eyes opened and steady surface; eyes closed and steady surface;
firme; olhos abertos sobre superfície instável e; olhos fechados eyes opened and unstable surface; and eyes closed and unstable
sobre superfície instável. Os dados foram comparados pelo teste surface. Data was compared through Kruskal-Wallis test (p ≤
de Kruskal-Wallis (p ≤ 0,05). Resultados e discussão: O teste de 0,05). Results and discussion: Kruskal-Wallis test does not show any
Kruskal-Wallis não constatou diferenças entre os grupos, difference among the groups, suggesting a homogeneous
sugerindo uma homogeneidade na utilização das informações utilization of the information from visual and somatossensory
provenientes dos sistemas visual e somatossensorial por crianças systems by children from 7 to 10 years old. In experimental
de 7 a 10 anos de idade. Entre as condições experimentais, verificou- conditions, it was verified that only the visual information
se que a supressão da informação visual, quando isolada, não suppression did not changed their postural stability. Nevertheless,
alterou a estabilidade postural dos sujeitos. Por outro lado, a somatosensory information’s change caused a postural stability
alteração da informação somatossensorial provocou diminuição reduction, suggesting that there is a greater solicitation of this
da estabilidade postural, sugerindo que existe uma maior system for the postural stability maintenance. Conclusions: Children
solicitação dessa informação para a manutenção da estabilidade from 7 to 10 years old show a homogeneous utilization of sensory
postural. Conclusões: Crianças de 7 a 10 anos apresentam uma systems for postural stability maintenance. The somatosensory
homogeneidade na utilização dos sistemas sensoriais para system shows a greater influence over postural stability than visual
manutenção da estabilidade postural. O sistema somatossensorial system.
apresenta maior influência na estabilidade postural que o sistema Key-words: somatosensory information, visual information,
visual. posture, child.
Palavras-chave: sistema somatossensorial, informação visual,
postura, postura, criança.

Recebido 8 de março de 2005; aceito 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Marcos Seizo Kishi, Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Fisioterapia, Rod. Washington Luis, km
235 Caixa Postal 676, 13565-905 São Carlos SP, Teel: (16) 3351-8407, E-mail: kishi@iris.ufscar.br
434 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Introdução Materiais e métodos

O controle da postura é freqüentemente definido como Sujeitos


o controle da posição do corpo com os propósitos de
orientação e equilíbrio, e pode ser considerado um requisito Participaram do presente estudo 21 crianças saudáveis
fundamental para o desempenho satisfatório de todas as de ambos os sexos, com idade entre 7 e 10 anos (idade
atividades [1,2,3]. média = 8,3; ± 0,96), divididas em dois grupos: Grupo 7-8
Apesar da importância do controle postural para o ser anos: (n = 14) 10 meninos e 4 meninas (idade média 7,7 ±
humano, os mecanismos pelos quais o seu desenvolvimento 0,5); Grupo 9-10 anos: (n = 7) 5 meninos e 2 meninas
acontece ainda não estão completamente elucidados e, assim, (idade média 9,4 ± 0,5).
têm sido foco de várias pesquisas. Grande parte destas pes- Estes sujeitos foram selecionados entre alunos do ciclo
quisas teve por objetivo verificar a evolução do controle básico da escola “A Torre” do município de Alges, região
postural relacionadas a mudanças biomecânicas, a alterações metropolitana de Lisboa em Portugal. Esta escola foi
de requerimentos dos sistemas sensoriais e sua integração, e escolhida pelo fato de que seus alunos freqüentavam as
o desenvolvimento das respostas cognitivas observadas no aulas da disciplina Educação Física, nas dependências da
decorrer do desenvolvimento da criança [1,4,5,6]. Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica
Para a realização das tarefas posturais as crianças, assim de Lisboa.
como os adultos, podem usar de várias formas os sistemas
sensoriais envolvidos no equilíbrio (vestibular, somato- Equipamento utilizado
ssensorial e visual) para a realização das diferentes tarefas
nos diferentes ambientes. Dessa forma, algumas pesquisas Foi utilizado na pesquisa o sistema Balance Master 6.1 da
têm tentado relacionar o predomínio, ou não, das infor- NeuroCom International Inc. Este sistema consiste de uma dupla
mações provenientes de algum destes sistemas em relação plataforma de força acoplada a um microcomputador que
aos outros no decorrer do desenvolvimento [1,4,7,8]. recebe informações da plataforma de forças, faz sua análise
Nas pesquisas relacionadas ao desenvolvimento do e gera relatórios que podem ser impressos ou salvos em seu
controle postural um dos parâmetros avaliados é a oscilação disco rígido.
do centro de massa durante a manutenção da postura ereta O sistema de gerenciamento da plataforma possui em
[9,10,11]. Com relação a esse parâmetro, trabalhos anteriores sua memória o teste padronizado denominado modified Clinical
têm sugerido uma melhora na estabilidade postural de acordo Test for Sensory Interaction on Balance (mCTSIB). Este teste,
com o aumento de idade de crianças, verificada pela redução como o próprio nome sugere, tem como objetivo verificar
da variabilidade da velocidade de oscilação [9]. a interação entre os sistemas sensoriais na manutenção do
Com relação à utilização dos sistemas sensoriais para a equilíbrio. Para tanto é mensurada a velocidade de oscilação
manutenção do controle postural, algumas pesquisas têm postural durante a manutenção da postura ereta sobre a
reforçado a idéia da existência de uma utilização predo- superfície da plataforma, ou seja, o deslocamento da projeção
minante da informação visual para a manutenção do controle do centro de gravidade na área relativa à base de sustentação.
da postura nas fases iniciais do desenvolvimento motor [12].
Contudo, estudos recentes têm contestado esta predo- Procedimento experimental
minância do sistema visual na manutenção do equilíbrio,
colocando em foco a utilização da informação proveniente Os sujeitos foram avaliados uma única vez em datas
dos demais sistemas sensoriais mesmo nas fases iniciais da que deveriam coincidir com suas aulas de educação física.
aquisição da postura ereta [6,13,14]. Para a participação nos teste era solicitado que os sujeitos
Os 7 anos de idade parecem constituir uma idade chave comparecessem em trajes esportivos.
no desenvolvimento do controle postural. Estudos indicam Durante os procedimentos de testes o ambiente do
a existência de mudanças posturais que se iniciariam nesta experimento era mantido o mais silencioso possível, e os
idade se desenvolvendo até uma idade ainda não confirmada, sujeitos adentravam o local um a um, permanecendo no
mas que estaria por volta do final da puberdade [15]. Porém, ambiente somente o sujeito na companhia de seu professor
este intervalo de idade dá a impressão de uma grande lacuna e dois pesquisadores que aplicavam os testes.
dentro de uma fase em que grandes alterações de natureza Para atingir os objetivos propostos, foi mensurada a
física e cognitiva estão ocorrendo. Tais características velocidade de oscilação postural dos sujeitos participantes,
levantam a hipótese da existência de alterações nos em quatro condições experimentais, a saber:
mecanismos de controle postural em meio a este intervalo. a) Olhos abertos sobre superfície firme (OASF);
Assim, o presente trabalho teve por objetivo estudar o b) Olhos fechados sobre superfície firme (OFSF);
impacto da manipulação da informação visual e somatos- c) Olhos abertos sobre superfície instável (OASI);
sensorial no controle postural de crianças de 7 e 10 anos. d) Olhos fechados sobre superfície instável (OASI).
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 435

Nas condições experimentais de superfície firme, era Figura 2 - Médias (± DP) da velocidade de oscilação postural obtidos pelos
solicitado aos sujeitos que se mantivessem em pé diretamente grupos 7-8 anos e 9-10 anos nas quatro condições experimentais: OASF (olhos
sobre a superfície da plataforma. abertos, superfície firme), OFSF (olhos fechados, superfície firme), OASI
Nas condições experimentais de superfície instável era (olhos abertos, superfície instável), OFSI (olhos fechados, superfície instável).
colocado um bloco de espuma próprio do sistema Balance
Master, em uma área pré-estabelecida por marcas sobre a
plataforma. Assim, o sujeito deveria se posicionar sobre este
bloco de espuma (Figura 1).
Figura 1 - Foto ilustrativa da realização do mCTSIB na condição de
superfície instável. Fonte: [18].

Na comparação entre as condições experimentais OFSF


e OASF, que representa a condição sem manipulações
sensoriais controladas, não foram constatadas diferenças.
Esse resultado sugere que a supressão da informação visual,
quando isoladamente considerada, não tenha efeito signifi-
cativo sobre a estabilidade postural dos grupos participantes.
Entre as condições OASI e OFSI, também não se cons-
tatou diferenças, reforçando a hipótese de que a informação
visual, isoladamente, não exerça influência sobre a estabi-
lidade postural. Por outro lado, a condição OFSF não é
diferente da condição OASI, mas apresenta velocidade
média de oscilação postural menor que a condição OFSI,
Em cada uma das quatro condições foram realizadas sugerindo que a supressão da informação visual possa
três tentativas com a duração de dez segundos cada, onde potencializar a desestabilização provocada pela manipulação
era solicitado ao sujeito que permanecesse na postura ereta da informação somatossensorial.
com os pés paralelos e os maléolos alinhados em relação à A manipulação da informação somatossensorial confe-
linha de referência da base, e o centro de cada calcanhar rida pela superfície instável alterou a estabilidade postural
alinhado com uma marcação própria. dos sujeitos. Essa constatação pôde ser verificada pelas
A velocidade de oscilação postural foi medida em graus maiores velocidades médias de oscilação postural apresen-
por segundo, e as comparações foram realizadas a partir tadas nas condições OASI e OFSI.
média da velocidade nas 3 tentativas realizadas.
A medida realizada em graus por segundo tem a vantagem Discussão
de ser comparável em sujeitos de diferentes estaturas,
diferente do que se constata quando a medida é realizada O objetivo do presente estudo foi o de verificar o impacto
em grandezas lineares. da informação visual e somatossensorial na estabilidade
postural, conferida pela velocidade de oscilação postural em
Análise estatística grupos de crianças de 7-8 anos e 9-10 anos de idade.
As maiores velocidades de oscilação postural verificadas
A análise dos resultados foi realizada pelo teste de Kruskal- na condição OFSI em que havia associação da supressão
Wallis, para um nível de significância de 5%. da informação visual com a manipulação da informação
somatossensorial correspondem a informações já relatadas
Resultados na literatura [1,4], nas quais a maior quantidade de infor-
mações, provenientes dos vários canais relacionados à
A Figura 2 apresenta as médias da velocidade de oscilação manutenção do equilíbrio, teriam um efeito positivo para a
postural, em graus por segundo, dos grupos participantes realização dessa função. Assim, ainda em concordância com
do estudo, nas 4 condições experimentais (OASF, OFSF, esses autores, verificamos que mesmo em condições de
OASI e OFSI), em três tentativas executadas para cada sujeito, ausência de informações visuais, e com comprometimento
em cada condição.
436 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

das informações somatossensoriais provindas dos membros provocou diminuição da estabilidade postural, sugerindo que
inferiores, é possível manter a postura ereta. Porém, a existe uma maior solicitação do sistema somatossensorial para
manutenção da postura ereta nessas condições é acompa- a manutenção da estabilidade postural.
nhada de aumento na velocidade da oscilação postural e, Outras características do controle postural, como a utilização
portanto, da diminuição da estabilidade postural. do sistema vestibular por crianças em idade escolar precisam ser
A alteração da estabilidade postural constatada nas duas melhor entendidas. Assim, novos estudos devem ser desenvolvidos.
condições em que houve manipulação da informação
somatossensorial (OASI e OFSI), e não constatada nas condições Referências
de manipulação da informação visual, pode sugerir que a
informação visual não tenha a predominância na manutenção 1. Shummway-Cook A, Woollacott M H. Motor Control:
do controle postural verificada em fases iniciais da aquisição da Theory and Practical Applications. Baltimore: Williams &
postura ereta [12]. Adicionalmente, esses resultados concordam Wilkins; 1995.
com estudos que verificaram a utilização da informação 2. Woollacott MH; Shummway-Cook A. Attention and the
somatossensorial na manutenção do controle postural desde as control of posture and gait: a review of an emerging area of
fases iniciais da aquisição da marcha independente [14]. research. Gait Posture 2002;16:1-14.
3. Massion J. Postural Control Systems in Developmental
Por sua vez, o maior prejuízo da estabilidade postural
Perspective. Neurosci Biobehav Rev 1998;22:465-72.
verificado quando houve a manipulação da informação 4. Horak FB, Macpherson J M. Postural Orientation and Equilibrium.
somatossensorial, está de acordo com conclusões de estudos In: Rowell LB, Shepard JT. org. Handbook of Physiology. New
em adultos [16,17], de que haveria uma preferência pelas York: Oxford University Press; 1996. p. 255-292.
informações somatossensoriais provenientes do contato dos 5. Winter DA. Human balance and posture control during
pés com a superfície de contato para a manutenção do standing and walking. Gait Posture 1995;3:456-65.
equilíbrio. Assim, pode-se sugerir que crianças na faixa etária 6. Lebiedowska MK, Syczewska M. Invariant sway properties in
de 7 a 10 anos possuam a mesma interação sensorial children. Gait Posture 2000;12:200-4.
verificada por adultos. Porém, para confirmar tal hipótese 7. Dietz V. Evidence for a load receptor contribution to the control
novos estudos devem ser realizados. of posture and locomotion. Neurosci Biobehav Rev
Não se constatou diferenças estatísticas na velocidade de 1998;22:495-9.
8. Assaiante C. Development of Locomotor Balance Control in
oscilação postural entre os grupos 7-8 anos e 9-10 anos. Esse
Health Children. Neurosci Biobehav Rev 1998;22;527-32.
resultado contraria o estudo de Riach e Starkes [9], no qual 9. Riach CL, Starkes JL. Velocity of centre of pressure excursions
os autores verificaram, por meio de uma plataforma de força, as an indicator of postural control systems in children. Gait
uma redução da oscilação postural de crianças a partir dos 8 Posture 1994;2:167-72.
anos de idade. Todavia, esse estudo [9] considerou crianças 10. Karlsson A, Lanshammar H. Analysis of postural sway
agrupadas em faixas etárias de 4 a 7 anos e de 8 a 13 anos. strategies using an inverted pendulum model and force plate
Desse modo, a comparação de grupos com maiores intervalos data. Gait Posture 1997;5:198-203.
etários pode ter determinado a diferença constatada. 11. Allum JHJ, Zamani F, Adkin AL, Ernst A. Differences between
Por outro lado, o estudo de Riach e Starkes [9], constatou trunk sway characteristics on a foam support surface and on
uma redução na dispersão dos dados das crianças com mais the Equitest ankle-sway-referenced support surface. Gait
de 8 anos, atribuindo a esse dado a indicação de respostas Posture 2002;16;264-70.
12. Woollacott MH, Debû B, Mowatt M. Neuromuscular control
posturais menos estereotipadas, de menor atividade reflexa
of posture in the infant and child: is vision dominant? J Mot
e com maiores possibilidades de adaptação [9]. Tal consta-
Behav 1987;19:167-86.
tação concorda com os resultados do presente estudo, nos 13. Barela JA, Polastri PF, Godoi D. Controle postural em crianças:
quais pode se verificar que o grupo 9-10 anos obteve menor oscilação corporal e freqüência de oscilação. Rev Paul Educ Fís
dispersão nos dados que o grupo 7-8 anos. 2000;14:68-77.
14. Barela JA, Jeka JJ, Clark JE. The use of somatosensory
Conclusão information during the acquisition of independent upright
stance. Infant Behavior & Development 1999;22(1):87-102.
Concluímos que, para a amostra estudada, o comporta- 15. Assaiante C, Amblard B. An ontogenetic model for the
mento postural de crianças na faixa etária de 7 a 10 anos de sensorimotor organization of balance control in humans.
idade é homogêneo frente a tarefas de manutenção do Hum Mov Sci 1995;14:13-43.
16. Maurer C, Mergner T, Bolha B, Hlavacka F. Vestibular, visual,
equilíbrio estático. Porém, pudemos constatar a tendência
and somatosensory contributions to human control of
de um padrão mais homogêneo de oscilação postural em upright stance. Neuroscience Letters 2000;281:99-102.
crianças de 9 a 10 anos de idade. 17. Shummway-Cook A, Horak FB. Assessing the influence of
Concluímos ainda, que a supressão da informação visual, sensory interaction. Phys Ther 1986;66:1548-50.
quando isolada, não alterou a estabilidade postural dos sujeitos. 18. Neurocom International Inc. The objective quantification of
Por outro lado, a alteração da informação somatossensorial daily life Tasks. Clackamas – Oregon, (s/ data).
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 437

Artigo original

Efeitos da fisioterapia respiratória e da mobilização


passiva sobre a pressão intracraniana
Effects of respiratory physical therapy and passive mobilization
on intracranial pressure
Sérgio N. Nemer*, Soraya T. Machado**, Jefferson B. Caldeira**, Leandro M. Azeredo**, Thiago Clipes**, Ricardo
Gago**, Paulo R. S. Filho**, Iracema C. Seródio**, Marcius G. Rocha**, João M. Garcia***, Jorge I. Lain****, Paulo
César P. Souza*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Doutorando em pneumologia pela USP, Pós-Graduado em Neurofisiologia pelo IBMR, Professor do Curso de Pós-Graduação
de Fisioterapia Cárdio-respiratória da Universo, Chefe da equipe de Fisioterapia e Rotina da Ventilação Mecânica do Hospital de Clínicas de
Niterói (HCN); **Fisioterapeutas do HCN, ***Neurocirurgião do HCN, ****Médico, chefe da rotina da UTI do HCN, *****Médico,
chefe da UTI do HCN.

Resumo Abstract
Os efeitos da fisioterapia sobre a pressão intracraniana (PIC) The effects of physical therapy on intracranial pressure (ICP)
não são totalmente esclarecidos. O objetivo deste estudo é avaliar are not totally clear. The aim of this study was to evaluate the
os efeitos da fisioterapia respiratória e movimentação passiva sobre effects of respiratory physical therapy and passive mobilization
a PIC. Foram avaliados 70 pacientes com traumatismo on ICP. Seventy patients with traumatic brain injury (TBI) and
cranioencefálico e acidente vascular cerebral com Escala de Coma stroke with Glasgow Coma Scale (GCS) ≤ 8 were evaluated. Thirty
de Glasgow ≤ 8. A cabeceira foi mantida em 30 graus durante o degree head-up position was used during the study. ICP was
estudo. A PIC foi monitorizada durante as seguintes condutas: monitored during the following procedures: chest compression,
compressão torácica, vibração associada à compressão torácica, vibration associated to chest compression, unilateral continuous
compressão torácica contínua unilateral, aspiração traqueal com chest compression, tracheal suction with open circuit and closed
circuito aberto e com circuito fechado, movimentação passiva de circuit, passive mobilization of arms and legs, hip rotation,
membros superiores e inferiores, rotação do quadril, mobilização scapular mobilization and lateral flexion of the lower trunk.
escapular e flexão lateral do tronco inferior. A variação da PIC Wilcoxon test was used to evaluate changes on ICP during the
durante as condutas foi avaliada pelo teste de Wilcoxon. A PIC procedures. Initial ICP was 14 ± 6.4 mmHg. Four procedures
inicial foi de 14 ± 6,4 mm Hg. Quatro condutas alteraram a PIC changed ICP expressively: lateral flexion of the lower trunk (19.1
de forma significativa: Flexão lateral do tronco inferior (19,1 ± ± 6.52 mmHg; p < 0.0001), unilateral continuous chest
6,52 mmHg; p < 0,0001), compressão torácica unilateral contínua compression (19.09 ± 6.43 mmHg; p < 0.0001), tracheal suction
(19,09 ± 6,43 mmHg; p < 0,0001), aspiração traqueal com circuito with open circuit (19.06 ± 6.46 mmHg; p < 0.0001) and with
aberto (19,06 ± 6,46 mmHg; p < 0,0001) e com circuito fechado closed circuit (18.2 ± 7.61 mmHg; p < 0.0001). Unilateral
(18,2 ± 7,61 mmHg; p < 0,0001). Compressão torácica unilateral continuous chest compression and lateral flexion of the lower
contínua e flexão lateral do tronco inferior devem ser evitadas em trunk should be avoided in patients with intracranial hypertension.
pacientes com hipertensão intracraniana. A aspiração traqueal é Tracheal suction is unavoidable, but should be done carefully.
inevitável, mas deve ser cautelosa. Key-words: Intracranial pressure, tracheal suction, physical
Palavras-chave: pressão intracraniana, aspiração traqueal, therapy.
fisioterapia.

Recebido 8 de abril de 2005; aceito 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Sérgio Nogueira Nemer, Hospital de Clínicas de Niterói, Rua La Salle, 12 Centro 24020-090 Niterói, E-mail:
snnemer@urbi.com.br
438 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Introdução monitorizada com cateter intraventricular e o monitor de


utilizado foi o Camino MPM-1 (USA), mostrados nas fotos
Os efeitos da fisioterapia respiratória e da motora sobre 1 e 2.
a pressão intracraniana (PIC) não são totalmente esclarecidos.
Enquanto em determinadas unidades de terapia Intensiva Foto 1 - Cateter intraventricular para a monitorização da PIC.
(UTI) a fisioterapia é quase proibida na fase aguda após
uma lesão cerebral, em outras pode não haver nenhum
critério ou limite. Infelizmente, em algumas UTIs não há
nem mesmo um monitor de PIC, o que pode piorar mais
ainda este problema.
A ausência de fisioterapia na fase aguda após um
traumatismo cranioencefálico (TCE) ou acidente vascular
cerebral (AVC) pode piorar o prognóstico de recuperação.
A eficiência da reabilitação declina com o tempo após lesão
cerebral isquêmica focal. Quando iniciada em até 5 dias, a Foto 2 - Monitorização da PIC.
fisioterapia pode gerar melhora da habilidade com os
membros, no caminhar e no subir e descer escadas [1]. Por
outro lado, se iniciada após 14 dias, poucas mudanças
ocorrem em termos de progresso e se iniciada somente após
30 dias, as funções praticamente não se modificam [1].
A fisioterapia precoce, porém não criteriosa, pode levar
a hipertensão intracraniana (HIC), sobretudo na ausência
da monitorização da PIC. O estímulo à tosse, a aspiração
traqueal, a drenagem postural com a cabeceira abaixo de 30 Objetivando evitar variações na PIC em conseqüência
graus, entre outras condutas, elevam a PIC [2]. A aspiração de reduções no volume corrente (VC) durante as condutas,
traqueal e a técnica de bag squeezing são umas das condutas todos os pacientes foram ventilados em ventilação controlada
que mais elevam a PIC [3], devendo estas serem bastante a volume (VCV) no decorrer do estudo. Todos os pacientes
reservadas e muitas vezes, não realizadas. A aspiração foram submetidos à sedação profunda (Escala de Ramsay
traqueal quando indicada, tem que ser realizada, mas o em VI) e analgesia, através da infusão contínua de midazolam
estímulo à tosse não deve ser feito, objetivando evitar e fentanil respectivamente.
elevações da PIC. No entanto, não é raro observar O estudo foi procedido entre o segundo e o terceiro dia
fisioterapeutas estimulando a tosse de pacientes com TCE após a lesão cerebral, fase onde geralmente se encontra a
ou AVC, para obter uma melhor higiene brônquica, PIC mais elevada devido ao inchaço cerebral que ocorre
sobretudo quando a PIC não está monitorizada, o que nos após o TCE ou AVC.
permite concluir apenas que a PIC aumentou, mas não se A PIC foi monitorizada durante as seguintes condutas
sabe para quanto. O que os olhos não vêem o coração pode fisioterapêuticas: compressão torácica, vibração associada à
até nem sempre sentir, mas neste caso, o cérebro com certeza compressão torácica, compressão torácica contínua
sentirá. Portanto, nossa proposta com este estudo, é que a unilateral, aspiração traqueal com circuito aberto e com
fisioterapia seja precoce, porém criteriosa, com condutas circuito fechado, movimentação passiva de membros
importantes e que não elevem a PIC significativamente. superiores e inferiores, rotação do quadril, mobilização
escapular e flexão lateral do tronco inferior.
Material e métodos A mobilização dos membros superiores incluiu a flexão
e a abdução cautelosa (com alinhamento da cabeça umeral,
O estudo foi realizado entre o período de janeiro de e rotação externa quando acima de 90 graus, objetivando
2001 a março de 2004 na unidade de terapia intensiva (UTI) evitar lesões intra-articulares e posteriormente, o ombro
do Hospital de Clínicas de Niterói. Foram avaliados 70 doloroso) da articulação escápulo-umeral. A mobilização
pacientes consecutivos, 53 com TCE e 17 com AVC. Todos escapular foi realizada com o paciente em decúbito lateral,
os pacientes apresentavam a Escala de Coma de Glasgow mantendo a coluna cervical alinhada e perpendicular à
menor ou igual a oito à admissão na UTI e tiveram a PIC cintura escapular. A escápula foi mobilizada ao menos nos
monitorizada ao menos nos primeiros 4 dias após a lesão seguintes sentidos: elevação, depressão, adução, abdução e
cerebral. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética de deslizamento lateral. A rotação do quadril foi realizada com
nossa instituição, não requerendo consentimento de o quadril flexionado em cerca de 45 graus, enquanto que a
informação, pois as condutas não foram duradouras o flexão lateral do tronco inferior, foi realizada com o quadril
suficiente para ocasionar qualquer complicação. A PIC foi e os joelhos flexionados em 90 graus.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 439

Na compressão torácica contínua unilateral, também A figura I mostra o registro da PIC monitorizada antes
conhecida como técnica para desvio de fluxo, o fisiotera- e durante a flexão lateral do tronco inferior de um paciente
peuta manteve suas mãos durante a inspiração e a expiração com TCE. Inicialmente, a PIC mantinha-se em 5 mmHg.
sobre um hemitórax, pressionando-o ininterruptamente. Após o início da conduta, a PIC elevou-se e manteve-se em
Durante a compressão torácica e a vibração associada à 11 mmHg.
compressão torácica, logicamente, as mãos do fisioterapeuta
participavam apenas durante a fase expiratória. Todos os Figura I - (1) Antes da conduta; (2) durante a conduta.
pacientes foram mantidos com a cabeceira elevada a 30
graus por todo o período de ventilação mecânica e logi-
camente também durante o estudo. A aspiração traqueal
(com circuito aberto e fechado) foi realizada durante 15
segundos em todos os pacientes e o estímulo à tosse não foi
permitido. As demais condutas foram realizadas por 2
minutos.
A figura II mostra o registro da PIC monitorizada durante
Análise estatística e após o término da compressão torácica contínua unilateral
em um paciente com AVC. Durante a conduta, a PIC
A análise estatística foi realizada pelos seguintes métodos: manteve-se em 8 mmHg, mas após seu término (quando o
Teste de Wilcoxon para verificar a variação entre as medidas fisioterapeuta retirou suas mãos do hemitórax do paciente),
antes e após o término das condutas. Teste de Mann- a PIC decresceu subitamente até 2 mmHg.
Whitney para comparar as médias das condutas que
elevaram a PIC. Figura II - (1) Fase final da conduta; (2) após a conduta.
O critério de determinação adotado foi o nível 5 %, ou
seja, quando o valor de p for menor que 0,05, existe
significância estatística. A análise estatística foi processada
pelo software estatístico SAS System.

Resultados

A idade foi 45.9 ± 20.2 anos, a Escala de Coma de


Glasgow 5,75 ± 1,40, o APACHE II (Acute Physiology and Tabela I - PIC após condutas de fisioterapia motora.
Chronic Health Evaluation) 16,64 ± 4,54. Seis pacientes, 3
com TCE e 3 com AVC foram a óbito, por complicações Condutas PIC p
neurológicas e pulmonares não relacionadas ao estudo. O
Mobilização de Ms 14,0 ± 6,4 NS
tempo de ventilação mecânica foi 11,4 ± 3,84 dias e a PIC Mobilização de Mi 14,0 ± 6,4 NS
inicial 14,0 ± 6,4 mmHg. Mobilização escapular 14,2 ± 6,48 NS
Quatro condutas elevaram a PIC significativamente: Rotação de quadril 14,3 ± 6,32 NS
Flexão lateral do tronco inferior (19,1 ± 6,52 mmHg; p < Flexão lateral do TI 19,1 ± 6,52 < 0,0001
0,0001), compressão torácica unilateral contínua (19,09 ±
6,43 mm Hg; p < 0,0001), aspiração traqueal com circuito Ms = membro superior; Mi = membro inferior; TI = tronco
inferior; NS = não significativo.
aberto (19,06 ± 6,46 mm Hg; p < 0,0001) e com circuito
fechado (18,2 ± 7,61mmHg; p < 0,0001). Os valores da Tabela II - PIC após condutas de fisioterapia respiratória.
PIC após as condutas de fisioterapia motora e respiratória
estão nas tabelas I e II respectivamente. Condutas PIC p
Entre as condutas que elevaram a PIC, apenas a Vibração + compressão torácica 13,8 ± 6,3 NS
aspiração traqueal com circuito fechado foi menor que as Compressão torácica 13,9 ± 3,1 NS
demais. A compressão torácica contínua unilateral, a flexão Compressão torácica unilat. cont. 19,09 ± 6,4 < 0,0001
lateral do tronco inferior e a aspiração traqueal com circuito Aspiração traqueal (c. aberto) 19,06 ± 6,4 < 0,0001
aberto elevaram a PIC de forma semelhante. Ao comparar Aspiração traqueal (c. fechado) 18,2 ± 7,6 < 0,0001
a aspiração traqueal com circuito aberto e circuito fechado, NS = não significativo.
esta última apresentou menor elevação da PIC, 18,2 ± 7,61
x 19,06 ± 6,4 mmHg respectivamente (p < 0,001). As
comparações entre as quatro condutas que elevaram a PIC
estão na tabela III.
440 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Tabela III - Comparações entre as condutas que elevaram a PIC. Figura IV - Variação da PIC durante a fisioterapia respiratória.

Condutas PIC p

Flexão lateral do TI 19,1 ± 6,52


X 0,6202
Aspiração (circuito aberto) 19,06 ± 6,4
Compressão torácica unilat. cont. 19,09 ± 6,4
X 0,5681
Aspiração traqueal (c. aberto) 19,06 ± 6,4
Flexão lateral do TI 19,1 ± 6,52
X 0,7888
Compressão torácica unilat. cont. 19,09 ± 6,4
Aspiração (circuito aberto) 19,06 ± 6,4
X 0,0001
Aspiração (circuito fechado) 18,2 ± 7,6

As fotos 3 e 4 mostram duas (compressão torácica Foto 5 - O mesmo paciente das 3 e 4 descendo escadas com auxílio.
unilateral contínua e flexão lateral do tronco inferior) das
quatro condutas que elevaram a PIC, enquanto as figuras
III e IV mostram a variação da PIC em cada conduta. A
foto 5 mostra o mesmo paciente em fase de recuperação.
Foto 3 - Compressão torácica unilateral contínua.

Discussão

A fisioterapia precoce em pacientes com lesão cerebral


aguda ainda não é freqüentemente realizada o quanto
deveria ser. Ainda existe bastante receio por parte de médicos
Foto 4 - Flexão lateral do tronco inferior. e fisioterapeutas em algumas UTIs, que realizam condutas
genéricas para avaliar a possibilidade da fisioterapia ser
procedida. Uma estimativa da complacência cerebral é
utilizada por alguns autores [4]: a observação da PIC durante
os procedimentos é realizada e se esta retorna rapidamente
ao seu valor inicial, menores riscos de redução da pressão
de perfusão cerebral (PPC) em decorrência da elevação da
PIC ocorrerão, indicando uma boa complacência cerebral
[4]. Segundo estes autores [4], se a PIC retorna lentamente
ao seu valor inicial (indicando uma baixa complacência
cerebral), ou se esta se mantém elevada, a fisioterapia
possivelmente não deverá ser realizada, ou pelo menos
Figura III - Variação da PIC durante a mobilização passiva. deverá ser modificada. O que não é levado em consideração
nestas observações e nos poucos trabalhos sobre as
repercussões da fisioterapia na PIC, são quais condutas
devem ser avaliadas. Utilizando o bom senso, na verdade,
qualquer paciente até com HIC pode ser submetido à
fisioterapia, contanto que esta seja criteriosa. As técnicas de
deslizamento articular, baseadas na regra dos convexos-
côncavos de Kaltenborn [5] permitem que uma determinada
articulação seja mobilizada sem que seu movimento
fisiológico necessariamente seja repetido no momento [6],
porém colaborando para preservá-lo e ampliá-lo: se a
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 441

superfície que se move é côncava, a direção do deslizamento mais a PIC do que a aspiração com circuito fechado é o
é no mesmo sentido do movimento fisiológico. Porém, se a fato de que esta última mantém o paciente conectado ao
superfície que se move for convexa, a direção do ventilador, preservando ao menos parte do volume corrente.
deslizamento é no sentido oposto ao movimento fisiológico Quando o paciente é desconectado do ventilador, há uma
[5,7]. Desta forma, qualquer paciente pode ser mobilizado elevação do CO2, principalmente naqueles mais sedados ou
e à primeira vista, quase nenhum movimento pode ser curarizados. Como a elevação do CO2 promove vasodi-
percebido (apenas o deslizamento articular), quanto mais latação cerebral [13], seu aumento eleva a PIC, devendo a
influenciar na PIC. Portanto, para os fisioterapeutas mais hipercapnia, ou condutas que aumentem o CO2 serem
receosos em mobilizar um paciente com HIC, esta é uma evitadas ao máximo nestes pacientes. Se o estímulo à tosse
ótima alternativa, contanto é claro que se tenha domínio fosse realizado, com certeza a PIC apresentaria uma elevação
das técnicas de mobilização articular. muito maior, mas sabendo que a tosse pode ser um dos
Em outras UTIs, a situação é oposta, o receio não existe fatores que mais eleva a PIC [2], não o fizemos e tentamos
e nem ao menos é levado em consideração, pois muitas observar o quanto somente a aspiração traqueal realmente
vezes não há monitor de PIC. Este contraste só contribui (sem tosse) eleva a PIC.
para a piora do paciente, pois os que não são mobilizados, Outro aspecto importante é qual, ou quais condutas devem
ficam geralmente com maior rigidez articular, hipertonia e ser avaliadas e em quais pacientes. As condutas avaliadas nestes
com pior prognóstico de recuperação, além de outras pacientes deveriam ter algum objetivo específico em relação
complicações. Por outro lado, aqueles que são mobilizados à melhora do quadro ventilatório e da recuperação funcional.
indiscriminadamente e sem monitorização da PIC, podem Brimioulle et al. [14] avaliaram a variação da PIC durante a
cursar com HIC e como conseqüência, com provável piora mobilização passiva, o posicionamento corporal e exercícios
do prognóstico. Portanto, a fisioterapia motora e respiratória ativos em pacientes neurocirúrgicos conscientes e
deve ser precoce, porém sempre criteriosa, cautelosa e com inconscientes, avaliando também a adução isométrica do
constante monitorização da PIC. quadril em pacientes conscientes. A conclusão deste estudo
A avaliação da PPC poderia ser utilizada também em foi que a fisioterapia pode ser feita com segurança em
nosso estudo, porém como vários trabalhos mostram que pacientes com PIC normal ou elevada, desde que manobras
esta se mantém geralmente em níveis adequados durante a do tipo Valsalva (como a adução isométrica do quadril) sejam
fisioterapia [3,8-12], preferimos nos focar basicamente na evitadas. De fato, manobras do tipo Valsalva devem ser
PIC. Nestes estudos, a elevação média da PIC foi de 10 evitadas, pois estas elevam a pressão intratorácica e
mmHg, exceto durante a sucção traqueal e a técnica de conseqüentemente, a PIC [14,15,16]. Porém, em relação à
“bag squeezing”, que elevaram a PIC em 30 mmHg. A conduta citada, não conhecemos objetivos importantes em
sucção traqueal é inevitável, mas deve ser realizada somente realizar a adução isométrica do quadril em pacientes
com plena indicação. No entanto, a técnica de bag squeezing, neurológicos. Em relação aos pacientes, a monitorização da
por não ser em nosso ponto de vista uma conduta segura, PIC em pacientes conscientes pode ser considerada uma
essencial e insubstituível, ao menos nestes pacientes, além contra-indicação relativa [17], com poucos objetivos, embora
de ser uma das que mais eleva a PIC [3,12], não deveria ser não seja uma contra-indicação absoluta. Ainda em relação
realizada em pacientes com lesão cerebral aguda e HIC. A aos pacientes, nenhum destes poderia estar hemiplégico, pois
redução da PPC nos trabalhos citados foi menor que 10 para fazer a adução isométrica do quadril, é necessário que o
mmHg [3,8,12]. Talvez a melhor forma de se evitar a paciente tenha força nos dois membros inferiores. Portanto,
redução da PPC nestes pacientes, seria mantê-los com uma além de avaliar a variação da PIC em determinadas condutas,
pressão arterial média (PAM) algo mais elevada. Portanto, é importante que estas sejam realmente úteis e que os pacientes
em acordo com a literatura, a elevação da PIC é o maior sejam realmente eletivos para este tipo de trabalho. Em nosso
problema, já que a PPC apresenta menor variação estudo, avaliamos algumas das condutas essenciais utilizadas
proporcionalmente e é de mais fácil resolução. na fisioterapia neurológica nesta fase, como além das
Apesar de ambas as formas de proceder à aspiração tradicionais mobilizações de membros superiores e inferiores,
traqueal (com circuito aberto ou fechado) terem elevado a a mobilização escapular, a rotação de quadril e a flexão lateral
PIC de forma significativa em nosso estudo, a aspiração do tronco inferior. Estas duas últimas condutas são essenciais
com circuito fechado mostrou elevação significativamente para evitar rigidez da coluna lombar e perda de mobilidade
menor do que com o circuito aberto, devendo esta última pélvica, assim como combater a freqüente elevação do tônus
ser evitada sempre que possível nestes pacientes. Procedemos nos membros inferiores em pacientes com lesões cerebrais
à aspiração traqueal com os pacientes bem sedados (Escala [18]. A rotação de quadril mostrou não gerar elevação da
de Ramsay em VI) justamente para tentar inibir o estímulo PIC, podendo ser realizada sem problemas. Porém, mesmo
à tosse, além de evitarmos ao máximo o contato da sonda essencial, a flexão lateral do tronco mostrou em nosso estudo,
com a traquéia. Mas independente destes cuidados, o que que deve ser evitada em pacientes com HIC. Durante a flexão
contribui para que a aspiração com circuito aberto eleve lateral do tronco inferior, há inicialmente um aumento da
442 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

pressão intra-abdominal (PIA), que por sua vez, eleva as de fisioterapia do Hospital de Clínicas de Niterói, que
pressões em vias aéreas e a PIC. As elevações na PIA e nas colaboraram direta e indiretamente com a evolução deste
pressões em vias aéreas durante a flexão lateral de tronco artigo e com o progresso de nossos pacientes. À equipe de
inferior giraram em torno de 5 cm H2O nos poucos pacientes enfermagem, pela dedicação em nos ajudar a posicionar,
que tiveram indicação de sua monitorização. A mobilização sentar e andar com os pacientes. A todos os médicos da
escapular, outra conduta essencial em pacientes neurológicos, Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas de Niterói,
preferencialmente deve ser feita em decúbito lateral, principalmente aos Drs. João Andrade e Moyzés Damasceno,
permitindo assim maior mobilidade escapular. Porém o por sempre acreditarem e valorizarem nosso trabalho.
decúbito lateral ainda é temido em algumas UTIs, pelo fato
da possível flexão lateral da coluna cervical, que leva à Referências
compressão da veia jugular e conseqüente elevação da PIC,
por dificultar a drenagem venosa cerebral. No entanto, se a 1. Biernaskie J. Efficacy of rehabilitative experience declines with
coluna cervical permanecer alinhada, não haverá compressão time after focal ischemic brain injury. J Neurosci
da veia jugular. Portanto, o decúbito lateral pode ser usado, 2004;24(5):1245-54.
2. Hough A. Disorders in intensive care patients. In: Hough A.
apenas sendo necessário manter a coluna cervical alinhada.
Physiotherapy in Respiratory Care – An evidence-based
Em nosso estudo, a mobilização escapular em decúbito lateral, approach to respiratory and cardiac management. 3 ed. United
não mostrou praticamente nenhuma elevação da PIC, Kingdom; Nelson Thornes; 2001. p.393-423.
provavelmente pelo cuidado tomado em manter a coluna 3. Stiller K. Physiotherapy in intensive care – Towards an evidence-
cervical alinhada. A compressão torácica unilateral contínua, based practice. Chest 2000;118:1801-13.
por elevar as pressões em vias aéreas (em torno de 5 cm 4. Dean E. Monitoring systems in the intensive care unit. In:
H2O), também elevou a PIC de forma significativa, sendo Frownfelter D and Dean E. Principles and practice of
em nosso estudo, juntamente com a flexão lateral de tronco cardiopulmonary physical therapy. 3 ed. USA; Mosby; 1996.
inferior, as condutas que mais elevaram a PIC, além do já p.229-48.
conhecido aumento da PIC durante a aspiração traqueal. 5. Kaltenborn FM. Princípios da mobilização articular. Em:
Kaltenborn FM. Mobilização manual das articulações. 5 ed.
Como a compressão torácica unilateral contínua, em nosso
São Paulo; 2001. p7-19.
ponto de vista, não é essencial, nem insubstituível, esta não 6. Maitland GD. Princípios das técnicas de manipulação. Em:
deve ser utilizada em pacientes com HIC. Maitland GD. Manipulação vertebral. 5 ed. São Paulo; 1989. p.
Acreditamos que a fisioterapia precoce, porém sem 105-16.
permitir a HIC, assim como a ortostática e a marcha precoce, 7. Edmond SL. Introdução à manipulação e mobilização. Em:
podem melhorar o prognóstico de reabilitação e da Edmond SL. Manipulação e mobilização. 1 ed. São Paulo;
locomoção independente [19]. Acreditamos ainda que com 2000. p.1-17.
a fisioterapia e o treino de marcha precoce, as chances de 8. Paratz J, Burns Y. The effect of respiratory physiotherapy on
quedas, que estão entre 23 a 50 % dos pacientes idosos intracranial pressure, cerebral perfusion pressure and end tidal
carbon dioxide in ventilated neurosurgical patients. Physiother
com AVC [20,21,22], possam ser reduzidas, pois um TCE
Theory Pract 1993;9:3-11.
em plena fase de progresso, não seria nada agradável. 9. Parsons LC, Ouzts Shogan JS. The effects of the endotracheal
tube suctioning and manual hyperventilation procedure on
Conclusão patients with severe closed head injuries. Heart Lung
1984;13;372-80.
Nossos resultados indicam que de uma forma geral, a 10. Garrard J, Bullok M. The effect of respiratory therapy on
fisioterapia pode ser realizada sem maiores problemas em intracranial pressure in ventilated neurosurgical patients. Aust
pacientes com TCE ou AVC na fase aguda. A aspiração J Physiother 1986;32:107-11.
traqueal, quando bem indicada, é inevitável e vital, mas deve 11. Imle PC, Mars MP, Eppinghaus CE et al. Effects of chest
ser cautelosa, rápida e realizada sempre que possível com o physiotherapy (CPT), positioning on intracranial pressure
(ICP) and cerebral perfusion pressure (CPP). Crit Care Med
circuito de aspiração fechado nestes pacientes. Além da já
1988;16:382.
conhecida elevação da PIC durante a aspiração traqueal, 12. Ersson U, Carlson II, Mellstrom A, et al. Observations on
apenas a flexão lateral do tronco inferior e a compressão intracranial dynamics during respiratory physiotherapy in
torácica unilateral contínua mostraram elevação da PIC, unconscious neurosurgical patients. Acta Anaesthesiol Scand
devendo estas condutas serem evitadas ao máximo em 1990;34:99-103.
pacientes com HIC. 13. Laffey G. Hypocapnia. N Eng J Med 2002;347:43-53.
14. Brimioulle S, Moraine JJ, Norrenberg D et al. Effects of
Agradecimentos positioning and exercise on intracranial pressure in a
neurosurgical intensive care unit. Phys Ther 1997;77: 1682-9.
Aos meus pais, pela revisão da gramática na língua 15. Hill CI, Nixon CS, Rulhmeier JL, Wolf LM. Brain tumors.
Phys Ther 2002;82:496-502.
portuguesa e inglesa. A todos os 32 fisioterapeutas da equipe
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 443

16. Konecne SM. Central Nervous Neoplasms. In: Goodman C, com Traumatismo Cranioencefálico e Escala de Coma de Glasgow
Boissonnault W (Eds) Pathology: Implications for the physical menor ou igual a oito. Fisioter Bras 2003;4(1):25-31.
therapist. Philadelphia, PA: Saunders; 1998. p.702-22. 20. Harris JE, Eng JJ, Marigold DS, Tokuno CD, Louis CL.
17. Matamoros MR e Manreza LA. Noções sobre a Relationship of balance and mobility to fall incidence in people
monitorização da pressão intracraniana. Em: Stávale MA. with chronic stroke. Phys Ther 2005;85: 150-8.
Bases da terapia intensiva neurológica. 1 ed.. São Paulo; 1996. 21. Jorgensen L, Engstad T, Jacobson BK. Higher incidence of
p.359-74. falls in long-term stroke survivors than in population controls:
18. Davies P. Deslocando-se e sendo deslocado na posição deitada depressive syntoms predict falls after stroke. Stroke
e sentada. Em: Davies P. Recomeçando outra vez. 1 ed. São 2002;33:542-7.
Paulo; 1997. p. 129-90. 22. Hyndman D, Ashburn A. People with stroke living in the
19. Nemer SN, Caldeira JB, Azeredo LM e col. Avaliação da Escala de community: attention deficits, balance ADL ability, and falls.
Medição da Locomoção Independente Funcional em pacientes Desabil Rehabil 2003;25:817-22.
444 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Artigo original

Influência da prática regular de futebol sobre


a elasticidade da cadeia muscular cinética
reta posterior de jovens
Influence of the soccer practice on the elasticity of the posterior
muscular chain in young men
Nuria López Sendín*, Francisco Alburquerque Sendín**, Miguel Santos del Rey***, Erika Quintana Aparício****,
José Rubens Rebelatto, D.Sc.*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, bolsista da Universidad de Salamanca (Espanha), **Docente da E.U. Universidad de Salamanca (Espanha), ***Professor
Titular E.U. Dpto Anatomía e Histología Humanas, Universidad de Salamanca, ****Fisioterapeuta, *****Docente do Depto. de
Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (SP), Bolsista do CNPq

Resumo Abstract
No presente estudo foi realizada a avaliação da elasticidade da This study evaluated the elasticity of the legs posterior muscular
cadeia muscular cinética reta posterior (CRP) de jovens futebolistas chain of soccer players (n = 100), youthful and amateur, of
(n = 100) pertencentes às categorias juvenil e amador (16 a 25 Salamanca City (Spain). Data were compared with ones of young
anos) de duas escolas de futebol da cidade de Salamanca (Espanha), colleges students (37) of similar age, that did not play soccer. The
estabelecendo uma comparação com os resultados obtidos em degree of elasticity of the hamstrings and triceps surae muscles was
uma população (n = 37) de estudantes universitários (grupo evaluated by means “straight leg rising” and “zero test”. For the
controle), de idade cronológica similar, e que não praticavam o measure of the global elasticity of the posterior muscular chain
esporte regularmente. Foi avaliado o grau de elasticidade da was used the “sit and reach” test. The data had been analyzed
musculatura isquiotibial e do tríceps sural de ambos os membros with statistical program SPSS 11.0 (descriptive analysis, test T-
inferiores, utilizando-se o teste de elevação da perna estendida Student for independent samples and coefficient of Pearson).
(EPR) e o método do zero. Para a medida da flexibilidade global The results disclose that soccer practitioners had presented superior
da CRP foi utilizado o método sit and reach. Os dados foram elasticity of the hamstrings muscles and inferior elasticity of the
analisados com o programa estatístico SPSS (análise descritiva, triceps surae muscles. The global elasticity did not present significant
Test T- Student e coeficiente de Pearson). Os resultados revelam differences.
que, quando comparados com o grupo controle, os praticantes de Key-words : muscular chain, soccer, hamstrings muscles.
futebol apresentaram elasticidade superior da musculatura
isquiotibial e elasticidade inferior da musculatura do triceps sural.
Em relação à elasticidade global não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas.
Palavras-chave: cadeia muscular, futebol, elasticidade
isquiotibial.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução da saúde física, ambas as características se relacionam de forma


direta com a integridade do aparelho locomotor, fato que faz
A definição de “esporte de competição” possui duas com que a exploração das características físicas do esportista
características fundamentais que o diferenciam do exercício se constitua em um pilar básico no âmbito das avaliações
físico usual: a especialização precoce ou dedicação quase que médico-desportivas habituais. Dessa forma, é possível prevenir
exclusiva a uma determinada modalidade a partir de uma idade alterações e corrigir fatores de risco que possam incidir de
precoce, e o caráter competitivo da mesma. Do ponto de vista forma negativa sobre a saúde e a prática esportiva [1,2,3].

Recebido 18 de agosto de 2005; aceito 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: José Rubens Rebelatto, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, Rod. Washington Luiz Km
235, 13565-905 São Carlos SP, E-mail: rubens@power.ufscar.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 445

A influência da prática esportiva sobre a elasticidade Foram utilizados, para a realização das medidas: balança
miotendinosa (distância funcional máxima entre a origem e (Tefal Sensitive Computer, 0,1 kg de precisão); altímetro para
a inserção de um músculo, grupo ou cadeia muscular) do pés (Medicontrol, 0,1 cm de precisão); caixa de antropometria
esportista, tem sido analisada por diferentes autores. Nessa (Psymtec); goniômetro de braços longos (Kum-Onit, precisão
direção, parece que a população jovem que pratica uma 0,5º) e goniômetro simples (Enraf Nonius, precisão 2º).
determinada atividade física tem maior flexibilidade corporal Todos os sujeitos foram submetidos a uma avaliação
geral do que aquela que não o faz, simplesmente pelo fato fisioterapêutica individual, registrada em uma ficha de
de se submeter a um treinamento específico, mais ou menos avaliação normal, após o consentimento livre e informado
adequado. No entanto, a literatura também descreve que a prévio de cada um. As medidas envolvidas nos testes
especialização esportiva precoce (pela solicitação dos grupos selecionados foram realizadas pelo mesmo investigador
musculares envolvidos na técnica da própria modalidade (fisioterapeuta), com o sujeito descalço e despido.
esportiva realizada) pode determinar a diminuição dessa Inicialmente foram anotados os dados pessoais de cada
flexibilidade durante a idade de crescimento [4]. atleta, com destaque para as informações relativas aos anos
A exploração da elasticidade miotendinosa no esportista de vida esportiva no futebol e de lesões antecedentes. Como
como parte de suas características físicas reside em duas dados gerais foram medidos o peso e altura de cada sujeito.
considerações fundamentais. A primeira se refere ao fato O grau de elasticidade da musculatura isquiotibial de ambos
de um déficit dessa elasticidade miotendinosa poder os membros inferiores foi medido por meio do teste de
determinar uma diminuição da amplitude de mobilidade elevação da perna estendida (EPR), também denominado
articular do indivíduo, repercutindo de forma considerável Straight leg rising (SRL) [2,3,8,9]. Dessa maneira, a partir da
sobre seu sistema postural envolvendo pelve e coluna [5], avaliação goniométrica, com a flexão passiva da articulação
chegando a ser responsável por alterações como cifose, coxofemoral, foram adotados os valores referidos por
inversões de curvatura ou outros transtornos específicos Santonja [3]: grau 0 (normal) graduação igual ou superior a
como espondilolistese e hérnias discais [3,6,7]. A segunda é 75; grau I (encurtamento isquiotibial moderado) valores entre
relativa ao fato de uma aparente relação entre a falta de 61º-74º; grau II (encurtamento pronunciado) ângulo menor
elasticidade miotendinosa e a incidência de lesões esportivas, que 60º. O grau de elasticidade do músculo tríceps sural, de
tanto de caráter agudo quanto crônico. Como exemplo desta ambos os membros, foi medido por meio do “método do
possível relação pode ser citada a “síndrome de encurta- zero”, diferenciando, a partir do ângulo máximo de flexão
mento da musculatura isquiotibial”, fator de risco para dorsal do tornozelo, a extensibilidade do sóleo (joelho fletido)
patologias conhecidas, como a pubalgia do futebolista [2,3,8]. e a extensibilidade conjunto do sóleo e dos gêmeos com o
Com essas premissas, o objetivo do presente estudo foi o joelho estendido [3,10,11]. O valor normal de referência
de analisar a possível influência da prática regular de futebol adotado para a flexão do tornozelo foi de 20 graus.
sobre a elasticidade global da cadeia muscular reta cinética Finalmente, para identificar o grau de elasticidade da CRP
posterior (CRP), sobre a elasticidade da musculatura isquiotibial foi realizado o teste sit and reach, empregando uma caixa
e sobre o tríceps sural de duas categorias de jovens atletas. antropométrica com régua milimetrada e solicitando ao sujeito
(sentado) uma flexão anterior máxima do tronco. Foram
Material e métodos determinados os valores negativos quando os dedos não
alcançavam a caixa, valor zero quando a tocavam e os
Participaram deste estudo 137 indivíduos masculinos, sem respectivos valores de deslocamento da régua quando isso
histórico de traumas que pudessem impedir o treinamento e acontecia [3,9,12,13]. Como referência de normalidade foi
as medidas, de idade compreendida entre 15 e 25 anos, que adotado o valor igual ou maior a 5 cm. Os dados foram
constituíram dois grupos. O primeiro grupo foi composto analisados pelo programa estatístico SPSS 11.0. Foram
por 100 jovens futebolistas (prática superior a 12 horas calculadas as médias, desvios e frequências correspondentes
semanais), sendo 61 juvenis e 39 amadores, pertencentes a à análise descritiva. Na análise comparativa utilizou-se a
duas escolas de esportes (UDS-SAD e UD St. Marta) da prova T-Student para amostras independentes (p < 0,05).
cidade de Salamanca (Espanha), que possuíam características Para a análise de correlações bivariadas, utilizou-se o
distintas em relação ao esquema de treinamento, preparação coeficiente de Pearson (p = 0,01).
física e competição. O segundo grupo (controle) foi constituído
por 37 jovens universitários da Universidad de Salamanca, Resultados
de idade cronológica similar, sendo que o principal critério de
inclusão foi o fato de não haver praticado esporte Resultados gerais: idade, peso, altura e
regularmente nos últimos anos. Para análise comparativa entre anos de vida desportiva
futebolistas e não futebolistas, considerou-se como
pertencentes ao primeiro grupo somente a categoria amadora A média de idade é similar para os três grupos principais
por similaridade de idade com o grupo controle. do estudo, sendo superior para o subgrupo de futebolistas
446 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

amadores. As médias do peso e da altura da amostra total é peso corporal e maior altura. Os valores médios dos anos
de 72,9 kg e 175 cm, respectivamente. Esses valores são de vida esportiva são relativamente altos no grupo de
semelhantes para os dois grupos de futebolistas e superiores futebolistas, indicando o alto grau de especialização precoce
para os indivíduos do grupo controle que apresentam maior dos atletas avaliados (ver Tabela I).

Tabela I - Resultados descritivos: dados gerais dos atletas.

UDS-SADN=52 UD St.MartN=48 ControleN=37 JuvenisN=61 AmadoresN=39

Idade (anos)) 18,77 ± 2,10 19,00 ± 2,74 20,00 ± 2,48 17,41 ± 0,99 21,08 ± 1,91
Peso (kg) 72,22 ± 7,82 71,62 ± 7,91 75,61 ± 8,48 70,67 ± 7,86 73,92 ± 7,47
Altura (cm) 174,52± 5,72 173,69± 6,24 177,23± 6,05 173,10± 6,27 175,74 ± 5,12
Vida esportiva (anos) 9,25 ± 2,60 9,69 ± 2,77 - 8,2 ± 1,82 11,44 ± 2,62

Valor: Media ± desvio padrão

A elasticidade da musculatura isquio- No entanto, os valores do grupo controle são inferiores (62
tibial e do tríceps sural ± 8,3º e 62 ± 8,9º nos membros esquerdo e direito
respectivamente). Os maiores valores médios são dos
Como pode ser observado na Tabela II, os dados obtidos jogadores amadores. No entanto, é importante destacar que
são próximos nos grupos de futebolistas, os quais apresentam todos os valores como descrito por Santoja [3]1, estão na
média entre 66 e 67 graus em ambos os membros inferiores. faixa de “encurtamento moderado”.

Tabela II - Análise descritiva. Elasticidade da cadeia muscular cinética reta posterior (CRP).

UDS-SAD N=52 UDSt.Mart N=48 Controle N=37 Juvenis N=61 Amadores N=39

ELASTICIDADE DA MUSCULATURA ISQUIOTIBIAL (em graus)

EPR MI esq. 66,4 ± 7,7 66,9 ± 3,6 61,7 ± 8,3 65,7 ± 5,5 68,1 ± 6,7
EPR MI dir. 66,9 ± 7,2 67,2 ± 4,0 61,5 ± 8,9 66,3 ± 5,4 68,1 ± 6,5

ELASTICIDADE DO TRÍCEPS SURAL (em graus)

Sóleo MI esq. 97,7 ± 6,0 100,1 ± 5,1 103,0 ± 5,4 98,3 ± 5,9 99,7 ± 5,3
Sóleo MI dir. 96,0 ± 5,5 97,2 ± 4,6 100,2 ± 5,6 96,1 ± 4,9 97,3 ± 5,4
Tríceps suralMI esqu. 94,8 ± 4,8 93,2 ± 4,0 94,3 ± 4,8 93,4 ± 4,1 95,0 ± 4,9
Tríceps suralMI dir. 92,1 ± 4,4 90,8 ± 3,4 92,9 ± 6,4 90,9 ± 3,5 92,4 ± 4,6

ELASTICIDADE GLOBAL DA CRP (em cm)

“Sit and reach” 5,04 ± 10,54 -0,57 ± 8,02 -0,01± 9,39 1,46 ± 9,97 3,74 ± 9,44

Em relação ao tríceps sural, tanto a análise por grupos Figura 1 - Gráfico da análise da elasticidade do tríceps sural por grupos.
como por categorias (Tabela II e Figura 1), mostram valores
médios superiores para o membro inferior esquerdo quando
comparado com o direito. O mesmo se verifica no tocante
à medida da elasticidade isolada do sóleo, sendo que essas
são muito próximas para os jogadores da UD St. Marta e os
indivíduos do grupo controle, e sensivelmente inferiores para
os atletas da UDS-SAD.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 447

A elasticidade global da CRP isquiotibial. No que tange à elasticidade do tríceps sural, os


futebolistas da UD. St. Marta apresentam maior elasticidade
Como indicam os dados expostos na Tabela II e na Figura do músculo sóleo do membro esquerdo do que os jogadores
2, os valores médios dos atletas da UDS (5,0 ± 10,5 cm) da UDS-SAD. A elasticidade global da CRP é superior nos
são superiores aos dos outros grupos. No que se refere à atletas da UDS-SAD do que os da UD St. Marta.
análise por categorias, os valores dos atletas amadores são
superiores aos dos atletas juvenis. Tabela IV - Análise comparativa entre os atletas dos dois clubes esportivos.

Figura 2 - Gráfico da análise da elasticidade do triceps sural por grupos. Comparação entre futebolistas da UD
UD.. Salamancae da
UD
UD.. St. Marta

Variável Teste T - Student

Idade t
0,05 91,874
= 0,028 ; p = 0,978
Peso 0,05 98
t = 0,385 ; p = 0,701
Altura 0,05 98
t = 0,695 ; p = 0,489
Anos de vida esportiva 0,05 98
t = - 0,814 ; p = 0,417
Teste EPR MI esq. t
0,05 73,164
= - 0,412 ; p = 0,681
Test EPR MI dir. t
0,05 81,515
= - 0,314 ; p = 0,754
Sóleo MI esq. t
0,05 98
= - 2,132 ; p = 0,036 *
Sóleo MI dir. 0,05 98
t = - 1,183 ; p = 0,240
Tríceps sural MI esq. 0,05 98
t = 1,928 ; p = 0,057
Tríceps sural MI dir. 0,05 98
t = 1,540 ; p = 0,127
Teste “sit and reach
reach”” 0,05 t 94,628 = 3,006 ; p = 0,003 *

Comparação entre indivíduos futebolistas * Diferença estatísticamente significativa p < 0,05.


e não futebolistas
Comparação entre atletas amadores e juvenis
Pela observação da Tabela III, verifica-se a ausência de
diferenças significativas para as variáveis idade, peso e altura Os resultados comparativos dos dados gerais (Tabela V)
entre os grupos. Por outro lado, existem diferenças estatisticamente permitem visualizar diferenças significativas em relação às
significativas em relação à elasticidade da musculatura isquiotibial, variáveis relacionadas com a idade cronológica (idade,peso, altura
com uma maior elasticidade bilateral deste grupo muscular nos e anos de vida esportiva). Contrariamente, existe uma relativa
futebolistas do que nos indivíduos do grupo controle. Por outro homogeneidade no que tange às variáveis relacionadas com a
lado, os indivíduos do grupo controle apresentam maior elasticidade miotendinosa: não aparecem diferenças significativas
elasticidade bilateral do isoladamente, que os futebolistas. Não nem em relação à elasticidade da musculatura isquiotibial nem
foram encontradas diferenças sóleo, quando avaliado significativas em relação ao tríceps sural e elasticidade global da CRP.
em relação à elasticidade global da CRP.
Tabela V - Análise comparativa entre atletas juvenis e amadores.
Tabela III - Análise comparativa entre futebolistas e não futebolistas.
Variável Teste T - Student
VARIÁVEL Teste T - Student
Idade 0,05
t 51,193
= -11,072 ; p < 0,001 *
Peso 0,05
t 74 = 0,925 ; p = 0,358 Peso 0,05
t 98 = - 2,061 ; p = 0,042 *
Altura t = 1,168; p = 0,247
0,05 74 Altura t = -2,204 ; p = 0,030 *
0,05 98
Teste EPR MI esq. t
0,05 69,005
= - 3,658 ; p < 0,001 * Anos de vida esportiva 0,05
t 61,401
= - 6,739 ; p < 0,001 *
Teste EPR MI dir. t
0,05 65,627
= - 3,678 ; p < 0,001 * Test eEPR MI esq. 0,05 98
t = - 1,945 ; p = 0,055
Sóleo MI esq. t = 2,750 ; p = 0,007 *
0,05 74 Teste EPR MI dir. 0,05 98
t = - 1,487 ; p = 0,140
Sóleo MI dir. t = 2,328 ; p = 0,023 *
0,05 74 Sóleo MI esq. 0,05 98
t = - 1,156 ; p = 0,250
Tríceps sural MI esq. t
0,05 74
= - 0,677 ; p = 0,500 Sóleo MI dir. 0,05 98
t = - 1,140 ; p = 0,257
Triceps sural MI dir. t = 0,401 ; p = 0,690
0,05 74 Tríceps sural MI esq. 0,05 98
t = - 1,851 ; p = 0,067
Teste “sit and reach
reach”” 0,05
t 74 = - 1,735 ; p = 0,087 Tríceps sural MI dir. t
0,05 66,436
= - 1,801 ; p = 0,76
Teste “sit and reach
reach”” 0,05
t 98 = - 1, 140 ; p = 0,257
* Diferença estatísticamente significativa p < 0,05.
* Diferença estatisticamente significativa p < 0,05.

Comparação entre atletas da UDS - SAD e


atletas da UD St. Marta Análise correlacional das variáveis

Não aparecem diferenças estatisticamente significativas A análise correlacional (p = 0,01) demonstra (ver Tabela
(Tabela IV), em relação à elasticidade da musculatura VI) relação linear positiva (0,01rxy = 0,841) entre os resultados
448 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

do teste EPR do membro inferior esquerdo com o do de 90º, a pelve começa a inclinar-se e, em consequência, a
membro inferior esquerdo, indicando considerável coluna lombar também é fletida. Assim, tanto um excesso
similaridade entre as condições de elasticidade miotendinosa. de flexibilidade dos extensores lombares com retroversão
Esse mesmo padrão se mantém na elasticidade do triceps pélvica, como uma excessiva flexibilidade dos extensores
sural, embora com valores inferiores (0,01rxy = 0,713 entre a dorsais que originem uma cifose dorsal exagerada podem
elasticidade do sóleo esquerdo e direito; 0,01rxy = 0,647 entre influir na amplitude de movimento obtida no teste.
a elasticidade conjunta do tríceps sural de ambos membros). Outra consideração que merece destaque é a homo-
Da mesma foram, a relação linear entre a elasticidade do geneidade da elasticidade miotendinosa observada entre os
sóleo e a conjunta do tríceps sural é positiva, embora com futebolistas juvenis e amadores, quando examinada sob a
coeficientes menores no membro inferior esquerdo (0,01rxy = ótica da relação entre flexibilidade e crescimento músculo-
0,660 para o membro direito e 0,01r xy = 0,511 para o esquelético. As investigações sobre flexibilidade e
esquerdo). adolescência, realizadas por Arregui et al. [4], apontam que o
crescimento ou as diferenças de idade entre juvenis e
Tabela VI - Análise correlacional. amadores não determinam diminuição nas condições de
V ariáveis P earson flexibilidade quando exploradas pelos testes selecionados,
ao menos que esta tenha sido produzida previamente à idade
EPR MI esq. EPR MI dir r = 0,841
0,01 xy juvenil (16 anos).
Sóleo MI esq. Sóleo MI dir. r = 0,713
0,01 xy
Tríceps sural MI esq. Tríceps sural MI dir. r = 0,647
Sóleo MI esq. Tríceps sural MI esq.
0,01 xy
r = 0,511
Conclusões
0,01 xy
Sóleo MI dirdir.. Tríceps sural MI dir dir.. r
0,01 xy
= 0,660
1. A prática regular de futebol, como atividade física,
Índice de significância p = 0,01. implica em uma solicitação das estruturas mioten-
dinosas do aparelho locomotor que influi na carac-
Discussão terística do morfotipo tanto do futebolista juvenil
quanto do amador.
Analisando os dados obtidos relativos à elasticidade da 2. O morfotipo dos futebolistas avaliados apresenta um
musculatura isquiotibial, chama a atenção a maior elasticidade encurtamento bilateral importante do tríceps sural, quando
do grupo de futebolistas em relação ao controle, mesmo os comparados aos indivíduos não praticantes do esporte.
primeiros sendo classificados no grau de “encurtamento 3. O morfotipo do futebolista amador, quando comparado
moderado” (61º-74º de acordo com Santonja et al. [3]). com o do juvenil não demonstra diferenças relevantes
Também é importante destacar o encurtamento bilateral da em relação à elasticidade miotendinosa da CRP.
musculatura do tríceps sural dos futebolistas quando 4. Parece existir uma influência importante da extensibilidade
comparada com os indivíduos não esportistas. Esses dois dos componentes capsoligamentosos e da elasticidade das
aspectos estão de acordo com as conclusões dos estudos estruturas miofasciais na avaliação da elasticidade global
das características físicas do futebolista juvenil e profissional da CRP medida pelo teste sit and reach.
realizados por Sainz de Baranda et al. [2]. Embora o método
de medição da elasticidade do tríceps sural tenha sido distinto Referências
entre um estudo e outro, o encurtamento dessa musculatura
1. Marin B, Sanz P, Legido JC, Vitoria M, Lazcano JL, Romero
nos futebolistas quando comparados com os não futebolistas
E, Marcos JF. Actividad Física y Deporte durante el crecimiento.
(ou futebolistas não profissionais, no caso do estudo do autor Oviedo: Servicio de Publicaciones de la Universidad de
citado), é um dado comum a ambos. Oviedo;1994.
As diferenças de extensibilidade destes dois componentes 2. Sainz de Baranda P, Ferrer V, Santonja F, Rodriguez P, Andújar
da cadeia muscular cinética reta posterior parecem anular- P. Morfotipo del futbolista profesional. Murcia: II Congreso
se quando se leva em conta a análise comparativa da Internacional de Educación Física y Diversidad; 2001.
elasticidade global da cadeia, na qual não aparecem 3. Santonja F, Martinez I. Valoración médico-deportiva del
diferenças com significância estatística entre futebolistas e escolar. Murcia, Universidad de Murcia. Secretariado de
não futebolistas. Este fato permite a reflexão sobre o objeto Publicaciones; 1992.
4. Arregui JÁ, Martinez V. Estado actual de las investigaciones
de medição do teste sit and reach e sobre a possível influência
sobre flexibilidad en la adolescencia. Rev Int Med Cienc Act
das condições dos elementos articulares e miotendinosos da
Fis Deporte 2001;2(1).
diversas regiões anatômicas que participam na sua realização. 5. Norris C. La guia completa de los estiramientos. Barcelona:
Ou mesmo da influência de possíveis desvios estruturais da Paidotribo; 2001.
coluna vertebral nos resultados do teste, como apontam 6. Ferrer V. Repercusiones de la cortedad isquiosural sobre la
Santonja et al. [3] e Gonzales [14]. Efetivamente, como pelvis y el raquis lumbar [tese]. Murcia: Universidad de Murcia;
aponta Norris [5], quando a coxofemoral se flexiona a mais 1998.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 449

7. Fisk JW, Baigent M, Hill P. Scheuermann’s disease. Clinical Réadaptacion 1998;26(8):14.


and radiological survey of 17 and 18 years old. Am J Med 11. Van Deusen J. Assessment in occupational therapy and physical
Rehab 1984;63(1):18-30. therapy. Nova Iorque: Philadelphia; 1997.
8. Busquet L. Las cadenas musculares (III). La Pubalgia. 12. Buckup K. Pruebas clínicas para patología ósea, articular y
Barcelona: Paidotribo; 1995. muscular. Barcelona: Masson; 1997.
9. Hoppenfeld S. Exploración física de la columna vertebral y las 13. Consejo Superior de Deporte. Eurofit. Madrid: Ministerio de
extremidades. Ciudad del México: El Manual Moderno; 1997. Educación y Ciencia; 1992.
10. Delarque A, Mesure S, Rubino T, Curvale G, Bardot A. Bilan 14. Gonzalez I. Validación de pruebas de campo para la medición
articulaire de l’articulation talocrurale (cheville) et du pied chez de la flexibilidad y su relación con la estructura corporal [tese].
l’adulte. Encycl Méd Chir, Kinésithérapie-Médecine physique- Murcia: Faculdad de Biologia, Universidad de León: 1997.
450 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Revisão

Vertigem posicional paroxística benigna:


diagnóstico cinesiológico funcional
Benign positional paroxysmal vertigo: kinesiology -
functional diagnosis
Nícolas Aprígio Koenigkam*, Juliano Bergamaschine Mata Diz*, André Luís dos Santos Silva**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas, Especialistas em Fisioterapia Neurofuncional, Universidade Castelo Branco (UCB) Volta Redonda RJ, **Fisioterapeuta,
Coordenador Pós-Graduação Fisioterapia Neurofuncional Atlântica Pós-graduação / Universidade Castelo Branco.

Resumo Abstract
A proposta deste estudo é discutir testes e técnicas The proposal of this study is to discuss new kinesiology tests
cinesiológicas, de competência fisioterapêutica, para o diagnóstico and techniques within physical therapy scope in order to facilitate
da Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB). Foram revistas the Benign Positional Paroxysmal Vertigo (BPPV) diagnosis. Had
publicações recentes sobre o assunto, do período de 1999 a 2004, been reviewed recent publications on the subject of the 1999 until
através de periódicos especializados, das fontes Bireme, PeDro, 2004 period through sources Bireme, PeDro, Pubmed, specialized
Pubmed e internet, onde foram propostas novas técnicas de periodics and Internet, in where it was proposed new kinesiology
abordagem e avaliação cinesiológica do paciente vestibulopata. boarding and evaluation techniques in the treatment of the
Como resultados, a literatura consultada apresentou que a dizziness patient. As results, the consulted literature presented
observação, a identificação e as características do nistagmo, perante that the comment, the identification and the characteristics of the
alguns testes posicionais, ainda é a melhor ferramenta para nystagmus, in the presence of some positional tests, still are the
identificação do canal semicircular (CS) acometido pelo depósito best tool for identification of the semicircular channel (CS) attacked
de otocônias. A maioria dos autores concluiu que, para a by the deposit of debris of otolith. The majority of the authors
identificação do tipo de VPPB, a duração da vertigem ou sintoma had concluded that, for the identification of the type of VPPB,
subjetivo, e do nistagmo ou sintoma objetivo, podem identificar the duration of the vertigo or subjective symptom, and the
se as otocônias estão livres no canal semicircular ou aderidas à duration of the nystagmus or objective symptom, it is capable to
cúpula, caracterizando a ductolitíase e a cupulolitíase, respecti- identify if the debris of otolith are free-floatting in the semicircular
vamente. canal or adhered to the cupula, characterizing ductolithiasis and
Palavras-chave: vertigem posicional paroxística benigna, cupulolithiasis, respectively.
diagnóstico cinético-funcional, reabilitação vestibular. Key-words: benign positional paroxysmal vertigo, kinesiology
functional diagnosis, vestibular rehabilitation.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é uma doença


comum, freqüente em otoneurologia, muitas vezes de fácil
O equilíbrio corporal é mantido em função da interação de diagnóstico e tratamento. A VPPB clássica pode ser
diversos sistemas (vestibular, visual e proprioceptivo), sob a diagnosticada através de técnicas cinesiológicas, porém em muitos
coordenação do cerebelo. As informações provenientes desses casos está associada a outras disfunções vestibulares.
sistemas devem ser coerentes. Quando existem informações Simoceli et al. [2], ao caracterizarem as causas de
conflitantes, o resultado é um desequilíbrio corporal [1]. A alterações do equilíbrio em pacientes idosos, verificaram

Artigo recebido em 23 de novembro de 2004; aceito 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Nícolas A. Koenigkam, Rua das Margaridas, 163 Morada da Colônia 2, 27353-050 Barra Mansa RJ, Tel: (21)
8198-4359, E-mail: nicolas_fisio@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 451

que, na maioria das vezes, a VPPB está associada a uma ou Considerações anatomofisiológicas do
mais patologias vestibulares e/ou osteomusculares. Embora sistema vestibular
de evolução benigna, pode se tornar perigosa, pois há risco
de que determinado paciente venha a ter uma crise súbita Segundo Parnes, Agrawal & Atlas [3], o aparelho
em um local no espaço onde a segurança é precária, trazendo vestibular tem importância fundamental para os seres que
então sérios danos à saúde [3]. se orientam no ambiente terrestre através dos órgãos
A proposta dessa revisão qualitativa de literatura é mos- otolíticos que se encontram na orelha interna. Conforme
trar os principais métodos, técnicas e testes, de competência Pedalini et al. [9], o sistema vestibular representa um
fisioterapêutica que, associadas ao diagnóstico clínico, complexo neural de caráter somato-sensitivo que monitoriza
permite a identificação da VPPB assim como o canal semi- a posição e os movimentos relativos à cabeça com relação
circular (CS) acometido através da investigação e identificação ao campo gravitacional, e usa essa informação para regular
do nistagmo, para que seja estabelecida uma abordagem de forma automática a postura corporal e estabilizar a visão,
fisioterapêutica correta. Pretende-se, também, demonstrar contribuindo para a percepção de nossos movimentos e
os principais sinais e sintomas que diferem a VPPB de outras posicionamento corporal no campo gravitacional de
vestibulopatias de origem periférica, e se corresponde a uma referência.
cupulolitíase ou canalitíase. Hungria [7] afirma que o aparelho vestibular, ou estato-
acústico, é composto por dois órgãos sensoriais intimamente
Definição e terminologia relacionados. O aparelho acústico desempenha uma de nossas
funções primárias, a audição. E o aparelho vestibular, que,
A vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é um em conjunto com os olhos e o sistema proprioceptivo,
distúrbio vestibular no qual os pacientes relatam breves desempenha uma importante função na manutenção do
momentos de vertigem e/ou leve instabilidade postural, equilíbrio corporal. Para Nachum et al. [10], a sensação de
ocasionados por uma mudança brusca da movimentação equilíbrio e bem-estar em relação ao plano gravitacional
cefálica ou corporal [4]. Segundo Boaglio et al. [5], esta depende da integração simultânea e harmônica do sistema
condição pode aparecer isoladamente ou associar-se a outras vestibular, visual e somato-sensitivo.
patologias labirínticas, normalmente desencadeando e/ou Herdman [11] caracteriza o sistema vestibular como um
exacerbando uma crise vertiginosa. conjunto de três componentes responsáveis que interagem
Burman, Goswami & Majumdar [6] definem a vertigem entre si promovendo a sensação de equilíbrio e posicio-
como estado de desorientação do corpo no espaço. De namento corporal: o aparelho sensorial periférico, o proces-
acordo com Hungria [7], a vertigem sempre indica um sador central e o mecanismo de respostas motoras. Os
desequilíbrio entre as interações vestibulares, apesar do sistemas sensoriais periféricos são aqueles responsáveis por
sintoma por si não indicar onde essa alteração se origina; se trazerem informações ao sistema nervoso central [SNC]:
na orelha interna, nos receptores paravertebrais do pescoço, sistema visual, vestibular (labiríntico) e somato-sensitivo.
nos núcleos vestibulares, nas conexões cerebrais superiores Estes, por sua vez, trazem aferências aos núcleos vestibulares
ou no córtex cerebral. A vertigem pode ser classificada em e cerebelo, compondo, assim, o processador central que envia
dois tipos: vertigem objetiva, onde o paciente tem a sensação respostas motoras eferentes aos fusos musculares estabi-
de que os objetos e o meio estão girando em torno de si; e lizando a articulação na angulação desejada, assim como a
subjetiva, na qual o próprio indivíduo relata estar girando unidade muscular que deve ser recrutada.
em relação ao ambiente externo. Herdman [11] e Solomon [12] consideram fundamental
Segundo Furman & Cass [8], o termo “Vertigem Posicional o entendimento das conexões neuroanatômicas dos CS e
Paroxística Benigna” (VPPB) é usado para descrever uma sua relação com a musculatura extra-ocular (MEO) para a
alteração labiríntica onde a principal apresentação clínica é a compreensão do reflexo vestíbulo-ocular [RVO]. Segundo
vertigem. A palavra “benigna” é usada para diferenciar os esses autores, os CS estão ligados neurofisiologicamente com
tipos de vertigem causados por alterações labirínticas a MEO em um plano paralelo coplanar, possuindo com-
periféricas e aquelas causadas por alterações neoplásicas ponentes contralaterais e ipsilaterais, como exemplo: CS
centrais. De fato, porém, a VPPB pode ser severa, causando posterior [CSP] direito é responsável por mandar aferências,
problemas e constante frustração ao indivíduo. O termo via núcleo vestibular, e posteriormente, via nervo oculo-
“paroxístico” reflete uma importante e essencial característica motor, para a contração dos músculos extra-oculares reto
dessa doença: a vertigem é episódica e não persistente. O uso superior e inferior esquerdos e oblíquo inferior direito.
do termo “posicional” implica uma associação particular entre No complexo nuclear vestibular, o processamento da
os sintomas do paciente e o posicionamento cefálico no plano aferência sensorial ocorre paralelamente às informações
gravitacional. Contudo, os sintomas estão mais associados com sensoriais extravestibulares (proprioceptiva, visual, táctil, e
os movimentos rotacionais cefálicos do que com a posição auditiva). Conexões extensivas entre o complexo nuclear,
final da cabeça no espaço. [8] cerebelo, núcleo oculomotor e sistema de ativação reticular
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no tronco encefálico são necessárias para a formulação de portadores de diabetes mellitus tipo I, que a alteração
sinais eferentes apropriados para os órgãos efetores de RVO metabólica causada pela doença também afeta o sistema
e reflexo vestíbulo-espinhal [RVE], musculatura extra-ocular vestibular, facilitando a saída de potássio e a entrada de
e esquelética [11]. sódio na endolinfa, fator este, que colaboraria para o
deslocamento das otocônias [19]. Bittar et al. [20] acres-
Prevalência e incidência centaram que os problemas relacionados ao metabolismo
de lipídios e às variações hormonais na mulher também
De acordo com Knobel et al. [13], a vertigem acomete contribuem pare esse fator. Oghalai et al. [21] comunicaram
10% da população mundial, sendo que mais de 40% dos que a fase pós-operatória de crânio e o repouso prolongado
adultos já tiveram o sintoma em alguma época de suas vidas. podem ser considerados como causas comuns, embora
Segundo Silva, Silva & Pereira [14], a incidência da VPPB é também tivessem afirmado que o mecanismo pelo qual as
alta, com 107 casos a cada 100.000 pessoas ao ano, e ocorre partículas saem do utrículo e caem no CS, na maioria dos
em 50% das pessoas que sofreram traumatismo craniano. casos, não é definido [21].
Resende et al. [4] afirmaram que a VPPB é um distúrbio Segundo Maia, Diniz & Carlesse [17], existem duas
vestibular freqüente em otoneurologia e prevalente no sexo teorias que embasam a sintomatologia apresentada pela
feminino. Parnes, Agrawal & Atlas [3] relataram que a VPPB VPPB. Na primeira teoria, chamada cupulolitíase, os
representa 17% das consultas médicas causadas pela fragmentos ficariam aderidos à cúpula do CS. Na segunda
vertigem, embora Velde [15] afirme que esse número está teoria, denominada canalitíase ou ductolitíase, os fragmentos
entre 17% e 30%. Segundo Pedalini [10], 30% da população não ficariam aderidos à cúpula, mas sim, flutuando na
idosa com mais de 70 anos já apresentou ao menos um endolinfa do CS. Em ambas as teorias, o movimento cefálico
episódio de VPPB. Em outro estudo sobre vertigem do paciente promoveria a movimentação dos fragmentos
periférica, Burman, Goswami & Majumdar [6] verificaram que, por sua vez, acarretariam uma estimulação inapropriada
que a VPPB é a causa mais comum de vertigem, da cúpula do CS e a excitação do nervo. Parnes, Agrawal &
representando 20% desta população. Atlas [3] completaram essa informação, afirmando que essas
partículas de otocônias se acumulam em quantidades críticas
Considerações fisiopatológicas nas porções gravitacional-dependentes do CSP. Com isso,
quando há mudança no plano gravitacional, essa massa
Conforme descrito por Parnes, Agrawal & Atlas [3], desloca-se, promovendo alterações hidrodinâmicas (variação
Herdman [11] e Maia, Diniz & Carlesse [16], estudos da pressão endolinfática), hiperestimulando ou permitindo
patológicos sugerem que cristais de carbonato de cálcio, que não haja deflexão cupular adequada, gerando assim um
fragmentos degenerados de otocônias da membrana do conflito sensorial sintomatologicamente representado pela
utrículo, deslocam-se para a região dos CSs, quase sempre o vertigem e instabilidade postural. Herdman [11] acrescenta
CSP. Solomon [12] concorda, revelando que o CSP é o que esse conflito sensorial causado pela deflexão errônea
mais acometido, representando 93% dos casos corretamente da cúpula pode, também, ser caracterizado pelo nistagmo,
diagnosticados como VPPB, sendo 85% unilateral e 8% dentre todas suas variações, e por náusea.
bilateral. O acometimento do CS Horizontal [CSH]
representa 5% dos pacientes com VPPB. De acordo com Diagnóstico clínico
Parnes, Agrawal & Atlas [3], essa prevalência se dá pelo
fato do CSP ser um segmento labiríntico gravitacional- A alta prevalência de queixas de distúrbios do equilíbrio
dependente, tanto na posição ortostática como na posição corporal associada a resultados normais nos testes vestibulares
supina, o que explicaria a tendência dos fragmentos de empregados na rotina de avaliação otoneurológica justifica
otocônias deslizarem até o CSP, e lá se alojarem. o estudo através de exames complementares mais precisos,
Velde [17] cita que são vários os fatores que facilitam o com o objetivo de identificar o grau de comprometimento
descolamento das otocônias do utrículo: trauma craniano, e a participação do sistema vestibular na gênese da tontura
fase pós estapedectomia, otite crônica supurada, labirintite do tipo rotatória [1].
viral, neurite vestibular, mastoidite, alterações hormonais - O exame otoneurológico baseia-se na integração funcional
muito estudadas atualmente, e processos degenerativos do sistema vestibular com o sistema visual, e consiste no registro
causados pelo envelhecimento humano normal. Júnior et al. da movimentação ocular por meio da vectoeletronistagmografia
[18] comprovaram em experimento que 92,5 % dos [22]. Hungria [7] afirmou que a maioria dos otoneurologistas
pacientes com alterações metabólicas apresentam queixas utiliza a electronistagmografia (ENG) para registro dos
vestibulares. Contudo, Scherer & Lobo [19] enfatizaram a movimentos dos olhos durante os estudos da função labiríntica.
importância de se considerar fatores metabólicos na pesquisa A vectoelectronistagmografia (VENG) também é muito utilizada
do nistagmo para diagnóstico da VPPB. Estes autores atualmente. Trata-se de um método de registro composto por
verificaram em uma pesquisa, realizada com 12 indivíduos três canais, permitindo-se, assim, a detecção de nistagmos em
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 453

direção oblíqua, sensibilizando ainda mais os recursos de de excitação da ampola do CSP. Porém, recentemente
diagnóstico. López [23] considerou que a VENG é o único verificou-se o envolvimento do CSH e CSA. Contudo, faz-
estudo que provê informações corretas da perda da fixação se importante o estudo dos nistagmos e sua relação anato-
ocular e que os registros com ENG podem levar a conclusões mofisiológica com os CSs [11].
errôneas durante uma avaliação em penumbra com os olhos Para um correto diagnóstico da VPPB, devem ser
abertos. Nesse sentido, a VENG seria suficientemente conclusiva investigadas a presença de alterações cardiovasculares,
para o diagnóstico da VPPB quando associada à manobra de síncopes secundárias a diminuição do fluxo sanguíneo,
Dix-Hallpike [23]. Assunção, Albertino & Lima [1] afirmaram desordem vestibular central, distúrbios psiquiátricos e
que os exames tradicionais de avaliação de RVO, como os patologias tireoideanas [28]. Deve-se levar em consideração,
testes calóricos e cadeiras rotatórias, utilizadas em conjunto à também, que a VPPB pode estar associada ou não a quaisquer
ENG e VENG, são fundamentais no diagnóstico de doenças outras desordens vestibulares, sejam periféricas ou centrais.
vestibulares. Já Flores & Franco [22] e Cahali et al. [24] O tempo da vertigem e o tipo de nistagmo gerado pela
acrescentaram que, após a realização do exame otoneurológico, VPPB são o suficiente para evitar um diagnóstico errôneo
através da VENG, e diagnosticado síndrome vestibular quanto a outras patologias vestibulares: síndrome de Meniére,
periférica, a mesma pode ser classificada como deficitária ou neurite vestibular, Schwanoma de acústico, insuficiência
irritativa. Esta última compatível com resíduos de cristais de vértebro-basilar, isquemia ou hemorragia cerebelar, tumor
carbonato de cálcio nos CSs (VPPB). Guerraz et al. [25] cerebelo-pontino ou quaisquer outras alterações centrais
salientaram o uso das Lentes de Frenzel (ou Óculos de Frenzel) [11,28]. O quadro abaixo (Quadro I) ilustra as diferenças
associadas às manobras posicionais de Dix-Hallpike para evitar sintomatológicas entre lesão vestibular periférica e central:
a supressão do nistagmo pela fixação ocular. Outros autores
discordam que essa fixação ocular ocorra, pois a concavidade Diagnóstico cinesiológico funcional
da lente não permite, e um equipamento infravermelho é
extremamente útil para gravação e avaliação do nistagmo para Segundo Boaglio et al. [5], o diagnóstico da VPPB baseia-
posterior diagnóstico de patologias periféricas ou centrais [26,27]. se na história clínica e exame físico, uma vez que a vertigem
e o nistagmo podem ser reproduzidos no consultório ao
Desenvolvimento movimentar-se a cabeça do paciente para a posição
provocativa de Dix-Hallpike. Mundialmente reconhecida,
Diagnóstico diferencial descrita por Dix e Hallpike em 1952 [apud 11], esta manobra
de provocação é a principal e mais comum ferramenta para
História do paciente diagnosticar a VPPB. Consiste na movimentação da cabeça
do paciente de forma a promover o deslocamento de
Apesar do entendimento da fisiopatologia da VPPB endolinfa e, conseqüentemente, da cúpula do CSP [11,17].
parecer simples, o diagnóstico e tratamento podem ser Na manobra Dix-Hallpike, o paciente está inicialmente na
desafiadores [8]. A história do paciente é o principal fator a posição sentada, com a cabeça rodada lateralmente
ser analisado para diagnosticar corretamente a VPPB [28]. (conforme o lado a ser testado), em aproximadamente 45º.
Herdman [11] afirmou que a VPPB pode ser diagnosticada Com o examinador segurando a cabeça do paciente,
espontaneamente, porém, na maioria das vezes, está associada promove-se um movimento de deitar em decúbito dorsal.
a traumas cranianos, isquemia e alterações cervicais que Ao ser deitado, não pode haver suporte para a cabeça,
comprometem o fluxo sanguíneo para o labirinto. Segundo deixando-a pendente 30º em relação ao plano sagital do
a mesma autora, deve-se pesquisar a relação das crises corpo [3,11,17]. Segundo López-Gentili, Kremenchutzky &
vertiginosas com mudanças posturais do dia-dia: rolar na Salgado [27], em 80% dos vestibulopatas a observação do
cama, abaixar para pegar um objeto, olhar para cima, sair nistagmo é fundamental para correto diagnóstico. Baba et
da cama, lavar o cabelo no banho, ir ao dentista ou ao salão al. [26] acrescentaram que essa observação é essencial para
de beleza. Após as crises, devem ser analisadas alterações diferenciar e avaliar as patologias vestibulares periféricas
no equilíbrio e marcha, assim como sensação de cabeça das centrais. Solomon [12] salientou três fatores que devem
cheia e de flutuação. Todos estes sinais estão relacionados ser levados em consideração ao analisar o nistagmo pós
com o conflito de informações causados pela VPPB [11]. manobra Dix-Hallpike: a latência, a direção e a duração do
nistagmo. A latência, geralmente um pouco mais de 10
Considerações topográficas quanto ao diagnóstico segundos; a direção, pois há conexões excitatórias com a
musculatura extraocular, vai depender do CS que está sendo
Inicialmente, acreditava-se que a VPPB só envolvia o estimulado e a direção em que as otocônias se movem. A
CSP, justamente porque o nistagmo observado mais duração do nistagmo, que corresponde ao tempo necessário
comumente era vertical para cima e torsional – característico para as partículas repousarem em uma nova localização após
454 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Quadro I - Diferenças sintomatológicas entre lesão vestibular periférica e central.

Vertigem PPeriférica
eriférica Vertigem Central

Sintomatologia Periférica Central


Vômito e náusea Moderado Severo
Nistagmo
€ Tipo horizontal-rotatório ou rotatório; nunca vertical. qualquer direção (Porém pode ser
puramente vertical).
€ Direção (refere-se a unidirecional (componente rápida na mesma direção pode ser bidirecional (mudanças de
ao componente rápido) indiferente da direção de fixação). direção dependem da direção de fixação).
€ Fixação suprimido pela fixação. não suprimido pela fixação.
€ Fatigabilidade nistagmo é menos intenso sob a repetição do teste nistagmo permanece com a mesma
de fixação lateral. intensidade independente do número de
testes de fixação lateral.
€ Intensidade aumenta quando a fixação é na direção da fase pode não haver alteração na intensidade
rápida, e diminui quando a fixação está ao contrário independente da fixação.
da fase rápida (Lei de Alexander).
Marcha
€ Desequilíbrio Moderado severo (normalmente incapaz de andar).
€ Quedas ou cambaleios para o lado oposto à componente rápida. quedas ou cambaleios para ambos os lados.
€ Teste de Romberg Oscilações para o lado oposto da direção oscilações para ambos os lados.
da fase rápida do nistagmo.
Perda auditiva Comum Rara
Sintomas neurológicos associados Nenhum comum (acometimento de nervos
cranianos, fraqueza muscular, dismetria
proeminente, alterações sensoriais e
reflexos anormais).
Manobra de Dix-Hallpike
€ Nistagmo Nistagmo rotatório em direção a orelha acometida; Nistagmos são de tipos variáveis e
diminui em até 50 segundos desde o início. persistentes.
€ Latência Sintomas começam de 1-5 segundos ou não muito após Sintomas podem começar imediatamente
a execução da manobra. após a manobra.
€ Cessação Cessação dos sintomas com a repetição da manobra. Não há cessação.

Modificado de Piggot et al. [28].

a mobilização [12]. López-Gentili, Kremenchutzky & Salgado andar rápido para frente e por meio de comando verbal do
[27] afirmaram que a duração do período de latência varia examinador, o mesmo deve girar, de forma brusca, 180º
de 10 a 20 segundos, podendo durar até um minuto. Para o no sentido correspondente ao lado a ser testado, realizando
diagnóstico de VPPB em CSH são aplicadas, principalmente, o trajeto de volta na mesma linha do trajeto de ida. Espera-
duas principais técnicas: o teste de deitar de lado e o thrust se por queixas vestibulares e desvio da marcha para o lado
cefálico lateral (movimento rápido e giratório da cabeça). comprometido.
No teste de Deitar de Lado, o paciente sai da posição supina Para Herdman [11], a VPPB clássica é caracterizada
para o decúbito lateral (lado a ser testado), onde espera-se a por episódios recorrentes de vertigem, que podem durar de
apresentação sintomatológica da VPPB. No thrust cefálico 10 a 15 segundos (canalitíase) ou cerca de 60 segundos
lateral, o paciente está deitado em decúbito dorsal, a cabeça (cupulolitíase). Estão geralmente associados ao nistagmo,
do paciente é elevada a cerca de 30º e o terapeuta realiza podendo caracterizar-se através de padrão vertical batendo
rotação rápida para o lado a ser testado [3,11,12]. Shubert para cima ou para baixo, associado ao padrão torsional, se
et al. [29] acrescentou que esse teste deve ser realizado de for por acometimento do CS Anterior [CSA] ou CSP e,
forma que o paciente não saiba o lado a ser testado para geotrópico ou ageotrópico se por acometimento do CSH.
que a fixação ocular não aconteça de forma antecipada. O quadro abaixo (Quadro II) correlaciona o tipo de nistagmo
Rahko [30] propôs o Teste Rahko WRW como principal apresentado durante o teste de Dix-Hallpike e Deitar de
ferramenta cinético-funcional para avaliação do CSH quando lado (mesmo resultado se espera no teste thrust cefálico):
se trata de uma VPPB. Segundo o autor, o paciente deve
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 455

Quadro II - Tipos de nistagmo apresentados durante o teste de Dix-Hallpike e Deitar de lado.

Tabela para diagnóstico de VPPB:

Dix-Hallpike Orelha direita Nistagmo torsional anti-horário + Batendo para cima < 60 seg Canalitíase CSP direito
> 60 seg Cupulolitíase CSP direito
+ Batendo para baixo < 60 seg Canalitíase CSA direito
> 60 seg Cupulolitíase CSA direito
Orelha esquerda Nistagmo torsional horário + Batendo para cima < 60 seg Canalitíase CSP esquerdo
> 60 seg Cupulolitíase CSP esquerdo
+ Batendo para baixo < 60 seg Canalitíase CSA esquerdo
> 60 seg Cupulolitíase CSA direito
Thrust cefálico Orelha esquerda Nistagmo geotrópico Canalitíase CSH (lado afetado é mais sintomático)
ou Teste ou direita
Deitado de Lado
Nistagmo ageotrópico Cupulolitíase CSH (lado afetado é mais sintomático)

Modificado de Herdman [11]

Bertholon et al. [31] afirmaram que, para o correto Plataforma de Força associado ao exame físico para avaliação
diagnóstico de VPPB de CSA, o paciente deve ser colocado do coeficiente de oscilação postural causado pelo conflito
em posição de Rose {posição semelhante ao final da manobra sensorial oriundo da VPPB. Identificaram, assim, as
de Dix-Hallpike). Se ocorrer o nistagmo batendo para baixo, adaptações músculo-esqueléticas ocorridas durante todo o
torsional e mais intenso para o lado examinado, confirma- período que houve a distorção sensorial, permitindo
se o acometimento do CSA ipsilateral ao teste. Segundo os estabelecer uma estratégia de tratamento global, adequando
mesmos autores, durante a prova de Dix-Hallpike, ambos corretamente cada paciente à terapia.
CSAs encontram-se parcial e biomecanicamente em posição
de deflagração e o teste pode caracterizar-se como bilateral Conclusão
sendo unilateral. O nistagmo pode se apresentar apenas
batendo para cima e torsional quando associado ao Através da presente revisão de literatura, foi possível
acometimento de CSP, já que este é o segmento labiríntico verificar que a VPPB pode ser facilmente diagnosticada
que favorece o depósito de resíduos de otocônias [31]. Rahko quando encontrada na for ma clássica, fazendo-se
[30], através de estudo experimental com 57 pacientes imprescindível a observação do nistagmo durantes os testes
portadores de VPPB em CSA, propõe um teste onde o específicos. Contudo, é importante ressaltar que a história
paciente se coloca em decúbito ventral com a cabeça fletida do paciente deve ser levada em consideração para que a
a 60º na cabeceira da maca. Dessa forma, o fisioterapeuta sintomatologia da doença seja compatível com VPPB:
faz rapidamente a extensão de pescoço com rotação cervical duração das crises, movimentos e posturas desencadeantes,
correspondente ao lado a ser testado. Contudo, pode-se história de trauma, cirurgia otoneurológica, doenças
confundir com resposta relacionada à artéria vertebral [14]. metabólicas, alterações hormonais e mudanças bruscas no
Oghalai et al. [21] afirmam que durante avaliação plano gravitacional (freada de carro, aterrissagem de avião,
cinesiológica, o paciente só pode ser categoricamente tráfego em serras).
diagnosticado com VPPB quando apresentar Dix-Hallpike Os estudos citados de diversos autores mostraram que
positivo. Segundo os mesmos autores, as provas dos passos o diagnóstico clínico deve estar sempre associado ao
de Unterberger-Fukuda e Romberg são ferramentas diagnóstico cinético-funcional, para que a inclusão ou
adicionais para a sensibilização de possível diagnóstico de exclusão de outras patologias vestibulares permitam ao
hipofunção vestibular. Silva et al. [32] destacaram que os fisioterapeuta estabelecer um plano de tratamento específico
testes de Alcance Funcional de Duncan e o Levante e Siga para cada paciente.
cronometrado (Timed Up and Go Test), assim como os demais Pôde-se concluir que o diagnóstico fisioterapêutico
citados anteriormente, são ferramentas extremamente úteis funcional da VPPB se baseia na identificação precisa do CS
para caracterização da hipofunção vestibular uni ou bilateral. acometido através da observação do nistagmo, onde sua
Segundo os mesmos autores, o Inventário de Deficiências duração nos permite diferenciar entre a canalitíase e a
da Vertigem (IDV) é de grande importância para avaliação cupulolitíase. A posição de Dix-Hallpike é a mais utilizada
dos distúrbios funcionais causados pela VPPB. Da mesma para avaliação do CSA e CSP. Os testes de Deitar de Lado
forma, o IDV deve ser usado para verificar a efetividade e o Thrust cefálico são recomendados para identificação de
do tratamento pós manobra de reposição e exercícios de VPPB em CSH. Portanto, recomenda-se a realização de
habituação [32]. Guerraz et al. [25] citaram o uso da estudos mais detalhados, com enfoque diagnóstico,
456 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

terapêutico e de prognóstico, através de ensaios clínicos 17. Velde GMVD. Benign paroxysmal positional vertigo Part II:
randomizados e com grupo-controle, a fim de se comparar A qualitative review of non-pharmacological, conservative
resultados de abordagens consagradas com as mais recentes treatments and a case report presenting epley’s “canalith”
e assim enriquecer a oferta de tratamento fisioterapêutico repositioning procedure”, a non-invasive bedside manoeuvre
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Rev Bras Otorrinolaringol 2001;67(5):1-6.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 457

Revisão

Modificações fisiológicas através do riso na interação


fisioterapeuta-paciente
Physiological modifications through laughter in physical therapist-
pacient relationship
Carolina Fontes Bispo*, Fernanda D. S. e Travagini Freire**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmica do 8º semestre do curso de Fisioterapia da UNIPLAC / FARPLAC – Faculdade de Reabilitação do Planalto Central,
Brasília – DF, **Orientadora, Fisioterapeuta, Especialista em Neurologia e Docente na UNIPLAC / FARPLAC – Faculdade de
Reabilitação do Planalto Central, Brasília – DF

Resumo Abstract
Este artigo visa enfatizar a importância do riso na interação This article emphasizes the importance of laughter on the
fisioterapeuta-paciente, assim como mostrar os efeitos fisiológicos physiotherapist-patient relationship, as well the physiological
do riso que podem ajudar na reabilitação do mesmo. Para effects of laughter that should help in the rehabilitation. This
elaboração deste estudo, foi feita uma pesquisa bibliográfica acerca study was based on bibliographical research of books, magazines
do tema proposto com base em material publicado em livros, and scientific articles. The humor causes comfort in everybody
revistas e artigos científicos. Partindo do fato que o riso causa um through physiological changes, also can help the patient on physical
bem estar em qualquer pessoa, através de suas mudanças and emotional rehabilitation. The humor makes the patient more
fisiológicas, conclui-se que também pode ajudar o paciente na sua motivated, resulting in a better acceptance of the treatment and
reabilitação física e emocional. O humor faz com que paciente the physicaltherapist-patient a good relation.
fique mais motivado, aumentando, assim, a sua aceitabilidade ao Key-words: laughter, humor, emotion.
tratamento e fazendo com que haja uma melhor interação entre o
fisioterapeuta e o paciente.
Palavras-chaves: riso, humor, emoção.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução facilmente. O riso facilita esse processo. Mas alguns estudos


relatam que o riso tem características inteiramente genéticas.
“O vento é como a mente e a areia é como o corpo; se você quiser A psicóloga Silvia Helena Cardoso, do Núcleo de Informática
conhecer o vento, observe o movimento da areia”. (autor desconhecido) Biomédica (NIB) da Unicamp, realizou uma pesquisa em
Hoje em dia a alegria e o riso são importantes aliados na 2000, no Instituto Edimed (Centro de Ensino e Pesquisa na
recuperação física e emocional de um paciente. Não devemos Área da Saúde) em Campinas, avaliando o ato de rir sob
ver o paciente apenas como uma patologia qualquer, e sim vários aspectos. Um desses aspectos é a própria origem do
enxergá-lo como um ser humano que está passando por riso. Por meio de um estudo com crianças deficientes visuais
uma dificuldade, e que, às vezes, precisa mais do que os nesta entidade de Campinas, sua hipótese era de que o riso
nossos cuidados fisioterapêuticos. é inato e instintivo. Se confirmada, a descoberta quebra o
O riso faz parte de um relacionamento entre pessoas, e mito de que o bebê aprende a rir com a mãe. Em suas
estas devem ser entretidas para absorver informações mais primeiras investigações, Silvia conseguiu captar a imagem

Artigo recebido em 6 de janeiro de 2005; aceito em 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Carolina Fontes Bispo, SHIN QL 12 conj 02 casa 11 Lago Norte 71515-225 Brasília DF, Tel: (61) 368-7582; E-
mail: carolfonbispo@globo.com
458 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

de uma criança cega rindo. A pesquisa objetivava verificar investigações sobre a influência do humor na saúde serem
o riso em cegos congênitos, observar como eles riem, relativamente novas (com pouco mais de duas décadas), a
identificando o padrão de vocalização, expressão facial e idéia de que o humor pode ajudar no tratamento é muito
motora. O fato de essas crianças rirem já é uma evidência antiga. Séculos antes de Cristo, o Santuário de Asclépio, em
de que o riso é genético, e não é preciso que a criança veja Atenas, era famoso por ser um centro em que a arte, a
alguém rindo, para que possa fazer o mesmo [1]. filosofia e a medicina apareciam associadas, e os doentes
Atualmente a risada tem sido objeto de estudos por se eram levados a espetáculos musicais e peças de teatro. No
tratar da expressão mais explícita do bom humor e da posi- século XVI, uma das prescrições mais comuns era ler ou
tividade. O riso tem um importante papel na redução dos ouvir histórias engraçadas. A alegria, defendiam os sábios
hormônios envolvidos na fisiologia do estresse, qualificando da época, “dilatava e aquecia o organismo”.
as respostas físicas e emocionais, reduzindo a dor e, sobre- O que parecia quase uma superstição medieval começou
tudo, melhorando a imunidade e reduzindo a pressão arterial. a ser levado a sério em 1979, com a publicação do livro A
As pessoas que sabem se divertir e rir são, geralmente, mais força curadora da mente, escrito pelo americano Norman
saudáveis e capazes de sair de situações de estresse com Cousins. Quinze anos antes, os médicos diagnosticaram-lhe
mais facilidade [2]. uma doença degenerativa, que afetava a coluna vertebral, e
Ao elaborar o tratamento de um paciente, devemos tratá- deram-lhe poucos meses de vida. Depois de ter estado
lo como um todo (físico e emocional) [3]. Como o provérbio internado durante algum tempo, Cousins decidiu pedir alta,
citado diz, podemos comparar a mente com o vento e o por não suportar o ambiente frio, impessoal e restritivo do
corpo com a areia. Não basta apenas o empenho e técnicas hospital. Contratou uma enfermeira e instalou-se em um
específicas empregadas pelo fisioterapeuta, se o paciente bom hotel. Com o corpo quase inteiramente paralisado,
não mantém o mesmo empenho. Por isso este tem que estar recebia todas as tardes visitas de amigos e assistia com eles
equilibrado emocionalmente, para que possa colaborar com a comédias televisivas. Observou que após uma tarde de
o fisioterapeuta durante o tratamento, conseguindo, dessa confraternização, dormia melhor, comia com mais apetite e
forma, bons resultados na reabilitação física. E o riso faz ganhava ânimo para o tratamento fisioterapêutico. A
com que a aceitabilidade do tratamento pelo paciente recuperação foi de tal modo espantosa que deu origem ao
aumente, alcançando-se esses resultados com maior êxito. livro [4].
Após os escritos engraçados e comoventes de Cousins,
Desenvolvimento o humor tornou-se objeto de investigação e dos estudos
escolásticos. Já passou por fases de aceitação e o resultado
Este estudo pretende enfatizar a importância do riso na foi um conjunto de estudos escritos, incluindo trabalhos que
interação fisioterapeuta-paciente, assim como mostrar os revelam a credibilidade necessária de incluir o humor na
efeitos fisiológicos do riso que podem ajudar na reabilitação otimização dos cuidados de saúde e um reconhecimento de
do mesmo. E, conseqüentemente, mostrar que o bom humor que este facilita a nossa própria sobrevivência enquanto
facilita o trabalho do fisioterapeuta, sem que se perca a enfrentamos tensões cotidianas [5].
seriedade profissional, além de motivar o paciente, assegu- Apesar de existirem na literatura algumas referências
rando uma melhor qualidade e especificidade no processo acerca de pessoas que se curaram ou melhoraram de várias
de reabilitação. doenças físicas ou psíquicas com a utilização do humor e
Para elaboração deste trabalho, foram utilizados artigos, do riso, o humor apresenta-se como uma estratégia
em bases de dados de pesquisa, tais como Lilacs, Medline e terapêutica que nem sempre é aplicada pelos profissionais
Capes. Alguns artigos foram adquiridos através do Ministério da área de saúde [5].
da Saúde e no Cento de Documentação – OMS (Organi-
zação Mundial da Saúde). Também foi realizada uma pes- A saúde e o riso
quisa bibliográfica acerca do tema proposto com base em
material publicado em livros e revistas. Rir é o melhor remédio: não cura e não substitui os
Depois de coletados os dados referentes ao tema, foi tratamentos clínicos e fisioterapêuticos, mas faz com que
feita uma seleção para saber qual teria validade para análise ocorram mudanças fisiológicas, proporcionando ao paciente
neste estudo, pois não foram encontrados materiais que uma sensação de bem estar. O humor faz com que o paciente
falassem diretamente sobre a influência que o riso tem no fique mais motivado, facilitando a evolução do seu
tratamento fisioterapêutico, e sim de um modo inespecífico. tratamento fisioterapêutico. Não se trata apenas de uma
atitude localizada na face, mas um ato que contagia o corpo
História da influência do humor na saúde todo [6].
Nem todo mundo vê o riso e a alegria como aliados na
Em reportagem na Revista Veja realizada por Pastore e reabilitação. Mas é importante ressaltar que já existem fatos
Poles (11 de julho de 2001) foi constatado que apesar das comprovados de que, quando rimos, liberamos endorfina,
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 459

que provoca uma sensação de bem estar, além disso, o riso importantes substâncias opióides [9].
faz com que o paciente se sinta mais à vontade e mais Tipicamente, os opiáceos inibem a atividade neural nas
estimulado com o tratamento [7]. Há também uma redução vias nociceptivas. Acredita-se que a ação pré-sinaptica dos
da liberação dos hormônios associados ao estresse, cortisol opiáceos, nos terminais aferentes nociceptivos, impeça a
e adrenalina, o que é uma ocorrência desejável, pois em liberação de transmissores excitatórios. A ação pós-sináptica
excesso, eles podem enfraquecer as defesas do organismo e produz um potencial inibitório pós-sináptico. Como um
elevar a pressão arterial [2]. neurotransmissor inibitório pode ativar vias descendentes?
Estudos evidenciam como o humor e o riso desem- Uma hipótese é a de que o sistema descendente de analgesia
penham um importante papel no aspecto fisiológico. O riso está sob controle inibitório tônico, pelos interneurônios
alivia as dores através do estímulo da produção de endorfinas, inibitórios, tanto no mesencéfalo como no bulbo. A ação
fortalece o sistema imunológico pelo estímulo na produção dos opiáceos inibiria os interneurônios inibitórios e, assim,
de imunoglobulinas, ativa a circulação sanguínea e relaxa a desinibiria as vias descendentes de analgesia [11].
musculatura [8]. Com o riso há uma redução da liberação dos hormônios
O riso aumenta a atividade respiratória, as trocas de associados ao estresse: cortisol e adrenalina [2]. O primeiro
oxigênio, a atividade muscular, o ritmo cardíaco, estimula o promove a utilização dos ácidos graxos e o catabolismo
sistema nervoso simpático e a produção de catecolaminas. protéico, conserva o açúcar no sangue, é antagonista da
Isto melhora a atenção, a memória, aumenta a aprendizagem insulina e exerce efeitos antiinflamatórios. E o segundo facilita
e a criatividade. Ao estado de boa disposição, segue-se um a atividade simpática, aumenta o débito cardíaco, regula os
estado de relaxamento no qual a respiração, ritmo cardíaco vasos sanguíneos, aumenta o catabolismo do glicogênio e a
e tensão muscular voltam a níveis abaixo do normal. Neste liberação dos ácidos graxos [9].
estado de relaxamento, a pressão sanguínea é reduzida e A medula da supra-renal faz parte do sistema nervoso
existe uma situação semelhante àquela que é esperada pelo simpático. Age prolongando e aumentando os efeitos
exercício físico. O humor e o riso são valiosos para a saúde simpáticos pela secreção de dois hormônios: adrenalina e
física, especialmente em relação à prevenção de doenças noradrenalina (coletivamente catecolaminas). A noradrenalina
cardíacas e de outras situações relacionadas com a tensão é um hormônio autêntico, sendo um precursor da adrenalina.
do dia-a-dia [5]. É considerada também um neurotransmissor quando
liberada pelas terminações nervosas simpáticas. Oitenta por
Modificações fisiológicas através do riso cento das secreções da medula supra-renal se processam na
forma de adrenalina, enquanto o principal neurotransmissor
Durante o riso ocorrem modificações fisiológicas, que liberado pelo sistema nervoso simpático é a noradrenalina.
promovem a liberação de hormônios produzidos pelo sistema Um fluxo anterógrado de impulsos neurais provenientes do
neuroendócrino. hipotálamo estimula a medula supra-renal a aumentar a
A liberação de endorfina tem como principal efeito o liberação de catecolaminas. A seguir, esses hormônios atuam
bloqueio da dor, porém também promove a sensação de no coração, nos vasos sanguíneos e nas glândulas da mesma
bem estar, denominada euforia [9]. maneira como a estimulação direta por parte do sistema
Há mais de 25 anos, descobriu-se que injeções de quan- nervoso simpático. Uma função primária da adrenalina no
tidades diminutas de morfina no núcleo periventricular, em metabolismo energético consiste em estimular a glicogenólise
torno no terceiro ventrículo ou na área da substância cinzenta no fígado e no músculo ativo [9].
periaquedutal do tronco cerebral causavam um grau extremo O cortisol, também denominado hidrocortisona, é o
de analgesia. Depois foi visto que agentes semelhantes à principal glicocorticóide secretado pelo córtex supra-renal.
morfina, sobretudo os opióides, atuam ainda em muitos A função mais importante do cortisol está relacionada a
outros pontos no sistema de analgesia. Como a maioria dos seus efeitos sobre o metabolismo protéico e energético. Esse
fármacos que altera a excitabilidade dos neurônios, atua hormônio também estimula o fracionamento das proteínas
sobre os receptores sinápticos, presumiu-se que os “recep- em aminoácidos em todas as células do corpo, exceto o
tores da morfina” do sistema de analgesia teriam que ser, fígado. Esses aminoácidos “liberados” são levados pela
na realidade, receptores de algum transmissor semelhante à circulação ao fígado, onde são transformados (sintetizados)
morfina que fosse secretado naturalmente pelo cérebro. A em glicose pela glicogênese. Além disso, funciona como
partir deste fato, desenvolveu-se uma busca intensa por um antagonista da insulina, por inibir a captação e a oxidação
opióide natural do cérebro. Além disso, mostrou-se que da glicose [9]. O efeito antiinflamatório do cortisol é sua
múltiplas áreas cerebrais têm receptores opiáceos, especial- capacidade de causar a estabilização das membranas
mente as áreas do sistema de analgesia [10]. Com esse achado, lisossômicas. Isto é, o cortisol dificulta muito mais a ruptura
chegou-se à conclusão de que o próprio cérebro produzia das membranas dos lisossomos intracelulares. Portanto, a
substâncias endócrinas semelhantes aos opióides (opiáceos), maioria das enzimas proteolíticas liberadas pelas células
capazes de alterar o humor, e a endorfina é uma das mais lesadas para causar a inflamação, e que são armazenadas
460 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

sobretudo nos lisossomos, é liberada em quantidades muito visto, não só como aquele que irá tratar, e sim como alguém
pequenas [10]. capaz de conversar e até mesmo brincar, tornando o
Relativamente ao sistema imunológico, o riso tem sido tratamento mais agradável. O sorriso é o testemunho de
ligado a níveis mais elevados de imunoglobulina A, e de que a alma não morreu, faz acender a esperança e a certeza
estímulo do timo, levando à produção de linfócitos T [5]. de que o vínculo se fez [15].
A imunoglobulina A (IgA) é a principal nas secreções O fisioterapeuta pode utilizar estratégias para facilitar
externas, tais como as lágrimas, secreções nasais, saliva, bile, sua interação com o paciente através do riso. Para ser eficaz,
secreções brônquicas e secreções intestinais. Ela também se a intervenção com o humor deve ser planejada e
encontra no sangue e nas secreções internas, mas em individualizada. A avaliação necessita incluir a descoberta
concentrações muito pequenas. É provável que a IgA seja das preferências da pessoa, relativas aos estímulos específicos.
importante na proteção das superfícies mucosas contra a Estas podem ser de vários níveis, tanto auditivo, através de
invasão por bactérias e por agentes virais patogênicos [12]. canções como tentativas de riso visual, através de expressões
O timo é um órgão linfóide localizado no mediastino faciais. A tolerância da pessoa e a discussão sobre a patologia
superior, com base repousando no pericárdio. Situa-se que a acomete necessitam ser avaliadas de modo que as
anteriormente aos vasos pulmonares, aorta e traquéia. Ele intervenções de humor planejadas não resultem em
não participa diretamente das reações imunológicas, mas a ofensivas, e assim, não ultrapassem a fronteira do humor
sua capacidade de produzir determinados tipos de linfócitos para a ironia [5].
(linfócitos T) é fundamental para que o sistema imunológico O humor, tal como é expresso pelo fisioterapeuta, pode
funcione adequadamente. Estes linfócitos T iniciam a induzir simpatia no paciente, devido a uma experiência
resposta imune celular, e dependem inteiramente do timo semelhante ocorrida ou a uma frustração partilhada. Deste
para atingir um desenvolvimento completo [12]. modo, o humor ajuda a colocar situações dolorosas em
Sendo assim, fisiologicamente, poderemos referir que perspectiva e, dessa forma, o fisioterapeuta não deve ter
estando o humor, o riso, e a criatividade comumente associados medo de deixar emergir as dimensões lúdicas e alegres da
entre si, a utilização destes será vantajosa na reabilitação. O sua personalidade, pois isso lhe permite implementar,
interesse nos efeitos fisiológicos do humor e do riso tem verdadeiramente, o “uso terapêutico do seu eu” no contato
crescido desde relatos de Norman Cousins [4], que dizia que com os pacientes [5].
dez minutos de riso podiam fornecer duas horas sem dor. O
efeito do riso é um analgésico natural, devido às modificações Conclusão
fisiológicas ocorridas no organismo [5].
O riso tem, de fato, um efeito muito positivo na saúde A importância do riso na saúde tem sido comprovada,
em geral. Sua importância e suas implicações na prevenção apresentando-se como estratégia terapêutica nem sempre
de doenças são inúmeras, parecendo poder reduzir as aplicada pelos profissionais da saúde. Estudos têm
doenças cardíacas, os acidentes vasculares cerebrais, a demonstrado que o riso gera mudanças fisiológicas no corpo
depressão e outras doenças relacionadas com o estresse [13]. humano para auxiliar na reabilitação física.
Durante o riso ocorrem algumas modificações em função
Influência na interação fisioterapeuta- da liberação hormonal, fazendo com que aumente o limiar
paciente de dor do paciente. Com a liberação de endorfina, que é
um dos hormônios mais importantes das substâncias
O riso (alegria) pode ser um aliado do tratamento opióides, ocorre o bloqueio da dor, havendo assim uma
terapêutico, provocando sensações de bem estar nos sensação de bem estar. Além disso, há também uma redução
pacientes, ajudando assim na reabilitação. Como um da liberação dos hormônios associados ao estresse: cortisol
tratamento completamente individual, ele pode ser visto e adrenalina. Sendo assim, o riso tem, de fato, um efeito
como um excelente meio para estabelecer uma melhor muito positivo na prevenção de doenças e na saúde em
relação terapêutica com o paciente. geral.
Deixar o paciente seguro e confiante é imprescindível para O interesse nos estudos das modificações fisiológicas
que ele possa ter uma boa evolução. Por isso é muito importante que o riso causa vem crescendo nas últimas duas décadas,
que o terapeuta esteja bem humorado, para que o paciente se por isso novas pesquisas devem ser feitas para que haja um
sinta motivado em prosseguir com o tratamento [14] resultado positivo, tanto qualitativo quanto quantitativo.
Um tratamento feito com alegria (riso), focado no Fazem-se necessárias pesquisas que comprovem a partir de
paciente, também tem um efeito para os profissionais da quanto tempo de risada as mudanças fisiológicas ocorrem e
saúde. Existe uma diminuição do estresse do dia-a-dia de qual a duração do efeito desses hormônios causadores de
trabalho, fazendo com que haja uma grande interação entre bem estar no corpo humano. Com esses estudos sendo
o terapeuta e o paciente. O fisioterapeuta, ao poder participar aprofundados, e mais valorizados, poderemos aplicá-los de
de uma brincadeira e interagir com o paciente, passa a ser uma melhor maneira na reabilitação física de um paciente.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 461

Agradecimentos 5. Guerreiro HM. Humor nos cuidados da enfermagem:


vivências de doentes e enfermeiros. São Paulo: Loures; 2002.
À minha família e aos amigos que de alguma forma 6. Basmajian JV. The elixir of laughter in rehabilitation. Arch
ajudaram neste trabalho de conclusão de curso. Aos Phys Med Rehabil 1998;79(12):1597.
7. Alvarez CA, Molina A, Vidal B. Aspectos neurológicos y
professores Carla Tomazoli, Cislaine Greicius, Hernane
neurofisiológicos de la risa. Arch Neurociências 2000;5(1):43-9.
Freire e Kelly Cristina, que sempre me estimularam, não
8. Fry WF Jr. The physiologic effects of humor, mirth and
deixando desanimar perante as dificuldades. E principalmente laughter. JAMA 1992;267(13):1857-8.
à professora e orientadora Fernanda Travagini, pela 9. McArdle W, Katch F, Katch V. Fisiologia do exercício: energia,
colaboração na construção deste artigo, mostrando-se sempre nutrição e desempenho humano. 4a ed. Rio de Janeiro:
disposta a compartilhar seus conhecimentos, e por ter Guanabara Koogan; 1998.
confiado em mim. 10. Guyton A, Hall J. Tratado de fisiologia médica. 9a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 1996.
Referências 11. Berne RM, Levy MN. Fisiologia. 4ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2000.
1. Cruz MA. As faces do riso. Jornal da Unicamp. Campinas, 17 12. Tavares P, Furtado M, Santos F. Fisiologia humana. Rio de
a 23 de junho/2002 Janeiro: Atheneu; 1984.
2. Ballone GJ. O impacto do (bom) humor sobre o estresse e a 13. De Palma JR. Laughter as Medicine. Winword Publications,
saúde. São Paulo; 2003. 1: junho 2002
3. Willians R. Humor as a therapeutic recreation intervention. 14. Adams P. O amor é contagioso. 6a ed. Rio de Janeiro: Sextante;
Parks & Recreation; Academic Research Library 2002;37(5). 1999.
4. Cousins N. A força curadora da mente. São Paulo: Saraiva; 15. Okay Y. Jornal da Fundação Faculdade de Medicina da USP.
1993. 2005;4(19).
462 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Estudo de caso

Efeito do exercício em cadeia cinética fechada no


tratamento da síndrome da dor fêmoropatelar
Effect of open kinetic chain exercise on patellofemoral pain syndrome
treatment
Guilherme Lotierso Fehr*, Valdeci Carlos Dionísio, M.Sc.**, Gil Lúcio Almeida, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Pós-graduado em Fisioterapia Músculo-esquelética pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), **Fisioterapeuta,
Docente do Curso de Graduação e Pós-graduação da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), ***Fisioterapeuta, chefe do Laboratório
de Estudos Clínicos em Fisioterapia da Universidade de Ribeirão Preto, Docente e Coordenador do Curso de Graduação e Pós-graduação da
Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP)

Resumo Abstract
Dentre a grande diversidade de condutas fisioterapêuticas Objetive: Among the great diversity of physical therapeutic
sugeridas para o tratamento da Síndrome da Dor Fêmoropatelar approaches suggested to the treatment of patellofemoral pain
(SDFP), os exercícios em cadeia cinética fechada (CCF) têm sido syndrome (PFPS), the closed kinect chain (CKC) exercises have
muito utilizados, e acredita-se que essa modalidade de exercício é been used very often, and this kind of exercise is able to improve
capaz de melhorar a estabilidade funcional da articulação do joelho. the functional stability of the knee joint. The aim of this study
O objetivo deste estudo foi avaliar se o treinamento em CCF was to assess the effect of closed kinect chain exercise in
pode favorecer mudanças nos padrões de atividade eletromiográfica electromyography activity of quadriceps in a subject with PFPS.
(EMG) da porção medial do músculo vasto medial (VM) e vasto Method: A 24 years old female subject, with a previous diagnosis
lateral (VL) em um sujeito portador da SDFP, e sua implicação of PFPS without history of disabling pain and knee surgery took
nas atividades funcionais. Foi recrutado um sujeito de 24 anos de part in study. It was done a physical therapy assessment and also
idade, sexo feminino, com diagnóstico da SDFP e sem história de electromyographic and kinematic analysis of knee muscles during
dor incapacitante ou cirurgia no joelho. Foram realizadas avaliação squatting with foot in neutral position, before and after 8 week’s
fisioterapêutica, análise cinemática e eletromiográfica dos músculos training in leg press. Results: There was a pattern electromyographic
que envolvem a articulação do joelho durante a atividade de change of the extensors muscles of the knee after training and
agachamento com os pés e a tíbia em posição neutra, antes e após clinical improvement of the subject in his functional activities as
o período de treinamento de 8 semanas realizado no leg press. well as in the pain. Conclusión: The result of the exercise program
Houve mudança no padrão eletromiográfico dos músculos in closed kinect chain, in experimental conditions, was efficient in
extensores do joelho após o treinamento e melhora clínica do the treatment of patellofemoral pain syndrome and it also
sujeito, tanto nas atividades funcionais como naquelas relacionadas contributed to the subject’s pain reduction.
à dor. O programa de exercícios em CCF, nas condições Key-words: exercise, closed kinetic chain, PFPS,
experimentais utilizadas, foi eficiente no tratamento da síndrome electromyography, functional recovery.
da dor fêmoropatelar e contribuiu para a melhora clínica do sujeito.
Palavras-chave: exercício, cadeia cinética fechada, SDFP,
eletromiografia, recuperação funcional.

Artigo recebido em 4 de agosto de 2004; aceito em 20 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Guilherme Lotierso Fehr, Rua João de Bortoli, 354 Jardim Flórida 14026-330 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 3911-
1345, E-mail: guifehr@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 463

Introdução SDFP e história de dor intensa no joelho há 10 meses. O


sujeito não relacionou o início dos sintomas a qualquer
A Síndrome da Dor Fêmoropatelar (SDFP) é definida como evento em particular, mas relatou que as dores iniciaram de
dor retropatelar ou peripatelar, tida como uma das afecções forma insidiosa e pioravam quando subia e descia escadas,
mais comuns na clínica médica e desportiva [1,2]. Apesar da permanecia por tempo prolongado com os joelhos flexio-
alta prevalência, sua etiologia permanece desconhecida [1,3]. nados e ao agachar. Não apresentava dor incapacitante para
O sintoma maior é a dor, geralmente difusa e situada na realização das atividades propostas e não foi submetido a
região anterior do joelho, que se agrava durante atividades qualquer intervenção cirúrgica. Para a participação no estudo,
que aumentam as forças de compressão fêmoropatelar tais um termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado
como subir e descer escadas, agachar e permanecer sentado pelo sujeito e todos os seus direitos foram protegidos,
por tempo prolongado com os joelhos flexionados [1,2,4]. baseados na aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
O tratamento conservador da SDFP tem por objetivo Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP).
estabilizar a articulação fêmoro-patelar, visando melhora do
deslizamento patelar, diminuindo assim a dor anterior do joelho. Protocolo de avaliação
Tal estabilidade pode ser obtida por meio de exercícios em Cadeia
Cinética Aberta (CCA) ou Cadeia Cinética Fechada (CCF) [4-6]. Os achados clínicos foram colhidos por meio de uma
A partir da década de oitenta a utilização dos exercícios avaliação fisioterapêutica, a qual incluiu História da Moléstia
em CCF cresceu consideravelmente. Estudos biomecânicos Atual (HMA) e exame físico. No exame físico foram ava-
sugerem que esses exercícios reproduzem padrões de movi- liados alinhamento postural, mobilidade passiva e ativa do
mentos funcionais e, conseqüentemente, geram menor es- joelho, palpação da patela e estruturas correlacionadas,
tresse às estruturas do joelho. Além disso, indivíduos porta- perimetria, medida de comprimento dos membros inferiores,
dores da SDFP exibem melhores resultados após programa teste de função muscular e testes específicos para detecção
de reabilitação em CCF [5,7-9]. ou exclusão de lesão meniscal e instabilidade ligamentar
Vários trabalhos têm relatado a existência de padrões [19,20]. Os principais achados foram pés planos, geno valgo
específicos de ativação EMG entre os músculos componentes e hiperextendido, rotação interna do fêmur, anteversão da
do quadríceps, sugerindo que portadores da SDFP teriam um pelve, aumento da lordose lombar. Na palpação havia dor
padrão EMG diferente dos indivíduos considerados normais. apenas na região antero-medial da patela, não havendo
Os estudos mais relevantes concentraram-se na análise dos correlação com qualquer estrutura anatômica específica.
padrões EMG da porção medial do músculo Vasto Medial (VM) Foram utilizadas a escala de dor de Talig [21] e a escala
e Vasto Lateral (VL) do quadríceps femoral [10-13]. Alguns funcional para avaliação da dor fêmoropatelar de Kujala
autores não observaram diferenças significativas da atividade [22]. Esta escala funcional possui 100 pontos possíveis,
EMG destes músculos durante a atividade reflexa e voluntária obtidos em atividades como: saltar, sentar, levantar e ao
na extensão do joelho entre portadores da SDFP e indivíduos subir e descer escadas. Durante a avaliação da subida e descida
normais [10,11], enquanto outros mostraram o contrário [12,13]. de escadas o tempo de execução dessas tarefas foi
Estas diferenças observadas na literatura podem ser explicadas, monitorado. Finalmente, foi determinada qual era a repetição
em parte, pela variabilidade metodológica empregada nesses máxima (RM) do músculo quadríceps femoral no leg press
estudos [4]. Pode-se dizer o mesmo em relação aos trabalhos que [23].
sugeriram posicionamentos específicos dos membros inferiores Em seguida, o sujeito passou pela avaliação da atividade
para favorecer ativação seletiva do VM [14-18]. eletromiográfica (EMG) da porção medial do músculo vasto
Neste estudo de caso, primeiro foi avaliado se o medial (VM), vasto medial longo (VML), vasto lateral (VL),
treinamento do quadríceps em CCF pode favorecer reto femoral (RF), bíceps femoral (BF), semitendíneo (ST),
mudanças nos padrões de atividade EMG do VM em relação gastrocnêmio medial (GM) e lateral (GL) e tibial anterior
ao VL, e sua implicação na qualidade dos movimentos (TA), coletada por eletrodos de fixados à pele do sujeito. Os
funcionais. Segundo, avaliou-se as mudanças nos padrões dados foram coletados por meio de eletrodos ativos de
EMG e sua relação com as atividades funcionais e o nível superfície duplo diferenciais (Emgworks, Delsys), a uma
de dor. Terceiro, avaliou-se o efeito do treinamento em CCF freqüência de 1000 Hz, utilizando módulo condicionador
nos padrões EMG durante atividades funcionais. de sinais Northen Digital Inc.
A amplitude e velocidade angular também foram registradas
Material e métodos por meio de marcas fixadas no ombro, crista ilíaca, joelho, maléolo
lateral e quinta articulação metatarsofalangeana. A emissão de
Sujeito sinais infravermelhos destas marcas foi captada a uma
freqüência de 100 Hz por um sistema óptico tridimensional
Um sujeito do sexo feminino de 24 anos de idade fez Optotrak 3020. Os sinais eletromiográficos (EMG) e
parte do experimento. Apresentou-se com diagnóstico de cinemáticos foram sincronizados por um sincronizador Odau
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II – Optotrak Data Acquisition Unit II e depois tratados Protocolo de treinamento


matematicamente para a análise por um código em MatLab
(Math Works Inc., versão 6.0). Posteriormente os dados O protocolo de treinamento para o fortalecimento do
eletromiográficos foram normalizados pela contração isométrica quadríceps femoral foi realizado numa freqüência de três sessões
voluntária máxima (CIVM). semanais durante 8 semanas, totalizando 24 sessões de
Após o protocolo de treinamento proposto, uma nova fisioterapia, utilizando o exercício em CCF executado no Leg
avaliação foi realizada para comparação dos dados clínicos Press. O grau de flexão do joelho durante a realização do exercício
e experimentais. foi restrito a 50 graus, visando menor estresse fêmoropatelar
[8,9] e os pés e tíbia mantidos em posição neutra.
Tarefa analisada Adotamos o sistema piramidal crescente [23] como
forma de treinamento. Foram realizadas 4 séries de 10
Para a avaliação cinemática e eletromiográfica o sujeito repetições em cada sessão de fisioterapia. A carga foi
realizou duas tarefas de agachamento, uma de descida e modificada em cada série com 40% da RM (primeira série),
outra de subida. Para a tarefa de descida, o sujeito partiu 60% da RM (segunda série), 80% da RM (terceira série) e
inicialmente da posição ortostática, com os pés em posição 100% da RM (quarta e última série).
neutra, simulando o exercício em cadeia cinética fechada
(CCF), joelhos totalmente estendidos e membros Resultados
superiores com cotovelos estendidos e ombros
flexionados a 90 graus. Partindo desta posição, o sujeito Relato da dor
tinha um alvo a ser alcançado que estava relacionado ao
ângulo de flexão do joelho. Partindo da posição inicial, o Antes do treinamento o indivíduo referiu dor de grau
alvo foi posicionado de forma a induzir 50 graus de flexão elevado, durante a palpação da patela e durante atividades de
do joelho. Posteriormente, o sujeito partia da posição vida diária, baseado na escala de Talig [21]. Após o treinamento
agachada, joelhos flexionados a 50 graus, e teria que o indivíduo deixou de referir dor nas condições citadas acima.
levantar até a posição ortostática (joelhos totalmente
estendidos). Foram realizadas cinco tentativas para cada Atividades funcionais
tarefa, sendo o sujeito instruído para efetuar o movimento
o mais rápido possível. Os dados foram coletados em 2 A Tabela I mostra que o indivíduo foi capaz de subir e
dias consecutivos, antes do treinamento proposto, para descer escadas mais rapidamente e diminuiu acentuadamente
estabelecer a linha de base. o relato de dor nas atividades funcionais, obtendo ganho de
37 pontos na escala de Kujala et al. [22].

Tabela I - Atividades funcionais. Itens avaliados e comparados, antes e após o período de treinamento em CCF.

Itens avaliados Antes do treinamento Após o treinamento Tempo de realização


da tarefa (s)

Antes Após
Subir escadas (10 degraus de 15 cm) Dor leve Sem dor 18,8 15,3
Descer escadas (10 degraus de 15 cm) Dor acentuada Sem dor (ocasionalmente um desconforto) 21,2 17,9
Sentar (cadeira) Dor acentuada Sem dor (ocasionalmente um desconforto)
Levantar (cadeira) Dor leve Sem dor
Saltar (apoio unipodal) Não realizou (medo e insegurança) Dor leve
Permanecer sentado com os joelhos fletidos Dor constante Sem dor (ocasionalmente um desconforto)

Padrão cinemático e eletromiográfico BF não mudou de forma significativa. Nota-se também que
durante flexão do joelho a ativação das quatro porções do quadríceps foi iniciada na
segunda metade da fase de aceleração do movimento (entre
A Figura 1 mostra que o treinamento não modificou a as barras verticais 1 e 2). A ordem de recrutamento dos
amplitude e velocidade dos movimentos do joelho durante componentes do quadríceps foi influenciada pelo treina-
a tarefa de agachar (contração excêntrica). Uma análise visual mento, ocorrendo antecipação do VM e RF, e um atraso no
revela que após o tratamento houve maior ativação do VM início da ativação do VML.
e diminuição da ativação do VML. Já a atividade do RF e
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 465

Figura 1 - Esta figura ilustra a atividade EMG normalizada dos múscu- Figura 2 - Esta figura ilustra a atividade EMG normalizada dos músculos
los extensores (VM, VML, RF e VL), BF (antagonista) e TA na tarefa extensores (VM, VML, RF e VL), BF (antagonista) e TA na tarefa de
de agachamento (contração excêntrica). O ângulo do joelho e a velocidade ficar em pé a partir da posição agachada com joelho fletido a 50 graus
do movimento também são mostrados. As linhas tracejadas verticais ilus- (contração concêntrica). O ângulo do joelho e a velocidade do movimento
tram o início (1), pico (2) e final (3) da velocidade. Note a antecipação do também são mostrados. As linhas tracejadas verticais ilustram o início (1),
músculo VM e diminuição da atividade EMG do VML após o treinamento. pico (2) e final (3) da velocidade. Note que a velocidade e a atividade EMG
de todos os músculos extensores foi maior após o treinamento. Observe que
o aumento da atividade EMG foi maior na fase de aceleração do movimento
(antes do pico da velocidade).

Padrão cinemático e eletromiográfico


durante extensão do joelho

A Figura 2 mostra que após o treinamento o sujeito Figura 3 - Esta figura mostra a velocidade e a relação da atividade EMG
realizou a mesma amplitude angular, porém com maior entre VMO e VL antes e após o treinamento na tarefa de ficar em pé a
velocidade, durante a tarefa de levantar (contração partir da posição agachada (contração concêntrica). A atividade acima de 1
concêntrica). O aumento da velocidade do movimento foi está relacionada com a atividade EMG do VMO, e abaixo de 1 está
acompanhado por maior atividade EMG do quadríceps (VM, relacionada com a atividade EMG do VL.
VML, VL e RF) e da musculatura antagonista (BF).
Na Figura 3 é mostrada a taxa de ativação do VM em
relação ao VL, antes e depois do treinamento, durante o
movimento de levantar. Note que a ativação do VM em
relação ao VL varia durante o movimento e é influenciada
pelo treinamento. A seta indica o predomínio da ativação
do VM sobre o VL no início da fase de aceleração.
Os padrões cinemáticos e eletromiográficos mostrados
nas Figuras 1, 2 e 3 são representativos de todas as tentativas
coletas para o sujeito.
466 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Discussão 5. Witvrouw E, Lyens R, Belleman J, Peers K, Vanderstraentem


G. Open versus closed kinetic chain exercises for patellofemoral
Os exercícios em CCF têm sido freqüentemente pain. A prospective, randomized study. Am J Sports Med
sugeridos para o tratamento da SDFP. No entanto, existem 2000;28:687-94.
6. Biond L, Hansen L. Patellofemoral pain syndrome in athletes:
poucas evidências científicas que comprovam a eficácia do
a 5.7- year follow-up study of 250 athletes. Acta Orthop Belg
treinamento em CCF e seu efeito no desempenho muscular
1998;64:393-400.
do quadríceps femoral e nos padrões de atividade EMG 7. Prentice WE. Técnicas de reabilitação em medicina esportiva.
dos músculos estabilizadores da patela. São Paulo: Manole; 2002. 612 p.
Nossos resultados corroboram com os relatos de que 8. Escamilla RF, Fleisig GS, Zheng N, Barrentine SW, Wilk E,
indivíduos portadores da SDFP apresentam alterações nos Andrews JR. Biomecanics of the knee during closed and open
padrões de atividade EMG do quadríceps quando kinetic chain exercise. Med Sci Sports Exerc 1998;30:556-69.
comparados a indivíduos normais, exibindo diminuição da 9. Steinkamp LA, Dillingham MF, Markel MD, Hill JA, Kaufman
atividade EMG e atraso no tempo de ativação do VM em KR. Biomechanical considerantions in patellofemoral joint
relação ao VL [10,11]. Witvrouw et al. [5] demonstraram que rehabilitation. Am J Sports Med 1993;21:438-44.
10. Karst GM, Willett GM. Onset timing of eletromiographic
os exercícios em CCF promovem melhora do quadro clínico
activity in the vastus medialis oblique and vastus lateralis
e funcional dos indivíduos portadores da SDFP, no entanto muscles in subjects with and without patellofemoral pain
os autores não avaliaram os padrões de atividade EMG do syndrome. Phys Ther 1995;75:813-23.
quadríceps. Nossos resultados sugerem que a antecipação da 11. Sheeny P, Burdett RG, Irrgand JJ, Vandswearringen J. An
atividade EMG do VM, em relação ao VL e o aumento da eletromyographic study of vastus laterallis activity while ascending
atividade EMG do quadríceps, proporcionaram melhor and descending steps. J Orthop Sports Phys Ther 1998;27:423-9.
controle do deslizamento patelar acompanhado pela redução 12. Powers CM. Patellar kinematics, part I: the influence of vastus
da dor e melhor desempenho das atividades funcionais. muscles activity in subject’s whith and whithout
Finalmente, observamos que os padrões cinemáticos patellofemoral pain. Phys Ther 2000;80:956-64.
13. Cowan SM, Bennell KL, Hodges PW, Crossley KM,
variam dependendo do movimento (descida e subida) e do
McConnell J. Delay onset of eletromyographic activity of
tipo de contração muscular (excêntrica e concêntrica). No
vastus medialis obliquus relative to vastus lateralis in subjects
movimento de descida (contração excêntrica), esse padrão with patellofemoral pain syndrome. Arch Phys Med Rehabil
foi preservado após o treinamento. Por outro lado, no 2001;82:183-9.
movimento de subida (contração concêntrica) o efeito 14. Signorile JF, Kacsik D, Perry A, Robertson B, Williams R. The
mecânico do aumento da atividade EMG de todas as porções effect of knee and foot position on the eletromyographical
do quadríceps e da antecipação na ativação do VM em activity of the superficial quadriceps. J Orthop Sports Phys
relação ao VL foi um ganho na força muscular refletido em Ther 1995;22:2-9.
maior velocidade do movimento, como demonstrado na 15. Lam PL, Gabriel YF. Activation of the quadriceps muscle
Figura 3. during semisquatting with different hip and knee positions
in patients with anterior knee pain. Am J Phys Med Rehabil
2001;80:804-8.
Conclusão
16. Cerny K. Vastus medialis oblique/vastus lateralis muscle
activity ratios for exercises in persons with and without
Por se tratar de apenas um sujeito, esses dados precisam patellofemoral pain syndrome. Phys Ther 1995;75:672-83.
ser interpretados com muita cautela. Para generalização 17. Väätäinen UAO, Jaroma H, Kiviranta I. Decreased torque and
desses achados são necessários estudos randomizados, com electromyographic activity in the extensor thigh muscles in
maior número de sujeitos como amostra e tratamento chondromalacia patellae. J Sports Med 1995;16:45-50.
estatístico adequado. Também é necessária análise da 18. Laprade JCE, Brouwer B. Comparison of five isometric
retenção dessas modificações após período de treinamento. exercises in the recruitment of the vastus medialis oblique in
persons with and without patellofemoral syndrome. J Orthop
Referências Sports Phys Ther 1998;27:197-204.
19. Gross J. Exame musculoesquelético. Porto Alegre: Artes
1. Juhn MS. Patellofemoral pain syndrome: a review and Médicas Sul; 2000
guidelines for treatment. Am Fam Physician 1999;60:2012-8. 20. Hoppenfeld S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades.
2. Fredericson M, Powers CM. Practical management of São Paulo: Atheneu; 1997. 276 p.
patellofemoral pain. Clin J Sport Med 2002;12:36-8 21. Knigth KL. Crioterapia no tratamento das lesões esportivas.
3. Crossley K, Bennell K, Green S, Cowan S, McConnell J. Physical São Paulo: Manole; 2000. 304 p.
therapy for patellofemoral pain: a randomized, double- 22. Kujala UM, Jaakkola LH, Koskinen SK, Taimela S, Hurme
blinded, placebo-controlled trial. Am J Sports Med M, Nelimarkka O. Scoring of patellofemoral disorders.
2002;30:857-65. Arthroscopy 1993;9:159-63.
4. Powers CM. Rehabilitation of patellofemoral joint disorders: 23. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força
a critical review. J Orthop Sports Phys Ther 1998;28:345-54. muscular. 2a ed. São Paulo: Artmed; 1999. 241 p.
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 467

Estudo de caso

Intervenção fisioterapêutica em dois recém-nascidos


prematuros com síndrome do desconforto respiratório:
estudo da variação da saturação de oxigênio
Physical therapy in two premature newborn with respiratory distress
syndrome: study of the oxygen saturation behavior
Vanessa Cristina de Oliveira*, Alessandra Benatti Burkle**, Nivaldo Pavan***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*
Fisioterapeuta residente do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maringá, **Fisioterapeuta Especialista em Morfofisiologia Aplicada ao
Exercício pela UEM, Fisioterapeuta do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maringá, Professora do Curso de Fisioterapia do Cesumar,
***Fisioterapeuta do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maringá, Especialista em Fisioterapia Cardio-Respiratória pela TUITI,
Professor do Curso de Fisioterapia do Cesumar

Resumo Abstract
A síndrome do desconforto respiratório (SDR) constitui um The respiratory distress syndrome (RDS) consists in one of
dos problemas mais graves e freqüentes no ser viço de the most frequent and serious problems in the neonatology
neonatologia. É caracterizada pelo desconforto respiratório service, characterized by the respiratory distress, related to the
relacionado à incapacidade do pneumócito tipo II de produzir o inability of the pneumócito type II to produce the endogenous
surfactante endógeno em prematuros. A equipe multidisciplinar surfactant in premature. The physical therapist is a member of
que trata do paciente que apresenta esta síndrome inclui o the multidisciplinary team, which attends the patients with this
fisioterapeuta, com técnicas respiratórias e motoras visando pathology, using respiratory and moving techniques, trying to
melhorar sua condição, diminuir a mortalidade e o tempo de improve their conditions, to decrease the mortality and the time
permanência na unidade. O presente estudo foi realizado no setor of permanence in the intensive unit care. The present study
de neonatologia do Hospital Santa Casa de Misericórdia de was accomplished in the Santa Casa de Misericórdia de Maringá
Maringá. Refere-se a uma comparação entre dois recém-nascidos Hospital, neonatology section, with two premature newborns
do sexo feminino, apresentando sinais clínicos e radiológicos de who presented clinical and radiological signs of RDS. The both
SDR de grau II e grau IV, respectivamente de 28 e 34 semanas de babies were of feminine sex, with 28 and 34 weeks of gestational
idade gestacional, pesando inicialmente 1.155 g e 1.390 g. O age, weighing 1,155 g and 1,390 g initially, and degrees II and IV,
objetivo desta pesquisa foi caracterizar os procedimentos respectively. The objective of this research was to evaluate the
empregados nos recém-nascidos com SDR, visando a melhora physical therapy procedures employed in the newborns with RDS
do comportamento da saturação de oxigênio. O tratamento by monitoring their oxygen saturation behavior. The treatment
consistiu na realização de técnicas de fisioterapia respiratória e consisted in the application of respiratory and moving physical
motora, aferindo a saturação um minuto antes e cinco minutos therapy. The oxygen saturation was measured 1 minute before and
após o término da sessão. Concluiu-se que a fisioterapia é um again 5 minutes after the end of the each session. The study
procedimento adequado para prematuros, não comprometendo showed that the physical therapy procedures are suitably
a estabilidade clínica e hemodinâmica dos prematuros. for prematures, not compromising either clinical stability or the
Palavras-chave: síndrome do desconforto respiratório, recém- hemodynamics of the newborns.
nascidos, saturação de oxigênio. Key-words: physical therapy, respiratory failure syndrome,
newborn, oxygen saturation

Artigo recebido em 17 de setembro de 2004; aceito em 15 de novembro de 2005.


Endereço de correspondência: Vanessa Cristina de Oliveira, Rua Cerqueira César 454, zona 4 87013-490 Maringá PR, Tel: (044) 224-4326/
9114-7178, E-mail: vanessacristinafisio@bol.com.br
468 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Introdução O diagnóstico diferencial da SDR é o aparecimento de


sinais de insuficiência respiratória nas primeiras horas de
Estima-se que anualmente, no mundo, 13 milhões de vida [3].
crianças nasçam prematuras. Define-se como parto pré-termo A terapêutica abrange o aquecimento, hidratação, nutrição
aquele cuja gestação termina antes de completar 37 semanas, e assistência respiratória, podendo ser a oxigenoterapia,
ou seja, menor que 259 dias [1]. Assim, a síndrome do ventilação mandatória intermitente ou CPAP nasal e terapia
desconforto respiratório (SDR) constitui um dos problemas de reposição utilizando surfactante exógeno (figura 1) [3,11].
mais graves e freqüentes no serviço de neonatologia e uma
das principais causas de mortalidade entre os recém-nascidos Figura 1 - RN em isolete aquecida, assistência respiratória por ventilação
pré-termos (RNPT) com peso entre 1.000 e 1.500 g. [2,3]. mecânica.
A equipe multidisciplinar que trata deste paciente inclui
o fisioterapeuta, com técnicas respiratórias e motoras visando
melhorar sua condição, diminuir a mortalidade e o tempo
de permanência na unidade [4]. Portanto, o objetivo deste
trabalho foi caracterizar os procedimentos fisioterapêuticos
empregados nos recém-nascidos com síndrome do descon-
forto respiratório, visando a melhora do comportamento
da saturação de oxigênio (Sat O2).
Os fatores predisponentes para o desenvolvimento da
SDR envolvem a prematuridade, sexo masculino, anóxia
perinatal, hemorragia e diabetes materna, descolamento
prematuro de placenta, eritroblaste fetal, asfixia perinatal,
parto traumático, cesárea, uso de anestésico, gemelaridade. A assistência fisioterapêutica tem se mostrado cada vez
Os neonatos negros têm menor risco de virem a apresentar mais abrangente em relação ao seu campo de atuação e
a SDR e, quando ocorre, é menos grave [2,3,5]. caminha lado a lado com a medicina neonatal nos cuidados
A imaturidade pulmonar leva à deficiência quantitativa dos distúrbios motores e respiratórios. Sabe-se hoje a impor-
ou qualitativa surfactante alveolar natural, cuja síntese inicia tância de um trabalho multidisciplinar na área da saúde, o
entre a 24º e a 28º semanas de gestação. As células fisioterapeuta tornou-se um dos grandes aliados desta equipe,
responsáveis pelo surfactante são os pneumocitos tipo II, trazendo benefícios à recuperação e estabilização dos
pela combinação de fosfolípides, lipides e proteínas [3,5]. neonatos [4,12,13].
No alvéolo normal, o surfactante diminui a tensão A fisioterapia respiratória é direcionada para manter as
superficial alveolar, previne atelectasias e edemas, melhora vias aéreas permeáveis com técnicas específicas que irão
as trocas gasosas, diminui o esforço respiratório, aumenta a promover a mobilização das secreções, manter a mobilidade
complacência pulmonar, facilita o transporte mucociliar, muscular, melhorar a função dos músculos respiratórios e
mantém a estabilidade alveolar. [2,3,5-7]. prevenir complicações [5,15].
A transudação plasma ou sangue para os espaços Os movimentos rítmicos da tapotagem ou digito-
alveolares, resultando na clássica membrana hialina [2]. percussão criam uma “coluna de ar” (ventosa), cujo efeito é
As manifestações clínicas irão depender da IG. Carac- transmitido intratoracicamente, desprendendo e mobilizando
teriza-se por dispnéia; taquipnéia; gemido expiratória; cianose; secreções anormais da árvore traqueobrônquica, além de
batimentos de asas nasais; retração esternal, tiragem inter- auxiliarem no reflexo da tosse [5,15-17].
costal e subcostal e crises de apnéia. A hipotensão, hipotonia Para auxiliar no deslocamento das secreções dos brôn-
e a hipoatividade são regras na SDR. O murmúrio vesicular quios distais para os mais proximais utiliza-se a vibração
pode estar diminuído, na inspiração pode-se constatar [16,17]. O efeito positivo desta técnica baseia-se na pro-
estertores finos [2,8,9]. priedade tixotrópica do muco, que se liquefaz quando sub-
Para o diagnóstico de SDR, além do quadro clínico, é metido a constante agitação. Também causa um relaxamento
realizada a análise radiográfica, observando-se um aspecto da parede torácica e melhora a perfusão alveolar 5,13].
retículo-granular difuso ou de “vidro moído” representado A técnica de aceleração do fluxo expiratório (AFE)
pelas áreas atelectasiadas. Esse quadro varia em quatro graus: modifica o tipo de fluxo aéreo brônquico, formando turbu-
grau I – leve (granulação fina); grau II – moderada lências, modificando as propriedades do muco e facilitando
(granulação bem evidente em “vidro moído”); grau III – a eliminação das secreções da periferia para vias aéreas
grave (broncograma aéreo alcançando a periferia dos campos centrais [18].
pulmonares, discreto borramento cardíaco) e grau IV A reeducação tóraco-abdominal (RTA) consiste no
(opacidade total dos campos pulmonares, área cardíaca manuseio sobre o tronco do RN, em que o terapeuta deve
imperceptível) [5,10,11]. atuar no sentido de suprir as falhas dos músculos respiratórios
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 469

oferecendo pontos fixos, apoios e alongamentos musculares A intervenção motora se inicia por meio de estímulos
que facilitem o funcionamento muscular normal [5]. táteis suaves ao longo do corpo do RN e a estimulação
Quanto menor a IG, maior a hipotonia. Intra-útero o cinestésica com movimentos passivos nas articulações [5].
feto permanece em flexão, aconchegando-se na parede O tato é altamente desenvolvido no RN, por isso a
uterina, desenvolvendo o tônus muscular. Deste modo é de massoterapia de deslizamento rítmico e vagaroso no sentido
extrema importância o posicionamento do RN com coxins, da região distal para proximal do membro promove estímulo
procurando-se conter os movimentos de extensão excessiva sensório-motor e favorece o retorno venoso. Outra manobra
que facilitam as clonias e o reflexo de Moro [21-23]. de estimulação sensório-motora é levar a mão do bebê ao
A posição mais utilizada é a fowler (semi-sentada), que seu próprio rosto ou barriga [14,21,24].
induz a respiração diafragmática pelo abaixamento das A co-contração é responsável pela sensibilidade
vísceras por ação gravitacional, melhorando a expansibilidade proprioceptiva, melhorando o tônus hipotônico [29].
[4,24,25]. A estimulação vestibular presente na vida intra-uterina,
No decúbito prona, o peso do colchão oferece um apoio que foi interrompida em RNPT, pode ser estimulada através
abdominal, otimiza o trabalho diafragmático e melhora a de balanços em várias direções e planos com o objetivo de
Sat. O2, sendo uma medida de fácil instalação [17,22,26-28]. estimular o SNC, melhorar o tônus, movimentos oculares e
O tubo endotraqueal não impede sua doação, mas deve-se a retificação da cabeça [23,24].
ter cuidado para evitar uma extubação [5].
RNs gravemente enfermos são colocados geralmente em Material e métodos
supina pela facilidade da manipulação, entretanto é a posição
que menos favorece a dinâmica respiratória [3,22,26]. A presente pesquisa foi realizada no setor de terapia
O decúbito lateral facilita a flexão, mantém as mãos na intensiva neonatal do Hospital Santa Casa de Misericórdia
linha média e ajuda a levá-las a boca. Fortalece a musculatura de Maringá, durante o período de maio a julho de 2003. A
intercostal do lado apoiado e expande o lado oposto amostra constituiu-se por duas recém-nascidas prematuras,
[3,23,24]. sexo feminino, apresentando sinais clínicos e radiológicos
A drenagem postural utiliza o efeito da gravidade, por de síndrome do desconforto respiratório, admitidas no setor
meio da verticalização do brônquio lobar, removendo de neonatologia deste hospital.
secreções brônquicas das regiões mais periféricas para Os sujeitos foram escolhidos de forma intencional, ou
centrais [16,18]. seja, os primeiros a dar entrada no serviço de terapia intensiva
A manobra de estímulo costal promove uma pressão neonatal do hospital, apresentando a SDR, com caracte-
negativa alveolar, o que irá estimular a atividade dos inter- rísticas similares e o termo de consentimento assinado pelos
costais e favorecer o trabalho do diafragma [8,15]. pais.
O estímulo diafragmático estimula a atividade de fibras Paciente A, 28 semanas de IG, branca, nascida de parto
aeróbicas do diafragma. Tem como objetivo coordenar os normal, pesando 1.155 g, apresentando sinais clínicos e
movimentos respiratórios e melhorar a atividade diafrag- radiológicos de SDR grau II, surfactada uma vez com
mática [8]. curosurf (surfactante suíno), extubou-se duas vezes durante
Manobras de bag squeezing objetivam a desobstrução e o o período da pesquisa, apresentando parada cardiores-
recrutamento alveolar. Para realização da técnica necessita- piratória e pneumotórax à direita. Paciente B, 34 semanas
se da participação de duas pessoas. A primeira induzirá a de IG, negra, nascida de parto cesárea, 1.390 g, apresentando
hiperinsuflação pulmonar com o auxilio do ambú e realizará sinais clínicos e radiológicos de síndrome do desconforto
manobras de higiene brônquica. E a segunda irá aspirar as respiratório grau IV, surfactada duas vezes com curosurf,
secreções [13,16]. teve como intercorrência derrame pleural à direita. Ambas
A aspiração é a técnica utilizada para remoção das apresentavam-se em incubadora aquecida, sob ventilação
secreções, uma vez que o reflexo de tosse pode encontrar- mecânica, oxímetro de pulso (Ohmeda Biox) (figura 2) e
se imaturo e ineficiente, principalmente em RNPT. Previne fototerapia.
a obstrução no tubo endotraqueal, evitando o aparecimento
Figura 2 - Oxímetro de pulso para leitura da fração de oxiemoglobina
de atelectasias e infecções pulmonares [5,15-17].
Estabilizada a função respiratória, o fisioterapeuta
determina a necessidade e a freqüência de intervenções
sensório-motoras. O SNC do RNPT é imaturo e está em
desenvolvimento, os estímulos buscam ativar a plasticidade
do cérebro infantil, melhorar o aprendizado sensório-motor,
desenvolver a atividade reflexa normal, prevenir contraturas
e deformidades, diminuir a defasagem da idade cronológica
e suprir déficits causados pela imaturidade [4].
470 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

A variável estudada foi à saturação de O2, a qual foi 14ª 93% 100% 90% 92%
controlada em uma das duas sessões diárias de fisioterapia, 15ª 95% 97% 92% 94%
sempre no mesmo horário, com duração de no máximo 20 16ª 92% 99% 92% 92%
17ª 96% 100% 94% 94%
minutos cada uma (considerando somente o tempo efetivo 18ª 97% 99% 93% 100%
da terapia, não considerando os preparativos, exame físico e 19ª 96% 98% 91% 98%
a mensuração da variável estudada de acordo com o protocolo 20ª 96% 97% 90% 100%
estabelecido), pois a realização da fisioterapia por longo período 21ª 98% 100% 93% 98%
aumenta a instabilidade e o consumo metabólico do RN [5,14]. 22ª 100% 100% 93% 97%
O tratamento fisioterapêutico foi iniciado no 3º dia de 23ª 94% 100% 93% 97%
24ª 97% 99% 90% 100%
vida, aferindo a Sat O2 um minuto antes do atendimento e
25ª 99% 100% 94% 99%
novamente após cinco minutos. A coleta dos dados ocorreu 26ª 95% 99% 94% 97%
durante 30 dias consecutivos. Após a coleta dos dados, 27ª 100% 100% 95% 97%
realizou-se a análise estatística através da análise da média 28ª 98% 99% 98% 98%
entre as variáveis e teste t-student pareado, utilizando o 29ª 94% 100% 98% 99%
programa Statistic 6.0, com alfa = 5 % 30ª 98% 100% 98% 100%
M édia
dia 96,33% 98,66% 94,10% 97,40%
Resultados e discussão
Análise da média entre as variáveis
Como relatado, o sexo masculino tem maior incidência
que o feminino nesta síndrome, mas neste trabalho os dois
Além da análise da média entre as variáveis, foi utilizado
primeiros recém-nascidos a darem entrada no hospital, com
o teste t-student pareado para verificar o comportamento
características similares, foram do sexo feminino, mostrando
da Sat O2 ao longo das sessões de fisioterapia individualmente
que não é incomum a ocorrência neste sexo.
nos pacientes A e B, considerando somente os valores de
No estudo da média das 30 sessões (Tabela I), pode-se
Sat O2 pré-fisioterapia menores que 95 %, visto que acima
observar um aumento da Sat O2. Na pré-fisioterapia da
disso corresponde o valor de normalidade, segundo Robergs
paciente A obteve uma média de 96,33% e pós-fisioterapia
& Roberts [30], p < 5% (0,005). Como mostram as Tabelas
98,66%, um aumento de 2,33%. Já com a paciente B, a
II e III, evidenciou-se que, no indivíduo A p = 0,000000 e
média pré-fisioterapia foi de 94,10% e pós-fisioterapia com
indivíduo B p = 0,000007, mostrando assim que houve
97,4%, um aumento de 3,3%. Lembrando que a paciente B
diferença estatisticamente significativa entre os valores de
foi a mais gravemente acometida, sua saturação inicial foi
Sat O2 pré e pós-fisioterapia em ambos pacientes.
menor, e assim obteve um aumento mais significativo do
Os dados encontrados neste trabalho são similares à
que a paciente A, que estava clinicamente mais estabilizada.
literatura encontrada, em que Nicolau & Garcia [31]
Observou-se neste estudo que, quanto maior o grau de
verificaram, em um estudo com 12 RN com IG, média ao
comprometimento, maior o aumento da saturação de
nascimento de 30 semanas e peso médio ao nascimento de
oxigênio após as manobras, mostrando a importância da
1.086 g. A Sat O2 foi controlada em duas das quatro sessões
fisioterapia, inclusive em recém-nascidos gravemente
realizadas diariamente, medida antes, imediatamente após e
comprometidos.
cinco minutos após seu término. As sessões consistiram em
Tabela I - Comportamento da Sat O2 pré e pós-fisioterapia no paciente A manobras de higiene brônquica, cinesioterapia respiratória
e B durante as 30 sessões e posicionamento adequado. Utilizou-se teste de Friedman,
demonstrando que, embora houvesse diferença estatística,
N° sessão Saturação de oxigênio os parâmetros permaneceram em valores fisiológicos, sendo
Pré-fisioterapia Pós Pré-fisioterapia Pós que a Sat O2 cinco minutos após a sessão retornou ao valor
basal, portanto a fisioterapia não comprometeu a estabilidade
1ª 98% 98% 94% 96% clínica, podendo ser indicada para RN de alto risco.
2ª 100% 100% 87% 89%
Moraes [28], em seu estudo com 16 RNPT com SDR,
3ª 91% 96% 100% 100%
4ª 94% 99% 97% 98%
utilizando a posição prona com o abdômen restrito e a cabeça
5ª 99% 98% 94% 96% para um dos lados, observou uma melhora da Sat. O2 depois
6ª 97% 94% 97% 98% de 30 minutos em 10 pacientes (62,5%), com 60 minutos
7ª 98% 98% 96% 98% em 15 pacientes (91%) e, após 120 minutos, 100% dos
8ª 97% 100% 94% 98% pacientes tiveram aumento da Sat. O2.
9ª 95% 99% 94% 99% Pereira & Calciolari [32], em sua pesquisa com 11 RN
10ª 94% 100% 95% 98%
em respiração espontânea, com idade entre 2 e 8 semanas
11ª 98% 100% 91% 100%
12ª 94% 100% 97% 100% de vida, pesando de 1.000 g a 1.500 g, de ambos os sexos,
13ª 97% 100% 99% 100% realizaram 20 avaliações e, após as técnicas fisioterapêuticas
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 471

em diversos decúbitos, provaram que na posição supina a 10. Morrison SC. Radiologic findings of newborn respiratory
Sat O2 não se alterou e a FC diminuiu, na posição prona a diseases. In: Carlo WA, Chatburn RL. Neonatal respiratory care.
Sat O2 aumentou e a FC diminuiu e, na lateral direita e 2a ed. Chicago: Year Book Medical Publishers; 1988. p. 75-89.
esquerda, a Sat. O2 aumentou e a FC diminuiu, sendo que o 11. Rugolo, LMS. Manual de neonatologia.1a ed. Rio de Janeiro:
Revinter; 2000. p. 78-92.
decúbito lateral teve um aumento médio maior.
12. Nicolau CM, Juliani RCTP. Caracterização dos serviços de
Dentre as várias técnicas utilizadas nesta pesquisa, o fisioterapia respiratória em unidade de terapia intensiva
decúbito prona foi uma da manobras utilizadas, auxiliando neonatal. Rev Bras Fisioter 2000;4:56.
na melhora da Sat. O 2. Sua vantagem ocorre sobre a 13. Vertuan TP. Fisioterapia respiratória em neonatos: caracterização de
mecânica da caixa torácica, sincronismo tóraco-abdominal procedimentos possíveis e considerações sobre atuação profissional
e no tônus da musculatura respiratória [26]. [monografia]. Maringá: Centro Universitário de Maringá; 2002.
14. Abreu LC et al. Efeitos terapêuticos da fisioterapia neonatal sobre
Conclusão a freqüência cardíaca em recém-nascido pré-termo com hemorragia
periventricular-intraventricular. Fisioter Bras 2003;4:5-11.
Com a realização deste trabalho pôde-se complementar 15. Traci CMM, Ponce GR. Abordagem fisioterapêutica em UTI
neonatal. Fisioter Mov 1996;4:35-40.
e intensificar os conhecimentos dos profissionais da área,
16. Garcia JM, Nicolau CM. Assistência fisioterapêutica aos recém-
informando aos leitores sobre a SDR e as técnicas nascidos do berçário anexo a maternidade do Hospital das
fisioterapêuticas utilizadas em recém-nascidos, já que se trata Clinicas da Universidade de São Paulo. Rev Fisioter Univ São
de uma patologia freqüente e com índices de mortalidade e Paulo 1996;3:38-46.
morbidade altos. 17. Tozi EB, Dotta ML. Fisioterapia. In: Matsumoto T, Carvalho
Analisando-se o comportamento da Sat. O2 nos dois WB, Hissclheimer MR. Terapia intensiva pediátrica. 2 ed. São
recém-nascidos, observou-se um aumento deste parâmetro, Paulo: Ateneu; 1997. p. 1154-62.
favorecendo a ligação entre o oxigênio e a hemoglobina, 18. Feltrin MIZ, Parreira VF. Fisioterapia respiratória: Consenso
através da melhora da ventilação pulmonar, principalmente de Lyon. Kinerea 2001;24:8-46.
19. Lima MP et al. Avaliação dos efeitos do reequilibrio tóraco-
em RNPT com SDR com um comprometimento maior.
abdominal sobre a mecânica da caixa torácica de recém-nascidos
Demonstrou-se, portanto, que a fisioterapia é um
prematuros. Rev Bras Fisioter 2000;4:45.
procedimento adequado para prematuros, não compro- 20. Figueroa PHA, Gonzá CP. Efecto de maniobras toraco-
metendo sua estabilidade clínica e hemodinâmica, ao abdominales em prematuros com patrón paradojal: medición
contrário, melhorando sua condição clínica. de parâmetros indirectos. [citado 2003 fev 5]. Disponível em
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em diversos decúbitos. Rev Bras Fisioter 2000;4:66.
472 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Estudo de caso

Influência da lesão diafragmática na função respiratória


em pacientes na unidade de terapia intensiva
Influence of diaphragmatic injury on the respiratory function in
intensive care unit patients
Priscila Pretti Rimério*, Cristina Aparecida Velozo**, Rosmari Aparecida Rosa Almeida Oliveira***, Sebastião Araújo****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta plantonista da UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP, **Supervisora do Curso de Especialização em


Fisioterapia Respiratória em UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP e Docente da UNIARARAS, ***Coordenadora do
Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória em UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP, ****Chefe da UTI do
Hospital de Clínicas da UNICAMP

Resumo Abstract
O diafragma é responsável por 70% da atividade muscular The diaphragm is responsible for 70% of the respiratory
respiratória, principalmente pela resistência à fadiga. A lesão muscular activity, mostly by the resistance to fatigue. Diaphragmatic
diafragmática é relatada com freqüência na literatura e está injury is frequently reported in the literature and related to high
relacionada com alta morbi-mortalidade. Quando ocorre lesão do morbidity and mortality rate. When the diaphragm is injured,
diafragma, há movimentação paradoxal do mesmo e complicações there is a paradoxical movimentation of the muscle and
respiratórias. O prognóstico dos pacientes que a apresentam respiratories complications. The prognosis of patients that
depende de variáveis como idade, perfil hemodinâmico de develop diaphragmatic dysfunction is related to their age,
admissão, índice de gravidade da lesão (ISS- Injury Severity Score), hemodynamic profiles at ICU admission, injury severity scores
lesões associadas, evolução clínica (sepse ou choque) e tempo de (ISS – Injury Severity Score), associated injuries, outcome
diagnóstico. No presente estudo foram avaliados dois casos de complications (sepse or shock), and the time of the diagnosis. In
lesão diafragmática, destacando-se a interferência na evolução da the present study two cases of diaphragmatic injuries were
função respiratória dos mesmos e suas respectivas respostas evaluated, highlighting their evolution respiratory function, and
clínicas, principalmente durante o período de desmame da their respective clinical responses, mainly during the weaning from
ventilação mecânica. Observou-se que a lesão diafragmática mechanical ventilation. It was observed that diaphragmatic injury
influencia a mecânica respiratória e troca gasosa e que estas são influences the respiratory mechanics and gas exchanges and these
prováveis causas de dificuldade de desmame ventilatório. are possible causes of difficult weaning from mechanical
Palavras-chave: lesão diafragmática, hérnia diafragmática, ventilation.
desmame ventilatório, complicações respiratórias, ventilação Key-words: Diaphragmatic injury, diafragmatic herniation,
mecânica. weaning, respiratory complications, mechanical ventilation.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução volume torácico que ocorre durante a respiração normal


[1,3]. Quando se contrai, o conteúdo abdominal é forçado
O diafragma insere-se nas vértebras lombares, nas para baixo e a dimensão da cavidade torácica é aumentada.
margens costais e no processo xifóide, dividindo-se em duas As margens costais são movidas para fora causando um
cúpulas: hemidiafragma direito e esquerdo [1,2]. É respon- aumento no diâmetro transverso do tórax [1-4]. Na expi-
sável por 70% da atividade muscular respiratória, sobretudo ração, o diafragma relaxa e sobe por retração elástica [1,4].
por sua resistência ao trabalho, e por 75% da alteração do Também possui outras funções além da ventilação, como

Recebido em 17 de setembro de 2004; aceito em 15 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Priscila Pretti Rimério, Rua José Amaro Rodrigues Filho, 635 Jd Duzzi 13160-000 Artur Nogueira SP, Tel: (19)
3877-1714/9179-7110, E-mail: pripretti@yahoo.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 473

produzir elevações da pressão intra-abdominal ao permanecer diagnóstica de sepse de origem abdominal. Em sua admissão,
fixo enquanto os músculos abdominais se contraem. Isso a radiografia de tórax mostrava derrame pleural à D, sendo
facilita o vômito, a tosse, o espirro, a defecação e o trabalho submetido à drenagem (secreção sero-sanguinolenta). Na
de parto [1,3]. O diafragma tem seu funcionamento UTI fez uso de antibióticos, evoluiu com fístula gástrica,
prejudicado em diversas situações que possam lesar peritonite difusa grave, edema de alças e perfurações na
diretamente o músculo ou sua inervação. Quando ocorre sutura gástrica, que foram fechadas em 06/07/2003, além
lesão diafragmática, ele se move para cima, num movimento de permanecer marsupializado. Apresentou valores médios
paradoxal, ao invés de descer como normalmente ocorre de complacência dinâmica de 26,82 ml/cm H20 e a relação
durante a inspiração. Na prática clínica há suspeita de seu entre a pressão parcial de oxigênio e a fração inspirada de
mau funcionamento quando há redução da força de tosse, oxigênio (PaO2/FiO2), de 173,68. No dia 08/07/2003,
fracasso no desmame associado a uma capacidade vital paciente apresentava relação PaO2/FiO2 = 135 (figura 1),
inferior a 500 ml/kg de peso e agravamento da dispnéia sendo indicado o cálculo da PEEP ideal, cujo valor foi de
[4]. Entre outras, as patologias que acometem o indivíduo e 14 cm H2O. Também apresentava aumento na PaCO2 e
alteram a mecânica do diafragma são pancreatites, ascite, piora do quadro infeccioso. Em 10/07/2003, desenvolveu
obesidade, atelectasias, derrames pleurais, lesões cirúrgicas pneumotórax à D, que foi drenado e mantido em aspiração.
do diafragma, doenças neuromusculares, limitações pela dor A PaCO2 média foi 43 mmHg, porém também se elevou
pós-cirúrgica e abscessos subdiafragmáticos [4]. Neste relato, nos dias 11/07/2003 e 18/07/2003 (figura 2). Esses
foi avaliada a interferência da lesão diafragmática na evolução aumentos coincidiram com pneumotórax residual e piora
da função respiratória de dois pacientes internados na da hipertermia, respectivamente. No dia 19/07/2003, foi
Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas da submetido à traqueostomia e iniciou-se o desmame
Unicamp (UTI-HC-UNICAMP) e suas respectivas respostas ventilatório, apresentando-se os seguintes índices:
clínicas, principalmente no processo de desmame da ventilometria com VC = 6,6 ml/kg, índice de Tobin = 75,
ventilação mecânica. VM = 12 litros e PImáx = -48 cmH2O. Apesar de todos os
índices serem favoráveis ao desmame, o paciente evoluiu
Relato de caso 1 com taquipnéia, períodos de esforço respiratório e VC baixo
ao ser retirado do respirador, tendo que retornar à ventilação
Paciente R.S.L., 18 anos, HC-849703-1, vítima de mecânica. Apresentou, na maior parte do tempo, imagem
ferimento por arma de fogo em região tóraco-abdominal radiológica sugestiva de atelectasia em base D, evidenciada
(dois orifícios em região anterior de tórax e em linha axilar por elevação de hemicúpula diafragmática e opacidade
média à direita). Foi admitido no pronto socorro do Hospital homogênea à radiografia de tórax e ausculta pulmonar com
de Clínicas da UNICAMP no dia 30/06/2003, movimen- murmúrio vesicular abolido. No dia 23/07/2003, após
tando os quatro membros, com pontuação na Escala de fisioterapia respiratória, houve significante melhora dessa
Coma de Glasgow = 15, com enfisema subcutâneo em imagem (figura 3), da ausculta pulmonar e do volume
hemitórax D e estertores crepitantes em base D na ausculta corrente. Nesse dia, o quadro clínico também melhorou e,
pulmonar. Apresentou sangramento de aproximadamente após 24 horas sem febre, o paciente foi transferido para a
1300ml até a admissão hospitalar. Foi encaminhado para o enfermaria de cirurgia do Trauma apenas com nebulização
centro cirúrgico de urgência, onde foi submetido à de O2 e Sat O2 de 94%.
laparotomia exploradora com achado de cerca de 1000 ml
de sangue na cavidade, três lesões em diafragma à D (duas Figura 1 - Variação da PaO2/FiO2 durante internação na UTI nos casos
grau II e uma grau III) que foram suturadas, lesão hepática 1 e 2.
grau IV submetida à segmentectomia, sendo fechada a
cavidade com peritoneostomia e com tela de Baxter.
Permaneceu quatro dias na enfermaria do trauma, sedado
e adaptado à ventilação mecânica. Evoluiu em 03/07/2003,
com acidose respiratória (gasometria: pH médio = 7,22 e
PaCO2 médio = 53,3 mmHg) e instabilidade hemodinâmica
(PAM = 46 mmHg), sendo introduzidas noradrenalina e
dopamina. Em 05/072003, evoluiu com hemorragia pela
cicatriz cirúrgica e pelo dreno de tórax à D, sendo submetido
à relaparotomia com achado de necrose extensa em fundo
gástrico. Foram realizadas gastrectomia parcial e
esplenectomia tática. Foi transferido para a UTI (04/07/
2003) por manter-se febril e instável hemodinamicamente
(PAM = 60 mmHg e FC = 110 bpm), com hipótese
474 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Figura 2 - Variação da PaCO2 durante internação na UTI nos casos 1 e 2. torácica esquerda e abdome). Foi evidenciado, em CT de
tórax, contusão pulmonar E e múltiplas fraturas de arcos
costais à esquerda com derrame pleural que foi drenado.
Apresentava diagnóstico de TCE leve, com contusão cerebral
e swelling grau II na CT de crânio. Como antecedentes
apresentava tabagismo, etilismo e história de queda de laje
de 4 metros de altura, sem seqüela aparente. Recebeu alta
da enfermaria do trauma em 08/09/2002. Em 09/06/2003,
paciente retorna ao serviço com dor epigástrica em
queimação, com irradiação para a região retroesternal,
vômitos e constipação intestinal. Na radiografia de tórax
era evidente uma hérnia diafragmática à E (figura 4). Foi,
então, submetido à toracofrenolaparotomia, no mesmo dia,
Figura 3 - Comparação das radiografias de tórax pré e pós-fisioterapia com redução do conteúdo herniado, colectomia (cólon
respiratória no caso 1. transverso), colostomia proximal, fechamento do coto distal
do diafragma e drenagem de hemitórax E. Como
intercorrência, durante a redução da hérnia, houve
perfuração da alça com contaminação do tórax e do abdome.
Evoluiu com sepse e foi transferido para UTI em 12/06/
2003, necessitando do uso de noradrenalina, dopamina e
antibióticos. Em sua admissão, apresentava-se sedado
(Ramsay = 3), pupilas mióticas e fotorreagentes, drenos
torácicos anterior e posterior à E oscilantes com secreção
RX pré-fisioterapia respiratória (23/07/03). pioserosanguinolenta, em ventilação mecânica, Sat O2 100%
com FiO2 = 0,5. Ao RX apresentava nível hidroaéreo em
hemitórax E e ausculta pulmonar com murmúrio vesicular
abolido em base E. No sexto dia de internação (18/06/
2003), foi extubado, mas apresentava-se taquipneico e com
uso de musculatura acessória de respiração. Apresentava
valores médios de complacência dinâmica = 42,58 ml/
cmH2O, relação PaO2/FiO2 = 220 (figura 1) e PaCO2 =
41,71 mmHg (figura 2), sendo que este permaneceu elevado
RX pós-fisioterapia respiratória (24/07/03). após extubação. Foi colocado em assistência ventilatória
mecânica não invasiva (VMNI), com sucesso e, após três
Figura 4 - Radiografia de tórax mostrando a herniação transdiafragmática dias (21/06/2003), adaptado em nebulização de O2, sendo
no caso 2. transferido para a enfermaria de cirurgia do Trauma.

Discussão

A lesão diafragmática é relatada com freqüência na


literatura e está relacionada com alta morbi-mortalidade. O
prognóstico depende de variáveis como a idade do paciente,
dados hemodinâmicos de admissão, índice de gravidade da
lesão (ISS- Injury Severity Score [5]), lesões associadas, evolução
clínica (sepse ou choque) e tempo de diagnóstico [6,7]. A
incidência da lesão é mais freqüente em homens (83%) que
em mulheres (17%), com idade média de 36,5 anos [6]. A
ruptura diafragmática ocorre mais comumente pós-trauma
Relato de caso 2 brusco (1-7%) ou penetrante (10-15%) [6-9], sendo que
7% resultam de traumas torácicos e 22% de traumas tóraco-
Paciente J.B., 49 anos, HC-815629-7, foi admitido no abdominais [8]. As causas mais freqüentes são: acidente
pronto socorro do Hospital de Clínicas da UNICAMP em automobilístico (52%), ferimento por arma de fogo (8%),
16/08/2002 por hemopneumotórax traumático pós- ferimento por arma branca (7%) e quedas de altura (2%)
atropelamento por trator (roda traseira passou sobre região [6-9]. Os casos aqui relatados enquadraram-se nessas
Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005 475

estatísticas. Ruptura espontânea é extremamente rara e está calculada a PEEP ideal para o primeiro caso, sendo
associada com aumento súbito da pressão intra-abdominal, intensificada a monitorização respiratória, já que os pacientes
como no exercício físico intenso, dança, tosse e parto normal sépticos normalmente apresentam padrão respiratório
[7,9]. Liziamma et al. [8] descreveram o caso de um paciente caracterizado por taquipnéia e aumento da ventilação minuto,
com ruptura pós-tosse violenta. Gómez-Arnau et al. [9] secundário à resposta inflamatória sistêmica (freqüência
relataram que a manobra de tosse assistida durante a respiratória média dos pacientes estudados = 30 rpm).
fisioterapia respiratória causou herniação do conteúdo Na revisão da literatura, são escassas as descrições sobre
abdominal para o tórax. Outros fatores, como os ante- alterações da mecânica respiratória, secundárias à lesão
cedentes, também podem contribuir para ruptura espontânea. diafragmática, exceto no estudo de Letoquart et al. [13], que
O indivíduo tabagista tem o músculo plano, frágil e atrofiado avaliaram seqüelas respiratórias em 28 casos de ruptura
com pequena excursão respiratória [7,9]. Como observado diafragmática resultante de trauma brusco, sendo que 17
no caso 2, o paciente, com 49 anos, era tabagista e, em sua (60%) tiveram complicações com predomínio de atelectasias.
história, havia relato de queda prévia de 4m de altura e De fato, nos casos aqui relatados, evidenciou-se atelectasias
atropelamento com uma série de complicações pulmonares. em ambos. Além da atelectasia, pôde-se observar nestes dois
Esses fatores podem ter contribuído para a fragilidade casos: diminuição da complacência dinâmica, diminuição do
diafragmática, e podem ser fatores contribuintes para a volume corrente, hipoventilação caracterizada pelo aumento
herniação. Imediatamente pós-ruptura, ou tardiamente, pode da PaCO2, diminuição da relação PaO2/FiO2, com aumento
haver herniação secundária ao aumento do gradiente de do shunt pulmonar e alterações do padrão respiratório, como
pressão peritoneo-pleural, especialmente durante a inspiração sinais de esforço e taquipnéia. Foi observado que a sepse
máxima, em que o aumento da pressão negativa intratorácica não foi causa isolada de falha no desmame, e que o tempo
favorece o encarceramento das vísceras abdominais [6,8,9]. de cicatrização do diafragma influencia o desmame
Segundo Gómez-Arnau et al. [9], a incidência de lesão à ventilatório. Os dois pacientes apresentaram sepse, porém,
esquerda é de aproximadamente 87%, contra 13% à direita. no caso 2, o tempo de ventilação mecânica foi de seis dias
Isto pode ser explicado pela anatomia do sistema respiratório. (nove dias de internação na UTI) e, no caso 1, esse tempo
O hemidiafragma direito apóia-se sobre o fígado, distribuindo foi de dezoito dias (dezenove dias na UTI). Ambos os
de modo mais uniforme a pressão em toda sua superfície, e pacientes apresentaram sepse e complicações respiratórias.
o esquerdo, especialmente o folheto póstero-lateral, é mais Assim, os achados sugerem que a lesão diafragmática
susceptível à ruptura. No caso 2, o conteúdo abdominal associada à presença de atelectasia foi possivelmente um
invadiu o hemitórax E e, no caso 1, o paciente foi vítima de fator importante na dificuldade de desmame ventilatório,
trauma penetrante afetando diretamente o diafragma e o principalmente no caso 1. É válido ressaltar que este paciente,
fígado, além de outras vísceras do abdome supramesocólico, além da ruptura, estava marsupsializado, com dificuldade
o que interferiu na boa mobilidade diafragmática, dependente para ser mudado de decúbito. Assim que foi fechada a
sobretudo da integridade funcional do tórax, abdome e cavidade, a fisioterapia respiratória pôde atuar de maneira
também da interação com todos os seus componentes mais intensa, facilitando a reversão da atelectasia. Vários
viscerais: pulmões, mediastino, fígado, estômago, baço, autores [6,7,9,14] descrevem que a radiografia simples e
pâncreas, rins e bexiga [4]. Massa et al. [10] relataram que, tomografia computadorizada de tórax são exames
se além da ruptura diafragmática, houver lesões associadas, subsidiários úteis no diagnóstico de lesão diafragmática. Os
haverá dificuldade no diagnóstico pela predominância dos pacientes aqui estudados foram submetidos a exames
efeitos clínicos das injúrias múltiplas. Mesmo sendo um radiográficos simples, como a CT de tórax, que auxiliaram
músculo primariamente inspiratório, o diafragma não relaxa no diagnóstico das lesões. Os sinais radiológicos sugestivos
logo ao final da inspiração, encontrando-se ainda ativo no de lesão diafragmática incluem a aparente elevação da cúpula
início da expiração, provavelmente para impedir a redução diafragmática, o deslocamento do mediastino ipsilateral e
súbita do volume torácico [4]. Com a lesão, ocorre a perda imagem em base pulmonar sugestiva de atelectasia,
dessa integridade e há hipocinesia diafragmática, resultando caracterizada por opacidade homogênea (caso 1). Em casos
em significante diminuição da capacidade vital e do volume de herniação, além desses achados, haverá elevação do
residual pulmonar, podendo levar ao colapso alveolar [4]. A conteúdo abdominal para o interior do tórax (caso 2). Outras
complacência dinâmica dos pacientes foi calculada e complicações, como íleo paralítico, fístula gastropleural e
permaneceu abaixo do valor normal (100 ml/cmH2O), pneumonia, podem ser evidenciadas [6] e, no presente relato,
caracterizando perda da capacidade vital [11]. Ambos os os dois pacientes desenvolveram-nas.
pacientes relatados aqui, do sexo masculino, foram admitidos
na UTI apresentando instabilidade hemodinâmica e sepse. Conclusão
Barbas et al. [12], no Consenso Brasileiro de Sepse,
recomendam, nessa condição clínica, a instituição do suporte Observou-se, nestes casos, que a lesão diafragmática
ventilatório associado à otimização da PEEP. Assim, foi influencia a mecânica respiratória, diminuindo a compla-
476 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

cência dinâmica e o volume corrente, além de alterar o pa- 5. Mantovani M, Fraga GP. Avaliação da gravidade - índices de
drão respiratório com manifestações de sobre-esforço e trauma. In: Freire E. Trauma – a doença dos séculos. São
taquipnéia. Além da hipoventilação, caracterizada pelo Paulo: Atheneu; 1998.
aumento da PaCO2, pode ocorrer alterações de ventilação/ 6. Mihos P, Potaris K, Gakidis J, et al. Traumatic rupture of the
diaphragm: experience with 65 patients. Injury 2003;34:169-72.
perfusão e aumento de shunt pulmonar (PaO2/FiO2 inferior
7. Stoica SC, Craig SR, Soon SY, Walker WS. Spontaneous
a 300), possivelmente devido às atelectasias, que geralmente rupture of the right hemidiaphragm after video-assisted lung
estão associadas à lesão diafragmática (observado princi- volume reduction operation. Ann Thorac Surg
palmente no caso 1). Conclui-se, portanto, que a presença 2002;74(3):929-31.
de lesão diafragmática é mais um fator contribuinte para a 8. Liziamma G, Shakaib RU, Faroque AK. Diaphragmatic
dificuldade de desmame ventilatório em pacientes internados rupture: a complication of violent cough. Chest
em uma unidade de terapia intensiva, devendo ser investigada 2000;117(4):1200-3.
e tratada precoce e adequadamente. Dessa forma, é impor- 9. Gómez-Arnau J, Novoa N, Isidro MG, Plaza A, Galindo F,
tante que o fisioterapeuta conheça essas alterações fisiopa- Ezquerro C. Ruptured hemidiaphragm after bilateral lung
transplantation. Eur J Anaesthesiol 1999;16(4):259-62.
tológicas, com a finalidade de proporcionar um suporte clíni-
10. Massa ST, Ferrarese F, De Carne F, Lupoli M, Scardicchio A,
co mais adequado aos pacientes vítimas desse tipo de lesão. Fabiano G. Diaphragmatic trauma: retrospective analysis of
25 patients. G Chir 2001;22(6-7):232-4.
Referências 11. Gonçalves JL. Indicações para ventilação mecânica. In: Carvalho
CRR, ed. Ventilação mecânica – Volume I – Básico. São Paulo:
1. Ruppel GO. Sistema respiratório. In: Scanlan GL, Wilkins Atheneu; 2000. p. 55-68.
RL, Stoller JK. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. 12. Barbas CSV, Amato MBP, Carvalho CRR. Consenso brasileiro
Traduzido por: Ikeda M. 7a ed. São Paulo: Manole; 2000. p. de sepse, tratamento: suporte ventilatório. São Paulo: Hospital
147-53. Albert Einstein/AMIB; 2002. p. 1-15.
2. West, JB. Mecânica da respiração. Fisiopatologia pulmonar 13. Letoquart JP, Kunnin N, Lechaux D, Gerard O, Morcet N,
moderna. Traduzido por Oliveira NG. 4a ed. São Paulo: Mambrini A. Rupture of the diaphragm in closed traumas:
Manole; 1996. p 83-108. apropos of 28 cases. J Chir (Paris) 1995;132(12):478-82.
3. Guyton AC, Hall JE. Ventilação pulmonar. In: Tratado de 14. Versaci A, Camminiti R, Centorrino T, Rossito M, Pante S,
fisiologia médica. Traduzido por Pinho PLV. 9a ed. Rio de Mastrojeni C et al. Diaphragm rupture caused by closed
Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. p 433-43. trauma. A more and more frequent condition. G Chir
4. Azeredo CAC. Fisioterapia respiratória moderna. 4a ed. São 2000;21(8-9):343-7.
Paulo: Manole; 2002. p 233-65.
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Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade 3. Revisão


bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relaciona-
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. das à Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão tam- ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revis-
bém ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) tas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros mesmo dos artigos originais.
que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os
autores já aceitem estas condições. 4. Atualização ou divulgação
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” São trabalhos que relatam informações geralmente atuais
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedi- sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (no-
cal journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado vas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, distintas de um artigo de revisão.
com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do
5. Relato de caso
International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE),
htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos ex-
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções plorando um método ou problema através de exemplo. Apre-
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrôni- senta as características do indivíduo estudado, com indicação
co/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retor- 6. Comunicação breve
no de acordo com a circunstância, realizar modificações nos Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, re-
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. sultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar co-
mentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
1. Editorial argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
por um de seus membros.
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4
sobre-escrito, etc.
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Ro-
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
man) com todas as formatações de texto, tais como negrito,
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que
editados em Power Point, Excel, etc
dez referências.
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
7. Resumos
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimen-
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
tais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e
Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, 8. Correspondência
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
sobre-escrito, etc. relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacio-
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato nados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao au-
Excel/Word. tor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (for- Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especifi-
mato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, cações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Excel, etc. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bib-
liográficas. 1. Normas gerais
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processa-
o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profis- dor de texto (Word), em página de formato A4, formatado da
sional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho
do texto. 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
478 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
cada tabela junto à mesma. para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciên-
especificações anteriores. cias da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida
e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e do possível, é melhor usar os descritores existentes.
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, 5. Agradecimentos
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliogra- Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio fi-
fia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para nanceiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do arti-
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. go, antes as referências, em uma secção especial.
Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (dis-
quetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta
6. Referências
no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor.
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancou-
ver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográ-
2. Página de apresentação ficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parên-
A primeira página do artigo apresentará as seguintes infor- teses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto,
mações: seguindo as seguintes normas:
- Título em português e inglês. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras ini-
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular ciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do
e títulos acadêmicos. livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo -
- Local de trabalho dos autores. itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
Exemplo:
para paginação.
Livro:
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparel-
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
hos, etc.
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par- 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
ticipado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade
pública do seu conteúdo. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
O crédito como autor se baseará unicamente nas contri- iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
buições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de
a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, pági-
revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo in- nas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os
telectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medi-
Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e cus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a
c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual
na coleta de dados não justifica a participação como autor. A de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até
supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and lo-
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máx- calization of urokinase-type plasminogen activator receptor in
imo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
para os estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: Os artigos, cartas e resumos devem ser
- Objetivos do estudo. enviados para:
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto-
dologia, análise). Jean-Louis Peytavin
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e es- Atlantica Editora
tatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior 20021-180 Rio de Janeiro RJ
novidade. Tel: (21) 2221 4164
E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
480 Fisioterapia Brasil - Volume 6 - Número 6 - novembro/dezembro de 2005

Calendário de eventos
2006 Junho
15 a 18 de junho
Janeiro 19º Congresso paulista de Educação Física
Jundiaí, SP
14 a 18 de janeiro
Tel: (11) 4587-9611
21º Congresso Internacional de Educação Física
Foz de Iguaçu, PR 23 a 25 de junho
Informações: fiep.brasil@uol.com.br Congresso Internacional de Fisioterapia e Terapia
Manual
Março Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro
Informações: Tel.:(21) 9449-0372
20 a 25 de março bruna@rygy.com.br
5th International Conference on Advances in
Pulmonary Rehabilitation and Management of 29 de junho a 1 de junho
Chronic Respiratory Failure Cardiovascular Prevention 2006 / Setting up a
Stresa, Itália Rehabilitation Clinic
Informações: congressi@effetti.it Sophia-Antipolis, France
Informações: sdeambrosis@escardio.org
22 de março
Evidence-Based Cognitive Rehabilitation
Setembro
New Orleans, Estados Unidos
Informações: info@cforums.com 13 a 16 de setembro
XII Congresso Latinoamericano de Fisioterapia e
Abril Kinesiologia
Bogotá, Colômbia
6 a 9 de abril E-mail: congresoclafk@ascofi.org.co
Reatech – V Feira Internacional de tecnologias em
reabilitação e inclusão
Outubro
Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo
Informações: www.cipanet.com.br 6 a 9 de outubro
V CONNEFI - Congresso Norte Nordeste de Fisiote-
28 de abril a 1 de maio
rapia
40º Encontro Nacional de Atividade Física, Fisiote-
Hotel Tropical, Manaus, AM
rapia e Nutrição
Organização: SOAMFI (Sociedade Amazonense de Fisiotera-
Poços de Caldas, MG
pia)
Tel: (35) 3222-2344
Informações: Adriana (92) 88127674, Dr. Marcos Cortez (92)
81111030)
www.soamfi.org.
18 a 21 de outubro
6th Mediterranean Congress on Physical and
Rehabilitation Medicine
Algarve, Portugal
Informações: werner@medicongress.com

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