Você está na página 1de 60

ÍNDICE

05 UMA EXPOSIÇÃO. MEDICINA LUÍS DE PINA

08 O DIAGNÓSTICO MÉDICO E A ESPECIALIZAÇÃO


DA MEDICINA DO SÉCULO XIX
10 OS MEIOS AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO

20 A SANGRIA E O CLISTER

24 OS MÉTODOS FÍSICOS DE HEMÓSTASE

30 AS TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS


NA CIRURGIA
34 OS INSTRUMENTOS DE EMBRIOTOMIA
34 O FÓRCEPS OBSTÉTRICO
36 O LITOTRITOR

42 A CADEIRA DE PARTO

44 A INCUBADORA

46 OS INSTRUMENTOS DE SUTURA DIGESTIVA

50 LUÍS DE PINA
52 OS ESTUDOS MÉDICO-HISTÓRICOS
NA OBRA DO PROFESSOR LUÍS DE PINA
UMA EXPOSIÇÃO
MEDICINA LUÍS DE PINA

Para a segunda exposição do ciclo “Aventureiros, Naturalistas e Co-


leccionadores”, pretendemos apresentar mais um dos núcleos mu-
seológicos da Universidade do Porto através de uma abordagem
por três vectores: uma colecção, uma personagem, um evento.

Sabíamos de antemão que o trabalho nos iria ser grandemente


facilitado: ao contrário de outros núcleos museológicos univer-
sitários, que perderam parte da sua relevância para um ensino
universitário em permanente actualização, o Museu de História
da Medicina é um museu didáctico em ligação com a disciplina de
História da Medicina, sendo a direcção do museu assegurada pelo
regente da cadeira.

O nosso projecto, explicitamente dirigido ao público jovem, en-


controu na Prof.ª Doutora Amélia Ricon Ferraz, directora do
museu, um apoio entusiástico e empenhado. Como comissária,
concretizou o nosso pedido genérico – explicitar alguns dos mo-
mentos de evolução do conhecimento e da tecnologia médica – or-
ganizando e seleccionando objectos e ilustrações segundo duas
grandes unidades temáticas, explicitadas com textos da sua auto-
ria: o diagnóstico médico e a especialização na medicina do século
XIX e, também, as transformações científicas e tecnológicas que
decorreram paralelamente (e em interdependência) na cirurgia.
Outros subgrupos temáticos elucidarão o visitante sobre este pro-
cesso, mas também revelarão a perduração anacrónica de algumas
práticas médicas, como a sangria e o clister.
A personagem em evidência nesta exposição não poderia deixar
de ser o Prof. Luís de Pina, fundador do Museu de História da
Medicina, cujo percurso tentamos caracterizar em palavras ne-
cessariamente breves. Finalmente, é dado relevo ao evento que
despoletou o processo de instalação do museu: a exposição co-
memorativa do 1.º centenário da fundação da Real Escola de Ci-
rurgia, que teve lugar em 1925 e cujas peças – muitas doadas por
particulares – constituíram o núcleo inicial do museu.

Resta-nos agradecer aos intervenientes, muito especificamente à


Prof.ª Amélia Ricon Ferraz, mas também sem esquecer o apoio
que o Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências, nas
pessoas do seu presidente cessante, Prof. Francisco Barreto Cal-
das, e do actual, Prof. José Pissarra, nos prestou. Last but not least,
queremos agradecer a cooperação da direcção da Faculdade de
Ciências, que tornou este projecto possível.

JOSÉ FERREIRA GOMES


VICE-REITOR

A ESCOLA MÉDICA NO 1.º CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO


DA REAL ESCOLA DE CIRURGIA
PALÁCIO DE CRISTAL. 1925
10

O DIAGNÓSTICO MÉDICO E A ESPECIALIZAÇÃO NA MEDICINA DO SÉCULO XIX

No século XIX assiste-se à evolução da ciência em geral, fruto da


difusão dos princípios de liberdade da palavra e do pensamento,
e consequente descentralização da influência religiosa e política
na Universidade. Auguste Comte (1798-1857), ao investigar as leis
que regem os fenómenos, considera os factos reais como funda-
mento de métodos exactos e objectivos, fundando o positivismo.
A medicina passou a depender em grande parte da ciência, o la-
boratório assumiu um estatuto relevante na resolução das situa-
ções de doença. O médico partilha da tendência positiva do tem-
po, aceitando os resultados fundamentados em factos objectivos.
Vai caminhar no sentido do diagnóstico clínico-laboratorial e da
especialização, munido de sólidos princípios científicos, de instru-
mentos e de fármacos, colaborando com outros profissionais não
médicos indispensáveis no âmbito da investigação em medicina e
da actividade médica assistencial. Os instrumentos de diagnósti-
co, muitos decorrentes de investigações anteriores a este período,
adquirem neste século uma qualidade ímpar, ditada pelas novas
exigências clínicas e possível graças aos sucessivos avanços cien-
tíficos e tecnológicos. A dimensão do saber daí decorrente carecia,
contudo, de uma sistematização, que culminará com a organiza-
ção das diferentes especialidades médicas.

ESTETOSCÓPIO DE LAËNNEC. SÉC. XIX


OS MEIOS AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO

ESTETOSCÓPIO BIAURICULAR DE ALISON. SÉC XIX


O ESTETOSCÓPIO

O estetoscópio foi o primeiro instrumento de diagnóstico não


invasivo na história da medicina. Data de 1816 a sua invenção
pelo Doutor René Theóphile Hyacinthe Laënnec (1781-1826). A
palavra “estetoscópio” foi introduzida na terminologia médica
pelo seu inventor. Deriva das palavras “stethos”, peito, e “skopein”,
observar. A este estetoscópio rígido monoauricular sucederam
outros do género que foram idealizados com formas e materiais
diferentes: as madeiras de cedro e pinho eram as mais resistentes
e as menos frias ao tacto; as de cedro e ébano ampliavam a in-
tensidade das vibrações. Paralelamente, surgiram os estetoscópios
flexíveis monoauriculares. O estetoscópio biauricular de George
Cammann (1852, Nova Iorque) constituiu o protótipo de todos
quantos o sucederam. Os materiais utilizados na manufactura da
extremidade torácica destes estetoscópios, a campânula, foram
a madeira, o marfim, os metais e a cerâmica. A câmpanula não
permitia a audição de alguns sons de alta-frequência, situação re-
solvida com o diafragma, dispositivo que possuía uma membrana
capaz de vibrar como o tímpano humano.

O ESFIGMOMANÓMETRO

O primeiro grande avanço instrumental na determinação da pres-


são sanguínea surgiu em 1876 com o Professor Samuel von Basch,
de Viena. Riva-Ricci utilizou o mecanismo deste manómetro de
mercúrio mas introduziu o braçal, um saco de borracha que envol-
via o braço e instaurava uma compressão arterial completa (1895).
Em 1905, Korotkow introduziu a auscultação com o estetoscópio
na determinação da pressão arterial com o esfigmomanómetro,
em vez da palpação do pulso arterial.
O esfigmomanómetro tipo relógio de Friedrich von Reklinghau-
sen (1908) usava uma bomba de bicicleta para insuflar o braçal e
uma mola de Bourdon, um tubo metálico fino e curvo, fixo numa
das extremidades, que se ajustava à pressão do ar, alteração essa
que movimentava o indicador.
O esfigmomanómetro de Pachon (1909) utilizava um mecanismo
diferente de funcionamento, o dos barómetros aneróides.
14

O DIAGNÓSTICO MÉDICO E A ESPECIALIZAÇÃO DA MEDICINA DO SÉCULO XIX OS MEIOS AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO

O MARTELO DE REFLEXOS TENDINOSOS

Em 1875, Wilhelm Erb apresentou a sua teoria sobre o reflexo


tendinoso. Afirmava que um arco nervoso transmitia um impulso
desde um tendão estimulado até à espinal-medula e de volta para
o tendão muscular, de forma a produzir uma contracção instantâ-
nea. Os estudos experimentais ulteriores confirmaram a teoria de
Erb. Tornava-se possível na prática clínica identificar o nível da do-
ença ou da lesão na espinal-medula. A microscopia permitiu iden-
tificar os nervos sensitivos e motores envolvidos nos reflexos.

O QUERATOSCÓPIO E O OFTALMOSCÓPIO DE PLÁCIDO

O novo instrumento explorador da córnea foi designado pelo seu


inventor – o Professor da Escola Médico-Cirúrgica do Porto Antó-
nio Plácido da Costa (1849-1916) – de astigmatoscópio explorador,
sendo conhecido internacionalmente por queratoscópio de Pláci-
do. Nos finais de 1879, Plácido da Costa publica no Periódico de
Oftalmologia Prática, dirigido pelo médico-oculista Van der Laan,
sete artigos dedicados à apresentação dos seus inventos: o astig-
matoscópio explorador, o binoscópio ortopédico, a cápsula higro-
térmica e a bateria galvanoterapêutica. Nas suas publicações inclui
esquemas dos referidos instrumentos e fotografias de imagens vi-
suais corneanas resultantes da aplicação do queratoscópio.
Em 1850, o médico alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894)
construiu o primeiro oftalmoscópio da história ao associar algu-
mas lentes côncavas a três vidros reflectores da luz. Era possível
iluminar a câmara posterior do globo ocular através da pupila e
obter uma imagem global dos elementos da retina. O oftalmoscó-
pio de Plácido da Costa constituiu “o primeiro systema portuguez
e o primeiro oftalmoscópio fabricado em Portugal. 1880.”, conso-
ante a nota manuscrita que o Professor deixou apensa a um dos
exemplares deste modelo.
O TERMÓMETRO

A avaliação da temperatura corporal fazia parte integrante do exa-


me objectivo do doente desde a mais remota Antiguidade. Contu-
do, a ciência e a tecnologia do tempo não favoreciam a idealização
e a manufactura de um instrumento susceptível de quantificar a
temperatura corporal. Atribui-se a Galileu Galilei (1564-1642) o
conhecimento e a utilização de um instrumento para quantificar
o calor. Era um instrumento sem escala ou pontos fixos, um ter-
moscópio aberto de ar. Os resultados que este instrumento forne-
cia dependiam das oscilações do calor e das variações da pressão
atmosférica. Por volta de 1610, Cornelius Drebbel (1572-1634)
apareceu com a sua “experiência de Héron”, na qual demonstrou
a acção dilatadora do calor sobre o ar. O seu termómetro ficou
conhecido pelo nome de perpetuum mobile. Em 1614, Santorio
Santorio (1561-1636) apresenta o seu instrumentum temperamen-
torum, que orientou para fins clínicos. Como requisitos prioritá-
rios, considerou que o termómetro deveria ser aplicado numa de-
terminada região do corpo durante um tempo determinado e por
várias vezes no decurso de cada doença. O seu cumprimento faria
deste instrumento um valioso auxiliar de diagnóstico. Contudo,
os seus objectivos não foram atingidos. Os primeiros registos re-
lativos aos primeiros termómetros fechados de “espírito de vinho”
pertencem à Academia del Cimento (Florença, 1657). Em 1665,
Robert Boyle (1626-1691) propôs como ponto fixo a temperatu-
ra de congelação do óleo de anis. Christian Huygens (1629-1695)
propõe, pela primeira vez, os índices de congelação e de ebulição
da água como pontos fixos. Testou-se uma diversidade de substân-
cias, tais como o óleo de linhaça, o ar, o espírito de vinho, o mer-
cúrio, entre outras. A calibração dos tubos com uma gota de mer-
cúrio representou um progresso considerável no aperfeiçoamento
do termómetro. O tipo de divisões que ainda hoje se praticam nas
escalas termométricas ligam-se aos nomes de G. Fahrenheit (1686-
1736), Réaumur (1683-1757) e Anders Celsius (1701-1744).
O termómetro de Immisch diferencia-se dos demais pelas reduzi-
das dimensões que possui. O sistema de funcionamento baseia-se
no pressuposto da dilatação de líquidos num tubo metálico por
acção do calor (1889).
16

O DIAGNÓSTICO MÉDICO E A ESPECIALIZAÇÃO DA MEDICINA DO SÉCULO XIX OS MEIOS AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO

O MICROSCÓPIO

O microscópio simples é constituído por uma lente biconvexa,


nada mais que uma lupa comum fixa num suporte. Quando os
raios paralelos do sol atravessam o vidro, convergem para um
ponto comum, o foco principal. Sempre que um objecto é colo-
cado entre a lente e o seu foco principal observa-se uma imagem
ampliada “virtual”. Quanto maior a superfície da lente, maior a
ampliação. Atribui-se a Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) o
fabrico dos primeiros microscópios simples constituídos por uma
placa metálica (de latão, prata ou ouro) perfurada onde se alojava
uma lente esférica. Era um instrumento útil quando não se torna-
va necessária uma grande ampliação.
No início do século XVII já se tinha constatado que uma maior
ampliação do objecto acontecia com a associação de uma segunda
lente (a objectiva) à do microscópio simples – o microscópio com-
posto. Para obter uma imagem “real”, o objecto a estudar devia ser
colocado a uma distância maior das lentes do que a sua distância
focal. A aplicação de um diafragma com uma pequena abertura
central reduziu as aberrações cromáticas e esféricas de forma po-
sitiva, mas limitava a luz proveniente do objecto. Somente cerca
de 1820, com a introdução do microscópio de lentes acromáticas,
o diafragma se tornou obsoleto, mas, dez anos mais tarde, regres-
saria com a introdução do condensador acromático, dispositivo
que ao acabar com a distorção da imagem e a deficiente ilumina-
ção constituiu um importante avanço tecnológico, determinante
de importantes avanços científicos.

MICROSCÓPIOS
ALFRED METZ. CATALOGUE LLLUSTRÉ. 1906
18

O DIAGNÓSTICO MÉDICO E A ESPECIALIZAÇÃO DA MEDICINA DO SÉCULO XIX OS MEIOS AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO

OS ESPÉCULOS

“Espéculo” é uma palavra latina que significa espelho. O espéculo


visa dilatar a entrada de certas cavidades de forma a facilitar a
visualização directa ou reflectida do estado de um órgão. Até 1800
a cura das doenças fundamentava-se na natureza dos sintomas e
sinais identificados. Não se sentia a necessidade de instrumentos
complementares de diagnóstico. O espéculo era uma excepção. A
sua utilização remonta à medicina grega e romana e, desde esse
tempo, a sua forma evidenciou uma alteração constante, visando
salvaguardar o bem-estar do paciente e uma melhor visualização.
A ideia científica do espéculo vaginal cilíndrico era antiga mas
concretizou-se com Joseph Recámier (1774-1852), em 1801. A esta
forma introduziram-se várias e sucessivas alterações, bem como
diversos foram os materiais empregues (metal, marfim, vidro,
porcelana, madeira, borracha). As formas valvulares, da preferên-
cia dos gregos e romanos, possuíam um princípio comum subja-
cente a mecanismos díspares. Espéculos de duas, três ou mais val-
vas, manufacturados em diferentes épocas, visaram uma melhor
exposição e uma menor ofensa corporal.
O espéculo anal sofreu uma evolução paralela à do espéculo va-
ginal em termos de forma e dos materiais utilizados na sua ma-
nufactura.

ESPÉCULO VAGINAL DE MARC COLUMBATS MODIFICADO POR GUILLON. SÉX XIX


ESPÉCULO VAGINAL TRIVALVE. SÉC XIX
CÓPIA DO MICROSCÓPIO DE LEEUWENHOEK ESTOJO DE AÇO FORRADO
De autoria do Professor Luís de Pina (1901-1972) A FLANELA VERMELHA
Latão. Séc. XX. 8 x 2,8 x 4 cm Pertenceu ao Professor José de Andrade Gramaxo
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO (1826-1921).
Contém um termómetro de Immischs. Metal e vidro.
DISCO DE PLÁCIDO Séc. XIX. 4 x 2,8 x 1 cm
Pertenceu ao Professor Plácido da Costa (1849-1916) 3,2 X 3,2 X 1,3 CM. OFERTA DO DOUTOR CASTRO LOPES.
Aço e papel. Séc. XIX. 33 x 28,5 x 3,5 cm BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
PLÁCIDO DA COSTA. OFERTA DO SERVIÇO DE FISIOLOGIA
DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO ESTOJO DE COURO
PELO PROFESSOR PINA CABRAL EM 1991. Contém um fonendoscópio de Bazzi & Bianchi.
CÍRCULOS CONCÊNTRICOS APAGADOS
Aço, vidro, borracha e plástico. Séc. XX.
80 x 6,2 x 6,2 cm
ESTETOSCÓPIO BIAURICULAR COMBINADO 10,5 X 9,2 X 2 CM. G. BOULITTE, PARIS.
Aço, borracha e plástico. Séc. XX. 64,5 x9 x 2,7 cm MODERADO ESTADO DE CONSERVAÇÃO
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESTOJO DE MADEIRA E LATÃO,


ESTETOSCÓPIO BIAURICULAR COM DIAFRAGMA FORRADO A PERGAMÓIDE E FLANELA VERMELHA
E APOIO DIGITAL Contém o oscilómetro esfigmométrico do
Aço, borracha e plástico. Séc. XX. 55,5 x 12,6 x 4,5 cm Dr. Pachon. Apresenta a inscrição: “Bréveté S.G.D.Gg
TONO. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO – G. Boulitte ing. R Const. R 7, rue Linné, Paris, n.º 2”.
Aço niquelado, vidro, borracha, couro e tecido.
ESTETOSCÓPIO BIAURICULAR DE ALISON Séc. XX. 7 x 15 x 15 cm
Marfim, latão, aço, ebonite e tecido. Séc. XIX. 13 X 20,5 X 17,5 CM. ENTREGUE À DOUTORA MANUELA FRADA
40 x 16 x 4,7 cm PELO PROFESSOR FERRAZ JÚNIOR E POSTERIORMENTE OFERECIDO
WEISS, LONDON. OFERTA DO PROFESSOR AMÂNDIO TAVARES. AO MUSEU. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESTOJO DE METAL, PLÁSTICO E PELE


ESTETOSCÓPIO DE LAËNNEC Contém um esfigmomanómetro
Madeira e marfim. 1823. 25 x 3,7 x 3,7 cm do Dr. H. von Recklinghausen. Aço, vidro, borracha
GRUMBRIDGE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO e tecido. Séc. XX. Braçal. Metal, tecido e borracha.
Séc. XX. 13,8 x 135 x 2 cm
ESTETOSCÓPIO RÍGIDO MONOAURICULAR 7,2 X 28,7 X 16 CM. OFERTA DO PROFESSOR CASTRO TAVARES
DE PIORRY EM 1973. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Madeira e marfim. Séc. XIX. 18,6 x 4,5 x 4,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO MARTELO PERCUSSOR DE DÉJERINE
Madeira, latão, aço e borracha. Séc. XIX.
7,3 x 20,5 x 3 cm
COLLIN. MODERADO ESTADO DE CONSERVAÇÃO
MARTELO PERCUSSOR DE NIEMAYER ESPÉCULO VAGINAL
Aço e borracha. Séc. XIX. 5 x 19 x 1,5 cm Estanho. Séc. XIX. 16,7 x 4,2 x 11,9 cm
OFERTA DO DOUTOR CASTRO HENRIQUES. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
ESPÉCULO VAGINAL
OFTALMOSCÓPIO DE PLÁCIDO DA COSTA 4 exemplares
Pertenceu ao Professor Plácido da Costa (1849-1916). Madeira e aço cromado. Séc. XIX.
Apresenta uma nota manuscrita “Oftalmoscópio 9,4 x 18,5 x 4,3 cm, 9,7 x 18,7 x 4,5 cm,
A. Plácido. O primeiro systema portuguez e o primeiro 10 x 19,5 x 4,7 cm, 10,7 x 19,7 x 5,2 cm
oftalmoscópio fabricado em Portugal. 1880” COLLIN. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Tartaruga, latão e vidro. Séc. XIX. 6 x 4 x 2,1 cm
PLÁCIDO DA COSTA. OFERTA DO SERVIÇO DE FISIOLOGIA ESPÉCULO VAGINAL BIVALVE
DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO COM ESPELHO REFLECTOR
PELO PROFESSOR PINA CABRAL EM 1991. Prata alemã e aço. Séc. XIX. 11 x 20 x 5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO GALANTE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESPÉCULO ANAL TIPO MATHIEU ESPÉCULO VAGINAL DE FERGUSON


Aço. Séc. XIX. 19 x 11 x 10 cm Vidro. Séc. XIX. 4,7 x 14,7 x 4,7 cm
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESPÉCULO DE CURLING ESPÉCULO VAGINAL DE FERGUSON


Estanho. Séc. XIX. 12,5 x 7,5 x 3 cm Vidro. Séc. XIX. 4 x 9,8 x 4 cm
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO MODERADO ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESPÉCULO FENESTRADO DE SIDEREY ESPÉCULO VAGINAL DE FERGUSON


Aço. Séc. XIX. 5 x 12 x 3,3 cm Vidro. Séc. XIX. 4 x 9,8 x 4 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESPÉCULO INTRA-UTERINO ESPÉCULO VAGINAL DE MARC COLUMBATS


Madeira, aço e baquelite. Séc. XIX. 1,6 x 27,7 x 1,8 cm MODIFICADO POR GUILLON
COLLIN. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Aço. Séc. XIX. 19,7 x 8 x 19 cm
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
ESPÉCULO INTRA-UTERINO
Prata alemã e aço. Séc. XIX. 1,7 x 27,9 x 4,3 cm ESPÉCULO VAGINAL TRIVALVE
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Prata. 1843-61. 9 x 16 x 6,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
ESPÉCULO RECTAL BIVALVE
Aço. Séc. XVIII. 22,3 x 10,3 x 10,5 cm ESPÉCULO VAGINAL TRIVALVE DE PETIT
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Madeira e aço. Séc. XVIII. 26,7 x 12 x 8,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
22

A SANGRIA E O CLISTER

A medicina hipocrática, assim designada por ter tido como grande


mentor Hipócrates de Cós (séc. V – IV a.C.), constituiu a primeira
grande doutrina médica científica do mundo. Numa Europa in-
fluenciada pelas diversas escolas filosóficas gregas, com Hipócra-
tes e a sua escola nasceu a medicina clássica ocidental. Tudo o que
existia na natureza era composto de quatro elementos e quatro
qualidades: terra, água, fogo e ar – quente, húmido, seco e frio. O
estado de saúde dependia do equilíbrio dos humores ou líquidos
corporais (eucrasia) e da força curativa da natureza, a physis. O
desiquilíbrio da combinação da bile negra, do flegma, do sangue
e da bile amarela entre si e destes humores com as partes sólidas
gerava a doença (discrasia). Na evolução da doença existiam os
estados de crueza (apepsia), cocção (pepsia) e eliminação (crise)
da matéria mórbida por intercepção da physis. A terapêutica li-
mitava-se a auxiliar a physis de forma a obter o efeito contrário
da doença. Consistia no emprego de métodos e práticas que se
tornaram universais nos diferentes períodos da história da huma-
nidade. As práticas da sangria e do clister encontram aqui os seus
mais ancestrais fundamentos científicos.

ESTOJO DE SEDA E VELUDO VERMELHO


BORDADO A OURO. SÉC XVIII/ XIX
Tesoura. Navalha. Estilete. Pinça.
Pinça de depilação e colher auricular.
Pinça de dissecção. Depressor lingual. Escalpelo
BACIA DE BARBEIRO SANGRADOR ESTOJO DE MADEIRA
Latão. Séc. XVIII. 10 x 35 x 35 cm FORRADO A FLANELA VERMELHA
OFERTA DA DOUTORA LÍDIA RODRIGUES FERREIRA. Contém:
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Ventosa. Latão, aço e vidro. Séc. XX. 14,5 x 7,5 x 7,5 cm.
Ventosa. Aço e vidro. Séc. XX. 13,5 x 7,5 x 7,5 cm.
ESCARIFICADOR DE DEZ LÂMINAS Ventosa. Latão, aço e vidro. Séc. XX. 13,7 x 5 x 7,5 cm.
Aço dourado. Séc. XVIII. 5,7 x 5 x 4,5 cm Ventosa. Latão, aço e vidro. Séc. XX. 12,5 x 6,5 x 6,5 cm.
SAVIGNY. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Escarificador, latão e aço. Séc. XX. 5 x 4,5 x 4,5 cm.
Bombas de pressão de ar. Aço. Séc. XX.
ESCARIFICADOR DE DOZE LÂMINAS 17 x 2,5 x 2,5 cm
Aço e aço cromado. Séc. XIX. 5,5 x 5,2 x 4,7 cm 9,5 X 25 X 15,5 CM. APRESENTA A INSCRIÇÃO ILEGÍVEL
PASTEUR. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO ONDE SE IDENTIFICA A MARCA D. SIMAL.
OFERTA DO DOUTOR ANTÓNIO PEREIRA BARBOSA.
ESCARIFICADOR DE OITO LÂMINAS BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Aço. Séc. XVIII. 6,7 x 2,5 x 1,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO ESTOJO DE PELE DE PEIXE
Pertenceu ao Professor Manuel Maria da Costa Leite
ESCARIFICADOR DE OITO LÂMINAS (1813-1896).
Marfim, prata e aço. Séc. XIX. 3,5 x 3,7 x 14,5 cm Contém seis lancetas para sangria.
CHARRIÈRE, PARIS. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX. 1,2 x 9,1 x 0,3 cm 9 X
4,5 X 1,5 CM. CHARRIÈRE ET GALANTE. OFERTA DE SEU FILHO GASPAR
ESTOJO DE MADEIRA E LATÃO DA COSTA LEITE. TAMPA DO ESTOJO SEPARADA DO CORPO.
FORRADO A VELUDO CASTANHO RESTANTE EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Pertenceu ao Doutor Pedro de Sousa (f. 1934).


Contém uma seringa de clister e três acessórios. ESTOJO DE SEDA E VELUDO VERMELHO
Osso, latão e borracha. Séc. XIX. BORDADO A OURO
5 x 18,5 x 2,8 cm, 2,2 x 7,5 x 2,2 cm, Contém oito instrumentos:
7,7 x 7,5 x 1,7 cm e 1,4 x 8,7 x 1,4 cm Tesoura. Aço. Séc. XVIII/XIX. 4,5 x 14,5 x 0,8 cm.
3,5 X 21,7 X 10,5 CM. CASA J. LAUNDY. OFERTA DE ARMANDO MONIZ. Navalha. Marfim e aço. Séc. XVIII. Eclipse Shefield.
BORRACHA DANIFICADA, 1,7 x 25 x 0,7 cm.
RESTANTE EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Estilete. Aço. Séc. XIX. 0,2 x 12,7 x 0,2 cm.
Pinça. Aço. Séc. XIX. 5 x 15,7 x 0,7 cm.
ESTOJO DE MADEIRA E METAL Pinça de depilação e colher auricular. Aço. Séc. XVIII.
FORRADO A VELUDO BEIJE 7,5 x 1,4 x 0,8 cm.
Contém uma sanguessuga artificial de Lüer. Pinça de dissecção. Aço. Séc. XIX. 11,2 x 5 x 1,2 cm.
Metal dourado, vidro e cortiça. Séc. XIX. Charrière.
13 x 3 x 3,2 cm e 15 x 4 x 2,8 cm Depressor lingual. Aço. Séc. XVIII. 0,1 x 15 x 1,8 cm.
4 X 15,7 X 8,4 CM. OFERTA DO PROFESSOR AMÂNDIO TAVARES.
Escalpelo. Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
1,4 x 14,6 x 0,5 cm.
35,5 X 28,5 X 1 CM. STOFART. MODERADO ESTADO DE
CONSERVAÇÃO
LANCETA DE MOLA
Latão e aço. Séc. XVIII. 2,5 x 5,8 x 1,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

SERINGA DE CLISTER
Madeira e estanho. Séc. XVIII. 7 x 47 x 7 cm
OFERTA DO DOUTOR RUSSEL CORTEZ. SECCIONADA
A EXTREMIDADE PROXIMAL DE MADEIRA DESTA SERINGA

O CLISTER
JOANNIS SCULTETI. ARMAMENTARIUM CHIRURGIE. 1693
26

OS MÉTODOS FÍSICOS DE HEMÓSTASE

Os métodos físicos de hemóstase foram utilizados em simultâneo


ou de forma sequencial desde os primórdios da sua introdução na
prática cirúrgica, de acordo com a situação clínica e a preferência
do cirurgião: o cautério, a laqueação vascular, a compressão mecâ-
nica e as pinças hemostáticas.
A hemóstase por métodos físicos foi com frequência um processo
desumano.
A aplicação do cautério, sob a forma de metal em brasa ou de lí-
quido fervente, não carecia de conhecimento ou técnica operatória
diferenciada. Foi, por este motivo, preferencialmente escolhido. A
intensa dor despertada no doente gerava movimentos de repulsa,
facto que impunha a presença de ajudantes opulentos de forma a
fixar a sua posição e facilitar a intervenção do cirurgião.
O galvanocautério de Middledorpf é constituído por um fio fino de
platina, acoplado a uma agulha isolante, por sua vez associada a uma
bateria galvânica. A menor hemorragia local e a menor agressivida-
de para o doente criou rapidamente adeptos. Porém, as limitações
impostas na construção da bateria galvânica condicionaram o seu
uso. Em 1875, o Dr. Paquelin cria o termocautério, aperfeiçoado mais
tarde, em 1891. Baseia-se na propriedade da platina aquecer conden-
sando certos gases e vapores, particularmente os carbonetos voláteis
de essência mineral.
Na laqueação vascular eram necessários uma agulha, um fio e
uma pinça para tracção do vaso. Estas pinças começaram por ter
as extremidades distais quadradas e largas. Progressivamente so-
freram um adelgaçamento e curvatura. O fio na laqueação come-
çou por abarcar o vaso e as estruturas vizinhas. As extremidades
deste mantinham-se longas após o nó, prática que, de forma em-
pírica, facilitava a drenagem da supuração resultante da perma-
nência deste corpo estranho. Durante muito tempo, a formação
de pus foi tida como um fenómeno fundamental no processo de
cicatrização. Com a introdução da antissépsia por Joseph Lister
(1827-1912) a laqueação vascular conquistou um lugar de desta-
que entre os métodos físicos de hemóstase. Passou a restringir-se
à compressão vascular, sendo a secção do fio feita junto ao nó.

CONJUNTO DE OITO CAUTÉRIOS. SÉC XVIII/ XIX


A compressão digital ou mecânica é contemporânea da vida.
Esta natural simplicidade explica a sua ampla aceitação através
do tempo. Nos finais do século XVII assiste-se à generalização da
prática do garrote e, de seguida, do torniquete e da compressão
com agulha (acupressão).
As pinças foram instrumentos com larga aplicação na prática ci-
rúrgica. Só de forma esporádica se associaram à hemóstase como
método de compressão vascular. O processo teve várias denomi-
nações. Em 1875, Verneuil apresenta-o à Sociedade de Cirurgia
com a designação de forcipressure. Parece ter sido de Koeberlé a
autoria do nome pinces hemostatiques (1868). A pinça hemostáti-
ca difere da pinça vulgar porque se mantém fechada por um artifí-
cio especial. Vários foram os mecanismos idealizados no decurso
do século XIX: em anel, com ranhura, vários anéis e ranhuras,
braços cruzados, em parafuso…, entre os principais. O primeiro
grande contributo coube a Joseph F. Charrière (1803-1876), pres-
tigiado fabricante de instrumentos cirúrgicos, que idealizou em
1858 uma pinça de pressão contínua de anel. Considerando o mé-
todo hemostático em geral, independentemente do tipo de vaso
sanguíneo ou cirurgia efectuada, o processo associou-se a três situ-
ações distintas: no decurso de uma intervenção determinava uma
hemóstase temporária; quando condicionava a permanência das
pinças após a cirurgia até à obliteração completa do vaso era uma
hemóstase definitiva; se dirigido a tecidos de pequena espessura
de forma a obstruir o fluxo de sangue durante o acto operatório,
consistia numa hemóstase preventiva.

TERMOCAUTÉRIOS
ALFRED METZ. CATALOGUE LLLUSTRÉ. 1906
CLAMP
Madeira, marfim, latão, prata alemã e aço.
Séc. XIX. 3 x 25,5 x 6 cm
COLLIN ET C.IE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

CONJUNTO DE OITO CAUTÉRIOS


Aço. Séc. XVIII/XIX. 27,2 x 0,8 x 6 cm,
27,3 x 0,8 x 5,5 cm, 27 x 1,5 x 5,8 cm,
27,5 x 2,3 x 5,3 cm, 26,8 x 3,2 x 4,5 cm,
29 x 2,8 x 7,7 cm, 27,7 x 0,9 x 5,7 cm, 2 x 2 x 27,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ENVÓLUCRO DE VIDRO
Contém catgut n.º 1. Apresenta a inscrição:
“Catgut n.º1/ Les Laboratoires Bruneau et C.ie Succ.”.
Material orgânico. Séc. XIX/XX.
19 X 2 X 2 CM. LES LABORATOIRES BRUNEAU ET C.IE SUCC..
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ENVÓLUCRO DE VIDRO
Contém crinas de Florença.
Apresenta a inscrição: “Crinas – G28257”.
Material orgânico. Séc. XIX/XX
18 X 2 X 2 CM. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ENVÓLUCRO DE VIDRO
Contém seda n.º 1. Apresenta a inscrição:
“Soie Plate tressé n.º 1/ Les Laboratoires Bruneau
et C.ie Succ.”.
Material orgânico. Séc. XX
13 X 1,8 X 1,8 CM. LABORATOIRES BRUNEAU ET C.IE SUCC..
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ENVÓLUCRO DE VIDRO, MADEIRA E CORTIÇA


Contém seda n.º 2 em suporte metálico.
Apresenta a inscrição: “Seda phenicada para soturas
n.º 2/ Preparada segundo o processo de Lister/
Pharmacia Pfigueiredo – R. Cedofeita, 43 – Porto”.
Material orgânico. Séc. XX
7,4 X 2,3 X 2,4 CM. FARMÁCIA FIGUEIREDO.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

PINÇAS HEMOSTÁTICAS. SÉC XIX


ESTOJO DE MADEIRA FORRADO A PELE, PINÇA PARA LAQUEAÇÃO ARTIFICIAL
FLANELA E SEDA VERMELHA (TIPO BRAMBILLA)
Contém um galvano-cautério. Aço. Séc. XVIII. 20 x 13 x 2 cm
Braço de cautério universal de Schech. Madeira, BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
marfim e aço niquelado. Séc. XIX. 7 x 16 x 2 cm.
C. Chardin, Paris. TENÁCULO
Condutor. Marfim, latão e aço. Séc. XIX. Tartaruga e aço. Séc. XIX. 1,1 x 14 x 0,6 cm
1,4 x 16,5 x 3,5 cm. RICHARDSON. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Condutor. Madeira, marfim e aço. Séc. XIX.


3 x 15 x 2,5 cm. C. Chardin, Paris. TORNIQUETE
Dez pontas de cautério. Marfim, latão, platina e vidro. Aço. Séc. XIX. 13,5 x 13,2 x 4,3 cm
MATHIEU À PARIS. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Séc. XIX.
5,5 X 21 X 11,5 CM. VÁRIA. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
TORNIQUETE
ESTOJO DE MADEIRA FORRADO A VELUDO Latão, aço e camurça. Séc. XIX. 35 x 16,5 x 11,5 cm
CHARRIÈRE À PARIS. MODERADO ESTADO DE CONSERVAÇÃO
E CAMURÇA LILÁS
Contém um termocautério de Paquelin.
Madeira, marfim, cortiça, aço, platina, vidro, borracha, TORNIQUETE DE PETIT
fio e algodão. Séc. XIX Latão e aço. Séc. XVIII. 12,3 x 5,3 x 3,5 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
12,5 X 21,2 X 14,5 CM. CHARRIÈRE COLLIN, PARIS. OFERTA DO
PROFESSOR AMARANTE JÚNIOR. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
TORNIQUETE DE PETIT

GARROTE Latão e tecido. Séc. XIX. 11 x 6 x 3,5 cm


BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Pele, tecido e latão. Séc. XVIII/XIX. 7,5 x 86,7 x 2,2 cm
OFERTA DO DOUTOR PEDRO VITORINO.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

GARROTE
Tecido e latão. Séc. XVIII/XIX. 4,7 x 80,7 x 2,7 cm
OFERTA DO DOUTOR PEDRO VITORINO.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

PINÇA HEMOSTÁTICA
Aço. Séc. XIX. 2,1 x 14,2 x 5 cm
GALANTE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

PINÇA HEMOSTÁTICA
Aço. Séc. XIX. 2 x 13,3 x 5,7 cm
GALANTE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
32

AS TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NA CIRURGIA

A palavra “cirurgia” deriva do grego kheir (mão) e ergon (traba-


lho), significando “obra de mãos”. Os instrumentos cirúrgicos
constituem extensões da mão. Muitas vezes é somente o estudo
pormenorizado dos instrumentos cirúrgicos que nos fornece im-
portantes achegas para o conhecimento da cirurgia de diferentes
períodos cronológicos. A noção da existência de microrganismos
como agentes etiopatogénicos evidenciada por Louis Pasteur
(1822-1895) e a introdução da antissepsia na cirurgia por Jose-
ph Lister (1827-1912) determinaram uma profunda revolução no
instrumental cirúrgico. Até aí, em termos de materiais predomi-
navam os de natureza orgânica (marfim, tartaruga, osso, ébano,
entre outros), os metais não ferrosos (ouro, prata, estanho, latão,
platina, entre outros) e os metais ferrosos (ferro forjado e o aço).
A forma dos instrumentos era muito elaborada, em particular nos
cabos. A riqueza dos materiais e da forma prendia-se com as pos-
ses do cirurgião e, em algumas situações históricas, com a impor-
tância social do doente. Existiam instrumentos dirigidos à peque-
na cirurgia, que seguramente representavam a percentagem mais
significativa dos actos cirúrgicos, e instrumentos para interven-
ções de maior amplitude, tais como a amputação dos membros,
a trepanação craniana, a operação de litotomia, a embriotomia, a
traqueotomia, entre as mais frequentes.
No decurso do século XIX assistimos à confluência de conheci-
mentos científicos e tecnológicos que contribuíram para diminuir
a morbimortabilidade per e pós-operatória e estiveram também
na génese das diferentes especialidades em medicina. No âmbito
da cirurgia os avanços manifestaram-se ao nível do controlo da
dor, da hemorragia e da infecção. O poder anestésico do protóxido
de azoto havia sido observado por Sir Humphry Davy em 1800,
mas aplicado com insucesso em extracções dentárias por Horace
Wells (1815-1848). Coube a William Morton (1819-1868) o êxito
da introdução clínica do éter (1846) e a Sir James Young Simp-
son (1811-1870) do clorofórmio (1847). A introdução das pinças
hemostáticas neste século veio melhorar as condições e minorar
os riscos operatórios. Com o doente sob anestesia, o trabalho do
cirurgião estava facilitado.
ESTOJO DE MADEIRA E LATÃO. SÉC XIX
Abre-boca. Afastador de costelas. Basiotribo de Tarnier. Cabo. Cabo.
Cateter. Costótomo. Dez velas olivares. Embriótomo raquidiano
de Tarnier. Espéculo nasal fenestrado. Estojo forrado a pergamóide
e veludo lilás com um termocautério do Dr. Paquelin. Insuflador.
Lanceta. Martelo. Pinça para exérese de corpos estranhos auditivo.
Pinça tira-língua. Pinça tira-língua de Berger. Porta agulhas.
Quatro pinças curvas longas. Quatro pinças hemostáticas. Serra-nó.
Três cinzéis graduados de Mac Ewen
34

AS TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NA CIRURGIA

Solucionadas as limitações provocadas pela dor e pela hemorra-


gia, faltava a justificação para a supuração que complicava a maio-
ria das cirurgias. Um esclarecimento definitivo adviria de investi-
gações várias que culminariam com os trabalhos de Pasteur. Estes
condicionariam toda a prática cirúrgica, impondo uma profunda
revolução que se traduziu em novas exigências no que diz respei-
to a instalações, equipamentos, instrumentos e indumentária.
Quando, em 1865, Joseph Lister (1827-1912) aplicou o ácido carbó-
lico, de forma sistemática, nas feridas e, em 1871, estendeu esta prá-
tica às mãos do cirurgião, aos instrumentos, ao ar adjacente à ferida
– por intermédio de um spray – e às roupas, iniciou uma nova era
na luta contra a infecção. Não era a primeira vez que esta profilaxia
química se efectuava, nem era o primeiro uso do ácido carbólico
em cirurgia. Novos eram a metodologia e o rigor adoptados.
O desmoronar da crença na geração espontânea levara Louis Pas-
teur (1822-1895) a aconselhar a assepsia, processo que exigia uma
profilaxia térmica. Em 1874, Pasteur chega a afirmar que se fosse
cirurgião nunca introduziria no corpo humano um instrumento
se este não tivesse sido fervido ou passado sobre uma chama an-
tes de operar. Em 1878, aconselhava também processos de desin-
fecção para as mãos e roupas do cirurgião.
A inserção destes conceitos no meio cirúrgico foi um processo lento
e controverso que levou dez anos a afirmar-se. Contudo, a esteriliza-
ção térmica levantava problemas cuja solução implicava uma inten-
sa revolução instrumental: a laminação dos instrumentos cirúrgi-
cos; o desmembramento nas suas partes constituintes; o fabrico de
formas simples sem irregularidades ou fendas e a substituição dos
materiais orgânicos, componentes dos cabos dos instrumentos.

BISTURIS. SÉC XVIII/ XIX


APARELHO ANESTÉSICO DE OMBREDANE. SÉC XX
36

AS TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NA CIRURGIA OS INSTRUMENTOS DE EMBRIOTOMIA | O FÓRCEPS OBSTÉTRICO

OS INSTRUMENTOS DE EMBRIOTOMIA

Os instrumentos de embriotomia tiveram uma larga utilização ao


longo da história, perdurando até ao século XIX, dado que não se
dispunha de outra solução que melhor salvaguardasse a sobrevi-
vência materna em caso de morte fetal. Somente a partir do sécu-
lo XVIII se começou a realizar a cesariana com certa regularidade
no vivo, visando o bem-estar fetal. O perigo da extracção fetal por
laparotomia determinava o recurso à via vaginal, situação facili-
tada quando se estabelecia o diagnóstico de morte fetal. Partindo
desta certeza, o maior obstáculo à saída do feto por esta via cons-
tituía o pólo cefálico, por ser o seu maior diâmetro. Impunha-se
a utilização de meios que reduzissem as suas dimensões, fosse
por esmagamento (cranioclasto de Simpson), fosse por perfura-
ção seguida da exteriorização do encéfalo (perfurador craniano de
Smellie), fosse por perfuração seguida de tracção (perfurador de
colher de Hubert).

O FÓRCEPS OBSTÉTRICO

O fórceps obstétrico foi inventado no século XVII. Peter Chamber-


len, o velho (1560-1631), possuía o segredo destes fórceps, o qual
foi conservado pela sua família até à sua divulgação por Hugh
Chamberlen em 1672, aquando da tradução inglesa que efectuou
da obra de François Mauriceau (1637-1709). Coube a Jan Palfyn
(1655-1733), professor de Cirurgia em Génova, a apresentação do
seu fórceps obstétrico à Academia de Paris. A introdução das cur-
vaturas cefálica e pélvica no instrumento associou-se a uma maior
funcionalidade. Como instrumento cirúrgico auxiliar do parto, o
fórceps sofreu as transformações impostas pelo progresso cientí-
fico e tecnológico.

AS POSIÇÕES FETAIS E AS MANOBRAS OBSTÉTRICAS.


A CADEIRA DE PARTO.
A ALAVANCA E OS GANCHOS OBSTÉTRICOS
LAURENTII HEISTERI. INSTITUTIONES CHIRURGICAE. 1739
38

AS TRANSFORMAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS NA CIRURGIA O LITOTRITOR

O LITOTRITOR

A litotrícia consiste numa fragmentação dos cálculos vesicais de


forma a garantir a sua exteriorização através da uretra. Franz von
Gruithuizen (1774-1852) foi o autor do princípio científico (1813);
Leroy d’Étiolles inventou vários modelos de instrumentos desti-
nados à aplicação em humanos; Jean Civiale (1792-1867) efectuou
a primeira intervenção com êxito em humanos. Os instrumentos
manufacturados eram lineares ou curvos, animados de mecanis-
mos diferentes. A litotrícia constituiu o primeiro método endos-
cópico com indicação terapêutica.

ASPIRADOR DE CÁLCULOS DE THOMPSON. SÉC XIX


LITOTRITORES
ALFRED METZ. CATALOGUE LLLUSTRÉ. 1906
AGULHA COM CABO DE PEASLEE-WHITEHEAD BISTURI DUPLO
EM ESPIRAL PONTEAGUDA Tartaruga, latão e aço. Séc. XVIII/XIX.
PARA SUTURA PERINEAL 1,2 x 18,5 x 1,3 cm
Madeira e aço. Séc. XIX. 1,5 x 20,7 x 0,8 cm WEISS. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
COLLIN. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
BISTURI GENGIVAL
AGULHA COM CABO RECTO PONTEAGUDA Tartaruga, latão e aço. Séc. XVIII/XIX.
Madeira, prata alemã e aço. Séc. XIX. 1 x 27 x 1,7 cm 1,2 x 14,5 x 0,4 cm
CHARRIÈRE. OFERTA DO PROFESSOR AMÂNDIO TAVARES. STODART. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESTOJO DE MADEIRA FORRADO A PELE DE PEIXE


AGULHA COM CABO TIPO COOPER E FLANELA VERMELHA
Madeira, latão e aço. Séc. XIX. 1,3 x 17,8 x 0,6 cm Pertenceu ao Cirurgião José Marcelino Peres Pinto
DARAN À PARIS. OFERTA DO PROFESSOR AMÂNDIO TAVARES. Contém:
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Serra de amputação com duas lâminas. Madeira e aço.
Séc. XVIII. 1,2 x 45 x 13,5 cm.
BISTURI Pinça hemostática. Aço. Séc. XVIII. 1 x 14,5 x 6,2 cm.
Aplicação na correcção da Hérnia inguinal Duas facas de amputação. Madeira e aço. Séc. XVIII.
Tartaruga, latão e aço. Séc. XVIII. 0,9 x 16,5 x 0,4 cm 3 x 36 x 4 cm.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Agulha de sedenho. Aço. Séc. XVIII. 1 x 15 x 1,3 cm.
Chave. Aço. Séc. XVIII. 1 x 9,2 x 2 cm
BISTURI 7 X 50 X 26 CM. RESTAURO EFECTUADO POR D.ª BENILDE LETRA
Aplicação na correcção da Hérnia inguinal E D.ª MARIA AMÉLIA MATIAS. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX. 1 x 16,5 x 0,7 cm
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
ESTOJO DE TREPANAÇÃO CRANIANA
FORRADO A SEDA E VELUDO VERDE
BISTURI Apensa a fotografia do seu antigo possuidor
Aplicação na correcção da Hérnia inguinal Contém:
Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX. 1 x 16,5 x 0,7 cm Quatro coroas de trépano. Aço. Séc. XVIII.
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
2 x 7,2 x 2 cm e 2 x 7,5 x 2 cm.
Cabo de trépano. Madeira e aço. Séc. XVIII.
BISTURI
6 x 13 x 2,5 cm.
Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX. 0,8 x 16,5 x 0,3 cm
Rugina e faca lenticular. Madeira e aço. Séc. XVIII.
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
2,5 x 17,5 x 2,5 cm.
Perfurador. Aço. Séc. XVIII. 0,4 x 8,5 x 1,4 cm.
BISTURI (TIPO ESCALPELO)
Pinça. Aço. Séc. XVIII. 4 x 13,5 x 4 cm.
Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX. 1 x 16,3 x 0,6 cm
CLULEY. CABO DANIFICADO.
Elevador duplo. Aço. Séc. XVIII. 1,5 x 17 x 4 cm.
Escova. Marfim e cerdas. Séc. XVIII. 1 x 7 x 2,1 cm.
BISTURI DUPLO
Chave. Aço. Séc. XVIII. 0,6 x 4 x 1,7 cm
5 X 20,5 X 18,5 CM. DESENCAIXE DAS PARTES DO ESTOJO,
Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX. 1 x 19 x 0,6 cm
INSTRUMENTOS EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
GALANTE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
PORTA-AGULHAS
Madeira, prata alemã e aço. Séc. XIX. 2,2 x 21 x 2,2 cm
CHARRIÈRE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

PORTA-AGULHAS COLLIN
Aço. Séc. XIX. 3,3 x 19,7 x 1,3 cm
COLLIN. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

PORTA-AGULHAS DE GALEZOWSKI
Aço e alumínio. Séc. XX. 3,4 x 13,4 x 1 cm
COLLIN. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

UMA ANÁLISE DOS MATERIAIS


DOS INSTRUMENTOS CIRÚRGICOS
Trocarte e respectiva cânula. Marfim, prata e aço.
Séc. XIX. 2,4 x 13,7 x 2,4 cm.
Trocarte e respectiva cânula. Madeira, prata, prata
alemã e aço. Séc. XIX. 1 x 14,3 x 2,2 cm. Charrière.
Estojo de prata contendo quatro trocartes
e respectivas cânulas. Prata e aço. Séc. XIX.
1,2 x 13 x 1,2 cm.
Estojo de aço niquelado contendo quatro trocartes
e respectivas cânulas. Prata e aço. Séc. XIX.
1,4 x 13 x 2,6 cm.
Estojo de aço inoxidável contendo quatro trocartes
e respectivas cânulas. Aço inoxidável. Séc. XIX.
1,5 x 13 x 2,5 cm. Medicon.
Trocarte. Aço inoxidável e plástico. Séc. XX.
5,8 x 19,7 x 4,5 cm.
AUTO SUTURE SURGIPORT. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

A TREPANAÇÃO CRANIANA
JOANNIS SCULTETI. ARMAMENTARIUM CHIRURGIE. 1693
CRANIOCLASTO DE SIMPSON ESTOJO DE MADEIRA FORRADO A PELE,
Madeira, latão e aço. Séc. XIX. 7,5 x 38,5 x 2,7 cm VELUDO VERMELHO, SEDA VERMELHA E ALGODÃO
CHARRIÈRE À PARIS. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Pertenceu ao Professor Plácido da Costa (1849-1916)
Contém:
ESTOJO DE MADEIRA E LATÃO Gancho. Marfim e aço. Séc. XIX. 0,7 x 12,5 x 0,5 cm.
FORRADO A VELUDO LILÁS Robert et Collin.
Contém: Gancho. Marfim e aço. Séc. XIX. 0,5 x 11,7 x 0,5 cm. Lüer.
Litotritor. Aço. Séc. XIX. 4,1 x 39,5 x 4 cm. Agulha e sonda para paracentese de Desmarres.
Três sondas. Aço. Séc. XIX. 26, 27 e 27. Marfim e aço. Séc. XIX. 0,6 x 13,5 x 0,6 cm, Weiss.
Aspirador de cálculos de Thompson. Metal, vidro Pinça-tesoura para iridectomia de Weecker. Aço.
e borracha. Séc. XIX. 16 x 7,3 x 4,5 cm, Séc. XIX. 1,8 x 12,3 x 1,2 cm. Collin.
8 x 20,7 x 6 cm e 39,3 x 2,8 x 2,8 cm. Sete facas de Weber para o canal lacrimal.
9,5 X 43,2 X 24,5 CM. S. MAW, SON & THOMPSON, LONDON. Marfim e aço. Séc. XIX. 0,6 x 13,4 x 0,5 cm. Lüer.
OFERTA DO PROFESSOR AMÂNDIO TAVARES.
0,6 x 13,5 x 0,5 cm. Lüer. 0,7 x 14,2 x 0,5 cm. Lüer.
0,6 x 13,7 x 0,5 cm, Weiss. 0,6 x 14,1 x 0,5 cm. Lüer.
ESTOJO DE MADEIRA E METAL Duas pinças para entrópio de Snellen. Aço niquelado.
Contém um aparelho de Ombredane. Séc. XIX. 9,5 x 3,8 x 2 cm. Collin.
Material orgânico, aço e borracha. Séc. XX. Três escarificadores de Graefe. Marfim e aço.
25,5 x 30 x 18,5 cm Séc. XIX. 0,6 x 13,2 x 0,6 cm. Lüer.
17 X 31,3 X 17,5 CM. AESCULAP. OFERTA DO PROFESSOR LUÍS
Escarificador de Graefe. Marfim e aço. Séc. XIX.
PEREIRA LEITE. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
0,6 x 12,7 x 0,6 cm. Charrière.
Agulha para abaixamento. Marfim e aço. Séc. XIX.
ESTOJO DE MADEIRA E METAL
0,5 x 12 x 0,5 cm. Lüer.
FORRADO A PELE E VELUDO LILÁS
Agulha para abaixamento. Marfim e aço. Séc. XIX.
Contém instrumentos usados na cirurgia da correcção
0,5 x 11,9 x 0,5 cm. Collin.
da fenda palatina. Ébano e aço. Séc. XIX
4,2 X 18,5 X 11 CM. OFERTA DO PROFESSOR AMÂNDIO TAVARES.
3,5 X 26,4 X 9,5 CM. MATHIEU. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

FÓRCEPS OBSTÉTRICO
Madeira e aço. Séc. XVIII/XIX. 4,5 x 29,5 x 7 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

FÓRCEPS OBSTÉTRICO DE SAVIGNY


Madeira e aço. Séc. XVIII. 5,5 x 30 x 6,5 cm
SAVIGNY. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

MÁSCARA DE CLOROFÓRMIO DE SCHIMMELBUSCH


Aço niquelado. Séc. XIX. 17,5 x 10,5 x 6,2 cm
OFERTA DO DOUTOR EDUARDO VEIGA DE OLIVEIRA.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESTOJO DE PRATA CONTENDO QUATRO TROCARTES


E RESPECTIVAS CÂNULAS. SÉC XIX
MÁSCARA PARA NARCOSE ESTOJO DE MADEIRA E LATÃO
Latão, aço e borracha. Séc. XX. 14 x 9,5 x 11 cm Contém:
GARTH & CO.. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Abre-boca. Aço niquelado. Séc. XIX. 14 x 7 x 11 cm.
Collin.
PERFURADOR E EXTRACTOR DE CABEÇA Afastador de costelas. Aço. Séc. XIX.
EM CRUZ DE BAQUIER 1,7 x 18 x 6,6 cm. Collin.
Madeira e aço. Séc. XIX. 5,8 x 40,5 x 6 cm Basiotribo de Tarnier (mod. Collin). Osso e aço.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO Séc. XIX. 18,5 x 41 x 7 cm. Collin Breveté.
Cabo. Séc. XIX. 3 x 13 x 3 cm.
Cabo. Madeira e latão. Séc. XIX. 3 x 11,5 x 1,7 cm.
Cateter. Prata. Séc. XIX. 4,5 x 13,5 x 1 cm.
Costótomo. Aço. Séc. XIX. 1,7 x 19 x 3 cm. Collin.
Dez velas olivares. Marfim e latão. Séc. XIX. Vária.
Embriótomo raquidiano de Tarnier (mod. Collin).
Osso e aço. Séc. XIX. 3,5 x 41,5 x 10 cm. Collin.
Espéculo nasal fenestrado. Aço. Séc. XIX.
2,5 x 6,5 x 2,5 cm. Collin.
ESTOJO (NO INTERIOR) FORRADO A PERGAMÓIDE E VELUDO
LILÁS COM UM TERMOCAUTÉRIO DO DR. PAQUELIN
Aço e vidro. Séc. XIX. Vária, Charrière à Paris.
Contém:
Insuflador, aço e borracha. Séc. XIX. 8,5 x 5 x 5 cm.
Lanceta. Tartaruga, latão e aço. Séc. XIX.
1 x 16,5 x 0,5 cm. Collin.
Martelo. Madeira, latão e chumbo. Séc. XIX.
8 x 29 x 6,5 cm. Collin.
Pinça para exérese de corpos estranhos auditivo.
Madeira, latão e aço. Séc. XIX. 1,7 x 17 x 1 cm. Collin.
Pinça tira-língua. Aço. Séc. XIX. 7,5 x 26 x 1 cm. Collin.
Pinça tira-língua de Berger (mod. Collin). Aço.
Séc. XIX. 5 x 14 x 1 cm. Collin.
Porta agulhas. Aço. Séc. XIX. 1,2 x 16,2 x 2,5 cm. Collin.
Quatro pinças curvas longas. Aço niquelado. Séc. XIX.
Vária, Collin Breveté.
Quatro pinças hemostáticas. Aço. Séc. XIX. Vária, Collin.
Serra-nó. Madeira e aço. Séc. XIX. 1,6 x 18,5 x 0,6 cm.
Collin.
Três cinzéis graduados de Mac Ewen. Aço. Séc. XIX.
Três espessuras. Collin.
17,5 X 59,5 X 35 CM. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO,
ESTOJO CHARRIÈRE COLLIN INCOMPLETO
44

A CADEIRA DE PARTO

No antigo Egipto a assistência ao parto era da competência de


determinadas mulheres. Na Bíblia encontramos testemunhos da
existência do trabalho diferenciado das parteiras. Durante o parto,
a mulher estava sentada ou “de cócoras”. Pela primeira vez surge
a descrição de uma poltrona especial, cuja forma mais primitiva
remonta a 5000 a.C. e se reduzia a dois ladrilhos ou pedras.
Entre os hebreus, segundo a Bíblia e o Talmud, a mulher no parto
adoptava a posição sentada ou de joelhos, sobre uma poltrona, no
regaço de uma mulher ou de um homem.
As mulheres mexicanas ou peruanas da era pré-colombiana adop-
tavam a posição “de cócoras”, sentando-se apoiadas nos calcanha-
res e também nos joelhos. Algumas mulheres da civilização maia
tinham os partos de pé.
Na Grécia, o parto ocorria com a mulher de joelhos. Em Atenas
eram conhecidos os médicos parteiros. Com Sorano de Éfeso (séc.
I d.C.), a obstetrícia da Antiguidade atinge o seu exponente má-
ximo. Nos seus escritos fala-nos da cadeira de parto. Durante a
Idade Média, o Ocidente seguiu os preceitos dos gregos.
Nos séculos seguintes, as posições verticais “de cócoras”, de joelhos
e de pé continuaram a ser frequentemente utilizadas pelas partu-
rientes. A partir do século XVIII, a posição deitada, semi-deitada
ou semi-sentada passou a ser recomendada pelos médicos da Eu-
ropa. Já Ambroise Paré (1510-1592) apontara as vantagens destas
posições e do emprego de uma cadeira com o espaldar inclinado
para trás e o assento perfurado, em forma de ferradura, sobre o
qual se colocava uma travesseira, por vezes ricamente adornada.
Depois de Paré vários modelos de cadeiras de parto foram pro-
duzidos na Europa; as cadeiras coexistiam com o mobiliário das
casas, passavam de pais a filhos ou pertenciam a parteiras e a ci-
rurgiões que as transportavam até à parturiente.
Esta cadeira de partos, outrora pertencente à Igreja de Nossa Se-
nhora da Vitória do Porto, à semelhança de outras cadeiras congé-
neres, era um bem acessível à comunidade sempre que solicitado.
CADEIRA OBSTÉTRICA
Pertenceu à Igreja de Nossa Senhora da Vitória,
do Porto
Madeira e damasco. Séc. XIX. 94 x 73 x 52 cm
RESTAURO EFECTUADO POR D.ª BENILDE LETRA
E D.ª MARIA AMÉLIA MATIAS. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
46

A INCUBADORA

A Stéphane Tarnier (1828-1897) coube a idealização da primeira


incubadora (1878), ulteriormente aperfeiçoada por Pierre Budin
(1846-1907) em termos de controlo térmico, de limpeza, de higiene
e de nutrição do recém-nascido. Este invento foi divulgado na Euro-
pa por Martin Couney (1870-1950), responsável ainda pela criação
da primeira unidade de cuidados intensivos de recém-nascidos.

INCUBADORA DE TRANSPORTE
Apresenta a inscrição: “Presented on behalf of members
of the British Community and British Companies
in the North of Portugal to the Neo-natal Unit
of the Hospital São João by the Majesty Queen
Elizabeth II on the occasion of her official visit to Oporto
on 29 March 1985”
Metal, vidro, borracha e plástico. Séc. XX.
110 x 106 x 48 cm
VICKERS MEDICAL. OFERTA DA RAINHA ISABEL II DE INGLATERRA
A 29.03.1985 AO SERVIÇO DE NEONATOLOGIA
DO DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA DO HOSPITAL DE S. JOÃO
E POSTERIORMENTE OFERECIDA AO MUSEU DE HISTÓRIA DA
MEDICINA “MAXIMIANO LEMOS” DA FACULDADE
DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
PELA DIRECTORA DO SERVIÇO PROFESSORA HERCÍLIA GUIMARÃES.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
48

OS INSTRUMENTOS DE SUTURA DIGESTIVA

Até ao século XVIII encontramos referências bibliográficas a qua-


tro métodos de sutura aplicados à estrutura tubular dos órgãos
digestivos: a sutura simples de Celso, a sutura sobre uma endo-
prótese vegetal ou animal dos mestres salernitanos, a adesão do
intestino lesado à parede abdominal por Palfyn (1655-1733), De la
Peyronie (séc. XVIII), Le Dran (1685-1770) e Bell (1749-1806) e a
invaginação na transecção segundo Ramdohr (séc. XVIII). Só em
1887, com Halsted (1852-1922), se estabeleceu o papel da submu-
cosa na cicatrização das lesões digestivas. Os insucessos da sutura
digestiva decorriam da inexistência de uma metodologia específi-
ca, que compreendia a técnica cirúrgica, o instrumental adoptado,
o conhecimento da natureza do processo de cicatrização, da infec-
ção e da qualidade biológica do material de sutura. Na literatura
portuguesa encontramos materiais de natureza orgânica (íntima
de intestino de carneiro, tendões, crina, cabelo, seda, algodão, li-
nho) e metais na composição dos fios de sutura. Depois das expe-
riências de Lister estes materiais foram preparados segundo o mé-
todo antisséptico. Paralelamente à sutura digestiva manual, houve
diversas tentativas de introduzir a sutura digestiva automática. O
primeiro aparelho de sutura automática a possibilitar a realização
de anastomoses digestivas circulares de forma mais eficaz e rápi-
da que a sutura manual foi o botão de Murphy.

BOTÃO DE MURPHY. SÉC XX


BOTÃO DE MURPHY
Aço niquelado. Séc. XX. 2,1 x 2,3 x 2,3 cm
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESTOJO DE ESFEROVITE
Contém uma máquina de sutura digestiva automática.
Apresenta a inscrição: “Instrument for applying
circular anastomoses on digestive tract organs,
Universal CMTY, Mode 249”.
Pistola. Aço inoxidável. Séc. XX. 16 x 34,5 x 3,2 cm.
CMTY.
Sete estojos de plástico. 14,2 x 3,6 x 3,6 cm.
Com discos fenestrados de plástico.
Dois estojos de plástico. 2,2 x 4,5 x 2,2 cm.
Com agrafos metálicos.
Um estojo de plástico. 1,5 x 6,9 x 4 cm.
Com agrafos metálicos e dezoito acessórios metálicos.
9 X 49,5 X 30 CM. OFERTA DO PROFESSOR AMARANTE JÚNIOR.
BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

ESTOJO DE MADEIRA E METAL


Contém uma máquina de sutura digestiva linear.
Aço inoxidável. Séc. XX. 1,3 x 47 x 15 cm
15,5 X 50,5 X 12 CM. AESCULAP. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

MÁQUINA DE SUTURA DIGESTIVA LINEAR


Aço, titânio e plástico. Séc. XX. 7 x 28,5 x 1,8 cm
AUTO SUTURE MULTIFIRE GIA 80. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

MÁQUINA DE SUTURA DIGESTIVA LINEAR


Aço, titânio e plástico. Séc. XX. 18 x 28 x 2 cm
MULTIFIRE TA TM 55. BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO

LAURENTII HEISTERI. INSTITUTIONES CHIRURGICAE. 1739


LUÍS DE PINA
Luís de Pina Guimarães nasce em Lisboa em 1901. Licencia-se em Medici-
na pela Universidade do Porto em 1927, sendo convidado no mesmo ano
para assistente do Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina. Em 1930,
conclui o seu doutoramento com a apresentação da dissertação “Vimaranes.
Materiais para a História da Medicina Portuguesa”. A partir de 1933, e até
dois anos antes da sua morte, em 1972, Luís de Pina assegura a docência da
disciplina de História da Medicina e Deontologia Profissional na Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto, de que será professor catedrático
em 1944.
Personalidade intensa e inquieta, de interesses diversos, Luís de Pina não dei-
xou de impressionar aqueles que o conheceram.
Apaixonado por etnologia, história e arqueologia – e também pela história
das ciências – a abordagem que Luís de Pina fez da história da medicina
compreendeu uma ampla dispersão espacial e temporal: medicina popular
portuguesa, medicina da Antiguidade, medicina e sistemas assistenciais portu-
gueses da Idade Média à contemporaneidade, medicina tropical e dos Desco-
brimentos – com monografias específicas sobre diversas regiões, do Japão ao
Brasil, passando por Índia e África – biografias de médicos e cirurgiões lusos,
relações ibéricas, história da higiene, historiografia da medicina…
Também se deve ao seu empenho a criação, em 1933, do Museu de História
da Medicina “Maximiano Lemos”, com base na tradição centenária de ensi-
no desta disciplina na escola médica do Porto (e que Luís de Pina sublinha,
baptizando este espaço museológico único no País com o nome de um dos
professores que o antecedera na docência da cadeira).
Outra das vertentes a que Luís de Pina atribuirá particular atenção será a
antropologia – a que dedicará numerosos estudos –, nomeadamente a antro-
pologia criminal. Já em 1929, por proposta da Faculdade de Medicina, Luís de
Pina trabalhara em serviços do Ministério da Justiça relacionados com a antro-
pologia e a psicologia criminal, tendo seguidamente estudado no estrangeiro
matérias de antropologia física e anatomia e, em 1937, assumido a direcção
do Instituto de Criminologia do Porto.
Deputado à Assembleia Nacional em 1938 e 1942, Luís de Pina será nomeado
presidente da câmara do Porto em 1945, abandonando o cargo em 1949.
Finalmente, refira-se o papel crucial deste “humanista por convicção” na cria-
ção do Centro de Estudos Humanísticos em 1947, cuja existência foi funda-
mental para a restauração, em 1961, da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, de que Luís de Pina será o primeiro director.
54

OS ESTUDOS MÉDICO-HISTÓRICOS NA OBRA DO PROFESSOR LUÍS DE PINA

A obra do Professor Luís de Pina é vasta e dispersa pelos diversos


ramos do saber. Contudo, a medicina está no cerne das suas inves-
tigações. Todas as questões com ela relacionadas mereceram a sua
dedicação e pesquisa, demonstrando uma completa intemporali-
dade no seu equacionamento. Na história encontrou os exemplos
e os ensinamentos do presente e futuro. Na história da medicina
o Professor Luís de Pina procurou essas potencialidades forma-
tivas. Parafraseando os autores do passado, analisou a evolução
do pensamento científico humano e, neste, fundamentalmente o
médico. A história da medicina, como cultura do espírito, depen-
de da história da ciência e esta integra-se na história universal
da civilização. As achegas à medicina provenientes das demais
ciências soube identificar e cultivar, tendo inclusivamente sido
convidado pela Academia Internacional de História das Ciências
para organizar as Tábuas Cronológicas da História das Ciências
em Portugal no século XVI (1934). A flora, a fauna, a botânica ou a
zoologia, bem como a arqueologia ou a antropologia foram temas
que adquiriram suma importância na sua obra. Assim, apela para
a necessidade da criação de centros de investigação nestas áreas e
a sua integração nos programas liceais e do ensino superior. Faz a
apologia da cultura e da história portuguesas num contínuo e ajus-
tado paralelismo com o estrangeiro. Nos seus escritos, o Professor
deixa transparecer a nobreza dos seus sentimentos e ideias, sem-
pre dirigidos em apoteose ao seu País, à organização familiar da
sociedade e ao bem-estar público. Todos os temas se prestam para
historiar. Desta forma, os temas a expor adquirem um realismo e
força únicos dada a precisão e exaustão da bibliografia que aponta
e a universalidade e imparcialidade que evidencia. Os momentos
de maior apogeu histórico nacional, tais como a epopeia dos des-
cobrimentos marítimos portugueses, o ultramar, a reforma do en-
sino universitário setecentista são incessantemente apontados em
diferentes perspectivas. Se canta o grandioso, o belo, a justiça e a
verdade, logo reforça estes qualificativos pela sucessão de factos
sinónimos da decadência nacional. Trabalhos tais como o Abrégé
de l’ Histoire de la Médicine, Portugal e as Ciências na sua Epopeia
Marítima, ou A Expansão Hospitalar Portuguesa Ultramarina são
exemplos de cristianização, civilização, cultura e progresso das
ciências dirigidos pela vontade e labor portugueses. À exposição
teórica exaustiva dos temas alia a experiência na busca incessante
da veracidade dos factos, sempre persuadido que a tenacidade dos
seus esforços dissolveria a indiferença geral. Sensível à vivência e
actividade de vultos nacionais ligados às Letras, Ciências e Artes,
presta-lhes a sua reconhecida homenagem nas datas evocativas do
início ou fim da sua existência, da publicação de um livro ou de
uma festividade. Neste contexto, deu uma importante achega his-
tórica ao romance policial científico. Além dos homens, prestigia
instituições voltadas para a educação, a cultura, o humanismo e o
cristianismo, tais como os centros de assistência aos enfermos ou
desamparados e a Universidade. A defesa da criança ou a educa-
ção e o papel da mulher portuguesa na cura das enfermidades ou
na arte de boticário encontraram nos escritos do Professor fortes
raízes médico-históricas. Como membro integrante do corpo do-
cente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, soube
prestigiar ao mais alto nível essa escola médica de pouco mais de
um século. Embora curto fosse o tempo decorrido desde a génese
da Régia Escola de Cirurgia desta cidade (1825), vultos de nome-
ada, actos de coragem ou sinais de progresso científico, cultural
e humano foram registados tendo sempre em consideração, para
cada caso, as dificuldades impostas pelos contextos políticos e so-
ciais vigentes. O ensino pré e pós graduado cedo mereceu a sua
atenção. Ansiava ver elevarem-se os estudos médicos nacionais.
Propunha uma reforma da educação médica, mas com humildade
e profunda admiração lembrava semelhantes tentativas organiza-
das por antigos cultores da medicina pátria. A Universidade foi o
tipo de organização de ensino superior que abraçou e as razões
históricas do seu aparecimento e vicissitudes enalteceu. Destacou
o papel da cultura universitária portuguesa no estrangeiro e ex-
pôs um ideário para a Universidade nova. No dizer do Professor,
a Universidade deve ser um exemplo de “Humanismo no saber,
na transmissão do saber, na aplicação do saber, aplicação total ao
bem de todos do saber de alguns”. Se a história das universida-
des europeias e nacionais compreende uma vasta paginação da
sua escrita, a vida estudantil nessas universidades foi igualmente
desenvolvida. O Professor Luís de Pina acompanhou de perto as
56

OS ESTUDOS MÉDICO-HISTÓRICOS NA OBRA DO PROFESSOR LUÍS DE PINA

transformações crescentes da sua universidade. O exemplo de es-


tudante que ditou foi o único que conhecia, seguramente aquele
que viveu. A admiração e estima que sentia pelos seus mestres
transmitia-as historiando os pontos mais relevantes das suas vi-
das: testemunhos de fé, ciência e cristianismo. Muito cedo, como o
comprova a dedicatória da sua tese de doutoramento (Vimaranes,
1929), escolheu alguns mestres espirituais. Seriam uma verdadei-
ra profecia aquelas palavras “À memória/ dos Mestres e Historia-
dores de Medicina/ José Fructuoso Gouveia Osório/ Maximiano
Lemos/ João de Meira/ oferece, dedica e consagra/ o Autor”. Uns
anos mais tarde, em 1933, atribuiria ao Museu de História da Me-
dicina que fundou o nome de Maximiano de Lemos, primeiro pro-
fessor catedrático de História da Medicina em Portugal, a quem
chamou “o cauto e douto historiador da Medicina pátria”, e a cada
sala do museu o nome dos outros historiadores.
Mas a importância da sua obra na valorização dos estudos médi-
co-históricos nacionais não se limitou aos escritos que nos deixou
acerca desta temática. Como docente da disciplina de História de
Medicina e Deontologia Profissional, procurou sensibilizar a sua
faculdade e a universidade para o valor da história da medicina
no curriculum médico, como se de uma embriologia espiritual
do médico se tratasse. A formação do estudante de Medicina foi
para si uma exigência que cumpriu através da estruturação de
um elaborado programa da disciplina, desenvolvido nos textos do
serviço que dirigia ou apoiado na vasta bibliografia médico-histó-
rica aí existente. Esta sofreu um crescimento progressivo graças
aos donativos de muitos e sobretudo à sua incansável e particular
habilidade para reproduzir os escritos dos antigos. Durante as vi-
sitas de estudo que efectuou pela Europa contactou com institu-
tos e museus de história da medicina. Aí encontrou as fontes de
inspiração que serviriam de molde à estruturação do Museu de
História da Medicina a partir de um primitivo núcleo de peças
provenientes da exposição comemorativa do centenário da Régia
Escola de Cirurgia. O profissionalismo que impôs a este género de
estudos explica o elevado número de teses de licenciatura relativas
à história da medicina defendidas na Faculdade de Medicina. Nas
folhas introdutórias multiplicam-se as palavras de reconhecimen-
to e consideração pelo Mestre. Com a transferência da Faculdade
de Medicina para o edifício conjunto com o Hospital Escolar de S.
João, uma maior área iria ser destinada ao museu. Cumprir-se-ia
assim uma das vontades do professor: aliar a museologia à medi-
cina em prole de uma nova pedagogia. A actividade artística do
Professor, traduzida em esculturas e desenhos, serviria de apoio às
ideias ou aos objectos expostos. O alargamento do quadro docente
do serviço no tempo da transferência do museu constituiu uma
prova das necessidades do serviço e o reflexo da sua dinâmica e
importância. Na sua sucessora, a Professora Doutora Maria Olívia
Rúber de Meneses (1932-1990), viu o concretizar das suas aspira-
ções de continuidade do ensino e da investigação da história da
medicina na sua faculdade.
O Professor Luís de Pina mantinha estreitas relações científicas
e culturais, nacionais e estrangeiras, através de uma participação
activa nos principais encontros de história da medicina e uma
correspondência permanente com instituições e individualidades.
Viu os seus trabalhos publicados nos mais conceituados periódi-
cos do tempo ou nas actas dos congressos e boletins ou arquivos
de destacadas sociedades. Foi agraciado com inúmeras distinções
e premiado por alguns dos seus trabalhos. Pertenceu às mais pres-
tigiadas academias e sociedades de história da medicina.

AMÉLIA RICON FERRAZ


DIRECTORA DO MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA
“MAXIMIANO LEMOS” DA FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE DO PORTO
COORDENAÇÃO
REITORIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
COLECÇÕES
MUSEU DE HISTÓRIA DA MEDICINA “MAXIMIANO LEMOS”
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
COMISSÁRIA
AMÉLIA RICON FERRAZ
DESIGN
RUI MENDONÇA
FOTOGRAFIA
JORGE COELHO
DATA E LOCAL
FEVEREIRO > MARÇO DE 2006
JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DO PORTO

APOIO
CMP – PORTO CIDADE DE CIÊNCIA

UMA INICIATIVA UNIVERSIDADE JÚNIOR


EXPOSIÇÃO SEGUINTE
ABRIL 2006: BOTÂNICA – GONÇALO SAMPAIO

Você também pode gostar