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Foucault Pensa A Educacao Cole Desconhecido PDF
Foucault Pensa A Educacao Cole Desconhecido PDF
É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos,
mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, por escrito, da editora.
Bibliografia.
ISBN 978-85-89636-21-6
1. Educação - Filosofia 2. Foucault, Michel, 1926-1984 I. Aquino, Julio Groppa. II. Rego, Teresa
Cristina. III. Série.
14-09173 CDD-370.1
Biografia intelectual
O pensador de todas as solidões
Sujeito e cultura
Vigiar e punir ou educar?
Conhecimento e saber
Conhecimento e saber: O governo do aluno na
modernidade
Ética e valores
O mundo como sala de aula
Em ato
Foucault e os meninos infames de Cidade de Deus
Bibliografia comentada
Referências bibliográficas
EDITORIAL
O gênio libertário de
Foucault
© Reprodução Execrado por uns, aclamado por outros e,
sobretudo, desconhecido por muitos, Michel
Foucault é um dos expoentes do pensamento pós-
estruturalista francês, cuja obra, segundo Paul
Veyne, constitui o acontecimento mais importante
do século XX. Suas ideias, de lenta digestão, exigem
daquele que a elas se dedica uma espécie de cuidado
intensivo, seja com relação à integridade e força
delas próprias, seja consigo mesmo – o que é
lembrado por um dos autores dos textos como o
Foucault busca, em sua inevitável “descaminho daquele que conhece”. É o
obra e em suas que se espera propiciar com este terceiro número da
reflexões, reconciliar-se
consigo mesmo, coleção Biblioteca do Professor.
reformular a imagem Com o intuito de oferecer acesso às principais
que tem de si ideias foucaultianas, foram convidados estudiosos
nacionais (e outro internacional) reconhecidos por
seu trato com a complexa obra do autor. O
resultado é um compêndio de ensaios introdutórios
com uma solidez notável. Isso porque, em seu
conjunto, tais ensaios contemplam com afinco e
precisão os três domínios do percurso conceitual de
Foucault e suas implicações, ou extensões possíveis,
ao campo educacional.
■ A vontade de saber
Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers, França, em 15 de outubro de
1926. Foi batizado com o mesmo nome do avô e do pai, que foram famosos
cirurgiões. Sua mãe, Anne Malapert, também era filha de um importante
cirurgião da cidade. Foucault nasce, assim, cercado pelo saber e pelo poder
médico do qual será, depois, um acerbo crítico. Muitos irão dizer que
escreveu O Nascimento da Clínica (1963), em que estuda o surgimento da
medicina moderna, como um acerto de contas com o passado de sua família,
sobretudo, com seu pai, a quem odiava na adolescência, e que reagiu
violentamente a sua decisão de não cursar medicina. Foucault nunca usará o
nome Paul – com o qual era conhecido na documentação escolar, mas que
retirará de seu nome de autor. Ele é muito mais próximo da mãe, com quem
terá um bom convívio até a morte. Ela é proprietária de terras em Vendeuvre-
du-Poitou, onde tem uma casa conhecida como “o castelo”. Aí Foucault
escreveu partes de alguns de seus livros. Aí esteve dois meses antes de ser
internado e vir a falecer. Sua mãe desempenhou um papel decisivo em sua
educação. Seguindo uma máxima do dr. Malapert, seu pai, para ela o
importante era o filho “aprender a governar a si mesmo”. Será a primeira a
apoiar a decisão de seu filho de não se dedicar à medicina e, ao contratar um
professor particular de filosofia, Louis Girard, pode ter influenciado em sua
escolha futura. Michel Foucault é filho de uma família burguesa, de uma
cidade provinciana e conservadora. Para não se separar de sua irmã mais
velha, Francine, ingressa no liceu Henri-IV, em 1930, quando não havia
completado 4 anos. Fica solitário, no fundo da sala, brincando com lápis de
cores, mas logo aprende a ler. Até 1932 cursa classes infantis e depois o
primário. Em 1936, dá início ao secundário e só deixa o Henri-IV, escola
pública para onde se dirigiam os filhos da pequena burguesia da cidade, em
1940, quando a chegada dos alunos dos liceus parisienses fugidos da guerra
desorganiza a vida escolar no liceu. Foucault passa a tirar notas baixas. Nesse
mesmo ano a mãe o matricula em um colégio particular e religioso, o Saint-
Stanislas, onde estudavam os filhos dos grandes comerciantes e pequenos
industriais da cidade.
As lembranças marcantes dessa época, para Foucault, sempre se passarão
na escola. Como era muito jovem para ser mobilizado pelos alemães, para
realizar trabalhos forçados, ele continuava a estudar, mas tinha de conviver
com a penúria e a falta de lenha para o aquecimento no inverno. Ouve os
ruídos dos bombardeios perto da cidade. Fica sabendo do desaparecimento de
dois de seus professores de filosofia, membros da Resistência capturados pela
Gestapo. Como dirá, mais tarde, a sua geração teve uma infância marcada
pelos acontecimentos históricos: suas lembranças de infância não remetem à
vida familiar ou doméstica, mas à vida pública, à política. Lembra que seu
primeiro grande medo foi quando, em 1934, nazistas assassinaram o
chanceler Dollfus. Recorda a chegada dos refugiados da Guerra Civil
Espanhola e a guerra como horizonte de sua infância, ao que ele atribui o seu
gosto pela história. Mesmo assim, suas notas eram mais do que satisfatórias,
recebendo o segundo prêmio na maioria das matérias, já que era
sistematicamente superado por um colega de nome Pierre Rivière. Foucault
irá se divertir muito e terá realizado talvez uma saborosa desforra quando anos
mais tarde encontrar nos arquivos o relato de um parricida do século XIX e
publicá-lo com o título Eu, Pierre Rivière, que Matei minha Mãe, meu Irmão e
minha Irmã (1973).
Para seus professores, ele foi um aluno com muita sede de conhecimento
e de leituras. Volta e meia ia à casa de um abade da cidade, monsenhor
Aigrain, para ler em sua notável biblioteca. Lia Platão, Descartes, Pascal,
Bergson. Em junho de 1943 termina o secundário e resolve se preparar para o
concurso de ingresso à École Normale Supérieure da rue d’Ulm, em Paris.
Por causa da guerra, resolve não ir para a capital, frequentar seus grandes
liceus, como seria natural. Reingressa então no Henri-IV, de Poitiers, onde se
prepara para o concurso de ingresso à École Normale. Feito o exame,
Foucault é o centésimo-primeiro classificado, mas a École só admitirá cem
candidatos. Sofre seu primeiro revés escolar, que inaugurará um período
extremamente crítico em sua vida, período decisivo para futuras escolhas
temáticas que irá fazer em sua obra.
■ Um ambiente intolerável
Em 1945, Michel Foucault se instala em Paris, vai cursar no liceu Henri-
IV da cidade o curso de preparação para o ingresso na École Normale. Sendo
de outra cidade, deveria se instalar na categoria de interno, mas, por ter
recursos, alugará um pequeno quarto, pois já se revela um adolescente frágil e
instável emocionalmente, detestando a vida em comum. Forja-se a imagem
de um rapaz arisco, enigmático, fechado em si mesmo. Com 19 anos, ele
começa a viver a solidão de quem é diferente, de quem não segue as normas,
de quem sente desejos que não são como os da maioria. Nesse meio tempo,
conhece Jean Hyppolite, professor de filosofia, especialista em Hegel, que terá
participação decisiva em vários momentos de sua vida e a quem Michel
Foucault vai substituir no Collège de France em 1971. Em julho de 1946 se
submete aos exames e é aprovado em quarto lugar. Na sua banca se encontra
Georges Canguilhem, que Foucault convidará mais tarde para ser o seu
orientador de tese e a quem deve muito de sua forma de pensar a ciência.
© Reprodução
Foucault teve a infância marcada por acontecimentos históricos,
como a chegada dos refugiados da Guerra Civil Espanhola
■ Subjetividade e verdade
Sentindo-se um pária, Foucault busca, em sua obra e em suas reflexões,
reconciliar-se consigo mesmo, reformular a imagem que tem de si. Quando
em suas últimas obras começa a falar do cuidado de si, da escrita de si, a
reivindicar que a vida deva ser esculpida como uma obra de arte, Foucault
estará se remetendo a um outro tipo de pedagogia, a um outro tipo de
educação: àquela exercida por si sobre si mesmo, que chamará de subjetivação,
contrapondo-a à sujeição, princípio que rege a escola em nossa sociedade.
Dessa experiência dolorosa nascerá o pensador da recusa, da rebelião
cotidiana contra o poder, que tenta se apossar e moldar corpos e almas.
Nascerá sua crítica profunda à instituição psiquiátrica, médica, jurídica,
escolar, que chamará de intolerável. Ele será então um homem feliz por ter
feito um trabalho de recuperação de si mesmo por meio da pesquisa, do
trabalho teórico e de suas relações pessoais e políticas.
© Reprodução
Foucault busca, em sua obra e em suas reflexões, reconciliar-se consigo mesmo,
reformular a imagem que tem de si
■ A morte
Os anos 1970 são marcados pela constante militância política, que se
Os anos 1970 são marcados pela constante militância política, que se
conecta com a própria mudança em seus temas de pesquisas. A arqueologia
do saber é substituída ou passa a conviver com a genealogia do poder. Em
seus cursos anuais no Collège de France desenvolve os temas que o
preocupavam então e que resultarão na publicação de Vigiar e Punir (1975) e
A Vontade de Saber (1976), primeiro volume de sua História da Sexualidade.
Passa a tratar dos mecanismos de exclusão que sustentam uma dada cultura.
Negando a hipótese repressiva, comum aos discursos em torno da
sexualidade, nesse momento, busca entender por que o Ocidente não cansou
de fazer discursos em torno do sexo, instituindo o que chamou de dispositivo
da sexualidade, aquele que julga que nossa verdade mais recôndita encontra-se
na maneira como praticamos o sexo. Foucault vai procurar encontrar na
história o momento em que emergiu esse sujeito de desejo que a psicanálise
não cansa de invocar. Isso leva seu projeto de uma história da sexualidade a
ficar paralisado por quase oito anos, já que o recua para os primórdios da
civilização ocidental. Com os gregos e romanos antigos vai encontrar uma
outra forma de relação com os prazeres, com o corpo.
© Egon Schiele, Die Umarmung (Die Liebenden), óleo sobre tela, 1917. Reprodução
Pintura do artista austríaco Egon Schiele. Foucault nega a hipótese repressiva,
comum aos discursos em torno da sexualidade
© Reprodução
Foucault compreendia o sujeito não como algo dado, mas como algo produzido
por diferentes tipos de saberes e por relações que cada um estabelece consigo
mesmo
©Ana Teixeira, Sem título, da série Nós, os vivos, aquarela sobre papel, 2009. Reprodução
■ Finalizando...
Pensar a educação, repensar a educação. Usar a filosofia de Foucault
como ferramenta, como dispositivo para descolonizar o pensamento, em lugar
de novamente loteá-lo, agora em nome de conceitos e expressões
foucaultianas. Fazer da aula e do livro mais espaços para a experiência do que
para a verdade. Isso não significa, é claro, que não se tenha também de
estatuir verdades que nos sirvam de balizas para o pensamento e para a ação;
não se trata, certamente, de um vale-tudo. Trata-se, sim, de estarmos sempre
atentos, desconfiados e humildes adiante das verdades que nós mesmos, como
professores e alunos, ajudamos a construir e a disseminar, de modo a estarmos
preparados para, a qualquer momento, revisá-las e, se preciso for, buscarmos
articular outras que consigam responder melhor aos nossos anseios e
propósitos por uma vida melhor.
© José García y Más, Apocalypse II, óleo sobre tela, 2010. Reprodução
Pintura do artista espanhol José García y Más. Na tradição ocidental, a educação
tem sido identificada como forma de edificação dos sujeitos, como construção de
si, como formação
© Philip Pearlstein, Mickey Mouse, White House as Bird House, Male and Female Models, óleo sobre tela,
2001 Reprodução
Pintura do artista americano Philip Pearlstein. Para Foucault o sujeito é constituído
e não constituinte, tem uma gênese, uma história
© Gil Vicente, Autorretrato matando Bento XVI, carvão sobre papel, 2009. Reprodução
Desenho do artista brasileiro Gil Vicente, que questiona o poder e seus
desdobramentos. Para Foucault, o exercício do poder cria saber e o saber
acarreta efeitos de poder
■ A sociedade disciplinar
É bem conhecido o lado institucional das regras jurídicas, das leis, do
governo, das instituições políticas, da liberdade e da cidadania. Foucault
mostra o outro lado mais sombrio e pouco conhecido, em Vigiar e Punir, o
lado da norma, das regras, da vigilância, da punição, que sujeitam e controlam
os indivíduos, os quais se tornam peças de um maquinário que “distribui os
indivíduos nesse campo permanente e contínuo”. Nessa sociedade disciplinar,
a vigilância e a punição produzem corpos dóceis e capazes. A medicina, com
seu discurso científico, acolhido como insuspeito, neutro, é o árbitro para a
normalização do comportamento das condutas, dos desejos.
© K McCal. Reprodução
Na sociedade disciplinar, a vigilância e a punição produzem corpos dóceis e
capazes
©Reprodução
A educação não é um tipo de ortopedia, ela é transformadora
© Danny Hennesy, O enlutado, seu macaco e o enforcado, óleo sobre tela, 2009. Reprodução
Pintura do artista Danny Hennesy. No século da criança a disciplina passou a ser
um exercício cada vez mais solitário e autônomo
© http://www.sxc.hu Reprodução.
©Ana Teixeira.Reprodução
© Rosana Palazian, Baseado em uma história real- João e Maria, bordado sobre cuecas infantis, 1991.
Reprodução
Obra da artista brasileira Rosana Palazian. Para Foucault os interditos sexuais
são sempre ligados à obrigação de o sujeito dizer a verdade sobre si mesmo
Para Foucault, o dizer verdadeiro é intrínseco às práticas de si. Esta é uma ética
que diz respeito a uma estética da existência, a arte de viver como governo da
própria vida
Porém, ao analisar a maneira pela qual é inventado, na Antiguidade grega
e romana, um tipo de relação de si com o corpo e com o prazer, Foucault
mostra sua irredutibilidade ao modelo cristão da decifração do desejo,
rediscutindo a noção de ética e diferenciando-a de moral. A partir desta
análise, ele concebe a ética como um modo de vida no qual bem e bom não
são contraditórios entre si; em que o indivíduo e o outro não se sujeitam a
elementos externos como regras transcendentais, princípios formais ou
universalidades racionais prévia e definitivamente dadas. Seu objetivo é
deslocar as fronteiras das morais vigentes para que o sujeito possa ser levado a
se transformar, estilizando sua vida na presença do outro, amigo ou mestre
virtuoso.
A moral é definida como um conjunto de valores e de regras de ação que
são propostos aos indivíduos e aos grupos por intermédio de diferentes
aparelhos prescritivos como a família, as instituições educativas, as igrejas, os
sistemas de leis, de prescrições do código moral. Ela produz uma moralidade
dos comportamentos que corresponde a uma variação individual mais ou
menos consciente, que é a maneira pela qual os indivíduos se submetem a um
princípio de conduta, obedecem ou resistem a uma interdição ou prescrição,
respeitam ou negligenciam um conjunto de valores.
Já a ética é concebida como a maneira pela qual o indivíduo se
transforma, constituindo-se como o próprio sujeito moral do código. A
questão da ética é conduzida por Foucault com base na problematização dos
processos históricos segundo os quais as estruturas de subjetivação ligaram-se
a discursos de verdade, através do que se construíram, desde a Antiguidade,
formas de subjetivação. Essas formas se dão como um trabalho dos indivíduos
de modificação de si mesmos, ligados à parrhesia, que Foucault traduz por
“dizer verdadeiro”.
O dizer verdadeiro é intrínseco às práticas de si, que são técnicas da
Antiguidade grega voltadas para a vida considerada como uma obra de arte.
Esta é uma ética que diz respeito à estética da existência, uma arte de viver
como governo da própria vida cuja finalidade é dar-lhe a forma mais bela
possível – uma das hipóteses mais interessantes de Foucault com relação a
esta questão.
Em suas conferências proferidas na Universidade da Califórnia, em 1983
Foucault apresenta seus estudos sobre a noção grega de parrhesia,
compreendida como práticas envolvendo um discurso que é uma verdade
ligada à atitude de coragem, que se afirma, não devido a seu caráter lógico ou
retórico, à sua habilidade argumentativa, mas devido a uma atitude de risco,
de perigo, um modo de vida com o qual aquele que diz a verdade se acha
comprometido.
O dizer verdadeiro é imanente a práticas que buscam uma existência bela,
brilhante, heroica, por meio do cuidado de si, da elaboração de si, do governo
de si – tema presente na reflexão moral desde o Alcibíades de Platão até
Sêneca, Marco Aurélio, Epíteto. Sócrates, por exemplo, poderia ser
considerado um parrhesiastes por viver de acordo com suas afirmações mesmo
diante do risco de sua morte; sua coragem e austeridade no cuidado de si
davam beleza à sua existência.
Ao traçar uma história de como o homem, em nossa cultura, elabora um
saber sobre si mesmo, Foucault analisa as técnicas utilizadas para fazê-lo em
sua relação com as diferentes matrizes da razão prática como: as técnicas
capitalistas de produção dos objetos; as técnicas dos sistemas de signos que
estabelecem a comunicação; as técnicas de poder, que determinam a conduta
dos indivíduos, os submetem a certos fins ou à dominação, tornando-os
objetos de poder e de saber, na modernidade; as técnicas de si, que permitem
aos indivíduos efetuar, com a ajuda dos outros, um certo número de operações
sobre seu corpo e sua alma, seus pensamentos, suas condutas, seu modo de
ser, de se transformar a fim de alcançar um certo estado de felicidade, de
pureza, de sabedoria, de perfeição ou de imortalidade.
Essas técnicas não funcionam separadamente, apesar de cada tipo estar
associado a uma determinada forma de dominação, e implicar modos de
educação e de transformação dos indivíduos, na medida em que se trata de
adquirir certas aptidões e atitudes. Em seu pensamento tardio, a análise da
interação operada entre si mesmo e os outros indivíduos, assim como as
técnicas de dominação individual, isto é, o modo de ação que um indivíduo
exerce sobre si mesmo através das técnicas de si, desempenham um papel
central.
■ O governo de si
Neste centro encontra-se a articulação entre as técnicas do poder e as
técnicas de si. Pode-se considerar a noção de governamentalidade um dos
principais conceitos operatórios para tal genealogia. Ela é o conjunto de
técnicas e procedimentos destinados a dirigir a conduta dos homens,
permitindo-nos falar de governo – em seu sentido amplo do século XVI:
governo das crianças, de uma família, de uma casa, um principado, um
Estado, bem como governo das almas ou de si mesmo. Enfim, governo de si e
dos outros. Governo de si, condição do governo do outro, que o cristianismo
reorganizou instituindo uma hermenêutica de si que é uma decifração de si
próprio como sujeito de desejo.
O método de tal pesquisa distingue os atos do código moral e substitui
uma história dos sistemas de moral, feita a partir das proibições, por uma
história das problematizações éticas, feita a partir das práticas de si. Aí, os
atos, as condutas são o comportamento efetivo das pessoas diante do código
moral que lhes é imposto, de suas prescrições. Diz Foucault, em O Uso dos
Prazeres: “Mas não é só isso. Com efeito, uma coisa é uma regra de conduta;
outra, a conduta que se pode avaliar ante essa regra. Mas outra coisa ainda é a
maneira pela qual é necessário ‘conduzir-se’ – isto é, a maneira pela qual se
deve constituir a si mesmo como sujeito moral, agindo em referência aos
elementos prescritivos que constituem o código”.
© Pedro Bonnin, Mush & Fabi, óleo sobre tela, 2008. Reprodução.
© Abir Karmakar, I Love Therefore I am, óleo sobre tela, 2006 Reprodução
Pintura do artista indiano Abir Karmakar intitulada: Eu amo, portanto eu sou. O
cuidado de si constituiu, na Antiguidade, uma das regras da conduta da vida social
e individual
Sua relevância deve-se à possibilidade que nos oferece de avaliar até que
ponto é possível entrever um novo campo de invenções que permita fazer ver,
hoje, margens, em que o sujeito se constitua como sujeito ético de ação, pela
experimentação no pensamento. Pois ainda pertencemos “à escola de um
mestre que só pergunta a partir das respostas inteiramente escritas em seu
caderno; o mundo é nossa sala de aula. [...] a obrigação de pensar ‘em comum’
com os outros, o domínio do modelo pedagógico, [...] eis toda a vilania moral
do pensamento, da qual seria fácil sem dúvida decifrar o jogo em nossa
sociedade. É preciso nos libertarmos disso”.
© Reprodução
Foucault nos estimula a abandonar a dicotômica ideia de que existiria alguma
coisa “lá fora”, enquanto nós, espectadores, estaríamos numa obra pronta
■ Esclarecimento preliminar
Em geral, traçar um panorama acerca de um autor a partir de excertos de
sua obra é uma tarefa difícil e arriscada. Qualquer seleção é, obviamente,
sempre arbitrária, parcial e simplificadora. No caso de Michel Foucault – um
autor tão produtivo, diversificado e quase sempre polêmico – a dificuldade e o
risco assumem proporções alarmantes. Assim, o que se segue deve ser lido
como não mais do que uma amostra bastante modesta do que Foucault
produziu e que guarda relações mais ou menos diretas com o campo da
Educação.
Os excertos estão organizados por assuntos. As pessoas interessadas em
mais detalhes poderão encontrar várias outras passagens pertinentes
principalmente nas obras das quais as citações foram retiradas (e que constam
na bibliografia listada ao final). Os números entre parênteses, junto às
citações, referem-se à ordenação adotada naquela bibliografia.
■ Disciplina
A disciplinaridade é uma técnica de individualização do poder. (10)
De uma maneira global, pode-se dizer que as disciplinas são técnicas para
assegurar a ordenação das multiplicidades humanas. (5)
As “Luzes” que descobriram as liberdades inventaram também as
disciplinas. (5)
© Richard Long, Sem título, detalhe, argila sobre papel preto, 1992. Reprodução
Obra do artista inglês Richard Long. “As disciplinas são técnicas para assegurar a
ordenação das multiplicidades humanas”
■ Genealogia
A genealogia é cinza. Ela trabalha com pergaminhos embaralhados,
A genealogia é cinza. Ela trabalha com pergaminhos embaralhados,
riscados, várias vezes reescritos. (7)
A genealogia é uma metodologia que busca o poder no interior de uma
trama histórica, em vez de procurá-lo em um sujeito constituinte. (7)
A genealogia coloca-se contra os efeitos de poder de um discurso que é
considerado científico. (2)
■ Estruturalismo
Não vejo quem possa ser mais antiestruturalista do que eu. (7)
Eu acuso explicitamente de mentir, e de mentir desavergonhadamente,
pessoas como Piaget que dizem que eu sou um estruturalista. Piaget não pode
tê-lo dito senão por engano ou por estupidez: eu deixo a ele a escolha. (13)
© Jens Hedin, Wanting you, not wanting me, óleo sobre tela,2008. Reprodução
Pintura do artista americano Jens Hedin. “Há dois significados para a palavra
sujeito: sujeito a alguém pelo controle ou dependência, e preso à sua própria
identidade por uma consciência”
■ Sujeito
Há dois significados para a palavra sujeito: sujeito a alguém pelo controle
e dependência, e preso à sua própria identidade por uma consciência ou
autoconhecimento. Ambos sugerem uma forma de poder que subjuga e torna
sujeito a. (15)
O sujeito encontra-se tanto dividido no interior de si mesmo, quanto
dividido em relação aos outros. Esse processo faz dele um objeto. (15)
O homem é uma invenção cuja recente data a arqueologia de nosso
pensamento mostra facilmente. E talvez o fim próximo. (8)
Mas não devemos nos enganar: a alma, ilusão dos teólogos, não foi
substituída por um homem real, objeto de saber, de reflexão filosófica ou de
intervenção técnica. O homem de que nos falam e que nos convidam a liberar
já é em si mesmo o efeito de uma sujeição bem mais profunda que ele. Uma
“alma” o habita e o leva à existência, que é, ela mesma, uma peça no domínio
exercido pelo poder sobre o corpo. A alma, efeito e instrumento de uma
anatomia política; a alma, prisão do corpo. (5)
■ Verdade
As grandes mutações científicas podem talvez ser lidas, às vezes, como
consequências de uma descoberta, mas podem também ser lidas como a
aparição de novas formas na vontade de verdade. (16)
■ Pirotecnia e resistência
No plano intelectual, é indubitável a influência e disseminação das ideias
de Foucault. Para o historiador Paul Veyne, no campo do pensamento, sua
obra constitui o acontecimento mais importante do século XX. Tome-se, a
título de exemplo, o testemunho, dado em 1994, por Didier Eribon,
responsável por sua melhor biografia: “Portanto, dez anos após a morte de
Michel Foucault, sua obra continua no centro da vida intelectual, na França
como em muitas regiões do mundo. Pode-se dizer sem errar que ela dominou
a década passada como dominara a precedente. [...] Ainda mais importante é
o fato de que seus livros são estudados não apenas em e por si mesmos, mas
também servem de ponto de apoio heurístico para muitos setores da pesquisa
histórica e das ciências sociais, bem como da filosofia”.
Por outro lado, ainda segundo Eribon, essa marcante influência também
se evidencia em outra dimensão que não a meramente intelectual, pois o
pensamento de Foucault terminou por constituir-se como um “quadro de
referência política” a que recorrem, com frequência, inúmeros cientistas
sociais, filósofos, ativistas, movimentos de esquerda, étnico-raciais, de
minorias sexuais, num número cada vez maior de países. O recurso a essa
referência se mostra tão diversificado, e exercitado em contextos tão distintos,
que ele se indaga “se os mil Foucault que vemos surgir em todos os países, em
todos os continentes, são compatíveis entre si”. Ora, a julgar pela quantidade
de escritos sobre, ou em torno de, Foucault, pelos colóquios e congressos que
lhe têm sido dedicados – tanto no exterior quanto no Brasil –, pelas
ressonâncias da publicação de Ditos e Escritos e de seus cursos no Collège de
France, e considerando ainda a penetração de suas ideias nos novos
movimentos sociais, sua presença parece continuar viva e atuante entre nós,
mesmo 22 anos depois de sua partida.
Tudo isso faz lembrar duas coisas caras a Foucault, e ao mesmo tempo
úteis para entender a reverberação de suas ideias junto a outros pensadores. A
primeira é que lhe agradava muito que seus construtos conceituais servissem
de “caixa de ferramentas” para aqueles que neles vissem aqui e ali algo de útil
para lidar com seus próprios problemas, para fazer a gestão tática de suas
próprias lutas políticas localizadas etc. Esse caráter instrumental de seu
pensamento se expressa, por exemplo, no modo como o próprio Foucault
chegou uma vez a definir a si mesmo e o seu trabalho. Mais do que um
filósofo, ou um historiador, disse ele: “Eu sou um pirotécnico. Fabrico alguma
coisa que serve, finalmente, para um cerco, para uma guerra, uma destruição.
Não sou a favor da destruição, mas sou a favor de que se possa passar, de que
se possa avançar, de que se possa fazer caírem os muros”. A segunda, por sua
vez, é que essa estranha pirotecnia histórico-filosófica, fazendo as vezes de
“máquinas de guerra” (para usar um termo de Gilles Deleuze e Felix
Guattari), pelo menos a partir de meados dos anos 1970, esteve
invariavelmente a serviço da potencialização de resistências (“guerra de
guerrilhas”), inclusive no campo educacional, aos mecanismos de regulação e
controle das vidas dos indivíduos e coletividades.
No fim dos anos 1960 e início da década seguinte, o pensamento
foucaultiano sofre uma inflexão, transmutando-se em sua dimensão política, e
passando a exercer-se efetivamente como arqueogenealógico. Antes desse
período, a obra de Foucault “alinhava-se”, não sem algumas tensões, às
formulações dos principais nomes associados à corrente do estruturalismo:
Claude Lévi-Strauss, Roland Barthes e Jacques Lacan. Sem entrar no
polêmico debate sobre até que ponto e como Foucault comungou dos
pressupostos dessa corrente, ou sobre as especificidades de “seu
estruturalismo”, o importante a assinalar é que, por efeito da proximidade
(discordante) a esse tipo de abordagem, pela forte influência que teve da
epistemologia francesa do conceito (Koyré, Bachelard, Cavaillès,
Canguilhem) e da leitura de Nietzsche (por intermédio de Blanchot,
Klossovsky e Bataille), suas formulações vão de encontro a algumas
características típicas do pensamento filosófico, social e crítico-revolucionário,
predominante naquela época: o humanismo, a dialética (hegelianismo), a
fenomenologia, o primado da subjetividade, a transcendência, o idealismo, a
representação e o uso de princípios abstratos e universalistas.
A essas primeiras características de seus pensamentos, já relativamente
presentes nessa fase arqueológica, outras serão agregadas por influência,
dentre outros fatores, de três acontecimentos significativos para o autor: sua
experiência com a mobilização política dos estudantes na Universidade de
Túnis, as rebeliões estudantis de Maio de 68, na França, e, por fim, a arrojada
atuação político-social do GIP (Grupo de Informações sobre as Prisões),
criado e animado por Foucault, de janeiro de 1971 a dezembro de 1972. Que
efeitos esses três acontecimentos tiveram sobre Foucault? A que novos
encontros políticos e intelectuais o arrastam? Em termos muito breves, eles o
conectaram a toda uma atmosfera intempestiva e fervilhante, na qual as
instituições universitárias, políticas e sociais são questionadas em sua
autoridade e legitimidade, as grandes disciplinas científicas estabelecidas no
âmbito das ciências humanas (em particular o marxismo e a psicanálise) são
interrogadas em seus compromissos com o status quo, e com o capitalismo; na
qual, enfim, o próprio Foucault identifica uma insurreição dos “saberes
sujeitados” (“menores”, “marginais”, “intersticiais”, como a análise da
antipsiquiatria, a esquizoanálise etc.). Tudo isso, associado às suas
investigações sobre os sistemas punitivos modernos, os mecanismos
psiquiátricos de regulação e controle da loucura, e os mecanismos
disciplinares de adestramento dos corpos, o induz a deslocar suas pesquisas
para outro domínio: o do poder. Tratava-se, então, não só de repensar o que
vem a ser “o poder”, como também de ressituar o saber (os discursos, em
particular os das ciências humanas e os das disciplinas clínicas) e, portanto, a
arqueologia, em face do exercício do poder, mas debruçando-se sobre este sob
uma perspectiva analítica diversa daquela tradicionalmente utilizada na
ciência e na historiografia políticas (jurídico-política, filosófico-jurídica), a
genealogia, retomada e reconstruída a partir das formulações de Nietzsche.
Intervenção da artista brasileira Ana Teixeira. Deleuze dizia que ele e Foucault
não buscariam a eternidade do tempo, mas a formação do novo, ou o que
Foucault chamou de “a atualidade”
■ Educação e subjetividade
Ora, daí já se pode depreender a dificuldade experimentada pela
educação em assimilar os pensamentos iconoclastas desses dois filósofos. Com
efeito, as pesquisas de Foucault terminam por evidenciar um cruel paradoxo
que permeia a tão enaltecida missão civilizadora dos educadores. Desde a
modernidade, atribuiu-se à educação, por intermédio de sua universalização, a
grandiosa tarefa de esclarecer e emancipar “O Homem”, dando-lhe as
condições de construção de sua liberdade moral. Foucault nos mostra, porém,
que antes de meados do século XVIII essa figura abstrata (“O Homem”) não
existia. Antes o contrário, ela constitui justamente um efeito do poder; mais
precisamente, de relações de saber-poder. Sua objetivação, subjetivação e
normalização, diz ele, só foram tornadas possíveis, por um lado, por
intermédio da disciplinarização, (adestramento, regulação e controle) dos
corpos dos indivíduos, de modo a torná-los submissos à governamentalidade e
úteis ao sistema de produção capitalista e, por outro, pela ação de um
dispositivo da sexualidade, que agenciava os saberes das ciências humanas aos
das disciplinas clínicas, produzindo subjetividades (identidades,
personalidades, maneiras de agir, pensar e sentir) e enquadrando-as em
padrões arbitrários de normalidade ou anormalidade. Ora, isso não seria
possível sem o concurso decisivo da pedagogia, da escolarização e das
instituições educativas. Mas não só, Foucault também aponta a ingenuidade
dos educadores em pensar “o sujeito da educação” em termos essenciais,
identitários, substancialistas: livre e racional, por natureza, fundamento para o
conhecimento e a prática, na esteira de uma confluência entre as doutrinas do
jusnaturalismo e do liberalismo clássico. De pensá-lo, portanto, de acordo
com a ideia de que existe uma natureza humana”, interiorizada, cuja boa
formação pressupõe o ideal de perfectibilidade, o desenvolvimento de suas
potencialidades (do menos para o mais, da incompletude para a plenitude),
numa temporalidade linear simplista (como se observa já em Rousseau e nas
posteriores teorias de desenvolvimento que marcaram a psicologia do século
XX).
Fazendo eco ao empirismo de Foucault, com David Hume, Deleuze diria
que “as relações são exteriores a seus termos”, e que a pedagogia e a psicologia
da educação jamais entenderam isso, pois na medida em que circunscreveram
sua atenção e atuação aos termos (da relação), tomando-os como essenciais
(identidade ou personalidade do sujeito A, do sujeito B etc.), nada tinham a
dizer, e nem poderiam, sobre o que se passa entre eles, isto é, sobre o que
concretamente os faz agir, pensar e sentir dessa ou daquela forma. Eis, pois,
da parte desses autores, um misto de contribuição e tormento à educação, ou
seja, pensar essas questões em termos processuais (estratégicos e maquínicos):
processos de individualização, modos de subjetivação e existencialização.
É importante assinalar, de passagem, que a tradicional concepção de
subjetividade reinante na educação e o projeto libertador que lhe era correlato
foram abraçados tanto pela direita como pela esquerda (neste caso, pela
teorização educacional dita crítica, progressista). Esta, por sinal, tendeu a
criticá-los apenas em seus supostos desvirtuamentos (alienação do sujeito e
degeneração da razão esclarecida em razão tecno-instrumental), mas não nos
fatores que lhes davam condições de possibilidade. Como afirma Tomaz
Tadeu da Silva, as “suposições sobre consciência e sujeito são comuns às
pedagogias da repressão e às pedagogias libertadoras – a oposição binária que
lhes opõem apenas revela a existência de uma mesma essência a ser reprimida
ou liberada, conforme o caso. Não escapam a essa tradição nem mesmo as
pedagogias críticas – a própria noção de conscientização, tão cara a algumas
de suas importantes correntes, está integralmente vinculada à suposição de
uma consciência unitária e autocentrada, embora momentaneamente alienada
e mistificada, apenas à espera de ser despertada, desreprimida, desalienada,
liberada, desmistificada”.
Torna-se difícil indicar um ou outro texto de Foucault que seria mais pertinente
ou interessaria mais àqueles que militam na área da educação. Considerando
que as práticas pedagógicas ou educativas visam à formação de
subjetividades, podemos dizer que todo o percurso do pensamento
foucaultiano interessa diretamente aos educadores, já que este se caracteriza
por ser uma reflexão histórico-filosófica sobre as estratégias, as práticas e os
saberes que participaram da constituição de sujeitos na sociedade ocidental.
Portanto, em vez de escolher textos, escritos por Foucault, que seriam mais
adequados às preocupações dos estudiosos da educação, me proponho a
apresentar uma espécie de programa de estudos, que dê conta não apenas de
suas principais obras, mas também de autores que escreveram textos
fundamentais sobre ele e sua obra. Como o que caracteriza o percurso
intelectual de Foucault é a constante mudança nos temas, nas estratégias de
pesquisa, nos conceitos; como é um autor que está sempre revendo seus
próprios pressupostos e está relendo aquilo que fez, proponho que este
programa de estudos siga o percurso da obra de Foucault, que não apenas foi
marcado pelo pensar através da história, como ele próprio pode ser pensado
historicamente, observando as inflexões e descontinuidades que marcam a sua
própria trajetória.
Sobre Foucault
Concluída a leitura dos livros e textos mais importantes escritos por Foucault e
que têm pertinência para as reflexões no campo da educação, sugiro que se
passe ao contato com as obras que possam vir a esclarecer aspectos que
porventura tenham quedado obscuros na leitura de seus livros. Esta etapa
prepararia para a última delas, que seria a leitura do que se vem produzindo
sobre educação a partir de suas reflexões. Tomarei o cuidado de indicar
aqueles textos mais acessíveis, ou seja, aqueles que estão em língua
portuguesa ou que estão em língua espanhola. Esta etapa poderia ser iniciada
pela leitura de Foucault e a Crítica do Sujeito, de Inês Araújo e sequenciada
pela consulta às seguintes obras: Entre Cuidado e Saber sobre Si: Michel
Foucault e a Psicanálise e Foucault e a Liberdade, de Joel Birman;
Foucault, de Gilles Deleuze; La Filosofia de Michel Foucault, de Esther Díaz;
Michel Foucault, uma Trajetória Filosófica, de Paul Rabinow e Hubert
Dreyfus; Foucault, a Norma e o Direito, de François Ewald; Michel Foucault e
a Constituição do Sujeito e Michel Foucault e o Direito, de Márcio Alves
Fonseca; Michel Foucault, de Frédéric Gros; Introdução ao Pensamento de
Michel Foucault, de Angèle Kremer-Marietti; Foucault, a Filosofia e a
Literatura, de Roberto Machado; Tecnologias del Yo y Otros Textos Afines,
de Michel Morey; Foucault Vivo, organizado por Ítalo Tronca; Imagens de
Foucault e Deleuze, organizado por Margareth Rago, Luiz Orlandi e Alfredo
Veiga-Neto; Retratos de Foucault, organizado por Vera Portocarrero e
Guilherme Castelo Branco; Foucault: o Paradoxo das Passagens, de André
Queiroz; Foucault, a Liberdade da Filosofia, de John Rajchman; Michel
Foucault, um Pensamento Infame, de Paulo Vaz, e Michel Foucault e a
Idade do Homem, de José Ternes.
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Arqueologia do saber
Para iniciar um estudo da obra foucaultiana, eu recomendaria a leitura de três
obras indispensáveis para a compreensão de sua démarche. Dois de Didier
Eribon: Michel Foucault, uma Biografia (Trad. Hildegard Feist. São Paulo:
Cia. das Letras, 1990) e Michel Foucault e seus Contemporâneos (Trad. Lucy
Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996) e um de Roberto
Machado, Ciência e Saber: a Trajetória da Arqueologia de Foucault (Rio de
Janeiro: Graal, 1988).
As obras de Eribon mostram as inequívocas vinculações entre a vida do
filósofo francês e seu percurso intelectual. Nelas, os interessados em verificar
o papel que a escola e as instituições acadêmicas tiveram, para o
desenvolvimento de seus pensamentos e para a definição dos temas de seus
livros, encontrarão a narrativa de acontecimentos bastante significativos. O
livro de Machado nos ajuda a situar a trajetória do pensamento de Foucault,
notadamente da chamada fase arqueológica, no debate intelectual que a
possibilitou. Este livro traça uma história da trajetória do pensamento do autor
em suas relações com duas tradições com as quais dialoga e das quais se
separa: a história das ideias e a epistemologia.
O próximo passo é começar a ler os livros de Foucault seguindo a ordem de
sua publicação, para que se percebam as questões que vão sendo colocadas
por suas obras e como estas vão se modificando a par com as mudanças que
ocorrem em sua vida, nas condições históricas em que são produzidas, e a
par, também, com a recepção dessas obras. Tome-se como ponto de partida
aquela que o próprio Foucault considerava sua primeira obra, História da
Loucura (1961), já que seu primeiro livro, Doença Mental e Personalidade
(1954), republicado em 1962, totalmente reformulado e com o título alterado
para Doença Mental e Psicologia, foi excluído pelo próprio autor de sua obra,
por não mais concordar com ela, tendo proibido sua republicação. Em História
da Loucura, Michel Foucault faz o que chamou de uma arqueologia da
percepção, pensa como ao longo da história a cultura ocidental percebeu a
desrazão, como lidou com a figura do louco e que práticas foram geradas em
torno dele. Michel Foucault também dirá que fez aí a arqueologia de um
silêncio, aquele imposto à desrazão pelo pensamento racional. Esta obra
pressupõe a existência de uma experiência primeira da desrazão, experiência
trágica por excelência que teria sido silenciada e dominada pela racionalidade
ocidental. Neste livro já se trata de interrogar como foi possível historicamente
o surgimento do sujeito racional moderno, como se deu a emergência desse
sujeito que se define pela centralidade da razão. Como será comum em seu
trabalho, Foucault toma uma experiência-limite como forma de tentar escrever
as bordas de nossa cultura e de nosso presente, bordas onde não mais
reconhecemos nosso rosto, onde nos encontramos com experiências que nos
definem, nos delimitam, por serem experiências de fronteira, mas em que não
nos reconhecemos, nos estranhamos e nos tornamos estrangeiros em relação
a nós mesmos.
Em seguida viria a leitura de O Nascimento da Clínica (1963), em que
Foucault exercita uma arqueologia do olhar, busca pensar as mudanças
históricas que levaram à emergência da medicina anatomoclínica como parte
de um remanejamento nas relações entre olhar e corpo, em nossa cultura. Ao
contrário do que fazia crer a história das ideias ou as tradicionais histórias da
medicina, essa ruptura não se deu preferencialmente no plano do saber e nem
foi fruto de mudanças nas relações cotidianas, no corpo a corpo entre médicos
e paciente, que foram responsáveis pela instauração de uma nova visibilidade,
em que um olhar de profundidade vem substituir um olhar periférico e
taxinômico que caracteriza o período clássico. O doente passa a ser visto como
sujeito de sua doença, como sendo o ponto de partida de sua própria moléstia.
Assim, é seu corpo que adoece e não a doença, como ser à parte, que vem
habitar seu corpo.
A leitura de As Palavras e as Coisas (1966) e A Arqueologia do Saber (1969),
obras consideradas como aquelas que encerram a primeira fase de sua
trajetória filosófica, poderia ser acompanhada pela leitura de A Ordem do
Discurso, aula inaugural proferida no Collège de France, em 1971, já que esta
ao mesmo tempo abria um novo período em suas pesquisas e se constituía
também num balanço do que havia produzido até então. Em As Palavras e as
Coisas, Foucault faz uma arqueologia do saber, de um saber em particular, o
saber das ciências humanas. Tenta entender como foram possíveis
historicamente aqueles saberes que giram em torno do Homem. Nesta obra
que o consagrou, Foucault faz a história da emergência do Homem como
sujeito e como objeto de saber, na cultura moderna ocidental. Para uma área
de saber muito marcada pelo humanismo, como é a da educação, a leitura
deste livro se torna obrigatória. A Arqueologia do Saber vai responder às
inúmeras críticas que recebeu o livro de 1966, precisando muitos de seus
conceitos, como os de enunciado e formação discursiva, mas principalmente a
noção de epistéme, como sendo aquele solo histórico, aquele conjunto de
regras que disciplina e permite ver e dizer dados saberes, dadas visibilidades e
dizibilidades, em dada época.
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
Genealogia do poder
Em seguida, recomendo a leitura dos seus livros da chamada fase da
genealogia do poder: Vigiar e Punir (1974) e História da Sexualidade I (A
Vontade de Saber) (1976), junto com vários textos publicados originalmente
em periódicos e mais tarde reunidos em coletâneas como Microfísica do
Poder, aqui no Brasil, e Ditos e Escritos, na França, além de algumas
conferências, como as proferidas na PUC do Rio de Janeiro, reunidas em A
Verdade e as Formas Jurídicas, e cursos ministrados no Collège de France,
em especial Os Anormais e Em Defesa da Sociedade, que interessam
diretamente a quem busca compreender como o seu pensamento pode
favorecer uma reflexão no campo da educação.
Em Vigiar e Punir encontra-se a tematização da história das formas de
punição na sociedade ocidental, notadamente, da emergência da forma prisão.
Obra que interessa diretamente para quem trabalha com a escola, que aparece
tematizada no livro no contexto da emergência do que o autor chama de
surgimento da sociedade disciplinar. A escola seria um dos eventos da
constituição desta sociedade em que a relação entre poder e corpo, poder e
mente é alterada. A escola seria uma das instituições onde as relações de
poder deixam entrever sua positividade, ou seja, seu caráter produtivo, já que
produzem comportamentos e saberes. Esta reflexão sobre o caráter positivo do
poder e sua distribuição e circulação microfísica aparecerá mais detidamente
analisada no capítulo chamado Método do livro História da Sexualidade I. Aí,
ao questionar a hipótese repressiva pela qual eram majoritariamente analisadas
nossas relações com o sexo, com o desejo, Foucault chama a atenção para o
caráter produtivo e normativo do poder, o modo como este molda corpos e
práticas, como gera prazer e induz a agir. Tomando o poder como relações
multidirecionais, contrapondo-se ao que chama de modelo da soberania, que
seria prevalecente nas análises que tenderiam a reduzir o poder ao Estado,
vendo-o partir de um centro e desde cima, Foucault propõe pensar o poder
como uma fina rede, como um conjunto de relações de força que nos
produzem enquanto sujeitos e também enquanto objetos de práticas e de
saberes. Tendo as instituições como o núcleo de sua análise, já que seria nelas
que relações de poder e saberes correlatos se cristalizariam, as obras,
sobretudo dos anos 70, são valiosas para inspirar análises em torno da
instituição escolar e das pedagogias presentes em diversas instituições
modernas, além da escola, que são fundamentais para nossa constituição
como sujeitos.
Alguns artigos são importantes para quem quer refletir sobre a educação a
partir do pensamento foucaultiano, como: “Soberania e Disciplina”; “Verdade e
Poder”; “Genealogia e Poder”; “A Governamentalidade”, todos publicados em
Microfísica do Poder e “Poder e Saber”, incluído em Ditos e Escritos, vol. IV.
Um livro desse período, que foi organizado por Foucault, é valioso para os
educadores, pois tematiza a relação entre as instituições, a escola em especial,
e a produção da identidade sexual do sujeito: trata-se de Herculane Barbin ou
O Diário de um Hermafrodita, que nos permite refletir sobre as dificuldades
com que se defrontam a escola e os educadores quando se veem diante da
diferença, da alteridade, daquilo que é visto como anormal. Ler este livro junto
com o curso cujo tema foi os anormais, como se constituiu historicamente
esta categoria e a que experiências recobria, será um bom exercício.
Foucault e a educação
Cumpridas estas etapas do programa de leitura se poderia então adentrar na
produção acadêmica, notadamente a brasileira, que vem usando as inspirações
foucaultianas para as reflexões no campo da educação. De saída, se impõe a
produção de dois autores, que se tornaram referências nesse campo de
estudos no Brasil: Alfredo Veiga-Neto e Tomaz Tadeu da Silva, de quem se
recomenda a leitura de toda a produção. Nesta bibliografia indicaremos apenas
os títulos que, por sua abordagem mais didática e panorâmica, ajudam a um
primeiro contato com o pensamento de Foucault e o que é possível pensar no
campo da educação a partir de sua obra.
De Alfredo Veiga-Neto, Foucault e a Educação (Belo Horizonte: Autêntica,
2003), em que o autor expõe de maneira didática a trajetória do pensamento
de Foucault com base no que chama de seus três núcleos de problematização
ou domínios: o ser-saber, o ser-poder e o ser-consigo, e como podem servir
de inspiração para pesquisas na área da educação.
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