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A expressão “capitalismo tardio”, por exemplo, é usada a torto e a direito para dar a
entender algo que se toma por abundantemente conhecido e demonstrado. Acabo de relê-la,
pela milionésima vez, na entrevista de Roberto Schwarz à revista Cult, onde ele a repete
com a mesma candura bisonha de gerações e gerações de marxistas. A referência
cronológica do adjetivo é claramente absurda. Ela dá a entender que o capitalismo tem um
prazo fixo de existência histórica, já vencido, sendo toda a existência posterior desse
sistema um acidente protelatório que, no fundo, não altera em nada o cronograma infalível
da profecia socialista. Em quase metade do planeta, o que acabou foi o socialismo, enquanto
o capitalismo continua se expandindo, indiferente às profecias. Mas basta pronunciar a
jaculatória “capitalismo tardio”, e num instante as doses respectivas de realidade e fantasia
se invertem: os fatos tornam-se evanescentes, a hipótese messiânica adquire a presença
real, física, de um fato consumado. É um ritual de magia teúrgica, a evocação de uma
miragem que, pelo poder da fé, se torna mais real do que o mundo presente. Credo quia
absurdum est.
Mais que um ato de fé, é um distúrbio psicótico da percepção de tempo. Na visão cristã da
História, o tempo e a eternidade se articulavam numa relação tal que nela a eternidade
podia localizar-se, sem contradição, “acima” de todos os tempos, “em” cada um deles ou
“depois” da consumação deles, conforme fosse concebida em sua tripla natureza de
supratempo, de permanência imutável ou de moldura metafísica dos tempos. Na
historiologia
9 marxista, essas características são projetadas sobre uma determinada fração
do tempo,
S H ARE Sa época do socialismo, que, encarregada de personificar a meta a que conduzem
as épocas anteriores, se investe, por impregnação semântica, dos outros dois atributos da
eternidade: torna-se a chave da cronologia e o ponto fixo por cima de todos os tempos, o
supra-fato permanente do qual os fatos da História são meras aparências ou camuflagens
provisórias.
Não uso o termo “psicose” à toa. Confiram em qualquer tratado de psicopatologia (por
exemplo, Gabriel Deshaies, Psychopathologie Générale, Paris, P. U. F.), e verão que a
estrutura do tempo no marxismo é idêntica à da temporalidade mórbida nos delírios de um
paranóico: aquilo que não aconteceu, que simplesmente se supõe venha a acontecer, torna-
se o critério da realidade do acontecido.
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O Filipe Martins queixa-se: "Julgam, em suma, não o que escrevi, mas o que imaginam que
eu quis dizer." Vinte anos atrás o Cláudio Moura Castro já assinalava que essa era a
característica dominante do leitor brasileiro.
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